estórias e andanças… com aquilino ribeiro e o seu livro...
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Trabalho realizado pelos alunos do curso profissional de Técnico Auxiliar de Saúde – 10ºF, em colaboração com a Biblioteca Escolar – Pólo Luís Veiga Leitão.
Biblioteca Escolar – Luís Veiga Leitão
Email – [email protected]
Ver em: http://escolasmoimenta.pt/biblioteca/cat/projetos/
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Estórias e Andanças…
Foi pela vontade de levar o prazer da leitura até à terceira idade que
surgiu o projeto Estórias e Andanças …. , que tem como principal objetivo
o de desenvolver, exercitar, viajar, sonhar e relembrar a infância e a
juventude por meio das palavras.
Esta iniciativa promovida pela biblioteca escolar polo Luís Veiga
Leitão pretende criar um convívio intergeracional em que ambas as
gerações ganham novas experiências.
Reconhecer que na troca de saberes todos temos algo a aprender e
algo a ensinar, é ao encarar as nossas diferenças e ao compartilhá-las, é ao
investigar as nossas raízes, é ao saber recriar e preservar as tradições os
usos e os costumes, que a vida se preserva e o crescimento acontece.
Objetivos:
Troca de experiência entre os idosos e os jovens.
Estabelecer a leitura como fator estimulante para o
desenvolvimento intelectual, moral e emocional dos idosos.
Utilização da leitura como instrumento para o desenvolvimento e
entretenimento.
Fomentar o convívio intergeracional.
Dar a conhecer Aquilino Ribeiro a gerações diferentes.
Valorizar o património literário local.
Intervenientes:
Centro comunitário de Alvite.
Biblioteca escolar polo Luís Veiga Leitão.
Alunos e docentes da turma 10ºF.
Associação Gentes da Nave.
Fundação Aquilino Ribeiro
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DATA ATIVIDADE OBJETIVOS
Mês de fevereiro
Mês de junho
A VIDA NUMA CARTA: - Leitura de uma carta de um exerto do livro O Homem da Nave de Aquilino Ribeiro. - Recolha de cartas antigas pelos idosos e posterior leitura. - Escrita de cartas a amigos e familiares.
A MINHA ALDEIA: - Leitura de um exerto do livro O Homem da Nave de Aquilino Ribeiro. - Apresentação de um powerpoint com a descrição da Serra da Nave e das gentes de Alvite, segundo Aquilino Ribeiro. - Recolha de hábitos e costumes do meio sociocultural dos idosos. - Apresentação de uma atividade realizada pelos idosos. - Apresentação de uma encenação pelos alunos do 10º F. - Lanche convívio. - Realização de uma visita à Fundação Aquilino Ribeiro.
- Promover a aproximação com a família. - Valorizar o papel do idoso na família. - Relembrar acontecimentos que os idosos experienciaram.
- Relembrar hábitos e costumes oriundos do meio sociocultural em que os idosos estão inseridos;
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AVALIAÇÃO DO PROJETO:
NOTA: Este trabalho teve como responsável a diretora de turma do 10º F,
que também é membro da equipa da BE, professora Cristina Galhardo.
As professoras bibliotecárias do Agrupamento de Escolas de Moimenta da
Beira: Estela Almeida e Célia Augusto.
Pontos Fortes
Pontos Fracos
O convívio intergeracional;
O trabalho colaborativo entre a
BE e os docentes e alunos do
10F;
As parcerias estabelecidas;
O trabalho e o empenho dos
alunos na realização das tarefas
propostas;
O conhecimento que os alunos
obtiveram sobre o autor, a sua
obra, as tradições da região onde
vivem;
A satisfação transmitida por
todos que participaram ou
assistiram às atividades.
A BE deveria ter destinado estas
atividades para um público mais
alargado;
O número de atividades foi
reduzido, devido à falta de
tempo.
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Texto Aquilino Texto adaptado do livro “ O homem da nave” com encenação
dos alunos do 10º F e acompanhado de imagens.
(ver aqui)
A serra da Nave com suas aldeias bárbaras e truculentas, que vivem nas
suas faldas e contrafortes cultivando o centeio, a batata…
A sua vegetação predominante é a urgueira de onde se extrai o carvão
para as forjas e o mato galego em que entra toda a casta de arbustos.
A terra é negra, terra de cobras lhe chamam decerto feita de toda a
espécie de detritos vegetais, a começar pela moinha da urze e do tojo, e
provavelmente da pulverização de moitas de carvalhos e de castanheiros
que nos antigos tempos cobriam os serros.
Contudo, a serra, a pobre serra, de manto de estamenha, quando chega a
primavera, torna-se um jardim sonhado. As plantas rasteiras, tojo urze,
sargaço, bela-luz, rosmaninho, esteva, compõem-lhe com o esplendor de
sua tintas uma robe.
A barra está nos giestais que vestem os caminhos de amarelo
espampanante, polvilhado de uma que outra faísca de alvura. E para o símil
ser completo, imagine-se que o corpete é estampado com matiz dos soutos
e das moitas, que vai do verde bronze ao ametista vaporoso.
Além de jardim, a terra é um coreto do tempo das filarmónicas rurais.
Executam-nas as aves canoras e não sabem sequer que há auditores que se
inebriam com as suas musicatas. Nos pinhais são as rolas que cantam e
recantam…. Tece o ninho, um ninho aéreo que não dá nas vistas, com dois
tanguinhos secos num silvado ou num escarapeteiro. Também no pinhal.
Em se sente por este provisório que é ave de arribação e perseguida. Quem
a denuncía é a cabeça esbelta de uma mobilidade de onda, em que luzem as
duas contas de onix que são os olhos. A sua timidez, e medo catastrófico
não tem limites e, se alguma coisa lhe desperta a suspicácia, tanto enjeitam
o ninho como os ovos ou os filhos.
O cuco ainda solta uma vez por outra a sua área mofareira, bem como a
popa.
Mas é pelas noites de luar ou de penumbra azulada, profunda como a
água dos açudes, que o rouxinol eleva as suas sonatinas, esse decerto
convencido que o ouvem as estrelas, os anjos do Céu, ou os enamorados da
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Terra, senão não se daria ao esmero de cantar tão divinamente … Comi…
comi… comi… um bichinho muito pequeruchinho?
E se há ave que goste de cantar é o perdigão. Em cima de uma parede a
sua voz enche a planície. É o arauto da plena e gozosa primavera. Não
canta apenas para …
De quando em quando o marantéu (papa-figos) lançava por sobre a
natureza amodorrada o seu gorjeio vibrante amarelo como ele, como o sol,
como o fogo, como as flores mais plebeias dos prados. Os gaios pinchavam
nas castinceiras, que se recobriam de rebentos primaveris, penugem verde-
amarela, breve e imponderável como uma musselina, e travavam com
aqueles o proverbial despique:
-Viste lo abade?
-Lá o vi, lá o vi
-Com’ ia vestido?
-Ia com’ a mim.
-Comeste los figos?
-Pois comi, comi!
Nesta serra há uma aldeia que se consegue manter com as suas hortas
cercadas por paredes que são renda, e as suas courelas de pão e nabal
adormecidas sobe a neve: Alvite. Populosa e grulhenta, os alvitanos sulcam
os caminhos e estradas da região, bufarinhando a veniaga. Tudo lhes serve
para mercadejar, desde a cravagem do centeio à canastra da sardinha que
vão buscar à Régua. As mulheres são pequeninas, morenas de feições
delicadas e casam a partir dos 12 anos. Os alvitanos primam por
desembaraçados e moirejadores, e só tem pecha assinalada serem pouco
escrupolosos nos negócios e por dá cá aquela palha puxarem da navalha ou
do revólver. Cada alvitano é dono de um burro, de uma faixa para se cingir,
onde trás lenço, carteira e revólver… e dos iinfinitos espaços do Senhor.
(Representação de um alvitano/a na atividade do comércio – dizer uns
pregões)
O solo é ingrato onde não medra sequer a cerejeira, apenas centeio e
couve-galega, mas atreveram-se ao cultivo da batata.
(Encenação da sementeira das batatas e alguém diz a rir: “Ali batatas!?
Esse manjar que vai à mesa dos reis, tão adestringente e nutritivo, tão
democrático mas delicado, poderia produzir-se no meio das fragas onde
só medra a sarça e o tojo alvarinho?”)
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E, ó milagre, os tubérculos maravilhosos germinaram, deitaram para
fora do solo inóspito suas orelhinhas de gato, que só o não parecem de todo
pelo belo tom esmeraldino, retoiçaram, altearam-se e, em regos simétricos
nas longas vessadas.
(Encenar a sementeira do centeio.)
Em verdade, a agricultura é pobre e pouco remuneradora nas serras da
Beira. Sendo certo que o centeio é a gramínea mais robusta e generosa de
quantas abastecem o celeiro nacional, exige não menos cuidados do que as
plantas de regadio.
Bem diz ele:
(Alguém escondido diz)
“Bota-me no pó, e de mim não tenhas dó;
Bota-me na lama, e chora-me na cama.”
Há anos que, contra todas as previsões, a colheita é boa que como lá diz
o ditado “Ralo o centeio bate no celeiro” outras vezes dá-se o inverso
muita soberbia nos prados e as colheitas são uma calamidade.
As ceifas fazem-se quando o calor abrasa, entre o S. João e o S. Tiago –
Canção popular
Ó prima vamos p’ra ceifa
Ó prima vamos ceifar
Foi na ceifa que eu ganhei
Um lenço p’ra me limpar
Um lenço p’ra me limpar
A minha saia encarnada
Ó prima vamos p’ra ceifa
Que aqui não se ganha nada
Que aqui não se ganha nada
Que aqui não se ganha o pão
Foi na ceifa que eu ganhei
A roda do meu balão
A roda do meu balão
Tem a fita aveludada
Foi na ceifa que eu ganhei
A minha saia encarnada
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Com as arcas cheias a santa vidinha tem outro toque. Todas as semanas
passa o moço do moleiro e leva a moenda.
(Encenar o moleiro com um saco às costas)
Para o moleiro de profissão a indústria é tão rendosa que não consta ter
algum morrido a pedir. Pudera!
“Deus te salve, saco, quatro maquias te rapo”
(encenar o amassar o pão)
Cozer o pão é artigo também com o seu ritual. Hoje a boa dona ainda se
benze antes de arremangar os braços, mas de sorte encomenda a massa a
fintar.
(Quem encena diz:)
“S. Mamede te levede, S. Clemente te acrescente, S. João te faça pão e a
Virgem Nossa Senhora te bote a sua divina benção”
(encenar o meter do pão no forno e dizer:)
“Tu a crescer, nós a comer, que ninguém te possa vencer”
Com este viver primitivo que vem das citânias, como é que a serra não
havia de ser boa mãe que lhes aduba as terras; lhes alimenta a cabra e o
carneiro; lhes fornece para as festas o coelho e a lebre. Tirar-lha seria
privá-los do seu melhor e mais vital património.
Apesar da dureza da vida não deixam de ser felizes e de acompanhar a
sua labuta com cantigas e boas e fartas merendas.
(Enquanto cantam alguém deve pegar no cesto da merenda e nas alfaias
agrícolas e descem do palco convidando no fim da canção para a
merenda.)
Canção: Água leva o regadinho
Água leva o regadinho
Água leva o regador
Em quanto rega e não rega
Vou falar ao meu amor
Ó balancé balancé
Balancé da neve pura
Ó minha salva rainha
Ó minha vida de cura
Vamos dar a meia volta
Meia volta vamos dar
Vamos dar a outra meia
Adiante troca o par
Água leva o regadinho
Água leva e vai regar
Enquanto rega e não rega
Ao meu amor eu vou falar