estórias e andanças… com aquilino ribeiro e o seu livro...

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Alunos e docentes da turma 10ºF e Biblioteca Escolar 2015/2016 Estórias e Andanças… com Aquilino Ribeiro e o seu livro ”Homem da Nave” Trabalho realizado pelos alunos do curso profissional de Técnico Auxiliar de Saúde – 10ºF, em colaboração com a Biblioteca Escolar – Pólo Luís Veiga Leitão. Biblioteca Escolar – Luís Veiga Leitão Email – [email protected] Ver em: http://escolasmoimenta.pt/biblioteca/cat/projetos/

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Trabalho realizado pelos alunos do curso profissional de Técnico Auxiliar de Saúde – 10ºF, em colaboração com a Biblioteca Escolar – Pólo Luís Veiga Leitão.

Biblioteca Escolar – Luís Veiga Leitão

Email – [email protected]

Ver em: http://escolasmoimenta.pt/biblioteca/cat/projetos/

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Estórias e Andanças…

Foi pela vontade de levar o prazer da leitura até à terceira idade que

surgiu o projeto Estórias e Andanças …. , que tem como principal objetivo

o de desenvolver, exercitar, viajar, sonhar e relembrar a infância e a

juventude por meio das palavras.

Esta iniciativa promovida pela biblioteca escolar polo Luís Veiga

Leitão pretende criar um convívio intergeracional em que ambas as

gerações ganham novas experiências.

Reconhecer que na troca de saberes todos temos algo a aprender e

algo a ensinar, é ao encarar as nossas diferenças e ao compartilhá-las, é ao

investigar as nossas raízes, é ao saber recriar e preservar as tradições os

usos e os costumes, que a vida se preserva e o crescimento acontece.

Objetivos:

Troca de experiência entre os idosos e os jovens.

Estabelecer a leitura como fator estimulante para o

desenvolvimento intelectual, moral e emocional dos idosos.

Utilização da leitura como instrumento para o desenvolvimento e

entretenimento.

Fomentar o convívio intergeracional.

Dar a conhecer Aquilino Ribeiro a gerações diferentes.

Valorizar o património literário local.

Intervenientes:

Centro comunitário de Alvite.

Biblioteca escolar polo Luís Veiga Leitão.

Alunos e docentes da turma 10ºF.

Associação Gentes da Nave.

Fundação Aquilino Ribeiro

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DATA ATIVIDADE OBJETIVOS

Mês de fevereiro

Mês de junho

A VIDA NUMA CARTA: - Leitura de uma carta de um exerto do livro O Homem da Nave de Aquilino Ribeiro. - Recolha de cartas antigas pelos idosos e posterior leitura. - Escrita de cartas a amigos e familiares.

A MINHA ALDEIA: - Leitura de um exerto do livro O Homem da Nave de Aquilino Ribeiro. - Apresentação de um powerpoint com a descrição da Serra da Nave e das gentes de Alvite, segundo Aquilino Ribeiro. - Recolha de hábitos e costumes do meio sociocultural dos idosos. - Apresentação de uma atividade realizada pelos idosos. - Apresentação de uma encenação pelos alunos do 10º F. - Lanche convívio. - Realização de uma visita à Fundação Aquilino Ribeiro.

- Promover a aproximação com a família. - Valorizar o papel do idoso na família. - Relembrar acontecimentos que os idosos experienciaram.

- Relembrar hábitos e costumes oriundos do meio sociocultural em que os idosos estão inseridos;

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AVALIAÇÃO DO PROJETO:

NOTA: Este trabalho teve como responsável a diretora de turma do 10º F,

que também é membro da equipa da BE, professora Cristina Galhardo.

As professoras bibliotecárias do Agrupamento de Escolas de Moimenta da

Beira: Estela Almeida e Célia Augusto.

Pontos Fortes

Pontos Fracos

O convívio intergeracional;

O trabalho colaborativo entre a

BE e os docentes e alunos do

10F;

As parcerias estabelecidas;

O trabalho e o empenho dos

alunos na realização das tarefas

propostas;

O conhecimento que os alunos

obtiveram sobre o autor, a sua

obra, as tradições da região onde

vivem;

A satisfação transmitida por

todos que participaram ou

assistiram às atividades.

A BE deveria ter destinado estas

atividades para um público mais

alargado;

O número de atividades foi

reduzido, devido à falta de

tempo.

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Texto Aquilino Texto adaptado do livro “ O homem da nave” com encenação

dos alunos do 10º F e acompanhado de imagens.

(ver aqui)

A serra da Nave com suas aldeias bárbaras e truculentas, que vivem nas

suas faldas e contrafortes cultivando o centeio, a batata…

A sua vegetação predominante é a urgueira de onde se extrai o carvão

para as forjas e o mato galego em que entra toda a casta de arbustos.

A terra é negra, terra de cobras lhe chamam decerto feita de toda a

espécie de detritos vegetais, a começar pela moinha da urze e do tojo, e

provavelmente da pulverização de moitas de carvalhos e de castanheiros

que nos antigos tempos cobriam os serros.

Contudo, a serra, a pobre serra, de manto de estamenha, quando chega a

primavera, torna-se um jardim sonhado. As plantas rasteiras, tojo urze,

sargaço, bela-luz, rosmaninho, esteva, compõem-lhe com o esplendor de

sua tintas uma robe.

A barra está nos giestais que vestem os caminhos de amarelo

espampanante, polvilhado de uma que outra faísca de alvura. E para o símil

ser completo, imagine-se que o corpete é estampado com matiz dos soutos

e das moitas, que vai do verde bronze ao ametista vaporoso.

Além de jardim, a terra é um coreto do tempo das filarmónicas rurais.

Executam-nas as aves canoras e não sabem sequer que há auditores que se

inebriam com as suas musicatas. Nos pinhais são as rolas que cantam e

recantam…. Tece o ninho, um ninho aéreo que não dá nas vistas, com dois

tanguinhos secos num silvado ou num escarapeteiro. Também no pinhal.

Em se sente por este provisório que é ave de arribação e perseguida. Quem

a denuncía é a cabeça esbelta de uma mobilidade de onda, em que luzem as

duas contas de onix que são os olhos. A sua timidez, e medo catastrófico

não tem limites e, se alguma coisa lhe desperta a suspicácia, tanto enjeitam

o ninho como os ovos ou os filhos.

O cuco ainda solta uma vez por outra a sua área mofareira, bem como a

popa.

Mas é pelas noites de luar ou de penumbra azulada, profunda como a

água dos açudes, que o rouxinol eleva as suas sonatinas, esse decerto

convencido que o ouvem as estrelas, os anjos do Céu, ou os enamorados da

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Terra, senão não se daria ao esmero de cantar tão divinamente … Comi…

comi… comi… um bichinho muito pequeruchinho?

E se há ave que goste de cantar é o perdigão. Em cima de uma parede a

sua voz enche a planície. É o arauto da plena e gozosa primavera. Não

canta apenas para …

De quando em quando o marantéu (papa-figos) lançava por sobre a

natureza amodorrada o seu gorjeio vibrante amarelo como ele, como o sol,

como o fogo, como as flores mais plebeias dos prados. Os gaios pinchavam

nas castinceiras, que se recobriam de rebentos primaveris, penugem verde-

amarela, breve e imponderável como uma musselina, e travavam com

aqueles o proverbial despique:

-Viste lo abade?

-Lá o vi, lá o vi

-Com’ ia vestido?

-Ia com’ a mim.

-Comeste los figos?

-Pois comi, comi!

Nesta serra há uma aldeia que se consegue manter com as suas hortas

cercadas por paredes que são renda, e as suas courelas de pão e nabal

adormecidas sobe a neve: Alvite. Populosa e grulhenta, os alvitanos sulcam

os caminhos e estradas da região, bufarinhando a veniaga. Tudo lhes serve

para mercadejar, desde a cravagem do centeio à canastra da sardinha que

vão buscar à Régua. As mulheres são pequeninas, morenas de feições

delicadas e casam a partir dos 12 anos. Os alvitanos primam por

desembaraçados e moirejadores, e só tem pecha assinalada serem pouco

escrupolosos nos negócios e por dá cá aquela palha puxarem da navalha ou

do revólver. Cada alvitano é dono de um burro, de uma faixa para se cingir,

onde trás lenço, carteira e revólver… e dos iinfinitos espaços do Senhor.

(Representação de um alvitano/a na atividade do comércio – dizer uns

pregões)

O solo é ingrato onde não medra sequer a cerejeira, apenas centeio e

couve-galega, mas atreveram-se ao cultivo da batata.

(Encenação da sementeira das batatas e alguém diz a rir: “Ali batatas!?

Esse manjar que vai à mesa dos reis, tão adestringente e nutritivo, tão

democrático mas delicado, poderia produzir-se no meio das fragas onde

só medra a sarça e o tojo alvarinho?”)

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E, ó milagre, os tubérculos maravilhosos germinaram, deitaram para

fora do solo inóspito suas orelhinhas de gato, que só o não parecem de todo

pelo belo tom esmeraldino, retoiçaram, altearam-se e, em regos simétricos

nas longas vessadas.

(Encenar a sementeira do centeio.)

Em verdade, a agricultura é pobre e pouco remuneradora nas serras da

Beira. Sendo certo que o centeio é a gramínea mais robusta e generosa de

quantas abastecem o celeiro nacional, exige não menos cuidados do que as

plantas de regadio.

Bem diz ele:

(Alguém escondido diz)

“Bota-me no pó, e de mim não tenhas dó;

Bota-me na lama, e chora-me na cama.”

Há anos que, contra todas as previsões, a colheita é boa que como lá diz

o ditado “Ralo o centeio bate no celeiro” outras vezes dá-se o inverso

muita soberbia nos prados e as colheitas são uma calamidade.

As ceifas fazem-se quando o calor abrasa, entre o S. João e o S. Tiago –

Canção popular

Ó prima vamos p’ra ceifa

Ó prima vamos ceifar

Foi na ceifa que eu ganhei

Um lenço p’ra me limpar

Um lenço p’ra me limpar

A minha saia encarnada

Ó prima vamos p’ra ceifa

Que aqui não se ganha nada

Que aqui não se ganha nada

Que aqui não se ganha o pão

Foi na ceifa que eu ganhei

A roda do meu balão

A roda do meu balão

Tem a fita aveludada

Foi na ceifa que eu ganhei

A minha saia encarnada

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Com as arcas cheias a santa vidinha tem outro toque. Todas as semanas

passa o moço do moleiro e leva a moenda.

(Encenar o moleiro com um saco às costas)

Para o moleiro de profissão a indústria é tão rendosa que não consta ter

algum morrido a pedir. Pudera!

“Deus te salve, saco, quatro maquias te rapo”

(encenar o amassar o pão)

Cozer o pão é artigo também com o seu ritual. Hoje a boa dona ainda se

benze antes de arremangar os braços, mas de sorte encomenda a massa a

fintar.

(Quem encena diz:)

“S. Mamede te levede, S. Clemente te acrescente, S. João te faça pão e a

Virgem Nossa Senhora te bote a sua divina benção”

(encenar o meter do pão no forno e dizer:)

“Tu a crescer, nós a comer, que ninguém te possa vencer”

Com este viver primitivo que vem das citânias, como é que a serra não

havia de ser boa mãe que lhes aduba as terras; lhes alimenta a cabra e o

carneiro; lhes fornece para as festas o coelho e a lebre. Tirar-lha seria

privá-los do seu melhor e mais vital património.

Apesar da dureza da vida não deixam de ser felizes e de acompanhar a

sua labuta com cantigas e boas e fartas merendas.

(Enquanto cantam alguém deve pegar no cesto da merenda e nas alfaias

agrícolas e descem do palco convidando no fim da canção para a

merenda.)

Canção: Água leva o regadinho

Água leva o regadinho

Água leva o regador

Em quanto rega e não rega

Vou falar ao meu amor

Ó balancé balancé

Balancé da neve pura

Ó minha salva rainha

Ó minha vida de cura

Vamos dar a meia volta

Meia volta vamos dar

Vamos dar a outra meia

Adiante troca o par

Água leva o regadinho

Água leva e vai regar

Enquanto rega e não rega

Ao meu amor eu vou falar