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estacaria de pinheiro bravo manual
Edição: Centro PINUS, Associação para a Valorização da Floresta do Pinho
Texto: Lúcia Fernandes
Coordenação: Isabel Carrasquinho, Alexandre Aguiar
Fotos: Lúcia Fernandes
Colaboração Técnica: João Pessoa
Design gráfico: Wallpaper Comunicação Integrada
Impressão: Rocha Artes Gráficas
Tiragem: 500 exemplares
Depósito legal:
ISBN: 978-972-98308-3-9
Lisboa 2007
Forma correcta de citar este manual: Fernandes, L., Pessoa, J, Aguiar, A e Carrasquinho, I, 2007. Manual de Estacaria de Pinheiro bravo. Centro PINUS 18 págs. ISBN 978-972-98308-3-9
ESTACARIA DE PINHEIRO BRAVO (Pinus pinaster Ait.)
MANUAL
Produção apoiada pelo Programa AGRO – Medida 8 – Desenvolvimento Tecnológico e ExperimentaçãoCo-financiado pelo Estado Português e pela União Europeia através dos Fundos Estruturais
INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO DA ESPÉCIE
TÉCNICA DE ESTACARIA
RECOLHA E PREPARAÇÃO DAS ESTACAS
ACLIMATAÇÃO DAS ESTACAS
ENRAIZAMENTO DAS ESTACAS
SEQUÊNCIA DA ESTACARIA DE PINHEIRO BRAVO
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE
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8
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14
15
18
A utilização de semente ou de plantas melhoradas geneticamente é uma das condições
indispensáveis para o sucesso da floresta. A Estação Florestal Nacional tem vindo a de-
senvolver, com algumas alterações, o Programa de Melhoramento Genético para o Pinheiro
Bravo estabelecido por Roulund et al., (1987) cujos objectivos consistem em aumentar
o potencial produtivo da espécie, com especial relevo para a quantidade e qualidade do
material lenhoso, assim como o de criar condições para o fornecimento abundante e
regular de material reprodutivo de provada qualidade genética.
Actualmente, o Pomar Clonal Produtor de Sementes instalado na Mata Nacional do
Escaroupim garante semente com ganhos genéticos (calculados em relação à média
de produtividade obtida na Mata Nacional de Leiria), de 21% em volume e de 17% para a
rectidão do fuste. Ao abrigo de projectos de Investigação e Desenvolvimento Experimental,
outros pomares clonais, com a categoria de testados, e também pomares seminais, têm
vindo a ser implantados em várias regiões do país, ocupando, no total, uma área de cerca
de 40 hectares. No entanto, as quantidades de semente produzidas nestas estruturas são
ainda limitadas.
A Estacaria é um processo de multiplicação vegetativa que permite obter plantas geneti-
camente iguais à planta-mãe, ou seja, multiplicar e conservar as características genéticas
de plantas de qualidade superior. Os progressos alcançados com o desenvolvimento desta
técnica na produção de plantas permitem considerá-la como um complemento à multiplica-
ção seminal no sentido do aumento da produção de plantas de qualidade genética superior,
nomeadamente de famílias e indivíduos que provaram, em testes de descendência,
apresentar características de forma e crescimentos mais favoráveis.
Nos anos 80, em França, a AFOCEL produzia, numa escala comercial, mais de 200 000
plantas, por estaca, retiradas de plantas de pinheiro bravo resultantes de cruzamentos
controlados dos melhores indivíduos seleccionados em ensaios de descendência (Alazard,
1986). Campe (1986), também em França, desenvolveu um estudo exaustivo da técnica
de estacaria para o pinheiro bravo. Em Portugal, Roldão (1990) avaliou a capacidade de
enraizamento de estacas retiradas em plantas jovens de 46 famílias presentes no Pomar
Clonal do Escaroupim. Neste trabalho, não se verificou a existência de diferenças na
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO 5
capacidade de enraizamento entre as diferentes famílias, o que permite encarar a estacaria
como um método de produção em massa das melhores famílias deste pomar, já que os
enraizamentos rondaram os 75%. No entanto, o uso desta técnica só se justifica se o
desenvolvimento das plantas obtidas por estacaria for semelhante ao das plantas de via
seminal. Neste sentido, Carrasquinho et al.. (2001) compararam, para um período de 10
anos, os acréscimos em altura de 16 das 46 famílias propagadas por estacaria e verifica-
ram que as plantas com os melhores acréscimos em altura eram oriundas das melhores
famílias analisadas em ensaio de descendências.
No âmbito do Programa AGRO, Medida 8 – Desenvolvimento Tecnológico e Demonstração,
Acção 8.1 – Desenvolvimento Experimental e Demonstração, apoiado pelo Projecto 450:
“Produção de Plantas Melhoradas de Pinheiro Bravo” considerou-se necessário desenvolver
um protocolo de multiplicação por estacaria exequível.
O sucesso da estacaria depende de um conjunto de factores, como sejam, a condução
da planta-mãe num parque de pés-mãe, o tipo de substrato de enraizamento utilizado,
a aplicação de hormonas de enraizamento na base da estaca, as condições ambientais
durante o enraizamento, bem como a aplicação de fungicidas antes e durante o processo
de enraizamento. Desta forma, realizaram-se ensaios distribuídos em diferentes épocas
de colheita de estacas, utilizando-se diferentes tipos de material vegetal (estacas do
gomo terminal, do lateral e de braquiblastos) com diferentes modalidades de substratos e
concentrações de hormona de enraizamento que conduziram a percentagens de enraiza-
mento elevadas (cerca de 88%).
A edição deste Manual de Estacaria tem como único objectivo demonstrar tecnicamente o
método de multiplicar plantas de pinheiro bravo por estacaria, baseando-se nos resultados
obtidos nos ensaios realizados no âmbito do projecto acima referido. Desta forma, coloca-
se ao dispor do profissional do sector uma ferramenta alternativa/complementar para a
produção de plantas de pinheiro bravo.
INTRODUÇÃO6
APRESENTAÇÃO DA ESPÉCIE 7
O pinheiro bravo (Pinus pinaster Ait.) é uma espécie resinosa de folha persistente carac-
terística de zonas mediterrânicas bem como de áreas com influência atlântica. A área de
distribuição actual do pinheiro bravo em Portugal corresponde sensivelmente à faixa litoral
que vai desde a bacia do Sado até ao rio Minho, estendendo-se para o interior nas regiões
Norte e, principalmente, no Centro, onde sobe a altitudes entre os 700-900 m. Dentro da
sua área de distribuição, o pinheiro bravo evidencia uma elevada plasticidade ao nível dos
terrenos que ocupa, continuando a ter utilidade na fixação das dunas do litoral em areias
pobres em matéria orgânica e nutrientes. Esta espécie contribui como um importante fac-
tor de desenvolvimento económico dos espaços rurais, quer pela comercialização da sua
madeira, quer através de uma série de actividades complementares, como a apicultura, a
caça, a produção de cogumelos, a casca ou a resinagem.
O pinheiro bravo é sensível ao frio intenso e prolongado e à neve. As geadas de Primavera
são indesejáveis se as agulhas novas já estiverem formadas (Abril/Maio). Os melhores
povoamentos estão situados na zona basal. A partir dos 800 metros de altitude nas situa-
ções de vento forte e neve, desenvolve-se mal.
É uma espécie de crescimento rápido que necessita de muita luz, excepto nos primeiros
meses que se seguem à germinação, em que dispensa a luz solar e directa.
Resiste bem em solos pobres de texturas ligeiras. Prefere solos siliciosos ou silico-argilosos.
O pinheiro bravo mostra uma nítida preferência por solos permeáveis, onde o sistema
radicular superficial se desenvolve melhor. Tolera mal a compactação do solo, solos
hidromórficos e de texturas pesadas, bem como solos com calcário activo.
APRESENTAÇÃO DA ESPÉCIE
TÉCNICA DE ENXERTIARECOLHA E PREPARAÇÃO DAS ESTACAS
Fig. 2 – Corte do lança-
mento terminal.
Fig. 3 – Colocação dos lançamentos
num balde com água.
1
Em fins de Maio/Junho, inicie
o programa de estacaria,
colhendo estacas num par-
que de pés-mãe de plantas
jovens (1/3 anos).
Nota: Um parque de
pés-mãe é um local onde se
mantém plantas com
interesse para futuras
multiplicações. Fig.1 – Parque de pés-mãe, Viveiros Aliança, SA – Herdade de
Espirra.
2
Corte o lançamento da
época (terminal se a planta
nunca foi cortada, ou lateral
se já deu origem a estacas
anteriormente), preferen-
cialmente durante a manhã,
e coloque as estacas em
baldes com água, para evitar
o stress hídrico. Prossiga
para o ponto quatro.
RECOLHA E PREPARAÇÃO DAS ESTACAS8
Fig. 5 – Estaca de pinheiro bravo.
3
Cerca de um mês depois,
em Junho/Julho corte os
rebentos (braquiblastos).
Nota: O corte do lançamento
terminal (que ocorreu na
etapa 2) induz o apareci-
mento de lançamentos
provenientes de gomos
laterais, os braquiblastos. Fig. 4 – Aspecto dos rebentos induzidos pelo corte do
lançamento principal.
4
Transporte as estacas para
uma bancada de trabalho.
Remova as agulhas na zona
que será introduzida no
substrato (mais ou menos
5 cm); reduza também
a dimensão das agulhas
situadas acima desta zona,
de forma a diminuir a área
foliar; a base da estaca
deverá ser cortada em bisel.
10 – 12 cmComprimento total da estaca
RECOLHA E PREPARAÇÃO DAS ESTACAS 9
Fig. 7 – Colocação da zona de corte na solução líquida de AIB,
durante 5 segundos.
5
Coloque a base das estacas
numa mistura de fungicida
com talco.
Fig. 6 – Colocação da zona de corte em fungicida.
6
Seguidamente, mergulhe
a base da estaca numa
solução com hormona de
enraizamento (AIB - Ácido
indol-butirico) durante 5
segundos.
Nota: A solução líquida da
hormona (AIB - Ácido indol-
butirico) deve estar a uma
concentração de 1%.
O frasco utilizado para a
preparação da solução
deverá estar protegido da
luz, podendo utilizar papel
de alumínio e deve manter-
se a uma temperatura cerca
de 20º C.
Esta solução terá de ser mu-
dada de 20 em 20 minutos.
RECOLHA E PREPARAÇÃO DAS ESTACAS10
7
Em seguida, introduza as estacas no substrato de enraizamento em alvéolos individuais.
Nota:
- Substrato de enraizamento aconselhado: 3⁄4 de Casca de pinheiro + 1⁄4 Esferovite
- Na preparação do substrato deve ser introduzido um adubo de libertação lenta.
Fig. 8 – Colocação das estacas nos alvéolos do tabuleiro.
RECOLHA E PREPARAÇÃO DAS ESTACAS 11
ENRAIZAMENTO DAS ESTACAS
8
Posteriormente, coloque os
tabuleiros numa bancada
em ambiente controlado
(rega através de nebuliza-
ção e ensombramento cerca
de 35%).
Fig. 9 – Aspecto da bancada onde decorre o enraizamento.
Fig. 10 – Aspecto geral da estufa.
ACLIMATAÇÃO DAS ESTACAS12
VERIFICAÇÃO ENRAIZAMENTO
Fig. 11 – Aspecto da emissão de raízes.
9
Após três meses, observe a
emissão de raízes.
ENRAIZAMENTO DAS ESTACAS 13
SEQUÊNCIA DA ESTACARIA DE PINHEIRO BRAVO
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I H G
F
E
CB
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SEQUÊNCIA DA ESTACARIA DE PINHEIRO BRAVO14
INSTALAÇÃO DO PARQUE DE PÉS-MÃE
- Deve recorrer a uma análise prévia das características do solo onde pretende instalar o
parque de pés-mãe, para obter uma correcta informação com vista a futuras adubações.
- Deve fazer uma adubação de fundo com adubo composto e micronutrientes, e uma aduba-
ção antes da plantação, utilizando um adubo de libertação lenta rico em fósforo (P) e com
micronutrientes.
- O compasso de instalação de um parque de pés-mãe deverá ser 1 x 0,5.
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS
MANUTENÇÃO DO PARQUE DE PÉS-MÃE
- Nos anos seguintes, após a segunda colheita dos lançamentos, deverá fazer uma aduba-
ção de cobertura com adubo composto e micronutrientes.
- As plantas deverão manter-se em bom estado vegetativo e fitossanitário. Efectue as lim-
pezas necessárias para garantir que os pés-mãe não sejam afectados.
- Com uma manutenção correcta, é possível colher cerca de 5 estacas anualmente em cada
pé-mãe.
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS 15
PREPARAÇÃO DA HORMONA DE ENRAIZAMENTO
- Preparar a solução alcoólica da hormona numa concentração de 1%, ou seja, 10000 ppm
(10000 mg/l).
- Dissolver 10 g de AIB em 20 ml de álcool etílico a 50%. Seguidamente, deve perfazer a
solução até 1 litro, com água destilada.
A solução deverá ser utilizada de imediato ou armazenada num frigorífico a 4ºC por um
período curto. Dada a possibilidade de contaminações ou de alteração do composto activo,
a solução não deverá ser reutilizada. Deverá utilizar luvas de protecção no manuseamento
da hormona de enraizamento.
NOTAS TÉCNICAS DURANTE O PERÍODO DE ENRAIZAMENTO
Rega
Durante o período de enraizamento é necessário prestar atenção às frequências e
duração das regas, procurando evitar não só o encharcamento, como também a perda
de água no substrato, que poderão conduzir ao apodrecimento ou à secura das estacas.
Ensombramento
Durante o enraizamento, deverá utilizar uma rede de ensombramento, nunca superior a
35%, uma vez que o pinheiro bravo é uma espécie de luz.
Tratamentos fitossanitários
Semanalmente, deverá realizar uma aplicação de fungicida.
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS16
PLANTAÇÕES
A plantação de plantas obtidas por estacaria efectua-se da mesma forma que as plantas
seminais.
Da mesma forma, a condução dos povoamentos não difere da de plantas seminais. Na figu-
ra seguinte, observa-se um povoamento instalado com plantas produzidas por estacaria.
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS 17
Fig. 12 – Povoamento instalado com plantas produzidas por estacaria
Alazard, P. (1986). Utilisation des Boutures de Pin maritime. Afocel-Armef
Informatios-Forêt: pág. 277-287.
Campe, P. (1986). Le Bouturage du Pin Maritime. Stage de Fin d’etudes BTSA. Ecole
Forestiere de Meymac: “Production Forstiérès”.
Carrasquinho, I., Aguiar, A., Correia, I. E Baeta, J. M. (2001) Análise do Crescimento em
Altura de Plantas de Pinheiro Bravo por Estacaria. Livro de resumos do IV Congresso
Florestal Nacional, Évora: pág. 134.
Roldão, I. F. (1990): Propagação vegetativa de pinheiro bravo, II Congresso Florestal
Nacional, Porto. Livro de Comunicações, pág. 526-532.
Roulund, H., Alpuim, M., Varela, C. E Aguiar, A., 1987. A Tree Improvement Plan for Pinus
pinaster in Portugal. Viborg (Denmark): Danish Land Development Service, pág. 143
BIBLIOGRAFIA REFERIDA
BIBLIOGRAFIA REFERIDA18