espetáculos do balé da cidade de são paulo (1968-2007): … · 3.2 o processo de catalogação...

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE HISTRIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIA SOCIAL

    PATRCIA DIAS DE ROSSI

    ESPETCULOS DO BAL DA CIDADE DE SO PAULO (1968-2007):

    mapeando quarenta anos de arquivo

    SO PAULO

    2009

  • AGRADECIMENTOS

    BAL DA CIDADE DE SO PAULO:

    Ana Cristina Teixeira

    Dora de Queiroz

    Francisco Carlos Isidro

    Hugo Travers

    Lilia Shaw

    Lumena Macedo

    Mnica Mion

    Osmar Zampieri

    Raymundo Costa

    Renata Cavallari

    Slvia Machado

    Suely Sciedlarczyk

  • RESUMO

    Este trabalho apresenta um catlogo da produo coreogrfica do Bal da Cidade de

    So Paulo, de 1968 at 2007, indicando quais fontes documentais podem ser encontradas no

    arquivo da companhia. Baseado na abordagem funcional para a classificao dos documentos, o

    catlogo, ainda que no exaustivo, oferece uma viso da instituio como um todo e indica

    quais atividades foram, ou no, documentadas no processo de encenao de espetculos. Alm

    de constituir um instrumento para a pesquisa, este trabalho oferece uma proposta de como

    preservar a memria coreogrfica.

    Palavras-chave: Bal da Cidade de So Paulo, arquivologia, instrumentos de pesquisa,

    memria coreogrfica, histria da dana.

  • ABSTRACT

    The archives of the Bal da Cidade de So Paulo offer a panoramic vision of its

    institutional life, since 1968 till 2007. In spite of the lacks we observe in several series of

    records, it is possible to describe them and elaborate a finding aid where the essential

    characteristics of the whole are indicated, under a functional approach. Besides its role as a

    guide to researchers, this work also intends to offer an example of how to preserve our

    choreographic memory.

    Keywords: Bal da Cidade de So Paulo, archival science, finding aid, choreographic memory,

    dance history.

  • 6

    SUMRIO

    Apresentao ..................................................................................................... 7

    1a. PARTE - REFERENCIAIS TERICOS E METODOLGICOS

    1. Documentando a Dana: Limites e Potencialidades ...................................... 10

    1.1 Os Registros da Dana ............................................................................. 10

    1.2 Os Arquivos de Dana ............................................................................. 14

    2. Opes Metodolgicas ................................................................................. 17

    3. Bal da Cidade de So Paulo: Perfil Institucional e do Acervo ..................... 20

    3.1 Estrutura Administrativa e Organizao Interna ...................................... 21

    3.2 O Processo de Catalogao....................................................................... 24

    3.3 Construo do Plano de Classificao de Documentos............................ 29

    4. Proposta de Catlogo da Produo Coreogrfica ....................................... 33

    4.1 Expectativas .............................................................................................. 37

    2. PARTE - CATLOGO DA PRODUO COREOGRFICA

    O Bal da Cidade de So Paulo e suas Direes Artsticas ................................ 39

    Quadro Cronolgico dos Espetculos por Direo Artstica...............................54

    Os Trabalhos Coreogrficos e suas Tipologias Documentais...............................86

    Glossrio das Tipologias Documentais................................................................350

    ndice Onomstico...............................................................................................358

    ndice de Trabalhos Coreogrficos......................................................................385

    Bibliografia........................................................................................................390

    Anexos

    1. Formulrio de Entrada de Dados dos Documentos...................................395

    2. Formulrio de Entrada de Dados dos Trabalhos Coreogrficos................396

    3. Formulrio de Entrada de Dados dos Espetculos.....................................397

  • 7

    APRESENTAO

    A dana poderia ser considerada uma metfora da transitoriedade. Refazendo-se

    continuamente, singular para cada corpo, de natureza efmera e irreproduzvel, sua fruio

    possvel uma nica vez: no momento da performance. As modalidades de seu registro material

    proporcionam sempre verses parciais de sua traduo, imagem e movimento, sob qualquer

    ngulo, tcnica ou meio. Entretanto, a partir destes vestgios que se torna possvel conhecer,

    aprender, pensar, criar e imaginar as danas que j aconteceram um dia.

    Os desafios documentrios para a sua preservao no so poucos. A comear pela

    prpria noo do que seria documentar a dana. Haveria mtodos recomendveis, regras, boas

    prticas? O ato de danar ou de fazer danas prescinde de documentos. As informaes

    necessrias podem ser passadas oralmente e apresentadas por algum, ou ainda, podem ser

    imaginadas pelo prprio danarino. Esta desnecessidade de se proceder a registros sistemticos

    no domnio da dana pode ser uma das explicaes para a escassez das iniciativas de fomento ao

    tratamento das fontes documentais que so produzidas nesse meio no Brasil, em especial nas

    companhias de dana: as mesmas no colocam tais questes publicamente; os arquivos no

    requisitam a custdia dos fundos das companhias oficiais sob sua jurisidio; os arquivos

    pessoais no so doados; as associaes de classe e as universidades no celebram convnios e

    assim por diante.

    importante destacar que existe uma tendncia para reverso deste quadro. Projetos

    relacionados dana e histria das artes do espetculo tm sido desenvolvidos no mbito das

    universidades brasileiras e incentivados por meio do mecenato cultural ou da iniciativa pblica.

    Os congressos da Associao Brasileira de Pesquisa e Ps-graduao em Artes Cnicas tm sido

    um dos canais de divulgao das pesquisas acadmicas, ao passo que na rea pblica, o Instituto

    do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional tem prestado importante contribuio para o

    estudo e registro do patrimnio imaterial, contemplando, entre as formas de expresso oral, as

    manifestaes da dana popular brasileira. Em So Paulo, um dos representativos acervos na

    rea originou-se atravs da interveno documentalista do Departamento de Informao e

    Documentao Artstica (IDART), atual Arquivo Multimeios da Diviso de Pesquisas do

  • 8

    Centro Cultural So Paulo. Por sua vez, a iniciativa privada tem buscado diversas formas de dar

    acesso s fontes documentais da rea, apoiando a formao de colees e divulgao de

    catlogos, em projetos como Recordana, Acervo Mariposa, Acervo Klauss Vianna, entre

    outros.

    As discusses metodolgicas para o tratamento documental dos acervos especficos de

    dana podem representar um importante passo para o incremento da oferta de fontes

    documentais. nesta linha que esta pesquisa se insere. No se trata de uma dissertao terica,

    mas de um trabalho prtico de natureza arquivstica. Por isso, foi dividido em duas partes: na

    primeira, apresenta os referenciais tericos e metodolgicos que subsidiaram a confeco de um

    catlogo da produo coreogrfica do Bal da Cidade de So Paulo ao longo de quatro dcadas

    e parte da respectiva documentao arquivada na companhia; na segunda, traz o catlogo

    propriamente dito, que nada mais que um instrumento que possibilita a pesquisa a este

    acervo selecionado.

    O catlogo conta com seis sees, sendo a primeira de natureza expositiva, discorrendo

    brevemente sobre a contextualizao histrica da companhia e a sucesso de suas direes

    artsticas. As demais consistem em dois diferentes pontos de acesso para a busca de informao,

    um glossrio com a definio das tipologias documentais e dois ndices, um onomstico e outro

    de trabalhos coreogrficos. Os pontos de acesso podem ser por perodo cronolgico ou por

    ordem alfabtica de trabalho coreogrfico. No quadro cronolgico, so indicadas as datas das

    temporadas, cidade e programao da companhia, agrupadas por perodo de direo artstica.

    No corpo principal, os verbetes so arrolados alfabeticamente por trabalho coreogrfico,

    contendo at quatro reas de informao, que consistem na caracterizao do trabalho, os

    crditos de produo nas montagens e remontagens, as datas iniciais e local de apresentao das

    respectivas temporadas e, por fim, a indicao das fontes documentais que se encontram

    arquivadas na companhia.

    No se trata de um catlogo exaustivo sob o ponto de vista da descrio de todas as

    fontes documentais do Bal da Cidade de So Paulo, mas o conceito subjacente sua

    elaborao proporciona ao pesquisador um instrumento de elevado valor informativo.

  • 9

    1. PARTE

    REFERENCIAIS TERICOS E METODOLGICOS

  • 10

    1. Documentando a Dana: Limites e Potencialidades

    Dana uma manifestao fluida e plstica, executada pelo corpo atravs de

    movimentos cadenciados, intencionados, em sintonia com um roteiro: mental, musical, gestual,

    espacial. Sua ordenao espao-temporal pode ser improvisada, ldica, livre, ou, do contrrio,

    planejada, ensaiada, definida1. O ato de danar personalssimo, espcie de impresso digital2

    motriz, que reflete a carga emotiva, sensorial, orgnica e fsico-muscular de cada um, carga esta

    em constante processo de reformatao. Conseqentemente, qualquer tentativa de descrever ou

    registrar totalmente uma dana esbarra necessariamente em dificuldades de apreenso; por sua

    prpria essncia e por sua manifestao multidimensional, no h como se obter domnio de

    todas as variveis envolvidas.

    1.1 Os Registros da Dana

    A dana coreografada especialmente concebida para uma platia e, como qualquer

    obra de arte, instaura-se a partir de um ato criador. Ceclia Almeida Salles (2000, p. 50) aponta,

    em sua Crtica Gentica: uma (nova) introduo, que so deixados ndices materiais ao longo

    deste processo, a partir dos quais se possvel adentrar na intimidade da criao artstica e

    assistir ao vivo - a espetculos, s vezes, somente intudos e imaginados. Sem a pretenso de

    apoderar-se do prprio ato criador, conhecer estes indcios corresponde, pelo contrrio, a uma

    tentativa de se aproximar, por diferentes ngulos, deste processo instigante. Afinal, o efeito

    que a obra causa em seu receptor tem o poder de apagar ou, ao menos, no deixar todo esse

    processo aparente, podendo levar ao mito da obra que j nasce pronta, ou seja, de que a obra

    1 Em entrevista concedida jornalista Marlia Gabriela (no programa Marlia Entrevista, do canal pago GNT) sobre o espetculo Isto Brasil, a bailarina Ana Botafogo teceu o comentrio que Carlinhos de Jesus, vez ou outra durante os ensaios, a surpreendia com algum passo improvisado, mas que ela, de slida formao clssica, precisava saber exatamente cada passo que daria no palco. 2 Alguns danarinos denominam esta caracterstica de sotaque prprio, ou seja, dentro de uma mesma comunidade, onde todos partilham o mesmo universo de dana, cada qual apresenta o seu sotaque ao danar.

  • 11

    no tem memria (SALLES, 2000, p. 23). Nesse sentido, estes materiais, ou documentos de

    processo, como classifica Salles (2000, p. 35), so fruto das atividades intelectuais

    desenvolvidas pelo artista, em decorrncia da necessidade de reter alguns elementos, que

    podem ser possveis concretizaes da obra ou auxiliares dessa concretizao.

    Ao contrrio das anotaes livres tpicas do processo criativo, as notaes correspondem

    a sistemas precisos de registro dos movimentos coreogrficos. Segundo Louppe (1994), advm

    da cultura ocidental a tentativa de se elaborar anotaes ou registros sistematizados de uma

    composio de dana, ao que se deu o nome de coreografia. Esta inveno do ato coreogrfico3,

    ao projetar uma relao de movimentos num determinado roteiro, ensejou a demarcao de um

    territrio visvel no qual o coregrafo tem como imprimir sua marca e reclamar a sua autoria.

    Surgiu, assim, a possibilidade de se arquivar a dana, atravs da fixao de sinais em

    um meio tangvel, que, por sua vez, assume a figura de um intermedirio, capaz de vencer o

    tempo e o espao e levar adiante os traos orqusticos de que depositrio. Entretanto, as

    tcnicas de notao no seguiram o mesmo processo de universalizao da partitura de msica.

    Ao longo do tempo, a palavra coreografia perdeu sua conotao de registro, de anotao,

    para se referir ao ato de criao ou composio de danas. Dispensvel, na medida em que os

    movimentos podem ser instrudos ou imitados, o processo de notar tem, em muitos casos, se

    revelado mais um conjunto de rabiscos, aparentemente sem importncia. Para Louppe, estes

    sinais chegam a figurar uma escrita misteriosa, envolvendo ritmos e smbolos inalcanveis, to

    evanescentes quanto o fenmeno que pretendem retratar. Historicamente, afirma a autora, a

    escrita da dana tem se mostrado uma atividade menor e modesta, de pouco interesse

    institucional4, padecendo, inclusive do desinteresse da comunidade de dana, que a considera

    um obstculo s suas operaes. Tem sido prtica comum entre muitos coregrafos realizar a

    composio de seus trabalhos atravs da movimentao dos bailarinos, sem se preocupar em

    proceder ao registro sistemtico, escrito ou audiovisual, de todo o processo. Restritas memria

    de seus intrpretes e criadores, muitas destas coreografias caem no esquecimento anos aps

    3 Chorographie ou Art de notes la dance, de 1700, obra pioneira no gnero, assinada por Raoul-Auger Feuillet, trazendo a descrio de 460 passos de seu mestre, Charles-Louis-Pierre, a quem se atribui a elaborao e codificao da dana clssica (BOURCIER, 1987, p. 156). 4 Quadro que se modifica com o desenvolvimento da kinetographie, ou labanotation, espcie de partitura para a dana, publicada por Rudolf von Laban em 1928, alm de outros mtodos de registro que lhe sucederam, entre eles o programa de computador Life Forms, atualmente denominado Dance Forms, utilizado por Merce Cunningham em algumas de suas criaes coreogrficas.

  • 12

    terem sido executadas, como no clssico exemplo do bal Sagrao da Primavera, de Vaslav

    Nijinsky, de 1913, que no pde ser remontado quando, sete anos mais tarde, Sergei Diaghilev

    se props a faz-lo5.

    Alm dos registros textuais, outro importante registro da dana o iconogrfico. A

    dana se faz com imagens, que so construdas no corpo e atravs dele por meio de gestos

    (GERALDI, 1977, p. 9 apud OLIVEIRA, 2002, p. 9). O objetivo da fotografia registrar o

    gesto no seu momento de pice, ou seja, naquele tempo de relativo repouso no qual o corpo

    comea a inverter o movimento. Para Oliveira (2002, p. 11), nesse momento que ocorre a

    fuso plena das linguagens da fotografia e da dana: no se trata apenas de congelar pela

    abertura da lente um momento, mas um momento especial para a dana. Neste sentido, a

    fotografia atua como prova de que algo aconteceu em determinado tempo e espao, no caso a

    dana, mas que s pode ser vislumbrada hoje a partir de uma imagem congelada pelo gesto do

    operator (OLIVEIRA, 2002, p. 12).

    As colees fotogrficas revelam-se a mais abundante fonte documental acumulada pelas

    companhias de dana, multiplicando-se s dezenas ao final de cada trabalho artstico6. Mas estas

    mesmas colees, ao longo dos anos, alijam-se dos demais documentos, tornando-se meramente

    imagens descoladas do contexto artstico, social, histrico no qual foram concebidas. Long e

    Ritzenthaler (2006, p. 2) esclarecem que nos primrdios dos arquivos, era comum separar o

    material iconogrfico das fontes escritas e manuscritos e restringi-lo s colees gerais de

    imagens. As fotografias eram classificadas como miscelnea efmera e relegadas s ltimas caixas

    das colees. Entretanto, mant-las na pasta, relatrio, dirio ou carta em que estavam

    colocadas possibilitava, muitas vezes, proceder identificao da cena, situao e pessoas

    representadas.

    5 Um rduo trabalho de reconstituio histrica, baseado no levantamento de toda informao oral e escrita, possibilitou a remontagem deste espetculo, trabalho este relatado por Millicent Hodson em Nijinsky's Crime Against Grace: Reconstruction Score of the Original Choreography. 6 A ttulo de exemplo, segue trecho de comentrio do bailarino e coregrafo Edgar Duprat, divulgado na pgina eletrnica da companhia Stagium: Este site para vocs. Sugiro que o navegue em Bandalarga caso contrrio algumas reas sero muito lentas. Tentei colocar o mximo de informao disponvel do contedo do acervo do Ballet Stagium. Muitas fotos ainda esto sem ttulo e muitas reas esto em construo... Esta uma pesquisa de anos, j perdi a conta ... Imagine o trabalho que est dando recuperar o acervo e disponibilizar novos contedos, pois temos que andar para frente e para traz ao mesmo tempo, ainda bem que j fui bailarino ! [...] Galeria uma pesquisa de mais de 1.500 fotos que ainda esto sem ttulo, use a sua imaginao, em baixa para livre acesso, tiradas de mais de 500 horas de vdeos que fiz durante a minha vida no Stagium, que virou um projeto e que ainda no se materializou. Hoje j temos mais de 1000 horas com os novos projetos... procura-se um `paitrocinio[...]. Disponvel em: . Acesso em: junho de 2003.

  • 13

    Por esta razo, muitos arquivos tm mudado sua prtica tradicional e mantido as fotos

    em sua localizao de origem, uma vez que as informaes do documento escrito ao qual esto

    relacionadas possibilitam contextualiz-la e fornecer informaes que, de outro modo, ficariam

    para sempre perdidas. A fotografia de dana cnica no pode privar-se desta organicidade, sob

    pena de perda de seus referenciais de contexto, uma vez que a no insero dos documentos

    imagticos no contexto de produo leva, em algumas propostas, valorizao excessiva das

    imagens, monumentalizando-as, ao destacar apenas determinados elementos, descolados da

    origem institucional (LOPEZ, 2001, p. 180).

    A respeito da gravao audiovisual de dana, alguns aspectos tcnicos e artsticos so

    discutidos pela Diviso de Dana da Biblioteca Pblica de Artes do Espetculo de Nova Iorque,

    no trabalho The collaborative editing project to document dance: an initiative of the Dance Division The

    New York Public Library for the Performing Arts, de 2001.

    Alm de manter um dos maiores e mais representativos acervos na rea, a Diviso de

    Dana tambm produz gravaes audiovisuais com a finalidade de documentar a dana, rea

    em que igualmente presta consultoria comunidade de interesse, em especial, coregrafos,

    editores e produtores de vdeo. Os resultados desta experincia tm mostrado que

    fundamental a colaborao entre coregrafos e tcnicos de filmagem, desde o planejamento do

    projeto at a sala de edio, para que seja produzido um registro audiovisual com altos padres

    tcnicos e artsticos. Quanto mais informaes o videoasta tiver para realizar a filmagem, mais

    prxima esta chegar do resultado esttico que o coregrafo pretendia passar ao seu pblico,

    uma vez que, como indica o videoasta Jay Millard, apresentaes ao vivo apresentam

    desdobramentos que nenhum estdio de produo pode superar em relao a ter estado l

    naquele momento (THE NEW YORK PUBLIC LIBRARY, 2001, p. 6, traduo nossa).

    Por trs da inteno de focalizar um determinado movimento e o seu encadeamento

    com outros, de distanciar ou de aproximar as lentes da cmera, de acompanhar alguns

    danarinos ou todos ao mesmo tempo, deve haver um projeto de gravao. Trata-se, na verdade,

    de decises que precisam ser tomadas a priori, em conjunto com o coregrafo, a fim de se obter

    uma determinada verso da ocorrncia do espetculo. Por questes financeiras e de tempo,

    poucas so as oportunidades de realizar diversas gravaes de um espetculo, tanto para

    privilegiar o aspecto documentrio como para apanhar o sentido esttico. Pelo primeiro,

    poderamos entender a produo de um registro que contemplasse toda a movimentao

    cnica, desde a entrada at a sada de cada um dos danarinos, e, pelo segundo, a produo de

  • 14

    um registro mais dinmico e evocativo da dramaticidade do espetculo, focado na expresso

    corporal e na sutileza dos gestos. A opo por um ou outro aspecto tem impacto direto na

    produo do registro audiovisual, em associao com questes tcnicas envolvidas na captao

    do som e das imagens. Esta divergncia torna-se explcita no momento crucial da edio da

    mdia.

    Da mesma forma que os demais registros de dana, a gravao audiovisual apresenta a

    conjugao de algumas facetas do evento performtico, revelando tanto limites como

    potencialidades em termos documentrios. Esta uma premissa importante quando se trata de

    estabelecer diretrizes para a preservao da memria coreogrfica.

    1.2 Os Arquivos de Dana

    Um arquivo institucional de uma companhia de dana, por exemplo, permite apanhar

    determinados aspectos do contexto de produo de um espetculo, ao passo que uma coleo

    de fotos, de vdeos ou de documentos esparsos recolhidos por iniciativas de resgate da

    memria apresenta documentos enquanto peas autnomas7, destitudos da relao orgnica

    com outros documentos gerados para o mesmo fim.

    Ademais, a melhor forma de documentar uma performance de dana, de natureza

    intrinsecamente pluridimensional, atravs da diversidade de documentos que a registram por

    diferentes dimensionalidades (JOHNSON; SNYDER, 1999). A fotografia de uma pose de

    dana permite perceber elementos de estilo, mas no permite a reconstruo de uma

    coreografia. O vdeo, igualmente, no permite tal pretenso, mas oferece a viso de conjunto e

    permite captar a fluidez da movimentao. A notao, por sua vez, oferece uma determinada

    "escrita" da seqncia de movimentos, intensidade, gestos.

    Em uma companhia de dana, muitos documentos so gerados espontaneamente ao

    longo de todo o trabalho de construo do espetculo coreogrfico, por diversos profissionais,

    7 Camargo e Goulart (2007, p. 54) apontam que, em bibliotecas, os documentos tm autonomia de

    significado e constituem unidades de auto-suficincia cuja descrio pode ser feita a partir de regras gerais, sem que se considere o contexto em que foram produzidos ou acumulados. Os documentos de arquivo, ao contrrio, no prescindem da relao que mantm entre si e com o conjunto. Por contexto arquivstico, entendem-se as circunstncias sob as quais se deu a acumulao ou produo documental, que podem ser expressas pelo delineamento e categorizao das funes desempenhadas pelo organismo detentor do arquivo. Nos arquivos,

  • 15

    integrando, caso no tenham sido eliminados ou extraviados, o arquivo institucional. Trata-se

    de uma informao acumulada e gerenciada pela companhia, e, como bem destaca Bellotto

    (1998, p. 52), que lhe permite demonstrar como atingiu seus objetivos, confeccionou sua

    imagem e integrou-se na sociedade na qual est inserida. [...] Nesse sentido que as informaes

    so orgnicas: por guardarem entre si as mesmas relaes que se formam entre as competncias

    e as atividades das entidades.

    Um documento um fato materializado da ao humana. a partir do conhecimento

    do contexto de produo deste documento, da identificao dos agentes envolvidos e seus

    papis, bem como dos procedimentos utilizados, que se possvel auferir sua autenticidade, que

    diz respeito capacidade que o documento tem de provar o que diz ser; e sua fidedignidade,

    assegurada com o grau de completude do documento e com a capacidade que ele tem de

    sustentar os fatos que atesta.

    Daz e Ruiprez (2003) relatam que o termo documento, em latim documentum, procede

    do verbo doceo - docere, que significa ensinar. Ao longo do tempo, tem correspondido s

    acepes de doutrina, ensinamento, diploma, escrito, testemunho, comunicao,

    conhecimento. Quanto ao aspecto formal, todo documento possui uma estrutura constituda

    de uma matria na qual se grava, de determinado modo, a representao de algo. Assim, a

    estrutura documental compe-se de matria, meio e contedo. Numa acepo mais ampla,

    adotada por Schellenberg, (apud DAZ; RUIPRES, 2003, p. 20), o documento pode ser

    definido como todo testemunho da atividade humana fixado num suporte durvel que contm

    informao. Simplificando este conceito, possvel chegar definio de documento como

    suporte de uma informao.

    O documento arquivstico, segundo a arquivista Heredia Herrera (1993), corresponde

    aos documentos produzidos ou recebidos por uma pessoa ou instituio durante o curso de

    suas atividades ou no cumprimento de suas finalidades, que so mantidos a ttulo de prova ou

    informao. Neste sentido, Schellenberg (apud DAZ; RUIPREZ, 2003, p. 28) diferencia o

    documento de arquivo dos demais documentos em razo do seu carter seriado, ou seja, de

    integrar uma srie documental; por sua gnese, uma vez que produzido dentro de um

    processo natural, no exerccio de uma determinada atividade; por seu carter de exclusividade

    esta contextualizao que permite recuperar o documento desejado, diferentemente das bibliotecas, museus ou centros de documentao, nos quais este dado, quando contemplado, absolutamente secundrio.

  • 16

    em funo da informao que contm e, por fim, por seu carter relacional, dado que pertence

    a um conjunto de documentos, princpio pelo qual possvel reconstituir o vnculo orgnico

    que liga um documento a outros do mesmo arquivo.

    O conjunto documental das reas de atuao e funcionamento de uma companhia de

    dana oferece uma chave para a compreenso do contexto mais amplo no somente dos

    espetculos, como tambm da sua gnese e evoluo, alm de indicar as caractersticas

    burocrticas que acomodam a instituio, as implicaes decorrentes de determinadas polticas

    culturais, o quadro de recursos humanos, o prprio desenrolar do processo criativo e, por fim,

    o trabalho cnico e sua repercusso na sociedade. Ao registrar diferentes tipos de atividades,

    estes documentos de arquivo inter-relacionados tornam-se eloqentes de um processo maior,

    dentro do qual foram gerados. Guard-los segundo um plano que assegure seu contexto de

    origem permite recompor a correlao entre o momento da documentao e o momento da

    ao, ampliando o nmero de peas de um quebra-cabea que ser montado quando o perodo

    histrico for outro8.

    8 Da a importncia de uma descrio arquivstica que privilegie a organicidade documental expressa em termos das atividades desempenhadas pelo organismo produtor. A acumulao sem observncia a este princpio faz gerar, muitas vezes, o que se chama de massa documental, a qual ir requerer um esforo indubitavelmente maior para o seu tratamento futuramente, numa jornada quase arqueolgica de reconstituio dos contextos de gerao de documentos. Em companhias de dana, o arquivista, trabalhando em conjunto com profissionais de diferentes segmentos de atuao, seria o tcnico responsvel por elaborar o plano de classificao funcional, descrever os documentos, elaborar os instrumentos para sua recuperao e zelar pela conservao do acervo. Neste sentido, no deixaria de ser um especialista da rea onde atua, por ter uma compreenso integral da organizao institucional e dos seus processos de trabalho.

  • 17

    2. Opes Metodolgicas

    Instrumento de pesquisa privilegiado para referenciar o conjunto de documentos

    relativos s vrias fases do processo de encenao de um espetculo de dana, um catlogo da

    produo coreogrfica tem por finalidade informar e promover o acesso a tais fontes.

    Para viabilizar a construo deste instrumento, foram realizadas a identificao,

    classificao e descrio de parte do acervo documental em poder do Bal da Cidade de So

    Paulo, abrangendo o perodo de 1968, ano de criao da companhia, at 2007. Foram

    catalogadas a srie integral de programas de espetculo e um conjunto de 420 documentos

    referentes ao processo de encenao de espetculos de dana.

    A escolha da companhia justificada por se tratar de um rgo pertencente aos quadros

    da municipalidade paulistana, cujo arquivo detm, igualmente, carter pblico. Em tese, a

    gesto destes documentos uma exigncia legal9 e um dever institucional. Se, por um lado, foi

    atribuda municipalidade a manuteno de um corpo estvel para a produo de espetculos,

    por outro, a funo de documentar as diferentes etapas subjacentes a tal misso no foi

    contemplada nos estatutos regulamentadores. Desta forma, a maior parte dos documentos

    resultantes das atividades tcnicas e artsticas foi acumulada, ou no, nos armrios e arquivos da

    companhia, de acordo com iniciativas particulares da prpria direo, ao passo que os de

    carter administrativo, referentes aos processos de aquisio e locao de bens e servios,

    contratao de bailarinos e deslocamentos em turns, entre outros, tramitaram na Secretaria

    Municipal de Cultura e, provavelmente, foram encaminhados ao Arquivo Municipal de

    Processos at deliberao de sua destinao final10.

    9 Data de 1991 a Lei Federal n. 8.159, que estabelece a poltica nacional de arquivos pblicos e privados; no mbito da cidade de So Paulo, foram publicados os Decretos Municipais 28.656, de 1990, e 29.745, de 1991, para estabelecer os mecanismos necessrios para implantao de processo de avaliao de documentos, alm das normas de avaliao e destinao dos documentos da administrao pblica do municpio. 10 Caberia, numa segunda pesquisa, rastrear, classificar e inventariar estes documentos, igualmente de interesse para a histria da companhia.

  • 18

    Em virtude da carncia de uma poltica de gesto documental da produo artstica, foi

    necessrio o desenvolvimento de uma ferramenta para a classificao dos documentos, mais

    especificamente, um plano para correlacionar os tipos documentais11 com as atividades atravs

    das quais foram gerados ou acumulados. Subsidiou a elaborao deste plano o estudo histrico

    e legal da instituio12, para identificao dos processos gerais de trabalho. Delineadas as

    funes e respectivas subfunes, as atividades e as tipologias documentais correspondentes

    foram modeladas a partir da ocorrncia dos documentos pesquisados. Isso significa que o plano

    apresentado no abarcou todo o elenco de tipologias documentais decorrentes das atividades

    realizadas pelo Bal da Cidade de So Paulo ao longo de sua existncia, mas somente as

    selecionadas para constarem do catlogo.

    O processamento das informaes foi realizado em aplicativo Microsoft Access, verso

    2007, a partir de trs formulrios principais13 para entrada de dados de todos os programas,

    trabalhos coreogrficos e documentos levantados, alm de tabelas acessrias para a definio do

    plano de classificao e para o controle de autoridade de nomes e cidades. Com a criao desta

    base de dados14, abriu-se a possibilidade de serem solicitados e refinados diversos tipos de

    relatrios e consultas, bem como de se obter informaes mais detalhadas como, por exemplo,

    saber quais foram os realizadores e o ttulo de um determinado evento no qual o Bal da

    Cidade de So Paulo se apresentou, ou, ainda, alguma nota sobre o contedo de um

    determinado documento e seu local de guarda, informaes estas que foram inseridas na base,

    mas no foram reportadas no catlogo.

    Dentro do escopo desta dissertao, foram extrados cinco relatrios para composio

    do catlogo da produo documental: 1) a cronologia dos espetculos de acordo com os

    perodos de direo artstica da companhia; 2) a lista de todos os trabalhos coreogrficos com

    11 Na sua acepo arquivstica, tipo documental refere-se configurao que assume uma espcie documental de acordo com a atividade que a gerou (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p. 74), enquanto a espcie a configurao que assume um documento de acordo com a disposio e a natureza das informaes nele contidas (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p. 34). 12 Este estudo deu origem a dois textos: o primeiro, detalhado e com recuo desde o incio do sculo XX, permeado de citaes e destacando a evoluo das direes artsticas da companhia, foi inserido como seo introdutria do catlogo, uma vez que contextualiza as informaes do quadro cronolgico dos espetculos, que antecede os verbetes; um segundo, mais conciso, fundamentou a elaborao do plano de classificao. 13 Exemplos destes trs formulrios podem ser consultados no Anexo I. 14 Uma cpia desta base de dados foi cedida ao Bal da Cidade de So Paulo.

  • 19

    dados de caracterizao, dos agentes de sua produo (real e, por decorrncia, documental15),

    das apresentaes realizadas por ano, local, cidade e, por fim, do conjunto de documentos

    arquivados, com dados da tcnica de registro, suporte, formato e total de itens da srie,

    devidamente atrelados funo, subfuno e atividade a que correspondem; 3) a lista por

    ordem alfabtica das tipologias documentais com correspondente definio e subordinao no

    plano de classificao arquivstico; 4) o ndice onomstico; 5) o ndice de trabalhos organizado

    por modalidade coreogrfica.

    O detalhamento da construo deste catlogo coreogrfico, das caractersticas do

    acervo e do perfil do Bal da Cidade de So Paulo ser feito no prximo captulo.

    15 Ainda que estes documentos no sejam particularmente do domnio dos documentos pblicos, cuja definio corresponde juno de actio (fato, ato documentado) e conscriptio (sua transferncia para um suporte semntica e juridicamente credvel) (BELLOTO, 2006, p. 48), trata-se da mesma idia, qual seja, a da correlao entre o momento de ao e o de documentao.

  • 20

    3. Bal da Cidade de So Paulo: Perfil Institucional e do Acervo

    A histria do Bal da Cidade de So Paulo16 perpassa, alm das vicissitudes prprias da

    rea da dana cnica brasileira, as da sua particular insero institucional, ou seja, a de uma

    companhia de dana dentro da estrutura burocrtica da municipalidade. O modelo de

    organizao interna contrasta, portanto, com o perfil de uma repartio pblica, onde as

    relaes interpessoais e a produo do trabalho so reguladas por um formalismo burocrtico.

    Numa companhia de dana, boa parte da execuo das atividades, como o espetculo de dana

    e a preparao que lhe anterior, consistente no trabalho corporal e na concepo coreogrfica,

    obedece a uma lgica de funcionamento que privilegia a oralidade e a liderana pessoal17. Esta

    ambigidade, qual seja, a de um grupo de natureza essencialmente comunitria dentro de uma

    estrutura de poder que lhe avessa e qual subjaz, oferece, em certa medida, uma chave para

    entender a trajetria do Bal da Cidade de So Paulo.

    Originalmente um corpo de baile, nasceu para desempenhar papel secundrio, sem

    local prprio para se instalar e sem uma estrutura organizacional desenvolvida, tornando-se,

    anos depois, depositrio de outros projetos artsticos que o lanariam em vida prpria. Tanto

    sua concepo como a sua estruturao foram concebidas de forma personalstica, mas

    devidamente formalizadas e suportadas pelo poder pblico. Se, por um lado, a mudana

    peridica das gestes municipais quase sempre interferiu nas linhas de trabalho desenvolvidas,

    haja vista o remanejamento dos cargos de direo, a incerteza nos repasses das verbas para

    16 O histrico do Bal da Cidade de So Paulo com enfoque em suas direes artsticas foi desenvolvido mais detalhadamente na parte introdutria do catlogo da produo coreogrfica, na segunda parte desta dissertao. 17 No mister da dana cnica, as atividades desenvolvem-se de acordo com uma especificidade prpria, conforme Lia Robatto (200-?) sinaliza: A dana cnica, de qualquer modalidade, seja profissional ou no, tal como o bal clssico, a dana moderna, o jazz dance, a dana de salo, as danas tnicas parafolclricas, e at mesmo a dana contempornea de vanguarda, funciona na sua maioria dentro de um sistema de organizao grupal, ou seja, um elenco de danarinos em torno de seus mestres, em moldes semelhantes aos primrdios da sua histria ocidental, renascentista, mantendo, at hoje, vnculos de relaes pessoais entre seus participantes, com uma estrutura similar

  • 21

    produo dos espetculos ou a alterao das polticas de gesto de recursos humanos, por outro,

    o carter de oficial no deixou de exercer fascnio sobre muitos profissionais que desviaram o

    curso de suas carreiras para imprimirem sua marca numa companhia de dana que representa a

    maior cidade do pas, mesmo sabendo que o fariam por um perodo limitado.

    Estas diferentes injunes tiveram reflexo direto na multifacetada produo

    coreogrfica, no raro notabilizada pela excelncia, orquestrando a trajetria da companhia

    espcie de corpo estranho no mbito administrativo da municipalidade.

    3.1 Estrutura Administrativa e Organizao Interna

    O Bal da Cidade de So Paulo, juntamente com a Orquestra Sinfnica Municipal, o

    Coral Lrico, o Coral Paulistano, a Orquestra Experimental de Repertrio e o Quarteto de

    Cordas, compe os Corpos Artsticos do Teatro Municipal, o qual, por sua vez, tambm

    coordena as Unidades de Iniciao Artstica, como a Escola Municipal de Msica, que abriga a

    Orquestra Sinfnica Jovem Municipal18, e a Escola Municipal de Bailado, com o respectivo

    Corpo de Baile Jovem Municipal19.

    O Teatro Municipal, que se vincula Secretaria Municipal de Cultura, decide sobre

    assuntos ligados gesto de pessoal, material e recursos oramentrios do Bal da Cidade de

    So Paulo. Para tanto, conta com unidades de assistncia jurdica; assistncia tcnica; assistncia

    administrativa; contabilidade; manuteno; bilheteria; divulgao, redao artstica e

    programao visual, alm de toda a rea de cenotcnica, guarda-roupa, servios de palco e

    produo, iluminao e almoxarifado20.

    s trupes circenses itinerantes, onde persistem laos familiares que asseguram a coeso e manuteno do grupo principalmente durante suas constantes tournes. 18 A Orquestra Sinfnica Jovem Municipal, criada pelo Decreto n 7.429, de 3 de abril de 1968, passou a vincular-se Escola Municipal de Msica, da Coordenao das Unidades de Iniciao Artstica, do Theatro Municipal, da Secretaria Municipal de Cultura, a partir da publicao do Decreto Municipal n. 50.268/2008. 19 A Lei Municipal n. 13.169/2001, que alterou a redao da Lei Municipal n. 8.401/1976, responsvel pela criao da Secretaria Municipal de Cultura, havia criado o Departamento do Teatro Municipal para absorver os corpos artsticos e coordenar os teatros municipais, destacando-o do Departamento de Teatro (at ento Departamento de Teatros). Em 2005, o Decreto Municipal 46.434, que disps sobre a reorganizao parcial da Secretaria Municipal de Cultura, alterou a denominao do Departamento do Teatro Municipal para Theatro Municipal e transferiu o Departamento de Teatro para o Departamento de Expanso Cultural (DEC). 20 A companhia tem realizado algumas destas atividades, como por exemplo, a guarda dos figurinos e de alguns artefatos cenogrficos.

  • 22

    O Bal da Cidade de So Paulo, por sua vez, concentra suas atividades em trs eixos

    fundamentais: preparao corporal, produo cnico-coreogrfica e apresentao pblica, em

    funo dos quais se dividem suas principais rotinas de trabalho21.

    A preparao corporal consiste em aulas de dana que so realizadas diariamente. Por

    regulamento, os bailarinos tm por obrigao freqentar as aulas, pelo que so controlados,

    bem como manter-se em perfeitas condies. Estas aulas, normalmente realizadas na parte da

    manh, so ministradas por professores convidados, pelo mestre de bal ou pelos bailarinos

    mais experientes, para manuteno do condicionamento fsico e aprimoramento da tcnica de

    dana, clssica ou contempornea. Geralmente, so realizadas com msica executada por um

    pianista. Os bailarinos contam, tambm, com assistncia ortopdica e fisioterpica, para

    acompanhamento e interveno teraputica de sua condio fsica.

    Aps as aulas e breve intervalo para almoo, tem incio o perodo de montagem e ensaio

    das coreografias. Numa primeira fase da histria da companhia, o coregrafo, responsvel pela

    direo do conjunto, alm de ministrar as aulas, tambm coreografava e ensaiava os bailarinos,

    com ajuda de um destes, requisitado como assistente. Numa segunda fase, com a especializao

    das funes e a criao dos cargos especficos, o coregrafo, professor e diretor passaram a

    executar, quase sempre, cada qual o seu papel. exceo de um ou outro perodo em que o

    prprio diretor se encarregou de montar as coreografias, ou quando se fomentou internamente

    o processo criativo atravs de oficinas realizadas pelos prprios bailarinos, o Bal da Cidade de

    So Paulo tem sido uma companhia sem coregrafo residente, ou seja, sem um coregrafo

    dedicado em tempo integral companhia. Os coregrafos, convidados a pedido da direo,

    montam a coreografia em um perodo relativamente curto, deixando boa parte do

    acompanhamento para o assistente de coreografia e ensaiador. A figura do coregrafo tambm

    tem sido assumida, em alguns momentos, pelos prprios bailarinos, criadores-intrpretes de

    trabalhos como alguns dos assinados pela Companhia 2.

    A parte de exibio pblica compreende o calendrio de espetculos na cidade e em

    turns nacionais e internacionais. Envolve, igualmente, a estratgia de divulgao, a elaborao

    21 Dilema enfrentado por qualquer companhia de dana, como apontado por Antonio Carlos Cardoso em sua entrevista a Lineu Dias: [...], a partir disso, aconteceu uma coisa com o Corpo de Baile que acontece em toda companhia, e que um grilo resolver; o problema: o tempo didtico e o tempo de fazer coreografia, de apresentar espetculos (SO PAULO, 1980, p. 61).

  • 23

    dos cartazes e programas, bem como a contratao de fotgrafos e videoastas22 para reportagem

    dos espetculos. H, tambm, todo o trabalho de acompanhamento da montagem cnica e

    coordenao tcnica e execuo de iluminao e sonoplastia.

    A direo da companhia responsvel pelo planejamento artstico e interlocuo com o

    Teatro Municipal. Paralelamente, so desenvolvidas as atividades de produo e coordenao

    tcnica dos espetculos; de secretariado, para atendimento, redao de expedientes,

    acompanhamento de agenda e realizao de tarefas auxiliares; de gerenciamento do material,

    como, por exemplo, a manuteno de guarda-roupa e adereos; e, por fim, de apoio

    administrativo, para controle dos contratos, publicaes em dirio oficial, arquivamento e

    encaminhamento de expedientes. Alm destas atribuies, o Bal tem desenvolvido atividades

    de investigao coreogrfica, atravs da realizao de oficinas e dilogos com o meio artstico, e

    de extenso cultural, atravs da promoo de visitas de escolas da rede municipal e intercmbio

    didtico em projetos comunitrios.

    Nem todas estas atividades so executadas por servidores investidos em cargos pbicos

    criados especificamente para o Bal da Cidade de So Paulo. O cargo de direo de livre

    nomeao, e est atualmente nas mos de uma bailarina da companhia, mas j chegou a ser

    ocupado por um diretor teatral ou um crtico de dana. Muitas funes so realizadas por

    bailarinos mais experientes, principalmente quando se trata de conhecimentos tcnico-artsticos

    ou corporais, ou por servidores da Prefeitura, lotados no Bal, quando se trata de realizao de

    atividades de apoio.

    Os cargos oficiais da companhia esto definidos no Quadro de Atividades Artsticas,

    sendo o atual estabelecido pela Lei Municipal n. 11.231, de 6 de julho de 1992, com quarenta

    cargos de bailarinos, quatro de massagistas de bal, dois de corelogo, um de diretor, um de

    diretor assistente, um de assistente de coreografia e ensaiador, um de inspetor, um de mestre de

    bal e um de coordenador tcnico os trs primeiros, mediante concurso pblico e os ltimos,

    de livre provimento em comisso. Embora tenham sido criadas as funes, constou do texto

    legal que as atribuies seriam definidas por decreto, o que at o momento no aconteceu.

    A ausncia de regulamentao e extino de todos os cargos da companhia, exceo do

    cargo de inspetor de corpo de baile, quando da edio da Lei Municipal n. 10.430, de 29 de

    22 Atividades que foram desenvolvidas nos ltimos anos por bailarinos da companhia, Slvia Machado e Osmar Zampieri.

  • 24

    fevereiro de 1988, recrudesceu uma indefinio que j vinha de longo tempo, ainda no

    solucionada, a respeito da contratao dos bailarinos23. No decreto fundador do Bal da

    Cidade, quando este era Corpo de Baile, estava definido que a vigncia dos contratos seria por

    dois anos, permitida a renovao. Uma interpretao desta lei fazia com que as verbas para

    pagamento dos vencimentos viessem sob a rubrica de verbas de terceiros quando a contratao

    fosse sugerida pelo coregrafo, passando a ser de verba de pessoal civil apenas quando esta

    contratao fosse formalizada por um ato normativo. Em 1988, com a extino dos cargos de

    bailarinos, todas as contrataes passaram a ser pagas sob a rubrica de verbas de terceiros, de

    modo que, atualmente, apenas os bailarinos mais antigos recebem pela verba destinada ao

    quadro da municipalidade. Tal situao, por sua vez, contrasta com outra norma legal que

    preceitua a contratao por concurso pblico, o que pressupe a vinculao.

    Outro dado curioso o fato de haver previso para contratao, mediante concurso

    pblico, de dois corelogos. Embora o cargo esteja previsto no Quadro de Atividades Artsticas,

    com atribuies at o momento no regulamentadas, diz respeito a uma atividade tpica de

    companhia de dana, qual seja, a de anotar a seqncia de movimentos coreogrficos em uma

    partitura corporal escrita. A no insero deste profissional no Bal da Cidade de So Paulo,

    mesmo quinze anos depois de haver uma previso legal para tanto, leva a crer que, alm dos

    entraves prprios da mquina burocrtica e legislativa, esta atividade julgada tacitamente

    desnecessria pela companhia, principalmente porque a ausncia de corelogos no prejudica o

    andamento dos trabalhos.

    3.2 O Processo de Catalogao

    Definidos o objetivo, o objeto e as linhas metodolgicas gerais, o como fazer foi se

    construindo ao longo do processo de catalogao, juntamente com a descoberta que a abertura

    de cada pasta de documentos proporcionava.

    23 Trata-se de uma medida que visa a impedir a permanncia do elenco no servio pblico at a aposentadoria. Ainda que seja uma exigncia com vistas garantia de um determinado padro de qualidade artstica ou mesmo de controle por parte da direo da companhia, tal situao no deixa de gerar controvrsias jurdicas quanto ao aspecto trabalhista no mbito do funcionalismo pblico.

  • 25

    No princpio, as pretenses eram ambiciosas: catalogar todos os documentos de todos os

    trabalhos coreogrficos que estivessem guardados no arquivo do Bal. O primeiro contato com

    o acervo ocorreu numa das salas da sede da companhia, que abrigava alguns armrios, estantes

    de ao e duas mesinhas com computadores para uso dos bailarinos, alm de trs gaveteiros para

    pastas suspensas repletos de documentos. Duas gavetas de um deles eram dedicadas ao

    armazenamento em pastas suspensas, ordenadas por trabalho coreogrfico, de ampliaes,

    contatos e negativos fotogrficos referentes ao perodo de 1974 a 1992. Em outras duas gavetas,

    diversas pastas com cpias reprogrficas de recortes de jornal trazendo notcias veiculadas na

    imprensa e crtica de espetculos das dcadas de 1970 e 1980, ou, ainda, com documentos de

    natureza administrativa, como memorandos, correspondncia e currculos profissionais

    enviados direo sob diferentes contextos. Outras trs gavetas estavam repletas de

    documentos, a maioria em envelopes ou pastas diversas, empilhadas na vertical, enquanto

    outros estavam acondicionados em pastas suspensas, umas rotuladas, outras no. Dos trs

    gaveteiros, um era menor e mais novo, com documentos recentes, basicamente tabelas dirias

    de trabalho e mensagens eletrnicas impressas a respeito de assuntos dos mais diversos tipos,

    tratados pela assistncia de direo.

    Aps este reconhecimento geral, o interesse da pesquisa recaiu na identificao do

    contedo da documentao produzida durante a montagem e exibio dos espetculos,

    acondicionada em envelopes e pastas diversas24. Neste momento, haviam sido elaborados dois

    formulrios para coleta de dados: um, com todos os trabalhos coreogrficos do repertrio da

    companhia, com base em lista obtida na pgina eletrnica da Internet, e outro, para catalogao

    dos documentos. O formulrio dedicado descrio dos documentos contava com campos

    especficos para identificar o tipo de atividade e os trabalhos coreogrficos a que se referiam,

    alm de outros campos, extrados da Norma Brasileira de Descrio Arquivstica (NOBRADE).

    A utilizao desta norma no se mostrou satisfatria, por vrias razes. Uma delas diz

    respeito exigncia de indicao de um ttulo original ou atribudo para o item cuja descrio

    est sendo realizada. Os ttulos individualizam o item que est sendo nomeado. Um livro, por

    24 Grande parte destes documentos foram reunidos por iniciativa de Hugo Travers durante seus mais de vinte anos de trabalho na companhia em funes ligadas direo artstica, seja como diretor assistente, mestre de bal ou assistente de coreografia, o qual acompanhou pessoalmente todo o processo de levantamento documental, oferecendo informaes sobre o processo de montagem dos espetculos e ajudando a identificar, em muitos casos, a funo a que correspondia diversos documentos.

  • 26

    exemplo, identificado atravs de seu ttulo, atributo que muitas vezes o distingue entre outras

    obras. Documentos de arquivo no so peas autnomas, mas decorrem de aes realizadas no

    contexto de funcionamento de um organismo. Esta contextualizao no refletida por um

    ttulo que possa singularizar um determinado documento, mas pela vinculao entre a sua

    espcie, ou seja, o suporte no qual esto materializadas a natureza e a disposio das

    informaes, com as atividades institucionais ou pessoais que motivaram a sua produo,

    recebimento ou coleta. Assim sendo, o exerccio de atribuir ttulos aos documentos que estavam

    sendo analisados tornou-se uma atividade totalmente improfcua25 e que logo se revelou, no

    caso em questo, um esforo de nomeao das tipologias documentais, uma vez que estas ainda

    no estavam definidas.

    O campo de dimenso e suporte preconizado pela NOBRADE tambm no se revelou

    adequado para registrar os dados de tcnica de registro ou confeco, formato, forma, cromia,

    nem tampouco apropriado para aglutinar a indicao de gnero. A respeito do gnero, esta

    mesma norma induz o arquivista a propor que desenhos tcnicos sejam identificados como

    gnero cartogrfico, que especfico para cartas geogrficas e jamais designaria corretamente

    uma planta baixa de palco, e, ainda, inviabiliza o tratamento tipolgico ao propor o documento

    eletrnico como gnero26.

    Constatadas estas incongruncias, o formulrio inicial foi reformatado a partir de

    adaptaes feitas no modelo proposto para o tratamento documental dos fundos sob custdia

    do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), cuja metodologia, descrita por Camargo e

    Goulart (2007), no apresentava os mesmos problemas. Aps reformulao da planilha, os

    documentos que j haviam sido descritos foram revisados.

    Outro fato que mereceu destaque no primeiro levantamento da documentao foi a

    constatao da ausncia de metadados de local, data e autoria em grande nmero das

    25 Lopez (2002, p. 18) j havia apontado a no indicao das relaes hierrquicas e respectiva organicidade entre os documentos e as atividades pelas quais foram gerados ou acumulados como um dos pontos discutveis da norma ISAD(G), da qual a NOBRADE tributria: na realidade, a maior preocupao da norma est em satisfazer as demandas de consulta, limitando o vnculo orgnico das unidades documentais apenas ao fundo de arquivo, fruto talvez, de um desvio de cunho biblioteconmico e documentalstico (CORTS ALONSO, 1995 apud LOPEZ, 2002, p. 19). Alm do mais, os responsveis pela traduo e edio destas normas no territrio nacional possuem entendimento diverso a respeito do conceito de tipologia documental como decorrncia desta hierarquizao, que justamente deveria ser o eixo central do sistema de descrio arquivstica. 26 O processo de construo das tipologias requer o reconhecimento da espcie documental para anex-la atividade correspondente. O meio eletrnico oferece uma tcnica de registro, de transmisso ou de suporte,

  • 27

    ocorrncias27, exceo feita ao material veiculado pela impressa e aos programas de espetculo.

    Em razo deste fato, foi tomada a deciso de se processar na base de dados todo o conjunto de

    programas, no mais em termos de descrio arquivstica, como planejado, mas do prprio

    contedo: os realizadores, o ttulo do evento, o tipo de evento, a cidade, o perodo da

    temporada, os trabalhos apresentados e a direo artstica da companhia. Esta catalogao dos

    programas serviu tambm para atualizar a lista inicial de trabalhos coreogrficos, que foi

    ampliada substancialmente.

    Com a catalogao dos programas, tornou-se possvel estipular as datas-limite da

    documentao, no apenas as cronolgicas, mas tambm as tpicas, ou seja, as designativas de

    lugar. Por sua vez, o formulrio de trabalhos coreogrficos foi acrescido dos crditos de

    produo das montagens ao longo dos anos, uma vez que tais crditos ofereceriam as indicaes

    dos provveis agentes produtores de boa parte da documentao que estava sendo analisada no

    arquivo.

    O percurso da pesquisa repercutiu diretamente na proposta de construo do catlogo

    da produo coreogrfica, tanto em funo das novas informaes que foram coletadas, como

    do volume documental que a companhia abriga. Em certa altura, ficou claro que seria

    impossvel descrever todos os conjuntos documentais no mbito de uma pesquisa que j estava

    se mostrando bastante extensa.

    A coleta de dados foi realizada em 2008, ano de comemorao de quarenta anos28 do

    Bal da Cidade de So Paulo, e se beneficiou da mobilizao feita pela direo da companhia

    em concentrar e organizar o seu acervo. Aes como permutar programas com o Museu do

    Theatro Municipal29, selecionar fotografias para exposio histrica, reacondicionar os

    portanto, no modifica a disposio e a natureza das informaes contidas no documento, que justamente a definio de espcie documental. 27 Neste sentido, estes documentos revelaram caractersticas prprias dos arquivos pessoais, como ponderam Camargo e Goulart (2007, p. 41): Ao contrrio dos arquivos institucionais, com documentos cujas frmulas e estruturas tm o efeito de reduzir a um grau mnimo o carter polissmico dos textos escritos, os arquivos pessoais so prolferos em documentos desprovidos de metadados: fotografias sem legenda, anotaes de todo tipo em inusitados suportes, objetos desvinculados dos conjuntos que lhes dariam sentido. 28 Fato que ensejou o trocadilho proposital do subttulo da presente dissertao, muito embora, a rigor, devesse ter constado mapeando trinta e nove anos de arquivo, uma vez que a catalogao compreendeu o interregno 1968-2007. 29 Sem sede prpria no momento de sua criao, os anos iniciais da existncia da companhia foram pouco documentados sob qualquer aspecto, gerando lacunas em todas as sries documentais. Por esta razo, conforme informado por Ana Cristina E. Teixeira, diretora artstica assistente, os programas faltantes de 1968 a 1978 foram

  • 28

    programas tirados de pastas em caixas-arquivo, inventariar todos os documentos audiovisuais,

    concentrar as moblias arquivsticas numa nica sala, desenrolar cartazes e desdobrar mapas

    acomodando-os em mapotecas especialmente requisitadas para esta finalidade, separar os

    recortes de jornais por ano, intercalar fotografias com papel vegetal, inventariar os figurinos e

    arquivar os seus desenhos, trazer programas da prpria coleo particular para preencher

    lacunas do acervo, entre outras, foram aes realizadas durante o ano pelos prprios integrantes

    da companhia em suas reas de atuao, assistentes requisitados e, inclusive, pelas diretoras

    artstica e assistente. Esta onda revitalizadora fez emergir um acervo antes adormecido.

    Um relatrio da organizao realizada no acervo, datado de dezembro de 2008, enumera

    21 mil minutos de gravao, em diferentes formatos de mdia (VHS, DVD, Mini-DV,

    BETACAM, U-MATIC), contendo gravaes audiovisuais de espetculos, ensaios, aulas,

    reportagens e documentrios realizados a partir da dcada de 1980, alm de 431 fitas de rolo,

    datadas de 1977 a 1996, contendo composies originais e de domnio pblico, alm de mdias

    digitais (DVD, CD-ROM e DAT) acumuladas a partir de 1997. lbuns, negativos e ampliaes

    fotogrficas produzidas de 1993 a 2002 ocupam quase 5 metros lineares nos armrios de ao,

    sem contar os arquivos digitais armazenados em disco rgido externo, datados a partir de 2003.

    Os recortes de jornais, de 1968 a 2008, contendo crticas, anncios, releases e notcias, ocupam

    8 caixas-arquivo. Cartazes, plantas baixas de teatros e de projetos de arquitetura, calendrios de

    apresentaes, psteres e banners ocupam uma mapoteca de 10 gavetas.

    O remanejamento dos gaveteiros para a nova sala, num contexto em que diversas aes

    estavam sendo tomadas para a organizao do acervo, abriu ensejo para que a documentao

    que estava sendo descrita tambm passasse a ser ordenada. Assim, foi mantido o critrio de

    ordenao das pastas suspensas por ordem alfabtica de trabalho coreogrfico, o mesmo que era

    utilizado para arquivar os negativos e ampliaes fotogrficas. As pastas de cartolina foram

    substitudas por envelopes na cor branca, rotulados com o nome do trabalho coreogrfico e a

    tipologia documental correspondente, abrindo-se tantos envelopes quantos necessrios para

    abrigar cada uma das tipologias encontradas30. Os clipes metlicos foram retirados dos papis e

    as ampliaes e contatos fotogrficos foram acondicionados em plsticos de polipropileno de

    solicitados junto ao Museu do Theatro Municipal, mediante permuta com outros programas da companhia que o Museu no possua. 30 Neste momento, as tipologias j estavam, em muitos casos, prximas de sua nomenclatura final.

  • 29

    acordo com sua tipologia e, sempre que houvesse algum tipo de sinalizao para tanto ou fosse

    possvel depreender tal fato, de acordo com os espetculos realizados.

    Desta forma, toda a documentao relacionada ao processo de encenao coreogrfica

    arquivada nestas gavetas foi reunida e disposta em pastas suspensas rotuladas, separadas por

    envelopes de acordo com suas respectivas tipologias e ordenadas por ordem alfabtica dos

    trabalhos coreogrficos ou, em alguns casos, por ordem de tipologia documental. Alguns itens,

    devido ao seu tamanho, foram envelopados, identificados e acondicionados na mapoteca. Ao

    todo, foram 420 itens descritos na base de dados, na qual tm o seu endereamento indicado,

    itens estes que serviram de recorte amostral para confeco do catlogo proposto.

    Por tal motivo, as tipologias no foram desenvolvidas com os documentos audiovisuais

    ou sonoros, nem estendidas aos recortes de jornais e a parte dos documentos iconogrficos

    acondicionados na mapoteca. Igualmente, deve ser salientado que o material iconogrfico a

    partir de 1992 tambm no est referenciado no catlogo proposto. Todavia, ainda que no seja

    exaustivo, a sua proposio e os seus potenciais resultados informativos permitiro aperfeioar a

    elaborao de instrumentos anlogos.

    3.3 Construo do Plano de Classificao de Documentos

    Este tpico foi introduzido nesta parte do captulo no por acaso. Somente aps a

    identificao de todos os documentos selecionados como recorte de estudo tornou-se possvel

    estabelecer a posio mais adequada de cada um deles num arranjo que distribusse funes,

    subfunes, atividades e as tipologias documentais associadas.

    Para iniciar a construo de tal arranjo, este trabalho inspirou-se no modelo proposto

    por Samuels31 (1998) para selecionar as funes e subfunes para a abertura das classes de um

    plano de classificao documental. Foram identificadas, com base na estrutura administrativa e

    organizao interna do Bal da Cidade de So Paulo, quatro grandes funes: a encenao de

    espetculos de dana, a realizao de experimentaes coreogrficas, a realizao de projetos

    31 A autora prope a anlise funcional das instituies, tanto em termos das atividades desenvolvidas como dos diversos agentes envolvidos na produo documental que delas decorrem, para se chegar a um entendimento mais abrangente tanto das prprias instituies como das estratgias para avaliao e reteno das fontes que documentam os diferentes meandros de sua existncia. A partir de tal anlise, possvel identificar a abundncia de documentos para uma mesma atividade, ou o contrrio, a precariedade ou at mesmo a ausncia de registros, oferecendo os subsdios necessrios para a formulao de um plano de aes documentrias. Esta dissertao, no entanto, serviu-se apenas da forma de estabelecimento das grandes reas funcionais.

  • 30

    culturais e o suporte tcnico e administrativo. Funo motriz, em torno da encenao de

    trabalhos coreogrficos que gravita a maior parte das atividades da companhia, desde o preparo

    tcnico-corporal, os ensaios, o suporte fisioterpico, passando pelas montagens coreogrfica,

    cnica, sonora de um espetculo, at as turns, nacionais ou internacionais. As experimentaes

    coreogrficas contemplam as atividades de realizao de oficinas, encontros, formao de

    grupos experimentais. Os projetos culturais assumem uma terceira vertente da companhia, com

    sua proposta didtica e de cunho social. Por fim, o suporte tcnico e administrativo contempla

    atividades de controle de pronturios, freqncia, clculos das gratificaes, abertura de

    processos, bem como as de elaborao e coleta de produtos documentrios e artsticos sobre a

    companhia.

    Estabelecidas as funes e subfunes, o cotejo com a documentao permitiu a diviso

    em atividades e tipologias documentais, alm da formulao de sua definio32. Aps a execuo

    destes passos e, considerando que a documentao cotejada correspondia parte do acervo e

    no sua totalidade, foi montado o seguinte plano parcial de classificao de documentos do

    Bal da Cidade de So Paulo:

    Funo: Encenao de Espetculos de Dana

    Subfuno: Programao de Temporada

    Atividade: Negociao para Encenao de Espetculo

    Tipologia Documental: Carta de Tratativas Prvias

    Tipologia Documental: Projeto de Montagem de Espetculo

    Subfuno: Produo de Espetculo

    Atividade: Planejamento das Atividades de Ensaio e Apresentao de Espetculos

    Tipologia Documental: Cronograma de Trabalho (Tabela Diria de Trabalho)

    Atividade: Locao de Servios de Natureza Artstica

    Tipologia Documental: Currculo Profissional de Artista Contratado

    Tipologia Documental: Ordem de Execuo de Servios

    Tipologia Documental: Portflio de Artista Contratado

    Tipologia Documental: Processo de Cesso de Direitos Autorais

    Atividade: Levantamento Material do Espetculo

    Tipologia Documental: Oramento de Material Cnico

    32 Um glossrio com a definio das tipologias pode ser consultado na quarta seo do catlogo da produo

    coreogrfica.

  • 31

    Tipologia Documental: Planilha de Levantamento de Custos

    Tipologia Documental: Relatrio de Prestao de Contas

    Atividade: Acompanhamento de Montagem de Espetculo

    Tipologia Documental: Bilhete de Encaminhamento de Poesia

    Tipologia Documental: Carta de Anlise do Processo de Trabalho

    Tipologia Documental: Carta de Encaminhamento de Documentos

    Tipologia Documental: Pauta de Reunio de Montagem de Espetculo Subfuno: Montagem Coreogrfica

    Atividade: Desenvolvimento Coreogrfico

    Tipologia Documental: Apontamentos de Encenao Coreogrfica

    Tipologia Documental: Partitura Musical com Notas Coreogrficas

    Tipologia Documental: Roteiro Coreogrfico

    Atividade: Cobertura da Montagem Coreogrfica

    Tipologia Documental: Reportagem Fotogrfica de Ensaio

    Subfuno: Montagem Cnica

    Atividade: Desenvolvimento da Encenao

    Tipologia Documental: Roteiro Dramtico

    Atividade: Pesquisa Bibliogrfica e Iconogrfica

    Tipologia Documental: Apontamentos de Pesquisa

    Atividade: Cenografia

    Tipologia Documental: Desenho de Objetos Cnicos

    Tipologia Documental: Lista de Objetos e Adereos Cnicos

    Tipologia Documental: Planta Baixa de Palco

    Tipologia Documental: Roteiro de Contra-regragem

    Tipologia Documental: Roteiro de Operao da Maquinria

    Atividade: Desenvolvimento e Manuteno de Figurinos e Adereos

    Tipologia Documental: Carta de Encaminhamento de Amostra de Materiais

    Tipologia Documental: Desenho de Figurino e Adereos

    Tipologia Documental: Lista de Figurinos e Adereos

    Tipologia Documental: Lista de Material para Confeco de Figurino

    Atividade: Criao de Maquilagem

    Tipologia Documental: Desenho de Maquilagem

    Atividade: Iluminao de Espetculo

    Tipologia Documental: Desenho de Luz de Espetculo

    Tipologia Documental: Roteiro de Luz de Espetculo

    Subfuno: Montagem Sonora

    Atividade: Sonorizao e Acompanhamento Musical

    Tipologia Documental: Ficha Tcnica de Documento Sonoro

    Tipologia Documental: Lista de Instrumentos e Equipamentos de Som

    Tipologia Documental: Partitura Musical

  • 32

    Tipologia Documental: Roteiro de Trilha Sonora

    Tipologia Documental: Roteiro Sonoro

    Subfuno: Exibio Pblica

    Atividade: Promoo de Espetculo

    Tipologia Documental: Desenho para Pea Promocional

    Tipologia Documental: Release de Espetculo

    Tipologia Documental: Sinopse de Espetculo

    Atividade: Apresentao e Cobertura de Espetculo

    Tipologia Documental: Ficha Tcnica de Espetculo

    Tipologia Documental: Programa de Espetculo

    Tipologia Documental: Reportagem Fotogrfica de Espetculo

    Tipologia Documental: Retrato de Grupo Artstico

    Tipologia Documental: Telegrama de Cumprimentos

    Atividade: Recepo da Obra Artstica

    Tipologia Documental: Crtica de Dana

    Tipologia Documental: Prmio de Reconhecimento Artstico

    Funo: Suporte Tcnico e Administrativo

    Subfuno: Gerenciamento da Correspondncia de Direo Artstica

    Atividade: Redao e Recebimento da Correspondncia de Manifestao de Cordialidade

    Tipologia Documental: Carta de Despedida

    Subfuno: Elaborao e Coleta de Produtos Documentrios e Artsticos sobre a Companhia

    Atividade: Divulgao da Produo Artstica

    Tipologia Documental: Portflio de Espetculo

    Atividade: Produo de Ensaio Artstico

    Tipologia Documental: Ensaio Fotogrfico

    Atividade: Recolhimento da Produo Acadmica e Editorial

    Tipologia Documental: Monografia

  • 33

    4. Proposta de Catlogo da Produo Coreogrfica

    Aps a obteno da descrio documental, do registro de todas as apresentaes

    realizadas com base nos programas arquivados e de todos os trabalhos coreogrficos encenados,

    a ltima etapa consistiu na montagem de um catlogo da produo coreogrfica do Bal da

    Cidade de So Paulo durante o perodo de 1968 a 2007.

    A elaborao deste catlogo foi motivada, principalmente, pelo intuito de demonstrar a

    variedade de tipos documentais decorrentes do processo de encenao dos espetculos de dana

    e, ao mesmo tempo, de indicar quais destas fontes foram preservadas ao longo de quarenta anos

    de existncia da companhia. Somente um catlogo poderia distribuir estes documentos por

    trabalho coreogrfico e oferecer uma viso de conjunto, tanto em termos da produo artstica,

    como em termos da produo documental, ambas situadas cronologicamente.

    Considerando os dados e a bibliografia levantada ao longo da presente pesquisa, foi

    inserido um texto mais detalhado sobre a histria da companhia na seo inaugural do

    catlogo. Este texto contextualiza sua criao como Corpo de Baile Municipal e aponta as

    principais aes empreendidas pelas direes artsticas nos anos seguintes. , por esta razo, um

    texto de interligao com o quadro cronolgico dos espetculos por direo artstica, disposto

    na seo seguinte, que discrimina os perodos das temporadas para cada programa apresentado

    e respectiva cidade de realizao, permitindo acompanhar o deslocamento da companhia em

    suas apresentaes na cidade sede e nas turns, nacionais ou internacionais.

    A terceira seo do catlogo trouxe como verbetes cada um dos trabalhos coreogrficos

    encenados pela companhia e seus respectivos tipos documentais identificados no arquivo,

    verbetes estes divididos em quatro reas de informao. As trs primeiras reas tiveram como

    fonte documental os programas de espetculo arquivados na companhia referentes ao perodo

    de 1968 a 2007, e, em raras ocasies, outra fonte, cuja informao foi devidamente registrada

    no campo de notas da primeira rea devido ao carter de exceo de tal ocorrncia. Deste

    modo, os programas serviram de base para o levantamento de todos os trabalhos coreogrficos e

    de todas as apresentaes pblicas encenadas pela companhia. Com relao ao perodo de 1968

    a 1994, sempre que possvel, em virtude do acesso a algum relatrio de gesto, os dados

    registrados com base nos programas foram confrontados com tais fontes para verificao de

    lacunas e estas, quando constatadas, foram registradas na rea de notas pertinente. A partir de

    1995, a fonte documental utilizada como controle foi o calendrio de apresentaes preenchido

  • 34

    pela secretaria da direo. Estes calendrios, em tamanho pster no sentido paisagem, contm

    as assinalaes manuscritas dos dias em que houve espetculo da companhia. Em ambos os

    mtodos de controle, foi possvel constatar ausncia de programas no arquivo, fato pelo qual

    preciso esclarecer que os espetculos referenciados no catlogo so sempre aqueles

    documentados e no todos os que de fato aconteceram. A seguir, segue detalhamento das

    reas desta seo do catlogo.

    I. CARACTERIZAO DO TRABALHO COREOGRFICO

    Nesta rea, esto as informaes bsicas que identificam e caracterizam o trabalho

    coreogrfico, especificando qual a modalidade de trabalho encenada pela companhia,

    dimensionamento do elenco e durao do espetculo, o papel autoral exercido na

    responsabilidade coreogrfica e os crditos autorais musicais, conforme detalhado a seguir:

    Data de estria traz a indicao da data de estria do trabalho coreogrfico no Bal da Cidade

    de So Paulo, informao obtida nos encartes dos programas de espetculo; quando a

    informao provm de outra fonte, esta indicada em notas.

    Modalidade de Trabalho caracteriza o tipo de trabalho coreogrfico que foi encenado pela

    companhia. Se o trabalho coreogrfico consistiu num nmero de dana dentro de um

    espetculo de pera, a categoria que descreve esta modalidade de trabalho bal de pera;

    quando o nmero de dana se realiza no mbito de outro espetculo cnico, foi estabelecida a

    categoria cena coreogrfica; caso seja um espetculo em que as cenas de dana se desenvolvem

    durante toda a encenao de acordo com uma tessitura dramtica (em analogia ao texto

    dramtico do teatro), tem-se uma pea coreogrfica, quando esta mesma pea criada pela

    iniciativa dos prprios bailarinos da companhia, ainda em processo de maturao de suas

    qualidades de criadores, ensaiadores ou produtores cnicos, tem-se uma oficina coreogrfica;

    quando o trabalho coreogrfico consiste no ato de produzir gestos, atos e acontecimentos fora

    dos palcos, em locais no usuais para a sua realizao dramtica, tem-se a dana-performance;

    quando a representao do trabalho coreogrfico se utiliza de elementos plsticos, sonoros ou

    flmicos instalados em locais fora dos palcos, tem-se uma instalao coreogrfica.

    Durao indica o tempo de durao da encenao do trabalho coreogrfico.

  • 35

    Nmero de intrpretes indica o nmero de intrpretes originalmente escalados para encenao

    do trabalho coreogrfico.

    Responsabilidade designa os crditos de responsabilidade pelo trabalho coreogrfico, que

    podem ser de criao, remontagem, direo e adaptao. A responsabilidade pela

    criao designa o autor intelectual do trabalho coreogrfico. Na remontagem, atribuda a

    responsabilidade pela reapresentao de um espetculo aps um lapso de tempo, ou seja, pela

    retomada de sua encenao. A responsabilidade pela direo de um trabalho coreogrfico

    designada nos casos em que o processo de criao foi conduzido ativamente pelo diretor. A

    responsabilidade pela adaptao de peas coreogrficas diz respeito aos ajustes realizados na

    encenao e produo originais para apresentao de verses menos elaboradas em termos de

    cenrios e com apresentao de um ou mais quadros selecionados da verso coreogrfica

    integral.

    Autoria musical designa a autoria intelectual da composio das msicas executadas para

    encenao dos trabalhos coreogrficos.

    Notas informaes complementares e observaes julgadas de interesse.

    II. CRDITOS DE PRODUO

    Nesta rea, esto discriminados os responsveis pela produo cnica e de assistncia

    coreogrfica dos espetculos, a modalidade de responsabilidade e o ano das respectivas

    ocorrncias no repetidas constatadas nos programas. Nas remontagens ou adaptaes, o ano

    da criao coreogrfica, quando conhecido, tambm foi indicado, mesmo que no constasse

    dos encartes. Os crditos de interpretao e instrumentao musical, de interpretao cnica e

    das atividades de execuo tcnica no foram contemplados, pois a identificao dos potenciais

    produtores documentais e respectivo perodo de produo foi priorizada no levantamento de

    dados.

    III. ESPETCULOS REFERENCIADOS NO QUADRO CRONOLGICO

    Aqui esto dispostas as datas iniciais da temporada de apresentao de cada programa

    nos respectivos locais e cidades. Para consultar as demais datas da temporada, ser preciso

  • 36

    recorrer ao quadro cronolgico. Esta lista permitir levantar pistas sobre a contextualizao dos

    documentos que no apresentem os indicativos de tempo e lugar.

    IV. TIPOS DOCUMENTAIS NO ACERVO

    Nesta rea, so arrolados todos os tipos documentais identificados na amostra

    selecionada, explicitando suas relaes de subordinao com as funes, subfunes e atividades

    trazidas do plano de classificao. A descrio das sries consistiu em apresentar os dados de

    tcnica de registro ou de confeco e os de suporte e formato, seguidos do nmero total de

    itens, conforme explicado a seguir:

    Tcnica indica a tcnica de registro, ou seja, de inscrio utilizada nos documentos textuais,

    seguida da indicao de forma (por exemplo, cpia reprogrfica) entre parnteses, ou a tcnica

    de confeco utilizada nos documentos iconogrficos.

    Suporte e formato o suporte indica o material sobre o qual as informaes esto registradas e,

    entre parnteses, o formato indica sua configurao fsica, de acordo com a sua natureza e o

    modo como foi confeccionado.

    Total de itens indica o somatrio dos itens descritos e, no caso de documentos iconogrficos

    mltiplos, indica o somatrio de documentos mltiplos.

    Na quarta seo do catlogo, foi apresentado um glossrio das tipologias documentais,

    contendo sua definio e atrelamento s atividades, subfunes e funes do plano de

    classificao proposto no captulo anterior.

    Por fim, nas duas ltimas sees, o catlogo dispe de um ndice onomstico, cujas

    entradas so feitas preferencialmente pelo nome artstico, na ordem direta de nome e

    sobrenome33, e de um ndice arrolando todos os trabalhos da companhia.

    33 Vale destacar, neste quesito, a importncia do trabalho documentrio referente ao controle de registro

    de nomes pessoais, associando nomes artsticos com nome de batismo e outros dados, como datas de nascimento e falecimento. Esta tabela de autoridades foi configurada na base de dados gerada, mas seu completo preenchimento requer uma pesquisa parte, razo pela qual no foi explorada aqui.

  • 37

    4.1 Expectativas

    A proposio deste catlogo da produo coreogrfica do Bal da Cidade de So Paulo

    pretende ser til a diversos pblicos: prpria companhia, para consulta rpida de dados de seu

    repertrio de trabalhos coreogrficos e localizao dos documentos elencados; aos

    pesquisadores, principalmente de crtica gentica dos espetculos, que se defrontaro com uma

    srie de fontes primrias para realizao de suas anlises; aos arquivistas e documentalistas dos

    quadros da municipalidade, que encontraro no catlogo informaes sobre a contextualizao

    funcional da documentao e podero ampliar e aperfeioar o plano de classificao.

    Num segundo momento, este catlogo pretende tornar visvel a necessidade de serem

    concretizadas iniciativas de gesto documental e recolhimento dos fundos oriundos das

    companhias de dana, pblicas ou privadas, para tratamento da informao e acesso s fontes,

    uma vez que muitos documentos de arquivo destas companhias nem sempre so reconhecidos

    como tal e nem, tampouco, os interessados tm acesso a eles.

  • 38

    2. PARTE

    CATLOGO DA PRODUO COREOGRFICA

  • 39

    O BAL DA CIDADE DE SO PAULO

    E SUAS DIREES ARTSTICAS

  • 40

    s antecedentes da dana cnica no Brasil remontam sua colonizao por um

    povo europeu, do qual no deixou de receber sua influncia cultural. Danas portuguesas eram

    incorporadas s peas encenadas pelos padres jesutas em suas aes de catequese ou celebrao,

    ou, ainda, representaes teatrais se faziam acompanhar de trechos danados nos grandes

    festejos da colnia. Com a vinda da Famlia Real, o teatro fundado em 1776 ao lado do palcio

    do vice-rei, conhecido como pera Nova, foi remodelado para receber os nobres visitantes e

    rebatizado para Teatro Rgio. Neste palco, estreou em 1811 o primeiro bailado do mestre de

    danas espanhol Louis Lacombe, intitulado I Due Rivali, que fora apresentado com a pera

    Loro non compra amore, de Marcos Portugal34.

    Nas primeiras dcadas do sculo XX, tornaram-se mais freqentes as turns de

    companhias europias de bal clssico, notadamente as russas, no raro desgarrando alguns de

    seus bailarinos que fixavam residncia nas cidades cosmopolitas do Rio de Janeiro ou So

    Paulo, atrados por propostas de trabalho. Em 1927, Maria Olenewa, ex-bailarina da

    Companhia de Anna Pavlova, recebeu o convite para fundar uma escola35 junto ao Theatro

    Municipal do Rio de Janeiro com a finalidade de formar os bailarinos para as temporadas de

    pera daquela casa36. Em 1939, foi realizado o primeiro espetculo de dana com elenco

    34 Uma pesquisa seminal sobre os primrdios da dana teatral brasileira foi empreendida pelo bailarino, coregrafo e ator Eduardo Sucena (1988). Segundo o autor, Louis Lacombe foi o primeiro coregrafo de dana a vir para o Brasil, tendo sido publicado na Gazeta de 13 de junho de 1811 o seguinte anncio a respeito: Lus Lacombe, professor de dana, ultimamente chegado ao Rio de Janeiro, tem a honra de anunciar a todas as pessoas civilizadas desta cidade, que ele se prope a ensinar todas as qualidades de danas prprias nas sociedades; todas as pessoas que lhe quiserem fazer a honra de tomar as suas lies, o podero encontrar na Rua do Ouvidor, n 82, 3 andar. Acompanhara Lacombe, na viagem ao Brasil, o msico e regente Marcos Portugal, encarregado da educao musical dos filhos de D. Joo VI. 35 Em 1931, a Escola de Bailados teve seu regulamento aprovado pelo Decreto n. 3.506, assinado pelo Prefeito Adolpho Berganini. Em 1936, foi criado o Corpo de Baile, para absorver os bailarinos formados. 36 Os teatros oficiais brasileiros passaram a investir na formao de bailarinos para apoiar as grandes montagens lricas a fim de diminuir os custos com a vinda do elenco estrangeiro, mesmo porque a Argentina, com quem o Brasil dividia as despesas de produo, implantara sua Escola de Danas no Teatro Clon com esta mesma finalidade (CAMINADA, 2007). No Rio de Janeiro, o Corpo de Baile tornou-se uma instituio independente em

    O

  • 41

    formado pela Escola de Bailados carioca, dirigido pelo coregrafo tcheco-eslovaco Vaslav

    Veltchek, com a participao de artistas convidados da pera Comique de Paris37.

    No ano seguinte, este mesmo coregrafo incumbido de instalar a Escola Experimental

    de Dana numa das salas38 do Teatro Municipal de So Paulo, onde exerceu suas atividades por

    dois anos39, tendo sido substitudo por Maria Olenewa. O objetivo da Escola de Municipal de

    Bailado era prover o corpo de baile do Teatro Municipal nas peras e demais espetculos. A

    este respeito, comenta a atriz e coregrafa Marilena Ansaldi em entrevista ao pesquisador Lineu

    Dias (SO PAULO, 1980, p. 20):

    Acontece o seguinte: so oito anos de curso na Escola de

    Bailados e, digamos, uma menina que j chegou ao quinto, sexto ano,

    j comeava a participar destes espetculos. Quer dizer, como no havia

    cach s vezes o empresrio da pera nos dava alguns cachs, s vezes

    no ento, de uma certa maneira pra ns pagarmos quer dizer, seria

    uma troca do estudo que a gente estava tendo, que era gratuito, e

    tambm como um aperfeioamento do prprio estudo, a gente

    participava das peras e de espetculos fora (...). E nessa poca havia

    muito mais pera do que hoje. Ento, a gente danava mais nas peras,

    a gente danava muito, at. E, de uma certa maneira, se fazia muito

    1952, momento em que seus integrantes deixaram de receber a designao de bailarinos auxiliares em seus contracheques. (CAMINADA, 2001, p.74). 37 Uma anlise desta temporada, bem como a seguinte, de 1943, com elenco exclusivamente brasileiro, realizada por Pereira (2003), em A Formao do Bal Brasileiro. Muito embora os corpos de baile oficiais apoiassem as temporadas lricas em funo das quais foram criados, tambm exerciam paralelamente atividades para criao de seus prprios espetculos de dana. 38 Na administrao do prefeito Prestes Maia (de 1938 a 1945), a Escola deixa as dependncias do Teatro Municipal, em 1943, e passa a ocupar os baixos do novo Viaduto do Ch, que substitura sua estrutura original por concreto, onde vem funcionando desde ento. Anteriormente iniciativa estatal, funcionava em So Paulo, desde 1932, a Academia de Bailados conduzida por uma professora brasileira, Chinita Ullman, que estudou tcnica expressionista com Mary Wigman, e a bailarina alem, Kitty Bodenhein, de linha mais clssica. Cf. SOARES (1996) e BOZON (2003). 39 Caminada (2001, p. 17) nos relata o episdio: Menos de um ano aps sua chegada ao Brasil, Veltchek recebeu um convite para mudar-se para So Paulo. Aquela grande cidade ainda no tinha uma escola oficial, apesar dos esforos de professores como Chinita Ullmann e Kitty Bodenheim. A Escola Experimental de Dana do Teatro Municipal de So Paulo, dotada de um pequeno corpo de baile de dezesseis elementos dirigidos por Vaslav Veltchek, foi criada por ele em 02 de maio de 1940, data do exame de admisso, a partir da academia particular dessas duas damas pioneiras. O professor morava no hotel Esplanada, perto do prdio onde trabalhava.

  • 42

    espetculo, porque era tudo gratuito. Ento, a gente era chamada pra

    tudo, em tudo que era lugar!

    Alm deste corpo de baile, a municipalidade manteve excepcionalmente, com

    subveno do empresariado paulista, uma companhia em moldes profissionais para realizar

    uma temporada em comemorao aos quatrocentos anos da cidade de So Paulo40: o Ballet IV

    Centenrio. A existncia desta companhia41 esteve atrelada realizao de um calendrio festivo

    grandioso, do qual fez parte a entrega da catedral da S, a inaugurao do Parque Ibirapuera

    com projeto de Oscar Niemayer e paisagismo de Burle Marx, a instalao do rgo alemo no

    mosteiro de So Bento, a exposio de Picasso na 2 Bienal de Artes Plsticas, alm das dezesseis

    coreografias especialmente encomendadas ao renomado coregrafo hngaro Aurelio Milloss,

    com direito a msicas inditas de Camargo Guarnieri, Souza Lima e Francisco Mignone e

    regncia da Orquestra Sinfnica Municipal, bem como figurinos e cenrios assinados por

    Portinari, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade Filho, entre outros artistas. Os

    ensaios para os espetculos comearam dois anos antes, num momento em que a dana teatral

    paulista era essencialmente amadora. Com o projeto, assistiu-se primeira produo

    profissional de dana na cidade42, com testes de audio, definio de cronogramas de trabalho,

    competncias especficas, recebimento de remunerao financeira, programao de turn em

    outras cidades brasileiras, alm de ampla cobertura da imprensa. O programa contava com

    coreografias que j haviam sido apresentadas em palcos internacionais e outras cinco inditas,

    40 Uma comisso encarregada de promover os festivos comemorativos do IV Centenrio da fundao da cidade de So Paulo foi criada pela Lei Municipal n. 4.052, de 30/05/1951, regulamentada pelo Decreto Municipal n. 1.379, de 20/07/1951. 41 Uma anlise desta trajetria foi objeto de pesquisa do SESC (1998), relatada no livro Fantasia Brasileira: o Ballet do IV Centenrio, e da dissertao de mestrado de Cludia Oliveira (2002), intitulada Ballet do IV centenrio : estudo sobre a profissionalizao da dana em So Paulo. 42 A este respeito, a bailarina e pesquisadora Daniela Reis (2005, p. 10) faz a seguinte observao: No Ballet do IV Centenrio, os bailarinos passam a bater ponto, as funes (como no bal europeu) passam por diviso de trabalhos especficos e os salrios eram considerados muito bons. A parceria com grandes artistas das artes plsticas e msica fez com que o bal entrasse no rol dos projetos da burguesia paulista, que j era consumidora destes bens culturais. O bal seria tambm um dos meios refinados e interessantes para a burguesia reforar sua viso de mundo. Assim como as peas do TBC e os filmes da Vera Cruz, o bal clssico reforava todo um quadro de idias e prticas de um pensamento burgus que associava a esta dana a fina educao, direcionada para um pblico especfico, arte de elite e para a elite. O bal, que, num primeiro momento, era direcionado para aulas de posturas ou considerado caracterstico dos grandes centros europeus, passaria, com a interveno do mecenato paulista, a uma nova realidade: a profissionalizao.

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    com temas e msicas brasileiras43, conforme exigido pela Comisso organizadora das

    festividades. Em 25 de janeiro de 1954, o Teatro Municipal de So Paulo no pde sediar os

    espetculos da jovem companhia em razo de reformas44, mas j est