esboço do livro de provérbios
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SÍNTESE DO LIVRO DE PROVÉRBIOSTRANSCRIPT
ESBOÇO DO LIVRO DE PROVÉRBIOS
O Livro de Provérbios é constituído de seções em forma de
discursos, bem como de coleções de declarações sábias
sobre assuntos práticos da vida. Embora seja atribuído
principalmente ao Rei Salomão, Provérbios só foi compilado
na sua inteireza por volta da época do reinado de Ezequias. O
valor superior da sabedoria.
Sabedoria, junto com compreensão, é a coisa principal. (4:5-
8; 16:16)
Elementos essenciais para se adquirir sabedoria. (2:1-9;
13:20)
Benefícios resultantes da sabedoria, tais como segurança,
proteção, honra e vida mais longa e mais feliz. (2:10-21; 3:13-
26, 35; 9:10-12; 24:3-6, 13, 14)
A sabedoria personificada foi o colaborador de Javé. (8:22-
31)
As consequências amargas de se deixar de agir sabiamente.
(1:24-32; 2:22; 6:12-15)
§ 1. Atitude correta para com Javé.
Confie em Javé. (3:5, 6; 16:20; 18:10; 29:25)
Tema-o e evite a maldade. (3:7; 10:27; 14:26, 27; 16:6;
19:23)
Honre-o por apoiar a adoração verdadeira. (3:9, 10)
Aceite Sua disciplina como expressão de amor. (3:11, 12)
Mostre apreço por Sua palavra. (3:1-4; 30:5, 6)
Descubra o que Javé odeia e aja em harmonia com esse
conhecimento. (6:16-19; 11:20; 12:22; 16:5; 17:15; 28:9)
Se agradarmos a Javé, ele cuidará de nós, nos protegerá e
ouvirá nossas orações. (10:3, 9, 30; 15:29; 16:3)
§2. Conselhos excelentes para governar a vida familiar.
A esposa capaz é uma bênção da parte de Javé. (12:4; 14:1;
18:22; 31:10-31)
Os pais devem treinar e disciplinar os filhos. (13:1, 24; 22:6,
15; 23:13, 14; 29:15, 17)
Os filhos devem respeitar profundamente os pais. (1:8, 9;
4:1-4; 6:20-22; 10:1; 23:22-26; 30:17)
Amor e paz são qualidades muito desejáveis no lar. (15:16,
17; 17:1; 19:13; 21:9, 19)
Resista à imoralidade e estará evitando muita dor e
sofrimento. (5:3-23; 6:23-35; 7:4-27; 9:13-18)
§ 3. Características que devem ser cultivadas, e as que devem
ser evitadas.
Cultive consideração amorosa para com os pobres e os
aflitos. (3:27, 28; 14:21, 31; 19:17; 21:13; 28:27)
Seja generoso, evite a ganância. (11:24-26)
Cultive a diligência; não seja preguiçoso. (6:6-11; 10:26; 13:4;
20:4; 24:30-34; 26:13-16)
Modéstia e humildade trazem honra; presunção e orgulho
conduzem à humilhação. (11:2; 16:18, 19; 25:6, 7; 29:23)
Exerça autodomínio na questão da ira. (14:29; 16:32; 25:28;
29:11)
Evite ter espírito maldoso ou o desejo de vingança. (20:22;
24:17, 18, 28, 29; 25:21, 22)
Pratique a justiça em tudo. (10:2; 11:18, 19; 14:32; 21:3, 21)
§4 Orientações práticas para a vida cotidiana.
Corresponda corretamente à disciplina, à repreensão e ao
conselho. (13:18; 15:10; 19:20; 27:5, 6)
Seja amigo genuíno. (17:17; 18:24; 19:4; 27:9, 10)
Seja criterioso ao aceitar hospitalidade. (23:1-3, 6-8; 25:17)
O materialismo é fútil. (11:28; 23:4, 5; 28:20, 22)
O trabalho árduo resulta em bênçãos. (12:11; 28:19)
Desenvolva práticas comerciais honestas. (11:1; 16:11; 20:10,
23)
Tome cuidado no que diz respeito a ser fiador de outros,
especialmente de estranhos. (6:1-5; 11:15; 22:26, 27)
Evite conversa prejudicial; certifique-se de que sua conversa
seja edificante. (10:18-21, 31, 32; 11:13; 12:17-19; 15:1, 2, 4,
28; 16:24; 18:8)
A lisonja é traiçoeira. (28:23; 29:5)
Evite altercações. (3:30; 17:14; 20:3; 26:17)
Evite más companhias. (1:10-19; 4:14-19; 22:24, 25)
Aprenda a lidar sabiamente com zombadores, bem como
com tolos. (9:7, 8; 19:25; 22:10; 26:4, 5)
Evite as armadilhas de bebidas alcoólicas. (20:1; 23:29-35;
31:4-7)
Não inveje os iníquos. (3:31-34; 23:17, 18; 24:19, 20)
Proferidos por: Salomão, Agur, Lemuel
Lugar da Escrita: Jerusalém
Escrita Completada: c. 717 AEC
O livro de Provérbios é o de número 20 no cânon das
Escrituras. Quando Salomão, filho de Davi, se tornou rei de
Israel em 1037 AEC, orou a Yehowah, pedindo-lhe “sabedoria
e conhecimento” para “julgar este grande povo”. Em
resposta, Jeová lhe deu ‘conhecimento e sabedoria, e um
coração entendido’. (2 Crô. 1:10-12; 1 Reis 3:12; 4:30, 31) Em
resultado disso, Salomão chegou a “falar três mil
provérbios”. (1 Reis 4:32) Parte dessas palavras de sabedoria
foi assentada por escrito no livro bíblico de Provérbios. Visto
que a sua sabedoria era realmente a que “Deus lhe pusera no
coração”, então, ao estudarmos Provérbios, estamos
estudando, com efeito, a sabedoria de Deus. (1 Reis 10:23,
24) Esses provérbios englobam verdades eternas. Têm o
mesmo valor hoje como quando foram proferidos pela
primeira vez.
O reinado de Salomão era uma época propícia para Deus
guiar seu povo. Dizia-se que Salomão ‘se sentava no trono de
Yehowah’. O reino teocrático de Israel estava no seu apogeu,
e Salomão foi favorecido com superabundante “dignidade
real”. (1 Crô. 29:23, 25) Era época de paz, fartura e
segurança. (1 Reis 4:20-25) Entretanto, mesmo sob aquele
domínio teocrático, o povo tinha seus problemas e suas
dificuldades pessoais em virtude das imperfeições humanas.
É compreensível que o povo se voltasse para o sábio Rei
Salomão em busca de ajuda para solucionar seus problemas.
(1 Reis 3:16-28) Ao pronunciar julgamento nesses numerosos
casos, ele proferiu ditos proverbiais que se adequavam a
muitas circunstâncias da vida do dia-a-dia. Esses ditos breves,
mas cheios de significado, foram muito prezados por aqueles
que desejavam harmonizar seu modo de vida com a vontade
de Deus.
O livro não diz que Salomão escreveu os Provérbios. Todavia,
diz que ele ‘falou’ provérbios, também que “fez uma
investigação cabal, a fim de pôr em ordem muitos
provérbios”, revelando assim que tinha interesse em
preservar esses provérbios para uso futuro. (1 Reis 4:32; Ecl.
12:9) Na época de Davi e de Salomão, o nome dos
secretários oficiais figurava na lista dos oficiais da corte. (2
Sam. 20:25; 2 Reis 12:10) Não sabemos se esses escribas da
sua corte escreveram e compilaram os provérbios de
Salomão, mas as expressões de um rei tão importante seriam
altamente consideradas e normalmente seriam assentadas
por escrito. Admite-se em geral que o livro seja uma coleção
compilada de outras coleções.
O livro de Provérbios pode ser dividido em cinco partes. Estas
são: (1) Capítulos 1-9, iniciando com as palavras: “Os
provérbios de Salomão, filho de Davi”; (2) Capítulos 10-24,
descritos como “Provérbios de Salomão”; (3) Capítulos 25-29,
esta parte começa com as seguintes palavras: “Também
estes são provérbios de Salomão transcritos pelos homens de
Ezequias, rei de Judá”; (4) Capítulo 30, inicia assim: “Palavras
de Agur, filho de Jaque” e (5) Capítulo 31, que abrange
“Palavras de Lemuel, o rei, a mensagem ponderosa que sua
mãe lhe deu em correção”. Salomão foi, pois, o originador da
maior parte dos provérbios. Quanto a Agur e Lemuel, não há
nenhuma informação precisa sobre a identidade deles.
Alguns comentaristas sugerem que Lemuel talvez tenha sido
outro nome de Salomão.
Quando se escreveu e compilou o livro de Provérbios? A
maior parte foi assentada por escrito, sem dúvida, durante o
reinado de Salomão (1037-998 AEC), antes de seu desvio. Em
virtude da incerteza sobre a identidade de Agur e de Lemuel,
não é possível determinar a data da matéria deles. Visto que
uma das coleções foi feita durante o reinado de Ezequias
(745-717 AEC), a coleção final não poderia ter sido feita antes
de seu reinado. Foram também as duas divisões finais
compiladas sob a direção do Rei Ezequias? Em resposta,
certa obra erudita comenta: “Algumas ed(ições) do texto
hebr(aico) apresentam o trigrama, ou três letras, Hete, Zaine,
Cofe (חזק), que representam a assinatura do Rei Ezequias,
nas cópias feitas pelos seus escribas, para indicar que o
serviço fora terminado.”
Nas Bíblias hebraicas, esse livro era chamado originalmente
pela primeira palavra do livro, mish·léh, que significa
“provérbios”. Mish·léh é o plural, em construto, do
substantivo hebraico ma·shál, substantivo este que, segundo
se crê, deriva duma raiz que significa “ser parecido” ou “ser
comparável”. Estes termos descrevem bem o conteúdo do
livro, pois provérbios são ditos sucintos que com freqüência
empregam semelhança ou comparação destinada a fazer o
ouvinte refletir. A forma breve dos provérbios faz com que
seja fácil seguir a linha de pensamento e entendê-los, e os
torna interessantes, sendo desta forma facilmente
ensinados, aprendidos e lembrados. A idéia fica gravada na
memória.
É também muito interessante examinar o estilo de expressão
do livro. É escrito em estilo poético hebraico. A estrutura da
maior parte do livro é em paralelismo poético. Não se
expressa com rima no fim dos versos, ou com som igual.
Consiste em versos rítmicos com repetição de idéias ou de
pensamentos paralelos. A beleza e a força didática residem
no ritmo de pensamento. Esses pensamentos podem ser
sinônimos ou antíteses, e há neles a força do paralelismo que
estende o pensamento, amplia a idéia e assegura que seja
transmitido o significado do pensamento. Encontramos
exemplos de paralelismo sinônimo em Provérbios 11:25;
16:18; e 18:15, e de paralelismo mais abundante de antítese
em Provérbios 10:7, 30; 12:25; 13:25; e 15:8. No fim do livro,
aparece outro tipo de estrutura. (Pro. 31:10-31) Os 22
versículos ali estão dispostos de forma tal que, em hebraico,
cada um começa com a letra sucessiva do alfabeto hebraico,
sendo este o estilo acróstico, também usado em diversos
salmos. Quanto à beleza, este estilo é sem igual nos escritos
antigos.
A autenticidade de Provérbios é também provada pelo amplo
uso que os cristãos primitivos fizeram desse livro para
estabelecer as regras de conduta. Parece que Tiago estava
bem familiarizado com Provérbios, e empregou os princípios
básicos encontrados nesse livro para dar bons conselhos
sobre a conduta cristã. (Compare Provérbios 14:29; 17:27
com Tiago 1:19, 20; Provérbios 3:34 com Tiago 4:6;
Provérbios 27:1 com Tiago 4:13, 14.) Citações diretas de
Provérbios acham-se também nas seguintes passagens:
Romanos 12:20—Provérbios 25:21, 22; Hebreus 12:5, 6—
Provérbios 3:11, 12; 2 Pedro 2:22—Provérbios 26:11.
Além disso, o livro de Provérbios revela estar em harmonia
com o restante da Bíblia, provando assim que faz parte de
“toda a Escritura”. Quando o comparamos com a Lei de
Moisés, com o ensinamento de Jesus e com os escritos de
seus discípulos e apóstolos, observamos uma notável união
de pensamento. (Veja Provérbios 10:16—1 Coríntios 15:58 e
Gálatas 6:8, 9; Provérbios 12:25—Mateus 6:25; Provérbios
20:20—Êxodo 20:12 e Mateus 15:4.) Mesmo quando se trata
de pontos tais como a preparação da terra para ser a
habitação do homem, há harmonia de pensamento com
outros escritores da Bíblia. — Pro. 3:19, 20; Gên. 1:6, 7; Jó
38:4-11; Sal. 104:5-9.
A exatidão científica, quer se trate de provérbios que
envolvam princípios da química, da medicina, quer da saúde,
atesta também a inspiração divina do livro. Aparentemente,
Provérbios 25:20 fala das reações ácido-alcalinas. Provérbios
31:4, 5 concorda com as últimas descobertas científicas de
que o álcool inibe o raciocínio. Muitos médicos e
nutricionistas concordam que o mel é alimento sadio, o que
faz lembrar o provérbio: “Filho meu, come mel, pois é bom.”
(Pro. 24:13) As modernas observações psicossomáticas não
são novidade para Provérbios. “O coração alegre faz bem
como o que cura.” — 17:22; 15:17.
Deveras, o livro de Provérbios abrange de modo tão
completo as necessidades do homem, bem como todas as
situações em que se pode encontrar, que certa autoridade
declarou: “Não há nenhuma relação na vida que não tenha a
sua instrução apropriada, não há tendência boa ou má sem o
seu devido incentivo ou correção. A percepção humana é em
toda a parte levada em relação imediata com a Divina, . . . e o
homem caminha como na presença do seu Criador e Juiz . . .
Todo o tipo de humanos se encontra neste livro antigo; e,
embora esboçado há três mil anos, ainda é tão fiel à natureza
como se tivesse sido tirado agora do seu representante vivo.”
— Dictionary of the Bible, de Smith, 1890, Vol. III, página
2616.
A teologia do livro de Provérbios consiste em cinco aspectos: (1)Deus tem
imutavelmente estruturado tanto do cosmos e da sociedade; (2) Deus revelou a
estrutura social através deste livro, (3) a estrutura social consiste em uma ação
conexões que une e destino; (4) a adesão a estrutura ordenada do Senhor é
uma questão do coração, e (5) as palavras são poderosamente eficaz na
formação dos corações jovens.
Cf. Esboço e Introdução ao Livro de Provérbios
Cf. Lições do Livro de Provérbios
Cf. Visão Geral do Livro de Provérbios
Cf. Introdução Bíblica ao Livro de Provérbios
§ 1 Uma Sociedade Estruturada.
A mulher sabedoria, uma personificação dos ensinamentos de Salomão, estava
presente quando o Senhor criou o mundo com os seus vastos mares, a sua altos
céus, e sua boa terra (8:22-26), e celebrou diariamente a maneira pela qual ele
fixava os limites dessas entidades vastamente cósmicas, permitindo que a
humanidade vivesse dentro deles (vv. 27-31). Ela encantou-se quando ele partiu
o mar, estabelecendo seu limite (v. 29). A celebração da sabedoria na ordem
beneficente do Senhor sobre o cósmico pelo qual ele conteve o caos no tempo
primordial corresponde ao seu papel na eliminação de ordem social,
restringindo o mal dentro do tempo histórico. Por seguir estes ensinamentos
relativos, entre outras coisas, para a aquisição de riqueza duradoura (10:2-5),
realizando atos de justiça de caridade para com os necessitados (vv. 6-7), e
falando para formar relacionamentos amorosos (vv. 10 -14), os fiéis esculpem
para si um reino eterno (8:15-21). O sábio vive em segurança dentro dos limites
desses ensinamentos, mas os insensatos, que sem disciplina desenfreadamente
desejam avidamente o que está fora desses limites prescritos (10:3 b), morrem
por transgressão da ordem do SENHOR (4:10-19).
Estas estruturas sociais não existem de forma autônoma, independente do
Senhor, que os ordenou. Pelo contrário, o Senhor sustém a eles: “Ele tem a
vitória em reserva para os retos, ele é um escudo para aqueles cuja caminhada
é irrepreensível, para aquele que guarda o curso do justo e protege o caminho
de seus fiéis” (2:8 - 9;. cf 3:26; 5:21-23; 16:1-5). Os provérbios são verdadeiros
somente se Deussustentá-los. A fé não está nos provérbios em si, mas no
Senhor que está por trás deles (3:5; 22:19). De fato, os ensinamentos deste livro
são equiparados a conhecer o próprio Deus: “Meu filho, se você aceitar as
minhas palavras... então você vai encontrar... o conhecimento de Deus” (2:1,
5).
§ 2 A Estrutura Revelada.
Salomão explica por que aceitar seus ensinamentos relativos a estruturas sociais
fixas é equivalente ao conhecimento de Deus: “Porque o Senhor dá a sabedoria,
e de sua boca procedem o conhecimento e o entendimento” (2:6). A boca de
Salomão tornou-se boca de Deus.
Deus falou de várias maneiras em tempos passados aos pais (Hb 1:1). Ao
contrário de Moisés, que falou com Deus face a face, e os profetas, a quem deu
visões e sonhos (Nm 12:6-8), o Senhor “falou” a Salomão e outros sábios
inspirados, como Agur (Pv 30:1) e o Rei Lemuel (31:1) através de suas
observações da criação e da humanidade. O laboratório do sábio é o mundo.
“Passei pelo campo do preguiçoso”, escreve ele, “[onde] espinhos tinham vindo
em todos os lugares ... e na parede de pedra estava em ruínas. Apliquei o meu
coração para que eu observasse” (24:30-32). Ao que ele escreve de seu
provérbio: “Um pouco de sono, um sono pouco... e pobreza há de vir sobre vós
como um bandido” (vv. 33-34). Em outras palavras, o sábio inspirado observa
que, dentro da criação caída há um princípio de entropia que destrói a vida, mas
com disciplina pode-se superar o caos ameaçador. É claro, o sábio é um mestre
moral, não um cientista natural. Sua retirada da ordem cósmica para instruir os
fiéis na disciplina pode superar o caos social.
A teologia do livro não é uma teologia natural. A mulher sabdoria não é a ordem
cósmica por si só, como muitos afirmam. Em vez disso, Salomão fala como o rei
de Israel (1:1), e como tal tem-se sido cuidadosamente educado na Lei Mosaica.
Neste livro Solomão consistentemente usa o nome de Deus, “Yahweh”, que
significa sua relação de aliança com Israel (Êxodo 3:13-15; 6:2-8). Através da
lente da aliança mosaica, o rei inspirado cunha seus provérbios (Pv 29:18).
Embora o sábio não fale com o trovão profético do céu, “assim diz o Senhor”,
ele fala com autoridade divina, usando o mesmo vocabulário que Moisés usou
para sua revelação: torah, “lei/ensino”, e mitzvah, “mandamento” (3:1).
§ 3 A Conduta Consequente.
A estrutura social ordenada e sustentada por Deus revelada neste livro implica
uma ligação inseparável entre atos e destino. Esta conexão é representada pela
metáfora “o caminho”, que ocorre cerca de 75 vezes em todo o Livro dos
Provérbios e trinta vezes nos capítulos 1-9, uma coleção de admoestações para
abraçar o ensino do livro e a chave hermenêutica para o livro. A metáfora
denota uma estrada transitável, ou o movimento em uma estrada, levando a
um destino e conota ao mesmo tempo o “curso da vida” (i.e, o caráter e
contexto de vida), “conduta de vida” (i.e, específicas escolhas e
comportamento), e “consequências dessa conduta” (isto é, o destino inevitável
de tal estilo de vida). Os sábios estão no caminho da vida (2:20-21); tolos estão
a caminho de morte (1:15-19). Considerando que o cristianismo pensa nisso
como uma “fé”, o Livro dos Provérbios, como a maioria da Bíblia, pensa dos fiéis
como seguindo um caminho, uma halakah, um caminho de vida.
A vida neste livro refere-se à vida abundante em comunhão com o Deus vivo e
eterno. De acordo com Gênesis 2:17, a ruptura do relacionamento adequado
com Aquele que é a fonte da vida significa morte. A sabedoria é a preocupação
de estabelecer e manter esse relacionamento adequado e assim a vida (veja
2:5-8). A perícope primeira (1:8-19) assume que o ímpio pode enviar sangue
inocente a uma morte prematura, mesmo que prematuramente, como no caso
de Cain que matou Abel, o justo (Gen 4:1-9). A promessa de vida neste livro
(2:19; 3:2), como na Bíblia como um todo, deve implicar uma realidade que
transcende a existência clínica e sobrevive a morte clínica. Se não, o assassinato
de Abel, em Gênesis 4, do sangue inocente em Provérbios 1:8-19, e do Filho de
Deus, desconstruiria tanto a Bíblia como o livro como os ímpios teriam triunfado
sobre os justos.
Salomão compara seus ensinamentos a uma árvore da vida (3:18). A literatura
religiosa do antigo Oriente Próximo, especialmente o Egito, e 2-3 Gênesis
sugerem que a árvore da vida simboliza a vida eterna, no sentido pleno do
termo. O tolo seduzido em Provérbios 5 sofre depois que seu corpo é gasto e
depois que ele desperdiçou a sua vida (vv. 7-14). Sem especificar como, o texto
hebraico recebeu as promessas da “imortalidade” ao justo (12:28) e um refúgio
seguro, mesmo em morte clínica (14:32). No entanto, ao contrário de literatura
apocalíptica, que desenha uma nítida distinção entre este mundo e o vindouro,
a Literatura Sapiencial diz respeito a vida como tanto esta como a ainda por vir.
O sábio enfatiza a importância de abraçar a vida agora.
§ 4 Foco no Fim.
“O justo pode cair sete vezes, ele se erguerá novamente, mas os ímpios são
derrubados pela calamidade” (24:16). Jó e Eclesiastes, em contraste, focam na
realidade atual, “sob o filho”, quando os justos parecem “nocauteados”. Até
mesmo Provérbios 24:16 quase descarta a queda dos justos em uma cláusula
concessivo, outros provérbios também, ao mesmo tempo que afirmam a ordem
moral, também afirmam ou sugerem que os justos sofrem, enquanto os maus
prosperam. Ele qualifica a consequência da conduta, pelos provérbios com o
tema “melhor do que” (por exemplo, 15:16-17; 16:16, 19; 17:1; 19:22; 21:03,
22:1; 28:6). Estes pobreza ligação provérbios com retidão e riqueza com a
maldade e assim torná-lo perfeitamente claro que a piedade e a moralidade não
levam imediatamente a um fim feliz.
Devido à natureza epigramática dos provérbios, cada um expressa uma verdade
com a maior concentração no seu assunto. Para obter a plena verdade, no
entanto, é preciso lê-los como uma coleção. Por exemplo, após as promessas
maravilhosas em 3:1-10, Solomão acrescenta: “Meu filho, não despreze a
disciplina do Senhor” (vv. 11-12). Prosperidade e adversidade são a mistura
sábia e necessária da formação do filho. A explicação de Salomão, “porque o
Senhor corrige a quem ama, como o pai ao filho em quem ele se deleita,”
mostra que a tutela do pai passa para o Pai celestial. O sábio qualifica as
recompensas palpáveis da sabedoria que são catalogadas em 3:13-20 com a
admoestação “não negues o bem daqueles que o merecem” (v. 27), uma
advertência que implica boas pessoas podem estar precisando de ajuda. Seus
ensinamentos sobre a riqueza em 10:2-5 não são para ser lido isoladamente,
mas juntos: o versículo 2 diz respeito à riqueza e ética, versículo 3 a riqueza e
religião, e os versículos 4-5 para a riqueza e prudência. Ler desta forma o livro
não ensina um Evangelho rico e próspero, mas promete que o Senhor
recompensará os Seus servos fiéis.
§ 5 Coração.
A adesão a estrutura social ordenada por Deus (s) é um assunto do coração, o
centro emocional-intelectual-moral de uma pessoa (2:2; 4:23). Solomão não
entrega os seus ensinamentos de forma fria, as proposições racionais pedindo
uma resposta igualmente racional, desapaixonada. Pelo contrário, em uma bela
peça de ficção literária, “a sabedoria chamou em voz alta na rua, levanta a sua
voz nas praças públicas” (1:20). “Ela levanta a sua voz” que se refere a uma
situação fervorosa e emocional. Salomão exorta o filho a “levantar a sua voz”
(“invocar”, NVI) à sabedoria (2:3). Quando a sabedoria de Salomão é aceita com
todo o coração, então a sabedoria que estava no coração de Deus entra no
coração do crente: “Pois a sabedoria”, que se originou na boca de Deus (v. 6),
agora “entrará em seu coração, e o conhecimento [de Deus e de Seus
ensinamentos] será agradável à tua alma”. (v. 10).
A sabedoria promete vida daqueles que a amam (8:17, 21) e pede aos seus
amantes para vigiar diariamente às suas portas como uma noiva (v. 34). Para ter
esta noiva, é preciso estar disposto a vender todos como dote (4:7). Ela deve ser
realizada em respeito e reverência: o temor do Senhor é o primeiro princípio da
sabedoria (1:7; 9:10). Pelo contrário, simplórios malformados, que passam para
a idade adulta sem ter feito um compromisso com a sabedoria, o amor a sua
liberdade; odiarão os insensatos o conhecimento, e os escarnecedores
cobiçarão a capacidade de simulação (1:22). A escolha ou rejeição dos
ensinamentos de Salomão é afetiva, não apenas cognitiva. O simplório
formativo, a quem o livro é dirigido (1:4), precisa tomar uma decisão para a
prudência ética e religiosa antes de entrar na cidade e se engajar em seu
comércio e política (8:3). Tal decisão também é necessário para prepará-los para
resistir aos homens maus e mulheres dentro dela.
§ 6 O Poder das Palavras.
Salomão ordenou que este livro para que os pais da aliança pudessem ensiná-la
dentro de casa, o lugar da educação no antigo Israel. É dirigido à criança que
estiver dentro da aliança para entrar na maturidade. A costura entre as
gerações é mais vulnerável para pessoas de fora neste momento quando o
orgulho e paixão correm na maré cheia. As vozes de ambos os pais (1:8; 31:26)
competem com as vozes de homens apóstatas e mulheres infiéis. Os pais são
armados por Salomão com toda sua habilidade retórica na conversa para
combater os homens que lançam a tentação do dinheiro fácil, oferecidos por
homens apóstatas (1:10-19; 2:12-15), e ao sexo fácil, oferecido por mulheres
infiéis (2:16-19; 5:1-23; 6:20-35; 7:1-27; 9:13-18).
A menção da mãe como uma professora é único dentro de Literatura Sapiencial
no antigo Oriente Próximo. No Antigo Testamento, ambos os pais são colocados
em pé de igualdade diante da criança (Lv 19:3). Para a “linstrução fiel” estar na
língua da mãe, ela própria deve primeiro ter sido ensinada. Embora o livro seja
dirigido a “filhos” que iria assumir a responsabilidade pela casa, as filhas não são
excluídas.
Salomão assume todo o poder da fala: na verdade, ela tem o poder de vida e
morte (18:21). Embora as crianças sejam responsáveis por suas próprias
decisões (Ezequiel 18:20), a formação parental terá seu efeito (Prov 22:6,15). As
crianças que fazem-no na classificação dos sábios traz a alegria aos pais, mas
aqueles que não conseguem abraçar a sabedoria herdada trazem apenas a dor
(10:1).
Bruce K. Waltke
Bibliografia
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1.1— O prólogo do livro de Provérbios (Pv 1.1-7) tem três partes: (1) título (v.
1), (2) objetivo (v. 2-6) e (3) tema (v. 7). O título, Provérbios de Salomão,
filho de Davi, rei de Israel (v. 1), pode sugerir três coisas: (1) Salomão é autor
do livro, (2) Salomão foi autor das principais contribuições ao livro, ou (3)
Salomão é o patrono da sabedoria em Israel, então seu nome esta neste
título como honorífico. Como há outros autores (ex.: Agur [cap. 30] e Lemuel
[Pv 31.1-10]), e algum material de Salomão foi editado muitíssimo depois de
sua morte (Pv 25.1), parece mais sensato interpretar as palavras de abertura
do livro como uma combinação da segunda e terceira opções. Salomão não
pode ser o autor de todo o livro, mas é seu contribuinte mais notável e o
modelo do ideal de sabedoria de Israel.
1.2,3 — Os versículos 2 a 6 explicam o objetivo do livro de Provérbios. Os
verbos “conhecer”, “entenderem” e “receber” referem-se as formas de
adquirir sabedoria. A palavra sabedoria se refere à capacidade, o que pode
ser adquirida em sua vida quando se põe em pratica os ensinamentos dados
por Deus. O termo instrução também pode ser traduzido como “disciplina”
[NVI]; refere-se ao processo de recepção de conhecimento e posterior
aplicação a sua vida diária.
1.3 — A expressão traduzida como “instrução do entendimento”, assim
como a sabedoria, denota uma habilidade em prática, tal como a de um
artesão ou músico. Ou seja, a sabedoria afeta a vida como a habilidade dos
artistas afeta a prática de sua arte. As palavras justiça, juízo e equidade dão
um contexto moral a sabedoria, instrução e palavras que dão entendimento.
A sabedoria bíblica permeia a vida inteira; exige uma mudança de
comportamento e comprometimento com a justiça.
1.4 — Os simples ou ingênuos são os jovens inexperientes, com tendência ao
erro. Os termos “prudência” e “bom senso” incluem os fatos mais duros da
vida. O sábio já aprendeu com a experiência a distinguir o que e verdadeiro,
louvável e bom do que e falso, vergonhoso e ruim (Rm 12.1,2).
1.5,6 — A expressão crescer em sabedoria vem destacar que o homem que
adquiriu alguma compreensão deve continuar desenvolvendo-se em
discernimento; sempre há mais o que aprender. O versículo 6 fala das lições
que a pessoa mais madura obtém por meio do estudo de provérbios,
interpretação, palavras dos sábios e adivinhações.
1.7 — O temor do Senhor é o ingrediente mais básico da sabedoria, uma
virtude que só pode ser alcançada quando se conhece Deus e submete-se a
Sua vontade. Ter conhecimento sobre algo e nenhum de Deus aniquila o
valor de possuir esse conhecimento. Só os loucos rejeitaram o temor ao
Senhor. O verbo “desprezar” tem uma forte carga negativa e dá mais peso
ao fato de que não temer a Deus equivale a rejeitar toda sabedoria (Dn
11.32; Jo 17.3).
1.8,9 — As palavras de abertura deste trecho bíblico soam como o apelo de
um pai ao seu filho, um tema que esta presente em todo o resto do livro. O
versículo 8 destaca a responsabilidade de instruir tanto do pai como da mãe.
1.10-14 — Aqui está a primeira passagem de advertência. Neste trecho
bíblico, o autor alerta que não devemos misturar-nos com os criminosos.
Isto espelha uma situação desregrada da sociedade atual em que é comum
ver jovens fracos se deixarem envolver pela rede de violência.
1.15-18 — Nestes versículos, o autor aconselha cautela. Ele destaca que
cada passo no caminho perigoso é um passo em direção à destruição ao
ilustrar com o ato de estender uma rede para capturar uma ave. Neste caso
seria uma tarefa inútil, pois a ave, espiando a armadilha sendo preparada,
desvia-se dela. Só que existe o louco, que e mais tolo do que o pássaro; ele
vê a armadilha ser montada e ainda assim cai nela.
1.19 — Prendera a alma. Estas palavras concluem a advertência do autor aos
jovens e apresentam um tema que os trechos seguintes abordarão: o estudo
da sabedoria é uma questão de vida ou morte.
1.20,21 — A palavra Sabedoria aqui esta com letra maiúscula porque não foi
traduzida da mesma palavra hebraica que deu origem ao termo sabedoria
no versículo 2, mas sim do vocábulo hebraicohokhmoth (que também e
encontrado em Pv 9.1; 14.1; 24.7; Sl 49.4). Neste caso, a palavra hebraica
provavelmente e a forma plural de hokhmah (Pv 1.2), e não um substantivo
abstrato separado, apontando para as multiformes excelências da sabedoria.
1.22-27 — Este trecho bíblico se dirige aos néscios aqueles que pouco
sabem sobre o temor do Senhor e ainda não encontraram uma direção certa
na vida. São ensinamentos que repreendem o que e mal e apontam para o
que e bom, ressaltando que os que rejeitaram a sabedoria serão
ridicularizados quando chegar a hora de enfrentarem o juízo inevitável de
sua insensatez (Sl 2.4). Ainda assim, a Sabedoria da risadas de júbilo diante
da obra de Deus e deleita-se por causa do povo de Deus (Pv 8.30,31).
1.28-33 — Eu não responderei. Esta e a consequência que enfrentara aquele
que escolheu desprezar a sabedoria; o Senhor não atendera as orações. O
louco costuma rejeitar os sábios conselhos do Senhor porque se recusa a
temer a Deus (v. 29). Os versículos 31 e 32 retomam o tema do versículo 19
sobre a orientação dos pais: os loucos atraem sua própria destruição.
Rejeitar a sabedoria os destruirá. Este tenebroso alerta termina com a
promessa de vida aos poucos que derem ouvidos as palavras de sabedoria;
estes encontrarão segurança e paz.
1.2 2.1-4 — Este capítulo descreve os frutos produzidos pela busca de sabedoria
e atrelam os conceitos de sabedoria e conhecimento de Deus com mais
propriedade.
2.5-8 — Quando se busca a sabedoria, entende o temor do Senhor e
encontra o conhecimento de Deus. Quem conhece Deus teme (reverência) a
Ele. Os versículos 6 a 8 se assemelham as palavras dos Salmos (compare ao
Sl. 91). A expressão “a verdadeira sabedoria” usa outro sinônimo para
sabedoria, uma palavra que pode ser traduzida como “sucesso permanente”
ou “vitória”.
2.8-13 — A expressão “veredas do juízo” (v. 8) contrasta fortemente com
caminhos das trevas (v.13). Este contraste apresenta um dos principais
temas de Provérbios, o contraste entre dois caminhos. Jesus falou de dois
caminhos, um estreito e outro largo (Mt 7.13,14). A estrada certa é marcada
pelas demandas da justiça, do juízo e da equidade (v. 9). Estas são as
demandas da lei de Deus.
2.10,11 — Entrará no teu coração. Estas palavras ressaltam a internalização
da sabedoria. Os conhecimentos ensinados pelos provérbios devem ser
aprendidos e praticados.
2.12-15 — A expressão “mau caminho” (v. 12) contrasta diretamente com o
caminho da sabedoria, e caracteriza-se pelas coisas perversas, por mentiras
e distorções, por deformações e enganações, e por trevas e desvios.
2.16-22 — A expressão mulher estranha faz referência a mulher adultera,
sedutora, imoral. O adultério é incompatível com o ideal da lei de Deus. A
palavra estranha também conotava prostituição, porque a mulher
estrangeira dos antigos cultos de fertilidade do Oriente Médio participava de
praticas sexuais nos seus ritos de adoração.
1.3 3.1,2 — Lei e mandamentos são palavras que, como no Provérbio 1.8,
chamam a atenção para a ligação entre a sabedoria e a Lei mosaica. Os
provérbios são a Lei aplicada.
3.3,4 — Benignidade e fidelidade são duas palavras de peso dentro da Bíblia,
pois descrevem o caráter de Deus (Sl 100.5) e os valores que Ele exige de Seu
povo. O apóstolo João empregou o equivalente grego destas palavras, graça
e verdade, para descrever o caráter de Jesus (Joao 1.14).
3.5,6 — As palavras “confia no Senhor” ecoam a ordem de Deuteronômio
6.5 para amar Deus com todo o nosso ser. O verbo “confiar” e
complementado pelo verbo “estribar-se” (“sustentar-se”). Confiar em Deus e
depender conscientemente Dele, da mesma forma que e preciso apoiar os
pés no estribo para não perder o equilíbrio ao andar a cavalo. A ideia e
reforçada com a exortação para reconhecê-lo em todos os teus caminhos, o
que significa observá-lo e conhecê-lo enquanto se vive. Ao fazê-lo, a pessoa
percebera que, cada vez mais, Deus facilita os seus caminhos.
3.7-10 — As promessas destes versículos tratam de padrões genéricos, e não
de regras sem exceções. São os resultados típicos de quem assume um
compromisso com Deus. A ordem para louvar ao Senhor com a tua fazenda
[recursos, na NVI] e dar-lhe as primícias de toda a tua renda e uma parte do
significado de adorar ao Senhor. Sendo assim, da mesma forma que no pacto
de Deus com Israel, Ele prometeu, entre tantas coisas, manter seus celeiros
e lagares cheios.
3.11,12 — A correção do Senhor é o outro lado da Sua graça. Devemos
apreciar a correção de Deus em nossas vidas, porque Ele só disciplina
aqueles a quem ama (Hb 12.7-10).
3.13-18 — Confira as bem-aventuranças proferidas por Jesus no Sermão da
Montanha (Mt 5.2-12). O termo hebraico traduzido como “bem-aventurado”
[feliz, na NVI] possui uma ideia explosiva de múltipla felicidade (Sl 1.1). Fica
implícito, então, que Deus fica muito contente ao ver Seus filhos seguindo os
princípios da sabedoria. A pessoa que encontra sabedoria descobre um
tesouro incalculável. Adão e Eva foram expulsos do jardim do Éden e
proibidos de tocar na árvore da vida (Gn 3.22-24), mas a sabedoria e outra
árvore da vida, que começara a restaurar a felicidade perdida no Paraiso.
3.19, 20 — A expressão “com sabedoria, fundou a terra” revela um dos
temas centrais de Provérbios, que é a associação de sabedoria e criação. O
capítulo 8 é dedicado a este assunto.
3.21 — Este versículo estimula a conservar tanto a fé como a sabedoria. O
intuito e semelhante ao de Shemá Israel [Ouça Israel] (ver comentário em Dt
4.39; 6.4). Também se assemelha as ideias básicas do Salmo 91 (compare o
v. 26 com o Sl 91.10-13).
3.22-26 — Boa parte do capítulo 3 contem conselhos parecidos com as da
parte posterior do livro. Estes conselhos soam como aperitivo do que virá
depois, mas no momento aparecem no contexto da benção concedida ao
homem que se aproximou da Sabedoria. Tais provérbios revelam-nos um
grande senso de orientação, que não estão distantes do contexto teológico.
Concentram-se no conhecimento de Deus; baseiam-se no caminho para a
sabedoria. Conforme lemos estes provérbios, vamos situando-nos para os
que começam no capitulo 10.
3.27-30 — Este trecho bíblico se refere ao tratamento respeitoso para com o
nosso próximo, um dos principais ensinamentos de Jesus (Lc 10.25-37). Da
mesma forma, não se deve evitar fazer o bem ao nosso próximo quando se
tem o poder de fazê-lo (Pv 3.27). E falta de caráter poder pagar uma dívida e
não fazê-lo (v. 28), e não há piedade para tramoias interesseiras (v. 29) ou
palavras de intriga (v. 30) contra companheiros pacíficos.
3.31-35 — De nada vale a pena ter inveja do homem violento, porque Deus
abomina a perversidade. Só um tolo desejaria ser detestável aos olhos do
Senhor! Este trecho bíblico termina com um contraste da benção de Deus
para os justos com Sua maldição sobre os ímpios (Gn 12.3).
4.1-4 — A expressão correção do pai deixa implícita ternura e afeição, bem
como preocupação e disciplina por parte dos pais. A introdução do capítulo
4 lembra o início da primeira orientação por parte dos pais feita em
Provérbio 1.8 [Filho meu], mas o interlocutor agora é plural, “filhos”. Assim
como seu pai o instruiu, o filho ensinara aos seus filhos, uma geração apos a
outra. O apelo aos pais para ensinarem as coisas de Deus aos seus filhos
baseia-se em Deuteronômio 6.7 e reflete os Salmos (ex.: Sl 78.3,4).
4.5-7 — Os versículos 5 a 9 apresentam um apelo apaixonado do pai aos
filhos para que adquiram a sabedoria a qualquer custo. A introdução dos
primeiros capítulos de Provérbios segue um padrão: afirmativa, repetição e
embelezamento. Fazendo amplo uso da reafirmação criativa, as ideias são
entendidas bem claramente. As palavras do versículo 7 são particularmente
fortes: a sabedoria é a coisa principal. A palavra principal é traduzida como
“o princípio” está em Proverbio 1.7, mas aqui tem o valor de primeira em
importância.
4.8,9 — Estes versículos ressaltam o valor absoluto da sabedoria. A pessoa
que tem a sabedoria e lhe obedece sem hesitar será exaltada e honrada; sua
presença se tomará um diadema de graça e uma coroa de glória. Estas
metáforas são apelos eficazes por uma resposta do coração (Pv 1.9; 3.3).
4.10-19 — Estes versículos apresentam um novo apelo de pai para filho para
andar no caminho da sabedoria e evitar a vereda dos ímpios a todo custo. O
contraste entre essas duas carreiras [veredas, na NVI] e profundo. O
caminho da sabedoria e reto, sem obstáculos e seguro. O caminho dos
ímpios é tortuoso, perigoso e marcado por violência. Uma estrada é um
caminho de luz, a outra, de escuridão; uma conduz a promessa, e outra, a
uma estrondosa destruição.
4.20-27 — Este trecho bíblico orienta a cuidar das vontades e das emoções,
e a manter a fala honesta, o olhar atento e o bom senso no proceder.
Adentrar o caminho da sabedoria não é um acaso. Boa parte deste capitula
reforça e refina os temas encontrados nos capítulos 1 a 3. A ênfase na
virtude nos prepara para as advertências do capitulo 5.
5.1-6 — O capítulo 5 volta ao tema da mulher estranha (Pv 2.16-19). Este
trecho fala veementemente a favor da fidelidade conjugal. Se você quer
conservar a discrição, ouça estas palavras, senão seus pés descerão a morte.
5.7-14 — A Bíblia ensina em varias partes que a tentação como um todo é
inevitável, mas algumas devem ser evitadas a qualquer preço. A pessoa
ajuizada sabe disso e não se aproxima da mulher estranha [imoral]. As
instruções do apóstolo Paulo a Timóteo para fugir dos desejos da mocidade
(2 Tm 2.22) ensinam o mesmo tema. Envolver-se com tal pecado desonra e
consome aqueles que tombam nele.
5.15 — Em um país árido como Israel, um poço era um bem valioso e um
privilégio a ser resguardado. O cônjuge também era (e e). A expressão “bebe
a água” é uma referencia oblíqua a conjunção sexual (Pv 9.17), e “da tua
cisterna” é um claro apelo a fidelidade conjugal — um homem e uma mulher
juntos pelo matrimônio. Os autores da Bíblia, às vezes, falam da salvação
como uma fonte (Is 12.3); chamar o cônjuge de fonte d’agua era um gesto
afetivo (Ct 4.15).
5.16,17 — Nestes dois versículos, há uma pequena “virada de mesa”. Como
seria, pergunta o professor, se sua própria esposa se tornasse a mulher
estranha de outros homens? Por acaso sua “fonte d’agua” deveria correr
pelas ruas? Ou “sua água” estar em praça publica? “Não!”, diz o professor.
Faça com que estas águas sejam só suas, e não algo que partilha com
estranhos (v. 17).
5.18-20 — As palavras “alegra-te com a mulher da tua mocidade”
compreendem uma ordem e um estímulo para se achar alegria na felicidade
mutua do casamento. De fato, ter prazer no leito conjugal é bendito por
Deus (Cantares; Hb 13.4).
5.21-23 — Na expressão “os olhos do Senhor” reside um ponto decisivo: o
que se faz em secreto não passa despercebido aos olhos de Deus, que tudo
vê. Nisto, incluem-se também as praticas de adultério, que só leva a ruína.
Uma vida insensata termina em morte amarga. O caminho secreto do
perverso e um escândalo as claras no céu; termina com a solidão de um
inferno particular.
6.1-5 — Estes versículos alertam sobre o perigo de ser fiador (Pv 11.15) ou
coassinar um empréstimo. Isto não significa que nunca devamos ser
generosos ou ajudar os outros caso possamos, mas que não devemos
prometer o que não podemos cumprir. No tempo de Salomão, um
cossignatário que não pudesse pagar perderia tudo o que tinha e, ainda por
cima, seria reduzido a escravidão. Mesmo que as leis de hoje sejam
diferentes, a incapacidade de quitar uma divida é ainda uma forma de
escravidão e pode ser um problema sério.
6.6-11 — Este trecho alerta contra a armadilha da preguiça. O preguiçoso
érefém do lazer. Tudo de que ele precisa para sobreviver pode ser aprendido
com a formiga, uma criatura humilde que se ocupa em armazenar comida no
verão para enfrentar o inverno que virá. Como a formiga, a pessoa sábia
trabalha duro. Por outro lado, o preguiçoso é viciado em dormir e perdeu
todo o interesse em trabalhar (Pv 26.13-16).
6.12-15 — O homem vicioso é criador de casos. Diferentemente do
preguiçoso, cujo único desejo é encontrar outro lugar para cochilar, o
criador de problemas mal pode esperar para se meter em novos apuros.
Diferentemente do preguiçoso (v.6), ele se ocupa até demais, mas
planejando coisas erradas. Ele se alegra em semear a intriga. Mas como o
preguiçoso, ele não percebe que a destruição estápróxima.
6.16-19 — Este trecho é um provérbio numérico (Pv 30.15-31) que descreve
sete coisas que aborrece o Senhor. O uso de progressão numérica — seis
coisas aborrece o Senhor, e a sétima... — nestes provérbios é um
mecanismo retorico que embeleza a poesia, ajuda a memorizar e constrói
um clímax. Dá a impressão de que há mais a ser dito sobre o assunto. A
progressão incorpora não apenas os números, mas também as palavras que
descrevem a resposta divina; o vocábulo aborreceprogride para abomina. O
termo “abomina”é a expressão mais forte da Bíblia de “ódio” pela
perversidade(compare com Lv 18.22). Em uma lista desse tipo, o último item
é o mais importante.Assim, o leitor saberá que o que semeia contendas
entre irmãos(v. 19) é o que mais desagrada Deus.Compare com a benção de
Deus aos irmãos que vivem juntos em paz (Sl 133.1).
6.20-24 — Este trecho vincula os ensinamentos do pai com os da mãe(Pv
1.8). A instrução materna deve estar atada ao coração e ao pescoço da
pessoa, como companhia permanente e guiaconfiável — como a Lei de Deus
(compare com Dt 6.4-9; 11.18-21). (Para as palavras lâmpadae luz, veja Sl
119.105.)
6.25 — O termo “olhos” refere-se aos olhares sedutores.
6.26 — O contraste ressalta a terrível devastação que uma adúltera traz à
vida de um homem. Comparada a confusão causada por uma prostituta, a
adúltera consome a vida de sua vítima.
6.27-35 — Furta para saciar-se, tendo fome. Este trecho não apoia o roubo.
Simplesmente compara o roubo, que poderia ser uma ação até
compreensível se a razão for a fome, com o adultério, que nunca faz sentido.
Jogar fora o compromisso com sua companheira da vida inteira é loucura.
Para os antigos israelitas, fidelidade conjugal era sinal de fidelidade à Deus.
Mas vale ressaltar que naquela época se um homem roubasse alimento era
condenado a restituir sete vezes o valor roubado.
7.1-5 — O problema da imoralidade (Pv 2.16-19; 5.1-23; 6.20-35) tem
solução: “Guarda os meus mandamentos [...] como a menina dos teus
olhos.” As pessoas devem guardar as palavras sábias como protegem a
pupila dos seus olhos. Deus cuida do Seu povo com o mesmo zelo (Dt 32.10).
7.14-21 — Tudo o que a adúltera faz é perverso. Ela procura seduzir e
mostrar suas ações supostamente boas, fazendo um convite ao jovem que
ele não consegue recusar. Uma das estratégias dela é convidá-lo para um
banquete, que teria como cardápio parte da oferta que ela apresentara ao
Senhor como sacrifícios pacíficos [de comunhão, na NVI]. Afinal, este tipo de
oferta era realizado para agradecer por uma misericórdia alcançada, e a
carne do sacrifício tinha de ser comida no mesmo dia. Estes preparativos e
convite seriam aceitáveis entre uma esposa e seu marido; seriam honrados
por Deus. Porém, no caso da mulher imoral, e nada menos do que pura
perversidade.
7.22,23 — Este trecho emprega varias metáforas desfavoráveis para
descrever como um jovem tolo recai na imoralidade. A expressão “como o
louco ao castigo das prisões” poderia ser traduzida “como um cervo que
pateia até se ver preso”. A ideia é de que o jovem não tem noção do seu
destino. Ele é tão insensato que nem tem noção de sua insensatez.
7.24-27 — O capítulo 7 termina com um epílogo (v. 24-27) no qual se
arremata a lição: “Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos.” Em outras palavras,
fique longe da mulher imoral! Ela é fatal, e já fez muitas vítimas.
8.1-11 — Este capítulo é um hino de louvor à maravilha de possuir
sabedoria. A expressão,“não clama, porventura, a sabedoria?” atesta que a
sabedoria deseja chegar a todos; por isso, dissemina sua mensagem
publicamente, diferentemente da mulher imoral, que busca seus objetivos
as ocultas e com mentiras. Pode-se confiar nas palavras de sabedoria; seus
conselhos são gratuitos e benignos. Suas palavras de verdade contrastam
com as mentiras da impiedade (Pv 7.21-23). A sabedoria cumpre as suas
promessas; ela não é uma provocadora espalhafatosa. O que a sabedoria
oferece tem valor inestimável, muito mais rico do que prata e ouro; não há
pedra preciosa nem nada de valor que se compare a ela (uma expressão
parecida se encontra em Pv 3.14,15).
8.12,13 — As palavras “eu, a sabedoria, habito com a prudência” abrem a
segunda parte deste trecho sobre a excelência da sabedoria (v. 12-21).
Novamente, neste contexto, vemos a sabedoria atada diretamente ao temor
do Senhor. A oferta de sabedoria só está aberta aos que temem a Deus.
Aproximar-se da sabedoria requer aproximar-se do Altíssimo, o que significa
afastar-se de tudo o que Ele abomina — o mal, o orgulho, a arrogância, o
mau comportamento e a fala perversa. Jesus disse que a verdade está nele
(Jo 8.32).
8.14-21 — Neste trecho bíblico, fala-se de príncipes, nobres e juízes. Para
que as autoridades possam exercer seu poder com idoneidade é preciso o
uso da sabedoria, um de seus apelos mais requintados. Além disso, a
sabedoria leva aqueles que a seguem a riquezas e honra (Pv 9.1-6). É um
contraste chocante com o destino do tolo (Pv 6.33,35).
8.22-31 — Esta parte do capítulo 8 descreve o papel da sabedoria na criação.
O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos. Nesta expressão, o
termo “possuiu” em hebraico pode significar “trouxe” ou “criou”.
Melquisedeque usou a mesma palavra para identificar Deus como o Criador
do universo (Gn 14.19). O Senhor, sempre sábio, produziu a sabedoria; O
Senhor, dono de todo conhecimento, criou o conhecimento. A sabedoria só
teve um princípio no sentido de que Deus, naquele momento, separou-a
para exibi-la; na medida em que é uma das perfeições de Deus, ela sempre
existiu (v. 23). Estes versículos fornecem parte do contexto para o retrato de
Cristo no NT como a Palavra divina (Jo 1.1-3) e como a sabedoria de Deus (1
Co 1.24,30; Cl 2.3).
8.30,31 — Usando de sabedoria, Deus criou o universo. Logo, um estudo
devido sobre o universo é uma descoberta progressiva da sabedoria de Deus
(Rm 1.20). A palavra “delicias” expressa a exuberância brincalhona e infantil
da Sabedoria, como um filho querido. E sua maior alegria está no ápice da
obra de Deus — os filhos dos homens — ou seja, na humanidade.
8.32-36 — Esta parte é o epílogo do hino de louvor do capítulo 8. Apela para
que todos o ouçam: “Agora, pois, filhos, ouvi-me.” A sabedoria oferece
bênçãos e vida a todos os que lhe seguem, mas amaldiçoa e mata os que a
odeiam. O gentil convite da sabedoria e mais desejável do que qualquer
coisa e leva-nos a uma vida bem-aventurada.
9.1 — Aqui reside o contraste definitivo entre loucura e sabedoria. Cada uma
delas oferece um banquete para a vida (v. 1-6) e outro para a morte (v. 13-18).
Entre essas duas seções há uma parte (v. 7 -12) que fala das consequências da
vida de sabedoria versus a de insensatez. Assim como em Provérbio 1.20, no
versículo 1 do capitulo 9 o termo hebraico traduzido como “sabedoria” esta no
plural, e não no singular, para chamar a atenção. “Sete colunas”. Nesta
expressão, o número sete representa a completude, conforme é comum na poesia
semítica. Ou seja, não é que houvesse literalmente sete colunas, mas sim que a
casa da sabedoria tinha firmeza e caráter substancial.
9.2,3 — Dentre os alimentos do banquete da sabedoria constavam carne e
vinho, servidos sobre uma bela mesa (Pv 7.14). A carne recém-abatida era o
diferencial do banquete nos tempos bíblicos. Já o vinho era um gênero
precioso no antigo Israel; mas em banquetes especiais, o anfitrião
acrescentava temperos aromáticos ao vinho, acentuando o aroma e
melhorando o gosto (Ct 8.2). Tudo isso contrasta com a atitude da mulher
insensata. Enquanto a sabedoria ocupa-se em cuidar de cada detalhe como
uma anfitriã zelosa, a insensatez se senta a porta de casa sem ter o que fazer
(v. 14) A sabedoria manda suas criadas correrem a cidade para convidar as
pessoas para o jantar.
9.4-6 — A sabedoria faz questão de convidar para o seu banquete os simples,
quer dizer, aqueles que ainda não se decidiram pelo caminho que tomarão na
vida (Pv 1.4; 7.6). Com as palavras “pão e vinho”, a sabedoria promete vida.
A pessoa que se aproxima da sabedoria não tem nada a perder senão sua
ingenuidade. Leia Hebreus 5.14, onde fala da pessoa madura como aquela que
é capaz de desfrutar bem do alimento sólido e alcançar o crescimento
espiritual, enquanto a ingênua só consegue beber leite e continuar sendo
menino na fé (Hb 5.13).
9.7-9 — “Escarnecedor” ou “zombador” é quem se opõe frontalmente a
sabedoria (Pv 1.22), escarnecendo do que é de Deus (SI 1.1). Como a pessoa
deve reagir ao zombador? O melhor é nem dar resposta. O sábio, por sua vez,
aceita ser corrigido e reage com gratidão ao que apontou o seu erro. O sábio
sempre aceita criticas construtivas; fica implícito que ele é uma pessoa
humilde (Pv 3.7; 9.10; 11.2).
9.10-12 — O temor do Senhor é o tema central do livro dos Provérbios (Pv
1.7). A única maneira apropriada de aproximar-se do santo Deus é com
temor, ou seja, reverência. O termo “Santo” é um nome plural e majestoso da
palavra hebraica que poderia ser traduzido como o Santíssimo ou a
quintessência da santidade. A expressão para ti mostra que você mesmo
sentirá os efeitos de sua sabedoria ou insensatez; é impossível escapar deles.
9.13-18 — Esta parte faz uma paródia dos versículos 1 a 6. Nos seis primeiros
versículos deste capítulo, a sabedoria personifica o valor da sabedoria. Já
nesta segunda parte (v. 13-18), é a vez de a insensatez ser personificada,
comparada neste caso com uma mulher louca. Ela fala em voz alta, e
inconsequente, estridente, indisciplinada e não sabe coisa alguma (Pv 7.10-
12). Ela grita as mesmas palavras que a sabedoria usa (compare o v. 16 com o
v. 4), mas com uma diferença: ela não tem nenhum banquete maravilhoso
para seus convidados, mas apenas comida ordinária, furtada e escassa.
Embora receba muita atenção, seu convite só faz sentido para os faltos de
entendimento.
10.1 — Os provérbios de Salomão concentram-se no filho sábio, como nos
capítulos 1 a 9, e o comparam com o filho louco. O termo “filho” é genérico
— a questão central não é ser filho em vez de filha, mas sim se ele (a) é sábio
(a) ou louco (a). O comportamento de um filho afeta ambos os pais. Os pais
têm sua fonte de alegria ou tristeza no filho que demonstra capacidade para
a vida.O tempo dos verbos sugere que o filho sábio alegra seus pais
continuamente e que o filho louco traz contínuos dissabores aos seus pais.
10.2 — Este versículo é um alerta contra confiar na riqueza, e não na retidão
pessoal. Os perversos podem ser ricos, mas essa riqueza não lhes adiantará
de nada depois de mortos. Neste caso, a morte é algo a temer — se a pessoa
não conhece Deus. O fato de a integridade libertar da morte pressagia certa
esperança de vida após a morte.
10.3 — Este versículo fala de como Deus generosamente provê as
necessidades da alma dos justos, mas retribui com Sua justiça aos ímpios.
Provérbios assim ressaltam (1) as circunstâncias como deveriam ser e (2) o
fim dos ímpios (SI 73.17). Não indicam necessariamente a vida como ela
sempre é, nem o que os ímpios estão vivendo neste momento.
10.4 — Muitas vezes os Provérbios vinculam preguiça à pobreza, e trabalho
duro à riqueza (v. 2). Este provérbio determina a norma.
10.5 — A expressão “ajunta no verão” compara a pessoa habilidosa a
vergonhosa, baseando-se no quanto trabalham durante a época da colheita.
A descrição da segunda pessoa é particularmente dura: o que dorme na
sega.
10.6 — A ideia apresentada por este provérbio põe em contraste uma aura
abençoada que paira sobre o justo com o cheiro pútrido da violência que
emana do ímpio.
10.7 — Naquela época, o nome da pessoa era significativo e importante.
Quando o nome da pessoa era lembrado pelas gerações futuras como bom,
atribuía-se grande valor a vida dessa pessoa. Mas quando a memória de um
nome era poluída, era como se esta pessoa jamais tivesse vivido.
10.8 — O termo hebraico traduzido como “será transtornado” significa “está
arruinado”, e provem da mesma raiz de “apodrecerá” no versículo 7. Este
tipo de paralelismo poético deve ter agradado os israelitas da Antiguidade.
10.9 — Muitos provérbios comparam dois caminhos na vida. A expressão
“anda em sinceridade”significa obedecer a Lei de Deus como um plano de
vida. Escolher caminhos tortuosos e desdenhar do propósito da Lei que Deus
generosamente nos apresentou.
10.10 — Embora muitos provérbios comparem dois comportamentos, as
duas partes deste provérbio falam de más ações. Além disso, a segunda
parte deste provérbio é idêntica a segunda parte do versículo 8. Trata-se de
um vínculo que dá liga ao trecho.
10.11 — Aqui há mais um provérbio tratando da boca (Pv 10.6,8,10). Este
versículo apresenta a fala como produto externo da realidade interna. A
expressão manancial de vida é praticamente uma imagem divina, uma
antítese bastante forte a palavra “violência”.
10.12 — Este versículo trata das relações interpessoais, e não da salvação. O
ódio é uma arma do diabo para gerar contendas, mas a pessoa sábia reage
às transgressões ou desentendimentos com amor, tolerância e desejo forte
de fazer o bem. Caso o indivíduo revidasse as ofensas de forma negativa, o
ódio seria despertado no coração de ambas as pessoas envolvidas na
situação, configurando em uma atitude sem sabedoria.
10.13 — Este provérbio declara que as palavras podem ter um papel positivo
— o de comunicar sabedoria. A palavra “vara” se refere ao castigo, neste
caso, merecido. As palavras “falto de entendimento” vem da expressão
idiomática hebraica “falto de coração”. Aquele a quem “falta coração” e é
comparado desfavoravelmente ao que e sábio de coração (v. 8).
10.14,15 — A expressão “escondem” [“acumulam”, na NVI] a sabedoria é
um tema forte nos textos de orientação dos capítulos 1 a 9 (Pv 1.1-3; 3.1). O
versículo 14 compara a busca de conhecimento do sábio com a fala vazia do
tolo. Já no versículo 15, a fazenda [“riqueza”, na NVI] é comparada a uma
fortaleza. Neste caso, quer dizer que uma cidade rica terá maior segurança
para suportar os ataques inimigos do que uma cidade pobre. Naquela época,
só as cidades muradas estavam preparadas para resistir às forcas
adversarias.
10.16,17 — Estes versículos apresentam a doutrina dos dois caminhos: o do
justo, que leva a vida; e o do ímpio, que conduz ao pecado. A expressão “as
produções do ímpio” assemelha-se com o que Paulo escreveu em Romanos
6.23: o salario do pecado e a morte.
10.18-21 — Estes versículos falam dos perigos da fala, especialmente a
mentira e a difamação. Para evitar estes pecados é preciso praticar a
autocontenção.
10.22 — O vínculo da riqueza com a benção do Senhor é explicitado neste
versículo. Nesta sentença, Yahweh concede ausência de tristezas e fartura
de riquezas. Que benção!
10.23,24 — A palavra traduzida como “divertimento” geralmente significa
“riso alegre” (Sl 126.2).As vezes, quer dizer “risada vazia”(Pv 14.13; Ec 7.3,6).
Aqui, o provérbio emprega a palavra de forma completamente negativa.
Para o tolo, a perversidade não passa de um jogo. Ele inventa as regras
conforme progride. Para ele, só perderia se fosse pego. Mas quem tem
entendimento tem uma perspectiva de longo prazo. No fim, ele consegue o
que deseja, enquanto a justiça se abate sobre o ímpio.
10.25 — A natureza breve dos perversos é comparada a estabilidade dos
justos. Assim como o Salmo 1.3,4, onde os justos são comparados a uma
árvore, e os ímpios, a moinha, neste provérbio a tempestade sopra e espalha
os ímpios, mas não tira os justos do lugar. O perpetuo fundamento dos
justos é a fé em Deus, assim como as águas que alimentam a árvore do
Salmo 1.3.
10.26 — O preguiçoso é uma figura cômica nos provérbios. Aqui o
preguiçoso (hb. ‘asei) irrita aquele que o mandou cumprir uma tarefa. Ele é
como o sabor ácido do vinagre na boca, como uma fumaça que irrita a vista.
10.27 — Este versículo contem a primeira aparição da expressão temor do
Senhor nos capítulos 10 a 22 (Pv 1.7,29; 2.5; 8.13; 9.10). O vinculo da
devoção com a vida longa e da perversidade com a morte precoce é outro
tema comum em Provérbios (3.1,2).
10.28 — O justo tem algo por que esperar com alegria; o ímpio não (v. 24)
10.29 — Cada pessoa vê o caminho do Senhor de forma diferente. Quem é
inocente o vê como refugio da tempestade e do calor do dia. Os iníquos o
veem somente como fonte de terror. A perspectiva de quem vê faz toda a
diferença; o caminho do Senhor continua sempre o mesmo, puro.
10.30 — Este provérbio demonstra forte confiança na sobrevivência
definitiva dos justos e no juízo final dos ímpios. Em nossa experiência
limitada, podemos ver os ímpios com sucesso e os justos batalhando para
sobreviver. Mas no juízo final (Sl. 73) inverterão os seus destinos.
10.31, 32 — Estes versículos formam outro par de sentenças sobre a fala
verdadeira e a falsa. Podem ser comparados a Provérbio 10.11,13,20,21 e
Tiago 3. Esta repetição com variações indica a importância da verdade e da
mentira tanto naquela época como no mundo moderno.
11.1 — Tratar o próximo de forma justa é um prolongamento do
mandamento para amar o próximo como a si mesmo (Lv 19.18), que, por sua
vez, é um prolongamento do mandamento principal a Israel: amar somente
a Deus (Dt 6.4-9). É por isso que balança enganosa é uma abominação para
Deus, um termo que descreve uma aversão de revirar o estômago.
11.2 — Muitos provérbios comparam o arrogante ao humilde, assim como
podemos ver aqui. A palavra “soberba” em hebraico provem de uma raiz
que significa “ferver”; refere-se a uma arrogância ou insolência exagerada.
Esta imagem é da postura presunçosa ou arrogante da pessoa sem Deus.
Esta postura conduz sempre a afronta.
11.3-6 — Estes versículos formam uma série de provérbios que comparam
os resultados da retidão com os da perversidade na vida das pessoas. Assim
como se compara o orgulho a humildade no versículo2, a sinceridade e a
perversidade são comparadas no versículo 3.
11.4-6 — Ocasionalmente, os provérbios falam da morte como uma época
de recompensa e castigo. As riquezas não tem qualquer poder sobre isto.
Somente a retidão tem sentido e poder após a morte.
11.7 — Enquanto a pessoa viver, há razão para esperança. Mas se a pessoa
viveu sem Deus, quando sua vida acaba, a esperança também cessa.
11.8 — Neste versículo, talvez também se esteja falando de questões
mortais; os problemas do qual o justo escapa são aqueles que o ímpio terá.
11.9 — O homem profano pode jogar o nome de seu vizinho na lama com
suas palavras, assim como o justo é liberto pelo conhecimento. Os poderes
negativos e positivos da fala são dos mais impressionantes conceitos destas
sentenças.
11.10,11 — Os verdadeiros justos trazem justiça a todos da cidade, e a
cidade vivencia a verdadeira paz — isto e, shalom, que traz o sentido de “ser
completo”, “ser cheio” ou “ser pleno”. Muitos salmistas clamavam pela
redenção dos justos e pelo fim do mal (SI 69.22-28). (Leia a historia de
Sodoma e Gomorra em Genesis 18.22-33 para saber o que acontece com
uma cidade em que não há justos.)
11.12 — A paciência e o controle fazem parte da sabedoria. Alguém falto de
sabedoria, a quem “falta coração” (Pv 10.13), despreza o seu próximo. Mas a
pessoa que possui entendimento tem juízo para controlar seu lado passional
e ficar calada (Pv 17.28).
11.13 — O amigo fiel encobre os assuntos delicados que o infiel revela. O
amor cobre todas as transgressões (Pv 10.12; Tg 5.20; 1 Pe 4.8).
11.14 — Tanto na Antiguidade como na atualidade, os líderes das nações
precisam de conselheiros. Na verdade, todas as pessoas precisam de
conselhos de pessoas sabias e confiáveis.
11.15,16 — Estes provérbios equilibram um ao outro. O primeiro alerta
contra ficar por fiador ou dar aval a estranhos. O segundo elogia a
generosidade, de onde provem a honra. Uma das maiores virtudes é não ser
possessivo. Os membros da igreja do primeiro século doavam
generosamente aos necessitados (At 2.44,45; 4.32-35).
11.17 — Mais um versículo sobre generosidade fala do bem que volta para o
benfeitor. A avareza, por sua vez, tende a reduzir a pessoa cruel ao mesmo
tamanho de seu coração mesquinho.
11.18 — O trabalho fraudulento provem da iniquidade; o bom trabalho, da
retidão. O justo faz por merecer seu salário; o ímpio apenas rouba.
11.19 — Provérbios como este nos recordam que a busca da retidão é uma
questão de vida ou morte.
11.20 — Os conceitos contrastantes de abominação e deleite de Yahweh (Pv
11.1) reaparecem aqui com respeito aos valores contrastantes da
perversidade e benignidade da alma e da trajetória do homem na vida. E
possível fazer o Senhor sorrir pela forma como se viveu a vida. Também é
possível causar-lhe revolta.
11.21 — A expressão “junte mão a mão” é literal; significa “juntar forças”.
Opor-se coletivamente aos propósitos de Deus é completamente sem
sentido (Sl 2.1-4).
11.22 — Uma joia de ouro no focinho de uma porca não teria sentido. Os
antigos israelitas julgavam os porcos sujos e repelentes. A pessoa imoral e
comparada a este animal, não importa qual seja a aparência externa.
11.23 — O termo “desejo”é usado em alguns provérbios num sentido
negativo (Pv 13.12,19; 18.1; 19.22), mas aqui ele é usado em sentido
positivo. O justo deseja o bem.
11.24-27 — Estes provérbios precisam ser modelos da nossa postura em
relação a riqueza: deve ser repartida. A mesquinharia pode levar a perda. Já
a generosidade tem o efeito oposto. Ser egoísta é insensatez, porque só cria
inimigos e desonra Deus.
11.28 — Este provérbio fala da insensatez de confiar nas riquezas. A segunda
parte deste versículo pode ser às vezes mal-interpretada como se dissesse
que a retidão sempre leva ao sucesso. O provérbio na verdade fala da
postura de uma pessoa em relação a riqueza. É tolice por a confiança em
riquezas em vez de confiar em Deus.
11.29 — Certos atos insensatos prejudicam ativamente a família. Eis ai uma
estrada certa para a ruína para herdar o vento.
11.30 — Conforme Provérbio 3.18, a imagem da árvore de vida denota a
árvore do jardim do Éden (Gn 2; 3). A retidão e a sabedoria são formas de
recuperar a árvore da vida perdida.
11.31 — Como os justos vão receber sua recompensa no final (2 Co 5.10),
deduz-se que os ímpios, que desafiam Deus e entram em conflito com Sua
obra, certamente serão julgados.
12.1 — O sábio sabe que a disciplina e a orientação são a sua própria
recompensa. Mas quem abomina ser repreendido é um bruto (literalmente,
imbecil).
12.2 — Este versículo fala sobre a repreensão de Deus aos homens de
pensamentos perversos. O Evangelho de João fala de alguém já condenado
por ter feito o mal, e que se agarra propositalmente a escuridão embora a
luz já tenha chegado (Jo 3.16-21).
12.3 — Este provérbio fala sobre o fim definitivo do ímpio e do justo. O que
seguir a impiedade terminara em ruína, mas os justos restarão de pé, como
a imagem da árvore em Salmo 1.3.
12.4 — A mulher virtuosa [“mulher exemplar”, na NVI] e a mesma expressão
hebraica empregada no famoso acróstico de Proverbio 31.10-31. O homem
que se casa com uma mulher virtuosa deve agradar-se, porque o caráter
nobre dela é uma honraria para ele.
12.5,6 — Devemos estar atentos aos pensamentos que rondam nossa
mente, pois são eles que determinam o que falamos e dizemos. Por isso, no
mínimo, precisam não ser enganosos e perversos. O versículo 6 lembra que
as palavras dos ímpios são como uma tocaia mortal, pois elas provem de
pensamentos perversos.
12.7 — Aqui, o poeta mostra o fim dos ímpios e dos justos. Os perversos
estão com os dias contados e serão totalmente derrotados, mas os justos
resistem às adversidades e permanecem eternamente com o Senhor.
12.8 — Eis aqui um elogio adequado a quem demonstra ser sábio,
especialmente quando usa esta sabedoria para o bem do próximo. Em
contrapartida, o ímpio não merece qualquer louvor, a não ser o desprezo
por seu coração desviado.
12.9 — Este é mais um provérbio que usa a comparação com a expressão
“melhor é... do que”.Este versículo ressalta que o homem humilde que
trabalha para se sustentar (e não tem servos) é melhor do que o que exalta a
si mesmo achando ser superior aos outros e não coloca o alimento na mesa.
A pretensão e a arrogância destroem o ser humano.
12.10 — O homem bom é sensível para respeitar e cuidar do bem-estar dos
animais, mas o ímpio, mesmo sendo sensível, não se preocupa e é cruel ate
mesmo com os seres humanos.
12.11 — Muitos provérbios destacam o contraste do trabalho duro com a
preguiça. O sábio trabalha duro, enquanto que o tolo perde tempo.
12.12,13 — A perversidade faz mal aos ímpios; a retidão ajuda os justos (v.
14). Isto é outra forma de dizer que tudo o que o homem semear, isso
também ceifara (G1 6.7). A expressão “a raiz dos justos” também aparece no
versículo 3.
12.14 — A satisfação não vem por causa do exotismo ou estranheza de
alguma coisa, mas sim por falar e agir com retidão. Sentir que realizou um
trabalho bem-feito e recompensa suficiente para os sábios.
12.15 — O autoengano do tolo é notório. Ele gosta de estar do lado errado e
não procura conselhos quando precisa. Afinal, buscar ajuda e admitir uma
necessidade, algo que o tolo nunca é capaz de assumir por ter um ego
extremamente inflado.
12.16 — Um homem insensato não tem autocontrole e deixa-se provocar
facilmente, externando afrontas. Cuidado com as palavras descuidadas, pois
podem tornar-nos tolos. Então é aconselhável pensar antes de falar. O rei
Davi demonstrava esta preocupação (2 Sm 16:5-12).
12.17 — Justiça e engano são características presentes na testemunha
fidedigna e na mentirosa, respectivamente.
12.18,19 — Muitos provérbios elogiam aqueles que falam cuidadosa e
verdadeiramente. A fala espelha o caráter da pessoa. As palavras do justo
são confiáveis e verdadeiras (v. 17), e apaziguam quem as ouve.
12.20 — O modo como as pessoas agem ou se expressam reflete o que há
no coração delas. Os que planejam o mal tem engano no seu coração; os que
advogam a paz tem alegria.
12.21 — O medo do castigo só vale para os ímpios. O justo não tem nada a
temer. Apesar de também enfrentar calamidades, o justo pode sempre
contar com a provisão e intercessão divina para superar os problemas da
vida cotidiana. Outra possível interpretação deste versículo é que nenhum
agravo se refira a realidade última [quando os salvos em Cristo desfrutarão
da vida eterna e não mais sofrerão as dores deste mundo], e não a nossa
experiência enquanto vivemos aqui na terra.
12.22,23 — O termo “abominável” significa ódio extremo, e isto enoja o
Senhor (Pv 11.20). Portanto, é melhor ficar em silencio do que ter lábios
mentirosos.
12.24 — Qualquer um que procure obter um alto cargo não pode dar-se ao
luxo de ser enganador (v. 11,14).
12.25 — A solicitude [“coração ansioso”, na NVI] perde um pouco de sua
força em face de uma palavra positiva de incentivo. As palavras de
encorajamento de Barnabé a Paulo são um grande exemplo disso (At 4-36;
9.27; 11.2-30; G1 2.1).
12.26 — Nossos amigos ajudam-nos a determinar quem havemos de tornar-
nos (1 Co 15.33).
12.27 — O preguiçoso trabalha, mas não termina aquilo que começa. A cura
para a preguiça é ser diligente — seguir em frente até terminar.
12.28 — Adequadamente, o último provérbio deste capítulo fala outra vez
em questões de vida ou morte.
13.1 — O filho sábio ouve a instrução (Pv 10.1,17) e é melhor do que o
escarnecedor — o pior tipo de insensato (Sl 1.1). Alguns tolos são ingênuos e
inexperientes, mas abertos a sugestões; às vezes até os que já são
insensatos há tempos repensam sua posição. O escarnecedor, porém, ri da
justiça e não gosta de censuras.
13.2,3 — É destacado aqui o uso apropriado da fala, tornando-se assim um
recurso valioso. Entretanto, quando a fala não é usada de forma adequada,
pode gerar contendas e dissensões. Às vezes, dizer a palavra errada pode até
por uma vida em risco.
13.4 — O preguiçoso é consumido por desejos insaciáveis porque nunca são
realizados. A pessoa laboriosa pode conseguir seus objetivos e encontrar a
satisfação.
13.5 — A pessoa que aborrece a palavra de mentira não se sente
simplesmente mal com isso, mas a evita a todo custo.
13.6 — Nos provérbios, a justiça é retratada como amiga e a impiedade
como inimiga (Pv 11.27). A impiedade nos fere, mas a justiça nos ampara.
13.7 — Há quem se faça rico, não tendo coisa nenhuma. Este paradoxo de a
ganância levar à pobreza e a generosidade conduzir à riqueza é um tema
recorrente nas Escrituras (Pv 11.24; Mt6.19-21). A questão não é quanto
dinheiro se tem, mas como é usado.
13.8 — Uma pessoa muito rica pode ter de gastar essa riqueza para pagar
um resgate. Porém, o pobre tem pouca probabilidade de passar um apuro
pelo qual tenha de pagar um resgate. Boa parte dos pobres poderia querer
correr este risco, mas há algum valor de proteção pessoal na pobreza.
13.9 — Para o antigo israelita, a candeia era a única fonte de luz a noite. Sem
ela, a pessoa não tinha como enxergar o caminho a sua frente (Pv 20.20;
24.20).
13.10 — A palavra soberba (Pv 11.2) não se refere a autoestima ou a uma
postura mental positiva, mas a arrogância e a recusa de adorar a Deus. Este
tipo de orgulho é egoísta e leva a conflitos.
13.11 — Este provérbio descreve as consequências naturais a longo prazo de
trapacear. As pessoas que comprometem sua honestidade para ficarem ricas
simplesmente adiam a necessidade inevitável de trabalhar para ganhar o seu
pão. Chega o dia em que sua trapaça é exposta, momento em que,
provavelmente, os colegas honestos já obtiveram algo digno e duradouro
por meio da labuta.
13.12 — A árvore de vida (Pv 11.30) simboliza o alcance de um desejo
profundamente sentido. É como retornar ao jardim do Éden.
13.13 — Uma pessoa pode desprezar a instrução ou reagir com reverencia a
ela, compreendendo que o Orientador maior é Deus. A correção só existe
para o bem de cada um.
13.14 — Seguir a sabedoria é algo que nos conduz direto para a fonte de
vida (Pv 10.11). Se pesquisarmos sobre a antiga Judá, descobriremos que em
sua terra árida havia uma fonte para saciar a sede das pessoas e dos
rebanhos. Era uma necessidade — uma fonte de vida —, assim como a
sabedoria é indispensável ao ser humano. A fonte também servia como
ilustração da salvação (Is 12.1-3).
13.15 — A graça de Deus e de outras pessoas — a boa reputação — é
altamente desejável, porque ela assegura que você não estará só em sua
vida. A graça provem do bom entendimento.Uma boa reputação era a
primeira qualificação listada pelos apóstolos para os diáconos da igreja do
primeiro século (At 6.3).
13.16 — Mais um provérbio em que coloca o prudente e o tolo frente a
frente. Neste versículo, destaca-se que o primeiro costuma agir com
entendimento, o que é adquirido no estudo da Palavra, e que o segundo vive
segundo a sua insensatez.
13.17 — Naquela época, era comum contratarem mensageiros particulares
quando os serviços postais do governo não estavam funcionando. Esses
homens tinham de ser diligentes e fieis em seu ofício. Só que, durante a
viagem, o mensageiro era surpreendido por imprevistos ou envolvia-se com
coisas prejudiciais. Assim, ele se desviava de seu propósito principal e não
cumpria sua missão com êxito, prejudicando quem o contratou. Por isso,
este versículo faz uma retaliação ao
mau mensageiro. É preciso ser um mensageiro fiel, bem-sucedido.
13.18 — Este é mais um provérbio sobre o desprezo a instrução (Pv 13.1).
Fala da pobreza como consequência logica daquele comportamento
inconsequente.
13.19 — Poucas coisas agradam tanto quanto a realização de um desejo.
Entretanto, a insensatez dos tolos é tão profundamente enraizada que, se
ele abandonar seu caminho autodestrutivo, sente-se enfermo. O termo
usado para esta sensação ruim, “abominação”, é o mesmo usado para falar
do sentimento do Senhor diante das atitudes tolas em outras passagens (Pv
11.1).
13.20 — A escolha de amigos (Pv 12.26) é extremamente importante, pois a
influência destes sobre nossa vida é muito mais forte do que a maior parte
das pessoas percebe.
13.21 — O mal é inimigo do pecador (v. 6), e não amigo; ele é seu
perseguidor, e não companheiro.
13.22 — No livro dos Provérbios, riqueza é um tópico com muitos
desdobramentos. Dentre as diversas abordagens, vemos que a riqueza pode
ser um beneficio da vida reta (Pv 13.11; 10.22), mas isso não é garantido (Pv
28.6); notamos que ela não pode tornar a pessoa boa (Pv 11.4), e, no fim,
importa menos do que alcançar graça aos olhos de Deus (Pv 11.28). O
homem de bem sabe disso e confia no Senhor para suprir suas necessidades.
Em contrapartida, o pecador tenta amealhar e conservar a riqueza, mas no
fim fracassa.
13.23 — Este provérbio aborda a injustiça; observa que alguns pobres até
têm bens, mas estes lhe foram tomados por falta de juízo [falta de justiça, na
NVI].
13.24 — Este é o primeiro de vários provérbios sobre disciplina familiar.
Quando os pais disciplinam os filhos com amor, estão copiando o exemplo
da correção com amor exercida por Deus (Pv 3.11,12).
13.25 — A satisfação genuína esta ligada a retidão; o fracasso abjeto está
ligado a perversidade.
14.1 — A mulher sábia edifica a sua casa, ou seja, ela cria um ambiente
pacífico para zelar por
sua família.
14.2 — A expressão “teme ao Senhor” contrasta fortemente com “despreza-
o”. O amor pela sinceridade coincide naturalmente com o amor e o respeito
pelo mais sincero de todos, o próprio Deus. Por outro lado, o apreço pela
perversidade resulta em ódio por Ele. O temor ao Senhor como princípio da
sabedoria é o tema central de Provérbios (Pv 1.7).
14.3 — Este versículo alerta para o perigo da fala impulsiva e as
compensações por se pensar antes de falar. As palavras do tolo tomam a
forma de uma vara pronta para seus inimigos aplicarem contra ele. Este
provérbio recorda que há muita gente que é a pior inimiga de si mesma.
14.4 — O fazendeiro precisa tolerar um pouco de bagunça no celeiro se
quiser criar boi para ajuda-lo na colheita ou servir de fonte de alimento. Não
se trata de uma desculpa para ser desleixado, mas de um incentivo para
trabalhar com afinco.
14.5 — Este versículo reafirma a lei de Deus: “Não dirás falso testemunho
contra seu próximo” (Ex
20.16; Dt 5.20).
14.6 — A imagem do escarnecedor retorna neste versículo (Pv 13.1) como
um truque poético para demonstrar a validade da busca por sabedoria pelos
prudentes.
14.7 — O tolo não é um mero incomodo; ele é um risco para a alma. A
insensatez não é simplesmente desagradável; é um perigo para a vida.
Assim, a reação prudente a insensatez enraizada é evita-la como o perigo
que é. Só o tolo corteja o desastre brincando com a insensatez.
14.8 — Este provérbio põe em contraste as pessoas prudentes e as tolas. Os
sábios sabem o que estão fazendo e por que. Têm motivos sábios para suas
ações, baseados no conhecimento que têm de suas opções. Os tolos, por sua
vez, enganam com tanta frequência que se enrolam na própria mentira. Não
sabem para aonde estão indo.
14.9 — A profundidade da estultícia é vista quando o tolo zomba do pecado
e de suas consequências; é a pior forma de autoengano. O sábio, por sua
vez, concentra-se em agradar ao Senhor.
14.10 — Um dos provérbios mais significativos sobre os sentimentos e as
reações do individuo é este: ninguém conhece as dores ou alegrias do outro.
A empatia é uma ciência de aproximação, jamais exata. Ainda assim,
devemos recordar as palavras do hino maravilhoso: “Ninguém sabe..., a não
ser Jesus!”
14.12 — Só quando é tarde demais, a pessoa iludida descobre que esta na
engarrafada estrada que leva a morte. Não está implícito que ela tenha sido
enganada, mas que ela confiou demais na sua própria sabedoria, em vez de
recorrer, humildemente, a Deus. Diversos provérbios apresentam sua
mensagem em termos de dois caminhos — um que leva a vida, e outro que
conduz a morte (Pv 16.25).
14.13 — Raramente, as emoções mais profundas são simples. Sãoinúmeras
as complexidades da maravilhosa configuração da personalidade humana.
14.14 — A pessoa que tiver o coração desleal (hb. sug leb) saciar-se-á com os
produtos de suas perversões. Da mesma forma, o homem de bem se saciara
com os produtos de sua sinceridade. O bem triunfara, e o mal será julgado.
14.15 — Uma característica da pessoa ingênua é a facilidade de acreditar em
qualquer coisa. A pessoa prudente tem mais cuidado.
14.16 — A expressão “teme e desvia-se do mal”sugere temor de Deus (v. 2).
14.17 — Tanto os irritadiços [NVI] como os que tencionam o mal são tolos.
Os sábios não se misturam com eles para que não tenham parte em suas
loucuras.
14.18 — Os contrastes entre o ingênuo e o prudente (Pv 14.15) continuam
neste versículo. A pessoa simples ou ingênua tem um legado de tolices que
ela pensa que vai ajuda-la a melhorar sua vida. O prudente está como que
coroado pelo seu conhecimento; ou seja, a característica que mais chama
atenção nele é a sabedoria que ele compartilha.
14.19 — Dentro das antigas cidades muradas, a área do portão seria
normalmente a parte mais frágil da muralha. Os engenheiros da antiga
Canaã elaboraram estruturas complexas para fortificar este ponto. Controlar
o portão da cidade significava controlar a cidade; ser subjugado pelo portão
significava incapacidade de derrotar suas defesas. No fim das contas, os
perversos se submeterão as portas do justo.
14.20 — Este é outro provérbio espirituoso (Pv 14.11; 12.27). Neste caso,
fala ironicamente de como o dinheiro atrai vários amigos.
14.21 — Jesus assinalou que o mandamento de amar os outros e não odiá-
los só é menos importante que o de amar Deus (Mt 22.39). (Veja Lv
19.13,17, para a lei que adverte o não desprezo ao próximo.)
14.22 — As duas palavras de devoção mais importantes da Bíblia são
beneficência e fidelidade. Juntas, elas significam fidelidade constante ou
lealdade verdadeira. No Novo Testamento, o equivalente grego desta
expressão é traduzido como “graça e verdade” (Jo 1.14) e é usado para se
referir ao Senhor Jesus. Quem trama o mal nada conhece destas virtudes.
14.23 — Falar que vai fazer não é a mesma coisa que fazê-lo. Apenas falar
leva a pobreza. Só o agir leva as vantagens tão procuradas.
14.24 — Este versículo precisa ser balanceado por outros que aconselham
mais prudência. Uma coisa é certa: insensatez só gera mais insensatez, e
esta proliferação se dá em alta velocidade.
14.25 — Não devemos esperar mais de uma falsa testemunha do que a
falsidade (Pv 14.5), mas podemos descobrir que a verdadeira testemunha
não apenas diz a verdade, como também pode salvar inocentes.
14.26, 27 — Estes versículos contem a ideia central do livro de Provérbios —
o temor do Senhor (Pv 14-2). O temor de Deus proporciona tanto proteção
como fonte de vida (Pv 13.14; 18.10) para as pessoas, uma imagem que
relembra o jardim do Éden.
14.28 — Não há muito a dizer de um rei sem súditos, exceto, talvez, que ele
é um impostor no trono. Quanto maior o povo, maior a glória do rei.
14.29 — Trabalhar para não ter “pavio curto” não é sinal de letargia, mas de
sabedoria. O tolo perde a calma sempre, confirmando sua estultícia.
14.30 — Da mesma forma pela qual um coração sadio garante a saúde do
corpo todo, a inveja pode apodrecer os ossos [que representam a parte
física e psicológica].
14.31 — Por vezes, as Escrituras ressaltam que a forma como você trata as
pessoas é a mesma com a qual lida com Deus (Ex 22.22-24; Mt 25.31-46; 1 Jo
4.20).
14.32 — Alguns provérbios descrevem a libertação da própria morte (Pv
11.4). O ensinamento da vida após a morte não é muito disseminado no
Antigo Testamento, mas também não foi completamente deixado de lado.
14.33 — Este provérbio observa que a sabedoria não é totalmente
desconhecida pelos tolos, porque, de vez em quando, ela se deixa perceber
de relance por eles. No entanto, o verdadeiro lar da sabedoria é junto
daquele que possui um coração compreensivo. O contraste de um relance
ocasional de sabedoria com o repouso permanente dela junto a pessoa que
possui entendimento é gritante.
14.34 — Embora cada indivíduo seja o responsável por suas próprias ações,
os efeitos destas se estendem a sua comunidade.
14.35 — Quando o servo trabalha direito, o rei se agrada extremamente
dele. No entanto, o rei também demonstra raiva e animosidade pessoal
contra aquele que o envergonha.
15.1 — Muitas vezes não e pelo que dissemos, mas como dissemos, que
damos azo as reações mais variadas, de aceitação a ira. (Para conhecer as
palavras gentis de Abigail a Davi quando ele estava irado, veja 1 Sm 25.12-
34.)
15.2 — Vemos neste versículo outra comparação dos usos contrastantes da
fala. Este provérbio coloca a língua dos sábios em contraposição a boca dos
tolos. Um emprega bem o conhecimento; o outro arrota sua estultícia.
15.3 — O fato de os olhos do Senhor estarem em toda parte, observando
tudo, arrepia os perpetradores do mal e conforta os súditos de Deus (Ec
12.14).
15.4 — A resposta branda do versículo 1 pode ser considerada de língua
saudável, e a palavra dura do versículo 1, perversidade. A primeira é como
uma árvore da vida, devolvendo-nos um pouco do Éden (Pv 3.18; 11.30;
13.12); a outra quebranta o espírito, recordando a expulsão do Jardim (G n
3.23,24).
15.5 — A pessoa verdadeiramente sábia tira proveito da correção. O termo
traduzido como “prudentemente” na segunda parte deste versículo significa
“ser astuto”. A astúcia pode ser maldosa, mas, aqui, tem o sentido positivo
de ter jogo de cintura (Pv 1.4).
15.6 — Vemos aqui que uma casa é uma benção e a outra esta arruinada. O
motivo disso é como a casa foi adquirida e como está sendo usada. A casa do
justo contem grandes tesouros porque esta fundada na sabedoria e no
respeito a Deus. Por outro lado, a dos perversos está destruída. Estes nunca
terão ganho algum que os satisfaça, e perdem o que já tem por tratarem de
forma desonesta.
15.7 — As pessoas revelam quem são através do que dizem. O tolo não
consegue deixar de falar besteiras.
15.8,9 — Ocasionalmente, os provérbios tocam no tema da adoração (Pv
16.6). A adoração proveniente dos que não são contritos nem humildes é
abominável a Deus (P v ll.2 0 ). De Gênesis 4 a Joao 4, as Escrituras
comparam a adoração positiva a negativa (Is 1.11-15). Provérbio 15.9 fala de
mais uma coisa abominável ao Senhor: a forma de vida escolhida pelos
ímpios.
15.10 — Este provérbio promete correção molesta [severa lição, na NVI] a
pessoa que deixa a vereda de Deus. Ou seja, disciplina é um meio de
correção, e não de punição. Só a pessoa que aborrece a repreensão — a que
teimosamente se recusa a escutar, vez apos vez — morrerá.
15.11 — Este é um provérbio do tipo “quanto mais” (Pv 11.31), que estampa
a claridade com que o Senhor sonda os corações das pessoas. A palavra
hebraica sheol, traduzida como “inferno”, neste versículo denota o medo do
desconhecido (Pv 9.8). Quando empregada junto a palavra que significa
“perdição”, sheol significa o misterioso reino da morte, uma condição negra
e assustadora. Entretanto, a morte não tem mistérios para o Senhor. E se o
reino misterioso dos mortos é conhecido por Ele, certamente o coração das
pessoas lhe é transparente. Argumentos como este, que procedem do
grande para o pequeno, aparecem em ambos os Testamentos.
15.12 — A palavra “escarnecedor” (Pv 14.6) é empregada como recurso
poético ou comparativo em provérbios para expor com mais clareza o
caráter do sábio. Se o preguiçoso é uma figura cômica em Provérbios, por
outro lado o escarnecedor e um vilão. Ele se deleita em zombar das coisas
de Deus (Pv 1.22) e é incapaz de aceitar disciplina (Pv 9.7), repreensão (Pv
9.8) ou censura (Pv 13.1). Ele não é capaz de achar a sabedoria (Pv 14.6) e
deve ser evitado (Sl 1.1). Seu grande problema é demonstrado por sua
reação a correção. Ele não aprende com ela nem procura obtê-la. O
escarnecedor e insensato com convicção.
15.13 — O objetivo deste versículo é relembrar que o sentimento interior
transparece no rosto da pessoa. Logo, o homem de coração alegre
resplandece essa felicidade.
15.14 — A pessoa que tem coração sábio nunca está satisfeita com o que já
sabe. A busca da sabedoria e do conhecimento é uma tarefa para a vida toda
— nunca está terminada nesta vida. Os tolos, porém, que não sabem o
tamanho de sua ignorância, continuam a ir atrás da insensatez.
15.15 — A pessoa de coração alegre de Provérbio
15.13 Retorna neste versículo — um duro contraste entre as percepções das
pessoas quanto ao seu fardo na vida. Para a pessoa alegre, a vida é um
eterno banquete. Para o oprimido, cada dia é uma aflição.
15.16 — Este é outro versículo que usa a expressão “melhor é... do que” (Pv
12.9). Neste caso, põe em contraste o valor real do pobre com o do rico em
matéria de presença ou ausência de temor ao Senhor (Pv 14.26,27). O rico
indolente pode estar tomado de inquietudes, enquanto que o pobre devoto
e capaz de habitar em paz.
15.17 — O ódio arruína até o banquete mais fino. O amor enobrece até a
refeição mais simples.
15.18 — Uma pessoa iracunda pode criar problemas onde eles não existem;
mas a pessoa que não tem “pavio curto” — que é longânime — apazígua
brigas (v. 1).
15.19 — Comparada a estrada do justo, o caminho do preguiçoso é cheio de
espinhos, sempre cercado por dores agudas. Como o caminho é
extremamente difícil, o preguiçoso por vezes hesita trilhar seu caminho
esperando que algum dia ele se torne mais fácil de seguir.
15.20 — Este provérbio é parecido com o quinto mandamento: Honra a teu
pai e a tua mãe (Ex 20.12; Dt 5.16). “Honrar” e “ouvir” os pais é um assunto
frequente nos provérbios de Salomão. O início deste versículo e o mesmo
usado em Provérbio 10.1.
15.21 — O problema todo da insensatez é que ela se alimenta de si própria.
Onde houver estultícia, haverá tolos deslumbrados, haverá também um
homem de entendimento andando na direção oposta.
15.22 — Quanto maior a decisão, maior a necessidade de aconselhamento.
Até mesmo tomadores de decisões sábios e experientes — sejam eles
pessoas comuns ou governantes — precisam de conselheiros (Pv 13.10).
15.23 — As palavras têm poder para edificar ou destruir. Salomão escreveu
muitos provérbios sobre as consequências da fala (Pv 15.4; 14.23). Assim
como palavras tolas podem trazer a derrocada da pessoa (Pv 14-3), da
mesma forma a palavra sábia pode alegrar todos os que a ouvirem. O
apóstolo Tiago escreveu sobre o poder destrutivo das palavras (Tg 3.5,6). O
autor de Hebreus também nos exortou a incentivarmos uns aos outros (Hb
10.24,25).
15.24 — A assustadora palavra “inferno” (hb. sheol, Pv 15.11) é empregada
aqui como o destino do tolo, mas não do prudente e trabalhador. Enquanto
que o caminho da estultícia (do tolo) tem uma inclinação pronunciada,
descendo ao abismo, o caminho da vida (do prudente) conduz para cima,
para a glória, e seu destino final e Deus.
15.25 — Deus fará justiça no fim dos tempos. Aos soberbos, o Senhor servirá
uma dose de humildade. Mas a viúva, pessoa completamente indefesa na
Antiguidade, Ele concederá proteção. Em muitos pontos, as Escrituras
descrevem Deus como Protetor dos indefesos (Dt 10.18; SI 68.5; 146.9; Jr
49.11).
15.26 — Diversos provérbios tratam do que Deus abomina (v. 8,9). Maus
pensamentos, por exemplo, enojam o Senhor. Não existem pensamentos
ocultos a Ele. Devemos orar como Davi para que nossas palavras e a
meditação de nosso coração sejam aceitáveis aos olhos de Deus (SI 19.14).
15.27 — O mal do suborno está em perverter a justiça, ser uma distorção
que, com o tempo, semeia a desconfiança e a desonra entre a população.
15.28 — Uma pessoa justa (sabia) pondera como melhor responder; a
pessoa impia (tola) simplesmente emitira alguma tagarelice malévola. O
louco atrai mais loucura pelo comportamento que tem e e levado, por
companhias também tolas, a praticar mais perversidade e loucura.
15.29 — Deus mantem distância dos ímpios, aproximando-se deles vez por
outra apenas para punir ou fazer justiça. No entanto, o Senhor tem prazer de
estar perto dos justos. As preces destes são sempre bem-vindas.
15.30 — Os efeitos das boas ações e dos sentimentos positivos são
apresentados ainda com mais ênfase neste versículo do que em Provérbio
15.16.
15.31,32 — A disciplina é essencial para o aprendizado. Logo, o instinto
natural de autopreservação é perigoso quando chega a hora de ouvir uma
censura necessária. (Para aprender sobre a relação entre disciplina e
sabedoria, consulte Pv 1.7.)
15.33 — Somente o conhecimento não torna ninguém mais sábio. É preciso
também o temor do Senhor. O mesmo vale para a honra, que necessita ser
acompanhada da humildade.
16.1,2 — Estes versículos comparam as limitações humanas com a soberania
de Deus. O homem pode planejar, sonhar e ter esperanças, mas o resultado
final vem do Senhor. Em vez de entregarmos o nosso destino à própria sorte,
devemos confiar no Pai. Nosso amoroso Senhor tem controle de nossas
situações aparentemente caóticas, uma questão apontada pelo versículo 2.
Além de ser soberano, Deus é o Juiz dos juízes. Todas as injustiças deste
mundo serão remediadas num glorioso dia.
16.3 — O termo “confia” provem de uma palavra que significa “rolar”. A
ideia é rolar seus problemas na direção do Senhor. Confiar nossas decisões a
Deus nos libera da preocupação com as adversidades (Pv 3.5,6).
16.4 — Este versículo fala sobre a criatividade da obra do Senhor de forma
abrangente e confiante. Depois, inclui até mesmo os ímpios como tendo sido
feitos para fins de julgamento de Yahweh. Assim como o Faraó foi
instrumento para o Seu plano de libertação do povo de Israel e para a
justificação de Sua glória, também os ímpios como um todo estão sob Sua
soberania absoluta.
16.5 — Ser altivo de coração significa orgulho, no sentido pejorativo da
palavra. Uma pessoa com orgulho no coração rouba o crédito do Provedor
que abençoa com tanta generosidade e não agradece pela provisão
recebida. E por isso que Deus o considera uma abominação, uma palavra
que em todo o livro de Provérbios se refere aquilo que deixa o Senhor
enojado (Pv 15.26).
16.6 — A expressão “pela misericórdia e pela verdade” também pode ser
traduzida como pela devoção genuína. A expressão se purifica
provavelmente se refere a uma oferta sacrificial, mas realizada com um
coração contrito (como em Sl 40.6-8). A palavra “temor” aqui é empregada
para ressaltar que o respeito ao Deus faz a pessoa afastar-se do mal (Pv 3.7).
16.7 — O deleite de Deus para com o justo não tem limites, beneficiando
não só o homem que teme ao Senhor, como também os amigos deste e, em
certos casos, até os inimigos. Este versículo apresenta uma esperança de paz
entre Deus e os homens.
16.8,9 — O livro dos Provérbios costuma falar da riqueza como recompensa
da sabedoria e da virtude (Pv 14.11), mas nem sempre. A justiça é o
verdadeiro tesouro.
16.10 — Aqui começa uma seção de versículos sobre a realeza (v. 10-15).
Neste caso, a palavra adivinhação não tem um sentido negativo, pois denota
que o rei tomava decisões inspiradas por Deus para saber como falar e agir
no seu reino. Como a nação estava nas mãos do rei, sua responsabilidade
máxima era obedecer a Deus (a reparação de Israel pelo rei Josias, 2 Rs 22;
23). Ate mesmo o rei precisava submeter-se aos ditames da justiça de Deus.
16.11 — O peso e a balança justa importam para Deus porque Ele é
totalmente verdadeiro. A falsidade e a desonestidade não são meras
trapaças que prejudicam as pessoas; também ofendem ao Senhor.
16.12 — Um rei justo imita o exemplo do divino Yahweh. Um rei perverso
não respeita nem obedece a voz do Senhor e, portanto, não possui.
17.1 — A expressão “um bocado seco” significa “pouquíssimo”,
especialmente em comparação a um banquete com muitas vítimas (animais
abatidos). Neste versículo, o banquete é maculado pela contenda. Vítimas
também pode significar parte de um sacrifício a Deus, mas até mesmo esse
tipo de banquete poderia ser arruinado por brigas iradas entre cristãos.
17.2 — Azares súbitos poderiam acontecer se o servo prudente fosse muito
habilidoso e o filho e seus irmãos fossem indignos. Boa parte do livro de
Genesis fala sobre a ascensão de um filho caçula inesperado em desfavor de
seu irmão mais velho (Gn 25.23-34).
17.3 — O refinamento da prata e do ouro e um processo penoso, que exige
precisão e provoca muito calor e cansaço. O refino do povo por Deus muitas
vezes também e trabalhoso.
17.4 — Este versículo apresenta o malfazejo e o mentiroso como parodias
do sábio. Enquanto que o justo ouve com atenção a instrução de um
professor, o perverso inclina os ouvidos para a língua maligna do iniquo.
17.5 — Fazer gozações sem princípios às custas dos desafortunados incita a
ira de Deus (Pv 14.31). Deus não permitira que esta pessoa saia ilesa, pois,
por um desígnio misterioso, quando a pessoa ridiculariza o pobre, ultraja o
seu Criador.
17.6 — Só um avô ou uma avó para apreciar este versículo como se deve.
Ainda assim, todos nos podemos entender sua mensagem central: todo avô
adora o neto, e os filhos adoram seus pais. Este forte laço familiar mantem
unidas as gerações.
17.7 — É uma contradição o tolo falar bem ou o príncipe mentir. Não
convém existir tal impropriedade.
17.8 — O valor de um presente pode ser incalculável para quem o recebeu.
Valor significa mais do que o custo de um objeto; o valor está nos olhos de
quem vê. Quem recebe um presente extraordinário (hb., sahad, presente,
suborno) pode ter sucesso a partir da nova percepção de valor pessoal que
recebeu junto a esse presente. Um ato generoso pode significar uma
reviravolta na vida de alguém. Por outro lado, um presente a um ingrato
pode até passar em branco.
17.9,10 — O sentido de transgressão nesta sentença não pertence ao
contexto do pecado e da salvação frente ao relacionamento da pessoa com
Yahweh. O intuito deste versículo é falar do relacionamento entre amigos e
dos problemas que podem destruir esta amizade. Deslizes observados
podem ser corrigidos por aquele que os cometeu, mas a ofensa pela
revelação deste deslize pode acabar com a amizade. Da mesma forma,
revelar confidências pode causar o rompimento dos confidentes.
17.11 — O objeto adequado do verbo hebraico “buscar” é a pessoa de Deus.
Entretanto, o rebelde busca o mal. Enquanto o rebelde segue seu caminho
desastroso, ele descobre que há outro que o segue, um mensageiro cruel
(talvez o mensageiro da morte).
17.12 — Nada nas florestas se equipara a fúria de uma mãe ursa que foi
separada de seus filhotes. Ainda assim, não há nada mais perigoso do que o
louco em sua estultícia.
17.13 — O homem que retribuir a bondade e a gentileza com o mal verá sua
casa e posteridade sofrerem por causa disso.
17.14 — Brigar e como água derramada. A briga não pode ser contida depois
de começada. A sabedoria, portanto, está em represar a discórdia antes que
seja tarde demais.
17.15 — Como Deus é o Deus da justiça, Ele detesta aqueles que a
pervertem, tanto os que declaram a inocência dos culpados como os que
declaram a culpa dos inocentes. Estes, abomináveis são para o Senhor (Pv
16.5).
17.16 — A riqueza na mão do insensato e um ultraje moral. Mesmo que ele
tenha dinheiro, não poderá comprar aquilo que e incapaz de apreciar: a
sabedoria.
17.17 — Este versículo enaltece a fidelidade. Ao contrário dos colegas
inconstantes, o amigo verdadeiro é constante, é um irmão de verdade ajuda
nas horas de aflição.
17.18 — Ser fiador de outra pessoa não é errado, mas este provérbio advoga
a cautela nessas transações (Pv 11.15). O que realiza o empréstimo pode
perder sua independência.
17.19 — O que ama a exaltação e a rebelião pode descobrir que a rebelião
só gera mais problemas e que quem se vangloria de sua força sempre será
testado.
17.20 — Do coração perverso só pode surgir corrupção e perversidade. Estas
se entranham tão profundamente que a pessoa deixa de saber até como
buscar o bem.
17.21 — O filho tolo é uma realidade das mais difíceis de aceitar-se (Pv 10.1).
Não há dor pior para o coração do que perceber que o filho de alguém é
tolo, de coração empedernido a Deus e inútil para a vida.
17.22 — O papel da postura e dos sentimentos na saúde e no bem-estar
físicos só tem sido levado em conta há pouco tempo pelos médicos
ocidentais. Este provérbio afirma que há relação entre comportamento e
saúde.
17.23 — Como o peso falsificado (Pv 16.11), a justiça pervertida pode
destruir uma cultura. O termo “presente” foi traduzido literalmente de uma
palavra que também significa “suborno”. No versículo 8, a mesma palavra
hebraica se traduz positivamente como “presente”, mas neste versículo o
sentido é negativo, porque o objetivo do presente é perverter a justiça.
17.24 — A sabedoria resulta em uma vida satisfatória. O louco continua a
procura sem encontrar nenhuma satisfação.
17.25 — Como em Provérbio 17.21 (Pv 10.1), este versículo amplifica a
capacidade do filho tolo de envergonhar os pais que amam e creem em
Deus. Tanto o pai como a mãe sofrem. Se sofrem separados (ao invés de
juntos), possivelmente perderão não apenas o filho teimoso como também
um ao outro.
17.26 — Só um povo perverso puniria o justo. Como vários outros
provérbios, este descreve o que deve ser identificado como um ultraje.
17.27 — Refrear a língua é uma das marcas da sabedoria. Isso vai contra as
nossas expectativas. Geralmente esperamos que o sábio fale, e não ouça.
17.28 — Este provérbio é um complemento ao versículo 27 e fala do valor de
refrear a língua, até mesmo no caso do tolo. Quando um tolo refreia os seus
lábios, pode até haver gente que o considere sábio. Essa percepção se
dissipara rapidamente quando o tolo começar a falar.
18.1 — Este provérbio condena aqueles que seguem os seus próprios
padrões e desejos, totalmente alheios a verdadeira sabedoria, por motivos
egoístas. Reclusos assim são tão intolerantes com quem discorda deles que
encontram defeitos na verdadeira sabedoria.
18.2 — O tagarela compulsivo nunca da ouvidos. Só se detém para pensar
no que vai falar a seguir. A cada vez que ele fala, confirma o tolo que é.
18.3 — Este versículo é um alerta contra brincar com o mal. A pessoa
simplesmente não tem ideia do que esta mexendo quando toma parte com
a perversidade.
18.4 — As palavras “fonte da sabedoria” se assemelham a expressão
manancial de vida (Pv 10.11; 13.14; 14.27; 16.22).
18.5 — A injustiça é extremamente comum. Muitos provérbios condenam
esta atitude (Pv 17.23).
18.6 — Uma das marcas do tolo é sua capacidade de provocar confusão pelo
muito falar. Quanto mais ele fala, mais contendas promove.
18.7 — A boca do tolo torna-se uma armadilha para ele mesmo por disparar
palavras insensatas, que trazem destruição (Pv 14.3).
18.8 — As palavras do linguareiro [“caluniador”, na NVI] (Pv 16.28) são como
doces deliciosos. Embora sejam agradáveis ao paladar, acabam com a saúde
da pessoa. É divertido dar ouvidos a fofoca, mas tais histórias ferem o íntimo
do ouvinte — sua alma.
18.9 — O termo negligente refere-se à uma pessoa que é reconhecidamente
desmazelada, ao preguiçoso (Pv 15.19). A palavra “desperdiçador” significa
senhor da destruição.
18.10,11 — A expressão “nome do Senhor” (v. 10) é uma forma de falar da
pessoa de Deus, sendo aqui destacada como alto retiro, proteção divina, um
tema recorrente nas Escrituras (SI 91.1-4). O justo se volta a Deus por
segurança. O rico, pelo contrário, tende a confiar em sua fazenda [“riqueza”,
na NVI] (Pv 18.11; Lc 12.13-21).
18.12 — A palavra hebraica traduzida como “eleva-se”, geralmente com
conotação negativa, também pode ser usada de forma positiva, significando
“coragem” e “bravura” (2 Cr 17.6). O caminho para a honra, tão ambicionada
pelos orgulhosos, é a humildade.
18.13 — Ter a habilidade de comunicar-se não apenas contribui para boas
relações interpessoais, como também ajuda a adquirir sabedoria à medida
que se permite prestar atenção e compreender o que os outros têm a dizer.
Algumas pessoas, porém, não estão interessadas em ouvir os demais ao
redor. Concentram-se em si mesmo, pensam que tem todas as respostas e
reagem sem ouvir. Este tipo de atitude e burrice, além de ser uma infâmia.
18.14 — Este provérbio afirma o valor de saber enfrentar as dificuldades.
Sugere que uma pessoa equilibrada emocionalmente e alegre pode
aumentar a resistência as adversidades e ajudar a enfrentá-las (Pv 15.13;
17.22; Is 66.2).
18.15 — A busca por conhecimento é insaciável nos sábios. O tolo mal se
incomoda em fazê-lo. O sábio não pára de aprender; o tolo mal começa.
18.16 — Existe um poder no presente; o da abertura de uma porta de valor
aparentemente inestimável. Uma vez que a pessoa tenha passado pela
porta, o resto é com ela. Mas ao menos a porta esta aberta.
18.17 — Quando alguém conta sua versão de um fato, apresenta
argumentos que a priore parecem consistentes. No entanto, ao ser
questionado, pode-se descobrir que a realidade é um pouco diferente do
que foi relatado. Todos tendem a apresentar versões que melhor atendem
os seus próprios interesses, mas nem todos poderão resistir a arguição do
observador imparcial.
18.18 — Sempre que duas partes concordam sobre o método de melhor
resolver uma contenda, este método servirá para alcançar a paz. Jogar é
melhor forma de salvar um tolo de sua insensatez, mas não há garantias de
que sempre cairá.
19.1 — Este provérbio apresenta a pessoa pobre sob uma luz mais favorável
do que a rica (Pv 28.6). Neste caso, a vida da pessoa pobre é marcada pela
sinceridade, enquanto a de sucesso obteve sua riqueza fraudando e
enganando. O livro dos Provérbios não diz que saúde e riqueza são prémios;
concede esta honra à integridade (Pv 3.1-12).
19.2 — Muitos provérbios empregam a expressão não é bom. Este diz que
não há nada de bom em quem não tem conhecimento. Nesta pessoa, só
existe uma corrida para a destruição. Os pés dos tolos estão sempre prontos
a correr
para a ruína (Pv 21.5).
19.3 — Quantas vezes as pessoas se perderam em sandices autodestrutivas
e depois clamaram a Yahweh para ajudá-las a sair da situação que criaram?
Muitas vezes Deus pode ter a bondade.
19.4 — Este versículo aponta uma particularidade na relação entre a posição
social e as amizades. Geralmente, as pessoas providas de boa condição
financeira atraem muitos amigos, enquanto as que ocupam uma posição
social baixa têm poucos amigos, pois a pobreza costuma manter a maior
parte das “amizades” distantes. Vale destacar que, como um cônjuge fiel,
um amigo leal não tem preço (Pv 14-20).
19.5 — A necessidade da verdade é muito importante para uma sociedade
organizada. A falsidade não deve ser tolerada.
19.6 — Usar de bajulações e agrados para conseguir atenção e favores de
pessoas dotadas de poder e riquezas é um costume presente desde aquela
época. Assim, supostos amigos e desconhecidos aproveitam inclusive nos
dias de hoje para tirar algum proveito daqueles que se encontram em
condições e posições favoráveis (Pv 17.8; 18.16). Dar presentes não é
intrinsecamente mau, mas quem o dá pode perfeitamente ser mau.
19.7 — A conduta daqueles que abandonam um amigo por estar na pobreza
deve ser confrontada pela postura de amigos verdadeiros, destacada em
textos como Provérbio 17.17 e 18.24.
19.8 — Em última análise, a expressão “achará” o bem significa encontrar o
Senhor em Sua Palavra (Pv 16.20).
19.9 — Este versículo é uma ligeira variação de Provérbio 19.5; e um repúdio
aos males causados pelo falso testemunho, desrespeito a um dos Dez
Mandamentos (Ex 20.16; Dt 5.20) e uma ruptura do pacto de confiança
entre Deus e o Seu povo.
19.10 — É ultrajante o insensato ocupar posições de destaque e viver em
luxo. Esta posição deveria ser reservada ao homem que a ganha mediante a
observância da lei. A expressão “não está bem” também pode ser traduzida
como “não convém” (Pv 17.7).
19.11 — A paciência e o autodomínio são virtudes da sabedoria (Pv 16.32). O
mesmo não se pode afirmar da impetuosidade e dos rompantes violentos.
Estas características são comuns no homem tolo e imprudente.
19.12 — As descrições do bramido do leão e do orvalho sobre a erva são
especialmente adequadas quando o monarca tem poder absoluto. Sua ira
pode ser violenta e imprevisível como um leão, e o seu favor, agradável é
restaurador como o orvalho. Um bom rei deve exortar e conceder sua graça
por bons motivos.
19.13,14 — A expressão “gotejar contínuo” pode ser uma referência a uma
briga constante em uma família. A mulher prudente demonstra sabedoria ou
argúcia. Encontrar o cônjuge certo é uma benção de Deus (Pv 18.22).
19.15 — Os provérbios não possuem palavras boas para se referir a
preguiça, o vício do indolente (Pv 6.6,9). Os provérbios conclamam
misericórdia e compaixão pelos pobres e necessitados, mas pelos indolentes,
apenas desprezo (Pv 19.17; 10.4,5).
19.16 — A sabedoria e a insensatez são questões de vida ou morte, como é
amplamente demonstrado pelos ensinamentos de Provérbio 1-9 (ex. Pv
1.32,33). Assim, buscar a sabedoria é, em última analise, uma atitude de
quem tem genuína autoestima (Pv 19.8). Buscar a tolice é abraçar a morte.
19.17 — Fazer caridade aos pobres e necessitados é visto, neste versículo,
como um empréstimo a Deus. Se você quer fazer um empréstimo a alguém,
que seja a Ele. O Senhor o recompensara. A preocupação de Yahweh com os
pobres está bem documentada nas Escrituras (ex. Dt 10.18,19).
19.18 — Se o pai recusar-se a aplicar disciplina, ele condena o futuro do filho
(Pv 13.24).
19.19 — A raiva desmedida é uma insensatez, assim como a disciplina sem
temperança. Nada muda realmente quando uma pessoa de “pavio curto” é
salva de uma situação problemática. Ela precisara ser salva outras vezes.
19.20 — A sabedoria leva a um futuro glorioso. Trata-se de uma porta para a
eternidade. No Novo Testamento, a ideia que corresponde a busca pela
sabedoria em textos como esse e o objetivo de parecer-se com Cristo,
modelar-se a Sua imagem. Em ultima analise, ser sábio (no sentido bíblico) e
ser como Jesus.
19.21 — O sábio confia seus propósitos ao Senhor (Pv 16.3). A pessoa que
não busca a vontade de Deus (como no SI 2.1-3) pode tornar-se uma
verdadeira inimiga do Criador. Aquele, porém, que confiar sua vida ao Pai
certamente obterá o sucesso (Pv 16.1,9).
19.22 — O pobre integro tem mais honra do que a pessoa de sucesso que
obteve seu cargo ou situação por meio de fraudes (v. 1). A palavra
“beneficência” também pode significar “beleza”. A fidelidade é bela,
enquanto que a fraude desfigura o caráter (Pv 3.14; 31.18).
19.23 — Este provérbio ressalta a natureza perene da verdadeira devoção e
as fartas recompensas que ela proporciona. O temor do Senhor é
comparado com todos os outros prazeres (Pv 15.16,33), porque só ele
conserva a inocência do cristão e proporciona satisfação a vida inteira.
19.24 — Aqui fala de alguém que é tão preguiçoso que não quer nem levar a
mão a boca repetidas vezes para comer! Então ele se curva, enfiando a
cabeça no prato e deixando as mãos ao lado (Pv 26.15).
19.25 — A pessoa simples [“inexperiente”, na NVI], aquela que ainda tem de
estabelecer qual será o seu caminho na vida, pode aprender observando o
sofrimento do escarnecedor. Este pode até não aprender nada com o
próprio sofrimento, mas quem estiver pronto a aprender pode.
19.26, 27 — O desejo de ter um bom filho é tema de diversos provérbios
(10. 1). O filho que maltrata os pais envergonha e desobedece as ordens de
Deus (Pv 20.20; Ex 20.12; Dt 5.16), A justaposição do provérbio (v. 27)
dirigido ao filho meu pela primeira vez desde os capítulos de 1 a 9 após falar
sobre o filho tratante no versículo 26 e proposital. O filho tratante se
envergonha, enquanto que o filho obediente é fiel e tem sucesso.
19.28 — Eis um provérbio que vincula o falso testemunho (Pv 19.5) aos
ímpios (o homem de Belial, Pv 16.27). Esta pessoa escarnece da justiça e
proclama largamente toda forma de iniquidade.
19.29 — Em vez de receitar necessariamente um castigo físico, este versículo
pode estar descrevendo o fardo dos teimosos. Eles mesmos atraem o seu
castigo. O versículo pode ser lido metaforicamente ou no sentido literal.
20.1 — Este capítulo começa com um alerta contra a excessiva ingestão do
vinho, ou de outra bebida alcoólica (consulte este tema mais
extensivamente em Pv 23.29-35). O sábio leva o perigo a sério, evita o
consumo dessas bebidas fortes ou o faz de forma moderada. A embriaguez
só leva a confusões e alvoroços.
20.2 — A primeira parte deste versículo tem o mesmo sentido de Provérbio
19.12. Aparentemente, este versículo de alerta contra o terror do rei não é
diferente do alerta contra a imprevisibilidade do vinho quando em excesso
(Pv 20.1). Como o vinho, assim é o rei; ambos podem ser agentes positivos,
ou destruidores.
20.3 — Quem é pacificador possui a benção de Deus (Mt 5.9). Uma pessoa
que briga sem necessidade não passa de uma tola. O homem de paz tem a
glória; o louco, apenas vergonha. O melhor é evitar começar a contenda (Pv
17.14).
20.4 — Como o preguiçoso não lavra seu campo a tempo, não tem o que
colher (Pv 10.5).
20.5 — Os sábios do antigo Israel sabiam de algo que os conselheiros de hoje
redescobriram através de seu treinamento e experiência, que a motivação
para a conduta e complexa. Um conselheiro talentoso é capaz de extrair da
pessoa sentimentos e motivações, exatamente como alguém tira água de
um poço profundo.
20.6 — A ideia aqui é da importância autoatribuída em face do valor real da
pessoa, de uma autoimagem inflada em face da verdadeira natureza das
coisas. Todos nos tendemos a apresentar nosso melhor lado; mas,
internamente, podemos conhecer o pior de nos.
20.7 — A liberdade e o prazer da sinceridade são exaltados neste versículo
(Pv 19.8). A ideia é de legado. O justo não só vive bem como também deixa
um legado de felicidade para seus filhos. O ímpio (tolo), por sua vez, deixa
um legado de desespero. A fé de uma família passará adiante os traços
familiares.
20.8 — Um bom rei usa seu trono em prol da justiça, jamais tolera o mal em
seu reino.
20.9 — Este provérbio faz uma pergunta retórica. Todos pecamos, tema
abordado largamente por Paulo em Romanos 3.10-23. Quem alega nunca
pecar é mentiroso (1 Jo 18,9). Mas quem confessa seu pecado obtém perdão
(Rm 4-7).
20.10 — A ênfase repetida em pesos falsos e duas medidas (Pv 11.1) nos
relembra que a fraude e um problema crônico.
20.11 — A expressão pelas suas ações ressalta que o caráter de uma pessoa
pode ser revelado por sua conduta.
20.12 — Não foi à toa que este provérbio destacou os ouvidos e os olhos
como criações de Deus. Eles devem ser usados para aprender a respeito da
Sua Lei (SI 40.6; 119.8). São meios físicos de obter a orientação de que
precisamos. Compare este versículo a queixa de Moises de ter a língua
pesada e a resposta de Deus (Ex 4-10,11).
20.13 — O sono é uma dadiva de Deus que restabelece a energia e a
vitalidade da pessoa. No entanto, quando excessivo, pode ser sinal de algum
distúrbio ou de preguiça. É preciso trabalhar duro para ganhar a vida; a
indolência só leva a pobreza (Pv 6.6,9).
20.14 — Um comprador “malandro” reclama da qualidade do produto ao
adquiri-lo para baixar o preço; depois, vangloria-se da barganha que
conseguiu até chegar em casa. Não se trata de uma atitude moral, mas de
uma ação desonesta e manipuladora.
20.15 — Este versículo não comenta a moralidade da riqueza, mas o valor
comparativo da sabedoria e do dinheiro, sendo que o sábio é comparado a
uma joia preciosa. A sabedoria simplesmente vale mais. Assim, vale mais ser
pobre e sábio do que rico e tolo (19.1).
20.16 — É tolice emprestar a um estranho sem fazer um penhor, ou
promessa, de devolução do bem (Pv 11.15). Os israelitas não tinham
permissão para demandar esse tipo de penhor de outros israelitas (Ex 22.25-
27).
20.17 — As Escrituras não negam que pecar pode ser prazeroso, apenas
dizem que a recompensa não é duradoura (Pv 9.17,18).
20.18 — Sempre devemos pensar antes de agir, e assuntos graves como a
guerra requerem o máximo de ponderação.
20.19 — Revelar informações confidenciais é uma forma de calúnia. Esta
pessoa não passa de fofoqueira e tola (Pv 11.13; 13.3). Uma “boca nervosa”
não apenas afunda navios, como também estraga amizades!
20.20 — Este provérbio trata do descumprimento do quinto mandamento,
honra a teu pai e a tua mãe (Ex 20.12; Dt 5.16). O termo “anda maldizendo”
baseia-se em uma palavra que significa “tratar com leviandade”, “considerar
insignificante”. A declaração apagar-se-lhe-á a sua lâmpada e ficará em
trevas densas simboliza a condenação eterna.
20.21 — Às vezes, o que parece ser sorte repentina acabará sendo um
grande revés. Adquirir heranças de forma ilícita pode levar um homem a
entrar em dificuldade com a lei, torna-lo preguiçoso e até mesmo infeliz
devido as consequências da atitude desonesta em tomar posse de tal
herança.
20.22 — Por termos compreensão limitada e sermos imperfeitos, não
estamos qualificados para vingar-nos do mal. Em vez disso, precisamos
confiar nossa causa a Deus, cuja vingança e certa é perfeitamente justa.
Deus disse: “Minha é a vingança; eu recompensarei.” (Rm 12.19; Mt 5.38,39;
1 Ts 5.15; IPe 3.9).
20.24 — Até um homem de grande força não controla seus passos, sua vida;
até o ar que ele respira é dadiva de Deus. Como até a própria vida é dadiva
de Deus, só um tolo para presumir que se autoconhece como um todo.
20.25 — Vários provérbios alertam contra fazer promessas descuidadas a
respeito de coisas santas, e depois não cumpri-las (Ec 5.1-7). É melhor nunca
jurar do que jurar e depois mudar de ideia.
20.26 — Este provérbio apresenta a disciplina como um ato de compaixão.
Castigar a iniquidade é totalmente cabível. Quando os ímpios são
descobertos e punidos com a severidade exigida por seus crimes, toda a
sociedade se beneficia. O versículo 28 da equilíbrio a este princípio.
Idealmente, o rei de Israel espelhava o caráter de Deus.
20.27 — Aqui se trata de uma associação da consciência da pessoa com a
atuação divina.
20.28 — O rei de Israel ideal deveria espelhar o caráter do Reino de Deus.
No fim das contas, este reino ideal seria realizado com a vinda do Rei-
Messias (Is 9.6,7).
20.29 — Cada fase da vida tem suas vantagens inerentes. Os jovens tem sua
juventude e vigor; os mais velhos tem sabedoria (Pv 16.31).
20.30 — Sofrer purifica. Ninguém quer ter feridas, mas Deus pode extrair
coisas boas de qualquer malefício e tornar-nos melhores por meio das
atribulações.
21.1 — A pessoa pode olhar para um rio e pensar que ele não segue nenhum
padrão, porém a água obedece as ordens da mão de Deus. Assim também é
com um bom rei. Os seus passos são determinados pelo Senhor.
21.2 — A boa percepção que a pessoa tem de sua própria vida, conduta ou
caminho pode convencê-la, mas o julgamento final sobre sua retidão cabe a
Deus (Pv 17.3).
21.3 — Ocasionalmente, os provérbios tocam na questão da idolatria (Pv
15.8; 16.6). Este versículo afirma, tal como o Salmo 40.6-8; Miqueias 6.8 e
diversas outras passagens bíblicas, que viver com retidão e mais importante
do que sacrifício (1 Sm 15.22).
21.4 — A segunda parte deste versículo é de difícil tradução. Algumas
versões traduzem a ambígua palavra hebraica “lavoura” como lâmpada.
(Para altivo e orgulhoso, consulte Pv 16.18.)
21.5 — Normalmente, o planejamento leva a abundancia, e a pressa, a
pobreza (Pv 20.21). Não é errado fazer planos, mas é errado planejar fazer o
que o Senhor proibiu expressamente (Pv 16.1).
21.6, 7 — A prosperidade pode ser boa ou ruim. Depende de como a pessoa
a alcançou. Se a conseguiu por meio da língua falsa [“mentirosa”, na NVI],
corre sério risco de ser levado a ilusão e a armadilha mortal.
21.8 — Este provérbio em antítese nos faz voltar ao princípio do estudo
sobre sabedoria, ao contraste entre o justo e o ímpio (Pv 1—9; Sl 1).
21.9 — Os antigos telhados israelitas eram planos e podiam ser usados como
terraço. Às vezes, as pessoas construíam um abrigo provisório sobre a parte
do telhado. E este versículo ressalta que o marido prefere viver num telhado
do que morar dentro de casa com uma mulher briguenta.
21.10 — Aqui está uma pessoa cuja paixão é fazer o mal; portanto, não
sente compaixão por ninguém. O ímpio nunca pensa no próximo, a não ser
nele mesmo.
21.11 — O tolo descrito neste texto é da pior espécie: o escarnecedor (Pv
19.25). A pessoa simples tem sensatez bastante para aprender vendo o
escarnecedor ser castigado. O sábio sempre aprende; o simples, às vezes,
adquire conhecimento; mas o escarnecedor é um caso perdido.
21.12 — Este é um versículo de tradução extremamente difícil. Algumas
versões entendem que a palavra justo se refere ao homem ou a mulher justo
que aprende observando a sina dos ímpios. Outros entendem que o termo
“justo” aqui se refere a Deus, que determina o destino dos ímpios. É
provável que este versículo fale do Senhor como o justo, e a expressão
incomum da segunda parte esteja falando de Seu juízo como uma ruína para
os ímpios.
21.13 — Aquele que é indiferente as necessidades dos aflitos não encontrará
alguém para ajudá-lo quando clamar por socorro.
21.14 — Provérbio 18.16 e 19.6 anteveem as ideias deste versículo sobre o
emprego de presentes para abrir caminho a alguém, em especial a pessoa de
posição humilde que deseja ser recebida pela de posição elevada. O
presente fala por si! E o presente dado em segredo discorre agradavelmente
contra a ira, ajudando a apaziguar ressentimentos.
21.15 — A justiça não é uma obrigação trabalhosa nem um peso para a
pessoa. Para o justo, exercer a justiça é pura alegria. Já para o ímpio, a
justiça é tão triste quanto o fim dele (Pv 10.29).
21.16 — O termo “mortos” é assustador; significa “sombras” (Pv 9.18).
Nestes versículos, “monos” pode ter o sentido de morte física, e não de
espiritual (como e o caso de Tg 1).
21.17 — O objetivo deste versículo não é proibir o consumo de vinho ou
azeite, mas alertar aqueles que dedicam muito tempo aos prazeres. Naquela
época, um dos maiores prazeres dos hedonistas era o banquete, regado de
iguarias, vinho e azeite. O problema aqui, que leva a condenação do ímpio, é
o excesso; o equilíbrio é a meta que anima os justos.
21.18 — Este versículo fala em termos de juízo final. Em ultima análise, o
justo prevalecera, e os ímpios, não. Finalmente, o bem vencera.
21.19 — Este versículo pode ter um outro lado: que privilégio e viver ao lado
de um cônjuge (marido ou esposa) amoroso! Leia de novo a apresentação
positiva de Provérbio 19.4. Tomar isoladamente versículos sobre mas
esposas e difamar as mulheres como um todo, coisa que não se pode dizer
que estes versículos façam.
21.20 — Este provérbio contrasta a prosperidade do sábio com a pobreza do
tolo (Pv 20.15). A questão central é a forma como lidam com seus bens. Os
tolos abusam ou negligenciam o que é de sua propriedade.
21.21 — É possível que vida, justiça e honra se juntem no sentido de uma
vida mais abundante, A busca da justiça é sua própria recompensa. No
entanto, há recompensas extras, como viver a vida em plenitude e receber
honrarias. Tudo isso é dadiva do Senhor (Pv 15.9).
21.22 — A sabedoria tem mais potência do que a força bruta; é mais
formidável do que uma fortaleza. Assim, é melhor buscar a sabedoria em vez
de grandes músculos.
21.23 — Este provérbio faz um jogo de palavras com “guardar”. Se a pessoa
guarda ou conserva sua boca, ela guarda ou conserva sua alma. O
complemento disto está nos diversos problemas que a pessoa enfrenta ao
falar sem cuidado.
21.24 — Este provérbio aplica quatro diferentes palavras hebraicas com
sentido de “arrogância ao zombador” (v. 11). As duas primeiras palavras,
“soberbo” e “presumido”, significam “profundamente arrogante” (v. 4). As
duas últimas, “indignação” e “soberba”, significam “arrogância ilimitada”.
21.25 — O anseio do preguiçoso o mata; ele é devorado por suas próprias
paixões porque não quer gastar energia em cumpri-las. O versículo 26
continua a descrição da ambição insaciável do preguiçoso contrastando-a
com a generosidade do honrado.
21.26 — Este provérbio pode ser pareado com o versículo 25 como
descrição do desejo insaciável da pessoa preguiçosa. Em contraposição, o
justo não cessa de ser generoso. O preguiçoso espera, enquanto o justo dá;
o preguiçoso não tem nada, e o justo tem muito.
21.27 — Quando o ímpio faz um sacrifício sem intenção de parar com sua
iniquidade, é uma abominação (hb. to’eba). Esta abominação existe aos
olhos de Yahweh (como em Pv 20.10), embora Ele não seja mencionado
nesta sentença. Entretanto, pior do que apresentar um sacrifício com o
coração sujo é trazer esse sacrifício com más intenções.
21.28 — Grande número de provérbios trata da testemunha mentirosa (Pv
19.28). O problema da falsa testemunha é que suas mentiras pervertem a
justiça para os outros. Mesmo que seja uma única mentira, a mentira pode
ser replicada por outras pessoas.
21.29 — Há um belo jogo de palavras entre os vocábulos traduzidos como
endurece o seu rosto e considera o seu caminho. O ímpio está preocupado
com a expressão facial; o justo só se preocupa com o rumo de sua vida (Pv
11.5).
21.30 — Geralmente, os provérbios empregam a palavra sabedoria com
sentido positivo. Neste versículo, porém, a palavra está pareada com
truques de conspiradores. Estes truques não tem poder sobre Deus, como
Balaão, o profeta pagão, descobriu ao encontrar o Senhor nas planícies de
Moabe (Nm 22—24). A verdadeira sabedoria só se encontra em Deus. Logo,
de forma alguma, a sabedoria, a inteligência e o conselho podem prevalecer
em qualquer coisa contra o Senhor.
21.31 — Um soldado pode fazer tudo o que está a seu alcance para se
preparar para a batalha (Pv 20.18), mas, no fim das contas, nenhuma
preparação pode superar o poder de Deus. A vitória está nas mãos de Deus.
22.1 — Este provérbio indica que a reputação tem mais valor do que posses
ou riqueza. Um nome não pode ser restaurado facilmente, nem mesmo com
rios de dinheiro.
22.2 — Este versículo repete eloquentemente o tema das riquezas (v. 1):
Deus fez tanto o rico como o pobre. Isto quer dizer que quem favorece o rico
em detrimento do pobre (Tg 2) não só não entendeu do que trata a criação,
como também insultou o Criador (Pv 14-31).
22.3 — O termo “avisado” significa “sagaz” (há uma palavra relacionada a
esta em Pv 1.4). Não existe sabedoria na falta de prudência.
22.4 — O caminho para a boa vida — riquezas, e honra, e vida (há uma
tríade semelhante em Pv 21.21) — e a humildade (Mq 6.8) e o temor a Deus.
22.5,6 — É prudente evitar as armadilhas e ciladas na beira da estrada da
vida. Tolo é aquele que ingressa em lugares perigosos sem necessidade, sem
saber ou importar-se com o risco que está correndo.
22.7 — Quando uma pessoa pobre se encontra em débito para com um rico,
ela fica em uma posição de submissão e dominação em relação ao abastado.
Se o rico for bondoso, o pobre pode escapar sem muito risco. Se o abastado
for sádico, quem tomou o empréstimo pode ser reduzido a escravidão
pecuniária.
22.8 — A ideia de retribuição justa é importante (Pv 21.7). Os ensinamentos
de Jesus sobre a justiça espelham a ideia deste versículo. A pessoa que vive
pela violência provavelmente morrerá de forma violenta; e a que vive em
iniquidade não deve se surpreender se for vítima de um crime (Mt 26.52).
22.9 — As palavras que expressam a ideia de generosidade neste versículo
são de bons olhos. Os bons olhos observam em primeiro lugar as
necessidades dos outros. Já os maus só veem a própria necessidade.
22.10 — O escarnecedor (Pv 21.24) deve ser expulso da comunidade porque
sua influência é prejudicial a todos. Os sábios sabem que o escarnecedor não
é risível, porque ele ri de coisas santas, do próprio Deus.
22.11 — A pessoa marcada pela pureza de fala e coração se torna confidente
de um bom rei. (Compare este provérbio ao SI 15, que descreve a pessoa
que quer ser amiga do Senhor.)
22.12 — Os olhos do Senhor (Pv 15.3; 21.2) são os árbitros definitivos do
conhecimento e da justiça. Os olhos dos seres humanos simplesmente não
são confiáveis. Quando o rei leva seu cargo a sério, ele também toma
decisões adequadas e justas (Pv 20.8).
22.13 — Os provérbios sobre o preguiçoso (Pv 19.15) são um alívio cômico,
pois zombam da série de desculpas esfarrapadas que os preguiçosos
inventam para não trabalhar nem arriscar. Eles fazem de tudo para não
terem de fazer algo.
22.14 — Este provérbio nos leva de volta ao tema das mulheres estranhas
[“mulher imoral”, na NVI] (Pv 2.16). Sua boca é como abismos abertos,
destruindo todos os que neles caem (Pv 9.18).
22.15 — A ideia aqui é de incentivar o pai relutante a disciplinar seu filho
louco. A insensatez é como um monstro que esmaga o coração entre os
dedos.
22.16 — O último provérbio de Salomão nesta coletânea trata de justiça
social. No fim das contas, toda a experiência humana está nas mãos de Deus,
embora, ocasionalmente, os ímpios prosperem. Deus fez tanto o pobre
como o rico (v. 2) e Ele determinará com justiça o destino de cada um (Pv 24-
12).
22.17 — A expressão “as palavras dos sábios” determina uma nova seção do
livro dos Provérbios. O conteúdo muda no versículo 17. Três elementos
distinguem esta parte: (1) a mudança de unidades de um versículo para
unidades de múltiplos versículos, (2) títulos de seções incluídos no texto e (3)
afinidade desta seção com os antigos textos exemplares egípcios,
particularmente o livro egípcio A instrução de Amen-En-Ope, uma das fontes
dos escritores de Provérbios.
22.17-21 — “Inclina o teu ouvido.” Estas palavras de introdução conclamam
o leitor a prestar atenção e preparar-se para aprender sobre Deus e adorá-
Lo. O aviso enfatiza veementemente que a confiança da pessoa deve estar
no Senhor.
22.22, 23 — A maioria das violações de justiça afeta o pobre e o aflito, pois
são frágeis e indefesos. Mas quem faz isso se toma inimigo de Deus, que
defendera a sua causa.
22.24, 25 — Não andes com o homem colérico. Se estas palavras se baseiam
na fé hebraica, estas ideias se derivam, por sua vez, da observação do
comportamento e da interação humanos. O livro de Provérbios inclui os dois
tipos de ponderação: revelações de verdades sobre Deus e observações
sobre a experiência humana (1 Co 15.33).
22.26, 27 — O pobre fiador que assumir as dívidas de outrem pode perder
até mesmo a cama caso haja uma má barganha.
22.28 — Os antigos israelitas consideravam o respeito pelos limites (marcos)
geográficos como mais que uma questão de propriedade privada. Para eles,
era uma questão básica da vida cívica. As pessoas devem ter um certo senso
de confiança e justiça publica para a sociedade funcionar.
22.29 — Um trabalho bem-feito ainda rende elogios das pessoas e a
aprovação de Deus. Consulte Efésios 6.5-8.
23.1-3 — Boa parte do treino do cortesão era de boas maneiras para
jantares e ocasiões formais. O comentário põe uma faca a tua garganta
existe por causa de duas preocupações: (1) a conduta rude devia ser evitada
a todo custo, e (2) iguarias reais em excesso poderiam fazer o convidado
passar mal.
23.4, 5 — Estes versículos conclamam moderação no trabalho. Se por um
lado os provérbios difamam a preguiça (Pv 22.13), por outro desestimulam
trabalhar demais com vistas a ajuntar grandes posses.
23.6-9 — “Não comas o pão daquele que tem os olhos malignos.” Esta
expressão alerta para não comer o alimento servido pelo homem egoísta.
23.10,11 — A tendência dos homens maus de todas as eras é de tirar
vantagem dos indefesos. Porém, o destruidor precisa saber que a viúva e o
órfão tem um Redentor, um protetor dos direitos da família — e Seu nome é
Jesus Cristo.
23.12 — A palavra hebraica traduzida como “disciplina” também pode ser
traduzida como orientação.
23.13-16 — O versículo 13 alerta os pais que hesitam em disciplinar os filhos
e são muito permissivos a aplicarem o castigo adequado e implementar
limites as crianças. De forma alguma, este provérbio faz alusão a violência. A
disciplina com amor não mata a criança birrenta; mas sim, educa.
23.17,18 — O versículo 17 contrasta fortemente a inveja dos pecadores com
o temor do Senhor, um assunto sempre presente nos provérbios (Pv 1.7). O
versículo 18 provê a perspectiva de que todos precisamos: o sucesso atual
[ou a ausência dele] não é um resultado definitivo. A expressão “um fim
bom” também pode ser traduzida como “futuro glorioso” (Nm 23.10). Este
futuro está reservado a todos os justos que depositam sua fé em Cristo.
23.19-23 — O beberrão e o comilão não têm autocontrole, um problema
que representa um verdadeiro fardo para eles. O alcoolismo e a glutonaria
são pecados, e ambos os vícios tendem a pobreza. Além das despesas
causadas, tornam as pessoas improdutivas, sonolentas, desequilibradas e
desprovidas de qualquer autoestima, o que é um constante sinal de pobreza.
23.24, 25 — O pai alegra-se em ver seus filhos vencer na vida. Entretanto, a
maior alegria dele reside em saber que seus filhos são justos e fieis ao
Senhor.
23.26-28 — Os sábios de Israel não paravam de alertar contra a prostituta e
a “estranha” [“pervertida”, na NVI] (Pv 7.24-27). Advertências contra atos de
desvios sexuais, como adultério e prostituição, são comuns em Provérbios.
23.29-35 — Além da famosa descrição sobre a devassidão de Isaías (Is 19.11-
15), este trecho bíblico é um dos ataques mais severos a bebedeira em toda
a Bíblia (Pv 23.19-21; 20.1).
24.1,2 — Enquanto Provérbio 23.17,18 fala sobre o futuro do justo para
desestimular a inveja aos ímpios, Provérbio 24.1,2 simplesmente demonstra
como os perversos são indignos de qualquer tipo de admiração.
24.3-11 — Estes versículos falam com certa confiança e entendimento da
vida apos a morte (Pv 23.17,18). O versículo 11 é uma oração a Deus em
vista da aproximação da morte.
24.12 — Não pagará ele ao homem conforme a sua obra. As palavras de
Jesus sobre as recompensas eternas abrem e encerram o Novo Testamento
(compare Mt 5.11,12 a Ap 22.12). Ainda assim, o sacrifício de Jesus na cruz
libertara de qualquer condenação aqueles que nele crerem (Rm 5.18;
G13.18; Ap 22.17).
24.13,14 — Aqui está uma das associações do mel e do favo de mel a
sabedoria feitas em Provérbios (Pv 16.24) A sabedoria e sua busca, embora
rigorosas, fazem bem a alma e podem ser prazerosas.
24.15,16 — No fim, o ímpio sofrera as consequências de seus atos
imprudentes no inferno. Assim como o desfecho de dor pertence ao tolo, é
certo que o justo desfrutará um futuro de glória, porque o seu Redentor vive
(Pv 23.10,11).
24.17-22 — Este provérbio vincula-se mais absolutamente aos reis da
dinastia davídica, que eram regentes de Deus sobre a terra. Uma das formas
pelas quais os antigos israelitas podiam demonstrar reverência ao Senhor
era respeitando o rei. O dever de honrar autoridades civis ainda se aplica até
os dias de hoje (Rm 13.1).
24.23-34 — A expressão “também estes são provérbios dos sábios” é um
título de trecho bíblico que corresponde a Provérbio 22.17. Os versículos 23
a 34 do capítulo 24 servem como apêndice da parte anterior (Pv 22.17—
24.22).
24.23, 24 — A preocupação básica de Israel com a igualdade de juízo [a
justiça] era uma virtude vinculada ao caráter de Deus. Como o Senhor não
demonstra parcialidade, nós também não devemos fazê-lo.
24.25-27 — A questão das prioridades está em discussão no versículo 27:
“apronta-a no campo.” O sábio cuidará primeiro das coisas mais básicas,
neste caso, arar a terra e plantar as sementes. Depois, enquanto aguarda o
tempo da colheita, ele pode atentar para outros interesses e edificar a sua
casa. Talvez o assunto em questão aqui também faça alusão ao
estabelecimento de uma família. A pessoa deve estar certa de que
estabeleceu uma vida bem-ordenada antes de embarcar no casamento.
24.28,29 — O justo jamais dará testemunho falso, baseado no engano, para
agradar um e prejudicar o outro, injustamente. Este é um dos nossos
deveres mais importantes, lembrados por Jesus no sermão da montanha (Mt
7.12).
24.30-34 — Por causa do seu desleixo, o campo do preguiçoso vive em caos
total. Desta triste situação, os sábios tiram uma lição. A única preocupação
dos preguiçosos é dormir e descansar por nada haver feito.
25.1-5 — A prata só tem valor depois que as impurezas são removidas. Da
mesma forma, a perversidade precisa ser removida de um rei para que seu
trono seja de fato legítimo.
25.6,7 — O sábio não deve procurar autopromover-se ou exaltar-se diante
dos demais. Esta questão é um tema recorrente na Bíblia. Inclusive, Jesus
exortou sobre isso em Lucas 14.11. A quem já os teus olhos viram. Esta
expressão reflete o costume da Antiguidade de nunca olhar nos olhos de um
superior até receber autorização para tal (Is 6.5).
25.8-15 — Não te apresses a litigar. Em nossa época litigiosa, esta
recomendação tem relevância peculiar. Procure lidar com desavenças fora
do tribunal, em particular ou com presença de um mediador.
25.16 — Até mesmo as coisas boas, quando em excesso, prejudicam.
25.17 — A questão aqui é moderação. A longa e constante permanência na
casa do próximo se torna um incomodo.
25.18-26 — As palavras de Jesus em Mateus 5.43-48 tem ligação direta com
estes versículos. O termo “brasas” (v. 21) refere-se ao juízo de Deus (SI
120.4; 140.10). A ideia é de que um ato de gentileza para com seu inimigo
pode fazê-lo sentir vergonha. E apenas uma das diversas maneiras de
derrotar o mal com o bem (Rm 12.20).
25.27 — A moderação nas boas coisas (v. 16) casa com a humildade.
25.28 — O autocontrole é uma parte crucial da obediência a Deus (Gl.
5.22,23).
26.1, 2 — A neve no verão era um acontecimento extremamente incomum
em Israel. A chuva na sega era não só incomum como um desastre, porque
chover naquela época destruiria as plantações.
26.3 — O cavalo, bem como o jumento, precisa de algum mecanismo de
controle para exercer alguma tarefa. Como o tolo não tem nenhuma
motivação interior para nada, nem mesmo intelecto para ser dirigido pela
razão, precisa também da vara [punição ou ameaça de punição] para fazer
algo direito.
26.4, 5 — Há quem tenha chamado os dois provérbios de contraditórios,
mas não necessariamente o são. A expressão segundo a sua estultícia
aparece duas vezes em um jogo de palavras com duas vertentes de sentido.
Por um lado, significa evitar a tentação de rebaixar-se ao nível dele, ou seja,
não empregar seus métodos, para que também não te faças semelhante a
ele. Por outro, significa evitar a tentação de ignorá-lo completamente, ou
seja, reagir de alguma forma, para que o tolo não pense que é sábio aos seus
próprios olhos e alimente a sua insensatez.
26.6-11 — A expressão como o cão que torna ao seu vômito (v. 11) revela
que o tolo não aprende com os próprios erros. O apóstolo Pedro citou este
versículo e aplicou-o aos falsos mestres (2 Pe 2.22).
26.12 — Ser altivo e pior ainda do que ser tolo. Alimentar o ego e o cumulo
da loucura (Pv 28.11).
26.13-15 — Estes versículos acerca da preguiça — um tema que recorre em
muitas partes das Escrituras (Pv 19.15) — tem um quê de exagero que cria
alívio cômico. Cada um deles ressalta as inúmeras desculpas esfarrapadas
que, muitas vezes, os preguiçosos usam para se justificarem.
26.16, 17 — O problema de tomar um cão pelas orelhas é que o cachorro
provavelmente não vai gostar e vai morder você. O mesmo vale quando se
envolve na briga de outros. E invasão de privacidade.
26.18-21 — A fogueira não queima sem combustível. As rixas [brigas]
funcionam do mesmo jeito.
26.22 — O caluniador vê as suas palavras como guloseimas, deliciosos
bocados de intriga. Muita gente tem apetite insaciável por fofocas
maliciosas.
26.23 — O significado deste provérbio não está distante das declarações de
Jesus a Seus inimigos de que eram como sepulcros caiados (Mt 23.27).
Mesmo a melhor pintura numa fachada não disfarça um interior pútrido.
26.24-27 — O rancoroso não fala como quem odeia. Enquanto guarda raiva
no seu interior, professa amar e preocupação por outrem. Sua declaração,
porém, é hipócrita. A sua malícia se descobrirá na congregação. Quando
lamentamos a injustiça da prosperidade do ímpio e comparamos nossa
situação com a dele, precisamos manter em vista o Salmo 73.17. Seu destino
há de compensar-lhe muito bem pelo mal que praticaram (Rm 6.23).
26.28 — A língua falsa resulta em ódio no coração. É uma fogueira inflamada
pelo inferno (Tg 3.3-6).
27.1 — Da mesma forma que Jesus ensinou anos depois (Mt 6.25-34), os
sábios do antigo Israel alertaram contra a preocupação pelo amanhã que
ofusca as necessidades do hoje.
27.2-5 — “Louve-te o estranho, e não a tua boca.” Este princípio adverte o
ato inadequado de autoelogiar-se. O elogio é uma veste que cai bem.
Embora desejemos utilizá-la, é sempre melhor deixar que outros nos vistam
com ela.
27.6 — A correção feita com amor e melhor do que atos afetuosos sem
sinceridade (Sl 141.5).
27.7 — Quem tem tudo não aprecia o que tem, enquanto que para a alma
faminta tudo é gostoso.
27.8-10 — Afastar-se de casa pode significar perder a segurança e expor-se a
novas e poderosas tentações. (Leia a parábola do filho prodigo em Lucas 15.)
27.11 — Este é provérbio do tipo “filho meu” é parecido muito com os das
partes iniciais de Provérbios (capítulos 1 a 9). A criança que cresce em
sabedoria confirma que os pais que lhe ensinaram eram também sábios (Pv
10.1).
27.12-16 — Normalmente, uma roupa dada como penhor era apenas uma
garantia simbólica e era devolvida imediatamente, mas não se quem
estivesse fazendo este penhor fosse um estranho (Pv 20.16).
27.17 — Provérbio famoso, este versículo provavelmente traz a ideia de que
as pessoas crescem ao interagirem entre si, ajudando umas as outras.
27.18 — Este provérbio fala de fidelidade e recompensa. A palavra “senhor”
pode referir-se a Deus.
27.19 — Os pensamentos espelham o verdadeiro caráter da pessoa.
27.20-22 — O inferno e a perdição são usados muitas vezes na Bíblia para
tratar do aspecto temerário da morte; são como monstros famintos.
Compare estes provérbios com a imagem de Satanás como leão que ruge (1
Pe 5.8).
27.23-27 — Estes versículos apoiam a diligencia e descrevem suas.
28.1-3 — Fogem os ímpios sem motivo (Sl 53.5), porque sentem culpa e
medo de serem pegos.
28.4,5 — Quando a pessoa abandona a Lei de Deus, ela perde toda a noção
de certo e errado e segue o caminho do ímpio (Rm 1.28-32). Como o
verdadeiro juízo provem de Deus, os ímpios não conseguem entender a
justiça do Senhor. E por isso que temer ao Senhor é o principio da sabedoria
(Pv 1.7).
28.6 — Os provérbios fazem considerações equilibradas a respeito do rico e
do pobre. Em nenhum momento, presumem que a retidão leve a riqueza,
nem que as pessoas ricas são necessariamente fieis a Deus. Conforme
indicado por este versículo 6, é melhor padecer necessidades e ter riquezas
espirituais, do que possuir muitos bens e ser uma pessoa ímpia.
28.7 — Ser companheiro dos comilões (Pv 23.20, 21) é desobedecer a Lei de
Deus. Por isso que os inimigos de Jesus o acusavam de andar na companhia
de glutões [comilões]; tais acusações eram ataques a Sua fidelidade a Deus
(Mt 11.19).
28.8,9 — O lucro obtido por meio da usura é injusto. Deus acabara por
ajudar os pobres — às custas de seus exploradores.
28.10-13 — O que faz com que os retos se desviem. Estas palavras
assemelham-se ao alerta de Jesus contra desviar Seus discípulos do caminho
(Mt 18.6). Paulo capta vividamente este tipo de maldade: Se alguém destruir
o templo de Deus, Deus o destruirá (1 Co 3.17).
28.14 — Este versículo ressalta como é bem-aventurado aquele que
reverencia o Senhor (SI 1.1). A pessoa que nunca pensa em Deus enfrenta
calamidades.
28.15,1 6 — Como leão bramidor. Por meio desta expressão, o reinado
opressivo do rei malévolo é comparado a animosidade do ataque de certas
feras. Sem a verdadeira compreensão, o rei insensato não percebe que a
segurança de seu trono está ligada ao bem-estar de seus súditos. O rei que
detesta esse tipo de opressão descabida traz estabilidade e prolonga o seu
reinado.
28.17-19 — A expressão “lavrar a sua terra” é um chamado ao trabalho
árduo, uma promessa de recompensa e um alerta contra os ociosos.
28.20 — O homem fiel tem êxito. Ou seja, e a fidelidade a Deus, e não a
ambição, que determina o sucesso na vida.
28.21,22 — Existem pessoas que se deixam subornar por tão pouco para dar
falso testemunho e prejudicar um inocente. De qualquer forma, qualquer
ato que envolva suborno, egoísmo e insensatez vai de encontro a tudo que a
Palavra de Deus ensina sobre justiça e sabedoria.
28.23 — A crítica construtiva tem mais valor do que a lisonja, que procura
apenas conquistar a afeição das pessoas.
28.24 — Este provérbio condena o desrespeito ao quinto mandamento:
“Honra a teu pai e a tua mãe” (Ex 20.12). O respeito pelos pais como dever a
cumprir é tema comum no livro de Provérbios.
28.25-28 — Uma das principais causas das contendas é o orgulho; confiar
em Deus, por sua vez, traz bênçãos e segurança.
29.1 — A expressão hebraica, traduzida como “muitas vezes repreendido”,
literalmente seria “um homem de repreensões.” O juízo de alguém que
teima em rejeitar a correção de Deus é ligeiro e definitivo.
29.2-4 — As palavras “os justos se engrandecem” também poderiam ser
traduzidas como “os justos tem autoridade.” O povo sempre reage bem a
um bom governo e a uma boa justiça, a qual não á feita com subornos.
29.5, 6 — A mentira laça o mentiroso (Pv 10.8). O maldoso também é presa
das próprias atitudes. Tanto o mentiroso como o ímpio são contrastados
com o justo, que vivem sem preocupações por serem inocentes de qualquer
mal.
29.7-12 — O justo se preocupa com os pobres e os ajuda (Pv 22.22). O ímpio
sequer se lembra dos necessitados.
29.13,14 — Deus é responsável por ter concedido a vida tanto ao pobre
como ao opressor [NVI]. Jesus atestou que Deus faz chover sobre o justo e o
injusto (Mt 5.45).
29.15-17 — Ambas as palavras “vara” e “repreensão” tratam de correção e
disciplina. A criança indisciplinada envergonha a todos, especialmente a seus
pais. O versículo 17 responsabiliza os pais pela correção. O termo traduzido
como “delícias” se refere a guloseimas finas e deliciosas (Gn 49.20).
29.18 — O termo “profecia” em hebraico trata de uma visão reveladora,
uma palavra vinda de Deus. Sem a revelação divina da Lei, o povo fica
desnorteado. A verdadeira felicidade pode ser descoberta dentro dos limites
da revelação, nos desígnios do Salvador.
29.19 — O servo não se emendará com palavras. Na Septuaginta, lê-se um
servo teimoso. Esta pequena variação da tradução só vem ressaltar a
rebeldia do ímpio. Por mais que pecamos algo a ele, este se recusa
deliberadamente a obedecer a ordens. Para que ele respeite as autoridades,
são necessárias medidas mais duras, pois apenas o medo do castigo altera a
disposição destas pessoas egoístas e sem princípios.
29.20-22 — Até mesmo o sábio pode ser tolo ao ser precipitado nas suas
palavras. É melhor ficar em silêncio ou escolher com cuidado as palavras do
que falar impulsivamente.
29.23-25 — Consulte o Salmo 147.6. Deus exalta o humilde e abate o
soberbo. Muitos louvaram a Deus por fazer esta maravilha (Lc 1.46-55).
29.26,27 — Deus controla as questões humanas. Assim, faz mais sentido
buscar primeiramente ao Senhor antes de recorrer ao poder humano.
30.1 — Uma seção completamente nova do livro de Provérbios começa com
as palavras de Agur. Tal como Lemuel (Pv 31.1-9), Agur foi um contribuinte
árabe, e não hebreu, ao livro de Provérbios. Ambos tiveram fé no Deus de
Israel em uma terra estrangeira. Nada sabemos sobre o pai de Agur, Jaque,
nome este que parece significar obediente ou piedoso. Alguns acreditam
que a palavra traduzida como oráculo seja o nome de uma tribo árabe.
Outros eruditos, porém, defendem que a tradução correta seja do oráculo, o
que faria de Agur um homem que recebia oráculos, uma espécie de profeta.
Os provérbios a seguir foram endereçados a Itiel e Ucal, provavelmente
possíveis discípulos de Agur e Lemuel. Como é incomum a repetição seguida
do nome Itiel — Disse este varão a Itiel, a Itiel e a Ucal — , alguns eruditos
dão outra interpretação a este trecho, traduzindo o texto como: Eu me
extenuei, o Deus; eu me extenuei, o Deus, e estou consumido. Isso caberia
no contexto dos versículos seguintes.
30.2,3 — “Eu sou mais bruto do que ninguém.” Com esta expressão, Agur
queria dizer que estava perplexo. Da mesma forma, sua negação de ter
conhecimento do Santo também é um floreio retórico (como se vê pela
comparação a suas palavras nos v. 5,6). Agur estava declarando, com forte
ironia, que era incapaz de explicar o enigma a sua frente.
30.4 — Este versículo mostra a charada que deixou Agur intrigado. As
questões são enigmáticas. Culminam em: Qual é o seu nome, e qual é o
nome de seu filho, se é que o sabes. Neste ponto, não há resposta a charada.
O AT responderia que a expressão seu nome refere-se ao Senhor, mas não
havia um nome para o seu filho. Esta charada ficaria sem solução até que
Jesus a respondeu a Nicodemos (Jo 3.13). Estes versículos enquadram entre
os textos mais messiânicos em toda a Bíblia.
30.5-9 — Agur desejava alcançar duas coisas pela graça divina antes de sua
morte.
30.10 — Este provérbio alerta o servo contra o ato de caluniar o seu senhor.
Ao contrário, ele deve prestar obediência e prover um serviço honesto ao
seu proprietário. Naquela época o escravo era considerado uma pessoa
inferior.
30.11-16 — Agur escreveu sobre uma geração assolada por males sociais
como falta de respeito pelos pais, altivez, ganância e egoísmo. Ironicamente,
tais males tem assolado todas as gerações, e não somente a de Agur.
30.17 — A falta de respeito pelos pais mencionada no versículo 11 leva a
morte. As expressões usadas para ilustrar essa maldição são fortes e
violentas, assim como é o castigo daquele que maltrata os próprios pais.
30.18,19 — O termo traduzido como “virgem” também pode ser lido como
“moça” neste contexto.
30.20 — Este versículo contrasta com o caminho do versículo 19. Este
caminho é terrível, enquanto que aquele é maravilhoso. A mulher adúltera
não sente remorso por suas relações sexuais ilícitas, atitudes comparadas ao
banquete. Após a refeição, a adúltera sente-se satisfeita e ainda limpa a sua
boca para retirar as evidências de seu pecado, não deixando assim nenhuma
evidência para seu marido e outras pessoas.
30.21-23 — Em contraste com as quatro coisas maravilhosas mencionadas
nos versículos 18 e 19, vemos nos versículos 21 a 23 quatro coisas atrozes,
que são uma inversão de prioridades. Três estão claras: o servo, o tolo e a
serva se veem todos em posições de poder inesperadas. Já a mulher
aborrecida se refere a situação triste da esposa cujo marido a detesta.
30.24-28 — Este trecho bíblico fala sobre quatro criaturas de tamanho
pequeno, mas de comportamento estupendo. Cada criaturinha destas tem
um traço de conduta que pode ser fonte de aprendizado para os sábios.
30.29-33 — Os provérbios de Agur se encerram com alertas contra a
ostentação e a desordem. A expressão “põe a mão na boca” significa “pare
com isso”. A ideia é que, se você estiver tramando alguma encrenca e,
repentinamente, perceber sua insensatez, pare antes que as coisas piorem.
31.1 — Este versículo abre uma nova seção, com textos de uma fonte não
israelita. Há quem tenha cogitado que o nome Lemuel, de origem árabe, seja
pseudônimo de Salomão, mas apenas um palpite. Lemuel significa devotado
a Deus.
31.2-7 — A mãe de Lemuel aconselhou Lemuel a não dar as mulheres a sua
própria forca. Muitas vezes, naquela época, o rei ajuntaria um grande harém
ou se envolveria sexualmente com muitas mulheres. A sabedoria da mãe de
Lemuel era dizer que esse comportamento destrói reis. Da mesma maneira,
ela o aconselhou a evitar bebida forte, para que sempre tivesse uma mente
sóbria para reinar com justiça.
31.8,9 — Abre a boca a favor do mudo. Esta expressão mostra o dever de o
rei defender os fracos e sustentar os indefesos. Estes ideais raramente foram
cumpridos seja naquela época, seja na atualidade. No entanto, chegará o dia
em que o grande Rei e Protetor dos indefesos virá estabelecer Seu Reino de
justiça (Pv 23.10,11).
31.10-12 — Provérbio 31.10-31 é um poema em acróstico. Cada versículos
começa com uma letra do alfabeto hebraico. Há quem pense que ele seja
continuação dos ensinamentos da mãe de Lemuel (v. 1-9), mas também
pode ser uma unidade independente, de encerramento. Assim como o livro
de Provérbios começa no Prólogo (Pv 1.1-7), que fornece os objetivos da
sabedoria em termos genéricos, agora ele se conclui com este Epílogo (Pv
31.10-31), que os apresenta como estudo de caso. A expressão “mulher
virtuosa” trata de excelência, valor moral, capacidade e nobreza, e não
apenas de fidelidade conjugal (Pv 12.4). Tal mulher é o ideal da sabedoria
em ação, algo que é expresso pelas palavras: “quem a achará”.
31.13-15 — Estes versículos tanto enfatizam o trabalho árduo como a
habilidade. A mulher descrita neste trecho bíblico faz o que gosta,
realizando-se em diversas tarefas. As palavras “ainda de noite, se levanta”
tratam de sua preocupação com os outros. Ela se doa em prol da família e
seus servos.
31.16,17 — A expressão “examina uma herdade” mostra a diligencia da
mulher virtuosa em lidar sabiamente com os recursos financeiros e dar
segurança a família. Neste caso, ela compra e vende para construir seu
patrimônio. Vale ressaltar como são notáveis estas palavras, visto que
naquela época havia muitas restrições impostas às mulheres.
31.18,19 — Uma das fontes exploradas pela mulher são os
empreendimentos caseiros para ganhar um dinheiro extra e agir com
independência.
31.20-22 — A mulher virtuosa trabalha não para ficar rica. Além de servir a
própria família, ela também é generosa e ajuda os necessitados.
31.23 — A mulher virtuosa ajuda o marido a conquistar um lugar de
prestígio e de reputação.
31.24 — A expressão “panos de linho” indica, provavelmente, roupas
femininas.
31.25 — É certo que a mulher virtuosa procura usar belas roupas e estar
sempre bonita. Este versículos, porém, carrega um significado metafórico e
mostra que ela também se veste de foça e dignidade [NVI], qualidades
morais e espirituais.
31.26,27 — A mulher que abre a boca com sabedoria merece respeito, em
vista de todas as informações abordadas até aqui sobre uso e abuso da fala
no livro de Provérbios. A mulher virtuosa fica alerta para pronunciar palavras
de sabedoria (Tg 3.2).
31.28,29 — A mulher virtuosa é abençoada por sua família — pelos filhos e
pelo marido. As palavras dos versículos 29 são a benção de seu marido.
31.30,31 — A graça [“beleza”, na NVI] pode ser usada para o bem ou para o
mal. Ela não é necessariamente má, mas, para ser usada com bom propósito,
é preciso temer ao Senhor — principal tema do livro de Provérbios.