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EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO Renata Maria Sales Madureira Assistente Social, Especialista em Gerontologia Social e Mestre em Saúde Coletiva

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EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO

Renata Maria Sales MadureiraAssistente Social, Especialista em Gerontologia Social

e Mestre em Saúde Coletiva

EMENTA

Conceitos básicos em epidemiologia. Transição epidemiológica. Desafios colocados para o setor saúde. Principais ações desenvolvidas pelo setor

saúde. Contextualização da realidade local.

REFERÊNCIAS

CAMARANO, Ana Maria; KANSOS, Sonia José Lopes. Como vive o idoso brasileiro. In.: CAMARANO, A.M.(Org). Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro:IPEA, 2004 p. 25-73.

ROUQUAYROL, Maria Zélia; FILHO, Naomar de Almeida. Epidemiologia e Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 2003.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; Organização Mundial de Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. World Health Organization. 1 ed. Brasília: OPAS, 2005.

______. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa – Manual de Preenchimento – Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.

______. Ministério da Saúde. Lei Orgânica da Saúde – SUS. Brasília, 1990. ______.Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento

de Ações Programáticas e Estratégicas. Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa: manual de preenchimento / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

______. Portaria nº 2528/GM, de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 19 out. 2006.

EPIDEMIOLOGIA: “ Ciência que estuda o processo saúde-doença

em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controlem ou erradicação de doenças, e construindo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de rotina em consonância com as políticas da promoção de saúde.”

Rouquayrol:2006

CONSIDERAÇÕES:

Com a implantação do SUS a epidemiologia passa a ser o principal instrumento de apoio para o estabelecimento de prioridades de ação.

A epidemiologia está voltada para a ocorrência em escala maciça de doenças e de não doenças.

Considera a influência dos processos sociais no processo saúde-doença.

PROCESSO SAÚDE-DOENÇA:

“ o modo específico pelo qual ocorre, nos grupos, o processo biológico de desgaste e reprodução, destacando como momentos particulares a presença de um funcionamento biológico diferente com consequências para o desenvolvimento regular para as atividades cotidianas.”

Laurell:1985 apud Rouquayrol:2006

CONSIDERAÇÕES:

Estuda a variabilidade de frequência das doenças de ocorrência em massa (tempo – espaço – pessoas).

Busca associações entre fatores de risco.

Busca a prevenção Tendências

OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA:

1 – Descrever a distribuição e magnitude dos problemas de saúde.

2 – Proporcionar dados essenciais para planejamento, execução e avaliação das ações.

3 – Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades.

Assoc. Intern. de Epidemiologia:1973

EPIDEMIOLOGIA

Construção de indicadores. Eixo de organização de práticas. A importância dos sistemas de

informação em saúde.

Quanto mais os indivíduos vivem, mais velha fica uma população.

EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO

Envelhecimento populacional ocorre quando existe uma queda da mortalidade seguida de uma queda da fecundidade.

A transição de uma população jovem para uma envelhecida (transição demográfica)

EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO

Diferenças entre o envelhecimento europeu e o brasileiro.

A transição demográfica altera o padrão epidemiológico relativo a mortalidade e morbidade de uma população.

- Populações jovens: doenças infecto-contagiosas- Populações idosas: doenças crônicas não-

transmissíveis

TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Processo de mudança do perfil de morbimortalidade que acompanha o processo demográfico.

Desafio:doenças infecciosas x doenças crônicas

DESAFIOS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Carga dupla de doenças;

PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS

Doenças cardiovasculares Hipertensão Derrame Diabete Câncer DPOC Doenças músculo-esquléticas Doenças mentais Cegueira e diminuição da visão

OPAS:2006

ENVELHECIMENTO:

• Fenômeno mundial, inerente ao ser humano

• Etapa constitutiva do ciclo da vida• Três concepções básicas de velhice:- Velhice cronológica- Velhice funcional- Velhice etapa vital

(Ricardo Moragas:1997)

CONSTATAÇÕES

1. As pessoas envelhecem2. O mundo envelhece3. O mundo envelhece de forma

desigual4. O mundo passa por uma transição

epidemiológica5. É preciso agir (Telles:2007)

Dados populacionais oficiais confirmam essa tendência de crescimento gradativo. Tais dados apontam um crescimento desse grupo etário em torno de 223% entre os anos de 1970 e 2025.

(Organização Pan-Americana de Saúde, OPAS, 2005)

DADOS:

DADOS:

Estima-se também que em 2025 aproximadamente 80% da população idosa residirá em países em desenvolvimento.

Assim, pensar em formas de intervenção nessa população mostra-se um fator essencial para todas as nações.

Expectativa de vida no Brasil:

ANO IDADE

1960 55,9

1980 63,4

1991 66,0

2000 68,6

DADOS DO BRASIL:

Censo 2000: 14.569.029 idosos

( > = 60 anos) representando 8,6% da população.

Em torno de 18 milhões de pessoas nos dias de hoje.

POPULAÇÃO IDOSA NO ES:

ANO POP. GERAL POP. IDOSA

1991 2.640.000 207.793

2000 3.100.000 254.439

Proporção de idosos (PI) na população de Vitória. 1980 a 2006

8,94

8,94

7,92

7,00

6,30

5,63

0

2

4

6

8

10

Fonte Datasus.

PI: percentual da populção de 60 anos e mais sobre a população total

(%)

Índice de envelhecimento (IE) da população de Vitória. 1980 a 2006

11

,74

13

,17

14

,68 19

,04

25

,49

25

,48

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

19

80

19

82

19

84

19

86

19

88

19

90

19

92

19

94

19

96

19

98

20

00

20

02

20

04

20

06

Fonte: Datasus. IE: Nº de idosos com 65 e mais

para cada 100 jovens abaixo de 15 anos

Demonstrativo do total de procedimentos realizados em 2007:

SERVIÇOSN°

ABSOLUTOS

PERCENTUAL

UNIDADES DE SAÚDE

320.985 70,8%

PA 43.977 10%

SOE 54.707 12%

CME 19.800 4,4%

CRAI 11.144 2,5%

CAPS, CPTT, DST/AIDS

2.399 0,5

TOTAL 453.012 100%

TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Surgimento de um novo paradigma: ”CAPACIDADE FUNCIONAL.“

” capacidade do indivíduo de realizar atividades físicas e mentais necessárias para a manutenção de suas atividades básicas e instrumentais, isto é, tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, manter seu controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer compras, usar o transporte coletivo, usar o telefone e caminhar certa distância.“

(BRASIL, 2006).

Limiar de incapacidadeLimiar de incapacidadeCap

acid

ade

Fu

nci

onal

Infância e adolescência

Variação da função nos indivíduos

Reabilitação e promoçãoda qualidade de vida

Vida adulta Maturidade e Velhice

Crescimento e desenvolvimento

Manter o maior nível funcional possível

Manutenção da independência e prevenção da incapacidade

FONTE: Kalache & Kickbuch, 1997; In: OMS, 2005

CURSO DE VIDA E CAPACIDADE

FUNCIONAL

WHO Ageing and Life Course Programme

Prevenção de DCNT ao longo da vida

idade

Vida Fetal

Vida AdultaAdolescênciaInfância

Nutriçãocrescimentodesenvolvimento

ObesidadeinatividadeTabacoálcool

FR comportamentais / FR biológicos

Fatores maternos e fetais

Risco acumulado

idadeidadeFONTE: Aboderin, 2002. In: OMS, 2005

ENVELHECIMENTO ATIVO

”Processo de otimização das oportunidades de otimização de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.“

OPAS:2006

DETERMINANTES DO ENVELHECIMENTO ATIVO

DETERMINANTES TRANSVERSAIS

Cultura - Visão da sociedade - Convivência intergeracional - Comportamento saudável Gênero - Homem: comportamento de maior

risco e maior vulnerabilidade às causas externas

- Mulher: tradição do cuidado familiar e menor acesso ao trabalho remunerado

DETERMINANTES COMPORTAMENTAIS

Tabagismo

Álcool e outras drogas

Iatrogênias

Saúde bucal

DETERMINANTES COMPORTAMENTAIS

Atividade física – redução de 20 a 25% das mortes por doenças do coração

Alimentação saudável – desnutrição e obesidade

Cenário BrasileiroCenário Brasileiro

TENDÊNCIA SECULAR DO EXCESSO DE PESO NO BRASIL

18,6

28,629,5

40,741 39,2

0

20

40

60

HOMENS MULHERES

% I

MC

>=

25

kg/m

2

1975 1989 2003

Fonte:Monteiro,2005

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Drogas ilícitas

Deficiencia Ferro

baixo peso

Agua, Saneamento, e higiene

Polução do ar

Sexo não seguro

Sedentarismo

Alcool

Falta Consumo de frutas e legumes

Colesterol

sobrepeso

Hipertensão

tabagismo

Principais fatores de riscoMortes atribuíveis: AMERICAS, 2000

Número de mortes (000s) Fonte: WHR 2002

Malta, D C; 2005

DETERMINANTES RELACIONADOS AOS ASPECTOS PESSOAIS

Biológicos e genéticos

“Os genes podem estar envolvidos naetiologia de doenças, entretanto a

causa demuitas é mais ambiental e externa do

que genética e interna.”

Psicológicos

DETERMINANTES RELACIONADOS AO AMBIENTE FÍSICO

“Representam a diferença entre aindependência e a dependência.”

Moradias seguras Questões ambientais Quedas

EPIDEMIOLOGIA DE QUEDAS NO IDOSO

● Incidência anual de quedas Indivíduos de 65 a 74 anos: 32% Indivíduos de 75 a 84 anos: 35% Idosos com 85+ anos: 51% Idosos brasileiros (60+anos):30%

● Mais freqüente entre mulheres● Incidência fratura fêmur (70+anos)

Mulheres: 90,21/10.000 Homens: 25,46/10.000

● 5% das quedas resultam em fraturas5% das quedas resultam em fraturas● Tx. Mortalidade por FFP em 3 meses: ~20% mulheres e ~40% homens; 50% dos Tx. Mortalidade por FFP em 3 meses: ~20% mulheres e ~40% homens; 50% dos

sobreviventes ficam dependentes para AVDsobreviventes ficam dependentes para AVD● Idosos (75-84 a.) dependentes p/ AVD têm probabilidade de cair 14X maior que Idosos (75-84 a.) dependentes p/ AVD têm probabilidade de cair 14X maior que

idosos independentes (75-84 a.)idosos independentes (75-84 a.)● >2/3 daqueles que têm uma queda cairão novamente nos seis meses >2/3 daqueles que têm uma queda cairão novamente nos seis meses

subseqüentessubseqüentes

FONTE: Pereira et al. Projeto Diretrizes 2001

Pereira & Mendonça. Tratado de Geriatria e Gerontologia 2ª ed. 2006

O ENVELHECIMENTO NO BRASIL.

• Diferentes características regionais.

• Complexidade

• Compreensão da realidade

O ENVELHECIMENTO NO BRASIL.

Requer respostas rápidas Cerca de 650 mil pessoas completam 60

anos em nosso país, passando a compor a faixa etária das pessoas consideradas idosas.

Pesquisas apontam que 9% da população idosa consome cerca 1/3 dos recursos destinados aos procedimentos de alta complexidade do Sistema de Saúde Pública no Brasil (BRASIL, 2006).

CONSIDERAÇÕES

“Os estudos descritivos possibilitam o detalhamento do perfil epidemiológico, com vistas ao aprimoramento das ações de assistência e prevenção de doenças e promoção de saúde.”

(Rouquayrol :2003, p. 136), Pode-se afirmar que “[...] um dos maiores

desafios que compreende os serviços de saúde é a necessidade de se conhecer uma população para qual se deseja planejar as ações de saúde” (CASTELLANOS, 1997, apud ROQUAYROL, 2003, , 2003, p. 135).

CONSIDERAÇÕES

Os estudos populacionais que traçam o perfil de determinados segmentos populacionais, apesar de suas limitações, são importantes no sentido de contribuírem para uma melhor eficiência e eficácia das políticas de saúde.

Também Lima-Costa (2003, p. 736) considera as informações sobre as condições de saúde dos idosos fundamentais para orientar as políticas de saúde para esse segmento e diz que estudos desse tipo ainda são raros no Brasil.

CONSIDERAÇÕES

”A população idosa é o grupo etário que cresce em maior velocidade no mundo e, assim, as características sociodemográficas são indispensáveis para o estabelecimento de políticas públicas de saúde que promovam de fato a saúde da população.“

Mastroeni (2007, p. 191),

CONSIDERAÇÕES

O não investimento nas ações que possam evitar ou pelo menos adiar as doenças crônicas não transmissíveis causará grande ônus para os indivíduos, as famílias e o Estado

” O envelhecimento está associado a uma maior

prevalência de doenças e, por conseguinte, a uma maior utilização dos serviços de saúde pelos idosos.“

(Travassos:2007, p. 2491).

”Um idoso com uma ou mais doença crônica sob controle pode ser considerado um idoso saudável e levar uma vida com qualidade, sem limitações de capacidade funcional. “

(Ramos:2003, p. 794)