Entrevista com a Revista Lusa

Caro Antnio,Pronto ento aqui vo as minhas respostas.Acha que valeu a pena este esforo da comunidade internacional e dos EUA em particular, no Afeganisto?Por outras palavras, depois de tantas vidas perdidas e dinheiro gasto, acha que o Afeganisto vivel ou vai voltar a cair no terrorismo e trfico de droga?Acho que embora os Estados Unidos tenham feito um investimento financeiro enorme no Afeganisto o mundo est melhor com o terrorismo em cheque. E a admirao pela capacidade dos Estados Unidos de serem capazes de projector uma fora militar de grande calibre em qualquer parte do mundo aumentou tambm desde os ltimos vinte anos. Na questo de vidas perdidas, a soma est agora em cerca de 4 mil, no ? Os feridos por certo sero muito mais em nmero do que os mortos, mas numa guerra estes nmeros no se pode dizer que so enormes. Na segunda guerra mundial por exemplo eu penso que morreram uns vinte milhes; mesmo at na primeira guerra deste tipo de guerilha que foi o Vietname morreram acho que pelo menos uns sete mil soldados americanos. A diferena hoje a fora da opinio pblica no Ocidente e a percepo que assim que comea a haver casualidades deve-se ou ganhar a guerra imediatamente ou retirar para a nossa terra. possvel que o Afeganisto fique melhor aps a retirada das foras estrangeiras porque a populao tem agora um nvel melhor de educao. No entanto o prazo para a retirada das tropas estrangeiras em 2014 acho que no realistico para a profundidade de envolvimento dos Estados Unidos. Se a economia no tiver estmulos para desenvolver estabilidade, acho que o trfico da droga voltar, uma vez que parece ser o negcio habitual daquela area.Dentro desta questo, uma opinio sobre o envolvimento americano e a ajuda que do aos seus veteranos, pois sabemos que muitos depois de serem desmobilizados no conseguem arranjar emprego e muitos acabam por ir parar rua. Que opinio tem sobre isto?Existe leis para ajudar os veteranos, mas muitas vezes acho que no passa de formalidade. Na realidade se um veterano tiver que ir ao hospital da Administrao dos Veteranos (VA), a no ser que viva numa cidade grande como Houston onde existe um bem grande, o veterano ter que se deslocar de longe para chegar l. Depois de chegar l encontrar normalmente muita gente e a espera ser longa. Para um soldado que tenha perdido membros no sei exactamente qual ser o apoio que o governo tenha para dar.Na parte de Reservistas serem mobilizados e terem o direito de voltar para o trabalho que tinham antes de terem ido para a guerra, nesse caso h vrios recursos em que at podem fazer telefonema para o emprego e apelar em nome do reservista ou recorrer a meios legais para forar a companhia que empregava o reservista a dar-lhe outra vez a mesma posio ou uma posio equivalente. No entanto no h maneira de provar doutro modo se a companhia alegar uns meses depois que o reservista no est a dar rendimento ou falta muito, ou qualquer outra desculpa para o despedirem. Conheo vrios que foram mobilizados e quando voltaram no tiveram problemas com o emprego civil que tinham. Mas, j ouvi falar daqueles que tinham pequenos negcios antes de serem mobilizados e quando voltaram perderam o negcio por falta de presena no seu prprio negcio. Nesses casos acho que os recursos para os ajudar sero muito limitados mais uma vez.Cumprimentos,Luis M. Luis"Angolano"From: ComunidadesUSAMagazine To: Luis Luis Sent: Friday, 7 October 2011, 8:59Subject: Re: Ainda a entrevista sobre o AfeganistoCaro Lus,

Muitssimo obrigado.

Apenas mais duas questes breves:

Acha que valeu a pena este esforo da comunidade internacional e dos EUA em particular, no Afeganisto?

Por outras palavras, depois de tantas vidas perdidas e dinheiro gasto, acha que o Afeganisto vivel ou vai voltar a cair no terrorismo e trfico de droga?

Dentro desta questo, uma opinio sobre o envolvimento americano e a ajuda que do aos seus veteranos, pois sabemos que muitos depois de serem desmobilizados no conseguem arranjar emprego e muitos acabam por ir parar rua. Que opinio tem sobre isto?

Obrigado.

Antnio

From: Luis Luis Reply-To: Luis Luis Date: Thu, 06 Oct 2011 22:35:38 -0700 (PDT)To: ComunidadesUSA Subject: Re: Ainda a entrevista sobre o Afeganisto

Caro Antnio,

Espero que esteja tudo bem. Ouvi dizer pela Belinda (a minha irm) que agora estava para a Califrnia?

Olhe, eu estou de momento em Houston, mas no Sbado j vou embora; primeiro para Mumbai por 5 dias e depois para Port Harcourt para regressar para o meu trabalho regular na Nigria.

Para lhe tentar responder s perguntas que faz:

1 Como v a situao do pas 10 anos depois da interveno militar?Eu acho que depois de 10 anos o Afeganisto est melhor em vrios aspectos. O Taliban embora no derrotado tem perdido terreno. O povo pelo menos nas cidades j tem um pouco mais de experiencia de liberdades que na gerao anterior eram desconhecidas. A permanencia de mais de cem mil soldados estrangeiros em muitos campos militares espalhados pelo pais tem tambem criado muito trabalho e ajudado a economia do pais. Os conselheiros americanos teem mudado o modo como muitas coisas so feitas. Por exemplo os membros do exrcito e polcia afegos h uns anos eram pagos com vales em contas que eram controladas pelos seus superiors. Agora efectuam-se depsitos electrnicos em que somente o individuo tem senha para acessar. Os conselheiros das Foras Aliadas teem investido imenso em equipamento novo para a formao dum exrcito e polcia que no existia mesmo no tempo do Taliban, etc. Finalmente e felizmente este golpe recente contra Al Qaida ajuda possivelmente a criar mais credibilidade e esperana para o futuro do Afeganisto.

2 Acredita que os lderes actuais vo conseguir reconstruir o pas? Porqu?Talvez, mas s se as tropas estrangeiras permanecerem no Afeganisto ainda por bastante tempo. O pais tem grandes divises ao longo de linhas tribais que no se diluem facilmente. O Karzai dizem que simplesmente pouco mais que o mayor de Cabul. Mas acho que o culpado da continuao da resistencia e sabotagem o Paquisto. Outro problema grande que existe que a maior parte da populao adulta presentemente analfabeta. Essa populao ser dificil educar dentro dos prximos cinco ou dez anos. Portanto s poder haver maior esperana quando a nova gerao que est agora na escola tomar conta das instituies governamentais e civis no pas.

3 Ainda tem recordaes (traumtica ou no) da sua estadia l? Quanto tempo lesteve e onde e qual o seu servio.Sim tenho recordaes mas no traumticas felizmente! Achei que tive que fazer um grande esforo financeiro enquanto l estive. A razo foi a perda de mais de 50% do meu salrio civil durante 14 meses! Tive que fazer esforo em voltar para treino fsico e mental quando j tinha 49 anos, e depois de chegar a Cabul vim a conhecer os individuos mais novos com quem trabalhei, que nem sempre eram nem educados nem respeitadores dos reservistas, a quem achavam que teriam que defender no caso duma embuscada ou conflito armado com o inimigo. Vim a notar grandes diferenas entre os mtodos da Marinha e do Exrcito americanos.

Estive em Cabul desde o 5 de Agosto de 2009 at ao 23 de Junho de 2010. Enquanto l estive fui introduzido por um outro Reservista que ficou muito meu amigo, a um Afego civil que tinha uma companhia que fazia as obras civis nos campos militares americanos por todo o pais. Esse individuo ainda depois me deu algum trabalho por email e tem estado desejando que eu fosse trabalhar para ele em Cabul. No entanto eu acho que para j estarei mais seguro na Nigria.

4 Voltaria se fosse remobilizado?Enquanto o meu contrato como Reservista estiver em vigor, no terei outra alternativa se no voltar se for mobilizado. Espero no voltar como soldado mobilizado especialmente pela perda do meu salrio civil, mas doutro modo no me sentirei muito afrontado, especialmente se for outra vez para Cabul. Por acaso ainda este ms aqui no Centro da Reserva em Houston encontrei-me com alguns amigos que l me conheceram em Cabul e pelo menos dois j vo outra vez para o Afeganisto. Uma uma tenente jovem que vai no fim deste ms de Outubro para Fort Bragg por trs meses e depois vai ento para o Afeganisto, mas desta vez no parece ser Cabul o seu destino. Como eu j estou habituado a estar for a do pais no terceiro mundo, no me aflige muito a ideia de voltar.

Pronto, espero ter respondido satisfatriamente a todas as perguntas. Se precisar mais diga. Boa sorte com a edio da revista.

Cumprimentos,

Luis M. LuisFrom: ComunidadesUSAMagazine To: muxi_luanda@yahoo.comSent: Thursday, 6 October 2011, 9:56Subject: Ainda a entrevista sobre o AfeganistoCaro Lus,

Como vo as coisas?

Espero que esteja tudo bem.

A LUSA continua interessada numa declarao sobre o futuro do Afeganisto de ex-soldados que l estiveram, agora que passam 10 anos.

Ser que poderia mandar hoje uma curta declarao respondendo ao seguinte:

1 Como v a situao do pas 10 anos depois da interveno militar?

2 Acredita que os lderes actuais vo conseguir reconstruir o pas? Porqu?

3 Ainda tem recordaes (traumtica ou no) da sua estadia l? Quanto tempo lesteve e onde e qual o seu servio.

4 Voltaria se fosse remobilizado?

Muitssimo obrigado.

Antnio