energia do sol caatinga
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Energia extraida.do sol da caatingaUm grupo de investidores quer construir naPararba, na area mais luminosa do Brasil, a primeiragrande usina solar do pars e da America do Sui
A t6rrida cidade de Coremas, nosertao da Paraiba, podeni setomar em 2012 urn nome tao
familiar aos brasileiros quanta Itaipu ouAngra - bern, talvez nao tao famoso, mascertamente mais admirado pelos ambien-talistas. 0 municipio de 15 mil habitan-tes, localizado num ponto especialmentequente do sertao nordestino, foi escolhidopor investidores como local de constru~aoda primeira grande usina solar do pais."Grande", entenda-se, para os padr6esainda modestos do universo da energiasolar: 0 projeto preve capacidade inicialde 50 megawatts, suficiente para abastecer90 mil residencias.o complexo nuclear de Angra tern ca-
pacidade quase 70 vezes maior. Mesmoassim, a obra em Coremas sera urn marco,por colocar (ainda timidarnente) a energiasolar no mapa da gera~ao em grande es-cala no Brasil. A principio, a usina poderaparticipar, ate abril, dos leil6es peri6dicosde energia que garantem 0 suprimento dopais para 0 resto da decada. As obras de-verao come~ar no pr6ximo ana e terminarate 2015.
Ate hoje, 0 uso da luz solar para pro-duzir eletricidade recebe mais elogios queinvestimentos. Trata-se de uma fonte ines-gotavel e limpa, que nao emite residuos,nao exige desmatamento, alagamentos oudesvio de curso de rios, nem assusta coma possibilidade de vazamento de radia~ao.Com tantos predicados, ela nem aparece
nos graficos que mostram a contribui~aode cada fonte de energia nos totais de ge-ra~ao global ou brasileira. A situa~ao ten-de a mudar urn pouco ate 2020, quando aluz do sol devera responder por 51 tera-watts de capacidade geradora no mundointeiro - urn decimo da capacidade dasusinas e6licas (que produzem energia apartir do vento) e 0,2% do total global,segundo previs6es do Ministerio de Minase Energia. A energia solar pass aria entaoa ser urn risquinho visivel nos graficos. "Aviabilidade economica ainda e urn proble-ma, mas seria born 0 Brasil contar maiscom essa fonte. A tecnologia a ser usadafunciona", diz 0 fisico Jose Goldemberg,ex-secretario nacional de Ciencia e Tec-nologia e especialista em energia.
A tecnologia prevista para Coremas ebem diferente dos tradicionais paineis fo-tovoltaicos, as chap as que transformarn aluz solar em corrente eletrica e podem servistas em telhados, postes, pequenos dispo-sitivos eletronicos e tambem na Usina deTaua, no Ceara - atualmente, a maior solardo Brasil, obra do empresario Eike Batista,com capacidade de 1megawatt. Coremas sebaseia em outro processo, de concentrayaode energia, tarnbem charnado heliotermi-co: espelhos concavos concentram os raiossolares em urn tubo, por onde passa urnfluido especial, de tecnologia israelense. 0fluido, aquecido a centenas de graus, correpela tubula~ao ate uma caldeira, transformaa agua em vapor e 0 vapor move as turbi-
OmapadaluzSensores espalhados pelopais ajudaram a mostraronde.o sol brilha mais fortee com menos interrupc;:6es- com 0 estudo, a cidade deCoremas fol escolhida
oLeiamaissobre a tecnologia daconcentra~ao solar em
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FE NO SOLEdmond Farhat.Sergio Reinas e RafaelBrandao, socios noprojeto da usina deCoremas, e uma usinasimilar na California.Hii dez obras do tipo emandamento no mundo,mas 0 custo ainda e alto
nas. Ha pelo menos dez usinas similares emconstruyao ao redor do mundo. A maiorobra ja em andamento, tres vezes maior quea brasileira, fica em Lebrija, na Espanha. 0maior projeto em estudo, oito vezes maiorque 0 de Coremas, preve uma usina no De-serto da Calif6rnia, nos Estados Unidos.
A obra tern sentido do ponto de vista tec-nico, por produzir energia limpa nurna areainfertil, que dificilmente seria usada paraoutro fim economico, e onde e relativa-mente facil administrar 0 risco e 0 impactoambiental- situayao bem diferente do queocorre com 0 aproveitamento de rios paragerayao hidreletrica e com os projetos degerayao nuclear. Os empresarios responsa-veis pelo projeto, todos do setor financeiro,trataram de aumentar seu apelo ambiental.Querem garantir a produyao de energia anoite com a queima de restos de coco, 0
que pode diminuir 0 volume desse residuona regiao (a produyao anual na regiao e de300.000 toneladas). Alem disso, os paineisconcentradores de energia seriam coloca-dos a 3 metros do chao, para formar umaestufa sombreada de 60 hectares. "Da paraplantar com alta produtividade ali, isso jafoi comprovado nos Estados Unidos. Seriaurn beneficio adicional para a regiao", dizSergio Reinas, urn dos socios da Rio AltoEnergia, dona do projeto de Coremas.
As ideias sao boas, mas ainda nao garan-tern a viabilidade do projeto, com custo es-tirnado em R$ 325 milh6es (R$ 15 milh6esja investidos pelos socios) e a espera de fi-nanciamento. ''A energia solar nao vingouate hoje no Brasil porque custa muito e ahidreletrica e barata, tern saido por R$ 80por megawatt -hora'; diz 0 economista Ale-xandre Rands, professor da UniversidadeFederal de Pernambuco e especialista emeconomia do Nordeste. "Para ser lucrativa,uma empresa de energia solar precisariaoferecer energia a uns R$ 140 e manter bai-xos os custos de manutenyao;' 0 megawatt-hora a partir da luz solar ainda custa pelomenos R$ 200, 0 dobro do preyo cobradopelas fontes eolicas, a grande estrela do mo-mento na gerayao limpa. "Mas e irnportantelembrar que a energia e6lica custava R$ 150ha dois anos. Quando 0 negocio comeeraa se tornar atraente, mais gente entra e 0
preyo cai", diz Alvaro Augusto Vidigal, ou-tro socio da Rio Alto. A populayao de Co-remas ja comemorou a venda de terrenos.Com urn pouco de sorte, 0 resto do Brasiltambem podera celebrar a novidade. •