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Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas: aproximando agendas e agentes. 23 a 25 de abril de 2013, UNESP, Araraquara (SP) Públicas de Esporte e Lazer no Espírito Santo: perspectivas de intersetorialidade e participação da sociedade civil. Carlos Nazareno Ferreira Borges Universidade Federal do Espírito Santo Marcelo de Souza Marques Universidade Federal do Espírito Santo

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Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas:

aproximando agendas e agentes.

23 a 25 de abril de 2013, UNESP, Araraquara (SP)

Públicas de Esporte e Lazer no Espírito Santo: perspectivas de

intersetorialidade e participação da sociedade civil.

Carlos Nazareno Ferreira Borges

Universidade Federal do Espírito Santo

Marcelo de Souza Marques

Universidade Federal do Espírito Santo

Políticas Públicas de Esporte e Lazer no Espírito Santo: perspectivas de intersetorialidade e participação da sociedade civil.

Carlos Nazareno Ferreira Borges – UFES Marcelo de Souza Marques - UFES

Resumo O conceito de intersetorialidade na gestão pública envolve a participação da sociedade civil e, associado aos conceitos de descentralização e democracia, constitui o discurso das chamadas “gestões inovadoras”. Problematizando o cruzamento de abordagens conceituais dos termos mencionados, investigamos os convênios entre o governo do Estado de Espírito Santo e suas prefeituras, tomando como recorte um setor emergente no campo das políticas públicas – o setor de esporte e lazer. Analisamos as perspectivas de intersetorialidade, descentralização e democracia na gestão, com enfoque na participação da sociedade civil. Utilizamos da análise documental, e as fontes foram documentos de planejamento, implementação e avaliação dos convênios. Os resultados apontaram para fragilidades no uso dos conceitos e nos mecanismos de controle das políticas públicas setoriais de esporte e lazer naquele Estado. Palavras-chave: Políticas Públicas. Esporte/lazer. Intersetorialidade. Participação.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas observamos a uma nova onda de áreas a serem

contempladas e estrategicamente utilizadas pelo Estado no momento de criar e

implementar políticas públicas, e dentre estas novas áreas temos o esporte e o

lazer. Ambos passaram a ser tomados como direitos constitucionais a partir da

constituição de 1988, sendo o lazer tomado como direito social, conforme o art. 6°

da carta constitucional, o qual contém em seus pressupostos teóricos e práticos

também a dimensão do esporte (recreativo). Dessa forma, tanto na dimensão

vivencial recreativa, quanto na dimensão contemplativa do lazer, o esporte se

constituiu como direito e passou a gerar demandas na agenda política. Não

podemos ignorar o fato do grande potencial de uso capitalista do esporte na

sociedade atual, o que também influencia na agenda política, mas deixaremos

essa discussão de lado nesse texto, priorizando o debate do esporte/lazer como

política pública em razão de direito social adquirido historicamente.

O governo passou a utilizar e incentivar as Políticas Públicas de Esporte e

Lazer (PPEL’s), na direção de outras políticas associadas a outros direitos (como

saúde e educação, por exemplo), como meios de buscar a equidade social.

Porém, como cada Estado tem uma diretriz governamental, um contexto

socioeconômico, as PPEL’s diferem bastante em seus objetivos, público alvo,

duração, proposta, abrangência, dentre outros indicadores.

O Estado do Espírito Santo é formado por 78 municípios os quais, assim

como em outros Estados da federação, apresentam grande diversidade na cultura

(remanescentes de quilombos, indígenas, descendentes de imigrantes, entre

outros), política e organização social. Cada cidade, e a estrutura do Estado em si,

organizam-se politicamente no sentido de atender às demandas sociais geradas

no seio das comunidades, sendo que as formas de atendimento legais e

legitimadas têm sido a implementação de políticas públicas, realizadas ou não em

parceria pelas diferentes estruturas administrativas governamentais.

No âmbito das PPEL’s é incipiente, e até muitas vezes ausente, a

percepção de estratégias de avaliação da implementação e gestão por parte do

Estado do Espírito Santo, mediante atuação do setor específico para esse tipo de

demanda, a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Sesport). No entanto, em

estudo anterior1, quando mapeamos as PPEL’s no Estado, verificarmos que

existe um grande número de convênios entre a Sesport e os municípios, ainda

que em sua maioria fossem de ações eventuais.

Em geral, não temos encontrado na produção acadêmica, subsídios que

nos permitam avaliar indicadores de possíveis avanços nos impactos das políticas

sobre populações ou indivíduos. No documento dos “Estudos sobre o perfil dos

Estados e Municípios Brasileiros”, quando olhamos os resultados apresentados

na Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC 2003 - Suplemento de

Esporte - realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em

convênio com o Ministério do Esporte,2 encontramos um quadro ainda insuficiente

de dados que nos permitam avaliações positivas sobre a implementação de

PPEL’s na quase totalidade dos municípios do Espírito Santo. A situação

permaneceu em estudos realizados por Borges et al. (2009).

Alguns dados coletados no MUNIC 2003, como por exemplo, a quantidade

de pessoal envolvido no esporte, não nos permitem visualizar a operacionalização

1 Conferir o estudo de Borges et al. (2009) 2 Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/esporte2003/default.shtm Acesso em 01 de março de 2011

de políticas concretas na área. Pelo contrário, os dados, muitas vezes com

informações ignoradas podem esconder a (in)existência de tais políticas públicas,

ou pelo menos a validade das mesmas em relação a seus objetivos. Além disso,

as instituições de estudo e pesquisa do estado não têm uma tradição de

investigações no campo do lazer, ou mesmo das políticas públicas relacionadas a

esse campo, o que em muito tem contribuído para a insipiência de subsídios que

qualifiquem as PPEL’s.

No sítio da Sesport encontramos informações sobre ações desenvolvidas

com a intenção de cumprir com os princípios constitucionais de garantir o acesso

ao esporte e lazer. Mas, as ações em geral, são implementadas pela própria

secretaria e a maioria relacionada à execução de programas de jogos

(competições esportivas), o que, conforme veremos melhor ao longo desse texto,

não caracteriza ação intersetorial uma vez que não se estabelecem convênios de

participação conjunta em todas as etapas de realização da ação, sobretudo com

ausência da sociedade civil. Além disso, os convênios são heterogêneos, partindo

de solicitações das prefeituras, conforme suas demandas.

Das ações implementadas pela Sesport, somente duas se caracterizam

como convênios homogêneos, isto é, apresentados pelo governo do Estado a

todas as prefeituras municipais: o Programa Campo Bom de Bola (PCB) e o

Programa Campeões de Futuro (PCF).

O PCB é uma ação que possibilita o financiamento de equipamentos

esportivos específicos para a prática de futebol nos municípios do Estado. Trata-

se da transferência de recursos para que a prefeitura solicitante construa um

campo de futebol society completo,3 com grama sintética, alambrados e

iluminação. A contrapartida do município é a cessão de terreno para a construção

do equipamento. Depois de construído, entregue, e com prestação de contas

realizada, o equipamento é totalmente da prefeitura solicitante. Dessa forma, não

tomamos essa ação nesse trabalho como uma política mais efetiva da Sesport,

porque o convênio não prevê a execução de projetos de utilização do

equipamento com a participação daquela secretaria. Nesse caso, consideramos

3 Até o fechamento do estudo, haviam sido entregues 33 campos pelo PCB, em todo o Estado do Espírito Santo. Há uma cartilha e as recomendações quanto à documentação técnica para solicitação do convênio, disponível no sítio da Sesport:< www.sesport.es.gov.br>. Acesso em 30 de março de 2011

que a eficiência, eficácia e efetividade, são categorias definidoras da qualidade da

política, e dependerão da prefeitura solicitante, e dessa forma, escapa aos

interesses desse trabalho.

O PCF é um programa da Sesport conveniado com as prefeituras

municipais que tem característica de regularidade, porque há a previsão de ações

conjuntas entre a secretaria e a prefeitura solicitante até o fim do convênio. Trata-

se de convênios entre a Sesport e as prefeituras municipais para a

implementação de núcleos destinados á práticas de atividades esportivas para

crianças, adolescentes e jovens. O programa prevê “parcerias” entre setores de

gestão e instituições da sociedade civil e, sobre essa política clara de ação

conjunta, não parece ainda ter havido tratamento diagnóstico. Por esse motivo, no

presente trabalho pretendemos, então, partir de um mapeamento e diagnóstico

preliminar sobre os convênios do PCF.

Nossa intenção ao analisar os convênios mencionados será o de identificar

a (in) existência de perspectivas intersetoriais, descentralização e envolvimento

da sociedade civil nas ações da Sesport. O material empírico foi coletado a partir

de uma pesquisa que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito

Santo (FAPES) e do Ministério do Esporte. Os convênios tomados foram os

efetivados entre as prefeituras municipais capixabas4 e o Governo do Estado por

meio da Sesport no período de 2005 – 2010, período este que compreende os

mandatos do governador Paulo Hartung (iniciados em 2003), e que compreende a

criação da Sesport5 (em 2005), quando parece haver a intenção de proporcionar o

acesso ao esporte e lazer como direitos. Nesse sentido, optamos por recortar o

estudo, como afirmado antes, dando ênfase às ações regulares, isto é, programas

conveniados que em todas as etapas apresentam participação do governo do

Estado e das entidades conveniadas, bem como atendem ao cidadão no seu

acesso ao esporte e lazer. Para a coleta de dados utilizamos as seguintes

estratégicas:

a) Levantamento das ações efetivas de esporte e lazer realizadas pela

Sesport no período de 2005 a 2010 em caráter intersetorial com os municípios do

4 Capixaba é a denominação atribuída à naturalidade de quem nasce no Estado do Espírito Santo.

5 No site da Sesport encontramos informações sobre as políticas implementadas, as quais são tomadas como avanço em relação a períodos anteriores, Isso carece de investigação. As informações estão disponíveis em <http://www.es.gov.br> Acesso em 19 dez. 2011

Estado. As fontes de pesquisa foram os documentos solicitados à Sesport (e

também capturados no site da secretaria), referentes às ações realizadas no

período, cujos convênios com os municípios apresentassem clara participação de

ambas as partes no processo de desenvolvimento das políticas. Posteriormente,

em função dos objetivos do estudo, concentramos a busca aos documentos

relacionados ao PCF. Os principais documentos encontrados forma: o projeto

(prescrição) orientador do Programa; o protocolo de intenções para

estabelecimento de convênio entre Sesport e Prefeituras (Modelo); Relatórios de

Avaliação do Espaço Físico (realizado pela Sesport quando em visita aos

municípios); Relatórios de Avaliação Mensal (preenchidos por professores das

entidades e enviados à Sesport).

b) Análise documental de registros dos planejamentos, execuções e

avaliações de ações da Sesport no período de 2005 a 2010, assim como dos

outros materiais levantados no item “a”. A intenção foi de coletar os

planejamentos, mas não foram encontrados. Quanto aos relatórios, encontramos

os Relatórios de Avaliação do Espaço Físico (45 ao todo) e os Relatórios de

Avaliação Mensal (12 ao todo).

Todas as fontes coletadas constituíram-se em material que analisamos

pela técnica de análise documental, proposta por Richardson (1999).

Quanto à estrutura do presente texto, considerando as opções feitas para tratar

do problema e sobre esse discorrer ilações, propomos a apresentação de três

partes. Na primeira, apresentaremos os principais apontamentos sobre o PCF e

as prescrições que o apresentam como PPEL intersetorial perspectivada no

chamado “esporte educacional”. Na segunda parte as reflexões se atém à análise,

baseada em dados empíricos, quanto à aproximação do PCF de uma perspectiva

de esporte educacional. Finalizando, apresentaremos dados empíricos que nos

permitam analisar o PCF e sua aproximação às características de uma política

intersetorial. Nas considerações finais, retomamos as discussões e fazemos

nossas ilações sobre as questões levantadas.

O PCF: APONTAMENTOS QUE REVELAM SUAS (IN)COERÊNCIAS.

Na prescrição o PCF se denomina um programa de esporte, cujo objetivo

é “promover o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens, priorizando o

atendimento aos carentes, por meio de praticas esportivas variadas e

integradas (…)” (SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTE E LAZER, s.d. [a],

s.p. Grifo nosso)6. Em diversos trechos do documento orientador do projeto, em

razão dos sujeitos que pretende atingir, o PCF se diz orientar pelo viés do esporte

educacional e, nessa afirmação está sujeito à discussão quanto às

“inadequações” conceptuais sobre as dimensões do esporte na qual se insere,

assim como também na perspectiva de política pública.

Segundo Tubino (2011), o esporte possui três dimensões: educacional,

participativa e performance (ou de rendimento). O esporte educacional é aquele

praticado preponderantemente nas escolas, embora possa ser desenvolvido em

outros ambientes desde que seja com caráter educativo, onde se objetiva a

democratização das práticas esportivas e se explora as potencialidades do

esporte enquanto prática pedagógica e elemento de inclusão social. O esporte

participativo vincula-se a prática pela prática, com caráter de prazer lúdico,

visando o descanso, a diversão e o desenvolvimento pessoal dos indivíduos em

seu tempo livre (disponível) – é nesse sentido que encontramos a dimensão de

esporte perspectivado também no lazer, como apontando por Marcellino (2001).

Já o esporte de rendimento se caracteriza por normas rígidas e preestabelecidas;

é uma prática que induz à competitividade.

Esse modelo de tríade do esporte está presente em muitos documentos

institucionais e até mesmo na constituição do Brasil. Porém, o modelo não pode

ser analisado tomando cada elemento isoladamente. Como argumenta Bracht

(1997), corroborado por Assis de Oliveira (2005), qualquer prática esportiva

possui uma dimensão educativa, bem como a esporte educativo poder estar

ligado ao esporte participativo ou mesmo ao de rendimento. Nesse caso, há o

destaque para uma dimensão moral do esporte, tomado eminentemente como

educação, que deveria perpassar todas as suas formas de manifestação.

Nesse mesmo sentido, Melo (2005) e Assis de Oliveira (2005) argumentam

que o esporte de rendimento, marcado pela lógica do mercado, pela

espetacularização, está a se tornar o modelo para a maioria das práticas

6 Utilizaremos partes do documento orientador do programa, o qual é denominado de “Campeões

de Futuro”. Quando o referenciarmos, faremos com o formato acadêmico para as citações, porém, sem data de publicação e paginação. Nossa escolha se deve ao fato do documento ser um “avulso” e não ter sido organizado de forma normatizada inclusive sem numeração das páginas

esportivas nas sociedades capitalistas, tanto na dimensão participativa quanto na

educacional. Portanto, a caracterização do PCF como “educacional”, implicará na

análise da proposta como um todo e de como ela se insere nas políticas mais

amplas do Governo, para se verificar as coerências de sua pretensão.

Nesse sentido, é oportuno informar que o Estado do Espírito Santo,

inserido em uma perspectiva hegemônica nas entidades federativas do Brasil,

mantém suas iniciativas de gestão pautadas no modelo gerencial, conforme

apontado por Paula (2005), porque conduz a gestão pautada em uma concepção

de Estado também hegemônica no Brasil, orientada pelos preceitos neoliberais

(MELO, 2005). No Brasil, esses preceitos condizem com a ideia de

desenvolvimento, tendo como parâmetro países “desenvolvidos”. Nesse sentido

para dar conta de suas intencionalidades orientadas para a ideia de

desenvolvimento, o Espírito Santo é gestado pelo planejamento estratégico

publicado em 2006 em um documento de 11 volumes, denominado de “Plano de

Desenvolvimento Espírito Santo 2025” (GOVERNO DO ESPÍRITO SANTO,

2006), conhecido também como ES-2025.

Considerando os eixos norteadores do plano ES-2025 o esporte e lazer

aparecem no documento final como sendo de grande relevância para o

desenvolvimento político regional, visto que, busca-se um debate acerca da

intersetorialidade do esporte e lazer com outros setores que pretendem atender a

direitos sociais e/ou interesses de caráter econômico local, entre os quais o da

educação, da saúde, da cultura, do turismo, segurança (GOVERNO DO

ESPÍRITO SANTO, 2006). Fica compreensível, portanto, o surgimento do PCF no

ano de 2007, constituindo-se como uma das políticas inseridas no grande plano

de desenvolvimento do Estado.

Ocorre que Silva e Borges (2011) identificaram no plano ES-2025, quatro

eixos norteadores para a implementação de ações envolvendo o esporte. O

primeiro diz respeito à ideia do esporte como estratégia para o controle dos

problemas relacionados com a segurança pública, ou o controle da violência, por

meio de projetos desenvolvidos para esse fim. No segundo eixo norteador, o

Plano ES-2025 considera o esporte como meio de proporcionar a chamada “vida

ativa”, algo bastante interessantes em tempos de aumento do número da

população idosa, a qual precisa estar isenta da inatividade, das doenças

hipocinéticas, e assim evitar problemas futuros de sobrecarga do sistema de

saúde. No terceiro eixo, pensa-se o esporte como uma boa estratégia de

desenvolvimento do turismo, nesse caso tomado a partir de sua vinculação com

as práticas corporais realizadas na natureza, o que tem sido considerado uma

perspectiva em grande desenvolvimento na atualidade. Por fim, o Plano ES-2025

considera o esporte uma boa estratégia de projeção do nome do Estado para o

país e para o cenário internacional, o que implica também na possibilidade de

incremento da autoestima do capixaba, uma vez que intensifica sentimentos de

pertencimento e de identidade.

Todos os eixos foram comentados e criticados por Silva e Borges (2011),

considerando a literatura que aborda questões de relacionadas à “deificação” do

esporte e à focalização de políticas em detrimento da universalização. Na

ocasião, os autores utilizaram dos argumentos de Behring e Boschetti (2008) para

sustentar que políticas públicas de desenvolvimento precisariam considerar a

universalização ao mesmo tempo em que levasse em consideração o

reconhecimento das diferenças entre cidadãos. No mesmo estudo, os autores

estiveram analisando as publicações no Diário Oficial do Estado do Espírito Santo

(DIOS) e verificaram que as ações implementadas pela Sesport, desde sua

criação, constituem frequentemente como ações focalizadas, isto é, dirigidas a

públicos específicos, inclusive o PCF.

No entanto, apesar das críticas e considerando os pressupostos

apresentados, o PCF representa uma iniciativa coerente com o plano ES -2025

seja a curto, médio, ou longo prazo. Não por menos, o PCF frequentemente está

nos discursos de inclusão pelo esporte, como também na possibilidade de

carreira no esporte, conseguindo mobilidade social, discurso esse desconstruído

por Bracht (1997), Assis de Oliveira (2005) e Melo (2005).

Com se vê, se há coerência do PCF com o plano ES-2025, tal coerência

afasta o PCF de seus pressupostos de caracterização com esporte educacional, e

talvez por isso centralize a ação se afaste da perspectiva de intersetorialidade

assim como do envolvimento da sociedade civil. Mas pretendemos aprofundar

melhor isso a seguir.

A DIMENSÃO DE ESPORTE NO PCF: O DITO E O ENCONTRADO

Pudemos mostrar evidências de que existam desencontros entre o que

objetiva o PCF, enquanto um programa de esporte educacional, e a dimensão

esportiva que se projeta. Assim, nossa intenção agora é apresentar de forma mais

detalhada as análises de todo o material documental que nos permitem

afirmativas conclusivas sobre a questão.

Ao analisarmos os objetivos e a apresentação do Projeto Prescrito do PCF,

percebemos o destaque conferido às dimensões educativa e participativa do

esporte. Segundo se lê no documento do projeto, o esporte é entendido como

“fenômeno socioeducativo de potencial indiscutível na contribuição para a

formação do indivíduo (...) para estreitar o elo entre o desporto e a educação”

(SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTE E LAZER, s.d. [a], s.p.). No mesmo

documento, percebemos o destaque à dimensão participativa, quando se lê: “tem

como objetivo proporcionar na forma democrática o acesso ao esporte e lazer na

elevação do bem-estar da população como meta suprema e invariável na

perspectiva da melhoria da qualidade de vida” (IDEM).

O ponto de partida para começar a discutir as aproximações ou não do

PCF à dimensão de esporte educacional vem dos itens “piso, tamanho local e

acesso ao local”, presentes na tabela 1, e que foram extraídos da “Ficha de

avaliação do espaço físico das práticas corporais – projetos sociais”, elaborada

pela Sesport. A partir desses itens, refletiremos sobre a concepção de esporte

inserida no PCF.

Tabela 17- Avaliação do espaço físico das práticas corporais – Projeto Campeões de Futuro/2009

ESTRUTURA GRAU DE SATISFAÇÃO MUITO

SATISFA TÓRIO

SATISFATÓRIO

POUCO SATISFATÓ

RIO

INSATIS- FATÓRIO

Piso 15 22 7 - Tamanho local (13x13) / 8 m altura

18

19

3

1

Acesso ao local 11 26 - - TOTAL............... 44 67 10 1

7 As tabelas apresentadas nesse texto foram elaboradas a partir da tabulação dos intrumentos acessados no estudo

Fonte: Instrumentos de Monitoramento do PCF.8

Ao nos voltarmos para os aspectos apresentados na tabela 1 e

analisarmos a concepção de esporte inserida no programa, percebemos que o

conjunto dos itens evidencia a satisfação da coordenação geral com as

instalações. Vale ressaltar que os documentos indicam instalações que não

seguem os parâmetros oficiais para a prática do esporte previstos nas regras das

modalidades. As dimensões do espaço físico, portanto, não são as mesmas

instalações exigidas para a prática esportiva de rendimento, as quais são de

responsabilidade dos municípios, de acordo com o que prevê a contrapartida do

documento orientador do projeto.

De acordo com o documento mencionado, e também consta no Protocolo

de Intenções9 firmado entre Sesport e cada prefeitura convenente, cabe ao

Estado coordenar e financiar o projeto, disponibilizando material esportivo,

técnico, pedagógico, estagiários e curso de capacitação para os profissionais

envolvidos. Aos municípios, cabe disponibilizar adequadamente e com a

segurança a prática do projeto; manter profissionais de Educação Física à

disposição; envolver as diferentes secretarias municipais no projeto

(falaremos disso adiante); quando possível, disponibilizar lanches aos usuários do

projeto e garantir a manutenção do espaço físico.

O fato de as instalações serem de responsabilidade dos municípios e estas

não estarem de acordo com as exigidas para a prática esportiva de rendimento,

Poderia até indicar uma adequação dos aparelhos e, consequentemente, de

alteração das regras oficiais para a prática do esporte educativo. No entanto, o

documento dos Estudos sobre o perfil dos Estados e Municípios Brasileiros, na

seção de informações básicas municipais – MUNIC 2003- suplemento de esporte,

8 Dos 45 relatórios preenchidos durante o ano de 2009, 4 não preencheram o item “Tamanho do local” (Conceição da Barra, Marechal Floriano, Mucuri e Mimoso do Sul); 1 não preencheu o item “Piso” (Guaçuí); 8 não preencheram o item “Acesso ao local”. Desses, 1 (Jaguaré) simplesmente não preencheu o referido item, o restante (1 de Aracruz; 1 de São Mateus; 2 de Cachoeiro de Itapemerim; 3 de Santa Teresa) estão em outro modelo de Ficha de Avaliação utilizado pelo projeto Campeões de Futuro, onde não consta o referido item. Desse modo, desconsideramos a avaliação do “Acesso ao local” Municípios citados, já os demais itens foram devidamente contabilizados. 9 Trata-se de um documento pelo qual a Sesport e a prefeitura solicitante firmam o convênio para a

implementação do Programa. Tem o formato de um contrato entre as partes, onde ficam explicitadas as responsabilidades e direitos de cada parte. Nesse texto o documento será designado como SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTE E LAZER, sd [b]. Da mesma forma que o documento orientador, também nã referenciaremos ano de publicaçãoe página (ver nota).

realizada pelo IBGE em convênio com o Ministério do Esporte,10 já indicava a

realidade da falta de equipamentos esportivos e espaços oficiais na maior parte

das cidades do interior no Brasil em geral e no Espírito Santo em particular.

Portanto, o dado não parece apontar para uma aproximação da perspectiva de

esporte educacional, e nossa suspeita se confirma na análise das tabelas 2, 3 e 4,

que veremos adiante.

Devemos esclarecer que os indicadores apresentados nas tabelas 2, 3 e 4,

foram construídos a partir da análise documental dos relatórios de Avaliação

Mensal das Aulas, os quais são preenchidos por professores que atuam nos

convênio do PCF. Para a referida análise seguimos a metodologia proposta.

Tabela 2 - Avaliação Mensal das Aulas – Projeto Campeões de Futuro/2009.

OBJETIVOS DAS AULAS Ocorrência

de indicadores

Ensino de regras voltadas para situações de jogos 10 Ensino de fundamentos 7 Socialização e cooperação entre as crianças 7 Condição geral do indivíduo 7 Saúde, educação, cultura e formação cidadã pela prática do esporte e lazer

2

Motivar a prática esportiva 2

Tabela 3 - Avaliação Mensal das Aulas – Projeto Campeões de Futuro/2009.

AVALIAÇÃO DAS AULAS MINISTRADAS Ocorrência

de indicadores

Interesse e dedicação no desenvolvimento das atividades 9 Comprometimento com as regras e fundamentos 4 Desenvolvimento da condição geral do indivíduo 2 Interação e cooperação entre as crianças 1 Baixo interesse e dedicação no desenvolvimento das atividades

1

10

Disponível em: <http://ibge.gov.br/home/estatística/economia/perfilmunic/esporte2003/default.shtm>. Acesso em 10 de out. De 2011.

Tabela 4 - Avaliação Mensal das Aulas – Projeto Campeões de Futuro/2009.

ATIVIDADES EXTRAS CURRICULARES Ocorrência

de indicadores

Nenhuma atividade realizada 3 Brincadeiras lúdicas 2 Participação em competição / realização de competição 2 Ensino de regras por meio de filmes, internet e livros 1 Atividades que desenvolvam a interação e cooperação entre as crianças

1

A tabela 2 refere-se aos “Objetivos das aulas”. Podemos perceber que os

dois primeiros indicadores (Ensino de regras voltadas para situações de jogos e

Ensino de fundamentos) têm 17 ocorrências. Trata-se de indicadores que

potencialmente se relacionam à prática esportiva de rendimento, caracterizada

por normas rígidas, positivadas, cujo intuito é a formação de atletas. Se esse

quantitativo for somado ao indicador “condição geral do indivíduo”, com 7

ocorrências e com uma grande possibilidade de ênfase nos aspectos biológicos,

isto é, no condicionamento físico, a tendência de centralização na perspectiva do

rendimento aumenta.

Quando observamos nessa tabela 2 a soma dos demais indicadores, que

deveriam apontar mais para a perspectiva do esporte educacional e de

participação, vemos que a ocorrência é menor do que aqueles mencionados

antes. Ou seja, a soma de três indicadores que sinalizam maior proximidade com

o esporte educacional e participativo, apresentou ocorrência bem menor se

comparada com a soma dos três indicadores que sinalizam aproximação maior

com a dimensão do esporte de rendimento.

Na tabela 3 (“Avaliação das aulas ministradas), apesar de grande

abstenção no preenchimento do instrumento, vemos que o segundo indicador

(Comprometimento com as regras e fundamentos) com 4 ocorrências, é

revelador. Se somado ao seguinte (Desenvolvimento da condição geral do

indivíduo), com 2 ocorrências, percebemos o quanto é importante na avaliação

dos professores a aprendizagem de elementos intrínsecos ao esporte enquanto

tradição de competição. O contraste em relação ao indicador “Interação e

cooperação entre as crianças”, com 1 ocorrência, é visível.

Se considerarmos ainda o destaque observado no indicador “Interesse e

dedicação no desenvolvimento das atividades”, disparado com 9 ocorrências,

poderemos inferir que muita atenção é dada à forma como as crianças do PCF

assimilam a proposta de ensino do esporte enviesado pelos indicadores antes

mencionados.

A tabela 4 (“Atividades extras curriculares”) tem características mais

singulares do que as tabelas anteriores. Podemos destacar os indicadores

“Participação em competição / realização de competição” e “Ensino de regras por

meio de filmes, internet e livros” como elementos diretamente relacionados à

dimensão de esporte de rendimento, de formação de atletas.

Além das evidências de distanciamento da dimensão do esporte

educacional a partir das Avaliações Mensais, podemos, igualmente, analisar os

objetivos de “Socialização e cooperação entre as crianças” (tabela 2), os

resultados obtidos (tabela 3) e as atividades extras curriculares (tabela 4) que

contribuem para os objetivos almejados (tabela 2).

Como podemos perceber na tabela 2, a “Socialização e cooperação entre

as crianças” que é um dos principais objetivos das aulas do PCF, com 7

ocorrências, é uma dos melhores indicadores apontados no ato de planejar. No

entanto, na avaliação das aulas ministradas (tabela 3), já com a denominação

“Interação e cooperação entre as crianças”, com apenas 1 ocorrência, está entre

as menores, ao lado do indicador “Baixo interesse e dedicação no

desenvolvimento das atividades”. Isto nos permite inferir que esse objetivo não foi

alcançado, segundo a avaliação dos professores presente nos relatórios

analisados, ou na prática, os principais objetivos são outros. A tabela 4 reforça

esse indício quanto aos “objetivos práticos”. Como podemos ver, das atividades

previstas como extras curriculares, o indicador “Atividades que desenvolvam a

interação e cooperação entre as crianças” aparece com apenas 1 ocorrência

entre as atividades realizadas.

Diante desses pequenos comentários, parece-nos evidente que o PCF

apresenta uma relação perversa com a dimensão de esporte educacional.

Perversa no sentido de que ao mesmo tempo em que percebemos o destaque

conferido ao esporte educacional no documento prescrito do projeto, assim como

no site da Sesport, percebemos, outrossim, a forte ligação com o esporte de

rendimento materializado nas avaliações mensais realizada pelos professores.

Dessa forma, concordamos com Bracht (1997), Assis de Oliveira (2005) e

Melo (2005), ao evidenciarem que mesmo o esporte educacional pode estar

ligado à dimensão de rendimento. É o que parece acontecer na implementação

do PCF. Acreditamos, também, na possibilidade de desencontros de visões, isto

é, enquanto os convênios parecem apresentar satisfação com os equipamentos,

demonstrado na tabela 1, pode ocorrer que exista subversão nas práticas. Com

isso queremos dizer que mesmo não tendo o espaço demarcado segundo as

normativas das modalidades, ainda assim as atividades são desenvolvidas na

perspectiva do esporte de rendimento e não necessariamente com as adaptações

pretendidas pelas concepções do esporte educacional ou de participação.

O argumento acima nos faz lembrar as contribuições de Marcellino (2001),

para o qual o sucesso de uma PPEL depende de três fatores11. O primeiro é a

concepção dos gestores sobre o objeto da política, nesse caso, o esporte.

Prescritivamente vemos uma concepção voltada para o esporte educacional,

embora os indícios apontem que a concepção não seja efetivamente essa. Mas,

admitindo-se que sim, a desconexão com o que acontece na ponta do processo

pode ser explicada por problemas com a formação do pessoal, o segundo fator

apontado por Marcellino. Se a formação inicial ou continuada dos agentes não dá

conta de efetivar o projeto na perspectiva do que está prescrito, então a

desconexão é amplamente explicada. Não temos informação se o treinamento do

pessoal, previsto no documento do PCF como responsabilidade da Sesport, tem

efetivamente acontecido no sentido de dar conta desse problema. O terceiro fator

apontado por Marcellino é a intersetorialidade das ações, que se constitui foco de

nossas análises a seguir.

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Marcellino (2001) se referiu a fatores apara avaliação de uma PPEL, que são: a concepção de lazer dos gestores, a formação do pessoal e a intersetorialidade. Nesse texto estamso ampliando esses fatores para analisar outro objeto, no caso o esporte em sentidomais amplo. Cremos que esses fatores poderiam ser aplicados a outros setores, como educação e saúde, por exemplo.

APROXIMAÇÕES DO PCF COM A CARACTERIZAÇÃO DE UMA AÇÃO

INTERSETORIAL

Intersetorialidade é um conceito que, aplicado à gestão pública se

desenvolve no Brasil a partir do setor da saúde. Diz respeito à articulação de

saberes e experiências no planejamento, execução e avaliação de ações para

obter efeito sinérgico em situações complexas, visando o desenvolvimento da

sociedade e inclusão social. A tentativa é reverter o quadro de exclusão social,

promover melhorias na qualidade de vida da população e superar a fragmentação

das políticas (JUNQUEIRA; INOJOSA, 1997; JUNQUEIRA et al., 1997).

Segundo os autores supramencionados, em princípio a Intersetorialidade é

pensada me nível governamental, em sentido Horizontal (entre setores da mesma

administração ou da mesma esfera governamental) ou em sentido vertical (em

setores de esfera governamental diferentes hierarquicamente). Mas, pode ser

pensada para além do nível governamental, isto é, a articulação e participação

entre secretarias, pastas, autarquias do Estado, instituições e setores da

sociedade civil, considerando a pluralidade que envolve o conceito de sociedade

civil. Nesse sentido, a intersetorialidade pode ser uma estratégia relevante para a

participação da sociedade civil em todas as etapas do processo em que essas

ações acontecem – o que remete para a participação nos espaços de decisão

política e não apenas de consumo e assistência por meio de políticas públicas.

Assim concebida, a intersetorialidade se torna um interessante elemento no

processo de descentralização das políticas públicas e para o aprofundamento

democrático.

Descentralizar, para Ckagnazaroff e Mota (2003), é delegar competências

e recursos a organismos intermediários para que eles possam desenvolver suas

respectivas gestões de uma maneira mais eficiente, eficaz e com efetividade

social, estando mais perto do cidadão e dos grupos sociais. Para Junqueira

(2004), descentralização significa deslocamento do poder de decisão e

transferência da gestão das políticas sociais, tendo como objetivo a garantia dos

direitos sociais, democratizando a gestão. Isso, segundo o autor, ocorre

[...] através da participação, apontando para a redefinição da relação Estado e Sociedade. A descentralização passa a constituir um fator importante para estimular a dinâmica participativa, mediante a abertura de canais de comunicação entre os usuários e as organizações

descentralizadas, permitindo que os primeiros façam chegar suas necessidades a quem tem o poder de decidir (JUNQUEIRA, 2004, p.32).

Nesse mesmo sentido, Junqueira (1997, 2004, 2005) considera a

descentralização e intersetorialidade como novas estratégias de gestão a fim de

melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, que, a partir de então, são

considerados sujeitos de direito, ativos no processo de implementação das

políticas. A questão que fica é a seguinte: Enquanto uma política pública de

esporte, será que podemos identificar no PCF algumas evidências de

intersetorialidade, potencialmente eficiente, eficaz e efetiva, que aponte para uma

gestão democrática?

Segundo Belloni et al. (2007), eficiência, eficácia e efetividade são três

importantes elementos de uma avaliação de políticas públicas. A eficiência refere-

se ao processo, à relação entre custo e benefício de uma ação realizada, visando

o melhor aproveitamento dos recursos (menor recurso, maior resultado). A

eficácia, por sua vez, refere-se aos resultados efetivamente alcançados (metas

atingidas) - está relacionada ao planejamento da política pública e sua real

aplicação – o que não quer dizer que se restringe à avaliação dos resultados

parciais, mas sim, analisa o que fora planejado e o que foi realmente atingido,

buscando sempre a maximização dos rendimentos das ações. Já a efetividade

social, refere-se ao impacto da política pública na vida dos cidadãos; analisa as

mudanças ocorridas na sociedade após sua efetivação, sempre levando em conta

os resultados econômicos e sociais da política pública.

Embora esse modelo de avaliação nos indique interessantes ferramentas

de aperfeiçoamento de políticas públicas, ele não é suficiente, pois, como

argumenta Paula (2005), trata-se de um modelo de gestão gerencial, a nível

Governamental, o que não induz a participação da sociedade civil.

Ao visarmos o aprofundamento democrático a partir da participação civil,

faz-se necessário extrapolarmos o modelo gerencial, que, para Paula (2005),

enfatiza os resultados em termos de metas, e acrescentarmos ao processo de

elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas, a participação; isso

implica migrar para um modelo que a autora mencionada chamou de gestão

societal. Nessa perspectiva que desloca os principais critérios do processo de

execução de políticas públicas – que é, também, um deslocamento de sentidos –

a noção de cidadania também é aprofundada com o sentido de eficácia política

(PATEMAN, 1992) gerada pela participação no processo de decisão.

Para tratarmos das aproximações e distanciamentos do PCF à dimensão

de intersetorialidade, essa categoria apresentada como determinante de uma

gestão simultaneamente democrática e inovadora, que admite fundamentos de

participação da sociedade civil, precisamos tomar novamente os documentos

acessados para esse estudo com um esforço analítico.

No Projeto Prescrito, encontramos algumas pistas na seção referente às

responsabilidades dos convenentes. Lá encontramos que as coordenações locais

são responsáveis por:

Colher depoimentos escritos referentes ao Projeto Campeões de Futuro, de pais, alunos, professores e outros. Sempre que ocorrer este tipo de manifestação, enviar o original a Coordenação Geral (Projeto Campeões de Futuro) da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer; realizar contatos com as associações de moradores, escolas, unidades de saúde, outros; divulgar junto aos movimentos organizadores do projeto com apresentação das alternativas de projeto com participantes, pais ou responsáveis; avaliar com as comunidades e com as equipes técnicas os trabalhos desenvolvidos; Apresentar as propostas da comunidade para a continuidade dos trabalhos; realizar reuniões com pais ou responsáveis (SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTE E LAZER, s.d. [a], s.p.).

O conjunto de responsabilidades mencionadas acima demonstra a

prescrição por uma iniciativa descentralizada, e que envolva diversos atores

sociais para além da estrutura administrativa existente entre as partes que fazem

o convênio formal. Parece uma iniciativa interessante, embora se ressinta de

divisão equitativa de responsabilidades entre as partes quanto ao

desenvolvimento dessas tarefas.

Quando falamos em divisão equitativa de responsabilidades, estamos

situando a participação no PCF dentro dos limites do que seria realmente

responsabilidade da sociedade civil e não do Estado. Com isso, estamos

argumentando a favor de uma participação social que não confunda a sociedade

civil com o Estado (HABERMAS, 2003), isto é, que não resulte em engessamento

das instituições da sociedade civil em estruturas formalizadas demais ou

burocratizadas, ou mesmo que resulte em atribuição de poderes administrativos

estritamente pertencentes ao Estado, aos atores sociais pertencentes à

sociedade civil (AVRITZER; COSTA, 2004).

Portanto, é possível a participação efetiva em todas as etapas de

implementação de uma política pública por meio de contrapartidas estabelecidas

nos instrumentos de convênio, o que pode se constituir como um canal de

participação diferenciado entre as esferas pública e política, estabelecendo a

periodicidade, as competências, os deveres, e por que não dizer, os direitos de

cada parte em todo o processo de implementação da política pública (GOHN,

2003).

A despeito das possibilidades de participação potencializadas pelas

afirmações acima, há também a possibilidade de participação por meio do

exercício do controle social, o qual não se nota no Projeto Prescrito, pelo menos

do ponto de vista formal, da forma aqui tratada.

A ideia mais próxima de controle social identificada no Projeto Prescrito

seria o da atuação das federações esportivas, as quais teriam o papel de

“Supervisora técnica do projeto” (SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTE E

LAZER, s.d. [a], s.p.). Esse papel de supervisora técnica, além de dificuldades

operacionais pelo fato das federações não participarem do Protocolo de Intenções

entre as partes convenentes, não parece dar conta de todas as dimensões que

envolvem o projeto, principalmente quanto ao controle social sobre os gastos

públicos, papel que poderia ser realizado, por exemplo, pelo Conselho Estadual

de Esporte,12 embora esse órgão exista no Estado apenas com funções

consultivas.

Todas as atribuições previstas para as entidades convenentes no Projeto

Prescrito aparecem em um único item no Protocolo de Intenções firmado entre as

partes conveniadas. Nesse documento encontramos entre as responsabilidades

do convenente, no item 3.2.3, que a gestão local do setor de esporte e lazer deve:

“Mobilizar a integração entre os Secretários Municipais da área geral (Saúde,

Educação, Meio-Ambiente, Cultura, Ação Social, Cidadania entre outros) para

acompanhamento e garantia dos serviços às crianças e adolescentes do Projeto”

(SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTE E LAZER, s.d. [b], s.p).

12 O Conselho Estadual de Esporte foi instituído pela Lei Complementar nº 322, publicada no Diário Oficial dos Poderes do Estado no dia 19 de maio de 2005.

O trecho acima mencionado parece ser uma indicação importante para a

intersetorialidade, mas não temos evidências de que tal integração entre setores

aconteça no nível das prefeituras municipais conveniadas com a Sesport. Da

mesma forma, Já tivemos outros estudos realizados junto à gestão do Estado do

Espírito Santo, assim como das prefeituras da região Metropolitana de Vitória (a

capital) que indicam a fragilidade, ou quase inexistência, de ações intersetoriais

na gestão estadual e municipais (SILVA, 2012; SANTOS, 2013).

Portanto, apesar das potencialidades positivas apontadas no documento

orientador do programa e no protocolo de intenções, não temos nenhuma

evidência da efetivação de ações intersetoriais no PCF, porque os relatórios

acessados que informam o funcionamento do programa não trazem informações

sobre essa dimensão do funcionamento. Da mesma forma, não temos evidência

de que esse aspecto possa estar sendo monitorado pela coordenação do

programa, uma vez que dados retirados da entrevista realizada com a

coordenação do PCF nos mostram que a principal dificuldade é: “Fiscalizar os

núcleos durante o ano e acompanhar o vai e vem dos estagiários e professores,

pois não temos pernas para isto” (INFORMANTE SESPORT).

Sem condições de monitoramento adequado, e sem controle social, resta à

coordenação do programa confiar na dimensão ética das pessoas físicas

vinculadas aos convênios, conforme nos revelam os dados da entrevista: “O que

nos deixa mais tranquilos são os Secretários atuais que em sua maioria são

pessoas que fazem política cidadã” (INFORMANTE SESPORT). Óbvio que do

ponto de vista da política pública, a situação do monitoramento é condição não

somente para fins de avaliação, mas, sobretudo, para efetivação da

intersetorialidade como estratégia de gestão.

As reflexões apontadas nos parágrafos acima nos permitem observar que o

PCF necessita passar por dois processos complementares: a descentralização,

discorrida por Ckagnazaroff e Motta (2003), e a intersetorialidade, discorrida por

Junqueira (1997; 2004, 2005) e por nós defendida com o incremento da

participação da sociedade civil nos processo de decisão. Quanto à

descentralização, percebemos que existem predisposições no Projeto Prescrito,

mas não há operacionalização concreta nos demais documentos, uma vez que se

observam prescrições de responsabilidades que não são todas replicadas entre

os documentos. Além disso, precisaria ficar mais claro um mecanismo de

monitoramento do cumprimento das funções de cada parte. Nesse sentido, não

observamos esse tipo de perspectiva nos diversos formulários de avaliação e

monitoramento disponibilizados no site da Sesport. Da mesma forma, não

encontramos documentos que informassem melhor desenvolvimento do sistema

de monitoramento do PCF quanto aos aspectos aqui mencionados.

No que diz respeito à intersetorialidade, não encontramos documentos que

nos informassem os mecanismos de articulação entre os diversos órgãos do

Poder Público, assim como deste com a sociedade civil. O único documento

firmado é o Protocolo de Intenções. Não encontramos um documento que se

caracterizasse como uma Proposta Político Pedagógica, já que se trata de uma

iniciativa anunciada como esporte educacional; nem encontramos um documento

que se caracterizasse como um plano de formação dos agentes, o que, aliás, está

prescrito como responsabilidade da Sesport. Outrossim, não encontramos

indicativo em nenhum documento, de participação de outros órgãos do Poder

Público ou da sociedade civil em todas as etapas do processo de implementação

da política pública, desde a elaboração à avaliação.

Portanto, as potencialidades do PCF como uma política descentralizada,

intersetorial, participativa e de garantia do acesso ao esporte como direito, parece

evidente ao nível da prescrição e até mesmo em poucos documentos que

informam o funcionamento do programa. No entanto, ainda vemos na grande

maioria desses documentos, que informam o funcionamento do programa, que

ainda se está longe de caracterizar o PCF como uma política pública no melhor

sentido do conceito. Uma possibilidade de aumentar essas certezas, mas também

de desconstruí-las, pode ser o estudo do cotidiano do programa junto aos atores

sociais que atuam na ponta do processo, inseridos no campo de efetivação do

programa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises e interpretações dos dados aqui apresentados,

podemos concluir que há informações sobre o PCF que o aproximam de uma

concepção de esporte realizado na perspectiva educacional, as quais são

encontradas tanto no Projeto Prescrito quanto no Protocolo de Intenções firmado

entre as partes. As aproximações também são percebidas nos dados coletados

nos documentos que informam sobre o funcionamento do PCF, entre os quais

destacamos o nível de satisfação dos agentes locais com os equipamentos

utilizados para as práticas. Como esses equipamentos não são caracterizados

como “oficiais” em termos de medidas, inferimos que há uma tendência a

considerarmos que os agentes promovem adaptações das atividades, o que

aproximaria o programa das perspectivas não só do esporte educacional, como

também do esporte participação. No entanto, não desconsideramos a realidade

da maior parte das cidades do interior que não possuem espaços oficiais para as

práticas esportivas, ou possuem de forma deficiente, quer seja no Brasil quer seja

no Espírito Santo. Nesse caso, os dados passam a ser apenas “possibilidade”.

Por outro lado, nos documentos coletados que informam sobre as

atividades desenvolvidas nos núcleos, encontramos bastante destaque para a

realização de práticas que aproximam as atividades da perspectiva do esporte de

rendimento. Em destaque, podemos citar a ênfase no ensino das regras e

técnicas dos esportes, assim como nos elementos do condicionamento físico. Em

sentido contrário, encontra-se pouca ênfase nos mesmos documentos tomados

de informações dos agentes, a respeito do desenvolvimento de atividades “extra-

classe”, ou mesmo de atividades de interação e desenvolvimento de

sociabilidades.

Pudemos verificar que o programa está inserido num plano governamental

maior, denominado de ES-2025. Também devemos assinalar que, quando

observamos as aproximações do PCF à dimensão de política pública,

observamos algo parecido ao que mencionamos antes, isto é, existem

informações que o aproximam e distanciam o programa de uma política pública

eficiente, eficaz e efetiva. No documento prescrito, encontramos dados que nos

permitem considerar o PCF como uma política acessível não somente às

entidades que se interessem em realizar convênio, como a toda uma população

do Estado na faixa etária entre 7 e 17 anos. No entanto, nas publicações do Dios

comentadas nesse texto, encontramos informações que apresentam o programa

como uma ação desarticulada e focalizada.

Por fim, no que diz respeito à identificação do PCF com a caracterização

de uma política intersetorial, nossas descobertas iniciais encontradas tanto no

Projeto Prescrito quanto no Protocolo de Intenções apontavam para uma boa

possibilidade de articulação entre os entes conveniados. No entanto, vimos

ausência em todos os documentos de alguns elementos essenciais para a

caracterização da política como intersetorial, entre os quais destacamos:

a) Os documentos não preveem a participação da sociedade civil em todas as

etapas do processo de implementação da política, seja nos convênios firmados

entre órgãos do Estado, seja nos convênios firmados entre o Estado e a

sociedade civil;

b) Não encontramos também informações quanto aos procedimentos de controle

social, algo importante para caracterizar o bom funcionamento da política pública;

c) A Sesport firma convênios com entidades do setor público, privado e da

sociedade civil, mas não constituem os convênios como uma rede. Nesse caso,

parecem constituir iniciativas estanques e isoladas, que não permitem a interação

entre diferentes experiências.

Em termos gerais, podemos retomar Marcellino (2001) para dizer que o

bom funcionamento de uma política pública de esporte e lazer depende da

concepção dos gestores sobre o objeto da política, a formação do quadro de

pessoal para atuar nas políticas e da intersetorialidade das ações. Nesse sentido,

os dados apontam melhor das hipóteses para fragilidades nos três aspectos.

Vale ressaltar, por fim, que, especificamente quanto a intersetorialidade,

aqui abordada – mais ainda no que diz respeito às relações entre os diferentes

setores da gestão e desses com a sociedade civil –, não se trata em dividir o

“trabalho” do Estado com a sociedade civil, diminuindo, assim, seu tamanho e

suas responsabilidades, tampouco transferi-lo para as instituições da sociedade

civil. Sabe-se que a formulação, implementação e avaliação das Políticas

Públicas são de responsabilidades dos aparelhos de Estado, o que não fecha as

possibilidades de uma gestão mais democrática, abrindo espaços para maior

participação da sociedade civil numa gestão participativa. O que se defende aqui

é a abertura de canais que favoreçam o diálogo entre a esfera pública e a esfera

política, bem como a maior participação social nas tomadas de decisões, o que

poderá aumentar as possibilidades de ações políticas mais eficazes, bem como

fortalecer a democracia aumentando, assim, as conquistas sociais.

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