em posição prevocália no norte, nordeste e centro-oeste

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas 166 IMAGENS PRELIMINARES DA REALIZAÇÃO VARIÁVEL DE /l/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO BRASIL 1 Marilucia Barros de OLIVEIRA 2 Abdelhak RAZKY RESUMO: Trata o presente trabalho da realização variável de /l/ em posição prevocálica no Português Brasileiro (PB). Nesta pesquisa é focalizada a palatalização versus não-palatalização de /l/ a partir de dados de capitais de três regiões brasileiras, a saber: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A palatalização das oclusivas alveolares /t d/ já foi estudada em vários espaços do Brasil, embora ainda não se tenha um quadro geral dessa realização no PB. A palatalização da lateral alveolar /l/, diferentemente, raramente foi objeto de estudo no PB. De acordo com Oliveira (2007), talvez isso aconteça em função de sua realização restrita a alguns contextos lingüísticos e a determinadas localidades do país, mais especificamente no Pará. Os dados para esta pesquisa resultaram de coleta de dados implementada pelo Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB). A metodologia da pesquisa obedeceu à orientação da Geo-sociolingüística. Os dados avaliados são oriundos da aplicação do questionário fonético-fonológico. Os resultados da pesquisa serão apresentados sob forma de cartas lingüísticas nas quais se demonstrará a distribuição da palatalização nas capitais das três regiões citadas. Os resultados demonstram significativa diferença em relação à produtividade da realização palatalizada entre o Norte e as duas outras regiões estudadas, especialmente diante de contexto vocálico alto anterior [i j]. A palatalização da lateral alveolar em posição prevocálica se constitui a tendência no espaço da região Norte do país. PALAVRAS-CHAVE: Geografia Lingüística; Dialetologia; Palatalização; Lateral alveolar. 1 VARIAÇÃO DE /l/ NOS ATLAS LINGÜÍSTICOS Para o estudo da variação de /l/ diante de [i] foram consultados dez atlas lingüísticos publicados a partir de dados de falares do PB (português brasileiro). São eles: Atlas Prévio dos Falares Baianos (AFPB, 1963), Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (EALMING, 1977), Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS, 1987), que caracterizam os falares baianos, segundo Nascentes (1953), Atlas Lingüístico da Paraíba (ALPB, 1985), Atlas Lingüístico do Paraná (1994), Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul (ALERS, 2002), Atlas Lingüístico Sonoro do Pará (ALISPA, 2003), Atlas 1 Esta pesquisa recebeu financiamento do CNPq e do Programa de apoio ao recém-doutor (PARD/UFPA). 2 Universidade Federal do Pará. Instituto de Letras e Comunicação-Faculdade de Letras. Av. Senador Lemos. Passagem São Luis n. 10C. CEP 66123-650. Belém- Pará-Brasil. [email protected].

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas

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IMAGENS PRELIMINARES DA REALIZAÇÃO VARIÁVEL DE /l/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO

BRASIL1 Marilucia Barros de OLIVEIRA2 Abdelhak RAZKY RESUMO: Trata o presente trabalho da realização variável de /l/ em posição prevocálica no Português Brasileiro (PB). Nesta pesquisa é focalizada a palatalização versus não-palatalização de /l/ a partir de dados de capitais de três regiões brasileiras, a saber: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A palatalização das oclusivas alveolares /t d/ já foi estudada em vários espaços do Brasil, embora ainda não se tenha um quadro geral dessa realização no PB. A palatalização da lateral alveolar /l/, diferentemente, raramente foi objeto de estudo no PB. De acordo com Oliveira (2007), talvez isso aconteça em função de sua realização restrita a alguns contextos lingüísticos e a determinadas localidades do país, mais especificamente no Pará. Os dados para esta pesquisa resultaram de coleta de dados implementada pelo Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB). A metodologia da pesquisa obedeceu à orientação da Geo-sociolingüística. Os dados avaliados são oriundos da aplicação do questionário fonético-fonológico. Os resultados da pesquisa serão apresentados sob forma de cartas lingüísticas nas quais se demonstrará a distribuição da palatalização nas capitais das três regiões citadas. Os resultados demonstram significativa diferença em relação à produtividade da realização palatalizada entre o Norte e as duas outras regiões estudadas, especialmente diante de contexto vocálico alto anterior [i j]. A palatalização da lateral alveolar em posição prevocálica se constitui a tendência no espaço da região Norte do país. PALAVRAS-CHAVE: Geografia Lingüística; Dialetologia; Palatalização; Lateral alveolar.

1 VARIAÇÃO DE /l/ NOS ATLAS LINGÜÍSTICOS

Para o estudo da variação de /l/ diante de [i] foram consultados dez atlas

lingüísticos publicados a partir de dados de falares do PB (português brasileiro). São

eles: Atlas Prévio dos Falares Baianos (AFPB, 1963), Esboço de um Atlas Lingüístico

de Minas Gerais (EALMING, 1977), Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS, 1987), que

caracterizam os falares baianos, segundo Nascentes (1953), Atlas Lingüístico da Paraíba

(ALPB, 1985), Atlas Lingüístico do Paraná (1994), Atlas Lingüístico-etnográfico da

Região Sul (ALERS, 2002), Atlas Lingüístico Sonoro do Pará (ALISPA, 2003), Atlas

1 Esta pesquisa recebeu financiamento do CNPq e do Programa de apoio ao recém-doutor (PARD/UFPA). 2 Universidade Federal do Pará. Instituto de Letras e Comunicação-Faculdade de Letras. Av. Senador Lemos. Passagem São Luis n. 10C. CEP 66123-650. Belém- Pará-Brasil. [email protected].

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas

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Lingüístico de Sergipe I (ALS II, 2005), Atlas Lingüístico do Amazonas (ALAM, 2004)

e Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul (ALMGS, 2007)3.

No AFPB, só há três registros de palatalização de /l/. No EALMING, no ALS I,

no ALPB, no ALPA e no ALS II não há registro de ocorrência dessa palatalização. No

ALERS I, ALMGS e no ALAM há registro de palatalização de /l/ na palavra família.

Essa ocorrência apresenta índice significativo de freqüência nos três últimos atlas

citados4. No ALAM a palatalização se manifesta por meio da variante palatalizada [lj] e

da variante palatal [], com predominância de ocorrência daquela sobre esta, 90% e

20%, respectivamente. Cabe completar que no ALMGS também foram encontrados

casos de palatalização na palavra cílios.

Notemos que nos espaços cobertos pelos atlas até agora citados só ocorreu

palatalização praticamente diante [j]5. De acordo com Oliveira (2007), esse contexto é

altamente favorecedor da palatalização no PB e em várias línguas do mundo, o que deve

explicar a palatalização diante desse contexto mesmo quando ocorre sua inibição diante

de [i] nos espaços consultados.

Diferentemente dos resultados apresentados até agora, os resultados dos atlas

lingüísticos do Pará, ALiPA, em construção, e ALiSPA (2003), registram alta

produtividade de palatalização de /l/. Nas localidades consultadas, diferentemente do

que se verificou para as demais localidades cobertas pela pesquisa aos Atlas, a não-

3 Para mais detalhes sobre o ALiB e os Atlas lingüísticos já publicados, consultar www.alib.ufba.br. 4 Para detalhes sobre a palatalização de /l/ nos atlas lingüísticos citados, consultar Oliveira (2009), em preparação. 5 Mesmo no Pará, Estado onde a palatalização é muito produtiva, a palatalização sofre uma baixa de ocorrência quando /l/ não se encontra diante de [j]. Isso pode ser constatado em duas cartas lingüísticas produzidas por Oliveira e Razky (2009). Em familia, em que se encontra o contexto altamente favorecedor da palatalização, o fenômeno é categórico. Já em liquidação, palavra em que não se encontra esse contexto, a ocorrência de palatalização é reduzida (cf. ANEXO A e B).

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palatalização é que se constitui exceção. A ocorrência da lateral alveolar [l] inexiste

quando /l/ encontra-se diante de [j] no Pará, de acordo com o ALiSPA (2003).

Vejamos, abaixo, mapa adaptado de Oliveira (2007), quanto à distribuição de /l/

no espaço brasileiro, a partir dos atlas lingüísticos.

Mapa 01: Distribuição geográfica da palatalização de /l/ no Norte, Nordeste, Centro-Oeste Sul e Sudeste do Brasil. Fonte: Adaptado de Oliveira (2007).

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O mapa 01 revela que, no espaço brasileiro, a ocorrência da variante alveolar é

superior a da palatal. Apenas na região Norte a variante palatal sobrepõe-se à alveolar.

No espaço nordestino, há apenas duas ocorrências de palatalização, especificamente nas

formas [no AFPB. Já na região Sul, no

Mato Grosso do Sul e em Manaus há alto índice de palatalização, mas apenas no

vocábulo família.

A consulta aos atlas nos permite afirmar que, excetuando-se o Pará, os demais

falares não apresentam alta produtividade de palatalização de /l/. Nas outras regiões,

quando o fenômeno ocorre, apresenta baixíssima freqüência e geralmente acontece

diante de [j]. Essa rota diferenciada que faz o /l/ no falar paraense solicita estudos a

partir de dados novos, no sentido de verificarmos se dados recolhidos mais

recentemente apontam algum grau de difusão desse fenômeno, pelo menos no Norte,

região em que se localiza o Pará. É isso que pretendemos fazer neste artigo e é por lá

que começaremos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Antes de se procedermos ao mapeamento proposto, cabem algumas observações

sobre os pressupostos e passos que nortearam esta pesquisa.

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O presente estudo tem por base metodológica os procedimentos do Projeto ALiB6

que segue o referencial teórico da geografia lingüística multidimensional ou o que

denominamos de geo-sociolinguística. Para esta análise foram selecionadas seis capitais

da região Norte. São elas: Porto Velho (Rondônia), Rio Branco (Acre), Manaus

(Amazonas), Boa Vista (Roraima), Macapá (Amapá) e Belém (Pará). A capital do

Tocantins, embora integre a região Norte, não foi contemplada pelo projeto ALiB por

razões ligadas à história recente de Palmas que tem influência sobre seus aspectos

demográficos, culturais e referentes à forma de povoamento da área. Foram

consideradas também duas capitais da região Nordeste: Recife (PE) e Salvador (BA);

três da região Centro-Oeste: Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Campo Grande (MS). O

projeto ALiB prevê entrevistas com oito pessoas em cada capital. Entretanto, em

Cuiabá, Recife e Salvador foram computados dados de sete informantes, visto que um

em cada grupo de oito informantes dessas capitais apresentou problemas no áudio das

gravações. Ao todo foram entrevistadas 88 pessoas (48 no Norte, 24 no Centro-Oeste e

16 no Nordeste), estratificadas em quatro variáveis independentes: idade, sexo

escolaridade e localidade, de acordo com o quadro, abaixo.

Quadro 01 – Amostra dos Informantes nas Capitais IDADE SEXO ESCOLARIDADE

MASC.(02)

ENS.FUND.(01) ENS. SUP. (01)

6A rede de pontos do ALiB é composta por 250 localidades distribuídas pelas 5 regiões do país, a saber: região norte - 23 pontos; região nordeste - 71 pontos; região sudeste - 79 pontos; região centro-oeste - 21 pontos e região sul - 41 pontos de inquérito. São 1100 informantes distribuídos eqüitativamente em duas faixas etárias: 18 a 30 anos e 50 a 65 anos, abrangendo os dois sexos. São quatro informantes por cidade, dois de cada faixa etária e de cada sexo, sendo que nas capitais são acrescentados mais quatro informantes de nível universitário envolvendo também as mesmas correlações de sexo e faixa etária. Em relação à escolaridade, todos os informantes devem ser alfabetizados, tendo cursado no máximo até a 4ª série do ensino fundamental, exceto o que já se apresentou acima em relação aos informantes das capitais. Os questionários para a constituição do corpus do ALiB foram elaborados pelo Comitê Nacional. Esses questionários são de três tipos: (1) Fonético–Fonológico (QFF) com 159 perguntas e mais 11 questões de prosódia; (2) Semântico-Lexical (QSL) com 202 perguntas e (3) Morfossintático (QMS), com 49 questões; a estes se somam 04 questões de pragmática, 04 questões para discurso semi-dirigido (relato de experiência pessoal, comentário, descrição e relato não pessoal), 06 perguntas metalingüísticas e um texto para leitura do gênero parábola (Parábola dos Sete Vimes).

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18 - 30 FEM. (02) ENS. FUND.(01) ENS. SUP. (01)

MASC. (02)

ENS.FUND.(01) ENS.SUP. (01)

30 - 65 FEM. (02) ENS. FUND.(01) ENS. SUP. (01)

Nosso objetivo é investigar o comportamento variável do /l/ em posição

prevocálica a partir de entrevistas realizadas por meio dos questionários fonético

fonológico (QFF) e semântico-lexical (QSL) do ALiB. Só o Norte apresenta, no

momento, dados do QSL avaliados nesta investigação.

A variável dependente é constituída da palatal [], da palatalizada [lj] e da

alveolar [l]. A palatal e a palatalizada são consideradas nesse trabalho como um

fenômeno só que chamamos de palatalização de /l/. Essa decisão de juntar a realização

palatal e palatalizada deve-se, de um lado, à dificuldade de se identificar as duas

variantes devido à alta proximidade dos traços envolvidos. Outro estudo está previsto

para descrever e controlar melhor essas duas realizações.

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Apresentaremos, inicialmente, os resultados por regiões. Isso não quer dizer que

os limites administrativos correspondam a isoglossas. Eles serão apresentados

separadamente porque estão em estágios diferentes de descrição e análise. Na região

Norte, já procedemos à descrição e análise dos dados do QFF e do QSL em todas as

capitais previstas no projeto. Daí, permitir uma análise mais detalhada. As duas outras

regiões ainda se encontram em fase de análise dos dados do QFF. Das sete capitais

previstas no Nordeste, avaliaram-se apenas dados de duas, a saber: Recife e Salvador.

No Centro-Oeste foram avaliadas dados das três capitais previstas: Cuiabá, Goiânia e

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Campo Grande. Ao todo, foram avaliados 628 dados; 337 dados do Norte e 291 das

duas outras regiões.

3.1 Imagens do Norte

Os resultados de freqüência obtidos, a partir da análise numérica dos dados,

revelaram que a palatalização é muito produtiva na região Norte. Obteve-se um

percentual de 84% de palatalização [ contra 16% da variante alveolar [l].

Mapa 02: distribuição da freqüência da palatalização de /l/ na região Norte

Conforme se pode verificar no mapa 02, a palatalização (P) de /l/ ocorreu em

todas as capitais da região Norte pesquisadas. Os resultados indicam, também, que ela

não aconteceu apenas no contexto de [j], como se verificou para alguns espaços

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cobertos pela pesquisa aos atlas lingüísticos. Esses resultados já demonstram que o

fenômeno apresenta produtividade diferente na região Norte.

Cabem, aqui, duas observações sobre essa diferença de resultados em relação

aos atlas publicados. É possível que isso esteja ligado à consulta a dados mais recentes.

Mas pode ser, também, que ela só reafirme uma rota especifica que /l/ vem tomando não

só no Pará, mas na região Norte. De acordo com Oliveira (2007), quando não havia

praticamente registro de palatalização de /l/ nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, de

acordo com os dados dos atlas publicados entre as décadas de 50 e de 90, no Pará, de

acordo com Vieira (1983), já se registrava alto índice de palatalização de /l/. Por outro

lado, no ALPA (1994), não se encontrou registros de palatalização de /l/, mas, no

ALERS (2002), encontra-se registro dessa variação, o que pode indicar que o fator

tempo exerceu alguma interferência sobre esses resultados de palatalização. Para

elucidar esses resultados, talvez coubesse um levantamento sobre os registros de

variação lingüística das cinco capitais estudadas, no sentido de se verificar se lá, em

décadas anteriores, já se detectava o fenômeno.

O mapa 02 nos dá informação quanto à freqüência de palatalização em cada

capital. Se, por um lado, detectamos que a palatalização ocorre nas seis capitais

pesquisadas, por outro lado, verificamos que essa ocorrência apresenta diferença nos

diferentes espaços pesquisados. A freqüência de palatalização de /l/, em Belém, revela

que a lateral alveolar [l] é quase inexistente nessa cidade. Esses resultados corroboram

os resultados apresentados pelo ALiSPA (2003) e pelo ALiPA. De acordo com os

resultados desses atlas, a ocorrência da palatalizada é categórica diante de [j] e

significativamente superior à ocorrência [l] quando se encontra diante [i].

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Os resultados obtidos para Macapá são idênticos aos de Belém. Os referentes a

Manaus, 92% para a variante palatalizada e 8% para a alveolar já se distanciam um

pouco, mas a diferença ainda é pequena. Em Boa Vista, este resultado se distancia um

pouco mais dos índices obtidos para Belém e Macapá, capitais onde se detectou mais

ocorrência de palatalização. Temos 88% para a variante palatalizada 12% para a

variante alveolar.

Os resultados encontrados para Rio Branco e Porto velho são bastante diferentes

dos detectados para as demais capitais da região. Em Rio Branco, temos 30% de lateral

alveolar e 70% de palatalizada. Para Porto Velho, temos 34% de alveolar e 66% de

palatalizada. Apesar de nessas cidades a variante palatalizada ter sido superior à

alveolar, podemos dizer que os resultados dessas duas cidades diferem muito das

demais, pois nelas o índice de alveolar é bem superior aos encontrados em Belém,

Macapá, Manaus e Boa Vista.

É possível que essas diferenças e semelhanças de resultados estejam

relacionados à distancia e ao trânsito que há entre essas capitais. Geograficamente, Rio

Branco e Porto Velho estão muito próximas e o trânsito entre elas é mais facilitado do

que com as demais capitais. Há, por outro lado, bastante proximidade entre Belém e

Macapá e muito trânsito entre Belém, Macapá e Manaus. Há pessoas que moram em

Belém e trabalham em Macapá e vice-versa. Acrescente-se a isso a dificuldade de

acesso a Rio Branco e Porto velho que, inclusive, fazem fronteira com outros países.

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0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Porto Velho Rio Branco Boa Vista Manaus Macapá Belém

Gráfico 01: tendência de contribuição das capitais para a palatalização de /l/

O gráfico 01 ajuda a visualizar a contribuição de cada capital para a

palatalização. Mostra que ela vai diminuindo em direção à esquerda tal qual no mapa

02. Apresenta-se como mais produtiva nas capitais ao Norte, diminuindo em direção ao

Sul da região. A partir dessa figura, podemos verificar também que a palatalização,

mesmo diminuindo em direção ao Sul, sempre apresenta freqüência que está bem acima

de 50%. O menor índice detectado foi 66% para Porto Velho. Já nas duas primeiras

capitais, Belém e Macapá, os índices aproximam-se do efeito categórico.

A leitura do mapa apresentado mostra que a palatalização se estende às seis

capitais da região Norte, mas essa distribuição apresenta diferenças. As cidades que

apresentam mais proximidade e trânsito com Belém e que são de mais fácil acesso

revelam mais alto índice de palatalização. Passemos, agora, à apresentação e discussão

dos resultados bastante eliminares das duas outras regiões.

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3.2 Imagens do Nordeste, do Centro-Oeste e do Norte: comparações preliminares

Os resultados obtidos para as regiões Nordeste e Centro-Oeste se distanciam

significativamente dos encontrados para a região Norte. Enquanto no Norte se registrou

84% de palatalização, na região Centro-Oeste foi registrado índice de 46,15. No

Nordeste registrou-se 54,16.

Tabela 02: frequência de palatalização no Norte, Nordeste e Centro-Oeste NORTE

84%

NORDESTE

54,16

CENTRO-OESTE 46,15

BELÉM 95% RECIFE 54%34 CUIABÁ 50% MACAPÁ 95% SALVADOR 54% GOIÂNIA 54% MANAUS 92% CAMPO GRANDE 32,15%

BOA VISTA 88%

RIO BRANCO 70%

PORTO VELHO

66%

Na região Nordeste, o índice de palatalização é inferior aos encontrados na

região Norte. Enquanto, no Norte, a menor freqüência de palatalização foi de 66%, em

Porto Velho, em Recife e Salvador as freqüências são iguais a 54,34% e 54%,

respectivamente. Os resultados são bem aproximados entre os dois estados.

Esses resultados confirmam em parte os dados de Oliveira e Razky (2008). Para

os autores, a palatalização é um variante que marca o falar Nortista ao passo que a não-

palatalização parece caracterizar o falar de localidades do Nordeste do país, de acordo

com pesquisa bibliográfica aos atlas lingüísticos brasileiros.

Esta pesquisa evidencia, por outro lado, que o fator tempo, mas não só ele,

exerceu alguma influência sobre os resultados da palatalização de /l/ nas localidades

pesquisadas pelo ALiB. Os resultados atuais referentes ao Nordeste se distanciam

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significativamente dos encontrados nos atlas publicados no Nordeste entre as décadas

de 50 e 90. De acordo com os atlas publicados nesse período, a palatalização era

improdutiva nesse período. Segundo Oliveira (2007), no Atlas Prévio dos Falares

Baianos só foram encontradas três ocorrências de palatalização, especificamente em

cálice e malina (uma e duas vezes, respectivamente). No Atlas da Paraíba não há

ocorrência dessa variante para /l/ diante de [i]. Os atlas de Sergipe I e II também não

apresentam nenhuma realização dessa variante.

Os resultados encontrados nos demais atlas publicados também apontam baixa

ou nenhuma ocorrência de palatalização de /l/. Mesmo os publicados de 2000 até 2008,

atlas mais recentes, apontam a predominância do uso da variante alveolar [l] no PB,

excetuando-se os representativos do falar paraense. Esse quadro lingüístico só é

relativamente alterado quando /l/ se encontra diante de [j], em palavras como família,

sandália, cílios, etc (cf. OLIVEIRA E RAZKY, 2008).

Entretanto, cabe ressaltar que embora essa diferença de resultados exista, a

ocorrência de palatalização de /l/ ainda fica num nível neutro, pouco acima dos 50% nas

localidades nordestinas, diferentemente do que ocorre no Norte do país, onde se

apresentam até índices bem próximos dos categóricos.

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Mapa 02: freqüência da palatalização de /l/ no espaço brasileiro

Na medida em que se caminha em direção ao centro e ao sul do Brasil, a

palatalização vai diminuindo, conforme se pode acompanhar por meio da linha em

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verde (Rio Branco, Porto Velho, Cuiabá, Campo Grande). No extremo Norte a

palatalização se mantém forte (retângulo em vermelho). No Nordeste (linha amarela), os

índices se apresentam como neutros ou pouco acima deles.

Além do tempo, outro, dentre vários outros, deve ter alterado esses resultados no

Nordeste e Centro-Oeste: a metodologia adotada, mais especificamente as localidades

pesquisadas, todas urbanas; e a escolaridade. Os atlas publicados se atém praticamente

aos espaços rurais ou não capitais. A maioria deles também só leva em consideração a

educação básica: fundamental, na maioria, e ensino médio. Isso deve ter, de alguma

forma, interferido na diferença de resultados referentes à palatalização a partir de dados

mais recentes e estratificação diferenciada.

CONSIDERACÕES FINAIS

Nas capitais localizadas ao Norte do país essa tendência românica, a

palatalização, difunde-se mais rapidamente do que nas capitais do Nordeste e Centro-

Oeste estudadas. Entretanto, há que se dizer que essa difusão não se dá de igual forma

em toda a região Norte, já que os índices encontrados nas cidades localizadas em

fronteira com outros países apresentam índices de palatalização próximos dos

encontrados nas outras duas regiões estudadas. Se, de uma parte, conforme afirmam

Oliveira e Razky (2008), Rio branco e Porto Velho receberem índices mais baixos de

palatalização porque se encontram mais distantes dos maiores centros urbanos do Norte,

por outro lado, há que considerar que esses resultados se aproximam do encontrado em

dois grandes centros urbanos do país: Recife e Salvador. Isso nos levar a cogitar que a

avaliação que essa variante recebe alterna a depender do espaço em que é usada. Os

resultados indicam também que a metodologia adotada, além do fator tempo, exerceu

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas

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significativa influência sobre os resultados. A análise detalhada dos fatores sociais

adotados no projeto ALiB poderão elucidar futuramente esses resultados preliminares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUILERA, Vanderci. Atlas Lingüístico do Paraná. Universidade Federal do Paraná. Londrina, 1994. ARAGÃO, Maria do Socorro & MENEZES, Cleusa P. Bezerra. Atlas Lingüístico da Paraíba: cartas léxicas e fonéticas. Brasília: UFPB/CNPq- Coordenação Editorial, 1985. CARDOSO, Suzana Alice Marcelino. Atlas lingüístico de Sergipe-II. Salvador: ADUFBA, 2005, VOL.I. CARDOSO, Suzana Alice Marcelino. Atlas lingüístico de Sergipe-II. Salvador: ADUFBA, 2005, VOL.I. CRUZ, Maria Luíza de Carvalho. Atlas Lingüístico do Amazonas (ALAM). Faculdade de Letras, UFRJ, Rio de Janeiro, Tese de Doutorado, 2004. FERREIRA, Carlota, FREITAS, Judith, MOTA, Jacyra, ANDRADE, Nadja, CARDOSO, Suzana, ROLLEMMBERG, Vera & ROSSI, Nelson. Atlas Lingüístico de Sergipe. Salvador: Universidade Federal da Bahia/Fundação Estadual de Cultura de Sergipe, 1987. KOCK, Walter, KLASSMANN, Mario Silfredo e ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul: Introdução. Porto Alegre/ Florianópolis/ Curitiba: Ed. UFRG/ Ed. UFSC/ Ed. UFPR, V. I, 2002. KOCK, Walter, KLASSMANN, Mario Silfredo e ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul: cartas fonéticas e morfossintáticas. Porto Alegre/ Florianópolis/ Curitiba: Ed. UFRG/ Ed. UFSC/ Ed. UFPR, V. II, 2002. NASCENTES, Antenor. Bases para a elaboração do atlas lingüístico do Brasil. Rio de Janeiro: MEC/Casa de Rui Barbosa, v. 2, 1953. OLIVEIRA, Dercir Pedro de. Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul. Campo Grande Mato Grosso do Sul – Editora UFMS, 2007. OLIVEIRA, Marilucia Barros de. Palatalização da lateral alveolar /l/ em posição prevocálica em Itaituba-PA. Maceió. 2007. 230 f. Tese (doutorado). Universidade Federal de Alagoas.

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OOLLIIVVEEIIRRAA,, MMaarriilluucciiaa;; RRAAZZKKYY,, AAbbddeellhhaakk;; SSIILLVVAA,, WWiillkkeerr;; CCOOSSTTAA,, CCéélliiaannee.. IImmaaggeennss pprreelliimmiinnaarreess ddaa rreeaalliizzaaççããoo vvaarriiáávveell ddee //ll// pprreevvooccáálliiccoo nnoo EEssttaaddoo ddoo PPaarráá.. SSiiggnnuumm -- EEssttuuddooss ddaa LLiinngguuaaggeemm,, vv.. 1122,, nn.. 11,, pp.. 229977--332222,, jjuull.. 22000099.. RAZKY, Abdelhak et al. Atlas Lingüístico Sonoro do Pará. Universidade Federal do Pará. Belém, 2003. RIBEIRO, José et al. Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. I, 1977. ROSSI, Nelson. Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1963. VIEIRA, Maria de Nazaré. Aspectos do falar paraense. Belém: Universidade Federal do Pará: Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, 1983.

ANEXO A

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Figura 03: Distribuição da palatalização em família Fonte: Oliveira e Razky (2009)

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ANEXO B

Figura 06: Distribuição da palatalização em liquidação Fonte: Oliveira e Razky (2009)