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  • Historiografias Latino-AmericanasTemas, desafios e perspectivas

  • Criada em 2012, a Coleção EHILA lançou, até o momento,mais de uma dezena de volumes impressos. Pensandoprincipalmente na publicação de coletâneas, inauguramosem 2014 a série E-book da Coleção Estudos HistóricosLatino-Americanos (EHILA), que chega neste momentoao volume 7.

  • Ana Paula KorndörferHernán Ramírez

    Maíra Ines Vendrame(Orgs.)

    2018

    Historiografias Latino-AmericanasTemas, desafios e perspectivas

    OI OSE D I T O R A Estudos HistóricosEstudos HistóricosEstudos HistóricosEstudos HistóricosEstudos Históricos

    Latino-AmericanosLatino-AmericanosLatino-AmericanosLatino-AmericanosLatino-Americanos

    E-book

    Vol. 7

  • H673 Historiografias latino-americanas: temas, desafios e perspectivas [e-book]/ Organizadores Ana Paula Korndörfer, Hernán Ramírez e MaíraInes Vendrame. – São Leopoldo: Oikos; Editora Unisinos, 2018.

    v. 7 (185 p.); 14 x 21cm. – (Coleção Estudos Históricos Latino-Ame-ricanos – EHILA)

    ISBN 978-85-7843-853-1

    Texto em português e espanhol.

    1. Historiografia – Latino-americana. 2. História – Latino-americana.I. Korndörfer, Ana Paula. II. Ramírez, Hernán. III. Vendrame, Maíra Ines.

    CDU 97/8=6

    Catalogação na publicação: Bibliotecária Eliete Mari Doncato Brasil – CRB 10/1184

    © 2018 – Editora Oikos Ltda.Rua Paraná, 240 – B. Scharlau93120-020 São Leopoldo/RSTel.: (51) [email protected]

    Coleção Estudos Históricos Latino-Americanos – EHILA

    Direção:Maria Cristina Bohn Martins (Coordenadora do PPGH-Unisinos)Luiz Fernando Medeiros Rodrigues (Editor – Linha de Pesquisa Sociedades Indí-genas, Cultura e Memória)Maíra Ines Vendrame (Linha de Pesquisa Migrações, Territórios e Grupos Étnicos)Marluza Marques Harres (Linha de Pesquisa Poder, Ideias e Instituições)

    Conselho Editorial:Eduardo Paiva (UFMG)Guilherme Amaral Luz (UFU, Uberlândia, MG)Horacio Gutiérrez (USP)Jeffrey Lesser (Emory University, EUA)Karl Heinz Arenz (UFPA, Belém, PA)Luis Alberto Romero (UBA, Buenos Aires, Argentina)Márcia Sueli Amantino (UNIVERSO, Niterói, RJ)Marieta Moraes Ferreira (FGV, Rio de Janeiro, RJ)Marta Bonaudo (UNR)Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG)Roland Spliesgart (Ludwig-Maximilians-Universität München)

    Editoração: OikosRevisão: Rui Bender

    Capa: Juliana Nascimento

    Imagem da capa: Arte do II Congresso Internacional de Estudos Históricos Latino-Americanos (II CI-EHILA) – Historiografia: temas, desafios eperspectivas

    Diagramação e arte-final: Jair de Oliveira Carlos

  • Sumário

    Apresentação ..................................................................... 7Ana Paula KorndörferHernán RamírezMaíra Ines Vendrame

    Acerca de algunos dilemas y problemas dela historiografía académica actual ..................................... 14

    Fernando J. Devoto

    Acerca de una decisión: itinerarios para la escriturade la historia desde América Latina .................................. 39

    Marta Philp

    Discussões atuais sobre a historiografia do Estadona Argentina .................................................................... 63

    Ernesto Bohoslavsky

    Los “sermones de misión”: entre la oralidad yla escritura en la prédica jesuita ......................................... 81

    Perla Chinchilla Pawling

    Praedicate Evangelium omni creaturae. A prática dapregação jesuítica na antiga Companhia de Jesus ............ 109

    Luiz Fernando Medeiros Rodrigues

    Os Índios nas Fontes Históricas: a problemática dasclassificações étnicas em perspectiva interdisciplinar ........ 138

    Maria Regina Celestino de Almeida

  • 6

    Algunas cosas más sobre la presencia de los italianosen los procesos de colonización en Argentina y Brasil(1820-1960) .................................................................... 159

    Federica Bertagna

    Sobre os autores e as autoras ........................................... 182

  • 7

    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    Apresentação

    Em setembro de 2017, o Programa de Pós-Graduação emHistória da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)comemorou trinta anos de sua existência através da realizaçãodo II Congresso Internacional de Estudos Históricos Latino-Americanos (II CI-EHILA). As datas festivas são oportunida-des para celebrar o caminho percorrido, além de representa-rem, é claro, momentos importantes para refletir sobre as sen-das futuras. Nesse sentido, o referido evento propiciou o exa-me de temas que nortearam a produção historiográfica desen-volvida junto ao Programa de Pós-Graduação em História daUnisinos nas últimas décadas. Nos textos que compõem estelivro, cada autor buscou abordar questões ligadas aos EstudosHistóricos Latino-Americanos, apresentando a sua contribui-ção para os debates historiográficos.

    A proposta, nesta publicação, foi a de apresentar análi-ses sobre temáticas consagradas na historiografia latino-ame-ricana, assim como apontar outras nas quais se percebem no-vos horizontes. Este caminho dialético é necessário, não ex-cludente e inacabado, o que permite que o conhecimento avan-ce no sentido de preencher lacunas e propor novas leiturassobre temas já contemplados, processo que permite alcançarpatamares analíticos mais elevados.

    Mais especificamente, apresenta-se, aqui, um exame crí-tico sobre algumas das perspectivas com as quais os historia-dores/autores tiveram que lidar durante suas trajetórias, pri-

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    vilegiando as visões plurais do métier histórico. Algumas des-tas visões, que pareciam superadas, voltam a ser analisadas,propiciando, assim, certo avanço em relação às interpretaçõessobre os processos e dinâmicas históricas.

    O tema da crise das humanidades foi o estopim parapromover algumas das discussões registradas no presente li-vro, a partir do qual se buscou encontrar respostas metodoló-gicas para distintos problemas. Para alguns, uma das dificul-dades emergentes seria a de estarmos presos aos marcos nacio-nais, condição que se tenta superar a partir de outras óticas,como o viés transnacional; para outros, o problema principalainda pode ser traduzido nos termos da nossa limitação aocampo disciplinar, situação passível de ser superada somentepor meio de um diálogo fecundo com outras ciências. Umnovo horizonte de questões e de desafios vem se colocandohá algum tempo, relacionados, especialmente, à complexida-de da sociedade e ao avanço das inovações introduzidas pelarevolução tecnológica em curso. Nesse contexto, o quadro decrise precisa ser tomado como estratégico, pois, se faz emer-gir as insuficiências e fragilidades, em contrapartida, tambémalarga o campo dos possíveis e clama por experimentos e ou-sadia. Nessa perspectiva é que podemos e devemos pensar apesquisa histórica, suas possibilidades, demandas e incansá-veis revisões.

    Várias são as inquietações às quais Fernando Devoto sededica em sua exposição, intitulada Acerca de algunos dilemas yproblemas de la historiografía académica atual. Devoto parte deuma preocupação que é atual e central, a de se perguntar acercado público que lê os escritos que nós, historiadores, ou cien-tistas, produzimos. A partir dessa preocupação, indaga sobreas mudanças e o contexto de crise vivenciado pelos historia-

    KORNDÖRFER, A. P.; RAMÍREZ, H.; VENDRAME, M. I. • Apresentação

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    dores, refletindo sobre a profissionalização e as formas deabordar o passado. Questiona o alcance dos estudos produzi-dos na academia, pois, mesmo com a difusão da internet epor causa dela, muitos trabalhos foram lidos apenas pelo pró-prio autor e duas ou três pessoas. Há um excesso de oferta deartigos, capítulos e livros para consumo acadêmico e para opúblico em geral, o que redunda em um decréscimo per capitade leitores. O problema da excessiva produção sobre o passa-do pode ser colocado em relação a outras questões de ordemexterna e interna à disciplina, pois essa superprodução acom-panha a expansão da profissionalização. Esse movimentopoderia estar relacionado diretamente ao atendimento de de-mandas por conhecimento sobre o passado, mas, como argu-menta o autor, não é assim. A dilatação do campo profissio-nal liga-se ao desenvolvimento dos sistemas universitários eao crescimento do sistema de ensino, tendo alcançado umexpressivo grau de especialização. O público alvo dessa pro-dução seria o próprio universo acadêmico. O autor busca cor-relacionar essa excessiva produção com as caraterísticas dodesenvolvimento do campo profissional, questionando o pa-pel representado por essa alta especialização. Existem múlti-plas e contrapostas tendências demarcadas no território hete-rogêneo da historiografia atual. O esforço do autor é por en-contrar na própria dinâmica da oficina da história algumainspiração ou orientação, o que o leva a revisitar, por meio deexemplos, certos momentos da historiografia do século XIX,atualizando inclusive as tensões constitutivas da disciplina. Osentido do trabalho do historiador é a questão de fundo a ins-tigar a sua reflexão. Com esse intuito, contrasta modelos defazer história – antigos e atuais – chamando criticamente aten-ção para permanências, repetições e abandonos, exercitando,

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    nesse diálogo instigante e crítico, o exame de algumas opçõese caminhos assumidos em meio à pluralidade de formas dofazer histórico que caracterizam a historiografia atual.

    O célebre debate entre Lawrence Stone e Eric Hobsbawmsobre a narrativa, ocorrido entre 1979/80, é o ponto de parti-da escolhido por Marta Philp para mostrar, em seu texto Acer-ca de una decisión: itinerarios para la escritura de la historia desdeAmérica Latina, como existe uma certa circularidade no pen-samento historiográfico. O debate entre Stone e Hobsbawmmarca a inflexão de uma história estrutural para outra, maispreocupada com o particular e com a narrativa na configura-ção dos objetos de estudos, entrando em um processo cres-cente de fragmentação, com um “acúmulo de migalhas”, comoconstatou François Dosse. Quarenta anos depois, observamoso retorno ao global e a uma preocupação com temas históri-cos mais amplos, menos particulares. Philp procura mostrar,através de seu próprio objeto de pesquisa, a história políticade Córdoba (Argentina), como existe uma relação dialéticaentre essas duas perspectivas – a particular e a global –, cons-tituídas ao longo das discussões que se tornaram centrais nocampo historiográfico, composto por abordagens que não sãopróprias da história, mas das ciências sociais como um todo,o que aponta para a interdisciplinaridade, outra necessidadedo momento, ponto-chave nas discussões que tiveram lugarno congresso.

    Ernesto Bohoslavsky, por sua vez, analisa a visão doEstado na historiografia argentina em texto intitulado Discus-sões atuais sobre a historiografia do Estado na Argentina. O autorproblematiza as interpretações que consideravam o Estado nolongo prazo, em escala nacional e a partir da perspectiva dosatores centrais, para, então, incorporar os questionamentos

    KORNDÖRFER, A. P.; RAMÍREZ, H.; VENDRAME, M. I. • Apresentação

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    que surgem a partir dos anos 1960, em particular oriundos deoutras disciplinas, como a sociologia, a ciência política e afilosofia. Sob estas considerações, a forma unitária do Estadose esfacela, e os pesquisadores se voltam para análises micro,que consideram a multiplicidade de poderes e de agentes, con-trastando com a tendência historiográfica que dominara atéentão. Assim, a nova historiografia discute abordagens con-flitantes e que trazem novos questionamentos, mas que aindaprecisam se encontrar numa síntese, dado que se colocam,para além das vantagens de uma ou outra perspectiva, limita-ções importantes.

    Entre os trabalhos que abordam questões mais específi-cas da historiografia latino-americana, Perla Chinchilla Pa-wling examina as diferenças entre a “cultura da oralidade” ea “cultura do impresso”, durante o Barroco, através da prega-ção jesuítica em Los “sermones de misión”: entre la oralidad y laescritura en la prédica jesuita. É neste universo particular que aautora estabelece a distinção entre o sermão de “missão”, vin-culado ao espaço oral, e o de “corte”, relacionado à imprensae ao livreiro. Mais que uma classificação de tipos de sermõesjesuíticos, Perla Chinchilla busca abordar uma diferenciaçãoque remete ao processo de urbanização durante os séculosXVII e XVIII, e às múltiplas faces da pregação, tanto emambiente de corte quanto em ambiente de missão, reafirman-do a capacidade de “adaptação” da Companhia de Jesus.

    Luiz Fernando Medeiro Rodrigues colabora com umtexto no qual analisa a prática de pregação da Companhia deJesus no seu primeiro século. Em Praedicate Evangelium omnicreaturae. A prática da pregação jesuítica na antiga Companhia deJesus, Rodrigues observa que a parenética vai se ajustando adiversas circunstâncias históricas. Na fase fundacional da

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    Companhia, a prática da pregação buscava responder às ne-cessidades pastorais imediatas que os primeiros jesuítas iamencontrando nos seus apostolados, especialmente em territó-rios da Reforma. Já quando a Companhia se tornou mais ins-titucionalizada, os pregadores jesuítas adaptaram a sua práti-ca parenética na busca de respostas aos problemas que o im-pacto do Novo Mundo, apenas descoberto, gerou, tanto nametrópole quanto na colônia; seja com uma pregação voltadaa um público mais erudito, seja com aquela pregação exerci-tada pelos missionários em suas missões.

    Maria Regina Celestino de Almeida, por sua vez, abor-da um tema que é transversal: o da problemática da classifica-ção étnica dos índios nas fontes históricas, já que, diferente-mente de interpretações culturais e de relações consanguíne-as, que há muito tempo deixaram de ser vistas como elemen-tos definidores das identidades étnicas, passaram-se a priori-zar, cada vez mais, as dimensões políticas e históricas. Atra-vés de um diálogo com a antropologia, a autora destaca, emOs Índios nas Fontes Históricas: a problemática das classificaçõesétnicas em perspectiva interdisciplinar, como o tempo se tornouum elemento determinante nessas análises.

    Por fim, Federica Bertagna propõe, em Algunas cosas mássobre la presencia de los italianos en los procesos de colonización enArgentina y Brasil (1820-1960), uma discussão sobre um temajá bastante estudado na América meridional: a colonização epresença italiana no Brasil e na Argentina. Através de um exer-cício metodológico, que é o da comparação, procura pensar,numa perspectiva relacional, o papel desempenhado pelos ita-lianos no processo de colonização agrícola nos mencionadospaíses, as similitudes e diferenças no que tange às experiênciasdos indivíduos e à própria política por parte dos Estados. Desse

    KORNDÖRFER, A. P.; RAMÍREZ, H.; VENDRAME, M. I. • Apresentação

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    modo, dá provas do quanto pode ser vantajosa a utilização deperspectivas comparadas para repensar velhas questões e pro-por novas no que tange aos temas da imigração europeia empaíses como o Brasil e a Argentina, que, a partir da segundametade do século XIX, passaram a fomentar a colonizaçãoitaliana.

    Concluímos, assim, esta breve apresentação, agradecen-do aos autores dos textos que compõem o presente livro, bemcomo à Coordenação de Pessoal de Aperfeiçoamento de Ní-vel Superior – CAPES, que disponibilizou recursos financei-ros para que a presente publicação fosse possível.

    Desejamos a todos(as) uma ótima leitura.

    Os organizadores

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    Acerca de algunos dilemasy problemas de la historiografía

    académica actual1

    Fernando J. Devoto

    1.

    Agradezco a los miembros del Programa de Pós-Graduação em História de UNISINOS por haberme invitado adar hoy aquí esta conferencia y pido excusas por no poderexponer en portugués y ni siquiera en portuñol. Ante todo,quisiera señalar que no he venido aquí a enseñar nada sino atratar de establecer un diálogo, a promover una discusión en laconvicción de que la historia será dialógica o no será. Quisieratambién hacer algunas precisiones acerca de lo que este trabajono es –precisiones tanto más necesarias dada la amplitudpotencial del argumento y la imposibilidad de tener losconocimientos mínimos para dominarlo– No es lo que se llamabaun estado de la cuestión, ni una revisión de la producción de lasúltimas décadas ni tampoco una taxonomía. No es desde luegotampoco una síntesis. ¿Quién podría hacerlo? No yo ciertamente.Cuando la Profesora Maira Vendrame me pidió si podía referirmea algo tanto más acotado como la historiografía argentina ybrasileña, tuve que indicarle que conozco insuficientemente laprimera y casi nada de la segunda y lo que conozco es algoantiguo. Como otros leí y admiré a estudiosos tan originales comoGilberto Freyre, Sergio Buarque, Celso Furtado o Darcy Ribeiro

    1 Conferencia de abertura del II Congresso Internacional de Estudos HistóricosLatino-Americanos (II CI-EHILA). Historiografia: Temas, desafíos e perspectivas.

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    (y elijo deliberadamente autores antiguos y muy diferentes) y,por datados que puedan estar, había en ellos un gesto ambicioso:proponer una interpretación del Brasil o de América Latina.Mucha agua ha corrido bajo los puentes y llegando a nuestrosdías y, por permanecer tan solo en el ámbito académico, sé queen ambos países hay congresos que reúnen miles de ponencias,a los que no asisto hace años en el caso argentino y nunca lo hehecho en el caso brasileño, ¿cómo podría tener una idea siquieraaproximada de lo que se presenta en ellas?

    Veo, por ejemplo, por Internet que el programa del XXIXSimposio Nacional de Historia realizado en Brasilia en julio deeste año tiene 551 páginas y contiene 120 sesiones de trabajo,¡31 mesas redondas, conferencias, minicursos y tantas cosasmás! Por su parte el Programa de las XVI Jornadas Interescuelasrealizadas en agosto de este año en Mar del Plata tiene 141páginas correspondientes a 147 mesas y unas 1.800 ponencias.Descubro también a través de Internet que en la India organizanun Congreso Anual, no bianual, de Historiadores al que asistela comparativamente baja cantidad de 1.300 historiadores,aunque es de suponer que hay una más rigurosa selección previaallí. Por lo demás todo ello es apenas unas gotas en el mar, si seconsidera a la historiografía globalmente. ¿Cuantos centenaresde miles de artículos y libros académicos se publican por año?La pregunta no deja de inquietarme. La acompaña otra:¿Cuantos lectores tiene cada uno de ellos? Dado que una buenaparte es financiada por dineros públicos, vía subsidios, o espagada por los propios autores como parte de su carreraacadémica, lo que en cualquier caso reasegura un beneficio aleditor independientemente del mercado, es de temer que pocos.El Consejo Superior de Investigaciones Científicas de Españatiene toda una serie de libros que se editan con propósitosacadémicos, en una tirada de 50 o 100 ejemplares. Recuerda alos jóvenes poetas que editaban a sus expensas sus volúmenes

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    de versos y los ponían en los bolsillos de los abrigos de laspersonas que estaban en un Café. ¿Y si agregamos todos losarcanos que ahora están disponibles en Internet y que hanpermitido acceder potencialmente a casi cualquier texto publicadoen cualquier lado? Según los datos que resultan en la página eninglés de academia.edu, lanzada en 2008, esta tiene 65.000.000de usuarios y 21.000.000 de papers académicos cargados, en todoslos campos del saber profesionalizado. Bajo el rubro History seconsignan 3.375.188 seguidores a septiembre del 2018.

    Crece así el universo de publicaciones o de textos endisponibilidad e inevitablemente decrece la del número delectores “per cápita”. Todo ello más allá de las incesantespolémicas académicas y sin asumir aquellas posiciones máspesimistas que indicaban hacia el 2007 que la mitad de los papersacadémicos no habían tenido más lectores que el autor, losevaluadores y el editor de la revista o que el 90% de los mismosno había sido citado nunca. Cifras todas ellas controversiales,ya que las bases de datos en que reposan son muy incompletas.Es simplemente un comentario de buen sentido, que derivadel aumento del número de papers y quizás más aún de lasimplificación de los procedimientos para acceder a ellos (algoasí como la velocidad de circulación de la moneda en laconocida y criticada fórmula de Irving Fisher), ya que si haymás textos disponibles no hay más tiempo para dedicarles.

    Desde luego que a ello debemos agregar todavía, más alláo más acá, la producción extracadémica, incluida la muynumerosa de los eruditos locales. Demasiado a menudo herecordado la observación inquietante del gran AlexanderGerschenkron, y que desconcierta a muchos prestigiosos colegascuando la formulo, acerca de la cantidad de libros que alguienpuede leer a lo largo de su vida académica. ¿Tres libros porsemana? 150 por año? 6.000 en 40 años. Es verdaderamente poco,¿no les parece?

    DEVOTO, F. J. • Acerca de algunos dilemas y problemasde la historiografía académica actual

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    Por otra parte, la alarma acerca de este exceso de ofertano es nada nueva, como ya lo observaba, por ejemplo, RogerChartier, en el sobrio diagnóstico que hizo en el año 2007 en suLección inaugural en el mismo College de France (reflexiónque fuera retomada con una entonación mucho más pesimistay creo que con otro sentido por Patrick Boucheron, en su sonadaintervención en el mismo lugar en el 2015). Cito a Chartier, enel comienzo del apartado que en el libro que la incluye encastellano se titula “Entre el exceso y la pérdida: “Un temorcontradictorio ha habitado la Europa moderna y todavía nosatormenta. Por un lado el temor ante la proliferacióndescontrolada de los escritos, la multiplicación de libros inútiles,el desorden del discurso. Por otro lado, el miedo a la falta, lapérdida, el olvido”. Debo confesar que me preocupa más loprimero que lo segundo.

    Lo hasta aquí expuesto debería llevar, ante todo, a lamodestia de admitir que hay muchas más cosas de las queconocemos y ellas pueden ser tanto o más fascinantes que lasque conocemos. La historiografía se nos parece, entonces, comoun vasto mar del que no vemos la otra orilla y si entramos poruna parte de él descubriremos ciertos mundos y nada sabremosde otros. Por poner un ejemplo, el que ingrese desde la historiaeconómica no podrá no dejar de observar que uno de los librosmás renovadores de las últimas épocas es, en mi opinión, el deKenneth Pommeranz, “The great transformation”, con susugerente y provocadora propuesta de relativizar el primadoeconómico europeo si las cosas son miradas en el largo plazo.Aquel, en cambio, que entre desde la historia cultural podrálegítimamente ignorar la existencia de Pommeranz, comoseguramente el historiador económico ignorará que alguienllamado Anthony Grafton escribió una innovativa pequeña obrasobre la historia de las notas al pie. Seguramente algunos pocosautores lograron alcanzar en su momento un reconocimiento

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    muy vasto: Pirenne, Meinecke, Braudel, Hobsbawm, más tardeCarlo Ginzburg y más recientemente aún Thomas Piketty, porponer unos nombres al azar. ¿Pero fueron leídos extensamente?Una historia de las ediciones y sus tiradas sería quizásdesconsoladora en algunos casos. La primera edición españolade “La mediterranée” publicada en 1953 (4.000 ejemplares)tardaría veinte años en agotarse y la italiana del mismo año,treinta. Y habían sido publicadas por editores tan prestigiososcomo Fondo de Cultura Económica y Einaudi. Se dirá que lascosas han cambiado mucho recientemente pero no estoy seguroy un libro como el de Piketty agotó la primera edición encastellano (2014) en una semana pero la primera reimpresión(4.000 ejemplares) tuvo un desarrollo mucho más lento.

    ¿Qué puede hacerse ante esa inabordable producciónhistoriográfica sin caer en alguna variación o adición a laspesimistas observaciones de Nietzsche acerca de la utilidad yel daño de la historia para la vida? La solución más practicada,el recorte del campo de investigación, es el camino más habitualy en mi perspectiva el menos prometedor. Historias regionaleso locales que o verifican interpretaciones generales corren elriesgo de la tautología pero la multiplicación de las excepcionescorre otro no menor, que es el de volver a una versión extremade la idiografía. Por su parte, reposar en la idea de que hay queleerlo todo sobre un tema a su vez se apoya en la conviccióningenua e ilusoria de que el pasado puede ser copiado ofotocopiado. Por su parte, las promesas, por ejemplo de DavidArmitage, Jo Guldi y otros que piensan, que los programasinformáticos pueden ser una solución recuerdan sombríamenteotras experiencias de cuantificación del pasado. ¿Se volverá ahacer historia de las ideas, historia intelectual o historia de lacultura escrita sin leer los libros, como anatemizaba hacemuchos años Franco Venturi? En la perspectiva del que estoescribe, más prometedora es seguramente la estrategia del

    DEVOTO, F. J. • Acerca de algunos dilemas y problemasde la historiografía académica actual

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    connoisseurship, acerca de la que, en relación con la historia delarte pero que puede aplicarse a otros campos, hablaba hace nomucho Carlo Ginzburg y que es, volens nolens, una variante enmi opinión de la intuición hermenéutica que permite descartarrápidamente muchas de las conexiones potenciales. Ello, desdeluego, ayuda a desbrozar el terreno y a abandonar pistasinconducentes. Con todo, se debería recordar, con Max Weber,que las conexiones significativas son exploradas a partir de lashipótesis de investigación elegidas y ello implica un recortedeliberado y racional de un territorio potencialmente ilimitado,pero también dado que las hipótesis posibles son múltiples(como los valores que las orientan), ello no suprime lamultiplicidad de opciones alternativas. Siempre también sepodría recordar la observación de Benedetto Croce, retomadapor nuestro Tulio Halperín Donghi, de que uno siempre conocela historia que quiere conocer y ella es la que considera suficientepara resolver el problema que se plantea. De donde el grado deerudición sería voluntario, no necesario. ¿Será suficiente?

    2.

    El problema de la expansión de las producciones sobre elpasado puede ser puesto en relación con otros problemasexternos e internos a la disciplina. Con relación a lo primero,la preocupación sería menor si esa superproducción queacompaña la expansión de la profesionalización y sus reglasreflejase renovados apetitos de la sociedad por conocer supasado. Lamentablemente, no necesariamente es así. Esosapetitos, si existen, suelen ser saciados por periodistas, ensayistas,divulgadores de vario tipo, incluidos cineastas, documentalistas,novelistas, historiadores de domingo, etc. Y si compartimos lasobservaciones de François Hartog acerca del “presentismo” deun nuevo régimen de historicidad en el que estaríamos insertos

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    (¿pero ello es igualmente válido para Francia y para los paísesSudamericanos?), podríamos concluir que esos consumoshistoriográficos son mucho más curiosidad o cambios dedecorados, en el sentido que decía hace más de un siglo nuestroJuan Agustín García, remitiendo a una observación deSchopenhauer acerca de que todos los personajes recitan siemprela misma obra con distintos nombres y distintos ropajes, ya quelos motivos y los acontecimientos difieren en cada pieza pero elespíritu de los sucesos es el mismo.

    Hasta cierto punto, la dilatación del campo profesionalpuede vincularse, en cambio, a otro proceso, al menos en lassociedades occidentales. Ella ha acompañado la expansión delos aparatos estatales y dentro de ellos al del sistema universitarioque, como cualquier espacio en ese ámbito, es inelástico a labaja. Cierto, ello también es posible porque sostener unahistoriografía académica cuesta relativamente poco.Consecuencias, varias. Una primera es que el público de laproducción historiográfica profesional no está primordialmenteen las élites dirigentes, o en la opinión pública interesada, enlos militantes políticos o en las clases medias letradas: está enlos colegas y en ese “mercado cautivo” que son los estudiantes.Ello tiene ulteriores consecuencias, que pueden englobarsedentro del ámbito de la nueva profesionalización. La primeraes que los historiadores académicos, aún sin llegar al nivel delos politólogos o los sociólogos, tienden a desarrollar, comodiría Pocock, un lenguaje especializado, un lenguaje de segundoorden o metalenguaje que no es inmediatamente accesible alos que no pertenecen al campo académico. Y desde luego esefenómeno es más intenso cuanto más sofisticada técnicamentesea esa historiografía y/o el subcampo disciplinar.

    Comparemos esta situación con la existente en elmomento de la primera gran oleada de la profesionalizaciónen la segunda mitad del siglo XIX. Cualesquiera fuesen las

    DEVOTO, F. J. • Acerca de algunos dilemas y problemasde la historiografía académica actual

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    Historiografias Latino-Americanas: temas, desafios e perspectivas

    habilidades diferenciales de los historiadores académicos (siexistían) ellas producían relatos que eran perfectamentecomprensibles para un lector que estuviese fuera del campo.Anotemos otra: se suponía que al menos las elites y las clasesmedias ilustradas debían poseer, si no leer, un conjunto de obrasde historia, como consumos culturales que antes que nadaconnotaban su posición social. Desde luego que ya en aquelmomento temprano los historiadores que empezaban a definirsecomo profesionales, por el lugar institucional que ocupabancomo por poseer algunas pócimas mágicas llamadas “método”,ya tenían una formidable competencia desde fuera del campoacadémico. Alphonse Aulard desde su cátedra de Historia dela Revolución Francesa creada en la Sorbona en 1889 podía talvez ganar la batalla contra Taine en el mundo universitario,pero la perdía en el seno de las élites sociales y profesionales,tanto en Francia como en estos territorios sudamericanos tantomenos profesionalizados. Y Taine era por entonces una lecturasocialmente tan imprescindible tanto y como lo había sido (yen parte todavía lo era) Edward Gibbon. Empero tampocoentonces las imágenes uniformes ayudan mucho. He ahí elámbito germano donde los profesores universitarios siemprepudieron controlar y hegemonizar el prestigio en la profesiónhasta bien entrado el siglo XX.

    Se ha insistido, además, en el lugar que los historiadoresocupaban entre los siglos XIX y XX en la llamada invención dela tradición, noción esta algo problemática, ya que si la historianacional no es inventada de un momento y para siempre, en lamedida que ella es una sedimentación de distintas invenciones,deviene ella misma una tradición. En cualquier caso, esainvención o construcción orientaba a ciertos propósitos a la vezdisciplinadores e identitarios y ello se relacionaba como es biensabido con la expansión de la historia en el sistema educativo.¿Cumple o mejor se le atribuye hoy a la historia aquel papel?

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    Seguramente no en la misma forma, ni con la misma intensidad.El retroceso del lugar de la historia en el sistema educativo, porejemplo, en beneficio de las ciencias sociales podría ser un buenindicador, aunque las variedades nacionales pueden mostrarun panorama diferenciado, con los casos subnacionales encontra tendencia.

    Desde una mirada interior, en cambio, la situación de lahistoriografía actual, recordando nuevamente la dificultad desugerir panoramas uniformes, puede ser vista no desde elvolumen de producción o desde una demanda exterior, sinodesde los argumentos y los territorios en que se despliega. Eneste plano, va de suyo también que la situación actual, hastadonde llegan mis limitadísimos conocimientos, es hasta talpunto heterogénea en temas, instrumentos y problemas quecualquier intento de dar un cuadro de conjunto es una purailusión. Desde luego que a ello ha contribuido una dilatacióntemporal y horizontal del territorio del historiador que, sin dudasdebe celebrarse. Horizontal, en tanto incorporó nuevasdimensiones de la acción humana (y no humana) y cuadroscronológicos larguísimos. Vertical, por el renovado interés porlas personas “sin cualidad” y por las clases subalternas (o comoquiera llamárselas). Aunque en este terreno, las ganancias hanido acompañadas de muchos riesgos al orientarse los/lashistoriadores/as a exprimir fuentes fragmentarias y especularescomo únicos instrumentos disponibles. Ya todo ello habría queagregar la dimensión del género.

    Esa dilatación hace más arbitrarias aún las argucias quese utilizaban hace unas décadas para hablar de pequeñosfragmentos como si fueran la totalidad, digamos por ejemploen la década del 70 . Sobre todo, en los países periféricos y enespecial en América Latina, se hacía pasar por el conjunto dela historiografía a lo que producían algunas revistas, pongamospor caso “Annales” o “Past and Present”, o algunas instituciones

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    como la EHESS, o las Universidades de Berkeley, Princeton oBielefeld. Sin ánimo polémico, solamente señalaría que nomuchos, por no decir casi nadie, había tomado nota, por lomenos en Argentina, que en 1975 John Pocok había publicado“The Machiavellian Momentum”; o que en 1973 Hayden Whitehabía escrito su discutible, pero luego tan influyente,“Metahistoria”; o que en 1979 Reinhardt Koselleck habíaeditado su “Semántica de los tiempos históricos”; o que en 1976Carlo Ginzburg había presentado “Il formaggio e i vermi”. Loque podría seguramente sugerir pensamientos maliciosos, comoque tendemos a comprar en la periferia la tecnología que ya ensus lugares de origen ha dejado de utilizarse, con lo que lasverdaderas innovaciones, si lo son, llegarán con veinte años deretraso. Comparación discutible, se dirá, porque no estamosbajo un régimen de evolución tecnológica sino que vivimosredescubriendo o resignificando historiadores del pasado. Sí,pero de un pasado algo más lejano no de “apenas ayer”. Sedirá, para los casos que he presentado, que los tiempos oscurosde la barbarie militar obstaculizaban las recepciones, en especialen Argentina; sea, pero no lo hacían con relación a autorestanto más revulsivos para dictadores como Edward P.Thompson o Eric Hobsbawm, que sí eran bien conocidos entrehistoriadores sudamericanos. Como la modernidad, tambiénel atraso es un movimiento desigual y fragmentario, no un frentehomogéneo. Se dirá también que las cosas han cambiadorecientemente y que el “retraso” ha disminuido y aún si asífuese ¿no se sigue mirando con algo de devoción hacia loscentros historiográficos de prestigio desde una actitud desubalternidad o incluso de imitación?

    Sea de ello lo que fuere, si la operación de la parte por eltodo, con el agravante de que esa parte refería más aintercambios desiguales que a otra cosa, era ya hace unasdécadas una abusiva simplificación, lo sería mucho más hoy

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    donde no sabemos o yo no sé cuáles serían esos puntos dereferencia, esas “vanguardias” de la profesión, sin olvidar quela misma idea de vanguardia parece implicar una noción algoo bastante teleológica y progresiva de la historiografía.Admitirlo es me parece una estrategia más honesta que reducirla historiografía a lo que se produce ahora nuevamente en elfatigado Boulevard Raspail; o lo que sale publicado en unarevista que por lo demás nunca fue hegemónica en Italia comoQuaderni Storici; o aferrarse a los sucesivos “giros” (incluido unreciente “animal turn”, al que el newsmagazine de la AmericanHistorical Association le dedicó una nota en noviembre del2016, que a su vez refería a diversas sesiones sobre el argumentoque tendría lugar en el congreso de la Asociación del añosiguiente). Giros que parecen recordar el divertido enredo delúltimo acto del Falstaff verdiano. Estrategia más honestatambién que intentar reducir esa pluralidad a las modas o aciertos problemas y angustias que acucian a las elites del mundohistoriográfico occidental. Y, por otra parte, imaginar lasmutaciones de la historiografía como una serie de etapassucesivas ¿no es una idea demasiado unilineal de un procesoque puede ser más complejo? Hace muchos años cuando yoera joven se había sancionado el fin de la historia política o dela historia institucional en favor de la historia económica y socialy, sin embargo, la enorme mayoría de los cultores de la profesiónseguía practicando la historia del mismo modo tradicional quelos novadores consideraban perimido. Luego sería la historiacultural la que habría tomado el relevo que dejaba atrás a lahistoria social y económica como una antigualla. Es de imaginarque la historia cultural se aproxima también ella al patíbuloque imponen las modas…

    Lo mismo podría decirse si la referencia no fuese a latemática sino a la escala. Así, por ejemplo con la microhistoria,que más allá de sus desmesuradas ambiciones y de su impulso

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    inicial, no sustituyó a la macrohistoria, sino que tuvo queconvivir con ella y hacerlo desde una posición, en Italia y nosolo en ella, muy minoritaria Y por detenernos en innovacionesmás recientes, las a la moda historias globales, transnacionaleso cruzadas, por mucho que aspiren a marcar una tendencia,tienen que coexistir con las muchas más clásicas historiasnacionales, subnacionales (llamadas a veces impropiamenteregionales) o locales. Y a ello agregaría todavía que la muertedel estado nacional como unidad de sentido, histórica ehistoriográficamente, sea ello un bien o un mal, no me parecede ningún modo evidente. Ya también John Pocock sugiriótodas las implicancias que tenía que la comunidad dehistoriadores se desvinculase de una comunidad política en laque por otra parte está inevitablemente incluido, aunque no loadmita. Si se me permite agregar un ejemplo reciente: entre lapresentación de esta ponencia y su redacción definitiva fallecióel gran historiador napolitano Giuseppe Galasso, uno de losúltimos herederos del historicismo croceano. Tres meses antesde su muerte las imágenes de los diarios “La Repubblica” y el“Corriere della Sera” mostraban una larga cola de personasque, en noviembre del 2017, esperaban para entrar al TeatroBellini de Nápoles (tras el pago de ocho euros) para escuchar aGalasso en la primera conferencia de un ciclo “Lezioni diStoria” a que organizaba la editorial Laterza. El historiador dela ciudad, en la ciudad. Aunque, desde luego, Nápoles es unaciudad especial y Galasso no era solamente un historiador sinoun hombre público, es de temer que sea una imagen de untiempo que fue o está en tránsito de serlo. Desde luego que nose ignora aquí que esa imagen ha sido en la historiografíaoccidental contrapuesta a otra, la del historiador “apólida”(“autónomo, sin soberano”) qué, porque “apólida”, puedetomar la distancia necesaria para pensar “objetivamente”,argumento que presentó ya Luciano de Samosata en aquél texto

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    que ha sido llamado el primer manual del método: “Como sedebe escribir la historia”.

    En cualquier caso, también en este tema emerge unapluralidad que, al no poder ser colocada sin esfuerzo en unasecuencia teleológicamente orientada ayude a pensar que quizásuna imagen más pertinente del transitar de la historiografía seala de capas geológicas superpuestas más que las de sucesivasetapas cada una de las cuales sustituiría y superaría a la otra.

    Por otra parte, si en vez de detenernos en una miradaextensiva lo hacemos en las propuestas que buscan sugerir unrumbo para la historia, no encontraremos coincidencias, ni en eldiagnóstico ni en la terapia. Esto, bien mirado, no es tan nuevoni sorprendente. Si vamos más allá de diferencias temáticas, deencasillamientos tipo historia social, cultural, de escalas espacialeso temporales (macro, micro, de longue durée o acontecimiento),de todos modos encontraremos, al menos en todo el siglo XX, ala historia surcada por varias tensiones, que yo creo constitutivas.En primer lugar, entre aproximaciones hermenéuticas einterpretaciones nomológicas y esa diferencia irreductible, queremite a su vez al debate entre un modelo de ciencia o dos,constituye tanto un argumento para hablar críticamente de laanarquía epistemológica de la disciplina (como lo hace conargucia Hayden White para negarle carácter científico), comopara exaltar su riqueza. En cualquier caso, en mi perspectivaesa es una dicotomía sustancial. Y para dar un ejemplo,señalaría hasta que punto las lecturas historiográficas sobre lamicrohistoria, de la cual tienen muchos conocimientos (creo)aquí en UNISINOS, han prescindido de considerar las radicalesdiferencias que existen entre sus cultores al respecto: porejemplo, entre la aproximación filológica-hermenéutica deGuinzburg y la aproximación nomológica enraizada en elpositivismo lógico (como creo que acertadamente ha señaladoPaul André Rosenthal) de Giovanni Levi y de la mayoría de

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    sus discípulos. Por decirlo de un modo más sencillo, no creoque un libro como “Il mondo mágico” de Ernesto De Martinopueda ser recomendado por Maurizio Gribaudi u otro sobre“El comportamiento administrativo” de Herbert Simon, porparte de Carlo Ginzburg. Que los supuestos implícitos deltrabajo que realizan aquellos autores sea inobservado por lamayoría de los historiadores, poco dados a seguir los consejosde Koselleck acerca de la necesidad de una Historica, entendidacomo las condiciones de posibilidad del conocimiento histórico,no quiere decir que ellos no existan. Una diferenciaepistemológica no es eludida por el hecho de que se trate deuna solidaridad, una “old boy network” o, por usar unaexpresión auto irónica de Edoardo Grendi, una “cótterie”.

    En cualquier caso, la dicotomía sugerida se puedeformular en muchos modos, no explícitamente polémicos y, asu modo, se vincula con otras, como la relación con diferentesciencias sociales, ellas mismas surcadas por tensiones del tiponomotético-idiográfico. Ensayemos con dos ejemplos actualestomados arbitrariamente de los muchos que tratan de lidiar conla llamada “crisis” de la historia de las que se está hablandodesde hace décadas. Una de las últimas lecturas la debemos aSerge Gruzinski que, en 2015, publicó un breve libro,“L´histoire, pourquoi faire?”. La edición italiana de 2016 tradujoel título de manera más explícita. “Abbiamo ancora bisognodella storia?”. Encontramos allí afirmaciones como que “latelevisión utilizada en modo inteligente tiene la misma dignidadque los mejores libros de historia” o que, en especial a propósitode los films de Sokurov, “podemos preguntarnos si la creacióncinematográfica es capaz de superar los límites en los que estáconfinada la narración histórica”

    Del otro lado del Atlántico, un año antes, en el 2014, doshistoriadores norteamericanos, David Armitage y Jo Guldi,publicaron “The History Manifesto”, que encontró tanto un

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    remarcable éxito como encendidas críticas. Su diagnóstico estambién que la historia está en crisis, que los historiadores hanperdido peso empantanados en el corto plazo, abrigados en elrefugio de la profesionalización y de la especialización y en elhablar para sus pares e incluso amenazados, sobre todo losmicrohistoriadores, por una deriva “anticuaria”, tema sobre elque volveremos y que finalmente no es tan nuevo, ya el mismoVenturi había hablado de ello. Sea de ello lo que fuere, en suretiro de la esfera pública, observan Armitage y Guldi, se hanolvidado las viejas ambiciones de la historia de ser una guíapara la vida pública y un instrumento de reflexión para pensarlos posibles futuros. Braudel, pocos años antes expulsado porla ventana, regresa triunfalmente por la puerta.

    No voy a discutir las dos propuestas que he elegido y querevelan diferentes aspectos de un malestar, ni tampoco hastaque punto sus cultores están claramente conscientes en queforman parte de una tradición de reflexiones sobre el argumentoque los excede. En ambos casos, son las promesas de la historiaglobal o mejor global-local. En un caso, Gruzinski, hay unautopía de futuro; en el otro, Armitage y Guldi, de un retornorenovado al pasado. Sin embargo, si en un caso se nos proponecomo modelo de investigación para el futuro los contactosculturales – y cito como ejemplo la venta en las orillas del ríoTapajos en Amazonas de DVD piratas producidos por loschinos – a la vez que se consideran superadas las visiones quecontraponían centros y periferias, y en el otro se nos prometenirresistibles avances a través del retorno de la “longue durée”,de las grandes preguntas a ser contestadas por medio deltratamiento informático de grandes masas de datos, el que estoescribe queda un poco perplejo. Quizás porque sigue creyendoque las relaciones entre el centro y la periferia siguen existiendo,porque existen los poderes y los intercambios desiguales; oporque, entre otras cosas, no solo recuerda los rendimientos

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    decrecientes de las modas cuantificadoras del pasado, sino porqueconoce bastante bien todos los problemas que tienen, por ejemplo,las series estadísticas largas, incluidas las del libro, este sí muyrelevante, de Piketty. Y, por lo demás, ¿no hay aquí demasiadasdosis de voluntarismo? La idea que otras formas de hacer historiapodrían dar un renovado y más influyente papel a la misma quecompita con los medios audiovisuales, por un lado o con loseconomistas y demás hechiceros profesionales, por el otro nodeja de ser, salvo pruebas en contrario, una pura afirmaciónoptimista. Otra cosa muy distinta es si esa vinculación es unimperativo ético más allá de sus resultados.

    Más que seguir esas u otras pistas acerca de “ce que peutl´histoire”, tal como se titula otro manifiesto preocupado, quetambién propone el retorno a una historia con ambiciones, comoel pronunciado en el 2015 por Patrick Boucheron en su leccióninaugural en el Collège de France al que ya aludimos, prefierodejar por ahora de lado lo que pueden o no pueden loshistoriadores, problema que no depende de ellos y detenermeen otra dicotomía con una larga tradición.

    Mi punto es, sin embargo, otro y retorna sobre el ejemplode Galasso antes enunciado. En todos esos momentos existíaun acople mayor o menor entre demandas, interrogantes,inquietudes de sectores de una comunidad política –ya que latal comunidad política como totalidad operante me temo seauna invención– y la labor del historiador. Creo que en los últimostiempos esa relación se ha debilitado. Es difícil que la historiatransnacional interpele a algún sujeto social (y si alguien piensaen los migrantes me permito decir que no es así) y menos aúnla historia global. ¿Y que decir de la historia cultural? No quisieraabrir una ulterior polémica, pero si la historia cultural no esuna nueva reflexión sobre los contextos en los que se producenlos fenómenos sociales o políticos y es un interés por unespecífico tipo de objetos en sí, creo que salimos de la historia y

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    entramos en la anticuaria. Permítaseme aludir a un ejemplocélebre: cuando George Mosse llamó la atención hacia losaspectos culturales del nazismo, no lo hizo porque le interesasenen particular el teatro, los coros o los gimnastas, sino porquequería brindar otro ángulo para la interpretación del nazismo.Permítaseme otro. Cuando el gran Ernesto De Martino escribió“La terra del rimosso”, no le interesaba en sí mismo eltarantismo pugliese como curiosidad folclórica, sino que tratabade lidiar con otro problema: el de la crisis y la fragilidad de lapresencia, o en otros términos con el problema de la existenciahumana y en ello influían no poco sus propias experienciasvitales. Temo, sin embargo, que en la mayoría de los casos nosea así y que la profesionalización implica ejercer la profesióncomo cualquier otro trabajo, digamos un dentista, y elegir temas,más que problemas, porque es un modo de hacer carrera oporque se lo impone un director. Es más factible ganar una becacon un tema de historia cultural, pues hagamos historia cultural.Espero que mis colegas brasileños me desmientan.

    Y no quiero defender la historia política o la historiasocial, sino solamente recordar que vivimos en comunidadespolíticas y que los ciudadanos corrientes, mucho más que laclase política, tendrían todo el derecho a preguntar porque debensubsidiar nuestro trabajo. Creo que damos demasiadodescontado, en una exasperada y exasperante manifestacióndel yo, que están obligados a hacerlo, hagamos lo que hagamos.Y no me refiero a posiciones políticas. Pero no olvidemos queaquí hay además otros peligros y son los que derivan del carácteramortiguador o diluyente que tiene todo discurso académicoen su potencial, no ya de consolidación, sino de crítica de unasociedad dada. La protesta de la generación del 68 terminó enconfortables puestos académicos que trasladaban la protesta aotro lugar. Y cuan confortable e inocuo es predicar el fin delcapitalismo desde una sala de profesores…

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    Desde luego que la historiografía actual no es solamenteun territorio heterogéneo sino también un ámbito surcado porgestos o actitudes contradictorias. Por un lado, la sensación deestar en una isolation crecientemente menos espléndida ha sidonotada por muchos y ha influido de diferentes modos y segúncada específico contexto nacional. El aislamiento y ciertairrelevancia mediática parece orientar una parte de los cultoreshacia un intento más enfático de reanudar vínculos con elmundo exterior, más allá de las aludidas propuestas de Armitagey Guldi. Así ocurre, por ejemplo, con el auge de la historia recienteo del tiempo presente (aunque tal vez sería mejor decir del pasadoreciente, ya que el tiempo presente puede ser pensado como unpasado ya en el momento de ser enunciado en un relato, comosostenía Dilthey). También ocurre con el involucramiento enoperaciones o debates memoriales o en el curioso retorno de lahistoria magistra vitae o de algo que podríamos denominar historiaejemplar. Desde luego que estas actitudes presuponen muchascosas, entre otras alguna forma de percibir las relaciones entrepresente y pasado y entre pasado y presente, por un lado, y entreneutralidad axiológica y compromiso cívico, por el otro. Sinembargo, quizás para la mayoría, la situación actual de lahistoriografía profesional puede ser percibida de modo biendiferente y aún opuesto y ser concebida, pese a todo, como unespacio confortable, una casa bien amueblada en la que vivimos,hablamos, escribimos y el hablar para un público restringido ycautivo algo no muy preocupante. Quizás en este punto, deberíaconsiderarse si la profesión ejercida en ámbitos universitarios oen instituciones científicas, que constituyen a menudo en símismas un proceso de movilidad social ascendente, vistos laampliación del número de cultores y los cambios correlativosen el origen del reclutamiento, pueda alentar las perspectivasautocomplacientes.

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    Esas tendencias contrapuestas, hacia el involucramientoo hacia la asunción del distanciamiento de una sociedad que esella misma una suma de fragmentos, pueden ser aquíemblematizadas en dos orientaciones: hacia la memoria o haciala anticuaria. Memoria y anticuaria, dos palabras que contienencada una de ellas muchas cosas diferentes e incluso algunas nodistantes entre sí. Si nos detenemos en primer lugar en lacuestión de la memoria, se ha hablado de los comienzos deuna “era Memorial” y de la victoria (o revancha) del testigosobre el testimonio. Incluso aquellas estrategias de convertir ala memoria en un objeto de estudio de la historia (ejemplo laseminal obra dirigida por Pierre Nora) parecen haber logradoparadójicamente el resultado de devenir ellas mismas unaoperación memorial o mejor unas constructoras de nuevosobjetos “memorializables”. Con el agravante de que esasoperaciones tienen un impacto por el lugar desde el que sonenunciadas y el reconocimiento o legitimidad que se le otorgueal mismo, además de estar sometidas (signo de los tiempos) auna acelerada usura temporal. La reciente polémica entre Noray Boucheron, a propósito de las dos operaciones memorialesque ellos dirigieron, separadas por treinta años, es un buenindicador acerca de como bajo ese tipo de paraguas puedeponerse casi cualquier cosa (como también exhiben las“Mémoires Allemandes” de factura francesa o “I luoghi dellamemoria” italiana). Desde luego que de lo que se trata es de lasrelaciones, el lugar y el peso respectivo de las laboriosas (en elsentido que da Bergson a esa expresión) memorias públicas,social o culturalmente construidas, y de la historia tambiénpública, o destinada al espacio público, aunque toda personaindividual construya narraciones sobre el pasado, y tambiéntenga un conjunto de recuerdos personales del mismo.

    Así, acotando el problema a la relación entre discursospúblicos sobre el pasado de historiadores y memorialistas,

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    pueden enfatizarse las diferencias o las semejanzas. Entre lasprimeras, una breve enumeración contrapondría discursocrítico vs. discurso rememorativo; discursos atentos a lacomplejidad o a las diferencias vs. discursos atentos a lasimplificación inteligible; discursos sobre el pasado en tantootro vs. discursos sobre el pasado en tanto presente,(identitario); narraciones gramscianamente für ewig(idealmente) o para el consumo instantáneo; provisoriedad,condición malhereuse (Ricoeur) de la historia en tanto sujeta arevisión permanente vs. aspiración a la perennidad de la cosajuzgada de la memoria, etc.. Empero, también podrían señalarsealgunas semejanzas, ya que ambos son relatos sobre el pasadoy además existen imbricaciones concretas de una y otra másallá o no de la voluntad de sus cultores, etc. Todorov o Ricoeur,entre muchos otros, han escrito muchas páginas luminosas sobreel tema. Más problemática es la cuestión de las relaciones entreambas. Ricoeur argumenta acerca del lugar parcialmentetributario de la historia con respecto a la memoria; Halbwachspensaba que la historia aparecía “cuando terminaba la tradicióny se extinguía o descomponía la memoria social”; y KrystofPomian que la historia develaba dimensiones del pasado noperceptibles para la memoria de los contemporáneos.

    Mi itinerario no quiere volver aquí sobre esas cuestiones,ni tampoco sobre otras no menos relevantes, como la de la“memoria justa” (en el sentido de cuanta y de cual y de susrelaciones con el olvido), sino proponer otras. La primera esque las memorias públicas y la historia coexisten desde hacemucho tiempo. Si hay una novedad en los últimos tiempos, estapuede encontrarse en un cierto frenesí memorial y en un pesorelativamente mayor del pasado reciente. Siguiendo aquí lasobservaciones de Jan Assmann, quizás puede percibirse undesplazamiento hacia lo que él llama memoria comunicativa,en detrimento de la memoria cultural. Si esta última estaba

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    mucho más ligada a operaciones “identitarias” relacionadas conel mito de los orígenes y constituía una operación genealógicaque reposaba sobre una mnemotécnica institucionalizada de loque él llama el “recuerdo fundante”, trasladada de generaciónen generación a través de, por ejemplo, los libros de texto, lasconmemoraciones o los monumentos, la memoria comunicativareposa sobre un “recuerdo vivo”, que son experienciasgeneracionalmente compartidas y que, por tanto, estánvinculadas a la duración del ciclo de vida, y no al aprendizajede una experiencia sino a la misma “experiencia vivida”. Elproblema que emerge con fuerza en los debates públicos de lasúltimas décadas parece colocarse o bien en el momento depasaje de una a otra, cuando la generación que ha vivido losacontecimientos está por desaparecer; o bien en una previsiónanticipatoria de ese proceso, tratando de institucionalizar unamemoria publica antes de la muerte de los testigos que lavalidan.

    Más allá de esas diferencias, tanto una como otra hanbrindado oportunidades a los historiadores profesionales de irmás allá del estrecho círculo de la academia y también deobtener ingresos adicionales. La construcción de memoriaspúblicas “culturales” fueron un instrumento clásico de losestados nacionales en su voluntad de construcción deidentidades de masas. En muchos casos, en especial pero nosolo en los regímenes totalitarios o autoritarios, las mismasadquirieron las características de una “memoria obligatoria”.Esas operaciones no han sido, sin embargo, solo de los Estados,sino también de otros movimientos identitarios (nacionalismossin estado, grupos sociales, étnicos o religiosos, por ejemplo).Han sido a menudo beligerantes o contrapuestas en el sentidode que definen un nosotros que solo puede encontrar suscontornos en relación con uno o varios “otros”. La proliferaciónde sujetos colectivos que caracteriza la época reciente ha

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    multiplicado también este tipo de operaciones memorialesidentitarias y las posibilidades de los historiadores de participarde ellas, así como lo han hecho los intentos de preservarmemorias “civilizatorias” que impidan olvidar las atrocidadesdel pasado, sea la Shoah, sea otros crímenes de los estadostotalitarios o las de los terrorismos de estado en los paísessudamericanos. En este último territorio incluso loshistoriadores han sido peligrosamente convocados en calidadde “vicarious witness” en procesos judiciales, lo que parece tenermenos relevancia jurídica que memorial.

    En cualquier caso, en mi perspectiva el giro memorial noes de ningún modo mayoritario en la profesión, al menos enlos casos que conozco mejor. Creo que mucho más lo es elmovimiento opuesto al que aludimos, es decir el de la asuncióndel distanciamiento. A menudo, cuando empleo la expresiónanticuaria ante prestigiosos colegas, ignoran de que se trata yquizás sería preferible hablar de giro erudito. Con todo, puederecordarse que la anticuaria como una forma diferenciada deaproximarse al pasado está en muchos lugares, por ejemplo enNietzsche. Es innecesario tal vez también señalar que el gestocentral de la anticuaria sería lo que Michael Oakeshott llamabael pasado histórico, para definir un pasado que interesa en simismo, desvinculado (ilusoriamente) de toda relación con elpresente y sin ningún interés por la relación práctica presente-futuro. Aunque, desde luego, en Oakeshott no en tantos otros,la anticuaria contenía también ella, además de una polémica,una idea fuerte de la historia.

    La notoriedad de la expresión anticuaria deviene de unartículo de uno de los mayores historiadores del siglo XX,Arnaldo Momigliano, y de un artículo no menos célebre de1950, “The Ancient History and The Antiquarian”. En élMomigliano construye la genealogía de dos formas deaproximarse al pasado, que proceden desde el mundo clásico:

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    una la historia, la otra llamada en ámbito griego arqueología yen el romano, desde Varron, antigüedades. Una, la historia,atenta a la política; la otra, la anticuaria, a las costumbres, lareligión y las genealogías; una tendencialmente cronológica, laotra sistemática; una atenta solo a los hechos que ayudan aexplicar una situación dada, la otra atenta a recoger todos losacontecimientos vinculados a un tema sirviesen o no pararesolver un problema. Con todo, debe recordarse que los usosmemoriales no eran del todo anejos a esa tradición anticuariadesde sus mismos orígenes y en cierto sentido ellos brindabanuna justificación alternativa a la de la historia “pragmática”.

    La fusión de la anticuaria con las filosofías de la historiade la ilustración, que daría nacimiento a la historiografíamoderna, colocaría a la primera en una posición subalternacon respecto a la segunda, en algo semejante, por ejemplo, a la“crónica” tan despectivamente considerada por ejemplo por unBenedetto Croce. Por supuesto que, aun si poco estimada porlos grandes historiadores, la anticuaria continuó gozando debuena salud hasta nuestros días. Sin embargo,esquemáticamente, podrían distinguirse dos vías anticuarias yellas remiten ante todo a los propósitos y ambiciones queimpulsan a sus cultores. Una primera vía, encuentra dosjustificaciones diferentes. La primera es argumentar que en unaépoca donde vuelven a tomar vuelo las alas del “pirronismo”,algunas de las virtudes de los anticuarios, como su énfasis enlos métodos aplicados a desentrañar lo verdadero y lo falso enlos textos escritos, o su interés en valorizar las fuentes no escritas,por ejemplo, la epigrafía y la numismática, consideradas amenudo más fiables que las fuentes literarias y un instrumentopara verificar a aquellas, deben ser recuperadas. Otra es apostarpor una aproximación al pasado que priorice el enfoquesincrónico por sobre el diacrónico, la morfología por sobre lahistoria, lo que implicaría a su vez una ruptura con el modo de

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    pensar las relaciones entre pasado y presente. Como decíaFriedrich Wolf en el siglo XIX, la anticuaria estudiaría las cosasen su ser, mientras que los historiadores lo harían en su devenir.En varios de estos sentidos puede hablarse de la emergencia deuna nueva anticuaria en la que podría incluirse a buena parte dela nueva historia cultural. En ese punto la anticuaria implicaríatambién una nueva forma de pensar la temporalidad, articulada,entre otras formas, en la búsqueda de itinerarios temáticossectoriales, descontextualizados y trans o a-temporalizados oen operaciones analógicas.

    El tema nos llevaría demasiado lejos de nuestrospropósitos en este trabajo y es bueno retornar a aquello quenos interesa de la anticuaria, en su versión sin ambiciones; suactitud ante el pasado. La cuestión más significativa para lospropósitos de este texto es no solo la ausencia de reflexión sobreel porqué se hace este trabajo sino –y sobre todo– el resignarsea no enfrentar el problema del “sentido” de una época histórica,que era como sabemos el propósito tanto del historismus comodel storicismo. El anticuario, asociado a veces a los filólogos,otras a los eruditos y otras a los historiadores doctos, proponíauna forma de ocuparnos del pasado solo por la curiosidad dehacerlo.

    Si la curiosidad contemplativa era el material de laanticuaria, bien podría argumentarse que esta se ha extendidode aquellos que llamábamos despectivamente eruditos o inclusoanticuarios a muchos entre aquellos que hacen hoy historiaprofesionalmente. Ayudan a recuperar nuevos materiales, asalvar nuevos maderos perdidos de un naufragio (según laexpresión de Francis Bacon), al avance general delconocimiento, a la preservación indiscriminada del pasado, conlos resultados que vimos en la primera parte. Empero,desprovisto de todo principio de significación (salvo lasignificación subjetiva, o sea que es de interés para mí), de

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    jerarquización o de priorización, todo puede ser de utilidad paraunos o para otros, hoy o mañana o pasado mañana. ¿Cuántoello es un resultado no deseado de la profesionalización y de laforma en que se delinean hoy las carreras académicas? A vecesparecería qué, aunque no haya nada para decir, igual hay quedecirlo…

    Luego de este vagabundeo errante, no debería haberninguna conclusión, más allá de la admisión banal de la presentepluralidad de formas de hacer historia: de las vocaciones uorientaciones anticuarias de muchos historiadores, a lasvocaciones memoriales de otros, a diferentes tipos de mezcla,diálogo o debate entre ellas y otras. Seguramente en el inicio,punto a favor de la anticuaria, está siempre la curiosidad haciael pasado. Empero, para no convertir este texto en una defensade la misma, quisiéramos aquí apelar al intento de recuperar, ala vez, junto y no contra a la tradición filológica que estabacontenida en el gesto anticuario –y que es de temer se estéperdiendo en la profesión actualmente– a una Histórica, que noes más una voluntad de repensar con menos grandilocuencialos temas que planteó hace muchos años la llamada filosofíacrítica de la historia. Y ello puede también definirse de otromodo más sencillo: partir del oficio pero no olvidar lainterrogación sobre el “sentido” de nuestra labor y de lo queestudiamos y abandonar el temor a las grandes preguntas.Siempre es preferible perecer a manos de la crítica porambiciones, que por falta de ellas.

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    Acerca de una decisión:itinerarios para la escritura de

    la historia desde América Latina

    Marta Philp

    1. En primer lugar, agradezco la invitación. Meconvocaron con un gran tema: Crisis de las humanidades ehistoria global. ¿Cómo abordarlo? Como historiadores hemosaprendido que nuestras producciones, nuestras escrituras, sonsituadas, desde esta convicción titularé mi intervención de estamanera: “Acerca de una decisión: itinerarios para la escriturade la historia desde América Latina” ya que voy a compartircon Ustedes mi experiencia de investigación en un tema clásicoque puede ocupar un lugar central en la agenda de una historiaglobal, definida desde la amplitud de escalas espaciales ytemporales: me refiero al análisis de la construcción del poderpolítico, sus procesos de legitimación y justificación en Córdoba,una provincia del interior de la Argentina.1

    Desde nuestras operaciones historiográficas tomamosdecisiones claves: la delimitación de un problema deinvestigación, su análisis en un espacio y un tiempo. Entonces,

    1 El texto de esta conferencia recoge parte de mis reflexiones como investigadora,publicadas en: Philp, Marta, “La fuerza de lo diverso: fuentes escritas, orales yaudiovisuales para la investigación de los procesos de legitimación política”en: DE GARAY, Graciela; ACEVES LOZANO, Jorge (coord.). Entrevistar ¿paraqué? Múltiples escuchas desde diversos cuadrantes, México: Instituto deInvestigaciones Históricas José María Mora, 2017, p. 149-168.

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    si hablamos de crisis de las humanidades tenemos que pensaren diferentes momentos, periodizaciones. En una lectura clásicade la historia de la historiografía occidental, los años setentadel siglo XX son señalados como el punto de partida, de eclosiónde esta crisis, materializada en el debate en torno a la narrativaprotagonizado por los historiadores ingleses L. Stone y E.Hobsbawm en 1979/80 en las páginas de la revista Past andPresent.

    Ese debate se centraba en dos puntos clave: la crítica alas historias estructurales y el correlativo ocultamiento de lossujetos. Actualmente, más de cuarenta años después de aqueldebate, asistimos como una novedad al posicionamiento de lahistoria global, que destaca la importancia de situar losproblemas en una escala más amplia que supere lo local e inclusolo nacional. Estas aspiraciones nos remiten a los escritos deBraudel sobre la dinámica del capitalismo, ese breve volumenque reproduce el texto de tres conferencias que dio en laUniversidad de Johns Hopkins, Estados Unidos, en 1977 y a lamás tardía Historia del siglo XX de Hobsbawm (1994).

    Esta periodización de la crisis de las humanidades, a finesde los años setenta del siglo XX, da cuenta de una opción, deuna memoria de la historia de la historiografía occidental,europea, fundamentalmente francesa, que relata el triunfo deuna historia en migajas, relatado por el historiador francés F.Dosse (1987) En este relato, el rescate de los individuos,representados en biografías, es presentado como una opciónsuperadora de la historia estructural, de la historia como cienciasocial, consolidada a mediados del siglo XX en Francia eInglaterra., principalmente. Desde esta lectura, hablamos deuna crisis de las humanidades que forma parte de los contextosde producción de varias generaciones.

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    2. Como les decía, aquí propongo compartir mi itinerariocomo investigadora en torno a un tema tan antiguo comovigente: el de la justificación del poder. Como historiadoressabemos que nuestra tarea comienza con la formulación de unproblema de investigación, de un cuestionario por lo tanto,nuestra conversación se estructurará en torno a la operaciónhistoriográfica, en el sentido acuñado por Michel de Certeau,como el transcurrir por los distintos momentos de la escriturade la historia definida por un lugar, una práctica y una escritura,nombrada por Ricoeur como la “representación historiadora”.En un primer momento, les contaré sobre mi problema deinvestigación, el punto de partida; en un segundo momento,me centraré en el estado de la cuestión como etapa previa ynecesaria para formular mi opción analítica, para construir lamirada y pensar los cambios a lo largo del tiempo. Finalmente,haré referencia a los materiales, a las fuentes/documentos, quehicieron de mi historia un conocimiento probado, en el sentidoexpresado por Prost.

    2.1. Los usos del pasado como problema de investigación

    Diferentes autores, puntos de vista, estuvieron presentescuando formulé la perspectiva teórica que orientó mi investigaciónsobre los usos del pasado en la construcción de imaginariospolíticos en Córdoba, Argentina, durante las últimas décadas delsiglo XX.2 El camino elegido fue justamente el de los vínculosentre la historia, la política y la memoria para analizar los procesosde legitimación del poder, específicamente el proceso delegitimación y cuestionamiento de la democracia como modelopolítico. Las preguntas a responder se relacionaron con la

    2 La tesis completa, defendida en el año 2007, fue publicada en Philp, Marta,Memoria y política en la historia argentina reciente: una lectura desde Córdoba, Córdoba:Editorial de la Universidad Nacional de Córdoba, 1a edición 2009, 2a edición2016.

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    selección de los contenidos de la memoria, con los actorespolíticos y sociales interesados y con el poder suficiente parapromover una memoria determinada que justifique su lugar enel presente.

    En las últimas décadas, desde diferentes perspectivas seplantea la discusión y redefinición de las relaciones entre historiay memoria.3 Es un lugar común considerar que, frente al vacíodejado por la historia académica, la memoria, entendida comola capacidad intelectual de conservar determinada información,siempre vigilante, se hizo cargo de recuperar hechos y procesosimportantes para la vida de los individuos. En esta investigaciónnos propusimos explorar las grietas de este lugar comúncentrando la mirada en los usos del pasado protagonizados pordiferentes actores sociales y políticos que intentan construirdiferentes memorias: oficiales, alternativas, dominantes,dominadas. ¿Usos de la historia o usos del pasado? Si bien es unlugar común usar indistintamente ambos términos, es importantedestacar que conocemos el pasado a través de las reconstruccionesy representaciones realizadas por los historiadores, losaficionados, por quienes escriben la historia. Dichasrepresentaciones del pasado son difundidas desde diferentesinstituciones. A partir de las diferentes interpretaciones ya nocontamos con un pasado, sino con pasados. La historia comorepresentación del pasado es la materia prima para los homenajes,se convierte en objeto de memoria. Se usa un determinadoconocimiento acerca del pasado, conocimiento que ya formaparte del sentido común, de los mitos de origen y funcionamientode las sociedades. Quienes apelan a la historia, disputan lalegitimidad de determinadas representaciones del pasado, antes

    3 Actualmente, es muy numerosa la bibliografía existente sobre esta temática.Para una síntesis de los vínculos entre la historia y la memoria, véase: EnriqueFlorescano, La función social de la historia. México: FCE, 2012.

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    que el pasado mismo. En realidad, buscan establecer la validezde una única representación del pasado, “la verdadera historia”.Hacen uso de una historia que ya ha procedido a sistematizar yorganizar el pasado. En síntesis, hacemos referencia a los usosdel pasado teniendo en cuenta el papel de los distintosconstructores de un pasado tales como los historiadores y supapel de difusores de determinadas imágenes del pasadonacional y provincial. Dicho proceso apela a unas huellas yniega otras dado que “por definición, el pasado no existe y nopuede ser confrontado ni abordado por ningún investigador”4,contamos sólo con sus huellas, rescatadas selectivamente porlos encargados de escribir la historia y por los “usuarios” delpasado, entre los que se cuenta el poder político.

    El pasado es uno de los espacios en disputa en losdiferentes momentos políticos. A partir del reconocimiento dela dimensión política del pasado, los poderes públicos rescribenla historia, construyen una memoria que pretende ser única,oficial, legitimadora del régimen político imperante. ¿Cómoabordar el análisis de los usos del pasado? La perspectiva de losestudios de la memoria y su intersección con la historia políticaes una de las vías posibles.

    2.2. El lugar de la mirada: antecedentesy perspectiva analítica

    En función del objeto de estudio delimitado, se trató deconstruir un estado de la cuestión que nos permitiera buscarrespuestas a los siguientes interrogantes: ¿Quiénes operan sobrelas memorias?, ¿Qué contenidos le otorgan a las mismas?,¿Cuándo y cómo lo hacen?, ¿Dónde? y ¿Para qué? Consideramosque la historia política era un camino fértil para pensar este

    4 Enrrique Moradiellos, Las caras de Clío, 2001, p. 60.

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    problema. Una historia política que hacía tiempo que habíarecuperado un lugar en el mundo de los historiadores después desu estrecha asociación con la historia tradicional, cuestionadapor Annales a mediados del siglo XX. En el ámbito francés suinclusión en la compilación de Le Goff y Nora de los añossetenta, a través del texto de Julliard, es un indicador de suconsideración entre las perspectivas historiográficas posibles.En ese texto, Julliard planteaba que “la cuestión no estriba yaen saber si la historia política puede ser inteligible sino másbien saber si en adelante puede existir una inteligibilidad enla historia fuera de la referencia al universo político”. Desdesu perspectiva, consideraba que “la historia política, instruidapor su larga andadura en el caos acontecimental, podría evitaral conjunto de los historiadores, la larga travesía en el desiertosistémico, aportándoles una contribución esencial a lainterpretación global del cambio”.5 Más cerca en el tiempo, lairrupción del neo-institucionalismo norteamericano en elcampo de la ciencia política y su uso por parte de loshistoriadores interesados en las instituciones, subordinó losaspectos simbólicos de lo político a los formales,organizativos.6 Desde esta perspectiva, se hacía una lecturasesgada, como toda lectura, de un clásico como Max Weberque había propuesto, a comienzos del siglo XX, la necesidadde mirar ambos aspectos para comprender el funcionamientode la política en el mundo moderno. Desde esta lectura, defines del siglo XX, el rescate de lo político viene de la manode las instituciones, de sus aspectos formales y de lasubordinación de los aspectos simbólicos.

    5 Jaques Julliard, “La política”, 1979, p. 237-257.6 En mi tesis de Maestría en Ciencias Sociales de FLACSO-México, hago uso de

    esta perspectiva y considero algunos de sus límites. Ver: Martha Philp, En nombrede Córdoba, 1998.

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    Desde otro universo teórico, la perspectiva expuesta porRosanvallon7 repara estas exclusiones; plantea que “no se puedeaprehender el mundo sin darle un lugar a este orden simbólicode lo político”8. La suya es una buena síntesis de los itinerariosde una nueva historia política fundada en una redefinición de lopolítico entendido como un campo y como un trabajo; el primersentido hace referencia al lugar, al marco para los discursos y lasacciones; como trabajo, se menciona al proceso por el cual unagrupamiento humano toma los rasgos de una comunidad y esaquí donde cobra importancia el orden simbólico. La aprehensiónde lo político se piensa desde una perspectiva de larga duraciónque permita “rehacer la genealogía extensa de las cuestionespolíticas contemporáneas”9 dado que “la historia es ellaboratorio en actividad de nuestro presente y no solamente elesclarecimiento de su trasfondo”10. Se trata de analizar el pasadodel presente, de recuperar dimensiones olvidadas, marginadaspor una historia clásica legitimada por sus propios cultores (loshistoriadores políticos) y por sus críticos (los defensores de unahistoria social, estructural, opuesta a una historiaacontecimental).

    A partir de un nuevo rescate de Weber, otra mirada de lopolítico necesita considerar los valores que sustentan a lasinstituciones, entre ellas al Estado, como portadoras de lopolítico. Interesa rescatar el papel de las instituciones comoproductoras de sentido para una sociedad o como traductorasde sentidos producidos en otros ámbitos. Pensar en los valores

    7 Rosanvallon, Por una historia conceptual, 2003. En Argentina, la revitalizaciónde esta perspectiva historiográfica comenzó fundamentalmente a partir de larecuperación de la democracia en 1983, siendo sus preocupaciones centralesla construcción de la ciudadanía, la participación política, la legitimación delpoder, entre otras.

    8 Rosanvallon, libro citado, p. 9.9 Rosanvallon, libro citado, p. 25.

    10 Rosanvallon, libro citado, p. 27.

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    que sustentan las instituciones supone pensar en los procesosde legitimación del poder político, en las acciones que lleva acabo para legitimarse. Desde esta delimitación, lo político,definido como campo y como trabajo, en el sentido planteadopor Rosanvallon, es una herramienta fértil para pensar losprocesos de legitimación del poder político a partir de laconstrucción de imaginarios políticos, dado que el concepto decampo permite graficar espacios de disputa por el poder dondelo que está en juego es la defensa de un determinado régimenpolítico, entendido en una doble dimensión: como conjunto deinstituciones que regulan la lucha por el poder y su ejercicio ycomo los valores que sustentan tales instituciones; en estesentido, el régimen político alude a una síntesis entre poder yautoridad.11 Por su parte, lo político como trabajo alude a losprocesos dadores de sentido, a la política como productora desentido para una comunidad; desde este marco, puede pensarseen los usos del pasado como una de las estrategias esgrimidaspor el poder para legitimar su accionar. El pasado se convierteen uno de los insumos claves para construir un imaginario,conformado por representaciones colectivas, en donde searticulan ideas, imágenes, ritos y modos de acción que varían alo largo del tiempo en función de las necesidades políticas delpresente. Y es aquí donde cobra importancia el análisis de lasmemorias como objeto de estudio de la historia.

    La política implica, supone, una valoración del tiempo;al tiempo cronológico opone un tiempo propio, construido enfunción de un espacio de la experiencia y de un horizonte deexpectativas. Dicha construcción conlleva una determinadaimagen del pasado, del presente y del futuro pero se realizafundamentalmente desde un presente político que es el que dictalas claves de lectura de un pasado más o menos glorioso en

    11 Lucio Levi, “Régimen político”, 1995, p. 1.362-1.366.

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    función de las tareas actuales. Como ya señalamos, esta lecturadel pasado es uno de los recursos clave en la conformación deun imaginario político.

    ¿Desde dónde pensar la conformación de imaginarios?Baczko12 plantea que el cuadro teórico en el que se sitúa elestudio de los imaginarios sociales es el campo clásico,conformado en el siglo XIX, a partir de las ideas de Marx, Webery Durkheim. En tal sentido, sintetiza las propuestas centralesde los mismos con relación al tema en cuestión. Para Marx,dice el autor, el análisis de los imaginarios sociales se inscribeen un esquema global, el materialismo histórico; forma partedel análisis de las ideologías. La ideología engloba lasrepresentaciones que una clase social se da de sí misma, de susrelaciones con sus clases antagónicas, así como de la estructuraglobal de la sociedad. Una clase social expresa sus aspiraciones,justifica moralmente y jurídicamente sus objetivos, concibe supasado e imagina su futuro a través de sus representacionesideológicas. La ideología, factor real de los conflictos sociales,sólo opera gracias a lo irreal e ilusorio que hace intervenir. Sibien Marx, concluye Baczko, considera estas representacionesy –en particular– las ideologías como parte integrante de lasprácticas colectivas, por otro lado, sólo les da, en el juego de lasrelaciones entre infraestructura y superestructura, el status delo ilusorio.

    Para Durkheim, continúa Baczko, la correlación entrelas estructuras sociales y los sistemas de representacionescolectivas se encuentra en el centro de sus interrogantes. Paraque una sociedad exista y se sostenga, para que pueda asegurarseun mínimo de cohesión y de consenso, es imprescindible quelos agentes sociales crean en la superioridad del hecho socialsobre el hecho individual, que tengan una conciencia colectiva,

    12 Baczko, Los imaginarios sociales, 1999, p. 17-32.

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    un sistema de creencias y prácticas que unen en una mismacomunidad a todos los que adhieren a ella. En este sentido, lostrabajos de Halbwachs sobre la memoria colectiva, a los queharemos referencia más adelante, se inspiran en ideasdurkheimianas.

    Los principios metodológicos de Weber sugieren otrosenfoques de los imaginarios sociales. La estructura inteligible detoda actividad humana surge del hecho de que los hombresbuscan un sentido en sus conductas y con relación a ese sentidoreglamentan sus comportamientos recíprocos. Lo social seproduce a través de una red de sentido. La vida social esproductora de valores y de normas y de sistemas derepresentaciones que los fijan y los traducen. Las relacionessociales jamás se reducen a sus componentes físicos y materiales.Los tipos de dominación distinguidos por Weber se ejercen pormedio de sistemas diferentes de representaciones colectivas sobrelas cuales se funda la legitimidad de esos poderes específicos. Elpeso de las representaciones y los símbolos varía de un tipo depoder a otro. En síntesis, Marx sitúa el problema de losimaginarios sociales, de las ideologías, en el enfrentamiento entreclases sociales. Durkheim pone el acento en las correlacionesentre las estructuras sociales y las representaciones colectivas.Weber analiza los procesos de producción de sentido.

    A fines del siglo XX, otros autores sitúan en un primerplano los nexos que existen entre los imaginarios y lasideologías. En este sentido, Murilo de Carvalho13 destaca queel instrumento clásico de legitimación de los regímenes políticosen el mundo moderno es la ideología, la justificación racionalde la organización del poder. Sin embargo, señala que dentrode las batallas ideológica y política se produce una batalla desímbolos y alegorías, una batalla en torno a la imagen del nuevo

    13 Carvalho, La formación de las almas, 1997, p. 15-25.

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    régimen. Es en el marco de la misma donde se elabora unimaginario, parte integrante de la legitimación de cualquierrégimen político. El imaginario social está constituido y seexpresa por ideologías y utopías pero también por símbolos,alegorías, rituales y mitos que, debido a su carácter difuso,pueden tornarse poderosos elementos de proyección deintereses, aspiraciones y miedos colectivos. En la medida enque logren constituir un imaginario, dice el autor, puedenplasmar visiones de mundo y modelar conductas. En superspectiva, el término imaginario no sustituye al de ideologíasino que ambos se complementan para intentar una explicaciónde los procesos de legitimación del poder político.

    Tanto Baczko como Carvalho insisten en dotar alestudio de los imaginarios de una autonomía que lo libere desu carácter ilusorio, reflejo de los “verdaderos determinantes”de los procesos sociales. Sin embargo, tal autonomía noimplica aislamiento ni desconocimiento de las relacionesexistentes entre los distintos factores que explican el curso dela historia; antes bien, el lugar de los imaginarios se funda enel reconocimiento de la necesaria interacción entre los mismos,en una perspectiva equiparable a la presentada por Rosanvallonquien plantea, en su fundamentación de una historia de lopolítico, que “estas representaciones constituyen reales ypoderosas “infraestructuras”14 de l