efeitos colaterais de uma receita explosiva: o comando de caça aos comunistas (ccc) – princípio...

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1 Efeitos Colaterais de uma Receita Explosiva: o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) Princípio Ativo do Ingrediente Civil colaboracionista e sustentador do golpe de 1964 e do Regime Civil-Militar que perdurou por 21 anos Gustavo Esteves Lopes 1 Sobre procedimentos em pesquisa Cabe, primeiramente, ressaltar o quão complicado é pesquisar acerca de organizações gangsteristas, paramilitares, terroristas, como o CCC e correlatas. Por se tratar de organizações clandestinas ainda que tivessem, por exemplo, como seus porta- vozes alguns meios de comunicação, sobretudo através da publicitação de seus manifestos e atos perpetrados , no interesse de se pesquisar quanto a este tema, diversas categorias de fonte documental podem ser válidas para tal empreitada, desde que selecionadas e analisadas com devida cautela, e mediatizadas, se preciso, por procedimentos específicos, como a história oral. Pode-se recorrer, por exemplo, a fontes escritas impressas e manuscritas tradicionais, como documentos de natureza oficial e/ou institucional, materiais produzidos por meios de comunicação, relatos memorialísticos e testemunhais, pesquisas em história do tempo presente (tanto as publicadas no calor dos acontecimentos, e suas revisões histográficas), e produções literárias afeitas ou sensíveis a temas de natureza política-ideológica; assim como se pode recorrer a fontes visuais, audiovisuais e iconográficas, a partir das quais se sobressaem fotografias, registros orais e audiovisuais, além produções artísticas propriamente ditas. Outrossim, nos tempos atuais, a pesquisa historiográfica está a passar por singular momento de alcance de resultados mais aprofundados, em vista do sistemático avanço dos meios de reprodução e catalogação arquivística digitais. Vale também dizer que o diálogo e o cotejamento destas fontes documentais são sempre caminhos capazes de possibilitar uma elucidação a contento deste e de outros temas deveras ardilosos, como a presença de organizações paramilitares emanadas de frações civis colaboracionista, para com o golpe de 1964 e a sustentação do conseguinte regime de exceção. Para esta oportunidade, o presente autor recorreu, principalmente, a acervos e 1 Historador, e servidor público concursado no cargo de Agente Cultural/Pesquisador do Centro de Memória de Hortolândia “Professor Leovigildo Duarte Junior”. Bacharel em História, e Mestre em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Realiza o Doutoramento em Estudos Contemporâneos no Centro de Estudos Insterdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20-UC). É pesquisador colaborador do Núcleo de Estudos em História Oral da Universidade de São Paulo (NEHO-USP).

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    Efeitos Colaterais de uma Receita Explosiva: o Comando de Caa aos Comunistas

    (CCC) Princpio Ativo do Ingrediente Civil colaboracionista e sustentador do

    golpe de 1964 e do Regime Civil-Militar que perdurou por 21 anos

    Gustavo Esteves Lopes1

    Sobre procedimentos em pesquisa

    Cabe, primeiramente, ressaltar o quo complicado pesquisar acerca de

    organizaes gangsteristas, paramilitares, terroristas, como o CCC e correlatas. Por se

    tratar de organizaes clandestinas ainda que tivessem, por exemplo, como seus porta-

    vozes alguns meios de comunicao, sobretudo atravs da publicitao de seus

    manifestos e atos perpetrados , no interesse de se pesquisar quanto a este tema,

    diversas categorias de fonte documental podem ser vlidas para tal empreitada, desde

    que selecionadas e analisadas com devida cautela, e mediatizadas, se preciso, por

    procedimentos especficos, como a histria oral. Pode-se recorrer, por exemplo, a fontes

    escritas impressas e manuscritas tradicionais, como documentos de natureza oficial e/ou

    institucional, materiais produzidos por meios de comunicao, relatos memorialsticos e

    testemunhais, pesquisas em histria do tempo presente (tanto as publicadas no calor dos

    acontecimentos, e suas revises histogrficas), e produes literrias afeitas ou sensveis

    a temas de natureza poltica-ideolgica; assim como se pode recorrer a fontes visuais,

    audiovisuais e iconogrficas, a partir das quais se sobressaem fotografias, registros orais

    e audiovisuais, alm produes artsticas propriamente ditas.

    Outrossim, nos tempos atuais, a pesquisa historiogrfica est a passar por

    singular momento de alcance de resultados mais aprofundados, em vista do sistemtico

    avano dos meios de reproduo e catalogao arquivstica digitais. Vale tambm dizer

    que o dilogo e o cotejamento destas fontes documentais so sempre caminhos capazes

    de possibilitar uma elucidao a contento deste e de outros temas deveras ardilosos,

    como a presena de organizaes paramilitares emanadas de fraes civis

    colaboracionista, para com o golpe de 1964 e a sustentao do conseguinte regime de

    exceo. Para esta oportunidade, o presente autor recorreu, principalmente, a acervos e

    1 Historador, e servidor pblico concursado no cargo de Agente Cultural/Pesquisador do Centro de

    Memria de Hortolndia Professor Leovigildo Duarte Junior. Bacharel em Histria, e Mestre em

    Histria Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo

    (FFLCH-USP). Realiza o Doutoramento em Estudos Contemporneos no Centro de Estudos

    Insterdisciplinares do Sculo XX da Universidade de Coimbra (CEIS20-UC). pesquisador colaborador

    do Ncleo de Estudos em Histria Oral da Universidade de So Paulo (NEHO-USP).

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    catlogos digitais, disponveis ao pblico via internet, tanto para o acesso a documentos

    referentes ao assunto e ao perodo, assim como de bibliografia, outrossim pertinente a

    esta pesquisa, tambm digitalizada alm de retomar diversos aspectos apontados na

    obra Ensaios de Terrorismo: histria oral da atuao do Comando de Caa aos

    Comunistas, pesquisa acadmica realizada pelo presente autor entre 2000 e 2007, e

    publicada em agosto de 2014.2

    O princpio ativo de uma receita explosiva: O CCC, o Golpe de 1964, e

    antecedentes para o Ato e o Fato

    A memria histrica, assim como memrias coletivas e individuais, em suas

    mais diversas interfaces narrativas, acerca dos 21 anos de regime autoritrio, imposto no

    Brasil entre 1964 e 1985, foi condicionada a relembrar e se referir a este perodo como

    um regime militar, ou uma ditadura militar. No deixam estas de ser denominao,

    de fato, adequada; contudo estas decorram de um juzo um tanto parcial, no que tange

    caracterizao e organicidade de tal regime ou ditadura, uma vez que houve

    significativa parcela da sociedade civil, no menos interessada em sua instaurao e

    consolidao, representante da classe mdia, de instituies religiosas e de ensino e do

    mdio-grande empresariado brasileiros (e estrangeiros), dos conservadores aos mais

    reacionrios.3

    Tal imagem e significado retidos memria histrica, quanto ao presente tema

    e seus acontecimentos de maior relevncia socioeconmica e institucional, tm como

    suas razes mais profundas a prpria liderana e/ou interferncia das foras armadas na

    trajetria poltica republicana, principalmente em momentos sentidos como crticos

    sobrevivncia do Estado-Nao. Desde antes dos contextos e acontecimentos vinculados

    existncia da Primeira Repblica (1889-1930), e mesmo durante a primeira Era

    Vargas (1930-1945), as foras armadas, outrossim, assumiram para si a

    2 Cf., LOPES, Gustavo Esteves. Ensaios de Terrorismo: Historia Oral da Atuao do Comando de Caa

    aos Comunistas. Salvador: Editora Pontocom, 2014. Disponvel em:

    http://www.editorapontocom.com.br/l/26/Ensaios-de-Terrorismo%3A-hist%C3%B3ria-oral-da-

    atua%C3%A7%C3%A3o-do-CCC. ltimo acesso em 23 de maro de 2015. Sobre a histria oral da qual

    o presente autor comunga e pratica, cf. MEIHY, Jos Carlos Sebe Bom. Manual de Histria Oral. So

    Paulo. Edies Loyola, 5 edio, 2005. 3 Dentro da vasta bibliografia acerca do golpe de Estado de 1964 e do regime civil-militar vigente at

    1985, o presente autor tem sempre a predileo de nomear duas obras capitais para o presente tema e

    outros correlatos: GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas: Das Iluses Perdidas Luta Armada.So

    Paulo, tica, 6 edio, 2000; RIDENTI, Marcelo. O Fantasma da Revoluo Brasileira. So Paulo:

    Editora da UNESP, 1993. Cabe destacar que, para Jacob Gorender, houve um golpe preventivo, cujo regime acabou por perdurar longos 21 anos devido ao processo de militarizao do Estado Burgus. Marcelo Ridenti, por sua vez, prefere denominar o regime de exceo como civil-militar, como assim o presente autor tambm o qualifica, e que neste se espelha para tanto.

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    responsabilidade de salvaguarda do Estado ou do regime republicano, sempre mais

    custa da espada do que da balana. No mais, com alguma mudana de postura, tanto

    ideolgica bem como estratgica, dado a radicalizao de um anticomunismo gestado

    desde os anos 1930 (e tendo como pice a deflagrada Intentona Comunista), no plano

    geral, as foras armadas se mantiveram atentas e partcipes nos rumos do pas, do

    mesmo modo, ao longo do perodo democrtico em vigor, entre o fecho do referido

    perodo anterior, em 1945/1946, at seu ocaso, com o golpe de Estado consumado entre

    31 de maro e 1 de abril de 1964.4

    At que este golpe de Estado se consumasse em 1964, e desde o segundo

    conturbado governo (desta feita, democrtico) de Getlio Vargas (1950-1954)

    governo este encerrado com o suicdio do outrora ditador retornado ao poder pelo

    sufrgio popular em diversas ocasies, o intervencionismo, declarado ou

    conspiratrio, de fraes conservadoras e reacionrias das foras armadas, quanto

    estabilidade do Estado Democrtico de Direito, fez-se presente, com maior evidncia,

    durante o governo Caf Filho e a partir das eleies presidenciais das quais saram

    vitoriosos o pessedista Juscelino Kubistchek de Oliveira e seu vice, o petebista Joo

    Belchior Marques Goulart, em finais de 1955 atribulado perodo este no qual

    tampouco Caf Filho se sustentou no cargo, e cujo posto de presidente transitou entre os

    naturais sucessores (o deputado federal Carlos Luz, durante 3 dias; e o senador Nereu

    Ramos, que o encerrou), at a posse de JK em 1956. Aps a morte de Getlio Vargas,

    passaram-se dez anos nos quais o posto de mandatrio da Repblica dos Estados Unidos

    do Brasil esteve constantemente abalado por tendncias golpistas alimentadas no meio

    de fraes militares conservadoras e reacionrias ainda que houvessem outras fraes,

    ditas legalistas ou nacionalistas (at ento dispostas a defender o Estado

    Democrtico de Direito, amparado pela Constituio Federal de 1946, por sinal, muito

    tolhida ao longo de sua existncia, exemplificada na ilegalidade do antigo PCB), por sua

    vez, representadas por oficiais como o ex-Ministro da Guerra de Caf Filho e candidato

    sucesso presidencial apoiado por JK, o Marechal Henrique Teixeira Lott.

    Um sucesso mais precoce destas tentativas golpistas, partidas de fraes

    militares conservadoras e reacionrias, possivelmente no tenha ocorrido, durante o

    4 Sobre a presena das Foras Armadas no cenrio poltico brasileiro republicano, cf., CARVALHO, Jos

    Murilo de. Foras Armadas e Poltica no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005; STEPAN,

    Alfred. The Military in Politics: Changing Patterns in Brazil. Princeton: Princeton University Press,

    1971.

  • 4

    prprio 2 governo Vargas, no apenas devido expressiva mobilizao popular e

    sindical em defesa da democracia e das polticas sociais propostas e em implementao;

    mas tambm pela situao fraes conservadoras e reacionrias da classe mdia, de

    instituies religiosas e de ensino, e o grande empresariado brasileiros, todos

    interessados na maior abertura econmica liberal e de mercado, no tenham se

    articulado o bastante para fazer frente a uma estratgia poltico-econmica delineada

    com feies nacionalistas e atentas ao discurso democrtico-sindical contudo as

    posies udenistas, e aliados direitistas, estivessem sempre a postos para o embate com

    as posies governistas e democrticas de esquerda.5

    A difuso do anticomunismo, o elo golpista primordial, ocorreu, pois, em dois

    polos distintos que no isolados entre si: a hierarquia militar e a sociedade civil. Entre

    as foras armadas, o tradicional pensamento poltico positivista e autoritrio, e a

    Doutrina da Segurana Nacional importada dos aliados militares estadunidenses (e

    adaptada, para o plano interno, pela Escola Superior de Guerra, a ESG, e nomeadamente

    pelo General Golbery do Couto e Silva), foram ingredientes essenciais para se elaborar

    uma explosiva receita, brasileira; a qual, quando exitosa, ganhou o ar da graa como

    A Redentora ou Revoluo Democrtica, todavia sendo hoje mais conhecida como

    o Golpe Civil-Militar de 1964.6 Paripassu ao anticomunismo difundido dentro da

    hierarquia militar, partido da sociedade civil, os ataques dos principais meios de

    comunicao conservadores e reacionrios da poca, contra supostas tentativas de

    comunizao ou cubanizao do Brasil, e contra supostos atos de corrupo, que

    envolviam, direta ou indiretamente, governos federal e das outras esferas pblicas,

    alentaram substancialmente a brizncia (isto , a capacidade de um artefato explosivo

    em produzir destruio em sua volta) desta receita explosiva, como se pode aferir pelo

    impacto e seus desdobramentos, verificados desde os atos preparativos at o consumado

    golpe de Estado de 1964.7

    5 Sobre a fragilidade da democracia brasileira entre 1945 e 1964, cf., AGGIO, Alberto; BARBOSA,

    Agnaldo; COELHO, Hercdia. Poltica e Sociedade no Brasil (1930-1964). So Paulo: Annablume, 2002.

    pp.49-80. 6 Quanto adaptao da Doutrina de Segurana Nacional, pela ESG, para o contexto brasileiro, cf.

    FERNANDES, Ananda Simes. A Reformulao da Doutrina de Segurana Nacional pela Escola

    Superior de Guerra: a geopoltica de Golbery do Couto e Silva; in; Antteses, vol.2, n4, jul.-dez de 2009,

    Universidade Estadual de Londrina. pp. 831-56. Disponvel em:

    http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/2668/3937. ltimo acesso em 23 de maro

    de 2015. 7 Sobre a grande imprensa brasileira, tanto contrria como a favorvel aos sucessivos governos

    democrticos de ento, cf., ABREU, Alzira Alves de. 1964: A Imprensa ajudou a derrubar Joo Goulart;

  • 5

    Percebe-se que, enquanto no houve maior adeso das fraes conservadoras e

    reacionrias da sociedade civil, representantes da classe mdia, de instituies religiosas

    e de ensino e do mdio-grande empresariado brasileiros (e do capital estrangeiro

    presente no pas), as tentativas de golpe de Estado foram frustradas. A associao de

    ideologias propugnadoras do Estado autoritrio (dito, Positivista) e do cabal liberalismo

    econmico foi a chave para que a receita de golpe de Estado pudesse ser levada a cabo

    com maior chance de sucesso, dado as numerosas tentativas falhas, principalmente entre

    os anos de 1954 e 1964, pela essencial falta de articulao ideolgica entre as fraes

    golpistas; mas foi tambm a intensa combinao de ingredientes (ou interesses

    prticos), medidos entre fraes conservadoras e reacionrias das foras armadas, da

    classe mdia, de instituies religiosas e de ensino e do mdio-grande empresariado

    brasileiros o que deu substncia a esta explosiva receita, acionada madrugada do dia

    31 de maro para o 1 de abril de 1964. Tratam-se de interesses prticos, conservadores

    e reacionrios, como: imposio de um poder poltico autoritrio e centralizador nas

    mos de militares e civis; aumento do poder de compra em benefcio de uma classe

    mdia enfeitiada pelo consumismo; reafirmao do tradicionalismo de combate a

    ideias e condutas progressistas, por parte setores de instituies religiosas e de ensino; e

    crescimento indiscriminado do lucro patronal advindo da mais-valia, fundamentado na

    mo-de-obra parcamente especializada e na baixa inovao tecnolgica nacional (pois

    investir no pas e socialmente era coisa de comunista, e se ainda esta mentalidade no

    est a vigorar nos tempos atuais).8

    Para que esta receita explosiva ocorresse com tamanha eficcia, foram precisos

    que princpios ativos dos ingredientes golpistas estivessem aptos ao uso. As fraes

    conservadoras e reacionrias entre as foras armadas fizeram, mais uma vez, o seu

    escopo belicista planejado desde outrora, assim como as correlatas fraes provenientes

    da sociedade civil tambm fizeram a sua, por meio da mdia e da mobilizao classista.

    Outra importncia do ingrediente civil desta receita explosiva foi tambm o de suscitar

    algum senso legitimador para este golpe de Estado, gestado entre 1954 e 1964 tanto

    que foi a sociedade civil conservadora e reacionria a primeira a cunhar denominaes

    como Revoluo, para o golpe civil-militar de 1964 e conseguinte o regime de

    in: FERREIRA, Marieta de Moraes (Coord.). Joo Goulart: Entre a Memria e a Histria. Rio de

    Janeiro: Editora FGV, 2006. 8 Sobre o anticomunismo vicejado no Brasil ao longo da histria republicana brasileira, e mais

    especificamente entre os anos de 1945 e 1964, cf. MOTTA, Rodrigo Patto. Em Guarda contra o perigo

    Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). So Paulo: Ed. Perspectiva, 2002.

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    exceo, na pessoa no longevo Francisco Campos (principal elaborador textual do Ato

    Institucional n1).9

    A partir do elenco abaixo, pode-se perceber que, para o golpe de 1964, de

    modo algum bastaria a exclusividade do ingrediente militar para seu xito. O elenco de

    iniciativas e aes poderia ser bem mais extenso, mas vale destacar, no mnimo: a

    intensa veiculao de propaganda anticomunista e antigovernista em grandes meios de

    comunicao impressos e radiofnicos (principalmente, os privados), como os grupos

    Jornal do Brasil, Globo, Tribuna da Imprensa, Folha da Manh e o Estado de

    S. Paulo, e mais outros, pas afora; a criao e o financiamento (com fundos

    internacionais, alm dos brasileiros) de instituies think tankers, aparentemente

    voltadas para estudos econmicos e estratgicos nacionais, mas que serviram, de fato,

    como covis de conspirao anticomunista, e como mediadores do repasse de donativos a

    grupos terceiros, igualmente conspiradores, para realizar iniciativas e aes de

    mobilizao classista, conservadora e reacionria, como assim transcorreu com o

    Instituto Brasileiro de Ao Democrtica (IBAD) e o Instituto de Pesquisas e Estudos

    Sociais (IPES)10; o envolvimento de setores, por exemplo, da Igreja Catlica e de outros

    matizes cristos, na mobilizao da classe mdia temerosa de uma cubanizao do

    pas, e que colaboraram na organizao de entidades como a preexistente Liga das

    Senhoras Catlicas (criada nos anos 1930), e as ento recm-criadas Sociedade

    Brasileira em Defesa da Tradio, Famlia e Propriedade (TFP) em 196011, e a

    Campanha da Mulher pela Democrtica (CAMDE), e que foram fundamentais para a

    realizao das Marchas da Famlia com Deus e Pela Liberdade, ocorridas em diversas

    capitais e outras cidades brasileiras (destacando-se, dentre todas, a de So Paulo,

    ocorrida em 19 de maro de 1964, em resposta ao Comcio de Jango pelas Reformas de

    9 Sobre a participao de Francisco Campos nos primeiros momentos ps-golpe de Estado de 1964, e na

    criao do Comando Supremo da Revoluo, cf., DOCKHORN, Gilvan Veiga. Quando a Ordem Segurana e Prigresso Desenvolvimento (1964-1974). Porto Alegre: Editora PUCRS, 2002. p.130. 10 Sobre os rgos privados conspiradores IBAD e IPES, alm de se constatar que foi mais um

    movimento de classe quie um mero golpe militar, cf. DREIFFUSS, Ren Armand. 1964: A Conquista do Estado: Ao Poltica, Poder e Golpe de Classe. Petrpolis: Vozes, 1981. 11 sobre a TFP, cf., ZANOTTO, Gizele. Tradio, Famlia e Propriedade (TFP): As Idiossincrasias de um

    Movimento Catlico. Florianpolis, UFSC, 2007 Tese de Doutorado, disponvel em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/89747, cujo ltimo acesso foi em 23 de maro de 2015. Vale

    tambm ressaltar que se encontra disponvel a consulta online de pronturios sobre a TFP no Arquivo do

    Estado de So Paulo (APESP), a partir de:

    http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoriapolitica/fichas.php?pesq=1&nome=TFP&ano_inicial=&ano

    _final=&prontuario=&organizacao=&acervo=&Reset2=Buscar.

  • 7

    Base, em frente ao I Exrcito e Central do Brasil, Rio de Janeiro)12; a criao de

    truculentas chapas estudantis de direita (sejam secundaristas e/ou universitrias), em

    variadas agremiaes (tradicionalmente de hegemonia esquerda), como forma de

    estimular o empastelamento do debate e da prxis internos a esses setores progressistas

    organizados; alm de outras vrias iniciativas e aes que, passado o xito golpista de

    1964, paulatinamente, esvaneceram-se ou tomaram outras feies.

    O ingrediente civil do golpe de 1964, como se percebe, no apenas buscou

    legitim-lo, como uma ao democrtica refletida, por exemplo, nas Marchas da

    Famlia...; mas alguns de seus agentes, mais afoitos e radicais, resolveram tomar para

    si atitudes mais truculentas e belicistas. E algo importante a se afirmar, como sabido,

    que houve sim tentativa de resistncia democrtica, tanto civil como tambm militar,

    contra a ao golpista, contudo fosse tarde demais para retomar a situao, em vista de

    que as direitas, desta vez, planejaram e puseram em prtica, com maior acuidade, seu

    intento diferentemente das prvias tentativas frustradas. O diferencial, em 1964,

    quanto ao planejamento (em termos de iniciativa e ao), foi a contundente presena do

    ingrediente civil conservador e reacionrio no ato e fato golpista.13

    Sucedeu-se que, sorrateiramente, e por vezes s claras, iniciativas e aes

    partidas de fraes civis conservadoras e reacionrias favoreceram o germinar e a

    proliferao de organizaes com tendncias e prticas eminentemente paramilitares

    (tendo muitas destas o apoio e associao de elementos militares/policiais em seus

    quadros). Quer dizer, para esta receita explosiva de golpe de Estado, alm do bvio

    ingrediente militar, porque, teoricamente, preparado para qualquer eventual confronto, e

    do resguardo legitimador pactuado pelo ingrediente civil conservador e reacionrio,

    foram adicionados princpios ativos de alta periculosidade, que foram tais organizaes

    de extrema-direita, gangsteristas e paramilitares, obviamente afeitas a atos de

    12. No que se refere CAMDE, cf., CORDEIRO, Janana Martins. Direitas em Movimento: A Campanha

    da Mulher pela Democracia e a Ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. Cabe tambm

    destacar que se encontrar disponoveis para consulta online de todo os pronturios sobre a CAMDE sob a

    guarda do Arquivo Nacional no Rio de Janeiro. Para a consulta desta e de outras documentaes e

    catlogos, acessar http://www.an.gov.br/sian/inicial.asp. Alis, para se conhecer mais sobre outros

    acrnimos direitistas, to ou mais reracionrios que a CAMDE e a TFP, como a carioca Liga Democrtica

    Radical (LIDER), a mineira Liga da Mulher Democrata, e a paulista Unio Cvica Feminina (UCF), segue

    um link para o pronturio BRANRIOPE0036, ora digitalizado, e sob a guarda do Arquivo Nacional:

    http://imagem.arquivonacional.gov.br/sian/arquivos/1013194_3671.pdf (ltimo acesso em 23 de maro de

    2015). 13 As tentativas frustradas de resistncia ao golpe de 1964 partiram, principalmente, de parcas unidades

    mecanizadas do III Exrcito e da Brigada MIlitar, no Rio Grande do Sul. Movimentos sociais e sindicais,

    como as Ligas Camponesas, localizadas principalmente na Regio Nordeste, e a Central Geral dos

    Trabalhadores (CGT), no ofereceram qualquer resistncia armada imediata ao golpe de Estado.

  • 8

    intimidao e terrorismo, como o conhecido Comando de Caa aos Comunistas (CCC),

    criado anteriormente ao golpe de 1964, e outras organizaes correlatas.14

    O CCC no foi um caso isolado no contexto que antecedeu ao golpe de 1964

    tampouco a organizao mais antiga do perodo democrtico at ento vigente. O Rio de

    Janeiro, que j se preparava para deixar de ser a capital da Repblica a partir de 1960,

    foi o principal palco de tentativas golpistas entre 1954 e 1964, e onde se suscitou a

    criao de algumas das mais destacadas organizaes de extrema-direita daquele

    perodo, como a pregressa Cruzada Brasileira Anticomunista (CBA), fundada em 1952,

    pelo ento contra-almirante Carlos Pena Boto, militar e militante histrico da extrema-

    direita; e que tambm manteve estreito vnculo, pessoal e/ou financeiro para com o

    Movimento Anticomunista (MAC), fundado em 196115. Assim como se suspeitava do

    ativo apoio de Pena Boto para com o MAC, tambm se suspeitava que o ento

    governador da Guanabara, o jornalista Carlos Lacerda, acobertaria as aes perpetradas

    por esta organizao. O MAC, composto basicamente por civis anticomunistas, desde o

    ano de sua fundao, at os o auge das iniciativas e aes durante a consumao do

    golpe de 1964 , recebeu significativa cobertura da imprensa carioca e fluminense, tanto

    em seu repdio, como o impresso ltima Hora, democrtico e governista; como

    outros oportunamente anticomunistas, como o Jornal do Brasil, ainda assim, que

    noticiava contrariamente a ascenso de grupos de extrema-direita, nomeadamente o

    MAC (que supostamente j havia estendido seus tentculos a outras partes do pas.

    Dentre os primeiros e mais notrios atos terroristas perpetrados pelo MAC, cite-se o

    ataque sede da UNE, na Praia do Flamengo, Rio de Janeiro, na madrugada do sbado,

    dia 6 de janeiro de 1962. O extinto ltima Hora, meio de comunicao favorvel

    legalidade do governo ( poca, parlamentarista) de Joo Goulart, acompanhou o

    andamento das investigaes quanto a este caso. Esta foi apenas mais uma da ampla

    cobertura conferida aos ataques da extrema-direita contra o governo democrtico e

    entidades da sociedade civil acusadas de serem clulas comunistas; e na qual se l na

    reportagem abaixo:

    14 J entre as dcadas de 1940 e 1960, intelectuais distintos, como Hannah Arendt e Anatol Rosenfeld, j

    discutiam os vnculos do terrorismo e ganggsterismo. Cf.; ARENDT, Hannah. The Origns of the

    Totalitarianism. Orlando: Harvest Books, 1968. p. 407; ROSENFELD, Anatol. A Cultura de Gang; in:

    Texto/Contexto II. So Paulo: Perspectiva, 1974. pp. 229-30. 15 Sobre o Almirante Carlos Pena Boto e sua Cruzada Brasileira Anticomunistas, cf., respectivamente os

    verbetes Boto, Pena e Cruzada Brasileira Anticomunista (CBA); in: http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx?id=busca_rapida . ltimo acesso em 23 de

    maro de 2015.

  • 9

    GOVERNO DESCOBRE DIRIGENTES DO MAC

    Ministro da Justia j tem tdas as informaes: 1 Milho de Dlares para o

    Terror

    O Ministro Alfredo Nasser j tem mos os nomes dos dirigentes e integrantes

    do MAC, seus financiadores, a origem e o total de sua verba, sua

    organizao, seu ponto de reunio e seus objetivos. sses dados resultam de

    uma minuciosa investigao feita pelo Ministrio da Justia, em colaborao

    com a polcia de Braslia, cujo chefe, Coronel Carlos Cairoli que j estve no

    sul investigando as ramificaes da organizao terrorista no Paran e no Rio

    Grande do Sul.

    Da documentao em poder do Ministro Nasser consta inclusive a descrio

    de um encontro realizado em um apartamento, no Rio, por iniciativa de uma pessoa atuante da poltica. O organizador da reunio comeou a fazer uma exposio sbre a infiltrao comunista no pas, notadamente no Congresso

    Nacional e na administrao pblica. Props a criao de uma entidade para

    enfrentar o comunismo, cujas atividades compreenderiam atuao junto ao Congresso Nacional atravs de mtodos que iriam desde o subrno de

    deputados para fazer aprovar projetos que o movimento julgar necessrios

    luta anticomunista. O plano da organizao que nada menos que o Movimento Anticomunista, o MAC compreenderia tambm a ao de rua, a guerra psicolgica, etc., etc.

    A certa altura da reunio, um dos participantes argumentou que para tda

    essa atividade, o MAC necessitaria de muito dinheiro, ao que o organizador

    da reunio respondeu que j contava para isso com um milho de dlares,

    cuja origem tambm de conhecimento das autoridades federais.

    O conhecimento de tdos esses fatos se deve a um padre e um coronel

    que,presentes reunio, no concordaram com os mtodos terroristas e se

    recusaram a participar do MAC. stes dois denunciantes, cujos nomes vm

    sendo mantidos em segredo, esto dispostos a sustentar de pblico a denncia

    e completar com novos detalhes da ao terrorista.16

    Deste perodo que j se evidenciava franca oposio ou ataque ao governo

    Joo Goulart, at o golpe de 1964, o MAC veio a ser um dos mais obscuros e

    famigerados algozes do Estado Democrtico de Direito, representado pelo governo e

    por sua base de sustentao poltica, tanto na sociedade civil, e nas fraes militares

    legalistas, assim como no mbito institucional e parlamentar. Mais que isto, esta

    organizao se tornou, de algum modo, referncia ou modelo, mais de ao que

    propriamente ideolgico, para outros grupos correlatos pas afora em especial, o j

    mencionado CCC. Algo que diferenciava, no obstante, em origem, um CCC de um

    MAC, e de outros correlatos, era a situao de no se tratava de mais um grupo afeito a

    prticas gangteristas e paramilitares de postura anticomunista to somente de perfil

    policialesco e militar: tratava-se de uma organizao heterognea, composta por

    indivduos mais jovens, em sua maior civis, relativamente bem instrudos

    academicamente e de confortvel situao financeira, tendo muitos dos quais com

    16 LTIMA HORA. GOVERNO DESCOBRE DIRIGENTES DO MAC. 19 de Janeiro de 1962, pgina 4.

    Disponvel em:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=386030&PagFis=80450&Pesq=movimento%20an

    ticomunista. ltimo acesso em 23 de maro de 2015. O presente autor manteve a ortografia da poca.

  • 10

    pregressa formao anticomunista, desde a poca em que frequentavam colgios e

    cursos pr-vestibulares.

    A ao crescente do CCC entre 1964 e 1968

    Foi recorrente, a partir de 1964, em capitais e outras localidades brasileiras, a

    adoo do acrnimo CCC para denominar grupamentos de extrema-direita ora em ao

    algo que, na prtica, suscitou a preocupao de que poderia realmente haver, tal como

    o MAC, um CCC organizado em nvel nacional (algo que nunca se comprovou), dado o

    modo como que se noticiava seus manifestos e aes perpetradas exemplo maior, foi

    de publicitar a responsabilidade de um CCC no incndio da sede da UNE, no Rio de

    Janeiro, na madrugada do 31 de maro de 196417. No mnimo, parece bvio que usar

    dos meios de comunicao para propaganda anticomunista e de intimidao fazia parte

    de sua ttica de intimidao, como o MAC e outros grupos pregressos ao CCC j

    empregavam anteriormente ao golpe. Vale tambm notar que, enquanto as aes

    perpetradas pelo carioca MAC iriam paulatinamente se silenciar aps o golpe de 1964, o

    CCC viria a ser um princpio ativo de intermitente destaque, como parte do ingrediente

    civil colaboracionista e sustentador do regime de exceo, por anos a fio.

    Originrio do movimento estudantil conservador e reacionrio da Faculdade de

    Direito da Universidade de So Paulo, localizada no Largo So Francisco, na capital

    paulista, o Comando de Caa aos Comunistas certamente havia sido germinado

    anteriormente a maro de 1963, pois bandos de estudantes de extrema-direita j agiam

    com relativa coordenao, quando do anncio das Reformas de Base propugnadas pelo

    governo Joo Goulart. O fato inaugural do CCC ainda sem o uso deste acrnimo, mas

    agindo como um princpio ativo estudantil do ingrediente civil preparativo ao golpe que

    estaria por vir, foi quando do truculento impedimento de uma conferncia do ento

    ministro-chefe da Superintendncia de Reforma Agrria (SUPRA) do governo Joo

    Goulart, o mineiro e petebista Joo Pinheiro Neto, que seria realizada no Centro

    Acadmico XI de Agosto da na Faculdade de Direito da USP, em 17 de maro de

    196318. Sob as Arcadas e arredores do Largo So Francisco, h muito, era recorrente a

    17 Sobre a associao do acrnimo CCC ao incndio da sede da UNE, cf., ARNS, Dom Paulo Evaristo

    (pref.). Brasil: Nunca mais. Petrpolis: Vozes, 1985. p. 132. Cf., tambm, toda a documentao

    digitalizada do Projeto Brasil: Nunca Mais em: http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/ . ltimo acesso em 23 de maro de 2015. 18 Pesquisas quanto a este incidente, assim como de outros, produzidas ao longo de dcadas, confirmam

    que o CCC j havia se preparado com bastante antecedncia para o golpe de 1964; e o contato direto com

    ex-membros do CCC, e testemunhas da poca, tambm confirmam estes fatos quanto sua origem como se sucedeu entre o presente autor e um de seus fundadores da organizao, o advogado Cassio

  • 11

    situao de se deflagrar em violncia fsica, por vezes generalizada, disputas por

    territrio, debates poltico-ideolgicos e a usual esbrnia que dava o tom mundano aos

    acadmicos do curso de Direito; de modo que a violncia fsica era algo que fazia parte

    do cotidiano daquela estudantada, em suas subsequentes geraes.

    Durante sua gestao, j entre os idos de maro de 1963, at o maro seguinte,

    que precedeu o golpe de 1964, o CCC no somente atuou com a truculncia que lhe era

    inerente, isoladamente ou em conjunto a grupos correlatos, como tambm se articulou a

    outras organizaes conservadoras e reacionrias, muitas das quais legalmente em

    atividade. Estando ou no em ao enquanto membros do CCC, esses estudantes

    tambm participavam regularmente de reunies acadmicas, passeatas cvicas de matriz

    anticomunista; mas sempre dispostos ao confronto fsico com seus adversrios diretos,

    ou contra quem lhes fizesse despertar o sentimento de intolerncia, caso considerassem

    isto necessrio. Grupos como o CCC conquistavam cada vez mais terreno em espaos

    de confronto direto e/ou indireto com seus adversrios (sobretudo, estudantes), medida

    que o discurso anticomunista tambm ganhava coro entre as fraes conservadoras e

    reacionrias da classe mdia, de instituies religiosas e de ensino e do mdio-grande

    empresariado brasileiros (e com o decisivo alento dos meios de comunicao, sejam

    estes favorveis ou contrrios a suas iniciativas e aes).19

    Com efeito, por exemplo, no se sabe quem se assumiu como CCC no atentado

    contra a sede da UNE, no Rio de Janeiro (possivelmente, o mesmo pessoal do MAC),

    ocorrido na madrugada do 31 de maro de 1964. Sabe-se, no obstante, quais foram os

    principais alvos do CCC em So Paulo, alm de se suspeitar quem dentre seus membros

    estiveram presentes nos atos perpetrados naquela data. Os principais alvos do CCC em

    So Paulo, durante o calor do golpe de 1964, obviamente, foram grupos estudantis de

    esquerda, e progressistas em geral, do prprio Largo So Francisco, no qual havia o

    Partido Acadmico Renovador (PAR) na gesto do Centro Acadmico XI de Agosto; e

    Scatena, embora este afirme que o nome CCC se firmou, enquanto tal, somente nos principais

    acontecimentos da Revoluo (LOPES, 2014, p. 137). A partir de um ponto de vista ngulo mais anrquico sobre essa poca, do tambm colaborador para com as pesquisas do presente autor, o j falecido advogado e publicitrio, e colega de faculdade de diversos ex-membros do CCC, Paulo Azevedo

    Gonalves dos Santos (LOPES, Idem, pp.95-6), seria mais preciso dizer que o Comando de Caa aos

    Comunistas nasceu pelos idos de 1962, a partir de fraes internas da famosa Canalha Acadmica, multido esta que extrapolava o posicionamento poltico-ideolgico dos estudantes de direito da USP,

    para alm de seus partidos acadmicos, como o Partido Acadmico Renovador (PAR), e outros mais conservadores, como o Partido de Representao Acadmica (PRA). 19 Para este pargrafo, interessante a leitura integral do relato de Gustavo Augusto de Carvalho

    Andrade, em LOPES, Gustavo. Esteves. Op. Cit, pp. 117-32.

  • 12

    grupos da antiga Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da USP (FFCL-USP), onde

    havia forte presena de entidades como a UNE e a UEE.20 A esta altura de 1964, o CCC

    j havia se espalhado para outros centros universitrios da capital paulista, sobretudo

    nos cursos mais tradicionais com quadros diretores, docentes e discentes tidos como

    conservadores e reacionrios , como o curso de Direito da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie (vizinha da antiga FFCL-USP), e possivelmente na atual Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP, antigamente conhecida como a

    Catlica). Dentre seus membros mais conhecidos, e que possivelmente estiveram

    presentes nos atos ocorridos durante a consumao do golpe de 1964, podem ser citados

    (inclusive, esto todos mortos): Joo Marcos Monteiro Flaquer, Otvio Gonalves

    Moreira Jnior, da (FD-USP); e Raul Nogueira de Lima, e Ricardo Osni (FD-

    Mackenzie).21

    Passado o exitoso golpe de 1964, e ao longo de sucessivos Atos Institucionais

    baixados pelo regime civil-militar, e de outras leis e/ou decretos-leis que fecharam o

    cerco s liberdades polticas individuais e coletivas de setores contrrios ao ento

    vigente Estado autoritrio (como, por exemplo a Lei n4.464/1964, a Lei Suplicy, que

    ps a UNE e outros rgos estudantis na ilegalidade, e alm de impor outras medidas

    austeras a esta categoria), diversas entidades representantes de fraes civis

    conservadoras e reacionrias (algumas das quais colaboracionistas para com atos

    gangsteristas, paramilitares, terroristas), por demais ativas at a derrubada do governo

    democrtico, vieram paulatinamente a desaparecer ou permanecer no limbo a partir de

    ento. o caso da assistencialista CAMDE, que encerrou suas atividades em 1972;

    assim como do estratgico IPES, tambm fechado no mesmo ano, o qual, ao fechar

    suas portas, cedeu integralmente ao Servio Nacional de Informaes (SNI) todo o seu

    acervo e documental, contudo tenha perdido severamente seu destaque no contexto

    20 Sobre incidentes ocorridos, respectivamente, s Faculdade dee Filosofia da USP, quando do Golpe de

    1964, cf. CARDOSO, Irene. Para uma Crtica do Presente. So Paulo: Editora 34, 2001. p. 101. Cf.,

    tambm, MELLO e SOUZA, Antonio Candido de (Coord). Os Acontecimentos da Rua Maria Antonia (2

    e 3 de outubro de 1968), So Paulo: FFLCH-USP, 1988. p.8. Para o mesmo, quanto aos incidentes na

    Faculdade de Direito da USP, vale mencionar uma obra ficcional: COELHO, Teixeira. Histria Natural

    da Ditadura. So Paulo: Iluminuras, 2006. p. 146 21 No Acervo DEOPS do APESP, encontram-se fichas e pronturios em nome de Joo Marcos Flaquer,

    Raul Nogueira de Lima e otvio Gonalves Moreira Jnior. No livro Ensaios de Terrorismo..., do presente autor, entre as pginas 72 e 74, foi reproduzido integralmente o relatrio de Joo Marcos

    Flaquer, includo no pronturio n8.233, em nome de Fernando Piza, Para o catlogo, bem como para

    qualquer documentao digitalizada, basta acessar:

    http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoriapolitica/pesquisa.php. ltimo acesso em 23 de maro de

    2015.

  • 13

    poltico desde o xito golpista de 1964. Ainda assim, medida que as esquerdas

    estudantis tornavam a se articular e retomar as atividades de suas antigas entidades

    ineficazmente extinguidas pela Lei Suplicy, sobretudo aps a celebrao dos diversos

    acordos e convnios MEC-USAID (para a reforma do sistema universitrio brasileiro)22

    o CCC voltava a agir com mais agressividade. Desde sua incerta gnese truculncia,

    ideolgica e praticada, tal organizao j no se direcionava apenas contra seus

    tradicionais adversrios estudantis, mas tambm a outras categorias sempre visadas,

    como professores universitrios, intelectuais de esquerda, o clrigo progressista, artistas

    e partcipes da cena sociocultural brasileira em oposio tudo aquilo. Desde os fatos

    ocorridos contra o ex-ministro da SUPRA, Joo Pinheiro Neto, em maro de 1963, o

    CCC j demonstrava que atacaria a quem lhe despertasse a ira e a intolerncia. Alm

    dos recorrentes quebra-quebras em espaos propcios ao enfretamento entre direitas e

    esquerdas estudantis, o CCC se infiltrava e empastelava atividades acadmicas e

    socioculturais sem qualquer recalque, como o fizeram em uma palestra de Mrio

    Schemberg, fsico, crtico de arte e professor universitrio da antiga FFCL-USP, a ser

    proferida tambm antiga Faculdade de Cincias Econmicas da USP (atual FEA -

    Faculdade de Economia e Administrao), ainda em 1966, e cancelada a pedido da

    direo, por temor a algo pior que poderia ocorrer.23

    Este CCC, que deve ser considerado paulistano e quatrocento, quando

    agia com truculncia, de fato, reunia sem muita distino social seus membros

    estudantes universitrios (sejam do Largo So Francisco ou mackenzistas) e com

    aqueles que j haviam vnculos oficiais ou oficiosos para com o aparato de represso.

    Dada sua disseminada fama alcanada pela covardia de seus membros em agredir

    pessoas despreparadas e desarmadas em geral mulheres (inclusive, grvidas), rapazes

    avessos a lutas e artes marciais, e mesmo idosos, apesar de existentes, bvio

    possvel que no havia a necessidade destes elaborarem tticas de intimidao e de

    terrorismo demasiado detalhadas, pois a certeza da omisso das foras de segurana em

    conter ou coagir sua voracidade gngster contava muito a seu favor. Entretanto, fora do

    22 Sobre a reforma universitria iniciada por meio da Lei Suplicy e dos acordos e convnios MEC-

    USAID, cf., CUNHA, Lus Antnio Cunha. A Universidade Reformanda: O Golpe de 1964 e a

    Modernizao do Ensino Superior. So Paulo: Francisco Alves, 1988. 23 Difcil de se encontrar notcias de jornal precisas quanto ao episdio contra Mrio Schenberg. No mais,

    vale buscar em LOPES, Gustavo Esteves. Op. Cit., p.139, a paritr do relato de Cassio Scatena, ex-

    membro fundador do CCC. Outrossim, em relato de Paul Israel Singer faz referncia indireta a este

    incidente, nomeadamente relacionado ao CCC, em MANTEGA, Guido; REGO, Jos Mrcio. Conversas

    com Economistas Brasileiros II: So Paulo: Editora 34, 1999. p.65.

  • 14

    contexto da atuao prtica, os membros idelogos do CCC, entre si, tinham

    predileo em se distinguir do restante mais truculento, como o referido em nota Cassio

    Scatena, e muitos de seus colegas citados em reportagens de poca e em outros relatos

    alm de personalidades do alto escalo universitrio uspiano e do regime civil-militar,

    como o reitor e ministro da Justia, o professor doutor Lus Antonio da Gama e Silva

    Filho (vulgo, Gaminha).

    Entre estes ex-membros do CCC tidos a idelogos, narram-se estas e outras

    histrias (e memrias) em que havia maior predominncia das rusgas e contextos

    prprios ao Largo So Francisco (talvez, de modo a memorizar sua prpria

    responsabilidade no contexto mais amplo); como, por exemplo, o impedimento da

    entrada de membros do CCC, por parte da esquerda alocada no Partido Acadmico

    Renovador (PSR) e de ex-alunos militantes desta agremiao acadmica, em tentar

    participar (com a finalidade clara de empastelar) a Tomada (isto , uma ocupao

    estudantil) da Faculdade de Direito da USP em protesto reforma universitria e ao

    regime de exceo, em agosto de 1968. Como o sucedido, durante a Tomada, deu-se

    que em tal ambiente acadmico disputas polticas mais equilibradas inclusive,

    fisicamente, quanto ao embate, tte-a-tte, entre as foras resistentes presena da

    extrema-direita , nesta oportunidade, o CCC saiu derrotado, pela esquerda estudantil,

    que j havia estabelecido, inclusive, contato direto e associao a organizaes armadas

    de esquerda, como a Ao Libertadora Nacional, fundada em 1967. Para os ex-membros

    idelogos do CCC, esse um dos fatos histricos e componentes de seus repertrios

    mnemmicos dos mais vivazes diferentemente de casos mais graves, e dos quais

    tendem a se furtar , talvez porque, neste episdio, foram derrotados.24

    Quanto mais tidos como idelogos, mais se percebe a dificuldade desses se

    assumirem como membros do CCC, enquanto o servio sujo se resume poucos sujeitos,

    ainda no tempo corrente. Diferentemente do que se passou com ex-membros

    idelogos do CCC, desde a poca de sua atuao mais contundente at o tempo

    corrente, salvo excees, o acrnimo ainda se mantm tenazmente vinculado a seus

    conhecidos e falecidos ex-membros policiais, como Raul Careca, Otavinho, Ricardo

    Osni, alm de seu lder Joo Marcos Flaquer. Obviamente, a esta exceo, soma-se o

    24 Relatos divergentes, como o de Cassio Scatena e Percival Menon Maricato (advogado, ex-extudante da

    FD-USP e ex-membro da ALN), assim como o de Gustavo Augusto de Carvalho Andrade, em LOPES,

    Gustavo Esteves. Idem..., podem elucidar sobre esta Tomada da Faculdade de Direito. Outro: notcias, ora digitalizadas, de acervos impressos podem tambm ser consultadas, para o ms de junho a agosto de

    de 1968 em: acervo.estadao.com.br e acervo.folha.uol.com.br.

  • 15

    nome do conhecido jornalista Boris Casoy, que foi um ex-membro mackenzista desta

    organizao, que havia mais o perfil propagandista que o de truculento ou mesmo

    idelogo (ainda mais, por haver alguma dificuldade em funo problemas fsicos),

    mas que sempre negou o fato25. Outro a que, recorrentemente, faz-se referncia quanto

    ao advogado e ex-deputado federal Jos Roberto Batochio, o qual, quando estudante de

    Direito da Universidade Mackenzie, esteve em conluio s diretrizes impostas pela ento

    reitora, professora doutora Esther Figueiredo Ferraz, quanto poltica estudantil e por

    isto foi tachado, ad eternum, como ex-membro do CCC. 26 E no se pode deixar de

    mencionar o advogado e artista plstico, Joo Parisi Filho, ex-membro do CCC que

    conheceu de perto a violncia do oprimido (no caso, dos estudantes que defenderam a

    todo custo a antiga FFCL-USP que, aps quase linch-lo durante os acontecimentos

    da Rua Maria Antonia (a 2 e 3 de outubro de 1968), chegaram a sequestr-lo e deix-lo

    em crcere privado em apartamento do Conjunto Residencial da USP, o CRUSP.27

    s costas destes ex-membros j falecidos, e por conta da dificuldade jurdica

    de se apontar, irrefutavelmente, a responsabilidade de outros sujeitos como coautores de

    toda a desgraa, contabiliza-se nestes, principalmente, alguns dos maiores atos

    perpetrados pelo CCC: como a destruio do Teatro Galpo (Ruth Escobar), o

    empastelamento da pea Roda Viva (de Chico Buarque de Holanda), e a agresso

    fsica a todo elenco e produo e ao pblico presente, ocorrido a 18 de julho de 1968; os

    acontecimentos de 2 e 3 de outubro de 1968 Rua Maria Antonia, entre membros do

    CCC e estudantes direitistas da Universidade Mackenzie contra a resistncia estudantil

    da FFCL-USP, que resultou em graves avarias e no fechamento definitivo do edifcio,

    alm de dezenas de feridos e um morto (o estudante secundarista Jos Guimares); a

    25 A historiadora, Beatriz Kushnir, que entrevistou o jornalista Boris Casoy, no verbete de nomes dos

    principais elencados em seu livro, reproduz do entrevistado sua mgoa com relao a seu suposto vnculo

    com o CCC. Cf., KUSHNIR, Beatriz. Ces de Guarda: Jornalistas e Censores, do AI-5 Constituio de

    1988, So Paulo: Boitempo, 2012. pp.370-1. Cassio Scatena afirma que Boris Casoy era sim um membro efetivo membro do CCC, em LOPES, Gustavo Esteves. Idem., p. 181. O que seria, pois, um membro efetivo do CCC? 26 Formado em 1967, reitera que jamais participou dissenes estudantis mais truculentas, como outros

    colegas seus de convico anticomunista. Buscar seu relato em LOPES, Gustavo Esteves. Idem. pp.179-

    186. 27 Joo Parisi Filho, poca devotado pintor e quadrinista anti-abstracionista, recebia elogios de gente

    sagrada para a cultura contempornea brasileira, como Jorge Henrique Mautner e Mrio Schenberg. Depois dos trgicos acontecimentos da Rua Maria Antonia em 1968, este artista veio a passar um

    permanente obscurantismo, ainda que em a produzir. Vale tambm fazer referncia a uma crtica de

    Mrio Schenberg datada de 1969, e reproduzida pelo Centro Mrio Schenberg de Documentao e Pesquisa em Artes, da Escola de Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo (ECA-USP), a partir de http://www2.eca.usp.br/cms/index.php?option=com_content&view=article&id=88:joao-parisi-

    filho-&catid=17:artigos-de-mario-shenberg&Itemid=15. ltimo acesso em 23 de maro de 2015.

  • 16

    participao oficiosa de membros do CCC na desocupao do CRUSP, a 7 de dezembro

    de 1968, tambm precedido por atentado a fuzil contra o alojamento feminino; e

    depredao do Monumento a Federico Garca Lorca, a 20 de julho de 1969, aps 1 de

    sua inaugurao, Praa das Guianas, tambm em So Paulo.28

    A partir de 1968, medida que o recrudescimento entre direitas e esquerdas

    estudantis se aprofundava, o acrnimo CCC tambm se espalhava por diversas

    localidades De qualquer forma, tratar de outro CCC que no seja o paulistano, e

    eventuais ligaes por demais estreitas para com unidades militares, ainda nos idos de

    1968, so debates que fogem ao de que fato lhe imputado, pois demanda profcua

    averiguao.29 E no sentido de demonstrar que, de fato, o CCC era uma organizao

    restrita capital paulista, dado seu carter provinciano (contudo perigoso, uma vez

    sendo um princpio ativo do ingrediente civil da receita explosiva golpista, gestada antes

    mesmo de 1964), sero apresentados alguns excertos de narrativas de vtimas,

    testemunhas e perpetradores30 (no caso, de suposto ex-membro do CCC, ainda que no

    comprovado), extrados da obra Ensaios de Terrorismo: histria oral da atuao do

    Comando de Caa aos Comunistas; mais especificamente sobre os Acontecimentos

    da Rua Maria Antonia a 2 e 3 de outubro de 1968 inclusive, por ser assunto que

    provoca consideravelmente a memria afetiva do presente autor, porque ex-estudante da

    28 A reportagem CCC, ou o Comando do Terror, em nome de Pedro Medeiros, da extinta revista do grupo Dirios Associados, O Cruzeiro (9 de novembro de 1968, Ano XL, n 45, p. 19-23), ainda o principal documento impresso que trata da atuao do Comando de Caa aos Comunistas, no calor dos

    acontecimentos daquele ano. No obstante, vale lembrar que, ininterruptamente, as subsequentes edies,

    at 12 de dezembro de 1968, tentam esgotar o tema CCC at que, em sua ltima reportagem Um Pintor da Extrema-Direita, foi publicada entrevista com o referido artista e ex-estudante mackenzista Joo Parisi Filho ((6 de dezembro de 1968, Ano XL, n49. p. 132-4). Quanto desocupao do CRUSP,

    interessante a leitura do Inqurito Policial Militar conhecido como IPM-CRUSP, disponvel em: http://movebr.wikidot.com/crusp:ipm-68 (ltimo acesso em 23 de maro de 2015. Interessante ler, tam

    bem em LOPES, Gustavo Esteves. Idem., o relato da historiadora e professora universitria Elaine Faria

    Veloso Hirata, sobre os incidentes relacionados ao CRUSP, enquanto vtima direta. Quanto depredao

    do Monumento a Lorca, buscar relato de Gabriel Fernndez Otamend (pp. 209-18), ex-membro antigo Centro Democrtico Espanhol (CDE), tambm na ltima referida obra. Em acervos digitalizados sobre

    jornais impressos, em sites acima citados, h bastante documentao a se ler, contudo seja disponibilizada

    apenas a assinantes. 29 Sobre organizaes que se denominavam como CCC pas afora, interessante tambm consultar um

    artigo do presente autor. Cf., LOPES: Gustavo Esteves. Intimidao e Terrorismo: Histria Oral do

    Comando de caa aos Comunistas (1962-1968); in: Anais do XVII Encontro Regional de Histria O lugar da Histria. So Paulo: ANPUH/SP-UNICAMP, 2004. Disponvel em:

    http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XVII/ST%20XXVIII/Gustavo%20Esteves%20Lopes.p

    df. ltimo acesso em 23 de maro de 2015. 30 Acerca do entendomento do presente autor sobre os conceitos de perpetrador e vtima, cf., LOPES,

    Gustavo Esteves. Aportes Tericos Histria Oral: os Conceitos de Perpetrador e Vtima; in: Oralidades Revista , de Histria Oral. So Paulo: Universidade de So Paulo (USP) , v. 9, p. 155-186, 2011.

  • 17

    Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo

    (FFLCH-USP).

    Os Acontecimentos da Rua Maria Antonia (2 e 3 de outubro de 1968)

    Lauro Pacheco Toledo de Ferraz - Advogado, ex-presidente do Diretrio

    Acadmico de Direito Joo Mendes Junior, da Universidade Mackenzie, e adversrio

    direto do CCC:

    Aquilo foi, simplesmente, uma tentativa de retomar confrontos, de

    ressurgir a direita paramilitar; de revigorar vamos dizer assim o pensamento da direita que estava um pouco acanhada, no final de

    1968, pelo crescimento social de absoluta rebeldia, de no

    aceitamento do movimento militar, e dos rumos do governo militar.

    Os grupos de direita retornaram no mesmo momento que tnhamos

    passeatas em So Paulo, no Rio de Janeiro, com grande mobilizao

    da sociedade pela democracia. Houve um momento que surgiu um

    entrevero de secundaristas, que estavam cobrando um pedgio na rua Maria Antonia, para seu congresso, com alguns alunos do

    Mackenzie que tentaram impedi-los de fazer isto. E este incio de

    briga entre secundaristas e alunos do Mackenzie terminou por gerar

    para o dia seguinte um confronto de dimenso absolutamente

    desproporcional. Nesta noite, a reitora chamou a polcia para dar

    proteo Universidade, dizendo que a Universidade Mackenzie

    corria riscos. Abriu a Faculdade de Qumica para que fossem

    preparadas bombas, etc. o que foi feito, e com a proteo da polcia e com as bombas preparadas na noite anterior. No dia seguinte cedo

    comeou uma verdadeira batalha campal, onde alguns estudantes alis, poucos estudantes do Mackenzie, muito poucos fizeram uso dessas bombas, atirando nos alunos da Faculdade de Filosofia e,

    obviamente, houve a reao. E neste processo acabamos tendo a morte

    de um estudante que estava do lado da Filosofia, atingido por uma

    bala disparada por um estudante da Faculdade de Direito do

    Mackenzie. Estudante este que, mais tarde, passou a trabalhar como

    agente de Polcia Federal, morrendo em um acidente automobilstico

    comum. Recebeu honras militares em seu enterro. Mas este episdio,

    podemos dizer que foi muito especial para aquela poca, e que j era o

    incio do agravamento do processo poltico no pas. Era a

    demonstrao de que havia um esforo para redefinir o processo

    poltico e lev-lo a uma situao de agravamento social para permitir

    que a ao militar, explcita e direta do Estado inclusive com a queda do habeas corpus implantassem-se. E digo que esta briga da Maria Antonia foi mais do que uma antessala. Foi um aviso de que as

    coisas realmente graves estavam por vir.31

    31 LOPES, Gustavo Esteves. Ensaios de Terrorismo: Historia Oral da Atuao do Comando de Caa aos

    Comunistas. Salvador: Editora Pontocom, 2014. pp. 160-1. Disponvel em:

    http://www.editorapontocom.com.br/l/26/Ensaios-de-Terrorismo%3A-hist%C3%B3ria-oral-da-

    atua%C3%A7%C3%A3o-do-CCC. ltimo acesso em 23 de maro de 2015.

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    Jos Roberto Batochio advogado e poltico, membro de um triunvirato

    conservador, colocado pela ento reitora mackenzista, para gerir o DA Joo Mendes

    Junior:

    Quero fazer desde j uma ressalva: quando houve a conflagrao entre

    os estudantes, de um modo geral, da Universidade Mackenzie e os da

    Faculdade de Filosofia, que ento era sediada na rua Maria Antonia

    em frente ao Campus do Mackenzie, eu no me encontrava mais na

    Faculdade de Direito. No participei deste evento. No estava l

    presente. S soube dele pela leitura dos jornais. J estava advogando.

    Se no me engano foi em outubro de 1968. Portanto, fazia quase um

    ano que havia me formado. Esta conflagrao motivou uma

    reportagem na revista O Cruzeiro , absolutamente inverdica, que no

    sei por quais motivos e no sei por que formas um determinado

    reprter, conhecido como Pedro Medeiros, que tinha o apelido de

    Pedro Louco pelo que fiquei sabendo depois, fez uma matria leviana,

    totalmente gratuita, encarnando o nome de vrias lideranas estudantis

    que no estavam alinhadas ao PC do B, ALN, a essas organizaes

    progressistas daquela poca, e que tiveram qualquer liderana na

    Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, e tambm de outras

    universidades, e os catalogou como nomes de pessoas pertencentes ao

    CCC. E fez uma caricatura do CCC, dizendo que eram pessoas que

    treinavam jiu-jitsu, boxe, tiro ao alvo, aprendiam a manusear

    metralhadoras, e de formao nazista. (...) Lembro que duas ou trs

    turmas abaixo da minha, existiam sim pessoas dadas a violncia por

    razes polticas. Lembro-me de que havia notcias de esforos

    pessoais, fsicos, do Raul Nogueira, chamado de Raul Careca, que era um policial. Lembro de um sujeito muito forte, halterofilista. Na

    verdade, no sei se participava, mas tinha fama. O nome dele era

    Parisi, se no estou enganado, porque so quarenta anos quase... Por

    exemplo, sobre o Parisi, eu no saberia dizer se ele se envolveu em

    algum ato de violncia. O fato que esta reportagem totalmente

    falsa. At hoje utilizada contra pessoas de um plano mais dialtico,

    que no tiveram participao alguma neste movimento chamado CCC,

    que teria, digamos assim, iniciado l no Mackenzie em 1968, com essa

    conflagrao da Maria Antonia, a despeito de existirem posies como

    a de Raul e outros. Alm de ter uma formao absolutamente avessa a

    qualquer tipo de violncia fsica, sempre achei, desde os tempos de

    estudante, que as ideias no podem ser combatidas por outro modo se

    no pelas ideias. A necessidade de se conviver com ideias opostas a

    primeira de todas as virtudes democrticas a outra verdade, a outra posio, a outra viso do mundo.32

    Antonio Candido de Mello e Souza Socilogo, Crtico Literrio, Professor

    Titular Aposentado da FFLCH-USP

    Era uma atmosfera bastante boa mas j se notava uma certa

    hostilidade vinda do lado do Mackenzie. Os estudantes da Maria

    Antonia fizeram uma coisa que irritou muito a todos o tal pedgio. Fechavam a rua e cobravam o pedgio, se no me engano, para os

    fundos da campanha. Isso irritava muita gente que passava ali,

    32 LOPES, Gustavo Esteves. Op. Cit., pp. 180-2.

  • 19

    obviamente. Irritou muito o pessoal do Mackenzie, que tambm da

    rua. Um desses pedgios gerou conflito entre os alunos da Faculdade e

    os do Mackenzie. Na Faculdade havia muito agitador poltico, que no

    era aluno e estava infiltrado ali. normal nesses casos. E no lado do

    Mackenzie era o mesmo, s que no nosso caso era gente mais de

    esquerda, e no Mackenzie era essa gente de direita, provavelmente

    ligada ao CCC; de modo que a sim se criou o antagonismo entre os

    dois lados da rua essa a impresso que eu tenho. A vida na rua Maria Antonia funcionou bem, at certo momento que houve ento o

    ataque Maria Antonia Eu no lembro bem que ms foi outubro? A esse dia, as coisas estavam nesse p; disputas dos dois lados,

    passeatas, entusiasmo. Lembro que disse a uma moa que me

    auxiliava: Bom, hoje eu no venho Faculdade. E fui para casa. Da ela me telefonou: Professor, bom o senhor vir porque a situao aqui est muito grave. Fui, tomei um txi, parei na esquina da Consolao, e andei a p pela Maria Antonia. Quando cheguei, vi que

    j estava um conflito armado: bombas, corre-corre, um peloto da

    Guarda Civil do lado de l, da Dona Veridiana. Quem estava comigo,

    nesse momento, foi a professora Maria Isaura Pereira de Queiroz.

    Ficamos juntos nas ruas dali. No pudemos entrar na Faculdade, um

    conflito grande na frente. Foi nesse momento, a certa altura, que eu vi

    esse rapaz que eu tinha esquecido o nome, Parisi, parece que um

    artista, se no me engano. Na Dr. Vila Nova, fechou um pacote de

    gente em cima dele. A impresso que eu tive que iriam linch-lo,

    quando o Jos Dirceu, que era estudante no da Faculdade, mas da

    Universidade Catlica, um dos lderes da ocupao, um dos chefes da

    ocupao dentro da Maria Antonia impediu a ao. Teve um gesto

    muito corajoso, muito bonito, mas digo que havia muita gente de fora

    da Maria Antonia inclusive o Jos Dirceu. No ouvi o que ele dizia, penso que deve ter dito que era um adversrio mas no havia razo

    para linch-lo. Salvou a vida desse Parisi, que se livrou de uma

    pancadaria. E mandou-o embora. Ficamos ali naquela coisa toda, e a

    situao foi se agravando. Barulhos de bombas. Tinha notcia de que

    alunos botaram fogo na Faculdade; quando, se no me engano, fui at

    a Cidade Universitria, porque a Diretoria j tinha mudado para l no era mais na Maria Antonia. Lembro que fui l fazer um relato para

    o Diretor, e a Congregao da Faculdade de Filosofia, reunida na

    Cidade Universitria, decidiu vir toda para a Maria Antonia..33

    Os Acontecimentos da Rua Maria Antonia, ocorridos entre 2 e 3 de outubro

    de 1968, que antecederam outros fatos como a priso dos estudantes no XXIII

    Congresso da UNE e a desocupao do CRUSP, foram decisivos para que a linha

    dura do regime civil-militar se decidisse a repetir a receita explosiva, e dar mais um

    golpe dentro do golpe, e experiment-la novamente desta mo, por meio da edio

    do AI-5, ato institucional este que fechou o Congresso Nacional, suprimiu o direito civil

    ao habeas corpus, e permitiu que fossem cassados e caados outros milhares de

    brasileiros, de modo mais sanguinrio do ocorrido ps-golpe de 1964. Aps o AI-5, o

    33 LOPES, Gustavo Esteves. Idem, pp.232-2.

  • 20

    CCC diminuiu consideravelmente sua atuao, sobretudo com o paulatino processo de

    institucionalizao do terrorismo de Estado, que foi, consequentemente, o maior efeito

    colateral deste princpio ativo da receita explosiva golpista civil-militar. O que veio a

    ser feito por um rgo paramilitar oficioso como a Operao Bandeirante (OBAN) e

    mais tarde institucionalizado, no mbito do Exrcito Brasileiro, pelo Destacamento de

    Operaes de Informaes Centro de Operaes de Defesa Interna (DOI-CODI), j havia sido

    ensaiado pelo CCC e organizaes correlatas, como o MAC. Ao longo da dcada de

    1970, o acrnimo CCC saiu de cena, tendo retornado ativa, de modo mais

    contundente, a partir do processo de abertura poltica mediatizada pela Lei de Anistia

    no obstante, os Esquadres da Morte de Srgio Paranhos Fleury e seus sequazes

    estivessem em plena forma, quando no bastasse o servio sujo feito nos DOI-CODI e

    em outros aparelhos de aprisionamento, tortura e extermnio.34

    Alm de serem criadas novas clulas anticomunistas nos mesmos espaos

    acadmicos de sempre (como o Largo So Francisco e a Universidade Mackenzie), o

    acrnimo CCC foi novamente empregado em conhecidos atentados perpetrados contra

    bancas de jornal e at a sedes de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil

    (OAB) e a Associao Brasileira de Imprensa. Neste final de regime civil-militar havia

    a apreenso quanto ao revanchismo da extrema-direita algo que se comprovou com o

    mal sucedido atentado a bomba no Riocentro, a 1 de maio de 1980, perpetrado por dois

    militares do exrcito. Encerrado o regime civil-militar, ex-membros do CCC, como seu

    lder Joo Marcos Flaquer at tentavam se reunir em grupos anticomunistas, como a

    Ao Nacionalista Democrtica (AND) entretanto sem aquele flego comburente de

    outrora. Mesmo assim, grupelhos perigosos, como um Comando de Caa aos

    Comunistas de Santos (CCCS), chegaram a ser fichados pelo Departamento de Ordem

    Poltica e Social do Estado de So Paulo (DEOPS), dada a quantidade de ameaaram e

    atos de intimidao e terrorismo perpetrados na referida localidade litornea paulista.35

    34 Sobre a OBAN, DOI-CODI e os Esquadres da Morte, o presente autor recomenda: SOUZA, Percival de. Autpsia do Medo: Vida e Morte do Delegado Srgio Paranhos Fleury. So Paulo: Globo,

    2000; GORENDER, Jacob. Op Cit.; BICUDO, Hlio Pereira. Meu depoimento sobre o Esquadro da

    Morte. So Paulo: Pontifcia Comisso de Justia e Paz de So Paulo, 1977; BIOCCA, Ettore. Strategia

    del Terrore: Il Modello Brasiliano . Bari: De Donato, 1974; ALARCN, Rodrigo. Brasil: Represin y

    Tortura. Santiago de Chile: Editorial Orbe, 1971. 35 Para tanto, no catlogo digital do APESP, buscar pela AND por meio de icha digitalizada em nome

    Joo Marcos Flaquer, alm de se enconrtrar algo sobre o CCCS, a partir do prprio acrnimo. Segue o

    link:

    http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoriapolitica/fichas.php?pesq=1&nome=&ano_inicial=&ano_fin

    al=&prontuario=&organizacao=&acervo=&Reset2=Buscar. ltimo acesso em 23 de maro de 2015.

  • 21

    Por fim, vale dizer que o maior e mais problemtico legado de grupos de

    extrema-direita, como o CCC e MAC (e correlatos), foi o de inspirar sucessivas

    geraes no combate a tudo que estes consideram comunismo, no obstante isto se

    comporte mais como escape para se extravasar dio, intolerncia e covardia. Outro (e

    que serve de estmulo para outro estudo): foi equvoco capital da Comisso Nacional da

    Verdade (CNV), criada pela Lei 12.528/2011, ter como objetivo maior apurar a

    estrutura oficial golpista e de represso, sem se preocupar devidamente com as fraes

    colaboracionistas e partcipes do regime de exceo em questo ainda que somente em

    comisses da verdade de vigncia permanente poderia se esclarecer esta obscura face

    paramilitar e terrorista que precedeu e agiu conjuntamente ao terrorismo de Estado

    institucionalizado.36

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    de 2015.

    36 Quanto ao parco contedo acerca do CCC e organizaes correlatas, cf., BRASIL. Comisso Nacional

    da Verdade: Relatrio Volume I. Braslia: CNV, 2014. Link: http://www.cnv.gov.br/images/relatorio_final/Relatorio_Final_CNV_Volume_I_Tomo_I.pdf. Para o

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    uncategorised/585-home-cnv-antiga.ltimo acesso em 23 de maro de 2015.

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