edição v3n3 - julho, agosto e setembro de 2009
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Edição V3N3 - Julho, Agosto e Setembro de 2009TRANSCRIPT
ISSN 1980-2269
Rev. Dental Press Periodontia Implantol. Maringá v. 3 n. 3 jul./ago./set. 2009p. 1-112
Periodontia eImplantologia
Revista Dental Press de
volume 3, número 3, jul./ago./set. 2009
Sumário
ExplicaçõES E aplicaçõESPor que os implantes dentários não sofrem
rejeição?
Alberto Consolaro
12
EntrEviStaEdy Ceciliano de Sá Carneiro
22
pErguntE a um ExpErtO que são bisfosfonatos e qual a sua
influência nos tratamentos com implantes
dentários?
Angelo Menuci Neto
32
artigO inÉDitOAnálise comparativa da estabilidade inicial
e tardia de implantes retentores de sobre-
dentadura, submetidos à carga imediata,
por meio de análise de frequência de
ressonância
Rodolfo Alexandre André, Ivete Aparecida de
Mattias Sartori, Daniela Hernandes, Carlos Edu-
ardo Francischone, Maurício Rigolizzo Bruhns
36
rEviSÃO DE litEraturaPanorama atual da profilaxia antibiótica em
Implantodontia
Isabel Peixoto Tortamano, Helana Santana, Anna
Carolina R. Tempestini Horliana, Carina Gisele
Costa Bispo, Marcelo Munhões Romano, Mário
Sérgio Soares
46
caSO SElEciOnaDOTécnica cirúrgica para criação de tecido
conjuntivo doador palatal aumentando a
previsibilidade no tratamento de recessões
radiculares
João Carnio, Willian Furlan Paschoal,
Fernanda Akemi Nakanishi
55
artigO inÉDitOO uso da prototipagem para
planejamento de implantes zigomáticos em
maxila atrófica
Aline Franco Siqueira, Hiron Andreaza da Cunha,
Armando Rodrigues Lopes Pereira Neto, Daniel
Romeu Benchimol de Resende, Hugo Nary Filho,
César Augusto Magalhães Benfatti, Ricardo de
Souza Magini
62
artigO inÉDitOAbordagem cirúrgica para o restabeleci-
mento estético/funcional dos pacientes com
fibromatose gengival hereditária
Rodrigo Carlos N. de Castro-Pinto, Mariana
Schutzer Ragghianti Zangrando, Luiz Antônio
Pugliesi Alves de Lima, Francisco Emílio
Pustiglioni, Luciana Saraiva, Giuseppe Alexandre
Romito
71
caSO clÍnicOA importância da integração orto-perio
durante o tratamento ortodôntico: relato de
caso clínico
Juliana Kina, Talita Farias Miksza, Eduardo César
Almada Santos, Francisco Antonio Bertoz,
José Ricardo Kina
82
caSO clÍnicORecuperação do relacionamento entre
pôntico e rebordo alveolar utilizando
técnica de enxerto conjuntivo em “rolo” e
condicionamento tecidual: relato de caso
Fabio Cesar Lorenzoni, Renata Rodrigues de
Freitas Blagitz, Pedro Coesta, Maria Lucia Rubo
de Rezende, Accácio Lins do Valle, Luiz Fernan-
do Pegoraro, Gerson Bonfante
92
rEviSÃO DE litEraturaConceitos biológicos da resposta periodon-
tal ao tracionamento dentário ortodôntico:
revisão de literatura
Ruthinéia Diógenes Alves Uchoa Lins, Renally
Aguiar Jinkings Silva, Olga Lanusa Leite Veloso,
Hallissa Simplício, Alexandre Durval Lemos,
Gustavo Pina Godoy
102
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Revista Dental Press de Periodontia e Implantologia / Dental Press International. --v. 1, n. 1 (jan./fev./mar.) (2007) – . -- Maringá : Dental Press International, 2007-
Trimestral.
ISSN 1980-2269.
1. Periodontia. Implantologia (Odontologia) – Periódicos I. Dental Press International. II. Título.
CDD. 617.643005
Diretora Teresa R. D'Aurea Furquim
aNaLiSta Da iNForMaÇÃo Carlos Alexandre Venancio
ProDuÇÃo GráFica e eLetrôNica Andrés SebastiánGildásio Oliveira Reis Júnior Tatiane Comochena
ProGraMaÇÃo Hélio Ricardo de Castro
iNterNet Carlos Eduardo de Lima SaugoJônatas Lucizano
BaNco De DaDoS Adriana Azevedo VasconcelosAnderson Lima LopesCléber Augusto Rafael Soraia Pelloi
DePartaMeNto De curSoS e eVeNtoS Ana Claudia da Silva Rachel Furquim Scattolin
DePartaMeNto coMerciaL Roseneide Martins
SuBMiSSÃo De artiGoS Simone Lima Lopes Rafael
BiBLioteca Jéssica Angélica Ribeiro
NorMaLiZaÇÃoMarlene G. Curty
reViSÃo Ronis Furquim Siqueira
DePartaMeNto FiNaNceiro Roseli Martins Márcia Cristina Plonkóski Maranha
SecretariaCássia Viviane Izidoro
iMPreSSÃo Gráfica Regente
EDITORES
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Maurício Guimarães Araújo - UEM/PR
EDITORAS ASSISTENTES
Carina Gisele Costa Bispo - UEM/PR
Flávia Sukekava - FO/USP
PUBLISHERLaurindo Z. Furquim - UEM/PR
CONSULTORES CIENTÍFICOS
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Flávia Matarazzo - UEM/PR
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João Garcez Filho - Clínica particular - Aracaju/SE
Jorge Luis Garcia - Argentina
José Cícero Dinato - UFRGS/RS
José Valdívia - Chile
Juan Carlos Abarno - Uruguai
Luis Antonio Salata - FORP - USP/SP
Luis Lima - USP/SP
Luiz Meirelles - Universidade de GBG
Marco Antonio Bottino - UNESP/São José dos Campos/SP
Mario Groisman - UNIGRANRIO/RJ
Marly Kimie Sonohara Gonzales - UEM/PR
Paulo Maló - Portugal
Paulo Martins Ferreira - USP - Bauru/SP
Ricardo de Souza Magini - UFSC/SC
Ricardo Fisher - UERJ/RJ
Ronaldo de Barcelos Santana - UFF/RJ
Sidney Kina - Clínica particular - Maringá/PR
A revista Dental Press de Periodontia e im-plantologia (ISSN 1980-2269) é uma publicação trimestral (quatro edições por ano) da Dental Press Ensino e Pesquisa Ltda. - Av. Euclides da Cunha, 1.718 - Zona 5 - CEP 87.015-180 - Marin-gá/PR - Brasil. Todas as matérias publicadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores. As opiniões nelas manifestadas não correspon-dem, necessariamente, às opiniões da Revista. Os serviços de propaganda são de responsabili-dade dos anunciantes.
Assinaturas: [email protected] ou pelo fone/fax: (44) 3031-9818.
5Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 5, jul./ago./set. 2009
Editorial
Precisamos entender por que e como as coisas acontecem, e
utilizar esse conhecimento de forma prática. Explicações e Aplica-
ções: esse é o nome da seção, escrita pelo professor de Patologia
da FOB-USP, Alberto Consolaro, que estreia nesta edição. Nela,
serão abordados temas de interesse dos especialistas, à luz do
conhecimento da Biologia e da Patologia, visando explicar aos
clínicos o que ocorre nos tecidos frente a determinadas doenças
e os vários tipos de terapêuticas aplicadas.
Outro assunto, atual e fundamental, analisado em profundi-
dade numa revisão da literatura, é a indicação indiscriminada,
por parte dos cirurgiões-dentistas, da profilaxia antibiótica, o que
pode acarretar em uma seleção de bactérias resistentes e, conse-
quentemente, num problema de saúde pública de ordem mundial.
Já a seção Pergunte a um Expert investiga se existe alguma
contraindicação na realização de intervenções cirúrgicas em pa-
cientes submetidos à terapia com bisfosfonatos.
Não podemos deixar de mencionar uma data marcante para
nossa especialidade: a comemoração, no começo de setembro,
do 20º aniversário da chegada ao país da técnica que revolucio-
nou a Reabilitação Oral e deu início à Implantodontia moderna
– a osseointegração, cujo princípio foi descrito há 44 anos pelo
pesquisador sueco Prof. Dr. Per-Ingvar Brånemark.
Nessa edição, vários outros assuntos são analisados, como a
estabilidade inicial e tardia de implantes, técnicas cirúrgicas para
tratamento de recessões radiculares e da fibromatose gengival,
e o uso de prototipagem no planejamento de implantes, além
de mais dois casos clínicos e outra revisão de literatura. É muita
informação. Muitas explicações e aplicações... Aproveite!
Como e por quê?Prof. Dr. Maurício
Guimarães Araújo
Editores
Prof. Dr. Carlos
Eduardo Francischone
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Explicações e aplicações
12 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
Por que os implantes dentários
não sofrem rejeição?
Alberto Consolaro*
Os implantes dentários são colocados na
intimidade de nossos tecidos, em meio a um
turbilhão de eventos biológicos, representado
pela inflamação induzida pelos procedimentos
cirúrgicos. No entanto, os tecidos “aceitam” os
implantes dentários, mas, ao contrário, com ou-
tros materiais sólidos também colocados em
nosso corpo, os tecidos reagem de forma dife-
rente, promovendo respostas inflamatória e/ou
imunológica ao seu redor!
• Por que essa diferença de reação frente
aos vários materiais sólidos colocados em nos-
sos tecidos?
• Por que não é correto afirmar que os im-
plantes dentários podem ser rejeitados?
Para responder esses questionamentos, pre-
cisamos visitar os conceitos de inflamação para,
depois, compreender o que ocorre ao redor dos
implantes dentários inseridos em nossos ossos.
O primEirO mOmEntO da Entrada dE
partículas Em nOssOs tEcidOs
Quando uma partícula, um objeto, uma bac-
téria ou qualquer outro material entra no nosso
organismo e ganha o acesso ao nosso meio in-
terno, isso significa que ultrapassou as barreiras
físicas, químicas e biológicas representadas pe-
los tegumentos, como a pele e mucosas.
Imediatamente após a entrada de qualquer
material em nossos tecidos conjuntivos, algu-
mas células morrem, fibras são dilaceradas e o
gel representado pela matriz extracelular é dis-
solvido. Dessa forma, inevitavelmente, teremos
no local proteínas livres, lipídios soltos, carboi-
dratos, íons, peptídios e aminoácidos distribuí-
dos aleatoriamente.
Em nosso organismo, não temos proteí-
nas livres nos tecidos. Apenas as temos, nessa
forma, no sangue, como parte do plasma. Em
nossos tecidos conjuntivos, temos “sensores”
que captam a presença de proteínas livres e
são muito importantes, pois proteínas livres nos
tecidos são um sinal de agressão tecidual. Es-
ses sensores são células que residem no tecido
conjuntivo, conhecidas como mastócitos, locali-
zadas principalmente nos espaços subepiteliais,
perivasculares e perineurais. Em cada mm3 de
tecido conjuntivo na mucosa bucal temos, em
média, 20.000 mastócitos.
Quando os mastócitos encontram as prote-
ínas livres, eles degranulam e liberam milhões
de moléculas de histamina, que interagem com
* Professor titular em Patologia da FOB-USP e da pós-graduação da FORP-USP.
Alberto Consolaro
13Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
receptores na superfície vascular externa das
células endoteliais. A histamina promove a con-
tração dos citoesqueletos endoteliais, reduzindo
o volume dessas células. Os vasos sanguíneos
da região ficarão mais permeáveis, pois, com a
contração das células endoteliais, suas junções
intercelulares aumentarão de calibre.
Não importa o tamanho ou a natureza do
agressor, com a geração de proteínas livres no
tecido conjuntivo haverá a saída/exsudação de
substâncias plasmáticas e a infiltração de cé-
lulas sanguíneas para o local. O exsudato e o
infiltrado inflamatórios irão promover a defesa
do organismo, por atuarem contra o agressor.
inflamaçãO instalada: a sua EvOluçãO
As primeiras células sanguíneas que che-
gam no local são os neutrófilos, os leucócitos
polimorfonucleares programados para interagir
e destruir quase exclusivamente bactérias do
tipo estafilococos e estreptococos. O seu lema:
matar ou morrer. Concentram-se em grande nú-
mero em até 24 a 72 horas, aproximadamente.
Depois desse período de tempo, a inflamação
terá duas evoluções:
1. O infiltrado de neutrófilos e o exsudato
com suas substâncias/mediadores destroem e
controlam o agressor. No local, a inflamação
evolui para o reparo, com formação de tecido
de granulação para gerar um novo tecido con-
juntivo. Os macrófagos substituem os neutrófi-
los vencedores e predominam na região depois
de 48-72h de inflamação. Eles promovem a
limpeza e seus mediadores liberados induzem
a proliferação e síntese celular no tecido de
granulação. A reconstrução tecidual está a ca-
minho. Essa evolução da inflamação aguda é
denominada resolução do processo.
2. Os neutrófilos não interagiram com o
agressor e deixam a área, dando lugar a uma
grande concentração de macrófagos, depois de
48-72h. Os macrófagos são mais resistentes,
persistentes e de longa vida. Enquanto o agres-
sor estiver no local, eles também estarão. Eles
advêm dos macrófagos residentes do próprio
conjuntivo local e do sangue, onde circulam na
forma de monócitos. Quando envelhecem em
um processo inflamatório, fusionam-se com ou-
tros macrófagos jovens para formarem células
gigantes multinucleadas inflamatórias e prolon-
gam suas vidas. Essas concentrações mais ou
menos organizadas de macrófagos são deno-
minadas granulomas e significam: persistência
do agente agressor (Fig. 1, 4). Essa evolução
da inflamação aguda é denominada cronificação
do processo (Fig. 6).
GranulOmas (inflamaçãO crônica)
E Os matEriais sólidOs insEridOs Em
nOssOs tEcidOs
Os granulomas representam a cronificação
do processo inflamatório, pois a fase aguda não
conseguiu resolver a agressão e evoluir para o
reparo. Em todas as agressões teciduais nos
conjuntivos ocorre a fase aguda da inflamação;
ela pode ser subclínica, mais curta e assinto-
mática, mas sempre se instalará nos momentos
iniciais da inflamação, em 24-48h (Fig. 6).
Quando os materiais sólidos e sem conta-
minação entram ou são colocados em nossos
Por que os implantes dentários não sofrem rejeição?
14 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
tecidos conjuntivos, os neutrófilos não conse-
guem interagir, fagocitar, dissolver, etc. Depois
de 24-48h, cedem lugar aos macrófagos, para
que interajam ou tentem, ininterruptamente, in-
teragir com esses materiais, formando granulo-
mas ao seu redor (Fig. 1, 4).
Alguns granulomas podem até conseguir fa-
gocitar e destruir alguns materiais, mas, na maio-
ria das situações, eles persistem e insistem sem
sucesso em eliminar o agressor, mas não desis-
tem. Os macrófagos velhos se unem aos jovens,
para prolongar sua vida e função, na forma de
células gigantes multinucleadas inflamatórias.
Figura 1 - Processo de formação do granuloma do tipo corpo estranho, induzido por um espinho vegetal (E) não con-
taminado por microrganismos. Cada etapa está sequencialmente numerada de 1 a 6 (n = neutrófilo; m = macrófago;
cg = célula gigante do tipo corpo estranho; F = fibroblasto).
Figura 2 - Exemplo de Granuloma do Tipo Corpo Estra-
nho (setas) induzido pela hidroxiapatita de corais (*).
Não há integração com o tecido ósseo onde foi implan-
tado, pois as características físico-químicas da sua su-
perfície interagem de alguma forma com os macrófagos
sem que ocorra a evolução para a reparação (H.E. 25X).
n
E
m m
F
cg
renovação lentavia monócitos
inflamação aguda24-72h
monócitose
macrófagos teciduais
resistência e persistência do
agressor, mas sem poder imunogênico
(sem proteínas)predominância de macrófagos
para controlar o agressor ecircunscrição fibroblástica
granulOma DE cOrpO EStranHO
agressão
1
2
3
46
5
Alberto Consolaro
15Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
Figura 3 - Processo de formação do granuloma imunogênico induzido por bacilos da tuberculose (B). As etapas estão
sequencialmente numeradas de 1 a 7. A renovação dos macrófagos, necessariamente, é mais rápida do que nos gra-
nulomas do tipo corpo estranho, pois a morte celular é maior (n = neutrófilo; m = macrófago; cE = célula epitelioide;
l = linfócitos; cg = célula gigante de Langhans; F = fibroblasto).
Figura 4 - Granuloma imunogênico da tuberculose, o
mais típico e organizado: no centro com macrófagos e
células epitelioides mais próximas do cinturão de linfó-
citos. Perifericamente, há uma tentativa de circunscrição
representada pela organização capsular do tecido con-
juntivo vizinho (cgmi = célula gigante multinucleada
inflamatória de Langhans) (H.E. 25X).
renovação rápidavia monócitos
resistência e persistência do
agressor, mas com poder imunogênico
(com proteínas)
m
mF
B
n
cg
cE
l
l
monócitose
macrófagos teciduais
agressão
linfócitos
macrófágos
macrófagosepitelioides
CGMI
circunscrição fibrosa
tecido conjuntivo
inflamação aguda24-72h
associação com a
resposta imunoló-
gica
predominância de macrófagos com linfócitos e resposta imunológica simultânea para controlar o agressor
granulOma imunOgÊnicO
1
3
2 4
5
6
7
Os granulomas podem persistir em torno de ma-
teriais sólidos em nossos tecidos por longos anos
ou por toda a vida. Ao seu redor, os macrófagos
induzem os fibroblastos a produzirem fibras colá-
genas para ajudar na circunscrição do processo
e isolamento do material ao resto do organismo.
Por que os implantes dentários não sofrem rejeição?
16 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
matEriais sólidOs aGridEm nOssOs
tEcidOs? pOr quÊ?
Sim!
Mesmo quando estão livres de contaminação
microbiana, muitos materiais particulados – como
metais, cones de guta-percha, cimentos obtura-
dores, fios de seda, algodão e nylon –, além de
outros, agridem os tecidos durante a sua inserção
ou implantação nos tecidos conjuntivos, pois al-
gumas células são dilaceradas, fibras rompidas e
a matriz extracelular desorganizada.
Os materiais particulados também têm poten-
cial agressivo, pela composição química de suas
superfícies, liberando ou não substâncias tóxicas
e agressivas aos nossos tecidos, mas apenas ao
seu redor, promovendo uma constante inflama-
ção periférica. Outros materiais apresentam as-
pereza em sua superfície e margens cortantes
que, durante a movimentação normal dos tecidos,
acabam dilacerando os tecidos vizinhos. A falta
de integração das células e tecidos vizinhos com
as partículas dos materiais as torna muito mó-
veis e de difícil acomodação físico-química. Nesse
contexto, os granulomas, como aglomerado de
macrófagos e células derivadas e associadas, ate-
nuam, até fisicamente, essa interface com o res-
tante do organismo, justificando o estímulo dos
macrófagos aos fibroblastos vizinhos para que
produzam colágeno que os delimite, circunscreva
e isole do organismo.
Em suma, as características físico-químicas
das superfícies dos materiais sólidos inseridos
em nosso organismo são determinantes no tipo
de interação, interface e integração com os te-
cidos vizinhos.
Os tipOs dE GranulOmas E Os tipOs dE
aGEntEs indutOrEs
Os materiais sem componente proteico em
sua composição, inseridos e implantados em nos-
so organismo, induzirão a formação de granulo-
mas, quase exclusivamente de macrófagos. Esses
materiais que assim se comportam são denomi-
nados corpos estranhos e o granuloma classifica-
do como do tipo corpo estranho (Fig. 1, 2).
No entanto, alguns agressores que adentram
em nossos tecidos conjuntivos não interagem
com os neutrófilos, e vice-versa, ainda que nos
primeiros momentos da inflamação ou fase agu-
da. Muitos desses agressores contêm proteínas
em sua composição. Ao entrar em nossos teci-
dos, os macrófagos residentes em quase todos
os locais do nosso corpo fagocitam partes des-
ses agressores e reconhecem que têm proteínas
estranhas, também conhecidas como antígenos.
Como proteínas estranhas são reconhecidas
todas aquelas que não temos “registradas” em
nossa memória biológica, visto que, durante a
vida intrauterina, todas as proteínas que entra-
ram em nossa composição foram “catalogadas”
como próprias.
Esse reconhecimento e processamento
proteico é realizado pelos macrófagos, tam-
bém conhecidos como células apresentadoras
de antígenos ou APCs. Uma vez identificadas e
processadas no seu interior, os macrófagos ex-
teriorizam-nas em sua superfície externa, para
apresentá-las aos linfócitos. Assim estimulados,
os linfócitos coordenam uma sinfonia biológi-
ca conhecida como resposta imunológica, que
visa eliminar o agressor que contenha aquelas
Alberto Consolaro
17Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
proteínas estranhas, ou melhor, aqueles antí-
genos.
Os granulomas induzidos por agentes que
contenham proteínas estranhas não têm apenas
macrófagos entre as suas células, mas também
linfócitos, pois, ao mesmo tempo, ocorre, junto a
essa inflamação crônica, uma resposta imunoló-
gica simultânea. Por essa razão, esses granulo-
mas são denominados imunogênicos ou imuno-
granulomas (Fig. 3, 4).
Em síntese, temos granulomas do tipo corpo
estranho e granulomas imunogênicos, ou seja,
temos indutores de inflamação crônica que são
corpos estranhos, e temos indutores que são an-
tígenos e, simultaneamente, também promovem
uma resposta imunológica.
E Os implantEs dEntáriOs aGridEm
nOssOs tEcidOs?
Os implantes dentários per si não agridem
os tecidos, mas as manobras cirúrgicas para sua
colocação sim! No entanto, depois de 24-48h, a
reparação dos tecidos peri-implantares está em
andamento, pois os neutrófilos não interagem
com os implantes e desaparecem, para dar lugar
aos macrófagos (Fig. 6).
Os macrófagos, quando chegam nos tecidos
peri-implantares, depois da fase aguda pós-cirúr-
gica de 24-48h, iniciam o processo de limpeza
da área e liberação de mediadores para promo-
ver o reparo, com reconstrução do tecido con-
juntivo ósseo, juntamente com os mediadores
liberados pelas plaquetas.
Os macrófagos, bem como os linfócitos, não
reconhecem qualquer componente do implante
dentário, visto que não têm proteínas. Ao mesmo
tempo, a superfície implantar dentária não libera
qualquer agente agressor, tóxico ou lesivo aos
tecidos vizinhos. As células osteoprogenitoras, os
osteoblastos jovens e outras células envolvidas
no reparo peri-implantar não só ancoram-se na
superfície implantar como também depositam
sobre ela a matriz extracelular e óssea, integran-
do-se estrutural e bioquimicamente. A osteoin-
tegracão ocorre em função das características
físico-químicas da superfície dos implantes den-
tários (Fig. 5).
Os implantes dentários per si não induzem
resposta inflamatória do tipo granuloma do tipo
corpo estranho, como também não induzem
qualquer resposta imunológica associada ao
granuloma imunogênico. Em outras palavras, o
implante dentário não representa um corpo es-
tranho, nem mesmo um antígeno, mas sim um
corpo inerte (Fig. 5, 6).
Os implantEs dEntáriOs pOdEm induzir
rEjEiçãO Ou imunOrrEjEiçãO?
Não!
Os implantes dentários não agridem os teci-
dos e nem promovem respostas imunológicas.
A rejeição ou imunorrejeição apenas ocorre com
materiais ou produtos que tenham componentes
proteicos estruturais, não observados nos im-
plantes dentários.
Quando um implante apresenta-se com
mobilidade excessiva, inflamação periférica,
supuração, sinusite associada, fístulas e outros
processos que caracterizam o fracasso do pro-
cedimento, deve-se buscar razões de ordens
Por que os implantes dentários não sofrem rejeição?
18 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
Figura 5 - Ao redor do implante dentário, após a fase aguda da inflamação – em 24-72h –, inicia-se o processo de
reparo para a reconstrução do tecido ósseo, como se nota em a. O tecido ósseo neoformado, após algumas semanas,
caracteriza-se por células e matriz óssea depositada sobre a superfície implantar (setas em B e c) com morfologia nor-
mal, inclusive com espaços medulares (mO). Destaca-se a relação direta (setas) do tecido ósseo normal com o implante,
sem interposição de macrófagos, granulomas ou outras células e tecidos (H.E. a = 10X, B e c = 25X).
tecido ósseo normal
tecido ósseo normal
MOMO
B c
implantedentárioOssO OssO
a
Alberto Consolaro
19Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
Figura 6 - Esquema das evoluções da inflamação aguda quando corpos sólidos entram nos tecidos conjuntivos sem con-
taminação de bactérias estafilococos e estreptococos após o período de 48-72h. Cada evolução depende da composição
e das características superficiais dos corpos sólidos.
local e sistêmica do paciente, causas relaciona-
das ao planejamento ou de ordem técnica/ci-
rúrgica, ou descuidos na higiene e manutenção
por parte do paciente, mas não deve-se atribuir
como causa desse insucesso a imunorrejeição,
ou simplesmente rejeição, do implante por parte
do organismo.
A imunorrejeição ou rejeição não oferece a
mínima fundamentação biológica para ser utili-
zada como causa de insucesso de implantes
dentários.
O termo rejeição vem do latim rejectio e signi-
fica: resposta imunológica a um órgão ou tecido
incompatível transplantado, geralmente homólo-
go. Ou significa, ainda: a falha do transplante ou
enxerto em “pegar”, resultando em sua necrose.
cOnsidEraçãO final
Os implantes dentários, por si só, não indu-
zem resposta inflamatória aguda. Essa ocorre
ao seu redor, em função dos procedimentos ci-
rúrgicos e eventual entrada de bactérias. Após
24-72h, nos tecidos peri-implantares, está se
iniciando a reparação para a reconstrução óssea.
As características físico-químicas da superfície
dos implantes dentários permitem que as células
e tecidos se ancorem na sua estrutura e deposi-
tem matriz que os osteointegram funcionalmen-
te (Fig. 5). Não há indução para granuloma do
tipo corpo estranho, e nem resposta imunológica
associada a granuloma imunogênico. O implante
dentário comporta-se biologicamente como cor-
po inerte e isso permite a sua osteointegração.
inFlamaçÃO aguDa
evoluções
cronificação cronificação resolução
corpo estranho corpo inerteantígenos
Granuloma Imunogênico(ex: bacilo da tuberculose)
Granuloma Tipo Corpo Estranho
(ex: hidroxiapatita)
Reparação envolvendo o corpo inerte
(ex: implante dentário)
Tecido de Granulação
Por que os implantes dentários não sofrem rejeição?
20 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 12-21, jul./ago./set. 2009
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alberto consolaro E-mail: [email protected]
Endereço para correspondência
22 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
Entrevista
Entrevistado pelo Dr. José Cícero Dinato, doutor em Implantodontia, esta edição apresenta e
homenageia um pioneiro no Brasil no campo das restaurações estéticas com porcelana, Dr. Edy
Ceciliano de Sá Carneiro. Reconhecido como um profissional dedicado, um humanista e um esteta
na profissão e na vida, encontra-se em plena atividade aos 79 anos. Esta entrevista comprova que ele
ainda tem muito a ensinar.
seus amigos sabem que o senhor tem
uma trajetória marcada por grandes
conquistas e algumas dificuldades
ao longo de sua trajetória pessoal e
profissional. Conte-nos um pouco de
sua história e dos motivos que o le-
varam a optar pela Odontologia.
De fato, enfrentei algumas dificuldades
durante a minha vida, e também tive muitas
gratas surpresas, mas creio que foram cir-
cunstâncias que contribuíram para moldar a
pessoa que sou hoje. Fui adotado, ao nas-
cer, pelo médico que fez o parto de minha
mãe biológica e que, mais tarde, se uniu à
minha mãe adotiva. Conto essa passagem
não como um fato negativo ou positivo, mas
como um dado concreto de minha origem,
que faz parte de minha história de vida e
que, obviamente, marcou profundamente a
minha infância e adolescência. Meu pai foi
doutor em Medicina pela Universidade Sor-
bonne e era um homem excepcional, um
idealista, sempre disposto a ajudar os ou-
tros de forma desinteressada. Um homem
inteligente e viajado, e que não tinha o há-
bito de criar raízes, fato que me fez morar
Edy Ceciliano de Sá Carneiro
23
Edy Ceciliano de Sá Carneiro
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
24
Entrevista
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
em diferentes cidades. Ele se uniu à minha
mãe quando ela já tinha outros filhos de um
casamento anterior, uma jovem francesa de
origem nobre que ele conheceu no inte-
rior do Rio Grande do Sul, ao ser chama-
do para ajudá-la com um filho doente, pois
ela não falava Português e ele era fluente
em Francês. Fui também criado no inte-
rior, e aos 16 anos vi minha mãe regressar
definitivamente à França. Foi quando me
emancipei e vim para Porto Alegre estudar,
enfrentar a cidade grande. Mas sempre tive
sorte e pessoas especiais que me ajudaram
muito, e nessa época, através de contatos,
fui indicado pelo vice-cônsul da França para
assumir como bibliotecário, auxiliar de se-
cretaria, datilógrafo, estenógrafo e contabi-
lista da Alliance Française, que recém abria
suas portas em Porto Alegre, em 1947.
Lá, eu fazia de tudo um pouco, e morava
no próprio prédio da escola, e sempre digo
que foi essa oportunidade que possibilitou
a continuidade de meus estudos e a convi-
vência com pessoas maravilhosas, como o
casal Jean e Nancy Roche. Madame Roche
era a diretora da Alliance Française e o ca-
sal me acolheu com enorme generosidade.
Enfrentando dificuldades financeiras típicas
creio que um bom educador
é aquele que espera ser
ultrapassado pelos seus alunos,
e contribui com o seu melhor
para que isso aconteça [...]
25
Edy Ceciliano de Sá Carneiro
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
de um jovem como eu, terminei os estudos
e decidi tentar a faculdade de Odontologia,
pois era um curso que durava 3 anos na-
quela época, e não 6 anos como a Medi-
cina. Como eu tinha pressa em me formar
e começar a trabalhar para garantir o meu
sustento, prestei o vestibular e ingressei na
Faculdade de Odontologia da UFRGS, em
1952. Mais tarde, me encantei pela profis-
são e, como sempre tive muita habilidade
manual, acabei me interessando pela Pró-
tese, e ainda hoje me distraio fazendo mi-
nhas esculturas no laboratório.
E a atividade docente? relate um
pouco de sua experiência como pro-
fessor na faculdade de Odontologia
da ufrGs.
Na faculdade, tive um professor extraor-
dinário, um mestre, que foi o professor An-
tônio Rosat, a quem eu devo muito de meu
entusiasmo com a Odontologia. Fui aluno
dele durante o curso de graduação e, em
1956, dois anos após ter me formado, fui
admitido como Auxiliar de Ensino da cadei-
ra de Prótese Dentária, da qual ele era o
Professor Titular. Foram anos extraordiná-
rios, de grande camaradagem, dedicação,
e de intensa aprendizagem. Rosat foi um
mestre exigente, mas também compreen-
sivo, que sabia motivar e tirar o melhor de
sua equipe. Como professor, busquei seguir
os seus passos, e sempre tentei passar
toda a minha experiência e meus conheci-
mentos aos estudantes, tendo participado
da formação de várias gerações de cirurgi-
ões-dentistas ao longo de mais de 30 anos
como professor. Creio que um bom educa-
dor é aquele que espera ser ultrapassado
pelos seus alunos, e contribui com o seu
melhor para que isso aconteça, sem sone-
gar informações, incentivando-os a serem
melhores que nós, seus professores, e irem
além. E me sinto muito gratificado porque
acredito que atingi esse objetivo.
como foi estudar Odontologia na
França, sair de Porto Alegre em 1960
e morar alguns meses em paris?
Indicado pelo professor Rosat, fui pre-
miado com uma bolsa de estudos em uma
das Faculdades de Odontologia de Paris.
O objetivo principal era buscar aperfeiço-
amento na área de restaurações dentárias
estéticas – metalo-cerâmicas e ceramo-
cerâmicas. Então, fui estudar com os pro-
fessores Batarec, Rivault e Jean Claude
Harter durante 8 meses, além de realizar
uma pesquisa sobre as reabilitações com
próteses parciais removíveis com reten-
tores diretos extracoronários, encaixes e
fresados. De nosso grupo de professores
26
Entrevista
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
visão da Odontologia, e para criar, sob sua
orientação, a disciplina de Prótese Parcial
Removível na Faculdade de Odontologia da
UFRGS. Assim, o professor Décio Oliveira,
por dominar o Espanhol, foi para Buenos
Aires, o professor Eleutério Martins, que fa-
lava Inglês, foi para Michigan, nos Estados
Unidos, e eu fui para Paris, pois era fluente
em Francês. Por um lado, foi um desafio,
porque eu deixava em Porto Alegre minha
querida esposa Lorena com nossos 3 fi-
lhos, Lorise, Sérgio e Clarice, ainda muito
pequenos. E naquela época não existiam
essas facilidades da internet, e mesmo falar
ao telefone era uma tarefa muito difícil e
cara para nossos padrões. Trocávamos car-
tas diariamente, era o nosso meio de co-
municação. Por outro lado, foi maravilhoso,
pois eu já tinha toda uma conexão e uma
intimidade anterior com a língua e a cultura
francesas, e morar em Paris é sempre um
privilégio.
Conte-nos um pouco sobre o pio-
neirismo do rio Grande do sul na
área da cerâmica, como se deu esse
processo?
Dessa experiência internacional da
equipe de professores da Faculdade de
Odontologia da UFRGS, sempre sob a
orientação do professor Rosat, resultou
na UFRGS, muitos foram se especializar
no exterior durante um certo período, por
sugestão direta do professor Rosat. Ele
acreditava ser fundamental para a universi-
dade essa experiência no exterior, e estava
correto, pois todos voltaram com uma nova
27
Edy Ceciliano de Sá Carneiro
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
também o pioneirismo e a excelência do
Rio Grande do Sul na área da cerâmica,
uma concepção muito combatida naquela
época, e depois largamente adotada, em
função de seus benefícios estéticos e bio-
lógicos. Enquanto profissionais de todo o
Brasil utilizavam reabilitações protéticas
com metal e resina (metalo-plásticas),
em Porto Alegre já havia a preocupação
da busca por um material com resultados
mais satisfatórios em termos de estética.
Havia o interesse da equipe e, já no final
dos anos 50, recebemos em Porto Alegre
o professor Ernest Nuttal, um especialista
norte-americano, que nos ensinou a fazer
coroas de jaqueta de porcelana aplica-
da sobre uma matriz de platina, técnica
precursora da metalo-cerâmica. Creio que
foi a primeira vez que se executou essa
técnica no Brasil. Aliás, sobre esse as-
sunto, é muito interessante relatar outro
dos motivos que nos levaram a pesquisar
alternativas ao uso do ouro nas reabilita-
ções, no Rio Grande do Sul. Nossos clien-
tes não queriam mais o ouro, apesar das
excelentes qualidades do metal para uso
nas restaurações protéticas. Tal rejeição
se devia a um certo preconceito contra
os imigrantes italianos, alemães, polone-
ses e outros, das muitas levas migratórias
que colonizaram grandes partes de nosso
estado. Ao acumular algum recurso, esses
imigrantes costumavam exibir vistosos
dentes de ouro como sinal de riqueza,
28
Entrevista
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
profissão. Creio que buscar essas noções
gerais de cultura e de civilização está ao
alcance de todos, e tenho a certeza de que
esse esforço só contribui para que nos tor-
nemos melhores pessoas e melhores pro-
fissionais. Sempre me interessei por esses
assuntos, e minha passagem por Paris me
deu a chance de conhecer uma tradição
cultural muito mais sólida e antiga do que a
nossa. Eu logo percebi que meus colegas
franceses discorriam com imensa facilida-
de sobre temas culturais variados, falando
com conhecimento de causa sobre Renoir,
Van Gogh, Bach, Beethoven, Verdi.... enfim,
sobre diferentes expressões artísticas e ar-
tistas, e aquilo me encantou. E lá eu tinha a
oportunidade de circular pelos museus do
Louvre, Orsay, Palais de Chaillot e outros
tantos lugares, para conhecer de perto obras
das quais eu só ouvira falar. Embora nem
todos tenham essa mesma chance, hoje é
muito mais fácil ler, pesquisar, ter acesso
à informação através da internet. Trata-se,
portanto, muito mais de uma opção do que
de uma impossibilidade. Então, gosto de
usar referências desse tipo em meus cur-
sos, de conciliar esses meus gostos pesso-
ais. Por exemplo, posso mostrar uma repro-
dução de La Gioconda e comentar sobre
Leonardo da Vinci, ou sobre a técnica do
“sfumato”, que ele usou na obra para criar
prática que logo foi associada a “coisa de
colono”, de “novo rico”, e evitada por inte-
grantes das camadas sociais mais abas-
tadas e tradicionais da sociedade. Ainda
hoje, e ao longo dos anos, podemos per-
ceber como esses fatores sociais e cultu-
rais influenciam grandemente os rumos de
nosso ofício, e esse foi um exemplo que
acompanhei de perto.
Em seus cursos e palestras, o se-
nhor costuma defender uma forma-
ção mais orgânica e integral do ci-
rurgião-dentista, sugerindo que ele
busque complementar sua formação
com noções de literatura, de músi-
ca, de pintura. além disso, o senhor
aprecia traçar paralelos entre as no-
ções atuais de estética com aquelas
utilizadas pelos grandes mestres da
pintura, por exemplo. Fale-nos um
pouco desse assunto.
Sim, é verdade, acredito que um bom
profissional deve estar minimamente pre-
parado para conversar sobre todos esses
assuntos, e não ser surpreendido por um
cliente que queira comentar sua percepção
da ópera Aída de Verdi ou de um quadro
de Pablo Picasso, por exemplo. Trata-se de
uma questão de atualização e de aperfeiço-
amento pessoal, e de valorização de nossa
29
Edy Ceciliano de Sá Carneiro
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
as impressões de luz e sombra. Mas posso
também comentar aquele famoso sorriso e
questionar se a timidez da modelo não se
devia ao fato dela não ter dentes, um possí-
vel exemplo das péssimas condições gerais
de saúde bucal encontradas na Europa na-
queles primórdios de século XVI. Também
gosto de citar a obra Guernica, de Picasso,
e perguntar a todos se estão vendo bele-
za ali. É interessante perceber como mo-
dificamos nossa apreciação daquela obra
ao saber que ela representa o horror e o
sofrimento da guerra, um repúdio ao bom-
bardeio de Guernica pela força aérea alemã.
Através de um breve passeio pela história
da arte percebemos, por exemplo, o quanto
as noções de beleza se modificaram com o
passar do tempo, e isso também é Odon-
tologia, também faz parte do conjunto de
informações e do repertório que devemos
ter para exercer nossa profissão com maior
qualidade e competência.
como o senhor vê a Odontologia
atualmente e o que diria aos jovens
dentistas, aqueles que hoje estão
saindo dos bancos das faculdades
para enfrentar a vida profissional?
Vejo com muito otimismo, percebendo
que a Odontologia tem sido o berço de mui-
tas inovações e de novas perspectivas que
beneficiam tanto o odontólogo quanto os
seus pacientes. Há um notável avanço nas
pesquisas e nos investimentos que realmen-
te trouxeram grandes resultados práticos,
como os relacionados com a Implantodon-
tia, por exemplo. São recursos e tecnologias
que ampliam enormemente as possibilida-
des de planejamento e execução nas reabili-
tações dentárias, com grande previsibilidade
de sucesso. Em todas as áreas da Odonto-
logia, percebo que a pesquisa acadêmica e
empresas do setor têm trabalhado em con-
junto para beneficiar a sociedade, embora,
infelizmente, nem todos tenham acesso a
sobre os jovens dentistas, daria alguns conselhos,
aproveitando-me de meus quase 80 anos de experiência,
sugerindo que persigam uma formação humanista, ampla, e
não mecanicista, estreita.
30
Entrevista
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
esses benefícios. Porém, me preocupo um
pouco quando vejo a multiplicação de cur-
sos sendo oferecidos no mercado, muitos
sem a devida qualidade ou critérios. Esse
seria um aspecto negativo a comentar, essa
profusão de cursos, especialmente de pós-
graduação, estabelecidos de forma irrespon-
sável ou leviana, com uma visão equivocada
de buscar o lucro a qualquer preço. Essa
realidade tende a criar um efeito negativo
sobre nossa classe e sobre a percepção da
sociedade em relação à Odontologia e em
relação ao cirurgião-dentista, e todos per-
dem com isso. Sobre os jovens dentistas,
daria alguns conselhos, aproveitando-me de
meus quase 80 anos de experiência, suge-
rindo que persigam uma formação humanis-
ta, ampla, e não mecanicista, estreita. Por
exemplo, que além de noções de literatura,
música e artes plásticas, também se interes-
sem sobre Psicologia, uma área fundamen-
tal para nós, dentistas. Sobre esse assunto,
quero registrar aqui o nome do professor
Celestino Prunes, que nos deu aulas memo-
ráveis e sempre muito úteis, na graduação,
sobre “Psicologia e Odontologia”. Ele nos
ensinou sobre a importância e o significado
dos dentes e da boca a partir de uma visão
psicológica, traduzindo um pouco os senti-
mentos e as reações dos pacientes envolvi-
dos nas diferentes etapas de um tratamento
odontológico. Essa compreensão sobre os
efeitos e o potencial de nosso trabalho so-
bre um indivíduo dotado de emoções e de
uma complexa história de vida é uma quali-
dade necessária, a ser conquistada por todo
bom profissional. Também diria aos jovens
dentistas de hoje que não se afastassem da
vida acadêmica, para que buscassem nos
seus cursos de origem, nas universidades,
mais conhecimento, com seus ex-professo-
res ou colegas. No mundo de hoje, de tanta
competição e desagregação, é importante
organizar e manter grupos de ex-colegas,
confrarias, não só para confraternizações de
cunho social, mas também para encontros
com discussões de casos clínicos, trocas de
experiências profissionais. É um conselho
que dou a partir de minha própria experi-
ência, reconhecendo o valor e a sabedoria
que é possível se obter dessa experiência e
dessa convivência. Por fim, quero agradecer
a oportunidade desta entrevista, me senti
honrado com o privilégio. Parabéns a toda a
equipe da Dental Press pela iniciativa e pela
qualidade da revista.
31
Edy Ceciliano de Sá Carneiro
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 22-31, jul./ago./set. 2009
Edy ceciliano de sá carneiro
- Especialista em Prótese Dentária pela Faculdade de
Odontologia da Universidade de Paris.
- Diplomas e Medalhas de Honra: Tiradentes – Federação
Nacional dos Odontologistas (1981); Dr. Luis Cezar
Pannain (1987); Sodalício Santa Apolônia (1975);
Dr. Abelardo de Brito (1977); Prof. Othon Santos e Silva
(1981); “Écode Dentaire de Lyon” (França, 1961).
- Email: [email protected].
Entrevistador
josé cícero dinato
- Doutor em Implantodontia – UFSC.
- Mestre em Prótese Dentária – UNESP/SJC.
- Coordenador do Curso de Especialização em
Prótese Dentária – ABO/RS.
- Especialista em Implantodontia e Prótese
Dentária – CRO/RS.
pergunte a um Expert
32 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 32-35, jul./ago./set. 2009
O que são bisfosfonatos e qual a
sua influência nos tratamentos com
implantes dentários?
Quando Starck e Epker17 publicaram seu artigo sobre
a perda de 5 implantes que suportavam um protocolo
protético fixo na mandíbula, após cerca de 18 meses em
função, e sugeriram a influência da terapêutica com etidro-
nato de sódio (um bisfosfonato) – à qual a paciente havia
sido submetida nesse período –, iniciou-se uma nova fase
nas pesquisas clínicas e experimentais sobre os efeitos de
medicamentos, dieta e condições sistêmicas dos pacientes
que recebiam implantes. Esses autores relataram que ainda
não havia, na época, nenhum artigo publicado que relacio-
nasse o insucesso de implantes ao uso de medicamentos.
A hipótese apresentada nesse artigo17 é de que hábitos
parafuncionais – a paciente submeteu-se a um programa
de controle de peso com resultado positivo significativo,
o qual culminou na dificuldade em estabilizar a prótese
total que a paciente usava e consequente desenvolvimento
de hábito de apertamento da prótese, para mantê-la em
posição – associados ao uso desse bisfosfonato foram os
responsáveis pela falha de todos os implantes da paciente.
Pela primeira vez, associava-se a terapia com bisfosfona-
tos e o tratamento com implantes dentários.
Os bisfosfonatos são drogas que inibem o turnover
ósseo pela redução da reabsorção óssea. Bisfosfonatos
contendo nitrogênio (atualmente são os mais usados)
são análogos do pirofosfato endógeno, os quais se ligam
à hidroxiapatita dos ossos, sendo incorporados por oste-
oclastos – quando do processo de reabsorção óssea –,
inibindo a síntese do difosfato-farnesil, uma enzima no
caminho da síntese de colesterol. Como consequência,
temos a redução nos níveis de geranil-difosfato, neces-
sário para a formação de proteínas de ligação do tipo
trifosfato guanosina, como Rho, Rab e Cdc42, que são
essenciais para a função e sobrevivência osteoclástica.
Consequentemente, bisfosfonatos inativam osteoclas-
tos, que entram em apoptose, resultando na redução da
reabsorção óssea, turnover ósseo diminuído e balanço
ósseo positivo. Bisfosfonatos aumentam a massa óssea
e reduzem o risco de fratura em mulheres com osteopo-
rose pós-menopáusica3,6,13,15.
Bisfosfonatos, portanto, são primeiramente indicados
para o tratamento da osteoporose pós-menopáusica (são
a primeira droga de escolha e a mais utilizada no mundo),
osteoporose induzida pelo uso de corticoides, osteoporo-
se em homens, e também no tratamento da hipercalce-
mia, hipercalcemia maligna, doença de Paget e metásta-
ses ósseas de tumores1,4,8,15.
angelo menuci neto
33Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 32-35, jul./ago./set. 2009
Angelo Menuci Neto
O alendronato de sódio tem se mostrado um
dos bisfosfonatos mais potentes na inibição da
reabsorção óssea in vitro e in vivo4,7,11,16. Nas
doses em que o alendronato inibe a reabsorção
óssea, não há efeitos adversos sobre a forma-
ção óssea e mineralização7,12,14,16. As principais
reações adversas com o uso de bisfosfonatos
são sintomas gastrintestinais superiores (esô-
fago, duodeno e estômago) como náusea, dor
abdominal, esofagite e dispepsia15. Em função
dessas reações, especialmente da dor gástrica,
foram desenvolvidas novas classes de bisfosfo-
natos para uso parenteral, especialmente intra-
venoso (IV). As novas classes de bisfosfonatos,
além de apresentarem uma via alternativa de
administração, mostraram-se eficazes sobretudo
no tratamento da hipercalcemia maligna e de
metástases ósseas tumorais. Por serem mais po-
tentes, apresentam consequências mais severas,
especialmente a ocorrência de osteonecrose de
maxila e mandíbula5.
Primeiramente descrita por Marx e Stern9,
a osteonecrose dos maxilares (ONJ) é carac-
terizada por exposição óssea na maxila ou na
mandíbula, persistindo por mais de oito sema-
nas, em paciente que está em tratamento com
bisfosfonato e não apresenta histórico de irra-
diação na área8. A grande maioria dos casos de
ONJ está relacionada aos tratamentos com cân-
cer e medicação endovenosa18,19. Em 2007, a
Associação Americana de Cirurgiões Bucomaxi-
lofaciais2 (AAOMS) publicou um artigo de posi-
cionamento da instituição (Position Paper) com
as seguintes informações: o uso de bisfosfona-
tos IV apresenta um risco de 0,8-12% de inci-
dência de ONJ, enquanto, quando usado por via
oral (VO), o risco cai para 0,0007% (dados da
empresa fabricante do medicamento referência
Fosamax®, Merck/EUA). E, em correspondên-
cia à AAOMS, em 2006, Alaistair Goss afirmou
que o risco estimado de ONJ na Austrália era de
0,01 a 0,04% para uso de alendronato VO e
que esse risco aumentava para 0,09 a 0,34%
após extrações dentárias. A AAOMS2 recomenda
o seguinte posicionamento quanto ao tratamen-
to dentário invasivo em pacientes em uso ou em
vias de usar bisfosfonatos:
a) Pacientes que vão ser submetidos ao uso
de bisfosfonatos por via intravenosa de-
vem ser submetidos a adequação bucal
previamente, a exemplo de pacientes que
serão submetidos à radioterapia.
b) Pacientes que estão sendo tratados com
bisfosfonatos por via intravenosa devem
evitar tratamentos odontológicos invasi-
vos, e dentes com mobilidade devem ser
esplintados.
“[...] o tema bisfosfonatos é, atualmente, um dos mais discutidos em congressos e pu-blicações internacionais. O foco no tratamen-
to com implantes dentários para a melhora da qualidade de vida de nossos pacientes nunca deve ser esquecido e, em certo mo-
mento, existe um conflito na terapia com bisfosfonatos e intervenções cirúrgicas asso-
ciadas à Implantologia [...]”
34 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 32-35, jul./ago./set. 2009
O que são bisfosfonatos e qual a sua influência nos tratamentos com implantes dentários?
c) Pacientes que fazem uso de bisfosfonatos
por via oral há menos de 3 anos, e que
não estão recebendo terapia crônica com
corticoides, podem receber tratamento
odontológico sem restrições, mas devem
ser informados de que apresentam risco
muito baixo de desenvolver ONJ, e assinar
termo de consentimento para tratamento.
d) Pacientes que fazem uso de bisfosfona-
tos por via oral há menos de 3 anos, e
que estão recebendo terapia crônica com
corticoides nesse período, podem receber
tratamento odontológico, mas devem ser
informados de que apresentam risco bai-
xo de desenvolver ONJ, e assinar termo
de consentimento para tratamento. Re-
comenda-se a suspensão prévia do uso
do bisfosfonato por 3 meses, desde que a
condição sistêmica permita.
e) Pacientes que fazem uso de bisfosfona-
tos por via oral há mais de 3 anos podem
receber tratamento odontológico, mas de-
vem ser informados de que apresentam
risco baixo de desenvolver ONJ, e assinar
termo de consentimento para tratamen-
to. Recomenda-se a suspensão prévia do
uso do bisfosfonato por 3 meses, e por
3 meses após o tratamento, desde que a
condição sistêmica permita.
Essas recomendações são consideradas im-
portantes, apesar de Migliorati et al.10 atentarem
para o fato de que a descontinuação do uso do
bisfosfonato deve ser decidida pelo médico que
prescreveu a terapia, e que essa atitude é empí-
rica, porque não há evidência científica de que a
suspensão possa melhorar ou prevenir a expo-
sição óssea nos maxilares. Isso se deve ao fato
de que os bisfosfonatos usados por via oral por
muitos anos e os de uso por via intravenosa têm
meia-vida de anos, mesmo após a suspensão de
seu uso.
Quanto à instalação de implantes dentários
em pacientes que fazem uso de bisfosfonatos
por via oral e IV, deve-se ter o cuidado de orien-
tar o paciente quanto às informações contidas
acima e solicitar a assinatura de um termo de
consentimento livre e informado atestando a
compreensão dessas informações.
Uma vez definido o baixíssimo risco de os-
teonecrose dos maxilares e perda de implantes
relacionada ao uso de bisfosfonatos por via oral,
após a orientação e assinatura dos termos pro-
cede-se o tratamento normalmente. Se o pacien-
te estiver em tratamento ou ter sido submetido
a tratamento IV recentemente, aconselhamos o
cumprimento das alíneas a. e b. do artigo de po-
sicionamento da AAOMS2.
“[...] devemos incluir em nossa anamnese o questionamento do uso de bisfosfonatos ou se o paciente faz tratamento para oste-oporose com algum medicamento. uma vez constatado o uso de algum bisfosfonato, o ideal é tratar o paciente em conjunto com o médico responsável pela prescrição do medi-camento, e informar objetivamente o pacien-te com relação aos riscos em caso de trata-mento com implantes ou enxertos [...]”
35Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 32-35, jul./ago./set. 2009
Angelo Menuci Neto
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angelo menuci neto
• Mestre em Implantodontia pela USC-BAURU.
• Especialista em CTBMF pela PUCRS.
• Professor da Especialização em Implantodontia pela
ABORS.
• IAOMS Fellow, EAO Member, ITI Member e Membro do
CBCTBMF.
Endereço para correspondência
angelo menuci netoE-mail: [email protected]
artigo inédito
36 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
* Especialista em Periodontia pela APCD/Araraquara.
Especialista em Implantodontia pela PROFIS/USP.
Mestre em Implantologia pela USC – Bauru/SP.
Doutor em Implantologia pela USC – Bauru/SP.
Tenente-coronel QOSPM cirurgião-dentista da
PMGO.
** Mestre e doutora em Reabilitação Oral pela USP/
Ribeirão Preto/SP. Professora do Instituto Latino
Americano de Pesquisa e Ensino em Odontologia
(Ilapeo).
*** Especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial pela
USC – Bauru/SP. Mestre em Cirurgia Buco-Maxilo-
Facial pela USC – Bauru/SP.
**** Professor titular do departamento de Dentística –
USP/Bauru. Professor de Implantologia da USC/
Bauru. Coordenador do curso de doutorado e mes-
trado em Implantologia da USC.
***** Especialista em Prótese Dental pela APCD – Bauru/
SP. Especialista em Periodontia pela ACDC - Cam-
pinas/SP. Especialista em Implantodontia pela
APCD – Bauru/SP. Mestre em Implantologia pela
USC – Bauru/SP. Doutor em Implantologia pela USC
– Bauru/SP.
Palavras-chave
Implantologia. Carga imediata.
Frequência de ressonância.
Sobredentadura. Odontologia.
resumo
A efetividade de apenas dois implantes como retentores de sobredentadura
mandibular, seguindo o protocolo original de dois estágios, está bem docu-
mentada. Contudo, a literatura ainda é escassa quanto à eficácia da aplicação
de carga imediata nesses dois implantes. O objetivo desta pesquisa foi avaliar
a estabilidade inicial e tardia de dois implantes submetidos à carga imediata,
como retentores de sobredentadura mandibular, por meio da readaptação e
reinstalação da própria prótese total do paciente. A amostra constou de 11
pacientes, de ambos os gêneros e com idade média de 57 anos e 11 meses.
Todos os procedimentos cirúrgicos foram realizados pelo mesmo profissional,
assim como as reabilitações protéticas. A fim de padronizar o posicionamento
dos implantes, foi desenvolvido um instrumento de forma que o paralelismo
dos mesmos fosse estabelecido e a equidistância em relação à linha média
assegurada. Todos os implantes instalados apresentavam diâmetro de 4mm.
Os intermediários foram instalados e a transferência realizada utilizando-se a
própria prótese do paciente. Num intervalo de 24 horas, a barra e a prótese
foram instaladas. A estabilidade inicial foi avaliada por meio da frequência de
ressonância com o aparelho Osstell®, apresentando valor médio de 78,3 ISQ.
Os registros da frequência de ressonância foram repetidos após 4 e 7 meses, e
apresentaram valores médios de 73,7 e 73,6 ISQ, respectivamente. Foi obser-
vada uma redução estatisticamente significativa (5,9%) entre a medida inicial
e a de 4 meses, em concordância com publicações para este período. O índice
de sucesso dos implantes e próteses no período avaliado foi de 100%.
Análise comparativa da estabilidade
inicial e tardia de implantes retentores de
sobredentadura, submetidos à carga imediata,
por meio de análise de frequência de
ressonância
Rodolfo Alexandre andré*, Ivete Aparecida de Mattias sartOri**, Daniela HErnandEs***,
Carlos Eduardo franciscHOnE****, Maurício Rigolizzo BruHns*****
37
Rodolfo Alexandre André, Ivete Aparecida de Mattias Sartori, Daniela Hernandes, Carlos Eduardo Francischone, Maurício Rigolizzo Bruhns
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
Implantes dentários instalados em man-
díbulas edêntulas, na região interforaminal,
podem servir de apoio para próteses fixas ou
sobredentaduras2,4,6,8,10,11,21. Devido à relativa
simplicidade, aos elevados índices de sucesso
e ao bom custo-benefício do tratamento, a so-
bredentadura retida em implantes é uma opção
que tem sido proposta na literatura.
O protocolo original para tratamento com
implantes osseointegráveis preconiza tratamen-
to em duas etapas cirúrgicas, com um período
intermediário de cicatrização de 3 a 6 meses,
para que ocorra a osseointegração e os implan-
tes sejam capazes de suportar as cargas mas-
tigatórias1,2,3,5,6,7. Pesquisas científicas têm mos-
trado que de 3 a 5 implantes instalados na re-
gião anterior da mandíbula e submetidos à carga
imediata possibilitam a reabilitação com prótese
fixa totalmente implantossuportada9,13,20,22,23,25.
O primeiro relato de carga imediata em im-
plantes retentores de sobredentadura foi rea-
lizado por Ledermann11, em 1979. O autor
acompanhou, por até 81 meses, 476 implan-
tes, unidos por barra, em 183 pacientes (3 a
4 implantes/paciente), obtendo uma margem
de sucesso de 91,2%. Babbusch, Kent e Mi-
siek4 acompanharam, por até 49 meses, 514
implantes, unidos por barra, em 129 pacientes
(4 implantes/paciente), obtendo uma margem
de sucesso de 96,1%.
Alguns estudos atestam até mesmo a efeti-
vidade de apenas dois implantes para suportar
sobredentaduras10,21. Contudo, a literatura ain-
da é escassa quanto à eficácia da aplicação de
carga imediata nesses dois implantes.
Assim sendo, com o objetivo de avaliar a
possibilidade de carga imediata em um número
mínimo de implantes retentores de sobreden-
tadura mandibular, foi idealizada esta pesqui-
sa, para que se pudesse avaliar a instalação
de apenas dois implantes submetidos à carga
imediata, por meio da própria prótese total do
paciente. Nesse estudo foram realizadas as se-
guintes avaliações:
1) Estabilidade dos implantes no momento
da instalação, após 4 meses e após 7 meses
em função, por meio da análise da frequência
de ressonância.
2) Índice de sucesso de dois implantes re-
tendo próteses totais inferiores, utilizando o sis-
tema barra/clip em carga imediata.
3) Viabilidade de utilização clínica dessa
modalidade de tratamento.
matErial E métOdOs
A amostra constou de 11 pacientes, 6 do
gênero masculino e 5 do feminino, com idades
variando entre 39 e 75 anos, selecionados na
disciplina de Prótese Total da Universidade do
Sagrado Coração (Bauru, São Paulo). O projeto
de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética
da referida universidade e os pacientes selecio-
nados concordaram e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Os critérios de inclusão na amostra foram:
• Não fumar mais do que 10 cigarros por dia.
• Ter boa saúde geral.
• Ser portador de próteses totais, su-
perior e inferior, com no máximo três anos e
38
Análise comparativa da estabilidade inicial e tardia de implantes retentores de sobredentadura, submetidos à carga imediata, por meio de análise de frequência de ressonância
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
apresentando estabilidade oclusal, balancea-
mento bilateral e dimensão vertical adequada.
• Não ser bruxômano.
• Apresentar boas condições ósseas na re-
gião anterior da mandíbula, suficiente para ins-
talação de implantes de, no mínimo, 13mm e
com objetivo de buscar ancoragem bicortical11.
Além do exame clínico, foram solicitados:
exames radiográficos (radiografia panorâmica e
telerradiografia de perfil); exames laboratoriais
(hemograma completo, coagulograma, glice-
mia, calcemia, ureia, creatinina e urina Tipo I);
e exames médicos (eletrocardiograma e avalia-
ção clínica e cardiológica).
prOcEdimEntOs clínicOs E
laBOratOriais
Inicialmente, as próteses totais inferiores dos
pacientes foram perfuradas entre o incisivo late-
ral e o canino, em posição levemente lingualizada
(Fig. 1), para servir como guia cirúrgico e, pos-
teriormente, como moldeira para transferência e
registro intermaxilar (guia multifuncional).
Após a anestesia local, foi realizada incisão
na crista do rebordo, dividindo a gengiva residual
queratinizada para vestibular e lingual e, quando
necessário, regularização do rebordo. A perfura-
ção inicial foi realizada com broca de 2mm de
diâmetro na linha média, até a profundidade de
13mm, para receber o “paralelômetro”. Assim, as
perfurações que foram realizadas pela broca de
2mm de diâmetro, nos sítios das fixações, foram
equidistantes da linha média (Fig. 2). Foram de-
senvolvidos 2 tamanhos de paralelômetros, um
com distância determinada entre implantes de
15mm e outro com 20mm, sendo escolhido o
que melhor se adaptasse a cada caso.
As perfurações dos alvéolos cirúrgicos se-
guiram o protocolo determinado por Brane-
mark1,7, até a broca “countersink” (Fig. 3). O
“screw-tap” foi realizado em áreas com osso do
tipo 1 e 2. No entanto, foram encontradas áreas
do tipo 1, 2 e 3, de acordo com a classificação
de Lekholm e Zarb12.
Figura 1 - Perfurações nas posições 2 e 4, levemente lingualizadas: a) aspecto superior e B) aspecto inferior.
a B
39
Rodolfo Alexandre André, Ivete Aparecida de Mattias Sartori, Daniela Hernandes, Carlos Eduardo Francischone, Maurício Rigolizzo Bruhns
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
Os transferentes foram posicionados sobre
os intermediários, com parafusos curtos de titâ-
nio, para que não houvesse interferência com a
oclusão (Fig. 7). A prótese inferior foi provada e
desgastada até que os contatos entre os trans-
ferentes e a prótese fossem aliviados.
Por meio da técnica do pincel, resina foi apli-
cada entre a prótese e o transferente (Fig. 8), e
a polimerização aguardada em oclusão. Nesse
momento, o paciente recebeu pressão manual
da base da mandíbula em direção à maxila, com
o objetivo de reduzir a resiliência da gengiva/
mucosa do rebordo residual. Após a completa
polimerização da resina, foi confirmado o corre-
to posicionamento das próteses superior e infe-
rior. Foi, então, realizada injeção do material de
moldagem nos orifícios entre os transferentes
e a prótese, retiradas as próteses inferiores e
conectados os protetores do intermediário Mi-
nipilar. Foi confeccionada uma barra de Co-Cr,
unida aos cilindros protéticos.
No dia seguinte ao procedimento cirúrgico,
Todos os implantes foram instalados em
baixa rotação e com irrigação abundante, por
meio do Osseocare® (Nobel Biocare, Suécia),
com torque programado de 50Ncm. Foram ins-
talados dois implantes em cada paciente, sendo
todos com diâmetro de 4mm (Titamax Poros,
Neodent, Brasil) (Fig. 4). Após atingir o torque
de 50Ncm com o motor, todos os implantes
receberam torque manual com catraca, até o
completo assentamento no sítio cirúrgico.
A estabilidade inicial foi, então, mensura-
da com o aparelho Osstell® (modelo 6.0, nº
10095, Integration Diagnostics, Suécia), com
transdutor acoplado sobre a plataforma de as-
sentamento do implante e torque de 10Ncm
(Fig. 5). Os valores foram obtidos em ISQ (Im-
plant Stability Quocient).
Após a mensuração da estabilidade inicial,
os intermediários Minipilar (Neodent, Brasil) fo-
ram apertados sobre os implantes, com torque
de 20Ncm, por meio do Osseocare (Fig. 6) e a
sutura foi realizada.
Figura 2 - Paralelômetro posicionado na linha média, após perfura-
ção com broca de 2mm de diâmetro.
Figura 3 - Após a broca “countersink”, pino guia em posição, verifi-
cando a profundidade da osteotomia.
40
Análise comparativa da estabilidade inicial e tardia de implantes retentores de sobredentadura, submetidos à carga imediata, por meio de análise de frequência de ressonância
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
Figura 4 - Implante sendo colocado em seu sítio cirúrgico.
Figura 6 - Intermediários Minipilar acoplados sobre as fixações. Tor-
que de 20Ncm.
Figura 8 - Resina acrílica aplicada entre os transferentes e a prótese.
Figura 5 - O transdutor curto é acoplado sobre a fixação (torque
de 10Ncm).
Figura 7 - Transferentes quadrados sobre os intermediários. Parafu-
sos curtos de Ti.
Figura 9 - Aspecto anterior da barra em Co-Cr, menos de 24 horas
após a cirurgia.
41
Rodolfo Alexandre André, Ivete Aparecida de Mattias Sartori, Daniela Hernandes, Carlos Eduardo Francischone, Maurício Rigolizzo Bruhns
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
o conjunto da barra em Co-Cr/cilindro de titânio
foi parafusado na boca com parafusos de titânio
com torque de 10Ncm (Fig. 9). A prótese infe-
rior (Fig. 10) foi instalada e verificados a reten-
ção, o plano de inserção e a oclusão (Fig. 11).
As mensurações com o Osstell® foram re-
petidas após 4 e 7 meses, com a remoção das
próteses e da barra, para que a medida fosse
tomada exatamente como a inicial. Radiografias
panorâmicas e telerradiografias de perfil foram
obtidas nos mesmos períodos das medidas
com o Osstell® (Fig. 12).
A análise estatística constou do teste de
Tukey para as comparações múltiplas entre o
ISQ inicial, de 4 meses e de 7 meses. O nível
de significância foi de 5%.
rEsultadOs E discussãO
A osseointegração é um conceito baseado
na relação estável entre o osso e o implante, e a
manutenção dessa estabilidade é pré-requisito
essencial para que haja sucesso a longo prazo
das próteses implantossuportadas7.
Em 1996, Meredith, Alleyne e Cawley18
propuseram uma técnica não-invasiva de diag-
nóstico, denominada Análise de Frequência de
Ressonância (RFA), que emprega um pequeno
transdutor piezelétrico, o qual é afixado sobre
o intermediário ou diretamente sobre o implan-
te. O transdutor é energizado eletricamente e
sua resposta é medida como uma função da
frequência de ressonância e arrefecimento14-19.
Considerando-se que seja uma técnica rápida,
direta e fácil de realizar, e que não apresen-
ta riscos, tanto locais para o implante quanto
Figura 10 - Aspecto inferior da prótese após a acrilização. “Clips”
plásticos.
Figura 12 - Radiografia panorâmica 7 meses após a instalação dos
implantes.
Figura 11 - Aspecto frontal das próteses em posição e em oclusão.
42
Análise comparativa da estabilidade inicial e tardia de implantes retentores de sobredentadura, submetidos à carga imediata, por meio de análise de frequência de ressonância
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
tabela 1 - Comparação do IsQ entre as três fases estudadas, dos 22
implantes, por meio de Análise de Variância e teste de Tukey.
sistêmicos para o paciente, essa foi a metodolo-
gia escolhida, nesse experimento, para registro
da estabilidade primária e secundária.
Pesquisas usando a RFA na região ante-
rior da mandíbula têm resultado em valores de
ISQ favoráveis ao uso rotineiro do protocolo da
carga imediata13,24,25. No presente trabalho, os
valores de ISQ estão de acordo com os encon-
trados em estudos que avaliaram próteses fi xas
mandibulares submetidas a carga imediata13,25.
No entanto, as publicações anteriores relatam
de 4 a 6 implantes colocados entre os forames
mentonianos, o que não possibilita traçar com-
parações numéricas com o presente estudo.
Segundo Sennerby e Meredith24, medidas
de ISQ acima de 60-65 no ato da colocação do
implante avalizam o uso do mesmo para carga
imediata. No presente trabalho, os valores en-
contrados foram sempre superiores aos citados
acima.
A estabilidade secundária é obtida no perío-
do de cicatrização pós-cirúrgico e é determina-
da pela estabilidade alcançada no momento de
colocação do implante (estabilidade primária) e
pelo resultado da remodelação óssea na inter-
face osso/implante. Essa última é diretamente
relacionada às propriedades fi siológicas, capa-
cidade de cicatrização e processo regenerador
do paciente, de uma forma geral, e do osso cir-
cundante (local)16,19.
Nessa pesquisa, registraram-se novas medi-
das com 4 meses e com 7 meses. As médias das
medidas de estabilidade foram de 73,7 ISQ para
4 meses e de 73,6 ISQ para 7 meses (Gráf. 1).
A análise comparativa entre as três fases mostra
que houve uma redução estatisticamente signifi -
cativa entre a fase inicial (ISQ médio de 78,3) e
as fases de 4 meses (ISQ médio de 73,7 – re-
dução de 5,9%) e 7 meses (ISQ médio de 73,6
– redução de 6,0%), não havendo, contudo,
comparaçãovariação do iSQ
p
valor %
inicialX
4 meses-4,6 -5,9% <0,001*
inicialX
7 meses-4,7 -6,0% <0,001*
4 mesesX
7 meses-0,1 -0,1% 0,965 n.s.
* diferença estatisticamente signifi cativa (p < 0,05).n.s. = diferença estatisticamente não signifi cativa.
gráfi co 1 - Valores médios do IsQ nas fases inicial, 4 meses e 7
meses, para os 22 implantes avaliados.
100
80
60
40
IsQ
20
0
78,3
inicial
73,7
4 meses 7 meses
73,6
43
Rodolfo Alexandre André, Ivete Aparecida de Mattias Sartori, Daniela Hernandes, Carlos Eduardo Francischone, Maurício Rigolizzo Bruhns
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
diferença significativa entre a fase de 4 meses e
a de 7 meses (redução de 0,1%). Esses dados
estão de acordo com os apresentados por Mere-
dith15, Lima13 e Tuler25 (Tab. 1).
As reduções dos valores do ISQ podem ser
explicadas, principalmente, pela perda óssea
marginal, aumentando a distância do transdu-
tor até o primeiro contato osso/implante15,19.
Também ocorre remodelação ao longo de toda
a superfície peri-implantar. Inicialmente, áreas
ainda em remodelação se apresentam na su-
perfície do implante, reduzindo a porcentagem
de contato osso/implante e, consequentemen-
te, a medida de estabilidade nessa fase (3 a 6
meses após a cirurgia)17,19. Após a formação de
osso secundário, a tendência é haver estabiliza-
ção das medidas de ISQ, o que é mostrado na
literatura13,19,24,25 e também no presente estudo,
uma vez que não há diferença estatisticamente
significativa entre os períodos de 4 e 7 meses
(73,7 e 73,6, respectivamente).
Mesmo com essa redução do ISQ, os valo-
res obtidos com 4 e 7 meses são considerados
altos24 e confirmam boa estabilidade secundária.
O índice de sucesso dos implantes para o
período avaliado (7 meses) foi de 100%. To-
das as medidas de ISQ se mantiveram acima
do patamar de 68 ISQ aos 4 meses e acima de
70 ISQ aos 7 meses. De acordo com os resul-
tados observados, há fundamentação científica
da previsibilidade de tal procedimento.
Por fim, devemos salientar que a melhora na
eficiência mastigatória, estabilidade e retenção
da prótese, além da diminuição dos traumas no
rebordo residual com consequente aumento da
autoestima e qualidade de vida, são alguns dos
benefícios relatados pelos pacientes do presen-
te estudo. Assim, considerando-se o número de
desdentados, associado aos problemas sociais
em nosso país, o procedimento descrito nesse
estudo é de grande abrangência social, já que
há uma importante redução dos custos da re-
abilitação, por serem usadas as próprias próte-
ses dos pacientes. Além disso, em determinado
momento, essa modalidade de tratamento pode
ser convertida em prótese total fixa, desde que
se instale mais dois ou três implantes.
cOnclusõEs
Com base nos dados expostos, concluímos
que:
• A média do ISQ foi de 78,3 no momento
da colocação, 73,7 aos 4 meses, e 73,6 aos
7 meses, mostrando redução estatisticamente
significativa entre os períodos inicial e tardios.
Porém, as médias de ISQ foram estatisticamen-
te semelhantes nos períodos de 4 e 7 meses.
• O índice de sucesso alcançado foi de
100%, tanto para os implantes como para as
próteses.
• É viável a utilização clínica do procedi-
mento.
44
Análise comparativa da estabilidade inicial e tardia de implantes retentores de sobredentadura, submetidos à carga imediata, por meio de análise de frequência de ressonância
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 36-45, jul./ago./set. 2009
Initial and late resonance frequency values
of immediate-loaded, two implant-supported
mandibular overdenturesaBstract
The effectiveness of overdentures supported by two implants in the mandibular arch in a two-stage surgical procedure is well documented in the literature. However, there is a lack of consensus on immediate loading protocols for this option. The aim of this study was to evaluate initial and late stability of mandibular implant-supported overdentures when the complete denture wear by the patient was readapted and used. The sample was composed of 11 patients of both genders (mean age 57 years-old). All surgical procedures and prosthetic reconstructions were made by the same professional. Implant placement was standardized according to a paralleling device and symmetrical to the median line. All implants had 4mm in diameter. The abutments were installed, and pick-up procedures made with the own patient´s complete prosthesis. Bars and defi nitive prostheses were installed within 24 hours. Initial implant stability was evaluated by resonance frequency analysis (OsstellTM) with a mean value of 78.3 ISQ. Frequency measurements were made at 4- and 7-month time intervals, with mean values of 73.7 and 73.6 ISQ, respectively. A statistically signifi cant reduction (5.9%) was observed from baseline to 4 months, corroborating values published in the literature. Implant and prosthesis success rates were 100%.
KEYWORDS: Implant Dentistry. Immediate loading. Resonance frequency analysis. Overdentures.
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(Mestrado)-Universidade do Sagrado Coração, Bauru, 2002.
rodolfo alexandre andréRua São Sebastião, 406 – CentroCEP: 75.901-320 – Rio Verde / GOE-mail: [email protected]
Endereço para correspondência
46 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
revisão de literatura
* Professora associada do Setor de Urgência e da
Disciplina de Clínica Integrada do Departamento
de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo.
** Mestranda da Disciplina de Clínica Integrada do
Departamento de Estomatologia da Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo.
*** Mestre e doutora em Clínica Integrada pela Facul-
dade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
**** Professora adjunta do Departamento de Odontolo-
gia da UEM.
***** Professor assistente da Disciplina de Clínica Inte-
grada do Departamento de Estomatologia da Facul-
dade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
****** Professor associado da Disciplina de Clínica Integra-
da do Departamento de Estomatologia da Faculda-
de de Odontologia da Universidade de São Paulo.
Palavras-chave
Implante dentário. Levantamento de
seio maxilar. Enxerto ósseo. Profilaxia
antibiótica.
resumo
O objetivo desta revisão de literatura foi levar aos cirurgiões-dentistas as infor-
mações científicas disponíveis relacionadas aos riscos e benefícios da profilaxia
antibiótica em Implantodontia, para que possam aplicá-la de maneira judiciosa,
evitando seu uso abusivo.
Panorama atual da profilaxia antibiótica em
Implantodontia
Isabel Peixoto tOrtamanO*, Helana santana**, Anna Carolina R. Tempestini HOrliana***,
Carina Gisele Costa BispO****, Marcelo Munhões rOmanO*****, Mário Sérgio sOarEs******
47
Isabel Peixoto Tortamano, Helana Santana, Anna Carolina Ratto Tempestini Horliana, Carina Gisele Costa Bispo, Marcelo Munhões Romano, Mário Sérgio Soares
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
A resistência aos antibióticos, bem como
seu uso inadequado, são uma ameaça crescen-
te para a saúde pública. Apesar de algumas evi-
dências indicarem que os clínicos estão mudan-
do seus padrões de prescrição de antibióticos,
há um interesse contínuo sobre esse problema
mundial. Dessa forma, a evidência relacionada à
efetividade da profilaxia antibiótica em Odonto-
logia tem sido revista.
Em 2007, Wilson et al.19 publicaram o
protocolo atual (décima revisão) da American
Heart Association (AHA) para uso da profilaxia
antibiótica na prevenção da endocardite infec-
ciosa. Similarmente à AHA, a American Dental
Association (ADA) e a Academia Americana de
Cirurgiões em Ortopedia (AAOS) recentemente
mudaram seus protocolos para profilaxia antibi-
ótica contra a endocardite infecciosa e a infec-
ção articular em pacientes portadores de próte-
ses articulares. Esses guias recomendam o regi-
me profilático para pacientes do mais alto risco
de desenvolvimento das infecções articulares e
da endocardite infecciosa (portadores de pró-
tese de válvula cardíaca, endocardite infecciosa
prévia, doenças cardíacas congênitas e trans-
plantes de estruturas cardíacas que desenvolve-
ram valvulopatias) e incluem modificações que
especificam os procedimentos odontológicos
considerados de maior risco de induzir bactere-
mia (manipulação de tecido gengival ou regiões
periapicais onde haja incisão da mucosa bucal).
Os antibióticos também são usados em
Odontologia para prevenir efeitos adversos
no pós-operatório (infecção no local da ferida
cirúrgica) sendo que os cirurgiões-dentistas po-
dem fazer a prescrição antibiótica no pré e/ou
pós-operatório. Infelizmente, a literatura sugere
que os dentistas podem estar contribuindo para
a seleção da resistência bacteriana, devido ao
uso abusivo da antibioticoterapia16.
Apesar da incidência de infecções ser muito
baixa nos implantes odontológicos, protocolos
para a prevenção de infecções na instalação de
implantes osseointegrados vêm sendo preco-
nizados na literatura. O fato é que não existe
um consenso do uso e indicação da profilaxia
antibiótica em Implantodontia, assim como da
escolha do antibiótico, da dose e duração da
antibioticoterapia15.
Entretanto, só recentemente, a preocupação
com a efetividade desses protocolos começou
a ganhar importância, principalmente, devido
à crescente preocupação com as decisões clí-
nicas baseadas em evidências cientificamente
comprovadas.
rEvisãO da litEratura
O quadro 1 exibe os resultados e conclu-
sões de alguns trabalhos publicados sobre o as-
sunto. Além desses, uma revisão sistemática da
literatura realizada pela Cochrane foi encontra-
da4. Os autores relataram não ter localizado ne-
nhum estudo clínico randomizado e concluíram
que há evidências científicas insuficientes para
recomendar ou desencorajar o uso da profilaxia
antibiótica para prevenir complicações ou falhas
dos implantes bucais. Salientaram os princípios
da profilaxia antibiótica cirúrgica: geralmente,
é indicada somente para pacientes com risco
48
Panorama atual da profilaxia antibiótica em Implantodontia
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
autores metodologia resultados conclusões
Dent et al.3 Uso pré e pós-operatório de antibióticos X falhas na osseointegração
significativamente menos falhas ocorreram com o uso de antibióticos no pré-operatório
Os autores recomendam o uso de antibióticos no pré-operatório
gynther et al.6 • 147 pacientes (790 implan-tes): fenoximetilpenicilina (1g) uma hora antes da cirurgia e 1g de 8/8h por 10 dias após.• 132 pacientes (664 im-plantes): nenhuma profilaxia antibiótica
Não foram encontradas diferen-ças significativas entre os dois grupos em relação à infecção pós-operatória
Profilaxia antibiótica como rotina em cirurgias de implantes dentários não oferece vantagens para o paciente
laskin et al.9 • 387 pacientes (1.743 implantes): profilaxia antibiótica pré-operatória• 315 pacientes (1.287 im-plantes) sem profilaxia no pré. Antibiótico pós-operatório foi prescrito em 96% dos casos
Houve aumento significativo na sobrevida dos implantes com profilaxia pré-operatória
A profilaxia antibió-tica pré-operatória é vantajosa
morris et al.12 1.500 implantes foram divididos em 3 grupos, onde o fármaco administrado foi a amoxicilina: Gupo 1 – 1g pré-operatória; Grupo 2 – 3g pré-operatória; Grupo 3 – 2g pré-operatória
Não foram encontradas dife-renças estatísticas significativas entre os grupos
O uso da profilaxia antibiótica não é tão benéfico como se acre-ditava no passado
Binahmed et al.1 • 125 pacientes (445 implan-tes): 1g de penicilina V (VO) ou 1.000.000UI de penicilina G (IV) no pré-operatório• 90 pacientes (302 implan-tes): 300mg de penicilina V de 6/6h por 7 dias no pós-operatório
Não foram encontradas dife-renças estatísticas significativas entre o regime pré e pós-operatório
Schwartz e larson17 Avaliaram evidências publi-cadas em relação ao uso de profilaxia antibiótica entre crianças e adultos submetidos à extração dentária ou colo-cação de implantes. As fontes utilizadas para busca dos arti-gos foram: Medline, Pubmed, Embase, EBM e Cochrane. Foram analisados 13 estudos, sendo 8 randomizados e 4 não randomizados
Toda a literatura foi considera-da limitada. Em alguns estudos, não houve grupo controle e houve dificuldade de determi-nar a necessidade do uso ou não de antibióticos. Em geral, as amostras foram pequenas, não evitando possíveis resulta-dos falso-negativos
Com as recentes melhoras no padrão da profilaxia antibiótica em Odontologia, é preciso um monitoramento do uso de antibióticos pelos profissionais, bem como uma educação continu-ada sobre os riscos de saúde relacionados ao excesso de prescrição de antibióticos
Houssein et al.8 Compararam a sobrevida de 3.021 implantes com uso pré e pós-operatório de antibióticos
Não foram encontradas diferen-ças significativas
Quadro 1 - Principais artigos analisados nessa revisão da literatura.
49
Isabel Peixoto Tortamano, Helana Santana, Anna Carolina Ratto Tempestini Horliana, Carina Gisele Costa Bispo, Marcelo Munhões Romano, Mário Sérgio Soares
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de endocardite infecciosa, para pacientes com
reduzida resposta imune, quando a cirurgia é
realizada em sítios infectados, em casos de in-
tervenções cirúrgicas extensas e de longa du-
ração, e quando grande quantidade de material
estranho é implantada. Alertaram para o fato de
que a maioria dos protocolos recentes de profi-
laxia antibiótica em Implantodontia recomenda
o uso de antibióticos por curto período de tem-
po. Ressaltaram os riscos de eventos adversos
que vão de diarreia a reações alérgicas que po-
dem ser fatais. Relataram a preocupação atual
associada ao uso indiscriminado de antibióticos,
o qual contribui para a seleção de bactérias re-
sistentes, e enfatizaram o quanto controverso é
seu uso em Implantodontia4.
Mais recentemente, Mazzocchi, Passi e Mo-
retti10 realizaram uma análise retrospectiva de
736 implantes colocados sem terapia antibióti-
ca. Os resultados mostraram que os índices de
sobrevida dos implantes (96,2%) não foram
mais baixos do que os altos índices de suces-
so publicados na literatura usando vários regi-
mes de antibióticos. Os autores concluíram que
esses resultados estão de acordo com várias
pesquisas recentes que preconizam um menor
uso de antibióticos em cirurgias bucais e suge-
rem que o uso de antibióticos para rotina em
implantes bucais pode não ser um benefício
como se acreditava, e que os clínicos devem
ficar atentos para a redução do seu uso des-
necessário. Portanto, o uso da profilaxia anti-
biótica para as cirurgias bucais permanece um
assunto controverso, pobremente documenta-
do na literatura.
A literatura é ainda mais escassa a respeito
da profilaxia antibiótica para cirurgias de levan-
tamento de seio maxilar e enxerto ósseo visan-
do a posterior colocação do implante.
Embora Stone et al.18, em 1979, já afir-
massem que a administração prolongada de
antibióticos depois da cirurgia não diminuía a
incidência da infecção da ferida, Fonseca, Up-
ton e Scott5, em 1987, preconizaram que, para
pacientes submetidos a enxertos autógenos e
alógenos, a administração antibiótica deveria
continuar até a incisão estar bem cicatrizada.
Pacientes submetidos à elevação do seio ma-
xilar, tipicamente, necessitavam de cobertura
antibiótica pós-operatória por sete dias. Esse
antibiótico podia ser a amoxicilina (500mg), o
cefaclor (500mg) ou clindamicina (150mg).
Segundo Misch11, a elevação do seio maxilar
pode ser categorizada – dentro da classificação
da ferida cirúrgica e risco de infecção desenvol-
vida pelo Cômite Cirúrgico do Colégio Americano
no Controle da Infecção Cirúrgica – como uma
cirurgia Classe II, ou seja, em área limpa-conta-
minada que necessita de antibioticoterapia.
Seguindo a mesma classificação, Resnick e
Misch15 salientaram que procedimentos cirúr-
gicos de implantes e enxertos ósseos recaem
dentro dessa mesma classificação – ou seja, de
Classe II – e desenvolveram uma classificação e
protocolo cirúrgico baseado no procedimento e
nos fatores locais e sistêmicos do hospedeiro.
Dessa forma, os autores estabeleceram 5 cate-
gorias, em que a colocação de implantes ósse-
os em pacientes saudáveis é classificada dentro
da categoria 1, na qual a profilaxia antibiótica
50
Panorama atual da profilaxia antibiótica em Implantodontia
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
não é recomendada. Enquanto a cirurgia de
enxerto ósseo autógeno e o levantamento do
seio maxilar são incluídos, respectivamente, nas
categorias 4 e 5, em que antibióticos são re-
comendados no pré-operatório em altas doses
para ambas as categorias e no pós-operatório,
respectivamente, por 3 e 5 dias. Nota-se, nes-
ses protocolos mais atuais, uma tendência de
diminuição do tempo da antibioticoterapia.
Não foram encontrados, na literatura, outros
trabalhos que avaliassem, especificamente, o
sucesso das cirurgias de levantamento de seio
maxilar e enxertos ósseos relacionados à dose
e duração da profilaxia antibiótica. Os três tra-
balhos que serão citados a seguir2,7,14 apenas
especificaram o antibiótico utilizado em suas
respectivas metodologias, mas a maioria dos
trabalhos que avaliaram o índice do sucesso do
levantamento do seio maxilar e dos enxertos
ósseos sequer faz menção à profilaxia antibió-
tica empregada.
Raghoebar et al.14 dizem ter feito uso de um
antibiótico de largo espectro de ação, começan-
do uma hora antes da operação (intravenosa)
e continuando por via oral durante sete dias de-
pois da cirurgia. Hallman et al.7 apenas mencio-
naram que usaram como medida profilática 2g
de penicilina V e 500mg de metronidazol, não
especificando se o regime se prolongou no pós-
operatório. Bornstein et al.2 citaram o uso de 2g
de Aziclav (Spirig Pharma AG©, Suíça) iniciado 2
horas antes da cirurgia e prolongado por 6 dias.
Outro assunto que merece consideração é
a seleção do antibiótico, principalmente para as
cirurgias de elevação do seio maxilar e enxerto
ósseo. As infecções seguidas dessas cirurgias
são devidas à contaminação causada por pa-
tógenos bucais ou do seio maxilar, por causa
do acesso transbucal e da proximidade com a
cavidade maxilar (seio). A perfuração da mu-
cosa do seio, a inoculação do enxerto com a
saliva, a deiscência da ferida ou a quebra da ca-
deia asséptica durante o enxerto ósseo podem
potencializar o risco da infecção. A presença
pré ou pós-operatória de uma sinusite aguda
também pode contribuir para a falha do enxerto
ósseo. Também o sangramento pós-operatório
e o acúmulo de exsudato no seio promovem o
crescimento das bactérias11.
Sendo assim, a seleção antibiótica deve ser
efetiva contra essas bactérias comumente en-
contradas na cavidade bucal e no seio maxilar.
Em sua maioria são estreptococos, cocos ana-
eróbios gram-positivos (Peptostreptococcus) e
bacilos anaeróbios gram-negativos (Fusobacte-
rium e bacteroides)13.
Portanto, as drogas mais comumente usa-
das para a profilaxia antibiótica deveriam ser as
penicilinas e cefalosporinas. Esses antibióticos
são bactericidas e possuem similar estrutura
química, e são da categoria dos betalactâmicos.
A amoxicilina é considerada de amplo espectro
de ação e é muito efetiva contra cocos e bacilos
gram-negativos. Possui maior atividade que a
penicilina V contra estreptococos e anaeróbios
orais. Como consequência, é frequentemente
a droga de escolha para a profilaxia antibióti-
ca em Implantodontia. Quando da suspeita da
presença de bactérias produtoras de betalacta-
mases, pode-se utilizá-la adicionada ao ácido
51
Isabel Peixoto Tortamano, Helana Santana, Anna Carolina Ratto Tempestini Horliana, Carina Gisele Costa Bispo, Marcelo Munhões Romano, Mário Sérgio Soares
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
clavulânico (Clavulin®/Glaxo Smith Kline, Aug-
mentim®/Glaxo Smith Kline)15.
Outro fator que deve ser levado em consi-
deração é a mínima concentração inibitória dos
antibióticos, que é a concentração mais baixa ne-
cessária para destruir as bactérias específicas. Os
antibióticos deverão ser administrados em doses
que alcançarão níveis plasmáticos de três a qua-
tro vezes da concentração mínima inibitória, pois
tem sido demonstrado que níveis terapêuticos
normais no sangue são ineficazes para comba-
ter a invasão bacteriana no momento da cirurgia.
Muito frequentemente, para alcançar a concen-
tração nos tecidos, os antibióticos devem ser
administrados em duas vezes as doses terapêu-
ticas e no mínimo uma hora antes da cirurgia15.
Na última revisão da AHA19, de 2007, ad-
mite-se o período de 30 a 60 minutos antes da
cirurgia e uma dose oral de 2g de amoxicilina ou
2g de ampicilina para todos os procedimentos de
risco em pacientes de risco, sendo a amoxicilina
a droga preferida, pois é bem absorvida no trato
gastrintestinal e é capaz de garantir concentra-
ções séricas altas e de longa duração. Para pa-
cientes alérgicos à penicilina (ampicilina ou amo-
xicilina), o uso de cefalexina (2g) ou outra cefa-
losporina oral de primeira geração, clindamicina
(600mg), azitromicina (500mg) ou claritromi-
cina (500mg) foi recomendado. Devido à possi-
bilidade de reações cruzadas, uma cefalosporina
não deveria ser administrada para pacientes com
histórico de anafilaxia, angioedema ou urticária
após tratamento com qualquer tipo de penicili-
na, incluindo amoxicilina e ampicilina. Pacientes
que não são capazes de utilizar antibióticos orais
podem ser tratados com ampicilina, ceftriaxona
ou cefazolina com administração intramuscular
ou intravenosa. Para pacientes alérgicos à ampi-
cilina que não são capazes de utilizar um agente
oral, a terapia é recomendada com cefazolina,
ceftrixona ou clindamicina parenteral.
Ainda na revisão desse protocolo, os auto-
res comentam que uma cefalosporina de pri-
meira geração é a mais usada em pacientes que
se submeterão a cirurgias cardíacas em centros
hospitalares, e que deverá ser iniciada imediata-
mente antes do procedimento operatório, repe-
tida durante procedimentos prolongados para
manter concentrações séricas no transoperató-
rio e continuada por não mais que 48 horas no
pós-operatório, para minimizar o surgimento de
microrganismos resistentes.
Antibióticos administrados na forma injetá-
vel atingem níveis sanguíneos adequados com
maior rapidez no momento da cirurgia. Infeliz-
mente, a amoxicilina não é encontrada na forma
injetável nos Estados Unidos11,15 e no Brasil.
Uma efetiva forma parenteral, principalmen-
te para as cirurgias de aumento do seio e en-
xerto ósseo, é a cefalosporina. A primeira gera-
ção de cefalosporina (cefolotina) possui um es-
pectro antibacteriano similar ao da amoxicilina.
Contudo, tem a vantagem de não ser suscetível
às betalactamases dos Staphylococcus aureus.
É frequentemente usada em Odontologia como
uma alternativa aos pacientes alérgicos às pe-
nicilinas que não possuem reação imediata do
tipo anafilática. As cefalosporinas de segunda e
terceira geração não possuem vantagens sobre
as da primeira, quando usadas para esse fim15.
52
Panorama atual da profilaxia antibiótica em Implantodontia
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
Um conceito bastante importante em anti-
bioticoterapia é que o pico do crescimento das
bactérias resistentes começa somente depois
que as bactérias suscetíveis foram mortas, o
que usualmente leva no mínimo três dias de
terapia antibiótica. Portanto, pequena duração
do uso de antibióticos (1 dia) tem mostrado
ter pouca influência no desenvolvimento das
bactérias resistentes. Outro fator cirúrgico rela-
cionado às infecções pós-operatórias é a dura-
ção do procedimento: os que duram em média
uma hora ou menos têm mostrado um índice
de infecção de 1,3%, enquanto aqueles com
duração acima de 3 horas aumentam o índice
para 4%. Esse índice é dobrado a cada hora do
procedimento13,15.
discussãO
A necessidade da profilaxia antibiótica para
prevenção da endocardite infecciosa em pacien-
tes de risco durante as cirurgias para colocação
de implantes osseointegrados está clara na
literatura19, já que esta deve ser realizada em
todos os procedimentos que envolvam manipu-
lação gengival ou da região periapical onde haja
incisão na mucosa bucal.
Para a profilaxia cirúrgica, a fim de evitar in-
fecções no sítio cirúrgico local do implante, a
literatura, apesar de escassa, sugere que não
existem evidências científicas suficientes para
justificá-la4,6,10,12. Porém, essa é, frequentemen-
te, realizada e a atual preocupação é de que os
dentistas podem estar contribuindo para a se-
leção da resistência bacteriana, devido ao uso
abusivo da antibioticoterapia4,12,15,16.
O uso da profilaxia cirúrgica nas cirurgias de
levantamento de seio maxilar e enxertos ósseos
é ainda menos documentado na literatura e a
falta de um consenso quanto à escolha, via de
administração, dose e duração da antibioticote-
rapia é notada.
Essas cirurgias, segundo Misch11 e Resnick
e Misch15, podem ser classificadas, conforme o
Comitê Cirúrgico Americano para o Controle da
Infecção, como cirurgias em área limpa-conta-
minada e requerem antibioticoterapia.
Para Resnick e Misch15, os antibióticos são
recomendados, no pré-operatório em altas do-
ses, tanto para as cirurgias de enxerto ósseo
autógeno quanto para o levantamento do seio
maxilar; e no pós-operatório, respectivamente,
por 3 e 5 dias. Nota-se, nesses protocolos mais
atuais, uma tendência de diminuição no tempo
da antibioticoterapia. Baseado na microbiota lo-
cal dessas cirurgias, as drogas de eleição deve-
riam ser as penicilinas e as cefalosporinas.
A habilidade e a experiência do profissional,
influenciando diretamente no tempo cirúrgico,
também podem ser um fator significativo na
ocorrência de infecção pós-operatória13,15.
cOnclusãO
O uso indiscriminado da profilaxia antibióti-
ca em Implantodontia deve ser evitado, princi-
palmente devido ao problema mundial da resis-
tência aos antibióticos.
A literatura atual disponível é carente e,
portanto, há necessidade de se incentivar a re-
alização de mais pesquisas sobre a profilaxia
antibiótica cirúrgica em Implantodontia.
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Isabel Peixoto Tortamano, Helana Santana, Anna Carolina Ratto Tempestini Horliana, Carina Gisele Costa Bispo, Marcelo Munhões Romano, Mário Sérgio Soares
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 46-54, jul./ago./set. 2009
Overview of current antibiotic prophylaxis in
Implantology
aBstract
The aim of this literature review is to bring to clinicians the scientifi c information available about risks and benefi ts of antibiotic prophylaxis in Implantology so that they can use it in a judicious way, avoiding its abuse.
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Hagerstown, v. 116, no. 15, p. 1736-1754, 2007.
isabel peixoto tortamanoAv. Lineu Prestes, 2227 – Cidade Universitária CEP: 05.508-900 – São Paulo / SPE-mail: [email protected]
Endereço para correspondência
caso Selecionado
55Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
João Carnio, Willian Furlan Paschoal, Fernanda Akemi Nakanishi
intrOduçãODesde a introdução do enxerto conjuntivo pala-
tal como tecido doador para tratamento de deformi-
dades mucogengivais6,7, esse tipo de procedimento
tem sido amplamente usado para tratamento de
recessões radiculares, aumento da dimensão api-
cocoronal de gengiva e deformidade de rebordos
alveolares.
O uso do tecido conjuntivo palatal associado a
várias técnicas cirúrgicas aumentou consideravel-
mente a previsibilidade da terapia mucogengival1,
proporcionando um resultado estético mais satis-
fatório com um melhor pós-operatório na ferida
doadora do palato.
Contudo, para a utilização do tecido conjuntivo, é
condição fundamental existir quantidade adequada
de tecido para prover material doador e permitir que
o retalho palatal tenha espessura e vascularização
suficiente para evitar a necrose.
Como regra geral, a espessura adequada neces-
sária para se realizar a coleta com segurança é de,
aproximadamente, 2,5 a 3mm, o que proverá de 1
a 1,5mm de tecido conjuntivo doador4 e um retalho
palatal remanescente de 1-1,5mm. Considerando-
se que o epitélio bucal possui3, em média, 0,3mm
de espesura e que esse necessita de vascularização
Técnica cirúrgica para criação de tecido conjuntivo
doador palatal aumentando a previsibilidade no
tratamento de recessões radiculares
resumo
O propósito deste relato clínico é de apresentar o tratamento de recessões radiculares Classe I de Miller em um paciente
jovem que relatava problema estético e sensibilidade exacerbada nos dentes 23 e 24, porém não apresentava tecido
conjuntivo palatal suficiente para ser utilizado na cobertura radicular. Por meio de uma técnica recentemente introduzida
na literatura, com a finalidade de criar tecido conjuntivo doador palatal, foi possível solucionar o problema com resultado
satisfatório e estável a longo prazo.
Palavras-chave: Área doadora. Tecido conjuntivo. Recobrimento radicular. Esponja de colágeno. Cirurgia periodontal.
56 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
Técnica cirúrgica para criação de tecido conjuntivo doador palatal aumentando a previsibilidade no tratamento de recessões radiculares
tecidual profunda e larga Classe I de Miller8
nos dentes 23 e 24 (Fig. 2), causadas por
higienização traumática (Tab. 1).
O paciente apresentava-se com todos
os elementos dentários e terceiros molares
superiores semi-inclusos, o que excluía a
disponibilidade de tecido doador nas regi-
ões de rebordo e retromolares. Ao exame
clínico e de palpação da área doadora pa-
latal (Fig. 3), constatou-se palato médio11
com ambos os lados apresentando aparên-
cia delgada. Inicialmente, a espessura do
tecido doador foi determinada sob aneste-
sia infiltrativa, com sonda periodontal ma-
nual inserida perpendicularmente à super-
fície da mucosa na região dos elementos
14 e 24. As medidas encontradas foram
de 1,0mm, o que indisponibilizava ambas
do tecido conjuntivo para sua manutenção,
uma espessura mínima de 1-1,5mm no re-
talho do palato deve ser mantida.
Quando as condições não se tornam fa-
voráveis para a obtenção do tecido conjun-
tivo, a utilização de enxerto de matriz dér-
mica acelular5,13 ou enxerto livre epitelizado
palatal9 se torna outra opção viável.
Recentemente, Carnio e Hallmon2 apre-
sentaram na literatura uma técnica cirúrgica
com o objetivo de aumentar a área de teci-
do conjuntivo palatal em casos de ausência
de espessura adequada de tecido doador.
Essa técnica inclui o uso de esponja estéril
absorvível de colágeno bovino, introduzida
entre o tecido ósseo e o retalho palatal,
provendo um espaço para a formação de
um novo tecido conjuntivo. Histologicamen-
te, o “novo” tecido formado apresentou ca-
racterísticas e propriedades idênticas às do
tecido conjuntivo normal após 8 semanas
de cicatrização.
casO clínicOPaciente do gênero masculino, saudável,
19 anos de idade, não fumante, procurou
a Clínica Odontológica da Universidade Es-
tadual de Londrina, setor de Periodontia,
devido ao desconforto na região superior
esquerda. O paciente relatou sensibilidade
exagerada nos dentes 23 e 24 e preocupa-
ção em relação à estética (Fig. 1).
No exame clínico, foi detectada recessão
início
Dente 23 24
pS 2 1 2 2 1 2
re 3 2
ge 3 2
Final
Dente 23 24
pS 3 1 3 4 1 3
re 0 0
ge 6 4,5
tabela 1 - Medidas inicias e finais da área tratada (mm).
Ps: Profundidade de sondagem.Re: Recessão Gengival.Ge: Gengiva.Final = 2 anos.
57Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
João Carnio, Willian Furlan Paschoal, Fernanda Akemi Nakanishi
Figura 1 - Aspecto clínico pré-cirúrgico do caso apresentado.
Figura 2 - Vista pré-operatória da região superior esquerda, mostrando recessão marginal tecidual Classe I de Miller nos elementos 23 e 24.
Figura 3 - Vista pré-operatória da região palatal direita.
58 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
Técnica cirúrgica para criação de tecido conjuntivo doador palatal aumentando a previsibilidade no tratamento de recessões radiculares
as áreas como doadoras. Como a região a
ser tratada correspondia ao lado esquer-
do, optou-se pelo aumento palatal do lado
direito, sendo a área oposta determinada
como controle.
Uma cuidadosa explicação das opções
de tratamento e dos procedimentos cirúrgi-
cos foi revista e discutida com o paciente,
o qual optou pela realização de cobertura
radicular empregando o tecido conjuntivo
autógeno, o qual teria que ser disponibiliza-
do através da técnica de aumento palatal2.
técnica cirúrGicaUma única incisão horizontal foi realizada
perpendicularmente ao longo eixo do dente,
aproximadamente 3mm apicalmente à mar-
gem gengival, estendendo-se do elemento
23 à mesial do 26. Um retalho total (Fig. 4)
foi executado, liberado e afastado até que
um espaço suficiente tivesse sido obtido.
Cuidados foram tomados para se evitar as
estruturas nervosas e vasculares do palati-
no maior12. Uma esponja estéril de coláge-
no bovino liofilizada, previamente hidratada
em solução salina estéril, foi inserida entre
o retalho e o tecido ósseo. O retalho foi su-
turado com pontos simples de poliglactina
910 absorvível (Fig. 5, 6). A cicatrização se
deu por primeira intenção, transcorreu nor-
malmente, com cuidados pós-operatórios
se restringindo a qualquer fator que pudes-
se comprimir a área operada.
Oito semanas após (Tab. 2), as medi-
ções demonstraram um aumento significa-
tivo de 1,0 para 2,5mm na área doadora,
o que proporcionou a obtenção de um te-
cido conjuntivo denso com dimensões de
1x8x15mm de, respectivamente, espessu-
ra, largura e comprimento. A área receptora
foi preparada com um retalho do tipo enve-
lope10, no qual o tecido doador foi introdu-
zido e suturado independentemente. Dois
milímetros de tecido conjuntivo foram dei-
xados expostos, tanto no dente 23 quanto
no dente 24, com o intuito de aumentar a
tabela 2 - Medidas iniciais e finais da área doadora palatal (mm).
início
Dente 13 14 15
pS 2 1 1 1 1 2 2 1 2
re 0 0 0
Ep 1,5 1,0 1,0
8 semanas
Dente 13 14 15
pS 1 1 1 1 1 1 2 1 2
re 0 0 0
Ep 2,5 2,5 2,5
Final
Dente 13 14 15
pS 2 1 1 1 1 2 2 1 2
re 0 0 0
Ep 2,5 3 2,5
Ps: Profundidade de sondagem.Re: Recessão Gengival.EP: Espessura Palatal.Final = 2 anos.
59Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
João Carnio, Willian Furlan Paschoal, Fernanda Akemi Nakanishi
Figura 4 - Tecido cuidadosamente afastado, mostrando o espaço obtido para a colocação da esponja. Notar a espessura insuficiente de tecido conjuntivo doador presente no retalho total.
Figura 5 - Após a colocação da esponja, a área doadora é suturada com fio 5,0 de poliglactina 910 absorvível.
Figura 6 - Vista oclusal do pós-operatório imediato, demonstrando o aumento de volume da área palatal após a colocação da esponja.
Figura 7 - Preparo da área receptora através de um retalho do tipo envelope. O enxerto conjuntivo foi introduzido e suturado independen-temente. Notar que aproximadamente 2mm do “novo” tecido conjuntivo foram deixados expostos. Retalho e enxerto foram suturados com fio 5,0 de poliglactina 910 absorvível.
60 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
Técnica cirúrgica para criação de tecido conjuntivo doador palatal aumentando a previsibilidade no tratamento de recessões radiculares
Figura 8 - Vista da região receptora 2 anos após o procedimento ci-rúrgico, mostrando completa cobertura radicular e ganho de tecido cera-tinizado.
Figura 9 - Vista da região doadora, 2 anos após a obtenção de te-cido conjuntivo doador. Nota-se a presença de aproximadamente 3mm de tecido remanescente, o que possibilita o uso dessa área para futuros procedimentos.
quantidade de tecido ceratinizado na área
(Fig. 7). O pós-operatório, nas áreas do-
adora e receptora, transcorreu dentro dos
limites da normalidade.
Os 100% de cobertura radicular obti-
dos inicialmente foram mantidos por um
período de 2 anos (Fig. 8). É interessante
observar que a área doadora palatal man-
teve o aumento de espessura obtido inicial-
mente, o que possibilitará que novos pro-
cedimentos que envolvam a utilização de
tecido conjuntivo possam ser executados
posteriormente (Fig. 9).
cOnclusõEsEsse caso clínico demonstra que a
técnica de aumento de tecido conjuntivo
doador palatal foi primordial e eficaz no
propósito de criar uma nova área de tecido
conjuntivo. O aumento do volume de tecido
obtido possibilitou que o novo tecido criado
fosse utilizado com 100% de eficiência no
tratamento das recessões radiculares, além
de manter uma adequada espessura do re-
talho palatal remanescente. Isso propiciou
uma cicatrização por primeira intenção e,
consequentemente, um pós-operatório
mais tranquilo, sem ferida palatal ou dor.
A técnica cirúrgica de aumento de te-
cido conjuntivo doador palatal proporciona
uma alternativa a mais aos profissionais,
nos casos em que ocorre ausência de teci-
do conjuntivo doador.
61Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 55-61, jul./ago./set. 2009
João Carnio, Willian Furlan Paschoal, Fernanda Akemi Nakanishi
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increased attached gingiva. Part 1. A clinical study.
j. periodontol., Chicago, v. 71, no. 8, p. 1297-1305, Aug.
2000.
Endereço para correspondência
João CarnioRua Pistóia, 245 – Jardim CanadáCEP: 86.020-450 – Londrina / PRE-mail: [email protected]
João Carnio
- Professor e coordenador da disciplina de Periodontia da
Universidade Estadual de Londrina (UEL).
- Coordenador dos cursos de Especialização e Residência
em Periodontia - UEL (Londrina/PR).
Willian furlan paschoal
- Aluno do curso de graduação em Odontologia da UEL.
fernanda akemi nakanishi
- Professora da Disciplina de Periodontia da UEL.
artigo inédito
62 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
* Mestre e doutoranda em Implantodontia pela UFSC.
** Mestre em Implantodontia pela USC. Doutor em
Implantodontia pela UFSC. Coordenador do curso
de Especialização em Implantodontia ABO – Aná-
polis/GO.
*** Especialista em Periodontia pela FOB-USP. Mestran-
do em Implantodontia pela UFSC.
**** Mestre e doutor em Periodontia pela FOB-USP.
Coordenador do curso de Especialização em Perio-
dontia da APCD – Bauru/SP.
***** Mestre e doutor em CTBMF pela UNESP/Araçatuba.
****** Mestre e doutor em Implantodontia pela UFSC.
******* Mestre e doutor em Periodontia pela FOB-USP.
Coordenador do programa de mestrado em Implan-
todontia da UFSC.
Palavras-chave
Implantes zigomáticos. Reabilitação
bucal. Protótipos.
resumo
Um dos maiores desafios da Implantodontia e da Odontologia Reabilitadora
atual é encontrado quando da presença de maxilas atróficas. Para resolução des-
sa situação clínica, comumente eram utilizadas técnicas de reconstrução óssea
baseadas em transplantes ósseos (enxertos onlay; levantamento de seio maxi-
lar). Entretanto, a morbidade cirúrgica e o tempo de tratamento dessa técnica
provocam desconfianças e, algumas vezes, desistências por parte dos pacientes.
Com a introdução de técnicas extramaxilares de ancoragem (ex. implantes zigo-
máticos), a morbidade e o tempo de tratamento diminuíram consideravelmente,
já que a função imediata é comumente empregada. Devido ao sucesso e à
previsibilidade dessas técnicas de ancoragem, surgiu a necessidade de técnicas
de planejamento mais precisas, que diminuíssem ou até mesmo eliminassem o
risco de intercorrências. Neste artigo, apresentaremos um caso clínico de técnica
de ancoragem zigomática no qual foi utilizado o planejamento virtual associado
a um protótipo na reabilitação de uma maxila atrófica, obtendo-se sucesso.
O uso da prototipagem para planejamento de
implantes zigomáticos em maxila atrófica
Aline Franco siquEira*, Hiron Andreaza da cunHa**, Armando Rodrigues Lopes pErEira
nEtO***, Daniel Romeu Benchimol de rEsEndE****, Hugo nary filHO*****,
César Augusto Magalhães BEnfatti******, Ricardo de Souza maGini*******
63
Aline Franco Siqueira, Hiron Andreaza da Cunha, Armando Rodrigues Lopes Pereira Neto, Daniel Romeu Benchimol de Resende, Hugo Nary Filho, César Augusto Magalhães Benfatti, Ricardo de Souza Magini
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
Na Implantodontia, a necessidade de obter
resultados diante de situações críticas tem se
tornado uma rotina desafiadora. Especialmente
quando o paciente é edêntulo total, somado à
atrofia de maxila. Para completa reabilitação, é
essencial a minimização das variáveis cirúrgico-
protéticas, por meio de um planejamento rever-
so correto.
Atualmente, as radiografias intra e extrabu-
cais são o meio de diagnóstico mais frequen-
temente utilizado pelos cirurgiões-dentistas,
apesar de suas limitações5. Por isso, há uma
preocupação contínua com o desenvolvimento
de novas formas de diagnóstico, para que as
imagens obtidas confiram condições anatômi-
cas o mais próximo possível da realidade.
Com a introdução da tomografia computa-
dorizada (TC) nos anos 7017 e, posteriormente,
com o processamento tridimensional (3D) das
imagens, foi possível visualizar a perspectiva de
profundidade e também, mais recentemente,
avaliar a densidade do osso zigomático, aumen-
tando a precisão na interpretação de exames
complementares14.
No final dos anos 80, foram integradas às
imagens de tomografia computadorizada as
técnicas de prototipagem rápida, tornando pos-
sível a obtenção de protótipos que reproduzem
a realidade das estruturas anatômicas17.
O processo de fabricação de protótipos é
recente, já que o primeiro sistema foi disponi-
bilizado comercialmente somente em 19897,9.
No Brasil, essa tecnologia tem sido mais comu-
mente explorada principalmente no que tange
às aplicações odontológicas11.
Existem, basicamente, três processos para
a fabricação de peças: o subtrativo, o aditivo e
o conformativo. No primeiro, um bloco de ma-
terial é desgastado até a obtenção da forma
desejada. Já no processo aditivo, um material é
manipulado em sucessivas porções até obter-se
o formato final da peça. No processo confor-
mativo, forças mecânicas são aplicadas sobre o
material para a obtenção do protótipo8.
Stoker, Mankovich e Valentino20, em 1992,
foram uns dos primeiros pesquisadores a cons-
truírem o modelo físico de um paciente utilizan-
do o processo de fabricação por camadas com
resina chamado estereolitografia. Os autores
utilizaram esse modelo no planejamento cirúrgi-
co de um paciente com displasia fibrosa cranio-
facial, onde uma osteotomia complexa tipo Le
Fort III modificada era necessária.
O protótipo auxilia no planejamento para fi-
xação de implantes zigomáticos, podendo evitar
acidentes como a perfuração do assoalho da
órbita e a perfuração medial do osso zigomáti-
co, além de simplificar tal etapa cirúrgica4.
A literatura13 mostra a utilização de protó-
tipos de acrílico obtidos por meio da prototi-
pagem rápida (sinterização a laser seletiva) no
planejamento multidisciplinar de casos comple-
xos. Os autores verificaram que tal tecnologia
contribuiu para diminuir o tempo cirúrgico e
aumentar a precisão do cirurgião durante a exe-
cução de casos clínicos envolvendo cirurgia de
implantes, ortognática e reabilitação protética13.
Dessa forma, o presente artigo objetiva
apresentar um caso clínico de reabilitação total
64
O uso da prototipagem para planejamento de implantes zigomáticos em maxila atrófica
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
de mandíbula e maxila, com implantes osseoin-
tegrados, planejado com o auxílio de radiogra-
fia panorâmica, tomografia computadorizada e
protótipo.
casO clínicO
Um paciente do gênero masculino, com 59
anos de idade e fazendo uso de prótese total
superior e inferior (Fig. 1), compareceu no con-
sultório odontológico para reabilitação bucal.
Após identificação da queixa principal, foi ava-
liado o rebordo e a linha do sorriso, diagnosti-
cando uma linha de sorriso alta, exigindo, assim,
um adequado planejamento para realização de
implantes bem posicionados e, consequente-
mente, uma estética satisfatória na reabilitação
protética.
A radiografia panorâmica (Fig. 2) mostra
altura óssea insuficiente para a colocação de
implantes na região posterior, devido à pneuma-
tização do seio maxilar, e, na região anterior, boa
quantidade de tecido ósseo. Entretanto, havia
dúvida quanto à espessura do tecido ósseo e
possibilidade de instalação de 5 ou 6 implantes
nessa área para confecção de prótese fixa com
cantiléver. Para avaliação do tecido ósseo dessa
região, foi solicitada uma tomografia computado-
rizada, com a finalidade de avaliar corretamente
a quantidade de tecido ósseo e, posteriormente,
a confecção do protótipo do arco superior (Fig.
3). Na mandíbula, foi possível estabelecer um
planejamento somente com a radiografia pa-
norâmica e exame clínico, havendo quantidade
suficiente de tecido ósseo para a instalação de 5
implantes entre os forames mentonianos.
Após a obtenção do protótipo da maxila,
pôde-se analisar as reais condições anatômicas
da área, sendo planejada a instalação de 4 im-
plantes na região anterior e mais 2 implantes
zigomáticos na região posterior da maxila, sob
anestesia geral em ambiente hospitalar, pois o
paciente não queria passar por cirurgias de re-
construção óssea.
O protótipo foi montado em articulador e,
sobre o mesmo, foi confeccionado um plano de
orientação (plano de cera) e montagem dos
dentes. Posteriormente, foi confeccionado um
guia cirúrgico (Fig. 4) e realizado um ensaio das
perfurações no protótipo, visando um melhor po-
sicionamento dos implantes, uma vez que os im-
plantes zigomáticos normalmente tendem a ficar
palatinizados, dificultando a reabilitação protética.
A cirurgia foi realizada em ambiente hospita-
lar, sob anestesia geral, e foram instalados 2 im-
plantes zigomáticos de 50mm de comprimento
(Nobel Biocare, Gotemburgo, Suécia) e 4 im-
plantes convencionais de plataforma regular de
13mm, hexágono externo (Nobel Biocare). A
técnica cirúrgica para a instalação dos implan-
tes zigomáticos foi a descrita por Branemark1
em 1998. Após a instalação, a chave hexagonal
foi posicionada nos implantes juntamente com
o guia cirúrgico, a fim de verificar a angulação
dos implantes.
Após 6 meses, de posse da radiografia pa-
norâmica (Fig. 5), foi realizada a segunda fase
cirúrgica para instalação dos cicatrizadores. No
arco superior, como havia uma boa quantidade
de tecido ceratinizado, foram confeccionadas
incisões palatinizadas na região dos implantes,
65
Aline Franco Siqueira, Hiron Andreaza da Cunha, Armando Rodrigues Lopes Pereira Neto, Daniel Romeu Benchimol de Resende, Hugo Nary Filho, César Augusto Magalhães Benfatti, Ricardo de Souza Magini
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
Figura 1 - Aspecto inicial do paciente. Figura 2 - Radiografia panorâmica inicial.
utilizado intermediário protético (Fig. 6).
Para determinar a altura, a espessura e o
contorno da infraestrutura, foi confeccionado
um index, seguindo a montagem dos dentes
feita previamente. As infraestruturas metálicas
foram confeccionadas com a liga prata-paládio
e já apresentavam o esboço da anatomia den-
tária, favorecendo, assim, o acabamento e a es-
tética das próteses.
As estruturas metálicas foram colocadas
sobre os implantes para verificar a sua relação
com o tecido gengival (Fig. 7) e sua adaptação
foi comprovada por meio de sondagem e radio-
grafias periapicais. Posteriormente, os dentes
foram fixados com cera na barra e provados,
para realização da prova estética e funcional,
onde foram avaliadas as relações intermaxila-
res, o suporte labial, a proporção dente/face e
o padrão oclusal. Foi feita a acrilização dessas
próteses e, finalmente, sua instalação e ajuste
final (Fig. 8).
deslocando esse tecido para vestibular e, em
seguida, realizada a sutura. No arco inferior, não
havia quantidade adequada de tecido ceratiniza-
do em alguns implantes. Na região onde havia
ausência desse tecido, foi realizado um enxerto
gengival livre epitélio-conjuntivo removido da
região do túber, a fim de garantir a manutenção
da homeostasia marginal. Na maxila, os cicatri-
zadores ficaram por um período de 24 horas,
até a confecção de uma prótese provisória com
estrutura metálica, uma vez que os implantes
zigomáticos, após a reabertura, devem ser feru-
lizados, em virtude de apenas 10 a 13mm do
comprimento total do implante participarem do
fenômeno de osseointegração (região do osso
zigomático).
Foram utilizados o pilar Mult-unit® (Nobel
Biocare) reto para os implantes na região do
13, 22 e 23; e o pilar Mult-unit® angulado em
17º (Nobel Biocare) para os demais implan-
tes no arco superior; e na mandíbula não foi
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O uso da prototipagem para planejamento de implantes zigomáticos em maxila atrófica
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
Figura 3 - Protótipo em acrílico. Figura 4 - Guia cirúrgico.
Figura 5 - Radiografia panorâmica 6 meses após a instalação dos
implantes.
Figura 6 - Vista oclusal da disposição dos implantes e dos compo-
nentes protéticos.
Figura 8 - Aspecto final do paciente.Figura 7 - Prova das estruturas metálicas superior e inferior.
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Aline Franco Siqueira, Hiron Andreaza da Cunha, Armando Rodrigues Lopes Pereira Neto, Daniel Romeu Benchimol de Resende, Hugo Nary Filho, César Augusto Magalhães Benfatti, Ricardo de Souza Magini
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Figura 9 - Radiografias finais superior e inferior.
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O uso da prototipagem para planejamento de implantes zigomáticos em maxila atrófica
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
discussãO
As vantagens observadas com o uso de pro-
tótipos foram a precisão no diagnóstico e elabo-
ração do plano de tratamento e a maior segu-
rança durante o procedimento cirúrgico, devido
a uma melhor visualização dos detalhes anatô-
micos, diminuindo, assim, o tempo da interven-
ção cirúrgica, como relatado na literatura4.
Porém, a seleção do caso clínico é uma
das etapas mais importantes na utilização das
tecnologias de prototipagem, sendo essencial
considerar, nesse momento, a relação custo-be-
nefício16. Dessa forma, a opção pela confecção
de protótipos, em detrimento a técnicas menos
onerosas, deve ser reservada apenas aos casos
em que houver real benefício ao paciente9,10,15.
Um fator importante a ser considerado é a
dose de radiação relacionada aos exames de
TC. Na região da face, esse é um fator ainda
mais discutido, pelo fato dos protocolos para
obtenção de imagem habitualmente envolverem
um grande número de cortes. Assim, em com-
paração com outras regiões, a dose de radiação
para exames da face é considerada alta16. Con-
tudo, o que importa não é a dose total de ra-
diação do exame, mas sim a sua dose efetiva4.
Em um exame da região maxilofacial, essa dose
não ultrapassa os limites de biossegurança8,18 e
a relação custo-benefício justifica essa exposi-
ção. Além disso, tal técnica reduz drasticamente
os artefatos de técnica, advindos da captura
de radiografias convencionais, os quais geram
grande dificuldade de interpretação1.
Além do planejamento de implantes, os pro-
tótipos podem ser utilizados para determinação
da área doadora, no posicionamento adequa-
do do enxerto em cirurgias reconstrutivas1.
Também são úteis para ensinar e demonstrar
cirurgias, sendo que estudantes, cirurgiões e
radiologistas podem praticar um procedimento
trabalhando no protótipo, e executar técnicas
sem risco para os pacientes14,17.
Além da reprodução do tecido ósseo, é pos-
sível a simulação do tecido mole a partir de um
mesmo exame tomográfico. Foi observado que
os protótipos integrados, ou seja, que represen-
tam juntamente o tecido mole e duro, permiti-
ram uma avaliação da relação espacial desses
tecidos, facilitando o planejamento e, conse-
quentemente, o procedimento cirúrgico e pro-
tético, visto que a complexidade da anatomia
craniofacial e as variações dessas estruturas en-
tre indivíduos tornam o procedimento cirúrgico
difícil de ser explicado, planejado e executado11.
Três objetivos básicos foram relacionados
para utilização dos protótipos: para orientação
dos pacientes; no diagnóstico; e no planejamen-
to cirúrgico. Foi observado que os protótipos
melhoram o diagnóstico e a elaboração de um
plano de tratamento, e facilitam a comunicação
entre cirurgiões e pacientes, além de diminuí-
rem em 16% o tempo cirúrgico12. Em pacientes
com severa atrofia do rebordo alveolar – tanto
da maxila (como o caso descrito) quanto da
mandíbula –, orientar a obtenção do enxerto
e a confecção de guias cirúrgicos também fo-
ram relatadas como indicações da utilização de
protótipos. Um grupo de pesquisadores verifi-
cou5 que os protótipos promoveram uma maior
precisão transoperatória, tanto na obtenção do
69
Aline Franco Siqueira, Hiron Andreaza da Cunha, Armando Rodrigues Lopes Pereira Neto, Daniel Romeu Benchimol de Resende, Hugo Nary Filho, César Augusto Magalhães Benfatti, Ricardo de Souza Magini
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
Prototypes for planning atrophic maxillary
rehabilitation with zygomatic implants
aBstract
Atrophic maxillary rehabilitation represents one of the major challenges in Implantology. In order to solve clinical situations, bone reconstruction techniques – onlay grafts and sinus lift have been used. However, surgical risks as well as treatment time bring uncertainties to patients resulting sometimes in treatment abandonment. The risks and treatment time have been improved when using extra oral support, such as zygomatic implants with possible association of immediate loading employment being an option. Due to the technique success and predictability, there is the necessity of a more precise planning, which decreases or even eliminates ongoing surgical risks. With this objective, this paper describes a clinical situation in which zygomatic support was used in association with virtual planning and prototypes in successful atrophic maxilla rehabilitation.
KEYWORDS: Zygomatic implants. Oral rehabilitation. Prototypes.
enxerto quanto na inserção dos implantes na
reabilitação de pacientes com maxila atrófi ca.
Isso também foi observado durante a realização
da etapa cirúrgica do caso descrito.
Além de potencializar o melhor entendimento
por parte do paciente, os protótipos têm se mos-
trado essenciais para o correto posicionamento
de implantes zigomáticos, pterigóideos e implan-
tes convencionais do tipo Branemark13,20,21. Des-
se modo, quando estiver ao alcance do clínico e
do paciente, é de extrema valia a utilização dessa
ferramenta diagnóstica durante o planejamento
e etapa cirúrgica, já que reduz o custo global
do tratamento, diminui erros clínicos potenciais,
além de conduzir a melhores resultados, sendo
o alto custo da confecção desses modelos o
principal empecilho encontrado, o qual tende a
diminuir com a popularização da técnica2.
cOnclusãO
Apesar de ser uma tecnologia ainda pou-
co empregada – devido, principalmente, ao seu
alto custo e à carência de dados na literatura –,
a utilização de imagens tridimensionais e mo-
delos sólidos no diagnóstico e planejamento de
cirurgias bucomaxilofaciais e procedimentos ci-
rúrgicos avançados em Implantodontia se apre-
senta como uma ferramenta de grande valia,
por permitir um planejamento mais preciso e
reduzir o tempo de intervenção cirúrgica.
70
O uso da prototipagem para planejamento de implantes zigomáticos em maxila atrófi ca
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 62-70, jul./ago./set. 2009
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armando rodrigues lopes pereira netoRod. Amaro Antonio Vieira, 2463 - apto 405C - ItacorubiCEP: 88.034-101 - Florianópolis/SCE-mail: [email protected]
Endereço para correspondência
artigo inédito
71Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 71-81, jul./ago./set. 2009
* Mestrando em Periodontia da FOUSP.
** Doutoranda em Periodontia da FOUSP.
*** Professor associado de Periodontia da FOUSP.
**** Professor titular de Periodontia da FOUSP.
***** Professora doutora de Periodontia da UMC.
****** Professor doutor de Periodontia da FOUSP.
Palavras-chave
Fibromatose gengival hereditária. Hiper-
plasia gengival. Gengivectomia. Retalho
mucoperiostal.
resumo
A fibromatose gengival hereditária (FGH) é uma condição bucal rara, caracte-
rizada clinicamente pelo crescimento contínuo e progressivo do tecido gengi-
val. O crescimento gengival severo causa comprometimento estético/funcional,
tendo como sinais clínicos comuns diastemas, mau posicionamento dentário
e proeminência labial. Este relato de caso descreve o tratamento cirúrgico em
duas etapas de um paciente que se apresentou à Universidade de São Paulo
(FOUSP) queixando-se do aspecto antiestético ao sorrir, devido ao aumento
gengival. A primeira etapa consistiu em um retalho parcial com excisão de mar-
gem gengival (remoção de altura/espessura do tecido conjuntivo). Na segun-
da etapa, foi realizado um retalho total associado à excisão de margem, para
obter acesso ao tecido ósseo e melhorar o contorno da margem gengival. O
pós-operatório mostrou uma reparação satisfatória, com um padrão da margem
gengival e da crista-óssea compatível com a saúde periodontal e de acordo
com as expectativas estéticas do paciente. A avaliação histológica das biópsias
gengivais confirmou o diagnóstico clínico de FGH. Considerando as limitações
de um relato de caso, coloca-se uma alternativa viável para demonstrar que a as-
sociação dessas técnicas, desde que bem indicadas, é uma possível abordagem
cirúrgica para o restabelecimento estético/funcional dos pacientes com FGH.
Abordagem cirúrgica para o restabelecimento
estético/funcional dos pacientes com
fibromatose gengival hereditária
Rodrigo Carlos N. de CAstrO-PIntO*, Mariana Schutzer Ragghianti ZAngrAndO**,
Luiz Antônio Pugliesi Alves de LImA***, Francisco Emílio PustIgLIOnI****,
Luciana sArAIvA*****, Giuseppe Alexandre rOmitO******
72
Abordagem cirúrgica para o restabelecimento estético/funcional dos pacientes com fibromatose gengival hereditária
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 71-81, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
A fibromatose gengival hereditária (FGH) é
uma condição bucal rara, caracterizada clinica-
mente pelo crescimento contínuo e progressi-
vo do tecido gengival, que se apresenta com
coloração normal, de consistência firme, não
hemorrágica e assintomática3. Pode acome-
ter homens e mulheres na mesma frequência
(1:750.000)6,20. É também conhecida como
hiperplasia gengival hereditária, fibromatose
idiopática ou hipertrofia gengival6. Geralmente,
desenvolve-se como uma desordem isolada,
mas pode ser uma característica de muitas sín-
dromes, como as de Rutherfurd, Jones, Cross,
Ramon, Zimmerman-Laband, entre outras8.
Essa condição é, normalmente, identificada
como autossômica dominante, embora formas
recessivas já tenham sido descritas3.
O crescimento do tecido gengival, geral-
mente, se inicia com a irrupção dos dentes
permanentes, mas também pode se desen-
volver na dentadura decídua, sendo raro em
ambas as dentições4. Portanto, a presença de
dentes parece ser necessária para a FGH ocor-
rer, pois essa condição desaparece ou diminui
com sua perda6.
A FGH é classificada em dois tipos: forma
nodular localizada – caracterizada pela presen-
ça de múltiplos aumentos do tecido gengival
– e forma simétrica, desordem mais comum, re-
sultando em crescimento uniforme da gengiva.
Ambas as modalidades variam em forma e vo-
lume, podendo recobrir parcial ou totalmente as
coroas dentárias, não apresentando tendência à
regressão espontânea2,3.
A extensão e a severidade do comprome-
timento clínico podem variar de leve a grave
entre diferentes famílias com FGH e também
entre membros de uma mesma família16. As
formas isoladas de FGH podem resultar de
uma única mutação genética, e as formas as-
sociadas a síndromes decorrem de múltiplas
alterações genéticas9.
O crescimento gengival severo causa com-
prometimento estético e funcional nos indivídu-
os afetados. Os sinais clínicos mais comuns são
diastemas, mau posicionamento dentário, reten-
ção prolongada da dentadura decídua, atraso
na irrupção, mordida aberta e/ou cruzada e pro-
eminência labial2,12. O aumento gengival pode
interferir na fala, no selamento labial, na masti-
gação, oclusão e na aparência facial11.
Embora exista uma concordância nas moda-
lidades de tratamento em pacientes com FGH,
existe uma controvérsia na literatura no que diz
respeito ao momento exato para a realização
do tratamento cirúrgico5.
O tratamento depende da gravidade do
crescimento gengival e mostra um variado pa-
drão de sucesso. Quando o crescimento gen-
gival é mínimo, a raspagem, alisamento e poli-
mento coronário-radicular, a orientação quanto
à higiene bucal e uma eficiente higiene bucal
por parte do paciente parecem ser suficientes
para manter uma boa aparência gengival. Por
outro lado, quando o crescimento é severo, sua
remoção cirúrgica pode ser indicada. Atualmen-
te, o tratamento da FGH consiste em excisão
cirúrgica do tecido aumentado, para restaurar o
contorno gengival. Muitas técnicas podem ser
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Rodrigo Carlos N. de Castro-Pinto, Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando, Luiz Antônio Pugliesi Alves de Lima, Francisco Emílio Pustiglioni, Luciana Saraiva, Giuseppe Alexandre Romito
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 71-81, jul./ago./set. 2009
empregadas, como o uso de laser de dióxido de
carbono, utilizado com sucesso em alguns estu-
dos14. A gengivectomia/gengivoplastia conven-
cional pode ser utilizada nas áreas com falsas
bolsas, ou seja, sem perda de inserção perio-
dontal10. Procedimentos a retalho com excisão
da margem gengival devem ser utilizados quan-
do há necessidade de remoção de volume gen-
gival muito acentuado, evitando áreas cruentas
extensas no pós-operatório, e para acesso ao
tecido ósseo subjacente19. Quando possível, o
tratamento cirúrgico deve ser realizado após a
irrupção dos dentes permanentes, sendo a re-
corrência um achado comum, em diferentes in-
tervalos de tempo, parecendo estar relacionada
ao acúmulo de placa bacteriana1.
casO clínicO
Um paciente, do gênero masculino, com
34 anos de idade, leucoderma, apresentou-se
à Clínica de Pós-graduação da Disciplina de
Periodontia da Faculdade de Odontologia da
USP queixando-se de dores nos dentes e as-
pecto antiestético ao sorrir, devido ao aumen-
to da gengiva. O histórico médico do paciente
incluía comprometimento cardíaco (fibrilação
atrial crônica e insuficiência mitral discreta),
controlado com a utilização de medicamento
anticoagulante (Marcoumar®) e betabloquea-
dor (Atenolol®).
O aumento gengival foi observado pelo pa-
ciente aos 12 anos, na região anterior, o que
causou certo constrangimento em suas relações
sociais e retardou a irrupção dos dentes perma-
nentes. Aos 20 anos, foi observado o aumento
gengival na região posterior (antes da utilização
de medicamentos), dificultando a fonação, a de-
glutição e a respiração. O paciente relatou caso
semelhante na irmã e tio paterno, porém esses
casos não puderam ser confirmados.
A avaliação extrabucal revelou um perfil pro-
truído da maxila, com dificuldade no selamento
labial devido ao volume do tecido gengival na
região vestibular anterior (Fig. 1A). O pacien-
te demonstrou bastante constrangimento ao
sorrir, pois o lábio superior prendia-se acima
da área do aumento gengival, o que o tornava
mais evidente (Fig. 1B).
Ao exame intrabucal, observou-se cresci-
mento gengival severo generalizado, envolven-
do principalmente as faces vestibulares dos
dentes anterossuperiores e as faces vestibular
e palatina dos dentes posterossuperiores. Na
mandíbula, havia um aumento gengival severo
circundando os dentes posteriores. A maioria
dos dentes encontrava-se com mau posiciona-
mento e as coroas clínicas, parcial ou completa-
mente, recobertas por tecido gengival. O tecido
gengival apresentou consistência firme e fibrosa
à palpação, coloração rósea e alguns sinais in-
flamatórios, devido à dificuldade no controle de
placa pelo paciente (Fig. 2).
O exame radiográfico revelou reabsorção
óssea localizada no dente 37, e nas demais
regiões não foram observadas perdas ósseas
significativas. Foi observada também a presen-
ça de algumas raízes residuais.
Antes do início do tratamento periodon-
tal, solicitou-se avaliação por escrito do médi-
co cardiologista responsável, com relação às
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Abordagem cirúrgica para o restabelecimento estético/funcional dos pacientes com fibromatose gengival hereditária
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 71-81, jul./ago./set. 2009
Figura 1 - a) Perfil protruído mostrando dificuldade de selamento labial, devido ao aumento gengival. B) Aspecto do paciente ao sorrir, demons-
trando comprometimento estético/funcional devido ao aumento do tecido gengival na região anterior da maxila.
Figura 2 - Vista intrabucal do aumento gengival na região anterior
da maxila.
condições sistêmicas do paciente. Foram reali-
zados os procedimentos básicos com instrução
de higiene bucal, controle de placa bacteriana,
instrumentação periodontal supra e subgengival
com ultrassom e, posteriormente, sessões de
raspagem, alisamento e polimento coronário-
radicular com instrumentos manuais nos seis
sextantes, assim como procedimentos restau-
radores provisórios que se faziam necessários.
Após a reavaliação do paciente, iniciou-se a fase
de complementação cirúrgica.
O tratamento cirúrgico foi conduzido em
ambulatório em duas etapas, devido à condição
sistêmica do paciente. A medicação anticoagu-
lante foi interrompida pelo médico responsável
para realização dos procedimentos cirúrgicos.
Optou-se por realizar primeiramente a cirurgia
a retalho com excisão da margem gengival para
remoção de altura gengival e da maior espes-
sura de tecido conjuntivo possível, evitando-se
leito cirúrgico cruento extenso (Fig. 3). O tra-
tamento cirúrgico foi iniciado pela região ante-
rossuperior por razões estético-funcionais e a
pedido do paciente.
O pós-operatório mostrou um padrão satis-
fatório de reparação após três meses, com bom
controle do biofilme bacteriano pelo paciente,
mas apresentando ainda um aspecto irregular
de altura e espessura da margem gengival, ca-
racterizada pelo biótipo ósseo espesso do pe-
riodonto (Fig. 4). Devido a essas características
a B
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satisfatória com padrões de margem gengival e
de crista-óssea compatíveis com a saúde perio-
dontal, e de acordo com as expectativas estéti-
cas reais do paciente (Fig. 6).
Amostras do tecido gengival removido fo-
ram submetidas à avaliação histológica na Dis-
ciplina de Patologia Bucal da FOUSP. O resul-
tado confirmou o diagnóstico clínico de FGH,
revelando a presença de mucosa revestida por
epitélio pavimentoso estratificado, paraceratini-
zado, exibindo acantose, degeneração hidrópi-
ca e áreas de exocitose, além de projeções de
cristas epiteliais longas e finas que se estendem
profundamente na lâmina própria subjacente.
Essa era constituída por tecido conjuntivo den-
so, com feixes de fibras colágenas entrelaçadas
em diversas direções, e vasos sanguíneos de di-
versos tamanhos. Foi observada, também, área
restrita de intenso infiltrado inflamatório crônico,
que se estendia profundamente na lâmina pró-
pria (Fig. 7).
Figura 3 - a) Excisão de margem (remoção em altura do tecido gengival). B) Divisão do retalho (remoção em espessura do tecido conjuntivo).
Figura 4 - Pós-operatório cirúrgico da região anterior da maxila após
a primeira fase do tratamento cirúrgico.
clínicas, optou-se por realizar uma cirurgia a re-
talho de espessura total com excisão de mar-
gem, com o objetivo de melhorar o contorno
da margem gengival do paciente, associada à
cirurgia óssea (osteotomia/osteoplastia) para
diminuir a altura/espessura desse tecido (Fig.
5). Após o término da cirurgia, suturas foram
realizadas para a estabilização do retalho. No-
vamente, após a segunda intervenção cirúrgica,
o pós-operatório apresentou uma reparação
a B
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Figura 5 - a) Excisão de margem (melhora do contorno da margem gengival). B) Retalho de espessura total associado à osteotomia/osteoplastia
(diminuição em altura/espessura óssea).
Figura 6 - Pós-operatório de 6 meses, mostrando um padrão estético satisfatório e funcional, compatível com a saúde periodontal do paciente.
a B
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Figura 7 - Avaliação histológica: presença de epitélio pavimento-
so estratificado e tecido conjuntivo denso. Nota-se as projeções de
cristas epiteliais longas e finas que se estendem profundamente na
lâmina própria subjacente.
discussãO
Além das formas adquiridas (inflamação
pela presença de biofilme bacteriano, infiltra-
ção leucêmica) e sindrômicas, o crescimento
gengival pode ser induzido pelo uso de dife-
rentes medicações, como: anticonvulsivantes
(fenitoína), imunossupressores (ciclosporina) e
bloqueadores de canais de cálcio (nifedipina)18.
Esse artigo descreveu um caso de fibromatose
gengival hereditária, forma rara, que se desen-
volveu como um fenótipo isolado. Além disso, o
paciente apresentava fibrilação atrial crônica e
insuficiência mitral discreta, fazendo utilização
de medicamentos como bloqueadores de canal
de cálcio e anticoagulantes, para evitar a ocor-
rência de formação de trombos. Na literatura,
não foi encontrado nenhum relato de FGH as-
sociada a desordens cardíacas.
Na primeira anamnese e exame clínico do
paciente, suspeitou-se de aumento gengival ad-
quirido pela utilização de betabloqueadores. No
entanto, o paciente relatou que o aumento gen-
gival era preexistente à utilização da medicação
(12 anos de idade) e referiu à ocorrência de
um quadro clínico semelhante na irmã e no tio
paterno. Alguns autores relataram dominância
autossômica em uma avaliação de quatro gera-
ções, havendo 50 indivíduos, dos 105 avaliados,
com FGH3. Baptista1 descreveu um caso no qual
a paciente tinha a mãe, a irmã e a sobrinha com
as mesmas condições. Kelekis-Cholakis, Wiltshi-
re e Birek12, encontraram envolvimento na mãe,
tio e avô maternos da paciente avaliada.
O desenvolvimento gengival ocorre, nor-
malmente, com a irrupção dos dentes perma-
nentes17 ou, menos frequentemente, com a
dentadura decídua2. O paciente desse estudo
relatou perceber o aumento gengival desde a
dentadura decídua, o que retardou a irrupção
dentária permanente e dificultou seu convívio
social durante a infância.
No presente relato, o aumento gengival era
generalizado e evidenciado tanto na face vesti-
bular quanto na face lingual da maxila e da man-
díbula. Além disso, o paciente apresentou sinais
característicos comuns de FGH, como diastemas,
mau posicionamento dentário, retenção prolon-
gada da dentadura decídua, atraso na irrupção
dos dentes permanentes e proeminência labial. O
aumento gengival interferia na fala, no selamen-
to labial, na mastigação, oclusão e na aparência
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Abordagem cirúrgica para o restabelecimento estético/funcional dos pacientes com fibromatose gengival hereditária
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 71-81, jul./ago./set. 2009
facial, como relatado na literatura11. Um aspecto
interessante do presente caso foi o relato do pa-
ciente quanto à melhora em sua respiração após
a remoção do aumento gengival na região pos-
terior da maxila. Na literatura, não foi identificado
nenhum relato que correlacionasse o aumento
gengival com a dificuldade na respiração.
Na FGH, o crescimento gengival pode ser
causado pelo aumento no número de células
no colágeno extracelular ou em outros consti-
tuintes extracelulares13. Os autores observaram
maior número de fibroblastos presentes no te-
cido conjuntivo e maior taxa proliferativa dos
mesmos nas amostras de FGH, comparadas
aos controles.
Os mecanismos relacionados ao aumento do
tecido gengival ainda não foram completamente
esclarecidos, mas a variação na expressão clíni-
ca da FGH pode ser resultado de diferentes etio-
logias11. Sendo assim, o diagnóstico da FGH é
baseado no histórico médico e no exame clínico,
já que ainda não existem marcadores imunohis-
toquímicos específicos disponíveis7.
O exame histológico realizado a partir dos
tecidos oriundos desse paciente confirmou as
características da FGH já descritas previamente:
tecido conjuntivo denso com fibras colágenas
finas e espessas, alternadamente; e epitélio
hiperplásico exibindo aparência pseudoepitelio-
matosa, com projeções longas e finas dentro do
tecido conjuntivo12,19. Nessa avaliação, obser-
vou-se a presença de discreto infiltrado inflama-
tório crônico, justa epitelial e perivascular, e in-
tenso infiltrado crônico que se estendia profun-
damente na lâmina própria. A FGH geralmente
não envolve inflamação, mas o acúmulo local de
células inflamatórias pode ser encontrado em
casos com formação de falsas bolsas e acúmulo
de placa bacteriana7.
Em relação ao melhor momento para a rea-
lização do tratamento cirúrgico, alguns autores
afirmam que o melhor período ocorre após a
irrupção de toda a dentadura permanente, pois
o risco de recorrência é maior antes desse pe-
ríodo1,6,12,16. No entanto, em alguns casos, a de-
mora no tratamento cirúrgico pode causar con-
sequências significativas para o paciente, como
a retenção da dentadura decídua, retardo na
irrupção dos dentes permanentes, dificuldades
na fonação e mastigação, mau posicionamento
dos dentes, efeitos estéticos e psicológicos para
o paciente e sua família1,2,4,17. Nesse paciente, o
tratamento cirúrgico foi realizado na fase adulta,
visto que, no passado, ele havia sido orientado,
por inúmeros profissionais, a procurar tratamen-
to apenas nessa fase. O que vai determinar qual
o melhor momento para o tratamento talvez
sejam as alterações funcionais e estéticas, po-
dendo ser realizado até mesmo na dentadura
decídua, se o paciente estiver motivado quanto
aos cuidados de higiene bucal e empenhado
em colaborar com o mesmo.
O tratamento da FGH varia de acordo com
o grau de severidade e extensão do aumento
gengival. Quando o aumento gengival é mínimo,
a raspagem e alisamento radicular e um bom
controle de placa bacteriana podem ser sufi-
cientes para a manutenção de uma boa higie-
ne bucal e aparência gengival5. Por outro lado,
nos casos mais severos, há comprometimento
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Rodrigo Carlos N. de Castro-Pinto, Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando, Luiz Antônio Pugliesi Alves de Lima, Francisco Emílio Pustiglioni, Luciana Saraiva, Giuseppe Alexandre Romito
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estético, funcional e – em alguns casos – social,
havendo a necessidade de intervenção cirúrgi-
ca17. Em casos de comprometimento genera-
lizado, pode-se optar por procedimentos cirúr-
gicos em todos os quadrantes, sob anestesia
geral. Alguns autores recomendam, em casos
severos, a excisão do tecido associada à extra-
ção de todos os dentes, já que não há recidiva
na ausência dos dentes20. Outros autores su-
geriram um protocolo mais agressivo, com re-
moção cirúrgica em âmbito hospitalar do tecido
gengival, dentes e do processo alveolar, para
evitar recidivas frequentes15. O que vai realmen-
te importar é um bom programa de controle e
manutenção, visto que a recidiva parece estar
relacionada ao acúmulo de biofilme bacteriano1.
Nos comprometimentos passíveis de trata-
mento em ambulatório, os procedimentos mais
utilizados são a gengivectomia/gengivoplastia e
cirurgias a retalho, sendo essas últimas priori-
zadas em áreas de grandes crescimentos gen-
givais ou perda de inserção e defeitos ósseos.
No presente caso, optou-se por procedimentos
a retalho em duas etapas, devido à presença
de extenso crescimento gengival e um biótipo
ósseo espesso. A primeira etapa cirúrgica con-
sistiu em cirurgia a retalho com excisão de mar-
gem gengival, para remoção em altura e maior
espessura de tecido conjuntivo possível, evitan-
do-se um leito cirúrgico cruento extenso. A se-
gunda etapa consistiu em cirurgia a retalho de
espessura total, associada à excisão de margem
gengival, com o objetivo de melhorar o contor-
no da margem gengival do paciente, associada
ao recontorno ósseo (osteotomia/osteoplastia)
com o objetivo de diminuir a altura/espessura
do tecido ósseo. Comparados à gengivectomia/
gengivoplastia, os retalhos periodontais são
mais favoráveis, devido ao menor desconforto
pós-operatório, por apresentarem cicatrização
por primeira intenção19, e por permitirem o
acesso direto ao tecido ósseo caso haja a ne-
cessidade da sua correção. Além desses fatores,
o extenso crescimento gengival dificulta a ras-
pagem e o alisamento radicular durante os pro-
cedimentos básicos, e os retalhos periodontais
melhoram o acesso para completa remoção do
cálculo subgengival que possa ter permanecido.
Pela condição sistêmica do paciente, por reco-
mendação médica e pelo biótipo periodontal do
paciente, o tratamento cirúrgico foi realizado em
várias etapas.
Sete procedimentos cirúrgicos a retalho, nos
seis sextantes, foram realizados até o presente
momento, proporcionando melhores condições
estéticas, funcionais e psicológicas ao paciente,
que se mostra motivado quanto ao controle do
biofilme bacteriano e consultas de retorno.
De acordo com a literatura, há possibilida-
de de recidiva, no entanto, o grande benefício
psicológico, estético e funcional dos procedi-
mentos cirúrgicos supera o receio, por parte
dos pacientes afetados, de recorrências1. Os
resultados encontrados na literatura são muito
variáveis. Não foram observadas recorrências
entre 2 e 14 anos de acompanhamento2,17, no
entanto, alguns estudos mostraram recidivas
após 20 meses e 2 anos1,19. O paciente do pre-
sente caso foi informado quanto à possibilidade
de recorrências.
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Abordagem cirúrgica para o restabelecimento estético/funcional dos pacientes com fi bromatose gengival hereditária
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aBstract
Hereditary gingival fi bromatosis (HGF) is a rare buccal condition, characterized by a continuous and progressive enlargement of the maxillary and mandibular gingiva. The severe gingival overgrowth causes functional and aesthetic problems with common clinical aspects as diastemas, irregular dental positioning and labial prominence. This article describes the surgical treatment in 2 stages of a man who presented himself at the University of São Paulo (FOUSP) complaining of unfavorable smile aspect due to the gingival overgrowth. First stage consisted of a partial fl ap with internal bevel incision to remove height/thickness of the connective tissue. In the second stage mucoperiostal fl aps with internal bevel incision were made to access the bone and to improve the contour of the gingival tissue. The postoperative course showed a satisfactory healing with a compatible relation between gingival tissue/bone crest, periodontal health and the aesthetic expectations of the patient. Histological examination of gingival specimens supported the clinical diagnosis of HGF. Considering the limitations of a case report, an alternative is presented to demonstrate the association of surgical techniques if well indicated and a possible surgical approach for functional and aesthetic reestablishment of the patients with HGF.
KEYWORDS: Hereditary gingival fi bromatosis. Gingival hyperplasia. Gingivectomy. Mucoperiostal fl ap.
81
Rodrigo Carlos N. de Castro-Pinto, Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando, Luiz Antônio Pugliesi Alves de Lima, Francisco Emílio Pustiglioni, Luciana Saraiva, Giuseppe Alexandre Romito
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 71-81, jul./ago./set. 2009
rodrigo C. n. Castro-PintoAv. Professor Lineu Prestes, nº 2227, Cidade UniversitáriaCEP: 05.508-900 - São Paulo/SPE-mail: [email protected]
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Oxford University, 1992. p. 29-31.
caso clínico
82 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 82-91, jul./ago./set. 2009
* Especialista em Periodontia pela APCD Araçatuba.
Aluna do curso de mestrado em Odontologia, área de
concentração Ortodontia, da Faculdade de Odontolo-
gia de Araçatuba/UNESP.
** Aluna do curso de mestrado em Odontologia, área de
concentração Ortodontia, da Faculdade de Odontolo-
gia de Araçatuba/UNESP.
*** Livre docente e professor titular doutor da disciplina
de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Ara-
çatuba/UNESP.
**** Livre docente e professor titular doutor da disciplina
de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Ara-
çatuba/UNESP.
Palavras-chave
Ortodontia. Periodontia. Gengivite.
resumo
Objetivo: a hiperplasia gengival é uma lesão associada à placa bacteriana e
fatores secundários, que podem ser medicamentosos, inflamatórios e hormonais,
além de fatores de riscos locais, como o tratamento ortodôntico. O tratamento
para a hiperplasia gengival baseia-se no controle da placa bacteriana e elimina-
ção ou controle dos fatores de risco. Entretanto, a sequela deve ser tratada por
técnicas cirúrgicas periodontais, como a gengivoplastia. No caso clínico apresen-
tado neste artigo, ressaltamos a importância da integração entre a Ortodontia e
a Periodontia durante o tratamento ortodôntico. métodos: paciente leucoderma,
de 15 anos de idade, apresentava hiperplasia gengival nos arcos dentários su-
perior e inferior, nas faces vestibulares e linguais, devido ao aumento de placa
bacteriana, causado pelo uso de aparelho ortodôntico fixo associado à alteração
hormonal. resultados: após o controle do fator etiológico placa bacteriana –
através de raspagem e alisamento, e orientação de fisioterapia bucal –, a corre-
ção da sequela da hiperplasia foi realizada através da gengivoplastia, que recupe-
rou o contorno normal da gengiva marginal, possibilitando o prosseguimento do
tratamento ortodôntico. Conclusão: é importante a multidisciplinaridade entre o
ortodontista e o periodontista para que, em conjunto, estabeleçam um programa
de tratamento, visando a prevenção e a qualidade do tratamento ortodôntico,
fornecendo estética e preservando a saúde dos tecidos periodontais.
A importância da integração orto-perio
durante o tratamento ortodôntico: relato de
caso clínico
Juliana Kina*, Talita Farias miKsza**, Eduardo César Almada santOs***,
Francisco Antonio BErtOz***, José Ricardo Kina****
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Juliana Kina, Talita Farias Miksza, Eduardo César Almada Santos, Francisco Antonio Bertoz, José Ricardo Kina
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 82-91, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
A terapia ortodôntica tem como objetivo
estabelecer uma oclusão funcional e estética16,
promovendo condições periodontais saudáveis
e aumentando a longevidade da dentição1,21.
A saúde periodontal em pacientes que neces-
sitam de tratamento ortodôntico tem recebido
atenção de ortodontistas e periodontistas por
muitas décadas4,13,22,25,26,29. A hiperplasia gen-
gival de origem inflamatória é a mais frequen-
te alteração periodontal durante o tratamento
ortodôntico, sendo caracterizada por aumento
volumétrico do tecido gengival, podendo ser
generalizada ou localizada15. Apresenta como
fator etiológico principal a placa bacteriana as-
sociada a fatores de risco de ordem local e/ou
geral. Os fatores de risco de ordem geral podem
estar associados, principalmente, ao estresse e
às alterações hormonais, enquanto as altera-
ções de ordem local podem estar associadas
ao tratamento ortodôntico – que devido à sua
característica (uso de braquetes, bandas metá-
licas, elásticos e arcos) pode dificultar a higiene
bucal adequada, resultando em um maior acú-
mulo de placa bacteriana e contribuindo para
o desenvolvimento da inflamação e hiperplasia
gengival23,27. A extensão da hiperplasia pode
variar desde uma leve mudança no contorno da
papila gengival até a completa cobertura dos
dentes, interferindo na oclusão, mastigação, fo-
nação e estética. Ocorre principalmente na face
vestibular dos dentes anteriores, porém todos
os segmentos da dentição podem ser afeta-
dos18. O próprio aumento volumétrico gengival
pode, em determinado momento, agir como um
fator de risco para a doença periodontal, pois
pode promover o aparecimento de regiões nas
quais a realização da higiene fica extremamente
difícil, o que as torna mais propensas ao desen-
volvimento de cáries e doença periodontal9.
Previamente a qualquer tratamento orto-
dôntico, os tecidos periodontais devem estar
sadios6,8,19,28,30. O tratamento ortodôntico feito
em pacientes com doença periodontal, pode
contribuir para o colapso dos tecidos periodon-
tais de suporte, pois a associação de forças or-
todônticas com os tecidos periodontais doentes
pode induzir a destruição do periodonto8.
Quando o paciente é diagnosticado como
portador de doença periodontal, os procedi-
mentos básicos podem controlar e/ou eliminar
os fatores etiológicos de ordem geral e/ou lo-
cal, devolvendo saúde aos tecidos periodontais.
Entretanto, para o tratamento da hiperplasia
gengival – uma das sequelas da doença perio-
dontal –, procedimentos cirúrgicos periodontais
podem ser necessários13.
prOpOsiçãO
O presente trabalho tem como objetivo
mostrar a importância da interação entre a
Ortodontia e a Periodontia. Neste caso clínico,
mostramos o tratamento da hiperplasia gengi-
val em um paciente que estava sob tratamento
ortodôntico e apresentava aumento volumétrico
gengival nos arcos superior e inferior, causado
pela associação entre a placa bacteriana e fato-
res de risco para a doença periodontal. Também
será discutido o melhor momento para a inter-
venção periodontal, enfatizando principalmente
84
A importância da integração orto-perio durante o tratamento ortodôntico: relato de caso clínico
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 82-91, jul./ago./set. 2009
os fatores etiológicos que podem desencadear
o colapso do tratamento ortodôntico devido às
alterações patogênicas dos tecidos periodon-
tais, que podem ser evitadas principalmente se
o tratamento ortodôntico for planejado respei-
tando-se os aspectos da biologia dos tecidos
periodontais.
rElatO dO casO clínicO
Um paciente leucoderma, do gênero mas-
culino, com 15 anos de idade, procurou con-
sultório particular com aparelho ortodôntico
fixo instalado, apresentando comprometimento
periodontal.
Clinicamente, o paciente apresentava hiper-
plasia gengival nos arcos superior e inferior, de
aspecto liso, brilhante e com sangramento ao
toque (Fig. 1).
Após a anamnese, exame clínico e radiográ-
fico, foram realizados raspagem e alisamento
com aparelho de ultrassom e curetas conven-
cionais, estabelecendo-se, na sequência, um
plano de higiene e fisioterapia bucal. Em segui-
da, o paciente foi encaminhado ao ortodontista
para a remoção do aparelho ortodôntico. Para
a eliminação das alterações hiperplásicas, foi
aplicada a técnica da gengivoplastia, iniciada
pelo arco superior. Após a assepsia, realizou-se
Figura 1 - Aspecto clínico inicial da hiperplasia gengival nos arcos superior e inferior.
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anestesia infiltrativa e o tecido hiperplásico foi
removido (Fig. 2 - 5). A ferida foi protegida com
cimento cirúrgico por 7 dias. Foram prescritos
anti-inflamatório e analgésico durante 3 dias.
No pós-operatório de um mês, observou-se
uma gengiva saudável, com contorno regular,
coloração normal, ausência de sangramento e
edema (Fig. 6). Os mesmos procedimentos fo-
ram aplicados no arco inferior, com a obtenção
dos mesmos resultados (Fig. 7, 8).
Figura 3 - Tecido gengival hiperplásico removido das paredes moles das falsas bolsas periodontais.
Figura 2 - Incisão para eliminar as falsas bolsas periodontais – faces vestibular (a) e palatina (B).
a B
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Figura 4 - Aspecto cruento da gengiva após a remoção do tecido gengival hiperplásico – faces vestibular (a) e palatina (B).
Figura 8 - Aspecto clínico final da gengivoplastia e recolagem do
aparelho fixo no arco superior.
Figura 7 - Aspecto da gengivoplastia no arco inferior.
Figura 5 - Contorno gengival remodelado – face vestibular. Figura 6 - Aspecto clínico vestibular do arco superior, com 1 mês
de pós-operatório.
a B
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discussãO
A Ortodontia e a Periodontia são especialida-
des distintas e intimamente relacionadas, pois as
movimentações dentárias ocorrem a expensas
das estruturas dos tecidos periodontais2. Muitos
estudos têm demonstrado que forças ortodônti-
cas excessivas aplicadas aos dentes podem in-
duzir alterações patológicas no ligamento perio-
dontal, no cemento e no osso alveolar2,5. Quan-
do uma força ortodôntica é aplicada ao dente,
seus tecidos periodontais de suporte são dire-
tamente afetados devido à ocorrência de uma
área de pressão no ligamento periodontal, o que
provoca alterações agressivas que consistem em
compressão das fibras de tecido conjuntivo, va-
sos e nervos e a determinação de uma resposta
inflamatória aguda, promovendo reabsorção da
parede óssea alveolar12. No lado de tração do
ligamento periodontal, ocorre estiramento das
fibras colágenas e, dependendo da magnitude,
do modo de aplicação e da duração da força or-
todôntica, podem ocorrer rupturas dessas fibras
com caráter reversível, desde que a fase de infla-
mação aguda, causada pela aplicação da força,
seja seguida de uma fase estável e reparativa,
que resultará na reconstituição dos tecidos pe-
riodontais de suporte5,11.
A doença periodontal é uma doença com
característica multifatorial que tem como agente
etiológico essencial o acúmulo de placa bacte-
riana ao redor da superfície dentária na região
do sulco gengival. Devido à etiologia multifatorial
da doença periodontal, a placa bacteriana preci-
sa estar associada a uma complexa interação de
fatores de risco, de ordem local e/ou sistêmicos,
para induzir a destruição dos tecidos periodon-
tais24. Os acessórios ortodônticos (braquetes,
bandas metálicas, elásticos e arcos) atuam como
fatores locais de risco, promovendo maior reten-
ção de placa bacteriana e dificultando a promo-
ção de higiene e fisioterapia bucal3, aumentando
a possibilidade de interações entre um número
maior de microrganismos patogênicos, facilitando
a instalação de alterações inflamatórias na gengi-
va marginal, podendo determinar o início da do-
ença periodontal. O processo inflamatório inicial,
provocado pelo acúmulo de placa bacteriana ao
redor dos dentes, denominado gengivite, pode
promover alterações volumétricas nos tecidos
gengivais marginais, o que caracteriza a forma-
ção de falsas bolsas periodontais. Essas falsas
bolsas periodontais podem e devem ser conside-
radas um novo fator de risco, que se estabelece
no decorrer da progressão da doença periodon-
tal, dificultando a higiene, causando uma maior
propensão às cáries, por criarem nichos mais
favoráveis para o crescimento e organização de
bactérias mais agressivas em seu interior3,24.
O tratamento ortodôntico, que é agressivo ao
periodonto, pode induzir uma inflamação aguda,
tornando-se, em algumas situações, um fator de
risco quando associado à placa bacteriana no
estabelecimento da doença periodontal3. En-
tretanto, na maioria das vezes, os tratamentos
ortodônticos são bem sucedidos, sem promover
ocorrência de doença periodontal destrutiva,
principalmente quando forças ortodônticas ide-
ais são aplicadas. Esse sucesso no tratamento
ortodôntico, sem produção de sequelas nos te-
cidos periodontais, pode estar associado à faixa
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etária dos pacientes, que na maioria dos casos
se encontram na puberdade, apresentando alta
resistência por estarem com seu potencial de
crescimento e renovação celular altamente exa-
cerbado, o que pode suplantar os fatores etioló-
gicos da doença periodontal, como a placa bac-
teriana, alteração hormonal, forças ortodônticas
e acessórios ortodônticos retentores de placa
bacteriana. No entanto, não se pode subestimar
a placa bacteriana, que pode, junto com os fato-
res inerentes ao tratamento ortodôntico, induzir
a doença periodontal2.
A doença periodontal pode estar localizada
e ser destrutiva em determinado dente ou grupo
de dentes ou, ainda, em determinadas regiões
do arco dentário de um mesmo indivíduo, duran-
te o tratamento ortodôntico. Esse fato ocorre,
provavelmente, porque nesses locais a presença
de alguns fatores de risco poderia favorecer a
colonização e o crescimento microbiano, interfe-
rir com o controle de placa, e/ou alterar a susce-
tibilidade dos tecidos periodontais, diminuindo a
resistência local10. Devido a esses motivos, todo
paciente ortodôntico deve ser criteriosamente
avaliado pelo periodontista antes do início do
tratamento ortodôntico, para o diagnóstico dos
fatores etiológicos da doença periodontal, deven-
do, quando necessário, ser submetido à terapia
periodontal prévia de controle e/ou eliminação
de todos os fatores etiológicos, de ordem local
e/ou geral, da doença periodontal4. Não deve-
mos considerar apto ao tratamento ortodôntico
aquele paciente cujo aspecto periodontal pare-
ça saudável, sem alterações periodontais, sem
sangramento gengival à sondagem e com boa
higiene bucal, mas sim aquele paciente em que
todos os fatores de risco, além da placa bacte-
riana, estejam diagnosticados, controlados e/ou
eliminados15,20. Quando o paciente já apresenta
doença periodontal, essa deve ser diagnosticada
e tratada, com interrupção do tratamento orto-
dôntico. Se necessário, a sequela da doença pe-
riodontal, como a alteração volumétrica gengival,
deve ser corrigida cirurgicamente, principalmente
para dificultar o acúmulo de placa bacteriana e
facilitar a higiene e fisioterapia bucal. Portanto,
as sequelas da doença periodontal devem ser
tratadas, para não tornarem-se novos fatores de
risco que possam predispor o prosseguimento
da doença periodontal2,14.
Neste caso clínico, o paciente procurou tra-
tamento periodontal após o início do tratamento
ortodôntico, o que provavelmente fez com que
ocorresse o desenvolvimento da doença perio-
dontal. A sequência correta para o tratamento do
paciente deveria ser baseada, em primeiro lugar,
no controle e/ou eliminação de todos os fatores
etiológicos e de risco para a doença periodontal,
seguido pela instituição do tratamento ortodôn-
tico, realizando-se, ainda, controles periódicos
longitudinais pelo periodontista, além daqueles
realizados pelo ortodontista. Nesse caso clíni-
co, controlou-se o agente etiológico principal da
doença periodontal através de raspagem com
ultrassom e alisamento com curetas convencio-
nais, e estabeleceu-se um rígido programa de hi-
giene e fisioterapia bucal, com acompanhamento
periódico a cada três meses. Aplicou-se a técnica
de gengivoplastia, para corrigir a hiperplasia gen-
gival, o que poderia auxiliar na retenção de maior
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quantidade de placa bacteriana14.
A técnica de gengivoplastia foi preconiza-
da devido ao paciente apresentar uma faixa de
gengiva ceratinizada adequada e não possuir
perda de inserção periodontal, possibilitando a
eliminação das falsas bolsas periodontais e a re-
cuperação do contorno estético gengival, o que
transformou a bolsa gengival de difícil higieniza-
ção em um sulco gengival com características de
normalidade e fácil higienização10,13.
cOnclusõEs
As más oclusões e o tratamento ortodôn-
tico não planejado de maneira adequada para
preservar os tecidos periodontais de suporte
podem, em associação com a placa bacteriana,
determinar a doença periodontal.
A associação de placa bacteriana com fatores
de risco locais – como acessórios ortodônticos
(braquetes, bandas metálicas, elásticos e arcos)
que retêm maior quantidade de placa e difi cul-
tam a higienização – e/ou fatores de risco de
ordem geral, que alteram a resposta infl amatória
do hospedeiro, pode levar ao desenvolvimento
da doença periodontal, que se não diagnosticada
precocemente poderá levar a um extenso com-
prometimento periodontal.
É necessário que o ortodontista e o perio-
dontista estabeleçam um programa de tratamen-
to em conjunto, visando a prevenção e a qualida-
de do tratamento ortodôntico, para preservar a
saúde dos tecidos periodontais.
The importance of ortho-perio integration
during orthodontic treatment: case reportaBstract
Objective: The gingival hyperplasia is an injury associated with plaque and secondary factors that can be medicative, infl ammatory, hormonal, and local risk factors such as orthodontic treatment. Treatment for gingival hyperplasia is based on the plaque control and elimination or control of risk factors. The sequel should be treated by surgical techniques such as periodontal gengivoplasty. In this case report we highlight the interaction between Periodontics and Orthodontics during orthodontic treatment. methods: A 15 years old leucoderm patient presented gingival hyperplasia in the upper and lower arches in the buccal and lingual aspects due to increased plaque caused by the use of fi xed orthodontic appliance associated with hormonal changes. results: After control of the etiological factor plaque through scaling and root planning, orientation of oral therapy, the correction of sequelae hyperplasia was performed by gengivoplasty which recovered the normal contour of the marginal gingiva allowing further orthodontic treatment. conclusion: It is important to multidisciplinarity between the orthodontist and periodontists to jointly establish a treatment program aiming the prevention and quality of orthodontic treatment by providing aesthetics and preserving the health of periodontal tissues.
KEYWORDS: Orthodontics. Periodontics. Gingivitis.
90
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Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 82-91, jul./ago./set. 2009
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Juliana Kina, Talita Farias Miksza, Eduardo César Almada Santos, Francisco Antonio Bertoz, José Ricardo Kina
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 82-91, jul./ago./set. 2009
juliana KinaRua Tiradentes, 956 – Vila MendonçaCEP: 16.015-020 – Araçatuba / SPE-mail: [email protected]
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caso clínico
92 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 92-101, jul./ago./set. 2009
* Mestre e doutorando em Reabilitação Oral da Facul-
dade de Odontologia de Bauru – Universidade de São
Paulo (FOB-USP).
** Mestre em Periodontia e doutorando em Reabilitação
Oral pela Faculdade de Odontologia de Bauru – Uni-
versidade de São Paulo (FOB-USP).
*** Professora doutora do departamento de Prótese (Dis-
ciplina de Periodontia) da Faculdade de Odontologia
de Bauru – Universidade de São Paulo (FOB-USP).
**** Professor doutor titular do departamento de Prótese
da Faculdade de Odontologia de Bauru – Universida-
de de São Paulo (FOB-USP).
Palavras-chave
Desenho de prótese. Procedimentos
cirúrgicos bucais. Reabilitação bucal.
resumo
Alterações anatômicas no rebordo alveolar – como a perda das papilas in-
terproximais, do contorno do arco côncavo regular e a diminuição tanto da
espessura quanto da altura do rebordo – dificultam o correto relacionamento
entre o pôntico e o rebordo alveolar, e podem comprometer o resultado estéti-
co final. As depressões no rebordo alveolar podem ser resultado de extrações
traumáticas ou de extrações de dentes com perda óssea avançada devido à
doença periodontal ou relacionada com patologias apicais. Essas deformações
desafiam a reabilitação protética, exigindo procedimentos corretivos tanto cirúr-
gicos quanto protéticos. Inúmeras técnicas têm sido utilizadas para reconstituir
cirurgicamente os rebordos alveolares. Contudo, o enxerto de tecido conjuntivo
subepitelial é a técnica que apresenta melhor resultado estético, pois permite
semelhança de cor, de textura e de contorno do rebordo reconstituído com as
áreas adjacentes. Abrams, em 1980, descreveu a técnica de enxerto de tecido
conjuntivo subepitelial em “rolo”, aonde o enxerto é rodado para a área recep-
tora. Scharf e Tarnow, em 1992, modificaram a técnica de Abrams mantendo
o pedículo de tecido epitelial, o qual é utilizado para recobrir a área doadora. A
região do segundo pré-molar superior apresentava-se com perda do contorno
gengival fisiológico, interferindo no tratamento protético. A técnica cirúrgica de
enxerto de tecido conjuntivo subepitelial em “rolo” e os passos clínicos do
condicionamento tecidual são descritos. No caso apresentado, ambas as téc-
nicas são previsíveis e contribuíram para proporcionar melhores características
estéticas, assim como melhorar o relacionamento entre o pôntico e o rebordo.
Recuperação do relacionamento entre
pôntico e rebordo alveolar utilizando
técnica de enxerto conjuntivo em “rolo” e
condicionamento tecidual: relato de caso
Fabio Cesar lOrEnzOni*, Renata Rodrigues de Freitas BlaGitz**, Pedro cOEsta**,
Maria Lucia Rubo de rEzEndE***, Accácio Lins do vallE****,
Luiz Fernando pEGOrarO****, Gerson BOnfantE****
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Fabio Cesar Lorenzoni, Renata Rodrigues de Freitas Blagitz, Pedro Coesta, Maria Lucia Rubo de Rezende, Accácio Lins do Valle, Luiz Fernando Pegoraro, Gerson Bonfante
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 92-101, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
A extração dentária é um procedimento co-
mum e o processo fisiológico de cicatrização
resulta em uma significativa perda de tecido
ósseo, com consequente colapso do tecido
gengival17, que pode variar em tamanho e con-
torno11. As prováveis causas da deformação do
rebordo estão relacionadas à perda do tecido
após a extração, doença periodontal ou pato-
logia apical5,7.
Tratamentos com implantes dentários são
rotineiramente indicados e apresentam vanta-
gens em relação à prótese parcial fixa e à pró-
tese parcial removível, como a preservação da
integridade dos dentes adjacentes, a estabilida-
de em longo prazo do tecido ósseo e manuten-
ção do tecido gengival16, além da previsibilidade
do tratamento e do comportamento em longo
prazo8. Portanto, constituem a melhor opção de
tratamento para áreas edêntulas. Entretanto, o
plano de tratamento também deve incluir tanto
a opinião do paciente quanto o custo do tra-
tamento. Assim, outros planos de tratamento
devem ser considerados, mesmo que menos
convenientes do ponto de vista biológico.
Quando a prótese parcial fixa é indicada, a
reabilitação cirúrgica da área edêntula pode ser
necessária, em detrimento de mudanças fun-
cionais e anatômicas que ocorrem no rebordo
alveolar após a exodontia. Devido ao colapso
do rebordo, torna-se difícil construir um pôntico
com tamanho e forma adequados, acarretando
em uma relação desfavorável entre pôntico e
rebordo alveolar5. A correção de defeitos estéti-
cos no rebordo alveolar é um desafio protético,
e solucionar esse problema somente através de
procedimentos restauradores, frequentemente,
produz resultados aquém do ideal21. Técnicas
cirúrgicas periodontais, notadamente as de en-
xerto de tecido conjuntivo, devem ser empre-
gadas18.
Vários métodos têm sido desenvolvidos
para permitir a reconstrução das deformidades
do rebordo alveolar antes da instalação da pró-
tese permanente11. Abrams, Kopczk e Kaplan1
descreveram uma técnica de enxerto de tecido
conjuntivo em “rolo”, a qual foi modificada por
Scharf e Tarnow13, para preservar o tecido epi-
telial de maneira a recobrir e proteger a área
doadora.
O objetivo desse artigo é relatar e discutir o
aumento do volume do rebordo alveolar defei-
tuoso, na região de segundo pré-molar superior,
assim como a técnica empregada para o condi-
cionamento tecidual.
casO clínicO
Paciente de 51 anos de idade compareceu
à clínica de Pós-Graduação de Reabilitação Oral
da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/
USP) com queixa relacionada à deficiência es-
tética ocasionada pela ausência dentária do se-
gundo pré-molar superior direito (dente 15). O
exame clínico revelou perda de estrutura dentá-
ria acentuada e generalizada, tanto no arco su-
perior quanto no inferior, provavelmente relacio-
nada com o hábito parafuncional (bruxismo),
exigindo procedimentos de reabilitação bucal.
A primeira alternativa de tratamento indicava a
instalação de implante na região edêntula, para
94
Recuperação do relacionamento entre pôntico e rebordo alveolar utilizando técnica de enxerto conjuntivo em “rolo” e condicionamento tecidual: relato de caso
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 92-101, jul./ago./set. 2009
o restabelecimento estético e funcional. Entre-
tanto, essa opção de tratamento foi recusada
pelo paciente. Assim, para a substituição do ele-
mento dentário ausente, foi indicada uma pró-
tese parcial fixa de 3 elementos, considerando
que o preparo total dos dentes adjacentes seria
realizado em função do plano de tratamento
para a reabilitação bucal do paciente (Fig. 1).
Examinando atentamente o espaço edêntulo,
nota-se a perda dos contornos fisiológicos e do
arco côncavo regular, devido à extração dentária
traumática (Fig. 2). Um grande defeito, tanto no
sentido vertical quanto horizontal, classificado
como de Classe III15, comprometia a confecção
de um pôntico com características adequadas.
Consequentemente, o relacionamento entre o
pôntico e o rebordo seria complicado e com al-
gum grau de comprometimento estético.
O primeiro passo foi a realização dos prepa-
ros protéticos dos dentes pilares, seguida pela
confecção de uma ponte fixa provisória imediata,
com a finalidade de funcionar como guia durante
a correção cirúrgica do rebordo (Fig. 3). Após
esse preparo prévio, planejou-se o procedimen-
to cirúrgico.
O procedimento cirúrgico consistiu de uma
primeira incisão horizontal, em nível de tecido
epitelial, na região de palato adjacente à região
edêntula, com a forma retangular, iniciando in-
trassulcularmente na mesial do 14, estendendo-
se para o palato e terminando no sulco gengival
do 16. O passo seguinte foi a dissecação, parale-
la à superfície palatina do tecido epitelial, a fim de
expor o tecido conjuntivo subjacente. Um leito foi
realizado na superfície vestibular do rebordo em
direção apical, com um retalho de espessura par-
cial, para receber o enxerto conjuntivo (Fig. 4).
No tecido conjuntivo exposto por palatino,
foram realizadas duas incisões verticais e uma
horizontal, sem incisionar o periósteo, pois essa
técnica não tem a intenção de deixar o tecido
ósseo desnudo. O retalho de tecido conjuntivo
Figura 1 - Imagem inicial, onde percebe-se o defeito no rebordo
residual proveniente de extração dentária traumática.
Figura 2 - Vista lateral, nota-se a ausência da papila interproximal
mesial e perda dos contornos fisiológicos e do arco côncavo regular.
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Fabio Cesar Lorenzoni, Renata Rodrigues de Freitas Blagitz, Pedro Coesta, Maria Lucia Rubo de Rezende, Accácio Lins do Valle, Luiz Fernando Pegoraro, Gerson Bonfante
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do palato foi rebatido e girado de tal forma a
formar um pedículo, que foi acomodado no leito
receptor e suturado com fio reabsorvível Vicryl
5-0, Polyglactin 910 (Ethicon, Johnson & John-
son) na base do leito (Fig. 5, 6, 7).
O palato foi preenchido com esponja de
fibrina, os retalhos foram reposicionados, o
vestibular sobre o enxerto conjuntivo e o pa-
latino sobre a área doadora, suturado com fio
não-reabsorvível Silk 4-0 (Ethicon, Johnson &
Johnson) no palato. Dessa forma, foi possível
evitar áreas cruentas, o que proporciona um
período pós-operatório mais confortável para
o paciente. O resultado imediato revela uma
relação entre o pôntico e o rebordo alveolar
mais favorável, devido ao ganho de volume de
tecido conjuntivo, favorecendo sobremaneira o
condicionamento tecidual (Fig. 8). O pôntico
foi ajustado de forma a não exercer qualquer
pressão sobre o tecido enxertado, sendo que
o condicionamento foi iniciado aos 120 dias
pós-operatório. Até então, nenhuma pressão foi
exercida sobre o tecido enxertado (Fig. 9).
A técnica de condicionamento utilizada foi a
da pressão gradual, exercida pela prótese provi-
sória. Essa técnica permite que a forma final do
condicionamento seja a cópia da área gengival
do pôntico provisório. Assim, deve-se planejar
essa área de forma convexa e lisa em todos os
sentidos, e com ameia interdentária aberta de
forma a permitir o avanço do tecido gengival,
para formar a papila interproximal.
A área gengival do pôntico recebeu uma
camada de resina acrílica, com cerca de 1mm
de espessura, e foi levada em posição, provo-
cando uma ligeira isquemia na região, devido à
pressão no tecido gengival (Fig. 10). A exten-
são da isquemia deve estar restrita à região a
ser condicionada, não devendo ser excessiva,
pois pode provocar áreas ulceradas no tecido.
Figura 3 - Observar a relação deficiente entre o pôntico e o rebordo
residual.
Figura 4 - Vista da primeira incisão, em tecido epitelial, com a forma
retangular, iniciando intrassulcularmente na mesial do 14, estenden-
do-se para o palato e terminando no sulco gengival do 16.
96
Recuperação do relacionamento entre pôntico e rebordo alveolar utilizando técnica de enxerto conjuntivo em “rolo” e condicionamento tecidual: relato de caso
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 92-101, jul./ago./set. 2009
Figura 5 - Tecido conjuntivo sendo rebatido com cinzel Ochsenbein angulado após as incisões verticais e horizontal.
Figura 6 - Imagem do enxerto de tecido conjuntivo rebatido e ro-
dado sobre si e acomodado no leito receptor. Neste momento, a ex-
tremidade do enxerto foi suturada com fio reabsorvível no periósteo
vestibular e tecido conjuntivo subjacente.
Figura 7 - Vista oclusal do enxerto conjuntivo posicionado no leito
receptor.
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Figura 8 - Vista oclusal da área após o reposicionamento do retalho
e sutura. Nota-se o aumento de volume vestibular e a ausência de
áreas cruentas, assim como a relação otimizada entre o pôntico e o
tecido enxertado.
Figura 9 - Durante o período de cicatrização (120 dias), o pôntico
não exerceu qualquer pressão sobre o tecido gengival.
Figura 10 - O reembasamento do pôntico deve exercer pressão no
tecido gengival, produzindo ligeira isquemia na região. Dessa forma,
o tecido será conduzido de acordo com a forma planejada na prótese
provisória.
Com a polimerização da resina, os excessos fo-
ram removidos, com subsequente polimento e
cimentação da prótese provisória. Essa prótese
seguiu os princípios biológicos descritos para as
próteses definitivas, com pônticos lisos e conve-
xos, com perfil de emergência e espaço inter-
dentário para as papilas adequados (Fig. 11).
Ao final do condicionamento, o tecido deve
apresentar-se epitelizado e ceratinizado em
toda a sua extensão, pois áreas ulceradas indi-
cam pressão excessiva e, ao invés de um novo
reembasamento, é necessário alívio na pressão
exercida pelo pôntico.
Foram necessárias três sessões de reemba-
samento para obter o resultado final (Fig. 12,
13), ressaltando o intervalo de 15 dias entre
cada sessão. Não se observou áreas ulceradas
durante o condicionamento. A superfície gengi-
val do pôntico da prótese provisória deve ser
a mais semelhante possível com a da prótese
definitiva, favorecendo o relacionamento final
entre o tecido gengival e o pôntico, evitando
alterações na forma do condicionamento te-
cidual. A prótese final (Fig. 14) representa a
transformação da prótese provisória de resina
acrílica em uma peça metalocerâmica, a qual foi
instalada 45 dias após o término do condicio-
namento tecidual.
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Recuperação do relacionamento entre pôntico e rebordo alveolar utilizando técnica de enxerto conjuntivo em “rolo” e condicionamento tecidual: relato de caso
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Figura 13 - Imagem oclusal final do condicionamento tecidual. Nota-
se o aumento do tecido por vestibular e a formação de papilas sem si-
nais clínicos de inflamação, com tecido gengival clinicamente saudável.
Figura 11 - A superfície gengival do pôntico apresentava-se convexa
em todos os sentidos, lisa e polida, com o espaço adequado para a
formação de papilas interproximais, características necessárias para o
condicionamento tecidual.
Figura 14 - Vista clínica final com a prótese fixa cimentada. Observa-
se o relacionamento entre o pôntico e o tecido gengival, resultado do
planejamento conjunto entre cirurgia periodontal e condicionamento
tecidual.
Figura 12 - Vista clínica final do condicionamento tecidual. Verifica-
se a formação de papila interproximal e do arco côncavo regular, as-
sim como a manutenção de cor e de textura com as áreas adjacentes.
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discussãO
Embora as situações mais indicadas para os
enxertos subepiteliais de tecido conjuntivo em
rebordos residuais defeituosos e que comprome-
tem a reabilitação protética estejam localizadas
na região anterior2,5,13, algumas situações na re-
gião posterior exigem a correção do defeito para
que se possa obter um bom resultado estético.
A correção cirúrgica dos defeitos e das ir-
regularidades no rebordo residual pode ser
realizada através de várias técnicas1,3,5,6,7,9,12,14.
Contudo, a inserção de um enxerto de tecido
conjuntivo subepitelial é preferível ao enxerto
gengival livre, pois a textura, a cor e o contorno
do tecido reconstruído serão mais uniformes e
harmoniosos.
A técnica do enxerto de tecido conjuntivo
subepitelial em “rolo” traz vantagens em relação
às demais técnicas de enxerto, pois permite que
ocorra a formação de um pedículo que auxilia a
irrigação do enxerto. Abrams, Hopczk e Kaplan1
descreveram a técnica, contudo, a modificação
proposta por Scharf e Tarnow13, que preconi-
zam a preservação do tecido epitelial para re-
cobrir e proteger a área doadora, oferece três
vantagens: (1) maximiza a quantidade de teci-
do conjuntivo que pode ser rolada para a face
vestibular; (2) minimiza a quantidade de tecido
conjuntivo ou de tecido ósseo desnudo; (3) di-
minui o desconforto pós-operatório.
O condicionamento gengival pode ser al-
cançado por meio de três técnicas: pressão gra-
dual, escarificação e eletrocirurgia4,10,20, sendo
que a técnica da pressão gradual está indicada
para pequenas áreas e baseia-se na utilização
da prótese provisória, sendo que a prótese defi-
nitiva deve ser semelhante à prótese provisória
para que o sucesso da técnica seja alcançado.
O principal fator para o sucesso do condicio-
namento gengival está no controle severo da pla-
ca, caso contrário perde-se o direcionamento do
tecido gengival devido ao processo inflamatório
instalado20. A área do pôntico deve apresentar-se
convexa e polida4,10,20 para facilitar a remoção de
placa. A força de pressão deve ser constante-
mente avaliada e, se necessário, deve ser dimi-
nuída, pois pressão em excesso pode inflamar e
ulcerar o tecido que está sendo condicionado4,19.
cOnclusãO
O condicionamento tecidual é um procedi-
mento que tem como objetivo melhorar o re-
lacionamento entre o pôntico e o rebordo, as-
sim como contribuir para um resultado estético
mais satisfatório. Contudo, essa técnica exige
que o rebordo residual apresente-se com uma
quantidade adequada de tecido gengival, o que
nem sempre é visto. A técnica de enxerto de te-
cido conjuntivo subepitelial em “rolo” promove o
aumento no volume do rebordo, possibilitando
o condicionamento tecidual. No caso apresen-
tado, tanto o condicionamento gengival quanto
o enxerto de tecido conjuntivo subepitelial em
“rolo”, que são técnicas previsíveis, contribuíram
para proporcionar melhor resultado estético e
de relacionamento entre o pôntico e o rebordo.
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Recuperação do relacionamento entre pôntico e rebordo alveolar utilizando técnica de enxerto conjuntivo em “rolo” e condicionamento tecidual: relato de caso
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Recovery of the pontic-alveolar ridge relationship
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aBstract
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KEYWORDS: Prosthesis design. Oral surgical procedures. Mouth rehabilitation.
101
Fabio Cesar Lorenzoni, Renata Rodrigues de Freitas Blagitz, Pedro Coesta, Maria Lucia Rubo de Rezende, Accácio Lins do Valle, Luiz Fernando Pegoraro, Gerson Bonfante
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 92-101, jul./ago./set. 2009
fabio cesar lorenzoniDepartamento de Prótese – FOB/USP Alameda Octávio Pinheiro Brizola, 9-75CEP: 17.012-901 – Bauru/SPE-mail: [email protected]
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revisão de literatura
102 Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 102-111, jul./ago./set. 2009
* Professora adjunta da disciplina de Periodontia da
Universidade Estadual da Paraíba. Doutora em Pa-
tologia Oral pela UFRN. Especialista em Periodontia
pela ABO/RN.
** Acadêmicas do curso de Odontologia da Universida-
de Estadual da Paraíba.
*** Coordenadora do Curso de Ortodontia Preventiva e
Interceptativa da UFRN. Doutora em Ortodontia e
Ortopedia Facial pela UNESP.
**** Professor assistente da disciplina de Odontope-
diatria da UEPB. Mestre em Fisiologia Oral pela
UNICAMP. Especialista em Ortopedia Funcional dos
Maxilares pelo CFO.
***** Professor adjunto da disciplina de Patologia da Uni-
versidade Estadual da Paraíba. Doutor em Patologia
Oral pela UFRN.
Palavras-chave
Aumento de coroa clínica. Movimenta-
ção ortodôntica. Resposta periodontal.
resumo
As forças ortodônticas estimulam uma resposta biológica celular que é essen-
cial para o movimento dentário e, consequentemente, para o remodelamento
dos tecidos periodontais de suporte. Quando da realização de um tracionamen-
to ortodôntico, é importante compreender a aplicação terapêutica de forças,
avaliar a resposta biológica dos tecidos em relação às forças aplicadas e conhe-
cer as possíveis indicações e contraindicações do tratamento. Nesse contexto,
o presente trabalho visa esclarecer, através de uma revisão da literatura per-
tinente, as reações periodontais frente às forças ortodônticas, especialmente
aquelas envolvidas no movimento de tração.
Conceitos biológicos da resposta periodontal
ao tracionamento dentário ortodôntico:
revisão de literatura
Ruthinéia Diógenes Alves Uchoa lins*, Renally Aguiar Jinkings silva**,
Olga Lanusa Leite vElOsO**, Hallissa simplíciO***, Alexandre Durval lEmOs****,
Gustavo Pina GOdOy*****
103
Ruthinéia Diógenes Alves Uchoa Lins, Renally Aguiar Jinkings Silva, Olga Lanusa Leite Veloso, Hallissa Simplício, Alexandre Durval Lemos, Gustavo Pina Godoy
Rev. Dental Press Periodontia Implantol., Maringá, v. 3, n. 3, p. 102-111, jul./ago./set. 2009
intrOduçãO
Segundo Carranza, Takey e Newman6, o
periodonto compreende a gengiva, o ligamen-
to periodontal, o osso alveolar e o cemento.
Esses tecidos são responsáveis pela proteção
e sustentação do dente. O periodonto de pro-
teção é representado pela gengiva, enquanto
o de sustentação compreende o cemento, o
ligamento periodontal e o osso alveolar. O pe-
riodonto de sustentação promove a inserção
dos dentes em seus ossos maxilares por meio
de uma articulação fibrosa, do tipo gonfose,
formando, assim, um aparelho de sustentação
elástico, capaz de resistir às forças normais,
próprias da sua função, permitindo ainda que
os dentes fiquem ajustados em sua posição
quando submetidos à tração e/ou à pressão.
Segundo Medeiros et al.15, o tracionamen-
to ortodôntico – também denominado irrup-
ção forçada, tracionamento dentário, extrusão
controlada ou extrusão vertical – representa
um movimento dentário no sentido vertical
que objetiva trazer à cavidade bucal, em dire-
ção oclusal, parte do dente que se encontra
inserido no osso alveolar (Fig. 1), sendo esse
movimento induzido por um dispositivo orto-
dôntico (Fig. 2), por meio de uma força suave
e contínua. Esse tipo de movimento dentário
ortodôntico também pode ser utilizado como
uma técnica de aumento de coroa clínica, indi-
cada para o restabelecimento do espaço bioló-
gico, especialmente em dentes anteriores.
Figura 1 - Desenho esquemático (pré e pós-extrusão).
pós-extrusão pré-extrusão
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Figura 2 - Imagem radiográfica que mostra o movimento de extrusão realizado pelo aparelho ortodôntico, enfatizando também os momentos de pré (a) e pós-extrusão(B). Nota-se a área radiopaca no ápice da raiz, indicando a referida movimentação dentária.
A B
O tratamento ortodôntico é baseado no
princípio do movimento dentário, ou seja, se
uma pressão prolongada é aplicada em um
dente, em resposta ocorrerá a sua movimenta-
ção8. Em virtude disso, é essencial, ao aplicar
uma força ortodôntica, o conhecimento sobre
o periodonto, mais precisamente acerca da
resposta periodontal frente ao deslocamento
dentário.
Diante do exposto, considerando a relevân-
cia clínica do conhecimento sobre a fisiologia
do periodonto frente a um estímulo ou força, o
presente trabalho se propõe a revisar os prin-
cipais aspectos referentes à resposta do perio-
donto ao tracionamento ortodôntico.
rEvisãO da litEratura
tracionamento ortodôntico
Oesterle e Wood18 afirmam que a extrusão
de um único dente é o tipo mais simples e
rápido de movimento dentário, desde que a
força extrusiva promova apenas tensão sobre
o ligamento periodontal, em oposição a outros
procedimentos ortodônticos, nos quais forças
compressivas possam causar a mobilização de
osteoclastos, a reabsorção óssea e o conse-
quente movimento dentário com deposição
óssea no lado da tensão. Na extrusão, o movi-
mento dentário é rápido e fácil – o ligamento
é comprimido apenas quando as raízes são
curvas ou em forma de gancho.
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Existem alguns critérios para determinar
se um elemento dentário deve ser irrompido
de maneira forçada. Para Carranza, Takey e
Newman6, esses critérios são seis, sendo eles:
(a) o comprimento suficiente da raiz, preser-
vando a relação coroa-raiz de 1:1; (b) a forma
da raiz, que deve ser larga, e não fina e afuni-
lada; (c) o nível da fratura; (d) a importância
relativa do dente; (e) a estética; e (f) o prog-
nóstico endo/periodontal favorável.
Potashnik e Rosenberg21 descreveram evi-
dências clínicas a respeito de dentes extruídos;
observando que ocorria um intervalo de tempo
entre o movimento do dente e aquele dos teci-
dos de inserção, determinado pela força usada e
também pela velocidade de irrupção. Os referi-
dos autores citaram os fatores que deveriam ser
considerados aceitáveis antes da iniciação da te-
rapia, sendo eles: a estética; o comprimento da
raiz; a proximidade radicular de dentes vizinhos;
a morfologia radicular; a localização da furca; a
posição dentária individual e em grupo; e a pos-
sibilidade de restauração dentária.
As indicações do tracionamento ortodôn-
tico aumentaram na medida em que novas
pesquisas foram sendo realizadas, abrangen-
do uma grande quantidade de problemas. Se-
gundo Simon24, as indicações são: cáries que
se estendam de 0 a 4mm abaixo da crista ós-
sea alveolar; fraturas dentárias horizontais ou
oblíquas de 0 a 4mm abaixo da crista óssea
alveolar; reabsorções externas ou internas;
extrações atraumáticas quando extrações ro-
tineiras são contraindicadas; recobrimento
radicular; correções de mordidas abertas;
preparos supraestendidos; aumento da espes-
sura do septo ósseo; eliminação de bolsas pe-
riodontais; remodelação ortodôntica extrusiva;
como coadjuvante no tratamento da doença
periodontal avançada; e, por fim, no tratamen-
to para luxação intrusiva e dentes impactados.
De acordo com Simon24 e Baratieri et al.1,
as contraindicações também existem, devendo-
se fazer uma análise detalhada do caso, sendo
elas: comprimento radicular insuficiente; espaço
insuficiente; complicações periodontais; hiperce-
mentose apical; anquilose; possibilidade de reali-
zação de cirurgia ressectiva e diastemas amplos.
Simon24 relatou sucintamente as principais
vantagens e desvantagens relativas ao trata-
mento por extrusão ortodôntica (Quadro 1),
fatores de grande valia quando da escolha e
da elaboração do plano de tratamento, sendo
a principal vantagem desse tipo de tratamento
o fato de ser conservador, mantendo a raiz no
alvéolo e, assim, conservando o osso alveolar.
Com a raiz sendo mantida, o esforço da res-
tauração isola-se a um só dente e o tratamento
endodôntico, o núcleo e a coroa também são
realizados em um único dente, não envolvendo
os dentes que seriam suportes em potencial.
Enfim, essa restauração unitária satisfaz tanto
as exigências estéticas quanto as funcionais,
podendo o tratamento ser realizado por um
período de tempo relativamente curto e sem
causar dor ao paciente.
Segundo Simon24, as desvantagens tam-
bém existem e são várias, mas não tão sérias,
podendo ser facilmente superadas, sendo elas:
a estética da restauração provisória, que pode
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traciOnamEntO DEntáriO OrtODônticO
indicações24 contraindicações1,24
• Reabsorções externas ou internas • Comprimento radicular insuficiente
• Recobrimento radicular • Espaço insuficiente
• Correções de mordidas abertas • Complicações periodontais
• Preparos supraestendidos • Hipercementose apical
• Aumento da espessura do septo ósseo • Anquilose
• Eliminação de bolsas periodontais • Possibilidade de realização de cirurgia ressectiva
• Tratamento da doença periodontal avançada • Diastemas amplos
• Tratamento para luxação intrusiva
• Dentes impactados
• Cáries que se estendam de 0 a 4mm abaixo da crista óssea alveolar
• Fraturas dentárias horizontais ou oblíquas de 0 a 4mm abaixo da crista óssea alveolar
• Extrações atraumáticas quando extrações rotineiras são contraindicadas
não ser aceitável o suficiente pelo paciente; o
tempo requerido para o tratamento; e a ne-
cessidade de cirurgia periodontal menor, se o
suporte gengival se mover juntamente com a
raiz e não tiver sido essa a intenção.
O fator primordial de decisão para o uso
do tracionamento ortodôntico é que a resul-
tante coroa-raiz deverá ser adequada para su-
portar a restauração definitiva. O clínico, ou o
especialista, também deverá considerar e estar
atento para o estado de saúde periodontal, o
grau de higiene bucal, a aceitação pelo pacien-
te com relação ao tempo envolvido e, ainda,
do entendimento dos benefícios adquiridos
por meio do tratamento16.
resposta periodontal
Interlandi9 revela que em virtude do perio-
donto é que se torna possível, por meio de
técnicas ortodônticas, realizar a movimentação
dentária. Dos três componentes do periodon-
to de sustentação, o ligamento periodontal e o
osso alveolar são os que estão mais envolvidos
no fenômeno. Embora o cemento também par-
ticipe, por não ser vascularizado, é pouco mo-
dificado pelos estímulos da função mastigatória
ou por cargas de pressão ou tensão.
A teoria da pressão-tensão é clássica, no
que se refere ao movimento dentário orto-
dôntico. Segundo Nojima e Gonçalves17, uma
alteração no fluxo sanguíneo do ligamento
Quadro 1 - Principais vantagens e desvantagens relativas ao tratamento por extrusão ortodôntica.
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periodontal é produzida por uma força apli-
cada, o que causa mudanças de posição do
dente no espaço periodontal, comprimindo o
ligamento em algumas áreas e tensionando-o
em outras. O fluxo sanguíneo diminui onde o
ligamento é comprimido, enquanto é frequen-
temente mantido ou aumentado onde ele está
sob tensão. No caso de regiões de ligamento
periodontal superdistendidas, o fluxo sanguí-
neo pode ser diminuído transitoriamente. As
alterações no fluxo sanguíneo geram, rapida-
mente, mudanças no ambiente químico. Por
conseguinte, o nível de oxigênio certamente
poderá cair na área comprimida, aumentando,
entretanto, no lado da tensão, e a proporção
relativa de outros metabólitos também pode-
rá mudar em questão de minutos. Essas mu-
danças químicas, atingindo diretamente ou por
estímulo da liberação de outros agentes ativos
biologicamente, poderão estimular, então, a ati-
vidade celular por proliferação, diferenciação e
modulação de células precursoras dos osteo-
blastos. Em essência, essa visão de movimento
dentário mostra três estágios: a alteração no
fluxo sanguíneo associado à pressão no liga-
mento periodontal; a formação e/ou liberação
de mensageiros químicos; e a ativação celular.
Lindhe, Karring e Lang13 relataram que não
apenas os tecidos moles de suporte, como
também o osso alveolar, irá mover-se verti-
calmente com o dente durante a extrusão or-
todôntica, porém a aposição óssea é depen-
dente da integridade dos feixes de fibras do
ligamento periodontal.
Weine e Potashnick29 mencionaram os
princípios básicos ortodônticos, endodônticos
e periodontais associados à irrupção induzida
e concluíram que, se a extrusão for adequada,
o tecido periodontal acompanha o dente. A ci-
rurgia periodontal pode, após a movimentação,
ser necessária para nivelar cristas angulares e
reposicionar tecidos moles até o nível coroná-
rio adequado, restaurando, assim, a forma da
unidade dentária individual, de acordo com a
sua harmonia com os dentes adjacentes.
Em 1991, Malmgreen, Malmgreen e
Frykholm14, preocupados com a tendência de
recidiva e extensão da reabsorção de dentes
submetidos à extrusão ortodôntica, obser-
varam que o risco da recidiva está sempre
presente após uma extrusão ortodôntica de
dentes fraturados, sendo indicada a fibrotomia
antes do período de contenção, a fim de evitar
a ocorrência das recidivas.
De acordo com Carranza, Takey e New-
man6, após irromper, a raiz deve ser estabili-
zada, a fim de que ocorra o retorno das fibras
oblíquas do ligamento periodontal e a neofor-
mação óssea, evitando, assim, que o dente re-
torne ao alvéolo. Segundo Oliveira e Oliveira19,
o período de estabilização de 90 dias é con-
siderado suficiente para o desenvolvimento de
uma nova inserção do ligamento periodontal e
início da formação óssea na região apical.
Após realizados os movimentos de extru-
são ortodôntica, algumas observações podem
ser minuciosamente realizadas em nível clínico
para a detecção, confirmação e avaliação dos
resultados. Tais observações são iniciadas a
partir da impressão clínica de que ocorre um
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período de atraso entre o movimento de um
dente e o movimento do seu aparato ligamen-
tar e a gengiva. A quantidade de força usada
e a velocidade de irrupção determinam esse
tempo de atraso. Quanto mais rápido o den-
te é irrompido intensamente do alvéolo, maior
será o atraso entre o movimento do dente e
o do seu aparato ligamentar. Dependendo da
quantidade de irrupção requisitada, a cirurgia
periodontal pode não ser necessária. Quan-
do o for, essa deve incluir apenas a remoção
do osso alveolar (osteotomia) e da gengiva
que se moveram coronariamente, bem como
a secção das fibras gengivais que estão ten-
sionadas, atribuindo um possível problema de
recidiva durante o deslocamento do retalho23.
discussãO
Stern e Becker26; Nojima e Gonçalves17 e
Medeiros et al.15 são unânimes em afirmar que
o movimento de irrupção dentária resulta em
um tensionamento não apenas das fibras gen-
givais, como também daquelas do ligamento
periodontal, produzindo deslocamento coroná-
rio da gengiva e do osso. Já Proffit e Fields Ju-
nior22; Dinatale7 e Carranza, Takey e Newman6
consideram que o deslocamento do dente é
fortemente controlado pelo movimento de flui-
dos, tendo as fibras um papel secundário.
Oliveira e Oliveira19 acreditam que a mo-
vimentação lenta da raiz, por um período de
40 a 50 dias, seja a mais aconselhada para
se evitar o surgimento de lesões nos tecidos
periodontais, fato esse que poderia ser eviden-
ciado através de uma excessiva mobilidade e
crescente reabsorção óssea. De forma contrá-
ria, Figueiredo e Parra8 e Malmgreen, Malm-
green e Frykholm14 sugerem a utilização de
forças extrusivas pesadas, uma vez que con-
sideram rara a reabsorção de raízes como
consequência de uma extrusão ortodôntica
rápida, sendo essa conceituada como um mo-
vimento seguro, que possui ainda a vantagem
de necessitar de uma menor complementação
cirúrgica periodontal, quando comparada à ex-
trusão ortodôntica lenta.
O comportamento clínico das técnicas de
tracionamento ortodôntico (lento e rápido) de-
monstra resultados distintos, no entanto indica
que ambos podem ser utilizados. No caso da
extrusão dentária simples ou lenta, onde essa
é realizada com uma força leve e contínua, os
tecidos gengivais seguem a irrupção do dente
juntamente com o tecido ósseo3,6,12,15,22,25. Já
no caso da extrusão dentária forçada ou rápi-
da, onde a movimentação é feita rapidamente,
depreende-se que o mais indicado6,13,15,30 seria
a realização de uma fibrotomia circular, para
evitar que o osso acompanhe a raiz irrompi-
da. Em complemento, Pontoriero et al.20 e Ko-
zlovsky, Tal e Lieberman11 sugerem a técnica
combinada (extrusão e fibrotomia) como uma
alternativa para se evitar a cirurgia ressectiva
(pós-tracionamento).
Oesterle e Wood18 recomendam que sejam
aplicadas forças suaves (20 a 30g) durante
o tracionamento ortodôntico, a fim de evitar o
rompimento do ligamento periodontal e o subse-
quente risco de anquilose dentária. Para Wang e
Wang28 e Vieira et al.27, a força empregada para
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a extrusão dentária deverá ser de 20 a 40g
em dentes monorradiculares e maior em mul-
tirradiculares. Em contrapartida, segundo Proffit
e Fields Junior22, as forças extrusivas deveriam
obedecer sempre uma magnitude de 50 a 75g.
Figueiredo e Parra8; e Malmgreen, Malmgreen
e Frykholm14 também apostam na aplicação de
forças pesadas, entre 60 e 70g.
Ivey et al.10 e Baratieri et al.1 relatam que,
muitas vezes, apenas a irrupção forçada não
leva a um resultado favorável do tratamento,
sendo necessária a complementação desse
com cirurgia periodontal. Contrapondo essa
teoria, Bielak et al.4 e Bongert5 afirmam que
a irrupção forçada, sendo um procedimento
simples e acompanhado de um curto período
de tempo, representa um método conservador
para fraturas localizadas abaixo da margem
gengival, sem a necessidade traumática de ci-
rurgia periodontal, uma vez que os mesmos
acreditam que o uso da contenção, por si só,
promove o retorno da gengiva para a sua po-
sição inicial.
Para Carranza, Takey e Newman6, depois
de irrompida, a raiz dentária deve ser estabili-
zada, para que as fibras oblíquas do ligamento
periodontal retornem à sua posição original
e a neoformação óssea aconteça, evitando o
retorno do dente para o alvéolo. Em adição,
Oliveira e Oliveira19 afirmam que 90 dias é
considerado um período satisfatório para que
ocorra a estabilização dentária por meio de
uma nova inserção ligamentar e formação ós-
sea inicial na região apical. Já Medeiros et al.15
indicam que, após o período ativo, os dentes
devem ser mantidos em contenção por apenas
oito semanas.
Conforme relatos de Moraes, Franco e Saki-
ma16, preconiza-se que a resultante coroa-raiz
adequada apresenta uma proporção de 1:1, re-
presentando este o fator primordial de decisão
para o uso do tracionamento ortodôntico.
cOnclusãO
A principal razão do uso do tracionamento
ortodôntico, especialmente como uma técnica
de aumento de coroa clínica em dentes ante-
riores, tem sido manter a integridade do perio-
donto, uma vez que esse responde favoravel-
mente ao estímulo, mesmo sendo necessária,
algumas vezes, no período pós-tracionamento,
a utilização de pequenas cirurgias comple-
mentares. De forma semelhante, a integridade
periodontal dos dentes adjacentes também é
mantida com a extrusão ortodôntica, levando,
assim, ao sucesso da terapia indicada.
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Conceitos biológicos da resposta periodontal ao tracionamento dentário ortodôntico: revisão de literatura
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Biologic concepts of the periodontal reply to
orthodontic tooth movement: literature reviewaBstract
Orthodontic forces stimulates a biological cell response which is essential to dental movement and consequently to remodeling support periodontal tissues. When an orthodontic movement is required it is important to understand the therapeutic application of forces, to evaluate the biological response of tissues to the forces applied and to know the possible indications and contraindications of the treatment. In that context, this work aims to clarify, through a literature review, the periodontal reactions to orthodontics forces, especially those involved in the traction movement.
KEYWORDS: Crown increase. Orthodontic movement. Periodontal response.
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ruthinéia diógenes alves uchoa linsAv. Capitão João Alves de Lira 1325, apto. 401 – Bela VistaCEP: 58.101-281 – Campo Grande/PBE-mail: [email protected]
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mitê de Ética.
tExtO
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máximo de 4.000 palavras, incluindo legendas das figuras, resumo, abstract
e referências), em duas cópias impressas e duas em CD.
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— Exige-se correção do Português e do Inglês.
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jetivos, Metodologia, Resultados e Conclusões) em Português e Inglês que
não ultrapasse 250 palavras, bem como de 3 a 5 palavras-chave também
em Português e em Inglês.
— Os textos devem ter, na primeira página, identificação do autor
(nome, instituição de vínculo, cargo, título, endereço, e-mail) que não ultra-
passe 5 linhas.
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torial, a segunda página deve conter título em Português e Inglês, resumo,
palavras-chave, abstract, keywords, omitindo nomes ou quaisquer dados
referentes aos autores.
cOmplEmEntOs dO tExtO
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vel, preferencialmente em CD, com imagens em alta resolução (300 dpi, em
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verão ser incluídos no texto, porém em folhas separadas, e numerados em
algarismos arábicos.
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devem ser desenhados com tinta preta em papel vegetal.
rEfErÊncias
— A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores; as
mesmas devem conter todos os dados necessários à sua identificação.
— Todas as referências listadas devem ser citadas no texto e todos os
autores citados no texto devem constar na lista de referências.
— Com o objetivo de facilitar a leitura do texto, fica determinado que as
citações dos autores no texto serão numéricas.
— Devem ser normalizadas as abreviaturas dos títulos dos periódicos
de acordo com as publicações “Index Medicus” e “Index to Dental Literature”.
— As referências devem ser apresentadas no final do texto obedecendo
às normas da ABNT 6023 - 2002, não ultrapassando o limite de 30, confor-
me os exemplos a seguir:
livrO cOm um autOr
BRASKAR, S. N. synopsis of oral pathology. 5th ed. St. Louis: Mosby,
1977.
livrOs cOm até trÊs autOrEs
HENDERSON, D.; McGIVNEY, G. P.; CASTLEBERRY, D. J. mccraken’s
removable partial prosthodontics. 7th ed. St. Louis: Mosby, 1985.
livrO cOm mais dE trÊs autOrEs
APRILE, H. et al. anatomia odontológica orocervicofacial.
5. ed. Buenos Aires: El Ateneo, 1975.
capítulO dE livrO
GONÇALVES, N. Técnicas radiográficas para o estudo da articulação tempo-
romandibular. In: FREITAS, A.; ROSA, J. E.; FARIA, S. I. radiologia odonto-
lógica. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1988. p. 247-258.
tEsE E dissErtaçãO
PEREIRA, A. C. Estudo comparativo de diferentes métodos de exa-
me, utilizados em Odontologia, para diagnóstico da cárie dentá-
ria. 1993. Dissertação (Mestrado) –Faculdade de Saúde Pública, Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 1993.
artiGO dE rEvista
CAPELOZZA FILHO, L. Uma variação no desenho do aparelho expansor rápi-
do da maxila no tratamento da dentadura decídua ou mista precoce.
r. dental press Ortodon. Ortop. facial, Maringá, v. 4, n. 1, p. 69-74,
jan./fev. 1999.
STEPHAN, R. M. Effect of different types of human foods on dental health in
experimental animals. j. dent. res., Chicago, v. 45, no. 3, p. 1551-1561,
1966.
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