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    HENRI B. NETO

    R E P L A Y

    Os opostos no se atraem... Se colidem.

    Rio de Janeiro, 2013

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    Copyright 2013, Henri B. Neto

    Reviso e Preparao dos Originais:

    Thalita S. Fergoza & Ricardo Pabin

    Produo Editorial: Henri B. Neto

    Ilustraes da Capa: GettyImagens

    proibida a reproduo total ou parcial da obra sem a prvia

    autorizao do autor.

    Neto, Henri B. (Henrique Batista) 1989 -

    Replay: Os opostos no se atraem... Se colidem.

    Rio de Janeiro, 2013.

    ISBN: 978-1482697209

    No recomendado para menores de 16 anos.

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    Para Natlia 'Flor' Pereira,

    por sempre ver o lado profundo

    e introspectivo

    das minhas bizarrices.

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    E ento, fugir eu j tentei

    T preso num Replay

    Lembranas vo me consumir

    E ento, me sufoco em sonhos vosO amor que era to bom

    Se volta agora contra mim

    Replay, Sandy Leah/Wollo/Accia Lucena

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    5 Razes para Odiar Gabriel Beruna

    Razo Nmero 1 - Ele se acha. Isto um fato.

    Tudo bem que ele faz aquele tipo ''moreno, alto,

    bonito e sensual'', mas ele sabe disto - e este o

    problema. Quando ele vai falar com voc, como

    se tivesse lhe concedendo uma honra... O que

    ridculo. Afinal, ele s um cara. Mas vai dizer isto

    para as garotas da minha sala?

    Razo Nmero 2 - Ele engraadinho. E nem

    daquele tipo engraado de verdade... mais do tipo

    inconveniente. Que acha que falar sobre algum

    defeito/mania/esquisitice de outra pessoa em voz alta

    divertido. Que interrompe as aulas com

    comentrios idiotas. Que tem 19 anos na cara, mas

    se comporta como se tivesse 13.

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    Razo Nmero 3 - Ele repetente. Eu sei que

    errado julgar uma pessoa s por isso, mas o caso doGabriel diferente. Ele gosta de ser repetente. E

    acho que faz de propsito. Tanto que j a terceira

    vez que cursa o ltimo ano do Ensino Mdio.

    Quem a pessoa normal que no gostaria de se verlivre da escola? Acho que s isto j diz muito sobre o

    ser.

    Razo Nmero 4 - Ele um galinha. Da piorespcie. J saiu com mais da metade das alunas de

    TODA a escola. cada semana, uma menina

    diferente. Dizem que ele gosta de ''desvirginar

    donzelas'', no que sinto nojo s de pensar. Para osmeninos, o cara um heri. Para mim, s um

    porco.

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    Razo Nmero 5 - Ele j foi o meu namorado.

    Mas isto foi muito tempo atrs, quando eu erajovem e inocente, e ele era novo no bairro. Foi um

    caso de vero, que nem devia ter existido. Mas, na

    poca, eu no sabia das coisas que sei agora. Hoje,

    sou uma garota esperta, inteligente - e com umcorao fechado para idiotas. Pois isto que ele .

    Um grande idiota. E desde que nos separamos,

    nunca mais precisei falar com ele...

    E minha vida voltou ser perfeita. At agora, pelo

    menos.

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    Captulo 1

    Quando o Professor Rangel me pediu para

    ficar depois da aula, eu imaginava tudo, menos

    aquilo. - Eu no posso! - respondi, tentando

    controlar a minha voz.

    - Ceclia, seja um pouco razovel -

    continuou ele, olhando para mim com pacincia -

    Voc a melhor aluna da classe nesta matria. aminha nica opo para este caso.

    - Mas o senhor no poderia dar estas aulas

    de reforo para o Gabriel? - perguntei, desesperada

    para encontrar uma sada daquela situao.- Infelizmente, no. Na parte da tarde

    tenho que ir para outra escola, e aos sbados eu

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    trabalho em um curso de pr-vestibular. Por favor,

    d uma mozinha ao seu colega de classe.Eu queria dizer no. Queria falar que no

    podia socorr-lo com este caso. Depois de trs anos

    evitando o imbecil do Gabriel com sucesso, ser

    obrigada dar aulas particulares para ele no meultimo bimestre no colgio parecia at uma

    pegadinha do Destino. S que eu queria ajudar o

    professor. Ele era o adulto mais legal de toda a

    escola, e se dissesse ''no'', ficaria me sentindo uma

    vaca sem corao at o fim da vida.- Estas aulas... elas vo ser s at as notas

    dele voltarem ao normal, no mesmo.

    - Sim - disse o professor Rangel, ficando

    visivelmente aliviado. - O caso do aluno Beruna complicado, mas no to grave. O garoto s precisa

    de uma direo. E, de verdade, acho que no

    aguentaria mais um ano letivo com ele na minha

    classe!

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    Diante do desabafo, no pude deixar de rir.

    Afinal, no poderia culpar ningum por querer sever livre do Gabriel para sempre.

    - Temos uma parceria?

    - claro - suspirei, apertando a sua mo e

    sentindo meu estmago se revirar diante da tarefaque iria executar.

    Quando sa da sala de aula, estava to aflita

    que quase dei de cara com a Joana - que, pelo visto,

    ficou me esperando durante todo este tempo no

    corredor deserto da escola.- E a, o que o Rangel queria?

    - Podemos ir embora primeiro? Preciso de

    um pouco de ar puro...

    - Of course, my dear.Enquanto fazamos o trajeto at a minha

    casa, contei para a minha melhor amiga tudo o que

    aconteceu desde que o sinal tocou e eu fiquei

    sozinha na sala.

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    - Eu no acredito! - exclamou Joana, sua

    boca formando um O perfeito - Ele quer que vocseja a tutora do Gabriel?

    - Sim - eu disse, tentando controlar as

    minhas lgrimas.

    - Voc disse no, n?!- Eu aceitei.

    - Porqu?! - ela gritou, fazendo o jornaleiro

    da esquina da rua nos olhar com reprovao - Cissa,

    o Gabriel um cuzo. Voc no se lembra de como

    ficou quando terminou com ele?Eu no respondi. lgico que me lembrava

    do maior erro que j havia cometido. Naquela

    poca, imaginava que o Gabriel devia ser um

    prncipe encantado dos contos de fadas. Mas no eraa verdade. Ele era um sapo. Dos mais repugnantes,

    por sinal. Um que, na primeira oportunidade,

    tentou me forar conhecer o brejo dele - e que

    ficou com raiva quando eu no aceitei.

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    - Garotos como o Gabriel merecem ficar

    para sempre na escola - continuou Joana, assim queentramos no meu apartamento. - o mnimo que

    ele tem que receber por ter machucado voc. Acho

    at pouco.

    - Isto foi trs anos - eu suspirei, jogando aminha mochila no sof e indo para a cozinha pegar

    um copo de gua para me acalmar - e ele j repetiu

    duas vezes.

    - Que repita mais! - disse ela, pegando um

    elstico na minha mochila e prendendo os seuscabelos vermelhos - S de olhar para aquele panaca

    sinto vontade de vomitar.

    Era lgico que Joana sabia de toda a histria

    por detrs do meu rompimento repentino com oGabriel. Na poca, minha amiga ficou com tanta

    raiva que, assim que contei o que tinha acontecido

    por telefone, ela quase correu da sua casa at o

    prdio s para falar umas verdades para ele. Ainda

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    bem que a sua me chegou tempo de algo

    acontecer, pois - conhecendo a pimentinha comoeu conheo - sabia que ela estava ponto de

    arrancar os olhos do garoto com as unhas.

    - Eu gosto de verdade do professor Rangel

    - comentei, por fim - No acho justo com ele terum aluno como o coisa por mais um ano.

    Joana olhou para mim e balanou a cabea.

    - A, Cissa... Voc precisa comear pensar

    mais em voc do que nos outros. Precisa aprender

    dizer no.Esta era uma verdade incontestvel. Uma

    pena que, mesmo trs anos depois, eu continuasse

    com este mesmo problema.

    * * * * *

    Assim que Joana foi embora, a primeira

    coisa que fiz foi tomar um banho.

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    Meus pais ainda no haviam chegado do

    trabalho, ento eu tinha todo o apartamento s paramim. Depois que sa do chuveiro, me enrolei em

    uma toalha, coloquei um pacote de pipoca no

    micro-ondas e liguei a tv. Tudo o que eu queria no

    momento era de algo para distrair a minha cabea e- para a minha sorte - no canal de clipes estava

    passando um especial com a Britney Spears.

    Quando eu era pequena, o meu maior

    sonho era ser uma popstar mundialmente famosa.

    Me lembro at hoje das tardes de sbado em que eue Joana ficvamos na frente da televiso, imaginado

    estar em cima de um palco para milhares de pessoas

    e tentando acompanhar as coreografias complicadas

    da menina vestida de colegial. Recordar disto me fezdar umas boas risadas, e antes que eu desse por mim,

    estava em cima do sof, com o controle remoto na

    mo, cantando os antigos sucessos da princesa do

    pop.

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    Minha empolgao era to grande que nem

    percebi quando a pipoca ficou pronta. E foi s naquinta chamada do aparelho que eu sa do meu

    devaneio musical e corri para a cozinha.

    No mesmo instante em que voltava para a

    sala com o meu lanche da tarde, o telefone de casacomeou tocar. Meu estado de esprito estava to

    em alta devido dana, que nem olhei o

    identificador de chamadas para saber quem era.

    Depois que disse al, me arrependi amargamente de

    no ter feito isto.- E a, anjo. Lembra de mim?

    Quase derrubei o pote de pipoca no cho ao

    reconhecer aquela voz.

    - Gabriel.Do outro lado da linha, o idiota soltou uma

    risadinha - como se o fato de eu me lembrar dele

    fosse algo especial. lgico que no era... Ns

    estudvamos juntos.

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    - O que voc quer?

    - Pelo visto, continua a mesma garotaimpaciente dos velhos tempos. Bom saber disto.

    A minha vontade era entrar no telefone e dar uns

    tapas na cara dele. Mas eu no ia entrar naquele

    jogo. Se ele estava pensando que ia me fazer idiota,como antigamente, podia ficar esperando sentando.

    - Ento o professor Rangel j falou com

    voc.

    - Yeah, j sim - ele disse, inspirando

    profundamente ao perceber que no tinha cado dejoelhos ao seu charme de malandro - S queria saber

    quando vo comear as nossas aulas.

    - Pode ser na sexta?

    - Na sexta? No vai dar, eu tenho futebolcom os caras na sexta... Sabe como .

    timo. S por esta resposta j dava para

    perceber que Gabriel continuava o mesmo panaca

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    retardado de sempre, com prioridades

    completamente invertidas.- Bom, eu no sei como - continuei,

    fazendo fora para no soltar qualquer insulto contra

    ele - Mas est ok. Ser que sbado tarde vai ser um

    horrio adequado para vossa alteza.Diante da minha provocao, Gabriel soltou

    mais uma risadinha. Era como se eu tivesse acabado

    de fazer um elogio ao idiota, o que no era verdade.

    Minha raiva era tanta que as minhas mos coaram

    para desligar o telefone na cara dele.- Sbado est perfeito para mim. Pode ser

    na minha casa?

    - No! - gritei, antes que pudesse me

    controlar. S de pensar no apartamento dele medava coceiras. Eram lembranas demais. - Quero

    dizer, acho mais adequado ser na minha. 14 horas.

    - Fechado, sbado na sua casa, s duas - ele

    disse, e eu pude sentir o seu riso sem mesmo o ver -

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    Mas, antes de desligar, ser que posso falar uma

    coisa?Eu no esperava por isto.

    - Claro... Por qu no?!

    - Voc fica muito gostosa danando s de

    toalha. - Seu babaca - eu berrei, apertando o boto

    de Off na hora.

    Sentindo o meu sangue ferver, fui para

    detrs das cortinas na janela da sala e encarei o porco

    que me observava do prdio do outro lado da rua -recostado no parapeito de seu quarto, de binculos

    na mo, acenando para mim com uma careta de

    satisfao maligna.

    Aquilo s podia ser um pesadelo.

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    Captulo 2

    No sbado, Gabriel chegou aqui em casa s duas

    horas da tarde. Em ponto.- Estou impressionada - disse, assim que

    atendi a porta. - Pelo menos nisto voc evoluiu, no

    mesmo?

    - Fao o que posso - ele me respondeu, me

    avaliando de cima baixo - Parece que no sou onico que... evoluiu.

    Mesmo contra a minha vontade, eu corei

    violentamente.

    - Por favor, vamos nos manter apenas aocampo educacional.

    - Era apenas um elogio.

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    - Agradeo de verdade, mas no preciso dos

    seus galanteios.Com um movimento de cabea, o convidei

    entrar e ele me seguiu. Era muito estranho ter o

    Gabriel de volta a sala do meu apartamento,

    completamente vontade, tanto tempo depois determinarmos. Na poca, ele era apenas uma

    moleque franzino com pinta de conquistador. Agora

    ele era um verdadeiro gal de novela.

    Uma pena que a personalidade dele era de

    um vilo.- Seus pais esto em casa?

    - No. Eles tiveram que ir trabalhar hoje.

    - Eles sabiam que eu viria?

    - claro que sim.Aquela era uma mentira deslavada. Nem

    meu pai e nem a minha me suspeitavam que eu

    estaria recebendo o meu nico ex-namorado no

    nosso apartamento. Mas no haviam com o que se

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    preocupar. A ltima coisa que eu faria na vida seria

    dar uns amassos com o ser na minha frente.- Pelo visto, eles confiam bastante em voc.

    - No teriam por qu no confiar...

    Chegamos cozinha e indiquei para ele a

    nossa mesa de jantar. Enquanto ele se ajeitava alicom o seu material, corri para o meu quarto e

    peguei a minha mochila.

    - Ento - comecei, assim que voltei para a

    mesa - problemas com Biologia.

    - Yeah - ele disse, seus lbios se curvandoem um meio sorriso travesso - Quem diria que

    algum to bem acostumado com a prtica poderia

    ter problemas na parte terica?

    Eu entendi muito bem o que ele quis dizercom aquela piadinha, mas preferi ignorar por

    completo. Era isto ou dar um soco na boca dele.

    - Voc costumava achar as minhas piadas

    engraadas...

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    - Eu tinha 14 anos - retorqui, abrindo o

    meu livro na parte de Gentica - Meu humor ficoumuito mais refinado desde ento.

    Gabriel olhou para mim como se eu o

    tivesse ferido.

    - Vamos nos focar nos estudos, por favor.- Tudo bem.

    Durante 30 minutos, fiz de tudo o que

    podia para colocar um pouco da matria na cabea

    daquele lesado. Gabriel no era um garoto burro,

    mas tinha srios problemas para se concentrar deverdade em coisas importantes. Quando percebi que

    comeava perder a sua ateno, resolvi fazer uma

    pausa.

    - Gostaria de beber alguma coisa?- Yeah, se no for incmodo.

    Fui at a geladeira e peguei a jarra de suco

    que eu tinha deixado preparada mais cedo. Por mais

    que tentasse fingir que no, eu sentia os olhos azuis

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    de Gabriel em mim - seguindo de perto cada

    movimento que fazia. De repente, aquele silncioem que ns estvamos comeou a me dar arrepios, e

    eu senti uma necessidade urgente de quebrar aquela

    tenso que crescia no ar ao nosso redor.

    - Ento, como vo as coisas? Curtindo avida adoidado? Namorando muito?

    - Quem dera...

    Eu me virei para ele e o encarei - deixando

    bem claro que no tinha acreditado nem por um

    segundo naquela resposta.- O que foi? - ele disse, encolhendo os

    ombros - As pessoas inventam demais. Se eu fizesse

    metade das coisas que os caras falam que eu fao, eu

    seria a pessoa mais feliz e sortuda do mundo.- Gabriel - eu comecei, finalmente

    colocando o copo com gelo diante dele - No

    precisa me enganar. Eu no sou cega. Todo fim de

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    semana eu vejo a movimentao de entra e sai de

    garotas diferentes da sua casa.- Voc fica me espionando?

    - No seja to ridculo - resmunguei,

    pegando o meu suco e o bebendo em um nico

    gole - No sou eu que fico da janela do meu quarto,com um binculos, observando os outros na

    intimidade das suas casas.

    - Eu no espio mais ningum alm de

    voc.

    Definitivamente, aquela conversa estavaseguindo um rumo que eu no havia planejado.

    - Quer mais suco?

    - No. Na verdade, quero conversar.

    Gabriel se levantou da cadeira em que estavasentado, e se aproximou da pia, aonde eu tomava

    mais um copo de laranja gelado, fazendo questo de

    no olhar para ele.

    - Ns no temos nada para conversar.

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    - Temos sim - ele se colocou s minhas

    costas, pressionando as suas mos ao meu redor comuma barreira humana, sua voz sem um pingo de

    humor - Fazem trs anos que eu tenho tentado falar

    com voc. E fazem trs anos que voc foge de

    mim. - Se eu me lembro bem, a ltima vez em

    que conversamos, as coisas no foram muito bem...

    - Na ltima vez em que conversamos, eu

    era um moleque bbado no dia do meu aniversrio.

    Agora estou sbrio e sou um homem.Eu tentei sair daquela posio, mas ele no

    deixou. Era tudo prximo demais, e eu no

    conseguia pensar direito. No podia me virar, pois

    se o fizesse, ficaria de frente para Gabriel. De frentepara os seus olhos azuis e para a sua boca infernal. E

    eu no queria fazer isto. Precisava respirar. Precisava

    sair dali.

    - Vamos voltar para a matria.

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    - No.

    - Por favor, me deixe passar - supliquei, jsentindo as lgrimas se acumularem.

    - No.

    Quando tentei me virar, ele foi mais rpido.

    Em um momento, eu estava de frente para a pia,lutando para no chorar. No outro, ele me tinha em

    seus braos fortes, nossos lbios unidos e

    esfomeados, nos interligando como se fossemos um

    s.

    Meu subconsciente clamava por ateno,xingando e me dizendo o quanto aquilo era errado,

    mas eu no o ouvia. Por mais que eu tentasse me

    enganar, eu sentia saudades da boca de Gabriel, de

    suas mos tocando a minha pele, de seu cheiroctrico inundando o meu olfato. E, ao que parecia,

    ele tambm sentia muitas saudades de mim - apenas

    levando em considerao a forma como o seu corpo

    se pressionava contra o meu.

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    No sei por quanto tempo ns ficamos nos

    beijando, mas me pareceu uma eternidade. Euestava totalmente sem flego, mas no queria parar.

    Se parssemos, eu iria comear pensar com clareza.

    E se pensasse, eu veria que estava fazendo algo que

    tinha prometido mim mesma nunca mais fazer.E foi exatamente isto o que aconteceu

    quando Gabriel se separou de mim e correu seus

    dedos pelos meus cabelos, enquanto tornava

    recuperar o flego.

    Assim que o ar voltou bombear no meucrebro, me lembrei da ltima vez que nos vimos -

    a ltima vez que ainda ramos namorados - e a dor

    atravessou o meu peito, as lgrimas j escorrendo

    pelo meu rosto sem controle algum.- Por favor, Gabriel, v embora.

    - No, Ceclia, no... Ns ainda no

    conversamos. Voc tem que me ouvir.

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    - Hoje no - murmurei, buscando o

    mximo das minhas foras para me afastar dele - Eupreciso ficar sozinha.

    Gabriel ainda tentou me abraar mais uma

    vez, mas eu consegui me esquivar. Quando ele viu

    que no estava brincando, ele suspirou resignado evoltou para a mesa - recolhendo o seu material o

    mais rpido que podia. Eu escutei os seus passos se

    afastando e a porta da sala se abrindo, no tendo

    coragem de levantar a minha cabea e ver ele deixar

    a minha casa.Porm, antes que fosse embora, ele voltou

    ao corredor e disse:

    - S queria deixar claro que, mesmo

    conseguindo fugir de mim hoje, eu no desisti.Voc sabe, to bem quanto eu, que a nossa histria

    ainda no acabou. Muito pelo contrrio.

    No instante que eu ouvi a porta se fechar

    atrs dele, deslizei para o cho gelado da cozinha e

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    chorei tudo aquilo que havia segurando durante

    todos estes trs anos.

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    Captulo 3

    - Ele fez o qu?!

    Joana estava praticamente gritando notelefone.

    - Foi o que voc ouviu... - murmurei,

    trancada no meu quarto e soterrada por uma

    avalanche de travesseiros e cobertores - Ele me

    beijou e falou que a nossa histria no acabou.- O Gabriel estava bbado? Por que nunca

    ouvi algum dizer tanta bobagem em to pouco

    tempo!

    - Quem dera se ele estivesse bbado. Pelomenos, assim eu saberia como agir.

    Enquanto minha amiga continuava se

    esgoelando do outro lado da linha, gritando

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    obscenidades contra o meu ex-namorado, eu

    desliguei o abajur do lado da minha cama e fiqueiescutando o barulho da rua.

    Meus pais j haviam voltado do trabalho, e

    estavam na sala - assistindo um filme policial. Eles

    perguntaram se eu no gostaria de ir com eles umrodzio de massas, mas o meu nimo estava no cho.

    A ltima coisa que esperava quando aceitei

    ser tutora do Gabriel era que ele se declarasse para

    mim. Na minha cabea, ele j tinha superado tudo e

    me esquecido.Mas as coisas nem sempre so do jeito que

    ns imaginamos.

    - Amiga, voc ainda est a?

    - Sim - respondi, limpando as lgrimas queteimavam em escorrer periodicamente dos meus

    olhos - s estou um pouco cansada disto tudo. Eu

    quero dormir e ver se isto na verdade no um

    pesadelo...

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    - Ento dorme, minha flor - disse Joana, sua

    voz to afvel que me deu mais vontade ainda dechorar - Amanh vai ser um novo dia. E pode

    deixar, que se aquele babaca tentar se aproximar de

    voc, eu arranco as bolas dele fora!

    Quando desliguei o telefone, a nica coisaque eu conseguia fazer era ficar estirada aonde

    estava, vendo o mundo caminhar minha volta,

    enquanto o meu corao lutava para sair do meu

    peito. Tudo o que eu pensava era que o Gabriel no

    tinha o direito de entrar de novo na minha vida,tanto tempo depois de terminarmos, e bagunar as

    coisas.

    Eu estava bem. Estava feliz. Agora tudo o

    que eu estava era confusa.Quase como por uma vingana, meu

    subconsciente fez questo de me recordar dos

    momentos sombrios que anteciparam o nosso

    rompimento. Me lembrar daquelas cenas ainda me

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    machucavam demais. S que eu estava muito

    debilitada para lutar contra o fluxo constante depensamentos.

    Sem que eu percebesse, eu j estava

    mergulhada em um sono tempestuoso, profundo e

    agitado. Mas no era um sonho ruim qualquer queme atormentava. Era a memria da noite do

    aniversrio de dezesseis anos do Gabriel.

    A noite em que ele mostrou para mim a sua

    verdadeira face.

    * * * * *

    Eu estava animada. Aquela seria a primeira

    vez em que eu iria ser apresentada aos pais doGabriel como a sua namorada, e isto aconteceria na

    sua festa de aniversrio. Durante a tarde toda, eu e

    minha me ficamos escolhendo o que deveria vestir.

    No fim, decidimos por um vestido rosa muito

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    lindinho, que eu nunca tinha usado - e mame

    estava to empolgada com aquela agitao que atme emprestou uma de suas sandlias rasteirinhas.

    Assim que anoiteceu, eu sa de casa e

    atravessei a rua - em direo ao prdio do outro

    lado. J na portaria, o pai do Gabriel me avisou

    que o aniversrio estava acontecendo no salo do

    condomnio, e que era para eu ficar tranquila, pois

    ''no tinha nenhum velho por l para estragar a

    diverso dos jovens''. Depois que o seu Aluzio meindicou a direo, eu me guiei pela msica alta que

    chegava at mim e encontrei a festa.

    O salo estava tomado pelos amigos do

    Gabi, e a maioria era bem mais velha do que eu.Eles riam alto, pulavam e se jogavam na piscina,

    bebendo cerveja e danando funk. At aquele

    momento, no sabia que haveria bebida alcolica na

    festa, e isto me deixou meio desconfortvel. Mas a

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    foi quando o Leo, o melhor amigo do Gabriel, me

    achou e me disse que o meu namorado estava meesperando na velha sauna desativada, depois do

    parquinho.

    No entendi muito bem por qu ele queria

    me encontrar em um lugar to distante assim dosseus convidados, mas no hesitei em ir ao seu

    esconderijo - j que toda aquela algazarra estava me

    deixando um tanto apreensiva.

    Logo que entrei na sauna, vi o Gabriel

    sentado em um dos bancos de madeira - usandoapenas uma sunga preta - e com uma latinha de

    cerveja na mo. Por um momento, fiquei

    admirando o seu belo fsico seminu e o seu cabelo

    negro, que escorria por sobre os seus olhos de tomidos que estavam. A cena s no mexeu mais

    comigo pois, quando ele viu que eu tinha chegado,

    tentou se levantar para me receber - e este pequeno

    gesto denunciou o quo alto ele estava.

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    - Meu anjo, voc chegou!

    Ele me saudou de um jeito meio enrolado,e de longe pude sentir o seu hlito de bebida.

    - Feliz aniversrio...

    Antes que eu pudesse me aproximar mais,

    Gabriel j estava praticamente em cima de mim -me beijando de um jeito que nunca tinha feito

    antes. O beijo era ousado e intenso, e no comeo,

    senti um fogo correr pelas minhas veias como

    resposta. Mas a minha reao durou pouco. Nosso

    encontro no estava nem um pouco romntico,como das outras vezes. E seu gosto estava diferente,

    amargo devido a cevada, e aquilo meio que quebrou

    o clima para mim.

    - Hum - eu disse, quando finalmenteconsegui me desvencilhar dele - Isto foi... intenso.

    - Hoje eu estou muito intenso, baby.

    No me dando tempo para qualquer reao,

    Gabriel me puxou e enlaou os seu braos sobre

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    mim - uma de suas mos no meu traseiro e a outra

    sobre os meus seios. Na mesma hora, congelei nolugar assustada. Nunca ele havia avanado o sinal

    comigo, e aquilo me pegou desprevenida. Tomada

    pela raiva, o empurrei para longe de mim e ele rolou

    pelo cho, rindo de to trpego que estava.- Que foi isso, Cissa? No vai me dar o meu

    presente de aniversrio?!

    Ento era isto que ele queria? Que eu desse

    para ele a minha virgindade, como um presente?

    Ainda sem acreditar e tomada pelo nojo, tentei dar avolta e sair dali, mas Gabriel foi mais rpido e me

    enganchou pelas pernas.

    - Me desculpe, gata - ele disse, no

    conseguindo se sustentar - Foi s uma piada. Noprecisa ficar nervosa.

    Eu o encarei, jogado no piso da sauna, e

    percebi que estava sendo dura demais. Gabriel estava

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    visivelmente fora de si. To fora de si que chegava

    ser vergonhoso.- Voc est caindo de bbado, Gabi -

    comentei, ainda olhando dura para o meu

    namorado.

    - Yeah. Eu sei - ele respondeu, noconseguindo controlar uma risadinha - Tive que

    bancar o James Bond para trazer cerveja para festa

    sem os meus pais saberem.

    Enquanto o ajudava se levantar, senti um

    alvio enorme tomar conta de mim. Saber que osmeus sogros nada tinham haver com todos aqueles

    jovens bbados era um item menos para a minha

    lista de decepes. Entretanto, eu no gostaria de

    ver a cara deles quando Gabriel voltasse para casatrocando as pernas.

    - Voc me desculpa? De verdade? - Gabi

    me perguntou, sua voz engrolada e arrastada.

    - Sim. Tudo bem.

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    - Ento me d um beijo de parabns...

    - Claro.Quando me preparava para ficar nas pontas

    dos ps para lhe plantar um beijo nos lbios, Gabriel

    se esquivou de mim e arriou a sua sunga at os

    joelhos. Aquilo me deixou horrorizada. Ele estavanu em pelos na minha frente, balanando o seu

    pnis ereto na minha direo como um idiota.

    - O que foi? Eu pedi um beijo, e voc

    aceitou. Em nenhum momento ns combinamos

    aonde...Fui tomada pela raiva. No deixei ele nem

    terminar a frase; o soquei com toda a minha fora

    bem no meio do nariz. Meus estmago se revirava

    diante de todo aquele circo, mas tive o prazer de verele caindo ao meus ps, guinchando de dor.

    - Nunca mais, seu estpido! - gritei, as

    lgrimas vertendo livres pelo meu roto - No fale

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    mais comigo. No me procure. Finja que eu no

    existo!Completamente abalada e enojada, o deixei

    estirado no piso e sai correndo.

    Passei pelos convidados da festa como um

    furaco. As pessoas olhavam para mim como se eutivesse enlouquecido, mas no dei a mnima. No

    parei por um minuto sequer, at chegar em casa e

    me trancar no meu quarto.

    Meus pais tentaram falar comigo, mas os

    ignorei. Eu s queria saber de chorar e chorar, meutelefone celular tocando sem parar, me avisando

    sobre mensagens de voz e de texto - que eu exclua

    sem pestanejar. O nico momento em que abri a

    porta foi quando Joana chegou e eu contei tudo paraela. Aquele tinha sido o nosso fim. E, desde ento,

    nunca mais falei com Gabriel Beruna.

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    Captulo 4

    Na segunda-feira, assim que coloquei os meus psna rua pela manh, me deparei com Gabriel - me

    esperando na calada em frente ao meu prdio.

    - Ser que posso te acompanhar para a

    escola?

    Eu olhei para ele, minha boca to abertaquanto a da Kristen Stewart nos cinco filmes de

    Crepsculo. - A rua pblica. Voc pode fazer o

    que quiser.

    - No posso ficar nu na rua. Isto considerado atentado ao pudor.

    - verdade. Me esqueci que voc era

    exibicionista.

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    No esperei pela sua resposta. Comecei

    andar em direo ao colgio, rezando empensamento para que ele desistisse e no me

    seguisse. Mas, poucos segundos depois, Gabriel

    apareceu do meu lado - e isto provou mais uma vez

    que eu deveria estar com um dbito muito grandeno Cu.

    - Eu s quero me desculpar. Sei que tenho

    sido um idiota desde... sempre. Mas que, porra,

    eu t comeando ficar desesperado. Voc s me

    ignora.- Uma vez, muito tempo atrs, voc

    tentou se desculpar e eu aceitei. Um segundo

    depois, arriou as suas calas na minha frente e me

    pediu para fazer um boquete.- Quantas vezes vou ter que repetir que eu

    estava bbado? Sei muito bem que sbrio j no sou

    muito inteligente, imagina quando entorno todas...

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    Ele estava se menosprezando, e aquilo me

    pegou de surpresa. Gabriel Beruna, o garanho maisconhecido, metido e desejado de toda escola - e de

    todo o bairro - estava se menosprezando por minha

    causa. Diante da constatao, um n apertado

    comeou a machucar o meu peito.Maldito corao mole e traidor.

    - Por favor, no banque o coitadinho -

    resmunguei, fazendo fora para demonstrar toda a

    minha falsa irritao - Os seus truques no

    funcionam mais comigo.- No estou bancando o coitadinho - disse

    ele, sua voz to triste que tive vontade de parar e

    abra-lo.

    O que estava acontecendo comigo? Sfaziam trs dias desde que Gabriel voltara a minha

    vida, e eu j estava tendo sentimentos confusos por

    ele. De novo.

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    - Voc me magoou demais, Gabriel. Eu

    queria te dar o meu corao, e voc s queria seenfiar dentro da minha calcinha.

    - Isto no verdade.

    Parei e olhei para ele de forma incisiva.

    - Quero dizer, claro que eu queria. E nome leve mal, ainda quero muito... Mas isto no

    muda o fato de que eu gosto de voc. Sempre gostei

    de voc.

    Definitivamente, eu no esperava por

    aquilo. Por mais que eu tentasse negar, o meucorao quase explodiu em milhares de pedaos ao

    ouvir aquela confisso. Era sbado tudo de novo, s

    que duas vezes pior. Eu podia lidar com um beijo.

    Uma declarao? Isto era demais.- Voc no pode ficar andando pela rua e

    dizendo este tipo de coisa para as pessoas -

    resfoleguei, procurando pelo ar que me faltava.

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    - Mas eu no fao isto - disse ele, parando

    na minha frente e colocando as mos na minhacintura - Eu s digo isto para voc. E, por acaso, ns

    estamos andando na rua.

    - Gabriel Beruna - comecei, minha pele

    formigando enquanto ele deslizava os seus dedospara cima e para baixo de forma ritmada - Ns

    somos diferentes. Isto nunca vai dar certo. J no

    deu certo uma vez, e no acho que estou preparada

    para um replay daquilo.

    - Eu no acredito nisto...E, pela segunda vez em trs dias, Gabriel me

    beijou com paixo.

    Mas agora ns estvamos no meio da rua,

    caminho da escola, e os estudantes que cruzavam onosso caminho olhavam para a gente com interesse

    genuno. Alguns batiam palmas entusiasmados.

    Outros davam muitas risadinhas e assobiavam. Eu

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    no me importei com aquilo. S os movimentos dos

    lbios dele nos meus me interessavam.- Ceclia... O que voc me diz? - ele me

    perguntou, no me dando espao para respirar. -

    Pode me dar uma segunda chance?

    Antes que eu respondesse, um grito agudo echeio de dio nos atingiu em cheio.

    - Seu cuzo idiota! O que pensa que est

    fazendo com a minha amiga?

    Joana nos separou com fria e se colocou na

    minha frente, de forma protetora. Eu no podia vercomo ela encarava o Gabriel, mas tendo como base

    a expresso dele, no deveria ser uma cara muito

    boa.

    - E a? Quem voc pensa que para brincarcom a Ceclia desta forma?

    - Isto no da sua conta, Pimentinha.

    Ai! Joana no suportava aquele apelido.

    Somente eu podia chamar ela de pimentinha. Mais

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    ningum, muito menos o Gabriel. Eu queria avisar

    para ele que tinha acabado de entrar em terrenoperigoso, mas nem precisei. Ondas de raiva

    pareciam emanar da minha amiga, e todas elas

    estavam direcionadas para o garoto sua frente.

    - Nunca mais encoste um dedo nela - Joanaempurrou ele com fora para trs, quase o

    derrubando da calada - se no...

    - Se no o qu?! O qu voc vai fazer

    comigo, sua louca?

    A situao toda estava saindo do controle.As pessoas comeavam parar ao nosso redor, no

    mais vendo um momento de amor jovem. Agora

    eles tinham um espetculo completo. E eles

    cochichavam e apontavam os seus dedos para agente - observando a cena como se fizssemos parte

    de um reality show adolescente ridculo.

    - Voc no gosta dela! S est correndo

    atrs da Ceclia por que ela foi a nica garota em sua

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    vida que te dispensou. Ela um desafio para voc,

    s isso.- No seja tosca. Voc no sabe nada sobre

    mim...

    - No sei?! Quer mesmo que eu diga para

    todo mundo o que sei?- E o que voc sabe, hein?! Fala! O que

    voc pensa que sabe sobre mim?

    - Pergunte para a Cissa. Pergunte como a

    minha amiga se sentiu quando voc tentou transar

    com ela fora e, no satisfeito, pediu que chupasseo seu pau nojento como presente de aniversrio!

    Na mesma hora, todos que assistiam briga

    caram na gargalhada. Todos olhavam para mim, e

    eu podia ouvir os seus julgamentos, seuscomentrios maldosos e as suas piadas sujas.

    Percebendo o que estava acontecendo, Gabriel se

    desvencilhou de Joana e tentou se aproximar, mas

    eu no queria ouvir mais nada.

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    Eu s queria fugir.

    - Cissa, por favor, se acalme...- No se aproxime de mim - eu gritei, as

    lgrimas comeando nublar a minha viso - S me

    deixe em paz. Sempre que se aproxima de mim, eu

    acabo me machucando. Voc me faz mal. Estoucansada disto. Cansada de voc!

    Tanto Gabriel quanto Joana tentaram me

    segurar, mas eu corri. Enquanto fugia, as pessoas

    saiam da minha frente, seus olhares de reprovao

    me perseguindo por onde eu fosse. Eu corri semdireo pelas ruas, tomando um caminho diferente,

    que no me levava nem para casa e nem para a

    escola. S queria ficar sozinha, com o resto de

    dignidade que ainda me restava.O que, depois de hoje, j no era muita

    coisa.

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    Captulo 5

    No tive coragem de ir para a escola depois do

    papelo que passei na segunda. Eu sabia que no

    poderia fingir que estava doente para sempre, mas

    aquela semana era o suficiente para mim.

    Quando entrei no Facebook, o barraco erao assunto mais comentado. Algum gravara a briga

    toda pelo celular, e o que eu mais via era o pessoal

    do colgio compartilhando a minha tragdia pessoal

    para quem quisesse ver.Mame tentou saber desesperadamente o

    que estava acontecendo comigo, mas eu s dizia que

    estava com muita enxaqueca - o que no deixava de

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    ser verdade. Entretanto, no tive colhes de dizer

    para ela sobre o meu inferno astral. Desta forma, osproblemas ficavam fora da minha casa, e eu podia

    me proteger na minha pequena fortaleza da solido.

    O pior de tudo foi ter que ignorar a minha

    melhor amiga. Joana ligava para mim todos os dias.Ela pedia perdo por sua ''boca grande'', e falava que

    s estava tentando me proteger. Eu sabia disto, mas

    estava magoada. Se ela no tivesse gritado sobre

    mim no meio da rua, nada disto teria acontecido.

    Em contra partida, Gabriel deixou de meprocurar. Ele no enviou nenhuma mensagem para

    o meu celular desta vez, nem mandou recado. No

    fundo, eu meio que queria que ele viesse correndo

    atrs de mim e tentasse concertar tudo, mas isto norolou. Era at meio irnico que, agora que ele

    finalmente tinha largado do meu p, eu me sentisse

    to infeliz.

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    Por isso tudo, a ltima pessoa que eu

    esperaria encontrar no sbado - de p na minhaporta - era justamente ele.

    - O que voc est fazendo aqui? -

    perguntei, me enrolando ainda mais no roupo que

    acabou se tornando a minha segunda pele duranteaqueles dias.

    - Vim para a minha aula - Gabriel

    respondeu, entrando no apartamento sem nem ser

    convidado - Ande, v se arrumar enquanto eu fico

    aqui te esperando.Eu apenas o encarei, no acreditando no

    tamanho da sua cara de pau.

    - O qu? Pensou realmente que tinha

    desistido? - ele sorriu, balanando a cabea emdescrena - Eu sabia que aquilo que aconteceu na

    segunda mexeu com voc. Mexeria comigo

    tambm, se desse alguma bola para as merdas que

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    falam de mim. Por isso eu te dei um tempo para

    pensar. Foi s.Sem saber como reagir diante daquela

    situao, acabei fazendo o que ele tinha sugerido e

    fui tomar banho. Demorei bem mais do que o

    normal, mas a ducha me ajudou relaxar. Quandovoltei para a sala, j arrumada, Gabriel andava de um

    lado para o outro do cmodo, de to impaciente

    que estava.

    - Nossa, at que fim - ele exclamou,

    percebendo a minha chegada - Achei que iadefinhar eternamente aqui e voc no ia sair daquele

    banheiro.

    - No seja melodramtico - eu disse,

    pegando o meu material e me aproximando dele -Ento, vamos ao estudos?

    - claro, mestre. Foi para isto que eu vim

    aqui.

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    Gabriel me lanou um sorriso to sacana

    que, se no me controlasse, poderia ter metransformado em uma poa d'gua bem diante dos

    seus olhos. Mas, ao contrrio do que ele poderia ter

    dado entender, ns realmente estudamos.

    E eu estava surpresa. A evoluo desta nossaaula com relao primeira era inimaginvel. Ao

    que parecia, Gabriel enfim comeava levar as

    coisas mais srio, e - mesmo no querendo

    confessar - me senti um pouco orgulhosa por estar

    participando daquele processo de evoluo.- Meus parabns - comentei, assim que

    corrigi os exerccios de fixao que havia passado

    para ele - Acho que algum andou estudando de

    verdade durante a semana.- Yeah, na verdade, eu estava tentando

    impressionar a minha professora. Ela teve uma

    semana difcil, e queria agradar....

    - Acho que o seu plano funcionou.

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    Ns dois trocamos um rpido olhar

    conspiratrio e acabamos caindo na gargalhada.Gabriel Beruna podia ser um idiota, galinha, metido

    engraadinho, que fazia tudo com segundas

    intenes... Mas uma coisa eu no podia negar: ele

    sempre soube como me fazer rir.- Bom, terminamos por hoje.

    - timo - ele disse, fechando o livro de

    Biologia e j se levantando do sof - Agora eu vou

    levar uma garota super-gostosa para andar de moto,

    e se ficar mais tarde, ela no vai querer sair.No mesmo instante, senti o meu rosto

    queimar e o meu corao despencar para o

    estmago - o que era ridculo, pois, eu sempre

    soube que o Gabriel era assim. Do tipo ''novo dia,nova garota''. Mas, no fundo, eu estava gostando de

    imaginar que ele havia mudado por minha causa -

    por mais que fingisse que no.

    Ledo engano.

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    - Espero que se divirta - eu disse, minha

    voz saindo sem emoo alguma.- No sei no. Ela ainda no imagina que

    vou cham-la para sair.

    - Por qu voc no convidou ela?

    - o que estou tentando fazer...- Ento v logo, seu idiota! - retruquei, no

    conseguindo mais esconder o cime.

    - Ceclia, voc quer dar uma volta de moto

    comigo?

    * * * * *

    Logo que chegamos na garagem do seu

    prdio, eu j estava arrependida de ter dito sim paraaquele convite absurdo.

    - Ser que no podemos pular esta histria

    de passeio de moto e irmos, sei l, dar uma volta na

    pracinha aqui atrs?

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    Gabriel me ignorou por completo e me

    entregou um capacete. Quando percebeu que euno fazia nenhuma meno de me aproximar

    daquele monstro de lata, ele me puxou pela cintura

    e me colocou em cima da motocicleta como se eu

    fosse uma boneca.- Prometo que voc vai se divertir.

    Ele montou na minha frente e deu partida no

    motor. Quando a mquina rugiu furiosa embaixo de

    ns dois, me segurei desesperada ao tronco de

    Gabriel - apertando tanto a sua camisa de gola V quequase rasguei o tecido.

    - Cissa, pode ficar tranquila, no vou deixar

    voc cair. - pego de surpresa pela minha reao, ele

    olhou para as minhas mos em seu peito e ento meencarou com uma satisfao genuna. - Mas, se

    quiser, no ligo se continuar me apertando desse

    jeito. Pode at me abraar mais forte...

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    Eu sabia plenamente que Gabriel estava me

    provocando, mas no me importei. Tremia tantoque, mesmo sem sairmos do lugar, eu j estava

    sentindo borboletas voando na barriga.

    -Aonde ns vamos?

    -Voc j vai saber.Deixamos a nossa rua, e seguimos em uma

    velocidade constante. No incio da viagem, meu

    nervosismo no me deixava fazer nada alm de

    pressionar o meu rosto com fora contra o ombro

    direito de Gabriel. Mas, com o tempo, o fascnio desentir o vento passando pelo meu rosto e o sol

    tocando a minha pele comeou a vencer o medo

    que flua dentro de mim. Abrindo os meus olhos

    bem lentamente, vi a paisagem ao nosso redor setransformar em um estranho borro de cores e

    formas, como se vossemos livres entre os carros e os

    nibus.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - Isto realmente incrvel sussurrei em

    seu ouvido, consciente at demais da nossaproximidade.

    - Eu disse que voc ia gostar. Mas esta s a

    primeira parte do nosso encontro.

    - No sabia que isto era um encontro.- Bom, agora j sabe das minhas reais

    intenes.

    Eu no pude deixar de sorri diante da

    confiana que transbordava em sua voz. Era

    engraado como esta caracterstica dele pudesse meirritar tanto na maioria das vezes, mas em alguns

    momentos, me deixava completamente enfeitiada.

    - Eu sempre soube, Gabriel eu disse,

    voltando a me encolher contra o algodo macio desua camiseta S no consigo entender o por qu.

    - Quero voc de volta. Ponto final. Se voc

    aceitou, acho que a senhorita tambm quer, no

    mesmo?

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - No sei mesmo. De verdade, no fao a

    mnima ideia.

    * * * * * *

    Depois do nosso passeio de moto, Gabrielme levou uma cafeteria. Ns nos sentamos em

    uma mesa na calada, e ele pediu para mim um

    grande copo de ch gelado e uma cesta com pes de

    queijo.

    - Estes pes so divinos.- Yeah. So os melhores que j provei

    disse ele, dando um longo gole em seu expresso,

    ficando srio de repente e me fitando com seus

    olhos claros - Desde que vim aqui pela primeira vez,eu pensei em te trazer.

    Eu olhei para Gabriel, mais vermelha do

    que um pimento e no acreditando em como ele

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    soltava estas bombas relgio com tamanha

    naturalidade.- Olha, j pedi para voc no falar destas

    coisas...

    - E eu j te disse que a verdade ele

    continuou, pousando sua caneca na mesa edespenteando o seus cabelos negros No sei mais o

    que fazer para te mostrar que eu gosto de voc.

    Desde que nos separamos, no deixei de pensar em

    ns dois um nico minuto sequer.

    - No seja to hipcrita, Gabriel... retruquei, me concentrando na movimentao da

    rua Eu no sou a vil desta histria, nem voc

    um mrtir apaixonado. Nestes trs anos que se

    passaram, eu via as garotas com voc, no seuapartamento. Escutava as histrias.

    - Nenhuma delas tiveram a mnima

    importncia para mim. - Gabriel suspirou, no

    escondendo a sua frustrao ao tocarmos no assunto

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    Sei que vai parecer machista o que vou dizer, e

    deve ser mesmo, mas eu sou homem. Merda, tenhonecessidades! Eu queria te esquecer, tentar te

    arrancar alguma reao, e todas elas estavam

    dispostas me ajudar. Se eu soubesse que em

    nenhum dos casos eu obteria sucesso, acho que noteria sido to galinha quanto fui.

    - Veja s, nem tudo foi em vo - comentei,

    no me controlando tempo. - Eu fiquei com

    cimes...

    - Mas que preo isto custou? Voc noconfia mais em mim. Foge, como se eu fosse um

    monstro, um criminoso querendo arrancar a sua

    virtude. Ignora as minhas desculpas, por mais que eu

    me rasteje aos seus ps.- Eu no ignorei as suas desculpas disse,

    cansada daquele jogo de gato e rato. Estava na hora

    de colocarmos as cartas na mesa, de uma vez por

    todas E isto que me assusta. Eu ainda gosto de

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    voc, mesmo sabendo que somos diferentes. Mesmo

    com suas burradas e sua pssima fama bem fresca naminha cabea. Estou confusa, com medo, e no sei

    o que fazer.

    - S me diga que vai pensar, pensar de

    verdade, na minha proposta. Isto tudo o que eupreciso escutar agora.

    Ns nos encaramos por um bom tempo, e

    isto me fez perceber em quo perdida eu estava.

    Aquele era um caminho sem volta, por mais que

    repetisse para mim mesma que no. No havia outraresposta.

    - Tudo bem dei um longo gole no meu

    ch gelado e respirei fundo, tomando cincia do que

    estava para fazer partir de hoje, voc estoficialmente no programa de teste para voltar ser o

    meu namorado.

    Pela primeira vez em muitos anos, Gabriel

    se virou para mim e me lanou um genuno sorriso

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    de vitria. Sua felicidade era to grande e

    transparente que ele levantou-se da cadeira em queestava sentado e me puxou pelos braos, nos girando

    na calada como dois doidos varridos.

    - Yeah! Eu prometo que no vai se

    arrepender, Cissa.- Calma, garoto! Ainda nem te disse sim

    nem nada.

    - Como voc bem falou, ainda no ele

    respondeu, levantando de leve o meu queixo

    e plantando um beijo rpido em meus lbios, antesque eu pudesse me esquivar.

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    Captulo 6

    Quando voltei para a escola, na semana seguinte, eu

    j sabia o que esperava por mim.

    - Olhem s, a ltima Virgem!

    - Voc seguraria o meu amiguinho por uns

    10 segundos se eu prometesse me casar depois?!As gargalhadas infames, os xingamentos e as

    piadinhas sujas me seguiam aonde eu fosse. Se no

    era isto, eram os cochichos e as fofocas. Aquilo

    estava insuportvel, e eu teria corrido no primeirosegundo se Gabriel no tivesse se aproximado de

    mim e olhado feio para qualquer um que tentasse

    me achincalhar.

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    - T tudo bem?

    - No est no - confessei, com um longosuspiro - Mas vou superar.

    Ele me acompanhou at a sala, o que foi

    muito fofo. Pelo visto, no estava brincando ao

    dizer que faria o que fosse possvel para obter denovo o meu sim. E no posso negar que curti o seu

    empenho.

    Mas, se com Gabriel, as coisas iam bem, o

    mesmo eu no podia dizer sobre Joana. Se no fosse

    por ela, com certeza no estaria no olho do furaco.Entretanto, notava-se de longe que estava

    arrependida.

    Durante a nossa primeira aula, minha amiga

    tentou se aproximar diversas vezes - mas eu semprerecuava, impondo uma barreira invisvel entre ns.

    No que eu a considerasse a pessoa mais horrvel do

    mundo, bem longe disto. Era que ainda estava

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    magoada, triste, e precisava de um tempo para

    pensar com mais clareza.No intervalo, porm, as coisas foram de mal

    pior.

    Gabriel me levou para o ptio aberto,

    segurando na minha mo como se eu ainda pudessefugir. Quando demos a volta na cantina,

    encontramos um grupo grande de alunos, que

    pareciam exaltados e animados ao olharem para o

    muro da escola.

    - O que est acontecendo?- Eu no sei... Mas tenho certeza que no

    bom.

    Ns dois demos a volta na pequena

    multido, e - depois de algumas cotoveladas eempurres - finalmente chegamos ao foco de tanta

    ateno.

    Era simples, horrvel e surreal, como um

    desenho maldoso passado em forma de bilhete entre

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    alunos do ensino fundamental. S que a pichao

    minha frente era tudo, menos infantil. Afinal, nosmeus tempos de primrio, ningum nunca tinha

    pintado para mim um pnis gigante na parede do

    colgio, feito com tinta jet vermelha e ejaculando os

    dizeres ''Para Ceclia, com amor!''.- Quem foi o babaca que fez isto?! - gritou

    Gabriel, seus olhos dilatados em fria, enquanto eu

    lutava para no vomitar no cho aos meus ps -

    Desembuchem!

    Ningum se manifestou. As pessoas solhavam para o falo descomunal e caricato,

    apontavam para mim e caiam na gargalhada. Como

    se fosse possvel, eu me sentia ainda pior do que na

    segunda feira passada. A palavra humilhao haviaganhado propores picas.

    Ao me preparar para abandonar tudo e

    fugir, senti um par de mos me segurarem no lugar.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    Quando me virei, encontrei Joana - seu rosto lvido

    ao ver o desenho s minhas costas.- Esta histria passou dos limites - ela disse

    bem baixinho, afagando de leve os meus ombros

    para me tranquilizar.

    Gabriel continuava encarar a turba comraiva, mas a sua intimidao no estava funcionando.

    Eles eram muitos, e eu era o novo brinquedinho de

    estimao.

    Inspirando profundamente, Joana me

    deixou aonde estava e foi se juntar ao meu ex-futuro possvel namorado. No mais brigando

    contra o rapaz, e sim se aliando ele.

    Os dois ao meu favor.

    - Vocs deveriam ter vergonha! - minhaamiga urrou, andando na frente dos espectadores

    igual um boxeador pronto para a luta - No estou

    vendo nada de engraado em humilhar uma garota

    que nunca fez nada para vocs...

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    Ningum escutava o que Joana dizia. Os

    alunos reunidos ali continuavam a gargalhar e gritarcoisas sujas para mim. Eu nem conseguia chorar,

    tamanho era o meu choque e o meu horror. S

    sentia nojo da situao.

    - Ento querem algo para rir, no mesmo,pessoal? - Joana esbravejou, ficando to vermelha

    quanto o seu cabelo - Por qu no rimos do Joo

    Carlos? , dele mesmo! Ou todos vocs se

    esqueceram do breve e trrido caso de amor entre

    ele e uma meia velha no vestirio do ginsio?!Na mesma hora, Joo Carlos - que estava na

    frente do grupo - parou de soltar suas asneiras. As

    pessoas ao seu redor perdiam o flego de tanto dar

    risada, mas ele visivelmente j no se sentia tosatisfeito e cheio de si quanto antes.

    - E o que dizer do Lus e do Betinho... -

    continuou Gabriel, encarando os dois garotos sua

    direita e remexendo ainda mais no ba de escndalos

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    da escola -Adoram dar uma de macho alfa na frente

    dos amigos, mas quando bebem e ficam depilequinho, s faltam jogar gua para separarem os

    dois.

    - Ah, gente, no podemos esquecer da

    Roberta, claro... - exclamou Joana, fingindo selembrar de algo realmente importante - Ser que a

    irm dela j descobriu que o seu padrinho de

    casamento, dez anos mais velho do que a sua

    caulinha menor de idade, pode virar o seu genro

    qualquer instante?Aos poucos, o grupo comeou a parar de rir

    e de fofocar. Alguns ainda me olhavam com

    expectativa. Mas no haviam mais comentrios

    maldosos, ou recriminaes. S havia vergonha.- Quando as vtimas de uma fofoca maldosa

    somos ns - disse minha amiga, por fim, lanando

    um meio sorriso cheio de triunfo para a plateia -

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    acaba que a coisa meio que perde a graa, no

    mesmo?Todos se calaram. No havia resposta para a

    verdade.

    - Mas se quiserem completou Gabriel, seu

    rosto cheio de malcia - posso continuar aqui,contando vrias coisas divertidas que eu sei e ainda

    no compartilhei com vocs...

    Como se aquilo fosse um sinal, a turma

    inteira se dispersou, cada um indo para o seu lado -

    ficando apenas ns trs diante do muro pichado.Gabriel veio at mim e me abraou forte, seguido de

    perto por uma Joana um tanto quanto tmida.

    - Me desculpe. Isto tudo minha culpa. Se

    eu no tivesse feito aquele show na segunda...- Jo. No precisa se desculpar. - eu a

    interrompi - Estava sendo uma boba por ficar te

    dando um gelo. Voc foi incrvel agora. Eu que

    preciso agradecer. Aos dois.

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    Ns duas estvamos quase chorando. No

    fim, aquele Circo dos Horrores at que acaboutendo uma funo importante: me reaproximar de

    Joana, e me fazer escutar o que ela tinha para dizer.

    - Promete que nunca mais vamos brigar? -

    perguntei, segurando bem forte a sua mo.- Eu prometo - ela respondeu.

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    Captulo 7

    - Ento, quer dizer que voc e o Gabriel enfim

    voltaram?

    Joana e eu estvamos na minha casa,

    esparramadas no cho da sala, vendo televiso. Ela

    passeava pelos canais cabo distraidamente, no seconcentrando em nada especial.

    - Tecnicamente, no - respondi, dando de

    ombros.

    - Como assim, ''tecnicamente''?- Bom - eu disse, pegando o controle da

    mo dela e colocando no canal de clipes - Ele me

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    pediu uma segunda chance. Eu disse que ia pensar.

    Basicamente, estamos em uma fase de testes.- Ento, por enquanto, vocs so amigos

    com benefcios no quarto?

    - Joana!

    - Estou brincando. Sei que s est deixandoo gostoso idiota de molho at dizer sim. Eu faria a

    mesma coisa depois daquele drama todo, s para ele

    aprender no brincar comigo. Mas no posso negar

    que o paspalho tem bom gosto por voltar a correr

    atrs de voc.- Ele disse que nunca me esqueceu... -

    comentei, aumentando um pouco o volume da Tv.

    - E que saiu com este bando de garotas para tentar

    me esquecer.- Aham, sei - disse Joana, arqueando as

    sobrancelhas com descrena - Porm, dou meu

    brao torcer e reconheo que isto foi meio fofo.

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    Sob um ponto de vista pervertido e bastante

    doentio, claro.Ns duas trocamos um rpido olhar e

    camos na gargalhada.

    - E, se isto contar ao favor dele, o Gabriel

    me pareceu furioso de verdade com o lance dapichao.

    - Sim, por qu ele de fato estava furioso

    com o desenho.

    - Desculpa, no entendi a nfase.

    - O Gabriel est louco para saber quem foio responsvel. - confessei, me lembrando de como

    ele ficou transtornado depois do intervalo.

    - Mas a direo j mandou limparem o

    muro. - Eu sei disto. Mas ele no ficou nada

    satisfeito. Achou que a escola tinha que correr atrs

    de verdade do engraadinho. Agora quer ''limpar a

    minha honra'' ou alguma coisa do gnero...

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - Ah, esses machos alfa... O que ele

    pretende fazer se descobrir o verdadeiro culpado.- No sei - eu disse, deixando de lado o

    clipe aucarado da Taylor Swift e encarando a

    minha melhor amiga com azedume - Mas no

    quero que ele faa nenhuma besteira por mim.

    * * * * * *

    Na tera-feira, as coisas comearam voltar

    ao normal. Pelo menos, em tese. Os insultos, aspiadinhas e os xingamentos haviam cessado. Porm,

    as fofocas e os julgamentos no. Eu podia ver s pelo

    olhar que me lanavam e pelas conversas que

    morriam de repente.Joana e Gabriel fizeram de tudo para me

    animar, e eu fiz de tudo que podia para que eles

    acreditassem que eu no estava ligando para aquilo.

    Mas lgico que eu estava. Por isso, quando o

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    professor Rangel me pediu para ficar at um pouco

    mais tarde para ajudar alguns alunos do 2 ano, euaceitei na hora. No queria que pensassem que eu

    ainda estava me martirizando. Ento, pedi para que

    os dois no me esperassem, e fiz questo de deixar

    claro que estava me sentindo bem.A aula particular foi bastante produtiva. Os

    garotos que precisavam de ajuda, apesar de no

    entenderem a matria, estavam se esforando de

    verdade para mudar a situao. E o fato de nenhum

    deles me encararem como se fosse a ProstitutaVirgem da Babilnia animou um pouco o meu

    nimo.

    Quando cheguei ao porto da escola, a rua

    estava um pouco deserta. Era um caminhorelativamente longo para a minha casa, mas no me

    preocupei. Eu sempre tinha feito o trajeto sozinha,

    no tinha por qu ficar paranoica hoje. Mas, no

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    fundo, eu sentia que algo iria acontecer. E no

    estava gostando daquilo.- Hei! Ceclia! Espera...

    No reconhecendo a voz, me virei de novo

    para o ptio e vi um garoto se aproximar. Ele era

    alto, atltico e tinha cabelos loiros bem rebeldes.Eu o esperei se aproximar e, quando parou

    na minha frente, vi que era o Leo - amigo do

    Gabriel que estudava na Turma B do 3 ano. Na

    mesma hora, me lembrei da primeira vez em que

    nos encontramos na maldita festa de aniversrio.No era um bom momento para se ter ms

    recordaes.

    - Voc j estava indo para casa? - ele

    perguntou, seu rosto vermelho e um poucoesbaforido pela corridinha.

    - Sim - respondi, no escondendo a minha

    surpresa por ele ter me chamado.

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    - Ah... Ainda bem que cheguei rpido,

    ento. O Gabriel pediu para avisar que est teesperando perto dos vestirios.

    Eu olhei para ele, fazendo uma careta.

    Tinha deixado bem claro que no precisava me levar

    para casa... Mas que idiota cabea dura.- Tudo bem, obrigado por me avisar. E me

    desculpe por ele ter feito voc esperar aqui s para

    me dar um recado.

    - No, est ok. Eu tenho treino de Futebol

    agora... no mesmo caminho, alis. Vamos l?!Balancei a cabea em concordncia e o

    segui em direo parte esportiva da escola. Aquela

    hora da tarde, o lugar ficava realmente vazio.

    Somente as pessoas que faziam alguma atividadeextra perambulavam ocasionalmente nossa volta. E

    eram pouqussimas.

    - Aonde o Gabriel est? No estou vendo

    ele por aqui.

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    - Deve estar l dentro, no banheiro. Vou l

    falar para ele que te trouxe aqui.Esperei que Leo fosse chamar o amigo,

    ento fui me encostar nas grades que contornavam o

    campo de futebol. No tinha ningum se

    preparando para o treino. Isto era estranho.- Ceclia - disse Leo, voltando do interior

    do vestirio - Ele pediu para voc entrar. Parece que

    tem uma surpresa.

    - Uma surpresa para mim? No vestirio

    masculino?- No precisa se preocupar - disse o rapaz,

    rindo deliberadamente da minha expresso de

    desconfiana - S tem ele l.

    Revirando os olhos diante da sensaode Deja V que me tomou por um segundo,

    agradeci ao Leo mais uma vez e entrei no quarto

    mido. Depois de passar por um pequeno corredor,

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    cruzei a porta e fui para a rea dos armrios. No

    havia sinal nenhum dele ali.- Gabriel, estou aqui! Pode parar com a

    brincadeira e aparecer.

    No mesmo instante, ouvi um barulho de

    porta batendo. No conseguindo me segurar, sentium arrepio correr pela minha espinha e o meu

    couro cabeludo pinicar em aviso. Ao me virar para

    trs, dei de cara com Leo - que me encarava com

    um estranho brilho nos olhos.

    - O Gabriel no est aqui.- Eu sei - ele disse, abrindo um sorriso

    enviesado.

    - Ento por que disse que o seu amigo

    estava me esperando aqui dentro.- Por qu eu queria falar sozinho com

    voc.

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    Eu olhei para Leo sem saber o que fazer.

    No tinha motivos para ele ter feito aquelaencenao toda s para conversar comigo.

    - Sobre o qu voc quer conversar? -

    perguntei, tentando ganhar tempo.

    - Por qu o Gabriel?- Como?!

    - Por qu voc fica dando mole s para ele?

    O cara pediu para chup-lo, saiu com um monte de

    mina na tua frente, contou para a escola toda o que

    aconteceu entre os dois, e voc ainda volta para ele.O cara um merda de um repetente, e mesmo

    assim...

    Leo no terminou o que estava dizendo. Ele

    me encarava com os seus olhos escuros, inspirandoprofundamente, e eu no conseguia pensar em outra

    expresso para defini-lo, no ser ''fome''.

    - No entendo aonde voc quer chegar.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - Voc sempre andou por a, como se fosse

    superior todos ns. Nos olhando como se nofossemos dignos de respirar o mesmo ar que o seu,

    s por no sermos ''inteligentes'' ou ''educados'' - o

    rapaz continuou, se aproximando de mim, um passo

    de cada vez - Nunca deu brecha para ningumchegar junto. Tirando o Gabriel. Desde que ele

    chegou aqui, s falar ''oi'' e voc j abre as pernas,

    molhada igual uma vadia. Sem esforo algum...

    Eu estava comeando ficar com medo.

    Entrando em pnico, para ser mais sincera.O rapaz me encurralava contra os armrios

    como um predador, mordendo os lbios

    sugestivamente e estalando os dedos feito louco.

    Aquilo tudo era uma loucura sem fim.- Eu no sou assim...

    - No seja mentirosa! - ele esbravejou, seu

    rosto tomado de suor. - Pensei que quando visse o

    desenho na parede, iria pensar que tinha sido o

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    canalha bancando o engraadinho. S que, ao invs

    disso, voc correu para os braos dele. Do cara quete pediu um boquete de presente de aniversrio.

    Descobrir quem tinha feito a pichao no

    muro da escola embrulhou o meu estmago. Por

    um segundo, pensei que iria vomitar bem na caradele, tamanha era a minha repulsa.

    - Mas eu achei que o Gabriel fosse o seu

    amigo.

    - Amigo? - Leo gargalhou, mais de deboche

    do que de humor - J estou cansado de ver obastardo me passar a perna. Toda mina que eu olho,

    o filho da puta chega l primeiro. Est na hora de eu

    ter algo antes dele. Acho isto muito justo.

    Em uma nica batida do meu corao, Leopulou sobre mim e me empurrou contra os

    armrios. Eu lutei para sair de seu aperto, mas o

    garoto era muito mais forte. Ele segurou as minhas

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    mos com brutalidade, e fazia questo de pressionar

    a sua ereo pulsante em minha barriga.- Me solta - berrei, o mais alto que podia.

    - Ah, mas nem tente se esgoelar. Estamos

    sozinhos aqui. Ningum vai poder te ajudar.

    - Voc doente!- Eu posso aceitar isto, de verdade. Ainda

    mais sabendo que vai ser este doente quem vai te

    deflorar como um animal, no o seu prncipe

    encantado bbado.

    Na mesma hora, eu o chutei entre as pernascom toda a energia que tinha.

    Urrando de dor, Leo saiu da minha frente -

    debruando-se sobre a prpria virilha - e eu corri.

    S que no foi por muito tempo. Antes que euchegasse porta do vestirio, Gabriel surgiu - os

    msculos de seu rosto duros como pedra e seus

    olhos tomados pela fria.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - Me espera l fora - ele sussurrou para mim, e o

    jeito como disse isto me assustou.- Gabriel, vamos para casa. Depois ns

    resolvemos isto.

    - No. Eu vou resolver isto agora. E, por

    favor, faa o que estou pedindo. Vai l para fora.Chame por algum da secretaria, a polcia, qualquer

    coisa. S me deixe a ss com ele... No quero que

    veja o que vai acontecer aqui.

    Sentindo meu sangue gelar, sai da frente de

    Gabriel e caminhei o mais rpido que podia parafora do vestirio.

    Nem tinha fechado a porta atrs de mim, e

    os primeiros barulhos da luta chegaram aos meus

    ouvidos - gritos selvagens e bestiais, que meimpingiram correr desesperadamente para o prdio

    principal da escola.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    Captulo 8

    A notcia da expulso do Leo chegou na sexta-feira,

    um pouco depois do intervalo. Os boatos sobre o

    que aconteceu no vestirio correu a escola, e foi um

    custo para a direo manter o assunto longe das

    pginas policias - afinal, no era todo dia que umestudante do renomado Colgio lvaro de

    Bragana, membro de uma das mais respeitadas

    famlias da cidade, saia do campus algemado e na

    parte detrs de uma viatura.- Tem certeza que est tudo bem?

    Joana me perguntava isto todo santo dia, de

    meia em meia hora.

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    100/116

    - Aff! Eu j disse que sim - respondi,

    revirando os olhos - Na verdade, estou feliz. Novou precisar dar de cara com aquele manaco

    nojento nunca mais.

    - No bem assim. Ainda vai ter todos

    aqueles tramites do processo que os seus pais abriramcontra ele, ento voc vai ter que v-lo de novo,

    tipo... no tribunal.

    - Jo, voc entendeu o que eu quis dizer.

    Ns duas estvamos em uma sorveteria

    perto de minha casa, sentadas em uma mesa ao ladoda vitrine da loja e dividindo um pote enorme de

    Banana Split. Aquilo era um desvio enorme na dieta

    da minha amiga, mas considerando os

    acontecimentos das ltimas semanas, nos permitimoseste pequeno prazer culposo.

    - E o Gabriel, como ficou com esta

    histria?

  • 7/29/2019 eBook de Replay

    101/116

    ''Ficou com os punhos das duas mos

    esfolados, o queixo meio inchado e levou algunspontos no superclio'', eu pensei, me lembrando de

    como ele apareceu na porta da minha casa, algumas

    horas depois do confronto no banheiro, para que eu

    cuidasse dos ferimentos que teimava em dizer queno eram nada (mas que fazia cara feia toda vez que

    passava a pomada em cima de um deles). Ao

    invs disto, disse:

    - Ele ainda est meio abalado. Mesmo

    sendo um cuzo, o Leo era o melhor amigo dele...- ...que tentou violar a namorada. -

    completou Joana, servindo-se de mais uma

    colherada de Banana Split - E por falar nisto, voc

    finalmente parou com o banho-maria e disse simpara o coitado, n?

    Eu olhei em todas as direes, menos para o

    rosto da minha amiga.

    - Ceclia!

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    - No precisa gritar - resmunguei,

    tamborilando os meus dedos na mesa - s preciso deum pouco mais de tempo para pensar.

    - Ah, claro... Como se quase ir preso por

    tentar limpar a sua honra no fosse prova suficiente

    para mostrar que o cara est mais do que cado porvoc.

    - Ainda no rolou o momento certo, Ok?

    Quando acontecer, pode deixar que eu aviso para

    voc em primeira mo.

    - Cissa, s espero que, quando vocfinalmente se decidir, j no seja tarde demais.

    Ao ouvir o temor de Joana, quase

    desembuchei tudo. No era justo deix-la assim, no

    escuro. Mas este fora um trato que eu mesma propusao Gabriel. Ento, eu tinha que ser a primeira

    cumprir.

    * * * * * *

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    - E a, professora? - Gabriel perguntou,

    esparramado no cho da minha sala, na tardedaquele sbado - Acertei ou no.

    Eu olhei para o dever em minhas mos e

    levantei as minhas sobrancelhas em dois arcos

    perfeitos.- A resposta est incompleta.

    - Eu disse tudo o que eu me lembrava.

    - Claro. Porm, o professor Rangel no vai

    considerar a questo s por qu voc sabia metade

    da resposta.Inspirando profundamente, o rapaz me

    encarou de forma incisiva.

    - Ento eu acertei meia questo.

    - Bom, tecnicamente, sim - respondi,devolvendo o seu olhar.

    - Isto significa que, tecnicamente, tenho

    direito uma recompensa! Este foi o nosso trato:

    Nada de namoro oficial at que eu passasse na

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    matria do Rangel. Enquanto isto, voc me daria

    aulas particulares e eu ganharia amassos comorecompensa pelos deveres feitos.

    - Deveres feitos, sim, mas tambm

    respondidos corretamente - completei, lanando um

    meio sorriso cnico para ele.- Eu fiz o dever e est meio certo. Acho

    que mereo alguma coisa.

    Gabriel cruzou os braos e fingiu me

    ignorar, fazendo um beicinho muito fofo com sua

    boca machucada. Tive que contar at 5 antes quemandasse as nossas regras s favas e me jogasse no seu

    colo.

    - Voc est certo - eu disse, fechando o

    meu livro de Biologia e me sentando no cho aolado dele - Acertou meia questo. Tem direito

    meia recompensa.

    - Meia recompensa? Como seria uma meia

    recompensa?

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    - Seria deste jeito...

    Pegando suas mos, as levei at os meuslbios e beijei cada machucado que ainda marcava a

    pele de suas juntas. Depois, deslizei bem lentamente

    para cima dele, guiando a minha boca de forma

    suave at o hematoma em seu queixo e finalizando aprovocao nos pontos em seus superclio.

    Durante todo o meu joguinho, Gabriel

    ficou paralisado, como se qualquer movimento seu

    pudesse me assustar e provocar a minha fuga.

    Entretanto, agora que saia de seu colo, ele balanavaa cabea de um lado para o outro com satisfao,

    abrindo de leve o seu sorriso mais sujo.

    - Yeah. Acho que gostei desta meia

    recompensa.- Garanto para voc que as recompensas

    inteiras so mil vezes melhores. -sussurrei em seu

    ouvido, em minha voz mais rouca e sexy.

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    - E o que eu preciso fazer para ganhar a

    pontuao completa?!Eu observei os seus olhos azuis ficarem

    completamente escuros pelo desejo, e no pude

    deixar de dar uma risadinha.

    - S tem que estudar, baby - respondi,pegando o seu livro de cima do sof e o jogando em

    seu peito - Me faa ficar orgulhosa do meu aluno.

    - Ah... a senhorita vai ficar bastante

    orgulhosa de mim - ele disse, seu rosto iluminado

    por promessas luxuriosas - Pode apostar que sim.

    * * * * * *

    Quando o professor Rangel me pediu paraficar depois da aula, eu j sabia sobre qual assunto ele

    gostaria de conversar.

    - Eu ainda estou espantado - ele me disse,

    no escondendo a surpresa de sua voz - Nunca vi

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    um aluno ter uma recuperao to grande, em to

    pouco tempo, como Gabriel Beruna.- Acho que o Gabriel s precisava de um

    incentivo - eu comentei, ligeiramente dando de

    ombros para o deslumbramento do meu professor

    favorito - Eu encontrei algo em que ele pudesse sefocar, e comecei trabalhar em cima disto.

    - E o que seria este foco?

    Na mesma hora, senti o meu rosto pegar

    fogo. Nunca, nem em mil anos, eu iria dizer para o

    Rangel que o objetivo principal do Gabriel era terum passe livre para a minha calcinha. Tenho certeza

    que nem Paulo Freire poderia ter imaginado

    tcnicas pedaggicas to eficazes quanto esta.

    - Seja l qual for o seu mtodo - continuouo professor Rangel, percebendo que no ia partilhar

    daquele meu segredo - deu bastante certo. O aluno

    Beruna est, como posso bem dizer,

    sistematicamente aprovado em Biologia.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    Ao receber a notcia, senti o meu peito

    inflar e explodir de tanta alegria. Ns tnhamosconseguido! Gabriel finalmente iria se formar no

    Ensino Mdio.

    - Isto maravilhoso - eu disse, tentando

    controlar o meu entusiasmo - Ser que j possocontar para ele, assim que o vir?

    - Mas claro que sim. Tenho certeza que

    deve estar doida de vontade para comemorar este

    feito com o pupilo.

    - O senhor nem imagina quanto!Sai da sala de aula o mais rpido que podia e

    encontrei Gabriel esperando por mim no ptio da

    escola. Antes que ele pudesse se aproximar, corri ao

    seu encontro e pulei em cima dele, enlaando asminhas mos em seu pescoo e as minhas pernas em

    sua cintura.

    - Hei, gostei da empolgao!

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    - Voc no vai acreditar no que eu soube

    agora...- O qu a senhorita soube agora, hein?

    - Ah, Gabriel, voc foi aprovado! O

    professor Rangel me disse agora que conseguiu se

    recuperar e passou de ano!- Ento, isto quer dizer que finalmente eu

    vou ser o seu namorado oficialmente?

    Eu estava prestes a revirar os olhos diante

    das suas prioridades invertidas, quando Gabriel me

    girou no ar e alcanou os meus lbios, atraindo osolhares de todos os alunos e responsveis que ainda

    andavam pela escola. No incio, o beijo foi doce e

    cuidadoso, mas com o tempo foi ficando cada vez

    mais faminto. Logo que nos separamos, precisei meequilibrar em seus braos para poder recuperar o

    flego.

    - Nossa, isto foi... intenso demais.

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    - Yeah, eu sei. Fazia muito tempo que eu

    queria te beijar assim, na frente de todo mundo. Unstrs anos mais ou menos.

    No pude deixar de sorrir com aquela sua

    confisso. Quem diria que o meu galinha machista

    de estimao era um romntico inveterado?- Agora, acho que tenho que te dar a sua

    recompensa - disse, sentindo as minhas orelhas

    queimarem ao perceber o que estava prestes fazer.

    - Este j no foi o meu prmio?

    - N-no - cantarolei, passando os meusdedos pelos passadores da sua cala e o puxando na

    direo da porta de sada - Isto que voc vai receber

    no pode ser entregue aqui, na escola...

    - E vai ser entregue aonde, afinal?! - ele meperguntou, em um tom calmo e maliciosamente

    desconfiado.

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - Pode ser no meu apartamento. Meus pais

    s chegam mais tarde do trabalho. Mas, se quiser,pode ser no seu...

    Ao entender o que eu estava dizendo,

    Gabriel parou no lugar, no acreditando no que

    estava escutando.- Voc est falando srio?

    - Eu prometi que seria mil vezes melhor.

    Um sorriso lento, grande e sacana comeou

    se formar em meu rosto, nossos olhos se

    encontrando e dividindo meu segredo. Com umesgar de alegria, meu namorado me colocou em

    cima de seus ombros e me carregou at sua moto, s

    me pondo de volta no cho quando chegamos

    aonde ela estava estacionada - olhando para mimcom uma expresso compenetrada e um tanto

    divertida.

    - Antes de partimos, ser que podemos

    deixar claro algumas coisas?

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    - Of course, my dear - eu disse, pegando o

    capacete de suas mos.- Bom, eu obviamente no estou bbado, o

    que vai me impedir de falar alguma merda. E voc

    tambm j est mais velha e um pouco mais

    experiente. Ento, por favor, quando chegar a hora,ser que a senhorita poderia prometer para mim que

    no vai fugir?

    - Eu no vou fugir. Nunca mais. - garanti,

    passando as minhas mos pelo seu rosto e sentindo

    sua barba por fazer - Voc venceu e me conquistoupor direito. Este agora o seu replay.

    Suspirando aliviado, Gabriel elevou o meu

    queixo na sua direo e me deu mais um beijo longo

    e apaixonado.- No, anjo. Finalmente, o nosso play.

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    Agradecimentos

    Mais um livro escrito. Mais um desafio superado.

    Por isso gostaria de agradecer uma turma que, cada diamais, vem crescendo e me enchendo de apoio e carinho.

    Em primeiro lugar, minha famlia, que sempre se

    preocupa e cuida de mim nos bons e maus momentos.

    Me, Pai, Viviane, Pirralhos... Muito obrigado pot tudo.De verdade.

    Tambm gostaria de agradecer meus amigos, que

    continuam me dando suporte nesta trajetria, em busca

    dos meus sonhos. Natlia, Symathon, Patrcia, Marcio,

    Evellyn e Vivi valeu, galera!

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    lgico que no poderia me esquecer da turma que

    acompanhou de perto o nascimento deste livro... a

    senhorita Nath Souza, que me mostrou que possvel

    contar uma histria divertida e despretenciosa em pouco

    mais de 100 pginas. E minha dupla dinnimca (e

    inesperada) de revisores, Thalita e Ricardo. Thank Youvery much, guys!

    Gostaria de estender estes meus agradecimentos todos

    que acompanham as aleatoriedades do meu vlog, ''Na

    Minha Estante'', e ao povo que alimenta a minha esterna

    procrastinao na internet: Mah, Livia, Karine, Nine,

    Marcinho, Cinthia e Marina. Muito obrigado por tirarem

    o tdio dos meus dias!

  • 7/29/2019 eBook de Replay

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    HENRI B. NETO

    Nasceu no Rio de Janeiro, no ano de

    1989.Apaixonado por livros desde pequeno, um

    ''escapista''de carteirinha - e tem como grande paixo

    a Literatura de Fantasia. Atualmente,ele divide o seutempo entre a Faculdade de Pedagogia, seu blog &

    vlog no Youtube sobre romances para o pblico

    Jovem-Adulto e na produo de novos volumes da

    ''Saga das Sombras''.

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