É tudo vivo

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  • 7/24/2019 tudo vivo

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    A poltica dos artistasou Como se aprende e ensina em uma pedagogiahuni kuin?

    Sobre o ttulo: tanto o ttulo da mesa, como de minha fala devoramconceitos que vem sendo elaborados ao longo dos anos por Ib.

    Sobre o que vou falar! A nature"a deste te#to assim como do $lme no %e#plicar, interpretar, mas de e#perimenta&o e bricolagem. 'o se trata decompreender mas de colocar os te#tos um ao lado do outro, como asimagens dos cantos huni me(a: nai mpu )ube(. *arata#e, bricolagem.

    + importante que se entenda que este proeto % um proeto independenteda -niversidade. % importante tamb%m que se entenda que tamb%m %universidade. 'o universidade institucionali"ada, mas universidaden/made, -niversidade da 0oresta e todas as universidades souniversidades da 0oresta, seam ama"/nicas ou no! da 1nica maneira que

    pode e#istir: n/made. Ib % indgena, seu pensamento no foi integradopela academia, mas tamb%m no pode ser pensado como algo e#terno 2academia, que possamos tomar como algo que pode vir a ser feito epensado em termos acad3micos, pois ele 4 est4 fa"endo. Isso pode serchamado de antropologia reversa, quando n5s ocidentais ou nossopensamento somos olhados por uma antropologia nativa. no s5 est4fa"endo como est4 nos chamando para um... no gosto da ideia de di4logo,mas para uma composi&o, uma e#perimenta&o conosco. Sua maneira defortalecer sua lngua e seus cantos no % se voltar para um narcisismoidentit4rio, mas buscar no outro, na troca, roubo, no confronto, no aliado6

    inimigo, sua possibilidade de aprender, sua possibilidade de fa"er6se huni(uin. S5 me interessa o que no % meu. le aprende conosco nauniversidade, no mundo da arte, no mundo dos brancos como aprendiamseus antepassados com os estrangeiros: o acar%, a iboia, o cip5... Al%m deaprender, tamb%m ensina. 'os ensina no romanticamente a sermos maissensveis ou esse outros clich3s estigmati"antes. 'os ensina a buscarmosnos pressupostos do nosso pensamento na epistemologia, na ontologia, emnossa rela&o com a escrita, nossa imagem do subetividade etc! a origemdo narcisismo que nos trou#e aqui, a esse grande impasse. *ois havemosque concordar que h4 um impasse. + por isso que para falar do nosso

    trabalho no proeto sprito da 7loresta e no 8A9-, no vou falar de Ib,no vou e#plicar o que fa"em, encerrando6os de novo como obetos de meudiscurso, mas tamb%m preciso falar de n5s ocidentais e do nossopensamento.

    Agrade&o a dson a)apo a interlocu&o das ideias desse te#to e, como eledisse que devemos ouvir os s4bios, dedico esta fala a Ana *i"arro, por suagenerosidade.

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    Quando se fala em civilizado, eu no quero esse tipo de

    civilizao.

    ;aldelice ;eron

    sta sopade lama txica que desce no rio Doce e descer por alguns anos toda vezque houver chuvas fortes e ir para a regio litornea do ES, espalhando-se por uns 3.000km2 no litoral norte e uns 7000 km2 no litoral ao sul, atingindo trs UCs marinhas Comboios, APA Costa das Algas e Refgio de Vida Silvestre de Santa Cruz, que juntossomam uns 200.000 ha no mar.

    Os minerais mais txicos e que esto em pequenas quantidades na massa total da lama,aparecero concentrados na cadeia alimentar por muitos anos, talvez uns 100 anos.Refgio de Vida Silverstre de Santa Cruz um dos mais importantes criadouros marinhosdo Oceano Atlntico.

    1 hectare de criadouro marinho equivale a 100 ha de floresta tropical primria.Isto significa que o impacto no mar equivale a uma descarga txica que contaminaria umarea terrestre de de 20.000.000 de hectares ou 200.000 km2 de floresta tropical primria.E a mata ciliar tambm tem valor em dobro.Considerando as duas margens so 1.500 km lineares x 2 = 3.000 km2 ou 300.000hectares de floresta tropical primria. Voces no fazem ideia.

    O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da regio sudeste e o eixo de doOceano Atlntico Sul est comprometido e pouco funcional por no mnimo 100 anos!Concluso: esta empresa tem que fechar.Alm de pagar pelo assassinato da 5 maior bacia hidrogrfica brasileira.Eles debocharam da preveno e so reincidentes em diversos casos.

    Demonstram incapacidade de operao crassa e com consequncias trgicas eincomensurveis. Como no fechar? Representam perigo para a segurana da nao!

    O que restava de biodiversidade castigada pela seca agora terminou de ir. Quemsobreviver? Quais espcies de peixes, anfbios, moluscos, aneldeos, insetos aquticos

    jamais sero vistas novamente? A lista de espcies desaparecidas foram quantas? Sealgum tiver informaes, ajudariam a pensar. Barragens e lagoas de conteno de dejetosnecessitam ter barragens de emergncia e plano de contingncia.Como licenciar o projeto sem estes quesitos cumpridos?Qual a legalidade da licena para operao sem a garantia de segurana para a sociedadee o meio ambiente?

    Mar de lama... mas no seria melhor evitar que a lama chegasse ao mar?Quem teve a brilhante ideia de abrir as comportas das barragens rio abaixo em vez defech-las para conter a lama e depois retirar a lama da calha do rio?Quem ainda pensa que o mar tem o poder de diluio da poluio?Isto um retrocesso da cincia de mais de 1 sculo!!!!! Sendo Rio Federal a juridio dogoverno federal portanto os encaminhamentos devem serem feitos ao MPF.

    Andr RuschiEstao Biologia Marinha Augusto Ruschi

    Aracruz, Santa Cruz, ES

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    No dia 05 de Novembro, na cidade de Mariana/MG, duas barragens de rejeitos

    da Samarco Minerao e Vale se romperam peram, causando uma enxurrada

    de lama que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, causando mortes,

    desaparecimentos, destruindo famlias, e trazendo pnico quela populao.Mas o estrago no para por a! Essa lama, comprovada que txica, veio

    passando por diversas outras cidades... e chegou aqui, na Princesa do Vale,

    invadiu o nosso Rio, acabou com nossa gua.

    A cidade no tem gua! isso mesmo gente: NO TEM GUA!

    Nem no Rio, nem nas torneiras... no h abastecimento de gua e a previso

    que isso ir durar no mnimo 30 dias!

    E o que ainda pior.... No temos gua nem para comprar!

    Sim! verdade! Acabaram os estoques dos supermercados! Estamos todos

    desesperados por gua! fcil saber quando chega algum caminho com

    gua...h filas kilomtricas com pessoas e seus gales para comprar gua, quemuitas vezes so limitadas as vendas a 1 ou 2 gales por pessoa.

    surreal! As pessoas brigam por gua! Boletins de ocorrncia so feitos por

    causas das desavenas. Ladres agora roubam gua... perigoso andar na

    rua com galo de gua. Esto roubando mesmo! E alm dos ladres

    descarados, h tambm aqueles que se aproveitam do momento, comerciantes

    sacanas que elevaram o preo do galo para obter lucro exorbitante dessa

    populao que tanto sofre.

    Os caminhes com gua que chegam a Valadares, esto vindo escoltados pela

    Polcia! Acha que exagero? No no! Saquearam carga de gales de gua!

    Valadares vive dias de puro terror! O clima de medo, apreenso, incertezas,desespero e muita tristeza. Universidades, escolas, comrcios, esto parados!

    A cidade fede! As pessoas vo para as pontes ver o antigo Rio, incrdulas, e

    saem de l na mais profunda tristeza ao ver milhares de peixes agonizando,

    sem gua, e no sabendo como ser Valadares no futuro!

    Thatiane Carvalhais, moradora de Governador Valadares.

    Cosmopoltica

  • 7/24/2019 tudo vivo

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    arrastando IISA, @elo 8onte, *C B etc. no se trata de falar deecologismo ou ornalismo ambiental duas compet3ncias que no suporto! .stamos tratando de outro assunto. Se o humano e sua for&a destrutiva setornam uma pot3ncia geol5gica isso % sim um problema para as ci3nciashumanas tamb%m. Isso pode ser pensado inclusive como o grande problema

    das ci3ncias humanas, pois como pensar a perspectiva e os pressupostoscom que olhamos os outros povos, as outras esp%cies.

    + em rela&o a esse etnocentrismo e esse especismo que gostaria aqui deapresentar o trabalho do 8A9- e o tipo de pacto etnogr4$co ou a =AD"ona aut/noma tempor4ria! que pensamos resultar dessa "ona devi"inhan&a o termo de Eeleu"e e >uattari! entre distintos regimes depensamento. 8as espera, o que tem a ver arte e ecologia. Ser4 que %porque desenhamos animais e plantas? 'o, no % o fato de desenharmosanimais e plantas, no % disso que se trata. *ensamos que operamos numa

    ecologia que no se restringe ao que se costuma chamar de nature"a emoposi&o 2 cultura, separa&o que constitui o mito por e#cel3ncia dopensamento ocidental!, mas numa ecologia que atravessa assubetividades, as socialidades, a ci3ncia. =alve" uma cosmopoltica, 4 quecome&amos com Stengers, termo tamb%m referido por >ersem em sua fala.

    Eesse modo o que quero fa"er a partir da % come&ar a tratar do 8A9- edo proeto sprito da 7loresta! a partir de um di4logo com a obra rec%m6publicada de @ruce Albert e Eavi Fanomami,A queda do cu. sse livro quelevou quase trinta anos para ser escrito consiste basicamente num e#erccio#amGnico em que Eavi nos descreve detalhadamente com os #apiri veem o

    mundo e principalmente com veem os brancos. le tamb%m consiste decerta forma em um totem para uma antropologia contemporGnea quearticula na no&o de cosmopoltica dois problemas: o perspectivismoamerndio e o Antropoceno. Cosmopoltica seria uma outra maneira de veraquilo que chamamos um dia de animismo para de certa forma "ombar dopensamento indgena por que nos di"iam que tudo o que sabiamaprenderam e aprendem no e#erccio dessa cosmopoltica.

    Feridas Narcsicas

    uarani! guardo at% hoe

  • 7/24/2019 tudo vivo

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    como a grande li&o que ela me deu ento: n5s no precisamos de auda,voc3s precisam.

    M crime da ;ale escancara de ve" como funcionam os quatro poderes nocapitalismo. Al%m do marco de um dos maiores, seno o maior, crime

    socioambiental de nossa hist5ria, estamos diante de um outro marco,acredito. =rata6se de um marco de linguagem: o modo como a empresapode se servir dos meios de comunica&o que possuem concesso dostado como sua ger3ncia de rela&Nes p1blicas. O mdia foi delegada afun&o de manter imaculado de lama o novo c5digo de minera&o emprepara&o. 8as e a -niversidade? 'o a -niversidade enquanto parte dasociedade solid4ria 2s vtimas desse crime!, mas enquanto pot3ncia depensamento? essa -niversidade de resultados, est4 comprometida comquem? Como lidar hoe com o pr3mio sustentabilidade da Capespatrocinado pela ;ale? + disso que se trata, % isso que precisamos re0etir

    quando nos dispomos a PaudarQ os povos indgenas.

  • 7/24/2019 tudo vivo

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    Dominique: ;ou te di"er que minha pergunta % de muita curiosidade, porque em geral na Ama"/nia os programas de forma&o de pesquisadoresindgenas na universidade no so l4 muito bons. u queria entender o queque voc3 sentiu, qual foi a diferen&a, se a universidade te trou#e novasideias de fa"er pesquisa, ou se voc3 continua pesquisando como voc3

    aprendeu no come&o?

    Ib: ealmente a universidade % uma institui&o maior, mas ao mesmotempo a universidade tem que aprender comigo... ...!

    'o satisfeitos com a resposta de Ib, prosseguiram:

    Aluna: ;oc3 falou que a -niversidade tem aprender com voc3. u queriasaber como que isso acontece?

    Ib: 8eus conhecimentos so diferentes, mas mesminho conhecimento, eusou da cultura diferente eu aprendo com a -niversidade, a universidadetem que aprender comigo, % isso que eu t/ olhando eu t/ vendo issoacontecer

    Um aluno e Dominique: E4 um e#emplo IbT

    Ib: Uu falo na minha lngua: 'ai mpu )ube(, voc3 entende?V U'oV Avoc3 tem que me perguntar. isos!

    Dominique: 8as voc3 criou alguma disciplina nova ou voc3 e os outrosndios tem que se encai#ar dentro das disciplinas que os acad3micos... %isso que eu queria entender, se voc3 criou, se a universidade aprende comvoc3, a universidade mudou o seu programa com base na tua sugesto ouainda so voc3s que se encai#am dentro do...

    Ib: n5s se encai#a dentro do...

    Literatura indgena

    Quantas pessoas hoje vivem em uma lngua que no a sua !uento no conhecem mesmo mais a sua, ou no ainda, e

    conhecem mal a lngua maior de que so forados a se servir

    "ro#lema dos imigrados, e so#retudo de seus $lhos. "ro#lema das

    minorias. "ro#lema de uma literatura menor, mas tam#m para

    n%s todos& como arrancar de sua pr%pria lngua uma literatura

    menor, capaz de escavar a linguagem, e de faze'la escoar

    seguindo uma linha revolucion(ria s%#ria )omo devir o n*made

    e o imigrante e o cigano de sua pr%pria lngua +afa diz& rou#ar

    a criana no #ero, danar so#re a corda #am#a.- Ee>, *R8!

  • 7/24/2019 tudo vivo

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    7alando de literatura, vou enfocar rapidamente uma no&o que me parececentral para fa"er uma articula&o entre o que entendemos por literatura ea imagem que podemos fa"er do 8A9-: trata6se da no&o de autor.

    A no&o de autoria sofreu um grande golpe com a polifonia que @a(htin

    souber ler e e#plorar como conceito na literatura de Eostoievs(i. Mutrogolpe na ideia de autor que nos interessa aqui marcar % aquele sofrido pelaobra de 7oucault, que se interessa por ela no mais apenas no escopoliter4rio, mas tamb%m na ci3ncia e em toda produ&o do pensamentoocidental. M problema: o que % um sueito, o que de$ne uma pessoa?colocado insistentemente por 7oucault % ainda retomado por Eeleu"e e>uattari, quando recebe seu golpe $nal no s%culo passado. *enso que suano&o de literatura menor, conceito elaborado a partir da obra do escritortcheco 7ran" af(a, assim como o conceito de agenciamento coletivo deenuncia&o radicali"am antropologicamente, se posso di"er, o conceito de

    autor 4 fraturado por @a(htin e 7oucault.m que consiste um sueito, o que % uma pessoa? sse % hoe tamb%m umdos problemas fundamentais para aqueles que, da perspectiva ocidental, sededicam a dialogar com ou entender o pensamento amerndio e que comessa perspectiva indgena se voltam para o que sobrou de nossa imagem dosueito.

    M que % uma pessoa, quem % pessoa, quem pode di"er n5s, os humanos oque se quer di"er com o huni (uin casou com a iboia, aprendeu com iboia?M que os huni (uin podem estar nos di"endo quando cantam os

    ensinamentos que vieram da boca iboia, ou do pensamento6m1sica do cip5ni#i pae?

  • 7/24/2019 tudo vivo

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    p1blica etc di$cilmente vamos entender que ponte % essa em que consiste o8A9-. Ei$cilmente vamos entender que no se trata de uma pontemetaf5rica como disse Woaquim 8ana!. =rata6se da possibilidade deinteragirmos com outro pensamento em termos que 4 no so os nossos.

    Pensamento selagem

    M antrop5logo *ierre Clastres em um pequeno te#to ntre o sil3ncio e odi4logo, R%vi6Strauss, RVarc. So *aulo, Eocumentos, BJXK! trata de umaquesto que me parece que o persegue por toda sua obra. Ee que nature"a% PnossaQ incapacidade de PnosQ comunicarmos com os povos origin4riosdeste continente. M uso que ele fa" do Pn5sQ merece aten&o. '5s somos osocidentais, os coloni"adores, os antrop5logos etc. *or%m, cuidado aqui.

    =rata6se de um te#to sobre R%vi6Strauss, o que muda a nature"a desse

    pronome n5s.

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    mundo, mas buscar o ri"oma que abre o livro para todas as cone#Nesc5smicas, um livro vivo, um livro cantado, um livro ritual com toda suas asdimensNes semi5ticas: corpo, tempo, espa&o, velocidade, sons, imagensetc.

    Ei"ia a Ana *i"arro que retomaria sua fala de onde parou porque penso queoutras maneiras de ler a literatura se abrem em momentos de umarevolu&o tecnol5gica dos meios, uma revolu&o de tantas dimensNes comoesta que passamos na qual se rede$ne completamente a nossa rela&o coma linguagem, mas que rede$ne sobretudo o que somos. *enso que vivemosuma revolu&o nas propor&Nes da que viveram os gregos com a inven&o epr4tica do sistema alfab%tico. Assim como aquela transformou a percep&odo mundo, o corpo e a pr5pria PrealidadeQ, instaurando uma ontologiapr5pria, nesta revolu&o que vivemos, aprender a ler implica transformar apercep&o e transformar o que entendemos por mundo, corpo, percep&o,

    humano. 'esse processo, aproveitando6se dessa revolu&o os huni (uinveem aqui uma brecha, uma entrada para o mundo at% ento fechado paraessas outras PlnguasQ e esses outros pensamentos humanos e e#tra6humanos, como a fala da iboia, do acar%, do cip5 ni#i pae e tantos outrosespritos )u#ibu que nos incitam a e#perimentar as delcias da terra, assimcomo nos incitam a nos impactarmos com o mar morte da mineradora;aleYSamarco.