e tem África na bíblia? representações e discursos …...para m´bokolo (2009), se os estados...

15
E tem África na Bíblia? Representações e discursos do continente africano no livro dos cristãos e nos movimentos sociais negros brasileiros Elba Oliveira Chrysostomo Resumo: Este artigo pretende discutir e analisar as formas como o que hoje é a África foi representado na Bíblia a partir da escrita dos primeiros textos e o advento do cristianismo no mesmo espaço. Pretende-se também cotejar estas observações a partir da análise dos discursos em torno da África que decorrem no Brasil desde o século XIX, e que são retroalimentados por diversos militantes de movimentos sociais “negros”, mídias sociais e líderes religiosos. Estes, em grande parte, negam a presença do que é hoje a África na Bíblia, e associam-na à maldição ou afirmam que o cristianismo só surgiu no continente após o colonialismo. Palavras-Chave: Bíblia; Representações; África; Brasil; Religiões. Representações e relações da Bíblia e a África no Brasil A proposta de produzir esse texto tornou-me consciente da complexidade de pensar sobre questões do imaginário religioso de África no Brasil, dentre outras a partir da área que busco investigar, a África na Bíblia, o cristianismo e os discursos provenientes desse contexto. Se por um ângulo a Bíblia e o cristianismo oferecem campos bastantes férteis para estas discussões, porque perpassam as ideias frequentemente abordadas, a sua legitimidade entra em questão. O problema se dá ao modo como as características bíblicas se representam e são representadas, muitas vezes em formas arbitrárias para evidenciar um distanciamento entre o que se fez e faz presente em África e o que foi construído a partir de discursos sociais que utilizaram a Biologia, aspectos políticos, sociais e econômicos para dar, ainda que erroneamente, justificativa para os interesses de determinados grupos humanos. A diversidade religiosa que o continente africano possui(u), desde as primeiras civilizações, enfatiza a importância social que aquele espaço tem para o deslocamento do conhecimento sobre a formação de religiões. Os discursos sobre a África e a Bíblia são dotados de invisibilidade ou de desconhecimento, principalmente quando a referência religiosa sobre o continente africano no Brasil são as religiões de terreiro. Deste modo, negam-se espaços, povos,

Upload: others

Post on 25-Jun-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

E tem África na Bíblia? Representações e discursos do continente africano

no livro dos cristãos e nos movimentos sociais negros brasileiros

Elba Oliveira Chrysostomo

Resumo:

Este artigo pretende discutir e analisar as formas como o que hoje é a África foi

representado na Bíblia a partir da escrita dos primeiros textos e o advento do cristianismo

no mesmo espaço. Pretende-se também cotejar estas observações a partir da análise dos

discursos em torno da África que decorrem no Brasil desde o século XIX, e que são

retroalimentados por diversos militantes de movimentos sociais “negros”, mídias sociais

e líderes religiosos. Estes, em grande parte, negam a presença do que é hoje a África na

Bíblia, e associam-na à maldição ou afirmam que o cristianismo só surgiu no continente

após o colonialismo.

Palavras-Chave: Bíblia; Representações; África; Brasil; Religiões.

Representações e relações da Bíblia e a África no Brasil

A proposta de produzir esse texto tornou-me consciente da complexidade de

pensar sobre questões do imaginário religioso de África no Brasil, dentre outras a partir

da área que busco investigar, a África na Bíblia, o cristianismo e os discursos provenientes

desse contexto. Se por um ângulo a Bíblia e o cristianismo oferecem campos bastantes

férteis para estas discussões, porque perpassam as ideias frequentemente abordadas, a sua

legitimidade entra em questão. O problema se dá ao modo como as características bíblicas

se representam e são representadas, muitas vezes em formas arbitrárias para evidenciar

um distanciamento entre o que se fez e faz presente em África e o que foi construído a

partir de discursos sociais que utilizaram a Biologia, aspectos políticos, sociais e

econômicos para dar, ainda que erroneamente, justificativa para os interesses de

determinados grupos humanos. A diversidade religiosa que o continente africano

possui(u), desde as primeiras civilizações, enfatiza a importância social que aquele espaço

tem para o deslocamento do conhecimento sobre a formação de religiões.

Os discursos sobre a África e a Bíblia são dotados de invisibilidade ou de

desconhecimento, principalmente quando a referência religiosa sobre o continente

africano no Brasil são as religiões de terreiro. Deste modo, negam-se espaços, povos,

Page 2: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

práticas, crenças e costumes em outros contextos para o mesmo continente, como enfatiza

Appiah (1997) ao afirmar que tais representações são constituídas por erros e não se

efetivam enquanto práticas, visto que africanos não se veem como são representados pelo

ocidente. O que se apresenta no Brasil, sob discursos de que há uma matriz religiosa

originária da África, e que esta constitui-se no candomblé e demais religiões de terreiro,

inviabiliza uma compreensão religiosa mais ampla do continente africano, bem como seus

povos e dinâmicas. Há um questionamento que faço desde a criação da lei 10.639/03,

como compreender e agregar nas disciplinas acadêmicas e escolares o ensino de história

e cultura africana sem formação histórica que embase científica e filosoficamente o que

a África foi e é? O acirramento da questão se dá quando insisto em perguntar, qual(is)

cultura(s) de África se quer formar para o ensino?

Há uma forçosa construção identitária a partir de um suposto entrelaçar entre

África e Brasil no que tange aos aspectos das práticas, costumes e crenças que limita o

conhecimento de um continente, potencialmente plural em todas as suas acepções a uma

visão que dificulta a compreensão deste enquanto partícipe e protagonista na construção

da história da humanidade. Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem

traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam, suficientemente,

diferentes do que realmente é. Ao passo que Appiah (1997) declara, as construções sobre

o continente são estereotipadas e, sobretudo, distintas das características dos povos

africanos que ali estão.

Segundo Lima (2017), a visão de uma África homogênea, indistinta, selvagem e

única ainda permeiam as ideias imagéticas de África entre brasileiros. Mudimbe (2013)

postulada que a invenção dessa África se sobrepôs entre discursos e foi absorvido de

modo hegemônico por populações ocidentais. Tais discursos, quando confrontados com

a bibliografia produzida por historiadores e demais estudiosos, são facilmente contraditos

e desconstruídos, como nos aponta Lima:

Os conceitos (...) usados de forma a estabelecer conexões entre brasileiros

“ditos” negros, e os povos do continente africano, produzem estereotipias e

constroem representações que prejudicam o entendimento de práticas e

costumes, construindo ideias que jogam a África para contextos em que

dificilmente seria possível reconhecê-la como de fato é. (LIMA, 2017)

Page 3: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

Se pensarmos hipoteticamente sobre o que poderia haver de África na Bíblia e

questionássemos cristãos, militantes de movimentos sociais “negros”, este último têm a

África como escudo de propagação da “negritude”, e líderes religiosos, de pronto há de

se perceber que existe um apagamento e/ou desconhecimento primeiro teológico, em

seguida histórico, geográfico e literário dos contextos bíblicos relacionados ao que seria

hoje o continente africano na Bíblia. A percepção dessa ausência bíblica entre os Estudos

africanos no Brasil e o impacto desta é de grande importância para que se possa melhorar

estratégias de pensar a África como um continente plural, tal como sempre foi, e

aproveitá-la para suscitar discussões a partir de opiniões que promovem a ideia de uma

África una e indistinta. Diante desse contexto representativo e sempre tenso é possível

perceber as diferenças propagadas sobre a África no Brasil e a África propriamente dita,

se quisermos pensar um pouco sobre as ideias de um país diante de um imenso continente.

Se o leitor quiser refletir um pouco sobre a complexidade que essas representações

criaram no imaginário e nas ideias construídas no Brasil desde o século XIX.

As representações fáticas são reduzidas a contextos que não se presentificam, logo

a retomada de (re)leituras de África é condição para repensar as práticas e os discursos,

sobretudo no tocante a ideias erradas que foram/são construídas e retroalimentadas de

modo a inferir numa referência bastante complexa e ao mesmo tempo apreensiva: o modo

como os temas sobre a história da África são tratados e apresentados no Brasil, sob a

égide ilógica de uma África apenas “negra”, imutável, unívoca. Do mesmo modo as

representações sobre o cristianismo no Brasil partem sempre da ideia eurocêntrica de ver

esta religião, escamoteando o seu surgimento. Há, ainda outra tendência no Brasil que

minimiza o conhecimento de África, por a maioria das pesquisas subjacentes ao tema

referir-se aos PALOP (Países de Língua Oficial Portuguesa). Outra vez erra-se ao sopesar

um continente com 56 países a partir de 6 países supostamente ligados ao Brasil, isso é,

no mínimo incoerente, para não dizer tendencioso em manter “os mundos” africanos

desconhecidos. A ideia menos questionada é, contudo, a mais problemática e que implica

nas construções ideológicas erradas sobre o continente no Brasil, tanto pela análise da

natureza destas construções sociais, como pela compreensão das contradições atuais deste

país e dos países distintos entre si.

Page 4: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

Essa insistente ideia de manter similitudes, empobrece ainda mais o conhecimento

e nos coloca um limite de produção para construção das realidades sociais, culturais e

políticas do continente. Tal posicionamento silencia e cega de modo que a construção e

reconstrução das imagens de África apagam suas especificidades culturais escamoteando

a complexidade de sua múltipla e rica história. Inventar uma suposta ligação entre o Brasil

e o todo de um continente expõe o que Mudimbe (2009) nomeou por invenção de África.

Representar a África como “lugar”, dotado de homogeneidades no que tange às práticas

e costumes, exclui seu valor e real dimensão, e neste sentido à caracterização deste espaço

de forma singular ignora-se particularidades e diferenças de povos distintos. Esses

posicionamentos tendem a manter a visão sobre o continente de forma simplista e

mostram-se tendenciosos, pois se estruturam sob pensamentos estigmatizados. Não se

deve tomar a representação como algo inofensivo, destituído de efetividades, pois esta,

na urdidura do processo, constrói práticas e se materializa a partir das ações que justificam

os discursos advindos destas releituras, pois, como afirma Chartier:

(...) As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem

estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade

à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a

justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. Por isso esta

investigação sobre as representações supõe-nas como estando sempre colocadas num

campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de

poder e de dominação. As lutas de representação têm tanta importância como as lutas

econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta

impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são seus, e o seu domínio.

Ocupar-se dos conflitos de classificações e delimitações não é, portanto, afastar-se do

social – como julgou durante muito tempo uma história de vistas demasiado curtas -

muito pelo contrário, consiste em localizar os pontos de afrontamento tanto mais

decisivos quanto menos imediatamente materiais (CHARTIER, 1990, p. 15).

Em outras palavras, a análise das representações construídas por discursos se

presentificam no meio social, produzindo ações e novas leituras. O continente africano,

nesse sentido, é lido sob formas que nem sempre (no caso em questão, consoante nossa

hipótese, não o é de forma alguma) há nexo entre fenômeno e representação, ocorrendo

estranhamentos entre a “coisa” e a leitura desta.

O advento do cristianismo em África

Page 5: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

Os discursos sobre o cristianismo no Brasil tendem a focalizar no colonialismo

europeu e os problemas decorridos deste e sua inserção em África após o século XV. O

uso da prática cristã utilizada apenas para estabelecer e fundamentar as práticas

colonialistas tocando com ênfase na questão da intolerância religiosa entre pessoas que

praticam religiões de terreiro e cristãos diversos. É interessante observar que nas

características identificadas nessas apresentações discursivas não há uma busca pelo

conhecimento histórico para dirimir os embates de uma suposta guerra religiosa no Brasil,

mas enfatizam questões opositoras com o propósito de manter quem discursa num lugar

que lhe delega algum tipo de visibilidade, logo desconstruir as ideias que relacionam ou

colocam religiões em frente de batalha daria fim a esses espaços de vislumbramento

pessoal entre indivíduos que se veem num lugar de poder. Dessa forma, parece ser

importante indagar sobre o papel das pessoas que militam em movimentos sociais

“negros” e suas reais estratégias.

Essas construções imagéticas sobre a África no Brasil apresentam-se nas mídias

sociais, na oralidade e em textos de alguns grupos hegemônicos, todavia os povos

africanos na sua totalidade não se reconhecem a partir dessas construções, sendo estes

discursos preteridos. Está explícito que essas representações sobre o continente africano

e as práticas religiosas dos ditos “negros” são tendenciosas e insistem em tratar o

cristianismo como uma religião de nascente europeia. Essa invisibilidade dada a presença

do cristianismo primeiro em África e com sua posterior diluição para outros povos e

nações não é divulgada, há significativo apagamento nos discursos sociais, políticos e

religiosos de que o cristianismo teve seu advento antes do século XV e que isso ocorreu

no mesmo espaço em que hoje é parte de África e isso compromete a compreensão da

diversidade de práticas religiosas no continente africano.

Há no Brasil um suntuoso silêncio sobre a presença do cristianismo na África

antes deste chegar ao que é hoje Europa, tanto por parte dos militantes de organizações

sociais “negras”, quanto de instituições cristãs. O que se lê/ouve/vê é o discurso de que o

cristianismo chega à África nos períodos e advento das navegações, escravidão e

colonização, após Reforma Protestante. Essas afirmações são impositivas e sugerem

imagens de africanos apáticos, sofredores e infelizes pela prática religiosa de forma

Page 6: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

coercitiva ao passo que isso não coaduna como verdade a priori. Esses discursos fazem

parecer que africanos não tinham, ainda que internamente, seus próprios anseios, suas

escolhas e modos distintos de práticas religiosas. Não é difícil compreender que se o

cristianismo tem o seu advento primeiro no que é hoje África e depois no que é Europa,

que entre as pessoas que fizeram a travessia transatlântica vieram também cristãos,

obviamente com formas e estruturas distintas da prática desta fé.

É importante notar que o cristianismo que se apresenta no Brasil é uma invenção

(re)criada pós século XV, a partir das pré-reformas e pós-reformas do cristianismo

ocidental. Percebe-se a ligação tendenciosa por parte dos movimentos sociais “negros”,

em mostrar uma África apenas dita “negra” e praticante de candomblé, manipulando o

conhecimento de que o cristianismo, o judaísmo e o islamismo chegam primeiro em

África para depois se expandir-se para outras partes do mundo (OLIVER, 1994; SILVA

2006; M´BOKOLO, 2009).

Outro ponto importante para destacar é que os movimentos sociais “negros” e

alguns estudiosos aludem a ideia de que no Brasil existe uma “civilização-negro-africana”

(Luz, 2013), amplamente ligada ao continente africano por vias da religião dos orixás, o

que não é verdade. Se o cristianismo, o islamismo e o judaísmo se presentificam desde os

séculos V a.C com as comunidades pré-cristãs e pré-islâmicas em território africano,

sendo até os dias atuais práticas religiosas com maior número de adeptos, isso,

assertivamente, se deve a presença dessas religiões no continente muito antes da operação

de invenção do oriente pelo ocidente (Óliver, 1994; Said,).

O judaísmo das eras pré-cristãs e pré-muçulmanas era uma religião muito mais

expansiva do que viria a se tornar desde então efetuando vários casamentos inter-

religiosos com egípcios autóctones e outras tantas pelo fascínio que exercia sua fé

monoteísta e seus padrões morais. Foi no Egito, durante o século III a.C que as

escrituras hebraicas foram traduzidas para o grego como os Septuaginta ou Vulgata

dos Setenta. (OLIVER, 1994; p.93)

Oliver, segue afirmando a presença de cristãos neste espaço geográfico desde o

século I da era cristã, ao passo que (M’Bokolo, 2009) afirma a presença de cristãos desde

o século II d.C. ou seja, desde o advento do cristianismo, as comunidades cristãs já se

encontravam estabelecidas no que hoje parte do continente africano, mais precisamente

entre a Núbia (Sudão) e o Egito.

Page 7: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

O discurso das mídias sociais no Brasil

Façamos uma rápida pesquisa nas mídias sociais sobre a África e o cristianismo

de imediato encontraremos associação dos africanos à maldição mítica de Cam/Ham e

sucessiva associação aos ditos “negros”. É importante compreender que a suposta

maldição nunca poderia ter sido associada aos negros, porque a África nunca foi apenas

“negra”, nem os descendentes de Cam, também porque não há passagem bíblica que

fundamente a ligação da cor à maldição aos ditos “africanos negros’’ nessa construção

mitológica. O que existem são pressupostos inventados para uma interpretação errônea e

de cunho racista com o fim de sobrepor interesses pessoais.

No século XIX, essa ênfase se dava para fundamentar a inferioridade dos ditos

“negros” associando-os a uma suposta raça inferior, já nos séculos XX e XXI, para

suprimir o cristianismo que surge em território africano e expor de forma habitual

referência ao cristianismo pós século XV, esse tipo de discurso que se propagou sem

profundo conhecimento hermenêutico e estudo histórico essa religião que surge em

África é vislumbrado apenas a partir de uma visão influenciada pela colonização e

mostrado sob a ótica de exclusão originária de mais um elemento que perpassa imagens

e discursos sobre o continente que pouco agrega valor à compreensão dos fenômenos

históricos ocorridos naquela parte do planeta. Diante disso (re)pensar a visão que se tem

entre brasileiros de compor um imaginário religioso único, indistinto, essencialista,

imutável e adverso ao conhecimento de tão vasta e rica história do continente africano

limita a compreensão das práticas e criações humanas.

Segundo Óliver (1994), os povos que habitavam a região fronteiriça entre a Núbia

e o Egito eram prósperos e sustentavam um templo cujas dimensões arquitetônicas eram

semelhantes ao Templo de Salomão. No Brasil, a despeito dos discursos que negam o

cristianismo como uma religião que tem seu advento em território africano, essa mesma

é considerada a religião mais “negra” do Brasil por ter entre a maior parte dos seus fiéis

epiderme preta e parda. Há uma dicotomia entre construções sociais e da natureza com

essa afirmação da maioria sobre a alienação dos cristãos, relegam a esses a alcunha de

alienados, que tem como base fundamental seu suposto surgimento na Europa

Page 8: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

expandindo-se para os demais continentes a partir dali, muito dificilmente as histórias

anteriores ao século das (re)formas tem espaço nos discursos sociais eclesiásticos ou de

grupos que militam entre os movimentos sociais “negros”. Essas formulações constituem-

se em erro que insiste e designa manter a ideia de África apagada de uma potencial

estrutura de conceitos e saberes plurais.

A Bíblia enquanto Literatura histórica

A Bíblia foi inicialmente traduzida para o grego por estudiosos judeus no Egito

no período que corresponde a 285-244 a.C; denominando-a Septuaginta (JOFFE, 2017).

A palavra “Bíblia” é um vocábulo que foi inicialmente utilizado no plural, surge a partir

do termo grego “biblos”, que significa “biblioteca”, “conjunto de livros” ou “coleção de

livros”. Para os judeus a partir do século I, o termo Tanak, é construído e passa a ser

designado para as três categorias que compõem: Torá (Lei), Nebiim (Profetas) e Ketubim

(Escritos), para os cristãos esta mesma “Bíblia” hebraica, é chamada de Antigo

Testamento, apenas para diferenciá-lo no entretempo do Novo e Velho Testamento, antes

e depois de Cristo.

Na Idade Média por causa do latim e da expansão do cristianismo em Roma, o

vocábulo passou a ser pensado e utilizado no singular (PURY, 2010). É importante o

leitor compreender que a Bíblia é um conjunto de vários livros, escritos em épocas e

povos distintos. As narrativas bíblicas registram relações humanas desses povos, bem

como a diversidade e os modos distintos de práticas e costumes.

Alguns textos bíblicos fazem uso de metáforas e mitologias onde apresentam

estilo literário, história, genealogia e poesia, com relatos de situações sociais distintas,

das quais os autores utilizam uma diversidade de gêneros literários: acontecimentos e

vivências são relatadas de forma alegórica e metafórica; desertos, prisões, palácios,

viagens, militarismos, normas, regras, leis e cartas.

A compreensão que se tem sobre a “Bíblia” difere de acordo com a visão do grupo

que a utiliza. Para o judaísmo rabínico, essencialmente Lei, para outros judeus uma

epopéia nacional e expectativa de uma restauração político-messiânica, e para os meios

Page 9: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

cultos da época persa e helenística, essencialmente como literatura (PURY, 2010). Para

os cristãos de hoje a palavra de Deus ou Lei de Deus.

Para conhecer povos a partir de textos bíblicos é necessário entender os meios

sociológicos, que puseram por escrito e os conservaram. É importante destacar que a

escrita formal sempre foi um meio de comunicação utilizado por grupos que dispõem de

determinado domínio, muitas vezes acompanhado de prestígio e ascensão social, portanto

faz-se necessário não tem uma visão romantizada sobre as pessoas que escreveram os

textos bíblicos, de modo a criar um imaginário estereotipado de pessoas escrevendo em

tendas ou cavernas as histórias de determinado povo. Os meios que redigem e transmitem

os textos (sagrados e profanos) são: a escola, o palácio, o templo e, em uma época tardia,

proprietários de bibliotecas (KNAUF, 2010), logo a ideia de uma referência das pessoas

que escreveram como ignorantes e leigos perfaz o estereótipo da alienação construído

para representar erroneamente aqueles que a produziram esses escritos. Sabe-se que ao

longo da vida humana a maioria das pessoas que domina(ra)m a escrita e a linguagem são

pessoas de camadas sociais diferenciadas daqueles que não tem o mesmo domínio e,

embora muitas culturas de África sejam transmitidas pela oralidade, isso não pode ter

como verdade a priori que toda linguagem utilizada provém desta. A Bíblia tem no seu

primeiro livro: Gênesis, o início de uma apresentação recontando de modo informativo e

lúdico a história do surgimento dos primeiros seres considerados humanos, algumas

práticas, costumes, crenças e o espaço onde se deu esse aparecimento, o que não é

novidade para o mundo ocidental, a afirmação científica e que, também é relatada na

Bíblia, o surgimento dos primeiros humanos em solo africano.

E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o

homem que tinha formado (...) E saía um rio do Éden para regar o jardim; e

dali se dividia e se tornava em quatro braços, o nome do primeiro rio é Pisom;

este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa terra é

bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica e o nome do segundo rio é Giom;

este é o que rodeia toda a terra de Cuxe e o nome do terceiro rio é Tigre; este

é o que vai para o lado oriental da Assíria; e o quarto rio é o Eufrates. (Gênesis

2)

Há uma construção de imagens metafóricas para que povos fossem atraídos à

leitura, mas pode-se perceber detalhes do território desse aparecimento humano. Ora, no

período de escrita deste livro impérios africanos dominavam a cultura, a economia e a

Page 10: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

política, a saber; o império Axumita, onde o cristianismo foi a religião oficial desde o final

do século I. (Silva, 2006; M´Bokolo, 2009)

(Re)pensar a história da humanidade a partir da literatura mais lida no mundo, a

Bíblia, é acolher o conhecimento que não tem limites de ser e existir. A partir da narrativa

de Gênesis a análise dos povos, suas práticas e costumes propõe uma ruptura significativa

de conhecer África(s) na pluralidade e diversidade de suas identidades, nesse sentido,

(re)interpretar Gênesis visa aproximar do conhecimento os que fazem uso do livro

sagrado, bem como, aqueles que o analisam como livro mitológico, e chegar a conclusões

mais próximas do real exercício do saber, trazendo mais reflexões para a sociedade e

possibilitando a transformação do conhecimento a partir de (re)leituras e questionamentos

de discursos errôneos sobre o continente africano, que não contribuem para compreensão

multidimensional do mundo, muito menos para uma sociedade mais justa, humana,

tolerante e respeitosa. É evidente a presença de povos que habitaram o espaço nomeado

hoje como continente africano nos textos bíblicos, sobretudo no livro de Gênesis, não há

como sustentar a ideia de negação ou invisibilidade de povos que habitavam a região

desde o surgimento dos humanos e são relatados na bíblia. Historiadores, filósofos e

religiosos da antiguidade já compreendiam que os primeiros humanos surgiram no espaço

que hoje é África.

Os etíopes, como afirmam os historiadores, foram os primeiros de todos os

homens (...) todos historiadores concordam que eles são autóctones. Além

disso, é claro para todos aqueles que vivem sob o sol do meio dia foram, com

toda probabilidade, os primeiros a serem gerados pela terra , uma vez que se

deve ao calor do sol, no surgimento do universo, o tê-la enxugado, quando

ainda estava úmida, e a impregnado de vida. (Costa e Silva apud Deodoro da

Sicília p.II)

De maneira mais explícita, estes textos trazem uma condição dos seres humanos,

percebida às vistas das mitologias do livro de Gênesis, e demitologicamente os escritos

de Deodoro da Sicília apontam interpretações históricas às quais caracterizam o

continente africano no período de surgimento da humanidade. Neste sentido, nota-se a

riqueza de detalhes da narrativa bíblica que reconta a história com a utilização de uma

estilística metafórica, utilizando um fenômeno que movimentava os pensamentos dos

povos na época: “mitos”.

Page 11: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

Miercea Eliade (2000, p. 7) em seu livro sobre mito e realidade afirma:

A perspectiva conceitual dos mitos no período antigo contrasta com a do

período moderno este o compreende como “fábula”, “ficção”, “invenção”,

porém para as sociedades arcaicas, o mito designa ao contrário, uma “história

verdadeira” e preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo.

A Bíblia para os ditos modernos é caracterizado como irreal, mas para os povos

ditos antigos era impregnado de verdade, visto que a religiosidade sempre esteve inerente

a alguns humanos. O início da prática de culto monoteísta em Gênesis é explicitado

quando o terceiro filho de Adão é gerado Sete e deste é gerado Enos; então se começou a

invocar o nome do Senhor (Gênesis 4:26). Autores diversos exprimem de maneira

simbólica o que se acreditava e praticava como fé religiosa, todavia não é possível

perceber uniformidade nas várias expressões religiosas deste período no continente

devido a diversidade de suas acepções. Há desde sempre no continente africano uma

pluri-realidade cultural e religiosa. Afirmou Deodoro da Sicília:

Historiadores escreveram que os etíopes foram os primeiros seres humanos

iniciaram cultos e aprenderam a adorar deus(es) e a organizar sacrifícios,

procissões e festivais em honra e louvor deles; e sobre os egípcios são os

descendentes diretos dos colonos etíopes [...] a crença de que os reis são

deuses, o especial cuidado que dão a seus sepultamentos e muitas outras

matérias de natureza semelhante são práticas etíopes, do mesmo modo que a

forma de suas estátuas e a maneira como escrevem. (Costa e Silva apud

Deodoro da Sicília, p.21)

A dificuldade de romper com uma ideologia da unicultura religiosa que predomina

sobre a África, em vias de tornar-se uma história única, é o que se (re)apresenta ao longo

dos séculos, enquanto fatos sociais desprovidos de base histórica, sociológica e filosófica

adentra nos discursos pessoais, sociais e midiáticos para escamotear o que este continente

sempre representou de importante para construção da história da humanidade desde os

tempo antigos.

O poderoso reino de Cuxe, citado Gênesis 2:13, enfatiza a riqueza e poder que

aquele império representava na antiguidade, porém a medida que os textos bíblicos são

carregados de diversas conotações que dificultam a compreensão histórica dos textos para

quem o lê de forma isolada, ou ainda versículos aleatórios e sem conhecimento do período

histórico o que condiciona a ideia de pensamento único sobre a Bíblia e o continente

Page 12: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

africano. Nos afirma Heródoto sobre os grandes rios, também citados na narrativa de

Gênesis, que havia um grande lago que desembocava no rio Nilo e nas praias ao seu redor

viviam “tribos” nômades de etíopes.

A partir do século V a.C. (se não antes) a cidade de Meroé foi a capital do

poderoso Reino de Cuxe, na Núbia. Importante centro caravaneiro e produtor

de ferro, Meroé de que restam ruínas, fica a margem direita do Nilo, um pouco

acima da confluência deste com o rio Atbara. O reino de Cuxe extinguiu-se,

possivelmente, no decorrer do século IV de nossa era. (Costa e silva apud

Heródoto, p.17-18)

Vê-se bem o relato histórico enriquecer o relato bíblico, há uma decalagem entre

a ordem do que se explicita como religião dita de “matriz africana” no Brasil e o que de

fato se apresenta como tal. Idealizada na figura do conceito mitológico atual, mas também

na figura que retira do “mito” bíblico, o peso de ideias que não referenciam historicidade.

É evidente que os autores dos dois relatos não inventaram todas as peças de seus textos.

Entrar nos lugares majoritários é tentar quebrar a hegemonia de discursos que fomentam

a separação e a intolerância. Esse trabalho surge em favor da sensibilização humana e

política para vencermos mais uma forma de preconceito e discriminação no Brasil,

rediscutindo representações e reflexões que foram engessadas e perpassadas ao longo de

gerações que usadas e manipuladas descaracterizaram as literaturas bíblicas e os povos

africanos presentes nas narrativas.

No capítulo 10 do livro de Gênesis, percebe-se ainda, os povos descendentes, além

do surgimento de poderoso reino: “E Cuxe gerou a Ninrode; este começou a ser poderoso

na terra” (Gênesis 10:8). A cidade de Napata [...] foi capital do poderoso reino de Cuxe,

na Núbia, do século IX ao século V a.C, aproximadamente, quando foi substituída por

Méroe (Deodoro apud: SILVA, 2012, p. 21). Partindo de pressupostos das descrições

narrativas bíblicas, bem como as históricas, pode-se observar que desde o surgimento

humano ocorreram trajetórias que possibilitam analisar povos que habitaram o continente

africano, de forma que podemos compreender, tanto a partir da mitologia bíblica quanto

de escritos históricos o protagonismo de povos que habitaram parte do continente

africano.

A cultura, segundo Hall (2016) está envolvida em todas as práticas e costumes

que não são geneticamente programados. Estes, ao longo dos tempos, permitem

Page 13: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

compreender os processos de construção, do fazer e refazer constantes, subsumidos ao

campo da cultura. Deste modo, contrapor as concepções estereotipadas sobre a África,

construídas ao longo séculos, com ênfase em aspectos racializantes, permitirá entender

outros sentidos, pautados na diversidade e pluralidade de povos que não são regidos por

signos balizados em elementos da natureza, no caso, cor da pele, traços físicos, dentre

outros aspectos. Assim, conhecer as práticas, costumes, hábitos de povos africanos de

maneira que não os generalize e a partir de vertentes diversas, dimensionadas em

diferentes objetos, nos ajuda compreender um pouco mais sobre a história da África, e

nos (re)coloca nos certames da produção de conhecimento para compreender a

humanidade em suas diferentes particularidades.

No Brasil, o continente africano foi/é representado, via de regra, sob estereotipias

que aludem a certa homogeneidade nas práticas, costumes, línguas e visões de mundo. A

África, nestas representações, ora é apontada como um “lugar” pobre, selvagem, repleto

de negros, ora como o berço de uma raça, dotada de um povo com práticas e costumes

homogêneos. Neste sentido, constroem-se duas representações ideologizantes; uma na

perspectiva dos “movimentos sociais negros”, que traz os “negros” brasileiros como

partícipes do “povo negro”, tributários de uma “matriz africana” (logo, indicando que os

negros devem, em geral, professar o candomblé); noutra há a negação da presença dos

africanos na Bíblia, induzindo a interpretação bíblica, numa perspectiva hermenêutica,

para o equívoco de que se constituem de povos amaldiçoados. Estes discursos aglutinam

visões estereotipadas, e negam/invisibilizam a extrema diversidade existente no

continente africano. Para Orlandi (2005), os discursos naturalizados são utilizados como

mecanismos ideológicos de apagamento da interpretação. Representar a África como

“lugar”, dotado de homogeneidades no que tange às práticas e costumes, exclui seu valor

e real dimensão, e neste sentido a caracterização deste espaço de forma singular ignora-

se particularidades e diferenças de povos distintos. Esses posicionamentos tendem a

manter a visão sobre o continente de forma simplista e mostram-se tendenciosos, pois se

estruturam sob pensamentos estigmatizados. Não se deve tomar a representação como

algo inofensivo, destituído de efetividades, pois esta, na urdidura do processo, constrói

práticas e se materializa a partir das ações que justificam os discursos advindos destas

releituras. Em outras palavras, a análise das representações construídas por discursos se

Page 14: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

presentificam no meio social, produzindo ações e novas leituras. O continente africano,

nesse sentido, é lido sob formas que nem sempre (no caso em questão, consoante nossa

hipótese, não o é de forma alguma) há nexo entre fenômeno e representação, ocorrendo

estranhamentos entre a “coisa” e a leitura desta.

O mito de Cam/Ham, a Bíblia e as construções sociais

No Brasil, as representações que predominam sobre “Bíblia” e o continente

africano estão eivadas de diferentes estereótipos. Ao analisarmos o mapa a seguir pode-

se perceber que os descendentes de Cam/Ham deram origem a diferentes povos e impérios

poderosos na antiguidade, dentro de espaços geográficos que hoje renomeados fazem

parte do continente africano: Cuxe (Sudão/Etiópia), Egito (Mizraim), Pute (Líbia/

Somália).

As estereotipias construídas sobre os povos africanos relacionadas à Bíblia não

denotam verdades e sofrem empobrecimento todas as vezes que são manipuladas para

atender demandas pessoais, reduzindo o continente a entes imaginários que invisibilizam,

colocam à margem a multiplicidade e a pluralidade cultural existentes no continente. A

África, a partir das representações existentes na “Bíblia”, não pode ser pensada como

“lugar” de maldição dos africanos ou dos ditos “negros”. A complexidade da legitimação

do termo “raça” para a “Bíblia” e o desconhecimento da hermenêutica por parte daqueles

Page 15: E tem África na Bíblia? Representações e discursos …...Para M´Bokolo (2009), se os Estados africanos possuem traços comuns com os traços de outros países, estes se apresentam,

que mantém um discurso a partir de militâncias sociais e de alguns cristãos em descrever

os espaços africanos como próprios de uma unicidade é, como já nos disse, um erro que

caminha ao longo de séculos e nos permite refletir e estabelecer uma ruptura entre as

representações estereotipadas que caracterizam o continente africano como lugar

universalmente de “negros” e a estes na Bíblia à uma suposta maldição metafísica.

A utilização de textos bíblicos, isolados, pode ser problemática para uma reflexão

sobre a “raça”, visto que, não há fundamentação empírica, desenvolve-se uma leitura

acrítica e opõe-se a histórias subjacentes na “Bíblia” em que sua máxima diz não haver

acepção de pessoas.