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D O S S I Ê T É C N I C O Preparo de extratos de cogumelos medicinais Luiz Henrique Rosa Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais / CETEC novembro 2007

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D O S S I Ê T É C N I C O

Preparo de extratos de cogumelos medicinais

Luiz Henrique Rosa

Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais /

CETEC

novembro 2007

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DOSSIÊ TÉCNICO

Sumário 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2 2 PREPARO DE CHÁ, PÓ E CONDIMENTO DE COGUMELOS........................................... 4 3 EFEITOS MEDICINAIS E COLATERAIS............................................................................. 5 4 SELEÇÃO DE COGUMELOS.............................................................................................. 6 5 PROCESSAMENTO DOS COGUMELOS PARA PRODUÇÃO DE COMPRIMIDOS E CÁPSULAS............................................................................................................................. 6 6 TIPOS E PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE EXTRATOS.................................................. 7 7 PREPARO DE COSMÉTICOS............................................................................................. 9 8 ESTOCAGEM DOS PRODUTOS E CONTROLE DE QUALIDADE.................................. 11 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................... 11 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 11

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DOSSIÊ TÉCNICO

Título Preparo de extratos de cogumelos medicinais Assunto Fabricação de medicamentos alopáticos para uso humano Resumo Algumas espécies de cogumelos possuem atividades medicinais. Nos últimos anos, produtos medicinais e cosméticos, originados de cogumelos, vêm conquistando uma parte significativa do mercado consumidor de fitoterápicos e de higiene pessoal. Estes produtos utilizam os produtos naturais medicinais dos cogumelos para produção de cremes, sabonetes, xampus, condicionadores, pomadas, spray, chás, cápsulas, pós, comprimidos, entre outros. Desta forma, por se tratar de um tempo amplamente questionado pelo seu caráter artesanal, este dossiê tem como objetivo esclarecer produtores e consumidores quanto aos tipos de produtos produzidos a partir de cogumelos, aos efeitos benéficos e colaterais destes produtos, a seleção de cogumelos para produção dos produtos, ao processamento dos cogumelos para produção de comprimidos e cápsulas, os tipos e processos de obtenção de extratos medicinais, ao preparo de diferentes tipos de cosméticos e a estocagem adequada dos produtos produzidos. Palavras chave Cogumelo; cultivo; extrato aquoso; fungicultura; medicamento; produto natural; utilização medicinal Conteúdo 1 INTRODUÇÃO Durante milênios a humanidade utilizou a natureza para suprir suas necessidades básicas como à alimentação, habitação e também para o tratamento de suas enfermidades. Relatos de uso de produtos naturais medicinais foram encontrados em registros escritos desde 2600 a.C. Dados do receituário norte-americano dão uma idéia da importância dos produtos naturais na medicina moderna, sendo que 50% dos medicamentos prescritos em 1993 eram produtos naturais, seus derivados ou desenvolvidos a partir deles. O faturamento mundial pela venda de produtos naturais em 2002 como fármacos gerou aproximadamente 28,9 bilhões de dólares. Nos países em desenvolvimento, onde a medicina moderna e suas drogas não são tão acessíveis quanto nos países industrializados, a OMS estima que 80% da população dependem de sistemas médicos tradicionais, em especial da fitomedicina, para o tratamento de enfermidades. Os cogumelos são utilizados como medicinais pelo homem desde tempos remotos. Diferentes espécies de cogumelos cultiváveis apresentam algum tipo de atividade medicinal. Apesar do relevante papel dos cogumelos nos ecossistemas, o Brasil ainda conhece muitas espécies presentes em seu território.

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Muitas espécies ainda não foram identificadas, as quais poderiam ser utilizadas como fonte de diferentes substâncias bioativas. Dentre elas se destaca o “Cogumelo do Sol” (Agaricus blazei Murrill). Vários trabalhos divulgados sobre o “Cogumelo do Sol” demonstram que uma combinação exclusiva de polissacarídeos (entre eles o Beta-Glucan), lipídios, proteínas e sais minerais podem estimular a produção de células de defesa do organismo, diminuindo assim a quantidade de doenças para quem consome produtos a partir deste cogumelo. No Canadá, Coréia, Estados Unidos, Japão, República Popular da China e Rússia são conhecidas várias espécies de cogumelos como Lentinula edodes (Shiitake), Ganoderma lucidum (Cogumelo Rei), Schizophyllum commune, Trametes versicolor, Inonotus obliquus e Flammulina velutipes que são fontes de substâncias com atividades biológicas como glucanas e seus complexos protéicos. Diferentes espécies de fungos são estudadas como fontes de novos fármacos. Dentre elas se destacam os cogumelos que apresentam atividades contra microrganismos patogênicos, vírus (p. ex. AIDS), tumores, doenças do coração, inflamações; além disso, são capazes de estimular o sistema imunológico, atuar contra vermes, com propriedades analgésicas, entre outras. Atualmente, diferentes espécies de fungos são estudadas como fontes de novas drogas com atividades antimicrobianas, antivirais, antitumorais, cardiovasculares, antiinflamatórias, antioxidantes, imunomoduladoras, nematocidas, fitotóxicas, inseticidas, analgésicas, entre outras. As substâncias medicinais presentes nos cogumelos precisam ser extraídas e concentradas para o consumo. Para isso, diferentes técnicas químicas de extração metabólica são utilizadas. Para cada tipo de substância medicinal é necessário uma técnica apropriada. Os metabólitos responsáveis pelas atividades medicinais dos cogumelos podem ser de alto peso molecular tais como: proteínas, açúcares, enzimas e complexos glicoproteícos; e os de baixo peso molecular tais como: terpenóides, cumarinas, poliacetilenos, diterpenóides, entre outros. Para cada grupo metabólico são necessários procedimentos específicos. Os principais cogumelos medicinais cultivados no Brasil (FIG.1) e fonte de substâncias medicinais são o Agaricus blazei (“Cogumelo do Sol”) e o Lentinula edodes (Shiitake). O “Cogumelo do Sol” e consumido na forma desidratada para o preparo de chás, mas pode ser encontrado na forma de cápsula, comprimido, hidratante, spray, xarope, xampus e creme. Já o Shiitake é consumido principalmente na forma desidratada, mas em outros países (como o Japão) são encontrados na forma de medicamentos reconhecidos por seus órgãos oficiais de saúde. No Brasil, devido ao crescente uso de produtos naturais fitoterápicos, diferentes pesquisas vêm sendo realizados com o objetivo de legalizar os produtos medicinais de cogumelos.

FIGURA 1- Exemplos de cogumelos cultivados no Brasil e utilizados para obtenção de extratos medicinais. (a) Agaricus blazei (“Cogumelo do Sol”), (b) Agaricus bisporus (“Champignon de Paris) e (c) Lentinula edodes (“Shiitake”) Fonte: ROSA, 2007.

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FIGURA 2 - Produtos preparados a base do cogumelo medicinal Agaricus blazei Murrill. (a) cápsulas, (b) sabonete, (c) pó e (d) loção para pele. Fonte: ROSA, 2007. O potencial dos cogumelos como uma fonte alternativa de substâncias medicinais é enorme. Além disso, os cogumelos são ricos em proteínas e vitaminas e constituem alimentos denominados de nutracêuticos, ou seja, alimentos utilizados para fortalecer o organismo e prevenir doenças. Atualmente, diferentes pesquisadores em todo o mundo buscam isolar, identificar e caracterizar substâncias medicinais de cogumelos. Uma das mais procuradas são as capazes de potencializar os sistema imunológico do corpo humano e aumentar a resistência sem apresentar efeitos colaterais.

2 PREPARO DE CHÁ, PÓ E CONDIMENTO DE COGUMELOS Diferentes produtos podem ser produzidos a partir de cogumelos medicinais. A cada ano inovações são lançadas e conquistam o mercado consumidor. Atualmente são encontrados no mercado cogumelos secos, cápsula, comprimido, pó, spray, xarope, entre outros. Contudo, o consumo na forma de chá e pó são os mais comumente utilizados. O preparo do chá de cogumelos medicinais ainda necessita de experimentos científicos mais elaborados. Para isso, o chá pode ser preparado em infusão em água quente ou fria. Para o preparo do chá do “Cogumelo do Sol”, 20 a 40 g de cogumelo seco e acrescentado em 1l de água fria e levado ao fogo até a fervura. Após fervura o cogumelo seco dever ser deixado em fogo brando por aproximadamente 15 minutos. Assim, de um litro de água obtêm-se três copos de chá (1/3 do volume original) que devem ser consumidos, no máximo em dois dias, conservados em garrafa térmica e depois de frio, consumido até 12 horas.

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O chá do “Cogumelo do Sol” é utilizado como uma alternativa medicinal para o fortalecimento do sistema de defesa (sistema imunológico) para o tratamento e fortalecimento de pessoas com diferentes enfermidades tais como o câncer, diabetes e preventivo contra o estresse e envelhecimento precoce. Na infusão em água fria o cogumelo desidratado (20g) deve ser deixado imerso em 500ml de água fria por cerca de três horas. Após este período o chá deve ser consumido em um prazo de aproximadamente 12 horas. O chá também pode ser preservado em geladeira a 4°C por até dois dias. Várias recomendações quando a dose diária de consumo do chá são sugeridas. Dentre elas o consumo de uma xícara de chá três vezes é o mais recomendado. Contudo, deve ficar bem claro que dados científicos referentes à dose diária de chá são escassos. Desta forma, recomenda-se antes do seu consumo a busca de informações com profissionais da saúde. Os cogumelos na forma de pó podem ser ingeridos a qualquer hora e as substâncias medicinais facilmente assimiladas pelo sistema digestivo do consumidor. Para seu preparo, basta secar os cogumelos e pulverizá-los em moinho. O tamanho das partículas pode variar entre os produtos encontrados no mercado. Contudo, quanto menores forem as partículas, mais rápidas as substâncias medicinais, presentes no pó, serão assimiladas pelo sistema digestivo. Uma forma alternativa de consumo dos cogumelos medicinais consiste na sua utilização como condimentos. Os cogumelos desidratados ou na forma de pó podem ser incluídos em pratos como feijão, molhos, sopas, cozidos de legumes, entre outros (FIG.3).

FIGURA 3 - Cogumelo Agaricus blazei Murrill (“Cogumelo do Sol”) desidratado pronto para consumo na forma de chá ou como condimento em pratos comuns.

Fonte: Rosa, 2007.

3 EFEITOS MEDICINAIS E COLATERAIS Diferentes substâncias medicinais e nutritivas estão presentes nos cogumelos medicinais. Estas substâncias podem ser moléculas de alto peso molecular (açúcares, polissacarídeos, proteínas e enzimas) ou de baixo peso molecular (metabólitos secundários ou produtos naturais). Todos os produtos comercializados a partir de cogumelos medicinais ou de suas partes devem ser via consulta prévia e recomendação médica.

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Os cogumelos como todos os outros fungos possuem em sua constituição diferentes substâncias que incluem compostos medicinais, vitaminas, proteínas e aminoácidos, mas também algumas com poder alérgico. Pessoas com elevado grau de susceptibilidade a estas substâncias podem sofrer reações alérgicas de hipersensibilidade e consequentemente sofrer efeitos colaterais com o uso dos produtos. Recomenda-se que antes do uso constante, o consumidor (mediante acompanhamento médico) use pequenas doses do produto. Desta forma, caso ocorra qualquer tipo de reação alérgica pode-se intervir no seu consumo. 4 SELEÇÃO DE COGUMELOS A seleção dos cogumelos constitui uma etapa importante no preparo de seus produtos medicinais. Os melhores corpos de frutificação (sem aspecto de doença, grandes, robustos, consistentes) devem ser separados para o preparo dos comprimidos, cápsulas, pós e cosméticos, entre outros. Durante o processo de seleção, alguns cogumelos colhidos podem sofrer danos e ser utilizados para o preparo de condimentos. Recomenda-se a consulta ao dossiê “Colheita e processamento de cogumelos comestíveis e medicinais para comercialização”. A escolha destes cogumelos deve ter seu início no momento da colheita. Estes cogumelos devem ser recolhidos separadamente, limpos e devidamente higienizados para que sejam submetidos às diferentes técnicas de processamento a fim de se obter um produto final dentro das normas de qualidade. O local de processamento deve estar de acordo com as normas da Vigilância Sanitária da região de produção. 5 PROCESSAMENTO DOS COGUMELOS PARA PRODUÇÃO DE COMPRIMIDOS E CÁPSULAS Para obtenção das cápsulas e comprimidos os cogumelos secos deverão ser primeiramente pulverizados em moinho em partículas na forma de pó. Para que este processo ocorra de forma adequada os cogumelos desidratados devem estar devidamente desidratados e podem ser submetidos a um novo processo de secagem antes do processamento. Neste processo, além da remoção de uma possível água residual, deve-se observar se existe algum tipo de contaminação por fungos, bactérias ou insetos no produto. Após a pulverização, o pó de cogumelo deve ser acondicionado em vasilhas de aço inox ou plástico, devidamente limpas e desinfectadas, seguindo as normas da higienização da Vigilância Sanitária local. Para montagem das cápsulas devem-se escolher produtos de acondicionamento de boa qualidade em estabelecimentos idôneos. Cápsulas gelatinosas a base de algas estão sendo utilizadas no mercado, pois são de fácil degradação quando em contato com o sistema digestivo do consumidor. Contudo ainda as cápsulas de plástico são as mais utilizadas no mercado. Os equipamentos para encapsular e prensar utilizados para produção das cápsulas e comprimidos, respectivamente, devem ser a cada etapa do processo limpos e higienizados para que não ocorra contaminação do produto. Na maioria das vezes esta etapa da produção é terceirizada com utilização de mão-de-obra de profissionais que atuam em farmácias de manipulação de fitoterápicos. Desta forma, aumenta-se a qualidade final e confiabilidade do produto. A quantidade do pó de cogumelo utilizada para produção das cápsulas e comprimidos (FIG.4) varia de acordo com cada empresa e está relacionada com sua recomendação de consumo diário.

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Na maioria dos produtos, cada cápsula contém cerca de 300mg do pó e é recomendado seu consumo de cinco a dez cápsulas quatro vezes ao dia. Por outro lado, cada comprimido contêm cerca de 200mg do pó de cogumelo e é recomendado seu consumo de seis a 12 comprimidos quatro vezes ao dia. A utilização recomendada pelo fabricante deve ser informada o médico e de acordo com sua especificação pode ser modificada.

FIGURA 4 - Cápsulas contendo o cogumelo pulverizado produzidas a partir do cogumelo desidratado de cogumelos medicinais.

Fonte: ROSA, 2007. 6 TIPOS E PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE EXTRATOS O preparo dos extratos dos cogumelos pode ser realizado de diferentes formas. Como diferentes substâncias presentes nos cogumelos são tidas como medicinais, a melhor opção de solvente para extração destas substâncias é uma mistura de etanol e água. A proporção mais utilizada é a de 1:1, ou seja, uma solução de 50% de etanol mais 50% de água. A água utilizada para essa mistura deve ter alto grau de pureza. Para obtenção dos extratos brutos, os cogumelos desidratados deverão ser triturados com auxílio de uma tesoura ou faca afiada e em seguida pulverizados para que se tornem pó. Desta forma, aumenta-se a área de contato da partícula do cogumelo para que a mistura de etanol/água extraia as substâncias medicinais. Após pulverização o pó de cogumelo deve ser coberto e colocado em contato com a solução de etanol/água (1:1) em frascos de vidro previamente limpos e desinfectados. Os frascos devem ser então deixados a temperatura ambiente por um período de 15 dias no escuro. Após este período, o sobrenadante (mistura etanol/água) deverá ser filtrado e distribuído em frascos de vidro de 30ml para obtenção de um extrato seco. Os frascos de 30ml contendo o xarope deverão ser submetidos à evaporação aquecendo a temperatura inferior a 50°C e em seguida incubados dentro de dessecadores para retirada do resquício do solvente utilizado para extração.

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FIGURA 5 - Preparo dos extratos brutos dos cogumelos medicinais. (a) cogumelos devidamente desidratados, (b) fragmentos dos cogumelos em contato com mistura de etanol/água (1:1) e (c) frascos com os extratos brutos secos em dessecador. Fonte: ROSA, 2007. O extrato bruto final, obtido dos cogumelos medicinais, pode ser dissolvido em uma mistura de etanol e água (1:1) para comercialização na forma de xarope. A dose de consumo do xarope vai depender da especificação do produtor. Alguns produtos são consumidos na quantidade de uma a três colheres de chá (5 a 15ml). O produto deve ser conservado na geladeira depois de aberto. Outra possibilidade de uso do extrato inclui sua utilização em alimentos, onde se pode adicionar cerca de 20ml do extrato em diferentes alimentos, dando mais sabor na refeição. Técnicas mais avançadas podem ser utilizadas para obtenção dos extratos brutos dos cogumelos medicinais. Contudo, para sua utilização são necessários equipamentos especiais e de alto valor financeiro (FIG.6). Utilizando-se um extrator automatizado podem-se obter extratos brutos dos cogumelos em 15 minutos e não em 15 dias (como mencionado acima).

FIGURA 6 - Equipamentos utilizados para otimizar a obtenção de extratos brutos de cogumelos medicinais. (a) extrator automático para obtenção de extratos brutos em alta pressão (b) rota-vapor utilizado para concentrar e secar os extratos obtidos. Fonte: ROSA, 2007. Neste equipamento a mistura de etanol/água (1:1) entra com contato com os fragmentos dos cogumelos em alta pressão e acelera a remoção das substâncias medicinais. Para a concentração deste extrato hidro-alcóolico pode ser utilizado um equipamento denominado rota-vapor que é capaz de secar 1l desta solução em apenas uma hora. A utilização destes equipamentos pode ser terceirizada, contudo acarretará um aumento no valor final do produto, contudo, como o mercado consumidor torna-se cada vez mais exigente algumas empresas no setor já utilizam estes equipamentos com o objetivo de

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aumentar a qualidade do seu produto e consequentemente conquistarem uma maior porção do mercado consumidor. 7 PREPARO DE COSMÉTICOS Desde a Antigüidade, o homem busca na natureza substâncias para auxiliar a manutenção da juventude, retardando o aparecimento dos sinais da idade. Diferentes fontes são utilizadas como cosméticos tais como plantas, sementes, mel, cereais, argila, entre outros. Na atualidade, o surgimento de produtos naturais que causam menor impacto à saúde e ao meio ambiente se encontra em ampla expansão. Assim, cosméticos naturais são eficientes, apresentam baixo custo e apresentam efeitos benéficos quando comparados com os sintéticos. Diferentes cosméticos são obtidos a partir de cogumelos medicinais. Dentre eles, se destacam os sabonetes, xampus, condicionadores e cremes para diferentes partes do corpo. Os processos de extração das substâncias medicinais para utilização e preparo dos cosméticos são simples e efetivos. O extrato bruto obtido por meio das recomendações do item 6 deste Dossiê pode ser utilizado. Contudo, outras metodologias também podem ser adotadas para sua produção. Muitos produtores utilizam o etileno-glicol como agente extrator dos metabólitos medicinais dos cogumelos para produção de cosméticos. Para realização deste procedimento, fragmentos desidratados dos cogumelos medicinais são colocados em contato direto com o etileno-glicol (submersos) em frascos de vidro. Estes frascos podem ser de vidro âmbar ou protegidos com papel alumínio para proteger as substâncias medicinais de um possível efeito degradativo causado pela luz. Os fragmentos de cogumelos ficam em contato com o etileno-glicol por um período mínimo de 15 e máximo de 45 dias em temperatura ambiente e no escuro. Em seguida, o etileno-glicol é separado dos fragmentos dos cogumelos por meio de uma simples filtração. Uma alternativa utilizada para diminuir o tempo de extração com etileno-glicol consiste em aumentar levemente a temperatura da sala de estoque dos frascos para no máximo 35°C, pois acima desta temperatura algumas substâncias medicinais podem ser inativadas. Com o aumento da temperatura, o processo é acelerado diminuindo o tempo de extração das substâncias medicinais. Para a produção final dos cosméticos, os extratos obtidos são misturados com uma base fixadora. Diferentes bases fixadoras podem ser utilizadas. Para sabonetes, a mais comum é a glicerina, que possui vantagens tais como: não contêm aditivos ou essências, apresenta cor neutra ou levemente amarelada e é praticamente inodora. A glicerina é utilizada em rotina para preparar sabonetes neutros, infantis, perfumados e esfoliantes com extratos brutos de cogumelos medicinais. Além da glicerina, podem ser utilizados alguns aditivos na constituição dos sabonetes (TAB. 1).

TABELA 1 Concentração dos ingredientes para preparo de sabonetes a partir de extratos brutos de

cogumelos medicinais

Ingrediente Concentração (%) Base de glicerina 97 Essência 1,5 Extrato bruto do cogumelo medicinal 1,5

Fonte: ROSA, 2007. Para o preparo de sabonetes deve-se cortar em cubos a glicerina e acondicioná-los em vasilhas de vidro ou ferro esmaltado (não utilizar vasilhas de alumínio).

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Em seguida borrifar álcool etílico neutro sobre a base de glicerina até que ela fique encharcada. Depois desse preparo deve-se fundir a glicerina em banho-maria a uma temperatura de aproximadamente 70°C até a sua total dissolução. Após a dissolução adicionar álcool etílico na superfície da glicerina fundida para remover a espuma formada, adicionar e homegeneizar lentamente os extratos brutos (etanólico ou glicólico). Por último, transferir o produto para os moldes e deixar esfriar naturalmente. Após a finalização do processo de preparo dos sabonetes, os mesmos devem ficar acondicionados em geladeira e ao abrigo da luz em locais higienizados.

FIGURA 7 - Produção de sabonete a partir de cogumelos medicinais. (a) fragmentos de cogumelos em contato com solução de etileno-glicol em frasco de vidro para extração das substâncias medicinais, (b) sabonete inicialmente obtido a partir dos fragmentos dos cogumelos e (c) sabonete pronto para comercialização. Fonte: ROSA, 2007. Os xampus, condicionadores, pomadas e cremes obtidos a base de cogumelos medicinais são utilizados para tratar cabelos secos e quebradiços e pele ressecada, pois seus constituintes medicinais (principalmente as beta-glucanas) apresentam elevado poder de restauração. A recomendação de uso varia de acordo com cada produto, bem como a necessidade do consumidor. O uso de xampus e condicionadores naturais (fitocosmético) vem aumentando nos últimos anos, pois são substitutos promissores de xampus químicos (na sua maioria, agressivos ao couro cabeludo e a saúde do consumidor). Para o preparo de xampus e condicionadores medicinais, basta fazer uso das matérias primas adequadas. Dentre elas se destacam o produto base (detergente), agentes emulsificantes, engordurantes, estabilizadores de espuma, perolante, conservante, essências e corantes. Em seguida, o produto esta pronto para uso. A quantidade de cada ingrediente vai variar de acordo com o tipo de produto a ser produzido. Recomenda-se uma consulta a farmacêuticos especializados em produção de cosméticos para a formulação adequada do produto. Para o preparo de cremes e pomadas pode-se utilizar os seguintes ingredientes nas seguintes proporções: extrato bruto 10%, lanolina 10% e vaselina 30g. Muitos indivíduos podem apresentar reações alérgicas aos diferentes cosméticos. Desta forma, é de grande importância que os usuários de cosméticos a base de cogumelos medicinais ou de seus extratos e derivados procurem recomendações de profissionais da saúde (médicos e farmacêuticos). Além disso, é de bom senso observar e relatar qualquer possível reação alérgica quando os cosméticos forem utilizados.

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8 ESTOCAGEM DOS PRODUTOS E CONTROLE DE QUALIDADE A estocagem de todos os produtos manufaturados a partir dos cogumelos deve seguir os critérios utilizados para um medicamento. Recomenda-se seguir as normas exigidas pela Vigilância Sanitária local. Todos os produtos devem ser mantidos em locais limpos e higienizados. O cogumelo pulverizado, as cápsulas e comprimidos devem ser mantidos em locais climatizados com baixa umidade relativa do ar para que não ocorra re-hidratação e consequentemente contaminação com fungos e bactérias. Os extratos brutos e xaropes devem ser congelados em freezer com temperaturas inferiores a -20°C. Quanto congelados estes produtos apresentam maior validade, pois as substâncias medicinais não sofrem a ação degradativa da temperatura e luminosidade. Além disso, todos os produtos devem ser organizados para a necessidade de rastreabilidade caso ocorra algum problema de contaminação. Se este evento ocorrer, todo o lote de produção deve ser retirado de circulação e devidamente descartado. Para assegurar que todos os produtos obtidos dos cogumelos tenham segurança quanto a presença de contaminantes microbianos (fungos e bactérias), alguns conservantes podem ser utilizados. Dentre eles, se destacam os conservantes naturais tais como ácido benzóico e seus sais, éster etílico, ácido salicítico e seus sais, ácido sórbico e seus sais e álcool benzílico. Sempre que estes conservantes forem utilizados, a mercadoria deve conter um aviso esclarecendo qual conservante empregado. Conclusões e recomendações CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O preparo dos cogumelos desidratados, chás, pó, cápsulas, comprimidos, entre outros devem seguir critérios de alta qualidade de produção. Caso o empreendedor tenha dúvidas em quaisquer etapas de produção é recomendado à busca de informações com especialistas no assunto. Todos os produtos gerados devem ser submetidos a testes de toxidade e presença de contaminantes microbianos. Toda a produção deve ser estocada em almoxarifados higienizados e observado os prazos de validade para consumo. Com respeito ao uso de qualquer espécie de cogumelo medicinal, em qualquer de suas formas, deve ser autorizada e acompanhada por um médico especialista. Em hipótese alguma o consumo deve ser indiscriminado, pois podem ocorrer efeitos colaterais. Referências REFERÊNCIAS BONONI, V.L.R., CAPELARI, M., MAZIERO, R. & TRUFEM, S.F.B. Cultivo de cogumelos comestíveis. São Paulo: Ícone, 1995. 206p. Nome do técnico responsável Luiz Henrique Rosa – Biólogo, Mestre, doutor em microbiologia Nome da Instituição do SBRT responsável Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais Data de finalização 23 out. 2007