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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SADE PBLICA
NCLEO DE PESQUISA EM ENFERMAGEM DE SADE COLETIVA
O PADRO DE CONSUMO DE LCOOL DECLARADO POR
MOTORISTAS EM UM DETRAN NA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO APS A LEI SECA
Louise Anne Reis da Paixo
RIO DE JANEIRO
Julho/2012
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O PADRO DE CONSUMO DE LCOOL DECLARADO POR
MOTORISTAS EM UM DETRAN NA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO APS A LEI SECA
Louise Anne Reis da Paixo
Dissertao apresentado ao Programa de Ps
Graduao da Escola de Enfermagem Anna
Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro,
para obteno do ttulo de mestre em
Enfermagem.
Orientador: Prof. Dra Angela Maria Mendes Abreu
RIO DE JANEIRO
Julho/2012
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL
DESTE TRABALHO , POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU
ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE
CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRFICA
Paixo, Louise Anne Reis da
O Padro de consumo de lcool declarado por motoristas em um
DETRAN na cidade do Rio de Janeiro aps a Lei Seca.Rio de
Janeiro, EEAN, 2012.
Dissertao apresentado ao Programa de Ps Graduao da Escola de
Enfermagem Anna Nery-UFRJ. Departamento de Enfermagem em
Sade Coletiva.
Orientadora: Angela Maria Mendes Abreu
1. Uso de lcool. 2. Preveno. 3. Fatores de Risco no trnsito.
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FOLHA DE APROVAO
O PADRO DE LCOO DECLARDO POR MOTORISTAS EM UM DETRAN NA
CIDADE DO RIO DE JANEIRO APS A LEI SECA
Louise Anne Reis da Paixo
Orientadora: Prof. Dr. Angela Maria Mendes Abreu
Dissertao de mestrado a ser submetida ao Programa de Ps-graduao em Enfermagem,
Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como
parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem.
BANCA EXAMINADORA
Presidente, Prof. Dr. Angela Maria Mendes Abreu (EEAN/UFRJ)
1 examinador, Prof. Dr. Sandra Domingos Pillon (EERP/ USP)
2 examinador, Prof. Dr Ana Ines Sousa (EEAN/UFRJ)
Suplente, Prof. Dr. Rachel Figueir Savary (EEAN/UFRJ)
Suplente, Prof. Dr. Jos Mauro Braz de Lima (FM/UFRJ)
Rio de Janeiro
Julho /2012
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S existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e outro se chama amanh, portanto hoje o dia certo para amar,
acreditar, fazer e principalmente viver (Tenzin Gyatso)
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Agradecimentos Especiais
A Deus
Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o
recebereis e t-lo eis
A minha famlia
na educao dos filhos que percebe-se a virtude dos pais (Coelho
Neto). Agradeo a vocs que foram os protagonistas das minhas
vitrias e os companheiros de cada momento da minha vida. Amo
vocs!
A minha orientadora
Mestre no o que ensina frmulas, regras, raciocnios, mas o que
questiona e desperta para a realidade. No aquele que d de seu
saber, mas aquele que faz germinar o saber do discpulo (autor
desconhecido) Obrigada!
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Agradecimentos
Aos meus avs, que sempre estiveram comigo e confiaram em mim. Aos meus dindos que esto sempre presentes na minha vida e torcendo pela minha felicidade e novas conquistas Aos meus amigos, que sempre me apoiaram e me incentivaram nesse longo trajeto do mestrado.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Os Principais Fatores de Risco para Acidentes de Trnsito............................ 30
Quadro 2- Efeitos neurocognitivos de acordo com a concentrao do lcool.................. 38
Quadro 3 Pontuao do AUDIT................................................................................ 53
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Caractersticas socioeconmicas, declaradas pelos condutores de veculo automotor
em um Posto do DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil-2011..............................................58
Tabela 2 Uso de lcool declarado entre os condutores de veculo automotor em um Posto
do DETRAN-RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2011 (n=390) .................................................60
Tabela 3 - Descrio dos padres de consumo de lcool declarados pelos condutores de
veculo automotor que mencionaram consumir bebida alcolica, em um Posto do DETRAN-
RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2011........................................................................................61
Tabela 04 Caractersticas do comportamento no trnsito relacionado ao uso de lcool e
direo veicular referidas pelos condutores de veculo automotor em um Posto do
DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010. ....................................................................63
Tabela 5 Descrio do uso de dispositivos de segurana referido pelos condutores de
veculo automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010..............63
Tabela 6 Associao do sexo com o padro de consumo de lcool referido pelos motoristas
de veculo automotor que mencionaram consumir bebida alcolica em um Posto do
DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 .....................................................................65
Tabela 7 Associao da faixa etria com o padro de consumo de lcool referidos pelos
motoristas de veculo automotor que mencionaram consumir bebida alcolica em um Posto do
DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 ......................................................................66
Tabela 08 Associao da faixa etria com as caractersticas do comportamento no trnsito
relacionado ao uso de lcool referido pelos motoristas de veculo automotor em um Posto do
DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 .....................................................................67
Tabela 9 - Associao entre beber e dirigir aps a Lei Seca e o padro de consumo de
lcool referido pelos motoristas de veculo automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil 2010 ........................................................................................................69
Tabela 10 - Associao entre o beber e dirigir aps a Lei Seca e as caractersticas
socioeconmicas referidas pelos motoristas de veculo automotor em um Posto do
DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 ......................................................................70
Tabela 11- Associao padro de consumo de lcool, segundo o AUDIT, e caractersticas de
comportamento no trnsito relacionadas ao uso de lcool referidas pelos motoristas de veculo
automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010......................... 71
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LISTA DE SIGLAS
ABRAMET: Associao Brasileira de Acidentes de Medicina de Trfego
ANTP: Agncia Nacional de Transportes Pblicos
AUDIT: Teste para Identificao de Problemas Relacionados ao Uso de lcool
CEP: Comit de tica em Pesquisa
CNH: Carteira Nacional de Habilitao
CONTRAN: Conselho Nacional de Trnsito
DENATRAN: Departamento Nacional de Trnsito
DETRAN: Departamento Estadual de Trnsito
DETRAN-RJ: Departamento Estadual de Trnsito do Rio de Janeiro
EEAN: Escola de Enfermagem Anna Nery
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IPEA: Instituto de Poltica Econmica Aplicada
MS: Ministrio da Sade
OMS: Organizao Mundial de Sade
ONU: Organizao das Naes Unidas
OPAS: Organizao Pan Americana de Sade
PNT: Poltica Nacional do Trnsito
SENAD: Secretria Nacional Antidrogas
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
WHO: World Health Organization
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Sumrio APRESENTAO.......................................................................................................................... 13
1.INTRODUO............................................................................................................................ 17
1.1 O Problema................................................................................................................... 17
1.2 Objetivos........................................................................................................................ 23
1.3 Justificativa/Relevncia................................................................................................. 23
2.REVISO DE LITERATURA ................................................................................... 29 2.1 Trnsito.......................................................................................................................... 29
2.2.1 Breve Histrico do Trnsito Brasileiro...................................................................... 29
2.2.2 Acidentes de Trnsito................................................................................................. 30
2.3.1 Breve histrico do lcool .......................................................................................... 34
2.3.3 Metabolismo do lcool.............................................................................................. 35
2.3.4 Efeitos do lcool........................................................................................................ 37
2.2.4 Padro de Consumo de lcool na Populao Brasileira............................................ 40
2.5 O Enfermeiro e o Problema de lcool e Direo.......................................................... 44
3. METODOLOGIA......................................................................................................... 48
3.1 Desenho do Estudo........................................................................................................ 48
3.2 Local do Estudo............................................................................................................. 48
3.3 Populao do Estudo..................................................................................................... 50
3.3.1 Critrios de Incluso/Excluso................................................................................... 50
3.4. Instrumento para Coleta de Dados................................................................................50
3.4.1 Variveis Independentes.............................................................................................50
3.4.2 Variveis Dependentes............................................................................................... 51
3.5 Pr- teste........................................................................................................................ 52
3.6 Coleta de dados............................................................................................................. 53
3.6.1 Recrutamento dos Participantes..................................................................................53
3.6.2 Etapas para Coleta de Dados...................................................................................... 54
3.7 Processamento e Anlise dos Dados............................................................................. 54
3.8 Aspectos ticos............................................................................................................. 55
3.9 Limitaes do Estudo.................................................................................................... 55
4. RESULTADOS..............................................................................................................48
4.1Anlise Exploratria ...................................................................................................... 58
4.2Anlise de Associao de Dados................................................................................... 64
5. DISCUSSO................................................................................................................. 73
6. CONSIDERAES FINAIS....................................................................................... 89
REFERNCIAS................................................................................................................ 93
ANEXOS............................................................................................................................ 105
Anexo I - Lei 11.705/2008................................................................................................. 106
Anexo II - Categorias de habilitao................................................................................. 107
Anexo III - Carta de Aprovao do Comit de tica em Pesquisa.................................... 111
APNDICES.......................................................................................................................112
Apndice I - Contribuies e Difuso dos Dados do Presente Estudo e Atividades com o
Grupo de Estudo sobre lcool e Direo............................................................................ 113
Apndice II - Termo de Consentimento Livre Esclarecido ............................................... 116
Apndice III - Instrumento para Coleta de Dados............................................................... 117
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Apresentao
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APRESENTAO
Minha trajetria profissional na rea de uso/abuso de lcool comeou durante o meu
curso de graduao, ainda quando era aluna bolsista de um projeto de atividades de extenso
denominado Ncleo de Ateno Integrada ao Acidentado de Trnsito (NAIAT), do
Departamento de Enfermagem em Sade Pblica da Escola de Enfermagem Anna Nery da
UFRJ.
Esse projeto era parte integrante do projeto intitulado Centro de Estudo e Pesquisa,
Reabilitao em lcool e Adictologia- CEPRAL, desenvolvido no Hospital Escola So
Francisco de Assis da UFRJ e tinha como objetivo atender clientela com problemas
relacionados violncia no trnsito, desde a preveno at a reabilitao.
Para cumprir esse objetivo, participei do projeto, como aluna bolsista de extenso,
juntamente com as professoras da Escola de Enfermagem Anna Nery e um professor da
Faculdade de Medicina da UFRJ e os demais bolsistas de extenso, desenvolvendo, aes de
educao em sade no trnsito, sobretudo relacionadas ao uso/abuso de lcool, em escolas de
ensino fundamental/mdio e empresas.
Tambm participei das atividades Amigo da vez em bares e boates, no qual
estimulvamos a escolha de um condutor que no houvesse ingerido bebida alcolica,
podendo levar seus amigos com segurana para casa.
Ainda tive a oportunidade, como bolsista de extenso da UFRJ, e com o fomento da
FAPERJ, de elaborar materiais educativos como cartilhas, flderes e um vdeo, dentro da
temtica lcool e trnsito, cujo material educativo ainda vem sendo utilizado nas atividades de
educao em sade no trnsito do NAIAT.
Alm dessas atividades de preveno e promoo da sade no trnsito, tambm
realizvamos consultas de Enfermagem, na Unidade de Reabilitao do Hospital Escola So
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Francisco de Assis (HESFA). Essas consultas eram destinadas a vtimas de acidentes de
trnsito com sequelas diversas, principalmente pacientes com leso medular.
Durante o stimo perodo da graduao em enfermagem, eu e outras acadmicas de
Enfermagem, realizamos tambm um estudo sobre o perfil socio-econmico dos pacientes
com leso medular atendidos nas consultas de Enfermagem do NAIAT. Assim, observamos
um continente intrigante de pessoas que ficaram paraplgicas ou tetraplgicas em decorrncia
da violncia no trnsito relacionada ao uso de lcool.
Ainda durante a graduao, tambm tive a oportunidade de participar de um curso de
20 horas, intitulado Interveno Breve em lcool e Outras Drogas na Ateno Bsica, o
qual subsidiou-me ainda mais na temtica lcool. Aps essas experincias tive o interesse em
continuar nessa linha de pesquisa e ento desenvolvi meu Trabalho de Concluso de Curso de
Enfermagem nessa temtica, cujo objeto de estudo foi lcool e direo: comportamento no
trnsito entre jovens universitrios no Rio de janeiro.
No resultado da minha monografia evidenciei que a maior parte dos entrevistados
tinha algum comportamento de risco no trnsito relacionado ao uso de lcool. Foram
entrevistados 336 universitrios, em dois campi da UFRJ, onde a maior parte dos
entrevistados (73,2%) consumia bebidas alcolicas. Desses, 17% afirmaram consumir, em
situaes habituais, 4 a 6 doses-padro1 e apenas um quarto dos universitrios no foram
ocupantes de veculos com motorista alcoolizado aps a vigncia da Lei Seca. Em relao a
beber e dirigir, 5,3% declararam ter esse hbito.
Aps esses resultados com esses jovens universitrios, mais indagaes foram
surgindo, como por exemplo: ser que s os universitrios bebem e dirigem aps a Lei
Seca, ou outros motoristas tambm? Qual ser o padro de consumo de lcool entre
condutores de veculo automotor? Ser que os motoristas sabem o que determina a Lei
Seca? Essas indagaes me estimularam ainda mais a buscar conhecimentos especficos
sobre o tema, por meio do curso do mestrado.
1 dose-padro (vol/ml)= 350 ml de cerveja ou 150 ml de vinho ou 40 ml de destilado (LIMA,2008).
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Durante o curso de mestrado, fui bolsista do CAPES/CNPQ, o qual me aproximou
mais ainda de atividades de preveno/promoo de sade na rea lcool e trnsito. Sendo
assim, fui convidada pelo Departamento de Trnsito do Rio de Janeiro para dar aula de
Primeiros SOS para os funcionrios desta instituio, onde o tema lcool e direo tambm
foi discutido.
Alm disso, participei na coleta de dados de um outro estudo dentro das Operaes da
Lei Seca, na cidade do Rio de Janeiro. Tambm auxiliei nas orientaes de pesquisas
cientficas com alunos de graduao de Enfermagem na temtica uso de lcool e outras
drogas. Comecei a trabalhar como Enfermeira da Estratgia da Sade da Famlia, no qual
percebo que o uso/abuso de lcool e outras drogas uma realidade constante na comunidade,
principalmente pelos jovens.
Portanto, frente complexidade deste tema, a presente pesquisa teve como objeto de
estudo: o padro do consumo de lcool declarado entre condutores de veculo automotor em
um DETRAN no municpio do Rio de Janeiro.
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Captulo I
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1. INTRODUO
1. O Problema
Os acidentes de trnsito configuram-se como um problema mundial e urgente de
sade pblica, principalmente nos pases de baixa e mdia renda. Dessa forma, as leses do
trnsito contribuem para aumento da morbimortalidade, trazendo consequncias para o
indivduo, sua famlia e a sociedade em geral (ABREU, 2006; ABREU, LIMA e GRIEP,
2009; WHO, 2009).
De acordo com os dados da Organizao Mundial de Sade, anualmente mais de 1,2
milho de pessoas no mundo so vtimas fatais de acidentes de trnsito, o que representa mais
de 2,1% da mortalidade mundial, e cerca de 20 a 50 milhes so vtimas de traumatismos no
fatais (WHO, 2004, 2009; OPAS, 2007).
Sabe-se que a incidncia de bitos por essa causa vem aumentando progressivamente
e, se os pases, especialmente aqueles em desenvolvimento, no tomarem as devidas
providncias relativas segurana rodoviria, em 2020, os acidentes de trnsito podero ser a
terceira principal causa de morte no mundo e o nmero de bitos poder alcanar cerca 2,4
milhes de pessoas. Os acidentes de trnsito estaro frente de patologias como HIV/AIDS,
malria e tuberculose (ONU, 2003; ABREU, 2006; MAKE ROAD SAFE, 2010).
Pensando nisso, a Organizao das Naes Unidas estabeleceu os anos de 2011 a 2020
como a Dcada de Aes para a Segurana Rodoviria, a fim de traar e direcionar melhor
metas para conter o crescimento dos acidentes de trnsito, sobretudo nos pases em
desenvolvimento (MAKE ROADS SAFE, 2010).
Sabe-se que atualmente os acidentes de trnsito representam a principal causa de
mortes entre as crianas e jovens no mundo, conforme dados apresentados no Relatrio da
Primeira Conferncia Ministerial Global sobre Segurana Rodoviria, em 2009. Mais de 40%
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das mortes oriundas desses acidentes ocorrem entre pessoas de 0 (zero) a 25 anos de idade
(OPAS, 2007).
Alm disso, o impacto econmico gerado pelos acidentes de trnsito alto. Estima-se
que o custo represente 1 a 3% do PIB de cada pas (ONU, 2003; OMS, 2009) e que nos pases
em desenvolvimento os custos sejam no mnimo de 100 bilhes de dlares por ano (MAKE
ROADS SAFE, 2010).
Desse modo, para reduo dessas estatsticas, os pases devem adotar leis abrangentes
sobre a segurana rodoviria, como por exemplo, a obrigatoriedade do uso de cinto de
segurana e do uso de capacete para motociclistas, leis que restrinjam a alcoolemia do
motorista de veculo automotor, entre outras aes. No entanto, apenas 15% dos pases no
mundo tm leis pautadas nestes fatores supracitados (WHO, 2009).
Diversos estudos nacionais (DOMINGOS; PILLON, 2007; FREITAS; MENDES;
OLIVEIRA, 2008; ABREU; LIMA; GRIEP, 2009; MARISCAL; SILVA, 2009) e
internacionais (OPAS, 2007; WHO 2007, 2009) apontam o lcool como um importante fator
de risco para provocar uma coliso automobilstica ou para desencadear morte ou leso de
trnsito, visto que o uso de lcool causa prejuzo no julgamento e tempo de reao, e
diminuio da acuidade visual do condutor (WHO, 2007).
Nesse sentido, um estudo realizado em La Paz, Bolvia, identificou que das vtimas de
acidentes de trnsito admitidas em uma Unidade de Emergncia, 61,3% tinham envolvimento
com lcool no momento do acidente (MARISCAL; SILVA, 2010). Da mesma forma, em
2010, nos EUA, 31% das vtimas fatais de acidentes automobilsticos tinha envolvimento com
uso de lcool (NATIONAL HIGHWAY TRAFFIC TRANSPORT, 2012).
Alm da probabilidade aumentada do condutor colidir sob a influncia do lcool, a
intoxicao por lcool tambm influencia nos cuidados de sade prestados s vtimas de
acidentes de trnsito, pois o lcool pode interagir com as medicaes utilizadas, ocasionando
efeitos indesejveis (WHO, 2007).
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Pases como Frana, Austrlia, Espanha, Portugal, EUA, entre outros, adotaram
limites legais para alcoolemia ao volante, e com essa conduta, obtiveram xito na reduo
destas estatsticas (WHO, 2007. Outros pases adotaram limites de alcoolemia inferiores para
condutores recm-licenciados ou jovens, pois consideram que este grupo tem maior risco de
se envolver em acidentes de trnsito quando esto sob a influncia do lcool (WHO, 2009).
O uso do teste para verificar a alcoolemia do condutor pode reduzir cerca de 20% das
mortes causadas por acidente de trnsito e lcool, conforme aponta um estudo da Organizao
Mundial de Sade (WHO, 2009). Nos pases em desenvolvimento estima-se que em 33 a
69% de bitos dos condutores de veculo automotor h envolvimento com lcool, j nos
pases desenvolvidos essa proporo diminui para 20% (OPAS, 2007).
Alm disso, a OMS, 2007, aponta que o comportamento de beber e dirigir so mais
comumente observado entre os indivduos do sexo masculino, jovens com idade entre 18 e 24
anos, classe econmica baixa, solteiros ou divorciados. Ressalta-se que os indivduos com
idade entre 20 e 29 anos apresentam uma probabilidade trs vezes maior de se envolver em
acidente automobilstico em consequncia ao uso de lcool, do que pessoas com idade igual
ou superior a 30 anos de idade.
No que concerne ao trnsito brasileiro, este tambm tido como um problema de
sade pblica. Estima-se que, em todo o territrio nacional mais de 40.500 pessoas foram
vtimas fatais de acidentes de trnsito no ano de 2010 (Padilha, 2011) e, ainda, que para cada
morte, cerca de vinte pessoas ficam feridas em decorrncia das leses de acidentes de trnsito
(ANTP, 2011).
Os atropelados representam as vtimas de maior incidncia, e, a cada 34
atropelamentos, h uma morte nas rodovias federais. Estima-se que ocorra um atropelamento
a cada duas horas (IPEA, 2006).
Segundo o relatrio do Ministrio da Sade, em 2010, houve 145.920 internaes de
vtimas de acidentes no trnsito financiadas pelo Sistema nico de Sade (SUS), o que remete
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que, a cada 100 mil brasileiros, 76,5 foram internados em decorrncia de acidentes no trnsito
(MS, 2011).
Dentre as vtimas supracitadas, 78,3% eram do sexo masculino e, dentre as pessoas
internadas, houve maior concentrao de indivduos de 15-59 anos de idade. Ressalta-se que a
regio Sudeste concentrou quase a metade dessas internaes (44,9%) (MS, 2011). No estado
do Rio de Janeiro a taxa de vtimas fatais de 5,4 para 10.000 veculos (RENAEST, 2008).
Contudo, acredita-se que as incidncias de fatalidade na circulao viria brasileira so
imprecisas e subnotificadas devido precariedade e falta de padronizao da coleta e
tratamento dessas informaes. Assim, estima-se que as estatsticas dos acidentes de trnsito e
suas vtimas sejam bem superiores quando comparados com os pases desenvolvidos (PNT,
2004; ANTP, 2011).
Os custos oriundos desses agravos so altos. Estima-se que haja um gasto de 6,5
bilhes de reais por ano para o governo brasileiro. Os custos mdios associados a pessoas so
superiores quando comparados aos custos relativos aos veculos; esses custos englobam
atendimento pr-hospitalar, hospitalar, reabilitao, translado, custo para processos judiciais,
entre outros (IPEA, 2006).
S no ano de 2010, o custo com internao hospitalar em redes conveniadas ao SUS
foi de aproximadamente R$ 187 milhes (MS, 2011). Alm disso, segundo o DPVAT, de
janeiro a setembro de 2010, mais de 1,6 bilhes de reais foram pagos s vtimas indenizadas
do trnsito (DPVAT, 2012).
Alm dos custos mensurveis, existem as sequelas invisveis que geram um impacto
psicossocial nas vtimas dos acidentes de trnsito e em todas as pessoas que compem os seus
crculos sociais. Esses indivduos podem desenvolver comorbidades, mais frequentemnete a
depresso e a ansiedade (IPEA, 2006).
O I Levantamento Domiciliar sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao
Brasileira (2007) estimou que 52% da populao brasileira faz uso de lcool (LARANJEIRA
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et al., 2007). De acordo com Lima (2008), nos ltimos cinco anos, o consumo de cerveja
dobrou, sendo os jovens os mais responsveis na participao desse aumento.
A pesquisa supracitada ainda acrescenta que dois teros dos indivduos que dirigiam
bebiam acima dos limites legais estabelecidos pela antiga legislao do trnsito, no qual
permitia at 0,6 gramas de lcool por litro de sangue (LARANJEIRA et al., 2007). O estudo
por fim demonstrou, que alm de os condutores arriscarem suas vidas aliando lcool e
direo, 34% dos brasileiros receberam carona de pessoas que, segundo eles, tinham bebido
demais.
Nesse sentido, Montal e Almquist (2008) identificaram a relao entre a taxa de
alcoolemia e os prejuzos das habilidades fundamentais para a conduo de veculo
automotor. Verificaram que com a taxa de 0,4 g/l de lcool ocorre uma alterao grave na
capacidade de percepo visual da cor vermelha e reduo do campo visual, j com uma taxa
igual 0,5 g/l de lcool, observa-se piora significativa na direo automobilstica.
Em uma pesquisa realizada no Instituto Mdico Legal de So Paulo, o nmero de
vtimas fatais de trnsito com alcoolemia positiva foi de 44,5%, em relao aos bitos de
pedestres; 43,5% encontravam-se sob a influncia do lcool no momento de sua morte e 45%
das vtimas fatais que eram ocupantes de veculos que colidiram tambm estavam sob
influncia do lcool no momento do acidente (LEYTON, et al., 2009).
Corroborando esses achados, um estudo realizado tambm no IML, da cidade do Rio
de Janeiro, verificou que o nmero de vtimas fatais dos acidentes de trnsito envolvidas com
o uso de lcool foi de 42,5% (ABREU; LIMA; GRIEP, 2009).
Dessa forma, em resposta a esses nmeros, o governo brasileiro adotou em 2008 a
mais recente lei para enfrentar essa problemtica, instituindo a Lei 11.705 de 19/06/2008, que
determina alcoolemia zero para dirigir qualquer veculo automotor e altera a Lei 9.503 de
23/09/1997 do Cdigo de Trnsito Brasileiro (LEI 9.503/97; LEI 11.705/08).
Em um estudo nacional que analisou a base de dados do Sistema de Informaes sobre
Mortalidade e o Sistema de Informaes Hospitalares do Sistema nico de Sade (SIH/SUS)
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nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, identificou-se que, no segundo semestre de
2008, houve uma reduo de 23,2% de internaes por acidentes de trnsito quando
comparada com esse mesmo perodo de 2007. Quanto mortalidade houve, reduo de
22,6%, sendo que nas capitais do sudeste a reduo foi mais alta, 42,4% (MALTA et al.,
2010).
Outra medida adotada pelo governo brasileiro foi o Pacto Nacional pela Reduo dos
Acidentes no Trnsito Pacto pela Vida, o que oficializa a entrada do Brasil na Dcada
Internacional de Aes para Segurana do Trnsito (2011-2020), reforando o compromisso
do pas em reduzir suas estatsticas de acidentes automobilsticos.
No lanamento deste Pacto, foram apresentados dados de uma pesquisa cientfica
patrocinada pelo Ministrio da Sade, que analisou a associao entre o consumo de lcool e os
acidentes de trnsito em seis capitais do Brasil, demonstrando que os pedestres, ciclistas e
passageiros tambm so responsveis pelos acidentes de trnsito, o que refora a necessidade de
polticas pblicas de educao voltadas tambm a esse pblico (MS, 2011).
Essas estatsticas demonstram que os acidentes de trnsito j so uma epidemia
internacional que necessita de aes de todas as esferas do governo no combate a estas taxas
alarmantes de bitos e leses de trnsito. Refora-se, ento, a necessidade de uma educao
contnua aliada com polticas pblicas eficazes em todo o territrio brasileiro, para que assim
haja o enfrentamento desta problemtica.
Diante deste contexto, este estudo traz os seguintes objetivos:
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Descrever o padro de consumo de lcool, como um dos fatores de risco no trnsito,
entre os condutores de veculo automotor em um DETRAN da cidade do Rio de
Janeiro, aps a implementao da Lei Seca, no pas.
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1.2.2 Objetivos Especficos
Identificar o perfil socioeconmico e o padro de consumo de lcool entre os
condutores de veculo automotor em um DETRAN da cidade do Rio de Janeiro;
Associar o padro de consumo de lcool com o perfil da populao e o comportamento
de risco no trnsito entre a populao de estudo;
Analisar a prtica do uso de bebida alcolica antes da direo veicular, aps a
implementao Lei Seca no pas, entre a populao de estudo.
1.3 Justificativa/ Relevncia
Como visto, os acidentes de trnsito constituem um problema internacional de sade
pblica que afeta, sobretudo, os jovens. Nesse sentido, diferentes pases vm se mobilizando para
implementar aes mais efetivas para o enfrentamento desta problemtica.
Dentre as vrias aes internacionais que vm sendo desenvolvidas, ressalta-se,
novamente, o perodo entre 2011 a 2020, que constitui a Dcada de Ao para Segurana no
Trnsito, na qual os pases membros, como o Brasil, comprometem-se a elaborar um plano
diretor para guiar suas aes na reduo dos acidentes automobilsticos, tendo como meta
estabilizar e reduzir em at 50% os acidentes de trnsito em todo o mundo (MS, 2011).
Especialistas, segundo o relatrio feito pela Make Road Safe2, acreditam que, com a
adoo internacional da dcada de segurana rodoviria e sua ao correta, at cinco milhes de
vidas podem ser salvas e 50 milhes de casos de ferimentos podem ser evitados durante o
2 Campanha Global de segurana viria, presidida pelo ex-membro da OTAN Lord Robertson de Port Ellen
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24
perodo de ao. Isso representaria uma reduo global de cerca de 50% sobre o nmero previsto
de mortos at 2020 (MAKE ROAD SAFE, 2010).
Outra medida preventiva internacional foi a incluso, pela OPAS, da promoo de
aes centradas na preveno de leses do trnsito e reduo do consumo de lcool como um dos
seus objetivos estratgicos de ao. A OPAS estabeleceu, ainda, como meta para o ano de 2013,
a ampliao do nmero de pases que implementam polticas pblicas, planos ou programas para
a preveno de problemas decorrentes do consumo de lcool, drogas e outras substncias
psicoativas, como por exemplo, o uso de lcool ao volante (OPAS, 2011).
A OPAS inclui, em um dos seus objetivos estratgicos, a promoo e a intensificao da
ateno primria, o desenvolvimento e fortalecimento das polticas pblicas de sade e a
produo de pesquisas cientficas que sustentem e ampliem a difuso de informaes e
conhecimento para melhoria dos setores de sade (Op cit).
Nesse sentido, a ONU j em 2003, recomendava que fossem feitas urgentemente mais
pesquisas para uma anlise precisa do problema para traar estratgias eficazes e de baixo custo
para preveno dos acidentes de trnsito em diferentes contextos. Em 2007/2009, a OMS
reforou a necessidade de pesquisas que busquem reduzir os acidentes automobilsticos e ainda
acrescentou que o setor de sade tem um papel importante a desempenhar em pesquisas nesta
rea.
Dessa forma, a OMS em 2009, recomendou que os pases fizessem uma avaliao
completa da magnitude dos acidentes de trnsito em seu territrio nacional, considerando
aspectos relacionados ao custo econmico, a extenso da morbimortalidade ocasionada pelos
acidentes de trnsito, assim como os tipos de intervanes realizadas para sua populao (OMS,
2009).
Sendo assim, com adoo de medidas que previnam os acidentes de trnsito, a OMS
acredita que o setor econmico do pas ser favorecido, pois haver uma reduo de vtimas de
acidentes terrestres e de acesso aos servios de emergncia (WHO, 2007).
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25
Alm disso, os nmeros de leitos hospitalares estaro em maior nmero, preparados para
internao de vtimas por outra causa de emergncia, e os servios mdicos de emergncia
disposio da comunidade sero intensificados (WHO,2007).
A OMS ainda acrescenta que o uso de lcool antes da direo veicular um forte fator de
risco para provocar leses no trnsito. No entanto, esta temtica ainda necessita ser trabalhada
junto com a populao, e deve haver um forte compromisso poltico, implementaes de
legislaes rigorosas, fiscalizao e aplicao de penalidades para o infrator, divulgao de
campanhas, educao pblica para mudanas das atitudes sobre beber e dirigir (WHO, 2007).
Desse modo, dentro das polticas pblicas no Brasil sobre a questo dos acidentes de
trnsito, pode-se ainda apontar outras medidas, como: a Poltica Nacional de Trnsito (2004),
que tem entre suas diretrizes gerais: aumentar a segurana de trnsito; promover a educao para
o trnsito; garantir a mobilidade e acessibilidade com segurana e qualidade ambiental a toda
populao; promover o exerccio da cidadania, a participao e a comunicao com a sociedade.
A Poltica Nacional de Trnsito ressalta a importncia da educao no trnsito, que tida
como o elemento-chave para disseminao de informaes e participao da populao,
principalmente quando se refere implantao de mudanas com incorporao de novos hbitos
e atitudes frente no trnsito.
Esta mesma poltica ainda coloca como metas para 2014 a implantao de programa
de educao para cidadania do trnsito em todos os municpios no Brasil; a realizao de
programas educativos de mbito nacional; o fomento de projetos no mbito da segurana no
trnsito entre outras metas.
Sendo assim, diante do panorama geral dos acidentes de trnsito e a sua
morbimortalidade, em 2008, a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade definiu
como prioridade de pesquisa no Brasil o desenvolvimento de estudos na rea de acidentes de
trnsito. E neste mesmo ano, como j mencionado, foi promulgada a Lei 11.705/2008 que
estabeleceu alcoolemia zero para o condutor de veculo no Brasil, a qual rege at os dias de
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26
hoje.Aps a adoo desta lei, constatou-se uma reduo imediata nas taxas de acidentes de
trnsito (MOREIRA, 2008; MALTA et al, 2010; JORGE E KOIZUMI, 2009).
A Lei 11.705/08 veio ao encontro da atual Poltica Nacional sobre o lcool de 2007
que tambm prioriza o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao uso indevido de lcool e
sua associao com a violncia no trnsito e com a Poltica Nacional de Trnsito que ressalta a
necessidade de fiscalizao das infraes por uso de bebida alcolica pelos condutores
(BRASIL, 2007).
Alm disso, como j mencionado, foi implementada pela ONU a Dcada de Ao da
Segurana Viria, no qual o Brasil tambm se comprometeu em estabilizar e reduzir o nmero
de mortes e leses provocadas por acidentes automobilsticos nesta dcada (ANTP, 2011; MS,
2011).
Alm das atuais polticas supracitadas, destaca-se que, desde 1998, com a Resoluo
n 30 de 21/05/1998 do CONTRAN, o governo brasileiro j se preocupava com a necessidade
de realizar campanhas permanentes de segurana no trnsito e j inclua, poca, a ingesto de
lcool, como um dos principais fatores de risco.
Desse modo, hoje em dia, o DETRAN-RJ, refora que
A qualificao e a conscientizao dos condutores so fundamentais para a
segurana no trnsito. S com investimentos em educao vamos alcanar o
objetivo de reduzir os riscos no trnsito e consequentemente o nmero de acidentes
no Brasil (DETRAN-RJ, 2010).
Nesse sentido, em 2011, o Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN)
elegeu o lcool e o excesso de velocidade como temas das campanhas educativas no trnsito
(DENATRAN, 2011).
Alm disso, a educao destacada como um dos seis pilares para o
desenvolvimento do Plano Nacional de Reduo de Acidentes e Segurana Viria, Projeto Vida
no Trnsito, para a dcada 2011-2020, com a finalidade de promover aes que incentivem a
mudanas comportamentais para um trnsito mais seguro.
Dessa forma, as pesquisas cientficas devem estar articuladas com as polticas
pblicas de sade, no intuito de ampliar o banco de informaes e sustentar o conhecimento
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real da situao-problema do pas, no contexto da reduo dos acidentes de trnsito, sobretudo
relacionados ao binmio lcool e direo, contribuindo, assim, para implementaes de novas
polticas pblicas e/ou garantir o continuum de informaes para as polticas pblicas j
implementadas.
Por conseguinte, a Sade Pblica tem papel fundamental nas atividades de promoo
em sade e preveno destes eventos. Torna-se evidente a importncia de estudos
epidemiolgicos que identifiquem a prtica do beber e dirigir, sobretudo aps a Lei Seca, e o
padro de consumo de lcool dos motoristas de veculo automotor, para que assim, possamos
planejar e direcionar melhor as intervenes nesse contexto.
Cabe ressaltar que os profissionais da sade tm uma contribuio singular nas questes
de segurana rodoviria, sendo esta vista como uma questo transdisciplinar. Nesse sentido, o
Enfermeiro deve estar inserido e atuante nesta problemtica, contribuindo significativamente
para a construo de conhecimento e avaliao de prticas de sade, principalmente aquelas
relacionadas sobre uso/abuso de lcool.
Salienta-se a importncia do Enfermeiro, sobretudo na Ateno Primria em Sade,
nessa problemtica, visto que o Enfermeiro um dos profissionais responsveis por promover
essa mudana comportamental a respeito dos aspectos de segurana viria (BOVA E WALL,
2005; ABREU, 2010).
Portanto, espera-se que os resultados aqui obtidos possam ser utilizados como
referncia para outras pesquisas que contemplem esta temtica e ampliem e subsidiem
discusses nessa rea da academia no nvel de graduao e ps-graduao, sobretudo para o
Ncleo de Pesquisa em Sade Coletiva (NUPENSC), ao qual esse estudo est vinculado,
possibilitando uma postura reflexiva e crtica para o enfrentamento deste problema, de maneira
a contribuir tambm para as polticas pblicas de sade.
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Captulo II
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2. REVISO DE LITERATURA
2.1 Trnsito
2.1.1 Breve Histrico do Trnsito Brasileiro
No Brasil, em 1871 desembarcava o primeiro veculo a vapor. J em 1886, Daimler e
Benz experimentavam veculos movidos por motor combusto interna. Nessa poca, no
existia licena para automvel, nem exame para habilitao de motoristas (PECHANSKY;
DUARTE; BONY, 2010).
O primeiro automvel criado no Brasil foi em 1908, pelo imigrante italiano Cludio
Bonardeli. O veculo foi feito artesanalmente em um perodo de dois anos, criando-se assim
um carro exclusivo (PECHANSKY; DUARTE; BONY, 2010).
Na dcada de 30, as importaes de automveis ganharam fora e aumentaram as
compras de veculos. No entanto em 1953, o governo brasileiro proibiu esse tipo de
importao e, em 1960, a produo de veiculo era cem por cento nacional (PECHANSKY;
DUARTE; BONY, 2010).
De acordo com a demanda, novas estradas e rodovias foram sendo construdas, por
exemplo, em 1939, foi inaugurada a primeira estrada de longo percurso chamada de BR
393/116, que ligava o estado do Rio do Janeiro Bahia, sendo esta a primeira via efetiva de
integrao nacional (PECHANSKY; DUARTE; BONY, 2010).
Assim, o primeiro Cdigo Nacional de Trnsito brasileiro foi institudo em 28 de
janeiro de 1941, por meio do Decreto Lei n. 2.994, no qual foi revogado pelo Decreto Lei n.
3.651, de 11 de setembro 1941 que deu nova redao ao Cdigo e estabelecia regras gerais
para circulao de veculos no pas.
Ressalta-se que este cdigo j redigia sobre a obrigatoriedade de socorro as vtimas
dos acidentes de trnsito, demonstrando que essa problemtica antiga no Brasil e ainda em
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30
seu artigo 130, diz que, se uma autoridade verificar que o condutor se tornou alcolatra ou
toxicmano, sua carteira de habilitao ser cassada (Decreto Lei n. 3.651, de 11 de setembro
1941).
Posteriormente, em 1966, o Cdigo Nacional de Trnsito brasileiro foi alterado pela
lei 5.108 de 21 de setembro de 1966, que dispunha entre outros captulos a administrao do
trnsito, tendo o Conselho Nacional de Trnsito como rgo normativo e coordenador. Em
1997 foi promulgado o atual Cdigo Nacional de Trnsito, Lei 9.503 de 23 de setembro que
rege at hoje, sofrendo uma pequena modificao em 2008, com a regulamentao da Lei
Alcoolemia Zero, Lei 11.705/08.
2.1.2 Acidentes de Trnsito
O Acidente de trnsito todo acidente com veculo ocorrido na via pblica... (CID,
2008). Assim sendo, o Cdigo Brasileiro de Trnsito, diz que:
Considera-se trnsito a utilizao das vias por pessoas, veculos e animais, isolados
ou em grupos, conduzidos ou no, para fins de circulao, parada, estacionamento e
operao de carga ou descarga. O transito, em condies seguras, um direito de
todos e dever dos rgos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito
(Art. 1 2 do CTB LEI N 9.503,).
Para que ocorra ento o acidente de trnsito alguns componentes bsicos devero
estar inter-relacionados de forma dinmica. Esses componentes so: (DENATRAN, 2006).
Pessoa(s) envolvida(s): indivduos com traumatismos, indivduos com
traumatismos fatais e indivduos ilesos.
Veculo(s) envolvido(s)
A via e o meio ambiente: destinam-se s propriedades pblicas e privadas
envolvidas neste contexto, assim como as condies que compem o meio ambiente como
iluminao e vegetao, por exemplo.
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31
Suporte institucional e aspectos socioambientais: administrao, fiscalizao e
legislao sob a via, bens e pessoas em circulao, assim como a cultura regional que pode
interferir na ocorrncia dos acidentes.
Com a agregao desses componentes, haver o acidente de trnsito no qual poder ser
de diferentes tipos, tais como (DETRAN RJ, 2010):
Coliso: ocorre com dois veculos em movimento;
Coliso misteriosa: ocorre apenas com um veculo, no qual o condutor no
sabe a causa do acidente;
Abalroamento: ocorre quando o veculo atingido lateralmente;
Capotagem: ocorre quando o veculo gira em seu prprio eixo em 360 graus;
Tombamento: ocorre quando o veculo gira em seu prprio eixo quando
inferior a 360 graus;
Choque: ocorre quando o veculo em movimento bate em um objeto fixo, como
um poste. Esse tipo de acidente comumente acontece quando o motorista est cansado ou sob
a influncia do lcool.
Alm disso, alguns fatores de risco contribuem para facilitar o acidente
automobilstico,ou para potencializar a sua gravidade. Ressalta-se que o uso de lcool
contribui no s para ocorrncia do acidente, mas para sua gravidade e severidade da leso
aps acidente (Op. Cit.). A seguir, observa-se o quadro com os principais fatores de risco para
ocorrncia dos acidentes de trnsito.
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Quadro 1- Os Principais Fatores de Risco para Acidentes de Trnsito
Fatores de risco que
influenciam os acidentes de
trnsito
Fatores de risco que
influenciam a gravidade do
acidente
Fatores de risco que
influenciam a gravidade da
leso ps-acidente
Velocidade inadequada ou
excessiva
Velocidade inadequada ou
excessiva
Tempo para assistncia pr-
hospitalar
Uso de lcool ou outras
drogas
Uso de lcool ou outras
drogas
Uso de lcool ou outras
drogas
Motoristas inexperientes
e/ou jovens
Fatores de tolerncia humana Dificuldade de extrao das
vtimas no veculo
Uso de celular ao volante No uso de cinto de
segurana
Falta de cuidados
hospitalares
Motorista com fadiga No uso de cadeiras de
proteo para crianas
Veculo com falta de
manuteno
No uso de capacete para
veculos de duas rodas
Estradas com falta de
manuteno
Falta de objetos de proteo
na estrada
Ser pedestre ou ciclista
Ser homem jovem Fonte: Relatrio Mundial sobre Preveno de Traumatismos Rodovirios (OMS, 2004 p.71).
Quanto aos fatores protetores, um estudo qualitativo realizado com adolescentes
listou os seguintes fatores: maior policiamento, melhora das estradas, reduo do consumo
de substncias psicoativas e no receber carona de quem bebe (BENINCASA E
REZENDE, 2006).
O primeiro acidente de trnsito com automvel a gasolina registrada no mundo foi
em 1891, pelo condutor William James Lambert, na cidade de Ohio. Ele bateu na raiz de
uma rvore, deixando o carro fora de controle e colidindo ento em um poste (SOCIETY,
2006). J no Brasil o primeiro registro foi em 1897 com o carro de Jos do Patrocnio
dirigido por Olavo Bilac, que colidiu com uma rvore na estrada Velha da Tijuca
(PONTES, 2003).
Com o aumento da frota de veculo e, consequentemente, com o aumento do nmero
dos acidentes de trnsito, hoje estes so vistos como um dos principais problemas de sade
pblica que necessita urgentemente de intervenes de diferentes setores do governo, visto
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que contribuem negativamente para a qualidade de vida da vtima, podendo provocar
leses, incapacidades e at mesmo a morte. As taxas de mortalidade so mais elevadas nos
pases de renda baixa e mdia quando comparadas com os pases de renda alta (WHO,
2009).
Entre os pases desenvolvidos e subdesenvolvidos, as caractersticas dos acidentes de
trnsito diferem-se um pouco, visto que nos pases de alta renda as vtimas mais acometidas
pelos acidentes de trnsito so os condutores. J nos pases de baixa e mdia renda os mais
acometidos so os pedestres, motociclistas, ciclistas e passageiros de transporte
pblico/particular (OPAS, 2007).
Para o Brasil esta problemtica no difere, o DPVAT cita que o Ministrio da Sade
calcula que a cada 30 segundos h um acidente de trnsito nas rodovias brasileiras e
consequentemente a cada um minuto o DPVAT paga duas indenizaes s vtimas de
acidentes de trnsito (DPVAT, 2012). Estima-se que a taxa de fatalidade no Brasil muito
superior quando comparado com os pases desenvolvidos e essa estatstica demonstra uma
causa de morte prematura da populao economicamente ativa (PNT, 2004).
Nesse sentido, os acidentes de trnsito representam um custo anual de 6,5 bilhes de
reais para os cofres pblicos (IPEA, 2006). Os custos provocados pelos acidentes de trnsito
so diversos; incluem (DENATRAN, 2006):
Associados aos indivduos: custo pr-hospitalar, hospitalar, ps-hospitalar,
translado e gasto previdencirio.
Associados aos veculos: danos materiais, remoo do veculo, despesa
financeira devida substituio do veculo.
Associados via e ao meio ambiente
Custos institucionais: processos judiciais e honorrio dos policiais.
Outros custos: bito, estresse ps-traumtico, leses permanentes...
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Bocchieri e Barros (2011), em um estudo comparativo, identificaram que de 1998 a
2008 houve um aumento de 10% na morte dos ocupantes de veculos e no perodo de 10
anos (19998-2008) houve um crescimento de 121% das vtimas fatais dos acidentes de
trnsito. Isso refora a necessidade de intervenes eficazes e urgentes no trnsito.
2.2 lcool
2.2.1 Breve Histrico do lcool
O etanol tem destaque na humanidade h pelo menos oito mil anos (KATZUNG et. al,
2006). Desde os tempos pr-bblicos j existia tecnologia para a produo do lcool,
predominavam-se as bebidas fermentadas como vinhos e cervejas (LARANJEIRA; PINSKY,
2005). Existem evidncias arqueolgicas que o lcool era utilizado em celebraes, ritos ou
simples aglomeraes de indivduos (FERREIRA et al., 2011).
Na Bblia, desde os primrdios da civilizao, so descritos diferentes relatos sobre o
uso de vinho e sua intoxicao. E comeou No a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha.
E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se nu no meio de sua tenda (Gnesis 9: 20-
21). Assim como esta, diversas passagens sobre bebidas alcolicas podem ser encontradas na
Bblia e em outros livros sagrados, como o Alcoro (LIMA, 2008).
Na Idade Mdia, tambm havia descries sobre o uso/abuso de lcool entre os
indivduos. Desse modo, na Frana, o rei Franois I institui a lei que punia qualquer pessoa
que fosse encontrada alcoolizada pelas ruas (LIMA, 2008).
Na sociedade ocidental, o vinho e a cerveja eram utilizados comumente na vida diria
dos indivduos. Muitas vezes, essas bebidas eram preferidas gua, e a ingesto excessiva do
lcool levava a diferentes patologias (KATZUNG et. al, 2006).
Com o passar dos anos, aps a Revoluo Industrial, o lcool passou a ser produzido
pelas fbricas, e aumentou-se a quantidade em larga escala. Alm disso, mudouse o tipo de
bebida produzida, pois com a nova tecnologia podia-se aumentar o teor alcolico e produzir
outros tipos, como as bebida destiladas (LARANJEIRA; PINSKY, 2005).
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Tambm com a Revoluo Industrial houve aumento da produo, e diminuram-se os
preos, tornando a bebida alcolica mais acessvel a toda populao. Consequentemente
aumentou-se o nmero dos consumidores/abusadores e comeou-se a observar uma srie de
complicaes decorrentes do uso do lcool (Op Cit.).
No Brasil antes da chegada dos portugueses, o cauim (bebida resultante da
fermentao do milho e da mandioca) j era produzido e consumido pelos ndios. Aps a
colonizao portuguesa, a cachaa se popularizou em virtude da grande disponibilidade da
cana-de-acar (GAULDOROZ E CARLINI, 2001).
Hoje o Brasil o maior produtor mundial de cachaa e um dos maiores produtores
tambm da cerveja. As consequncias nocivas do abuso de lcool, sempre existiram, no
entanto eram subestimadas ou negadas (LIMA, 2008). Somente no sculo XIX, o ato de
consumir bebida alcolica em excesso passou a ser encarado como um problema de sade
tanto nos EUA quanto na Europa (LARANJEIRA; PINSKY, 2005).
Hoje em dia, a cada momento, so registrados novos pontos de uso/abuso de lcool
como bares, boates, discotecas entre outros. A produo e o consumo de lcool no tm
parado de crescer (LIMA, 2008).
2.2.2 Metabolismo do lcool
Hoje, a bebida alcolica no Brasil definida como aquela que contm 0,5 grau Gay-
Lussac ou mais de concentrao, incluindo-se bebidas destiladas, fermentadas e quaisquer
outras preparaes (DECRETO N 6.117, 2007).
Qualquer uma das bebidas alcolicas de acordo com a sua dose padro (quantidade
em volume em ml da bebida), contm 12 a 14 gramas de lcool, comprovando,dessa forma,
que no existe bebida leve, isto , todas as bebidas tm a mesma quantidade de lcool puro
por dose padro (LIMA et. al, 2008; ABREU et.al, 2009).
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Quanto quantidade de lcool puro que contm uma bebida alcolica (teor alcolico)
uma bebida difere da outra, isto , seus teores alcolicos variam entre si. Por exemplo, uma
dose de cerveja tem 5% de teor alcolico/volume, j o vinho tem 12% a 14% e os destilados
como whisky e cachaa variam entre 45% e 50% (LIMA et. al., 2008).
O etanol uma pequena molcula hidrossolvel, que absorvida rapidamente pelo
trato gastrointestinal, principalmente pelo intestino delgado. Em jejum, as concentraes
sanguneas mximas do lcool so alcanadas em trinta minutos; entretanto na presena de
alimentos, essa absoro mais lenta (KATZUNG et al., 2006; FILHO, ANDR, 2002).
A distribuio do etanol acontece pelo corpo todo; ele atravessa facilmente as barreiras
biolgicas, visto que o volume de distribuio do etanol aproxima-se o da gua corporal
(KATZUNG et al., 2006; FILHO; ANDR, 2002).
Desse modo, 98% do lcool metabolizado no fgado e aps 3 a 12 horas de ingesto,
este pode ser encontrado no sangue. Na urina, pode ser encontrado em at trs dias depois do
consumo de bebida alcolica, j no suor esta substncia pode ser encontrada em at 21 dias.
Como o lcool tambm metabolizado nos pulmes, pode ser detectado na respirao atravs
por meio dos testes feitos com o bafmetro (FILHO; ANDR, 2002).
A enzima lcool desidrogenase (ADH) a principal via de metabolismo do lcool,
localizada principalmente no fgado, mas em menor proporo em outros rgos como
estmago e crebro (KATZUNG et al., 2006).
Com a oxidao do etanol, ocorrem reaes qumicas, podendo gerar um acmulo de
acetaldedo no organismo do indivduo. Desse modo, uma srie de sinais e sintomas podem
ocorrer como rubor na face, sensao de calor, taquicardia e queda da presso arterial
(FILHO; ANDR, 2002).
Alm disso, quando o organismo do indivduo no consegue metabolizar o volume de
lcool em excesso, suas clulas tornam-se mais suscetveis ao txica do lcool, levando a
sua desidratao e at a morte celular, apoptose. Contudo, alguns fatores interferem na
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metabolizao e absoro do lcool, como peso corporal, predisposio biolgica,
alimentao entre outros (LIMA et al., 2008).
Outro fator que interfere na metabolizao do lcool est relacionado ao sexo. Sabe-se
que as mulheres so mais vulnerveis aos efeitos do lcool, em comparao com os homens.
Os indivduos do sexo masculino apresentam nveis de 70% a 80% a mais da enzima
desidrogenase do lcool, o que provavelmente contribui para essa diferena entre os gneros
(SENAD, 2007).
Alm disso, as alteraes hormonais femininas tambm afetam a alcoolemia, as
mulheres ficam intoxicadas por mais tempo no perodo que compreende uma semana pr-
menstruao e uma semana ps-menstruao (SENAD, 2007).
Alm disso, os homens geralmente pesam mais que as mulheres e possuem mais gua
corporal (65%) do que as mulheres (45-55%), e quanto mais gua corporal, maior a diluio
do lcool no sangue. Cada dose de lcool ingerida geralmente leva mais de uma hora para ser
totalmente metabolizada no corpo de um homem sadio com peso de 70 kg e altura de 1,70
(SENAD, 2007).
2.2.3 Efeitos do lcool
O lcool o primeiro fator de risco em relao doena e morte precoce. Nesse
sentido, a origem de mais de sessenta tipos de doenas e leses. Tambm responsvel por
causar danos sociais, mentais, emocionais como criminalidade e violncia (OPAS, 2008).
Quando o consumo do lcool constante e exagerado, seus efeitos txicos podem
ocasionar complicaes secundrias, tais como: demncia alcolica, miopatia alcolica,
hipertenso, cardiomiopatias, hepatite alcolica, cirrose de Laennec, hepatocarcinoma,
pancreatite, amenorreia, atrofia dos testculos, osteoporose (FILHO; ANDR, 2002).
A leso mais observada a gastrointestinal, pois o lcool promove lentido no
esvaziamento gstrico, resultando no aumento de secrees digestivas que lesionam a mucosa
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do estmago (PULCHERIO et al., 2002). Os efeitos neurocognitivos podem ser observados
no quadro a seguir:
Quadro 2-Efeitos neurocognitivos de acordo com a concentrao do lcool
Alcoolemia Manifestaes Neurocognitivas
0,4-0,6g/l Relaxamento, sociabilidade, desconcentrao
0,6-1,0g/l Euforia, desinibio, habilidade varivel, impulsividade, agressividade ou
passividade
1,0-2,0g/l Ataxia, fala comprometida, humor exaltado ou deprimido, desorientao no
tempo e no espao
>4,0g/l Torpor, distrbios cardiorrespiratrios, coma e morte
Fonte: LIMA, 2008.
Alm disso, o etanol teratognico e, com seu uso contnuo durante a gravidez pode
provocar a Sndrome Alcolica Fetal (SAF), na qual causa alteraes faciais e no sistema
nervoso central do feto, deficincia do crescimento pr-natal e ps-natal, dentre outras
consequncias ( FILHO;ANDR, 2002; LIMA, 2008).
J nos achados laboratoriais, usualmente so encontradas as seguintes alteraes:
diminuio no nmero de hemcias, aumento do volume corpuscular mdio (VCM), elevao
das enzimas gama-glutamiltransferase (gama-GT), alaninoaminotransferase e
aspartatoaminotransferase, entre outras (FILHO; ANDR, 2002).
Portanto, alguns autores (OPAS, 2008; ANDERSON; BAUMBERG, 2006) relatam
que uma pequena dose de consumo de lcool reduz o risco de doena coronria, contudo no
se sabe qual a dimenso da reduo do risco e qual seria o nvel desse consumo. H
evidncias que demonstram que o lcool em doses baixas pode reduzir o risco de demncias
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provocadas por problemas vasculares, clculos na vescula e diabetes, embora estas
descobertas ainda no sejam consistentes.
Diversos autores apontam a relao estreita entre o uso abusivo de lcool e acidentes
de trabalho, atos de violncia e acidentes de trnsito (OPAS, 2008; OMS 2009; MOURA et
al., 2009; LIMA et al., 2008). E ainda os autores Filho e Andr (2002) afirmam que os custos
sociais advindos do uso de lcool so: aposentadoria precoce, absentesmo, acidentes de
trabalho, mortes violentas e consequncias mdicas da violncia.
Outrossim, uma pesquisa na Unio Europeia revelou que, em 2005, sete milhes de
adultos afirmaram ter se envolvidos em brigas enquanto bebiam e o custo econmico dos
crimes referente s consequncias do lcool foi estimado em 33 bilhes em 2003
(ANDERSON; BAUMBERG, 2006).
Nesse sentido, com o uso contnuo das bebidas alcolicas o individuo pode
desenvolver a dependncia alcolica ou alcoolismo. Este acontece quando o lcool se torna
prioritrio para o indivduo, em oposio a outras atividades e obrigaes que anteriormente
eram mais importantes. A dependncia acontece por um conjunto de fenmenos
comportamentais, cognitivos e fisiolgicos (OPAS, 2008).
Estima-se que 10% da populao brasileira seja dependente do lcool (LARANJEIRA
et al., 2005). Os fatores genticos desempenham papis importantes no risco de se atingir o
uso nocivo do lcool ou a dependncia, pois os genes esto envolvidos no aumento ou
diminuio destes quadros (OPAS, 2008). Estudos demonstraram que filhos de pessoas
alcolatras tendem a ter maior tolerncia ao lcool quando comparado com os filhos de pais
no alcoolistas (PULCHERIO et al., 2002).
Diante disso, h disponveis diferentes testes psicolgicos para deteco precoce dos
problemas relacionados ao uso do lcool, como o CAGE, TACE, Avaliao de Michigan
(SMAST) (FILHO E ANDR, 2002), AUDIT, entre outros.
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40
2.2.4 Padro de consumo de lcool da Populao brasileira
Nos ltimos 50 anos, o consumo de bebidas alcolicas vem crescendo
progressivamente. O crescimento urbano desordenado e o excesso de propaganda e marketing
contriburam muito para esse fenmeno (LIMA et al., 2008).
Em nosso pas, o consumo per capita da cerveja + 55 litros/pessoa ano, a de vinho +
2,2 litros/pessoa ano e destilados + 8 litros/pessoa/ano (Op. Cit.). Estima-se que o consumo de
lcool no Brasil, obedea as seguintes faixas:
Figura 1- Padro de Consumo de lcool em uma determinada Populao
Fonte: Lima et al (2008)
Dessa forma, o I Levantamento Nacional sobre os padres de consumo de lcool na
populao brasileira identificou que 52% dos brasileiros acima de dezoito anos fazem uso de
lcool. A maior parte destes do sexo masculino (65%). Sobre o beber episdico pesado de
lcool, que corresponde a 5 doses de lcool padro ou mais no ltimo ano, observou-se que
homens (60%) bebem mais que as mulheres (33%).
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41
No que se refere faixa etria, percebeu-se que adultos jovens e adultos so os que
bebem com maior frequncia (Op cit.)
Reforando estes achados Wolle et al. (2011) observaram que em nosso pas os jovens
so os que ingerem bebidas alcolicas e que o sexo masculino bebe mais frequentemente
lcool do que as mulheres. Ainda destacam que, na populao de jovens brasileiros a
diferena entre o uso de lcool entre os gneros est tendendo a diminuir.
2.3 Panorama Geral sobre Uso de lcool e Acidentes de Trnsito No Brasil
No Brasil, o tema lcool e direo j tratado desde a criao Cdigo Nacional de
trnsito em 1941, que cassava a habilitao do condutor se este fosse alcolatra. Em 1966,
com a promulgao do Cdigo Nacional de Trnsito estabelecido pela Lei 5.108, de 21 de
setembro de 1966, em seu artigo 89, institua que todo condutor de veculo estava proibido a
III- Dirigir em estado de embriaguez alcolica ou sob o efeito de substncia txica de
qualquer natureza (LEI 5.108, de 21 de setembro de 1966).
Em 1997, houve a criao de um novo cdigo de nacional de trnsito, a Lei
9.507/1997, que em seu artigo art. 276 dispe que A concentrao de seis decigramas de
lcool por litro de sangue comprova que o condutor se acha impedido de dirigir veculo
automotor".
No entanto, mesmo com esse limite de alcoolemia supracitado diversas pesquisas
demonstravam que os condutores dirigiam com alcoolemia acima daquela estabelecida na lei,
demonstrado uma fiscalizao nacional precria. E mesmo aqueles que dirigiam entre os
limites previstos na legislao tambm se envolviam em acidentes de trnsito (ABREU, 2006,
2009; MOURA et al.,2008; FREITAS; MENDES; OLIVEIRA, 2008).
Como exemplo, em uma pesquisa realizada no Distrito Federal em 2005 identificou-se
que 42,8% das vtimas fatais apresentavam nveis de alcoolemia acima do permitido em lei e
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42
84,6% das vtimas fatais eram condutores com nveis de alcoolemia bem elevado (MODELLI;
PRETESI; TAUIL, 2008)
Desse modo, nas vsperas do carnaval de 2008, o governo Federal instituiu a MP 415
a fim de proibir a venda de bebidas alcolicas nos estabelecimentos comerciais situados nas
rodovias federais ou em proximidades (MOREIRA, 2008).
Com isso, constatou-se uma reduo significativa nas taxas de mortalidade advindas
dos acidentes de trnsito. Contudo, os representantes de comrcios destes locais questionaram
esta medida, alegando que quem deveria ser fiscalizado eram os condutores e no os
estabelecimentos comerciais (MOREIRA, 2008).
Assim sendo, foi criada a Lei 11.705 de 19 de Junho de 2008 (Anexo I) que estabelece
alcoolemia zero para os condutores de veculos circulantes no Brasil. O descumprimento desta
implica penalidades mais severas para os condutores de veculos que dirigirem sob a
influncia do lcool.
Dessa forma, dirigir sob a influncia de lcool ou de qualquer outra substncia
psicoativa que determine dependncia considerado infrao gravssima e crime de trnsito
de leso corporal culposa. A penalidade consiste em multa (cinco vezes) e suspenso do
direito de dirigir por 12 (doze) meses. A medida administrativa consiste em reteno do
veculo at a apresentao de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitao
do condutor infrator (LEI 11.705/2008).
Qualquer que seja a concentrao de lcool por litro de sangue ser sujeita s
penalidades e o rgo do Poder Executivo federal disciplinar as margens de tolerncia para
casos especficos. O agente de trnsito poder aplicar s penalidades mediante a obteno de
provas, como notrios sinais de embriaguez, excitao ou torpor, apresentados pelo condutor.
(LEI 11.705/2008).
Ao condutor que se recusar a submeter-se a qualquer dos procedimentos institudos
pela lei 11.705 sero aplicadas s penalidades e as medidas administrativas. Qualquer
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43
condutor de veculo automotor que estiver sob suspeita de dirigir sob a influncia de lcool
ser submetido a testes de alcoolemia ou outros exames que, por meios tcnicos ou
cientficos, permitam certificar seu estado (LEI 11.705/2008).
A multa referente a esta infrao, gravssima, de R$ 957, 70, alm da apreenso da
Carteira Nacional de Habilitao, reteno do veculo at a apresentao de condutor
habilitado e o recolhimento do documento de habilitao.Esta punio administrativa ocorre
quando o condutor apresenta mais de 2 decigramas de lcool por litro de sangue ou mais de 1
miligrama por litro de ar expelido (DETRAN, 2008; ALBERTO, 2010).
Quando o condutor apresenta mais de 6 decigramas de lcool por litro de sangue ou 3
miligramas por litro de ar expelido, alm das punies supracitadas, ele encaminhado a uma
Delegacia de Polcia, onde ser detido, podendo pagar fiana de at R$1.200,00, onde ser
aberto do processo criminal no qual poder redundarem recluso de 6 meses a 3 anos
(DETRAN, 2008; ALBERTO, 2010).
Com adoo desta lei, diferentes pesquisas (JORGE; KOIZUMI, 2009; MALTA et al.
2010) vem demonstrando a reduo dos acidentes de trnsito nas rodovias brasileiras. Por
exemplo, um estudo comparativo na cidade do Rio de Janeiro demonstrou que houve uma
reduo de 12,9% entre as vtimas fatais no IML que deram entrada em julho de 2007, antes
da lei, e julho de 2008, aps a lei (ABREU, et al., 2011).
Dessa forma, no primeiro semestre de 2009, na cidade do Rio de Janeiro, deu-se incio
Operao Lei Seca, a fim de promover a obedincia da Lei 11.705/08. Com 18 meses de
funcionamento, 376.705 condutores foram abordados e, destes, 3.568 (0,9%) pontuaram no
etilmetro 0,11 a 0,29 miligramas e 1.249 (0,3%) pontuaram no teste do bafmetro acima de
0,29 mg. Esses condutores que infringiram a Lei foram penalizados, de acordo com a
legislao brasileira (LOPES, 2010).
Salienta-se que, para intensificar estes resultados, a disseminao sobre educao no
trnsito deve ser cada vez mais explorada e as operaes de fiscalizao da Lei 11.705/2008
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44
devem ser constantemente realizadas. Isso vem sendo feito pelo cidade do Rio de Janeiro,
onde se fiscalizam esta lei por meio da Operao Lei Seca em parceria com DETRANRJ,
municpio do Rio de Janeiro e estado.
2.5 O Enfermeiro e o Problema de lcool e Direo
Em um estudo realizado no Rio de Janeiro, tendo como sujeito os Enfermeiros da rede
extra hospitalar, constatou-se que poucos Enfermeiros prestam orientaes aos usurios de
lcool e outras drogas durante a consulta de enfermagem. Dos enfermeiros entrevistados 80%
informaram que discutiram o tema lcool e outras drogas somente durante o curso de
graduao. Os dados revelaram que a maioria dos enfermeiros da ateno bsica no foi
capacitada para atuar com usurios de lcool e outras drogas (GONALVES; TAVARES,
2007), o que evidencia a necessidade de o Enfermeiro se aprofundar em questes referentes
ao uso/abuso do lcool.
Em contrapartida, em um estudo que buscou verificar a produo cientfica sobre a
temtica atitudes e conhecimentos de profissionais de sade diante do lcool, do alcoolismo e do
alcoolista, nos ltimos 50 anos, constatou-se que quanta categoria profissional, os Enfermeiros
so os profissionais que mais produziram artigos cientficos nesta rea (SOARES, VARGAS E
OLIVEIRA, 2010).
Em um estudo de reviso bibliogrfica identificou-se que a que a enfermagem tem
contribudo para construo de conhecimento cientfico sobre o consumo de bebidas
alcolicas. Este estudo ainda, destaca que o Enfermeiro um profissional competente para
desenvolver aes relativas preveno de agravos do consumo de lcool, seja no ambiente
laboral, em unidades de ateno primria, escolas, entre outras (JOMAR E ABREU, 2011).
O enfermeiro um agente participativo na implantao de programas e projetos de
promoo de sade e preveno do uso e abuso de lcool e outras drogas (GONALVES;
TAVARES, 2007). Nesse sentido, o cuidado de enfermagem aos usurios de lcool deve ser
um continuum da sua prtica profissional, por meio de atividades teraputicas, como aes de
interveno primria (orientaes breves e objetivas), a fim de promover a reduo de danos,
alm da identificao precoce por testes curtos e padronizado e, como aplicao de
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45
ferramentas, como o questionrio AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test),
avaliao do estado de sade e necessidades humanas, preveno de recadas, interveno
breve entre outros (PILLON; LUIS, 2004).
Desse modo, o enfermeiro pode auxiliar o usurio de lcool a assumir uma
responsabilidade consciente sobre o seu uso, promovendo ento melhora na qualidade de vida
em todos os nveis. Um dos cuidados que pode ser utilizado pelo enfermeiro o
aconselhamento, a fim de provocar reflexes e mudanas de comportamento de maneiras
enfticas (PILLON; LUIS, 2004).
No que concerne preveno de acidentes de trnsito, tem se a educao como
elemento chave para as intervenes de enfermagem. O Enfermeiro tem papel fundamental na
promoo de aes educativas neste mbito (BOVA; WALL, 2005). Ressalta-se que essa
temtica deve ser trabalhada na formao do enfermeiro visto que este um profissional
atuante na Ateno Bsica de Sade e desempenha um papel importante na preveno desse
tipo de acidente (JOMAR et al, 2010).
Dentre as aes que vem sendo desenvolvidas por Enfermeiros no contexto do
consumo de lcool e direo veicular, podem-se destacar as aes educativas realizadas pelo
NAIAT (Ncleo de Ateno Integral aos Acidentados de Trnsito), pertencente ao Ncleo de
Pesquisa em Sade Coletiva do Departamento de Enfermagem em Sade Pblica da UFRJ.
Por meio do NAIAT, so desenvolvidas palestras em escolas de ensino fundamental/mdio e
em empresas, com intuito de difundir o conhecimento e promover a mudana comportamental
sobre o uso de lcool antes da direo automobilstica; alm destas questes tambm so
abordadas outras temticas como outros aspectos da segurana viria e os efeitos nocivos do
lcool quando consumido em grande quantidade.
O processo de preveno de acidentes de trnsito envolvendo o uso de lcool est
diretamente relacionado com a atuao do Enfermeiro, visto que ele um profissional
integrante da equipe de sade, que busca promover a sade. Dessa forma, deve estar inserido,
com os demais profissionais, no mbito de programas relacionados ao uso de lcool e direo
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46
veicular a fim de promover aes de prevenes sobre esta prtica, alm de participar do
planejamento e ao dos cuidados diretos e indiretos direcionados populao em geral.
Nesse sentido, as aes do Enfermeiro vo ao encontro das recomendaes
preconizadas pelas polticas pblicas de sade sobre o uso de lcool e segurana viria.
Ressalta-se que as competncias do Enfermeiro neste contexto, so extensas e necessitam de
atualizao constante sobre essa temtica a fim de melhorar os cuidados e a qualidade de vida
dos clientes em qualquer esfera da assistncia desde a preveno/promoo de sade ao,
tratamento/ cuidados de reabilitao.
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47
Captulo III
-
48
3. METODOLOGIA
3.1 Desenho do Estudo
Trata-se de um estudo seccional exploratrio descritivo.
O estudo seccional ou transversal aquele que se caracteriza pela observao direta de
uma quantidade pr-planejada de indivduos, que costumam ser selecionados ao acaso, em
uma nica oportunidade. comum que nesses estudos se obtenham vrias informaes de
cada indivduo pesquisado; a finalidade estabelecer associaes entre as variveis
investigadas (MEDRONHO et al., 2003).
Portanto, em princpio, um estudo seccional um excelente mtodo para descrever
as caractersticas de uma populao em uma determinada poca. A descrio da
distribuio de um agravo de sade em uma populao uma das fontes
imprescindveis para o planejamento e administrao de aes voltadas para
preveno, tratamento e reabilitao, tanto no nvel coletivo como individual
(MEDRONHO et al., 2003 p. 127).
3.2 Local do Estudo
O estudo foi realizado na matriz do DETRAN do estado do Rio de Janeiro no setor
denominado Centro de Atendimento de Habilitao ao Cidado.
Esse local foi escolhido por ser o DETRAN-RJ o rgo responsvel em selecionar e
aprovar os condutores, emitir a permisso para habilitao e a carteira nacional de habilitao,
assim como realizar a sua renovao (DETRAN-RJ, 2010).
3.3 Populao do Estudo
A populao do estudo foi composta por indivduos que estavam no DETRAN-RJ
renovando ou retirando a segunda via da suas carteira nacional de habilitao e/ou obtendo a
CNH internacional e/ou adicionando alguma nova categoria (Anexo II) a sua CNH, no
momento da coleta de dados.
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49
No local do estudo, so atendidas, em mdia por dia duzentas pessoas por dia, logo em
um ano, so atendidas 48 mil pessoas. Desse modo, adotou-se como populao do estudo o
nmero de pessoas atendidas em um ano N= 48.000.
O tamanho da amostra total de indivduos foi estimado no software Epi-Info verso
3.5.1 para clculo amostral em estudos seccionais, a partir da seguinte frmula:
n=Nz2p(1-p)/[d2(N-1)+z2p(1-p)]a
O tamanho da amostra calculado foi de 375 pessoas. No entanto, planejou-se estudar
412, estimando-se uma perda em torno de 10% por recusa ou outros motivos.
Desse modo, 434 indivduos foram selecionados aleatoriamente para participar da
pesquisa. No entanto, houve perda de 10,14% dos participantes, visto que 4% se enquadravam
aos critrios de excluso e os outros 6,1% no responderam pelo menos um dos trs grupos
das variveis do instrumento de coleta dados (Identificao, AUDIT e Comportamento no
trnsito relacionado ao uso de lcool), compondo a amostra final do presente estudo 390
sujeitos.
a Onde N= populao total de pessoas que so atendidas no DETRAN-RJ no setor do Centro de Atendimento de Habilitao ao Cidado ; z= valor correspondente ao nvel de confiana ao quadrado (1,96
2
=3,84); d= preciso absoluta ao quadrado (0,062 =0,0036); p=proporo da populao com a caracterstica em
estudo (0,5).
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50
Figura 2. Diagrama da Populao do Estudo
3.3.1 Critrios de Incluso e Excluso
Foram includos neste estudo, indivduos de ambos os sexos que possuam carteira
nacional de habilitao para qualquer tipo de categoria (Anexo II), seja para veculo
automotor de duas rodas ou de quadro rodas.
Ressalta-se que os condutores s recebem a Carteira Nacional de Habilitao aps o
trmino de um ano da Permisso para Dirigir concedida pelo DETRAN aps aprovao do
teste prtico de direo.
Populao elegvel/ano
N= 48.000 condutores
Amostra aleatria
simples representativa
n=375 condutores
Amostra de participantes
do estudo
n= 434 condutores
Perdas
n= 44 (10,14%)
Populao do Estudo
n= 390 condutores
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51
Dessa forma, foram excludos do estudo os sujeitos que estavam obtendo a Permisso
para Dirigir, visto que eles ainda no eram condutores de veculo automotor, e aqueles que
estavam retirando a sua carteira de habilitao novamente, pois tiveram a sua CNH aprendida
ou suspensa devido a alguma infrao cometida no trnsito.
3.4. Instrumento para Coleta de Dados
O instrumento para coleta de dados dividiu-se em 3 etapas: (i) Identificao com
variveis de caracterizao socioeconmica (ii) Alcohol Use Disorders Identification Test
(AUDIT) (iii) variveis referentes ao beber e dirigir (apndice IV).
3.4.1 Variveis Dependentes
A varivel dependente foi o padro de consumo de lcool classificado segundo o
questionrio Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT):
1) Consumo de baixo risco;
2) Consumo de risco;
3) Consumo nocivo;
4) Provvel dependncia.
O questionrio Alcohol Use Disorders Identification Test, AUDIT, foi publicado em
1989 (apndice IV) pela OMS e validado em diferentes pases, inclusive no Brasil .Este um
mtodo simples de investigao do uso de lcool e possui dez questes relativas ao uso de
lcool a fim de identificar o padro de consumo de lcool, como consumidor de risco,
consumidor nocivo ou dependente (BARBOR et al., 2003).
Desse modo, optou-se em utilizar o questionrio AUDIT neste estudo com intuito de
identificar o condutor que faz uso de risco e nocivo de lcool, pois estes tm maior
probabilidade de se envolver em acidentes automobilsticos devido a mistura lcool e direo,
como tambm aqueles dependentes do lcool embora esses em muitos casos j no esto
dirigindo. Alm disso, segundo Babor et al. (2003), o questionrio AUDIT, quando
-
52
comparado a outros como CAGE e ao MAST, o melhor instrumento de rastreamento de
problemas advindos do lcool na ateno primria .
Assim sendo, o questionrio AUDIT composto por dez questes, cujas respostas
apresentam um escore de 0 a 4 e a soma de suas respostas pode variar de 0 a 40 pontos. O
AUDIT pode ser aplicado por meio de entrevista ou questionrio autoaplicvel, pode ou no
ser combinado com outras questes. Geralmente leva-se de dois a quatro minutos para o seu
preenchimento. (BABOR et al., 2003).
De acordo com a pontuao total, o indivduo foi classificado mediante o seguinte
padro de consumo de lcool:
Quadro 3- Pontuao do AUDIT
Nveis de
Risco
Pontuao AUDIT Intervenes
Baixo Risco 0-7 Educao para o lcool
Risco 8-15 Orientaes bsicas
Nocivo 16-19 Orientaes bsicas mais
Aconselhamento breve e
monitoramento continuado
Provvel
Dependncia
20-40 Encaminhamento para
Especialista
Fonte: OPAS, 2008; Babor et al, 2003
3.4.2 Variveis Independentes
As variveis independentes estudadas relacionam-se s caractersticas
socioeconmicas (idade, sexo, profisso/ocupao, estado civil, escolaridade, renda familiar,
dependentes da renda familiar, idade com que aprendeu a dirigir, tempo que possui a CNH e
frequncia que dirige) e as relacionadas ao comportamento no trnsito relacionado ao uso de
lcool (carona de motorista alcoolizado, bebe e depois dirige, conhecimento sobre a Lei
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Seca, envolvimento com acidente de trnsito e brigas no trnsito devida ingesto de lcool,
prevalncia do uso de cinto de segurana e capacete antes e aps o uso de bebida alcolica)
3.5 Pr-teste
Com a finalidade de testar a logstica do estudo e identificar possveis erros no
instrumento de coleta de dados, foi realizado um pr-teste com 12 acadmicos da
EEAN/UFRJ que possuam CNH e que no fizeram parte da amostra final da pesquisa. Aps
o pr-teste, optou-se por retirar uma questo do instrumento de pesquisa, que versava sobre as
chances de ser parado pela Operao Lei Seca. Achamos que est varivel ficou ambgua,
ento resolvemos retir-la.
3.6 Coleta de Dados
Os dados foram coletados, pela prpria autora, no setor de Centro de Atendimento de
Habilitao ao Cidado na matriz do DETRAN-RJ, nos meses de setembro e outubro de 2011,
comparecendo ao local uma a trs vezes por semana.
3.6.1 Recrutamento dos Participantes
Para renovar a CNH ou emitir a segunda via do documento, o sujeito dever ter
efetuado o pagamento do Documento nico do DETRAN de Arrecadao (DUDA) e
comparecer ao posto do DETRAN no dia e horrio agendado (DETRANRJ, 2011).
Em caso de roubo ou furto da CNH, o motorista pode solicitar a iseno da taxa de
segunda via do documento. Para isso, preciso comparecer ao posto-sede do DETRANRJ
(DETRANRJ, 2011).
Para obter a Permisso Internacional para Dirigir (PID), o motorista dever efetuar o
pagamento do DUDA e fazer um agendamento no Posto-Sede do DETRAN (DETRANRJ,
2011).
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Desse modo, os condutores de veculo automotor que compareceram no posto do
DESTRANRJ estavam pr-agendados, exceto aqueles que compareceram a este posto porque
tiveram a sua CNH furtada ou roubada.
3.6.2. Etapas para a Coleta de Dados
a) Identificao dos sujeitos que estavam renovando a sua carteira nacional de
habilitao e ou retirando a sua segunda via e/ou adicionado nova categoria sua CNH e/ou
obtendo a carteira de habilitao internacional, na fila de espera do setor do Centro
Atendimento de Habilitao ao Cidado no Posto do DETRAN-RJ.
b) Explicao do estudo e seus objetivos, assim como a participao voluntria dos
sujeitos;
c) Entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual uma via ficava
com o participante da pesquisa;
d) Entregava-se um questionrio auto-aplicvel e a pesquisadora retirava possveis
dvidas quando solicitada;
e) Os participantes que pontuavam no questionrio AUDIT a zona correspondente a III
e IV recebiam orientaes, no local, sobre os malefcios do lcool, sobretudo em relao a
direo automobilstica..
3.7 Processamento e Anlise dos Dados
Os dados coletados foram digitalizados e processados eletronicamente pelo software
EPI-INFO verso 3.5.1, e foram realizadas anlises uni e bivariadas da populao do estudo.
Com a finalidade de verificar a associao entre as variveis estudadas, foi considerado o
ponto de corte de em 0,05 para a obteno de medidas estatisticamente significativas.
A anlise do AUDIT foi realizada mediante a pontuao total obtida de cada
participante; estes foram divididos nas categorias recomendadas pela OMS: bebedor de baixo
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55
risco (Zona I, pontuao de 0-7), bebedor de risco (Zona II, pontuao de 8-15), bebedor
nocivo (zona III, pontuao de 16-19), provvel dependncia (Zona IV, pontuao 20-40).
3.8 Aspectos ticos
Para atender e cumprir as normas ticas determinadas pela Resoluo 196/96 do
Conselho Nacional de Sade, que dispe sobre diretrizes regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos, o referido estudo foi submetido aos procedimentos normativos do
Comit de tica em Pesquisa da Escola Anna Nery (EEAN/HESFA/UFRJ), sob o protocolo
do nmero 065/2011, em 16 de agosto de 2011.
A Carta de Autorizao para, que concedeu a realizao da Pesquisa nesse posto do
DETRAN encontra-se nos apndices deste estudo (apndice II).
3.9 Limitaes do estudo
Uma das limitaes do estudo foi o possvel vis de falsa-resposta, que diz respeito a
questes embaraosas ou invasivas (MEDRONHO et al., 2003). Isso possivelmente se deu
devido ao fato de os dados serem coletados no DETRAN, que consiste em um rgo
responsvel por fiscalizar os condutores, dentre outras funes.
Desse modo, para minimizar esse possvel vis de informao foi explicado para cada
participante que essa pesquisa no tinha nenhum vnculo com o DETRAN e as respostas
obtidas no estudo no trariam nenhum malefcio para o sujeito da pesquisa e os dados tratados
seriam utilizados apenas para fins cientficos.
Outra limitao que essa pesquisa encontrou, foi o fato de que em geral, a fila de
espera do cenrio da pesquisa durava em torno de cinco a dez minutos, ento mesmo quando
o sujeito aceitava participar do estudo, ele entregava o instrumento de coleta de dados
incompleto alegando que estava com pressa. Com isso houve, uma perda de 6% da amostra,
ou a resposta de algumas variveis ficavam em branco, sendo registradas na anlise dos dados
como ignorado.
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56
Captulo IV
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57
4. RESULTADOS
Neste captulo, so apresentados os principais resultados encontrados nesse estudo. Os
dados foram agrupados em tabelas e em um grfico, as anlises foram realizadas da seguinte
forma:
4.1 Anlise Exploratria
Parte I - Descrio das caractersticas socioeconmicas da populao de
estudo.
Parte II - Descrio do padro de consu