UNIDADE DIDÁTICA
VIA PLANO DE TRABALHO DOCENTE (Dirigido a Professores e Alunos)
PROFESSOR PDE – TURMA 2012
1 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
Unidade Didática via Plano de Trabalho Docente: a contribuição de Relatos Orais para a produção escrita de Memórias Literárias
Autor Mônica Tomeleri
Escola de Atuação/localização
Escola Estadual Valdir Umberto de Azevedo Rua Londrina, nº 300- Conjunto Habitacional Morumbi
Município da escola Cambé
Núcleo Regional de Educação
Londrina
Orientador Profª Drª Alba Maria Perfeito
Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual de Londrina – UEL
Disciplina/Área Língua Portuguesa/Análise Linguística
Relação Interdisciplinar:
Língua Portuguesa e História
Resumo
Esta Unidade Didática foi desenvolvida para definir estratégias de ação que contemplem práticas de oralidade, leitura, escrita e análise linguística do gênero Memória Literária, com o objetivo de instrumentalizar o aluno para a produção textual de enunciados concretos. Tal escolha deve-se à verificação de problemas na aquisição da linguagem, o que vem se refletindo no resultado das avaliações em geral. Optou-se, portanto, por uma metodologia que valorizasse a vivência cotidiana e favorecesse a apropriação progressiva de conhecimentos científicos: o Plano de Trabalho Docente. Sendo assim, o trabalho inicia-se com o gênero Relato Oral de Experiências e, em seguida aborda o gênero Memória Literária, caracterizando-o com o aluno, por meio de análises. Após a fase de apropriação dos conteúdos, espera-se que o aluno esteja preparado para assumir a autoria de seu texto, construindo ou reconstruindo sua história e a de outrem. Depois da produção textual, o professor encaminhará a refacção do texto-enunciado para que este se torne adequado aos padrões da escrita do gênero em questão. Dessa forma, configura-se a avaliação
contínua, a qual possibilita a reflexão e a revisão do conteúdo. Ao final do trabalho, espera-se que o aluno assuma uma nova postura social diante dos conhecimentos científicos apreendidos.
Palavras-chave Competência Linguística; Plano de Trabalho Docente; Memória Literária.
Produção Didático-Pedagógica
Unidade Didática via Plano de Trabalho Docente
Público Alvo Alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e professores de Língua Portuguesa
Quadro 1 – Ficha de Identificação Fonte: Elaborado pelo Autor.
Londrina
2012
2 APRESENTAÇÃO/PLANO NORTEADOR
2.1 Tema
Aquisição da linguagem: progressão de um gênero da esfera primária
para um gênero da esfera secundária – do Relato Oral de Experiência à
Memória Literária
2.2 Justificativa
Há muito se tem questionado o ensino de Língua Materna, visto o alto
índice de repetência já anunciado nos Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCN - (BRASIL, 1998, p.17) e os resultados apresentados pelo IDEB, que
avalia os alunos em duas disciplinas: Língua Portuguesa e Matemática; além
das constatações do professor regente, o qual está diretamente em contato
com os educandos.
É na sala de aula que o professor, no trato com o aluno, percebe a
dificuldade da grande maioria em relação ao domínio das práticas discursivas
de leitura, de oralidade e escrita e da análise linguística. Além de tais
defasagens observadas, principalmente, nas aulas de Língua Portuguesa, os
problemas na aquisição da linguagem refletem-se, também, na aprendizagem
das demais disciplinas do currículo, visto que ―o ensino de Língua Portuguesa
pode constituir uma fonte efetiva de autonomia para o sujeito, condição para a
participação social responsável.‖ (BRASIL, 1998, p. 58).
A respeito disso, Koch (1995, p.109) argumenta que ―é preciso pensar
a linguagem humana como lugar de interação, de constituição de identidades,
de representação de papéis, de negociação de sentido.‖ É, portanto, por meio
da linguagem e da interação que os indivíduos aprendem.
Dessa forma, é importante que o professor de língua materna entenda
e assuma certos princípios teóricos que delimitem uma concepção de
linguagem em suas aulas, visto que ―toda atividade pedagógica de ensino do
português tem subjacente, de forma explícita ou apenas intuitiva, uma
determinada concepção de língua.‖ (ANTUNES, 2003, p. 39).
Pensar na linguagem enquanto atuação social, enquanto atividade
humana, dinâmica e em constante transformação, é assumir a concepção
interacionista. Esta concepção é a mais atual e favorece o ensino de Língua
Portuguesa, uma vez que propõe o estudo de uma língua viva, de uso, ―a
serviço das pessoas, de seus propósitos interativos reais, os mais
diversificados (...) é a língua-em-função, a língua concretizada em atividades,
em ações e atuações comunicativas.‖ (ANTUNES, 2009, p.35).
A partir do momento em que o professor define a concepção de
linguagem interacionista como primordial, o próximo passo é o estudo e a
compreensão das ideias de Bakhtin (2003), as quais se tornam um suporte
teórico para o trabalho pedagógico. O autor abordou os gêneros discursivos
como relevantes no processo enunciativo-discursivo. Dolz e Schneuwly (2004),
discutindo suas teorias - e as vygotskianas - postularam, didaticamente, os
gêneros discursivos como objeto de ensino.
Os mestres genebrianos (2004) afirmam que os gêneros caracterizam-
se como instrumentos que atuam como ponto de partida para o ensino.
Também, impulsionados pela concepção interacionista, os autores consideram
que trabalhar com os gêneros significa dar prioridade ao funcionamento
comunicativo da linguagem.
Perfeito (2012) assume os gêneros discursivos, enunciados típicos de
determinados campos sociais, como eixo de articulação e progressão
curricular, proferidos, dizíveis como enunciados concretos ou textos-enunciado.
Estes últimos são entendidos como objeto de ensino.
Pensamos ser tal abordagem uma forma significativa de propiciar aos
alunos a construção de uma representação das práticas sócio-pedagógicas de
escrita e de fala, relativas às diferentes situações de produção.
A comunicação, como postula Bakhtin (2003), ocorre em determinadas
esferas, sendo que essas esferas sociais constroem seus gêneros tendo em
vista as suas finalidades. Dessa forma, os gêneros determinam o enunciado o
qual reflete as condições de sua esfera discursiva. As esferas, por sua vez,
são marcadas por regularidades (temáticas, estilísticas e composicionais) que
se estabilizam e se concretizam na forma de textos, orais ou escritos. Sendo
assim, o contexto de produção dos gêneros torna-se fundamental para a
definição dos elementos acima referidos. Sob essa perspectiva, ―a riqueza e
diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as
possibilidades da multiforme atividade humana.‖ (BAKHTIN, 2003, p. 262).
Em dias atuais, a multiplicidade de linguagens pode ser percebida nas
diversas maneiras de apresentação do conteúdo e propagação do saber.
Assim, é por meio da diversidade das atividades humanas e das práticas
comunicativas que se configura a heterogeneidade dos gêneros, os quais se
renovam à medida que se tornam mais complexos. Bakhtin (2003) divide,
então, os gêneros em dois grupos: os gêneros primários, mais simples, que
nascem de situações cotidianas; e os gêneros secundários, os quais surgem a
partir de contextos mais complexos e elaborados. Por fazer parte de um
processo dinâmico de língua viva, os gêneros primários podem passar a
integrar uma esfera mais complexa de comunicação e tornar-se um gênero
secundário.
Para Marcuschi (2001, p.19), ―a fala (enquanto manifestação da prática
oral) é adquirida em contextos informais do dia a dia e nas relações sociais e
dialógicas que se instauram desde o momento em que a mãe dá seu primeiro
sorriso ao bebê‖. Dessa forma, o aprendizado e o uso da língua materna, mais
que uma disposição humana, é uma forma de inserção cultural e de
socialização.
Como afirma, ainda, Marcuschi (2001, p.10): ―o certo é que diariamente
operamos com a língua em condições e contextos os mais variados e, quando
devidamente letrados, passamos do oral para o escrito ou do escrito para o oral
com naturalidade.‖
Tendo em vista que é inerente ao ser humano adquirir
espontaneamente a linguagem do meio em que vive, e que essa língua natural
é a que insere o sujeito nas relações comunicativas e nos diversos cenários de
práticas sociais da linguagem, ao ingressarem na escola, os alunos já dispõem
de certa competência discursiva e linguística para comunicar-se em interações
que envolvem as relações sociais de seu dia a dia. Utilizar essa característica
constituída socialmente, aqui representada como um gênero primário e vivida
nos relatos de experiências dos alunos e de seus familiares, é oportuno, pois, é
possível estabelecer uma ponte para um gênero secundário, mais elaborado.
Dessa forma, a evolução pela qual um gênero pode passar, tornou-se o
foco do trabalho aqui realizado: a progressão de um gênero da esfera primária
para um gênero da esfera secundária – do Relato Oral de Experiência à
Memória Literária.
Para a realização do Projeto de Intervenção na escola, buscou-se
elaborar uma Unidade Didática que valorizasse os conhecimentos prévios do
aluno, com propostas de atividades que ampliassem tais conhecimentos
espontâneos para científicos. Para tanto, optou-se pela metodologia
apresentada no Plano de Trabalho Docente, de Gasparin (2009), pautado nos
estudos de Vygotski (1995) e na pedagogia Histórico-Crítica de Saviani (2007).
Seguindo as etapas apresentadas no Plano de Trabalho Docente,
pretende-se, ao final, publicar um livro de Memórias Literárias, composto por
textos literários escritos pelos alunos. Tais textos serão frutos de muita
pesquisa, de estudos sistematizados e da contribuição dos relatos de pessoas
de toda comunidade escolar.
2.3 Público Alvo
Professores de Língua Portuguesa e Alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental
2.4 Objetivos
- Ampliar os horizontes linguístico-discursivos dos alunos, partindo de gêneros
discursivos primários e chegando à produção escrita de gêneros discursivos
secundários, possibilitando aos mesmos a leitura, a produção oral e escrita,
junto à reflexão e uso da linguagem.
- Contribuir com a prática pedagógica do professor de Língua Portuguesa,
orientando os docentes no desenvolvimento dos estudos com o gênero
‖Memória Literária‖, baseando-se nos conceitos bakhtinianos, transpostos
didaticamente, por meio de um Plano de Trabalho Docente (PTD).
2.5 Orientações Metodológicas
Ao assumir uma proposta de trabalho com a Língua Portuguesa que dá
ênfase à língua viva, dialógica, em constante modificação, que se apoia nas
práticas sociais de uso, é preciso pensar, necessariamente, a respeito da
metodologia que será adotada para que as práticas se efetivem. Assim,
se o trabalho com a Língua deve considerar as práticas linguísticas que o aluno traz ao ingressar na escola, é preciso que, a partir disso, seja trabalhada a inclusão dos saberes necessários ao uso da norma padrão e acesso aos conhecimentos para os multiletramentos, a fim de constituírem ferramentas básicas no aprimoramento das aptidões linguísticas dos estudantes. (PARANÁ, 2008, p. 48).
Como dito anteriormente, o presente trabalho propõe uma
Transposição Didática com o gênero Memória Literária, levado a efeito, em
ternos de didatização, por meio de um por um Plano de Trabalho Docente,
segundo a proposta de Gasparin (2009). Esta metodologia é baseada na
perspectiva Histórico-Crítica, provenientes dos estudos de Saviani (2007).
Na proposta, serão levadas em consideração as três fases do método
dialético de construção do conhecimento escolar: prática-teoria-prática
(VYGOTSKY, 1994), no qual o aluno assume um papel ativo na aprendizagem
e o professor torna-se o mediador do processo.
Sob esse enfoque, Saviani postula que a pedagogia Histórico-Crítica
vê a educação como mediação da prática social. ―A prática social, põe-se,
portanto, como ponto de partida e ponto de chegada da prática educativa.‖
(2007, p. 420).
Na perspectiva da pedagogia Histórico-Crítica, os conteúdos deverão
ser trabalhados de forma contextualizada em todas as áreas do conhecimento,
evidenciando, ao aluno, que os mesmos são sempre uma produção histórica,
visto que, segundo Gasparin (2009, p.2), ―os conteúdos reúnem dimensões
conceituais, científicas, históricas, econômicas, ideológicas, políticas, culturais,
educacionais que devem ser explicitadas e apreendidas no processo ensino-
aprendizagem.‖
Com a teoria aqui proposta, encontramos o método almejado que, por
suas características, irá favorecer a progressão de gêneros orais do cotidiano
para gêneros escritos mais elaborados, pertencentes à esfera literária. Dessa
forma, se efetivará o método dialético, pois se inicia o trabalho pedagógico
partindo do que o aluno sabe (prática), organizando, a seguir, os
conhecimentos científicos a respeito do gênero estudado (teoria), então, o
retorno à prática social, não mais como a anterior, mas sim, modificada pela
aprendizagem, graças ao acréscimo de novos conhecimentos adquiridos
durante o processo ensino-aprendizagem. Após conquistar novos conceitos, a
volta à prática social requer outra postura do educando diante da realidade
social mais ampla.
Para visualizar a proposta didática de Gasparin (2009), apresenta-se a
seguir o quadro demonstrativo do Plano de Trabalho Docente, com os
encaminhamentos didáticos adaptados ao Gênero Memória Literária:
Projeto de Trabalho Docente-Discente na Perspectiva Histórico-Crítica.
PRÁTICA
TEORIA PRÁTICA
(ZONA DE
DESENVOLVIMENTO
REAL) ATUAL
(ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL)
(ZONA DE
DESENVOLVIMENTO
POTENCIAL) ATUAL
Prática social inicial do conteúdo
Problematização Instrumentalização Catarse
Prática Social Final do
conteúdo
1) 1. Apresentação do conteúdo: - Memória Literária
2) a) Vivência
cotidiana do conteúdo: - relatos orais de experiências vividas pelos alunos e pelo professor; - resgate de objetos antigos e conversa sobre as lembranças que trazem.
a) b) O que o aluno já sabe: visão da totalidade empírica/
1) 2.Identificação 2) e discussão
sobre os principais problemas postos pela prática social e pelo conteúdo: - como preservar as nossas memórias e as histórias de pessoas mais velhas da comunidade? - é possível transformar Relatos Orais de experiências em Memórias Literárias?
1) 3. Ações docentes e discentes para a construção do conhecimento:
2) – produzir um texto de memória (produção inicial) -leitura de textos-enunciado do gênero Memória Literária; - análise dos textos - enunciado (forma composicional, marcas
1) 4. Elaboração teórica da síntese, da nova postura mental: Expressão da síntese:
2) – elaborar síntese das características do gênero;
3) – retomar a produção inicial e reestruturá-la; - produção coletiva escrita de um texto de Memória Literária; - produção individual de
1) 5. Intenções do aluno:
2) Espera-se que o aluno:
3) - valorize as pessoas mais velhas e suas vivências.
4) – amplie seus horizontes linguístico-discursivos;
5) – conheça as especificidades de um gênero da esfera literária.
6) 7) a) Ações do
aluno: 8) - buscar novas
memórias, histórias, relatos
Mobilização - l - contato com
livros e Leitura de textos de gêneros semelhantes à Memória Literária.
b) C) Desafio: o que
gostaria de saber a mais? - questionar os alunos sobre suas expectativas a respeito do gênero em questão.
3) a) Dimensões
do conteúdo a serem trabalhadas: - questionar a respeito das diversas dimensões do conteúdo (social, histórica, conceitual, religiosa, operacional, cultural, literária, afetiva...); -Leitura do livro “ Guilherme Augusto Araújo Fernandes”; - leitura de algumas memórias do livro: Anarquistas, Graças a Deus, de Zélia Gattai;. - leitura do livro literário: Meu avô e eu.
linguísticas enunciativas e conteúdo temático, relacionadas ao contexto de produção); - discutir com os alunos o que descobriram a respeito de como é possível preservar as vivências das pessoas para que possam ser conhecidas por outros; - realizar entrevista.
3) Recursos humanos e materiais: - textos impressos, slides, rádio, cd, filmadora, máquina fotográfica, gravador, objetos antigos, pessoas da comunidade.
um texto de Memória Literária; - Refacção dos textos; - Composição e lançamento do livro de Memória Literária da turma. Avaliação: - a avaliação é contínua e acontece durante todo o processo: apresentação
oral de relatos; participação nas entrevistas; produção de textos; atividades de análise dos textos-enunciado; autoavaliação;
portfólio com todas as atividades desenvolvidas em sala.
de pessoas da comunidade; - apresentar progresso nos resultados das avaliações em geral; - fazer uso da linguagem formal e informal adequadas a cada contexto.
Quadro 1 – Demonstrativo do Plano de Trabalho Docente1
Fonte: Gasparin, 2009, adaptado por Perfeito, Borges e Ohuschi (2010).
2.5.1 Seleção dos textos
Para a implementação desse projeto, optou-se por textos-enunciado
do gênero Memória Literária de autores reconhecidos e outros textos-
1 As anotações em itálico foram elaboradas pelo autor do trabalho e são referentes às
atividades relacionadas ao gênero Memória Literária.
enunciado produzidos por pessoas pertencentes à comunidade escolar, a
partir das histórias de vida de seus familiares. A segunda escolha justifica-se
por ser uma alternativa que poderá motivar os alunos, mostrando-lhes que é
possível elaborar Memórias Literárias a começar de relatos de seus familiares.
Os textos utilizados serão:
TÍTULO AUTOR SUPORTE DE
PUBLICAÇÃO
Os automóveis invadem
a cidade
Zélia Gattai Livro: Anarquistas,
graças a Deus – 11ª
Ed. Rio de Janeiro:
Record, 1986
O valetão que engolia
meninos e outras
histórias de Pajé
Kelly Carolina Bassani Caderno do Professor:
Se Bem me lembro...
Olimpíada de Língua
Portuguesa, 2010.
Da simplicidade ao
encanto
Cristiane Yara Carolina
Crepaldi Selerge
Texto semifinalista
selecionado no
município de Cambé
para as Olimpíadas de
Língua Portuguesa de
2010
Não publicado
Emília: a tia Milha Mônica Tomeleri Não publicado
Milagre Valdirene Aparecida da
Silva
Não publicado
Quadro 2: Relação dos textos a serem estudados na Unidade Didática. Fonte: Elaborado pelo autor
Estes textos serão lidos e alguns serão analisados na Unidade
Didática, via Plano de Trabalho Docente, observando os aspectos relativos ao
conteúdo temático, à construção composicional e às marcas linguístico-
enunciativas, associadas às condições de produção.
2.5.2 Uma Abordagem para os Gêneros Discursivos
Para Bakhtin (2003), os tipos relativamente estáveis de enunciados que
circulam em diferentes áreas de atividades humanas são denominados
gêneros discursivos. A definição de gênero, em Bakhtin, compreendendo a
mobilidade, a dinâmica, a relatividade da linguagem, não aprisiona os textos
em determinadas propriedades formais.
Ferragini e Perfeito (2010, p. 2) buscam aproximar mais a teoria da
prática, ao abordarem as dimensões bakhtinianas do gênero (conteúdo
temático, construção composicional e marcas linguístico-enunciativas,
associadas às condições de produção), ressaltam os aspectos a serem
considerados na didatização de um gênero:
contexto de produção – autor/enunciador, destinatário/interlocutor, finalidade, época e local de publicação e de circulação;
conteúdo temático – objeto de sentido – temas avaliativamente manifestados por meio dos gêneros, explorando-se, assim, sobretudo na leitura, para além decodificação, a predição, inferência, críticas, criação de situações-problema, emoções suscitadas etc.;
construção, forma composicional – elementos de estrutura comunicativa e de significação e
marcas linguístico-enunciativas – de regularidade na construção composicional e linguística do gênero, veiculadas, dentre outras, pela expressividade do locutor.
Dessa forma, tais pressupostos teóricos nortearam a análise dos textos
selecionados.
2.5.3 A reescrita do texto e a avaliação
Não há como pensar no trabalho de um gênero que objetiva a
produção escrita do aluno sem levar em conta a importância de promover a
reescrita do texto-enunciado por ele mesmo, já que, quando se lê o próprio
texto-enunciado, o autor tem a oportunidade de se colocar no lugar do leitor.
Há, portanto, uma inversão de papéis. Assim, é oportunizado ao aluno-autor
perceber se o objetivo pretendido com o texto-enunciado foi atingido. Ao reler
o que se escreveu, é possível rever as ideias e a organização das mesmas.
A reescrita é um instrumento de aprendizagem e deve, portanto, fazer
parte do processo da escrita textual, uma vez que a primeira versão de um
texto-enunciado, dificilmente, atenderá a todos os objetivos da produção. Ler,
rever e repensar as produções textuais individualmente ou em grupo, fazendo
com que o aluno-autor reescreva, é uma prática pedagógica que leva à
autonomia, uma vez que o aluno-autor torna-se capaz de perceber suas falhas
e pode, naturalmente, corrigi-las.
Segundo Viana (2012, p.45), reescrever não é apenas revisar, visto
que, ao reler, o escritor percebe muitas coisas que podem ser modificadas. O
autor afirma que ―a reescrita vai além: implica mudar ou cortar palavras,
reordenar períodos, dar nova disposição aos parágrafos, a fim de que o texto
atinja os objetivos a que se propõe.‖ ( 2012, p. 45).
Durante o processo de reescrita ou refacção textual2, é necessário que
o professor indique ao aluno que a intenção é deixar o texto compreensível
para um leitor previamente determinado. Para Viana (2012, p.45), ―o aluno
deve estar consciente de que reescreve, sobretudo, para se fazer entender‖.
Com isso, faz-se necessário que as propostas de produção escrita sejam bem
fundamentadas e que os alunos conheçam e tenham claro o contexto de
produção do qual irão participar. É importante, também, que o educando
reconheça e saiba usar as características do gênero em questão.
Como uma forma de organizar a reescrita do texto-enunciado é
relevante que o professor elabore uma ficha de autoavaliação para que o
aluno-autor possa se orientar e saber o que está bom e o que é preciso
melhorar em sua produção.
A ficha apresentada a seguir faz parte do material distribuído às
escolas e aos professores participantes da Olimpíada de Língua Portuguesa
Escrevendo o Futuro de 2010. Com o título Se bem me lembro..., o caderno
do professor traz inúmeras orientações a respeito da produção de Memórias
Literárias, entre elas este questionamento ao aluno-autor do texto-enunciado,
como uma forma de reflexão a respeito de sua produção.
AUTOAVALIAÇÃO
Roteiro para revisão do texto: Gênero Memória Literária
Está
bom
Preciso
melhorar3
2 Marcuschi (2001, p. 48,) afirma que, para substituir retextualização, “igualmente poderíamos usar as
expressões refacção e reescrita, (...) que observam aspectos relativos às mudanças de um texto no seu interior (uma escrita para outra, reescrevendo o mesmo texto)”. 3 Os questionamentos: “está bom” e “precisa melhorar”, são adaptações feitas pelo autor da Produção
Didático-Pedagógica.
1- O título do texto é sugestivo? Instiga o leitor?
2- O narrador usa a 1º pessoa para contar as
lembranças do entrevistado? O que pode ser
feito para que o texto possa ser relatado em 1º
pessoa?
3- O texto traz palavras e/ou expressões que
situam o leitor no tempo passado? Há outros
trechos em que é possível acrescentá-las?
4- O autor descreve objetos antigos, lugares que se
modificaram ou não existem mais?
5- O texto estabelece relações entre a narrativa do
entrevistado e o lugar onde vive? O que pode ser
feito para reforçar essa ligação?
6- O autor expressa em seu texto sensações,
emoções e sentimentos do entrevistado? É
possível encontrar no depoimento outras
impressões que possam ser inseridas no texto?
7- Há, no texto, trechos com marcas de linguagem
oral que devem ser transformadas em discurso
escrito?
8- Os verbos no pretérito perfeito e imperfeito são
usados da maneira certa?
9- O texto consegue envolver o leitor? Ele desperta
o interesse e prende a atenção?
10- Há alguma palavra que não está escrita
corretamente? E a pontuação está adequada?
Quadro 3 – Demonstrativo: Roteiro para revisão do texto de Memória Literária
Fonte: Caderno do Professor- Olimpíada de Língua Portuguesa (CLARA, 2010, P. 62)
Durante a reescrita, dependendo da dificuldade individual do aluno, o
professor deverá planejar e desenvolver atividades que possibilitem a reflexão
do autor sobre o seu próprio texto-enunciado. Muitas vezes, será necessário
recorrer à gramática teórica-normativa como um instrumento de auxílio para
que o aluno-autor possa adequar sua produção às marcas linguístico-
enunciativas dos textos-enunciado do gênero proposto, entre outros aspectos
formais. É importante, portanto, que o professor oportunize ao aluno o
conhecimento da função comunicativa do gênero em questão, para que este
aprimore sua competência linguístico-discursiva.
De acordo com Antunes (2003), o estudo do texto-enunciado e da sua
organização sintático-semântica permite ao professor explorar as categorias
gramaticais, conforme cada texto-enunciado em análise, sendo relevante
apenas a função que desempenha para os sentidos do texto e não sua
categorização simplesmente. ―Mesmo quando se está fazendo a análise
linguística de categorias gramaticais, o objeto de estudo é o texto.‖ (ANTUNES,
2003, p. 121).
Sendo assim, tão importante quanto escrever, o reescrever fará parte
do processo avaliativo do aluno. Fala-se, aqui, da avaliação formativa,
contínua, na qual o aluno é o sujeito de sua aprendizagem e seu progresso nas
produções escritas é o que será considerado. Dessa forma, a avaliação não se
limita a um instrumento, mas sim, perpassa todas as atividades desenvolvidas
nas etapas do método dialético prática-teoria-prática, como mencionado acima.
Como uma forma de organização do trabalho, as atividades
desenvolvidas em cada etapa farão parte de um portfólio individual do aluno.
Com o portfólio será possível, ao professor regente, acompanhar as
dificuldades bem como os progressos dos educandos.
3 O Gênero Memória Literária
Clara, Altenfelder e Almeida ( 2010, p.44), organizadoras do caderno
do professor de Memória Literária do Programa Escrevendo o Futuro, definem
o gênero Memória Literária como:
textos produzidos por escritores que, ao rememorar o passado, integram ao vivido o imaginado. Para tanto, recorrem a figuras de linguagem, escolhem cuidadosamente as palavras que vão utilizar, orientados por critérios estéticos que atribuem ao texto ritmo e conduzem o leitor por cenários e situações reais ou imaginárias. As narrativas têm como ponto de partida experiências vividas pelo autor no passado, são contadas da forma como são lembradas no presente (...).
Sob esse enfoque, o narrador é o próprio personagem que vivenciou a
história contada, sendo considerado o escritor-autor-narrador. Os fatos vividos
pelo autor, no passado, podem ser narrados no presente.
Além disso, as Memórias Literárias também podem surgir de relatos e
de entrevistas com uma pessoa que conta suas lembranças. Nessa
perspectiva, o escritor deverá colocar-se no lugar do entrevistado, o que
significa narrar os fatos em primeira pessoa. Tais fatos, de acordo com Clara,
Altenfelder e Almeida (2010, p.34), ―devem estar relacionados com o lugar
onde vivem e devem reavivar acontecimentos, histórias, costumes
interessantes e pitorescos do passado.‖
A intenção, portanto, de um texto-enunciado de Memória Literária, não
é apenas revelar fatos, mas também sentimentos, sensações e impressões.
Essa característica lhe garante a função estética, uma das condições para sua
inserção na esfera literária.
Lima (2009) reforça o caráter subjetivo das memórias ao retomar o
significado da palavra ―recordar‖ e associá-lo ao gênero discursivo Memórias
Literárias:
[...] etimologicamente, ―recordar” vem de ―re + cordis” (coração),
significando literalmente, trazer de novo ao coração algo que, devido à ação do tempo, tenha ficado esquecido em algum lugar da memória. Podemos dizer assim que, em linhas gerais, é exatamente essa a função de um texto do gênero memória literária. (LIMA, 2009, p. 22).
Nesse sentido, o termo ―recordar‖ promove uma volta ao passado e,
consequentemente, uma reflexão sobre ele. É um resgate das histórias de
pessoas, é a recuperação do vivido, geralmente de pessoas mais velhas,
transmitido às gerações mais jovens. Quando esse resgate passa do oral para
o escrito, pode-se ter como resultado um texto literário, a progressão do gênero
primário para o secundário.
Nesse sentido, Lima (2009, p. 22) ainda aponta que
[...] um texto de memórias literárias objetiva resgatar um passado, com base nas lembranças de pessoas que, de fato, viveram esse tempo. Representa o resultado de um encontro, no qual as experiências de uma geração anterior são evocadas e repassadas para outra, dando assim continuidade ao fio da história, que é de ambas, porque a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social ao qual pertence.
O texto literário emprega recursos voltados ao fazer estético, como já
exposto, próprios da esfera literária. Clara, Altenfelder e Almeida (2010, p.81)
evidenciam esse traço do gênero:
Em textos de memórias literárias, ao descrever um objeto, uma personagem, um sentimento, os autores utilizam a linguagem para criar imagens, provocar sensações, ressaltar determinados detalhes ou características. A articulação desses recursos proporciona ao leitor uma experiência estética particular.
Outro traço relativamente estável das Memórias Literárias é a presença
de palavras e expressões, conforme apontado por Lima (2009), que
transportam o leitor para uma época do passado. Os verbos irão auxiliar o leitor
a localizar o fato no espaço em relação ao momento em que se fala. Nessa
perspectiva, o pretérito perfeito e o imperfeito são usados, respectivamente,
para marcar as ações pontuais e para indicar as ações habituais. Além disso,
são utilizadas comparações com a intenção de dar graça e força expressiva
aos textos-enunciado.
Memórias são, portanto, textos-enunciado do domínio narrativo
pertencentes à esfera literária, geralmente escritos em prosa, os quais
recuperam uma época com base em lembranças pessoais, com o objetivo de
despertar emoções no leitor por meio da beleza da linguagem. O narrador-
personagem reconta a realidade, mas sem a preocupação em retratá-la de
modo fiel.
Ademais, Clara, Altenfelder e Almeida (2010, p.112) postulam que a
produção de um novo texto com base em outro já existente é um processo de
retextualização o qual compreende
operações que evidenciam como a linguagem funciona socialmente.(...) devem ser consideradas as condições de produção, de circulação e de recepção dos textos. Quando a retextualização requer a passagem do oral para o escrito, envolve estratégias de eliminação (por exemplo, de marcas interacionais, hesitações) e inserção (por exemplo, de pontuação), substituição (por exemplo, de uma forma mais coloquial para uma mais formal), seleção, acréscimo, reordenação, reformulação e condensação (por exemplo, agrupamento de ideias).
Logo, escrever Memórias Literárias é uma prática que se aprende. Os
alunos poderão utilizar suas próprias lembranças ou coletar relatos de memória
das pessoas mais velhas da comunidade. O ato de narrar é sempre uma
criação, e, quando se narra por escrito um acontecimento real de forma
literária, é importante considerar as exigências linguísticas do gênero em
questão. É imprescindível, também, que o autor dedique uma atenção especial
às descrições para que crie no leitor uma imagem mental daquilo que está
sendo narrado. Sendo assim, a realidade é a base do que está sendo escrito,
mas, o narrador-personagem pode empregar uma boa dose de criatividade.
(CLARA, ALTENFELDER E ALMEIDA , 2010).
3.1 As Regularidades do Gênero Memória Literária
3.1.1 Contexto de produção
A Memória Literária é elaborada a partir de relatos de experiências
vivenciadas por pessoas de diferentes épocas. O autor recria os fatos de forma
criativa, envolvente, muitas vezes não se atendo fielmente à realidade, visto
que seu objetivo principal é atrair e emocionar seu leitor.
Nesse trabalho, o aluno será primeiro leitor de Memórias Literárias
publicadas por escritores renomados e outras, escritas por pessoas comuns e,
posteriormente, após pesquisas, entrevistas, e análises, tornar-se-á autor.
Dessa forma, o aluno-autor irá aproximar-se de moradores da
comunidade, ouvir os relatos de lembranças deles, entrevistá-los e escrever
essas recordações para que sejam lidas por muitos, visto que as Memórias
Literárias podem ser escritas e conhecidas por outras pessoas, não só por
quem as viveu. (CLARA, ALTENFELDER E ALMEIDA, 2010).
Locutor/Autor Aluno-leitor/ Aluno-escritor
Interlocutor(ES) Professor-leitor/ Aluno-leitor
Comunidade/ leitora
Objetivo Entreter e recuperar uma época com
base em lembranças pessoais
Veículos/ locais de circulação Livro Literário, editado pela escola,
murais na sala de aula e no pátio.
Época de leitura e produção das
Memórias
Leitura: durante todo o processo
ensino- aprendizagem do gênero.
Produção: no final das análises e
após entrevistas/coleta de dados.
Quadro 4 – Demonstrativo do Contexto de Produção. Fonte: Elaborado pelo Autor
3.1.2 Conteúdo temático
A Memória Literária, como já posto, é um gênero discursivo que
rememora, por meio do registro escrito, fatos do passado (guerra, infância,
moradia, costumes, pessoas, brincadeiras...). Por fazer parte da esfera literária,
não tem compromisso fiel com o fato em si.
3.1.3 Construção composicional
Memórias Literárias são narrativas escritas em prosa, geralmente
curtas, produzidas a partir de um acontecimento real, no qual histórias
vivenciadas por seu autor ou por outrem são contadas em primeira pessoal
verbal. Como em outros textos de domínio narrativo, apresenta os seguintes
elementos: narrador, personagem, espaço, tempo e enredo. O enredo
também é organizado, geralmente, em: situação inicial, conflito, ações, clímax
e desfecho.Textos-enunciado ou enunciados concreto do gênero Memória
Literária podem apresentar variações no tocante ao conflito. Alguns
enunciados concreto não apresentam conflito e outros trazem pequenos
conflitos em uma mesma história. Normalmente, apresentam um título
sugestivo, discurso indireto e grande ênfase nas descrições.
3.1.4 Marcas linguístico-enunciativas
As principais marcas linguístico-enunciativas do gênero Memória
Literária são:
expressões em 1ª pessoa usadas pelo narrador;
verbos que remetem ao passado (pretérito perfeito e imperfeito);
palavras que remetem ao passado (palavras antigas/que não se
usam mais/que foram substituídas por outras);
expressões que ajudam a localizar o leitor na época narrada;
descrição de lugares e pessoas que traga à lembrança
sensações, impressões e informações captadas pelos sentidos: cheiros,
sabores, cores, texturas, sons;
comparação do tempo antigo com o atual;
pontuação, auxiliando no sentido do texto: indicar ênfase,
surpresa, espanto;
e uso de figuras de linguagem.
3.2 Relatar e Narrar: Contribuições para a Produção de Memórias
Literárias
Tendo em vista o processo ensino-aprendizagem da língua, Dolz &
Schneuwly (2004), sob a ótica da concepção bakhtiniana da linguagem,
propuseram agrupamentos dos gêneros em função de suas regularidades.
Tais agrupamentos definem ―as capacidades de linguagem globais em relação
às tipologias existentes.‖ (2004, p.59).
Sob esse enfoque, destacam-se para o presente trabalho os
agrupamentos da ordem do narrar ou domínio narrativo e da ordem do relatar:
a) gêneros da ordem do narrar: cujo domínio social é o da cultura literária ficcional e cuja capacidade de linguagem dominante é a mimese da ação por meio da criação ou reconstrução de uma intriga no domínio do verossímil. Exemplos desses gêneros: conto de fadas, fábula, lenda, narrativa de aventura, narrativa de ficção científica, romance policial, crônica literária, etc. b) gêneros da ordem do relatar: cujo domínio social e o da memória e da documentação das experiências humanas vividas e cuja capacidade de linguagem dominante é a representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. Exemplos desses gêneros: relatos de experiências vividas, diários, testemunhos, autobiografia, noticia, reportagem, crônicas jornalísticas, relato histórico, biografia. (PARANÁ, 2012).
Oliveira (2011) define relato como uma exposição objetiva oral ou
escrita, que tem o intuito de registrar acontecimentos ou fatos reais. O mesmo
autor postula que a narração, no entanto, não se refere só ao acontecido, não
tem compromisso com o evento real; nela, realidade e ficção não têm limites
precisos. A narrativa é uma exposição mais elaborada em que personagens,
ação e espaço formam um todo que vai ser construído de forma fictícia.
(OLIVEIRA, 2011).
Tendo o relato como uma apresentação oral ou escrita de experiências
humanas vivenciadas que podem ser do tempo presente ou do tempo da
memória (passado), é importante dizer que os registros escritos dos relatos são
feitos de acordo com a intenção comunicativa do texto-enunciado. Nessa
perspectiva, um relato pode se transformar em um Diário, em uma
Autobiografia, em um Relato Histórico, em uma Memória Literária, em um
Blog... (OLIVEIRA, 2011).
Diante do exposto, o Relato Oral de Experiências representará uma
estratégia de ativação de conhecimentos prévios e de motivação para o novo
conteúdo: a Memória Literária. É por meio do texto-enunciado do domínio
narrativo da esfera literária que serão registradas as vivências das pessoas e a
preservação da memória de uma comunidade. Isto significa que os alunos irão
produzir um gênero de caráter narrativo com suas especificidades, partindo de
situações reais, com fidelidade ou não aos fatos relatados.
Segundo Oliveira (2011, p.18), ―acumulamos ‗guardados‘ na memória,
em papéis de todo tipo, grandes e pequenos, nos arquivos do computador, no
meio de livros, em caixas, baús (...)‖. Esses fragmentos de momentos vividos
não deixam com que as pessoas se esqueçam de certos fatos, de outras
pessoas, de acontecimentos, de lugares.
Ao encontrarmos os ―guardados‖, eles ajudam a contextualizar, a
recuperar, a refazer uma situação vivida no passado. As retomadas em nossa
memória, muitas vezes, podem estar cheias de alegria, de tristeza, de dor,
entre outras inúmeras sensações.
A respeito disso, postulam Fiad e Silva (2009) que há diferença entre
relatar oralmente e por escrito. Ressaltam, ainda, que, na modalidade oral, as
pessoas têm mais flexibilidade, visto que podem hesitar, redizer, voltar atrás,
repetir ou corrigir interpretações errôneas de sua fala, evidenciando mais um
motivo para que o Relato Oral facilite o trabalho com Memória Literária.
3.3 Língua Falada e Língua Escrita
Por se tratar de um trabalho que mostra a progressão de textos
primários (relatos orais) para textos secundários (escrita literária), como dito
anteriormente, é fundamental que os alunos entendam as diferenças entre a
fala informal e a escrita literária, embora não em termos dicotômicos.
Quando se trata de oralidade e escrita, é natural perceber duas formas
distintas da língua. Isso ocorre porque, socialmente, sabe-se que a escrita deve
ser correta, regular, formal, perfeita, e que a fala é lugar de informalidade, de
erros, de flexibilidade excessiva.
Contrapondo-se a esta visão, Marcuschi (2001) ressalta que oralidade
e escrita são duas ações possíveis para o uso da língua, que empregam o
mesmo sistema linguístico, têm características próprias e não podem ser vistas
como categorias distintas. Ressalta, ainda, que tanto a fala quanto a escrita
apresenta diversos graus de formalidade e, dependendo do gênero discursivo,
pode-se encontrar características comuns entre elas. Ambas são, portanto,
modalidades de uma mesma língua.
A oralidade é a mais antiga forma de comunicação entre os homens e,
por ser uma modalidade muito anterior à escrita, foi, por um longo período de
tempo, a única forma de se transmitir conhecimentos. É naturalmente
adquirida, no entanto, em situações mais formais como um debate regrado,
uma palestra, um seminário, assume um tom mais formal e exige certo preparo
e domínio da Língua.
Em contrapartida, a escrita surgiu da necessidade do ser humano em
um momento em que a oralidade não deu mais conta das funções sociais e,
com o passar do tempo, a escrita tornou-se imprescindível nas relações
sociais.
A respeito da importância da escrita, Marcuschi se pronuncia:
Numa sociedade como a nossa, a escrita, enquanto manifestação formal dos diversos tipos de letramento é mais do que uma tecnologia. Ela se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia, seja nos centros urbanos ou na zona rural. (2001, p. 16)
A escrita, diferente da fala do cotidiano, não aparece naturalmente, ela
precisa ser aprendida. A escrita de um texto literário exige uma situação de
formalidade e de arranjo estético maior que a escrita de um bilhete para a mãe,
de uma carta para o amigo ou de um e-mail. Faz-se necessário entender que
cada gênero, em cada esfera de circulação pede um tipo de discurso e que o
sujeito cumpre sua função social quando compreende essa necessidade e
sabe fazer uso de sua linguagem (oral ou escrita, formal ou informal) em
diferentes contextos sociais.
Tendo em vista que o aluno-autor produz, inicialmente, seu texto-
enunciado a partir do gênero Relato Oral, ou seja, com linguagem informal, a
transposição para a produção escrita do gênero Memória Literária exigirá, do
mesmo, a adequação da linguagem à norma padrão, uma das características
deste gênero discursivo.
O quadro abaixo enumera algumas diferenças importantes com relação
à língua falada como gênero primário e à língua escrita como um gênero
secundário, sendo importante conhecê-las para produzir um bom texto de
Memória Literária:
Língua Falada (gênero primário,
refere-se à fala informal do cotidiano):
Língua Escrita (Gênero secundário,
refere-se à escrita padrão, formal4):
maior repetição de palavras e
redundância de ideias;
maior espontaneidade e menor
preocupação com a norma-padrão;
uso de frases curtas e simples;
maior subjetividade;
uso de gírias e expressões
populares;
emprego de substantivos e verbos
com sentido genérico, amplo
(coisa, negócio, ser, ter etc);
utilização intensa de marcadores
próprios de conversas ( aí, daí, né,
então etc.).
menor repetição e redundância
(substituição de palavras e
expressões repetidas);
uso de frases mais línguas e
complexas;
maior objetividade;
tendência a evitar o uso de gírias e
expressões populares;
emprego de substantivos e verbos
com sentido específico, preciso;
tendência a não utilização de
marcadores próprios da conversa.
Quadro 5 – Comparativo entre língua falada e língua escrita Fonte: FERREIRA, 2009, p.159
É importante ressaltar que, se houver a presença do discurso direto, isto
é, se no texto-enunciado do gênero Memórias Literárias veicular-se a fala de
um personagem, poderá, no entanto, prevalecer o uso da linguagem informal
caso a mesma seja relevante para a construção de sentido do enunciado
concreto.
4 Adaptações, em itálico, feitas pelo autor dessa Produção Didático-Pedagógica.
4. UNIDADE DIDÁTICA VIA PLANO DE TRABALHO DOCENTE
I - PRÁTICA SOCIAL INICIAL
ANÚNCIO DOS CONTEÚDOS: MEMÓRIA LITERÁRIA
1º Momento Tempo previsto: 1 aula
Quem é que gosta de ouvir histórias? E contar histórias?
Em muitas situações da nossa vida, na convivência com amigos e
familiares estamos cercados por histórias que, muitas vezes, passam de
geração em geração. Saber o que pessoas da nossa convivência viveram é
uma forma de interação que mantém viva algumas tradições familiares e
sociais.
Quem é que sabe a diferença entre contar uma história e fazer um
relato de um fato?
O conteúdo que iremos iniciar vai nos levar a uma viagem no tempo.
Iremos contar e ouvir muitos relatos. Vamos nos transformar em caçadores de
boas aventuras que ainda não foram esquecidas pelo tempo. Depois disso,
teremos que transformar o que ouvimos em narrativas escritas. Para
Professor, explicar aos alunos a diferença entre relatar e narrar.
O relato é uma exposição objetiva, registra acontecimentos ou
fatos reais. Textos da ordem do relatar fazem parte do domínio social
da memória e da documentação das experiências humanas vividas e
cuja capacidade de linguagem dominante é a representação pelo
discurso de experiências vividas, situadas no tempo.
A narração é mais livre, não se refere só ao acontecido. Não
tem compromisso fiel com o real. Nela, realidade e ficção não têm
limites precisos. Os textos do domínio narrativo fazem parte da cultura
literária ficcional, é uma forma de contar mais elaborada em que
personagens, ação e espaço formam um enredo construído de forma
fictícia.
entendermos melhor essa progressão, colocaremos na sala, um cartaz com as
etapas do trabalho que iremos desenvolver nas próximas aulas.
Etapas do trabalho com o gênero Memória Literária
1. Diferenciar Memória Literária de Diário, de Relato Histórico, de Biografia e
de Autobiografia.
2. Leitura de livros literários: ―Guilherme Augusto Araújo Fernandes”, “Meu
avô e eu” e “Anarquistas, graças a Deus”
3. Leitura e análise de textos5 de Memória Literária.
4. Caracterização e análise de textos do gênero Memória Literária: estrutura
composicional, marcas linguístico-enunciativas, conteúdo temático,
associadas ao contexto de produção.
5. Relatos de pessoas da comunidade e dos alunos.
6. Entrevista com pessoas idosas.
7. Montagem de uma exposição (museu) com objetos que recuperam as
memórias dos alunos e das pessoas do bairro.
8- Produção e reestruturação de textos (três textos).
9- Produção de livro de Memória Literária.
10- Lançamento do livro e apresentação de sarau para a comunidade.
11- Elaboração de um portfólio com as atividades desenvolvidas nas aulas.
Agora que vocês já sabem qual será o conteúdo das próximas aulas, o
que mais gostariam de saber sobre o gênero Memória Literária?
Prováveis questões:
Por que é mais fácil falar que escrever?
Como diferenciar memória de diário ou de relato histórico?
5 Para a Produção Didático-Pedagógica não será usado o termo texto-enunciado, como abordado na
apresentação teórica do trabalho, mas apenas o termo texto, por ser mais viável pedagogicamente. No entanto, é importante saber que o texto é a manifestação concreta, individual e expressiva do(s) gênero(s).
Depois de colocar o cartaz, o professor deverá perguntar aos
alunos se eles têm alguma sugestão de atividade, além daquelas pré-
estabelecidas. Em caso afirmativo, acrescentar as sugestões propostas.
Biografia ou autobiografia é a mesma coisa que Memória Literária?
Por que precisamos registrar os relatos que contamos?
Por que não escrevemos como falamos?
VIVÊNCIA COTIDIANA
2º Momento:
Tempo previsto: 1 aula
Neste momento, nós vamos fazer alguns relatos, isto é, vamos contar
fatos que aconteceram conosco, sem inventar.
Atividade para o aluno
Para a próxima aula vocês irão conversar com seus familiares a respeito
de fatos ocorridos com vocês na infância e trazer para a sala de aula um objeto
que traga alguma lembrança antiga sua.
3° Momento: Tempo previsto: 1 aula
Relatos
O professor deverá apresentar fotos e objetos antigos que remetem
ao seu passado, exemplificando, assim, uma das formas de recuperação
da memória já vivida. Deverá, também, contar algumas de suas memórias
mais antigas. A seguir, convida os alunos a, também, fazerem seus relatos
orais.
A seguir, convida os alunos a, também, fazerem seus relatos
Ao iniciar a aula, deixar que os alunos mostrem seus objetos e façam
seus relatos a respeito dos mesmos. Questionar se precisaram de ajuda para
relembrar tais fatos ou se, sozinhos, conseguiram recordar antigas situações.
4º Momento:
Tempo previsto: 2 aula
Atividade oral para discutir com a mediação do professor
Quem sabe uma forma de preservar relatos, como os da aula anterior,
para que eles não se percam no tempo, não sejam esquecidos?
Como se chamam os textos escritos que partem das experiências
vividas das pessoas?
Alguém sabe o que é um texto de Memória? E um Diário? E um Relato
Histórico? E Biografia? E Autobiografia?
Alguém já leu alguns desses gêneros? Quais? Quando?
Quais são as características desses gêneros?
Em que suporte são veiculados?
De que esfera de circulação eles fazem parte?
Para que e para quem os textos são escritos?
Atividade de leitura
Agora, iremos fazer uma aula de leitura. Cada aluno, em sua vez, irá
até a estante e poderá escolher um livro de sua preferência. Teremos 30
minutos para que leiam alguns trechos dos livros escolhidos por vocês.
Comentar com os alunos que, apesar das semelhanças, os
gêneros discursivos citados, como viram, apresentam características
próprias e que o trabalho que se iniciará, a partir daquele momento, é o
estudo de enunciados concretos (textos) do gênero discursivo Memória
Literária, gênero secundário, inserido na esfera literária e veiculado,
geralmente, em livros literários.
Neste momento, o professor coloca uma ―estante móvel‖ na frente
da sala contendo livros com coletâneas de textos curtos dos gêneros
citados. O material deverá estar exposto aleatoriamente.
Depois que já tiveram contato com os livros e leram alguns textos,
observem que temos aqui quatro caixas. Cada caixa tem o nome de um gênero
discursivo escrito nela. Esses gêneros referem-se aos textos que acabaram de
ler: Memória Literária, Diário, Relatos Históricos e Biografia/Autobiografia.
Agora, vocês terão um desafio: deverão guardar cada livro na sua
respectiva caixa. Se alguém precisar da ajuda do colega do lado, tem 5
minutos para trocar ideias a respeito de onde guardar seu livro.
Características relevantes dos gêneros lidos na atividade anterior:
Questionar os alunos por que Biografia e Autobiografia estão na mesma caixa.
Professor, depois que os alunos guardarem seus livros nas
respectivas caixas, você deverá escolher uma das caixas, anunciar o
gênero, e questioná-los a respeito do tema, da estrutura composicional,
de algumas marcas linguístico-enunciativas, associadas às condições de
produção. Deixar a caixa das Memórias Literárias por último.
A seguir, temos alguns textos com as principais características dos
gêneros abordados na atividade anterior:
Relato Histórico
No Relato Histórico faz-se relato dos fatos acontecidos, de forma clara e objetiva, sem perder de vista a credibilidade da informação. Quando o autor é um historiador, geralmente, ele busca fontes, reúne e analisa documentos, utiliza critérios para verificar a veracidade do que relata. Normalmente, relatos históricos não trazem a história do autor. O Relato Histórico apresenta verbos no pretérito (perfeito e imperfeito) e outros marcadores temporais e espaciais que remetem ao passado, os quais permitem a formação de uma linha temporal e espacial para localizar os acontecimentos em cada época, relacionando-os com o lugar e o modo como os fatos ocorreram.É um texto em prosa e apresenta recursos coesivos como as conjunções ou locuções conjuntivas.
(CLARA, ALTENFELDER e ALMEIDA, 2010, p. 44)
Ao mostrar os livros que foram colocados na primeira caixa, o
professor irá questionando os alunos e enumerando as diferenças básicas
dos gêneros. Se tiver algum livro em caixa errada, é preciso colocá-lo em
sua devida caixa.
Diário
O diário costuma ser elaborado como um registro íntimo; em
sua origem, não se dirige a outra pessoa, o seu destinatário primeiro é
o próprio autor. Normalmente é um texto em prosa, escrito em
primeira pessoa e com uma linguagem bem próxima da oralidade. É o
enunciador falando com ele mesmo ou com outras pessoas. Nele, são
registradas as experiências vividas no presente. Quando os diários
são publicados, tempos depois de terem sido escritos, geralmente
passam por uma transformação.
(CLARA, ALTENFELDER e ALMEIDA, 2010, p. 45).
Autobiografia e Biografia
A Autobiografia é um texto escrito em1º pessoa, que mostra os principais episódios da vida do autor, de forma cronológica, inclusive com a presença de datas importantes. Alguns dão maior ênfase a determinados períodos ou acontecimentos. Na autobiografia os fatos são relatados no pretérito (Perfeito e Imperfeito) e há presença de marcadores temporais e espaciais que remetem ao passado. É um texto bem subjetivo
Observa-se, também, o uso de pronomes pessoais e possessivos na primeira pessoa (tanto no singular quanto no plural).
Já a Biografia é escrita em 3º pessoa, pois é um narrador que escreve sobre a vida de alguém. Tem, basicamente, as mesmas características da Autobiografia, no entanto, a linguagem é mais objetiva.
5º Momento
Tempo previsto: 1 aula
Atividade em grupo
Texto 1 : Os automóveis invadem a cidade - Zélia Gattai retirado do livro Anarquistas graças a Deus, 1979. Disponível em: <http://contosdocongonhas.blogspot.com.br/2010/05/os-automoveis-invadem-cidade-zelia.html>. Acesso em: 02/10/2012
Texto 2: Biografia de Zélia Gattai. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/zelia-gattai.jhtm>. Acesso em: 02/10/2012
Texto 3: Autobiografia de Carlos Drummond de Andrade. Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br>. Acesso em: 02/10/2012
Texto 4: O Diário de Anne Frank, 1947. Disponível em: <http://www.baixedetudo.net/download-livro-o-diario-de-anne-frank>. Acesso em: 02/10/2012
Texto 5: Relato Histórico da Primeira missa no Brasil.Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/carta-de-pero-vaz-de-caminha>. Acesso em: 13/10/2012
Em grupos, os alunos recebem cinco textos correspondentes aos gêneros
vistos anteriormente. Depois da leitura, os alunos deverão dizer a qual dos
gêneros abordados na aula anterior pertence cada um deles e como chegaram
a tais conclusões. Cada texto deverá ser colocado no portfólio. As conclusões
deverão ser registradas e incluídas logo a seguir.
Memória Literária
Memórias Literárias são textos-enunciado do domínio narrativo,
que têm como ponto de partida experiências vividas em épocas
passadas. São histórias escritas em prosa, em primeira pessoa e tem
como um de seus objetivos emocionar o leitor por meio de descrições
detalhadas. Apresentam palavras e/ou expressões que remetem ao
passado.
6º Momento
Tempo previsto: 1 aula
Produção escrita
Agora, cada um de vocês irá produzir um texto de uma de suas
experiências vividas. Vocês irão escolher uma das tantas histórias
relembradas. Os textos que iremos escrever durante as aulas dessa Unidade
Didática farão parte de um livro de Memórias Literárias que ficará na biblioteca
da escola. Esse livro é uma forma de valorizar e preservar as nossas vivências
e as vivências dos mais velhos. Lembre-se que sua produção deve se parecer
com o que, inicialmente, você imagina que é um texto do gênero Memória
Literária. Ao longo das aulas, vocês terão a oportunidade de rever, refazer,
melhorar seu primeiro texto e, até mesmo, escrever outros textos.
Professor, informar aos alunos que o texto produzido por eles será
lido em particular pelo professor, e oralmente pelo próprio autor, se o
mesmo quiser socializar sua história com os demais alunos da sala.
Essa primeira produção é uma etapa importante para que o docente
identifique os conhecimentos prévios dos alunos e suas dificuldades
mais relevantes com a escrita. Comunicar, também, que este texto será
reescrito algumas vezes durante o desenvolvimento do conteúdo e o que
a avaliação levará em conta o progresso, individualmente, desde a
produção inicial até a produção final. O processo de revisão e refacção
(reescrita) textual será feito com os outros textos que serão produzidos
posteriormente. Todos os textos deverão compor o portfólio.
Professor, fazer uma retrospectiva das aulas anteriores e
questionar: Como podemos preservar tantas memórias para que
elas não sejam esquecidas com o passar do tempo?
II - PROBLEMATIZAÇÃO
7º Momento: Tempo previsto: 3 aulas
Questionamentos Dimensão conceitual/científica: Pesquisar no dicionário o vocábulo ―memória‖ e associar ao nome Memória Literária
Atividade de leitura exposta e discutida pelos alunos com a mediação do professor Dimensão social: Qual a função social / finalidade de se registrar por escrito
as experiências de vida das pessoas? É importante ter o registro das memórias
das pessoas ao longo do tempo? Por quê? Para quem se escreve uma
Memória Literária?
Dimensão operacional: Quais são as etapas que devem ser seguidas para se
escrever uma boa memória literária? Que tipo de linguagem deve ser usada?
Professor, a problematização é uma atividade de questionamentos.
Essa etapa deve abranger as dimensões ensináveis do conteúdo e levar os
alunos a refletirem a respeito do gênero em estudo.
Professor, uma sugestão é fazer a leitura do livro ―Guilherme
Augusto Araújo Fernandes‖ . O livro conta a história do garoto Guilherme,
amigo de Dona Antônia, uma velhinha que morava no asilo e perdeu sua
memória. O garoto não entende o que está acontecendo com sua amiga
e, a partir de então, inicia sua aventura em busca de um significado para
a palavra memória .
Dimensão afetiva: É possível se emocionar ao relembrar o passado? Por
quê? Quem ainda tem seus avós? E bisavós? Vocês já pediram para eles
contarem as histórias do tempo em que eles eram crianças?
Dimensão literária: O que é literatura? Na literatura, há registros reais das
memórias das pessoas ou temos apenas ficção? Existem livros na biblioteca
com esse gênero? Poucos ou muitos? Quais?
Atividade de leitura exposta e discutida pelos alunos com a
mediação do professor
Dimensão histórica: Qual a importância para a história de se ter as memórias
das pessoas registradas por escrito? É possível preservar as histórias das
pessoas por meio de Memórias Literárias?
Dimensão cultural: Como é que se preserva a cultura de um povo? É
importante valorizar as experiências de vida das pessoas do nosso convívio? E
Levar os alunos à biblioteca para que encontrem os livros do gênero
em estudo. Selecionar e levar os livros para a sala. Fazer, juntos, a leitura
de do livro literário ―Meu Avô e eu‖. Este livro não é um livro de Memórias
Literárias, mas conta a história de um avô, abandonado em um asilo e
acolhido por seu neto. É uma história emocionante que leva a refletir sobre
da importância de respeitar e cuidar do idoso.
Levar e discutir algumas memórias contidas no livro de Zélia
Gattai: Anarquistas, Graças a Deus, e analisar o contexto de produção
do livro e sua importância para a preservação da memória da autora e
de um grupo de imigrantes italianos de São Paulo. Nesse momento, a
participação do professor de história é imprescindível.
das pessoas mais velhas? Por quê? Como a Memória Literária contribui para
isso?
Dimensão religiosa: Você acha que é possível perceber as crenças de uma
pessoa ou um povo quando lemos uma Memória? Alguém tem em sua
memória a história de um milagre que aconteceu? Qual?
Nessa etapa, vocês viram quantos questionamentos foram feitos e
quantos ficaram sem resposta? Vamos nos aprofundar no estudo desse gênero
para podermos entender melhor as Memórias Literárias e produzi-las de forma
eficiente. Vamos iniciar nosso estudo conhecendo um relato que virou Memória
Literária.
8º Momento: Tempo previsto: 1 aula
Relato
Leitura: Memória Literária
Do relato à Memória Literária: A emoção que um texto de memória pode
trazer...
Texto 1:
MILAGRE! Eu acredito em milagres, pois recebi um. Morávamos no Bratislava, um pequeno patrimônio da cidade de
Cambé, Paraná. Trabalhávamos na lavoura, como grande parte da população de meados do século passado. Enxada nas costas e embornal nas mãos, o nascer do sol era nosso relógio. A família inteira ia para a roça, de sol a sol... Sempre levei as crianças junto comigo: os maiores trabalhavam e a do meio cuidava dos menores. Assim, dos nove filhos, cinco ajudavam na plantação e na colheita e uma cuidava dos três menores, dos quais a caçulinha tinha pouco mais de um ano.
Enquanto colhíamos café, naquele dia, os menores brincavam e
Levar a mãe da professora Valdirene (autora do texto Milagre) para
relatar um episódio emocionante de sua vida. Em seguida, a mesma professora
lerá o texto de Memória Literária que ela produziu a partir desse fato contado
por sua mãe.
comiam frutas. Era época de mexerica de várias qualidades. Ainda me lembro da doçura daquelas frutas fresquinhas e amareladas, colhidas no pé. No entanto, a doçura da fruta amargou de repente. Minha filha menor pegou uma mexerica bode e colocou alguns gomos na boca. E foi aí que o pior aconteceu. Ela engasgou. Engasgou feio mesmo!
Foi uma correria. Peguei minha filha nos braços e apavorada fui atrás de socorro. Tudo era muito longe, muito difícil, ninguém tinha carro, só carrinho puxado com cavalo, aquelas carroças de antigamente. Mesmo assim, corremos na tentativa de socorrê-la, pois já estava desacordada.
Chegando ao hospital, o caminho nunca me pareceu tão longo, o médico disse que era tarde. A menina estava roxa e não havia mais o que fazer... Pediu, então, aos enfermeiros que a levassem para o necrotério, estava morta! Minha caçulinha estava morta! Fiquei desesperada, mas não perdi a fé. Roguei a São Brás, pois foi no dia dele que ela nasceu, 3 de fevereiro.
Quando os enfermeiros estavam levando meu bebê numa maca, um deles se desequilibrou e a maca bateu contra a parede. Foi aí que o milagre aconteceu. No mesmo momento algumas sementes de mexerica saltaram da boca da criança e ela chorou. Todos ficaram impressionados e emocionados. Milagre! Milagre! É um milagre! Minha filha estava salva!
Hoje, ela é uma linda mulher, cheia de vida, de garra, de força. É uma filha maravilhosa que traz um brilho especial. É um brilho que nem eu sei explicar, talvez seja, o brilho da vitória! O que eu sei isso sim, é que um milagre marcou para sempre as nossas vidas! Valdirene Aparecida da Silva – Texto escrito a partir das memórias de sua mãe Aparecida
9° Momento:
Tempo previsto: 1 aula
Contexto de Produção
Iniciaremos, agora, o estudo do contexto de produção geral das
Memórias Literárias. Dividirei vocês em grupos, cada grupo receberá um texto
informativo a respeito das Memórias Literárias e deverá retirar dele as
principais ideias. Depois, discutiremos sobre o que cada grupo descobriu e
elaboraremos uma síntese para compor nosso portfólio.
Professor, conforme os alunos forem apresentando suas ideias,
você deverá anotá-las no quadro para, a partir do que foi discutido,
elaborar com eles uma síntese do histórico e de algumas características
das Memórias Literárias. Cada aluno escreverá a síntese e arquivará em
seu portfólio.
Conteúdo temático: Memórias Literárias
Memórias Literárias são narrativas curtas que resgatam uma época com base em lembranças pessoais. Conversas com pessoas mais velhas, ouvir seus relatos é uma forma de recuperamos nossa própria história.
Etimologicamente, ―recordar‖ vem de ―re‖ + ―cordis‖ (coração), significando, literalmente, ―trazer de novo ao coração algo que, devido à ação do tempo, tenha ficado esquecido em algum lugar da memória‖. Podemos dizer que é essa a principal função de um texto do gênero Memórias Literárias.
Um texto de memórias tem o objetivo de recuperar o passado, com base nas lembranças de pessoas que viveram esse tempo. O fato de recuperar tais experiências é uma forma de dar continuidade ao fio da história, visto que a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social ao qual pertence.
( LIMA, 2009)
Contexto de produção das Memórias Literárias
―Memórias literárias são textos produzidos por escritores que dominam o ato de escrever como arte e revivem uma época por meio de suas lembranças pessoais. Esses escritores são, em geral, convidados por editoras para narrar suas memórias de um modo literário, isto é, buscando despertar emoções estéticas no leitor, procurando levá-lo a compartilhar suas lembranças de uma forma vívida. Para isso, os autores usam a língua com liberdade e beleza, preferindo o sentido figurativo das palavras, entre outras coisas. Nessa situação de produção, própria do gênero memórias literárias, temos alguns componentes fundamentais:
o um escritor capaz de narrar suas memórias de um modo poético, literário; o um editor disposto a publicar essas memórias; o leitores que buscam um encontro emocionante com o passado narrado
pelo autor, com uma determinada época, com os fatos marcantes que nela ocorreram e com o modo como esses fatos são interpretados artisticamente pelo escritor.
A situação de comunicação na qual o gênero Memórias Literárias é produzido marca o texto. O autor escreve com a consciência de que precisa encantar o leitor com seu relato e que precisa atender a certas exigências do editor, como número de páginas, tipo de linguagem (mais ou menos sofisticada, por exemplo, dependendo da clientela que o editor procura atingir)‖
(ALTENFELDER, Anna Helena e CLARA, Regina Andrade, 2011)
III - INSTRUMENTALIZAÇÃO
10º Momento: Tempo previsto: 6 aulas
Como surgiram as Memórias Literárias?
Durante muito tempo, não existiu, em termos de literatura, um termo preciso para designar um certo gênero específico de narrativa que contasse histórias de vida das pessoas. Só a partir do século XVII é que o termo memórias começou a ser utilizado, e se referia, primeiramente, a textos de historiadores ou de pessoas que não eram profissionais de literatura: memórias de parlamentares, de militares, de nobres, de religiosos. Nestes textos, o objetivo era de informar e testemunhar sobre algum fato ou ideia acontecido em determinada época.
Em seguida, o termo "memória" passou a se referir a textos apresentados como sendo narrativas autobiográficas: memórias de cortesãos, de damas galantes etc. A parte antes dedicada à história cede lugar à descrição de experiências pessoais.
No século XVIII nasce o romance memorialístico, obras de ficção, que inundam o mercado literário, principalmente da França e da Inglaterra. Já nos séculos XIX e XX, os textos conhecidos como "memórias" vão sendo substituídos pelo termo "autobiografia".
Hoje em dia costumamos chamar de "memórias" de um personagem a narrativa dos acontecimentos de sua vida. Essa narrativa pode ser escrita por ele mesmo ou por uma outra pessoa. São narrativas curtas, escritas em prosa, cujo narrador é o protagonista.
ARAGÃO, Maria Lucia. Memórias Literárias na Modernidade Disponível em: <http://w3.ufsm.br/revistaletras/artigos_r3/revista3_6.pdf>. Acesso em: 15/10/2012
Professor, nesse momento serão realizadas atividades de leitura,
apreciação e análise de textos de Memória Literária. O objetivo é
entender as estruturas formais do gênero em questão: conteúdo
temático, construção composicional e marcas linguístico-enunciativas,
indissoluvelmente associadas ao contexto de produção.
Texto2: O Valetão que engolia meninos e outras histórias de Pajé
O próximo texto de Memória Literária que iremos ouvir foi escrito por
uma aluna que participou da Olimpíada de Língua Portuguesa no ano de 2006.
A aluna teve seu texto classificado e divulgado por todo país.
Atividade escrita Vocês acabaram de ouvir uma linda Memória Literária. Agora vou
entregar o texto escrito para que vocês possam ler novamente e faremos o
estudo do mesmo:
Texto 2 - O valetão que engolia meninos e outras histórias de Pajé –
Kelli Carolina Bassani, aluna finalista da 3ª- edição do Prêmio
Escrevendo o Futuro em 2006, 4ªª- série da E.M.E.I.E.F. Walter
Fontana, Toledo – PR
CLARA, R. A.; ALTENFELDER, A. H.; ALMEIDA, N. Se bem me
lembro...: caderno do professor: orientação para produção de textos.
São Paulo: Cenpec, 2010. Disponível em:
<http://escrevendo.cenpec.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=263:o-valetao-que-engolia-meninos-e-outras-historias-de-paje&catid=20:textos-
alunos-finalistas&Itemid=31 >. Acesso em: 02/10/2012
Professor, esse texto faz parte do material distribuído para a
realização da Olimpíada de Língua Portuguesa. É um texto gravado
em cd, com uma ótima entonação e pode ser utilizado em sala de
aula.
Contexto de produção / Conteúdo temático
1- Quem é o autor dessa Memória Literária?
2- Em que papel social se encontra?
3- A quem se dirige o texto?
4- Em que local foi produzido o texto?
5- Em que suporte o texto se apresenta?
6- Com qual objetivo foi produzido o texto?
7- Que tipo de linguagem predomina?
8- Qual é o assunto do texto?
Construção composicional:
1- O texto que acabamos de ler é escrito em prosa ou em verso?
Justifique:
2- O texto lido é uma narrativa. Vamos relembrar os elementos de um texto
com domínio narrativo:
Professor, as atividades a seguir serão colocadas no portfólio do
aluno para que ele comece a sistematizar as características do gênero
Memória Literária. É interessante que a turma realize a atividade em
duplas, a fim de que possam refletir e questionar.
Cada grupo de questões refere-se aos diferentes aspectos que
serão analisados no texto (conteúdo temático, marcas linguístico-
enunciativas, estrutura composicional, associadas ao contexto de
produção). Após a realização de cada etapa é necessário que as
atividades sejam corrigidas e discutidas no grupo maior.
Professor, é importante verificar aqui a necessidade ou não de
relembrar os momentos e elementos da narrativa. O quadro a seguir é
apenas uma sugestão!
NARRAÇÃO O que é narrar? Narrar é contar um fato, um episódio, uma situação. Textos da ordem do narrar ou domínio narrativo contam com alguns elementos essenciais: NARRADOR: dono da voz ou, em outras palavras, a voz que nos conta os fatos e seu desenvolvimento. Dependendo da posição do narrador em relação ao fato narrado, a narrativa pode ser feita em 1ª pessoa (narrador personagem) ou em 3ª pessoa (narrador observador) PERSONAGEM: os personagens em uma narrativa podem ser:
Principal ou protagonista — Desempenha o papel de maior importância.
Secundária – Desempenha papel menos importante que o protagonista
Figurante – Não desempenha um papel significativo, mas, a sua presença é importante para a compreensão da ação.
ENREDO: é o desenrolar dos acontecimentos. O enredo se organiza em torno de um conflito, ou seja, um problema a ser resolvido, o qual cria no leitor ou ouvinte uma expectativa em relação aos fatos. O enredo possui as seguintes partes:
Introdução/situação inicial: o narrador costuma apresentar os fatos iniciais, as personagens e, eventualmente, o tempo e o espaço. A introdução de um texto narrativo é muito importante, porque deve despertar a atenção do leitor e situá-lo diante da história que vai ler.
Ações:Conjunto dos acontecimentos que constituem a história.
Complicação/conflito: é a parte do enredo em que é desenvolvido o problema ou conflito6.
Clímax: é o momento culminante da história, o momento de maior tensão, aquele em que o conflito atinge o seu ponto máximo. O clímax na narrativa deve despertar a curiosidade e a atenção do leitor.
Desfecho/situação final: é a solução do conflito, a parte final: boa, má, surpreendente, trágica, cômica ou feliz.
AMBIENTE/ESPAÇO: é o cenário por onde circulam as personagens e onde se desenrola o enredo. TEMPO: O narrador pode se posicionar de diferentes maneiras em relação ao tempo dos acontecimentos - pode narrar os fatos no tempo em que eles estão acontecendo; pode narrar um fato perfeitamente concluído; pode entremear presente e passado. Há também, o tempo psicológico, que reflete angústias e ansiedades de personagens e que não mantém nenhuma relação com o tempo propriamente dito, cuja passagem é alheia à nossa vontade. Disponível em: <http://www.educacao.te.pt/jovem/index.jsp?p=117&idArtigo=5317>. Acesso em 18/10/2012
6 Na Memória Literária nem sempre haverá o conflito, ou, às vezes, ocorrerão vários pequenos conflitos
num mesmo texto-enunciado.
Agora, é a sua vez!
Analise a Memória Literária que acabamos de ler observando as
características do texto de domínio narrativo:
a) Quem é o narrador dessa Memória literária?
b) Quem são os personagens principais? E os secundários?
c) Qual é o principal fato narrado?
d) Qual é o espaço(s) onde acontecem os fatos?
e) Identifique três conflitos no texto e escreva-os.
f) Quais são as ações realizadas na tentativa de solução desses conflitos
apontados por você?
g) Qual é o desfecho da história?
3) Uma das características importantes dos textos de domínio narrativo é a
descrição. Leia o trecho abaixo que explica a respeito desse aspecto:
Descrição na narração
Descrever é fornecer informações detalhadas sobre determinado ser, objeto, lugar ou mesmo um sentimento. Com a descrição é possível que o leitor crie uma imagem mental do que está sendo descrito. O essencial, em uma descrição, não é somente enumerar características, mas sim, a escolha que se faz de uma ou de outra palavra para conseguir determinados efeitos de sentido. Os elementos mais importantes no processo de caracterização são os adjetivos e locuções adjetivas. É interessante pensar que a narração faz progredir uma história, enquanto a descrição interrompe as ações, detendo-se em um lugar, em um personagem ou em um objeto. 7 Disponível em:< http://www.graudez.com.br/redacao/ch04.html>. Acesso em 23/10/2012
Agora, escolha alguns lápis coloridos, volte ao texto e pinte as descrições
que encontrar para:
a) Terra:
b) Engraxadeiras:
c) Enxurrada:
7 Texto com adaptações feitas pelo autor da Produção Didático-Pedagógica.
d) Valetão:
e) Brincadeiras:
f) Rua 7 de setembro:
g) A cidade de Toledo:
4) Quais os efeitos de sentido que essas descrições trazem para o
entendimento do texto?
5) Copie do texto dois trechos de descrição que fizeram com que você
construísse uma imagem mental de um lugar ou de um fato narrado .
6) Como vimos, os textos do domínio narrativo, ou seja, textos que
predominam a narração, são adornados pela descrição. A descrição é uma
ferramenta literária a qual é capaz de criar uma foto ―imaginária‖ daquilo que
está sendo apresentado na narrativa.
Agora, faça você, uma descrição. Imagine o ―valetão que engolia meninos‖,
ainda com mais detalhes e descreva-o como se você estivesse lá, no lugar do
protagonista.
7) Além de ser do domínio narrativo, com algumas passagens descritivas, o
texto do gênero Memória Literária estudado nesta etapa apresenta uma outra
característica: o uso do discurso indireto. Vamos relembrar as diferenças entre
discurso direto e discurso indireto:
Discurso direto: o narrador apresenta a própria personagem falando diretamente, permitindo ao autor mostrar o que aconteceu e aproximando o personagem do leitor. Discurso indireto: o narrador interfere na fala da personagem. Ele conta aos leitores o que a personagem disse, mas conta em 3ª pessoa. As palavras da personagem não são reproduzidas, mas traduzidas na linguagem do narrador. 8 Disponível em: <http://www.brasilescola.com/redacao/tipos-discurso-narrativa.htm>. Acesso em: 18/10/2012
a) Essa Memória Literária, como já posto, apresenta discurso indireto.
Comprove, transcrevendo duas passagens do texto:
b) Então, se não é para mostrar o uso do discurso direto, qual a função dos
travessões usados no texto?
8 Texto com adaptações feitas pelo autor da Produção Didático-Pedagógica.
Marcas Linguístico-Enunciativas 1) Para falarmos do narrador das Memórias Literárias, é preciso relembrar o
que é e quais são as pessoas verbais.
Pessoa verbal é a pessoa a qual o verbo se refere. Observe: 1ª pessoa do singular = eu 2ª pessoa do singular = tu/você 3ª pessoa do singular = ele
1ª pessoa do plural = nós 2ª pessoa do plural = vós/vocês 3ª pessoa do plural = eles
a) O narrador da Memória Literária que acabamos de ler participa ou não da
história? Como chamamos esse tipo de narrador? Em que pessoa verbal
se apresenta? Justifique com três palavras do texto.
b) Há diferença, para o sentido do texto, escrever a narrativa em 1ª ou em 3ª
pessoa? Qual?
c) O trecho abaixo está em 1ª pessoa. Transcreva-o para a 3ª pessoa e
explique se houve mudança, quanto ao efeito de sentido, no uso de 1ª ou
3ª pessoa.
―...Cheiro de terra molhada – esse era o sinal. E, ainda hoje, sinto esse
cheiro entrando em meu cérebro e mexendo com o meu coração.‖
2) É possível identificar o tempo em que os fatos aconteceram na narrativa?
Há expressões ou palavras que marcam o momento exato em que as
ações ocorreram?
Professor, mais uma vez é necessário verificar se os alunos
dominam ou não esse conteúdo. Agora é o momento de revê-lo e
avaliar a apropriação dos educandos.
3) Volte ao texto e observe quantos tempos verbais foram usados e responda:
a) Você percebeu o uso do pretérito? Perfeito ou imperfeito9? E do presente?
E o futuro, você conseguiu perceber?
b) Agora você vai colorir o texto. Pinte:
de azul claro as partes que estão no pretérito perfeito;
de azul escuro as que estão no pretérito imperfeito;
de verde claro as que estão no presente;
de amarelo onde aparece o futuro.
c) Observe suas anotações feitas no exercício anterior e identifique qual
tempo verbal é predominante e em quais partes do texto esse tempo verbal
mais aparece. Que sentido esse uso traz ao texto?
9Pretérito imperfeito: Indica ação habitual no tempo passado, fato cotidiano que se repete muitas
vezes: eu trabalhava. Pretérito perfeito :Indica uma ação pontual, completamente terminada. Exprime um processo acabado, localizado no passado: eu trabalhei.
Professor, chamar a atenção ao fato de que, além dos
verbos, há outras marcas do passado e que estas são importantes
na construção de sentidos no texto de Memórias Literárias.
Identificá-las no texto estudado.
Verificar, ainda, o conhecimento dos alunos a respeito dos
tempos verbais. Providenciar material de consulta e outras
atividades que julgar importante para que eles possam pesquisar e
rever o conteúdo. Será necessária a mediação docente para
garantir a apropriação desse conteúdo pelo aluno, para que,
posteriormente, possa empregá-lo na produção de sentido dos
textos, sejam eles lidos ou produzidos.
4) Nos trechos retirados do texto que acabamos de ler, o narrador conta
fatos da vida. Identifique o tempo verbal utilizado e o efeito de sentido
construído com seu uso:
a) ―Naquele tempo bastava sentir o cheiro de terra molhada para que nós, os
meninos engraxates, escondêssemos nossas engraxadeiras‖
b) ―Atualmente, as brincadeiras, comparadas com as de meu tempo, são
muito diferentes.‖
c) ― Hoje, os heróis são Superman, Batman, Homem-Aranha. Antes tínhamos
heróis indígenas.‖
d) ―Quando era menino trabalhava muito.‖
e) ―E enquanto eu viver as lembranças nunca vão terminar...‖
f) ― O menino Pajé vai acordar!‖
g) ― Guardo-as dentro do peito...‖
h) ―... como boas lembranças da rua onde vivi ...‖
5) Como vimos nos exercícios anteriores, há comparações do tempo antigo
com o atual. As comparações também são marcadas pelos tempos verbais.
Copie do texto um trecho que faça comparação do tempo antigo com o
atual e destaque os verbos usados, a fim de observar o efeito de sentido
construído:
11° Momento: Tempo previsto: 3 aulas
Atividade de leitura Texto 3: Os Automóveis invadem a cidade
Iremos analisar mais uma Memória Literária. Esse texto faz parte do livro
de Zélia Gattai. Já lemos anteriormente algumas de suas histórias e já
conhecemos um pouco sobre a vida da autora. Nesse livro ela conta várias
É importante mostrar aos alunos as diferenças entre o pretérito
perfeito e o pretérito imperfeito e o efeito de sentido de ambos no texto.
Colocar trechos do texto no quadro e mostrar as diferenças e efeitos de
sentido do uso de um e de outro tempo verbal.
histórias de sua infância, da época que os colonizadores italianos vieram a São
Paulo.
Atividade oral Contexto de produção/ Conteúdo temático 1. Vocês observaram que em seu texto, Zélia Gattai faz muitas comparações
entre o tempo antigo e os dias de hoje. O que ela compara?
2. Em que momento histórico este texto foi escrito?
3. Qual é o assunto abordado no texto?
4. Qual o objetivo desse texto?
5. Para que leitor foi escrito?
6. Em que suporte?
7. O que autora fala a respeito do tempo das pessoas para fazerem suas
atividades diárias? Qual a diferença em relação aos dias de hoje?
Os automóveis invadem a cidade – Zélia Gattai. Anarquistas,
graças a Deus. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 1986.
Disponível em: <http://contosdocongonhas.blogspot.com.br/2010/05/os-
automoveis-invadem-cidade-zelia.html>. Acesso em 02/10/2012
Professor, se for necessário, relembrar a biografia da autora,
preparar alguns slides e retomar o assunto com o uso da TV pendrive.
Conversar com os alunos a respeito da autora do livro de Memória
Literárias Anarquistas Graças, a Deus. Uma sugestão de biografia está
disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/zelia-gattai.jhtm>. Acesso
em: 12/10/2012
Professor, fazer questionamentos orais nesse momento da
atividade e mostrar o suporte (livro) onde o texto foi publicado. O
interessante é que os alunos possam ter o livro em mãos.
Atividade escrita
Construção composicional:
1. O texto que acabamos de ler é escrito em prosa, isto é, em parágrafos. É
uma narrativa curta que traz uma experiência vivida pela autora em seus
tempos de criança. Identifique os elementos e a organização do enredo, que
formam um texto de domínio narrativo, presentes na Memória Literária que
acabamos de ler:
Modelo de ficha a ser utilizada para a análise das Memórias Literárias Organização e elementos da narrativa
Narrador Personagem Tempo Espaço Fato
ENREDO:
Situação-inicial:
Ações:
Conflito:
Clímax:
Desfecho:
2. Zélia Gattai descreve a cidade e explica como ela era em seus tempos de
criança. Volte ao texto, encontre as descrições que são feitas dos automóveis e
dos motoristas. Faça uma comparação com os dias atuais:
Automóveis e motoristas de antigamente Automóveis e motoristas de hoje
3. Encontre no texto outras descrições que marcam o tempo antigo. Explique
as mudanças ocorridas com o passar dos anos.
4. Que classe gramatical é mais usada nessas descrições? Que efeito de
sentido as descrições trazem ao texto?
5. O texto é apresentado em discurso direto ou indireto? Qual o efeito de
sentido provocado por esta escolha?
6. Qual a função dos travessões usados nesse texto? Poderiam ser
substituídos por outro sinal de pontuação, sem mudar a função? Qual?
Marcas Linguístico-Enunciativas
1. Observe agora o uso de substantivos próprios no texto. Grife-os e explique a
importância de seu uso para a compreensão da narrativa.
2. Leia os trechos abaixo e grife os marcadores temporais:
a) “Naqueles tempos, a vida em São Paulo era tranquila.‖
b) ―Os valores daqueles idos, comparados aos de hoje, no entanto, eram
outros...‖
Agora, explique a função dos marcadores temporais destacados em cada um
dos trechos:
a)
b)
3. Volte ao texto e observe o uso de palavras negativas. Pinte-as e explique o
efeito de sentido que elas causam ao texto:
4- Identifique outras palavras e expressões que marcam o passado e explique
a importância de seu uso para o texto.
Professor, nesse momento, é importante rever os sinais de
pontuação e os efeitos de sentido provocado por seu uso. Procurar dar
ênfase aos sinais utilizados em cada texto analisado.
12º Momento
Tempo previsto: 1 aula
Atividade de leitura Texto 4 – DA SIMPLICIDADE AO ENCANTO
DA SIMPLICIDADE AO ENCANTO
Há muitas lembranças de meu tempo de criança que guardo no meu peito até hoje e levarei comigo a vida toda, mas nenhuma me emociona tanto quanto a minha boneca de pano. Morei toda minha infância no condomínio Castelo Branco, em Cambé, Paraná, e é de lá que vem grande parte da minha lembrança, inclusive a da boneca. Lembro como se fosse ontem. Eu, sentada na cadeira de balanço da vovó indo pra lá e pra cá vendo a mamãe arrumar a mesa para o almoço de domingo com a família toda. Aí pronto! Era só escutar a campainha que começava o ―auê‖, a família toda chegava para o almoço, era o tio Nelson, o tio Wilson, a tia Toninha, fora os primos, que se eu escrevesse faria uma lista gigante, e isso sem contar a vovó, o vovô, a mamãe e o papai que moravam na casa. Durante o almoço a vovó saiu de fininho da mesa, eu, sem entender, fui atrás e dei de cara com ela no corredor para ir pro quarto, foi quando ela estendeu a mão e deu-me a linda boneca de pano. Aí não dava para conter a emoção: foi abraço daqui e beijo dali e muita, mas muita felicidade. Aquela boneca era tão linda! Tinha uma calcinha branca de bolinhas azuis e um vestidinho todo vermelho com botõezinhos, o cabelo era todo trançadinho. Aquele foi o melhor presente da minha vida. Voltamos à mesa e eu, agora, sem largar a boneca. Depois do almoço a família toda ia dar um passeio no campo, levávamos um lençol e ficávamos lá até o sol se esconder. Os dias permaneceram sempre a mesma coisa, papai ia trabalhar e ficava o vovô, a vovó, eu e a mamãe em casa, eu ia pra escola e a vovó sempre fazia um maravilhoso lanche de geleia com margarina pra eu levar para a escola. Quando eu voltada lá estava a vovó em sua velha cadeirinha de balanço, reclamando porque não conseguia escutar a novela com o barulho dos guardinhas cortando a grama lá embaixo! A rotina mudava quando chovia! Ah...era uma alegria e tanto, descia eu e meus amigos do condomínio correndo por aquelas escadarias para chegar logo na chuva, perto da quadra formavam gigantescas poças d'água, íamos todos lá brincar de bolinha de terra com a lama que descia no meio fio junto da água , era uma diversão sem fim! Essas são algumas das lembranças que nunca serão apagadas de minha
vida! E a boneca ? Até hoje tenho-a guardada e quando abraço-a sinto aquele cheirinho de família reunida... e isso me acalma, me traz uma tranquilidade e uma alegria sem fim. Talvez seja a sensação de ter vivido momentos que nunca irão acabar, pelo menos em meus pensamentos. CRISTIANE YARA CAROLINA CREPALDI SELERGE - 7MA Escola Estadual Valdir Umberto de Azevedo- semifinalista da olimpíada de Língua Portuguesa de 2010.
Atividade em grupo
Síntese das características das Memórias Literárias
Em grupo, vocês irão fazer um levantamento das características dos
textos do gênero Memória Literária. Vocês deverão ler o texto 4, compará-lo
com o texto 3 e com o texto 2, e constatar o que há de comum entre eles.
Façam uma lista com o que descobrirem e coloquem-na, individualmente, em
seu portfólio.
13º Momento:
Tempo previsto: 1 aula
Realizando a entrevista
Hoje receberemos uma pessoa muito importante para começarmos a
coletar nossos relatos de experiências. Vocês poderão questionar a pessoa a
respeito de como eram as coisas no seu tempo de infância. Vamos nos
organizar. É preciso que um seja o redator anotando tudo o que descobrirmos.
Posteriormente, iremos usar os dados para escrevermos um texto de Memória
Literária.
Professor, organizar a turma para que todos possam participar da
entrevista. Fiquem atentos a questões como:
Eventos marcantes: geada, enchentes, festas...
Modos de viver do passado: namoro, escola, brincadeiras,
comida...
Lugares que frequentava: quermesse, igreja, bailes, praças...
Lugares de trabalho: fábrica, fazenda, venda, máquina de arroz,
mercearia, engenho, alambique...
Agora que já estudamos os textos de Memória Literária chegou a hora
de vocês produzirem seus textos. Para isso, precisamos recuperar o passado
de duas formas. Vocês terão duas tarefas:
1ª Tarefa - Entrevistar um idoso, de preferência avós ou bisavós. Peçam
a eles a permissão para escrever sua história. Para realizarem a entrevista,
iremos elaborar um roteiro.10
2ª Tarefa – Trazer um objeto antigo para elaborarmos uma exposição.
Esse objeto pode ser pedido ao entrevistado, caso ele não tenha, procure com
outras pessoas de sua convivência. Lembre-se de perguntar se o objeto tem
alguma história.
14º Momento
Tempo previsto: 1 aula
Exposição de objetos antigos
10
Sugestão de roteiro de entrevista: Nome/Cidade (como era)/Local (rua, bairro, sítio...como era)/Fato inesquecível/Época que aconteceu o fato/Costumes familiares daquela época/ Relação com a escola/ Namoro (como era)/Trabalho/profissão(como era)/Transporte (como era)/Relação com os dias de hoje/Você tem algum objeto antigo?/ Pode emprestá-lo para realizarmos uma exposição na escola?
Professor, elaborar com os alunos um roteiro que possa
direcionar a entrevista.
Orientá-los que é fundamental criar um clima de respeito e
conquistar sua confiança, pois o entrevistado deve se sentir à vontade
para contar suas lembranças.
Orientá-los, também, que o roteiro é apenas um apoio para a
entrevista e que poderão fazer outras perguntas para conseguir
detalhes importantes da história.
Será preciso registrar os relatos da forma como foram ouvidos,
escrevendo dados pessoais da pessoa, como o nome, lugar onde
nasceu, quanto tempo mora no bairro, lugares onde já morou...
Vamos ver que objetos que trouxeram e vamos organizar a exposição
dos mesmos.
E as entrevistas, como foram? Vamos socializar essa experiência?
15º Momento Tempo previsto: 1 aula
IV – CATARSE
Atividade de revisão e de apropriação dos conteúdos
Texto 5: Emília: a tia Milha.
Emília: a tia Milha
Sabe aquela Emília, a do Monteiro Lobato? Minha tia Emília era como
ela, assim, toda cheia de cores, apesar de seus cabelos brancos como a neve.
Isso está parecendo um conto de fadas? É que minha tia era uma fada, ou
melhor, uma fada madrinha, daquela que adivinha os desejos,sabe?
Nunca vi minha tia triste e olha que as mulheres daquele tempo, 1960,
por aí, eram muito tristes, carrancudas, pelo menos as que eu conhecia. Minha
tia não. Ela era só sorrisos, ou melhor, gargalhadas. Se bem me lembro ela
gargalhava tanto que chegava a se ―sacolejar‖ inteira e o mais incrível é que
Professor, ao recolher os objetos trazidos pelos alunos, é
importante identificar a quem pertence e a época de uso. Peça ajuda ao
professor de história da turma para contextualizar a época dos objetos
trazidos. Monte uma exposição na biblioteca da escola para que os
demais alunos tenham acesso.
Professor, deixar que falem a respeito das entrevistas e dos
sentimentos que tiveram e perceberam nos entrevistados durante as
mesmas.
aquela alegria contagiava a todos. Se os problemas existiam (e hoje sei que
existiam) ela deixava-os bem longe de nós.
Morávamos em um sítio, no Km 9, na Estrada da Prata em Cambé e é
de lá que guardo as minhas mais antigas recordações. Mulher do meu tio
João, aquele que se sentava nos calcanhares para nos contar seus causos11,
a Milha, como a chamávamos atraía a molecada dos sítios da redondeza.
Acho que esses dois eram bem moderninhos para aquela época tão regrada e
sem diálogo com os adultos.
Era lá, sentados na tampa do poço que a fadinha Milha colocava a sua
poção mágica para funcionar: uma bacia gigante de bolachas quentinhas. Isso
mesmo. Todos os domingos nos reuníamos para jogar bola em um campinho
que tinha atrás da casa dos meus tios. Bola de meia lançada, pés descalços e
o jogo começava exatamente ao mesmo tempo que o feitio das bolachas.
Acho que era ela o juiz e que marcava o tempo da partida, pois era só
sentirmos o cheiro delicioso das bolachas saídas do forno que o jogo acabava
no mesmo instante. Não importava muito o resultado, se 0 a 0 ou 0 a 3 ou 1
a 1. O importante mesmo era ir correndo para o ranchinho do forno a lenha
para saborear as cheirosas bolachinhas. E olhe só, nós podíamos comer a
vontade! Ela e meu tio ainda nos serviam água de moringa fresquinha e ali
ficávamos horas a fio, aquela molecada junto daqueles dois adultos tão
diferentes de nossos pais...
Hoje, eu sei que aquela fadinha encanta o céu. É bem possível que
possamos encontrá-la no fim do arco-íris com sua bacia de bolachas ou com
uma outra simples alegria qualquer.
Mônica Tomeleri, texto elaborado a partir das memórias de seu pai Hélio
Tomeleri.
Agora, vamos juntos elencar as características do gênero Memória
Literária:
11
A história do tio João Peres foi relatada pelo entrevistado, Hélio Tomeleri. O entrevistado disse que o seu João era um senhor enorme que se sentava em seus próprios calcanhares e lá ficava durante horas, pitando seu cigarro de palhas e contando seus causos. A garotada dos sítios da redondeza ia lá para ouvir suas aventuras, jogar futebol de meia e saborear as bolachinhas quentinhas feitas pela Emília, sua esposa.
Professor, elencar, com a participação dos alunos, todas
as regularidades do gênero Memória Literária. A síntese do
gênero deve ser colocada no portfólio.
Características do Gênero Memória Literária:
- relembra fatos do passado; - narrativa curta, escrita em prosa; - uso de discurso indireto; - apresenta os elementos e momentos da narração; -expressões em 1ª pessoa usadas pelo narrador; - verbos que remetem ao passado (pretérito perfeito e imperfeito); - palavras que remetem ao passado (palavras antigas/que não se usam mais/que foram substituídas por outras); - expressões que ajudam a localizar o leitor na época narrada; - descrição de lugares e pessoas que traga à lembrança sensações, impressões e informações captadas pelos sentidos: cheiros, sabores, cores, texturas, sons. - comparação do tempo antigo com o atual; - pontuação auxiliando no sentido do texto: indicar ênfase, surpresa, espanto; - uso de linguagem formal.
16º Momento
Tempo previsto: 2 aulas
Produção escrita – texto coletivo
A etapa seguinte representa uma nova postura mental, a
elaboração teórica da síntese, a construção da nova totalidade
concreta. Aqui serão realizadas as atividades de produção escrita
de textos de Memórias Literárias e as suas refacções. É preciso
deixar claro para o aluno que, por trás de um bom texto, há um
longo processo de trabalho. O primeiro passo é, ao iniciar uma
atividade escrita, esclarecer aos alunos a situação de produção:
quem escreve, com que intenção, em que local, qual o papel social,
para quem ler, e assim, definir o gênero mais adequado para a
escrita do texto, neste caso, a Memória Literária.
Vamos agora escrever juntos um texto de memória a partir dos relatos
da nossa primeira entrevistada aqui na escola. Este texto irá fazer a abertura
do livro de memórias que será produzido pela turma.
17º Momento Tempo previsto: 1 aula
Retomada da produção inicial
Vocês se lembram daquele primeiro texto que produzimos a respeito
de um dos fatos marcantes da vida de vocês? É hora de retomarmos o texto e
fazer alterações para adequá-lo ao gênero Memória Literária.
Essa primeira produção é feita coletivamente e o objetivo é que juntos,
professor e alunos, empreguem os conhecimentos adquiridos na etapa da
instrumentalização. O professor, como mediador, irá questionando,
sugerindo, interferindo durante a produção. Ao final, ler, juntamente com
os alunos e proceder com a reestruturação, coletivamente.
A segunda atividade é a retomada da primeira produção escrita
feita no início do Plano de Trabalho Docente. Cada aluno,
individualmente, irá ler o primeiro texto que fez com o objetivo, agora, de
aproximá-lo ao gênero Memória Literária. É importante que o aluno
saiba que o leitor deste texto é o professor e que se ele quiser que seu
texto circule socialmente, poderá lê-lo para a turma, colocá-lo no mural
da escola ou da sala ou, ainda, guardá-lo para fazer parte do livro que
iremos confeccionar.
18º Momento: Tempo previsto: 2 aulas
Produção individual
Finalmente, vocês estão prontos para produzir um texto de Memória
Literária. Essa é a nossa produção final. Lembram-se da entrevista que vocês
fizeram com as pessoas idosas? É hora de retomá-la e a partir dela escrever o
texto de Memória Literária. Pegue seu portfólio, organize suas ideias e mãos à
obra!
Fiquem atentos às características do gênero! Bom trabalho!
Seu texto está pronto? Muito bem! É hora de ler e revisar o que
escreveu. Para isso, use o roteiro de autoavaliação. Depois, peça a um colega
que leia e dê sugestões, assim como você fará com o texto dele. Nesse
momento, faça em seu texto todas as alterações que quiser. Depois você
entregará e eu farei outra correção.
19º Momento Tempo previsto: 1 aula
Refacção dos textos
Agora você receberá seu texto com as anotações do professor12 e fará
a reescrita. Sempre que tiver dúvidas é só perguntar!
12
É comum, na escola onde ocorrerá a implementação, o uso de um código de correção de textos elaborado pelos professores da escola.
A terceira e última proposta de produção deverá partir dos relatos
das pessoas mais velhas entrevistadas pelos alunos. Agora, o aluno,
individualmente, deverá produzir seu texto de Memória Literária utilizando
as estruturas formais estudadas. Este texto irá compor o livro da turma.
Assim que o aluno terminar sua produção, deverá fazer sua autoavaliação
e trocar o texto com um colega para que este leia e dê sugestões. Então,
é o momento de fazer as alterações necessárias.
20º Momento Tempo previsto: 2 aulas
Lançamento do livro
Textos prontos e digitados. Livro produzido. Chegou o grande dia!
Hoje será o lançamento do nosso livro com a presença da comunidade!
Contamos com a presença especial dos avós dos alunos da turma.
É necessário que o aluno entenda que a refacção é para que
o seu texto fique compreensível e atinja o objetivo: se enquadre no
gênero Memória Literária, emocione o leitor, reviva o passado,
preserve a memória de uma pessoa da comunidade. A intervenção
do professor, nessa etapa, é fundamental. Se o aluno precisar de
dicionário, de gramática ou tiver dúvidas com relação à coesão,
coerência, acentuação, uso de adjuntos adverbiais, pontuação,
concordância verbal, nominal, etc., o professor deverá intervir e
auxiliá-lo.
Todas essas etapas realizadas na catarse constituem a
internalização dos conteúdos veiculados, a síntese mental do aluno.
Em termos de avaliação, o professor deverá considerar o progresso
e/ou dificuldades individual do educando, por isso, o registro é
importante. Com o método dialético (prática-teoria-prática) é
imprescindível avaliar como o aluno estava na prática social inicial
e como se encontra ao final da catarse, após leitura, estudo e
sistematização do gênero.
Prática social final: intenções
21º Momento
V - PRÁTICA SOCIAL FINAL: INTENÇÕES E AÇÕES
Chegamos ao final dessa Unidade Didática. E, agora, há algo que
possamos fazer juntos para concretizarmos o que aprendemos nesse período?
E individualmente, o que cada um de vocês pode mudar no seu dia a dia?
A catarse se efetiva com o lançamento do livro e a
apresentação do sarau para a comunidade, destacando a
participação especial dos avós dos alunos. Nesta etapa, os alunos
viverão suas produções ao se apresentarem como autores das
Memórias Literárias perpetuadas, ali, no livro. Além disso, o aluno
vivencia uma ação concreta, distinta daquela mostrada nos relatos
orais iniciais. Cada aluno poderá perceber a progressão ocorrida
com o Relato Oral de Experiência (gênero primário) para a Memória
Literária (Gênero secundário) e todas as mudanças e estudos
necessários para que essa assimilação acontecesse. Isso não quer
dizer que o Relato Oral deixou de existir, mas significa que ele
evoluiu para uma esfera de textos mais complexos e elaborados,
cheio de propriedades formais específicas e com características
relativamente estáveis.
Professor, é interessante deixar a exposição de objetos antigos
montada nesse dia para que a comunidade possa visitar.
Professor, ao final do trabalho, espera-se que os alunos
continuem buscando novas memórias, histórias, relatos de pessoas
da comunidade e valorizem as pessoas mais velhas e suas
vivências. Ao questionar os alunos, depois de tudo que
vivenciaram, poderão surgir algumas ideias, sendo importante que
o professor incentive novas atitudes. Por exemplo, se um aluno
sugerir visitar um asilo, seria oportuno facilitar essa ação e orientá-
la, levando jogos para distrair os vovôs e maquiagem, esmalte e
secadores de cabelo, para as vovós. Durante a visita, os alunos
poderiam ir conversando com os idosos e conhecendo suas
histórias.
Espera-se, também, que os educandos, ao se depararem
com textos do gênero Memória Literária possam distingui-los de
outros gêneros semelhantes: o relato histórico, o diário e a
biografia, por exemplo, podendo, dessa forma, apresentar
progresso na compreensão de enunciados concretos. Além do
mais, é esperado que os alunos tenham progredido na aquisição
da linguagem, o que irá refletir nas demais disciplinas do currículo
e, consequentemente, no resultado das avaliações em geral. Ao
conhecer as especificidades de gêneros primários e secundários,
espera-se que os alunos façam uso da linguagem formal e informal
adequadas a cada contexto.
REFERÊNCIAS
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