Sistema de Acolhimento
Aprendizados e Oportunidades
Cristina Peixoto
Presidente/CEO
Região Metropolitana de Detroit
Sistema de Acolhimento
Aprendizados e Oportunidades
Agenda Introdução
Sistema de Acolhimento
Estudo sobre Experiências Adversas na Infância (ACES) – vídeo
Circunstâncias Associadas a Necessidade de Serviços de Acolhimento
• 20 minutos (intervalo)
Entendendo Crianças Feridas - vídeo
Impacto de Trauma no Desenvolvimento Cerebral
• 10 minutos (intervalo)
Famílias Acolhedoras
Spaulding for Children
ONG fundada em 1968, com o objetivo de recrutar famílias interessadas em adotar
adolescentes com deficiências e necessidades especiais, Spaulding for Children
revolucionou o conceito de adoção nos Estados Unidos, através da afirmação de que não
existe criança/adolescente que não possa ser adotado.
Spaulding é referência nacional e internacional nas questões que envolvem serviços de
prevenção de maus tratos e negligência contra crianças, serviços de reintegração familiar,
recrutamento e capacitação de famílias acolhedoras e adotivas, e apoio a famílias pós-
adoção.
Valores e Crenças
• Família é um direito da criança e do adolescente. Família oferece um ambiente
natural para proteção, desenvolvimento e bem estar da criança/adolescente.
Reintegração familiar é prioridade;
• Famílias acolhedoras apresentam-se de formas variadas em relação a etnia, raça,
gênero, religião, estado civil, identidade/orientação sexual e composição.
Famílias acolhedoras precisam adquirir competências específicas e suporte;
• A continuidade dos vínculos familiares e afetivos proporciona o sentimento de
pertencimento familiar. O rompimento desses vínculos, ainda que temporário, pode
ser traumático.
Objetivos
• Familiarizar participantes com as características de crianças e adolescentes que estão no
sistema de acolhimento;
• Aprofundar a compreensão do impacto de experiências traumáticas no desenvolvimento
cerebral;
• Aprofundar a compreensão do comportamento de sobrevivência exibido por
crianças/adolescentes traumatizados;
• Identificar características típicas de famílias acolhedoras bem sucedidas;
• Introduzir conceitos de recrutamento, treinamento, monitoramento e suporte de famílias
acolhedoras.
Competências
• Compreensão do sistema de acolhimento dentro do contexto norteamericano e elementos
que se aplicam ao contexto brasileiro;
• Compreensão do impacto de experiências traumáticas no comportamento, relacionamento e
na aprendizagem acadêmica e social;
• Conhecimento básico sobre o impacto de eventos traumáticos no desenvolvimento cerebral;
• Compreensão sobre comportamentos típicos de crianças e adolescentes resultantes de
experiências traumáticas;
• Compreensão da importância de manter continuidade dos vínculos afetivos de crianças e
adolescentes em acolhimento.
Responsabilidades do Sistema de
Acolhimento
Implementar políticas públicas que promovam segurança, proteção, cuidados e
bem estar para a criança;
Estabelecer padrões para serviços, sistemas de monitoramento e avaliação de
resultados;
Estabelecer modelos de intervenção baseados em evidências;
Prover serviços individualizados de preservação da família e/ou reintegração
familiar;
Monitorar e responder a barreiras sistêmicas que impedem implementação de
serviços preventivos e de reintegração familiar.
Experiências adversas que trazem
crianças e adolescentes à atenção das
autoridades tutelares
• Maus tratos físicos, abuso/exploração sexual, abandono e negligência;
• Morte dos pais ou adultos responsáveis pela criança ou adolescente;
• Presença de violência doméstica, adição a drogas, doença mental, prisão;
• Necessidades especiais da criança/adolescente que estressam os pais
excessivamente.
Estudo sobre Experiências Adversas na Infância
(Adverse Childhood Experience Study – ACES)
Estudo que estabeleceu correlação entre experiências adversas na infância e
registros de saúde e qualidade de vida posteriores, na vida adulta.
O índice de ACE foi correlacionado com a quantidade de cuidados médicos que
essa pessoa iria necessitar na vida adulta.
ACES (Vídeo)
Resposta do Organismo
a Situações de Estresse
Tipos de estresse
• a) Positivo – moderado e breve, normalmente parte do dia a dia – aprender a lidar
com estresse é fundamental para o desenvolvimento saudável
(exemplo: novo trabalho).
• b) Tolerável – experiências que têm o potencial de alterar o cérebro de maneira
negativa, mas são pouco frequentes e permitem que o cérebro se
recupere (exemplo: morte de uma pessoa querida).
• c) Tóxico – ativação do sistema de reposta a estresse frequente e prolongado
(exemplo: maus tratos crônicos).
Associação entre índice ACE
e aumento de riscos de saúde
• Cortisol elevado, típico em crianças no Serviço de Acolhimento, que pode danificar processos
cognitivos, comprometer o sistema imunológico, aumentar reações inflamatórias e aumentar
o risco de desordens afetivas
• Asma
• Doenças mentais
• Depressão
• Alcoolismo
• Doenças cardíacas
• Diabetes
• Doenças autoimunes
• Redução da qualidade de vida e longevidade
Entendendo Crianças Feridas
Desenvolvimento Cerebral
• Neurônios – células nervosas
• Sinapses – conexões entre neurônios
• Caminhos neurológicos – conexões formadas com várias partes
do cérebro que governam tudo que
fazemos.
Desenvolvimento Cerebral
• Ao nascer, as sinapses e caminhos neurológicos existentes são
basicamente relacionadas com funções corporais que controlam
batimentos cardíacos, respiração, sono e alimentação;
• O córtex cerebral de uma criança saudável de 12 meses a 18 meses cria
uma média de 2 milhões de sinapses por segundo;
• Aos 3 anos de idade, o cérebro de uma criança atinge quase que 90% do
cérebro de um adulto. O crescimento de regiões do cérebro depende da
estimulação recebida, o que estimula atividade cerebral na região. Essa
estimulação cria a fundação para a aprendizagem.
Impacto de Trauma no
Desenvolvimento Cerebral
Regiões do Cérebro e Funções
Pensamento abstrato
Pensamento concreto
Afiliação
Vinculação
Comportamento sexual
Reatividade emocional
Regulação motora
Excitação
Apetite/saciedade
Sono
Pressão sanguínea
Batimento cardíaco
Temperatura do corpo
Efeitos dos Maus Tratos
e da Negligência
• Persistência do estado de medo – a criança perde a capacidade de
diferenciar situações de perigo e segurança;
• Hiperalerta – o cérebro não é capaz de interpretar o meio ambiente e
responde e percebe tudo como ameaça;
• Redução no funcionamento executivo – memória, controle do impulso,
flexibilidade cognitiva;
• Atraso no desenvolvimento;
• Resposta fraca a consequências e ‘feedback’ positivos;
• Interações sociais complicadas.
Trauma
• O trauma afeta como a criança sente, se comporta e pensa. O trauma afeta como a criança se sente a respeito
de si mesma, a respeito dos adultos e a respeito das comunidades.
• O trauma psicológico é um tipo de dano emocional que ocorre como resultado de um algum acontecimento.
Pressupõe uma experiência de dor e sofrimento emocional ou físico. Como experiência dolorosa que é, o trauma
acarreta uma exacerbação do medo, o que pode conduzir ao estresse, envolvendo mudanças físicas no cérebro e
afetando o comportamento e o pensamento da pessoa, que fará de tudo para evitar reviver o evento que a
traumatizou. Igualmente, pode acarretar depressão, comportamentos obsessivos compulsivos e outras fobias ou
transtornos, como o de pânico.
• O trauma pode ser causado por vários tipos de eventos, mas há alguns aspectos em comum. Geralmente
envolve o sentimento de completo desamparo diante de uma ameaça real ou subjetiva à própria vida, ou à vida
de pessoas amadas, ou à integridade do corpo. Um trauma pode, frequentemente, violar as ideias do indivíduo a
respeito do mundo, colocando o indivíduo num estado de extrema confusão e insegurança. O trauma também
pode acontecer em decorrência da traição de alguma pessoa ou instituição de maneira imprevista, ou ainda,
alguma desilusão ou privação sofrida em algum(ns) momento(s) da vida, que possa(m) ter ocasionado
transtornos no indivíduo. (Wikipedia)
Comportamentos Típicos
de Sobrevivência
• Impulsividade
• Linguagem ofensiva
• Enurese e encoprese
• Birra e desafio à autoridade
• Fuga
• Necessidade de controlar
• Comportamento autodestrutivo
• Mentira e furtos
• Uso de drogas ou álcool
• Agressividade ou passividade
• Ira e depressão
• Ansiedade de separação
• Comportamento sedutor ou sexualizado
• Acumulação
• Dificuldade de dormir
• Não envolvimento em relacionamentos afetivos
• Hiperatividade/vigilância
• Dificuldade acadêmica
• Agarramento excessivo
Famílias Acolhedoras Bem Sucedidas
• Criam um ambiente familiar estruturado que maximiza a sensação de segurança e aceitação da criança ou adolescente
com história de trauma;
• Oferecem apoio incondicional à criança;
• Demonstram tolerância a uma variedade de comportamentos externalizados ou internalizados;
• Apresentam expectativas realísticas e flexíveis;
• Reconhecem suas limitações e forcas internas (autoconhecimento);
• Estão abertas a receber e buscar apoio de amigos, comunidades e serviços; estão interessadas em aprender;
• Toleram sentimentos ambivalentes (permitem-se sentir raiva, sabendo que não vão agir com raiva);
• Entendem que a criança tem laços legais e afetivos e, ainda assim, agem como se a criança pertencesse a elas;
• Têm capacidade de reconhecer a importância de preservar vínculos familiares e relacionamentos afetivos da criança;
• Não têm expectativa de que a criança vá retribuir afeição, agradecer acolhida, dizer ‘obrigada’. Não tomam ataques
como ofensas pessoais. Demonstram tolerância à rejeição;
• Usam senso de humor para lidar/manejar estresse ou situações desconfortáveis;
• Acreditam numa forca espiritual .
Recrutamento, Avaliação e Desenvolvimento
de Famílias Acolhedoras
• Análise contínua de dados demográficos referentes a características de crianças que estão entrando
no sistema de acolhimento (idade, sexo, raça, irmãos, zona postal, etc) e necessidades especiais;
• Campanhas de recrutamento, refletindo as características das crianças necessitando de acolhimento;
• Famílias recrutadas participam de orientação e têm 27 horas de treinamento;
• Cada família é avaliada para determinar motivação, estabilidade emocional, financeira, disponibilidade
de tempo, rede de suporte, experiência com criança, capacidade de atuar em equipe, empatia e
capacidade de advogar pela criança. A moradia é também inspecionada para determinar
conformidade com regulamentos.
• As famílias são avaliadas e licenciadas para acolhimento e para adoção. Quando a reintegração da
criança com a família não é possível, a família acolhedora tem prioridade na adoção da criança.
Apoio e Monitoramento
de Famílias Acolhedoras
• Financeiro – A familia acolhedora recebe uma diária que varia de criança para criança. O valor da diária é proporcional
aos cuidados especiais exigidos pela criança.
• Médico/Psicológico – Ao entrar no sistema de acolhimento, a criança qualifica para cobertura medica, dentaria,
oftalmológica, psicológica. O seguro médico também cobre o custo de receitas médicas e hospitalização.
• Suporte
A família é visitada pelo menos uma vez por mês pelo(a) educador(a) – os cuidados com a criança são documentados
(médico, dentista, escola, psiquiatra, etc); condições da casa e membros da família são documentadas.
Educador coordena todos os serviços de reintegração familiar necessários para a criança e os pais biológicos.
A equipe responsável pela licença da família acolhedora conduz visitas à casa a cada 3 (três) meses e, juntamente com
a família, identifica áreas em que a família possa estar tendo dificuldades e conectam a família com recursos que possam
aumentar sua efetividade;
As famílias participam de reuniões mensais com grupos de apoio e são oferecidos treinamentos;
São oferecidas atividades recreativas durante o verão (colônia de férias);
São oferecidos ingressos gratuitos para eventos esportivos e culturais.
Desafios e Oportunidades
Localização e engajamento de membros da família quando a remoção é iminente;
Envolvimento da família biológica no planejamento da intervenção;
Integração de dados entre sistemas;
Estabilização da força de trabalho;
Aumento do número de famílias acolhedoras através de campanhas educativas;
Capacitação de famílias acolhedoras para cuidarem de crianças com necessidades especiais;
Impacto da remoção na família e na criança.