1
PRÁTICAS DE NOMEAÇÃO E POPULAÇÃO ESCRAVA EM RIO GRANDE DE
SÃO PEDRO, SÉCULO XVIII 1
Rachel dos Santos Marques2
Cada vez mais os historiadores utilizam métodos diferentes para tentar se aproximar de um
entendimento de como as pessoas do passado viviam, pensavam e se relacionavam. Um dos modos
pelos quais isso pode ser feito é por meio dos estudos de onomástica, ou seja, o estudo dos nomes3
adotados para si, ou atribuídos aos demais, os possíveis significados dessas escolhas e o que elas
podem dizer sobre sociedades do passado. Dentro dessa perspectiva, o presente texto pretende
apresentar e discutir alguns dados relativos às práticas de nomeação de populações escravas do Rio
Grande de São Pedro (atual cidade de Rio Grande, RS) ao longo do século XVIII.
Em se tratando da população escrava, as dificuldades em tentar compreender suas
concepções de mundo e das estratégias são mais pronunciadas do que com relação à população livre
devido à pouca quantidade de documentos referentes a eles e à raríssima existência de escritos
provenientes diretamente dessa população. O estudo da escolha dos nomes se apresenta como uma
alternativa, ainda que com suas limitações, na busca dessa compreensão.
Marc Bloch já afirmava que o estudo da escolha de nomes poderia capturar correntes de
pensamento ou sentimento e Lucien Febvre convidava a fazer uma história de devoção e lealdade
por meio dos nomes. Os estudos de onomástica podem servir, também, para testar hipóteses
relativas à transmissão de comportamentos e sua variação através do tempo.4
A importância social do nome é salientada por Phillipe Basnard quando elenca duas
características do mesmo: se trata de um bem gratuito cujo consumo é obrigatório. No mesmo
1 Texto apresentado no 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Curitiba (UFPR), de 13 a 16 de maio de 2015.
Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/ 2 Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná. Doutoranda na mesma instituição.
[email protected] . 3 Fez-se a opção de utilizar o termo "nome" ao invés do usual "prenome" por se considerar que esse último termo sugere
a existência de uma continuidade, como um sobrenome, por exemplo, o que não é sempre o caso para o contexto
estudado, como se verá. Serão utilizados os termos “nome” ao se referir ao nome ou nomes próprios, sobrenome ao se
referir ao nome ou nomes de família. Com relação ao conjunto de nome e sobrenome, decidiu-se utilizar o termo “nome
completo”. O termo “prenome” não será utilizado, salvo em citações diretas de outros autores. 4 PÉROUAS, Louis, BARRIÈRE, Bernardette, BOUTIER, Jean, et alii. Léonard, Marie, Jean et les Autres: les
prénoms en Limousin depuis un millénaire. Paris: Éditions du Centre National de La Recherche Scientifique, 1984,
(p. 1-2); DUPÂQUIER, Jacques. Introduction. In: DUPÂQUIER, Jacques, BIDEAU, Alain & DUCREUX, Marie-
Elizabeth. Le Prénom, Mode et Histoire: entretiens de Malher 2 - 1980. Paris: Ecole des Hautes Étudesen Sciences
Sociales, 1984.
2
sentido, Jean Hebrard lembra que a atribuição de um nome é um processo complexo que, se por um
lado, designa um ser humano como radicalmente singular, de outro o classifica dentro das múltiplas
ordens sociais que vão organizar sua existência. Sérgio Nadalin e José Mercer também afirmam que
a escolha de um nome pode ser entendida como adesão a um grupo, quando ela recai no estoque
usual do mesmo, ou de afastamento do mesmo e busca de uma nova identidade social, quando
ignora o acervo tradicional.5
Isso se dá porque o nome é um elemento carregado de significados, e tem, assim, a
possibilidade de estabelecer uma associação entre uma pessoa a um grupo ou categoria
determinada, contribuindo para estabelecer a sua identidade social. Martha Hameister afirma a
possibilidade de que significados possam ser agregados a determinado nome de tal maneira que
transmitem a seu novo portador atributos construídos e repassados por meio dele. Segundo a autora,
em alguns casos, "as ações e a história de uma vida eram agregadas ao nome. O nome passa a
significar uma (ou mais de uma) existência. O nome, em si, passa a ter uma existência"6.
Como salienta Robert Rowland se a única função do nome fosse identificar (no sentido de
diferenciar) uma pessoa das demais, o provável seria as populações possuírem uma grande
variedade de nomes, a qual deveria ser suficiente para eliminar os riscos de confusão entre pessoas.7
Sendo assim, a atribuição de um nome não é totalmente livre – embora seja em si uma
escolha, é matizada por uma série de limitações. Como já disse André Burguière, por trás da
liberdade aparente se esconde uma multitude de normas implícitas, que orientam a escolha e
respondem a outras preocupações além da de designar alguém em sua singularidade. Isso é verdade
mesmo quando quem escolhe acredita estar se guiando apenas por seu gosto pessoal, uma vez que o
mesmo está em parte condicionado pela moda e pelas convenções de seu meio. E, ainda segundo o
autor, em se tratando de sociedades de Antigo Regime, a função do nome estava muito mais
próxima do referido papel de associar uma pessoa a determinado grupo, do que diferenciá-la,
5 BASNARD, Phillipe apud DUPÂQUIER, Jacques. Introduction. Op. cit.; HEBRARD, Jean. Esclavage et
dénomination: Imposition et appropriation d’un nom chez les esclaves de la Bahia au xixe siecle. Cahiers du Brésil
Contemporain, 2003, n° 53/54, p. 31-92 (p. 50); NADALIN, Sérgio & MERCER, José. Um patrimônio étnico: os
prenomes de batismo. In: Topoi. v. 9, n. 17, jul.-dez. 2008, p. 12-21. (p. 12) 6 HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar calor à nova povoação: estratégias sociais e familiares na formação da
Vila do Rio Grande através dos Registros Batismais (c.1738-c.1763). Tese (Doutorado) - UFRJ, Rio de Janeiro, 2006. 7 ROWLAND, Robert. Práticas de nomeação em Portugal durante a Época Moderna: ensaio de aproximação.
Etnográfica [Online], vol. 12 (1) | 2008.
3
individualizá-la. Assim o nome se tornaria, em muitos contextos, um bem familiar, gerando capital
simbólico a circular de geração em geração.8
No caso específico de Portugal e seus domínios, a questão da ordenação sobre a nominação
foi entendida como pertencente à alçada da Igreja Católica.9 Foi esta instituição que estabeleceu as
poucas regras a esse respeito vigentes para o contexto estudado. O Concílio de Trento, ao confirmar
o caráter universal e sagrado do batismo, também influenciou a visão a respeito da atribuição de
nomes, uma vez que esse momento se configura no principal ato do ritual.10
Na América
Portuguesa, as determinações do Concílio de Trento foram adaptadas pelas Constituições Primeiras
do Arcebispado da Bahia, segundo as quais os párocos não deveriam consentir “que se ponha nome
de Santo que não seja canonizado, ou beatificado” – embora essa regra nem sempre fosse
totalmente respeitada. 11
Muitos autores que discutiram as práticas nominativas na América Portuguesa identificaram,
por meio do levantamento dos principais nomes atribuídos às crianças no momento do batismo, que
nesse contexto as práticas se aproximam muito do modelo que já havia sido visto com relação ao
contexto Europeu: um relativamente pequeno estoque de nomes e uma grande concentração em
quatro ou cinco nomes principais para cada sexo.12
A localidade aqui estudada, Rio Grande de São Pedro, teve sua formação com a fundação do
presídio e forte de Jesus-Maria-José, em 1737, que tinha como objetivo inicial dar suporte à Colônia
8 BURGUIÈRE, André. Un nom pour soi: Le choix du nom de baptême en France sous l’Ancien Régime (XVIe-
XVIIIe siècles). L'Homme, Année 1980, Volume 20, Numéro 4 p. 25 – 42 (p. 27) 9 MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Os nomes de família em Portugal: uma breve perspectiva histórica, Etnográfica
[Online], vol. 12 (1) | 2008, pp. 45-58. 10
HEBRARD, Jean. Op. Cit. (p. 52) 11
DA VIDE, Sebastião Monteiro. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Coimbra: Colégio das Artes da
Companhia de Jesus, 1707. Grafia por mim atualizada. 12
Entre os trabalhos encontrados pode-se citar: BURMESTER, Ana. A população de Curitiba no século XVIII -
1751-1800, segundo os registros paroquiais. Curitiba, 1974. 107 p. Dissertação. UFPR. Apud NADALIN, Sérgio.
História e Demografia: elementos para um diálogo. Campinas: ABEP, 2004; HAMEISTER, Martha, Op. Cit.
FERREIRA, Sérgio Luis. Atribuição de prenomes entre afro-brasileiros como forma de individualização numa
freguesia do Sul do Brasil. Anais do XXIV Simpósio Nacional da ANPUH, 2007; NADALIN, Sérgio & MERCER,
José. Op. Cit.; MONTEIRO, Antonio Sérgio Muggiati. Laços invisíveis: o papel da nominação das crianças na
formação de uma identidade cultural na Curitiba setecentista. UFPR, Curitiba, 2009. (Monografia); CAMILO, Nathan.
“Feliz o homem que deixa um bom nome”: práticas de nomeação e apadrinhamento na freguesia de Nossa Senhora da
Madre de Deus de Porto Alegre (1772-1810). TCC. São Leopoldo, Unisinos, 2011; MARQUES, Rachel dos Santos.
Por Cima da Carne Seca. Hierarquia e estratégias sociais no Rio Grande do Sul (c. 1750-1820). Curitiba: UFPR, 2012
(Dissertação); SCOTT, Dario; SCOTT, Ana Silvia & CAMILO, Nathan. Compadrio na Madre de Deus de Porto Alegre
no final do período colonial. Anais do XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, 2012; COSTA,
Alysson de Ávila. À margem esquerda, Miguel: práticas nominativas de indígenas em Rio Pardo (Continente do Rio
Grande de São Pedro, 1755-1765). Trabalho de Conclusão de Curso. Curitiba: UFPR, 2013.
4
do Sacramento – entreposto comercial português às margens do Rio da Prata – inserida no contexto
de disputas entre as duas coroas Ibéricas pelos territórios ao sul da Vila de Laguna. Nesse ano se
iniciam os registros paroquiais e é, portanto, o marco inicial do primeiro período escolhido para
análise. A invasão castelhana da Vila, em 1763, encerra o primeiro esse período, já que resultou na
dispersão da população local. Com a retomada de Rio Grande aos domínios portugueses, em 1776,
tem início um novo período de povoamento da localidade, que segue até a atualidade.13
Como
marco final desse segundo período de estudo tem-se 1795, ano em que se encerra o sétimo livro de
batismos de Rio Grande – um marco ditado, nesse momento, pelo andamento atual da pesquisa.
Desde a fundação da Freguesia até a tomada da Vila, em 1763, foram batizadas 2875
pessoas, sendo que esse número se distribui bastante desigualmente ao longo dos anos, tendendo a
aumentar não apenas naturalmente, mas na medida em que as populações se deslocam para a
localidade. Se, em 1738, apenas treze crianças foram batizadas, no ano de 1756 encontram-se 252
registros – a maior concentração do período.14
Nesses assentos, 1451 batizandas receberam 149 nomes, resultando em uma média de 9,7
pessoas para cada nome. A média, no entanto, diz muito pouco a respeito das práticas de nomeação
dessa população, uma vez que os cinco que mais aparecem denominam 644 meninas ou mulheres,
ou seja, 44,4% das ocorrências. Com relação aos batizandos ocorre algo parecido, porém com uma
concentração ainda maior: 1424 pessoas receberam 139 nomes (10,2 pessoas por nome), e os cinco
mais frequentes designam 886 atores, 62,2% do total. No outro extremo têm-se aqueles nomes que
aparecem apenas uma vez em todo o período: eles somam 54 nomes femininos e 67 nomes
masculinos (respectivamente 3,7% e 4,7% da amostra).
Considerando os batizados realizados na Freguesia de Rio Grande de São Pedro no período
posterior à retomada da vila, tem-se um total de 3376 registros, os quais estão melhores distribuídos
ao longo dos anos em comparação com o período anterior, apesar do reduzido número nos anos
iniciais da reocupação. Os 215 nomes femininos foram atribuídos a 1662 pessoas, gerando uma
média de 7,7 pessoas por nome, número levemente inferior do que o encontrado no período
13
KÜHN, Fábio. Breve História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 2002; MAGALHÃES, Mario
Osorio. História do Rio Grande do Sul (1626-1930). Pelotas: Editora Armazém Literário, 2002; QUEIROZ, Maria
Luiza Bertulini. Paróquia de São Pedro do Rio Grande: estudo de história demográfica (1737-1850). Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1992. (Tese de Doutorado). 14
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º a 4º Livros de Batismos de Rio Grande. Excluíram-se
da amostra 41 registros em que não foi possível distinguir o nome do batizando. Agradeço à Martha Hameister por ter
me disponibilizado as transcrições que realizou dos referidos livros.
5
anterior. Também diminui a concentração nos cinco nomes mais utilizados: são 631 (38,0% das
ocorrências). Já os 234 nomes masculinos identificaram 1713 pessoas (7,3 pessoas por nome),
sendo que os cinco nomes mais frequentes somam 810 (47,3%), concentração significativa, ainda
que bastante menor com relação à encontrada no período anterior. Nesse segundo período também
aumenta, ainda que levemente, a proporção de pessoas portadoras de nomes únicos dentro do
universo dos batizados em Rio Grande, são 71 nomes femininos (4,3%) e 103 masculinos (6,0%).15
Esses dados não se diferenciam do que foi encontrado por outros autores que estudaram
contextos de Antigo Regime, em que, geralmente, os cinco nomes mais frequentes de cada sexo
somam entre 40% e 60% das ocorrências.16
O Quadro 1 mostra os nomes mais frequentes em Rio
Grande, nos dois períodos analisados, considerando todos os registros legíveis.
Quadro 1 – nomes mais frequentes na Vila de Rio Grande
1737-1763 1776-1795
Nomes femininos Nomes masculinos Nomes femininos Nomes masculinos
Nome nº % Nome nº % Nome nº % Nome nº %
Maria 295 20,3 Manuel 258 18,1 Maria 303 18,2 Manuel 236 13,8
Ana 197 13,6 José 206 14,5 Ana 153 9,2 José 198 11,6
Rosa 53 3,7 Antônio 176 12,4 Joaquina 82 4,9 Antônio 139 8,1
Francisca 52 3,6 João 127 8,9 Francisca 49 2,9 Francisco 121 7,1
Antônia 47 3,2 Francisco 119 8,4 Teresa 44 2,6 João 116 6,8
Outros 807 55,6 Outros 538 37,8 Outros 1031 62,0 Outros 903 52,7
Total 1451 100 Total 1424 100 Total 1662 100 Total 1713 100
nº = número de ocorrências
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º a 7º Livros de Batismos de Rio Grande.
Os nomes mais frequentes em Rio Grande não diferem, de maneira geral, do encontrado em
outras localidades da América Portuguesa no século XVIII. Essa comparação pode ser feita por
meio dos trabalhos de Ana Maria Burmester referente à Freguesia de Nossa Senhora da Luz de
Curitiba na segunda metade do século XVIII; Sérgio Ferreira, que estudou práticas de nomeação na
freguesia de Nossa Senhora das Necessidades (atual Santo Antonio de Lisboa, Florianópolis, SC)
observando três períodos diferentes, sendo que o primeiro deles vai de 1780 a 1825; Antônio
Monteiro, que também focou sua análise na Curitiba do século XVIII, porém utilizando
amostragens, Nathan Camilo, que estudou a freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto
15
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 5º a 7º Livros de Batismos de Rio Grande. Excluíram-se
os seis registros em que não foi possível distinguir o nome do batizando. 16
BURNARD, Trevor. Slave Naming Patterns: Onomastics and the Taxonomy of Race in Eighteenth-Century Jamaica.
Journal of Interdisciplinary History, xxxi:3 (Winter, 2001), 325–346; FERREIRA, Sérgio Op. Cit.; ROWLAND,
Robert. Op. Cit.; MONTEIRO, Antonio Op. Cit; CAMILO, Nathan. Op. Cit; COSTA, Alysson Op. Cit., entre outros.
6
Alegre entre os anos de 1772 e 1810, e Alysson Costa, que analisou os nomes de batismo de Rio
Pardo (RS) em meados do século XVIII.17
Quadro 2 – Nomes mais escolhidos de acordo com a bibliografia
Curitiba, séc. XVIII18
Rio Pardo, 1755-176519
Porto Alegre. 1772-181020
Florianópolis, 1780-182521
Femininos Masculinos Femininos Masculinos Femininos Masculinos Femininos Masculinos
Maria Manuel Maria José Maria José Maria Manuel
Ana Francisco Ana Antônio Ana Manuel Ana José
Francisca José Francisca Manuel Joaquina Antônio Luiza João
Isabel Antônio Teresa João Francisca João Joaquina Antônio
Gertrudes João Joana Joaquim Rita Francisco Rita Francisco
Os nomes femininos que são preferidos em cada localidade têm uma variação maior, porém
o estoque dos prediletos não ultrapassa uma dúzia e Maria e Ana são sempre os mais atribuídos, em
parte, provavelmente, em função da importância de Santa Maria e Santa Ana para o catolicismo, e
em parte prática, comum no Antigo Regime, de se repassar os mesmos nomes dentro da família, o
que tende a uma concentração de alguns nomes.22
Os nomes masculinos são quase sempre os
mesmos, só mudando a ordem com que aparecem. Com relação a primazia de Manuel em Rio
Grande, ainda não foi possível estabelecer uma hipótese relacionada ao papel desse nome no
cristianismo, como pode ser feito com relação a Maria e Ana, restando como hipótese, nesse
momento, apenas a já citada tendência de concentração dos nomes dentro das famílias.
Até o momento considerou-se as populações como um todo. Passa-se agora ao estudo dos
nomes por categoria social, para saber em que medida há diferenciações entre elas. Os Quadros 3 a
6 apresentam os nomes mais frequentes respectivamente para a população livre e para a população
escrava em cada período estudado da Freguesia de São Pedro do Rio Grande.
Quadro 3 – nomes femininos mais frequentes em Rio Grande de acordo com a condição social (1737-1763)
Livres Escravas Filhas de mãe forra Filhas de mãe indígena
Nome nº % Nome nº % Nome nº %23
Nome nº %
Maria 230 20,6 Maria 32 16,2 Ana 5 16,1 Maria 33 22,4
Ana 161 14,4 Ana 25 12,7 Maria 5 16,1 Ana 11 7,5
Rosa 42 3,8 Francisca 9 4,6 Feliciana 3 9,7 Rosa 6 4,0
17
BURMESTER, Ana, Op. Cit.; FERREIRA, Sérgio Op. Cit.; MONTEIRO, Antonio, Op. Cit.; CAMILO, Nathan. Op.
Cit.; COSTA, Alysson Op. Cit. 18
BURMESTER, Ana Maria de O. A população de Curitiba no século XVIII, Op. Cit. 19
COSTA, Alysson de Ávila. "À margem esquerda, Miguel"... Op. Cit. 20
CAMILO, Nathan. “Feliz o homem que deixa um bom nome... Op. Cit. 21
FERREIRA, Sérgio Luis. Atribuição de prenomes entre afro-.. Op. Cit. 22
BURGUIÈRE, André. Un nom pour soi. Op. Cit.; BURGUIÈRE, André. Prénoms et parenté. In: DUPÂQUIER,
Jacques, BIDEAU, Alain & DUCREUX, Marie-Elizabeth. Le Prénom, Mode et Histoire: entretiens de Malher 2 -
1980. Paris: Ecole des Hautes Étudesen Sciences Sociales, 1984. 23
Apesar de não ser usual o cálculo de porcentagens referentes a números inferiores a cem, resolveu-se realizá-los para
tornar as proporções das escolhas mais evidentes.
7
Francisca 40 3,6 Antônia 6 3,0 Laureana 2 6,5 Antônia 4 2,7
Antônia 37 3,3 Joana 6 3,0 Vitória 2 6,5 Eugênia 4 2,7
Joana 35 3,1 Felícia 5 2,5 Apolônia 1 3,2 Isabel 4 2,7
Inácia 33 3,0 Rosa 5 2,5 Escolástica 1 3,2 Joana 4 2,7
Joaquina 28 2,5 Inácia 4 2,0 Felícia 1 3,2 Margarida 4 2,7
Josefa 23 2,0 Joaquina 4 2,0 Francisca 1 3,2 Domingas 3 2,0
Teresa 23 2,0 Rosália24
4 2,0 Inácia 1 3,2 Francisca25
3 2,0
Outros 463 41,5 Outros 97 49,2 Outros 9 29,0 Outros 71 48,3
Total 1115 100 Total 197 100 Total 31 100 Total 147 100
nº = número de ocorrências
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º a 4º Livros de Batismos de Rio Grande.
Quadro 4 – nomes masculinos mais frequentes em Rio Grande de acordo com a condição social (1737-1763)
Livres Escravos Filhos de mãe forra Filhos de mãe indígena
Nome nº % Nome nº % Nome nº % Nome nº %
Manuel 225 20,6 Manuel 21 12,7 José 5 23,8 José 17 10,2
José 170 15,6 José 19 11,4 João 4 19,0 Antônio 14 8,4
Antônio 146 13,4 Antônio 16 9,6 Manuel 4 19,0 Francisco 14 8,4
João 98 9,0 João 15 9,0 Antônio 3 14,2 João 14 8,4
Francisco 93 8,5 Francisco 12 7,2 Alexandre 1 4,8 Manuel 11 6,6
Joaquim 51 4,6 Joaquim 11 6,6 Felipe 1 4,8 Lourenço 6 3,6
Domingos 29 2,7 Vicente 11 6,6 Francisco 1 4,8 Pedro 6 3,6
Vicente 27 2,5 Pedro 4 2,4 Joaquim 1 4,8 Inácio 5 3,0
Inácio 21 1,9 Domingos 3 1,8 Vicente 1 4,8 Miguel 5 3,0
Luís 14 1,3 Inácio 3 1,8 - - - Joaquim 4 2,4
Outros 217 19,9 Outros 51 30,7 - - - Outros 70 42,2
Total 1091 100 Total 166 100 Total 21 100 Total 166 100
nº = número de ocorrências
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º a 4º Livros de Batismos de Rio Grande.
Quadro 5 – nomes femininos mais frequentes em Rio Grande de acordo com a condição social (1776-1795)
Livres Escravas Filhas de mãe forra Filhas de mãe indígena
Nome nº % Nome nº % Nome nº % Nome nº %
Maria 221 18,6 Maria 56 14,8 Maria 9 20,0 Maria 17 30,9
Ana 116 9,8 Ana 24 6,3 Ana 7 15,6 Ana 6 10,9
Joaquina 60 5,5 Joaquina 17 4,5 Joaquina 3 6,7 Bibiana 2 3,6
Francisca 35 2,9 Joana 15 4,0 Laureana 2 4,4 Francisca 2 3,6
Josefa 31 2,6 Teresa 13 3,4 Lourença 2 4,4 Joana 2 3,6
Teresa 29 2,4 Rosa 12 3,2 Teresa 2 4,4 Joaquina 2 3,6
Isabel 26 2,2 Francisca 11 2,9 Águeda 1 2,2 Libana 2 3,6
Joana 24 2,0 Mariana 8 2,1 Ângela 1 2,2 Angélica 1 1,8
Rosa 23 1,9 Antônia 7 1,8 Angélica 1 2,2 Antônia 1 1,8
Clara 15 1,3 Josefa 7 1,8 Antônia 1 2,2 Bárbara 1 1,8
Outros 607 51,1 Outros 208 55,0 Outros 16 35,6 Outros 19 34,5
Total 1187 100 Total 378 100 Total 45 100 Total 55 100
nº = número de ocorrências
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 5º a 7º Livros de Batismos de Rio Grande.
24
Também com quatro ocorrências tem-se Vicência. 25
Também com três ocorrências tem-se Inácia.
8
Quadro 6 – nomes masculinos mais frequentes em Rio Grande de acordo com a condição social (1776-1795)
Livres Escravos Filhos de mãe forra Filhos de mãe indígena
Nome nº % Nome nº % Nome nº % Nome nº %
Manuel 170 14,0 Manuel 57 13,8 José 9 19,1 Manuel 8 19,0
José 151 12,4 Antônio 32 7,8 Francisco 4 8,5 José 7 16,7
Antônio 99 8,2 José 31 7,5 João 4 8,5 Antônio 6 14,3
Francisco 87 7,2 João 29 7,0 Joaquim 4 8,5 Francisco 3 7,1
João 82 6,7 Francisco 27 6,6 Antônio 2 4,3 Cândido 2 4,8
Joaquim 70 5,8 Joaquim 27 6,6 Domingos 2 4,3 Domingos 2 4,8
Luís 19 1,6 Domingos 10 2,4 Pedro 2 4,3 Inácio 2 4,8
Domingos 18 1,5 Felisberto 9 2,2 Tomé 2 4,3 Aleixo 1 2,4
Pedro 15 1,3 Vicente 8 1,9 Bartolomeu 1 2,1 Alexandre 1 2,4
Felisberto 14 1,2 Felipe 7 1,7 Constantino 1 2,1 Daniel 1 2,4
Outros 488 40,2 Outros 175 42,5 Outros 16 34,0 Outros 9 21,4
Total 1213 100 Total 412 100 Total 47 100 Total 42 100
nº = número de ocorrências
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 5º a 7º Livros de Batismos de Rio Grande.
Na categoria "livres" foram incluídos os batizandos sobre quem não havia no registro
nenhuma categorização com relação à condição jurídica, seja a seu respeito, seja a respeito de sua
mãe. Nela incluíram-se também os expostos. Na categoria "escravos" estão os filhos de mulheres
escravas e os escravos africanos jovens e adultos ali batizados.
A primeira coisa que se pode comentar é a grande estabilidade dos nomes masculinos, tanto
para livres quanto para escravos, já que os seis nomes mais escolhidos são exatamente os mesmos
nas quatro listagens, mudando apenas a sua ordem em alguns momentos. Tanto Manuel quanto
Maria, no caso das mulheres, seguidamente ocupam as primeiras posições com grande vantagem
em relação ao segundo colocado de cada uma das listas.
Em nenhum dos períodos analisados há diferença no estoque de nomes, mudando apenas, às
vezes, os nomes específicos que são preferidos, dentro desse estoque, por cada grupo. Isso pode ser
afirmado uma vez que mesmo os nomes que só aparecem na listagem dos mais utilizados em uma
determinada categoria social não estão ausentes entre as demais, somente ocupando um lugar mais
abaixo no ranking. Os poucos casos em que há ausência de algum nome na listagem completa
podem ser explicados pelo pequeno número total de pessoas na categoria em questão.
As pessoas livres parecem receber mais vezes os nomes mais comuns em comparação com
os escravos, já que a concentração de nomes entre os primeiro é um pouco maior do que entre os
últimos. Existem algumas exceções, como o caso dos nomes Francisca, Joaquim e Vicente no
primeiro período (Quadros 3 e 4), ou Joana, Rosa, Teresa, João, Joaquim, Domingos e Felisberto no
segundo período (Quadros 5 e 6), que são mais escolhidos, proporcionalmente, entre escravos do
9
que entre livres. A mesma coisa pode ser dita com relação aos nomes que aparecem entre os dez
nomes mais escolhidos para escravos, e não aparecem entre os livres – isso se dá em função de uma
concentração de escolhas levemente maior.26
É possível que a diferença da amostra para cada um
dos grupos possa ser responsável por parte dessa diferença, sendo necessário o aprofundamento da
investigação para elucidar a questão.
Interessante notar que, apesar do pequeno número para comparação, existem algumas
diferenças significativas nos nomes dos filhos de mulheres forras, especialmente no que se refere
aos nomes masculinos. No quadro 4, Manuel deixa de estar em primeiro lugar, ocupando a segunda
colocação juntamente com João, e no Quadro 6 desaparece completamente da listagem, o que se
torna muito significativo dado a proeminência desse nome junto às demais categorias.
É possível traçar comparações com os dados levantados por outros pesquisadores. Robert
Rowland estudou os nomes de escravos presentes em listas nominativas de Moncarapacho no ano
de 1545, os quais formavam 8% da população. Apesar da distância temporal e espacial, é
interessante notar alguns exemplos trazidos pelo autor, como o Caso do nome António, que entre os
escravos tem 15,9% da preferência, enquanto na população livre perfazia apenas 4,7% das escolhas.
Já entre os nomes femininos tem-se a preferência por Bárbara (18,2% contra 5,1%) e Joana (10,9%
contra 2,2%) e o autor ressalta a existência de nomes que designam apenas mulheres escravas,
como Domingas, Firma, Ginebra, Graça, Helena, Luzia, Madalena, Marta e Vera, o que se torna
mais significativo se considerarmos que havia catorze vezes mais mulheres livres que escravas.27
Jean Hebrard, estudando práticas de nomeação de escravos na Bahia no século XIX,
observou que os nomes das crianças livres e daquelas nascidas na escravidão não apresentavam
usos específicos. Um pouco mais próximo do período e contexto aqui analisados estão os dados
levantados por Sérgio Luis Ferreira, em texto citado anteriormente. O autor encontrou uma
variedade de nomes de escravos bem superior a da população livre, e também um número
considerável de casos de nomes únicos que só se encontram entre a população escrava, como por
exemplo Afra, Aniceta, Astherio, Arthemia, Balduina, Bertoldo, Braslina, Felisberta, Guida,
Hilenio, Isaulina, Liberato, Liberio, Lucidia, Lucidonio, Mergelena, Rochana, Zebina e Zotica. No
26
Entre os livres, o nome Felícia tem 12 ocorrências (1,1%); Rosália. 18 (1,6%); e Pedro, 9 (0,8%) no primeiro período,
e no segundo Mariana tem 10 (0,9%); Antônia 10 (0,9%); Vicente 11 (0,9%) e Felipe 7 (0,7%). 27
ROWLAND, Robert. Práticas de nomeação em Portugal durante a Época Moderna... Op. Cit. (P. 26-27)
10
entanto, eles foram encontrados apenas com relação a crioulos, sendo que os africanos continuavam
recebendo os nomes portugueses mais comuns: Manuel, João, Jose, Francisco e Antonio.28
Nos batismos de Rio Grande há um número relativamente pequeno de africanos sendo
batizados. Ainda assim é interessante notar que, entre os crioulos, tanto em um período quanto em
outro, há uma semelhança muito grande com as escolhas realizadas pela população livre. Maria,
Ana e Manuel são os mais escolhidos com grande vantagem (Manuel chega a ter 53, em um total de
363, quando o segundo colocado tem 25). No entanto, entre os escravos africanos a vantagem de
Maria e Ana não é tão pronunciada, como se pode perceber por meio do Quadro 7.
Quadro 7 – nomes de mais frequentes de escravos africanos na Vila de Rio Grande29
1737-1763 1776-1795
Nomes femininos Nomes masculinos Nomes femininos Nomes masculinos
Nome nº % Nome nº % Nome nº % Nome nº %
Maria 6 26,1 Antônio 6 26,1 Ana 3 14,3 João 8 16,3
Ana 4 17,4 José 6 26,1 Maria 3 14,3 Antônio 7 14,3
Francisca 2 8,7 João 4 17,4 Josefa 2 9,5 José 6 12,2
Joana 2 8,7 Caetano 1 4,3 Mariana 2 9,5 Joaquim 5 10,2
Rita 2 8,7 Inácio 1 4,3 Rosa 2 9,5 Manuel 4 8,2
Outros 7 30,4 Outros 5 21,7 Outros 9 42,9 Outros 19 38,8
Total 23 100 Total 23 100 Total 21 100 Total 49 100
nº = número de ocorrências
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º a 7º Livros de Batismos de Rio Grande.
Esse resultado, ainda que ínfimo, contribui para levantar a questão, já bem conhecida dos
estudiosos de onomástica, sobre quem teria o papel de escolher o nome do batizando. Esse tema não
se restringe à população escrava, é bem mais amplo e busca elucidar, entre outras coisas se, em se
tratando de batizados católicos, a determinação do Concílio de Trento de que os padrinhos deveriam
dar nome à criança são levadas a cabo ou não. No entanto com relação à população escrava existe
outro viés a ser levado em conta: o grau de ingerência do proprietário do escravo na escolha do
nome. Caráter importante já que, dependendo do caso, o poder de escolha pode recair em dois
grupos muito diferentes de pessoas, que poderiam ter objetivos muito distintos na nominação: as
mães cativas ou seus proprietários.
A esse respeito, Trevor Burnard, em um texto que trata de padrões de nominação de
escravos na Jamaica no século XIX, acredita que seriam os proprietários, e não os escravos quem
escolhiam os nomes, e que muito raramente pais poderiam nomear seus próprios filhos. O autor
afirma não ter encontrado nenhuma evidência de que os escravos nomeavam a si mesmos, ao
28
HEBRARD, Jean. Op. Cit.; FERREIRA, Sérgio Luis. Op. Cit. 29
Esses nomes estão incluídos na categoria "escravos" nos quadros anteriores.
11
contrário do caso de nomeação pelos proprietários cuja evidência, ainda que esparsa, existiria,
constituídas de entradas em diários e outros documentos do gênero.30
Uma importante característica do contexto estudado por Burnard é o fato de que, ao adquirir
a liberdade, os ex-excravos modificavam seus nomes. Ainda que esse fenômeno pudesse indicar de
maneira simbólica o novo status da pessoa em questão, e não significa necessariamente que mães
não pudessem escolher o nome de seus filhos ou que não tivessem, pelo menos, alguma ingerência
sobre isso, a mudança do nome salienta o papel impositivo dos nomes recebidos pelos escravos no
contexto caribenho estudado por Burnard. Com relação à América Portuguesa não tenho
conhecimento de que escravos mudassem seus nomes ao conseguirem a liberdade. Mais do que
isso, em todo Império Português, a questão da nominação estava estreitamente vinculada à
religiosidade, como foi dito. O nome recebido no batismo era considerado sagrado, e só poderia ser
modificado no momento da confirmação, o que raramente ocorria.31
Poderia, sim, ser agregado um
segundo nome ou um sobrenome, que eram bem mais fluídos, como se verá.
Voltando à questão da primazia da escolha, Cheryll Ann Cody argumenta que, caso os
proprietários fossem os únicos a dar nome aos escravos, a tendência provavelmente seria de buscar
identificá-los dando-lhes nomes bastante diferenciados, o que faria com que existisse um número
muito pequeno de repetições, já que o objetivo esperado seria o de simplificar a designação de
tarefas. A autora identificou que algo semelhante a isso ocorria com relação a escravos recém
chegados na plantation da família Ball, localizada na Carolina do Sul, seu objeto de pesquisa.
Ocorria o mesmo, algumas vezes, em relação à primeira geração nascida na fazenda. Nas próximas
gerações, no entanto, escravos passaram a receber nomes já presentes em sua parentela, e o uso
desses nomes era feito não só entre as gerações, também acontecia com relação à família estendida,
o que rapidamente minava o esforço para criar uma identidade única para cada escravo32
. Em outro
texto, a mesma autora afirma que os pais escolhiam os nomes, apresentando como evidência, em
primeiro lugar, a inexistência, entre os escravos da família Gaillard, de nomes bíblicos, heróis
legendários, ou provenientes da antiguidade clássica, existindo tampouco apelidos pejorativos; e em
segundo a complexidade do conhecimento genealógico necessário na escolha dos nomes das
30
BURNARD, Trevor. Slave Naming Patterns… Op. Cit. 31
DA VIDE, Sebastião Monteiro. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia... Op. Cit. 32
CODY, Cheryll Ann. There Was No "Absalom" on the Ball Plantations: Slave-Naming Practices in the South
CarolinaLow Country, 1720-1865. The American Historical Review, Vol. 92, No. 3 (Jun., 1987), pp. 563-596.
12
crianças –provenientes da parentela – o que torna bem menos provável que os proprietários a
tenham realizado, ao invés dos pais e demais parentes.
Jerome Handler e JoAnn Jacoby, em texto que apresenta o estudo de nomes de escravos da
Ilha de Barbados entre 1650 e 1830, argumentam que a literatura Anglo-Americana que sugere, e às
vezes afirma categoricamente, que a nominação era domínio do senhor, se baseia em evidências
esparsas e muitas vezes errôneas, como por exemplo algumas poucas falas de viajantes, que pouco
conviviam com aquela realidade. Enumeram, por outro lado, uma série de trabalhos que chegaram a
conclusões diferentes que podem refletir não apenas formas de interpretação das evidências como
também variantes no tempo, no espaço, e de acordo com a atuação pessoal de cada senhor de
escravos. Com relação ao contexto de Barbados, afirmam não terem encontrado evidência direta
sobre até que ponto os nomes de escravos eram escolhidos pelos próprios escravos ou impostos
pelos senhores, porém pode-se inferir que Africanos recém chegados provavelmente recebiam seus
nomes dos senhores, enquanto crioulos eram nomeados pelos escravos.33
Não há muitos dados para elucidar a questão com relação ao Rio Grande de São Pedro, mas,
dada a existência de nomes preferenciais diferentes para africanos e crioulos, creio ser possível
inferir que os africanos recebiam seus nomes dos proprietários ou de algum agente do tráfico, mas
crioulos eram nomeados pelos pais, ou talvez os padrinho, mas com menos ingerência dos
proprietários, pelo menos nesse contexto periférico no Império Português com primazia de
pequenos plantéis.
É possível, inclusive, que alguns dos africanos não tivessem seus nomes alterados por
ocasião da vinda forçada para a América Portuguesa uma vez que, de acordo com John Thorton,
uma grande parte da população centro-africana da chama "Costa de Angola", era cristã, tendo
recebido um nome batismal cristão, usualmente em português. Segundo ele, em alguns casos o
cristianismo e os nomes cristãos estavam enraizados nessa região antes do Tráfico Atlântico de
escravos e, ainda que a adoção de um nome de batismo não tenha sido seguida por uma mudança
religiosa substancial, o fato é que, no caso de alguns Congoleses ou Angolanos, nomes cristãos
podem ter origem africana.34
33
HANDLER, Jerome S & JACOBY, JoAnn. Slave Names and Naming in Barbados, 1650-1830. The William and
Mary Quarterly, Third Series, Vol. 53, No. 4 (Oct., 1996), pp. 685-728. 34
THORNTON, John. Central African Names and African-American Naming Patterns. The William and Mary
Quarterly, 3rd Ser., Vol. 50, No. 4 (Oct., 1993), 727-742.
13
O que é possível dizer, a partir dos dados referentes a Rio Grande, é que existem escolhas
diferenciadas em diferentes grupos sociais. Os motivos dessas escolhas, no entanto, são mais
difíceis de apreender. Um dos procedimentos que poderiam auxiliar no entendimento dessa questão
seria o levantamento genealógico dessas famílias – que poderia dizer se alguns nomes estão sendo
utilizados como patrimônio familiar. Esse tipo de estudo que pôde ser realizado por autores como
Cheryll Ann Cody, em trabalhos já citados, que trabalhou a partir de um material riquíssimo em
dados genealógicos proveniente das fazendas cujos plantéis ela pesquisou. No entanto, para o
contexto aqui estudado se torna mais difícil realizar esse tipo de estudo a partir das fontes
eclesiásticas disponíveis, uma vez que os escravos dificilmente eram registrados com um
sobrenome acompanhando seu nome, o que torna mais difícil a identificação dos mesmos.
Outros procedimentos possíveis são a comparação com os nomes dos padrinhos de cada um
dos batizandos, e dos nomes das pessoas mais influentes da localidade, ou mesmo do Império
Português, e o estudo do significado de determinados nomes para a cristandade (p.e. nomes de
santos). Esse último aspecto auxiliou Alysson Costa na elaboração de hipóteses com relação às
escolhas de nomes realizadas pela população indígena de Rio Pardo no século XVIII. Embora a
maior parte dos nomes encontrados pelo autor na localidade não destoassem daqueles que podem
ser considerados como mais populares, a grande incidência de Miguel, Inácio, Inácia e Madalena
entre os indígenas da etnia Tape fez com que os mesmos pudessem ser relacionados com a
religiosidade e o fato de haver uma tutela jesuítica dessa população por várias décadas no período
imediatamente anterior.
Infelizmente até o momento não foi possível avançar nessas direções com relação aos nomes
adotados ou atribuídos a escravos em Rio Grande de São Pedro, o que será feito no prosseguimento
da pesquisa, com a ampliação do período trabalhado e também com a diversificação de fontes. Um
conjunto documental que já está sendo utilizado são os registros de óbito da localidade, e tem-se
levantados, até o momento dados relativos ao primeiro período (1737-1763).35
A maior contribuição
da utilização desses assentos é a possibilidade de observar os nomes completos (nome e sobrenome,
quando for o caso) que as pessoas adotam para si ao longo da vida, uma vez que nos batismos
apenas se tem o primeiro nome registrado.
35
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE. 1º Livro de Óbitos de Rio Grande. Agradeço à
Francielle Souza por ter me disponibilizado as transcrições que realizou do referido livro.
14
No Império Português, durante o Antigo Regime, não havia regras fixas para a adoção de
um sobrenome. Enquanto o nome recebido no batismo era controlado e imutável, o sobrenome –
que só era adotado na vida adulta – era fluído, poderia ser proveniente da família materna ou
paterna, ou das duas, ou de nenhuma, ou do padrinho, ou designar o local de origem ou de
habitação, por exemplo. Era comum irmãos possuírem sobrenomes distintos, e, embora não fosse
tão comum, o sobrenome poderia modificar-se de acordo com as circunstâncias. Por outro lado,
observou-se que algumas pessoas não adotavam sobrenome algum, ou pelo menos não tinham
nenhum sobrenome registrado pelo padre (no caso de registros paroquiais) ou outro agente
institucional.
A partir do primeiro livro de registros de óbitos de Rio Grande elaborou-se o Quadro 8, que
mostra a maneira com que foram construídos os nomes da população, e os divide por categoria.
Considerou-se apenas os assentos de óbito de pessoas falecidas com mais de quatorze anos,
excluindo-se as que eram ditas "inocentes".
Quadro 8 – Formação de nomes completos em Rio Grande (1737-1763)
Livres Escravos Forros Índios Total
F M F M F M F M F M
1 nome 16 17 52 95 3 1 14 14 85 128
2 nomes 20 10 0 0 1 0 1 2 22 13
1 nome + 1 sobrenome 53 157 0 2 1 3 7 22 61 183
1 nome + 2 sobrenomes 9 104 0 0 0 1 0 2 9 107
2 nomes + 1 sobrenome 6 12 0 0 0 0 1 0 7 12
2 nomes + 2 sobrenomes 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
Total 104 301 53 97 5 5 22 40 184 444
Fonte: ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º Livro de Óbitos de Rio Grande.
A categoria "1 nome" representa aqueles casos em que não há outro nome além daquele
recebido em batismo, como por exemplo "Antônio". Em "2 nomes" constam os casos em que além
do de batismo, há um segundo nome, como em " Ana Maria". Exemplo de "1 nome e 1 sobrenome"
é "Francisco Dias", e de "1 nome e 2 sobrenomes", "Domingos Alves Guimarães". Com "2 nomes e
1 sobrenome" tem-se o exemplo de "Maria Josefa de Azevedo", e com "2 nomes e 2 sobrenomes" o
único caso é "Manuel Francisco Olamoeiro de Allunha".
Considerando a população total, a maior parte dos homens (41,2%) possui um nome e um
sobrenome, seguido de apenas um nome (28,8%) e de um nome e dois sobrenomes (23,9%). Entre
as mulheres (46,2%) tem apenas um nome, enquanto 33,1% tem um nome e um sobrenome e 12,0%
das falecidas tiveram registrados dois nomes. Por aí se pode perceber que o uso de um sobrenome
estava desigualmente atribuído, mesmo considerando a população como um todo, e que as
15
diferenças entre homens e mulheres eram marcantes. Essa desigualdade fica mais pronunciada
considerando o uso de acordo com categoria social.
Quase todos os homens e mulheres escravas possuíam apenas um nome, aquele que lhes foi
atribuído no momento do batismo. O uso de sobrenomes é algo que não está ao alcance da maior
parte da população servil. Infelizmente não foi possível saber mais a respeito dos dois escravos que
portavam sobrenome, apenas que Inácio Coutinho era escravo do Sargento Antônio Alves, e foi
enterrado no adro da Igreja Matriz de Rio Grande de São Pedro, e que Sebastião de Bulhoery era
pardo, natural das Minas Gerais e fora escravo de João Martins da Costa, tendo sido, por sua vez,
enterrado dentro da Matriz. Supõem-se que tenham sido figuras de uma certa importância dentro da
comunidade em que estavam inseridos, já que tiveram o direito de terem sobrenomes registrados,
algo que, ao que parece, denotava prestígio.
A respeito desse uso social do sobrenome, Jean Hebrard fala de um sistema de denominação
fundado em três oposições: entre adultos e crianças, homens e mulheres, e livres e escravos. As
crianças recebem sempre um prenome simples, e o mesmo se dá com os escravos, quer sejam
crianças ou adultos, homens ou mulheres. Os adultos do sexo masculino e de estatuto livre, ao
contrário, são designados por um prenome (algumas vezes duplo), e, mais frequentemente, vários
sobrenomes. Já as mulheres eram denominadas de múltiplas maneiras, não podendo apenas não
apresentar nada além do nome de batismo, situação que as aproximaria do status de criança ou
escravo. Assim, o autor afirma que pode-se considerar que a quantidade de sobrenomes é
diretamente proporcional ao status social da pessoa quem ele designa e que, com relação aos
escravos, "o que parece é que o controle – e a violência simbólica, se manifestam na ocasião do
batismo de escravos em terras brasileiras pela disposição da sociedade escravista e da Igreja de
mantê-los em um estado de infância (ter apenas um nome)".36
Hebrard faz uma ressalva a essa questão, uma vez que muitos escravos conquistam o uso de
sobrenome, e que a complexificação do nome parece estar mais presente entre escravos urbanos e
sua relativa independência com relação aos demais, especialmente em se tratando de escravos de
ganho. De qualquer forma o uso de sobrenomes por essa parcela da população na Bahia do século
XIX é bem mais ampla do que em Rio Grande na primeira metade do século XVIII. Ainda que com
o uso de outro tipo de documentação mais escravos com nome e sobrenome possam surgir no
mesmo período, seu reduzido número entre os falecidos pode ser vista como representativa da
36
HEBRARD, Jean. Op. Cit. Tradução livre.
16
hierarquia fortemente marcada dessa sociedade. Isso fica mais evidente se for considerado que,
enquanto alguns homens e mulheres livres não apareciam portando sobrenomes, nenhum deles
possuía título ou patente. Entre os que possuíam havia sempre sobrenome, sendo que o mais comum
era terem um nome e dois sobrenomes, seguido pela fórmula de dois nomes e um sobrenome.37
A hipótese levantada por Hebrard de associação da prática de nomeação observada com a
noção infância é muito interessante, ainda mais se considerarmos que mesmo nas famílias de mais
prestígio da localidade, as crianças não apresentam sobrenome, como fica evidente em seus
registros de óbito ou nas listagens de herdeiros estabelecidas por ocasião da abertura de um
inventário.
Bartolomé Clavero, no texto "Derecho indígena y cultura constitucional en América"38
, fala
de um status de etnia para tratar da posição do indígena na sociedade colonial, o qual teria sido
formado a partir de status anteriores, o de rusticidade, miserabilidade e minoridade. Rústicos seriam
aqueles que não podiam se guiar em matérias privadas conforme seus costumes, e os miseráveis
aqueles que necessitavam de amparo – como os indigentes, os órfãos e as viúvas, ou os convertidos
ao cristianismo que não tivessem assimilado completamente a religião. Mas a noção que se quer
salientar aqui é a de minoridade:
Todos ellos eran menores, significándose ante todo con esto que se encontraban aquejados
por una limitación de la razón humana, de la razón que en principio no se les negaba, pues
no eran animales. No resultaban gente de razón plena o propiamente. Esta minoración
familiar de capacidad requería, en el mismo ámbito de la familia, de un complemento que
era entonces sujeción, ya a patria potestad, ya a tutela", lo cual así resultaba el marco
primario del estado indígena.39
Embora essas questões tenham sido trabalhadas com relação à população indígena, acredita-
se que a noção de minoridade, pelo menos, parece uma via possível de interpretação da visão que a
sociedade de Antigo Regime estabelecida em uma localidade da América Portuguesa tinha da
população cativa. Uma visão próxima daquela que se tinha com relação aos indígenas e com relação
às mulheres, a de que seriam incapazes de se comandar por si mesmos. Visão cujos vestígios
37
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º Livro de Óbitos de Rio Grande. 38
CLAVERO, Bartolomé. Derecho indígena y cultura constitucional en América. Cuidad de Mexico, Buenos Aires,
Madrid: Siglo XXI, 1994. 39
CLAVERO, Bartolomé. Op. Cit.
17
chegam até nós por meio da maneira com que nomes e sobrenomes eram utilizados – ou pelo menos
como eram registrados – nos momentos cruciais da vida humana: o nascimento e a morte.
Esses foram apenas alguns apontamentos realizados a partir de alguns poucos dados
provenientes de uma pequena Freguesia do Brasil Meridional em meados do século XVIII. É
necessário o aprofundamento do estudo e a diversificação espacial e temporal do objeto pesquisado,
para que um melhor entendimento das práticas nominativas da população escrava possa ser
alcançado. Ainda assim, os dados aqui apresentados já trazem indícios que permitem interpretações
a respeito do que as escolhas que as pessoas no passado realizavam, ao adotar ou atribuir nomes,
podem dizer sobre elas.
Fontes
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º a 7º Livros de Batismos de Rio Grande
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE 1º Livro de Óbitos de Rio Grande
Bibliografia
BURGUIÈRE, André. Prénoms et parenté. In: DUPÂQUIER, Jacques, BIDEAU, Alain & DUCREUX,
Marie-Elizabeth. Le Prénom, Mode et Histoire: entretiens de Malher 2 - 1980. Paris: Ecole des Hautes
Étudesen Sciences Sociales, 1984.
BURGUIÈRE, André. Un nom pour soi: Le choix du nom de baptême en France sous l’Ancien Régime
(XVIe-XVIIIe siècles). L'Homme, Année 1980, Volume 20, Numéro 4 p. 25 – 42
BURMESTER, Ana Maria de O. A população de Curitiba no século XVIII - 1751-1800, segundo os
registros paroquiais. Curitiba, 1974. 107 p. Dissertação, Mestrado. Universidade Federal do Paraná. Apud
NADALIN, Sérgio Odilon. História e Demografia: elementos para um diálogo. Campinas: ABEP, 2004;
BURNARD, Trevor. Slave Naming Patterns: Onomastics and the Taxonomy of Race in Eighteenth-Century
Jamaica. Journal of Interdisciplinary History, xxxi:3 (Winter, 2001), 325–346 (p. 237);
CAMILO, Nathan. “Feliz o homem que deixa um bom nome”: práticas de nomeação e apadrinhamento na
freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre (1772-1810). Trabalho de Conclusão de
Curso. São Leopoldo, Unisinos, 2011;
CODY, Cheryll Ann. There Was No "Absalom" on the Ball Plantations: Slave-Naming Practices in the
South CarolinaLow Country, 1720-1865. The American Historical Review, Vol. 92, No. 3 (Jun., 1987), pp.
563-596.
COSTA, Alysson de Ávila. À margem esquerda, Miguel: práticas nominativas de indígenas em Rio Pardo
(Continente do Rio Grande de São Pedro, 1755-1765). TCC. Curitiba: UFPR, 2013.
DA VIDE, Sebastião Monteiro. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Coimbra: Colégio das
Artes da Companhia de Jesus, 1707. Grafia por mim atualizada.
DUPÂQUIER, Jacques. Introduction. In: DUPÂQUIER, Jacques, BIDEAU, Alain & DUCREUX, Marie-
Elizabeth. Le Prénom, Mode et Histoire: entretiens de Malher 2 - 1980. Paris: Ecole des Hautes Étudesen
Sciences Sociales, 1984.
18
FERREIRA, Sérgio Luis. Atribuição de prenomes entre afro-brasileiros como forma de individualização
numa freguesia do Sul do Brasil. Anais do XXIV Simpósio Nacional de História da ANPUH, 2007;
HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar calor à nova povoação: estratégias sociais e familiares na
formação da Vila do Rio Grande através dos Registros Batismais (c.1738-c.1763). Tese (Doutorado) - UFRJ,
Rio de Janeiro, 2006.
HANDLER, Jerome S & JACOBY, JoAnn. Slave Names and Naming in Barbados, 1650-1830. The
William and Mary Quarterly, Third Series, Vol. 53, No. 4 (Oct., 1996), pp. 685-728.
HEBRARD, Jean. Esclavage et dénomination: Imposition et appropriation d’un nom chez les esclaves de la
Bahia au xixe siecle. Cahiers du Brésil Contemporain, 2003, n° 53/54, p. 31-92 (p. 50);
MARQUES, Rachel dos Santos. Por Cima da Carne Seca. Hierarquia e estratégias sociais no Rio Grande
do Sul (c. 1750-1820). Curitiba: UFPR, 2012 (Dissertação de Mestrado);
MONTEIRO, Antonio Sérgio Muggiati. Laços invisíveis: o papel da nominação das crianças na formação de
uma identidade cultural na Curitiba setecentista. UFPR, Curitiba, 2009. (Monografia de Conclusão de curso);
MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Os nomes de família em Portugal: uma breve perspectiva histórica,
Etnográfica [Online], vol. 12 (1) | 2008, pp. 45-58.
NADALIN, Sérgio & MERCER, José. Um patrimônio étnico: os prenomes de batismo. In: Topoi. v. 9, n.
17, jul.-dez. 2008, p. 12-21.
PÉROUAS, Louis, BARRIÈRE, Bernardette, BOUTIER, Jean, et alii. Léonard, Marie, Jean et les Autres:
les prénoms en Limousin depuis un millénaire. Paris: Éditions du Centre National de La Recherche
Scientifique, 1984, (p. 1-2);
ROWLAND, Robert. Práticas de nomeação em Portugal durante a Época Moderna: ensaio de aproximação.
Etnográfica [Online], vol. 12 (1) | 2008.
SCOTT, Dario; SCOTT, Ana Silvia & CAMILO, Nathan. Compadrio na Madre de Deus de Porto Alegre no
final do período colonial. Anais do XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, 2012;
THORNTON, John. Central African Names and African-American Naming Patterns. The William and
Mary Quarterly, 3rd Ser., Vol. 50, No. 4 (Oct., 1993), 727-742.