PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Letras
Eni Alves Rodrigues
CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013
a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES
Belo Horizonte
2020
Eni Alves Rodrigues
CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013
a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Letras - Literaturas de Língua Portuguesa. Orientadora: Profª. Drª. Maria Nazareth Soares Fonseca.
Belo Horizonte
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Rodrigues, Eni Alves
R696c Crítica acadêmica das literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil:
um estudo de teses produzidas no período de 2013 a 2017, disponíveis no
Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES/ Eni Alves Rodrigues. Belo
Horizonte, 2020.
162 f. : il.
Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca
Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Letras
1. Brasil. Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 2.
Teses - Catálogos. 3. Literatura africana (Português). 4. Escritores africanos.
5. Literatura comparada. 6. Literatura - Filosofia. 7. Abordagem interdisciplinar
do conhecimento. 8. Universidades e faculdades. 9. Teses - Normalização. I.
Fonseca, Maria Nazareth Soares. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título.
CDU: 869.0(6).09
Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086
Eni Alves Rodrigues
CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013
a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Letras - Literaturas de Língua Portuguesa.
Profª. Drª. Maria Nazareth Soares Fonseca (Orientadora – PUC Minas)
Profª. Dr.ª Aracy Alves Martins(UFMG)
Prof. Dr. José de Sousa Miguel Lopes (UEMG)
Profa. Dr.ª Terezinha Taborda Moreira (PUC Minas)
Prof. Dr. Wellington Marçal de Carvalho (UFMG)
Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2020.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter permitido a realização de mais um sonho.
À minha mãe, Dona Fia, que sempre disse para mim: “Você consegue!”.
Ao meu pai (in memoriam), exemplo de luta e persistência.
Aos meus filhinhos, Samuel e Sávio, pelo apoio incondicional.
Ao meu marido, Wedson, companheiro de todas as jornadas.
À minha orientadora, Maria Nazareth, mestra para a vida toda.
Aos amigos do GEED (Grupo de Estudo em Estéticas Diaspóricas).
Aos meus familiares, pela força nos momentos difíceis.
Aos amigos, que compreenderam minhas ausências e estiverem por perto, mesmo
assim.
Aos colegas de trabalho, pelo incentivo.
À secretaria e ao corpo docente do Programa de pós-graduação em Letras da PUC
Minas, especialmente à professora Terezinha Taborda.
Ao setor de normalização da Biblioteca da PUC Minas pelo zelo com a
normalização bibliográfica deste trabalho, especialmente à bibliotecária Elizângela.
RESUMO
Nesta tese apresentamos o resultado da investigação sobre as práticas de leitura
acadêmica expostas em teses produzidas, no Brasil, sobre as literaturas africanas
de língua portuguesa, defendidas nos anos de 2013 a 2017. Partindo de uma
seleção de teses disponíveis no Catálogo de Dissertações e Teses da CAPES,
produzidas em programas de pós-graduação brasileiros, foram identificados os
pressupostos críticos que orientam os estudos das literaturas africanas de língua
portuguesa, com a intenção de avaliar o impacto de tais estudos na construção de
pontos de vista sobre as concepções literárias abordadas nessas pesquisas. Pode
ser visto também quais nações dos países africanos de língua oficial portuguesa
(Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) têm suas
obras literárias mais estudadas nessas teses, quais autores e autoras são mais
contemplados, bem como, quais temas e teóricos são abordados nas teses do
corpus averiguado. A normalização utilizada nas teses investigadas e a organização
do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES foram pesquisados em alguns
aspectos. Os modos de leituras verificados, as investigações e as discussões
acadêmicas indicaram pressupostos e estratégias críticas da teoria literária em geral
e de outros campos de conhecimento que dialogam com a literatura. Muitos
pressupostos teóricos semelhantes estão presentes nas teses, como os definidos
pelos estudos pós-coloniais e pelos estudos comparados. Os resultados da análise
das teses investigadas mostraram necessidade de maior aplicação da padronização
na elaboração dos resumos e das palavras-chave. Quanto aos sistemas literários o
mais estudado foi o moçambicano, seguido pelo angolano e cabo-verdiano. Os
autores que mais tiveram obras selecionadas para estudos foram Mia Couto,
Pepetela e Paulina Chiziane. Os temas mais analisados foram identidade, memória
e história e os teóricos mais conclamados foram Stuart Hall, Paul Ricouer e Walter
Benjamin. O resultado mostrou, ainda, que as visões de literatura que mais
emergiram das teses investigadas foram aquelas que ressaltam questões acerca do
narrador, de tempo e espaço narrativos e da percepção da realidade, além da
presença marcante do uso de estudos comparados.
Palavras-chave: Literaturas africanas de língua portuguesa. Normalização
bibliográfica. Teses de literatura. Teoria literária.
ABSTRACT
This thesis reports the result of research on academic reading practices addressed in
theses about African literatures in Portuguese, written in Brazil and defended
between 2013 and 2017. Using a selection of theses available in the CAPES Catalog
of Dissertations and Theses, produced in Brazilian postgraduate programs, this study
identifies the critical assumptions that underpin research on African literatures in
Portuguese, with the purpose of evaluating the impact of such studies on the
construction of views on the literary conceptions that they have addressed. This
study also reports other findings: the Portuguese-speaking African countries (Angola,
Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique and Sao Tome and Principe) whose
literary works are their most studied and the authors who are the most frequently
addressed, as well as the most frequent themes and theorists in the corpora of these
theses. The standardization used in the investigated theses and the organization of
the CAPES Catalog of Dissertations and Theses were researched in some respects.
The reading modes, the research studies and the academic discussions in the
Brazilian theses on African literature in Portuguese, in the mentioned period,
indicated critical assumptions and strategies of the literary theory in general and
other fields of knowledge that interact with literature. Many similar theoretical
assumptions are present in the theses, e.g., those defined by postcolonial studies
and comparative studies. The results of the analysis of the theses showed that more
standardization is needed when writing abstracts and keywords. The most frequently
studied literary system was the Mozambican one, followed by the Angolan and the
Cape Verdean systems. The authors whose works were selected for studies more
frequently were Mia Couto, Pepetela and Paulina Chiziane. The themes that were
analyzed most often were identity, memory and history, and the most acclaimed
theorists were Stuart Hall, Paul Ricouer and Walter Benjamin. The result also
showed that the views on literature that emerged most often from the target theses
were those that address issues about the narrator, narrative time and space, and the
perception of reality. Also, the use of comparative studies was remarkably frequent.
Keywords: African literature in Portuguese. Bibliographic standardization. Literature
theses. Literary theory.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29
Figura 2 - Resultados com a palavra-chave "literatura africana" com uso de aspas . 30
Figura 3 - Duplicidade da grande área de conhecimento ―Linguística, Letras e Artes‖31
Figura 4 -Tese da área ―Ciências Sociais Aplicadas‖ recuperada com a palavra-
chave ―literatura africana‖ .......................................................................................... 31
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resultado da busca realizada na data de 14 de maio de 2018 ............ 32
Tabela 2 – Resultado da busca realizada dia 02 de setembro de 2018 ................ 33
Tabela 3 - Total de teses ....................................................................................... 33
Tabela 4 - Resultado das teses selecionadas por região brasileira das Instituições de
Ensino Superior de Ensino (IES) ........................................................................... 34
Tabela 5 - Instituições de Ensino Superior de Ensino depositárias das teses
investigadas .......................................................................................................... 35
Tabela 6 - Ano de produção das teses investigadas ............................................. 36
Tabela 7 - Gênero das autorias das teses ............................................................ 36
Tabela 8 - Gênero das autorias das obras estudadas ........................................... 37
Tabela 9 - Sistemas literários pesquisados nas teses ........................................... 39
Tabela 10 – Teses sobre a literatura moçambicana .............................................. 39
Tabela 11 – Teses sobre a literatura angolana ..................................................... 40
Tabela 12 – Teses sobre a literatura cabo-verdiana ............................................. 40
Tabela 13 – Assuntos abordados nas palavras-chave das teses investigadas ..... 43
Tabela 14 - Temas predominantes nas teses investigadas .................................. 46
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT/NBR Associação Brasileira de Normas Técnicas/Norma Técnica.
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações.
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior.
CINCO Expressão para designar os seguintes países africanos de
língua oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tome e Príncipe.
CTD Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.
IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
IES Instituições de Ensino Superior.
PUC Minas Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10 1 TESES BRASILEIRAS SOBRE LITERATURAS DOS PAÍSES AFRICANOS
DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA: ANÁLISE DOS DADOS DISPONÍVEIS ............................................................................................... 17
1.1 Investigação de teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa depositadas no CTD ................................................................................... 26
1.2 Análise dos dados ...................................................................................... 32 1.3 Sistemas literários, autoria e obras abordadas nas teses investigadas37
1.4 Assuntos das teses investigadas ............................................................. 42 2 TEMAS, AUTORES (AS) E TEÓRICOS(AS) MAIS FREQUENTES NAS
TESES INVESTIGADAS .............................................................................. 45 2.1 Identidade(s) ............................................................................................... 49 2.2 Memória(s) .................................................................................................. 52
2.3 História ........................................................................................................ 56 2.4 Literatura moçambicana ............................................................................ 61 2.4.1 Mia Couto .................................................................................................... 64 2.4.2 Paulina Chiziane ......................................................................................... 71 2.5 Literatura angolana .................................................................................... 73
2.5.1 Pepetela ....................................................................................................... 75 2.6 Literatura cabo-verdiana ............................................................................ 78 3 VISÕES DE LITERATURA NAS TESES INVESTIGADAS ......................... 82 3.1 Literatura como contação de histórias ..................................................... 88 3.2 Literatura e cronotopia: espaço e tempo como uma conexão possível 93 3.3 Literatura e realidade: percepção e narração .......................................... 97
3.4 Literatura e sociedade: o comprometimento ético das literaturas africanas de língua portuguesa ............................................................... 102
3.5 Estudos comparativos: diversas linguagens para um mesmo tema ... 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 119 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 130 ANEXO A - TESES INVESTIGADAS ......................................................... 140 ANEXO B - TABELA 1 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES
INVESTIGADAS ......................................................................................... 149 ANEXO C - TABELA 2 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES
INVESTIGADAS (INDIVIDUALMENTE E COMPARATIVAMENTE) ......... 151 ANEXO D - TABELA 3 – ORIENTADORES(AS) DAS TESES
INVESTIGADAS ......................................................................................... 153 ANEXO E - TABELA 4 – OBRAS ESTUDADAS NAS TESES
INVESTIGADAS ......................................................................................... 155 ANEXO F - TABELA 5 – ASSUNTOS DAS PALAVRAS-CHAVE ............ 157
10
INTRODUÇÃO
A proposta desta tese surgiu do interesse de promover um estudo
interdisciplinar que pudesse ser construído com os instrumentos próprios da minha
formação acadêmica e que têm me auxiliado a desenvolver minhas pesquisas. Sou
graduada em Biblioteconomia, exerço a profissão de bibliotecária e atuo na área de
Letras. Interessada em desenvolver estudos a partir da interação entre as duas
áreas em que contribuo, a de Biblioteconomia e a de Letras, desenvolvi pesquisa
que fundamentou a minha dissertação de Mestrado, intitulada A inclusão de obras
de Mia Couto nos kits de literatura de escolas mineiras e os pressupostos da lei nº
10.639/2003: pontos de vista e propostas de leitura. A dissertação defendida em
2015, no Programa de Pós- Graduação em Letras da PUC Minas, sob orientação da
Professora Maria Nazareth Soares Fonseca, exemplifica os diálogos que, desde
aquela época, procuro estabelecer com as áreas pelas quais transito.
Chamou-me a atenção, nos anos em que venho me envolvendo com
reflexões e pesquisas sobre a literatura, o modo como essa área de conhecimento
está discutida em teses, sobretudo nas produzidas sobre as literaturas africanas de
língua portuguesa. A consulta aos estudos sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa indicava que a investigação voltada a questões ligadas aos cinco países
africanos de língua oficial portuguesa (CINCO) 1, que são Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, eram relacionadas à história, à
identidade e cultura. Mas não era conhecida uma sistematização desses dados, as
considerações e debates se valiam de informações que até conseguiam desconstruir
alguns estereótipos sobre as culturas africanas e suas literaturas.
As indagações fortaleceram as motivações para a realização de uma
pesquisa mais profunda, que contemplasse anseios meus sobre o modo como as
1 A partir desse ponto usaremos da expressão CINCO para designar os seguintes países Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Sabemos que a sigla oficial para os países africanos de língua oficial portuguesa é PALOP, porém pensamos que a sigla CINCO é mais apropriada, por não carregar em si a ideia de lusofonia. Apoiamos a nossa decisão nas palavras de Inocência Mata (2013), quando esta fala a motivação para não adotar a sigla oficial para tais países: ―Privilegio esta designação dos países de língua portuguesa de África, em detrimento de PALOP, não apenas pelo equívoco que encerra (são países de outras línguas também, sobretudo do crioulo, que em três deles é realmente «língua nacional»), mas, sobretudo na esteira de Mário Pinto de Andrade para quem a designação «os Cinco» resgata a utopia da fraternidade dos tempos da luta anticolonial, com a criação da CONCP-Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, fundada sob a égide de Amílcar Cabral em 1961, em Rabat, Marroco‖. (MATA, 2013, p.106).
11
áreas às quais pertenço poderiam ser pesquisadas em teses brasileiras. Ao procurar
pôr em prática as minhas intenções, redigi um projeto que procurou se constituir por
um viés de ciência aplicada e literária, ciente de que as pesquisas em Ciências
Sociais Aplicadas se enquadram na busca de dados atualizados de questões sociais
tais como cultura e política. Esse aspecto fortaleceu a proposta de se fazer uma
pesquisa que primasse pela interdisciplinaridade.
Nesta pesquisa procuramos utilizar os recursos de normalização e
metodologia científica da Biblioteconomia para sistematizar os dados obtidos nas
teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa, no Brasil. O foco consistiu em
mostrar aspectos da pesquisa acadêmica, especificamente teses sobre literaturas
africanas de língua portuguesa e discutir questões e reflexões sobre a literatura que
emergem dessas pesquisas. Buscamos dar maior importância às discussões do que
à coleta de dados e análise destas informações, já que a tese está filiada ao
Programa de Pós–Graduação em Letras, na área de conhecimento da Literatura.
Constituiu-se um motivador importante da pesquisa o trabalho em
desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas, ao
qual se filia esta tese. Esse Programa, desde sua criação, em 1989, acolhe
pesquisas sobre as literaturas africanas de língua portuguesa e esse fator fortalece a
necessidade de se conhecer como essas literaturas foram e são investigadas tanto
pelo próprio programa, quanto por outros cursos de pós-graduação em Letras das
diferentes regiões do Brasil. Além disso, é interessante apontar como estão sendo
feitas as pesquisas e a importância delas para as literaturas africanas de língua
portuguesa com discussões como as que apresentam as teses investigadas.
Os resultados que apresentamos, nesta tese, estão baseados em dados
retirados do material selecionado e não decorre de inferências que, por vezes,
constituem uma das características da pesquisa acadêmica brasileira sobre as
literaturas africanas de língua portuguesa. A investigação das teses indica que a
teoria aplicada às discussões teóricas sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa é, quase sempre, de origem europeia, embora alguns teóricos(as)
africanos(as) tenham sido adotados nas pesquisas, como se comprovará nas
discussões apresentadas nos capítulos. A afirmação de importantes estudiosos
africanos sobre a baixa utilização de referencial teórico produzido em África
fortaleceu o interesse em avaliar com qual intensidade essa questão se mostra nas
12
teses investigadas.
Uma pesquisa realizada pela professora Regina Dalcastagné, da
Universidade de Brasília, sobre a presença de personagens negros e pobres na
literatura brasileira2 foi importante incentivo para a elaboração da tese. A
investigação realizada pela pesquisadora foi além da análise de obras literárias ao
demonstrar, com base em dados quantitativos, a invisibilidade de negros e pobres,
já afirmada hipoteticamente, na construção de personagens de obras literárias
publicadas pelas mais conceituadas editoras do Brasil. O método utilizado se
aproxima do que expomos em nossa tese, sobretudo por se realizar com critérios da
investigação quantitativa. Para a execução da tese, foi preciso estabelecer critérios
metodológicos de fontes de dados e de tabulação.
Estabelecemos, primeiramente, que as fontes dos dados fossem as teses
sobre literaturas africanas de língua portuguesa e não dissertações, por concluir que
a investigação científica desenvolvida em tempo mais longo apresenta discussões
mais aprofundadas. Como critério de seleção para compor o corpus da pesquisa,
buscamos teses produzidas em Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil,
definindo uma amostragem de teses de doutoramento oriundas de IES que
abarcasse todas as regiões geográficas. Resolvidas as questões das fontes de
dados, precisávamos escolher a forma de coleta, então decidimos que coletaríamos
as teses brasileiras sobre as literaturas africanas de língua portuguesa no Catálogo
de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES)3, catálogo online, gratuito e de livre acesso e que é alimentado
por teses e dissertações da maioria das IES brasileiras.
Em consultas avaliativas do catálogo da CAPES, para delimitar o corpus a ser
pesquisado, descobrimos que, apenas a partir de 2013, o catálogo disponibiliza
informações que vão além da referência bibliográfica das teses e dissertações
coletadas. Como pretendíamos ler o resumo, palavras-chave e algumas teses na
íntegra, optamos por limitar o período de abrangência da consulta a partir 2013 com
2 DALCASTAGNÈ, R. (2011). A personagem do romance brasileiro contemporâneo. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea. Brasília: Universidade Federal de Brasília, v.26, p.13-71, 2011. Saiba mais sobre a pesquisa e a pesquisadora no site: https://www.gelbc.com/regina-dalcastagn
3 CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados do país. O acesso ao banco de teses e dissertações está disponível no site http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses
13
término em 2017, ano da escrita do projeto, ficando assim a pesquisa restrita ao
período de cinco anos. Enfim, delimitamos o local, o período e a fonte dos dados da
pesquisa sobre literaturas africanas de língua portuguesa que pretendíamos realizar,
o que pode ser percebido no título que demos à tese: Crítica acadêmica das
literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil: um estudo de teses produzidas
no período de 2013 a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da
CAPES.
Esclarecida a formação dos dados da pesquisa, escolhemos iniciar a consulta
pelas palavras-chave e pelos resumos, para verificar se esses itens se
apresentavam de acordo com as normas técnicas que os regulamentam em
trabalhos acadêmicos. As palavras-chave e resumos são fontes de informação4 para
pesquisadores de qualquer área, assim como são para a Literatura. Portanto, para
produzi-los deve-se obedecer às normas que propiciem buscas eficazes dos
assuntos pesquisados, das metodologias adotadas e dos resultados obtidos.
Na pesquisa realizada, mostramos a importância das normas técnicas da
Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) para trabalhos científicos, pois os
dados padronizados podem levar à recuperação mais exata do assunto pesquisado
e possibilitam que a fortuna crítica seja (re)conhecida, dando visibilidade ao que está
sendo estudado nas áreas de conhecimento, no nosso caso especial, a Literatura.
Através de dados quantitativos e reflexões sobre as literaturas africanas de
língua portuguesa procuramos abordar, nas teses investigadas, os seguintes
aspectos:
- a investigação proposta pelas teses selecionadas no período de 2013 a 2017, no
Brasil;
- como e quais sistemas literários dos CINCO foram contemplados nas teses, bem
como quais obras e autores;
- que temáticas são abordadas com mais frequência e quais foram os teóricos(as)
mais solicitados pelas teses sobre os temas tratados por elas;
- as principais visões de literatura que emergem das teses investigadas e os
4 As fontes de informação especializadas são artefatos construídos por seres humanos que agenciam uma série de elementos informacionais sobre determinado recorte/especialidade da existência cotidiana. Esses artefatos se prestam, pelo menos para isso é que foram concebidos, a sanar uma demanda especificamente, não obrigatoriamente, podem apontar novos caminhos em virtude do que resultar o ato de compulsar esses mecanismos.(CARVALHO, W. M; GOMES, G. M. R; REZENDE, A. Fontes de informação especializada em africanidades. Ponto de acesso. Salvador, v. 13, n.1, p. 174-201. Ago.2019.)
14
elementos constituintes da estrutura das obras analisadas;
- promoção do acesso a dados comprováveis retirados de teses sobre a produção
acadêmica brasileira que trata das literaturas africanas de língua portuguesa em
suas pesquisas científicas.
A discussão dos itens acima se apresenta, na tese, organizada em três
capítulos, além da introdução e das considerações finais. Os capítulos específicos
têm os títulos:
1. Teses brasileiras sobre literaturas dos países africanos de língua oficial
portuguesa: análise das informações disponíveis.
2. Temas, autores(as) e teóricos(as) mais frequentes nas teses investigadas.
3. Visões de literatura nas teses investigadas.
No capítulo 1, intitulado Teses brasileiras sobre literaturas dos países
africanos de língua oficial portuguesa: análise das informações disponíveis,
construímos uma abordagem conceitual sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa e um breve histórico das pesquisas sobre elas, no Brasil. Procuramos
apresentar a metodologia adotada para recolher as teses produzidas no Brasil, no
período de 2013 a 2017, sobre literaturas africanas de língua portuguesa. Neste
capítulo estão disponibilizadas informações sobre coleta, tabulação e análise dos
dados colhidos nas 74 teses que formam o corpus da pesquisa5. Julgamos
importante nomear este corpus, como ―teses investigadas‖, a fim de não precisarmos
repetir, a todo o momento, que as informações não são generalizantes, pois
obedecem a um recorte específico: teses brasileiras da pesquisa acadêmica sobre
as literaturas africanas de língua portuguesa, produzidas de 2013 a 2017. Também
fizemos uma avaliação das ferramentas de pesquisa disponíveis sobre teses e
dissertações produzidas no Brasil e da aplicação das normas técnicas da ABNT para
elaboração de resumos e palavras-chave em trabalhos acadêmicos.
No capítulo 2, intitulado Temas, autores(as) e teóricos(as) mais frequentes
nas teses investigadas, apresentamos discussões sobre os principais temas
abordados, sobre a autoria das obras selecionadas e sobre o aporte teórico que
os(as) pesquisadores(as) adotaram para realizarem seus estudos. A partir dessa
análise, foi possível projetar, quais temas e gêneros literários das literaturas
africanas de língua portuguesa foram merecedores de estudos nos últimos anos no
5 As referências bibliográficas das 74 teses investigadas podem ser vistas no Anexo A.
15
Brasil, destacando os mais investigados e os menos trabalhados.
Neste capítulo, notamos que as teses defendidas no início do período
investigado, voltavam-se, predominantemente, aos estudos sobre a oralidade e a
questões históricas. Ao mesmo tempo, vimos que, nas teses investigadas, os temas
mais presentes propostos para a abordagem literária das obras africanas foram:
identidade, memória e história. Observamos que os autores de obras mais
escolhidas para a produção das teses investigadas foram Mia Couto, Pepetela e
Paulina Chiziane. Embora as literaturas africanas de língua portuguesa componham-
se de cinco sistemas literários distintos (literatura angolana, cabo-verdiana,
guineense, moçambicana e santomense), na nossa busca não obtivemos nenhum
retorno específico de tese para a literatura santomense. Também identificamos que
a literatura moçambicana, a angolana e a cabo-verdiana foram os sistemas literários
mais abordados pelas teses investigadas. De posse dessas informações,
investigamos as abordagens específicas de cada tese selecionada, para perceber
quais teóricos(as) e teorias foram adotados pelos pesquisadores. A partir dos
resultados das investigações, identificamos informações sobre as discussões
estéticas e de teoria literária que se apresentam no capítulo 3, intitulado Visões de
literatura nas teses investigadas.
Para a construção deste capítulo, elaboramos uma nova seleção dentre as
teses que abordaram os três principais temas, para investigarmos, de forma mais
profunda as questões literárias específicas nelas presentes e tirarmos questões
relativas ao trabalho literário elaborado pelos autores privilegiados.
Neste último capítulo, discutimos as questões que sobressaíram, nas teses
investigadas, sobre narratologia, espaço-tempo ficcional, narração da realidade e
sobre a forma investigativa da literatura comparada. Sobre os narradores presentes
nas obras analisadas pelas teses, verificamos o resgate do narrador nostálgico de
Walter Benjamin, aquele cuja característica principal é ser um tipo de contador de
histórias. A questão espaço-temporal nas narrativas releva a importância de esta ser
apresentada aliando-se às relações culturais, históricas e sociais. A realidade
narrada, aspecto muito lembrado nas abordagens sobre literaturas africanas de
língua portuguesa, está presente nas teses investigadas, mas está muito além de
apenas um comprometimento ético com a nação, está presente através dos
recursos estéticos utilizados pelos(as) autores(as) dos CINCO. Os estudos
16
comparativos foram a forma mais requisitada para a busca de abarcar a questão
pós-colonial e da colonização africana e sua diáspora.
Neste trabalho fica clara a proposta de, além de uma revisão bibliográfica,
construir um diagnóstico da pesquisa acadêmica brasileira sobre literaturas africanas
de língua portuguesa nos últimos cinco anos. Pensamos ser possível depreender da
análise das teses investigadas reflexões sobre a pesquisa literária e sua relação
com os estudos pós-coloniais. Além disso, é nosso propósito oferecer um recorte
das visões estéticas e literárias privilegiadas pela análise de textos que se voltaram
aos cenários delineados pelo colonialismo na África e pelas almejadas
independências ou que se motivaram por situações de guerra (colonial e civil) para
encenar a morte de utopias e os caminhos possíveis a serem trilhados no âmbito do
pós- independência.
Esperamos que esta tese, um estudo interdisciplinar que se vale de
mecanismos de abordagem permitidos pelos estudos biblioteconômicos e literários,
possa ser útil para se conhecer particularidades do trabalho acadêmico realizado por
teses brasileiras sobre as literaturas africanas de língua portuguesa no período
recortado. Essa tese tem, certamente, a intenção de avaliar propostas de
investigação científica que sustentam a tese produzida, como fonte e como
inspiração.
17
1 TESES BRASILEIRAS SOBRE LITERATURAS DOS PAÍSES AFRICANOS DE
LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA: ANÁLISE DOS DADOS DISPONÍVEIS
No Brasil ainda são poucos os cursos de Letras que oferecem aos alunos
disciplinas de literaturas africanas de língua portuguesa6, na pós-graduação. Por
esse motivo, muitos estudantes, leitores e pesquisadores brasileiros ainda se
sentem afastados do contato com as obras dessas literaturas.
Embora essa feição curricular se refira, sobretudo, a cursos de Letras
distantes dos grandes centros urbanos, ela não impede que já exista uma
considerável crítica7 voltada às publicações de autores africanos de língua
portuguesa, acessível a estudiosos e leitores dessas literaturas. Dentre essa
produção, muitas teses têm se voltado a discussões importantes sobre a literatura
publicada no pré e no pós-independência de cada um dos países africanos de língua
oficial portuguesa, sob a orientação de estudiosos brasileiros que, mesmo não
pertencentes às universidades selecionadas por esta tese, se responsabilizam por
dissertações e teses sobre as literaturas produzidas nos espaços africanos de língua
portuguesa.
Pesquisas bibliográficas comprovam que as literaturas africanas de língua
portuguesa têm sido estudadas muito mais fora de seus países do que neles e que
tal cenário pode ser explicado por vários motivos. Um deles seria o fato de esses
estudos serem produzidos, com maior regularidade e intensidade em instituições de
ensino portuguesas e brasileiras, sobretudo a partir da década de 90. A estudiosa
santomense, Inocência Mata, critica, em texto publicado em 2013, algumas questões
sobre a presença das literaturas africanas de língua portuguesa em instituições
portuguesas e brasileiras, ressaltando que,
Já em 1995, Carlos Reis chamara a atenção para a existência, na comunidade acadêmica portuguesa (e, acrescento eu, brasileira) de ―uma mal disfarçada resistência contra o reconhecimento do significado próprio das chamadas Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa; fruto, em parte, de reminiscências ideológicas de raiz colonialista, essa resistência funda-se também na leitura de tais literaturas à luz do cânone literário português e europeu, leitura que, desse ponto de vista, é
6 Literaturas africanas de língua portuguesa são produzidas por autores dos seguintes países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
7 Podemos citar alguns estudiosos e estudiosas que têm uma produção crítica reconhecida como: Maria Aparecida Santilli e Benjamin Abdalla Júnior, Rita Chaves, Tânia Macedo e Simone Caputo, da USP; Carmen Tindó, da UFRJ, Laura Padilha da UFF, Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira, da Puc Minas, dentre outros.
18
naturalmente desqualificadora‖ (1995, 77). Creio, porém, que esta não é uma atitude do passado: ela continua, por vezes nem tão disfarçada assim, a condicionar as perspectivas das literaturas em português, embora seja evidente o grande avanço no reconhecimento das literaturas africanas, mormente dado o papel das editoras – essa poderosa instância de legitimação literária– nesse processo.(MATA, 2013, p. 113).
Embora concordemos com a existência do viés epistemológico eurocêntrico
dos primeiros estudos sobre as literaturas africanas de língua portuguesa,
produzidos no Brasil, devemos constatar o avanço das pesquisas desenvolvidas
com o auxílio de vertentes estéticas mais abarcadoras das nuances culturais dos
países africanos colonizados por Portugal e, também, o fato de esses estudos terem
contribuído para o questionamento da visão dessas literaturas como exóticas. É
importante ressaltar, nos estudos de obras das literaturas africanas de língua
portuguesa, o caráter combativo ao colonialismo e questionador de feições
harmonizadoras de projetos de nação, ainda que, muitas vezes, não seja destacado
o modo como textos e obras eram criados como artefato literário, com um trabalho
estético particular.
Postas essas questões, é possível considerar que os estudos das literaturas
africanas de língua portuguesa, no Brasil, têm um histórico já bem definido,
sobretudo se levarmos em conta as pesquisas desenvolvidas por pesquisadores
renomados, pertencentes à fase inicial do estudo dessas literaturas em
universidades brasileiras. A professora Laura Padilha (2010) refere-se à História dos
estudos sobre a África no Brasil e destaca alguns dos pioneiros da área:
Na história dos cursos de Letras, no Brasil, os estudos sobre a África e sua produção literária foram sempre colocados à margem e encobertos por um denso manto de silêncio. Tal situação começa a querer reverter-se nos anos setenta, mormente depois das independências dos países então colonizados por Portugal, países estes cuja literatura constitui a área do conhecimento em que mais diretamente atuo. Foi fundamental, em todo esse processo, o papel da Universidade de São Paulo e dos seus pesquisadores pioneiros, como Fernando Mourão e Maria Aparecida Santilli. (PADILHA, 2010, p. 2).
Ainda segundo Laura Padilha (2010), no Brasil, em vários cursos de Letras,
especificamente, ―nos cursos de Graduação [...], as cinco Literaturas Africanas em
Língua Portuguesa não se elencavam como obrigatórias, conforme se dava com a
Portuguesa e a Brasileira‖ (PADILHA, 2010, p. 2).
Nas considerações de Laura Padilha (2010) fica destacado o fato de as
literaturas africanas terem sido estudadas até meados dos anos 90 em ementas de
disciplinas optativas ou subordinadas à disciplina de literatura portuguesa, mesmo
19
após a independência dos países africanos colonizados por Portugal. Vale ressaltar
a exceção constituída pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas,
que procurou oferecer, regularmente, desde a sua criação, em 1989, disciplinas
obrigatórias de literaturas africanas de língua portuguesa, em cursos de pós-
graduação, contando com professores de outras universidades brasileiras e mesmo
da África.
Sendo o primeiro programa de pós-graduação, no Brasil, a oferecer cursos
regulares de literaturas africanas de língua portuguesa, o Programa de Pós-
Graduação em Letras da PUC Minas, possuía, até o ano de início desta pesquisa
(2018), duas áreas de concentração: ―Linguística e Língua Portuguesa” e
“Literaturas de Língua Portuguesa‖, nos níveis de Mestrado e Doutorado. Na área de
concentração de Literaturas de Língua Portuguesa, o programa ofereceu, até 2018,
as seguintes linhas de pesquisa:
- Identidade e alteridade na literatura; Estudo da relação identidade/alteridade e suas representações no imaginário social, tal como se configura nas literaturas de língua portuguesa, em seu diálogo com outras literaturas e/ou sistemas semióticos. - Texto, gênese e memória; Estudo de textos das literaturas de língua portuguesa e sua gênese, com vistas à crítica textual, à produção de edições, sua recepção crítica e ficcional e sua recuperação para a historiografia literária. - Modernidade e pós-modernidade na literatura. Estudo da construtividade e da autorreferencialidade textuais com que se elaboram a narrativa, a poesia e o texto dramático da modernidade e da pós-modernidade nas literaturas de língua portuguesa. (PUC MINAS, 2017, s.p. grifo nosso).
O Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas, através de seus
objetivos, buscava, então, focalizar as literaturas de língua portuguesa, de que
fazem parte as literaturas africanas escritas em português, assim no plural, por
acreditar que os países africanos que têm a Língua Portuguesa como língua oficial
única ou aliada a outros idiomas, produzam literaturas de língua portuguesa.
No âmbito do Programa de Pós-graduação da PUC Minas são acolhidas
pesquisas sobre as literaturas do Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde,
Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Os estudos literários produzidos
abarcam, com frequência, as literaturas de língua portuguesa: africanas, a
portuguesa e a brasileira destacando as correlações com a teoria literária, bem
como a comparação com as literaturas produzidas em outros países.
A pesquisa acadêmica do Programa de Pós-Graduação da PUC Minas tem
20
propiciado uma grande contribuição aos estudos das literaturas africanas de língua
portuguesa, ou seja, das literaturas produzidas nos CINCO. Acerca do lugar
ocupado pela literatura nesses países, Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha
Taborda Moreira (2007) destacam aspectos da produção literária e das tensões
reveladas pela construção de uma consciência nacional:
o estudo da produção poética dos autores africanos pode ser feito mediante uma abordagem diacrônica das literaturas a que pertencem, o qual observa: as dificuldades do sujeito poético de se encontrar com seu universo africano; o fato de que grande parte da produção literária reflete a busca da identidade cultural e a tomada progressiva de uma consciência nacional; o fato de que é sempre possível detectar, nos autores, o momento poético da luta, que se configura num discurso de resistência e de reivindicação por mudanças; as mudanças que encaminham para um processo de releitura constante que liga o presente e o passado na construção de uma África que se renova continuamente. (FONSECA; MOREIRA, 2007, p. 4).
A abordagem diacrônica das literaturas dos CINCO aliada a um sistema
literário recente destes países, já que ficaram independentes a partir da década de
70, é ainda um obstáculo à pesquisa acadêmica, pois não existe até o momento
uma História oficial das literaturas dos CINCO, apesar de muitos críticos
apresentarem suas visões sobre a questão. Nesse sentido, podem ser citadas
algumas obras relevantes: Roteiro da literatura angolana (1985), de Carlos
Ervedosa, Literatura africana de expressão portuguesa (1987), de Manuel Ferreira;
Literaturas africanas de expressão portuguesa (1995) de Pires Laranjeira; A nova
literatura da Guiné Bissau (1998), de Moema Augel e Literatura africana, Literatura
necessária (1985), de Russel G. Hamilton, Polifonia Insulares (2010), de Inocência
Mata, A formação do romance angolano (1999), de Rita Chaves e Cabo Verde:
literatura em chão de cultura(2008), de Simone Caputo Gomes.
Convém ressaltar que havia, em todos os CINCO, textos literários produzidos
já no século XIX, mesmo que fossem produzidos de forma incipiente e pouco
conhecidos dos estudiosos não africanos. É importante destacar a força da literatura
vigente no período anterior às independências e, em países como Angola, Cabo
Verde e Moçambique, a existência de projetos literários que introduziram a
modernidade literária, embora estivessem, ainda, sob o domínio da colonização
portuguesa.
Podemos dizer que, a partir da introdução de cursos de literaturas africanas
de língua portuguesa em universidades portuguesas e, posteriormente, em cursos
21
de Letras, no Brasil, surgem estudos mais constantes e significativos sobre essas
literaturas, muitas vezes vistas como literaturas ainda em formação, sem muitos
recursos estéticos. ―Literaturas menores‖, certamente não no sentido proposto por
Deleuze e Félix Guattari8.
Essa questão é apontada por Inocência Mata quando fala do:
[...] incômodo que qualquer estudioso de literaturas africanas de língua portuguesa sente (ou já sentiu – e que eu já senti tanto como estudante quanto como profissional) no seu ofício é a desvalorização do seu objeto de estudo, considerado, implícita ou explicitamente, como literaturas menores. Tal atestado de menoridade decorre de uma resistência eurocêntrica (a que não está ausente o desconhecimento) em relação às outras literaturas ditas universais, mesmo na academia (no Brasil e em Portugal), onde se esperaria um espírito mais condizente com a ―qualidade do que é universal‖ para que o termo universidade remete. (MATA, 2014, p. 36).
Ao pesquisarem sobre literaturas africanas de língua portuguesa muitos
pesquisadores brasileiros defrontam-se com diferenças culturais, nem sempre bem
compreendidas. No entanto, não se pode desconsiderar a contribuição séria e
robusta desses pesquisadores na produção crítica e editorial dessas literaturas. É
também consistente o empenho realizado por docentes brasileiros na formação de
pesquisadores, nessa área, e mesmo de pesquisadores africanos que procuram as
instituições brasileiras, para alavancar a crítica literária dos CINCO. É pertinente
considerar que os esforços de estudiosos de literaturas produzidas em países que
não sejam os seus esbarram em questões sócio-históricas que exigem
conhecimentos que vão além dos estudos literários. É o que considera Inocência
Mata (2014) ao discutir a questão da ―validação externa‖ de obras de autores
africanos:
Mas não pode ser um acrítico movimento, como a que decorre a dinâmica da periferia para o centro em que se gera algumas particularidades que caracterizam o fenômeno literário nos países africanos (falo particularmente dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa). Um deles é ―um movimento em que os escritores olham para fora – normalmente para a antiga metrópole e daí para o ‗mundo‘ – para serem reconhecidos‖ (Mata, 2011). Muitas são as modalidades dessa ―validação‖ estética sendo a que se segue a mais superficial, embora muito eficaz nos danos que provoca: se foi publicado em Portugal ou no Brasil é porque a obra tem qualidade, se não o foi é porque não tem, afinal o ―critério editorial‖ é a qualidade e quaisquer outras considerações revelam fantasmagorias e complexos. Nesse processo, o Ocidente e seus avatares (lugares, locais e sujeitos) continuam a ser o modelo, não se tendo em conta que se o cânone literário é o reflexo e o
8 DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1975
22
instrumento de um determinado paradigma, também pode ser lugar onde se enceta a desconstrução desse mesmo paradigma, através da ―descolonização da mente‖ (Ngugi Wa Thiong‘o). (MATA, 2014, p. 36).
Podemos dizer que fazer crítica acadêmica sobre a produção literária de país
que não o do(a) estudioso(a) ou do(a) crítico(a) gera limitações, mas é na
universalidade do objeto de estudo da literatura – a obra literária em si – que está a
atenuante destes obstáculos. Vale ressaltar a importância de buscar teorias literárias
produzidas nos CINCO para melhor compreender questões caras aos estudos
literários como a discussão de conceitos como realidade, tempo, espaço, memória,
identidade e estratégias literárias mais afeitas à escrita criativa africana, presentes
na construção do texto.
Reiteramos que pretendemos fazer uma investigação sobre as práticas de
leitura acadêmica expostas em teses produzidas no Brasil sobre as literaturas
africanas de língua portuguesa, defendidas nos anos de 2013 a 2017. Partindo de
uma seleção de teses apresentadas em vários programas de pós-graduação
brasileiros, propomos identificar os pressupostos críticos que orientaram os estudos
das literaturas africanas de língua portuguesa, com a intenção de avaliar o impacto
de tais estudos na construção de pontos de vista sobre as concepções de literatura
abordadas nesses estudos. É intenção averiguar também quais nações dos CINCO
têm suas obras literárias mais estudadas nas teses selecionadas, quais autores e
autoras são mais contemplados, nessas produções científicas, bem como, quais
temas são abordados por essa produção acadêmica.
Consideramos, assim, que os modos de leitura, as investigações e as
discussões acadêmicas, nas teses brasileiras sobre literaturas africanas de língua
portuguesa, no período mencionado, indicam pressupostos e estratégias críticas da
teoria literária em geral e de outros campos de conhecimento que dialogam com a
literatura. Mesmo sabendo que, quando diferentes estudos críticos discutem um
mesmo tema, a abordagem é sempre singular, pensamos, ainda de forma hipotética,
que muitos pressupostos teóricos semelhantes podem estar presentes nas teses,
pois, além das relações que os textos literários estabelecem com diferentes campos
reflexivos, estes se entrelaçam com outras áreas do conhecimento, sobretudo com a
Antropologia, a Filosofia, a História, a Psicologia e a Sociologia. É intuito deste
trabalho deixar mais evidente quais os suportes teóricos mostram-se predominantes
nas teses investigadas. A análise das teses expõe temas preponderantes, a maioria
23
relacionada com a colonização portuguesa, em África, com as guerras de
independência e civil e com os rumos tomados em cada um dos países no pós-
independência, encenados por agenciamentos literários diversos.
Nesta tese adotaremos como método de pesquisa a análise documental, que,
segundo Marli André e Menga Lüdke (1986), tem como objetivo identificar
informações pontuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de
interesse. A escolha desta metodologia para nossa pesquisa pareceu-nos
adequada, por perceber que, ao propor partir das questões teóricas que alicerçam
os estudos das literaturas africanas de língua portuguesa, construímos uma
pesquisa por amostragem das teses produzidas, no período delimitado, para
investigar tais indagações, bem como consolidar outras investigações que com elas
se relacionam.
O estudo através da análise documental parece-nos o caminho ideal para
refletir sobre nossas questões investigativas, pois:
Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte "natural" de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto. (ANDRÉ, LUDKE, 1986, p. 40).
Sabendo que as informações contextualizadas nos documentos oferecem dados
para uma reflexão embasada sobre um assunto, buscamos realizar uma análise
documental que contemple as seguintes etapas:
1. A caracterização do tipo de documento;
2. Seleção da fonte dos documentos;
3. A definição da amostragem;
4. A análise, propriamente dita, dos dados.
Na tentativa de produzir uma investigação que dê maior visibilidade à
pesquisa acadêmica brasileira sobre as literaturas africanas de língua portuguesa,
selecionamos para este estudo apenas teses. O recorte se explica porque, embora
saibamos da riqueza da comunidade científica brasileira na produção de
dissertações, artigos e capítulos de livros voltados à temática, pensamos que, nas
teses, existe uma maior profundidade de reflexão que se explica por dois motivos
principais: pelo tempo de dedicação à pesquisa e pela especificidade do documento
24
produzido, ao finalizar o estudo.
Primeiramente, pensamos em selecionar teses das universidades que
contivessem, em seus programas de doutorado em Letras, uma linha de pesquisa
que contemplasse as literaturas africanas de língua portuguesa. Em teste preliminar
dessa hipótese de fonte de dados para nossa tese, foi verificado que muitas das
teses sobre as literaturas africanas de língua portuguesa eram oriundas de
instituições que não contemplam essa linha de pesquisa em seus cursos de pós-
graduação. Por esse motivo, optamos por obter as teses a partir do Catálogo de
Teses e Dissertações (CDT) da CAPES, disponível para acesso livre online. Trata-se
de recurso que, conforme a instituição constitui-se de
ferramenta, criada em 2002, que permitia a pesquisa apenas por autor, título, instituição, nível e ano de defesa do trabalho, agora também permite a pesquisa nos campos resumo, palavras-chave, biblioteca, linha de pesquisa, área de conhecimento, programa, agência financiadora, nível e, caso deseje, a possibilidade de pesquisar em todos os campos. (CAPES, 2017, sp).
Escolhida como fonte de informação o Catálogo de teses e Dissertações da
CAPES, passamos à delimitação do tema: literaturas africanas de língua portuguesa
e sua crítica no Brasil. A escolha desta fonte de informação se deu depois de testes
com pequena amostragem. Foi realizada uma pesquisa com a metodologia do
projeto feito para esta tese. O resultado foi uma comunicação no Seminário de
discentes da PUC Minas - 20189. Foram averiguados dois catálogos de Teses e
Dissertações brasileiras: o Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES10 e a
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) 11. A escolha foi pelo
9 Seminário Discente do Programa de Pós-graduação em Letras PUC Minas – 2018. O evento criado em 2018, tem a proposta de periodicidade anual e de ser aberto a toda a comunidade acadêmica. (PUC Minas, 2018).
107 Catálogo de Teses e dissertações da CAPES, funciona dentro da plataforma Sucupira da Capes, disponibiliza resumos e textos integrais, quando autorizados, de todas as teses de doutorado e dissertações de mestrado apresentadas no Brasil. Por enquanto, a ferramenta tornou disponíveis as informações de 2013 a 2016, mas o objetivo é, em breve, ter o histórico dos trabalhos de conclusão de pós-graduação no país desde o ano de 1987.
11 A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), do (IBICT), integra e dissemina, em um só portal de busca, os textos completos das teses e dissertações defendidas nas instituições brasileiras de ensino e pesquisa. O acesso a essa produção científica é livre de quaisquer custos. A BDTD contribui para o aumento de conteúdos de teses e dissertações brasileiras na internet, o que significa a maior visibilidade da produção científica nacional e a difusão de informações de interesse científico e tecnológico para a sociedade em geral. Além disso, a BDTD também proporciona maior visibilidade e governança do investimento realizado em programas de pós-graduação. (IBICT, 2018). A (BDTD) foi concebida e é mantida pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) no âmbito do Programa da Biblioteca
25
Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES (CTD)12, pois este contempla 415
instituições brasileiras produtoras de teses e dissertações, enquanto que na BDTD
do IBICIT apenas 114 universidades depositaram suas produções cientificas.
Esperamos, além de realizar um estudo sobre as teses produzidas, também
contribuir com uma avaliação das ferramentas de pesquisa disponíveis sobre teses e
dissertações produzidas no Brasil. Assim, poderemos aferir se os resultados das
buscas feitas oferecem as respostas esperadas pelos pesquisadores.
O CTD é uma ferramenta que possui diversas maneiras de coletar as
informações. Uma delas é a busca a partir das palavras-chave. Escolhemos
palavras-chave selecionadas por nós, a partir de reflexões teóricas, já existentes,
sobre literaturas africanas de língua portuguesa. Em primeiro lugar, a pesquisa se
norteou pela palavra-chave ―literaturas africanas de língua portuguesa‖; depois a
delimitamos de forma a encontrar as palavras-chave que possibilitassem a
localização de teses produzidas sobre obras, autores e sobre o sistema literário de
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Foi feito o
uso também da pesquisa por ano, ou seja, pela delimitação do período escolhido
para esta pesquisa: 2013 a 2017. Todas as teses encontradas com esta delimitação
fizeram parte do corpus da investigação. Esta seleção teve grande importância, pois
permitiu ir além de uma fortuna crítica sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa no Brasil e considerar também aspectos da reflexão teórico-crítica das
teses investigadas.
Como o objetivo foi estudar a pesquisa acadêmica sobre literaturas africanas
de língua portuguesa realizada em várias regiões do Brasil, optamos por, buscar no
Catálogo de Dissertações e Teses da CAPES, não fossem recuperadas teses de
alguma região geográfica brasileira 13, que seriam investigados os catálogos digitais
de teses das grandes universidades destas regiões, descobertas na pesquisa no
CDT da CAPES. Em caso positivo, as teses seriam incorporadas ao corpus da
pesquisa.
No intuito de pesquisar de que forma as literaturas africanas de língua
Digital Brasileira (BDB), com apoio da Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP), tendo o seu lançamento oficial no final do ano de 2002 (IBICT, 2018).
12 A partir deste ponto: Adotaremos a sigla CTD para tratar do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.
13 O Brasil se encontra dividido em cinco grandes regiões geográficas: Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
26
portuguesa foram abordadas no corpus selecionado, analisamos, principalmente, os
resumos, as palavras-chave, a introdução, as considerações finais e as referências
bibliográficas de cada tese. Isso foi feito para buscar quais foram os principais
sistemas literários de países de língua oficial portuguesa analisados nas teses, os
principais temas, autores, obras e teóricos(as) mais frequentes, dentro do período
selecionado. Para extração de dados das teses, além da leitura, recorremos a
ferramentas computacionais de tratamentos de dados do Microsoft Office14.
Uma reflexão teórico-crítica dos resultados obtidos permeia as discussões
das práticas crítico-literárias das teses produzidas sobre as literaturas africanas de
língua portuguesa pela comunidade acadêmica brasileira ao longo do período
selecionado. Um primeiro tópico será destinado à descrição da coleta dos dados.
1.1 Investigação de teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa
depositadas no CTD
Ao iniciar a busca no CDT, esbarramos em sérios problemas de indexação de
texto15 em decorrência da liberdade dos pesquisadores na criação de palavras-
chave. Esse primeiro impasse nos leva a considerar que, sem um controle de
vocabulário16 na construção das palavras-chave, estudos relevantes podem ter
ficado de fora desta pesquisa. A seleção das palavras-chave feitas para a
elaboração desta pesquisa também pode ter excluído estudos significativos
produzidos no Brasil, em razão da pessoalidade impressa nas buscas em catálogos
de informação.
As palavras-chave, para esta pesquisa, foram escolhidas do assunto geral para o
14
No pacote Microsoft Office, foi utilizado o Word, Excel. No Word, utilizamos os recursos de localizar, contar palavras, classificar, etc.... No Excel, foi feito o uso das tabelas, tabelas dinâmicas e fórmulas estatísticas tais, como média, soma, percentagem, dentre outras.
15 Indexação: Representação do conteúdo temático de um documento por meio dos elementos de uma linguagem documentaria ou de termos extraídos do próprio documento (palavras-chave e frases-chave). . (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 193)
16 Gestão de um vocabulário com a finalidade de desambiguizar e restringir a forma dos termos, além de limitar o número de conceitos e termos disponíveis para a indexação. O controle é alcançado para distinguir entre homógrafos, de modo que cada um tenha apenas um significado, e a partir da escolha de um conjunto de sinônimos e quase-sinônimos, um deles sendo preferido para uso na indexação. O propósito dessas restrições é aumentar a probabilidade de indexadores e pesquisadores escolherem o mesmo termo para etiquetar um conceito particular. (CONTROLE DE VOCABULÁRIO. In. Teusaro OC. USP, 2015).
27
específico, conforme sugerem as normas biblioteconômicas para elaboração de
palavras-chave:
1. Literatura africana
2. Literaturas africanas
3. Literaturas africanas de língua portuguesa
4. Literatura angolana
5. Literatura moçambicana
6. Literatura guineense
7. Literatura santomense
8. Literatura cabo-verdiana
9. Angola
10. Cabo Verde
11. Guiné-Bissau
12. Moçambique
13. São Tomé e Príncipe
Para delimitar ainda mais o assunto, colocamos todas as palavras-chave
entre aspas. Este recurso de colocar o termo pesquisado entre aspas permite a
localização de resultados que tenham exatamente o termo composto digitado. Por
exemplo, ao digitar ―literatura angolana‖, no momento da busca o resultado da
pesquisa registrará somente teses que tenham o termo exatamente como foi
digitado. Vale ressaltar que este delimitador de assunto em pesquisas serve a
qualquer buscador de dados, sejam os buscadores da internet (Google, por
exemplo), de bibliotecas ou de fontes de informação.
Embora já esteja em desuso o termo literatura africana porque remete a uma
visão de que a literatura estudada seria a do continente e não de parte dele,
julgamos ser interessante considerar o termo para pesquisa já que, no início das
pesquisas, no Brasil, sobre a literatura dos CINCO, era comum o uso da expressão
no singular. Atualmente, com o conhecimento já consolidado, a expressão no
singular só se justifica para abarcar características comuns das literaturas do
continente africano. Não temos informação de que, no Brasil, haja controle de
palavras-chave nos programas de pós-graduação, para que os bancos de dados
possam realizar ontologias17 mais eficazes em seus metadados18 e, assim,
17
Ontologia: Termo oriundo da Filosofia, ―que se assemelha a uma linguagem documentária
28
produzirem resultados mais precisos nas buscas em catálogos online de bibliotecas
e/ou de fontes de informação.
A escolha da expressão ―literaturas africanas de língua portuguesa”, e não
outros como ―literaturas em português”, ―literaturas lusófonas‖, se justifica pelo fato
de esta expressão ser a mais adotada pelos textos teóricos e pelos programas de
pós-graduação em Letras, inclusive, ser a legitimada pelo Programa de Pós-
Graduação em Letras da PUC Minas, em suas linhas de pesquisa e produções
científicas.
Ainda sobre as palavras-chave, convém ressaltar que o CTD não utiliza todas
as palavras-chave indicadas pelo arquivo original, isto é, teses e/ou dissertações.
Para tentarmos entender o critério de seleção utilizado pelo CTD, enviamos uma
consulta, por e-mail, ao sistema da CAPES, solicitando informação de como se dá a
seleção de palavras-chave, mas não tivemos retorno. Na mesma consulta
indagamos sobre os separadores de especificação das palavras-chave, mas
também não obtivemos resposta.
Ao optar pelo uso da base de dados da CAPES, verificamos que só
conseguiríamos obter informações, além da referência bibliográfica das teses
selecionadas, sobre aquelas produzidas após a implantação da ―Plataforma
Sucupira” 19 (iniciada em 2013) e que tivesse a autorização de divulgação.
Esclarecidos os caminhos percorridos para obtenção dos dados, passamos a
considerar a amostragem dos resultados obtidos em cada busca e depois fizemos a
análise dos dados selecionados. Nesta primeira busca, julgamos necessário
apresentar as telas do CTD para mostrar a necessidade de se refinarem os
resultados que queríamos (apenas teses).
Na figura 1, temos o resultado de busca sem o uso das aspas. Sem este
delimitador, os resultados são imensos e inespecíficos, pois segundo F. W.
Lancaster (1993),
o problema em todas as buscas é tentar manter o equilíbrio entre revocação e precisão. O que é comumente preciso é obter o máximo de revocação, porém mantendo um nível aceitável de precisão. Quando a estratégia de
18
Metadados: Informação que descreve a estrutura dos dados e sua relação com outros, por exemplo: uma etiqueta no registro de uma base de dados, que indica o campo que contem o nome do autor. (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 246).
19 É uma nova e importante ferramenta para coletar informações, realizar análises e avaliações e ser a base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação - SNPG (SNPG).(CAPES, 2018, s.p.)
29
busca é cotejada com a base de dados, a qualidade da própria base de dados torna-se, evidentemente, um dos fatores principais que influem no desempenho. (LANCASTER, 1993, p. 77).
Ao utilizarmos o CTD vimos que para ter uma boa revocação (quantidade de
retornos) e com resultados precisos e relevantes, o uso de termos entre aspas torna-
se imprescindível. Pois como podemos ver nas duas figuras abaixo, sem o uso de
aspas o resultado é imenso e como uso de aspas o retorno é menor, o que pode
significar resultados mais relevantes e precisos.
Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas
Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES –set. 2018
Ainda sobre delimitadores, podemos observar uma dificuldade no que se
refere ao tipo de obra – tese ou dissertação. Se observarmos a figura 2, veremos
que temos três opções em ―tipo‖, mas nesta mesma tela só aparecem dois tipos
―mestrado e doutorado‖ e, somente ao clicarmos descobrimos a terceira opção, que
se trata de ―mestrado profissional‖. Nesta modalidade de mestrado exige-se um
trabalho de conclusão
que constitui-se em um Relatório Técnico ou Dissertação com proposta de intervenção, abordando o diagnóstico total ou parcial de organizações públicas, devendo ser observadas as normas da NBR/ABNT e as premissas do método científico. (PROFIAP, 2017, s.p. ).
Entendemos essa distinção, já que nessa modalidade de pós-graduação o
30
mestrando pode, também, produzir dissertação para fins de obtenção de título de
mestre e um pesquisador pode precisar buscar apenas as dissertações produzidas
pelos cursos de mestrado profissional, salientamos, porém a necessidade de isso
estar claro nas especificações de busca.
Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES – set. 2018
Verificamos, também, a necessidade de se aplicarem filtros pela duplicidade
de opções, como podemos notar na figura 3, a grande área do conhecimento
―Linguística, Letras e Artes‖ é repetida duas vezes, com a mesma designação,
embora com quantidade de resultados diferentes. Ao marcarmos uma de cada vez,
foi possível descobrir, ao acaso e pela repetição da situação em outras pesquisas,
que a grande área se repete porque aquela tem maior número de resultados é a que
possui a opção ―Detalhes” (resumo, texto completo e outras opções) e a grande área
de conhecimento com menor número de resultados é a que apresenta teses
produzidas em data anterior ao ano de criação da Plataforma Sucupira, ou seja,
antes de 2013. Podemos ver o detalhamento destas informações na figura 3.
Figura 1 - Resultados com a palavra-chave "literatura africana" com uso de
aspas
31
Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES – set. 2018
É interessante notar que foi recuperada uma tese da área ―Ciências Sociais
Aplicadas‖ usando a palavra-chave ―literatura africana‖, isso confirma que o sistema
CTD da CAPES busca em todo o texto das teses e não apenas nas palavras -chave,
como podemos ver na figura 4.
Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES- set.2018
Após os primeiros resultados obtidos, no momento da escrita do projeto de
tese, definimos que a pesquisa seria feita utilizando-se a palavra-chave selecionada
Figura 2 - Duplicidade da grande área de conhecimento “Linguística, Letras e Artes”
Figura 3 -Tese da área “Ciências Sociais Aplicadas” recuperada com a palavra-chave “literatura africana”
32
entre aspas e aplicando os seguintes filtros:
Grande área do conhecimento: Linguística, Letras e Artes (marcando as duas
opções que aparecem).
Ano: Marcando, dentre os resultados, as opções dos anos de 2013 a 2017.
Tipo: Doutorado (Tese)
Feita a delimitação do tema e ilustração do passo a passo da pesquisa, segue
a análise dos dados colhidos no CTD.
1.2 Análise dos dados
Realizamos uma pesquisa no CTD, no dia 14 de maio de 2018 (momento da
escrita do projeto de pesquisa), aplicando a metodologia de pesquisa supracitada,
cujos resultados são apresentados na tabela a seguir:
Tabela 1 - Resultado da busca realizada na data de 14 de maio de 2018
Palavras-chave utilizadas na busca no CTD
Total de resultados
Teses sobre outros assuntos
Teses de cada sistema literário
Tese(s) contadas em outra(s) palavras-chave
Literatura africana 3 1 2 0
Literaturas africanas de língua portuguesa
4 0 4 0
Literatura moçambicana 8 0 6 2
Moçambique 35 13 13 9
Literatura angolana 7 0 7 0
Angola 31 9 11 11
Literatura cabo-verdiana 4 0 4 0
Cabo-verde 12 4 1 7
Literatura santomense 0 0 0 0
São Tomé e Príncipe 2 0 0 2
Literatura guineense 2 0 2 0
Guiné-Bissau 11 9 1 2
TOTAL GERAL 119 35 51 33
Fonte: dados da pesquisa
No momento da escrita deste capítulo, ao conferirmos a consulta, foi
observado que a quantidade de teses sobre literaturas africanas de língua
portuguesa tinha aumentado. Para confirmar e completar os dados analisados,
refizemos a busca utilizando os critérios já citados nesta tese, pois o CTD realiza
33
coleta de teses anualmente, ―com atualizações no 1º semestre de cada ano.
Eventualmente, a atualização pode ocorrer no 2º semestre em decorrência de
ajustes no calendário da coleta dos dados‖ (CATÁLOGO, 2018, s.p).
O resultado da busca por teses sobre literaturas africanas de língua
portuguesa, produzidas no Brasil, de 2013 a 2017, foi o seguinte:
Tabela 2 – Resultado da busca realizada dia 02 de setembro de 2018
Palavras-chave utilizada na busca no CTD
Quantidade de resultados
Outros assuntos
Cada sistema literário
Tese(s) contadas em outra(s) palavras-chave
Literaturas africanas 18 1 17 2
Literatura africana 7 0 7 0
Literatura angolana 9 0 9 11
Angola 33 9 24 0
Literatura cabo-verdiana 5 0 5 14
Cabo Verde 30 13 17 0
Literatura guineense 2 0 2 5
Guiné –Bissau 13 8 5 0
Literatura moçambicana 12 2 10 16
Moçambique 52 29 23 0
Literatura santomense 0 0 0 3
São Tomé e Príncipe 7 3 4 0
Total Geral 188 65 123 51
Fonte: dados da pesquisa
Na análise dos primeiros resultados da busca no CTD tivemos 72 teses e
mais duas teses oriundas de outras fontes online para compor o estudo que iremos
produzir. Podemos explicar, melhor, na próxima tabela:
Tabela 3 - Total de teses
Resultado da busca no catálogo 02-09-2018 Quantidade
Total geral 188
Teses de cada sistema literário 125
Teses que não são sobre literaturas africanas de língua portuguesa 65
Tese(s) contadas em outra(s) palavras-chave 51
Total de teses selecionadas para o estudo 74
Fonte: dados da pesquisa
O total de teses selecionadas para o estudo está indicado na tabela 3. Como
na busca no CTD não foi encontrada nenhuma tese produzida em instituições de
34
ensino superior das regiões Norte e Centro-Oeste, lançamos mão da possibilidade
de buscar teses destas instituições de ensino superior em seus sites específicos e
na BDTD do IBICT, pois tínhamos conhecimento de estudos literários oriundos de
pesquisadores destas regiões. A busca, dentro dos critérios estabelecidos para esta
pesquisa, resultou em uma tese produzida na região Norte e outra na Centro-Oeste.
Assim temos 74 teses para compor nosso corpus de investigação. A tabela a seguir
especifica a quantidade de teses, por região, a serem abordadas neste estudo:
Tabela 4 - Resultado das teses selecionadas por região brasileira das
Instituições de Ensino Superior de Ensino (IES)
Localização da IES depositária da tese Total
Sudeste 44
Sul 20
Nordeste 8
Centro-oeste 1
Norte 1
Total geral 74
Fonte: Dados da pesquisa
Pelo cenário da educação brasileira20 já prevíamos que a Região Sudeste
teria mais instituições produtoras de teses sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa. Isto se confirmou na consulta: as instituições de ensino superior desta
região foram responsáveis pela produção de mais de 60% das teses sobre
literaturas africanas de língua portuguesa nos anos de 2013 a 2017. Cabe informar
outro item que também já era esperado: a alta concentração de pesquisadores em
três estados da Região Sudeste do Brasil (São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro). Porém, as universidades da Região Sul também contribuíram
significativamente. Podemos ver na tabela 5, como foi a produção de teses por IES
em cada região geográfica do Brasil:
20
O número de alunos nas universidades e faculdades ainda está distante da proporção da população nas regiões. As diferenças de acesso compõem o cenário geral do Ensino Superior brasileiro na modalidade presencial. De fato, a distribuição das matrículas dos cursos de graduação, no período citado [2010], ratificam as disparidades, com maior concentração de matrículas na Região Sudeste (48,7%) e baixo acesso na Região Norte, com apenas 6,5% das matrículas. (BARROS, Aparecida, 2015, p.364).
35
Tabela 5 - Instituições de Ensino Superior de Ensino depositárias das teses
investigadas
IES depositárias da(s) tese(s) Quantidade
Universidade de São Paulo – Região Sudeste 19
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Região Sudeste 9
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Região Sudeste 6
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Região Sul 6
Universidade Federal de Pernambuco – Região Nordeste 4
Universidade Estadual de Londrina – Região Sul 4
Universidade Federal da Bahia – Região Nordeste 4
Universidade Federal de Santa Catarina – Região Sul 3
Universidade Federal do Rio Grande – Região Sul 2
Universidade Federal do Paraná – Região Sul 2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Região Sudeste 2
Universidade Federal Fluminense – Região Sudeste 2
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Região Sudeste 1
Universidade Federal do Pará – Região Norte 1
Universidade Federal de Minas Gerais – Região Sudeste 1
Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/S.J.R. Preto - Região Sudeste
1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Região Sul 1
Universidade do Sul de Santa Catarina – Região Sul 1
Universidade de Brasília – Região Centro-Oeste 1
Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/Assis - Região Sudeste 1
Universidade Federal do Espírito Santo - Região Sudeste 1
Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/Araraquara - Região Sudeste
1
Universidade Federal de Santa Maria – Região Sul 1
Total Geral 74
Fonte: Dados da pesquisa
A concentração da pesquisa em literaturas africanas de língua portuguesa
nas regiões Sudeste e Sul, especificamente em quatro estados brasileiros, retrata
um maior número de discentes de ensino superior nessas regiões. Eles perfazem
45% das matrículas de todo o país, segundo dados do Censo da Educação Superior
- 2017. O conhecimento de onde são produzidas teses sobre literaturas africanas de
língua portuguesa é muito importante, pois propicia informações concretas para os
interessados em fazer pesquisas sobre a área e, também, possibilita que estudantes
brasileiros e, principalmente os estrangeiros, que pesquisam o tema ―literaturas
africanas de língua portuguesa‖ possam saber onde estão as possíveis instituições
que os acolherão.
No período de 2013 a 2017, a produção de teses sobre literaturas africanas
de língua portuguesa foi instável, havendo um crescimento nos três primeiros anos e
36
queda nos dois últimos, como podemos notar na tabela:
Tabela 6 - Ano de produção das teses investigadas
Ano de produção das teses Quantidade
2013 12
2014 16
2015 19
2016 14
2017 13
Total geral 74
Fonte: Dados da pesquisa
Não era objetivo da pesquisa averiguar a questão de gênero dos autores nem
dos pesquisadores, mesmo assim foi possível verificar uma maioria de autoras nas
teses investigadas. Em dados estatísticos brasileiros verificamos que as mulheres
possuem mais anos de estudos do que homens, conforme os dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), de 2014, realizada pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
Das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuíam Ensino Superior completo, enquanto para homens, na mesma categoria, esse percentual é de 11%, apontam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para Ensino Médio completo ou Superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nessa categoria, contra 33,5% dos homens. (BRASIL, 2016, s.p).
Assim sendo, tivemos uma maioria expressiva de mulheres brasileiras tanto
na orientação21 quanto na confecção das teses investigadas. Mais de 70% dos
pesquisadores que estudaram, em nível de doutorado, as literaturas africanas de
língua portuguesa, são mulheres, como podemos ver a seguir:
Tabela 7 - Gênero das autorias das teses
Gênero das autorias das teses Quantidade
Feminina 53
Masculina 20
Não foi possível inferir o gênero do(a) pesquisador(a)
1
Total geral 74 Fonte: Dados da pesquisa
21
A tabela com nomes do(as) orientadores(as) das teses investigadas podem ser vistas no anexo D.
37
Como este dado de gênero é apenas ilustrativo, não foi utilizada nenhuma
metodologia para ter certeza do gênero declarado pela autoria, apenas inferimos
pelo nome social adotado na referência da tese no CTD. A constatação sobre a
autoria feminina das teses investigadas não se estendem às obras analisadas, uma
vez que a maioria das obras estudadas é de autoria masculina. Esse dado reflete o
fato de as mulheres não ocuparem a maioria das publicações no mercado editorial,
logo, a autoria das obras literárias estudadas pelas pesquisadoras brasileiras de
literaturas africanas de língua portuguesa é, como se esperava, majoritariamente,
masculina (72% dos livros estudados são produzidos por autores), como pode ser
observado na tabela 8.
Tabela 8 - Gênero das autorias das obras estudadas
Gênero das autorias das obras estudadas Total
Masculino 97
Feminino 32
Autoria não informada no resumo 6
Total 135
Fonte: Dados da pesquisa
A análise de dados inicial ilustra, quantitativamente, as informações que
recolhemos nestas 74 teses selecionadas para o estudo. Passaremos para o
detalhamento de quais sistemas literários, temas, obras, autores dos CINCO foram
abordados nas teses investigadas.
1.3 Sistemas literários, autoria e obras abordadas nas teses investigadas22
Os sistemas literários são conjuntos de obras, autores, leitores e estudos
críticos. Nesses sistemas são reconhecidas marcas estéticas singulares dos autores
daquelas nações. Segundo Antônio Cândido, para termos um sistema literário em
um país é preciso mais do que algumas obras literárias de destaque. Segundo o
crítico literário brasileiro, podemos destacar três elementos essenciais para a
formação de um sistema literário:
22
Teses investigadas: a fim de evitar repetição, definimos este termo para falar do nosso corpus, formado pelas 74 teses brasileiras sobre literaturas africanas de língua portuguesa, produzidas entre 2013 a 2017, localizadas no CTD.
38
a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob este ângulo como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do indivíduo se transformam em elementos de contato entre os homens, e de interpretação das diferentes esferas da realidade. Quando a atividade dos escritores de um dado período se integra em tal sistema, ocorre outro elemento decisivo: a formação da continuidade literária, – espécie de transmissão da tocha entre corredores, que assegura no tempo o movimento conjunto, definindo os lineamentos de um todo. (CÂNDIDO, 1981, p. 25-26).
Nesse sentido, podemos dizer que um país pode apresentar manifestações
literárias e não possuir um sistema literário nacional, pois necessita de uma tradição
literária, de uma continuidade e de leitores. Assim, mesmo com produção literária
relevante nos CINCO, antes da independência destes, não podemos dizer que
temos um sistema literário pleno, pois não contamos com alguns dos elementos
essenciais relacionados por Antonio Candido.
Na esteira dessas reflexões, Anita M. R. Moraes (2010) reflete sobre o
conceito de sistema literário a partir de estudos da obra A formação do romance
angolano (1999), de Rita Chaves, e afirma que
o gênero se consolida no sistema literário angolano, concorrendo para a consolidação do próprio sistema, quando alcança uma forma apropriada, capaz de esteticamente responder aos dilemas impostos pela sociedade colonial. N’A formação do romance angolano, a atenção não recai sobre a formação de um conjunto de produtores, sobre o número de leitores, os modos de edição e circulação das obras, índices de letramento, percentagem de falantes de português, etc.; recai sobre a estrutura interna das obras. (MORAES, 2010, p. 73).
Vemos que, além dos elementos citados por Antonio Candido (1981) para se
perceber a presença de um sistema literário em um país, um gênero literário, no
caso do sistema angolano, o romance, pode contribuir significativamente para a
consolidação deste.
Em um sistema literário há uma grande importância para o elemento da
recepção, seja de fruição, seja da crítica. Interessa-nos perceber nas teses
investigadas o(s) ponto(s) de vista elaborado(s) pela leitura crítica dos sistemas
literários compostos pelas literaturas africanas de língua portuguesa.
Os estudos das literaturas africanas trazem em si uma característica muito
peculiar, a ideia da generalização. Essa característica também se mostra nos
39
estudos literários africanos pós-coloniais, tanto que algumas teses ainda se referiam
às diferentes literaturas dos CINCO como ―literatura africana de língua portuguesa‖.
Como já comentamos, nos estudos sobre literaturas africanas de língua portuguesa
no Brasil, poucas são as instituições que oferecem a linha de pesquisa específica
para tal assunto. Nesse sentido, era esperado que muitas das teses selecionadas
indicassem o interesse por estudos comparados sobre obras de diferentes sistemas
literários dos CINCO. Essa hipótese foi confirmada, como podemos notar na tabela
9:
Tabela 9 - Sistemas literários pesquisados nas teses
Sistemas literários Quantidade
Literatura comparada 32
Literatura moçambicana 17
Literatura angolana 15
Literatura cabo-verdiana 5
Literatura guineense 3
Literaturas africanas de língua portuguesa em geral 2
Total de teses 74
Fonte: Dados da pesquisa
Na tabela 9, consideramos a incidência de pesquisas sobre cada sistema
literário dos CINCO. Percebemos, pelo detalhamento, que os sistemas literários
foram averiguados, em sua maioria, como se vê na tabela a seguir, em estudos
comparativos.
Tabela 10 – Teses sobre a literatura moçambicana
Literatura moçambicana 17
Literatura comparada: moçambicana e portuguesa 3
Literatura comparada: moçambicana e brasileira 3
Literatura comparada: angolana e moçambicana 2
Literatura comparada: cabo-verdiana e moçambicana 2
Literatura comparada: moçambicana, nigeriana e queniana 1
Literatura comparada: moçambicana, brasileira, e portuguesa 1
Literatura comparada: moçambicana, brasileira e estadunidense 1
Literatura comparada: moçambicana, brasileira e cabo-verdiana 1
Literatura comparada: moçambicana e nigeriana 1
Literatura comparada: moçambicana e martinicana 1
Literatura comparada: moçambicana e angolana 1
Total geral 34
Fonte: dados da pesquisa
40
Verificamos que os estudos sobre a literatura moçambicana, tanto
isoladamente (dezessete teses), quanto integrando estudos comparados (dezessete
teses), perfazem um total de 34 teses que discutiram aspectos desse sistema
literário. Vejamos na tabela 11 sobre os estudos da literatura angolana:
Tabela 11 – Teses sobre a literatura angolana
Literatura angolana Total
Literatura angolana 15
Literatura comparada: angolana e brasileira 5
Literatura Comparada: angolana e inglesa 1
Literatura comparada: angolana e moçambicana 2
Literatura comparada: angolana e portuguesa 1
Literatura comparada: angolana, brasileira e portuguesa 1
Literatura comparada: moçambicana e angolana 1
Literatura comparada: moçambicana e angolana 1
Literatura comparada: santomense, angolana, e brasileira
1
Total geral 28
Fonte: dados da pesquisa
A tabela 11 demonstra que a literatura angolana foi abordada de forma
isolada em quinze teses e, de forma comparada, em treze. Consideremos outra
tabela demonstrativa:
Tabela 12 – Teses sobre a literatura cabo-verdiana
Literatura cabo-verdiana Total
Literatura cabo-verdiana 4
Literatura comparada: cabo-verdiana e moçambicana 2
Literatura comparada: cabo-verdiana e portuguesa 1
Literatura comparada: cabo-verdiana, brasileira e portuguesa 1
Literatura comparada: cabo-verdiana, brasileira e trinitária-tobagense 1
Literatura comparada: moçambicana, brasileira e cabo-verdiana 1
Total geral 10
Fonte: dados da pesquisa
Pela tabela, podemos notar que a literatura cabo-verdiana foi mais estudada
na forma comparada. Nos dados colhidos também percebemos que a literatura
guineense não esteve presente nos estudos realizados de forma comparativa e que
a santomense integrou apenas os estudos comparativos feitos por uma das teses
consultadas. Nas teses investigadas foi possível perceber a presença marcante do
41
sistema literário do colonizador, a literatura portuguesa, nas propostas de estudos
comparados.
Como vimos, o sistema literário mais estudado foi o moçambicano, logo
podemos inferir que, principalmente pela grande recepção de suas obras no Brasil,
Mia Couto é, sem dúvida, o autor mais abordado. Ressaltamos que a obra do
escritor moçambicano, que recebeu uma série de prêmios literários e, em 2013, foi o
vencedor do Prêmio Camões, é publicada por uma grande editora brasileira, a
Companhia das Letras.
Acrescentamos que o espectro de autores foi bem extenso, 135 autores
abordados, de forma isolada ou comparada, sendo 64 autores diferentes. Pelos
autores presentes em cada uma das teses, podemos ver qual foi a frequência com
que eles foram estudados, na tabela 1 do anexo B e na tabela 2, do anexo C.
A partir deste momento, começamos a notar, de forma marcante, a
importância da obediência à normalização de escrita de trabalhos acadêmicos, pois
lidamos com palavras-chave, assunto e autoria. Como foi usado o software Excel, e
especificamente o recurso de tabelas dinâmicas e fórmulas estatísticas, qualquer
diferença de caractere, de entrada de nome, faz com que a informação seja
indexada como diferente. Podemos citar, como exemplo, a extração dos dados,
sobre autoria, pesquisados nas teses que estamos lendo: Uma tese citou o autor
José Luandino Vieira apenas como Luandino Vieira e, em outra tese, foi usado
Agualusa como autor, quando o nome padronizado deste é José Eduardo Agualusa.
Sabemos que é prioridade do pesquisador produzir uma pesquisa de qualidade
sobre o tema escolhido, no entanto, quando analisamos os resumos e as palavras-
chave, nem sempre essa qualidade pode ser percebida através desse tipo de texto.
Ao observarmos as orientações metodológicas23 para a produção de artigos
científicos (artigo de periódico, dissertação, tese...), notamos a diversidade na
elaboração dos resumos. Alguns cumpriam as normas técnicas, mas não deixavam
claros os aspectos investigativos da tese. A atenção dada às normas de redação
dos resumos não foi muito alta na maioria das teses consultadas. Em resumos
apresentados por seis teses, não se esclareceu a autoria da(s) obra(s) estudada(s).
23
ABNT NBR 6028:2018 - informação e documentação - resumo – apresentação, ABNT NBR 6022:2018 - Informação e documentação - Artigo em publicação periódica técnica e/ou científica - Apresentação e NBR 14724:2011- Informação e documentação — Trabalhos acadêmicos — Apresentação.
42
É um número relativamente alto, se considerarmos a recomendação de clareza
quanto ao tema e quanto à metodologia, estabelecida nas normas.
Do total de teses investigadas, a maioria, dezessete, não informou no
resumo24, quais obras estariam presentes no estudo realizado. Pelos dados
anteriores sabemos que a literatura moçambicana foi a mais estudada e, dentro
deste sistema literário, o autor Mia Couto o mais abordado. De sua produção
literária, as obras mais selecionadas para pesquisa foram O outro pé de sereia e O
último voo do flamingo. Em outras teses sobre a literatura moçambicana, quando se
especificou a obra estudada, houve destaque para duas obras de Paulina Chiziane:
Ventos do Apocalipse e O alegre canto da perdiz. Da literatura angolana, o destaque
é o autor Pepetela e, dentre suas obras, Mayombe e A gloriosa família.
1.4 Assuntos das teses investigadas
Os assuntos pesquisados que verificamos nas palavras-chave das teses
investigadas, em sua maioria, já eram esperados, pois o nosso percurso acadêmico
e de leituras sobre literaturas africanas de língua portuguesa nos permitiu inferir esta
informação. Sobre este aspecto, Stanley Fish (1992) acentua que:
Essa compreensão compartilhada é a base da confiança com a qual eles [estudantes] falam e argumentam, mas as categorias dessa compreensão são próprias deles somente no sentido de que, como atores dentro de uma instituição, automaticamente tornam-se herdeiros dos sistemas de inteligibilidade dessa instituição, das suas maneiras de significar. (FISH, 1992, p. 205).
Podemos perceber que em cada área de conhecimento se forma uma
comunidade interpretativa que se orienta de forma muito parecida na compreensão
de conceitos e nas pesquisas realizadas. Nas teses investigadas, temos 344
palavras-chave25 citadas nas 74 teses. Aquelas que mais se repetem são algumas
das esperadas por nós. Na tabela 13, a seguir, podemos ver os três autores que
mais tiveram obras estudadas, os três temas mais abordados e os sistemas literários
que mais originaram estudos nas teses investigadas:
24
Todas as obras estudadas pelas 74 teses podem ser vistas na tabela 4 em anexo E. 25
Nesta tabela colocamos apenas os assuntos que mais se repetem, o total dos 344 assuntos investigados pode ser vista no anexo F.
43
Tabela 13 – Assuntos abordados nas palavras-chave das teses investigadas
Palavras-chave Total
Mia Couto 13
Identidade(s) 12
Memória(s) 10
Literatura Moçambicana 10
História 8
Pepetela 7
Literatura Angolana 7
Paulina Chiziane 5
Literatura Cabo-Verdiana 5
Fonte: dados da pesquisa
No quesito palavras-chave, podemos notar alguns problemas relevantes: o
uso de frases como palavras-chave, palavras inespecíficas e o principal problema e
o mais grave foi uso de diversos caracteres como separador usado entre elas (ponto
e vírgula, traço, vírgula, traço, reticências), o que dificulta bastante a geração de
estatísticas. Para contar quantas vezes temos cada palavra-chave, esta precisa
estar destacada da outra palavra-chave da tese por um separador, o recomendado é
um ponto final. Se a recomendação da ABNT tivesse sido seguida poderíamos dar
um comando no software Excel que organizasse todas as palavras-chave ao
encontrar um ponto final, porém isto não foi possível, pela falta de padronização de
separadores. Assim, antes de usar as ferramentas de tratamento de dados, foi
preciso um esforço de reparação. Tivemos que substituir todos os separadores
diferentes por ponto final, para depois fazermos a contagem.
Com relação aos temas estudados, o problema de falta de padronização tem
a ver com as discussões teóricas sobre identidade, termo usado ora no singular ora
no plural. O mesmo acontece com o conceito de memória. A discussão de
pluralização de conceitos é um ponto comum de muitas áreas do conhecimento,
inclusive, nas duas em que se insere nossa pesquisa, que são a Biblioteconomia e a
Literatura, embora nenhuma delas imponha um modo de dizer sobre os conceitos.
Na Biblioteconomia, há uma indicação de que, quando indexamos um assunto,
devemos preferir usá-lo no singular, como podemos ver no trecho a seguir:
Uso de singular e de plural – os termos do vocabulário controlado devem ser usados no singular, mas o plural é admitido quando o termo só é
44
empregado no plural, do contrário, a compreensão de seu significado pode ser prejudicada pelo uso do singular. (GALVINO, 2012, p. 85)
A autora da afirmação anterior faz uma leitura de estudiosos do tema da
indexação de assunto para chegar a sua conclusão, porém não há norma técnica da
ABNT sobre o assunto.
No que tange a reflexões filosóficas, Beatriz Sarlo (2007), ao refletir sobre
teorias da memória, um dos assuntos mais abordados pelas teses investigadas, nos
diz que:
[...] todos parecem mais dispostos à crença nas verdades históricas no plural (o plural, esta inflexão do paradigma que alcançou a mais alta categoria, o que é muito bom, mas também propõe como solução verbalista a qualquer questão conflituosa). (SARLO, 2007, p. 40).
Beatriz Sarlo (2007) considera o uso do conceito no plural mais abarcador
das nuances que o formam, porém afirma que se corre o risco de tornar uma
solução simples, sem as devidas discussões teóricas.
Sendo assim, ao escolher usar uma palavra-chave no plural ou singular, o
autor da tese tem toda liberdade, técnica e filosófica, porém deve refletir se a opção
feita vai ser eficiente para recuperação da informação em catálogos
(Biblioteconomia) e se vai ser produtiva para contemplar a análise literária que foi
realizada no estudo (Literatura).
Na análise das palavras-chave das teses investigadas, exceto as que tratam
de sistemas das literaturas africanas de língua portuguesa, suas autorias e obras,
inferimos que o tema identidade foi o assunto mais abordado. Em segundo lugar,
está o tema memória e, em terceiro, história, seguidos por oralidade e violência.
Feitas essas indicações pontuais, para as quais a tabulação de dados
concretos referentes às teses investigadas foi fundamental, mostraremos, no
próximo capítulo, como os temas estão delimitados e com que aporte teórico foram
discutidos.
45
2 TEMAS, AUTORES (AS) E TEÓRICOS(AS) MAIS FREQUENTES NAS TESES
INVESTIGADAS
Neste capítulo discutiremos o modo como cada um dos temas mais
frequentes está considerado nas teses investigadas, bem como a metodologia
utilizada para realizar as investigações e as discussões propostas. As reflexões
acerca dos temas podem mostrar quais teóricos(as) e quais teorias são mais
frequentes nas investigações das literaturas africanas de língua portuguesa.
Convêm salientar que, por nosso estudo tratar de um recorte espaço-temporal, será
possível apontar as semelhanças e as dessemelhanças das escolhas teóricas dos
autores de teses brasileiras sobre literaturas africanas de língua portuguesa nos
últimos cinco anos. Não nos propusemos verificar a presença dos mesmos temas
em teses produzidas em outras épocas e em outros países, tais como nos CINCO e
em Portugal. Na averiguação dos temas e teorias mais frequentes nas teses, iremos,
além da mera descrição, refletir sobre os conceitos estudados, bem como, as
possíveis motivações de escolhas de um tema/teoria e não outros. Também
apontaremos os diversos recortes estabelecidos para a discussão de um mesmo
tema.
Em todas as teses são indicados pressupostos e estratégias críticas da teoria
literária e de campos de conhecimento que dialogam com a literatura. É pertinente
considerar que, embora os mesmos temas apareçam em várias teses alicerçados
pelos(a) mesmos(as) teóricos(as), os estudos feitos abordam aspectos sempre
diferenciados, uma vez que a investigação é particularizada pelo recorte privilegiado
pelo pesquisador. Portanto, temas semelhantes aparecem, nas teses investigadas, a
partir de pressupostos teóricos também semelhantes, mas são produzidas diferentes
correlações entre os textos literários e os campos reflexivos. Esses aspectos
evidenciam o fato de que os temas predominantes, nas teses, se relacionem com
modos de encenação literária de fatos e relatos da colonização portuguesa em
África, das guerras de independência e civil e dos rumos tomados pelos países, no
pós-independência.
Essas direções investigativas são indicadas pelas palavras-chave que mais
se repetem nas teses, sempre com a intenção de indicar autor(es), temas e campo
de investigação selecionado para os estudos. Assim foi possível verificar as
46
principais abordagens das teses investigadas, conforme os resultados que se
seguem:
1. Autores: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.
2. Temas: Identidade(s), memória(s) e história.
3. Sistema literário: literatura moçambicana, literatura angolana e literatura cabo-
verdiana.
Um dado a ser destacado é a presença marcante de obras de Mia Couto nas
teses. Obras do escritor moçambicano são abordadas em 25% das teses
selecionadas. É também importante considerar que o número de teses que analisam
obras dos autores, Pepetela e Paulina Chiziane, situados entre os mais pesquisados
não superam a quantidade de estudos sobre as obras do moçambicano Mia Couto.
Na tabela 13, os dados levantados demonstram quais os temas
predominantes nas teses investigadas, de forma preliminar. Os dados da tabela,
primeiramente, foram retirados do campo ―palavras-chave‖, de onde foram extraídas
as três mais citadas. No entanto, como já dito no primeiro capítulo deste estudo, a
especificação do assunto, nas palavras-chave, nem sempre indica os assuntos mais
estudados na tese. Por esse motivo decidimos investigar também o campo ―resumo‖
de todas as teses para verificar se mais alguma tese tratava desses mesmos temas.
Esta estratégia permitiu uma visão mais pontual dos temas predominantes nas teses
investigadas, pois, como podemos ver na tabela 14, a seguir, outras teses de nosso
corpus investigaram os temas embora não os especificassem nas palavras-chave.
Tabela 14 - Temas predominantes nas teses investigadas
Temas Teses Especificado nas palavras-chave
Não especificado nas palavras-chave
Identidade(s) 21 12 09
Memória(s) 20 10 10
Mia Couto 20 13 07
Literatura Moçambicana 12 08 04
Literatura angolana 10 07 03
Pepetela 10 07 03
História 10 08 02
Paulina Chiziane 08 05 03
Literatura cabo-verdiana 06 05 01
Fonte: Dados da pesquisa
A leitura da tabela 14 permite perceber que existe um número alto de teses
47
que investiga o tema proposto, sem a devida indexação nas palavras-chave. Essa
falta de indicação está presente em torno de 25% das teses e isto pode refletir no
quesito originalidade de uma tese, pois, se o investigador não encontra o seu recorte
de pesquisa nas fontes secundárias de informação26, ele poderá deduzir que seu
estudo é original, embora por vezes não seja. Sendo assim, podemos dizer que a
indexação de assunto é essencial para visibilidade da fortuna crítica de qualquer
pesquisa acadêmica. Na área da Literatura não seria diferente, pois permite coletar
informação sobre qual autor/obra/assunto já foi estudado e de que maneira foi
abordado. Podemos exemplificar a importância da indicação do assunto pesquisado
da seguinte maneira: caso fosse feita uma pesquisa no CTD para averiguar sobre
teses que investiguem a literatura cabo-verdiana, nos últimos cinco anos, apenas
uma tese ficaria de fora dos resultados, pois, como vimos na tabela 14, das teses
investigadas que abordaram a literatura cabo-verdiana, em apenas uma delas não
foi feita esta indicação nas palavras-chave.
Para buscar os modos como os temas mais frequentes das 74 teses foram
estudados, optamos pela leitura dos resumos, que, de acordo com a norma técnica
de resumo científico, a NBR 6028: 2018 - Informação e documentação - Resumo –
Apresentação, um resumo só é considerado claro quando ―informa ao leitor
finalidades, metodologia, resultados e conclusões do documento, de tal forma que
este possa, inclusive, dispensar a consulta ao original‖. (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003, p. 1). De acordo com esta
recomendação27, procuramos verificar nos resumos das teses que lemos sua
metodologia de pesquisa, bem como, o aporte teórico adotado para o estudo.
Verificamos que, das 74 teses, apenas 28 especificaram, no resumo, quais
teóricos(as) foram utilizados na análise do texto literário. Pensamos ser importante
identificar as correntes teóricas, bem como os estudiosos utilizados para a análise
literária, já que nos estudos de Literatura não possível descrever a metodologia
adotada.
26
Fontes secundárias de informação: ―Contêm informações sobre documentos primários e são arranjados segundo um plano definitivo; são, na verdade, os organizadores dos documentos primários e guiam o leitor para eles.‖ (CUNHA, 2001. p.10).
27 Vale ressaltar que as bibliotecas das IES brasileiras, em sua grande maioria, disponibilizam Manual de Normalização Bibliográfica, onde explicam as NBRs e exemplificam o uso, para que os estudantes atendam às recomendações da ABNT. Além disso, muitas bibliotecas oferecem serviço de treinamento de aplicação das normas da ABNT em trabalhos acadêmicos, porém, cabe ao estudante de graduação e pós-graduação decidir se procura ou não, tal serviço, pois a adesão é voluntária.
48
Após a leitura dos resumos, podemos afirmar que os teóricos(as) mais
utilizados, nas teses investigadas, são Mikhail Bakhtin, sobretudo na discussão de
questões relacionadas à análise da linguagem literária; Homi K. Bhabha e Stuart Hall
nas reflexões sobre identidade; Paul Ricoeur e Walter Benjamin, nas abordagens
dos temas história e memória. Os resumos também permitiram perceber que as
reflexões sobre as literaturas africanas de língua portuguesa baseiam-se, sobretudo,
em estudos das pesquisadoras Inocência Mata e Ana Mafalda Leite e dos
pensadores africanos Achille Mbembe e Hampaté Bâ, dentre outros teóricos(as)
ocidentais e brasileiros. Dentre as teses investigadas, chamou-nos a atenção o
percurso teórico escolhido pela tese, A encruzilhada tem muitos caminhos... Teoria
descolonial e epistemologia de Exu na canção de Martinho da Vila, de Edelu
Kawahala, porque recorre a uma feição teórica pouco comum no meio acadêmico. A
autora, na procura por caminhos teóricos relacionados com as culturas africanas,
propõe estabelecer
[...] um olhar a partir do que chamei de Epistemologia de Exu, recorrendo ao signo de Exu como uma possibilidade de rompimento com as epistemologias eurocêntricas. Ele é representativo do movimento da resistência negra na diáspora, signo que rompe com a razão e abre para outras possibilidades de leitura do real, do sensível. Exu, assim, torna-se signo de uma epistemologia descolonial, porque recolhe os fragmentos, a contradição e joga tudo num alguidar, alquimizando e produzindo outras formas de existência. (KAWAHALA, 2014, p. 33).
A afirmação da pesquisadora vai ao encontro dos anseios de se buscar
aporte teórico não eurocêntrico para análises literárias de obras africanas e mesmo
afro-brasileiras.
Ainda com relação à temática das teses, construiremos, a seguir, uma visão
panorâmica dos temas discutidos nas teses sobre literaturas africanas de língua
portuguesa, destacando aqueles que, conforme demonstrado na tabela 14, são os
mais frequentes nas propostas das teses investigadas. Serão discutidos,
primeiramente, os três temas que mais aparecerem nas discussões construídas
pelas teses: identidade(s), memória(s) e história. A seguir, destacaremos algumas
particularidades com relação aos sistemas literários mais pesquisados: literatura
moçambicana, literatura angolana, literatura cabo-verdiana. Finalmente,
abordaremos aspectos enfocados pelas teses sobre os autores, cujas obras são as
mais escolhidas pelas teses que avaliamos: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.
49
Vejamos como o tema ―identidade/identidades‖ é trabalhado pelas teses que
o escolheram como base das análises de obras das literaturas africanas de língua
portuguesa.
2.1 Identidade(s)
A partir das considerações propostas pelas teses que discutiram o tema
identidade, abordando-o sob vários aspectos, percebemos que, na maioria das
teses, o tema foi entendido como algo que dá sentido ao sujeito e, no caso da
literatura, esse sentido é encenado pelas histórias que se contam. As considerações
feitas nas teses ratificam a grande força que o tema tem nos estudos dos textos
literários africanos, pois muitos focalizam os conflitos identitários que permeiam as
narrativas. Esses conflitos integram as histórias contadas e as ações das
personagens, em contos e romances, mas também se mostram frequentes em
poemas escritos, principalmente, na fase pré-independência.
As discussões presentes nas teses indicam que o tema da identidade é uma
demanda constante do sujeito colonizado e das culturas submetidas, durante
séculos, ao processo colonial. As imposições de silenciamento da identidade e as
perversidades causadas pela castração da liberdade individual e coletiva tornam-se
presentes nas narrativas analisadas pelas teses, o que acaba por reivindicar
análises literárias que explorem o aspecto identitário. Nas teses investigadas,
verificamos o uso dos termos ―identidade‖, no singular, e ―identidades‖, no plural,
embora as discussões não se mostrem conclusivas quanto à razão de se usar um
termo ou outro quando se discutem as questões identitárias. No entanto, foi possível
perceber que o termo ―identidades‖ foi o mais utilizado e, quase sempre, no sentido
de pluralizar a tipologia de identidade e não para designar a multiplicidade de
identidades própria de cada sujeito.
Na discussão do tema identidade(s)28 encontramos nas teses que escolheram
acompanhar os variados pontos de vista teóricos propostos sobre a questão, o uso
de expressões como: identidade e seus conceitos, identidade individual, coletiva,
28
Optamos por grafá-la como aparece na maioria das teses investigadas, embora, no nosso trabalho, não façamos opção pelo termo identidade ou por identidades. O mesmo procedimento será adotado com relação ao tema memória/memórias.
50
individual e coletiva, étnica, feminina, regional, cultural, local, literária e identidades
diaspóricas.
A questão identitária é pesquisada nas teses quase sempre atrelada a um
modo de leitura que permite a investigação de visões relacionadas ao conceito tal
como ele se apresenta nas narrativas literárias realizadas. A análise, na maioria das
vezes, discute como a noção de identidade está presente no mundo contemporâneo,
sempre interagindo com questões culturais, espaciais, políticas e sociais.
As teses que priorizam o tema da identidade buscaram um suporte teórico em
autores importantes na discussão da questão, dentre os quais podemos citar
Antonio da Costa Ciampa, Antônio Sérgio Guimarães, Benjamin Abdala Junior,
Boaventura Santos, Edward Said, Fernando Catroga, Frantz Fanon, Hommi K.
Bhabha, Jane Tutikian, José Luiz Cabaço, Luiz Costa Lima, Massimo Canevacci,
Michell Pollack, Nestor Garcia Canclini, Paul Ricouer, Pierre Nora, Stuart Hall e Zilá
Bernd.
Dentre estudos realizados sobre o tema da identidade é notória a
apropriação, pelos pesquisadores, do conceito de entrelugar, de Hommi K. Bhabha,
identidade cultural, de Stuart Hall, e identidade híbrida, proposto por Nestor Garcia
Canclini. Sobre o conceito de entrelugar, que auxilia a discussão do tema da
identidade do sujeito, a autora da tese, Lilian de Paula Serra e Deus, intitulada
Memória, identidades e bastardia em As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges
Coelho, O outro pé da sereia, de Mia Couto e Leite derramado, de Chico Buarque
(2016), destaca aspectos ressaltados pelo teórico Homi K. Bhabha , ao dizer que:
Na perspectiva de Bhabha as identidades, na época moderna, não são mais marcadas por singularidades como, por exemplo, classe, gênero, localidade geopolítica ou orientação sexual [...] O discurso de Bhabha, a respeito do conceito, aponta, pois, para a ideia de que o entrelugar é o espaço intersticial, espaço de uma constante negociação que abarca muitos aspectos, sejam eles culturais, linguísticos, políticos. (DEUS, 2016, p. 34).
A autora ressalta, na reflexão de Homi K. Bhabha, a referência ao entrelugar
como espaço intersticial em que se realizam negociações identitárias. Um dos
aspectos apontados pelo teórico anglo-indiano é o cultural, também discutido por
Stuart Hall. Para esse autor, a identidade é algo móvel, múltipla e fragmentada, não
podendo ser pensada como única e estável. Relaciona-se com as diversas vivências
e situações de que o sujeito participa, ainda que nem sempre sejam aceitas por ele,
51
podendo ser, por isso, bastante conflitantes. A teoria de Stuart Hall dá sustentação
às discussões de muitas das teses de literaturas africanas de língua portuguesa, nas
quais a questão da identidade está presente. Na tese Identidades em trânsito em
romances e contos de Mia Couto (2015), de Arnon Gomes, o ponto de vista de
Stuart Hall é ressaltado:
As reflexões de Stuart Hall indicam que é legítimo afirmar que não se pode pensar que o sujeito tenha uma identidade límpida e clara como água cristalina; melhor seria falar e esboçar a categoria numa dinâmica de pluralização de identidades e, por vezes, ambíguas. [...] A questão da identidade é discutida a partir de um processo de aprendizagem das relações que se estruturam entre o sujeito e o mundo, consigo mesmo e com o outro; por isto, pensar a identidade é pensar, também, a diferença. A identidade do indivíduo expressa uma relação permanente eu-tu, descortinando o universo da alteridade. (GOMES, 2015, p. 18 - 19).
A obra de Stuart Hall, A identidade cultural na pós-modernidade, publicada no
Brasil em 2004, é frequentemente citada, sendo destacadas as três percepções
identitárias que se relacionam ―com a forma como o sujeito é interpelado ou
representado‖ (HALL, 2004, p. 21): a iluminista, a social e a pós-moderna.
Stuart Hall destaca que a concepção de identidade proposta pela fase
iluminista se estrutura a partir da noção de um sujeito (o sujeito do Iluminismo)
unificado e dotado ―das capacidades de razão‖ (HALL, 2004, p. 10). Essa concepção
irá justificar a ideia de que a identidade é fixa, portanto, inalterável; já o sujeito
sociológico, característico do mundo moderno, seria constituído nas interações entre
―o mundo pessoal e o mundo público‖, a partir, portanto, da relação que o sujeito
estabelece com os outros. O sujeito pós-moderno, na visão de Stuart Hall, não
possui uma identidade fixa, essencial e permanente. Como acentua o teórico, a
identidade, na pós-modernidade, é continuamente transformada em relação às
formas pelas quais é interpelada pelos sistemas culturais.
Outra percepção de identidade, não oposta a Stuart Hall, mas vista por outros
critérios, é a proposta por Nestor Canclini. O teórico destaca, em suas reflexões, o
aspecto híbrido do sujeito da pós-modernidade. Utilizando o conceito de hibridação
como uma importante chave de leitura para as literaturas africanas de língua
portuguesa, Mauro Gaglietti (2007) consideram que
Canclini prefere chamar situação intercultural de hibridação em vez de
sincretismo ou mestiçagem, ―porque abrange diversas mesclas interculturais - não apenas raciais, às quais costuma limitar-se o termo ‗mestiçagem‘ - e
52
porque permite incluir as formas modernas de hibridação, melhor do que ‗sincretismo‘, fórmula que se refere quase sempre a fusões religiosas ou de movimentos simbólicos tradicionais‖ (2006, p. 19). O autor transita entre diferentes manifestações culturais e artísticas (muitas delas anônimas): desde passeatas reivindicatórias, passando pela pintura, arquitetura, música, grafite e histórias em quadrinhos até a simbologia dos monumentos. Desse modo, reflete sobre o que chama de migrações multidirecionais, relativizadoras do paradigma binário (subalterno/hegemônico, tradicional/moderno) que tanto balizou a concepção de cultura e poder na modernidade. (GAGLIETTI, 2007, p. 6).
Vemos, nas discussões propostas pelas teses, a preocupação de buscar
reflexões mais adequadas para se falar de identidade(s), principalmente
considerando as visões teóricas sobre o sujeito pós-moderno, bastante peculiares à
realidade de países que viveram longos anos de colonização, como é o caso dos
países africanos de língua oficial portuguesa.
A discussão literária da questão da identidade, nas teses investigadas, se fez
privilegiando, além das obras de Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane, os
seguintes autores africanos: Chinua Achebe (Nigéria), João Paulo Borges Coelho
(Moçambique), José Eduardo Agualusa e José Luandino Vieira (Angola), Luís Carlos
Patraquim (Moçambique), Ngugi Wa Thiong‘o (Quênia) e Rui Knopfli (Moçambique)
e Ruy Duarte de Carvalho (Angola).
Nos estudos literários apresentados pelas teses selecionadas, a análise do
viés identitário destacou tanto as personagens, como o contexto encenado pela
literatura. As reflexões, muitas vezes de forma interdisciplinar, conclamaram outros
elementos constituintes do processo de construção da identidade, tais como gênero,
raça, nação, história e memória.
Abordaremos o tema da memória no próximo item, apresentando as formas
como este foi tratado e quais teóricos(as) foram utilizados para a discussão nas
teses que analisamos.
2.2 Memória(s)
O tema da memória revela-se pertinente à realidade vivida pelos africanos,
tanto em decorrência do silenciamento da História do continente, quanto pelo
apagamento de histórias locais, provocado pela colonização europeia levada à
África. Nações africanas, que conseguiram conquistar sua independência
53
tardiamente, só o fizeram, em alguns casos, através de muita luta e de guerras
extremamente violentas. Podemos afirmar que o silenciamento da memória africana
é ocasionado por processos de subalternização que retiram, de alguns sujeitos, o
direito de falarem por si mesmos, de narrarem a sua história. Conflitos e traumas do
passado e do presente são impulsionados como estratégias literárias de
enfrentamento ao silêncio imposto à memória dos africanos.
Na esteira da necessidade de se perceber a nação como um espaço que
contemple a todos, Homi K. Bhabha (1998) destaca a memória como elemento
importante na ―engrenagem da nação‖. O teórico afirma que a memória é um
recurso indispensável à construção das nações literárias e um elemento condutor do
discurso poético. Nesse sentido, relembramos o que diz Walter Benjamin (1994),
quando assinala que é preciso rememorar a história, pois sabemos que ―articular
historicamente o passado não significa conhecê-lo ‗como ele de fato foi‘. Significa
apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um
perigo‖ (BENJAMIN, 1994, p. 3). É necessário fazer um reconhecimento do passado
dos silenciados e levantar a voz contra o silenciamento dos subalternizados,
buscando a não perpetuação do apagamento de memórias destes sujeitos.
Um espaço social marcado pelo comércio de africanos escravizados e pela
violência da colonização torna-se, fatalmente, um lugar de memórias soterradas.
Ainda que o silenciamento da memória desses eventos esteja sendo revisitada por
historiadores africanos, ele está sendo questionado pela Literatura desde antes das
independências dos países africanos. Como já assinalado, em grande número de
obras literárias, a questão da memória está presente, o que justifica a intenção das
teses investigadas, quando procuram perceber a ressonância, nos textos literários,
da memória dos eventos africanos que fazem parte de sua cultura e de sua tradição.
Vimos que, nas obras escolhidas para análise nas teses que pesquisamos,
acentuam-se autores que retomam as memórias silenciadas, seja porque viveram a
época sobre a qual escrevem, seja porque se ligam a comunidades que foram
submetidas ao silenciamento. Muitas teses demonstram que as obras literárias dos
autores africanos aludem ao que diz Homi K. Bhabha sobre a força das narrativas
literárias no trabalho de construção da nação, sobretudo porque podem recriar,
imageticamente, a memória de muitos indivíduos obrigados a se calar ou que
tiveram suas histórias e sua cultura sufocadas por histórias hegemônicas que não
54
contemplam o passado vivenciado pelos colonizados.
Vozes de resistência ecoam nas obras de literaturas africanas de língua
portuguesa, buscando romper cenários de silenciamento dos subalternizados. A
(re)escrita da nação penetra nos subterrâneos da memória, da cultura e da história
dos indivíduos, buscando enriquecer narrativas que remetem a sujeitos que
travaram (travam) lutas sociais, culturais, políticas e históricas, trazendo à tona
feições da memória africana, muitas vezes ainda não contempladas em documentos
oficiais.
Assim, podemos dizer que obras das literaturas africanas de língua
portuguesa encenam as transformações vivenciadas pelos africanos desde os
tempos da colonização e, sobretudo, nos primeiros anos do século XXI, já na
vivência do processo de construção das diferentes nações do continente. Os fatos
relacionados ao processo colonizatório, às guerras de libertação e às guerras civis
são encenados em várias obras literárias, tornando os cruzamentos entre História e
ficção apropriados à interpretação do passado e às interseções entre a memória
individual e coletiva. Nesse sentido, o tema da memória, nas teses que analisamos,
assume diferentes aspectos, inscrevendo, inclusive, relações pertinentes com a
temática pós-colonial e com perspectivas da literatura negra, vista por Conceição
Evaristo como um corpus “que se constituiria como uma produção escrita marcada
por uma subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de
homens negros e de mulheres negras na sociedade‖ (EVARISTO, 2009, p. 17).
A forma de abordagem do tema, na maior parte das teses, é a comparativa,
partindo, por vezes, da investigação de obras de dois ou mais autores dos países
africanos de língua portuguesa. O viés comparativo, muitas vezes, foi também
empregado para a análise de obras de autores africanos e autores brasileiros e/ou
portugueses que fizeram da memória o elemento fulcral de suas ficções. Nas teses
sobre literatura e memória(s), notamos a preocupação em relacionar o tema com
pontos de vista da crítica sobre as literaturas africanas e/ou com questões da
História dos CINCO.
Para o aporte teórico, os autores das teses recorreram, de forma
predominante, às reflexões do estudioso Paul Ricouer, mais especificamente à obra
Memória, história e esquecimento (2007). Além desse autor, vários outros
teóricos(as) são citados em diversas teses como apoio para as discussões sobre o
55
tema da(s) memória(s): Aleida Assmann, Beatriz Sarlo, Henri Bergson, Linda
Hutcheon, Maurice Hallbwachs, Michel Pollack, Walter Benjamin e Zilá Bernd.
Notamos que, em algumas das teses investigadas, as referências ao aporte
teórico foram feitas de forma clara, principalmente no resumo, explicitando quais os
teóricos(as) utilizados na discussão literária do tema da memória e, também, dos
demais temas abordados na tese. Como exemplo dessa feição formal, podemos
citar o trecho do resumo da tese Violência e memória: relatos testemunhais em
diálogo na África e América (2017), de Nadson Vinícius dos Santos:
Este trabalho se desenvolveu mediante metodologia qualitativa-teórica com privilégio à pesquisa bibliográfica e se apoiou, dentre outros nomes, nos aportes teóricos de Amadou Hampatè Bâ, Achille Mbembe, Ali Mazrui, Inocência Mata, Jan Vansina, Joseph Ki-Zerbo, Kwame N‘krumah e Paulin Hountondji, do lado africano, e em Alberto Romero, Ana Pizarro, Beatriz Sarlo, Felix Luna, João Camillo Penna, Leonor Arfuch, Mabel Moraña, María Griselda Zuffi, Seligmann-Silva, Silviano Santiago e Valéria de Marco, do lado americano. O contraponto com o mundo ocidental se estribou nas ideias de Hanna Arendt, Erich Auerbach, Walter Benjamin, Roger Chartier, Sigmund Freud, Karl Marx e Friedrich Nietzsche. (SANTOS, Nadson, 2017, p. 9, grifo nosso).
A tese afirma a tendência atual de se usarem teóricos(as) africanos(as) como
embasamento das pesquisas em literaturas africanas de língua portuguesa. Ao
especificar os locais de origem dos autores, foi utilizada a expressão ―mundo
ocidental‖ para arrolar os teóricos(as) europeus. Isso não deixa claro que diferença
quer fazer, pois América também é ocidental em comparação com África. A distinção
feita pelo autor da tese acaba por repetir pressupostos eurocêntricos que
consideram apenas a Europa como Ocidente. E ao separar estudiosos não africanos
em ―lado americano‖ e ―mundo ocidental‖ retoma distinções ditadas por
epistemologias europeias sobre o conhecimento e até sobre a Literatura. Para essas
epistemologias o que não é europeu é o outro, o estranho, o exótico, o mítico.
Após elencar os teóricos(as) sobre memória(s) adotados pelas teses que
elegeram o assunto como instrumento de investigação literária das obras de
literaturas africanas de língua portuguesa, percebemos que a maioria dos
teóricos(as) adotados(as) são europeus. Embora o tema memória(s) seja assunto
universal, a memória da África e dos africanos possui sutilezas que precisam ser
consideradas, principalmente a questão de, por longos períodos, ter sua memória
selecionada e transmitida por pesquisadores europeus. Notamos que as literaturas
africanas de língua portuguesa retomam as memórias coletivas e individuais
56
africanas, principalmente nos seus enredos e personagens na busca de apropriação
da(s) memória(s) e de luta contra o silenciamento das vozes africanas. Esta
característica das obras foi destacada pelos investigadores das teses que
analisamos, como traço característico de obras literárias oriundas de espaços
colonizados.
Sabemos do viés interdisciplinar do tema memória(s) que aparece
entrelaçado a questões dos indivíduos e da História. Pensamos que a opção pode
estar atrelada ao fato de o tema história ser o terceiro tema mais abordado pelas 74
teses que analisamos. Refletiremos no próximo item sobre o recorte dado pelas
teses de nosso corpus que selecionaram esse recorte para seus estudos.
2.3 História
O tema da história é o recorte escolhido por uma quantidade significativa das
teses investigadas. Grande parte das teses procura defender a ideia de que vozes
silenciadas e histórias não contadas encontram eco nas narrativas literárias. Nesse
sentido, são consideradas narrativas literárias que vasculham tempos de angústia e
temor, além dos traumas individuais e coletivos que nelas ressoam. Seligmann-Silva
(2008), um dos teóricos convocados para a escrita das teses investigadas, reafirma
a força da literatura na encenação de eventos traumáticos, quando diz que
A imaginação é chamada como arma que deve vir em auxílio do simbólico para enfrentar o buraco negro do real do trauma. O trauma encontra na imaginação um meio para sua narração. A literatura é chamada diante do trauma para prestar-lhe serviço. (SELIGMANN-SILVA, 2008, p. 70).
Devido a situações violentas e até de barbárie, nas nações africanas, fatos
traumáticos vivenciados e não narrados pela História oficial fazem com que a
literatura retome o tema da história, muitas vezes relacionando-o à memória e à
identidade. Assim vemos nas narrativas de autores dos CINCO, principalmente, nas
obras inaugurais dos vários sistemas literários, uma tentativa de discutir as lacunas
da História oficial.
A presença de eventos da História encenados por obras literárias analisadas
nas teses lidas por nós constitui chave principal de leitura em pelo menos dez teses.
Para apoio teórico da discussão da história nas obras, os autores das teses
57
recorreram, principalmente, a teóricos(as) não africanos. Dentre os mais citados,
Walter Benjamin, Paul Ricouer e Le Goff se destacam entre os ocidentais, mas
também são referidos teóricos(as) da crítica pós-colonial como Achille Mbembe,
Stuart Hall, Inocência Mata dentre outros.
É importante destacar, nas narrativas literárias africanas, a apropriação e
interpretação do passado. Tal perspectiva, nos sistemas literários dos CINCO, leva a
reflexões como a feita por Alexsandra Machado da Silva dos Santos (2013) sobre
autores moçambicanos que
[...] demonstram a preocupação com a elaboração de uma literatura que pense a respeito da História de Moçambique favorecendo uma (re) construção identitária coletiva e/ou individual, enquanto um processo formado e transformado a partir de trocas culturais; desvendando um universo onde as negociações históricas e literárias são resultados da narratividade existente. (SANTOS, Alexsandra, 2013, p. 18).
Várias narrativas dos sistemas literários dos CINCO abordam a temática
histórica de seus países sem deixar de lado a preocupação com o trabalho estético
de suas produções literárias, ainda que dialoguem com a cultura. Nesse sentido,
eventos da História africana fazem parte do ato de narrar e ajudam a produzir os
efeitos de sentido que a obra quer atingir.
Nas teses investigadas fica claro que a relação história e literatura tem
compromisso com a releitura de fatos reais, mas prioriza a verossimilhança
estabelecida a partir da interação entre a realidade e a ficção. Essa posição nos
permite reiterar que as literaturas africanas de língua portuguesa trazem,
marcadamente, uma apropriação narrativa dos recentes fatos da História geral e da
independência de seus países. Na ficcionalização surge a retomada da colonização
portuguesa e suas violentas consequências para o povo africano em geral.
O modo como as teses retomaram a História, no âmbito da Literatura, nos
mostra a intenção de rever e interpretar criticamente o passado, retomando temas
relevantes da História dos povos africanos, tais como: identidade, nação,
colonialismo, pós-colonialismo, independência e pós-independência, guerra e paz. A
presença do colonizador português nos CINCO está, portanto, destacada nas
análises produzidas pelas teses, já que a maioria propõe realizar estudos
comparativos de obras de literaturas africanas de língua portuguesa e obras da
literatura de Portugal, nas quais está presente a colonização.
58
A conexão do Brasil com a História dos CINCO também se reflete em teses
que a analisaram juntamente com a literatura, algumas apresentando, inclusive,
estudos comparativos entre obras africanas e obras literárias brasileiras. Com
relação ao total de trabalhos investigativos que se construíram a partir de reflexões
sobre temas históricos, esclarecemos serem, ao todo, dez teses de nosso corpus
que destacaram o tema história no rol de palavras-chave. Dessas, apenas três
trataram do tema para discutir uma única obra literária ou obras de um mesmo autor,
sendo as demais, estudos comparativos entre obras literárias. Das três teses sobre
história que privilegiaram obra(s) de um só autor, uma estudou romances do
moçambicano João Paulo Borges Coelho, a segunda analisou as obras do angolano
José Luandino Vieira e a terceira tomou para análise a obra Sans Soleil (que tem
como tema Guiné-Bissau) do cineasta francês Chris Marker.
Fatos da História angolana foram os mais referidos e estudados nas teses
investigadas, pois estes foram retomados em sete das dez teses sobre História e
Literatura. Os autores angolanos Pepetela e José Eduardo Agualusa foram os que
tiveram mais obras analisadas pelo viés histórico.
Em se tratando de Literatura e História, o interesse por revolver os escombros
do passado é o aspecto que mais se destaca nos estudos, ainda que não seja intuito
de obras que ficcionalizam a História oficial ser um retrato fiel do que ocorreu em
seu país. Afirma-se, nas teses investigadas, a intenção da literatura de construir
personagens e enredos que recuperam os fragmentos de histórias vividos e os
silenciados no percurso da História da nação. Nesse caminho analítico, as teses
investigadas que trabalharam com eventos da História dos CINCO indicam ser
importante ter o aporte teórico do filósofo Walter Benjamin, pois é dele a premissa
de que é necessário ―narrar a História a contrapelo‖. O pensamento benjaminiano
figura de forma notória nas teses que recorreram ao tema história, como exemplo,
podemos ver o trecho da tese Ressoantes cantos e traumas em Comissão das
lágrimas e Maio, mês de Maria (2013), de Raquel Cristina dos Santos Pereira:
Benjamin não intenciona enformar o romance ou qualquer obra de arte às características externas da enunciação crítica correlacionadas aos aspectos sociais, políticos e históricos das sociedades, pois, não há que se estabelecer qualquer relação de subordinação entre a linguagem da obra e a realidade, há apenas uma relação de interação, na qual, a partir da arte que se concebem as chaves do conhecimento - social e / ou cultural -, abre-se no mundo o arcabouço filosófico que lhe dá a forma. (PEREIRA, 2013, p. 17).
59
As ideias benjaminianas acerca da interação entre História e ficção e sobre a
verossimilhança, na narrativa literária, permitem reflexões muito pertinentes para a
análise das obras de literaturas africanas de língua portuguesa.
A importância da História para a nação e para os indivíduos é de ver os fatos
considerados em sua completude, porque, na versão oficial da História de um povo,
sobressai a visão dos vitoriosos. Portanto, é na literatura que o ―indizível‖ encontra
morada e é onde narradores trapeiros, personagens que recolhem cacos
(BENJAMIN, 1994) da história e de enredos traumáticos vão se debruçar sobre um
passado violento e opressor, como o relacionado ao colonialismo e com as lutas
pela libertação ocorridas nos CINCO.
Nas teses que se voltaram à história para construir suas investigações, a obra
A gloriosa família, do angolano Pepetela, é a mais presente, exatamente porque
encena fatos da História angolana. Nessa obra de Pepetela, chama-nos a atenção o
fato de apresentar um narrador mudo e analfabeto que conta a história dos tempos
coloniais. Essa estratégia expõe, sem dúvida, o poder da Literatura de inventar e de
criar, mesmo quando esteja retomando fatos realmente acontecidos, como é o caso
do romance de Pepetela. Vemos que os autores de narrativas buscam estratégias
estético-literárias que melhor expressem visões de histórias não contadas pela
História oficial.
A retomada dos momentos históricos pela literatura pode ser percebida em
várias teses do nosso corpus que tratam de temas que se relacionam com a história
e mesmo nas teses que privilegiam memória, identidade. Foi possível perceber, nas
teses, a grande expressividade das obras literárias que ficcionalizam a História.
Notamos que os pesquisadores, na discussão proposta, foram além dos clássicos
filósofos como Walter Benjamin, Paul Ricouer, porque se valeram de outros
pensadores como Le Goff, além de recorrerem a teóricos(as) africanos como Achile
Mbembe e a estudiosos brasileiros, portugueses e a africanistas, como Moema
Augel, especialista na literatura da Guiné-Bissau, para apoiarem as discussões das
obras.
O termo romance histórico foi adotado por uma tese de nosso corpus para
destacar que o gênero subverte a História. O autor da tese faz interessantes
incursões estético-ideológicas no estudo comparativo entre obras brasileira,
portuguesa e angolana. Na referida tese, intitulada O romance histórico da
60
colonização: a figuração artística transgressiva do passado em O tetraneto del-rei,
de Haroldo Maranhão, A gloriosa família, de Pepetela, e As naus, de António Lobo
Antunes (2016), o investigador, Rogério Max Canedo Silva afirma que:
Com base fundamentalmente na conceituação teórica de romance histórico de György Lukács (2011) e de Fernando Ainsa (1991; 2003), verificamos que a forma narrativa em destaque tem, nas últimas décadas, insistido no propósito de reequacionar acontecimentos passados e sua repercussão num presente permeável à vida de outrora. Em face de tais pressupostos, elegemos como corpus de análise os seguintes romances pertencentes às literaturas em língua portuguesa: O tetraneto del-Rei, de Haroldo Maranhão, A gloriosa família, de Pepetela, e As naus, de António Lobo Antunes. As três obras, respectivamente de autores brasileiro, angolano e português, figuram igualmente formações nacionais enfronhadas nos influxos históricos de um marco decisivo para os povos afetados: a expansão e refluxo da máquina mercante lusitana.( SILVA, Rogério, 2016, s.p. ).
Com o conceito já amplamente aceito, romance histórico, o autor da tese
supracitada seleciona obras contemporâneas que vão, de forma alegórica e irônica,
subverter o passado dito oficial e permitir que a narrativa seja permeada por vozes
silenciadas pelo sistema opressor do colonizador. Sabemos que, por mais
traumatizantes que alguns momentos históricos tenham sido, os indivíduos que
sobreviveram precisam ter suas histórias contadas por eles mesmos e, ainda mais,
precisam que estas sejam ouvidas e lidas.
As abordagens literárias da História realizadas pelos autores de literaturas
africanas de língua portuguesa se fizeram tão marcantes que mereceram estudos de
uma grande parcela das teses que analisamos. Foi importante perceber, nestas
teses que abordaram o tema da história, a intenção de se fazer as reflexões com
apoio de teóricos(as) que ressaltam a importância de ouvir a história pela
perspectiva dos vencidos. Todos esses olhares escolhidos pelos autores das teses
passam por muitos motivos que também compõem a história investigativa da
Literatura do Brasil, campo do conhecimento que, não somente no Brasil, reflete
imposições da sociedade capitalista e muitas vezes não representativa de minorias,
como pobres, mulheres e negros. Se os sistemas literários refletem as condições da
sociedade em que estão inseridos, pela nossa pesquisa foi possível notar como esta
questão se reflete em autores dos CINCO com mercado editorial mais desenvolvido.
Logo, obras de autores de países com mercado editorial mais forte mereceram mais
estudos, dentre as 74 teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa,
produzidas nos últimos cinco anos no Brasil.
61
Vemos que na Literatura produzida, consumida e estudada no mundo ecoam
as condições econômicas, sociais, culturais e políticas do país. Essa questão pode
ser deduzida, a priori, no projeto da nossa tese e tornou-se uma confirmação após
nossa pesquisa: os sistemas literários que teriam mais obras contempladas seriam o
de Moçambique e Angola, por suas condições econômicas e de mercado editorial
são melhores do que Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Como
elegemos investigar os três principais sistemas literários e seus autores,
abordaremos, nos itens, a seguir, a Literatura moçambicana, o assunto mais
estudado enquanto sistema literário, Mia Couto e Paulina Chiziane, autores
privilegiados nas teses. Em seguida, abordaremos a Literatura angolana, segundo
sistema literário com mais autores e obras analisados. Pepetela é o autor com mais
obras investigadas desse sistema. Discutiremos também questões sobre o sistema
literário de Cabo Verde, que ficou em terceiro lugar entre os sistemas literários que
mais tiveram sua literatura investigada. Se considerarmos o total de obras
analisadas, o sistema literário de Cabo Verde está representado por um número
inferior das teses investigadas.
Julgamos necessário mostrar um breve panorama dos sistemas literários
moçambicanos, angolanos e cabo-verdianos, e não apenas arrolar as teses que
investigaram as obras de literatura escritas por autores desses países, a fim de
mostrar as particularidades de cada autoria e contextualizar os modos de leitura
privilegiados pelos autores das teses que investigaram estas obras.
2.4 Literatura moçambicana
A literatura moçambicana apresenta suas produções literárias em três fases,
segundo Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira (2007, p.
47): a fase colonial, a fase nacional e a fase pós-colonial. Na tese De mitos e
silêncios: nas águas do feminino pelos romances de Paulina Chiziane (2014), a
autora, Eliane Gonçalves da Costa, seleciona obra da primeira romancista da
literatura moçambicana que surge na fase pós-colonial. Referindo-se ao modo como
os momentos históricos moçambicanos aparecem nas obras analisadas, a autora
diz:
62
Sua escrita traz os três tempos apresentados: o colonial, a independência e o pós-colonial. Sua história pessoal traz as marcas de um mosaico cultural histórico-físico-cultural, sua escrita é aberta por esses brados. Na sua literatura, encontra-se mais que o apelo raivoso de novos tempos; observa-se também uma ampla reflexão acerca da relação entre tradição e a contemporaneidade, salientando o papel da mulher na construção das identidades de Moçambique. (COSTA, 2014, p. 16-17).
.
É bom destacar que a escritora moçambicana, Paulina Chiziane, vai além da
temática histórica, uma vez que ela aborda o gênero de uma forma muito singular.
Essa questão merece ser analisada em culturas como a moçambicana em que,
especificamente, são fortes as relações sociais pluriétnicas, as relações familiares,
bem como a tradição do lobolo29, a matrilinearidade e patrilinearidade. O cuidado no
trato dessas questões evita que se caia em especulações ocidentalizadas de
feminismo, na análise de personagens de seus romances.
O sistema literário moçambicano tem poucos poetas publicados no Brasil e,
isto pode justificar o fato de haver apenas três poetas de Moçambique estudados
pelas teses lidas por nós, sendo eles: Luis Patraquim, Rui Knopfli e Juvenal
Bucuane30. Outro fator que pode ter contribuído pela baixa quantidade de estudos
sobre a poesia africana é que, no Brasil, o gênero poesia está pouco presente nas
ementas de cursos de literatura, mesmo em programas de pós-graduação em
Letras. Em rápida pesquisa no CTD, verificamos que, no período selecionado para a
nossa pesquisa, apenas 12% das teses investigadas analisavam o gênero literário
―poesia‖. Constatamos, pela pesquisa, uma lacuna nessa área, uma vez que poucos
estudos do gênero literário ―poesia‖ fazem parte dos estudos acadêmicos de
literatura, em geral, e das literaturas africanas de língua portuguesa, em especial.
Sobre o sistema literário moçambicano, observamos que as investigações
feitas pelas teses versaram sobre os principais temas de estudos que elencamos
(identidade(s), memória e história), e que a maioria delas procurou discutir temas
específicos, bem como as estratégias literárias utilizadas pelos autores. Dessas
estratégias, são destacadas considerações sobre narrador, personagem, espaço e
discussões sobre a intertextualidade, e mesmo sobre a epistolariedade, dentre
outras questões relativas à escrita literária. Podemos citar, como exemplo de
29
Lobolo: É – a grosso modo- a cerimônia de casamento entendida como ―tradicional‖ no sul de Moçambique, na qual a família do noivo oferece bens para a família da noiva em troca do casamento. (FURQUIM, 2016, p.6)
30É preciso destacar a publicação, no Brasil, de outros poetas moçambicanos, além dos estudados pelas teses investigadas, como por exemplo: José Craveirinha, Noemia de Sousa e Virgílio de Lemos.
63
questões importantes discutidas pelos trabalhos, a tese sobre narratologia, O
"Outro’’ moçambicano: expressões da moçambicanidade em João Paulo Borges
Coelho (2016), de Ana Beatriz Braun. Nessa tese, a autora afirma que, além de
investigar aspectos da memória e da história, relacionados com a literatura
moçambicana, irá
analisar os romances [de João Paulo Borges Coelho] a partir de seus narradores: organizadores das várias linhas narrativas que se desenvolvem nos romances. Falando a partir de uma multiplicidade de posições, os narradores de Borges Coelho estruturam um amplo painel da sociedade moçambicana. (BRAUN, 2016, s.p. ).
Nessa tese de nosso corpus e em outras também, vemos que um trecho do
caminho das pesquisas sobre literaturas africanas de língua portuguesa já foi
trilhado, pois antes as pesquisas privilegiavam estudos literários mais voltados para
o fato de essas literaturas se proporem a encenar dados concretos da realidade dos
CINCO. Agora, muitos estudos destacam o trabalho estético nas obras.
Embora a maioria das teses, que privilegiaram a literatura moçambicana,
volte-se ao gênero romance, devemos considerar que o sistema literário
moçambicano se compõe de muitos autores de contos, gênero marcante na escrita
africana. Acreditamos que este fato se deve às características especificas do gênero
literário conto. Além disso, ele se aproxima das histórias contadas oralmente, tão
características das culturas africanas. Essas características não diminuem as
possibilidades de estudos acadêmicos sobre este gênero literário, pois o conto
possuem questões literárias tão instigantes quanto aos gêneros romance e poesia.
Embora a narrativa longa predomine nas teses estudadas, algumas se
voltaram para a análise de narrativas curtas moçambicanas, escolhendo, sobretudo,
contos de Mia Couto. Nas teses que versaram sobre contos de Mia Couto,
encontramos análises de contos retirados das seguintes obras do autor: Vozes
anoitecidas (1986), Cada homem é uma raça (1990), Estórias Abensonhadas
(1994), Contos do nascer da terra (1997), Na berma de nenhuma estrada (1999), O
fio das missangas (2003). Somente quatro livros de narrativas curtas do autor não
foram contemplados nas teses que averiguamos, a saber, Cronicando (1991), O
país do queixa andar (2003), Pensatempos: textos de opinião (2005).
As teses sobre a escrita miacoutiana foram a maioria nos cinco anos que
pesquisamos, portanto, destacaremos as principais abordagens procedidas sobre
64
obras do escritor, a fim verificar os temas mais frequentes nas teses investigadas.
2.4.1 Mia Couto
O renomado escritor moçambicano teve suas obras analisadas em pelos
menos 20 das 74 teses investigadas, sendo, portanto, as que mais mereceram
estudos. Como dissemos, a forma comparativa foi a mais adotada em teses que
tratam da obra miacoutiana. A utilização do método parece ser a melhor forma de
tratar textos de diferentes obras, de diferentes autores oriundos dos países africanos
e/ou da diáspora negra. Pensamos que a balcanização do continente africano entre
os países europeus colonizadores acabou por fortalecer traços de opressão
semelhantes em todos os povos colonizados. Partindo de pontos que mostram haver
similaridades na História dos povos africanos, os estudiosos de literatura percebem,
também, semelhanças nos modos de narrar, o que acaba por justificar os estudos
literários comparativos. São diversos movimentos de resistência encenados pelas
literaturas africanas, porém, podemos afirmar ser a luta contra o colonialismo a mais
predominante. Esse processo de dominação deixou marcas profundas e danosas no
continente africano e, consequentemente, nos africanos, sobretudo nos da África
sub-saariana e nos afrodescendentes. Esta dolorosa exploração da África refletiu
nas teorias pesquisadas em todos os campos do conhecimento, inclusive na
Literatura.
A estética da diáspora negra, na Literatura, é tratada por grande quantidade
das teses que se valeram de estudos comparativos como método de análise
literária, principalmente aquelas que tratam das obras de Mia Couto. Os estudos
comparativos não se limitam à investigação de obras de Mia Couto e nem das
literaturas de língua portuguesa – moçambicana, angolana, cabo-verdiana,
guineense e santomense. Há teses que comparam obras literárias africanas e
brasileiras e portuguesas. Há também estudos comparativos entre obras das
literaturas africanas de língua portuguesa com outras das literaturas de outros
espaços da África, tais como Nigéria e Quênia, e mesmo com obras de espaços da
diáspora negra, como a Martinica. São países, que, embora tenham suas
particularidades com relação à colonização, não ficaram isentos das perversas
consequências deixadas ao povo negro/africano. São questões muitas vezes
65
silenciadas que ganham voz no espaço da literatura.
Na tese, Poéticas da alteridade: Chinua Achebe, Ngugi Wa Thiong’o e Mia
Couto (2014), de Jair Braga Filho, foram selecionadas obras de Mia Couto para
avaliar as relações tensas entre colonizador e colonizado. Além disso, tem a
intenção de, comparativamente,
desvelar as características de um discurso literário, aqui africano, que faz frente à hegemonia cultural eurocêntrica ocidental, reforçando sua especificidade ao tratar das relações tensas e transformadoras entre colonizadores e colonizados - no texto pós-colonial de Chinua Achebe - entre grupos sociais pertencentes a um mesmo meio - na obra neocolonial de Ngugi Wa Thiong‘o -, e entre personagens em estado de procura permanente por uma identidade e que já não pertencem mais a um grupo específico, ampliando e problematizando o conceito de alteridade, característica dos tempos pós-modernos que correm. É o caso da poética transcolonial de Mia Couto. (BRAGA FILHO, 2014, p. 5).
A leitura das discussões oferecidas pelas teses possibilita constatar que a
hegemonia cultural eurocêntrica impôs condições severas ao desenvolvimento do
sujeito africano, sobretudo refletindo em sua identidade e em suas relações com o
sagrado e com a oralidade, muitas vezes interditada pela obrigatoriedade de uso da
escrita. Na esteira dessas questões, os estudos miacoutianos trataram destas e de
outras questões amplamente aceitas pela crítica das obras deste autor, tais como o
insólito, elementos telúricos (água, paisagem) e personagens femininas. Essas
investigações também exploraram pontos comumente abordados nos estudos das
literaturas africanas de língua portuguesa, conforme constatado por nossa pesquisa,
tais como o colonialismo, pós-colonialismo, neocolonialismo e as guerras de
libertação e civil.
Algumas das teses que analisamos e que trataram das obras de Mia Couto
apresentaram discussões bastante singulares. Três delas investigaram temas como
bastardia, o pacto fáustico e as transfigurações do passado. No intuito de confirmar
esta singularidade, realizamos consulta ao CTD sobre teses produzidas na literatura
em geral sobre estes três assuntos. Delimitamos a busca aos mesmos limitadores
usados por esta tese na investigação dos estudos sobre literaturas africanas de
língua portuguesa. Encontramos apenas mais uma tese sobre a questão da
bastardia, mas nenhuma outra sobre pacto fáustico e sobre transfigurações do
passado. Esses dados reforçam o nosso objetivo de oferecer dados confiáveis às
instituições de Letras no Brasil e, em especial, aos pesquisadores de literaturas
66
africanas de língua portuguesa, pois conseguimos ver quais temas de estudo são
explorados à exaustão, ao passo que outros ainda são poucos tratados pela
academia.
Uma obra (O outro pé da sereia), bastante estudada, do escritor Mia Couto,
integra o elenco da tese que trata do tema da bastardia, tendo como título Memória,
identidades e bastardia em As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges Coelho,
O outro pé da sereia, de Mia Couto, e Leite derramado, de Chico Buarque (2016), a
pesquisadora, Lilian de Paula Serra e Deus reflete sobre bastardia em obras de dois
autores moçambicanos e um brasileiro. Para sua pesquisa sobre o tema, a
estudiosa buscou o aporte teórico de Marthe Robert (2007), conforme ressalta no
trecho:
A intenção é partir das premissas acentuadas por Robert sobre a relação entre bastardia e romance e sobre a prerrogativa de que toda narrativa romanesca abarca o conceito freudiano de romance familiar para discutir como os romances selecionados para análise podem ser vistos a partir dessas concepções. Abordar-se-á o fato de nos três romances existirem personagens que, de alguma forma, encenam a ficção infantil discutida por Freud. Ainda que se considere o fato de que tanto Freud quanto Marthe Robert criaram suas teorias a partir de visões europeias, pensa-se ser possível analisar aspectos dos romances africanos e brasileiro levando em consideração pontos de vistas críticos construídos a partir do viés psicanalítico. Por isso, neste capítulo, além da discussão da questão da bastardia, segundo Robert (2007), tangenciaremos o complexo de Édipo e a ficção da criança perdida ou adotada teorizadas por Freud como possibilidade de leitura dos romances. (DEUS, 2016, p. 28).
O tema da bastardia romanesca é assumido pela autora da tese como uma
configuração psicanalítica passível de ser discutida em relação a obras literárias. O
conceito e as percepções teóricas sobre ele são retomados para ajudar a
compreender determinadas questões apresentadas por romances africanos. O viés
comparativo da tese ajuda a disseminação de conceitos que foram discutidos, de
forma ampla, para se pensar em relações específicas do contexto familiar, ainda que
se leve em conta as diferenças existentes entre as narrativas. Desse modo, o
conceito foi trabalhado como importante ferramenta para ajudar na análise de uma
questão que é humana e universal, logo, pertinente ao estudo de romances oriundos
de espaços colonizados.
O outro tema bastante singular, como já acentuado, utilizado para a
investigação das literaturas africanas de língua portuguesa, especificamente da obra
miacoutiana, é o de pacto fáustico. Esse tema foi examinado na tese O pacto das
67
elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique, de Sueli da Silva
Saraiva, em 2013. Para a investigação, a autora requisita uma obra de Mia Couto, O
último voo do flamingo (2000), além de outras das literaturas africanas de língua
portuguesa, como Maio, mês de Maria (1997), de Boaventura Cardoso, Predadores
(2005), de Pepetela e O sétimo juramento (2000), de Paulina Chiziane, nas quais ela
percebeu
as marcas do mito fáustico, um elemento da intertextualidade que esses romances apresentam entre si e com obras de outros sistemas literários emergiram como uma produtiva presença para a compreensão desses países e suas literaturas num contexto mais amplo. (SARAIVA, 2013, s.p. ).
A referida tese analisa as obras adotando as características do pacto
diabólico, de conseguir realizar um desejo e em troca perder algo caro a si mesmo,
de Fausto, e aponta como elementos claros desse acordo são encenados a partir da
ação de personagens dos romances O último voo do flamingo, de Mia Couto e O
sétimo juramento, de Paulina Chiziane. Os romances são postos em contraponto a
Predadores, de Pepetela, obra em que, segundo a autora, ―habilmente se produz
aquilo que poderia ser entendido como a forma abstrata do pacto‖ (SARAIVA, 2013,
p. 241), em decorrência, sobretudo, do tom realista da obra.
O assunto ―transfigurações do passado‖, em obras de Mia Couto, é avaliado
pela pesquisadora Daniela Aparecida Costa na tese Transfigurações do passado em
narrativas de Teolinda Gersão e Mia Couto (2015). A tese se realiza
por meio do exame dos modos como se processa a ―transfiguração do passado‖ nas obras escolhidas, confronta os diferentes olhares sobre a tomada do passado histórico dos dois países, pelos romances em questão, com o objetivo de mostrar como os dois escritores incorporam e apropriam-se do factual como estratégia narrativa, bem como perscrutar de que modo tal processo implica a construção artística das obras. (COSTA, 2015, s.p. ).
Tomando por base um romance moçambicano e outro português, a estudiosa
adota para sua investigação o conceito de ―transfiguração do passado‖ que, para
ela, implica em subverter momentos históricos dos países de nacionalidade dos
autores, no caso das obras analisadas, o salazarismo português e o colonialismo,
em Moçambique, de modo a trazer para a tese a interação entre literatura e história,
de forma transgressora.
As obras de Mia Couto também foram objeto de investigação em teses que
68
privilegiaram aspectos da memória, identidade, história, feições do sagrado, da
nação e do feminino, dentre outros. Merecem destaque as teses que abordaram a
poética de Mia Couto, a partir de olhares mais singulares que procuram revisitar as
obras desse autor tão estudado no Brasil. Tal enfoque pode se valer de conceitos
como o de hipertextualidade, pensado por Gérard Genette como um palimpsesto,
como um pergaminho, cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, sem
esconder inteiramente a anterior (MOLINA, 2016).
O conceito palimpsesto foi utilizado como aporte teórico para fundamentar o
processo de derivação textual que se instaura entre os textos de O outro pé de
sereia, de Mia Couto, e a carta de Luiz de Froes, de 1562. O conceito de
hipertextualidade, de Gérard Genette, utilizado na tese A hipertextualidade em O
outro pé da sereia: uma escrita em palimpsesto (2016) pode ser definido nas
palavras de Maria de Fátima Castro de Oliveira Molina como
todo texto derivado de um texto anterior por um processo de transformação ou imitação. Diante dessa simplificação, o autor [Gérard Genette] apresenta duas precauções necessárias para a perfeita consolidação do conjunto das categorias transtextuais por ele listadas. A primeira diz respeito à importância de não considerá-las como classes estanques; a segunda volta-se mais para uma definição da natureza da transtextualidade considerada como aspecto da textualidade. (MOLINA, 2016, p. 93).
Assim, para a autora da tese, a obra O outro pé da sereia é um hipertexto, ou
seja, texto conectado a outro. Assim, ela investiga as estratégias narrativas de
intertextualidade poética no romance, tais como imitação, transformação, paródia e,
principalmente, o recurso de palimpsesto, caracterizado como retomada e reescrita
de um texto outro, sobre o qual o novo texto se debruça. Nas palavras de Gérard
Genette (2010), em citação de Molina, o palimpsesto refere-se à
[...] duplicidade do objeto, [que] na ordem das relações textuais, pode ser figurada pela velha imagem do palimpsesto [grifo do autor], na qual vemos, sobre o mesmo pergaminho, um texto se sobrepor a outro que ele não dissimula completamente, mas deixa ver por transparência. (GENETTE, 2010, p. 144 apud MOLINA, 2016, p. 100).
A tese é construída a partir da análise da multiplicidade de histórias que
constituem o romance de Mia Couto: a oficial, que se passa em 1562, e as fictícias
que compõem o enredo desencadeado por acontecimento ocorrido em 2002. A
autora reforça que a narrativa de Mia Couto não é uma reprodução da realidade,
69
mas a transformação da realidade, enfocada a partir dos recursos da ficção. Sobre
os fatos ocorridos em 1562, sobrepõem-se outros, deixando os eventos do século
XVI serem revisitados pelo recurso da transparência.
A questão da imanência e da transcendência seria apenas mais um recorte
destes temas recorrentes nos estudos das obras de Mia Couto, porém a tese
Moçambique (entre) laços poéticos: conversas e versos, de Roselene Berbigeier Feil
(2015), acrescenta a esses aspectos a questão da interação entre a arte e a
mundanidade banal do universo cotidiano do autor Mia Couto. Nesta tese, a autora
mergulha no mundo cotidiano dos moçambicanos, valendo-se de entrevistas feitas
com cidadãos moçambicanos residentes em Moçambique. Com esse recurso, faz
uma leitura das obras Vinte e zinco, Terra sonâmbula, Antes de nascer o mundo, O
outro pé da sereia e O último voo do flamingo, buscando uma interação entre os
dados fornecidos por entrevistas feitas por ela e os ficcionalizados/inventados pelo
autor Mia Couto. Como a autora fez um estudo em Moçambique e não apenas a
leitura das obras, é interessante perceber, nas palavras da autora da tese, as
explicações sobre as particularidades do universo africano e sobre percepções
dessa realidade, fora do continente africano:
As particularidades do universo africano, através da obra de Mia Couto, são transpostas para a literatura que o mundo além-África recebe, são desejos e percepções distantes da realidade exterior ao continente. Muito daquilo que o autor diz sobre a África soa pouco plausível. A concepção ocidental tem uma lógica estruturada sobre alicerces menos sutis, daí a intraduzibilidade de muitos elementos como ―próprios da África‖ e sua absorção limitada ou fantasiosa. A ótica universalista ainda exclui o diferente, o entende como restrito à mística e à sublimação, dessa constatação nasce um encantamento que oculta a realidade africana e a oriental em muitos de seus aspectos. (FEIL, 2015, p. 11).
O diálogo entre a realidade e a literatura, produzido por autores africanos,
como Mia Couto, aproxima a cultura africana da ocidental mostrando que o ser
humano tem, muitas vezes, os mesmos questionamentos, embora se expressem de
modo singular em cada espaço. A produção literária e sua globalização contribuem
para o distanciamento da imagem de uma África exótica e mítica e possibilitam
melhor conhecimento de suas literaturas.
Vamos nos deter ainda em mais uma tese que investigou a obra de Mia
Couto por um viés diferente dos comumente adotados. Trata-se da tese de Cristina
Mielczarski dos Santos que investiga o recurso da ―epistolariedade‖ nas narrativas
70
de Mia Couto, como forma de minimizar o silenciamento das personagens femininas,
em suas narrativas. A tese de título Entre o bronze da letra e o cristal da voz:
interditos da voz na ficção de Mia Couto (2017) teve como objeto de estudo,
a interdição da voz, ou seja, desenvolver um enfoque a partir das personagens que utilizam a escrita para comunicação. O foco foi dado a partir do gênero epistolar (bilhetes, cartas e diários), mas abrindo para outros silenciamentos, como o caso das exiladas da razão. [...] Evidenciou-se, neste contexto, por intermédio das obras expostas o silenciamento da voz feminina (SANTOS, Cristina, 2017, s.p. ).
Como procuramos demonstrar, as teses que contemplaram obras de Mia
Couto realizaram recortes que evidenciam particularidades do universo
moçambicano de que fazem parte eventos e pessoas que integram os processos de
ficcionalização exibidos nas obras do escritor. Indo além de aspectos que ressaltam
o comprometimento ético deste autor moçambicano com seu país, as teses
buscaram refletir sobre questões relativas aos estudos literários, tais como: forma
narrativa, recursos poéticos, aspectos da diegese, enfim, propõem investigar
elementos da narrativa literária, a partir da obra do escritor.
A variedade de estudos sobre as obras de Mia Couto permite afirmar que
existe uma vasta gama de possibilidades de leitura, sobretudo de textos
provenientes de literaturas que, como as africanas, têm uma relação muito forte com
a encenação de aspectos do continente africano, por vezes pouco conhecidos dos
que se situam fora da África.
Após apresentarmos o sistema literário mais abordado nas 74 teses, a
literatura moçambicana, e o escritor mais estudado, Mia Couto, esperamos ter
disponibilizado informações concretas dos estudos feitos sobre obras literárias de
Moçambique e de Mia Couto. Essas informações confirmam algumas afirmações
mais gerais sobre as literaturas africanas de língua portuguesa e trazem outras que
surpreendem pela particularidade da pesquisa.
Passaremos ao tópico onde apresentaremos a escritora que obteve a terceira
posição dentre as obras analisadas nas teses investigadas, depois das de Mia Couto
e Pepetela.
71
2.4.2 Paulina Chiziane
Paulina Chiziane é considerada a primeira romancista de Moçambique.
Nascida em 1955, no interior do país, foi para Maputo para fins de estudo. Na capital
ela enfrentou um dos grandes desafios dos moçambicanos: a pluralidade de línguas.
Em Maputo falava-se o idioma Ronga e na escola aprendia-se a Língua Portuguesa.
Porém, ela era falante de Chope. Publicou seu primeiro romance Balada de amor ao
vento, em 1990. Depois vieram outros como Ventos do Apocalipse (1999), Sétimo
Juramento (2000), Niketche: uma história de poligamia (2002),que lhe rendeu o
prêmio José Craverinha, em 2003, e O alegre canto da perdiz (2008). Destas suas
obras, tivemos teses sobre Balada de amor ao vento, Niketche: uma história de
poligamia, O alegre canto da perdiz, O livro da paz da mulher angolana: as heroínas
sem nome (em que ela é organizadora junto com Dya Kasembe), O sétimo
juramento e Ventos do apocalipse. A obra O alegre canto da perdiz foi motivo de
quatro das teses que estudaram obras de Paulina Chiziane e, das oito teses de
nosso corpus que trataram das obras desta romancista moçambicana, seis
estudaram suas obras de forma comparada. As comparações se deram, na maioria,
com a obra Ponciá Vicêncio, da escritora brasileira Conceição Evaristo e, em
segundo lugar, com a obra O último voo do flamingo, de Mia Couto.
A escrita de Paulina Chiziane ―consegue apropriar, reescrever e subverter
mitos e elementos pertencentes à cultura ocidental, de forma criativa, irônica e, por
vezes, bem-humorada‖ (MANCELOS, 2007, p. 5). Esse poder de apropriação das
questões moçambicanas, principalmente sobre gênero, se verifica nos recortes
escolhidos pelos pesquisadores das teses investigadas, pois, em sua maioria, as
teses que tratam da obra de Paulina Chiziane estudaram aspectos do feminino
atrelado às questões de autoria ou das personagens. Em relação às discussões
sobre gênero na obra Niketche: uma história de poligamia, por exemplo, precisamos
estar atentos aos diferentes lugares que a mulher ocupa na sociedade
moçambicana, pois algumas cenas encontradas na obra de Paulina Chiziane
podem, aos olhos do feminismo ocidental (eurocêntrico), levar o leitor a ver algumas
personagens como submissas, mas no contexto de algumas comunidades
moçambicanas, elas podem não ser. O mesmo se dá quando consideramos as
relações poligâmicas que não vivenciamos no Brasil como traço de uma tradição
72
cultural. Prestar atenção às diferenças sociais que a cultura moçambicana apresenta
em relação à brasileira não quer dizer que muitas das situações vividas pelas
mulheres moçambicanas não sejam de submissão e opressão.
Em O alegre canto da perdiz, a autora Paulina Chiziane narra a história de
quatro mulheres da mesma família, de forma circular e fragmentada. O enredo
perpassa pelo período colonial de Moçambique até a pós-independência
moçambicana. Nesta obra podemos perceber que
a partir da personagem Delfina, que a autora encena as relações de opressão ao longo da história de Moçambique, a dupla subalternização da mulher negra nesse espaço, já que ela tenta ser a dona do próprio destino, mas não consegue, sofrendo preconceito da sociedade por tentar subverter o que lhe foi reservado como mulher e negra, e também a resistência da mulher negra a essa condição traumática que lhe é imposta. (LANA, 2018, p. 232).
O lugar da mulher moçambicana marca os romances de Paulina Chiziane e
se reflete nas teses sobre suas obras, como podemos ver na tese intitulada De mitos
e silêncios: nas águas do feminino pelos romances de Paulina Chiziane, da
pesquisadora Eliane Gonçalves da Costa. O referido estudo
tem como objetivo investigar os romances Balada de Amor ao Vento (2003) e O Alegre canto da Perdiz (2008) da escritora moçambicana Paulina Chiziane, seguindo a cartografia cultural de Moçambique proposta pela autora, com a finalidade de questionar os elementos da cultura ligados à tradição, bem como a de verificar os choques culturais desencadeados pelo colonialismo.( COSTA, 2014, s.p. ).
As reflexões suscitadas pelas leituras das obras de Paulina Chiziane levam a
discussões acerca da identidade do(a) moçambicano(a), pois suas personagens, na
maioria mulheres, ecoam as vozes de sujeitos subalternizados e marginalizados. Na
escrita de Paulina Chiziane tradição e contemporaneidade são marcas das
personagens, levando a percepção de novas identidades femininas na cena literária.
Nesse tópico dialogamos sobre a escrita literária de Paulina Chiziane e sobre
as investigações de suas obras nas teses investigadas. É nosso objetivo realizar
este mesmo movimento no próximo item – literatura angolana - onde
apresentaremos as informações colhidas das teses de nosso corpus que
investigaram a literatura angolana e o autor Pepetela.
73
2.5 Literatura angolana
A literatura angolana é, como já dito, o segundo sistema literário mais citado
nas palavras-chave e nos resumos das teses que pesquisamos. Pelo que expõem
as teses, esse sistema literário pode ser apreendido em momentos significativos
indicados pela importância de obras e autores que o representam. Um desses
momentos pode ser considerado a partir da produção escrita de intelectuais que
participaram dos movimentos de independência e produziram textos para a luta
libertária. Esses intelectuais, ao contribuírem com a produção literária do país,
podem ser considerados os precursores da literatura angolana pós-independência.
Dentre esses, podemos citar Antônio de Assis Júnior, Castro Soromenho e Oscar
Ribas. Obra importante do sistema literário angolano, O segredo da morta: romance
de costumes angolenses, de Antônio de Assis Junior31, foi destacada pela tese
intitulada O instinto de nacionalidade na formação do romance angolano: análise de
O Segredo da Morta, Antônio de Assis Junior (2014). Na referida tese, a autora,
Silvana Rodrigues Quintilhano, justifica a escolha desta obra para sua análise,
afirmando que:
A narrativa traz, de forma ampla e visível, o panorama cultural da sociedade angolana pré-independência. Desde então, essa obra vem sendo considerada um marco no panorama literário de Angola, na qual se pode discutir o conceito de nacionalidade, mesclando costumes burgueses civilizacionais à oralidade primitiva angolana. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo afirmar que O segredo da morta, tornou-se marco inicial na formação do romance angolano, que com seu instinto de nacionalidade, prenunciou aspectos da angolanidade, a partir de uma estratégia estética inovadora. (QUINTILHANO, 2014, s.p. ).
Outro momento literário pode ser considerado com o surgimento do
Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, em 1948, responsável pelo apelo
―Vamos descobrir Angola‖, buscando romper com a cultura imposta pelo colonizador
e visando uma literatura angolana que refletisse a cultura de Angola. Os autores que
se destacaram nesse momento são, dentre vários outros, Mário Antônio, Agostinho
Neto, Viriato da Cruz, Alda Lara, Antônio Jacinto e Mário Pinto de Andrade.
A vertente assumidamente voltada para a função social da literatura foi
31
Esta obra apresenta alguns percalços em sua publicação, pois foi publicada em 1929, sendo editada em livro somente em 1935. Por ter sido censurada, foi reeditada somente em 1979. (QUINTILHANO, 2014, s.p.).
74
colocada em prática por muitos autores angolanos, destacando, dentre outros,
Manuel Rui, Boaventura Cardoso e Pepetela. Nas produções literárias desses
autores é marcante a presença de um diálogo com o período definido pelas lutas de
libertação nacional e conflitos internos durante a consolidação de Angola como
nação independente.
O sistema literário angolano, ainda no período colonial, ganha maior fôlego
com as obras de José Luandino Vieira32, que trazem, desde Luuanda, publicado,
pela primeira vez nos anos 60, uma proposta de renovação da linguagem literária.
Essa proposta irá se fortalecer em obras como Nós, os do Makulusu (1975) e João
Véncio: os seus amores (1979). Mais recentemente, a escrita do escritor se
radicalizou ainda mais, na trilogia, ainda em construção, intitulada De rios velhos e
guerrilheiros, de que estão já publicados: O livro dos rios (2006) e O livro dos
guerrilheiros (2009).
A escrita contística de José Luandino Vieira mereceu uma tese, em 2014,
intitulada O lugar de Luandino Vieira na tradição do conto angolano, da
pesquisadora Joelma Gomes dos Santos. Ela faz uma reflexão sobre a importância
de teses que discutem o gênero literário conto, em geral, e na literatura angolana,
em particular, afirmando haver poucas teses sobre este gênero literário.
Confirmamos a observação da autora, ao perceber que do nosso escopo, apenas
5% das 74 teses tratava especificamente sobre contos, apesar das literaturas
africanas de língua portuguesa terem expressiva produção nesse gênero literário.
No desenvolvimento da análise dos contos de José Luandino Vieira, a
pesquisadora julgou importante trilhar um caminho pela teoria literária ocidental
sobre as narrativas breves e também pelas teorias sobre a literatura angolana, além
de embasamento sobre o conto de tradição oral, especificamente o mussosso33.
Sendo assim, a autora afirma que:
32
Este autor, assim como Mia Couto, foi premiado como prêmio literário de Camões, mas por razões pessoais, recusou receber a honraria portuguesa.
33 Nas comunidades tradicionais quimbundo, o mussosso é uma forma narrativa utilizada para entreter e também para instruir os interlocutores. Os contadores de histórias [re]transmitem as narrativas que são repassadas de geração em geração ao longo dos anos, ouvidas de seus mais-velhos, líderes, ou griots. É em baixo [sic] de uma árvore, ou à volta da fogueira que os laços com os ancestrais são mantidos por meio da escuta e enunciação dessas estórias. (SANTOS, 2014, p. 42, destaques da autora).
75
Inserir o autor no seu contexto de produção requer uma incursão por teorias do conto como as de Poe (2009), Lancelotti (1965), Piglia (2004), observando a expressão do gênero em Angola a partir da leitura de críticos como Laura Padilha (2007) e Carlos Ervedosa (1979), desenhando seu percurso histórico de realização, passando por questões que envolvem ainda suas relações com a narrativa oral tradicional, o mussosso, amparados pelo trabalho de estudiosos como Ribas (1964), A. Hampaté Bâ (2011) e Chatelain (1964); exige lançar um olhar analítico sobre a formação do gênero no referido cenário literário, investigando suas etapas de transformação, passando pelos citados movimentos que, a partir de suas propostas e estilos, iam dando novas feições às formas de narrar; para então retornarmos ao ponto alto de sua transgressão que localizamos na obra de José Luandino Vieira, ponto chave de ruptura e mudança estética sofridas pelo gênero, como se defende. (SANTOS, 2014, p. 9).
A autora problematiza a inserção da obra de José Luandino Vieira nas teorias
ocidentais pelas subversões literárias que o autor utiliza em suas criações. Por essa
razão, recorre aos teóricos(as) africanos em geral e aos que discutem as literaturas
africanas de língua portuguesa.
Acrescentamos, ainda, que, nas teses de nosso corpus que especificaram
como tema de suas pesquisas a literatura angolana, uma delas abordou a poética de
Paula Tavares e, a outra, os romances de José Eduardo Agualusa. O viés estudado
das obras de Paula Tavares foi a poética dos sentidos e de Agualusa, o aspecto da
memória e da ironia.
Nesse item que finalizamos, sobre a literatura angolana, fizemos uma breve
exposição deste sistema literário e suas abordagens nas dez teses que o
estudaram. Continuaremos a falar da literatura angolana, ao expor as informações
que colhemos sobre Pepetela, o segundo autor com mais obras estudadas nas
teses produzidas pelos brasileiros que investigaram as literaturas africanas de língua
portuguesa nos últimos cinco anos.
2.5.1 Pepetela
Pepetela foi um militante da independência angolana e exerceu liderança
expressiva nos movimentos pela libertação de Angola. Atuou como guerrilheiro
diretamente na luta armada pela libertação de Angola, integrando o partido político
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Trata-se de um dos autores
angolanos mais reconhecidos, mesmo antes da independência de Angola, quando
conseguiu escrever três romances, porém apenas a obra As aventuras de Ngunga
76
foi publicada durante o período de luta de libertação, em 1973. Com o fim da luta
armada pela independência em Angola, Pepetela chegou a ocupar cargo político no
governo MPLA, que logo abandonou para assumir a vida acadêmica e a de escritor.
Este autor angolano foi estudado por dez teses das 74 que selecionamos e
todas, com exceção de uma, foram analisadas de forma comparativa, com obras das
literaturas moçambicana, brasileira e portuguesa. Entre seus romances, os que
mereceram estudos nas teses que lemos foram A gloriosa família, A geração da
utopia, Yaka, Predadores, Mayombe e Lueji. Ao estudar tais obras, os principais
recortes para investigá-las foram aqueles que conectam as relações entre literatura
e sociedade: história, ironia, identidade(s), pós-colonial, política e capitalismo. Para
aporte teórico dessas discussões foram tomados como apoio, principalmente: Homi
K. Bhabha, Jacques Derrida¸ Tzvetan Todorov, Roland Barthes, Georg Lukacs,
Mikhail Bakhtin, Paul Gilroy, além de Margarida Calafate Ribeiro, Inocência Mata,
Moema Augel e Jane Tutikian.
Houve duas teses que trataram da intertextualidade e para tanto tomaram
como referência as reflexões produzidas por Julia Kristeva. Em uma das teses sobre
a intertextualidade na obra de Pepetela, foi realizada uma leitura que considera as
obras analisadas como narrativas de fundação e sagas familiares. O autor, Donizeth
Aparecido dos Santos, da referida tese, que tem o título de Sagas familiares e
narrativas de fundação engajadas de Érico Veríssimo e Pepetela (2013), buscou
encontrar na trilogia de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, e no romance Yaka,
de Pepetela, construções estéticas e ideológicas que aproximam as duas narrativas,
a partir do viés proposto. Assim o pesquisador procurou
comprovar que a obra do escritor brasileiro serviu de modelo para o escritor angolano, que incorporou algumas de suas estratégias narrativas e as adaptou ao contexto da literatura angolana, segundo o conceito de intertextualidade de Julia Kristeva (1974) que concebe a escrita de um texto literário como a leitura do corpus anterior, noção que implica ver o texto como absorção e transformação de um outro texto, de modo que o romancista ao escrever a sua obra sempre parte de um modelo pré-existente, seja para legitimá-lo ou questioná-lo, sem que isto signifique que ele tenha feito uma mera cópia do modelo apropriado. (SANTOS,Donizeth, 2013, s.p. ).
Se nesta tese, o objeto de estudo é a intertextualidade entre duas obras
literárias, na outra tese sobre o mesmo conceito, a discussão se fez a partir da
verificação de como os fatos históricos relativos ao sistema colonial português são
77
encenados pela literatura angolana e portuguesa.
No momento da análise das teses que têm obras de Pepetela como objeto de
suas pesquisas, encontramos um aspecto que favorece a nossa hipótese de que é
preciso realizar estudos sobre a produção específica de um campo de
conhecimento, no nosso caso, sobre Letras, sub-área Literatura, especificamente,
sobre as literaturas africanas de língua portuguesa. Só o olhar de um pesquisador
da área pode ir além de coleta de dados, e, como esperamos estar realizando,
oferecer considerações sobre conceitos que transitam pela área e sobre suas
metodologias. Portanto verificamos que há um destaque para os(as) teóricos(as)
ocidentais, como esperado, mas também há forte presença de alguns teóricos(as)
africanos(as) e de pesquisadores de literatura, brasileiros, portugueses e africanos.
Como nossa proposta de tese é elencar e discutir os modos de investigação
das literaturas africanas de língua portuguesa, a partir de um recorte, ressaltamos a
preocupação, em várias teses, de ouvir a voz dos teóricos africanos(as) e da cultura
africana, não só a dos CINCO, como foi o caso da tese já citada que se valeu do
recurso à epistemologia de Exu. Neste tópico sobre Pepetela destacamos uma tese
que adota um método de análise literária de narrativa africana recorrendo a
conhecimentos culturais africanos. Essa tese se vale dos preceitos do candomblé
para analisar personagens de Pepetela.
Podemos dizer que a pesquisadora Waldelice Maria Silva de Souza (2014),
autora da tese A rotação das identidades: o transe como dínamo da arquitetura das
personalidades nos oríkìs e dos personagens na obra de Pepetela, embora também
adote referencial teórico da comunidade interpretativa formada pelos pesquisadores
brasileiros de literaturas africanas de língua portuguesa, vai buscar na fonte das
africanidades suporte para fazer seu estudo. Podemos compreender melhor o que a
pesquisadora realizou, quando esta afirma que:
O rito literário se confunde com os atos ritualísticos de culto ao antepassado, na mesma medida em que o acervo de personalidades dos contos sagrados dos povos tradicionais colabora na estruturação da potência, dos gestos e dos atos de vários personagens do escritor. Os personagens se vinculam ao grupo dos outros e entram em rotação desvencilhando-se da condição de alienados, pela assimilação da cultura colonialista portuguesa, dispostos ao transe que os ligará novamente ao sistema expressivo de língua e culto pelo reconhecimento da importância da vida e da história do antepassado. Será observada a arquitetura ambidestra dessa rotação pelo transe nos romances Mayombe, Lueji – o nascimento de um império e Yaka. (SOUZA, Waldelice, 2014, p. 7).
78
Assim, a estética da construção dos personagens e a identidade angolana
foram percebidas pela estudiosa por um modo de leitura que busca manter as
singularidades do modo de escrever de Pepetela. Podemos dizer que esta
metodologia adotada pela pesquisadora é inovadora e merece ser considerada
como possibilidade teórica em leituras de outros autores africanos ou
afrodescendentes.
Na escrita de Pepetela verificamos muito da história, da memória e da
identidade de Angola. Esses aspectos mereceram estudos nas dez teses que
versam sobre as obras do autor. Porém, as teses que investigamos não ficaram
apenas nesse viés já esperado. Da leitura dos romances de Pepetela, os autores
trouxeram estudos da linguagem narrativa utilizada por ele e, também, a inovadora
tese que utilizou preceitos do candomblé para realizar sua pesquisa.
Exploradas as questões que vislumbramos sobre as investigações das obras
de Pepetela, nas teses que selecionamos, passaremos agora para o terceiro
sistema literário mais destacado nas palavras-chave das 74 teses que investigamos:
a literatura cabo-verdiana.
.
2.6 Literatura cabo-verdiana
Cabo Verde é um país africano insular e, por isso, as características do
processo colonial, ocorridas lá foram diferentes das outras nações colonizadas por
Portugal, na África. As lutas pela independência foram menos violentas que em
outros territórios, pois este país funcionava mais como suporte portuário para o
sistema colonizatório. Dentre os movimentos literários mais importantes de Cabo
Verde alguns foram diretamente influenciados pelas literaturas portuguesa e
brasileira. Somente com a publicação da revista Claridade, na década de 30, é que
Cabo Verde avançou na estruturação de seu projeto literário.
Sobre esta importante publicação, temos a tese Claridade - o canto e o louvor
de um povo no percurso da construção identitária: o diálogo como regionalismo
(2015), de Elisângela Aparecida da Rocha, na qual a pesquisadora reflete sobre
identidade e a importância do regionalismo brasileiro para a literatura cabo-verdiana,
como podemos perceber no trecho seguinte:
79
O contato com escritores brasileiros (modernistas e regionalistas), a partir dos anos de 1930, foi a força motriz para o desenvolvimento e modernização literária cabo-verdiana. Nesse processo, os estudos de Gilberto Freyre, notadamente o Manifesto Regionalista, foram especialmente significativos por oferecerem o arcabouço teórico e metodológico para a valorização das raízes culturais das ilhas e de sua formação social. (ROCHA, 2015, s.p.).
A pesquisadora reforça o intercâmbio entre o Brasil e Cabo Verde na
literatura cabo-verdiana, afirmando que as contribuições advindas da literatura
brasileira da década de 30 vão além desse período. O forte intercâmbio entre estas
Literaturas parece, a nosso ver, ter mantido esse laço até hoje.
São ao todo seis, das 74 teses, que focalizam a literatura de Cabo Verde. Um
número bem expressivo em comparação com a produção literária do país, ainda
pouco divulgada/distribuída fora do arquipélago. Destacamos também, com essas
teses, o trabalho que se tem desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo
(USP), já que todas as teses que lemos sobre literatura cabo-verdiana foram
produzidas nessa universidade. Temos certeza de que esse resultado está no fato
de, na USP, haver um estudo particularizado das diferentes literaturas africanas de
língua portuguesa. Na instituição, as literaturas africanas de língua portuguesa não
são estudadas em bloco e, sim, separadamente. Assim, se todas as teses que
lemos sobre literatura cabo-verdiana foram produzidas em setor específico que
cuida de estudos e pesquisas sobre a literatura de Cabo Verde, isso pode ter
contribuído para que essa condição esteja expressa pela clareza demonstrada nas
palavras-chave de cada um dessas teses.
As teses sobre a literatura cabo-verdiana recorrem a temas e teóricos (as) já
elencados por nós, mas podemos destacar, também, estudos mais específicos
sobre a realidade geográfica do arquipélago, porque tal fato reflete-se na produção
literária. Nesse sentido, destacamos estudos sobre o tema da insularidade, em
obras literárias de Cabo Verde, pois sabemos que a literatura deste país traz em si
as características de sua formação geográfica e da constituição de uma nação que
traz as marcas da fragmentação, sendo a identitária, talvez, a mais importante.
Estética, lírica e narratologia se imbricam na encenação literária dessa singularidade
do país.
Nossa proposta neste capítulo foi apontar – e discutir – os aspectos literários
e teóricos(as) dos assuntos mais abordados pelas teses de nosso corpus, que foram
80
os autores: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane, os temas: Identidade(s),
Memória(s) e História e os sistemas literários: Literatura moçambicana, Literatura
angolana e Literatura cabo-verdiana.
Podemos dizer que os temas dos estudos sobre as literaturas africanas de
língua portuguesa assemelham-se aos encenados pelas literaturas ocidentais
contemporâneos e não se caracterizam, apenas, como muitos estudiosos afirmam,
como manifestações características da literatura de comprometimento ético. Os
autores de literaturas africanas de língua portuguesa são, sim, profissionais
comprometidos com suas mundivivências e, logo, estas questões são ficcionalizadas
nas obras escritas por eles. Os recursos estéticos que utilizam conseguem, na
maioria das vezes, ficcionalizar a realidade africana, a partir de estratégias que
também estão presentes em obras de autores não africanos. Devemos levar em
consideração que muitos recursos específicos da escrita literária, em África,
precisam ser reinventados, porque as culturas africanas têm modalidades narrativas
orais altamente significativas que foram silenciadas pela cultura letrada levada ao
continente durante a colonização.
Deduzimos com as teses investigadas que os processos de expressão das
culturas africanas apresentam elementos específicos. As teorias estéticas e culturais
produzidas em África são essenciais para melhor compreendermos os pontos de
vista de teóricos(as) africanos(as) sobre os processos de criatividade que as
literaturas procuram encenar. É preciso ressaltar que, embora ainda seja insuficiente
a circulação de pontos de vista africanos sobre as culturas e as literaturas do
continente, muito das africanidades já estão sistematizadas em conhecimento
organizado e disseminado, o que pode ser notado pelo uso de teóricos(as)
africanos(as) nas investigações realizadas por várias das teses que lemos.
Ao longo deste capítulo, arrolamos alguns dos teóricos(as) que são utilizados
pelos produtores de teses brasileiras sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa e, a partir delas, apresentamos discussões que evidenciam uma
comunidade interpretativa já estabelecida. Também demonstramos que as
particularidades da cultura, história, geografia da África e suas diásporas fazem
emergir narrativas e modos de análise literária bastante diferenciados, como a que
propôs a epistemologia do orixá Exu como ferramenta de análise e a que se valeu
de elementos do candomblé para o mesmo fim.
81
Assim, consolidada a fase de nossa pesquisa que se vale da indicação de
dados quantitativos e descritivos, passaremos a um aprofundamento mais
investigativo que procurará verificar visões específicas da literatura que emergem
das teses brasileiras que investigaram as literaturas africanas de língua portuguesa,
nos últimos cinco anos. Sabemos de antemão que as marcas fragmentárias da
sociedade contemporânea, africana e global, deixaram seus traços na produção do
conhecimento humano, nos últimos anos. Isto poderá ser percebido nas discussões
que pretendemos realizar a partir do que já observamos nas teses: o avanço de
algumas correntes literárias e educacionais em detrimento de outras.
82
3 VISÕES DE LITERATURA NAS TESES INVESTIGADAS
“Todas as influências são parte de mim, que dão vazão na palavra, que constrói e inventa”. (Mia Couto)
Neste capítulo trataremos das visões de literatura que emergem das
pesquisas feitas pelas teses investigadas, com a intenção de verificar que
concepções estético-literárias foram privilegiadas pelos pesquisadores. Na leitura
das teses investigadas, evidenciam-se discussões e considerações sobre a literatura
e sobre o fazer literário. Essas discussões referem-se aos modos como, no espaço
da literatura, são ficcionalizadas questões sociais e culturais africanas e como isto
pode explicar determinadas construções estéticas próprias do universo das
literaturas africanas de língua portuguesa.
Na maioria das teses investigadas, a literatura é discutida com a ajuda de
uma ampla metodologia investigativa de seu objeto, a obra literária, muitas vezes
valendo-se de reflexões de teóricos(as) de diferentes vertentes dos estudos
culturais. Dentre os estudiosos mais citados, temos Achille Mbembe, Ana Mafalda
Leite, Hampaté Bâ, Homi K. Bhabha, Inocência Mata, Mikhail Bakhtin, Paul Ricoeur,
Stuart Hall e Walter Benjamin.
Pensamos ser pertinente observar que, apesar de a história literária de cada
país africano de língua portuguesa ainda ser recente, se comparada com a dos
países europeus colonizadores do referido continente, as indagações sobre o fazer
literário estão presentes na produção teórica dos africanos, desde antes das
independências que ocorreram em 1975. A maioria desses teóricos, entretanto, é
ainda pouco conclamada para a discussão de questões relacionadas com a
literatura, principalmente porque as reflexões quase sempre se valem de referencial
teórico mais conhecido. É importante considerar que as questões apresentadas
pelas teses, ainda que não tenham objetivo de discutir aspectos do fazer literário,
remetem a considerações da Estética, da Poética e da Estilística, muitas vezes
discutidas em suas relações com outros campos de conhecimento como o das
ciências sociais e humanas.
Observamos que estão presentes nas análises literárias discussões sobre
estratégias narrativas que consideram as projeções do autor no texto, a construção
dos narradores e de vozes narrativas, bem como, considerações sobre os intertextos
que enriquecem as relações da literatura com outras artes, surgindo, por vezes,
83
reflexões sobre a recepção dos textos pelos leitores.
Esses aspectos adotados pelas teses investigadas nos motivaram a indagar
sobre a utilização de referencial teórico-literário legitimado pelo Ocidente e também
sobre a apropriação de conceitos e reflexões produzidas no próprio continente
africano. Nesse sentido, é importante considerar que muitas discussões teóricas
elaboradas por intelectuais africanos e africanistas espalhados pelo mundo nem
sempre estão à disposição dos estudiosos brasileiros, situação que pode justificar
uma maior presença de teóricos(as) não africanos(as) no embasamento das
pesquisas feitas.
A questão de institucionalização literária, nos países africanos de língua
portuguesa é discutida por Pires Laranjeira (2015), quando considera que os
estudos sobre as literaturas africanas, principalmente os produzidos em Portugal e
no Brasil, se embasam, na maioria das vezes, em aparato teórico não africano. O
estudioso ressalta o cenário real em que se estabelecem os processos de
institucionalização literária, em cada um dos países africanos, que têm a língua
portuguesa como oficial, ressaltando que a literatura não depende diretamente dos
índices de desenvolvimento humano dos países em que existe. O crítico destaca
ainda que
[...] as suas práticas não são nem poderiam ser alheias àquele desenvolvimento. Questões como o avanço da alfabetização, a consolidação dos sistemas de ensino ou a emergência mais lenta ou mais célere, de instrumentos de institucionalização literária (editoras, revistas, academias, prêmios, etc.) não são abordadas nem resolvidas nos países africanos de língua portuguesa do mesmo modo que o são em Portugal ou no Brasil. Pensar que é assim equivale a confundir, com desajustado voluntarismo, os
desejos, por ventura generosos, com a nitidez da realidade. (LARANJEIRAa,
2015, p. 11).
Ecoam nas questões abordadas por Laranjeira (2015), os questionamentos
de Luiz Kandjimbo (2012), um estudioso das literaturas africanas de língua
portuguesa, de Angola principalmente:
Se a crítica literária africana integra os sistemas literários nacionais, ela pressupõe uma teorização que deve ser autónoma, coenvolvendo problemáticas de ordem epistemológica. Tal reflexão permite trazer à liça questões acerca do sujeito e do objeto do discurso, dos métodos, princípios operatórios e das condições da sua eficácia. Não pode a instauração da crítica literária surgir do nada.( KANDJIMBO, 2012, p. 50).
84
As considerações feitas até aqui nos permitem refletir que, apesar do lugar
que o país ocupa na história do desenvolvimento econômico, esse fato não deve ser
visto como um ponto de partida para legitimar, ou não, as teorias literárias ou outras
que produzem. Porém essa questão acaba nos levando a pensar que a utilização de
teorias produzidas no Ocidente deveria dialogar mais de perto com discussões
oriundas de teóricos(as) africanos(as) que se voltam aos estudos literários. O
estudioso poderia, desse modo, escolher sempre o aporte teórico mais adequado às
discussões do objeto literário a ser estudado. Ao utilizar as teorias europeias, não
deveria desprezar as nuances históricas e culturais do contexto de produção das
obras literárias africanas nem desconsiderar o impacto provocado pelo extenso e
cruel período de colonização vivido pelos países africanos. A especificidade da
História desses países, sobretudo daqueles que foram vítimas do colonizador
português, exige um olhar atento às questões que vão além do viés econômico, da
submissão dos corpos ao trabalho forçado, pois, como esclarece Y. V. Mudimbe
(2012), a colonialidade do saber é, talvez, a herança mais perversa deixada pela
colonização europeia na África.
A colonização dos países africanos instituída por Portugal não foi diferente
daquela levada ao continente pela França e pela Inglaterra, por exemplo, embora
por vezes essa diferença seja ressaltada em Portugal e no mundo. A colonização
portuguesa, na África, foi como as outras, violenta e castradora, motivada ―pela
vontade de converter; transformar e mudar radicalmente um espaço e seus
habitantes‖ (MUDIMBE, 2012, p, 143).
Vinculada ao pensamento de Y. V. Mudimbe, Flávio Garcia e Inocência Mata
(2016) afirmam que precisamos estar atentos ao viés político no que se refere às
teorias ocidentalocêntricas sobre o pós-colonial, principalmente com a questão de a
colonização portuguesa ser, muitas vezes, considerada melhor que os demais
sistemas coloniais, como podemos perceber no trecho a seguir, em que a autora se
vale de afirmação de Boaventura Souza Santos (2001):
Com efeito, misturam-se nessa epistemologia aparentemente da diferença duas ideias igualmente originais: a primeira é que o colonialismo português foi ―diferente‖(entendendo não raramente por diferente, melhor), chegando até a ser considerado, como já ouvi de ―africanista‖, um colonialismo cultural‖, o que é uma contradição entre termos, se, se pensar o colonialismo como implantação de colônias em territórios distantes cujos recursos são explorados com a utilização de mão de obra local (sendo portanto, sempre, uma consequência do imperialismo. [...] da anterior, a
85
segunda ideia advoga que a pós-colonialidade no mundo da língua portuguesa é uma realidade muito diferente que não pode dialogar com a do mundo anglo-saxônico, de onde ressalta a ideia da ―especificidade do colonialismo português‖ (SANTOS, 2001, p.27), ainda que assente basicamente, mas não exclusivamente, na economia política que determina a condição semiperiférica de Portugal no sistema colonial europeu. (MATA, 2016, p. 32).
A ideologia de um colonialismo português diferente dos demais acabou por
acentuar um viés neocolonial da interpretação literária, além de possibilitar que
alguns críticos portugueses optem por não utilizar as teorias pós-coloniais não
portuguesas e ainda, de considera-las inadequadas as análises da produção literária
cultural dos países africanos colonizados pelos portugueses.
Podemos dizer que as teorias produzidas em espaços africanos colonizados
por outros países, que não Portugal, têm propiciado o enriquecimento das análises
literárias de textos de autores dos CINCO, embora reconheçamos que aquelas
produzidas por teóricos(as) com vivência nos países colonizados por Portugal
contemplam de forma mais profunda as especificidades daquele espaço. Como
exemplo de estudiosos africanos podemos citar o camaronês Achi Achillele Mbembe
que se tornou uma referência acadêmica no estudo do pós-colonialismo. Sua
contribuição pode ser verificada em toda sua obra, em especial, nas discussões de
seu livro Crítica da razão negra (2014) em que o teórico nos convida a refletir sobre
a ideia de mundo a partir da experiência negra. Ele acrescenta que a forma como é
visto o negro atualmente foi construída pelo sistema escravagista colonial e, dessa
maneira, a definição social de negro se confunde com os conceitos de escravo e de
raça, como podemos perceber no trecho a seguir:
Produto de um maquinário social e técnico indissociável do capitalismo, de sua emergência e globalização, esse termo foi inventado para significar exclusão, embrutecimento e degradação, ou seja, um limite sempre conjurado e abominado. Humilhado e profundamente desonrado, o negro é, na ordem da modernidade, o único de todos os humanos cuja carne foi transformada em coisa e o espírito em mercadoria — a cripta viva do capital. (MBEMBE, 2014, sp, grifo nosso).
A mercantilização do povo africano fez com que seu desenvolvimento
científico registrado fosse sequestrado. Portugal, por exemplo, impedia que em suas
colônias se publicassem obras literárias; o que se encontrava, antes do século XX,
eram escassas publicações que conseguiam meios para resistir às repressões do
86
sistema colonial. Em meados do século XX surgem às lutas de libertação das
colônias portuguesas e, nesse momento, também se reafirmam expressões de
movimentos literários responsáveis por publicações como: Claridade (Cabo Verde),
Mensagem (Angola) e Msaho (Moçambique).
A literatura pós-colonial e, por conseguinte, os estudos pós-coloniais acabam
por considerar elementos da busca pela identidade, memória, história e gênero,
muitos deles já presentes na produção literária colonial, como se confirma nas teses
investigadas. Há um alto número de estudos que se dedicaram a esses recortes.
Nas teses investigadas, pode ser vista, com maior intensidade, uma visão pós-
colonial da literatura, visão que advém da necessidade de ser especificado um
campo teórico interseccionado ao percurso construído pelos estudos culturais,
buscando romper com fronteiras políticas, intelectuais e ideológicas entre teorias e
textos literários da Europa e o restante do mundo.
A teoria conhecida como pós-colonial busca contemplar os efeitos políticos,
filosóficos, artísticos e literários deixados pelo colonialismo nos espaços em que foi
implantado. Essa teoria que teve marco inicial com a publicação do livro
Orientalismo, do palestino Edward Said, em 1978, não possui, no entanto, consenso
conceitual e terminológico. Embora ainda enfrentemos problemas conceituais e
terminológicos, derivados das consequências ideológicas do colonialismo, contamos
hoje com um vasto material sobre o tema, o que nos permite ampliar os estudos
sobre os textos literários produzidos nos CINCO. É possível perceber a construção e
legitimação de novas epistemologias literárias, já que a literatura pós-colonial
africana e outras, como a caribenha e a latina, trazem em si as marcas de um longo
e perverso processo de colonização.
Inocência Mata, estudiosa do pós-colonial, nos diz que ―não se pode dizer que
exista uma teoria do assunto‖ pronta, mas,
em todo o caso, vale dizer que, o que parece aproximar as várias percepções, perspectivas e insights deste campo de estudos é a construção de epistemologias que apontam para outros paradigmas metodológicos – que potenciam outras formas de racionalidade, racionalidades alternativas, outras epistemologias do Sul, por exemplo – diferentes dos paradigmas ―clássicos‖ na análise cultural e literária. Decorre desta reflexão a consideração de que porventura a mais importante mudança a assinalar é a atenção à analise das relações de poder, nas diversas áreas da atividade social caracterizada pela diferença: étnica, de raça, de classe, de gênero, de orientação sexual (MATA, 2014, p. 31).
87
O pesquisador brasileiro, Sílvio Paradiso (2016), acrescenta seu
entendimento do conceito de literatura pós-colonial ao dizer que
a literatura pós-colonial observa e revela essa vida cultural nos espaços pós-coloniais, através da narrativa produzida pelas ex-colônias, chamados pelo imperialismo de ―degradados‖, ―selvagens‖, ―devassos‖, ―diabólicos‖, ―preguiçosos‖ e ―primitivos‖, analisando, porém, detalhadamente o seu tema central: os encontros e desencontros entre colonizadores e colonizados, seja no âmbito linguístico, político ou religioso (como se tais elementos pudessem ser tão díspares). Tal atitude gera uma literatura de resistência, de revide e contra-ataque, a qual tenta resgatar forças e ideais perdidos no tempo, sufocados pela violência do Outro/dominante, para que o povo subjugado possa ter consciência de sua identidade e lutar contra uma ordem estabelecida pelos representantes da supremacia ocidental. (PARADISO, 2016, p. 152)
Os estudos pós-coloniais permitem, também, questionar o cânone da
literatura e da teoria literária, instalado ou em construção, recorrendo, por exemplo,
às seleções e escolhas de determinados autores africanos de língua portuguesa,
feitas por estudiosos não pertencentes aos CINCO. Como afirma Inocência Mata,
em vários momentos de sua reflexão, este cânone é formado, preferencialmente, por
autores que são publicados em Portugal e Brasil e muitas vezes reconhecidos com
prêmios literários. Esse cânone das literaturas africanas de língua portuguesa é
assumido também pelos cursos de Letras de várias universidades que as leem com
ajuda da crítica literária já consolidada. Esse processo acaba por restringir que
outras obras e outros autores sejam estudados, muitas vezes porque suas obras
não alcançam os públicos de fora do continente africano. Às vezes, o olhar do
pesquisador estrangeiro coloca tais literaturas como expressões de uma cultura
local, oral, ou seja, como fruto de sociedades de tradições orais, pondo-as em
contraposição com sociedades letradas, como as ocidentais, muitas vezes
percebendo a expressão oral como inferior à escrita.
A crítica literária eleva algumas obras ao cânone da Literatura e exalta as
teorias literárias que as estudam. Este fenômeno tem muito a ver com a
escolarização da Literatura, como podemos perceber no trecho seguinte:
Em nome de uma pseudo-democracia das Letras, que pretendia construir uma História Geral da Literatura ou uma poética universal, desenvolvendo um instrumental comum para a abordagem do fenômeno literário, independente de circunstâncias específicas, os comparatistas, provenientes na maioria do contexto euro-norte-americano, o que fizeram, conscientemente, ou não, foi estender a outras literaturas os parâmetros instituídos a partir de reflexões desenvolvidas sobre o cânone literário europeu (e por europeu entenda-se o cânone constituído basicamente por
88
obras literárias das potências econômicas do oeste do continente). O resultado inevitável foi a supervalorização de um sistema determinado e a identificação deste sistema – o europeu - como o universal. (COUTINHO, 2017, p. 68).
Nesse sentido, como já dito, quando se estudam as literaturas africanas, o
apoio teórico ainda é, majoritariamente, constituído de teorias produzidas na Europa
e nos Estados Unidos, quase sempre voltadas à análise de obras literárias oriundas
do contexto de produção que estudam. Será que teriam a mesma visão de literatura
se considerassem obras literárias produzidas fora da Europa? Pensamos que talvez
não, levando em consideração, por exemplo, estratégias literárias que nascem do
uso de línguas europeias em contextos plurilinguísticos como os africanos.
No próximo tópico apresentaremos considerações feitas pelas teses sobre
elementos do processo narrativo.
3.1 Literatura como contação de histórias
Podemos considerar que o narrador da ficção ganha maior foco com o
surgimento do romance e de teorias voltadas ao estudo deste gênero narrativo, cuja
função é contar uma história. É evidente que o aparecimento do romance faz surgir
um narrador mais complexo que assume a narração, valendo-se de estratégias por
vezes inusitadas. Muitas vezes, as teorias narratológicas europeias e aquelas a elas
interligadas tipificam o narrador, qualificando-o como narrador-personagem,
narrador-onisciente, narrador-observador ou demarcando o uso gramatical que o faz
ser um narrador de primeira ou de terceira pessoa.
As discussões sobre a figura do narrador nas teses investigadas valem-se,
principalmente, das visões de Walter Benjamin (1994). Em ensaios desse teórico,
são discutidas as dificuldades de permanência do narrador tradicional, aquele
considerado um contador de histórias, ou seja, aquele que narra suas próprias
vivências ou as experiências vividas por sua comunidade.
Acrescentamos que, nas narrativas das literaturas africanas de língua
portuguesa, encontramos narradores contadores de história, pois os autores,
principalmente os moçambicanos Mia Couto e Paulina Chiziane, se identificam como
contadores de histórias, porque assumem formas de contação oral próprias de suas
culturas. Tanto Mia Couto como Paulina Chiziane afirmam não se considerarem
autores de obras a serem lidas por um público específico ou relacionadas a um
89
gênero literário. Essa questão é considerada por Mia Couto quando, na contracapa
de seu livro, O gato e o escuro, comenta sobre a exigência de este ser classificado
como literatura infantil: ―não sei se alguém pode fazer livros para crianças. Na
verdade, ninguém se apresenta como fazedor de livros para adultos‖. (COUTO, s.p.,
2006).
Sobre a questão de ser contadora de história ou romancista, Paulina Chiziane
afirma, em texto presente na contracapa de alguns de seus romances, no qual se
declara seguidora da tradição de contação de histórias, própria de sua cultura:
Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance [...], mas eu afirmo: sou contadora de estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte. (CHIZIANE, 2002, contracapa)
Os autores supracitados apropriam-se de recursos da cultura local,
principalmente de elementos da oralidade e de formas de contar a história de
Moçambique. Em seus livros publicados, utilizam de recursos estéticos para
trazerem as marcas da oralidade em suas narrativas. Na esteira desses dois autores
que, como demonstrado em capítulos anteriores, foram os o primeiro e terceiro mais
estudados nas teses investigadas, existem outros escritores de literaturas africanas
de língua portuguesa que utilizam de narradores contadores de história, como, por
exemplo, José Luandino Vieira e Boaventura Cardoso, ambos de Angola. Esse
modo de narrar sobressai-se no gênero literário conto, que traz uma história curta,
mas densa, que propicia a diversidade de produção de sentidos e estudos literários
valiosos. Uma das teses investigadas, intitulada Tecendo os fios da memória:
palavra e memória nos romances de Mia Couto (2017), a autora, Suelany Cristtinny
Ribeiro Mascena, estuda a presença do narrador contador de história, nomeado pela
estudiosa como narrador-griot. A expressão narrador-griot34 vale-se de termo
francês utilizado em algumas regiões da África.
Nas reflexões da pesquisadora, vemos emergir uma visão de literatura, que
prevalece nos estudos que realiza, onde se destacam recursos da oralidade na
narrativa literária. A autora da tese demonstra que estruturas da oralidade são
34
O termo griot, de origem francesa, é utilizado em algumas regiões de África para designar o contador de histórias. Embora o termo não seja usado em todas as regiões do continente africano, deslocou-se para o Brasil, onde tem sido usado, genericamente, para designar o contador de histórias.
90
utilizadas por vários autores africanos não para contemplar uma característica de
sociedade ágrafa, mas como recurso da literatura que produzem. Na discussão, ela
acentua o fato de a oralidade ser, no continente africano, uma forma de transmissão
de conhecimentos e não uma demonstração de ausência de escrita, pois, como é
sabido, em várias regiões do continente, no Egito, na Etiópia e em outros lugares,
existiram escritas que foram interditadas com o advento da colonização e a
imposição do tipo de escrita utilizada na Europa.
No texto da tese, a autora afirma que a contação de história é um recurso
narrativo inspirado na potência textual da memória e da tradição, que, para algumas
etnias, é um recurso mais completo para ensinar e/ou contar uma história, pois
as narrativas orais possuem um entendimento individual do sujeito com o universo e também da comunidade que encara a narração pelo ponto de vista simbólico. Por conta disso, a transmissão dos conhecimentos difundidos pela tradição oral é vista com seriedade e os mais velhos são responsáveis por preservar e transmitir aos mais novos a sabedoria oral. (MASCENA, 2017, p. 87).
Na apropriação de recursos da oralidade, o autor Mia Couto não apenas
transfere esse modo de contar para a literatura. Ele transforma, cria e subverte esta
forma, como por exemplo, no romance Antes de Nascer o mundo (2009), analisado
na tese supracitada, no qual, quem conta a história não é o ―mais velho‖ (o que é
comum na tradição) e sim um menino. Podemos dizer que a oralidade na narrativa
não é ausência de habilidade estética e sim uma atitude criativa.
Essa maneira de narrar, uma interpretação que resgata vozes inauditas pelo
sistema colonizador, embasada na experiência, vai ao encontro da proposta de
Walter Benjamin (1994), quando este diz que:
A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos. Entre estes, existem dois grupos, que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. "Quem viaja tem muito que contar", diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições. (BENJAMIN, 1994, p. 198).
91
Percebemos uma visão da função da literatura, entendida nos estudos pós-
coloniais, e de acordo com as teses investigadas, retomada de narrativas orais,
como uma forma de valorizar a cultura das minorias, marginalizadas, muitas vezes, pela crítica ocidental. Logo, apreender a oralidade na literatura é uma maneira de dar voz
35 a personagens que antes não apareciam nas
narrativas ou ocupavam espaços subalternizados, reiterando as relações de subserviência entre colonizado e colonizador. (MASCENA, 2017, p. 87).
A redução da habilidade de contar histórias, de narrar, de passar a
experiência através da palavra, afirmada por Walter Benjamin, nos mostra as falhas
presentes na vida contemporânea, denominada por estudiosos da Biblioteconomia
como Sociedade da informação e caracterizada pela imensa quantidade de dados,
mas também pela volatilidade destes. O processamento cognitivo dessa realidade
atual está além da capacidade humana de retenção de conhecimento. Esse excesso
de informação influenciou o modo de fazer de todas as produções escritas, nas mais
diversas áreas do conhecimento, inclusive na literatura.
Nos processos narrativos orais, é inegável a necessidade de resgatar
conhecimento acumulado, processado, e a capacidade de memorização que tem se
perdido na Sociedade da Informação. É essencial para se contar uma boa história, a
troca de vivências e a interação oportunizada entre os indivíduos, pois sabemos da
importância da linguagem socializada na construção de identidade individual e
coletiva.
Sobre as especificidades narrativas das literaturas africanas de língua
portuguesa, como já reportamos, o conto é um gênero narrativo marcante nas
produções literárias e nele aparecem vários narradores contadores de história. Na
literatura angolana, temos que considerar a importância de um tipo de conto da
tradição oral, o mussosso, que traz um narrador diferente dos tipos canônicos. Em
tese já citada, O lugar de Luandino na tradição do conto angolano (2014), a autora,
Joelma Santos esclarece que sua pesquisa
exige lançar um olhar analítico sobre a formação do gênero no referido cenário literário, investigando suas etapas de transformação, passando pelos citados movimentos que, a partir de suas propostas e estilos, iam dando novas feições às formas de narrar; para então retornarmos ao ponto alto de sua transgressão que localizamos na obra de José Luandino
35
Embora citemos trecho desta tese sobre retomada das narrativas orais, preferimos o termo ―ouvir a voz‖ ao termo utilizado pela pesquisadora: ―dar voz‖.
92
Vieira, ponto chave de ruptura e mudança estética sofridas pelo gênero, como se defende. (SANTOS, Joelma, 2014, s. p. grifo nosso).
O autor angolano escolhido para compor o estudo da pesquisadora, traz em
sua obra uma proposta estética que acaba por ser um marco para as próximas
gerações de autores angolanos e africanos. José Luandino Vieira foi um dos
precursores angolanos de uma estética que subverte a língua do colonizador,
apropriando-se dela e nela inserindo recursos de outras línguas presentes em
Angola. A contribuição dele foi vista na tese investigada como ―um constante
desalinhar e realinhar da literatura angolana atribuindo a ela novas feições.‖
(SANTOS, Joelma, 2014, s.p.).
Nas teses investigadas emerge uma visão de literatura onde os narradores
podem ser contadores de histórias, narradores performáticos36, denotando na escrita
o recurso da oralidade, o que leva os pesquisadores das literaturas africanas de
língua portuguesa a discutirem obras literárias que remetem à sonoridade e a outras
marcas da tradição oral na estética da língua portuguesa. Podemos refletir que a
visão da literatura como contação de história, presente em muitas das teses
investigadas, (re)molda a narratologia, se apropria da linguagem do colonizador e
utiliza recursos próprios da oralidade, tema estudado por 11 das 74 teses
investigadas.
Pensamos, ainda, que a criação de novos modos de narrar e as escolhas de
narrador visando assumir as performances da contação oral são importantíssimas
para o projeto literário de nações que ainda estão modelando as suas instituições
literárias, podendo escolher sobre o que escrever e o como escrever a sua história,
a busca de identidade e como narrar os fatos arquivados na memória.
Fica perceptível a importância de análises literárias que levam em conta as
peculiaridades de cada país, assumindo, inclusive, o esforço da literatura para
encenar feições da identidade nacional. Muitas vezes, as obras literárias
acompanham os movimentos sociais, culturais e momentos da história, fortalecendo
36
Sobre a presença de narradores performáticos no texto ficcional africano, afirma Terezinha Taborda Moreira: ―Todas essas formas de gerar sonoridades na língua configuram uma atitude de torná-la uma dicção e um fazer. Nos textos, a escrita quer dizer e fazer. Por isso ela se põe em movimento, desliza e varia a fim de fazer desprender de si um bloco sonoro, um sopro gaguejante criador que coloca em desequilíbrio e que se realiza em séries de jogos de linguagem, vocalizações, jogos de sentidos, musicalizações, entonações, exclamações e interrogações. Todos esses aspectos são fundamentais para emprestar a narração uma dicção que ser-lhe-á própria e permitir-lhe-á figurar, em cena literária, a cena ritual da contação de histórias e a performance do contador‖. (MOREIRA, 2005, p. 84 - 85).
93
uma visão mais ou menos comprometida com a realidade. Esse movimento
perpassa muitas das teses investigadas, revelando um esforço para considerar os
modos de narrar assumidos por algumas obras literárias e as formas de
transgressão e de subversão que elas agenciam.
Além das literaturas africanas assumirem recursos próprios da contação oral,
muitas vezes, para permitir que as vozes silenciadas pela colonização possam ser
ouvidas, nas teses investigadas, notamos reflexões marcantes sobre o espaço e
tempo narrativo, questões estas que serão aprofundadas no próximo tópico.
3.2 Literatura e cronotopia: espaço e tempo como uma conexão possível
Os CINCO têm em comum diversas vivências, além da questão de terem
sofrido a colonização de Portugal, pois muito antes da Conferência de Berlim37,
havia reinos que organizavam suas fronteiras e estas englobavam mais de um país
atual, compartilhavam conhecimentos e mantinham uma organização coerente com
a época. É comum percebermos em culturas dos países africanos de língua
portuguesa, costumes e visões semelhantes de temas importantes, tais como a
morte, a religiosidade e a percepção da realidade, de espaço e de tempo. Esses
traços das sociedades africanas também são verificados em muitos países fora da
África devido à diáspora negra.
Uma tese que discute essas questões, nas literaturas africanas de língua
portuguesa e na literatura marcada pela diáspora negra, intitula-se Traços do Chão,
tramas do mundo (2014) e sua autora, Luana Antunes Costa Chaigne, propõe:
pelo método comparativo e pela orientação dialética, analisar os ensaios L‘intraitable beauté du monde – adresse à Barack Obama (2009), uma coautoria de Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant, e ―E se Obama fosse africano?‖ (2009a), de Mia Couto, procurando destacar as estratégias de revisão epistemológicas eurocêntricas e de inserção do pensamento de margem na cena política global. Em um segundo movimento analítico, propomos confrontar três linhas de força que se apresentam nos romances Texaco (1993), de Patrick Chamoiseau, e Jesusalém (2009b), de Mia Couto, quais sejam, as representações da memória, do feminino e do espaço. (CHAIGNE, 2014, s.p. ).
37
―Há 130 anos, em 1885, terminava na Alemanha um encontro de líderes europeus que ficou conhecido como Conferência de Berlim. O objetivo era dividir África e definir arbitrariamente fronteiras, que existem até hoje.‖ Disponível em: https://p.dw.com/p/1EiLs. Acesso em: set. 2019.
94
Verificamos que a tese considera não apenas as questões vividas
concretamente na realidade histórico-social africana, mas, sobretudo, como elas
estão ficcionalizadas nas obras de autores, selecionados por ela.
Questões relacionadas ao tempo, espaço e realidade são apropriadas pelos
romances produzidos por vários autores de forma a demonstrar como os africanos
as percebem. Podemos considerar que as teorias literárias sobre o tempo e o
espaço, já bastante difundidas nos meios acadêmicos, são adotadas, com
frequência, pelos estudiosos das literaturas africanas de língua portuguesa. Na tese,
O espaço diaspórico nas literaturas africanas de língua portuguesa (2015), de
Kleyton Ricardo Wanderley Pereira, vimos que
[...]a experiência da diáspora é vivenciada de maneiras diferentes e pode provocar reações as mais diversas, tanto naqueles que retornam ao seu lugar de origem (quando retornam), quanto nos que os recebem (uma segunda pátria, talvez). [...] problematiza a questão do espaço a partir de um diálogo crítico e transdisciplinar entre seu conceito na teoria literária e as várias ciências que o consideram elemento fundamental de seus estudos, a saber, a Filosofia, a Geografia, a Sociologia, e outras. A partir desse entrelaçamento, foi possível elaborar uma síntese teórica para analisá-lo enquanto uma categoria ficcional que dialoga não só com os elementos internos da obra, foco narrativo, personagem, tempo, como também externos, o ―espaço da identidade‖. Por fim, [foram analisadas] algumas obras das literaturas africanas de língua portuguesa, procurando identificar a construção e configuração dos espaços diaspóricos e, em consequência disso, a identidade cultural proveniente das relações entre os agentes da (pós)colonização. (PEREIRA, 2015, s.p. ).
Para discutir o tema do espaço diaspórico nas literaturas africanas de língua
portuguesa, o pesquisador selecionou para análise as seguintes obras: O pecado
maior de Abel (2009), de Inácio Rebelo de Andrade, de Angola; Cais-do-Sodré té
Salamansa (1974), Ilhéu dos pássaros (1974) e A casa dos mastros (1989), de
Orlanda Amarílis, de Cabo Verde; A última tragédia (1995), de Abdulai Sila, da
Guiné-Bissau, Ventos do apocalipse (2002), de Paulina Chiziane, de Moçambique e
15 dias de regresso (2007), de Olinda Beja, de São Tomé e Príncipe. Na tese, o
modo como o espaço ficcional é analisado reforça que a ideia, de que este é o lugar
de representação das inter-relações pessoais e temporais.
O conceito de espaço pode ser caracterizado nos três tópicos formulados
pela geógrafa Doreen Massey (2008):
1. O espaço é um produto de inter-relações. Ele é constituído através de interações, desde a imensidão do global até o intimamente pequeno (esta é
95
uma proposição que não representa nenhuma surpresa para aqueles que têm acompanhado a literatura anglófona recente!). 2. O espaço é a esfera da possibilidade da existência da multiplicidade; é a esfera na qual distintas trajetórias coexistem; é a esfera da possibilidade da existência de mais de uma voz. Sem espaço não há multiplicidade; sem multiplicidade não há espaço. Se o espaço é indiscutivelmente produto de inter-relações, então isto deve implicar na existência da pluralidade; multiplicidade e espaço são co-constitutivos. 3. Finalmente, e precisamente porque o espaço é o produto de relações, relações que são práticas materiais necessariamente embutidas, que precisam ser efetivadas, ele estão sempre num processo de devir, está sempre sendo feito - nunca está finalizado, nunca se encontra fechado. (MASSEY, 2008, p. 29).
É interessante notar que, nas teses investigadas que discutem a questão do
espaço narrativo nas obras literárias, é utilizado um referencial teórico que focaliza
aspectos da realidade e que vê a paisagem como algo cultural, não, como fazem
alguns teóricos da literatura, como o local onde se passam as ações de um enredo.
Na literatura, com frequência, a realidade narrada se vê imbricada com as
características espaciais que, por sua vez, estão relacionadas com o tempo. Em
obras das literaturas africanas de língua portuguesa, os personagens por vezes são
considerados a partir de elementos da natureza. Essa especificidade faz com se
tenha uma visão de literatura em que o elemento espaço pode ser considerado a
partir de quatro modos de abordagem: ―representação do espaço; espaço como
forma de estruturação textual; espaço como focalização; espaço da linguagem.‖
(BRANDÃO, 2013, p. 58)
A discussão de conectividade entre espaço e tempo não é algo exclusivo da
literatura, existe também nas Ciências Exatas, principalmente no conceito proposto
por ―Albert Einstein, onde o tempo é a quarta dimensão do espaço, o qual, por sua
vez, está em constante expansão‖. (BRANDÃO, 2013, p. 51). Na literatura, a noção
de Cronotopo38, tratado na obra de Mikhail Bakhtin, traz nova importância ao tópico
do espaço.
Na tese investigada de Kleyton Ricardo Wanderley Pereira, já citada
anteriormente, após dedicar um capítulo à discussão dos diversos conceitos de
espaço na Física, Geografia e, especificamente, na Literatura, ele faz o seguinte
recorte teórico sobre o espaço para analisar as obras de literaturas africanas de
38
Cronotopo: Reporta-se à relação entre as categorias de espaço e tempo. Composto pelas palavras gregas cronos: tempo e topos: lugar, por ele se enfatiza a indissociabilidade destes dois elementos tal como se manifesta nas representações literárias. CEIA, Carlos: s.v. ―Cronotopo‖, E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia. Disponível em http://www.edtl.com.pt. Acesso em: 28 jun. 2019.
96
língua portuguesa, selecionadas para compor seu estudo:
Queremos aclarar que para nós o espaço diaspórico, como o pensamos na sua dinâmica múltipla entre obra ficcional e realidade, reflete as tensões culturais nas relações entre personagens/sujeitos da diáspora na construção de uma identidade muitas vezes fragmentada e dividida no cronotopos: entre o aqui e o lá; o passado e o presente. Assim, ele se transforma numa verdadeira encruzilhada (trans)cultural onde se revelam as dinâmicas relações de poder (HALL, 1998, 2000; BRAH, 2005).( PEREIRA, 2015, p. 100-101).
Em outra tese, No fogo das três pedras: a leitura comparada das poéticas de
Corsino Fortes, Arménio Vieira e Filinto Elísio (2016), de Raquel Aparecida Dal
Cortivo, a questão espaço-temporal é o foco principal do estudo ―pois as concepções
do tempo e do espaço interferem nas escolhas estéticas e temáticas dos poetas,
determinando trânsitos e permanências‖ (DAL CORTIVO, 2015, p. 8). Nesse estudo
a pesquisadora reflete que:
No âmbito desta tese, optou-se por entender o espaço de maneira simplificada, como o termo que designa uma determinada extensão geográfica, mais próximo, portanto, do conceito de meio ambiente físico, que pode ser compreendido, ainda, como certa unidade política sobre a qual (ou a partir da qual) se projetam também valores e símbolos identitários, de modo a despertar sentimentos de pertença nos sujeitos que o habitam. (DAL CORTIVO, 2015, p. 65).
Há muitos exemplos de personagens, enredos e narradores interpelados pelo
espaço e pela paisagem. Muitas vezes, os próprios elementos naturais podem ser
considerados personagens em obras das literaturas africanas de língua portuguesa.
Isso pode ser verificado, especialmente, na tese investigada A poética da memória:
uma leitura fenomenológica do eu, em Terra sonâmbula e Um rio chamado tempo,
uma casa chamada terra, de Mia Couto (2014), de Ilse Maria da Rosa Vivian:
O espaço, dessa forma, duplica os efeitos do tempo e exerce um papel preponderante na construção da personagem. No caminho do reconhecimento de si mesmo, Mariano tem sua trajetória marcada pelos signos da composição da Ilha, que se interpõem como obstáculos ou como coadjuvantes ao protagonista. Paralelamente ao espaço público e às figuras monumentais da vida coletiva, é apresentado o universo privado da casa que, como metonímia da Ilha, constitui-se em espaço propício à dialética interior e exterior, movimento constitutivo do ato narrativo que revela a personagem pela dinâmica pessoal e íntima, sem prescindir da expressão de sua condição histórica e cultural. (VIVIAN, 2014, p. 158).
97
As questões romanescas, não só as relativas ao tempo e ao espaço, das
literaturas africanas de língua portuguesa podem ser vistas pelo viés eurocêntrico
como algo insólito, como uma realidade fantástica, mas se deslocarmos o ponto de
vista para a vivência africana, veremos que se trata de um modo de viver/ver a
realidade. O realismo literário, ou melhor, os realismos, são um viés analítico
bastante comum nas teses investigadas, portanto dedicaremos a este tema o
próximo tópico de nossa tese.
3.3 Literatura e realidade: percepção e narração
Nas produções acadêmicas brasileiras acerca das literaturas africanas de
língua portuguesa, um dos recortes escolhidos para abordagem é a realidade
vivenciada nos CINCO. Percebemos essa presença em pelo menos 14 das 74 teses
investigadas que analisamos. Nesses estudos, os investigadores enfocaram
narrativas que encenaram em seus textos percepções da realidade africana, tais
como as questões de gênero, a tradição oral, o pós-colonial e as guerras. A estética
narrativa da encenação literária perpassa a dicotomia entre fato e ficção, sujeitos
políticos e poéticos, manifestação social e os sistemas literários, realidade vivida e
recriada. Um exemplo desta apropriação narrativa foi visto, por nós, na tese Rui
Knopfli e Manuel Alegre: de exílios e insílios, a poesia (2017) de Kelly Mendes Lima,
onde
os sujeitos poéticos de Knopfli e Alegre, tais quais aqueles sujeitos históricos, manifestam-se como descentrados em relação a quaisquer discursos ―oficiais‖, seja o mais restrito das Academias e da Crítica Literária, seja o mais amplo do Estado Novo português – e mesmo o de grupos políticos contrários a este, incluindo, no caso do escritor africano, o da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). São, portanto, vozes ―deslocadas‖, de um eu ―insilado‖. Todavia, tal sentido não se restringe ao figurativo: ambos os literatos, em sua realidade objetiva, ainda que em momentos alternados, foram marcados pela saída, traumática e por motivos políticos, de seu local original, de seu espaço, de sua pátria; conheceram de fato o exilio físico e, igualmente, transformaram tal experiência em matéria poética. (LIMA, 2017, p. 9).
Podemos dizer que a percepção subjetiva e o mundo fenomenal se fundem
na escrita conectando memória e estética.
Na busca para nomear o realismo verificado em estéticas abordadas pelas
literaturas africanas de língua portuguesa, os pesquisadores, em geral, adotam
98
conceitos específicos para nomear outras visões de realidade diferentes daquelas
adotadas na Europa, tal como fantástico, insólito e religiosidade. Na falta de um
termo que abarcasse as visões de realidades apresentadas nos textos de literaturas
africanas, o termo realismo fantástico acabou sendo estendido a elas. Porém, nas
teses investigadas, para tratar do realismo percebido e narrado apenas duas teses,
trazem o tema realismo fantástico e o realismo mágico. Mesmo assim, já os trazem
com ressalvas de que estes não apresentam os recursos necessários para analisar,
na perspectiva realista, a vivência africana, como podemos perceber na tese A
poética da memória: uma leitura fenomenológica do eu em Terra sonâmbula e Um
rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto (2014), de Ilse Maria da
Rosa Vivian:
As tradições ancestrais, a comunidade, a natureza, a guerra, a modernidade, tudo chega ao leitor da perspectiva íntima da personagem. Essa característica pode ser vista como um recurso que age duplamente: ao mesmo tempo em que se apresenta com detalhes o imaginário cultural africano nas suas diversas facetas e contradições, desvela-se a personagem a partir da condição dinâmica que rege a sua existência, levando o leitor, com o acesso à pluralidade do universo íntimo, a ser cúmplice no processo de criação. Levando em conta esses efeitos, Laranjeira considera a obra de Mia Couto muito próxima da de escritores sul-americanos: A intromissão, de chofre, do imaginário ancestral, do fantástico, que transforma esse realismo quase social num imprevisto realismo animista (a expressão é dos angolanos Henrique Abranches e Pepetela), propenso à aproximação ao realismo mágico sul-americano (Gabriel García Marquez, Carlos Fuentes, etc.), este também decorrente do cruzamento da descrição pormenorizada de ambientes, caracteres e acções com o onírico e a imaginação populares. (LARANJEIRA, 1995, p. 316). A temática dominante da obra de Mia Couto é questão que ultrapassa qualquer limite de espaço ou de tempo. (VIVIAN, 2014, p. 39).
Vemos, no excerto anterior, a problematização conceitual de realismo(s) para
análise literária de narrativas das literaturas africanas de língua portuguesa.
Também na tese já referida, Tecendo os fios da memória: palavra e memória nos
romances de Mia Couto (2017) de Suelany Christtinny Ribeiro Mascena, há
questionamentos terminológicos, ao adotar o recorte de realismo, para analisar a
obra Venenos de Deus, remédios do Diabo de Mia Couto:
Para questionar o emprego dos termos ―maravilhoso‖, ―fantástico‖, ―animismo‖, ―insólito‖, associados à literatura de Mia Couto, utilizamos os trabalhos de: Irlemar Chiampi (1980), Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury (2008) e Luciana Morais da Silva (2013). (MASCENA, 2017, p. 20).
99
Nesse sentido, a investigadora não se propõe definir qual é o melhor termo a
ser adotado, contudo, vê necessidade de refletir acerca dos termos elencados por
ela e de contextualizá-los por um viés histórico e cultural. Assim, retomamos um
conceito bastante utilizado para estudar a percepção de realidades narradas nas
histórias africanas: o realismo animista. Trata de um termo discutido,
exaustivamente, pelo estudioso Harry Garuba. Suas considerações podem ser
explicadas da seguinte maneira:
Animismo, palavra que vem do latim animu, quer dizer espírito, vida. Harry Garuba (2014) irá considerar que o animismo é um modo de pensar a vida, sem os dualismos do modernismo. Sendo assim, ―as fronteiras entre natureza e sociedade, mundo dos objetos e dos sujeitos, mundo material e o de significados agenciados e simbólicos são menos confiáveis do que o projeto modernista havia decretado‖ (GARUBA, 2014, p. 2). Portanto, para o filósofo, o animismo seria uma lógica que subverte binarismos e ―desestabiliza a hierarquia da ciência sobre a magia e da narrativa secularista da modernidade através da reabsorção do tempo histórico nas matrizes do mito e do mágico‖(GARUBA, 2012, p. 42). (RODRIGUES, 2018, p. 1).
Ao considerar que o realismo animista melhor contempla as questões
realistas das literaturas africanas de língua portuguesa, não desconsideramos as
contribuições propostas por teóricos sobre realismo mágico e o real maravilhoso,
principalmente Uslar Pietri, da Venezuela, e Alejo Carpentier, de Cuba, que
acentuam ser o rompimento das fronteiras entre realidade, sonho e imaginação, um
modo de viver condizente com a singularidade histórica e cultural de povos hispano-
americanos. Podemos dizer também que tais teorias se encaixariam na ficção
africana, porém, o conceito de realismo animista acolhe melhor determinados
procedimentos característicos do cotidiano de povos africanos, sobretudo o modo
como consideram o tempo, a vida e a morte e que está diretamente relacionado com
o modo de pensar e viver a realidade. (RODRIGUES, 2018, p. 5).
O realismo animista ou concepções animistas são requisitados em pelo
menos dezoito das 74 das teses investigadas, sendo que três dedicam tópicos
específicos à discussão do termo. Na tese intitulada A voz angolana nos contos de
Boaventura Cardoso: configuração da memória ancestral (2015), de Maria Aparecida
Barros, a autora analisa as obras Fogo de fala e A morte do velho Kipaça, trazendo,
no capítulo Restauração do contexto sagrado: a árvore, o feto, a criança e o velho -
a alma sob perspectiva do realismo animista, discussões acerca da percepção da
100
realidade pelo viés animista. No referido tópico, a autora nos diz as motivações
desse recorte para estudar as obras de Boaventura Cardoso:
Optamos por desenvolver a análise das narrativas propostas para este capítulo, seguindo as coordenadas estruturadas por Boaventura Cardoso, assentadas no realismo animista. Entendemos que a ação denota compromisso político, no entrelaçamento cultural dos povos banto com as entidades divinas. O espiritual anima as práticas sociais, o sagrado pode estar no tambor, nos elementos da natureza, na dança, na música, na sabedoria dos mais-velhos e no respeito à tradição. ―A estética animista tem um caráter de readequar a narrativa, sob o viés da religião tradicional africana, para o discurso político, denunciativo e subversivo‖ (PARADISO, 2015). Tais fatores almejam a redefinição identitária. Compreendemos que no realismo animista Boaventura Cardoso acende a chama do pertencimento ao trazer à superfície textual a fala, os costumes, a memória, enfim, a luta do povo angolano, juntamente com suas divindades, transcorrida no solo sagrado de Angola, na resistência ao império colonial. (BARROS, 2015, p. 155).
Essas reflexões animistas atreladas à realidade de guerras de libertação e
civil ocorrida nos CINCO trazem à tona narrativas que ficcionalizam fatos
traumáticos. A vivência opressora de guerra e de violências traz para os textos
africanos uma literatura vinculada à sociedade africana, onde temas como nação,
identidade, memória e história são retomados. A dificuldade de narrar eventos de
grandes sofrimentos e perdas repercute na estética de autores africanos que
retomam suas próprias vivências, e até, experiências traumáticas. Sabemos que o
real é indizível, ele apenas existe. Quando relatado e/ou narrado, o real já está
mediado, tornando-se uma realidade percebida e, quando se narra, na ficção, temos
a realidade ficcionalizada e, esta é transfigurada pela estética literária de modo a dar
conta de produzir os efeitos de sentidos da realidade vivenciada. Dessa maneira, a
poesia, o conto o romance, nas literaturas africanas de língua portuguesa, retomam
a realidade africana, seus conflitos e traumas. A traumática realidade precisa (quase
que exige) ser encenada, pois é na literatura que encontra um bom acolhimento para
expressar a dor.
Verificamos, nas teses investigadas, uma literatura que busca ouvir a voz dos
sujeitos dos CINCO, muitos vezes silenciados, e suas realidades. São acolhidos nos
textos literários narradores que ―representam‖ esta realidade, como mulheres e
escravizados. O sufocamento da existência pela colonização faz ecoar, ainda,
narrativas fragmentadas e permeadas por recursos de linguagem que revelam o
silêncio e o silenciamento de vozes marginais.
101
Quando as obras literárias são escolhidas pelos estudiosos, os lugares de
fala, as histórias dos vencidos vêm à tona e não há saída senão abordar tais textos,
de certa maneira, apontando e discutindo temas relacionados aos horrores da
escravidão e da colonização. Notamos que emerge das teses investigadas a visão
de literatura como local de possibilidade de fala de seres marginalizados, de ouvir o
não contado pela História oficial. Como exemplo, temos a tese, A experiência
poética com o indizível: Ana Luísa Amaral, João Maimona e Salgado Maranhão
(2014), de Iracy Conceição de Souza, onde a autora aborda a literatura em língua
portuguesa e sua diáspora, selecionando obras do sistema literário português,
brasileiro e angolano para refletir sobre a construção de significados para a
realidade vivenciada no processo colonizatório (seja na metrópole ou nas colônias) e
procura
mostrar que os poemas são expressões da virtualidade de um mundo hipotético, um fenômeno inesperado, o escândalo da enunciação, visto que este se define mais pela libertação de virtualidades, pela imaginação que tudo revoluciona, desarruma, interroga, do que por um estreitamento de plenitude intelectiva. Jacques Lacan constata que o dizer dos poetas escapa à razão, apontando não só para a existência de uma Outra cena — o Inconsciente —, mas também para o real, como impossível de ser
simbolizado. (SOUZA, 2014, p. 6).
Notamos, assim, que, na Literatura, o movimento realista é pluralizado e
assim, podemos dizer que temos realismos, pois de fato, o que pode ser narrado é a
realidade apreendida e cada sujeito e/ou comunidade a vivencia de uma maneira.
Como já dissemos, ao longo deste nosso estudo, não há como deixar de
notar a presença da realidade dos CINCO nas literaturas africanas de língua
portuguesa. Esse comprometimento ético nos leva a refletir sobre a necessidade
humana de narrar o que se vive, ouve e/ou vê. A narrativa embasada na realidade
vem passando por diversas reflexões teóricas, desde a tradição aristotélica, pela
qual a literatura teria por finalidade representar a realidade, até a tradição moderna
da teoria literária, segundo a qual a referência nada mais é que uma ilusão, uma vez
que a literatura não aborda outra coisa que não ela própria, mostrando-se essencial
e autônoma em si mesma, sem vínculos (COMPAGNON, 2006). O escritor
interpretaria a mimese como conhecimento e não a copiaria, porque a mimese
―designa um conhecimento próprio ao homem, a maneira pela qual ele constrói,
habita o mundo‖. (COMPAGNON, 2006, p. 127).
102
Sendo assim, vemos, nas teses investigadas, que emerge a visão de
literatura não como imitação da realidade, mas como uma forma de se conhecer o
mundo. Este mundo, não se pode deixar de pensar, decorre de uma dimensão
íntima, particular, que interage com uma dimensão social. A sociedade encenada
literariamente e suas relações vão ser discutidas no próximo tópico.
3.4 Literatura e sociedade: o comprometimento ético das literaturas africanas
de língua portuguesa
A função social da literatura, indicadora do modo como a arte e a literatura se
fazem arma de luta, sobretudo em tempos coloniais, indica, como observamos, nas
discussões produzidas pelas teses, um comprometimento ético que refletirá nos
recursos estéticos apresentados por narrativas e poemas que se voltam à História e
à realidade vivida pelos africanos. Antônio Cândido (2006) considera que a literatura
pode-se constituir a partir de eixos estabelecidos com a Sociologia. Em sua reflexão,
o teórico apresenta seis desses eixos, estabelecendo as relações possíveis entre a
Literatura e a Sociologia:
Um primeiro tipo seria formado por trabalhos que procuram relacionar o conjunto de uma literatura, um período, um gênero, com as condições sociais. Um segundo tipo poderia ser formado pelos estudos que procuram verificar a medida em que as obras espelham ou representam a sociedade, descrevendo os seus vários aspectos. É a modalidade mais simples e mais comum, consistindo basicamente em estabelecer correlações entre os aspectos reais e os que aparecem no livro [...] o terceiro é apenas sociologia. Ainda quase exclusivamente dentro da sociologia se situa o quarto tipo, que estuda a posição e a função social do escritor, procurando relacionar a sua posição com a natureza da sua produção e ambas com a organização da sociedade.[...] Desdobramento do anterior é o quinto tipo, que investiga a função política das obras e dos autores, em geral com intuito ideológico marcado. Nos nossos dias tem tido a preferência dos marxistas, — compreendendo desde as formulações primárias da crítica de partido até as observações matizadas e não raro poderosas de Lukács, na obra posterior a 1930. [...] Um sexto tipo, voltado para a investigação hipotética das origens, seja da literatura em geral, seja de determinados gêneros. (CANDIDO, 2006, p. 18-20, grifo nosso).
A função política das obras e dos autores, arrolada por Antonio Candido
(2006), é um dos eixos mais assumidos pelas literaturas africanas de língua
portuguesa, principalmente no período pré-independências, o que não quer dizer
que todos os autores e obras produzidas nos CINCO assumam de forma direta o
103
contexto cultural ou se envolvam com as lutas de identidade e memória das nações
colonizadas por Portugal.
É certo que o fazer literário, em momentos históricos de lutas em um país,
possa estar, não de forma exclusiva, a serviço de uma determinada ideologia e na
busca de uma concepção de identidade. Em suas construções estéticas, surgem
expressões comprometidas com a liberdade política da sociedade a qual o escritor
pertence, contexto não só das literaturas africanas de língua portuguesa, mas
também de produções latino-americanas e caribenhas, sobretudo. De certa maneira,
o comprometimento ético com as reivindicações sociais pode ser mais forte em um
dado período cronológico, onde, conscientemente, se ressalta na Literatura a sua
função social. Percebemos, nas sociedades africanas, que o fazer literário, mesmo
sem se descuidar dos valores estéticos, assumem estratégias que permitem ao leitor
tomar conhecimento da história dos vencidos, ouvir as vozes dos marginalizados e
conhecer uma África que se aproxima da realidade vivenciada por seu povo.
O comprometimento ético com as questões culturais e sociais motiva a
apropriação de recursos estéticos que são ressaltados, sobretudo, na construção de
uma estética de cada nação africana, no pós-colonial e acaba por gerar uma crítica
literária externa que, muitas vezes se apega apenas a esse aspecto. A
consequência desse apego, frequentemente, é a negação da própria intenção da
expressão estética africana, que por surgir em um espaço de fatos difíceis de narrar,
como a escravidão e a violência de um processo duradouro de colonização, exige
que os autores recriem, apropriem e inovem suas estratégias literárias. Esse
movimento narrativo demanda dos pesquisadores a busca, muitas vezes solitária, de
aportes teóricos e até de epistemologias literárias bem diversas das adotadas para
leituras de obras de autores ocidentais, principalmente, europeus.
Segundo Pires Laranjeira (2015), nas literaturas africanas de língua
portuguesa, a literatura angolana é aquela que mais denota um comprometimento
ético, principalmente em obras de autores publicados fora de Angola, tais como
Pepetela e José Eduardo Agualusa:
A literatura angolana é constituída, na sua maioria, por textos castiços, regionalistas, nacionalistas, patrióticos, historizicizantes, realistas, ideologicamente marcados, lusófonos, bantuofónos. Isto é, situados na matriz negro-africana/bantuofóna da cultura angolana de língua portuguesa. Alguns dos textos culturais e literários podem ser pós-modernos e desterritorializados, podem até ser de cultura angolana nômada, viajante ou
104
itinerante, imaginária ou fantástica, diaspórica ou delirante, mas a maioria do seu corpus é notoriamente apelativa das origens, das raízes, do projeto nacional, da combinatória entre a ancestralidade bantu e a herança portuguesa. (LARANJEIRA, 2015, p. 29).
Podemos dizer, que, nas literaturas africanas de língua portuguesa, não é
possível apagar o passado colonial de dominação e suas consequências indeléveis
na sociedade contemporânea dos CINCO. Desvalorizar este aspecto tão importante
dessas literaturas seria pensar que a memória desse passado já passou, ―o mesmo
que a atribuir ao intelectual africano um certificado de cinismo, desmemória ou
menoridade‖. (LARANJEIRA, 2015, p. 41)
Há várias maneiras de narrar, ficcionalizar as realidades dos CINCO e de
encenar tais aspectos no espaço da literatura, pois, segundo Karl Schollhammer
(2012), a realidade, apesar de global, é construída e pensada a partir do nacional.
Os recursos de construção literária adotados em uma obra, ou apontados em sua
recepção no mundo ou em países de língua portuguesa (especialmente Brasil e
Portugal), não querem dizer que a obra seja alheia às questões identitárias da
história com a memória do país.
Podemos citar o caso de Mia Couto, escritor conhecido no mundo e o que tem
mais obras analisadas nas teses investigadas, que foi, e ainda é, vítima de polêmica.
Este autor moçambicano, muitas vezes, é acusado de produzir uma obra distante do
projeto nacional da literatura moçambicana. Pensamos ser pertinente trazer a
opinião da moçambicana Fátima Mendonça (2008), quando discute os modos de
recepção crítica da obra miacoutiana:
revela o poder de mecanismos de recepção dos textos literários em situações marcadas pelo fator ―emergente‖ ou ―pós-colonial‖, onde a fronteira entre o que é do ―próprio‖ e o que do ―outro‖ se articula de forma ambígua e prolonga, até aos interstícios da memória, o diálogo/confronto com o passado colonial, produzindo um efeito de instabilidade do sistema literário, o que dificulta a emergência do cânone. (MENDONÇA, 2008, p. 31).
Podemos dizer que ser lido/publicado em outros países não é fator essencial
para dizer se o autor é ou não comprometido com a identidade nacional. Importa os
sentidos produzidos com suas histórias, com seus personagens e com outros
elementos constituintes de sua narrativa. O fato de Mia Couto, nascido em
Moçambique, ser branco e filho de português não pode fazer dele menos
105
moçambicano. A história pessoal do escritor não pode ser pensada como marca
essencial de sua escrita, pois, como afirma Panguane, em citação feita por Fátima
Mendonça,
os homens nascem onde nascem. Crescem onde é possível crescer. (...) Exigir-se que se escreva somente a realidade vivida é, quanto a mim, a manifestação de um certo tipo de preconceito, porque a literatura também é ficção, e a invenção de personagens, circunstância e de todo resto. A ficção é a única possibilidade que se nos apresenta de abarcarmos realidades e lugares nunca vividos e habitados! (PANGUANE, 1987, p. 43-44, apud MENDONÇA, 2008, p. 30).
Os aspectos sociais e culturais não deixam de ser encontrados nas obras de
Mia Couto. As teses investigadas, bem como, estudos sobre a obra do escritor, em
sua maioria, discutem questões relacionadas com identidade, memória e história.
Outras teses investigadas, como apontamos, mesmo considerando o aspecto
cultural e social encenado pelas obras literárias, apresentam aspectos que
desarticulam visões e concepções próprias da teoria literária. A tese de Waldelice
Maria Silva de Souza, intitulada A rotação das identidades: o transe como dínamo da
arquitetura das personalidades nos oríkìs e dos personagens na obra de Pepetela
(2014), já citada por nós, escolhe analisar os personagens não como elementos
construídos, prontos, mas na perspectiva do talvez. Para tanto, como já
acentuamos, desloca a dicotomia afirmativa do ser ou não ser para uma existência
de poder ser algo e também ser outra coisa. Essa perspectiva não coloca cada
personagem como herói ou anti-herói, são personagens complexos que ora podem
ser bons, ora podem ser maus. Essa visão vai depender da situação vivida. Por este
viés analítico, a estudiosa vê na obra pepeteliana o transe entre personalidades
africanas e os personagens romanescos, para demonstrar que este autor
ressignifica a história vivenciada pelos angolanos.
Essa preocupação está presente em outras teses que discutem aspectos da
significação de temas voltados às relações humanas e ao modo como essas
relações são encenadas em narrativas das literaturas africanas de língua
portuguesa. A necessidade de atenção com as nuances culturais, religiosas e com
os momentos históricos específicos vivenciados em cada nação dos CINCO é
ressaltada por Laranjeira (2015), ao discutir o modo como a questão do feminino
aparece na obra de Paulina Chiziane:
106
O feminismo literário africano somente veio a ser verificado, mas não assumido, com determinação e verdadeira inovação (no sentido de escalpelizado ficcionalmente, com crueza, sem pudores e preconceitos tradicionalistas), nas obras da moçambicana Paulina Chiziane.( LARANJEIRA, 2015, p. 41).
Nas teses investigadas, o feminino é retomado em análises de enredo e
personagens que trazem em sua construção aspectos como a diáspora negra
feminina, mitos e silêncios de mulheres, a escrita e a resistência de mulheres
negras, o gesto testemunhal em situações de guerra e no atlântico pós-colonial. A
essas análises somam-se outras questões como a poética da negociação, a loucura
e o pacto das elites.
Com a publicação dos romances de Paulina Chiziane, a voz das mulheres de
Moçambique ganha força com histórias narradas por personagens femininas e
escritas por uma mulher. Também é importante ressaltar que a boa acolhida das
obras da escritora pode motivar a busca de outras publicações de mulheres nas
literaturas africanas de língua portuguesa.
Do ponto vista literário, a voz feminina imprime nas narrativas um ponto de
vista feminino abordando aspectos da tradição oral, das artes e ofícios das mulheres
africanas. Aliada a isso, a escrita de mulheres africanas, como a das
afrodescendentes, traz para a literatura as encenações das relações de gênero e de
raça, muitas vezes resgatando suas vivências.
Outro aspecto relevante nas teses investigadas, quando nestas estão
privilegiadas as questões de gênero, voltadas ao feminino, é a predominância de
análises de obras literárias de autoria feminina, sobressaindo as da autora
moçambicana Paulina Chiziane e da poetisa angolana Paula Tavares. Estas autoras
aparecem tendo suas obras estudadas em comparação, majoritariamente, com a
escritora brasileira Conceição Evaristo, reconhecida autora de obras com temas da
mulher negra.
Pensamos que a presença marcante das obras de Conceição Evaristo nas
análises comparativas com as de Paulina Chiziane, se deve ao fato de a autora
brasileira ser uma das maiores (senão a maior) representante das escritoras negras
no Brasil. Além disso, a sua obra, assim como as das autoras dos CINCO, traz para
as histórias construções literárias que fazem de mulheres, e no caso brasileiro
mulheres negras, sujeitos de discursos por uma via de igualdade. Acrescentamos
que, nas teses que assumiram a comparação entre autoras africanas e brasileiras, o
107
conjunto da obra de Conceição Evaristo permitiu a análise de questões da diáspora
negra em que as semelhanças e diferenças identificadas tornam-se estratégias
essenciais para denotar as particularidades inerentes às autoras negras, no projeto
literário e identitário individual e coletivo de cada nação.
A questão de gênero quando atrelada à questão da cor da pele
(especificamente da mulher negra) merece ser estudada com cautela, quando é
colocada em comparação à situação da mulher em países africanos e em países da
diáspora negra. Temos que levar em conta além da (des)valorização da cor da pele,
o fato de que a visão da mulher nos CINCO ser diferente da que enfoca a mulher
negra brasileira. Nas literaturas africanas de língua portuguesa encenam-se
questões ligadas ao lugar da mulher em relações poligâmicas, no matriarcado e em
guerras. Na literatura brasileira, sobretudo na de autoria negra feminina, sobressaem
as imbricações da mulher negra com os horrores da escravidão transatlântica.
Vale ressaltar também que as implicações do racismo brasileiro e do racismo
nos CINCO também são diferentes, mas não menos terríveis por causa das formas
de implementação dos sistemas escravocrata e colonial e no que se refere às
questões de mestiçagem. Sobre reflexões de gênero, de forma comparativa, temos
teses que selecionaram a escrita da resistência em obras sobre mulheres e
produzidas por escritoras africanas e pela brasileira Conceição Evaristo.
Destacamos, nesse sentido, a tese Conceição Evaristo e Paulina Chiziane: escritas
de resistência (2013), em que a pesquisadora faz um recorte da temática de gênero
e das condições de vida da mulher negra nos romances Ponciá Vicêncio, de
Conceição Evaristo e O alegre canto da perdiz, de Paulina Chiziane. Nesse estudo a
autora, Rosália Estelita Gregorio Diogo, afirma que:
Nos romances analisados, as escritoras abalam, por meio das suas escritas, a imposição do grupo social hegemônico, que sistematicamente orienta as representações literárias: homens brancos. Ponciá Vicêncio e O alegre canto da perdiz apresentam um Outro que historicamente era invisibilizado nas construções literárias canônicas: a mulher negra. (DIOGO, 2013, p. 9).
A autora da tese defende que a escrita de Conceição Evaristo e Paulina
Chiziane é do campo da feminização e o enfoque do estudo é a escrita femininizada
das escritoras: enredos de história de mulheres, escrito por mulheres. Assim, a
estudiosa defende que a escrita de ambas é permeada pelas questões de gênero e,
no caso da autora brasileira, ainda temos, mais fortemente, as questões de raça.
108
Pensamos que as mulheres negras moçambicanas, apesar de terem passado
por questões de marginalização, não passam pelas mesmas situações que as
mulheres negras brasileiras e isto não pode deixar de ser contextualizado,
mostrando as semelhanças e as diferenças. Na tese, Nações entrecruzadas:
tessitura de resistência na poesia de Conceição Evaristo, Paula Tavares e
Conceição de Lima, a autora, Assunção de Maria Sousa e Silva (2016) seleciona a
mesma temática da tese anteriormente citada (autoria feminina, resistência feminina
e questões étnico-raciais) e alerta para as singularidades do caso africano e do afro-
brasileiro:
O procedimento de análise se pauta pelo método comparativo, efetuando o entrecruzamento de contextos dos países das autoras, comparando as dicções poéticas e os posicionamentos estéticos, considerando-as como sujeitos de discursos por uma via não hierarquizante, nem tampouco desigual ou excludente. As semelhanças e diferenças identificadas tornam-se objetos estratégicos e mecanismos funcionais para compor as singularidades e as particularidades inerentes às autoras no processo de construção de seu fazer poético que evidencia as identidades e as condições femininas nas nações literárias. (SILVA, Assunção, 2016, p. 7).
As estratégias de linguagem para ficcionalizar a voz feminina aparecem
contextualizadas no tempo e espaço em que ocorrem, fazendo surgir uma pesquisa
literária fundamentada em contribuições críticas que respeitam as construções
identitárias de cada nação onde foi produzida a poesia e destacam o lugar de fala
das escritoras. Na referida tese, a pesquisadora afirma ainda que as
mulheres de países e lugares diferentes sempre hão de ter pontos comuns e preocupações semelhantes, contudo, as formas de enfrentamento, o modo de poetisar e/ou narrar as particularizam. Isso se explicita, quando se verifica no processo de investigação os procedimentos e estratégias poéticas utilizados na construção poética de cada uma destas autoras. A palavra que se alarga na extensão sintático-semântica, sob o procedimento e utilização de metáforas, metonímias, inversões, anáforas, assonâncias e rítmica no universo poético de cada uma das autoras investigadas, expõe, diferentemente, visões de mundo que questionam o preestabelecido. (SILVA, Assunção, 2016, p. 237).
As questões de autoria, viés amplamente discutido pela teoria literária,
passaram por mudanças significativas, desde a importância dada a elas no
movimento literário realista e no modernismo ocidental, até às discussões da ―morte
do autor‖ na pós-modernidade. Com a emergência de grupos historicamente
silenciados, sejam nações periféricas, sejam grupos marginalizados, como mulheres
109
e negros, a questão do olhar do crítico para quem escreve (o(a) autor(a)), volta a ser
considerada. As discussões sobre o autor e a autoria não reaparece apenas como
representação de uma luta de classe, ou seja, uma função social da literatura, mas
como uma forma de apropriação estética da voz de indivíduos não pertencentes aos
grupos dominantes (homens brancos em sua maioria). Ao assumirem o direito à fala
e a condições de serem ouvidos, os que antes eram dominados lutam para que suas
histórias não sejam contadas por outrem, e as obras literárias assumam como
sujeito da enunciação a voz dos grupos sociais historicamente subjugados.
Vimos nas teses investigadas que as obras escolhidas e análises feitas
selecionaram autores que não trilham o caminho radical da segregação e da
exclusão de quem pode e quem deve escrever sobre os sujeitos silenciados.
Notamos também que os pesquisadores se mostraram atentos às diferenças do
ponto de vista de quem escreve. Foi ressaltada a importância da voz dos narradores
escolhidos, o que nos permite perceber que, quando esta escolha não é pautada
pelo respeito à História de uma nação, o enredo reverbera a voz implícita de uma
sociedade machista e discriminatória na escolha de enredos e lugares dos
personagens negros e femininos.
Podemos dizer que vemos nas literaturas africanas de língua portuguesa a
importante contribuição de Mia Couto em seus romances, ao privilegiar mulheres
como tema e/ou personagens, o que é verificado pela forte presença de estudos
sobre as personagens e as questões femininas das obras do autor. Podemos citar a
importância do destaque da voz feminina em suas obras, ressaltando que o olhar de
quem vai criar e (de)escrever será (quase) sempre diferente, seja homem ou mulher,
mas não podemos fazer juízo de valor dessas apropriações de gênero.
Nas teses investigadas, vimos que os pesquisadores tiveram, na maioria
delas, o cuidado ao relacionar quem fala, como fala e contextualizar a situação, pois
o mais importante é sempre a obra analisada. A voz feminina miacoutiana
(narradoras, personagens) aparece como tema de destaque, nas teses investigadas.
Evidenciamos a questão da escrita como recurso de voz na obra de Mia Couto em
geral, em especial aquelas que têm protagonistas femininas. Essa questão está
discutida na tese, já citada, Entre bronze da letra e o cristal da voz: interditos da voz
na ficção de Mia Couto (2017), onde a autora, Cristina Santos, afirma que:
110
Nas obras do autor moçambicano, a palavra escrita presentifica-se e é representada por aquele que escreve – o que domina a escrita, a letra. Porém, dominando-a, ela pode também ser questionada, subvertida. Evidenciou-se, neste contexto, por intermédio das obras expostas o silenciamento da voz feminina pela repressão suscitada por meio da instituição patriarcal, social e política. (SANTOS, 2017, s.p).
A análise literária da voz feminina na tese supracitada é focada no gênero
epistolar e reflete a importância da escrita para transmitir um pensamento para um
destinatário individual ou coletivo. Como é dito na tese, o destinatário pode ser um
sujeito silenciado comunicando com o outro, ou pode, metaforicamente, simbolizar
um grupo ou uma nação que não foi ouvida historicamente. Consequentemente, nos
estudos literários, onde a metalinguagem se destaca, sobressai a maneira como os
personagens subvertem o silenciamento imposto à voz dos sujeitos subalternizados.
Foi possível perceber pelo enfoque dado nas teses investigadas e com aporte
teórico vivenciado por nós que a subalternização em espaços colonizados é gritante
e as questões epistemológicas do conhecimento sobre estes espaços ou nestes
espaços é sempre um ponto de discussão. Desde que a Europa foi colocada como o
centro da civilização e do conhecimento, outros espaços e suas relações foram
colocados numa perspectiva de Outro, de estranho, de diferente e, muitas vezes, de
menor valor.
Enfim, a questão transatlântica da diáspora negra, assumida nos moldes da
Literatura Comparada, é o tipo de visão crítica mais utilizada pelas teses
investigadas por nós, para tratar de diversos temas. Essa questão será aprofundada
no item seguinte, quando nos propomos investigar como os estudiosos brasileiros
abordaram este recorte crítico, ao produzirem teses sobre literaturas africanas de
língua portuguesa.
3.5 Estudos comparativos: diversas linguagens para um mesmo tema
A Literatura Comparada, no seu início, buscava entender ‖as ideias ou temas
literários e acompanha[va] os acontecimentos, as alterações, as agregações, os
desenvolvimentos e as influências recíprocas entre as diferentes literaturas‖.
(COUTINHO; CARVALHAL, 1994, p. 61).
Esse viés teórico, muitas vezes, já está descrito nas linhas de pesquisas
111
assumidas pelos programas de pós-graduação em Letras, quando privilegiam essa
feição como linha mestra de sua proposta investigativa. No caso de estudos
produzidos a partir da intenção comparativa, notamos que o pesquisador pode
contemplar mais facilmente o objeto de estudo escolhido, desde as obras
selecionadas e os vieses de comparação estabelecidos, geralmente compondo o
corpus com obras de diferentes literaturas africanas de língua portuguesa ou dessas
com obras da literatura brasileira ou da portuguesa.
A escolha majoritária da Literatura Comparada, ao estudar as literaturas
africanas de língua portuguesa, assume a vantagem de se contemplarem mais
obras, tanto dos sistemas literários dos CINCO, quanto de outras literaturas e
mesmo de outras manifestações artísticas. Mesmo que ainda nos deparemos com
generalizações nem sempre verdadeiras e com relações hierarquizantes de valor do
sistema literário de cada nação, no mercado editorial, por exemplo, isto não foi
verificado nas teses investigadas. Os estudos comparatistas se pautaram por buscar
semelhanças e dessemelhanças entre as obras analisadas sem juízo de valor.
Das 74 teses investigadas, temos 32 teses que produziram investigação com
o recorte dos estudos comparados, ou seja, cerca de 40% do total. Pelas
investigações que realizamos, esta escolha se deve às propostas de alguns
programas de pós-graduação brasileiros bem como às reflexões feitas pelos
Estudos Pós-coloniais, que vêm se debruçando sobre os horrores do processo
colonial, sem se preocuparem com questões fronteiriças e, sim, considerando o que
é comum no continente africano.
Podemos ilustrar, com os dados que colhemos nas teses investigadas, que a
escolha do estudo comparativo é predominante nas pesquisas realizadas sobre a
literatura cabo-verdiana e na única investigação sobre a literatura santomense.
Vimos também que a literatura guineense, moçambicana e angolana tiveram os
estudos sobre elas divididos, quase igualitariamente, entre a forma comparatista e a
não comparatista.
Houve teses que foram além das comparações entre as literaturas africanas
de língua portuguesa, optando por obras da literatura brasileira e da portuguesa e
até mesmo por outras literaturas africanas como a literatura queniana e a nigeriana.
Outras realizaram estudos comparativos não apenas com esses sistemas literários
mais marcados pela diáspora negra, mas entre obras das literaturas africanas de
112
língua portuguesa com a literatura estadunidense, a martiniquense e a de Trinidade
e Tobago. Um exemplo de tese que considerou as semelhanças e as
dessemelhanças entre as literaturas africanas foi a de Jair Ramos Braga Filho, já
referida, Poéticas da alteridade: Chinua Achebe, Ngugi Wa Thiong’o e Mia Couto
(2014). Nesse estudo, como afirma o autor, ―a ênfase recai na situação de alteridade
constituída no encontro entre o colonizador europeu e o colonizado africano‖.
(BRAGA FILHO, 2014, p. 1). Além dessa questão, outras se mostram fundamentais
ao estudo pretendido:
Há uma literatura autenticamente africana? Quais seriam as suas especificidades? Como chamar de literaturas africanas aquelas escritas em línguas europeias, levando-se em conta as mais de mil línguas vernáculas do continente? Qual é o papel da forte herança oral africana nas literaturas contemporâneas? Que teoria, própria ou ―emprestada‖ é capaz de abranger um corpus tão vasto e heterogêneo, por mais que a experiência colonial seja um fator em comum das obras que ele contém? (BRAGA FILHO, 2014, p. 1).
A questão da língua adotada na produção das literaturas africanas é uma
discussão que, quase sempre, permeia as análises literárias formuladas, pois, como
sabemos, a linguagem é elemento essencial na constituição da obra literária. No
continente africano, considerado por muitos estudiosos como berço da escrita, a
colonização europeia foi avassaladora com a interdição de uso das línguas
autóctones. O que vemos hoje é o uso da língua do colonizador como oficial em
muitos países africanos, a partir, sobretudo, das independências acontecidas no
século XX. Acrescentamos que, entre a língua oficial e as que se falam no cotidiano,
há uma imensa vala que separa a elite das classes trabalhadoras e das populações
rurais. Esse fator dificulta o acesso, por parte da população iletrada, à literatura
escrita em língua oficial e, por parte da população letrada, às expressões artísticas
realizadas em línguas locais.
O método comparativo de abordagem das literaturas africanas permite uma
visão consolidada sobre a estética e sobre o contexto das obras literárias, até
mesmo das expressas em línguas que não sejam as herdadas do colonizador. A
apropriação feita pela literatura da língua do colonizador caracteriza-se, na maioria
das vezes, por processos de subversão intensa, em que a oralidade é revisitada
para a construção de estratégias literárias. Essas estratégias permitem a produção
de diálogos criativos da escrita literária com as línguas africanas específicas das
113
diferentes regiões, bem como com o crioulo.
Outro elemento que emerge das teses investigadas e que se faz
característico dos estudos comparatistas é a intertextualidade. Ao usar este
processo de produção textual, relevam-se aspectos do fazer literário que se
caracterizam pela evocação de outros textos convocados pelo escritor e/ou pela
escritora. Neste processo, fica evidente o cuidado de não se considerar o conceito
de ―literatura canônica‖ como validador do fazer literário que invoca outros textos ou
mesmo de não se usar o método comparativo atribuindo maior valor aos textos
canônicos que compõem o diálogo intertextual. Sobre o modo como um texto invoca
outro, em sua produção, nos diz Tania Carvalhal:
o comparativista não se ocuparia a constatar que um texto resgata outro texto anterior, apropriando-se dele de alguma forma (passiva ou corrosivamente, prolongando-o ou destruindo-o), mas examinaria essas formas, caracterizando os procedimentos efetuados. Vai ainda mais além, ao perguntar por que determinado texto (ou vários) são resgatados em dado momento por outra obra. Quais as razões que levaram o autor do texto mais recente a reler textos anteriores? Se o autor decidiu reescrevê-los, copiá-los, enfim, relançá-los no seu tempo, que novo sentido lhes atribui com esse
deslocamento? (CARVALHAL, 2006, p. 52).
Esse cuidado com a análise literária comparativista é essencial para os
sistemas literários, pois, como sabemos, o texto mais recente, aquele que ―resgata
outro texto anterior‖, pode também subverter a ordem sócio-política estabelecida
pelo texto da tradição, do cânone, e incentivar uma releitura dos códigos
estabelecidos. O valor do diálogo intertextual está, sobretudo, na visão crítica
estabelecida pelo novo texto no processo criativo que legitima. Assim, o texto
original e o novo assumem importância no espaço literário, e sua avaliação se faz
sem se preocupar em estabelecer níveis de qualidade entre o texto recriado e o que
o inspirou.
Os estudos comparativos legitimam pesquisas que sustentam a investigação,
ressaltando o trânsito entre as obras e encenam a convergência de temas,
personagens e estratégias estéticas que configuram o trabalho literário realizado
pelos autores e autoras das literaturas enfocadas. Como se mostra nas teses
investigadas, os pesquisadores precisam, necessariamente, estar atentos a
considerações teóricas que respeitem as literaturas de outros espaços que não o
europeu.
114
Nas teses investigadas, os diálogos teóricos da literatura comparada parecem
possibilitar o deslocamento de visões estéticas endossadas pelo eurocentrismo para
demonstrar que as literaturas africanas de língua portuguesa não se relacionam de
forma dependente com as literaturas europeias, ou seja, não se pautam pela ideia
de que as obras produzidas por autores europeus seriam uma espécie de modelo
para autores oriundos de espaços que foram vítimas de colonização.
Embora saibamos que literatura miacoutiana tem pontos em comum com a
proposta estética do angolano José Luandino Vieira e que Mia Couto é leitor e
admirador declarado da obra de Guimarães Rosa, isso não é o que torna valiosa a
escrita do autor moçambicano. Isto configura uma visão dos estudos comparativos
de que autores são, antes de tudo, leitores. O conceito de linhagens estéticas,
infelizmente, ainda é uma marca de credenciamento para que a literatura periférica
assuma lugares de notoriedade no espaço literário e no acadêmico.
Refletindo sobre este aspecto de afiliação da literatura comparada podemos
perceber que novos autores, que assumem em suas escritas temas e estratégias
estéticas que lembram autores canônicos, são muitas vezes, estigmatizados como
devedores à(s) obra(s) que os antecederam. Nesse contexto, podemos dizer que
esta semelhança com uma fonte anterior torna-se um valor do qual dependeria a
obra recente. Pensamos ainda que o fato de as literaturas africanas de língua
portuguesa terem sido estudadas, majoritariamente, de forma comparada, pode
carregar este peso da afiliação como um dos fatores para serem aceitas como
objeto de pesquisas nos programas de pós-graduação brasileiros, embora não
tenhamos como comprovar esta motivação, apenas podemos inferir devido ao
grande número de estudos comparados nas teses investigadas.
Alertamos que um ponto importante que perpassa o comparativismo é aquele
que se configura como um processo de descolonização literária. Essa estratégia de
análise literária busca apresentar o comparativismo literário de forma distanciada da
noção de fonte e influência, ou seja, ter uma capacidade crítica ao "olhar para fora".
Pensando nas reflexões que essa posição traz para os estudos literários
comparados, vemos que estes podem colaborar de forma expressiva para o
processo de descolonização das mentes que se elabora ao longo do
desenvolvimento das literaturas africanas de língua portuguesa, com seus avanços e
retrocessos. Essa questão está discutida na tese, Casa de silêncio, Mar de solidão:
115
o espaço literário nos contos de Orlanda Amarílis e de Sophia de M. B. Andersen
(2014), onde a pesquisadora afirma que:
Ambas as autoras viveram a mesma época e frequentaram os mesmos espaços reservados aos intelectuais empenhados na mudança da literatura portuguesa, ou seja, as revistas e antologias literárias que agrupavam escritores das linhas mais díspares, mas que, ética e esteticamente trabalhavam a favor de uma modificação severa tanto nas letras quanto na sociedade. O trabalho com as suas obras implica, necessariamente, na releitura desse momento histórico e de aspectos relativos às transformações trazidas pelo novo modo de pensar a literatura. Assim, o espaço na narrativa ganha grande relevância e é um elemento que vem a corroborar com os estímulos sociais e ideológicos daquele período e marcam profundamente a obra tanto de Sophia Andersen quanto de Orlanda Amarílis, podendo ser considerado um dos aspectos mais relevantes de suas obras. (GRECCO, 2014, p. 14).
Percebemos que a investigadora teve o cuidado de considerar a escrita
literária das duas autoras, uma portuguesa, outra cabo-verdiana, como
contemporâneas uma da outra, pois, apesar do processo histórico diferente com que
conviveram, ambas foram lutadoras em espaços literários predominantemente
masculinos. Assim,
ainda que as marcas de nacionalidade já não sejam situadas inicialmente (para que a análise comparativa não se reduza a uma afirmação de nacionalidades e, muito menos, ao exame do predomínio de uma sobre outra) elas se constituem em inevitável ponto de chegada. (CARVALHAL, 2006, p. 80).
Podemos dizer que cabe ao investigador a responsabilidade de descolonizar
os estudos comparados, ao realizar suas pesquisas, mostrando a originalidade de
cada texto selecionado, sem atribuir valor diferente, em suas análises, ao texto que
provém da margem e ao que é do centro. Consideramos que, muitas vezes, a
investigação comparada volta-se às literaturas ditas periféricas e que esses estudos
dão relevância a obras ainda não contempladas por ementas de disciplinas
regulares de cursos de Letras. Essa característica pode ser percebida nas teses
investigadas, pois mais de 20% delas foram produzidas em departamentos de
literatura comparada de programas de pós-graduação em Letras.
Os estudos comparados também contemplam aspectos relativos à questão do
leitor. Na discussão dos processos de edição e recepção das obras, podem ser
investigados aspectos de diversos sistemas literários, tais como edições, traduções
e a crítica literária. Nesse aspecto, faz surgir uma característica relevante nos
116
estudos comparados que são os ―aspectos da recepção na criação de uma nova
obra literária‖ (CARVALHAL, 2006, p. 66). Os estudos de literatura comparada
podem averiguar como cada sistema literário acolhe a obra, investigando aspectos
sociais, culturais e outros da recepção e comparando-os com relação a duas ou
mais obras analisadas.
Inferimos que a recepção das literaturas africanas de língua portuguesa nos
CINCO é algo que merece ser investigado mais profundamente, pois foi interessante
perceber que o estudo da recepção não foi contemplado nas teses investigadas, de
forma específica.
As dificuldades de fluência na língua portuguesa dificulta a recepção das
obras de literaturas africanas de língua portuguesa nos CINCO e até no mundo,
porém não tivemos acesso a dados sobre isso, já que as teses investigadas não
trataram desse tema. Sabemos pelos estudos linguísticos produzidos no Brasil, que
o cidadão dos CINCO, principalmente aquele distante das capitais, tem dificuldade
de acesso à língua portuguesa, na sua forma falada e escrita. Sobre essa
dificuldade, Lourenço Rosário, estudioso moçambicano, afirma que:
O problema da língua portuguesa em África não se resolve com afirmações de caráter meramente emocional e de natureza absoluta. Toda a gente sabe que uma larga percentagem da população africana dos países de língua portuguesa não fala, nem sabe falar, esta língua. Mas, a fingir, vamos repetindo nos escritos, nos colóquios que esses milhões todos falam o português. Talvez interesse à politica tal fingimento, mas, que os acadêmicos se tornem câmara de ressonância é que não faz sentido. (ROSÁRIO, 2007, p. 12).
A crítica sobre o acesso à língua portuguesa pelos cidadãos dos CINCO nos
leva a refletir sobre a responsabilidade de nós, estudiosos das literaturas africanas
de língua portuguesa, estarmos contribuindo para o fortalecimento do mito do
império português no mundo, se não mais para ressaltar sua expansão, territorial e
econômica, mas com relação à lusofonia, ideia celebrada por Portugal, que é
bastante contestada pelos povos de língua oficial portuguesa. Sabemos que as
literaturas africanas de língua portuguesa são entendidas, muitas vezes, como se
refletissem uma unidade linguística, no entanto, não é bem assim.
A africanização da língua portuguesa vai acentuando traços característicos de
cada espaço onde a língua foi transformada em oficial. Já se pode dizer que temos
muitas variantes do idioma português: o de Portugal, o do Brasil, o de Macau, o do
117
Timor-Leste e os dos países africanos: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe. O idioma oficial, ensinado nas escolas, segue,
com frequência, uma variante culta que não valoriza as marcas da ritmicidade das
culturas africanas e as apropriações linguísticas ocorridas com uso da língua
portuguesa, em cada espaço para onde foi levado pelos colonizadores. Este fato
não está aumentando o número de leitores e falantes do idioma português. Mais
grave ainda é saber que a maioria dos CINCO tem outras línguas que acabam
influenciando naquilo que foi chamado pelos portugueses, de forma pejorativa, de
―pretoguês‖39. O termo é utilizado por Pires Laranjeira para referir-se ao processo de
crioulização do idioma português, principalmente em São Tomé e Príncipe, mas
pode designar a africanização natural da língua oficial pelos falantes dos vários
países africanos colonizados pelos portugueses. Estas peculiaridades decorrentes
das interações entre o idioma nacional e as línguas africanas não são totalmente
respeitadas nos sistemas educacionais e, também, não são contempladas,
amplamente, em ambientes de pesquisas acadêmicas em Portugal e no Brasil,
mesmo no campo da Linguística.
Notamos que os autores africanos estudados nas teses investigadas investem
nas transformações que a língua portuguesa vai assumindo nos espaços africanos
em que funcionam como língua oficial e isto se reflete na quantidade de estudos que
elegem essa temática para construir as teses.
As questões literárias que emergem das teses investigadas contribuem, como
temos demonstrado, para caracterizar o modo como as obras são discutidas como
pertencentes ao universo da Literatura. Essas questões foram, buscadas por nós, a
partir das indicações de referenciais teóricos, sejam eles africanos ou não. O que
fica claro, nas teses investigadas, é que as visões de literatura que emergem das
obras de autores africanos ressaltam as questões humanas e as formas como estas
são construídas pela linguagem, ao revisitar temas como memória, história, gênero,
espaço e tempo que bordejam as histórias contadas pela literatura. Lourenço do
Rosário, de Moçambique, ressalta a escolha de recursos estéticos que estão
comumente presentes nas obras literárias africanas:
Os textos [das literaturas africanas de língua portuguesa] circulam num mundo repleto de intertextualidades visíveis. Se os temas abordados giram
39
(LARANJEIRA, 2015, p. 40)
118
à volta da questão da dominação, opressão, resgate de valores, luta, exaltação, esperança na vitória, etc., os recursos estéticos privilegiam principalmente o ritmo, a hipérbole, a interrogação, a ironia, a evocação. (ROSÁRIO, 2007, p. 158).
Percebemos, nas teses investigadas, o quanto as literaturas africanas de
língua portuguesa estão sendo visitadas pela crítica literária especializada, tanto em
países da África, quanto em Portugal e no Brasil, o que contribui para o
enfraquecimento de estereótipos, muito frequentes no imaginário da colonização e
para o fortalecimento de uma análise mais pertinente das diferentes literaturas
produzidas em espaços africanos colonizados por Portugal.
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caminho trilhado para coletar as teses no Catálogo de Teses e
Dissertações da CAPES e analisar os dados foi muito importante, pois mostrou o
quanto a interdisciplinaridade é fecunda na produção do conhecimento. Nesse
sentido, procuramos aliar conhecimentos biblioteconômicos e literários para estudar
as teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa e buscamos verificar a
importância dada à normalização das informações nos textos acadêmicos e nos
catálogos online. Além de pesquisar como os investigadores brasileiros se
apropriaram das teorias literárias existentes, vimos também que, algumas vezes,
eles criaram novas metodologias em pesquisas sobre literaturas africanas de língua
portuguesa.
Para compor nosso corpus, foram selecionadas 74 teses e, dentro delas,
realizamos estudos estatísticos e analíticos que nos permitiram refletir sobre o uso
das normas da ABNT para os resumos e as palavras-chave. Retiramos, também
nessas fontes, dados sobre os itens mais pesquisados nas IES brasileiras, em
literaturas africanas de língua portuguesa tais como sistemas literários, temas,
autores, além de discorrer sobre as visões de literaturas africanas de língua
portuguesa e seu uso nas teses.
O estudo que realizamos permitiu-nos produzir um panorama detalhado da
pesquisa acadêmica brasileira sobre literaturas africanas de língua portuguesa, no
período recortado. Um aspecto destacado foi o geográfico, pois conseguimos arrolar
onde se produzem mais teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa no
Brasil. Foi possível saber que os programas de pós-graduação da região Sudeste do
Brasil foram responsáveis pela produção de mais de 60% das teses sobre literaturas
africanas de língua portuguesa nos anos de 2013 a 2017. Esta informação pode
facilitar para os interessados em fazer pesquisas em literaturas africanas de língua
portuguesa onde estão as possíveis instituições que os acolherão. Também propicia
às instituições de pesquisa pensar na democratização do acesso aos programas de
pós-graduação que estudam as literaturas africanas de língua portuguesa,
ampliando espaços de pesquisas em todas as regiões brasileiras.
Na produção de teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa,
percebemos que houve um crescimento nos três primeiros anos e queda nos dois
120
últimos, embora não tenhamos conseguido saber qual foi o motivo deste declínio.
A questão de gênero, assunto caro às pesquisas sobre literaturas africanas
de língua portuguesa, não foi tópico especifico na busca de dados das teses
colhidas no CTD da CAPES, mesmo assim, achamos importante relatar aquilo foi
visto, ou seja, uma maioria feminina na autoria das teses investigadas e na
orientação delas, em contraponto como a maioria da autoria das obras analisadas
pelas teses ser masculina, o que nos leva a refletir sobre a necessidade de se
buscar formas de incentivar a produção literária de mulheres e de promover o
acesso às obras de escritoras das literaturas africanas de língua portuguesa.
Destacamos que as narrativas escritas por mulheres são escassas também no
mercado editorial no Brasil e no mundo como um todo, não apenas nos CINCO.
De forma sintética os resultados da pesquisa apontaram para as seguintes
questões:
A. Necessidade de aplicação maior da padronização na elaboração dos
resumos e das palavras-chave, além da indicação de que precisamos
de maior divulgação e melhorias do CTD, bem como, de instruções
mais claras e mais coerentes para os usuários desta importante fonte
de informação para a ciência.
B. O sistema literário mais estudado foi o moçambicano, seguido pelo
angolano e cabo-verdiano.
C. Os autores que mais tiveram obras selecionadas para estudo foram
Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.
D. Os temas mais analisados foram identidade, memória e história.
E. As questões próprias da análise literária que mais emergiram das
teses investigadas foram as que discutem a construção de narradores,
tempo e espaço narrativos, além de modos de percepção da realidade.
F. Dentre as metodologias de análises empregadas, a comparação de
obras de diferentes literaturas e diferentes autores foi preponderante.
Algumas questões sobre a padronização em trabalhos acadêmicos revelaram
que esse aspecto não é a prioridade principal nas teses investigadas, pois quando
analisamos os resumos e as palavras-chave, a qualidade do texto não era a mesma
percebida na produção desses itens. Pensamos que, após nosso trabalho, os
pesquisadores brasileiros poderão reconhecer a importância da padronização destes
121
itens em uma tese, pois só com a uniformização é possível que os trabalhos sejam
recuperados com precisão, nas pesquisas em catálogos online, como o da CAPES.
A padronização insuficiente nas teses investigadas nos leva a perguntar sobre
o conhecimento de sua devida importância, já que somente com boa normalização
uma pesquisa pode ser recuperada em bancos de dados e assim ser fonte de
informação para novos estudos. Fica também a indagação de que, talvez, pudesse
ser útil um maior investimento dos programas de pós-graduação sobre o uso das
normas bibliográficas da ABNT, assim como o acesso a ferramentas digitais de
padronização bibliográfica40 que podem facilitar a elaboração de resumos e de
palavras-chave.
Um item padronizado pela ABNT é o da elaboração de palavras-chave;
embora a escolha das palavras seja livre, elas devem servir de informação sobre a
pesquisa. Por essa razão, a escolha deve ser pensada de modo a selecionar
aquelas que melhor identifiquem o documento produzido. Portanto, para uma melhor
eficiência, nesse quesito, o pesquisador pode recorrer aos serviços de normalização
bibliográfica da biblioteca da IES que acolhe a tese e/ou usar ferramentas digitais
para selecionar palavras, para se ter certeza de que a palavra-chave escolhida
remete mesmo ao assunto discutido na tese.
Apresentamos, nas análises da padronização algumas sugestões quanto ao
uso de conceitos discutidos. Um mesmo termo aparecia nas teses investigadas ora
no plural, ora no singular. Um exemplo disso é o uso do título da área pesquisada:
―literaturas africanas de língua portuguesa‖ e ―literatura africana de língua
portuguesa‖. Pensamos que o termo ―literaturas africanas‖ seria o mais adequado,
por se tratar de literatura produzida em vários países e não reforçar a ideia de haver
uma literatura do continente africano e, portanto, o uso da expressão literaturas
africanas de língua portuguesa contempla melhor os estudos sobre a literatura
produzida em cada um dos CINCO.
Os temas estudados, memória, história e identidade, apareceram em
quantidade equilibrada tanto na forma pluralizada, ou não. A discussão de
pluralização de conceitos é comum nas pesquisas e referenciais teóricos, assim, o
pesquisador, ao escolher o estudioso que norteará sua pesquisa, acaba por usar o
modo como ele grafa o termo. Na área de conhecimento da literatura, os
40
Sugerimos algumas ferramentas como: FastFormat, Mettzer e outras disponíveis na internet.
122
pesquisadores têm liberdade para escolher entre o plural, ou não, ao grafar os
conceitos, porém na Biblioteconomia, há uma indicação de que, quando indexamos
um assunto, ou seja, elaboramos palavra-chave, esta deve estar no singular. Logo, é
válida a adoção, no corpo de uma tese ou de outro texto acadêmico, um conceito no
plural, mas este precisa aparecer no singular nas palavras-chave, com exceção
daqueles de forma única (por exemplo: ônibus, óculos).
Além da recuperação de dados em meios digitais, a elaboração dos resumos,
dentro das normas da ABNT, permite ao pesquisador, que vai produzir estudos de
revisão bibliográfica, organizar os dados com menos dificuldades. Por exemplo, nas
palavras-chave, notamos, nas teses investigadas, que nem sempre foi seguida a
orientação da ABNT, de se usar o ponto final para separá-las umas das outras, e
também, algumas vezes, foram usadas frases e palavras pouco específicas. Tudo
isso, conforme ressaltamos, dificultou nossa geração de estatística, já que a
precisão dos caracteres é essencial nos meios de tratamento da informação.
Sobre a tabulação de dados que colhemos, não foi possível o uso de
ferramenta específica para tratamento de dados. Usamos o Word e Excel, da
Microsoft Office. Embora existam softwares específicos41 para tratamento de dados
textuais, não conseguimos ter acesso a eles em tempo hábil. Esses softwares
seriam interessantes ferramentas a serem adquiridas por programas de pós-
graduação em Letras, pois o uso deles permite realizar pesquisas em textos, por
palavras e frases, além de tratamento dos dados textuais colhidos. O uso de
softwares facilita também as análises literárias quando se trabalha com obras em
formato digital: periódicos eletrônicos, e-books, blogs, sites, enfim, textos
eletrônicos. Cabe informar que esses tipos de suportes de informação ficaram mais
fáceis de serem referenciados, nas bibliografias, pois houve na última revisão, em
2018, da Norma técnica 6023 – Referências Bibliográficas, mudanças na forma de
citar documento eletrônico e também foi inserida a maneira normatizada de citar
redes sociais.
Os assuntos mais pesquisados nas teses investigadas, que verificamos nas
palavras-chave, corresponderam àqueles que o nosso percurso acadêmico e de
leituras sobre literaturas africanas de língua portuguesa nos permitiu inferir. Isso
aproxima nossas conclusões ao que afirma Stanley Fish (1992) sobre a ideia de
41
Podemos citar como exemplo o software Sphinx.
123
que, em cada área de conhecimento, se forma uma comunidade interpretativa e que
os pesquisadores se orientam de forma muito parecida na compreensão de
conceitos e nas pesquisas realizadas.
Nas teses investigadas, temos 344 palavras-chave citadas nas 74 teses. Foi
preciso agrupar em subitens o que foi mais pesquisado, ou seja, autores, temas e
sistemas literários. Assim tivemos o seguinte resultado:
1. Autores: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.
2. Temas: Identidade(s), Memória(s), História.
3. Sistema literário: literatura moçambicana, literatura angolana e literatura cabo-
verdiana.
Contudo não foi possível, como já dito, verificar estes dados apenas com a leitura
de palavras-chave, pois um número alto de teses que investigava um determinado
tema proposto figurava sem a devida indexação nas palavras-chave. Foi preciso
buscar em outras partes das teses investigadas, como, por exemplo, na introdução.
Além dos temas mais citados nas palavras-chave, buscamos saber quais
teóricos(as) apoiaram as discussões nas teses investigadas. Sabendo o que esperar
de um resumo científico, acreditávamos que encontraríamos estes dados nesse
item, porém, um número expressivo de resumos não continha o aporte teórico
utilizado. Essa constatação reflete a necessidade de melhoria de elaboração de
resumos, pois sabemos, por orientação da ABNT, que todo resumo científico deve
trazer hipótese, objeto, metodologia e resultados da pesquisa feita.
Os principais teóricos utilizados nas teses investigadas foram Mikhail Bakhtin,
sobretudo na discussão de questões relacionadas à análise da linguagem literária;
Homi K. Bhabha e Stuart Hall nas reflexões sobre identidade; Paul Ricoeur e Walter
Benjamin, nas abordagens dos temas história e memória. Os resumos também
permitiram perceber que as reflexões sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa baseiam-se, sobretudo, em estudos das pesquisadoras Inocência Mata e
Ana Mafalda Leite e dos pensadores africanos Achille Mbembe e Hampaté Bâ,
dentre outros teóricos(as) ocidentais e brasileiros. Ver a presença de pensadores
africanos dos CINCO ou, de outros espaços africanos, foi importante para demarcar
o lugar de fala da teoria sobre África e suas literaturas.
O principal tema abordado foi a identidade. Os autores das teses investigadas
buscaram suporte teórico em importantes pesquisadores, na discussão da questão,
124
dentre os quais podemos citar Antonio da Costa Ciampa, Antônio Sérgio Guimarães,
Benjamin Abdala Junior, Boaventura Santos, Edward Said, Fernando Catroga,
Frantz Fanon, Hommi K. Bhabha, Jane Tutikian, José Luiz Cabaço, Luiz Costa Lima,
Massimo Canevacci, Michell Pollack, Nestor Garcia Canclini, Paul Ricouer, Pierre
Nora, Stuart Hall e Zilá Bernd.
Acreditamos que a história de colonização, guerras da independência e civil,
vivenciadas pelos africanos dos CINCO e por muitos dos autores que tiveram suas
obras analisadas, contribuíram para que a questão identitária se sobressaísse nas
teses investigadas. O sujeito fragmentado pela opressão da colonização e a
violência das guerras estão presentes em muitos enredos das obras literárias. A
constatação da presença do sujeito fragmentado na construção de enredos literários
justifica o uso de conceitos como o de entrelugar, sobretudo amparado pelas
reflexões de Hommi KBhabha, de identidade cultural, na esteira de Stuart Hall, e de
identidade híbrida, visto a partir da proposição de Nestor Garcia Canclini, nas teses
investigadas, como suporte para as análises literárias sobre temas de viés
identitário. As reflexões, muitas vezes de forma interdisciplinar, resgataram outros
elementos identitários, tais como gênero, raça, nação, história e memória.
Ao tratar de memória, segundo tema mais estudado nas teses investigadas,
seus autores recorreram, de forma preponderante, às reflexões do estudioso Paul
Ricouer, mas também se valeram de vários outros teóricos(as) importantes na
discussão desse tema, como Aleida Assmann, Beatriz Sarlo, Henri Bergson, Linda
Hutcheon, Maurice Hallbwachs, Michel Pollack, Walter Benjamin e Zilá Bernd.
Embora o tema da memória seja comum nas obras literárias e nas pesquisas
acadêmicas atuais, a memória da África e dos africanos possui sutilezas que
precisam ser consideradas. São nações que tiveram suas memórias subtraídas,
muitas vezes rasuradas ou narradas somente por teóricos europeus. Essa questão
indica o fato de as teses que investigaram a(s) memória(s) coletivas e individuais
africanas ressaltarem as formas de construção narrativa que, nos enredos e na
construção das personagens, indicam tanto a luta pela apropriação da(s)
memória(s), quanto a desempenhada contra o silenciamento das vozes africanas.
Esta característica presente em muitas das obras literárias investigadas pelos
autores das teses que analisamos, revela a importância do recorte memorialístico,
traço característico de obras literárias oriundas de espaços colonizados.
125
As literaturas africanas de língua portuguesa possuem, em muitas de suas
narrativas, a ficicionalização de momentos traumáticos de sua História e, portanto,
as feições que podem ser afetadas, tais como identidade, memória e história são
muito retomadas nas teses investigadas.
Apontamos, na tese, que a história é tratada como tema recorrentemente
encenado pelas obras literárias africanas, sobretudo, com a intenção de se
produzirem reflexões a partir do olhar de teóricos(as) que ressaltam a importância de
se considerar a história pela perspectiva dos vencidos. Se esta ainda não está
escrita, a literatura cobre essa falta, sobretudo quando anuncia o protagonismo dos
que tiveram as suas memórias silenciadas, soterradas, como anuncia Michel Pollak
(1989).
O cânone literário mereceu reflexão, pois discorremos sobre os autores que
tiveram mais obras analisadas nas teses investigadas. Sabemos que o cânone tem
contribuição das pesquisas acadêmicas sobre literatura em sua constituição,
inclusive pela produção de teses. O critério de pertencimento a esse lugar era forte,
pois, se a obra tivesse grande quantidade de estudos em IES (teses, por exemplo),
era motivo de ser canonizada. Porém, no Brasil, o referendo acadêmico tem deixado
de ser elemento de destaque para canonizar um autor, já que as redes sociais, o
mercado editorial e as feiras literárias têm elevado os autores a esse lugar.
Nas teses investigadas, foi confirmada a predominância das obras dos
autores mais conhecidos e reconhecidos no circuito das literaturas africanas de
língua portuguesa, no continente africano no mundo, nas análises literárias. Este
fato leva, como indicamos na tese, a que vários estudiosos questionem os critérios
de escolha das obras a serem analisadas pelos pesquisadores. O que faz uma obra
ser escolhida ou preterida para compor uma análise literária em texto acadêmico?
Os possíveis motivos seriam a facilidade de acesso a publicação, obras premiadas,
respaldadas por outros pesquisadores? Sabemos que uma obra nunca esgota suas
possibilidades de estudos literários, mas, no nosso estudo, se viu uma discrepância
entre a quantidade de estudos de obras do escritor que mais mereceu ser discutido
em teses e outros. Fica clara a necessidade de se verificar a possibilidade de
parcerias institucionais para se ampliarem as fontes de estudos sobre as literaturas
africanas de língua portuguesa e para se contemplar a diversidade autoral em
estudos acadêmicos.
126
Apesar de todas as dificuldades dos autores africanos (principalmente
mulheres), especificamente daqueles dos CINCO, e os afrodescendentes (em
especial mulheres) para conseguirem ter obras publicadas e lidas, vimos que houve
diversidade de autores nas 74 teses investigadas. Foram 135 autores abordados. O
primeiro do ranking foi Mia Couto e a terceira Paulina Chiziane, ambos
representantes da literatura moçambicana. Já o segundo escritor que teve mais
obras analisadas foi Pepetela, pertencente à literatura angolana.
Dentre os gêneros literários, o romance teve destaque. Pensamos que isto
possa ser devido ao fato de o romance ocupar o lugar, por excelência, de uma
feição estética que acolhe as inovações, as complexidades e as diversidades
narrativas. Sendo assim, mesmo que as literaturas africanas de língua portuguesa
registrem muitos contos, estes não predominaram e foram apenas 5% das análises
nas 74 teses investigadas. Nesta questão de gênero literário, vimos destacar nas
teses sobre a literatura moçambicana, além dos romances de Mia Couto e de
Paulina Chiziane, os contos miacoutianos e a poesia de Rui Knopli. Na análise da
literatura angolana sobressaíram os romances de Pepetela, Boaventura Cardoso e
José Eduardo Agualusa, os contos de José Luandino Vieira e a poesia de Paula
Tavares.
As teses investigadas que trataram sobre a literatura cabo-verdiana,
trouxeram estudos específicos sobre a influência da insularidade nos sujeitos do
arquipélago e como tal fato reflete na produção literária. Em várias dessas teses
foram retomadas as questões da fragmentação do sujeito, em particular, a questão
identitária, não havendo repetição de autores pesquisados. Da literatura guineense
sobressaíram as questões da nacionalidade e o autor Abdulai Silva. A única tese,
das investigadas, que abordou a literatura santomense selecionou obras da escritora
Conceição Lima e fez análise comparativa com a poesia de Conceição Evaristo e
Paula Tavares, refletindo sobre a resistência na escrita.
Especificamente sobre os três autores de literaturas africanas de língua
portuguesa mais contemplados com análises de suas obras foi possível verificar,
nas teses investigadas, as seguintes considerações: As teses que contemplaram
obras de Mia Couto realizaram recortes que evidenciam particularidades do universo
moçambicano, de que fazem parte eventos e pessoas que integram os processos de
ficcionalização exibidos nas obras do escritor. Indo além de aspectos que ressaltam
127
o comprometimento ético deste autor moçambicano com seu país, as teses
buscaram refletir sobre questões relativas aos estudos literários, tais como: forma
narrativa, recursos poéticos, aspectos da diegese, dentre outros elementos da
narrativa literária. Na escrita de Pepetela verificamos, marcadamente, a
ficcionalização da História, da memória e da identidade de Angola. Assim, os
autores das teses investigadas realizaram estudos da linguagem narrativa utilizada
por ele e, também, uma pesquisadora produziu a inovadora tese que utilizou
preceitos do candomblé para realizar sua pesquisa. As reflexões suscitadas pelas
leituras das obras de Paulina Chiziane construíram discussões acerca da identidade
do(a) moçambicano(a), pois em suas personagens, na maioria mulheres, ecoam as
vozes de sujeitos subalternizados e marginalizados.
Podemos dizer, após nossa pesquisa, que os temas dos estudos sobre as
literaturas africanas de língua portuguesa assemelham-se aos temas das literaturas
ocidentais contemporâneos e não se caracterizam, apenas, como manifestações
características da literatura de comprometimento ético. Deduzimos, com as
teses investigadas, que os processos de expressão das culturas africanas
apresentam elementos específicos e que as teorias estéticas e culturais produzidas
em África são necessárias para permitir que melhor compreendamos os pontos de
vista nos processos estéticos encenados nas literaturas africanas de língua
portuguesa.
É preciso destacar que, embora ainda seja insuficiente a circulação de pontos
de vista de teóricos(as) africanos(as) sobre as culturas e as literaturas do continente,
muito das singularidades dos povos que o habitam já estão sistematizadas em
conhecimento organizado e disseminado. Isso justifica o fato de os pesquisadores
referenciarem africanistas nas investigações realizadas por várias das teses que
lemos. Consideramos, nesse sentido, que as particularidades da cultura, história,
geografia da África e suas diásporas fazem emergir, além de narrativas inovadoras,
modos de análise literária bastante diferenciados, como a apresentada por uma tese
que propôs utilizar, em suas reflexões literárias, a epistemologia do orixá Exu e outra
que se valeu de preceitos do candomblé como método de análise literária.
Percebemos também que, nas teses investigadas, emergem diversas visões
sobre a constituição do fazer literário e de literatura. Uma das teses destacadas
aproxima os narradores dos contadores de histórias, apontando, na escrita de
128
romances, estratégias de construção narrativa próprias da oralidade. Essa questão
levou alguns pesquisadores a discutirem obras literárias a partir do trabalho com a
sonoridade da linguagem escrita, ressaltando também outras marcas da tradição
oral, esteticamente organizadas na construção da escrita literária. Podemos refletir
que a visão da literatura como contação de história, presente em muitas das teses
investigadas, (re)molda a narratologia, mostrando como o(a) escritor(a) se apropria-
se da linguagem do colonizador sem deixar de absorver recursos próprios da
oralidade, recursos esses, bastante estudados pelas teses, já que foram eleitos para
compor onze das 74 teses investigadas.
Foi possível também comprovar a importância de análises literárias que
levaram em conta as peculiaridades de cada país africano, assumindo, inclusive, o
esforço da literatura para encenar feições da identidade nacional. Esse movimento
perpassa muitas das teses investigadas, revelando um esforço para considerar os
modos de narrar adotados por algumas obras literárias e as formas de transgressão
e de subversão que elas agenciam, sobretudo, quando assumem recursos próprios
do universo oral característico da cultura encenada no espaço da literatura. Recurso
que, como destacamos em nossas considerações, é utilizado para permitir que as
vozes silenciadas pela colonização possam ser ouvidas.
A análise das teses demonstrou que a estética do realismo, em suas
diferentes expressões, foi um viés analítico bastante comum nas teses investigadas.
Os estudos elaborados foram produzidos embasados em diversas reflexões teóricas
sobre a encenação de realidades e experiências vivenciadas em cada espaço. Uma
das discussões marcantes acerca do realismo foi o destaque dado à sua feição
animista, nos termos propostos por Harry Garuba (2014) e Sueli Saraiva (2007), já
que estas se fizeram presentes em dezoito das 74 teses.
Outra característica marcante, percebida nas teses investigadas, foi o fato de
um elevado número destas ser produzido no âmbito dos estudos comparados, ou
seja, em mais de 20% das teses investigadas por nós, o que pode, a nosso ver,
apresentar vantagens e desvantagens para o campo de pesquisas sobre as
literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil. Vantagens porque, assim, a
pluralidade e a interdisciplinaridade são contempladas nas pesquisas, não só entre
as literaturas africanas de língua portuguesa, mas com outras literaturas, em
especial com as literaturas africanas inglesas, francesas e espanholas, por exemplo.
129
Desvantagens porque, às vezes, as análises em blocos forçam semelhanças entre
as obras literárias analisadas e não permitem estudos específicos sobre a literatura
de cada país. Sabemos o quão importante é ressaltar que cada país do continente
tem sua própria literatura, embora muitos programas de pós-graduação não possam
estudá-las de forma individualizada.
Enfim, percebemos nas teses investigadas o quanto a crítica brasileira sobre
as literaturas africanas de língua portuguesa está solidificada, sem propagar
estereótipos e mesmo comprometida com apropriações da teoria literária existente e
com a criação de novas metodologias. Esse resultado de nossa pesquisa ressalta a
relevância da pesquisa acadêmica sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa no Brasil e a importância destes estudos para cumprirem a Lei
10639/2003, já que a diáspora africana aqui é tão presente.
Após ter concluído esta tese, esperamos ter contribuído com a pesquisa
acadêmica sobre as literaturas africanas de língua portuguesa e que este estudo
possa ser fonte de consulta para futuros pesquisadores. Como o assunto que
pesquisamos foi delimitado, pois fizemos apenas um recorte espaço-temporal e
utilizamos apenas um catálogo online de teses, certamente outros aspectos da
pesquisa poderão ser destacados e aprofundados.
Resta-nos a certeza de haver investigado o corpus selecionado com critérios
objetivos, mas também com o desejo de conhecer aspectos inusitados, como alguns
destacados, da pesquisa brasileira sobre as literaturas africanas de língua
portuguesa.
130
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ANEXO A - TESES INVESTIGADAS
ALMEIDA, Cintia Machado de Campos. Viagens de fora para dentro: profanações e vagamundagens de Luís Carlos Patraquim. .2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Orientadora: Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. ALVES, Roberta Maria Ferreira. Olhares irônicos sobre a morte: memória e travestimentos em narrativas de língua portuguesa. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. Orienadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. ARAUJO, Ridalvo Felix de. Candombe mineiro: É d‘ingoma/ Saravano tambu/ Peço licença/ Pro meu canto firmá. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. Orientador: Marcos Antônio Alexandre. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BACH, Carlos Batista. José Eduardo Agualusa: ironias e memória como traços de uma poética. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Orientadora: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BAROSSI, Luana. Devires Inauditos: linhas de fuga em narrativas de língua portuguesa. 2015. Orientador: Emerson da Cruz Inácio. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade De São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BARROS, Liliane Batista. A reconstrução histórica da cabanagem em "Lealdade" e da guerra civil moçambicana em "As duas sombras do rio". Orientadora: Tânia Maria Pereira Sarmento Pantoja .2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Pará, Belém, 2018. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BARROS, Maria Aparecida de. A voz angolana nos contos de Boaventura Cardoso: configuração da memória ancestral. Orientadora: Regina Célia dos Santos. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BIAZETTO, Flavia Cristina Bandeca. As confluências das tradições literárias escritas e orais nos livros didáticos: um estudo das representações das literaturas africanas, afro-brasileira e indígenas nos materiais do Programa Nacional do Livro Didático 2014. Orientadora: Vima Lia de Rossi Martin. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018.
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149
ANEXO B - TABELA 1 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES
INVESTIGADAS42
(Continua)
Autor(as) Quantidade
Mia Couto 20
Pepetela 10
Paulina Chiziane 8
Não informado no resumo 6
Boaventura Cardoso 6
Conceição Evaristo 6
José Eduardo Agualusa 4
José Luandino Vieira 4
João Paulo Borges Coelho 3
Rui Knopfli 3
Lobo Antunes 3
Chinua Achebe 2
Luís Carlos Patraquim 2
Marlene NourbeSe Philip 2
Orlanda Amarílis 2
Paula Tavares 2
Ruy Duarte de Carvalho 2
Sans Soleil 2
Teolinda Gersão 2
Abdulai Sila 1
Alê Abreu 1
Alice Walker 1
Ana Luisa Amaral 1
Antonio Callado 1
Antônio de Assis Junior 1
Aristides Pereira 1
Arménio Vieira 1
Arnaldo Santos 1
Baltasar Lopes 1
Chico Buarque 1
Conceição Lima
42
Cada autor foi contado todas as vezes que teve suas obras analisadas nas teses investigadas, buscando nos resumos títulos e palavras-chave.
150
Tabela 1 – Autores(as) presentes nas teses investigadas
(conclusão)
Corsino Fortes 1
Dina Salústio 1
Dya Kasembe e Paulina Chiziane 1
Eliane Brum 1
Erico Verissimo 1
Evel Rocha 1
Fátima Bettencourt 1
Filinto Elísio 1
Germano Almeida 1
Haroldo Maranhão 1
Helder Macedo 1
Ivone Ainda 1
João Maimona 1
João Ubaldo Ribeiro 1
Joaquim Chissano 1
Jorge Araújo 1
José Mena Abrantes 1
Juvenal Bucuane 1
Lídia Jorge 1
Luandino Vieira 1
Machado de Assis 1
Manuel Alegre 1
Manuel Rui 1
Marcus Vinícius Faustini 1
Margarida Calafate Ribeiro 1
Mário de Carvalho 1
Martinho da Vila 1
Murilo Rubião 1
Ngugi wa Thiong'o 1
Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant 1
Ruy Duarte de Carvalho 1
Salgado Maranhão 1
Sophia de Mello Breyner Andresen 1
Vera Duarte 1
William Shaskspeare 1
Total geral 135
Fonte: dados da pesquisa
151
ANEXO C - TABELA 2 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES
INVESTIGADAS (INDIVIDUALMENTE E COMPARATIVAMENTE)
(continua)
Autores(as) Total
Abdulai Sila 2
Ana Luisa Amaral. João Maimona. Salgado Maranhão 1
Antonio Callado. Pepetela. José Luandino Vieira. 1
Antônio de Assis Junior 1
Baltasar Lopes. Jorge Araújo. 1
Boaventura Cardoso. 1
Boaventura Cardoso. Mia Couto 1
Boaventura Cardoso. Pepetela. Paulina Chiziane. Mia Couto. 1
Chinua Achebe. Mia Couto 1
Chinua Achebe. Ngugi wa Thiong'o. Mia Couto 1
Conceição Evaristo. Paula Tavares. Conceição Lima 1
Conceição Evaristo. Paulina Chiziane. 1
Corsino Fortes. Arménio Vieira. Filinto Elísio 1
Dina Salústio. Paulina Chiziane 1
Erico Verissimo. Pepetela 1
Helder Macedo. Luandino Vieira. Lídia Jorge. Pepetela. Lobo Antunes. José Eduardo Agualusa.
1
João Paulo Borges Coelho 1
João Paulo Borges Coelho. Mia Couto. Chico Buarque. 1
Joaquim Chissano. Aristides Pereira 1
José Eduardo Agualusa 1
José Eduardo Agualusa. Alê Abreu. Lourenço Mutarelli. Eliane Brum. 1
José Luandino Vieira 3
José Mena Abrantes 1
Juvenal Bucuane. Manuel Rui. 1
Lobo Antunes. Boaventura Cardoso 1
Luís Carlos Patraquim 1
Luís Carlos Patraquim. Mia Couto. 1
Machado de Assis. Germano Almeida. Jorge Amado. João Paulo Borges Coelho 1
152
Tabela 2 – Autores(as) presentes nas teses investigadas (individualmente e
comparativamente)
(conclusão)
Marcus Vinícius Faustini. Evel Rocha 1
Margarida Calafate Ribeiro. Dya Kasembe e Paulina Chiziane. 1
Martinho da Vila 1
Mia Couto 8
Mia Couto. Boaventura Cardoso. 1
Mia Couto. Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant. 1
Murilo Rubião. Mário de Carvalho. Mia Couto 1
Não informada no resumo 6
Odete Semedo. Abdulai Sila 1
Orlanda Amarílis. Ivone Ainda. Fátima Bettencourt 1
Orlanda Amarílis. Sophia de Mello Breyner Andresen. 1
Paula Tavares 1
Paulina Chiziane 2
Paulina Chiziane. Conceição Evaristo 1
Paulina Chiziane. Mia Couto. 1
Pepetela 1
Pepetela. Boaventura Cardoso. 1
Pepetela. João Ubaldo Ribeiro 1
Pepetela. José Eduardo Agualusa 1
Pepetela. Lobo Antunes. Haroldo Maranhão 1
Rui Knopfli 2
Rui Knopfli. Manuel Alegre 1
Ruy Duarte de Carvalho 1
Vera Duarte. Conceição Evaristo. Marlene NourbeSe Philip, 1
Total geral de teses 74
Fonte: dados da pesquisa
153
ANEXO D - TABELA 3 – ORIENTADORES(AS) DAS TESES INVESTIGADAS
(continua)
Orientadores(as) Total de teses
orientadas
Simone Caputo Gomes 6
Maria Nazareth Soares Fonseca 5
Rita de Cássia Natal Chaves 4
Simone Pereira Schmidt 3
Roland Gerhard Mike Walter 3
Maria de Fátima Maia Ribeiro 3
Jane Fraga Tutikian 3
Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco 3
Ana Lucia Liberato Tettamanzy 3
Tânia Celestino de Macedo 2
Sergio Paulo Adolfo 2
Mário Cesar Lugarinho 2
José Luís Giovanoni Fornos 2
Gisele Manganelli Fernandes 2
Ângela Beatriz de Carvalho Faria 2
Alexandre Montaury Baptista Coutinho 2
Anco Márcio Tenório Vieira 1
André Luiz de Lima Bueno 1
Benjamin Abdala Junior 1
Cláudio Alves Furtado 1
Edvaldo Aparecido Bergamo 1
Emerson da Cruz Inacio 1
Flavio Garcia Queiroz de Melo 1
Jussara Bittencourt de Sá 1
Lynn Mario Trindade Menezes de Souza 1
Marcos Antônio Alexandre 1
Maria Célia de Moraes Leone 1
Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva 1
154
Tabela 3 – Orientadores(as) das teses investigadas
(conclusão)
Mariângela Rios de Oliveira 1
Martha Alkimin de Araújo Vieira 1
Noelci Fagundes da Rocha 1
Orlando Nunes de Amorim 1
Patricia da Silva Cardoso 1
Raquel Illescas Bueno 1
Regina Celia dos Santos 1
Rosani Ursula Ketzer Umbach 1
Rubens Pereira dos Santos 1
Sílvio Renato Jorge 1
Sonia Aparecida Vido Pascolati 1
Stelamaris Coser 1
Tania Maria Pereira Sarmento Pantoja 1
Terezinha Taborda Moreira. 1
Vima Lia de Rossi Martin 1
Total de teses 74
155
ANEXO E - TABELA 4 – OBRAS ESTUDADAS NAS TESES INVESTIGADAS
(continua)
Teses Obras estudadas43
1 Memórias póstumas de Brás Cubas. A morte e a morte de Quincas Berro Dágua. As visitas do Doutor Valdez.
2 Teoria Geral do Esquecimento. Nação Crioula
3 As duas sombras do rio
4 Teoria geral do esquecimento. O menino e o mundo. O natimorto: um musical silencioso. Uma duas
5 Dizanga dia Muenhu. O fogo da fala. A morte do velho Kipacaça
6 A última tragédia. Eterna paixão. Mistida.
7 As duas sombras do rio. Crónica da rua. Rainhas da noite.
8 Chris Marker
9 Ventos do Apocalipse. Ponciá Vicêncio.
10 L‘intraitable beauté du monde – adresse à Barack Obama. E se Obama fosse africano?
11 Preces e Súplicas ou Os Cânticos da Desesperança. Poemas da Recordação e Outros Movimentos. She Tries Her Tongue, Her Silence Softly Breaks
12 A gloriosa família. Nação Crioula
13 A cabeça calva de Deus e Sinos de Silêncio: canções e haikais (2015), de Corsino Fortes; O Brumário. Derivações do Brumário. Sequelas do Brumário . Fantasmas e fantasias do Brumário. Do lado de cá da rosa. Li Cores e Ad Vinhos. Mexendo no baú: Vasculhando o U . Zen limites.
14 Paisagem com mulher e mar ao fundo. A árvore das palavras. Terra sonâmbula. Vinte e zinco.
15 Balada de Amor ao Vento. O Alegre canto da Perdiz
16 Os papeis do inglês. As paisagens propícias. A terceira metade. Como se o mundo não tivesse leste. Vou lá visitar pastores. Desmedida.
17 As Visitas do Dr. Valdez. O Outro Pé da Sereia. Leite Derramado
18 Ponciá Vicêncio. O alegre canto da perdiz
19 Vinte e zinco, A chuva pasmada, O outro pé da sereia e A confissão da leoa
20 Vinte e Zinco. Terra Sonâmbula . Antes de Nascer o Mundo. O O Último Voo do Flamingo.
21 Mayombe. Noites de Vigília
22 A flecha de Deus. Pétalas de sangue. O último voo do flamingo.
23 Xefina. Quem me dera ser onda
24 Vinte e zinco. O outro pé da sereia. Sapatos de tacão alto: conto. Prostituição auditiva: conto. Falas do velho tuga: : conto. A benção: conto
25 A árvore que tinha batucada (conto). Mãe, materno mar. O outro pé da sereia.
26 Yaka. Viva o povo brasileiro
27 Os papéis do inglês. A casa velha das margens. A sul. O sombreiro
28 Nós os do Makulusu
29 The Color Purple. Ponciá Vicêncio. Niketche
43
São 74 teses investigadas, porém somente 57 informaram em seu resumo quais foram as obras estudas, portanto 17 teses não informaram no resumo este dado
156
TABELA 4 – Obras estudadas nas teses investigadas
(conclusão)
30 Terra Sonâmbula. Antes de Nascer o Mundo
31 Monção. Raiz de orvalho
32 Mãe, Materno Mar. Terra sonâmbula
33 O outro pé da sereia
34 Cais-do-Sodré té Salamansa. Vidas vividas. Semear em pó
35 Os papeis do inglês . As paisagens propícias. A terceira metade. Como se o mundo não tivesse leste. Vou lá visitar pastores. Desmedida: Luanda-São Paulo-São Francisco e volta. Crônicas do Brasil.
36 Things Fall Apart .O outro pé da sereia.
37 Comissão das Lágrimas. Maio, mês de Maria
38 Louca de Serrano. O alegre canto da perdiz
39 O segredo da morta
40 Guia afetivo da periferia. Marginais
41 Claridade - revista de letras e artes
42 Estação das chuvas. As naus. Partes de África. Nosso musseque. A costa dos murmúrios. Mayombe
43 Eterna paixão. A última tragédia. Mistida
44 Balada de amor ao vento. O alegre canto da perdiz. O último voo do flamingo
45 Vozes Anoitecidas. Cada Homem é Uma Raça, Estórias Abensonhadas.Contos do Nascer da Terra Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos. O Fio das Missangas. Vinte e Zinco. A Confissão da Leoa. Mulheres de Cinzas.
46 O continente. O retrato. O arquipélago. Yaka
47 Vidas, lugares e tempos. Uma luta, um partido, dois países,
48 Ventos do Apocalipse e O Alegre Canto da Perdiz,
49 Maio: mês de Maria. Predadores. O sétimo juramento. O último voo do flamingo
50 Chiquinho. Comandante Hussi
51 A órfã do Rei. Sem herói nem reino ou o azar da Cidade de S. Filipe de Benguela com o fundador que lhe tocou em sorte. Sequeira, Luís Lopes ou o mulato dos prodígios. Kimpa Vita, a profetiza Ardente. Tari-Yari, misericórdia e poder no Reino do Congo e Ana, Zé e os escravos.
52 O tetraneto del-rei. A gloriosa família. As naus
53 Nós, os do Makulusu. O livro dos rios. O livro dos guerrilheiros
54 África no feminino: as mulheres portuguesas e a guerra colonial. O livro da paz da mulher angolana: as heroínas sem nome
55 Mayombe. Lueji. Yaka
56 Quarup. Bar Don Juan. Reflexos do baile. Sempreviva. As aventuras de Ngunga.Mayombe. A geração da utopia. O planalto e a estepe. O livro dos rios. O livro dos guerrilheiros.
57 Terra sonâmbula. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra
Fonte: dados da pesquisa
157
ANEXO F - TABELA 5 – ASSUNTOS DAS PALAVRAS-CHAVE
(continua)
Assuntos das palavras-chave Total
Mia Couto 13
Memória 8
Literatura moçambicana 8
Identidade 8
Angola 5
Boaventura Cardoso 5
História 5
Literatura 5
Literatura angolana 5
Literatura cabo-verdiana 5
Literatura comparada 4
Narrativa 4
Poesia 4
Moçambique 3
Oralidade 3
Pepetela 3
Pós-colonialismo 3
Representação 3
Romance 3
Violência 3
Cabo Verde 2
Chinua Achebe 2
Conto 2
Escrita 2
Ficção 2
Gênero 2
Hibridação 2
Identidades 2
Literatura africana 2
Literatura angolana contemporânea 2
Literatura brasileira 2
Literaturas africanas 2
Literaturas de língua portuguesa 2
Luandino vieira 2
Memórias 2
Mulheres 2
Nação 2
O outro pé da sereia 2
Poesia moçambicana 2
158
Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave
(continua)
Reconstrução 2
Religiosidades 2
Ruy Duarte de Carvalho 2
Voz angolana 2
Abdulai Sila 2
África 1
Africanias 1
Africanidades 1
Água 1
Agualusa 1
América do Sul 1
Amilcar Cabral 1
Amor e guerra 1
Ancestrais 1
Angústia 1
Anticolonialismo em Angola 1
Antônio Callado 1
António Lobo Antunes 1
Arménio Vieira 1
Arnaldo Santos 1
Artes e ofícios 1
Atlântico pós-colonial 1
Atos de fingir: simulacro 1
Autoria feminina 1
Autoritarismo 1
Barack Obama 1
Bastardia 1
Brasil 1
Brasil claridade 1
Cabanagem 1
Campo literário 1
Candomblé como método de análise da literatura africana 1
Cantos de dançar 1
Capitão David 1
Chiquinho 1
Chris Marker 1
Ciência: ficção 1
Colonizador-colonizado 1
Comandante Hussi 1
Comissão das lágrimas 1
159
Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave
(continua)
Comunitarismo cultural 1
Condição feminina 1
Construções identitárias 1
Contos 1
Devir 1
Diálogo 1
Diáspora africana 1
Dina Salústio 1
Ditadura militar 1
Dramaturgia angolana 1
Elites 1
Epistemologia descolonial 1
Epistolariedade 1
Escritas 1
Escritura de autoria feminina 1
Espaço 1
Espaço e tempo na literatura 1
Espaço literário 1
Estética 1
Estória 1
Estrutura 1
Estudo de personagens 1
Estudo dos personagens em Pepetela 1
Estudos narrativos 1
Etnicidade 1
Ex-cêntrico 1
Exclusão 1
Exílio 1
Fátima Bettencourt 1
Feminino 1
Ficção: história 1
Figuração de personagens 1
Filinto Elísio 1
Geopoética 1
Grotesco 1
Guerra civil 1
160
Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave
(continua)
Guerra colonial 1
Guerra de libertação 1
Guerra fria 1
Guerra moçambicana 1
Guerras 1
Guiné-Bissau 1
Hermenêutica do cotidiano 1
Hipertextualidade 1
História da literatura 1
Histórias 1
Historiografia 1
Identidade cultural 1
Identidade nacional 1
Imanência 1
Insólito ficcional 1
Instinto de nacionalidade 1
Intelectual e política 1
Intertextualidade 1
Ironia 1
Ironia e intertextualidade 1
Ironia: humor 1
Ivone ainda 1
João Maimona 1
João Paulo Borges Coelho 1
José Luandino Vieira 1
Juvenal Bucuane 1
Lealdade 1
Língua 1
Literatura africana (português) 1
Literatura africana de língua portuguesa 1
Literatura contemporânea 1
Literatura de língua portuguesa 1
Literatura e história 1
Literatura e história angolanas 1
Literatura engajada 1
Literatura guineense 1
Literatura guineense: crítica e interpretação 1
Literatura portuguesa 1
Literaturas africanas de língua portuguesa 1
Livro didático 1
Lugares de memória 1
Luís Carlos Patraquim: profanação 1
161
Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave
(continua) Manuel Rui 1
Matriz poética 1
Mês de Maria 1
Metaficção historiográfica 1
Mimesis 1
Mito 1
Moçambique 1
Morte do romance 1
Movimentos intelectuais em angola 1
Mulher 1
Mulheres negras 1
Mundos possíveis 1
Nação em África 1
Narrador 1
Narrativa contemporânea angolana 1
Narrativas bissau-guineenses 1
Narrativas de fundação 1
Ngugi wa thiong'o 1
O real como impossível de ser simbolizado 1
O segredo da morta 1
Obra de Pepetela 1
Obra poética 1
Obra-mundo 1
Oratura 1
Orlanda Amarílis 1
Pacto faústico 1
Paisagens literárias 1
Palavra 1
Paradigma 1
Patrick Chamoiseau 1
Paulina Chiziane 1
Paulina Chiziane: loucura 1
Percepção 1
Personagem 1
Personagens-guerrilheiros 1
Poesia contemporânea 1
Poesia lusófona: Ana Luísa Amaral 1
Poética 1
Portugal 1
Portugal e angola 1
Pós-colonial 1
Pós-colonialidade 1
Pós-independência 1
162
Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave
(conclusão)
Processos históricos 1
Próspero e Caliban 1
Protagonismo feminino 1
Psicanálise e literatura 1
Psicanálise lacaniana 1
Realidades periférica 1
Relações raciais 1
Religião 1
Religiões de matriz africana 1
Religiosidade 1
Resistência-violência 1
Romance angolano 1
Romance contemporâneo 1
Romance moçambicano 1
Romances 1
Sagas familiares 1
Sagrado 1
Salgado Maranhão 1
Sans Soleil 1
Sentidos 1
Sistema literário
1
Subalternidade 1
Sujeito hibrido 1
Sujeitos discursivos 1
Tempo 1
Teolinda Gersão 1
Teoria literária 1
Testemunho 1
Testemunho feminino 1
Things fall apart 1
Tradição 1
Tradições negras 1
Tradições orais 1
Trágico 1
Transfiguração do passado 1
Trauma 1
Viagem 1
Total geral 344