O QUE DEVEMOS APRENDERCOM A ACTUAL CRISE FINANCEIRA?
Júlio LobãoFaculdade de Ciências Empresariais
Universidade Lusíada de V.N. Famalicão17 de Março de 2009
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1. Regulação bancária: objectivos e instrumentos
2. Crise do Subprime: eclosão, desenvolvimentos, consequências
3. Lições para a regulação financeira
ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO
Três partes:
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Regulação Bancária
- Objectivos e instrumentos -
PARTE 1
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• Nos últimos 25 anos, 93 países foram afectados por 117 crises sistémicas e 51 crises menores
• Crises afectam tanto países desenvolvidos como economias emergentes
Regulação Bancária
Crises financeiras são comuns
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• Ligação eficiente entre aforradores e investidores
• Aprovação dos créditos com base nos seus méritos
Regulação Bancária
Crises afectam funções do sistema financeiro
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• Nos períodos que antecedem crises financiam-se projectos imerecidamente
• Colapso do sistema financeiro afecta toda a economia
• É impossível ter economia saudável com sistema financeiro debilitado
Regulação Bancária
Sistemas financeiros são frágeis e vulneráveis a crises
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• Há interesse público no funcionamento correcto do sistema financeiro
• Bancos servem funções essenciais para economia:– proporcionam acesso aos sistemas de pagamentos– monitorizam devedores para reduzir problemas de informação
Regulação Bancária
Sistema bancário é fortemente regulado
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• Bancos garantem levantamentos por ordem de chegada
• Rumores de insolvência (reais ou imaginários) geram corridas aos bancos– depositantes ignoram fundos de garantia dos depósitos
• Corrida aos bancos pode provocar insolvência– expectativas auto-realizadas
Regulação Bancária
Origem da fragilidade dos bancos
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• Não interessa se banco é solvente mas se tem liquidez– Liquidez: possui reservas e activos líquidos suficientes para
responder aos levantamentos – Solvência: valor dos activos excede responsabilidades
Regulação Bancária
Na situação de corrida aos bancos
10/50Regulação Bancária
1929
11/50Regulação Bancária
2008/09
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• É importante evitar que falência de um banco cause desconfiança generalizada em relação ao sector– Perigo de contágio, efeito sistémico– Efeito de políticas too-big-to-fail
• Bancos são instituições opacas para depositantes– Assimetria de informação
Regulação Bancária
Autoridades têm interesse na regulação
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• Recessão afecta bancos porque taxas de incumprimento aumentam– Desemprego aumenta, preços dos activos de garantia
diminuem– Volume de empréstimos diminui o que agrava recessão
Regulação Bancária
Autoridades têm interesse na regulação
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• Protecção dos investidores– Opacidade das instituições
• Protecção dos clientes dos bancos face a excessivo poder de mercado das instituições
• Garantia de estabilidade financeira dos sistemas bancários– Risco de liquidez– Assimetria de informação
Regulação Bancária
Razões para regulação bancária
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• Função de prestamista de última instância– Empréstimos a bancos com levantamentos vultuosos e rápidos– Bancos são interdependentes através do mercado monetário
interbancário e de participações cruzadas– Reduz, mas não elimina contágio– É difícil distinguir banco com falta de liquidez de banco insolvente
• Garantia dos depósitos– Garantia dos depósitos até determinado montante no caso de falência
do banco– Efeitos de risco moral nos depositantes
Regulação Bancária
Estratégias de actuação das Autoridades
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• Nível adequado de competição entre bancos– Competição “excessiva” pode provocar falências– Competição “insuficiente” permite exploração do poder de
mercado
• Imposição de rácios de solvabilidade
• Obrigatoriedade de prestação de informação aos clientes, mercados financeiros e reguladores
• Processo de supervisão contínua
Regulação Bancária
Estratégias de actuação das Autoridades
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Crise do Subprime
- Eclosão, desenvolvimentos, consequências -
PARTE 2
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• Taxas de juro muito baixas durante última década– Criou-se expectativa de que continuariam baixas
• Bancos compensaram perdas resultantes da baixa taxa de juro com aumento do volume de crédito– Menor aversão ao risco fez aumentar exposição das carteiras
ao risco de crédito
• Particulares endividaram-se crescentemente
Crise do Subprime
Ciclo do crédito
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• Permitiu retirar os créditos concedidos do balanço dos bancos– Taxa de titularização dos créditos situava-se em 15% na
Europa e em 45% nos EUA
• Alienação dos títulos permitiu aos bancos concederem crédito de forma quase ilimitada
• Créditos titulados foram adquiridos por bancos de todo o Mundo recorrendo, por vezes, ao crédito
Crise do Subprime
Titularização dos créditos (originate to distribute)
20/50Crise do Subprime
Volume de titularização dos créditos na União Europeia (milhares de milhões de euros)
21/50
• Inovações financeiras e expansão do crédito fizeram crescer os activos financeiros– Representavam, nos anos 70, 50% do PIB mundial e em 2007
cerca de 400%
• Sofisticação crescente dos produtos não foi acompanhada pela supervisão
• Amplificação dos efeitos da política monetária expansionista nas taxas de juro de mercado que se seguiu à bolha especulativa das empresas tecnológicas em 2000/2001
• Globalização das carteiras traz novos canais de contágio– Ilusão de diversificação
Crise do Subprime
Desenvolvimento dos mercados financeiros
22/50Crise do Subprime
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “Banking Crises: An Equal Opportunity Menace”, NBER WP 14587
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• Em 2006, preços da habitação nos EUA começam a cair– Taxa de incumprimento do crédito à habitação dos particulares
inicia tendência de subida
• Créditos titulados foram colocados em causa– Preços de mercado dos títulos fortemente afectados– Perdas com impacto em investidores de todo o Mundo
• Bancos tiveram que vender outros activos para fazer face àrenovação dos empréstimos garantidos com títulos baseados no subprime– Contracção do balanço dos bancos– Redução da capacidade de crédito
Crise do Subprime
Eclosão da crise do Subprime
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• Conjugação de dois factores que interagem:– Montantes substanciais de activos no balanço com exposição
ao risco do subprime– Financiamento desses e de outros activos arriscados com
empréstimos de curto prazo
• Surgimento da crise bancária– Torna-se difícil renovar empréstimos de curto prazo garantidos
por activos baseados no subprime– Venda “forçada” de activos para os quais não se consegue
financiamento pressiona preços de mercado
Crise do Subprime
Problemas nos bancos
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• Surgimento da crise bancária (cont.)– Perdas sofridas pressionam o capital dos bancos dificultando
ainda mais a obtenção de empréstimos de curto prazo– Bancos diminuem os créditos concedidos para conservar
liquidez desacelerando a actividade económica
• Efeito de transmissão entre bancos– Venda de activos pelo banco A provoca externalidades
negativas no banco B forçando-o a vender também– Criou-se ciclo vicioso difícil de ser quebrado
Crise do Subprime
Problemas nos bancos
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• Dificuldade de identificação de bancos com títulos relacionados com mercado imobiliário gera onda de desconfiança
• BCE passa a ser intermediário no mercado monetário interbancário
• BCE cede fundos aos bancos mas absorve ainda mais fundos– Bancos têm liquidez mas preferem depositá-la a taxas baixas
junto do BCE (200 mil milhões de euros remunerados a 0,5%)
Crise do Subprime
Crise bancária obriga a intervenção
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• Recapitalização via mercados financeiros, em alternativa a venda de activos, não é posta em prática– Emissão de novas acções em mercados de capitais em queda
não é considerada– Entende-se como sinal de fraqueza e de falta de confiança
Crise do Subprime
Mercados financeiros não proporcionam saída
28/50Crise do Subprime
Magnitude da crise bancária
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “Banking Crises: An Equal Opportunity Menace”, NBER WP 14587
29/50Crise do Subprime
Evolução no preço das habitações (variação anual em percentagem)
Consequências da crise bancária
30/50Crise do Subprime
Evolução dos empréstimos para compra de habitação na zona euro (variação mensal em percentagem)
Consequências da crise bancária
31/50Crise do Subprime
Rendibilidade anual do índice Standard & Poor's foi uma das mais baixas desde 1825
Consequências da crise bancária
32/50Crise do Subprime
Rendibilidade comparada com quatro tendências longas de queda (S&P500)Consequências da crise bancária
33/50Crise do Subprime
Queda no preço das habitações (do máximo ao mínimo) e duração da queda
Consequências da crise bancária
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “The Aftermath of Financial Crises”, WP
34/50Crise do Subprime
Queda no preço das acções (do máximo ao mínimo) e duração da quedaConsequências da crise bancária
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “The Aftermath of Financial Crises”, WP
35/50Crise do Subprime
Aumento no desemprego em p.p. (do máximo ao mínimo) e duração do aumentoConsequências da crise bancária
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “The Aftermath of Financial Crises”, WP
36/50Crise do Subprime
Redução no PIB (do máximo ao mínimo) e duração da quedaConsequências da crise bancária
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “The Aftermath of Financial Crises”, WP
37/50Crise do Subprime
Aumento cumulativo da dívida pública em termos reais nos 3 anos subsequentesConsequências da crise bancária
Fonte: K. Rogoff e C. Reinhart (2008), “The Aftermath of Financial Crises”, WP
38/50Crise do Subprime
Custos das crises bancárias (em % do PIB)
Consequências da crise bancária
55,3%42,0%
31,0%25,0%
17,0%14,0%
13,5%10,0%
5,0%4,7%
18,0%55,0%
34,8%28,0%
4,0%3,2%
11,2%6,4%
30,0%17,0%
24,0%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%
Argentina (1980-82)Chile (1981-83)
Uruguai (1981-84)Costa do Marfim
Senegal (1988-91)Bulgária (1990s)
Méx ico (1995)Hungria (1991-95)
Sri-Lanka (1989-93)Malásia (1985-88)
Venezuela (1994-95)Indonésia 1997-2002)Tailândia (1997-2002)
Coreia (1997-2002)Noruega (1987-93)
EUA (1984-91)Finlândia (1991-94)
Suécia (1991)Israel (1977-83)
Espanha (1977-85)Japão (1991-2002)
Fonte: Caprio e Klingebiel (2003), “Episodes of Systemic and Borderline Financial Crises”, World Bank WP
39/50Crise do Subprime
Aumento do risco de crédito: spread dos Credit Default Swaps da Dívida do Tesouro (em p.b.)
Consequências da crise bancária
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• Enquanto preços das habitações nos EUA continuarem a descer existem incentivos para que famílias mais vulneráveis entrem em incumprimento
• valor da garantia do crédito é inferior à dívida
Crise do Subprime
41/50
Lições para a Regulação Financeira
PARTE 3
42/50
• Agências de rating– Subestimaram risco nos produtos de crédito estruturado– Utilizaram instrumentos clássicos de avaliação de obrigações
aos novos produtos financeiros– Incentivos levam a conflito de interesses
• Pagas para aconselhar emitente da melhor forma de estruturar produtos
• Pagas para atribuir classificação aos produtos
Lições para a Regulação Financeira
Falhas em várias instâncias
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• Gestão de risco das instituições– Risco de crédito e risco de liquidez aumentaram para além do
aceitável– Remunerações indexadas ao volume de crédito concedido e
não à capacidade para cobrar créditos– Desempenho dos gestores avaliado em termos relativos– Ausência de diversidade que favoreça concorrência
• Disciplina de mercado– Opacidade das instituições bancárias– Complexidade dos instrumentos financeiros– Restrições às práticas de crédito através do mercado não são
efectivas
Lições para a Regulação Financeira
Falhas em várias instâncias
44/50
• Reguladores– Ultrapassados pelos acontecimentos– Veículos fora do balanço permitiram tomada excessiva de risco– Ausência de organismo de regulação global
• BIS, FMI e FSF não cumprem função de regulação suficiente– Desenho de regulação nos EUA desadequado
• Responsabilidades de regulação repartidas pelos 50 estados• Bancos de investimento fora do perímetro de regulação da
Securities and Exchange Commission (SEC)
Lições para a Regulação Financeira
Falhas em várias instâncias
45/50
• Agências de rating– Melhorar metodologias de avaliação de produtos estruturados– Introdução de uma escala diferente para produtos estruturados– Submeter agências de rating à supervisão pública
• Regulação dos mercados financeiros– Maior estandardização dos produtos derivados OTC e sua
integração em bolsas organizadas• Melhora qualidade da informação
– Maior atenção às manipulações de mercado, mais frequentes e graves quando incerteza é superior
– Uniformização da legislação de regulação europeia• Supervisão local
Lições para a Regulação Financeira
Medidas a tomar
46/50
• Regulação e supervisão bancária– Especialização das instituições de supervisão nos mercados
financeiros e nas instituições bancárias favorece o modelo dual– Fortalecimento da supervisão prudencial do Capital, da
Liquidez e da Gestão do Risco (revisão de Basileia II)• Aumento de requisitos de capital para produtos estruturados• Quando critérios não forem satisfeitos deve ser exigido mais
liquidez e capital– Obrigação de avaliação rigorosa de capacidade do devedor
antes de renovação dos empréstimos– Atribuir maior importância aos controlos internos dos bancos
Lições para a Regulação Financeira
Medidas a tomar
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• Regulação e supervisão bancária (cont.)– Obrigação reforçada de divulgação de informação (pilar III de
Basileia II)• Em particular, acerca dos produtos estruturados e activos pouco
líquidos– Introdução de rácios de solvabilidade e provisionamento
dinâmicos, que variem com ciclo económico
Lições para a Regulação Financeira
Medidas a tomar
48/50
• Regulação e supervisão bancária (cont.)– Atenuar risco moral
• Modelos de remuneração curto prazo vs. longo prazo• Relação entre accionistas e administradores
– Avanços na coordenação internacional na supervisão bancária• Maior regulação dos off-shore
Lições para a Regulação Financeira
Medidas a tomar
49/50
• Por muito que a regulação evolua, as crises não terminarão– Com qualquer sistema de regras, existem sempre profissionais
muito bem pagos para conceber estratégias de assunção dos riscos que querem da forma mais barata possível
Lições para a Regulação Financeira
Mas…
50/50O QUE DEVEMOS APRENDER COM A ACTUAL
CRISE FINANCEIRA?
FIM