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23 DE OUTUBRO DE 2005
José Bilczewski
Nasceu no dia 26 de Abril de 1860 em Wilamowice (Polónia). Era o primeiro
dos nove filhos de Francisco e Ana Fajkisz, uma família de camponeses, onde desde
cedo aprendeu as orações e as primeiras noções do catecismo, fazendo nascer nele a fé
viva que o acompanhará durante toda a vida.
Em 1872, terminados os estudos primários, os pais mandaram José ao ginásio na
cidade de Wadowice, onde muitos anos mais tarde estudou também João Paulo II. Ele
dedicou-se com muito empenho aos estudos, obtendo óptimos resultados. Nesse período
participava quotidianamente e com devoção nas celebrações na igreja paroquial e
decidiu entrar no Seminário Diocesano de Cracóvia, onde desenvolveu ainda mais o
espírito de devoção, aprofundando a sua formação humana e espiritual. Recebeu a
Ordenação sacerdotal a 6 de Julho de 1884. Depois de um ano de trabalho pastoral com
grande zelo e dedicação foi enviado a prosseguir os estudos primeiro em Viena, e em
seguida, em Roma e Paris. Trabalhou durante muito tempo como professor de
Dogmática Especial na Universidade de Leópolis. Foi nomeado Arcebispo de Leópolis
para o rito latino em 17 de Dezembro de 1900 e recebeu a Ordenação episcopal a 20 de
Janeiro de 1901.
Ao amor a Cristo Senhor e à sua Igreja ele soube unir o amor à Pátria. Ele hauria
este amor universal do Coração de Jesus, do qual aprendeu não só a mansidão, a
humildade e a bondade, mas também a paciência nas provações que enfrentou. Faleceu
na sua Arquidiocese, no dia 20 de Março de 1923, depois de se ter preparado
santamente para a morte, que ele soube acolher com paz e submissão, como sinal da
vontade de Deus.
Caetano Catanoso
Cultor e apóstolo da Sagrada Face de Cristo, era animado por uma fervorosa e
incansável caridade pastoral. Nasceu em Chorio de San Lorenzo (Itália), no dia 14 de
Fevereiro de 1879, numa família profundamente cristã. Com a idade de 10 anos,
sentindo a vocação ao sacerdócio, entrou no Seminário arquiepiscopal de Régio.
Recebeu a Ordenação sacerdotal em 20 de Setembro de 1902. Naquela ocasião
manifestou publicamente o propósito de ser um digno ministro de Cristo. Fez então a
promessa de jamais cometer algum pecado deliberado e de estar na presença de Deus
todos os instantes da vida.
Em 1904 foi nomeado pároco de Pentidattilo, um vilarejo onde prosperava
somente a pobreza, o analfabetismo e a ignorância religiosa, e as pessoas viviam no
silêncio o drama da marginalização e da prepotência. Ele dedicou-se imediata e
inteiramente à missão de pastor, compartilhando com todos as privações, as angústias,
as alegrias e as dores da sua gente.
Desde então o povo identificou nele o carisma da paternidade e espontaneamente
começou a chamá-lo "pai", apelativo que melhor qualificava a sua personalidade
sacerdotal e pastoral.
Foi inflamado pela devoção à Sagrada Face sofredora do Senhor e abraçou a
missão de defender o culto da mesma entre os povos. Em 1919 instituiu em Pentidattilo
a Pia União da Sagrada Face, e em 1934 fundou a Congregação das Irmãs Verónicas da
Sagrada Face, aprovada canonicamente em 1953. Com o conforto dos sacramentos,
morreu santamente a 4 de Abril de 1963, em Régio, na Casa Matriz da Congregação que
ele tinha fundado. Hoje a sua vida doada produz muitos frutos.
Sigismundo Gorazdowski
SIGISMUNDO GORAZDOWSKI nasceu em Sanok (Polônia), a primeiro de
novembro de mil oitocentos e quarenta e cinco, numa família, onde se valorizava e
respeitava muito os princípios da religião católica. De saúde frágil desde a infância,
desejou ajudar aos outros doentes e por isso, após concluir o ensino de segundo grau,
entrou na faculdade de direito da Universidade de Lwow. Já estudante de segundo ano,
descobriu a vocação para o sacerdócio, interrompendo o curso de direito, entrou para o
Seminário Maior em Lwow. Lá experimentou uma prova de fé: a doença evoluiu a tal
ponto, agravando o seu estado de saúde com risco de vida e, por isso, foi suspensa a sua
ordenação sacerdotal. Os seus amigos, vendo esse drama pessoal, escreveram em suas
memórias: «A não admissão à ordenação sacerdotal foi para Sigismundo um golpe
muito doloroso, sofreu moral e fisicamente, mas não perdeu a confiança no Senhor
Deus». Dois anos depois, o seu estado de saúde melhorou tanto, que pôde receber o
Sacramento da Ordem na Catedral de Lwow, no dia 25 de julho de 1871.
Único desejo do beato Sigismundo Gorazdowski foi: «ser tudo para todos, para
salvar pelo menos um».
Já nas primeiras paróquias que ocupou deixou que fosse reconhecido nele um
carisma excepcional de unir o trabalho sacerdotal com o trabalho caritativo.
Descobrindo a grande pobreza espiritual de seus fiéis e várias dificuldades no anúncio
da mensagem evangélica, elaborou e editou «Catecismo , que teve a tiragem de mais de
cinqüenta mil exemplares. Para os jovens de ambos os sexos também preparou e editou
«Conselhos e Admoestações». Valorizando muito os dons dos santos Sacramentos,
especialmente o da Eucaristia, iniciou na arquidiocese de Lwow a prática da Primeira
Comunhão comunitária para as crianças. Foi também o grande propagador de
lembranças da primeira comunhão e do sacramento da crisma. Padre Sigismundo, a
exemplo de Cristo, esforçou-se para nunca excluir ninguém de sua ação caritativa,
especialmente os marginalizados pela sociedade. Como por exemplo, durante a grande
epidemia de cólera, esquecendo-se de si mesmo, corria com o seu serviço sacerdotal e
ajuda material, colocando com suas próprias mãos as vítimas fatais nas urnas funerárias.
Até os judeus, com admiração, beijavam sua roupa, vendo nele um homem santo.
Em 1877, pe Sigismundo iniciou suas atividades sacerdotais e beneficentes em
Lwow. Como vigário, administrador paroquial e depois pároco, assumiu o trabalho de
catequista em várias escolas. Continuou engajado no seu trabalho de editor e redator.
Conseguiu mais tiragens de seu «Catecismo », preparou e editou « Princípios e Normas
de Boa Educação » para os pais e educadores. Publicou também muitos artigos,
principalmente pastorais, sociais e pedagógicos. Criou a «Sociedade Bom Pastor » para
auxiliar os sacerdotes e uma revista com o mesmo título.
Durante o seu mandato de secretário do Instituto dos Cristãos Pobres em Lwow,
fundou a Casa de Trabalho Benévolo para os mendigos sem lar, onde se encontravam
também as crianças. Como consta nos Relatórios dessa Casa, «muitos
pobres...abandonaram a mendicância e, recuperando a sua dignidade, voltaram à vida
decente». Da iniciativa do pe. Sigismundo, conhecido cada vez mais como «Padre dos
Mendigos» e « Pai dos Pobres », começou a funcionar em Lwow a «Cozinha Popular»,
servindo refeições a baixo custo aos trabalhadores, estudantes, crianças e aos pobres da
cidade.
O abrigo para Incuráveis e Convalescentes foi uma obra de misericórdia cristã
em resposta às necessidades de pessoas sofredoras e doentes, vítimas de uma lei do
governo, que obrigava os enfermos a abandonarem o hospital após seis semanas de
internação, independentemente do estado de saúde. Escreveram na época do padre
Gorazdowski: «Quando ninguém soube acolher os infelizes e doentes desenganados...
ele pensou em construir um Abrigo aos infelizes ».
Pe. Sigismundo fundou também, para os pobres estudantes de escola
pedagógica, «Internato de São Josafá» que foi responsável pela formação de vários
ilustres da época.
Não se pode esquecer do «Instituto Menino Jesus» para as mães solteiras e as
crianças abandonadas, onde foram salvas cerca de 3.000 crianças e inúmeras mães.
Pe. Sigismundo atuou ainda na Sociedade de Santa Salomé, auxiliando as viúvas
pobres com seus filhos e também na Sociedade das costureiras pobres. Foi co-fundador
da Associação das Sociedades Beneficentes na Galícia que coordenava e dirigia todas as
obras cristãs de misericórdia.
O beato, para proteger as crianças católicas da indiferença e do ateísmo, fundou
a Escola Católica polono-alemã e confiou a sua direção aos Irmãos das escolas cristãs.
Respondendo ao apelo do Santo Padre para editar e propagar jornais e revistas a baixo
custo para o povo, iniciou a publicação do Jornal Diário.
A fundação da escola e publicação do jornal enfrentaram grande oposição dos
inimigos da Igreja, o que proporcionou muitas aflições, sofrimentos, incompreensões e
humilhações ao padre Sigismundo, praticamente até a sua morte.
Para dirigir a maioria de suas obras beneficentes, padre Sigismundo engajou as
terciárias franciscanas, preocupando-se com a sua formação adequada e aprovação
eclesiástica como Congregação das Irmãs de São José (irmãs josefinas). O dia 17 de
fevereiro de 1884 é a data oficial de sua fundação. À medida que a Congregação
crescia, o fundador ia introduzindo as irmãs no serviço aos necessitados, nos hospitais,
orfanatos, jardins de infância, recomendando também a assistência aos doentes em casas
particulares. Ele mesmo tornou-se um exemplo para as irmãs na união com Deus pela
oração e na dedicação heróica aos necessitados, de onde vem o lema, amadurecido cada
vez mais na vida da Congregação: «coração em Deus, mãos ao trabalho ». A
Congregação das Irmãs de São José, fiel ao carisma de seu Fundador, dirige institutos
educacionais, engaja-se no trabalho catequético, serve aos doentes, sofredores e vítimas
de todo tipo de pobreza. A Congregação atua na Polônia, Alemanha, França, Itália,
Ucrânia e nas missões da África e da América do Sul.
Sigismundo Gorazdowski morreu no dia 1° de janeiro de 1920 em Lwow. Na
época, se dizia que ele era «o olho do cego, a perna do coxo e o pai dos pobres ». Seu
processo de beatificação foi iniciado em 1989. No dia 26 de junho de 2001 o Santo
Padre João Paulo II beatificou esse Apóstolo da Misericórdia Divina, cuja memória é
celebrada no dia 26 de junho.
Alberto Hurtado Cruchaga
Nasceu em Viña del Mar (Chile), no dia 22 de Janeiro de 1901. Aos quatro anos
perdeu o pai e foi obrigado a experimentar a pobreza, pois a mãe teve que vender a sua
modesta propriedade para pagar as dívidas. Contudo, graças a uma bolsa de estudos, ele
pôde frequentar o Colégio dos Jesuítas em Santiago, onde se tornou membro da
Congregação Mariana, manifestando imediatamente um vivo interesse pelos pobres. No
dia 14 de Agosto de 1923 entrou no noviciado da Companhia de Jesus em Chillán e em
1925 foi mandado para Córdova (Argentina) para completar os estudos humanísticos.
Recebeu a Ordenação sacerdotal em Lovaina (Bélgica) no dia 24 de Agosto de 1933.
Retornou ao Chile em 1936 e iniciou o ensino de religião no Colégio Santo
Inácio e de pedagogia na Universidade Católica. Encarregado dos estudantes pela
Congregação Mariana, conseguiu envolvê-los na catequese para os pobres. Durante um
dos cursos de Exercícios, o Pe. Hurtado dirigiu um apelo aos participantes a favor dos
muitos pobres da cidade: o pedido foi prontamente acolhido e constituiu o começo da
iniciativa que o tornou especialmente conhecido El Hogar de Cristo ("O Lar de Cristo").
Tratava-se de uma forma de actividade caritativa que previa não só dar uma
acomodação aos desabrigados, mas ofecerer-lhes também um ambiente semelhante ao
da família, onde experimentar a bondade e o carinho.
Após ter passado a sua existência manifestando o amor de Cristo aos pobres, foi
chamado por Ele no dia 18 de Agosto de 1952.
Félix de Nicósia
Nasceu do matrimónio de Filipe Amoroso e Carmela Pirro, em Nicósia (Itália), a
5 de Novembro de 1715. A família era pobre mas muito religiosa.
A proximidade do convento dos Capuchinhos deu-lhe a possibilidade de
frequentar aquela comunidade, conhecer os religiosos e admirar o seu estilo de vida.
Ao frequentar o convento sentia-se cada vez mais fortemente atraído por aquela
vida: alegria na austeridade, liberdade na pobreza, penitência, oração, caridade e espírito
missionário. Quando completou vinte anos pediu ao Superior do Convento de Nicósia
para interceder junto do Padre Provincial de Messina a fim de que pudesse ser acolhido
na Ordem como leigo porque, dado que era analfabeto, não podia ser admitido como
clérigo, mas sobretudo porque aquele estado mais condizia à sua índole humilde e
simples. Recebeu resposta negativa não só então mas também às repetidas solicitações
nos oito anos sucessivos. Contudo o seu desejo nunca diminuiu.
Em 1743, ao saber que o Padre Provincial de Messina estava em Nicósia para
uma visita, pediu para lhe expor o seu desejo. Finalmente o Provincial acolheu-o na
Ordem, enviando-o ao Convento de Mistretta para o ano de noviciado. No dia 10 de
Outubro de 1744 emitiu a profissão.
Foi devoto de Jesus Crucificado e teve um culto particular pela Eucaristia.
Concluiu a sua vida terrena no dia 31 de Maio de 1787. Foi beatificado pelo Papa Leão
XIII a 12 de Fevereiro de 1888.
Homilia do Papa Bento XVI
Neste XXX Domingo do tempo comum, a nossa Celebração eucarística
enriquece-se de diversos motivos de agradecimento e de súplica a Deus. Concluem-se
contemporaneamente o Ano da Eucaristia e a Assembleia Ordinária do Sínodo dos
Bispos, dedicada precisamente ao mistério eucarístico na vida e na missão da Igreja,
enquanto serão daqui a pouco proclamados santos cinco Beatos: o Bispo José
Bilczewski, os presbíteros Caetano Catanoso, Sigismundo Gorazdowski e Alberto
Hurtado Cruchaga, e o religioso Capuchinho Félix de Nicósia. Além disso celebra-se
hoje o Dia Missionário Mundial, encontro anual que desperta na Comunidade eclesial o
impulso para a missão. Dirijo com alegria a minha saudação a todos os presentes, aos
Padres Sinodais em primeiro lugar, e depois aos peregrinos vindos de várias nações,
juntamente com os seus Pastores, para festejar os novos Santos. A liturgia de hoje
convida-nos a contemplar a Eucaristia como fonte de santidade e alimento espiritual
para a nossa missão no mundo: este sumo "dom e mistério" manifesta e comunica a
plenitude do amor de Deus.
A Palavra do Senhor, que há pouco ressoou no Evangelho, recorda-nos que no
amor se resume toda a lei divina. O dúplice mandamento do amor de Deus e do próximo
contém os dois aspectos de um único dinamismo do coração e da vida. Assim, Jesus
leva a cumprimento a revelação antiga, sem acrescentar um mandamento inédito, mas
realizando em si mesmo e na própria acção salvífica a síntese viva das duas grandes
palavras da antiga Aliança: "Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração..." e
"Amarás o próximo como a ti mesmo" (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). Na Eucaristia nós
contemplamos o Sacramento desta síntese viva da lei: Cristo entrega-nos em si mesmo
a plena realização do amor a Deus e do amor aos irmãos. Ele comunica-nos este seu
amor quando nos alimentamos do seu Corpo e do seu Sangue. Pode então realizar-se em
nós quanto escreve São Paulo aos Tessalonicenses na segunda Leitura de hoje:
"convertestes-vos dos ídolos de Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro" (1 Ts 1,
9). Esta conversão é o princípio do caminho de santidade que o cristão está chamado a
realizar na sua existência. O santo é aquele que, sentindo-se de tal forma atraído pela
beleza de Deus e pela sua perfeita verdade, progressivamente por ele é transformado.
Por esta beleza e verdade está pronto a renunciar a tudo, também a si mesmo. Para ele é
suficiente o amor de Deus, que experimenta no serviço humilde e abnegado do próximo,
sobretudo de quantos não são capazes de retribuir. Como é providencial, nesta
perspectiva, o facto de que hoje a Igreja indique a todos os seus membros cinco novos
Santos que, alimentados por Cristo, Pão vivo, se converteram ao amor e por ele
orientaram toda a sua existência! Em diversas situações e com vários carismas, eles
amaram o Senhor com todo o coração e ao próximo como a si mesmos "tendo-vos assim
tornado modelo para todos os crentes" (1 Ts 1, 6-7).
O santo José Bilczewski foi um homem de oração. A Santa Missa, a Liturgia das
Horas, a meditação, o rosário e as outras práticas de piedade marcavam as suas
jornadas. Dedicava um tempo particularmente longo à adoração eucarística.
Também o santo Sigismundo Gorazdowski se tornou famoso pela devoção
fundada na celebração e na adoração da Eucaristia. Viver a oferta de Cristo estimulou-o
a dedicar-se aos doentes, aos pobres e aos necessitados.
O profundo conhecimento teológico, a fé e a devoção eucarística de José
Bilczeski fizeram dele um exemplo para os sacerdotes e uma testemunha para todos os
fiéis.
Sigismundo Gorazdowski, ao fundar a Associação dos sacerdotes, a
Congregação das Irmãs de São José e muitas outras instituições caritativas, deixou-se
sempre guiar pelo espírito de comunhão, que se revela plenamente na Eucaristia.
"Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração... Amarás o teu próximo
como a ti mesmo" (Mt 22, 37.39). Foi este o programa de vida do santo Alberto
Hurtado, que se quis identificar com o Senhor e amar os pobres com o seu amor. A
formação que recebeu na Companhia de Jesus, consolidada pela oração e pela adoração
da Eucaristia, levou-o a deixar-se conquistar por Cristo, sendo um verdadeiro
contemplativo na acção. No amor e na entrega total à vontade de Deus encontrou a força
para o apostolado. Fundou El Hogar de Cristo para os mais necessitados e para os sem-
tecto, oferecendo-lhes um ambiente familiar cheio de calor humano. No seu ministério
sacerdotal ele sobressaía pela sua sensibilidade e disponibilidade para com o próximo,
sendo uma imagem viva do mestre "manso e humilde de coração". No final dos seus
dias, entre as grandes dores da enfermidade, ainda teve forças para repetir: "Estou
contente, Senhor, estou contente", expressando assim a alegria com que sempre viveu.
São Caetano Catanoso foi cultor e apóstolo da Sagrada Face de Cristo. "A
Sagrada Face afirmava é a vida. Ele é a minha força". Com uma feliz intuição ele
conjugou esta devoção à piedade eucarística. Assim se expressava: "Se queremos
adorar a Face real de Jesus... encontramo-lo na divina Eucaristia, onde o Corpo e
Sangue de Jesus Cristo se esconde sob o branco véu da Hóstia a Face de Nosso Senhor".
A Missa quotidiana e a frequente adoração do Sacramento do altar foram a alma do seu
sacerdócio: com fervor e incansável caridade pastoral ele dedicou-se à pregação, à
catequese, ao ministério das Confissões, aos pobres, aos doentes, ao cuidado das
vocações sacerdotais. Às Irmãs Verónicas da Sagrada Face, que ele fundou, transmitiu o
espírito de caridade, de humildade e de sacrifício, que animou toda a sua existência.
São Félix de Nicósia amava repetir em todas as circunstâncias, alegres e tristes:
"Seja por amor de Deus". Assim podemos compreender bem quanto era intensa e
concreta nele a experiência do amor de Deus revelado aos homens em Cristo. Este
humilde Frade capuchinho, ilustre filho da terra da Sicília, austero e penitente, fiel às
mais genuínas expressões da tradição franciscana, foi gradualmente plasmado e
transformado pelo amor de Deus, vivido e concretizado no amor ao próximo. Frei Félix
ajuda-nos a descobrir o valor das pequenas coisas que enriquecem a vida e ensina-nos a
colher o sentido da família e do serviço aos irmãos, mostrando-nos que a alegria
verdadeira e duradoura, pela qual aspira o coração de cada ser humano, é fruto do amor.
Queridos e venerados Padres Sinodais, durante três semanas vivemos juntos um
clima de renovado fervor eucarístico. Gostaria agora, convosco e em nome de todo o
Episcopado, de enviar uma saudação fraterna aos Bispos da Igreja na China. Com
profundo pesar sentimos a falta dos seus representantes. Contudo, desejo garantir a
todos os Prelados chineses que os acompanhamos com a oração, assim como aos seus
sacerdotes e fiéis. O difícil caminho das comunidades, confiadas aos seus cuidados
pastorais, está presente no nosso coração: ela não permanecerá sem fruto, porque é uma
participação no Mistério pascal, para glória do Pai. Os trabalhos sinodais permitiram
que aprofundássemos os aspectos salientes deste mistério dado à Igreja desde o início. A
contemplação da Eucaristia deve estimular todos os membros da Igreja, em primeiro
lugar os sacerdotes, ministros da Eucaristia, a reavivar o seu compromisso de fidelidade.
Sobre o mistério eucarístico, celebrado e adorado, funda-se o celibato que os presbíteros
receberam como dom precioso e sinal do amor indiviso a Deus e ao próximo. Também
para os leigos a espiritualidade eucarística deve ser o motor interior de todas as
actividades e dicotomia alguma é admissível entre a fé e a vida na sua missão de
animação cristã do mundo. Ao concluir-se o Ano da Eucaristia, como não dar graças a
Deus pelos numerosos dons concedidos à Igreja neste tempo? E como não retomar o
convite do amado Papa João Paulo II a "recomeçar a partir de Cristo"? Como os
discípulos de Emaús que, acalentados no coração pela palavra do Ressuscitado e
iluminados pela sua presença viva reconhecida ao partir do pão, regressaram sem
hesitações a Jerusalém e tornaram-se anunciadores da ressurreição de Cristo, também
nós retomamos o nosso caminho animados pelo desejo ardente de testemunhar o
mistério deste amor que dá esperança ao mundo.
Coloca-se bem nesta perspectiva eucarística o hodierno Dia Missionário
Mundial, para a qual o venerado Servo de Deus João Paulo II deu como tema de
reflexão: "Missão: Pão repartido para a vida do mundo". A Comunidade eclesial
quando celebra a Eucaristia, sobretudo no dia do Senhor, consciencializa-se cada vez
mais de que o sacrifício de Cristo é "para todos" (Mt 26, 28) e que a Eucaristia estimula
o cristão a ser "pão repartido" para os outros, a comprometer-se por um mundo mais
justo e fraterno. Ainda hoje, perante as multidões, Cristo continua a exortar os seus
discípulos: "dai-lhes vós mesmos de comer" (Mt 14, 16) e, em seu nome, os
missionários anunciam e testemunham o Evangelho, por vezes até com o sacrifício da
vida. Queridos amigos, todos devemos recomeçar a partir da Eucaristia. Ajuda-nos
Maria, Mulher eucarística, a inamorarmo-nos dela; ajuda-nos a "permanecer" no amor
de Cristo, para sermos por Ele intimamente renovados. Dócil à acção do Espírito e
atenta às necessidades dos homens, a Igreja será então, cada vez mais, farol de luz, de
verdadeira alegria e de esperança, realizando plenamente a sua missão de "sinal e
instrumento... da unidade de todo o género humano" (Lumen gentium, 1).
15 DE OUTUBRO DE 2006
Rafael Guízar Valencia (1878-1938)
Bispo de Veracruz (México), nasceu em Cotija no dia 26 de Abril de 1878.
Entrou no Seminário da Diocese de Zamora em 1894 e ali permaneceu até 1901, quando
foi ordenado Sacerdote aos 23 anos de idade. Celebrou a sua primeira missa na
Festividade de Corpus Christi daquele mesmo ano. Começou a acompanhar o Bispo de
Zamora, D. José Maria Cázares, nas visitas pastorais e com ele aprendeu a transformar
cada visita pastoral em "missão".
Foi director espiritual do Seminário de Zamora e cónego da Catedral. Fundou
uma Congregação sob o patrocínio de Nossa Senhora da Esperança.
Para D. Rafael Guízar "conquistar almas para Deus" era o grande desafio da sua
vida. Realizou-o mediante missões populares pregadas tanto no território mexicano
como em Cuba, na Guatemala, na Colômbia e no sul dos Estados Unidos.
No período da revolução de 1910 no México pôde praticar a caridade e difundir
a graça de Deus aos doentes e moribundos nos campos de batalha.
Durante o exílio em Cuba, foi nomeado Bispo de Veracruz. Recebeu a
Ordenação episcopal na cidade de Havana, a 30 de Novembro de 1919.
No dia 1 de Janeiro de 1920 partiu para Veracruz num navio chamado "A
Esperança", e dirigiu-se para Jalapa, sede do seu episcopado, para tomar posse a 9 de
Janeiro. Ao chegar à sua Diocese teve que enfrentar os terríveis danos provocados por
um terremoto que tinha devastado a área de Jalapa. D. Guízar organizou-se a fim de
levar ajuda a quantos tinham necessidade e visitou as regiões mais atingidas. Levou a
Palavra do Senhor e víveres para assistir as vítimas do sismo.
Como Bispo de Veracruz sofreu as consequências da perseguição religiosa no
México, suportando calúnias, maus-tratos, exílio e fome. Superou todas as dificuldades
graças à sua grande confiança em Deus e ao seu amor filial a Maria Santíssima.
A caridade pastoral, a pobreza, a humildade, a obediência e o espírito de
sacrifício foram algumas das virtudes que mais o caracterizaram.
Atingido por diversas enfermidades, foi chamado pelo Senhor no dia 6 de Junho
de 1938, enquanto estava na Cidade do México. Foi sepultado em Jalapa na presença de
muitíssimos fiéis, que lhe demonstraram dessa forma o amor e a gratidão pelo bem que
tinha prodigalizado durante a sua vida. O Servo de Deus João Paulo II, de venerada
memória, beatificou-o a 29 de Janeiro de 1995.
A Conferência Episcopal Mexicana nomeou-o o seu Padroeiro principal.
Filippo Smaldone (1848-1923)
Nasceu em Nápoles (Itália) a 27 de Julho de 1848. Quando tinha 12 anos, a
monarquia borbónica, à qual a sua família era muito ligada, sofreu a queda política, e a
Igreja, com a conquista de Garibaldi, conheceu momentos dramáticos com o exílio do
Cardeal Sisto Riario Sforza.
Certamente não eram tempos favoráveis e promissores, especialmente para a
juventude, que sofria as mudanças do novo período social, político e religioso.
Exactamente nesta fase de crise institucional e social, Filippo tomou a decisão
irrevocável de assumir o sacerdócio e de ligar-se para sempre ao serviço da Igreja.
Enquanto estudava filosofia e teologia, quis deixar uma marca de serviço caritativo na
sua carreira eclesiástica ao dedicar-se à assistência de uma categoria de sujeitos
marginalizados, muito numerosa e abandonada nessa época: os surdos.
Foi ordenado Sacerdote no dia 23 de Setembro de 1871. Iniciou um fervoroso
ministério sacerdotal como catequista, colaborador zelante em várias paróquias e
visitante assíduo de doentes. A sua caridade alcançou o auge da generosidade e do
heroísmo por ocasião de uma forte peste difundida em Nápoles, pela qual também ele
foi atingido, arriscando a vida, mas tendo sido curado por Nossa Senhora de Pompeia,
que se tornou a sua devoção predilecta por toda a vida.
Contudo, o cuidado pastoral privilegiado pelo Pe. Filippo Smaldone era pelos
surdos pobres, aos quais dedicou as suas energias com critérios mais idóneos e
convenientes do que aqueles aplicados no sector educativo da época. No dia 25 de
Março de 1885 partiu para Lecce a fim de abrir, junto com o Pe. Lorenzo Apicella, um
instituto para surdos. Acompanharam o Sacerdote algumas religiosas que ele formara
precedentemente, e desse modo, criou-se uma base para a fundação da Congregação das
Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações, que foi muito apoiada pelos bispos de Lecce
D. Salvatore Luigi dei Conti Zola e D. Gennaro Trama tendo, por consequência, uma
rápida e sólida expansão.
Por quase quarenta anos o Pe. Filippo Smaldone prodigalizou-se, sem nunca
esmorecer, para apoiar materialmente e educar moralmente os seus queridos surdos, os
quais amava com afecto e cuidado de pai; e para conformar à vida religiosa perfeita as
suas Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações.
Faleceu santamente no dia 4 de Junho de 1923, em Lecce, suportando com
admirável serenidade uma complicada doença, rodeado pelo afecto das suas Irmãs e dos
surdos.
Foi beatificado por João Paulo II em 12 de Maio de 1996.
Rosa Venerini (1656-1728)
Nasceu em Viterbo (Itália), a 9 de Fevereiro de 1656. Dotada de inteligência e
sensibilidade não comuns, Rosa tinha diante de si as escolhas possíveis à mulher do seu
tempo: o matrimónio ou a clausura. Contudo, ela privilegiava as escolhas corajosas,
para além dos modelos tradicionais, e na sua interioridade sentia a necessidade de uma
alternativa que fosse vantajosa para a sociedade e para a Igreja, mas não conseguia
identificá-la. Empregou muito tempo, no sofrimento e na busca, impelida por exigências
interiores proféticas, antes de chegar a uma solução totalmente inovativa, alimentando a
sua piedade enérgica e essencial na espiritualidade fervorosa de São Domingos, e na
espiritualidade austera e equilibrada de Santo Inácio de Loyola.
No Outono de 1676 entrou como externa no Mosteiro Dominicano de Santa
Catarina, para conhecer a vida claustral. Em virtude de tristes acontecimentos na família
ocorridos entre 1677 e 1680, teve que regressar a casa.
Tendo ficado sozinha em casa com o irmão Horácio, começou a convidar as
jovens e as senhoras da vizinhança para a recitação do Rosário; deu-se conta da pobreza
espiritual e cultural difundida na população e compreendeu a necessidade de uma
missão mais elevada, ou seja, a urgência de dedicar-se à instrução e à formação cristã
das jovens, com uma verdadeira escola.
Rosa Venerini, mulher decidida e cheia de boa vontade, não perdeu tempo. A 30
de Agosto de 1685, com a aprovação do Bispo de Viterbo, Card. Urbano Sacchetti,
abriu uma escola, coadjuvada por duas Mestras que tinham sido preparadas
anteriormente.
Nascia a Escola das Mestras Pias Venerini, a primeira escola feminina pública
na Itália. As origens eram humildes mas de alcance revolucionário pela elevação
espiritual e a sadia emancipação da mulher.
Rosa Venerini, numa incessante actividade, fundou Escolas em aldeias e cidades
de várias dioceses da Itália Central, sob contínuas solicitações de Cardeais, Bispos e
nobres.
Em 1714 escreveu e publicou um livro intitulado Relazione degli Esercizi que si
pratticano in Viterbo nelle Scuole destinate per istruire le Fanciulle nella Dottrina
Cristiana, com a finalidade de obter das Autoridades Eclesiásticas a aprovação do seu
método educativo.
Morreu em Roma, a 7 de Maio de 1728, com grande fama de santidade. Fundou
cinquenta Escolas que transmitiram nos séculos o seu carisma educativo e apostólico.
Théodore Guérin (1798-1856)
Nasceu em Etables (França), a 2 de Outubro de 1798. A sua devoção a Deus e à
Igreja Católica Romana manifestou-se quando ainda era menina. Aos dez anos recebeu
a Eucaristia pela primeira vez e confiou ao sacerdote da sua paróquia o desejo de se
tornar religiosa.
Durante a adolescência recebeu da mãe a instrução nos valores religiosos, com
lições baseadas nas Sagradas Escrituras, nutrindo cada vez mais o amor de Théodore a
Deus. A morte do pai foi um grande sofrimento para a família, sobretudo para a mãe, e
Théodore por muitos anos assumiu a responsabilidade dos cuidados da casa e da irmã
mais nova. Nesses anos de privações e sofrimentos, assim como em toda a sua vida, a fé
em Deus de Madre Théodore não conheceu esmorecimento nem hesitações. No fundo
da sua alma, sabia que Deus lhe estava próximo e que lhe estaria sempre ao lado.
Quando entrou na Congregação das Irmãs da Providência tinha quase 25 anos, e
logo foi encarregada de guiar uma pequena missão de Irmãs nos Estados Unidos, para
fundar uma casa-mãe, instituir escolas e levar o amor de Deus entre os pioneiros da
Diocese de Vincennes, em Indiana. Humilde e, segundo a sua opinião, indigna de tal
tarefa, ao contrário, Madre Théodore nunca podia imaginar que teria sido capaz de a
realizar até ao fim. A sua saúde era precária. Após ter sofrido uma grave doença, o seu
aparelho digestivo ficou irremediavelmente danificado. As suas frágeis condições
físicas tornavam-na hesitante em relação à aceitação da missão. Todavia, depois de
muito tempo de oração e de longas consultas com as suas superioras, obedeceu com a
consciência de que, caso contrário, ninguém se aventuraria naqueles lugares
inexplorados para levar o amor de Deus.
Partiu com o seu fervoroso desejo de servir a Deus, junto com outras cinco Irmãs
da Providência, para a missão em Saint Mary-of-the-Woods. Naquela terra cheia de
florestas e montanhas, Madre Théodore construiu uma casa-mãe e uma escola, deixando
uma enorme herança de amor, misericórdia e justiça, que até hoje está presente. Menos
de um ano depois da sua chegada, inaugurou a primeira Academia da Congregação e
fundou as escolas de Jasper e St. Francisville.
Quando faleceu, a 14 de Maio de 1856, Madre Théodore tinha fundado muitas
escolas e a Congregação das Irmãs da Providência era forte, vital e respeitada. O seu
dom às futuras gerações é a sua vida como modelo de santidade, virtude, amor e fé.
Homilia do Papa Bento XVI
Quatro novos Santos são hoje propostos à veneração da Igreja universal: Rafael
Guízar y Valencia, Filippo Smaldone, Rosa Venerini e Théodore Guérin. Os seus nomes
serão recordados sempre. Por contraste, é espontâneo pensar no "jovem rico", do qual
fala o Evangelho agora proclamado. Este jovem permaneceu anónimo; se tivesse
respondido positivamente ao convite de Jesus, ter-se-ia tornado seu discípulo e
provavelmente os Evangelistas teriam registado o seu nome. Deste acontecimento
entrevê-se imediatamente o tema da Liturgia da Palavra deste domingo: se o homem
depõe a sua segurança nas riquezas deste mundo não alcança o sentido pleno da vida
nem a verdadeira alegria; se, ao contrário, tendo confiança na palavra de Deus, renuncia
a si mesmo e aos seus bens pelo Reino dos céus, aparentemente perde muito, na
realidade ganha tudo.
O Santo é exactamente aquele homem, aquela mulher que, respondendo com
alegria e com generosidade à chamada de Cristo, deixa tudo para o seguir. Como Pedro
e os Apóstolos, como santa Teresa de Jesus que hoje recordamos, e numerosos outros
amigos de Deus, também os novos Santos percorreram este itinerário evangélico
exigente mas que satisfaz, e receberam "o cêntuplo" já na vida terrena juntamente com
provas e perseguições, e depois com a vida eterna.
Portanto, Jesus pode verdadeiramente garantir uma existência feliz e a vida
eterna, mas por um caminho diferente daquele que o jovem rico imaginava: isto é, não
mediante uma obra boa, uma prestação legal, mas sim na escolha do Reino de Deus
como "pérola preciosa" pela qual vale a pena vender tudo o que se possui (cf. Mt 13,
45-46). O jovem rico não consegue dar este passo.
Apesar de ter sido alcançado pelo olhar cheio de amor de Jesus (cf. Mc 10, 21),
o seu coração não conseguiu desapegar-se dos numerosos bens que possuía. Eis então o
ensinamento para os discípulos: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que
têm riquezas!" (Mc 10, 23). As riquezas terrenas ocupam e preocupam a mente e o
coração. Jesus não diz que são más, mas que afastam de Deus se não forem, por assim
dizer, "investidas" pelo Reino dos céus, isto é, se forem empregues para ajudar quem
está na pobreza.
Compreender isto é fruto daquela sabedoria da qual fala a primeira Leitura. Ela
foi-nos dito é mais preciosa que a prata ou o ouro, mais que a beleza, a saúde e a própria
luz, "porque a sua claridade jamais se extingue" (Sab 7, 10). Obviamente, esta sabedoria
não se reduz unicamente à dimensão intelectual. É muito mais; é "a Sabedoria do
coração", como a chama o Salmo 89. É um dom que vem do alto (cf. Tg 3, 17), de
Deus, e obtém-se com a oração (cf. Sab 7, 7). De facto, ela não permaneceu longe do
homem, fez-se próxima do seu coração (cf. Dt 30, 14), assumindo forma na lei da
Primeira Aliança estabelecida entre Deus e Israel mediante Moisés. No Decálogo está
contida a Sabedoria de Deus. Por isto Jesus afirma no Evangelho que para "entrar na
vida" é necessário observar os mandamentos (cf. Mc 10, 19). É necessário, mas não é
suficiente! De facto, como diz São Paulo, a salvação não provém da lei, mas da Graça.
E São João recorda que a lei foi dada por Moisés, enquanto a Graça e a Verdade vieram
por meio de Jesus Cristo (cf. Jo 1, 17).
Portanto, para alcançar a salvação é preciso abrir-se na fé à graça de Cristo, o
qual pretende de nós, contudo, uma condição exigente: "Vem e segue-Me" (Mc 10, 21).
Os santos tiveram a humildade e a coragem de lhe responder "sim", e renunciaram a
tudo para serem seus amigos.
Assim fizeram os novos quatro Santos, que hoje veneramos de modo particular.
Neles reencontramos a experiência de Pedro actualizada: "Aqui estamos nós que
deixámos tudo e Te seguimos" (Mc 10, 28). O seu único tesouro está no céu: é Deus.
O evangelho que ouvimos ajuda-nos a compreender a figura de São Rafael
Guízar y Valencia, Bispo de Veracruz na querida nação mexicana, como um exemplo
dos que deixaram tudo para "seguir Jesus". Este Santo foi fiel à palavra divina, "viva e
eficaz", que penetra no mais profundo do espírito (cf. Hb 4, 12). Imitando Cristo pobre,
desprendeu-se dos seus bens e nunca aceitou favores dos poderosos, ou então oferecia-
os em seguida. Por isso recebeu "o cêntuplo" e, desta forma, pôde ajudar os pobres,
inclusive entre "perseguições" sem trégua (cf. Mc 10, 30). Por ter vivido heroicamente a
sua caridade chamavam-lhe o "Bispo dos pobres". No seu ministério sacerdotal e em
seguida episcopal, foi um incansável pregador de missões populares, o modo mais
apropriado naquela época para evangelizar o povo, usando o seu Catecismo da doutrina
cristã.
Sendo a formação dos sacerdotes uma das suas prioridades, reconstruiu o
seminário, que considerava "a pupila dos seus olhos", e por isso costumava exclamar:
"Um bispo pode não ter a mitra, o báculo e até a catedral, mas nunca lhe deve faltar o
seminário, porque do seminário depende o futuro da sua diocese". Com este profundo
sentido de paternidade sacerdotal enfrentou novas perseguições e desterros, mas
garantindo sempre a preparação dos alunos. Que o exemplo de São Rafael Guízar y
Valencia seja uma chamada para os irmãos bispos e sacerdotes, para que considerem
fundamental nos programas pastorais, além do espírito de pobreza e de evangelização, a
fomentação de vocações sacerdotais e religiosas, na sua formação segundo o coração de
Cristo.
São Filippo Smaldone, filho da Itália meridional, soube conciliar na sua vida as
melhores virtudes próprias da sua terra. Sacerdote de coração grande, alimentado pela
oração constante e pela adoração eucarística, foi sobretudo testemunha e servo da
caridade, que manifestavademodoeminente no serviço aos pobres, em particular aos
surdos-mudos, aos quais se dedicou totalmente. A obra que ele iniciou continua graças à
Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações por ele fundada, e que está
difundida em diversas partes da Itália e do mundo. São Filippo Smaldone via reflectida
nos surdos-mudos a imagem de Jesus e costumava repetir que, assim como nos
prostramos diante do Santíssimo Sacramento, também é preciso ajoelhar-nos diante de
um surdo-mudo. Aceitemos do seu exemplo o convite para considerar sempre
indissolúveis o amor à Eucaristia e o amor ao próximo. Aliás, só podemos obter a
verdadeira capacidade de amar os irmãos no encontro com o Senhor no sacramento da
Eucaristia.
Santa Rosa Venerini é outro exemplo de discípula fiel de Cristo, pronta a
abandonar tudo para cumprir a vontade de Deus. Gostava de repetir: "estou presa a tal
ponto na vontade divina, que não me importa nem morte, nem vida: desejo viver o que
Ele quer, e desejo servi-lo em tudo o que lhe apraz, e nada mais" (Biografia Andreucci,
p. 515). Deste seu abandono a Deus brotava a actividade clarividente que desempenhava
com coragem a favor da elevação espiritual e da autêntica emancipação das jovens
mulheres do seu tempo. Santa Rosa não se contentava em dar às jovens uma adequada
instrução, mas preocupava-se em lhes garantir uma formação completa, com sólidas
referências ao ensinamento doutrinal da Igreja. O seu mesmo estilo apostólico continua
a caracterizar ainda hoje a vida da Congregação das Mestras Pias Venerini, por ela
fundada. E como é actual e importante também para a sociedade de hoje o serviço que
elas desempenham no campo da escola e sobretudo da formação da mulher!
"Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres... depois vem e segue-Me".
Estas palavras inspiraram numerosos Cristãos ao longo da história da Igreja para seguir
Cristo numa vida de pobreza radical, confiando na Providência Divina. Entre estes
generosos discípulos de Cristo encontrava-se a jovem francesa, que respondeu sem
hesitações à chamada do divino Mestre. A Madre Théodore Guérin entrou na
Congregação das Irmãs da Providência em 1823, e dedicou-se ao trabalho do ensino nas
escolas. Depois, em 1839, foi enviada pela Superiora para os Estados Unidos da
América, com a tarefa de orientar a nova comunidade em Indiana. Depois de uma longa
viagem entre terra e mar, o grupo de seis irmãs chegou à localidade de "Saint Mary-of-
the-Woods". Ali, de uma simples cabana, fizeram uma capela no meio da floresta.
Ajoelhavam-se diante do Santíssimo Sacramento e davam graças, pedindo ao Senhor
orientação para a nova fundação. Com grande confiança na Divina Providência, a
Madre Théodore superou muitos desafios e perseverou no trabalho para o qual o Senhor
a tinha chamado. No momento da sua morte, em 1856, as Irmãs dirigiam muitas escolas
e orfanatos no Estado de Indiana. Nas suas palavras, "quanto bem foi realizado pelas
Irmãs de Saint Mary-of-the-Woods! Quanto bem ainda pode ser realizado se
permanecerem fiéis à sua santa vocação!".
A Madre Théodore Guérin é uma bela figura espiritual e um modelo de vida
cristã. Ela esteve sempre disponível para as missões que a Igreja lhe solicitava,
encontrava a força e a audácia para as concretizar na Eucaristia, na oração e numa
confiança infinita na divina Providência. A sua força interior estimulava-a a dedicar
especial atenção aos pobres, sobretudo às crianças.
Queridos irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pelo dom da santidade, que
hoje resplandece na Igreja com beleza especial. Jesus convida também a nós, como a
estes Santos, a segui-lo para termos como herança a vida eterna. O seu testemunho
exemplar ilumine e encorage especialmente os jovens, para que se deixem conquistar
por Cristo, pelo seu olhar repleto de amor. Maria, Rainha dos Santos, suscite no povo
cristão homens e mulheres como São Rafael Guízar y Valencia, São Filippo Smaldone,
Santa Rosa Venerini e Santa Théodore Guérin, dispostos a abandonar tudo pelo Reino
de Deus; decididos a fazer própria a lógica da doação e do serviço, a única que salva o
mundo. Amém!
11 DE MAIO DE 2007
António de Sant’Anna Galvão
Antônio de Sant'Anna Galvão nasceu em Guaratinguetá no Estado de São Paulo,
em 1739, de família de prática cristã que lhe transmitiu a fé e a busca de fidelidade a
Cristo. Aos treze anos, foi enviado ao Colégio dos Padres Jesuítas no distrito de Belém
da cidade de Cachoeira no Estado da Bahia, onde permaneceu de 1752 a 1756.
Voltando a Guaratinguetá, desejava entrar na Companhia de Jesus, mas o pai
opôs-se por causa da perseguição do Marquês de Pombal às congregações religiosas e
de modo particular aos jesuítas que acabaram sendo supressos. Assim Antônio foi
encaminhado aos Padres Franciscanos, os quais exercitavam o ministério pastoral na
vizinha paróquia de Taubaté. Em 1760, entrou no noviciado em Macacu, Estado do Rio
de Janeiro, e no ano seguinte já fez a profissão religiosa. Em 11 de junho de 1762 foi
destinado ao Convento de SãoFrancisco na cidade de São Paulo, para estudar Filosofia e
Teologia, ser ordenado sacerdote e ajudar, ao mesmo tempo, seus confrades no trabalho
apostólico. Trabalhou como pregador, confessor e também porteiro do Convento de São
Francisco em São Paulo.
Fundou em 1774 o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Luz da
Divina Providência, hoje conhecido como "Mosteiro da Luz", na cidade de São Paulo.
Este "Recolhimento", sob pressão do Capitão-Geral D. Martim Lopes Lobo de
Saldanha, foi fechado no mês de junho de 1775, reaberto em agosto do mesmo ano,
graças à permissão do Bispo de São Paulo, Dom Manuel da Ressurreição.
Em 1780, foi condenado ao exílio porque tinha protestado contra a morte cruel
de um soldado. Partiu imediatamente a pé para o Rio de Janeiro, porém com a rebelião
do povo, o capitão revogou a sentença, e Frei Antônio voltou ao convento.
Frei Galvão foi reconhecido como "homem da paz e da caridade". Na carta da
Câmara do Senado de São Paulo ao Ministro Provincial dos Franciscanos em 17 de abril
de 1798, lê-se: "Este homem, Frei Galvão, é preciosíssimo a toda esta cidade e vilas da
Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e prudente conselheiro do qual todos
vão ao encontro para ter luz e conforto; é homem da paz e da caridade".
No Registro dos Religiosos Brasileiros, no fim do currículo da vida (1802-1806),
afirma-se: "Seu nome, em São Paulo, mais que em qualquer outra localidade, é escutado
com grande confiança; muitas pessoas de regiões longínquas vêm procurá-lo em suas
necessidades, uma e mais vezes".
Em 1939, dele escrevia Dom Frei Henrique Golland Trindade: "Conselheiro,
ouvido por leigos e por religiosos, sabia dizer a palavra justa ao pecador como também
à alma de grande perfeição. Pacificador das almas e das famílias, dispensador de
caridade sobretudo aos pobres e aos doentes. Foi um frade de muita caridade, de muita
vida espiritual". Outro historiador assim escreveu: "Procurado para as confissões, para
pacificar nas discórdias, para ajustar problemas temporais, além de ser zeloso, era sábio
e prudente".
Voltando da fundação de Sorocaba, o Beato viveu ainda dez anos sempre em seu
Convento de São Francisco. Quando as forças já não lhe permitiam mais andar do
Convento ao Recolhimento, com a permissão dos Superiores e do Bispo, passou a morar
nas dependências da obra por ele fundada. Na última doença, foi transferido para um
quartinho atrás do tabernáculo, no fundo da igreja por ele construída e inaugurada em
1802, onde as religiosas podiam oferecer-lhe assistência.
Faleceu em 23 de dezembro de 1822, assistido pelo superior e pelos confrades e
sacerdotes, que admiravam suas virtudes e sua vida apostólica. Foi sepultado diante do
altar-mor da igreja do Recolhimento da Luz.
Assim morreu um santo, suscitado por Deus para ser testemunha do seu amor.
Homilia do Papa Bento XVI
1. Alegremos-nos no Senhor, neste dia em que contemplamos outra das
maravilhas de Deus que, por sua admirável providência, nos permite saborear um
vestígio da sua presença, neste ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício
do Altar.
Sim, não deixemos de louvar ao nosso Deus. Louvemos todos nós, povos do
Brasil e da América, cantemos ao Senhor as suas maravilhas, porque fez em nós grandes
coisas. Hoje, a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu altar em
ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da Canonização do Frei
Antônio de Sant’Ana Galvão.
Quero agradecer as carinhosas palavras do Arcebispo de São Paulo, D. Odilo
Scherer, que foi a voz de todos vós, e a atenção do seu predecessor, o Cardeal Cláudio
Hummes, que com tanto esmero empenhou-se pela causa do Frei Galvão. Agradeço a
presença de cada um e de cada uma, quer sejam moradores desta grande cidade ou
vindos de outras cidades e nações. Alegro-me que através dos meios de comunicação,
minhas palavras e as expressões do meu afeto possam entrar em cada casa e em cada
coração. Tenham certeza: o Papa vos ama, e vos ama porque Jesus Cristo vos ama.
Nesta solene celebração eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo,
em atitude de grande enlevo, proclama: «Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos» (Mt
11,25). Por isso, sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos altares ficará para
sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece.
Saúdo com afeto, a toda a comunidade franciscana e, de modo especial as
monjas concepcionistas que, do Mosteiro da Luz, da Capital paulista, irradiam a
espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória dos altares.
2. Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso
influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei
Galvão. O carisma franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos
através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio
orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de
Maria, de quem ele se considerava ‘filho e perpétuo escravo’.
Deus vem ao nosso encontro, "procura conquistar-nos - até à Última Ceia, até ao
Coração trespassado na cruz, até as aparições e as grandes obras pelas quais Ele, através
da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente" (Carta encl. Deus caritas
est, 17). Ele se revela através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente da
Eucaristia. Por isso, a vida da Igreja é essencialmente eucarística. O Senhor, na sua
amorosa providência deixou-nos um sinal visível da sua presença.
Quando contemplarmos na Santa Missa o Senhor, levantado no alto pelo
sacerdote, depois da Consagração do pão e do vinho, ou o adorarmos com devoção
exposto no Ostensório renovemos com profunda humildade nossa fé, como fazia Frei
Galvão em "laus perennis", em atitude constante de adoração. Na Sagrada Eucaristia
está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o mesmo Cristo, nossa Páscoa, o
Pão vivo que desceu do Céu vivificado pelo Espírito Santo e vivificante porque dá Vida
aos homens. Esta misteriosa e inefável manifestação do amor de Deus pela humanidade
ocupa um lugar privilegiado no coração dos cristãos. Eles devem poder conhecer a fé da
Igreja, através dos seus ministros ordenados, pela exemplaridade com que estes
cumprem os ritos prescritos que estão sempre a indicar na liturgia eucarística o cerne de
toda obra de evangelização. Por sua vez, os fiéis devem procurar receber e reverenciar o
Santíssimo Sacramento com piedade e devoção, querendo acolher ao Senhor Jesus com
fé e sempre, quando necessário, sabendo recorrer ao Sacramento da reconciliação para
purificar a alma de todo pecado grave.
3. Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir
o povo sempre quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das
famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. Muito
procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. Uma característica de
quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido, por isso a conversão
dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. A Irmã Helena Maria, que foi a
primeira "recolhida" destinada a dar início ao "Recolhimento de Nossa Senhora da
Conceição", testemunhou aquilo que Frei Galvão disse: "Rezai para que Deus Nosso
Senhor levante os pecadores com o seu potente braço do abismo miserável das culpas
em que se encontram". Possa essa delicada advertência servir-nos de estímulo para
reconhecer na misericórdia divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o
próximo e para a paz das nossas consciências.
4. Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados
com Deus e com o nosso próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não
pode dar. Poderão os homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz se não se
conscientizarem acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus, com o próximo e
consigo mesmos? De elevado significado foi, neste sentido, aquilo que a Câmara do
Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do
século XVIII, definindo Frei Galvão como "homem de paz e de caridade". Que nos pede
o Senhor?: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amo». Mas logo a seguir acrescenta:
que «deis fruto e o vosso fruto permaneça» (cf. Jo 15, 12.16). E que fruto nos pede Ele,
senão que saibamos amar, inspirando-nos no exemplo do Santo de Guaratinguetá?
A fama da sua imensa caridade não tinha limites. Pessoas de toda a geografia
nacional iam ver Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes
no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda.
Jesus abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora:
«Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos» (ib.v.13). Ele
mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. Também a ação da Igreja e dos
cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. As pastorais sociais se forem
orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas este sigilo
divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que se ama desta
maneira, se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça.
Como sabemos a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano terá
como tema básico: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos
povos tenham vida". Como não ver então a necessidade de acudir com renovado ardor à
chamada, a fim de responder generosamente aos desafios que a Igreja no Brasil e na
América Latina está chamada a enfrentar?
5. «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei», diz
o Senhor no Evangelho, (Mt 11,28). Esta é a recomendação final que o Senhor nos
dirige. Como não ver aqui este sentimento paterno e, ao mesmo tempo materno, de
Deus por todos os seus filhos? Maria, a Mãe de Deus e Mãe nossa, se encontra
particularmente ligada a nós neste momento. Frei Galvão, assumiu com voz profética a
verdade da Imaculada Conceição. Ela, a Tota Pulchra, a Virgem Puríssima, que
concebeu em seu seio o Redentor dos homens e foi preservada de toda mancha original,
quer ser o sigilo definitivo do nosso encontro com Deus, nosso Salvador. Não há fruto
da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação
de Nossa Senhora.
De fato, este nosso Santo entregou-se de modo irrevocável à Mãe de Jesus desde
a sua juventude, querendo pertencer-lhe para sempre e escolhendo a Virgem Maria
como Mãe e Protetora das suas filhas espirituais.
Queridos amigos e amigas, que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão!
Como soam atuais para nós, que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as
palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: "tirai-me antes a
vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor". São palavras fortes, de uma alma
apaixonada, que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão, seja ele
consagrado ou não, e que despertam desejos de fidelidade a Deus dentro ou fora do
matrimônio. O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples
que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. É preciso dizer não àqueles
meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a
virgindade antes do casamento.
É neste momento que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os
males que afligem a vida moderna; a devoção mariana é garantia certa de proteção
maternal e de amparo na hora da tentação. Não será esta misteriosa presença da Virgem
Puríssima, quando invocarmos proteção e auxílio à Senhora Aparecida? Vamos
depositar em suas mãos santíssimas a vida dos sacerdotes e leigos consagrados, dos
seminaristas e de todos os vocacionados para a vida religiosa.
6. Queridos amigos, deixai-me concluir evocando a Vigília de Oração de
Marienfeld na Alemanha: diante de uma multidão de jovens, quis definir os santos da
nossa época como verdadeiros reformadores. E acrescentava: "só dos Santos, só de
Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo" (Homilia,
20/08/2005). Este é o convite que faço hoje a todos vós, do primeiro ao último, nesta
imensa Eucaristia. Deus disse: «Sede santos, como Eu sou santo» (Lv 11,44).
Agradeçamos a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo, dos quais nos vêm, por
intercessão da Virgem Maria, todas as bênçãos do céu; este dom que, juntamente com a
fé é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de
alcançar a plenitude da caridade, na convicção de que não só é possível, como também
necessária a santidade, cada qual no seu estado de vida, para revelar ao mundo o
verdadeiro rosto de Cristo, nosso amigo! Amém!
3 DE JUNHO DE 2007
Jorge Preca
Nació en La Valletta, el 12 de febrero de 1880. El 17 de febrero fue bautizado en
la iglesia parroquial de la Santísima Virgen María de Puerto Salvo.
En 1888 la familia se trasladó a la ciudad comercial de Hamrun —poco distante
de La Valletta—, en cuya iglesia parroquial recibió la Confirmación y la primera
Comunión.
Terminado el bachillerato, entró al seminario. Era muy apreciado por sus
compañeros, a los que solía hacer breves reflexiones espirituales. Especialmente
marcaron su vida, como una meta y una misión, las palabras que le dirigió un día su
confesor y director espiritual: "Dios te ha elegido para enseñar a su pueblo".
Fue ordenado sacerdote el 22 de diciembre de 1906. Durante algunas semanas
sólo salió de casa para celebrar la santa misa; el resto del tiempo lo pasaba en oración y
contemplación.
Algunos lo definieron "el san Felipe Neri de Malta". Se propuso como objetivo
principal de su vida preparar a los jóvenes para que ellos a su vez dieran la necesaria
formación religiosa a los demás. Recién ordenado sacerdote comenzó a reunirse con
algunos jóvenes de Hamrun para formarlos en la lectura de la sagrada Escritura. Así
nació, en marzo de 1907, la "Sociedad de la Doctrina Cristiana".
Al inicio, don Jorge llamó a su asociación "Societas Papiduum et Papidissarum",
pues quería que tuvieran una devoción filial al Vicario de Cristo. Pero luego, escogió
como nombre Museum —museo para conservar la palabra de Dios—, palabra que el
siervo de Dios convirtió en un acróstico: Magister, utinam sequatur Evangelium
universus mundus, es decir: "Maestro, ojalá que todo el mundo siga el Evangelio". Ese
fue el gran anhelo que impulsó a don Jorge a lo largo de toda su vida.
En el año 1910 se inauguró la sección femenina. Con el paso del tiempo se fue
definiendo la fisonomía de la Sociedad: laicos, trabajadores, célibes, totalmente
entregados al apostolado de la catequesis, tanto de niños como de adultos, una vida de
gran disciplina, modestia en el vestido, una serie de oraciones para rezar de memoria
cada cuarto de hora ("El reloj del Museum"), una hora de catequesis cada día en centros
abiertos en casi todas las parroquias de las islas maltesas, y luego una hora de formación
permanente.
La Sociedad atravesó momentos de dificultad y prueba. En 1909 don Jorge
recibió la orden de cerrar todos los centros, y obedeció sin quejas. Ante las protestas de
los párrocos el obispo revocó la orden. En los años 1914-1915 aparecieron en los
periódicos de Malta artículos infamantes contra la Sociedad, pero don Jorge pidió a
todos los socios que los aceptaran con mansedumbre y serenidad.
La erección canónica de la Sociedad de la Doctrina Cristiana tuvo lugar el 12 de
abril de 1932. Durante la segunda guerra mundial se desarrolló, desempeñando su
actividad en casi todas las parroquias de las islas de Malta y de Gozo.
Don Jorge se prodigó como apóstol del Evangelio. Escribió numerosos libros de
dogmática, ascética y moral. Pero sobre todo destacó por la divulgación de la palabra de
Dios, traducida al maltés, presentada en textos breves, fáciles de memorizar, o en
libritos de meditación.
Como consejero y director espiritual, brilló por su prudencia y sabiduría. Mucha
gente acudía a él para recibir una palabra de consuelo y aliento.
Fue también gran apóstol del misterio de la Encarnación. Propagó la devoción a
las palabras "Verbum Dei caro factum est" (Jn 1, 14), estableciendo que los miembros
de la Sociedad las tomaran como lema. Y les pidió que, la víspera de Navidad,
organizaran en cada aldea una celebración en honor de Jesús Niño.
En los momentos de prueba se encomendó totalmente a la protección de la
Virgen. El 21 de julio de 1918 se inscribió en la Tercera Orden Carmelitana, eligiendo,
al profesar, el nombre de fray Franco. Además, quiso que todos los socios, y los niños
que frecuentaban sus secciones, llevaran el escapulario del Carmen. Tuvo una devoción
particular a la Virgen del Buen Consejo y divulgó con empeño la medalla milagrosa.
En 1952 la Sociedad comenzó su apostolado fuera de Malta: cinco miembros
fueron enviados a Australia. Hoy tiene centros en Inglaterra, Albania, Kenia, Sudán y
Perú.
Después de una vida de entrega total al apostolado, don Jorge murió, con fama
de santidad, el 26 de julio de 1962 en su casa en Santa Venera, Malta.
El Papa Juan Pablo II lo beatificó el 9 de mayo de 2001 en Malta.
Simão de Lipnica
Nació en Lipnica Murowana (Polonia), entre los años 1435-1440. Sus padres,
Gregorio y Ana, le dieron una buena educación, inspirada en los valores de la fe
cristiana y, a pesar de su modesta condición, se preocuparon de asegurarle una adecuada
formación cultural. Tenía un carácter piadoso y responsable, una natural predisposición
a la oración y un tierno amor a la Madre de Dios
El 8 de septiembre de 1453 el santo italiano también había fundado, en Cracovia,
el primer convento de la Observancia, bajo el título de San Bernardino de Siena,
canonizado poco tiempo antes. Por tal motivo, los frailes menores de aquel convento
fueron llamados por el pueblo "bernardinos".
En 1454 se trasladó a Cracovia para asistir a la famosa Academia Jaguellónica.
En ese tiempo san Juan de Capistrano entusiasmaba a la ciudad con la santidad de su
vida y el fervor de su predicación, atrayendo a la vocación franciscana un numeroso
grupo de jóvenes generosos.
En 1457, también el joven Simón, atraído por el ideal franciscano, decidió
adquirir la preciosa perla del Evangelio, interrumpiendo un rico acontecer de éxito.
Junto con otros diez compañeros de estudios, pidió ingresar en el convento de Stradom.
Bajo la sabia guía del maestro de novicios, p. Cristóbal de Varese, religioso
eminente por su doctrina y santidad de vida, Simón llevó la vida humilde y pobre de los
frailes menores. Recibió la ordenación sacerdotal hacia el año 1460. Ejerció su primer
ministerio en el convento de Tarnów, donde fue Guardián de la fraternidad. Se
estableció después en Stradom (Cracovia), dedicándose incansablemente a la
predicación evangélica, con palabra llena de ardor, de fe y de sabiduría, que dejaba
entrever su profunda unión con Dios y el prolongado estudio de la sagrada Escritura.
Como san Bernardino de Siena y san Juan de Capistrano, fray Simón difundió la
devoción al Nombre de Jesús, obteniendo la conversión de innumerables pecadores. En
1463, primero entre los Frailes Menores, ocupó el oficio de predicador en la catedral de
Wawel.
Deseoso de rendir homenaje a san Bernardino de Siena, inspirador de su
predicación, el 17 de mayo de 1472, junto con los otros frailes polacos, se dirigió a
Aquitania para participar en la solemne traslación del santo al nuevo templo erigido en
su honor. Volvió a Italia en 1478 con ocasión del capítulo general en Pavía. En esa
ocasión pudo cumplir su gran deseo de visitar las tumbas de los Apóstoles, en Roma, y
proseguir después su peregrinación a Tierra Santa. Vivió dicha experiencia con espíritu
de penitencia, de verdadero amante de la Pasión de Cristo, con la oculta aspiración de
derramar su sangre por la salvación de las almas, si así agradara a Dios. Imitando a san
Francisco en su amor por los santos lugares y por si fuera capturado de los infieles,
antes de emprender el viaje quiso aprender de memoria la Regla de la Orden "para
tenerla siempre delante de los ojos de la mente".
El amor de Simón por los hermanos se manifestó de manera extraordinaria en el
último año de su vida, cuando una epidemia de peste asoló Cracovia entre 1482 y 1483.
En la desolación general, los franciscanos del convento de san Bernardino se prodigaron
incansablemente en el cuidado de los enfermos, como verdaderos ángeles del consuelo.
Fray Simón lo afrontó como un "tiempo propicio" para ejercitar la caridad y para
llevar a cabo la ofrenda de su vida. Por todas partes pasó confortando, prestando ayuda,
administrando los sacramentos y anunciando la consoladora palabra de Dios a los
moribundos. Pronto fue contagiado. Soportó con extraordinaria paciencia los
sufrimientos de la enfermedad y, próximo a la muerte, expresó el deseo de ser sepultado
en el umbral de la iglesia, para que todos pudieran pisotearlo. El 18 de julio de 1482,
sexto día de enfermedad, sin temor a la muerte y con los ojos fijos en la cruz, entregó su
alma a Dios.
Ha gozado de un culto "inmemorial". Su causa de canonización, retomada por el
Santo Padre Pío XII el 25 de junio de 1948, culmina después del reconocimiento de la
curación prodigiosa realizada en Cracovia en 1943, y atribuida a la intercesión del beato
Simón, con decreto del Santo Padre Benedicto XVI del 16 de diciembre de 2006.
Fray Simón de Lipnica supo armonizar admirablemente el compromiso de la
evangelización y el testimonio de la caridad, que brotaba de su gran amor a la palabra
de Dios y a los hermanos más pobres y a los que más sufren.
Karel Van Sint Andries Houben (Carlos de Santo André)
Nació el 11 de diciembre de 1821 en Munstergeleen, diócesis de Ruremond
(Holanda). Fue bautizado el mismo día de su nacimiento con el nombre de Juan Andrés.
Devoto y reservado por naturaleza, desde niño manifestó el deseo de ser sacerdote.
Recibió la primera Comunión el 26 de abril de 1835, y la Confirmación el 28 de junio
de ese mismo año. Empezó los estudios clásicos en Sittard, y los prosiguió en
Broeksittard; los interrumpió en 1840 para hacer el servicio militar.
Precisamente en el cuartel de Bergen-op-Zoom, en 1841, a través de un
compañero de armas, hermano de un religioso pasionista, oyó hablar por primera vez de
la Congregación de la Pasión. Después del servicio militar, completó sus estudios.
Sintiéndose atraído por esa espiritualidad, solicitó ser admitido en los pasionistas. Su
petición fue aceptada por el beato Domingo Barberi. Entró en el noviciado de Ere, cerca
de Tournai, el 5 de noviembre de 1845. El 10 de diciembre del año siguiente, terminado
el año canónico del noviciado, emitió los votos; tomó el nombre de Carlos de San
Andrés. Tras completar los estudios filosóficos y teológicos, el 21 de diciembre de 1850
recibió la ordenación sacerdotal.
Inmediatamente después lo enviaron a Inglaterra, donde los pasionistas habían
fundado tres conventos. Allí ejerció durante un tiempo el cargo de vicemaestro de
novicios, en Broadway, y el ministerio sacerdotal en la parroquia de San Wilfrido y en
el barrio, hasta que en 1856 lo trasladaron al nuevo convento de Mount Argus, cerca de
Dublín. Vivió casi todo el resto de su vida en ese retiro.
Fue sacerdote de singular piedad; se distinguió particularmente en el ejercicio de
la obediencia, en la práctica de la pobreza, de la humildad y de la sencillez, y aún más
en la devoción a la pasión del Señor. Llevaba siempre en la mano un pequeño crucifijo,
para no apartarse de la contemplación de la Pasión, y celebraba con mucho fervor la
santa misa, que a menudo prolongaba más de lo común. Se dedicó particularmente a la
dirección espiritual de las almas a través de la confesión.
La fama de sus virtudes atrajo muy pronto al convento a un gran número de
fieles, que pedían su bendición. En una ocasión, mientras visitaba una parroquia de
campo, transportaron a los enfermos fuera de sus casas y los alinearon a lo largo de la
calle, para que los bendijera. Existen testimonios atendibles de curaciones
sorprendentes, que le valieron la fama de taumaturgo.
Precisamente a causa de dicha fama, difundida en todo el Reino Unido y
extendida también en Estados Unidos y Australia, para darle un poco de tranquilidad fue
trasladado en 1866 a Inglaterra, donde vivió en los conventos de Broadway, Sutton y
Londres.
En 1874 volvió a Dublín, donde permaneció hasta su muerte. Hacia 1880, su
salud comenzó a empeorar, también a causa de la vida austera y de la penitencia que
hacía, pero jamás se le oyó lamentarse. El 12 de abril de 1881, la carroza en la que
viajaba sufrió un accidente, y el padre se fracturó el pie derecho y la cadera. No logró
curarse jamás completamente, contrayendo la gangrena. A partir del 9 de diciembre del
año siguiente se vio obligado a guardar cama, y, después de grandes sufrimientos,
vividos en silencio y ofrecidos al Crucificado, murió al amanecer del 5 de enero de
1893.
Fue beatificado el 16 de octubre de 1988 por el Papa Juan Pablo II.
Maria Eugênia de Jesus Milleret
Nacida en una familia burguesa, en 1817 en Metz (Francia), tras la derrota
definitiva de Napoleón y la Restauración de la Monarquía, Ana-Eugenia Milleret no
parecía estar destinada a trazar un camino espiritual en la Iglesia de Francia.
Su padre, liberal y seguidor de las ideas de Voltaire, desarrolla su actividad
como banquero y en la vida política. Ana-Eugenia, dotada de una gran sensibilidad,
recibe de su madre una educación que le da un carácter fuerte y el sentido del deber. La
vida familiar desarrolla en ella una curiosidad intelectual y el espíritu romántico, un
interés por las cuestiones sociales y una amplitud de mirada.
Esta educación, lejos de la Iglesia, de Cristo, de la escuela, está marcada por una
gran libertad unida a un gran sentido de la responsabilidad. La bondad, la generosidad,
la rectitud y la sencillez aprendidas junto a su madre, le llevará a decir más tarde que su
educación era más cristiana que la de muchos católicos piadosos de su tiempo. Según la
costumbre, como su contemporánea George Sand, Ana-Eugenia asistía a la Misa los
días de fiesta y había recibido los sacramentos de la iniciación cristiana sin
comprometerse a nada. Su primera comunión fue, con todo, una gran experiencia
mística para Ana–Eugenia en la que ya se encontraba todo el secreto del futuro. Solo
más tarde, captará el sentido profético de esta experiencia y reconocerá en ella el
fundamento de su camino hacia una pertenencia total a Cristo y a la Iglesia.
Vivió una juventud feliz, aunque no faltó el sufrimiento. La muerte de un
hermano mayor que ella, la de una hermana pequeña, una salud frágil y una caída que le
dejará sus secuelas, marcaron su infancia. Ana-Eugenia mostrará una madurez superior
a la de su edad, sabrá esconder sus sentimientos y hacer frente a lo que va viniendo.
Más tarde, tras un periodo de gloria, tendrá que enfrentarse al fracaso de los bancos de
su padre, a la incomprensión y separación de sus padres, a la pérdida de toda seguridad.
Ana-Eugenia tiene que abandonar la casa de su infancia e ir a París con su madre,
mientras que su hermano Luis, su gran compañero de juegos, se marchará con su padre.
En París, junto a su madre a la que adoraba, la verá afectada terriblemente por el
cólera que se la llevó en unas horas, dejando a su hija de 15 años sola en el mundo, en
una sociedad mundana y superficial. En esta situación y a través de una búsqueda
angustiosa y casi desesperada de la verdad, Ana-Eugenia llegará a su conversión
sedienta del Absoluto y abierta a lo transcendente.
A los 19 años, Ana–Eugenia asiste a las Conferencias cuaresmales en la Catedral
de Nuestra Señora, en París, predicadas por el Padre Lacordaire, joven pero ya conocido
por su talento como orador. Antiguo discípulo de Lamennais —habitado como él por la
visión de una Iglesia renovada jugando un papel nuevo en el mundo— Lacordaire
comprende su tiempo y quiere cambiarlo. Conoce los interrogantes y las aspiraciones de
los jóvenes, su idealismo y su ignorancia sobre Cristo y la Iglesia. Su palabra llega al
corazón de Ana-Eugenia, responde a sus propios interrogantes y despierta en ella una
gran generosidad. Ana Eugenia ve a Cristo como Liberador universal y su Reino en la
tierra a través una sociedad fraterna y justa. Me sentía realmente convertida, escribe, y
sentía el deseo de entregar todas mis fuerzas, o mas bien toda mi debilidad, a esta
Iglesia que desde entonces me parecía que era la única que poseía aquí abajo el secreto
y el poder del bien.
En este momento, conoce a otro predicador, también antiguo discípulo de
Lammenais, el Padre Combalot, que escogerá como confesor. El Padre Combalot se da
cuenta que tiene ante a él a un alma privilegiada y designa a Ana-Eugenia como
fundadora de la Congregación que él soñaba desde hacía tiempo. Insistiendo en que esta
fundación es la voluntad de Dios y que Dios la había escogido para realizar esta obra, el
Padre Combalot convence a Ana-Eugenia para que asuma este proyecto: una obra de
educación. El P. Combalot está convencido de que solamente a través de la educación,
se podrá evangelizar las inteligencias, hacer que las familias sean verdaderamente
cristianas y así transformar la sociedad de su tiempo. Ana-Eugenia acepta este proyecto
como un deseo de Dios y se deja guiar por el P. Combalot.
A los 22 años, María Eugenia se convierte en Fundadora de las Religiosas de la
Asunción, entregadas a consagrar toda su vida y todas sus fuerzas para extender el
Reino de Cristo en el mundo. En 1839, con otras dos jóvenes, Ana-Eugenia Milleret
empieza una vida comunitaria de oración y de estudio en un apartamento de la calle
Férou, muy cerca de la Iglesia de San Sulpicio en París. En 1841, abren la primera
escuela con el apoyo de Mme de Chateaubriand, Lacordaire, Montalembert y sus
amigos. Años más tarde la comunidad contará con 16 hermanas de cuatro
nacionalidades.
Maria Eugenia y las primeras hermanas de la Asunción quisieron unir lo antiguo
y lo nuevo: unir los antiguos tesoros de la espiritualidad y de la sabiduría de la Iglesia
con una nueva forma de vida religiosa y de educación que respondieran a las
necesidades de las mentalidades modernas. Se trata de asumir los valores de su tiempo,
y a la vez, transmitir valores evangélicos a la cultura naciente de una nueva era
industrial y científica. La Congregación desarrollará una espiritualidad centrada en
Cristo y en el misterio de la Encarnación, a la vez profundamente contemplativa y
profundamente apostólica. Será una vida vivida en la búsqueda de Dios y en un fuerte
compromiso apostólico.
La vida de María Eugenia de Jesús fue larga, una vida que atravesó casi todo el
siglo XIX. Amaba profundamente su tiempo y quería participar activamente en su
historia. Progresivamente todas sus energías se fueron unificando, de una u otra manera,
en el desarrollo y la extensión de la Congregación, la obra de su vida. Dios le iba
enviando hermanas y amigos. Una de las primeras fue una irlandesa, mística y amiga
íntima a la que María Eugenia, al final de su vida, la llama “la mitad de mi ser”. Kate
O’Neill, en religión Madre Thérèse Emmanuel, se considera como co-fundadora. El P.
Emmanuel d’Alzon, que llegó a ser el director espiritual de María Eugenia poco después
de la fundación, será para ella padre, hermano, amigo según las etapas de la vida. En
1845, el P. d’Alzon fundó los Agustinos de la Asunción y los dos fundadores se
ayudaron mutuamente a lo largo de 40 años. Los dos tenía un don para la amistad y
trabajaron en la Iglesia con numerosos laicos. Juntos, en seguimiento de Jesús,
religiosas, religiosos y laicos han trazado el camino de la Asunción y forman parte de la
inmensa nube de testigos.
En los últimos años de su vida, M. María Eugenia de Jesús experimentará poco a
poco el debilitamiento físico, vivido en la humildad y en el silencio, en una vida
totalmente centrada en Jesucristo. El 9 de marzo de 1898 recibe por última vez la
comunión y en la noche del 10 de marzo se duerme dulcemente en el Señor. Será
beatificada por Pablo VI, en Roma, el 9 de febrero de 1975.
Hoy, las religiosas de la Asunción, están presentes en 34 países: 8 en Europa, 5
en Asia, 10 en América y 11 en Afrecha. Las Religiosas, unas 1250, forman 170
comunidades a través del mundo.
La rama laica –Asunción Juntos– formada por Amigos de la Asunción y
Comunidades o Fraternidades de la Asunción, es numerosa: unos miles de Amigos y
algunos centenares de Laicos comprometidos según el Camino de Vida.
Homilia do Papa Bento XVI
Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. Após o tempo pascal,
depois de ter revivido o acontecimento de Pentecostes, que renova o baptismo da Igreja
no Espírito Santo, dirigimos por assim dizer o olhar para "o céu aberto" para entrar com
os olhos da fé nas profundezas do mistério de Deus, Uno na substância e Trino nas
pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Enquanto nos deixamos envolver por este excelso
mistério, admiramos a glória de Deus, que se reflecte na vida dos Santos; contemplamo-
la sobretudo naqueles que há pouco propus à veneração da Igreja universal: Jorge Preca,
Simão de Lipnica, Carlos de Santo André Houben e Maria Eugénia de Jesus Milleret. A
todos os peregrinos, aqui reunidos para prestar homenagem a estas testemunhas
exemplares do Evangelho, dirijo a minha cordial saudação. Saúdo, em particular, os
Senhores Cardeais, os Senhores Presidentes das Filipinas, da Irlanda, de Malta e da
Polónia, os venerados Irmãos no Episcopado, as Delegações governativas e as outras
Autoridades civis, que participam nesta celebração.
Na primeira Leitura, tirada do Livro dos Provérbios, entra em cena a Sabedoria,
que está ao lado de Deus como assistente, como "arquitecta" (8, 30). É maravilhosa a
"panorâmica" sobre a criação observada com os seus olhos. A própria Sabedoria
confessa: "brincando sobre o globo de sua terra e achando as minhas delícias junto dos
filhos do homem" (8, 31). É no meio dos seres humanos que lhe apraz habitar, porque
reconhece neles a imagem e a semelhança do Criador. Esta relação preferencial da
Sabedoria com os homens faz pensar num célebre trecho de outro livro sapiencial, o
Livro da Sabedoria: "Ela é um sopro do poder de Deus... Embora sendo única tudo
pode, é imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela derrama-se, de geração em
geração, pelas almas santas e forma os amigos de Deus e os profetas" (Sb 7, 25-27).
Esta última sugestiva expressão convida a considerar a multiforme e inexaurível
manifestação da santidade no povo de Deus ao longo dos séculos. A Sabedoria de Deus
manifesta-se na criação, na variedade e beleza dos seus elementos, mas as suas obras-
primas, onde realmente se manifesta a sua beleza e a sua grandeza, são os santos.
No trecho da Carta do apóstolo Paulo aos Romanos encontramos uma imagem
semelhante: a do amor de Deus "derramado nos corações" dos santos, isto é, dos
baptizados, "por meio do Espírito Santo" que lhes foi doado (cf. Rm 5, 5). É através de
Cristo que o dom do Espírito passa, "Pessoa-amor, Pessoa-dom", como o definiu o
Servo de Deus João Paulo II (Enc. Dominum et vivificantem, 10). Por meio de Cristo, o
Espírito de Deus chega até nós como princípio de vida nova, "santa". O Espírito coloca
o amor de Deus no coração dos crentes na forma concreta que Jesus de Nazaré tinha no
homem. Realiza-se assim quanto diz São Paulo na Carta aos Colossenses: "Cristo em
vós, esperança da glória" (1, 27). As "tribulações" não estão em contraste com esta
esperança, aliás, concorrem para a realizar, através da "paciência" e da "virtude
provada" (Rm 5, 3-4): é o caminho de Jesus, o caminho da Cruz.
Na mesma perspectiva, da Sabedoria de Deus encarnada em Cristo e
comunicada pelo Espírito Santo, o Evangelho sugeriu-nos que Deus Pai continua a
manifestar o seu desígnio de amor mediante os santos. Também aqui, acontece o que já
observámos em relação à Sabedoria: o Espírito de verdade revela o desígnio de Deus na
multiplicidade dos elementos da criação somos gratos por esta visibilidade da beleza e
da bondade de Deus nos elementos da criação e fá-lo sobretudo mediante as pessoas
humanas, de modo especial mediante os santos e as santas, nos quais transparece com
grande vigor a sua luz, a sua verdade, o seu amor. De facto, "a imagem do Deus
invisível" (Cl 1, 15) é propriamente só Jesus Cristo, "o Santo e o Justo" (Act 3, 14). Ele
é a Sabedoria encarnada, o Logos criador que encontra a sua alegria em habitar entre os
filhos dos homens, no meio dos quais armou a sua tenda (cf. Jo 1, 14). N'Ele aprouve a
Deus pôr "toda a plenitude" (cf. Cl 1, 19); ou, como diz Ele mesmo no trecho
evangélico de hoje: "Tudo quanto o Pai tem é Meu" (Jo 16, 15). Cada um dos Santos
participa da riqueza de Cristo retomada pelo Pai e comunicada no tempo oportuno. É
sempre a mesma santidade de Jesus, é sempre Ele, o "Santo", que o Espírito plasma nas
"almas santas", formando amigos de Jesus e testemunhas da sua santidade. E Jesus quer
fazer também de nós amigos seus. Precisamente neste dia abrimos o nosso coração para
que também na nossa vida cresça a amizade por Jesus, de forma que possamos
testemunhar a sua santidade, bondade e verdade.
Um amigo de Jesus e testemunha da santidade que vem d'Ele foi Jorge Preca,
nascido em La Valletta na ilha de Malta. Foi um sacerdote totalmente dedicado à
evangelização: com a pregação, com os escritos, com a guia espiritual e a administração
dos Sacramentos e, antes de tudo, com o exemplo da sua vida. A expressão do
Evangelho de João "Verbum caro factum est" orientou sempre a sua alma e a sua acção,
e assim o Senhor pôde servir-se dele para dar vida a uma obra benemérita, a "Sociedade
da Doutrina Cristã", obrigado pelo vosso compromisso! que tem por objectivo garantir
às paróquias o serviço qualificado de catequistas bem preparados e generosos. Alma
profundamente sacerdotal e mística, ele efundia-se em impulsos de amor a Deus, a
Jesus, à Virgem Maria e aos Santos. Gostava de repetir: "Senhor Deus, quanto te sou
devedor! Obrigado, Senhor Deus, e perdoa-me Senhor Deus!". Uma oração que
poderíamos repetir também nós, da qual nos poderíamos apropriar. São Jorge Preca
ajuda a Igreja a ser sempre, em Malta e no mundo, o eco fiel da voz de Cristo, Verbo
encarnado.
O novo santo, Simão de Lipnica, grande filho da terra polaca, testemunha de
Cristo e seguidor da espiritualidade de São Francisco de Assis, viveu numa época
distante, mas precisamente hoje é proposto à Igreja como modelo actual de um cristão
que animado pelo espírito do Evangelho está pronto a dedicar a vida pelos irmãos.
Assim, cheio da misericórdia que hauria da Eucaristia, não hesitou em levar ajuda aos
doentes atingidos pela peste, contraindo essa doença que o levou também à morte. Hoje
de modo particular confiamos à sua protecção todos os que sofrem por causa da
pobreza, da doença, da solidão e da injustiça social. Através da sua intercessão pedimos
para nós a graça do amor perseverante e activo, a Cristo e aos irmãos.
"O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos
foi dado". Na verdade, no caso do sacerdote passionista, Carlos de Santo André
Houben, observamos como este amor foi prodigalizado numa vida totalmente dedicada
ao cuidado das almas. Ao longo dos numerosos anos de ministério sacerdotal na
Inglaterra e na Irlanda, o povo o procurava para obter conselhos sábios, a sua solicitude
compassiva e o seu toque taumatúrgico. Na doença e no sofrimento reconheceu o rosto
de Cristo crucificado, a cuja devoção tinha dedicado toda a sua vida. Hauriu em
abundância das torrentes de água viva que brotava do lado trespassado, e com a força do
Espírito deu testemunho perante o mundo do amor do Pai. Durante as exéquias deste
sacerdote muito amado, afectuosamente chamado Padre Carlos de Mount Argus, o seu
Superior observou: "O povo já o declarou santo".
Maria Eugénia Milleret recorda-nos antes de tudo a importância da Eucaristia na
vida cristã e no crescimento espiritual. De facto, como ela mesma ressaltou, a sua
primeira comunhão foi um tempo forte, mesmo se não se apercebeu disso
completamente naquele momento. Cristo, presente no mais profundo do seu coração,
trabalhava nela, deixando-lhe o tempo de caminhar ao seu ritmo, de prosseguir a sua
busca interior que a levaria a doar-se totalmente ao Senhor na vida religiosa, em
resposta aos apelos do seu tempo. Ela compreendia sobretudo a importância de
transmitir às jovens gerações, em particular às jovens, uma formação intelectual, moral
e espiritual, que fizesse delas adultas capazes de se ocupar da vida da sua família,
sabendo dar a sua contribuição à Igreja e à sociedade. Durante toda a sua existência
encontrou a força para a sua missão na vida de oração, associando incessantemente
contemplação e acção. Que o exemplo de Santa Maria Eugénia convide os homens e as
mulheres de hoje a transmitir aos jovens os valores que os ajudem a tornar-se adultos
fortes e testemunhas jubilosas do Ressuscitado. Que os jovens não receiem acolher estes
valores morais e espirituais, vivê-los com paciência e fidelidade. Desta forma
construirão a sua personalidade e prepararão o seu porvir.
Queridos irmãos e irmãs, damos graças a Deus pelas maravilhas que realizou nos
Santos, nos quais resplandece a sua glória. Deixemo-nos atrair pelos seus exemplos,
deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos, para que toda a nossa existência se torne,
como a deles, um cântico de louvor para glória da Santíssima Trindade. Obtenha-nos
esta graça Maria, a Rainha dos Santos, e a intercessão destes quatro novos "Irmãos
maiores" que hoje veneramos com alegria. Amém.
12 DE OUTUBRO DE 2008
Caetano Errico (1791-1860)
Tornou-se santo, passando toda a sua vida nas ruas difíceis do bairro napolitano
de Secondigliano onde nasceu em 1791 e ali faleceu em 1860 e no confessionário onde,
de braços abertos, acolhia sobretudo quem tinha cometido faltas graves. Assim viveu
Caetano Errico, fundador dos missionários dos Sagrados Corações de Jesus e Maria.
Ainda em vida, já era chamado "o santo" e "o superior", por se ter tornado a
referência natural para todas as famílias.
A sua canonização João Paulo II beatificou-o a 14 de Abril de 2002 é um sinal
de esperança para Secondigliano que tem na igreja da "Addolorata", por ele construída,
uma recordação concreta e visível da sua obra.
No início do seu sacerdócio, foi professor de escola municipal e deu vida a uma
pastoral inovativa, assistindo os doentes do Hospital dos Incuráveis de Nápoles e
comprando-lhes os remédios; ajudando os mais necessitados; sustentando as famílias
que não tinham dinheiro para pagar a renda, evitando que caíssem nas mãos de
usurários; visitando os encarcerados e procurando garantir-lhes uma reinserção social.
Num difícil contexto social inventou uma pastoral a favor dos analfabetos e também das
adolescentes sem dote que arriscavam cair em mãos mal intencionadas.
A caridade e o amor pelos pobres e débeis foram os trilhos do seu sacerdócio,
consciente de que na Igreja se ocupa um lugar para servir. Conhecia bem a arte da
consolação, a paternidade de se sentar ao lado dos pecadores e desesperados para os
ajudar a encontrar o horizonte do amor de Deus. Uma missão que tem as suas raízes na
pobreza, que conheceu desde pequeno em família.
As suas palavras dirigidas a quantos não viviam na legalidade, convidando-os a
reconhecer-se pecadores para se reconciliar com Deus e os homens, permanecem ainda
válidas: "Ide para os braços do Pai, declarando-vos culpados e o Deus de bondade e
misericórdia riquíssimo, não vos expulsará da sua face e da sua presença".
Maria Bernarda (Verena) Bütler (1848-1924)
Maria Bernarda Bütler, suíça do cantão de Argóvia, viveu de 1848 a 1924.
Quando era jovem, Verena era este o seu nome de baptismo estava para se casar com
um seu coetâneo mas apercebeu-se estar apaixonada por Deus e tornou-se religiosa
franciscana, desejando dedicar-se à vida contemplativa, mas sob a sugestão de um bispo
do Equador, partiu em missão para a América.
Cresceu numa família cristã, particularmente devota à Eucaristia e à Mãe de
Deus. Entrou no mosteiro de Altstätten com 20 anos com o nome de Irmã Maria
Bernarda do Sagrado Coração de Maria. Mestra das noviças e por tres vezes eleita
superiora da comunidade, estava satisfeita com a sua vida contemplativa. Mas o seu ser
cada vez mais aberto espiritualmente às novidades fez-lhe aceitar a solicitação do Bispo
de Portovejo para ir para o Equador.
Partiu com seis companheiras e poucas certezas. Não se assustou com a missão
que encontrou diante de si em Chone, onde já não tinham sacerdotes nem prática
religiosa. Na pobreza absoluta, com delicadeza, soube entrar na cultura do povo do
Equador, aprendendo imediatamente a língua e iniciando o seu apostolado nas famílias.
No início a Ir. Bernarda queria permanecer ligada ao mosteiro suíço mas, logo,
percebeu a necessidade de fundar uma nova congregação: as irmãs franciscanas
missionárias de Maria Auxiliadora. Uma violenta perseguição anticristã obrigou-a a
deixar o Equador em 1895, sem uma meta exacta. Juntamente com 14 religiosas foi
recebida pelo Bispo de Cartagena, na Colômbia, estabelecendo-se numa ala do hospital
feminino e retomando a obra de serviço aos mais necessitados. Novas fundações foram
abertas na Colômbia, no Brasil e na Áustria. Dizia às suas religiosas: "Abri as vossas
casas para ajudar os pobres e marginalizados. Preferi o cuidado dos indigentes a
qualquer outra actividade". Morreu em 1924, com 76 anos. João Paulo II beatificou-a a
29 de Outubro de 1995.
Afonsa da Imaculada Conceição (1910-1946)
Por algumas horas as clarissas franciscanas de Kochi, no Kerala (Índia),
esquecerão os sofrimentos vividos na dramaticidade das vicissitudes que desde
Setembro passado envolvem a sua congregação, sobretudo, em Orissa, onde mais
dramáticas são as consequências da violência actuada pelos fundamentalistas hindus.
Amanhã, encontra-se-ão ao redor do altar da glória da irmã de hábito Afonsa da
Imaculada Conceição, no século Ana Muttathupadathu. Trata-se de um evento que
envolve toda a Igreja católica na Índia, num momento particularmente difícil, marcado
pelo ódio em relação aos cristãos. Com efeito, Afonsa é a primeira santa indiana. Última
de cinco filhos de uma família cristã de origens nobres, nasceu numa aldeia de
Kudamalur, a 19 de Agosto de 1910. Ficou órfã de mãe aos 3 meses, foi criada por uma
tia materna e educada por um tio sacerdote.
Contudo, foi a avó materna que a fez descobrir a fé e o amor pela oração já em
tenra idade: aos 5 anos guiava a oração nocturna da família.
Na época em que frequentou a escola primária, iniciou uma relação de amizade
com as crianças hindus, nas quais encontrou com frequência conforto na sua juventude,
marcada por graves e difíceis doenças e pelas opressões da tia à qual tinha sido
confiada. Mulher muito autoritária, a tia queria que ela casasse, aos 13 anos, com um
tabelião. Contudo, Ana já tinha aderido no seu coração ao projecto da Providência em
relação a ela. O encontro com o Pe. Muricken mudou a sua vida. Ele ajudou-a a entrar
no noviciado das Clarissas Franciscanas em Maio de 1927. Em Agosto de 1936, festa de
Santa Clara, emitiu a profissão perpétua. De físico frágil, continuou a sofrer ulteriores
enfermidades. Aceitou-as por amor ao Senhor. Faleceu a 28 de Julho de 1946 no
convento das Clarissas Franciscanas em Bharananganam. João Paulo II elevou-a às
honras dos altares, proclamando-a beata em Kottayam, durante a sua viagem à Índia.
Narcisa de Jesus Martillo Morán (1832-1869)
Músicos e cantores têm agora mais uma padroeira: é Narcisa de Jesus Martillo
Morán, jovem equatoriana falecida aos 37 anos, a 8 de Dezembro de 1869. Sempre
atenta às necessidades dos pobres e dos doentes, com o seu canto, expressão de uma fé
vivida com alegria e esperança, queria alcançar com a oração "o coração de Quem o
merecia", segundo as palavras da sua canção preferida que sabia interpretar inclusive
acompanhando-se com o violão. Sexta de nove filhos, desde menina tinha-se revelado
uma competente catequista na paróquia dominicana de Nobol, a cidade onde tinha
nascido em 1832. A crisma, recebida aos 7 anos, foi para ela o momento da grande
mudança espiritual: tinha como referência particular a figura de Santa Mariana de Jesus.
O último ano da sua existência foi vivido, como leiga, no convento dominicano do
Patrocínio em Lima no Peru. Uma escolha motivada pela busca da perfeição religiosa,
aconselhada por um religioso franciscano.
Depois da sua morte soube-se que esta jovem, sob a guia dos seus directores
espirituais, tinha feito voto particular de virgindade perpétua, pobreza, obediência,
clausura, vida eremítica, jejum a pão e água, comunhão quotidiana, confissão,
mortificação e oração. O último acto da sua existência foi a Eucaristia, no final da
novena para a Imaculada.
Tinha transformado um dos ambientes da sua casa natal em capela e com
frequência retirava-se em lugares solitários para meditar a Palavra de Deus, sobretudo
na região de Guayabo, hoje cheia das suas recordações.
Não obstante este árduo itinerário espiritual e penitencial, Narcisa tinha um
carácter alegre, divertido e amável com todos, nunca fazia ver os sinais das severas
privações às quais se submetia livremente. Manteve-se trabalhando como costureira
dando parte do que ganhava aos pobres e aos doentes. João Paulo II beatificou-a a 25 de
Outubro de 1992.
Homilia do Papa Bento XVI
Hoje, quatro novas figuras de Santos são propostas à veneração da Igreja
universal: Caetano Errico, Maria Bernarda Bütler, Afonsa da Imaculada Conceição e
Narcisa de Jesus Martillo Morán. A liturgia apresenta-no-las com a imagem evangélica
dos convidados que participam no banquete revestidos com a roupa nupcial.
Encontramos a imagem do banquete também na primeira Leitura e em várias outras
páginas da Bíblia: trata-se de uma imagem jubilosa, porque o banquete acompanha uma
festa de bodas, a Aliança de amor entre Deus e o seu Povo. Para esta Aliança os profetas
do Antigo Testamento orientaram constantemente a expectativa de Israel. E numa época
caracterizada por provações de todos os tipos, quando as dificuldades corriam o risco de
desencorajar o Povo eleito, eis que se elevava a palavra animadora do profetas Isaías:
"O Senhor dos exércitos preparará afirma ele no alto deste monte, para todos os povos
do mundo, um banquete de carnes gordas... de vinhos finos, de carnes suculentas e de
vinhos refinados" (25, 6). Deus porá fim à tristeza e à vergonha do seu Povo, que então
finalmente poderá viver feliz, em comunhão com Ele. Deus nunca abandona o seu
Povo: por isso, o profeta exorta à alegria: "Eis o nosso Deus! Era nele que esperávamos,
para que nos salvasse: celebremos e comemoremos a sua salvação" (v. 9).
Se a primeira Leitura exalta a fidelidade de Deus à sua promessa, com a parábola
do banquete nupcial o Evangelho faz-nos reflectir acerca da resposta humana. Alguns
convidados da primeira hora rejeitaram o convite, porque se sentiam atraídos por
diferentes interesses; outros chegaram a desprezar o convite do rei, suscitando um
castigo que se abateu não somente sobre eles, mas sobre toda a cidade. Contudo, o rei
não desanima e envia os seus servos em busca de outros comensais para encher a sala
do seu banquete. Assim, a rejeição dos primeiros tem como efeito a extensão do convite
a todos, com uma predilecção especial pelos pobres e deserdados. Foi o que aconteceu
no Mistério pascal: a prepotência do mal foi derrotada pela omnipotência do amor de
Deus. O Senhor ressuscitado já pode convidar todos para o banquete da alegria pascal,
oferecendo Ele mesmo aos comensais a veste nupcial, símbolo do dom gratuito da graça
santificadora.
Porém, à generosidade de Deus é necessário que corresponda a livre adesão do
homem. Foi precisamente este caminho generoso que percorreram também aqueles que
hoje veneramos como Santos. No baptismo, eles receberam a veste nupcial da graça
divina, conservaram-na pura ou purificaram-na e tornaram-na resplandecente durante o
curso da vida mediante os Sacramentos. Agora, participam no banquete nupcial do Céu.
Da festa final do Céu é antecipação o banquete da Eucaristia, ao qual o Senhor nos
convida todos os dias e no qual devemos participar com a veste nupcial da sua graça. Se
esta veste se mancha ou chega mesmo a dilacerar-se, a bondade de Deus não nos rejeita,
nem nos abandona ao nosso destino, mas oferece-nos mediante o sacramento da
Reconciliação a possibilidade de restabelecer na sua integridade a veste nupcial
necessária para a festa.
Portanto, o ministério da Reconciliação constitui um ministério sempre actual. A
ele, o sacerdote Caetano Errico, Fundador da Congregação dos Missionários dos
Sagrados Corações de Jesus e de Maria, dedicou-se com diligência, assiduidade e
paciência, sem jamais se negar nem se poupar. Assim, ele inscreve-se entre as
extraordinárias figuras de presbíteros que, incansáveis, fizeram do confessionário o
lugar para dispensar a misericórdia de Deus, ajudando os homens a encontrarem-se a si
mesmos, a lutarem contra o pecado e a progredirem ao longo do caminho da vida
espiritual. A estrada e o confessionário foram os lugares privilegiados da acção pastoral
deste novo Santo. A estrada permitia-lhe encontrar-se com as pessoas às quais dirigia o
seu convite habitual: "Deus quer-te bem, quando nos veremos?", e no confessionário
tornava-lhes possível o encontro com a misericórdia do Pai celestial. Quantas feridas da
alma ele curou desta forma! Quantas pessoas levou a reconciliar-se com Deus, mediante
o Sacramento do perdão! Deste modo, São Caetano Errico tornou-se um especialista na
"ciência" do perdão, e preocupou-se em ensiná-la aos seus missionários, recomendando-
lhes: "Deus, que não deseja a morte do pecador, é sempre mais misericordioso que os
seus ministros; por isso, sede tão misericordiosos quanto puderdes, porque encontrareis
a misericórdia junto de Deus".
Maria Bernarda Bütler, nascida em Auw no cantão suíço de Argóvia, cedo
experimentou um profundo amor pelo Senhor. Como ela mesma dizia: "É quase
impossível explicá-lo a quem não viveu a mesma experiência". Este amor levou Verena
Bütler, como então se chamava, a entrar no convento das Capuchinhas de Maria Hilf em
Altstätten, onde emitiu os votos com 21 anos de idade. Quando tinha 40 anos, recebeu a
chamada missionária e partiu para o Equador e depois para a Colômbia. No dia 29 de
Outubro de 1995, o meu venerado predecessor João Paulo II elevou-a às honras dos
altares pela sua vida e pelo seu compromisso em prol do próximo.
Madre Maria Bernarda, uma figura muito recordada e querida sobretudo na
Colômbia, compreendeu profundamente que a festa preparada pelo Senhor para todos os
povos é representada de modo muito particular pela Eucaristia. Nela, é o próprio Cristo
que nos recebe como amigos e se entrega por nós na mesa do pão e da palavra, entrando
em íntima comunhão com cada um. Esta é a fonte e o pilar da espiritualidade desta nova
Santa, assim como do seu impulso missionário, que a levou a deixar a sua terra natal, a
Suíça, para se abrir a outros horizontes evangelizadores no Equador e na Colômbia. Nas
sérias adversidades que teve de enfrentar, inclusive o exílio, levava impressa no seu
coração a exclamação do Salmo que hoje ouvimos: "Embora eu caminhe por um vale
tenebroso, nenhum mal temerei porque estás comigo" (Sl 23 [22], 4). Deste modo, dócil
à Palavra de Deus e seguindo o exemplo de Maria, fez como os empregados de que nos
fala a narração do Evangelho que ouvimos: em toda a parte proclamava que o Senhor
convida todos para a sua festa. Assim, tornava os outros partícipes do amor de Deus, a
quem ela consagrou a sua vida com fidelidade e alegria.
"Ele destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de
todas as faces" (Is 25, 8). Estas palavras do profeta Isaías contêm a promessa que
sustentou Afonsa da Imaculada Conceição durante uma vida de extremo sofrimento
físico e espiritual. Esta mulher extraordinária, que no dia de hoje é oferecida ao povo da
Índia como a sua primeira Santa canonizada, estava persuadida de que a sua cruz
constituía o instrumento apropriado para participar no banquete celestial que lhe tinha
sido preparado pelo Pai. Aceitando o convite à festa nupcial e adornando-se com a veste
da graça de Deus através da oração e da penitência, ela conformou a sua existência à
vida de Cristo e hoje delicia-se com as "carnes suculentas e os vinhos refinados" do
Reino celeste (cf. Is 25, 6). Escrevia: "Considero um dia sem sofrimento como um dia
perdido". Possamos imitá-la, carregando a nossa cruz para nos unirmos a ela um dia no
Paraíso.
A jovem leiga equatoriana Narcisa de Jesus Martillo Morán oferece-nos um
exemplo completo de resposta pronta e generosa ao convite que o Senhor nos dirige
para participarmos do seu amor. Já desde uma tenra idade, ao receber o sacramento da
Confirmação, sentiu com clareza no seu coração o chamamento a viver uma vida de
santidade e de consagração a Deus. Para secundar com docilidade a acção do Espírito
Santo na sua alma, procurou sempre o conselho e a guia de sacerdotes bons e peritos,
considerando a direcção espiritual como um dos meios mais eficazes para chegar à
santificação. Santa Narcisa de Jesus indica-nos o caminho de perfeição cristão acessível
a todos os fiéis. Apesar das abundantes e extraordinárias graças recebidas, transcorreu a
sua existência com grande simplicidade, dedicada ao seu trabalho como costureira e ao
seu apostolado como catequista. No seu amor apaixonado por Jesus, que a levou a
empreender um caminho de intensa oração e mortificação, identificando-se cada vez
mais com o mistério da Cruz, oferece-nos um testemunho atraente e um exemplo
completo da uma vida totalmente dedicada a Deus e aos irmãos.
Dilectos irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pelo dom da santidade, que
hoje resplandece na Igreja com beleza singular. Jesus convida cada um de nós a segui-
lo, como estes Santos, ao longo do caminho da cruz, para depois termos a herança da
vida eterna que, morrendo, Ele nos concedeu. Que os exemplos dos Santos nos sirvam
de encorajamento; os ensinamentos nos orientem e confortem; a intercessão nos
sustente nas dificuldades da vida quotidiana, a fim de que também nós possamos chegar
um dia a compartilhar com eles, e com todos os Santos, a alegria do banquete eterno na
Jerusalém celeste. Que nos conceda esta graça sobretudo Maria, Rainha dos Santos, que
no corrente mês de Outubro nós veneramos com uma devoção especial. Amém!
26 DE ABRIL DE 2009
Arcangelo Tadini (1846-1912)
ARCANGELO TADINI, sacerdote do interior de Brescia (Itália) que viveu de
1846 a 1912, é figura cristalina e fascinante. Homem de iniciativa, sacerdote autêntico,
soube entrelaçar ousadia e fé, amor pelos homens e amor a Deus, austeridade e ternura.
Nasce em Verolanuova (BS) a 12 de outubro de 1846. Terminados os estudos
primários na cidade natal, frequenta o ginásio em Lovere (BG).
Em 1864 entra no Seminário Diocesano de Brescia e em 1870 é ordenado
sacerdote. De 1871 a 1873 é nomeado vigário paroquial em Lodrino (BS), pequeno
vilarejo de montanha, e a partir de 1873 é capelão no Santuário de S. Maria della Noce,
periferia de Brescia.
Em 1885 inicia seu serviço em Botticino Sera (BS) como vigário; dois anos
depois é nomeado pároco, aí permanecendo até 1912, ano de sua morte. No dia da posse
afirma com força do púlpito: “Estarei com vocês, viverei com vocês, morrerei com
vocês”.
Os anos vividos em Botticino são os mais fecundos da vida do Tadini. Ele ama
os seus paroquianos como filhos e a eles se doa sem medida. Organiza o coral, a banda
musical, várias Confrarias, a Terceira Ordem Franciscana, as Filhas de S. Ângela
Merici; reforma a igreja, oferece a cada categoria de pessoas a catequese mais
apropriada, cuida da liturgia. Põe especial atenção na celebração dos Sacramentos.
Prepara as homilias levando em consideração tanto a Palavra de Deus e da Igreja como
a caminhada espiritual do seu povo. Quando fala do púlpito, todos ficam encantados
pelo calor e a força que suas palavras transmitem.
Sua atenção pastoral dirige-se sobretudo às novas pobrezas: para os
trabalhadores dá início à Associação Operária de Mútuo Socorro e constrói uma fiação
(fábrica têxtil) para dar trabalho às jovens da cidade que mais sofrem com a insegurança
e a exploração.
Em 1900 o Tadini funda a Congregação das Irmãs Operárias da Santa Casa de
Nazaré: mulheres consagradas, mas “operárias com as operárias” que educam as jovens
trabalhadoras não subindo em cátedra, mas trabalhando lado a lado com elas; não
proferindo grandes discursos, mas dando o exemplo de ganhar o pão com o suor do
próprio rosto. Escândalo para aquela época na qual as fábricas eram tidas por lugares
perigosos e desviantes.
Tadini oferece a suas Irmãs o exemplo de Jesus, Maria e José que na Casa de
Nazaré, no silêncio e escondimento, trabalharam e viveram com humildade e
simplicidade. Aponta o exemplo de Jesus que não só “sacrificou a si mesmo na cruz”
mas durante trinta anos, em Nazaré, não se envergonhou de usar as ferramentas do
carpinteiro e de “ter as mãos calejadas e o rosto lavado de suor”.
Por este seu espírito empreendedor, Tadini ganha calúnias e incompreensões,
também por parte da Igreja. Na realidade ele antecipa os tempos: intui que a Irmã,
operária entre as operárias, indica uma compreensão mais positiva do mundo do
trabalho, não mais visto como lugar contrário à Igreja, mas sim ambiente necessitado de
fermento evangélico, um mundo a ser encontrado mais que contrastado.
Ele mesmo tem consciência de que a sua Obra nasceu antes do tempo, mas está
firmemente convicto que não é obra dele mas de Deus: “Deus a quis, a orienta, a
aperfeiçoa, a conduz a bom termo”. A morte o colhe quando o sonho de sua vida ainda
não se completou, mas, como semente jogada na terra, no tempo certo produzirá frutos
abundantes.
Os Paroquianos de Botticino intuem a santidade de seu pároco e logo aprendem
a conhecer e a descobrir que, debaixo de sua discrição e austeridade, existe um coração
de pai atento e sensível à vida do povo feita de sacrifícios e duro trabalho. Aos seus
dotes naturais ele une grande capacidade de entrar na vida e no cotidiano das pessoas e
em breve se fala dele come de um sacerdote santo, um homem extraordinário... Mais
tarde se dirá dele: “É um de nós”!
Um de nós quando, cedo pela manhã, percorre as ruas da cidade e o seu passo
ressoa como despertador a quem se prepara para iniciar um novo dia de trabalho. Todos
sabem que aquele sacerdote, apaixonado por Deus e pela humanidade, levará na oração
a vida e as fadigas do seu povo.
Um de nós quando recolhe as lágrimas das mães preocupadas com a
precariedade do trabalho dos filhos; quando sonha, projeta e constrói a fiação para as
jovens da cidade a fim de que possam redescobrir sua dignidade de mulheres.
Um de nós quando inventa a família das Irmãs Operárias, mulheres consagradas
que, nos lugares de trabalho, sejam testemunhas de um Amor maior no simples
cotidiano da vida.
Um de nós porque ainda nos sorri, nos acompanha no nosso dia a dia e com suas
palavras nos convida a seguir seus passos: “A santidade que nos leva ao céu está em
nossas mãos. Se queremos possuí-la, uma coisa apenas precisamos fazer: amar a Deus”.
Com a canonização o Papa Bento XVI o oferece como exemplo para os
sacerdotes, o aponta como intercessor para as famílias, o entrega como protetor aos
trabalhadores.
Bernardo Tolomei (1272-1348)
Nació en Siena el 10 de mayo de 1272. En el bautismo recibió el nombre de
Giovanni. Fue educado en el colegio de Santo Domingo de Camporeggio, en Siena, por
los frailes predicadores (dominicos). Estudió derecho en su ciudad de origen, donde
también formó parte de la Cofradía de los Disciplinados de Santa María de la Noche,
que asistían a los enfermos en el hospital del lugar. Una ceguera progresiva, casi total, le
obligó a renunciar a una carrera pública.
En una época de luchas entre facciones ciudadanas, para realizar su ideal
cristiano y ascético, en el año 1313, casi a los cuarenta años, se retiró, junto con otros
dos nobles de Siena, a la soledad, en Accona, a cerca de 30 km de la ciudad. Allí, llevó
una vida eremítica en grutas. Tomó el nombre de Bernardo, por veneración al santo
abad cisterciense. La vida penitente de estos laicos eremitas se caracterizaba por la
oración, la lectio divina, el trabajo manual y el silencio. Poco a poco se les fueron
uniendo otros compañeros de Siena, Florencia y las regiones vecinas.
Para consolidar la posición jurídica del nuevo grupo, Bernardo acudió al obispo
de Arezzo, en cuya jurisdicción se encontraba Accona, y el 26 de marzo de 1319 obtuvo
un decreto de erección para el futuro monasterio de Santa María de Monte Oliveto, que
debía ponerse "sub regula sancti Benedicti", con algunos privilegios y exenciones. El
obispo, a través de un legado, recibió su profesión monástica. Al elegir la Regla de san
Benito, Bernardo tuvo que mitigar el rigor eremítico primitivo adoptando el
cenobitismo benedictino. Por el deseo de honrar a la Virgen, los fundadores vistieron un
hábito blanco.
Así, el 1 de abril de 1319 nació el monasterio de santa María de Monte Oliveto
Maggiore, con la bendición y colocación de la primera piedra de la iglesia. Desde
entonces, el desierto de Accona cambió su nombre por el de "Monte Oliveto" en
recuerdo del Monte de los Olivos, a donde el Señor Jesús solía retirarse con sus
discípulos y donde oró antes de su pasión.
El 1 de septiembre de 1319, en el momento de la elección de abad —cargo que
por decisión del capítulo general debía durar un año solamente—, Bernardo no quiso
aceptar, aduciendo su creciente ceguera, y fue elegido Patrizio Patrizi. Sin embargo,
después de un segundo abad, Simone di Tura, Bernardo no logró oponerse al deseo de
sus monjes y el 1 de septiembre de 1322 fue elegido abad del monasterio que él mismo
había fundado, cargo que ocupó hasta su muerte, pues era tal su prestigio y santidad que
los monjes lo volvieron a elegir durante veintiséis años consecutivos.
Con el paso del tiempo el cenobio de Santa María de Monte Oliveto se fue
convirtiendo en el centro de una congregación monástica. El número cada vez mayor de
personas que acudían desde varias ciudades al nuevo monasterio permitió a Bernardo
acoger las peticiones de obispos que querían que sus monjes se establecieran también en
sus ciudades y aldeas. Por eso, pudo fundar otros diez monasterios, íntimamente unidos
a la abadía principal, todos con el mismo nombre; la congregación era dirigida por un
solo abad, mientras que los monasterios estaban sólo bajo la autoridad de un prior. El 21
de enero de 1344, desde Aviñón, el Papa Clemente vi aprobó la congregación, ya
formada entonces por esos diez monasterios.
Bernardo dejó a sus monjes un ejemplo de vida santa, de práctica de las virtudes
en grado heroico y de una vida entregada al servicio de los demás y a la contemplación.
Durante la gran peste del año 1348, el santo abad abandonó la soledad de Monte Oliveto
para acudir al monasterio de San Benito en Porta Tufi, en Siena. Allí, a los 76 años,
asistiendo a sus conciudadanos y a sus monjes afectados por la infección fuertemente
contagiosa, murió víctima él mismo de la peste, junto con 82 monjes, en una fecha que
la tradición fijó el 20 de agosto de 1348.
Nuno de Santa Maria Álvares Pereira (1360-1431)
Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal a 24 de Junho de 1360, muito
provavelmente em Cernache do Bonjardim, sendo filho ilegítimo de fr. Álvaro
Gonçalves Pereira, cavaleiro dos Hospitalários de S. João de Jerusalém e Prior do Crato,
e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal. Cerca de um ano após o seu nascimento o menino
foi legitimado por decreto real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica
dos filhos das famílias nobres do seu tempo. Aos treze anos torna-se pajem da rainha D.
Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser pouco depois cavaleiro.
Aos dezasseis anos casa-se, por vontade de seu pai, com uma jovem e rica viúva, D.
Leonor de Alvim. Da sua união nascem três filhos, dois do sexo masculino, que morrem
em tenra idade, e uma do sexo feminino, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o
filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.
Quando o rei D. Fernando I morreu a 22 de Outubro de 1383 sem ter deixado
filhos varões, o seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa
lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter desposado a filha do falecido
rei. Nuno tomou o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é,
Comandante supremo do exército. Nuno conduziu o exército português repetidas vezes
à vitória, até se ter consagrado na batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), a qual
acaba por determinar à resolução do conflito.
Os dotes militares de Nuno eram no entanto acompanhados por uma
espiritualidade sincera e profunda. O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a
trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da
Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas.
Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das
maiores solenidades. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do
Crucificado, de Maria e dos cavaleiros S. Tiago e S. Jorge. Fez ainda construir às suas
próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de
Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória, na Batalha.
Com a morte da esposa, em 1387, Nuno recusa contrair novas núpcias, tornando-
se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente se alcançou a paz, distribui grande
parte dos seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabo por se
desfazer totalmente daqueles em 1423, quando decide entrar no convento carmelita por
ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria. Impelido pelo Amor,
abandona as armas e o poder para revestir-se da armadura do Espírito recomendada pela
Regra do Carmo: era a opção por uma mudança radical de vida em que sela o percurso
da fé autêntica que sempre o tinha norteado. Embora tivesse preferido retirar-se para
uma longínqua comunidade de Portugal, o filho do rei, D. Duarte, de tal o impediu. Mas
ninguém pode proibir-lhe que se dedicasse a pedir esmola em favor do convento e
sobretudo dos pobres, os quais continuou sempre a assistir e a servir. Em seu favor
organiza a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido.
O Condestável do rei de Portugal, o Comandante supremo do exército e seu guia
vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao entrar no convento recusa
todos os privilégios e assume como própria a condição mais humilde, a de frade Donato,
dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor, de Maria —a sua terna Padroeira que
sempre venerou—, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.
Significativo foi o dia da morte de frei Nuno de Santa Maria, o domingo de
Páscoa, 1 de Abril de 1431, passando imediatamente a ser reputado de “santo” pelo
povo, que desde então o começa a chamar “Santo Condestável”.
Mas, embora a fama de santidade de Nuno se mantenha constante, chegando
mesmo a aumentar, ao longo dos tempos, o percurso do processo de canonização será
bem mais acidentado. Promovido desde logo pelos soberanos portugueses e prosseguido
pela Ordem do Carmo, depara com numerosos obstáculos, de natureza exterior. Foi
somente em 1894 que o Pe. Anastasio Ronci, então postulador geral dos Carmelitas,
consegue introduzir o processo para o reconhecimento do culto do Beato Nuno “desde
tempos imemoriais”, acabando este por ser felizmente concluído, apesar das
dificuldades próprias do tempo em que decorre, no dia 23 de Dezembro de 1918 com o
decreto Clementissimus Deus do Papa Bento XV.
As suas relíquias foram trasladadas numerosas vezes do sepulcro original para a
Igreja do Carmo, até que, em 1961, por ocasião do sexto centenário do nascimento do
Beato Nuno, se organizou uma peregrinação do precioso relicário de prata que as
continha; mas pouco tempo depois é roubado, nunca mais tendo sido encontradas as
relíquias que contivera, tendo sido depostos, em vez delas, alguns ossos que tinham sido
conservados noutro lugar. A descoberta em 1966 do lugar do túmulo primitivo contendo
alguns fragmentos de ossos compatíveis com as relíquias conhecidas reacendeu o desejo
de ver o Beato Nuno proclamado em breve Santo da Igreja.
O Postulador Geral da Ordem, P. Felipe M. Amenós y Bonet, conseguiu que
fosse reaberta a causa, que entretanto era corroborada graças a um possível milagre
ocorrido em 2000. Tendo sido levadas a cabo as respectivas investigações, o Santo
Padre, Papa Bento XVI, dispõe a 3 de Julho de 2008 a promulgação do decreto sobre o
milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de Fevereiro de 2009
determina que o Beato Nuno seja inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de Abril de
2009.
Gertrudes Comensoli (1847-1903)
Nasceu numa família numerosa de Val Camonica (Itália). O seu desejo de amar
Jesus presente na Eucaristia impeliu-a a fazer com que lhe dessem a comunhão aos 7
anos usando um estratagema.
Em 1862 entrou no instituto das filhas da caridade em Lovere. Contudo, por
causa de uma doença foi obrigada a voltar para a família. Dificuldades económicas
impuseram-lhe de deixar a cidade e trabalhar como doméstica, primeiro em Chiari,
depois na casa da condessa Fè-Vitali.
Na Solenidade de Corpus Christi de 1878 confirmou o voto perpétuo de
virgindade, já emitido no dia da primeira comunhão. Falecidos os pais, revelou o seu
ideal eucarístico ao bispo de Bérgamo, D. Speranza, que a encorajou.
Em 1880 encontrou-se com Leão XIII e confidenciou-lhe a intenção de fundar
um instituto dedicado à adoração eucarística. O Papa exortou-a a unir a ela também a
educação das jovens operárias.
A 15 de Dezembro de 1882, juntamente com duas companheiras, fundou a
congregação das irmãs sacramentinas de Bérgamo. Devido a incompreensões, deixou a
cidade e refugiou-se em Lodi, onde o bispo, a 8 de Setembro de 1891, erigiu
canonicamente o instituto.
Superadas as dificuldades, no dia 28 de Março de 1892, Gertrude regressou a
Bérgamo.
Catarina Volpicelli (1839-1894)
CATARINA VOLPICELLI, Fundadora das Servas do Sagrado Coração,
pertence à classe dos «apostólos, dos pobres e marginalizados», que no século XIX para
Nápoles foram um luminoso sinal da presença de Cristo «Bom Samaritano», que se
aproxima de cada homem que sofre no corpo e no espírito, para derramar sobre suas
feridas, o óleo da consolação e o vinho da esperança (cf. Missal Romano, 2° ed.
Italiana, Roma 1983, Prefácio comum VIII, p. 3752).
Nascida em Nápoles, no dia 21 de janeiro de 1839, Catarina recebeu no seio de
sua família de alta burguesia, uma sólida formação humana e religiosa. No colégio
educandário San Marcelino, sob a guia sábia de Margarida Salatino (futura fundadora
com o Beato Ludovico da Casoria das Irmãs Franciscanas Elisabetinas Bigie), aprendeu
letras, línguas e música, o que não era frequente para as mulheres do seu tempo.
Guiada então pelo Espírito do Senhor, que lhe revelava o projetode Deus através
da voz dos sábios e santos diretores espirituais, Catarina que, no entanto, julgava-se
mais importante que a sua irmã, a brilhar na sociedade frequentando teatros e
espetáculos de danças, renunciou com prontidão os efêmeros valores de uma vida
elegante e despreocupada, para aderir com generosa decisão a uma vocação de perfeita
santidade.
O encontro ocasional com o Beato Ludovico da Casoria em 19 de setembro de
1854, em «La Palma» em Nápoles, foi como afirmou a mesma Bem Aventurada: «um
momento singular de graça providencial, de caridade e de predileção do S. Coração,
enamorado pelas misérias de sua humilde serva».O Bem Aventurado a associou à
Ordem Franciscana Secular e indicou como único objetivo de sua vida, o culto ao
Sagrado Coração de Jesus, convidando-a para permanecer em meio à sociedade, na qual
deveria «ser pescadora de almas».
Guiada, então pelo seu confessor, o barnabita Pe. Leonardo Matera, em 28 de
maio de 1859, Catarina entrou entre as Adoradoras Perpétuas de Jesus Sacramentado,
saindo porém com pouco tempo, por graves motivos de saúde.
O desígnio de Deus sobre Catarina era outro, havia bem entendido o Beato
Ludovico da Casoria que muitas vezes dizia: «O Coração de Jesus é a tua obra,
Catarina! ».
Sob a indicação do seu Confessor, Catarina conhece o bilhete mensal do
Apostolado da Oração da França, recebendo através dele noticias detalhadas da nascente
associação com o diploma de Zeladora, sendo o primeiro que chegou na Itália. Em julho
de 1867, Pe. Ramière visita o Palácio de Largo Petrone em Nápoles, onde Catarina
pensava estabelecer a sede de suas atividades apostólicas, para «fazer renascer nos
corações, nas famílias e na sociedade o amor por Jesus Cristo».
O Apostolado da Oração, será o ponto central da espiritualidade de Catarina, que
a impulsionará a cultivar o seu ardente amor pela Eucaristia, através do qual será
instrumento de Ação Pastoral sob as dimensões do Coração de Cristo, abrindo-se a cada
homem, sempre a serviço da Igreja, dos últimos e dos sofredores.
Com as primeiras Zeladoras, no dia 1° de julho de 1874, Catarina funda o novo
Instituto das Servas do Sagrado Coração, aprovado antes pelo Cardeal Arcebispo de
Nápoles, o Servo de Deus, Sisto Riario Sforza, e em seguida aos 13 de junho de 1890,
pelo Papa Leão XIII, que concede à nova família religiosa o «Decreto de louvor ».
Preocupada pela sorte da juventude, abriu o orfanato das «Margherite», fundou
uma biblioteca circulante e instituiu a Associação das Filhas de Maria, com a sábia guia
da venerável Maria Rosa Carafa Traetto († 1890).
Em breve tempo abriu outras casas: em Nápoles, no Palácio San Severo e depois
na Sapienza, em Ponticelli, onde as Servas distinguiram-se na assistência às vítimas da
cólera em 1884, em Minturno, em Meta di Sorrento e em Roma.
Aos 14 de maio de 1884 o novo Arcebispo de Nápoles, o Cardeal Guglielmo
Sanfelice, OSB, consagrou o Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, que a
Volpicelli havia construído ao lado da Casa Madre, destinando-o particolarmente à
adoração reparadora pedida pelo Papa, para sustentar a Igreja, num período difícil para a
liberdade religiosa e para o anúncio evangélico.
A participação de Catarina no primeiro Congresso Eucarístico Nacional,
celebrado em Nápoles em 1891 (19-22 de novembro) foi um ato culminante do
Apostolado da Fundadora e das Servas do Sagrado Coração. Naquela ocasião, realizou
uma rica exposição de paramentos sacros destinados às igrejas necessitadas, organizou a
Adoração Eucarística na Catedral e foi a animadora daquele movimento, levando muitas
pessoas à confissão e «Comunhão geral ».
Catarina Volpicelli, morreu em Nápoles no dia 28 de dezembro de 1894,
oferecendo a sua vida pela Igreja e o Santo Padre.
A causa de Beatificação e Canonização das eminentes testemunhas de caridade
do Coração de Cristo, após a instrução do Processo Ordinário nos anos 1896-1902 na
Cúria Eclesiástica de Nápoles, foi oficialmente introduzida naquele tempo, à Sagrada
Congregação dos Ritos aos 11 de janeiro de 1911.
Em 25 de março de 1945 o Santo Padre Pio XII, declarava as virtudes heróicas
de Catarina, atribuindo-lhe o titulo de Venerável.
Em 28 de junho de 1999, Sua Santidade João Paulo II, aprova a leitura do
decreto da sua Beatificação.
No dia 29 de abril de 2001 Sua Santidade Papa João Paulo II a proclamou Bem-
aventurada.
No dia 6 dezembro de 2008 o Santo Padre Papa Bento XVI dispõe a
promulgação do Decreto a respeito do milagre para a Canonização.
Homilia do Papa Bento XVI
Neste terceiro domingo do tempo pascal, a liturgia traz mais uma vez ao centro
da nossa atenção o mistério de Cristo ressuscitado. Vitorioso sobre o mal e sobre a
morte, o Autor da vida, que se imolou como vítima de expiação pelos nossos pecados,
"continua a oferecer-se por nós e intercede como nosso advogado; sacrificado na cruz
não volta a morrer e vive imortal com os sinais da paixão" (cf. Prefácio pascal, 3).
Deixemo-nos inundar interiormente pelo esplendor pascal que promana deste grande
mistério, e como Salmo responsorial rezemos: "Resplandeça sobre nós, ó Senhor, a luz
do teu rosto".
A luz do rosto de Cristo ressuscitado resplandece sobre nós particularmente
através das características evangélicas dos cinco Beatos que nesta celebração são
inscritos no álbum dos Santos: Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Nuno de Santa
Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina Volpicelli. Uno-me de bom
grado à homenagem que lhes prestam os peregrinos de várias nações, aqui reunidos, aos
quais dirijo com grande afecto uma cordial saudação. As diversas vicissitudes humanas
e espirituais destes novos Santos mostram a renovação profunda que o mistério da
ressurreição de Cristo realiza no coração do homem; mistério fundamental que orienta e
guia toda a história da salvação. Justamente portanto a Igreja nos convida sempre, e
ainda mais neste tempo pascal, a dirigir os nossos olhares para Cristo ressuscitado,
realmente presente no Sacramento da Eucaristia.
Na página evangélica, São Lucas narra uma das aparições de Jesus ressuscitado
(24, 35-48). Precisamente no início do trecho, o evangelista escreve que os dois
discípulos de Emaús, regressando à pressa a Jerusalém, contaram aos Onze como o
tinham reconhecido "ao partir do pão" (v. 35). E enquanto eles estavam a narrar a
extraordinária experiência do seu encontro com o Senhor, Ele "esteve pessoalmente no
meio deles" (v. 36). Por causa desta sua improvisa aparição os Apóstolos permaneceram
amedrontados e assustados, a ponto que Jesus, para os tranquilizar e vencer qualquer
hesitação e dúvida, disse-lhes que lhe tocassem não era um fantasma, – mas um homem
de carne e osso – e em seguida pediu de comer. Mais uma vez, como tinha acontecido
com os dois de Emaús, é enquanto está à mesa e come com os seus, que Cristo
ressuscitado se manifesta aos discípulos, ajudando-os a compreender as Escrituras e a
reler os acontecimentos da salvação à luz da Páscoa. "É preciso que se cumpram – diz
ele – todas as coisas escritas sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos"
(v. 44). E convida-os a olhar para o futuro: "em seu nome serão pregados a todos os
povos a conversão e o perdão dos pecados" (v. 47).
Cada comunidade revive esta mesma experiência na celebração eucarística,
sobretudo na dominical. A Eucaristia, o lugar privilegiado no qual a Igreja reconhece "o
autor da vida" (cf. Act 3, 15), é "a fracção do pão", como é chamada nos Actos dos
Apóstolos. Nela, mediante a fé, entramos em comunhão com Cristo, que é "altar, vítima
e sacerdote" (cf. Prefácio pascal, 5) e está no meio de nós. Reunimo-nos em volta d'Ele
para fazer memória das suas palavras e dos acontecimentos contidos na Escritura;
revivemos a sua paixão, morte e ressurreição. Celebrando a Eucaristia comunicamos
com Cristo, vítima de expiação, e d'Ele obtemos perdão e vida. O que seria a nossa vida
de cristãos sem a Eucaristia? A Eucaristia é a herança perpétua e viva que o Senhor nos
deixou no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, que devemos constantemente
reconsiderar e aprofundar para que, como afirmava o venerado Papa Paulo VI, possa
"imprimir a sua inexaurível eficácia sobre todos os dias da nossa vida mortal"
(Insegnamenti, v [1967], p. 779). Alimentados pelo Pão eucarístico, os santos que hoje
veneramos, cumpriram a sua missão de amor evangélico nos diversos campos, nos quais
empregaram os seus peculiares carismas.
Transcorria longas horas em oração diante da Eucaristia o Santo Arcangelo
Tadini, o qual, tendo sempre como finalidade no seu ministério pastoral a pessoa
humana na sua totalidade, ajudava os seus paroquianos a crescer humana e
espiritualmente. Este santo sacerdote, este santo pároco, homem totalmente de Deus,
pronto em todas as circunstâncias a deixar-se guiar pelo Espírito Santo, estava ao
mesmo tempo disponível para acolher as urgências do momento e para lhes encontrar a
solução. Por isso, assumiu muitas iniciativas concretas e corajosas, como a organização
da "Sociedade Operária Católica de Mútuo Socorro", a construção da fiação e do
internato para as operárias e a fundação, em 1900, da "Congregação das Irmãs Operárias
da Santa Casa de Nazaré", com a finalidade de evangelizar o mundo do trabalho através
da partilha da fadiga, a exemplo da Sagrada Família de Nazaré. Como foi profética a
intuição carismática do Pe. Tadini e como permanece actual o seu exemplo também
hoje, numa época de grave crise económica! Ele recorda-nos que só cultivando uma
relação constante e profunda com o Senhor, especialmente no Sacramento da Eucaristia,
podemos ser depois capazes de levar o fermento do Evangelho às várias actividades
laborativas e em todos os âmbitos da nossa sociedade.
Também em São Bernardo Tolomei, iniciador de um singular movimento
monástico beneditino, sobressai o amor pela oração e pelo trabalho manual. A sua
existência foi eucarística, toda dedicada à contemplação, que se traduzia em serviço
humilde ao próximo. Devido ao seu singular espírito de humildade e de acolhimento
fraterno, os monges reelegeram-no abade por vinte e sete anos consecutivos, até à
morte. Além, disso, para garantir o futuro da sua obra, obteve de Clemente VI, a 21 de
Janeiro de 1344, a aprovação pontifícia da nova Congregação beneditina, chamada
"Santa Maria de Monte Oliveto". Por ocasião da grande peste de 1348, deixou a solidão
de Monte Oliveto para ir ao mosteiro de São Bento em Porta Tufi, em Sena, a fim de
assistir os seus monges atingidos pelo mal, e morreu ele mesmo vítima da doença como
autêntico mártir da caridade. Do exemplo deste Santo chega até nós o convite para
traduzir a nossa fé numa vida dedicada a Deus na oração e ao serviço do próximo sob o
estímulo de uma caridade pronta também para o sacrifício supremo.
"Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo" (Sl 4,
4). Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-
aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida
situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela
nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos –
não sem um desígnio particular de Deus – abrindo novas rotas que haviam de propiciar
a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se
instrumento deste desígnio superior e alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de
testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo. Características dele são uma
intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo
militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção
suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção de
Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía
publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do
Carmo por ele mandado construir. Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura
exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos
aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação,
mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e princípios da
vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.
Uma particular atracção por Jesus presente na Eucaristia sentiu desde menina
Santa Geltrude Comensoli. A adoração de Cristo eucarístico tornou-se a finalidade
principal da sua vida, poderíamos quase dizer a condição habitual da sua existência. De
facto, foi diante da Eucaristia que Santa Geltrude compreendeu a sua vocação e missão
na Igreja: a de se dedicar sem reservas à acção apostólica e missionária, sobretudo a
favor da juventude. Nasceu assim, em obediência ao Papa Leão XIII, o seu Instituto que
se propunha transformar a "caridade contemplada" no Cristo eucarístico, em "caridade
vivida" na dedicação ao próximo necessitado. Numa sociedade desorientada e muitas
vezes ferida, como a nossa, a uma juventude, como a dos nossos tempos, em busca de
valores e de um sentido para a própria existência, Santa Geltrude indica como firme
ponto de referência o Deus que na Eucaristia se fez nosso companheiro de viagem.
Recorda-nos que "a adoração deve prevalecer acima de todas as obras de caridade"
porque é do amor a Cristo morto e ressuscitado, realmente presente no Sacramento
eucarístico, que brota aquela caridade evangélica que nos impele a considerar todos os
homens nossos irmãos.
Testemunha do amor divino foi também Santa Caterina Volpicelli, que se
esforçou por "ser de Cristo, para conduzir a Cristo" quantos teve a ventura de encontrar
na Nápoles nos finais do séc. XIX, num tempo de crise espiritual e social. Também para
ela o segredo foi a Eucaristia. Recomendava às suas primeiras colaboradoras que
cultivassem uma intensa vida espiritual na oração e, sobretudo, o contacto vital com
Jesus eucarístico. Esta é também hoje a condição para prosseguir a obra e a missão por
ela iniciada e deixada em herança às "Servas do Sagrado Coração". Para ser autênticas
educadoras da fé, desejosas de transmitir às novas gerações os valores da cultura cristã,
é indispensável, como gostava de repetir, libertar Deus das prisões nas quais os homens
o colocaram. De facto, só no Coração de Cristo a humanidade pode encontrar a sua
"morada permanente". Santa Caterina mostra às suas filhas espirituais e a todos nós, o
caminho exigente de uma conversão que mude radicalmente o coração, e se transforme
em acções coerentes com o Evangelho. Assim é possível lançar as bases para construir
uma sociedade aberta à justiça e à solidariedade, superando aquele desequilíbrio
económico e cultural que continua a subsistir em grande parte do nosso planeta.
Amados irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pelo dom da santidade, que
hoje resplandece na Igreja com singular beleza em Arcangelo Tadini, Bernardo
Tolomei, Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina
Volpicelli. Deixemo-nos atrair pelos seus exemplos, deixemo-nos guiar pelos seus
ensinamentos, a fim de que também a nossa existência se torne um cântico de louvor a
Deus, nas pegadas de Jesus, adorado com fé no mistério eucarístico e servido com
generosidade no nosso próximo. Que nos obtenha a realização desta missão evangélica
a materna intercessão de Maria, Rainha dos Santos, e destes novos cinco luminosos
exemplos de santidade, que hoje com alegria veneramos. Amém!
11 DE OUTUBRO DE 2009
Zygmunt Szczęsny Feliński (1822-1895)
Nació el 1 de noviembre de 1822 en Wojutyn, Polonia (hoy Ucrania), de la
noble familia de Gerard y Eva Wendorff, escritora. Fue el séptimo de once hijos. De sus
padres aprendió el amor a Dios, el sacrificio por la patria y el respeto por el hombre.
Estos valores fueron su fuerza cuando en 1833 perdió a su padre y en 1838 su madre fue
deportada a Siberia a causa de su actividad patriótica en favor de los campesinos, y
cuando el Gobierno zarista confiscó el patrimonio de la familia.
Cursó matemáticas en la universidad imperial de Moscú y en 1847 se trasladó a
París, donde recibió formación humanística en la Sorbona y en el Colegio de Francia.
Allí se mantuvo en contacto con los emigrantes polacos. Testimonio de su patriotismo
es su participación en la insurrección de Poznan en 1848.
En 1851 volvió a su patria e ingresó en el seminario diocesano de Zytomierz.
Prosiguió sus estudios en la Academia eclesiástica católica de San Petersburgo (Rusia).
Ordenado sacerdote en septiembre de 1855, inició su ministerio ayudando a los padres
dominicos en la parroquia de Santa Catalina, en esa ciudad (1855-1857); luego como
director espiritual de los alumnos de la Academia eclesiástica y, por último, como
profesor de filosofía. En 1856 fundó en San Petersburgo el "Refugio para los pobres" y
en 1857 la congregación religiosa de las Franciscanas de la Familia de María.
El 6 de enero de 1862, el Papa Pío IX lo nombró arzobispo de Varsovia. Fue
consagrado el 26 de enero en la iglesia de San Juan de Jerusalén, de San Petersburgo.
Inmediatamente emprendió el viaje hacia su archidiócesis, donde estaba vigente el
estado de asedio impuesto por las autoridades rusas del zar. Todas las iglesias estaban
cerradas por orden de los obispos en protesta por las sangrientas represalias del ejército
ruso. El 13 de febrero de 1862 reconsagró la catedral, profanada por las tropas rusas, y
al día siguiente abrió todas las iglesias de la capital.
Sólo pudo gobernar su archidiócesis durante dieciséis meses —desde el 9 de
febrero de 1862 hasta el 14 de junio de 1863—, en un clima de desconfianza por parte
de diversos sectores de la sociedad e incluso del clero. Lleno de espíritu apostólico,
realizó una amplia actividad encaminada a fomentar la renovación religiosa y moral de
la nación y, al mismo tiempo, a suprimir sistemáticamente la injerencia gubernamental
en los asuntos internos de la Iglesia. Hizo visitas pastorales a las parroquias y a las
instituciones de caridad. Para dar impulso a los estudios teológicos reformó los
programas de la Academia eclesiástica de Varsovia y de los seminarios diocesanos.
Incrementó el nivel espiritual e intelectual del clero. Estimuló a los párrocos a anunciar
la Palabra de Dios, a dar catequesis, a fundar escuelas de enseñanza primaria y a
promover la sana vida moral del pueblo.
Propagó el culto al Santísimo Sacramento y a la Madre de Dios. Se interesó
mucho por los pobres de la capital y especialmente por los niños abandonados, para los
que fundó una guardería, que encomendó a las religiosas Franciscanas de la Familia de
María, llamándolas de San Petersburgo.
Después de la insurrección de enero de 1863 contra las crueles represalias del
Gobierno ruso, escribió al zar Alejandro ii, solicitándole que pusiera fin al
derramamiento de sangre. Más tarde denunció contra la ejecución en la horca del
capuchino Agrypin Konarski (12 de junio de 1863), capellán de los insurgentes. Por sus
enérgicas intervenciones en contra de la actuación de las autoridades rusas, fue
deportado el 14 de junio de 1863 a Jaroslavl, a orillas del Volga, en el centro de Rusia,
donde pasó veinte años entre grandes penurias. Allí se interesó por los católicos,
especialmente por los sacerdotes deportados a Siberia, llevando a cabo diversas obras de
misericordia. Recaudó fondos para la construcción de una iglesia católica en Jaroslavl.
Gracias a las negociaciones entre la Santa Sede y Rusia, fue liberado en 1883,
pero no pudo regresar a su archidiócesis de Varsovia. El Papa León XIII le dio la sede
titular de Tarso.
Los últimos doce años de su vida los pasó en semidestierro en Dzwiniczka
(diócesis de Leópolis), bajo el dominio austríaco. También en ese lugar trabajó
incansablemente por el bien espiritual de los campesinos polacos y ucranianos.
Promovió su instrucción, erigiendo la primera escuela del país; fundó un orfanato para
niños; construyó una iglesia y el convento para las religiosas Franciscanas de la Familia
de María.
Murió el 17 de septiembre de 1895, con fama de santidad, en la ciudad de
Cracovia. Desde abril de 1921, sus restos mortales descansan en la iglesia catedral de
Varsovia. Dejó como herencia "un hábito, un breviario y mucho amor entre la gente".
Fue beatificado por el siervo de Dios Juan Pablo II el 18 de agosto de 2002 en
Cracovia1.
Francisco Coll y Guitart (1812-1875)
Nació en Gombrèn, diócesis de Vic y provincia de Gerona (España), el 18 de
mayo de 1812 y al día siguiente recibió el bautismo. Era el menor de diez hermanos. Al
poco tiempo murió su padre, y su madre se defendió entre mil dificultades económicas.
Desde la infancia se sintió inclinado al sacerdocio y en 1823 ingresó en el
seminario de la capital de su diócesis, donde cursó estudios humanísticos y el trienio
filosófico. En 1830 ingresó en la Orden de Predicadores en el convento de la
Anunciación de Gerona. Tras el año de noviciado y la profesión religiosa, se entregó al
estudio de la teología y recibió las órdenes sagradas hasta el diaconado inclusive.
En agosto de 1835, cuando el Gobierno central decretó la suspensión de las
Órdenes religiosas, se vio obligado a abandonar el convento con sus hermanos de
comunidad. Vivió con una fidelidad extraordinaria a sus reglas, obediencia fiel a los
superiores y un gran amor a todo lo que constituía su vocación dominicana, a pesar de
que a lo largo de la vida no fue posible restaurar convento alguno de frailes de la Orden
de Predicadores en el territorio de la provincia de Aragón, a la que pertenecía.
Recibió el presbiterado en Solsona el 28 de mayo de 1836 y, al comprobar que
no se autorizaba la reapertura de conventos, de acuerdo con los superiores ofreció su
servicio ministerial al obispo de Vic. Este lo envió como coadjutor a la parroquia de
Artés, primero, y poco después, en diciembre de 1839, a la de Moià.
Desde el comienzo de su entrega al ministerio asumió tareas que iban más allá
de las estrictamente parroquiales. El celo que le devoraba lo salvó de la inercia de la
exclaustración. En un principio formó parte de la "Hermandad apostólica" que
1 L'Osservatore Romano, Edición semanal en lengua española - Año XLI, n. 42 - 16 de octubre de 2009.
promovió san Antonio María Claret, y se entregó a predicar ejercicios espirituales y
misiones populares. Este último, arzobispo y fundador de los Hijos del Corazón
Inmaculado de María, decía sobre su compañero de predicación: "Donde yo predico,
todavía puede venir el padre Coll a añadir algo; pero donde predica él, a mí ya no me
queda nada que hacer". En 1848 recibió el título de "misionero apostólico". Varios
prelados lo llamaron a sus diócesis para que desarrollara una predicación misionera, que
fue pacificadora en tiempo de frecuentes conflictos civiles. Su nombre se hizo popular
en las diferentes comarcas de Cataluña.
Reclamaban a porfía su predicación evangélica orientada a reavivar la fe en
medio del pueblo de Dios y a conseguir el retorno de los alejados a las prácticas
religiosas. Se valió muy especialmente del rosario, que propagó entre la gente de
pueblos y ciudades por medio de la renovación de cofradías, establecimiento del
"Rosario perpetuo" al que se apuntaban miles de personas, e instrucciones dirigidas a
los fieles para que meditaran con fruto sus misterios. Con este mismo objetivo publicó
pequeños libros, titulados "La hermosa rosa" y "Escala del cielo", de los que se hicieron
varias ediciones con gran número de ejemplares en cada una de ellas, porque los
distribuía abundantemente en las misiones. Predicaba todos los años la cuaresma y los
meses de mayo y octubre en honor de María en núcleos importantes por su población,
como Barcelona, Lérida, Vic, Gerona, Solsona, Manresa, Igualada, Tremp, Agramunt y
Balaguer...
Al comprobar la ignorancia religiosa y la falta de correspondencia a las normas
de la vida cristiana por parte de los bautizados, fundó el 15 de agosto de 1856 la
congregación de Hermanas Dominicas de la Anunciata, para la santificación de sus
miembros y la educación cristiana de la infancia y de la juventud, muy afectadas por el
abandono y la ignorancia religiosa. Actualmente está presente no sólo en Europa, sino
también en América, África y Asia.
La entrega a la predicación, particularmente por medio de ejercicios espirituales
dirigidos a sacerdotes y religiosas, misiones populares, cuaresmas, novenarios y otros
modos de evangelización continuó hasta el fin de su vida, aun cuando en los cinco
últimos años se vio afectado por una apoplejía progresiva y la consiguiente ceguera, que
se le declaró el mismo día en que los obispos del mundo católico se reunían en Roma
para iniciar los trabajos del concilio Vaticano I.
Falleció santamente en Vic el 2 de abril de 1875. Fue beatificado por el siervo de
Dios Juan Pablo II el 29 de abril de 1979.
Josef Daamian de Veuster (1840-1889)
José de Veuster nació en Tremelo (Bélgica), el 3 de enero de 1840, en una
familia numerosa de agricultores-comerciantes. Durante un retiro espiritual en Braine-
le-Comte, donde estudiaba, decidió seguir la llamada de Dios a la vida religiosa y entró
en la congregación de los Sagrados Corazones de Jesús y de María, en la que ya le había
precedido su hermano. A principios de 1859, comenzó el noviciado en Lovaina. Tomó
el nombre de Damián.
En 1863, su hermano, que iba a partir para la misión de las islas Hawai, cayó
enfermo. Ya estaban listos todos los preparativos para el viaje, y Damián obtuvo del
superior general el permiso para sustituir a su hermano. Desembarcó en Honolulú el 19
de marzo de 1864 y allí fue ordenado sacerdote el 21 de mayo siguiente. Sin esperar
más, se entregó en cuerpo y alma a la áspera vida de misionero por los poblados de
Hawai, la mayor de las islas del archipiélago.
Por aquellos días, para frenar la propagación de la lepra, el Gobierno de Hawai
decidió deportar a Molokai, una isla cercana, a cuantos estuviesen afectados por la
enfermedad, entonces incurable. El obispo, monseñor Louis Maigret, ss.cc., habló de
ello con sus sacerdotes. A nadie quería enviar allí por obediencia, sabiendo que una
orden semejante era una condena a muerte. Se ofrecieron cuatro misioneros: irían por
turno a visitar y asistir a los leprosos en su desamparo. Damián fue el primero en partir:
era el 10 de mayo de 1873. A petición propia y de los mismos enfermos, se quedó
definitivamente en Molokai.
Impulsado por el deseo de aliviar el sufrimiento de los leprosos, se interesó por
los progresos de la ciencia. Experimentó en sí mismo nuevos tratamientos, que
compartía con sus enfermos. Día tras día, cuidaba de los enfermos, vendaba sus heridas
hediondas, reconfortaba a los moribundos, enterraba a quienes habían terminado su
calvario. "Hago lo imposible —decía— por mostrarme siempre alegre, para levantar el
ánimo de mis enfermos". Su fe, su optimismo, su disponibilidad conmovían los
corazones. Todos se sentían invitados a compartir su alegría de vivir, a superar, con la
fe, los límites de su miseria y angustia.
"El infierno de Molokai", impregnado de egoísmos, de desesperación y de
inmoralidad, se transformó gracias a él en una comunidad que causaba admiración
incluso al Gobierno. Orfanato, iglesia, viviendas, equipamientos colectivos: todo se
realizaba con la ayuda de los menos impedidos. Se amplió el hospital, se
acondicionaron el desembarcadero y sus caminos de acceso, al mismo tiempo que se
tendía una conducción de agua. Damián abrió un almacén en el que los enfermos podían
aprovisionarse gratuitamente. Alentaba a su gente a cultivar la tierra y plantar flores.
Para entretenimiento de sus leprosos, organizó incluso una banda de música. Así,
Damián hacía redescubrir a los leprosos que a los ojos de Dios todo hombre es algo
precioso, porque los ama como un padre.
Damián concebía su presencia en medio de los leprosos como la de un padre
entre sus hijos. Conocía los riesgos del trato cotidiano con sus enfermos. Tomando
todas las precauciones razonables, consiguió durante más de una década escapar al
contagio. Sin embargo, acabó enfermando también él. Con plena confianza en Dios,
declaró en esos momentos: "Estoy feliz y contento, y si me dieran a escoger la salida de
este lugar a cambio de la salud, respondería sin dudarlo: Me quedo con mis leprosos
toda mi vida".
Murió el 15 de abril de 1889. Más tarde, en 1936, sus restos fueron repatriados y
depositados en la cripta de la iglesia de la congregación de los Sagrados Corazones en
Lovaina.
Su partida para la "isla maldita" y su permanencia fiel en ella tienen una razón.
Así lo testimonia él mismo: "Sin la presencia de nuestro divino Maestro en mi pobre
capilla, jamás habría podido mantener unida mi suerte a la de los leprosos de Molokai".
La noticia de su enfermedad en 1885 y su muerte impresionó profundamente a
sus contemporáneos, cualquiera que fuese su confesión religiosa. Desde su
desaparición, fue considerado como un modelo y un héroe de la caridad.
Fue beatificado en Bruselas por el siervo de Dios Juan Pablo II el 4 de junio de
1995.
Rafael Arnáiz Barón (1911-1938)
Nació en Burgos (España) el 9 de abril de 1911, de una familia de alta sociedad
y profundamente religiosa. En esa misma ciudad fue bautizado y confirmado. Comenzó
sus estudios en el colegio de los padres jesuitas y recibió por primera vez la Eucaristía
en 1919.
En esos años tuvo la primera visita de la que habría de ser su asidua compañera:
una enfermedad de fiebres colibacilares que le obligó a interrumpir sus estudios.
Cuando se recuperó, su padre, en agradecimiento a lo que consideró una intervención
especial de la santísima Virgen, a finales del verano de 1921 lo llevó a Zaragoza, donde
lo consagró a la Virgen del Pilar.
Su familia se trasladó a Oviedo, y allí continuó sus estudios de bachillerato, en el
colegio de los padres jesuitas y al terminar se matriculó en la Escuela superior de
arquitectura de Madrid, donde supo unir el estudio con una ardiente y asidua vida de
piedad; había introducido en su horario de estudio una larga visita diaria a "el Amo" en
el oratorio de Caballero de Gracia, y participaba puntualmente en su turno de adoración
nocturna.
De inteligencia brillante y ecléctica, Rafael tenía destacadas dotes para la
amistad y buen trato. Poseía un carácter alegre y jovial; era deportista, rico en talento
para el dibujo y la pintura; le gustaba la música y el teatro. A la vez que crecía en edad y
desarrollaba su personalidad, crecía también en su experiencia espiritual de vida
cristiana.
En su corazón bien dispuesto a escuchar Dios quiso suscitar la invitación a una
consagración especial en la vida contemplativa. Había conocido la trapa de San Isidro
de Dueñas y se sintió fuertemente atraído porque la percibió como el lugar que
correspondía a sus íntimos deseos. Así, en diciembre de 1933 interrumpió sus cursos en
la universidad, y el 16 de enero 1934 entró en el monasterio de San Isidro.
Después de los primeros meses de noviciado y la primera Cuaresma vividos con
entusiasmo en medio de las austeridades de la trapa, de improviso Dios quiso probarlo
misteriosamente con una penosa enfermedad: una aguda diabetes sacarina, que lo
obligó a abandonar apresuradamente el monasterio y a regresar a casa de sus padres
para ser cuidado adecuadamente.
Regresó a la trapa apenas restablecido, pero la enfermedad le obligó a abandonar
varias veces el monasterio, donde volvió otras tantas veces para responder generosa y
fielmente a la llamada de Dios.
Se santificó en la gozosa y heroica fidelidad a su vocación, en la aceptación
amorosa de los planes de Dios y del misterio de la cruz, en la búsqueda apasionada del
rostro de Dios; le fascinaba la contemplación de lo Absoluto; tenía una tierna filial
devoción a la Virgen María —la "Señora" como le gustaba llamarla—. Falleció en la
madrugada del 26 de abril de 1938, recién cumplidos los 27 años. Fue sepultado en el
cementerio del monasterio, y después en la iglesia abacial.
Muy pronto su fama de santidad se extendió fuera de los muros del convento.
Sus numerosos escritos ascéticos y místicos continúan difundiéndose con gran
aceptación y para el bien de cuantos entran en contacto con él. Ha sido definido como
uno de los más grandes místicos del siglo XX.
El 19 de agosto de 1989 el Papa Juan Pablo II, con ocasión de la Jornada
mundial de la juventud en Santiago de Compostela, lo propuso como modelo para los
jóvenes del mundo de hoy y el 27 de septiembre de 1992 lo proclamó beato.
Con su canonización el Papa Benedicto XVI lo presenta como amigo, ejemplo e
intercesor a todos los fieles, sobre todo a los jóvenes.
Marie de la Croix (Jeanne) Jugan (1792-1879)
Nació en Cancale (Bretaña, Francia), el 25 de octubre de 1792, en plena
tormenta revolucionaria. Fue la sexta de una familia de ocho hijos. Su padre, pescador,
como la mayoría de los hombres de su región, desapareció en el mar cuatro años más
tarde. Su madre se quedó sola para mantener y educar a sus cuatro hijos (otros cuatro
habían fallecido de pequeños).
De su madre y de su tierra natal Juana heredó una fe viva y profunda, un carácter
firme, una fuerza de alma que ninguna dificultad podía hacer titubear. Como
consecuencia del clima político y de las dificultades económicas, Juana no pudo ir a la
escuela. Aprendió a leer y a escribir gracias a las terciarias eudistas, muy extendidas en
la región, que le enseñaron el catecismo. Siendo aún niña, rezaba el rosario mientras
guardaba el ganado en los altos acantilados que dominan la bahía de Cancale, en un
marco de belleza que eleva y engrandece el alma. De vuelta a su casa, ayudaba a su
madre en las tareas domésticas. A los 15 años, se iba a trabajar a cinco kilómetros de
Cancale a una casa señorial; junto con la propietaria salía al encuentro de los más
necesitados. Al ser ella misma pobre, percibía la humillación que sentían los pobres a
los que "asistía".
Juana tuvo la certeza de que Dios la llamaba a su servicio. Por eso dejó sin
esperanza a un joven marinero que la pidió en matrimonio y al que dijo: "Dios me
quiere para él. Me reserva para una obra desconocida, para una obra que aún no está
fundada". Trabajó durante seis años de ayudante-enfermera, e ingresó en la Tercera
Orden del Corazón de la Madre Admirable (eudista), donde descubrió el cristianismo
del corazón: "No tener más que una vida, un corazón, un alma, una voluntad con
Jesús". Hizo la experiencia de una vida a la vez activa y contemplativa, centrada en
Jesús. Desde entonces, sólo tenía un deseo: "Ser humilde como lo fue Jesús". Por
motivos de salud, dejó el hospital y fue acogida por una amiga terciaria, la señorita
Lecoq, a la que sirvió durante doce años, hasta su muerte en 1835.
Una tarde de invierno de 1839, Juana encontró a una pobre anciana, ciega y
enferma, que acababa de quedarse sola. Conmovida, sin dudar un segundo, la tomó en
sus brazos, le dio su cama y ella se instaló en el desván. Esta fue la chispa inicial de un
gran fuego de caridad. A partir de entonces, nada la detuvo. En 1841 alquiló un local en
el que acogió a doce ancianas. Varias jóvenes se unieron a ella. En 1842, adquirió —sin
dinero— un antiguo convento en ruinas, donde muy pronto albergaría a cuarenta
ancianos. Para poder hacer frente al problema económico y animada por un Hermano de
san Juan de Dios, salió a la calle con un cesto en el brazo, se hizo mendiga para los
pobres y fundó su obra confiando en la Providencia de Dios. En 1845, recibió el premio
"Montyon", que la Academia Francesa otorgaba como recompensa al "francés pobre
que haya hecho durante el año la acción más virtuosa". Siguieron las fundaciones de
Rennes y Dinan en 1846, la de Tours en 1847, la de Angers en 1850, por mencionar
sólo aquellas en las que Juana participó, ya que pronto la congregación se extendió por
Europa, América y África y, poco después de su muerte, por Asia y Oceanía.
En 1843, cuando Juana volvió a ser elegida superiora, el padre Le Pailleur,
consejero desde los comienzos de la obra, inesperadamente y con su sola autoridad
anuló la elección y nombró a Marie Jamet (21 años) en su lugar. Juana vio en ello la
voluntad de Dios y se sometió. Desde ese momento y hasta 1852, sostuvo su obra por
medio de colectas, yendo de casa en casa, animando con su ejemplo a las jóvenes
hermanas sin experiencia, y obteniendo las autorizaciones oficiales necesarias para el
desarrollo del instituto.
En 1852, el obispo de Rennes reconoció oficialmente la congregación y nombró
al padre Le Pailleur superior general de la misma. Su primer acto fue llamar
definitivamente a Juana Jugan a la casa madre, donde vivió retirada los últimos
veintisiete años de su vida. ¡Misterio de ocultamiento! Durante todo ese tiempo, las
jóvenes hermanas ni siquiera sabían que ella era la fundadora. Pero Juana, viviendo
entre las novicias y postulantes, cada vez más numerosas a causa de la extensión de la
obra, transmitía con su serenidad, su sabiduría y sus consejos el carisma de la
congregación que ella había recibido del Señor.
Murió el 29 de agosto de 1879, después de haber pronunciado estas últimas
palabras: "Padre eterno, abrid vuestras puertas, hoy, a la más miserable de vuestras
hijas, pero que tiene un deseo tan grande de veros... ¡Oh María, mi buena Madre, ven a
mí! Tú sabes que te amo y cuánto deseo verte".
La congregación contaba entonces con 2400 religiosas y 177 casas repartidas en
tres continentes. "Si el grano de trigo caído en tierra no muere, queda solo; pero si
muere, da mucho fruto".
Fue beatificada por el siervo de Dios Juan Pablo II el 3 de octubre de 1982.
Homilia do Papa Bento XVI
"Que devo fazer para alcançar a vida eterna?". Com esta pergunta tem início o
breve diálogo, que ouvimos na página evangélica, entre um tal, alhures identificado
como o jovem rico, e Jesus (cf. Mc 10, 17-37). Não possuímos muitos pormenores
sobre esta personagem anónima; das poucas linhas conseguimos contudo compreender o
seu desejo sincero de alcançar a vida eterna, levando uma existência terrena honesta e
virtuosa. De facto, conhece os mandamentos e observa-os fielmente desde a juventude.
Contudo isto, que certamente é importante, não é suficiente – diz Jesus – falta uma só
coisa, mas que é essencial. Ao vê-lo bem disposto, o Mestre divino fixa-o com amor e
propõe-lhe o salto de qualidade, chama-o ao heroísmo da santidade, pede-lhe para
abandonar tudo a fim de o seguir: "Vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres...
depois, vem e segue-Me!" (v. 21).
"Vem e segue-Me!". Eis a vocação crista que brota de uma proposta de amor do
Senhor, e que só se pode realizar graças a uma nossa resposta de amor. Jesus convida os
seus discípulos ao dom total da sua vida, sem cálculos nem vantagens humanas, com
uma confiança em Deus sem hesitações. Os santos acolhem este convite exigente, e
põem-se com docilidade humilde no seguimento de Cristo crucificado e ressuscitado. A
sua perfeição, na lógica da fé por vezes humanamente incompreensível, consiste em não
colocar a si mesmos no centro, mas em escolher ir contra a corrente vivendo segundo o
Evangelho. Assim fizeram os cinco santos que hoje, com grande alegria, são elevados à
veneração da Igreja universal: Zygmunt Szczesny Felinski, Francisco Coll y Guitart,
Jozef Damiaan De Veuster, Rafael Arnáiz Barón e Marie de la Croix (Jeanne) Jugan.
Neles contemplamos realizadas as palavras do Apóstolo Pedro: "Aqui estamos, nós que
deixamos tudo e Te seguimos" (v. 28) e a confortadora certeza de Jesus: "Quem tiver
deixado casa, irmãos, irmas, mae, pai, filhos ou campos por Minha causa e da Boa
Nova, receberá cem vezes mais agora... juntamente com perseguições, e no tempo
futuro, a vida eterna" (vv. 29-30).
Zygmunt Szczesny Felinski, Arcebispo de Varsóvia, fundador da Congregação
das Franciscanas da Família de Maria, foi uma grande testemunha da fé e da caridade
pastoral em tempos muito difíceis para a nação e para a Igreja na Polónia. Preocupou-se
com zelo pelo crescimento espiritual dos fiéis, ajudava os pobres e os órfãos. Ocupou-se
na Academia Eclesiástica de Sampetersburgo de uma sólida formação dos sacerdotes.
Como Arcebispo de Varsóvia inflamou todos para uma renovação interior. Antes da
insurreição de Janeiro de 1863 contra a anexação russa admoestou o povo acerca do
inútil derramamento de sangue. Mas quando explodiu a revolta e se verificaram as
repressões, defendeu corajosamente os oprimidos. Por ordem do czar russo transcorreu
vinte anos no exílio em Jaroslaw no Volga, sem nunca mais poder regressar à sua
diocese. Em todas as situações conservou inabalável a confiança na Divina Providencia,
e assim rezava: "Oh, Deus, protegei-nos não das tribulações nem das perseguições deste
mundo... mas multiplicai o amor nos nossos corações e fazei que com a mais profunda
humildade mantenhamos a infinita confiança na Vossa ajuda e misericórdia...". Hoje o
seu doar-se a Deus e aos homens, cheio de confiança e de amor, torna-se um exemplo
resplandecente para toda a Igreja.
São Paulo recorda-nos na segunda leitura que "a Palavra de Deus é viva e eficaz"
(Hb 4, 12). Nela, o Pai, que está no céu, conversa amorosamente com os seus filhos de
todos os tempos (cf. Dei Verbum, 21), dando-lhes a conhecer o seu amor infinito e,
deste modo, estimula-os, conforta-os e oferece-lhes o seu desígnio de salvação para a
humanidade e para cada pessoa. Consciente disto, São Francisco Coll dedicou-se
abnegadamente na sua propagação, cumprindo assim fielmente a sua vocação na Ordem
dos Pregadores, na qual emitiu a profissão. A sua paixão foi pregar, em grande parte de
modo itinerante e seguindo a forma de "missões regulares", com a finalidade de
anunciar e reavivar nos povoados e cidades da Catalunha a Palavra de Deus, facilitando
assim o encontro profundo dos povos com Ele. Um encontro que leva à conversão do
coração, a receber com alegria a graça divina e a manter um diálogo constante com
nosso Senhor mediante a oração. Por isso, a sua actividade evangelizadora incluía uma
grande entrega ao sacramento da Reconciliação, uma especial ênfase na Eucaristia e
uma insistência constante na oração. Francisco Coll atingia o coração do próximo
porque transmitia o que ele mesmo vivia com paixão no seu interior, o que ardia no seu
coração: o amor de Cristo, a sua entrega a Ele. Para que a semente da Palavra de Deus
encontrasse terra boa, Francisco fundou a Congregação das Irmas Dominicanas da
Anunciação, com a finalidade de dar uma educação integral a crianças e jovens, de
modo que pudessem descobrir a riqueza insondável que é Cristo, esse amigo fiel que
nunca nos abandona nem se cansa de estar ao nosso lado, animando a nossa esperança
com a sua Palavra de vida.
Jozef De Veuster, que na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria
recebeu o nome de Damiaan, quando tinha 23 anos, em 1863, deixou a sua terra natal, a
Flandres, para anunciar o Evangelho do outro lado do mundo, nas Ilhas Hawaii. A sua
actividade missionária, que lhe deu tanta alegria, alcança o seu ápice na caridade. Não
sem receio e repugnância, fez a escolha de ir para a Ilha de Molokai ao serviço dos
leprosos que ali se encontravam, abandonados por todos; assim expôs-se à doença da
qual eles sofriam. Com eles sentia-se em casa. O servidor da Palavra tornou-se assim
um servidor sofredor, leproso com os leprosos, durante os últimos anos da sua vida.
Para seguir Cristo, o Padre Damiaan não só deixou a sua pátria, mas também pôs
em perigo a sua saúde: por isso ele – como diz a palavra de Jesus que nos foi anunciada
no Evangelho de hoje – recebeu a vida eterna (cf. Mc 10, 30). Neste vigésimo
aniversário da canonização de outro santo belga, o Irmão Mutien-Marie, a Igreja na
Bélgica está unida mais uma vez para dar graças a Deus por um dos seus filhos
reconhecidos como autentico servo de Deus. Recordemo-nos diante desta nobre figura
que é a caridade que faz a unidade: ela cria-a e torna-a desejável. No seguimento de São
Paulo, São Damiaan convida-nos a escolher o bom combate (cf. 1 Tm 1, 18), não os que
levam à divisão, mas os que unem. Ele convida-nos a abrir os olhos sobre as lepras que
desfiguram a humanidade dos nossos irmãos e interpelam ainda hoje, mais do que a
nossa generosidade, a caridade da nossa presença servidora.
Da figura do jovem que apresenta a Jesus o seu desejo de ser algo mais do que
um bom cumpridor dos deveres que a lei impõe, voltando ao Evangelho de hoje, é
reflexo o Irmão Rafael, hoje canonizado, falecido aos vinte e sete anos como Oblato na
Cartuxa de San Isidro de Duenas. Também ele era de família abastada e, como ele
mesmo diz, de "alma um pouco sonhadora", mas os seus sonhos não esvanecem diante
do apego aos bens materiais e a outras metas que a vida do mundo propõe por vezes
com grande insistência. Ele disse sim à proposta de seguir Jesus, de modo imediato e
decidido, sem limites nem condições. Desta forma, começou um caminho que, desde o
momento em que se apercebeu no mosteiro de que "não sabia rezar", o levou em poucos
anos ao apogeu da vida espiritual, que ele narra com grande simplicidade e naturalidade
em numerosos escritos. O Irmão Rafael, estando próximo de nós, continua a oferecer-
nos com o seu exemplo e com as suas obras um caminho atraente, sobretudo para os
jovens que não se conformam com pouco, mas que aspiram à plena verdade, à mais
indizível alegria, que se alcança pelo amor a Deus. "Vida de amor... Eis a única razão de
viver", diz o novo Santo. E insiste: "Do amor de Deus tudo provém". Que o Senhor
ouça benévolo uma das últimas orações de São Rafael Arnáiz, quando lhe entregava
toda a sua vida, suplicando: "Aceita-me a mim e oferece-te Tu ao mundo". Que se
ofereça para que os seus Irmãos da Cartuxa e os centros monásticos continuem a ser o
farol que faz descobrir o íntimo anseio de Deus que Ele colocou em cada coração
humano.
Pela sua obra admirável ao serviço das pessoas idosas mais necessitadas, Santa
Marie de la Croix é também um farol para guiar as nossas sociedades que devem
redescobrir sempre o lugar e a contribuição única desta fase da vida. Nascida em 1792
em Cancale, na Bretanha, Jeanne Jugan preocupava-se com a dignidade dos seus irmãos
e irmãs em humanidade, que a idade tornou vulneráveis, reconhecendo neles a pessoa
de Cristo. "Olhai para o pobre com compaixão, dizia ela, e Jesus olhará para vós com
bondade, no vosso último dia". Este olhar de compaixão sobre as pessoas idosas,
baseado na sua profunda comunhão com Deus, Jeanne Jugan levou-a através do seu
serviço jubiloso e abnegado, exercido com doçura e humildade de coração, querendo ser
ela mesma pobre entre os pobres. Jeanne viveu o mistério de amor aceitando, em paz, a
obscuridade e o despojamento até à morte. O seu carisma é sempre actual, quando tantas
pessoas idosas sofrem múltiplas pobrezas e solidões, sendo por vezes até abandonadas
pelas suas famílias. O espírito de hospitalidade e de amor fraterno, fundado numa
confiança ilimitada na Providencia, no qual Jeanne Jugan encontrava a fonte nas Bem-
Aventuranças, iluminou toda a sua existência. Este impulso evangélico prossegue hoje
através do mundo na Congregação das Pequenas Irmãs dos Pobres, que ela fundou e que
testemunha no seu seguimento da misericórdia de Deus e do amor compassivo do
Coração de Jesus pelos mais pequeninos. Que Santa Jeanne Jugan seja para todas as
pessoas idosas uma fonte viva de esperança, e para as pessoas que se põem
generosamente ao seu serviço, um estímulo poderoso a fim de prosseguir e desenvolver
a sua obra!
Queridos irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pelo dom da santidade, que
hoje resplandece na Igreja com beleza singular. Ao saudar com afecto cada um de vós –
Cardeais, Bispos, Autoridades civis e militares, sacerdotes, religiosos e religiosas, fiéis
leigos de várias nacionalidades que participais nesta solene celebração eucarística –
gostaria de dirigir a todos o convite a deixar-vos atrair pelos exemplos luminosos destes
Santos, a deixar-vos guiar pelos seus ensinamentos para que toda a nossa existência se
torne um cântico de louvor ao amor de Deus. Obtenha-nos esta graça a sua celeste
intercessão e sobretudo a materna protecção de Maria, Rainha dos Santos e Mãe da
humanidade. Amém.
17 DE OUTUBRO DE 2010