A Sededa Light
Quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1905, a Light
instalou seu escritório no prédio de números 76, 78 e
80 da então Avenida Central, atual Rio Branco. E,no dia
13 de abril de 1912, a companhia deixou seu primeiro
endereço para ocupar sua nova e definitiva sede, situada
na Avenida Marechal Floriano nº 168, onde antes ficavam
os escritórios e currais da Companhia de Carris Urbanos.
Sede da Light 1911, Mortimer
A Sededa Light
Além de abrigar a administração da Light nos
seus dois pavimentos superiores, o novo edi-
fício centralizava, no térreo, o atendimento ao
público e as principais linhas de bondes urbanos.
Projetado pelo escritório nova-iorquino do
primeiro presidente e principal organizador da
Light, o engenheiro Frederick Stark Pearson
(1861-1914), o edifício possui 12.168,68 metros
quadrados e foi construído num prazo recorde
de 18 meses, em estilo renascença americana.
Parte da história da cidade continua preser-
vada em seu interior, onde está localizado o
Centro Cultural Light, através de fotos e
objetos.
O prédio tem um conjunto de características
arquitetônicas que o fazem único no Brasil, daí
o seu tombamento e preservação. A primeira
é a sua estrutura metálica que, assim como os
principais elementos do prédio, foi importada
dos Estados Unidos. Inusitadamente deixada
aparente, a estrutura permitiu a utilização
de grandes áreas abertas para escritórios –
um conceito arquitetônico e administrativo
também pouco usual para a época.
Outra característica marcante é a grande
diferença entre o tratamento dado à sua
fachada principal, muito elaborada, e as de-
mais fachadas, simples, de alvenaria de tijo-
los maciços também aparentes, com grandes
esquadrias de ferro. Essas fachadas, típicas
da arquitetura americana e inglesa da época,
por si sós já constituíam algo fora do comum
na cidade, uma vez que aqui eram utilizadas
somente em prédios industriais.
A fachada principal, associada às demais
características, torna o edifício um legítimo
representante da Renascença Americana, estilo
arquitetônico em moda nos Estados Unidos na
época da construção do prédio e que, através
da utilização de elementos clássicos na com-
posição da fachada, representava uma reação
à balbúrdia de estilos.
Sede da Light 1911, Mortimer
A Sededa Light
Fabricada pela Atlantic Terracotta Company,
de Tonenville (NY), a fachada é inteiramente
composta por peças pré-moldadas de terraco-
ta do tipo carraraware (barro refratário coz-
ido, coberto por camada cerâmica que imita
mármore), armadas por estrutura de ferro e
montadas no local. Esse material, conhecido há
séculos, foi amplamente utilizado em con-
struções importantes de grande porte inglesas
e americanas no período de 1840 a 1910. Sua
aplicação começou a diminuir perto da Primeira
Guerra Mundial e praticamente desapareceu
na época da Segunda Guerra Mundial.
Com exceção do prédio da Light, não se tem
notícia de outra utilização no Brasil. Quais
os motivos que levaram os dirigentes a es-
colher um estilo e materiais tão tipicamente
norte-americanos para construir a sede da
companhia, numa cidade onde cultura e
técnica eram perfeitamente suficientes para
produzir arquitetura de qualidade? Talvez a
rapidez de construção fosse muito importante,
ou talvez desejassem marcar, pela peculiari-
dade e diferença, a presença da empresa que
se tornaria a grande impulsionadora do desen-
volvimento da cidade. De qualquer maneira, o
prédio da Light se tornou, e permanece, uma
referência no Rio de Janeiro.
A história do prédio da Light pode ser dividida
em períodos marcados pelas principais refor-
mas, que buscavam, em geral, mais espaço
para atender ao crescimento dos serviços e
também – desde sempre – amenizar a
temperatura interna.
O período inicial dessa história vai de 1911 até
1928. Recém-construído, e ainda nos primeiros
anos de sua ocupação, o prédio apresentava
suas feições originais.
Os bondes entravam pelo vão central do
térreo, atravessavam o prédio e estacionavam
no pátio, sob galpões. Os funcionários e visi-
tantes entravam pela porta da esquerda, onde
até hoje se situa o hall de visitantes e que, com
exceção do piso e dos elevadores, mantém as
características desse período: revestimento em
mármore de Carrara e guichê de informações
de bronze. Pela entrada da direita chegavam
os consumidores, que faziam seus pagamentos
também em guichês, também de bronze, que
já não existem. Foi aí a primeira agência da
Light, uma tradição que só foi interrompida na
década de 80, voltando em 1990. Só existiam,
portanto, as duas marquises menores e o reló-
gio da fachada, comandado por um relógio
mestre central.
A faixa central do prédio era coberta por
uma clarabóia de vidro que, com outras duas
clarabóias mais estreitas, deixava passar a luz
por aberturas cercadas por guarda-corpos no
segundo pavimento e por um piso de lajotas
de vidro no teto do térreo. Havia outras
aberturas e duas escadas em caracol.
Na parte posterior, existia um elevador
gradeado, cercado por uma escada de ferro.
PrimeiroPeríodo
As áreas de circulação eram revestidas por
mosaico de pastilhas brancas, verdes e aver-
melhadas, enquanto que as áreas de trabalho,
separadas apenas por cercas baixas, tinham
piso e tábuas corridas. Algumas paredes eram
revestidas com ladrilhos hidráulicos verdes e a
faixa de escritórios junto à fachada principal
tinha curiosos painéis de aço, que existiram
até sua destruição, em 1989.
O segundo período se iniciou em 1928, quan-
do o crescimento dos serviços fez com que o
atendimento aos consumidores passasse a ser
feito em nova pagadoria no primeiro pavimen-
to, com guichês de madeira e conforto para
o público. É dessa época, também, a primeira
batalha de uma longa guerra contra o calor
dentro do prédio. A clarabóia central foi
substituída por um conjunto de possantes
exaustores colocados sobre um novo telhado
em shed. Com isso, diminuiu-se a abertura no
segundo pavimento e eliminaram-se as outras
aberturas secundárias.
Em 1927, começou a construção do Edifício
Anexo, ligado ao prédio principal. Com o
objetivo de formar um conjunto homogêneo,
ambos os edifícios tiveram suas fachadas
revestidas com pó-de-pedra.
SegundoPeríodo
Clarabóia
Escritório de Arrecadação 1930, Malta
Atendimento aos Consumidores 1936, Rembrandt
Em 1935, o prédio passou pela sua maior refor-
ma. Os bondes deixaram de entrar pela frente
do prédio e o pavimento térreo passou a ser
totalmente ocupado pelos serviços comerciais
da Light. Para isso, o piso foi elevado, os vãos
centrais da fachada foram vedados por vitrinas
e um longo balcão de mármore foi construído
com alguns trechos ocupados por guichês de
bronze. Piso e parede receberam tratamento
em mármore a meia altura, na linguagem
geométrica usada em diversos prédios da
época. Somente foi mantido o hall de visi-
tantes, que teve seu piso igualado ao restante.
Na segunda tentativa de vencer o calor, foi
aberto um grande prisma de iluminação e
ventilação no local coberto pelos sheds e
exaustores em 1928. Para isso, bastou retirar
a maior parte do telhado central e o piso de
lajotas de vidro do primeiro pavimento.
As laterais foram fechadas com alvenaria e
esquadrias e o térreo foi coberto com uma
loja, sob a qual foram construídos banheiros.
São dessa época a marquise central e a calça-
da com desenhos representando os diversos
serviços controlados pela Light ao longo de
sua história: as tochas representam a ilumi-
nação; a roda alada, os transportes; o sino, o
telefone; o cavalo, energia e força; e a chama,
os serviços de gás.
Foi em 1977, quando foi executada a última
das grandes reformas no prédio sede da Light,
que teve início o terceiro período. Dividindo
ao meio o pé direito do térreo, foi construído
um grande mezanino que avançava do fundo
do prédio até a segunda linha de pilares. Apenas
a frente do térreo manteve a altura de 1935 e
ficou separada do restante do prédio por uma
parede construída sem qualquer preocupação
com a linguagem utilizada no tratamento do
saguão.
Numa tentativa equivocada de modernização,
grades de bronze e globos de iluminação
foram substituídas por guichês de fórmica e
vidro, lambris de alumínio colocados somente
em alguns trechos e lâmpadas fluorescentes.
Também foram retiradas as vitrinas, deixan-
do-se abertos os vãos da fachada principal.
Grande parte do balcão foi demolida, restando
somente seu trecho frontal.
Os elevadores do hall de visitantes foram
substituídos por modelos recentes, de aço
inoxidável. O elevador e a escada de ferro dos
fundos foram retirados.
Nessa época, foram desfeitos os desenhos da
calçada que representavam os antigos serviços
da Light, substituídos, apenas na entrada
principal, pelo logotipo atual da Companhia.
Em 1984, o prédio recebeu o nome de Edifício
Negrão de Lima. No ano seguinte, o prédio
foi tombado pela Secretaria de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.
Durante muitos anos, o estado de deterioração
da fachada principal do prédio da Rua Larga
vinha sendo uma grande preocupação dos
setores de obras civis da Light.
TerceiroPeríodo
Em agosto de 1989, começou outro período da
história da sede da Light, quando se iniciaram
as obras de restauração da fachada principal
e, coerentemente, das demais fachadas. Estas,
mesmo não sendo construídas com o material
cerâmico da fachada principal, não estavam
em situação melhor. Como os serviços de
restauração da fachada principal teriam vários
pontos de contato com o saguão, aprovetou-se
a oportunidade para reformá-lo e eliminar as
alterações que o descaracterizavam.
Os serviços de restauração do saguão buscaram
recuperar, na medida do possível, suas feições
de 1935, presentes em vários dos elementos
remanescentes. Para isso, a parede de fundo
recebeu um tratamento para compatibilizá-la
com as demais paredes do recinto. Foram
corrigidas e recolocadas todas as suas aber-
turas, substituindo-se vidros e esquadrias. O
tratamento ficou completo com a colocação de
mármores a meia altura, semelhantes em tipo
e desenho ao material existente.
O balcão foi recuperado, recebendo grade de
bronze, adaptada ao modelo de 1935, e ele-
mentos de marcenaria e instalações que permi-
tissem seu uso pelos serviços atuais. As vitrinas
foram refeitas, as luminárias substituídas por
modelo utilizado pela Light na década de 30.
As portas de enrolar foram consertadas e to-
dos os mármores remanescentes foram nive-
lados e polidos. Além disso, todas as placas e
bronzes faltantes foram recolocadas. O hall de
visitantes teve todos os seus mármores limpos
e polidos, suas grades restauradas e luminárias
substituídas. Ambas as áreas foram entregues
para uso em abril de 1990.
No prisma interno e em todas as fachadas, os
elementos e esquadrias de ferro, corroídos e
sem funcionar, foram integralmente restaura-
dos e tiveram seus vidros substituídos, organi-
zando a localização dos aparelhos de ar condi-
cionado. Na impossibilidade de restauração do
pó-de-pedra, as fachadas secundárias foram
descascadas e, ao se verificar o grave ataque
de umidade na fachada sudoeste, novamente
revestidas com tijolinhos de barro.
As tubulações, espalhadas por todas as facha-
das, foram retiradas e as remanescentes, or-
ganizadas. A marquise posterior foi integral-
mente recuperada. Todas as placas da fachada
principal foram limpas, obturadas e rejuntadas
com poliéster, recebendo tratamento de sili-
cone, que deve ser renovado a cada dois anos.
Depois de 12 anos de tentativas, e, de 1989 a
1991, mais de 30 materiais diferentes testados,
a Safran-Linco fabricou as peças necessárias
para recolocação dos balaustres das quatorze
varandas. As peças foram esmaltadas pela Celite.
QuartoPeríodo
Fachada CCLFachada 1992
Terminada a recuperação da calçada (que teve
refeitos os desenhos de 1935, acrescentando-se
os logotipos utilizados pela Light ao longo de
sua história), efetuou-se a limpeza do granito
do térreo.
Finalmente, a fachada principal recebeu novo
sistema de iluminação, com lâmpadas de vapor
metálico colocadas na marquise e nas bases
das colunas principais.
Em janeiro de 1992, foram iniciadas as obras
de reforma interna do prédio da Rua Larga.
O mezanino, construído em 1977, foi demoli-
do, voltando o pavimento térreo à sua altura
original. Os demais pavimentos também foram
reformados e receberam ar-condicionado
central.
No térreo, foi construído o CENTRO CULTURAL
LIGHT, inaugurado em 29 de abril de 1994,
que nasceu como uma consequência natural
do centenário relacionamento da Light com
o Rio de Janeiro.