IMPACTOS DA ADOÇÃO DE
CERTIFICAÇÕES DE QUALIDADE NA
COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL
DOS PRODUTOS DERIVADOS DO AÇAÍ
(EUTERPE OLERACIA): UM ESTUDO
DE CASO
Caio Jose Lima Gouvea Nogueira (UNAMA)
manoel antonio ferreira junior (UNAMA)
Jose Alberto Silva de Sa (UNAMA)
A forte exigência do mercado consumidor, principalmente no que diz
respeito ao mercado externo, e a busca por novos nichos de mercado
vêm cada vez mais levando indústrias do setor alimentício a adotarem
ferramentas que tornem seus produtos conforme os padrões exigidos,
dentre elas destacam-se as certificações de qualidade. O estudo teve
por objetivo identificar os impactos da adoção de certificações de
qualidade para a comercialização internacional de produtos derivados
do açaí, em uma empresa de beneficiamento de polpas de frutas
localizada no estado do Pará. As certificações estudadas foram: ISO
22 000, Halal, Kosher e IFOAM. A pesquisa foi do tipo Estudo de
Caso. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista
semi-estruturada com o intuito de identificar quais fatores,
dificuldades e ganhos/benefícios a empresa objeto do estudo obteve
mediante as certificações de qualidade implantadas. A análise dos
dados foi realizada utilizando-se quadros comparativos para as
variáveis pesquisadas (fatores, dificuldades e ganhos) onde em um
contexto geral constatou-se que para as empresas alimentícias a
implantação de certificações de qualidade é um fator estratégico no
que diz respeito ao sucesso das exportações.
Palavras-chaves: Certificações de Qualidade, Indústria Alimentícia,
Comércio Internacional
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1- Introdução
Os rápidos avanços na área tecnológica exigem cada vez mais das empresas a fabricação de
produtos com qualidade, custos adequados, gerando maior valor agregado para seus
consumidores, tornado as organizações mais bem estruturadas e aprimoradas para o
concorrido mercado consumidor encontrado nos dias atuais.
Neste ponto é inegável a importância da qualidade e suas derivações, seja no produto ou no
processo, no que diz respeito à satisfação do cliente e no mercado consumidor, seja na
melhora do mercado existente (nacional) ou na busca por novos nichos de mercado
(internacional) (FERREIRA & MEDEIROS, 2007).
Com a abertura da economia brasileira, a partir de 1990, as empresas passaram a ter um novo
contexto competitivo, onde buscar novos mercados internacionais passou a ser uma prática
constante dentro de muitas organizações (MACHADO & SCORSATTO, 2005 apud
RODRIGUES, 2008).
Porém as exportações brasileiras são limitadas por restrições ao comércio nos mercados
internacionais, principalmente na União Européia e nos Estados Unidos, na forma de
Barreiras Tarifárias e Barreiras Não-Tarifárias.
Devido principalmente as Barreiras Não Tarifárias (Barreiras Ambientais, Laborais, Sanitárias
e Técnicas) e maior disponibilidade de informações sobre direito do consumidor, verifica-se
um grau crescente de exigência das pessoas com relação aos produtos, em especial os
alimentos.
Para obterem sucesso no mercado internacional, as organizações devem buscar estudar e se
familiarizar com os mercados escolhidos, como por exemplo, aspectos culturais, econômicos
e sociais (RODRIGUES, 2008).
Por isso, discutir a adoção de Certificações de Qualidade no Mercado Internacional em
tempos de globalização se faz extremamente relevante para a inserção e comercialização de
novos produtos, sendo o comércio internacional mais que uma realidade, uma necessidade
(SCHIMAICHEL & RESENDE, 2007).
Quando se fala no setor alimentício essa preocupação é ainda maior, a crescente busca por
alimentos seguros e adaptados para determinados locais do globo, levando em conta cultura e
religião, está forçando as indústrias alimentícias a obterem formas de controle mais apuradas
para fabricação de produtos em conformidade.
Um dos produtos atualmente demandados pelos mercados internacionais é o açaí , um dos
frutos mais produzidos na região norte, que além de trazer excelentes benefícios para a saúde
humana possui um delicioso sabor.
Este trabalho tem por objetivo identificar os impactos da adoção de certificações de qualidade
na comercialização internacional dos produtos derivados do Açaí (Euterpe Oleracia).
Realizou-se um Estudo de Caso em uma empresa beneficiadora de açaí situada no estado do
Pará, denominada Bela Iaça Indústria e Comércio de Polpas de Frutas LTDA, que realiza
comercialização de seus produtos para diversos continentes do mundo.
2- Certificações de Qualidade
Define-se certificação como:
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[...] um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente da
relação comercial, com o objetivo de atestar publicamente, por escrito, que
determinado produto, processo ou serviço está em conformidade com os requisitos
especificados. Esses requisitos podem ser nacionais, estrangeiros ou internacionais
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007).
As certificações de qualidade podem gerar inúmeros impactos não somente para as empresas
que adotam tais ferramentas, mas também para seus clientes e conjunto da sociedade
(ZEIDAN et al., 2008).
Para as empresas, de uma maneira geral, a utilização de certificações aumenta o nível de
qualidade de deus processos, produtos ou serviços, além de uma vantagem competitiva pela
diferenciação no mercado em relação aos seus concorrentes. Já para os consumidores, o
produto passa a ter maior valor agregado, a certificação é uma forma de atestar que o produto
em questão possui qualidade garantida, e para o conjunto da sociedade é importante para as
relações de comércio internacional, proporcionando novos aspectos estratégicos (ZEIDAN et
al., 2008).
De uma maneira geral,
[...] observa-se um grande número de clientes exigindo de seus fornecedores a
obtenção da certificação de seus produtos ou serviços como uma demonstração de
sua qualificação e garantia de melhor atendimento aos requisitos contratuais e ainda
outras pressões de diferentes partes interessadas no processo de certificação tais
como consultorias, organismos certificadores, assessorias de imprensa, prêmios de
qualidade, etc. (SZYSKA, 2001, p. 17 apud (ZEIDAN et al., 2008, p. 2).
A empresa objeto do estudo possui como suas principais certificações de qualidade: ISO 22
000, Halal, Kosher, e IFOAM, sendo as mesmas, respectivamente, explicadas abaixo.
2.1- ISO 22 000
A segurança de alimentos é a segurança que o consumo de um determinado alimento não
causa dano a um consumidor quando preparado ou consumido de acordo com seu uso
intencional (CODEX ALIMENTARIUS, 1999 apud BERTHIER, 2007, p. 4).
Assim a implantação de sistemas de gestão que utilizam as normas da Organização
Internacional de Normalização (ISO) vem sendo exigida cada vez mais pelos clientes. Por
isso, cada vez mais se pode destacar importância das ferramentas de gestão da qualidade na
segurança de alimentos em geral, tornando-o mais seguro e confiável a utilização de tais
alimentos, nesse sentido destaca-se a ISO 22 000 (BERTHIER, 2007).
A Norma ISO 22 000 – Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos para qualquer
organização da cadeia de alimentos foi desenvolvida com base no formato das normas da
gestão da ISO, semelhante a ISO 9001, por exemplo, (ABNT, 2006 apud BERTHIER, 2007,
p.15).
A certificação de qualidade ISO 22 000 é uma certificação voltada para a segurança de
alimentos que tem por finalidade assegurar que os alimentos estejam seguros para o consumo
final. Com isso, demonstrando a habilidade da organização em controlar os riscos e perigos na
segurança dos alimentos e procurando constantemente produtos finais seguros, que atendam,
prioritariamente, os requisitos dos clientes (BELA IAÇA, 2011).
A importância geral da ISO 22 000 é criar e consolidar um padrão internacional, objetivando
diminuir a atual diversidade de sistemas de gestão de segurança e conservação de alimentos.
Para tal a empresa deve considerar os efeitos da cadeia produtiva de alimentos, anteriormente
e após suas operações (ABNT, 2006 apud BERTHIER, 2007, p.16).
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Para planejamento e implementação correta da ISO 22 000, devem ser levados em conta um
série de fatores importantes, tais como: perigos relativos à segurança dos alimentos, produtos
fornecidos, processos empregados e o tamanho da estrutura da organização (ABNT, 2006
apud BERTHIER, 2007, p.16).
Por fim, deve-se ter total apoio e comprometimento da alta direção, pois a mesma alia
conscientização e liderança para desenvolver e implementar o sistema. A eficácia do sistema
tem avaliação dada pela análise crítica da direção sobre o desempenho da organização
(ABNT, 2006 apud BERTHIER, 2007, p.17).
Figura 1 – Selo da Certificação ISO 22 000
Fonte: Imagem concedida do arquivo da empresa Bela Iaça
2.2- Halal
Halal significa lícito é o mesmo que permitido, autorizado (permitido ao consumo
humano, legal). Alimentos Halal são aqueles cujo consumo é permitido por Deus.
No Sagrado Alcorão, Deus ordena aos mulçumanos e a toda a humanidade a comer
apenas alimentos Halal. Também é a base de tudo que é licito, na política, no social,
nos atos praticados (conduta), na justiça nas vestimentas, nas finanças, etc., é o
resultado de um sistema de produção que busca criar mecanismos que contribuam
com a saúde humana, criando um equilíbrio sustentável em todo seu processo
(CIBAL HALAL, 2011).
O certificado Halal assegura que todos os produtos processados que possuem o selo Halal,
seguem as normas estabelecidas na cultura Mulçumana, sendo a garantia de que o produto é
considerado lícito e a unidade produtora segue a jurisprudência islâmica (BELA IAÇA,
2011).
De acordo com dados da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, existe uma
demanda crescente no mercado Halal, a previsão é de aproximadamente 15% de crescimento
no mercado de produtos, e só no setor alimentício movimenta algo em torno de U$ 400
bilhões em todo o mundo (FAMBRAS, 2011).
O Brasil é responsável por U$ 1 bilhão desse comércio, que atualmente vai muito além do
segmento de carnes, passando a abranger setores de massas, biscoitos, sucos, chá, leite, entre
outros (AGROSOFT BRASIL, 2010).
Esse crescimento, no entanto, gera consumidores mais exigentes e atentos à qualidade,
normas e regras, por isso um das principais funções da certificação Halal é agregação de valor
aos produtos exportados, atendendo às essas exigências dos consumidores (BRASIL
ALIMENTOS, 2010).
A certificação Halal gera várias vantagens tais como: diferencial na abertura de novos
mercados, maior responsabilidade e conscientização da qualidade do produto entre as equipes,
redução de perdas e falhas, melhoria no desempenho do negócio e gerenciamento de risco,
melhoria de reputação da marca, remoção de barreiras comerciais e maior satisfação do
cliente (ISLAMIC HALAL, 2011).
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Darwiche explica que os processos de certificações e o selo de qualidade Halal são bastante
acessíveis para empresa de qualquer porte, e que hoje no Brasil existem mais de 300 empresas
que exportam seus produtos com o selo Halal. O mais importante é observar as regras,
seguindo recomendações das auditorias, fazendo com que as empresas mantenham o selo
(AGROSOFT BRASIL, 2010)
A surpresa é que mais do que simplesmente preceitos religiosos os selos de qualidade Halal
(lícitos, permitidos para consumo) são vistos pelos consumidores como um garantia de
qualidade tanto por partes dos processos como na compra e utilização de alimentos confiáveis
(AGROSOFT BRASIL, 2010)
Figura 2 – Selo da Certificação Halal
Fonte: Imagem concedida do arquivo da empresa Bela Iaça
2.3- Kosher
O termo Kosher ou Kasher, que significa próprio ou correto, é utilizado para definir os
alimentos preparados de acordo com as leis judaicas de alimentação, seguindo uma serie de
normas (REGENSTEIN & REGENSTEIN, 1979, 1988; BARKMEIER, 1998; CHANIN &
HOFMAN, 1998, KOF-K KOSHER SUPERVISION, 1998 apud ROÇA, 2002, p. 7).
A religião judaica é a mais exigente quanto às normas de alimentação, que envolve
seleção da matéria prima, abate de animais, preparo e consumo de alimentos, uso de
determinados utensílios e também regras de alimentação em certos dias como
sabbath ou dias de festas (LÜCK, 1994, 1995 apud ROÇA, 2002, p. 7).
O certificado Kosher é um documento que atesta a produção e produtos fabricados seguem as
normas específicas que regem a dieta judaica ortodoxa, sendo reconhecido em todo o mundo
como sinônimo controle máximo de qualidade (CERTFICADO KOSHER, 2011)
Seu processo de emissão depende de total abertura e transparência, tanto da empresa
requerente quanto da entidade judaica, para a retirada das informações necessárias e possíveis
melhorias. Após a emissão do certificado, os produtos passarão a ter acompanhamentos
constantes para que os mesmos continuem considerados aptos de acordo com o padrão Kosher
(CERTIFICADO KOSHER, 2011)
No mundo multicultural em que vivemos apenas uma pequena parcela dos consumidores de
produtos Kosher são judeus, podem-se destacar os mulçumanos, budistas, adventistas do
sétimo dia, vegetarianos, pessoas com alergias a certos alimentos e ingredientes e
consumidores que simplesmente consideram o alimento kosher como sendo de alta qualidade
(BARKMEIER, 1998, IBEN, 1995, KHOLMEINI, 1979; KOSHER, 1997; LÜCK, 1984,
1995 apud ROÇA, 2002, p. 8).
Podem ser consideram alimentos Kosher a carne, frango, peixe com escamas, laticínios,
frutas, legumes e produtos de confeitaria, porém alimentos como carne suína, misturas de
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carne e laticínios e todos os insetos ou animais que tenham muitas pernas, não são alimentos
Kosher (BARKMEIER, 1998, IBEN, 1995, KHOLMEINI, 1979; KOSHER, 1997; LÜCK,
1984, 1995 apud ROÇA, 2002, p. 8).
Por possuir um rigoroso controle de qualidade e alta confiabilidade dos consumidores, o
mercado dos alimentos Kosher vem crescendo em mais de 10% ao ano, tornando a marca
Kosher um diferencial para os produtos que a ela utilizam (KOSHER CERIFICATION, 2011).
A título de curiosidade, o certificado Kosher possui validade internacional de um ano, tendo
vigor a partir da data no qual foi emitido, podendo ser renovado ao fim do prazo mediante a
nova visita do rabino à fábrica (CERTIFICADO KOSHER, 2011).
Figura 3 – Selo da Certificação Kosher
Fonte: Imagem concedida do arquivo da empresa Bela Iaça
2.4- IFOAM
A IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements) é uma entidade
internacional que estabelece regras e normas para definir o que é um produto orgânico e
credencia, em todo o mundo, órgãos responsáveis para inspeção e certificação (IFOAM,
2001).
Dentre os Princípios de Agricultura Orgânica listados pela IFOAM, está a seguinte
afirmação – o manejo orgânico deve ser conduzido com responsabilidade e
precaução, visando proteger a saúde e o bem-estar da geração presente e futura do
meio ambiente o que enquadra a agricultura orgânica no conceito de
Desenvolvimento Sustentável (SCHIMAICHEL & RESENDE, 2007, p. 4).
A agricultura orgânica possui várias características, tais como: proteger a fertilidade do solo
em um longo prazo, fornecer de nutrientes para a cultura de modo indireto, controlar ervas,
pragas e doenças, sendo a intervenção de agentes químicos e biológicos praticamente nulos
(REZENDE & FARINA, 2001).
Os produtos orgânicos possuem excelente aceitação no mercado consumidor atual, devido à
preocupação com a degradação do meio ambiente e uma maior busca por “produtos limpos” e
sem agrotóxicos (DAROLT, 2002 apud SCHIMAICHEL & RESENDE, 2007, p. 5).
A maioria dos produtores de alimentos orgânicos considera que a obtenção do selo aumenta a
credibilidade do produto para as vendas, sendo garantida a compra de um produto produzido
de acordo com as principais regras e padrões adotados pelos alimentos orgânicos
(RUNDGREN, 1998 apud CÉSAR, BATALHA & PIMENTA, 2008, p. 383).
“O mercado nacional de produtos orgânicos encontra-se em forte expansão, com crescimento
de 50% ao ano no Brasil, valor que supera a estimativa mundial de 20%.” (FONSECA, 2003
apud CÉSAR, BATALHA & PIMENTA, 2008, p. 379)
Atualmente existem padrões para que se possa desenvolver a agricultura orgânica de forma
clara e objetiva, porém esses padrões não são considerados constantes graças a avaliações de
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inspeção e melhorias, podendo ser alterados para tornar mais coerente e eficiente o manejo
orgânico (IFOAM, 2006).
Figura 4 – Selo da Certificação IFOAM
Fonte: Imagem concedida do arquivo da empresa Bela Iaça
3- Estudo de Caso
3.1- Caracterização da Empresa pesquisada
Fundada em 2003, a empresa Bela Iaça Indústria e Comércio de Polpas de Frutas LTDA é
localizada no município de Castanhal, a 84 km da capital do Estado do Pará, possui
aproximadamente 500 colaboradores diretos e indiretos no período de safra do produto
(BELA IAÇA, 2011).
A organização em cinco anos obteve um rápido crescimento em suas atividades, devido à
qualificação de sua equipe técnica, investimento em modernas instalações e constante busca
pela excelência de seus produtos e serviços (BELA IAÇA, 2011).
Figura 5 – Entrada da empresa
Fonte: Imagem concedida do arquivo da empresa Bela Iaça
A principal atividade da empresa é o beneficiamento de polpas de frutas, em especial o Açaí.
O seu mix de produtos também inclui beneficiamento de polpas como: abacaxi, acerola,
bacuri, caju, cupuaçu, limão, muruci, maracujá, entre outras frutas brasileiras (BELA IAÇA,
2011).
Atualmente, 50% de sua produção é destinada ao Mercado Nacional e os outros 50% são
destinados ao Mercado Externo, sendo a exportação realizada de forma direta e indireta para
países como: Estados Unidos, Canadá, Japão, Holanda, Israel, entre outros (BELA IAÇA,
2011).
Devido à aquisição de novos mercados consumidores (exportações), a Bela Iaça vem
investindo constantemente na adoção de certificações de qualidade para a possível
comercialização de seus produtos fora do Mercado Nacional.
3.2- Instrumento utilizado na Coleta de Dados
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O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista semi-estruturada, realizada no dia 8 de
abril de 2011, sendo o respondente o Gerente Técnico da empresa pesquisada.
O roteiro da entrevista possuía três perguntas abertas para cada certificação pesquisada,
sendo:
Questão 1 – Quais foram os fatores observadores pela empresa na adoção da certificação
de qualidade?
Questão 2 – Quais foram as dificuldades de implantação observadas pela empresa? E
como foram solucionadas?
Questão 3 – Quais foram os ganhos/benefícios com a utilização da certificação de
qualidade em questão?
Ao final da entrevista, realizou-se a análise do conteúdo, sendo a mesma apresentada no item
3.3.
3.3- Análise de conteúdo dos dados coletados
3.3.1- Respostas para a Certificação de Qualidade ISO 22 000
Segundo o entrevistado, os fatores que levaram a empresa a adotar a certificação de qualidade
ISO 22 000 foram: a forte exigência do mercado externo (principalmente Estados Unidos), o
ganho de credibilidade junto aos clientes, a possibilidade de abertura para novos mercados
consumidores e possuir um diferencial competitivo. As principais dificuldades de implantação
consistiram na grande dificuldade de compreensão da norma e pouco conhecimento sobre a
mesma por parte da empresa, como solução foi contratada uma empresa de fora do estado
para prestação de serviço de consultoria. E os benefícios gerados com a adoção da certificação
de qualidade são o preenchimento dos requisitos exigidos pelos clientes, gerando maior
satisfação, uma padronização nos produtos e processos da empresa e, conseqüentemente,
aumentando seu mercado consumidor.
3.3.2- Respostas para a Certificação de Qualidade Halal
De acordo com o Gerente Técnico, a certificação de qualidade Halal é uma exigência dos
mulçumanos. Com ela a empresa passa a abranger uma grande fatia de mercado Islâmico
localizado principalmente na Europa (França e Alemanha), Estados Unidos e Dubai. No que
diz respeito a dificuldades, a empresa já preenchia os requisitos da certificação de qualidade
Halal, e quanto aos benefícios, basicamente, é a ampliação do seu mercado consumidor.
3.3.3- Respostas para a Certificação de Qualidade Kosher
Para o respondente a certificação de qualidade Kosher é a mais conhecida dentro de todo o
mercado internacional, por isso, a empresa é bastante cobrada pelos clientes finais o que
acarreta nos produtos com o selo um diferencial no mercado. Não houve dificuldades para
adoção do selo Kosher, pois as atividades da empresa em si já preenchiam os requisitos
exigidos para tal certificação. E o ganho de nichos de mercado (Mercado Judaico) foi
considerado o principal ganho com a implementação da certificação Kosher.
3.3.4- Respostas para a Certificação de Qualidade IFOAM
O Certificado Orgânico (IFOAM) é considerado uma tendência mundial, e para obtenção
desse mercado em crescimento e pela forte exigência relacionada ao processamento dos
produtos orgânicos a empresa objeto de estudo resolveu adotar essa certificação internacional
de qualidade. A IFOAM apresentou sérias dificuldades de compreensão e conhecimento sobre
a norma, porém tal problemática ocorreu com os fornecedores do fruto, comunidades
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coletoras e agricultores ligados a empresa. A solução encontrada foi a contratação de um
Técnico Agrícola para capacitação local, realização de visitas e acompanhamento das cargas
de frutos orgânicos. O atendimento a exigência dos consumidores, e a ampliação do mercado
em geral são os benefícios gerados pela forte “tendência orgânica” crescente em todo o
mundo.
3.3.5- Quadros Comparativos
Os quadros abaixo resumem as respostas do entrevistado quanto às variáveis analisadas
(fatores, dificuldades e ganhos), sendo o símbolo (em verde) a representação da presença das
respostas comuns para as certificações em questão.
3.3.5.1- Quadro Comparativo dos Fatores
Fatores
f
Exigência do Mercado Externo
4
Ganho de Credibilidade junto
ao Cliente
1
Possibilidade de Ganhos de
Mercado
3
Diferencial Competitivo
2
Fonte: Dos Autores
Tabela 1 – Quadro Comparativo da Variável “Fatores”
De acordo com o quadro acima, observa-se que o principal fator que levou a empresa a adotar
tais certificações foi a forte exigência do mercado internacional, seja na forma de segurança
dos alimentos ou por fatores de religião. Logo em seguida a possibilidade de ganhos de
mercado aparece como outro fator decisivo no momento de aderir tais certificações, pois para
comercialização no mercado externo deve-se primeiro adequar seu produto para depois ter a
possibilidade de expansão de mercado internacional.
3.3.5.2- Quadro Comparativo das Dificuldades
Dificuldades
f
Compreensão da Certificação
2
Pouco conhecimento sobre a
Cerificação
2
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Não Houve Dificuldade
2
Fonte: Dos Autores
Tabela 2 – Quadro Comparativo da Variável “Dificuldades”
Pode-se observar com o quadro comparativo acima que as principais dificuldades são a
compreensão e conhecimento da certificação, seja por parte de empresa ou pelos seus
fornecedores, por isso a contratação de consultores especializados no assunto é sempre
importante para as certificações serem implantadas corretamente. Sendo que para a empresa
pesquisada as Certificações Halal e Kosher não apresentaram grandes dificuldades.
3.3.5.3- Quadro Comparativo dos Ganhos/Benefícios
Ganhos
f
Satisfação do Cliente
2
Padronização de Produtos e
Processos
1
Ganhos de Mercado
4
Fonte: Dos Autores
Tabela 3 – Quadro Comparativo da Variável “Ganhos/Benefícios”
Dentre os benefícios citados acima, destaca-se o ganho de mercado consumidor, pois com a
adoção de certificações de qualidade seu produto demonstra conformidade, fazendo com que
cada vez mais e mais clientes fiquem satisfeitos e passem a comprar o produto ofertado.
4- Conclusão
A certificação de produtos alimentícios no mercado intencional é considerada uma condição
básica, porém essencial para que os mesmos sejam comercializados com sucesso. A
certificação de qualidade dos produtos e processos nos padrões internacionais permite que as
empresas credenciadas passem a competir por novos nichos de mercados como europeus,
árabes, norte americanos, entre outros.
Além do fator competitivo, de uma maneira geral as certificações de qualidade passam a
atender a legislação local, previnem impactos ambientais, garantem a segurança dos alimentos
e ainda fortalecem a imagem da empresa perante o mercado.
O objetivo deste estudo sobre certificações de qualidade foi justamente identificar os impactos
na comercialização internacional de produtos derivados do açaí, sendo que no Estudo de Caso
observou-se que a empresa Bela Iaça expandiu as demandas do açaí, de forma global, devido
às certificações de qualidade.
É oportuno salientar que para a empresa pesquisada não foram necessários altos investimentos
no que diz respeito à implantação de processos, sistemas e outros tipos de serviços que visam
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atender aos requisitos necessários para aderir de forma satisfatória às certificações de
qualidade.
As preocupações com a garantia da qualidade dos produtos e processos, as exigências do
cumprimento das normas internacionais, o estudo das barreiras da exportação de produtos
nacionais e as crescentes solicitações globais por determinados clientes específicos garantem
que pesquisas sobre este assunto tenham um papel estratégico dentro das organizações que
buscam vantagem competitiva no ramo de alimentos.
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