Download - Fortissimo 2015 | Julho
JULHOFORTISSIMO Nº 5 — 2015
Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais apresentam
SUMÁRIO
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ALLEGRO
PRESTO
PRESTO
V IVACE
V IVACE
VELOCE
VELOCE
Quinta
Quinta
Quinta
Quinta
Sexta
Sexta
Sexta
Sexta
02/07
16/07
09/07
23/07
p. 8
p. 34
p. 24
p. 46
03/07
17/07
10/07
24/07
Fabio Mechetti, regenteArnaldo Cohen, piano
Fabio Mechetti, regenteSergej Krylov, violino
Fabio Mechetti, regenteArnaldo Cohen, piano
Fabio Mechetti, regenteEliane Coelho, soprano
RIPPER RACHMANINOFF
SCHOENBERGRIMSKY-KORSAKOV
HONEGGER PAGANINI
DUKAS
DVORÁK DUTILLEUX
RACHMANINOFF
FREITAS RAVEL
R. STRAUSS R. STRAUSS
Jogos Sinfônicos encomenda
Concerto para piano nº 2 em dó menor, op. 18Sinfonia de Câmara nº 1, op. 9bCapricho Espanhol, op. 34
Pacífico 231Concerto para violino nº 5 em lá menorSinfonia em Dó maior
Scherzo capriccioso, op. 66Sinfonia nº 2, “Dupla”Concerto para piano nº 3 em ré menor, op. 30
Grande Trio Concertante, op. 15 encomenda
SheherazadeAs alegres travessuras de Till Eulenspiegel, op. 28Salomé, op. 54: Cena Final
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O mês de julho promete ser um dos mais intensos e emocionantes de toda a nossa temporada.
Primeiramente, teremos o retorno sempre bem-vindo e celebrado do grande pianista Arnaldo Cohen. Em semanas consecutivas, ele interpretará dois dos mais apreciados concertos de toda a literatura para piano – os concertos números 2 e 3 de Rachmaninoff. Poucos intérpretes dominam esse repertório como Arnaldo Cohen, fazendo, assim, dessas duas apresentações, noites imperdíveis para todos aqueles que acompanham nossa trajetória.
Teremos também o retorno da grande diva do canto lírico brasileiro, Eliane Coelho, que mostrará toda a sua versatilidade ao interpretar a etérea Sheherazade de Ravel e a visceral cena final da ópera Salomé de Richard Strauss, uma das mais impressionantes partituras escritas para voz e orquestra.
De novidade trazemos o exímio violinista russo Sergej Krylov, que mostrará sua técnica e musicalidade interpretando o raro e extremamente desafiador Concerto nº 5 de Paganini. Comemoramos os 150 anos de Paul Dukas e os 100 anos de Henri Dutilleux, dois dos mais importantes compositores franceses de toda a história.
CAROS AMIGOS E AMIGAS,
FABIO MECHETTIDiretor Artístico e Regente Titular
Julho nos reserva, ainda, o que talvez seja a ocasião mais marcante desta temporada singular da Filarmônica de Minas Gerais – as primeiras estreias de obras encomendadas para a celebração da abertura da Sala Minas Gerais. Primeiramente apresentaremos os Jogos Sinfônicos, compostos pelo carioca João Guilherme Ripper, obra de grande variedade de ideias, riqueza rítmica e empolgante energia.
Mais para o fim do mês apresentaremos o Grande Trio Concertante, do jovem mineiro Cláudio de Freitas, compositor de imenso talento, com um profundo conhecimento da potencialidade da orquestra sinfônica, exemplificada aqui pela maneira com que as diferentes seções da orquestra se apresentam independentemente.
Um mês rico de atrações das mais diversas, exibindo assim a flexibilidade, o virtuosismo e a alegria que caracterizam a música feita na Sala Minas Gerais pela nossa grande orquestra.
Que todos aproveitem.
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Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. Recentemente, tornou-se o primeiro brasileiro a ser convidado a dirigir uma orquestra asiática, sendo nomeado Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse, da Orquestra Sinfônica de Spokane e da Orquestra Sinfônica de
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Jacksonville, sendo, agora, Regente Emérito destas duas últimas. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Peru e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Na Europa regeu a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia e a Orquestra da Radio e TV da Espanha. Dirigiu também a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de Tampere, na Finlândia. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na
Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2015 dirigirá a Orquestra Sinfônica de Odense, também na Dinamarca. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre, Brasília e Paraná e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor. Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
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02/07
03/07
PATROCÍNIO
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FABIO MECHETTIregente
ARNALDO COHENpiano
PROGRAMA
João Guilherme RIPPERJogos Sinfônicos• Distâncias
• Velas
• Drible
Sergei RACHMANINOFFConcerto para piano nº 2 em dó menor, op. 18• Moderato – Allegro
• Adagio sostenuto
• Allegro scherzando
– INTERVALO –
Arnold SCHOENBERGSinfonia de Câmara nº 1, op. 9b
Nikolai RIMSKY-KORSAKOVCapricho Espanhol, op. 34• Alvorada
• Variações
• Alvorada
• Cena e canto cigano
• Fandango asturiano
ARNALDO COHENpiano
ESTREIA MUNDIALObra encomendada
pela Filarmônica
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A crítica internacional não tem economizado elogios a Arnaldo Cohen. Após uma apresentação em Nova York, Shirley Fleming, crítica do The New York Post, assinalou: “A avalanche de notas escrita por Liszt não chegou, em momento algum, a ameaçar Cohen. Duvido mesmo que algo consiga ameaçá-lo”. Sobre a gravação das Variações sobre um Tema de Haendel, de Brahms (Vox), Harold Schonberg, do The New York Times, escreveu: “não conheço nenhuma gravação moderna que se aproxime desta”. Para a Fanfare Magazine, a interpretação de Cohen se encontrava “no mesmo nível de
ARNALDO COHENFO
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Rudolf Serkin”. Seu CD com obras de Liszt (Naxos) esteve por quatro meses entre os mais vendidos na Inglaterra. O jornal inglês The Times disse sobre o CD Brasiliana – Três Séculos de Música do Brasil (Bis): “Cohen é possuidor de uma técnica extraordinária e capaz de chamuscar as teclas do piano ou derreter nossos corações”. A Gramophone incluiu a gravação de obras de Liszt (Bis) na seleta lista do Editor’s Choice e justificou: “Sua interpretação não fica nada a dever à famosa gravação feita por Horowitz. Sua maturidade musical e virtuosidade estonteante o colocam na mesma categoria de Richter”. A mesma Gramophone não poupou elogios ao CD de Cohen com a Osesp e John Neschling – “difícil de superar”.
Arnaldo Cohen foi o único aluno na história da universidade brasileira a graduar-se, com grau máximo, em piano e violino, pela UFRJ. No Brasil estudou com Jacques Klein. Em Viena, com Bruno Seidlhofer e Dieter Weber. Conquistou, por unanimidade, o Primeiro Prêmio do Concurso Internacional de Piano Busoni.
Em 1981 radicou-se em Londres e vem cumprindo uma carreira
internacional em teatros como o Scala de Milão, o Concertgebouw, Symphony Hall de Chicago, Théâtre des Champs-Elysées, o Gewandhaus, Teatro La Fenice, Royal Festival Hall, Barbican Center e o Royal Albert Hall. Apresentou-se em mais de três mil concertos como solista de orquestras como a Royal Philharmonic Orchestra, Philharmonia Orchestra, orquestras de Cleveland e da Filadélfia, Filarmônica de Los Angeles, Sinfônica de Berlim, Sinfônica da Rádio da Bavária, Orquestra da Accademia di Santa Cecilia, Orchestre de la Suisse Romande e a Tonhalle de Zurique, colaborando, dentre outros, com os regentes Kurt Masur, Wolgang Sawallish, Kurt Sanderling, Klaus Tennstedt e Yehudi Menuhin. Dele, Menuhin disse: “Arnaldo Cohen é um dos mais extraordinários pianistas que já ouvi”.
Cohen transita com igual desenvoltura pela música de câmara.
Em 2004, transferiu-se para os Estados Unidos e tornou-se o primeiro músico brasileiro a assumir uma cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana. É Diretor Artístico da Série Internacional de Piano de Portland.
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Estou convencido de que capacidade de concentração e resistência são qualidades tão fundamentais para o músico quanto o próprio talento, porque compor uma ópera ou sinfonia, ensaiar, reger ou tocar por horas seguidas requerem longo treinamento musical e um esforço físico considerável. O músico tem definitivamente seu lado de atleta. Quantas horas, dias, meses de trabalho e disciplina precedem momentos decisivos, tanto no palco quanto na pista!
A etimologia de concerto é reveladora, pois a palavra vem do latim concertare, que significa combater, disputar. O concerto para piano e orquestra que ouviremos esta noite, por exemplo, pode ser visto como um confronto musical de diferentes sonoridades; o solista que executa uma partitura virtuosística frente à orquestra, uma equipe preparada pelo maestro para realização artística de determinada obra. São diversos e interessantes os pontos comuns entre música e esporte, inclusive o papel determinante do talento e do imprevisto no resultado. A música tem seus riscos e recompensas! Ainda assim, sinto que a música
de concerto não explora seu lado lúdico e o espírito de aventura que sobram no jazz (palavra que deriva do inglês arcaico jasm: espírito, vigor). Basta ver a alegria estampada no rosto do instrumentista que improvisa e se deleita com as frases musicais que ele mesmo cria.
Quando recebi do maestro Fabio Mechetti a honrosa tarefa de escrever uma composição sinfônica para a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais em comemoração à abertura da novíssima Sala Minas Gerais, decidi criar uma espécie de concerto para orquestra em que os naipes tivessem o papel de destaque usualmente reservado ao solista. O título Jogos Sinfônicos inspira-se, naturalmente, nos Jogos Olímpicos que acontecerão no Rio de Janeiro em 2016. Mas indica também que aspectos esportivos nortearam a minha composição.
Em Distâncias, o primeiro movimento, pensei na persistência e resistência dos maratonistas e de todos aqueles que praticam modalidades esportivas de longa duração. Inicia com toda a orquestra apresentando o motivo
JOGOS SINFÔNICOS (2015)27 min
João Guilherme Ripper | Brasil, 1959
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da abertura, que reaparecerá no último movimento. Um trecho com violoncelo solo leva ao tema principal tocado pelas cordas. A conclusão tem a participação de toda a orquestra e presença marcante da percussão. Segue-se a seção mais lírica, onde o clarinete executa uma melodia de caráter expressivo que depois é retomada pelos violinos em pianíssimo. A seção final começa com o motivo da abertura desenvolvido nas cordas e o retorno dos temas ouvidos na primeira parte, reapresentados agora de forma resumida. O movimento conclui com um novo tutti orquestral de forte caráter percussivo.
O segundo movimento, Velas, tem como imagem poética criadora os esportes aquáticos praticados em estreito contato com a natureza. Quando pensei neste movimento imaginei-o lento, expressivo, dando à orquestra a oportunidade de conduzir amplas linhas melódicas. Decidi escrevê-lo inteiramente baseado em um único tema construído sobre a escala cromática, a fim de possibilitar diferentes harmonizações e proporcionar a necessária diversidade entre
as variações. Velas começa com um coral instrumental executado alternadamente pelas cordas e madeiras, com o tema principal ouvido em longas notas na linha melódica superior. Segue-se a Passacaglia, técnica oriunda da música polifônica, em que este mesmo tema aparece repetidamente no baixo e em notas mais curtas, enquanto novas melodias vão surgindo nos outros instrumentos a cada variação. A seção central é dedicada a variações sobre o coral que abriu o movimento. Velas termina trazendo de volta a Passacaglia seguida de um trecho conclusivo.
O último movimento intitula-se Drible, o que diz muito sobre seu caráter. A ginga e o jogo de corpo são traduzidos aqui pelos acentos deslocados, deslocamentos rítmicos e compassos alternados. Ao escrever Drible, quis retratar a jogada inesperada, o domínio técnico que autoriza o improviso e a diferença que faz o talento. O movimento começa com o motivo da abertura já ouvido em Distâncias, seguido do tema principal de caráter jazzístico. A seção central flerta com a mágica do improviso e o diálogo entre
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
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PARA OUVIR
CD Compositores Brasileiros 1 – Piedade,
ópera em 4 cenas de João Guilherme Ripper –
Orquestra Petrobras Sinfônica – Isaac
Karabtchevsky, regente – Paula Almerares,
Marcos Paulo e Homero Velho, solistas –
2012 (CD duplo)
CD Ciclo Portinari e Outras Telas Sonoras –
Gabriella Pace, soprano – Luisa Francesconi,
mezzo-soprano – Priscila Bomfim, piano –
Biscoito Fino – 2015 (disponível no Spotify)
CD Sounds of Brazil and Argentina –
Luciano Botelho, tenor – Elizabeth Marcus,
piano – MMC Recordings – 2014
(disponível no Spotify)
PARA LER
Vasco Mariz – História da Música no
Brasil – Editora Nova Fronteira – 2005
PARA VISITAR
Site: joaoripper.com.br
Youtube: fil.mg/ripper1 | fil.mg/ripper2
os naipes da orquestra: primeiro, um dueto de clarinete e fagote respondido por todas as madeiras; depois, os metais e, finalmente, as cordas com intervenções da harpa. Uma transição leva ao retorno do tema principal sublinhado pela percussão, culminando desta vez num trecho em fortíssimo com a participação de toda a orquestra, seguido da conclusão de Drible em clima de celebração.
Afinal, o objetivo do drible é o gol, e há muito o que comemorar nesta nova e belíssima sala de concertos.
JOÃO GUILHERME RIPPER Compositor, professor
da Escola de Música da UFRJ, membro da
Academia Brasileira Música, diretor da Sala
Cecília Meireles.
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Vindo de uma família de forte tradição militar, Sergei Rachmaninoff foi educado sob os rígidos moldes da autocracia czarista de Alexandre III. Aos nove anos mudou-se para São Petersburgo, onde frequentou o Conservatório com auxílio financeiro do serviço imperial. Dois anos depois, estabeleceu-se em Moscou com a mãe recém-divorciada, ingressando no Conservatório daquela cidade. Lá, estudou piano com o severo Nicolai Zverev e Alexander Siloti – primo de Rachmaninoff – e composição com Sergei Taneyev e Anton Arensky. Em 1892, com apenas dezenove anos, completou seus estudos no Conservatório de Moscou, recebendo a Grande Medalha de Ouro pela composição da ópera Aleko. A reputação do jovem Rachmaninoff enquanto compositor, regente e pianista se firmava em toda a Rússia, ao passo que crescia também a expectativa em torno de suas novas criações. O Primeiro Concerto para Piano, opus 1, obra que inaugura seu catálogo de composições, recebeu as primeiras e duras críticas. A desastrosa execução de sua Primeira Sinfonia, opus 13, sob a
direção de Alexander Glazunov, aparentemente bêbado, também lhe causou profundo desapontamento. A apresentação foi um fiasco completo: o próprio compositor abandonou a sala antes do término da Sinfonia. O golpe mais duro viria no noticiário da manhã seguinte: “se houvesse um conservatório no inferno, Rachmaninoff iria receber o primeiro prêmio por sua Sinfonia, tão diabólicas as discórdias que ele coloca diante de nós”, escreveu César Cui. Entre 1897 e 1898, Rachmaninoff permaneceu em profunda depressão. Não há uma composição sequer desse período. Seu desespero levou-o ao consultório particular do Dr. Nicolai Dahl, em Moscou. Dahl estudara na França com o célebre cientista Jean-Martin Charcot, pai da moderna neurologia e professor de Sigmund Freud.
Em janeiro de 1900, o Dr. Dahl iniciou o tratamento diário de Rachmaninoff, por mais de três meses, utilizando hipnoterapia e psicoterapia. Em certa ocasião, o paciente contou ao médico algo que muito o atormentava: a promessa que fizera aos ingleses de executar, em Londres, um
CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM DÓ MENOR, OP. 18 (1900/1901)
33 min
Sergei Rachmaninoff | Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943
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concerto para piano e orquestra. Rachmaninoff, sabendo que seu Primeiro Concerto necessitava de minuciosa revisão, viu-se diante da necessidade de compor um novo concerto. Dahl, astutamente, durante a hipnose, sugestionava Rachmaninoff: “você vai começar a escrever o seu concerto, você trabalhará com grande facilidade, o seu concerto será uma grande obra”. Se o Dr. Dahl utilizou algum objeto para isso, como um relógio, não sabemos. Todavia, o Segundo Concerto para Piano, opus 18, inicia-se com uma série de acordes intercalados por uma nota grave, oscilando lentamente como um grande pêndulo, quiçá uma alusão ao método clássico criado pelo inventor da palavra hipnose, James Braid.
Para escrever o último movimento, Rachmaninoff provavelmente recorreu aos esboços de uma obra da juvenília: um inacabado Concerto em dó menor composto em 1889, aos dezesseis anos. Para o segundo movimento, utilizou a introdução do desconhecido Romance para Piano a Seis Mãos, de 1891. O segundo e terceiro movimentos foram apresentados em uma pré-estreia
da obra, em dezembro de 1900. O primeiro movimento, considerado a melhor criação de Rachmaninoff do ponto de vista estrutural e melódico, foi concluído e estreado no ano seguinte. A obra completa, mas sem revisão, foi estreada em Moscou em novembro de 1901, com o compositor como solista, sob a regência de Alexander Siloti. A estreia inglesa – a primeira execução integral da obra revisada – ocorreu em 1902, com o legendário pianista russo Wassily Sapellnikoff, amigo íntimo de Tchaikovsky e professor de Nicolai Medtner. Segundo Rachmaninoff, “cada movimento foi construído em torno de um ponto culminante. (...) Tal momento deve realizar-se como o romper da fita de chegada ao fim de uma corrida, deve agir como a libertação do último obstáculo material, vencendo a última barreira entre a verdade e sua formulação”. A beleza e o fino acabamento da obra fizeram dela, além de exemplo de superação e êxito, um novo modelo estético de concerto romântico para piano. O impacto emocional do Segundo Concerto entusiasmou inúmeros autores de trilha para cinema a escreverem obras do gênero.
INSTRUMENTAÇÃO 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
18 ALLEGRO E VIVACE
PARA OUVIR
CD Great Pianists – Rachmaninoff –
Concertos 1 e 2 – The Philadelphia Orchestra –
L. Stokowsky e E. Ormandy, regentes – Sergei
Rachmaninoff, piano – Naxos, Munique – 1999
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica de São Petersburgo –
Alexander Dimitriev, regente – Nelson Freire,
piano | Acesse: fil.mg/rpiano2
PARA LER
Robert Matthew-Walker – Rachmaninoff
– The Illustrated lives of the great
composers – Omnibus Press – 1980
Entre eles, podemos citar músicos como Richard Addinsell, Miklós Rosza, Nino Rota, Richard Bennett e Hubert Bath.
O Segundo Concerto de Rachmaninoff foi dedicado ao Dr. Dahl. O compositor, sabendo que Dahl, além de médico, era violista amador, fez frequente uso destacado da viola na orquestração da obra, principalmente no último movimento. Curiosamente, o Dr. Dahl tocou a obra, da qual foi catalisador, em Beirute, Líbano, para onde
emigrou em 1925. Na ocasião, o pianista-compositor russo Arkadie Kouguell atuava frente à Orquestra da Universidade Americana de Beirute como solista e maestro. Ao fim da apresentação, o público, informado de que o homenageado do concerto era membro da seção de viola da orquestra, clamou para que Dahl se levantasse para uma calorosa homenagem.
MARCELO CORRÊA Pianista, Mestre em Piano
pela Universidade Federal de Minas Gerais,
professor na Universidade do Estado de
Minas Gerais.
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20 ALLEGRO E VIVACE
A obra de Arnold Franz Walter Schoenberg marca o fastígio e o ponto de ruptura da tradição musical do Ocidente. A crise se manifestará tardiamente na historiografia: o sistema tonal em permanente expansão, da Primeira Escola de Viena (século XVIII) à belle époque, perderá o papel de foco da narrativa.
Arnold Schoenberg nasceu em Viena. De modesta família judia, não recebeu treinamento formal em música. Conselhos de Alexander Zemlinsky (compositor e regente, aluno de Fuchs e Bruckner, que deu aulas de contraponto a Schoenberg) resultaram na execução pública do Quarteto em Ré maior, em março de 1898, repetido na temporada de 1899. Todavia, o sexteto para cordas Noite transfigurada, op. 4 (1899) foi rejeitado por conter um acorde de nona em inversão – que “não existia”. Em dezembro de 1900 o público recebeu com protestos canções dos ciclos op. 1 (1897), op. 2 (1899) e op. 3 (1899/1903).
Schoenberg esposou Mathilda, irmã de Zemlinsky, em outubro de 1901, e em dezembro o casal mudou-se para Berlim, onde ele assumiu a direção musical de um cabaré literário.
Impressionado com as partituras inconclusas dos Gurre-Lieder (1900/1911) e do poema sinfônico Pelleas und Melisandre, op. 5 (1903), Richard Strauss obteve para o músico a Bolsa Liszt e o posto de professor de Composição no Conservatório Stern. De retorno a Viena, em julho de 1903, Schoenberg trazia Pelleas und Melisandre concluído. No ano seguinte, Alban Berg e Anton Webern tornam-se seus alunos. Após assistir a um ensaio de Noite transfigurada, Gustav Mahler passou a oferecer seu apoio constante. O público recebeu Pelleas und Melisandre com frieza em janeiro de 1904. Seguiu-se a composição de dois ciclos de canções, op. 6 (1903/1905) e op. 8 (1904), e o Primeiro Quarteto de Cordas, op. 7 (1905). A Primeira Sinfonia de Câmara, op. 9, data de julho de 1906 e foi composta para quinze instrumentos. Ela retoma o problema do movimento único, que o ocupara na Noite transfigurada, de 1899, em Pelleas und Melisandre, de 1903, e no Primeiro Quarteto de Cordas, de 1905. O plano formal inclui: I. Exposição; II. Scherzo; III. Desenvolvimento (com elementos do Scherzo incluídos); IV. Adagio; V. Recapitulação (de temas da
SINFONIA DE CÂMARA Nº 1, OP. 9B (1906, versão original / 1935, versão para grande orquestra)22 min
Arnold Schoenberg | Áustria, 1874 – Estados Unidos, 1951
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INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, requinta, clarinete, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, cordas.
CARLOS PALOMBINI Musicólogo, professor da
Escola de Música da Universidade Federal de
Minas Gerais.
Exposição em ordem variada, em contraponto, e com temas do Adagio incorporados). Schoenberg combina, portanto, características da chamada forma sonata (exposição, desenvolvimento, recapitulação), geralmente presente no primeiro movimento de sonatas e sinfonias do período clássico, com características da sinfonia clássica em quatro movimentos, sintetizadas num único movimento.
A obra de Schoenberg se divide em quatro períodos. Inicialmente ele emprega a tonalidade como referência central, mas, em 1908, é o primeiro a abandoná-la, na fase expressionista. O período compreendido entre
1920 e 1936 é o serial. A quarta fase emerge nos anos 1930, com maior diversidade estilística e retornos esporádicos à composição tonal. O segundo e o terceiro períodos se abrem com crises de técnica composicional, cujas consequências se projetarão sobre a música em termos gerais. A Primeira Sinfonia de Câmara antecipa a primeira crise e pode ser considerada a obra mais ousada do período tonal. O autor arranjou-a para grande orquestra em 1922. Revisada em 1935, essa versão recebeu o número de catálogo 9b.
PARA OUVIR
CD Arnold Schoenberg – Primeira Sinfonia
de Câmara, op. 9 (versão original de
1906) – Twentieth Century Classics
Ensemble – Naxos 8.557523 – 1998
PARA ASSISTIR
Grupo Contemporâneo Carnegie
Mellon – Tobias Volkmann, regente
Acesse: fil.mg/ssinfcamara1
PARA LER
René Leibowitz – Schoenberg –
Perspectiva – 1981
22 ALLEGRO E VIVACE
No dia 28 de fevereiro de 1887 (dia 16 no antigo calendário russo), Rimsky-Korsakov era acordado pelo crítico Vladimir Stasov com a notícia de que Borodin havia falecido na noite anterior. Ele correu para o velório e acabou recebendo, da viúva, os manuscritos musicais do amigo. Com a ajuda de Glazunov, empreendeu a longa tarefa de colocar em ordem, orquestrar, concluir e preparar, para edição, toda a herança musical de Borodin. A obra que mais lhes interessava era a ópera inacabada Príncipe Igor. Ambos decidiram, de comum acordo, compor as partes faltantes e Rimsky-Korsakov concluiria a orquestração da ópera. O contato íntimo com a obra de Borodin acendeu a inspiração que há muito lhe escapara. Enquanto passava as férias do verão de 1887 às margens de um lago no distrito de Luga, a 140 quilômetros ao sul de São Petersburgo, orquestrando Príncipe Igor, Rimsky-Korsakov compôs o Capricho Espanhol, op. 34, a partir dos esboços de uma peça para violino e orquestra sobre temas espanhóis que ele havia abandonado. A nova obra, segundo suas palavras, “deveria brilhar graças ao virtuosismo orquestral”, uma vez
que agora se tratava não mais de um concerto para violino, mas de uma obra escrita apenas para orquestra.
A composição foi completada no dia 4 de agosto, e a estreia se deu em 17 de dezembro, no quinto concerto da série Concertos Sinfônicos Russos, mantidos pelo mecenas Mitrofan Belyayev, sob a regência do compositor. O concerto foi um sucesso, e o Capricho Espanhol se manteria como uma das peças favoritas das salas de concerto mundo afora. Logo no primeiro ensaio, os músicos começaram a aplaudir o compositor assim que terminaram a execução do primeiro movimento. Foi com dificuldade que Rimsky-Korsakov conseguiu que ensaiassem a obra completa, pois que os aplausos se repetiam ao final de cada movimento. Por fim, ele propôs dedicar a obra aos músicos da orquestra, proposição prontamente aceita por todos.
O Capricho Espanhol é composto de cinco movimentos. O primeiro, intitulado Alborada, é uma dança viva e festiva. Nela, o clarinete alterna com a orquestra na apresentação do tema. Uma breve cadência de violino fecha o
CAPRICHO ESPANHOL, OP. 34 (1887)15 min
Nikolai Rimsky-Korsakov | Rússia, 1844 – 1908
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INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
movimento. No segundo movimento, Variazioni, diversas seções da orquestra apresentam variações da melodia inicial da trompa: cordas, corne inglês, violoncelos... O terceiro movimento, Alborada, é praticamente idêntico ao primeiro. Desta vez o violino solo faz o papel que o clarinete fez no primeiro movimento, e vice-versa. O quarto movimento, Scena e canto gitano, inicia-se com o tema nos trompetes e trompas. Possui quatro cadências (violino solo,
flauta, clarinete e harpa), alternadas, aqui e ali, pelo tema. Ataca-se, sem interrupção, o quinto movimento, o Fandango asturiano, uma dança alegre e frenética. À medida que nos aproximamos do final grandioso, a orquestra executa trechos da Scena e canto gitano e da Alborada.
PARA OUVIR
CD Rimsky-Korsakov – Shéhérazade; Russian
Easter overture; Capriccio espagnol –
Philadelphia Orchestra – Eugene Ormandy,
regente – Sony Classical – 1966/2002
PARA ASSISTIR
Orquestra Filarmônica de Berlim – Zubin
Mehta, regente | Acesse: fil.mg/rkcapricho
PARA LER
Nikolai Rimsky-Korsakov – Ma vie musicale –
Pierre Lafitte – 1914
Richard Taruskin – On Russian music –
University of California Press – 2009
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FABIO MECHETTIregente
ARNALDO COHENpiano
PROGRAMA
Antonín DVORÁKScherzo capriccioso, op. 66
Henri DUTILLEUXSinfonia nº 2 , “Dupla”• Animato, ma misterioso
• Andantino sostenuto
• Allegro fuocoso – Calmato
– INTERVALO –
Sergei RACHMANINOFFConcerto para piano nº 3 em ré menor, op. 30 • Allegro ma non tanto
• Intermezzo: Adagio
• Finale: Alla breve
ARNALDO COHENpiano
PRESTO E VELOCE26
SCHERZO CAPRICCIOSO, OP. 66 (1883) 14 min
O início dos anos 1880 marca uma mudança no estilo composicional de Dvorák. Se na década anterior seu estilo era leve e, de certo modo, exótico, marcado pelo emprego frequente de alguns aspectos superficiais da música nacional da Boêmia e Morávia, tais como o extenso uso de melodias e ritmos folclóricos, a partir dos anos 1880 ele viria a adquirir um caráter mais profundo, dramático e agressivo. Essa mudança de estilo tem sido atribuída aos tormentos pelos quais o compositor passava na época, ao considerar estabelecer-se em Viena e tornar-se, como desejavam seus simpatizantes – dentre eles Brahms e Eduard Hanslick –, um compositor de óperas alemãs. Em 11 de junho de 1882 Hanslick escreveu: “Acima de tudo eu sinto que seria de grande proveito para o seu desenvolvimento artístico, assim como para o seu sucesso, que você vivesse por um ou dois anos longe de Praga. O melhor de tudo seria, provavelmente, viver em Viena”. Com a morte de Wagner, em 13 de fevereiro de 1883, surgiu a necessidade real de se encontrar alguém que preenchesse o posto vago de principal compositor de
Antonín Dvorák | Boêmia, atual República Tcheca, 1841 – 1904
ópera alemã. Hanslick escreveu ao amigo, em 3 de maio de 1884: “O Barão Hoffmann, Generalintendant da Ópera da Corte, pediu-me que lhe perguntasse se você se sentiria inclinado a compor uma ópera para o Teatro da Corte para a temporada de 1885 ou 1886”.
Embora Dvorák fosse menos radical que seus compatriotas tchecos e tenha chegado a considerar seriamente a possibilidade de mudar-se para Viena, o temor de ser visto como um traidor em sua terra natal afetava consideravelmente sua decisão. Ao final resolveu, a contragosto, declinar das ofertas.
O Scherzo capriccioso, op. 66 foi composto no mesmo ano do Trio para piano em fá menor, op. 65 e da Abertura dramática Husitská, op. 67 e pertence a esse novo estilo composicional de Dvorák. Em se tratando de um scherzo, o novo estilo mais intenso e visceral pode soar, à primeira vista, contraditório, uma vez que o scherzo é uma brincadeira musical – do italiano scherzare (brincar, zombar, fazer gracejos) – e não o gênero adequado para o drama e a introspecção. Mas há que
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lembrar que não estamos lidando com um scherzo qualquer, mas com um scherzo caprichoso, ou a capriccio.
A primeira seção (Allegro con fuoco) inicia-se com uma breve introdução, seguida do primeiro tema, alegre e festivo, nas cordas e madeiras, com fortes marcações dos metais e pratos. O segundo tema é ouvido logo a seguir: uma valsa vienense com certo sabor melancólico. A segunda seção (Poco tranquillo) possui também dois temas: o primeiro, uma melodia introspectiva no corne inglês (seguido pelos primeiros violinos
e flautas); e o segundo, uma outra valsa vienense, leve no início e, aos poucos, extremamente dramática.
Os registros da estreia são incompletos, mas, ao que tudo indica, o Scherzo capriccioso foi apresentado em público, pela primeira vez, no dia 16 de maio de 1883, no Teatro Nacional, em Praga, sob a regência de Adolf Čech.
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
PARA OUVIR
CD Dvorák – The three great symphonies
(Symphonies nos 7, 8 & 9); Scherzo
Capriccioso – Cleveland Orchestra – Christoph
von Dohnányi, regente – Decca – 1997
Orquestra Sinfônica da NBC – Arturo
Toscanini, regente | Acesse: fil.mg/dscherzoat
PARA ASSISTIR
Orquestra Filarmônica de Budapeste – Rico
Saccani, regente | Acesse: fil.mg/dscherzors
PARA LER
John Clapham – Antonín Dvorák: musician
and craftsman – St. Martin’s Press – 1966
Kurt Honolka – Dvorák – Haus Publishing – 2004
PRESTO E VELOCE28
Fruto de um trabalho persistente e de qualidade excepcional, a música de Henri Dutilleux ocupa, tanto para a crítica mais tradicionalista como para as vanguardas, lugar privilegiado no cenário contemporâneo. Seu catálogo, não especialmente numeroso, é composto de obras-primas, cada uma meticulosamente pensada e cinzelada com refinamento. Seu reconhecimento, entretanto, ocorreu lentamente – talvez por causa do temperamento independente e recluso do compositor, que sempre se negou a participar de movimentos e grupos estéticos.
A Sinfonia nº 2, com o sugestivo título Le Double, foi encomendada pela Fundação Koussevitzky para as comemorações do 75º aniversário da Orquestra de Boston. Iniciada em 1957, foi concluída dois anos mais tarde e estreada em 11 de dezembro de 1959, sob a regência de Charles Münch. A linguagem dessa Sinfonia é ainda frequentemente tonal ou modal, embora também utilize procedimentos dodecafônicos (o serialismo era, então, a tendência dominante na França). Sua estrutura constrói-se sobre a divisão da orquestra em dois grupos
instrumentais. Um grupo menor, de 12 músicos, é separado do restante da orquestra, formando um semicírculo em torno do maestro. Essa divisão remete evidentemente ao modelo barroco do Concerto Grosso; ou, ainda, a instrumentação do grupo menor poderia sugerir uma big band jazzística – mas a música evita qualquer analogia e foge de esquemas neoclássicos. Os dois grupos unem-se, afrontam-se ou se sobrepõem em rico e complexo processo especular de polirritmia e de politonalidade. Jogo de espelhos: dois personagens em um só, sendo um o reflexo do outro – o sósia, o duplo, le double.
O processo de variação domina a partitura atuando em fragmentações contínuas e reincidentes que, lenta e progressivamente, conduzem à afirmação temática. O movimento inicial, Animato ma misterioso, apresenta forma ternária. O Andantino sostenuto possui particular encanto poético e, nele, as variações tornam-se mais facilmente perceptíveis. O Allegro fuocoso – calmato conclusivo divide-se em três seções: a tumultuada repetição do tema (fuocoso), um stretto animado e uma ampla coda (calmato).
SINFONIA Nº 2, “DUPLA” (1955/1959)
28 min
Henri Dutilleux | França, 1916 – 2013
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Para Dutilleux, o processo criador pode transformar-se em um ritual, uma forma de cerimônia religiosa, pois implica uma epifania – quando uma determinada ideia se revela luminosa e, por algum segredo, se impõe sobre as outras. Assim, o artista convive com o sagrado, o mistério, a magia; prioriza a emoção e cultiva a curiosidade pelo inusitado. No plano técnico, Dutilleux valoriza o trabalho artesanal, com a preocupação de inserir o pensamento musical em uma estrutura bem definida (ainda que contrária a qualquer organização pré-fabricada). E ressalta a necessidade absoluta da escolha e da economia dos meios, sempre visando o que se pode chamar a Alegria do Som.
Aos dezessete anos, incentivado pelo avô materno, organista e professor de música, Dutilleux ingressou no Conservatório de Paris, onde obteve os primeiros prêmios de Harmonia, Contraponto e Fuga. Em 1938, ganhou o Prêmio de Roma, mas ficou poucos meses na Villa Médicis. Dez anos depois, em 1948, destruiu suas composições anteriores e publicou como seu opus nº 1 a Sonata para piano.
A grande sensibilidade harmônica, a busca de novos recursos expressivos e o gosto detalhista de sua orquestração fazem de Dutilleux um herdeiro direto da tradição de Dukas, Debussy e Ravel. Outras influências para sua música se referem a obras literárias ou pictóricas que lhe servem frequentemente de fonte poética, embora o compositor se declare avesso a qualquer vestígio de mensagem ou programa. Assim, ao dar o subtítulo de A noite estrelada para Timbres, Espaço, Movimento (1978), Dutilleux não tentou reproduzir sonoramente a pintura homônima de van Gogh, apenas reviver e prolongar suas impressões, lembranças e ressonâncias oníricas. No caso dos concertos, as fontes são literárias. O Concerto para violino, L’arbre des songes (1985), é uma meditação sobre o silêncio, o tempo e a memória, musicalmente traduzida em um estudo da percepção de estratos temporais múltiplos, conceito elaborado pelo compositor após a leitura de À la recherche du temps perdu, de Marcel Proust. Quanto ao Concerto para violoncelo, Tout un monde lointain, Dutilleux inspirou-se em Les fleurs du Mal de Charles Baudelaire,
INSTRUMENTAÇÃO 2 piccolos, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 2 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cravo, cordas.
PRESTO E VELOCE30
fascinado pelo universo do poeta e seu conceito de evasão, a grande viagem à procura do desconhecido – realizada musicalmente pelo instrumento solista.
Em 1945, Dutilleux foi nomeado diretor responsável pelas Ilustrações Musicais da Radiodiffusion Française, cargo que ocupou até 1963 e que lhe permitiu um convívio enriquecedor com diversas tendências artísticas. Em 1961, lecionou Composição na École Normale de Musique (a convite de
Alfred Cortot); depois, entre 1970 e 1984, no Conservatório de Paris.Aos 89 anos, em 2005, Dutilleux tornou-se o terceiro compositor francês (depois de Olivier Messiaen e Pierre Boulez) a receber o cobiçado prêmio Ernst von Siemens, pelo conjunto de sua obra.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
PARA OUVIR
CD H. Dutilleux – Symphony nº 2 –
Orchestre National du Capitole de Toulouse
– Michel Plasson, regente – EMI – 2008
Orquestra de Paris – Daniel Barenboim, regente
Acesse: fil.mg/ddupla1 (parte 1)
fil.mg/ddupla2 (parte 2)
fil.mg/ddupla3 (parte 3)
fil.mg/ddupla4 (parte 4)
PARA LER
François René Tranchefort – Guia da
Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990
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CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM RÉ MENOR, OP. 30 (1909) 43 min
Eclético e imaginativo, Rachmaninoff herdou o lirismo russo de Tchaikovsky, a proficiência pianística de Liszt e a liberdade emotiva e anticerebral de Grieg. Esta última ligada à doutrina do belo e à utilização dos elementos nacionais, bem diversamente de seus contemporâneos russos. Aos vinte e quatro anos, já era muito conhecido por toda a Rússia como compositor, regente e pianista. Presenciara, então, uma execução desastrosa de sua Primeira Sinfonia, sob a direção de Glazunov, aparentemente bêbado, seguida do fracasso de seu Concerto para piano nº 1.
Atingido por uma crise psicótica,desistira de compor temporariamente, permanecendo em profunda depressão. Somente depois de prolongado tratamento de hipnose com o Dr. Nicolai Dahl, Rachmaninoff pôs-se outra vez a compor. Seu Concerto para piano nº 2, executado em 1901, devolveu-lhe todo o êxito e popularidade merecidos.
Em 1909, compôs o Concerto para piano nº 3, especialmente para sua primeira turnê nos Estados Unidos, país no qual veio a se estabelecer a partir de 1918. Deixando a tranquilidade de uma confortável
Sergei Rachmaninoff | Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943
datcha nos arredores de Moscou, na qual escrevera a obra, Rachmaninoff teve somente nove dias para ensaiar a dificílima parte solista, num teclado mudo, durante a travessia do Atlântico. A obra foi estreada em 1909 pela Orquestra Sinfônica de Nova York, regida por Damrosch, e reapresentada em 1910 pela Filarmônica de Nova York sob a regência de Gustav Mahler. O compositor foi o solista nas duas ocasiões e, após trinta anos, gravou a obra com a Orquestra da Filadélfia, sob a batuta de Eugene Ormandy. Com andamento mais acelerado, alguns cortes e uma cadenza mais curta e scherzante para o primeiro movimento, o compositor, em sua gravação, tentou destituir sua composição dos rótulos de obra “cavalar” ou “concerto elefante”, segundo Arthur Rubinstein, que se referia à grande extensão e às enormes dificuldades técnicas do concerto.
Comparado ao escalar do Himalaia, este concerto é uma empreitada reservada somente aos grandes pianistas que aprenderam a manejar o instrumento com absoluta economia e destreza. Caso contrário, o solista seria engolido por densos
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MARCELO CORRÊA Pianista, Mestre em Piano pela
Universidade Federal de Minas Gerais, professor
na Universidade do Estado de Minas Gerais.
acordes e incontáveis arpejos até um esgotamento físico e mental, como exposto no filme Shine, no qual o pianista David Helfgott desmaia após digladiar-se com a obra. O filme, ganhador de Oscar, contribuiu ainda mais para a fama de concerto inatingível e humanamente desgastante.
Acredita-se que Rachmaninoff tocava grandes acordes com facilidade por sofrer da síndrome de Marfan, doença dos dedos de aranha, visto que sua extensão de mão alcançava trinta centímetros. Curiosamente, seu Concerto nº 3 foi dedicado ao pianista Josef Hofmann, de estatura mediana e mãos pequenas.
Musicalmente, o Concerto nº 3 demostra que seu estilo se tornara cada vez mais arrojado e livre no uso dos recursos musicais, mas que o caráter emotivo e nostálgico se mantinha invariável. Rachmaninoff, em seus quatro concertos para piano, se empenha em atingir uma severa unidade em seus temas, que nos prendem pela intensidade expressiva, assim como em combinar antigas tradições e novos ideais em seu pianismo exuberante, autêntico e de bom gosto.
INSTRUMENTAÇÃO 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
PARA OUVIR
CD Great Pianists – Rachmaninov – Piano
Concertos nº 2 e 3 – The Philadelphia
Orchestra – Leopold Stokovsky e Eugene
Ormandy, regentes – Rachmaninov, piano –
Naxos, Munique – 1999 – (Original RCA Victor)
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica da Rádio de Berlim –
Ricardo Chailly, regente – Martha Argerich,
piano | Acesse: fil.mg/rpiano3
PARA LER
Robert M. Walter – Rachmaninoff –
Omnibus Press – 1988
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ALLEGRO
V IVACE
Quinta
Sexta
16/07
17/07
PATROCÍNIO
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FABIO MECHETTIregente
SERGEJ KRYLOVviolino
PROGRAMA
Arthur HONEGGERPacífico 231
Nicolò PAGANINIConcerto para violino nº 5 em lá menor (reconstruído por Federico Mompellio em 1959)
• Allegro maestoso
• Andante un poco sostenuto
• Rondo: Andantino quasi Allegretto
– INTERVALO –
Paul DUKAS Sinfonia em Dó maior• Allegro non troppo vivace, ma con fuoco
• Andante espressivo e sostenuto
• Allegro spiritoso
SERGEJ KRYLOVviolino
36 ALLEGRO E VIVACE
Ao longo de sua carreira, Sergej Krylov se estabeleceu como um dos violinistas mais talentosos de sua geração. Ele é regularmente convidado para se apresentar em prestigiadas salas de concertos em todo o mundo e tem atuado com orquestras como a Staatskapelle Dresden, Philharmonique de Radio France, Deutsches Symphonie Orchester-Berlim, Filarmonica della Scala, Accademia di Santa Cecilia, Filarmônica de Londres, Frankfurt Hessischer Rundfunk, St. Petersburg Philharmonic, Royal Philharmonic, Copenhagen Philharmonic, Russian National Symphony,
SERGEJKRYLOVFO
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NHK Symphony, Atlanta Symphony, English Chamber Orchestra e Orquestra do Festival de Budapeste.
Krylov já trabalhou com importantes personalidades, sendo a amizade e parceria com Mstislav Rostropovich uma das influências mais significativas na sua vida artística. Também já se apresentou sob a batuta de maestros como Vladimir Jurowski, Valery Gergiev, Mikhail Pletnev, Andrey Boreyko, Dmitri Kitajenko, Omer Meir Wellber, Yuri Temirkanov, Vladimir Ashkenazy, Fabio Luisi, Asher Fisch, Vasily Petrenko, Nicola Luisotti, Julian Kovatchev, Rafael Frühbeck de Burgos, Saulius Sondeckis, Zoltán Kocsis e Yuri Bashmet.
Os principais compromissos da temporada 2014/2015 incluem apresentações em São Petersburgo com a Filarmônica de São Petersburgo e Yuri Temirkanov e com a Mariinsky Theatre Orchestra e Valery Gergiev. Ele voltará à Sinfônica de Atlanta para apresentar o Concerto nº 5 de Paganini com Roberto Abbado; em Colônia e Zagreb interpreta Mendelssohn e Prokofiev com Dmitri Kitajenko. Em Turim fará a estreia italiana de obra de Gubaidulina com a Orquestra Rai e Tonu Kaljuste. O músico também se dedica a reger
e tocar com a Orquestra de Câmara da Lituânia. Com Pietari Inkinen e a Orquestra Toscanini irá executar o Concerto Duplo de Brahms com Mario Brunello no violoncelo. A agenda de Sergej inclui ainda recitais para violino solo e com o piano.
Sergej dedica grande parte de seu tempo à música de câmara e se apresenta com Denis Matsuev, Yuri Bashmet, Itamar Golan, Lilya Zilberstein, Aleksandar Madzar, Bruno Canino, Stefania Mormone, Maxim Rysanov, Nobuko Imai, Belcea Quartet e Elīna Garanča. Desde 2009 é diretor musical da Orquestra de Câmara da Lituânia; regularmente tem o duplo papel de solista e regente em um vasto repertório que vai da música barroca a obras contemporâneas.
Sua discografia contempla os 24 Caprichos de Paganini, além de gravações para a EMI e Melodya.
Nascido em Moscou em uma família de músicos, Sergej Krylov começou a estudar violino aos cinco anos de idade e completou seus estudos na Moscow Central Music School. Ainda muito jovem, ganhou o Concurso Internacional de Violino Lipizer, o Concurso Internacional de Violino Stradivarius e o Concurso Fritz Kreisler.
38 ALLEGRO E VIVACE
Como membro do Grupo dos Seis, o que Arthur Honegger partilhou com Georges Auric, Louis Durey, Darius Milhaud, Francis Poulenc e Germaine Tailleferre foi companhia estimulante, e não uma estética, cuja existência negava. Qual César Franck no século XIX, ele cumpriu, na primeira metade do século XX, o papel de mediador entre a cultura musical francesa e a tradição alemã, ao mesmo tempo em que escrevia música “acessível à grande massa de ouvintes, embora suficientemente isenta de trivialidades para interessar o melômano”.
De pais suíços, Honegger nasceu na cidade portuária de Le Havre. Lá estudou violino e harmonia antes de tomar aulas de composição, teoria e violino por dois anos, no Conservatório de Zurique. Em 1911 matriculou-se no Conservatório de Paris e ali permaneceu sete anos. Quando, em 1913, a família retornou a Zurique, Honegger trocou Le Havre por Montmartre, em Paris, onde residiu até seus últimos dias. Em 1921, a música de cena para O rei Davi, estreada na Suíça, transformou-o em celebridade internacional. “O que devo à Suíça? Sem dúvida, a tradição
protestante, uma grande dificuldade para enganar-me a mim mesmo quanto ao valor do que faço, um sentido ingênuo da honestidade e minha familiaridade com a Bíblia. À França devo todo o resto: meu despertar intelectual, minha afinidade musical e espiritual.”
No título Pacific 231 os números significam: de cada lado, duas rodas livres na frente, três rodas motrizes no meio e uma roda livre atrás. Honegger explica: “O que busquei em Pacific não foi a imitação dos ruídos da locomotiva, mas a tradução de uma impressão visual e de um gozo físico numa construção musical. Ela parte de uma contemplação objetiva: a respiração tranquila da máquina em repouso, o esforço do arranque, depois o aumento progressivo da velocidade, para culminar no estado lírico, no patético do trem de trezentas toneladas disparado a cento e vinte por hora, em plena noite. Como personagem, escolhi a locomotiva tipo Pacific, símbolo 231, para trens pesados de grande velocidade.”
Mais tarde, ele se queixaria: “Tantos e tantos críticos descreveram com tal minúcia o arroubo de minha
PACÍFICO 231 (1923)7 min
Arthur Honegger | França, 1892 – 1955
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INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, percussão, cordas
CARLOS PALOMBINI Musicólogo, professor da
Escola de Música da Universidade Federal de
Minas Gerais.
locomotiva pelos grandes espaços que seria desumano desenganá-los. [...] Na verdade, em Pacific dei curso a uma ideia muito abstrata e totalmente ideal, ao produzir o sentimento de um acréscimo matemático do ritmo enquanto o próprio movimento se desacelera. Musicalmente, compus uma espécie de grande coral variado.”
Dedicada ao regente Ernest Ansermet, que depois a gravaria duas vezes, Pacific 231, Movimento Sinfônico nº 1 estreou sob Serge Koussevitzky na Ópera de Paris, em 1924. O grande
público, que se sentia relegado pela música dos anos 1920, encontrou em Honegger o pathos de cuja ausência ressentia-se. A partir dos anos 1930, o homem apaixonado por ferrovias, pelo rugby e por sua Bugatti começaria a mergulhar no desencanto, extravasado nos livros Sortilégios para os fósseis (1945), Sou compositor (1951) e na palestra O Compositor na Sociedade Moderna (1952).
PARA OUVIR
CD Arthur Honegger – Pacific 231 –
Orquestra Sinfônica da Rádio da Bavária –
Charles Dutoit, regente – Erato – 1986
PARA ASSISTIR
Orquestra da Rádio e Televisão da Suíça
Italiana – Marc Andreae, regente
Acesse: fil.mg/hpacifico
PARA LER
Harry Halbreich – Arthur Honegger –
Amadeus Press – 1999
40 ALLEGRO E VIVACE
Desde sua primeira aparição em público, aos oito anos, Nicolò Paganini tornou-se exemplo máximo de virtuosidade ao violino, povoando o imaginário daqueles que o associavam ao sobrenatural e influenciando os mais importantes compositores da geração romântica europeia. Schumann, Berlioz, Liszt, Chopin, Brahms são alguns dos nomes que almejaram a perfeição técnica e a criatividade melódica do virtuose italiano. Todos eles prestaram homenagem a Paganini por meio de transcrições, paráfrases ou citações de suas obras.
A música de Paganini, tendo em vista sua estrutura melódica, é estilisticamente operática e rossiniana. O próprio Rossini, que conhecera o célebre violinista, alertava: se Paganini compusesse óperas, “todos nós, compositores, estaríamos em apuros”. Devemos a Paganini a invenção de um novo gênero musical, uma espécie de estudo de concerto, que alia bravura virtuosística, técnica apurada e inspirado conteúdo musical. Os 24 Capricci para violino solo, a primeira obra publicada de Paganini, são verdadeiros estudos dedicados agli artisti, aos executantes de
alto nível. Paganini maximizou as possibilidades do violino com oitavas, décimas, harmônicos, pizzicati com a mão esquerda combinados com a passagem de arco e demais efeitos musicais surpreendentes. Alguns deles praticamente inexequíveis, como o terrível trinado duplo em uníssono do terceiro Capriccio. Porém, a arte de Paganini, que tanto assombrava a quem o ouvia tocar, não consistia exclusivamente na dificuldade; pelo contrário, relacionava-se à facilidade e elegância com que realizava cada passagem. A despeito de sua aparência cadavérica, ele impressionava seu público com grazia, ausência de afetação e certa displicência. Tais predicados combinam bem com o termo sprezzatura, inventado pelo escritor italiano Baldassare Castiglione em seu livro O Cortesão, publicado em 1528: “É disso, creio eu, que deriva em boa parte a graça, pois, se das coisas raras e bem feitas cada um sabe as dificuldades, nelas a facilidade provoca grande maravilhamento; e, ao contrário, esforçar-se faz apreciar pouco qualquer coisa, por maior que ela seja. Pode-se dizer que é arte verdadeira aquela que não parece ser arte; e em outra coisa não há que se esforçar, senão em
CONCERTO PARA VIOLINO Nº 5 EM LÁ MENOR (1830)Reconstruído por Federico Mompellio em 195939 min
Nicolò Paganini | Itália, 1782 – França, 1840
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INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
MARCELO CORRÊA Pianista, Mestre em Piano pela
Universidade Federal de Minas Gerais, professor
na Universidade do Estado de Minas Gerais.
escondê-la”. Talvez fosse asprezzatura um dos segredos de Paganini.
Paganini fizera dos seus seis concertos para violino uma vitrina para exibição de sua incomparável proficiência técnica e musicalidade. O Quinto Concerto, deixado inacabado em 1830, é posterior ao Sexto Concerto, composto em 1815 e publicado postumamente. A parte do solista, única que subsistiu do Quinto Concerto, foi suficiente para o compositor e musicólogo
italiano Federico Mompellio preparar toda a orquestração, obedecendo fielmente ao estilo de Paganini. A orquestração da obra foi encomendada pela Accademia Musicale Chigiana, em 1958. A partitura foi estreada com enorme sucesso no ano seguinte, tendo como solista Franco Gulli, autor da cadenza do primeiro movimento.
PARA OUVIR
CD Paganini – The 6 Violin Concertos –
London Philharmonic Orchestra – Charles
Dutoit, regente – Salvatore Accardo,
violino – Deutsche Grammophon,
Hamburgo – 1993 (3 CDs)
PARA ASSISTIR
Yuri Bashmet, regente – Sergej Krylov,
violino | Acesse: fil.mg/pviolino5
PARA LER
Attila Campai e Dietmar Holland –
Guia Básico dos Concertos – Editora
Civilização Brasileira – 1995
42 ALLEGRO E VIVACE
Paul Dukas foi amigo e condiscípulo de Debussy no Conservatório de Paris. Homem de excepcional cultura musical, literária e filosófica, consagrou grande parte de sua vida ao ensino. Seus muitos alunos (entre outros, Manuel de Falla e Olivier Messiaen) permaneceram todos fiéis admiradores do grande mestre, mesmo quando divididos pelas diferentes tendências estéticas da música francesa moderna. Crítico esclarecido, cuja vultosa produção ainda se conserva atual, Dukas foi também revisor da obra de Rameau e Beethoven, músicos que tomou como modelos, respectivamente pela clareza da linguagem e pela solidez formal. Em maio de 1897, a estreia do poema sinfônico Aprendiz de Feiticeiro alcançou enorme êxito – popularidade merecida e confirmada mais recentemente pela reedição de um episódio do filme Fantasia, de Walt Disney. Paradoxalmente, entretanto, tamanho sucesso dificultou a recepção do restante de sua produção: Paul Dukas continua lembrado apenas por essa única obra-prima e como o principal crítico defensor de Debussy. Epíteto injusto, pois os outros títulos do seu catálogo
impressionam pela alta qualidade. Uma autocrítica impiedosa, quase paralisante, levou-o a guardar ou destruir a maior parte de suas composições. As obras publicadas, frutos raros de prolongada meditação, são profundamente representativas do espírito francês, estruturadas com lógica cartesiana e notável clareza de orquestração.
Inicialmente, Dukas deixou-se influenciar por Liszt, Wagner e César Franck – mas sua linguagem musical possui uma sensibilidade muito individual. A wagneriana Abertura Polyeucte, de 1892, já apresenta essa originalidade inconfundível e foi saudada como uma versão francesa do prelúdio de Tristão e Isolda.
Por ocasião da polêmica suscitada pela estreia da ópera Pelléas et Mélisande de Debussy, Dukas decidiu-se pelas novas tendências que procuravam impor-se na música francesa. Sua ópera Ariane et Barbe-Bleue, estreada em 1907, associa-se inevitavelmente à do amigo, até pela proximidade cronológica e pela coincidência do autor do libreto, Maurice Maeterlinck.
SINFONIA EM DÓ MAIOR (1895/1896)
40 min
Paul Dukas | França, 1865 – 1935
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O bailado La Péri, contemporâneo do Daphnis et Chloé de Ravel, foi, como este, encomendado por Diaghilev para os Balés Russos. Na verdade, trata-se de um vasto poema sinfônico que admite coreografia e tornou-se uma das partituras mais representativas de Dukas, sobretudo pelo encanto magistral de sua orquestração.
Duas longas obras para piano, a Sonata em mi menor e as Variações, interlúdio e final sobre um tema de Rameau, possuem grande virtuosidade de escrita e constituem um marco na literatura francesa do instrumento. Ainda para piano solo, Dukas deixou um Prelúdio elegíaco e uma homenagem póstuma a Debussy, com o significativo título de Pranto do Fauno, ao longe.
A Sinfonia em Dó maior estreou em janeiro de 1897 – pouco antes de Aprendiz de Feiticeiro –, e a acolhida foi bastante fria. É curioso observar que a causa da resistência inicial da crítica e do público tornou-se o que agora mais se elogia na obra, ou seja, sua complexidade estrutural. Essa Sinfonia constitui a grande contribuição de Dukas para o
movimento de redescoberta da tradição sinfônica francesa, interesse comum a vários compositores da época. Antes dele, Saint-Saëns, Lalo, d’Indy, César Franck e Chausson haviam iniciado a recuperação do gênero, cujo ponto de referência francês remontava, evidentemente, à Sinfonia Fantástica, de Berlioz, de 1830.
A Sinfonia em Dó maior tem divisão ternária – dois movimentos vivos enquadram o andamento lento. No Allegro non troppo vivace, ma con fuoco, o primeiro tema é exposto nos violinos, transparente e decidido. As cordas também apresentam, sobre um rallentando, o segundo motivo, mais melódico (espressivo) e melancólico, em tonalidade menor. A exposição temática se encerra com um terceiro elemento, em fortíssimo, dos metais. O desenvolvimento utiliza engenhosas variações desses temas até que um poderoso crescendo orquestral conduz à reexposição. A Coda primeiramente oculta os elementos temáticos sob a ambientação misteriosa de longínquas trompas, para depois os revelar na plenitude luminosa das madeiras agudas e dos metais.
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.
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No Andante espressivo e sostenuto os primeiros violinos, acompanhados pelas violas, apresentam o melancólico primeiro tema, sobre um suave movimento das trompas. Nas flautas e clarinetes, com um motivo mais rítmico e límpido, surge o segundo tema. Um desenvolvimento bastante conciso, enriquecido por ideias secundárias, antecede a reexposição, e esse magnífico Andante termina impregnado de bucólica poesia.
O Allegro spirituoso final é um rondó com seu estribilho enérgico e ritmado, apresentado primeiramente pelos fagotes, trompas e violoncelos. Após
o segundo motivo, confiado aos violinos em andamento mais calmo, o estribilho retorna enriquecido pelos metais. O terceiro motivo aparece, então, mais longo e muito modulante. O estribilho agora reaparece com o peso da orquestra completa. A longa Coda sobrepõe os elementos temáticos anteriores e, com crescente entusiasmo, chega à brilhante conclusão.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
PARA OUVIR
Paul Dukas – Symphony in C Major; Polieucte
Ouverture – BBC Philharmonic Orchestra –
Yan Pascal Tortelier, regente –
Chandos Records, England – 1994
Orquestra da Suíça Romanda – Armin Jordan,
regente | Acesse: fil.mg/dsinfdo
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica do Estado do México,
Guillermo Villarreal, regente | Acesse:
fil.mg/dsinfdo1 (parte 1)
fil.mg/dsinfdo2 (parte 2)
fil.mg/dsinfdo3 (parte 3)
PARA LER
François-René Tranchefort – Guia da Música
Sinfônica – Nova Fronteira – 1990
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Quinta
Sexta
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24/07
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FABIO MECHETTIregente
ELIANE COELHOsoprano
PROGRAMA
Cláudio de FREITASGrande Trio Concertante, op. 15
Maurice RAVELSheherazade• Ásia
• A flauta encantada
• O indiferente
– INTERVALO –
Richard STRAUSSAs alegres travessuras de Till Eulenspiegel, op. 28
Richard STRAUSSSalomé, op. 54: Cena Final
ELIANE COELHOsoprano
ELIANE COELHOsoprano
ESTREIA MUNDIALObra encomendada
pela Filarmônica
PRESTO E VELOCE48
Eliane Coelho é conhecida como uma das mais versáteis artistas, com um amplo repertório. Carioca, diplomou-se na Escola Superior de Música e Teatro de Hannover, para depois seguir uma brilhante carreira no exterior.
Eliane foi membro da Ópera de Frankfurt, na Alemanha, de 1983 a 1991, ano em que foi contratada pela Ópera de Viena, Áustria, onde recebeu o título de Kammersängerin em 1998. Neste prestigioso espaço vienense atuou em numerosos papéis, entre eles Tosca, Butterfly, Mary Stuart, Fedora (com Plácido Domingo), Madeleine (Andrea Chenier), Arabella, Salomé
ELIANECOELHOFO
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(Herodiade, com Plácido Domingo, José Carreras, Ferruccio Furlanetto), Margherita e Elena (Mefistofele), Elettra (Idomeneo, com regência de Sir Colin Davis).
Também cantou em muitas óperas de Verdi, como Lady Macbeth (com Leo Nucci), Leonora (Trovatore), Aida, Desdemona (Otello, com Renato Bruson), Lina (Stiffelio, com Renato Bruson, Plácido Domingo, José Carreras), Elena (Vespri Siciliani, com Ferruccio Furlanetto, Renato Bruson), Elisabetta (Don Carlo), Elvira (Ernani), Abigaille (Nabucco, com Leo Nucci), Helene (Jerusalem, com José Carreras, Ferruccio Furlanetto, Samuel Ramey e regência de Zubin Metha).
Como convidada, Eliane apresentou-se em muitos outros teatros, como La Scala (Butterfly, com maestro Riccardo Chailly), Bastille (Salomé, com maestro Donald Runnicles), Festival Aix-en-Provence (Elettra, em Idomeneo), Stocolmo (Arabella, Aida, Tosca), Munique (Salomé, Donna Elvira, Elettra), Berlim (Salomé, Butterfly, Tosca, Aida, Turandot), Dresden (Salome, Butterfly, Aida), Nice (Elettra), Marselha (Salomé), Copenhague (Salomé, Butterfly), Nápoles (Tosca), Torino (Lulu, Elettra), Catania (Elettra), Budapeste
(Salomé), Sofia (Maria Tudor), Bucareste (Simon Boccanegra, Gioconda, I due Foscari), Praga (Salomé), São Petersburgo (Salomé), Valência (Salomé) Zurique (Mimi, Andrea Chenier, Fedora), Tóquio (Salomé), Manaus (Isolda), Rio de Janeiro (Abigail).
Seu extenso repertório continua se enriquecendo com novos papéis. Nos últimos anos, abordou com grande êxito Brunnhilde (A Valquíria e O Crespúsculo dos Deuses), La Gioconda, Yerma de Villa-Lobos, Lady Macbeth de Mzensk e Medeia.
De todos, talvez seja justamente o papel título da Salomé, de Richard Strauss, uma de suas interpretações mais marcantes. Elogiada internacionalmente, Eliane Coelho deu vida e voz à princesa da Judeia centenas de vezes, em teatros da importância da Staatasoper de Viena, ópera de Stuttgart, Berlin Staatsoper Unter de Linden, Semperoper de Dresden, Mannheim, Nationaltheater de Munique, Opéra Bastille de Paris. Cantou-a também em cidades como Copenhagem, Gottenburgo, Valencia, Budapeste, Praga, São Petersburgo e Tóquio, ao lado de artistas como Mehta, Terfel, Rysanek, Jerusalem, Zednik, Weikl, Fassbaender, Weikl, Runnicles, Tear e Götz Friedrich.
PRESTO E VELOCE50
GRANDE TRIO CONCERTANTE, OP. 15 (2015) 17 min
O processo composicional de Cláudio de Freitas combina extensa prática como intérprete e profundo conhecimento de harmonia e contraponto, de modo a privilegiar elementos musicais tradicionais, como a melodia, o acompanhamento e, principalmente, a forma. Como ele mesmo declara, concebe inicialmente a forma da obra para então traçar as linhas melódicas que são combinadas segundo um contraponto rico, embora plástico. Trabalha a harmonia, seja ela triádica, hexacordial ou de blocos sonoros, dentro de grandes estruturas, o que lhe garante um sinfonismo encorpado e favorece o colorido orquestral. Além da primazia formal, sua orquestração revela intimidade com a orquestra, fruto de sua vasta experiência como fagotista. Sua atuação como contrafagotista na Filarmônica de Minas Gerais e, principalmente, os doze anos em que esteve na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, onde participou de cerca de cem apresentações por ano, permitiram ao compositor explorar o repertório de concerto em toda sua diversidade. Como instrumentista, Freitas vivenciou os mais emblemáticos estilos e linguagens musicais, consolidando assim o
Cláudio de Freitas | Brasil, 1975
conhecimento da teoria musical trazido do Harid Conservatory, em Boca Raton, Flórida. Ali, estudou com o aclamado Arthur Weisberg, responsável por sua formação como instrumentista e sua introdução no mundo da composição musical.
De volta ao Brasil, além do trabalho como músico de orquestra, defendeu mestrado em musicologia na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Como musicólogo, revisou e editou a Sinfonia nº 3, “A Guerra”, de Heitor Villa-Lobos, para a editora Criadores do Brasil. Sua edição foi gravada pelo selo Naxos em fevereiro de 2012. A riqueza de seu trabalho como compositor reflete não apenas sua formação musical plural, mas também sua paixão pela história e literatura brasileiras. Predominantemente, suas obras têm caráter programático, destacando-se os poemas sinfônicos Gonzaga ou a Revolução de Minas, op. 4, e A Confederação dos Tamoios, op. 7, além dos Três Quadros de Victor Meirelles, op. 14, e Homenagem a Rubem Braga: Quatro Crônicas Escolhidas, op. 10.
Em temporadas anteriores, a Filarmônica de Minas Gerais
51
IGOR REYNER Pianista, Mestre em Música pela
UFMG, doutorando de Francês no King’s
College London e colaborador do ARIAS/
Sorbonne Nouvelle Paris 3.
interpretou Gonzaga ou a Revolução de Minas e Homenagem a Rubem Braga, sendo esta última em estreia mundial.
Obra completamente abstrata, sem nenhuma referência programática, o Grande Trio Concertante materializa um eloquente trabalho técnico e orquestral. Concebida como um concerto para orquestra em três movimentos ininterruptos, a peça explora virtuosisticamente a coexistência de três famílias de instrumentos: as cordas, as madeiras e os metais. Cada um dos grupos instrumentais é apresentado
isoladamente, de modo que se revelem suas personalidades sonoras distintas. Segue-se então um diálogo entre as famílias de instrumentos, no qual o tema das cordas ecoa nas madeiras e nos metais, que o modificam. Tal diálogo expande-se e as diversas vozes instrumentais intensificam-se, conduzindo ao clímax orquestral, ou seja, ao momento do grande trio concertante.
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 2 oboés, oboé d´amore, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 6 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, cordas.
PARA OUVIR
H. Villa-Lobos – Symphony nº 3, “War”;
Symphony nº 4, “Victory” – São Paulo
Symphony Orchestra (Osesp) – Isaac
Karabtchevsky, regente – Naxos 8.573151 –
2012 (Partitura da Sinfonia nº 3 revista
e editada por Cláudio de Freitas)
PARA LER
Cláudio de Freitas – Processos composicionais
da obra coral-sinfônica Fantasia sobre uma
cantiga de ninar e da abertura sinfônica
As Enfibraturas do Ipiranga – Universidade
de São Paulo (USP) – Dissertação de
Mestrado em Musicologia – 2008
PARA VISITAR
soundcloud.com/claudio-de-freitas
PRESTO E VELOCE52
As Mil e Uma Noites são talvez o maior clássico da literatura árabe e já há muito se incorporaram ao patrimônio literário universal. Esse entremeado de contos e histórias que não se furtam a lidar com o fantástico e com o maravilhoso constitui, ao mesmo tempo, uma grande experiência narrativa e uma grande ousadia social. No primeiro caso, basta observar as histórias que levam a outras histórias, as vozes que dão voz a outras vozes, as narrativas que despontam de outras narrativas, numa teia sutil que se configura, veladamente, metalinguística. No segundo caso, porque confere a responsabilidade dessas narrativas a uma mulher, num contexto social em que a figura masculina era soberana. Scheherazada torna-se, assim, a protagonista da obra, apesar de poucas vezes aparecer explicitamente na narrativa. A esposa do Sultão das Índias envolve seu marido durante mil e uma noites com o artifício da narrativa para evitar ser morta: o sultão, desiludido com a fidelidade feminina, decidira arbitrariamente matar, depois da noite de núpcias, todas as mulheres com que se casasse. Depois de mil e uma noites de narrativas,
a cólera do sultão, já abrandada, se transforma em amor por sua esposa, a quem concede viver.
Scheherazada é, assim, uma figura metalinguística que personifica a própria narrativa, envolvente e sedutora, que vence a cólera e os instintos mais irracionais pela ação de um espírito inteligente e sutilmente ardiloso. A teia de histórias que sua voz constrói transforma-se, pouco a pouco, no tecido que irá forrar o seu leito nupcial. Tanto o Oriente quanto o Ocidente veem nessa personagem emblemática a poderosa idealização da figura feminina porque, com seu talento, seus dotes e sua inteligência, seduz e conquista até os mais altos potentados, transformando as paixões em amor, a fúria em ternura, a sua própria sentença de morte em esperança de vida.
Não é por acaso, portanto, que a música ocidental, desde o século XIX, se vê encantada por essa personagem. Já Schumann, em seu Álbum para a Juventude, op. 68 (coleção de pequenas peças para piano), constrói uma Scheherazade moldada em uma melodia cíclica, que parece nunca se resolver por completo. Não se
Maurice Ravel | França, 1875 – 1937
SHEHERAZADE (1903)17 min
53
diga, ainda, da obra homônima de Rimsky-Korsakov, plena de exotismos e de evocações que procuram, de um lado, representar musicalmente as figuras do próprio sultão e de sua esposa e, de outro, certas ambientações que alguns contos das Mil e Uma Noites sugerem.
Ravel intitulou Shéhérazade não uma, mas duas de suas composições: a primeira, composta em 1898, foi concebida para ser a abertura de uma ópera que nunca chegou a ser concluída. Ainda assim, Shéhérazade, Ouverture de Féerie foi a primeira obra orquestral de Ravel. A segunda, composta em 1903, chama-se simplesmente Shéhérazade e constitui-se de um ciclo de três canções para voz aguda (soprano ou tenor, embora geralmente seja cantada por voz feminina) e orquestra.
Na verdade, desde as exposições universais em Paris, Ravel se vê fascinado pela música e pela cultura do Oriente. Nesta, de um lado, e no jazz e no blues, de outro, ele não vê mero material para pintar com certos modalismos um já ineficiente sistema tonal. Ravel vê, em ambos
os casos, caminhos possíveis que lhe permitissem se afastar cada vez mais da tonalidade, sem, porém, se submeter a certos academismos de algumas correntes musicais da virada do século XIX para o XX. Os orientalismos que se entreouvem em Shéhérazade não são, portanto, nem de longe, colorações exóticas. São caminhos de fuga, um meio de não se sujeitar mais ao sistema tonal, que já há muito tempo se mostrava ineficaz para a expressão musical.
Em 1903 Ravel entra em contato com o poeta Tristan Klingsor, pseudônimo de Léon Leclère (1874-1966), que tinha acabado de publicar, sob o título de Shéhérazade, uma coleção de poemas inspirados na narrativa árabe das Mil e Uma Noites e também na composição de Rimsky-Korsakov, da qual tanto Ravel quanto Debussy eram grandes admiradores. A partir desse contato, Ravel põe-se a musicar três dos poemas de Klingsor, a princípio concebidos para voz e piano, mas logo orquestrados no que veio a se tornar a sua própria Shéhérazade.
A riqueza rítmica da poesia de Klingsor, flexível e não condicionada
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, celesta, cordas.
PRESTO E VELOCE54
a esquemas poéticos tradicionais, aliada à intensa imagética que ela cria, foram materiais perfeitos para um Ravel já descrente do sistema tonal, o que lhe permite, sem trauma, o uso de dissonâncias e sonoridades no mínimo originais!
Essas três grandes canções, de caráter reflexivo, foram concebidas para ter Asie como último movimento. No entanto, no momento da publicação, o compositor inverteu a ordem das canções, o que cria uma espécie de progressão, indo de um orientalismo quase voluptuoso a uma velada e terna sensualidade...
Como a própria personagem da Scheherazada, nas Mil e uma Noites...
Composta no mesmo ano em que Ravel completa outra de suas obras-primas – o Quarteto de Cordas –, Shéhérazade pode não ser uma de suas obras mais populares, mas é uma de suas obras mais importantes. Ela foi estreada em 1904, na Société Nationale, cantada por Jeanne Hatto, tendo como regente ninguém menos que Alfred Cortot.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
PARA OUVIR
Maurice Ravel – Shéhérazade; Le tombeau de
Couperin; Pavane pour une infante défunte;
Menuet Antique – The Cleveland Orchestra –
Pierre Boulez, regente – Anne Sophie von Otter,
soprano – Deutsche Grammophon – 2012
PARA ASSISTIR
Orquestra Filarmônica de Nova York –
Sir Andrew Davis, regente – Renné Fleming,
soprano | Acesse: fil.mg/rsheherazade
PARA LER
Deborah Mawer (ed.) – The Cambridge
Companion to Ravel – Cambridge University
Press – 2000
Roland de Candé – História Universal da
Música – vol. 2 – Eduardo Brandão, tradução –
Martins Fontes – 1994
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AS ALEGRES TRAVESSURAS DE TILL EULENSPIEGEL, OP. 28 (1894/1895) 15 min
Till Eulenspiegel foi um personagem folclórico alemão do século XIII, um malandro atrevido que pregava peças em seus contemporâneos. Como Till constantemente expressava seu desprezo por certos comportamentos desagradáveis de figuras conhecidas, o surgimento das travessuras atribuídas a ele pode ter suas origens no desejo de retaliação dos desprivilegiados contra as classes mais abastadas. A verdade sobre sua real existência nunca ficou satisfatoriamente comprovada e, ao que tudo indica, ele foi um mero personagem de ficção em torno do qual gravitava uma série de contos populares da Idade Média.
Tendo Richard Strauss completado a composição do poema sinfônico Till Eulenspiegel (As alegres travessuras de Till Eulenspiegel, a partir da história de um velho trapaceiro – na forma rondó – para orquestra) no dia 6 de maio de 1895, a primeira audição se deu em 5 de novembro do mesmo ano, em Colônia, sob a regência de Franz Wüllner. O fato de Strauss escrever, na página título, que se tratava de uma obra na forma rondó só veio complicar sua compreensão, uma vez que seu sentido musical
Richard Strauss | Alemanha, 1864 – 1949
apenas vagamente lembra um rondó. A estrutura da peça é, na verdade, uma mistura de rondó, sonata e variações temáticas, cuja unidade se mantém graças à intensificação de um material musical extremamente coeso. Ao denominar a peça um rondó, estaria Strauss, assim como Till Eulenspiegel, zombando dos seus críticos? O compositor parece ter-se identificado imensamente com o destemido Till, que enfrentava os mais diversos inimigos sem se abalar. Strauss vivia, na época, um feroz embate com os críticos, retomado em outro poema sinfônico de sua autoria: Uma vida de herói (1898). A tendência de Till para ridicularizar a ordem ideológica de seu tempo parece encontrar paralelo no poema sinfônico homônimo, uma vez que Strauss recicla material musical de Wagner (O anel do Nibelungo e Tristão e Isolda) e Beethoven (8ª Sinfonia) e os reutiliza, de certa forma, satirizados.
Embora às vezes relutante em fornecer pistas sobre as fontes que o inspiraram a compor determinados temas, Strauss fez uma série de anotações, na partitura utilizada pelo musicólogo alemão Wilhelm Mauke,
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sobre o significado de cada passagem. Sobre o tema dos violinos que abre a peça, o compositor escreveu: “Era uma vez um tolo velhaco...”; e sobre a melodia da trompa, logo após o tema dos violinos, ele escreveu: “... que se chamava Till Eulenspiegel”. Estes são os temas que ele considerava como temas de base de toda a peça, pois que retornam volta e meia, sempre com ligeiras modificações. E assim ele foi deixando pistas ao longo da partitura: “Salta no cavalo e passa pelas mulheres do mercado”, “ele promete vingança contra toda
a raça humana”, “o motivo dos Filisteus”, “o julgamento”, “o lado mortal do Till chegou ao fim”. Mas talvez a melhor maneira de se ouvir esta peça seja como o próprio compositor sugeriu, quando de sua estreia: “deixe os alegres cidadãos de Colônia adivinharem, por si próprios, que tipo de brincadeira musical o malandro pregou neles”.
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
PARA OUVIR
CD Richard Strauss – Also sprach Zarathustra;
Till Eulenspiegels lustige Streiche; Tod und
Verklärung; Salome (Dance of the seven
veils) – Staatskapelle Dresden – Rudolf
Kempe, regente – EMI Classics – 2001
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera –
Lorin Maazel, regente | Acesse: fil.mg/still
PARA LER
Michael Kennedy – Richard Strauss:
man, musician, enigma – Cambridge
University Press – 2006
PRESTO E VELOCE58
Salomé é a terceira ópera de Richard Strauss, composta a partir da tradução alemã de Hedwig Lachmann da peça homônima de Oscar Wilde (1854-1900). A peça, escrita para Sarah Bernhardt, foi proibida na Inglaterra e França, por seu teor altamente explosivo. Sua estreia se deu, apenas, em 11 de fevereiro 1896, no teatro da Comédie-Parisienne (atual Athénée Théâtre Louis-Jouvet), quando Wilde estava na prisão. Em novembro de 1902, quando Richard Strauss assistiu a uma apresentação da peça em Berlim, imediatamente percebeu suas possibilidades operísticas. Aproveitando a tradução de Lachmann, ele fez alguns cortes, estruturou a trama em um único ato com quatro cenas e centrou a história na figura de Salomé. A ópera foi composta entre 1903 e 1904, e a partitura completa foi finalizada em 20 de junho de 1905. A estreia se deu em 9 de dezembro de 1905, na Ópera de Dresden, sob a regência de Ernst von Schuch. A estreia foi um sucesso estrondoso, mas a crítica protestou violentamente, classificando-a de indecente, imoral e cacofônica. Assim como ocorreu com a peça teatral, a ópera foi banida de vários teatros, o que só fez aumentar o interesse do
público. Em pouco tempo a ópera tornou-se um succès de scandale e fez do compositor um homem rico e internacionalmente famoso.
Baseada na narrativa bíblica, a ópera conta a história da atração fatal da jovem princesa Salomé por Jochanaan (João Batista). Jochanaan está preso em uma cisterna do palácio do rei Herodes por ter pregado a vinda do Messias e por ter acusado de incestuoso o casamento de Herodes com sua cunhada Herodíades, mãe de Salomé. Salomé pede aos guardas que lhe tragam o profeta. Fascinada com a presença dele, ela lhe implora por um beijo. Jochanaan a rejeita e amaldiçoa. Os guardas o levam de volta à cisterna. Herodes e Herodíades chegam, e o rei se encanta com a enteada. Herodes sugere a Salomé que dance para ele. Ela se recusa, mas finalmente aceita, uma vez que ele promete dar-lhe qualquer coisa que ela queira. Salomé dança, sedutoramente, a famosa Dança dos Sete Véus. Ao fim, pede a Herodes a cabeça de Jochanaan. Aterrorizado, o rei protesta, mas, persuadido pela esposa, acaba cedendo. O carrasco desce à cisterna e traz a cabeça do profeta em uma
SALOMÉ, OP.54: CENA FINAL (1903/1905) 17 min
Richard Strauss | Alemanha, 1864 – 1949
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bandeja de prata. Nesse momento inicia-se a cena final, uma das cenas mais envolventes e arrepiantes de toda a história da ópera. Em êxtase, ela segura a cabeça e conversa como se ele ainda estivesse vivo: “Ah, você não me deixaria beijar sua boca, Jochanaan. Bem, eu vou beijá-la agora”. Todo o magnetismo de Strauss está presente nessas últimas páginas, de uma música mágica que sublinha a face íntima de cada personagem e desvenda as intenções por trás de cada ação. Um colorido
orquestral fascinante e uma linha vocal das mais sublimes jamais escritas para a voz de soprano. Um papel dos mais difíceis, que exige uma técnica vocal suficientemente madura para se expressar com – e, às vezes, contra – uma orquestra monumental, em momentos de intenso prazer, fúria, sedução e doçura.
INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, heckelphone, requinta, 4 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 6 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, tuba, tímpanos, percussão, celesta, órgão, 2 harpas, cordas.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em
Música pela Unicamp, professor na Escola de
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
PARA ASSISTIR
DVD Richard Strauss – Salome – Royal Opera
House Convent Garden – Edward Downes,
regente – Maria Ewing, soprano – 1992/2001
DVD Richard Strauss – Salome – Deutsche
Oper Berlin – Giuseppe Sinopoli, regente –
Catherine Malfitano, soprano – 1990/2008
Orquestra da Casa de Ópera Real – Christoph
von Dohnányi, regente – Catherine Malfitano,
soprano | Acesse: fil.mg/ssalome
PARA LER
Charles Youmans (ed.) – The Cambridge
companion to Richard Strauss –
Cambridge University Press – 2010
PRESTO E VELOCE60
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CONCERTOS PARA A JUVENTUDE
Realizados em manhãs de domingo,
são concertos dedicados aos jovens
e às famílias, buscando ampliar
e formar público para a música
clássica. As apresentações têm
ingressos a preços populares.
CLÁSSICOS NA PRAÇA
Realizados em praças da Região
Metropolitana de Belo Horizonte, os
concertos proporcionam momentos
de descontração e entretenimento,
buscando democratizar o acesso da
população em geral à música clássica.
CONCERTOS DIDÁTICOS
Concertos destinados a grupos de
crianças e jovens da rede escolar
e a instituições sociais, mediante
inscrição prévia. Seu formato busca
apoiar o público em seus primeiros
passos na música clássica.
FESTIVAL TINTA FRESCA
Com o objetivo de fomentar a criação
musical entre compositores brasileiros e
gerar oportunidade para que suas obras
sejam apresentadas em concerto, este
Festival é sempre uma aventura musical
inédita. Como prêmio, o vencedor recebe
a encomenda de outra obra sinfônica
a ser estreada pela Filarmônica no
ano seguinte, realimentando o ciclo da
produção musical nos dias de hoje.
ACOMPANHE A FILARMÔNICA EM OUTRAS SÉRIES DE CONCERTO
LABORATÓRIO DE REGÊNCIA
Atividade pioneira no Brasil, este
laboratório é uma oportunidade
para que jovens regentes brasileiros
possam praticar com uma orquestra
profissional. A cada ano, quinze
maestros, quatro efetivos e onze
ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e
ensaios com o regente Fabio Mechetti.
O concerto final é aberto ao público.
TURNÊS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
Com essas turnês, a Orquestra
Filarmônica de Minas Gerais
busca colocar o estado de Minas
dentro do circuito nacional e
internacional da música clássica.
TURNÊS ESTADUAIS
As turnês estaduais levam a música de
concerto a diferentes cidades e regiões de
Minas Gerais, possibilitando que o público
do interior do Estado tenha contato direto
com música sinfônica de excelência.
CONCERTOS DE CÂMARA
Realizados para estimular músicos
e público na apreciação da música
erudita para pequenos grupos. A
Filarmônica conta com grupos de
Metais, Cordas, Sopros e Percussão.
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PRÓXIMOSCONCERTOS
Julho
DIAS 9 E 10, PRESTO 5, VELOCE 5
quinta e sexta, 20h30, Sala Minas GeraisFabio Mechetti, regente
Arnaldo Cohen, piano
DVORÁK / DUTILLEUX / RACHMANINOFF
DIA 12, TURNÊ ESTADUAL
domingo, 20h, MarianaMarcos Arakaki, regente
TCHAIKOVSKY / DVORÁK / PROKOFIEV /
VAUGHAN WILLIAMS / WAGNER / GOMES
DIAS 16 E 17, ALLEGRO 6, VIVACE 6
quinta e sexta, 20h30, Sala Minas GeraisFabio Mechetti, regente
Sergej Krylov, violino
HONEGGER / PAGANINI / DUKAS
DIAS 23 E 24, PRESTO 6, VELOCE 6
quinta e sexta, 20h30, Sala Minas GeraisFabio Mechetti, regente
Eliane Coelho, soprano
RAVEL / R. STRAUSS
DIA 30, LABORATÓRIO DE REGÊNCIA
quinta, 20h30, Sala Minas GeraisRegentes participantes
WAGNER / BEETHOVEN
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DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
Fabio Mechetti
REGENTE ASSOCIADO
Marcos Arakaki
* principal ** principal associado *** principal assistente **** principal / assistente substituto ***** convidado
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
PRIMEIROS VIOLINOS
Anthony Flint – Spalla
Rommel Fernandes –
Spalla Associado
Ara Harutyunyan –
Spalla Assistente
Ana Zivkovic
Arthur Vieira Terto
Bojana Pantovic
Dante Bertolino
Hyu-Kyung Jung
Jovana Trifunovic
Marcio Cecconello
Mateus Freire
Rodolfo Toffolo
Rodrigo Bustamante
Rodrigo Monteiro Braga
Rodrigo de Oliveira
SEGUNDOS VIOLINOS
Frank Haemmer *
Leonidas Cáceres ***
Gideôni Veríssimo
Guilherme Monteiro
Leonardo Ottoni
Luka Milanovic
Marija Mihajlovic
Martha de Moura
Pacífico
Radmila Bocev
Tiago Ellwanger
Valentina Gostilovitch
Ana Paula Schmidt *****
Camilo Simões *****
Edgar Leite *****
Thiago Cavalcanti *****
VIOLAS
João Carlos Ferreira *
Roberto Papi ***
Flávia Motta
Gerry Varona
Gilberto Paganini
Juan Castillo
Katarzyna Druzd
Luciano Gatelli
Marcelo Nébias
Nathan Medina
Clara Santos *****
Leila Tascheck *****
Vitor Abreu *****
VIOLONCELOS
Robson Fonseca ****
Camila Pacífico
Camilla Ribeiro
Eduardo Swerts
Emilia Neves
Eneko Aizpurua Pablo
Lina Radovanovic
Francisca Garcia *****
CONTRABAIXOS
Colin Chatfield *
Nilson Bellotto ***
Brian Fountain
Marcelo Cunha
Pablo Guiñez
Wallace Mariano
William Brichetto
FLAUTAS
Cássia Lima*
Renata Xavier ***
Alexandre Braga
Elena Suchkova
OBOÉS
Alexandre Barros *
Ravi Shankar ***
Israel Muniz
Moisés Pena
CLARINETES
Marcus Julius Lander *
Jonatas Bueno ***
Ney Campos Franco
Alexandre Silva
FAGOTES
Catherine Carignan *
Victor Morais ***
Andrew Huntriss
TROMPAS
Alma Maria Liebrecht *
Evgueni Gerassimov ***
Gustavo Garcia Trindade
José Francisco dos Santos
Lucas Filho
Fabio Ogata
TROMPETES
Marlon Humphreys *
Érico Fonseca **
Daniel Leal ***
Tássio Furtado
TROMBONES
Mark John Mulley *
Diego Ribeiro **
Wagner Mayer ***
Renato Lisboa
TUBA
Eleilton Cruz *
TÍMPANOS
Patricio Hernández
Pradenas *
PERCUSSÃO
Rafael Alberto *
Daniel Lemos ***
Sérgio Aluotto
Werner Silveira
Fernanda Krener *****
HARPA
Giselle Boeters *
TECLADOS
Ayumi Shigeta *
GERENTE
Jussan Fernandes
INSPETORA
Karolina Lima
ASSISTENTE
ADMINISTRATIVA
Débora Vieira
ARQUIVISTA
Sergio Almeida
ASSISTENTES
Ana Lúcia Kobayashi
Claudio Starlino
Jônatas Reis
SUPERVISOR DE
MONTAGEM
Rodrigo Castro
MONTADORES
André Barbosa
Hélio Sardinha
Jeferson Silva
Klênio Carvalho
Risbleiz Aguiar
65
Instituto Cultural Filarmônica
Conselho Administrativo
PRESIDENTE EMÉRITO
Jacques Schwartzman
PRESIDENTE
Roberto Mário Soares
CONSELHEIROS
Angela Gutierrez
Berenice Menegale
Bruno Volpini
Celina Szrvinsk
Fernando de Almeida
Ítalo Gaetani
Marco Antônio Pepino
Marcus Vinícius Salum
Mauricio Freire
Mauro Borges
Octávio Elísio
Paulo Brant
Sérgio Pena
Diretoria Executiva
DIRETOR PRESIDENTE
Diomar Silveira
DIRETOR
ADMINISTRATIVO-
FINANCEIRO
Estêvão Fiuza
DIRETORA DE
COMUNICAÇÃO
Jacqueline Guimarães
Ferreira
DIRETORA DE
MARKETING E
PROJETOS
Zilka Caribé
DIRETOR DE
OPERAÇÕES
Ivar Siewers
DIRETOR DE
PRODUÇÃO MUSICAL
Kiko Ferreira
Equipe Técnica
GERENTE DE
COMUNICAÇÃO
Merrina Godinho
Delgado
GERENTE DE
PRODUÇÃO MUSICAL
Claudia da Silva
Guimarães
ASSESSORA DE
PROGRAMAÇÃO
MUSICAL
Carolina Debrot
PRODUTORES
Geisa Andrade
Luis Otávio Rezende
Narren Felipe
ANALISTAS DE
COMUNICAÇÃO
Andréa Mendes
(Imprensa)
Marciana Toledo
(Publicidade)
Mariana Garcia
(Multimídia)
Renata Romeiro
(Design gráfico)
ANALISTA DE
MARKETING DE
RELACIONAMENTO
Mônica Moreira
ANALISTAS DE
MARKETING E
PROJETOS
Itamara Kelly
Mariana Theodorica
ASSISTENTE DE
COMUNICAÇÃO
Renata Gibson
ASSISTENTES DE
MARKETING DE
RELACIONAMENTO
Eularino Pereira
Rildo Lopez
Equipe Administrativa
GERENTE
ADMINISTRATIVO-
FINANCEIRA
Thais Boaventura
ANALISTAS
ADMINISTRATIVOS
João Paulo de Oliveira
Paulo Baraldi
ANALISTA CONTÁBIL
Graziela Coelho
ANALISTA DE
RECURSOS HUMANOS
Quézia Macedo Silva
SECRETÁRIA
EXECUTIVA
Flaviana Mendes
ASSISTENTE
ADMINISTRATIVA
Cristiane Reis
AUXILIARES
ADMINISTRATIVOS
Pedro Almeida
Vivian Figueiredo
RECEPCIONISTA
Lizonete Prates Siqueira
AUXILIARES DE
SERVIÇOS GERAIS
Ailda Conceição
Márcia Barbosa
MENSAGEIROS Lucas Lima
Serlon Souza
MENOR APRENDIZ
Diego Soares
Sala Minas Gerais
GERENTE DE
INFRAESTRUTURA
Renato Bretas
GERENTE DE
OPERAÇÕES
Jorge Correia
TÉCNICO DE
ILUMINAÇÃO E ÁUDIO
Rafael Franca
ASSISTENTE
OPERACIONAL
Rodrigo Brandão
FORTISSIMO julho nº 5 / 2015
ISSN 2357-7258
EDITORA Merrina
Godinho Delgado
EDIÇÃO DE TEXTO
Berenice Menegale
FOTO DA CAPA: ALEXANDRE REZENDE ILUSTRAÇÕES: MARIANA SIMÕES
66
COMIDAS E BEBIDAS
Seu consumo não é permitido no
interior da sala de concertos.
PARA APRECIAR UM CONCERTO
PONTUALIDADE
Uma vez iniciado um concerto,
qualquer movimentação perturba
a execução da obra. Seja pontual
e respeite o fechamento das
portas após o terceiro sinal. Se
tiver que trocar de lugar ou sair
antes do final da apresentação,
aguarde o término de uma peça.
CONVERSA
A experiência do concerto inclui o
encontro com outras pessoas. Aproveite
essa troca antes da apresentação e
no seu intervalo, mas nunca converse
ou faça comentários durante a
execução das obras. Lembre-se de
que o silêncio é o espaço da música.
APARELHOS CELULARES
Confira e não se esqueça, por
favor, de desligar o seu celular ou
qualquer outro aparelho sonoro.
FOTOS E GRAVAÇÕES
EM ÁUDIO E VÍDEO
Não são permitidas na
sala de concertos.
TOSSE
Perturba a concentração dos músicos
e da plateia. Tente controlá-la com
a ajuda de um lenço ou pastilha.
APLAUSOS
Aplauda apenas no final das obras.
Veja no programa o número de
movimentos de cada uma e fique de
olho na atitude e gestos do regente.
CRIANÇAS
Caso esteja acompanhado por
criança, escolha assentos próximos
aos corredores. Assim, você
consegue sair rapidamente se
ela se sentir desconfortável.
CUIDE DO SEU PROGRAMA DE CONCERTOS
Fortissimo, além de seu programa mensal de concertos, é uma publicação indexada aos sistemas nacionais e internacionais de catalogação. Elaborado com a participação de especialistas, ele oferece uma oportunidade a mais para se conhecer música. Desfrute da leitura e estudo. Para evitar o desperdício, pegue apenas um exemplar ao mês. Caso não precise dele após o concerto, devolva-o nas caixas receptoras.
O programa se encontra também disponível em nosso site, na agenda de concertos. www.filarmonica.art.br
67
OLÁ, ASSINANTE
ASSESSORIA DE RELACIONAMENTO
3219-9009 (segunda a sexta, 9h a 18h) www.filarmonica.art.br
FOT
O:
RA
FAEL
MO
TTA
VAMOS FALAR SOBRE O CELULAR?
POR FAVOR, DESLIGUE SEU CELULAR. RESPEITE A ORQUESTRA E O PÚBLICO.
O USO DO CELULAR NÃO É PERMITIDO DURANTE O CONCERTO,
EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA.
Celular não combina com concerto.
Ele estraga a experiência da música.
A LUZ do celular é vista de longe.
O TOQUE do dedo distrai e incomoda.
Ao VIBRAR, o celular também é ouvido.
O FLASH é visto de todos os lugares.
Qualquer uso do celular é inadequado.
Não faça FOTOS, VÍDEOS ou ÁUDIOS.
Por mais que você se esforce para ser discreto,
até os músicos e o maestro são incomodados
pelo celular durante o concerto.
68
O revestimento do fundo do palco
guarda um outro segredo sobre as
possibilidades de ajuste acústico
da Sala Minas Gerais. Atrás do
lambri de madeira que é visto
pelo público há portas que podem
reduzir o nível sonoro no palco e a
intensidade do som produzido por
instrumentos muito altos, como os
metais, por exemplo. Quando essas
portas são abertas, o som vaza para
um grande espaço existente entre o
palco e a parte inferior do coro. Para
suavizá-lo, a orquestra também pode
valer-se de uma pesada cortina de
veludo que fica além das portas. O
uso de todos os recursos de afinação
da Sala é avaliado pelo maestro na
preparação do concerto. O que o
público ouve resulta de um delicado
processo de harmonização que
começa no desejo do compositor,
passa pelo talento de cada músico
e do regente e na sua habilidade
em usar os elementos da própria
arquitetura acústica para que a
interpretação da obra seja uma
reverência à música.
Ajuste Acústico do Palco
SALA MINAS GERAIS
Quando as portas estão fechadas, o
som é mais intenso.
PORTAS FECHADAS
FOT
O:
MA
RIA
NA
GA
RC
IA
FOT
O:
REN
ATA
GIB
SON
FOT
O:
REN
ATA
GIB
SON
Ajuste Acústico do Palco, visto do pódio do maestro.
Quando as portas estão abertas, o
som vaza por este revestimento de
tecido.
PORTAS ABERTAS
SALA MINAS GERAIS
Rua Tenente Brito Melo, 1.090 | Barro Preto | CEP 30.180-070 | Belo Horizonte - MG
(31) 3219.9000 | Fax (31) 3219.9030
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