FLORIANÓPOLIS, MARÇO DE 1888 - ANO XV, NÚMERO 4
I
Começouem Ipanema e foigravado até porFrank Sinatra.
Nasceu com Chegade Saudade e hoje
é considerado o
movimento mais inovador damúsica brasileira
João,o brotinhoe o violão
•
Ocupação desordenadavai contaminar a
água do Norte da Ilha
Viaduto do CIC•
passa por CImada comunidade
Câmara não defendea população, só as
empresas de ônibus
Retransmissoras de 1V perpetuam o poder de políticosAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZERO Jornalismo brasileiro perdeCURS:�çg;�:SMO um grande repórter e editorCCE - COM
UFSC
������Melhor Peça GráficaI, II, III, Iv, V e XISet Universitário
88,89,90,91,92 e 98
Dedicado à memóriado repórter
Marcos Faermann
Jornal-laboratório doCurso de Jornalismo daUniversidade Federal de
Santa Catarina editado peloLaboratório de InfografiaConcluído em 15 de março
Arte: Romeu MartinsColaboração: Prof. ÁureoMoraes, Caio Cézar, Jornal ANotícia, José da Silva [rDireção de arte e deredação:Prof. Ricardo Barreto
Edi5ão: Carolina de Assis,Natalia Viana, Salvador Gomes(Sêniors), Camila Olivo, CleideKlock, Filipe Bezerra, JadeMartins, Gustavo Schwabe,Rhodrigo Deda, Romeu Martins,Sara Stopazzolli, Sílvio SmaniottoEditoração eletrônica:Carolina de Assis, Natália Viana,Salvador Gomes, Sílvio Smaniotto(Sêniors), Cleide Klock, FábioFava, Filipe Bezerra, JadeMartins, Gustavo Schwabe,Rhodrigo Deda, Sara StopazzoliFotografia: Gustavo Schwabe,Salvador Gomes, Samanta Lopes,Wagner MaiaLaboratório Fotográfico:Salvador Gomes, Samanta Lopes,Wagner Maia,Secretário de redação :
Pedro ValenteServiços editoriais: Bravo,Companhia das Letras, O Estadode São Paulo, Versão dosJornalistasTextos: Adriana Sobierajski,Alexandre Brandão, Anacris deOliveira, Camila Gallo, CamilaOlivo, Jade Martins, GustavoSchwabe, Lúcia de Barros,Natália Viana, Romeu Martins,Salvador Gomes, Samanta Lopes,Sílvio Smaniotto, Valdecir BeckerTratamento de Imagens:Camille Reis, Fábio Fava, JoséLacerda, Pedro Valente, SaraStopazzoliPre-press: ArtlineImpressão: Diário CatarinenseRedação: Curso de jornalismo(UFSC-CCE-COM), Trindade, CEP88040-900, Florianópolis/SCTelefones: (048) 331-9490 e
331-9215Fax: (048) 331-9898Site: www.cce.ufsc.brj-comE-mail: [email protected]ção: gratuita e dirigida
Marcos Faermann trabalhou 24 anos no Jornalda TardeO jornalismo brasileiro per- 12
deu um de seus maiores reporte- �res. Marcos Faermann, 55 anos, -ªlgaúcho de Rio Pardo, jornalista há :';38 anos. Morreu de infarto do mio- .�
Q
cárdio, em São Paulo, dia 12 de fe-vereiro.
Em um de seus textos, ounarrativas, como preferia chamálos, afirmou que "às vezes, o nomeé uma condição". Se isso é verdade, o nome dele era uma condiçãopara ser jornalista. E dos tons.
Em 1961 iniciou a carreira no
jornal ÚltimaHora, de Porto Alegree de lá, foi para o Zero Hora. Deste
tempo quem tem boas recordaçõesé Luiz Fernando Veríssimo. Em crô
nica, no jornal O Estado de São
Paulo, descreveu o colega, comquem aprendeu o que era a rotinade um jornal, assim:
"O Marcão vivia em ebuliçãointelectual e física. Seu entusiasmo pelo jornalismo, pela possibilidade de criar mesmo dentro das li
mitações de um diário precário e
de um clima repressivo, era conta
giante. Havia uma área de risco,literalmente de risco, em torno desua inquietação permanente.Como ele não sabia pensar ou falarsem rabiscar jlguma coisa, vocêprecisava recolher mãos e protegera roupa da sua esferográfica distraída."
Em 1968, Faermann foi parao jornal da Tarde, em São Paulo,onde ficou como repórter especialpor 24 anos. Paralelamente, participou da criação ou da execução demuitos jornais alternativos. Entreeles: O Bondinho, o Grilo, o Ex e o
Versus. Criou a revista Singular &
Futebol ejornalismoforam as maiorespaixões de Faermann
Plural, que foi editada entre 1977 e
1978.na." Entendia o jornalismo como
um método de trabalho e não uma
linguagem.Em dezembro último, Faer
mann esteve em Florianópolis, naUniversidade Federal de Santa Ca
tarina, participando do encontro
jornalistaspela Paz. Veio falar sobre o novo jornalismo.
Atualmente estava envolvido na realização do livro Históriada reportagem - de Heródotoaos nossos dias. Afirmava queseria o livro de sua vida. Na sua
opinião, a grande lacuna na formação acadêmica de novos profissionais do jornalismo era nãose deter na história da reportagem.
O coração the traiu em plena atividade. Para Veríssimo foi
paixão demais - "nunca conheci
ninguém tão apaixonado por jornalismo como o Marcão." Suaobra confirma isso.
O jornalista, que tinha uma
relação "quase melancólica com
Porto Alegre", teve dois filhos, Laura e Julio. Foi chefe do PatrimônioHistórico do município de São Paulo e até setembro de 1995 editavaas revistas da Secretaria Municipalde Cultura. Era responsável tam
bém pela edição de revistas dirigidas para a comunidade israelita, amensal Hebraica e a trimestralShalon.
Jornalismo era sua maior paixão. Em entrevista ao jornalista Ricardo Barreto, em 1995, para o jornal Versão dos jornalistas, mos
trou um pouco de suas idéias. "O
jornalismo humanista tem uma
busca de inquietação e dos mistérios da condição humana, tem a
emoção da telas de Van Gogh, dostextos de Cortázar, que têm a an
gústia das buscas de Marx e doFreud, carregado da angustiosa busca dos limites da condição huma-
Hápelomenos oito anos, ouoi-lo era um exer
cício depaciência. Fruto da doutrina beutmüllerianade-falar; PauloHenriqueAmorim cansava os ouvidos,como correspondente da Globo em "Nôuaiorrrrque "Nãopassava de, com o devido respeito aoprofissional, um diuulgadordas notícias sobre curas, remédios, neve, wallstreet, etc... etc... etc... A surpreendentetransferênciapara aBandeirantes representou inicialmente uma grandejogada de marketingpessoal.Nomomento seguinte, a sensação era a de que nadade novopoderia surgir nomal'de telejornalismo quesehavia transformado em um congestionamento deâncoras. Muitas delas, é certo, ajudando a afundarseuspróprios navios. Boris Caso)' talvezseja omelhorexemplo.
No entanto, aospoucos, o jornal da BandcomhudoHenriqueAmorim, transformou-se noponto de referênciapara o telespectador interessado es
tritamente na notícia. Contrariando as teorias de quejornal bom não bate defrente com o jN, encarou o
mesmo horário. Umaprova de que,para brigai; nãohá quesefugtrda briga. Depois, autônomo, independente, ofereceu ao telejornalismo brasileiro algo absolutamente diferente. Sefossepreciso, e em alguns
Amorim foi uma vítima da ditadura do Ibopeque os videntes damídia não houvessemprevisto. Oque assusta, contudo é a absolutafalta de respeitopol'quemjá sehavia acostumado ao simpático "olá,tudo bem?"que se transformou na marca registrada dojornaldaBandeirantes.
O resultado do atropelo da informaçãopelorolo compressor dos números dofaturamento co
mercial junto às massas é o fim desta saudáveltentativa de alterar o cenário cansado e repetitioodos telejornais brasileiros. Como diz ojornalistaFabiano Galgo, em seu artigo na edição 61 do Observatórioda Imprensa, "A única coisa coerenteque osSaadpoderiamfazer seria manter-se nopedestalde emissora quepreza a irformação séria, com um
apresentador colhido dos anais da Globo que tentaoferecer umprodutojornalístico de qualidade umpouco melhor do que se tem nomercado.." Com o
devido respeito ao senhorCasoy, a atitude da emissora e dos coordenadores da recém-criada Unidade de Produção de jornalismo é, sem dúvida,uma vergonha!fi
Lúcia de Barros
casosfOi, ocupavapraticamente todo o tempo com um
único assunto - comofoi a convocação do congressopara discutiras reformas naprevidência.
O maiorménto dojbandestavamesmo nofatode valorizara informaçãopeta seu conteúdo; estabelecer complementos à notícia através da participaçãodiária de repórteres ao vivo, aofinal dasprincipaisreportagens. Eevitando os comentários absolutamenteinócuos emoralistasutilizadosporoutros apresentadores como Caso)' ou Witte Fibe. A escolhapelopadrão deapresentaçãopessoalmas nãopersonalista tornou o
jornaldaBandsério, respeitávele infinitamentesuperior aos demais. Fosse nas entreoistasjustas no tempomas completas e objetiuas.fosse nas informações debastidoracrescentadasaofinaldas tnatérias.fossepelacitação expressa e diária do nome do editor-chefe e
apresentador na oinbeta de entrada dojornal, tudo nojornaldeAmorim soava como novo, diferente, e atéporisso de bomgosto.
Mas... a ditadura da pesquisa, do ibope, daaudiência, decantadaporMarioMarana dojNcomo
determinante na bora de compor a estrutura dojornalque dirige, acaboupor tomar de assalto a autonomiadesejada e até bastantepraticadaporAmorim. Nada
Frases extraídas da entrevista que Marcos Faermann concedeu ao jornalVersão dos Jornalistas emdezembro dé 1995:
OJornalismo tem histó,._rias, tempropostas; te,!,canones, nao e uma bistôria qut} se reinventa a cadageraçao.
Há muita gratuidadena cara dos jornais, acho os
jornaismuifogratuitos,muito induzidores, todos osmesmos. Mudam os logotipos,mas osjornais sãoparecidos,as soluções gráficas idênticas.
Vejo o desapego à investigação, o flesapego aotexto e tambem a grandeverdade éque osjornaispagam tão mal que os jornalistas muito lions nao têminteresse em estar em suas
redações. OsJornais de um
modogeral, abrirammão dagrande re}!ortagem como
exercício sistemãtico de investigação da realidade.
Eu acredito na grandehistória, mas é preciso terima/{inação, bons repórteres, 1Jonsfotógrafos, que tenham essa arte 'de comoveraspessoas, de contar coisashumanas.
Eu sou um apaixonadodefensor das escolas dejornalismo. Pormais
�ueo ob
jeto delas não este a muitopreciso é o único ugar emque velhos repórterespodemJtJlarde reportagem, onde sediscute texto, estilo.
Talvez o Coojornal tenha sido omelhorjornal dereportagens de toda imprensa alternativa. Fazia reportagens sensacionais e com o
punch do reporter gaúcho,que éparec'lão com os.iogailores do Grêmio e do Infer:estão sempre lutando, acreditando, chutando, se ma
tando e tudo. Ofutebol e o
jornalistagaúcho sãomuitoparecidos, graças aDeus. Eutenho muito orgulho dosdois.
Aureo MoraesJornalista e professor
do Curso de Jornalismo da UFSC
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Poder, dinheiro e votos no arPolíticos são principais favorecidos no jogo da distribuição de RTVs
As RTVs existem pnncipalmente para repetir o sinaldas geradoras de televisão nas localidades onde ele nãochega ou chega precariamente, por isso ficaram de forado decreto numero 1.720, assinado em 28 de novembrode 1995 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, quetornou obrigatória a realização de licitaçao para a outorgade canais de rádio e Tv.
Há outro motivo para as RTVs terem se transformado em presa suculenta. De acordo com a lei, elas podemgerar até 15% da programação quando repetem a programação de emissoras educativas ou quando ficam nachamadaAmazônia legal, que inclui toda a região Nortemais Mato Grosso e parte do Maranhão. E aí que o
que seria uma simples repetidora se transformanuma vigorosa arma política. "Uma TV dessas, pormenor e mais precária que seja, confere ao seu proprietário um poder fantástico", diz o ex-rninistro
e ex-senador Jarbas Passarinho, que conheceI de perto o modo de funcionamento de alEU;
mas RTVs instaladas no seu estado, o Para. Epossjvel ouvir queixas até na bancada governista. "E uma vergonha o 9ue estão fazendo comas emissoras educativas', reclama o deputadofederal Roberto Brant (PSDB-MG). "EmMinas,as retransmissoras de TV educativa se transformaram em instrumento de política ,l?artidária. Epreciso pôr um fim nesses abusos.
Antenas da fé- A lista das redes de televisãobeneficiadas com autorizações de concessão nãoapresenta muitas surpresas: SBT ( 342 novas re
transmissoras), Globo (319), TISJRP (310), Bandeirantes (252), Manchete (226), Record (151).Em sétimo lugar aparecem as TVs educativas, com125 concessoes. A sigla impronunciável (TISJRP),
de Televisão Independente de São José do RioPreto, que ocupa o terceiro lugar, tem como
nome de guerra Rede Vida, e aguardamais140 autorizações do Ministério das Comunicações.
"A Rede Vida é um dos únicos siste-w mas de televisão em todo o mundo a ter a
coragem de dizer: somos católicos", diz o diretor-presidente da TISJRP, João Monteiro de Barros Filho.Ele diz ainda que conseguiu unificar todas as correntesda igreja para defender os valores da família. Foi reconhecido pelo governo. Hoje, cada diocese que desejar receberas imagens da TISJRP compra seu próprio retransmissore o coloca à disposição da emissora, mantendo a posse.Com uma programação variada, os programas de maioraudiência são os terços transmitidos ao vivo. ''A Rede Vidanão tem nenhuma vmculação política", garanteJoãoMonteiro de Barros Filho.
No campo evangélico, a linha de frente está com a
Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da RedeRecord, com suas 47 emissoras e centenas de repetidorasespalhadas pelo país.
Diversos políticos foram beneficiados por autorizacões de instalação de Retransmissoras de TV (RTVs) durante o governo FHC. Ao total foram 87 beneficiados,cuja maioria das concessões foi feita por portarias assinadas em datas próximas a janeiro de 97, data da votação daemenda da reeleição. Além de políticos, também forambeneficiadas prefeituras e igrejas.
Apesar da relutância do Ministério das Comunicações em fornecer informações a respeito do tema, o Observatório da Imprensa publicou na internet um dossiêapurado pelos repórteres Jayme Brener e Sylvio Costa, doCorreio Brasiliense, que aponta uma série de írregularidades. Entre elas, veiculaçao irregular de propaganda, descumprimento da legislação eleitoral, emissao ilegal deprogramas, além do "favorecimento de políticos como JoséSarney, Antônio Carlos Magalhães, Inocêncio de Oliveira,entre outros, nas concessoes de RTVs durante o governode Ferrando Henrique Cardoso.
Conforme o dossiê, o resultado das eleições provouo uso político das RTVs, além de mostrar seu poder. AIgreja Universal, que comanda a TV Record, elegeu 14deputados federais, além de fazer o deputado estadualmais votado em São Paulo, Faria jr. (PMDB, com170 mil votos). No Rio de Janeiro, Ronaldo CezarCoelho, cujo irmão, Arnaldo, comanda a TV RioSul (autorizada, neste governo, a retransmitir aGlo- "bo em mais 5 cidades), foi o 4° deputado mais vota- \\do, pelo PSDB. O mato-grossense-w'ellington Fagun- \�"des (PL), integrante do grupo de Júlio Campos, foi o \\federal mais votado. Ele tõi autorizado amontar, neste \
governo, uma rede que já conta com três RTVs. Nomesmo estado, Pedro Henry (PSDB), que era su
plente, foi o 3° mais votado. Ele é irmão de RicardoLuiz Henry, sócio majoritário da TV Descalvados(SBT), autorizada a funcionar neste governo.
Em Pernambuco, reluz a figura de Inocêncio Oliveira (PFL, 2° mais votado do estado), piloto da TV Asa Branca (Globo) em Caruaru, autorizada por FHC a montar retransmissoras em maisquatro municípios. O maranhense Roberto Roella, (4° mais votado, PSDB), é sócio da TV Vale doFarinha (Bandeirantes, em Balsas), autorizada a
retransmitir em mais três municípios. E SarneyFilho (PFL), irmão de José Macieira Sarney, sóciomajoritário da TVMirante, foi o 3° federal mais vota-do do estado.
A pesquisa demonstrou primeiramente que amaioria das repetidoras foi entregue a empresas de comunicação tradicionais, sem nenhum vínculo partidário direto, ou a prefeituras interessadas em oferecer à populaçãolocal a imagem das grandes redes nacionais ou regionaisde Tv. Confundindo-se com elas, porém, aparecem 268RTVs entregues a empresas ou entidades controladas porpolíticos. Sao 19 deputados federais e 11 estaduais, seissenadores, dois governadores, sete prefeitos, três ex-governadores, oito ex-deputados federais, oito ex-prefeitos e
23 outros políticos sem mandato.Usando oyoder- Como presidente da República,
o hoje senador José Sarney (PMDB-AP) escreveu entre1987 e 1988 um decisivo capítulo da história da radiodifusão no País ao distribuir concessões de rádio e TV aaliados políticos. Sarney distribuiu 1316 emissoras, dasquais apenas 288 passaram pela apreciação do congres-so.
Beneficiário direto ou indireto de 21 estações retransmissoras de televisão (RTVs) distribuídas no governo Fernando Henrique o grupo Sarney é no momentouma potência na área de comunicação. Controla o Sistema Mirante de Comunicação, que edita no Maranhão o
principal jornal do estado, O Estado doMaranhão, e mantém tres afiliadas da Rede Globo e pelo menos sete emissoras de rádio. Possui ainda o SistemaMeio Norte de Comunicação, cuja influência se estende ao Piauí, onde o
grupo Rublica o jornal Meio Norte e repete a programação do SBT a partir do município maranhense de limon- separado da capital piauiense, Teresina, apenas pelo rioParnaíba. Isso sem falar do controle indireto. Sãoligadosao ex-presidente os proprietários de 9,uase todas as emissoras de rádio e TV do Maranhão. Nada vem para cánessa área sem o aval de Sarney", acredita o ex-deputadofederal maranhense José Carlos Sabóia (PSB). Adversáriode Sarney, o senador Epitacio Cafeteira (PPB-MA) chega abrincar: "All, meu filho, no Maranhão o negócio é animado demais ... "
Ministro das Comunicações do governo Sarney, oatual presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães(PFL-BA), é alvo de uma longa lista de reclamaçoes con-
tra a utilização política do seu gru�o de comunicação -um conglomerado que inclui um Jornal, sete afiliadas daRede Globo (uma na capital e as outras no interior), quase 400 RTVs e várias emissoras de rádio.
A TV Asa Branca, afiliada da Globo em Caruaru e
parte do forte esquema de comunicação mantido em
Pernambuco pelo líder do PFL na Câmara, InocêncioOliveira. A Tv, que já tem um faturamento mensal de R$300 mil, recebeu, através de uma portaria assinada emmarço do ano passado, mais quatro retransmissorasque devem duplicam o seu mercado potencial, ._=;-como informa Vicente Jorge, sócio minoritá- .. -
rio da emissora e presidente da Associaçãodas Empresas de Comunicação de Pernambuco. Ele é sócio majoritáríô da Rede Nordeste de Comunicaçao Ltda., junto com assuas duas filhas. O grupo de Inocênciotambém controla duas rádios no interior (umaAM e umaFM) e a CBN de
Rec�.fe.As repetidoras de televisão libe-
",�...•,. ,I �I
. )
radas no
atual gover-no também
ampliaram consideravelmente o poder
de fogo do empresárioMário Petreli. Ligado ao ex
presidente nacional do PFL eatual senador por Santa Catarina,
Jorge Bornhausen, ele é dono de 70%do capital das quatro afiliadas da Record no Paraná (osoutros 30% são da Igreja Universal), q_ue ganharam 26RTVs entre maio de f996 e março de 1997: O seu grupode comunicação também mantém a TV O Estado, querepete o sinal do SBT em Florianópolis e Chapecó (SC)alem de duas rádios líderes de audiência em Curitiba: aJovem Pan FM e a Rádio Independência AM. Textos: Valdecir Becker
Clientelismo eletrônico também inclui SCEstado não ficou de fora da farta distribuição de sinais
José CarlosMartinez (PFL-PR) - controla . Mário Petreli (PFL-P�- Muito ligado ao
a Rádio e Televisão OM Ltda. e a Televisão Carimã ex-presidente nacional do PFL, orne Bornhausen, éLtda., que geram e distribuem a programação da SÓCIO maiori�o da Rádio � �levisão Vanguardasua rede, a CNT. As duas empresas fõram autori- Ltda. da Rádio 1V Independência Sudoeste Ltda. ezadas a instalar 28 repetidoras: 20 no Paraná uma da TV IndependênciaSIA, que retransmitem no Pano Espírito Santo uma no Mato Grosso do Sul raná o sinal da Record. AS três empresas receberamuma no Rio Grande do Norte duas em Santa Cata� no total26 rependoras, cuia instalação foi autorizarina e três em São Paulo.
' da entre 15.05.96 e 21.03.�7. Próspero empresário,Petreli tem 70% do capital do Sistema IndependentedeComunicação.
. Roberto Rogérb Amaral (PPB-SC) ePlínio David de Nez Filho (PFL-SC) - sócios doSistema Catarinense de Comunica_çao (SBT)� querecebeu sete R1Vs, entre 17.07.�6 e 07.Ú).97.Amaral foi fundador e presidente do PDS em Lages'T."onde-hdepois, presidiu o diretóriomunicipaldo l'RN. Plínlo é filho do ex-deputado estadualhomônimo, já falecido.
'Ivan Bonato (PFL-SC) - sócio-proprietáriodas empresas Televisao Joaçaba Ltda. e Firenze Comunicação e Produção Ltdâ., ambas ligadas à redeBarrigaVerde (retransmissora da Bandeirantes).A rede recebeu 12 repetidoras, entre 23.08.96 e07.03.97. Bonato foí suplente do senador eleitoJorge Bornhausen da [egíslatura anteiior. Exerceuo mandato enquanto Bornhausen ocupou o cargode ministro da Educação, no governo Sarney.
MARÇO - 99,
ZERO 3Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
o esgoto jogado no solovai contaminar a água
abaixo das dunas
Poluição ataca manancial de águaEsperar pela ajuda do Ministério Público pode ser tarde demais
''A água que abastece todo o norte
de Florianópolis pode ser contaminadade maneira irreversível". Este é o alertafeito em tese de doutorado do sanitaristaEdio Laudelino da Luz, ainda em andamento. A contaminação pode ocorrer
devido à construções irregulares que ocuparam as dunas dos Ingleses, região decoleta da água. ''A situação já é preocupante", garante o sanitarista, apesar denão saber com exatidão quanto tempolevará para ocorrer. Caso isso aconteça, oestado perderá sua fonte mais pura deixando Z5 mil pessoas sem água no inverno e 70mil no verão.
Cerca de ZOO famílias, instaladashoje nas dunas da Rua do Siri, colaboram para apressar os acontecimentos e
tirar o sono de Da Luz. É que o esgotoproduzido ali é jogado diretamente no
solo já que, estando em situação irregular de ocupação, as casas não dispõemde nenhuma espécie de saneamento. Domesmo modo que acontece com a águada chuva, o esgoto escorre pela areia e
pode vir a atingir o lençol freático daonde são retirados 8,5 milhões de m3 de
água ao ano, que são usados para abastecer as comunidades de Ingleses.jurerê, Daniela, Canasvieiras, Ponta das Canas e Ratones. "É uma área de recarga. A
água da chuva é filtrada quando passapela areia e acaba sendo armazenada 60metros abaixo da superfície", conta DaLuz. "Se não houver controle, o nitrato(substância presente no esgoto) podecontaminar a água e servir de alimento
para bactérias".A única medida, caso a
água
Acidentes
e pouca
fiscalizaçãonão impedem
os abusos
Casas e barracos tomaram conta das dunas nos Ingleses. Autoridades não assumem oproblema
captada nos Ingleses torne-se imprópria para o consumo, seria bombear
água do continente - à cerca de 80 km.
Ação impraticável segundoDa Luz. "Comovamos ter dinheiro para fazer isso?", reclama.
,
A Casan - Companhia Catarinen-se deAgua e Saneamento - examina cons
a tantemente a pureza da água da região.� "Caso se constate a poluição da água,:2 faremos trabalho de descontaminação",1 diz o gerente regional do órgão, Adilsonc?5 Pereira. Para Da Luz, a descontamina
� ção do manancial seria impossível. "Já� há um caso em Camboriú. Toda a água't; do subsolo está contaminada e não há-êl como recuperá-la", compara.u;
Não bastasse a iminente conta-
minação, a urbanização do local também ameaça a água da região. SegundoDaLuz, os telhados, boeiros, pavimentação e tudo que impeça a água de chegara areia, fazendo com que ela escorra diretamente para o mar, pode diminuir ovolume da reserva de água.
As construções localizadas nas
dunas dos Ingleses ameaçam, não só a
água da região, como também o própriolocal. E que as dunas são áreas de pre
servação permanente e apenas a Casantem permissão para estar ali, ocupandouma pequena área na estação de captação. As invasões na região começaramem 1980 e hoje, segundo dados do Instituto de Planejamento Urbano de Flori
anópolis - IPUF, existem ZOO casas na
Rua do Siri. As construções utilizam-sede luz e recolhem água através de poçosartesianos, alguns com apenas um me
tro de profundidade. O IPUF realizouestudo sobre o local, inclusive destinando área naVargem Grande para acomo
dação dessas famílias, mas diz que não ésua função retirar as famílias de lá.
O problema fica mais difícil porque ninguém quer assumi-lo. ''Agentespúblicos, polícia ambiental, Fatma, Ibama, todos justificam-se dizendo que jámandaram para o Ministério Público",reclama o Coordenador deDefesa doMeioAmbiente, Brasil Pinto. "O processo judicial é o extremo do problema. Os órgãos responsáveis têm capacidade paraintervirmas não o fazem", reclama. ''Agora tem lá mais ou menos ZOO famílias e
ninguém quer mexer. Pilhas de processos não adiantam, tem que usar repressão". Segundo Brasil Pinto, oMinistério
Público é que teve que intervir para re
mover 70 famílias que estavam instaladas no trevo de Canasvieiras para viabilizar a construção do viaduto. ''A área é daprefeitura, mas nós é que tivemos queretirá-los" .
Paraexemplificar o problema comos processos, Pintomostra uma ação de1994, quando quatro pessoas foram indiciadas por venderem terrenos na áreade preservação, e que já vinha ocorrendo há mais de dez anos. Em dezembrode 97 foram todos absolvidos. "Me vejoafogado nos processos, tentando incentivar uma ação".
O alerta de Da Luz começou jáem 1997 com o artigo "Água das Dunas, A Sustança dosManezinbos ", publicado no jornalDiário Catarinense. Otexto trazia a mensagem: ''A perda da
quele manancial implicará numa perdacoletiva, resultante da insensatez tanto
do poder público quanto privado de perceber a interrelação e interdependênciados dois sistemas - o natural e o econômico".
Salvador Gomes e
Adriana Sobierajski
Pilotos dejet-skis na Ilha andam fora da lei- Eu queria alugar umjet-ski, é comvocê?- Sai ZO reais por 15 minutos.- Mas eu não tenho habilitação.- Não tem problema, só que você vai
poder andar só na Lagoa Pequena.O diálogo acima aconteceu na
semana passada na Lagoa da Conceição. Mesmo sabendo que é proibido e
que por isso pode pagar umamulta de600 reais, adonadosjet-skil' não pensaduas vezes em alugá-los para qualquerpessoa. O arraes amador, a habilitaçãonecessária para quem quiser andarcom un1jet-ski, é concedido pela Ca
pitania dos Portos paramaiores de 16anos que pagarem sete reais e dez centavos e fizer umaprova sobre um questionário cedido pelaCapitania na época de inscrição. Além dejet-skil', quemtiver este arraes pode pilotar qualquerbarco de pequeno porte, chamado de
embarcação miúda no jargão marítimo.
Miguel Ferreira tem 17 anos deidade, umjet-ski que ganhou no aniversário e já tirou a habilitação. Pilotatodos os finais de semana e a brincadeira preferida por ele é "pular ondas",coisa que faz com certa freqüência."Praia muito cheia não dá, o pessoalreclama muito. Uma vez eu fui naGalheta e gostei, quase não tinha nin
guém". Quando sai com ojet-ski,Miguel não costuma levar sua habilitação.
Ao fazer isso todos os finais desemana, Miguel está pulando ondas e
pulando leis que ele conhece. A primeira: não pilotar a menos de 200metros de distância da praia. Ao fazersuamanobra preferida, ele coloca emrisco a segurança dos banhistas. A
segunda: é proibido pilotar qualquerembarcação sem os documentos. Mi
guel diz que não precisa se preocuparcom isso porque a fiscalização nãoexiste.
De fato, a Capitania dos Portos
dispõe de dois barcos e um bote parafiscalizar as 42 praias da ilha e a Lagoada Conceição. Segundo o cabo jairOliveira, da Capitania de Florianópolis,este ano a PolíciaMilitar também esta
va autuando os infratores. Mas segundo o soldado jean Carlos, que trabalhana Barra da Lagoa, a orientação é paradeter o infrator e chamar o pessoal daCapitania. Para complicar aindamais a
fiscalização, o infrator tem que ser pegoem flagrante e receber a notificação nahora. Esta notificação não é sinônimode multa: para ser multada, a pessoatem que ir à Capitania dos Portos apresentar o auto. Ainda lá, a pessoa podese defender e, ou anular a notificação,ou pagar menos. Por conta disso, nãoexiste um valor pré-definido paramultas.
Embora as praias preferidas dailha para quem pilotajet-ski sejam In
gleses e Canasvieiras, os moradores da
Barra da Lagoa vêm enfrentando problemas há dois anos com os pilotos.A velocidade máxima permitida no
Canal da Barra é a de três nós, massegundo o pescador Claudionor Vieira, ninguém respeita. Amãe do pescador já foi derrubada de uma batera pelas marolas causadas por umjet-skique passou em alta velocidade. Claudionor diz que a fiscalização não existe e que os moradores já quiseramvárias vezes partir para a pancadaria.
Ainda segundo o cabo jail', daCapitania dos Portos de Florianópolis,a segurança pessoal de banhistas é deresponsabilidade da PrefeituraMunicipal, e que talvez no próximo ano a
fiscalização ficaria também por contado Corpo de Bombeiros. Por enquanto, os banhistas têm que se contentar
com o telefone 248 5500. Segundo a
Capitania é só chamar que a fiscaliza
ção aparece.Anacris de Oliveira
4 ZERO MARÇO-99Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Polêmica contraprojeto turístico no Costão do Santinho começou em 1984, com o apoio de órgãospúblicos e ambientais
Destruindo em nome do lucroEmpreendimento avança sobre área de preservação permanente
o Costão do Santinho, complexoturístico localizado no norte de Floria
nópolis, não tem, agora, problemas comórgãos de proteção ambiental; não tem,hoje, nenhuma construção ilegal e, muitomenos, desrespeita, teoricamente, alguma lei ambiental. Não haveria nada de
mais, não fosse a discrepância de al
guns órgãos responsáveis pela fiscalização. É que a área destinada à constru
ção de 118 apartamentos é nada menos
que o Morro das Aranhas. Classificado
pelo Ibama, Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e Recursos Naturais Renová
veis, como promontório (espécie de formação daquela região), o morro é, preferencialmente, área de preservação ambiental. Apesar disso, um Tem10 de Ajustede Condutas (TAC) de janeiro de 98,assinado pelo Ministério Público Fede
ral, Ibama, Fatma (Fundação deAmparoTecnológico ao Meio Ambiente), Prefeitura Municipal, União Federal e Santi
nho Empreendimentos Turísticos S.A, dápossibilidade para que o empreendimento prospere.
É, nomínimo, estranho que umaárea que antes havia sido classificada
como "área de preservação permanente" por vistoria realizada pelo Ibama,agora possa ser invadida e depredadasobre a tutela de um termo. Em vistoria
realizada em fevereiro de 96 o instituto
foi claro: "não há licenciamento ambiental com validade que permita a im
plantação do empreendimento, e nempoderá haver, posto que a construção domesmo significaria a destruição de considerável parcela de área de preserva
ção permanente". O que fez o Ibama
realizar a vistoria foi a construção, noMorro das Aranhas, de uma espécie demostruário do que seria um dos 118
apartamentos destinados a servirem de
quartos para hotel. Na época a obra foiembargada.
"O Termo deAjuste de Condutasfoi feito para que a área seja preservadao máximo possível"explica o responsável técnico do Ibama, André Boclir. "O
Morro das Aranhas é promontório. A leié tênue e subjetiva quanto a esse tipo de
formação. Ela diz que a área deve ser
preferencialmente considerada de preservação. Não é como as dunas, porexemplo, que devem obrigatoriamenteser preservadas", explica. Grande partedo morro foi transformada em reserva
particular, ou seja, na prática o proprietário encarrega-se da preservação da
área em troca de abatimentos no imposto. "É uma área particular. A única nor-
veniente do alojamento e refeitóriodestinados aos operários da empresa,foi embargado.
A briga entre o Costão do Santinho e os órgãos ambientais arrasta-sedesde sua implantação, em 1984.Mais do que isso, já naquela época os
órgãos de meio ambiente entravam em
contra-dição. No início, a Fatma en
tendeu que não deveria exigir o Estudo Prévio de Impacto Ambiental que,normalmente, é feito em casos como
a conivência da imprensa e das autoridades. O Costão sobreviveu até 98,quando foi firmado o Termo de Ajustede Condutas. A partir daí as coisas
tornaram-se mais simples. Agora, ajeitando estruturas e localizações, os 118apartamentos - o projeto inicial previa 200, mas o acordo reduziu o número - já estão devidamente legalizados.
É claro que esta legalidadenão convence muita gente que mora
ma é respeitar o Termo deAjuste de Condutas", lembra Boclin.
O problema é que quem deve
ria cuidar da ocupação de todo litoralcatarinense é o próprio estado. SegundoBoclin, através do Plano de Gerencia
mento Costeiro a União decidiria queáreas poderiam ser ocupadas. "Mas o
estado nunca fez este Plano. Aliás, achoque nenhum estado já fez", reclama.
Na última vez que Ibama au
tuou o Costão do Santinho - outubro
do ano passado, os cofres públicos arrecadaram R$ 4.900,00. A multa foi
por "despejar esgoto resultante de de
jetos humanos, a céu aberto e sem
qualquer tratamento". O esgoto pro-
este. Além disso, o órgão concedeu,em 1988, Licença Ambiental Prévia
para o Costão, através doqual ele se
sustentou até 96, quando o Ibama embargou a obra do Morro das Aranhas.Na época, a procuradora da República, Analúcia Hartmann, chegou a declarar em jornais que a situação doCostão era "totalmente irregular" e quepartiria para uma Ação Civil Públicacaso os órgãos ambientais não resolvessem o problema. Também em 96,o Costão enfrentava um abaixo assinado promovidopelaAssociação dos Surfistas dos Ingleses e Santinho que acusava o empreendimento de desrespeitar a legislação ambiental e apontava
na região e passa, quase todos os dias
pelo Morro das Aranhas. Paulo Eduardo Antunes é um exemplo. Ele foi autor da denúncia contra o Costão, enviando cartas a diversos órgãos e autori
dades, inclusi-ve ao ministro do meioambiente." O Ibama fiscaliza atravésde denúncias. Se há algo errado, certamente alguém irá denunciar", acomoda-se o responsável pela fiscalização no instituto, Rogério Melo.
Os resultados dessa história podem ser vistos no próprio local ou nas
fotografias dessa página.
Poderpúblico e Santinho
Empreendimentos Turísticos,ignoram abaixo assinadopelapreservação doMorro dasAranhas. Prefeitura dizamém
1ft
Salvador Gomes
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Hoje tampouco está no ar oprojeto Universidade Aberta
Livro vai resgatar acarreira de catarinensemestre do estilo
o crítico musical José Ramos Ti-nhorão definiu como uma imitação dojazz americano e um momento únicode alienação das elites brasileiras, Ocantor e compositor Iomjobim afirmou que ela influenciou toda uma
geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores, Em meioa tanta polêmica, a bossa nova
completa quarenta anos e se firmacomo o mais fino produto de exportação da
cultura nacional.Em 1959, o cantor e compositorjoâo Gilberto entrava no
estúdio da gravadora Odeon para gravar seu primeiro long-playing, intitulado Cbega de saudade, Considerado um grande marco, o LP consolidou o estilo da bossa nova e é o grande divisor de águas da músicabrasileira, Apesar de muitos acreditarem que ele deu início aomovimen
to, muita semente já havia sido plantada,Três anos antes do lançamento de Chega de saudade, a cantora
Sylvlnha Telles, ex-namorada dejoão Gilberta, gravouum 78 r,p,m, contendoFoi a noite, dos compositores Iorn jobim e Newton Mendonça, eMenina, de Carlinhos Lyra, Numa época em que predominava a voz deOrlando Silva e o tipo de música de Dorival Caymmi, amelodia simples e
o ritmo deFoia noite deixou todos em dúvida, Sem saber como classificaraquele estilo diferente de música, nada foi escrito no selo do disco, EFoia noite acabou sendo lançado semnenhuma especificação de gêne-ro,
Nestamesma época, a academia de violão dos compositoresCarlinhos Lyra e Roberto Menescalpassou a ser o grande reduto dosjovens que procuravam um novo
rumo para a música brasileira,
Inaugurada em 1956, a academiacarioca localizada na avenidaVieira e Souto tinha como finalidadegarantir os milk shakes e as pipocas de seus proprietários - entãocom dezoito anos, Além do dinheiro, Lyra e Menescal sonhavam en
contrar uma batida de violão querevolucionasse a história da MPB,algo diferente de tudo o que já havia sido feito, Para compartilhardesse desejo, a dupla conseguiu,em poucas semanas, mais de 50alunos. Três meses depois já eram200, sendo 80% dos matriculadosmulheres. Entre elas, Nara Leão.Com 14 anos na época, a meninapretendia cantar e tocar profissionalmente.
Os encontros proporcionados pela academia de violão não
pararam por aí. Ainda em 1956,Menescal e o jornalista RonaldoBôscoli conheceram-se numa rodade violão e não se desgrudararn mais. Já na primeira conversa perceberam que compartilhavam o desprezo pelas músicas dramáticas e melosas, hegemônicas no Brasil daquela épo.a, Como um queria fazer letra e
o outro música, perceberam que aquela amizade acabaria rendendomuitos frutos para a música popular brasileira.
Algum tempo depois, Menescal começou a namorar Nara Leão e o
apartamento da menina passou a ser uma extensão da academia. De lásaiuNãofazassim, mais tarde considerada uma das primeiras cançõesda bossa nova. No apartamento, reunia-se toda a turma que mais tardecaracterizaria omovimento: Bôscoli, Lyra, Chico Feitosa, Menescal, Dori
\,
Caymmi e até João Gilberto. Ao bater na porta do apartamento de Menescal
para pedir um violão emprestado, o baiano entrava definitivarnente para a
turma. Naquela noite,João Gilberto cantou para o grupo a cançãoHã-ba-lalá. E bastou ouvir uma única nota para Menescal perceber que o músicobaiano sintetizava tudo o que eles tanto procuravam na academia de violão. Osegredo da inovadora batida de João Gilberto mais tarde ficou conhecidocomo violão gago, técnica que multiplicava as síncopas, acompanhadas dadescontinuidade do acento rítmico da melodia e do acompanhamento, gerando assim a birritmia que mais tarde acompanharia todos os sambas dabossa nova.
A partir daí, tudo ficou mais fácil. Apesar de João Gilberto ainda ser
um rosto desconhecido, sua voz e suas canções eram reproduzidas em todo o
Brasil. Em abril de 1958, foi a vez da cantora Elizete Cardoso gravar Cbega desaudade. Seu disco Canção do amor demais, só com canções de Newton
Mendonça e Iomjobirn, foi o incentivo que faltava à bossa nova. Se nas letras
quem aparecia eram os já consagrados Tom Jobim e o poeta Vinícius deMoraes, no violão, estavajoão Gilberto e sua inovadora batida - pela primeiravez apresentada ao Brasil. O sucesso, porém, ainda não veio desta vez. Comoo seloAfesta não era muito conhecido, a divulgação de Canção do amordemais foi precária e o disco não alcançou o reconhecimento pretendido.Também sem sucesso, o grupo Os Cariocas gravou a canção Cbega de saudade, com o próprioJoão Gilberto no violão. Apesar de já estar na boca dos maisnovos músicos do Rio dejaneiro.joão Gilberto entrou e saiu do estúdio sem
ninguém reconhecê-lo. Nem crédito no disco ele recebeu.Três meses depois foi a vez deJoão Gilberto, enfim, gravar ele próprio
sua Cbega de saudade. Com a
ajuda de Tom Jobim e Viníciusde Moraes, conseguiu um con-
trato com a Odeon para gravarseu primeiro 78 r.p.m., comChega de saudade num lado e
Bim bom no outro. Mas para conseguir entrar num estúdio pelaporta da frente, teve que trabalhar muito. Passou por conjuntos como Garotos da Lua, foi crooner de grupos desconhecidos,cantou em bares e boates sem
ganhar quase nada e até foi internado num hospício pelo pai -
o motivo era a idéia fixa de en
contrar uma nova batida com seu
violão. Mas tanto esforço valeu a
pena. No dia em que conseguiupisar o estúdio da Odeon, entrouJoãozinho e saiu João Gilberto.
No início, porém, poucosouviram o 78 rotações. Quaseninguém comentou. O Brasil estavamais preocupado com a Copado Mundo da Suécia e com o primeiro título. Ninguém sabia dizer se gostava e muito menos
conseguiam definir. Alguns chamaram de samba moderno.Quando chegou em São Paulo,porém, Cbega de saudade passou por um forte lobby da grava-
dora com a loja de discosAssumpção, amais importante da capital paulista,e praticamente estourou. Somente de agosto a dezembro de 1958, o 78r.p.m. vendeu 15 mil cópias. Um número muito elevado se comparado a
Sylvinha Telles - com 10 mil cópias vendidas - e Lúcio Costa, com 5 mil. O
principal mercado, como havia previsto a gravadora, foram os jovens. Nãohavia secundarista ou universitário que não tentasse reproduzir com suas
próprias mãos a batida bossa nova do violão deJoão Gilberto. Até os modernosTom Jobim e Edu Lobo, antigos ídolos da juventude, foram considerados
ultrapassados. Nos poucos minutos deste 78 r.p.m., as principais características da bossa nova já foram traçadas.
foi transferir o show para o anfiteatro da Faculdade Nacional de Arquitetura, na PraiaVermelha. Lá, mais de 2 mil pessoas se apertaram para ver e ouvir Sylvinha Telles, A1aydeCosta, Ronaldo Bôscolí, Luis Carlos Vinhas,Roberto Menescal, Nara Leão, os irmãos Castro Neves e, claro, Norma Bengell. E se aindanão bastasse, tinha Tom Jobim fazendo co
mentários na fila do gargarejo. Além de co
laborar para o primeiro disco da turma, oshow socializou o nome bossa nova, enterrando de vez a expressão "samba moderno".
No meio jovem, a aceitação donovo ritmo era cada vez maior. Apesar dasdúvidas - É samba? Não é samba? Que ritmo é esse? - o movimento acabou percorrendo o Brasil inteiro. Os vários convites
11 surgidos levaram a bossa nova à imprensa,i# às universidades, aos estádios, aos festivais
e às rádios. Apesar do sucesso, muitos desencontros aconteceram nesta fase. Carlinhos Lyra deixou o movimento, rompeucom Ronaldo Bôscolí e criou um novo
tipo de ritmo, chamado por ele de sam
balanço. Recuperado da ruptura, Bôscoli aproximou-se de Menescal, agora tam-bém compositor, e seguiu seu caminhofazendo cada vez mais shows pelo Brasil.
Foi quando um caso amoroso dividiu ainda mais a turma. Mesmo noivode Nara Leão, Bôscoli teve um caso com
a cantora Maysa e a introduziu no universo das canções bossa nova. Sentindo-se traída, Nara não só terminou o
noivado como reaproxirnou-se de Carlinhos Lyra. A partir daí, interessou-sepor um novo tipo de música e aproveitou cada entrevista para falar mal dabossanova.
João Gilberto parecia seguir no mesmo ritmo. Após o sucesso doseu segundo disco, OAmai; o sorriso e afiar, o baiano gravou seu terceiroe último Lp, chamado apenas deJoão Gilberto. Mesmo mostrando o repertório mais bossa nova do Brasil, o disco foi um fracasso de vendas - se
comparado aos outros dois, Entretanto o lançamento damúsicaGarota de
Ipanema, em 1962, fez a bossa nova recuperar o fôlego e alcançar proporções mundiais nunca imaginadas. A música de Tom e Vinícius inspiradaem Heloísa EneidaMenezes Paes Pinto, a Helô, estourou nas paradas musicais e foi interpretada até mesmo por Frank Sinatra. Ainda hoje é uma das
canções mais tocadas nas rádios americanas e recordista mundial em
versóes, depois dos Beatles.Logo as assimetrias rítmicas da bossa nova passaram a sermelhor
assimiladas pelos brasileiros. E seus ecos acabaram chegando aos ouvidosdo mundo inteiro. Em 1962, após a morte de Dolores Duran e Newton
Mendonça, e a importante adesão de Elis Regina, a batida da bossa novavirou produto de exportação e chegou aos Estados Unidos. Em Nova Iorque,no Carnegie Hall, aconteceu o 1°Festival de BossaNova, popularizando o
novo ritmo e influenciando toda uma geração de músicos e até de cantores• do jazz americano. O sucesso do concerto e os aplausos no meio das músicas deram segurança para que muitos cantores ficassem por lá. João Gilberto arrumou suas malas e só voltou em 1969. Neste meio tempo, SylvinhaTelles morreu num desastre de automóvel, Elis estourou com o show e o
programa OFino da Bossa, Tom gravou com o internacionalmente reco
nhecido Frank Sinatra e a bossa novamudava de endereço, construindo seu
mais novo reduto nas ruas de São Paulo.Polêmica - Apesar do sucesso, muitos críticos musicais foram
contra o movimento. O mais importante deles foíjosé Ramos Tinhorão,estudioso da música popular brasileira com mais de dez livros publicados.Para ele, a bossa nova foi a ascensão musical de jovens completamentedesligados da tradição musical popular da cidade. Influenciados pelasmúsicas estrangeiras, os meninos da bossa nova estariam apenasinternacionalizando a música do país e importando um outro tipo de
produto estrangeiro - o jazz. O jornalista e escritor Ruy Castro, em seu livro
Chega de saudade - A história e as histórias da Bossa Nova, discorda.Para ele, o movimento foi feito por meninos que estudavammuito sobre a
músicamundial. A técnica erudita e o jazz foram os estilosmais aprofundados.Tinhorão ainda afirma que a bossa nova rompeu definitivamente
com a única coisa que restava de original no samba popular: o ritmo.Substituindo a intuição rítmica e o improviso por um esquema cerebral, osmeninos da bossa nova "mostraram-se incapazes de sentir na pele o impulso musical dos negros". Para Tinhorão, a experiência da bossa nova foi umexemplo, embora não conscientemente desejado, de alienação das elitesbrasileiras, atraídas pelo rápido progresso.
O crítico explica: quando os jovens da zona sul do Rio de Janeirocansaram da importação da música norte-americana, resolveram montar
no Brasil um outro tipo de samba, com elementos damúsica clássica e do
jazz - que não passava de uma imitação dasjazz-bands. Para Tinhorão, abossa nova foi feita para turistas e para um público brasileiro conhecidocomo café-society, que pedia uma músicamais próxima do gosto internacional. Portanto, era um tipo de música que de popular não tinha nada. Ementrevista publicada no livroMúsicapopularBrasileira, de José EduardoHomem de Mello, a cantora Elis Regina retrucou dizendo que eles faziammúsica para brasileiros e não para estrangeiros. O compositor, intérprete e
cineasta, Sérgio Ricardo, fecha com a opinião de Tinhorão dizendo que a
bossa nova não passava de um sambinha. Tinha uma literaturamais apurada, uma voz mais afinada, mas não tinha quase nenhuma emoção. Paraele, "o verdadeiro samba está na favela".
Textos: Jade Martins
Com seu
inseparável violãoe cercado de brotinhos
na prata, João Gilberto. Depé, Newton Mendonça, como violão, Carlinhos Lyra, e
Nara Leão ao lado deVinícius de Moraes em uma
mesa de bar
Reconhecido no Brasil inteiro, o 78 r.p.m. dejoão Gilberto mobilizou vários músicos do país e acabou facilitando a gravação de seu primeiroLp, também chamado Chega de saudade. O esforço, principalmente porparte de Tomjobim, acabou trazendo resultados. Após mais de três meses
de negociações, o diretor da Odeon, Aloysio de Oliveira, enfim deu cartabranca para o baiano gravar. Das 12 faixas necessárias, já existiam quatro.Entre elas, Desafinado, música de NewtonMendonça e Tomjobim, composta especialmente para o cantor Lélio Gonçalves, o mais desafinadocrooner de boates no Rio deJaneiro. Com o contrato firmado.joâo Gilbertotratou de procurar as outras músicas. E Chega de saudade chegou ao
mercado com Hõ-ba-la-lá, Bim-bom e a própria Chega de saudade, desua autoria; Brigas, nuncamais, de Tom eVinícius;Morena boca de ouro,de Ary Barroso; Lobo bobo e Saudadefez um samba, deBôscoli e Lyra;Maria ninguém, só de Lyra; RosaMorena, de Caymmi; E luxo só, de AryBarroso e Luís Peixoto eAospés da cruz, de Marino Pinto e Zé da Zilda.Prontamente rotulado como "música para jovens", o LP de estréia dejoãoGilberto consolidou o inovador modo de fazer música apresentado em seu
78 r.p.m. No texto da contracapa do disco, Tom Jobim foi curto e grosso."Em pouquíssimo tempo, João Gilberto influenciou toda uma geração".
Paramontar seu LP de estréia.joão Gilberto contou com referênciasno mínimo ecléticas. Sua bagagem musical incluía Lúcio Alves, DoloresDuran, Luis Bonfá, Newton Mendonça, Tom Jobim, Tito Madi, músicaerudita, Dick Farney e Johnny Alf. Considerado o precursor daquele novo
samba que surgia, o cantorJohnnyAlf apresentava já no início dos anos 50as melodias e harmonias rebuscadas e sofisticadas, características quedefiniriam a bossa nova mais tarde. Dick Farney, por sua vez, foi quemestabeleceu uma relação direta entre o jazz americano, sobretudo o cooljazz, e a música popular brasileira.
Apesar de não ter sido o precursor, Chega de saudade foi o primeiroLP a reunir os elementos que viriam a caracterizar o movimento. Criandoum outro tipo de estética musical, a bossa nova dava um novo estilo àmúsica brasileira através do leve ritmo quaternário (o normal era bínári) com deslocamentos independentes, da economia de instrumentos, da presença do silêncio e dos vários saltos melódicos inesperados. Todas ess
s características faziam com que as músicas domovimento servissem à inte
rpretação de um único cantor, dificultando a sua absorção pelas massa.A ação dos cantores e as letr também eram inovadoras. Enquanto
o modo de interpretar era intimista, as músicas apresentavam intenções
construtivas mais intelectualizadas, juntando poesia e música na simbiosemais importante da MPB. Com temas simples: mar, praia e mulheres, abossa nova diferenciava-se dos boleros dramáticos da época. A cançãoChega de Saudade resume bem esses aspectos. Seu jeito cool de ser cantada e sua letra elaborada, e ao mesmo tempo coloquial, refletem bem o
espírito bossa nova. Em seu LP de estréia.joão Gilberto também já cantavabaixinho, o famoso canto-falado, sem tantos agudos e entonações. Foi esteestilo livre de cantar que permitiu o lançamento de cantores como Tom
Jobim eVinícius de Moraes, considerados sem voz.
Um outro estilo de letra, ainda mais trabalhado, era o de RonaldoBôscoli. Por ser repórter, dominava a linguagem clara e concisa dos textosde jornais. Além disso, usava artifícios extraídos da literatura de vanguardae da poesia concreta, estilo em voga na época. Autor de Saudadefez umsamba, Bôscoli foi um dos mais revolucionários letristas da época, ao ladodo próprio João Gilberto. Em Bim Bom eHô-ba-la-lâ, o baiano juntou o
humor e a economia verbal, ímportantes características da bossa nova.Chega de saudade também serviu para reunir em torno de um
objetivo comum - a efetiva mudança da música brasileira - boa parte do
grupo que caracterizaria o movimento da bossa nova: os veteranos, com os
já profissionais Tomjobirn e Vinícius de Moraes (conhecidos pelo trabalhoconjunto que realizaram na peça teatral a/feu da Conceição), SylvinhaTelles, João Gilberto e Alaíde Costa; e os novatos, com Ronaldo Bôscoli,Roberto Menescal e Carlinhos Lyra (donos de uma academia de violão
conceituada), Nara Leão, os irmãos Castro Neves, Chico Feitosa e outros.
Com constantes encontros no apartamento de Nara, a turma pretendiaaprimorar ainda mais a batida do violão de João Gilberto. Apoiado na
música erudita e ouvindo muito jazz americano.joão Gilberto também se
preocupava em apresentar cada vez mais qualidade em sua música.Norma Bengell - Não demorou muito para a turma reunir-se
profissionalmente, no]O Festival de Samba-Session. Marcado para o dia22 de setembro de 1959, o primeiro grande show dos meninos da bossanova aconteceria no teatro da PUC carioca. O único problema era a presença damodelo, atriz e celebridade instantânea Norma Bengell, determinadapela própria gravadora. Ela já havia alcançado o título de mais nova musasexy do país, com seu trabalho na chanchada O homem do sputinik e sua
figura não agradava o clero católico que dirigia a faculdade. Após muitasnegociações, o padre responsável, Laércio Dias de Moura, foi taxativo. Nãoqueria Norma Bengell dentro daquela escola de forma alguma. A solução
Apesar de seus discos continuarem em catálogo nos EUA e noJapão,a obra do compositor catarinense Luiz Henrique Rosa permanece ignoradano Brasil. Porenquanto: um livro biográfico que promete resgatar e colocarLuiz Henrique no seu merecido patamar está em fase de pré-produção. Ainiciativa é de Emerson Gasperin (editor da GazetaMercantíl), Zé Dassilva(chargista do Diário Catarinense e autor de dois livros) e Jorge Gomez
(músico), todos ex-alunos do Curso dejornalísrno da UFSC. Luiz Henriquenasceu em Tubarão, no sul do estado, em 25 de novembro de 1938, dia deSanta Catarina. Ainda adolescente, veio com a farnflia para a capital. Começou a se destacar nas rádios da cidade, tocando ao vivo em seu próprioprograma, durante os anos 50. Era a época de ouro do rádio. Luiz Henri
que cantava em português, em inglês e sonhava com vôos mais altos.O compositor catarinense chegou no Rio de Janeiro em 1960 e,
junto de seu violão, participou da bossa nova. Fezamizade e inúmeros tra
balhos com gente como
Tom Jobim, Edu Lobo,Hermeto Paschoal, NaraLeão, Walter Wanderley,Sivuca.jorge Ben. Respeitado e influente, apresentou Elis Regina para os
diretores da gravadoraPhilips, possibilitando àcantora gravar seu primeiro disco.
Em 1965, Luiz
Henrique trocou o Rio de
Janeiro por NovaYork Escolha oportuna: a bossa nova era um ritmo recém-descoberto pelos americanos e estava em alta após o prêmio Gramm)' conquistado porjoão Gilberta e Stan Getz no ano anterior. Permaneceu nos Estados Unidos de 1965a 1971 e gravou sete discos, convivendo com artistas como o próprio Stan
Getz, Sammy Davis Jr. e LizaMinelli.De volta a Florianópolis, Luiz Henrique eramais do que LlIll compo
sitor de bossa nova: era LII11 artista completo. Em suas quase 200 composições, o músico incursionava pelo chorinho, samba, capoeira. O retorno àIlha de Santa Catarina, provocado pela saudade, também rendeu belas
canções de amor à Florianópolis.Luiz Henrique identíficou-se com hábitos típicos domanezinbo da
ilha, ô tipo regional característico da capital catarinense. Na época da
repressão militar, editou o tablóide Galera da Ilha. Em 1979, trouxe a
amiga LizaMinelli para conhecer o Carnaval da cidade. E quando morreu,em um acidente de carro em 1985, Luiz Henrique era uma das figurasmais folclóricas e carismáticas da cidade.
Livros resgatam movimentoPara saber mais sobre o movimento bossa nova,existe alguma bibliografia a disposição. Dos várioslivros publicados, estes são os mais completos.• Chega de Saudade - A História e as Histórias dabossa nova. Editora: Companhia das Letras. Escritopelo jornalista e escritor Ruy Castro, é o livro rnaiscornpleto sobre a bossa nova. Descrevendo tanto a
vida pública e os bastidores do rnovimento, o livroainda conta a vida de João Gilberto desde o seu
nascimento.
• Música Popular Brasileira, de José EduardoHomem de Mello, editora da Universidade de SãoPaulo. Aqui, a história da bossa nova é "cantadae contada" pelos próprios integrantes, alérn deoutros cantores corno Caetano Veloso e
Gilberto Gil. Apesar de ser centrado na bossanova, o livro ainda passa pelo Tropicalisrno e as
canções de protesto dos anos 60..Balanço da Bossa e outras bossas, de
Augusto dos Carnpos, editora Perspectiva,série Debates, O livro reúne diversos artigossobre a música popular brasileira, em especiala bossa nova, Por serem acadêmicos, osartigos prendem-se rnais a questões técnicasdo rnovirnento, corno ritrno, harmonia e
profundas análises sobre o violão de JoãoGilberto.• História social da Música Popular
Brasileira e Pequena História da MúsicaPODuiar - Da modinha ao Tropicalismo,al1lOOS de José Rarnos Tinhorão, editoraCarninho da Música, No primeiro livro, ornais controvertido estudioso da músicabrasileira critica os rnais diversosestilos adotados pela MPS. É um bornlivro para quern quer conhecer umaoutra opinião sobre o terna. No
segundo, traça um breve resumo
desses estilos,
-
ZERO
o som ganha nomeAcumulando também afunção de diretor artístico do Gru
po Universitário Hebraico doBrasil, MaysésFuchs, editor do caderno de variedades dojornal UltimaHora, viu-se diante de um im
passe. Precisava achar umgrupo musicalpara as atrações semanais do Hebraico do Brasil e o dinheiro em caixa não davaparacontratar ninguém. Nestemeio tempo, sua irmã, aluna da academia de violão deMenescal e Lyra, colocou-o em contato com seus
amigos de sala. Impressionado com as cançõesmodernas da turma, Fucks chamou-ospara uma apresentação no auditório do Grupo. Noprograma, apromessa: uma noite bossa nova. No quadronegro emfrenteao auduôrio, a informação: "Hoje, Sylvinha Telles eum grupo bossa nova ". Como bossajá era uma expressão usada
paradljinir qualquerpessoa que cantasse ou tocasse alguma coisadiferente,foiescrito assimmesmo, comminúsculas. Como adjetivo,a expressãomais definia um estilo abrangente de música do queum movimento isolado. Mesmo assim, as duzentas pessoas queassitiram ao espetáculo repetirampela cidade e a expressão acabou caindo na boca dopovo. Para completar, o então reprterMenescal adorou epublicou na revistaManchete e nojornalÚltimaHora, onde trabalhava. Hoje, quarenta anos mais tarde, bossanova é o nome dado aomovimento reconhecidamentemais revolucionário da música brasileira deste século. Goste dele ou não.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Prefeita elege mega elefante branco' - .. -... .-.-- ----- das para a construção não mede esforços - nem gastos - para
das vias de acesso que tirá-lo do papel. Mas de acordo da ava-fazem a ligação do ele- Iíação de alguns especialistas em ar-
vado ao bairro da Trin- quitetura e tráfego urbano, o projetodade. O presidente do "abre alas" da prefeitura não deve ge-Instituto de Planeja- rar grandes expectativas na populaçãomento Urbano de Flo- da capital. Nem a curto, e muito menos
rianópolis (lPU), Car- a longo prazo. Essa é a opinião, porlos Alberto Riederer, exemplo, da professora do Curso de Ar-afirmou que já estão quitetura e urbanismo da UFSC, Marga-em negociações com a reth Pimenta. Para ela, o projeto é uma
prefeitura a Casa do En- agressão total à paisagem, e a sua cons-canador, que terá sua trução sacrifica o patrimônio cultural efachada toda mudada, natural da cidade.e as Casas daI\gua, que Outro professor de arquiteturaocupará a área onde da UFSC, FranciscoAntônio Carneiro Fer-
está oBanco Barnerin- reira, acredita que é preciso fazer umdus - pertencente à estudo sobre o impacto causado na pai-prefeitura. As desapro- sagem, o que não foi feito no projetopriações devem come-
o
çar à partir do mês de março. As indeni- �zações serão parciais se parte do terreno �for preservada, ou totais caso a área fi- :â;
que menor que 360 metros quadrados. �Antes do início das obras, um �
estudo sobre o impacto ambiental no �mangue causado pelo aterro foi feito pela �Universidade Federal de Santa Catarina.Foram removidos caranguejos e vegetações para outras áreas de preservação.O departamento de biologia da UFSC
acompanha de perto o andamento dasobras para que não aconteça nenhumaperda da biodiversidade que o mangueabriga.
O elevado do CIC foi uma das propostas mais comentadas e mais prometidas da então candidata à prefeituraAngela Amin. Hoje eleita, a conclusão do
projeto virou, como já era de se esperar,questão de honra para a prefeita, que
J _... ...
Projeto da UFSC levouprêmio como um dos melbares em arquitetura do país
Obra atropelaquinto melhor
projeto de
arquiteturado país
Ministro querprisão para
os jornalistassem punir
as empresas
A Secretaria de obras da PrefeituraMunicipal de Florianópolis inicioua construção do Elevado do CIC há sete
meses. Quem passa no local já percebea diferença. Uma nova estrutura urbanaestá sendo montada com a intenção defacilitar o fluxo dos carros que circulam
pela capital.A obra foi projetadapor três em
presas particulares de engenharia, aProsul, a Engevix e a APPE. O orçamento éde R$ 9.670.87,00, incluindo o viaduto e as vias de acesso (avaliados em R$7.221.024,50) e o alargamento das pontes da avenida da Saudade (R$2.449.862,60), que dá acesso as praiasdo norte e leste de Florianópolis. Tam-bém faz parte do projeto a construção
de um terminal de ônibus ur
i bano para fazer a ligação en
i tre bairros. Segundo o enge--::_lo nheiro responsável pela
Gerência do Sis
IIItema Viário
..... § (GSV), LírioJosé Lignane, o
caminho que vai
para as
praias foiin t e r
rompidologo após
aprovado. Francisco Ferreira tambémalerta que amelhor solução para resolver os problemas de tráfego em Floria
nópolis é tentar afastar os carros do centro da cidade. Assim a paisagem é preservada e é estimulado o uso do ônibusurbano. Ele avisa que o elevado levarámais carros ao centro, que já não suporta o volume atual de automóveis que circulam na ilha.
O ÓperaPrima, concurso nacional de arquitetura e urbanismo, escolheu em 1996 o projeto do arquitetoPaulo Roberto do Nascimento como umdos cinco melhores trabalhos de arquitetura e urbanismo do país. Ele previa a
construção de um terminal de ônibusurbano inter bairros na rótula do CIC,onde hoje será construído o elevado.
Engarrafamentos diários que a "grande imprensa" não vê
Impacto ambiental do elevado nãofoi avaliadopeloprojeto
Apresentado aos diretores do IPUF, o projeto foi rejeitado. Segundo o arquiteto o
atual projeto é uma "contra maneira deencarar o problema". O sistema viário éfuncional, mas em compensação na áreaambiental, de transportes e de tráfegoficamuito defasada.
Paulo Nascimento considera queesse é um trabalho feito sem a preocupação com o futuro e em menos de 15anos o projeto já estará defasado. ''A intenção de fazer com que as pessoas deixem seus carros e passem a andar deônibus não dará certo, pois o terminal
que será construído não é confortável ese tornará um empecilho. Nem teoricamente o projeto se sustenta", desabafa.
Camila Gallo
Código penal deve ser reformulado após 60 anos
O Ministro dajustíça, Renan Ca
lheiros, resolveu criar uma comissão es
pecial para sugerir mudanças que inovem e modernizem a quase sexagenáriacartilha de leis nacionais. As vésperas decompletar 60 anos, o Código Penal brasileiro continua regendo o nosso país deacordo com leis formuladas em 1940,ano em que entrou em vigor. Entre as
primeiras sugestões, estão a desqualificação do adultério e da bigamia como
atos criminosos, a redução da pena poreutanásia e a regulamentação do crimede assédio sexual. Entre todas asmodifi
cações, a que geramaior alvoroço, principalmente por parte da imprensa, é o
artigo que inclui prisão para jornalistas.De acordo com este projeto de
lei, será punido com pena de detenção ojornalista que divulgar qualquer notíciaque contribua para influenciar ou induzir juízes, testemunhas e jurados, isentando a empresa de qualquer punição. Aproposta ainda não foi sequer aprovada,
mas a discussão já começou. Em decla
ração dada ao jornal O Globo, a presidente da Federação Nacional dos [ornalistas, Beth Costa, disse que "os limitesno exercício do jornalismo devem ser
estabelecidos na Lei de Imprensa, e nãono Código Penal".
No mesmo jornal, o advogado e
professor de direito penal, Ney Moura
Teles, um dos integrantes da comissão,defendeu o projeto de lei dizendo que o
objetivo dos juristas foi assegurar aos réusum julgamento imparcial e isento, livrede pressões da imprensa. Moura Teleslembrou um caso em que, segundo ele,o noticiário jornalístico teve o objetivo de
pressionar juízes e testemunhas: o assassinato do índio pataxó, por rapazes declasse média de Brasilia. Seria o caso dese perguntar como e quantos iriam ser
presos se na época já vigorasse este projeto, já que aquele crime hediondo teve,por parte damídia, uma ampla cobertura nacional. Mais um problema para o já
superpopuloso sistema carcerário brasileiro.
Segundo o advogado, esse tipo de
punição já existe no Código Penal francês, justamente de onde foi retirado o
modelo para o projeto brasileiro. A versão brasileira do artigo pune o jornalistainfrator com três meses a um ano de
detenção, mas o seu texto ainda podesofrer alterações, já que a comissão estátentando estabelecer um critério de proporcionalidade para as penas, de acordocom a gravidade dos crimes. O problema não é só evitar influências sobre juízes e jurados, mas também a rejeiçãosocial causada por uma decisão tomada
emjuízo.Bigamia permitida: Além dis
so, outras sugestões foram apresentadas,como a inclusão de um artigo contra ospaparazzi. Aquele que violar a intimidade alheia através de imagem, texto oupalavra, sofrerá pena de um a três meses. Outras sugestões foram apresenta-
das, e devem, assim que ganharem no
toriedade, também criar polêmica, príncipalmente entre a população em geral.A pena da eutanásia, por exemplo, seriareduzida de seis a vinte anos, para dois acincoanos.
Pelo novo projeto, exigir favoressexuais para criar ou preservar direitos,aproveitando-se de uma situação de superioridade, passaria a constar no Códi
go como crime de assédio sexual. O infrator seria detido de três meses a um
ano. Há ainda um artigo que prevê a
desconsideração da bigamia e do adultério como atos criminosos, que deve escandalizar uns e agradar outros. Outraproposta polêmica é a de sepunir o responsável pela transmissão doHNem uma
relação sexual. Polêmica e perigosa, jáque responsabiliza apenas uma pessoa,em uma situação em que ambos estãoconscientes do risco que correm.
Gustavo Schwabe
o cama-
rr:'-�:�z>--�.�;::�� �a�ofo���,ii" ' 1 r �
ção de semáforos
Assim será o trevo do CIC com o elevado provisórios e dos pilaresdo viaduto da direita.
Nesta primeira fase daobra 20 casas devem ser desapropria-
a·.... Z F:Ro
-
. MARço - 99
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Vereadores capachos criam outraNovernbradaCâmara fecha as portas para votar e solta a polícia em cima de manifestantes
A lei sobre transporte coletivo proposta pelo Executivo tem ar
tigos polêmicos e até inconstitucionais. Por exemplo: o artigo 83 favorece ilegalmente as atuais operadoras de transporte coletivo, ao conceder o direito de operação pormaisdez anos, com possibilidade de prorrogação - ''As concessões e permissões que estiverem com o prazovencido, e aquelas que estiveremem vigor por prazo indeterminado,inclusive por força da legislação an
terior, serão mantidas pelo prazo dedez anos". A Constituição Federalexige licitação para a concessão ou
permissão de serviços públicos.Por causa desse e de outros
artigos, dezenas de manifestantes - estudantes, sindicalistas, líderes políticos e trabalhadores -
estiveram no dia 22 de fevereiropara protestar contra a votaçãodo projeto. A presença da prefeitade Florianópolis, Angela Amin,autora do projeto, e o impasse na
formação das comissões cancelaram a sessão. O vereador petistaLázaro Bregue estava sendo im
pedido de entrar nas comissõesde Orçamento, de Viação e deMeio Ambiente. No dia seguintehavia mais manífestantes.D presidente da Câmara, Paulo Avila daSilva, interrompeu a sessão diversas vezes por causa dos protestos. As pessoas presentes não
agüentavam mais tanta espera,não entendiam o motivo da demora para começar a votação. Aleitura do projeto de lei, feita pelosecretário da Câmara, foi feita em
voz baixa, irritando quem acom
panhava a sessão. Como eles pediam que a leitura fosse feita em
voz alta, o presidente da casa in
terrompeu mais uma vez a ses
são e mandou policiais militaresentrarem.
Dezenas de policiais da Tropade Choque entraram na Casa, umdeles filmava as pessoas presentes.Foi quando a confusão começou. Osmanifestantes tentavam impedir a
Florianópolis é uma das poucascapitais brasileiras a merecer o adjetivode tranqüila. Por isso mesmo, em casos
de quebra dessa condição de tranqüilidade espera-se uma cobertura à altura
por parte da imprensa local. Ainda maisquando a situação pode ser prevista comalguma antecedência, dando margem a
uma preparação dos repórteres e pauteiros. E o caso da manifestação feita nodia 24 de fevereiro contra o projeto delei votado (e aprovado) pela Câmara dosVereadores, que renovava a concessão dasempresas de transporte coletivo por dezanos, prorrogáveis por outros dez. Alémde dispensar licitações, o projeto foi estranhamente encaminhado paravotaçãono dia anterior com o estranho pedidode urgência.
Era mais que óbvio que tal medida controversa atrairia o descontentamento de estudantes, líderes políticosde oposição e sindicalistas. Portanto nãofoi surpresa quando apareceram 150manifestantes no local, mas algo de surpreendente foi a repressão - a atitudeinconstitucional de se proibir a entradados manifestantes na Câmara e as, pelomenos, quatro bombas lançadas pelapolícia nas pessoas. Outras medidas da
Angela nãorespeita a
Constituição
Por causa das agressões físicas os vereadores da Frente Popular decidiram se ausentar da ses
são. Com a palavra Lázaro Bregue:"Ainda não passei por um constran
gimento tão grande. Fomos impedidos de transitar. Fomos agredidosfisicamente. Me sinto emocionalmente sem condições de continuar. Depois de tanta agressão, tenhoque sofrer o mesmo gue no tempode ditadura, com ate fita _gravadapela polícia. Faço apelo ao líder quea gente se retire". Assim acabou a
primeira parte da votação. Com os
vereadores da oposição ausentes, oprojeto de lei foi aceito por unanimidade. No final da noite, os vereadores e algumas pessoas agredidasforam à 1 a Delegacia de Polícia de
da matéria, na página 2, deu o tom do
que estava escrito: "Sob protestos, projeto de transporte é aprovado". Quemestava sem informações a respeito do talprojeto, continuou sem explicações sabre o assunto. O espaço dado às fontestambém foi revelador: três pessoas entrevistadas; o comandante da ação daPM, o presidente daCâmara e no último
parágrafo, a vereadora de oposição LiaCarmen Kleine (PCdoB). Isso contribuipara que a repressão fosse classificadade "pacífica e ordeira" e os manifestantes chamados de "claque de baderneiros".
Na linha média dos diáriosque circulam em Florianópolis esteveo desempenho do Diário Catarinense. Com a primeira páginamais fracados três jornais, sem fotos da manifestação, e umamatéria reclusa na página 29, o assunto mereceu pouco destaque até mesmo quando se leva emconta o estilo econômico da publicação: apenas cinco parágrafos e fotosfracas. Pelo menos, foi o único a tratar
da motivação do protesto no parágrafoinicial, apesar da apuração mais im
precisa do número de feridos. Também trouxe uma declaração que dá a
Florianópolis registrar queixa.No dia seguinte, 23 de feve
reiro, a situação estava bem pior. Opresidente da Câmara simplesmente proibiu a entrada da populaçãona Casa. Há duas palavras que re
sumem o fato: arbitrariedade e inconstitucionalidade. Em seguidahouve um festival de violência e
opressão. A polícia militar proibiu a
entrada dos manifestantes enquanto a população exigia seus direitos e
tentava se defender das agressões.Cerca de 500 pessoas foram atingidas por bombas de efeito moral e
de gas lacrimogêneo. E novamente,em definitivo, o projeto de lei foiaprovado por unanimidade.
�exandre Brandão
importância do ato: "É a primeira vez
na história que há uma intervençãomilitar no legislativo municipal, impedindo a população de assistir a umasessão pública". Em tempo, o autor
dessas palavras foi o secretário-geralda CUT, Clemente Mannes.
Versões à parte, o fato é que, a
portas fechadas, demaneira inconstitucional e em meio a uma repressão policial que não era vista por esses lados há
tempos, um projeto de lei no mínimo
polêmico foi aprovado com estranhas
exigências (a dispensa da licitação e o
tal pedido de urgência). Uma última informação pode ser importante para se
julgar a cobertura dada ao caso: tanto a
prefeita de Florianópolis, Angela Amin,quanto o governador do estado, Esperidião Amin, têm ligações com uma das
empresas beneficiadas com o projeto jáaprovado. A Transol dispõe da principallinha que une o Centro da capital com a
maior universidade do estado, a UFSC.Motivo para que, num mundo ideal, origor da imprensa se fizesse mais presente. No mundo real, a cobertura foifeita da maneira que saiu.
Romeu Marfins
Campo de batalha: manifestantes e vereadores de oposiçãoforam agredidos com cacetete, extintor de incêndio e bomba de gás
Um novoprojeto de lei propostopela prefeita Angela Amin à CâmaraMunicipal de Florianópolis, exclui parteda população do direito de utilizar oserviço público de transporte da capital.O projeto proibirá de circular nos ônibusas pessoas que estiverem drogadas,bêbadas, ou forem portadoras dedoenças contagiosas, causandoindignação àqueles que lutam pelapreservação dos direitos humanos.Além de seu caráter puramentediscriminatório, a lei também atinge - e
desagrada - os motoristas, aoresponsabilizá-los pela identificação dequais usuários poderão ou não subirnos ônibus.
Para a professora de Ética e Filosofiada UFSC, Sônia Felipe, esse artigo violaclaramente direitos humanos e
constitucionais fundamentais, como osde ir e vir, e o de não ser discriminado.Com uma opinião semelhante, acoordenadora do Centro de DireitosHumanos da Grande Florianópolis, VeraMaria de Mendonça Barros, vai maisalém. "Se nem os médicos conseguemdiagnosticar sintomas a olho nu,imagine os motoristas", compara ela. Eeles parecem estar de acordo com a
coordenadora, já que o própriopresidente do Sindicato dos Motoristas,Leonir Miguel Scheffer, confirmou quepretende pressionar os vereadores dacapital para que votem contra a
proposta do Executivo.A professora Sônia, que também
trabalha como voluntária no Centro deDireitos Humanos, lembra ainda queeste projeto vai contra o própriogoverno, que vem investindo cada vezmais em campanhas queconscientizem as pessoas a nãodirigirem enquanto bêbadas. A lei puniráexatamente estas pessoas que venhama obedecer os apelos governistas."Lugar de bêbado, nessa cultura queincentiva o uso de bebidas alcóolicas énos ônibus, desde que não causetranstornos e danos à terceiros", diz a
professora.
Gustavo Schwabe
MARÇO-99 ZERO 9
Reportagem: Alexandre Brandão
Imprensa não cumpre compromisso com leitor
gravação. O auditório da Câmaravirou um paleo de guerra. Os vereadores da Frente Popular (PT e
PCdoB) tentaram impedir a agressão. Não adiantou, eles tambémforam agredidos e até impossibilitados de circular dentro da Casa.
Enquanto isso, os vereadores protegidos por uma parede de vidroapenas assistiam à cena sem interferir. A coordenadora do Centro deDireitos Humanos, Vera Maria deMendonça, que pretendia dialogarcom os vereadores, foi espancadapelos policiais. As pessoas gritavam:"Ditadura militar voltou" "NovaNouembrada em FlorianÓpolis".Para dispersar, os policiais atacaramos manifestantes com um extintorde incêndio.
PM foram dois disparos de revólver e
golpes de cacetete. Saldo final: oito pessoas feridas, contando com um verea
dor e um fotógrafo do jornal OEstado.Talvez por essa baixa de guerra
em sua equipe, amelhor cobertura feita pelos jornais catarinenses no dia posterior foi exatamente ad'OEstado. Comchamada de primeira página e fotos tratando do assunto, amatéria ocupou metade da página inicial do segundo ca
derno. Foi o único jornal a acertar o
número exato de feridos (foram conta
dos sete pelo AN Capital e seis peloDiário Catarinense, ao invés de oito) e oque deu maior espaço para que os ma
nifestantes dessem suaopinião. Omotivo do protesto, apesar de não constar nolead mas sim no 110. parágrafo, estavacitado na matéria, o que não aconteceuem outro jornal, oANCapital.
A pior cobertura, por sinal, veioexatamente desse suplemento local dojoinvillenseANotícia. Apesar de trazeramelhor apresentação de primeira página, com uma foto de impacto do vereador Márcio de Souza (PT) ferido no
conflito, e uma manchete acertada -
"Polícia reprimemanifestantes" - o con
teúdo deixou muito a desejar. O título
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Arquivos estãosendo perdidospor descaso
ou falta dedinheiro
Editora busca
recursos paracontinuar a
divulgar osautores locais
Cotia, Grande São Paulo. Uma parte dasfitas apodreceram e só em 1985 foram
repassadas à Cinemateca de São Paulo.Através de uma parceria com a TV Cultu
ra, a cinemateca passou o acervo para ví
deo, mas o estrago já estava feito - mais de
1,2 mil fitas foram perdidas.Outra explicação para a falta de
imagens do início da televisão no Brasilera a falta de recursos: "Para fazer um
programa ou novela era preciso apagar as
fitas da semana anterior", explica o ex
diretor da Tupi Luiz Galon em entrevista
ao jornal O Estado de São Paulo. Esse era
o procedimento das também extintas Ex
celsior, TV Paulista, Continental e TV Rio,
A televisão brasileira perdeu, nosúltimos 49 anos, uma boa parte de sua
memória. Por causa de incêndios, descuido ou falta de recursos, imagens históricas desapareceram. Só a partir da década de 80 que as emissoras de TV começaram a se preocupar com a preservação deseus arquivos. Para se ter uma idéia do
estrago, dos mais de 1.815 programas apesentados por Chacrinha só sobraram seis,sendo cinco programas de sua fase na
Globo, um da Bandeirantes e 120 minu
tos da Tupi. Outros exemplos são da nove
la da Tupi Beta Rockfeler; de 1968, daqual só restam seis capítulos e dos pro
gramas humorísticos A Família Trapo(Record, 1966/71) e Chico City(Globo 1973179) com três programas cada. Além disso, nãohá nenhum exemplar dos programas musicais da década de60 como O Fino da Bossa, deElis Regina, ou dojovem Guar
da, comandado por RobertoCarlos.
Até os anos 80 a Globo
arquivava apenas seis capítulos de cada novela. Eram preservados os dois primeiros ca
pítulos, os dois últimos e doisintermediários. Da década de70 só existem 12 novelas com
pletamente preservadas. A
emissora só teria começado a
arquivar suas telenovelas a
partir de 1980 quando passoua exportar sua produção parao exterior. Além disso, o acer-
1'0 da Globo sofreu com os trêsincêndios das sedes da emissora (69, 71 e 76) nos quaisforam perdidas mais de 900fitas. Há três anos a Rede Globo iniciou um processo de re
cuperação de seu arquivo, en- A garotapropagandaNeideAparecidatre as fitas foi encontrado um
compacto das versões originais de Selrade Pedra de 1972 e Irmãos Coragem de
1970 i:IAs imagens de 30 anos da TV Tupi
estão reduzielas a um acervo ele 3850 fi
tas, metade delas com novelas feitas en
tre 1968 e 1980 e a outra metade com
reportagens, todas feitas de 1963 a 1979em 150 mil rolos de filme ele lôrnm, cadaum com duração ele um minuto. Os filmes guardam imagens históricas do governo de jânio Quadros e do período da
ditadura. Esse número reduzido ele ima
gens deve-se, em granele parte, pelo descaso de seus proprietários. Depois da falência ela emissora em 1980, o seu arquivo foi abandonado em um armazém em
pIo, uma entrevista exclusiva de Luis Car
los Prestes durante seu exílio na Europa."Encontraram a fita oxidada, porque foi
arquivada inadequadamente" explica a co
ordenadora elo banco ele elaelos ela emisso
ra, Maria Leonor Saad. A Record, por sua
vez, criou um setor para arquivo ele ima
gens em 1985, mas só parou ele desgravarseus programas em 1997. Grande partedas imagens da emissora se perdeu porfalta ele cuidados e em três incêndios. Emesmo o SBT, uma emissora nova, sofrecom a falta de preservação. Há apenas 4mil fitas com pequenos trechos do que foi
proeluzielo na emissora entre sua inauguração em 1981 e 1990
Valorização - Atualmente as emis
soras estão mais preocupadas com seus
acervos. A Globo e a Bandeirantes man
têm arquivos climatizados e informatizados. A Record está investindo na ampliação do setor ele arquivos e o SBT estáinvestinelo em um memorial para contar
a sua história. Essa mudança ele atituele
tem um motivo bastante simples: a valo
rização elo mercado ele imagens de arqui-
A miss BrasilAdalgisa Colombo
1'0. As emissoras cobram U$400 por se
gundo de produtoras ele filmes e documentários e também existe a possibilidaele de exportação, ou de reexibiçãode programas. Tendo isso em vista, a
Globo em 1995 criou o Projeto Quadrupte» para passar para o sitema atual o
resto do estado e elo país, é atendido
pelo PIDL. As livrarias compram em
consignação pelo catálogo das editoras
e fazem uma prestação de contas men
sal, retendo 50% da renda. No início
do mês ele fevereiro estava sendo co
memorada a primeira venda feita pelainternet. A página na reele foi reformulada durante as férias, sofrendo am
pliação e inclusão elo serviço de reem
bolso postal. A consulta pode ser feitade qualquer ponto elo país. Para aces
sar o catálogo e fazer o pedido, o ende
reço é http://www.editora.ufsc.br.A Edufsc foi criaela em 1980 e
implantada no ano seguinte. Saiu deuma pequena sala sob a escada da Bi
blioteca Central, para dividir um prédio com a Fapeu. Com apoio da Funda
ção Banco do Brasil, em 1991 inaugurou sua casa própria, com alguns equipamentos e móveis. A produção ela Edu
fsc é limitada, adaptada ao mercaelo.
Porém situa-se entre as maiores editoras universitárias, como as da USP e
UnB. Não compete com as editoras privadas; antes, desenvolve um trabalho
complementar, lançando títulos de len
to retorno financeiro. Através da Câmara Brasileira do Livro, estimulou o
conteúdo ele 19 mil fitas ele duas polegaelas, faltam cerca de eluas mil fitas
para a conclusão dos trabalhos. Nesse
projeto foi recuperado, por exemplo, o
programa TVAno 25 de 1975 que con
tém uma série de imagens históricas.A Band mantém hoje um arquivo com
80 mil horas ele imagens. "Ainda nãoelá para manter tudo, mas, quando te
mos que desgravar alguma coisa, usa
mos um critério mais seletivo" afirmaMilton Trindaele, um dos responsáveispelo arquivo. O SBT pretenele transfermar a entrada dos seus estúelios em
um memorial com mais de mil fotos,telão com víeleo, além dos troféus dacarreira ele Silvio Santos. Há quatromeses a emissora passou a informatizar o catálogo ele seu acervo ele 20 milfitas. A TV Cultura é a única emissora a
preservar imagens desele a criação há
30 anos. Seu acervo é formado por 70mil filmes de 17 mm com programasfeitos até 1980 e 60 mil fitas de vídeocom o que foi produzido desde então. A
situação mais delicada é a da Cinemateca ele São Paulo quesofre com a elificuldadedos recursos públicos.
Em Florianópolis,a situação dos bancos de
imagens não é muito diferente. ARBS desele 1983arquiva as imagens es
colhielas pelo eelitor-chefe do telejornal. O critério é priorizar os aconte
cimentos mais importantes. Mas só a partir de 92que esse trabalho passoua ser diário. Já programasespeciais da emissora,como o Estúdio SC. são todos arquivados. Agora a
RBS está começando um
projeto para tentar recu
perar imagens antigas. NaT\' Barriga Verde as ma
térias mais importantessão arquivadas temperariarnente no computadore depois são passadaspara fita. Esse procedimento é feito com toelosos programas da emisso-ra desde 1985. Já na TV O
Estado só fatos marcantes foram arquivades. Porém a emissora iniciou no co
meço elesse ano um trabalho de sele
ção elas matérias que passarão a ser
arquivadas no computador.
1V não pode mostrar a própria história
elas quais nem existe acervo. Até 1962 as
emissoras brasileiras só trabalhavam com
programas ao vivo. O que foi produzidoantes ficou guardado em arquivos de jornais ou em fotos. Com o lançamento do
videotape é que se tornou possível o ar
mazenamento elos programas. Mas a mu
elança do pensamento das TVs demorou
para acontecer. "Mesmo com o tape, manteve-se a cultura do ao vivo: as fitas nãoforam vistas como meio ele preservação,mas uma forma prática de fazer os programas" lembra jô Soares, que participoudo humorístico A Família Trapo. A Bandeirantes é a rede brasileira que preservou melhor o seu acervo mas, mesmo
assim, perdeu muita coisa como, por exern-
lugar as humanas e em terceiro as tec
nológicas. Neste mês de fevereiro, estásendo lançado Contos de Grenn (eeliçãobilíngue), Contos Fantásticos deMaupassant, Apicultura e Desenvolvimento Sus
tentáoel, além do resgate da obra de Ho
rácio Nunes, autor catarinense elo finalelo século passado.
A crise econômica que ronda a
universidaele com a ameaça de privatização, afeta também as rotativas off set. A
Edufsc é operada por servidores, 16 bolsistas e três contratados para a área co
merciaI. Quando um servidor se aposen
ta, não pode haver recontratação. A vagapermanece ou é preenchida por bolsis
tas, oneranelo ainela mais a editora. Há
quase sete anos sem receber recursos do
MEC, a ordem é publicar e vender parapoder investir. Matéria-prima como papeI, barbante, cola e arte-final são adquiridos com recursos próprios. Mas o diretor Alcides Buss, atribui ao excelente quadro de funcionários o padrão de qualidade atingido pela editora.
O Programa Interuniversitário
de Distribuição de Livros surgiu como
forma de vender mais para investir
mais. A distribuição para Florianópolisé feita diretamente com as livrarias, o
Natália Viana
Edufsc resgata literatura catarinensesurgimento das editoras ela FURB (Blumenau), Unoesc (Chapecó) e Univali
(Itajaí), todas no interior do Estado.Talvez pelo fato de dois dos seus
três diretores (incluindo o atual) se
rem poetas, o tema recebe a deviela
atenção da Edufsc. As coleções Memória Literária de SC e Ipsis Litteris, res
gatam e abrem espaço para a literatu
ra local. Vale destacar o livro Raimun
do, peça teatral que fala da relação en
tre a aristocracia e a plebe, publicadapostumamente em 1868 por Alvaro Au
gusto de Carvalho. Álvaro ele Carvalho é
o nome do teatro (o TAC) construído no
início deste século e referência cultu
ral do estado.A Edufsc tem consciência dos
intermináveis problemas que afetam a
atividade eelitorial, principalmentequanto à divulgação e distribuição eloslivros. Consielera papel das eelitoras uni
versitárias oferecer alternativas a cres
cente demanela de autores regionais,como forma ele resistência à globalização da cultura. E não é esta a funçãoprimeira da atividade cultural e da palavra escrita?
Sílvio Smaniotto
10 ZERO MARÇO-99
Você já imaginou ter em casa
um livro raro de poesias do início elo
século, editado com qualidade e preçoacessível, cujo autor escrevia por amor à
poesia e para quem o ato ele escrever eramais importante que o reconhecimento
público? Pois este livro existe e é acessível tanto a quem mora em Porto Alegrequanto em Macapá. História do Gosto e
Outros Poemas (238 p., R$ 17,00) de Er
nani Rosa, foi relançado no final de 1998e faz parte da coleção Memória Literáriade Santa Catarina da Eelitora ela UFSC,dedicada ao resgate de autores catari
nenses. Ernani Rosa (1886-1956) foi umdesconhecielo poeta simbolista, contemporâneo de Cruz e Souza, pobre, boê
mio, gago, homossexual e provavelmente apreciador do ópio.
Além de Memória ... ,há a cole
ção Paideuma (obras traduzidas), IpsisLitteris (autores catarinenses de prosa,
poesia, ficção, conto e romance contem
porâneos) e Cadernos de Cultura Popular, que documentam aspectos culturaisdo estado. Há também as séries Didáti
ca, Enfermagem, Ética Política e Violência e Série Geral. Foram mais de mil
títulos publicados em 18 anos, com des
taque para a área de letras, em segundo
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Calvin e Fradim contra os distribuidores de HQA trajetória de dois artistas mostra a luta desigual para proteger suas criações
Tem uma
coisa em comum
em toda tira es
trangeira publicadaem nossos jornais -
junto com a assinatura do artista,lá em baixo, em letras bem pequenas, está impresso o copyright dealgum syndicate, as agencias distribuidoras do material, nos EUA e
no mundo. Essa é a senha para quea tira seja entregue para milharesde jornais, é agarantia de que aquelepersonagem pode ser licenciado na
forma de vários produtos e, dependendo da popularidade, pode sígnificar ainda desenhos animados e filmes inspirados neie. Enfim, representa muito dinheiro para o autor.
Parece o Paraíso, não?Pois para alguns artistas o es
quemão dos syndicates representa o Inferno. E como toda boa história de diabo, essa começa com um
contrato. Ele dá à agência distribuidora a exclusividade sobre o artistadurante anos e o direito de explorar comercialmente a tira, além deser uma autorização para que o material seja censurado deacordo com os critérios dogrupo. De tão autoritáriaque é essa relação, seriainevitável atritos entre ar
tistas e syndicates. Doiscasos ficaram conhecidospor aqui: o do brasileiroHenfil, que teve uma CUf
ta experiência com o sistema americano de distribuição, nos anos 70, e
o do criador da tira Calvin e Haralda, Bill Watterson.
Henfil escreveu so
bre o período que viveu"sindicalizado" para o se
gundo número da revistaO Bicho, publicado em
março de 1975. Watterson fez um desabafo dasua situação na coletâneaOs dez anos de Calvin e Haroldo,que saiu nos EUA em 1995. Apesardos 20 anos que separam os casos,ambos têm vários pontos em co
mum quando falam do autoritarismo dos syndicates.
Mad Monks: Fradim pragringo ver - Henfil começa con
tando qual a manha que usou paraentrar no fechado círculo das tirasdistribuídas por um syndicate: o
tráfico de influências. Um amigodele trabalhava na época para o Wa
shington Post e arrumou urn en
contro entre o Henfil e um dos donos da Universal Press Syndicate(UPS). Parecia a chave para o incrível mundo da distribuição mundial: "eu só queria isso para espalhar minhas idéias, falar das 'verdades sociais' e assim enfrentar ainfluência de Walt Disney de igualpara igual". Tinha tudo para darcerto, pois logo na primeira sema
na dez jornais fecharam contrato
com a tira Mad Monks, a versão
gringa dos Fradinhos.O primeiro problema do
brasileiro foi com as restriçõesfeitas pela UPS. Das primeiras 72tiras que ele entregou só 17 rece
beram o OK. As outras 55 foramconsideradas "invendáveis" porserem sick (literalmente, "doen-
te"). "Pô, as tirassick eram tãolimpas, tão calmas, tão tímidasque não tive cora
gem de mandarnenhuma delaspara o Pasquim.Seriam consideradas fracas". Ostextos de algumastiras ainda foramrefeitos pelo pessoal da UPS sem
a permissão doautor. QuandoHenfil peitou o
grupo e pergun-tou se havia censura ali, a res
posta foi clássica e ríspida: "Nãoestamos censurando, estamoseditando!". O saldo total foi demais de 200 tiras vetadas.
Claro que não parou por aí.Os jornais, pressionados por cartas indignadas dos leitores come
çaram a largar osMadMonks. Alguns aguentaram só duas sema
nas. O Chicago Tribune desistiudepois de 45 dias,o canadense Toronto Sun depoisde 51. Um jornalde Salt Lake fezuma pesquisa en
tre seus leitores a
respeito da tira, e
entre 404 cartassomente quatrodefendiam a publicação. A opiniãodos leitores era
que o material seria "anti-americano, anti-Deus e
sick". A opinião deHenfil quanto ao
trabalho que eleconseguiu ver publicado depois damutilação e cen
sura a que foi submetido pelo syndicate era outra:"foi o subproduto do pior que jáproduzi na vida".
As molecagens de BillWatterson - No dia 18 de novembro de 1985, estreava em 35 jornais a tira mais cultuada das ultimas décadas. Apesar de todo o su
cesso que fez, seu autor sempreconseguiu se manter afastado dasbadalações e tornou sua vida pessoal um mistério para os fãs deCalvin e Haroldo. O que se sabiaera que ele havia sido recusado
GoO is LtF€�GOD rs HAPPiNESS!GoD is LíeHT!
NÃO HÁESPERANÇA DE
RESGATE DESTE
MUNÓO ÁRIDO E
ISOLADO!
por dois syndicates antes de co
meçar a ser representado pelaUPS (sim, a mesma do Henfil) e
que em pouco tempo trouxe su
cesso e muita dor de cabeça paraaquele grupo.
Para começo de conversa, durante os primeiros cinco anos, BillWatterson lutou contra qualquertentativa de licenciamento de seus
personagens (Henfil foi, muito provavelmente, o primeiro a exigir queesse tipo de restrição constasse no
contrato que assinou, em 1974).Exausto da discussão, o criador deCalvin se tornou o terceiro artista a
tirar um longo período de férias enquanto publicava uma tira. Os doispioneiros foram Garry Trudeau e
Gary Larsen. Foram dois períodosde folga, de nove meses cada, separados por três anos de trabalho diário. Hoje, dar folga aos artistas éprática comum nos syndicates. Aúltima bri$a de Watterson foi paramudar o ngido esquema da tira co-
lorida dominical, de modo a conse
guir uma liberdade artística bemmaior do que vinha tendo.
A popularidade de Calvin e
Haroldo garantia a vitória de seu
criador, ao contrário do �ue acon
teceu com Henfi!. Isso ate o dia em
que Watterson resolveu parar defazer a tira, em 1995. Nos dez anos
em que escrevia e desenhava a tira,ele aproveitou para gozar da sua
própria realidade disfarçando tudonas histórias de Calvin. Foi o caso
dos metafóricos monstros que viviam embaixo da cama do moleque.Calvin jogava lixo para que comes
sem e parassem de incomodá-lo.Na visão de Watterson essa era sua
relação com os monstros do syndicate - ele os abastecia com material de qualidadeénferior ao que poderia fazer em troca de um poucode paz.
Textos: Romeu Marfins
Syndicate,., ,
naoe
sindicatoo que nós entendemos por
sindicato em inglês é chamado deunion. Syndicate são as Agências de
Distribuição que funcionam demaneira parecida com as Agências deNotícia, a diferença é que ao invés dereportagens e artigos elas distribuemcharges e tiras. O custo desse materialé dividido pela enorme quantidade dejornais que são atendidos por todo o
mundo, tornando quase impossívelum artista independente competircom um esquema do tipo. Existeainda outro preço a se pagar por essaabrangência mundial que se
consegue, como lembrou BillWatterson: "comercializar tiras em
grande escala encoraja os quadrinhosa serem conservadores, facilmentecategorizáveis e imitadores desucessos anteriores".
No começo os artistas eram
contratados exclusivamente paratrabalhar em um único jornal, comofoi o caso do criador daquela que éconsiderada a primeira HQ da história,Yellow Kid, que trabalhava para o TheNew York World. Foi o inspirador dofilme Cidadão Kane, Willian RandolphHearst, que tirou o cartunista doconcorrente para trabalhar em seu
jornal, o The New York Herald. Hearstaproveitou a deixa para criar o primeirosyndicate importante dos EstadosUnidos, o King Features Syndicate. Adistribuidora para a qual tanto Henfilquanta Watterson trabalharam, a UPS,é considerada a mais liberal do país.Foram eles que editaram na década de70 a única tira que falava em
Watergate e Guerra de Vietnan,Doonesbury de Garry Trudeau. Apesardos atritos que os dois artistas tiveramcom ela, o mundo fora da"revolucionária" UPS é ainda pior.
UAUI NINGUÉM TÁNOS BALANÇOSI
EU NEM ACREDITOI
\
NINGUÉM TÁ MEDIZENDO PRA
ANDAR LOGOI
...OU ESTE É O MEU DIA DE
SORTE OU EU NÃO OUVI OSINAL DO FIM DO RECREIO DE
NOVO.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Símbololatinoamericanomais conhecido do sécu
lo segundo a ONU, Carmen Miranda ainda é, noventa anos depois de seu nascimento, o estereótipo damulher latina. Do alto de seu um
metro e cinqüenta e três de altu-ra - estatura compensada pelosgrandes chapéus e sapatos plataforma -
,
aPequenaNotávellevou aos Estados Unidos todo o exotismo e alegria implícitosno significado da palavralatinidad paraos norte-americanos.
Carmen Miranda, apesar de tersido uma espécie de porta- bandeira dosamba, o mais brasileiro de todos os rit
mos, era portuguesa. Nascida na província deMarco de Canavezes, em Portugal,no dia 09 de fevereiro de 1909, a menina Maria do Carmo Miranda da Cunhafoi trazida ao Brasil ainda no colo de sua
mãe, com apenas dez meses de idade.Suas primeiras apresentações lhe
custaram o emprego em uma loja de gravatas do Rio de janeiro. Foi demitida porque distraía as colegas, que paravam detrabalhar para ouvi-Ia cantar. Daí, já conhecida pelos fregueses da loja, foi convidada para se apresentar em um recitalde caridade no InstitutoNacionaldeMúsica. Aos vinte anos já fazia sucesso nos
palcos cario
cas e recebeu o
apoio do compositor[osué de Barros, que, além de
financiar suas aulas de canto e
dicção, apresentou-a a todas as rádios e
gravadoras da época.Entre 1929 e 1938, na primeira
fase de sua carreira - quando seu sucessoainda era restrito às fronteiras do país -
gravou, para os selos RCAVictor,Brunswick e Odeon, 143 discos, num total de 281 faixas. Seu primeiro grandehit foi a marchinha Taí
(pra você gostaI' de
mim), que vendeu 35milcópias no Carnaval de
1930, um valor astronômico para a indústria fono
gráfica da época. Foi CarmenMiranda quem lançou o entãodesconhecido compositorDorival Caymmi. Em seu último filme brasileiro -elafez seis filmes naCinédia- apresentou- se
pela primeira vez vestida de baiana, cantando O Que é que a Baiana Tem?, deCaymrni
A estrelaprincipal e exclusiva doCassino da Urea foi "descoberta" numa
apresentação no início de 1939 pelo empresário norte-americano Lee Shubert,consíderado na época o dono da Broa
dway. Muitos atribuem as negociações quelevaram Carmen para os palcos americanos à Política da BoaVizinhança. Sua imagem teria sido cinicamente explorada pelogoverno norte-americano durante aSegunda Guerra, com o propósito de atrair a
atenção e os recursos daAmérica Latinacontra o Eixo (Alemanha, Itália e japão).
Usada ou não pelos Estados Unidos, é certo que abrazilian bombshell (bomba brasileira) apelido dado pelos jornalistas americanos, cumpriu um papel fundamental
na popularízação de um ritmo deraízes brasileiras. Assim como Elvis Pres
ley, que tornou populares ritmos negros eo blues, Carmen Miranda fez sucesso no
centro do show business mundial cantando e representandoum estilomusical não
europeu.Seu sucesso nos palcos daBroadway
foi imediato. Estreou em junhode 1939 como espetáculo musicalStreetrjParis, semprejunto do conjunto brasileiro Bando da Lua.
Levar a banda para os Estados Unidos foi,aliás, suaúnicae.xigênciaao assinar o contrato comShubert-elanamoravaum dos com
ponentes doconjunto,AloysiodeOliveira. No mesmo ano de sua
primeiraapresentação americana, alcançou tamanhosucesso que desbancouLa Guardia, o prefeitomais famoso que Nova
Yorque já tivera, eGretaGarbo, omonstro sagrado do cinema, na lista
anual de popularidade dacidade.
Em julho de
1940, voltou pela primeira vez ao Brasil
para o casamento de sua irmãAurora Miranda. Foi recebida triunfalmente pelapopulação do Rio dejaneiro, desfilando emcano aberto pelaAvenidaRio Branco. Mas,ao cantar paraum espetáculo beneficenteno Cassino daUrca, recebeu aplausos frios
da elite carioca, que acusou-a de ter voltado "amerícanízada". Serchamadade "falsa baiana" pelos jornais do dia seguinte foiuma das maiores mágoas de Carmen Miranda,mas também resultou numade suasmais brilhantes ínterpretações. Disseramque eu voltei americanizada foi escrita
por Luiz Peixoto e Vicente Paiva como res
postas às críticas que recebera da imprensa brasileira. Até hoje, muitos críticosacham que o sucesso de CarmenMirandacresceu em razão inversa à sua brasilida
de, já que começou a carreíra cantandotoadas sertanejas e terminou cantando eminglês acompanhada do grupo vocal americano Andrews Sisters.
De suavisita ao Brasil, foidireto para Ho
llywood, para cumprir um contrato
que acabara de assinar com a 201/)Centuty-Pox. Thatnight inRio- UmanoitenoRio foi seudebut nas telas deprata internacionais. Seis meses
depois de chegarna Meca do cine- Carmen e seu marido David Sebastian (à dir.)ma deixou suas
mãos, pegadas e autógrafos na calçada dafama do Chinese Theatre. Na época, essahomenagem só era prestada aos artistas
com mais de dez anos de carteira, masCarmen, mesmo novata, já eraumapersonalidade famosa o suficiente para deixarsuamarcaem Hollywood.
Mas enquanto sua imagem era
associada a ínterpretações alegres e bem
humoradas, seu personagem na vida realviveu dramas e decepções. Em 1947, surpreendendo até os amigos mais próximos,casou-se com o produtor americanoDavidSebastian. Nunca foi feliz no casamento. Oexcesso de trabalho da imigrante portuguesa que cantou até na CasaBranca trouxe o vício em tranqüilizantes e estimulantes. E ela nunca se conformou por ser tão
aplaudida num país estrangeiro e
tão criticada no Brasil.
33 horas de CarmenMirandaNos 23 anos de sua carreira cinematográfica Carmen Miranda gravou 22 filmes, 14deles nos Estados Unidos. Sua filmografia, porém, contabiliza um filme a mais.
É o documentário Banana is My Busi
ness, produzido no Brasil, em 1994. Nafita, disponível em apenas uma locadorade Florianópolis - a Raro Efeito - a diretora Helena Solberg conta a vida da Pe
quena Notável misturando cenas originais da cantora com cenas interpretadaspelo ator transformista Erick Barreto. Confira abaixo a lista dos filmes que a brasileira mais famosa dos Estados Unidos desde a década de 40 fez:
PRODUÇÕES BRASILEIRAS
Degraus da Vida (1930)Direção: Lourival AgraCarnaval Cantado de 1932 no Rio
(1932)Direção?A Voz do Carnaval (1933)Direção: Adhemar Gonzaga e HumbertoMauro*é o primeiro filme sonoro da Cinédia,obteve grande êxito quando foi exibido em
Paris, em 1936. O filme, que conta a história do Rei Momo que foge para assistir o
Carnaval no Rio de janeiro, tem cenas
reais, gravadas ao vivo.
12 ZERO MARÇO-99
Alô, Alô, Brasil! (1935)Direção: Wallace Downey, João de Barro e
Alberto Ribeiro* o filme foi tão bem feito que é considerado o primeiro produto industrial do ci
nema brasileiro.Estudantes (1935)Direção: Wallace DowneyAlô, Alô, Carnaval! (1936)Direção: Adhemar GonzagaBanana da Terra (1939)Direção: João de Barro*Carmen Miranda canta O Que É Que a
Baiana Tem?, de Dorival Caymmi.Laranja da China (1940)Direção: Ruy CostaBanana isMyBusiness (1994)Direção: Helena Solberg* é um documentário ficcional sobre a
vida de Carmen Miranda.
PRODUÇÕES AMERICANASSerenata Iroptcal (Down ArgeutineWay)-1940Direção: Irving CummingsUma Noite no Rio (ThatNight in Rio)-1941Direção: Irving CummingsAconteceu em Havana (Weekend inHavana) -1941Direção: Walter Lang
Minha SecretáriaBrasileira (Springtimes in the Rockies) - 1942Direção: Irving CummingsEntre aLoura e aMoreno (TheGang'sAllHere) - 1943Direção: Busby BerkleyQuatroMoças Numjeep (Fourjills inajeep) - 1944Direção: William SeiterSereuataBoêmia (Greenwich Village)-1944Direção: Walter LangAlegria, Rapazes! (Somethingfor theBoys) -1944Direção: Lewis SeilerSonhos de Estrela (Doll Face) - 1945Direção: Lewis SeilerSeEu FosseFeliz (IfI'm Lucky) - 1946Direção: Lewis Seiler
Copacabana (Copacabana) -1947Direção: Alfred E. GreenO Príncipe Encantado (A Date With
judy) - 1948Direção: Richard ThorpeRomance Carioca (Nancy Goes toRio)-1950Direção: Robert LeonardMorrendo de Medo (Scared Stiff) -
1953Direção: George Marshall
Para se recuperar de um esgotamento nervoso causado pelo uso excessivode anfetaminas e bebidas, e tentar umareconciliação com o passado, ela voltou ao
Rio dejaneiro em dezembro de 1954. Hospedou-se no Copacabana Palace por quatro meses, e, durante um mês, recebeu sóo médico, parentes e poucos amigos. Suaúltimaestadia no Brasil resumiu-se aquatromeses; ela teve que voltar aos Estados
Unidos,em abril de 1955, para a inauguração do mais luxuoso e moderno cassino
de Las Vegas, ONewFrontier.Amorte súbita, no auge da fama,
aconsagrou parasempre. Carmen teve um
ligeiro desmaio durante a gravação de um
programa de televisão americano, o The
JimmyDurante Show. Na manhã do dia
seguinte, foi encontrada morta no closetde sua mansão em Beverly Hills, aos 46anos de idade, vítima de um colapso cardíaco. Seu enterro, no Rio de janeiro, foiacompanhado porumamultidão de quase ummilhão de pessoas.
A fama alcançada por CarmenMiranda é difícil de ser explicada. Expressão da cultura latino-americana, imitadapOI'muitos, de EstherWilliams aBetteMi
dler, não chegou ao sucesso exatamente
pelos seus atributos físícos ou por sua vozdemezo soprano. Muitas outras cantorascom talento e beleza tentaram e não che
garamlá. Ela tinha carisma, tinha o que osamericanos chamavam de it, algo diferen-
te que, na verdade, ninguém até
hoje soube especificar. Suamaneira realista e teatral de
'''"' interpretar provocava nosouvintes uma impressão
"" de materíalldade que" não costumavam ouvir
em outras cantoras. Omito Carmen Miranda nãotem explicação. E nem precisa. Basta lembrar ela di-
vulgou o Brasil e o sambacomo nenhum outro ar
tistade suaépoca, e continua fazendo sucesso
numa.épocaern queÉoTchan (o it das Sheílas éoutro ... ) é vendido como
músicapopular brasileira.
I .....
Camila Olivo
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina