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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUEOLOGIA
Estudo do Gesto em Material Cermico do Stio
Gramado - Municpio de Brotas / So Paulo
Marianne Sallum
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
graduao em Arqueologia, do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de
So Paulo, para obteno do ttulo de mestre
em Arqueologia.
Orientadora: Profa. Dra. Marisa Coutinho Afonso
Linha de pesquisa: Artefato e cultura material: significados e potencialidades
SO PAULO
2011
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I Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Dedico esse trabalho aos meus pais
Estela e Antonio (in memoriam)
e aos tios Carminha e Luiz.
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II Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
SUMRIO
Resumo ................................................................................................................... 1
Abstract ................................................................................................................... 2
Apresentao .......................................................................................................... 3
Justificativa ............................................................................................................ 5
Hiptese ................................................................................................................... 5
Objetivos ................................................................................................................. 5
Captulo 1 Estudo da regio Municpio de Brotas, So Paulo Brasil .......... 7
Captulo 2 A metodologia de anlise de atributos cermicos e a cermica do stio Gramado ...................................................... 26
Captulo 3 Cadeia operatria e Experimentao ............................................ 50
Captulo 4 Anlise de vestgios qumicos e fluorescncia ................................ 77
Consideraes finais ............................................................................................ 104
Concluso ............................................................................................................. 112
Bibliografia ............................................................................................................. 114
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III Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
AGRADECIMENTOS
- FAPESP, pela bolsa de mestrado concedida;
- Profa. Dra. Marisa Coutinho Afonso, pela orientao nesses trs anos;
- Ao Prof. Dr. Jos Luis de Morais, por me abrir as portas do MAE-USP;
- Ao Prof. Dr. Grgorio Ceccantini (IB-USP), pela participao na anlise e em campo,
pelas leituras, revises e discusses;
- Dra. Camila Azevedo de Moraes pela confiana no meu trabalho e pelas conversas
sobre cermica;
- Ao Jos Paulo Jacob e Dria Elnia Fernandes Barreto (MAE-USP) por auxlios diversos,
conversas e informaes tcnicas;
- ceramista Myy Koffler, pela amizade e inmeros auxlios e consultas de grande
expertise em cermica;
- ceramista Suely Massuda, pelos auxlios e conversas sobre cermica;
- Profa. Dra. gueda Vilhena Vialou e Prof. Dr. Denis Vialou (MNHN-Paris),
ensinaram os princpios sobre campo em arqueologia;
- Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Appoloni (UEL), pelas conversas e anlises de fluorescncia
de raios-X;
- Profa. Sonia Hatsue Tatumi (FATEC), pelos ensinamentos e apoio para as dataes;
- Profa. Dra. Teresa Cabrero (UNAM), por me receber em estgio no Mxico e me abrir
s portas a diversos pesquisadores;
- Ao Prof. Agustn Ortiz Butrn (UNAM), pelos ensinamentos sobre vestgios de anlises
qumicas e discusses;
- Ao Prof. Dr. Carlos Lazcano Arce (UNAM), pela amizade, conversas sobre arqueologia
mexicana, alm de experincia de campo em arqueologia em Tlaxcala - Mxico;
- Ao Prof. Dr. Rodrigo Liendo Stuardo (UNAM), pela oportunidade de escavar em
Chinikih Palenque, Mxico;
- Ao Prof. Dr. Fernando A. Carrizona Monfort, do Museo del Templo Mayor - INAH
(Mxico) pelo acesso irrestrito aos materiais cermicos dos Astecas;
- Ao Prof. Eldio Terreros Espinosa do Museo del Templo Mayor INAH (Mxico), pelas
conversas sobre cermica;
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IV Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
- Ao SESC-SP, pelo afastamento do trabalho que viabilizou esta pesquisa;
- Rede Macrouniversidades e Banco Santander, pela bolsa que permitiu meu estgio na
UNAM e visitas a inmeros stios arqueolgicos do Mxico;
- Zanettini Arqueologia, pela oportunidade de pesquisa com rplica de cermica
arqueolgica;
- A3 Comunicao pelo apoio em design da capa;
- Andra Pedro, pela amizade, por inmeros auxlios e socorros grficos e
computacionais;
- Andra Catropa, pela amizade e discusses;
- Dna. Emlia, pela amizade;
- minha famlia Estela, Patrcia, Suzanne e Beatriz, por tudo...;
- Ao Greg, pelo carinho, apoio, incentivo incondicionais, sem os quais essa dissertao no
teria sido possvel.
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V Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Jarra de vidro, cesta de vime, huipil de algodo, caarola de madeira: coisas bonitas, no a
despeito de, mas graas a sua utilidade. A beleza lhes vem por acrscimo, como o perfume e a
cor das flores. Sua beleza inseparvel de sua funo: so bonitas porque so teis. Os objetos
de artesanato pertencem a um mundo anterior separao entre o til e o belo. No artesanato
h um contnuo vaivm entre utilidade e beleza; esse vaivm tem um nome: prazer. As coisas
do prazer porque so teis e belas.
Paz, Octavio. Ensaio Ver e usar: arte e artesanato, In: Convergncias ensaios
sobre arte e literatura. So Paulo: Ed. Rocco, 1991.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Resumo
Esta dissertao apresenta um estudo aprofundado do material cermico do stio Gramado situado no municpio
de Brotas, Vale Mdio do Rio Tiet, SP, acondicionado no Museu de Arqueologia da USP desde 1994, associado
tradio Tupiguarani. A pesquisa envolveu diversas abordagens metodolgicas e tcnicas: anlise da
distribuio das peas cermicas no stio, mapeamento de densidade; anlise de atributos cermicos pautada na
metodologia de pesquisa de literatura pretrita; anlise de vestgios qumicos e fluorescncia de raios-X, com o
intuito de compreender aspectos relacionados aos pigmentos qumicos, pasta cermica e possveis atribuies de
uso dos fragmentos cermicos; reconstituio da cadeia operatria, desde a escolha de materiais at a definio
de formas e traos, identificao de pigmentos, aplicao de engobo, processo de secagem e tempo/temperatura
de queima de uma pea. Todas as anlises tiveram como eixo norteador a Experimentao como forma de
compreender atitudes corporais impressas na argila, partindo de escolhas tecnolgicas e artsticas do grupo
estudado. A anlise de distribuio mostrou que ao redor de onde foi encontrada a urna funerria que levou
descoberta do stio, h grandes concentraes de fragmentos (centenas por m2) que demonstram que o stio
promissor para novas escavaes. A anlise de tributos cermicos mostrou grande diversidade de formas,
decoraes, espessuras, que serviram de base para a abordagem da experimentao. A dominncia foi de
decoraes plsticas, mas com pinturas claramente associadas tradio tupiguarani. A anlise de pinturas
reproduziu padres geomtricos, ricos em fundos brancos, faixas transversais vermelhas e rica ornamentao em
preto. As pesquisas com fluorescncia de raios-X indicaram que as pastas so relativamente homogneas e que as
pinturas so de natureza mineral. O conjunto de anlises mostrou que as pinturas foram aplicadas pela tcnica do
engobo, ou seja, pigmentao mineral antes da queima, quando as peas atingem o ponto de couro. A anlise de
atributos e a experimentao permitiram tambm reconstruir os passos da cadeia operatria e esclarecer que as
pinturas eram aplicadas antes da queima e que as decoraes corrugadas tambm esto associadas a gestos
naturais para a unio de roletes e no so, necessariamente, intenes decorativas. A experimentao mostrou
que a cermica necessita de um tempo preciso para a aplicao de pinturas e que a preparao das peas exige
grande domnio da tcnica, bem como condies sociais adequadas para a produo de peas, sua secagem e
queima. Assim a experimentao corroborou a hiptese de que a cermica expressa tambm caractersticas
culturais e sociais. Este trabalho demonstrou que o estudo do gestual reflete, no somente questes individuais
pertinentes ao arteso, mas tambm as relaes sociais e organizacionais de uma sociedade marcadas no material
cermico.
Palavras-chave: CERMICA TUPIGUARANI, EXPERIMENTAO, GESTO, ARQUEOLOGIA PAULISTA,
BROTAS, STIO GRAMADO, VALE DO TIET, CADEIA OPERATRIA.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
ABSTRACT
This dissertation presents a deep study on pottery material related to tupiguarani tradition from Gramado
archeological site, located at Brotas county, middle Tiet valley, So Paulo State, Brasil. These materials were
deposited in University of So Paulo Museum of Archeology and Ethnology (MAE-USP), since 1994. This research
used several approaches and techniques, including distribution analysis, density mapping, ceramic attribute analysis,
chemical vestiges analysis, X-ray fluorescence, experimentation approach and research in previous literature, all
them aiming to understand features related to pottery, possible uses, reconstitution of chaine operatoire (operating
chain). The analysis begins at material choice, reaching pigment identification, engobe application, drying process,
temperature and time burning process. All analysis had as leading axis the experimentation approach, as a way for
comprehension of body attitude printed in clay. This analysis started from artistic and technological choices from the
studied population. The spatial distribution analysis showed that, where the funerary vessel it was found (that lead to
the discovery of the archeological site). There were some interesting ceramic fragment concentrations (hundreds per
square meter) that demonstrate that this site is very rich and promising for new excavations. The ceramic attribute
analysis showed a broad diversity of forms, decorations, thicknesses and served as basis for experimentation
research. It was found the domination of plastic decorations, but many paintings, clearly related to tupiguarani
tradition. The painting analysis reproduced geometric patterns, rich in white backgrounds, red transversal rows, and
rich in black drawings. The x-ray fluorescence analysis showed that ceramic paste was relatively homogeneous and
that paintings had mineral nature. The analysis showed that paintings were set by the engobe technique, what means
that mineral stains were applied before burning, when ceramics was reaching a certain humidity level called ponto
de couro (literally leather point). That point is the humidity that the piece is suitable to receive engobe and fix it so
after drying is suitable to go to oven. The attribute analysis and experimentation approach allowed reconstructing
steps of a plausible operating chain, clarifying that painting were applied before burning and corrugate decoration
was associated to natural gests used when connecting clay rolls, not necessary related to decorative motivation. The
experimentation approach showed that the ceramic pieces need a precise time for painting application (engobe) and
that the piece fabrication demands a deep domination of pottery techniques, as well as particular social conditions,
suitable for pottery production, correct dying and proper controlled burning. So the experimentation approach has
corroborated the idea that the pottery also express cultural and social features, expressed in clay. This work
demonstrated that the gesture study reflects, not only, individual aspects, but as well social relations, organizational
aspects of a society, printed in burned clay.
Key-words: TUPIGUARANI CERAMICs, EXPERIMENTATION, GESTURE STUDY, ARCHAEOLOGY OF
SO PAULO STATE, BROTAS, GRAMADO ARCHEOLOGICAL SITE, TIET VALLEY, OPERATING
CHAIN.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Apresentao
Este trabalho consiste na anlise de atributos, experimentao de etapas da cadeia operatria
e anlise de vestgios qumicos de 5.000 fragmentos cermicos associados tradio Tupiguarani
do stio Gramado na Fazenda Aparecida do Gramado, municpio de Brotas So Paulo. A coleta
de material ocorreu em 1994 sob coordenao da Prof. Dra. Marisa Coutinho Afonso do Museu
de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo e com apoio financeiro da Prefeitura
de Brotas.
O enfoque da pesquisa foi o estudo do gesto do arteso, compreendido como reflexo de
atitudes que refletem normas sociais. Para tanto, foram realizadas atividades sistemticas de
experimentao com material cermico, desde a escolha de materiais (argila adequada,
instrumentos, antiplstico), tcnica de confeco, secagem at o processo de queima e ps-
queima (uso, quebra e descarte).
Este trabalho teve como base terica as noes de tcnicas corporais de Mauss (1974), bem
como os trabalhos de Coles (1973), Skibo (1992, 2008), Skibo e Schiffer (2008) e Leroi-
Gourhan (1990). Vale ressaltar a grande contribuio tanto de Mauss, como Leroi-Gourhan no
que diz respeito ao entendimento dos atos individuais (comportamento maquinal) como
conseqncias de processos sociais de aprendizagem.
A dissertao apresenta-se dividida em quatro captulos seguida de consideraes finais e
concluso, relacionando as anlises dos captulos anteriores. Os captulos foram planejados como
artigos independentes, por esse motivo cada um deles tem sua prpria introduo e a dissertao
no tem uma introduo central.
O captulo 1 apresenta a caracterizao da rea de estudo e um histrico das pesquisas de
campo e laboratrio realizadas no stio Gramado desde 1994, bem como um mapa de densidade
e ocorrncia de material cermico no stio, evidenciando a grande quantidade de material em
superfcie e em sub-superfcie. Alm disso, apresenta uma cronologia dos estudos sobre os stios
cermicos no Estado de So Paulo
O captulo 2 mostra o resultado da anlise sistemtica de atributos cermicos de 4.332
fragmentos. A classificao enfocou aspectos quantitativos e qualitativos e foi baseada nas
metodologias de Rye (1981), La Salvia & Brochado (1989), Skibo (1992), Moraes (2007) e
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4 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Gomes (2002). Foram realizados estudos de desenho dos fragmentos com decorao plstica,
alm de relevs das pinturas e estudos dos padres estilsticos.
No captulo 3 apresentada uma anlise detalhada do processo de confeco de um pote
cermico, desde a escolha de materiais at o processo de queima, tendo como eixo norteador o
estudo do gestual para compreender aspectos de escolhas tecnolgicas. A teoria de estudo
baseou-se um Mauss (1974), Skibo e Schiffer (2008).
No captulo 4 so apresentados os resultados provenientes da anlise de vestgios qumicos
realizada no Laboratrio de Prospeco Arqueolgica da Universidad Nacional Autnoma de
Mxico, alm de anlise de pasta cermica e pigmento realizadas no Laboratrio de Conservao
do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (MAE-USP), utilizando os
mtodos do Laboratrio de Fsica Nuclear Aplicada do Departamento de Fsica da Universidade
Estadual de Londrina.
Para finalizar, os dados apresentados nos quatro captulos iniciais so retomados,
relacionando-os entre si e construindo concluses lgicas e dedutivas a partir das discusses de
cada um deles.
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JUSTIFICATIVA
A cermica do stio Gramado uma coleo relevante do acervo do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo e que ainda no havia sido estudada. O
grande nmero de fragmentos coletados e a grande diversidade de tipos decorativos demonstram
tratar-se de uma amostra rica para estudos com experimentao. Alm disso, existem poucas
pesquisas sistemticas de experimentao com material cermico no Brasil. Considerando o
exposto acima: a relevncia da coleo, diversidade do material e as poucas pesquisas com
experimentao, decidiu-se testar a seguinte hiptese e alcanar os seguintes objetivos.
HIPTESE
A hiptese de trabalho foi elaborada considerando as afirmaes de dois autores:
Noes de tcnicas corporais esses atos expressos pelo individuo no objeto no somente por
suas escolhas pessoais, mas como reflexo da sua educao, da sociedade da qual ele faz parte, e
do lugar que ele nela ocupa. (Mauss, 1974).
A experimentao como forma de entender os hbitos de uma sociedade a partir de atitudes
corporais impressas na argila, e a fim de apontar o entendimento e as relaes entre a cultura
material, o comportamento humano e o ambiente (Skibo, 1992).
A partir das consideraes acima, foi possvel formular a seguinte hiptese:
O estudo sistemtico do gesto, a partir da experimentao, permite identificar aspectos
comportamentais de uma sociedade.
OBJETIVOS
Objetivos Gerais:
- Analisar cerca de 5.000 fragmentos cermicos coletados no stio Gramado, utilizando a
experimentao como base de trabalho, com o intuito de remontar a cadeia operatria,
desde a escolha de materiais, forma, traos, queima e por fim, a utilidade a que se
destinava o pote.
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- Entender a partir de fragmentos cermicos, atitudes corporais impressas na argila que
revelem hbitos sociais.
- Estabelecer o entendimento e as relaes entre a cultura material e o comportamento
humano.
- Compreender as etapas da cadeia operatria.
Objetivos especficos:
- Estabelecer protocolo de anlise com parmetros objetivos e planilha padronizada de
atributos cermicos.
- Estudar estilos de decorao e tcnicas de construo de um pote.
- Analisar aspectos relacionados secagem e queima da cermica.
- Analisar substncias qumicas das cermicas a pintura e pasta cermica por
fluorescncia de raios-X, bem como anlise de vestgios.
- Remontar as peas, quando possvel.
- Construir rplicas de cermica arqueolgica para atividades de educao em museus.
- Registrar com fotografia o processo de experimentao.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
SUMRIO
CAPTULO 1 Estudo da regio Municpio de Brotas, So Paulo Brasil.
1.1 Regio de Estudo
1.2 Histrico de Brotas
1.3 Cronologias dos estudos sobre stios cermicos no Estado de So Paulo
1.4 Etapas de pesquisa
1.5 Distribuio da cermica no stio Gramado
1.6 Concluso
Figuras
1.1 Localizao do municpio de Brotas no Estado de So Paulo
1.2 Imagem de satlite da regio de Brotas
1.3 Imagem de satlite do stio Gramado
1.4 Rio Jacar Pepira no sculo XX
1.5 Trabalho de escavao I
1.6 Trabalho de escavao II
1.7 Trabalho de escavao III e laboratrio
1.8 Diagrama de distribuio geral dos fragmentos cermicos
1.9 Diagrama de distribuio dos fragmentos cermicos em superfcie
1.10 Stio Gramado em visita de 2009 (1)
1.11 Stio Gramado em visita de 2009 (2)
Tabelas
1.1 Histrico das pesquisas no stio Gramado
1.2 Coordenadas geogrficas
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
1.1 Regio de Estudo
O municpio de Brotas est localizado na Regio Sudeste do Brasil, na rea central do
Estado de So Paulo e a noroeste da capital (Figura 1.1). Atualmente o municpio possui uma
rea de 1.101,39 km e conforme o primeiro resultado do Censo 2010 possui uma populao de
21.580 habitantes (IBGE, 2010).
Figura 1.1 Localizao do municpio de Brotas no Estado de So Paulo.
Na figura 1.2 observa-se a posio relativa da Fazenda Aparecida do Gramado com o Rio
Jacar Pepira e a distncia do centro urbano do municpio.
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10 Marianne Sallum, 2011
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Figura 1.2 Imagem de satlite da regio de Brotas. A stio Gramado; B Rio Jacar Pepira, C rea urbana. Imagem obtida pelo sistema Google Earth (Maplink Tele Atlas, 2010).
Na figura 1.3 observa-se a distncia relativa entre a sede da Fazenda Aparecida do
Gramado e o local exato onde se encontrou material arqueolgico.
Figura 1.3 - Imagem de satlite do stio Gramado. A Fazenda Aparecida do Gramado; B Stio Gramado. Imagem obtida pelo sistema Google Earth (Maplink Tele Atlas, 2010).
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1.2 Histrico de Brotas
O comeo do povoamento de Aracoara (hoje municpio de Brotas) deu-se com a vinda
de Jos Ribeiro da Silva Reis, ao final do sculo XVIII. Reis mudou-se de So Paulo para o
serto, tornando-se proprietrio de sesmarias da regio. Na poca, Brotas era um distrito, fazia
parte de Araraquara e, somente em 1859, se tornaria uma vila. O povoado que se formou s
margens do rio Jacar Pepira (afluente do rio Tiet) era conhecido como Fazenda Velha nome
da antiga propriedade de Reis. Em 1840, seus herdeiros construram uma capela para Nossa
Senhora das Dores de Brotas e vem deste fato hiptese mais provvel sobre a origem da
denominao do municpio (IBGE, 2010). Ao longo da histria Brotas recebeu vrios outros
nomes, como: Brotas de Olho/Brotas dgua, Brotas de broto de capim/mato; Bolota (bolos
caractersticos da regio).
No sculo XIX, viveu um perodo de grande prosperidade econmica graas expanso
do caf e construo de ferrovias, recebendo imigrantes, principalmente italianos, que vieram
em busca de trabalho. Porm, o incio da I Guerra Mundial (1914) causou importante declnio
dos preos do caf e a decadncia das plantaes da regio. Com isso o municpio de Brotas viu-
se obrigado a investir em agropecuria e, por conseqncia, iniciou-se uma sada em massa de
trabalhadores para os grandes centros urbanos (Castro, 2011).
Na figura 1.4 observa-se uma foto do Rio Jacar Pepira nos anos de 1940 do sculo XX.
Figura 1.4. Atividades do clube de natao Santa Cruz no Rio Jacar Pepira, em meados dos anos 40 do
sculo XX (Castro, 2011).
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12 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Atualmente, a economia local baseia-se na plantao de cana de acar e laranja, bem
como em atrativos de ecoturismo e hotelaria.
No que diz respeito vegetao, divide-se entre Mata Atlntica, Cerrado em vrias
fisionomias como cerrades, alm de matas de galerias, que seguem os cursos dgua.
Atualmente, grande parte da vegetao nativa encontra-se substituda pela agropecuria, porm
ainda restam pequenas reas preservadas.
1.3 Cronologias dos estudos sobre stios cermicos no Estado de So Paulo
Os primeiros estudos sistemticos em So Paulo foram realizados por Luciana Pallestrini
na dcada de 60 do sculo XX, cujas primeiras pesquisas foram sobre os stios: Fonseca
(Itapeva), Jango Lus e Barreiro dos Italianos (Angatuba). Destaca-se a incorporao por
Pallestrini da interdisciplinaridade no estudo arqueolgico (Afonso, 2005).
Segundo pesquisas de Maranca et al. (1994), Miller (1972) e Afonso (2005) na Bacia do
Rio Tiet foram encontrados, desde a dcada de 1960, stios cermicos associados tradio
Tupiguarani.
Na dcada de 80 do sculo XX, mais precisamente na regio da Bacia do Rio Mogi
Guau, a Universidade de So Paulo realizou pesquisa em trs momentos distintos. Num deles
foi no stio cermico Franco de Godoy por Pallestrini (197981). J Caldarelli e Neves (1982)
pesquisaram quatro aldeias ceramistas da Bacia do rio Mogi Guau, dentro do Projeto Programa
de Pesquisas Arqueolgicas no vale mdio do Rio Pardo, So Paulo. Enquanto Morais (1985),
com o realizaram pesquisa nos municpios de Mogi Guau, Mogi Mirim e Itapira.
Nos anos de 1998 e 1999, a Universidade de So Paulo executou o projeto Arqueologia
da Paisagem: Cenas do Paranapanema Paulista (da pr-histria ao ciclo do caf), no qual
foram identificados vrios stios, entre eles: Campina e Roque e Branco, conforme artigo de
Morais (1999).
Robrahn-Gonzlez (1996) realizou um trabalho de classificao de stios cermicos no
Estado de So Paulo encontrados at o ano de 1997, dividindo por tradies cermicas. So elas:
- Tradio Tupiguarani: considerada a mais antiga e com vestgios por todo o Estado de
So Paulo. A regio sul do Estado como zona de fronteira entre os grupos Guarani, ao sul e
Tupinamb, ao norte.
- Tradio Itarar: stios na poro sul. O Estado de So Paulo seria o limite setentrional
desta tradio.
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13 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
- Tradio Aratu-Sapuca: stios na regio norte e centro-oeste e nordeste do Brasil.
Afonso (2002) a partir do projeto Resgate Arqueolgico dos Stios gua Branca,
Lambari I e Lambari II, Municpios de Casa Branca e Mococa SP, investigou os stios
cermicos gua Branca e Lambari II, norte do Estado de So Paulo. O resultado da pesquisa
encontra-se no artigo de Afonso & Moraes (2006).
Zanettini (2005) classificou vrios stios cermicos pr-coloniais na cidade de So Paulo:
Perus, Itapevi, Jardim Princesa e Jaragu e urnas funerrias no Brs, Penha, Brooklin e Mooca.
Segundo Afonso (2005) com relao aos stios associados tradio Aratu, destacam-se
as pesquisas de Alves & Cheuiche-Machado; Alves & Calleffo e Fernandes no stio gua Limpa;
Maranca et al. (1994) no stio Maranata; Robrahn-Gonzlez, (1998) no stio gua Vermelha II e
Gomes (2002) no stio Caapava I.
Apesar dos inmeros estudos de stios arqueolgicos de So Paulo, observam-se ainda
lacunas no que diz respeito s reas de interao e zonas de fronteirais culturais dentro do Estado.
1.4 Etapas da pesquisa
As pesquisas no stio Gramado iniciaram em 1994 com uma prospeco arqueolgica na
Fazenda Aparecida do Gramado municpio de Brotas. O material coletado nessa etapa est
acondicionado na reserva tcnica do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So
Paulo. A pesquisa foi dividida por etapas conforme tabela 1.1.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Tabela 1.1 Histrico das pesquisas sobre o stio Gramado.
ETAPAS ATIVIDADES Pesquisador/Equipe
1 campo 1994 Prospeco e coleta de
material arqueolgico.
Equipe do Museu de
Arqueologia e Etnologia
USP.
1
laboratrio
- Ficha de atributos cermicos.
1996 a 1998
Goulart - bolsista de iniciao
cientfica do CNPq, sob a
coordenao da Profa. Dra.
Marisa Coutinho Afonso
(MAE/USP).
2
laboratrio
2006 - anlise de atributos cermicos
com base em planilha elaborada por
Moraes (2007), alm da confeco de
relevs da cermica pintada.
Marianne Sallum e Daniela
Maria Alves (MAE/USP).
2008 Mestrado no Museu de Arqueologia
e Etnologia MAE.
Marianne Sallum sob a
orientao da Profa. Dra.
Marisa Coutinho Afonso
(MAE/USP).
2 campo 2009 Visita ao stio Gramado a fim
de entrevistar os moradores e
verificar a situao do stio.
Marianne Sallum e Prof. Dr.
Gregrio Ceccantini.
Campo 1994
Em 1993, a pedido da Prefeitura Municipal de Brotas, foi realizada uma visita da equipe
do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de So Paulo Fazenda
Aparecida do Gramado. A visita tinha por objetivo constatar a possibilidade da ocorrncia de um
stio arqueolgico, tendo em vista que em 1988, durante a realizao de trabalhos agrcolas, foi
encontrada uma urna cermica com restos esqueletais. A urna foi retirada e depois recolocada no
mesmo lugar pelo proprietrio.
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15 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
A existncia do stio arqueolgico foi confirmada pela equipe do MAE aps vistoria em 26
de novembro de 1993. O trabalho de campo patrocinado pela Prefeitura Municipal de Brotas
aconteceu no perodo de 19 de setembro a 02 de outubro de 1994, quase um ano aps a
confirmao do stio. Neste perodo, houve um acordo com proprietrio para no plantar no local
at a finalizao da pesquisa arqueolgica e a Prefeitura o ressarciu dos prejuzos financeiros.
Em 1994, o trabalho de campo aconteceu sob a coordenao da Profa. Dra. Marisa
Coutinho Afonso e uma equipe do MAE composta por: Prof. Eduardo G. Neves (arquelogo -
MAE), Prof. Levy Figuti (arquelogo MAE), Silvia Cristina M. Piedade (tcnica em
arqueologia), Jos Paulo Jacob (tcnico em arqueologia), Ghislaine Lamounier (gegrafa
MAE), Daniela Magalhes Klokler (aluna MAE), Luciane Kamase (estagiria MAE),
Marcelo Afonso (estagirio MAE), Robson Santiago (estagirio MAE), Tamima Mourad
(estagiria MAE), Severino L. de Pontes (motorista MAE), alm de dois trabalhadores
braais.
A cermica do stio Gramado foi datada por termoluminescncia em 190 20 anos BP
(FATEC, nmero LVD 592).
O projeto desde o seu incio se propunha a estabelecer do ponto de vista cientfico e
educacional - um dilogo constante com a comunidade local. Promovendo o envolvimento de
alunos/estagirios do municpio em vrias etapas do processo de pesquisa. Foram organizadas
aulas pela coordenadora cultural da prefeitura, diretora e professores que foram ministrados pela
Profa. Dra. Marisa Coutinho Afonso (MAE). O pblico alvo era de alunos de 1 e 2 graus de
vrias escolas da regio, tendo a complementao de visitas monitoradas ao stio arqueolgico.
As atividades ocorreram de 23 a 27 de outubro de 1995. Alm disso, outras aulas/palestras foram
realizadas para a comunidade em geral, com o intuito de tornar pblicos os achados
arqueolgicos e mostrar a importncia do patrimnio cultural do municpio. Ressalta-se, tambm
que houve a divulgao dada pela mdia local TV Globo e o jornal Notcias do Interior.
rea de atividade
Para o trabalho de prospeco arqueolgica, estabeleceram-se alguns critrios para coleta
de material, uma vez que se evidenciou muita cermica em superfcie e conhecia-se o local exato
onde foi encontrada uma urna funerria (informao oral). Estabeleceram-se sete pontos de
sondagem perto da urna, com a finalidade de conhecer a profundidade da camada arqueolgica e
a delimitao do stio em sub-superfcie. A sondagem atingiu uma profundidade de 80 cm,
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16 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
evidenciando muita cermica arqueolgica. Foram delimitadas reas de coleta superficial
sistemtica, divididas por quadras de A - U e numerao de 1 - 22, sem precisar o local exato de
cada fragmento dentro da quadra. Estabeleceu-se, tambm, uma rea somente para coleta seletiva
de bordas e cermica com decorao. Dessa investigao no havia informaes disponveis
sobre georeferenciamento.
Nas figuras 1.5, 1.6 e 1.7 temos diversas etapas do trabalho de prospeco, escavao e
laboratrio realizados no ano de 1994.
Figura 1.5 Trabalho de escavao I. A D Diviso por quadras.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 1.6 Trabalho de escavao II. A Daniele Klokler e Paulo Jacob; B Perfil onde foi encontrada a urna; C Poo-teste Paulo Jacob.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 1.7 Trabalho de escavao III e laboratrio. A Vista geral do stio; B Coleta de superfcie; C - Mancha preta sondagem A-12; D Trabalho de laboratrio com Mnica Goulart bolsista de iniciao. .
1.5 Distribuio da cermica no stio Gramado
O material coletado durante o trabalho de prospeco consiste em 5038 fragmentos
cermicos, poucos fragmentos lticos lascados, alguns fragmentos sseos de mamferos,
fragmentos sseos humanos e uma urna funerria fragmentada.
Nas figuras 1.8 e 1.9 observam-se a distribuio dos fragmentos cermicos pelas quadras
do Stio Gramado.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 1.8 . Diagrama de densidade de distribuio geral dos fragmentos cermicos, com interpolao de valores. Os valores indicam nmero de fragmentos e cores indicam intervalos de quantidades.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U.
1 2 3 7 9 3 0 4 9 14 5 7 10 10 5 10 3 7 3 0 0 1 1
2 0 0 0 0 4 1 3 2 2 5 11 12 17 2 2 3 11 6 3 3 5 2
3 4 1 3 5 3 0 3 2 5 3 20 7 5 6 5 3 3 8 3 4 2 3
4 7 1 4 3 0 1 0 1 5 1 8 8 3 5 4 0 2 3 3 0 3 4
5 49 25 4 3 0 2 0 0 5 3 11 10 21 8 0 0 3 1 3 0 3 5
6 63 127 25 10 0 0 1 1 1 2 0 4 4 4 0 0 3 6 2 0 0 6
7 20 87 8 3 0 0 3 3 3 0 4 0 0 2 11 0 0 0 1 0 1 7
8 17 22 17 5 0 2 3 1 1 5 0 0 0 2 2 0 0 0 0 0 1 8
9 8 20 16 10 3 0 4 1 3 1 8 0 0 2 0 0 0 0 1 2 6 9
10 21 14 11 9 0 0 1 1 4 3 0 0 5 0 0 0 0 3 0 0 4 10
11 81 209 36 8 2 2 3 4 4 6 2 0 1 3 0 0 0 1 1 3 1 11
12 102 123 42 3 1 0 0 1 2 1 0 7 0 2 0 0 0 1 0 2 0 12
13 4 1 1 6 1 0 3 3 0 1 1 0 0 2 2 3 0 2 0 1 0 13
14 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 14
15 6 0 14 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 15
16 4 3 2 1 0 14 4 6 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 16
17 1 1 2 1 0 14 1 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 17
18 2 2 2 4 0 4 0 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 18
19 0 0 2 4 1 5 2 3 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 19
20 1 3 6 9 10 6 0 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20
21 12 3 2 13 5 10 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 21
22 6 2 5 2 5 2 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 22
A B C D E F G H I J K L M N. O P Q R S T U
A A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U
1
1
2
2
3
3
4
4
5
5
6 12 63
6
7 57
7
8
8
9
9
10
10
11 161 299
11
12 24
12
13
13
14
14
15
15
16
16
17
17
18
18
19
19
20
20
21
21
22
22
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U
B
0 2-5 11-20 51-100
1 6-10 20-50 >100
Figura 1.9 A e B . Diagrama de densidade de distribuio geral dos fragmentos cermicos. A Profundidade de 0 cm (superfcie), B - Profundidade de 10 a 80 cm.
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21 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Na figura 1.9 A observa-se uma concentrao de material cermico em superfcie nas
reas onde posteriormente foram realizadas sondagens prximas ao local da urna funerria
quadras: 4 A, 5 A e B, 6 A-D, 7 A-C, 8 A-C, 9 A-D, 10 A-D, 11 A-D e 12 A-C. Nas outras
quadras observa-se pouca presena de material de superfcie, exceto por duas reas isoladas de
concentrao, especificamente nas quadras: 1 H-Q, 2 K-R, 3 K-N, 4 K-L e 5 K-N; 20 C-F, 21 A-
F e 22 A. No entanto, a figura 1.9 B mostra que o local onde encontrou-se maior quantidade de
material em superfcie, tambm apresentou grande quantidade em profundidade.
Campo - 2009
Foi realizada uma expedio de reconhecimento, entre os dias 20 e 23 de novembro com
o objetivo de determinar as coordenadas geogrficas do stio e de seu entorno com o uso do
sistema de localizao global (GPS) e verificar a situao atual do stio. O stio Gramado foi
localizado e as coordenadas obtidas esto na tabela 1.2.
Tabela 1.2 Coordenadas geogrficas- (Datum: WGS 84)
Local Latitude Longitude Altitude (m)
Stio Gramado - eucalipto -22 12 46.3 -48 12 46.7 552
Stio Gramado rvore abaixo -22 12 46,05 -48 12 45.6 550
Argila 1 -22 12 35.9 -48 12 47.3
Argila 2 -22 12 35.8 -48 12 47.3 508
Argila 3 -22 12 46.3 -48 12 46.7
Local onde se encontrou ncleo
com retiradas rio Jacar Pepira
-22 15 56.36 -48 13 43.09
O incio da visita consistiu em encontrar o local exato da fazenda seguindo indicaes da
equipe que participou do trabalho em 1994. Chegando zona rural de Brotas, os moradores de
outras fazendas indicaram como chegar fazenda, pois conheciam a histria de um ndio
encontrado dentro de um vaso anos atrs.
O Sr. Mrio Gastaldi (proprietrio da fazenda) havia falecido e a esposa e filhos cuidavam
da fazenda naquele momento. Realizou-se uma entrevista com a Dona Marina Gastalti (viva do
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22 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
proprietrio) (figura 1.7). Da entrevista, destaca-se o relato de como encontraram a urna funerria
e o que fizeram com ela depois. Segundo relator, durante o trabalho de arado do solo, o
maquinrio agrcola trouxe superfcie parte da urna. A famlia retirou o objeto j com
rachaduras e levou para dentro de casa como decorao. Alguns dentes foram levados por amigos
e vizinhos que utilizaram como colares (adornos). Porm, sob o pretexto de trazer mau agouro, a
famlia Gastaldi decidiu enterrar novamente o objeto, levando em conta o lugar onde foi
encontrado inicialmente.
Verificou-se que a zona onde ocorreu em 1994 o trabalho de escavao e sondagem
encontrava-se uma plantao de cana de acar e muita cermica na superfcie. Como a cana era
jovem, o solo estava exposto e foi possvel observar distncia a exposio de muitos
fragmentos e reconhecer a cermica, como tipos de borda, espessura, pintura, engobo e
decorao plstica. A cermica encontrada na superfcie era bem parecida com a cermica
analisada em laboratrio, como resultado da primeira coleta.
Dentro da fazenda encontrou-se uma rea que poderia ter sido utilizada como fonte de
argila (Figura 1.8 A). O local consiste em uma grota com talude de cerca de 4m de altura, com
vertente orientada de SE para NO, com afloramento de camadas inferiores de solo e mina d gua.
De jusante nasce um regato, que alaga parcialmente um baixio, onde se localiza argila mida na
base dos taludes. A argila encontrada de colorao escura, muito plstica e sem gros de areia.
Foram coletadas trs amostras de barro, porm no foi realizada anlise para entender se havia
relao com a cermica do stio arqueolgico (figura 1.8 B).
Para compreender a rea indireta do stio Gramado, realizou-se um percurso de barco pelo
rio Jacar Pepira, com o intuito inicial de coletar alguns seixos a serem utilizados no alisamento e
acabamento da argila durante a atividade de experimentao. Percebeu-se que a distncia entre o
Rio Jacar Pepira e a Fazenda Aparecida do Gramado era de apenas cinco quilmetros, alm
disso, na base da colina perto da fazenda encontra-se um afluente do rio Jacar-Pepira. Pode-se,
com isso, deduzir que talvez existisse uma relao entre os dois lugares. Durante o percurso de
barco aconteceu uma parada em uma pequena ilha do rio onde se encontrou um ncleo ltico com
marcas de percusso (figura 1.8 C).
Nas figuras 1.10 e 1.11 observam-se imagens do stio Gramado em visita realizada em
2009.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 1.10 stio Gramado em visita de 2009 (1) A Filha de Dona Marina Gastaldi mostrando a rea do stio; B Cermica na superfcie. C Moradores da fazenda.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 1.11 stio Gramado em visita de 2009 (2) A Local da possvel fonte de barro; B Barro; C
Ltico encontrado no rio Jacar Pepira; D stio Gamado.
1.6 Concluso:
A partir da apresentao dos diagramas de distribuio de material cermico no stio
Gramado, observou-se que apesar de perodo curto de prospeco e coleta de material (15 dias),
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25 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
encontrou-se grande quantidade de cermica arqueolgica em superfcie e em profundidade de
at 80 cm, alm de mostrar a presena de duas outras reas de concentrao de material (figura
1.9 A). Ficou claro que o stio Gramado tem um grande potencial para novas escavaes e
evidencia a importncia de realizar pesquisas sistemticas na regio, fato confirmado pela visita
realizada em 2009, no qual se constatou, depois de 15 anos da primeira etapa de campo, a
presena de muito material arqueolgico em superfcie.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
SUMRIO
Captulo 2 A metodologia de anlise de atributos cermicos e a cermica do stio
Gramado
2.1 Introduo
2.2 O stio Gramado
2.3 Material e Mtodos
2.4 Resultados e discusso
2.5 Concluso
Figuras
2.1 Mapa do Estado de So Paulo e localizao do stio Gramado
2.2 Estudos de decorao plstica
2.3 Estudos de pintura
2.4 Classificao de queima
2.5 Tipos de base
2.6 Proporo entre classe e espessura
2.7 Decorao plstica I
2.8 Decorao plstica II
2.9 Decorao plstica III
2.10 Decorao plstica IV
2.11 Propores entre decorao plstica e espessura
2.12 Cermica do stio Gramado I
2.13 Cermica com decorao pintada
2.14 Bordas com pintura
2.15 Padres estilsticos da cermica do stio Gramado
2.16 Proporo entre decorao pintada e espessura
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28 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Tabelas
2.1 Atributos cermicos
2.2 Decorao plstica
2.3 Padres de pintura
2.4 Nmeros de peas por tipo: parede, borda e base
2.5 Distribuio entre classe e espessura
2.6 Distribuio de decorao plstica
2.7 Distribuio entre decorao plstica e espessura
2.8 Distribuio de decorao pintada
2.9 Distribuio entre decorao pintada e espessura
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29 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Desde cedo os indivduos se habituam a ver e a desenhar padres
convencionais, a produzir artefatos peculiares a cada tribo,
familiarizando-se com essas imagens que passam a ser a forma de
exprimirem seu modo de ser, sua personalidade cultural. (Ribeiro, B.
G.: 1989, Arte Indgena Linguagem Visual)
2.1 Introduo
No decorrer da histria, a confeco da cermica atendeu a uma necessidade basicamente
utilitria, seja no preparo de alimentos ou mesmo em seu armazenamento, posteriormente foram-
lhe imbudas funes ritualsticas e decorativas. Ao observar como cada sociedade constri seus
objetos, percebe-se que cada uma tem sua personalidade cultural, visvel nos elementos
construtivos e decorativos de um pote, ou seja, quando se identifica uma tcnica, encontra-se
indissocivel estilo tnico. (Balfet, 1991).
Assim, por meio da construo manual de uma pea cermica, encontram-se idias e
formas de organizaes sociais, nos quais o entendimento requer um profundo conhecimento da
cosmologia e de outros aspectos da cultura (Ribeiro, 1989).
As caractersticas de uma sociedade so percebidas atravs de costumes e condutas
marcadas no indivduo desde a sua infncia. Segundo Mauss (1974) Adestram-se as crianas...
a dominar reflexos... inibem-se medos... selecionam-se pausas e movimentos. Para o autor,
nenhum movimento ftil ou suprfluo, pois so nas sutilezas dos gestos que se encontram
comportamentos sociais profundos.
Para Boas (1955), o processo de criao de um objeto exige o domnio de sua matria
prima e principalmente a aceitao dele pelo grupo.
No Brasil, os estudos tecnolgicos da cermica, tiveram inicio na dcada de 60 do sculo
XX, com os arquelogos do Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas (PRONAPA) e com
os trabalhos de com o trabalho de Meggers e Evans (1970), que influenciados pela corrente
norte-americana, formularam o conceito de tradio para os achados arqueolgicos daquele
momento.
Com relao s tradies, destaca-se a classificao realizada por Robrahn-Gonzlez
(1996) para o estado de So Paulo: tradio Tupiguarani com vestgios por todo o Estado;
tradio Itarar na poro sul e tradio Aratu-Sapuca no norte, centro-oeste e nordeste. Bem
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
como, os trabalhos de mestrado e doutorado de Scatamacchia (1981, 1984), no qual a autora
apresenta snteses, tanto dos dados arqueolgicos e etno-histricos, como bibliogrficos para as
classificaes terminolgicas de material cermico.
Com as pesquisas desenvolvidas pelo PRONAPA, definiram-se caractersticas comuns
observadas nas cermicas consideradas de tradio Tupiguarani, como: cermicas pintadas com
traos vermelhos ou pretos sobre fundo branco, bem como decoraes unguladas e corrugadas
(Prous, 2007).
Brochado (1981) formulou tese sobre a existncia de um padro cultural entre os Guarani
e Tupinamb, criando uma metodologia de anlise cermica baseada em aspectos morfolgicos
(Noelli, 2008). Para ele, a cermica Tupiguarani possua um Estilo Geomtrico Grfico
caracterizado, principalmente, pela singularidade de sua pintura: decorao policromatica e cores
fortes. Em algumas peas encontrava-se somente engobo vermelho nas paredes como forma de
acabamento (figura 2.12).
Quanto confeco da cermica Tupiguarani e suas possveis utilizaes, Prous (2006)
afirmou que essa cermica esteve desde o perodo pr-histrico associada atividade
basicamente feminina. Apesar de existirem poucas anlises sobre a utilizao das cermicas em
unidades habitacionais, sabe-se que cada famlia possua poucos recipientes, entre eles, grandes
vasilhas de quase 1m de dimetro que eram utilizadas para guardar gua ou cauim (bebida feita
por mulheres com mandioca ou milho mastigado). Esses recipientes, muitas vezes, eram
reutilizados posteriormente em sepultamento de adultos. Entre os Guarani, as vasilhas grandes
recebiam o nome de cambuchi e, entre os Tupi, igaaba. Recipientes mdios para cozinhar e
pequenos (20 a 30 cm de dimetro) para servir a comida e bebida tambm eram encontrados.
2.2 Stio Gramado
O stio encontra-se na Fazenda Aparecida do Gramado, municpio de Brotas, Regio
central do Estado de So Paulo (Figura 2.1). Em 1994, aps trabalho de prospeco na fazenda,
foram coletados cerca de 5.000 fragmentos cermicos, que atualmente esto acondicionados na
reserva tcnica do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo. O stio
Gramado, devido s caractersticas estilsticas de sua cermica, associa-se a tradio Tupiguarani.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 2.1 - Mapa do Estado de So Paulo e localizao do stio Gramado no municpio de Brotas
No Estado de So Paulo destacam-se trabalhos importantes para compreender a ocupao
humana na regio. So alguns deles: as pesquisas em Monte-Mor e Campinas (Aytai 1991); no
nordeste do Estado (Caldarelli 1983, Morais 2007); no Vale do Paranapanema (Pallestrini 1979-
81; Morais 1999; Arajo 2001); no Alto Taquari (Arajo 1995).
Apesar das vrias pesquisas realizadas, ainda existe uma lacuna de estudos de stios
arqueolgicos na regio central do Estado. Considerando esse aspecto e a disponibilidade de
grande volume e aparente diversidade de material cermico do stio Gramado, o objetivo desse
captulo apresentar e discutir o mtodo de anlise de atributos, bem como identificar quais os
tipos mais freqentes de decorao e sua relao com tratamento de superfcie e espessura.
2.3 Material e Mtodos
O material examinado consiste em 4.332 fragmentos cermicos do stio Gramado, regio
do Vale mdio do Rio Tiet, So Paulo.
Para anlise das caractersticas cermicas utilizou-se uma planilha de atributos cermicos
criada por Moraes (2007) adequando-a conforme as peculiaridades da cermica do stio
Gramado. A planilha enfatizou os tipos de decorao plstica. Alm disso, analisaram-se as
decoraes pintadas, espessura de fragmento, queima e tratamento de superfcie (tabela 2.1).
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Tabela 2.1 Atributos cermicos selecionados, suas categorias ou estados de carter.
Unidade Nve Classe
Espessura
em mm
Tipo de decorao
Plstica
S1.sondagem1
S123.sondagem1,2,3
S3.sondagem3
S4.sondagem4
S5.sondagem5
S6.sondagem6
S7.sondagem7
Q.sondagem Q
CSB.coleta seletiva de
bordas
CSBP. Coleta seletiva de
bordas pintadas
CS - Coleta seletiva
D1 - 0 a 10 cm
D2 - 10 a 20 cm
D3 - 20 a 30 cm
D4 - 30 a 40 cm
D5 - 40 a 50 cm
D6 - 50 a 60 cm
D7 - 60 a 70 cm
D8 - 70 a 80 cm
MP - material peneirado
CAN - rea de canavial
S/E - sem etiqueta
P - parede
B borda
BS base
BC borda carenada
O ombro
BO bolota
BP borda e parede
SL sem leitura
A 4 a 8.99
B -9 a 14.99
C 15 a 20.99
D 21 a 26.99
E 27 a 32
I, II, III, IV, V, VI, VII,
VIII, IX, X, XI, XII,
XIII, XIV, XV, XVI,
XVII e XVIII.
Classificao: de La
Salvia
& Brochado (1989).
Tabela 2.2
Decorao pintada Queima Tipo de base Tcnica Trat. de superfcie
0 ausncia
1 - presena
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, e 8.
Classificao de Rye (1981).
Figura 2.4
CV convexa
CO cncava
PL plana
PE pedestal
Classificao de Chmyz
(1976). Figura 2.5
A acordelado
M modelado
AM acordelada
e modelada
T torneada
Classificao: La
Salvia & Brochado
(1989).
AB - alisado bom
ARE - alisado regular
ARU - alisado ruim
BA barbotina
BR - brunidura
Decorao plstica:
Para entender a decorao plstica utilizou-se a classificao modificada de La Salvia &
Brochado (1989) (tabela 2.2), bem como desenhos com grafite de tipos decorativos.
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33 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Tabela 2.2 Decorao plstica modificada de La Salvia e Brochado (1989).
Tipo de decorao Descrio I Corrugado Clssico Dobras produzidas pela lateral do dedo para juno dos roletes. II Corrugado perpendicular Dobras escalonadas no sentido longitudinal. III Corrugado oblquo Dobras cuja terminao forma uma linha contnua e oblqua a borda. IV Corrugado assimtrico Juno dos roletes no possui simetria V - Corrugado ungulado Corrugado com a presena da decorao ungulada.
VI Corrugado grosseiro As dobras so feitas desordenadamente, sem ritmo e sobrepostas. VII Digito-ungulado clssico Polpa do dedo armado com a unha perpendicularmente a superfcie da parede. VIII Ungulado clssico Presso na superfcie de objeto que forma ungulaes (unha, madeira e etc). IX Ungulado oblquo Ungulaes dispostas de forma alternada formando, na seqncia, uma linha oblqua em
relao borda da vasilha. X Ungulado secante Quando as ungulaes dispostas transversalmente borda da vasilha se cruzam em seu ponto
terminal. XI Ungulado arrastado O arteso ao produzir a ungulao arrasta uma parte da argila aumentando a expresso
decorativa e aumentando a argila no sentido contrrio XII Ungulado tangente Quando as ungulaes dispostas perpendicularmente tocam-se em seus pontos terminais. XIII Roletado plano Quando os roletes, aps sua aplicao, so aplanados na superfcie dando a impresso de um
acordelamento por placas e no roletes. XIV Ungulado em linha
simtrica perpendicular
Ungulaes perpendiculares, interligadas em linhas simtricas, tambm perpendiculares,
formando conjuntos intercalados com espaos lisos.
XV - Ungulado assimtrico Ungulaes perpendiculares sem simetria.
XVI Corrugado simples A juno dos roletes fica marcada por ondas simtricas no sentido longitudinal e
individualizada no perfil transversal.
XVII Nodulado aplicado Aplicao de ndulos de argila preparados e colados superfcie da vasilha.
XVIII Ponteado clssico Utilizao de instrumento que deixa como marca um ponto.
XIV Corrugado-espatulado Corrugado utilizando instrumento com forma de esptula.
De forma a documentar as formas e padres realizaram-se uma srie de desenhos de
estudo com lpis das decoraes plsticas do stio Gramado que serviram para identificar
detalhes da confeco das peas (figura 2.2).
A
B
C
D
E
F
Figura 2.2 - Estudos de decorao plstica. A- corrugado clssico; B corrugado perpendicular; C corrugado-ungulado; D corrugado oblquo, E corrugado-ungulado e F corrugado na parede e ungulado na borda.
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34 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Decorao pintada
A pintura consiste na tcnica de aplicar pigmentos minerais ou vegetais no corpo da pea
cermica, podendo ser na forma de engobo (antes da queima) ou no. Engobo uma camada de
argila com pigmentao diferente da pasta base (adio de carvo, minerais coloridos como:
filito, caulinita e mica) aplicada superfcie da parede da pea antes de queimada.
Com relao cermica do stio Gramado, foram encontrados poucos fragmentos com
tamanho suficiente que puderam ser classificados por tipos de pintura, por isso optou-se por
definir (0) ausncia e (1) presena. Para os fragmentos em que a pintura estava mais bem
conservada realizaram-se desenhos e relevs para entender alguns padres decorativos de pintura,
como definido pela tabela 2.3.
Tabela 2.3 - Padres de pintura. Modificada de La Salvia & Brochado (1989).
Local da pintura Tipos de linha Orientao da linha Espessura da faixa
Lbio Retas Transversal Fina 5 a 9,9 mm
Borda Curvas Longitudinal Estreita 10 a 29,9 mm
Inflexes Tracejados Oblqua Mdia 30 a 49,9 mm
Parede Retas e curvas Sinuosa Larga > 50 mm
Na figura 2.3 so apresentadas imagens dos estudos de desenho. Para realizao da cpia
foram utilizados, fotografia do fragmento, papel transparente (vegetal), grafite 0.7mm, tinta
aquarela e giz pastel oleoso.
Queima
Para interpretao da qualidade da queima utilizou-se a classificao de Rye (1981), conforme
figura 2.4, modificada de Moraes (2007).
-
35 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
A B
C D
Figura 2.3 - Estudos de pintura. A e B Contorno com grafite das reas com linha preta; C e D Pintura das faixas vermelhas com giz pastel.
Figura 2.4 Classificao de queima. 1 Sem ncleo definido com cor do laranja tijolo ao amarelo, 2 Sem ncleo definido com cor uniforme do cinza claro ao pardo, 3 Presena de ncleo escuro e camadas claras nas extremidades, 4 Sem ncleo com cor do cinza ao preto, 5 Camada clara na parte externa e escura na parte interna, 6 Camada escura na parte externa e clara na parte interna, 7 Ncleo central espesso e camadas oxidadas finas e 8 Sees reduzidas e oxidadas de modo alternado. Rye (1981), desenho modificado de Moraes (2007).
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36 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Tipo de base
Para interpretao do tipo de base, foi utilizada a classificao de Chmyz (1976) (figura
2.5).
1 2 3 4
1. Convexa 2. Cncava 3. Plana 4. Pedestal
Figura 2.5 - Tipos de Base. Desenho original baseado na tipologia de Chmyz (1976).
Tcnica
As tcnicas de construo da pea foram classificadas em: acordelada superposio de
roletes de argila; modelada construo de formas a partir de uma massa de argila; moldada
utilizao de um molde para construo de uma pea e torneada uso de aparato composto por
uma base redonda, muitas vezes de madeira ou rocha, no qual o ceramista gira a pea para sua
confeco. (La Salvia & Brochado, 1989).
Engobo
Caracteriza-se pela argila decantada que se aplica na superfcie da cermica crua. Para os
ceramistas atuais, toda a pintura realizada antes da queima definida como engobo. A escolha do
barro para o engobo de grande importncia, uma vez que a plasticidade deve ser idntico ao da
pasta cermica, caso contrrio se desprender ou se escamar ao secar-se (Mattison, 2004).
Essa posio diferente de alguns dos trabalhos arqueolgicos, para quem o engobo e a
pintura so elementos decorativos diferentes, mesmo que os dois tenham sido realizados antes da
queima.
Por isso, faz-se necessrio uma clara distino e esclarecimento de qual posio foi
adotada neste trabalho. Assim foram considerados como engobo toda a pintura realizada antes da
queima (Mattison, 2004).
2.4 Resultados e Discusso
A partir da anlise de atributos cermicos e de estudos de desenho e pintura foi possvel
inferir sobre aspectos da cermica decorada do stio Gramado.
Com relao quantidade de fragmentos de cada classe, analisou-se um total de 4.332
peas de cermica, porm como parte da prospeco consistiu em coleta seletiva de bordas, no
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37 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
foi possvel estabelecer uma anlise matemtica entre freqncia de tipos (borda ou no) e
nmero de fragmentos, de forma a estimar o nmero total de vasilhames originais.
Na tabela 2.4 so apresentadas as propores de peas entre paredes (P), bordas (B) e
bases (BS). Observa-se que apesar da coleta seletiva de bordas e cermicas decoradas, as
maiorias dos fragmentos so constitudas de parede. Ressalta-se, tambm, a existncia de apenas
seis fragmentos de base, enquanto bordas constituem 9,4%.
Tabela 2.4 Nmero de peas por tipo: parede, borda e base
Parte do fragmento Quantidade %
B - borda 409 9,4
BS - Base 6 0,01
P - Parede 3917 90,4
Total 4332 100
Na figura 2.6 temos a proporo de classe (borda, parede e base) e suas respectivas
espessuras. Verifica-se que o maior nmero de ocorrncias, tanto de parede, como de base,
encontram-se com espessura entre 9 a 14.99 mm. Vale ressaltar que os fragmentos de parede
possuem espessuras significativas tambm entre 4 a 8.99 mm e 15 a 20.99 mm.
Figura 2.6 Proporo entre classe e espessura. A - 4 a 8.99 mm, B - 9 a 14.99 mm, C - 15 a 20.99 mm, D - 21 a 26.99 mm, E - 27 a 32 mm e SL sem leitura.
Esp
ess
ura
0,00
1,00
B BS P P/B
Classe
A
B
C
DESL
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38 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Tabela 2.5 Distribuio entre classe e espessura
Classe A- 4 a 8.99mm
B - 9 a
14.99mm
C - 15 a
20.99mm
D - 21 a
26.99mm
E - 27 a
32 mm
SL (sem
leitura)
Total
B - borda 10 27 11 1 0 2 51
BS - base 0 1 6 0 1 0 8
P - parede 286 493 212 21 1 2 1015
P/B parede e borda
0 0
1
0
0
0
1
Total de
fragmentos
296 521 230 22 2 4 1075
A tabela 2.5 aponta a distribuio de espessura por tipo de pea.
Com relao proporo entre o nmero geral de fragmentos e quantidade de ocorrncias
com decorao plstica verifica-se que apenas 16,5 % possuam esse tipo decorativo (tabela 2.6).
Tabela 2.6 Distribuio de decorao plstica
Decorao plstica Quantidade %
0 3618 83,4
1 714 16,5
Total 4332 100
Segundo Prous (2006), existem caractersticas comuns no que diz respeito aos tipos de
decorao da cermica Tupiguarani. Comumente encontra-se a decorao ungulada em
recipientes pequenos, respeitando padres de movimentos geomtricos.
Na figura 2.7 observa-se uma amostra da decorao ungulada do stio Gramado e,
concordando com Prous (2006), a maioria dos fragmentos de potes pequenos. Alm disso,
tambm se observa a variedade desse tipo decorativo, algumas decoraes esto somente na
borda (figura 2.7 D e G), enquanto outras se apresentam em todo o fragmento (figura 2.7 A,
B, C, E e F). possvel perceber a simetria das ungulaes em quase todos os fragmentos, exceto
na figura 2.7 E, onde a decorao apresenta-se de forma desordenada, tanto no corpo, como na
borda.
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39 Marianne Sallum, 2011
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Figura 2.7 Decorao plstica I. A Ungulado em linha simtrica perpendicular, B Ungulado secante, C Ungulado secante, D Ungulado tradicional, E Ungulado assimtrico, F Ungulado secante e G Ungulado tradicional. Classificao de La Salvia & Brochado (1989).
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40 Marianne Sallum, 2011
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Figura 2.8 Decorao plstica II. A Serrungulado; B Roletado clssico com marcas de corrugado; C Ungulado perpendicular; D Ponteado e E Ungulado associado ao roletado. Classificao de La Salvia & Brochado (1989).
O corrugado do stio Gramado, tambm apresentou muitas variantes, como se v na figura
2.9. Observou-se a presena de corrugado clssico e perpendicular (figura 2.9 A, C e D), alm
da presena de decorao corrugada-ungulada (figura 2.10). Com relao s excees, verificou-
se a presena de um fragmento serrungulado (figura 2.8 A) e outro nodulado aplicado (figura
2.9 E).
Segundo Prous (2007), as panelas Tupiguarani recebiam a decorao corrugada, enquanto
as igaabas poderiam apresentar decorao corrugada ou pintada, porm com motivos pouco
elaborados.
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
A B
C D
E F
A B C
D E F
G H I
Figura 2.9 Decorao plstica III. A Corrugado clssico, B Corrugado assimtrico, C Corrugado perpendicular, D Corrugado grosseiro, E Nodulado aplicado, F Corrugado perpendicular, G Corrugado assimtrico, H Corrugado perpendicular e I Corrugado oblquo. Classificao de La Salvia & Brochado (1989).
Na figura 2.10 so apresentados exemplos de cermica com decorao corrugada-
ungulada encontradas no stio Gramado. Verifica-se que o fragmento A da mesma figura possui
decorao corrugada-espatulada (Moraes, 2007).
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42 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 2.10 Decorao plstica IV. A Ungulaes entre o corrugado espatulado, B Ungulaes em cima do corrugado clssico, C Ungulaes na parte superior do fragmento com corrugado perpendicular e D Ungulaes sobre o corrugado oblquo. La Salvia & Brochado (1989).
Na figura 2.11 observa-se que a maioria dos fragmentos com decorao plstica
analisados (141) possuam espessura entre 9 e 14.99 mm, enquanto apenas um (1) fragmento
apresentou espessura entre 27 e 33 mm. Esses resultados aparecem de forma mais detalhada na
tabela 2.7.
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43 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Figura 2.11 Proporo entre decorao plstica (DPL) e espessura. Vermelho (0) sem decorao plstica; verde (1) com decorao plstica. A - 4 a 8.99 mm, B - 9 a 14.99 mm, C - 15 a 20.99 mm, D - 21 a 26.99 mm, E - 27 a 32 mm e SL sem leitura.
Tabela 2.7 Distribuio entre decorao plstica e espessura
Espessura Sem decorao
plstica
Com decorao plstica Total
A - 4 a 8.99mm 279 16 295
B - 9 a 14.99mm 380 141 521
C - 15 a 20.99mm 177 52 229
D - 21 a 26.99mm 20 2 22
E - 27 a 32 mm 2 0 2 SL (sem leitura) 3 1 4
Total de
fragmentos
861 212 1073
Com relao s cermicas com decorao pintada do stio Gramado, so apresentadas na
tabela 2.8 as propores de peas com decorao pintada e sem essa decorao. Verificou-se que
do nmero total de fragmentos, apenas 277 possuam pintura.
Tabela 2.8 Distribuio de decorao pintada
Decorao pintada Quantidade %
0 4055 93,6
1 277 6,4
Total 4332 100
DP
L
0,00
1,00
A B C D E
SL
Espessura
0
1
-
44 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Segundo Prous (2007), as grandes vasilhas Tupiguarani possuem quase sempre, alm de
reforo na borda e fundo redondo, pintura com decorao linear de cor escura, aplicada sobre um
fundo branco.
As linhas pintadas da cermica Tupiguarani apresentam-se, na maioria das vezes, com
linhas duplas e paralelas ou interconectadas com linhas transversais mais curtas (figura 2.14)
(Brochado 1981; Prous 1992). Quanto s cermicas com decorao exclusivamente pintada,
observa-se que a borda costuma apresentar-se reforada do lado de fora e presena de uma base
plana decorada linhas pretas verticais ou obliquas compondo tringulos.
Na figura 2.12 observa-se um exemplo de fragmento de cermica do stio Gramado com
presena de engobo vermelho na face externa.
Figura 2.12 Cermica do stio Gramado (1).
Durante anlise de laboratrio foi possvel remontar seis fragmentos de cermica pintada
e observou-se com clareza uma extenso maior dos elementos decorativos na face interna: faixa
vermelha prxima borda, desenho em preto com linhas curvilneas (formando crculos e figuras
circulares) sobre fundo branco (figura 2.13).
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A
B
Nmero: GR 3683, 4036, 4039, 4063, 4097 e 4090.
Classe: parede e parte da borda. - Local da pintura: parede e borda.
Tipo de linha: retas e curvas. - Orientao da linha: longitudinal.
Espessura da faixa: estreita. Obs.: Apresenta quebra no rolete onde iniciaria a borda.
Figura 2.13 Cermica com decorao pintada. A Cermica pintada, B Desenho da cermica tcnica mixta: grafite, aquarela e pastel oleoso. Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da
USP. Foto: Marianne Sallum. Desenho: Marianne Sallum.
Na figura 2.14 temos uma amostra de bordas com decorao pintada. Todos os
fragmentos apresentam as mesmas caractersticas estilsticas: pintura branca no fundo, faixas
vermelhas e linhas pretas (algumas retas e outras oblquas). Segundo Brochado (1981), a
presena de faixas vermelhas serve como elemento delimitador ou de acabamento, porm nunca
como formador do motivo.
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46 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Foto Desenho Descrio de atributos
A
Local da pintura: parede e
borda e lbio.
Tipos de linha: retas.
Orientao da linha:
transversal e oblqua.
Espessura da faixa: fina.
B
Local da pintura: borda.
Tipos de linha: retas.
Orientao da linha:
transversal.
Espessura da faixa: estreita.
C
Local da pintura: borda.
Tipos de linha: retas e
obliquas.
Orientao da linha:
transversal com relao
parede.
D
Local da pintura: borda.
Tipos de linha: retas.
Orientao da linha:
transversal.
Espessura da faixa: sem
leitura.
E
Local da pintura: borda.
Tipos de linha: retas.
Orientao da linha:
transversal.
Espessura da faixa: estreita.
Figura 2.14 Bordas com pintura. Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Foto: Marianne Sallum. Desenho: Marianne Sallum.
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Na figura 2.15 observa-se o desenho de alguns padres estilsticos encontrados na
cermica do stio Gramado. A maioria dos padres consiste em linhas retas e faixas vermelhas
delimitando as linhas, exceto a figura 2.15 F e G.
Figura 2.15 Padres estilsticos da cermica do stio Gramado. A e C Linhas pretas e retas, faixa vermelha; B Linhas pretas retas e oblquas, faixas vermelhas; D Faixa vermelha; E Linhas pretas retas e oblquas; F e G Linhas curvas.
Com relao proporo entre decorao pintada e espessura (Figura 2.9), verifica-se
que o nmero maior de fragmentos encontra-se entre os valores de 9 e 14.99 mm e 15 a 20.99
mm. Vale ressaltar a quase inexistncia de fragmentos muito finos ou muito espessos.
Figura 2.16 Proporo entre decorao pintada (DPI) e espessura. Vermelho (0) sem decorao pintada; verde (1) com decorao pintada. A - 4 a 8.99 mm, B - 9 a 14.99 mm, C - 15 a 20.99 mm, D - 21 a 26.99 mm, E - 27 a 32 mm e SL sem leitura.
DP
I
0,00
1,00
A B C D E
SL
Espessura
0
1
-
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Tabela 2.9 Distribuio entre decorao pintada e espessura
Espessura Sem decorao
pintada
Com decorao pintada Total
A 4 a 8.99mm 295 1 296
B 9 a 14.99mm 495 26 521
C 15 a 20.99mm 208 22 230
D 21 a 26.99mm 21 1 22
E 27 a 32 mm 2 0 2
SL (sem leitura) 3 1 4
Total de
fragmentos
1024 51 1075
2.5 Concluso
A partir dos dados apresentados podem-se estabelecer algumas concluses sobre a
cermica do stio Gramado. Com relao s caractersticas quantitativas temos a presena em
maior nmero de fragmentos de parede, seguidos de bordas e bases. As cermicas com
decorao plstica so encontradas em maior quantidade comparadas cermica pintada, mesmo
considerando a coleta seletiva de bordas.
No que diz respeito pintura, observa-se a presena de pintura do tipo engobo (realizada
antes da queima) nas cores branca, preta e vermelha. Os motivos variavam entre linhas retas,
curvas e oblquas, bem como faixa vermelha fina e estreita delimitando campos. Com relao
cermica com decorao plstica, observou-se a presena de decorao corrugada e ungulada,
alm de um fragmento serrungulado e outro nodulado aplicado.
Estabeleceu-se uma relao entre espessura, classe e tipo de decorao. As paredes e
bordas possuam grande variao de espessura, porm no ultrapassavam 2 cm. Com as
cermicas decoradas, as pintadas apresentavam espessuras mdias, enquanto as plsticas
variavam entre muito finas (unguladas) e espessas (corrugadas).
Com relao tcnica de construo dos vasilhames, verificou-se a presena do
acordelado, evidenciada pela quebra dos fragmentos no rolete, no qual os roletes no foram
alisados de forma a se unirem completamente, assim no momento da secagem e queima acontece
rachaduras e quebras. Para a confeco de uma pea utilizando a tcnica de acordelamento, os
roletes necessitam possuir um dimetro maior que a parede, para que ocorra sobra de argila que
permita uni-los (Mattison, 2004).
Foram encontrados poucos fragmentos de base, porm notou-se uma caracterstica
comum entre eles, consiste no alisamento ruim de suas superfcies, deixando em evidencia as
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espessuras dos roletes. A partir da medio dos roletes, pode-se concluir que os fragmentos
pertenciam a vasilhames mdios ou grandes.
Quanto classificao de queima, observou-se que a maioria dos fragmentos apresentava
ncleo central espesso e escuro, alm de camadas oxidadas finas e claras nas extremidades.
A queima com essas caractersticas provavelmente foi realizada a cu aberto, mtodo que
consiste em colocar as peas em uma fogueira quase apagada para concluir a secagem das peas
antes da queima, com isso a argila esquenta por inteira, reduzindo o perigo de rachaduras
produzidas pelo vapor dos poros da argila. A partir do momento que a cermica seca e sinteriza,
acendem-se o fogo at que as vasilhas fiquem cobertas pelas chamas. Na ltima etapa de queima,
alimenta-se o fogo com ramos secos e a cermica desprende calor de sua superfcie. A durao
desse tipo de queima de menos de uma hora, enquanto uma queima atual em forno a gs dura
aproximadamente 7 horas (Rhodes, 1987).
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51 Marianne Sallum, 2011
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SUMRIO
CAPTULO 3 Cadeia operatria e Experimentao
3.1 Introduo
3.2 Materiais e Mtodos
3.3 Resultados e Discusso
3.4 Concluso
Figuras
3.1 Materiais e base de pote
3.2 Preparao de roletes
3.3 Desenho e instalao de roletes
3.4 Decorao do pote
3.5 Decorao do pote, brunidura e preparao do antiplstico
3.6 Alisamento de placas e preparao de decoraes didticas
3.7 Processo de secagem e queima, alem de peas j cozidas
3.8 Rplicas e placas com decorao
3.9 Teste de pigmento
3.10 Fragmento de base
3.11 Exemplo de decorao plstica
3.12 Vista do corte de fragmento
3.13 Kit de rplicas de cermica arqueolgica
Tabela
3.1 Materiais utilizados na experimentao
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
3.1 Introduo
Hecho con las manos, el objeto artesanal guarda impresas, real o
metafricamente, las huellas digitales del que lo hizo. Esas huellas no
son la firma del artista, no son un nombre; tampoco son una marca. Son
ms bien una seal: la cicatriz casi borrada que conmemora la
fraternidad original de los hombres. Hecho por las manos, el objeto
artesanal esta hecho para las manos: no solo lo podemos ver sino que lo
podemos palpar.
Paz, Octavio. El uso y la contemplacin. In: Obras completas -edicin del
autor. Mxico: Ed. Barcelona - Fondo de Cultura Econmica, 1994.
Este captulo uma abordagem sobre o estudo do gesto em material cermico do stio
Gramado, localizado no municpio de Brotas, Vale Mdio do Rio Tiet (SP). A arqueologia
experimental foi o eixo norteador desta pesquisa que teve como objetivo a reconstruo das
etapas da cadeia operatria, desde o processo de manufatura de uma pea at seu descarte,
deteriorao ou reparao, bem como os processos de ps-manufatura de um fragmento (Skibo,
1992).
Segundo Skibo e Schiffer (2008) os estudos sobre cadeia operatria tiveram vrios
adeptos entre os antroplogos franceses, como antroplogo Mauss (1974) e o pr-historiador
Leroi-Gourhan (1990). O primeiro conceito de cadeia operatria foi estabelecido por Leroi-
Gourhan (1990) e, posteriormente desenvolvido por Balfet (1991) e Cresswell (1972) que
contriburam com o surgimento na Frana de pesquisas voltadas para o conhecimento de
tcnicas, tanto na Antropologia, como da Etnologia (Livingstone-Smith, 2010).
Desde o final do sculo XX, observou-se considervel avano nos estudos de cermica,
principalmente no que diz respeito s pesquisas com experimentao. Skibo e Schiffer (2008)
apontam para a necessidade de um estudo que relacione no somente os processos de
manufatura, mas que valorizem as interaes de uso, manuteno, re-uso, deposio, bem como
os processos de ps-manufatura.
A pesquisa com experimentao, principalmente com material ltico foi, desde a dcada
de 1960, difundida tanto nos Estados Unidos como na Europa. Pesquisas experimentais com
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53 Marianne Sallum, 2011
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relao queima tambm foram realizadas nos Estados Unidos buscando aproximar as
microestruturas da cermica reproduzida experimentalmente com a cermica arqueolgica
(Kingery et al. 1976).
Quanto funcionalidade da cermica, pesquisas realizadas com os potes mais antigos do
Planalto do Colorado, nos Estados Unidos, mostram que diferentes atividades como
armazenamento, cozimento e fermentao, podem influenciar no delineamento de um pote.
Vitelli (1999), analisando potes do Neoltico mais antigo, no encontrou evidncias de cozimento
em muitos deles e, com isso, inferiu que as vasilhas no tiveram uma funo utilitria. Porm,
investigando o desenho dos potes e relacionando com as vrias pistas contextuais, pde concluir
que as cermicas tiveram uma funo ritual e foram, provavelmente, usadas por xams (Skibo e
Schiffer, 2008).
Os resultados obtidos, a partir da experimentao e a remontagem da cadeia operatria,
podem oferecer dados preciosos para compreenso funcional de um pote, porm, no devem ser
analisadas isoladamente. Destaca-se a importncia da interdisciplinaridade nos estudos de
Arqueologia, como por exemplo, o desenvolvimento da arqueometria, com a qual foi possvel
estabelecer critrios mais precisos para definio das etapas da cadeia operatria.
O antroplogo Mauss (1974) escreve sobre a importncia de compreender o gesto no
ensaio Noes de Tcnica Corporal. Para o autor, o corpo o primeiro e o mais natural
instrumento de trabalho. No entanto, a escolha de um gesto no algo individual, mas sim o
reflexo direto das tradies das quais o indivduo faz parte, ou seja, possvel identificar hbitos
prprios de cada sociedade a partir da maneira como os homens e mulheres servem-se de seus
corpos. Mauss (1974) fala-nos da idia de Homem total resultado da juno de elementos
sociais, psicolgicos e biolgicos. Para ele, o individuo apenas um espelho da sociedade em
que faz parte, pois a partir do indivduo, que o ato torna-se autorizado e aprovado. Essa idia
adotada por Silva (2000), que aponta que diversos aspectos do fazer cermico, como matria-
prima, tcnicas, morfologia e decorao, so reveladores de preceitos e valores culturais.
As noes de tcnicas corporais de Mauss (1974) foram amplamente utilizadas por Leroi-
Gourhan (1990), que uniu os estudos gestuais com as anlises de cadeia operatria, afirmando
que o estudo do gesto imprescindvel para conhecer uma tecnologia (Suze, 2009).
No livro Arqueologia Experimental, Coles (1973) apresenta uma srie de trabalhos de
experimentao, com reconstituio de fornos romano-britnicos, e conclui que esse tipo de
anlise amplia a compreenso dos processos tcnicos de manufatura (mtodos de construo,
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54 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
aparncia exterior e condies) usados pelos oleiros e aprofunda o conhecimento do pesquisador
de hoje sobre a organizao da indstria cermica.
Coles (1973) identificou algumas regras bsicas para o estudo com experimentao:
1) Para obter um resultado mais confivel necessrio que os materiais utilizados na
experimentao correspondam aos da sociedade estudada; 2) Os mtodos usados para a
reproduo dos materiais devem condizer com a cultura material pesquisada; 3) No processo de
experimentao, a tecnologia moderna no deve interferir nos resultados, porm se necessrio
pode ser usada na compreenso dos materiais e mtodos; 4) Deve haver uma definio prvia da
extenso da experimentao; 5) importante a repetio em experimentao; 6) Utilizao de
uma variedade de procedimentos; 7) O resultado no pode ser considerado como prova absoluta e
definitiva; 8) A experincia s tem sentido se avaliada em termos de confiana.
No Brasil h alguns trabalhos com arqueologia experimental, porm realizados por
poucas pessoas. Vale ressaltar os trabalhos de Prous et al. (2000) sobre a experimentao com
machados pr-histricos no Brasil, bem como as pesquisas de experimentao com a cermica
Tupiguarani. Destacam-se, tambm, as pesquisas de Panachuk (2006) e a tese de doutorado de
Souza (2008) com material ltico polido brasileiro.
Considerando a importncia das pesquisas com experimentao e a carncia de
abordagens de estudos no Brasil, o objetivo desse captulo ser apresentar um estudo do gesto do
oleiro, no que diz respeito aos aspectos tcnicos de confeco de um pote, como de seus
elementos decorativos da cermica do stio Gramado.
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55 Marianne Sallum, 2011
Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
3.2 Materiais e Mtodos
O material utilizado como base para a experimentao correspondeu aos 4.332
fragmentos cermicos do stio Gramado, dos quais 200 foram selecionados para uma pesquisa
mais aprofundada do gesto. O critrio de seleo identificou fragmentos que possuam
caractersticas recorrentes, como tipos decorativos e tcnicas comuns, bem como aqueles
considerados como pea nica no stio. A pesquisa tambm incluiu visitas a museus e consultas
bibliogrficas.
Para o desenvolvimento da experimentao, foram utilizados materiais como: argila,
seixos, esptulas de madeira, pigmentos naturais, pincis, forno a gs para cermica, alm do
espao fsico adequado para a pesquisa com o barro (tabela 3.1).
Quanto aos instrumentos para confeco, decorao e acabamento dos potes, foram
escolhidos materiais de fcil acesso na natureza como: gua, esptulas de madeira, fragmentos de
bambu, seixos, argila queimada moda e argila natural, conforme mostra a figura 3.1.
Argila
Utilizou-se uma argila terracota proveniente de So Paulo (Itapeva), composta pela
mistura de argilas diferentes modas misturadas a bentonita proveniente do Estado da Paraba
(nordeste do pas).
A palavra terracota de origem italiana e quer dizer terra cozida. Este tipo de argila
possui em sua composio xido de ferro e por esse motivo que a sua cor avermelhada. O
xido de ferro contribui para que a argila seja cozida em baixa temperatura abaixo de 1200 C,
alm disso, um barro resistente ao choque trmico e a presena de fogo direto (Mattison, 2004).
Bentonita uma mescla de argilas com gros muito finos e, forma-se, geralmente, por
alteraes de cinzas vulcnicas ricas em ferro. A argila utilizada na experimentao contm 15%
de caco modo (fragmentos cermicos misturados pasta) e considerada muito plstica para
modelar.
A escolha desta argila deu-se por dois motivos: por possuir a mesma colorao dos
fragmentos do stio Gramado e pela possibilidade de queima em temperatura relativamente baixa
(700 C at 1200 C), em oposio do que considerada cermica de alta temperatura (acima de
1200 C).
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Estudo do Gesto em Cermicas do Stio Gramado
Instrumentos
Foram testados vrios instrumentos, tanto para a confeco de formas, como para os
elementos decorativos, como: ripas de madeira de diversas espessuras, fragmentos de bambu,
seixos de diferentes tamanhos (figura 3.1 A).
Pigmentos
Foram utilizados pigmentos naturais (argila colorida) provenientes de So Paulo
(Itapeva), bem como pigmento de terra vermelha da cidade de Pirua no Peru e cristais de
hematita moda de Matozinhos (Minas Gerais)
Tabela 3.1 Materiais utilizados na experimentao
Material Caractersticas Finalidade
Argila Terracota Argila muito plstica
Instrumentos Seixos e ripas de madeira,
segmentos de bambu
Alisar, brunir e decorar
Pigmentos Argila colorida Pintura
Forno
Para a queima, utilizou-se um forno moderno com tijolos refratrios e tocha de gs
liquefeito de petrleo (GLP) sem compresso de ar, em temperatura varivel entre 700 a 900 C.
Definiu-se como mtodo de trabalho a realizao de experimentaes de aspectos formais
e decorativos dos fragmentos cermicos do stio Gramado, bem como o processo de secagem e
queima da argila. Durante a pesquisa, tambm foram realizadas rplicas de cermica
arqueolgica Aratu e Tupiguarani, que serviram como termo comparativo e material educativo
em museus (Figuras 3.7 A, B, E, G-H e 3.8 A, D e F).
A escolha da argila respeitou critrios, como: plasticidade, temperatura de maturao,
colorao e cozedura.
Para medir a plasticidade da pasta foram feitos roletes, observando como se comportavam
quando eram curvados, quando eram enrolados ou pressionados, e assim foi possvel ter a
dimenso da deformao ou da resistncia da pea antes do cozimento (Mattison, 2004).
As peas passaram pelo processo de secagem em temperatura ambiente que variou entre
um e trs dias. O tempo foi determinado pela quantidade de gua presente na argila, alm das
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condies climticas do momento. Quando secas, as peas entravam no forno e a queima ocorreu
de forma lenta e gradativa.
As peas secas temperatura ambiente continuam a apresentar umidade e, somente
quando no forno em temperatura de 100 C que ocorre a evaporao completa da gua de
constituio fsica. A gua de constituio qumica ir evaporar somente numa temperatura de
550 C. S nessa fase que a argila passa por uma transformao irreversvel, transformando-se
em cermica, portanto a contrao volumtrica da argila acontece tanto durante a secagem, como
durante a queima (Chavarria, 1999).
Para compreender a temperatura de maturao da argila necessrio conhecer qual a
elevao mxima de temperatura que a argila necessita chegar para ter sua cozedura correta, ou
seja, antes disso o material encontra-se muito poroso e sem sua colorao final (Chavarria, 1999).
Para entender esse processo, realizou-se a queima de um fragmento arqueolgico do stio
Gramado num forno a gs com temperatura a 980 C.
A argila terracota atinge seu cozimento entre as temperaturas de 700C a 1200 C,
consideradas como queima de baixa temperatura. Uma caracterstica desse mat