UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES
ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
ERICK MOZART DE MEDEIROS FERRÉ
TAMBORES AS MARGENS DO PIRANHAS:
ORIGEM E RELAÇÕES SOCIAIS DA UMBANDA NO MUNICÍPIO DE JARDIM DE
PIRANHAS-RN
CAICÓ
2016
ERICK MOZART DE MEDEIROS FERRÉ
TAMBORES AS MARGENS DO PIRANHAS:
ORIGEM E RELAÇÕES SOCIAIS DA UMBANDA NO MUNICÍPIO DE JARDIM DE
PIRANHAS-RN
Trabalho de Conclusão de Curso, namodalidade Artigo, apresentado ao Cursode Especialização em História e CulturaAfricana e Afro-Brasileira, da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte, Centrode Ensino Superior do Seridó, Campus deCaicó, Departamento de História, comorequisito parcial para obtenção do grau deEspecialista, sob orientação da Prof(a).Dr(a). Idalina Maria Almeida de Freitas
CAICÓ
2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................03
2 BREVE HISTÓRICO DA UMBANDA.......................................................................05
3 DE POVOADO A CIDADE: JARDIM DE PIRANHAS-RN........................................06
4 A UMBANDA EM JARDIM DE PIRANHAS-RN.......................................................08
5 RELAÇÕES SOCIAIS.............................................................................................12
6 CRONOLOGIA........................................................................................................16
7 FONTES...................................................................................................................18
8 REFERÊNCIAS........................................................................................................19
9 ANEXOS ................................................................................................................ 20
3
Tambores às margens do Piranhas: Origem e relações sociais da Umbanda nomunicípio de Jardim de Piranhas – RN
Erick Mozart de Medeiros Ferré¹
Idalina M. Almeida de Freitas1
RESUMO: Este artigo analisa o surgimento da Umbanda na cidade de Jardim de
Piranhas – RN, traçando uma “continuidade” de terreiros espalhados temporal e
espacialmente pela cidade entre os anos de 1960 à 2015. Buscaremos investigar a
ausência, na historiografia local, da Umbanda, tão disseminada e arraigada em
Jardim de Piranhas desde a década de 1970. Tendo como metodologia as
entrevistas orais, procura-se traçar a história da Umbanda no município e perceber
as experiências vivenciadas entre os praticantes dessa religião e o restante da
sociedade. Nosso trabalho será norteado pelos textos de Ferreira (1994), Meyhy
(2007), Alberti (2005), Cumino (2013) e Trindade (2008). Tais obras nos auxiliarão na
condução das pesquisas orais e na visão da Umbanda.
Palavras-Chave: Umbanda – Sociedade - Jardim de Piranhas – RN
Introdução
Neste trabalho, buscaremos examinar as origens da prática da Umbanda no
município de Jardim de Piranhas – RN, percebendo também, as relações sociais
existentes entre seus praticantes e a população da cidade. Analisaremos também a
ausência da Umbanda no único livro publicando contando a história do município,
“Jardim de Piranhas – ontem e hoje” (ARAÚJO, 1994) de autoria de José Macário,
Alcimar da Silva e Erivan Sales. Tendo em vista a escassez de documentos escritos,
nossa pesquisa pautou-se, exclusivamente, em fontes orais. Posteriormente, o
trabalho poderá contribuir enquanto referencial teórico para estudos sobre a religião,
não apenas no nosso município, como também, na região do Seridó Potiguar.
1 Professora do DHC, CERES, UFRN, Email: [email protected]
4
A investigação acerca do nascimento da Umbanda no município de Jardim de
Piranhas – RN foi desenvolvida levando em conta depoimentos orais com
praticantes da religião; a busca por esse nascimento, nos levou ao conhecimento e
análise de alguns terreiros existentes na cidade desde a década de 1960.
O recorte temporal do nosso estudo é um pouco extenso, se comparado com
as delimitações contemporâneas. Nossa pesquisa busca refazer a trajetória da
Umbanda no município (1960 – 2015), e ao mesmo tempo, dialoga com as relações
sociais estabelecidas entre os umbandistas e o restante da população. Acerca desse
recorte temporal recente, seguimos a linha de raciocínio da pesquisadora Marieta de
Morais Ferreira {et al.}, quando afirma:
No plano teórico, a história deveria ser identificada com o passado, o queexcluiria o período mais recente. No plano metodológico, colocavam-se emquestão as fontes contemporâneas, raras em razão dos limites legais para aconsulta, e ao mesmo tempo superabundantes em virtude da ampliação danoção de arquivo. A história contemporânea tornou -se uma história semobjeto, sem estatuto e sem definição, algo ainda muito próximo, muitoparcial e fortemente ideologizado pelo discurso universalista do Ocidente.(FERREIRA, 1994, pag. 2)
Contudo, existe sempre o perigo da narrativa cair na vala do puro relato
jornalístico. Sabemos das dificuldades do trabalho com fonte oral, e que tais fontes,
até meados do século XX foram marginalizadas na historiografia mundial, como
afirma Marieta de Morais Ferreira {et al.}:
Alegava-se também que os depoimentos pessoais não podiam serconsiderados representativos de uma época ou um grupo, pois aexperiência individual expressava uma visão particular que não permitiageneralizações. (FERREIRA, 1994, pag. 3)
Sendo as religiões de matriz africana sempre muito excluídas e
marginalizadas, nada melhor do que resgatar a história dessas religiões usando a
oralidade, que em suas origens, serviu justamente para esse fim:
[...] afirmação da história oral, que procurava dar voz aos excluídos,recuperar as trajetórias dos grupos dominados, tirar do esquecimento o quea história oficial sufocara durante tanto tempo. (FERREIRA, 1994, pag.4)
A maioria das entrevistas foi realizada no terreiro Mãe Yemanja2, único terreiro
de Umbanda em funcionamento na cidade. As entrevistas foram feitas nas
residências de algumas pessoas, geralmente parentes de donos de terreiros antigos,
2 Terreiro que serviu de base para nossa pesquisa, localizado no município de Jardim de Piranhas – RN.
5
pela qual nós buscávamos informações, já que não existe fonte escrita sobre tais
terreiros.
Breve histórico da Umbanda
O Brasil é um país multicultural, essa pluralidade deve-se ao fato da mistura
de culturas e etnias ocorridas no país desde o período colonial, para cá vieram
europeus e africanos, além da presença de indígenas. O europeu por se colocar em
uma “missão” civilizatória, manteve um papel dominante, porém todos os outros
grupos mesmo em meio a um processo de dominiação/exploração, criaram
processos e formas de reelaborar a sua presença. O negro trazido para as
Américas teve que lidar com as dificuldades, desconstruir estereótipos e lutar, com
suas armas, contra a dominação exercida pelo colonizador. Além da dominação, ele
era também um completo estranho naquele novo mundo que o cercava. Para
enfrentar a adversidade desse novo panorama, os povos africanos criaram
estratégias para manter suas origens, cultura, nesse contexto, a religião
desempenhou um importante papel. A religião passa a assumir outros significados.
Surgiram assim as primeiras irmandades, como estratégias de recriação das
tradições e costumes africanos em solo americano (ALBUQUERQUE, 2006. Pag.
93).
Assim os negros seguiram mantendo suas crenças religiosas no novo
continente. Durante o século XIX as tradições religiosas desses três povos
começaram a se fundir, devido principalmente às ideias do espiritismo, advindas da
França, de fundo cristão, essa nova religião, liderada por Allan Kardec3, surgiu no
ano de 1857, e em pouco mais de oito anos, chegou ao Brasil, em 17 de setembro
de 1865 foi realizada em Salvador a primeira sessão espírita no Brasil. Data desse
mesmo ano a fundação do primeiro centro espírita do país, a primeira cidade
brasileira a sediar a primeira sessão de espiritismo é também a cidade onde as
religiões de origem africana têm mais força, Salvador (CORDEIRO, 2014).
A partir daí seria questão de tempo para que o Candomblé, bem arraigado em
Salvador, se “misturasse” com alguns preceitos do Espiritismo, e posteriormente
com a pajelança, dando origem à Umbanda, religião tipicamente brasileira, que tem
3 Pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, considerado o pai do espiritismo e o pioneiro nas pesquisas científicas sobre fenômenos paranormais.
6
sua fundação datada, por muitos estudiosos da religião, em 15 de Novembro de
1908, na cidade de Niterói – RJ4.
Apesar da sua fundação está ligada ao estado do Rio de Janeiro, é inegável a
influência da religiosidade presente na cidade de Salvador em fins do século XIX e
início do século XX, cujas práticas religiosas já estavam “misturadas” na tradição
popular, como afirma Vagner Gonçalves da Silva:
Mesmo antes, porém, de adquirir um contorno mais definido, muitoselementos formadores da Umbanda já estavam presentes no universoreligioso popular no final do século XIX, sobretudo nas práticas bantos.(SILVA, 1994, pag. 106)
A partir de 1908, principalmente na década de 1920, a Umbanda irá ganhar
viés de religião organizada, que será reforçada nas décadas de 1930 e 1940;
durante esse período, vale ressaltar a organização das primeiras federações
umbandistas, datada de 1939, sob influência das federações kardecistas. Mesmo
com toda a discriminação e perseguição enfrentada, não só pela Umbanda, mas por
todas as manifestações religiosas de origem afrobrasileira, a Umbanda continuou
crescendo no país, a ponto de organizar três congressos, em 1941, 1961 e 1973.
Esses congressos serviram para fortalecer e estruturar as práticas umbandistas pelo
território nacional.
Hoje em dia a Umbanda é bem estruturada com centros nas maiorias das
cidades brasileiras, apesar do preconceito que ainda existe no Brasil, mesmo depois
de 1976, quando o Candomblé é reconhecido na Bahia como religião, pondo fim a
perseguição oficial, o preconceito ainda vigora no Brasil, reflexo da discriminação
racial que estrutura a história do país. Cidades como Recife, Salvador e Rio de
Janeiro, principais destinos dos africanos chegados ao Brasil durante a colonização,
e com população de negros bem elevada, 8%, 27% e 11% respectivamente5, sem
contar pardos, são importantes centros da cultura negra no Brasil.
De povoado à cidade: Jardim de Piranhas-RN
4 História da Umbanda. Disponível em http://umbanda-orixas.info/historia-da-umbanda.html .Acesso em: 15 de Janeiro de 2016.
5 IBGE. Disponível em http://www.ibge.gov.br/estadosat/ . Acesso em: 15 de Janeiro de 2016.
7
Jardim de Piranhas é um pequeno município situado na região do Seridó, no
estado do Rio Grande do Norte, atualmente sua população é de pouco mais de 14
mil habitantes (14,606)6. O povoamento da área que corresponde hoje ao município,
data do fim do século XVII (MONTEIRO, 2007) e início do século XVIII (ARAÚJO,
1994). Tendo em vista que as primeiras frentes de conquista partiram subindo o rio
Piranhas-Assu, em fins do século XVII, mais especificamente nos anos de 1680, e
que algumas sesmarias foram doadas as margens do Rio Piranhas, concluímos que
a ocupação da área que hoje corresponde ao município de Jardim de Piranhas, date
do fim do século XVII. Como afirma a historiadora Denise Mattos de Monteiro:
De qualquer forma, os Janduí e os Paiacu habitavam áreas por ondepassaram as frentes de conquista do sertão, vindas da Paraíba ePernambuco, que subiram os cursos dos rios Piranhas-Assu e Upanema,chegando ao rio Apodi-Mossoró. (MONTEIRO, 2007, pag. 34)
No decorrer do século XVIII, a região começa a tomar forma de um pequeno
povoado, com uma capela erguida, segundo a historiografia local, no ano de 17107,
porem, tal data já está sendo contestada no meio historiográfico do município
(SANTOS, 2014). No ano de 1859, a localidade torna-se Distrito de paz,
impulsionada pela pecuária, característica da nossa região, e das terras férteis ao
longo do rio Piranhas. Durante o século XX, mais especificamente em 1936, Jardim
de Piranhas torna-se Distrito de Caicó; conseguindo sua emancipação política em
1948. A partir daí a cidade passa a construir a infraestrutura necessária para ser
sede do município, é construído o mercado público (1951) e o prédio sede da
Prefeitura (1956).
Como praticamente todas as cidades do Seridó, Jardim de Piranhas floresceu
ao redor de uma capela, sinal da religiosidade que sempre acompanhou os
portugueses durante a colonização do Brasil. A Igreja Matriz de Nossa Senhora dos
Aflitos, desempenha atualmente importante papel na vida de seus devotos, a religião
Católica tem maioria esmagadora na cidade. De acordo com o último censo do
IBGE, cerca de 89% da população declarou-se Católica Apostólica Romana,
6 Estimativa do IBGE para o ano de 2015. Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240560&search=rio-grande-do-norte|jardim-de-piranhas|infograficos:-informacoes-completas. Acesso em: 19 de Janeiro de 2016.
7 Data encontrada em um tijolo da Igreja durante uma reforma ocorrida no ano de 1956, quepassou a ser considerada a data da construção da capela.
8
enquanto 10% declararam-se evangélicas; budistas, espíritas e sem religião formam
1%8. Religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda aparecem sem
seguidores no censo, talvez pelo preconceito existente na cidade, ou talvez pela
mistura religiosa, tão típica no catolicismo brasileiro. Não apenas no censo, mas
também na historiografia local.
No único livro dedicado a contar a história da cidade, intitulado de “Jardim de
Piranhas ontem e hoje”, lançado em 1994 pelos então estudantes de letras: Alcimar
da Silva Araújo e Erivan Sales de Araújo; e pelo estudante de história: José Macário
de Medeiros, percebe-se que as religiões de matriz africana são esquecidas em sua
obra. O livro contém um tópico tratando sobre a religiosidade da cidade onde é
abordada apenas a história da Igreja Católica e, muito resumidamente, a história das
Igrejas Evangélicas da cidade. Não se vê em parte alguma qualquer menção que
seja aos dois terreiros de Umbanda existentes na cidade na época. Mais uma vez a
história tradicional sufoca a voz dos marginalizados e os invisibilizam.
Durante as décadas de 1930 e 1940, enquanto Jardim de Piranhas
caminhava rumo à emancipação política; no Rio de Janeiro, Ester Dantas de Brito,
conhecida popularmente em Jardim como “Nêga de Nelson”, dava os primeiros
passos na Umbanda, recebendo doutrinação e capacitação. No seu regresso,
ocorrido ainda na década de 1940, começou a colocar em prática o que tinha
aprendido na capital federal, e posteriormente, fundando o primeiro Centro
Umbandista de Jardim de Piranhas-RN.
A Umbanda em Jardim de Piranhas-RN
Assim como não podemos falar da Umbanda, a nível nacional, sem
mencionarmos Zélio Fernandino de Moraes, também não podemos falar da
Umbanda em Jardim de Piranhas sem mencionarmos Ester Dantas de Brito,
conhecida popularmente na cidade como “Nêga de Nelson”, uma alusão à seu
pertencimento étnico-racial. Ester nasceu em 11 de Março de 1915, no então distrito
de Jardim de Piranhas, curiosamente cresceu ao mesmo tempo em que sua cidade
e sua religião se desenvolviam. Logo cedo percebeu sua mediunidade, através de
8 IBGE. Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=240560&idtema=91&search=rio-grande-do-norte|jardim-de-piranhas|censo-demografico-2010:-resultados-da-amostra-religiao-. Acesso em: 20 de Janeiro de 2016.
9
relatos de suas netas e de pessoas fora da família, mas que conviveram com ela,
entre os 12 e os 15 anos, Ester passou a apresentar indícios de que seria médium,
na época, fim da década de 1920 e início da década de 1930.
Antes de ir ao Rio de Janeiro, onde foi doutrinada na Umbanda, Ester chegou
a frequentar alguns Centros na cidade vizinha de Caicó, como atesta Dona Maria,
que foi criada pela mesma:
“E ela foi desenvolvida, ela começou a desenvolver dentro de Caicó, noCentro de Genuíno, eu acho que você já ouviu falar. Ela começou, nãosabe!? A desenvolver em Caicó, aí parece que daí por diante o Pai de Santonão tinha mais como fazer, que nessa época, era muito pouco recurso né!?Ela não tinha, aí foi para o Rio de Janeiro, que lá no Rio de janeiro mora umfilho dela, ela foi pra lá e lá se preparou.” (Entrevista realizada com DonaMaria no dia 16/01/16)
Ester partiu para o Rio de Janeiro em fins da década de 1930 e início de 1940,
o que motivou sua ida à capital federal na época, não ficou muito claro nas
entrevistas que realizamos, mas de acordo com conversas informais que tivemos
com suas netas (Zenaide e Rosiane), chegamos à conclusão que Ester foi para o
Rio de Janeiro na tentativa de construir um aprendizado a cerca das manifestações
espirituais pelas quais vinha vivenciando, tendo em vista que o Pai de Santo da
cidade de Caicó não conseguiu orientá-la.
O tempo de preparação e como foi o contato de Ester com a Umbanda no Rio
de Janeiro, é uma parte da sua história que permanece desconhecida, somente a
mesma poderia nos esclarecer tais questões, mas isso não é possível uma vez que
Ester faleceu no ano de 2013, com 98 anos de idade. Quando regressou do Rio de
Janeiro, entre as décadas de 1940 e 1950, Ester não abriu o Centro, mesmo
iniciada, já sabedora de vários preceitos que regem a Umbanda, preferiu trabalhar
em segredo, como afirma Dona Maria:
“[...]Ela foi preparada no Rio de Janeiro, com muito tempo que ela foipreparada lá, foi que ela foi botar “mesa”, ninguém sabia que elatrabalhava[...].[...]Aí quando eu cheguei na casa dela, ela já trabalhava, elamais o marido, só que ela trabalhava pra ninguém saber, sabe?[...]”(Entrevista realizada com Dona Maria no dia 16/01/16)
Os motivos que levaram Ester a trabalhar em segredo são os mesmos que
ainda hoje assolam os praticantes de religiões afro-brasileiras: o preconceito. Dona
Maria foi morar com Ester no ano de 1965, neste período ainda não existia Centro
em Jardim de Piranhas, apesar de haver pessoas que já tratavam de questões
10
espíritas, como Benedita Carcará9 e Isabel de Boa10, porém, só podemos falar em
centro de Umbanda em Jardim de Piranhas na década de 1970, época em que Ester
resolveu abrir seu Centro para agregar pessoas que se identificavam com a
Umbanda. A abertura do centro de Ester está intimamente ligada ao curandeirismo
como atesta Dona Maria, que nos dá detalhes de como Ester acabou montando seu
Centro nesse período:
Ela foi descoberta uma vez quando uma mulher que morava por trás dacasa dela adoeceu, aí mandou pedir a ela pra vir rezar, e ela chegou lá e“trabalhou” e a pessoa ficou boa. Aí foi quando foi descoberto que ela tinhaesse dom de “trabalhar”. Aí pronto, a gente vivia lá, a gente “trabalhava”,assistia os outros Centros, quando era dia de reunião, os dias dela darreunião era quarta e sábado, era os dias dela dar reunião, dois dias porsemana. Aí ela dava as “reunião”, a gente assistia, “trabalhava”. (Entrevistarealizada com Dona Maria no dia 16/01/16)
De acordo com o depoimento de Dona Maria, que foi criada por Ester,
percebemos que mesmo após sua chegada do Rio de Janeiro, a mesma manteve
seus dons em segredo, só os praticando em casa, sem oficialmente abrir Centro,
seus dons de curandeirismo foram percebidos por uma de suas vizinhas e ela foi
“descoberta”, como mesmo atesta Dona Maria. A partir daí Ester se tornaria
referência na disseminação da Umbanda no município, ministrando reuniões
semanalmente e contribuindo para o crescimento e fortalecimento da religião.
Curiosamente, é comum na cidade a atuação de “rezadeiras” e “benzedeiras”,
geralmente idosas, que estão sempre ligadas ao catolicismo, realizam seus ritos em
casa e essa tradição é passada de geração para geração; no caso de Ester, essa
ligação era com a Umbanda.
Seu Centro teve início na década de 1970 e permaneceu como referência até
o ano de 1999, quando Ester encerrou os trabalhos no Centro, já com seus 84 anos
de idade, mas, o fechamento ocorreu devido ao falecimento do seu marido, que a
ajudara durante anos na organização e na manutenção do seu Centro, que
funcionava na Rua Emídio Mariano, N° 47.
9 Essa senhora é citada na entrevista da Mãe de Santo do Centro Mãe Yemanja, porém, devido Benedita não ter montado um Centro e suas práticas iniciais fugirem a nossa delimitação temporal, não foi aprofundado estudo sobre ela.
10 Essa senhora foi citada na entrevista de Dona Maria, porém apenas como um tipo de “conselheira espiritual” de Ester, não tendo ligação com a Umbanda.
11
A partir daí, Ester, ou por afinidade ou por falta de opção, passou, oficialmente
e simbolicamente seus “trabalhos” para Elizabete Pereira Ferreira, conhecida na
cidade como Beta, e a mesma deu continuidade aos trabalhos. Ela abriu seu próprio
Centro no ano de 2004 e o mantém até hoje, registrado pela Federação de
Umbanda e Candomblé do Rio Grande do Norte, com o nome “Mãe Yemanjá”. Como
a grande maioria dos Centros de religiões afro-brasileiras, o “Mãe Yemanjá” situa-se
na região denominada “Maracujá”, próximo ao bairro Santa Cecília, uma das
localidades mais distantes da cidade, quase que completamente sem rede de
eletricidade e esgoto, foi um desafio ir até o local nos dias da pesquisa, tendo em
vista a escuridão e a quantidade de lama encontrada no trajeto até o Centro, que
funciona na casa da senhora Elizabete.
O atual Centro em funcionamento é uma espécie de continuidade do trabalho
de Ester, o Centro conta com aproximadamente 10 membros, dos quais sete
mulheres e três homens. Porém, em dias de festividade esse número costuma
aumentar, sem falar nas pessoas das cidades vizinhas que vêm acompanhar os
festejos, principalmente da cidade de Timbaúba dos Batistas. Nas nossas visitas ao
Centro podemos perceber a diversidade na faixa etária de seus membros,
encontramos desde adolescentes até senhoras com mais de 65 anos. 50% de seus
membros são pessoas com idade entre 10 e 25 anos, o que mostra que a Umbanda
ainda está viva e se renovando no município.
O Centro de Ester e posteriormente de Elizabete não foram os únicos da
cidade. No início da década de 1990, um senhor conhecido como “Pedoca” veio
morar na cidade e decidiu abrir também um Centro de Umbanda. O nome desse
senhor permanece desconhecido, uma vez que o mesmo não reside mais em Jardim
de Piranhas, nem era natural da cidade, ficando muito difícil encontrar qualquer
informação sobre ele, mesmo no decorrer da pesquisa, tendo feito entrevistas com
pessoas que frequentaram seu Centro, que situava-se em frente a subestação da
cidade.
Depois de realizarmos um árduo trabalho de reconstituição, chegamos à
conclusão da importância histórica exercida pela senhora Ester na disseminação e
fortalecimento da Umbanda no município de Jardim de Piranhas; desta forma as
origens da Umbanda em Jardim de Piranhas estão ligadas à sua história de vida.
12
Ester faleceu no ano de 2013. No único livro oficial, da qual citamos
anteriormente, dedicado a contar a história do município, não se vê, no capítulo
referente às religiões em Jardim de Piranhas, nenhum tópico dedicado a contar um
pouco da história da Umbanda no município, este artigo foi pensado justamente no
sentido de contribuir para a história dos excluídos nos anais da historiografia
jardinense, problematizando essa ausência. A constatação do preconceito ainda
persegue as religiões afro-brasileiras, é sobre esse tema que iremos tratar na última
parte do nosso artigo.
Relações sociais
Para analisarmos como se dá a interação social entre os membros da
Umbanda, mais especificamente os membros do Centro “Mãe Yemanjá”, e a
população de Jardim de Piranhas, que crê em outras religiões, vamos nos apoiar em
entrevistas realizadas com a Mãe de Santo do referido Centro, Elizabete Pereira
Ferreira, e com outros membros do Centro. Iremos nos nortear também, em
pesquisas realizadas com populares, em quarto bairros diferentes da cidade, são
eles: Vila do Rio, Emboca, Centro e São José. Nessas entrevistas buscamos avaliar
como essas pessoas percebem a umbanda em Jardim de Piranhas. Procuramos
entrevistar pessoas das mais diferentes faixas etárias, crenças, escolaridades e
extratos sociais.
Neste primeiro momento iremos analisar como os membros da Umbanda
veem a questão do preconceito religioso, tão presente na nossa sociedade e que
ultimamente vem ganhando muita força no país. Em entrevista realizada com a Mãe
de Santo do Centro “Mãe Yemanjá”, percebemos que a tensão religiosa que aflige o
país está presente de forma muito latente no nosso município, a entrevistada deixou
transparecer várias vezes o caráter quase que “belicoso”, provocativo existente entre
os “macumbeiros” e os católicos, quando cita:
Ahhh, pra mim é demais, o povo, os outros “faz” pouco de nós, sepudessem nos matar já tinham matado. (quando perguntada sobre opreconceito na cidade)
E continua:
Às vezes a gente sai, eu mesmo... chego na igreja, sou sincera a dizer, sóvou na Igreja Católica de ano em ano, pagar uma promessa que eu devo;
13
mas... no enterro de Nêga de Nelson mesmo, eu fui, quando eu vinhachegando na igreja uma pessoa me disse assim, bem “pertim”: “morreu amacumbeira velha e vem chegando a nova”, assim que eu cheguei.(entrevista realizada dia 14/11/2015)
Analisando esses depoimentos da senhora Elizabete, percebemos que o
preconceito encontra-se muitas vezes dentro dos templos religiosos, como afirma
seu filho, que também é Pai Pequeno do Centro, que chegou até a ser expulso da
Igreja algumas vezes, como ele mesmo afirma:
Eles diziam que era por “molecagem” mas porque eu andava com meu fiode conta, porque tinha “búzio” aí dizia que eu deveria se retirar porque erareunião particular sendo que não era, aí eu desde criança vi isso, foi desdecriança que eu fui aprendendo, eu nunca me rebaixei.
E continua:
Eles pediram para eu tirar minha linha de conta, eu não fiz porque eu nãorenego meu orixá, porque pra mim os orixás e os santos são a mesmacoisa, a mesma louvação, só sendo em línguas diferentes. (entrevistarealizada no dia 14/11/2015)
As relações entre Umbandistas e demais populares chegou a tal ponto que o
Centro já foi depredado por alguns vizinhos que se sentiram “incomodados” com o
toque dos tambores e a cantoria, como afirma o filho da Mãe de Santo:
“[...] já levamos pedradas, já quebraram até porta, mas nunca de invadireme fazer “arte” grande não, só fizeram essas partes.”
Percebemos, na maioria das entrevistas, que a perseguição aos membros da
Umbanda vem não só acompanhado do preconceito religioso, mas apresenta outros
aspectos, como a homofobia, tendo em vista que 50% dos praticantes dessa religião
em Jardim de Piranhas se declararam homossexuais ou bissexuais11, muitas vezes,
possivelmente sendo resposta à exclusão dessas pessoas com determinada
orientação sexual por parte da igreja Católica, algumas pessoas se valeram da
Umbanda para preencherem seu lado espiritual, uma vez que o cristianismo
condenava tais orientações e a Umbanda não, como afirma o Pai Pequeno do
Centro:
[...] sempre, desde pequeno, eu me apeguei mais a Umbanda, porque eunão aceitava certos clichês dentro da Igreja Católica, eu não me via dentroda Igreja Católica, eu achava absurdo certas coisas dentro da IgrejaCatólica, então a Umbanda como ela é liberal e por ser tão liberal éperseguida, porque eu não sinto diferença nenhuma, porque a umbanda ésincretizada junto com o catolicismo [...]
11 Dados conseguidos com um questionário introdutório aplicado em uma das primeiras visitas ao Centro.
14
Percebemos neste trecho da entrevista que o Pai Pequeno busca elementos
de comparação entre a umbanda e o catolicismo, esses “clichês” que o mesmo
aborda podem ser oriundos da percepção de discursos de não aceitação do outro,
ocasionado por vivências sexuais não normativas. Dentre outras estratégias, a
alternativa religiosa foi se apegar à Umbanda, que é mais “liberal”, segundo suas
próprias palavras.
Tal discurso do “liberalismo” da Umbanda é visto em outras entrevistas com
membros do Centro; a todo o momento o termo “liberal” é utilizado para adjetivar a
Umbanda enquanto religião e doutrina. A análise que podemos fazer em relação a
isso possivelmente recorre a aspectos litúrgicos e do próprio significado que as
religiões de matriz africana constroem a partir de determinados comportamentos
humanos, heranças de uma vivência e experiências de ser e estar no mundo visível
e invisível, diferente das religiões judaico-cristãs ocidentais. Como afirma Jaiany,
também membro do Centro:
[...] na igreja católica tem que ser tudo certinho, você tem que seguir aquilo,tipo assim... se você for uma pessoa que não gosta disso você tem quepassar a gostar disso, porque, para a sociedade, você tem que ser daquelejeito, tem que ser moldado daquele jeito, aqui dentro (terreiro de umbanda)não, aqui dentro eles te aceitam do jeito que é. Depois que eu entrei aquimuita coisa se esclareceu, muita coisa mudou, e socialmente falando, muitacoisa mudou totalmente, muito por causa do preconceito, porque quem é daigreja católica é uma pessoa santa, é uma pessoa boa, só faz coisas boas enão sei o que lá; quem é da umbanda é macumbeiro, não presta pra nada,só faz o mal e só... só faz o que não presta. [...]
Mais uma vez percebemos a evocação à liberdade que a Umbanda trás
consigo. Sendo assim, observamos que a Umbanda foi uma escolha não só
espiritual, por mais que esse seja o principal ponto, mas também uma escolha a
cerca de como vivenciar as suas experiências no mundo. O preconceito que este
centro enfrenta vai além do preconceito religioso, ele perpassa a barreira do
preconceito sexual, de classe e racial. A união e a percepção desses preconceitos
por parte dos membros do Centro, eles conseguem adquirir força e estratégias de
luta nos enfrentamentos.
Na última parte do nosso trabalho, vamos investigar, com o auxílio de uma
pesquisa realizada entre os dias 10 e 20 de Janeiro, em quatro bairros diferentes da
cidade, como citei anteriormente, qual a visão que a população em geral tem da
Umbanda.
15
Nossa pesquisa continha perguntas, tais como: “O senhor (a) conhece
alguma religião de matriz africana?”, “O senhor (a) é a favor do ensino de sua
religião nas escolas?” Tais perguntas serviriam como indícios para investigarmos as
percepções que a população constrói sobre a Umbanda e seus praticantes. Como
na cidade quase 90% da população é católica, obviamente na nossa pesquisa os
católicos se sobressaíram (67%), entrevistamos também pessoas que se declararam
sem religião (25%), a maioria acreditava em Deus, mas não seguia nenhuma
religião, e 8% de evangélicos. A pesquisa abarcou pessoas de diferentes classes
sociais, idade e escolaridade.
Analisando esses dados chegamos à conclusão de que a grande maioria da
população não conhece as religiões de matriz africana, 83% dos entrevistados
disseram não conhecer nem a Umbanda nem o Candomblé, desses 83% a grande
maioria afirmou que era a favor do ensino de sua religião na escola (seja católica ou
evangélica), mas que era contra o ensinamento de religiões afro-brasileiras nas
escolas. 33% das pessoas entrevistadas afirmaram que religiões de matriz africana
deveriam ter suas práticas proibidas no município; esses 33% responderam que não
conheciam nenhuma religião de matriz africana, e mesmo assim, apesar de não
conhecerem, terem apenas um preconceito (conceito pré-estabelecido), julgaram
que tais religiões não seriam benéficas às crianças. 50% dos entrevistados disseram
não conhecer as religiões de matriz africana e na pergunta “Caso fosse convidado,
iria assistir uma sessão no terreiro de Umbanda?” responderam “Não”. Assim sendo,
nem conhecem tais religiões, nem querem conhecer. Dessa forma, percebemos a
impossibilidade de desconstruir e repensar o preconceito.
Durante anos a Igreja Católica demonizou as entidades africanas e afro-
brasileiras como Exú, por exemplo, essa demonização segue presente no imaginário
popular até os dias atuais, mesmo sendo entidades do bem, hibridizadas, inclusive,
com os santos católicos. Essas divindades, no imaginário popular, seguem com o
estigma de demonização. As pessoas não conhecem, nem buscam conhecer e
simplesmente julgam a crença alheia; essa pesquisa foi realizada pensando sobre
isso: entender as raízes do preconceito religioso que vigora em nosso município e
como criar possibilidades de desconstrução. É oportuno lembrar que essas
desconstruções começam a ganhar fôlego a partir do estabelecimento das leis
10.639/03 e 11.645/08 que criaram diretrizes para o ensino de Culturas africanas,
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afro-brasileiras e indígenas, nas escolas e universidades. Esse trabalho é também
fruto do projeto de implementação dessas leis.
Espero que nosso trabalho tenha contribuído para elucidar a história e as
vivências das religiões afro-brasileiras, não só em Jardim de Piranhas, como
também no Seridó e que seja um trabalho que auxilie na luta contra o preconceito
religioso, que afeta os membros dessas religiões, não apenas em Jardim de
Piranhas, mas em todo o Brasil.
O desconhecimento das trajetórias de sujeitos que chegaram ao Brasil
mediante um processo forçado, arrancados de suas terras natais, fruto de uma
lógica colonialista, ceifou suas lógicas e organizações próprias de vida, dentre elas
religião, que ainda é um dos maiores legitimadores da estrutura que constrói e
reconstrói o preconceito nesse país. Buscar entender as estratégias de reconstrução
dessas heranças em meio às especificidades regionais ainda é um desafio. Desafio
este que nos questiona com urgência: até quando iremos testemunhar depoimentos
dessa magnitude, vindos de membros dessas religiões?:
Mas aí o povo não quer saber, o povo descrimina. Aí por isso a gente viveaqui que nem... assim que nem um rebanho de bicho, um bicho que vocêsolta nas ruas, nos matos, pelas ruas pra morrer de fome. (Depoimento deDona Maria, 61 anos).
A cultura negra, seus costumes e crenças, são, desde o período colonial,
marginalizados, tidos como abominações, em um Brasil que durante todo o século
XX, pregou um discurso fantasioso de “democracia racial”. Porém, quando a
historiografia omite, silencia a existência da Umbanda no município, está reforçando
esse discurso hegemônico. A omissão da Umbanda dos anais da história do
município de Jardim de Piranhas-RN, vai além de um deslize historiográfico, vai
além de uma falta de conhecimento das religiões afro-brasileiras, endossa e
perpetua o discurso hegemônico, porém na construção de uma história
descolonizadora, fica aqui outro registro, outras vozes.
Cronologia
1680 – início da ocupação da região que hoje corresponde ao município de Jardim
de Piranhas.
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1710 – Data provável da construção da capela de Nossa Senhora dos Aflitos,
embrião do futuro município de Jardim de Piranhas.
1857 – Allan Kardec idealiza as bases do espiritismo.
1859 – Jardim de Piranhas torna-se Distrito de Paz.
1865 – Realiza-se em Salvador primeira sessão espírita o Brasil.
1908 – Fundação da Umbanda por Zélio Fernandino de Moraes.
1915 – Nasce Ester Dantas de Brito.
1936 – Jardim de Piranhas torna-se Distrito de Caicó.
1939 – Formação das primeiras Federações de Umbanda.
1940 – Ester vai ao Rio de janeiro aprofundar-se nos estudos da Umbanda.
1941 – Realiza-se no Rio de Janeiro o Primeiro Congresso de Umbanda.
1948 – Jardim de Piranhas consegue sua emancipação política.
1950 – Ester volta a Jardim de Piranhas.
1961 – Realiza-se o Segundo Congresso de Umbanda também no Rio de Janeiro.
1970 – Ester funda o primeiro Centro de Umbanda de Jardim de Piranhas.
1973 – Realiza-se o Terceiro Congresso de Umbanda na cidade do Rio de Janeiro.
1976 – O Candomblé é reconhecido como religião na Bahia, pondo fim à
perseguição religiosa oficializada pelo Estado.
1994 – Pedoca funda seu Centro de Umbanda em Jardim de Piranhas.
1996 – Pedoca fecha seu Centro e muda-se para a cidade vizinha de Caicó.
1999 – Com o falecimento do marido, Ester fecha seu Centro de Umbanda.
2004 – Elizabete abre seu Centro de Umbanda com os ensinamentos de Ester, com
o nome “Mãe Yemanjá”
2013 – Aos 98 anos Ester falece na cidade de Jardim de Piranhas.
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Drums on the margins of the piranhas river: Origin and social relations of
Umbanda in the county of Jardim de Piranhas - RN.
Abstract: This paper analyses the appearence of Umbanda in the city of Jardim de
Piranhas – RN (Rio Grande do Norte), tracing a continuity of temples spread time
and space-wise throughout the city between the years of 1960 and 2015. We will
attempt to investigate the lack, in local historiography, of Umbanda, so spread and
rooted in Jardim de Piranhas since the 70's. Utilizing oral interviews as a method, we
try to trace the history of Umbanda in the county and notice the lived experiences of
the practicioners of this religion and of the society that revolves it. Out experience will
be guided by the works of Ferreira (1994), Meyhy (2007), Alberti (2005), Cumino
(2013) and Trindade (2008). Such works will help us in conducting the oral research
and our perception of Umbanda.
Key-Words: Umbanda - Society - Jardim de Piranhas - RN
Lista de entrevistados:
Nome: Jaiany Martins de SouzaIdade: 20 anosProfissão: DesempregadaEndereço: Rua Maria da Glória Dutra
Nome: José Alisson PereiraIdade: 21 anosProfissão: AutônomoEndereço: Sítio Maracujá
Nome: MariaIdade: 61 anosProfissão: AposentadaEndereço:
Nome: Maria Zenaide Dantas LeandroIdade: 33Profissão: ComercianteEndereço: Rua Delmiro Vieira de Lima
Nome: Roseane Dantas LisboaIdade: 43
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Profissão: MicroempresáriaEndereço: Rua Delmiro Vieira de Lima
Nome: Elizabete Pereira FerreiraIdade: 42 anosProfissão: Dona de casaEndereço: Sítio Maracujá
Referências Bibliográficas:
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 3° Ed. Rio de janeiro. Editora: FGV,2005.
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de e FRAGA FILHO, Walter. Negros escravos, libertose livres. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. P. 143-169.
ARAÚJO, Alcimar da Silva; ARAÚJO, Erivan Sales de; MEDEIROS, José Macário de. Jardim de Piranhas ontem e hoje. Brasília: Gráfica do Senado, 1994.
BARROS, José D’Assunção. O projeto de pesquisa em História: da escolha dotema ao quadro teórico. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p.23-53.
CORDEIRO, Tiago. Uma Religião Bem Brasileira. Aventuras na História, SãoPaulo, edição 132, pag. 26-35, Julho, 2014.
História da Umbanda. Disponível em http://umbanda-orixas.info/historia-da-umbanda.html . Aceso em: 15 de Janeiro de 2016.
IBGE. DisponívelEmhttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=240560&idtema=91&search=rio-grande-do-norte|jardim-de-piranhas|censo-demografico-2010:-resultados-da-amostra-religiao-. Acesso em: 20 de Janeirode 2016.
LUNGARZO, Carlos. O que é ciência. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 9-40.
MEYHY, José Carlos Sebe Bom; HOLANDA, Fabíola. História Oral: Como fazer,como pensar. 1° Ed. São Paulo. Editora: Contexto, 2007.
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte. 3. Ed.Revista e ampliada – Natal, RN: EDUFRN. 2007.
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PORTELLI, Alessandro. A filosofia e os fatos: narração, interpretação e significadonas memórias e nas fontes orais. In: Revista tempo. V1, n°2, UFF. Rio de Janeiro,1996. Pp 59-73.
SALIBA, Elias Thomé. Aventuras modernas e desventuras pós-modernas. In:PINSKY, Carla B. e LUCA, Tânia R. de (orgs.). O historiador e suas fontes. SãoPaulo: Contexto, 2009, p. 309-328.
SANTOS, Arthur Antunes de Coimbra Oliveira. Na ribeira do Piranhas nasce uma
flor: Uma análise acerca da figura de Margarida Cardoso, a benfeitora da
capela de nossa senhora dos aflitos (séculos XVIII-XVIIII). Caicó. 2014.
SARACENI, Rubens. Código de Umbanda.3° Ed. São Paulo:. Editora: Madras,2008.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé & Umbanda: Caminhos da DevoçãoBrasileira. 1° Ed. São Paulo. Editora: Summus/ Selo Negro, 1994.
TRINDADE, Diamantino Fernandes; COSTA, Vagner Veneziani; LINHARES,Ronaldo Antônio. Iniciação à Umbanda. 1° Ed. São Paulo. Editora: Madras, 2008.
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Anexos:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRNCENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES – DHCESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-
BRASILEIRAPESQUISA DE CAMPO
01 – Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
02 – Escolaridade: ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( )2° grau completo ( ) superior
03 – Idade: ( ) 15 a 20 ( ) 20 a 30 ( ) 30 a 40 ( ) 40 a 50 ( ) 50 a 60 ( ) mais de 60
04 – Renda: ( ) Menos de um salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) de 1 a 2 saláriosmínimos ( ) 2 salários mínimos ( ) de 2 a 3 salários mínimos ( ) Mais de 3 saláriosmínimos
04 – Religião: ( ) Católico ( ) Evangélico ( ) Sem religião ( ) Espírita ( ) Outra
05 – O senhor (a) é a favor do ensino da sua religião na escola?
( ) Sim ( ) Não
06 – O senhor (a) conhece alguma religião de matriz africana?
( ) Sim ( ) Não
07 – O que o senhor (a) acha das religiões de matriz africanas?
( ) Simpatizo ( ) Sou indiferente ( ) São diabólicas ( ) Sua prática deveria ser proibida
08 – O senhor (a) é a favor do ensino dessas religiões na escola?
( ) Sim ( ) Não
09 – Caso fosse convidado, iria assistir uma sessão no terreiro de Umbanda?
( ) Sim ( ) Não
10 – Qual a opinião do senhor (a) acerca das pessoas que praticam essas religiões e fazemtrabalhos no terreiros?
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( ) Simpatizo ( ) Sou indiferente ( ) São pessoas sem Deus no coração ( ) Deveriamser proibida a pratica desses rituais
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRNCENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES
PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃOBÁSICA - PROFOCO
ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRALATO SENSU
ACADÊMICO RESPONSÁVEL: ERICK MOZART
PESQUISA INTRODUTÓRIA
01 – Sexo: ( ) Masculino( ) Feminino
02 – Idade: ( ) Entre 10 e 15 anos( ) Entre 15 e 20 anos( ) Entre 20 e 25 anos( ) Entre 25 e 30 anos( ) Mais de 30 anos
03 – Escolaridade:( ) Primário incompleto( ) Primário completo( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo( ) 2° grau incompleto( ) 2° grau completo( ) Graduação incompleta( ) Graduado( ) Especialista( ) Mestre( ) Doutor
04 – Renda:( ) Até 1 salário mínimo( ) De 1 a 2 salários mínimos( ) De 2 a 3 salários mínimos( ) De 3 a 4 salários mínimos( ) De 4 a 5 salários mínimos
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( ) Mais de 5 salários mínimos
05 – Raça:( ) Branco( ) Pardo( ) Preto( ) Amarelo( ) Indígena
07 – Orientação sexual:( ) Heterossexual( ) Homossexual( ) Bissexual( ) Assexual
08 – Grau de hierarquia na Umbanda:( ) Cassuté( ) Cambone( ) Ogã de Corimba( ) Ogã de Atabaque( ) Ogã Calofé( ) Mão de Ofá( ) Mão de Faca( ) Iaô( ) Samba( ) Iabá( ) Cambone de Ebó( ) Mãe Pequena