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DAVID MARQUES OLIVEIRA
EMOES POSITIVAS E MOTIVAO NA
REABILITAO BIOPSICOSSOCIAL
Orientadora: Cristina de Sousa
Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias
Faculdade de Psicologia
Lisboa
2010
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DAVID MARQUES OLIVEIRA
EMOES POSITIVAS E MOTIVAO NA
REABILITAO BIOPSICOSSOCIAL
Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias
Departamento de Psicologia
Lisboa
2010
Dissertao apresentada para obteno do Grau de
Mestre em Psicologia no Curso de Mestrado em
Psicologia, Aconselhamento e Psicoterapias, conferido
pela Universidade Lusfona de Humanidades e
Tecnologias.
Orientador: Professora Doutora Cristina de Sousa
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Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias ,Faculdade de Psicologia 3
Resumo
O presente estudo tem como principal objectivo verificar o fluxo emocional e a
motivao para a mudana num programa de reabilitao biopsicossocial de alcoolismo
e toxicodependncias, com a durao de quatro semanas. Para esse efeito, procedeu-se
recolha da amostra de 30 participantes dentro do programa, utilizando para avaliar o
fluxo emocional os relatos de episdios emocionais, o Teste de Positividade (TP), a
Analogical Emotional Scale (AES), o Subjective Well-being (SWB), o Controlo
Percebido Subjectivo (CPS) em trs momentos distintos do programa, pelo que para
avaliar a motivao foi utilizada a escala SOCRATES 8D no inicio e no final do
programa de reabilitao. A teoria argumenta a existncia de um aumento na satisfao
pessoal e nas emoes positivas durante o processo de mudana, ou seja, quando o
processo teraputico decorre de forma favorvel. Os resultados confirmam a existncia
de uma evoluo linear positiva no TP, como tambm no SWB e CPS. Contudo no foi
totalmente confirmado um aumento positivo da motivao, pelo que os resultados
apenas demonstraram diferenas significativas na subescala Ambivalncia da escala
SOCRATES 8D, verificando-se um decrscimo acentuado entre os dois momentos, o
que se revela favorvel para o processo de mudana desejado no programa.
Palavras-chave: fluxo emocional, positividade, motivao, processo de
mudana, reabilitao.
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Abstract
The main objective of this study is to verify the emotional flow and the
motivation for change process in a bio-psychosocial rehabilitation program for
alcoholism and drug addictions, with a duration of four weeks. To this end, we
proceeded to collect the sample of 30 participants in the program, to evaluate the
emotional flow we use the emotional reports, the Positivity Test (PT), the Analogical
Emotional Scale (AES), the Subjective Well-Being (SWB), the Subjective Perceived
Control (PSC) in three separate moments of the program, to assess the motivation scale
was used the SOCRATES 8D scale at the beginning and in the end of the rehabilitation
program. The theory argues that there is an increase in personal satisfaction and positive
emotions during the change process, when the therapeutic process runs optimally. The
results confirm the existence of a positive linear trend in the PT, in SWB and CPS.
However it was not totally confirmed an positive increase in motivation, so the results
only showed significant differences in ambivalence subscale of the SOCRATES 8D,
and there is a sharp decrease between the two moments, which proves favorable for the
desired process of change in the program.
Keywords: emotional flow, positivity, motivation, change process,
rehabilitation.
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Lista de Siglas:
AA Alcolicos Annimos
NA Narcticos Annimos
FA Famlias Annimas
ALP Abstinncia a Longo Prazo
NIAAA National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism
PPC2R Patient Placement Criteria Second Review
APA American Psychology Association
H1 Primeira Hiptese
H2 Segunda Hiptese
H3 Terceira Hiptese
AES Analgical Emotional Scale
TP Teste de Positividade
SWB Subjective Well-Being
CPS Controlo Percebido Subjectivo
SOCRATES8D Stages of Change Readiness and Treatment Eagernes Scale verso 8D
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ndice
Introduo ........................................................................................................................ 8
Captulo 1 Enquadramento Terico ......................................................................... 10
1.1.1. Reabilitao .................................................................................................... 11
1.1.2. Espiritualidade em Tratamento ....................................................................... 11
1.1.3. Importncia do Conceito de Doena ............................................................... 12
1.1.4. Enquadramento do Modelo Minnesota ........................................................... 13
1.1.4.1. Conceitos Bsicos ..................................................................................... 13
1.1.4.2. Trabalho Quotidiano do Tratamento ......................................................... 13
1.1.4.3. Filosofia Quotidiana do Tratamento ......................................................... 14
1.2. Interveno de Reabilitao Biopsicossocial ........................................................ 15
1.2.1. Interveno Teraputica .................................................................................. 15
1.2.2. Interveno Motivacional ............................................................................... 16
1.2.3. Interveno Familiar ....................................................................................... 16
1.2.4. Preveno da Recada ..................................................................................... 17
1.2.5. Objectivos Semanais do Programa Residencial .............................................. 17
1.2.6.Aspectos Gerais do Programa .......................................................................... 18
1.3. Emoo .................................................................................................................... 19
1.3.1. Psicologia Positiva .......................................................................................... 19
1.3.2. Homeostasia e Emoes Positivas .................................................................. 22
1.3.3. Emoes em Contexto Teraputico ................................................................ 24
1.3.4. Contexto Teraputico e Fluxo Emocional ...................................................... 28
1.4. Objectivos do Estudo .............................................................................................. 30
Capitulo 2 Mtodo ...................................................................................................... 31
2.1. Participantes ....................................................................................................... 31
2.2. Medidas .............................................................................................................. 32
2.3. Procedimento ..................................................................................................... 36
3. Resultados .................................................................................................................. 38
4. Discusso .................................................................................................................... 45
Referncias Bibliogrficas ........................................................................................... 49
Apndices .......................................................................................................................... I
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Apndice I ....................................................................................................................... II
Apndice II .................................................................................................................... III
Apndice III .................................................................................................................. IV
Apndice IV ..................................................................................................................... V
Apndice V .................................................................................................................... VI
Apndice VI .................................................................................................................. VII
Apndice VII .............................................................................................................. VIII
Apndice VIII ................................................................................................................ IX
Apndice IX ..................................................................................................................... X
Apndice X .................................................................................................................... XI
Apndice XI .................................................................................................................. XII
Apndice XIII ............................................................................................................. XIV
Anexos ........................................................................................................................... XV
Anexo 1 Teste de Positividade ............................................................................... XVI
Anexo 2 Analgical Emotional Scale ................................................................... XVII
Anexo 3 Satisfao Pessoal e Controlo Percebido ............................................ XVIII
Anexo 4 SOCRATES 8D ........................................................................................ XIX
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Introduo
O presente trabalho tem como objecto de estudo o fluxo emocional e a
motivao para a mudana de indivduos com diagnstico de adico, que se encontram
num programa de reabilitao biopsicossocial de aproximadamente quatro semanas.
O interesse suscitado para este estudo prende-se com a convico de existir um
papel fundamental das emoes na eficincia de uma terapia. A questo que envolve a
eficincia de um processo teraputico no est unicamente ligada aos resultados, mas
principalmente ao decorrer das sesses, sendo necessrio perceber se as emoes tm
uma participao activa nesse processo. Assim, importante perceber a forma como as
emoes vo progredindo no processo teraputico, para promover prticas mais
enquadradas com as necessidades da populao alvo. Este estudo pretende contribuir
para uma melhor compreenso da evoluo do fluxo emocional em contexto
teraputico.
Estudos anteriores argumentam a existncia de um aumento na satisfao
pessoal e nas emoes positivas durante o processo de mudana, ou seja, quando o
processo teraputico decorre de forma favorvel (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). A
promoo do bom funcionamento do indivduo passa pela valorizao do seu estado de
equilbrio, assim, na regulao homeosttica existem diversos nveis, como as respostas
imunitrias, comportamentos, motivaes, emoes e sentimentos (Damsio, 2003).
Outro exemplo, Taylor e colegas (2000) forneceram evidncias bastante persuasivas de
que as crenas como optimismo e um controlo percebido individual so factores
protectores da sade psicolgica e fsica. Por outro lado, as emoes positivas partilham
a habilidade de alargar os reportrios momentneos de pensamento-aco e criam
recursos duradouros, que vo desde os recursos fsicos e intelectuais at aos recursos
sociais e psicolgicos, recursos estes que podero ser utilizados em diversas situaes
futuras (Fredrickson, 2001).
De forma a tornar candente uma melhor compreenso sobre o fluxo emocional
em contexto teraputico, este estudo utilizou um processo de recolha de amostra
longitudinal, que se distribui em trs momentos do programa de reabilitao, pelo que
se trata de um estudo observacional comparativo entre os diferentes momentos de
recolha de dados da amostra.
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Por existir pouca investigao sobre as emoes em contexto teraputico,
particularmente no nosso pas, como tambm por ser um assunto de extrema
importncia para o desenvolvimento de medidas que possam tornar mais eficientes e
consequentemente eficazes as intervenes teraputicas (Fitzpatrick & Stalikas, 2008),
o interesse neste tema de estudo foi por esses motivos suscitado. Contudo, a principal
razo pela qual foi despoletado o interesse neste tema prende-se com uma melhor
compreenso das emoes em contexto teraputico e da forma como estas podem
contribuir para a optimizao do ser humano neste contexto, contando com o efeito
adaptativo que as emoes positivas possuem (Fredrickson, 2001).
Com o intuito de expor de forma clara e sucinta este trabalho, a sua organizao conta
com a diviso de vrios temas. Em primeiro lugar feita a exposio de caractersticas
gerais do programa de reabilitao, como a reabilitao e o conceito de doena, para
uma melhor compreenso do programa de reabilitao. Seguidamente, a interveno de
reabilitao explorada, podendo ser consultado o conjunto de intervenes
teraputicas que se aplicam no programa, como tambm os objectivos semanais a que se
prope. Aps uma explorao da interveno teraputica do programa, a exposio do
trabalho centra-se nas emoes, introduzindo as emoes no contexto teraputico,
expondo no inicio a Psicologia Positiva e referindo a importncia das emoes positivas
no estado optimizado dos indivduos. No final deixa-se espao para os objectivos deste
estudo, com o mtodo, os resultados e a discusso a serem expostos seguidamente pela
respectiva sequncia. Neste estudo foram seguidas as normas da Universidade Lusfona
de Humanidades e Tecnologias para elaborao e apresentao das teses de mestrado
(Primo & Mateus, 2008), tendo as citaes, as referncias bibliogrficas, apresentao
de tabelas e figuras, respeitado as normas de publicao da American Psychological
Association (APA, 6 edio).
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Captulo 1 Enquadramento Terico
Em primeiro lugar deve-se fazer referncia ao modelo de reabilitao utilizado
na instituio onde decorreu o estudo, de modo a compreender melhor quais os efeitos
que este poder ter sobre o indivduo no seu processo de reabilitao. Assim, o modelo
de reabilitao corresponde ao Modelo Minnesota que no se configura como uma
abordagem totalmente original, pois ela vai beber informao de vrias fontes, como a
psicologia cognitivo-comportamental, os princpios dos Alcolicos Annimos (AA) e
palestras didcticas (Spicer, 1993). Assim, a originalidade deste modelo encontra-se
numa nova maneira de juntar e adaptar os diversos elementos que o compe (Spicer,
1993).
Sendo este modelo flexvel e largamente adaptado, apresenta uma perspectiva
nica no tratamento, tendo assim trs linhas fundamentais de orientao:
1 Tratar pessoas com dependncia qumica s no sculo XX que o
tratamento de dependncia se torna mais humano, evitando que o dependente qumico
seja ignorado, castigado ou enclausurado em instituies mentais ou em prises sem
antes poder ser tratado pela sua doena. O alcoolismo uma perturbao independente
das questes sociais desviantes, como o comportamento imoral ou ilegal. Desta forma,
ele afecta todas as classes sociais, grupos tnicos e naes. No atinge apenas as pessoas
margem da sociedade, mas tambm membros respeitados com boas famlias e
empregos.
2 Trat-los com dignidade tratar qualquer adicto ou alcolico com
dignidade e respeito, transmitindo a mensagem que ele em tratamento no ser julgado,
mas sim bem recebido, de forma a sentir-se parte integrante de um todo.
3 Trat-los como pessoas completas (corpo, mente e esprito) Os pacientes
recebem tratamento imediato sobre as consequncias fsicas da adico, incluindo
tratamento mdico e desintoxicao (antes de entrarem no programa residencial). O
modelo Minnesota tambm trabalha a nvel intelectual, ensinando novas estratgias para
modificar hbitos mentais, atravs da psicoterapia cognitivo-comportamental, como a
Terapia Racional Emotiva desenvolvida por Albert Ellis. A necessidade dos pacientes
aprenderem a viver as suas vidas a um nvel espiritual importante neste modelo. Nesta
rea trabalhado o conhecimento das limitaes e vulnerabilidades individuais, bem
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como a necessidade de aceitar a ajuda que outras pessoas possam oferecer. A
espiritualidade ento um processo individual de relacionamento com o Poder
Superior, conforme cada um o concebe.
1.1.1. A Reabilitao
A reabilitao consiste no principal objectivo deste modelo, sendo
considerados por Spicer (1993) os seguintes componentes chave:
a) Colaborao entre pacientes e equipa teraputica para definir o
caminho de recuperao.
b) O principal foco de ateno no tratamento a mudana de estilo
de vida.
c) Tratamento a longo prazo sobre as condies da doena, para que
o paciente aprenda a viver bem com elas progressivamente, desmistificando o
conceito da existncia de uma cura mgica sobre a doena.
d) Componente multidisciplinar do tratamento, abrangendo assim as
diversas reas de vida. A equipa teraputica dever ento ser composta por
profissionais especializados nas diversas reas de medicina e sade mental.
e) A reabilitao baseia-se em sistemas de suporte naturais, como a
famlia, amigos e os grupos de auto-ajuda, que ajudam o paciente a
responsabilizar-se sobre a gesto da sua vida e ao mesmo tempo saber utilizar os
recursos que dispe em comunidade.
1.1.2. Espiritualidade em Tratamento
Qualquer doena tem uma dimenso espiritual, suscitando questes inerentes
ao significado da vida humana. A espiritualidade dos 12 passos dos AA no se prende
com uma religio organizada, nem se baseia em qualquer tipo de doutrinas, mas prende-
se sim com recomendaes prticas que levam a uma experincia comum entre os
adictos em recuperao. Essa experincia comum corresponde sobriedade, na qual a
partilha sobre o processo de vida e recuperao se torna fundamental para o processo
individual a nvel espiritual (Spicer, 1993). Este processo de partilha suscita
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identificao, onde as pequenas diferenas individuais so respeitadas, sendo assim
possvel a participao de ateus, agnsticos, budistas, cristos, entre outros, com o
mesmo objectivo, ou seja, o esforo para a sobriedade. Apesar desta experincia comum
ser possvel atravs da partilha e identificao, o processo espiritual no deixa de ter um
cariz individual, sendo considerado o Poder Superior no uma entidade imposta, mas
sim a entidade como cada individuo a concebe (Spicer, 1993).
1.1.3. Importncia do Conceito de Doena
A nvel teraputico a dependncia vista como doena tem os seus benefcios.
Desta forma, aceitar o conceito de doena pode reduzir o sentimento de culpa no
dependente qumico e facilitar a sua entrada em tratamento. Por outro lado, este
conceito de doena ajuda a promover o tratamento em detrimento da punio,
oferecendo aos alcolicos e dependentes qumicos os mesmo direitos civis que qualquer
outra pessoa com doena crnica.
O Modelo Minnesota defende a Abstinncia total para qualquer qumico
alterador da conscincia como nica forma de combater a doena. A razo no se
prende com a negao do prazer, mas sim porque a opo mais segura, pois o
consumo controlado acarreta demasiados riscos (Spicer, 1993).
A importncia da responsabilidade tambm salientada. Neste modelo, maior
parte da recuperao do indivduo surge como resultado das suas decises e aces,
sendo assim enfatizadas as opes de vida e a responsabilidade pessoal.
luz deste modelo, a adico vista como outras doenas que so
profundamente influenciadas pela opo de estilo de vida. O cancro, a doena arterial
coronria e a diabetes so rapidamente identificados como doenas, mesmo quando as
mudanas de estilo de vida possam adquirir um papel fundamental no seu
desenvolvimento. Da mesma forma, como um diabtico tem de ter ateno com o seu
consumo de acar, o adicto tambm incentivado a mudar o seu estilo de vida atravs
das suas atitudes e aces.
Desta forma, a concepo de doena neste modelo tambm vista como uma
perturbao comportamental, para assim responsabilizar o indivduo na sua
recuperao, dando-lhe alternativas ao seu habitual comportamento (Spicer, 1993).
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1.1.4. Enquadramento do Modelo Minnesota
1.1.4.1 Conceitos Bsicos:
a) Aceitao do alcoolismo (ou outra dependncia qumica) como uma
doena que o doente no contraiu intencionalmente a partir de um comportamento de
consumo.
b) Reconhecimento da responsabilidade do doente na sua recuperao
com o corolrio que o objectivo do tratamento apoiar o doente a alcanar por ele
mesmo a recuperao em vez de lhe impor uma cura.
c) A convico de que a abstinncia total de todas as drogas
recreativas alteradoras de humor ou euforignicas o objectivo primordial do
tratamento e o nico caminho para a recuperao.
d) O uso dos 12 passos e das 12 tradies e a literatura dos Alcolicos
Annimos / Narcticos Annimos (AA/NA) no programa de tratamento.
e) Existncia de uma equipa tcnica multidisciplinar (mdico
psiquiatra, psiclogos, enfermeiros, tcnicos de servio social e addiction counselors.
f) Uso de tcnicos addiction counselors / (cerca de 40% obtidos a
partir de doentes com 2-5 anos de recuperao e posteriormente profissionalizados).
g) A nfase na psicoterapia de grupo como primeira modalidade de
tratamento.
h) A importncia do milieu teraputico como tarefa comunitria
prioritria.
1.1.4.2 Trabalho Quotidiano do Tratamento
a) Psicoterapia de grupo diria com grupos de 8-10 doentes.
b) Palestras didcticas 2 a 3 vezes ao dia tendo como prelectores mdicos
psiquiatras, psiclogos, enfermeiros, terapeutas familiares e addiction counselors.
c) Frequncia com sesses internas e externas de reunies dos grupos de auto-
ajuda de Alcolicos e Narcticos Annimos (AA/NA).
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d) Componente do programa de interveno familiar enfatizando os princpios
dos grupos de auto-ajuda familiar de 12 passos Alcolicos Annimos e Famlias
Annimas (AA e FA).
e) Responsabilizao de tarefas pelo doente como escrever a histria da sua
vida no contexto de lcool e drogas e seu consumo, contactar membros da famlia,
assumir tarefas comunitrias como por exemplo ser responsvel por orientar um novo
doente admitido.
f) Participao em subgrupos com tpicos como Sida, raiva, comunicao,
mecanismos de coping, assuntos especficos masculinos e femininos, abuso sexual,
objectivos de recuperao, tcnicas de relaxamento, sintomas de abstinncia a longo
prazo (ALP) e preveno da recada.
g) Aconselhamento individual e monitorizao semanal do progresso do
tratamento e orientaes para ps-tratamento.
h) Exerccio fsico e actividades recreativas
1.1.4.3 Filosofia Quotidiana do Tratamento:
a) Forte orientao da filosofia dos Alcolicos Annimos e Narcticos
Annimos (AA e NA).
b) Avaliao inicial psiquitrica e psicolgica com recurso psicometria.
c) Forte interveno teraputica dos addictions counselors.
d) Apoio mdico psiquitrico e de clnica geral para comorbilidades.
e) Psicoterapeutas treinados de forma sistemtica em tcnicas de Gestalt,
psicodrama, terapia da realidade, anlise transaccional, terapia comportamental de
manejo do stress.
f) Uso da comunidade teraputica e interveno na crise.
g) Incluir elementos do meio laboral e familiares no programa teraputico.
h) Planificao de cuidados ps tratamento envolvendo o meio laboral,
amigos e familiares.
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1.2. Interveno de Reabilitao Biopsicossocial
1.2.1. Interveno Teraputica
A interveno teraputica encontra-se centrada nas orientaes do Projecto
Match, do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA USA),
na qual a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia dos 12 passos e a Terapia
Motivacional correspondem s trs principais abordagens de tratamento (Carrilho,
Maymone e Oliveira, 2004). Estas abordagens so combinadas de forma a integrar o
programa de reabilitao, pois tm demonstrado melhores resultados utilizadas de forma
integrativa do que de forma isolada.
Por outro lado, as diferenas idiossincrticas entre os pacientes levaram
utilizao de um modelo integracionista, no qual o objectivo adequar o modelo de
tratamento s caractersticas especficas de cada paciente, fornecendo um leque
abrangente de estratgias (Carrilho et al., 2004).
Ainda considerando as diferenas entre a populao dependente, como a idade,
pedido de ajuda cada vez mais precoce, duplos diagnsticos, possibilidade de repetidos
insucessos, doenas secundrias adico e as modificaes sociais e econmicas
inerentes a esta problemtica, a instituio opta pela utilizao dos critrios da
Sociedade Americana da Adico PPC2R (Patient Placement Criteria). Esta
metodologia cruza dimenses de avaliao do estado geral do paciente com nveis de
interveno de intensidade gradual, que so apresentadas com uma periodicidade
semanal em reunies de consenso dos objectivos teraputicos, quer seja na avaliao
inicial de encaminhamento, quer seja durante o tratamento para possibilitar uma
monitorizao da evoluo do paciente (Carrilho et al., 2004). As dimenses so as
seguintes:
1 Intoxicao aguda e/ou potencial de abstinncia aguda
2 Condies e complicaes biomdicas
3 Condies e complicaes emocionais / comportamentais / cognitivas
4 Prontido para a mudana
5 Potencial de recada
6 Ambiente de vida (famlia e amigos)
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1.2.2. Interveno Motivacional
A negao corresponde a uma das principais caractersticas da doena, que se
traduz por um mecanismo psicolgico de manuteno do consumo e comportamentos
associados. Mesmo quando o indivduo possui alguma conscincia do seu problema,
existe a minimizao do problema e das suas consequncias, tendo o indivduo uma
postura pouco aberta para a necessidade de tratamento em programa intensivo (Carrilho
et al., 2004).
Com a utilizao do modelo de Prochaska e Diclemente, identifica-se a
conscincia cognitiva e o impacto emocional que a pessoa tem sobre o seu problema, de
forma a poder elaborar estratgias de interveno que possibilitem uma evoluo
positiva nesta consciencializao e insight. Com esta interveno pretende-se que o
paciente tenha uma maior disponibilidade para a identificao de problemas e respectiva
mudana em detrimento de uma resposta emocional ao envolvimento com o grupo de
terapia (Carrilho et al., 2004).
Os momentos correspondentes a esta interveno prendem-se com uma fase
anterior entrada para tratamento, sendo o indivduo avaliado e preparado para a
entrada no tratamento residencial, altura em que poder coincidir com a finalizao de
um processo de desintoxicao mdica.
1.2.3. Interveno Familiar
A interveno familiar realizada durante o programa de tratamento
residencial, tendo como objectivo aferir a ideia que a famlia tem sobre o problema e o
modo como vivem com esse problema, com a facilitao de um tcnico especializado.
Torna-se importante que a famlia perceba e reconhea a doena do seu familiar, tanto
na forma como olha e lida com o doente, como para que cada elemento elabore e viva as
situaes de modo mais saudvel (Carrilho et al., 2004).
Os objectivos nesta rea de interveno abrangem diversos campos. Primeiro
necessrio que a famlia perceba que a dependncia uma doena que no afecta s
aquele que consome, mas tambm tem repercusses nos que esto sua volta,
instalando-se padres de comunicao, comportamentos e sentimentos disfuncionais,
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mantidos por ambas as partes. Normalmente as famlias tendem a organizar as suas
vidas de volta do dependente, tentando control-lo, modific-lo, protege-lo, castig-lo,
etc. Este padro de comportamento operacionalizado atravs do conceito de co-
dependncia, especfico da abordagem sistmica do Modelo Minnesota (Carrilho et al.,
2004).
Por ltimo, necessrio trabalhar o conjunto de expectativas que a famlia tem
sobre o tratamento, para que esta tenha uma melhor noo do que esperar do dependente
e de como poder interpretar e reagir nas diversas situaes.
1.2.4. Preveno da Recada
O tratamento residencial complementado por seis meses de reunies
semanais de Preveno da Recada. semelhana das reunies dos grupos de auto-
ajuda, cada elemento partilha livremente sem que seja permitido um dilogo com os
restantes elementos presentes. No final, o tcnico intervm pontuando as vrias
partilhas, salientando os aspectos mais importantes, como os aspectos positivos
partilhados, como tambm as dificuldades sentidas no processo de recuperao de cada
elemento (Carrilho et al., 2004).
Nestas reunies d-se especial ateno rede social de apoio e ao uso que o
indivduo faz da mesma, s mudanas que introduz na sua vida e s estratgias que
utiliza para ultrapassar questes como desejos de consumir, frustrao, tdio,
sentimentos negativos, entre outros. Em algumas situaes, quando se verifica
necessidade para um acompanhamento individual, esse iniciado com o doente em
recuperao, com o propsito de trabalhar as suas dificuldades no aqui e agora.
1.2.5. Objectivos Semanais do Programa Residencial
Primeira semana O objectivo principal quebrar a negao. Nesta semana
utiliza-se principalmente o confronto com dados objectivos de vida e a reviso da
realidade individual de cada elemento do grupo. Para ser atingido o objectivo, o
procedimento teraputico tem por base a Terapia da Realidade de William Glasser
(Carrilho et al., 2004).
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Segunda semana O objectivo principal tomar conscincia das perdas
vividas. Numa primeira fase ensina-se a estar com as emoes e a exterioriz-las
adequadamente, depois, o objectivo substituir a responsabilidade pela culpa. de
igual forma importante salientar o suporte do grupo para o indivduo, no que respeita
reviso dos seus recursos e possibilidades, bem como pelo facto de estar acompanhado
no seu processo de mudana (Carrilho et al., 2004).
Terceira semana O objectivo principal corresponde ao comear a construir
um novo estilo de vida. Desta forma, pretende-se uma identificao clara das
dificuldades e recursos, para assim iniciar a formulao de estratgias para a
recuperao. Nesse sentido, torna-se importante trabalhar crenas irracionais associadas
doena atravs da Terapia Racional Emotiva de Albert Ellis (Carrilho et al., 2004).
Quarta semana O objectivo principal prende-se com a percepo e integrao
de conceitos. Nesta ltima semana de programa intensivo, o trabalho incide sobre a
adequao de conceitos, estratgias e vivncias do tratamento doena do indivduo.
Por ltimo, a sada do tratamento preparada para que o indivduo tenha a percepo
das suas dificuldades nos tempos mais prximos, para assim proporcionar uma sada de
tratamento pensada e estruturada (Carrilho et al., 2004).
1.2.6. Aspectos Gerais do Programa
Aps ter sido explanada toda a estrutura do programa necessrio reter os
principais aspectos para o nosso estudo. Em primeiro lugar, o programa direccionado
para indivduos com diagnstico de adico, seja em lcool ou em outros qumicos, pelo
que necessria uma desintoxicao fsica antes de iniciarem o tratamento de 4
semanas em regime de internamento. Outro aspecto importante neste tratamento prende-
se com a sua diversidade e integrao de diversos conceitos teraputicos. Assim, o
processo teraputico, a que este programa de reabilitao obedece, conjuga diversas
formas de facilitar em primeiro lugar a quebra da negao, depois facilita um processo
de luto em relao ao conjunto de substncias que pertencem adico do indivduo,
para posteriormente trabalhar com os pacientes as estratgias mais adequadas para um
processo de mudana eficiente e contnuo, no qual a(s) substncia(s) deixa(m) de ter
lugar.
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Dentro da perspectiva deste programa de reabilitao, os indivduos passam
por diversas fases, onde as emoes so expostas e trabalhadas, pelo que no ser
possvel imaginar um programa de reabilitao desta dimenso sem flutuaes
emocionais significativas. Contudo, necessrio abordar no s o programa e a sua
estrutura, mas tambm as emoes que se podem manifestar no seu decorrer, como
tambm os perodos mais significativos em que estas ocorrem. Desta forma, para
compreender melhor o processo teraputico e como poder este ter influncia no
processamento emocional dos indivduos, ser seguidamente explorado o campo
emocional atravs de vrias teorias que podero ser teis para este objectivo.
1.3. Emoo
Conforme anteriormente mencionado, o programa de reabilitao alvo deste
estudo, prende-se essencialmente a um processo de mudana que promove abstinncia
total nos indivduos adictos. As emoes, como em diversas circunstncias, tm um
papel fundamental no decorrer deste processo de mudana. Desta forma, como grande
parte da investigao sobre o valor positivo das emoes tm-se prendido com a
Psicologia Positiva, torna-se imperativo fazer uma breve introduo desta rea neste
estudo (Gable & Haidt, 2005).
1.3.1. Psicologia Positiva
Na segunda metade do sculo XX a Psicologia centrou-se substancialmente na
explorao de conceitos como a depresso, violncia, racismo, gesto da auto-estima e
formas de superar adversidades, mas desenvolveu pouca explorao emprica sobre
outros aspectos, como as foras, virtudes e condies que levam as pessoas a nveis
elevados de felicidade (Gable & Haidt, 2005). Se colocarmos esta questo de forma
metafrica, a Psicologia neste perodo aprendeu a levar as pessoas dos oito pontos
negativos para o estado neutro, mas pouco aprendeu sobre levar as pessoas do estado
neutro para os oito pontos positivos (Gable & Haidt, 2005).
No incio da segunda metade do sculo XX a Psicologia nos Estados Unidos da
Amrica, maior referncia para a Psicologia a nvel mundial, direccionou-se para uma
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investigao centrada nas doenas mentais. Dois acontecimentos importantes estiveram
na base desta preferncia na investigao, sendo eles a criao da Administrao para
Veteranos de Guerra (Veterans Administration), em 1946, e a criao do Instituto
Nacional de Sade Mental (National Institute of Mental Health), em 1947, que
proporcionaram vantagens econmicas, profissionais e sociais para os psiclogos e
investigadores se dedicarem ao desenvolvimento de investigao sobre doenas
mentais, fortalecendo desta forma o enfoque sobre a rea patolgica (Seligman &
Csikszentmhihalyi, 2000). indubitvel que tenham surgido benefcios desta
investigao, como possibilitar o emergir de cuidados paliativos, individuais e
colectivos que diminuem o sofrimento e a disfuno na vida dos pacientes (Seligman,
Park & Rashid, 2006). Contudo, apesar dos grandes avanos, estes valiosos contributos
ajudaram a construir uma cincia psicolgica baseada no modelo mdico, que parece ter
esquecido parte dos seus objectivos iniciais, como tornar a vida das pessoas mais feliz e
produtiva e identificar e desenvolver talentos (Gable & Haidt, 2005).
Se recuarmos ao incio do sculo XX, atravs dos escritos de William James
em 1902 sobre a mente saudvel, reconhecemos alguns caminhos que nos remontam a
uma tentativa primordial de emergncia da Psicologia Positiva. Para Allport surge o
interesse nas caractersticas positivas do Homem em 1958, enquanto Maslow defende o
estudo de pessoas saudveis em detrimento do estudo sobre pessoas doentes. Contudo, a
segunda metade do sculo XX foi marcada pela nfase em estudos sobre as
perturbaes e danos, enquanto os aspectos mais positivos, como o que faz a vida valer
a pena ficou remetido para segundo plano. a partir do reconhecimento desse
desequilbrio e atravs de um desejo de incentivar a investigao nessas reas
negligenciadas, que surge o recente movimento da Psicologia Positiva (Gable & Haidt,
2005).
Aps o emergir do movimento da Psicologia Positiva, por parte de Seligman
em 1998, na altura presidente da American Psychology Association (APA), comeou a
surgir investigao sobre reas como a gratido, perdo, admirao, inspirao,
esperana, curiosidade e riso, reas estas que pouco tinham sido exploradas antes do
inicio do sculo XXI. Outros cientistas esto a estudar tcnicas para melhorar o bem-
estar atravs da motivao, escrita, terapia de bem-estar e exposio a espaos verdes
(Gable & Haidt, 2005).
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Contudo, a Psicologia Positiva no determina que a restante Psicologia seja
negativa. De facto, maior parto do trabalho realizado em investigao neutro (Gable &
Haidt, 2005). Mesmo assim, os investigadores de Psicologia Positiva acreditam em dois
lados, em reas como a cognio, desenvolvimento e personalidade, embora o lado
positivo tenha sido sempre negligenciado (Gable & Haidt, 2005). Se tomarmos como
exemplo a rea da moralidade, existem milhares de estudos publicados sobre emoes
morais negativas ou emoes sentidas aps o indivduo sofrer actos moralmente
incorrectos (raiva, desprezo e averso) ou quando se cometem esses mesmos actos
(vergonha e culpa) (Gable & Haidt, 2005). No entanto, existem poucos estudos
empricos na rea da moralidade sobre emoes positivas, emoes que existem quando
se manifestam condutas moralmente correctas (gratido, admirao) (Haidt, 2003).
Apesar das desigualdades, o objectivo da Psicologia Positiva no negar os
aspectos angustiantes, desagradveis ou negativos da vida, nem os tenta ver atravs de
uns culos cor-de-rosa (Gable & Haidt, 2005). Este movimento reconhece a existncia
do sofrimento humano, do egosmo, dos sistemas disfuncionais familiares e das
instituies ineficazes. Mas o objecto de estudo da Psicologia Positiva centra-se no
outro lado da moeda, nas formas como se sente alegria, como se demonstra altrusmo e
como funcionam os sistemas familiares funcionais e saudveis, bem como o
funcionamento das instituies eficazes (Gable & Haidt, 2005). Embora, os
investigadores na rea de Psicologia Positiva defendam que se deva explorar o lado
positivo no apenas para fazer face exclusivamente aos problemas, ao stress e s
perturbaes, contudo, acreditam que existe uma evidncia clara que muitos processos
positivos defendem-nos dos resultados negativos (Gable & Haidt, 2005).
Os investigadores em Psicologia Positiva acreditam tambm que uma melhor
compreenso sobre as foras humanas pode, realmente, ajudar a prevenir ou reduzir os
danos da doena, stress e perturbao (Gable & Haidt, 2005). Por exemplo,
investigaes sobre o coping tm demonstrado que as avaliaes negativas sobre
determinados eventos de vida que pem em perspectiva as prprias capacidades do
indivduo, medeiam futuras experincias de stress ou sofrimento (Folkman & Lazarus,
1988). Outro exemplo, Taylor e colegas (2000) forneceram evidncias bastante
persuasivas de que as crenas como optimismo e um controlo percebido individual so
factores protectores da sade psicolgica e fsica.
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Por outro lado, existem ainda mais evidncias da importncia da Psicologia
Positiva. O estudo realizado por Harker e Kelther (2001) demonstrou que as mulheres
que expressam emoes mais positivas nas fotos escolares quando tinham vinte e dois
anos de idade, aos seus cinquenta anos tinham pontuaes mais elevadas do que as
restantes, no que respeita a satisfao pessoal e bem-estar. De forma semelhante,
Danner, Showdon e Friesen (2001) constataram que as auto-biografias feitas por freiras
nos seus vinte anos de idade previa a sobrevivncia na velhice, ou seja, as freiras cujas
autobiografias continham ensaios com emoes positivas viveram mais tempo que as
freiras cujas autobiografias no continham o mesmo tipo de ensaios.
Desta forma, podemos concluir que as evidncias da importncia que esta rea
de estudo tem para a Psicologia em particular e para a sociedade em geral so
indubitveis, pelo que o seu estudo e explorao se tornam fundamentais. Aps o que j
foi aqui explanado, podemos afirmar que se a Psicologia Positiva tem como objecto de
estudo as foras que fazem florescer a optimizao do comportamento humano, ento
fundamental explorar essa optimizao atravs da compreenso do papel das emoes
positivas na homeostasia do ser humano.
1.3.2. Homeostasia e Emoes Positivas
Em primeiro lugar deve-se compreender a importncia das emoes na vida.
Desta forma, existem mecanismos automticos que solucionam, sem qualquer
raciocnio prvio, os problemas bsicos da vida. Por outro lado, a homeostasia funciona
atravs desses mecanismos reguladores, sendo o exemplo a manuteno interna do
equilbrio qumico compatvel com a vida, manter a estrutura do organismo e defender o
organismo de processos de doena e leso fsica (Damsio, 2003).
De acordo com Espinosa o conatus corresponde tendncia que o organismo
tem de lutar contra qualquer ameaa. Segundo Damsio (2003), o conutos pode ser
definido como o conjunto de disposies cerebrais que, uma vez activados quer por
condies do ambiente externo quer pelo ambiente interno, tm como objectivo a
sobrevida e o bem-estar. Dentro da regulao homeosttica existem diversos nveis,
como as respostas imunitrias, comportamentos, motivaes, emoes e sentimentos
(Damsio, 2003).
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Com a importncia de manter a homeostasia do organismo surge a importncia
das emoes que esse organismo experimenta. Assim, no caso da alegria, os mapas
neurais correspondem a estados de equilbrio para o organismo, traduzindo-se numa
coordenao fisiolgica ptima e um fluir desimpedido das operaes da vida, que leva
ao bem-estar e sobrevida (Damsio, 2003). Por outro lado, na mgoa os mapas neurais
esto associados a estados de desequilbrio funcional, que dificultam a aco. Nestes
estados de mgoa, as consequncias como a dor ou outros sinais de doena e
desequilbrio fisiolgico manifestam-se e no caso de agravamento pode mesmo levar
doena ou morte (Damsio, 2003).
Desta forma, temos que o bem-estar contribui para o equilbrio do organismo,
ajudando-o a proteger-se de qualquer ameaa e assim manter o seu estado de
homeostasia. As emoes positivas, como a alegria, tm ento um papel fundamental
para a preservao do organismo, pois incitam o indivduo a participar em actividades
no seu ambiente, muitas delas adaptativas para o indivduo e para a sua espcie
(Fredrickson, 2001). Mesmo em momentos neutros, existe a tendncia frequente para os
indivduos experimentarem modos suaves de afecto positivo, que sem eles estariam
desmotivados para se envolverem com o ambiente de forma adaptativa (Fredrickson,
2001).
Em 1990, Isen (citado em Fredrickson, 2001) sugeriu que o afecto positivo
produz uma organizao cognitiva mais alargada e flexvel, com capacidade de integrar
informao diversa, estando este fenmeno ligado ao aumento de dopamina no crebro,
principalmente no lobo pr-frontal e cingulo anterior (Ashby, Isen & Turken, 1999).
O factor adaptativo das emoes opera nas aces do indivduo, como por
exemplo lutar quando sente medo ou atacar no caso de sentir raiva, como tambm
prepara o corpo biologicamente para essa aco, como o aumento da presso arterial em
msculos grandes no caso do medo (Fredrickson, 2001). Estas aces especficas esto
na rea de aces que melhor asseguraram a sobrevivncia dos nossos antepassados
(Tooby &Cosmides, 1990). Fredrickson (2001) sugere que existe uma qualidade
adaptativa nas emoes positivas, afirmando que existem diferenas na forma e funo
entre emoes positivas e negativas, mas mesmo sendo distintas elas complementam-se.
Nas emoes negativas as opes de aco so mais restritas (atacar, fugir), ao passo
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que nas emoes positivas o leque de aces disponveis ao indivduo estende-se (jogar,
explorar, saborear, integrar) (Fredrickson, 1998).
O balano entre emoes positivas e negativas serve como indicador dos
julgamentos subjectivos de bem-estar (Diener, Sandvik & Pavot, 1991). De acordo com
esta teoria, Kahneman (1999) sugere que a felicidade objectiva s pode ser medida
atravs das experincias de emoes positivas e negativas momentneas. Este conceito
de felicidade objectiva, onde se inclui um nmero maior de emoes positivas, pode
ser considerado como um indicador de homeostasia e consequente estabilidade, que
fundamental para a pessoa que se encontra num processo teraputico. Desta forma, ser
importante compreender a forma como a dinmica entre emoes e afectos funciona em
contexto teraputico.
1.3.3. Emoes em Contexto Teraputico
Apesar de ainda existir pouco consenso entre as diversas teorias, a perspectiva
de que as emoes so um subconjunto da classe mais ampla de fenmenos afectivos,
parece exibir uma maior solidez terica (Fredrickson, 2001). De acordo com esta
perspectiva, as emoes manifestam-se em intervalos relativamente curtos de tempo,
sendo normalmente despoletadas pela avaliao pessoal do indivduo sobre um
acontecimento ou evento prvio (Fredrickson, 2001). Aps este processo de avaliao,
consciente ou inconsciente, desencadeia-se um vasto leque de tendncias de resposta,
que se manifestam espontaneamente, atravs de vrios sistemas complexos, como a
experincia subjectiva, a expresso facial, o processamento cognitivo e as alteraes
fisiolgicas (Fredrickson, 2001).
Por seu turno, o afecto um conceito mais abrangente que se refere
acessibilidade de sentimentos conscientes (Fredrickson, 2001). Apesar de se incluir nas
emoes, o afecto tambm se manifesta em outros fenmenos, como as atitudes, as
sensaes fsicas, humores e at mesmo nos traos afectivos da personalidade
(Fredrickson, 2001). De forma a distinguir os dois conceitos, temos que as emoes so
normalmente despoletadas por uma circunstncia significativa para o indivduo, ou seja,
tm um objecto, enquanto os afectos surgem de forma livre e flutuante, pelo que no
tm objecto (Oatley & Jenkins, 1996; Russell & Feldman Barrett, 1999). Por outro lado,
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as emoes so de curta durao e manifestam-se nos sistemas complexos
anteriormente referidos, enquanto os afectos manifestam-se de forma mais duradoura e
so mais visveis no sistema complexo de experincia subjectiva (Ekman, 1994;
Rosenberg, 1998; Russell & Feldman Barrett, 1999). Enquanto as emoes tm vrias
categorizaes entre famlias distintas, como o medo e a raiva, a alegria e o interesse, o
afecto apenas varia entre duas dimenses, a activao afectiva positiva e negativa
(Tellegen, Watson & Clarck, 1999). Desta forma, podemos concluir que embora estes
dois conceitos sejam distintos, as emoes e os afectos continuam a assumir uma
ligao intrnseca.
Por fazer parte do indivduo, as emoes e os afectos constituem uma base
fundamental de trabalho teraputico. Contudo, as emoes positivas podem assumir um
significado distinto entre terapeuta e cliente, podendo existir assim dois eixos, o eixo do
valor da experincia pessoal e o eixo do valor teraputico (Fitzpatrick & Stalikas, 2008).
O valor da experincia pessoal corresponde percepo da emoo, o julgamento
pessoal da experincia, podendo esta ser positiva ou negativa, isto porque em
determinadas circunstncias o orgulho pode ser experienciado como mau e a raiva como
uma experincia boa (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). No eixo do valor da experincia
pessoal no existem emoes positivas objectivas, pois so percepes subjectivas
daquilo que sentido pelo indivduo (Gendlin citado em Fitzpatrick & Stalikas, 2008).
No que respeita ao eixo do valor teraputico, este refere-se utilidade da emoo no
processo teraputico, ou seja, todo o material que exposto nas sesses pelo cliente,
normalmente doloroso, tem o seu valor teraputico que vai sendo descoberto pelo
terapeuta ao longo das sesses (Fitzpatrick & Stalikas, 2008).
Perante esta perspectiva e sendo de extrema importncia a flutuao emocional
em contexto teraputico, Fitzpatrick e Stalikas (2008) distinguem trs categorias nas
quais os eixos de experincia pessoal e valor teraputico podem combinar em contexto
teraputico: a) experincia negativa/valor positivo; b) experincia positiva/valor
negativo; c) experincia positiva/valor positivo. Esta ltima categoria, na qual o
terapeuta pode explorar o benefcio teraputico de uma experincia positiva do cliente,
tem sido at hoje negligenciada, mas parece oferecer uma das maiores oportunidades de
expanso a nvel teraputico (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Ao considerar o exemplo de
experincia emocional excessiva como o excessivo fascnio e/ou interesse, quando
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funcionam como forma de evitar outros sentimentos mais dolorosos, consegue-se
perceber que existe um valor teraputico negativo que necessita de ser trabalhado pelo
terapeuta, como acontece na categoria de experincia positiva/valor negativo
(Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Por outro lado, nalgumas terapias que trabalham com
funes defensivas, os clientes so ajudados atravs de um trabalho que utiliza emoes
positivas de forma a alargar o seu reportrio emocional, possibilitando assim o
reconhecimento de experincias negativas e melhores formas de lidar com elas
(Fitzpatrick & Stalikas, 2008).
Naturalmente, dentro do contexto teraputico expectvel que se observe um
maior bem-estar e mais experincias positivas quando os clientes comeam por
beneficiar da terapia, sendo este um indicador de mudana (Fitzpatrick & Stalikas,
2008). Mas, segundo Fitzpatrick & Stalikas (2008), as emoes positivas no indicam
apenas que a mudana ocorreu, elas tambm podem ser consideradas como motores
geradores de mudana. Desta forma, se o cliente comea a experienciar mais emoes
positivas no decorrer do processo teraputico, ento podemos concluir que o processo
de mudana ocorreu ou est a decorrer.
Assim, para melhor compreender esta aco das emoes positivas em
contexto teraputico, devemos primeiro compreender a teoria broaden-and-build das
emoes positivas proposta por Fredrickson em 2001. Segundo esta teoria, as emoes
positivas, como a alegria, interesse, satisfao, orgulho e amor, embora
fenomenologicamente distintas, todas partilham a habilidade de alargar os reportrios
momentneos de pensamento-aco das pessoas e criam recursos duradouros, que vo
desde os recursos fsicos e intelectuais at aos recursos sociais e psicolgicos, recursos
estes que podero ser utilizados em situaes futuras (Fredrickson, 2001). Ao contrrio
das emoes negativas que funcionam melhor em situaes de risco de vida, onde
necessria uma aco rpida, como o medo e a raiva, as emoes positivas parecem ter
um efeito complementar, no qual o leque de pensamentos e aces que surge na mente
alargado (Fredrickson, 1998). A alegria, por exemplo, amplia por gerar o impulso de
jogar, de testar limites e ser criativo (Fredrickson, 2001). Por outro lado, o interesse
uma emoo positiva que amplia ao criar o impulso para explorar, receber novas
experincias e informao que expande a pessoa durante esse processo
(Csikszentmihalyi, 1990; Izard, 1977; Ryan & Deci, 2000). O orgulho, tal como Lewis
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(citado em Fredrickosn, 2001) postula, uma emoo positiva relacionada com as
realizaes pessoais, amplia ao criar o impulso de partilhar a notcia de realizao com
outros e a perspectivar conquistas ainda maiores no futuro. Todo este conjunto de
tendncias de pensamento-aco como o jogar, explorar integrar e vislumbrar
realizaes futuras, representam alguns dos modos como cada emoo positiva pode
ampliar a forma habitual de pensar e agir (Fredrickson, 1998; Fredrickson, 2001).
Esta teoria prope que as emoes positivas ampliam a abrangncia de
sistemas como a ateno, cognio e aco, criando recursos intelectuais, fsicos e
sociais (fredrickson, 2001). Os recursos adquiridos no processo descrito pela teoria
broaden-and-build das emoes positivas, so considerados como duradouros, pois
sobrevivem a estados de transio emocional, mas ficam a funcionar como reserva que
poder ser utilizada sempre que seja necessria em diferentes momentos e em diversos
estados emocionais (Fredrickson, 2001). Assim sendo, a teoria de Fredrickson (2001)
providencia uma nova perspectiva sobre o factor adaptativo das emoes positivas. Os
nossos antepassados tambm passaram por este processo, ao experienciarem emoes
positivas conseguiram aumentar os seus recursos de forma a tornarem-se mais capazes
de sobreviver e de reproduzir, pelo que a seleco natural desde essa altura
providenciou o facto de essa capacidade fazer hoje parte da natureza humana
(Fredrickson, 2001).
De volta ao contexto teraputico, Fitzpatrick & Stalikas (2008) consideram que
as emoes positivas geram um papel facilitador no processo de mudana. O papel
facilitador das emoes positivas opera atravs do apoio ou da relao teraputica, que
pode assumir diversas formas (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Desta forma, podemos
referir algumas situaes onde o processo de mudana pode ser facilitado pelas emoes
positivas. A experincia de ser reconhecido gera emoes positivas, bem como sentir
amor e gratido para com o outro gera uma forma de cura pelo afecto (Fitzpatrick &
Stalikas, 2008). Quando a terapia est a correr bem, existe prazer no contacto entre
paciente e terapeuta (deRoten, Drapeau & Michel, 2008). O desenvolvimento de
esperana cria motivao e suporta os esforos para assumir a responsabilidade no
trabalho teraputico de mudana (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Um foco teraputico
entre as experincias emocionais e a sua reflexo torna-se um foco importante de
insights e explorao teraputica (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Quando os clientes
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ficam curiosos, o seu foco cognitivo amplia para incluir ideias novas ou rejeitadas
anteriormente, assim, com o aumento da flexibilidade pode facilitar a resoluo da
ambivalncia e ajuda a uma abertura para actividades que levam mudana (Fitzpatrick
& Stalikas, 2008). Wagner e Ingersoll (citado em Fitzpatrick & Stalikas, 2008) propem
que as emoes positivas que ocorrem atravs de mudanas iniciais nas sesses levam a
uma cascata de sentimentos de confiana que suportam o processo de mudana. Por
outro lado, as experincias emocionais positivas, como a confiana, facilitam a
consolidao dos ganhos teraputicos de forma a suportar a mudana continuada
(Fitzpatrick & Stalikas, 2008).
Desta forma, a importncia das emoes positivas em contexto teraputico
reside na sua capacidade de gerar a flexibilidade necessria para que o processo de
mudana ocorra (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Especificamente na rea da reabilitao
de adictos, o processo de mudana o foco de todo o trabalho teraputico, no qual os
indivduos passam desejavelmente primeiro pelo reconhecimento do seu problema e
posteriormente comeam a adquirir competncias para mudar o seu comportamento de
forma a atingirem a abstinncia duradoura (Spicer, 1993). Contudo, o programa de
reabilitao de quatro semanas exposto nos dois captulos anteriores, no de forma
alguma um processo no qual as emoes positivas se esperam mais predominantes
durante todo o processo, mas consiste num trabalho teraputico onde se espera uma
enorme flutuao emocional nos indivduos, entre os dois eixos, positivo e negativo.
1.3.4. Contexto Teraputico e Fluxo Emocional
De acordo com as teorias expostas no ponto anterior, as emoes positivas tm
um papel importante no processo de mudana, sendo mesmo consideradas como o seu
motor gerador desse mesmo processo (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Contudo, em
contexto teraputico no se assiste s a emoes positivas, medida que os clientes vo
aumentando a sua abertura, tambm vo entrando em contacto com uma maior fluidez
de experincia interior que contm ambas as categorias emocionais, positivas e
negativas (Lambert & Enkson, 2008). Um exemplo ilustrativo desta flutuao em
contexto teraputico corresponde ao luto elaborado por Russel & Fosha (citado em
Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Numa situao de luto mal resolvida, o cliente comea
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por chorar a morte que nunca tinha sido chorada, pelo que desenvolve sentimentos
semelhantes a alvio e libertao de um peso ou fardo, essa libertao leva ao
reconhecimento da perda que at ento tinha sido negada pelo prprio atravs de
mecanismos defensivos. Aps este trabalho, o cliente comea por sentir alegria, orgulho
e mais confiana no terapeuta e na terapia, o que faz com que surjam novas emoes
positivas e negativas, flutuando numa abertura de experincia emocional intensa Russel
& Fosha (citado em Fitzpatrick & Stalikas, 2008).
Se considerarmos que no avano de um bom processo teraputico o cliente
experiencia uma maior abertura emocional, desta forma esperado que exista a
presena de uma maior flutuao entre emoes positivas e negativas, pelo que poder
ser provvel a ocorrncia de ambas ao mesmo tempo, ou seja, a ocorrncia de emoes
mistas. Embora no exista investigao sobre emoes mistas em contexto teraputico,
esta flutuao emocional especfica pressupe a existncia de experincias com mistura
de emoes, havendo evidncias de emoes positivas e negativas a ocorrerem juntas,
se no mesmo em simultneo (Ersner-Hershfield, Mikels, Sullivan & Carstensen, 2008).
A co-ocorrncia de duas emoes opostas ainda hoje um tema controverso
dentro do campo da investigao emocional. Alguns modelos, como o modelo
circumplexo de Russell e Carroll (1999), parecem dividir a experiencia emocional em
positiva e negativa, pelo que a ocorrncia das duas s poder ser sequencial (Carrera &
Oceja, 2007). Contudo, outras investigaes, como o modelo do espao avaliativo
(Cacioppo & Bernston, 1994) abrem a possibilidade de ocorrerem duas emoes
opostas em simultneo, para alm de ocorrerem sequencialmente (Carrera & Oceja,
2007). No seguimento de avanos nesta rea, investigao posterior (exemplo modelo
analgico de Sonnemans & Frijda, 1994) mostrou, atravs de um mtodo analgico
sobre emoes subjectivas, que o fluxo emocional tem variaes na durao e
intensidade, abrindo assim a possibilidade de captar as variaes no fluxo emocional e
perceber se a mistura de emoes poder ser simultnea ou sequencial em determinadas
situaes (Carrera & Oceja, 2007).
Contudo, apesar da controvrsia, surge uma medida reveladora nesta rea
concebida por Carrera e Oceja (2007), a medida analgica de emoes (AES), que
permite aos investigadores e participantes discriminar pormenorizadamente, atravs de
um grfico bidimensional, as experincias emocionais mistas. Esta medida avalia o
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fluxo emocional subjectivo atravs de duas dimenses, a intensidade e durao
respectivamente, permitindo a ocorrncia de duas emoes opostas (Carrera & Oceja,
2007). Por outro lado, a escala permite tambm discriminar qual a emoo que
prevalece em termos de intensidade durante determinada experincia emocional mista
simultnea, bem como vrias outras estruturas sequenciais que permitem determinar
qual a emoo que se verifica no inicio e qual se manifesta no final do episdio
emocional (Carrera & Oceja, 2007).
Conforme a perspectiva das emoes mistas, o indivduo experiencia um misto
de emoes opostas, como a tristeza e a alegria, num determinado perodo. Segundo a
perspectiva de Duncker (1941), as emoes mistas surgem atravs da conscincia ou
antecipao de se perder algo que j se teve, como tambm atravs das situaes finais
na vida que marcam a passagem do tempo, passar da escola secundria para a
universidade, sair de casa dos pais, etc. Desta forma, parecem existir momentos mais
propcios ocorrncia deste tipo de fluxo emocional misto. De acordo com os
resultados do estudo de Ersner-Hershfield e colaboradores (2008), as emoes mistas
tendem a ocorrer nos finais mais significativos, ou seja, situaes de vida que marcam a
passagem do tempo.
Em ltima anlise, o fluxo emocional que poder ocorrer num centro de
reabilitao de alcoolismo e toxicodependncias dever, certamente, sofrer variaes
durante o seu decorrer, pelo que no esperado um fluxo emocional constantemente
estvel ao longo do tempo. Com todos os aspectos anteriormente expostos, em relao
ao prprio programa de reabilitao e relativamente ao suporte terico que respeita s
emoes, desenvolvem-se as expectativas que se podem considerar nesta investigao.
1.4. Objectivos do Estudo
O presente estudo tem como principal objectivo verificar o fluxo emocional de
forma progressiva nos indivduos com diagnstico de adico, durante o decorrer de um
programa de reabilitao biopsicossocial de aproximadamente 28 dias. Pretende-se
igualmente verificar as alteraes emocionais e o estado de conscincia cognitiva para a
mudana, bem como verificar a progresso da auto-estima e do controlo percebido
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sobre a vida, durante todo o processo de tratamento em internato, para assim perceber a
evoluo do fluxo emocional.
Desta forma, surgem questes de interesse para a investigao. A primeira
questo principal surge sobre as emoes no decorrer do programa como: Ser que ao
longo do programa existem alteraes no rcio de positividade, no controlo percebido e
na satisfao pessoal? Ser que no decorrer do programa a motivao para o tratamento
sofre alteraes? Que tipo de alteraes existem nos relatos de episdios emocionais e
nas emoes mistas? Ser que existe um aumento de emoes mistas no final do
programa de reabilitao? Tentando responder a estas questes de interesse para a
investigao procede-se recolha de dados atravs do protocolo criado com esse intuito.
De forma a direccionar as questes de interesse para a presente investigao,
procedeu-se ao levantamento das seguintes hipteses, tendo em conta todos os estudos
anteriormente mencionados e acreditando na eficincia do tratamento: H1 esperado
uma evoluo positiva no rcio de positividade ao longo do decorrer do programa. H2
esperado que com o decorrer do programa surja uma evoluo positiva na satisfao
pessoal e no controlo percebido. H3 esperado que exista um maior Reconhecimento
do Problema, maior Aco e diminuio da Ambivalncia.
Captulo 2 Mtodo
2.1. Participantes
A amostra foi recolhida num centro de tratamento de alcoolismo e
toxicodependncia, com a devida autorizao da prpria instituio. Todos os
participantes so portadores de doena de adico tal como definida pelo modelo que
vigora na instituio. Desta forma, a amostra constituda por 30 participantes, sendo
que 28 (93,3%) so do sexo masculino e apenas 2 (6,7%) so do sexo feminino
(Apndice II).
No que respeita s idades dos participantes, verificou-se que variaram entre os
20 e os 54 anos, sendo que a mdia foi de 42,77 anos (DP=8,50).
Quanto s variveis estado civil, profisso e nacionalidade, verificou-se uma
maior frequncia de indivduos casados (50%) e solteiros (33,3%), de operrios no
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especializados (50%), sendo todos de nacionalidade portuguesa (100%), verificou-se
tambm que apenas 6.6% dos participantes no se encontrava naquele momento a
trabalhar (Apndice II).
2.2. Medidas
Registo de Episdios Emocionais esta forma de recolher dados foi criada
com o intuito de estabelecer um ponto de ligao entre as restantes medidas utilizadas.
Desta forma, na primeira folha colocou-se o espao para o relato de episdios
emocionais, onde consta inicialmente uma pequena instruo, como a que semana se
refere, semana anterior ou se actual (actual para o 3 momento de recolha), tendo
depois a instruo para descrever de forma breve a situao em que o participante
experienciou o episdio emocional. Tambm foram dadas instrues para a pessoa
preencher no mnimo um episdio e um mximo de 4 episdios, embora a folha
contenha espao para descrever 7 episdios que poderiam ser utilizados caso houvessem
enganos por parte dos participantes. O perodo de tempo para o respectivo
preenchimento ronda sensivelmente os 5 minutos.
Teste de Positividade (TP) esta escala serve para medir emoes positivas e
negativas, tendo sido criada em 2003 por Fredrickson (Fredrickson, 2003, verso mais
curta) atravs de uma modificao da escala diferencial de emoes de Izard (1977).
apresentada com vinte itens em 2009 pela mesma autora. A escala permite criar um
rcio de positividade sentido em determinado perodo de tempo (emoes positivas
divididas pelas emoes negativas, ver Fredrickson, 2009). A TP encontra-se
actualmente em adaptao para a populao portuguesa atravs do trabalho de De Sousa
& Gonalves (em preparao). uma escala ordinal composta por 20 itens, onde se
dividem os itens por duas partes iguais com emoes positivas e negativas, pelo que o
participante dever colocar a intensidade com que as experienciou, sendo o formato de
resposta tipo Likert composto por 5 pontos, entre 0 (nada) e 4 (muito). No estudo
de adaptao para a populao portuguesa a TP apresenta uma consistncia interna por
componentes de ,91 e ,94 sendo o total ,90 (Alpha de Cronbach) e uma adequabilidade
de matriz de imput de (KMO=0.908), sendo considerada uma adequabilidade muito boa
(De Sousa & Gonalves ,em preparao). O preenchimento desta medida tem uma
durao de sensivelmente 3 minutos.
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Analogical Emotional Scale (AES) esta escala foi primeiramente elaborada
em 2007 por Carrera e Oceja para avaliar a experincia emocional subjectiva, onde
existe a presena de duas emoes opostas, podendo assumir duas formas, a simultnea
e a sequencial. Esta escala consiste numa representao subjectiva de um episdio
emocional, na qual existe um grfico com dois eixos, o vertical para a intensidade e o
horizontal para a durao. Esta medida segue o exemplo proposto por Sonnemans e
Frijda (1994), corresponde a uma tcnica que permite ao indivduo desenhar a flutuao
emocional que este sentiu durante o perodo em que experienciou um episdio
emocional, tendo a particularidade de ser de fcil aplicao, podendo ser aplicada tanto
dentro como fora do laboratrio. Recentemente, aps outro estudo sobre esta medida,
Carrera e Oceja (2009) concluram que existe mais padres que podem ser definidos por
esta escala. Assim, a AES permite a discriminao de pelo menos 4 padres de
experincia emocional mista (Apndice I): a) padro de prevalncia, no qual se assiste
presena de duas emoes em simultneo, sendo uma mais prevalente, ou seja, sendo de
maior intensidade do que a outra de forma significativa; b) padro sequencial, onde
existe uma primeira emoo que no decorrer do tempo substituda por outra; c) padro
invertido, assiste-se a uma evoluo no tempo de duas emoes de forma inversa, ou
seja, quando uma emoo diminui a intensidade progressivamente e a outra acompanha
inversamente essa evoluo aumentando a sua intensidade; d) padro altamente
simultneo, onde as duas emoes so representadas de forma simultnea, mas ao
contrrio do padro prevalente as duas emoes so representadas com uma intensidade
muito prxima. Em termos de fidelidade, o ltimo estudo elaborado por Carrera e Oceja
(2009) obteve dentro das suas 4 condies de teste um resultado significativamente alto
de acordo entre codificadores, variando os ndices K de Cohen entre ,77 e ,98, valores p
< .001. Com a aplicao desta escala traduzida para portugus (De Sousa & Oliveira),
os grficos obtidos demonstraram diversas variaes dentro dos 4 padres, tornando-se
necessria a discriminao dessas variaes para o interesse do estudo. Assim, no
padro de prevalncia introduziu-se dois tipos, a positiva e a negativa, discriminando
qual das emoes a prevalente. No padro sequencial introduziu-se 4 tipos diferentes
que definem o desenho sequencial representado, sendo positiva-negativa, negativa-
positiva, negativa-positiva-negativa e positiva-negativa-positiva. No padro invertido
colocou-se dois tipos que definem qual das emoes comea com maior intensidade
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primeiro, ou seja, se comeou com uma emoo positiva ou negativa de maior
intensidade e depois inverteu essa mesma intensidade, sendo positiva-negativa e
negativa-positiva respectivamente. No padro altamente simultneo distinguem-se dois
tipos a positiva e a negativa, onde se define qual das emoes fica ligeiramente acima
da outra em termos de intensidade. Para alm destas distines introduzidas entre os 4
padres definidos pelos autores, ainda se colocou mais 2 padres que definem apenas a
presena de uma emoo durante o episdio emocional, ou seja, se foi s uma
experincia emocional negativa ou positiva. Na sua aplicao foram dadas as instrues
necessrias e complementares para que os participantes pudessem desenhar o grfico
que melhor representa a experincia emocional subjectiva, pelo que o tempo mdio de
aplicao varia entre os 2 e os 5 minutos.
Subjective Well-being (SWB) esta uma medida de auto-avaliao, pelo que
serve para aferir o bem-estar subjectivo, tendo sido criada por Diener (1995) num
estudo sobre a satisfao pessoal por diversos pases, incluindo pases da Europa, como
tambm Portugal. Da SWB seleccionmos um item apresentado numa escala de Likert
de 7 pontos, sendo o extremo esquerdo de 1 (muito insatisfeito) e o extremo direito 7
(muito satisfeito). Antes do item existe uma pequena instruo para o participante
colocar uma cruz no nmero que melhor define o grau de satisfao que sente em
relao a si prprio. Esta auto-avaliao tem uma durao de sensivelmente 1 minuto,
pelo que no so necessrias instrues adicionais.
Controlo Percebido Subjectivo (CPS) esta medida tambm de auto
avaliao, tendo sido criada por Inglehart (1998) com o intuito de aferir o controlo
percebido sobre a vida. A medida de auto-avaliao permite ao indivduo avaliar o
controlo que tem sobre os acontecimentos na sua vida. No inicio tem uma pequena
explicao sobre o controlo percebido, para que assim, o participante fique com a noo
do que pretendido. Aps a explicao pede-se ao indivduo para colocar uma cruz no
nmero que melhor define o grau de controlo que pensa ter sobre a sua vida. A CPS
contem um item com uma escala de Likert de 11 pontos, sendo o extremo esquerdo de 1
(nenhum controlo) e o extremo direito 11 (total controlo). Esta medida tem
sensivelmente um minuto de durao para ser preenchida, pelo que no so necessrias
intrues adicionais s que j esto na medida.
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Stages of Change Readiness and Treatment Eagerness Scale verso 8D
(SOCRATES 8D) esta escala de auto-administrao foi criada em 1996 por Miller e
Tonigan, posteriormente adaptada para a populao portuguesa (Fasca, Janeiro &
Miguel, 2007). A primeira verso surge em 1987 por William Miller (Miller & Tonigan,
1996) com o objectivo de avaliar em qual dos cinco estdios de mudana (Prochaska &
DiClemente, 1982) se encontram os indivduos em tratamento da adico ao lcool.
Nesta ultima verso, Miller e Tonigan (1996) concluram, aps diversos estudos, que a
escala no identifica os estdios de mudana mas avalia a motivao para a mudana
atravs de trs factores: reconhecimento do problema (6 itens); aco (7 itens);
ambivalncia (4 itens), sendo a varincia total das respostas respectivamente 22%, 13%
e 12%. Esta escala composta por 17 itens, nos quais o indivduo responde consoante
se rev em cada um, variando o formato de resposta entre 1 e 5, sendo 1 Discordo
Fortemente e 5 Concordo fortemente. A fidelidade foi testada para a verso
portuguesa numa situao de teste-reteste com dois dias de diferena obtendo resultados
aceitveis, pelo que no factor reconhecimento do problema apresenta uma consistncia
interna de ,87 e ,84 (Alpha de Cronbach), uma homogenidade de ,87 (correlao
Intraclasses) e uma estabilidade temporal expressa por uma correlao forte (r=,827;
p
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espera que a situao se agrave se nada fizer e demonstra tendncia a expressar o desejo
de mudana. As pontuaes baixas no mesmo factor indicam a ausncia de desejo de
mudana, negao das consequncias do consumo de drogas e rejeio de diagnsticos
relacionados com dependncia. No factor aco, as pontuaes altas indicam mudana,
elas significam que a pessoa j est a fazer algo para mudar em relao ao consumo de
drogas e pode j ter realizado algumas tarefas com sucesso a esse nvel. As pontuaes
baixas no factor aco significam que a pessoa no est a fazer nada para mudar em
relao ao seu consumo e portanto no obteve nenhuma mudana a esse nvel
recentemente. No factor ambivalncia as pontuaes altas reflectem incerteza, indicam
que a pessoa por vezes se questiona acerca da sua capacidade para controlar o consumo,
acerca da quantidade e dependncia do consumo e do impacto do consumo sobre as suas
relaes pessoais. As pontuaes baixas no factor ambivalncia indicam ausncia de
incerteza, contudo a pessoa pode pontuar baixo porque sabe que o seu consumo est a
causar problemas (pontuao elevada no reconhecimento do problema) ou porque sabe
que no tem problemas (pontuao baixa no reconhecimento do problema), sendo
necessria uma interpretao da pontuao de ambivalncia em funo da pontuao
obtida no factor reconhecimento do problema. O preenchimento desta escala demora
entre 5 a 10 minutos.
2.3. Procedimento
Tendo por objectivo avaliar a flutuao emocional durante o perodo de
tratamento em adico, as medidas foram aplicadas trs vezes durante todo o processo
de reabilitao biopsicossocial, exceptuando a avaliao sobre a motivao para a
mudana atravs da escala SOCRATES, que foi s aplicada em dois momentos, um no
inicio do tratamento e outro no seu trmino. A escala SOCRATES j estava a ser
aplicada pela prpria instituio, pelo que foram disponibilizados os dados para este
estudo. A sua aplicao foi executada por um tcnico do prprio servio de
internamento, sendo aplicada na sala de reunies da instituio, pedindo a colaborao
dos participantes e dando as instrues necessrias para o seu preenchimento.
As restantes medidas foram aplicadas na sala de reunies, onde decorrem todas
as sesses teraputicas do programa de reabilitao. uma sala com bastantes janelas
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que permitem a entrada de luz natural, com um espao amplo para acomodar cerca de
35 pessoas. A sala tem alguns equipamentos que so utilizados nas sesses, como um
projector e um quadro para marcadores, tem paredes brancas e cerca de 35 cadeiras com
um suporte de apoio de brao para escrita.
Inicialmente, quando o grupo comeava o seu tratamento de quatro semanas,
era solicitada a sua participao no estudo, explicando que o estudo teria assim trs
momentos de recolha, sendo um na primeira semana, outro na segunda semana e o
ltimo na quarta e ltima semana. A meio de cada semana foi feita a recolha de dados,
exceptuando a ltima semana que foi feita precisamente no ltimo dia do tratamento. A
folha de consentimento informado foi lida para todos os participantes, onde consta a
liberdade em desistir assim que o participante desejasse, bem como a confidencialidade
a que o estudo obedece. Aps o consentimento informado eram dadas as instrues
necessrias para que os participantes preenchessem o protocolo. Desta forma, os
participantes eram indicados para no primeiro e segundo momento de recolha referirem-
se semana anterior, sendo a ltima semana referente prpria semana que decorreu.
Foi solicitado aos participantes que na primeira folha de relato de episdios
emocionais, descrevessem de forma breve os episdios emocionais mais significativos
que experienciaram. Na segunda fase, preenchiam at um mximo de dois questionrios
de Teste de Positividade para os dois episdios mais importantes relatados na folha
anterior, por ordem de importncia, o primeiro mais importante e o segundo mais
importante. Aps essa fase, os participantes construam o grfico na escala AES, para o
primeiro episdio mais importante, ou seja, o episdio que serviu de referncia para
preencher o primeiro questionrio de Teste de Positividade, marcando quais as duas
emoes sentidas e qual o episdio a que se referem. Na ltima folha, os participantes
preenchiam as escalas de satisfao pessoal subjectiva e de controlo percebido
subjectivo. Durante as quatro semanas de tratamento, o preenchimento do respectivo
protocolo, em cada momento demorou sensivelmente 15 minutos, pelo que foram
sempre preenchidos na sala de reunies anteriormente referida.
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3. Resultados
Para a anlise estatstica deste estudo foi criada uma base de dados em SPSS
verso 17.0, pelo que toda a anlise foi processada neste programa. Com base na
primeira hiptese (H1) procedeu-se a uma anlise descritiva das emoes positivas e
negativas sentidas pelos participantes (Apndice III), na qual se pode constatar que
entre os trs momentos houve um aumento das emoes positivas, principalmente entre
o primeiro momento (M=6.97) e o terceiro momento (M=7.97), pelo que se verifica um
decrscimo acentuado de emoes positivas no segundo momento (M=5.09). No que
respeita s emoes negativas, pode-se verificar um acentuado decrscimo de emoes
negativas, principalmente entre o primeiro momento (M=6.27) e o terceiro momento
(M=4.83), contudo, versifica-se um ligeiro aumento no segundo momento (M=7.03).
A anlise descritiva sobre os Rcios de Positividade para cada momento
(Apndice IV) tambm sugere um decrscimo para o segundo momento, conforme
constatado no pargrafo anterior sobre as emoes positivas e o aumento das emoes
negativas para o segundo momento. Na anlise dos resultados verifica-se que existe um
aumento entre o primeiro momento (M= 1.77) e o terceiro momento (M=3.33), sendo o
segundo momento (M=1.62) marcado por um ligeiro decrscimo em relao ao
primeiro momento.
Ainda para a primeira hiptese (H1) utilizmos um teste de medidas repetidas
para uma anlise de varincia intra-sujeitos (GLM) e obtivemos um efeito principal
entre os momentos estatisticamente significativo F(58)=4.47; p=0.16, com uma
evoluo linear (p
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(M=1.15), sendo o valor no teste no-paramtrico de Wilcoxon Signed Ranks Test
(2.11; p=.035).
Figura 1. Evoluo do Rcio de positividade nos trs momentos de recolha.
Para a anlise dos resultados sobre Satisfao Pessoal e Controlo Percebido
(H2) elaborou-se uma anlise descritiva dos dados (Apndice V). Os resultados da
Satisfao Pessoal revelam um ligeiro decrscimo do primeiro (M=4.57) para o segundo
momento (M=4.4