Download - Editorial e conto literário
E D I T O R A
Aprenda a explorar esse novo recurso de interatividade na web
Realidade Aumentada
Quer conferir como funciona esta tecnologia? Siga as instruções abaixo:
1. Acesse www.revistawebdesign.com.br/realidadeaumentada
2. Direcione o ícone acima para sua webcam (aprox. 30 cm de distância)
3. Veja o demonstrativo que preparamos para você!
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outubro :: ano 6 :: nº 70 :: www.revistawebdesign.com.brR$ 11,90
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Semana de fechamento de mais uma edição da Webdesign. Toca
o celular. Penso eu, lá vem algum imprevisto de última hora! Do
outro lado da linha, é a minha grande amiga (e diretora de criação)
Camila Oliveira. O papo se inicia com algumas trocas de ideias para
acertarmos os detalhes de fechamento da revista.
A conversa se estende e confesso a ela que o tema do especial
deste mês acabou trazendo boas recordações sobre o início
do cinema 3D e os clássicos óculos ornamentados com papel
celofane vermelho e azul. Neste momento, ela me “intima” a
assistir o filme “UP - Altas Aventuras”, um dos mais recentes
projetos produzidos pela Disney/Pixar com tecnologia
tridimensional para películas cinematográficas.
Segundo ela, a mistura do moderno aparato tecnológico com uma
bela história e um roteiro bem trabalhado torna a obra numa ótima
opção de lazer, fazendo com que você participe realmente daquela
história. Para se ter uma ideia, o processo de imersão e realismo
foi tão grande que lágrimas fizeram parte das emoções vividas por
Camila durante o filme!
Depois de tamanha revelação, terminamos nossa conversa
concluindo que esse é o papel que uma tecnologia deve assumir
nos projetos, ou seja, ajudar o usuário a se sentir parte daquele
ambiente que ele deseja experimentar em determinado momento
de sua vida. Assim, esperamos que a reportagem de capa possa
ajudá-los a encontrar este diferencial na aplicação da Realidade
Aumentada em ambientes digitais.
PS: Vocês devem estar estranhando o porquê de Adriana não
nos brindar com mais um de seus interessantes depoimentos por
aqui. Diante dos novos projetos lançados pela Arteccom, como o
curso Design de Interfaces e o Workshop Magento, ela pediu para
que eu cobrisse sua ausência neste momento. No mês em que
completo quatro anos de Arteccom, agradeço a minha querida
chefinha por esta oportunidade de abrir a edição e também
fechá-la (pág.74) com a publicação de meu conto, premiado
recentemente em concurso literário.
Grande abraço e uma ótima leitura!
Luis Rocha.
Luis [email protected]
Ed
ito
rial
Tecnologia boa é aquela que mexe
com as nossas emoções
74 :: Webdesign
Sou Francisco, arquiteto e sociólogo. Filho de José
com Maria. Divorciado de Teresa, pai outrora orgulhoso de
Iracema. Quarenta e sete anos de vida real. Hoje, completo
treze de experiências virtuais. Até ontem, existiam mil
motivos para celebrar esta data, mas...
Apesar de utilizar e usufruir de todos os benefícios das
novas tecnologias de comunicação, de telefones celulares
à internet, salve o e-mail, o Skype e o MSN, ainda assim
mantive a minha paixão juvenil pela escrita e leitura dos meios
impressos e dos grandes clássicos da literatura brasileira.
Para se ter uma ideia desta idolatria, vocês devem ter
percebido, logo de início, que o nome de minha filha, Iracema,
é uma singela homenagem ao belo romance homônimo de José
de Alencar (Não conhece? Uma pena, quem sabe o Wikipedia
possa iluminar seus pensamentos... Por favor, entenda-me:
quero ser breve e compartilhar de uma vez por todas esse meu
sofrimento digital!).
No exato momento que digito esse desabafo via Google
Docs, as lágrimas inundam meu teclado cada vez que releio
uma das passagens do livro, que repousa religiosamente
ao lado do meu notebook, lembrando a tragédia ocorrida
com Iracema (e que certamente poucos terão o prazer e a
paciência de descobrir nos próximos parágrafos):
“...Além, muito além daquela serra, que ainda azula
no horizonte, nasceu Iracema... a virgem dos lábios de mel,
que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais
longos que seu talhe de palmeira...
O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde
pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas...”
Parece que foi ontem que a vi entrando toda de branco
na Igreja, durante sua primeira comunhão. Ou ainda, das
travessuras com suas amigas, brincando inocentemente na
cama de seu quarto - preparado especialmente para ela,
diga-se de passagem!
Porém, o tempo (talvez, hoje, a internet seja) é senhor
da razão e Iracema cresceu rapidamente. Como sempre, fiz
o possível e o impossível para atender a mais um de seus
desejos: ser a primeira menina do colégio a ter um poderoso
computador portátil. Sabia que chegara a hora de Iracema
conhecer o mundo - do MSN, dos blogs, do Twitter, do Orkut
-, sem estar debaixo de minhas asas protetoras.
No entanto, essa caminhada virtual implicava na idolatria
de figuras midiáticas pra lá de duvidosas, como a tal da Bruna
Surfistinha, que a deixara com um ar de Capitu, clássica
personagem de um dos clássicos de Machado de Assis,
comumente reconhecida pelos seus “olhos de ressaca, como os
de uma cigana oblíqua e dissimulada”.
Nesse ínterim de mudanças em tempo real, Iracema se
apaixonou por um sujeito popular e de alcunha Evilásio69,
mancebo bom de papo eletrônico e que prometera honrá-la
virtual e presencialmente. Mas, como pressentimento de pai
“tarda, mas não falha”, uma tragédia era questão de bits e
bytes para se consumar...
Na última semana, alertado por alguns conhecidos
“pornonautas”, investigadores desse submundo virtual
masturbatório, descubro - através do senhor de todas as
buscas, Google - que meu pequeno querubim (que, segundo o
definitivo e palpável Aurélio, significa “criança muito linda”) foi
pervertido... E o pior: tudo registrado via webcam!
Agora, Iracema é mais idolatrada do que “Eu sou
Stephany (no meu Cross Fox)”, é trending topic semanal dos
tuiteiros mundiais, além - é claro - de ser a estrela preferida
e milimetricamente exibida, nos máximos pixels e posições
possíveis, pelos sites eróticos que se multiplicam como gripe
suína pela grande rede.
Afinal, onde errei? Minha dedicação para que fosse
uma boa moça foi total. Paguei balé. Curso de inglês.
Faculdade. Dei-lhe as roupas da moda... Eu até briguei
com os meus melhores amigos para não admitir que Brás
Cubas, protagonista de outro clássico de Machado de Assis,
descobrira o sentido da vida.
Porém, depois da perversão digital, virtual e interativa de
Iracema, repetirei eternamente - via Twitter - a célebre frase
“brás-cubiana”, perfeita para os 140 caracteres permitidos,
como se fosse meu mantra da eterna libertação (on-line):
"Não tive filhos, não transmiti a
nenhuma criatura o legado
da nossa miséria".
A vida .com ela é... Ou uma
tragédia à la Nelson Rodrigues
Luis Rocha é carioca, flamenguista e jornalista. Atualmente, trabalha como diretor de redação da Revista
Webdesign. Além de escrever mensalmente todas as reportagens da revista, também procura exercitar sua veia
criativa com a produção de poesias e contos no blog Meu Lírico-Eu (http://meuliricoeu.blogspot.com).
Contato: [email protected]
“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o
buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.” (Nelson Rodrigues)
Observação: este conto foi o vencedor do III Concurso Literário | Dia do Escritor - Scritta Online (http://migre.me/6Fi2).
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