Download - E então
52 IDEIAS EM GESTÃO
Nos anos 80, trabalhei no interior do
Paraná como fi scal do crédito rural do
Banco do Brasil. Lembro bem de um
diálogo que tive com um agricultor
que havia fi nanciado uma lavoura de
mandioca. Eu estava visitando a sua
propriedade para comprovar a aplicação
dos recursos fi nanciados. Me chamou a
atenção a grande distância entre as covas
de mandioca. Perguntei por que utilizava
aquela técnica de plantio, pois, se deixasse
uma distância menor entre as plantas,
caberiam mais pés de mandioca na área. O
agricultor, então, justifi cou:
- Quem tem vida quer folga...
Acompanhei o ciclo daquela lavoura e
pude comprovar na colheita que a “folga”
entre as plantas havia resultado em uma
produtividade bem acima da média da
região.
Mesmo passados mais de 30 anos, me vem
à memória essa singela e instigante frase,
especialmente quando estou prestes a
sucumbir à neurose coletiva vigente hoje
no mundo do trabalho e que estabelece
que é normal trabalhar sob pressão.
Observo em muitas organizações que
existe um acordo tácito em que todos
devem repetir o tempo todo: “estou no
sufoco”.
Percebo até mesmo que alguns
profi ssionais têm medo de se sentirem
marginalizados em seu ambiente de
trabalho se não disserem que estão
“apagando incêndio” e outros mantras do
gênero.
É certo que estamos submetidos à pressa
dos tempos pós-modernos, mas se a ela
juntarmos a pressão, o que já era difícil
pode se tornar insuportável. Muitas
empresas, porém, estão comprovando que
a pressa de fato é inimiga da perfeição, e se
dando conta de que a pressão é inimiga de
resultados sustentáveis. Nessas condições,
a possibilidade de erro é muito maior,
especialmente por conta de decisões
precipitadas e equivocadas, além, é
claro, do desgaste emocional e físico dos
funcionários, que acaba comprometendo o
seu desempenho.
Essa soma perversa de pressa mais
pressão, se, a curto prazo, tem gerado
bons resultados às empresas, também
é responsável pelo alto índice de
adoecimento de trabalhadores. No
rústico vocabulário agronômico do sábio
agricultor, “folga” é espaço para respirar...
Até novembro!
Artur Roman