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–DIONÍSIO, O PSEUDO-AREOPAGITA–

A VIA AFIRMATIVA

«[Os autores sagrados] Chamam-na tearquia multinominável, como quando a

descrevem, em seguida, dizendo dela mesma: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 14), a

vida, a luz, Deus, a verdade, e quando os próprios autores sagrados a celebram como

causa de todas as coisas com muitos nomes tomados de todas as criaturas, como bom,

belo, sapiente, amável, deus dos deuses, senhor dos senhores, santo dos santos, eterno,

existente, autor dos séculos, doador da vida (At 17, 25), sabedoria, inteligência, verbo,

sapiente, aquele que possui em grau máximo todos os tesouros de toda ciência (cf. Cl 2,

3), potência (1Cor 1, 24), potente, rei dos reis (cf. Ap 19, 16), antigo dos dias (cf. Dn 7,

13), não sujeito à velhice (cf. Sl 102 [101], 28; Tg 1, 17), nem à mudança, como

salvação, justiça, santificação, redenção (cf. Mt 1, 21; Lc 2, 30), como aquele que

supera todos em grandeza […]. Além disso, acrescentam que ele se encontra nas

inteligências, nas almas, e nos corpos, no céu e na terra, sempre igual a si mesmo, no

universo, em torno do universo, acima do universo, acima do céu, superior à substância;

dizem que é sol, estrela, fogo, água, espírito, orvalho, nuvem, até rocha e pedra, tudo

aquilo que é e nada daquilo que é.» PSEUDO-DIONÍSIO AREOPAGITA, Dos nomes

divinos I, 6, 596a-596c (tradução de Bento Silva Santos, São Paulo, Attar Editorial,

2004, pp. 65-66).

«Assim, portanto, àquela que é causa de todas as coisas e é superior a todas as coisas

não convém nenhum nome e ao mesmo tempo convêm todos os nomes das coisas que

existem, a fim de que seja rainha de todas as coisas, e todas as coisas gravitem em torno

dela e dela dependam como causa, como princípio e como termo, e ela, segundo o dito

sagrado, seja “tudo em todos” (1Cor 15, 28) e seja verdadeiramente celebrada como

substância que dá o princípio, a perfeição e a conservação a todas as coisas, custódia e

domicílio, e se volta para si mesma e faz tudo isso de modo uniforme, invencível,

excelente. Pois não só é causa da conservação da vida e da perfeição, de modo que só

graças a esta função ou outras funções de sua providência possa ser chamada bondade

superior a qualquer nome, mas também compreende em si todos os seres de modo

simples e sem limites, em razão dos perfeitíssimos benefícios de sua única providência,

causa de todas as coisas, de sorte que podemos celebrá-la e nomeá-la convenientemente

a partir de todas as coisas que existem.» IDEM, op. cit. I, 7, 596c-597a, pp. 66-67.

«II§8. […] [645C] […] Não existe, porém, perfeita semelhança entre as causas e as

coisas causadas, mas as coisas causadas trazem em si mesmas as imagens recebidas das

causas, enquanto as causas em si permanecem separadas dos efeitos e os transcendem

em razão de sua própria natureza de princípio. Para usar imagens humanas, digamos que

os prazeres e as dores produzem o gozo e o sofrimento, mas em si mesmos [645 D] eles

não se alegram nem sofrem, e do fogo que esquenta e que queima não se pode dizer que

queime e esquente a si mesmo; se alguém diz que a vida-em-si vive e que a luz-em-si é

iluminada, segundo o meu raciocínio, fala incorretamente, a não ser que entenda com

isso, segundo uma outra interpretação, que as qualidades dos efeitos preexistem

abundante e supersubstancialmente nas causas.» IDEM, op. cit. II, 8, 645c-645d, p. 78.

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