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A viabilidade de uma insero competente do Brasil no disputado cenrio da irre-
versvel economia globalizada implica na conscientizao da indstria quanto a uma
substancial mudana nos processos de transformao, pela incorporao de prticas de
produo mais limpa.
No que se refere ao uso racional da gua nas plantas industriais, ser preciso inves-
tir em pesquisa e desenvolvimento tecnolgico, na implantao de sistemas de trata-
mento avanado de efluentes, em sistemas de conservao, em reduo de perdas e no
reso da gua. Isto levar a significativos ganhos ambientais, sociais e econmicos.
As empresas de grande porte j esto implantando tais prticas, pois dispem de
condies tcnicas e financeiras para tanto.As micro e pequenas empresas, entretan-
to, necessitam de apoio e orientao para adotarem tais sistemas em suas unidades
produtivas.
O Sistema Fiesp/Ciesp elaborou esta nova publicao com o objetivo de disponi-
bilizar a melhor e mais adequada orientao aos usurios industriais na implantao de
programas de conservao e reso de gua. Este trabalho foi desenvolvido em parceria
com a ANA Agncia Nacional de guas, e buscando a excelncia do conhecimento do
CIRRA Centro Internacional de Referncia em Reso de gua, e da DTC Engenharia.
Acreditamos ser este o nosso grande desafio: garantir que a sociedade possa con-
tinuar desfrutando de toda a qualidade de vida que a indstria pode oferecer, pela uti-
lizao da melhor tecnologia e pela incorporao dos cuidados necessrios para a
preservao do meio ambiente. Esta mais uma contribuio da Fiesp/Ciesp para o
crescimento sustentado da indstria, em harmonia com o meio ambiente e oferecendo
crescente gerao de empregos qualificados.
Horacio Lafer Piva
Presidente da Fiesp/Ciesp
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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Em decorrncia de uma relativa abundncia de gua, nunca houve uma grande
preocupao do setor industrial com este insumo, com exceo dos setores que se uti-
lizam de gua como matria-prima ou com influncia direta sobre o produto final.
Atualmente, com o surgimento de problemas relacionados escassez e poluio de
gua nos grandes centros urbanos, comea haver um maior interesse por parte de vrios
setores econmicos pelas atividades nas quais a gua utilizada, o que tambm moti-
vado pelas recentes polticas federais e estaduais sobre o gerenciamento dos recursos
hdricos.
O novo arcabouo legal, tendo por objetivo garantir gua na quantidade e qualida-
de necessrias para a atual e futura geraes, introduziu como um de seus principais ins-
trumentos a cobrana pelo uso da gua.
O resultado da implantao dessa cobrana vai representar um aumento nos custos
de produo para o setor industrial, o qual enfrentar dificuldades em termos competi-
tivos,especialmente no atual cenrio econmico,uma vez que no poder repassar estes
custos para seus produtos finais.
Esta situao tem conduzido muitas indstrias busca por um novo modelo para o
gerenciamento da gua em seus processos, considerando novas opes e solues que
impliquem em autonomia no abastecimento de gua e racionalizao no seu consumo,
onde o reso se torna no apenas uma forma de garantir seu crescimento, mas at
mesmo uma questo de sobrevivncia.
Esta publicao, ao concretizar uma ao aprovada pela Cmara Ambiental da
Indstria Paulista que estabeleceu a necessidade de elaborao de um manual sobre a
conservao e o reso de gua, objetiva oferecer subsdios para que o setor produtivo
possa contribuir de forma efetiva para o desenvolvimento sustentvel do nosso pas.
Pretende, outrossim, ser apenas a primeira de uma srie, cujos volumes futuros de-
vero ser especficos para os principais segmentos industriais que utilizam este precio-
so insumo de forma mais intensiva, tais como o de papel e celulose, siderrgico, qumi-
co, petroqumico, construo civil, alimentos e bebidas, dentre outros.
Angelo Albiero Filho
Diretor Titular do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentvel da Fiesp/Ciesp
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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A gua um insumo essencial maioria das atividades econmicas e a gesto deste
recurso natural de suma importncia na manuteno de sua oferta em termos de quan-
tidade e qualidade. Atitudes proativas so fundamentais, nesse sentido, pois apesar da
aparente abundncia de recursos hdricos no Brasil (14% das guas doces do planeta e
53% do continente sul americano), sua distribuio natural irregular nas diferentes
regies do Pas. Foi pela carncia de instrumentos de gesto que conflitos entre usurios
se instalaram em algumas bacias hidrogrficas brasileiras at o final do sculo XX, situa-
o que est sendo revertida com a implementao do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hdricos - SINGREH.Trata-se de fato importante, uma vez
que o cenrio que se apresenta o de crescimento urbano-industrial e agrcola que cer-
tamente ser acompanhado pelo aumento da demanda de gua.
Sendo o setor industrial um importante usurio de gua, fundamental que seu
desenvolvimento se d de forma sustentvel, adotando prticas como o uso racional e
eficiente da gua.As garantias de quantidade e qualidade de gua em nossos mananciais,
as quais permitiro novos investimentos, expanso da produo industrial e gerao de
emprego e renda, s podero ser conseguidas por meio de um amplo esforo do poder
pblico, dos usurios e da comunidade em torno da gesto participativa, descentraliza-
da, harmnica e racional das guas no mbito dos Comits de Bacias. As federaes e
associaes de indstrias tm um importante papel no processo de mobilizao e repre-
sentao dos seus filiados nos Comits. imperativo destacar os avanos alcanados pela
FIESP no Estado de So Paulo e o seu pioneirismo na elaborao deste Manual,que muito
contribuir na conscientizao dos usurios industriais sobre o uso racional da gua.
A ANA se sente gratificada em ter colaborado na elaborao do Manual, que repre-
sentar o marco referencial de uma srie de aes institucionais que pretendemos reali-
zar em parceria com as federaes e associaes de industriais no Brasil.Vale salientar
que misso da ANA incentivar o desenvolvimento de aes que preconizem a conser-
vao e racionalizao de uso da gua e esta poltica que vem sendo implementada.
Jerson Kelman
Diretor-Presidente
Agncia Nacional de guas
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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SUMRIO
1. INTRODUO ...................................................................................................15
2. OBJETIVOS........................................................................................................19
3. DEFINIES E ABREVIATURAS ......................................................................21
4. IMPORTNCIA DA CONSERVAO E RESO DA GUA.............................23
4.1. Os Principais Usos da gua na Indstria........................................23
4.2. Requisitos de Qualidade da gua ...................................................26
4.3. Indicadores de Consumo de gua das Indstrias .........................29
5. PROGRAMAS DE CONSERVAO E RESO DE GUA ...............................30
5.1. Conceituao .....................................................................................30
5.2. Benefcios Esperados........................................................................31
5.3 Condicionantes..................................................................................31
5.4. Sistema de Gesto da gua.............................................................32
5.5. Responsabilidades do Gestor da gua...........................................33
6. ASPECTOS LEGAIS DA CONSERVAO E RESO DE GUA .....................35
6.1. Introduo..........................................................................................35
6.2. Outorga pelo Uso da gua...............................................................35
6.3. Cobrana pelo Uso da gua ............................................................36
7. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA
DE CONSERVAO E RESO DE GUA .......................................................38
7.1. Introduo..........................................................................................38
7.2. ETAPA 1: Avaliao Tcnica Preliminar ............................................39
7.2.1. Anlise Documental ..........................................................................39
7.2.2. Levantamento de Campo .................................................................40
7.2.3. Produtos .............................................................................................41
7.3. ETAPA 2: Avaliao da Demanda de gua......................................43
7.3.1. Perdas Fsicas ....................................................................................44
7.3.2. Adequao de Processos..................................................................44
7.3.3. Adequao de Equipamentos e Componentes ..............................46
7.3.4. Controle da Presso do Sistema Hidrulico ...................................46
7.3.5. Avaliao dos Graus de Qualidade da gua ..................................46
7.3.6. Produtos .............................................................................................47
7.4. ETAPA 3: Avaliao da Oferta de gua ...........................................47
7.4.1. Concessionria ..................................................................................48
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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7.4.2. Captao Direta .................................................................................49
7.4.3. guas Subterrneas..........................................................................50
7.4.4. guas Pluviais ...................................................................................50
7.4.5. Reso de Efluentes............................................................................52
7.4.5.1. Reso em Cascata .............................................................................53
7.4.5.2. Reso de Efluentes Tratados ............................................................56
7.4.6. Produtos .............................................................................................59
7.5. ETAPA 4: Estudo de Viabilidade Tcnica e Econmica ...................59
7.5.1. Estabelecimento de Configuraes .................................................62
7.6. ETAPA 5: Detalhamento e Implantao de PCRA...........................63
7.7. ETAPA 6: Implantao do Sistema de Gesto de gua.................64
8. CONSIDERAES FINAIS................................................................................66
9. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................67
ANEXOS
Anexo I:Necessidade de gua por Algumas Indstrias no Mundo..................69
Anexo II:Aspectos Tecnolgicos da Conservao e Reso de gua.................69
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Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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1. INTRODUO
A reciclagem ou reso de gua no um conceito novo na histria do nosso plane-
ta. A natureza, por meio do ciclo hidrolgico, vem reciclando e reutilizando a gua h
milhes de anos, e com muita eficincia.
Cidades, lavouras e indstrias j se utilizam, h muitos anos, de uma forma indireta,
ou pelo menos no planejada de reso, que resulta da utilizao de guas, por usurios
de jusante que captam guas que j foram utilizadas e devolvidas aos rios pelos usurios
de montante. Milhes de pessoas no mundo todo so abastecidas por esta forma indire-
ta de gua de reso.
Durante muitos anos este sistema funcionou de forma amplamente satisfatria, o
que contudo no acontece mais em muitas regies, face ao agravamento das condies
de poluio, basicamente pela falta de tratamento adequado de efluentes urbanos, quan-
do no pela sua total inexistncia.
Evoluiu-se, ento,para uma forma denominada direta de reso,que aquela em que
se trata um efluente para sua reutilizao em uma determinada finalidade, que pode ser
interna ao prprio empreendimento, ou outra externa, para uma finalidade distinta da
primeira, como por exemplo, a prtica de reso de efluentes urbanos tratados para fins
agrcolas.
A forma direta ou planejada, utiliza tecnologias e prticas de renovao e reso de
gua, que atravessaram uma srie de fases nos ltimos duzentos anos.
A primeira fase foi motivada por uma vertente baseada no conceito conservacionis-
ta em que os dejetos da sociedade deveriam ser conservados e utilizados para preservar
a fertilidade dos solos, enquanto a outra, numa abordagem mais pragmtica, era direcio-
nada para a eliminao da poluio dos rios. No final do sculo XIX, o conceito de trata-
mento de efluentes domsticos por disposio nos solos foi utilizado na Gr-Bretanha,
Alemanha e nos Estados Unidos com um enfoque central na reduo da poluio dos
rios e no como um mtodo conservacionista de recarga de aqferos ou de aumento de
nutrientes para o solo.
Na segunda fase, que se pode considerar at o final dos anos noventa, o principal
enfoque foi basicamente a necessidade de se conservar e reusar gua em zonas ridas.
Verificou-se grandes esforos de reso de gua para o desenvolvimento agrcola em
zonas ridas dos Estados Unidos, como Califrnia e Texas, e em pases como a frica do
Sul, Israel e ndia. Em Israel, por exemplo, o reso de guas residurias tornou-se uma
poltica nacional em 1955. O plano nacional de guas, inclua reso dos principais siste-
mas de tratamento de efluentes das cidades no programa de desenvolvimento dos limi-
tados recursos hdricos do pas.
A terceira fase,na qual nos encontramos atualmente, acabou se sobrepondo segun-
da, e baseada na urgente necessidade de se reduzir a poluio dos rios e lagos. Como as
exigncias ambientais foram se tornando cada vez mais restritivas, os planejadores con-
cluram que dados os altos investimentos requeridos para o tratamento dos efluentes, se
torna mais vantajoso reutilizar estes efluentes ao invs de lan-los de volta aos rios.
No Brasil, as externalidades ambientais associadas ao setor industrial e ao rpido
crescimento urbano,no contexto do desenvolvimento das regies metropolitanas, apon-
tam para cenrios futuros de escassez hdrica.
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Em So Paulo, j existem regies com graves problemas de escassez e de poluio,
que acabam gerando conflitos entre usurios agrcolas e urbanos, navegao e gerao
de energia e industrial com abastecimento pblico.
Para melhor gerenciar os recursos hdricos, bem como promover seu uso de forma
racional, a legislao de recursos hdricos estabeleceu a outorga e a cobrana pelo uso
da gua, dentre outros instrumentos de gesto.
Em conjunto com os novos instrumentos de gesto dos recursos hdricos que esto
sendo implantados no pas, o uso de alternativas tecnolgicas para reciclagem e reso
de efluentes industriais e urbanos poder reduzir os custos de produo nos setores
hidrointensivos, alm de promover a recuperao, preservao e conservao dos recur-
sos hdricos e dos ecossistemas urbanos.
Por outro lado, verifica-se que a concentrao de indstrias ocorre justamente em
regies que apresentam elevado grau de urbanizao, o que implica na necessidade das
empresas buscarem reduzir o consumo de gua, novas fontes de abastecimento e
implantas sistemas fechados de utilizao da gua, com vistas a reciclagem do que at
ento era considerado como resduos descartveis, ampliando assim, o seu reaproveita-
mento para fins produtivos. Desta forma, poder haver uma minimizao dos conflitos
pelo uso da gua, especialmente, com o setor de abastecimento pblico.
Assim,para promover a adoo de sistemas de racionalizao do uso da gua,h que
se considerar,no entanto,alguns aspectos restritivos quanto gua proveniente de reso
seja do tipo macro externo, seja do tipo macro interno.
No caso do reso macro externo, a utilizao de gua de reso proveniente de esta-
es de tratamento de efluentes de origem domstica pode ser reaproveitada aps sis-
temas de tratamento convencional por apresentarem baixa toxidade.
A gua de reso proveniente de estaes de tratamento de efluentes urbanos para
processos industriais tem sido utilizada, predominantemente, em sistemas de refrigera-
o, em especial, nos empreendimentos localizados prximos s ETEs.
A implantao de sistemas eficientes de reso de gua proveniente do setor pblico
pode se tornar invivel, curto prazo, caso no sejam considerados os seguintes fatores:
Polticas e planos diretores consistentes de reso das empresas concessionrias; Localizao das estaes de tratamento e sua proximidade de plos industriais; Implantao de infra-estrutura (redes de distribuio); Garantia e controle da qualidade; Garantia de cumprimento dos contratos firmados; e Regulamentao normativa e legal.
No caso do reso macro interno preciso ter conscincia que ele no substitui inte-
gralmente a necessidade de gua de uma planta industrial, pois existem limitaes de
ordem tcnica, operacional e ambiental que restringem a utilizao de sistemas de cir-
cuito fechado.
Alm disso,o reso macro interno deve ser realizado aps uma avaliao integrada do
uso da gua na fbrica, a qual deve estar contemplada no Programa de Conservao e
Reso de gua (PCRA). importante ter em mente que antes de se pensar no reso de
efluentes da prpria empresa, preciso implantar medidas para a otimizao do consumo
e reduo de perdas e desperdcios,alm de programas de conscientizao e treinamento.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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Neste contexto, foi elaborado o presente Manual de Conservao e Reso de gua
para a Indstria, que constitui passo importante e estratgico para alavancar o desenvol-
vimento sustentvel, tendo em vista que a adoo destas prticas apresentam os seguin-
tes benefcios:
BENEFCIOS AMBIENTAIS:
Reduo do lanamento de efluentes industriais em cursos dgua, possibilitando
melhorar a qualidade das guas interiores das regies mais industrializadas do Estado
de So Paulo.
Reduo da captao de guas superficiais e subterrneas, possibilitando uma situao
ecolgica mais equilibrada.
Aumento da disponibilidade de gua para usos mais exigentes, como abastecimento
pblico, hospitalar, etc.
BENEFCIOS ECONMICOS:
Conformidade ambiental em relao a padres e normas ambientais estabelecidos,pos-
sibilitando melhor insero dos produtos brasileiros nos mercados internacionais;
Mudanas nos padres de produo e consumo;
Reduo dos custos de produo;
Aumento da competitividade do setor;
Habilitao para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da cobrana
pelo uso da gua.
BENEFCIOS SOCIAIS:
Ampliao da oportunidade de negcios para as empresas fornecedoras de servios e
equipamentos, e em toda a cadeia produtiva;
Ampliao na gerao de empregos diretos e indiretos;
Melhoria da imagem do setor produtivo junto sociedade, com reconhecimento de
empresas socialmente responsveis.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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2. OBJETIVOS
A Conservao de gua (uso racional) pode ser definida como as prticas, tcnicas
e tecnologias que propiciam a melhoria da eficincia do seu uso. Conservar gua signifi-
ca atuar de maneira sistmica na demanda e na oferta de gua.Ampliar a eficincia do uso
da gua representa, de forma direta, aumento da disponibilidade para os demais usurios,
flexibilizando os suprimentos existentes para outros fins, bem como atendendo ao cres-
cimento populacional, implantao de novas indstrias e preservao e conservao
do meio ambiente.Assim sendo,as iniciativas de racionalizao do uso e de reso de gua
se constituem em elementos fundamentais em qualquer iniciativa de conservao.
A srie Conservao e Reso de gua objetiva constituir-se em base referencial
sobre a conservao e o reso de gua, sendo que este primeiro volume da srie, abor-
da informaes bsicas e de carter geral para o setor industrial, devendo serem desen-
volvidos manuais especficos para os diferentes segmentos do setor.
neste contexto que se insere o presente Manual, desenvolvido para orientar a
implantao de Programas de Conservao e Reso de gua na indstria por meio da sis-
tematizao de um plano de aes e estabelecimento de um Sistema de Gesto da gua.
O desenvolvimento efetivo de um Programa de Conservao e Reso de gua exige
que sejam considerados os aspectos legais, institucionais, tcnicos e econmicos, relati-
vos ao consumo de gua e lanamento de efluentes, s tcnicas de tratamento dispon-
veis e ao potencial de reso dos efluentes, alm do aproveitamento de fontes alternati-
vas de abastecimento de gua.
O principal objetivo deste Manual apresentar as etapas envolvidas na implantao
de um Programa de Conservao e Reso de gua. Cada soluo, entretanto, especfi-
ca e exclusiva em funo das diversas atividades consumidoras,processos e procedimen-
tos envolvidos, sistema hidrulico instalado, arranjo arquitetnico, localizao do
empreendimento e outros fatores intervenientes. Em cada caso devero ser avaliados os
equipamentos e tecnologias mais apropriados, dentre as diversas opes existentes, res-
saltando- se que uma determinada configurao tecnolgica pode ser excelente para
uma implantao especfica e totalmente inadequada para outra.
Este Manual foi elaborado principalmente para as unidades industriais j implanta-
das e em operao. No caso de novas indstrias ou at mesmo a expanso das existen-
tes, recomenda-se fortemente que os vrios projetos j sejam concebidos sob a tica da
Conservao e do Reso.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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3. DEFINIES E ABREVIATURAS
Definies:
Para as finalidades deste Manual, consideram-se as seguintes definies:
- gua de reso: a gua residuria que se encontra dentro dos padres exigidos para
sua utilizao;
- gua residuria: o esgoto, gua descartada, efluentes lquidos de edificaes, inds-
trias, agroindstrias e agropecuria, tratados ou no;
- gua de qualidade inferior: guas no caracterizadas como gua residuria, inade-
quadas para usos mais exigentes;
- Desperdcio: utilizao da gua em quantidade superior necessria para o desempe-
nho adequado da atividade consumidora;
- Esgoto ou efluente domstico: despejo lquido resultante do uso da gua para pre-
parao de alimentos, operaes de lavagem e para satisfao de necessidades higini-
cas e fisiolgicas;
- Esgoto ou efluente industrial: despejo lquido resultante da atividade industrial;
- Macro fluxo da gua: diagrama orientativo que apresenta o caminhamento da gua
e efluentes na planta industrial desde a captao at o lanamento final dos efluentes,
sem detalhamento dos usos que ocorrem ao longo do percurso;
- Micro fluxo da gua: diagrama orientativo que detalha o caminhamento da gua e
efluentes gerados em cada setor, equipamento ou processo de uma indstria,
- Otimizao do consumo de gua: realizao das atividades consumidoras com o
menor consumo possvel de gua, garantida a qualidade dos resultados obtidos;
- Perdas fsicas: gua que escapa do sistema antes de ser utilizada para uma atividade fim;
- Perdas fsicas dificilmente detectveis: constatadas atravs de indcios como man-
chas de umidade em paredes/pisos, sons de escoamento de gua, sistemas de recalque
continuamente ligados, constante sada de gua em reservatrios, entre outros;
- Perdas fsicas facilmente detectveis: perceptveis a olho nu, caracterizadas por
escoamento ou gotejamento de gua;
- Reso: uso de gua residuria ou gua de qualidade inferior tratados ou no;
- Reso indireto de gua: uso de gua residuria ou gua de qualidade inferior, em sua
forma diluda, aps lanamento em corpos hdricos superficiais ou subterrneos;
- Reso direto de gua: o uso planejado de gua de reso, conduzido ao local de utili-
zao, sem lanamento ou diluio prvia em corpos hdricos superficiais ou subterr-
neos;
- Reso em cascata: uso de efluente industrial originado em um determinado proces-
so que diretamente utilizado em um processo subseqente;
- Reso de efluentes tratados: a utilizao de efluentes que foram submetidos a tra-
tamento;
- Reso de efluentes aps tratamento adicional: alternativa de reso direto de
efluentes tratados que necessitam de sistemas complementares de tratamento para
reduzir a concentrao de algum contaminante especfico;
- Reso de efluentes no tratados: utilizao de efluentes no submetidos a tratamen-
to, mas enquadrados qualitativamente para a finalidade ou processo a que se destina;
- Reso macro externo: reso de efluentes provenientes de estaes de tratamento
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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administradas por concessionrias ou de outra indstria;
- Reso macro interno: uso interno de efluentes, tratados ou no, provenientes de ati-
vidades realizadas na prpria indstria;
- Reso parcial de efluentes: uso de parte da vazo da gua residuria ou gua de qua-
lidade inferior diluda com gua de padro superior, visando atender o balano de
massa do processo;
- Segregao de efluentes: separao de efluentes segundo suas caractersticas fsi-
cas, qumicas e biolgicas, visando uma melhor eficcia de seus tratamentos, uma vez
que condies propcias remoo de uma substncia podem ser desfavorveis
remoo de outra.
- Setorizao do consumo de gua: diviso do sistema hidrulico em setores de uti-
lizao, por atividades de consumo ou conforme a disposio e reas dos ambientes, o
que se mostra mais aplicvel. No segundo caso dado um enfoque hidrulico com
agrupamento de reas ou pontos de consumo. Por exemplo, torres de resfriamento
geralmente apresentam-se como grandes consumidoras de gua, requerendo a indivi-
dualizao de seu consumo para monitoramento;
Abreviaturas:
- CIP "Cleaning in Place";
- DBO Demanda Bioqumica de Oxignio;
- DQO Demanda Qumica de Oxignio;
- ETA Estao de Tratamento de gua;
- ETE Estao de Tratamento de Efluentes;
- PCRA Programa de Conservao e Reso de gua;
- ST - Slidos Totais;
- SST - Slidos Suspensos Totais;
- SSV - Slidos Suspensos Volteis;
- SDT - Slidos Dissolvidos Totais;
- SDV - Slidos Dissolvidos Volteis.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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4. IMPORTNCIA DA CONSERVAO E RESO DA GUA
A limitao de reservas de gua doce no planeta, o aumento da demanda de gua
para atender, principalmente, o consumo humano, agrcola e industrial, a prioridade de
utilizao dos recursos hdricos disponveis para abastecimento pblico e as restries
que vm sendo impostas em relao ao lanamento de efluentes no meio ambiente, torna
necessria a adoo de estratgias que visem racionalizar a utilizao dos recursos hdri-
cos e mitigar os impactos negativos relativos gerao de efluentes pelas indstrias.
Alm disso, a heterogeneidade da distribuio dos recursos hdricos e das popula-
es nas diversas regies do planeta e mesmo no Brasil, faz com que seja cada vez mais
difcil o abastecimento de algumas regies, principalmente as metropolitanas, tendo por
conseqncia aumentos gradativos dos custos de fornecimento de gua.
Neste contexto, as prticas conservacionistas como o uso eficiente e o reso da
gua, constituem uma maneira inteligente de se poder ampliar o nmero de usurios de
um sistema de abastecimento, sem a necessidade de grandes investimentos na amplia-
o ou a instalao de novos sistemas de abastecimento de gua.
4.1. Os Principais Usos da gua na Indstria
De uma maneira genrica, pode-se dizer que a gua encontra as seguintes aplicaes na
indstria:
- Consumo humano: gua utilizada em ambientes sanitrios, vestirios, cozinhas e
refeitrios, bebedouros, equipamentos de segurana (lava-olhos, por exemplo) ou em
qualquer atividade domstica com contato humano direto;
- Matria Prima: como matria-prima,a gua ser incorporada ao produto final, a exem-
plo do que ocorre nas indstrias de cervejas e refrigerantes, de produtos de higiene
pessoal e limpeza domstica, de cosmticos, de alimentos e conservas e de frmacos,
ou ento, a gua utilizada para a obteno de outros produtos, por exemplo, o hidro-
gnio por meio da eletrlise da gua.
- Uso como fluido auxiliar: a gua, como fluido auxiliar, pode ser utilizada em diver-
sas atividades,destacando-se a preparao de suspenses e solues qumicas,compos-
tos intermedirios, reagentes qumicos, veculo, ou ainda, para as operaes de lava-
gem.
- Uso para gerao de energia: Para este tipo de aplicao, a gua pode ser utilizada
por meio da transformao da energia cintica, potencial ou trmica, acumulada na
gua, em energia mecnica e posteriormente em energia eltrica.
- Uso como fludo de aquecimento e/ou resfriamento: Nestes casos, a gua utili-
zada como fluido de transporte de calor para remoo do calor de misturas reativas ou
outros dispositivos que necessitem de resfriamento devido gerao de calor, ou
ento, devido s condies de operao estabelecidas, pois a elevao de temperatura
pode comprometer o desempenho do sistema,bem como danificar algum equipamento
- Outros Usos: Utilizao de gua para combate incndio, rega de reas verdes ou
incorporao em diversos subprodutos gerados nos processos industriais, seja na fase
slida, lquida ou gasosa.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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De um modo geral, a quantidade e a qualidade da gua necessria ao desenvolvi-
mento das diversas atividades consumidoras em uma indstria dependem de seu ramo
de atividade e capacidade de produo.
O ramo de atividade da indstria, que define as atividades desenvolvidas, determina
as caractersticas de qualidade da gua a ser utilizada, ressaltando-se que em uma mesma
indstria podem ser utilizadas guas com diferentes nveis de qualidade. Por outro lado,
o porte da indstria, que est relacionado com a sua capacidade de produo, ir definir
qual a quantidade de gua necessria para cada uso.
Na Tabela 1 so apresentados dados internacionais de distribuio do consumo de
gua na indstria por tipo de atividade. importante destacar que os valores desta tabela
podem estar desatualizados tendo em vista que novas tecnologias industrias so cons-
tantemente lanadas no mercado, servindo to somente como valores de referncia.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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Tabela 1: Distribuio do consumo de gua na indstria por atividades
+ Valor inferior a 0,5% do volume total de gua consumidoFonte: VAN Der LEEDEN; TROISE and TODD, 1990
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Segmento IndustrialDistribuio do Consumo de gua (%)
Resfriamento Processos e Uso Sanitriosem Contato Atividades Afins e Outros
Carne enlatada 42 46 12Abatimento e limpeza de aves 12 77 12Laticnios 53 27 19Frutas e vegetais enlatados 19 67 13Frutas e vegetais congelados 19 72 8Moagem de milho a mido 36 63 1Acar de cana-de-acar 30 69 1Acar de beterraba 31 67 2Bebidas maltadas 72 13 15Indstria txtil 57 37 6Serrarias 58 36 6Fbricas de celulose e papel 18 80 1Cloro e lcalis 85 14 1Gases Industriais 86 13 1Pigmentos inorgnicos 41 58 1Produtos qumicos inorgnicos 83 16 1Materiais plsticos e resinas 93 7 +Borracha sinttica 83 17 +Fibras de celulose sintticas 69 30 1Fibras orgnicas no celulsicas 94 6 +Tintas e pigmentos 79 17 4Produtos qumicos orgnicos 91 9 1Fertilizantes nitrogenados 92 8 +Fertilizantes fosfatados 71 28 1Negro de fumo 57 38 6Refinaria de petrleo 95 5 +Pneus 81 16 3Cimento 82 17 1Ao 56 43 1Fundio de ferro e ao 34 58 8Cobre primrio 52 46 2Alumnio primrio 72 26 2Automveis 28 69 3
-
4.2. Requisitos de Qualidade da gua
A qualidade da gua definida em funo de caractersticas fsicas, qumicas, microbio-
lgicas e radioativas.Para cada tipo de aplicao,o grau de qualidade exigido pode variar
significativamente:
- Consumo humano: gua potvel, atendendo s caractersticas estabelecidas pela
Portaria no 518 Norma de qualidade da gua para consumo humano, de 25/03/2004,
do Ministrio da Sade (www.saude.gov.br);
- Matria prima: Para esse tipo de uso, o grau de qualidade da gua pode variar signifi-
cativamente, podendo-se admitir a utilizao de uma gua com caracterstica equiva-
lente ou superior da gua utilizada para consumo humano, tendo-se como principal
objetivo a proteo da sade dos consumidores finais e/ou a garantia da qualidade final
do produto.
- Fluido auxiliar: Da mesma forma que a gua utilizada como matria-prima, o grau
de qualidade da gua para uso como um fluido auxiliar ir depender do processo que
esta se destina. Caso essa gua entre em contato com o produto final, o grau de quali-
dade ser mais ou menos restritivo, em funo do tipo de produto que se deseja obter.
No havendo contato da gua com o produto final, esta poder apresentar um grau de
qualidade menos restritivo que o da gua para consumo humano, principalmente com
relao concentrao residual de agentes desinfetantes.
- Gerao de energia: dependendo do processo de transformao utilizado a gua
dever apresentar graus muito diferentes de qualidade. No aproveitamento da energia
potencial ou cintica, a gua utilizada no seu estado natural, podendo-se utiliz-la na
forma bruta, captada de um rio, lago,ou outro sistema de reservao,devendo-se impe-
dir que materiais de grandes dimenses, detritos, danifiquem os dispositivos de gera-
o de energia. J para o aproveitamento da energia trmica,aps aquecimento e vapo-
rizao da gua por meio do fornecimento de energia trmica, a mesma deve apresen-
tar um elevado grau de qualidade,para que no ocorram problemas nos equipamentos
de gerao de vapor ou no dispositivo de converso de energia;
- Fluido de aquecimento e/ou resfriamento: Para a utilizao da gua na forma de
vapor, o grau de qualidade deve ser bastante elevado, enquanto a utilizao da gua
como fluido de resfriamento requer um grau de qualidade bem menos restritivo,
devendo-se levar em considerao a proteo e a vida til dos equipamentos com os
quais esta gua ir entrar em contato.
Muitas aplicaes exigem que um maior nmero de parmetros sejam atendidos,de
modo que sejam minimizados os riscos ao processo, produto ou sistema no qual esta
gua ser utilizada. Nas tabelas que se seguem so apresentados alguns dados sobre
requisitos da gua para aplicaes industriais.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
26
-
Tabela 2: Padro de Qualidade recomendado para gua de Resfriamento e Gerao de Vapor
* Limites recomendados em mg/L, exceto para pH e Turbidez-que so expressos em unidades e UT, respectivamente.+ Aceito como recebido, caso sejam atendidos outros valores limites++ Substncias ativas ao azul de metilenoFonte: CROOK, 1996
Tabela 3: Dados de Qualidade da gua para uso na Indstria Farmacutica
* Pode-se utilizar o teste para substncias oxidveis em substituio a este parmetro.** Somente como recomendaoFonte: US Pharmacopeia USP 24.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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Parmetro gua Purificada gua para InjetveispH 5 a 7 5 a 7
Condutividade EltricaEstgio 1: 1,3 _S/cmEstgio 2: 2,1 _S/cm
Estgio 3: valor associado medida do pHCarbono Orgnico Total* 500 partes por bilho (ppb)Bactrias** 100 UFC/mL 10 UFC/mLEndotoxinas -- < 0,25 UE
Parmetro*
Gerao de Vaporgua de Caldeira de Caldeira de Caldeira de
Resfriamento Baixa Presso Mdia Presso Alta Presso(< 10 bar) (10 a 50 bar) (> 50 bar)
Cloretos 500 + + +Slidos Dissolvidos Totais 500 700 500 200Dureza 650 350 1,0 0,07Alcalinidade 350 350 100 40PH 6,9 a 9,0 7,0 a 10,0 8,2 a 10,0 8,2 a 9,0DQO 75 5,0 5,0 1,0Slidos Suspensos Totais 100 10 5 0,5Turbidez 50 --x-- --x-- --x--DBO 25 --x-- --x-- --x--Compostos Orgnicos++ 1,0 1,0 1,0 0,5Nitrognio Amoniacal 1,0 0,1 0,1 0,1Fosfato 4,0 --x-- --x-- --x--Slica 50 30 10 0,7Alumnio 0,1 5,0 0,1 0,01Clcio 50 + 0,4 0,01Magnsio 0,5 + 0,25 0,01Bicarbonato 24 170 120 48Sulfato 200 + + +Cobre --x-- 0,5 0,05 0,05Zinco --x-- + 0,01 0,01Substncias Extradas em Tetracloreto de Carbono
--x-- 1 1 0,5
Sulfeto de Hidrognio --x-- + + +Oxignio Dissolvido --x-- 2,5 0,007 0,0007
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Tabela 4: Requisitos de qualidade para gua de uso industrial
UH - Unidade Hazen (mg Pt - Co/l)Fonte: NEMEROW and DASGUPTA, 1991
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
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Parmetros (mg/L, exceto quando especificado o valor)
Indstria e Processo CorAlcali-
Cloreto Dureza Ferro Manga- NitratopH
Sulfato SDTSlidos
Slica Clcio Magn- Bicar-nidade (CaCO3) ns (unida- Suspen- sio bonato(UH) (CaCO3) des) sosTxtilEngomagem 5 25 0,3 0,05 6,5 - 10,0 100 5,0Lavagem 5 25 0,1 0,01 3,0 - 10,5 100 5,0Branqueamento 5 25 0,1 0,01 2,0 - 10,5 100 5,0Tingimento 5 25 0,1 0,01 3,5 - 10,0 100 5,0Papel e CeluloseProcesso Mecnico 30 1000 0,3 0,1 6 - 10Processo QumicoNo Branqueado 30 200 100 1,0 0,5 6 - 10 10 50 20 12Branqueado 10 200 100 0,1 0,05 6 - 10 10 50 20 12Produtos QumicosCloro e lcali 10 80 140 0,1 0,1 6,0 - 8,5 10 40 8 100Carvo de alcatro 5 50 30 180 0,1 0,1 6,5 - 8,3 200 400 5 50 14 60Compostos orgnicos 5 125 25 170 0,1 0,1 6,5 - 8,7 75 250 5 50 12 128Compostos inorgnicos 5 70 30 250 0,1 0,1 6,5 - 7,5 90 425 5 60 25 210Plsticos e resinas 2 1,0 0 0 0,005 0,005 0 7,5 - 8,5 0 1,0 2,0 0,02 0 0 0,1Borracha sinttica 2 2 0 0 0,005 0,005 0 7,5 - 8,5 0 2,0 2,0 0,05 0 0 0,5Produtos Farmacuticos 2 2 0 0 0,005 0,005 0 7,5 - 8,5 0 2,0 2,0 0,02 0 0 0,5Sabo e detergentes 5 50 40 130 0,1 0,1 150 300 10,0 30 12 60Tintas 5 100 30 150 0,1 0,1 6,5 125 270 10 37 15 125Madeira e resinas 200 200 500 900 0,3 0,2 5 6,5 - 8,0 100 1000 30 50 100 50 250Fertilizantes 10 175 50 250 0,2 0,2 5 6,5 - 8,5 150 300 10 25 40 20 210Explosivos 8 100 30 150 0,1 0,1 2 6,8 150 200 5 20 20 10 120Petrleo 300 350 1,0 6,0 - 9,0 1000 10 75 30Ferro e AoLaminao a quente 5 - 9Laminao a frio 5 - 9 10DiversasFrutas e vegetais enlatados 5 250 250 250 0,2 0,2 10 6,5 - 8,5 250 500 10 50 100Refrigerantes 10 85 0,3 0,05Curtimento de couro 5 250 150 50 6,0 - 8,0 60Cimento 400 250 25 0,5 0 6,5 - 8,5 250 600 500 35
-
Cabe ressaltar que os dados apresentados nas tabelas anteriores so valores indica-
tivos, pois muitos se referem a indstrias de outros pases, mas que podem ser teis para
uma avaliao inicial.
Outra observao a ser feita que o grau de qualidade da gua requerido para um
determinado uso hoje, pode ser muito diferente do grau de qualidade da gua que tenha
sido utilizada por muitos anos no passado ou que venha a ser utilizado no futuro, pois
com o desenvolvimento tecnolgico, problemas associados escassez de recursos natu-
rais e poluio, podem surgir restries com relao ao uso da gua com o grau de qua-
lidade at ento considerado adequado.
4.3. Indicadores de Consumo de gua das Indstrias
Um dos grandes benefcios dos indicadores de consumo de gua para a indstria a pos-
sibilidade de se avaliar sua eficincia quanto ao uso da gua, possibilitando a melhoria
dos processos que utilizam gua, minimizando os impactos gerados, seja pelo aspecto
qualitativo, bem como, pelo quantitativo.Alem disto, atravs dos indicadores h possibi-
lidade de benchmarking entre indstrias de mesmo segmento, bem como das indstrias
nacionais com as internacionais.
A quantidade de gua necessria para o atendimento das diversas atividades indus-
triais, influenciada por vrios fatores como o ramo de atividade, capacidade de produ-
o, condies climticas da regio, disponibilidade de gua, mtodo de produo, idade
das instalaes, prtica operacional, cultura local, inovao tecnolgica, investimentos
em pesquisa, etc.
Por essas razes, se considerarmos indstrias que so do mesmo ramo de atividade
e tenham a mesma capacidade de produo, porm instaladas em diferentes regies, ou
que tenham "idades" diferentes, a probabilidade do volume de gua consumido em cada
instalao no ser equivalente muito grande.
Como fonte de referncia, apresenta-se na Tabela 5 no ANEXO I, indicadores inter-
nacionais gerais por segmento industrial do ano de 1990. importante destacar que
estes indicadores esto desatualizados (cerca de 15 anos) e que atualmente, devido aos
avanos tecnolgicos e a crescente preocupao com o meio ambiente, a maioria das
empresas nacionais j devem operar com consumo de gua bem menor que o especifi-
cado na referida tabela. Isto no quer dizer, no entanto, que o potencial de racionaliza-
o do uso da gua no Brasil j esteja esgotado.O que de fato ocorre que medida que
as legislaes ambientais se tornam cada vez mais restritivas e novas tecnologias de con-
servao da gua vo surgindo, as indstrias tendero a reduzir continuamente o uso da
gua em suas instalaes.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
29
-
5. Programas de Conservao e Reso de gua - PCRA
Um Programa de Conservao e Reso de gua - PCRA composto por um conjun-
to de aes especficas de racionalizao do uso da gua na unidade industrial, que
devem ser detalhadas a partir da realizao de uma anlise de demanda e oferta de gua,
em funo dos usurios e atividades consumidoras, com base na viabilidade tcnica e
econmica de implantao das mesmas.
A implantao de Programas de Conservao e Reso de gua pelo setor industrial,
reverte-se em benefcios econmicos que permitem aumentar a eficincia produtiva,
tendo como conseqncia direta a reduo do consumo de gua, a reduo do volume
de efluentes gerados e, como conseqncias indiretas, a reduo do consumo de ener-
gia, de produtos qumicos, a otimizao de processos e a reduo de despesas com
manuteno. Na maior parte dos casos, os perodos de retorno envolvidos so bastante
atrativos.
Aes desta natureza tm reflexos diretos e potenciais na imagem das empresas,
demonstrando a crescente conscientizao do setor com relao preservao ambien-
tal e responsabilidade social, bem como sobre o aumento da competitividade empresa-
rial, em funo dos seguintes fatores:
- Aumento do valor agregado dos produtos.
- Reduo dos custos relativos aos sistemas de captao, abastecimento, tratamento, ope-
rao e distribuio de gua, o mesmo valendo para os efluentes gerados; refletindo de
forma direta nos custos de produo e reduzindo custos relativos cobrana pelo uso
da gua;
- Reduo de custos de manuteno corretiva, uma vez que a implantao de um sistema
de gesto da gua implica no estabelecimento de rotinas de manuteno preventiva;
Por outro lado, para a obteno dos mximos benefcios, um PCRA deve ser imple-
mentado a partir de uma anlise sistmica das atividades onde a gua utilizada e,naque-
las onde ocorre a gerao de efluentes, com intuito de otimizar o consumo e minimizar
a gerao de efluentes.As aes devem seguir uma seqncia lgica, com atuao inicial
na demanda de gua e, em seguida, na oferta, destacando-se a avaliao do potencial de
reso de efluentes em substituio s fontes tradicionais de abastecimento.
Embora qualquer iniciativa, que busque o melhor aproveitamento dos recursos
naturais, entre os quais a gua, deva ser priorizada, importante enfatizar que cada caso
requer uma anlise especfica, realizada por profissionais devidamente capacitados, para
garantia dos resultados tcnicos, econmicos e ambientais da implantao de programas
dessa natureza e para preservar a sade dos usurios, o desempenho dos processos, a
vida til dos equipamentos e o meio ambiente.
5.1. Conceituao
A Conservao de gua pode ser compreendida como as prticas, tcnicas e tecnologias
que aperfeioam a eficincia do uso da gua, podendo ainda ser definida como qualquer
ao que:
- Reduz a quantidade de gua extrada das fontes de suprimento;
- Reduz o consumo de gua;
- Reduz o desperdcio de gua;
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
30
-
- Reduz as perdas de gua;
- Aumenta a eficincia do uso da gua;
- Aumenta a reciclagem e o reso da gua;
- Evita a poluio da gua.
Neste Manual, implantar um PCRA significa avaliar de forma sistmica o uso da
gua, ou seja, otimizar o consumo de gua, com a conseqente reduo do volume de
efluentes gerados, e utilizar as fontes alternativas de gua disponveis, considerando os
diferentes nveis de qualidade necessrios, de acordo com um sistema de gesto apro-
priado.
Sob a tica do meio ambiente, implantar um Programa de Conservao e Reso de
gua contribui para a preservao dos recursos hdricos, favorecendo o "Desenvolvimento
Sustentvel". Na questo social, provoca um aumento da disponibilidade hdrica popula-
o por meio da reduo das captaes de gua dos mananciais. E, ainda, no aspecto eco-
nmico, reduz os custos com insumos em geral, como gua, energia e produtos qumicos,
alm de racionalizar custos operacionais e de manuteno.
O uso da gua varia entre os vrios tipos de indstrias e atividades consumidoras, o
que significa que o detalhamento do PCRA ser diferenciado caso a caso.Em cada inds-
tria deve-se identificar os maiores consumidores de gua, de forma que as intervenes
realizadas gerem significativas redues de consumo.As aes so especficas para cada
setor da indstria sendo, na sua maioria:
- Modificaes quanto ao uso da gua em equipamentos e processos, com a incorpora-
o de novas tecnologias e/ou procedimentos;
- Otimizao dos processos de resfriamento;
- Reso aplicado em diversos setores da planta industrial;
- Implantao de sistema de Gesto da gua.
5.2. Benefcios Esperados
Os principais benefcios resultantes da adoo de um PCRA so:
- Economia gerada pela reduo do consumo de gua;
- Economia gerada pela reduo dos efluentes gerados;
- Conseqente economia de outros insumos como: energia e produtos qumicos;
- Reduo de custos operacionais e de manuteno dos sistemas hidrulicos e de equi-
pamentos;
- Aumento da disponibilidade de gua (proporcionando aumento da produo sem incre-
mento de custos de captao e tratamento);
- Agregao de valor aos produtos;
- Minimizao dos impactos da cobrana pelo uso da gua;
- Complementao s aes de responsabilidade social da empresa.
5.3. Condicionantes
Para a viabilidade de um PCRA importante o entendimento desta ao como a adoo
de uma Poltica de Economia de gua. No caso da indstria, fundamental a participa-
o da alta direo, a qual dever estar comprometida com o Programa, direcionando e
apoiando a implementao das aes necessrias.
De maneira resumida, o sucesso de um PCRA depende de:
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
31
-
- Estabelecimento de metas e prioridades;
- Escolha de um Gestor ou Gestores da gua,os quais devem permanentemente ser capa-
citados e atualizados para operarem e difundirem o programa;
- Alocao planejada dos investimentos iniciais com expectativa de reduo medida
que as economias geradas vo se concretizando, gerando os recursos necessrios para
novos investimentos;
- Apoio da alta gerncia executiva durante a elaborao dos Planos de Gesto do Uso da
gua;
- Otimizao do uso da gua, garantindo um melhor desempenho das atividades consu-
midoras envolvidas;
- Pesquisa, desenvolvimento e inovao nos processos industriais ou em outras ativida-
des com adequao dos nveis de qualidade exigveis e busca da reduo de custos;
- Desenvolvimento e implantao de um Sistema de Gesto que dever garantir a manu-
teno de bons ndices de consumo e o perfeito desempenho e monitoramento dos sis-
temas hidrulicos, equipamentos e processos ao longo do tempo, contribuindo para a
reduo e manuteno dos custos ao longo da vida til;
- Multiplicao do PCRA para todos os usurios do sistema;
- Divulgao dos resultados obtidos de forma a incentivar e engajar ainda mais os usu-
rios envolvidos.
A excluso ou avaliao prematura de cada uma das etapas acima citadas pode com-
prometer a eficcia das iniciativas adotadas por uma determinada indstria,enfraquecen-
do a equipe responsvel e gerando reverso de expectativa em relao aos benefcios
gerados.
5.4. Sistema de Gesto da gua
A manuteno dos resultados obtidos com o PCRA depende de um Sistema de Gesto
permanente e eficaz, cujo sucesso envolve duas reas distintas:
- tcnica: engloba as aes de avaliao, medies, aplicaes de tecnologias e procedi-
mentos para enquadramento do uso da gua;
- humana: envolve comportamento e expectativas sobre o uso da gua e procedimentos
para realizao de atividades consumidoras.
Um Sistema de Gesto eficaz atua sobre as duas reas,com atualizao constante dos
dados para que seja possvel mensurar os progressos obtidos e o cumprimento de metas,
bem como o planejamento das aes futuras dentro de um plano de melhoria contnua.
Para a manuteno dos ndices de economia obtidos necessrio que o Sistema de
Gesto compreenda aes de base operacional, institucional, educacional e legal, confor-
me detalhamento abaixo :
a) Aes de Base Operacional
As aes de base operacional envolvem:
- criao de poltica permanente de manuteno preventiva e corretiva;
- elaborao e constante atualizao de procedimentos especficos de uso racional da
gua;
- monitoramento contnuo do consumo atravs de planilhas eletrnicas e grficos;
- realizao de vistorias aleatrias nos setores de maior consumo;
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
32
-
- atualizao constante dos dados;
- plano de melhoria contnua.
b) Aes de Base Educacional
Por meio da implementao das aes de base educacional, garante-se o acompanha-
mento e a mudana comportamental dos usurios. Entre estas aes, pode-se destacar:
- capacitao do Gestor da gua para acompanhamento dos indicadores de consumo e
da implementao de eventuais intervenes; e
- multiplicao das diretrizes e aes do programa pelos demais funcionrios atravs do
estabelecimento de um programa educacional que dever informar sobre:
- a importncia e necessidade do programa adotado;
- as metas a serem atingidas;
- a importncia da contribuio de cada usurio no cumprimento das metas da indstria;
- novos procedimentos e equipamentos.
- resultados obtidos e reviso das metas almejadas.
Outras medidas que auxiliam num maior envolvimento dos usurios com a
Conservao de gua so, por exemplo:
- estabelecimento de programa de incentivos (participao dos usurios nas economias
obtidas; bnus para usurios que detectarem perdas fsicas ou desperdcios dentro da
indstria, entre outras);
- criao de uma caixa de sugestes;
- criao de um "slogan" para que a Conservao de gua se torne uma meta dentro da
indstria.
c) Aes de Base Institucional
Com foco na responsabilidade social,devero ser implementadas as seguintes atividades:
- multiplicao do programa implantado para a comunidade externa, como fator positi-
vo quanto integrao indstria - meio ambiente, tornando-a referncia por meio da
realizao de seminrios e oficinas de trabalho e da divulgao de relatrios de respon-
sabilidade social da empresa, entre outros;
- Articulao constante do Gestor da gua e da diretoria para fortalecimento das partes.
d) Aes de Base Legal
fundamental que a elaborao do PCRA esteja de acordo com as legislaes vigentes
a nvel municipal, estadual e federal.
5.5. Responsabilidades do Gestor da gua
Os Gestores da gua so os responsveis por transformar o comprometimento assumi-
do em Conservar a gua em um plano de trabalho exeqvel, com o objetivo de:
- alcanar as metas preestabelecidas pela organizao.
- avaliar as aes de Conservao j realizadas e os impactos positivos e negativos;
- buscar subsdios que justifiquem o benefcio do programa nesta indstria;
- estabelecer as verbas necessrias e garant-las junto Diretoria ou responsveis;
- estabelecer o plano de aes de base tecnolgica, com metas e detalhamento especfico;
- estabelecer critrios de documentao e avaliao das aes a serem realizadas;
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
33
-
- estabelecer as aes de base educacional a serem desenvolvidas junto aos demais usurios;
- estabelecer aes de base institucional para a divulgao do programa;
- estabelecer aes de base operacional, desenvolvendo critrios de medio como
forma de subsdio constante para a melhoria contnua dos resultados obtidos;
- reportar constantemente o andamento e resultados obtidos aos responsveis;
- abertura e divulgao na mdia;
- transparncia de aes e resultados.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
34
-
6. ASPECTOS LEGAIS DA CONSERVAO E RESO DE GUA
6.1. Introduo
A criao de normas relacionadas utilizao dos recursos hdricos para qualquer fina-
lidade tem como principal objetivo garantir uma relao harmnica entre as atividades
humanas e o meio ambiente, alm de permitir um melhor equilbrio de foras entre os
vrios segmentos da sociedade ou setores econmicos.
Nesse sentido, a Constituio de 1988 estabelece a dominialidade dos recursos
hdricos, que podem ser federais, no caso de corpos dgua transfronteirios, interesta-
duais ou que faam divisa entre dois ou mais estados, ou estaduais, se contidos inteira-
mente em um nico estado da federao.A Lei n 9.433/97 cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hdricos e estabelece os seguintes instrumentos de geren-
ciamento:
- Outorga pelo direito de uso de recursos hdricos;
- Cobrana pelo uso da gua;
- Enquadramento dos corpos dgua em classes de uso;
- Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos;
- Planos de Recursos Hdricos.
No presente captulo, sero apresentados os principais aspectos legais que interfe-
rem na gesto do uso da gua, procurando ressaltar os itens que possam se relacionar
com a prtica de reso.
6.2. Outorga pelo Uso da gua
A outorga um instrumento de gerenciamento de recursos hdricos que d, ao rgo
gestor, condies de gerenciar a quantidade e qualidade desses recursos, e ao usurio a
garantia do direito de uso da gua. O poder outorgante (Unio e Estados) deve avaliar
cada pedido de outorga, verificando se as quantidades existentes so suficientes, consi-
derando os aspectos qualitativos e quantitativos. Desta forma, a outorga ordena e regula-
riza os diversos usos da gua em uma bacia hidrogrfica.
O usurio outorgado tem o reconhecimento legal do uso dos recursos hdricos.A
outorga tem prazo de validade limitado, estabelecido em funo das caractersticas do
empreendimento (Art. 16 da Lei n 9.433/97).
Uma vez concedida a outorga, o ato publicado no Dirio Oficial da Unio (caso da
Agncia Nacional de guas - ANA), ou nos Dirios Oficiais dos Estados ou do Distrito
Federal, onde se identifica o outorgado e so estabelecidas as caractersticas tcnicas e
as condicionantes legais do uso das guas que o mesmo est sendo autorizado a fazer.
A outorga referente a corpos hdricos de domnio da Unio deve ser solicitada
ANA. Em corpos hdricos de domnio dos Estados e nos casos especficos de outorga
para o uso de gua subterrnea, a solicitao de outorga deve ser feita s respectivas
autoridades outorgantes estaduais.
De maneira resumida, os usos que dependem de outorga so:
- a derivao ou captao de parcela da gua existente em um corpo d'gua para consu-
mo final, inclusive abastecimento pblico, ou insumo de processo produtivo;
- a extrao de gua de aqfero subterrneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo;
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
35
-
- lanamento em corpo de gua de esgotos e demais resduos lquidos ou gasosos, trata-
dos ou no, com o fim de sua diluio, transporte ou disposio final;
- uso de recursos hdricos com fins de aproveitamento dos potenciais hidreltricos;
- outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da gua existente em
um corpo de gua;
A escassez de recursos hdricos impe a necessidade de aes visando conserva-
o e ao gerenciamento adequado deste recurso. Para tal, fundamental que a outorga,
como instrumento de gerenciamento, leve em conta a eficincia dos processos na anli-
se dos requerimentos, procurando incentivar e promover o uso eficiente da gua, prin-
cipalmente nas regies em que ocorrerem conflitos de uso. Nesse aspecto a prtica de
reso pode ser um fator importante para viabilizar a soluo de conflitos em regies
onde haja escassez de recursos hdricos, ou problemas referentes qualidade dos mes-
mos.Dessa forma, importante, tambm,que os rgos outorgantes e gestores dos recur-
sos hdricos procurem se informar sobre a prtica de reso e o consumo de gua nas
vrias alternativas de processo, de forma a poder fundamentar decises sobre o incenti-
vo a essa prtica.
Deve-se ressaltar que o reso, em si, no objeto de outorga, uma vez que no
uma interferncia direta em corpo hdrico, mas que a sua adoo pode interferir no
balano hdrico do empreendimento, tanto do ponto de vista quantitativo como no qua-
litativo. Desta forma, assim como as alteraes no processo produtivo devem ser objeto
de licenciamento ambiental, as alteraes no balano hdrico que resultem em mudan-
as nas condies objeto da Resoluo de outorga devem ser objeto de solicitao de
alterao da outorga existente, de modo a possibilitar o uso eficiente da outorga como
instrumento de gesto.
6.3. Cobrana pelo Uso da gua
Em funo de condies de escassez em quantidade e/ou qualidade, a gua deixou de ser
um bem livre e passou a ter valor econmico. Esse fato contribuiu com a adoo de um
novo paradigma de gesto desse recurso ambiental, que compreende a utilizao de ins-
trumentos regulatrios e econmicos, como a cobrana pelo uso dos recursos hdricos.
A experincia em outros paises mostra que a cobrana pelo uso de recursos hdri-
cos, mais do que instrumento para gerar receita, indutora de mudanas pela economia
da gua, pela reduo de perdas e da poluio e pela gesto com justia ambiental. Isso
porque cobra-se de quem usa ou polui.
O fundamento legal para a cobrana pelo uso da gua no Brasil remonta ao Cdigo
Civil de 1916 quando estabeleceu que a utilizao dos bens pblicos de uso comum pode
ser gratuita ou retribuda, conforme as leis da Unio, dos Estados e dos Municpios, a cuja
administrao pertencerem. No mesmo sentido, o Cdigo de guas, Decreto Lei n
24.642/34, estabeleceu que o uso comum das guas pode ser gratuito ou retribudo, de
acordo com as leis e os regulamentos da circunscrio administrativa a que pertencerem.
Posteriormente, a Lei n 6.938/81, que trata da Poltica Nacional de Meio Ambiente,
incluiu a possibilidade de imposio ao poluidor e ao predador, da obrigao de recupe-
rar e/ou indenizar os danos causados ao meio ambiente e, ao usurio, da contribuio
pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos.
Finalmente, a Lei n 9.433/97 definiu a cobrana como um dos instrumentos de ges-
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
36
-
to dos recursos hdricos e a Lei n 9.984/2000, que instituiu a Agncia Nacional de
guas ANA, atribuiu a esta Agncia, a competncia para implementar, em articulao
com os Comits de Bacia Hidrogrfica, a cobrana pelo uso dos recursos hdricos de
domnio da Unio.
O instrumento da cobrana pelo uso de recursos hdricos constitui-se num incenti-
vador ao reso da gua. O usurio que reutiliza suas guas reduz as vazes de captao
e lanamento e conseqentemente tem sua cobrana reduzida.Assim, quanto maior for
o reso, menor ser a utilizao de gua e menor a cobrana.
Dependendo das vazes utilizadas, o montante de recursos economizados com a
reduo da cobrana em funo do reso pode cobrir os custos de instalao de um sis-
tema de reso da gua na unidade industrial.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
37
-
7. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DECONSERVAO E RESO DE GUA
7.1. Introduo
A implantao de um PCRA requer o conhecimento pleno do uso da gua (quantitativo
e qualitativo) em todas as edificaes, reas externas e processos, de maneira a identifi-
car os maiores consumidores e as melhores aes de carter tecnolgico a serem reali-
zadas, bem como os mecanismos de controle que sero incorporados ao Sistema de
Gesto da gua estabelecido.
Um PCRA se inicia com a implantao de aes para a otimizao do consumo de
gua, em busca do menor consumo possvel para a realizao das mesmas atividades,
garantindo-se a qualidade da gua fornecida e o bom desempenho destas atividades.Uma
vez minimizado o consumo devem ser avaliadas as possibilidades de utilizao de fontes
alternativas de abastecimento de gua.
Aps a avaliao e implantao das aes que compem o PCRA, dever ser imple-
mentado um Sistema de Gesto permanente, para garantia de manuteno dos ndices
de consumo obtidos e da qualidade da gua fornecida. Esta tarefa dever ser absorvida
por um Gestor da gua, responsvel pelo monitoramento contnuo do consumo e pelo
gerenciamento das aes de manuteno preventiva e corretiva ao longo do tempo.
De uma maneira simplificada um PCRA abrange as etapas relacionadas na Figura 1:
Figura 1: Etapas de Implantao de um Programa de Conservao e Reso de gua
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
38
Etapas ProdutosPrincipais Atividades
Estudo de ViabilidadeTcnica e Econmica
Montagem da matriz de solues Anlise tcnica e econmica
Cenrio timo
Detalhamento Tcnico Especificaes tcnicas; Detalhes tcnicos
Projeto executivo
Avaliao da Ofertade gua
Concessionrias Captao Direta guas pluviais Reso de efluentes guas subterrneas
Plano de aplicao de fontes alternativas de gua *
Sistema de Gesto
Plano de monitoramento de consumo de gua Plano de capacitao dos gestores e usurios Rotinas de manuteno Procedimentos especficos
Sistema de gesto da gua
Anlise documental Levantamento de Campo
Plano de Setorizao do Consumo de gua *Avaliao Tcnica Preliminar
Anlise de Perdas Fsicas Anlise de Desperdcio Identificao dos diferentes nveis de qualidade de gua
Macro e micro fluxos de gua Plano de adequao de equipamentos hidrulicos * Plano de adequao de processos * Plano de otimizao dos sistemas hidrulicos *
Avaliao da Demandade gua
1
2
3
4
5
6
*Especificao e detalhamento de sistemas e componentes, custos e espectativas de economia.
-
7.2. ETAPA 1: Avaliao Tcnica Preliminar
Esta etapa consiste no levantamento de todos os dados e informaes que envolvam o
uso da gua na indstria, objetivando o pleno conhecimento sobre a condio atual de
sua utilizao.
7.2.1. Anlise Documental
Realizao de levantamento dos documentos existentes e relevantes,como subsdio para
o incio de entendimento do uso da gua na indstria, tais como:
- Projeto de Arquitetura com detalhamento de setores e "lay-outs" tcnicos;
- Projeto de Sistemas Prediais Hidrulicos e Eltricos;
- Projetos e especificaes tcnicas de equipamentos, sistemas e processos especficos;
- Fluxogramas de processos;
- Manuais de operao e rotinas operacionais;
- Leituras de hidrmetros;
- Contas de gua e energia (24 meses);
- Planilhas de custos operacionais de ETAs/ETEs;
- Planilhas de custos operacionais de poos artesianos;
- Planilhas de custos e controles de realizao de rotinas de manuteno preventiva/cor-
retiva;
- Planilhas de custos e quantidades utilizadas de produtos qumicos;
- Normas e procedimentos seguidos pela unidade industrial, onde esto inclusos o
Relatrio de Controle Ambiental e o Programa de Preveno de Riscos Ambientais;
- Certificados de outorga das fontes hdricas que abastecem o empreendimento;
- Legislao a ser atendida.
O levantamento dos documentos disponveis pode ser uma das formas para obten-
o dos dados referentes ao consumo de gua (qualidade e quantidade) e gerao de
efluentes.
Destaca-se a importncia nesta fase de fatores como:
- Abrangncia dos documentos;
- Sua qualidade;
- Seu nvel de detalhamento;
- Clareza na apresentao das informaes disponveis;
- Conhecimento tcnico e experincia das pessoas envolvidas na anlise.
Em muitos casos, as informaes disponveis referem-se, especificamente, aos pro-
cessos principais, no sendo detalhadas as operaes consideradas secundrias como
por exemplo:
- Fornecimento de vapor para aquecimento ou gua de resfriamento,
- Operaes de partida e parada das unidades industriais,
- Paradas para manuteno; e
- Outras atividades que podem estar diretamente associadas ao consumo de gua ou
gerao de efluentes, eventualmente no identificadas quando da anlise destes docu-
mentos.
Com a anlise documental tem-se uma primeira compreenso das atividades consu-
midoras de gua, pois dependendo do nvel de detalhamento apresentado, pode-se esta-
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
39
-
belecer uma relao lgica entre todas as etapas associadas s mesmas, possibilitando
vincular o consumo de gua em cada etapa, grau de qualidade exigido, alm da gerao
e composio dos efluentes.
Muitas vezes, pela anlise dos documentos relacionados aos processos produtivos,
por exemplo, possvel identificar algumas oportunidades associadas racionalizao
do uso dos recursos naturais e outros insumos,devendo-se,desta forma,manter um regis-
tro destas oportunidades, com o objetivo de analis-las detalhadamente quando do
desenvolvimento das estratgias de gerenciamento de guas e efluentes, ou ento, para
a implantao de um programa de preveno poluio.
7.2.2. Levantamento de Campo
Uma vez concluda a fase de coleta de informaes por meio de documentos, deve-se
planejar e realizar o levantamento de campo, por tcnicos da prpria indstria devida-
mente capacitados, ou especialistas externos. O objetivo avaliar "in loco" os diversos
usos da gua para detalhamento e aferio dos dados obtidos na anlise documental e
pesquisa de novas informaes eventualmente necessrias.
no levantamento de campo que se pode aferir na prtica a realidade e rotina das
diversas atividades que ocorrem ao longo do tempo em uma indstria, muitas delas
envolvendo apenas sistemas e equipamentos e outras relacionadas diretamente ao com-
portamento dos operadores e funcionrios.
Deve ser preparado um questionrio especfico a ser respondido pelo responsvel
de cada setor ou da atividade consumidora, avaliando-se os procedimentos de utilizao
da gua, condies dos sistemas hidrulicos, perdas fsicas, usos inadequados e usurios
envolvidos.
Para obteno das informaes pretendidas, necessrio:
- que o levantamento de campo seja acompanhado por um ou mais responsveis da prpria
planta, com conhecimento mnimo do sistema hidrulico e eltrico e processos envolvi-
dos, eventualmente com membros da equipe de manuteno e gerente de utilidades;
- comparar as informaes constantes dos documentos obtidos na anlise documental
com o levantamento de campo;
- identificar e cadastrar todos os equipamentos, processos e atividades que usem gua,
com exemplo, torres de resfriamento, caldeiras, sistemas de osmose reversa e troca
inica, reatores, tanques de produtos e reagentes, equipamentos de cozinha, equipa-
mentos hidrulicos de ambientes sanitrios, entre outros;
- identificar o perodo de operao de cada equipamento e processo que utilize gua;
- caracterizar a gua utilizada (quantidade e qualidade) em todas as atividades consu-
midoras;
- Identificar fluxos de gua (macro e micro), compreendendo o mapeamento das redes
de gua e efluentes, identificao e quantificao das fontes de abastecimento (rios,
rede pblica, poos profundos) e pontos de lanamento de efluentes lquidos ( rede
pblica, rios, etc.);
- Caracterizar as ETAs e ETEs existentes, compreendendo aspectos qualitativos e quan-
titativos, bem como os sistemas de tratamento existentes;
- avaliar (medir) a presso utilizada no sistema hidrulico em pontos estratgicos;
- checar equipamentos ou processos que utilizam gua para mais de uma operao;
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
40
-
- calibrar periodicamente os hidrmetros existentes;
- medir a quantidade de gua utilizada em cada setor ou processo consumidor. Se no hou-
ver medidor instalado dever ser feito um plano de setorizao contendo os pontos a
serem monitorados,com especificao e detalhamento dos medidores a serem instalados;
- fazer um comparativo de consumo da indstria, processos e equipamentos com dados
j existentes de tipologias similares, caso haja disponibilidade de dados confiveis.
Ressaltar as principais diferenas e buscar justificativas;
- realizar ensaios de anlise da qualidade da gua (pH, dureza, slidos totais dissolvidos,
coliformes fecais, turbidez, temperatura, entre outros) em pontos de coleta especficos,
bem como dos diferentes efluentes que possam ser gerados;
- identificar e cadastrar perdas fsicas de gua.
7.2.3. Produtos
Com os dados obtidos realizada uma primeira avaliao do uso da gua na indstria em
questo, tendo como principais produtos o macro e o micro fluxos da gua e o Plano de
Setorizao do Consumo da gua.
- Macro fluxo da gua
A macro-avaliao do fluxo de gua busca compreender o caminhamento da gua
desde das fontes abastecedoras para atendimento da demanda existente at o destino
final dos efluentes gerados, sem detalhamento dos usos internos. Com esta avaliao
gerado o macro fluxo de gua.
importante identificar a quantidade de gua utilizada no processo produtivo, o
qual muitas vezes subdividido conforme a variedade de produtos envolvidos. impor-
tante tambm identificar os quantitativos envolvidos para resfriamento/aquecimento
(torres de resfriamento, condensadores e caldeiras), bem como por atividades consumi-
doras de gua, como lavagem de reas externas e internas, por exemplo.
A figura abaixo exemplifica parte do macro-fluxo da gua em uma indstria de
laticnios:
Figura 2: Macro-fluxo da gua em uma Indstria de Laticnios
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
41
Crrego
Crrego
ETA
ETE
Planta Antiga
Planta Nova
R1*1000 m3
R2*210 m3
Poos 1
Poos 2
Poos 3
Poos 4
Poos 5
Poos 6
Poos 7
Efluentedomstico
Efluenteindustrial
*Reservatrios de gua
-
- Micro fluxo da gua
Na micro-avaliao do fluxo de gua so detalhados:
- fluxo da gua por setor da indstria;
- os processos, equipamentos e atividades consumidores de gua;
- balanos de entradas e sadas de gua por setores identificados para comparativo com
o macro fluxo de gua;
- localizao e quantificao de perdas visveis para correo futura;
- pontos de consumo (localizao e especificao);
- cadastramento de redes externas e internas;
- fluxo de afluentes e efluentes por setor da indstria;
- condies de operao de equipamentos e sistemas consumidores de gua;
- procedimentos comportamentais dos usurios envolvidos em cada setor especfico;
- plano de setorizao do consumo de gua.
Figura 3: Diagrama de blocos para indicao dos fluxos de gua e efluentes em uma unidade industrial.
A partir desta avaliao, so gerados diversos micro-fluxos de gua que detalham o
uso interno em cada um dos setores.
Devem ainda ser identificados os indicadores de consumo mais apropriados a cada
setor e tipo de utilizao da gua, por exemplo:
- quantidade de gua por unidade produzida;
- quantidade de gua por refeio preparada (cozinha industrial);
- quantidade de gua por funcionrio; etc.
Alm do diagrama que apresenta os fluxos de gua e efluentes em uma unidade
industrial, para que seja possvel desenvolver alternativas para a otimizao do uso da
gua importante obter as demandas por categorias de uso, o que ser ento desenvol-
vido na etapa de avaliao de demanda da gua.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
42
Processo A Processo B Processo C
Atividade A1
Atividade A2
Atividade A3
gua Bruta
Atividade B1 Atividade C
Meio Ambiente
gua(m3/h)
Evaporao(m3/h)
gua (m3/h)
gua (m3/h)
gua de Lavagem(m3/h)
Eflu
ente
(m3 /h
)
Efluente (m3/h)
Efluente Tratado (m3/h)
Atividade B2
Atividade A4
UsoDomstico
Estao deTratamento
-
- Plano de Setorizao do Consumo de gua
O principal produto da Etapa 1 o Plano de Setorizao do Consumo de gua, que
consiste em um sistema de medio e monitorao setorizada do consumo de gua,obje-
tivando o controle de consumo.A medio setorizada tambm possibilita a localizao
de vazamentos internos e desperdcios significativos que, em outras condies, podem
levar meses ou at anos para serem identificados.
A setorizao do consumo prev a diviso de uma planta industrial por meio da
identificao de reas ou setores que apresentam consumo de gua em quantidade e
com requisitos de qualidade especficos,possibilitando a individualizao da medio do
consumo por meio de dispositivos de leitura.Estes dispositivos, conhecidos como hidr-
metros, podem possuir somente a leitura pontual do consumo, atravs do display, como
tambm apresentar um sistema de medio remota do consumo de gua. Em ambos os
casos, o Gestor de gua poder acompanhar o consumo de gua nos setores instrumen-
tados da unidade industrial.
O sistema de medio remota pode ser realizado por meio de ondas de rdio ou de
cabeamento, o qual permitir ao Gestor uma maior praticidade no acompanhamento
dos consumos de gua e agilidade na implementao de intervenes.
Em funo do levantamento de campo realizado deve ser proposto um sistema de
medio individualizada do consumo com base no uso da gua em cada setor e prefe-
rencialmente utilizando as tubulaes existentes.
No Plano de Setorizao so definidos os setores da planta industrial que sero
monitorados atravs da instalao de medidores de consumo de gua.Devem ser estabe-
lecidos esquemas verticais para facilidade de instalao dos hidrmetros, bem como,
uma numerao lgica para facilidade de identificao dos mesmos.
A figura abaixo exemplifica o esquema de setorizao de parte de uma indstria de
laticnios:
Figura 4: Esquema de Setorizao de parte de uma Indstria de Laticnios
Setor E: Preparo de bebida lctea; Setor F: Laboratrio e sanitrios; Setor G: Recebimento de leite
7.3. ETAPA 2: Avaliao da Demanda de gua
Com base nos dados coletados na etapa anterior, inicia-se a avaliao da demanda de
gua. Nesta etapa feita a identificao das diversas demandas para avaliao do consu-
mo de gua atual e das intervenes necessrias para eliminao e/ou reduo de per-
das, racionalizao do consumo e minimizao de efluentes.
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
43
Areo
Bales de bebida lctea
Setor E
Setor F
Setor G
-
Para tal, devem ser avaliados os seguintes tpicos :
- Perdas fsicas nas tubulaes, conexes e reservatrios;
- Processos que utilizam gua;
- Equipamentos hidrulicos;
- Presso do sistema hidrulico.
7.3.1. Perdas Fsicas
Em geral, as perdas fsicas ocorrem devido a:
- vazamentos: quando h fuga de gua no sistema, por exemplo, em tubulaes, cone-
xes, reservatrios, equipamentos, entre outros;
- mau desempenho do sistema: por exemplo, um sistema de recirculao de gua quen-
te operando inadequadamente, ou seja, com tempo de espera longo;
- negligncia do usurio: como por exemplo uma torneira deixada mal fechada aps o
uso.
Devem ser realizados testes no sistema hidrulico para a deteco das perdas fsicas
dificilmente detectveis, inclusive com a utilizao de equipamentos especficos para
evitar intervenes destrutivas. Os principais testes compreendem pesquisa em alimen-
tador predial, reservatrios, bacias sanitrias, entre outros.
Um sistema hidrulico sem manuteno adequada pode perder de 15 a 20% da gua
que adentra na unidade.
Em geral, com pequenos investimentos para a correo das perdas existentes so
obtidas significativas redues de consumo.
Podem ser citados os seguintes exemplos de reduo do consumo obtido pela cor-
reo de perdas fsicas em indstrias nacionais:
- Indstria automobilstica: a correo das perdas existentes na cozinha da fbrica, por
meio da troca de reparos e vlvulas, reduziu o consumo de gua deste setor em 11,49%,
com perodo de retorno imediato e gerando uma economia mensal aproximada 20
vezes superior ao valor do investimento realizado.
- Indstria de laticnios: a correo das perdas existentes na planta, por meio de aes
corretivas como troca de reparos, registros e trechos de tubulaes e conexes, redu-
ziu o consumo de gua da fbrica de 2.200 m3/dia para 1.900 m3/dia (cerca de 14%).
Esta ao gerou uma economia de 13,5% nos custos de tratamento de gua da ETA da
fbrica, alm das economias geradas (e aqui no computadas) nos custos de tratamen-
to de efluentes e de energia eltrica.
Com base nas informaes coletadas na primeira etapa e agora detalhadas e anali-
sadas, traado o plano de minimizao de perdas para as correes necessrias.
7.3.2. Adequao de Processos
Nesta fase so detalhados os usos da gua, considerando-se qualidade e quantidade
necessrias para um fim especfico e identificando-se os desperdcios nas atividades con-
sumidoras por meio dos questionamentos das rotinas e procedimentos existentes:
- identificao de todos os processos que utilizam gua;
- como se d a operao do processo;
- quais os equipamentos, sistemas e usurios envolvidos;
- identificao das quantidades e qualidades necessrias da gua;
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
44
-
As categorias de uso podem variar em funo do tipo de indstria que est sendo
avaliada e podem ser classificadas como melhor convier ao responsvel pela avaliao.
Pode-se utilizar uma classificao que considere o uso que est sendo dado para a gua,
ou ento, o processo no qual esta sendo utilizada, relacionando-se o volume ou vazo de
gua utilizado em cada categoria identificada.Na tabela a seguir apresentado um exem-
plo de distribuio de consumo de gua por categoria de uso:
Tabela 6: Exemplo da distribuio do consumo de gua por categoria de uso
Algumas categorias podem, ainda, ser subdivididas em subcategorias, o que dar
subsdios para uma avaliao mais precisa de toda a unidade, alm de poder auxiliar na
identificao de oportunidades para a aplicao de iniciativas de Conservao e Reso
de gua. importante destacar que podem ser elaboradas tabelas adicionais que relacio-
nam a demanda de gua para cada categoria de uso em cada um dos processos desen-
volvidos.
Os dados de demanda obtidos podem ser utilizados para a construo de grficos
que mostrem de uma maneira mais simples as atividades responsveis pelas maiores
demandas, identificando as reas com maior potencial para a implantao de estratgias
para a reduo do consumo de gua.
A figura abaixo exemplifica a distribuio do consumo de gua (m3/dia) em uma
unidade de uma indstria de laticnios :
Figura 5: Distribuio do consumo de gua (m3/dia) em uma indstria de laticnios
As reas e atividades com maior potencial para a reduo do consumo de gua so
as que apresentam as maiores demandas por categoria de uso, de maneira que os esfor-
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
45
Categoria de Uso Demanda (volume/tempo)Matria-prima Demanda 1Uso domstico Demanda 2Lavagem de equipamentos Demanda 3Irrigao de reas verdes Demanda 4Gerao de vapor Demanda 5Sistemas de resfriamento Demanda 6Produo de gua desmineralizada Demanda 7Total Demanda
Consumo Humano
CIP
Insumo
Limpeza
Arrefecimento
Torres/Condensadores
Caldeiras
Perdas Fsicas
50400
30
200
200
900
300
420
-
os iniciais devero ser direcionados para as mesmas.
Com base na anlise dos processos que utilizam a gua, so ento relacionadas as
adequaes necessrias, com seus respectivos custos operacionais e investimentos
necessrios.
Para a adequao de processos importante que sejam detalhados procedimentos
especficos, cujos contedos devem ser discutidos com os funcionrios envolvidos nas
atividades.
7.3.3. Adequao de Equipamentos e Componentes
Esta fase do Programa tem por objetivo a avaliao dos componentes hidrulicos exis-
tentes de acordo com os usos especficos de cada ponto de consumo.
Adequar componentes e equipamentos equivale a trocar aqueles que no sejam
adequados ao uso racional da gua. Os novos componentes especificados devem ser
compatveis com a presso de utilizao e com o tipo de uso e de usurio do ponto de
consumo, devendo proporcionar conforto ao usurio e otimizao do consumo de gua
necessrio para o bom desempenho da atividade (vide anexo).
Podem ser citados os seguintes exemplos de adequao de equipamentos e com-
ponentes:
- indstria de laticnios:a automatizao da operao,adequao do sistema de dosagem
de produtos qumicos e isolamento apropriado das tubulaes das torres de resfria-
mento, reduziram o consumo de gua deste setor em 15%.
- indstria automobilstica: a adequao de metais e a instalao de arejadores na rea
de preparo de refeies da cozinha da fbrica reduziram o consumo de gua deste
setor em 5,5%, com perodo de retorno de 3 meses.
Preferencialmente devem ser utilizados componentes que apresentem maior dura-
bilidade de forma a minimizar custos provenientes de manutenes.
7.3.4. Controle da Presso do Sistema Hidrulico
A presso elevada pode contribuir para as perdas e os desperdcio de gua no siste-
ma hidrulico de vrias maneiras, tais como freqncia de rupturas, de golpe de arete
ou de fornecimento de gua em quantidade superior necessria numa torneira.
Segundo estudos existentes,uma reduo de presso de 30 mca para 17 mca pode resul-
tar em economia de aproximadamente 30% do consumo de gua.
Constatada a existncia de presso superior necessria, devem ser especificados
os dispositivos adequados para cada atividade, como por exemplo, restritores de vazo,
placas de orifcio ou vlvulas redutoras de presso.
Como exemplo pode-se citar a reduo de 12% do consumo de gua de uma inds-
tria de laticnios pela ao de controle da presso no sistema hidrulico da fbrica por
meio da instalao de vlvulas redutoras de presso em pontos estratgicos das tubula-
es de gua, significando uma economia em torno de 14% nos custos de tratamento de
gua da ETA da fbrica, alm das economias geradas (e aqui no computadas) nos cus-
tos de tratamento de efluentes e de energia eltrica.
7.3.5. Avaliao dos Graus de Qualidade da gua
Dentre os dados obtidos na Etapa 1 (Avaliao Preliminar) foram relacionadas as carac-
tersticas da gua utilizada em cada atividade consumidora da unidade, as quais devem
Manual de Conservao e Reso de gua Para a Indstria
46
-
ser comparadas qualidade efetivamente necessria para o bom desempenho da ativida-
de, como base para subsidiar a Etapa 3 do Programa Avaliao da Oferta.
7.3.6. Produtos
O produto desta etapa a anlise quantitativa e qualitativa do consumo atual de gua,
com diagnstico das perdas e usos excessivos e das aes tecnolgicas possveis para a
otimizao do consumo.
Ao final desta avaliao so obtidas as seguintes informaes:
- Distribuio atual do consumo de gua;
- Distribuio histrica do consumo de gua;
- Distribuio do consumo de gua pelos maiores consumidores;
- Gerao de efluentes atual do empreendimento.
Com a avaliao da demanda e com a possibilidade de se adequar componentes
hidrulicos, processos que utilizam gua, controle de vazo e presso e minimizao das
perdas fsicas, obtm-se um diagnstico do uso da gua na planta industrial, sendo ento
possvel determinar:
- Consumo otimizado aps intervenes;
- Impacto gerado com a minimizao de perdas;
- Impacto gerado com o controle de presso e vazo do sistema hidrulico;
- Impacto gerado com a adequao dos componentes hidrulicos;
- Impacto da economia de gua gerado por cada uma das intervenes;
- Investimentos necessrios;
- Perodo de retorno para cada uma das aes.
7.4. ETAPA 3: Avaliao da Oferta de gua
As indstrias podem ter seu abastecimento proveniente das seguintes fontes:
- da rede pblica;
- gua bruta fornecida por terceiros (caminhes pipa);
- captao direta de mananciais ( rios, reservatrios, lagos, etc.)
- guas subterrneas;
- guas pluviais;
- efluente tratado.
Para o abastecimento de gua de qualquer planta industrial, um dos requisitos
importantes na escolha de alternativas, devem ser considerados os seguintes custos: de
captao, aduo e distribuio, de operao e manuteno, da garantia da qualidade e
da eventuais descontinuidades do abastecimento.
A garantia da qualidade da gua, em especial, implica no comprometimento do pro-
duto final, dos processos produtivos e equipamentos, na segurana e sade dos usurios
internos e externos, dentre outros.
O uso negligente de quaisquer