ATUALIZA ASSOCIAÇÃO
IARA PIRES REIS SILVA
PRÁTICA ASSISTENCIAL HUMANIZADA NO PRÉ-NATAL.
Salvador – BA 2011
IARA PIRES REIS SILVA
PRÁTICA ASSISTENCIAL HUMANIZADA NO PRÉ-NATAL.
Artigo científico apresentado à Atualiza como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Enfermagem Obstétrica, sob a orientação do Profº Fernando Espírito Santo
Salvador – BA 2011
PRÁTICA ASSISTENCIAL HUMANIZADA NO PRÉ-NATAL.
Iara pires reis silva 1 Fernando Reis do Espírito Santo (Orientador) 2
Este estudo aborda a prática assistencial humanizada no pré-natal que visa valorizar os diferentes sujeitos envolvidos no processo de cuidar com ênfase na humanização do cuidado. Objetivo: Evidenciar, a partir da literatura, a construção da prática assistencial humanizada no Pré-Natal. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa a partir do levantamento e da seleção de material publicado em manuais, publicações do Ministério da Saúde, periódicos e artigos científicos. Foi realizada a leitura e comparação de artigos e monografias, selecionando o referencial teórico necessário para o alcance do objetivo proposto. Os resultados mostram que é necessário buscar a qualidade na assistência prestada, durante o período do pré-natal, tanto no que se refere à adequação técnica como e a questão da relação interpessoal. Essa longa trajetória passa pelos direitos de cidadania dos usuários dos serviços, modificando a forma de tratamento dispensada pelos profissionais passando de objeto estático para sujeitos ativos do processo de gestar e parir com dignidade. Já que a humanização da assistência passa por valores que orientam essa política como a autonomia e o protagonismo dos sujeitos.
Palavras-chave: Profissionais de saúde. Pré Natal. Humanização da
Assistência.
__________________________________
¹ Enfermeira. Pós graduanda em Enfermagem Obstétrica pela Aualiza Pós Graduação. [email protected]
² Doutor em educação pela PUC/SP-Professor Adjunto da UFBA.
1 INTRODUÇÃO • Apresentação do objeto de estudo
A mudança na qualidade assistencial da saúde da mulher vem desde a década dos
anos 80, por movimentos feministas que tentam reaver o direito á saúde garantida,
principalmente no referido a humanização da assistência na gravidez e parto e
questionam ativamente o modelo tradicional de saúde. Nos anos seguintes como
resposta as demandas e a intenção de orientar os rumos da assistência ao parto, o
ministério da Saúde vem lançando programas como: A Maternidade Segura,
Humanização do Pré Natal e Nascimento em 2000, Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), programa Mãe Canguru em 2002,
etc. (DIAS, 2006).
Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008), o processo de Humanização significa:
valorizar os diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Os
valores que orientam essa Política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a
co-responsabilidade entre eles, os vínculos solidários e a participação coletiva no
processo de gestão.
Fazendo a reflexão sobre o processo de humanização e ampliando o foco, é
percebida a necessidade de superar a restrita discussão sobre questões técnicas e
ampliar o olhar para a construção real do processo. Então esta discussão passa por
uma dimensão que envolve questões como a ética e a intersubjetividade das
práticas cotidianas nos serviços de saúde. (CAMPOS, 2003).
Dentro do conjunto de instrumentos que permitem o registro adequado dos dados
referentes à assistência dentro dos padrões mínimos de qualidade aceitável no
caminho para humanização dos serviços de pré-natal estão: ficha perinatal-
ambulatório, o cartão da gestante, e a ficha de internação perinatal, e o mapa de
registro de diário, e outros de uso opcional, mas não menos fundamentais, como o
partograma e o sistema informático perinatal. È importante ser esclarecido que as
fichas perinatal-ambulatório, internação perinatal, e o partograma devem fazer parte
do prontuário médico. (BRASIL, 1998f).
• Justificativa
A Humanização do Sistema Único de Saúde é um desafio a se cumprir. E sendo os
profissionais da saúde um dos atores principais para consolidação deste processo é
fundamental o desenvolvimento do trabalho. No intuito de contribuir de modo
qualitativo na assistência aos usuários do Pré natal quanto à execução dos
compromissos profissionais e sistema de saúde.
Hoje, um dos assuntos mais abordados na área da saúde diz respeito às condições
de atendimento dos usuários pelos profissionais, neste sentido a qualidade do
serviço de saúde é o ponto chave na construção da humanização. Esta qualidade
envolve não só a satisfação dos clientes e de profissionais, mas questões delicadas
que formam todo o sistema da saúde.
Algo importante no processo de construção da humanização é reconhecer a
individualidade de cada um no atendimento. Isso permite aos trabalhadores da
saúde estabelecer com cada mulher um vínculo e perceber suas necessidades e
capacidade de lidar com o processo do nascimento. Além de proporcionar também
relações menos desiguais e menos autoritárias, na medida em que o profissional em
lugar de "assumir o comando da situação" passa a adotar uma direção no cuidado
que traga bem-estar e garanta a segurança para a mulher e bebê. (BRASIL, 2001).
Espera-se que este estudo favoreça a reflexão crítica de acadêmicos e profissionais
de saúde de forma positiva, contribuindo na melhora do atendimento no Pré Natal,
na satisfação das gestantes que procuram o serviço e o mais importante, na análise
crítica dos profissionais sobre: trabalho, profissão e respeito ao programa do
Ministério da Saúde.
• Problema O que diz a literatura sobre a pratica da humanização no pré natal?
• Objetivo Evidenciar, a partir da literatura, a construção da prática humanizada no Pré – Natal.
• Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de caráter descritivo direcionada a rever as
contribuições da literatura nacional que enfatizem a atenção humanizada proposta
pelo Sistema de Saúde Público.
A abordagem do estudo é de caráter qualitativo com o objetivo de explicar através
do levantamento bibliográfico a construção da prática humanizada no pré-natal.
A pesquisa qualitativa representa as [...] “relações entre características observáveis,
ou experimentalmente determináveis, de um objeto de estudo ou classe de
fenômenos” [...]. (NAGEL, 1978, p.84-93 apud MARCONI & LAKATOS, 2002 p.
109).
A construção da pesquisa se deu fundamentalmente em consultas no site de busca
Google Acadêmico, utilizando as seguintes palavras chave: Humanização,
Profissionais de saúde e Pré Natal; além de artigos publicados impressos e livros a
respeito do assunto.
Os aspectos éticos do trabalho contemplam o COFEN ( 2007 ) no seu código de
ética referente aos profissionais de Enfermagem ( CEPE ), ainda os art. 92 que trás “
Disponibilizar os resultados da pesquisa à comunidade científica e sociedade em
geral” e o art 100: “ Utilizar sem referência ao autor ou sem autorização expressa de
dados , informações ou opiniões ainda não publicados”.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Políticas de Saúde à Mulher
Na década de 70 o movimento sanitário ordenou que o Estado organizasse o
sistema de saúde com base nos princípios de universalidade, integralidade e
equidade. Resultando em 1988 na promulgação da constituinte que garantia o direito
á saúde por lei e o sistema único de saúde após esta data deveria ser implantado de
forma descentralizada e com instâncias de controle social. (MENEZES, 2005).
A repercussão da organização feminina na busca do reconhecimento de seus
direitos (saúde, sexuais, reprodutivos, e exercício de cidadania) estreitou os laços
com a sociedade e promoveu destaque no cenário político e questões que jamais
tinham sido discutidas resultaram na edição do Programa de Assistência Integral à
Saúde da Mulher (PAISM), em 1983. (VARGENS; PROGIANTI; ARAUJO, 2007).
Entre os objetivos gerais descritos na Política de Saúde da Mulher pode-se citar: a
promoção da qualidade das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras,
garantindo seus direitos legais constituídos; ampliação do acesso aos meios e
serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo
território brasileiro; a redução da morbidade e da mortalidade feminina no Brasil,
especialmente aquelas causas consideradas evitáveis em qualquer fase do ciclo da
vida, em diversos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer natureza e o
aumento de qualificação e humanização da atenção integral à saúde da mulher no
SUS. (ALEXANDRE, 2007).
Apesar de críticos considerarem que o termo “integral” aplicado ao PAISM estava
mal aplicado, por insistir ainda na visão da mulher associada a sua característica
reprodutiva, não há como deixar de reconhecer a relevância do PAISM na
abordagem à saúde no Brasil. O seu valor fica evidenciado pelo significado social
promovido na sociedade, com destaque por ser uma proposta que mudaria o modo
de tratar a saúde das mulheres, sendo até hoje considerado como um marco
positivo ao avanço na qualidade da assistência á saúde. (MARIA, 1998).
2.2 Humanizações na assistência á Saúde.
Conforme o dicionário, humanização é o ato ou efeito de humanizar, que por que
nada mais é que: 1. Tornar humano; dar condição humana a; humanizar. 2. Tornar
benévolo, afável, tratável; humanizar. 3. Fazer adquirir hábitos sociais polidos;
civilizar. 4. Bras. CE. Amansar (animais). 5. Tornar-se humano; humanizar- se.
(CAMPOS, 2003).
Humanizar não significa tratar educadamente ou fazer carinho, adocicar a voz para
mal esconder o drama, a dor de quem sofre ou a ansiedade de quem está diante do
desconhecido ou do incerto. Humanizar é envolver-se com as pessoas, para melhor
compreender seus medos, alegrias, expectativas, e assim poder de alguma forma
ajudá-las, solidarizar-se. Humanizar é também entender que há momentos fáceis e
alegres e outros difíceis e cruéis que a vida reserva a todos sem distinção nenhuma
e que é preciso preparo tanto para ser aquele que conduz o momento de fragilidade
de alguém como também o que é conduzido a depender do momento. (PAIVA,
2005).
O Humaniza SUS trás a idéia da humanização através da valorização dos diferentes
sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Para isso ocorrer é
necessário o respeito de valores que beneficiem o trabalho dos profissionais da
saúde como também a garantia da satisfação do usuário em suas necessidades
afetadas sejam elas físicas ou psicológicas. Os valores norteadores da humanização
da assistência: autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade
entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a participação coletiva no
processo de gestão e a indissociabilidade entre atenção e gestão. (BRASIL, 2004).
2.3 O Programa de Humanização no Pré Natal
O Programa de Humanização no Pré Natal estabeleceu uma estratégia para inferir
e auxiliar a maioria dos municípios a por em prática as ações, implantando novos
recursos para o custeio dessa assistência e conseqüentemente o deslocamento dos
chamados critérios mínimos fundamentais para melhorar a qualidade da assistência
ofertada a estas mulheres. (SERRUYA, 2004).
Pode ser observado através das causas de mortalidade neo-maternas que a
assistência ofertada deixa a desejar, pois na maioria dos casos identificados
poderiam ser evitadas. Os óbitos geralmente são em razão de hipertensão na
gravidez, hemorragias, infecção puerperal, complicações no trabalho de parto e
abortos, que são causas facilmente evitáveis, através de adequada assistência ao
ciclo gravídico-puerperal, em todas as suas etapas: pré-natal, parto e puerpério.
(BRASIL, 1998b).
O Ministério da Saúde tem como uma das suas competências o estabelecimento de
políticas e normas para oferta do pré-natal de boa qualidade. Assim, além dos
equipamentos e instrumental para realização das consultas e exames, é necessário
levar em conta a capacitação adequada de todas as pessoas que atendem a mulher
no seu percurso pela unidade de saúde. (BRASIL, 1998a).
Na consulta do pré natal desenvolvida pelo profissional de saúde ao escutar as
questões trazidas embora pareçam elementares e simples para quem escuta, pode
representar um problema sério para quem o apresenta. Assim, respostas diretas e
seguras são significativas para o bem-estar da mulher e sua família. O resultado
com simples medidas é a melhor adesão das mulheres ao pré-natal demonstrando o
aumento da qualidade da assistência prestada pelo serviço e pelos profissionais de
saúde, o que, em última análise, será essencial para redução dos elevados índices
de mortalidade materna e perinatal verificados no Brasil. (BRASIL, 2000).
Uma das ferramentas importantes na humanização da assistência no pré-natal e em
qualquer outro atendimento é a capacidade do profissional em ouvir o indivíduo que
ali se coloca de modo único com suas queixas, fragilidade e contexto dos seus
problemas. E conforme Brasil, 1998 o escutar é um ato de autoconhecimento e
reflexão contínua sobre as próprias fantasias, medos, emoções, amores e
desamores. Escutar é desprendimento de si. Sendo importante ser colocado que na
escuta, o sujeito se dispõe a conhecer aquilo que talvez esteja muito distante de sua
experiência de vida e por isso exige um grande esforço para compreender e ser
capaz de oferecer ajuda. (BRASIL, 1998a).
Os dez princípios fundamentais da atenção perinatal, assinalados pela OMS,
indicam que o cuidado na gestação e no parto normais deve: Não ser medicalizado,
ou seja o cuidado deve ser previsto; uso de tecnologia apropriada( métodos,
procedimentos, equipamentos e outras ferramentas); ser baseado em evidência; Ser
regionalizado e baseado em sistema eficiente de referência de centros de cuidado
primário para centros de cuidado secundário e terciário; ser multidisciplinar (parteiras
tradicionais, obstetras, neonatologistas, enfermeiros, educadores para parto e
maternidade e cientistas sociais); ser integral e levar em conta necessidades
intelectuais, emocionais, sociais e culturais das mulheres, seus filhos e famílias, e
não somente um cuidado biológico; centrado nas famílias e ser dirigido para as
necessidades não só da mulher e seu filho, mas do casal; ser apropriado, tendo em
conta as diferentes pautas culturais para permitir lograr seus objetivos; levar em
conta a tomada de decisão das mulheres; respeitar a privacidade, a dignidade e a
confidencialidade das mulheres.( BRASIL, 2005a).
As ações de saúde devem estar direcionadas para a cobertura de toda a população-
alvo da área de abrangência da unidade de saúde, assegurando continuidade no
atendimento, acompanhamento e avaliação destas ações sobre a saúde materna e
peri-natal. As condições para que ocorra a assistência efetiva no pré-natal é
necessário garantir os seguintes elementos: a captação precoce da gestante na
comunidade; controle periódico, contínuo e extensivo à população-alvo; recursos
humanos treinados; área física adequada; equipamento e instrumental mínimos;
instrumentos de registro e estatística; medicamentos básicos; apoio laboratorial
mínimo; sistema eficiente de referência e contra-referência; avaliação das ações da
assistência pré-natal. (BRASIL, 1998c).
Alguns critérios foram estabelecidos pelo ministério da saúde para possibilitar
qualidade à assistência do pré natal como: realizar a primeira consulta de pré natal
até o quarto mês de gestação; garantir os seguintes procedimentos: no mínimo, seis
consultas de pré-natal, sendo, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no
segundo trimestre e três no terceiro trimestre da gestação; uma consulta no
puerpério, até 42 dias após o nascimento; exames laboratoriais: (a) ABO-Rh, na
primeira consulta; (b) VDRL, um exame na primeira consulta e outro próximo à
trigésima semana da gestação; (c) Urina rotina, um exame na primeira consulta e
outro próximo à trigésima semana da gestação; (d) Glicemia de jejum, um exame na
primeira consulta e outro próximo à trigésima semana da gestação; (e)
Hemoglobina/Hematócrito, na primeira consulta; oferta de testagem anti-HIV, com
um exame na primeira consulta, naqueles municípios com população acima de
cinqüenta habitantes; aplicação de vacina antitetânica até a dose imunizante
(segunda) do esquema recomendado ou dose de reforço em mulheres já
imunizadas. (SERRUYA, 2004).
Alguns dos instrumentos para a garantia da assistência justa e humanizada diz
respeito aos instrumentos de registro e estatística que tem como objetivo preservar
um ambiente adequado ao inter-relacionamento entre a equipe de saúde e a
gestante, mantendo, obrigatoriamente, uma área física destinada à assistência pré-
natal; permitir o acompanhamento sistematizado da evolução da gravidez, do parto e
do puerpério, através da coleta e da análise dos dados obtidos em cada consulta;
facilitar o fluxo de informações entre os serviços de saúde, no sistema de referência
e contra- referência; permitir a seleção de dados necessários para a avaliação das
estatísticas de serviço. (BRASIL, 1998c).
Hoje o conceito de humanização na assistência a saúde é evidente, no entanto
mudanças são necessárias para efetivar o cuidado humanizado, segundo Dias, 2006
empecilhos como o número de clientes agendados para um determinado turno de
atendimento ou procura espontânea por um serviço podem modificar a tarefa de
estabelecer uma relação mais personalizada praticamente impossível.
Por isso para praticar a humanização da assistência os trabalhadores da área da
saúde devem estabelecer o cuidado humanizado, compreendendo então: o parto
como um processo natural e fisiológico que quando bem conduzido não precisa de
condutas intervencionistas; respeito aos sentimentos, emoções, necessidades e
valores culturais; a disposição dos profissionais para ajudar a mulher a diminuir as
ansiedades, inseguranças e o medo do parto, da solidão, da dor, do ambiente
hospitalar, do bebê nascer com problemas e outros temores; promoção e
manutenção do bem estar físico e emocional ao longo do processo da gestação,
parto e nascimento; informação e orientação permanente a parturiente sobre a
evolução do trabalho de parto, reconhecendo o papel principal da mulher nesse
processo, inclusive aceitando a sua recusa a condutas que lhe causem
constrangimento ou dor; espaço e apoio para a presença de um (a) acompanhante
que a parturiente deseje; o direito da mulher na escolha do local de nascimento e co-
responsabilidade dos profissionais para garantir o acesso e qualidade dos cuidados
de saúde. (BRASIL, 1998 d).
2.4 Acolhimento: Ferramenta essencial na humanização à saúde
O acolhimento é essencial na política de humanização, começando desde sua
chegada na unidade de saúde. Os trabalhadores da unidade de saúde devem se
responsabilizar pelas mulheres que procuram o serviço, ouvindo suas queixas
permitindo que expressem suas preocupações, angústias, garantindo atenção
resolutiva e articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da
assistência, quando necessário. Cabendo à equipe de saúde, ao entrar em contato
com uma mulher gestante, na unidade de saúde ou na comunidade, buscar
compreender os múltiplos significados da gestação para aquela mulher e sua
família, principalmente se ela for uma adolescente. (BRASIL, 2005b).
É cada vez mais freqüente a participação do “pai” no pré-natal, devendo sua
presença ser despertada durante as atividades de consulta e de grupo para o
preparo do casal para o parto e durante a internação. (BRASIL, 2005b).
Já na prática cotidiana dos serviços de saúde, o acolhimento e a humanização
podem ser notados por meio de atitudes e ações claras na relação diária instituída
entre profissionais e usuários (as) dos serviços, a exemplo da forma cordial do
atendimento, com os profissionais se apresentando, chamando pelo nome,
informando sobre condutas e procedimentos, escutando e valorizando o que é dito
pelas pessoas, garantindo a privacidade, incentivando a presença do (a)
acompanhante, entre outras. (BRASIL, 2005b).
O acolhimento faz parte do Programa Nacional de Humanização, que tem como
meta a ser cumprida a criação de cartilhas da Programação Nacional de
Humanização, com função multiplicadora, disseminando algumas tecnologias da
atenção e gestão no campo da saúde. Como exemplo destas cartilhas existe a
Humaniza SUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma
ético estético em saúde. (MENEZES, 2005).
2.5 Os caminhos e obstáculos para atingir a humanização na assistência
Muito ainda há que ser feito para alcançar uma assistência de qualidade e
humanizada, tanto no que se refere à adequação técnica como na questão da
relação interpessoal. Essa trajetória passa pelos direitos de cidadania dos usuários
dos serviços de serem tratados como seres humanos, podendo decidir e
compreender sobre as intervenções, deixando de ser objeto e passando a ser
sujeitos ativos do processo. (RATTNER, 2005).
Alguns fatores presentes na assistência á saúde comprometem o desempenho do
profissional e atendimento ofertado, como por exemplo: a constante pressa, a falta
de tempo, a curta duração das consultas, a antecipação injustificada dos partos,
ausência de cuidados e de preparos pré-natais, falta de acompanhamento e
cuidados pós-natais, como conseqüência a ocorrência dos acontecimentos brutos,
traumáticos, e violentos no processo do nascimento, confirmando a desumanização
e desrespeito ás gestantes e á saúde. Como explicação a este problema do sistema
de saúde tem os pagamentos por prestação dos serviços, que é perverso e induz
produtividade sem qualidade, além de desconsiderar a humanização. Uma das
conseqüências deste tipo de organização do sistema de saúde foi o incremento de
procedimentos de maior custo e desnecessários, nos quais se inclui a cesárea.
(G.E.N.P., 2005).
A valorização do técnico pelos trabalhadores da saúde é um dos empecilhos à
gestão do cuidado, pois o modo como ocorre a formação dos profissionais acaba
refletindo no foco de ação e produção dos procedimentos, não assegurando a
promoção do vínculo do acolhimento tão necessário no processo de humanização,
responsabilizações, relacionamento interpessoal. A competência profissional,
técnica, capacidade em realizar diagnósticos é importante, mas aliado a isso é
fundamental habilidades inter-relacionais e humanísticas, só assim será possível
realizar saúde com foco direcionado ao ser humano como um todo e não apenas
biologicamente. (MENEZES, 2005).
É necessário também ocorrer uma transformação nas instituições formadoras
responsáveis pelo ensino na educação médica e profissional, com transmissão de
valores que incluem a solidariedade ao sofrimento alheio. Além de tudo já abordado
como importante é fundamental a melhoria das condições de trabalho dos
profissionais, permitindo que médicos e outros profissionais da saúde exerçam suas
atividades de maneira a preservar sua dignidade. Uma pesquisa realizada pelo
conselho Federal de Medicina em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, em 1997
confirmou esta necessidade. (RATTNER, 2005).
Os obstáculos á humanização são grandes como: a grande rotatividade de emprego
nos serviços de saúde dificultando o processo de integração das equipes tornando
necessário um processo contínuo de treinamento de profissionais; falta de
comunicação no interior dos serviços, devido a existência de um sistema de
informações que não dispõe de dados corretos e atualizados, por exemplo, com
relação ao número de leitos nas maternidades, vagas nas UTIs neonatais, etc;
entraves coorporativos que se contrapõe à inserção no mercado de mais um
profissional nessa área - a parteira; a baixa remuneração dos profissionais de saúde;
etc. Assim é fundamental a valorização do trabalho dos profissionais na área da
saúde. (G.E.N.P., 2005).
Nos serviços de saúde prevalecem as relações hierárquicas de autoridade e poder,
e desprezo de algumas categorias em relação às demais. Como a humanização tem
base no respeito, deve existir a humanização das relações de trabalho, nos serviços,
como respeito entre os membros da equipe, ou seja, médicos, enfermagem e todos
que participem do processo de saúde. Uma transformação nesta estrutura pode
ocorrer introduzindo na formação dos profissionais da saúde uma discussão crítica
em torno do modelo ocidental masculino de ciência e de medicina, que é associado
ao distanciamento, à objetividade, à impessoalidade e a autoridade, e que não
valoriza os aspectos emocionais da experiência do nascimento e do parto.
(G.E.N.P., 2005).
É importante esclarecer que as anotações fazem parte também deste processo e
deverão ser realizadas tanto no prontuário da unidade, quanto no cartão da
gestante. Em cada consulta, deve-se reavaliar o risco obstétrico e perinatal. Para
auxiliar nesse objetivo, deve-se observar a discriminação dos fatores de risco no
cartão de pré-natal, identificados pela cor amarela. A presença dessas anotações
deverá ser interpretada pelo profissional de saúde como sinal de alerta. (BRASIL,
2005c).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo explicar através do levantamento bibliográfico
a construção da prática humanizada na assistência às mulheres no pré-natal.
Através da literatura foi possível perceber que o processo da humanização da
assistência dispensado pelos profissionais da saúde ainda está em construção, pois
através dos estudos foi demonstrado que durante o período do pré-natal, um
momento único na vida de uma mulher e sua família existe barreiras que necessitam
ser superadas para a efetiva atenção humanizada de qualidade, tanto no que se
refere à adequação técnica como na questão da relação interpessoal.
Essa trajetória passa pelos direitos de cidadania dos usuários dos serviços de serem
tratados como seres humanos, modificando a forma de tratamento dispensada pelos
profissionais aos usuários, passando de objeto estático para sujeitos ativos do
processo de gestar e parir com dignidade.
Outro ponto visto em muitas das pesquisas e meios consultados refere-se a
qualquer atendimento, seja ele na saúde ou não, devendo ocorrer sempre o
reconhecimento da individualidade de cada indivíduo . Por isso é necessário o
profissional está atento e sensibilizar-se com o outro nem aumentando ou
diminuindo os problemas apresentados. Isso permite aos trabalhadores da saúde
estabelecer com cada mulher um vínculo e perceber suas necessidades e a
capacidade de lidar com o processo de gestar e parir.
É possível a prática do cuidado humanizado como já foi visto no decorrer do estudo,
porém para a concretização desta assistência é necessário eliminar obstáculos que
impedem o crescimento e a atuação humanizada dos profissionais de saúde nas
instituições sejam elas particulares ou públicas as barreiras são semelhantes, mas
não são impossíveis de solução.
A realização deste estudo possibilitou o enriquecimento diante da temática da
humanização e para a autora: conhecimento acadêmico e profissional e um saber
pessoal que modificou o fazer na profissão, pois ao longo da construção do estudo
ocorreu a compreensão dos ideais de humanização instituído pelo Ministério da
Saúde e outras pesquisas que promoveram uma reflexão analítica e complexa
sobre o tema, deixando claro a necessidade de mais discussões e estudos que
foquem as relações interpessoais que ocorrem nas instituições de saúde,
modificações curriculares na formação dos profissionais da saúde, ou seja inserir a
humanidade em suas disciplinas e não só o conhecimento científico e estático do
cuidar.
PRACTICAL ASSISTANCE HUMANIZED PRENATAL
ABSTRACT
This study addresses the humane care practice in prenatal care that aims to enhance the different subjects involved in the care process with emphasis on the humanization of care. Objective: Evidence from the literature, the construction of humanized care practice in the prenatal. It is a literature review, qualitative in nature from the survey and the selection of published material in textbooks, the ministry of health publication, periodical and scientific papers. We performed the reading comparison of article and monographs, selecting the theoretical framework necessary to achieve the objetive. The results show that it is necessary to seek the quality of care provided during the prenatal period, both in terms of technical adequacy and the question of how interpesonal relationships. This long trajectory passes through the citizenship rights of service users, modifying the form of
professional service provided by the object from static to active subjects of the process of gestating and giving birth with dignity. Since the humanization of the assistance goes through values that guide this policy and the role and autonomy of the subjects. Keywords: Health professionals. Prenatal. Humanization of assistance
REFERENCIAS
ALEXANDRE, L. B. S. dos P. Políticas Públicas de Saúde da mulher. In: FERNANDES, R. A. Q.; NARCHI N. Z. Enfermagem e Saúde da Mulher. São Paulo: Manole, 2007. Cap. 1, p. 21-22.
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos/ Equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. Assistência pré-natal. 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998a. In: Apresentação. Disponível em: <http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/assistenciaprenatal.pdf>.Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos/ Equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. Assistência pré-natal. 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998b. In: introdução. Disponível em: <http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/assistenciaprenatal.pdf>. Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos/ Equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. Assistência pré-natal. 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998c. In: Organização dos Serviços na Assistência Pré-Natal. Disponível em:<http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/assistenciaprenatal.pdf>.Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos/ Equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. Assistência pré-natal. 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998d. In: Preparo para o parto e o nascimento humanizado. Disponível
em:<http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/assistenciaprenatal.pdf>. Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos/ Equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. Assistência pré-natal. 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998e. In: Técnicas padronizadas para os exames clínico e obstétrico. Disponível em:<http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/assistenciaprenatal.pdf>. Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos/ Equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. Assistência pré-natal. 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998f. In: Sistema de registro Perinatais. Disponível em: <http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/assistenciaprenatal.pdf>.Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programática Estratégicas. Área Técnica de saúde da Mulher. Assistencia Pré-natal - Manual técnico. Brasilia:Ministerio da Saúde, 2000. In: Organização da assistência Pré Natal. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_11.pdf>. Acesso em 09 de out de 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. In:Humanização da assistência obstétrica. Disponível em: <http://www.saude.sp.gov.br/resources/profissional/acesso_rapido/gtae/saude_da_mulher/parto_aborto_puerperio.pdf>. Acesso em 09 de out de 2009.
BRASILa. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Ações Programática Estratégicas. Área Técnica de saúde da Mulher. Pré – Natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada – Manual Técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. In: Princípios gerais e diretrizes para a atenção obstétrica e neonatal.Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno5_saude_mulher.pdf>. Acesso em 09 out. 2009.
BRASILb. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Ações Programática Estratégicas. Área Técnica de saúde da Mulher. Pré – Natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada – Manual Técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. In: Acolhimento. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno5_saude_mulher.pdf>.Acesso em 10 out. 2009.
BRASILc. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Ações Programática Estratégicas. Área Técnica de saúde da Mulher. Pré – Natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada – Manual Técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. In: Atenção Pre Natal. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno5_saude_mulher.pdf >. Acesso em 10 out. 2009
BRASIL. Ministério da saúde. Política Nacional: Humaniza SUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília/DF. Ministério da Saúde, 2004. Disponível em < http://www.saude.gov.br.htm.>. Acesso em ago de 2009.
CAMPOS, R. O. Saúde em Debate. Reflexões sobre o conceito de humanização em
saúde. Rio de Janeiro, v. 27 n. 64. 2003. Disponível em:<http://www.cebes.org.br/media/File/publicacoes/Rev%20Saude%20Debate/Sau
de%20em%20Debate_n64.pdf>. Acesso em 12 ago. 2009.
DIAS M. A. B. Humanização da Assistência ao parto: Conceitos, lógicas e práticas no cotidiano da maternidade pública. 2006. Trabalho de conclusão de curso ( especialização)-Departamento de ensino Pos Graduação em Saúde da Mulher e da criança.Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ,Rio de Janeiro 2006.Disponível em :<http://www.bvsam.icict.fiocruz.br/teses/mabdias.pdf >. Acesso em: 16 ago. 2009.
G.E.N.P.( GRUPO DE ESTUDOS SOBRE NASCIMENTO E PARTO); Humanizando o nascimento e o parto: o workshop. In: RATTNER D.; TRENCH B. Humanizando Nascimentos e Parto.São Paulo: Senac São Paulo, 2005.Cap. 1 p.75.
MARIA, M. J. M. D. Paism: um marco na abordagem da saúde reprodutiva no Brasil. Cad. Saúde Publica. Rio de Janeiro, 14(Supl. 1): 25-32, 1998. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/csp/v14s1/1337.pdf>. Acesso em: 01 de set. 2009.
MENEZES de, A. L. S. A Humanização da Assistência Pré natal para gestantes de uma maternidade – escola da comunidade do Rio de Janeiro. 2005. (86f). Trabalho de conclusão de curso (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro 2005. Disponível em: <http://www.psicologia.ufrj.br/pos_eicos/pos_eicos/arq_anexos/arqteses/analydiasoares.pdf. >. Acesso em 12 ago. 2009.
PAIVA, R. de. A humanização da assistência ao parto. In: RATTNER D.; TRENCH B. Humanizando Nascimentos e Parto.São Paulo: Senac São Paulo, 2005.Cap. 2 p.43.
SERRUYA, S. J.; CECATTI, J. G.; LAGO do G. di T. O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(5): 1281-1289. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v20n5/22.pdf>.Acesso em 06 de
out. 2009.
VARGENS, O. M. C da; PROGIANTI, J. M.; ARAÚJO, L. M. de. Humanização como pricipio norteador do cuidado á mulher. In: FERNANDES,R. A. Q. ; NARCHI N. Z. Enfermagem e Saúde da Mulher. São Paulo: Manole, 2007. Cap. 16, p. 277.
RATTNER D.; Reflexões sobre qualidade e humanização. In: RATTNER D.; TRENCH B. Humanizando Nascimentos e Parto.São Paulo: Senac São Paulo, 2005.Cap. 1 p.32.