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7/18/2019 As redes socioespaciais no âmbito da atuação do Movimentos dos Trabalhadores Sem-teto de Pernambuco
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As redes socioespaciais no âmbito da atuação do movimento dostrabalhadores sem-teto de Pernambuco: uma estratégia à
construção da emancipação popular
Otávio Augusto Alves dos Santos1
ResumoO objetivo desse trabalho é demonstrar como as redes socioespaciais são constituídasno âmbito da atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco(MTST/P!" Para tanto# procuramos tecer al$umas consideraç%es a respeito do tema das
redes nas ci&ncias sociais# dando desta'ue a orma através da 'ual a )eo$raia devetratar esse assunto" *epois# apresentamos de maneira sucinta os resultados da pes'uisaelaborada pelo autor# onde oram elencadas as dierentes pr+ticas espaciaisdesempenhadas pelo MTST/P" Por ,ltimo# reali-amos uma rele.ão sobre a pr+tica daconstrução de redes socioespaciais na trajetria do MTST/P" 0imos 'ue essas redessão respons+veis pela radicali-ação das lutas do reerido movimento# pois por meio delasé 'ue são deinidas suas estraté$ias de emancipação popular"Palavras-chave: 1edes socioespaciais2 Movimento sem3teto2 Pr+ticas espaciais"
Redes socio-espaciales en la actuación del movimiento de trabajadores sinvivienda de Pernambuco: una estrategia para la construcción de la emancipación
popular
Resumenl objetivo de este trabajo es demostrar cmo las redes socio3espaciales se constitu4enen la actuacin de los Movimiento de los Trabajadores Sin 0ivienda de Pernambuco(MTST/P!" 5on este in# se busca hacer al$unas observaciones sobre el tema de lasredes en las ciencias sociales# destacando la orma en 'ue la )eo$raía debe abordaresta cuestin" *espués# presentamos de manera sucinta los resultados de lainvesti$acin llevada a cabo por el autor# donde se enumeraban las dierentes pr+cticasespaciales reali-adas por MTST/P" Por ,ltimo# hacemos una rele.in sobre la pr+cticade la construccin de redes socio3espaciales en la tra4ectoria del MTST" 0imos 'ue estasredes son responsables por la radicali-acin de las luchas de ese movimiento# por'ue a
través del mismo es 'ue se deinen sus estrate$ias de emancipacin popular"Palabras clave6 1edes socio3espaciales2 Pr+cticas espaciales2 Movimiento sin vivienda"
Socio-spatial networks in the performance of the movement of homeless workersof Pernambuco: a strategy for the construction of social empowerment
AbstractThe aim o this paper is to demonstrate ho7 socio3spatial net7or8s are constituted in theactuation o Movement o 9omeless :or8er o Pernambuco (MTST/P!"To this end# 7esee8 to ma8e some observations about the net7or8s subject in the social sciences#
1Mestre em *esenvolvimento ;rbano e *outorando em *esenvolvimento ;rbano pela;niversidade <ederal de Pernambuco"
Sociedade e Território, Natal, v. 26, nº 1, p. 43 - 57, jan./jun. 214.
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especiall4 about the 7a4 in 7hich )eo$raph4 should stud4 this 'uestion" =ter 7e presentsuccinctl4 the results o research conduct b4 the author# 7here 7ere listed the dierent spatialpractices perormed b4 MTST/P" <inall4# 7e present a relection about the practice oconstruction o socio3spatial net7or8s in the trajector4 o MTST/P" :e have seen that thesenet7or8s are responsible or the radicali-ation o the stru$$les o this movement# because isthrou$h them that are deined the strate$ies or the popular emancipation"Key ords: Socio3spatial net7or8s2 Spatial practices2 9omeless movement"
!ntrodução
5omo diria Porto3)onçalves (>??@!# h+ uma série de movimentos sociais no mundo
contemporâneo cuja compreensão de sua nature-a sociol$ica e de suas aç%es
individuais e coletivas obri$a3nos a considerar o seu espaço de vida" ;m e.emplo desse
tipo de movimento é o dos sem3teto# 'ue como j+ demonstrado em Santos (>?AB!#
constantemente lança mão de um conjunto de pr+ticas espaciais"
;ma das pr+ticas levada a termo pelos movimentos dos sem3teto# especialmente o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco (MTST/P!# é a construção de
redes socioespaciais" ssas redes# a nosso ver# são respons+veis pela radicali-ação das
lutas do reerido movimento# pois é por meio delas 'ue o MTST/P elabora suas
estraté$ias de emancipação popular"
Co trabalho em tela# versaremos a respeito dessas redes socioespaciais#
demonstrando como elas se materiali-am no âmbito da atuação do MTST/P" Ca primeira
parte# procuraremos tecer al$umas consideraç%es a respeito da emer$&ncia do tema das
redes nas ci&ncias sociais# dando desta'ue a orma pela a )eo$raia deve tratar esse
assunto" Ca se$unda parte# apresentaremos resumidamente os resultados de uma
pes'uisa elaborada pelo autor# onde oram elencadas as dierentes pr+ticas espaciais
desempenhadas pelo MTST/P" Por im# procuraremos reali-ar uma rele.ão sobre a
pr+tica da construção de redes socioespaciais no conlituoso processo de con'uista daemancipação popular 'ue# a nosso ver# tem ocorrido no interior desse movimento"
Algumas consideraç"es a prop#sito das redes socioespaciais e dos movimentos
sociais contemporâneos
=s redes sociais correspondem a um dos mais insti$antes e controversos temas da
atualidade# não apenas por 'ue sinteti-am uma das ormas mediante a 'ual a economia
$lobal constitui seus principais lu.os inanceiros# ou mesmo por 'ue tem sidosurpreendentemente subvertidas e transormadas em meio de articulação scio3política
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para os ativismos contemporâneos# mas# sobretudo# por 'ue marcam decisivamente as
ormas de atuação da sociedade politicamente or$ani-ada e dos movimentos sociais mais
consolidados"
O tema das redes sociais é um dos mais discutidos no interior das ci&ncias sociais#
especialmente na sociolo$ia e na antropolo$ia" 5omo airma Scherer3:arren (ADDD!#
nestes campos disciplinares# as redes são $eralmente tratadas en'uanto conjunto de
relaç%es de parentesco# de vi-inhança# de ainidades# ou de articulaç%es políticas#
ideol$icas etc" Trata3se# na verdade# de um assunto basilar E aborda$em sociol$ica#
uma ve- 'ue nessa disciplina as redes são interaç%es sociais sobre as 'uais sur$e todo
um tecido social" Os homens# seres sociais por e.cel&ncia# constituem cotidianamente
redes de interaç%es sociais dos mais diversos tipos e com os mais diversos objetivos# deorma a rea$rupar campos da sociedade no âmbito de uma estrutura social maior"
=s redes são também estraté$ias de ação política desempenhadas pelos
movimentos sociais contemporâneos sob o ito de ultrapassar o associativismo local#
$al$ando# se$undo Scherer3:arren (>??@# n"d"!# Formas de articulação inter3
or$ani-acionaisG ('uando se tratam de aç%es sociais de car+ter mais institucional! ou#
então# apenas Fmobili-aç%es na esera p,blicaG ('uando se tratam de aç%es ou
maniestaç%es sociais mais pontuais ou conjunturais!" =tualmente# por meio das redessociais# os movimentos sociais t&m estabelecido articulaç%es político3peda$$icas 'ue
tendem a alar$ar seu raio de atuação# tornando3os mais radicais"
n'uanto $e$raos# somos levados a compreender as redes sociais considerando
outros aspectos# como o espaço e o lu$ar" Cesse sentido# a-3se mister lembrar 'ue
sociedade e espaço se co3constituem# em um processo onde a sociedade est+ para o
espaço assim como o espaço est+ para a sociedade" Cas aç%es 'ue envolvem a
construção de redes sociais não é dierente# pois sempre ocorre concomitantemente a
constituição de uma rede socioespacial" =li+s# da mesma orma 'ue al$uns $rupos sociais
se constituem em aç%es calcadas em rede# esses mesmos $rupos também produ-em
seus espaços por meio de redes socioespaciais"
Para a )eo$raia# as redes socioespaciais são sistemas de relaç%es entre
dierentes localidades do espaço $eo$r+ico# ou como diria 5orr&a (>??H# p" A?H!# Fum
conjunto de locali-aç%es $eo$r+icas interconectadas entre si por um certo n,mero de
li$aç%esG" =s localidades# obviamente# correspondem aos FnsG do sistema# en'uanto 'ue
as relaç%es são as dierentes vias de comunicação e transporte entre essas localidades"
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O tem+rio das redes é anti$o na $eo$raia e remonta desde a Teoria das
Iocalidades 5entrais# ormulada por :alter 5hristaller# passando pelos estudos das redes
urbanas até as teorias sobre a $lobali-ação" Para Santos (ADDJ!# por e.emplo# as redes
socioespaciais se constituem a partir de i.os e lu.os" Os elementos i.os são os ns da
rede e $eralmente representam os centros urbanos# os lu.os são os meios 'ue $arantem
as interaç%es entre os i.os# ou seja# o transporte de mercadorias e inormaç%es"
Mas o 'ue nos interessa neste trabalho é perceber 'ue as redes socioespaciais
são também constituídas no cotidiano das sociedades e# sobretudo# pelos movimentos
sociais contemporâneos" <re'uentemente# os movimentos sociais são levados a tecer
redes socioespaciais 'ue visam interli$ar os seus espaços de vida# de orma a ortalecer
suas lutas" K interessante também notar 'ue essas redes nunca se estabelecem em uma,nica escala $eo$r+ica# pois normalmente os movimentos sociais se articulam com
coletivos re$ionais# nacionais e até internacionais# aumentando ainda mais a abran$&ncia
e o impacto de suas lutas# tornando3as radicalmente transormadoras por 'ue mais
voltadas E emancipação social"
As di$erentes pr%ticas espaciais empenhadas pelo &'(')P*
=s redes socioespaciais são uma dentre outras pr+ticas espaciais empenhadaspelo MTST/P" m pes'uisa reali-ada pelo autor a respeito das pr+ticas espaciais
desenvolvidas pelo MTST/P na 1e$ião Metropolitana do 1ecie# as redes sociais se
a-em presentes en'uanto uma estraté$ia 'ue ainda est+ sendo $estada# mas 'ue j+ tem
apontado para a possibilidade de atribuir E atuação desse movimento um car+ter mais
abran$ente e emancipador"
Para entender como isso se processa# é preciso conhecer antes as demais pr+ticas
espaciais desempenhadas pelo MTST/P" Ca reerida pes'uisa oram identiicadas as
se$uintes6 a territorialização2 a ressignificação de lugares2 e a reerida construção de
redes socioespaciais" 5omo esclarecido na prpria dissertação do autor# nosso estudo
tomou por base o trabalho de Sou-a (>?A?!# para 'uem h+ seis pr+ticas espaciais
provenientes dos ativismos socioespaciais urbanos contemporâneos6 a Territorialização
em sentido estrito; Territorialização em sentido amplo; Refuncionalização/reestruturação
do espaço material; Ressignificação de lugares; Construção de circuitos econmicos
alternativos; Construção de redes espaciais" Cão usamos as mesmas deiniç%es do autor#
pois nosso objetivo era identiicar as pr+ticas do MTST/P em sua atuação real" Mas
'ueremos dei.ar claro 'ue esse trabalho de Sou-a# assim como muitos outros# inluenciou
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decisivamente nosso trabalho e ainda tem undamentado nossos estudos a respeito dos
movimentos sociais da 1e$ião Metropolitana do 1ecie" =$ora# vejamos cada uma das
tr&s pr+ticas destacadas"
i ! 'erritoriali+ação6
=s ocupaç%es são os principais tipos de territoriali-ação reali-ados pelo MTST/P
em sua prpria atuação" )rosso modo# tratam3se de aç%es coordenadas 'ue visam se
apropriar de certos espaços da cidade para# a partir dali# desencadear um processo de
resist&ncia e luta pela con'uista de moradias (<i$ura ?A!"
<i$ura ?A6 (egunda ,cupação ampo .rande/ mais conhecida como 01avela de Pl%stico2
<oto6 Ot+vio Santos# >?AB"
*as cerca de LJ ocupaç%es reali-adas pelo MTST em sua trajetria no estado de
Pernambuco# muitas ainda se encontram politicamente atuantes" m $eral# 'uase todas
elas sur$iram de um conjunto de aç%es muito bem ar'uitetado entre as lideranças e as
amílias# como se pode conerir na ala 'ue se$ue6
Cas ocupaç%es# a $ente a-emos um levantamento do terreno# néN convidamosas amílias# vamos de porta em porta e e.plicamos para as amílias 'ual é oobjetivo do movimento# 'ual é o trabalho 'ue o movimento a- pra con'uistar amoradia" a $ente a-emos reuni%es" Cs temos de oito E de- reuni%es" depoisdessas de- reuni%es# a $ente ocupamos o terreno ou prédio# dependendo do 'ueseja (ntrevista reali-ada com membro da coordenação estadual do MTST/P# em>D/A>/>?A># em 1ecie!"
mbora uma ocupação si$nii'ue# pelo menos a priori # uma ação 'ue visa obter
$anhos materiais# como uma moradia# ela também corresponde a uma pr+tica política
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undamentada em relaç%es de poder# e 'ue visa a-er rente ao modelo de or$ani-ação
socioespacial he$emnico# uma ve- 'ue# re'uentemente# se sobrep%em ao re$ime de
propriedade bur$uesa# instaurando outros tipos de direito de propriedade"
Outros importantes tipos de territoriali-ação reali-ados pelo MTST/P são as
passeatas e os protestos" mbora sejam usualmente tratados como correlatos# as
passeatas $eralmente são mais FpacíicasG e possuem uma certa periodicidade" Os
protestos ocorrem apenas diante de um conte.to socioeconmico ou político
desavor+vel# sendo mais contundentes" =ssim# as passeatas são caminhadas coletivas
coordenadas 'ue ocorrem pelos espaços p,blicos no intuito de chamar a atenção da
sociedade para a bandeira e para os princípios 'ue undamentam o movimento# bem
como para os problemas 'ue o movimento procura combater" + os protestos podemenvolver caminhadas ou a simples a$lomeração de pessoas em espaços p,blicos# onde
se entoam palavras de ordem 'ue visam se opor a al$uma conjuntura (<i$ura ?>!"
<i$ura ?>6 Protesto reali+ado pelo &'(' em 34)56)7535/ no centro do Reci$e)P*
<oto$raia6 lian Qalbino# publicado no portal *i+rio de Pernambuco no dia AH/A>/>?A?2 *isponível em6http6//777"old"diariodepernambuco"com"br/vidaurbana/nota"aspmateriaR>?A??AH?BAAB2 =cesso em6
>>/A>/>?AB
m uma passeata ou em um protesto# os sem3teto se apropriam de certos
espaços# depois desterritoriali-am e reterritoriali-am# em uma dinâmica irre$ular" sse
territrio luido e muitas ve-es caminhante# undamentado em relaç%es de poder# passa a
se constituir mediante um conlito em relação ao resto da cidade# conlito esse 'ue
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envolve o papel dos espaços p,blicos e a necessidade de maniestar o descontentamento
rente aos desmandos do poder econmico e do político"
5abe ainda re$istrar um outro tipo de territoriali-ação levado a termo pelos sem3
teto" Tratam3se das territorialidades individuais ou amiliares 'ue se materiali-am no
interior das ocupaç%es" 5ada ocupação se disp%e em um acordo m,tuo entre os sem3teto
e a c,pula maior do movimento# sendo 'ue cada ocupante possui seu prprio espaço# o
barraco ('uando se trata de ocupaç%es de terrenos urbanos! ou cmodo ('uando o
espaço ocupado é um ediício!" sse territrio amiliar dentro da ocupação é onde eles
e.ecutam suas atividades mais íntimas e onde as re$ras e normas de coabitação são
determinadas no âmbito amiliar" <ora desses territrios# as re$ras e normas de
coabitação são deinidas pelo conjunto da ocupação e do movimento e $eralmenteservem para o usuruto de todos nos momentos de reunião ou mesmo nas atividades
educativas e l,dicas" =s ocupaç%es se constituem# conse'uentemente# em um arranjo
muitas ve-es conlituoso de pe'uenos territrios amiliares e coletivos (<i$ura ?B!"
<i$ura ?B: Parcelamento da ocupação para a construção dos barracos
<oto6 Ot+vio Santos# >?A?"
ii ! Ressigni$icação de espaços6
Trata3se do processo através do 'ual os sem3teto conse$uem atribuir novos
si$niicados# novos valores e novos usos a certos espaços da cidade" Muitas ve-es# talpr+tica ocorre como justiicativa para a ocupação# pois é comum entre os sem3teto o
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ar$umento se$undo o 'ual as ocupaç%es podem por im a lu$ares abandonados da
cidade 'ue antes serviam apenas para a prostituição e para o tr+ico de dro$as" Os sem3
teto# portanto# buscam atribuir outros valores aos lu$ares obsoletos da cidade# aos
terrenos es'uecidos ou 'ue são objetos de especulação imobili+ria# uma ve- 'ue
deendem a possibilidade de transorma3los em habitat para os desabri$ados"
ntretanto# nunca oi essa a ima$em 'ue os meios de comunicação de massa
repassaram para o conjunto da sociedade" *e maneira dierente# as ocupaç%es sempre
oram tidas como uma $rave violação ou simplesmente atos de vandalismo" 0ale destacar
'ue os principais veículos de comunicação da 1M1 são de propriedade de $randes
empres+rios do campo da construção civil e também $randes propriet+rios de terra" Por
isso# nunca esteve entre seus interesses produ-ir uma ima$em idedi$na da realidade dossem3teto" Pretensamente# esses a$entes do espaço urbano sempre propa$aram seus
interesses como os melhores para o conjunto da cidade# criminali-ando os e.cluídos e
le$itimando seus projetos para o espaço urbano"
Ca pr+tica da ressi$niicação dos espaços é 'ue se percebe mais nitidamente o
car+ter de classe da luta dos sem3teto# pois sempre houve uma luta ideol$ica muito orte
entre a visão bur$uesa das ocupaç%es e da cidade e a visão dos e.cluídos" Cas
ocupaç%es e nos protestos# os sem3teto também ressi$niicam muitos outros aspectos dacidade# como o papel da propriedade urbana" =o ocupar# os sem3teto realçam a
necess+ria unção social dessas propriedades# demonstrando 'ue não basta ter o título
de posse para dispor como 'uiser dos terrenos ou ediicaç%es# uma ve- 'ue é necess+rio
usa3los# antes de tudo# para o beneício da sociedade"
Cas ocupaç%es e protestos# os sem3teto também res$atam o sentido principal dos
espaços p,blicos# reairmando o seu real papel 'ue é o de reunir os citadinos para a
atividade política" Os sem3teto# portanto# possuem a capacidade de reaver o sentido de
polis das cidades# indo de rente a noção de espaço apenas E acumulação do capital
imposta pelo modo de produção capitalista"
iii ! Redes socioespaciais6
=s ocupaç%es e o prprio movimento não atuam so-inhos ou de maneira isolada"
=ssim como a $rande maioria dos ativismos contemporâneos# o MTST/P
re'uentemente tece uma vasta rede de cooperação entre as prprias ocupaç%es# o
movimento e muito outros coletivos or$ani-ados situados na mesma ou em outras
escalas" ssa rede de cooperação eetiva3se com vistas a aumentar a eic+cia das
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pr+ticas do movimento# bem como as possibilidades de con'uista das moradias para as
amílias"
O MTST/P mantém relaç%es estreitas com in,meros r$ãos# instituiç%es e
coletivos or$ani-ados# desde os mais burocr+ticos e consolidados até a'ueles 'ue não
possuem car+ter ormal" Por e.emplo# desde o início de sua atuação# o MTST/P possui
um orte vínculo com a OC) <ederação dos r$ãos para =ssist&ncia Social e
ducacional (<=S!# mas durante a ocupação do tradicional ediício Trianon# no centro do
1ecie# em >?A?# o movimento estabeleceu vínculos com in,meros coletivos autnomos
de estudantes e de trabalhadores" Ceste pr.imo item demonstraremos a comple.idade
dessas redes socioespaciais construídas pelo MTST/P# na medida em 'ue também
procuraremos compreender em 'ue sentido essas redes contribuem na elaboraçãocoletiva de estraté$ias E emancipação das amílias sem3teto"
A construção de redes socioespaciais en8uanto estratégia de emancipação popular
5omo dito# os sem3teto constantemente lançam mão de redes socioespaciais como
orma de ortalecer suas lutas" ssas redes podem se estabelecer entre as ocupaç%es e
os mais diversos coletivos or$ani-ados" 9+# assim# um primeiro nível dessas redes# 'ue é
a'uele estabelecido entre as ocupaç%es" Cenhuma ocupação est+ isolada# pois cada umasempre mantém uma relação de ajuda m,tua com as outras# envolvendo# sobretudo# um
trabalho educativo para as lideranças locais# conorme a ala abai.o6
Cs temos a coordenação estadual 'ue trabalha pra a-er o levantamento dasamílias né# isso ns j+ temos o terreno né" temos também a coordenação local#'ue trabalha diariamente# vinte e 'uatro horas no ar" a $ente e.i$e 'ue nossocoordenador more dentro da ocupação# pra estar por dentro de todo o trabalho#dentro da ocupação" Por 'ue eu vivo na minha casa né# eu como coordenadoraestadual# eu vou l+ e passo l+ dois a tr&s meses# ajudo o coordenador local#'uando eu vejo 'ue est+ ade'uado pra trabalhar com a'uelas amílias# eu saiu#
volto pra minha casa e vou pra outra ocupação" ntão# 'ue nem mesmo naocupação de 5ampo )rande# ns temos 5ristiane e o esposo dela 'ue trabalhacom nosso movimento l+# néN Passei l+ tr&s meses e 'uin-e dias trabalhandocom ela# di-endo E ela como poderia ser o processo# FtudinhoG# como trabalharFtudinhoG# como trabalhar com as amílias" Cão 'uerer se envolver demais# por'uetem $ente 'ue acha 'ue ser coordenador é ser uma autoridade né# e não é isso#ser coordenador é ser parceiro# é ser ami$o# é ser companheiro da amília e dividiros problemas# tanto pessoal como problemas de toda maneira" eu passei tr&smeses l+# e 'uando eu saí de l+# eu ui para o 5abo# por'ue a $ente tinha eitouma ocupação no 5abo recente# vai a-er um ano# e eu passei no 5abo# doismeses l+ no 5abo# trabalhei com 5laudivânio e com a =na e depois eu saí de l+ eestou indo pra Petrolina (ntrevista com membro da coordenação estadual doMTST/P# em >D/A>/>?A># em 1ecie!"
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O se$undo nível dessas redes socioespaciais é a'uele estabelecido entre as
ocupaç%es e a c,pula do movimento" Ceste sentido# o MTST/P promove periodicamente
projetos educativos com vistas a solidiicar a coesão de todo o movimento" Ceste mesmo
viés são promovidos os encontros bianuais 'ue são reali-ados também como orma de
propiciar um ambiente de ormação político3peda$$ico para as lideranças e para as
amílias sem3teto6
(Sobre os encontros estaduais"""! =s nossas reuni%es são pra a-er# primeiro# umaavaliação pra saber como é 'ue oi todas as nossas atividades# nossos atos# néNK mais pra isso# e avaliar# néN Olhar um para o outro# olhar para a nossasocupaç%es# olhar para os empreendimentos# di-er6 Uavançamos onde rramosonde 0amos começar de novo ou vamos dar continuidadeU" ntão é nos avaliarN
*epois é para montar nossos pr.imos passos" Cos or$ani-ar para da'ui a doisanos# como é 'ue a $ente vai a$ir ntão é montar o nosso crono$rama realmentede atividades# de cursos# de palestras" # por im# é a nossa eleição decoordenação estadual# néN = $ente ele$e a cada dois anos a nova coordenaçãoestadual" dentro desse momento# dessa avaliação# desse planejamento e daeleição# a $ente trabalha com políticos# a $ente trabalha com a 'uestão de $&neroetc" = $ente tenta a-er desse encontro estadual um encontro de ormação# atépor'ue são pessoas novas 'ue estão entrando no movimento V"""W = $ente a-também uma an+lise de conjuntura# para icar sabendo com é 'ue est+ a políticano Qrasil" Cosso encontro é realmente para a $ente se avaliar# nos ormar# nospreparar para o uturo e a nossa eleição de coordenação (ntrevista com membroda coordenação estadual do MTST/P# em ?D/?A/>?AB# em 1ecie!"
9+# ainda# um terceiro nível dessas articulaç%es em redes 'ue é a'uele
estabelecido entre o movimento# as OC)s e as demais or$ani-aç%es 'ue prestam apoio e
assessoria ao movimento" 5omo dito# h+ uma série de or$ani-aç%es li$adas E luta pelo
direito E cidade# sobretudo ao <rum de 1eorma ;rbana# 'ue cooperam técnica e
político3peda$o$icamente como o movimento" Ceste sentido# vale destacar o papel de
OC)s como a F9abitat para 9umanidadeG 'ue presta assessoria técnica em projetos
habitacionais alternativos e tem au.iliado o movimento na construção de um conjunto
habitacional no município de Paulista" + as OC)s <=S e 'uipe Técnica de =ssessoria# Pes'uisa e =ção Social (T=P=S!# assim como o instituto de pes'uisas
Observatrio Pernambuco# li$ado E rede Observatrio das Metrpoles# procuram prestar
um serviço educativo de ormação# como os F5ursos de políticas p,blicas e $estão urbana
para 5onselheiros MunicipaisG" Cesses cursos as lideranças são orientadas a reali-ar
uma participação mais eetiva nos in,meros espaços institucionais e.istentes"
Por im# h+ 'uarto nível de articulação e construção das redes socioespaciais por
parte do MTST/P# 'ue é a'uele estabelecido entre o movimento e as demaisor$ani-aç%es nacionais e internacionais 'ue procuram debater e lutar pelo direito a
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cidade" Cessa escala encontram3se a ;nião Cacional por Moradia Popular (;CMP!# o
<rum Cacional de 1eorma ;rbana (<C1;! e a Secretaria !atinoamericana de "ivienda
#opular (SeI0XP!" O MTST/P possui# assim# uma vasta e interescalar redes de
articulaç%es 'ue# como veremos mais a rente# t&m servido en'uanto estraté$ia para a
radicali-ação de suas lutas (<i$ura ?L!"
<i$ura ?L6 *s8uema com as atuais articulaç"es técnicas/ pol9ticas e pedag#gicas do&'(')P*
laboração6 Ot+vio Santos# >?A?"
=ntes disso# vale acrescentar 'ue o movimento j+ reali-ou uma série de outros
vínculos pontuais 'ue não che$aram a constituir uma rede# mas 'ue oram importantes
em momentos especíicos# por'ue au.iliaram o movimento em sua atuação" = relação
com certos setores do stado é um e.emplo neste sentido" m al$umas ocupaç%es# as
lideranças locais che$aram até a construir parcerias com a polícia militar# na tentativa deatenuar as ocorr&ncias criminosas dentro das ocupaç%es e permitir 'ue o trabalho de
resist&ncia e luta não seja popularmente associado E viol&ncia"
Outros vínculos são também estabelecidos conjunturalmente com coletivos
or$ani-ados de estudantes e trabalhadores como orma de apoio e solidariedade desses
,ltimos para com as amílias sem3teto" K o caso do 'ue ocorreu com a ocupação do
ediício Trianon# no centro do 1ecie" Cessa ocasião# o MTST/P conse$uiu dar uma
visibilidade tão $rande Es causas e Es bandeiras do movimento 'ue atraiu para si#
naturalmente# toda sorte de apoio (<i$ura ?H!"
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<i$ura ?H6 arta+ da campanha estudantil de solidariedade à ocupação do edi$9cio 'rianon
*isponível em6 http6//recieresiste"7ordpress"com/ta$/ediicio3trianon/2 =cesso em6 >>/A>/>?AB
O 'ue pretendemos evidenciar ao apresentar de maneira sintética as redes
socioespaciais constituídas no âmbito da atuação do MTST/P é o ato de 'ue elas
atribuem ao movimento o necess+rio car+ter revolucion+rio de 'ue tanto e.plicitam nos
discursos" =o se articularem entre si# as ocupaç%es transcendem seus desaios locais#
contribuindo político3peda$o$icamente para o ortalecimento uma das outras" *e orma
muito semelhante# ao se articular com or$ani-aç%es re$ionais# nacionais e internacionais
de luta pela moradia e pela cidadania# o MTST/P conse$ue alar$ar suas lutas# dei.ando
de operar com 'uest%es puramente locais e conjunturais para também tratar temais mais
abran$entes e estruturais"
K por isso 'ue# no nosso entender# através da construção de redes socioespaciais#
esse movimento passa a elaborar estraté$ias de emancipação popular# estraté$ias essas
'ue se ainda não encontram maiores repercuss%es concretas no cotidiano da cidade#
estão sendo $estadas pelo conjunto do movimento" K apenas no interior de sua rede
socioespacial de articulaç%es 'ue o MTST/P conse$ue perceber 'ue a luta pela moradia
di$na e pelo direito E cidade nunca se eetivar+ pela simples con'uista da habitação" *e
maneira dierente# é apenas 'uestionando e enrentando as maiores estruturas de poder
'ue se pode vislumbrar uma cidade com maior justiça social e ambiental"
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Por seu car+ter interescalar# as redes socioespaciais constituídas pelo MTST/P
apontam para uma nova orma de articulação espacial das lutas sociais" Para usar um
termo corrente# trata3se de um novo internacionalismo# típico dos ativismos urbanos
contemporâneos e 'ue# obviamente# pouco tem haver com o internacionalismo oper+rio
do início do século YY" *i- respeito# na verdade# a uma espécie de e.pansão em escala
$lobal das insur$&ncias sociais 'ue# deparando3se aos limites impostos E esera local#
articulam3se nas mais dierentes escalas e com os mais dierentes objetivos" Portanto# o
MTST/P tem se direcionado# em sua trajetria# para essa nova orma de atuação onde o
a$ir local não é mais suiciente E emancipação das amílias sem3teto" Para usar o
conceito su$erido por S7art- (AD@J! e deendido por Sou-a (>??D!# as aç%es do MTST/P
e de muitos outros movimentos sociais contemporâneos tendem não somente a operarcom 'uest%es circunscritas no FcampoG e nas Farenas prim+riasG# mas re'uentemente
transitam por outras arenas mais distantes e inluentes" Xsso tudo est+ particularmente
evidenciado na ala 'ue se$ue6
O MTST é um movimento social# or$ani-ado# com amílias 'ue sonham e 'uelutam por este direito# pelo direito de ter um teto para morar" Mas uma casa pramorar num sentido amplo da palavra" 9oje ns não temos uma visão de 'uererlutar por uma casinha# na'uela visão medíocre de 'ue o pobre não tem nada ea$ora 'ue tem uma casinha 'ual'uer# t+ bom demaisN Cossa concepção est+ maisampliada" ntão hoje a $ente luta por casas di$nas para nossas amílias" ntão omovimento sem3teto é esse movimento social 'ue est+ inserido# dentro de outrosmovimentos espalhados no Qrasil# na =mérica Iatina e no mundo# néN Cs nosconsideramos essa peça dessa en$rena$em maior aí espalhada pelo Qrasil a ora(ntrevista com membro da coordenação estadual do MTST/P e coordenadornacional da ;CMP# em >D/?A/>?AB# em 1ecie! (desta'ues nossos!"
Cote3se 'ue se trata de uma visão totali-ante das lutas urbanas# visão essa 'ue os
a-em compartilhar a se$uinte concepção a respeito da 1eorma ;rbana# por e.emplo6
O conceito de 1eorma ;rbana é um troço muito ampliado" la vai desde o direito
de voc& 'uerer assistir um jo$o de utebol num bom campo# vai a 'uestão daacessibilidade# vai a da mobilidade# vai a 'uestão da luta pela moradia# +$ua#direitos dos animais etc" ntão voc& tem uma porrada de coisas" ntão ns 'uea-emos a luta urbana não encontramos a palavra3chave" videntemente 'uedentro desse mundo comple.o# hoje# o movimento 'ue mais se destaca hoje# noQrasil# na =mérica latina e no mundo é o da luta pela moradia" Mas ns nãopodemos di-er 'ue a 1eorma ;rbana seja apenas a luta pela moradia" Xsso seriaestreitar muito a visão do 'ue é a 1eorma ;rbana" 9oje# nem um estudioso da1eorma ;rbana# nem o Observatrio e tal deiniu com classe" Tem UnU deiniç%es#conceitos# 'ue a sociedade não conse$ue assimilar# como assimila a 1eorma =$r+ria (ntrevista com membro da coordenação estadual do MTST/P ecoordenador nacional da ;CMP# em >D/?A/>?AB# em 1ecie! (desta'ues nossos!"
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a se$uinte concepção a respeito de sua trajetria e de sua luta6
=cho 'ue a transormação da cidade primeiro passa pela transormação daconsci&ncia das pessoas" Cão se transorma a cidade se não transormar as
pessoas do ponto de vista da concepção 'ue ela tem em relação E cidade em 'ueela est+ inserida" Zuer di-er# nos anos ?# os sem3teto viviam no sentimento dede$eneração tão $rande 'ue para eles# para elas# o 'ue restava para ocupar comdi$nidade# na sua velha concepção# era ocupar +rea de risco e beira de rio eman$ue" Por'ue ela tinha uma consci&ncia in$rata e um espírito de inerioridadetão $rande 'ue""" Co início dos anos ADJ?# 'uando a $ente di-ia 'ue era para asamílias ocuparem lu$ares descentes# lu$ares bons# muitos deles di-iam 'ue issonão lhes cabiam""" Por 'ue o seu espírito e sua auto3estima estava tão bai.a 'ue a$ente di-ia assim6 vamos ocupar na +rea central eles di-iam6 Sem3teto mora nocentro""" Cos anos D? ns conse$uimos avançar# os sem3teto icaram maise.i$entes" ntão eu acho 'ue a contribuição 'ue damos hoje# o movimentoor$ani-ado# para a construção de cidades novas e cidade inclusas# ela se d+ apartir dessa tomada de consci&ncia das pessoas" depois# a-er com 'ue elas
percebam 'ue a cidade é para elas um espaço democr+tico e 'ue não cabe anecessidade apenas de demarcar territrios privile$iados" ntão como inte$rantedo movimento""" ns en.er$amos o nosso papel como o elemento 'ue coloca naa$enda do dia a 'uestão da democrati-ação da cidade" uma cidade democr+ticaimplica em construir moradia di$na para as pessoas em todo o seu espaço# nãoéN (ntrevista com membro da coordenação estadual do MTST/P e coordenadornacional da ;CMP# em >D/?A/>?AB# em 1ecie!"
Por im# o 'ue estamos tentando demonstrar é o ato de 'ue# pelas redes
socioespaciais# o MTST/P passa a ambicionar 'uest%es mais abran$entes em escalas
i$ualmente abran$entes" isso lon$e si$niicar o esacelamento de sua luta# tende a
proporcionar seu ortalecimento e visão estraté$ica"
onsideraç"es $inais
0imos 'ue o MTST/P# na sua trajetria em 1ecie# tem se empenhado a
concreti-ar dierentes pr+ticas espaciais# sendo uma delas a construção de redes
socioespaciais" ssas redes# por sua ve-# correspondem a estraté$ias de emancipação
popular constituídas com a inalidade de ortalecer a luta do movimento" )raças a
construção de redes socioespaciais# o MTST/P conse$ue transpor sua luta especíica#
bem como o 'uadro socioespacial local# dando visibilidade E sua bandeira ao passo 'ue
se inte$ra a lutas sociais mais $lobais"
=ssim# por e.emplo# a articulação nacional com a ;CMP e a articulação
internacional com a SeI0XP atribuem um car+ter mais universal E luta do movimento#
a-endo3o transcender de sua realidade particular" 5onorme o movimento vai se
articulando com outras or$ani-aç%es em outras escalas# sua luta se torna parte inte$rante
de uma outra luta cada ve- mais universal# 'ue a$re$a uma 'uantidade maior de temas e
realidades particulares" ssa articulação# por sua ve-# inlui na estrutura e dinâmica do
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movimento# a-endo3o atinar para 'uest%es 'ue antes não eram levadas em consideração
como# por e.emplo# o papel da mulher na luta por moradia# o papel da juventude# a
'uestão étnica# reli$iosa etc"
ssas redes estão lon$e de se concreti-ar de maneira plena na luta do movimento#
uma ve- 'ue são pr+ticas mais recentemente incorporadas E sua atuação" 5ontudo#
mesmo sendo novidade# elas estão atribuindo# $radativamente# o necess+rio car+ter
revolucion+rio de 'ue os sem3teto necessitam para# por meio de suas lutas# desencadear
mudanças estruturais na cidade" 5omo dito# as redes socioespaciais se constituem em
estraté$ias de ação política 'ue podem possibilitar a emancipação das amílias sem3teto"
Re$erncias
5O11[=# 1" I" 'ra;et#rias .eogr%$icas" B"ed" 1io de aneiro6 Qertrand Qrasil# >??H"
PO1TO3)OC\=I0S# 5" :" A $eograficidade do Social% uma contri&uição para ode&ate metodol'gico so&re estudos e conflito e movimentos sociais na Am(rica !atina "Revista !ntergeo# v" L# p" ?H3A># >??@"
S=CTOS# M" 'écnica/ *spaço/ 'empo6 $lobali-ação e meio técnico3cientíicoinormacional" L"ed" São Paulo6 9ucitec# ADDJ"
S=CTOS# O" =" =" *m <usca de 'errit#rios Aut=nomos6 as pr+ticas espaciais doMovimento dos Trabalhadores Sem3teto na 1e$ião Metropolitana do 1ecie" *issertação(Mestrado! 3 ;niversidade <ederal de Pernambuco / Pro$rama de Ps3$raduação em*esenvolvimento ;rbano# 1ecie# >?AB" AH?p"
S59113:=11C# X" idadania sem $ronteiras6 aç%es coletivas na era da$lobali-ação" São Paulo6 9ucitec# ADDD"
]]]]]]" )as mo&ilizaç*es +s redes de movimentos sociais" Revista (ociedade e*stado# Qrasília# v" >A# n" ?A# p" A?D3AB?# >??@"
SO;^=# M" I" #ráticas ,spaciais -nsurgentes em um .undo $lo&alizado% da revoluçãomolecular0 + poltica de escalas" Xn6 MC*OC\=# <rancisco et al " *spaço e 'empo6comple.idade e desaios do pensar e do a-er $eo$r+ico" 5uritiba6 =CP)# >??D"
]]]]]]" Com o ,stado2 Apesar do ,stado2 Contra o ,stado% os movimentos sociais esuas práticas espaciais2 entre a luta institucional e a ação direta" Revista idades#Presidente Prudente# n" AA# v" # p" AB3L# >?A?"
S:=1T #̂ M" >ocal->evel Politics6 social and cultural perspectives" 5hica$o6 =ndine#AD@J"
Recebido em Deembro de !"#$%Publicado em &aneiro de !"#'%