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Agosto 2012
Anlise de Risco de Importao
Alevinos da espcie Oreochromis niloticus (tilpia do Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal
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MINISTRIO DA PESCA E AQUICULTURA Secretaria de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura
Departamento de Monitoramento e Controle Coordenao-Geral de Sanidade Pesqueira
Anlise de Risco de Importao: Alevinos da espcie Oreochromis niloticus (tilpia do Nilo) originrios de
aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal
1 Edio
Publicada em Agosto/2012
CGSAP/DEMOC/SEMOC/MPA
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Repblica Federativa do Brasil 2012 Ministrio da Pesca e Aquicultura SBS Qd. 2 lote 10 Bloco J Braslia DF 70.070-120 Fone 55 (61) 2023 3531 Website: http://www.mpa.gov.br Foto da folha de rosto: Tilpia do Nilo Oreochromis niloticus niloticus. Fonte: WorldFish Center (Ornil_m2.jpg). Disponvel em: http://www.fishbase.org/photos/thumbnailssummary.php?ID=2 ISBN 978-85-65966-03-0 Este trabalho protegido no todo e suas partes pela lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Esta obra ou suas partes no podero ser reproduzidas sem a permisso formal por parte da Secretaria de Monitoramento e Controle (SEMOC) do Ministrio da Pesca e Aquicultura. Qualquer solicitao a respeito do uso, reproduo ou divulgao deste material dever ser encaminhada SEMOC. Equipe responsvel: Departamento de Monitoramento e Controle - DEMOC Henrique Csar Pereira Figueiredo Diretor Coordenao-Geral de Sanidade Pesqueira e Aqucola CGSAP Eduardo de Azevedo Pedrosa Cunha Coordenador-Geral Marina Karina Delphino Liana Reis Blume Daniel Prado Machado Pedro Henrique Silva de Oliveira
978-85-65966-03-0
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CONTEDO LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................................... 6LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................................ 7GLOSSRIO DE TERMOS E ABREVIAES .................................................................................. 8CONSULTA .................................................................................................................................................... 9CONTRIBUIES ..................................................................................................................................... 10NORMAS INTERNACIONAIS ...................................................................................................................... 11LEGISLAO BRASILEIRA DE SANIDADE DE ORGANISMOS AQUTICOS .................................. 12SUMRIO EXECUTIVO ............................................................................................................................... 13REQUISITOS ZOOSSANITRIOS DE IMPORTAO ............................................................................. 15PARTE I INTRODUO E METODOLOGIA APLICADA ..................................................................... 17
1. Tilapicultura no Brasil e no mundo. ..................................................................................................... 172. Objetivo da Anlise de Risco de Importao (ARI) ............................................................................. 183. Descrio da commodity ....................................................................................................................... 194. Metodologia da Anlise de Risco de Importao ................................................................................. 194.1. Metodologia Geral ............................................................................................................................. 194.2. Metodologia da identificao dos perigos ......................................................................................... 224.3. Metodologia da avaliao de risco .................................................................................................... 264.3.1. Avaliao de difuso ..................................................................................................................... 284.3.2. Avaliao de exposio ................................................................................................................. 304.3.3. Avaliao de consequncia ............................................................................................................ 324.3.4. Estimativa do risco ........................................................................................................................ 364.4. Metodologia da gesto de risco ......................................................................................................... 374.5. Metodologia da comunicao do risco .............................................................................................. 39
PARTE II ANLISE DE RISCO DE IMPORTAO DE ALEVINOS DA ESPCIE OREOCHROMIS NILOTICUS (TILPIA DO NILO) ORIGINRIOS DE AQUICULTURA DE SINGAPURA, DESTINADOS MULTIPLICAO ANIMAL .......................................................................................... 42
1. Identificao dos perigos ...................................................................................................................... 421.1. VRUS ............................................................................................................................................... 421.1.1. Infeco por Iridovirus .................................................................................................................. 421.1.2. Infeco por Betanodavrus ........................................................................................................... 451.2. BACTRIAS ..................................................................................................................................... 471.2.1. Infeco por Aeromonas hydrophila ............................................................................................. 471.2.2. Infeco por Streptococcus spp ..................................................................................................... 501.2.3. Infeco por Flavobacterium columnare ...................................................................................... 511.2.4. Infeco por Organismos semelhantes Rickettsia (incluindo Francisella spp.) ......................... 531.2.5. Infeco por Edwardsiella tarda ................................................................................................... 541.2.6. Infeco por Yersinia ruckeri ........................................................................................................ 561.2.7. Infeco por Nocardia seriolae ..................................................................................................... 58
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1.3. PARASITAS ..................................................................................................................................... 591.3.1. Infeco por Dactylogyrus ............................................................................................................. 591.3.2. Infeco por Gyrodactylus ............................................................................................................. 611.3.3. Infeco por Ichthyophonus ........................................................................................................... 621.4. FUNGOS ........................................................................................................................................... 631.4.1. Infeco por Aphanomyces ............................................................................................................ 631.4.2. Infeco por Branchiomyces ......................................................................................................... 651.4.3. Infeco por Saprolegnia spp. ....................................................................................................... 662. Avaliao de risco ................................................................................................................................. 682.1. VRUS ............................................................................................................................................... 682.1.1. Infeco por Iridovirus .................................................................................................................. 682.1.2. Infeco por Betanodavrus ........................................................................................................... 722.2. BACTRIAS ..................................................................................................................................... 752.2.1. Infeco por Aeromonas hydrophila ............................................................................................. 752.2.2. Infeco por Streptococcus spp. .................................................................................................... 792.2.3. Infeco por Flavobacterium columnare ...................................................................................... 822.2.4. Infeco por Organismos semelhantes Rickettsia (incluindo Francisella spp.) ......................... 842.2.5. Infeco por Yersinia ruckeri ........................................................................................................ 882.2.6. Infeco por Nocardia seriolae ..................................................................................................... 912.2.7. Infeco por Edwardsiella tarda ................................................................................................... 932.3. PARASITAS ..................................................................................................................................... 962.3.1. Infeco por Gyrodactylus ............................................................................................................. 962.3.2. Infeco por Ichthyophonus ........................................................................................................... 972.3.3. Infeco por Dactylogyros ............................................................................................................. 992.4. FUNGOS ......................................................................................................................................... 1022.4.1. Infeco por Aphanomyces .......................................................................................................... 1022.4.2. Infeco por Branchiomyces ....................................................................................................... 1052.4.3. Infeco por Saprolegnia spp. ..................................................................................................... 1093. Gesto do risco .................................................................................................................................... 112
CONCLUSO E CONSIDERAES .......................................................................................................... 118REFERNCIAS ............................................................................................................................................. 119
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Nomenclatura de probabilidades qualitativas para as etapas avaliao de difuso e avaliao de exposio
Tabela 2. Nomenclatura qualitativa de impactos para a etapa avaliao de consequncia
Tabela 3. Matriz de combinao para probabilidade de ocorrncia
Tabela 4. Matriz de combinao para estimativa de risco
Tabela 5. Resultado da etapa avaliao de risco
Tabela 6. Resumo da etapa gesto de risco
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Etapas da Anlise de Risco
Figura 2. rvore de cenrio definida para a identificao dos perigos
Figura 3. Fluxograma da avaliao de risco
Figura 4. rvore de cenrio definida para a avaliao de difuso
Figura 5. rvore de cenrio definida para a avaliao de exposio
Figura 6. rvore de cenrio definida para a avaliao de consequncias
Figura 7. Matriz de regras para obteno de valor nico para avaliao de consequncia
Figura 8. Fluxograma da etapa gesto de risco
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GLOSSRIO DE TERMOS E ABREVIAES
Acordo SPS Acordo sobre a Aplicao de Medidas Sanitrias e Fitossanitrias ALOP Nvel Adequado de Proteo ARI Anlise de Risco de Importao CGSAP Coordenao Geral de Sanidade Pesqueira
Cdigo da OIE Cdigo Sanitrio para os Animais Aquticos da OIE DEMOC Departamento de Monitoramento e Controle FAO Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento Manual da OIE Manual de Testes e Diagnstico para Animais Aquticos da OIE MPA Ministrio da Pesca e Aquicultura MRE Ministrio das Relaes Exteriores NACA Network of Aquaculture Centers in Asia-Pacific OIE Organizao Mundial de Sade Animal OII Obrigaes Internacionais de Importao OMC Organizao Mundial do Comrcio SEMOC Secretaria de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura
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CONSULTA
Para a elaborao da presente anlise de risco de importao de alevinos da espcie Oreochromis
niloticus (tilpia do Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal, uma
equipe multidisciplinar formada por tcnicos e especialistas de distintas reas de conhecimento foi
consultada pelo MPA.
So de responsabilidade total e exclusiva do Governo do Brasil, representado pelo MPA, todos os
pareceres e concluses descritas no documento.
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CONTRIBUIES
1- Autor:
Henrique Csar Pereira Figueiredo, D.V.M., Ph.D. Diretor de Monitoramento e Controle (DEMOC/SEMOC/MPA).
2- Colaboradores:
M.Sc. Eduardo de Azevedo Pedrosa Cunha. Mdico Veterinrio. Coordenador Geral de Sanidade Pesqueira (CGSAP/DEMOC/SEMOC/MPA).
M.Sc. Daniel Prado Machado. Bilogo. Assessoria Tcnica. CGSAP/DEMOC/SEMOC/MPA.
M.Sc. Liana Reis Blume. Biloga. Assessoria Tcnica. CGSAP/DEMOC/SEMOC/MPA.
M.Sc. Marina Karina de Veiga Cabral Delphino. Mdica Veterinria. Assessoria Tcnica. CGSAP/DEMOC/SEMOC/MPA.
Pedro Henrique Silva de Oliveira. Mdico Veterinrio. Assessoria Tcnica. CGSAP/DEMOC/SEMOC/MPA.
3 Revisores:
Carlos Augusto Gomes Leal. D.V.M., M.Sc. Cincias Veterinrias. Laboratrio de Doenas de
Animais Aquticos, Escola de Veterinria da Universidade Federal de Minas Gerais.
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NORMAS INTERNACIONAIS
A Organizao Mundial do Comrcio, OMC, responsvel por estabelecer regras de comrcio
exterior, observar seu cumprimento e dirimir eventuais embates comerciais por meio de painis que
funcionam semelhana de tribunais de justia. Alm disso, responsvel por assistir pases em
desenvolvimento e de economia de transio, fornecer suporte para a promoo de exportaes, cooperar
nas definies de polticas econmicas mundiais e notificar continuamente alteraes ou incluses de
medidas comerciais dos pases membros.
O Acordo de Aplicao de Medidas Sanitria e Fitossanitrias, ou Acordo SPS, foi criado como
forma de regulamentar regras gerais acerca de segurana alimentar, sade animal e sanidade vegetal de
forma a garantir que as medidas sanitrias no sirvam de maquiagem para reais medidas de protecionismo
comercial. Para fornecer subsdios tcnicos mais especficos, e garantir a harmonizao de regras, foram
reconhecidos pela OMC os seguintes organismos: Organizao Mundial de Sade Animal - OIE, para sade
animal; Codex Alimentarius da Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao - FAO, para
alimentos; e a Conveno Internacional de Proteo de Plantas da FAO, para sanidade vegetal.
Pases membros da OMC podem adotar medidas mais restritivas que as preconizadas pelos
organismos citados, desde que baseadas em conceitos tcnicos cientficos que justifiquem a adoo de
medidas aceitveis de risco mais elevadas que as recomendadas. No entanto, devem garantir que essas
medidas no sejam aplicadas arbitrariamente, no resultem em discriminao entre os membros com
condies semelhantes e no constituam disfarce para reais restries de mercado. A adoo dessas medidas
objetiva a proteo da vida e da sade humana, animal e vegetal de um pas importador de riscos de entrada,
propagao e estabelecimento de pestes, doenas e organismos portadores ou causadores de doenas. Visam
ainda proteo da sade e vida humana e animal de um pas importador contra riscos de aditivos,
contaminantes, toxinas ou organismos causadores de doenas em bebidas e alimentos para humanos e
animais.
Como membro integrante da OMC, o Brasil obrigado, no mbito do Acordo SPS, a
considerar todos os pedidos de importao de outros pases relativos a animais aquticos, dentre outros,
assim como outros pases membros so obrigados a considerar o nosso pedidos. Decises para permitir
ou rejeitar um pedido de importao pode ser feita apenas baseada em princpios cientficos.
A metodologia aplicada a este trabalho baseia-se em normas estabelecidas pela OIE, organismo
internacional que estabelece normas para a sade animal e define os padres internacionais, em
conformidade com as orientaes do Cdigo Sanitrio para os Animais Aquticos da Organizao Mundial
de Sade Animal (Cdigo da OIE), alm Acordo SPS da Organizao Mundial do Comrcio (OMC).
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LEGISLAO BRASILEIRA DE SANIDADE DE ORGANISMOS AQUTICOS
No Brasil, at o ano de 2009, todas as aes relativas sade dos animais eram de competncia do
Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - MAPA. Aps edio da Lei 11.958/2009, que altera a
Lei 10.683, de 28 de maio de 2003, e posterior publicao do Decreto n 7.024, de 07 de dezembro de 2009,
a atribuio de sanidade aqucola e pesqueira foi repassada ao Ministrio da Pesca e Aquicultura - MPA.
Nesse contexto, cabe ao MPA o controle do trnsito nacional e internacional de organismos
aquticos, incluindo a avaliao de risco de introduo de agentes infecciosos, de animais aquticos, no
territrio nacional, por meio da importao de animais aquticos e de suas formas de multiplicao, bem
como pela importao de pescado e derivados.
A Instruo Normativa SDA/MAPA n. 53, de 2 de julho de 2003, estabelece o Programa Nacional
de Sanidade dos Animais Aquticos e dispe de exigncias quarentenrias gerais para a importao de
qualquer espcie de animal aqutico. prevista a liberao para os corpos dgua para aquicultura somente
dos descendentes de primeira gerao do lote importado (BRASIL, 2003), exceo de animais destinados
exclusivamente ornamentao e no pertencentes famlia de peixes Cyprinidade (BRASIL, 2008a).
Por meio da publicao da Instruo Normativa MPA n 14, de 9 de dezembro de 2010, foram
estabelecidos os procedimentos gerais para realizao de Anlise de Risco de Importao, de pescado e
derivados e de animais aquticos, seus materiais de multiplicao, clulas, rgos e tecidos, considerando o
impacto das importaes na sanidade pesqueira e aqucola brasileira. Compete Secretaria de
Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura - SEMOC, por meio da Coordenao Geral de Sanidade
Pesqueira - CGSAP, a conduo, elaborao e reviso das ARIs.
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SUMRIO EXECUTIVO
A Coordenao Geral de Sanidade Pesqueira (CGSAP), do Departamento de Monitoramento e
Controle (DEMOC), da Secretaria de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura (SEMOC), do
Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA), elaborou a Anlise de Risco de Importao (ARI) qualitativa a
partir da necessidade de avaliar os riscos associados importao de alevinos da espcie Oreochromis
niloticus (tilpia do Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal,
quanto introduo, no territrio nacional, de agentes causadores de enfermidades que impactem
negativamente sobre a condio da sade dos animais aquticos no Brasil.
Desse modo, uma lista inicial de agentes patognicos/doenas de interesse em sade animal dos
animais aquticos foi selecionada a partir da lista de doenas de peixes de notificao disponibilizada pela
OIE e da literatura cientfica disponvel. Foram selecionados 23 (vinte e trs) potenciais perigos e durante a
etapa de identificao dos perigos, dos 24 potenciais perigos, apenas 15 (quinze) perigos foram classificados
como perigos identificados associados importao de alevinos da espcie Oreochromis niloticus (tilpia do
Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal. So eles:
1. Aeromonas hydrophila
2. Streptococcus spp.
3. Flavobacterium columnare
4. RLOs (incluindo Francisella)
5. Yersinia rickeri
6. Nocardia seriola
7. Edwardsiella tarda
8. Iridovirus
9. Betanodavrus
10. Ichthyophonus
11. Aphanomyces
12. Branchiomyces
13. Saprolegnia
14. Gyrodactylus
15. Dactylogyrus
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Durante a segunda etapa da anlise de risco, avaliao de risco, apenas os perigos identificados
tiveram seu risco estimado e seguiram para a gesto de risco, terceira etapa da anlise de risco, que consistiu
na seleo de medidas de mitigao de risco a fim de reduzi-lo a nveis aceitveis de proteo (ALOP) do
Pas, minimizando os possveis efeitos negativos da importao.
Aps as anlises pertinentes, o risco final para a importao alevinos da espcie Oreochromis
niloticus (tilpia do Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal foi
considerado aceitvel, o que subsidia o Ministrio da Pesca e Aquicultura a considerar que a importao
poder ser realizada. Contudo, a autorizao de importao dever ser concedida mediante cumprimento dos
requisitos zoossanitrios de importao definidos nesta ARI.
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REQUISITOS ZOOSSANITRIOS DE IMPORTAO
A importao de alevinos de tilpia do Nilo (Oreochromis niloticus), originrios de aquicultura de
Singapura, destinados multiplicao animal est autorizada mediante o cumprimento dos requisitos
zoossanitrios de importao constantes na IMP.TF.SG.QU.MA.OUT.11, disponvel no stio eletrnico do
MPA:
http://www.mpa.gov.br/index.php/monitoramento-e-controlempa/sanidade-pesqueira/importacao/analise-de-
risco-de-importacao.
As informaes sanitrias constantes na IMP.TF.SG.QU.MA.OUT.11 so:
1. Certificao na origem
a. A propriedade de origem dos animais encontra-se registrada no AVA (Agri-food &
Veterinary Authority of Singapore);
:
b. Dentro dos 60 dias anteriores ao embarque, no estabelecimento de procedncia, no
ocorreram casos de doena/infeco transmissvel que possam colocar em risco a condio
sanitria da presente commodity;
c. Os animais so procedentes de estabelecimento onde, nos ltimos 60 dias anteriores
ao embarque, nenhuma medida sanitria de restrio e/ou proibio foi tomada em funo
da ocorrncia de doenas transmissveis para animais aquticos ou ainda dentro de um
programa de erradicao ou controle de doenas/infeces de animais aquticos;
d. Nas 72 horas que antecederam o embarque, os animais foram inspecionados por
mdico veterinrio oficial que constatou a inexistncia de ectoparasitas e de leses
sugestivas de doena/infeco;
e. Os animais fruto dessa exportao:
i. Foram acondicionados de modo que no haja alterao de sua condio sanitria;
ii. Foram colocados em contentores novos ou que foram previamente limpos e desinfetados com produtos aprovados oficialmente;
f. Os contentores foram lacrados e identificados de forma legvel.
2.
Certificao no destino:
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a. Os animais aquticos importados para fins de multiplicao animal sero submetidos
ao perodo mnimo de quarentena de 20 dias em estabelecimento biosseguro credenciado
pelo Ministrio da Pesca e Aquicultura do Brasil, conforme especificao na autorizao de
importao;
b. A quarentena ser realizada de acordo com o protocolo oficial estabelecido pela
Coordenao-Geral de Sanidade Pesqueira do Ministrio da Pesca e Aquicultura, conforme
estabelecido na Anlise de Risco de Importao no captulo de Gesto do Risco;
c. As medidas de mitigao de risco definidas incluem:
i. Quarentena (mnimo 20 dias);
ii. Teste parasitolgico;
iii. Testes bacteriolgicos convencionais (cultura e isolamento);
iv. Teste de biologia molecular para bactrias;
v. Amplificao e sequenciamento do 16S rRNA;
vi. Antibioticoterapia com florfenicol;
vii. Profilaxia com uso de substncias antiparasitrias de amplo espectro
d. Em caso de resultado positivo para os testes diagnsticos realizados na quarentena de
destino, o Ministrio da Pesca e Aquicultura determinar a destinao dos animais, que
poder ser a destruio, o tratamento adequado ou alguma outra medida de mitigao de
risco.
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PARTE I INTRODUO E METODOLOGIA APLICADA
1. Tilapicultura no Brasil e no mundo.
O cultivo de tilpia (tilapicultura) configura-se como um dos segmentos com maior destaque na
aquicultura internacional e, em termos de produo nacional de piscicultura, tornou-se o grupo de maior
importncia. At o final da dcada de 90, ela se baseava no sistema semi-intensivo em viveiros escavados e
de barragens. A partir do ano de 2000, surge com fora a tilapicultura em tanques-rede, principalmente em
guas da Unio (grandes reservatrios de hidroeltricas e audes da Regio Nordeste). Essa mudana
acarretou alteraes na cadeia de produo, uma vez que so necessrios insumos adequados ao sistema:
raes especficas, material gentico compatvel com a criao e formas de escoamento da produo, tendo
em vista que o novo sistema configura produo em maior escala (Scorvo-Filho et al., 2011).
O termo tilpia muito amplo, pois engloba vrias espcies de alguns gneros da famlia
Cichlidae, que possui vrios gneros e subfamlias. Alguns desses gneros so: Cynotilapia, Oreochromis,
Paratilapia, Petrotilapia, Sarotherodon e Tilapia. H muitas espcies dentro desses gneros, mas
consideraremos somente as de maior importncia econmica: a Tilpia azul (Oreochromis aureus), a Tilpia
de Moambique (Oreochromis mossambicus), a Tilpia do Nilo (Oreochromis niloticus niloticus), a Tilpia
do Zanzibar (Oreochromis hornorum) e a Tilpia do Congo (Tilapia rendalli) (FishBase, 2011)
(ZIPCodeZoo, 2011) (Klett & Meyer, 2002). A primeira espcie que chegou ao Brasil foi a T. rendalli, em
1952 (Gurgel, 1998).
A tilpia um peixe tropical, com temperatura ideal de crescimento variando entre 26 e 28C.
Suportam bem as variaes de temperaturas, sendo os valores letais abaixo de 8C e acima de 42C. Em
relao ao nvel de oxignio dissolvido, a tilpia tambm se mostra um peixe rstico, vivendo bem com
concentrao de 3mg/L e suportando, por curtos perodos, viver em ambientes com at 1mg/L. A faixa ideal
de pH para a espcie varia entre 7 e 8, embora sobreviva no intervalo de 3,5 a 12 por curtos perodos.
Quanto salinidade, a tilpia do Nilo suporta grandes variaes, podendo adaptar-se a guas salobras
(Zaniboni-Filho, 2004).
Grande parte das criaes de tilpias no Brasil e no mundo faz uso de populaes monossexo
macho, por esses apresentarem maiores ndices de crescimento e de ganho de peso (Tachibana et al., 2004).
De acordo com Beardmore et al. (2001), o uso de populaes monossexo em peixes apresenta vantagens que
podem incluir uma ou mais das seguintes situaes: obteno de maior taxa de crescimento; eliminao da
reproduo, evitando gastos de energia e controlando a superpopulao; reduo do comportamento
sexual/territorial; reduo das variaes do tamanho, levando maior uniformidade de despesca; e reduo
do risco de impactos ambientais, resultantes da fuga indesejvel de espcies exticas (Borges, 2004).
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Fitzsimmons (2010) relatou um crescimento mundial da produo de tilpia de aproximadamente
2,8 milhes de toneladas em 2008 e 3,0 milhes de toneladas em 2010. Nos EUA e na China, a produo
diminuiu ligeiramente em 2008: na China devido ao rigoroso inverno e nos EUA, dura recesso. O mesmo
autor informa que a produo mundial da tilpia vem aumentando sua popularizao nos EUA e na Unio
Europeia. A China, a maior produtora mundial de tilpias, declarou que a produo estimada de tilpia em
2009 foi 1,15 milhes de toneladas (GlobeFish, 2011).
A demanda mundial de tilpias vai aumentar entre 4,5 e 5,0 milhes de toneladas nos prximos
cinco anos (Chiand, 2011). As estatsticas oficiais brasileiras mostram que a tilapicultura cresceu de 12 mil
para 133 mil ton. de 1995 a 2009 (Kubitza, 2011).
Com a expanso da tilapicultura no Brasil, natural que ocorra a importao de linhagens de tilpia
de melhor desempenho produtivo em pases com tradio no cultivo e melhoramento gentico dessas
espcies. No entanto, o comrcio internacional de alevinos na piscicultura est sujeito a rigorosos requisitos
zoossanitrios devido aos riscos associados sua importao. Atualmente, a evidncia de transmisso de
doenas com importncia econmica para as principais doenas dos peixes aumenta a necessidade da
avaliao desse risco.
Problemas sanitrios decorrentes da importao de tilpias podem levar a srias perdas produtivas e
mercadolgicas, dentre algumas delas, podemos citar: prejuzos por mortes de animais atribudas s doenas,
reduo da produtividade em decorrncia de menores taxas de crescimento ou por diminuio do consumo
de alimentos, custos de tratamentos e preveno. Alm desses prejuzos financeiros, h o risco de danos s
populaes silvestres, resultando no somente em perda do recurso gentico animal, mas tambm em
diminuio da biodiversidade e mudanas no equilbrio ecolgico.
A mortalidade devido a doenas pode ser atribuda a organismos patognicos, sobretudo quando h
aumento na densidade populacional de peixes, maior dependncia do uso de alimentos formulados e
intensificao do manuseio (Kubtiza, 2005). Dessa forma, a transferncia de estoques juvenis reprodutores e
alevinos de fontes diversas podem aumentar significativamente os fatores de risco para introduo de
doenas, o que pode ser associado a srias consequncias financeiras para os produtores de tilpia (Bondad-
Reantaso et al. 2005).
2. Objetivo da Anlise de Risco de Importao (ARI)
O objetivo desta ARI estimar qualitativamente o risco quanto introduo, estabelecimento e
difuso, no territrio nacional, de agentes causadores de enfermidades que impactem negativamente sobre a
condio sanitria dos animais aquticos cultivados no Pas por meio da importao de alevinos da espcie
Oreochromis niloticus (tilpia do Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao
animal, definindo a aprovao ou reprovao da referida importao. Em caso de aprovao, so definidos
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os requisitos zoossanitrios condicionantes para a importao, que assegurem o nvel adequado de proteo
estabelecido para os perigos identificados.
3. Descrio da commodity
A commodity avaliada nesta ARI so alevinos da espcie Oreochromis niloticus (tilpia do Nilo),
originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao animal.
Os alevinos so transportados dentro de sacos plsticos com gua potvel e pores de sal e
oxignio. Os sacos so colocados dentro de caixas de isopor para proteger os animais de mudanas bruscas
de temperatura.
4. Metodologia da Anlise de Risco de Importao
4.1. Metodologia Geral
A opo pela realizao de ARI do tipo qualitativa, em conformidade com as orientaes do
Cdigo Sanitrio para os Animais Aquticos da Organizao Mundial de Sade Animal (Cdigo da OIE),
alm do Acordo sobre a Aplicao de Medidas Sanitrias e Fitossanitrias (SPS) da Organizao Mundial
do Comrcio (OMC), baseia-se na ampla aceitao internacional desse tipo de abordagem em anlise de
risco de importao e pela facilidade de compreenso pelos servios veterinrios oficiais e interessados da
comunicao do risco. Alm disso, a avaliao quantitativa demanda dados muito detalhados e precisos, o
que reduz sua aplicabilidade devido escassez e limitao de dados e conhecimento acerca do cenrio de
sade dos animais aquticos.
Ser avaliada a probabilidade de a commodity estar infectada ou contaminada por agentes
patognicos e as possveis consequncias, diretas ou indiretas, da introduo, estabelecimento e difuso
destes sobre a condio da sanidade de animais aquticos do Pas. As obrigaes internacionais de
importao (OII) e as medidas sanitrias preconizadas pela OIE fundamentaram a anlise de risco. A
metodologia segue as etapas do modelo adotado pela Organizao Mundial de Sade Animal para ARI,
conforme figura 1:
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A primeira etapa da ARI, identificao dos perigos (hazard identification), requer a elaborao de
uma lista de agentes (vrus, bactrias, parasitas, rickettsias, protozorios, etc.) que podem estar associados
com a commodity a ser importada. A segunda etapa da ARI, avaliao de risco (risk assessment), composta
de quatro etapas: avaliao de difuso (release assessment), avaliao de exposio (exposure assessment),
avaliao de consequncia (consequence assessment) e estimativa de risco (risk estimation). Somente so
avaliados os potenciais perigos para a sade dos animais aquticos, uma vez que a avaliao de potenciais
perigos sade humana e ao meio ambiente no responsabilidade legal do MPA.
A avaliao de difuso considera as possveis rotas para introduo do agente patognico/doena, e
leva em conta fatores biolgicos e relacionados ao pas, alm de caractersticas associadas commodity. Na
avaliao de exposio, so descritas as vias que podem conduzir a um foco e posterior disseminao da
doena. Para a avaliao de consequncia, so considerados os possveis impactos diretos e indiretos a
quatro categorias: impacto na populao animal exposta, impacto na comunidade e sade pblica, impacto
FIGURA 1 - ETAPAS DA ANLISE DE RISCO (OIE 2010A).
Avaliao de R
isco C
omun
ica
o d
e ri
sco
s p
arte
s int
eres
sada
s ou
Stak
ehol
ders
(com
unid
ade,
aut
orid
ades
sani
tria
s, pe
squi
sado
res)
Identificao dos perigos
Avaliao de difuso
Avaliao de exposio
Avaliao de consequncia
Estimativa de risco
Gesto de risco
-
21
no meio ambiente e impacto na economia. A estimativa de risco integra os resultados da avaliao de
difuso, avaliao de exposio e avaliao de consequncia para produzir valores qualitativos de risco para
os perigos identificados.
A terceira etapa da ARI, gesto do risco (risk management), compara o risco obtido (risco no
mitigado) ao nvel adequado de proteo (ALOP) estabelecido pelo Pas. Risco no mitigado o resultado
obtido na estimativa do risco, previamente aplicao de medidas de mitigao. O risco no mitigado pode
ser aceitvel ou no (risco aceitvel ou risco no aceitvel).
O ALOP o nvel de proteo considerado adequado pela autoridade sanitria do pas importador,
ou ainda, o risco associado importao de uma commodity, considerado como compatvel para a proteo
da sade dos animais aquticos no territrio nacional, por meio da reduo dos riscos a nveis considerados
aceitveis, mas no a zero.
No caso de um risco no ser aceitvel, so listadas possveis medidas de mitigao no intuito de
reduzi-lo a nveis aceitveis de modo que a importao seja autorizada. As medidas de mitigao de risco
listadas devem ser capazes de reduzir o risco inicialmente estimado em no aceitvel para risco aceitvel a
partir de medidas efetivas e tecnicamente viveis que alcancem o ALOP previamente definido. Medidas
listadas e capazes de mitigarem o risco alm do ALOP podero ser adotadas em caso de inexistncia de
medidas de gesto de risco tecnicamente, financeiramente e operacionalmente viveis que reduzam o risco
estimado.
A ltima etapa da ARI, comunicao do risco (risk communication), parte integral do processo e
trata-se de um processo multidimensional e interativo que deve comear no incio da ARI e continuar at o
final alcanando todas as partes interessadas ou stakeholders (setor oficial, importadores, consumidores,
setor primrio, indstria, etc.) no pas importador e no pas exportador.
Para cada uma das etapas da ARI definidas pela OIE, so desenvolvidos mtodos analticos com o
objetivo de conferir rigor cientfico, transparncia e consistncia a todo o processo. As premissas e os dados
utilizados no modelo devem ser referenciados. Assim, possvel refutar as concluses da investigao, o
que fundamental em cincia e no processo de tomada de deciso sanitria. So apresentadas rvores de
cenrio para cada etapa da avaliao de risco, com o objetivo de descrio da relao entre a srie de eventos
necessrios para que o perigo ocorra.
Para fins de harmonizao, a nomenclatura dos termos utilizados durante a elaborao associa-se ao
processo de anlise de risco, tais como equivalncia, probabilidade, ALOP, perigo, risco, transparncia,
incerteza, variabilidade etc., e segue definies do Cdigo da OIE. A nomenclatura adotada para demonstrar
a probabilidade de ocorrncia de um acontecimento internacionalmente consagrada por estudos
epidemiolgicos e tambm prevista na metodologia de anlise de risco editada pela OIE.
-
22
O resultado desse tipo de avaliao expresso em termos no numricos, conforme tabela 1, que
prev a nomenclatura de probabilidades qualitativas para avaliao de difuso e avaliao de exposio,
etapas da avaliao de risco.
TABELA 1 NOMENCLATURA DE PROBABILIDADES QUALITATIVAS PARA AS ETAPAS AVALIAO DE DIFUSO E AVALIAO DE EXPOSIO (AUSTRLIA, 2006 - ADAPTADO).
PROBABILIDADE DEFINIO
Alta Expectativa que o evento ocorra.
Moderada As chances de ocorrncia ou no do evento so iguais.
Baixa Improvvel ocorrncia do evento.
Muito baixa O evento raramente ocorrer.
Extremamente baixa A probabilidade de ocorrncia do evento extremamente rara.
Insignificante Chance muito pequena de ocorrncia do evento e pode ser desconsiderada.
Para a etapa avaliao de consequncia foram utilizadas as variveis qualitativas descritas na
tabela 2.
TABELA 2 - NOMENCLATURA QUALITATIVA DE IMPACTOS PARA A ETAPA AVALIAO DE CONSEQUNCIA (FLETCHER ET AL, 2004 ADAPTADO).
IMPACTO DEFINIO
Extremo Evento capaz de gerar impacto generalizado e permanente/irreversvel (catastrfica) e de magnitude alta.
Alto Evento capaz de gerar impacto grave ou muito grave (severo), que pode necessitar de perodo relativamente longo para restaurar, ou de magnitude alta.
Moderado Evento capaz de gerar impacto moderado, reversvel e de magnitude moderada.
Baixo Evento capaz de gerar impacto mnimo, reversvel e de magnitude moderada.
Muito baixo Evento capaz de gerar impacto mnimo, de difcil deteco, reversvel e de magnitude baixa.
Insignificante Evento capaz de gerar impacto insignificante. improvvel at mesmo que seja mensurvel, por no ser distinguvel da variao normal.
4.2. Metodologia da identificao dos perigos
A primeira etapa, identificao do perigo, tem como objetivo identificar os perigos associados
importao da commodity, capazes de produzir consequncias adversas sade dos animais aquticos e,
consequentemente economia do Brasil.
-
23
Uma lista inicial de agentes patognicos/doenas de interesse em sade animal dos animais
aquticos foi desenvolvida a partir de doenas de peixes listadas pela OIE e por doenas s quais a espcie
que d origem commodity (que pode ser tanto a matria-prima ou material de multiplicao ou produto
processado ou pescado) suscetvel ou portadora. Esta lista preliminar contem os potenciais perigos.
Deste modo, a lista de potenciais perigos associados importao de alevinos da espcie
Oreochromis niloticus (tilpia do Nilo) originrios de aquicultura de Singapura, destinados multiplicao
animal, composta por:
Infeco por bactrias:
Aeromonas spp.
Flavobacterium columnare
Edwardsiella tarda
Streptococcus spp.
Yersinia rucker
Nocardia seriolae
Organismos semelhantes Rickettsia (incluindo Francisella spp.)
Infeco por vrus:
Necrose hematopoitica infecciosa (listada pela OIE)
Septicemia hemorrgica viral (listada pela OIE)
Viremia primaveral da carpa (listada pela OIE)
Anemia infecciosa do salmo (lista pela OIE)
Herpesvirose da carpa koi (lista pela OIE)
Iridovirose da dourada japonesa
Iridovirus
Betanodavirus
Infeco pelos fungos dos gneros:
Saprolegnia
Branchiomyces
Aphanomyces
Sndrome ulcerante epizotica (listada pela OIE)
-
24
Infeco por parasitas dos gneros:
Ichthyophonus
Trichodina
Dactylogyrus
Gyrodactylus
A partir da lista de potenciais perigos associados commodity em questo, os agentes
patognicos/doenas sero avaliados, segundo critrios abaixo listados, podendo ser considerados real
perigo (perigos identificados) ou serem eliminados da lista de perigos (no so considerados perigos e,
portanto, no sero avaliados na ARI). Critrios para que um potencial perigo seja enquadrado como perigo
identificado:
1. A commodity importada (ou espcie da qual a mercadoria derivada) deve ser considerada
suscetvel, portadora ou vetora do agente patognico/doena; e
2. O agente patognico/doena deve estar ausente ou sob controle (ou com previso para tal) no
Brasil. Caso o agente patognico esteja presente no Brasil, deve ser considerada a
possibilidade da existncia de cepas distintas ou mais virulentas no pas exportador; e
3. O agente patognico/doena deve estar presente no pas de origem. A inexistncia do agente
patognico/doena no pas de origem ser considerada apenas quando o pas de origem
obtiver o reconhecimento pela OIE como pas livre para determinado agente
patognico/doena, o que gera reconhecimento automtico pelo MPA.
Utiliza-se a rvore de cenrio descrita na figura 2 para melhor visualizao da identificao de
perigos. Os perigos identificados sero descritos minuciosamente com base em informaes obtidas na
literatura internacional, podendo-se utilizar consulta a pesquisadores das reas envolvidas ou at mesmo
opinio de especialistas. Os agentes patognicos/doenas no considerados perigo sero descartados da
anlise. Os perigos identificados, aps descrio, seguiro para a prxima etapa da anlise de risco.
A anlise de risco ser concluda na etapa de identificao dos perigos quando no forem
identificados perigos associados importao da commodity, que ser autorizada sem exigncia de medidas
mitigatrias pelo pas exportador. Caso contrrio, a anlise conduzida para a prxima etapa: avaliao de
risco.
-
25
NO
No Perigo
SIM
SIM
NO No Perigo
NO
No Perigo
SIM
A commodity importada (ou espcie da qual a mercadoria derivada) considerada suscetvel,
portadora ou vetora do agente patognico/doena?
O agente patognico/doena est ausente ou sob controle (ou com previso para tal) no Brasil?
NO
A probabilidade de existncia de cepas diferentes ou mais virulentas do agente patognico, no pas
exportador, insignificante?
SIM No Perigo
O agente patognico/doena est presente no pas de origem?
FIGURA 2 RVORE DE CENRIO DEFINIDA PARA A IDENTIFICAO DOS PERIGOS.
NO
O pas, zona, regio ou compartimento de origem obteve o reconhecimento da OIE como livre para
o agente patognico/doena?
No Perigo
SIM
Perigo Identificado
-
26
4.3. Metodologia da avaliao de risco
Na segunda etapa da anlise de risco, avaliao de risco, estima-se a probabilidade da entrada,
estabelecimento e consequncias do perigo no Brasil. A avaliao de risco divide-se em quatro etapas:
avaliao de difuso, avaliao de exposio, avaliao de consequncia e estimativa de risco.
Para cada uma das quatro etapas da avaliao de risco definidas pela OIE, so desenvolvidos
mtodos analticos com o objetivo de conferir rigor cientfico, transparncia e consistncia a todo processo.
O fluxograma com o resumo das etapas da avaliao de risco encontra-se na figura 3, cuja aplicao segue
uma lgica unidirecional. So apresentadas rvores de cenrio para cada etapa (avaliao de difuso,
avaliao de exposio e avaliao de consequncia) com o objetivo de descrio da relao entre a srie de
eventos necessrios para que o perigo ocorra.
Nas etapas em que h informaes insuficientes (ausncia de relatos e dados na literatura
internacional e at mesmo oficiais) e, consequentemente grande incerteza, opta-se pela adoo de postura
mais conservadora.
Todos os agentes patognicos/doenas identificados como perigos, na etapa de identificao do
perigo, so avaliados individualmente durante a avaliao de risco.
-
27
Fases Descrio Resultado
Fase 1
Avaliao de difuso
1 probabilidade (varivel
qualitativa) por perigo identificado
Fase 2
Avaliao de exposio
1 probabilidade
(varivel qualitativa) por
perigo identificado
Fase 3
Probabilidade de ocorrncia (PO)
X
1 probabilidade (varivel
qualitativa) por perigo identificado.
(Tabela 3)
Fase 4
1 impacto (varivel qualitativa) por
perigo identificado. Combinao dos 4
impactos.
(Figura 7)
Fase 5
Estimativa de risco
X
1 varivel qualitativa por
perigo identificado.
(Tabela 4)
FIGURA 3 FLUXOGRAMA DA AVALIAO DE RISCO.
Avaliao de difuso
Avaliao de exposio
Probabilidade de ocorrncia
Avaliao de consequncia
Avaliao de consequncia
Populao animal exposta
Comunidade e Sade Pblica
Economia do Pas M
eio
ambi
ente
-
28
4.3.1. Avaliao de difuso
A avaliao de difuso consiste na estimativa da probabilidade de a commodity importada estar
infectada ou contaminada com um perigo e a descrio das possveis rotas biolgicas para a introduo, no
Brasil, dos perigos identificados. Desta forma, para cada perigo identificado na etapa anterior, procede-se
com a avaliao de difuso com a aplicao da rvore de cenrio definida na figura 4.
- Prevalncia e incidncia no pas ou regio;
- Caractersticas ambientais e geogrficas (barreiras);
- Regionalizao ou reas livres da doena;
- Estabelecimento/rea inserido (a) em programas sanitrios (geral ou especfico);
- Boas prticas na produo
- Sinais clnicos (virulncia e mortalidade);
- Servio de Vigilncia Epidemiolgica
- Testes diagnsticos, quarentena
- Perodo de incubao, sinais clnicos;
- Servio de Vigilncia Epidemiolgica
- Prootocolos padres de quarentena
FIGURA 4 - RVORE DE CENRIO DEFINIDA PARA A AVALIAO DE DIFUSO.
A probabilidade de o perigo estar presente no pas de origem insignificante?
A probabilidade de o perigo estar presente no local de origem insignificante?
A probabilidade de falha na identificao do perigo pela autoridade sanitria no pas de
origem insignificante?
A possibilidade de falha na identificao do perigo pela autoridade sanitria no pas de
destino insignificante?
SIM
NO
NO
NO
SIM
SIM
SIM
NO
Sem Risco
Sem Risco
Sem Risco
Sem Risco
AVALIAO DE EXPOSIO
-
29
Para tanto, so avaliados, entre outros, os seguintes fatores relacionados aos perigos identificados,
fatores relacionados ao pas de origem, fatores relacionados ao pas de destino e fatores relacionados
commodity:
Quanto aos fatores biolgicos:
A susceptibilidade dos animais importados ao perigo identificado e sua infectividade em relao
espcie, idade, sexo e outras variveis importantes, no caso de animais;
Ocorrncia de diferentes sorotipos, bitipos etc., em uma mesma espcie de agente etiolgico;
A forma de transmisso do perigo: horizontal, direta (contato animal a animal, via gua ou ingesto),
indireta (vetores biolgicos e mecnicos, hospedeiros intermedirios, transmisso iatrognica,
fmites como gua residual, caixas de transporte e containers utilizados na preparao do produto) e
transmisso vertical;
Virulncia e estabilidade do perigo identificado;
Locais de predileo do perigo identificado;
Testes diagnsticos, processamento/tratamento e quarentena de origem.
Quanto aos fatores relacionados ao pas de origem:
A avaliao do servio veterinrio oficial, existncia de programas de vigilncia, controle,
erradicao e regionalizao, zonificao ou compartimentao de reas com condio sanitria
diferente;
Prevalncia e incidncia da doena/infeco no pas;
Prticas de criao e manejo;
Caractersticas ambientais e geogrficas.
Quanto aos fatores relacionados ao pas de destino (Brasil):
Servio veterinrio oficial no ponto de entrada do Pas;
Realizao de quarentena e protocolos padres;
Protocolos padres de coleta e testes laboratoriais em commodities destinadas alimentao humana
ou animal.
Quanto aos fatores relacionados commodity:
Susceptibilidade contaminao ou infeco;
Resultado do armazenamento e transporte;
Para avaliao das variveis relacionadas ao pas de origem, o MPA poder encaminhar
-
30
questionamentos oficiais e/ou misses ao pas de origem da commodity. O pas exportador poder aportar,
para avaliao do MPA, estudos epidemiolgicos que evidenciem a ausncia do agente patognico/doena
no pas de origem, regio, zona ou compartimento ou qualquer outra evidncia tcnica/cientfica que julgar
importante para a estimativa da avaliao de difuso dos perigos identificados.
Se o resultado da anlise na rvore de cenrio for sem risco para todos os perigos identificados, a
avaliao de difuso ser considerada como insignificante. Nesse caso, a avaliao de risco concluda
com o resultado obtido e a importao da commodity aprovada. Caso contrrio, deve-se partir para a etapa
subsequente: avaliao de exposio.
4.3.2. Avaliao de exposio
A avaliao de exposio consiste na descrio das rotas biolgicas necessrias para a exposio de
animais ao perigo no Brasil e na estimativa da probabilidade de ocorrncia dessas exposies. A etapa
inicia-se com a aplicao da rvore de cenrio definida na figura 5.
Para tanto, so avaliados, entre outros, os seguintes fatores relacionados aos perigos identificados,
fatores relacionados ao pas de destino (Brasil) e fatores relacionados commodity:
Quanto aos perigos:
FIGURA 5 - RVORE DE CENRIO DEFINIDA PARA A AVALIAO DE EXPOSIO.
- animais de criao;
- animais silvestres
- hospedeiros intermedirios, vetores
- forma de transmisso, idade do hospedeiro.
- resistncia/estabilidade do agente;
- caractersticas da cadeia de produo (tanques)
- finalidade de uso
No Brasil, existem espcies de animais aquticos potencialmente suscetveis ou
portadoras do perigo?
A probabilidade de contato (direto ou indireto) de espcies potencialmente
suscetveis ou portadoras com o perigo insignificante?
NO
SIM
NO
SIM
Sem Risco
Sem Risco
AVALIAO DE CONSEQUNCIA
-
31
A forma de transmisso do perigo: transmisso horizontal, podendo ser direta (contato animal a
animal ou via gua contaminada) ou indireta (vetores biolgicos e mecnicos, hospedeiros
intermedirios, transmisso iatrognica, fmites) e a transmisso vertical;
Infectividade, virulncia e estabilidade do perigo identificado;
Resultado da infeco: imunidade adquirida, animais portadores incubando a doena ou
convalescentes, infeco latente.
Quanto ao pas de destino (Brasil):
A possibilidade de exposio (contato direto ou indireto) de espcies suscetveis ou potencialmente
portadoras commodity importada;
Presena de potenciais hospedeiros intermedirios ou vetores;
Populao animal;
Sistemas de produo e manejo;
Caractersticas ambientais e geogrficas.
Quanto commodity:
Finalidade de uso;
Forma de eliminao de resduos.
A avaliao de exposio igualmente expressa qualitativamente. Se o resultado da anlise na
rvore de cenrio for sem risco para todos os perigos identificados, a avaliao de exposio ser
considerada como insignificante, ou seja, altamente improvvel que os animais (animais de produo e
animais silvestres) venham a ter contato com os perigos. Nesse caso, a avaliao de risco concluda com o
resultado obtido e a importao da commodity aprovada.
Caso contrrio, deve-se estimar a probabilidade de entrada do perigo identificado no Brasil e a
exposio de animais nacionais a ele (chamado de probabilidade de ocorrncia) por meio da utilizao da
matriz de combinao de probabilidades, qualitativas (tabela 3). Deve-se combinar, para cada perigo
identificado, o resultado obtido na etapa da avaliao de difuso com o resultado obtido na etapa da
avaliao de exposio. O resultado obtido dessa combinao de duas variveis qualitativas, denominado de
probabilidade de ocorrncia (PO), posteriormente combinado com o resultado obtido na avaliao de
consequncia na etapa de estimativa de risco.
-
32
TABELA 3 - MATRIZ DE COMBINAO PARA PROBABILIDADE DE OCORRNCIA (GATT, 2006; BIOSECURITY AUSTRALIA, 2009 - ADAPTADO).
Insignificante E. Baixa M. Baixa Baixa Moderada Alta
Prob
abili
dade
de
difu
so
Alta Insignificante E. Baixa M. Baixa Baixa Moderada Alta
Moderada Insignificante E. Baixa M. Baixa Baixa Moderada Moderada
Baixa Insignificante Insignificante Insignificante E. Baixa Baixa Baixa
M. Baixa Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante M. Baixa M. Baixa
E. Baixa Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante E. Baixa E. Baixa
Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante
Probabilidade de exposio
As clulas desta matriz descrevem o produto da probabilidade de difuso e probabilidade de
exposio, denominado probabilidade de ocorrncia. Na matriz, o eixo vertical refere-se probabilidade de
difuso e o eixo horizontal refere-se probabilidade de exposio.
4.3.3. Avaliao de consequncias
A avaliao de consequncia baseia-se na descrio das implicaes do estabelecimento e
disseminao da doena/infeco, assumindo a exposio de animais suscetveis ao perigo. Esta etapa
descreve a relao entre exposio e perigo, as consequncias potenciais (o impacto direto e/ou indireto) e
sua magnitude.
A consequncia direta baseia-se nas perdas econmicas de produo devido s taxas de mortalidade
causadas pela introduo da doena, reduo no desempenho zootcnico e viabilidade econmica da
produo, assim como o impacto na populao animal. A consequncia indireta considera ainda os gastos
para controle e erradicao da doena, elevao no custo de produo das espcies exploradas
comercialmente, alm de potenciais restries comerciais para produtos agropecurios da pauta de
exportao brasileira por questes sanitrias.
A consequncia do estabelecimento e disseminao do perigo gera efeitos adversos de naturezas
variadas, entre impactos diretos e indiretos, os quais foram agrupados em quatro categorias de impacto
denominadas: populao animal exposta, economia do Pas, comunidade e sade pblica e meio ambiente.
Categoria de impacto 1: Populao animal exposta: consequncia produo de animais aquticos
de cultivo e pesca e extrativismo de animais de fauna silvestre susceptveis doena. Implicao
direta vida e sade de animais nativos de vida livre.
-
33
Categoria de impacto 2: Economia do Pas: gastos pblicos e privados em estratgias ou
programas de erradicao, controle, vigilncia e monitoramento de doenas e indenizaes aos
produtores acometidos. Efeitos sobre o comrcio nacional ou parque industrial, incluindo mudanas
na demanda de mercado, alterao em disponibilidade de recursos pesqueiros (espcies sendo sobre-
explotadas por alteraes na dinmica populacional aps exposio a perigo) e efeitos em outras
indstrias fornecedoras ou compradoras de insumos dos locais diretamente afetados: decorrncia
sobre o comrcio internacional, incluindo perdas de mercado por restrio sanitria.
Categoria de impacto 3: Comunidade e Sade Pblica: efeito direto na populao por danos
sade resultante de perigos zoonticos. Efeitos indiretos na comunidade, incluindo reduo do
turismo, diminuio do potencial econmico regional e rural, desemprego, perda de bem-estar social
(dano psicolgico, perda da capacidade de empreendimento), e qualquer outro efeito deletrio
comunidade resultante das medidas de controle da doena.
Categoria de impacto 4: Meio ambiente: Perda de bem-estar animal por estresse, sofrimento e
mortalidade decorrentes de doenas. Efeitos diretos nos recursos naturais e indiretos ao meio
ambiente, incluindo espcies em extino ou em ameaa de extino e danos biodiversidade e
integridade dos ecossistemas.
Desta forma, a avaliao de consequncia ocorre em duas etapas: aplicao da rvore de cenrio,
definida na figura 6, e aplicao da matriz de regras, conforme figura 7, para a combinao dos quatros
resultados obtidos aps avaliao das quatro categorias de impactos.
Primeira etapa: aplicao da rvore de cenrios A avaliao de consequncia inicia-se com a aplicao da rvore de cenrio definida na figura 6.
Cada perigo ser avaliado individualmente quanto s consequncias (para cada categoria de impacto). A
combinao dos resultados obtidos, a fim de obter apenas um nico resultado para avaliao de
consequncia, ser realizada na etapa 2.
-
34
RISCO
Avaliar Impacto
Avaliar Impacto
Avaliar Impacto
Impacto Insignificante
Impacto Insignificante
Impacto Insignificante
SIM Impacto insignificante
- perodo de incubao, forma de transmisso, resistncia do agente, infectividade, portadores.
- morbidade e mortalidade.
- sistemas de cultivo (intensivo, semi-intensivo), manejo.
- caractersticas ambientais e geogrficas
- forma de transmisso, dose infectante, fase de suscetibilidade.
- resistncia do agente, infectividade.
- sistemas de cultivo (intensivo, semi-intensivo).
A probabilidade de estabelecimento do perigo aps contato com animais
potencialmente suscetveis ou portadores insignificante?
A probabilidade de propagao do perigo, ou seja, do grupo exposto ao perigo
transmitir a demais animais suscetveis, insignificante?
SIM
NO
NO
Impacto insignificante
A propagao do perigo geraria impactos insignificantes (ao)?
NO NO NO NO
FIGURA 6 - RVORE DE CENRIO DEFINIDA PARA A AVALIAO DE CONSEQUNCIAS.
SIM
Impacto Insignificante
Avaliar Impacto
SIM
Populao animal exposta
Comunidade e Sade pblica
Economia do Pas Meio ambiente
SIM SIM
- impacto na fauna silvestre
- perda de bem-estar animal por estresse, sofrimento e mortalidade
- efeito em recursos naturais
- espcies em extino ou em ameaa de extino
- danos biodiversidade e integridade dos ecossistemas
- custos de erradicao; controle e vigilncia;
- potenciais perdas de mercado (sanes, embargos, oportunidades de mercado, confiana do mercado);
- dano potencial em termos de produo, comrcio e servios
- morbidade e mortalidade;
- perdas no potencial de produo;
- bem estar animal
- zoonose;
- reduo do turismo;
- dano psicolgico
- alterao na percepo de bem estar social;
- mudanas de carter social e cultural
-
35
Segunda etapa: aplicao da matriz de regras
A fim de obter apenas um nico resultado para a avaliao de consequncia, necessria a
combinao dos quatro resultados obtidos na primeira etapa, por meio da matriz de regras definida na figura
7. Para isso, devem-se combinar os resultados obtidos em cada categoria de impacto.
Resultados dos impactos dos 4 grupos Impacto estimado
FIGURA 7 - MATRIZ DE REGRAS PARA OBTENO DE VALOR NICO PARA AVALIAO DE CONSEQUNCIA.
4 resultados moderados ALTO
1, 2 ou 3 resultados moderados MODERADO
4 resultados baixo MODERADO
1, 2 ou 3 resultados baixo BAIXO
4 resultados muito baixo BAIXO
1, 2 ou 3 resultados muito baixo MUITO BAIXO
4 resultados extremamente baixo MUITO BAIXO
1, 2 ou 3 resultados E. baixo E. BAIXO
3 resultados insignificante E. BAIXO
4 resultados insignificante INSIGNIFICANTE
1, 2 ou 3 resultados alto ALTO
4 resultados alto EXTREMO
Pelo menos 1 resultado extremo EXTREMO
-
36
Estas regras so mutuamente exclusivas e devem ser abordadas na ordem em que aparecem na
matriz (extremo insignificante). Por exemplo, se o primeiro conjunto de impactos no se aplica, o
segundo grupo deve ser considerado. Se o segundo conjunto no se aplica, o terceiro conjunto deve ser
considerado, e assim por diante at que uma das regras se aplique.
Deste modo, o resultado final obtido pela matriz de regras (combinao do resultado das quatro
categorias de impacto) gera um valor nico para a avaliao de consequncia, para cada perigo. Se todos os
perigos identificados obtiverem como resultado da matriz de regras insignificante, a avaliao de
consequncia ser considerada como insignificante. Nesse caso, a avaliao de risco concluda com o
resultado obtido e a importao da commodity aprovada.
4.3.4. Estimativa do risco
A estimativa de risco constitui a integrao dos resultados obtidos na avaliao de difuso e
avaliao de exposio (probabilidade de ocorrncia) com o resultado da avaliao de consequncias, a fim
de produzir valores qualitativos de risco para os perigos identificados e, desta forma, produzir medidas de
reduo dos riscos associados aos reais perigos que atinjam o ALOP definido pelo Pas. Desta forma, a
estimativa de risco incorpora as possveis rotas desde a identificao dos perigos at as suas consequncias
indesejveis.
Para efeitos de combinao das variveis descritivas (tabela 1), utilizada matriz de combinao de
probabilidades descritivas (tabela 4) para a combinao dos resultados obtidos na probabilidade de
ocorrncia com o resultado da avaliao de consequncias, para cada perigo.
TABELA 4 - MATRIZ DE COMBINAO PARA ESTIMATIVA DE RISCO (GATT, 2006; BIOSECURITY AUSTRALIA, 2009)
Insignificante M. Baixo Baixo Moderado Alto Extremo
Prob
abili
dade
de
O
corr
nci
a
Alta Insignificante M. Baixa Baixa Moderada Alta Extrema
Moderada Insignificante M. Baixa Baixa Moderada Alta Extrema
Baixa Insignificante Insignificante M. Baixa Baixa Moderada Alta
M. Baixa Insignificante Insignificante Insignificante M. Baixa Baixa Moderada
E. Baixa Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante M. Baixa Baixa
Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante Insignificante M. Baixa
Avaliao de Consequncia
As clulas desta matriz descrevem o produto da probabilidade de ocorrncia de um perigo e suas consequncias, denominado risco. Na matriz de estimativa de risco, o eixo vertical refere-se
-
37
probabilidade de ocorrncia (avaliao de difuso combinada com avaliao de exposio) e o eixo horizontal refere-se s consequncias (impacto).
O resultado obtido interpretado como a estimativa do risco no mitigado de introduo do perigo
identificado, seu estabelecimento e suas possveis consequncias ao Brasil, em virtude da importao da
commodity analisada. O risco no mitigado deve ser avaliado nas etapas de gesto de risco.
4.4. Metodologia da gesto de risco
A gesto de risco, terceira etapa da anlise de risco, consiste na adoo de medidas de mitigao de
risco a fim de reduzi-lo a nveis aceitveis de proteo (ALOP) ao Pas, minimizando os possveis efeitos
negativos da importao (OIE, 2010a). A gesto de risco consiste em quatro etapas: apreciao do risco (risk
evaluation), avaliao das opes de controle (option evaliation), aplicao (implementation) e controle e
reviso continuada (monitoring and review).
A apreciao do risco o processo no qual se compara o risco no mitigado, estimado na avaliao
de risco, com o ALOP do Pas. Este procedimento realizado para cada perigo identificado. A estimativa do
risco no mitigado pode ser considerada aceitvel ou no (risco aceitvel ou risco no aceitvel). Quando o
risco no mitigado considerado aceitvel, a importao autorizada mediante o cumprimento de requisitos
zoossanitrios gerais. No caso de o risco no mitigado ser considerado no aceitvel, avaliam-se quais
medidas de mitigao podem ser adotadas a fim de reduzir o risco a nveis aceitveis pelo Pas. Quando no,
possvel mitigar os riscos a nveis aceitveis de proteo definidos por indisponibilidade de medidas
mitigatrias ou porque as medidas existentes so tcnica ou economicamente inviveis, a importao no
autorizada.
O processo de identificar e selecionar as medidas de mitigao de risco disponveis, a partir da
avaliao de sua eficcia e viabilidade, a fim de reduzir o risco ao ALOP do Pas, conhecido como
avaliao das opes de controle. A eficcia de uma opo de medida de mitigao o grau em que ela
reduz a probabilidade e/ou magnitude das consequncias. A avaliao da eficcia das medidas de mitigao
de risco um processo dinmico que envolve a incluso dessas opes na avaliao de risco e, em
seguida, compara o novo risco obtido (risco mitigado) ao ALOP. A avaliao da viabilidade das medidas de
mitigao normalmente se concentra em questes tcnicas, operacionais e econmicas relacionadas com a
implementao de opes de gesto de risco.
O risco mitigado pode ser considerado aceitvel ou no aceitvel. O risco mitigado considerado
aceitvel permite a importao desde que sejam cumpridos os requisitos zoossanitrios especficos,
definidos a partir das medidas de mitigao adotadas, tcnica e economicamente viveis. O risco mitigado
considerado no aceitvel para ao menos um dos perigos identificados, caracteriza a no importao da
commodity.
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A execuo das decises a serem adotadas na gesto de risco, assim como a implementao das
medidas de mitigao identificadas como eficazes e viveis conhecida como aplicao. Controle e reviso
continuada das medidas de mitigao corresponde ao processo de auditoria das medidas implementadas a
fim de garantir que os resultados pretendidos sejam alcanados. As medidas adotadas devem ser revisadas
sempre que informaes adicionais estejam disponveis.
Quando a avaliao decisria do risco final de todos os perigos identificados for aceitvel, a
commodity poder ser importada, mediante o cumprimento dos requisitos zoossanitrios de importao
propostos. Quando ao menos um dos perigos identificados obtiver risco considerado no aceitvel e no
houver medidas aplicveis ou as medidas aplicveis forem tcnica ou economicamente inviveis, a
importao no ser autorizada. O fluxograma com as etapas de gesto de risco para cada perigo encontra-se
resumido na figura 8.
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4.5. Metodologia da comunicao do risco
A comunicao de risco um processo interativo que deve ser mantido durante todo o processo
Necessidade de avaliar quais medidas de mitigao podem ser adotadas a
fim de reduzir o risco a nveis aceitveis pelo Brasil
Importao autorizada com a exigncia do cumprimento de
requisitos zoossanitrios gerais
Risco mitigado
Aceitvel ou no aceitvel?
Risco sem mitigao
(no h medidas aplicveis ou as medidas aplicveis so tcnica ou
economicamente inviveis)
Importao no autorizada
Risco no aceitvel
Importao no autorizada
Risco aceitvel
Importao autorizada com a exigncia do cumprimento de
requisitos zoossanitrios especficos
Perigo identificado
Estimativa do risco no mitigado
Necessidade de mitigao?
No (Risco aceitvel) Sim (Risco no aceitvel)
FIGURA 8 - FLUXOGRAMA DA ETAPA GESTO DE RISCO.
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de anlise de risco com as partes interessadas ou stakeholders (cadeias de produo, associaes,
consumidores, etc.) do pas importador e do pas exportador, a fim de receber informaes sobre os perigos e
riscos estimados. nesta etapa que as informaes e opinies sobre os perigos identificados, riscos
estimados e medidas de gesto de risco propostas so comunicadas queles responsveis pelo pas
responsvel pela certificao da commodity e s partes interessadas.
A comunicao inicia-se com a notificao oficial do Brasil autoridade sanitria do pas
exportador sobre a necessidade da realizao de anlise de risco de importao, aps parecer tcnico (nota
tcnica), que faz uma breve avaliao dos potenciais perigos associados commodity a ser importada.
Conforme Instruo Normativa n 14, de 12 de dezembro de 2010, caso um pas pretenda exportar, pela
primeira vez ao Brasil, determinado(s) pescado e derivados ou animais aquticos, seus materiais de
multiplicao, clulas, rgos e tecidos, o MPA emitir parecer sobre a necessidade de realizao de ARI
para determinar o risco sanitrio da entrada da(s) commodity (ies) do pas em questo. Caso no seja
necessria a realizao de ARI, o MPA dever informar os requisitos sanitrios a serem cumpridos pelo pas
exportador por meio de nota tcnica. O MPA comunica oficialmente a autoridade sanitria do pas
exportador por meio da Diviso de Agricultura e Produtos de Base do Ministrio das Relaes Exteriores
(MRE).
Aps iniciada a ARI, poder ser disponibilizada no site do MPA a
verso preliminar (draft) da ARI com a identificao dos perigos para consulta pblica.
Aps a finalizao da consulta, outras etapas da ARI podero ser igualmente disponibilizadas no
site do MPA para consulta pblica: a verso preliminar da avaliao de difuso e avaliao de exposio
(probabilidade de ocorrncia), assim como a etapa de gesto de risco. Neste momento, as partes interessadas
ou stakeholders podem se manifestar a fim de contribuir no enriquecimento da anlise.
Todas as vezes em que houver disponibilizao de verses preliminares no site do MPA, as partes
interessadas (stakeholders) e o pas exportador da commodity podem se manifestar a fim de contribuir no
enriquecimento da anlise. A manifestao poder ser feita por meio de encaminhamento de correio
eletrnico para [email protected] ou documento para CGSAP/MPA - Setor Bancrio Sul, Quadra 02,
Lote 10, Bloco J, Ed. Carlton Tower, Cep. 70.070-120 - Braslia/DF. Outras formas de comunicao podem
ser adotadas, alm das descritas anteriormente. Os prazos para manifestao sero comunicados juntamente
com a publicao da abertura da consulta pblica.
Aps a finalizao da consulta pblica, o resultado final da ARI ser comunicado por documento
oficial ao pas exportador, por meio do MRE, e s partes interessadas, por meio de Ofcio SEMOC, e ainda,
pela disponibilizao no site oficial do MPA .
A possibilidade de reviso da anlise de risco um componente essencial da comunicao de risco,
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de forma a obter uma crtica cientfica que assegure os dados, as informaes e melhores mtodos
disponveis.
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PARTE II ANLISE DE RISCO DE IMPORTAO DE ALEVINOS DA ESPCIE OREOCHROMIS
NILOTICUS (TILPIA DO NILO) ORIGINRIOS DE AQUICULTURA DE SINGAPURA,
DESTINADOS MULTIPLICAO ANIMAL
1. Identificao dos perigos
1.1. VRUS
1.1.1. Infeco por Iridovirus
Os iridovirus so vrus envelopados de DNA fita dupla cujo genoma varia de 102 a 212kbp. Suas
partculas virais possuem dimetro de aproximadamente 120 a 300nm e podem ser encontradas tanto em
gua doce quanto salgada (Williams et al., 2005).
A famlia Iridoviridae composta por mais de 100 tipos de vrus, divididos em cinco gneros, dos
quais trs so considerados mais relevantes aqui por afetarem animais aquticos: Lymphocystivirus,
Megalocytivirus e Ranavirus (Williams et al., 2005). Os viris do gnero Lymphocystivirus afetam peixes
marinhos e de gua doce em todo o mundo. Os Megalocytivirus so conhecidos por afetarem peixes
marinhos e de gua doce do sudeste da sia (Chinchar et al., 2009). Por sua vez, os vrus do gnero
Ranavirus so capazes de infectar vertebrados ectotrmicos de trs grupos taxonmicos diferentes: peixes
telsteos, anfbios e rpteis (Chinchar, 2002). Alm disso, neste gnero alguns casos indicam que o mesmo
vrus que infecta um animal de um grupo taxonmico pode infectar animais de outros grupos taxonmicos,
por exemplo, um vrus que afeta peixes poderia infectar anfbios (Moody et al., 1994; Mao et al., 1999).
Os iridovirus causam uma doena sistmica que envolve mltiplos rgos internos. A infeco
pode variar de subclnica a fulminante com mortalidades prximas de 100% (Williams et al., 2005). Entre as
doenas listadas pela OIE as provocadas por iridovirus so: doena iridoviral da dourada japonesa (Red Sea
Bream Iridoviral Disease), necrose hematopoitica epizotica (Epizootic Haematopoietic Necrosis) e
infeco com Ranavirus (Infection with Ranavirus). A primeira doena pertence ao gnero Magalocytivirus
e as duas ltimas pertencem ao gnero Ranavirus. As duas primeiras so reconhecidas por afetarem peixes e
a ltima, segundo o Manual de Diagnstico da OIE, est relacionada a epidemias em anfbios (OIE 2010).
Os iridovirus esto emergindo como um importante fator de mortalidade em populaes naturais de
anfbios e rpteis e em peixes marinhos e de gua doce de importncia comercial. No est claro se isso
um resultado da introduo de patgenos exticos em novas espcies hospedeiras ou uma consequncia de
alteraes na transmisso ou virulncia de patgenos endmicos em populaes imunossuprimidas
(Williams et al., 2005).
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No Brasil h relatos de iridovirose em fazendas de cultivo de anfbios. A doena foi caracterizada
em girinos de Rana catesbiana e ficou confirmada a infeco por um vrus que apresentava at 100% de
homologia com o vrus FV3 (Frog Virus 3) pertencente ao gnero Ranavirus. O Uruguai tambm foi afetado
pelo mesmo problema. (Galli et al., 2006) (Mazzoni et al., 2009)
Segundo o Quarterly Aquatic Animal Disease Report (Regio sia-Pacfico), Singapura reportou
em 2010 e em anos anteriores a presena de trs doenas causadas por iridovirus: iridovirus da perca (Sea
bass Iridovirus), doena iridoviral sistmica da tainha (Mullet systemic iridoviral Disease) e doena
iridoviral da garoupa (Grouper Iridoviral Disease). Nenhuma dessas doenas listada pela OIE.
Um estudo sobre doena iridoviral da perca (sea bass iridovirus) em Hong Kong encontrou muitas
similaridades genticas com outros iridovirus encontrados em Singapura e no Japo. As pequenas
divergncias eram encontradas de acordo com a regio geogrfica onde os vrus foram caracterizados
(Miyata et al., 1997).
Gibson-Kueh et al. (2004) compararam a doena iridoviral sistmica da tainha (Mullet systemic
iridoviral disease) com uma iridovirose que afetava garoupa tigre (Epinephelus fuscoguttatus). O estudo
concluiu que as duas doenas so causadas por vrus que so muito semelhantes ao vrus causador da
iridovirose da dourada japonesa (Red Sea bream iridovirus), pertencente ao gnero Megalocytivirus
(Gibson-Kueh et al., 2004).
A ltima doena mencionada em Singapura causada pelo iridovirus da garoupa de Singapura
(Singapore Grouper Iridovirus - SGIV). Este vrus pertence ao gnero Ranavirus (Williams et al., 2005;
Eaton et al., 2010).
McGrogan et al. (1998) descreveram a infeco em tilpias (Oreochromis niloticus) cujos sintomas
englobam: letargia ou natao lenta e com frequncia os animais descansavam no fundo do tanque.
Macroscopicamente, os peixes estavam edemaciados e exibiam vrios graus de exoftalmia e palidez
branquial. Outra caracterstica marcante observada foi a pigmentao escura na superfcie dos animais.
Muitos peixes tambm apresentaram eritema da pele da regio submandibular. As caractersticas internas
dominantes foram grave ascite abdominal e palidez acentuada dos rgos viscerais, especialmente do fgado.
Alguns indivduos tambm apresentaram hemorragias petequiais hepticas. Em microscopia ptica a
caracterstica mais proeminente foi uma distribuio difusa de clulas hipertrficas aparentemente em
tecidos de origem mesodrmica (Mcgrogan et al., 1998).
Segundo o mesmo trabalho, o vrus estudado foi caracterizado como pertencente famlia
iridoviridae sem que fosse possvel afirmar a qual gnero o patgeno pertencia. Contudo, os sintomas
descritos so muito semelhantes aos encontrados em diferentes peixes tais como erca europia (Perca
fluviatilis), alevinos de siluro europeu (Silurus glanis), bagres (Ictalurus melas), alevinos de pregado
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(Scophthalmus maximus), garoupa de mancha marrom (Epinephelus tauvina) e em peixe-anjo (Pterophyllum
scalare).
Aparentemente a temperatura da gua influencia o perodo de incubao em infeces
experimentais realizadas tanto em trutas arco-ris (Oncorhynchus mykiss) quanto em perca europeia (P.
fluviatilis). Em adultos de perca europeia, o perodo de incubao variou de 10 a 28 dias em temperaturas
entre 12 a 18C, esse prazo diminuiu para 10 a 11 dias em temperaturas entre 19 a 21C (Whittington et al.,
1995). Entre percas europeias jovens o perodo de incubao variou entre 3 a 6 dias a temperaturas entre 18
e 24C (Langdon, 1989). De forma semelhante, o perodo de incubao em trutas arco-ris foi de 14 a 32
dias em temperaturas de 8 a 10C comparado com 3 a 10 dias a temperaturas de 19 a 21C (Whittington et
al., 2010).
Outros fatores podem influenciar a ocorrncia de infeco como o que foi observado em trutas
arco-ris. Entre eles pode-se mencionar condies imunossupressoras associadas a ms condies de cultivo
tais como: superpopulao, fluxo inadequado de gua, m qualidade da gua, acmulo de rao nos tanques
(Whittington et al., 2010).
A deteco da Iridovirose, inicialmente, baseia-se em um diagnstico presuntivo macroscpico.
Entretanto, os achados clnicos da doena no so patognomnicos, e por isso, um diagnstico confirmatrio
muitas vezes necessrio. A presena de partcula icosadrica no envelopada com 120-300 nm no
citoplasma de clulas infectadas levanta a suspeita de uma provvel infeco por Iridovirus. Contudo, no
aponta o gnero e a espcie do patgeno. Para tanto, pode-se utilizar tcnicas tradicionais de isolamento
viral. Todavia, a utilizao do PCR mostrou ser o mtodo mais prtico e rpido no sentido de um
diagnstico confirmatrio (Williams et al., 2005).
Entre anfbios, a transmisso de ranavirus ocorre por rotas diretas e indiretas e inclui exposio
gua ou solo contaminados, contato com indivduos contaminados e pela ingesto de tecido infectado
durante a predao, canibalismo ou necrofagia (Gray et al., 2009). Tambm depende da concentrao do
vrus (Chinchar et al., 2009).
Esses meios de transmisso so semelhantes aos encontrados por Kurobe et al. (2011) em
experimentos realizados com esturjes Scaphirhynchus albus e S. platorynchus para observar as formas de
transmisso do vrus do esturjo do rio Missouri (Missouri River Sturgeon Iridovirus - MRSIV). As
principais vias foram ingesto de tecido infectado e coabitao. Alm disso, o mesmo trabalho mostra que
peixes recuperados de episdios clnicos, mesmo aps mais de oito semanas, transmitiram o vrus para
animais jovens por coabitao. Isso leva a crer que podem existir portadores assintomticos (Kurobe et al.,
2011).
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Ariel, E. & L. Owens (1997) realizaram um estudo sobre a mortalidade de um vrus pertencente ao
gnero Ranavirus (iridovirus Bohle BIV) em alevinos de tilpias da espcie Oreochromis mossambicus.
Em um perodo de 60 dias, o vrus foi capaz de provocar uma mortalidade prxima de 100% (Ariel et al.,
1997).
No estudo de caso de McMorgan et al. (1998), 25 tilpias da espcie Oreochromis niloticus foram
estudadas devido s altas taxas de mortalidade observadas. Tal fato se deu em razo de uma infeco que se
descobriu ser provocada por iridovirus. Os animais haviam sido importados da Flrida (EUA) para o
Canad.
Quanto doena iridoviral da garoupa, sua importncia est no fato de causar perdas no apenas
em alevinos e animais jovens, mas tambm em animais de tamanho comercial (Nakajima, 2003).
Todos os ranavirus so resistentes dessecao. O vrus causador da necrose hematopoietica
epizotica, por exemplo, pode sobreviver por meses na gua, mas suscetvel soluo de etanol 70%,
hipoclorito de sdio a 200mg/L ou a aquecimento a 60C por 15 minutos (Langdon, 1989). Whittington
(2010) cita diferentes estudos que apontam a eficcia de alguns desinfetantes para ranavirus originrios de
anfbios tais como clorexidina, peroximonosulfato de potssio e hipoclorito de sdio.
1.1.2. Infeco por Betanodavrus
A retinopatia e encefalopatia viral, tambm chamada de necrose nervosa viral, causada por um
vrus da famlia Nodaviridae, conhecido como betanodavrus. Estes vrus possuem como material gentico o
RNA, no so envelopados e tm formato arredondado. Os betanodavrus so classificados em quatro
grupos principais de acordo com a temperatura tima de crescimento das espcies afetadas (Ball et. al.,
2000;(Munday et al., 2002).
O betanodavrus considerado um dos principais problemas envolvidos em cultivo de ovas e
larvicultura marinha devido sua alta virulncia e taxas de mortalidade (Sano, et al. 2011). As taxas de
mortalidade so consideradas variantes de acordo com o perodo em que a doena infecta os peixes e,
normalmente, a morbidade maior em idades mais jovens (Munday et. al., 2002). No peixe encharu
(Pseudocaranx dentex), a susceptibilidade doena ocorre at os 20 primeiros dias ps-incubao dos
peixes, resultando em uma quase completa morte das larvas (Mori et. al., 1992). Na China e em Singapura, a
mortalidade de alevinos variou de 80 a 100% ( Zhang 2001).
As linhagens do vrus da encefalopatia e retinopatia viral esto associadas com ao menos 19
espcies, representando 10 famlias de espcies marinhas e estuarinas incluindo-se o encharu
(Pseudocaranx dentex), alabote do Atlntico (Hippoglossus hippoglossus), o robalo europeu (Dicentrachus
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labrax) e a perca-gigante (Lates calcarifer) (OIE, 2003). No entanto, a taxonomia dos nodavrus de peixes
complexa e confusa, com um crescente nmero de espcies afetadas.
Poucos so os relatos de nodavrus em peixes de gua doce (Munday et al., 2002; Athanassopoulou
et al., 2003). Nodavrus foram isolados de tilpias das espcies Orecochromis mossambicus e Orecohromis
niloticus (Skliris et al., 1999) Lio-Po & Penaranda, 2004). Uma notificao recente foi feita por Bigarre e
colaboradores (2009), que identificaram uma linhagem diferente dos betanodavrus j isolados infectando a
tilpia do Nilo, O. niloticus.
A maioria dos peixes atingida em estgios larvais e juvenis, com leses mais graves, enquanto os
peixes adultos possuem leses menos extensas, que parecem afetar principalmente a retina (Ball et. al.,
2000).
Essa enfermidade se caracteriza por anormalidades neurolgicas, tais como natao errtica,
vacuolizao dos tecidos nervosos centrais, e vacuolizao de capas nucleares da retina. So descritas
necrose neuronal em incluses citoplasmticas em neurnios em todas as espcies suscetveis aos
betanodavirus, sendo que este nmero de espcies ainda no bem conhecido. Infeces experimentais
foram reportadas, sugerindo a possibilidade de novos hospedeiros. Alm disso, os dados epidemiolgicos e
de testes moleculares indicam que mais de um tipo de vrus so causadores da encefalopatia e retinopatia
viral (Mori et. al., 1992; Munday et. al., 2002).
O betanodovrus foi detectado em todos os continentes, com exceo da Amrica do Sul (Sano, et
al. 2011). Este patgeno encontrado principalmente nas regies de intenso cultivo de espcies marinhas, e
de alguns peixes de gua doce. A aparente disseminao desse vrus nas espcies de diferentes regies
sugere uma relao direta com a comercializao mundial dos estoques juvenis de peixes infectados com
cepas exticas do betanodavrus (Munday et. al., 2002).
Este vrus altamente resistente a vrias condies ambientais e pode sobreviver por longo perodo
em gua do mar. Alguns desinfetantes so teis na inativao do vrus, tais como hipoclorito de sdio,
cloreto de benzalcnio, iodo, cido perxido e oznio (Arimoto et. al., 1996; Frerichs et. al., 2000; OIE,
2003).
Em cultivos de alevinos no sul asitico, espcies de peixes de importncia apresentaram sinais
clnicos como natao anormal e altas taxas de mortalidade. Essa doena foi descrita como encefalopatia e
retinopatia viral e foi reportada na Austrlia, Indonsia e Singapura (Maeno et. al., 2004).
At o ano de 2007, registros oficiais dessa doena foram reportados pela Rede de centros de
aquicultura nos pases sia-Pacfico (NACA) em Singapura apenas (OIE,2010b).
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Esta doena infecta facilmente peixes saudveis devido s condies de cultivo, tais como a alta
densidade populacional, a temperatura da gua e a virulncia do nodavrus ao qual a espcie exposta.
Dessa forma, pode ocorrer a transmisso horizontal desta doena via gua na criao dos peixes, e tambm
via utenslios, durante o transporte e armazenamento de estoques juvenis, por exemplo. Evidncias de
transmisso vertical dessa infeco tambm foram reportadas em peixes como o encharu (Pseudocaranx
dentex) e o robalo (Dicentrachus labrax), tais como a ocorrncia prematura da doena (Munday et. al., 2002;
Bigarre et. al., 2009).
O diagnstico presunti