III Congresso de Humanas – III HUNICONCiências Humanas: percursos e expectativas
Joaquim NabucoA ação do jornalismo no combate à escravidão1
Higor Assis de JesusGraduando em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo. Mantêm o Blog Entre Atos 2 e colabora para o sítio Overmundo.
Resumo
Joaquim Nabuco foi membro da aristocracia brasileira e, lutou contra essa mesma aristocracia. Grande líder político de sua época ele ousou para defender o fim da escravidão no Brasil, usando de vários meios. No entanto, este líder abolicionista, precisava ampliar sua campanha para libertação dos cativos de alguma forma e, foi na imprensa que ele encontrou o eco de sua pregação. Nabuco usou do jornalismo como ferramenta para sua propaganda, noticiando e confrontando a todos que fossem contrários à libertação dos escravos. O presente artigo - em parte resumida -, irá percorrer os fatos que concluem em Joaquim Nabuco um ativo desbravador desta distinta causa.
Palavras-chave: Joaquim Nabuco, escravidão, imprensa abolicionista, jornalismo, movimento abolicionista, política.
1 Trabalho de Conclusão de Curso – Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, que será apresentado à banca de qualificação da Universidade Cruzeiro do Sul / Campus Anália Franco, no ano de 2008, sob a orientação do Prof. Ms. Carlos Monteiro.
2 Blog sobre cultura, poesia e literatura. Disponível em: <www.entre-atos.blospot.com>. Último acesso 7 de out. 2008.
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"É um incêndio prodígioso. De todos os lados as chamas d'esse fogo sagrado se
avolumam, fazendo cair, aos pedaços, as peças do negro edifício da
escravidão". 3
Quem foi Joaquim Nabuco ?
Nascido no berço da aristocracia brasileira, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de
Araújo (1849-1910) foi um dos políticos mais importantes do seu tempo. Nabuco viveu até
metade dos seus oito anos de vida, no Engenho Massangano, localizado na cidade de Cabo
do Santo Agostinho, local este que marcaria sua vida. 4
Estudou na Faculdade de Direito de São Paulo, tendo finalizado o curso na
Faculdade de Recife, ambas sendo as mais conceituadas de sua época. Por uma
consciência moral e a necessidade de um maior aprendizado, procurou ampliar seus estudos
e pensamentos. Morou na Europa reduto de intelectuais. Em suas passagens por Londres,
cativou relações com lideres políticos, intelectuais e pessoas ligadas à cultural local. Quando
volta ao Brasil - com idéias e ideais à frente do cotidiano nacional -, Nabuco seria uma
referência na política brasileira, sendo marcado como Um radical do Império, pela sua
ousadia e pela oralidade que seria sua marca na propaganda política.
Trabalhou no escritório de advocacia do pai, mas não manteve maior interesse. Além
de advogado, Nabuco foi Historiador, diplomata, reformador social, jornalista, literato e,
sobretudo um pensador. Nabuco encontrou na política o eco de sua pregação. Nesta época
ele começou a direcionar seu pensamento emancipador com um ideal monarquista,
posicionamento este, que perduraria por toda sua vida. 5
3 IN EDITORIAL, O Libertador,16 de abril de 1883. Maiores subsídios consultar: CAMPOS, Eduardo, Imprensa Abolicionista, Igreja, Escravos e Senhores: estudos. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto / Banco do Nordeste do Brasil, 1984.
4 Nabuco descreve melhor sobre este assunto em sua autobiografia. Maiores subsídios consultar: NABUCO, Joaquim, Minha Formação. Porto Alegre: Paraula, 1995. Obra disponível em domínio público.
5 Durante sua vida Nabuco defendeu o regime monárquico e acreditava que este seria o melhor para o país. Maiores subsídios consultar: Porque continuo a ser monarchista: carta ao Diário do Commercio. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jn000051.pdf> Acesso em: 8 de out. 2008.
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A grande questão que tomou o coração de Joaquim Nabuco foi à abolição da
escravidão. Ele acreditava que para o país sair da condição que se encontrava era preciso
abolir o regime servil e para isso o grande líder político ousou de várias formas.
No parlamento lutou entre os diversos líderes da oligarquia brasileira contra os
interesses dos grandes latifundiários, na Europa fez contatos com diversas sociedades
abolicionistas e cativaria, assim, determinado prestígio e reconhecimento.
Nabuco não defendia só à abolição da escravidão, mas também à liberdade
intelectual para a sociedade e todas as reformas que o Brasil necessitava. Ele pensava em
um país com maior igualdade de oportunidades. Tinha em sua agenda como reformador
social o desenvolvimento pós-escravidão, projetando a reforma agrária e trabalhando por
meio de discursos e escritos as pautas de interesse público. Porém, ele precisava de mais
ferramentas para ampliar a campanha abolicionista e usou da imprensa como meio de
ampliar essa propaganda, que marcaria a história das lutas sociais no Brasil.
A ação do jornalismo
Apenas o Movimento Abolicionista faria Nabuco vibrar na paixão que cria o grande
jornalista. Seus primeiros textos são no Jornal A Reforma (principal órgão do partido liberal),
porém sua ação para o uso da imprensa como propaganda política tem início com a
fundação do jornal O Abolicionista - Órgão da Sociedade Brasileira Contra Escravidão. O
jornal fundado por ele e André Rebouças teve efêmera duração e circularia mensalmente
durante um ano. Evidente ação das intenções de Nabuco, já no primeiro editorial ele e
Rebouças, associariam a escravidão e a situação fundiária do país:
(...) o trabalho escravo é a causa única do atraso industrial e econômico do país. O
nosso território está coberto de latifúndios, onde da casa senhorial saem as ordens
para o governo das centenas de animais humanos que enriquecem o proprietário. Ali,
nem religião, nem instrução, nem moralidade, nem família!. 6
Joaquim Nabuco, na imprensa, teve aspectos bem característicos; um literário,
doutrinário, estético, outro combativo, orientador, patriótico. É interessante salientar que para
ele a preocupação doutrinária, a sistematização dos princípios, o empenho de convencer
6 ALONSO, Angela, Joaquim Nabuco: os salões e as ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.126, p.155.
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pela idéia, pela razão, pelo pensamento, no jornalista preciso, objetivo, sintético,
concludente, não ficou condicionado de um modo geral, pois ele precisava de mais espaço
para compor sua doutrina e procurava ampliar estes pensamentos pegando como eixo o
espaço na imprensa.
O jornalismo praticado por Nabuco é todo de caráter político. Ele ataca diretamente
aos opositores de libertação promulgando uma ação direta. Suas palavras percorreram
diversos veículos da imprensa. Nabuco colabora para o Jornal do comércio (maior periódico
brasileiro da época), sob o pseudônimo de Garrison, escreve para o La Razon (jornal de
montevidéu), no jornal O’ País, O Globo e colabora para o jornal da British and Foreign Anti-
Slavery Society, 7 como membro correspondente, fazendo contatos com outras sociedades
abolicionistas. No entanto, sua maior obra para denúncia da escravidão no Brasil, foi o livro
que escreveu durante o seu ostracismo político – O Abolicionismo. Neste momento Nabuco
atinge o auge de sua campanha abolicionista e com textos concludentes alcançaria seu
objetivo, usando da imprensa para ampliar seus objetivos.
A atualidade de Joaquim Nabuco
O sonho de um jornalismo livre, onde nenhum veículo da imprensa tivesse vínculo
com qualquer partido político ou liderança política. Um país com maior igualdade de
oportunidades, com o andamento das reformas - políticas e estruturais -, estes eram o
pensamentos de Nabuco há mais de cem anos.
As pautas de interesse público que governantes prometem e que há tempos Nabuco
presenciava e diagnosticava, ainda não foram realizadas. Toda essa atualidade é nítida em
uma de suas conferências no Teatro Santa Isabel:
“(...) há de procurar - ou por meio do capital acumulado ou por outro qualquer meio
de domínio – escravizar os homens livres, e que teremos que assistir a esforços para
criar uma escravidão talvez pior que a verdadeira escravidão: a da pobreza, a da
miséria, a da falta de trabalho, a da fome!”. 8
7 Anti-Slavery Society, Associação Inglesa que combatia à escravidão. Maiores subsídios consultar: ______. Joaquim Nabuco: os salões e as ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.126, p.155.
8 NABUCO, Joaquim, Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884. Brasil: Edições do Senado Federal. Vol. 59. 2005. p. 52.
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Nabuco, portanto, se torna um ícone dos tempos atuais pelo motivo dos seus
pensamentos ainda vigorarem entre as grandes causas do nosso cotidiano. E esperamos
que suas idéias e ideais possam em um breve dia findar em uma nova realidade da qual
durante muitos anos grandes pensadores lutaram para um bem maior de toda sociedade.