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Temas da Aula
Abordagem ao doente
Sistema visual
Bases da semiologia em oftalmologia
Bibliografia
Anotadas correspondentes do ano lectivo 2006/2007.
Lang G, Ophthalmology a pocket textbook atlas, 2ª edição (2007), Thieme.
Bradford CA, BASIC OPHTHALMOLOGY for Medical Students and Primary
Care Residents, 8ª edição (2004), American Academy of Ophthalmology.
Seidel et al, Mosby’s Guide to Physical Examination, 6ª edição (2006),
Elsevier.
Miller Guerra, Semiologia do Sistema Nervoso.
Anotadas do 4º Ano – 2007/08 Data: 11 de Outubro de 2007
Disciplina: Oftalmologia Prof.: António Castanheira Dinis
Tema da Aula Teórica: Semiologia em Oftalmologia
Autores: Alexandra Faustino
Equipa Revisora: Carlos Vila Nova e Pedro Freitas
Semiologia em Oftalmologia
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Abordagem ao Doente
Durante a entrevista clínica deve-se ter em conta:
História clínica (há algumas doenças sistémicas que podem afectar o olho,
tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças infecciosas, artrite
reumatóide, doenças da pele, cirurgias);
História familiar (de modo a avaliar os factores de risco do doente para
doenças oftalmológicas como a cegueira, cataratas, glaucoma, tumor ocular,
descolamento da retina, estrabismo, degenerescência macular);
História oftalmológica (lentes de correcção; estrabismo; ambliopia1; história
de trauma ocular; inflamações oculares; cirurgias);
História da doença actual (a atitude do médico deverá ser a de direccionar a
entrevista de acordo com a hipótese de diagnóstico mais provável, de modo a
não se perder nas afirmações do doente ou dos pais).
O médico está obviamente condicionado ao que o doente sabe dizer:
Sofro dos olhos! Sinto os olhos!
Vejo mal! Deixei de ver! Vejo duas coisas!
Tenho os olhos vermelhos! Acordei com os olhos pegados!
Sofri uma pancada nos olhos! Entrou-me qualquer coisa para os olhos!
Vejo mal! Óculos, lentes de contacto ou cirurgia refractiva?
Quando devo ser operado?
No caso das crianças, estamos condicionados ao que os pais sabem dizer:
Esfrega muito os olhos!
Parece que não vê bem!
Vê TV muito perto!
Para ler, coloca a cabeça em cima dos livros!
Tem sempre os olhos vermelhos!
Será que vê bem?
1 Ambliopia – diminuição mais ou menos acentuada da acuidade visual, mono ou binocular, sem
causa orgânica detectável e em que a estrutura do olho se encontra normal.
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Como exemplo, quando o doente diz: “Deixei de ver!”, o oftalmologista deve
imediatamente caracterizar o problema:
Do olho direito, esquerdo ou de ambos?
Deixou de ver ao perto ou para longe?
Foi subitamente? Hoje? Há quantas horas?
Foi recentemente? Há quantos dias?
Foi progressivamente? Desde há quantos meses?
Com dor? Com ardor?
Foi persistente, transitória ou fugaz?
Com o olho vermelho (hiperémia conjuntival – “red eye”)?
Ponto cinzento ou negro? Mancha cinzenta ou negra?
Padrões diferentes de perda de visão (negro zona de perda de visão):
Ex.: Patologia da mácula Ex.: Glaucoma (mácula intacta)
Há dados referentes à História Clínica que podem, imediatamente, ser
indicadores de gravidade, como, por exemplo, a dor. Uma dor nos olhos tem
fundamentalmente origem vascular, mas também pode ser devida a glaucoma,
patologia traumática da córnea ou doença neuroftalmológica.
Doenças como a diabetes, a DMI (degenerescência macular relacionada com a
idade) e o glaucoma são consideradas graves e obrigam a uma intervenção rápida e
seguimento cuidadoso do doente.
Existem outras doenças graves, como as cataratas e o olho seco senil, nas
quais há uma melhoria significativa após o tratamento.
Por outro lado, existem doenças sem sinais ou sintomas associados, como o
glaucoma crónico simples, que podem constituir um perigoso desafio à actuação do
médico.
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OFTALMOLOGIA NA CRIANÇA
No que diz respeito à criança, é fundamental compreender que as informações
que se podem obter são variáveis de acordo com a sua capacidade de expressão,
consoante seja recém-nascido ou esteja em idade pré-verbal, pré-escolar ou
escolar. Assim, os exames oftalmológicos disponíveis vão estando adaptados às
diferentes idades da criança. Do mesmo modo, a atitude do médico e o peso das
observações dos pais terão de sofrer modificações consoante cada caso.
Desenvolvimento da função visual normal na criança
Até às 6 semanas – fixa
Aos 2 meses – fixa e segue
Aos 4 meses – fixa, segue e tenta alcançar
Aos 6 meses – fixa, segue e brinca
Com 1 ano – aponta
Existem patologias oftalmológicas na criança especialmente preocupantes,
como a Leucocória (“pupila branca”, que pode ocorrer devido à existência de um
tumor ou de uma situação infecciosa, podendo também ser de origem
embrionária,…), a Catarata, o Glaucoma e o Estrabismo (é fundamental a
actuação no sentido de corrigir o olho desviado antes que o cérebro compense as
informações dispares, cegando propositadamente o olho doente).
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Sistema Visual
GLOBO OCULAR
A parede do globo ocular encontra-se dividida em três túnicas:
Túnica fibrosa (externa) – constituída pela esclerótica (posterior) e pela
córnea (anterior);
Túnica músculo-vascular (média) – inclui a coroideia (posterior), corpo
ciliar e íris (anterior);
Túnica nervosa (interna) – corresponde à retina.
O seu conteúdo inclui o cristalino, o humor aquoso e o humor vítreo.
Pode-se ainda organizar o globo ocular de uma forma funcional, tendo em
conta a presença de meios transparentes (os quais a luz tem que atravessar e, caso
não sejam transparentes, impossibilitam a visão – córnea, cristalino e vítreo) e da
retina (capaz de transformar energia física luminosa em impulsos nervosos,
posteriormente enviados para os centros cerebrais).
As estruturas…
Fig. 1 – Estruturas do Globo Ocular
Mácula
Nervo
Óptico
Corpo ciliar
Córnea
Câmara Anterior
Pupila Íris
Cristalino
Câmara Posterior
Esclerótica
Coroideia
Retina
Corpo vítreo
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Pálpebras – Estruturas externas que protegem o globo ocular de corpos
estranhos, limitam a quantidade de luz que entra e lubrificam a superfície ocular
através da distribuição da lágrima.
Conjuntiva – Membrana mucosa fina e vascular que recobre e protege a
superfície anterior do olho, excepto na córnea, e a superfície de contacto da
pálpebra com o olho.
Esclerótica – Camada externa protectora do globo ocular, espessa e avascular,
normalmente branca e opaca.
Limbus – Junção da córnea com a esclerótica.
Córnea – Meio transparente anterior do olho, responsável pela maior parte do
poder refractivo. Avascular e com grande inervação sensitiva.
Coroideia – Camada de tecido pigmentado e altamente vascularizado que se
encontra entre a esclerótica e a retina. Responsável pelo fornecimento de
oxigénio às camadas externas da retina.
Corpo Ciliar – Estrutura que produz o humor aquoso e contém os músculos que
controlam a acomodação. A contracção do músculo ciliar altera a tensão nas
fibras da zonula que supendem o cristalino (cristalino fica mais esférico),
permitindo ao olho focar de objectos distantes para próximos (acomodação).
Íris – Parte colorida do olho. Filtra a luz, principalmente através do seu epitélio
pigmentado. O orifício central da íris é a pupila, através da qual passam os feixes
luminosos. A íris tem fibras musculares lisas que constituem o músculo constritor
da pupila (circular e anterior) e o músculo dilatador da pupila (posterior),
responsáveis pelo controlo da quantidade de luz que entra através da pupila em
direcção à retina.
Retina – Tecido nervoso, posterior ao corpo vítreo; capaz de transformar energia
luminosa em impulsos eléctricos, que são transmitidos ao córtex cerebral através
do nervo óptico e restantes elementos da via óptica. A acuidade visual é
alcançada, focando a imagem na retina através da córnea e do cristalino. A área
da retina no pólo posterior do olho – mácula – é responsável pela visão
central/discriminativa e o centro da mácula consiste numa depressão central –
fóvea.
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Fig. 2 – Alteração ao nível do
cristalino e do corpo ciliar durante a
acomodação (a tracejado)
Cristalino – Estrutura transparente, biconvexa,
que se encontra suspensa pelas fibras da zonula,
atrás da pupila e da íris. É elástico e altera a sua
consistência através da contracção/relaxamento
do corpo ciliar, permitindo que as imagens a
diferentes distâncias sejam focadas na retina.
Câmara Anterior – Espaço entre a córnea e a íris; contém um fluído aquoso, o
humor aquoso, produzido pelo corpo ciliar.
Câmara Posterior – Pequeno espaço entre a íris e o cristalino, também
preenchido por humor aquoso.
Corpo Vítreo – Espaço relativamente grande, localizado entre o cristalino e a
retina. Encontra-se preenchido por um material viscoso transparente, o humor
vítreo.
Localização de patologias
Podemos localizar uma determinada patologia utilizando os conceitos intra- e
extra-ocular (consoante esteja dentro ou fora do globo ocular, respectivamente) e
considerando a divisão do globo ocular em segmento anterior e segmento posterior.
O segmento anterior consiste na porção vísivel do globo ocular, anterior ao
cristalino, que inclui a córnea, a câmara anterior, a íris e o cristalino. O segmento
posterior, porção localizada dentro da órbita, posteriormente ao cristalino, é
constituído, de um modo geral, pelo humor vítreo, a retina e o nervo óptico.
Assim, podemos dizer que um doente tem uma patologia intra-ocular do
segmento posterior do globo ocular direito, por exemplo.
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VIA ÓPTICA
No sistema visual, a informação percorre a chamada via óptica, constítuida por:
Retina – capta a informação sob forma de
energia luminosa e transforma-a em impulso
eléctrico;
Nervo óptico;
Quiasma óptico – onde as fibras provenientes
da porção nasal da retina se cruzam;
Fitas ópticas – constituídas pelas fibras do
lado temporal da retina homónima e fibras do
lado nasal da retina heterónima;
Corpo geniculado externo;
Radiações ópticas de Gratiolet – cujas fibras
passam pela parte retrolenticular da cápsula
interna;
Córtex cerebral visual (lobo occipital) –
representado pelas áreas de Brodmann 17
(área visual primária), 18 e 19 (área visual de
associação, responsável pelo reconhecimento
dos objectos e pela percepção das cores).
Lesões na via óptica
Nervo óptico – cegueira (1)
Quiasma óptico – hemianopsia bitemporal (2)
– hemianopsia nasal (3) (a hemianopsia binasal é muito rara)
Fita óptica – hemianopsia homónima contralateral ou cruzada (4)
Radiações ópticas – as suas fibras são largamente distríbuidas pelo que,
geralmente, não são todas afectadas e a lesão origina alterações parciais do
campo visual, como quadrantopsias
Fig. 3 – Via óptica
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Fig. 4 – Aparelho lacrimal
ANEXOS DO GLOBO OCULAR
Existem outras estruturas que também fazem parte do sistema visual, para
além das referidas em relação ao globo ocular e via óptica:
Anexos do globo ocular:
Aparelho Lacrimal – as lágrimas são produzidas na glândula lacrimal
(localizada na porção supero-externa da
órbita), percorrem e lubrificam a córnea e a
conjuntiva e seguem para os canalículos
lacrimais (superior e inferior), saco lacrimal
e canal lacrimo-nasal , que termina no
meato nasal inferior . Este trajecto justifica o
facto de, durante o choro, ocorrer corrimento
nasal2;
Pálpebras;
Cílios.
Músculos Oculomotores – rectos inferior,
superior, interno e externo; grande (superior) e
pequeno (inferior) oblíquos3.
Músculos Pupilares – dilatador e constritor da
pupila.
Vasos.
2 Assim, tal como as lágrimas, todo o colírio que for administrado e instilado no fundo de saco
conjuntival vai acabar por chegar à mucosa nasal, a qual apresenta um componente vascula, com um grande poder de absorção, podendo repercurtir-se em fenómenos sistémicos.
3 Os músculos rectos têm a sua inserção no globo ocular anteriormente ao equador, enquanto os
músculos oblíquos se inserem na porção temporal do globo, posteriormente ao equador. Esta inserção vai determinar os movimentos pelos quais são responsáveis.
Fig. 5 – Movimento dos
músculos oculomotores
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Nervos – as estruturas nervosas relacionadas com o sistema visual são:
Nervo Óptico (II) – estrutura sensorial;
Nervo Trigémio (V) – recebe estímulos sensitivos;
Nervos que controlam os movimentos do olho (oculomotores) e da
pálpebra:
Nervo Motor Ocular Comum (III)
– Inervação motora Rectos inferior, superior e interno; Pequeno
oblíquo; Elevador da pálpebra superior,
– Inervação Parassimpática Constritor da pupila e Músculo ciliar;
Nervo Patético (IV) – Grande oblíquo;
Nervo Motor Ocular Externo (VI) – Recto externo;
Nervo Facial (VII) – Orbicular das pálpebras;
Sistema Nervoso Simpático4 –inerva o músculo dilatador da pupila,
provocando midríase, através de fibras transportadas pelo ramo oftálmico
do Trigémio;
Sistema Nervoso Parassimpático – inerva o músculo constritor da pupila
e o músculo ciliar, através do nervo Motor ocular comum, o que resulta na
miose e na acomodação, respectivamente.
4 Se o simpático for estimulado, por exemplo, ao nível do vértice do pulmão devido a um tumor de
Pancoast, que faz parte do trajecto da cadeia ganglionar simpática, pode exercer influência nos olhos, provocando midríase, pela estimulação do dilatador da pupila.
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Bases da Semiologia em Oftalmologia
Na semiologia oftalmológica, é necessário:
Interpretar os sintomas transmitidos pelo doente,
Avaliar a função,
Avaliar a morfologia do sistema visual,
Interpretar os testes psicofísicos (testes em que são apresentados
estímulos físicos, seguindo-se a interpretação dos mesmos),
Reconhecer as ametropias5, ou seja, as anomalias ou erros de refracção.
O Exame Semiológico em Oftalmologia deve consistir fundamentalmente na
pesquisa ou análise dos seguintes parâmetros:
Acuidade visual – campo visual,
Reflexos pupilares – motilidade ocular,
Segmento anterior – anexos,
Fundo ocular,
Tonometria.
5 Emetropia significa que não existe nenhum erro de refracção, é normal. As ametropias são erros de
refracção que incluem: miopia (elevado poder de refracção, que permite ver muito bem ao perto e
mal ao longe: os raios são focalizados à frente da retina); hipermetropia (o contrário da miopia);
astigmatismo (anomalias na curvatura da córnea e do cristalino); presbiopia (endurecimento
progressivo do cristalino, com perda da capacidade de acomodação; surge a partir dos 40 anos).
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ACUIDADE VISUAL
A acuidade visual corresponde ao grau de percepção dos detalhes e contornos
dos objectos, estando relacionada com a precisão da visão, ou seja, com a visão
discriminativa.
A avaliação é realizada através de uma tabela de optotipos de Snellen. O
exame é iniciado pelo olho direito e depois repetido para o olho esquerdo. Caso o
doente use óculos/lentes, testa-se primeiro sem a correcção. O doente é colocado a
uma determinada distância da tabela, pede-se que leia a menor linha que conseguir
distinguir e regista-se a medida de acuidade obtida, em que o numerador
corresponde à distância obtida e o denominador corresponde à distância padrão.
Uma visão 10/10 é normal.
Na ausência da escala de Snellen, é possível avaliar a acuidade visual com
outras manobras, como a contagem de dedos, movimentos da mão ou percepção
da luz. O observador coloca-se a uns metros de distância do doente, que deve estar
com um dos olhos tapados, e pede-lhe que conte os dedos que lhe mostra. Vai-se
aproximando até o doente responder que vê e regista-se a distância. Repete-se para
o outro olho. Se a percepção da luz estiver abolida, o olho diz-se amaurótico.
Lentes positivas (convexas) são usadas para visão ao longe (hipermetropia),
lentes negativas (côncavas) para visão ao perto e lentes cilíndricas para
astigmatismo.
CAMPO VISUAL
O campo visual está relacionado com a visão periférica, ou seja, a porção do
mundo externo vísivel para cada olho, em determinado instante.
A forma mais precisa de avaliar os campos visuais é através da utilização de
campímetro. No entanto, pode ser realizada de uma forma simples através da
confrontação, durante a qual o observador senta-se em frente do doente e fecha o
olho esquerdo, ao mesmo tempo que este tapa o olho direito com a mão. O doente
fixa o seu olho no do observador. Este desloca o dedo indicador da sua mão direita
(ou um objecto) da periferia para o centro visual e pede ao doente para que avise
assim que veja o dedo. Repete-se o processo para o lado contralateral. Um doente
com o campo visual normal vê o dedo ao mesmo tempo que o observador.
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Fig. 6 – Prova de Confrontação
As principais alterações do campo visual são:
hemianopsias (perda de visão em metade do campo visual);
quadrantopsias (perda de visão de um quadrante do campo visual);
escotomas (perda de visão de uma área pequena no campo visual);
aperto (diminuição da extensão periférica).
REFLEXOS PUPILARES
Os reflexos pupilares dependem dos músculos intrínsecos do globo ocular
(dilatador e constritor da pupila, inervados pelo Sistema Nervoso Autónomo).
Nos reflexos pupilares, o impulso aferente é transportado pelo nervo óptico e
restante via óptica; da fita óptica partem fibras para o núcleo pré-tectal, seguindo
para o núcleo parassimpático do MOC, de ambos os lados, nervo que transporta o
impulso eferente para os músculos.
Para testar o reflexo fotomotor directo, preferencialmente em local com
iluminação diminuída, incidir um foco de luz no olho direito do doente e verificar se a
pupila contrai (miose). Para testar o reflexo fotomotor consensual, fazer incidir
novamente o foco de luz no olho direito e verificar se ocorre miose no esquerdo.
Repetir o processo, fazendo incidir o foco no olho esquerdo. A luz deve ser
projectada um pouco de lado e não de frente, para evitar o reflexo de acomodação.
Para testar o reflexo de acomodação pede-se ao doente que olhe para um
ponto distante e, de seguida, que fixe o dedo do observador que deve estar a 30 cm
dos olhos do doente. Quando um indivíduo converge os olhos para examinar um
objecto próximo, simultaneamente, a pupila contrai.
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MOTILIDADE OCULAR
A motilidade ocular depende dos músculos oculomotores, que permitem que
ambos os olhos estejam sempre direccionados para o objecto da nossa atenção.
Para testar as nove posições do olhar, deve pedir-se ao doente para perseguir
com os olhos o movimento de um objecto. Deve ser feito para um olho de cada vez.
O estrabismo é uma condição em que os dois olhos não focam
simultaneamente o mesmo objecto. Significa que existe uma falta de função dos
olhos numa ou mais coordenadas visuais (horizontal, vertical ou rotacional),
provocando estrabismo horizontal, vertical ou de torção.
Para verificar a existência de estrabismo,
utiliza-se o método de Hirschberg, que consiste
em fazer incidir um feixe de luz sobre a córnea
e verificar a posição do ponto de luz provocado
pelo reflexo da luz na mesma. Normalmente, o
ponto de luz encontra-se centrado no orificio
pupilar em ambos os olhos. Numa situação de
estrabismo convergente, o ponto de luz está
para fora do orifício pupilar. Em caso de
estrabismo divergente, o ponto de luz encontra-
se para dentro do orifício pupilar.
Recto superior direito e
Pequeno oblíquo esquerdo
Recto externo direito e Recto
interno esquerdo
Recto inferior direito e
Grande oblíquo esquerdo
Recto superior esquerdo e
Pequeno oblíquo direito
Recto externo esquerdo e
Recto interno direito
Recto inferior esquerdo e
Grande oblíquo direito
Fig. 7 – As nove posições do olhar
Rectos superiores
esquerdo e direito
Rectos inferiores
esquerdo e direito
Fig. 8 – Método de Hirschberg
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ANEXOS
É também importante avaliar as pálpebras, cílios e vias lacrimais, ou seja,
estruturas que protegem a retina:
Inspecção das pálpebras, tecidos circundantes e fissura palpebral (sinais
inflamatórios, massas, edema, malformações congénitas, alterações da
pilosidade, eczema, xantelasmas, fasciculações ou tremores nas pálpebras,
hordéolo6, entropium, ectropium, lagoftalmo, ptose palpebral,…);
Inspecção da região da glândula lacrimal (aumento do tamanho, produção
inadequada de lágrimas, epífora)
Palpação do rebordo orbitário e das pálpebras, dependendo da história clínica e
dos sintomas;
Patência do canal lacrimo-nasal
É testada através da instilação de solução de fluoresceína 10% no saco
conjuntival. Passados dois minutos, se o corante estiver presente no muco nasal, o
canal lacrimal encontra-se aberto.
Devido ao risco de infecção, deve ser realizado pelo oftalmologista.
6 Hordéolo é o mesmo que torçolho na linguagem popular.
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SEGMENTO ANTERIOR
A avaliação do segmento anterior consiste em:
Inspecção da conjuntiva e da esclerótica (hiperémia, hemorragia subconjuntival,
exsudados, corpos estranhos, pterigion, alterações da pigmentação da
esclerótica, presença de eritema e placas hialinas na esclerótica,…);
Inspecção da córnea, da íris e da pupila (transparência da córnea, arco senil7,
presença de corpos estranhos, irregularidade da forma da íris, alterações do
contorno e forma das pupilas, anisocória,…);
Avaliação da profundidade da câmara anterior.
Eversão palpebral
É importante saber que a conjuntiva deve ser avaliada em toda a sua extensão:
a conjuntiva bulbar (facilmente visível, visto que recobre o globo ocular), a conjuntiva
palpebral inferior (de fácil acesso: com o doente a olhar para cima, o observador
puxa a pálpebra para baixo) e conjuntiva palpebral superior (visível através da
eversão palpebral). A eversão palpebral pode ser necessária para verificar a
existência de corpos estranhos na conjuntiva ou outros sinais. O doente deve olhar
para baixo e o observador prende firmemente as pestanas da pálpebra superior
entre o 1º e o 2º dedo e auxilia a eversão da pálpebra com uma zaragatoa. Depois
da inspecção e limpeza da conjuntiva, a pálpebra deve voltar à sua posição normal,
pelo que se pede ao doente para olhar para cima.
Fig. 9 – Eversão Palpebral
7 O arco senil é composto por um depósito de lípidos na periferia da córnea.
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Fig. 10 – Avaliação da profundidade da câmara anterior
Reflexo córneo
É também importante avaliar a sensibilidade da córnea, utilizando um pedaço
de algodão afilado como excitante (não tocar nas pestanas nem nas pálpebras), o
que resulta na contracção brusca do orbicular das pálpebras, com resposta bilateral.
O arco aferente do reflexo é o trigémio e o eferente é o facial.
Avaliação da profundidade da câmara anterior
Para a avaliação da
profundidade da câmara
anterior, o doente deve
olhar em frente, e o médico
faz incidir um feixe luminoso
lateral no olho do doente; o
feixe vai atravessar a
câmara anterior e iluminar
difusamente a íris.
Quando a câmara anterior está estreitada, a íris torna-se convexa ao ser
empurrada contra o cristalino. Logo, quando a luz incide de lado, há uma zona
iluminada e, uma zona na sombra (íris nasal, que se encontra oposta à fonte de luz).
À medida que aumenta a profundidade da câmara anterior, diminui a zona de
sombra.
A dilatação pupilar deve ser evitada em pacientes com a câmara anterior
estreitada devido ao risco de poder precipitar glaucoma de ângulo estreito.
Uma infiltração purulenta na câmara anterior designa-se por hipópio; uma
hemorragia é designada por hifema.
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FUNDO OCULAR
O fundo ocular é observável através
do fundoscópio. Observa-se o doente em
posição sentada, numa sala com pouca
iluminação (para a pupila estar dilatada) e
o observador deve utilizar a mão esquerda
e o olho esquerdo para observar o fundo
ocular esquerdo do doente (e o oposto
para o olho direito).
Através da fundoscopia, é possível
avaliar a transparência da córnea, pela
presença do reflexo vermelho.
Os elementos mais importantes a observar no fundo ocular são:
Disco óptico – arredondado, de margens bem-definidas, amarelo-rosado,
com uma depressão central de onde emergem os vasos;
Vasos sanguíneos – emergem do disco óptico, dividem-se primeiro em arcadas
superior e inferior e depois em arcadas temporais e nasais,
as artérias são mais estreitas, mais brilhantes e de cor mais viva que as
veias,
as veias podem ser pulsáteis no disco óptico,
ausência de cruzamentos arterio-venosos;
Mácula – mancha avermelhada localizada temporalmente em relação ao disco
óptico, com uma depressão central mais escura,
avascular (irrigada pelos vasos coroideus);
Retina – coloração avermelhada,
ausência de hemorragias, microaneurismas, exsudados,...
Fig. 11 – Fundo Ocular. Estrutura da retina do
olho esquerdo
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TONOMETRIA
A tonometria é realizada para medir a pressão intra-ocular, que, quando
elevada, se associa a glaucoma.
A pressão intra-ocular pode ser medida de várias formas:
Palpação – Comparativa entre os dois globos oculares; o globo ocular deve ser
depressível. O globo ocular “rock-hard” só ocorre no glaucoma de ângulo estreito
agudo. Aumentos progressivos da pressão intra-ocular, como no glaucoma
crónico, não são palpáveis, não sendo um método rigoroso.
Depressão – Realizada através do tonómetro de depressão de Schiøtz, que
mede o grau que a córnea pode ser deprimida num paciente em decúbito dorsal.
Implica que se realize a anestesia do globo ocular com um colírio tópico. Os
resultados não são exactos, pelo que tem sido substituída pela aplanação.
Aplanação – A mais utilizada; com o doente sentado ou em decúbito dorsal;
necessita de anestesia.
Jacto de ar – Não existe contacto, ou seja, existe um jacto de ar que vai até à
córnea, é reflectido, é avaliado e interpretado pelo equipamento; não necessita
de anestesia.
Equipamentos portáteis.
O valor normal da pressão intra-ocular é de: 10-12 a 20-21 unidades.