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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Doutorado em Ensino em Biocincias e Sade
PERCEPO DE RISCO DE INFECES HOSPITALARES:
PRODUO E AVALIAO DE ESTRATGIAS
EDUCACIONAIS PARA O TREINAMENTO DE PROFISSIONAIS
DE SADE DE DIFERENTES CATEGORIAS DE UMA
INSTITUIO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL.
SONIA MARIA FERRAZ MEDEIROS NEVES
Rio de Janeiro
2008
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Ps-Graduao em Ensino em Biocincias e Sade
SONIA MARIA FERRAZ MEDEIROS NEVES
Percepo de risco de infeces hospitalares:
produo e avaliao de estratgias educacionais para o
treinamento de profissionais de sade de diferentes categorias de uma
instituio do Rio de Janeiro, Brasil.
Tese apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como
parte dos requisitos para obteno do ttulo Doutor
em Ensino em Biocincias e Sade
Orientador (es): Prof. Dr. Brani Rozemberg
Prof. Dr. Claudia Teresa Vieira de Souza
RIO DE JANEIRO
2008
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Ficha catalogrfica elaborada pela
Biblioteca de Cincias Biomdicas/ ICICT / FIOCRUZ - RJ
N518
Neves, Sonia Maria Ferraz Medeiros
Produo e avaliao de estratgias educacionais para o treinamento de profissionais de sade de diferentes categorias/ Sonia Maria Ferraz Medeiros Neves. Rio de Janeiro, 2008.
xv, 194 f. : il. ; 30 cm.
Tese (doutorado) Instituto Oswaldo Cruz, Ensino em Biocincias e Sade, 2008. Bibliografia: f. 176-193
1. Infeco hospitalar. 2. Lavagem de mos. 3. Estratgias educativas. I. Ttulo.
CDD 362.11
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Ps-Graduao em Ensino em Biocincias e Sade
AUTOR: SONIA MARIA FERRAZ MEDEIROS NEVES
PERCEPO DE RISCO DE INFECES HOSPITALARES:
PRODUO E AVALIAO DE ESTRATGIAS
EDUCACIONAIS PARA O TREINAMENTO DE PROFISSIONAIS
DE SADE DE DIFERENTES CATEGORIAS DE UMA
INSTITUIO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL.
Orientador (es): Prof. Dr. Brani Rozemberg
Prof. Dr. Claudia Teresa Vieira de Souza
Aprovada em: _____/_____/_____
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Nome - Presidente Simone Souza Monteiro
Prof. Dr. Nome - Keyla Belzia Feldman Marzochi
Prof. Dr. Nome - Silvana Granado Nogueira Gama
Rio de Janeiro, 29 de julho de 2008
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iii
DEDICATRIA
Deus,
que fonte de poder e coragem, que est sempre em nossos caminhos; pondo as suas
idias infinitas a nossa disposio.
Ao meu esposo Marcelo e meus filhos Marcelo e Roberto,
que sempre me apoiaram e estiveram ao meu lado, me incentivando e acreditando, me
enchendo de coragem para prosseguir a minha caminhada. O meu esposo, profissional
dedicado que muito me ensinou a enfrentar os desafios da vida e acreditar que quando
queremos, somos sempre capazes. Seu exemplo foi o meu espelho. E os meus filhos,
saibam que todo esforo realizado, para vocs a razo do nosso viver.
Muito obrigada, pela existncia de vocs.
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EPGRAFE
Ensinar saber que devo respeito autonomia,
dignidade e identidade do educando.
Paulo Freire
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v
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais,
que conseguiram oferecer-me a maior herana que se pode deixar para um filho: a
educao, e dentro desta, sempre incentivaram minha trajetria.
amiga, professora e orientadora Claudia Teresa,
por toda dedicao e amizade, por ter disparado todo o incentivo necessrio, mostrando-
me o caminho do doutorado e contribuindo de forma cuidadosa e valiosa, em vrias etapas
durante a elaborao desta tese. Obrigada por sempre ter estado ao meu lado, nos
momentos difceis.
Prof. Dr. Jlio Vianna Barbosa,
pela confiana que depositou neste trabalho e sua presidncia nesta banca de defesa.
Prof Dr. Brani Rozemberg,
pela excelente orientao.
Prof. Dr. Marcos Antnio Ferreira Costa,
pela disponibilidade e valiosas contribuies como revisor desta tese.
Prof. Dr. Isabela Cabral Flix de Sousa, Mauricio R. M. P. Luz e Simone Souza
Monteiro,
pela disponibilidade e valiosas sugestes na qualificao.
Aos professores do Mestrado, em especial s professoras: Dr Simone Souza
Monteiro e Dr Tania Cremonini de Arajo-Jorge,
pela amizade e excelente didtica apresentada em sala de aula.
Dr. Marizete Pereira da Silva,
para mim, a referncia de enfermeira, de quem sempre recebi incentivo e apoio.
Dr. Keyla Belzia Feldam Marzochi,
pelo seu apoio e incentivo em permitir conhecer uma nova linha de trabalho.
Dr. Valdila Veloso,
pelo seu apoio e por me incentivar na tomada de deciso, sem a qual esta defesa no
estaria acontecendo neste momento.
equipe da Comisso de Controle de Infeco Hospitalar,
pelo carinho com que sempre estiveram ao meu lado, compartilhando todos os momentos
e que souberam compreender as minhas ausncias e minhas mudanas freqentes de
horrio. Este agradecimento se estende Dr Marisa Zenaide, que sempre me incentivou
e compartilhou cientificamente em vrias produes.
Aos secretrios Snia Martins, Lara, Vera Lcia, Glucio, Adriana e Mrcia
Cassemiro,
pela pacincia e disponibilidade. Este agradecimento se estende, com um carinho
especial, Secretria Mnica Rodrigues, da CCIH do IPEC por toda dedicao e
amizade em todos os momentos difceis do trabalho.
Dr. Lea Camillo Coura e Dr. Regina Lana Braga Costa,
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vi
pelo auxlio e incentivo em determinados momentos da elaborao desta tese.
Aos amigos Marco Aurlio, Mrcia Franco e Valria Trajano,
pela dedicao e amizade, estando sempre ao meu lado com palavras amigas e de
conforto, procurando dar sugestes que contribussem de forma direta ou indireta para
esta tese.
Prof Gergia,
pela disponibilidade e valiosas reviso ortogrfica.
Enfim,
a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao desse
trabalho.
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vii
NDICE
Sumrio INTRODUO ............................................................................................................ 1
CAPTULO I : ETAPAS DO ESTUDO ...................................................................... 3
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 3
1.2 PROBLEMA ...................................................................................................... 6
1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................... 7
CAPTULO II: REFERENCIAL TERICO ............................................................... 7
2.1 Conhecendo melhor a Infeco Hospitalar ......................................................... 7
2.2 Medidas de Preveno e Controle das Infeces Hospitalares: ......................... 8
2.3 Riscos presentes no ambiente hospitalar: ......................................................... 13
2.4 Desafios ao ensino em Preveno e Controle das Infeces Hospitalares: ...... 19
2.5 Educao ........................................................................................................... 21
CAPTULO III : METODOLOGIA .......................................................................... 27
3.3 Populao do estudo ......................................................................................... 29
3.4 Instrumentos de coleta de dados: ...................................................................... 30
3.5 Aspectos ticos: ................................................................................................ 30
3.6 Etapas da Pesquisa: ........................................................................................... 31
3.6 Anlise de Dados: ............................................................................................. 33
CAPTULO IV: ANLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSO ......................... 35
4.1 Consideraes iniciais sobre a coleta de dados: ............................................... 35
4.2 Descrio do perfil dos respondentes do questionrio de cada categoria. ........ 35
4.3 Avaliao dos profissionais sobre os treinamentos da CCIH. .......................... 45
4.4 Justificativa da relevncia e satisfao com os treinamentos, segundo os
profissionais treinados. ........................................................................................... 47
4.5 Avaliao da ajuda das informaes obtidas, durante os treinamentos, na
prtica diria de trabalho, segundo opinio dos profissionais. ............................... 49
4.6 Opinio dos profissionais treinados sobre o esclarecimento da teoria por meio
das dinmicas. ......................................................................................................... 52
4.7 Anlise das entrevistas realizadas com os profissionais treinados. .................. 54
4.8 Fatores Impeditivos aplicao cotidiana dos conhecimentos em preveno e
controle das infeces hospitalares apontados nas entrevistas. .............................. 73
CAPTULO V: CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 92
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS ....................................................................... 99
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viii
ANEXO I .................................................................................................................. 125
ANEXO II ................................................................................................................ 167
ANEXO III ............................................................................................................... 168
ANEXO IV ............................................................................................................... 169
ANEXO V ................................................................................................................ 172
ANEXO VII .............................................................................................................. 173
ANEXO VIII ............................................................................................................ 180
ANEXO IX ............................................................................................................... 182
ANEXO X ................................................................................................................ 183
ANEXO XI ............................................................................................................... 186
ANEXO XII .............................................................................................................. 187
ANEXO XIII ............................................................................................................ 189
ANEXO XIV ............................................................................................................ 190
ANEXO XV ............................................................................................................. 191
ANEXO XVI ............................................................................................................ 192
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ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 Abordagens anteriores sobre a temtica, referidas pelos psiclogos do IPEC
que realizaram o treinamento da CCIH. 36
Tabela 4.2 Abordagens anteriores sobre a temtica, referidos pelos administrativos do
IPEC que realizaram o treinamento da CCIH. 38
Tabela 4.3 Abordagens anteriores sobre a temtica, referidos pelos residentes mdicos
do IPEC que realizaram o treinamento da CCIH. 39
Tabela 4.4 Abordagens anteriores sobre a temtica, referidos pelos
enfermeiros do IPEC que realizaram o treinamento da CCI 40
Tabela 4.5 Abordagens anteriores sobre a temtica, referidos pelos tcnicos de
enfermagem do IPEC que realizaram o treinamento da CC 41
Tabela 4.6 Abordagens anteriores sobre a temtica, referidos pelos profissionais de
limpeza do IPEC que realizaram o treinamento da CCIH. 42
Tabela 4.7 Opinio das diversas categorias profissionais do IPEC em relao ao
treinamento. 45
Tabela 4.8 - Distribuio dos riscos percebidos pelas categorias profissionais do IPEC
que participaram do estudo, conforme entrevista realizada. 55
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x
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ADM - Administrativos
AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome
ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
APECIH - Associao Paulista de Estudos em Controle de Infeco Hospitalar
AS - Assistentes Sociais
CAISM - Centro de Ateno Sade da Mulher
CDC - Centers for Disease Control and Prevention
CCIH - Comisso de Controle de Infeco Hospitalar
CCP - Center for Communication Programs
CCU - Cncer Crvico-Uterino
CECLIN - Centro de Clnicas
CIBIO - Comisso Interna de Biossegurana
CINT - Centro de Internao
CME - Central de Material e Esterilizao
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CNS-MS - Conselho Nacional de Sade/Ministrio da Sade
COFEN - Conselho Federal de Enfermagem
CTI - Centro de Tratamento Intensivo
DDI - Departamento de Doenas Infecciosas
DP - Desvio Padro
ENF - Enfermeiros
EPC - Equipamento de Proteo Coletiva
EPI - Equipamento de Proteo Individual
EUA - Estados Unidos da Amrica
FAPERJ - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.
http://www.jhuccp.org/index.stm/tblank -
xi
FENEIS - Federao Nacional de Educao e Integrao a Surdos
FIOCRUZ - Fundao Oswaldo Cruz
FIOTEC - Fundao para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico em Sade
HEPA - High Efficiency Particulate Air
HGB - Hospital Geral de Bonsucesso
HIV - Vrus da imunodeficincia humana
HPM - Hospital da Polcia Militar
IH - Infeco Hospitalar
IMIP - Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira
IPEC - Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas
LIMP - Profissionais da Limpeza
MARSA - Multiresistente Staphylococcus aureus
NIOSH - National Institute of Occupational Safety and Health
OPAS - Organizao Pan-Americana da Sade
PIBIC - Programa de Iniciao Cientfica
PSI - Psiclogos
PVP-I - Polivinilpirrolidona-iodo
RM - Residentes Mdicos
SARS - Sndrome Respiratria Aguda Grave
SED - Servio de Estatstica e Documentao
SEINFO - Servio de Informtica
SGT - Servio de Gesto do Trabalho
SIDA - Sndrome da Imunodeficincia Adquirida
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
TE - Tcnico de Enfermagem
TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo
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xii
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
WHO - World Health Organization
http://www.euro.who.int/ -
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
RESUMO
O presente estudo buscou captar a origem de uma importante lacuna entre o conhecimento
terico dos profissionais de sade sobre os riscos de infeces existentes no ambiente
hospitalar e a aplicao prtica das atividades de preveno e controle das infeces
hospitalares (IHs). Nossos objetivos foram: contribuir para o desenvolvimento de forma
participativa, de processos de ensino-aprendizagem a serem utilizados nos treinamentos
de controle de IH; identificar os principais conceitos e conhecimentos tericos sobre
preveno e controle das IHs e os motivos aos quais os profissionais atribuem a
dificuldade de sua insero na prtica de trabalho; analisar os fatores percebidos pelos
trabalhadores como impeditivos para a aplicao do conhecimento; produzir de forma
participativa, estratgias educativas sobre as questes de percepo de risco e as prticas
de preveno e controle das IHs. Trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa, que partiu
da anlise inicial de 181 questionrios respondidos pelos profissionais de sade (PS) de
diferentes categorias do Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas/Fiocruz - Rio de
Janeiro que participaram dos treinamentos da Comisso de Controle de IH.
Posteriormente, foram selecionados, aleatoriamente, 30 PS para a realizao de
entrevistas individuais. Utilizamos como prticas educacionais, durante os treinamentos,
duas dinmicas: da tinta guache e incubao de microrganismos das mos em placas de
Petri. Os resultados mostraram que a percepo de risco est intimamente ligada s
atividades dirias e ao local de lotao do profissional. Para nossos profissionais, a
questo chave residia na mudana de hbitos e comportamentos, apontada com freqncia
entre os fatores impeditivos. Destacamos a atuao do profissional, enquanto
multiplicador das prticas de preveno e controle das IHs, interessados em atuar na
mudana do grupo em que atuam e da comunidade em que vivem. A valorizao da
imagem para a aprendizagem foi apontada por todas as categorias nos questionrios e
entrevistas, como responsvel pela relao entre teoria e prtica. A visualizao da
presena de microrganismos na mo e/ou da tcnica de lavagem das mos foi citada como
contribuio para uma aprendizagem significativa. Classificamos em quatro os fatores
percebidos pelos trabalhadores como impeditivos para a aplicao do conhecimento na
prtica diria de trabalho; foram eles: organizao do trabalho; relaes de trabalho;
condies de trabalho e fatores cognitivos/ comportamentais. Acreditamos que, como
educadores e preocupados com o ensino, visamos a integralidade do sujeito, entendendo
a educao como um precursor da qualidade de vida. Nessa perspectiva, defendemos que
as pessoas no mudam o comportamento apenas por receberem informaes, e que a
preveno das IHs s pode ocorrer se houver mudanas culturais e sociais que apoiem a
transformao de prticas, hbitos, atitudes e crenas, e essas mudanas no podem ser
impostas ou entendidas fora do contexto. Isso nos d a clareza de que mesmo os melhores
programas educativos no vo resolver sozinhos todas estas questes, fatores como
aqueles ligados organizao do trabalho, a contribuio dos gestores das Instituies de
Sade so questes centrais a serem consideradas.
Palavras-chave: infeco hospitalar; lavagem das mos; estratgias educativas.
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xiv
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
ABSTRACT
The present study intends to capture the origin of an important void involving the health
professionals theoretical knowledge about the existing risks of infections in the hospital
environment and the practical application of nosocomial infections (NIs) prevention and
control methods. Our objectives were: to contribute, in a participative manner, to the
development of teaching-learning techniques to be used in the trainings of nosocomial
infection control; to identify the main concepts and theoretical knowledge about
nosocomial infection prevention and control and the reasons why health professionals
believe it is difficult to introduce them in their work practice; to analyze the factors
perceived by workers as impeditive to the application of knowledge; to produce, in a
participative manner, educational strategies about the risk perception issues and the
practice of nosocomial infection prevention and control. It is a quanti-qualitative
research, that started with the initial analysis of 181 questionnaires answered by health
professionals in different areas of the Clinical Research Institute Evandro Chagas /
Fiocruz Rio de Janeiro who participated in the trainings of the Nosocomial Infection
Control Commission. Later, 30 healthy professionals were selected randomly to take part
in individual interviews. Two approaches were used as educational practices during the
trainings: one with gouache paint and one with incubation of hands microorganisms on
Petri dishes. The results showed that risk perception is closely linked to daily activities
and the professionals workplace location. For our professionals, the main concern was
the change of habits and behavior, frequently mentioned among the impeditive aspects.
The professional performance as multiplier of nosocomial infection prevention and
control practice, interested in participating in the changes of the group where they work
and in the community where they live is highlighted. The value of the image for the
learning process was pointed by all the groups in the questionnaires and interviews as the
responsible for the relationship between theory and practice. Visualizing the presence of
microorganisms on the hand and/or the hand washing technique was referred to as a
contributive for a meaningful learning. The aspects identified as impeditive for
application of the knowledge in the daily practice by the professionals were classified in
four: work organization; work relations; work conditions and cognitive/behavioral
aspects. As mentors worried with the learning process we aim at the integrality of the
person, understanding education as a precursor of quality of life. In this perspective, we
defend that people do not change their behavior only by receiving information, and that
nosocomial infection prevention can only occur if cultural and social changes that support
the transformation of practices, habits, attitudes and beliefs are made, and these changes
cannot be imposed or understood out of their context. It is clear that even the best
educational programs will not resolve all these issues alone; aspects like those related to
work organization, contribution from the managers of health institutions are core points
to be considered.
Keywords: nosocomial infections; hand washing; educational strategies.
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1
INTRODUO
A motivao para a realizao desta pesquisa resulta da experincia profissional
da autora, por 19 anos, em assistncia a doenas infecciosas no Instituto de Pesquisa
Clnica Evandro Chagas (IPEC), da vivncia e participao, desde 2002, como membro
da Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH) e colaboradora da Comisso
Interna de Biossegurana (CIBIO) do referido Instituto, atuando continuamente na
preveno e controle das infeces hospitalares.
Por meio da atuao dos membros da CCIH em treinamentos em servio,
percebemos a existncia de uma lacuna entre o conhecimento adquirido pelos
profissionais nestes treinamentos (teoria) e a aplicao destas atividades na sua prtica
diria de trabalho. A vivncia dessa situao nos trazia dvidas em relao percepo
de risco que estes profissionais apresentavam enquanto eram treinados. Em sala de aula,
possuam capacidade de discusso, porm, no momento da realizao de suas prticas, os
conhecimentos no eram aplicados. Essa situao gerou uma inquietao crescente
durante bastante tempo, o que nos levou realizao de alguns trabalhos (Neves, 2000;
Neves; Gomes, 2003; Jesus, 2003) que revelaram fatores impeditivos de ordem cultural,
econmica, afetiva e relacionadas organizao do trabalho, que incompatibilizaram a
aplicao das tcnicas de preveno e controle das infeces hospitalares.
Pretendemos aprofundar, com o presente estudo, o conhecimento destes fatores
para diferentes grupos de trabalho atuantes no IPEC e desenvolver propostas
participativas de promoo em sade, melhoria da qualidade da assistncia, entre outras
medidas associadas aos treinamentos realizados, importantes para despertar o trabalhador
quanto necessidade de aplicao da teoria apreendida nos treinamentos durante o seu
trabalho.
Esse projeto se insere na linha de pesquisa Comunicao e Sade no Trabalho,
coordenado pela Dra. Brani Rozemberg, que nas ltimas dcadas enfoca as relaes entre
o saber cientfico e o senso comum na construo de conhecimentos e sua aplicabilidade
para diferentes grupos populacionais. Em um desses estudos que descreve a relao entre
teoria e prtica na sade de merendeiras e serventes, Souza et. al. (2003b) nos alertam
para uma tendncia, nas atividades educativas, de se considerar o trabalhador como
sujeito passivo, receptor de mensagens, buscando enquadr-lo e oferecendo-lhe solues
prontas. Fica explcita tambm a crena de que seria necessrio sensibiliz-lo, como se
ele fosse incapaz de perceber e de lidar, ao seu modo, com seu problema e sofrimento no
trabalho. Neste sentido, segundo os pressupostos adotados nessa investigao, no
caberia simplesmente dizer ao outro o que deve fazer em relao infeco hospitalar.
O que se pretende a construo de conhecimentos sobre as relaes entre sade e
trabalho, a partir das experincias individuais interagindo com o coletivo, com nfase em
estratgias criativas adotadas pelos trabalhadores para preservar sua integridade fsica e
psquica frente aos riscos aos quais esto expostos no cumprimento de suas atividades
prescritas de trabalho.
Partimos do pressuposto de que os profissionais de sade so os maiores
interessados em sua prpria sade e bem-estar no trabalho e que, portanto, suas
percepes e as interpretaes sobre risco devam ser consideradas em estudos desta
natureza e na construo de propostas que objetivem a melhoria das condies e da
organizao do trabalho; visando, tambm, a qualidade da assistncia (Neves, 2000;
Silveira, 2003). Pressupomos tambm, que tais propostas poderiam ser mais adequadas
s realidades dos trabalhadores, por valorizarem seu conhecimento prtico e,
conseqentemente, ampliarem as chances de aproveitamento pelo maior e mais fcil
engajamento deles.
-
2
O presente estudo pretende valorizar as estratgias coletivas como os debates
advindos dos treinamentos em controle de infeco hospitalar. Para Briceo-Len (1996),
a ao educativa possui o duplo propsito de fazer nfase ao indivduo e sua
responsabilidade individual e ao mesmo tempo de dar nfase relao entre a cooperao
coletiva e o benefcio dela decorrente.
Nos treinamentos realizados em Preveno e Controle de Infeco Hospitalar,
trabalhamos detalhadamente com aspectos definidos por Dejours (1992), em relao s
condies de trabalho e organizao do trabalho, que se diferenciam da seguinte forma:
condies de trabalho dizem respeito: ao ambiente fsico (temperatura, presso, barulho,
vibrao, irradiao, altitude etc.); ambiente qumico (produtos manipulados, vapores e
gases txicos, poeiras, fumaas etc.); o ambiente biolgico (vrus, bactrias, parasitas,
fungos); as condies de higiene, de segurana, e as caractersticas antropomtricas do
posto de trabalho que estariam relacionadas com a carga fsica e mental do trabalho. J a
organizao do trabalho diz respeito: diviso, ao contedo da tarefa (na medida em que
ele dela deriva), ao sistema hierrquico, s modalidades de comando, s relaes de poder,
s questes de responsabilidade, etc. que estariam relacionados com a carga psquica do
trabalho.
Um outro aspecto a ser considerado que os conhecimentos tericos, como o
caso dos conhecimentos atualizados sobre infeco hospitalar, devem ser trabalhados por
meio de metodologias de ensino/aprendizagem, adequadas a cada grupo profissional.
Para identificarmos que conjunto de relaes est envolvido entre as diferentes
percepes de risco e como favorecer para que estes trabalhadores consigam se apropriar
deste conhecimento na sua prtica diria de trabalho, reduzindo a lacuna entre o
conhecimento adquirido nos treinamentos (teoria) e a realizao das atividades de
preveno e controle das infeces.
Para Lacerda (2000), atualmente, as infeces ocupacionais tambm so infeces
hospitalares. Com isso, uma teia entrelaando o controle e a preveno das infeces
hospitalares, biossegurana e a sade do trabalhador vem se formando. As medidas de
biossegurana contribuem na preveno e controle das infeces ocupacionais.
Entretanto, enquanto no campo da biossegurana os profissionais vem ampliando sua
atuao para favorecer a sensibilizao como forma eficaz de orientar os trabalhadores, o
campo da preveno e controle das infeces hospitalares, de um modo geral, ainda
trabalha no modelo institucional normativo da educao, tendendo ainda a se limitar a
estabelecer e ordenar que se cumpram as precaues recomendadas.
Modelos de programas de infeco hospitalar (guidelines) de pases desenvolvidos
so trazidos, na maioria das vezes, sem uma adaptao ao contexto local e sem considerar
as caractersticas scio econmicas e culturais dos nossos trabalhadores, objetivando
apenas o cumprimento imediato dos protocolos.
A partir da, refletimos sobre as afirmaes de Demo (2001), de que continuamos
profundamente instrucionistas em nossa prtica da educao, e o quanto ainda
acreditamos que o fator central da aprendizagem seja a freqncia s aulas, no nosso caso
especfico, freqncia aos treinamentos da CCIH. pouco expressiva a preocupao com
a reconstruo do conhecimento e com a aprendizagem de teor poltico, permanecendo a
nfase na absoro reprodutiva e na prtica da lei do ensino, e no da aprendizagem.
Pretendemos contribuir para uma reformulao do pensamento apresentado pelas
CCIHs, desenvolvendo junto aos trabalhadores um processo de aprendizagem, para ser
utilizado nos treinamentos, que seja capaz de dar conta de aspectos culturais, afetivos e
relacionais, bem como de considerar as condies reais de vida e trabalho dos grupos, de
modo a reduzir a lacuna existente entre o conhecimento adquirido nos treinamentos
(teoria) e a realizao das atividades na prtica diria de trabalho. Partiremos para uma
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3
construo de propostas participativas, estimulando os profissionais a buscarem solues
para sanarem a problemtica dos riscos por eles mesmos identificadas, reduzindo a nfase
na imagem formal do instrucionista e estimulando o processo de aprendizagem por meio
da construo partilhada do conhecimento e no da absoro reprodutiva.
CAPTULO I: ETAPAS DO ESTUDO
1.1 JUSTIFICATIVA
Em 1998, como parte do cumprimento da exigncia do Curso de Especializao
em Preveno e Controle das Infeces Hospitalares, na Universidade Gama Filho,
iniciamos um estudo bsico sobre acidentes de trabalho com material contaminado pelo
vrus da imunodeficincia humana (HIV), no IPEC, realizando algumas entrevistas. Neste
estudo, foram entrevistados 27 funcionrios acidentados com material biolgico
contaminado pelo HIV, no perodo de janeiro de 1993 a agosto de 1998.
Algumas variveis foram analisadas, tendo sido obtidos os seguintes resultados:
82% dos entrevistados se acidentaram com material perfurocortante, 56% dos acidentes
ocorreram no setor de internao. Dos 78% dos tcnicos de enfermagem acidentados,
62% se acidentaram de uma vez. Tiveram como maior preocupao, no momento do
acidente, a contaminao pelo HIV e, conseqentemente, a possibilidade de
soroconverso. Dos 81% dos entrevistados, 43% no fizeram uso de quimioprofilaxia
para o HIV; dos 57% que fizeram uso de quimioprofilaxia, 25% abandonaram o
tratamento aps uma semana e 75% completaram a quimioprofilaxia, mesmo
apresentando efeitos colaterais diversos.
No Curso de Mestrado (perodo de 1999 a 2000) na Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), na rea de Enfermagem, no campo da Sade do Trabalhador,
realizamos a seguinte investigao: Estudo dos Acidentes de Trabalho com Material
Biolgico Contaminado entre Profissionais de Sade do Centro de Pesquisa Hospital
Evandro Chagas / Fundao Oswaldo Cruz (Neves, 2000).
Nela foram entrevistados 42 trabalhadores acidentados com material biolgico
contaminado, no perodo de janeiro de 1990 a setembro de 2000. Dentre as outras
variveis estudadas, destacamos que 90% dos entrevistados relataram ter conhecimento
sobre as normas de biossegurana, enquanto apenas 10% responderam no ter
conhecimento. Estes dados so importantes indicadores da atuao das Comisses de
Biossegurana e Controle de Infeco Hospitalar em relao disseminao das
informaes, imprescindveis sobre riscos potenciais aos acidentados.
Verificamos tambm, que 90% dos entrevistados eram vacinados contra o vrus
da hepatite B, sendo 10% no vacinados, um dado bastante preocupante, pois estes
possuam o conhecimento de que a hepatite B tem um potencial de contaminao bastante
elevado. Este dado refora a existncia da lacuna entre o conhecimento adquirido nestes
treinamentos (teoria) e a realizao de prticas profilticas pertinentes sua prpria sade.
A temtica apresentando estudos de acidentes com material biolgico continua
sendo bastante explorada entre os profissionais da rea de enfermagem. Em Murofuse,
Marziale, Gemelli, (2005); Manetti et al (2006); Chiodi, Marziale, Robazzi, (2007);
Sailer; Marziale, (2007) encontramos pesquisas descritivas, retrospectivas realizadas com
o objetivo de investigar os acidentes de trabalho com material biolgico, que envolveram
trabalhadores por um determinado perodo em um hospital especfico.
Este tema merece maior ateno para que medidas preventivas possam ser
implementadas, considerando-se as peculiaridades das atividades executadas nas
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4
diferentes categorias profissionais. Assim como a prtica das aes de educao
continuada, visando a preveno e o controle de infeces no ambiente de trabalho.
Em 2003, duas produes cientficas foram apresentadas: a primeira relata os
resultados da avaliao sistemtica das questes que emergem do atendimento a uma
patologia desconhecida mundialmente, intitulado Repercusses do Atendimento a
Pacientes Suspeitos de Sndrome Respiratria Aguda Grave (SARS): Impacto do Estudo
da Percepo de Risco, (Neves e Gomes, 2003).
Nela, evidenciamos que, mesmo com os vrios treinamentos realizados para as
diversas categorias profissionais, muitas dvidas ainda existiam no momento do
atendimento e o pnico se instaurou. A elevada reao ao risco apresentada pelos
profissionais de sade que nos levou a concluir em favor da importncia de treinamentos
consecutivos abordando no somente as normas de biossegurana, mas tambm questes
relacionadas subjetividade na percepo ao risco por parte dos profissionais de sade,
que se fazem necessrios para adequao dos procedimentos por meio de rotinas
elaboradas pelas CCIHs.
Vieira (1996), comenta que, com o surgimento da AIDS na dcada de 1980, a
vulnerabilidade dos profissionais veio simbolizar um momento oportuno de
questionamentos acerca da prtica de trabalho. As percepes dos trabalhadores
despertaram para um conjunto de tpicos que os remeteram necessidade de mudanas e
resgate de alguns aspectos tericos intrnsecos, anteriormente no valorizados.
Lacerda (2000), em seu estudo, aborda os desafios colocados pela emergncia e
reemergncia das doenas infecciosas, e propostas para o seu enfrentamento. Comenta o
comportamento dos profissionais frente ao impacto da percepo do risco de
contaminao.
O segundo estudo bsico dizia respeito Adeso dos Profissionais de Sade s
Prticas de Preveno e Controle das Infeces Hospitalares, no IPEC, no qual foram
entrevistados quarenta e oito profissionais no perodo de setembro a outubro de 2003 por
meio da tcnica de entrevista semi estruturada (Jesus, 2003). Alm disso, foram
realizadas observaes de campo, que demonstraram um distanciamento da teoria
adquirida nos treinamentos e conseqentemente sua no insero na prtica diria de
trabalho.
Isso nos levou a refletir sobre os motivos que levavam esses profissionais,
inicialmente dedicados sua profisso e ao comparecimento aos treinamentos, a
apresentarem essa tendncia a no colocarem em prtica os conhecimentos, e nos
determinantes econmicos culturais e sociais a ela relacionados.
Alguns trabalhos realizados com profissionais de sade mostraram variao das
taxas de adeso s prticas de tratamento ou preveno variadas tambm era
negligenciada entre a categoria. Leite e Vasconcellos (2003), em um estudo de adeso
teraputica medicamentosa entre profissionais de sade mostraram que por mais que os
indivduos tenham conscincia sobre seu tratamento ele no est preocupado em
desobedecer ou no aderir ao receiturio mdico, mas sim em lidar com sua condio de
vida da forma que lhe convenha e que lhe permita maior autocontrole e liberdade.
Uma pesquisa realizada com profissionais de sade de diversas categorias
mostrou que estes compreendem as necessidades e tm conhecimentos da importncia da
adeso ao exerccio fsico. Mesmo com toda esta conscientizao, o estudo apresentou
nveis insuficientes de atividade fsica entre a clientela do estudo (Ferreira; Najar, 2008)
Em 2004, foi produzido por uma enfermeira bolsista do convnio
FAPERJ/FIOCRUZ atuante na CCIH, com a superviso da autora desta tese, um Folder
sobre Lavagem das Mos, destinado a pacientes e familiares (Mendona, et al, 2006).
Anteriormente, no ano de 2003, j havia sido produzido, pela mesma dupla, outro folder
contendo orientaes para pacientes e familiares sobre MARSA (Multiresistente
Staphylococcus aureus) (Neves, et al, 2006b).
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Estes folderes foram apresentados aos clientes externos do Instituto de Pesquisa
Clnica Evandro Chagas, por ocasio da realizao Grupo de Estudo em Epidemiologia e
Preveno das Doenas Infecciosas e Parasitrias. Estes clientes opinaram, por meio de
um questionrio individual, sobre suas impresses a respeito daquele impresso.
Paralelamente a esta avaliao, um grupo de profissionais do servio de Psicologia e
Psiquiatria tambm forneceu suas impresses de como os impressos poderiam produzir
impacto na populao alvo.
Os resultados desta avaliao foram apresentados em dois trabalhos (Neves et
al, 2006b; Mendona, et al, 2006). Estes trabalhos encontram-se escritos com maior
detalhamento em um artigo intitulado Comunicao em Sade, sobre preveno de
microrganismos multirresistentes e lavagem das mos: avaliao do ponto de vista de
profissionais de sade e clientes externos de dois impressos construdos pelos
profissionais da CCIH do IPEC/FIOCRUZ, em fase de submisso ao Corpo Editorial de
uma Revista Cientfica.
Vasconcellos-Silva, Uribe Rivera, Rozemberg (2003) realizaram reviso da
literatura sobre publicaes que descrevem experincias com material impresso
distribudo ao pblico leigo em instituies hospitalares. Neste material foi percebido o
"pacote informativo perfeito", como aquele que explicita eficientemente seus contedos
tcnicos para fins de convencimento unilateral, atualizado segundo escalas de
legibilidade, adornado por projeto grfico e enfatizando prioridades definidas pelos
profissionais. A ausncia de pesquisas de recepo e a necessidade da ao comunicativa,
para desconstruo de tais sistemas de pensamento, fechados no ambiente hospitalar foi
observado pelos autores.
Alam, Cezar-Vaz, Almeida (2008), em um estudo de anlise, no processo de
trabalho em sade, das caractersticas do conhecimento adquirido e produzido pelos
trabalhadores, acerca da preveno e controle de acidentes com materiais
perfurocortantes e fluidos biolgicos, no ambiente hospitalar.
Ao cruzar os dados de dois ambientes institucionais e das categorias profissionais
com variveis que caracterizaram o processo de trabalho, os autores verificaram que no
Ambiente Institucional "B" houve um trabalho educativo mais atuante, com base em
materiais informativos de preveno e controle do que no Ambiente Institucional "A" foi
realizado, conseqentemente, uma maior adeso de seus trabalhadores sobre a
necessidade de trabalharem com mais segurana, foi observada.
Em 2005, mais duas realizaes foram concretizadas, o trabalho apresentado em
um Encontro Nacional de Pesquisa em Educao em Cincias, e a participao do I Grupo
de Estudo em Epidemiologia e Preveno das Doenas Infecciosas e Parasitrias,
coordenado pela Dr Claudia Teresa Vieira de Souza, permitiu-nos testar as estratgias
educativas desta tese, pensado inicialmente para ser aplicado apenas com profissionais de
sade, com clientes do Projeto de Quimioprofilaxia para Tuberculose.
Estas estratgias foram aceitas e apoiadas pelos participantes e geraram o
trabalho intitulado Treinamento de lavagem das mos para clientes externos do Instituto
de Pesquisa Evandro Chagas; uma estratgia preventiva por meio de prticas
educacionais, visando a preveno de transmisso de microrganismos multiresistentes na
comunidade, (Neves, et al, 2006a).
Ainda no ano de 2006, por ocasio da orientao de duas alunas do Curso de
Graduao em Enfermagem da Universidade Gama Filho, tambm estagirias da CCIH
do IPEC, testamos nossas estratgias em um grupo de alunos na faixa etria de 5 a 7 anos
de uma creche escola. Os resultados desta testagem fazem parte da monografia de final
de curso das alunas, intitulada Higienizao das mos: estratgia educativa visando a
introduo de hbitos (Pupo et al, 2006).
Um estudo sobre a importncia de prticas preventivas e educativas em sade
bucal realizado por Pauleto, Pereira, Cyrino (2004), com diferentes populaes utilizando
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a mesma metodologia por meio de atividades educativas, mostrou que embora a
odontologia se mostre muito desenvolvida em tecnologia, no responde em nveis
significativos s demandas dos problemas de sade bucal da populao. Nesse contexto,
a educao em sade bucal tem sido cada vez mais requisitada, considerando o baixo
custo e as possibilidades de impacto odontolgico no mbito pblico e coletivo. A
necessidade de se repensar as prticas educativas foi sentida em todos os contextos onde
a metodologia foi aplicada.
Esta pesquisa de Menezes, Brasil, (1998) foi realizada com dois grupos
diferentes: criana e adolescente em situao de rua, na rea do Plano Piloto - Distrito
Federal. O estudo foi realizado nos moldes da pesquisa-ao, com observaes
participantes nas quais o pesquisador interagia com os grupos por meio de atividades
ldicas e educativas - jogos e desenhos. Os resultados mostraram que os desenhos das
crianas e adolescentes apontaram aspectos idnticos regressivos e as observaes
etnogrficas demonstraram que o espao da rua funciona como fonte de referncia
paradoxal. Lidando com os paradoxos, ambos os sexos em situao de rua constroem
redes de alianas e sustentao subjetiva e organizam sua identidade.
Durante o ano de 2007 produzimos um artigo intitulado: Educao em Sade
para clientes externos do Instituto de Pesquisa Evandro Chagas: uma estratgia em
preveno de transmisso de microrganismos multiresistentes na comunidade, em fase de
submisso ao Corpo Editorial de uma Revista Cientfica.
Com os resultados produzidos por este estudo, pretendemos tambm, sanar
nossas inquietaes no que tange s frustraes de apresentarmos um aumento do nmero
de treinamentos anuais das equipes do IPEC, com mais profissionais treinados em temas
de preveno de controle de infeco hospitalar. Alm disso, criamos um manual da
CCIH, contendo 42 rotinas. Manual este distribudo a todos os setores do IPEC e
veiculado na internet, no site do Instituto.
1.2 PROBLEMA
Esse projeto parte do reconhecimento de uma importante lacuna entre o
conhecimento terico dos profissionais sobre riscos existentes no ambiente hospitalar
e aplicao prtica das atividades de preveno e controle disponveis na atualidade.
As questes que norteiam a proposta de estudo so:
Existe clareza da parte dos profissionais de sade sobre a lacuna existente entre os
seus conhecimentos tericos adquiridos nos treinamentos e a realizao de atividades
prticas de preveno e controle das infeces hospitalares, diariamente, durante a
realizao do seu trabalho?
Que motivos levam existncia desta lacuna entre conhecimentos tericos sobre
infeco hospitalar, nas diferentes categorias profissionais e sua aplicao na prtica
diria de trabalho?
Nossa hiptese inicial era a de que o profissional, durante a sua prtica diria de
trabalho, se encontra muito envolvido com o compromisso na realizao de suas tarefas,
e por este motivo no consegue perceber a existncia do risco ali presente ou apaga
todos os seus conhecimentos tericos relacionados a esta percepo. No decorrer do
presente estudo, novas hipteses foram levantadas a partir da identificao de fatores
culturais, econmicos, afetivos e relacionados organizao do trabalho, bem como ao
tipo e natureza dos riscos a que esto expostos no trabalho hospitalar. Com base nestes
resultados, a tese se props a construir uma proposta educativa direcionada a profissionais
de sade.
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1.3 OBJETIVOS
1.3.1 OBJETIVO GERAL:
Contribuir para o desenvolvimento de processos de ensino-aprendizagem a serem
utilizados nos treinamentos de controle de infeco hospitalar, visando a reduo da
lacuna existente entre o conhecimento terico dos treinamentos e a prtica diria do
trabalho hospitalar.
1.3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS:
1. Identificar os principais conceitos e conhecimentos tericos sobre preveno e controle
das infeces hospitalares apresentados por diferentes categorias profissionais do IPEC,
e os motivos aos quais atribuem a dificuldade de sua insero na prtica diria de trabalho.
2. Analisar os fatores sociais, afetivos, econmicos e culturais percebidos pelos
trabalhadores como impeditivos para a aplicao do conhecimento adquirido.
3. Produzir de forma participativa, ao longo dos treinamentos regulares, estratgias
educativas sobre as questes de percepo de risco e as prticas de preveno e controle
das infeces hospitalares.
4. Fornecer subsdios para o desenvolvimento de um processo de ensino/aprendizagem
que dinamize a aplicao dos conhecimentos neste ou em outros contextos hospitalares.
CAPTULO II: REFERENCIAL TERICO
2.1 Conhecendo melhor a Infeco Hospitalar
A infeco hospitalar (IH) to antiga quanto os primeiros estabelecimentos, que
surgiram h sculos, com o objetivo de albergar doentes. Hoje, se define uma infeco
hospitalar como aquela adquirida aps admisso do paciente e que se manifesta durante
a internao ou aps a alta, quando puder ser relacionada com a internao ou
procedimentos hospitalares (Martins, 2001).
As infeces hospitalares so divididas por stios de insero que so: urinrio,
cirrgico, respiratrio e da corrente sangnea. Para Fernandes (2000), no podemos
atribuir um ou dois sintomas especficos para as IH, pois a sintomatologia est relacionada
a evidncias diagnsticas e deve valorizar as informaes provenientes de:
evidncias clnicas de infeco detectadas por meio da observao direta do paciente ou de informaes obtidas no pronturio ou em relatrios
mdicos ou de enfermagem;
evidncia laboratorial por meio de resultado de culturas, testes de deteco de antgenos ou anticorpos e mtodos de visualizao microscpica;
evidncias de estudo com mtodos de imagem;
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evidncia clnica obtida da observao direta durante a cirurgia, endoscopia ou outros estudos diagnsticos.
Turrini e Santo (2002) informam que no Brasil, os dados sobre infeco hospitalar
so pouco divulgados. Alm disso, esses dados no so consolidados por muitos
hospitais, o que dificulta o conhecimento da dimenso do problema no pas. Como os
pacientes que falecem aps 48 horas de internao freqentemente apresentam infeco
hospitalar associada, as causas de morte mencionadas no atestado mdico da declarao
de bito se constituem em importante fonte de dados para o dimensionamento do
problema. As infeces hospitalares (IH) vm aumentando na razo direta do
desenvolvimento das tcnicas invasivas (sondagens, cateterizao, etc). Sendo assim, os
conhecimentos dos profissionais de sade sobre as prticas que controlam infeces
devem ser atualizados freqentemente atravs dos treinamentos realizados pelas
Comisses de Controle de Infeces Hospitalares (CCIH). No Brasil, o Ministrio da
Sade, considerando que as IH podem causar significativos danos clientela dos servios
de sade, expediu instrues para o controle e preveno das IH por meio da publicao
da Portaria 196 (24/06/83): Todos os hospitais do Pas, independente da natureza da
entidade mantenedora deve possuir Comisses de Controle de Infeco Hospitalar. A
ltima portaria do Ministrio da Sade publicada at o momento, a Portaria 2616
(12/05/98), revogou as portarias anteriores e reafirmando a importncia da CCIH,
determinou que todo hospital deve ter uma CCIH, composta por membros consultores e
executores (Brasil, 1998).
Um importante estudo realizado pelos Centers for Disease Control and
Prevention (CDC), em Atlanta nos Estados Unidos (EUA), evidenciou uma reduo de
at 32% das IH nos hospitais com programas efetivos de controle de infeco nos EUA.
Dessa forma, o controle das IH considerado um dos parmetros de avaliao da
qualidade da assistncia hospitalar (Fernandes 2000).
O treinamento em servio citado Martins (2001), como uma das funes mais
importantes de uma CCIH, promovendo cursos de capacitao para os profissionais de
diversos nveis e setores do hospital. Alguns hospitais do pas, como Instituto de
Infectologia Emlio Ribas/So Paulo e Hospital das Clnicas da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), so credenciados pelo Ministrio da Sade como Centros de
Treinamento em Controle de Infeco Hospitalar, sendo responsveis pelo treinamento
de profissionais de outros hospitais de diversos estados.
O conhecimento de que 30 a 50% das infeces hospitalares so prevenveis e que
a maioria causada por falhas tcnicas na assistncia ao paciente, por exemplo, o fato de
que 85% delas poderiam ser evitadas com a higienizao adequada das mos, refora a
necessidade de treinamentos eficazes proferidos pelas CCIHs (Fernandes, 2000).
Estudos como os de Lacerda (2000), Neves (2000) e Martins (2001) sobre o tema
das infeces hospitalares, no consideram que as chamadas falhas tcnicas do trabalho
do profissional estejam relacionadas com as condies de trabalho e organizao de
trabalho. Desta forma, no se torna importante apenas o treinamento dos profissionais,
mas tambm pesquisas com a finalidade de investigar os fatores desencadeadores destas
falhas.
2.2 Medidas de Preveno e Controle das Infeces Hospitalares:
Martins (2001) relata que lavagem das mos seja a medida mais importante para
reduzir os riscos de transmisso de um microrganismo de uma pessoa para outra ou de
um local para outro. Deve estar includa antes e aps contato com o paciente, com
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equipamentos ou artigos contaminados por ele e por meio de contatos com sangue,
fludos, secrees ou excrees. O uso de luvas no substitui a necessidade da lavagem
das mos; devendo estas ser lavadas sempre aps a remoo das luvas. Luvas de ltex,
usadas em procedimentos, devem ser descartadas aps o uso, porm, as luvas de borracha
usadas pelos profissionais de limpeza devem receber processo de desinfeco aps seu
uso. No contato com diferentes pacientes, as luvas devem sempre ser trocadas e, aps
remov-las, as mos devem ser lavadas. Enquanto permanecer enluvado, durante e aps
realizao de algum procedimento com material biolgico, o profissional no dever abrir
portas, atender telefones ou manipular qualquer outro objeto, de modo a evitar a
disseminao, como observado com freqncia na prtica, o que constitui uma inverso
da relao meio-fim das medidas de precauo (Lacerda, 2000).
As medidas de preveno e controle para a manipulao de material biolgico so
usadas para diminuir o risco de transmisso de microrganismos no ambiente hospitalar e
devero ser selecionadas de acordo com os procedimentos a serem realizados e com as
condies de diagnstico que o paciente apresente no momento.
A importncia na seleo dos Equipamentos de Proteo Individual (EPIs)
tambm deve ser levada em conta na hora de obedecer s Precaues por Transmisso,
obedecendo Poltica de Precaues para Isolamento em Hospitais dos CDCs; por
exemplo, nos casos de tuberculose multirresistente, a mscara cirrgica comum no
suficiente.
Deve-se ento, optar pela mscara especial, N95 (N de categoria e 95% a
eficincia), com filtro "High Efficciency Particulate Air", freqentemente designada pela
sigla HEPA, por se tratar de um filtro feito de papel de fibra de vidro com 60 de
espessura, capaz de bloquear micro partculas. Estas mscaras so capazes de filtrar
partculas menores que 1,0 em percentual igual ou maior que 95 . Estas mscaras ou
respiradores devem conter o certificado de aprovao do Nacional Instituto para
Segurana Profissional de Sade NIOSH (CDC, 2000).
O uso de capote, gorro, luvas, mscara, culos ou protetor de face dever ser feito
s ou em combinao, promovendo barreira de proteo, sempre que houver
possibilidade de contato ou de respingos de sangue ou secrees durante a realizao de
um procedimento.
Os capotes, sejam eles de pano ou descartveis, devem possuir manga longa, e
serem confeccionados de tecido ou material impermevel; so utilizados para prevenir a
contaminao das roupas e da pele, quando h risco de exposio a material orgnico.
Tambm so utilizados na manipulao de pacientes com precaues por transmisso de
contato; neste caso, retirados com tcnica adequada aps a sada do quarto (Brasil, 1998).
culos e protetores de face so utilizados durante procedimentos que possam
gerar respingos contendo material biolgico, em pele ou mucosa da face. Nos casos dos
culos, estes devem possuir anteparos na borda superior, lateral e inferior. Os protetores
de face devem cobrir da testa ao queixo, como a proteo usada pelos soldadores. Estes
equipamentos devem ser confeccionados com material que facilite a sua desinfeco,
como os plsticos resistentes (Brasil, 1998).
Alm dos EPIs j descritos, existem ainda as botas de borracha que so
padronizadas tambm para uso do pessoal de limpeza, para que estes fiquem protegidos
durante o procedimento de coleta e descarte do lixo, que em uma unidade hospitalar,
rico em material biolgico, podendo acarretar acidentes perfurocortantes entre outros
riscos.
O diagnstico precoce, associado s medidas que incluem a utilizao de
equipamentos de proteo individual (EPIs), alm do cumprimento das prticas de
isolamento dos pacientes com diagnstico sugestivo e em tratamento para as infeces
em casos de diagnstico esclarecido de doenas infecciosas, considerados como
reservatrio ou fonte de transmisso da infeco, e a imunizao de profissionais de sade
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suscetveis, consistem nas principais formas de preveno das infeces
hospitalares/ocupacionais dentro do ambiente hospitalar.
2.2.1 Lavagem ou higienizao das mos:
A principal via de transmisso de microrganismos em nvel hospitalar so as
mos. As mos funcionam como condutores para a transferncia de boa parte dos
microrganismos patognicos, que circulam entre pacientes, profissionais de sade,
superfcies e objetos contaminados (Fernandes, 2000). A lavagem de mos o
procedimento mais simples, e talvez o mais eficaz que um profissional de sade pode
realizar para reduzir a disseminao de infeco. Alm de ser a medida individual mais
simples e tambm a menos dispendiosa para prevenir a propagao das infeces
relacionadas assistncia sade (Brasil, 2007)
Para que esta medida seja eficaz, ela deve ser realizada de forma cuidadosa e
rotineira. Este motivo nos inspirou a trabalhar com o enfoque da criao de dinmicas
para demonstrao de como lavar as mos dentro da tcnica especfica e a visualizao
da presena dos microrganismos nas mos.
O desafio das CCIHs nas instituies de sade estimular uma maior adeso ao
procedimento, pois estudos como os de: Makao, (1988); Carvalho, Lopes, Pellitteri,
(1988); Lopes, Moromizato, Veiga, (1999); Corra, Ranali, Pignatari (2001); Perry, 2001;
Heczko; Kleszcz 2001; Mason, Winslow, Jacobson 2001; Dawson, Forrest, Greenaway
(2005); Neves Z, et al (2006) e Rodrigues (2006) demonstraram a pouca adeso por parte
de profissionais de diversas categorias em instituies de sade diferenciadas.
Observamos que a caracterstica do comportamento dos profissionais em no
aderir ao procedimento, ocorre desde muito tempo atrs, conforme mostra Santos, (1997),
atravs da histria do mdico austraco, Ignaz Summelweis, que em 1847, num hospital
em Viena, estudou casos de febres em purperas que davam luz em dois tipos de
enfermarias, uma atendida por residentes de medicina e outra por parteiras, verificando
que o ndice de mortalidade pela infeco era maior na enfermaria atendida pelos
residentes. Aps um perodo de observao, concluiu que tal fato se explicava porque os
residentes saiam da sala de necropsia e faziam os partos sem lavarem suas mos entre um
procedimento e outro. Instituiu ento, a obrigatoriedade da lavagem das mos entre um
procedimento e outro, conseguindo reduzir a mortalidade nesta enfermaria.
De acordo com o guideline de Higienizao das mos, publicado em 2002, pelo
CDC, o termo higienizao das mos substitui o termo lavagem das mos pela aplicao
de lcool a 70% e glicerina a 2% que juntos recebem o nome de lcool glicerinado.
Convm enfatizar que este procedimento s indicado em determinadas situaes e as
mos devem estar bem limpas (CDC, 2002). Porm, Oliveira, (2005) e Rodrigues (2006)
citam que alguns trabalhos ou at mesmo autores utilizam os dois termos, independente
de como seja realizado o processo.
O Guia para higiene de mos em servios de assistncia sade da Associao
Paulista de Estudos em Controle de Infeco Hospitalar (APECIH) em Brasil (2003),
define higiene das mos como sendo o termo genrico aplicvel lavagem simples das
mos, lavagem anti-sptica, frico de produto anti-sptico ou anti-sepsia cirrgica de
mos; enquanto que lavagem de mos seria a lavagem comum com sabo comum, no
antimicrobiano e gua.
Recentemente, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) lanou o
Manual Nacional de Higienizao das mos em Servios de Sade 2007, onde coloca
que o termo lavagem das mos foi substitudo por higienizao das mos, devido
maior abrangncia deste procedimento. O termo engloba a higienizao simples, a
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higienizao anti-sptica, a frico anti-sptica e a anti-sepsia cirrgica das mos (Brasil,
2007).
No entanto, importante ressaltar que o objetivo principal do processo de lavagem
ou higienizao das mos reduzir a transmisso de microrganismos pelas mos,
prevenindo as infeces (CDC, 2002). Oliveira, (2005) ressalta que este procedimento
visa remoo da maioria dos microrganismos da flora transitria e alguns da flora
residente, de clulas descamativas, de pelos, de suor, de sujidade e de oleosidade.
Para melhor compreenso vamos falar um pouco sobre flora bacteriana cutnea
da pele, conforme a APECIH citado em Brasil (2003), a pele humana colonizada por
bactrias, expressa em nmero de colnias por centmetro quadrado UFC/cm2
Diferentes das diversas reas do corpo que tm contagem bacteriana diferente, por
exemplo, 1x 106 UFC/cm2 no couro cabeludo, 5x 105 UFC/cm2 na axila, 4x 104
UFC/cm2 no abdmem, e 1x 104 UFC/cm2 no antebrao. Contagens bacterianas normais
nas mos do pessoal mdico variam de 3.9x 104 a 4.6x 106 . Em 1938 bactrias
recuperadas das mos foram divididas em duas categorias: transitrias e residentes. A
flora transitria coloniza as camadas superficiais da pele, so mais susceptveis remoo
pela lavagem rotineira. So freqentemente adquiridas pelos profissionais de sade,
durante contato direto com pacientes ou contato com superfcies ambientais contaminadas
em grande proximidade com o paciente.
A flora transitria a que contm os microrganismos mais freqentes associados
a infeces ligadas assistncia sade. A flora residente se liga s camadas mais
profundas da pele, mais resistente remoo. Alm do mais, a flora residente, por
exemplo, Staphylococcus coagulase negativo e difterides, associa-se menos a infeco.
As mos dos profissionais podem tornar-se persistentemente colonizadas com a flora
patognica, por exemplo, Staphylococcus aureus, bacilos gram negativos ou leveduras.
Entende-se por colonizao a presena de microrganismos em determinadas regies de
pele ou mucosa (mucosa nasal, virilha e axilas) no produzindo danos a este, sem o
aparecimento de sintomas clinicamente reconhecveis, no causando infeco.
Pesquisadores documentaram que, embora o nmero de agentes da flora transitria e
residente varie consideravelmente de pessoa para pessoa, ele relativamente constante
para cada pessoa em particular.
O Guideline do Centro de Controle de Doenas (Center for Desease Control and
Prevention - CDC) recomenda que na presena de sujidade visvel ou contaminao com
material protico, sangue ou qualquer fluido corporal, devemos lavar as mos com sabo
associado ou no substncia germicida. A utilizao complementar de solues com
produtos germicidas reduz ainda mais o nmero de microrganismos da flora residente e
transitria das mos (CDC, 2002). As substncias mais encontradas e mais utilizadas em
instituies de sade para a lavagem/higienizao das mos so: sabo comum, lcool gel
e clorexidina ou povidine, segundo Oliveira, (2005).
O primeiro deve ser usado em presena visvel de sujidade nas mos ,ou antes e
depois do contato com pacientes, seus equipamentos e seu mobilirio; o segundo, em
situaes de emergncia, entre diferentes procedimentos realizados no mesmo paciente
ou antes e depois de prestar cuidados a pacientes em precauo de contato por
Multiresistente Staphylococcus aureus (MARSA) ou gram negativos multiresistentes e,
finalmente, o terceiro, antes e depois de prestar cuidados a pacientes em precauo de
contato por MRSA ou gram negativos multirresistentes, antes da realizao de
procedimentos invasivos ou ainda em casos de surto, quando o agente causador no for
atingido por nenhum outro. Brasil (2003).
Os anti-spticos associam detergentes com anti-spticos e se destinam
higienizao anti-sptica das mos e degermao da pele. A higienizao anti-sptica das
mos indicada nos casos de precauo de contato recomendados para pacientes
portadores de microrganismos multirresistentes e em casos de surtos. J a degermao da
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pele no pr-operatrio, antes de qualquer procedimento cirrgico (indicado para toda
equipe cirrgica) e antes da realizao de procedimentos invasivos. Exemplos: insero
de cateter intravascular central, punes, drenagens de cavidades, instalao de dilise,
pequenas suturas, endoscopias e outros (Brasil, 2007).
Mathias, (2002); Hernandes, et al (2004) em estudos que mostram a comparao
da eficcia do lcool gel com os tradicionais agentes degermantes preconizados para a
lavagem das mos na remoo de amostras clnicas de diversos microrganismos. Os
resultados apresentaram uma reduo de 93,83% (sabo lquido) a 100%
(polivinilpirrolidona iodado - PVP-I 10%) a flora transitria. Em 4 dos 6 microrganismos,
testes analisados, Acinetobacter baumannii, Staphylococcus aureus resistente
meticilina, Escherichia coli, Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa e Candida
albicans, o PVP-I 10%, o lcool gel, o lcool etlico 70% e a clorexidina 4% mostraram
uma taxa de remoo significativamente superior a do sabo lquido (P < 0,05). Os
resultados confirmam a eficcia do lcool gel na higienizao das mos e sugerem que o
PVP-I 10%, o lcool gel, o lcool etlico 70% e a clorexidina 4% podem ser os agentes
mais eficazes do que o sabo lquido no medicamentoso, na remoo de Acinetobacter
baumannii, Escherichia coli, Enterococcus faecalis e Candida albicans das mos
altamente contaminadas.
Todos os autores Feather; Stone; Wessier; Boursicot; Pratt (2000); Lin et al
(2005); Perry, (2001); Mason; Winslow; Jacobson (2001); Dawson, Forrest, Greenaway
(2005); Rodrigues (2006); Scheidt; Carvalho (2006); Neves, et al (2006a) so unnimes
ao falar sobre a associao da eficcia da lavagem de mos com a durao e a tcnica
usada de forma adequada.
A Associao Paulista de Estudos em Controle de Infeco Hospitalar e o Centro
de Controle de Doenas alerta que antes de iniciar a tcnica da lavagem de mos, devemos
retirar anis, pulseiras e relgios, pois sob tais objetos podem acumular-se bactrias que
no so removidas mesmo com a lavagem das mos. A partir da, proceder tcnica que
consiste em Brasil (2003) e (CDC, 2002):
abrir a torneira com a mo dominante sem encostar na pia, para no contaminar a roupa, quando da ausncia de dispensador de pedal;
molhar as mos; aplicar em torno de 3 a 5 ml de sabo lquido nas mos; ensaboar as mos, proporcionando espuma, friccionar as mos por
aproximadamente 15 segundos, em todas as faces (palma e dorso das mos),
espaos interdigitais, articulaes, unhas e extremidade dos dedos. A frico
facilita a extrao dos microrganismos;
com as mos em nvel baixo, enxagu-las em gua corrente, sem encost-las na pia, retirando totalmente a espuma e os resduos de sabo;
enxugar as mos com papel toalha, em caso de torneira com acionamento manual, fech-la com o mesmo papel toalha;
desprezar o papel tolha na lixeira. O uso adequado do procedimento de lavagem/higienizao das mos deve ser
estimulado entre os profissionais de sade, por ser um procedimento eficaz, barato se
comparado ao gasto de tratar um paciente que adquire uma infeco hospitalar. Pelo
exposto, por ser a mais importante das prticas de preveno e controle de infeco,
verificamos a necessidade de serem desenvolvidos continuamente programas educativos,
com o objetivo de treinar, avaliando criteriosamente os resultados.
Neste sentido, deve ser relevante para o profissional conhecer a real necessidade,
assim como envolv-lo com idias, sentimentos que mostrem a real importncia daquele
procedimento isolado a ser feito, com vista a transformar-se numa prtica diria do seu
trabalho e um procedimento que deve ser adotado por todos. Estratgias diferentes
introduzidas por este estudo pretendem aumentar o acesso da equipe informao sobre
http://www.cdc.gov/ -
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a importncia das mos no processo de transmisso de doenas. Ns acreditamos que as
estratgias executadas em uma base contnua so uma das maneiras de promover
mudanas. Assim, ns esperamos que o controle da infeco influencie no s nas mos,
mas tambm na conscincia dos profissionais.
2.3 Riscos presentes no ambiente hospitalar:
Todas as atividades desenvolvidas dentro do ambiente hospitalar expem os
trabalhadores a diversos riscos ocupacionais; considerando a classificao do Ministrio
do Trabalho conforme Portaria n 3214, de 8/6/78, os tipos de riscos encontrados nas
Instituies de Sade apresentam-se assim classificados: Riscos Acidentais, Riscos
Ergonmicos, Riscos Fsicos, Riscos Qumicos e Riscos Biolgicos (Neves, 2000).
Riscos acidentais so fatores que colocam o trabalhador em situao de perigo que
possa afetar sua integridade, bem estar fsico e moral. Entre os riscos acidentais no
ambiente hospitalar, destacamos alguns como os incndios e exploses, muitas vezes
provocados pela presena de gases inflamveis, utilizados principalmente em
laboratrios. Na classificao brasileira, como citados por Teixeira; Valle (1996) e Oda;
vila (1998), incndios fazem parte deste grupo de riscos. J Otero (1993), autor
espanhol, inclui os incndios nos riscos fsicos, sem fazer referncia ao risco acidental
referindo bastante outros como os riscos psquicos e sociais; Mauro (1990) classifica os
riscos ocupacionais de acordo com o tipo de agente envolvido, ou seja, riscos ambientais
(agentes fsicos, qumicos, biolgicos e mecnicos) e ergonmicos (mquina, local de
trabalho, organizao do trabalho e desgaste humano).
Os riscos ergonmicos so quaisquer fatores que possam interferir nas caractersticas
psicofisiolgicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando a sade, sendo
observados, com freqncia, no pessoal de enfermagem, provocando traumatismos e
leses pela manipulao de pacientes acamados durante a execuo de suas tcnicas de
trabalho; muito comum em profissionais que trabalham em ortopedia e centros de
tratamento intensivo, pelas condies de dependncia destes doentes (Otero, 1993).
Classificados como fatores de riscos fsicos, segundo consenso de todos os autores
nacionais e internacionais, temos: o calor, o frio, o rudo, as radiaes ionizantes s quais
esto expostos os trabalhadores (Teixeira; Valle, 1996). Dentre estas, as exposies s
radiaes ionizantes, mais conhecidas dos riscos fsicos pelos profissionais de sade,
podem produzir, algumas radiodermites, assim como alguns tipos de cncer (Bolick,
2002).
Includas, ainda para a autora, no risco qumico esto todas as substncias que possam
penetrar no organismo pela via respiratria, nas formas de poeiras, nvoas, fumos,
neblinas, gases ou vapores, ou que pela natureza da atividade da exposio, possam ter
contato ou ser absorvidas pelo organismo atravs da pele ou por ingesto. Os riscos
qumicos nos hospitais, grandes usurios de substncias qumicas diversas, ocupam lugar
de destaque neste tipo de exposio. Nos profissionais de ortopedia, por exemplo,
freqente observarmos a "sndrome da mo seca", que ocorre pela manipulao freqente
do gesso; j as resinas usadas em odontologia podem provocar processo alrgico em
protticos e dentistas. Porm, de todas as substncias manipuladas no ambiente hospitalar,
os quimioterpicos so os de efeito mais nocivo, podendo causar m formao gentica,
mutaes e cnceres.
Num estudo sobre riscos psquicos em profissionais de sade Otero (1993) mostra
que manifestaes como o alcoolismo, o uso de drogas e depresses psquicas so
episdios freqentes entre os mdicos. O autor comenta que isso se deve a situaes de
excesso de trabalho, visando um aumento da renda para que mantenham seu "Status
Social e Profissional". Esta sobrecarga de trabalho os leva ao "estresse" e ansiedade,
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que associados ao acesso mais fcil s drogas, tm tornado esse um problema como geral
da classe em populaes europias. O autor tambm referncia estatsticas que revelam
uma maior insatisfao matrimonial e sexual, causando uma maior freqncia de divrcio
entre estes profissionais.
Considerando as atuais caractersticas scio econmicas do Brasil, todas as categorias
profissionais vm tentando manter sua estabilidade social e financeira; o que torna o risco
psquico muito comum, ameaando todos os profissionais de sade.
Um salrio decente, que chega na hora certa crucial. O tipo de pagamento dos
trabalhadores, por exemplo, sejam salrios ou remunerao por servios prestados, tem
efeitos tais sobre a produtividade e a qualidade dos cuidados, que requerem um
monitoramento cuidadoso. Alm de refletir efetivamente na sade de nosso profissional
que vive buscando estratgias para melhorar o seu desempenho no trabalho, os ajustes de
compensaes, incentivos ao trabalho e condies de trabalho mais seguras (OPAS,
2006).
O risco biolgico est relacionado exposio ocupacional, aos agentes biolgicos
como, as bactrias, parasitas, fungos, vrus, protozorios e insetos entre outros.
Teoricamente, qualquer tipo de microrganismo pode constituir-se em agente de risco
ocupacional aos trabalhadores da rea de sade (Bolick, 2002).
Segundo Teixeira; Valle (1996) e Oda; vila (1998), os agentes de risco
biolgico podem ser distribudos em quatro classes, de 1 a 4, por ordem crescente de
risco, classificados segundo os seguintes critrios: patogenicidade para o homem;
virulncia; modos de transmisso; disponibilidade de medidas profilticas eficazes;
disponibilidade de tratamento eficaz e endemicidade.
Ainda conforme os autores acima citados, as classes de risco biolgico esto
agrupadas de acordo com a probabilidade que o agente de risco biolgico tem de provocar
doena individual ou no coletivo, e de medidas de preveno e tratamento existentes para
o determinado agente, ou seja:
Risco I - Pouco risco individual ou coletivo
So microrganismos que tm pouca probabilidade de provocar doena humana ou
de importncia veterinria.
Exemplo : Bacillus subtillis e Escherichia coli.
Risco II - Moderado risco individual e risco coletivo limitado
Estes microrganismos, aps exposio, podem provocar infeco, porm existem
medidas de preveno, tendo risco de propagao limitada.
Exemplo: Citomegalovrus, Vrus da Influenza, Vrus do Sarampo, Vrus das
Hepatites A, B, C, D, E e G, Paracoccidioides brasiliensis, Bordetella pertusis,
Clostridium tetani, Trypanossoma cruzi, Plasmodium vivax etc.
Risco III - Elevado risco individual e risco coletivo baixo
Os microrganismos produzem infeco humana grave, podendo ser transmitida
de uma pessoa infectada para outra; entretanto, existem medidas de preveno e
tratamento.
Exemplo: Hantavrus, HIV, HTLV I e II, Histoplasma capsulatum,
Mycobacterium tuberculosis, Yersinia pestis etc.
Risco IV - Elevado risco individual e coletivo
So microrganismos que representam grande ameaa para pessoas e animais, pela
fcil propagao de uma pessoa infectada para outra, direta ou indiretamente, no
existindo profilaxia nem tratamento.
Exemplo: Vrus Ebola e Vrus Lassa
Esta classificao somente poder ser seguida nos casos de fonte conhecida.
Os profissionais da rea de sade esto expostos a todos os tipos de riscos
ocupacionais. Entretanto, alguns estudos Otero (1993), Teixeira; Valle (1996), Oda;
vila (1998), Lacerda (2000) e Neves (2000) do especial nfase aos riscos biolgicos
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pela prpria caracterstica profissional de maior exposio aos doentes e microrganismos
causadores de doenas no homem.
Dentre os riscos biolgicos, os trabalhadores em ambiente hospitalar esto
expostos s infeces como: Hepatite B e C, a infeco pelo vrus da influenza, o Vrus
da Imunodeficincia Humana/Human Immunodeficiency Virus (HIV), Virus da Cella
Linfotrpica-T Humana/Human T-Cell Lymphotropic Virus (HTLV TIPO I e TIPO II),
malria, sarampo, varicela, tuberculose, alm de outras infeces. Enfim, enquanto
algumas doenas infecciosas so erradicadas, outras surgem sem que saibamos o risco
real para a transmisso de uma infeco ocupacional Teixeira; Valle (1996) e Lacerda
(2000).
Embora existam classificaes diferentes de diversos autores para os riscos, eles so
reais e significam perigo, inconvenincia, dano ou fatalidade. Para Bulhes (1998), estes
riscos podem estar ocultos, imperceptveis ao trabalhador por falta de conhecimento ou
informao. Alm disso, devem ser consideradas estratgias adotadas pelos trabalhadores
para lidar com riscos.
Os riscos existem para trabalhadores de todas as profisses e atividades. O risco
de se adquirir uma infeco, por exemplo, existe em vrios ambientes, porm, em nvel
hospitalar maior pelo contnuo contato com os doentes, por exposies repetidas aos
microrganismos e pela multiresistncia associada ao uso indiscriminado de
antimicrobianos. Sendo assim, todos os trabalhadores, mesmo aqueles que no atuam
diretamente na assistncia aos pacientes, esto expostos a esses riscos em diferentes
escalas.
O nvel de conhecimento dos trabalhadores sobre os riscos iminentes na rotina de
trabalho bastante diferenciado no ambiente hospitalar. A diversidade de categorias
profissionais que atuam em funes variadas, interfere nas condies de visibilidade de
seu saber (Martins, 2001). Outros fatores influenciadores no reconhecimento do risco
podem estar relacionados s condies gerais de trabalho e s relaes intra ou inter
equipes.
2.3.1 Percepo de risco
Wiedermann (1993) explicita que a percepo de risco baseada
principalmente em imagens e crenas. Em uma menor extenso, a percepo de risco tem
razes na experincia anterior, como por exemplo, acidentes que um motorista j teve, o
conhecimento de desastres anteriores e a relao com informaes ou facilidade sobre a
probabilidade de um avio cair. Deve-se levar em conta que a percepo de risco
baseada em diferentes "backgrounds" de conhecimento, a percepo de risco definida
como sendo a habilidade de interpretar uma situao de potencial dano sade ou vida
da pessoa ou de terceiros, baseada em experincias anteriores e sua extrapolao para um
momento futuro. Esta habilidade varia de uma vaga opinio a uma firme convico.
A percepo para os seres humanos, a capacidade de associar as
informaes sensoriais memria e cognio, de modo a formar conceitos sobre o
mundo e sobre ns mesmos e orientar o nosso comportamento. Isso significa que uma
situao de risco vivida anteriormente pelo sujeito ir despertar a memria, gerando um
comportamento protetor. Essa estranha e apurada capacidade, que chamamos de
percepo, capaz de despertar dentre inmeros estmulos provenientes do ambiente,
aqueles que so mais relevantes, ou seja, significantes para o indivduo (Wiedermann,
1993).
Encontramos vrios trabalhos que se baseiam na percepo de risco pautado em
experincias anteriores, levando em conta os saberes, valores e crenas dos indivduos,
porm, quase todos estes trabalhos tm como cenrio as comunidades rurais e em grande
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parte se referem ao risco com o uso de agrotxicos. Em comum, estes estudos descrevem
os mediadores entre a percepo do risco e o comportamento, como sendo as
caractersticas individuais e socioculturais e as caractersticas das prticas.
Muito se fala e questiona sobre as questes relacionadas ao risco na rea de sade,
mas no encontramos estudos que se dedicassem temtica relacionando a percepo de
risco com o cumprimento das normas de preveno e controle, a fim de minimizar riscos
futuros decorrentes da falta da tcnica na prtica diria de trabalho.
Almeida (2002) coloca o conceito de risco mais amplamente utilizado como
aquele que se aproxima a um perigo mais ou menos definido ou a probabilidade de perigo,
geralmente, com ameaa fsica para o homem e/ou para o ambiente. Sua acepo mais
fortemente aceita na literatura que trata dos problemas delimitados pelos campos da
sade, trabalho e ambiente a composio de pelo menos dois dos trs seguintes
componentes: a) potencial de perdas e danos; b) a incerteza da perda/dano; e/ou c) a
relevncia da perda/dano.
H, entretanto, um elemento comum a estes componentes: a distino entre
realidade e possibilidade. Segundo Fonseca et al (2007), no h risco real, ou seja, o risco
no existe enquanto realidade independente de nossas mentes e culturas. Ele s possvel
de ser observado e mensurado dentro de um contexto. Em trabalhos realizados nas ltimas
dcadas, Douglas (1992) e Slovic (1992) reconhecem o risco e as respostas ao risco como
construtos sociais. Wolpert (1996); diz que as teorias das probabilidades de risco so
criaes mentais e sociais definidas em termos de graus de crena. Slovic (2000) adota
esta perspectiva e estabelece uma distino entre a probabilidade de risco e a percepo
do risco, partindo do ponto de vista de que risco "real" e risco percebido so duas
dimenses diferentes. Esse autor reconhece que a equao risco/resposta ao risco
mediada por valores, tornando claro que outros fatores, alm de uma avaliao tcnica do
risco, so nitidamente importantes para a compreenso de como as pessoas percebem e
respondem aos riscos.
Finuccane et al. (2000) um dos autores que, como dito anteriormente, divide os
mediadores entre a percepo do risco e o comportamento em trs aspectos da
realidade,que so as caractersticas individuais e socioculturais e das prticas. Outros
autores como Wolpert (1996) e Lion, Meertens, Bot (2002), acrescentam que a
discrepncia entre a percepo do risco e o comportamento do indivduo ou da
coletividade pode estar tambm relacionada ao sentimento de controle sobre a realidade
percebida. Com relao a este aspecto, Finuccane et al. (2000), afirmam que novos riscos
tendem a ser percebidos como mais perigosos que riscos familiares.
Os fatores psicossociais e comportamentais relacionados ao controle da infeco
hospitalar, esto de quase sempre associados percepo do risco de transmisso das
infeces hospitalares entre profissionais da rea de sade, quando estes recebem algum
tipo de informao que possa leva-los a reflexes sobre a existncia do risco real. Os
profissionais de CCIH so destinados, de forma direta ou indireta, a intervir com aes
educativas ligadas prtica de preveno e controle, com a finalidade de conhecer os
fatores psicossociais e comportamentais associados ao risco de infeco. Este
conhecimento de extrema importncia para identificar-se o perigo de cruzamentos,
deteco precoce de surtos e outros episdios dentro do ambiente hospitalar, por meio de
reflexes voltadas para a prtica diria de trabalho.
A exposio ao risco implica sempre um componente de atos volitivos, isto ,
condutas que envolvem a vontade. As limitaes antes descritas se magnificam quando
se trata de abordar o comportamento no plano explicativo causal, sem reparar no sentido
dos atos e no contexto em que estes se do. Alguns autores postulam que a percepo e
valorizao individual de um risco faz-se mediante avaliao subjetiva dele em relao
totalidade dos perigos do cotidiano (Hayes, 1992; Kendall, 1993). A avaliao do risco
deve levar em conta aspectos contextuais do cotidiano; a prpria percepo influenciada
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pela posio social e pela cultura do grupo social de referncia dos indivduos, no
podendo deixar de registrar o convvio permanente com as vivncias fora do ambiente de
trabalho.
Esta ainda fortemente relacionada atuao do profissional em instituies de
sade, ou em outros contextos de sade cuja gnese influi na desigualdade estrutural.
Dependendo de como as instituies so administradas ou das diferentes tecnologias
disponveis ou ainda do tipo de assistncia prestada e demandas diferenciadas, as
condies de risco podem ser ampliadas ou reduzidas.
Peres (2002) relata a influncia dos universos social e cultural sobre a adoo de
comportamentos de preveno ou de risco. Nessa perspectiva, os comportamentos so
associados s representaes, as quais se formam na interao entre pessoas, diferindo de
uma simples perspectiva cognitiva. O autor afirma ainda que estas representaes so
mediadas por um complexo cultural que influencia a maneira pela qual os indivduos
percebem o risco, podendo lev-los a aes especficas, entre as quais a de ignorar sua
probabilidade de ocorrncia.
Em nossa prpria experincia, verificamos que o conhecimento dos trabalhadores
de hospital sobre a transmisso das infeces hospitalares parece ser elevado, uma vez
que quando questionados sobre conhecimentos e ou conceitos os indivduos (durante
treinamentos ou por ocasio de eventos) so capazes de discursar sobre eles. Porm,
diversos observadores Carvalho, (1996); Andrade, et al, (1997); Neumann, (2000);
Santos, et al, (2002), se surpreendem ao constatar que estes mesmos indivduos no tm
comportamentos voltados para a reduo do risco de contrair ou transmitir a infeco,
dentro do ambiente hospitalar, por no empregar as precaues adequadas.
Inmeros estudos anteriores Feather, et al, (2000); Girou e Oppein, (2001);
Nogueras, et al, (2001); Corra, Ranali, Pignatari, (2001); Jesus, (2003); Hernandes, et
al, (2004); Neves Z, et al, (2006); Rodrigues, (2006) demonstraram a ausncia de um elo
direto entre conhecimento e comportamento.
Portanto, so necessrios novos estudos, baseados na experincia concreta das
pessoas que realizem o acompanhamento entre o conhecer e o colocar em prtica. Para
poder entender as diversas condutas, temos que investigar como a informao
interpretada e como o conhecimento integrado a prtica, favorecendo as chances de que
as pessoas percebam o risco para si ou para o prximo. Devemos especificar, tambm, a
maneira pela qual as pessoas fazem a distino entre aspectos de percepo de risco e de
vulnerabilidade; seus sentimentos de controle pessoal, construdos com base em
experincias sociais; e as caractersticas das situaes e, contextos de sua dinmica da
ao.
Brevidelli e Cianciarullo (2001) apresentam o Modelo de Crenas em Sade
(MCS), que segundo as autoras, amplamente utilizado em estudos na rea, e explica a
adoo de comporta