dossie a importancia da ferrovia para goiás
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Artigo sobre a construção da Ferrovia em GoiásTRANSCRIPT
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69Revista UFG / Dezembro 2011 / Ano XIII n 11
A IMPORTNCIA DA ESTRADA DE FERRO PARA O ESTADO DE GOISHelio Suvo Rodriguez1
Este artigo apresenta um breve relato da histria da Estrada de Ferro Gois, do
transporte ferrovirio goiano e da Ferrovia Norte Sul, analisando a importncia dos
mesmos para o estado goiano. So abordadas questes resultantes da expanso
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rovia Norte-Sul tm para a economia local. Conclui-se que a ferrovia colaborou
e continua sendo um elemento importante para o processo de desenvolvimento
da economia de Gois.
Com o propsito de dotar o Estado de Gois de reais condies de transporte
ferrovirio, visando integr-lo ao resto do territrio brasileiro, surge em 1873 um
Decreto do Governo Imperial para que tal situao fosse concretizada. Dessa
maneira, o ento presidente da Provncia, Antero Ccero de Assis, foi autorizado
a contratar a construo de uma Estrada de Ferro para ligar a Cidade de Gois,
ora capital margem do Rio Vermelho, partindo da Estrada de Ferro Mogiana.
dossi FERROVIAS
1Engenheiro Civil da Superintendncia de Proje-tos, VALEC-Engenharia, Construes e Ferrovias S.A. Email: .
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virio frreo mal sucedida. Contudo, treze anos depois, uma
nova tentativa nesse sentido feita, atravs de uma concesso
Companhia Estrada de Ferro Mogiana, para que a mesma
pudesse prolongar as suas linhas do Rio Paranaba at o Rio
Araguaia, j em solo goiano.
As primeiras manifestaes contundentes em favor de
dotar o Estado de Gois de um meio de transporte ferrovi-
rio, altura das necessidades locais, aconteceram, na verdade,
em 1890. O Decreto n. 862 de 16/10/1890 concretizou o
primeiro Plano Ferrovirio com as rotas a serem construdas.
Em 1896, o Tringulo Mineiro recebeu os trilhos da Estrada
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guari seria a sede do que anos depois viria a ser a Gois,
facilitando-se a integrao econmica entre os estados de
So Paulo, Minas Gerais e Gois. Assim, a Cia Mogiana de
Estradas de Ferro e Navegao foi uma das componentes da
malha ferroviria estendida na regio do Tringulo Mineiro,
ainda nos ltimos anos do sculo passado (1896). Dentro de
outro processo e aps divergncias polticas, foi determinado,
pelo Decreto n. 5.394, de 18/10/1904, que o ponto inicial
daquela que viria a ser, ento, a Estrada de Ferro Gois, seria
na cidade de Araguari e, o seu terminal, na capital de Gois.
Para Gois, a presena da Estrada de Ferro em seu solo
tambm o resultado de um grande esforo feito por alguns
representantes da classe poltica e intelectual da regio. Toda-
via, preciso assinalar que a ferrovia cortava o cerrado goiano
em funo dos interesses do sistema capitalista de produo,
ou seja, ela nasceu de fora para dentro do estado. Nesse
sentido, os principais apoiadores polticos locais foram os Srs.
Henrique Silva, Leopoldo de Bulhes e o Marechal Urbano
Coelho de Gouvea. A formao da Companhia Estrada de
Ferro Gois, em 3 de maro de 1906, tinha carter privado e
era apoiada pelo Governo Federal, pelo Decreto n. 5.949, do
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ento Presidente da Repblica, Rodrigues Alves. A Estrada de Ferro surgiu como
uma alternativa para romper o estrangulamento da economia goiana quanto
sua demanda por um meio de transporte que viesse atender as necessidades
de escoamento de sua produo. Em 28 de maro de 1906, a Estrada recebeu
esse nome Estrada de Ferro Gois atravs do Decreto Federal n. 5.949, pois
at ento ela se denominava Estrada de Ferro Alto Tocantins, autorizada para
construir e explorar o trecho de Catalo a Palmas, objetivando ligar, ento, a
capital de Gois a Cubato, e estas Rede Ferroviria do pas.
Os trabalhados de construo da Estrada de Ferro Gois, em solo goiano,
tiveram incio em 27 de maio de 1911, dois anos aps o comeo da implantao
do trecho localizado na cidade de Araguari, no marco zero da ferrovia. J em 1912,
as obras avanaram 80 quilmetros, chegando, dessa cidade mineira, muito prxi-
e administrativo, a Companhia Estrada de Ferro Gois, por meio do Decreto n.
13.936 de 05/01/1930, obteve concesso para explorar os servios ferrovirios
no Tringulo Mineiro e em Gois, passando sua administrao Unio, a qual
levou adiante todas as obras de construo. Assim, a Linha Araguari Roncador,
com 234 km de extenso, formou a nova Estrada de Ferro Gois.
At 1952, a Gois, percorria com os seus trilhos, aproximadamente, 480 km,
chegando ao seu ponto mais distante em Goinia. No total, 30 estaes serviam
Estrada, onde se destacavam as de Araguari, Amanhece, Ararapira, Anhanguera,
Goiandira (ponto de ligao com a Rede Mineira), Ipameri, Roncador, Pires do
Rio, Engenheiro Balduno, Vianpolis, Leopoldo de Bulhes, Anpolis e Goinia.
Ao discorrer a respeito das alteraes no comrcio regional, provocadas pela
importante papel econmico. As cidades de Gois, servidas pelos trilhos, substi-
comerciais do estado e controlando, assim, o comrcio regional. Araguari, que
passara a dominar o comrcio do estado a partir de 1896, alcanada pelos
trilhos da Mogiana, mas depois de 1915 perdeu grande parte deste domnio para
as cidades do sudeste goiano.
Atualmente, o territrio goiano servido por 685 km de trilhos, perten-
centes Ferrovia Centro-Atlntica (FCA), subsidiria da VALE e sucessora da
antiga Estrada de Ferro Gois e da Rede Ferroviria Federal. Essa concessionria
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ferroviria percorre com seus trilhos a regio sudeste do estado, passando por
Catalo, Ipameri, Leopoldo de Bulhes, chegando at Anpolis, Senador Canedo
e indo at a Capital Federal. A Centro-Atlntica promove o escoamento de boa
parte da produo econmica goiana, embora tenha sua capacidade de trans-
porte limitada. A Ferrovia Centro-Atlntica, em seus 7.080 km de linhas, abrange
os estados de Sergipe, Bahia, Gois, Esprito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais
e o Distrito Federal. A FCA interliga-se as principais ferrovias brasileiras e os
importantes portos martimos de Salvador (BA), Aratu (BA) e Angra dos Reis
(RJ), alm de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA), no Rio So Francisco. A frota atual
compe-se, aproximadamente, de 12.000 vages e 500 locomotivas.
Os principais produtos transportados pela FCA so lcool, derivados de
petrleo, calcrio, produtos siderrgicos, soja, farelo de soja, concreto, bauxita,
ferro gusa, clinquer, fosfato, cal e produtos petroqumicos. A FCA tornou-se uma
concessionria do transporte ferrovirio de cargas em setembro de 1996, a partir
do processo de desestatizao da Rede Ferroviria Federal (RFFSA).
Em Gois o transporte rodovirio o responsvel pelo volume mais expres-
sivo de cargas, contando com uma malha de 89.000 km onde, aproximadamente
11.400 km so pavimentados. Em face desse total de vias, os trilhos representam
menos de 1%, o que demonstra a pouca expresso que as ferrovias tm em Gois,
embora seja reconhecida a sua importncia para o crescimento e o escoamento
da produo da economia local. Por se tratar de um meio de transporte com
um custo de operao inferior ao transporte rodovirio, a ferrovia proporciona
competitivos tanto no mercado interno como no externo.
Quanto ao histrico da Ferrovia Norte-Sul, desde 1985, no Governo do
Presidente Jos Sarney, a ideia bsica era construir uma ferrovia ligando os
Estados do Maranho, Tocantins e Gois; o seu traado inicial previa a cons-
truo de 1.550 km. Entre incios e paralisaes da obra, j se passaram mais
de 16 anos. Todo esse quadro de incerteza provocou um prejuzo ao processo
de desenvolvimento das regies envolvidas, pois a facilidade de escoamento de
suas produes, especialmente a do agronegcio, a um custo menor ir resultar
no mercado domstico e no mercado internacional. Com a Lei n. 11.297 de
09/05/2006, a Presidncia da Repblica incorporou o trecho Aailndia Belm
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(norte do Maranho e o Estado do Par) e posteriormente
os trechos Anpolis Estrela DOeste (Estado de So Paulo)
e Figueirpolis Ilhus (leste do Tocantins e Estado da Bahia).
A Ferrovia Norte-Sul foi projetada para promover a
integrao nacional, minimizando custos de transporte de
longa distncia e interligando as regies Norte e Nordeste
s Sul e Sudeste, atravs das suas conexes com 5.000 km
de ferrovias privadas. A integrao ferroviria das regies
brasileiras o grande agente uniformizador do crescimento
auto-sustentvel do pas na medida em que possibilitar a
ocupao econmica e social do cerrado brasileiro com
uma rea de, aproximadamente, 1,8 milhes de quilmetros,
correspondendo a 21,84% da rea territorial do pas, onde
vivem 16% da populao brasileira, ao oferecer uma logstica
adequada concretizao do potencial de desenvolvimento
dessa regio, fortalecendo a infra-estrutura de transporte
necessria ao escoamento da sua produo agropecuria e
agro-industrial do cerrado setentrional brasileiro.
Inmeros benefcios sociais esto surgindo com a
Ferrovia Norte-Sul. A articulao de diferentes ramos de
negcios proporcionada por sua implantao contribuir
para o aumento da renda interna e para o aproveitamento
e melhor distribuio da riqueza nacional, a gerao de
divisas e abertura de novas frentes de trabalho, permitindo
a diminuio de desequilbrios econmicos entre regies e
vida da populao da regio.
A Ferrovia Norte-Sul uma Concesso outorgada
VALEC-Engenharia, Construes e Ferrovias S.A., empresa
controlada pela Unio e supervisionada pelo Ministrio
dos Transportes. O primeiro trecho da Norte-Sul j est
concludo e em operao comercial. Esses 226 km de linha
ferroviria, ligando as cidades maranhenses de Aailndia,
Imperatriz e Estreito, se conectam com a Estrada de Ferro
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Carajs, permitindo assim o acesso ao Porto de Itaqui na Ponta da Madeira em So
Luiz. O sub-trecho seguinte entre Estreito (MA), Guara e Palmas, no Estado do
Tocantins, com 570 km de extenso tambm est concludo e concedido VALE.
O sub-trecho entre Palmas e Anpolis perfazendo 750 km, passando por Gurupi
(TO), Porangat, Uruau, Jaragu e Ouro Verde de Gois, no Estado de Gois,
dever ser concludo em abril de 2012. As obras j foram iniciadas na Extenso
Sul da Ferrovia Norte-Sul, entre Ouro Verde de Gois e Estrela DOeste, com
600 km de extenso, e na Ferrovia de Integrao Oeste Leste, entre Ilhus e
Correntina, perfazendo 700 km de extenso.
Em Gois a Ferrovia Norte-Sul ter 540 km de extenso. Com os trilhos
dessa estrada, ser possvel trazer para o estado os mesmos benefcios socioe-
conmicos j gerados no Maranho, como, por exemplo, a criao de emprego,
diretos e indiretos, a promoo do desenvolvimento sustentvel e a melhoria
da qualidade de vida das populaes locais, alm de integrar as diversas regies
goianas ao seu processo de desenvolvimento regional.
Podemos concluir este breve histrico indicando que o nascimento da Estrada
de Ferro Gois serviu aos interesses e desejos dos goianos que tiveram, nessa
ferrovia, um dos alicerces para os seus processos de crescimento. Os trilhos
expandindo suas relaes comerciais, por meio de um forte incremento nas
importaes e exportaes. Contudo, esta Estrada nasceu de fora para dentro,
diviso internacional do trabalho.
Agora, passados quase 100 anos da chegada dos trilhos em Gois, a Ferrovia
Centro-Atlntica, em operao no territrio goiano e a Ferrovia Norte-Sul, em
e de baixos custos de operao, quando comparados com o rodovirio. Portanto,
na medida em que colaboram para a maior competitividade do agronegcio local,
melhorias nas relaes comerciais, internas e externas, e para a solidez da eco-
nomia goiana como um todo. Compete aos goianos, principalmente atravs das
sociedades de classes e de seus representantes polticos, lutarem para o forta-
na direo do desenvolvimento econmico e social da regio do planalto central.
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