vocação eficaz e evangelismo: uma convocação aos eleitos de deus

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REVERENDO DENOEL NICODEMOS ELLER BACHAREL EM TEOLOGIA A VOCAÇÃO EFICAZ E EVANGELISMO: UMA CONVOCAÇÃO AOS ELEITOS DE DEUS POR WELISON RODRIGUES AYRE 2007 Monografia apresentada como requisito para conclusão de curso no seminário Teológico Presbiteriano Reverendo Denoel Nicodemos Eller para a obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REVERENDO DENOEL NICODEMOS ELLER

BACHAREL EM TEOLOGIA

A VOCAÇÃO EFICAZ E EVANGELISMO:

UMA CONVOCAÇÃO AOS ELEITOS DE DEUS

POR

WELISON RODRIGUES AYRE

2007

Monografia apresentada como

requisito para conclusão de

curso no seminário Teológico

Presbiteriano Reverendo

Denoel Nicodemos Eller para a

obtenção do grau de Bacharel

em Teologia.

2

Agradecimentos ............................................................................................... 6

Introdução ......................................................................................................... 7

CAPÍTULO1: A VOCAÇÃO EFICAZ: DEFINIÇÃO E CONFESSIONALIDADE

........................................................................................................................ .10

1. Definição De Termo .................................................................................... 10

1.1. A Vocação Eficaz Nas Confissões Reformada ..................................... 10

1.2. Fundamentos Teológicos Da Vocação Eficaz ...................................... 12

2. A Queda Do Homem ................................................................................... 13

CAPÍTULO 2: AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA ........................................ 16

1. O Pelagianismo – A Liberdade Completa Do Pecado ............................. 16

1.1 Entendo O Pensamento De Pelágio ........................................................ 18

2. O Semipelagianismo .................................................................................. 21

2.1. Entendendo O Pensamento Semipelagiano ......................................... 22

3. O Arminianismo .......................................................................................... 28

3.1 Entendendo O Pensamento Arminiano .................................................. 28

4. O Calvinismo .............................................................................................. 32

4.1. Ponto Inicial: Da Criação Do Homem. ................................................... 33

CAPÍTULO 3: O FUNDAMENTO DA VOCAÇÃO EFICAZ – O DECRETO DE

DEUS ............................................................................................................... 38

1. Definição Do Termo ................................................................................... 38

1.2 Nomes Bíblicos Para Os Decretos Divinos ............................................ 39

1.2.1 Termos Do Antigo Testamento ............................................................ 39

3

1.2.2 Termos Do Novo Testamento ............................................................... 40

1.3 A Natureza Dos Decretos Divinos ........................................................... 40

1.4 As Características Do Decreto Divino .................................................... 42

2 A Predestinação .......................................................................................... 43

2.1 Definição Da Doutrina .............................................................................. 43

2.2 Eleição Como Obra De Deus ................................................................... 44

2.3 A Eleição É Fundamentada Em Cristo.................................................... 46

2.4 A Eleição É Garantia De Salvação .......................................................... 47

2.5 O Propósito Da Eleição ............................................................................ 50

3. A Reprovação ............................................................................................. 51

3.1. Definição Da Doutrina Da Reprovação .................................................. 52

3.2. A Justiça Da Reprovação ....................................................................... 54

CAPÍTULO 4: A VOCAÇÃO EFICAZ E A RELAÇÃO ENTRE A ELEIÇÂO

DIVINA E A LIBERDADE HUMANA ............................................................... 56

1 O Ministério Da Igreja A Evangelização .................................................... 57

1.1 Definição De Termo .................................................................................. 57

2 A Pregação Do Evangelho No Novo Testamento ..................................... 59

3 O Antinomismo Da Pregação Do Evangelho – Eleição X Liberdade ...... 60

3.1 Desprezando A Vocação Eficaz E Confiando Em Métodos .................. 65

3.2 O Perigo De Nos Preocuparmos Exclusivamente Com A Soberania De

Divina. ............................................................................................................. 67

4 A Palavra Como Instrumento Do Chamamento Eficaz............................ 69

4.1 O Conteúdo Da Mensagem Evangelística .............................................. 70

4

4.1.1 Mensagem Sobre O Deus Verdadeiro.................................................. 71

4.1.2 Mensagem Sobre O Pecado ................................................................. 72

4.1.3 Uma Mensagem A Cerca De Cristo ...................................................... 73

4.1.4 Convocação Para Se Responder A Cristo Pessoalmente Em

Arrependimento E Fé ..................................................................................... 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 76

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 79

5

A antiga verdade que Paulo pregou, que Agostinho pregou,

que Calvino pregou é a verdade que eu também devo pregar. Se não fazê-lo deixaria de ser fiel a minha consciência

e a meu Deus.

6

C.H Spurgeon

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, autor da vida que desde a eternidade me tem

amado. Não por méritos meus, mas única e exclusivamente pela sua graça.

Que tendo o poder de chamar para o servi pessoas mais qualificadas, resolveu

pela sua misericórdia escolher a mim. Louvado seja o Senhor.

Louvo a Deus por minha esposa amada, Adriana que durante todo este

tempo de seminário esteve ao meu lado, me incentivando às vezes exortando,

mas acima de tudo sendo providencia de Deus. A agradeço pela compreensão

e amor com que suportou todo este período de estudo. À minha filha Maria

Eduarda, que veio crescendo durante estes anos e por quem todas as coisas

valem apena, presente de Deus para mim.

Louvado seja Deus pela Igreja Presbiteriana do Vale do Jatobá. Primeiro

por ter me enviado ao seminário e por ter me confiado o privilégio de trabalhar

em seu campo. Mas, sobre tudo pelo sustendo financeiro com que me assistiu

durante estes quatro anos. Possibilitando-me a tranqüilidade necessária para

estudar sem as preocupações financeiras tão comuns em nossos dias. A cada

dificuldade esta Igreja esteve presente me tratando com amor e dedicação,

como uma mãe que cuida de seu filho.

Sou grato pela Vida do Rev. Jalon, meu tutor que durante todo este

período sempre me assistiu e me aconselhou. Enquanto vários colegas

reclamavam sobre seus tutores tive o privilégio de ter ao meu lado alguém que

verdadeiramente me ajudou a crescer como pessoa e como cristão.

Quero agradecer de forma especial aos irmãos que me ajudaram na

elaboração deste trabalho. Rev. Domingos Silva, que leu o projeto da

monografia e deu valiosas sugestões sobre o assunto; Rev. Jalon que também

leu o projeto e desde o começo o aprovou. Pelos professores do seminário

Rev. Ulisses Horta Simões e René Stoffel que contribuíram com preciosas

sugestões em conversas sobre este tema.

7

INTRODUÇÃO

Grande ênfase tem sido dada aos métodos evangelísticos nestes últimos

dias. Congressos e mais congressos são organizados prometendo a seus

participantes a fórmula mágica para que a Igreja possa conquistar mais

adeptos e assim crescer quantitativamente. Contudo nesta busca desenfreada

para crescer muitas igrejas tem tirado os olhos dos padrões bíblicos e buscado,

através de suas próprias forças, os meios para alcançar seus últimos objetivos:

o número.

As Igrejas de herança calvinista são caracterizadas pela sua ênfase no

ensino dos decretos de Deus; sobre tudo na doutrina da eleição. O

desembocar mais controverso deste ensino, causado principalmente pela

influência arminiana no evangelicalismo brasileiro, é o que tange seu trato

soteriológico. Se Deus escolhe de antemão aqueles que serão salvos e destina

outros para a perdição eterna, qual é a real necessidade da Igreja evangelizar,

uma vez que os eleitos serão de qualquer forma salvos?

Outra realidade que a igreja enfrenta em sua missão é a do pecado. O

homem em, seu estado de pecado, pode responder positivamente ao convite

do Evangelho? A resposta a esta pergunta é um indiscutível, não! Mas se não,

qual é a razão da comissão dada pelo próprio Cristo, para que a sua igreja vá

ao mundo e pregue o evangelho a toda Criatura, uma vez que este homem não

pode responder positivamente ao evangelho?

De um lado tem-se a realidade do decreto de Deus que de forma mais

específica desemboca na doutrina da eleição e que garante a salvação final de

todos os eleitos. Do outro lado tem-se homens em estado de pecado, caídos e

por isto incapazes de se aproximarem de Deus. Para fazer a união destas duas

realidades, as escrituras declaram que: “aos que (Deus) predestinou, a esses

também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou, e aos que

justificou, a esses também glorificou”. (Rom 8.30)

De forma clara o apóstolo Paulo declara nesta passagem de Romanos,

que existe um chamado feito àqueles que foram predestinados. E uma vez que

8

estes chamados são justificados e por fim glorificados, pressupõe-se

claramente a realidade de que este homem em estado de pecado, pela

atuação de Deus, pode se voltar para o seu criador e por fim ser salvo. A este

chamamento dos eleitos a doutrina reformada chama de vocação eficaz e será

esta a doutrina explorada neste trabalho.

Devido à grande influência do arminianismo em nossas Igrejas e do

acúmulo de tantos métodos de evangelismo a soberania de Deus expressa

pela doutrina da vocação eficaz tem sido eclipsada pela determinação do

homem. A mensagem é um apelo emotivo para que o homem deixe seu estado

de pecado e se converta ao Senhor. O fundamento defendido por várias linhas

teológicas ao longo da história e tão propagada nestes dias é a do livre arbítrio.

Entretanto, o homem deixado em seu estado de pecado é incapaz de se voltar

para o Senhor. Desta forma a única possibilidade de conversão está na

eleição. O presente estudo busca oferecer uma resposta teológica enfatizando

a soberania de Deus de um lado e a responsabilidade da Igreja como

instrumento divino para execução de seus decretos.

O trabalho procurará mostrar o fundamento confessional desta doutrina

e ainda em seu primeiro capítulo a realidade da necessidade de salvação do

homem causada pela queda. Mas, quais foram às conseqüências da queda

para Adão e conseqüentemente a toda a sua geração? Devido a grandes

debates ao longo da história sobre este tema, quais sejam: as conseqüências

da queda para todos os homens; será tratado algumas linhas teológicas sobre

este tema.

No entanto, o trato especificamente deste assunto será feito de uma

forma diferente. Falando a respeito das conseqüências da queda em sua

relação com o livre-arbítrio poderia ser feito um trabalho específico e de muitas

páginas só sobre este tema, levantando personagens históricos e que muito

contribuíram para a controvérsia e também para a elucidação do assunto ao

logo dos tempos. Neste caso, personagens como Agostinho de Hipona,

Erasmo de Hortedã, Lutero e outros necessariamente deveriam ser explorados

e estudados.

Contudo as linhas que serão tratadas no segundo capítulo deste estudo

são as que a igreja de Cristo enfrenta na realidade brasileira. A única exceção

será feito ao pelagianismo que não vê relação do ato de Adão e com seus

9

descendentes. No restante do capítulo será tratada as conseqüências da

queda na teologia arminiana, que é à base das igrejas pentecostais e neo

pentecostais e o semipelagianismo defendido pela Igreja Católica apostólica

romana. Como resposta a estas variáveis doutrinárias será apresenta a visão

Calvinista da queda como fundamento teológico correto.

Sendo o fundamento da vocação eficaz os decretos de Deus, em um

terceiro momento será tratado esta doutrina. Em especial sua ramificação na

predestinação. Que por sua fez trabalha com a eleição e reprovação.

Novamente poderia ser destinado um trabalho específico apenas sobre este

ponto. No entanto, ele será brevemente visto aqui para dar suporte à doutrina

da vocação eficaz. Este capítulo não pretende ser uma análise minuciosa da

doutrina dos decretos nem da predestinação, mas busca apenas apresentar a

realidade da eleição e da reprovação como fator motivador para que a igreja

saia ao mundo pregando o evangelho. E conseqüentemente a eficácia do

chamado de Deus destinado ao eleito.

Por fim em seu capítulo final será trabalhado especificamente a obra

evangelística da Igreja que é o cumprimento de seu ministério no mundo.

Mostrando a pregação do evangelho no Novo Testamento e a relação do

convite do evangelho feito pela Igreja e a liberdade humana em responder

positivamente a este convite. Sendo a vocação eficaz o fundamento para o

ministério da Igreja, será apresenta uma critica a super valorização dos

métodos com fins em si mesmos capazes de converter alguém. Princípio

comum dentro das Igrejas de teologia arminiana, mas que tem entrado nas

fronteiras calvinistas fazendo com que a igreja despreze o método estabelecido

pelo próprio Deus. Por fim será defendida a pregação da palavra como o meio

pelo qual o Espírito santo age na vida dos eleitos, devendo ser desta forma o

método utilizado pela Igreja de Cristo em sua ação no mundo.

10

CAPÍTULO1: A VOCAÇÃO EFICAZ: DEFINIÇÃO E

CONFESSIONALIDADE

Toda a obra evangelística da igreja é edificada sobre a premissa de que

o homem está perdido morto espiritualmente e precisa ser salvo. Pois se o

homem estivesse em uma situação normal para com Deus, seu criador, não

haveria a necessidade de se pregar o evangelho e nem a de anunciar a Cristo

como o Salvador. Aliás, a própria apresentação de um salvador pressupõe a

necessidade de se ser salvo de alguém ou de alguma coisa e mais ainda,

firma-se a convicção de que o homem perdido pode ser salvo. Esta convicção

reformada da possibilidade dos homens ouvirem e aceitarem o evangelho é

baseada na doutrina da vocação eficaz.

1. Definição de Termo

Vocação eficaz é o ato de Deus pai, que fala por meio da proclamação

humana do evangelho conclamando as pessoas para si mesmo de tal maneira

que elas respondam com fé1. Esta vocação está ligada com o poder de Deus

que regenera o pecador trazendo-o da morte espiritual para a vida, habilitando-

o a responder com arrependimento e fé ao convite do evangelho. “Refere-se ao

chamado de Deus que por seu soberano poder e autoridade produz seu

designado e ordenado efeito.” 2

1.1. A vocação Eficaz nas confissões reformada

Na confissão Belga3 a vocação eficaz é declarada em seu artigo 24 nos

seguintes termos:

1 GRUDEM, Wayne. Manual de Teologia Sistemática: Uma introdução aos princípios

da fé cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001. pág. 324

2 SPROUL, R.C. Verdades Essenciais da fé Cristã. São Paulo: Cultura Cristã. 1999.

pág. 60

3 A confissão Belga foi escrita em 1531 por Guido de Brès

11

Cremos que a verdadeira fé, tendo sido acesa no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pela obra do Espírito Santo, regenera e o torna um homem novo. A verdadeira fé o faz levar uma vida nova e o liberta da escravidão.4

A confissão declara que o instrumento utilizado por Deus para despertar

a fé no coração do pecador eleito é a exposição da Palavra de Deus pela

mediação do Espírito Santo. Este desperta da fé no coração do homem o

liberta da escravidão do pecado algo que por si mesmo o homem não pode

fazer.

No início do século 17 com o despertar da controvérsia arminiana na

igreja um sínodo da igreja protestante reunido na cidade de DORT da Holanda

se pronuncia contra o partido arminiano declarando de uma forma um pouco

mais detalhada a doutrina da vocação eficaz:

Mas quando Deus leva a efeito o Seu beneplácito nos eleitos, ou produz neles a conversão verdadeira, Ele não só faz com que o Evangelho lhes seja pregado externamente, e ilumina poderosamente as suas mentes mediante o Seu Santo Espírito, para que eles possam compreender e discernir acertadamente as coisas do Espírito de Deus5

Assim, declara a confissão que somente iluminado pelo Espírito Santo o

homem consegue compreender as coisas de Deus, sendo que antes da ação

divina nada lhe era possível fazer para compreender e discernir as coisas do

Espírito de Deus. Mais detalhadamente esta confissão da Igreja revela que

esta ação de Deus é dirigida somente aos eleitos, por meio da pregação

externa do evangelho e pela instrumentalidade do Espírito Santo.

Contudo a forma mais completa de exposição da doutrina da Vocação

eficaz se encontra na confissão de Fé de Westminster do fim do século 17 que

declara:

Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação, em Jesus Cristo. Isso ele faz iluminando o entendimento deles, espiritual e salvificamente, a fim de

4 ______________Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg. São Paulo: Cultura

Cristã. 1999. Artigo XXIV pág. 22

5 ______________Cânones de DORT. São Paulo: Cultura Cristã. Capítulo 3 e 4 artigo

11

12

compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne, renovando as suas vontades e determinando-as, pela sua onipotência, para aquilo que é bom, e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça.6

Nota-se no texto da confissão a exposição da condição de escravidão do

homem em seu estado de pecado, do qual não pode se libertar por suas

próprias forças. Que existe uma vocação que abrange todos os eleitos e

somente eles. O agente desta vocação é o Espírito Santo que atua no coração

deste eleito pela pregação do evangelho que é o instrumento divino. Operando

uma mudança radical no coração do pecador fazendo-lhe se voltar

voluntariamente para Deus de forma que ele decide por si mesmo a buscá-lo e

aceitá-lo em sua vida

1.2. Fundamentos teológicos da vocação eficaz

Todo o trato da vocação eficaz se fundamenta como se pode facilmente

se verificar nos relatos das confissões, sobre três princípios teológicos. O

primeiro o da Predestinação, pois o texto afirma que “a quem Deus predestinou

para a vida”, o segundo a incapacidade do homem em abandonar por si

mesmo o seu estado de pecado e se voltar para Deus; e em terceiro lugar a

ação evangelizadora da igreja levando a palavra do evangelho aos homens,

sendo desta forma instrumento de Deus no mundo, para que através do

ministério da Igreja o Espírito Santo atue despertando os eleitos. Desta feita

para que se compreenda a vocação eficaz se faz necessário compreender

estas três áreas, ou seja, a queda do homem que resulta no seu afastamento

de Deus; a eleição divina que é a garantia de Salvação e o trabalho da Igreja

no mundo sendo o elo como propagadora da palavra do evangelho, deste Deus

soberano a este homem caído.

6 ______________ A Confissão de Fé De Westminster. 17ª Edição. São Paulo: Cultura

Cristã, 2003 .Cap. 10 sessão 1 pág. 92

13

2. A Queda Do Homem

O homem é o ápice da criação, ou como alguns observam a coroa da

criação divina. O homem é a mais nobre e excelente das obras de Deus.7 Este

homem fora criado a imagem e semelhança de Deus, ou seja, “ícones de Deus,

criaturas feitas com a capacidade única de espelhar e refletir o caráter de

Deus.” 8 Em seu estado original, sem pecado, o homem desempenhava ofícios

específicos e absolutamente distintivos do restante da criação. Sendo

representantes divinos na ordem criada se portavam como profeta, sacerdote e

rei de toda a terra.

O ofício profético estava presente, como ficou evidente quando Adão falou em nome do Soberano Criador: ele deu nome aos animais (Gn 2.20) e à sua mulher (v.23)... O ofício sacerdotal se manifesta no ato de a humanidade, como parte representativa da criação falar para o cosmo e apresentá-la a Deus à medida que se desdobrava e, conseguintemente, expressava a glória do seu Criador...9

Neste ato criativo de Deus o homem foi dotado com a capacidade de

fazer o bem ou de fazer o mal.

Assim, pois Deus adornou a alma do homem com o entendimento, para que distinguisse entre o bem e o mal, o justo e o injusto, e iluminado com a luz da razão enxergasse o que devia seguir... Estes são os excelentes dotes com que o homem em seu estado original esteve adornado; razão, entendimento, prudência e juízo, não somente para dirigir convenientemente na vida presente, mas também para chegar até Deus e a felicidade perfeita.10

Adão era completamente distinto de todos os seus descendentes, tendo

condições de escolher entre o bem e o mal. È importante salientar que este

livre arbítrio, do qual o homem é dotado11 é algo bom vindo da parte de Deus.

7 CALVINO, João, institución de La religión Cristiana. 5ª Edição. Barcelona: Felire. 1999

p.113

8 SPROUL, R. C. Verdades Essenciais Da Fé Cristã. 2ª impressão. São Paulo: Cultura

Cristã. 2001 p 28 – Imagem e semelhança acentuam uma dimensão de identidade. Como Deus

é pessoal, assim é a humanidade. (Van Groninger – Revelação messiânica – pág. 97)

9 GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. 2ª Edição.

São Paulo: Cultura Cristã. 2003 pág. 101

10 CALVINO op.cit. livro 1. cap.15 § 8 pág. 122, 123

11 Ibid. livro 1. cap.15 § 8 p 123 “Quando o homem desfrutava de sua integridade

possuía o livre arbítrio, com o qual, se quisesse, poderia alcançar a vida eterna”

14

Pelo menos esta é conclusão de Agostinho de Hipona em quem Calvino se

apóia. O livre arbítrio vem de Deus e por isso é bom e é uma das

características de um ser verdadeiramente racional.12

Embora Adão tenha recebido o Livre arbítrio ele não foi dotado com o

dom da perseverança13, ou seja, ele possuía todas as possibilidades de resistir

ao pecado, assim como todas as possibilidades de cair. Quanto a isto é

importante as palavras de Calvino:

Em relação à causa de não ter sido dado o dom da perseverança, é algo que permanece oculto em seu (de Deus) secreto conselho; e nosso dever é saber com sobriedade. Deus havia concedido a Adão que, se quisesse, poderia, mas não lhe concedeu o querer com que pudesse, pois, a este querer se seguiria a perseverança.14

Sem esta perseverança, embora possuindo a capacidade de resistir, Adão

sucumbe e desobedece a Deus. (Gn 3.6).

As conseqüências do pecado, quais sejam a morte física, espiritual e

eterna além das maldições ordenadas por Deus logo após a queda, não é algo

restrito a Adão. Nas palavras do Apóstolo Paulo estas conseqüências são

partilhadas por todos os homens. Nos diz ele: “Portanto, assim como por um só

homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte assim a morte

passou a todos os homens, por que todos pecaram.” (Rm 5.12) Desta forma

pelo pecado de Adão no Éden toda a sua geração ordinária partilha de seu

reino.

Mas como os descendentes de Adão podem ser culpados pelo seu

pecado? Em que grau a raça humana partilha, hoje, da natureza corrompida de

seus primeiros pais? Será que o homem continua livre podendo escolher e

efetuar o bem? O homem hoje, assim como Adão antes da queda, possui

verdadeiramente um livre arbítrio? Dando respostas a estas perguntas algumas

escolas se levantaram na história. E baseadas nestas repostas formularam

toda a sua ação missionária e evangelística fazendo com que a resposta do

12

GONZALES, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão: De Agostinho às

vésperas da reforma. Volume 2. São Paulo: Cultura Cristã. 2004 p.42 De acordo com

Gonzáles Agostinho considerava o livre arbítrio como um bem intermediário, pois ele poderia

fazer tanto o bem como o mal.

13 CALVINO op.cit. livro 1. cap.15 § 8 p. 123

14 Ibid. livro 1. cap.15 § 8 p.124

15

homem ao evangelho se centraliza-se ora na vontade do homem ora na

soberania divina. Mas assim como o diagnóstico errado da enfermidade faz

com que o enfermo tome o remédio errado ficando ainda mais doente; uma

visão errada das conseqüências da queda fará com que a Igreja apresente o

evangelho de uma forma errada e prejudicial e desonrosa ao nome de Deus.

16

CAPÍTULO 2: AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA

A Bíblia declara a realidade da queda do homem no Éden. Assim, o

homem tendo sido criado por Deus e colocado no jardim para, ali manter

comunhão intima com seu criador se vê agora expulso do paraíso por causa da

desobediência.

Que Adão desobedeceu a Deus todas as linhas teológicas concordam.

Mas, no que tange a como este ato de Adão afetou o restante da humanidade

e como ele se relaciona com a capacidade do homem em responder ao

evangelho, as diversas linhas se distanciam consideravelmente.

Um dos fundamentos sobre os quais a vocação eficaz se edifica é sobre

a realidade da queda e a necessidade que o homem tem de ser salvo. No

entanto a missão evangelística da igreja será consideravelmente afetada se as

conseqüências da queda não forem corretamente entendidas.

1. O Pelagianismo – A liberdade completa do pecado

Pelágio foi um monge britânico nascido possivelmente na Irlanda e que

estava em Roma por volta do ano 400 d.C15. Ele era um moralista sincero que

convocava os homens a serem cumpridores dos mandamentos divinos. Para

ele “Deus não havia ordenado nada impossível. Que o homem possuía o poder

de fazer o bem se assim o desejasse e que a fraqueza da carne era apenas um

pretexto.”16 Foi exatamente por este apelo ao moralismo da sociedade que

Pelágio se levantou contra Agostinho de Hipona.

O ponto inicial de toda controvérsia se dá por meio de uma oração

escrita de Agostinho, que dizia: “Dar o que tu ordenas, e ordenar o que tu

queres.”17

15

WRIGHT, Mc Gregor; A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna.

São Paulo: Cultura Cristã. 1998. pág.22

16 SPROUL, R. C; Sola Gratia: A controvérsia sobre o livre-arbítrio na história. São

Paulo: Cultura Cristã. 2001. pág. 29

17 WRINGHT. Op. Cit. pág. 22 - Existem certas variações da mesma frase de

Agostinho como a seguinte: concede o que tu ordenaste, e ordena o que tu desejas ( Sola

Gratia p. 30).

17

Pelágio se tornou temeroso de que a oração de Agostinho pudesse conduzir à imoralidade e lassidão porque ela implicava que mesmo os regenerados não poderiam obedecer a Deus a menos que fossem continuamente capacitados pelos dons da graça divina.18

O ponto nevrálgico para Pelágio é a parte inicial da oração: “Dar o que

me pedes” o homem, dizia ele, não precisa de permissão para cumprir o que

está ordenado. Portanto o que Agostinho esta pedindo era algum tipo de

assistência vinda de Deus que ajudaria o homem a cumprir o que o próprio

Deus havia ordenado. Pelágio levantou a seguinte questão: “A assistência da

graça é necessária para o ser humano obedecer aos comandos de Deus? ou

esses comandos podem ser obedecidos sem esta assistência?” 19

A resposta dada por ele era claramente a que ressaltava a capacidade

da humanidade cumprir por ela mesma, sem a necessidade de auxílio divino,

tudo o que Deus lhes havia ordenado.

A ordem de obedecer implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas à lei moral de Deus, mas, também aos comandos inerentes ao Evangelho. Se Deus ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se arrependam, eles devem ter habilidade de se inclinarem para obedecer ao comando.20

Para Pelágio a natureza humana não precisa ou não requer o auxílio da

graça divina21 para o cumprimento dos mandamentos e ordenanças divinas.

Mas, apenas o exercício do livre-arbítrio era suficiente para fazer o homem

capaz de obedecer. “por meios do seu próprio esforço, o homem pode alcançar

tudo o que se requer dele na moralidade e na religião.”22

18

Ibid. pág. 22

19 SPROUL; Sola Gratia. Pág.30

20 Ibid. pág. 30

21 GONZALES, Op. Cit. pág. 31 – Gonzáles explica que isto não significa que no

pensamento pelagiano a graça é completamente descartada. Pois Pelágio fazia a distinção

entre três tipos de Graças. 1º Graça original ou graça da criação que é dada para todos. 2º

Graça da revelação ou graça do ensino, que consiste na revelação de Deus mostrando o

caminho que o homem deve seguir. 3º A graça do perdão – esta é a graça que Deus concede

àqueles que pelo seu livre arbítrio se arrependem de seus pecados.

22 SPROUL; Sola Gratia. pág. 31

18

A doutrina do estado original do homem está em uma posição subordinada no sistema de Pelágio, mas a doutrina da liberdade é central; porque em sua visão o estado original coincide substancialmente com o presente, desde que a liberdade é a característica essencial do homem como um ser moral em todo o estágio do seu desenvolvimento.23

1.1. Entendendo o pensamento de Pelágio

Para Pelágio os atributos essenciais de Deus são a sua justiça e a sua

bondade. É o exercício destes atributos que o faz ser Deus. Sendo Deus

absolutamente bom toda a sua criação deriva dele a sua bondade. Assim toda

a criação é boa, sendo uma das características essenciais do homem a

liberdade. Para Pelágio:

Ele (Adão) foi favorecido com razão e vontade livres. Com esta razão ele tinha domínio sobre as criaturas irracionais; com sua vontade livre ele servia a Deus. Liberdade é o supremo bem, a honra e a glória do homem, que não pode ser perdida; é a base única do relacionamento ético do homem para com Deus... O Livre arbítrio é a liberdade de escolha, a habilidade absolutamente igual de, em muitos momentos, fazer o bem ou o mal. A capacidade de fazer o mal depende necessariamente da liberdade, porque nós não desejamos o bem sem a mesma possibilidade de desejar o mal.24

Além desta razão e vontade livres Adão possuía uma santidade natural

recebida de Deus como um dom inerente a sua criação.25

A natureza humana foi criada não apenas boa, mas, incontestavelmente

boa, “inocente, livre das tendências depravadas, e perfeitamente capaz de

obedecer a Deus, como Adão o foi na sua criação.” 26 A liberdade com a qual o

homem foi favorecido é a base para todo o seu desenvolvimento. “uma tabula

rasa sobre a qual o homem pode escrever tudo o que lhe agrada.” 27 Assim o

mal não é algo essencial à natureza caída visto que este mal é uma das

23

__________________The master Christian Library. Version 8. SCHAFF,

Philp;History of the Christian Church. Vol. 3 . pág. 605 em

24 ibid. pág. 605, 606

25 SPROUL, Sola Gratia, pág. 34

26 STRONG, Augustus Hopkins,Teologia Sistemática.São Paulo: Editora Hagnos. 2003.

pág. 209

27 Ibid. pág. 32

19

possibilidades que se apresenta ao homem podendo ele escolher entre fazer o

bem ou fazer o mal. “o homem não é um ser moral subjetivamente auto

determinado, mas bondade e maldade, vida e morte tem sido dado em suas

mãos” 28 Independente de Deus ou de sua graça.

Se a vontade do homem é uma tabula rasa perpétua, então quando uma pessoa peca, a natureza da vontade não passa por uma mudança e nem por uma deformação. Não há uma corrupção inerente no homem. Não há predisposição ou inclinação para o pecado que é em si mesmo, um resultado do pecado.29

Assim sendo a única conseqüência real da queda de Adão é o mau

exemplo30 que ele passou aos seus descendentes que não significa corrupção

da raça. O ato de Adão no éden feriu somente a ele e de modo algum os seus

descendentes31. A essência do homem é boa, pois partilha do ato criativo de

Deus que é bom. A natureza não pode ser mudada em sua essência. Assim,

quando o homem peca o que muda é o seu comportamento e não a sua

essência.32 O mal é mera possibilidade que pode ser resistido pelo exercício do

livre arbítrio, pois “o pecado é sempre um ato e nunca uma natureza.”33

Quando o ser humano comete um erro, sua natureza não é afetada; mais tarde, é capaz de fazer o que é certo tanto quanto o era antes de cometer o erro. Como uma porta de vaivém, que se abre para dentro ou para fora, o homem sempre volta à posição neutra.34

Desta forma conclui-se do pensamento de Pelágio a possibilidade, ou

até mesmo a realidade de homens sem pecados. “Os homens podem ser

salvos pela lei como pelo evangelho; e, na verdade, alguns obedeceram a

Deus de um modo perfeito e assim foram salvos.”35

28

SCHAF, op. cit. pág. 606

29 SPROUL, Sola Gratia, pág.33

30 HOEKEMA, Anthony Criados a Imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã. 1999.

pág. 174

31 STRANG. Op. cit. pág. 209

32 SPROUL, Sola Gratia . pág. 33

33 Ibid. pág. 33

34 HOEKEMA, Op. Cit. pág. 174

35 STRONG. Op. Cit. pág. 209

20

Explicando o pecado de Adão Pelágio ressalta alguns aspectos

interessantes. Adão pecou por vontade própria sem ser coagindo por qualquer

ser, incluindo Deus. Este pecado não resultou na corrupção de sua natureza e

não teve como causa a morte física, pois Adão, segundo Pelágio teria sido

criado mortal, ou seja, ele morreria independente de ter pecado, pois a morte

física seria apenas uma lei original da natureza.36 Mas resultou em sua morte

espiritual “que não era a perda da habilidade moral ou uma corrupção inerente,

mas a condenação da alma por causa do pecado.” 37

A descendência de Adão não herdou as conseqüências de seus atos.

Eles continuaram morrendo visto terem sido também criados mortais e não

herdaram a morte espiritual, mas se afastaram de Deus por pecados

particulares cometidos. Ao explicar o texto de Romanos 5.12 onde Paulo diz

que a morte entrou no mundo pelo pecado de Adão e esta morte passou a

todos os homens, Pelágio comenta: “A morte passou a todos os homens,

porque todos pecaram, significa: todos incorreram na morte eterna porque

pecaram seguindo o exemplo de Adão.”38

As diferenças entre Adão e seus descendentes na visão de Pelágio é

apenas as do local e início da vida. Adão foi criando Adulto e já desenvolvido

em sabedoria enquanto seus filhos nasceram crianças e precisaram crescer no

conhecido. Enquanto Adão foi criado em um paraíso longe do mal, seus

descendentes nascem em um mundo influenciado pelo mal. Mas ambos, Adão

e seus descendentes, possuem em comum a natureza sem pecado.39 Embora

a descendência seja mais forte que o próprio Adão visto que os descendentes

cumprem durante a vida diversos mandamentos enquanto Adão não cumpriu

nenhum.40 Assim a humanidade não possui a corrupção e a culpa pelo pecado

de Adão, mas somente seus próprios pecados e não podem ser condenados

pelo pecado de seu primeiro pai.

Pelágio considerava a doutrina do pecado transmitido e a do pecado original como uma doutrina blasfema arraigada no maniqueísmo. Pelágio insistia que seria injustiça de Deus

36

Ibid. pág 209

37 SPROUL, Sola Gratia. pág 34

38 STRONG. Op. Cit. pág 209

39 SPROUL, Sola Gratia. pág 35

40 STRONG. Pág 210

21

transmitir ou imputar o pecado de um homem a outros... O pecado original envolveria uma mudança na natureza constituinte do homem de boa para má. O homem se tornaria naturalmente mau. Se o homem fosse mau por natureza, tanto antes quanto depois do pecado de Adão, então Deus seria considerado o autor do mal.41

O sistema pelagiano, embora tenha conquistado alguns seguidores não

prevaleceu na igreja tendo sido condenado pelos concílios de Cartago em 418

d.C e pelo concílio de Éfeso em 431 d.C. Neste sistema não há a necessidade

de uma vocação eficaz, visto que cabe ao homem deixar o mau exemplo de

Adão e seguir voluntariamente a Deus deixando até mesmo de cometer

pecados neste mundo vivendo de uma forma santa.

Entretanto a possibilidade de existência de pessoas sem pecado deveria

significar a possibilidade de sociedades sem pecados, mas o que se percebe

mundo a fora é a corrupção enraizada no coração dos homens os afastando

cada fez mais de Deus.

Uma derivação do sistema pelagiano reconhece o pecado original, mas

também leva o pensamento para longe da realidade bíblica é o que será visto a

seguir.

2. O Semipelagianismo

Embora o pelagianismo tenha sido condenado pela igreja, à doutrina

expressa por Agostinho não foi de todo aceita tendo sido alvo de grande

controvérsia. A principal questão da controvérsia diz respeito à graça e a

predestinação. Os oponentes de Agostinho nesta questão:

Têm sido tradicionalmente chamados de semi-pelagianos, embora tal nome não seja totalmente justificado. De fato, os assim chamados semi-pelagianos eram, na verdade, semi-agostinianos. Que rejeitavam as doutrinas de Pelágio e admiravam e respeitavam Agostinho, embora não estivessem dispostos a seguir o bispo de Hipona até as últimas conseqüências de sua teologia.42

A oposição ao pensamento de Agostinho surgiu primeiramente na áfrica

do Norte. Seus oponentes eram contra a “visão de que o homem caído é

41

Ibíd. pág. 34

42 GONZALES. Op. Cit pág 56

22

moralmente incapaz de se inclinar à graça de Deus.”43 Antes de se iniciar a

discussão da visão semi-pelagiana é importante salientar que nas respostas

dadas tanto por parte dos defensores de Agostinho quanto dos proponentes

semipelagianistas a visão de que o assunto proposto se tratava de questões

ligadas à religião cristã e interpretação dada ao princípio das escrituras. O

mesmo não acontecia para com os pelagianos, visto que “essencialmente,

tanto os agostinianos quanto os semi-pelagianos tendem a considerar o

pelagianismo como uma heresia tão séria a ponto de chamá-la de não cristã”44.

O oponente histórico mais destacado das fronteiras semipelagianas foi

sem dúvida João Cassiano. Um monge que se estabelecera nas regiões de

Marselha na França, que supostamente foi um dos discípulos de João

Crisóstomo.45 Ele é tão identificado com o semipelagianismo que este, algumas

vezes, é chamado de Cassianismo.46 A intenção de Cassiano não era a de dar

ao homem um lugar de destaque na soteriologia cristã, mas o de reconhecer a

responsabilidade moral do homem frente ao evangelho e a graça de Deus que

é oferecida a todo o mundo.

2.1. Entendendo o pensamento semipelagiano

Seus defensores defendiam que os ensinos de Agostinho eram novos e

um afastamento do ensino dos pais da igreja. Seus argumentos eram: Sendo

as escrituras a regra de fé a Igreja, ela deve ser guiada por ela. Mas sendo

difícil a sua interpretação Deus levantou a tradição da Igreja para guiar o seu

povo pelo caminho certo da interpretação.47 “O senhor deu a tradição como um

meio de determinar em que se deve acreditar.” 48 Não sendo, portanto

43

SPROUL, Sola Gratia pág. 72

44 Ibíd. pág 72

45 GONZALES, Op. Cit. pág. 57

46 SPROUL, Sola Gratia Pág. 72

47 Note-se aqui o princípio hermenêutico do Catolicismo romano, onde a igreja

interpreta as escrituras para os fiéis. Assim é o clero que determina o caminho e não o texto

bíblico.

48 GONZALES, Op. Cit. Pág., 58

23

encontrado o ensino da predestinação de Agostinho na tradição da Igreja ele

deve ser rejeitado como uma inovação que não tem lugar na Igreja.49

O ensino da predestinação tornava desnecessário o ofício da pregação

como instrumento para a salvação um vez que os salvos serão salvos. No

entanto o homem é responsável em se aproximar de Deus. E é exatamente

neste ponto que o agostinianismo se distancia radicalmente do

semipelagianismo. Dizem eles que o primeiro passo da fé depende da

liberdade humana.50

Embora a Graça de Deus seja necessária para a salvação e assista a vontade humana no fazer o bem, é o homem, não Deus, quem deve desejar o que é bom. A graça é dada afim de que aquele que começou a desejar seja assistido, não para dar o poder de desejar.51

Por conseguinte Deus deseja a salvação de todos os homens

propiciando assim por meio do sacrifício vicário e expiatório de Cristo52 a

propiciação pelos pecados; disponível a todos os homens53 indistintamente. De

fato Deus predestinou àqueles que seriam salvos, mas esta predestinação se

baseia na presciência divina. Ou seja, aqueles a quem Deus sabia que o

aceitariam ele destinou para a salvação. A conclusão lógica deste raciocínio é

o de que não existe um número determinado e restrito para os salvos, pois

Deus deseja que todos os homens sejam salvos. “a assim chamada

predestinação é nada mais do que o julgamento de Deus baseado no pré-

conhecimento divino do que cada um fará com a liberdade”.54

Diferentemente de Pelágio o semipelagianismo reconhece a

universalidade do pecado e a introdução deste pecado por meio da queda de

Adão. Mas as conseqüências da queda não foram ruína completa, ou a

depravação total do gênero humano. Estas conseqüências, segundo o

semipelagianismo foi uma doença hereditária. O homem não está morto em

pecado, mas apenas ferido55. O livre-arbítrio de Adão foi infectado pela queda,

49 Ibid. pág. 58

50 Ibid pág. 59

51 SPROUL, Sola Gratia. pág 73

52 Ibid. pág. 75

53 GONZALES. Op. Cit. pág. 59

54 Ibid. pág. 59

55 SPROUL. Sola Gratia pág. 76

24

e algo ali aconteceu tirando-lhe a pureza original, não ao ponto de haver uma

perda total deste livre-arbítrio, mas apenas uma debilidade, sendo que a

vontade do homem não foi completamente destruída e nem é moralmente

impotente de forma completa. A liberdade do homem não foi aniquilada na

queda56.

Assim sendo o homem pós queda precisa da graça de Deus para a

justiça, mas esta graça é resistível, pois o homem pode e deve cooperar com

ela. Neste ponto pode-se concluir do pensamento semipelagiano que o homem

morto em seus delitos e pecados uma vez alcançado pela graça de Deus tem o

poder e o direito de escolher permanecer em seu estado de pecado rejeitando

desta forma a Deus.

A diferença entre Agostinho e Cassiano é a diferença entre monergismo e sinergismo no começo da salvação... O semipelagianismo é com relação ao passo inicial do pecador em direção à salvação decididamente sinergístico.57

O homem deve contribuir com a sua vontade débil se voltando para Deus e

para a sua graça que, gratuitamente, é oferecida a todos os homens.

Aqui vale fazer uma breve distinção entre o semipelagianismo e o

arminianismo visto que os dois sistemas são muito parecidos. Mas qual seria a

diferença entre eles. Para o semipelagianista o homem possui uma capacidade

volitiva inerente a ele e que não foi perdida na queda, possibilitando que ele,

sem qualquer ajuda de Deus possa responder ao evangelho e por fim se

salvar. Enquanto que o arminianismo defende a idéia de que em estado de

pecado só pode ser liberto deste estado pela graça de Deus. o homem não

possui uma capacidade volitiva que o capacite a sair de seu estado de pecado,

mas possui a capacidade de negar o convite do evangelho.58

Historicamente a controvérsia semipelagiana teve seu fim no concílio de

Orange em 529 d.C59 não obstante tenha havido ainda por muito tempo o

desenvolvimento deste movimento. O concílio de Orange, embora condenando

o pelagianismo e algumas posições semipelagianas não fez mais do que

56

Ibíd. pág. 76

57 SPROUL. Sola Gratia. pág. 75

58 HOEKEMA, Anthony. Salvos pela graça: a doutrina bíblica da salvação. São Paulo:

Cultura Cristã. 1997. pág. 87

59 GONZALES. Op. Cit. pág 60

25

adotar um agostinianismo moderado. As doutrinas da predestinação e da graça

irresistível de Agostinho foram omitidas dos pronunciamentos do concílio e a

igreja tentou adotar uma via média entre a posição de Agostinho e Cassiano,

ainda que com maior pendência para Agostinho.60Os cânones deste concílio

foram desconhecidos da grande maioria durante grande período da idade

média, embora fosse o posicionamento oficial da igreja frente às posições

semipelagianas.

Séculos mais tarde, após a reforma protestante do século 16 a Igreja

Católica Apostólica Romana61 inicia uma contra reforma contra o movimento

reformista liderado por Lutero tendo como pedra de fundamento o concílio de

Trento. Este concílio se reuniu na cidade de Trento entre os anos de 1545 a

1563 e é considerado o concílio que marca o nascimento da igreja católica

moderna.62

As questões mais importantes deste concílio são as que tratam a

respeito da justificação, considerado o coração do concílio, que constou de 16

capítulos e 33 cânones. Os três primeiro Cânones claramente são uma

afirmação da posição da igreja contra o pelagianismo ao afirmar a

incapacidade do homem caído alcançar a justificação, por isso este homem

tem a necessidade de Cristo para que àqueles a quem ele (Cristo) comunique

os seus méritos possam ser justificados.63 No entanto nota-se a presença da

concepção semipelagiana nos cânones 4 e 5. O cânone 4 diz:

Se alguém disser que o livre-arbítrio do homem (quando) movido e despertado por Deus; por consentimento ao chamado e ação de Deus, não coopera de forma alguma com respeito ao inclinar-se e preparar-se para obter a graça da justificação, e que ele não pode recusar seu consentimento se o desejar, mas que, como algo inanimado nada faz e é meramente passivo, que seja anátema.64

A grande questão é saber até que ponto o homem morto em seus delitos

e pecados pode contribuir na aceitação, pois o texto diz que o homem coopera

60

SPROUL. Sola Gratia. pág. 79

61 Doravante será identificada pela sigla ICAR.

62 GONZALES, Justo L. Uma história ilustrada do Cristianismo volume 6: A era dos

reformadores. São Paulo: Vida Nova, Reimpressão 2005. pág. 199, 200

63 GONZALES, Justo, L. Uma História do Pensamento Cristão: Da Reforma Protestante

ao século 20. Volume 3. . São Paulo: Cultura Cristã. 2004. pág. 244

64 SPROUL, Sola Gratia. Pág. 80

26

na recepção da graça aceitando-a ou rejeitando-a. A teologia agostiniana que

supostamente era o fundamento da igreja desde o concílio de Orange,

responde a esta pergunta concordando com a primeira parte do cânone onde

se diz que somente depois de movido ou despertado por Deus o homem pode

se voltar para o seu criador. No entanto há uma negação clara do pensamento

de Agostinho no fim da passagem onde se afirma que o homem pode rejeitar a

graça de Deus que lhe é oferecida; e isto é semipelagianismo. Visto que a

teologia agostiniana afirma que o homem alcançado e despertado pela graça

de Deus não rejeita esta graça, mas persevera nela até o fim. Todavia a igreja

assume a posição de liberdade de escolha do homem mesmo em estado de

pecado.

A posição semipelagiana da ICAR fica de forma ainda mais evidente na

conclusão do 5º Cânone depois de afirmar que a justificação tem início na

graça precedente de Deus, mas cabe ao homem, por meio de seu livre-arbítrio

aceitá-la ou rejeitá-la.65 O cânone diz o seguinte:

Se alguém disser que após o pecado de Adão, o livre-arbítrio foi perdido e destruído, ou que ele é algo apenas em nome, na verdade um nome sem realidade, uma ficção introduzida na igreja por Satanás, seja anátema.66

Percebe-se claramente a posição semipelagiana durante o século 16 na

ICAR. No entanto não houve uma mudança de posicionamento na teologia

católica pós - concílio, pelo contrário, apenas reafirmações da desta posição.

Vê-se isto no catecismo oficial67 da ICAR e usado para a catequese de seus

fieis.

O catecismo afirma o livre-arbítrio do homem nos seguintes parágrafos:

173068 Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. "Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão" (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz

65

GONZALES, Uma História do Pensamento Cristão: Da Reforma Protestante ao

século 20. Pág. . 245

66 SPROUL. Sola Gratia pág. 82

67 Catecismo Consultado no Site: www.catequisar.com.br/tx/materiaispg_cat.htm

68 Os números se referem aos parágrafos. Eles são classificados numericamente

tornando fácil encontrá-los.

27

perfeição. O homem é dotado de razão e por isso é semelhante a Deus: foi criado livre e senhor de seus atos.

1731. A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.

O catecismo continua afirmando que mesmo longe de Deus o homem

pode escolher entre o que é bom e o que é mal.

1732 Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último, que é Deus, a liberdade comporta a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, portanto, de crescer em perfeição ou de definhar e pecar. Ela caracteriza os atos propriamente humanos. Toma-se fonte de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito.

Cabe ao homem aceitar por vontade própria ao convite do evangelho

sem a intervenção de Deus em seu coração tirando-lhe da morte para a vida.

160 Para que o ato de fé seja humano, "o homem deve responder a Deus, crendo por livre vontade. Por conseguinte, ninguém deve ser forçado contra sua vontade a abraçar a fé. Pois o ato de fé é por sua natureza voluntária”. "Deus de fato chama os homens para servi-lo em espírito e verdade. Com isso os homens são obrigados em consciência, mas não são forçados... Foi o que se patenteou em grau máximo em Jesus Cristo." Com efeito, Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo algum coagiu. "Deu testemunho da verdade, mas não quis impô-la pela força aos que a ela resistiam. Seu reino... se estende graças ao amor com que Cristo exaltado na cruz, atrai a si os homens."

Esta é a posição da ICAR das conseqüências da queda no homem. O

que historicamente se tem chamado de Semipelagianismo. Percebe-se a

posição contrária a uma vocação eficaz no sistema semipelagiano visto que o

chamado de Deus por meio da pregação e iluminação do Espírito não é

suficiente para trazer o homem do estado de pecado para o estado de graça.

Cabendo a cada indivíduo por quem Cristo morreu, segundo o sistema

semipelagiano, responder por si mesmo à voz de Deus. Neste sistema não

existe uma chamada vocação eficaz, mas sim uma resposta eficaz do pecador

a Deus.

28

Outro sistema, extremamente parecido com o semipelagianismo surge

na história só que agora dentro do circulo reformado e que também ressalta a

liberdade do homem em aceitar ou negar o convite do evangelho.

3. O Arminianismo

O arminianismo deriva seu nome de um teólogo e pastor holandês

chamado Jacó Armínio (1520-1609). Ainda que educado na tradição

reformada, ele se inclinou para o humanismo de Erasmo de Roterdã69

passando a questionar a doutrina da predestinação como ensinado por Calvino

e sustentando a liberdade do homem. Seus seguidores chamados arminianos

ou sectários de Armínio passaram a ensinar suas doutrinas baseadas sobre

tudo na premissa de que o homem precisa cooperar com a graça70 divina antes

que possa ser regenerado.

A teologia arminiana se apresenta de forma muito confusa no que tange

o entendimento da queda do homem e as conseqüências que esta queda

trouxe para a humanidade e do relacionamento do homem caído para com

Deus. Em um primeiro instante a descrição da queda parece se confundir com

os conceitos reformados, mas somente até se compreender que para o

arminiano a queda não impossibilitou o relacionamento do homem com Deus.

3.1. Entendendo o pensamento arminiano

O homem foi criado à imagem e a semelhança de Deus e colocado em

um ambiente ideal recebendo tudo o que lhe era necessário para a o seu

desenvolvimento material, afetivo e espiritual. Neste ambiente o homem

poderia se relacionar harmoniosamente como seu semelhante e manter

comunhão com o seu criador. O homem criado a imagem de Deus recebeu

inteligência, emoção e vontade. E desta maneira era um agente moral livre e,

portanto tinha a capacidade de escolha. No entanto eles não eram

69

SPENCER, Duane Edward. Tulip: Os cinco Pontos do Calvinismo à luz das

Escrituras. 2ª Edição. São Paulo: Edições Parakletos. 2000 pág. 11

70 HOEKEMA, Criados a Imagem de Deus. Pág. 87

29

completamente santos. Duffield e Cleavan (teólogos arminianos) se expressam

desta maneira:

Nossos primeiros pais possuíam naturezas santas, mas não tinham um caráter santo. Natureza santa é resultado da criação, o caráter santo é o resultado de um teste em que se faz a escolha do bem quando seria possível decidir-se pelo mal.71

No entanto, seduzidos pelo diabo, Adão e Eva desobedeceram a Deus e

comeram do fruto que lhes havia sido proibido comer. Entrava desta forma o

pecado no mundo. “O resultado do pecado de Adão foi vergonha, culpa,

separação e morte não só para ele mesmo, mas para toda a raça humana.”72

Pelo ato de desobediência os primeiros pais entraram em um estado de culpa,

ou seja, a responsabilidade legal pelo erro praticado aos olhos de Deus, o que

incorre em penalidade.73 Perderam a Inocência original, tiveram a imagem de

Deus distorcida e se tornaram escravos do pecado.74

A essência do pecado, portanto, é optar pela satisfação do próprio “eu”

em lugar do original e mais elevado objetivo na vida – buscar a Deus e a sua

Justiça.75 Agora a partir de Adão todo gênero humano foi inteiramente infectado

pelo pecado. Sendo Adão o cabeça representativo da raça humana o seu ato

traz conseqüências a toda a sua posteridade. O homem passa a receber a

natureza genérica de Adão que foi corrompida com base na aliança adâmica.76

Mas o quanto esta queda verdadeiramente afetou a condição humana?

Tiago Armínio falando sobre a conseqüência da queda diz:

Nesse estado, o livre-arbítrio do homem em direção ao verdadeiro bem fica não apenas ferido, mutilado, débil, torto e enfraquecido, mas também prisioneiro, destruído e perdido. E seus poderes não

71

DUFFIEL, Guy P.; CLEAVE, Nathaniel M. Van; Fundamentos da teologia

pentecostal. V.1 São Paulo: EPQ George Russell Faulker. 1991. pág.190

72 Ibid pág. 188

73 HORTON, Stanley M.; MENZIES, William W. Doutrinas Bíblicas: Uma Perspectiva

Pentecostal. Rio De Janeiro: CPAD. 1993. pág. 93

74 Idem. pág. 93

75 Idem. pág. 94

76 HORTON, Stanley M. Teologia sistemática. 4ª Edição. Rio De Janeiro: CPAD 1997

pág. 275, 276

30

são apenas debilitados e inúteis a não ser que sejam assistidos pela graça divina...77

Os teólogos arminianos sustentam a posição de Armínio

contemporaneamente dizendo que: “Por estar à natureza Humana tão

deteriorada pela queda, pessoa alguma tem a capacidade de fazer o que é

espiritualmente bom sem a ajuda graciosa de Deus...”78

Armínio não apenas afirma a escravidão da vontade, mas insiste em que o homem natural, estando morto no pecado, existe num estado de inabilidade moral ou impotência... O único remédio para a condição caída do homem é a operação graciosa do Espírito de Deus. A vontade do homem não é livre para fazer qualquer bem a não ser que seja feita livre ou libertada pelo Filho de Deus mediante o Espírito de Deus.79

Esta graça de Deus é chamada pelos arminianos de graça preventiva80

e é oferecida a todos os homens. É exatamente aqui o ponto de afastamento

entre o calvinismo e o arminianismo. Enquanto a teologia calvinista sustenta a

irresistibilidade da graça de Deus, ou seja, aqueles a quem Deus dispensa a

sua graça salvadora não podem deixar de vir a Cristo, mas são vencidos em

sua aversão a Deus e por fim são salvos, ou seja, são eficazmente chamados.

A teologia arminiana diz que esta graça dispensada a todos os homens pode

sim ser resistida. Assim se expressa Armínio:

Todas as pessoas não-regeneradas têm liberdade de vontade e uma capacidade para resistir ao Espírito Santo, para rejeitar a oferta da graça de Deus, para desprezar o Evangelho da graça e para não abrir àquele que bate à porta do coração; e essas coisas eles realmente podem fazer sem qualquer diferença entre o eleito e o réprobo.81

77

SPROUL; Sola Gratia pág 137 Percebe-se claramente que a visão de Armínio não

difere da perspectiva reformada calvinista, Sproul salienta que Armínio “insistiu em que a

vontade do homem atingida pela queda estava aprisionada, destruída e perdida. As maneiras

de se expressar de Agostinho, Martinho Lutero ou de João Calvino dificilmente são mais fortes

do que a de Armínio”

78 HORTON, Stanley M. Teologia sistemática. Op. Cit. pág. 269

79 SPROUL; Sola Gratia .pág. 140

80 Idem pág. 142 Graça preventiva: do latim VENIO que significa simplesmente “vir”.

Com o prefixo PRE que significa “antes”, portanto graça preventiva é a graça que vem antes da

salvação.

81 Idem pág. 143

31

A teologia arminiana é extremamente confusa no tocante a pratica do

homem em relação às coisas de Deus. Se por um lado o homem é

espiritualmente morto, fato ensinado e defendido pelos arminianos por outro

lado eles também ensinam que o homem pode voluntariamente e de forma

positiva responder ou não à graça de Deus. Os teólogos arminianos tentam se

defender da acusação de serem semipelagianos82, entretanto basta uma

análise de sua “ordus Salutis” para se perceber que é o homem que possui a

total responsabilidade na salvação.

O homem recebe a natureza genérica83 de Adão que foi corrompida pelo

pecado, sem, contudo ser ele mesmo corrompido nem culpado por causa desta

natureza genérica. Mas esta natureza genérica o impede de agradar a Deus.84

embora não o torne culpado diante dele. Para que o que homem seja

condenado como pecador é necessário que ele peque por si mesmo. Ele só se

torna pecador com a sua participação responsável. “A tentação bem-sucedida

requer a colaboração do indivíduo tentado. Ele deve ceder como Adão e Eva

cederam.”85 Embora ele possua uma força positiva para o mal86, mas que não

necessariamente desembocará em pecado.

Contudo “não é necessário ao homem aprender a pecar. O princípio do

pecado está em sua própria natureza desde os primeiro dias de vida.” Esta

natureza herdada o levará ao pecado e, por conseguinte culpado diante de

Deus.

É por esta convicção a respeito do pecado que os arminianos sustentam

que as crianças, muito embora possuindo a natureza genérica de Adão, não

são condenadas a perdição eterna quando morrem na infância. Elas estariam

debaixo da ira de Deus somente após atingirem a “idade da razão” e terem

pessoal e responsavelmente cometido algum pecado.

82

Os semipelagianos sustentam que: Embora a humanidade tenha se enfraquecido

com a natureza de Adão, sobrou livre-arbítrio suficiente para a iniciativa de ter fé em Deus e

então ele corresponderá.

83 Este termo é utilizado pela literatura arminiana sem que seja definida de forma clara.

84 HORTON, Stanley M. Teologia sistemática. Op. Cit pág. 276

85 DUFFIEL e CLEAVE. Op. cit. pág. 209

86 idem . pág 221

32

Assim percebe-se na teologia arminiana a participação direta do homem

em responder ou não a vocação divina. Está no homem, como ser moral

responsável aceitar ou não aceitar, mesmo que iluminado pelo Espírito santo, o

evangelho da Graça. Usando a analogia da ressurreição de Lázaro (Jo 11),

para a teologia arminiana, Lazaro poderia escolher como agente moral

permanecer morto, mesmo tendo sido chamado por Cristo. Neste modelo a

salvação dependendo do homem, mesmo que a graça parta de Deus. Pois

cabe ao homem dizer sim, ou não, neste caso a vocação não é eficaz, mas

condicional a vontade volúvel do homem.

Sendo a vocação condicional a vontade do homem, conclui-se a

completa incerteza da salvação pessoal por parte dos cristãos arminianos que

a qualquer momento podem decidir rejeitar a graça de Deus e voltarem para o

seu estado de pecado. Assim a vocação não é eficaz no seu chamamento e

nem mesmo a graça perseverante no coração arminiano.

Mas o que as escrituras ensinam a respeito da queda e de suas

conseqüências no homem? Respondendo a esta pergunta o sistema Calvinista

claramente é o que faz justiça ao ensino escriturístico. Passemos a ele.

4. O Calvinismo

Calvino assim com Lutero deriva quase que a totalidade de seus ensinos

nos escritos de Agostinho. Esta constatação é feita por qualquer estudante que

já tenha lido o teólogo de Hipona e o tratamento sobre o pecado feito pelo

reformador genebrino. “Na verdade há pouca coisa original, se houver alguma,

na visão de Calvino sobre a vontade ou sobre a predestinação.”87

O ensino calvinista sobre as conseqüências do pecado se inicia na

criação do homem. Calvino procura tratar deste assunto tentando evitar dois

erros. O primeiro o da negligência, que poderia levar os homens a mais

pecados. E o segundo o da atribuição da glória da nossa redenção a outro que

não fosse Deus. Pois uma visão errônea sobre as conseqüências do pecado

levam os homens a se considerarem capazes de se aproximarem de Deus,

acentuando a responsabilidade do homem frente ao chamado do evangelho. E

87

STRONG. Op. Cit pág 134

33

é neste ponto que Calvino se levanta contra o ensino religioso de seus dias,

pois os considerava nada mais que uma tentativa de reconciliar a doutrina das

escrituras com os dogmas da filosofia.

4.1. Ponto inicial: da Criação do homem.

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Que consiste de

perfeitas sabedoria, justiça, virtude, santidade e verdade. Esta imagem atestou

ao homem uma singular generosidade do seu criador. Porque se ligou

fortemente a ele pela participação de todos os bens, para viver eternamente,

desde que perseverassem na integridade que tinha recebido. No ato de sua

criação o homem foi dotado com a capacidade de fazer e escolher o bem em

todas as circunstâncias. Para que se entenda de maneira correta as

conseqüências da queda de Adão é necessário que se tenha por certo que

Adão

Poderia se quisesse permanecer como havia sido criado; e não caiu senão por sua própria vontade. Mas porque sua vontade era flexível, tanto para o bem como para o mal, e não tinha o dom da perseverança, por isto caiu tão facilmente. No entanto teve livre eleição do bem e do mal; e não somente isto, teve também o máximo de retidão de entendimento e de vontade, e todas as suas faculdades orgânicas estavam preparadas para obedecer.88

O mandamento que o homem deveria se submeter era o de não comer

do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Sendo lhe feita à promessa “que

seria imortal enquanto comesse da árvore da vida; e pelo contraio, a terrível

ameaça de que no momento em que comesse da árvore da ciência do bem e

do mal, morreria.”89

Mas homem enganado pelo diabo comete o primeiro pecado, a

desobediência. Sendo assim infiel a Deus deixando de lado a sua palavra. O

homem que havia, apouco sido feito do pó da terra à semelhança de Deus, não

se contenta com isto, mas deseja mais; ser não apenas semelhantes, mas

igual a Deus.90

88

Ibid. Livro 1; Cap.15 § 8 pág. 123

89 Ibid. Livro 2; cap. 1 § 4 pág. 163

90 Ibid. Livro 2; cap. 1 § 4 pág. 164

34

Com o ato de desobediência de Adão a Imagem de Deus no homem foi

manchada e veio sobre ele a ignorância, a fraqueza, a torpeza, a vaidade e a

injustiça culminando na maior das conseqüências do pecado sobre o homem

que foi a morte. Não a dúvida de que Adão ao cair de sua dignidade, pela sua

apostasia se apartou de Deus. No entanto Deus não permitiu que a sua

imagem, com a qual o homem foi criado tenha se manchado por completo e

nem mesmo destruída, “no entanto ela se corrompeu de tal maneira, que não

ficou dela mais que uma horrível deformidade.” 91 A condenação da morte física

que se seguiu ao ato de Adão, embora não de forma imediata, se fez presente

de forma espiritual. A vida espiritual de Adão estava em sua união com o seu

criador, conseqüentemente o apartar-se Dele significou a sua morte espiritual.92

Assim a morte espiritual que é a separação da alma em relação a Deus

constitui-se na perda da sua retidão original, e a depravação de todas as suas

forças “ou em outras palavras, o declínio do seu intelecto, a corrupção dos

seus sentimentos e a escravidão da sua vontade.”93

Mas estas conseqüências não ficaram restritas à pessoa de Adão, mas,

atinge toda a ordem criada tanto o céu como na terra e “se levantaram contra

toda a sua posteridade.”94 Pois Adão não foi apenas o progenitor da raça

humana, mas também a sua raiz, o seu ato atinge toda a sua descendência

que passa a compartilhar da condenação que é imposta sobre ele como

represente e pai da raça. Desta maneira as conseqüências do pecado de Adão

passam a todos os habitantes do mundo, quais sejam a morte física e a morte

espiritual; pois todos procedem de uma raiz contaminada pelo pecado. Assim

“ao pecar Adão arrastou toda a linhagem humana ao mesmo despenhadeiro...

pois com a sua queda infectou a toda a sua descendência.”95

Esta corrupção que passa da semente de Adão a todos os seus

descendentes é chamada pecado original, onde a palavra pecado denota a

depravação da natureza que acompanha toda a humanidade desde o ventre da

mãe. “Todos nós que somos produtos de semente imunda, nascemos

91

Ibid. Livro 1; cap. 15 § 4 pág. 118

92 Ibid. Livro 2; Cap. 1 § 5 pág. 165,166

93 STRONG Op. Cit. pág. 201

94 CALVINO. Op. Cit. Livro 2 Cap. 1 § 6 pág 167

95 Ibid. Livro 2 cap. 1 § 6 pág. 166

35

maculados pela infecção do pecado, e mesmo antes de virmos à luz, estamos

contaminados perante a face de Deus.”96

O breve catecismo de Westminster reflete este conceito da transmissão

do pecado nos seguintes termos: “Visto que o pacto foi feito com Adão não só

para ele, mas também para a sua posteridade todo o gênero humano que dele

procede por geração ordinária, pecou e caiu com ele na sua primeira

transgressão.”97Claramente ressalta Calvino que”o pecado reside na alma.”98

Sobretudo considerando que o pecado mancha ou deforma a imagem de Deus

no homem residindo, de acordo com Calvino, esta imagem de Deus na alma.99

Esta transmissão do pecado dos pais aos filhos faz dos filhos herdeiros

da corrupção e da culpa. Continua Calvino:

Ouvimos que a mancha dos pais se comunica aos filhos de tal maneira, que todos, sem exceção alguma, estão manchados desde o início da existência. Mas não se poderá achar o princípio desta mancha se não ascendermos à fonte e manancial até nosso primeiro pai. Temos, pois, que admitir como certo que Adão no somente tem sido o progenitor da linhagem humana, como tem sido, além disso, sua raiz, e por isto com sua corrupção tem corrompido toda a linhagem humana.100

É importante salientar que é neste ponto que a má compreensão do

calvinismo leva a muitos a se levantarem contra ele. Esta má compreensão diz

que os homens são condenados por Deus pelo pecado de Adão e isto seria

injusto da parte de Deus. Pressupondo que os descendentes de Adão não

poderiam pagar pelo erro de seu pai. Mas não é o caso de Adão ser pecador e

seus descendentes serem pessoas santas e boas que recebem o castigo por

um ato que não praticaram.

Não é a mera possibilidade de pecado, mas a semente de pecado, a

realidade da depravação e a corrupção da natureza que passa dos pais aos

filhos fazendo assim os filhos também pecadores. A semente do pecado passa

a ser do próprio indivíduo fazendo-lhe pecador. Os homens não são culpáveis

96

Ibid. Livro 2 cap. 1 § 5 pág. 166

97 Breve Catecismo de Westminster Resposta a pergunta 16 “Caiu todo o gênero

humano pela primeira transgressão de Adão?”

98 CALVINO, Op. Cit. Livro 2 Cap. 1 § 8 pág 168

99 Ibid. Livro 1 Cap. 15 § 3

100 Ibid. Livro 2; cap. 1 § 6 pág. 166

36

diante de Deus apenas pelo pecado de Adão, embora também o sejam, mas,

pelo pecado que passa a ser dele próprio. Não é o caso de Adão ter se tornado

um pecador e por isso Deus considera seus descendentes pecadores embora

não tenham pecados algum. Pelo contrário, Adão cometeu o primeiro pecado e

por isso se tornou pecador, seus filhos ao nascerem herdaram a semente do

pecado e nasceram pecadores e por isso são condenáveis diante de Deus.101

O pecado levou o homem para longe de Deus e das coisas de Deus. E

sem a possibilidade de retornar por livre vontade a presença do seu criador. A

conseqüência da queda na vida humana é uma alienação de todo bem e

bondade, além da incapacidade de se libertar de sua situação pecaminosa. A

natureza humana não é apenas vazia e destituída de todo o bem, mas também

é solo fértil e apto em toda espécie de mal.102 “Todas as partes constitutivas do

homem, do entendimento à vontade, da alma à carne, estão contaminadas e

repletas dessa concupiscência, ou, para resumir o ponto, o homem, em si

mesmo, não é outra coisa, senão corrupção.” 103

Esta corrupção do gênero humano não é parte substancial de sua

natureza, mas uma “qualidade” vinda sobre ele estando, a partir da queda no

éden, arraigado no homem. Esta qualificação se faz necessário para não se

identificar o homem como tendo sido criado pecador. Absolutamente não. O

homem tendo sido feito a imagem de Deus refletia sua santidade e, portanto

não possuía pecado, mas o pecado adveio sobre o homem pós criação.104

Calvino, no entanto traça um paralelo entre o estado da mente e o

estado da vontade depois da queda:

A faculdade natural da razão permanece intacta depois da queda, mas a perfeição do nosso pensamento foi manchada pelo pecado. O homem está presentemente em exílio do reino de Deus e só a graça da regeneração pode restaurá-lo. Embora o poder do pensamento racional do homem não tenha sido completamente destruído e ele não tenha se tornado um mero animal, a luz da sua razão é tão obscurecida pelo pecado que não pode resplandecer para qualquer bom efeito.105

101

Ibid. Livro 2; Cap. 1 § 8 pág.168

102 Ibid. Livro 2 Cap. 1 § 8 pág. 169

103 Ibid. Livro 2 Cap. 1 § 8 pág. 169

104 Ibid. Livro 2 Cap. 1 § 8 pág. 170

105 SPROUL, Sola Gratia. p. 118

37

A queda afeta todo o relacionamento do homem para com Deus embora

este homem permaneça ainda com a capacidade de se utilizar de sua mente e

seu intelecto.

Calvino se fundamenta em Agostinho para definir o livre arbítrio partindo

da idéia que o arbítrio do homem é livre para escolher de acordo com os seus

desejos. E sendo os desejos do coração do homem infectados pelo pecado, ele

escolhe apenas o que é mal. Diz Calvino: “se diz que o homem tem livre

arbítrio, não porque seja livre para escolher o bem ou o mal; mas que o mal

que o homem escolhe ele o faz sem ser coagido a fazê-lo.”106 Ou seja, o

homem age de acordo com a sua natureza e é absolutamente livre para agir

dentro dela, mas incapaz de agir contra a sua natureza. Assim, o homem em

seu estado de pecado é livre para escolher o mal sem ser impulsionado, ou

coagido a escolhê-lo, mas incapaz de desejar a Deus o que seria agir contra a

sua natureza corrompida. Pois a vontade caída está enraizada na

concupiscência e cativa, escrava do pecado e não pode se libertar por si

mesma, a menos que Deus aja libertando o homem deste estado.107 Nas

palavras de Agostinho a quem Calvino segue o homem em estado de pecado

“não pode não pecar.108”

A única possibilidade de salvação está na operação positiva de Deus em

tirar o homem do estado de pecado e o trazer para o estado de graça. Aqui se

verifica a real necessidade de uma vocação absolutamente eficaz, pois estando

o homem morto em delitos e pecados, se faz necessário que haja uma atuação

objetiva neste homem morto para lhe dar a vida.

Entretanto nem todos os homens são alvos desta atuação de Deus.

Aliás, tendo a Igreja a comissão de ir e pregar o evangelho a toda criatura e

sabendo que é Deus que eficazmente chama o pecador, conclui-se que nem

todos são chamados eficazmente por Deus. Aqui está o outro fundamento para

a doutrina da vocação eficaz: a eleição.

106

CALVINO Op. Cit Livro 2 cap. 2 § 7 pág. 178

107 Ibid. Livro 2 cap. 2 § 7 pág. 179

108 SPROUL. R. C., Eleitos de Deus. São Paulo: Cultura Cristã. 1998. pág. 57,58

38

CAPÍTULO 3: O FUNDAMENTO DA VOCAÇÃO EFICAZ – O

DECRETO DE DEUS

Estando o homem em estado de pecado e por isso mesmo incapaz de

se voltar para Deus como poderia ele ter alguma esperança de Salvação?

Diante do exposto acima, fica evidente que o ministério da Igreja seria

completamente ineficaz em alcançar os corações de pessoas que não podem

por si mesmas se voltarem para Deus. Assim qualquer obra por parte de

Denominações, agências missionárias ou igrejas institucionais não resultarão

em nenhuma conversão. O homem por si mesmo é incapaz de buscar a Deus.

Nas palavras de Paulo em Efésios 2.1-3 os homens estão mortos em delitos e

pecados, seguindo o curso deste mundo, são filhos da desobediência, segundo

o príncipe da potestade do ar, andando segundo as inclinações da carne e

fazendo a vontade da carne e dos pensamentos e por causa disto tudo são

filhos da ira.

Se o homem pecador não pode aceitar a Cristo como salvador por causa

do pecado, por que evangelizar, qual a motivação para que a igreja cumpra seu

ministério no mundo? Qual a esperança da Igreja em colher frutos de sua

tarefa evangelística? A única esperança da Igreja está em Deus. O homem não

pode vencer o pecado, mas Deus pode. Todo o ministério da Igreja precisa ter

como base, suporte e fundamento a doutrina da predestinação que por sua fez

se fundamenta no decreto.

1. Definição do termo

A teologia reformada, calvinista enfatiza em sua proclamação a

soberania de Deus. Soberania esta exercida sobre toda a criação, tanto natural

como espiritual. Ela é tão ampla quanto o seu governo e se relaciona com a

vida com e a morte com o tempo e a eternidade.109 Determinando tudo quanto

à de suceder de acordo com a sua vontade. A esta determinação divina

109

PINK, A. W. Los Atributos de Dios.. 2ª Reimprensão. Barcelona: El Estandarte de la

Verdad .1997. p.16

39

denomina-se decreto. Os decretos de Deus são definidos da seguinte forma

pelo catecismo Maior de Westminster:

Os decretos de Deus são os atos sábios, livres e santos do conselho de sua vontade, pelos quais, desde toda a eternidade, ele, para a sua própria glória, imutavelmente predestinou tudo o que acontece, especialmente com referencia aos anjos e aos homens.110

Deus executa seu decreto por meio das obras da criação e da providencia. A

confissão belga embora não possuindo um parágrafo determinado para expor a

doutrina dos decretos de Deus o faz em sua discussão da providência divina

nos seguintes termos:

Cremos que o bom Deus, depois de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou à sorte, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação.111

O estudo dos decretos de Deus necessariamente deve anteceder o estudo da

predestinação visto que esta é um ramo dentro da doutrina dos decretos.

1.2 Nomes Bíblicos para os decretos divinos

Pelo termo decreto procura-se de forma genérica explicar uma séria de

palavras e expressões bíblicas que ressaltam a determinação, controle e

soberania de Deus sobre todas as coisas.

1.2.1. Termos do Antigo Testamento

Existem alguns termos que acentuam o elemento intelectual do decreto

tais como:

hc'î[e (`etsah) - Aconselhar, dar aviso, designo - Jó 38.2; Is 14.26;

46.11

dAså (Sod) - Sentar-se junto para deliberação (nifal), conselho - Jr

23.18, 22

110

__________________Catecismo Maior de Westminster, pergunta 12. 12ª edição.

São Paulo: cultura Cristã. 2002

111 __________________Confissão de fé e catecismo de Heidelberg, Artigo 13. São

Paulo: Cultura Cristã. 1999

40

ytiMoêz: ((Zaman) – Meditar, ter em mente, propor-se a - Jr 4.28; 51.12;

PV 30.32

Termos que salientam o elemento volitivo:

#peÛx' (Chaphts) – Inclinação, Vontade, Beneplácito – Is 53.10

‘!Acr” ( Ratson) – Agradar, deleitar-se, ou vontade soberana – Is 49.8

1.2.2 Termos do Novo Testamento

Termo que designa o decreto em geral, indicando também o fato de que

o propósito de Deus se baseia num conselho.

boulh/| (Boule) – Conselho, Propósito - At. 2.23; 4.28; Ef. 1.11; Hb 6.17

Termo que quando aplicado ao conselho de Deus da ênfase no aspecto

volitivo.

qelh,matoj (Telemas) – Vontade, Escolha, inclinação, desejo, prazer,

satisfação. Ef 1.11

termo que acentua a liberdade do propósito de Deus.

euvdoki,aj (Eudokia) – Vontade, escolha, satisfação, deleite, prazer – Lc

2.14; Ef. 1.5,9.

1.3 A natureza dos decretos divinos

Embora o termo decretos de Deus seja usado no plural ele á apenas um

único atos divino. “Não existe uma série de decretos de Deus, mas somente

um plano compreensivo, que abrange tudo o que se passa”.112

Temos usado o singular como faz a Escritura (Rm 8.28; Ef 3.11), porque há somente um ato de sua mente infinita acerca do futuro. Nós falamos como se houvesse havida muitos, porque nossas mentes somente podem pensar em ciclos sucessivos, à medida que surgem os pensamentos e ocasiões; Em referência aos decretos, os quais sendo muitos, nos parece que requerem um propósito diferente para cada um. Entretanto o conhecimento de

112

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã 2001.

p.97

41

Divino não procede gradualmente, ou por etapas: “Conhecidas são a Deus desde os séculos todas as suas obras.”113

O decreto de Deus se relaciona de forma estreita com o seu

conhecimento. E assim pode-se verificar que: Deus Conhece todas as coisas e

necessariamente sabe de todas as causas e resultados possíveis. Esse

conhecimento fornece o material necessário para o decreto.

Deste conhecimento de todas as coisas possíveis ,ele escolheu por um ato da sua vontade perfeita, levado por sábias considerações, o que desejava levar à realização, e assim formulou o seu propósito eterno.114

Claramente percebe-se que o conhecimento necessário e absoluto de

Deus precede o seu decreto e logicamente este mesmo conhecimento segue-

se a ele. “sustenta-se isto contra a alegação semi-pelagiana e arminiana de

uma predestinação baseada na presciência de Deus”.115 Verdadeiramente

Deus sabe de todas as coisas futuras, não simplesmente pelo seu

conhecimento deste futuro, mas pela determinação de todas as coisas que

aconteceriam neste futuro. Percebe-se que os decretos de Deus estão

relacionados a todas as coisas futuras sem exceção. “Tudo o que é feito há seu

tempo, foi predeterminado antes do início do tempo.”116

A relação do decreto de Deus tem haver de uma forma prática com as

sua criação e de forma particular com os homens e os anjos sendo executados

na criação, onde Deus em um espaço de seis dias fez todas as coisas do nada

e tudo muito bem; na providência onde Deus exerce seu governo e

preservação sobre todas as suas criaturas e todas as ações delas; e na obra

da redenção da seguinte maneira.

Deus, por um decreto eterno e imutável, unicamente do seu amor e para patentear a sua gloriosa graça, que tinha de ser manifestada em tempo devido, elegeu alguns anjos para a glória e, em Cristo, escolheu alguns homens para a vida eterna e os meios para consegui-la; e também, segundo o seu soberano poder e o conselho inescrutável de sua própria vontade (pela qual ele concede, ou não, os seus favores conforme lhe apraz), deixou e predestinou os mais à desonra e à ira que lhes serão infligidos

113

PINK, Op. Cit. p.15

114 Ibid. p.97

115 Ibid. p. 97

116 PINK, op. Cit p 16

42

por causa dos seus pecados, para patentear a glória da sua justiça.117

Nesta relação do decreto de Deus com a sua criação segue apenas de foram

lógica o reconhecimento requerido do governo do criador sobre todas as suas

criaturas, do grande rei em ralação aos seus servos.

Conquanto os decretos de relacionam com atos realizados

pessoalmente por Deus, eles abrangem também os atos e ações de suas

criaturas livres. Todas as coisas decretadas às tornam absolutamente certas,

embora não sejam executadas todas da mesma maneira.

No caso de algumas coisas, Deus decidiu não meramente que viessem acontecer, mas que ele as faria acontecer, quer imediatamente, como na obra da criação, que por intermédio de causas secundárias continuadamente vitalizadas e fortalecidas pelo seu poder.118

Há outras coisas incluídas no decreto de Deus, que são certas de

acontecer, mas as quais ele decidiu não efetuar pessoalmente. Como os atos

pecaminosos das suas criaturas racionais. O decreto no que se refere a estes

atos é geralmente denominado decreto permissivo119.

Naturalmente, Deus é o único agente na criação, na providência, na regeneração, na inspiração, etc. Igualmente é ele que inspira as boas ações de agentes livres (especialmente no caso de pecadores que, de outro modo, nada podiam fazer de bom)... todavia os pecados cometidos por livres agentes – os anjos e os homens – foram decretados apenas permissivamente, porque Deus não pode ser o autor do pecado, e porque nada podia acontecer sem a sua permissão.120

1.4 As características do decreto Divino

O decreto de Deus tem seu fundamento em sua sabedoria. Um dos

termos pelos quais o decreto é designado sugere uma intercomunhão entre as

três pessoas da divindade uma cuidadosa consulta e deliberação. “no decreto

117

Catecismo Maior op. Cit pergunta 13. p.20

118 BERKHOF op.Cit p.97

119 Falcão, Samuel. Escolhidos em Cristo: O que de fato a Bíblia ensina sobre a

predestinação. 3ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã. 1997 p. 65 – O Rev. Samuel Falcão faz

uma distinção entre duas categorias de decretos. 1ª Decretos positivos e eficazes; 2ª Decretos

permissivos

120 Ibid. p.66

43

pode houver muita coisa que ultrapasse o entendimento e que seja inexplicável

para o mente finita, mas não contém nada que seja irracional ou arbitrário.”121

O decreto de Deus é eterno no sentido de que está na eternidade.

Embora se relacione no tempo sua essência parte de um ato dentro do ser

divino que está fora do tempo. Por esta razão pode-se considerar os decretos

ou suas execuções de uma forma lógica, mas não cronológica. Este decreto é

absolutamente eficaz. “Aquilo que Deus decretou certamente sucederá; que

nada pode frustrar o seu propósito.”122 Assim como o decreto de Deus é eficaz

ele também é imutável, pois parte de uma Deus perfeito que fundamenta todas

as suas determinações sobre o seu conhecimento absoluto e que por isso não

possui a necessidade de mudar seus planos.

O decreto de Deus é absoluto em si mesmo, não dependendo em

nenhuma de suas particularidades de nada fora de si mesmo para a sua

concretização. “A execução do plano pode exigir meios ou depender de certas

condições, mas nesse caso, estes meios ou condições também foram

determinadas no decreto.”123 Segue-se a abrangência da determinação divina.

Tudo o que se passa no mundo está incluso no decreto divino. Tudo o que se

refere aos homens desde suas ações morais, atos iníquos, eventos

contingentes, os meios bem como os respectivos fins e a duração da vida.

2. A predestinação

Deforma mais particular a doutrina dos decretos se relacionam com a

doutrina da predestinação.

2.1 Definição da doutrina

Calvino define predestinação como segue:

Chamamos predestinação ao eterno decreto de Deus pelo qual Ele determinou o que quer fazer a cada um dos homens. Por que ele não os criou a todos com a mesma condição, senão que ordena a uns para a vida eterna, e a outros para a condenação

121

BERKHOF op. Cit pg. 98

122 Ibid. pg 98

123 Ibid pg 99

44

perpétua. Portanto, segundo o fim para o qual o homem foi criado, dizemos que está predestinado para a vida ou para a morte.124

A predestinação é dirigida a seres morais, ou seja, homens e anjos.125 E

possui duas divisões lógicas, eleição em relação aos salvos e reprovação aos

condenados. A citação de Calvino feita à cima demonstra de forma clara esta

duas verdades. Deus não criou todos os homens com a mesma condição, mas

ordena uns para a vida, e a estes a vocação será realmente eficaz, e outros

para a morte. Em outro lugar Calvino deixa de forma mais explicita esta

doutrina nos seguintes termos:

Como a Escritura demonstra com toda a evidência – que Deus tem designado de uma vez para sempre em seu eterno e imutável conselho àqueles que ele quer que se salvem, e também àqueles que ele quer que se condenem. Dizemos que este conselho, em relação aos que foram eleitos, se funda na gratuita misericórdia divina sem consideração alguma a dignidade do homem; ao contrário, que a entrada na vida está fechada para todos àqueles que Ele quis entregar a condenação; e que isto Ele fez por seu secreto e incompreensível juízo, o qual, no entanto, é justo e irreprovável.126

2.2 Eleição como obra de Deus

O decreto da predestinação é em todas as suas partes um ato das três

pessoas da trindade. Como exposto até aqui é uma ato de Deus Pai,

executado na história por Deus Filho que é a base da Eleição e aplicada nos

alvos da eleição pelo Espírito Santo através da instrumentalidade da Palavra

de Deus. Entretanto na economia da trindade é algo mais estritamente ligado

ao Pai. Percebe-se isto nas declarações da própria escritura sobre o tema. No

evangelho de João 6.37-39, Cristo saliente que somente viriam a ele aqueles

que o fossem dado pelo Pai. “Note-se bem que o princípio para ser admitidos

debaixo da proteção e amparo de nosso Senhor Jesus Cristo provem da

doação do Pai”.127

124

CALVINO, JUAN. Instituición de La religión Cristiana. 5ª Edição. Barcelona: FELiRe.

1999. Livro 3 cap. 21 § 5 pág. 728, 729

125 Falcão Op. Cit. p. 82

126 CAVINO Op. Cit. livro 3, cap. 21 § 7 pág. 733

127 CALVINO. Instituición de La religión Cristiana Livro 3, Cap. 22 § 7 Pág. 740

45

A aplicação da obra de Deus é particular visto que tem como alvo a

indivíduos específicos. Não é um decreto geral, nem mesmo um decreto que

vise salvar aquele que crer como se houvesse um alvo ou objetivo genérico da

eleição. Pelo contrário a eleição para a salvação é dirigida particularmente ao

indivíduo determinado por Deus. Em outras palavras, pode-se explicar este

ponto deixando claro que Deus não decidiu salvar uma parte do grande número

de perdidos como que colocando todos juntos e aleatoriamente separa parte e

deixa o restante. Pelo contrário Deus escolhe individualmente os seus e a

estes ele salva.

A eleição é uma expressão da vontade soberana de Deus, não

possuindo nada no homem que motivasse a sua escolha.

Ao adotar-nos, o Senhor não levou em conta o que somos então nos conciliou consigo mesmo com base em alguma dignidade que porventura tivéssemos. Seu único motivo é o eterno beneplácito por meio do qual ele nos predestinou.128

Erram, portanto aqueles que consideram haver algo no homem que

motivasse a ação de Deus para com a sua criação sejam boas obras ou

previsão de fé. Esta eleição é incondicional dependendo única e

exclusivamente do soberano beneplácito de Deus que desde a eternidade

decretou salvar, não por previsão de fé ou mérito temporal; como se o decreto

fosse escrito como recompensa por uma boa ação no tempo. Assim até mesmo

a fé com que os crentes crêem é graça divina.

O próprio tempo da eleição deixa de forma inequívoca o seu aspecto

gratuito. Deus elegeu os salvos antes da fundação do mundo; e seguindo este

raciocínio “o que poderíamos merecer, ou em que consistia o nosso mérito,

antes que o mundo fosse criado?”129

A declaração confessional da vocação eficaz transparece de forma

inequívoca este detalha da doutrina da eleição. Deus chama eficazmente o

perdido não por qualquer mérito que este possua, mas exclusivamente por sua

graça que atua livremente de acordo com o seu propósito. O texto confessional

assim diz em sua segunda sessão:

Esta vocação eficaz provém unicamente da livre e especial graça de Deus e não de coisa alguma prevista no homem; nesta

128

CALVINO, João. Efésios. São Paulo: Edições Paracletos. 1998 .pg 28

129 Ibid. pág 24

46

vocação ele é totalmente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, seja desse modo capacitado a responder a esta vocação e a abraças a graça oferecida e comunicada nela.130

O exemplo bíblico clássico desta ação gratuita de Deus na eleição sem

base algum em méritos está, está em romanos 9. 11 – 13; onde Paulo diz de

forma clara que Deus amou a Jacó e se aborreceu de Esaú quando os gêmeos

ainda não haviam nascido nem praticado o bem nem o mal. Perceba-se que

não havia nada que distinguisse os gêmeos para sustentar a eleição de um em

detrimento de outro; no entanto o texto diz que Deus amou a Jacó. Mas qual

seria a diferença entre eles? “São diferentes pela predestinação de Deus

enquanto não existia diferença alguma referente aos méritos.”131

Nem mesmo a santidade dos fiéis é base para a eleição, pois a igreja

não foi eleita por ser santa, mas para ser santa. Explicando o texto da epistola

aos Efésios capítulo 1. 4; Calvino diz:

Podemos, pois, concluir com toda a segurança: Deus nos tem escolhido para que fossemos santos, portanto não nos tem escolhido por haver previsto que seriamos; pois são dois casos contrários, que os fiéis tenham sua santidade pela eleição, e que por esta santidade de suas obras tenham sido eleitos.132

2.3 A eleição é fundamentada em Cristo

A declaração bíblica que sustenta a eleição é de que os fiéis foram

eleitos em Cristo. “Quando se acrescenta que foram eleitos em Cristo, se

segue... que foram eleitos fora de si mesmos.” 133 Significando que os fiéis

foram eleitos não com base em si mesmos, mas fundamentados na obra de

Cristo, pois não havia no homem qualquer dignidade que justificasse a sua

eleição, mas:

Como o pai celestial não achou em toda a descendência de Adão quem merecesse a sua eleição, pôs seus olhos em Cristo, a fim de eleger, como membros de Seu corpo, aqueles aquém fosse receber em comunhão da vida. Estejam, pois convencidos, os fiéis que Deus nos tem adotados em Cristo para ser seus

130

Confissão de Fé de Westminster, Op. Cit cap. 10 sessão 2 pág. 95

131 CALVINO, JUAN. Instituición de La religión Cristiana. Livro 3 Cap. 22 § 5 Pg. 739

132 Ibid. § 3 pg 736

133 Ibid § 2 Pg. 735

47

herdeiros, porque não éramos por nós mesmos capazes de tão grande dignidade e excelência.134

Segue-se, portanto que a causa material ou a base da eleição é Cristo

Jesus. Pois é através dele que o amor de Deus é derramado sobre os

eleitos.135

É algo que parte de Deus e que precede até mesmo o conselho da

redenção, visto ter sido fixada antes de se incumbir à obra meritória de Cristo

no conselho da redenção.136

2.4 A eleição é garantia de Salvação

Este ato decretivo de Deus é imutável garantindo assim a segura certeza

da salvação dos eleitos. E é neste ponto que a igreja se fixou para estabelecer

a doutrina da vocação eficaz. Pois Aqueles que Deus predestinou para a vida

são alcançados pelo evangelho e por fim são salvos.

Deus executa o decreto da eleição com a sua própria eficiência, pela obra salvadora que realiza em Jesus Cristo. É o seu propósito que certos indivíduos creiam e perseverem até o fim, e ele assegura este resultado pela obra objetiva de Cristo e pelas operações subjetivas do Espírito Santo.137

Perceba-se a certeza e segurança de Calvino de que Deus assegura os

resultados do ministério da Igreja dizendo que o homem em seu estado de

pecado pode ser alcançado passando assim a crer salvadoramente em Cristo

sendo liberto do império das trevas. E não apenas isso ele persevera até o fim.

Assim o crente pode descansar sabendo que sua salvação não tem segurança

em sua vontade incerta, mas no firme propósito de Deus.

A eleição é irresistível, pois Deus vence qualquer oposição da vontade

humana contra ele. Não que Deus force a vontade do homem, mas sim que

Deus ilumina de tal forma o pecador que este se volta voluntariamente para

ele. Este ponto é importante e muito bem descrito no texto sobre a vocação

eficaz na confissão de Westimister:

134

Ibid. § 1pg 735

135 CALVINO, Comentário de Efésios Op. Cit. pág.25

136 BERKHOF, Op. Cit. Pág. 107

137 Ibid. Pág. 108

48

Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação, em Jesus Cristo. Isso ele faz iluminando o entendimento deles, espiritual e salvificamente, a fim de compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne, renovando as suas vontades e determinando-as, pela sua onipotência, para aquilo que é bom, e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça138

O texto descreve o homem sendo chamado pelo ministério da palavra e

iluminado pelo Espírito Santo passando a entender as coisas de Deus e são

atraídos eficazmente a Cristo “mas de tal maneira que eles vêm mui livremente,

sendo para isso dispostos por sua graça.”

A boa compreensão deste ponto é de vital importância para a

compreensão da vocação eficaz baseada na eleição. Sérias críticas são

levantadas contra a doutrina calvinista dizendo que a doutrina da eleição

subtrai do homem a sua liberdade, e que Deus em seu ato irresistível de

chamar o pecador força-o a aceitá-lo. No entanto esta é uma má compreensão

do que de fato significa a eleição e a vocação eficaz. O texto não diz que

homens em estado de pecado vêm a Cristo, mas homens que foram

alcançados pela graça de Deus, deixaram de ser mortos e passaram a ter vida

espiritual.

O homem primariamente foi criado para ter comunhão com Deus, louvá-

lo e gozá-lo para sempre.139 Com a entrada do pecado no mundo o homem se

afasta de Deus perdendo qualquer possibilidade de se aproximar por si mesmo

de seu criador. Seu destino eterno é a perdição. No exercício do ministério da

Igreja que é a pregação do evangelho, Deus ilumina a mente caída do homem

e o processo que se dá em seu coração é um processo de renovação,

recriação, de regeneração. Tendo o homem sido criado para ter comunhão

com Deus e sendo o pecado o fator que o afastou dele, uma vez que este

homem é liberto do pecado ele se volta voluntariamente para Deus, pois o

propósito primeiro de sua criação foi ter comunhão com Deus. Não é que o

138

Confissão de Fé de Westminster, Op. Cit pág. 92

139 Breve Catecismo de Westminster resposta a pergunta 1

49

homem não tenha a liberdade de recusar a graça e decidir permanecer em seu

estado de pecado como sustentam os arminianos140 mas o homem regenerado

por Deus não tem o desejo, o querer, a vontade de despreza ou rejeitar a

graça. Por isso o texto da confissão é enfático ao afirmar que o homem se volta

voluntariamente para Deus.

Pode ser usada uma analogia para deixar mais clara este ponto. A

bússola é um instrumento utilizado para a orientação. Tendo sempre sua

agulha apontada para a direção norte, onde fica o ponto magnético da terra.

Mas se for colocado um ponto magnético próximo da agulha e em outra

direção, o sul, por exemplo, ela deixa de apontar para o norte passando assim

a apontar para o sul onde está o outro ponto magnético. A bússola foi criada

para apontar para o norte, mas o outro ponto magnético a faz apontar para a

direção errada. No entanto se for retirado o ponto magnético que a faz apontar

para a direção errada, a agulha, sem que ela seja forçada ou sem que

necessite da intervenção direta do homem, volta-se instantaneamente para a

direção correta, ou seja, o norte.

O homem sendo criado para ter comunhão com Deus deveria sempre

andar em direção a este Deus. (apontar para o norte). Mas com a entrada do

pecado no mundo (outro ponto magnético), o homem passou a ir à direção

errada. Mas, quando o Espírito Santo alcança o coração do eleito regenerando

e o chamando eficazmente (retirando o ponto magnético falso, neste caso

libertando-o do pecado) o homem voluntariamente retorna à direção correta.

(assim como a agulha se volta para o norte). Não existe coação, e nem é

forçada a liberdade do homem.

A vocação eficaz baseada na eleição é monergística e sinergistica

conseqüentemente. O texto confessional é claro ao afirma esta verdade

dizendo que é Deus que predestina e desperta, mas o homem uma vez

despertado é “capacitado a responder a esta vocação e a abraçar a graça

oferecida e comunicada nela.” 141 Ela é monergística, pois é um ato de Deus.

Deus elege, Deus chama, Deus ilumina, Deus regenera. Mas ela é sinergistica,

140

SPENCER, Duane Edward, TULIP: Os cinco pontos do Calvinismo a Luz das

escrituras. 2ª Edição. São Paulo: Edições Parakletos. 2000. pág; 122

141 Confissão de Fé de Westminster, Op. Cit Cap. 10 sessão 2 pág. 95

50

pois é o homem quem responde, é o homem que crer, é o homem que se

arrepende.

Quando a teologia reformada diz que a eleição é irresistível ela

Quer dizer que ela é eficaz. Ela é uma obra monergística de Deus que realiza o que ele pretende que ela realize. A graça divina muda o coração humano, ressuscitando o pecador da morte espiritual para a vida espiritual. A graça regeneradora faz com que o pecador deseje crer e se aproxime de Cristo. Anteriormente, o pecador não desejava e não estava inclinado a escolher a Cristo, mas agora ele não apenas deseja, mas está ansioso por escolher Cristo. O pecador não é arrastado a Cristo contra a sua vontade ou forçado a escolher algo que não quer. A graça divina da regeneração muda a disposição do coração de forma a levantar o pecador da morte para a vida, da incredulidade para a fé.142

De maneira alguma a eleição é injusta. Pois Deus não é devedor do

perdão a nenhum pecador. “o pecador não tem absolutamente, nenhum direito

ou alegação que possa apresentar quanto às bênçãos decorrentes da eleição

divina. De fato, ele perdeu o direito a essas bênçãos.”143 Deus seria

absolutamente justo se não salvasse ninguém assim como ele decidiu não

salvar os anjos que caíram144. O Ato de ele salvar alguns, que não mereciam

ser salvos, o faz gracioso145·;e não injusto.

2.5 O Propósito da Eleição

O propósito da eleição é duplo sendo um próximo e um objetivo final. O

propósito próximo é a salvação dos eleitos, pois o homem segundo a Bíblia foi

escolhido para a salvação (Nm 11.7; 2Ts 2.13). O objetivo final da eleição é a

glória de Deus, pois é a execução de seu conselho eterno sem que haja falhas

ou erros. Decreto este determinado antes da fundação do mundo. Como obra

de Deus, a eleição se destina à salvação dos homens, operada exclusivamente

pelo Deus soberano. Assim o objetivo final da eleição só é atingido quando o

142

SPROUL, Sola Gratia pág. 75

143 BERKHOF, Op. Cit. pág 108

144 GRUDEM. OP. Cit. pág 316

145 Ibid. pág. 316

51

eleito definitivamente é glorificado junto o Pai.146 E neste ato Deus é glorificado

como o grande Deus eterno e soberano, misericordioso e justo.

Na vida do eleito este propósito último da glorificação é visto no

progresso feito pelas escrituras sobre a ordem da salvação elaborada pelo

apóstolo Paulo no livro de Romanos 8.30: A eleição é vista na primeira palavra,

Aos que predestinou. Percebe-se a vocação eficaz no ato certo e garantido do

despertamente do eleito, pois o texto continua: a esses também chamou. E por

fim a ordem segue até que o propósito último é alcançado: a esses também

justificou, a esses também glorificou. Deus é glorificado tanto na salvação dos

eleitos quanto na condenação dos perdidos, visto que a doutrina da

predestinação possui dois lados. Eleição e reprovação.

3. A Reprovação

A doutrina da Vocação eficaz trabalha também com o fundamento da

reprovação. Visto esta vocação ser eficaz, significando que ela alcança os

objetivos propostos por Deus, ou seja, a salvação do eleito. Surge a pergunta:

se a grande comissão de Jesus é enfática para que se pregue o evangelho a

toda Criatura (Mc 16. 15 e Mt 28.19) e a igreja cumpre este mandato de Cristo

indo mundo e pregando o evangelho porque nem todos respondem da mesma

maneira, se voltado assim para Cristo Jesus. O texto da confissão de fé se

expressa como segue:

Os não-eleitos, ainda que sejam chamados pelo ministério da Palavra e tenha algumas das operações comuns do Espírito, contudo jamais chegam a Cristo e, portanto não podem ser salvos.147

Quando se fala a respeito da doutrina da reprovação existe um perigo de

elaborar uma forma de pensamento absolutamente apavorante em relação a

Deus, mas que é defendida por um grupo de teólogos calvinistas. Este sistema

conhecido historicamente como hiper-calvinismo defende que Assim como

Deus intervém na vida do eleito criando fé em seu coração “Deus igualmente

intervém nas vidas dos reprovados para criar ou operar incredulidade em seus

146

KLOOSTER, Fred H. A Doutrina da Predestinação em Calvino. São Paulo: Socep.

1992 pág. 29

147 Confissão de Fé de Westminster, Op. Cit. cap. 10 sessão 4 pág. 98

52

corações.”148 Neste fale a descrição feita por Sproul definindo o hiper-

calvinismo:

A destinação simultânea não é a visão reformada ou calvinista da predestinação. Alguns a têm chamado de “hiper-calvinismo”, eu prefiro chamá-la de “subcalvinismo”, ou, melhor, de “anticalvinismo”.

3.1. Definição da doutrina da reprovação

A confissão de fé de Westminster define esta doutrina nos seguintes

termos:

Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele (Deus) concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para desonra e ira por causa dos seus pecados.149

Em outras palavras pode-se definir a doutrina da reprovação como: “a

decisão de Deus antes da criação de deixar de lado algumas pessoas,

decidindo não salvá-las e puni-las por seus pecados, manifestando deste modo

a sua justiça.”150

A doutrina da reprovação se firma sobre a soberania de Deus, pois a

reprovação é antes de tudo um ato decretivo de Deus. Em sua soberana

vontade Deus recusa misericórdia como lhe apraz, fazendo assim com que

nem todos os homens sejam alvos de sua graça. Em uma distinção já feita

neste capítulo foi ressaltado que os homens não foram criados todos em iguais

condições “ao contrário, uns são preordenados á vida eterna e outros

preordenados a eterna condenação”151 Calvino continua a ressaltar esta

verdade dizendo:

Estamos dizendo que a escritura mostra claramente que Deus, por seu eterno e imutável desígnio, determinou, de uma vez por todas, aqueles a quem queria receber para sempre à salvação e, por outro lado aqueles a quem queria entregar à perdição.152

148

SPROUL, Eleitos de Deus Op. Cit. pág. 126

149 Confissão de Fé de Westminster, Op. Cit. Cap. 3 sessão 7 pág. 41

150 GRUDEM. Op. Cit. pág. 318

151 CALVINO, JUAN. Instituición de La religión Cristiana. Livro 3 Cap. 23 § 1

152 CALVINO, JUAN. Instituición de La religión Cristiana. Livro 3 Cap. 21 § 7 Pág. 731

53

Todas as coisas partiram de Deus e assim como não se consegue

encontrar uma causa para justificar a graça destinada aos eleitos, também não

se pode encontra um causa para que os preteridos sejam deixados sem que

seja possível a graça os alcançar. Neste ponto é importante salientar o

completo desconhecimento daqueles que são eleitos e daqueles que são

preteridos. Isto só Deus sabe. “Por isso no curso da história, não podemos

tratar com qualquer indivíduo como se ele ou ela fosse claramente um

reprovado.”153 Assim a igreja tem a obrigação de cumprir o seu mandato no

mundo de pregar o evangelho a toda criatura, sabendo que Deus eficazmente

chamará aqueles que lhe pertencem. E o mesmo ministério da Igreja servirá

para a condenação daqueles que ouvirem e não aceitarem ao convite do

evangelho.

Deus não impede o pecador de aceitar o evangelho, ou lhe

impede de se aproximar de Cristo. Isto seria hiper-calvinismo e como já visto

esta posição não reflete o ensino reformado. Mas o que de fato acontece? O

que se verifica aqui é uma única ação de Deus direcionada aos eleitos. Nos

eleitos Deus age de forma direta e positiva mudando-lhes a disposição do

coração, dando-lhes vida espiritual. Em relação aos reprovados ou preteridos

Deus não age de forma alguma, ou seja, eles são deixados em seu estado de

pecado sem sofrerem qualquer ação de Deus para que ali continuem. Não é

Deus que faz o homem pecar, mas eles pecam por terem prazer no pecado.

Da mesma forma pela qual Deus realiza a salvação dos eleitos pela eficiência da sua vocação e segundo estabeleceu no seu eterno conselho, assim também Ele, nos seus juízos contra os réprobos, executa os desígnios estabelecidos para eles. Portanto, aqueles a quem criou para a desonra na vida e para a destruição na morte – para serem instrumentos de sua ira e exemplos de sua severidade, ora os priva da capacidade de ouvir a Sua palavra, ora os torna cegos e entorpecidos para não entenderem a sua pregação. Portanto, esse Juiz supremo conduz a sua predestinação quando deixa cegos aqueles a quem privou de sua luz, quando uma vez os reprovou.154

Ainda assim o homem é completamente responsável pela sua

condenação, pois o homem nunca é desculpado pela sua incredulidade em

relação a Cristo. O homem tem a obrigação de crer em Jesus para ser salvo e

153

KLOOSTER. Op. Cit. pág. 57

154 CALVINO, JUAN. Instituición de La religión Cristiana. Livro 3 Cap. 24 § 12 Pág 774

54

não há nada fora dele mesmo que o impeça de Crer, a não ser seu estado de

pecado.

A diferença crucial entre os eleitos e os réprobos e que a estes, Deus os

deixa no estado de pecado em que estão. E por causa de seus pecados eles

são condenados. Contudo o pecado não é a base para a reprovação. E o

motivo é simples. Se a reprovação tivesse como causa o pecado do homem,

todos deveriam ser reprovados, pois todos pecaram e são pecadores.

3.2. A justiça da Reprovação

Uma das acusações que a doutrina da reprovação pode receber que ele

a faz com que Deus seja injusto determinando salvar alguns enquanto

determina que outros sejam condenados. No entanto não há injustiça da parte

de Deus. Pois não é o caso de Deus fazer a sua escolha em meio aos santos

onde não havia pecado. Pelo contrário Deus escolhe entre pecadores que já

estavam condenados.155 Quando todos mereciam a condenação o ato gracioso

de Deus se estabelece na salvação de parte de todos os perdidos que estão

recebendo a justa condenação pelos seus atos.

Deus não é injusto por condenar àqueles que merecem a condenação,

antes é gracioso por oferecer misericórdia àqueles que ele quiser oferecer

misericórdia. 156

Em relação à pergunta se Deus salva parte, porque ele não salva a

todos o apostolo Paulo responde nos seguintes termos em Romanos 9 :

14 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! 15 Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. 16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. 17 Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. 18 Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.19 Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? 20 Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? 21 Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? 22 Que diremos, pois,

155

FALCÃO. Op. Cit. pág 170

156 Ibid. pág 171

55

se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, 23 a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão.

Quem são os eleitos? Quem são os reprovados? As respostas a estas

duas perguntas são claras e fáceis. Apenas Deus sabe! Sendo assim o dever

da igreja, enquanto neste mundo, é o de ir por todo a todo os povos pregando o

evangelho a toda criatura. Cumprindo desta maneira a grande comissão dada

por Cristo a seus discípulos e a toda a sua Igreja. No entanto em seu ato

proclamador a igreja se fundamente na preciosa promessa de que Deus

conhece aqueles que lhe pertencem (2Tm 2.19) e por fim estes serão

eficazmente chamados e por fim salvos. A doutrina da predestinação é o

fundamento para qualquer ação da Igreja no mundo, pois sem eleição não há

salvação, mas somente condenação eterna.

Surge desta forma a inegável tarefa da verdadeira igreja de Cristo a de

pregar o evangelho. Com a mesma intensidade com que o apóstolo Paulo

encarava esta tarefa. Ele diz:

“Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim

pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!”

(1Co 9.16)

Assim também sobre os ombros da Igreja do Senhor Jesus pesa a obrigação

de cumprir o seu ministério neste mundo, mas se valendo apenas do método

estabelecido pelo próprio Deus para alcançar o coração dos eleitos; A

pregação da Palavra.

56

CAPÍTULO 4: A VOCAÇÃO EFICAZ RELAÇÃO E ENTRE A

ELEIÇÂO DIVINA E A LIBERDADE HUMANA

“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a Criatura.” ( Mc 16.

16 RA) Desde esta ordem de Cristo a seus discípulos a igreja tem saído ao

mundo com o propósito de levar a mensagem da obra salvífica da cruz do

calvário ao homem perdido. A mensagem apostólica é clara no sentido de que,

aqueles que crerem em Jesus e o aceitarem como Senhor de suas vidas serão

salvos. (At .16.31; Rm 10.9 – 12 RA). A palavra do apóstolo Paulo realçando

esta convicção é clara e enfática quando declara que o “evangelho é o poder

de Deus para a Salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16 RA). Desta feita a

missão da Igreja, enquanto neste mundo, é evangelizar.157

Entretanto a teologia calvinista fundamentada na doutrina da eleição vez

por outra ouve por parte dos proponentes arminianos a idéia de que a eleição

torna supérflua a ação evangelizadora. Pergunta-se: "Se o decreto da eleição é

imutável e, portanto, torna absolutamente certa a salvação dos eleitos, que

necessidade tem eles do Evangelho? Os eleitos não vão ser salvos mesmo

que ouçam ou não o Evangelho?" A premissa desse argumento é inteiramente

verdadeira. A eleição divina torna a salvação dos eleitos inteiramente certa.

Mas a conclusão derivada dessa premissa revela grave incompreensão da

soberania divina como expressa no decreto da eleição.

A igreja se coloca no centro de duas realidades inegáveis e expressas

até aqui. A primeira diz que o homem foi completamente corrompido pela

queda de Adão, de forma que não há a mera possibilidade que este homem em

seu estado de pecado e miséria, por si mesmo, sem a ação externa se volte

para Deus e se reconheça como pecador. Destarte o homem necessita de um

salvador. A segunda verdade é a que Deus da eternidade elegeu aqueles que

seriam salvos, não por previsão de fé, mas pela sua determinação. Vê-se,

157

MENEZES, Antônio Carlos F, Evangelismo e Despertamento Espiritual. Contagem/MG: M

Editora. 2ª edição. 2000 p. 5 e 6 “ Menezes chega a ser mais enfático ao afirmar que não

havendo outro caminho de salvação a não ser o revelado no evangelho todo o cristão têm por

obrigação sustentar as ordenanças onde já estiverem estabelecidas, e a contribuir, por meio de

suas orações, bem como por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por todo o

mundo.

57

portanto a depravação do homem, que garante a sua condenação eterna de

um lado e a eleição divina que garante a salvação do eleito de outro. E é

exatamente aqui que entra o ministério da Igreja no mundo.

A igreja é o instrumento de Deus para alcançar o homem caído e por

meio da mensagem do evangelho despertar e levar vida àquele que estava

morto em seus Delitos e pecados. Pois a eleição se confirma com o

chamamento eficaz que é Deus despertando o eleito por meio da iluminação do

Espírito Santo que intrinsecamente está ligado à pregação da Palavra de Deus.

O texto confessional assim declara: “Todos aqueles a quem Deus predestinou

para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua palavra e

pelo seu Espírito”158

1. O ministério da Igreja a Evangelização

O ministério da Igreja pode ser considerado a luz de vários aspectos

particulares tais como a celebração dos sacramentos,sendo instrumento de

aperfeiçoamento dos santos159. Mas estritamente quando se fala do ministério

da igreja o primeiro aspecto levantado é a obra evangelizadora e missionária

que a igreja exerce no mundo em cumprimento ao mandato de Cristo.

1.1. Definição de termo

O substantivo Euangelion No Antigo Testamento não ocorre no sentido

religioso, sendo usado de forma secular “trazer notícia” ou “recompensar pelas

boas novas” (2Sm 4.10; 18.22,25).

"O sentido básico da palavra "Euangelion" é "boas Novas" sendo

um termo técnico para "novas de vitória" consistindo o "evangelizar no ato de "trazer ou anunciar boas novas", "proclamar, pregar" ser o agente das notícias de vitória “160

158

______________ A Confissão de Fé De Westminster. 17ª Edição. São Paulo:

Cultura Cristã, 2003 .Cap. 10 sessão 1 pág. 92

159 Confissão de Fé de Westminster. Capítulo 25 seção 3 pág 198

160 COSTA, Hermisten M. P.; Breve Teologia da Evangelização. São Paulo: PES. 1996

p. 12

58

O verbo Evnagelizomai já era usado em seu sentido teológico muito

antes da grande comissão dada por Jesus nos evangelhos aos seus discípulos.

Já no Antigo Testamento encontramos o termo sendo uso nas seguintes

ocorrências:

1. Proclamar a Glória de Deus manifesta em sua justiça, fidelidade,

salvação, graça e verdade. (Sal 40.10; 96.2).

2. Proclamar as boas novas referentes ao ungido de Deus (Is 40.6. 52.7)

3. As boas novas proclamadas pelo ungido de Deus (Is 61.1).

Herminsten Costa define evangelizar já usando o sentido

neotestamentário da seguinte maneira:

A proclamação essencial da Igreja de Cristo, que consiste no anúncio de Suas perfeições e de Sua obra salvífica, conforme ensinadas nas Sagradas Escrituras, reivindicando pelo Espírito, que os homens se arrependam de seus pecados e creiam salvadoramente em Cristo...161

Em termos semelhantes Russel Shedd também define evangelizar como:

A proclamação do Cristo Crucificado e ressurreto, o único redentor do homem, de acordo com a Escritura, com o propósito de persuadir pecadores condenados e perdidos a pôr sua confiança em Deus, recebendo e aceitando a Cristo como Senhor em todos os aspectos da vida e na comunhão de sua Igreja, aguardando o dia de sua volta gloriosa.162

A mensagem do evangelho é a proclamação essencial da Igreja, isto é, a

missão da igreja no mundo é pregar o evangelho. “a Evangelização não é um

passatempo de alguns maníacos, é a própria razão de ser, o propósito da

existência da Igreja no mundo.” 163Sem abrir mão de sua mensagem essencial

Embora os métodos e os meios evangelísticos possam apresentar diferenças conforme a época e a cultura, a mensagem não pode sofrer alterações. As línguas e os contextos podem apresentar desafios distintos em todo o mundo, mas as "boas novas" não deverão prescindir de seu conteúdo básico, onde quer que seja. A evangelização proclama a mensagem imutável de um Deus que não muda jamais164

161

Ibid. p.7 162

SHEDD, Russell P.; Fundamentos Bíblicos da Evangelização. São Paulo: Edições Vida Nova. 1996 p. 8

163 THOMAS, Owen. Quatro Dimensões da Evangelização. São Paulo:PES. 2000. pg

20

164 Ibid. p.9

59

A igreja possui a missão de pregar, e a mensagem a ser transmitido: o

evangelho da graça de Deus. No entanto surge a questão dos resultados. Será

que para se ter evangelização deve-se ter necessariamente resultados

positivos, ou seja, pessoas se convertendo ao evangelho. Ou mesmo que não

se tenham resultados visíveis à simples pregação do evangelho já se constitui

em evangelismo. A percepção de Herminsten Costa parece correta:

A evangelização deve ser definida dentro de uma perspectiva da sua mensagem, não do seu resultado. Nem toda proclamação que "surte efeito" é evangelização e, nem toda a pregação que "não alcança os resultados esperados", deixou de ser evangelização. ”165

No Novo Testamento evangelizar significa simplesmente pregar o

evangelho, a mensagem das boas novas. E sempre que o pregador é fiel a

esta mensagem ele estará evangelizando, independente dos resultados.

Possuindo a missão de sair e evangelizar a Igreja deve lidar com os dois

enfoques apresentados nos capítulos precedentes. O que será discutido a

seguir.

2. A pregação do Evangelho no Novo Testamento

Logo após sua ressurreição, Cristo Jesus reuniu seus discípulos e lhes

deu a grande comissão; Ou melhor, a missão de sair e pregar o evangelho a

toda criatura (Mc 16.15). E assim fazer discípulos de todas as nações (Mt

28.19). Esta comissão é enfatizada pouco antes de Cristo ser assunto aos céus

em Atos capítulo 1, quando ele se volta para os apóstolos e lhes diz: “... e

sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e

Samaria e até aos confins da terra.” (At. 1.8) A partir desta declaração de

Jesus, Lucas começa a descrever o avanço do evangelho no mundo, e como

este evangelho vai transformando as vidas. Primeiro três mil em Jerusalém

subindo o número mais tarde para quase cinco mil pessoas (At. 2.41; 4.4).

À medida que se multiplicava o número dos discípulos crescia também a

palavra de Deus e muitos sacerdotes obedeciam à fé (At. 6.1,7); Após a

perseguição em Jerusalém este evangelho chega a Samaria por meio de Filipe

(At. 8) e finalmente aos gentios em Damasco na Síria partindo da pregação de

165 COSTA, Hermisten M. P.; Breve Teologia da Evangelização. São Paulo: PES. 1996 p. 19

60

Saulo, agora convertido ao evangelho. E principalmente simbolizado na visão

que Pedro teve e o seu conseqüente envio a casa de Cornélio (At. 9; 10). Logo

em seguida Paulo sai em suas viagens missionárias fazendo com que a

palavra de Deus fosse semeada na Galácia (At. 13 – 14.28), pela Ásia Menor e

na Grécia (At 15.40 – 18.22; 18.23 – 21.10.11)166 e Lucas por fim termina sua

narrativa a Teófilo descrevendo Paulo no coração do Império preso, mas ainda

assim pregando o Evangelho.E assim nos diz Lucas: “Por dois anos,

permaneceu Paulo na sua própria casa que alugara, onde recebia todos que o

procuravam, pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, e sem

impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao Senhor.” (At. 28.30,31).

Entretanto Paulo visualizava mais, tinha uma visão mais distante e que

ultrapassava a capital do Império. Pouco antes de retorna a Jerusalém com

ofertas que esteve angariando pelas Igrejas por onde passava (At. 24.17),

Paulo estava na cidade de Corinto por volta do ano 56-57 e dali envia uma

correspondência a Igreja em Roma descrevendo o que então era a sua maior

ambição, pregar o evangelho na Espanha167. Desta forma Paulo escreve sua

epístola aos romanos fazendo uma descrição detalhada do evangelho que ele

pregava e tendo como objetivo que a Igreja em Roma lhe enviasse para

Espanha para pregar ali o evangelho. (Rm 15. 24,28). E assim o Novo

Testamento descreve a Igreja avançando mundo adentro e crescendo a cada

dia.

3. O Antinomismo da pregação do Evangelho – Eleição X Liberdade

Entretanto na medida em que se avança na leitura do livro de Atos

percebesse duas realidades no que tange a evangelização e que

166

LOPES, Nicodemus Augustus. Restaurando a Teologia da Evangerlização. www.

Monergismo.com; Postado em 08/02/2005 e acessado em 18/12/2006. Doravante citado como

RTE - em menos de 10 anos de atividades, provavelmente entre o ano 47 e 57 A.D., ele

plantou igreja nas quatro províncias do império (Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia)”

167 BRUCE F. F. Romanos: Introdução e comentário. 4ª Edição. São Paulo:mundo

Cristão.1986. “Ao Fazer a escolha de uma nova esfera de atividade, resolveu fazer-se pioneiro.

Não se estabeleceria como apóstolo radicado num lugar já alcançado pelo Evangelho. (Rm

15.2). Sua escolha recaiu na Espanha, a mais antiga colônia romana no Ocidente e o principal

baluarte da civilização romana naquelas partes.”

61

aparentemente são contraditórias, mas que claramente são percebidas por

qualquer leitor. Quais sejam: a soberania de Deus na conversão e a total

responsabilidade do homem frente ao convite do evangelho. Estas duas

realidades podem ser vistas nos texto que seguem:

Soberania de Deus:

Atos 2:47 “louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo.

Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo

salvos.”

Atos 16:14 “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira,

vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o

coração para atender às coisas que Paulo dizia.”

Atos 13:48 “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a

palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida

eterna.”

Responsabilidade Humana:

Atos 2:38 “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós

seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e

recebereis o dom do Espírito Santo.”

Atos 3:19 “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados

os vossos pecados...”

Atos 4:4 “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram,

subindo o número de homens a quase cinco mil.”

Atos 10:43 “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de

seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados.”

Atos 13:39 “e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as

coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.”

Atos 16:31 “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e

tua casa.”

Os textos supracitados mostram claramente um Deus que acrescenta à

Igreja os que vão sendo salvos, abre os corações para que os homens

62

compreendam a mensagem do evangelho. E estes acrescentados e iluminados

são alvos do favor divino no tempo e no espaço, por terem sido destinados

para a vida eterna. No entanto, o mesmo autor contando com a mesma

inspiração divina, destaca que é responsabilidade dos homens aceitarem a

palavra, crerem para serem justificados e remidos e conseqüentemente salvos.

Estas duas conclusões partindo do mesmo livro sagrado, quais sejam, a

soberania de Deus na salvação e a responsabilidade do homem em aceitar a

mensagem do evangelho para ser salvo, parece indicar uma contradição clara;

visto que: ou Deus é soberano e por ser soberano leva os homens a salvação;

ou o homem é responsável em aceitar o convite do evangelho e sendo assim

também responsável pela punição advinda da rejeição deste convite. Como

compreender isto?

O que temos aqui é o que em teologia se chama Antinomismo. O

dicionário de Teologia assim define Antinomia: “União de dois princípios,

declarações ou leis, que, apesar de parecerem contraditórios ou em tensão

entre si, são considerados igualmente verdadeiros.”168 Duas verdades que

postas lado a lado se chocam e aparentemente se contradizem. Embora esta

definição realce a tensão entre as verdades consideradas, que no caso deste

estudo é a soberania de Deus e a responsabilidade do homem, ela destaca

também que os princípios, declarações ou leis “parecem” contraditórias, o que

indica que, apesar da incapacidade humana em ordenar e compreender a

relação entre estas verdades elas se relacionam harmoniosamente, pois

ambas são verdadeiras. Este é o mesmo conceito que Parker realça:

...a questão toda de um antinômio – em qualquer caso no campo da teologia – é que não se trata de uma contradição real, embora assim pareça. Trata-se, antes de uma aparente incompatibilidade entre duas verdades evidentes.169

Esta aparente contradição entre a soberania de Deus e a

responsabilidade do homem pode ser percebida não apenas no trato

soteriológico, mas também em definições nevrálgicas na área de antropologia

168

GRENZ, Satanley J; Guretzki, David; NORDLING, Cherith Fee; Dicionário de

teologia: Edição de Bolso. 2ª impressão. São Paulo: Vida. 2001 p.10

169 PACKER, J.I. A Evangelização e a soberania de Deus. São Paulo: Cultura Cristã.

2002. P 15,16

63

cristã tais como a definição do homem como criatura e como pessoa. Anthony

Hoekema chama esta relação de “o mistério fundamental do homem” e ele

descreve este mistério como segue:

Como pode o ser humano ser igualmente uma criatura e uma pessoa? Ser uma criatura, como já vimos, significa dependência absoluta de Deus; ser uma pessoa significa independência relativa. Ser uma criatura significa que não posso mover um dedo ou pronunciar uma palavra à parte de Deus; ser uma pessoa significa que, quando meus dedos são movidos, eu os movo e que, quando as palavras são pronunciadas por meus lábios, eu as pronuncio. Sermos criaturas significa que Deus é o oleiro e nós o barro (Rm 9.21); sermos pessoas significa que nós mesmos é que moldamos nossa vida pelas nossas próprias decisões (Gl 6.7-8).170

A descrição deste antinomismo nos serve para compreender a tarefa da

igreja em sair ao mundo para evangelizar. Embora o homem seja responsável

em aceitar ao convite do evangelho, as conseqüências da queda tais como

compreendidas pela teologia bíblica reformada é enfática em afirmar que

deixado a sua própria sorte, este homem é incapaz de agir contra a sua

natureza pecaminosa.

O homem é absolutamente livre para fazer qualquer escolha dentro de

sua natureza corrompida e por estar morto em seus delitos e pecados (Ef, 2.1)

é incapaz de se voltar para Deus. Desta forma a única possibilidade de

salvação deste homem é a intervenção de Deus trazendo vida a este coração

pela atuação do Espírito Santo171. No entanto esta atuação divina não se dá

em todos os homens, mas somente naqueles que, antes da criação de todas

as coisas foram eleitos.

Diante do exposto observam-se duas realidades: homens pecadores

incapazes de buscarem a Deus e dentre estes, homens que foram eleitos antes

170

HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus.São Paulo: Cultura Cristã. 1999

p.17

171 DE CAMPOS, Heber Carlos, O ser de Deus e os seus atributos. 2ª Edição. São

Paulo: Cultura Cristã. 2002 “ Nosso redentor Jesus Cristo é chamado poder de Deus e

sabedoria de Deus (1 Co 1.24). Tudo o que diz respeito ao Redentor e à nossa redenção é

produto do maravilhoso poder de Deus... Na aplicação da salvação, Deus também exerce o

seu poder absoluto, porque ele opera diretamente, sem causas secundárias, especialmente

porque a regeneração tem o característica de um poder criador de Deus.”

64

da fundação do mundo para a salvação em Cristo. E é exatamente aqui que

entra o ministério da Igreja172. A igreja é o elo entre o Deus soberano e o

homem pecador. “A evangelização... é a própria razão de ser, o propósito da

existência da Igreja no mundo”173 . Assim enfatiza a confissão de fé de

Westimister declarando-se a respeito da missão da Igreja:

A esta Igreja Católica Visível Cristo deu o ministério, os oráculos e as ordenanças de Deus, para congregamento e aperfeiçoamento dos santos nesta vida, até o fim do mundo, e pela sua própria presença e pelo seu Espírito, os torna eficazes para esse fim, segundo a sua promessa. 174

A esta igreja Deus deu o ministério, o serviço de estar no mundo levando

a mensagem do evangelho e assim congregando os eleitos que são iluminados

pelo Espírito Santo à medida que a palavra de Deus é exposta.175

Entretanto na tarefa evangelística da Igreja, o antinomismo da Soberania

de Deus e a responsabilidade humana sempre estarão presentes, pois “o

homem é um agente moral responsável, ainda que seja, ao mesmo tempo,

controlado pela divindade, o homem é divinamente controlado, embora seja

também, um agente moral responsável.”176

Contudo a incapacidade da igreja em compreender, ou aceitar este

antinomismo pode levá-la a acentuar um lado em detrimento do outro, Ou seja,

realçar a responsabilidade do homem em aceitar o evangelho em detrimento

da soberania de Deus. Quando não se realça a vocação eficaz que é obra

exclusiva de Deus a igreja corre o risco de elaborar métodos e confiar neles

como o único meio para se alcançar resultados; desprezando a iluminação do

172

TRIBBLE, H. W. Nossas Doutrinas. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Juerp 1989. p. “o

propósito de uma Igreja do Novo Testamento é duplo: o cultivo espiritual dos seus membros e

a difusão do reino de Cristo na terra.”

173 THOMAS, Owe. 4 Dimensões da Evangelização. São Paulo: PES.2000; p.20

174__________________ A Confissão de Fé de Westinmister. 17ª Edição. São Paulo:

Cultura Cristã.2003 Capítulo XXV, secção III p. 198

175 RIBEIRO, Boanerges. O Senhor que se fez Servo. São Paulo: O Semeador. 1989

p.43 – o rev. Boanerges fala com muita propriedade sobre a missão da igreja no mundo e

enfatizando que a igreja “não pode fugir à vocação de seu próprio ser”, mais a frente ele

ressalta a razão da presença da igreja no mundo: A igreja foi “conservada no mundo para ser

testemunha de Cristo por meio da Palavra de Deus.”

176 PACKER Op Cit. P 19,20

65

Espírito e o método estabelecido por Deus que é a pregação do evangelho.

Contudo o realçar a soberania de Deus sem levar em conta a responsabilidade

do homem pode levar a igreja a apresentar um evangelho deturpado que

certamente causará dano à sua tarefa evangelística.

3.1. Desprezando a vocação eficaz e confiando em métodos

O homem foi criado por Deus um ser moral responsável, isto é mais que

ser apenas uma criatura é também ser uma pessoa. Aqui a definição que

Hoekema faz é importante ao definir uma pessoa como ser que possui

liberdade177, diz ele:

Ser uma pessoa significa ter alguma forma de independência – não absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa ser capaz de tomar decisões, de estabelecer objetivos e ser capaz de perseguir esses objetivos. Significa possuir liberdade – ao menos no sentido de ser capaz de fazer as suas próprias escolhas.178

Por ser esta pessoa capaz de fazer escolhas o homem como pecador

culpado terá que responder diante de Deus pelo fato de ter quebrado a sua

lei.179 Por isso o homem precisa do evangelho. Ao ouvir o evangelho o homem

passa a ser responsável pela decisão que tomar. Entretanto a consciência da

responsabilidade humana não pode fazer o pregador descartar a verdade de

que é Deus quem salva. Pois, longe desta verdade o pregador passa a buscar

em seus próprios esforços meios para levar o ouvinte a uma decisão em prol

do evangelho que será baseado em fatores diversos que não a graça e a

intervenção de Deus.

Uma vez que a igreja vê apenas a responsabilidade do homem, ela

passa a criar meios de condicionar a sua mensagem e a torná-la mais aceitável

177

O termo liberdade expresso pela idéia de pessoa não está sendo considerado neste

ponto sob o aspecto da influência do pecado que faz com que toda a liberdade de escolha seja

determinada pelo pecado. Esta relação da liberdade de escolha em relação ao pecado será

tratado no capítulo sobre as conseqüências da queda.

178 HOEKEMA, Op. Cit pág.17

179 HOEKEMA, Op. Cit. pág. 18 “Embora reconhecendo que a razão pela qual o

homem pecou permanecerá um mistério insondável, será preciso dizer que o homem pôde cair

em pecado exatamente porque ele era uma pessoa, capaz de fazer escolhas – até mesmo

escolhas que fossem contrárias à vontade de Deus.”

66

ao seu público alvo. Meios estes tais como: teatros, cantatas, festas, shows

com cantores “famosos”. A pregação do evangelho perde o lugar para longos

períodos de cânticos regados a muito barulho e “mantras” evangélicos

visualmente chamativos com os grupos de coreografias. A pregação da cruz,

do negar-se a si mesmo, da santificação diária é vilipendiada em prol da

mensagem da cura interior, da expulsão de demônios, da prosperidade. E

assim o homem passa a ser o centro, o protagonista enquanto Deus se torna

mero coadjuvante no processo de salvação.

Métodos evangelísticos são criados com a finalidade de alcançar o

crescimento das igrejas. E cada método sustentando-se sobre a promessa de

ser o mais eficaz no convencimento do pecador. Não que seja errada uma

evangelização engajada, e uma apresentação, mesmo que metódica, do

evangelho de forma consististe. O erro está na pressuposição de que o

convencer está no método e não na atuação de Deus. Sobre este assunto é

interessante a declaração de Bill Hull180 quando fala a respeito do movimento

de crescimento de igreja:

A igreja evangélica parece ter se tornado como uma criança com um brinquedo novo. Igrejas e pastores esperam uma parafernália mais sofisticada da parte dos magos do marketing, e esses últimos são estimulados a aumentar a criatividade até que os métodos acabem por sepultar a mensagem na obscuridade. Esta é a razão pela qual o movimento de crescimento de igreja não deve ser um manual para o crescimento efetivo de igrejas; tem base sociológica, é orientado por dados, e cultua no altar do pragmatismo. Sobretudo, ele valoriza aquilo que dá certo e define sucesso em termos mundanos e míopes. Oferece modelos que não podem ser produzidos e líderes que não podem ser imitados. Os princípios dos negócios modernos são mais reverenciados do que a doutrina; de fato a doutrina é tida geralmente como algo negativo ou pelo menos como distração do alvo de crescimento da igreja.181

De fato vê-se muitas denominações evangélicas com templos cheios e

outras com crescimento explosivo, no entanto percebe-se claramente a

fragilidade teológica de tais denominações e mesmo a concepção de uma

180

Bill Hull é o diretor de ministérios eclesiásticos da Evangelical Free Church of

América (EFCA).

181 HORTON, Michael Scoot. Religião de Poder. São Paulo: Cultura Cristã. 1998 pp.

117, 118

67

divindade construída à imagem do adorador e totalmente deturpada do Deus

das Escrituras. “O ser humano quer um deus que ele possa sentir, tocar, ver e

ouvir em seus próprios termos, e está é a razão para o crescimento da religião

altamente emocional através dos tempos.”182

Assim sendo a igreja só pode se manter fiel à sua missão evangelística

no mundo reconhecendo sim a responsabilidade do homem, mas baseando

todos os seus métodos e práticas na soberania de Deus. “Nosso trabalho

evangelístico é o instrumento que Deus usa para este fim (salvar), mas não

está no instrumento o poder que conduz a salvação. O poder está nas mãos

daquele que usa o instrumento.”183

Esta é a mesma convicção expressa por R. B. Kuiper quando diz:

A tarefa do evangelista é comunicar aos homens o Evangelho; infundir no homem a fé no Evangelho é prerrogativa de Deus. A fé salvadora não é dom do evangelista ao seu ouvinte não salvo; "é dom de Deus" (Efésios 2:8). Nenhum evangelista jamais deu fé em Cristo a uma única alma. Ela é produzida nos corações humanos pelo Espírito Santo, pois "ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo" (1 Co 12:3). Nenhum pecador jamais foi convertido por um evangelista; o autor da conversão é Deus.184

Quando a igreja se volta aos métodos com o fim de conseguir angariar

fiéis corre o risco de ter templos cheios de pessoas fazias e sem Deus.

3.2 O perigo de nos preocuparmos exclusivamente com a soberania

de Divina.

Diante da constatação de um Deus soberano que rege todo o universo e

todas s coisas à sua vontade; totalmente independente, que não necessita de

ajuda, mas que executa seus planos a despeito da iniciativa da sua criação

existe o perigo de se negligenciar completamente a responsabilidade do

homem em responder ao evangelho e, por conseguinte “caem na tentação de

182

HORTON, Michael. A Face de Deus: Os perigos e as delícias da intimidade

espiritual. São Paulo: Cultura Cristã. 1999 p.13

183 PACKER. Op Cit. p.24

184 KUIPER, R. B. Evangelização Teocêntrica. São Paulo: PES. Capítulo: Deus e a

suficiência da Salvação. Consultado no Site. www.monergistmo.com acessado em 20/07/2007

68

perder de vista a responsabilidade da igreja na evangelização.”185 O fato de a

Igreja conhecer e reconhecer o governo de Deus não anula a sua tarefa

delegada pelo próprio Jesus de ir o mundo e pregar. E muito menos reduz “a

urgência do imperativo evangelístico.”186

Uma das críticas que se levanta contra a doutrina da eleição é a de que

a igreja não precisa fazer nada em relação a evangelismo. Pois se existem

aqueles que foram eleitos para a salvação eles de qualquer forma serão salvos

independente de qualquer ação por parte da igreja. Por isso não é preciso

evangelizar. Sproul Coloca esta mesma questão nos seguintes termos: “Se a

salvação pessoal é decidida anteriormente, por um imutável decreto divino,

qual é o sentido ou urgência do trabalho de evangelismo?”187

Mas outra pergunta poderia ser formulada: Sem a salvação pessoal

decidida anteriormente pela eleição divina, alguém poderia se salvar? Com

base na teologia Pelagiana a resposta a esta pergunta é um enfático sim. Indo

em direção ao semipelagianismo e ao arminianismo, embora com outras

variáveis a resposta é o mesmo sim. Neste ponto Pelagianos, semipelagianos

e arminianos se encontram e uníssonos proclamam a quatro ventos que ao

homem é possível a salvação por seus próprios esforços, ou o homem pecador

pode, apesar de estar em estado de pecado, ter fé, a partir dele próprio, em

Deus.

Entretanto não é isto que a Bíblia expõe em suas páginas, ao contrário

todo ensino bíblico revela que o homem em estado de pecado está morto em

seus delitos e pecados (Ef 2.8) e, por conseguinte incapaz de se voltar para

Deus com fé. E é neste ponto que a eleição se torna o fundamento para a obra

evangelística da Igreja. Não basta a igreja sair ao mundo pregando o

evangelho, os homens neste mundo são incapazes de por si mesmos se

salvarem. Desta forma se faz necessário contar com a intervenção de Deus.

A eleição é a garantia que obra evangelística da igreja alcançará frutos.

Se não houvesse eleição não haveria razão alguma para a igreja sair ao

mundo pregando, pois ninguém ouviria e nem aceitaria o evangelho. A eleição,

longe de ser um fator desestimulante para a missão da igreja, por pensar que

185 PACKER. Op. Cit. p. 28

186 Ibid. p. 30

187 SPROUL, R. C. Eleitos de Deus; São Paulo: Cultura Cristã. 1998. p. 188

69

apesar de seus esforços os eleitos de qualquer forma serão salvos, ela é o

fator motivador; para que a igreja se dedique com mais contumácia e

entusiasmo à comissão dada pelo próprio Cristo, pois a Igreja pode ter a

certeza que com base na eleição os pecadores se converterão.

4. A Palavra como instrumento do chamamento eficaz

O método estabelecido por Deus e utilizado pelo Espírito Santo para o

despertamento dos eleitos é o método da Palavra de Deus. Claramente se

percebe isto na seqüência elabora pelo Apostolo Paulo em Romanos 10 ao

falar da necessidade de se pregar o evangelho. E fazendo argumentação

teológica com o próprio pensamento paulino pode-se perceber claramente esta

verdade, ou seja, é por meio da pregação do Evangelho que os eleitos são

salvos.

Em Romanos 10.13,14 Paulo inicia dizendo que todo aquele que invocar

o nome do Senhor será salvo. Para que o homem invoque o nome do Senhor é

necessário que ele tenha sido alvo da eleição (Rm 8.30), para que ele

responda ao chamado do evangelho é necessário que tenha fé, pois com diz

Hoekema “Fé é um aspecto essencial da conversão, junto com

arrependimento, sendo ambas necessárias para a salvação.”188 No entanto

está fé é dom de Deus como expresso pelo apóstolo em Efésios 2.8 continua

Hekema:

O fato de que somos completamente dependentes de Deus para a nossa salvação, assim como para todas as coisas, certamente implica não podermos ter fé verdadeira a não ser que sejamos capacitados por Deus.

Porém a continuação do pensamento apostólico é simples: Como

invocarão aquele em quem não creram? E como creram naquele de quem

nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? (Rm 10.14). Paulo

deixa de forma clara a necessidade de a igreja cumprir o seu papel no mundo

pregando o evangelho para que os eleitos sejam salvos. A pregação é o meio

de Deus para cumprir o seu propósito e a consumação deste. Por ordem

divina, o evangelho deve ser pregado a todos os povos sem distinção, visto

188 HOEKEMA, Anthony; Salvos pela graça: A doutrina bíblica da Salvação. São Paulo:

Cultura Cristã. 1997, 139

70

não ser conhecido por ninguém o número e a localização dos eleitos. Sobre

isto Calvino declara:

Se alguém se dirige a uma pessoa e lhe diz que se ela não crê, a razão está no fato de ela ter sido ordenada para a destruição, ao dizer isso não só adota uma atitude indolente, mas, também, dá lugar à má intenção. Se alguém estende ao futuro também a afirmação de que os que ouvirão, também não hão de crer porque foram condenados, também estará mais amaldiçoando do que ensinado. Pois não sabemos quem pertence ao número dos predestinados ou quem não pertence, mas devemos estar atentos quanto ao desejo de que todos os homens desejam ser salvos. Assim acontecerá que nós tentaremos fazer com que cada um que encontramos, seja mais participante da nossa paz... Pertence a Deus, contudo tornar efetiva a recompensa daqueles a quem pre-conheceu e predestinou.189

Contudo à Igreja pesa o dever de sair e pregar a todos o evangelho.

Percebe-se aqui a importância de um dos pontos principais da teologia

reformada e que serve para a identificação da igreja verdadeira, qual seja: a

pregação fiel das escrituras. Sendo a exposição da palavra o meio pelo qual

Deus, por seu Espírito desperta os eleitos se torna fundamental a exposição

correta da mensagem do evangelho para que o propósito de Deus seja

alcançado. “Pois Deus se mostra pela luz de sua palavra àqueles que não

mereciam como sinal evidente de sua gratuita bondade”190

4.1 O conteúdo da Mensagem evangelística

Em tempos pós modernos, caracterizado pelo relativismo tem-se visto

uma maquiagem da mensagem da igreja. Deus é colocado apenas como

àquele que pode trazer satisfação pessoal, prosperidade financeira ou um

simples fazedor de milagres. A mensagem em muitos círculos evangélicos é

absolutamente existencialista onde o homem é visto como um ser que tem o

direito de se aproximar de Deus e exigir as suas bênçãos independentemente

de serem convertidos ou não.

Este não é o ministério da Igreja. A igreja não existe para proporcionar a

elevação sócio-econômica de seus freqüentadores, mas para pregar o

evangelho.

189 CALVINO; Institucion de La religión cristiana; Livro 3, cap. 23 § 14

190 Ibid. Livro 3, cap. 24 § 2 pág. 764

71

A mensagem da Igreja, portanto é:

4.1.1 Mensagem sobre o Deus verdadeiro

Todos os homens trazem como conhecimento inato a existência de um

ser superior. Isto se pode verificar pela simples observação. Todas as culturas

de todos os continentes possuem as suas divindades. Isto é algo claro, visto

que o homem foi criado para ter comunhão com Deus e longe deste Deus cria

os seus próprios deuses caindo assim na idolatria. Calvino falando a respeito

deste senso da divindade no homem diz:

Está esculpido na alma de cada homem um sentimento da divindade, o qual de nenhum modo se pode destruir, e que naturalmente está arraigado em todos esta convicção: que há um Deus.191

Este Deus se revela ao homem por meio da criação, se mostrando

poderoso e criador. Entretanto em seu estado de pecado o homem é incapaz

de ver ao Deus verdadeiro, e passa a adorar a criatura no lugar do criador. À

igreja é dado o ministério de apresentar o Deus verdadeiro por meio da

pregação do Evangelho, para que, por meio das escrituras os homens possam

encontra-se com o verdadeiro Deus. Desta forma a mensagem da Igreja

consiste na apresentação deste Deus por meio do evangelho.

É interessante perceber que o fator motivador para a obra evangelística

do apóstolo Paulo era levar aos pagãos o conhecimento do Deus verdadeiro

para que ele pudesse ser adorado e reconhecido como criador e soberano.

Explicando aos cristãos em Roma o evangelho que ele apresentaria na

Espanha

Paulo começa dizendo que a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça. Que Deus se revela à humanidade através da criação, do que chamamos de revelação natural... Ele diz nos versos 19 e 20 (capítulo 1 ) que os atributos de Deus, sua glória, divindade, majestade são conhecidos pelas coisas que Deus criou...No verso 21 ele diz: “Tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus”. Aqui está à preocupação de Paulo, Deus não foi glorificado pelos pagãos como deveria ter sido, como

191

CALVINO; Institucion de La religión cristiana; Livro 1, cap. 3 § 4

72

criador, majestoso, que se revela na natureza, não deram graças a Deus.192

A preocupação de Paulo é apresentar a Deus para que o homem

pecador possa glorificá-lo como Deus. A mesma função é dada a Igreja hoje.

Os homens não podem se aproximar de um Deus que desconhecem, desta

forma a mensagem evangelística da igreja consiste em pregar a Deus, seu

caráter, seus atributos e o é o dever que o homem tem para com este Deus. “O

evangelho começa ensinado-nos que, como criaturas, somos absolutamente

dependentes de Deus, e que ele, como criador, tem direito absoluto sobre

nós.”193

4.1.2 Mensagem sobre o pecado

A igreja é levada ao mundo para anunciar a condição do homem frente

ao Deus santo e declarar como arautos de Cristo a proximidade do julgamento

divino. A igreja não pode mascarar a mensagem, a tornar mais agradável. “Não

estamos evangelizando se não fizermos nada mais do que apresentar a Cristo,

como se fosse um meio de satisfação dos desejos que o homem possa

sentir.”194

A mensagem sobre o pecado deve levar as pessoas a mais que um

peso de consciência, mas a uma convicção real “a cerca da condição em que

se encontram que é de alienados de Deus pelo seu pecado e de pessoas à

mercê da sua condenação, hostilidade e ira, de modo que sua primeira

necessidade é a de restauração do relacionamento com ele.”195 A maior

necessidade do homem é a restauração de seu relacionamento com seu

criador que foi perdido pelo pecado e a fuga da perdição eterna preparada a

todos aqueles que rejeitarem o evangelho de Cristo.

Porém quando a mensagem da cruz é trocada pela mensagem da

prosperidade, da cura das enfermidades, da harmonia dos relacionamentos, da

expulsão dos demônios o homem em seu estado de pecado continua longe de

192

LOPES, Restaurando a Teologia da Evangelização

193 PACKER. Op. Cit. pág. 53

194 Ibid. pág. 55

195 Ibid. pág. 56

73

Deus embora buscando algum benefício supostamente lhe prometido pelos

“representantes” de Deus assim:

As pessoas não buscam a Deus. Elas buscam os benefícios que somente Deus pode lhes dar. O pecado do homem decaído é este: o homem busca benefícios de Deus ao mesmo tempo em que foge do próprio Deus. Somos por natureza fugitivos.196

E quando as bênçãos de Deus se tornam o a razão motivadora para que

as igrejas estejam cheias, e a mensagem do pecado e da necessidade de

salvação é negligenciada, maquiada e esquecida a Igreja se torna maldição,

deixando de ser instrumento de Deus na salvação. Fazendo com que homens

ganhem o mundo inteiro, mas percam a suas almas. Por isso necessariamente

a mensagem do evangelho deve declara em alto e bom som o estado espiritual

do homem e seu destino eterno caso permaneça neste caminho.

4.1.3 Uma mensagem a cerca de Cristo

Cristo é o centro do evangelho. É a execução no tempo e no espaço de

todo o plano e propósito de Deus. Sem Cristo não existe salvação, sem Cristo

não existe reconciliação. Visto que Cristo é a base da eleição ele também é o

centro da mensagem evangelística da Igreja. Pois, a mensagem que esta igreja

deve levar ao mundo é a mensagem do Cristo crucificado que tira o pecado do

mundo, se tornando o único caminho que leva o homem pecador a Deus. Em

última análise o homem será salvo por sua fé em Cristo, como será condenado

aquele que rejeitar a Cristo. “A cruz de Cristo foi mais que o método de Deus

para nos salvar; é a nossa própria cruz, nossa morte e ressurreição. Estamos

unidos com Cristo.”197

Sendo a mensagem centralizada em Cristo ressalta a graça dispensada

sobre os homens por meio de Jesus, pois “o foco central do Cristianismo é a

graça de Deus colocada sobre seres humanos pecadores através da morte e

ressurreição de Jesus.”198

Portanto duas realidades sobre Cristo se constituem o centro da

mensagem cristã. Quais sejam: sua divindade e humanidade e sua obra

196

SPROUL, eleitos de Deus. Op. Cit. pág. 95

197 HORTON, A Face de Deus. Op. Cit. pág. 178

198 HORTON. Religião de Poder. Op. Cit. pág. 208

74

expiatória. Sendo Cristo a solução de Deus para a condição de pecado do

homem se faz absolutamente necessária a sua apresentação como homem e

sem pecado e, por conseguinte capaz de cumprir todo o propósito de Deus,

que e o de cumprir perfeitamente a lei de Deus e morrer em prol dos

pecadores. Aliás, toda a base da doutrina da Justificação se baseia nesta obra

de Cristo. A definição da justificação deixe isto bem claro:

A justificação pode ser definida como o ato gracioso e judicial de Deus pelo qual ele declara justos os pecadores crentes, na base da justiça de Cristo que lhe é creditada, perdoando seus pecados, adotando-os como filhos, e dando-lhes direito à vida eterna.199

A importância crucial de se apresentar a Cristo se baseia no fato de que

sem Cristo os homens continuam em seu estado de pecado e

conseqüentemente condenados a perdição eterna. Um evangelho que não

apresente a Cristo deixa de ser o poder de Deus para a salvação e se torna em

mero discurso moralista incapaz de aproximar o homem perdido de Deus.

4.1.4 Convocação para se responder a Cristo pessoalmente em

arrependimento e fé

Este é o ponto culminante do ministério da igreja no mundo. O da

convocação do pecador para que se decida por Deus em arrependimento e fé.

Para se chegar neste ponto a Igreja se fundamenta da eleição divina. Visto ela

não conhecer quem são os eleitos ela faz este convite de forma geral, a todas

as pessoas, pois “quando o Novo testamento fala a respeito de pessoas vindo

à salvação, ele fala em termos da resposta pessoal ao convite do próprio

Cristo200.”

O convite feito pelo pregador do evangelho para que o pecador se

arrependa e responda com fé ao evangelho é absolutamente consistente com a

teologia reforma. Lembrando do que já foi visto, a processo de salvação na

teologia reformada é monergistica em seu início e sinergistica em seu

desenvolvimento201.

199

HOEKEMA, Salvos pela Graça. Op. Cit. pág. 179

200 GRUDEM. Op. Cit . pág. 325

201 Vide capítulo 3 – também, Sproul. Sola Gratia. Op. Cit. Pág. 75

75

Portanto, qualquer proclamação genuína do evangelho deve incluir o convite para tomar a decisão consciente de abandonar os pecados e vir a Cristo com fé, pedindo-lhe o perdão dos pecados. Se tanto a necessidade de arrependimento de pecados como a necessidade de confiar em Cristo para o perdão forem negligenciados, não terá havido uma plena e verdadeira proclamação do evangelho.202

O método estabelecido por Deus, para que o eleito seja alcançado é a

pregação genuína da Palavra. Uma vez que a igreja abre-mão desta tarefa ela

deixa de cumprir o seu ministério deixando de ser sal da terra e luz do mundo.

Os métodos não salvam, quem salva é Jesus. Esta parece ser uma conclusão

lógica, mas que infelizmente tem sido esquecida por muitos. Quando se

valoriza demasiadamente o método, ele passa a ser o centro para se alcançar

um objetivo final que é a conversão do pecador. Mas sem que haja o

chamamento eficaz da parte de Deus, ao coração do eleito nenhum método

surtirá efeito.

O método dos métodos, mesmo em tempos pós modernos, ainda é a

pregação do Evangelho. Sem o anunciou da obra de Cristo com descrita nas

páginas sagradas da Bíblia o coração do homem continuará longe de Deus,

mesmo que esteja dentro de um templo. Como Diz Paulo aos coríntios:

“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria

sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.”

(1Co 1.21)

É mister que a verdadeira igreja de Cristo, sabendo da condição

espiritual do homem e, por conseguinte da sua incapacidade de se voltar para

Deus. Tendo como fundamento a garantia da salvação dos eleitos; saia ao

mundo anunciando a mensagem gloriosa do evangelho.

202

GRUDEM. Op. Cit pág. 326

76

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quiçá nunca se tenha falado tanto em crescimento numérico da igreja

como nestes últimos anos. Muitas conferências são realizadas, trazendo os

grandes “alquimistas” com suas fórmulas secretas e seus rituais litúrgicos

prometendo uma igreja grande e cheia de membros. Aliás, esta tem sido a

pérola de grande valor e sustentada como prêmio por muitas denominações.

A pressão do crescimento pode levar a igreja a entrar por caminho

perigoso, o do pragmatismo. Principalmente a igreja presbiteriana do Brasil. A

IPB sempre foi caracterizada pela sua formação teológica, sua mensagem

centralizada nas doutrinas da graça. Conclamando o homem em pecado a se

arrepender e se voltar para Deus. Seus Cultos sempre tiveram como ponto

central e principal a exposição das escrituras e o incentivo a todos os seus

membros a que conheçam a doutrina de sua igreja.

No entanto esta caracterização da Igreja Presbiteriana do Brasil tem

mudado ao longo do tempo, principalmente pela influência neopentecostal nos

círculos reformados. Influência esta nem tanto no que tange a teologia, mas

principalmente as práticas203tendo como objetivo alcançar o resultado em

números que estas igrejas alcançam. E para que este fim seja alcançado à

descaracterização é completa, e daí ver-se igrejas que sustentam em suas

placas o nome de “Igreja Presbiteriana do Brasil”, mas com práticas que a

assemelham a outras denominações.

As conseqüências práticas da supervalorização do número são

facilmente perceptivas:

1º Falta de conteúdo doutrinário da Igreja – o que importa é crescer e

para que haja crescimento não há a necessidade de doutrinamento. Doutrina,

ensinam os estrategistas do crescimento, não faz a igreja crescer, mas se

estagnar.

2º A descentralização do culto em Deus. Em uma igreja que visa

apenas o crescimento numérico o culto é mais relacional, ou seja, menos

203

Em viagem a cidade de Três Rios no interior do Rio de Janeiro, em 2003 ouvi a

propaganda no rádio da IPB da cidade em que o Pastor convidava a todos para “A quinta feira

da libertação”. Teoricamente um culto que seria realizado em sua igreja

77

vertical e mais horizontal. Grandes momentos são gastos na partilha de

experiências e na imposição de ”amuletos” evangélicos que “fortalecem a fé”

dos fiéis, tais como unção das mãos, fitas coloridas, rosas abençoadas, água

para ungir a casa e etc. Deus se torna apenas um detalhe no meio disto tudo.

Apenas aquele que existe para abençoar o freqüentador do templo que na

prática não possui nenhum compromisso concreto com a instituição.

3º o sincretismo religiosos dos crentes. A igreja que tem como objetivo

apenas o crescimento não questiona as práticas de seus adeptos, mas aceita

tudo o que fazem e o que crêem como sendo normal. Por isso se vê tão

claramente dentro de templos práticas oriundas de religiões pseudocrístãos,

como por exemplo, a prática de se colocar o copo de água sobre o rádio ou a

TV para ser “abençoada” pelo pregador. Tal prática é oriunda da legião da boa

vontade204 mas que arrebanhou muitos adeptos nas fronteiras evangélicas.

Mas será que a igreja não deve pensar em crescimento? Claro que sim.

A missão da Igreja enquanto neste mundo é alcançar os eleitos e fazer com

que eles ouçam a mensagem de Deus por meio da pregação do evangelho e

sejam eficazmente chamados. Não há erro em se querer uma igreja grande e

trabalhar para que este alvo seja alcançado. O erro é colocar este objetivo

como o maior, e o que precisa a qualquer preço ser alcançado.

Crescimento numérico é algo bíblico. Contudo o crescimento entendido

pelas escrituras é mais que numérico, mas: é o alargamento do reino de Deus

alcançando o mundo por meio dos conversos. Por isso Cristo disse que seus

seguidores seriam o sal da terra e a luz do mundo (MT 5.13,14). E Paulo

falando ao Filipenses disse que embora a Igreja estivesse no meio de uma

geração pervertida e corrupta eles deveriam resplandecer como luzeiros (Fl

2.15). O reino entrando no mundo e prevalecendo.

Toda a Obra evangelística da Igreja deve ter em mente a realidade do

pecado no coração do homem que o afasta de Deus e a necessidade que este

homem tem de se arrepender de seus atos e de se voltar para Deus. Esta é a

mensagem que à igreja foi confiada para transmitir ao mundo. E somente isto

lhe é cobrado, fidelidade na mensagem. O homem em pecado precisa de

Cristo e é necessário ser fiel levando esta mensagem.

204

Apostila de Heresiologia do curso de Apologética – pág. 19 – prof. Ulisses Horta

78

A base teológica para a proclamação do evangelho é a eleição. Quando

a Igreja entende que os eleitos serão salvos, e que Deus decidiu alcançar estes

corações pelo ministério da palavra que foi confiado a Igreja, a obra

evangelística é despida de toda pressão para que números sejam alcançados,

pois se percebe que o que é cobrado da igreja é a obediência a missão de ir e

pregar, não o converter os corações. Por isso não há a necessidade de se

mascarar a mensagem, de torná-la mais atraente e menos agressiva ao

ouvinte, pelo contrário o pregador que sabe que é Deus quem chama; que

Deus que edifica; que é Deus que consola se prenderá apenas no que diz as

escrituras, pois é por meio dela que Deus decidiu agir.

A vocação eficaz é sem sombra de dúvidas uma doutrina libertadora

para o pregador do evangelho. Pois aquele aquém Deus decidiu chamar ele

chamará eficazmente. Contudo é imprescindível a consciência da igreja que ela

é o instrumento para a evangelização e deve por isso cumprir sua vocação

enquanto no mundo de indo pregar o evangelho a toda criatura.

A GRANDE COMISSÃO205

Disse Jesus:” Ide por todo o mundo, E pregai o eterno dom

Da salvação que, com amor profundo, Dá o Deus gracioso e bom!”

Tendo na cruz a afirmação do amor, Proclamai o dom do Redentor!

Oh! Conquistai Almas perdidas, buscai

O pecador enfermo, quase moribundo

Vamos, irmãos, levar Essa luz ao mundo inteiro!

Vamos, irmãos, contar Que esse dom é verdadeiro!

Vamos, irmãos, pregar Mui confiados no Cordeiro

Que, na cruz, já fez A nossa Redenção

Soli Deo Gloria

205 Hino 282 do Hinário Novo Cântico

79

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