silva, antónio manuel s. p. (2015) – revisitando cristelo (albergaria-a-velha), talabriga e um...

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Albergue – História e Património do Concelho de Albergaria-a-Velha – n.º 2

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REVISITANDO CRISTELO (ALBERGARIA-A-VELHA),

TALABRIGA E UM AMIGO QUE PARTIU

António Manuel S. P. Silva *

“Não quero ser iconoclasta, mas entendo que o tempo da criação e manutenção dos mitos passou, entendo a Arqueologia como uma verdadeira ciência que conforme cria e ajuda a aparecer novas ideias, também desmaterializa as ideias feitas sem base científica” J. L. Inês Vaz, Lusitanos no tempo de Viriato

Ao João Inês, um lusitano em busca das suas (nossas) raízes

Em texto publicado no número anterior desta revista evocámos a visita de Leite de

Vasconcelos a Albergaria-a-Velha em 1911 para reconhecimento de alguns monumentos megalíticos do concelho (Silva 2014). A deslocação do director e fundador do actual Museu Nacional de Arqueologia, feita a convite de Patrício Theodoro Álvares Ferreira (1846-1932), notável autarca e homem de cultura, deu origem à publicação de uma curta notícia n’O Archeologo Portuguez que constitui certamente o texto fundador da investigação arqueológica sobre Albergaria-a-Velha (Vasconcelos 1912). Todavia, seria preciso ainda esperar toda uma geração para que o interesse dos arqueólogos por esta região tivesse resultados práticos e os vestígios do passado começassem a regressar à luz do dia. Entre os anos de 1981 e 1983, a pequena aldeia de Cristelo, no extremo poente da freguesia da Branca e do território municipal, viu chegar um conjunto de professores e estudantes que ali instalaram acampamento e durante três temporadas estivais puseram a descoberto restos de muros, lajeados, canalizações e apreciável quantidade de fragmentos de cerâmica de construção, louça doméstica e de armazenamento e outros objectos de época romana. Estas foram as primeiras escavações arqueológicas feitas em Albergaria-a-Velha. Dirigiu-as um jovem professor que então se iniciava na carreira de arqueólogo, João Luís da Inês Vaz, que inesperadamente nos deixou a 23 de Junho de 2015.

O sítio arqueológico de Cristelo

Terá sido Alberto Souto1, em finais de 1941, o primeiro a reconhecer o interesse arqueológico do sítio de Cristelo, quando por aquelas bandas averiguava a hipotética

* Arqueólogo. Centro de Arqueologia de Arouca. CITCEM/Universidade do Porto. Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia na Universidade de Santiago de Compostela. 1 Alberto Souto (1888-1961), formado em Direito, foi um notável jornalista, escritor e investigador da região de Aveiro. Deputado às Constituintes (1911-1915), foi também Administrador do Concelho de Estarreja, presidente do Senado Municipal de Aveiro, director do Museu Regional de Aveiro (1925-1958) e presidente da

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localização de Talabriga (Souto 1942). Numa visita feita em companhia de sua filha e algumas personalidades locais, a 16 de Dezembro, Souto foi surpreendido, desde logo, pelo “imponente aspecto topográfico” e “posição admirável” do local, que descreve com uma graça literária que merece transcrição:

“Cristelo é hoje um pequeno lugarejo sem estrada, sem escola, sem correio, sem loja e sem taberna, pousado no planalto de um promontório amplo, de encostas abruptas, alto de umas dezenas de metros, cercado por duas ravinas profundas onde correm duas ribeiras afluentes do Antuã, todo envolvido num frondoso carvalhal, belamente disposto para revigorar a sugestão do arcaísmo e significado do expressivo topónimo” (Souto 1942: 42).

Atento e experiente, rapidamente o arqueólogo reconheceu nos moroiços e terras

agricultadas restos de tegula, tijolaria e olaria de tipo romano, para além de algumas mós conservadas pelos aldeões. Percorrendo o longo e largo promontório – expressão que Souto reforça – com habitantes locais, registou testemunhos sobre o perímetro de uma cerca muralhada que coroaria o cabeço numa extensão de cerca de 800 metros por 100 a 200 de largura, para além da memória de terem aparecido “quartos e salas, fornos e coisas várias”, entretanto recobertos pela mancha agricultada e pelas casas da aldeia (Idem: 42-3). Mês e meio depois Alberto Souto regressou a Cristelo, dessa vez acompanhado pelo

Câmara Municipal de Aveiro entre 1957 e 1961. Dedicou-se particularmente à história, arqueologia, etnografia e geologia, sendo um Autor incontornável para o estudo da região do Vouga.

Fig. 1 – Vista aérea de Cristelo na actualidade, tomada sensivelmente de Sul. O desenvolvimento de novas construções no lugar sem avaliação arqueológica prévia pode destruir vestígios arqueológicos importantes (Imagem GoogleEarth, Set.º 2015)

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eminente arqueólogo Vergílio Correia2, que confirmou as observações de Dezembro e encareceu a amplitude e potencial arqueológico do sítio (Ibidem). Poucos anos volvidos, também o general João de Almeida, no seu Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, inventariou a “Fortaleza de Cristelo”, seguindo de perto a caracterização feita por Alberto Souto, com a variante de sugerir, com escassa fundamentação, que o sítio pudesse ter servido mais como acampamento militar que propriamente como povoação antiga (Almeida 1946: 43). Desde então, o sítio arqueológico continuaria a ser mencionado por diversos Autores, especialmente acerca da sua possível relação com o oppidum de Talabriga citado nas fontes antigas mas também com notícias de diversos achados ocasionais, como sucedeu com Dulce Alves Souto que registou a ocorrência de telha e cerâmica romana, para além de “uma placa de xisto perfurada” (Souto 1958: 259). Coube à Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV)3 a iniciativa da realização dos primeiros trabalhos arqueológicos em Cristelo, no que foi, aliás uma das primeiras actividades daquela associação. Para o efeito conseguiu um apoio financeiro do FAOJ4, congregou um conjunto de professores e estudantes locais e convidou para dirigir os trabalhos João Luís Inês Vaz, à data também um jovem professor do ensino secundário que poucos anos antes se licenciara em História/Arqueologia pela Universidade de Coimbra. Inês Vaz tinha já, desde os seus tempos de estudante, significativa experiência de arqueologia romana, pois havia participado nas escavações de Collipo (Leiria) e Conimbriga, sob a direcção do Prof. Jorge de Alarcão e também nos primeiros trabalhos de Bracara Augusta, então orientados por Francisco Alves. Deste modo, em Agosto de 1980 foi instalado um acampamento junto à povoação de Cristelo e reunida uma equipa de perto de duas dezenas de jovens do ensino secundário e superior para levar a cabo as escavações, que duraram duas semanas. A organização e responsabilidade do campo ficaram a cargo de Amaro Neves (então presidente da ADERAV), Fernando J. Loureiro, Américo Barata e Esmeralda Figueira, todos docentes do ensino secundário e ainda de Artur Jorge Almeida, então a iniciar os seus estudos superiores (Vaz 1982a: nota 3; 1983: nota 10)5. Durante esta campanha foram abertas duas áreas, designadas convencionalmente como sectores A e B. A sua localização é algo imprecisa a partir das informações publicadas, mas aparentemente o sector A situou-se uns 150 ou 200 metros a Norte das

2 Vergílio Correia (1888-1944), jornalista, arqueólogo e notável historiador de arte, foi professor na Universidade de Coimbra, director do Museu Machado de Castro e dirigia então as escavações em Conímbriga. 3 Fundada em Aveiro a 3 de Maio de 1979, a ADERAV tem por fins, segundo os estatutos, “a inventariação, salvaguarda, defesa, valorização e estudo do património natural e cultural da região de Aveiro nos seus aspectos monumental, urbanístico, natural, histórico, arqueológico, etnográfico, artístico, e ecológico”. Cfr. www.aderav.com. 4 O Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), antecessor do Instituto Português da Juventude (agora Instituto Português do Desporto e Juventude, IP) foi um organismo do Ministério da Educação criado em 6 de Fevereiro de 1976 para apoio às iniciativas juvenis no domínio da ocupação dos tempos livres. Entre muitas outras acções prestou significativo apoio a campos de trabalho arqueológico e outras iniciativas ligadas à arqueologia. 5 Cfr. pequenas notícias em “Noticiário-Intervenção”, Boletim da Associação de Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, ano 1, nº 3 (Out-Nov. 1980), Aveiro, p. 31-2.

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últimas casas do lugar; enquanto o sector B terá sido implantado mais a Sul, no lado esquerdo de um caminho que sai do lugar para Noroeste e a pouca distância do povo (Loureiro 1983: fig. 21)6. Em toda a área escavada, cerca de 80 m2 no sector A e aparentemente 64 m2 na zona B, a possança estratigráfica era escassa, variando entre os 15 e os 30 cm. apenas, circunstância que, a par das sondagens terem incidido em terrenos agricultados, terá contribuído para a má preservação das construções (Vaz 1981-82: 26-7), parecendo registar-se também uma significativa reutilização da pedra e tijoleiras das ruínas para a construção do povoado actual (Vaz 1982a: 14; 1983: 5).

Ainda assim, na sondagem 2 do sector A foram identificadas diversas estruturas, nomeadamente os restos de um muro feito com pedras de xisto e granito, estas últimas alheias à geologia local, como oportunamente notou Inês Vaz (1981-82: 27), um sulco cavado na rocha paralelamente a esse muro que parecia desembocar numa espécie de pia igualmente talhada no afloramento natural e restos de um piso feito em argamassa de barro com pequenas pedras e fragmentos de cerâmica, similar à técnica romana do opus signinum, sob o qual viriam a detectar-se duas pequenas cavidades rectangulares, encontrando-se a rocha intencionalmente nivelada noutros pontos (Vaz 1981-82: 26-28; 1982a: 2-4; 1983: 4-

6 Cumpre esclarecer que nos baseamos apenas nas informações publicadas, não nos tendo sido possível procurar os relatórios originais das intervenções, que presumivelmente se conservarão no arquivo central da arqueologia portuguesa, na Direcção Geral do Património Cultural, Lisboa. No que respeita à implantação e dimensão das sondagens, os dados publicados são imprecisos (Vaz 1983: 5; Loureiro 1983: fig. 21).

Fig. 2 – Um aspecto dos primeiros trabalhos arqueológicos em Cristelo, campanha de 1980

(Foto: Artur Jorge Almeida)

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5). Na sondagem 4, um pouco mais a Sul, observou-se igualmente o nivelamento intencional da rocha natural, bem como a presença de uma cavidade coberta por uma laje e um outro sulco talhado na rocha, em parte colmatado também por uma pequena cunha em pedra. Nos restantes quadrados não se localizaram quaisquer estruturas arqueológicas. Como o responsável pelos trabalhos reconheceu, o avançado estado de destruição destes elementos arquitectónicos e negativos de quaisquer actividades ou construções, a par de um espólio móvel escasso e incaracterístico, não permitiram identificar a funcionalidade desta área, aventando-se que poderia estar ligada a uma lagareta ou qualquer outro dispositivo de carácter oficinal (Vaz 1981-82: 28; 1983: 4). No sector B foram aparentemente escavadas quatro quadrículas de 4x4 metros, registando-se desde logo uma quantidade mais apreciável de fragmentos de cerâmica e outros objectos. Nos quadrados B1 e B2 identificaram-se restos de lajeados, de função indefinida, “constituídos por lajes de xisto negro, perfeitamente assentes no terreno” (Vaz 1981-82: 29), aparecendo também numa das sondagens evidência de um outro muro, muito destruído e uma estrutura demarcada por algumas “pedras colocadas ao alto, em cutelo”, de planta aparentemente ovalada e preenchida por uma terra “mais solta e com uma coloração diferente da terra circundante” (Idem, ibid.), vestígios que Inês Vaz interpretou como uma possível sepultura de inumação (Ibid.), acrescentando em trabalhos posteriores que a base da suposta sepultura estaria “coberta de cerâmica”, relacionando mesmo com a área sepulcral quer o lajeado contíguo, quer um objecto supostamente idoliforme recolhido no mesmo contexto (Vaz 1982a: 8-9; 1982b: 34; 1983: 4-5).

Fig. 3 – Pormenor de um dos lajeados em xisto aparecidos na primeira campanha de escavações em Cristelo (Foto: Artur Jorge Almeida)

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O espólio, isto é, os restos de artefactos recolhidos nesta primeira campanha, não terá sido muito abundante, sobretudo no sector A, registando-se, além de numerosos fragmentos de material de construção (tegula e imbrex, no sistema habitual romano de cobertura dos telhados, e também tijoleiras), cerâmica doméstica de diferentes tipos, fragmentos de dolia (vasos de armazenamento), dois pequenos fragmentos de lucernas e, pelo menos, uma asa e dois fundos de ânforas, para além de um peso de rede com dupla perfuração e restos de um peso de tear, igualmente em argila. Os achados líticos reduzem-se a dois polidores, em xisto e granito, e ao referido idoliforme, uma peça em granito interpretada como um “ídolo” posteriormente reaproveitado como polidor; por fim, a única ocorrência metálica refere-se aos restos do que parecia ser um alfinete de bronze, muito deteriorado. Todo este material, que por alto contabilizamos em cerca de cinco ou seis dezenas de objectos encontra-se descrito, fotografado ou desenhado na segunda parte da publicação do relatório da campanha (Vaz 1982a). Além dos materiais recolhidos nas sondagens, Inês Vaz menciona ainda outros objectos, recolhidos e conservados por elementos da população local e que na altura lhe foram confiados para estudo, como tijoleiras, uma placa de xisto com decoração reticulada e em especial uma moeda romana, em bronze, aparentemente datada de Tibério (Vaz 1982a: 13-14). Da segunda campanha, realizada entre 12 e 31 de Julho de 1982, escassas notícias foram publicadas, para além de algumas indicações gerais num trabalho de síntese (Vaz 1983) e duas notas informativas igualmente sucintas (Vaz 1982b; 1985)7. Registou-se que nesta campanha, que incidiu nos mesmos sectores que a primeira (Vaz 1982b: 34), “continuaram a não aparecer estruturas”, se bem que a cerâmica exumada tenha sido “muito mais abundante e muito mais elucidativa que a aparecida na 1ª campanha” (Vaz 1983: 5-6; 1982b: 34-5). A propósito deste espólio, mencionam-se, além da cerâmica de construção, um conjunto de cerâmicas domésticas de produção local ou regional com um “tipo de formas (…) anterior à chegada dos hábitos romanos” e, entre os grupos de louças importadas, fragmentos de terra sigillata, nomeadamente “um fragmento com um grafito no bojo e duas taças reconstituiveis”, referindo-se finalmente um peso de tear em xisto com marca de fabricante em grafito (Idem: 6), materiais infelizmente não ilustrados, se bem que em nota de rodapé na mesma página (infelizmente com o texto gralhado) se aluda a um estudo sobre estas cerâmicas que estaria já no prelo, publicação que aliás não chegou a ver a luz do dia. Da terceira campanha de trabalhos arqueológicos, que terá tido lugar no ano de 1983, segundo base de dados oficial8, ignoramos quaisquer resultados ou achados.

Entre os finais de década de 1980 e começos da seguinte, nós próprios visitámos a estação por duas vezes, registando a ocorrência de material cerâmico de construção romano mas não podendo já observar as áreas escavadas, certamente aterradas para cultivo dos campos. Mais recentemente, Nélia Oliveira, na monografia Auranca e a Vila da Branca ilustrou três dormentes de mós manuais circulares, a mesma moeda romana referida já por Inês Vaz e menciona ainda memórias locais de outros achados de difícil interpretação, feitos sobretudo durante obras para a construção das casas do lugar, nomeadamente a

7 Veja-se também notícia em “Noticiário-Intervenção”, Boletim da Associação de Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, ano 3, nº 7 (Jun-Dez. 1982), Aveiro, p. 30. 8 Cfr. http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/?sid=trabalhos.resultados&subsid=123022&vs=53929.

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descoberta, em 1966, de “duas grandes pedras de xisto com as inscrições M.P.”, entretanto desaparecidas (Oliveira 1997: 34-6). Que balanço, necessariamente provisório, poderemos fazer das informações que resultaram destas intervenções arqueológicas e outros achados em Cristelo? Deixando de lado por ora a questão seminal da possibilidade de identificação do sítio arqueológico com a mítica Talabriga, como podemos caracterizar este sítio arqueológico? Inês Vaz, cujas publicações transmitem claramente um certo desânimo pela dificuldade em encontrar ruínas ou outras estruturas conservadas e mesmo em caracterizar suficientemente a natureza das detectadas (o que certamente terá levado à interrupção dos trabalhos em 1983), conclui o relatório da primeira campanha reconhecendo que a intervenção foi inconclusiva quanto à eventualidade de ali ter sido o assento do ópido talabrigense, ficando como certeza que “houve uma grande influência romana no local e o povoado ocupava uma extensa área ainda não totalmente definida” (Vaz 1982a: 14). Após a campanha de 1982, que terá proporcionado mais e melhor espólio, como se viu, mas não estruturas significativas, o director das escavações manifestou-se convicto de que o local teve ocupação “muito antes da chegada dos romanos” e de que, por outro lado, “Talabriga ficará muito próxima, senão mesmo ali” (Vaz 1983: 7). Em breve síntese posterior, João Inês Vaz clarificou melhor a sua posição: o povoamento romano foi ali antecedido pela “presença do homem anteriormente àquela data mas sem uma determinação exacta da época”, considerando que a extensão da ocupação romana “se estendia para lá do que é hoje a povoação (…) e tratar-se-ia certamente de um povoado importante”, com uma ocupação particular durante os séculos I e II da nossa era, em função da datação dos principais objectos encontrados (Vaz 1985; 1982b). A ocupação pré-romana de Cristelo, desde logo sugerida pelo topónimo, com toda a probabilidade diminutivo de Crastello, como diminuitivo de crasto<castrum, local fortificado, foi admitida por Alberto Souto, que classificou o local como “um oppidum dos tempos luso-romanos” (Souto 1942: 44), explicitando em texto coevo que “o povoado romano (…) mostra evidentes sinais de estar sobreposto a um fundo castrejo, lusitano”9, a que corresponderiam, na opinião daquele estudioso, sobretudo as extensas muralhas que observou nas visitas que ali fez. Não obstante, merece nota a estranheza de Souto em relação ao diminutivo do topónimo aplicado a uma área arqueológica aparentemente tão extensa (Souto 1942: 46). A possibilidade de habitação no local antes dos tempos romanos foi admitida por Inês Vaz com base nos resultados das sondagens de 1980 (Vaz 1983: 4), se bem que a única evidência dessa circunstância pareça assentar num objecto em granito que aquele arqueólogo identificou como um “ídolo que depois foi transformado em polidor” (Ibidem; 1982: 8-9) e chegou a aproximar do suposto espaço funerário localizado no sector B, “onde teriam sido usados como amuletos objectos de outras épocas” (Vaz 1983: 5), interpretação que nos parece pouco sustentável, sem prejuízo da eventual antiguidade do objecto em

9 Artigo publicado no diário portuense O Primeiro de Janeiro em 8 de Janeiro de 1942 (Ano 74, nº 7), p. 4 (apud Oliveira 1997: 33).

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causa10. Mais interessante talvez poderá ser a informação de que na campanha de 1982 a cerâmica, mais abundante, poderia ser classificável entre um grupo de produções importadas (a terra sigillata) e a cerâmica de produção local e regional, feita aparentemente com barros locais e, sobretudo, na perspectiva de Inês Vaz, com um “tipo de formas (…) anterior à chegada dos hábitos romanos” (Idem: 6), dados que naturalmente teriam de ser reavaliados em presença dos materiais em causa. Poderá ser sugestiva de construções indígenas pré-romanas, a este propósito, a informação de um habitante de Cristelo de que “ao abrir os alicerces da sua casa encontrou pedras bem assentes formando círculos” (Oliveira 1997: 34). Os testemunhos de habitantes locais evocam também o achado de dois “capacetes de ferro” que teriam aparecido no “porto”, ponto de confluência entre os dois ribeiros que ladeiam o plateau amesetado (Loureiro 1983: 15), informação que igualmente recolhemos em 1992, com o apontamento de que tal descoberta terá sido feita em meados do século XX. A coincidência destes informes e a preciosa indicação do local onde as peças teriam sido encontradas, merece talvez que se lhes dê algum crédito e que pudesse tratar-se na realidade de um depósito de época proto-histórica11. A implantação e características do sítio arqueológico não são muito comuns entre os povoados da Idade do Ferro do Norte e Centro-Norte de Portugal. Trata-se de um amplo esporão sub-triangular, a cotas entre 75 e perto de 90 metros, dominante sobre a região envolvente, com encostas muito pronunciadas em todas as direcções salvo para Sudeste e encravado entre duas linhas de água afluentes do rio Antuã (identificadas por Inês Vaz como o ribeiro de Porta Meída e da Fonte de Baixo), que corre a Noroeste a menos de um quilómetro. O povoado moderno, de origens medievais, como pode depreender-se da existência ali de seis casais arrolados nas Inquirições de D. Afonso II (Borralha 1936: 286), estende-se essencialmente ao longo de um arruamento com um traçado aproximado no sentido Sudeste-Noroeste, até ao fim do lugar.

A topografia da zona, relativamente aplanada ou com uma ondulação suave revela, segundo a folha nº 163 da Carta Militar de Portugal à escala 1:25.000, duas pequenas proeminências, uma a cerca de 250 metros para SSE. da capela de Santa Luzia (86 m); a segunda um pouco mais para NE., num meandro sobre a ribeira da Agrela, à cota máxima de 89 metros12. Estas pequenas elevações poderão ser significativas se admitirmos que a ocupação romana de Cristelo se desenvolveu sobre um (pequeno?) núcleo indígena primitivo, proto-histórico, como parece sugerir Inês Vaz quando escreveu que “o povoamento se estendeu mais para nordeste para fazer face ao aumento da população e ao novo tipo de construções” (Vaz 1983: 7), não obstante a escassez de vestígios ou indícios desta época, como vimos.

Há que considerar, por fim, a questão do importante sistema defensivo do povoado. Alberto Souto (1942: 43) assinala a notável extensão da linha de muralha,

10 A avaliar apenas pelas fotos (Vaz 1982: 9), aliás muito pouco nítidas, parece quase tratar-se de um “ídolo-pinha” calcolítico, mas não é incomum a ocorrência de artefactos arcaicos (por exemplo machados em pedra polida) em contextos bem romanizados. 11 Não obstante a raridade da ocorrência de capacetes em território português (não mais que uma dezena) e a sua pouco usual ligação aos depósitos votivos. Cfr. como conspecto geral Vilaça 2007. 12 92 metros, segundo a cartografia 1:10.000 do actual Plano Director Municipal de Albergaria-a-Velha (Folha 1A da Carta de Classificação e Qualificação do Solo).

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aparentemente construída em pedra – perto de 800 metros, com um perímetro de cerca de dois quilómetros (!) – circuito que pelo menos em parte Nélia Oliveira (1997: 37) ainda terá reconhecido com apoio de moradores locais. Seja qual for a cronologia desta linha defensiva, certamente que terá sido complementada no sector Sudeste, no acesso natural à plataforma entre ribeiras, por um sistema de muralha ou talude, talvez complementado por um fosso, que provavelmente a urbanização moderna elidiu. A cronologia destas muralhas13 é problemática sem uma pesquisa arqueológica adequada. Se forem de origem castreja estarão a delimitar um povoado porventura com uma área de cerca de 12 ha, superfície insólita entre os sítios proto-históricos da região e do Norte de Portugal14; se já de época romana, o que nos parece muito improvável, implicariam que a natureza da ocupação do sítio fosse considerada em perspectivas diferentes das meramente habitacionais ou de exploração agrícola. Há ainda a possibilidade de tratar-se de uma pequena comunidade proto-histórica em termos de mancha edificada e população (justificando assim o diminutivo do topónimo), mas que todavia, por razões de mera economia agro-pecuária, teria protegido uma extensa área de exploração, hipótese que traduziria um investimento de recursos muito desajustado e sem paralelos na proto-história regional.

Desta forma, e para concluirmos este ponto, temos de reconhecer que Cristelo, em si próprio, e aparentemente apesar dos trabalhos arqueológicos ali realizados, mesmo sem conhecermos a totalidade dos seus resultados, continua a ser um enigma. Subentende-se uma origem pré-romana, ainda muito difusa, e confirma-se a ocupação romana aparentemente centrada nos séculos I e II (Vaz 1985), sem que se perceba quando ou porquê foi, se o foi, tal ocupação interrompida. Permanece igualmente obscura a natureza do sítio: um pequeno “castro agrícola” indígena que viu aumentada a sua população no Alto Império? E o que justificaria tal aparato defensivo, improvável como obra indígena e aparentemente desnecessário em tempos de paz? Apenas uma extensa cerca de gado?

Como anotámos há mais de duas décadas, “por certo que (…) a arqueologia terá de regressar a Cristelo em busca de respostas para estas questões” (Silva 1994: 89). Mas os tempos mudaram e o território também. Em 1942 Alberto Souto surpreendia-se com o frondoso carvalhal que temperava os ecos ancestrais e pontuava o sítio de bucolismo; em 1980 João Inês Vaz teve como dificuldade maior encontrar terrenos livres onde pudesse durante umas semanas do Verão implantar a escavação sem prejudicar o ritmo das lavras e dos cultivos… mas agora, a maior parte dos campos estão abandonados e só umas quantas cabras tasquejam em escassas manchas de prado; a floresta e os matos adensaram-se, tornando quase inacessíveis as encostas, e o eucalipto disputa com o pinheiro os solos onde o arado já não entra. Pior ainda, extensas áreas do sítio arqueológico foram desde os últimos anos revolvidas com maquinaria para plantio de árvores, e os solos pouco profundos exibem agora abundantes restos de telhas romanas por entre os calhaus de xisto arrancados ao afloramento, perdidos de vez para a pesquisa arqueológica; entrementes, no pequeno lugar – que também é chão arqueológico – algumas construções estão em curso,

13 Que não pudemos observar directamente, tendo observado apenas um talude aparentemente defensivo, no sector Nordeste, em 1992. Presentemente, a espessa vegetação torna muito difícil a circulação e o reconhecimento desses elementos. 14 Basta recordar que a Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira), um dos maiores castros do Noroeste peninsular, tem uma área intramuros de cerca de 15,5 ha; por sua vez, o Monte Murado (V. N. Gaia) um dos maiores e mais importantes castros do Entre Douro e Vouga não chegará a 10 hectares.

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sem que se tenha aproveitado para pelo menos verificar se as suas fundações não terão destruído indelevelmente mais alguma porção do passado ignorado de Cristelo.

E Talabriga?

Não diríamos, como Inês Vaz (1983: 3), que “Talabriga é um dos maiores enigmas que se deparam ao arqueólogo actual”. Mas é certamente um aspecto importante da história antiga da região tentar localizar este povoado, que integrou a Lusitânia romana como capital de ciuitas, ou seja, superintendendo sobre uma região que, na proposta de Jorge de Alarcão “se estendia desde Ul, a norte, até às imediações da Mealhada, a sul, e desde o Atlântico até às proximidades da actual povoação de Benfeitas [Oliveira de Frades] a oriente (Alarcão 2004: 327). Naturalmente, não devemos depreender desta circunscrição territorial, fixada em época de Augusto mas porventura aproveitando ou respeitando qualquer organização indígena pré-existente, eventual distinção relevante no plano étnico, linguístico ou de outra natureza entre os talabrigenses e os seus vizinhos, túrdulos velhos e pésures (Silva 1999).

Pela sua relevância para a geografia do litoral vaucense, o tema do sítio de Talabriga

tem suscitado o interesse de numerosos arqueólogos e outros estudiosos, sobretudo de

Fig. 4 – O revolvimento mecânico dos terrenos, para florestação, tem um efeito muito negativo sobre os vestígios arqueológicos (Foto: Autor)

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ascendência local15, e mesmo no anterior número da revista onde estas linhas vêem a luz do dia, o Engº Pedro M. Pereira (2014) acrescentou mais uma proposta ao ubi de Talábriga, que sugere possa situar-se na área do lugar de Telhadela, localização hipotética que vem acrescentar-se às que desde há séculos vêm sendo aventadas para Aveiro, Cacia, o sítio do Cabeço do Vouga (Águeda), os castros de Ul (Oliveira de Azeméis) ou de Fiães (Santa Maria da Feira), São Julião, Cristelo e Senhora do Socorro, em Albergaria-a-Velha, etc. (Lopes 2000b).

As fontes históricas são bem conhecidas mas referem-se aparentemente a duas localidades homónimas, o que tem gerado substancial confusão, sobretudo ao invocar-se a narrativa de Apiano Alexandrino, historiador do século II (Hist. das Guerras da Ibéria, 72-3), sobre o enfrentamento do general Décimo Júnio Bruto com os habitantes do castro de Talábriga (Araújo; Cardoso 1991: 92-3), episódio aliás muito curioso por ser um dos raros casos documentados na historiografia romana sobre a conquista do Noroeste de resistência e capitulação de uma comunidade indígena perante a superioridade militar de Roma.

Assim sendo, resumem-se a quatro as fontes antigas que referem a Talábriga lusitana. A mais antiga são os escritos de Gaio Plínio Secundo, que viveu no séc. I, esteve na Península Ibérica nos começos da década de 70 e escreveu, entre outras obras, a Naturalis Historia. É bem conhecida a enumeração que Plínio fez dos povos, rios e povoados fortificados do litoral atlântico a Sul do Douro (Nat. Hist., 4, 113; Guerra 1995: 32-3, 79ss.): Turduli veteres, Paesuri, flumen Vagia, oppidum Talabrica… etc., em função da qual esgrimem argumentos os estudiosos, uns fazendo uma leitura literal desta ordenação – que coloca Talábriga após o Vouga ou na sua influência imediata – outros admitindo que o naturalista enumerou primeiro os povos e o rio principal, para depois ziguezaguear ou “voltar a atrás” e elencar os lugares mais importantes, assim possibilitando a localização mais a Norte de Talábriga (Mantas 1996: 626-7).

O geógrafo alexandrino Cláudio Ptolomeu (séc. II) registou também na sua Geographia a cidade de Talábriga, bem mais para o interior da Lusitânia (provavelmente em actual território espanhol), mas aquela obra é apenas uma listagem de locais com coordenadas que diversos cartógrafos tentaram, e continuam a tentar, interpretar e localizar, sendo evidentes os erros e dificuldades de posicionamento, pelo que é de incerta utilidade para os ensaios de implantação do sítio que nos interessa (García Alonso 2003: 111; TIR J-29: 150)16. O designado Itinerário de Antonino Augusto é um roteiro viário que parece datar do período de Diocleciano, compilado porventura entre os anos de 284 e 290, ainda que aparente aproveitar informações mais antigas (Roldán 1975:67-8; Mantas 1996:195-212). Ao descrever as diferentes vias, como a XVI, que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta, o roteiro elenca as diferentes mansiones ou mutationes (estabelecimentos de pernoita ou muda de cavalos) com referência às distâncias em relação aos pontos anteriores. Nesta listagem, porque também disso se trata, assinalam-se 40 milhas romanas de Aeminium (Coimbra) a

15 Cfr., numa listagem não exaustiva Pereira 1907, Souto 1942; 1958 e para uma boa síntese historiográfica Lopes 1995 e 2000b. 16 Não obstante a recuperação de informação que Seabra Lopes logrou obter desta fonte, que utilizou para afinar e confirmar alguns elementos do Itinerário de Antonino (Lopes 1995-1997; 1997a; 2000a).

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Talabrica, 18 daí a Langobriga, mais 13 até Calem e por fim as últimas 35 milhas para chegar a Bracara.

Analisando esta fonte, Félix Alves Pereira publicou no já longínquo ano de 1907 um estudo de referência no qual, partindo das distâncias indicadas no Itinerário entre Aeminium e Talabriga e Cale (que localizou em V. N. Gaia) e a mesma Talabriga, traçou a compasso dois círculos com o centro naquelas mansiones terminais e o raio correspondente às respectivas distâncias, do que resultaram dois círculos secantes cuja área de intersecção definia uma pequena mancha na área da freguesia da Branca (Pereira 1907). Todavia, este investigador, para além de ter cometido alguns erros na medição das distâncias (Lopes 1995; 1995-1997; 1997a; 1997b) não propôs qualquer local preciso para a implantação de Talábriga, limitando-se a registar a impossibilidade, de acordo com o seu método, da mesma se situar em Aveiro ou Cacia, como outros Autores haviam sugerido17.

Por fim, também a Cosmographia do Anónimo de Ravena, uma compilação essencialmente do séc. VII, se bem que podendo reflectir fontes anteriores, regista uma localidade de Terebriga, no trajecto de quem vinha do Sul, imediatamente antes de Lancobriga, o que usualmente tem levado diversos autores a identificar aquele ponto com Talábriga, assumindo como erro ou imprecisão a variante da designação; mas como esta

17 Importa notar que à época os vestígios arqueológicos de Cristelo não haviam ainda sido reconhecidos, embora F. A. Pereira registe e reconheça o potencial do topónimo (1907: 140).

Fig. 5 – Parte substancial do sítio arqueológico, talvez a mais significativa, poderá estar sob o povoado actual (Foto: Autor).

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fonte não indica distâncias ou grandes detalhes, pouco acrescenta ao esclarecimento da questão (Roldán 1975: 111ss.; Mantas 1996: 213-22.; 2012: 184). A localização da segunda Talábriga, situada na Callaecia, nas cercanias do rio Lima, é tão ou mais imprecisa que a sua homóloga meridional. Ali terão tido lugar, e não na zona do Vouga, segundo a maioria dos Autores, os episódios bélicos que Apiano narrou e que constituem registo raro na conquista da Ibéria pelas forças romanas. Na verdade, no contexto do discurso de Apiano, parece claro que foi após a passagem do Douro, no ano de 137 a.C., e já nas imediações do rio Minho, que Décimo Júnio Bruto investiu contra os brácaros e submeteu alguns dos seus povoados, a esse propósito se mencionando o ópido de Talábriga, objecto de uma acção punitiva, se bem que de conclusão magnânima, por não acatar bem o domínio romano (Hist. Guerras Ibéria, 72-3, in Araújo; Cardoso 1991; Guerra 1998: 620).

A esta interpretação, todavia não isenta de dúvidas, acresce a evidência epigráfica, patente numa ara encontrada nos começos do séc. XX na igreja de Estorãos, Ponte de Lima onde uma certa Camala, dita Talabrigense, faz um voto ao deus Tiauranceaico (Pereira 1906; Redentor 2011: II, 88). A reforçar a existência de uma outra Talábriga na região minhota contam-se outros quatro monumentos epigráficos, aparecidos na zona mineira de Rio Tinto, Huelva, nomeadamente o que refere explicitamente um indivíduo proveniente do castellum, ou seja do castro de Talabriga, pertencente à ciuitas dos Límicos (Luzón 1975; Rodríguez Colmenero 1997: 274-5; Guerra 1998: 620).

Fig. 6 – Placa toponímica em Cristelo, quase uma metáfora do sítio arqueológico (Foto: Autor)

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Desta forma, o debate em torno da localização de Talábriga tem-se centrado modernamente quer na enumeração corográfica de Plínio, quer especialmente no roteiro viário de Antonino, interessando a este propósito dois aspectos em particular: a definição, com o maior rigor possível do traçado da via romana para efeitos da medição das distâncias sobre o eixo dessa estrada e não de uma forma puramente geométrica, como se a ligação entre Coimbra e Vila Nova de Gaia fosse uma linha recta, como de certa maneira fez, embora advertindo para essa limitação, F. A. Pereira (1907); e a procura de locais com vestígios arqueológicos que de algum modo possam corresponder ao povoado que há mais de dois milénios foi designado por Talabrica. A estas questões eminentemente arqueológicas duas outras, de natureza mais historiográfica podem também acrescentar-se: a própria crítica da fonte, admitindo a possibilidade de erros de contagem ou registo no roteiro viário; e por fim a própria conversão da milha romana para medidas actuais, o que também não reúne consenso18. De modo sintético, para não alongar este texto mais do que nos comprometemos, duas grandes teses vigoram presentemente, propondo a localização de Talabrica quer em Cristelo da Branca, quer no Cabeço do Vouga (Lamas do Vouga, Águeda). Vasco G. Mantas é o principal defensor de Cristelo, baseado quer no Itinerário de Antonino e nos cálculos de F. A. Pereira (1907), quer na sua própria reconstituição do traçado da via romana (Mantas 1990: 225-6; 1996: 630-40; 2012: 192-7). Se bem que admitindo a importância do sítio arqueológico do Cabeço do Vouga, onde situa a Vaccua ptolomaica, Mantas reforça a hipótese de Cristelo não como local exacto da mansio, que ficaria um pouco mais a Nascente, junto à estrada, mas como sede, ainda que porventura algo modesta, da ciuitas, chegando a apontar à implantação topográfica e suposta área muralhada de Cristelo semelhanças com as de Conímbriga (1996: 637-8). A darmos crédito à notícia coligida por N. Oliveira (1997: 34-6) do achado em Cristelo de “duas grandes pedras de xisto com as inscrições M.P.”, que aquela Autora interpreta como de eventual sinalização viária (milia passum), a descoberta seria muito relevante, mas a tipologia do suporte é sobremodo invulgar para admitir tal interpretação. A identificação das ruínas arqueológicas do Cabeço do Vouga, documentadas por diversos trabalhos arqueológicos (Madahil 1941; Pereira da Silva 2008) como Talábriga tem em Luis Seabra Lopes o principal paladino moderno, concordando nessa atribuição J. Alarcão (1988a: 45, 223; 2004: 327) e outros investigadores. As conclusões daquele professor da Universidade de Aveiro fundam-se quer numa minuciosa revisão das distâncias do Itinerário de Antonino, onde detectou erros e comparou com os dados geográficos de Ptolomeu, igualmente revistos, quer no traçado que propõe para a via romana no troço entre Emínio e Cale (Lopes 1994; 1995; 1996; 1995-97; 1997a; 1997b; 2000a; 2000b).

18 Vasco G. Mantas, o maior especialista português em viação romana, adopta o valor de 1.481,5 metros como factor de conversão da milha romana, admitindo alguma variabilidade, estimada entre 1.444 e 1.500 metros na estrada Olisipo-Bracara (1996: 429-38), intervalo onde se insere o valor de 1.472,5 metros proposto no Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Todavia, Moreno Gallo, um reconhecido investigador espanhol, com base em estudos próprios, usa a medida de 1.600 metros (2004: 163); e outros estudiosos, num tramo da Via XVIII (Braga-Astorga) chegaram a valores médios para a milha na ordem dos 1.807 metros (Alvarado; Rivas, Vega 2000: 146), o que parece justificar a indecisão a este respeito de R. Chevallier (1997: 64-5; cfr. também, a este propósito, Mesquita 2009: 16-8).

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Pela nossa parte, sem naturalmente deixarmos de seguir com interesse e curiosidade esta velha questão historiográfica, estamos convictos de que só se fará nova e porventura definitiva luz sobre o assunto quando em resultado de pesquisas arqueológicas sistemáticas ou por feliz achado se exumar monumento epigráfico que claramente nomeie e identifique alguns dos locais que tem sido manipulados neste xadrez geo-histórico ou mesmo outro sítio por ora insuspeitado. Mas mesmo que amanhã, por sucesso fortuito, aparecesse algures a almejada epígrafe fundadora, pouco mais acrescentaria ao nosso conhecimento que maiores possibilidades de afinar o traçado viário e o quadro administrativo romano. Na verdade, a investigação científica nem sempre é imune a reivindicações mais ou menos bairristas ou teses locais, mas mais do que saber onde era exactamente Talábriga, interessa aprofundar e desvendar (quase) tudo o resto que desconhecemos sobre esses tempos e gentes nesta região do Entre Douro e Vouga: redes de povoamento, interacções sociais e económicas, articulação política-administrativa no mundo provincial romano, vida simbólica e religiosa, etc.

João Luís Inês Vaz

Deixamos para o final o motivo que despoletou este texto: uma evocação singela, mas a todos os títulos justa, de um amigo que recentemente nos deixou. Conhecemos e cruzámo-nos regularmente com o João Inês em numerosos colóquios, congressos e visitas das lides arqueológicas, como sucedeu em Mangualde em Maio de 2013, por ocasião da 8ª Mesa-redonda internacional sobre a Lusitânia Romana, série de colóquios de grande alcance científico de que era um dos principais animadores. O seu interesse e profundo conhecimento pelo mundo romano da região centro, como por outros temas da arqueologia, a sua dinâmica e sobretudo a afabilidade e simpatia com que a todos tratava eram contagiantes e rapidamente transformavam qualquer interlocutor em amigo.

João Inês nasceu no Soito, Sabugal (13.11.1951). Fez os estudos preparatórios e secundários nos Seminários do Fundão e Guarda, Externato Secundário do Sabugal e Liceu da Guarda, donde rumou a Coimbra, universidade onde em 1976 concluiu a licenciatura em História, Pré-especialização de Arqueologia. Como docente do Ensino Básico e Secundário leccionou em Canas de Senhorim, Figueira da Foz, Águeda, Guarda e Viseu; em 1981 foi admitido como Assistente do Centro de Viseua Universidade Católica, instituição onde fez toda a sua carreira académica, tendo entretanto concluído o seu Doutoramento em Letras, especialidade de Pré-História e Arqueologia, em 1993, na Universidade de Coimbra, com uma tese que ainda é obra referencial sobre a Ciuitas de Viseu.

Organizou numerosos congressos, visitas, exposições e outras reuniões científicas, proferiu conferências e apresentou comunicações em centenas de eventos em Portugal e no estrangeiro, fundou e dirigiu diversas associações culturais e coordenou o Gabinete de História e Arqueologia da Câmara Municipal de Viseu. Como arqueólogo dirigiu as escavações em Cristelo da Branca (1980-1982), a que se seguiram numerosos trabalhos de campo, sobretudo na região de Viseu, como o Castro de Santa Luzia, vias romanas de Coimbrões e Almargem, Castro dos Três Rios e várias intervenções na própria cidade de Viseu, como a escavação da sua basílica paleocristã. Teve neste domínio uma importante acção pedagógica junto dos jovens, tendo fundado uma secção de Arqueologia na Delegação Regional do FAOJ da Guarda (1980) e sido monitor de vários cursos de

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Iniciação à Arqueologia, em escolas do distrito de Viseu. Como cidadão empenhado e interventivo, Inês Vaz desenvolveu uma carreira pública e política respeitada por colegas e adversários pelo seu contínuo espírito construtivo e humanista, tendo desempenhado, entre outros cargos, os de Vereador da Câmara Municipal de Viseu (1993-1995) e Governador Civil do Distrito de Viseu entre 1995 e 2002.

Coordenou e envolveu-se em múltiplos projectos de investigação à escala regional e peninsular, podendo destacar-se os relacionados com a Proto-História e Romanização da Região de Viseu, Pontes das vias XVII e XVIIII do Itinerário de Antonino, em colaboração com a Universidade de Santiago de Compostela, CSIC de Madrid e 14 autarquias portuguesas e espanholas, Atlas Antroponímico da Lusitânia Romana, Metalurgia e Sociedade no Bronze Final no Centro de Portugal e a Revisão do Corpus Inscriptionum Latinarum, projecto coordenado pela Academia das Ciências de Berlim, Alemanha. Tendo a história antiga e a epigrafia como temas de eleição, mas também com copiosos ensaios sobre múltiplos aspectos da cultura e do património, a sua obra publicada ultrapassa de largo a centena de títulos, vindos a lume em Portugal e no estrangeiro. Para além de numerosos artigos em actas de congressos e obras colectivas, Inês Vaz publicou em

Fig. 7 – João Luís da Inês Vaz (1951-2015), o responsável pelas primeiras escavações arqueológicas em Cristelo e no concelho de Albergaria-a-Velha, em 1980. (Foto: J. Rodrigues O Zéal partilhada na página de Facebook de Inês Vaz).

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edições autónomas, como autor único ou em colaboração, monografias, cartas arqueológicas e roteiros sobre Viseu, Lamego, Sátão, Castro Daire, Sabugal, Tondela, Manteigas, a Região de Turismo Dão-Lafões, etc. Contribuiu com artigos e ensaios para revistas prestigiadas como Hispania Epigrafica (Madrid), Zephyrvs (Salamanca), Beira Alta, Máthesis ou Estudos Pré-Históricos (Viseu), O Arqueólogo Português (Lisboa), Conímbriga, Ficheiro Epigráfico e Munda (Coimbra), Portugália (Porto) e muitas outras, assinando ainda colaborações regulares em diversos jornais locais e regionais. Nos seus livros destaquem-se A Civitas de Viseu: espaço e sociedade (Coimbra, 1997) e, entre os mais recentes, a agradável mas rigorosa obra de divulgação Lusitanos no Tempo de Viriato - Quotidiano e Mito, com prefácio de Guilherme d’Oliveira Marins (Lisboa, 2009).

João Luís da Inês Vaz partiu subitamente a 23 de Junho de 2015, sem aviso nem preparo, deixando-nos atordoados entre a memória das palavras e dos gestos e a necessidade de refazer essa mesma memória, não já para dizer o que faltou ou recuperar aquele abraço que se adiou, mas pela crucial urgência de testemunhar algumas das dimensões de um Homem que honrou o seu percurso, construiu saber e plantou afectos. No voto unânime de pesar com que assinalou a sua partida, a Assembleia da República registou para a posteridade:

João Luís Inês Vaz, com o seu exemplo, honrou e dignificou a política e a cidadania. Sendo um homem de consensos, nunca deixou, em momento algum, de afirmar as suas convicções fazendo as consequentes ruturas quando estavam em causa princípios norteadores da sua intervenção política. Era um homem íntegro, frontal, generoso e sempre disponível para ajudar e para trabalhar em prol da comunidade, que com a sua morte prematura perdeu um dos seus melhores e mais dinâmicos cidadãos.

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