rua da sofia: um campus universitario em linha (2006)

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25 Revista Semestral de Edifícios e Monumentos · SETEMBRO 2006 monumentos

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25Revista Semestral de Edifícios e Monumentos · SETEMBRO 2006

monumentos

Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional

monumentos25

Revista Semestral de Edifícios e Monumentos · SETEMBRO 2006

DIRECTORA

Margarida Alçada

CONSELHO EDITORIAL

Alexandre Alves CostaAugusto José Marques da CostaJosé Eduardo Horta CorreiaJosé Fernando CanasJosé Manuel FernandesLúcia RosasRafael MoreiraRaquel Henriques da SilvaVítor Serrão

COORDENAÇÃO

Andrea Cardoso

REDACÇÃO

Maria João Reis MartinsPaula Tereno

TEXTOS

Ana Paula Rebelo CorreiaBerta DuarteCarla Alexandra GonçalvesCristina Castel-BrancoHélia SilvaJorge FigueiraJosé António BandeirinhaJosé Manuel Fernandes

José Santiago Faria Luísa CortesãoLuísa TrindadeMaria de Lurdes CraveiroMarta Macedo Nuno Ribeiro LopesPaula NoéPedro AlarcãoRaquel Henriques da SilvaRodrigo MarquesRui LoboRute FigueiredoVítor SerrãoWalter Rossa

ABSTRACTS

Cíntia Pereira de Sousa

EDIÇÃO E PROPRIEDADE

Direcção-Geral dos Edifíciose Monumentos NacionaisPraça do Comércio, Ala Oriental,2.º Andar1149-005 LisboaRedacção: 21 881 70 42/45Assinaturas: 21 881 70 49Fax: 21 888 02 49E-mail: [email protected]: www.monumentos.pt

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Periodicidade SemestralPreço por número: 15 € (IVA incluído)Tiragem: 5000 exemplaresISSN: 0872-8747Depósito Legal n.º 79253/94

Os artigos são da inteira responsabilidade dos respectivos autores.Os textos e as imagens desta publicação não podem ser reproduzidos sem autorização prévia da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

monumentos N.º 25 | Setembro 2006

CAPA

Coimbra, Colégio das Artes, capitel do refeitório.DGEMN. Luís Ferreira Alves. 2006

monumentos

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Rua da SofiaUm campus universitário em linha

R U I L O B O

1. A abertura da Rua da Sofia

A 17 de Abril de 1535, escrevia D. João III a Frei Brás de Barros, reformador do Mosteiro de Santa Cruz: (…) Eu vy o debuxo da ordenãça do colegio que trouxe dio-go de Castilho e posto que me parecese boa por que da-quela maneira ficava pequeno chão pêra o que queria mandar fazer mandey fazer outra ordenança e~ que fica a obra lançada mais abaixo pera a cidade lançar a rua do tavoleiro da praça como vay e~ o debuxo q~ leva diogo de castilho (...)1. É esta a mais antiga referência documental que se conhece à infra-estru-tura que se abriria nos anos seguintes com o nome de Rua de Santa Sofia. O colégio mencionado era um dos que Frei Brás planeava construir para albergar os alunos externos que frequentavam os novos cursos do mosteiro crúzio2. Já o (…) tavoleiro da praça (…) era o pavimento lajeado, sobrelevado em relação à Praça de Sansão (actual 8 de Maio), que se estabeleceu efec-tivamente defronte dos dois primeiros colégios, o de Todos-os-Santos, mais recuado para nascente (erguido a partir de 1536), e o de São Miguel, o primeiro efec-tivamente sobre a nova rua, cuja construção acabaria por avançar mais tardiamente, não antes de 15413.

A Rua da Sofia tomava forma a partir deste ponto. Desde logo, foi necessário comprar e demolir parte das casas que fechavam o Largo de Sansão, fron-teiro ao Mosteiro de Santa Cruz, pelo norte, bem como rasgar o arranque da encosta do Montarroio, para lançar a rua no seu troço inicial4. Seguidamen-te, entre Setembro de 1536 e Novembro de 15375, trabalhou-se nas trocas dos terrenos, para (…) o ca-minho novo que vai da cidade para S. Lázaro (…)6, passando-se, depois, ao loteamento da frente nas-cente da rua, prevista para a construção de prédios de rendimento que albergassem lentes, estudantes leigos e todas as actividades de apoio aos estudos. Todos estes contratos de loteamento se conduziram pela iniciativa do mosteiro crúzio, a partir da Pri-mavera de 15387. É no primeiro, datado de 20 de

Março, que surge a designação oficial da nova rua. Aforava-se a um mestre Fernando (…) um pedaço de chão na rua nova que ora se faz e que se chama de Santa Sophia (…)8. Da análise destes elementos foi possível concluir que a rua tinha um comprimento predeterminado9.

Rua da SofiaA university campus in a row

This article sheds light on the persistence of row and grid models to accommodate university programmes, based on the specific case of Coimbra. Indeed, from 1535, rua da Sofia was set to house a number of colleges all along its eastern front. Once the university shifted uptown, a street grid was developed around the school building project that would be the basis for the new university quarter. Both are testimonies of how a university can be built in a city and assert its presence from the 16th century to the present day.

1 | Rua da Sofia, excerto da gravura de Coimbra de Georg Hoefnagel, c. 1567, publicada por Georg Braun, Civitates Orbis Terrarum, 1599, vol. V.

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2 | Rua da Sofia, autor não identificado, c. 1870. Note-se a presença, no topo sul da rua, das dependências do antigo Mosteiro de Santa Cruz, em período anterior à demolição de 1877, para construção da nova Câmara Municipal de Coimbra.

Já a frente nascente, como se observa actualmente, se destinava exclusivamente aos colégios, componen-te essencial da universidade nova que se pretendia instituir em Coimbra. Quanto à tipologia institucional que se prefigurava, a referida missiva de 9 de Fevereiro de 1537 esclarece que (…) quamto aos colégios (...) minha vontade he q~ se façam pera as ordee~s como tenho ordenado (...)10. Embora existindo documenta-ção que revela que já, desde 1539, existiam diligências concretas para a instalação dos colégios ao longo da rua11, só em Dezembro de 1541 se fundaram, de facto, os primeiros: o cisterciense do Espírito Santo e o de Nossa Senhora da Conceição, para estudantes pobres, só mais tarde entregue aos carmelitas calçados. Em carta de dia 14 desse mês, escreveu Frei Brás ao rei, relatando a fundação destes dois colégios, referindo que (…) Já agora se podem contar quatro collegios e~ esta Rua. S. o do spritu santo, & o da allma q~ escrevy a V.A. que he do titullo da conceyção de nosa sora que Ja tãbem fundey em o mesmo dia, & se começa a fazer (...). O terceyro he o de todos os santos, & o quarto de sã miguell que se agora faz & ainda em esta Rua fica lugar para fazer hu bom collegio, se o snnor nos dese graça que se acabase com outra allma com que se trata, que fizese outro (...)12. Novamente se pode aferir do preestabelecimento de um limite, em extensão, da Rua da Sofia.

Quando D. João III decidiu reunir todas as faculdades no paço, em 1544, retirando os lentes de teologia, de medicina e, também, do ensino preparatório das artes do Mosteiro de Santa Cruz (retirando, definitivamente, a universidade da esfera do mosteiro crúzio), estavam já fundados na Rua da Sofia os colégios corresponden-tes à totalidade de frente do lado da encosta. Inclusi-vamente um, o dominicano de São Tomás, instalou-se

na frente oposta, a poente, aproveitando a implanta-ção — não prevista de início — de um novo cenóbio dominicano, em substituição do pouco distante con-vento antigo, constantemente ameaçado pelas cheias do Mondego. Ainda em 1543 se pensava atribuir ao novo complexo dos pregadores mais de metade daque-le alinhamento13, no que pode ser visto como o assumir do falhanço na política de incentivo para a construção dos prédios de rendimento necessários para albergar a comunidade universitária e todas as actividades de suporte correspondentes14. A nova fundação do Real Colégio das Artes, que se edificou sobre os já construí-dos colégios de São Miguel e de Todos-os-Santos, a par-tir de 1547, procurou dar novo sentido programático ao arruamento em construção, que assim passaria a viver, por breves dezoito anos, em torno do ensino das artes e humanidades, ou seja, dos estudos preparatórios para a frequência da universidade15.

2. Uma rua universitária

Propusemos anteriormente16 algumas hipóteses de interpretação da realidade urbana consubstanciada pela nova rua, para a qual observamos as notáveis dimensões de 200 braças (440 metros) de extensão

3 | Rua da Sofia, José Sartoris, 1883 (colecção particular de Alexandre Ramires).

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e 6 braças (13,2 metros) de largura17. Uma primei-ra proposta, já antevista por Alexandre Alves Costa, era a de que se trataria originalmente de um campus universitário18, logicamente associado ao Mosteiro de Santa Cruz, que albergava as valências referidas, des-de colégios a casas urbanas de apoio ao quotidiano da recém-instalada comunidade académica.

Propusemos, ainda, um paralelismo com a rue de Sorbonne, rua semi-particular do famoso colégio pa-risiense, ladeada pelas construções do colégio a nas-cente e por casas urbanas a poente — tal como na Sofia. A rua parisiense era ainda dotada de portas nos extremos, que a isolavam do restante Quartier Latin, o bairro universitário de Paris, por motivos de segu-rança e de comodidade19. O estabelecimento de uma porta no topo norte da Rua da Sofia, a Porta de Santa Margarida, permitia, assim, sugerir um outro eventual paralelo com a rua parisiense. Contribuíam, ainda, para esta comparação geral, o facto de Frei Brás de Barros ter estudado em Paris e a comprovada influên-cia da organização pedagógica do colégio parisiense na definição das primeiras constituições dos colégios internos crúzios. Ainda em 1537 se referia que (…) os collegios (...) se criava ao modo de Paris (…)20.

Estes fundamentos foram contestados posterior-mente por Walter Rossa21, numa visão alternativa, apoiada em alguns elementos documentais adicio-nais, em que se defende constituir a Rua da Sofia a nova saída da cidade para norte, sendo, simultanea-mente, o elemento estruturante do crescimento urba-no de Coimbra22, em função, entre outros factores, da leitura dos condicionalismos topográficos da cidade. Se, de facto, a atribuição de uma função fiscal à re-ferida Porta de Santa Margarida parece fazer sentido em face dos elementos apresentados, permitindo, consequentemente, uma leitura de rua de atraves- samento ao objecto de estudo (mesmo implicando um desvio às recomendações que fizera, por exemplo, Luís Vives relativamente à localização das escolas23), não há elementos comprovativos, em particular na acção de loteamento de 1538-1539, de que se tenha

tentado qualquer acção urbanizadora de raiz, em en-sanche — ou seja, em grelha —, montada a partir da rua para poente. Com efeito, as duas ligações (uma “azinhaga” e uma “rua”), que são mencionadas nos contratos, correspondiam a alinhamentos que exis-tiam anteriormente no sentido do antigo núcleo de Santa Justa para a encosta (actuais Beco de São Boa-ventura e Rua do Carmo) e que foram cortadas pela nova estrutura. Verifica-se, ainda, que ocorrem ao longo da primeira metade da extensão da rua, não havendo qualquer referência nos contratos iniciais ao lançamento de novas ruas a partir do troço norte do loteamento24. De facto, a Rua da Sofia seguiu, até ao século XX, “isolada” em mais de metade da sua extensão.

3. O bairro universitário de Alcalá e a Rambla de Barcelona

Independentemente do que ficou dito, devemos reafirmar o carácter excepcional da Rua da Sofia (do seu comprimento e largura, dos seus alinhamentos, da monumentalidade relativa de alguns colégios) na cons-tatação do aspecto decisivo da intervenção — a sua relevância para o estabelecimento de um modelo de instalação física de um programa universitário, em ple-no século XVI. É que, desde o início, os colégios se pre-viam apenas para a Rua da Sofia (e não em qualquer outra implantação) e em formação linear contínua.

Se a própria designação de Rua de Santa Sophia cla-rifica o carácter e a identidade programática da rua no âmbito da estrutura urbana, à semelhança das ruas com o nome dos mesteres que acomodavam, no arrabalde de Coimbra ou em qualquer outro bairro medieval oci-dental, já a sequência das igrejas e dos colégios, alia-da à amplitude do espaço, remete para as operações programadas de novas ruas monumentais, desenha-das a um impulso, da Europa do Renascimento. Casos da florentina Via dei Uffizi, de Vasari (1560)25, ou das Stradas Nuovas compostas pelos palácios burgueses

4 | Rue de Sorbonne, em pleno Quartier Latin, excerto da gravura de Paris de Olivier Truschet e Germain Hoyau, c. 1550.

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de Perúgia (1547) e de Génova (1550-1558), projecta-das por Galeazzo Alessi26.

Deste modo, parece ser o caso de que a Rua da So-fia, com a sua linha de colégios apoiada num espaço público de largura excepcional, diferia, no modelo adoptado, da opção desenvolvida na Alta de Coim-bra, ocorrida quase em simultâneo com a edificação da própria Sofia (a partir da decisão de implantar as escolas junto do paço da alcáçova) e sobre a qual Walter Rossa nos dá uma primeira e já relativamente completa base de trabalho27. Logo desde o primeiro momento em que a documentação deixa perceber a existência de um plano28, verifica-se o desenvol-vimento de um sistema reticulado de ruas paralelas e perpendiculares, de igual importância relativa, às quais se ajustava a “quadratura” das novas escolas. Do mesmo modo se integrava o Colegio Mayor de San Ildefonso em posição organizadora no novo bairro universitário de Alcalá de Henares, também desen-volvido a partir de uma estruturação em grelha, defi-nidora de quarteirões, que preenchia uma área limi-tada por uma extensão preexistente, embora recente, da muralha urbana para nascente. De facto, tudo indica ter sido a operação alcalaína, conduzida pelo carde-al Cisneros, a partir de 149529, a grande referência da urbanização da Alta conimbricense. Foi este ter-reno das jamais edificadas escolas para as faculda-des, dotado de terreiro fronteiro — o central Largo da Feira — que os Jesuítas, naturalmente, não enjei-

taram para a implantação do seu novo e imponente colégio30.

Por sua vez, um interessante paralelismo com a rua colegial da Baixa pode ser observado em Barcelona. Efectivamente, a famosa Rambla da capital catalã formou, durante praticamente toda a Idade Moderna, e até à transferência imposta dos estudos para Cerve-ra, a rua universitária da cidade. A Rambla, contudo, e à diferença da rua ex-novo da Sofia, era um alinha-mento preexistente que se devia à definição de um canal, naturalmente largo, de escoamento de enxur-radas sazonais. Era por isso tangencial ao núcleo da cidade murada, funcionando, ao mesmo tempo, como charneira entre esta e o raval, ou arrabalde, que se ia consolidando para ocidente31. É a construção de uma conduta subterrânea de grandes dimensões, ainda no período medieval, que permite à recém-constituída universidade municipal implantar, sem problemas, o novo edifício (1536-1544) do Studi General obs-truindo o topo superior do canal de forma a que o novo programa passasse a condicionar, pela sua situação estratégica, toda a funcionalidade daquele espaço reconvertido em espécie de campus universitário. Foi, no fundo, o mesmo efeito programático que se pretendeu criar em Coimbra — com metodologia in-versa — montando uma rua nova e larga de colé-gios a partir de um significativo edifício preexistente, o omnipresente Mosteiro de Santa Cruz, aspirando a ser reconvertido em universidade. Sucedeu, pois,

5 | Alta de Coimbra, planta, c. 1772. A Praça da Feira é a que está em posição central, defronte da qual se ergueu o Colégio de Jesus.

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à frente oposta à muralha de Barcelona ser, progres-sivamente, ocupada pelos conventos e colégios das ordens religiosas que procuravam tirar partido da nova valência universitária do topo norte da Rambla. Ou ainda concorrer com ela, como foi o caso com a implantação dos colégios jesuítas a partir de 1553.

4. Grelhas, linhas e os campi contemporâneos

Em modo de conclusão interessará notar a persis-tência destes modelos de “linha” e de “grelha”, iden-tificados anteriormente para o século XVI, nos cam-pi universitários desenhados contemporaneamente. Neste sentido, temos vindo a empregar a designação de campus no seu sentido lato (um complexo de edifí-cios, dotados de plano de conjunto, destinados ao uso universitário)32, no que se distingue do seu conceito específico, ruralizante e anti-urbano, derivado da sua origem norte-americana e adoptado profusamente no século XX pelo Movimento Moderno.

Com efeito, terá sido em Princeton que, pela pri-meira vez, se utilizou o termo, cerca de 1770, para designar simplesmente o relvado em frente do edi-fício central de Nassau Hall33. A partir deste e dou-tros exemplos34, a ideia da organização do conjunto universitário em torno de um relvado seria rapida-mente desenvolvida, acabando por ter como corolário o notável protótipo da Universidade de Virgínia, em Charlottesville, desenhada por Latrobe e Jefferson, em 181735. Observando a organização dos edifícios de aulas e residenciais para mestres e alunos ao longo de um extenso relvado central, rematado pela coloca-ção, no topo norte, da biblioteca e da aula principal, esta em forma de “panteão”, dir-se-ia estarmos peran-te uma composição em “eixo cerimonial” que remete para uma natureza linear. No entanto, a disposição estabelecida permitia evoluir para uma disposição em “rede”36 (pela repetição sistemática das alas nos sentidos nascente e poente ou pela sua extensão para sul), de modo a fazer frente a qualquer necessidade de expansão do programa, dando assim resposta ca-bal a um dos problemas recorrentes da universidade contemporânea37.

Já no século XX, e ultrapassada a fase dos grandes campi do Movimento Moderno (em que o modelo formal se pode resumir a um conjunto de “pontos” distribuídos, mais ou menos livremente, numa deter-minada área ou território38), podemos observar como também o movimento mega-estrutural, agregando todo o programa universitário numa construção con-tínua, procurou dar resposta formal e organizativa, recorrendo precisamente aos modelos de “linha” (na Universidade da Calábria de Gregotti, de 1974, ou nas novas universidades canadianas dos anos 1960- -197039) e de “grelha” (veja-se a Universidade Livre de Berlim, de 1963, de Candilis, Josic e Woods).

Regressando à realidade portuguesa e a operações universitárias de articulação activa com a realidade urbana, como sejam o Campus de Santiago da Uni-versidade de Aveiro (Nuno Portas/Centro de Estu-dos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto39) ou o Pólo II da Universidade de Coimbra (Camilo Cortesão/Mercês Vieira40), podemos nova-mente distinguir as duas formas de fazer universida-de que temos vindo a traçar. O primeiro, repetindo a fórmula de loteamento aplicada na Rua da Sofia, também em composição linear e em franja da cidade;

6 | Alcalá de Henares, planta do bairro universitário, desenhada em 1768, conforme a planta original de 1564.

7 | Alcalá de Henares, planta esquemática com implantação do bairro universitário em torno do Colegio Mayor de San Ildefonso e indicação dos colégios menores cisnerianos, após fundação do colégio trilingue (número 8), c. 1557. In Luís Cervera Vera, “Modificaciones introducidas en el conjunto urbano medieval de Alcalá de Henares por las fundaciones universitárias iniciadas por Cisneros”, La Universidad Complutense y las Artes, 1995.

8 | Barcelona, planta com representação da Rambla e dos seus colégios e conventos, início do século XVIII.Note-se a implementação do Studi General dominando a Rambla a partir do seu topo norte.

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o segundo, procurando fazer cidade por meio de uma malha de ruas perpendiculares, que procura suportar programas diversificados, consolidando a expansão de Coimbra para sul ao encontro do limite natural definido pela curva do Mondego.

Rui LoboArquitectoDocente do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de CoimbraImagens: 1: Biblioteca Nacional; 2: Imagoteca/Câmara Municipal de Coimbra; 3: Colecção particular de Alexandre Ramires; 4: Universitätsbibliothek Basel; 5: Divisão de Documentação Fotográfica/Instituto Português de Museus. José Pessoa. 1999; 6: Archivo Histórico Nacional, Madrid; 7: Editorial Complutense/Universidad Complutense de Madrid; 8: Institut de Cultura/Arxiu Històric de la Ciutat, Barcelona; 9: Rui Morais de Sousa. 2004; 10: Camilo Cortesão e Mercês Vieira Arquitectos.

N O T A S

O autor agradece à Fundação para a Ciência e Tecnologia a atribuição de bolsa

de doutoramento; à Fundação Calouste Gulbenkian a atribuição de um subsídio

de viagem e a Alexandre Ramires pela cedência de fotografias da sua colecção.1 Mário BRANDÃO — Documentos de D. João III. Coimbra: Universidade de

Coimbra, 1937, vol. I, p. 5-6.2 Os cursos no Mosteiro de Santa Cruz começaram a funcionar no ano lectivo

de 1534-1535 nos, para o efeito, estabelecidos “colégios” de Santo Agostinho

e de São João Baptista, que não eram mais do que conjuntos de salas de aula

preparadas nas dependências do mosteiro. Incluíam, para além dos cursos pre-

paratórios das humanidades e das artes, também o ensino superior da Teologia.

Davam corpo, como já foi observado, a uma verdadeira “proto-universidade”

(incluindo constituições aprovadas pelo papa), primeiro passo da transferência

do “Estudo Geral” de Lisboa para Coimbra, decidida pelo rei e oficializada, com

a nomeação do reitor, D. Garcia de Almeida (personagem exterior a Santa Cruz),

a 1 de Março de 1537. Desde logo, e contra a vontade de Frei Brás, se separavam

as águas nos planos institucional e físico: nos lentes e no estudo geral entendia

o reitor; nos colégios crúzios entenderia o reformador. O início efectivo das aulas

em todas as faculdades (excepto a de artes que já funcionava) deu-se apenas

a 2 de Maio desse ano, na casa do próprio reitor, à Couraça de Lisboa. Passa-

riam “provisoriamente”, em Setembro, para o paço real da alcáçova. É extensa

a bibliografia sobre o processo da instalação definitiva da universidade em Coim-

bra. Ver principalmente, sobre este assunto, Mário BRANDÃO e Manuel Lopes

de ALMEIDA — A Universidade de Coimbra: Esboço da sua História. Coimbra:

Tip. Atlântida, 1937; José Sebastião da Silva DIAS — A Política Cultural da Épo-

ca de D. João III. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1969, vol. I; Cândido dos

9 | Universidade de Aveiro, Campus de Santiago, projecto de Nuno Portas e do Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.

10 | Pólo II da Universidade de Coimbra, perspectiva axonométrica, Camilo Cortesão e Mercês Vieira, 1989.

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SANTOS — “Estudantes e Constituições dos Colégios de Santa Cruz de Coimbra

(1534-1540)”. Revista da Faculdade de Letras do Porto. Série de História, Porto,

1973-1974, vols. IV-V, pp. 89-195; Rómulo de CARVALHO — História do Ensino

em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986.3 Os edifícios de ambos os colégios seriam, posteriormente, demolidos ou par-

cialmente integrados no conjunto do nunca terminado Colégio das Artes,

a partir de 1547. Já quanto ao que D. João III (…) queria mandar fazer (…),

seriam, provavelmente, como sugeriu Walter Rossa, as instalações próprias

para as faculdades da universidade: (…) huu~ geral de canones e outro

de leis (…) conforme o rei explicitamente menciona em carta anterior

(de 9 de Fevereiro de 1537) sem, no entanto, referir a localização. Previa-se assim,

e numa fase inicial, a instalação total da universidade na Baixa conimbricen-

se, junto ao Mosteiro de Santa Cruz. Contudo, logo em Setembro de 1537

se transferia a ideia dos edifícios das escolas para terrenos no topo da Alme-

dina intramuros, ao mesmo tempo que se dava a instalação provisória (que

cedo passaria a efectiva) das referidas faculdades de cânones e de leis no

paço real da alcáçova. Ver, sobre este assunto, Walter ROSSA — DiverCidade.

Urbanografia do Espaço Urbano de Coimbra até ao Estabelecimento Definitivo

da Universidade. Coimbra: s. n., 2001, pp. 762-829. Dissertação de douto-

ramento apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade

de Coimbra, texto policopiado.4 Destas obras se encarregaria o município. Já as trocas e o loteamento de ter-

renos correriam sob a condução e inteira responsabilidade do Mosteiro de Santa

Cruz. 5 Pedro DIAS — A Arquitectura de Coimbra na Transição do Gótico para a Renas-

cença 1490-1540. Coimbra: EPARTUR, 1982, p. 42. Dissertação de doutora-

mento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade

de Coimbra.6 Contrato de trocas de terrenos com o cabido da Sé de Coimbra, de 18 de Se-

tembro de 1537. Arquivo da Universidade de Coimbra, Livros de Notas de Santa

Cruz, livro 15, fls. 85-86v. 7 Sobre a reconstituição, em suporte gráfico, do processo de loteamento da Rua

da Sofia, veja-se Rui LOBO — Santa Cruz e a Rua da Sofia. Arquitectura e Ur-

banismo no Século XVI. 1.ª ed. 1999. Coimbra: Departamento de Arquitectura

da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2006,

pp. 67-85 e 87-109.8 Contrato de Frei Brás de Barros com mestre Fernando, de 20 de Março de 1538.

Arquivo da Universidade de Coimbra, Livros de Notas de Santa Cruz, livro 16,

fl. 28v. 9 Os primeiros terrenos a serem contratados foram, precisamente, os que se

situavam nas extremidades do loteamento organizado por Frei Brás. Num

dos contratos é referido ainda o (…) cunhal da dita rua contra o norte (…).

Rui LOBO — Ob. cit., pp. 74-7810 Mário BRANDÃO — Ob. cit., vol. I, pp. 22-24.11 Nomeadamente uma carta de Frei Brás de Barros para D. João III, de 6 de

Outubro de 1539. Biblioteca Nacional, ms. 28, n.º 99, fl. 77v, transcrita por

Maria de Lurdes CRAVEIRO — Diogo de Castilho e a Arquitectura da Renascença

em Coimbra. Coimbra: s.n., 1990, pp. 102-103. Dissertação de mestrado apre-

sentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, texto policopiado,

e citada por Walter ROSSA — Ob. cit., p. 708.12 Mário BRANDÃO — “Cartas de Frei Brás de Braga para os priores do Mostei-

ro de Santa Cruz de Coimbra”. Revista da Universidade de Coimbra. Coimbra:

Universidade de Coimbra, 1937, vol. 13, p. 180. 13 Deligência q fez o Lecenciado Sebastião da Fonseca por mandado de El Rey acer-

ca da avaliação das propriedadez que se tomavão pera no Sitio dellas se edificar

o Mosteiro de S. Domingoz, e Colégio de Santo Thomaz na cid.e de Coimbra, es-

cripta na mesma Cid.e a 9 de Fevereiro de 1543. Instituto dos Arquivos Nacionais

da Torre do Tombo (IAN/TT), Corpo Cronológico, parte I, m. 73, doc. 53, citado

por Walter ROSSA — Ob. cit. As propriedades em causa ficavam compreendidas

entre as (…) casas novas q Duarte de Saa ffaz na dita rua correndo ao longo

della atee o cabo da torre de Jorge Vaz e de largo desde há dita rua de sãta sophia

atee a rua de Figueyra Velha q vai pª o arnado (…). Já noutro documento (Ar-

quivo da Universidade de Coimbra, Inventário dos Próprios Nacionais do Distrito

de Coimbra, Livro 16, fl. 92-93) se refere a atribuição aos dominicanos de um

total de 86 braças de frente ao longo da Rua da Sofia, 35 para o colégio, 45 para

o mosteiro e, ainda, 6 braças de permeio para uma rua que se pretendia fazer

perpendicular à Rua da Sofia contra o rio. A consideração conjunta dos limites

e do comprimento referidos têm correspondência evidente com o levantamento

em planta do processo de loteamento da Rua da Sofia que realizámos: Rui LOBO

— Ob. cit., pp. 75-77. Daqui se conclui que o mosteiro acabaria por adquirir as

referidas casas de Duarte de Sá, numa fase mais adiantada do processo, para

construção da nunca terminada igreja traçada por Isidoro de Almeida. Conclui-

-se, também, que os dois lotes originais pertencentes a Jorge Vaz (ou Vasquez

conforme se referem por vezes os contratos, datados de 21 de Março de 1538),

onde ergueu a sua torre, se encontravam para norte do Colégio de São Tomás,

informação importante que nos permite insistir na tese das 200 braças de ex-

tensão da rua colegial. Para esta aferição é, ainda, necessário entrar em conta

com as 58,5 braças que Jorge Vaz acabou por possuir pouco tempo depois do

primeiro loteamento (confinantes a sul com o lote de Francisco Vasquez), con-

forme dá conta um contrato de 31 de Outubro de 1539, e que incluiriam os dois

lotes mencionados.

14 Walter ROSSA — Ob. cit., pp. 679 e segs.15 O Colégio das Artes da Baixa acabaria por ser entregue aos Jesuítas em 1555.

Estes tratariam de o transferir para junto do colégio principal da Alta, em

1565, dando início a um novo edifício próprio a partir de 1567-1568. A estru-

tura incompleta da Baixa seria cedida à Inquisição.16 Rui LOBO — Ob. cit.17 Estas 200 braças de extensão podem ser conferidas medindo a distância

do cunhal do Colégio de São Miguel até à inflexão do alinhamento da frente

nascente da rua, no seu topo norte (junto às escadas de Santa Justa), em

particular pela planta de Coimbra de 1873-1874, representada à escala 1:500.

Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, Planta de Coimbra dos Irmãos

Goullard, 1873-1874. Defendemos a divisão das primeiras 100 braças, em três

partes mais ou menos equivalentes, pelos colégios de São Miguel, Espírito

Santo e do Carmo, e das 100 braças finais, também em partes sensivelmente

iguais, pelos colégios da Graça e de São Pedro. Já Walter Rossa (Walter ROS-

SA — Ob. cit., pp. 686 e segs.) avança com uma métrica distinta, partindo

da subdivisão de uma extensão total atribuída de 180 braças em seis lotes,

de 30 braças cada, para os colégios, com a qual, contudo, não concordamos.

Entre outros argumentos devemos referir: 1. o Colégio de São Miguel foi efec-

tivamente construído a partir de 1541, só depois do loteamento estabelecido

(e não antes como se sugere), pelo que se poderia perfeitamente ter encaixado

o seu cunhal sul na métrica proposta, o que, de facto, não aconteceu; 2. o limite

entre o Colégio de São Miguel (mais tarde remodelado no âmbito do complexo

do Colégio das Artes) e o Colégio do Espírito Santo não é, a nosso ver, aquele

que se indica, conforme tentaremos demonstrar em artigo que estamos a pre-

parar sobre este último colégio e conforme já tentámos argumentar em relação

a uma proposta de reconstituição do projecto do Colégio das Artes; 3. na carta

já mencionada de Frei Brás para D. João III, de 14 de Dezembro de 1541,

o reformador refere que (…) ainda em esta Rua fica lugar para fazer hu bom

collegio (…) — o de São Pedro, tal como o da Graça, maior que os outros (hu

bom collegio) — assim que terminasse a negociação do chão para os gracianos,

no total tratava-se de cinco colégios sobre a rua e não de seis, como se aventa;

4. o facto dos lotes de Jorge Vaz estarem ainda para além do terreno do Colégio

de São Tomás, conforme damos conta na nota 13, situação que se ajusta ao

limite norte que defendemos para a rua. 18 Entende-se aqui o termo campus em sentido lato. Alexandre Alves COSTA

— “A cidade e a acrópole”. Monumentos. Lisboa: Direcção-Geral dos Edifícios

e Monumentos Nacionais, 1998, n.º 8, pp. 100-102.19 É interessante notar que este tipo de situação era recorrente em Paris (como

se pode observar pelas representações antigas da cidade, entre as quais o pla-

no de Truschet e Hoyau, de 1552) e devia-se à necessidade de evitar tumultos

entre os estudantes e a restante população. É que a rue de Sorbonne ostentava

anteriormente a sugestiva designação de rue Coupe-Guelle, ou seja, a rua do

“corta-gargantas”... Servia ainda para “proteger” os estudantes da vizinhança

das mujeres mozas, como sucedeu na rua das “nações” da faculdade de Artes,

a rue du Fouarre (outra rua de programa...), onde, por esse motivo, em 1358,

se colocaram grades em cada uma das extremidades. Ver, sobre este assun-

to, em Paris e Bolonha, Konrad RÜCKBROD — Universität und Kollegium.

Baugeshichte und Bautyp. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft,

1977. Notamos ainda, em constatação sumária a partir de alguns elemen-

tos gráficos de reconstituição da Paris tardo-medieval — mapa publicado por

André TUILIER (dir.); Michèle GENDREAU-MASSALOUX (pref.) — Histoire

de l’Université de Paris et de la Sorbonne. Paris: Nouvelle Librairie de France,

1994, t. I, pp. 96-97 — que a rue de Sorbonne assim definida teria cerca de

100 braças de comprimento (220 metros), além de que não ultrapassava os 6 a

7 metros de largura. A Rua da Sofia duplicaria assim estas dimensões. 20 Acordo acerca do regimento da Universidade e dos Colégios de Santa Cruz,

Mário BRANDÃO — Alguns Documentos Respeitantes à Universidade de Coim-

bra na Época de D. João III. Coimbra: Biblioteca da Universidade de Coimbra,

1937, pp. 156-157. Nas próprias constituições dos colégios de Santo Agostinho

e São João Baptista, acomodados no interior do mosteiro crúzio, se refere (…)

nesta universydade que a imagem e semelhança da escola parisyense he constitu-

ída (…). Sobre a influência da Universidade de Paris, e em particular do Colégio

da Sorbonne, na organização dos estudos do Mosteiro de Santa Cruz levada

a cabo por Frei Brás de Barros, ver Cândido dos SANTOS — Ob. cit.21 Walter ROSSA — Ob. cit.22 São dados fundamentalmente três argumentos para estas conclusões: 1. que

logo na Primavera de 1538 foi erguida uma torre por Jorge Vaz, almoxarife de

Coimbra e também proprietário do Arco da Portagem, junto à Porta de Santa

Margarida, pelo que se estaria em presença de uma situação de controlo fiscal

sobre a principal porta, a norte, de entrada e saída na cidade, logo, a Rua da So-

fia seria uma via de atravessamento; 2. que D. João III, na já mencionada carta

de 17 de Abril de 1535, considerava a nova via parte da estrutura da cidade,

uma vez que seria a cidade a (…) lançar a rua do tavoleiro da praça (…); 3. que

D. João III, já por duas ocasiões (em cartas de 16 de Agosto de 1538 e de 12 de

Dezembro de 1539), tinha instado a câmara a erguer um muro desde a ponte e

a beira-rio até à capela de Santa Margarida, limitando uma eventual nova área

de expansão urbana. Walter ROSSA — Ob. cit., pp. 748 e segs. 23 As recomendações sobre a localização ideal dos estudos que Luís Vives incluiu

no seu De Disciplinis, publicado em Antuérpia em 1531, dedicado precisamente

a D. João III (na senda de um capítulo análogo das Siete Partidas del sabio Rey

monumentos 25 dossiê

dossiê monumentos 25 31

don Alfonso el Nono), têm sido apontadas como um dos factores que levou

D. João III a transferir a Universidade de Lisboa para Coimbra, cidade mais

sossegada, bucólica e menos prestável a epidemias. Uma situação deste tipo já

ocorrera com a transferência da universidade florentina para Pisa, ordenada por

Lorenzo de Médicis, em 1472. Sobre a localização das escolas na cidade, além

de defender uma implantação (…) en lugar apartado de toda concurrencia, es-

pecialmente de artesanos, que en sus faenas respectivas hacen grandes estrépitos

y ruídos (…), Vives refere explicitamente que (…) Ni tampoco este a la vera de

un camino publico, porque la atencion de los escolares no se distraiga con la

cambiante novedad de los yentes y de los venientes (…).Lorenzo RIBER — Juan

Luís Vives. Obras Completas. Madrid: Aguilar, 1948, pp. 550-552. Já Buoncom-

pagno, advogado e mestre em Bolonha, escrevia na sua Rhetorica Novissima,

de 1220: (…) La casa destinata ad uso di scuole deve essere construita in luogo

dove si goda di aria libera e pura, lontana dalla facile frequenza delle donne, dai

clamore della piazza, dallo scalpitio de’ cavalli e dal cigolio dei carri, dal latrar

dei cani e da ogni incomodo rumore (…).Konrad RÜCKBROD — Ob. cit., p. 67.24 Existe, não obstante, uma referência clara e conhecida a uma rua perpendicular à

Rua da Sofia (ver nota 13), que se chegou a programar lançar com a instalação do

complexo dominicano, já num segundo momento, separando mosteiro e colégio,

também (e talvez mais inusitadamente) com 6 braças de largura. Esta rua, con-

tudo, não teria qualquer potencialidade urbanizadora em função do que seguiria

emparedada pelas cercas monástica e colegial até ao caminho da Figueira Velha.25 Norberg Schulz classifica este espaço, (…) caracterizado por um simples mo-

vimento de profundidade (…), como já dotado de uma intencionalidade pers-

péctica maneirista. Christian NORBERG-SCHULZ — La signification dans

l’architecture occidentale. Liège: Pierre Mardaga, 1977, p. 261. 26 Leonardo BENEVOLO — Historia de la Arquitectura del Renascimiento. 1.ª ed.

Barcelona: G. Gili, 1981. Barcelona, 1988, vol. I, p. 572.27 Walter ROSSA — Ob. cit., pp. 762-839.28 Carta de D. João III para o reitor D. Agostinho Ribeiro, de 6 de Agosto de 1539.

Mário BRANDÃO — Documentos de D. João III, vol.I, pp. 164-165, referida por

Walter ROSSA — Ob. cit., p. 775.29 De facto, foi em 1495 que se adquiriram os terrenos para a construção do Cole-

gio Mayor de San Ildefonso. Em 1498 começaram as obras dirigidas por Pedro

Gumiel e, em 1499, foi passada a bula papal consagrando a fundação da univer-

sidade. Em 1513 terminava a primeira fase da construção do colégio (a fachada

que hoje se vê e o claustro são mais tardios, posteriores a 1530) e iniciava-se

a construção de sete colégios menores associados ao de San Ildefonso, para,

a partir de 1525, se começar a instalação dos colégios das ordens religiosas.

Sobre a urbanização universitária de Alcalá de Henares ver, entre outros, Mi-

guel Angel CASTILLO OREJA — Colégio Mayor de San Ildefonso de Alcalá de

Henares, génesis y desarollo de su construcción. Madrid: Edascal, 1980, Miguel

Angel CASTILLO OREJA — Ciudad, Funciones y Símbolos. Alcala de Henares,

un modelo urbano de la España Moderna. Alcalá: Ayuntamiento de Alcalá de

Henares, 1982; Luís CERVERA VERA — “Modificaciones introducidas en el con-

junto urbano medieval de Alcalá de Henares por las fundaciones universitárias

iniciadas por Cisneros”. La Universidad Complutense y las Artes. Madrid: Uni-

versidad Complutense, 1995. 30 Ver, sobre este assunto, Rui LOBO — Os Colégios de Jesus, das Artes e de

S. Jerónimo. Evolução e transformação no espaço urbano. 1.ª ed. 1994. Coimbra:

Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Uni-

versidade de Coimbra, 1999. 31 (…) Puede afirmar-se que a fines del siglo XV constituía una via regular, cuya

longitud era de 1.180 metros, de anchura variable, ocupando uma superfície

total de 41.615 metros (...).Luís ALMERICH — La Rambla de Barcelona, su

historia urbana y sentimental. Barcelona: Libreria Millà, 1945, p. 22. Sobre a

Rambla de Barcelona, ver também, Jaume CARRERA I PUJAL — La Barcelona del

Siglo XVIII, Barcelona: Editorial Bosch, 1951, vol. II; Albert GARCIA I ESPUCHE

e Manuel GUÀRDIA I BASSOLS — “Barcelona”. Atlas Histórico de Ciudades

Europeas. Península Ibérica. Barcelona: Centre de Cultura Contemporania;

Salvat, 1994. 32 Madalena Cunha MATOS — As Cidades e os ‘Campi’. Contributo para o Estudo

dos Territórios Universitários em Portugal. Lisboa: s.n., 1999, p. 335. Dissertação

de doutoramento apresentada ao Instituto Superior Técnico/Universidade Técnica

de Lisboa. A autora considera uma definição mínima do termo campus (ou seja,

da sua utilização em sentido lato) em função da (…) existência de um complexo

de edifícios dispostos num terreno de dimensões variáveis e dotado de um plano de

conjunto, já realizado ou em vias do ser, destinados ao uso universitário (…).33 Paul Venable TURNER — Campus. An American Planning Tradition. Cambridge/MA

e Londres: The MIT Press, 1990, pp. 47-50.34 Paul Venable TURNER — Ob. cit., pp. 17-63. O autor refere, entre outros,

o caso original de Yale, onde ocorre a mais antiga acção de planeamento físico

de um colégio norte-americano, curiosamente consubstanciada por um projecto

de alinhamento de cinco edifícios componentes (pela mão de John Trumbull,

em 1792), e ainda o projecto de 1813 para o Union College, no estado de Nova

Iorque, por Jacques Ramée. 35 Ver, sobre este projecto, Paul Venable TURNER — Ob. cit., pp. 76-87. 36 Designado por Netztyp. Konrad RÜCKBROD — Ob. cit., pp. 159 e figs. 41 e 42.37 Esta possibilidade de expansão acabaria por ser coarctada, a sul, pelos novos

edifícios de 1898, de McKim, Mead & White, forçando ao mesmo tempo uma

leitura neobarroca do conjunto em torno do relvado central, Konrad RÜCKBROD

— Ob. cit., p. 159 e fig. 43.38 Mário KRUGER — Teoria e Analogias em Arquitectura. São Paulo: Projecto,

1986, pp. 37-41.39 Reyner BANHAM — Megaestructuras, Futuro urbano del pasado reciente. 2.ª ed.

Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001, pp. 130-163.40 Plano desenvolvido a partir de meados da década de 1980 por uma equipa

do Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto,

coordenada pelo arquitecto Nuno Portas. Ver, sobre o enquadramento do plano,

Nuno PORTAS — “O Campus da Universidade de Aveiro. Uma experiência de

processo e traçado”. In AA.VV. — Universidade de Aveiro. Trinta Anos de Arqui-

tectura. Lisboa: White & Blue, 2001, pp. 25-32.41 Plano desenvolvido pela equipa coordenada pelos arquitectos Camilo Cortesão

e Mercês Vieira, a partir da proposta vencedora para um concurso público de

ideias, promovido pela Universidade de Coimbra, em 1989. Ver sobre o en-

quadramento do plano, Camilo CORTESÃO e Mercês VIEIRA — “O Pólo II da

Universidade de Coimbra. Desenho urbano e integração na cidade”. In Nuno

GRANDE e Rui LOBO (eds.) — Cidade Sofia. Cidades Universitárias em Debate.

Coimbra: Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia

da Universidade de Coimbra, 2005, pp. 222-227.