pretos e homens do deu tempo - forgotten books

1023

Upload: khangminh22

Post on 03-May-2023

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FACTOS E HOIDENS

DO (DEU TEIDPO

MEMORIAS DE UM JORNALISTA

BR IT O A RA N H A

T O M O I

O r n ado com r etr atos e fac—s im iles

1 90 7P A RC ER IA A N T O N IO M A R IA P ER EIR A

L IVR A R IA ED IT O R A

E O F F IC IN A S T YP O G R A P H IC A E D E E N C A D ER N A ÇÃOM ov ida. el ectr ici dade

R ua A ug us ta , 44 a 5 4

l 907

O F F IC IN A S T YP O G R A P H IC A E D E EN C A D ER N A ÇÃOM ovida. electr icidade

D e P ar cer i a A n ton i o M ar ia P er ei r a

R ua A ugusta ,46 o 48 , l .

'6 anda r

L IS B O A

A”

inolvidavel memo r ia

E D U A R D O C O E L H O

fundado r do « Diar io de N oticiase da pr imeira as sociação de jo rnalistas

e homens de Iettras de Lisboapo r occas ião da grande commemor ação

do tr icentenar io do egregio poeta

Lu is de C amões em 1 880

D ilecto e sempre egual amigo e companheiro

dedica es tas « M emor ias »

'

o seu adm irador,reconhecido e leal co l lega

A o seu muito amado fi lho

PIIUIIO EIDIIIIO

e á sua extremosa e modelar mãe

e quer ida mulherin excedivel em seus desvelos de educado ra

Il. Mlllll lllllll IIIIES lll MUIII BRIIH IRINHI

Lembrança de acr iso lado affecto

e gratidão

do pac e mar ido

E S T E L IVR O .

Devia de consagrar- Io !

Depo is de termos , eu e os velhos camaradas

da r edacção , r ecebido o profundís s imo go lpe da

tua perda, que sangra ainda na saudade que

difficilmen te murchará,co l ligindo agora em um

feixe de memor ias sem pretensão , nas quaespuz alguma par ticula da minha alma, pelo

grande numero de paginas auto—biographicas

que encer ram, julgo dever indecl inavel , que não

po s so delegar , dedicar- tas .

N ão podes lê - las . N em podes ouvir -me .

N ão ! .

M as,nes se monumento er igido pela dedica

ção dos teus amigos , e que milhares de cida

dãos jus tamen te glor ificaram no dia em que fo i

inaugurado , onde eccoaram as vozes de grati

dão do povo de L isboa que te ficou a dever

tan to no seu progr edimen to intel lectual ; na

fr en te da tua imagem ,fiel

,serena

,benevo la ,

r isonha, como sempr e, pareceu a todos que

par tira de ti como que um raio de luz viviti

can te, que era a do teu pro fundo e s incero

agradecimen to po r tão honro sa man ifestação !

J unto del le, fitando commovido o teu busto,

deponho estas l inhas saudosas !

G uardarei no mais r econdito do meu co ra

ção a lembrança do s dias , tan tos , tantos !

alguns m ilhar es de dias !—

que passei ao teu

lado , em que avaliei os pr imores do teu cara

cter,na tua vida par ticular e na tua vida pu

blice, bem servir a patr ia e as classes despro

tegidas , en tre os co l legas e no seio da tua fa

milia, que te adorava e da qual fos te o enlevo

,

que cons iderar a cada instante se o producto do trabalho de um dia chegará para o dia seguinte ; e elevou-se

e engrandeceu-se com a sua fo lha, que lhe deu recur

sos , serenidade e opulencia, no lar : a g lor ificação do trabalho !A pesar disso, não lhe conheci nunca, e creio que

n inguem lhe conheceu jámais , — e es ta era a grande

força das just íss imas sympathias e do favorecedor pres

tigio, de que gozava,— ninguem lhe descobr iu e apon

tou uma differença no seu trato, um enfraquecimentona sua bonhomie. Bom caracter, coração aberto ás grandes sensações , cerebro instruído em sãos pr incipios ,Eduardo Coelho deixou no seu per iodico, todas as l inhasboas e correctiss imas , que o tornaram um cidadão bemqu is to e prestante e um jornal ista benemer ito, digno dashomenagens que se lhe prestam e das saudades que

cercam a sua honrada memor ia !Pagar- lhe-hei eu sempre este preito como a um i rmão

quer ido e a um companhei ro adoravel !

H a aqui outra dedicato r ia : a meu fi lho P aulo

Emilio e a sua mãe .

P ela tua ten ra edede não poderás lê- la.

M as chegarás , de cer to,a lê- la vo lvidos al

guns anno s e desenvo lvidas as faculdades men

taes com a educação conven iente e sã e com a

instrucção proveitosa e util para en trares na so

ciedade, po r modo seres homem prestante e

cidadão respeitado . E ntão , nes tas paginas , em

cuja leitura nao poder ei acompanhar- te po rque

a edede mui avançada e a doença imper tinente

apres sa r ão o termo da exis tencia antes de ter

esse pr azer , poderás compr ehender o que es

crevi e o que nas en trel inhas deixei de refer ir e

é facil de in terpr etar ; porém,a teu lado ficará

a mãe boa e car inhosa, excellente educado r a,

que te guiará e que saberás amparar com a tua

dedicação , com o teu affecto e com o r espeito

filial que lhe deves e de que el la é muito digna .

Quando chegares a essa edade, meu quer idofi lho , tudo comprehenderás e emprega todos o s

esfo rços para honrar o nome de teu pae e teu

amigo , e as s im saberás tambem hon rar a patr ia,

que deverás bem servir,com acr iso lado amor !

A N T O N IO D A S ILVA , O VET ER A N O

E ' o que a gravura representa e do qual tenho quedeixar neste l ivro algumas notas biographicas ;

E' o de um.

veterano, popular, que soube al liar o res

peito e a amisade dos grandes e humi ldes , por que el leera grande pelo seu coração e pela sua inexcedível bravura e humi lde pelo seu berço e pelo seu viver chão,s imples , patriarchal ;E ' , emfim, 0 Si lva das Ba r bas br ancas , como o co

gnominava o povo, quando el le em dias duplices lançava para fóra do fIIIo peiti lho da camisa aquel lasalv íss imas barbas , que lhe davam o aspecto dos ho

mens bons e de bom conselho de tempos aureos ; é 0

Veter ano da Bandei r a , como depois o appell idaram

quando foram inaugurados os festejos do 24 de julho .

Esta commemoração deixou de fazer-se por circumstancias pol iticas , que não vem para aqui refer i rem-se ;mas

a pr incipal, no meu entender, foi a do esmorecimentona lembrança de factos , que não deviam esquecer paral ição dos v indouros ; e no desapparecimento, com o

volver dos annos , de personagens que t inham dcsem

penhado com convicção algum papel no maior calordesses factos .

A o contemplar o seu retrato parece—me ainda vê—lo

sadio, rosado, alegre como um moço, r isonho como se o

so l daquel le memorável dia fosse o sol do melhor diadas suas primaveras ; di reito como um recruta, não ver

E ste capi tulo , ou trecho,fo i escr ipto para o T íar io Il lus

t r ado , de julho 1879, e ago ra sáe com algumas notas que

para ahi não pude mandar .

gande ao dos ar mas , mas erguendo o rosto com

certo desvanecimento para a bandei ra, que era para

el le, — e para todos nós , fi lhos da grande fami l ia l iberal, — a sua idea constante, o seu symbolo, a sua rel igião,

— a idéa, o symbolo, a rel igião da l i berdade !

Il

Pensava—se em outro tempo, e divulgava-se, que as

biographias só podiam fazer-se dos grandes embora el lesnão tivessem a recommenda—los senão os pergaminhos

e os serviços dos antepassados ; e isto acreditava-se,

tanto mais quanto era certo que a l isonja cortezã o tra

duzia em facto ; pois as ideas modernas transformaram

o uso, e se se deu aos grandes , que realmente o são,

por suas virtudes e qual idades , o preito s incero e con

digno do respeito e da admiração, tambem não pôde hojeregatear

-se aos humi ldes , que se levantaram a maioraltura na cooperação para a victoria dos nobres principios , o elogio que . !hes cabe pelas suas acções e o logarque lhes pertence no pantheon g lor ioso dos que se dis

tinguiram em prol da patr ia.

N ão tiremos um des ses logares a Anton io da Si lva.

O venerando ancião nasceu aos 3 1 de julho de 1 80 1

no logar de A dão Lobo, termo da vil la do Cadaval ; eveiu para L isboa fugido com a sua famil ia, e a pé, não

tendo ainda 7 annos de edade, quando Junot invadiuPortugal com as forças do seu commando.

Perco rrer a pé os 60 kilometros que o separavam da

capita l , e vendo já affl icta a fami l ia porque fugia dasua ter ra sem recursos , e sem pão, era descer o pr i

meiro g rau na escala da advers idade.

Chegando a L isboa, a fami l ia Silva teve que sepa

rar—se do seu pequeno A nton io e entrega-lo ao cuidado

das pes soas, que o protegeram na mocidade.

D isco r reram, portanto, os pr imeiros annos da sua es

tada na capital sem incidente notavel , embora conhe

cessem os amigos que A nton io da Silva roubava algu

mas ho ras ao trabalho e ao descanso para se relacionarcom os homens de esphera mais elevada e tomar conhe

cimen to das occorrencias pol it icas , enthus iasmando-se

com o alvorecer das idêas l iberaes que trouxeram, na

proeminencia dos factos contemporaneos , FernandesThomás , F errei ra Borges , fr . F rancisco de S . Luiz e

outros benemer itos , e pelos esforços destes íncl itos va

rões , o 24 de agosto de 1 820 .

Po rém, no meio dos seus enthus rasmos , A ntonio da

Silva pagava o tributo da mocidade prendendo—se nuns

s inceros amores a uma joven de apreciaveis dotes do

coração , D . Joanna F rancisca da Costa e Si lva, fi lhade um bom homem de Lamego, M anuel da Costa T elles A lmas . Em 1 82 1 encon tramo—lo já casado, mas inter rompida a lua de mel por uma eventual idade da pol itica . que o tirava dos braços affectuos iss imos da esposapara o arremessar ás rudas fainas da caserna. Tinham-no

intimado para assentar praça, e el le foi al istar—se no regi

mento de milícias de Lisboa O ccidental , mais conhecidas por mil ícia s de D . j or ge, ficando pr imei ramente na

companhia desse corpo, e depo is na de granadeiros .

A agitação revolucionar ia da época ; a convivenciacom alguns homens que acred itavam rel ig iosamenteque o 24 de agosto v ingar ia contra as difiiculdades

oppostas pelo part ido contrario ; a vida de quartel , quedá novos habitos , e altera essencialmente as condiçõesda existencia caseira e patr iarchal ,— abr i ram-lhe um

per iodo que entregou Anton io da Si lva às oscil lações e

aos abysmos da po l itica.

III

E'

geralmente sabido, que os dois pr imeiros quarteisdo seculo XIX foram povoados de successes que davam

muitos volumes e que pela maior parte es tão ineditos .

A inda mais : mu itos acontecimentos passaram sem re

gisto par t icular, nem publ ico, e ser ia hoje extremamentedimcil reunir todas as notas para dar intei ro relevo áspaginas da h istor ia contemporanea numa serie, peloass im dizer , in interrupta de incidentes , de acção e reac

cão, de est imulos , odios , perseguições , vinganças , que a

l iberdade protegia em seu interesse, mas offuscando o seubrilho ; e que ao mesmo tempo a l i berdade repel l ia para

tornar mais v ivida a sua luz uma época de combates ,de lutas terr iveis e homericas , que parecia ser impos

sivel emprehenderem-se se mi lhares de testemunhos nãoo continuassem : porque a 1 820 succedia 1 824 ; a es ta

data seguia-se 1 828; depo is vinha 1 829 e 1 834; depois

1 836, 1 8 37, 1 8 38 , 1 840 , 1 844. 1 846 .

A nton io da S i lva, pelo seu caracter, pela sua actividade, pelo seu patr iotismo, que o convencera do que a

felicidade para a sua nação só vi r ia pela l iberdade,achou-se repetidas vezes com r isco da vida propria e o

1 2

sões dos partidar ios do infante D . M iguel , para quetriumphasse a causa justa dos amigos dedicados do

imperador D . Pedro IV e de sua augusta fi lha a s r .a

D . Mar ia II; e humi lde casa de Anton io da Si lva.

O s espiões t itulares , segundo a voz do povo, não

tiravam os o lhos des sas casas , e parecia que se repro

duziam para as vigiar . A 's esquinas das ruas da Bar roca ,

do Carvalho e dos Caetanos , era certo encontrar-se a

cada instante ou o M anuel Quadr i l /rei r a ; ou o M atta

E spião, de quem a populaça se v ingou no dia 24 de

julho; ou O S enhor dos P as sos de A rg el , ou o S eg ei r o ,

da rua dos Calafates , ou 0 L our ei r o, do Loreto, e ou

tros sujeitos, que t inham fama nessa época pelas suas

proezas ; e tambem, sem duvida, com taes olheiros e

espiões , não faltou na intendencia da po l ícia a nota dos

passos , hora a hora, das pessoas suspeitas , o que por

então n ada tinha de extraordinar ia.

A pobre casa da rua da Barroca era, a no ite, como

um formigueiro de liberaes e conspiradores . A l i recebiama C lar om

'

ea constituciona l , do Porto, que um l ia em voz

alta para os demais ouvi rem ; al i recebiam noticias e

papeis avulsos clandestinos ; ali ajustavam planos deataque e defeza contra a vigilancia da pol ima ; al i, emfim, faziam contratos sobre as deserções para o Porto .

Entre as damas , que aux i l iavam a causa l iberal , figurava em primei ra l inha _

O . Joaquina de Lencastre, depois v iscondessa do Reguengo e condessa de A vi lez,celebrada esposa do general Jorge de A vilez. M orava

na Junqueira. Todos sabiam que n inguem a dominavanas suas convicções , que n inguem podia excede- la nos

O s veteranos , seus companhei ros , deviam-lhe serviçosde val ia sendo os mais importantes a fundação da asso

ciação dos veteranos da l iberdade, de que el le foi thesoureiro ; e as instancias , junto de velhos amigos seus

nas duas casas do par lamento, para que o estado tirasse

da miseria a que es tavam condemnados alguns des sesbenemeritos , que der ramaram o seu sangue em defensa

dos pr incipios l iberaes .

Anton io da S ilva, 0 Veter ano da Bandei r a , fal lecencom 78 anuos de edade em junho de 1 879 , tendo

ao lado seus tres fi lhos , que lhe restavam de quatorze,e que o honravam, os s rs . F rancisco Emygdio da Si lva,pr imeiro tachygrapho da camara dos deputados ; A n

J á fal lecen E r a um san to homem. E s timavam-no todos

no quadr o tachygraphico e r espeitavam—no po rque sabia

muito bem da sua profis são . O que muitos igno ravam er a

que e l le,fi lho devo tado e obedien te, educado sem alardos e

com a sob r iedade de um po r tuguez de lei, depois de eman

cipado e depois de exer cer s em fal tas e com br ilhan tismo a

s ua pr ofissão, em que adquir ir a um pr imeiro logar , quando

to n io A vel ino A mam da Si lva, an tigo capitão de navios

e engenhei ro civi l ; e Chr is tiano G erardo da Si lva,professor de mus ica e distincto artista.

Tinha a medalha com o algarismo 5 das campanhasda l iberdade e a junta do Porto, por um acto de bra

vura, concedera—lhe a Tor re e Espada, em 1 846.

Comecei a conhecer e estimar este bom ancião por

1 849 ou 1 850 . P reparava—se a regeneração. El le auxi

l iava, como podia, os que conspiravam em Lisboa desdeos desas tres da M ar ia da Fonte, e exclamava :r eceb ia o o rdenado ia r el igio samen te en tr ega

'—lo aos paes

para que 0 appl icas sem como en tendes sem nas despezas ge

r aes da casa, r eser vando - lhe apenas o de que el le neces s i

tas se par a gas tar com a r enovação do seu ves tuar io P r escin

dia de commodo s e de modas . E xemplar fi l hoE s teve no B r as i l e V e iº de lá com alguns meio s ganho s

em ser viço de engenhar ta, sob r etudo em medição de ter r e

no s n o in ter io r da provincra do R io de Janeir o , onde se r elacionár a com algun s b r as i leir o s de r epr esen tação , como o

fal lecido J oaquim S aldanha M ar i nho . T ambem já é fal lecido .

A qui viveu modes tamen te e de vez em quando escr evia

alguma cousa par a umas memo r ias in timas, que não chegou

a pub licar . D eu ao pr e lo um romance his to r tco baseado em

facto s das campanhas da l iberdade . D escr eve com acer to e

em boa l inguagem o que pass ou, no concelho de A lmada,quando as l imitadas fo r ças l iberaes tr ouxeram a pon ta de

baioneta a t r opa do commando de T e l les J o r dão até C aci

lhas , o nde fo i mo r to esse famigerado o fficial m igue l is ta, aoqua l não fal tava b r avura e cr ueza . E s te tr abalho fo i muito

bem r ecebido e e logiado .

F o i um vio lin is ta dis tincto e po r vezes r egeu o r ches tr as

em salões par t icular es e theatro s . E s tá r e tir ado da vida ar

t is tIca. E'

pr opr i etar io em L isboa . Vive, edoso e doen te .

— S e os C abraes matam a l iberdade, expulsemos osC abraes !

D ias antes de morrer, vis itei-o e abracei—0 . A sua

despedida foi :— Aprox ima-se o dia 24 de julho. N ão vê o meu es

Tenho os pés na cova. O meu desejo era,

sequer ainda uma vez, poder abraçar a minha quer idabandei raParou como se estivesse cansado ; mas o cerebro

del le funccionava regularmente. U ma lagrima perdeuse—lhe por entre as rugas do rosto. E accrescentou

— P aciencial Termina a minha peregr inação no mun

do. N inguem tem que fal lar mal de mim A hi ficam

os meus fi lhos . A mei-os tanto, como a l iberdade .

E era verdadeiro2 3 de julho, 1 879 .

0 A n ton io da S i lva, pela sua dedicação acausa l iberal ,

pelo r espeito a memo r ia do imper ado r e r et D . P edr o IV e

do seu dilecto gener al S á da Bandeir a, que tanto s serviçospr estou com gr andiss imo sacr ificio do seu sangue e dos seus

haver es para a con so l idação do thr ono da r ainha D . M ar ta II,

não se esquecer á nunca dos s eus companheir o s , que se ºppu

zeram com br io e tenacidade ao s desvar io s e cppr essões igno

m inio sas da usurpação m iguelina, e auxil iava,den tr o das suas

pequenas fo r ças monetá r ias , par a lhes mino rar a miser ia. F o i

um do s que mais poder o samen te con tr ibuir am para a cr ea

ção da A ssociação dos Veteranos da L iberdade.

R efer e S imão J osé da L uz,na sua in teressan tis s ima bio

g r aphia do incl ito M arquez de S á da Bandeira, quando des

cr eve no tomo It exequias so lemnes celebr adas na par ochial egr eja da E ncar nação, em suti l-agio da alma desse que

foi valen te e sabio mil itar , que apor ta da mesma egr eja es

tava um r espeitavel veterano a pedir que o auxil iassem na

ob r a de car idade a favo r do s companheir o s daquell e generalque, po r doença ou indigencia, não podiam comparecer

naqeel le piedo so acto .

O M arquez fallecer a em L isboa no dia 7 de janeiro 1876

e o cadaver fo i t ranspo r tado para o cemiter io de S an tarem,

com as hon r as devidas, onde ficou em campa, com o epita

phio determinado em no ta t es tamentar ia do il lus tr e finado .

A s exequias so lemnes realisar am-se n dia 2 1 de fever eiro do

citado anno , pr ofer indo a o ração funebr e o afamado o r ado r

sagr ado , r ev. conego da S é de Braga, A lves M atheus . N a

pag. 50 9, do mencionado tomo 11,lê—se es ta s ingela no ra

. A'

po r ta do templo pedia esmo la par a o s pobr es so ldado s« da l iberdade o fundado r da A ssociação do s Veter ano s , O

« s r . A n ton io da S i lva, que ainda as s im pôde r eal izar a quan

. tia de 1 53 500 r éis

I I

9 Éíssonde de J ur omenha

24

N inguem se lhe aproximava, que não ftcasse captivo

da sua bonhomia. O seu modo lhano, o seu o lhar vivo .

denotando grande vigor intel lectual ; a sua conversaç ão

an imada e erudita, eram de prender todos .

Conhecia-o, mas não tinha estabelecido relações com

lle. A s minhas relações pessoaes , não direi de intimidade, mas respeitosas e affectuosas , e da minha parte

da max ima veneração para um homem tão exemplarmente trabalhador , como era o visconde, fi rmaram-se

em um devaneio Iitterar io meu e em uma curios idade

del le.

N a vida jornal ís tica, de todos os dias , escrevem-se

banal idades , semsabor ias e uma ou outra vez cousas

acertadas e conceituosas ; porém, como correm anonymas , n inguem acerta com quem escreveu ou o mau, ou

o soffrivel , ou o razoavel . O s artigos anonymos , quando

succede terem algum lado favoravel , passam des te

modo rapidos , como meteoros de pouco vo lume e de

pequeno raio luminoso, cujo esplendor não des lumbra,

e não se pensa mais nel les .

J á duas vezes , não para fugir á responsabi l idade mo'ral, o que não ftz nunca, mas para ter o capr icho acas o

pueril de poder entrar em concor rencia de aprecração

de meus rabiscos , e ouvir os A n starchos que não sou

bessem que fal lavam deante do auctor , dei á publ tci

dade sob o pseudonymo de O bscu r o-j or nal i sta um IlV l

'

I

nho baseado em documentos his tor icos por occas ião do

centenar io do celebre marquez de Pombal ; e muito an

tes disso dois folhetins criticos , em que pretendia ana

lysat e contradictar o que um escriptor hespanhol , al iás

afamado, dissera ácerca de Francisco de Ho l landa. Se

ouvisse fa l lar bem não me envaidecia; se me chegassem

aos ouv idos palavras acr imin iosas , não me amoftnavam;

se v iessem essas palavras de pessoa cordata e de aucto

n dade, reconhecia o er ro do meu intel lecto e emendar iao er ro. A s faltas corrigem-se sem bazoftas . lmperdoavel

é não as cor rigir quando se er ra e se acerta com quemas pôde indicar .

O ultimo escripto, a que me refer i, isto é, os fo lhet tns , sai ram no D ia r io de N oti cias . D ois homens de

lett ras , ambos de mer ito e ambos fal lecidos , o marquezde Sousa H o lstein e o visconde de Juromenha, foram ao

escriptorio daquella popular fo lha, cuja extraordinariapub l icidade é bem conhecida, indagar quem era o au

ctor . Causa—me frenes i vêr um escr iptor es trangeiro di

zer de assumptos portugezes sem os entender , ou sem

o s ter estudado bem , e desabafo com bom an imo e sem

pretensões a dar l ição . N ão tenho bos sa para mes tre.

N ão se pense que ponho isto para lav rar memor ia dea lgum facto l itterar io , que fi rmasse o credito de a lguem .

N ão sou dado a taes Immodes ttas e sou avesso a ruidos

banaes .

O s do is eram alI attrahidos para matar a curIO S Idade

e saber se ter iam pessoa com quem contas sem nas suas

aver iguações art íst icas e com quem conversassem em

ass umpto de sua tão especnal predilecção . l l ludIr-se

h tam, de certo .

F o r ass im que es tabeleci relações com o il lus tre v is

conde de J uromenha.

T ratemos da sua vida .

III

O per iodo agitadiss imo de 1 828 , a 1 8 34 , tambem

não discorreu sereno para o visconde de Juromenha ;porém, não consta qu

e

, junto dos seus amigos parti

culares e po l iticos , e das pes soas da sua fami l ia que o

acompanhavam como correl ig ioná r ios , el le se tornasse

notavel pelas ideas exageradas ou por feitos , que con

citassem as an imadversões e os odios .

Pelo cont rar io, era sabido que se o v isconde, orphão,

porque o general Lacerda tinha fal lecido, e apesar dos

ardores dos seus verdes annos , naquel la época, pudessepreponderar com o seu conselho , onde todos parecia

terem-se combInado para atearem as chammas de uma

g rande fogueira de enormes sacr ificros . da bondade

Innata do seu coração , dos predicados da sua nobrealma já tão pronunciados , só poderiam sair palavrasque suavisassem o hor ror de muitos incidentes lastimaveis e espan tosos !

N o desen lace fatal , mas necessar io para beneficio e

socego da nação, o visconde de Juromenha es tava na

s ituação dos demais correl igioná rios . M as pe la infl uenciada sua famil ia e pela sua pos ição, então brilhant íss ima ,

achava-se s ingularmente peor .

Emigrou com os mais grados e influentes . A s aueto

ridades tr iumphantes foram-se aos bens desses cidadãos

expatr iados e sequestraram-nos . O visconde, pois , fugira,

mas pobre pe la força dos acontecimentos po l iticos e pelaconsequencia inevitavel das vinganças e compensações ,

que desciam em perigoso decl ive e que só podiam pa

rar quando acalmassem as paixões desencadeadas em

per ipecias odientas .

A sua emig ração durou quatro annos . Em tão longoperiodo affastado da patria, que el le amava profunda

men te ; e suffocando in timas commoções e enxugando

lag rimas que derramava pelos males del la, o v isconde

de J uromenha, es t imulado pelo amor ao es tudo, com o

que podia apagar saudades e minorar os amargos da

emigração , percorreu var ias ter ras da Europa, relacio

nou-se com alguns est rangeiros distinctos em sciencias

e lettras , es t reitou a amisade com os companheiros que

lhe mereciam mais sympathia e predi lecção ; e fez com

que lhe fos sem abertos numerosos archivos e bib l iothecas .

O v isconde de Juromenha pôz termo defin itivamenteàsua vida de emigrado , e um tan to de « bohemio» ,

pos to que não faltasse jámais ao respeito do seu nome

e das s uas t radições , quando real isou em 1 8 37 o con

Sorcio com uma nobre dama po r quem se apaixonára,

D . Car lota Emil ia F erreira Sarmen to , fi lha do conse

30

lheiro M anuel José Sarmento e de sua mulher D . M a

r ianna R aymunda Fer reira Sarmento.

C om es ta affectuosa companhei ra, digna a todos os

respeitos do amor que lhe dedicava o esposo extreme

cido, quiz el le estabelecer-se de novo em ter ra portu

gueza, jurando que nunca mais sairia del la, salvo em

algum caso de força maior .

O seu proceder futuro, embora não agradasse a mui

tos , visou a um alvo : conservar inalteraveis a seren idade e a paz no lar , no so lo da patria.

O seu pensamento nobil iss imo, poderia talvez tras ladar—se nes tas phrases :

— Conservarei immaculada a minha fé, manterei re

ligiosamente as minhas convicções , que me segui rão asepultura ; mas quero alargar O coração, desejo expandirsuavemente a alma, faço votos para que neste lar , que

levantarei do abatimento e da ruina, que me trouxeram

o embate das paixões , onde tambem me encontrei en

volv ido, pos sa vêr reinar a minha nova famil ia, cercadade amigos intimos e bons , sem indagar de que campo

pol itico el les derivam, nem quaes ideas professam e

evangelisam. N ão discutirei com el les . N ão discutirão

tambem comigo acerca de ponto em que possamos di

vergir . F icamos as s im bem. E aqui teremos paz !

D esde então até o ul t imo instante da s ua ex istencia,não me consta que o visconde de Juromenha se aftas

tasse do que formára a sua norma de proceder .

A ss im era facrl vêr, na casa do visconde, e na int imidade d

'el le , homens de ideas e convicções mui 0p

postas , posto que de alta esphera, como A nton io de

3 2

Logo depois do seu regresso a L isboa, foi IgnacioP izarro quem levou 0 visconde de J uromenha a estrei

tar relações com A lexandre Herculano, relações que, medisse o il lustre visconde, conservára com desvanecimen to e sem interrupção até que o grande h istor iadorse finou.

W

&tabelecidc em Lisboa. de 1 837 para 1 838, jã'

o

visconde de Juromenha pensava m col ligir aponta

mentos para dar á taz as primicias dcs seus estudos

historicos , l itterarios e artisticos . N ão confiava em s i.

húmidava-c a idea de que pod iam discutir um trabalho seu e que não c favomceria a critica. A ss obefba

pulcs. timidez. por não confiar nem nas suasW m m seu talento.

L i c rascunhc de uma carta do visoonde para'

um

hm em de km mnca e seu parente, que lhe pe

dira pata que elle revisse o manuscripto de uma obra

que desejava mandar impr imir ; e nessa respºs ta dizia'

c visconde : « D ispensa-me dimu. F ar—lhe—hia de boa

m tade a revisao , que me pede, se eu tambem não

fome obrigado a recor rer à benevolencia de algumunigo pma me mver o qua de m em quandm vou

alinham . O s conselhos de amigos intimos é queme antmam a affrontar oom os risoos da pubtid

dadeo .

3

34

O per iodo de 1 8 37 para 1 838. 5e não é escasso em

successes de outra ordem, fert i l em acontecimen toslitterarios . Vem dahi um periodo aureo da litte ratura

nacional no presente seculo.

N aquel la época tinham=se aprox imado, e viviam fra

ternalni ente, alguns homens de notabi l íss imo merecimento. Alexandre Hercu lano tin ha publ icado. anonymae sob a falsa indicação de ser impressa no Ferro l , a pri.mei ra parte da Voz do pr oplie la ; Iimava a segunda, parasair dos prelos da typographia de G alhardo;e preparavacom o dr . Anton io da Costa Paiva, depo is barão de C astel lo de Paiva, a revisão do man uscripto de fr . Bernardo

da Cruz, para nos dar a boa ed ição da in teressan teCúr on im d

'

E l —R ei 0 . S em ana . Paiva tinha apparecidona republ ica litteraria com a versão dos R omances do

Vol tai r e, e ajustava no Porto. com Kopke, a publ icação do R otei r o de Vas co da G ama. Ignacio P izarro deMoraes Sarmento versejava, preparava—se para as lutaspolíticas e par lamentares ; e del ineava as principaes sce

nas do seu L opo de F ig ueir edo .

Esses , e outros de que não é necessar io dar aqui oelenco, entravam nos segredos da fundação de uma so.

ciedade propagadora dos conhecimentos uteis;e V iannaPedra, consciente de quem o aux i l iasse a el le e a ou

tros dedicados amigos numa grande obra de civil isação,

que o foi sem duvida, convidava e instava com A lexandre Herculano para dir ig i r o P anor ama , revis ta que, nasua parte H tteraria e art is tica , tomava para modelo as

publicações de igual natureza, que tinham então grande

voga em Par is e eram reproduzidas em Bruxel las .

e

assegurando a sua briltm rte ex istencia sob a direcçl o

de um homemda vis ivel mtatma de A lexandre l-lercu

cuarto e o visconde de Juromenha. Este, na sua lua de

ltttemrias , e embevecidc anbe as bel lm s de C in tm, es

tudava os auctores que tinham exaltado tão formosa

regiâo e coll igia novos apontamentos .

tauipe , ignorada. P oucas pes soas sabiam que um dos anonymo s era um dos mais devotados emais in timo s de H erculanc

,

E n c neir g gr ande sabedo r de esciipmn çi omercantihgn nde

cultor das letr as;h0mem simples no viver , exemplar de probi»dadq chãq recton abendo conver sar

-comm i s vem um

tanto n ido no tr ato , mas ao fundo muito delicadc, amigo leal;acos tumado d convivencia do s bons livr os e dos homens dou

tos, e rudito como elles , e au iliando o os ás vezes com a sua

prodcgiosa memor ia. A prendeu c fr ance: e o ing les semmes

38

que nesta primeira obra do visconde de Juromenha,vinda a publ ico, se encontram referencias a Camões ,por exemplo, nas pag. 6, 7 , 2 3 , 24 , 2 5 e 4 3;e que es

tou convencido de que, por causa del la, nasceu a ideade entrar mais afoutamente no estudo das obras do su

blime cantor dos L usíadas , e dos seus cr iticos e com

mentadores , o que veiu a realisar v inte e dois annos

depois .

Parece-me que não resta duvida. El le entrára no ca

minho das mais minuciosas e mais uteis invest igações .

xandre H er culano, accr escentando : « H a mais de vin te anno s

que me prezo de me con tar do numer o dos seu s amigos , e

durante es te longo per iodo tenho s ido tes temunha das impo r

tantíss imas indagações histo r icas que (além de outras ) tem

feito no A rchivo N acional, onde nos encontr amos . .

4 1

D eses elementos, o mais importante. por sem du

designada pelos antigos biographos e até pelos ccntem

pomnms de C amm E is um seI-viço relevantiss imo

prestadc ás lettras .

C omo sa vioo á pabmnl o o considero de menor va

Ior . porque este trabalho, avivando o nome de C amões

e a sua obra magestosa e gigantea O s L us iadas , que

em si consubstanciam as glor ias da nação e são um

criscl onde se apum o mais sanm patnoúsmm incitou

novas manifestações , dentro e fóra do reino, em honra

do glorliiso epico ; e fes talvez gerar a grandiosa idéa,

que dq icis iaiou e se expandiu . para o brilhanre e oomo

moven te tr icentenario. Sejªmos justos . N a glor ia, que seM mtr por esse tão oelebrado facto e tão digno de

' N o m o m do D kabnoá oWapM ca occupo—me,

de pag. 16$ a 169, dcs ta ob ra do vi sconde . l . á estão algumas

obm ações qoe entendi dever fu er em beneficio dos estu

M S c r epmduah se aqmc arúgq não me chegar iam al'Ww vn jó saiodo dos limites que mcei,

Vl

P or que é que, depo is de publ icado o tomo Vl das

O ór as de L uis de Camões , o visconde de Juromenhanão proseguiu na impressão, dando ao prelo o tomo VII,

de que fal lâra e promettera ?

Conjecturo que el le, em pr imei ro logar, quiz deseansar ; e em segundo, desejou assegurar

-se com mais al

guns elementos que os que possuia para o formar e re

digi r . Nesse tomo por ia não só numerosos additamentos

e cor recções as notas pub l icadas nos anter iores , mastambem indicações biographicas dos personagens histor icos citados nos L usíadas e que entram na acção do

subl ime poema, e duas interessantiss imas monographias ,uma relativa ao episodio de D . Ignez de Castro e outra

ácerca da o r igem dos torneios e do episodio dos dozepares de Ing laterra. Tinha elementos , porém não o satisfaziam. Pensava, com

.

razão, que os estudos h istor icosnão se dão como terminados quando o escriptor con

sciencioso quer , mas quando adqui re a convicção deque chegou a um resultado seguro e incontestavel. O

43

visconde não adquirira essa convicao . D izia—c in tia

mente.

A lém disso, não o prcoocupava só a idéa de C amões ;

m as averiguams para M r a fundo as obms dc

dos egualrnente de importancia, e dahi maier demora

para a conclua o de todos os trabalhos. E xaminando os

seus papeis veee. que, a0 per dos estudos camon ianos

duas outras obras tinham chamado a sua attenção e

lhe mereciam especia l cuidado : a histor ia da arte em

Portuga l e a biographie apologetioe de Lucrecia Borgia.

E' geralmente sabido , que os dois volumes do conde

de Raclrzyns ló . L u ar k enWe o D ictionnain

surda sl o mui estimados pomue o visconde de J urome

nha deu para el les , corn biaarria , o fructo de suas pe&

quin a, as suas proprias notas , que el le ia ool ligindo paraum dia escrever a his toria crítica da arte. N esses

lumes ficaram notavelmente ampliados os trabalhos deC yr illo Volckmar Machado e João da Cunha Taborda,que no seu tempo. embora com grandes intperfelções ,fizeram muito.

Honra lhes seja !Em 1 873 , por d rcumS tancias politicas e a insmncias

dos seus correligionarios , saiu do reino . Promettera es

tar ausente quinze dias apenas : o tempo sufiiciente de

ir Baviera e voltar de lá, aonde fôra convidado a as

sis tir em Heubach ao consorcio da pr inceza D . Maria

Thereza de Bragança com o arch iduque Car los Luis ,

45

times esforços e oolligirei os der radeiros apontamentos

lsto ha de ter um remate, segundo o meu plano .

Em março do anno indicado correu imprensa nacional , apresentou uma porção de quartos autographos,limpamente copiados de sua mão. e disse

— Aqui temos o começo do tomo VII. Vamos a aca

bar com isto. A presentemo—nos com eam humi lde con

tribuiç l o para a grand iosa festa do tri-centenar io.

O s quartos de crtginal eram em numero de vimc sete, e oontinham uma especie de mcnographia do in

tante D . H enrique. O auctor, pondo frente do vo lumea biographia do sabio infante , e dando conta dos seus

estudoe e de seus esfcrços para incitar os brios e a co

regem dos navegadores portuguezes , como que o fazia

pra idi r ser ie das ousadas empresas que antecederam

os grandes descobr imentos ; e que servi ram de excitar o

gen io de C amõm para os seus glorios iss imos L as-nadas .

VII

Cor r ia o mez de março de 1 880 . S e o visconde ti

vesse prompto o or ig inal , a imprensa, com os meios de

que dispõe e a boa vontade dos funccionarios e artistas

que a dirigem, dar ia de certo a tempo o volume ; porem o nobre auctor viu que não lhe era poss ivel vencero trabalho. A lém disso, o annuncio de estudos e pu

blicações camon ianas de diversa indole, nas principaesterras do reino e de escriptores que t inham nome na re

publ ica das lettras , fizeram-no recuar . N ão des is tiu.

Aguardou melhor opportun idade. E como alguns de seusapontamentos b ib liographicos , co l l igidos depo is da impressão do tomo Vl das O br as citadas , podiam serv i r paraos esclarecidos promotores da fes ta do tri centenar io no

Porto e sob retudo para os que tinham tomado sobre s i

o encargo da expos ição camon iana no Palacio de Cr istal, daquel la cidade, mandou-os para lá.

N a adver tencia prel iminar da B ibl iog r aphia camom'

ana

ser vindo de cata log o of icial da oxpos ição camoniana do cen

tenar io, coor denada pela commi'

ssão l itter ar ia das festas , leioo seguin te (pag. v)

anno de 1 887 sentiu—se mal na sua bel la e productiva

propriedade de Carn ide e decidiu vir passar algum

tempo na sua casa em L isboa, na rua do Infante

D . H en rique, em frente do edificio do asy lo de S . T ho

mé . O s medicos que o tratavam, aconselharam-lhe a

mudança para a capital , como neces sar ia á sua mel indrosa saude, mas bem sab iam que chegara o per iodofatal . N o começo de maio estavam perdidas todas as

esperanças . R odeado de alguns dos seus parentes mais

proximos , que lhe pres taram cuidados e desvel los , o 2 .

º

visconde de Juromenha, João A nton io de Lemos P ereira de Lacerda, finava—se ao amanhecer do dia 28

d'aquel le mez.

Cons idero a perda deste il lus tre homem como nacio

nal . E se é lícito ainda afârmar aqur o meu ]u lZO a seu

respeito, repetirei , em conclusão des tas breves notas

biographicas o que escrev r algures : « E ' perda nacional ,porque os do seu caracter e tempera, os da sua cons

tancia no es tudo e no trabalho, os da sua pers is tencia

nas convicções intimas , na época das contrad lccões , dasrnconven iencias , das inconstancias systematicas , jactanciosas e apregoadas , vão rareando , e vejo que não são

facilmente subs titurdos » .

P assado pouco tempo r ealisou—se o leilão do s seus li

vros, o qual eu fô ra convidado a dir ig i r . N es sa occasião,seu

r epr esen tan te e herdeir o, o bachare l M ar tinho da F rança de

A zevedo C outinho , ar r ematou, po r bom pr eço , o exemplardas O br as de L ui; de C amões , em papel super io r que o fi

nado visconde r eservar a par a el le e mandara enquader nar

50

com esmer o e luxo C onservo —o na maior es timação e muito

r econhecido a amavel lembr ança.

O s melho r es exemplar es da camon iana do visconde, in

cluindo um manuscr ipto pr ecioso , fo r am ar rematados nesse

leilão , po r muito elevado s pr eço s, em luta com ou tr os con

co r r entes camonian istas , pelo s r . bachar el A ntonio A ugustode C arvalho M on teir o

, que ass im to r nou mais r ica a sua ca

mon inh a . O manuscr ipto citado adquir iu-o es te il lustr e os

mon ionis ta po r mais de 4oom r éis .

A zevedo C outinho levou a sua gen t i leza a ofi'

er tar me o

exemplar de outro l ivr o em ing lez, com bel las gravur as emaço , de que o i l lus tre extincto gos tava. E r a a memor ia ofrD avid S cott com interes santes noras acerca das be l las ar tesna i tal ia. U ma das es tampas , em formato duplo , r epr esen ta

Vasco da G ama e o s seus companheiro s navegado r es ho r r o

r isado s ante o aspecto medonho do gigan te A damas to r , que

deu ao egr egio C amões um do s seus mais r ico s e apreciados

episodio s . S oberbo quadr o ! D el le fiz menção no s meus estu

dos camonianos no tomo x lv do ( D iccionar io bibl r'

ogr aphr'

co ,

nªs 374, ºf 709

A N TON IO ROD R I G U ES S A M P A IO

54

n io an imado, se entregasse ao estudo das primeiras lettras e com amor ao conhecimento do latim, o que, em

toda a sua vida, foi de especial predi lecção e conso lação ,

pois , pelos annos adeante, quantas amarguras foram minoradas ao manusear e recrear-se pelas admiraveis e

deleitosas paginas de V irgil io, tambem fi lho de lavradores !

D iscorreram des se modo os pr imei ros anuos , posto

v iesse a saber-se que, estando em V ianna e em Bragapara segui r outros estudos , e com o desejo de satisfazeros paes , em V ianna tomara as ordens menores ; e em

Braga elevara—se no estudo das humanidades , em que

os mestres o incitavam e applaudiam, não esquecendoa theo logia, em que tambem dava boa conta.

M as da carrei ra eccles iastica ia-se affastando porquenão o chamavam para el la nem o seu coração nem a

sua intelligencia. A atmosphera pol itica, ao raiar o se

gundo quartel do seculo, principiava a entenebrecer—see o moço A nton io, al imentando—se de ideaes , que se lhe

afigurára deverem dar luz onde só via a escur idão dastrêvas , e o começo de perseguições que bat iam á portados vis inhos , pôz

-se em guarda e assaltou-lhe o pensa

mento de reagir . R eag iu. D emais a mais tendo-se—lhe

proh ibido que dêsse l ições aos rapazes , que el le via crescer a seu lado, sabendo lêr e escrever !

Após a pr isão immerecida por causa de um assalto,em que alguns so ldados do exercito miguel ista invadiram a freguezia de S . Bartho lomeu do M ar, Sampaioteve que passar anno e meio na cadeia do Porto.

P osto em l iberdade, dal l i passou a Barcel los ; e, hos

pede do causídico Ferrei ra Tinoco, proseguiu em es tu

dos que o favoreceram no futuro so l idificando a sua

educação litteraria e scientifica.

A terr ivel convulsão progredia mais pavorosa que

nunca. O Porto es tava cercado. Levantavam—se ali os

baluartes para a defeza das l iberdades opprimidas e cal

cadas . Erguera-se o pendão para que resurg isse o pacto

fundamental que assegurar ia o regimen proclamado e

defend ido pe lo imperador D . Pedro IV, afim de fi rmaros d i reitos de sua fi lha D . M ar ia II. Crescia al l i o nu

mero dos defensores . Sampaio foi um del les . A listou—se

nos voluntar ios da rainha.

Quando os liberaes venceram, Sampaio entrára no

jornal ismo .

II

O primeiro emprego para o qual Sampaio conseguiuser nomeado , após o termo da luta fratricida entre os

partidar ios de D . M iguel e os de D . Pedro IV, foi o de

guarda da alfandega do P o rto , obtendo logo em seguidal icença para se fazer subs t ituir no serviço o que conse

guiu, pagando , segundo constou, 40 0 réis ao subst ituto,ficando—lhe portanto sómente 20 0 réis para as suas des

pezas , com os quaes de certo não podia V iver .

P or sua convivencia, em outra época com var ios cle

rigos do M inho , supponho que es treitára relações com o

prior da egreja de Leça do Bal io, o erudito escriptor , ex

frade, A nton io do C armo Velho de Barbosa, que tinhaa direcção da Vedeta da L zóer daa

'e, que existiu no P orto

de 1 8 3 5 a 1 840 , e ahi foi encar regado como traductor

das noticias estrangei ras .

Passada a revolução de setembro , M anuel da SilvaPassos convidou Sampaio para acceitar o logar de se

cretario da admin istração geral do distr icto de Bragança(os antigos governos civ is ) e ahi o vemos até que, dei

xando o poder aquel le eminente l iberal , foi em 1 8 39 ,

sem o pedir , promov ido e transfer ido para Castel loBranco.

A s occor rencias po líticas , que trazem sempre mudan

ças forçadas , levaram a Sampaio a exoneração do logarde admin is trador geral , que tambem não so l icitara. Essaexoneração foi dada pelo min istro R odrigo da FonsecaM agalhães . P uz de caso pensado aqui o nome desse

afamado homem de E s tado que, por an imo perspicaz e

lad ino, teve na época um cognome que passou à historia apresentando

-o contrario aos interesses de Rodri

gues Sampaio, quando, mais adeante, veremos que el leo contou em o numero de seus amigos e cooperadores .

Regressando á sua v ida de jornal ista, só muitos anuosdepois , isto é em 1 859 , é que lhe deram e el le pôde acceitar , porque a nomeação viera dos seus amigos po l iticos , da regeneração, com os quaes es tava l igado, o logar de conse lheiro do T ribunal de Contas .

E exerceu, nas camaras legis lativas e fóra del las , algumas commissões de se rvrço pub l ico , mas sem remu

neração, como foi notorio .

Sampaio , de indo le boa e generosa, andava sempre

com desapego em ass umptos em que muitos miramve ios para os cubiçar e explorar .

|V

N ão deve admi rar que eu trate com es tes e outros

pormenores de R odr igues Sampaio, quando é certo que

o conheci muito antes de el le conquistar a fama de quetão justamente gosou e com tamanho lustre para a im

prensa portugueza.

O que escrevo del le posso tira—lo de memor ias int imasnão divulgadas , porque só agora, no ultimo quartel dav ida, é que me deu a man ia de col ligir apontamentos ,

como se se tratasse de dar a l impo algumas pag inas autobiographicas . P or isso estas paginas correm serenas , hu

mi ldes e chãs , como quem as escreve. N ão tem br inquedos , nem rendilhados , nem estofos de dar nas v is tas ;nem se apresentam com donaires e flõres , como nos es

criptos em que tudo se consome em palavras que decerto br ilham pela força da eloquencra sugest iva de quemos despende e al inha em variadas figuras e ademanes

arrebicados .

Vamos ao que interessa. E continuo nestas recorda

ções em que se me desprende a alma !A minha entrada na R evoluçã o de S etembr o foi para

6 1

ap render a arte typographica de que nunca reneguei ,nem me esqueci . F oi meu mes tre G ui lherme AugustoRademalrer Teixei ra, homem bom e forte e são, animo

altivo e brioso, artista intel l igen te e sa bedor, a quemmeafteiçoei pela bondade com que me ens inou e tratou ,

adeantando -me na car re i ra labor iosa a que me dedicara e

dando-me prompto para entrar em concorrencia com ou

tros artistas , muito antes da epoca em que, segundo o

uso , se liberm um pobre rapaz do aprendizado que o

aborrece e quas i não lhe dá o sufiiciente para se ali

mentar . Essa emancipação devi-a ao conceito favoravelque merecem ao meu mestre e que jamais perdi .

A minha permanencia, como ar tis ta, foi de cur ta dura

ção N o entretanto, posso aã iançar que ob tive e permaneci

n o pre nos melho res relações com os typogr aphos mais dis

tinocos e de maior es ser viços á ar te rypogn phicmnão só na

imprensa da M ação de S erm br o e na C an ta dos T r itu

noes , mas tambem na impr en sa nacional, r e lacionando—me,com maior ou meno r in timids de, c0 m T homás Qointino A n»

tones (depois eonde de ti . M ar ça l l e um dos fundado r es e

pr oprietar ios do D io r -io l : N a id og que era um dos mais

considerados do seu tempo ; M iguel C obellos, de não vul gar

merecimento ; Maur icio Vel loso , O lympio N ico lau R uy F ernandes, A n tonio Joaquim de O l iveira, e outros . A lis ta com

pleta, se pudes se fase- la agor a, ser ia extensa. Quas i todo s

pap ram tr ibuto no campo das lett ras . E u tive qoe afastar

me dades , com saudade, e eocar r eir ei na vida jo rnalís tica,com longo aprm din dq mas ni o me separ ando do culto do s

homens , com o s quaes podia e devia apr ender . C omecei, pois ,

e» . nova senda na impr ensa, sendo pr imeiramen te revis or e

64

s tituido pelo honrado patriota Jeronymo de M oraes Sar

N es sa época, po is , er a do tom ir às r eun iões , pr incipa lmen te no s ann iver sar ro s do s dono s da casa, de madama de

C astr o e de seu mar ido , já edo so e muito del icado, e haviaempenhos até para lá ser apr esentado . A li conheci, en tr e ou

tros cavalheir os de boa roda, P ro stes , C ampo s, F lganier e,

S erpa L onga ,D uar te F ava, C hateaunef, C hampalimaud, D u

lac, José C andido de A ssumpção , T homás P acheco , M ul ler ,S ouza, Bar runcho , P ir es , P acheco , A lmeida, L ofo r te, e as

familias de a lguns des tes . C om o conselheiro F iganiére con

servei sempre relações que não se a l teraram nunca. e, pe locon trar io , depo is for am augmen tadas com os pr imor es de

boa camaradagem l itterar ia .

D escu lpem—me, os que t iverem paciencia de lêr is to , que

deixe aqui estas reco rdações in timas, po rém nel las reme

mo r o o nome de uma senho ra, boa e dedicada para com os

seus,de cuja bondade par ticipei pela pro tecção que me deu

na ado lescencia, auxil iando minha quer ida e san ta mão, que

ficára viuva, pobre e com fi lhos meno res, um do s quaes, o

pr imogen ito com o pae es tremecido,fo ram víctimas da epi

demia de cho lera-mo rbus de 1 83 3,vindo a saber dessa des

gr aça cinco dias depo is da sua mo r te, quando eu nasci

, pos

thumo ! S in to que el la não po s sa lêr que a minha gratidão

não se extinguiu, que se tr aduz em tão s inge las , mas sincer is «

s imas l inhas, e que piedosamen te lhas dedico .

M as , afi rmo -o com despr azer e dô r da alma, que não du

rafam muito s eunos es ses quadr o s de r iso s e fo lgares , numacasa em que não se viam senão boa von tade

,harmon ia na

convivencia e placidez no t rato in timo . S obr eveio a época

dos desequil rbr ios, dos con t r atempo s e da m ina. E as salas,amplas e bem guar necidos da r ua das F lo r es

,tiveram que

encer r ar —se, appar ecendo a penur ia e as lagr imas, onde tinhahavido abundancia e aleg r ia. A lgumas das figur as deco rati

65

mento oflicial reformado . José M iguel vivia em A lcantara e tanto el le, como a sua fami l ia, eram mui estimadose cons iderados naquel le pºpuloso bair ro.

A l i t inha como redactores José E stevão Coelho de M agalhões e A nton io Rodr igues Sampaio, auxil iados porF rancisco R omeiro G omes de M ei ra, que o grupo avan

tajado de homem de lettras daquel le per iodo, entre o

qual se avantajavam A lexandre Herculano, que foi

cunhado de M eira e a quem eu ja me referi em outro

logar ; e Cunha R ivara, conheceram bem da col laboração do P anor ama ; e como camaradas , ou compa

vas mais na vis ta iam igualmen te desapparccendo , po r semduvida assustadas com o decl inar de um so l, que r esplande

cêr a e aquecêra, mas que ia esconder —se na penumbr a do

occaso . da adver s idade ! E de que muito s fogem como se

pr etendes sem l ivr ar -se daquel le fr io que gelava !C o isas da comedia humana

J e r onymo de M o raes S armen to er a honrado official aoser viç o do par tido liberal e es tava r efo rmado no pos to de

maio r . P o r uma equitativa lei, vo tada em cô r tes, e attenden

do aos bo ns s erviço s del le e de pes soas de sua nobr e famil ia,

que padeceu bastante po r occas ião das lutas tr atr icidas parao es tab elecimen to do gover no constitucional, essa r efo rma

fo i me l ho rada par a o po sto de co r onel, que lhe devia com

petir .

S eu fi lho,J osé E s tevão de M o raes S armento , que é do

con se lho de sua magestade, digno par do r eino, minis tr o de

es tado hon o rar io, viera en tão a L isboa par a en trar no r ealco l legio m i l itar , cujo cur so seguiu e completou br ilhan temen te. D esde essa época hon ro

—me com a sua amisade, man

t ida s em in ter r upção e inalteravel, pôde dizer

- se frater nal .N ão se perde ass im esse afi

'

ccto de meio seculo

66

nheiros , entre outros , Luiz da Si lva Coutinho, pae deoutro de egual nome, que é ao presente il lustrado pri

mei ro official chefe de secção no min ister io da mar inhae do ultramar, e sub chefe da repartição de contabi l idadedo D ia r io de N oticias , desta cidade ; A nton io R odr iguesSampaio , que depois foi official no min ister io das obraspubl icas ;e o indicado G ui lherme Teixei ra, que foi depoisdirector da typographia do j or nal do Commer cio , em

cujas funcções se conservou até o fim da vida A nton io

da Costa P ratas , que se sacrifrcára no interesse da causapopular na dis tr ibuição clandestina do E spectr o ; e ou

tros artistas , cujos nomes omitto por brevidade.

A R evolução de .Setembr o, nessa epoca, empós as

d iversas perturbações que convuls ionaram a nação para

accommodar os agrupamentos políticos , por tal modo

irrequietos que ameaçavam derruir o que cus tára annos

de luta fratricida ; a R evoluçã o de .Setembr o, repito, com

o desejo louvavel de encaminhar esses grupos por sendasmais severas e l ímpidas e mais uteis ao bem commum,

tinha poucos recursos . S ó a movia o amor a patr ia e à

l iberdade, como devia de ser entendida para beneficio

do povo . E ra um jornal pobre, de minguado numero de

ass ignantes e de pequena tiragem, o que não admirava,

pois não havia ainda a febre da leitura que se desen

volveu com o apparecimento das fo lhas baratas , muitonoticioso e de ampla circulação, que vemos hoje nas

mãos de milhares e milhares de pessoas de todas as classes e de todas as condições , e cuja divulgação irá au

gmentandoàpropo rção que se alargar o meio intel lectualem que el las devem e hão de girar .

67

O s redactores e os mais íntimos na redacção tambemn ão v iviam na abundancia. N ão havia os pingues sub

s idios com que a D ivina P rovidencia, nos tempos modernos , apraz beneficiar miraculosamente as gazetas paraq ue el las louvem os min istros . Tudo era pel intra.

A lém disso, naquel la epoca, graças ao regimen cabral ino de espionagem e ter ror, todos ali andavam receiosos,

porque ninguem contava com um momento de tranqui ll idade e era vulgar perguntarmos uns aos outros , os que

tinhamos por dever permanecer no escriptorio ou nas

officinas , quando seria assaltada a nossa casa da rua da

Bica de D uarte Bel lo ? ou quando entrar íamos na cadeiado L imoeiro, onde jaziam tantos presos po l iticos , ali mettidos po r denuncras malevolas

? ou quando surgiria do

quartel dos P aul istas a lgum troço da pol icia mun icipal ,tendo à sua fren te um sargento, que, se não me engano,

t inha o appelhdo de D es ter ro e era conhecido pelos impetos com que saia do quartel e subia em correrias sem

freio e de ar rogancia mal empregada em acção mi l itartão reles , pela calçada do C ombro, atravessava o Ç a

lhanz, e descia muito mais rapido que o actual elevador ,para afugen tar o povo espantado da arremettida e es

panca-lo, se necessar io fos se, em homenagem vil lã aos

C abraes no poder !

D e uma vez, lembra-me bem ! tivemos que pôr nas

o fficinas algumas espingardas car regadas com que con

tavamos , no pr imeiro assalto, repelhr o ataque e a affronta.

Fel izmente, esse ominoso per iodo está trancado e de certon ão resurgira em tempo algum !P assada tal effervescencia, que nos t razia incommo

entrando na cadeia por differentes vezes , accusado e

perseguido por cr imes pol iticos , tivera tempo de so

bejo para entrar em alguns segredos daquel la gen

ta lha.

C om verdade, o P .

” João Candido de Carvalho, nãoera muito do agrado das pessoas , que frequentavam a

typographia da R evolução de .Setembr o, pelo seu caracterind iscipl inado e pela sua indole de turbulenta.

R odr igues Sampaio não ia então muito ao escriptor io

da redacção, nem o desejavamos vêr no logar do cos

tume, porque, depois do E spectr o, durante o regimencabral ino, com os espiões que o seguiam e não se en

saiavam para o desfeitiar, receavamos que o assaltasseme insultassem. Bem sab íamos que el le, como era ener

gico e vigoroso com a penna, porque a cobardia nunca

lhe fez r iscar a phrase mais acerada ou acerba, tambemera desembaraçado dos b raços e pesado das mãos , e com

aquel le corpo agigan tado e herculeo, facilmente derrubar ia qualquer esbirro , estendendo—o aos pés , prompto a

esmaga- lo, como a verme nojento ; mas , nas encruzilha

das , nem os gigantes pódem l ivrar-se dos golpes t raiçoehos .

Quando apparecia, tinhamos alegr ia todos . Sampaio,que se apresentava ser io e macambuzio, como dizia 0 po

pulacho, era no trato intimo, como já disse, agradavel erisonho, e não l he faltavam os ditos ch is tosos e as cita

ções adequadas nos apropos itos de uma conversação fa

mi l iar e an imada.

72

cumscreveu a sua labor iosa existencia, dava para um

longo artigo ou até para um interessante l ivro, visto

como tinha que acompanhar todas as minudencias

desse calamitoso e extenso per iodo da his tor ia contem

poranea.

O E spectr o saiu, ou antes foi impresso e distr ibuidoclandestinamente, de 1 6 de dezembro 1 846 a 1 3 de ju

lho 1 847, comprehendendo 63 numeros , no ultimo dosquaes Sampaio pôz as iniciaes do seu nome A . R . S .

M uitos annos depois , por estar exhausta a pr imeiraedição do E spectr o, ser difficil adqui r i-la e haver quemdesejasse possui-la, fez-se uma reimpressão, ou segunda

edição, no mesmo formato, ou fol io pequeno, de 4paginas .

N ão saiãmos do escriptor io da R evolução de S elemór o.

Tenho que refer i r-me a um vulto importante do part ido que este per iodico representou e cujos escr iptos

ardentes de s incero patr iotismo e cuja palavra de assomb rosa e convincente eloquencia, lhe davam força e pres

t igio. E ra um dos proprietar ios da folha— José EstevãoCoelho de M agalhães .

Via-o poucas vezes . José Estevão, o grande t r ibuno,apparecia pouco e em geral de noite e a hora adeantada.

N aturalmente, combinara com o Sampaio escrever alternadamente e ia portanto àredacção quando lhe per

tencia esse serviço. N a epoca ly rica o egreg io orador

par lamentar frequentava com ass iduidade o theatro de

S . Car los , estava bem naquel la roda de elegantes e do

tom, « dil lettanti» exigentes como sempre o foram naquel

las plateas ; apreciava com acerto os cantores , e á saidaainda se demorava com os que lhe faziam a côrte, que

eram numerosos , porque a sua figura ins inuante e sym

pathica , o seu olhar v ivo e penetrante, a sua conversa

ç ão an imada e saty rica, prendia a todos e por isso não

74

o deixavam. Nesses momentos , el le, de certo, não se

recordava de que o esperavam na R evolução de .Se

l embr a.

Que lhes importava a esses cavaqueadores e empra

sadores que o jornal ista tivesse que desempenhar—se dealgum encargo na imprensa ? . M endes Leite, se o

acompanhava ao theatro ly rico , t inha o bom senso de

se despedi r del le quando tornejavam os celebres case

bres do Loreto para chegarem àrua da Emenda, ondeos dois viviam em fraternal camaradagem, e seguia parao seu al bergue.

José Estevão entrava na redacção, ás vezes , depois dauma hora. Esperava-o al i um pobre velho, que el le t inhaàs ordens para escrever o que ditava, pois era sã

bido que a letra del le n inguem entendia . Eram uns ra

biscos inintel ligiveis , que estavam a pedir a intervenção

de um bom e paciente call igrapho, mas ao qual por semduv ida el le não se curvar ia e obedecer ia. E José Estevão zangava

—se quando lho diziam e provavam, apre

sentando- lhe um autographo para que el le o decifrasse.

Vocês não o entendem ? O ra es sa ! — interjectava

el le.

E depois acudia

N em eu .— e r ia- se.

O velho secretario, que muito lhe aturou, aguardava

a chegada do i l lustre jornal ista e professor com ar de

somnolento e abor recido . José Es tevão não lhe ganhava.

Sentava-se á mesa do trabalho na frente do secretar io editava as pr imeiras phrases do começo do « artigo de

fundo» . Bocejava, fechava os olhos e a cabeça pen

dia- l he para a mesa. Passados alguns minutos despertava como se o tivessem acordado com impeto e pergun

tava

— Então o que é que você pôz lá ? .

A o que o velho respondia seccamente

_ O que ditou .

— Só isso ?Nada mais .

E ' pouco. Vamos ao res to .

E o processo de ditar continuava com as mesmas in

termittencias . A o cabo de boas duas horas estava o

artigo prompto e deitava na compos ição do per iodico

pouco mais de tres quartos de co lumna.

M eia hora depois de mandar entregar o original , JoséE s tevão gr itava

— Chamem-me o Coutinho .

A pparecia logo o chefe da compos ição tvpographica

e, sendo interrogado, respondia

— O or iginal foi entregue ha poucos minutos e era

imposs ivel apresenta- lo já em provas . M as não tem de

mora.

N o dia seguinte, quem l ia a R evoluçã o de S elemór o

não podia apreciar as ralações porque passara o pessoaloperar io para a dar ao pub l ico , mas regalava—se com o

artigo energico, fogoso , que tinha saido do cerebro pri

v ilegiado de José Es tevão !José Es tevão tinha gen io irascíve l e difticil de aturar ,

sob retudo quando queria intrometter- se em assumptos

techn icos da typographia, de que não entendia. U ma

ordem sem prudencia, menos bem pensada, contrar iando

Vi l

R odr igues Sampaio nunca foi dado a escrever fóra da

s ua col laboração diar ia para a R evolução de S etembr o .

N o entretanto, houve quem o sol icitasse para col laborarem algumas folhas , sem caracter político ;e por isso deu

o seu contingente para o « Jornal do centro promotor

dos melhoramentos das classes labor iosas» , de que fôrapres idente e um dos mais desvelados para a fundação

desse gremio, que tantos beneficios derramou pelas class as operar ias , ainda não ag remiadas e para a F eder a

çã o, per iodico especial fundado por um grupo de typog raphos da Imprensa Nacional de Lisboa, que teve largaex istencia e era muito bem e mui cordatamente redig ido,

e que se dest inava egualmente a defender os interesses

Veja—se o in ter es sante,extenso e elucidativo tr abalho

apo logetico, lido ul timamen te em sessão so lemne da as sem

bléa geral dos associados e pro tecto res do A lbergue do s Inval ido s do trabalho

, pelo pr imeir o secretar io A n ton io J oaquimde O l iveira, que soube fazer jus tiça aos serviços de Vieira da

S ilva. O A lbergue fo i in iciado no centro promo to r .

79

das clas ses operarias e das idéas associativas, numa

orien tação de louvaveis cordura e sensatez, que não po

diam deixar de agradar ao mes tre dos jornal istas .

Sampaio foi obrigado a deixar a pres idencia do centropromotor por sua bondade e pelo seu caracter. Para

A F eder ação, como no to acima, deveu a sua fundação a

typographos da Imprensa N aciona l de L isboa, associados comoutro s empregados damesma imprensa, en tre o s quaes o con

tador P ereira e S ousa, que até o fim da vida conheceram pelaalcunha do « P ereir inha» . O s tvpographo s e redactores, foram

J ose A ntonio D ias, Jo sé M aur icio Vel lo so , J osé C aetano T avares e A ntonio J oaquim de O l iveir a

,honr a e lus tr e da A r te

typographica em P o r tugal . S ó o ul timo, felizmen te, vive.

C on ta do annos de edede e nunca deixou de pres tar serviçosao pr incipio associativo, com distincçâo e des in ter esse inex

cedíveis . O que escreve estas l inhas vae ho je caminhando

vagar osamen te, achacado , com 74 annos a pesarem—lhe em

demas ia e a presagiar em o fi nal descanso . F oi nesse tempo

companheir o frater na l do esclar ecido O l iveira,ao pr esente

n formado, ou aposen tado , como chefe da r evisão do . D iar iodo G overno» , cargo que desempenhou com pr obidade po r

longos annos . Ro dr igues S ampaio , co nsiderou o mui to e fazia

justiça ao seu valo r mo r a l e intel lectual . A F eder ação duroude 1856 a 1 866, cumpr indo lealmen te o pr ogr amma adºptadoe sendo sempre bem cons iderada pela impr ensa .

F rancisco Vieir a da S ilva, antes de ser empr egado na R e

po r tlçí o do commercio do min is ter io das ob ras publ icas de

recen te creaçío, redacto r da R evolução de S etembr o e sub

dweotor do D iar io do G over no (en tão tinha direcção litter a

r ia), F rancisco Vieira da S ilva per tenceu ao quadr o typogr a

phico da C areta dos T r íbtmaes, per iodica especial de scienciasjur ídicas que muito honrou os seus r edactores e fundado r es :

os afamados jur isper itos D r . A ntonio G il e D r . H o l terman,

Quando Sampaio esteve em uma digressão por algumas das pr incipaes cidades da Europa, in iciou na R ew

l ução de S etembr o uma ser ie de « notas de viagem» ;mas

ou porque se enfadasse com esse genero de escr iptura

ou porque os trabalhos pol iticos , em que t inha de intervir o afastassem desse tr i lho, o certo é que as notas ,

sob a forma de cartas , ficaram interrompidas e deixámospor isso de ter um volume que seria interessante.

Sendo conv idado por um seu amigo, o laureado poetada P r imaver a , A nton io Fel iciano de C as tilho, o egregiointerprete de O vidio e M ol iere, para col laborar nos commentar ios e notas á traducção em verso de O s fas tos de

Pub l io O vidio N asão, e na qual se encontram umas cem

notas de outros tantos escr iptores contemporaneos , R o

drigues Sampaio contribuiu tambem com a nota da F es ta

dos pa rvos , que está no tomo 1, parte l l , pagina 57 3 ,com a ass ignatura por extenso do grande jornal is ta, ereferencia no mesmo tomo, parte 1, pagina L xxw .

Essa nota, em esty lo aphoristico, em que Sampaio dáo cunho da sua indole jovial e mordaz, é, em quanto a

3 3

mim , um bel lo trecho l itterario. N ão res isto à tentaçãode o deixar aqu i em seguida, transcrevendo

—o da obra deCas tilho, devidamente citada acima. E ra de picanteactual idade e ainda hoje não pode desprezar

-se. Leia—se

F E S T A D O S P A R VO S

aO par vo não e uma invenção moderna,

eum elemento da civilisaçâo his tor ica . A re

ligião e o paganismo são concordes nes te

pon to. A s segredas lettr as attes tam que o nu

mero do s parvos e infini to, e que são bem

aventu rados porque d'el les o reino do s ceos .

A histo r ia pr ofana pela sua par te mos tr a que

o parvo e tambem feliz'

nes te mundo .

« Roma pagã celebr ava, como se vê, a[estado: pow er . A quelles povos ignoran tes es tr a

gevem mais do que aproveitavam do s dons de

Ceres quando tor ravam o fructo das cearas . 0

P rºvªs» cr iou os for nos, inventou a deusa

que os pm tegesse, fundou a rel igião e es tabe

leceu o culto . C ada cur io tinha na festa,logar

marcado ;mas não sabendo os parvos de que

fregues ia er am , como nós dir íamos hoje, ou a

a cur ia que per tenciam, como se diz ia então,designou se—lhea a sua vez no fim do dia

. N a R oma chr istâ con tinuou se dj esta dos

par vos, a R eta dos a nos . (A sno , parvo e to losão synoo imos ) . E m Ver ona celebr ou. “ por

muito tempo es ta fes ta, na qual se mos tr avam

as relíquias ,do jumen to em que entrar a mon

tado Jesu C hr is to em J er usalem no dia de

R amo s .

' m au l m awn—l o por olm lp eiu da chrmandade.

uma far ça d es te nome, que se r epresen tava

nas igrejas no de janeir o , po r ser dia da

ci rcumcisâo , cujo objecto era, como em Ve

r ona, honrar o jumento que levara C hr isto a

J erusa lem. C rê o se que es ta fes ta era um r es to

das an tigas saturnaes . C antava- se'

nel la um

hymno r idiculo em que se imitava o zur r er

do jumen to, fazendo—se depo is uma pr ocissão

so lemne e en tregando-se o s devo to s a todo o

genero de ex travagancias . F izeram-se es fo rço s

desde o seculo x i x para se abo l ir esta fes ta, oque não se pôde conseguir senão no fim do

seculo xvr .

« N a cathedral de R ouen celebrava—se aj er rados asno: no dia de N atal . E r a uma procissão

onde cer tos eccles ias tico s represen tavam os

prophetas do antigo testamen to que tinham

predito o nascimento do M ess ias . Balaâo appa

reciamontado'

num jumento, d onde se der ivao nome da ceremonia. Vinha tambem Zachar ias

, S an ta Isabel , S . J oão Baptis ta, S imeão ,a s ih yla E r ithr ea. Virgilio (po r causa da sua

ecloga s iceldr'

es mame) e o r ei N abuchodo

noso r com os tres meninos na fo r nalha.

. A antiguidade era mais avisada e mais s in

cera do que nós , po rque chamava as co isas

pe lo seu propr io nome. O parvo moderno r e

siste adenominação e quer ser considerado e

fi na for ça um sabio . A s festas sob aquella iavocação acabaram, mas o numer o dos parvos

: S e e juiz, o parvo clama con tr a a admin is

tração da jus tiça, e nunca profer iu sentença

que não fosse annul lada ou po r cont rar ia s

lei, ou po r fal ta de solemnidade essencia l noprocesso .

« S e é medico ou cirur gião , o par vo discor re

sobre todos as doenças, censura todo o trata

men to , mas não ha no ticia de enfermo que

l he não mo r r esse nas mãos .

« Se é advogado, o parvo nunca falla senão

na letra e no espi r ito da lei,mas o es cr iptor io

es tá deser to como as ruas de S ião , porque o

parvo não advoga causa que não perca .

«S e e indus tr ial,o par vo expl ica com admi

rave l verbos idade todo s o s segredo s e todos

o s pr ocessos da indus tr ia, mas falham- lhe sem

pr e na pratica todo s o s calculos .

« S e e candidato em algumas eleições, o

parvo tem sempr e a seu favo r o vo to de to

dos o s eleito res, mas consul tada a uma só se

lhe encontr a no fundo um vºto a seu favor ,

que é o d '

e l le .

. S e é jornal ista, o parvo não expõe opiniões ,

pro fere o raculo s , can ta a victo r ia dos seus co r

rel igionar io s em vesper a da sua der ro ta, an

nuncia a mo r te dos seus adver sar ios na ves

pera do seu tr iumpho , pregôa a estabil idadedo min is ter io que apo ia duas ho ras an tes da

sua demissão ; exonera o s min is tros que com»

bate quando o seu poder es tá mais seguro ;

afiiança a paz quando está para romper a

guer r a ; prognos tica uma con liagraçío geral

quando as nações desarmam e l iceneeiam os

seus exercitos.

« O parvo antigo era o que não sab ia nada,nem de que fregues ia era ; o parvo moderno

não e só o que não sabe, eo que pensmque

só el le sabe tudo .

« O parvo antigo es tragava o que fazia, o

parvo moderno ar rebenta se não estraga o

que os outr os fazem melho r do que el le.

. O summo car tão designava aos parvos ah

tigos a sua vez depo is de todos os outro s; o

parvo moderno toma ho je a dian tei ra a todo

o mundo . N ão sabe de que fr eguezia e, não

sabe onde tem a cara, mas a deusa F a ma.:

compadece—se da sua s ituação e fo rnece-o de

pão que nem é queimado nem cru, mas eo

s ido segundo todas as eonven iencias do es to

mago .

J osé D aniel cons truiu o bar r a da car r eira

dos tolos , fee-se ar r ais d'

e l le, quiz transpo rtal-o s par a a ilha A n ticyr a, mas depois daduodecima viagem quiz repousar das suas gio

.

r iosas fadigas para não se ar r iscar (dis se elle)a perder a glor ia aq r ida .

' A estup ida; que veiu entre nós estabe lecero seu imper io , teve tambem o seu H omero .

S e o parvo não tem s ido ha muito ador ado ,

é po rque e levando - se todos a ido los, não ficouum só para ado rador .

. C r emos piamen te que a raça dos parvos

não acabará nunca. S e a an tiga fes ta fo i abo.

l ida, substituiu o a o bodo do o r çamen to , onde

o parvo come sem o r isco de queimar o pão,e sem necessidade de saber de que freguesia

e, Mas se muito come o parvo , mais parvo é

quem lh'

o da, como diz o nosso velho ada

g l O v.

A ntonio“

R odr igues S ampaio

Esta nota vae da pag. 57 3 a pag. 577 e respeita aos

versos do poema da pag. 1 3 3 , que Anton io Fel icianode Casti lho traduzira ass im

M as donde vem chamar —se o mesmo dia

festa dos par vos r elatar -vos devoa causa que é mui prºpr ia, inda que humilde .

Castilho e Sampaio entendiam-se ºptimamente;quan

do o segundo, l ivre dos incidentes da pol itica mil itante,podia entregar

-se com desenfado a conversação intimae instruct iva. Então os do is a esplender

-lhes nas cabeças pr ivilegiadas os clarões des lumbrantes do talento, seentretinham amoravel e alegremente a falar, sem se can

sarem, nem se aborrecerem, dos prodígios de V i rg i l io e

de O vidio, das glor ias e dissabores da Roma ant iga e

da Roma moderna, que t inham dado á h is tor ia univer

sal tantas l ições boas ao par de tantíss imos exemplos

maus ! M estres ambos !

dido pe lo marquez de A vi la . o que tudo occorreu de

agos to daquel le anno a janeiro 1 87 1 .

Em setembro de 1 87 1 Fontes Pereira de M el lo, chefedo part ido regenerador , constitu indo novo min is terio para

subs tituir o marquez de A vila, chamou para a pasta dos

negocios do reino o conse lheiro A nton io Rodrigues S ampaio, que se conservou até que em 1 877 entrou o novo

gabinete da pres idencia do marquez de A vi la, estadis taque pres idia aos gabinetes de trans ição para que des

cansassem e recuperass em forças os min is ter ios dos

partidos da rotação constitucional .N o anno seguinte, 1 878, Fontes e novamente cha

mado a organisar o gab inete e egualmente de novo esse

il lustre es tadista indica para a pas ta dos negocios do

reino a A nton io Rodrigues Sampa io . E ste minister io durou até junho 1 879 , em que subiu ao poder o couse

lheiro A nse lmo Braamcamp e se conservou até março

de 1 88 1 .

Nesse anno, F ontes P ereira de M el lo foi chamado a

organ isar outro min ister io e deu a pasta do reino com

a pres idencia do conselho a A nton io R odr igues Sampaio ,o qual nessa s ituação se conservou de março até no

vemb ro, em que o chefe do part ido regenerador assu

miu a pres idencia.

Sampaio não vo ltou ao min ister io . A doença abateu—o

muito e tinha necess idade de repouso. Foram muitas , e

de diversa natureza, as lutas em que se empenhara e

que sustentou, e os negocios pol iticos e periodísticosminavam- lhe a exis tencia. R econheceu que as forças

lhe iam escasseando , e apesar disso, diz um dos seus

N a sua interessantiss ima biographia de Sampaio ,conta Eduardo Coelho, que foi inolvidavel di rector doD ian

'

o de N otícias e um dos amigos bons e leaes companheiros do mestre dos jornal istas na R evolução de S e

tembr o; conta, repito,.que Joaquim Anton io de Aguiar ,

em 1 866, lhe offerecera e instara para que Sampaio entrasse para o min ister io que aquel le eminente estadistae chefe do partido l iberal estava a organ isar, que el lese recusára ; mas que depois lhe foram dizer que o so

berano, na sua l ivre escolha dos min istros , garantida na

lei fundamental da nação, e por circumstancias que não

v inha a propos ito aver iguar, se mostrára contrar io a ent rada de Sampaio e então es te, numa carta ao conse

lheiro Joaquim Anton io de Aguiar, documento a que

se deu larga publ icidade, disse—lhe, entre outras cousas :

. A patr ia não perde nada e eu lucro . V. exe matava-me

po l iticamente fazendo-mc m in istro . S ua mages tade salvoume fazendo cr êr a todo s que eu era capaz de o ser .»

94

« N a intimidade era sempre jºvial . N a fami lia amºravel ,s imples, infantil . O seu desejo er a vêr tºdºs

'

far tos e ce n ton

tes . N 㺠cºmprehendia a sua fel icidade sem que a cºmple

tass e a dºs que mal dis far çava em se vêr cercadº de senho

r as espir ituosas e elegantes, comº as suas netas adoptivas, e

r apazes de elevadº ta len to,cºmº seu netº Jayme de S eguie r ,

um dºs mais nºtaveis talen tos da mºderna geração l itter ar ias .

Teixei ra de Vasconcel los , na b iographin egualmentejá citada, mencionando º casamento de Sampaio com

Vâmºs a vêr Sampaiº num sal㺠de sºciedade elegan te,ºnde el le concor r ia as vezes cºm bºnhºmis para satisfazer a

fami lia.

A barone ' n de A lmeida, viuva dº commissar io de guer r a

commendador T hºmas de A lmeida, t .

' bar㺠de A lmeida,

mºrava nº seu palaciº s ituado na r ua da Bar r ºca, tºrnejandº par a a travessa dos F ieis de D eus e rua da A tal aia

, ºnde

ha annºs a camara municipal de L isboa, tendº—s e mudado

para ºutra casa a prºpr ietar ia, º tºmºu de aluguer para es

tabelecer nel le uma escºla parochial de ins t rucç㺠pr imaria,que ainda lá existe agºra de con ta dº gºver nº .

E ssa dama estava muitº bem r elacionada e nas suas salasviam—se representantes das classes mais elevadas e i l lus tradas , incluindº pºetas e jºr nalistas .

D avam se nes se palaciº sar aus quinzenaes ºu semanaes a

que me r efer i já nºutrº lºgar , a prºpºsito de ºutr as r eun iõesfamil iares . A alguns del les cºnco r r ia R ºdr igues S ampaiº

cºm uma das s enhºr as da sua famil ia, mui in tima da bar º

neza.

U ma noite vi o grande mestre encºstadº a umbrei ra da

pºr ta de uma das sa las, que cºmmun icava cºm a do jogº,

ºnde era cºstume vêr lá alguns cavalheirºs e damas , que fugiam daquel la dest inada a dansa e prefer iam a diver s㺠dº

jºgº car teadº, em que pas savam hºras esquecidas , nas per i

9 5

D . Maria de Barbosa Sºares de Britº Sá. de quem en

viuvou. diz que, quandº el la, morreu, foi « chºrada por

pecias de cer to agr adaveis cºm bo ns parceirºs . O s jogºsemm pacatnos : º cassinº e o vol tar ete . A s damas apar ecim

das entretinham—se cºm este ul timo .

Causava alegr ia vê—las bem dispo stas al i, attentas às car tase jubilo sas pelas r emissas, que prº lºngar am º entreten i

men tº. S ampaio º lhava at tento para uma das mesas, ºnde

estava a espºsa dº pºeta R ºdr igues C ºrdeirº, irmã dº que

fui general A bºim, e que falleceu pºr desastre na sua bel lacasa das Cô r tes (Leiria);uma sºb r inha dº pºeta C as tilhº, ea par en te de S ampaiº.

Quandº cer ta nºite eu atr avessava para a sal a dº jºgº,passandº aº seu ladº, º mes tr e so r r iu—se e disse—me

- A dmirl —se de me vêr aqui ? Já deu uma hºra e estou

com von tade de me recºl her . E sper o que aquel la senhºr ader ro te as suas parceiras na "mm para se levantar dali .

D eseja que dê algum r ecadº dquel las senhºr as t㺠em

penhadas nº vo ltar ete r

— N ão, ºbr igadº. P ar a as damas necessar ia uma pacien

cia Cá estºu es ºr dens .

D izia istº cºm um dºs seus mais attrahentes sºr r isºs . E'

este um bºm traço car acter is tico da sua immensa bondade e

do seu amºr 6 família

O palaciº da baronesa de A lmeida, em dias de saraus , r epito , era º pºn tº de reun ião de uma par te da me lhºr sºciedade l isbºnense em que ent ravam as figur as mais em eviden '

eia na pºlitica, no al to funccional ismº e nas lettr es . Pas sar am-se ali bºas horas, sem abor r ecimentº, pºrque a dºna da

m e, já fall ecida, recebia sem vaidade ar is tocratica e cºm

pr imºres de urbanidade inexcediveis . P ºssº dize—lo, sincera e

afoutamente, porque cºm essa nºbre dama co nvivi desde os

9 ºn rº a nos, e ella distinguia—me com tratamentº comº se

eu fora seu afi lhado dilecto .

96

seu marido com o sentimento de entranhado affectº que

Sampaio teve sempre pela sua famíla.»

O mesmº i l lus tre jornal is ta escreve que ºuvi ra dabºca do ministro R odrigo da Fonseca que, diga—se cºm

franqueza e em phrase pºpular , n㺠era hºmem de ar

cas bl indadas , nem tinha papas na l ingua. aº fal lar dºgrande jornalista, aRi rmava convicto

« O Sampaiº é um dos hºmens de mais juizo praticºque eu conheçº. Cuidei que n㺠ºs havia em Portugal;mas confesso que me enganei ; aº menºs hei de mor rercom essa consolação .»

Em ºutra passagem dº mesmº l ivrinhº, que muitºapreciº, º i l lustre escriptor, que tambem fºi jºrnal istade envergadura para se medi r cºm muitos que depoisappareceram na imprensa e a alguns dos quaes el le deua m㺠e apoiºu com a sua elegante penna, faz Teixei rade Vasconcel los sºbresair grandes qual idades affectivas

e de dignidade de Sampaiº e cºnta s ingelamente que,

em certa ºccasião, lhe fºra offerecido um altº empregoe que el le respºndeu

— Se n㺠fºsse jornal is ta talvez acceitasse, porém nãº

posso sacrificar a independencia da minha consciencia,pelas minhas convicções ; e, alem dissº, t inha que con

sultar amigºs e da ºpin i㺠del les dependerá a minharesºluç㺠.D ias depºis a respos ta era negativa.

D e outra vez, offereceram-lhe para crear um jornal,

Vid. O S ampaio da“R evolução de S etembr o, pag. 61 .

ª O bra citada, pag. 10 5.

ram a sua gargalhada sºnºra haviam de doer -se. N inguem

gosta de dar —se em pabulo ahilar idade da multidãº. M as is sº

a l º impedia que a lealdade de S ampaiº fºsse recºnhecida.

« A par des ta qualidade, que marca ºs verdadeirºs tempe

r amentºs, º mºr tº glºr iºsº pºssuia ainda uma lucidez apta

par a comprehender ºs mais cºmplicadºs e enredados prohlemas , dºns esplendidºs de ass imi laçãº, pºntºs de vista largºsem assumptºs de admin is traçãº, um s incerº e nºbr e amor a

tºdas as tendencias liber aes e º desejo elevadº de ser util

8 0 seu pais . .

O cºns ideradº medicº e prºfessºr Manuel FerreiraR ibeirº, num artigo no pr imeirº Boletim da Assºciaçãodºs J ºmalistas fundada em 1 880 , como já disse, e no

q ual trataria de Rºdr igues Sampaiº, nºta ºs serviçºs quee l le fizera em prºl da l iberdade pºl ítica e da imprensa,

e diz que fºi « grande lutadºr da palavra, e valente ºr.

ganisadºr dº pr incipiº associativº e da instrucç㺠do

povº» , devendº ser apreciada a sua indiv idual idade« cºmº jornal ista, comº cidadão e cºmº estadista» .

D eseja-se um traçº mui caracter isticº, mui ins inuante,muitº exemplar , deste cidad㺠e benemer ito jºrnal ista ;um traçº do seu affectº, um acto da sua bondade, um

rasgº da sua gratid㺠para um amigº que º obsequiou,que escrevera del le cºmº nenhum ºutro º fizera ?Vejamº- lo. Narro—o cºm a maiºr s impl icidade, embora

tenha que reproduzi-lo em ºutro capitulº adeante, quandºtratar de Teixeira de Vasconcel lºs .

Soubera Sampaiº que Teixei ra de Vasconcel los regres

sava a L isbºa cºm a intenç㺠de demorar- se ºu de es

tabelecer -se de todº em a nºssa capital ; e soubera que

v inha a bºrdo de um paquete ºnde uma cºmpanhia

franceza lhe concedera bisar ramente um lºgar a bºrdo,sem que lhe ex igisse º pagamentº. E ainda mais sºu

bera que as circumstancias desse passageirº, e amigo,

n㺠eram vantajºsas .

A pr imei ra pessºa que Teixei ra de Vascºncel los viu

a bºrdº, para º acompanhar nº desembarque, fºi a figuraveneranda de A ntºn iº Rºdr igues Sampaiº.

N ão se l imitºu a issº. Teixeira de Vascºncel lºs agra

Abrº um parenthes is .

Pensei em escrever este l ivrº de memºr ias contem

poraneas e não des isti . T em-me faltado o tempo e a pa

ciencia vae-se exhaur indo cºmº se fosse l iquido susce

ptivel de evaporar—se, pºrque pouco a pouco recºnheçº

que a percentagem, que fºrtalece e remoça, diminue.

C om que tr isteza o ponhº aqui !Is tº é de cansaçº de mais de melº seculº de trabalhº,

da diminuiç㺠da vis ta, dº enfraquecimentº dº cºrpº

pelo desfi lar dos anuos bem cheiºs de amarguras , e até

pºis para que ha de ºccultar-se º que é sabidO P — da

expans㺠da maiºr e mais importante das v ísceras que,pela viºlencia das suas pulsações , nºs annuncia que

apressadamente vae em caminhº de extinguir-se ! A de

press㺠dº cºraç㺠cºr respºnde à do cerebrº, se se con

juga a acç㺠phys iºlogica com a mºral .Tudo isto contribue, e cºntribuirá por sem duvida,

para º retrah imentº de funcções que foram seguidas e

effectivas , na pujança duma actividade de que me orgulhava e de que dava exemplº aºs mais novos ; mas

pensº, aº mesmo tempo, que não se perdem habitosinveterados e que o amor ao traba lho da uma feb re,viam . que n㺠ha medicina que combata e debelle.

N as minhas memor ias , breves nºtas sem pretensão,»que escrevo para all—M ar saudades dº passado e que dei

m ei cºmº para registar factºs que não ser㺠cºnhecidosºu que o decorrer do tempo se encarregºu de apagar ºu

M u i r, comº tem succedido a muitºs episodios ou tre

( bºs biographieºs e his toricºs , que n㺠dev iam esquecer nunca, tive que referir—me, entre out rºs nomes de

grande luz e fama, ao de Antonio Rodr igues Sampaiº,pºr var ias pm agens que sei da sua biographie particu lar e que jamais gºsaram do beneficiº da publ icidade.sen㺠a que possº dar

—lhe agºra .

D esde que º vi, por pr imei ra vez, na R evol ução de

S olomon em 1 849 , tive sempre profunda veneraç ão por

este jºrnalista, mes tre dos jºrnal istas ; e jamais deixede º venerar na imprensa, pºis que na minha alma en

thuªs las tªa e ardente não o quiz em tempº algum apre

d ªr nº campº das paixões pº liticas , ºnde nada tinhaque fazer nem especular , por estar fóra dº meu caractere dº meu mºdo de vida humi lde e independente.

Venerava Sampa iº pelo seu talentº e pelo seu vigor,ass ºmbmw nas contrºversias per iodís ticas , que incºntestavelmente lhe davam o pr imeiro plano na imprensa pºrtugueza e importava me pouco com as circumstancias

part idarias. ºu com as l igações po l íticas , em que se eu

contram envolvido e que podiam servi r de pas to a loquacidade de sºalheiros villãos e invejosos . Respeitei—º sem

pre.

1 0 7

esgrimiam. AWe a elegancia da escripta e o vio

gor da argumentaç ão, que demonstravam pen na expeo

«mana da nas lidas da imprensa e nas argucias do po

lemisn , não lhes deixavam adivinhar que o adversar ioera o modesm pharmaceutico do Ch iado , que pouco

Po is sai ba—se que Si lva Branco teve na R a mad a de

M an dr a artigos que, na forma e na energ ia, se con

fundiam com os do mestre. N aquel la época tinha el lecomo collaboradores , na mesma redacção pol itica, Sern dello Junior e Noguei ra Soares , do is presados amigosde Sampaio. Só dois ou tres annos depois da mo rte deSilva Branco e tendo Rodrigues Sampaio regressado deuma viagem longa pela Europa, é que entraram na R eWo de S eten ór o o i llust re médico mil ita r Cunha

queimador es , de que não foi po ssive l salva—la apesar do s cs

[oeços empregados . Que desas tr e aquel le ! e que dô r para os

que adm !

Jaim evba mal cabida es ta no ta, mas não 6. D . M ar ia daWandava na roda e na in tim idade das senho r as da fa

milia de R odr igues S empaio e com el las figur ava em di

ver sos reun iões da sociedade l isbonense.

N a casa de R odr igues C o rdeiro , em L isboa, s ituada na rua

da C r uz, não distante do palacio das C amaras legis lativas . emM a to, eE eem vam—se alguns saraus agradaveis, cuia con

cerra da er a limitada, porem mui selecto, e ahi entr avam

m e poetas , vendo se em pr imeiro logar , pe lo seu

grande M ente e pela sua al ta pos ição , o i l lus tre aucto r do'D . J ay n e. Thomás R ibei ro, que o egregio e venerando A n

tonio F eliciano de C astilho tinha na mais elevada cons ide

1 0 8

Bel lem, jornal ista e folhet in ista cr it ico de grandes re.

cursos , que foi cirurgião em chefe do exercito ; e Piº heiro Chagas, cuja vida br i lhantíss ima é conhecida e

apreciada, que foram hon rados com a amizade e a con

fiança do ins igne jor nal ista. E ainda depois, pela ami

zade que o l igava a Cunha Bel lem, entrou nessa redac

cão O apreciado official de artilher ia e profes sor JoãoCar los R odrigues da Costa (hoje general de br igada),que era escriptor pr imoroso e de val ia “

Si lva Branco morava numa casa, quas i tez do chão,

na rua da Horta Secca, contígua à ant iga chapelariados l rmaos G res iél le, que nao existem já, nem el lesnem o estabelecimento. A hi reun iam var ios amigos —e

cavaqueadores da pharmacie do Chiado, em l imitadonumero e taes eram

'

, entre outros , cujos nomes não me

A ntes de cessar a pub l icação da R evolução de S etembr oo s redacto r es, que en tão a man tinham com sacr iiicio, deram

um numero onde vi no ra dos r edacto res e co lleborado res

desde a fundação . N ão posso dizer agor a se está exacta.

N essa nota figuram o s nomes de do is escr iptores , que fo

r am astr o s na l itteratura do seu tempo , como folhetin is tas

A n tonio P edro L opes de M endonça, que, afo rça de es tudo ,

en louqueceu e fo i acabar os seus di as tão cheios de glor ianum hospital de al ienados ; e J ul io C es ar M achado, mancebotão talen to so e tão sympa thico , que, po r intimas e vio len tascommoções moraes, a que é impo ssivel acudir e pô r bar reirassalvado ras, egualmep te en louqueceu e matou—se ! E s te mor a

va em casa pr opr ia na ant iga travessa do M or eira, to rneiando

para a r ua do S ali tr e, que desemboca hoje na A venida da L i

berdade .

Que l astimaveis perdas !

[ [ O

O que jog va Sampaio ? Simples voltarete. D emora

va-se pouco, salvo se as irnpertinencias do jogo, as inevitaveis remisses . o obr igavam a sai r mais tarde.

M as aquel la distracção nao durou muito. Si lva Brancomudou de es tado , porém não gosou, como se esperava

e desejava, infel izmente, a nova s ituação que creára. Adoença minava—o . Quiz combatel—a e sciencia não lhe

pode valer . E ra imposs ive l pôr no são o que se ia di lacerando.

Como os bons não duram muito, Si lva Branco morreuem 1 870 com 36 annos da edade apenas ! Que dôr pro

duziu em Sampa io es ta morte !

Parecia que lhe tinha morr ido um fi lho quer ido ! A i !como el le era extremamente bondoso no trato intimo !A affeição, que e l le ded icou a Si lva Branco, verda

deiramente paternal , egualava à que dedicou a outro

homem, tambem humi lde, que protegeu dando-lhe um

logar dis tincto na R evolução de S etemóvo para redig i rem uma secção, na qual prestou bons serviços que não

podem ser esquecidos e que não o foram nunca em o

an imo generoso e recto de Sampaio. E ra Francisco V iei rada Si lva, que sustentou com vigor a cruzada a favor do

desenvo lvimento das associações ºperadas e o movimentohuman itario na afi lictiva cr ise da febre amarel la, em queera necessar io, hora a hora, dar coragem aos que se aco

bardavam ante a terr ivel epidemia !

no verde e pe de ga l lo, onde me premiavam en sinando —me a

jogar a bisca para assim passarem as hor as do ser ão do ia

verno ! N a minha rudeza jamais aprendi outro jogo .

U m dia mandei Sampaio um bºm exemplar de Virgil io, da preciºsa cºl lecção em que trabalharam os celebra irmãºs N isard, t㺠afamada e tão apreciada ; e, pas

sados annºs , pºr occas i㺠dº leil㺠dos seus l ivros em

1 88 3 , encontrei esse exemplar muito bem conservado,

prova de que apreciára o brinde.

Nesse lei l㺠adquir i, ent re outros l ivros , que t inhampertencido aº i l lus tre jornal is ta e estadista, além de umacollecç⺠de obras impressas na india portugueza, uma collecç㺠de bºns « guias » il lus trados , que Sampaio com

pràra durante a viagem, annos antes , com os quaes decertº percorrera a parte mais interessante e digna de

estudo da E urºpa, l itteraria, po l it ica e artis ticamentecºns iderada, Hespanha, França, ing laterra, ital ia e A l lemanha, com tenção de vo l tar lá outra vez e v is itar outras regiões , egualmente apreciaveis para o viajante cultoe estudiºsº.Este le i lão effectuou-se nos começos de junho, 1 88 3 .

A hi comprei bºa porç 㺠de l ivros , entre ºs quaes meveio

'

H i stoi r e des j our naux , ór'

og mp/zíe des j our na

" 2

que Sampaiº adqu irira com ºutras obras em Par is ,e com º que provºu que naº se esquecia da profissao.

E' uma attrahente ºbra de Edmundº T exier , o giº.

t ioso jºrnal ista que, a meio dº seculº XIX, tantas re

vistas , fºlhetins , cartas e cr iticas , deixºu nos principaes

periodicºs par is ienses , cºmo º T emps , o S íêde, o G lade

e outrºs , em occasiões de rijºs combates , em que entravam G irardin, Paul Musset, A rmand Bertin, Lacy, M iche l Cheval ier, etc.

O s perfis de T exier sãº, nº genero , tudo o que ex is tede mais graciºsº e apimentadº na imprensa. Alguns sãocºmo uns carteis de desafiº que dariam ºutrosduelos a valer , se não se tornass e em l inha decaracter r isºnhº e galhofeiro do escriptºr .

Sampaio que r ia cºnhecer alguns desses au

cºmbatentes dº periodismo francez do seu

duzentºs perfis de T exier . Fºi este jºrnal istaintroduccão do l ivro citado, disse

—que a imprensa era a obra cºlºssal dos tem

demos ;—

que era necessario que nel la houvesse trabalhextenuados nas suas lutas , an imos promptºs , decillustradºs , laboriosos ;

—que tivesse na brecha so ldados sem

mens que despresassem º seu descansº e dessemgue cºm a alma nesse trabalhº infi ndo, mythomente figuradº nº tonnel das D anaides ;

que º jºrnal era º mºvimentº perpetuobaldadamente ha quatrº mil annos pelos mathem

—que º jºrnal , na sua marcha vertig inosa, só d

tes controvers ias que por tantos annos e tão repetidasvezes sustentou, triumphante de passos difticeis . Haviaali numerosos l ivros de h istor ia e litteratura class ica,

muitos opusculos po l iticos , boas edições em latim, ex

cel lentes col leccões de jornaes , uma completa, ao que

me pareceu, da R evolução de S etembr o, outra do D ia

r io do G over no, etc. Todos os l ivros encadernados . E ra

a demonstração cabal de que o dono daquel la bibl iothecaera um profi ss ional temível , porque não lhe faltavam boasmun ições para o combate.

D a sua viagem pelo estrangei ro trouxera novo mate .

r ial e nel le podia aver iguar-se, que não lhe eram indiffe

rentes os assumptos relat ivos a imp rensa e que presava

os que exerciam esse sacerdocio, que el le soubera honrar , como poucos .

XIV

Em em entre a famil ia e os amigos . que mais amiodadamenue frequentavam o seu lar, repito, n inguem podiaser mais "uno e amavel que R odrigues Sampaio, e todosos parentes o cons ideravam como um antigo patriarcha,amado e respeitado. P or exemplo, o sobrinho, que tinhao seu nome e que el le mantin ha em casa, dando-lhe

cama e mesa, julg vam geralmente que era seu fi lho ,

tal era o aftecto que lhe dedimva e a del icadeza com

que o tratava. A ss im como todos os intimos . C onheci e

ainda conheco aqui, a lguns parentes ou aparentados comRodr igues Sampaio e não ouvi nunca, em seu desabono,uma palavra sequer desagradavel em vida, nem que pudesse deslustrar a sua memor ia honrada. P ulsavao lhe no

peito o coração de um democrata, sem exageros , nem

va idades.N a vida pub lica teve in imigos , invejosos , adversa rios

em grande numero. Este numero, se era avu ltado, subiaaltura da sua enorme estatura no per iodismo, nas suaslutas na imprensa, com os jornal istas mais em evidenciano seu tempo, e mais i l lustres , e aos quaes el le derro

1 1 6

tava com o vigor dos seus escriptos nada commons e

com a bonhomia que se lhe desenhava no rosto abertoe franco e que não se perturbav'

a.

Quanto mais viva e acerba era a contenda, mais placido o seu trato. R ia—se muitas vezes dos adversar ios e

no seu coração magnan imo perdoava—lhes as injurias ,que podiam causar-lhe nauseas , mas que não o enodoa

vam.

Vendo aggravap se a doença, que est ragos internoscompl icavam e tornavam impotentes os es forços e a

sciencia dos medicos , Sampaio teve que recolher—se numacasa em Cintra, onde expi rou no dia 1 3 de setembro de1 882, rodeado de pessoas de fami l ia, que el le adorava eque o estremeciam.

Causou do lorosa impressão a sua morte. Cai ra aquel lerobleaçoutado por medonhas tormentas na imprensa, semque jamais a sua penna se vergasse ou o seu an imo es .

morecesse. O jornal ismo portuguez perdera um dos seus

mais vigorosos e mais agi gantados membros e sem du

vida o pr imeiro do seu tempo, que é difficil egualar e

com o qual poucos podiam medirose. T al era a sua es

tatura.

P rincipe lhe chamavam. E ra, com effeito, peincipe na

imprensa diaria pol itica. Vês e, destaca—se como num res

plendor aureo, a sua figura, e ha de ver-se nas paginas

mais fulgurantes da R evol ução de S elemór o e nas epo

cas mais agitadas da histor ia contemporanea.

1 1 8

mato de duas pag inas — Este artigo foi depo is reprodu

zido em folhetins do D ia r io de N otícias , por occas ião do

centenar io do egregio jornal ista.

Boletim da A ssociação dos j or na l is tas e esenptor es

por tug uezes . 1 .

ªser ie, n .

º1 de junho de 1 884 . Lisboa,

1 884-8 .

º-

gr .

Este numero, mandado imprimir em commemoração

do 4 .

ºann iversar io da fundação da A ssociação dos J or

nalistas , que se realisara nas festas do tricentenario de

Camões por in iciativa do mal logrado Eduardo Coelho,contém a acta da fundação e diversos art igos commemorativos e em parte dedicados ao pres idente honorarioe decano dos jornal istas A nton io R odr igues Sampaio ,

com o seu retrato, boa gravura do laureado gravadorPastor , ha muitos annos res idente em L isboa e que temdado pr imores de col laboração artistica a numerosas pu

b licações portuguezas e tem s ido editor de outras .

D icciona r io ózl óiólzbg r ap/zico por tug uez por lnnocen

cio F rancisco da S ilva, tomo pag. 26 1 ; tomo Vl l l ,

pag. 30 0 a 30 1 .

[Ilus tr açã o P or t ug ueza , l l vo l. n .

ºde 27 de agosto

de 1 906.— A rtigo A rzedoctas de A ulouio R odr igues .Sam

pa io , reproduzindo artigos com caricaturas de RaphaelBordal lo P inhei ro e o retrato do fal lecido jornal is ta. P or

Sergio de Cas tro. P ag . 1 1 4 a 1 1 9 .

A lém disso, traz entre o texto do artigo os retratos

dos antigos min istros , conselheiros Fontes Pereira de

M el lo, H intze R ibei ro, J osé Luciano de Cas tro, Condede Casal R ibei ro, J oaquim Pedro de O l iveira M artins ,

A nton io José Ennes , M anoel P inheiro Chagas , Car los

1 1 9

Lobo de Avila, Emygdio Jul io Navarro, Marianna C yr il lo de Carvalho, do poeta João de D eus e do jornal istaU rbano de Castro, copias de photograph ias .

E ste artigo é mui gracioso e as anedoctas podem ser

reproduzidas , por verídicas , em qualquer biºgrªphia detorno. que venha a escrever—se de tão egregio jornalista.

G ouw , n .

'

99 3 , de 30 de julho, 1 906. Vol . XX IX.

P ag. 162 a 1 64 , tem artigos acompanhados de um fac

s imile da ass ignatura do eminen te jornal ista e de var iasvistas de E sposende, commissão promotora da homena.

gem no centenar io de Sampaio, etc. ; e correspondente

artigo de Ferreira de Vasconcel los (copiado do l ivr inhoO S ampaio da R evolução , acima citado) ; Caetano A lberto, Manue l Mar ia Rodrigues , A lvaro P inheiro, J ºãode Freitas (musica), e descripção do lançamento da primeira pedra do monumento, segundo o desenho do pro.

fessor Manuel José G onçalves V ianna, sendo o busto dom uiptor José Morei ra Rato.

amªn te, n .

º de 1 4 de outubro, 1 906. P ag.

2 1 8. C om o bus to de Sampaio, conforme a esculptura

de José M orei ra Rato e o cor respondente artigo .

m e a m or ia pda impr ensa do P or to . 1 882 .

Vem nesta publ icação um artigo do fal lecido jornal ista, redactor do Commer cio do P or to, Manuel Mar iaRodr igues úcerca da casa em que nascera Sampaio em

S. Bartholomeu do Mar , e que está hoje em ruinas .

Este art igo foi reproduzidoem o numero do O x idan te,

que commemorou o centenario do i l lustre jornal is ta e

1 20

D ahl copio es ta nota

.S e um dia, leitor , o accesso dos teus passos ou a venera

ção po r aquel lo homem no tavel te levar em patr io tica roma

r ia áquell es sitios , aperceber“ mourejando no amanha das

ter r as da sua pequena her dade uma anciã cober ta com o lutoda viuvez e em cujo per fi l encontrarás r eminiscencias vivasda phys ion omia aberta e franca de R odr igues S ampaio . E ssa

mulher é irmã do minis tr o . L á mais adiante ver ás um r apaz

segurando a rebiçn do arado e uma rapar iga puxando a saga

do s bois . São os sobr inhos do minis tr o; os fi lhos de sua irmã .»

paio em E goozende. Numero unico commemorativo do

seu centenario, 25-7- 1 806 — 25—7-9 0 6. Famal icão, Typographia Minerva, 1 906 , 4 .

º maior de 25 paginas e mais1 innumerada com a nota dos subscriptores para o mo

numento do ins igne jornal ista a erig i r em Espozende,com o retrato de Sampaio e outras es tampas . phototy

pias . E são : casa onde nasceu Sampaio em S. Bartholomen do M ar , vista geral de S . Bartholomeu do M ar ,projecto do monumento a Sampaio, largo onde será erigido o monumento. esco la pr imar ia Rodr igues Sampaio ,vista geral de Espozende. hymno centenial (mus ica) ebi lhete posta l do centenar io.

O s dizeres do rosto fazem differença dos que puzemmna capa e já ficam indicados acima. S ão ass im1 8oó 90 6 — A memor ia de A nton io R odr ig ues S am.

paro, ins igne j or nal is ta e pr íncipe dos j or nal is tas pora:

g uezes . Numero un ico, etc.

C o l laboraram nesta publ icação commemorativa : Ro

Porei termo a estas notas relativas a Anton io Rodrigues Sampaio transcrevendo, como documento que ficaránestas s ingelas pag inas a seguinte acta da inauguração

da pr imei ra A ssociação dos Jornal istas em 1 880 , pres id ida por el le

Acta da sessão aolomoo da fundação da Assoclaoio

dos Jornalistas eBscrlptoros Portuguezes

P elas 1 0 ho ras da manhã do dia 1 0 de julho de 1 880 , em

que P o r tugal celebr a e commemo ra o terceir o cen tenar io da

mo r te de L uiz de C amões , r euniram- se na sala da S ociedadede G eographie o s jor nal is tas e escr ipto r es po r tuguezes, con

vocados pela commissão executiva que a impr ensa de L isboa,

na assemb lea dos s eus r epresen tan tes, encar r egar a de o rga

n isar 0 pr ogr amma das commemo r ações e fes tas do mesmo

cen tenar io , a fi m de em sessão pub l ica e so lemne, fundar ema A ssociação dos J or nal istas e E scr iptor es P or tug uezes , como

facto in icial da sua união e do seu abso luto acco r do an te o

ideal dos pr ogressos da patr ia. A chavam—se tambem pr esen

tes a es te acto alguns escr ipto r es e jo r nal is tas es trangeir os ,que de seus paizes tinham vindo

,em gr ata demons t ração de

con fratern idade in ternacional e l itter ar io, dar maio r lust r e ás

festas nacionaea por tuguezaa. T omou a pres idencia o sr . A n

tonio R odr igues S a'

mpaio, r edacto r pr incipal da“R evolução

de S erg inh o, o jornal mais antigo do paiz e el le mesmo o

decano da imprensa.

D eclarou aber ta a sessão, e a pl icou o seu fim especial .Mandou ler pelo secretar io J . C . R odr igues C osta as bases

em que es ta associação é fundada e que fo ram approvadns

pela impr ensa, e ordenou ao secr etar io E duardo C oelho a

leitura d'

es ta acta, que, po r abreviação de tempo se achava

ji lavrada, na confo rmidade do programma, e disse: — « E srá

M aria a A ssociação dos J or nal istas e E scr iptor es por tugue

çes u; encer rando a sessão para que pudessem os associados

ir saudar a es tatua de L uiz de C amões , como o symbo lo da

nacionalidade P or tugueza, no grande co r tejo cívico tr iumphal

pela imprensa organisado .

L isboa sala da S ociedade de G eographie,'

o de Junho

de 1 880 .

O P r esiden te da A ssembléa

A ntonio R odr ig ues S ampaio

0 1 .

º S ecretar io O S ecretar io

J . C . R odr ig ues da C osta E duar do C oelho

depo is pres idente da sua prov incia, hoje Estado, e deputadoàrespectiva assembleia estadoal , além de lhe darem

certas commissões de serviço publ ico e tão relevante e

tão des interessadamente foi nesse exercicio que o ex-im

perador D . Pedro l l o galardoou então concedendo-lhe ot itulo de barão de M arajó.Posto que dedicado a esse chefe do Estado, que o

hon rava com a sua amisade part icular , quando o Bras i lentrou em novo regimen e estabeleceu a nova ordem de

cousas , G ama A breu respeitou a vontade dos seus com

patrícios e não perdeu a sympathia e a cons ideraçãodel les , porque o v imos entrar, com votação l isongeira,

nos trabalhos legis lativos da sua provincia e dedicar- lheso seu valor intel lectual com s incera e patr iotica adhesão .

N ão se esquecia nunca do cumpr imento dos seus deveres cívicos .

N ão deve estranhar-se o que refer i . M uitos cidadãos dos mais i l lustres do Bras i l , depo is dos successos

pol iticos que afastaram do supremo poder D . Pedro l l esubstituí ram o antigo reg imen pelo que constitui ram os

florescentes Estados—Un idos da America do S ul, entenderam sensatamente que dev iam continuar a prestar osseus bons serviços à patr ia commum, não a pr ivando doconcurso efhcaz e val ioso de que al iás ainda tinha ne

cess idade, que de outro modo lhe faltaria e tornar iammais crit ica a s ituação daquel le r ico e uberr imo empor ioe ahi far ia adeantar os tão apregoados e tão necessa

r ios beneficios da civilisação.

O barão de M arajó lembrava- se, por sem duvida, doque tinha occorrido em outra prov incia, a de S. Paulo,onde foram consultados var ios homens políticos dos maiscons iderados e infl uentes , e dos mais affectos ao antigoregimen , acerca dos seus sentimentos com relação aos

mais caros interesses da patr ia, e que responderam egua

lando o seu proceder ao que, no seu acr isolado patr iotismo, seguira G ama Abreu não se negando a cont inuara bem servi r o Bras il .

Tenho presente uma resposta, muito digna, dada pelobarão de J aguára ao que lhe haviam perguntado numa

circular e ahi leio as seguintes l inhas , que devem ser

reg istadas . T em a data de 1 889

. N a gr ave con junctur a em que se acha o

paiz, o patr io tismo r eclama o concur so de todos

para que se mantenha a ordem, a tranquil l idade

pub l ica e o r espeito a todo s os direitos . N ão vae

n isso apostas ia de pr incípio s .

. H onro em alto gr au ao Imperado r , tão no

tavel por suas vir tudes cívicas e pr ivadas, ho jemais que nunca, po rque el le tem um novo titu loacons ider ação pub l ica— o info r tunio .

.Qualquer , po rém, que seja a fé monarchica

e a sympathia que inspir e a causa do Imper a

do r , não ha a desconhecer que é imposs ível arestauração da monar ch ia.

« O par tido que nas actuaes circumstancias se

o rgan isas se com esse in tuito ser ia um par tido de

vis ionar io s ou sebas tian is tas . M as, com a queda

da monar chia, ter ia desapparecido o par tido con

servado r ? N ão . P odemo s ser tão bon s con ser va

do r es na r epub l ica como fomo s na monar chia.

. E n tendo que o par tido conser vado r ainda tem

uma gr ande missão a cumpr ir , qual a de ser o

e lemen to ponder ado r no meio dos embates das

doutr inas, do s choques das paixões e in ter esses,

que po r ven tur a se der em .

« N es ta attitude, que aconselho aos amigos de

todo s o s tempo s , não vae uma adhesão incondi

cional ao r egimen un ico existente e nem uma

capitulação dos pr incipios que sempr e pr o fes sá

mos , e sim o r econhecimento de um dever civi

co,ao qual nos fur tar íamos, se nos condemnas

A inda que afastado da Amer ica, po is que tinha predilecção em viajar pela Europa, pr incipalmente em Françae permanecer em L isboa mezes seguidos entre os seus

velhos amigos portuguezes , alguns dos quaes seriam seus

contemporaneos em Co imbra, G ama Abreu, nas épocasproprias lá se ia num paquete a tomar no Pará o seu

logar nas assembléas legis lat ivas ou onde o chamava o

desempenho de funcções publ icas na sua patr ia.

Bom e generoso não lhe faltam na sua biographia da

dos que confi rmam a aura de que sempre gosou por mul

tiplicados actos de altruísmo praticados em condições quelhe abonavam o caracter .

Quando passou a lei do Bras i l a abo l ição da escrava

tura, el le exu ltou porque o seu an imo bondoso estava

desde muito propenso a que se restituisse a l iberdadeao escravo e que se dêsse alfor r ia a todos os que trabalhavam acorrentados á gleba por meios que a civil isaçãot inha condemnado e que o Bras i l , no seu progress ivodesenvo lvimento, não podia consent i r nem conservar .

Conta- se, e o vejo citado e confi rmado num l ivropub l icado no P ará, em 1 90 2 ou 1 90 3 , que, estando

1 3 3

G ama Abreu na pres idencia da provincia, um abastadom eme, protestando qualquer circumstancia em bene&cio de seus interesses , desejava adiar a alforria dos seusescravos e el le, desassornbradamente, indefer iu a pretend o. dizendo :

— C urnpra—ae a lei, sem demora !

E a lei foi cumpr ida; e os escravos receberam a carta

L í este facto, pouco mais ou menos, num explendido

livro que me deu o barão de Marajó.U m dia honrou-me com a sua vis ita. Trazia um bel lo

volume nas mãos . A o entrar, disse—me :— Sabe para que venho cá ?

— Para me dar o prazer da sua vis ita e honrar esta

sua casa,— acudi logo.

— Para esse prazer. sem duvida ; porém, traz-me aquia incumbencia de offertar—lhe, pessoa lmente, em nome

do senador paraense Anton io José de Lemos , provedorda Santa Casa da Misericordia do P ara, este exemplarda noticia h istorica da mesma Santa Casa, escripta pelonosso col lega A rthur V ianna.

E ra, com edeito, um bello vo lume, impresso com pr imore luxo na imprensa de A lfr edo Augusto S ilva, r s , praça doM de R io Br anco . M D XL l l l (s ic) . 8 '

gr . de 4 innumeradas— 386 pag . e mais de indice.

E ste impor tante livr o %r a mandado elabo rar e publ icar

pelo provedo r A ntonio Jose de L emos . C om o retr ato deste

senado r e estampas . A capa e a dedicato r ia a cdres .

0 0 P ar á tenho recebido alguns br indes de livros dir ecta

1 34

Agradeci o br inde e pedi-lhe que se dignasse de transmittir o meu agradecimento ao i l lustre cavalheiro paraense, que me obsequiára.

D esde esse dia não o vi mais , ou antes não me hon

rou de novo com a sua vis ita e não lhe notei nenhumapreoccupação em cousas da sua vida part icular , quandolhe recordei o que passara muitos annos antes , em se

rões em casa do nosso commum amigo Passos Valente,de quem fal lo adeante.

Imagine-se a minha dôr quando um dia, de manhã ,

fui surprehendido com a noticia do desfecho tragico queel le dera a sua ex istencia !

men te de seus esclar ecidos aucto r es , o que me con ten ta, po rsassim me dão elemen tos cer to s e val iosos para os meus es tu

dos bibl iographicos, em que dispendo tamanhas can seir as e o

fructo de escassas economias que ficam nas es tantes par a en

go rder e multiplicar as traças !

O commendado r D r . José C oelho da G ama

A breu, que mor ava no a.

º andar do mesmo pr e

dio, logo que soube do tr is te acon tecimen to e

das pessimas circums tancias em que a famíl ia

ficava, metten , em sobr escr ípto cuidadosamen te

fechado, dez no tas de aotbooo r éis e mandou-as

pelo cr eado àfamí l ia do r .

º andar, pedindo

- lhe

mil perdões, e como se quizesse dizer- lhes se

em ho r a de tantas aftlíções e de tantas dô r es, eu

valho par a alguma co isa, ahí está como pos so»

desde já, enviar —lhe algum lenitivo , pr even indooutras angus tias .

E ass im,um grande cor ação pr es tava s incera

homenagem a memo r ia de um gr ande talentoque se ia

,e de uma r adiante luz que se apagava.

D izem-me que, nessa occas ião, es tava de vis itanaquel la casa, onde só havia lagrimas , um bom amigo

e discípulo do nobre extincto, o afamado caus ídico e

academico dr . Levi M aria Jordão, um dos que se con

tava entre os seus mais dedicados amigos e admi radores

A este incidente philantropico, tão vulgar na ex is ten

cia accidentada e altruís ta do barão de M arajó, podiaappl icar

—se o t itulo de um dos der radeiros capí tulos dobel lo romance de Camil lo Castel lo Branco : « U m barão

preciso, um barão providencial . » (M ys ter z'os de F af e, queconta já 5 edições E é dos romances mais bem del ineados e na mais rica l inguagem portuguesa que sahíu da

penna assombrosa e pr imorosa do egregio romancis ta.

M olto dedicado ao estudo e oonscíencioso cultor das

boas letras . vivendo com os principaes escriptores do

Bras il e de Portugal , e, viajante cur ioso e perspicaz, dei.xou alguns livros , que lhe abri ram as portas de socieda

da litterarias e scierrttticas, como a Academia Real dasSciencia de L isboa.

E ntre essas obras cítarei uma. em tres tomos, a que

deu o título D o A m m as ao Scnm N ilo,Whom :W, M a n tos n ham , no qual ha paginasinteres antes que se lêem com deleite. E sta obra foi escr ipta e publicada em Lisboa ha tr inta am ºr» e n ítidamente impressa na typographia Un iversal . donde sae o

D iar iº ele N aiá-ras . de cujos prºprietarios el le foi semprebom amigo e respeitador .Este facto data de 1 875 ou r 87ó .

Nessa epoca reun iam, em casa de José Mar ia dosPassos Valente, empregado superior mui illustrado e

muito cons iderado no ministerio da fazenda (na rua da

Barroca, ao Bai rro A lto) , var ios escriptores e art istas , eno

tre os quaes , além de quem escreve estas linhasm barão

de Marajó (então não tinha sido agraciado com o titulo,

r4o

Algumas destas reun iões amigaveis durava

zes , até o alvorecer do dia,pr incipalmente pelos ditos picantesem que era prodigo e attrahente Raphae lnheiro.

G ama Abreu foi um dos amigos mais ija notei anter iormente, de Passos Valentea maxima confiança nel

as cousas da sua vida, desde as maisde maior intimidade e de importancia mívava das suas viagens , dos incidentes dereza occorr idos em largas digressõos pelaA s ia, das suas explorações de estudioso,de suas impressões . um sem numero de

manuscrípto. autographo. para dar ao prelo,pouca vontade de usufrui r desse benefício, embora e incitassem a isso.

Quando acabou de escrever a viagem do A mazonas

ao S ena , N il o, etc. , trouxe os quartos do or iginal aoPassos Valente para ouvi r a sua opin ião sensata e i l lustrada, e aconselhar—se âcerca da sua impres são . Acertou,nesse momento, estar eu com o amigo de ambos e PassosValente pedir—me que o encaminhasse na imprensa. C on

cordâmos em que a obra de G ama Abreu fosse impressana typographia Un iversal e pouco depois ajustava—se a

impressão com o honrado Luíz Cesar , já fal lecido , que foimuito cons iderado gerente desse importante estabeleci.mento.

A s provas das folhas das viagens passavam, alterna

damente, das mãos do auctor para as nossas . afim de

lhe darmos a revisão techn ica, como mais aptos por longotimcinio nos serviços typographicos .

O ra ahi está a historia de uns l ivros . E ra curios iss í

mo poder saber-se e divulgar-se as voltas que dão certosoriginaes , nas mãos dos auctores , antes que os prelos

os recebam e impr imam, gosem da luz da publ icidadee corram mundo para deleite e instrucç ão dos leitores .

C om a impress ão desse l ivro na typograph ia Un iversalvieram a estabelecer-se e estreitar-se as relações maisíntimas do barão de M arajó com Eduardo Coelho e T ho

más Quintino A ntunes (depo is conde de S . M arçal).

P or occasião de festejar-se corn solemnidade no Bras i lquarto centenario do seu descobrimento, fizeram-se al i

var ias pub l icações commemorativas nos d iversos Estadosda R epub l ica.

O Pará concorreu com um l ivro notavel , não só pelopr imor da impressão, em papel super ior, acartonado, a

côres , com as paginas tarjadas com largas v inhetas dephantas ia, mas tambem pela col laboração, na qual vemosos nomes vantajosamente conhecidos entre os que tem

enr iquecido com os seus apreciaveís labores a lítteraturaparaense. Entre esses figurou o barão de M arajó.Este l ivro intitula- se « O Pará em 1 90 0 » e tem 30 0

paginas ín-fol io pequeno.

Coube ao barão o pr imeiro capítulo « G eographia phy

s ica» , que vae de pag . 5 a 36. A introducção pertenceu

a S ant'A nna Nery .

F oi posta num predio da rua G ar rett, em L isboa, (ondeestá o importante armazem de productos al iment ícios daantiga fi rma Jeronymo M artins , actualmente de seus successores), uma lapida commemorativa para hon rar a me

mor ia do il lustre mar inhei ro bras ilei ro, o almi rante Bar ro

e com propos itos muito diversos . A junta não queria

declarar guerra aberta a esses novos adversar ios e o quelhe convinha era attrahí- los , porque, l igadas as duas forças revolucionadas e em armas , tornavam mais fortes e

mais temíveis as hostes organisadas contra um in imigo,que dev ia ser commum.

Teixeira de Vasconcel los, por antigas al líanças e re

lações particulares não interrompidas , e até por laços defamí l ia, foi incumbido de uma transacção no sentidoindicado, e encetaram—se as negociações .

O s miguel istas quer iam atacar o throno da rainhaD . M ar ia l l ; os da junta do Porto, não. Combatiam o

governo, mas não guerreavam a soberana, que tão duros sacr ifícios e tão precioso sangue custara ao part idol iberal . Mantinham a monarchia ex istente. Sempre o confessaram, apesar das exagerações dos seus papeis clandes tinos .

D emoraram-se as negociações . A junta venceu. O s

miguel istas prestaram o seu aux í l io na revolução popular contra um inimigo commum, como já disse, —

que

era o governo .

N ão foram, porém, todos . F oi a grande maior ia. M ui

tos retiraram—se da luta. A lguns , como o il lustre e ma

vioso poeta João de Lemos , que foi sempre dantes

quebrar que torcer , declarou que o seu ideal era a res

tauração do antigo regimen e portanto não apoiava por

fórma alguma os homens da junta. Apartou- se do mo

v imento e saiu para o estrangeiro, onde se demorou.

F oi poetar para Londres e embebecer—te perante a lua

naquel las ruas nevoentas .

D ecorr idos alguns annos , Teixeira de Vasconcellos ,sentia-se mal, desgostoso, em F rança. E stava aborrecidodaquel le meio. U ma grave nostalgia o atacára de sub ito.

Bra, comtudo, necessario empregar as di ligencias paravolver patria.

Em fins de setembro ou pr incípios de outubro de1 862, não me lembra ao certo, recebi uma carta de

Par is , cuja letra me era inteiramente desconhecida. M o

rava eu então numa casa da travessa da Espera, tornejando para a rua da Bar roca, propriedade da fami l iaLima M ayer.A letra da carta era miuda, legível, sem grossos , não

vulgar, elegante. A bri a miss iva e l i a ass ignatura : T ei

x oi r a de Vasconcel los . Tratava-me por col lega. Fiqueiadmi rado da honra. Realmente, não tinha nome para

poder subir até a altura em que eu dev ia cons iderar , econs iderava, um homem que t inha pergaminhos scien

tificos e l itterarios , e louros bem conquistados na repu

blica das boas lettras .

Teixeira de Vasconcel los , na sua epístolographia par

1 51

ticular . intima. era lacon ico. D izia muito em pouco e

todos oompreha rdiam, porque não lhe faltava clareza.

T enho bastante pena de não ter encontrado as sa

carta. Possuo tanta papelada, e esta tem dado tantas

w ltas , como eu, com os meus livros ás costas . que não

me foi possivel encontra—la. Servir ia de prova ao que

D M que me conhecia trad iciona lmente e parguntava—me se, vindo el le para L isboa com o intuito de fun

dar um periodica. eu poder ia daro lhe alguns esclarecimentos e auxilªiao lo nes se emprehendinwnto.

Respondi—lhe, agradecendo alguma phrase mais ama

vel e lisongeira, e por sem duvida immerecida, e pondoo meu humilde prestírno a dispodção del le Corri a casado meu inolvidavel amigo, e i l lustre bibl iographo Innocencio Francisco da Si lva, com quem Teixeira de Vas

referi—lhe o que passâra a lnnocencio, e este apenas

me disse— Faça v. 0 que en tender . Se lhe convem entrar

rítmo, entre. E u devo muitas finezas litterarias e da iatereasadas a Teixei ra de Vasconcel los , e não tenho no

nhuma mª o de queixa del le.O ccorrem—me lembrança estas palav ras como se as

ouvira homem. Nunca perguntei a Innocencio se ftlra

elle quern dera para P aris informaçõas a meu respeito

ao Teixeira de Vasconcel los . Creio que sim, porque

Innocencio; que era por vezes aspero, intratavel, fugidiço

de toda a convivencia. vivendo como um misantropo,

para mim foi sempre s ingu larmente dedicado. affectuoso

mou o Teixeira de Vasconcel los. não m'o disse. Q bom

e erudito Innocencio tinha dessas del icadezas. que secomprehendem entre homens que se present, respeíg n

do-se. tratando-se pr incipalmente de um homem maisedoso e respeitava, e respeitado, como era o i l lustre bibl iºeraphº»

A lguns dias depois da recepção da carta, a que mereferi. baM armm à por ta. Mandei abr ir e entrou um

homem violeiro, de rosto ins inuante, distincto e não

vulgar no seu br i lhantismo intel lectual . bambolenndavsealgum me, de charuto e chapeo na mm esquerdapan me a tender a direitaWhed so logo, T inhn lhe víâio o retrato. B ª lªiª

ções e o modo del le não se eonfundiam com as dequalquer s imples mortal . E ra o Teixei ra de Vasconeel les .

A nossa conWão foi quas i tão curta e laconica,

eorno a cam.

D isse—me que regressava 6 patria depois de alguns

anuos de ausencia e a L isboa, onde desejm esmbelater-se, mas onde de certo ji ninguem o conheeia eu

queria conhece—lo. Entrava. pelo as im diser. numa Civdade nova e des conhecida. Só contava com um bomamigo , que não o esquecem e nada lhe da is . EWfªva.

- Sabe quem é meu amigo ? E' o Samar ia. da Row

habi l itar-se para ser o responsavel e do respectivo processo, porque naquella epoca não era indifferente con

s iderar-se a qual idade do sujeito a quem havia de dar-se,no seio da sua redacção, a responsabi l idade de um pe

r iodica perante os tribunaes e no cumpr imento da lei.

l l l

D entro de poucos dias trate i e ul timei o processo dahabil itação, e aos 9 de novembro do mesmo anno 1 862

saiu o t .'numero da G ou la de P or tugd , e ju lgo que

ni o produziu má imm âo no pub l ico. N um periodo

relativamente curto. a folha da propriedade e direccaode Anton io Augusto Teixei ra de Vasconcel los , ganhavafama e assin antes , posso athrmw lo. O ra, é preciso di

m —se que o cerceram logo pessoas qualitia das e já

il lustres , de entre as quaes , vivas , ainda está fe l izmente,

Thomaz R ibei ro e mortos , infel izmente para as lemas

e para a patria, Anton io Fel iciano de Cast i lho , Manue lP inheiro Chagas, Francisco Luiz G omes e JoaquimPedro Ce lestino Soares .

N o pr imei ro numero trabalharam, desde todo o co

meco , até que as quatro paginas entraram no prelo , ao

romper do dia, além do propr ietar io , Francisco de Salles Lencastre (que é hoje um dos mais distinctos em

E screvi es ta nºta em i897 . T hom“ R ibeiro fell eceu mui

to: m as depois

sua del icada camaradagem e com a sua graciosa con

versação ; e a pessoa, que escreve es tas l inhas , a qualficara a redacção e di reccao de todo o notieis rio.

Quando, nalgum interva lo do trabalho, o Se rem,

com o seu monoco lo caram ristico, queria medir-se, nosgrsoejos e nas anecdotas . com Teixeira de Vasconcellos ,que era um conversam dos mais chistosos que tenhoconhecido e tratado ;era de ver, qual dos dois havia dese: mais lava mento petei ro e havia de most rar—se maiscºpiosa em narrativas apimenM dss . R iamo nos todos

fartar . r itimo-nos aú nos saltsmm as lsgrimas . E ssaimdecorriam horas . Se apparecia Jul io Cesar Machado.outro conversador pr imoroso, "DWo que ser ia. is to,

ás vezes , passava no gabinete do Anton io Augusto, ondenos reuníamos todos .

Severo E rnesto dos M immorreu depois comgr ande se! »tímeoto dos que Sincersmen le 9 es tímsvm e

.se lembravam

des ss udo s ss ho ras alegr es que passar am na sua convivendo

ti o sympathics .

T ambem falleceu num lance tr agico , segundo veio refe

r idº nºs mmm do diamil nemem em nºtª, no m icºre lativo e A n tonio R odr igues S s mps io, ns pag. i O S .

i i i

E stás conversam , e este tid e tih das humom w a m imm m m s enmda domrante j osquim P edlo C eIG Stino Sos tes , um btavó e

i llus tre mar inheiro , que tinhs o seu nome "We im

rei do ern briltúntes servicos na sua cs rrbeira níiliâ r e

m am on a s—. enem relacoes com o directõf da

G ama M ga! interveniprdas apenas para ausen

cia deste no (Estrangeiro . Casti lho ia, devez etfr quando,acompanhado de G orfveis H omem, que ers umd05 5€us

secretarias , ou de Si lva Tullio , es cr iptor ilIuStradb e ca

vl queador de primei ra plana, a que Latino Coelho álcutrhavs de seu egregio petelro.

(hm m Soares discorr ia acerca de asSufnptos pºl iticos e mar itimos , ti o seus fami liares : e não raras vezes

fallava tambem do movimento litterario, dos poetas e

pros sdores do seu tempo, e lá era chamado o Cas ti lho,cons iderado por Teixei ra de Vasconcel los , e por todos

que al i nos agrupavamos , como um mestre subl ime dal inguagem portuguesa, cujas opulencias el le conheciae manejava como poucos .

Antonio Augusto tinha a presumpçâo de conhecer

bem o latim e os seus cultores classicos antigos . Todosmbem que Anton io Fel iciano de Casti lho era um Iatinista ins igne. S uccedia que os do is , em alguns serões ,não discretew am senao ricerca de class icos latinos e discutiam calorosamente sobre a interpretacªo de algumtrecho ditticil.

N os pr imeiros tempos da G u eto de P or tugal , C s s

t i lha se não ia todos os dias , apparecia na redacção

duas ou tres vezes por semana à noite e demorava-se

boa hora e meia. Ass im que Teixeira de Vasconcel los0 via, gritava

'

:

Venha de lá uma folha grande para o s r. Cas ti lho.

Quas i sempre um exemplar da G azeta . Para que ?Cast i lho sentava-se ao lado do Teixeira de Vascon

cel los . Tomava a folha. Apalpava-a para conhecer o

formato, desdobrava—a sobre os joelhos e, tateando uma

das extremidades , começava a rasgar a folha pausadamente às tiras com uma regular idade nas dimensõesque parecia que as via e as cortava com uma tesoura.

Essas tiras enrolava-as el le depois formando uma bolaou esphera com s ingular perfeição. Conversava e não

deixava as mãos em descanso . Todos os dias , que láia, era o mesmo entreten imento, já conhecido de muitos .

F oi uma festa correctamente Iitteraris . N ão se fal lou

senão a respeito de lettras e de seus esmerados cultores .

E houve tres brindes mais notaveis : o de Teixeira deVasconcel los de agradecimento aos que o t inham auxi

l iado na fundação da G azeta e os que se ergueram a

C astilho, como animador das Iettras nacionaes e da mo

c'

idade eàtudiosâ, e a C elestino Soares, como auctor dos

C onservei-me'

na redacção da G azeta até 1 864 , de

pois de a vê? augihentar e prosperar, _

e depois de têr a

convicção de que entrara nu'

m pé riodo de engrandeci

mento. A redacção fora refºrçada tomalguns escriptores

de'

alto merecimento, e'

, entre outros, M arianno de C ar

va'

lho, que começava a sua brilhantiss lma carreira jor

nà'

listica, e que fôra apresentado por P inheiro Chagas ;e M iguel E duardo Lobo de Bulhões , trabalhador exem

plar e erudito, com“ quem eu convivera na redacção do

F rdu r a e da P olítica L iber al ( 1 858 a e que gos

tosamento apresentara a Teixeira de Vasconcel los . Creioque o acompanhou até o fim da G azela .

M iguel E duardo L obo de Bulhões foi depois r espeitado

chefe de r epar tição no minis ter io da mar inha e ul tramar e

deputado às cô r tes em 1870 . F al leceu em um casa de saude,

onde reco lhera po r doença grave, em março r894 .

N a r edacção e co l labo ração da G azeta de P or tug al figura

r am tambem,en tr e outr os, C amil lo C as tel lo Branco, D . A nna

P lacido , A lber to O so r io de Vasconcellos (que começou a

collabo rar sob o pseudonymo de S i lvius) , N ico lau de Br ito,padre Boavida, Luiz P imente l, D . M ar ia P er egr ina de S ouza,

Innocencio F rancisc da S ilva, F reitas e Beça, etc.

cido numa commissão da imprensa N acional , a cujoquadro typographico pertenci , em Leir ia uns seis ou

sete mezes e tendo convivido, na mais affectuosa e

mais obrigatoria camaradagem, no L ez'

n'

ense, com o

estas em oitavos, formando de todos uma especie de cama

para escrever mais rapidamente.

A G ogeta de P or tugal foi uma folha redigida com sobr ie

dade e cor r ecção, e bem educada. Mui differente, po r tan to,de muitas que vejo ho je ahi estonteadas e alheias àverdadeira missão da imprensa cul ta.

T eixeir a de Vasconcel los, que, depois da mor te da G ogeta,fundou o J or nal da N oite, veio a fal lecer em P ar is a ag de

ju lho de r878. N o D iar io de N oticias , de S t daquel le mez,vem um extenso e cur ioso ar tigo a r espeito do eminen te es

cr iptor , que amava a imprensa e sabia fazei-a r espeitar .

E sta nota, e a seguinte, deixar am de ir , par a não alongarmais este ar t igo no ( for r cío da M anhã

,aonde o escr evi e

teve pub l icidade ha annos, sem o que lhe accr escen tei ago ra,ampliando - o e dando—lhe mais po rmeno res jo r nal ís tico s .

E m L eir ia es tive sempr e ho spedado em casa do meu

amigo e ant igo co l lega, F r anci sco M ar ia R amo s . E declar o,

como pr eito de grat idão nunca o lvidada, que tanto el le, como

sua mulher,excel len te dona de casa e vir tuo sa senho r a (j á

fal lecida) ; e seu irmão , M igue l R amo s (já fal lecido ) , me trataram como pes so a da familia, e ainda conservo ho je o favo r

dessa amizade.

D efr on te da casa, em que habitavamos , mo rava e es tava

es tabe lecido M igue l L eitão, an tigo commissar io de tabacos,

que po r muito s annus es tabeleceu a sua res idencia em L is

boa e nesta capital se finou em edade mui avançada. C r eio

que passava dos 80 eunos . A es te cavalhei ro , mui lbano no

trato e muito amigo da boa convivencia, deveu L eir ia muitas

ho ras de agr adavel dist r acção , po r que e l le incitava e pr omo

|63

dr . José Bar bosa Lel o. A nton io Xavier Rodr igues C ordeiro e D . Anton io da Costa de Sousa Macedo (da casados condes de Mesqurtella), cuja amizade se manteve

inal teravelrnente desde então a té que se apagou a ra

diante luz que i l luminava os cerebros desses chorados ,

sempre quer idos e lembrados amigos . Nessa cidade, eudissera ao dr . Barbosa L eao q ue, se el le viesse para L isboae fundas se jornal , contam comigo, e mantive a palavra.

O dr . José Barbosa Leao era homem um tanto or i

ginal , mas de bastante merito . Em 1 854 ainda exerciaas funcções de cirurg ião-mor no batalhão de caçadores

n.

“8 , que tinha em Lei ria 0 seu quartel . P or in iciativa

del le foi al i estabelecido um hospital mil itar , junto doquartel , conforme os que vi ra e es tudara nos aquarte

lamentos belgas e naquel la época podia apresentar—se

como modelo.

A lcunhei o de DW. Julgo que o demonstrou bemno fim da sua vida al imen tando a idea, ou man ia, dereformar a lingua portuguesa. tão r ica, tão energ ia e

tao viril . N ão precisava de reformas ou adulterações . 0

via recitas, or a de amador es, o ra de ar tistas feitos, despen

dendo as vezes do seu bo l so para conseguir com bom exito

cm s diver sões . A li tambem tive relações com o poeta A o

gusto L uso, professor do L yceu, depo is t rans fer ido para o

do P or to, onde fal leceu em maio i goa.

O s dois honrados rrmi os kamo s vieram passado s alguns

annos pm o quadr o typogr aphico da lmprensa l'íacional de

Po is bem. O dr . Barbosa Leao veio a Lisboa muitosannes depo is , perguntou-me se eu podia sah i r da G a.

zela , respondi-lhe que s im porque não fazia la falta e

cumpr ia a palavra que lhe dera.

O pr imei ro numero do j or nal de L isboa sahiu no dia

1 de julho de 1 864 .

A li t ive o ineffavel prazer de ter , na secçã o que di rig inaquel la folha, por companheiros e fraternalmen te ami.

gos , a A lfredo R ibeiro , que foi depo is esclarecido reda

ctor do D iar io P opular G ouveia Homem, que veio a

fal lecer inspecto r da fazenda em Moçambique e que fôraum dos secretarias de Cas t i lho , como já disse ; e Francisco Ferrei ra da Si lva V iei ra, que tambem es teve em

pregado na typographia do M P opula r e foi um de

seus traductores e mantenedores da empresa editora dotypographo Francisco G oncalves Lopes , e veio a finar—sena Bah ia, longe da patr ia e da fami l ia, mas c

'

eixando

documentos das saudades que o minavam e do amor

que lhes consagrava no vo luntar io exil io a que po r cir

cumstancias e diti iculdades da vida se ar riscâra.

l J oaquim A l fredo da S ilva R ibeir o , que adopto u na vida

jornal íst ica só o nome de A lfredo R ibeir o . foi depo is o fun

dado r da fo lha semana l humo r í s tica O P impão , onde co l labor ar am com br ilhan ti smo T homas Bas to s

,G ervas io L obato

e A lfredo de M o raes P in to (que usa o pseudonymo P an oT a r antula e é ho je o directo r e prºpr ietario dessa fo lha) .

Nº D ioub de N oticias n .

º de 29 de julho de1 904 , fºi publ icada a seguinte carta

TE IXE IR A D E VA SC O N C E L L O S« S r . redactor .

— C ommemorando º D iar io de

N oticias, de ho je, o 263 anniver sar io de fal lecímentº deste il lustre jornalista, termina po r pergun tar

« N ão ser ia dignº de consideração de uma

so lemn idade l itter ar ia commemo rativa dºs seus

mer itos l i tterar iºs e jo r nal ís tico s ? .

« N 㺠é de ago ra que se pensa nes sa consa

graçâo , po rquanto ha dºis nunos e dºis mezes

pr ecisamen te fo i apr esentada, na S ociedade de

G eºgr aphia de L isboa, a prºpºs ta para a tr as ladaç㺠para P o r tugal dos restºs mºr taes de F i

linto E lys io , T eixeira de Vasconcel lºs , G uilherme de A zevedº e M ºn iz Bar retº

,es te ul t imo

,a

mais extr aºrdinar ia ºrgan isaçâo de philosophº

por tugues até ho je apparecida.

« S imilhante pr opºs ta n㺠fºi ainda apr eciada

e r elatada pela dir ecç㺠da S ºciedade de G eographia, esperando

- se para º ser que se dê a l »

167

gnm facto que a tºrne eºnvenien tq neces ser ia e

util , sºb o pºntº de vis ta das cimumstancias ºco

g i rante»

E&ectivamente, a referida propºsm fôra presente àm mbléa gera l da Sºciedade de G eographia de Lis bºaeWt ive desejo de mandar aquel la fºlha alguns es

clarecimentºs , vis to comº me occorrera º que passaraacerca do proposito s incero em que estavam amigºse admi radºres de Teixei ra de Vascºncel los para cºnse

gui r que ºs seus restos mortaes viessem para L isboa e

aqui ficassem na patr ia.

P am dos dias . depºis de informar—me em Santaremdº que me cºnv inha verificar , para que a memor ia menão MWescrev i º seguinte, que saiu em o n .

º

t 3 .89 3 , de 5 de agºsto . do mesmº D ân ia de N and a ,

a que dei a fô rma de carta es tranha a redacç㺠, sºb o

m el lo»

« Amigo e sr . dr. A lfredº da Cunha, digno directordo D iar io de N oticias .

— Em um dos numeros da sema

na passada de seu popular e muitº bem conceituadºper iodico, foi inserta uma carta de « assignante antiquís

simoo . que é cºmº vem ass ignada, que me chamºu a

attençi o e a respeita da qua l vou, por mercê que me

168

ºbr igará , pedi r—lhe que me dê ahi publ icidade a algumasbreves nºtas , que julguei , pºr descargo de conscienciae para serenar º meu an imo inquieto, dever escrever

cºmº commentar io, pºrque º assumptº º merecia. C ºn

versemos .

Como n㺠estºu habituado a escrever para a impren

sa e n㺠tenhº confiança nº meu rabiscar, nem desejºintrºmetter—me no labutar jornalisticº que me intimida,

acc

'

rescentará V . º favºr alterando ou inutilisandº o que

n㺠seja cºnven iente nem cºrrecto para a publ icidade.

N ão tenhº receiº de dizer que naº sei , nem que errei ,aºs que estãº, cºmº V . , nos casos de ens inar e corrigir .D eclaro-lhe tambem que n㺠respºndo a carta que ci

tei ; nem a discutº, mas tamsómente desabafº. E a ra

z㺠é pºrque. sendº já edºsº, pºsto que ainda naº ca

hir da tripeca, segundº º phraseadº dº povº perantealgum t r iste ameaçado de cachex ia, eu quiz sempre ser

cºntado entre os mais enthus iastas e s inceros admi radores de Teixei ra de Vasconcel los , e realmente era seu

amigº e admi radºr .N aº me julgue maçador . Tenhº que recºr rer a apon

tamentºs que v㺠além dº seculº XlX intei rº, e a memºria, que já vae enfraquecendº ; pºrém, cºmº quizeoram l igar a hºmenagem a Teixeira de Vascºncel lºs as

cinzas de Franciscº M anuel dº Nascimentº, mais cº

nhecido no mundº litterariº pelo nºme pºeticº de P il into Elys ia, farei a rectificaç㺠cºm mais clareza e maisdet idamente , dizendo que passaram em feverei ro desteanno os 85 em que el le, o desd itoso e egregio pºeta,se finºu em Par is ; mais de 60 que as suas cinzas vie

1 70

Manuel dº Nascimentº, e lá estacom a inscripçaº se

pulchral para quem º quizer ver ificar.D este assumptº é escusadº tratar mais . Está encer

rado. Cºnti nuemos , todavia, a cºnversação âcerca deºutrº pºnto .

Vae para treze annºs que um grupº de admi radºresde Teixei ra de Vascºncel lºs , tendº s idº alguns del les,por tal s ignal, segundº entao ouvi, seus cºmpanheirºsnas l idas periºdisticas , reun iu numa sala da redacç 㺠doCor r eio da M ar:/l ã e formºu uma commissãº, de que

teve a pres idencia Manuel P inheirº Chagas , directºrdaquel la fºlha. Entre ºutrºs , ass istiramàs reun iões M oura Cabral , Augustº Cesar F erreira de Mesquita (depºis ,conde de Mesquita), Jayme V ictºr, Brito A ranha, A ugusto de Mel lº. A lfredº R i bei rº, Jºãº Cºsta. F ranciscºde Lencastre, etc. A hi se tomou conhecimentº de outraindicaçãº, qual era a de fazer , aº mesmº tempo, a tras

.adacao dºs restºs mºrtaes de G uilherme de A zevedo.poeta e jornal ista, de nºtaveis faculdades intel lectuaese de extraºrdinaria veia saty rica, natura l de Santarem,

onde era muito estimado . Tambem mºrrera em Par is ,ºnde se haviam preparadº trabalhºs para essa tras ladaçãº.A commissãº, pºis , in iciºu ºs seus trabalhºs com essa

or ientaçãº, an imada dº melhºr desejº de os levar a cabºpara pagar cºndignamente º tr ibutº devidº a dois cºn

cidadãos il lustres e a dºis jºrnal istas , que tinham saidº

A go ra já s㺠passadºs mais tres annos .

t 7 t

fôra da l inha vulgar, sal ientando—se com gloria nas suas

produccões . bem conhecidas e apreciadasSabia-se que em Santarem havia egual enthus iasmo

com respeito ao mal logrado poeta G ui lherme de A ze

vedo , e era ali aberta uma subscripcão para occo rrer às

Teixeira de Vasconcel los fo i sempre um jo rnalis ta muiaprumado e gabasta

—se da sua rectidão nas suas r elações comos co l legas , embo r a algun s o aggr edis sem . E s tando em P ar is ,soube que o P or tugues, então em con trover s ias azedas com

a R evolução de S etembr o, o aggredia a el le, apesar da distancia. D e lá escreveu ao redactor pr incipal da “

R evolução de

S etembr o par a se defender , ou, antes, para des truir as accusa

ções em que se baseava o que o aggr edir a no P or tug uef .

E m carta, inserta na R evolução de 8 de dezembro t859, e'

extensa . N eila dizia o il lus tr e jor na l ista o que pensava da mis e

são da impren sa e de como apr eciava as o ffensas, que lhe

apon tavam como se ttas envenenadas . E scr evia :

não só me não queixo mas até agradeço ,

po rque esses ataques do P or tug ues permittem

de fazer co nhece r a verdade com que a ca lumn iaanda no escuro a r oer me o ves tido sem eu dar

po r is so . Vejam que a liber dade de impr ensa até

nas suas aber r ações é uti l .»N essa época quem tambem sus tentava co ntrover s ia com

M g a“, no pr imeir o logar da R evolução, er a L a tino C oe

lha D efendia—s e da accusaçâo , que lhe fizera aque ll a fo lha,de que el le estava in fluindo para que a U niver s idade de Coim

bra fosse tr ansfer ida par a L isboa . E tal não se dava.

T eixeira de Vasco ncel los era muito cuidadoso no modo de

escrever e deixou na imprensa per iodica salutares exemplo sde urbanidade e co rdur a nos seus escr iptos .

1 72

despezas da tras ladação, que teve'

desde logo muitoss ubscriptores .

O que era, porêm, necessario e urgente apurar era

onde estavam ao certo as cinzas dos do is escriptores po rtuguezes e os meios , particular ou onicialmente, a em

pregar para effectuar as trasladacões , visto como força.

samente havia que pedi r a intervenção do consul de

Portugal em Paris para que el le obtivesse qualquer l icena da auctoridade franceza que superintendesse nos

cemiterios , afim de que esse acto não corresse sem as

formal idades ou as despezas , a que tme obr igado .

A lém dim , com relaç ao a Teixei ra de Vasconcel los ,havia ainda que alcançar permissão da fami l ia, para a

trasladação, e foi incumbido desse pedido um dos vogaes

da commissão l isbonense, que estivera em relações ma isintimas com essa fami l ia do eminente jornal is ta. O ditovogal (foi F erreira '

de M esquita) , escreveu para a A l lemanha. A resposta, pelo ass im dizer , veiu na vo lta docorreio e foi honrosa para todos , pois nao só se dava a

licença so l icitada, mas com palavras de reconhecimentopara o encargo, que tanto a lisongeava, de que se estava

desempenhando a commissão de Lisboa.

N o entretanto, progrediam as di l igencias em Par is e acommissão foi informada de que, tanto no cemiter io doMontmartre, onde âcaram os despojos mortaes de T eixeira de Vasconcel los , como no cemiter io de Saint O uen ,

onde estavam os res tos de G ui lherme de A zevedo, depo is de passarem alguns annos a desfazerem-se as ossa

das , e envo lvidas com as de outros extinctos , sem que

cousa alguma os pudesse distingui r, era intei ramente

Antes de fechar este commentario, deixe-me por aqui,meu prezado amigo e s r . director, a ultima nota. Numacarta, que receb i ha pouco de Santarem, lia-se o se

guinte, que e hon roso para os cidadãos scalabitanos ,

que o realisaram, e muito grato para a memoria do ex

tincto poeta, seu g lor ioso conter raneo. Informa o meu

estimado amigo e correspondente

. no anno 1 90 2 , a commissão de Santarem, tendo

a certeza de que as os sadas não podiam ser tras ladadaspor falta de provas de quem el las seriam, resolveu, e

cumpr iu, empregar o conto de réis que apurou em'

pa

peis de credito e entregou—o a camara mun icipal para

que esta instituísse um premio denominado « G uilhermede Azevedo» , cujo rendimento seria offerecido todos os

annos ao professo r do concelho que mais alumnos apresentasse ao exame de instrucção pr imaria. »

N o fundo da minha obscur idade applaudo com o

maio r fervor tao benemer ita reso lução , de certo em har

mon ia com o caracter e o sentir do mal logrado poeta,

que amava a instrucção popular e não despresava os

meios de a incitar e difundir .

E bas ta.

Vejamos agora a carta, que a este respeito recebi doamigo e correspondente de Santarem, e a qual anter iomente me refer i :

« S antar em, a de A gos to de i go4 .— S r . Br ito A r anha, L is

boa. C om o maximo pr azer vou r esponder ao car tão de V.

. N ão havendo muitas pessoas aqui, que pos sam info rmar

com toda a pr ecisão a data que V . deseja saber , falei com o

meu am igo s r . Ber nardino S an tos,um do s maio res admirado

res de G ui lherme de A zevedo nes ta cidade e prºpr ietar io do

J or nal de S antar em, que en tão se pub l icava, que da melho rvontade me empr estou a co l lecção de refer ido J or nal , onde

t ratou de todos os as sumptos concer nen tesàtr as ladação quenão se efi

'

ectuou.

. E m meiado de janeiro de 1 8 02, um jor nal da capital not icion a sympathica info rmação de que o cºnde do A l to deM ear im,

acompanhado de a lguns po r tuguezes residen tes permanen temen te em P ar is

,del iberara fazer tras ladar para P o r

tuga] o s r es to s mo r taes do saudo so poeta e br ilhantíss imojornal ista .

. C omo se t ratasse nes ta epocha da tras ladação dos restosmo r taes de T eixeira de Vasconcel los, tambem fal lecido em

P ar is, a r edacção do J or na l de S antar em abr iu uma subscr i

pção par a occo r rer as despêzas da tr as ladação de G uilhermede A zevedo , cujas verbas sommaram centenas de mil r éis

,e

1 76

que não puderam ser applicadas par a aquel le fim em vir tude

de não se poder adquir ir a cer teza de quaes seriam as os saodas do glor ioso poeta da A lma N ova .

« O jor nal de L isboa a que me refi ro fºi o C or r eio da M a

nhã , com nºticia escr ipto po r Jayme S eguier .

« E m 9 de fever tr o do r efer ido an no nas sa las da re .

dacç'

a'

o do C or r eio da M ánl rã , r euniram o s r epresen tantes da

impr ensa de L isbo a e var io s amigo s de G uilherme de A ze

vedo e T eixeir a de Vasco ncel los , sob a pres idencia de P i

nhei ro C hagas .

« N esta r eun iã o o sr . Luiz T r igueir o s declar ou que desdemuitº tempo era ºpin ião da impr ensa de S an tarem, especialmen te o J or nal de S antar em

, que as ossadas fossem t r asla

dadas par a S antar em e que o r efer ido J or na l de S antar em,

em t889, t inha procurado lembr ar a memo r ia do seu patrício

com a pub l icação dum numero unicº.

.R epr esen tava ul timamente a famil ia de G uilherme de A zevedo a s r .

' D . J ul ia C haves P er eira, espo sa do s r . J oaquim

P ereira da C osta.

-E'

irmã mais velha do il lus tr e extincto e r es iden te em

Lisboa.

« A commissão em 5 de mar ço de t a,r eso lveu com au

s ilio do s documen tos fo rnecidos a Bo rdal lo P inheir o, inquir ir deste as sumpto o fficial acer ca das o ssadas .

. Em fi ns de março de i 89 z, pub l icou um jo rnal G al os um ar

t igo em que insul tou a memo r ia de G uilherme d'

A zevedo , po r

F ia lho dA lmeida, ao que r espondeu A ugustº de C ast ro com

uma tremenda sova no J or nal de S antar em em to de abr i l domesmo anno .

« N es ta occasl ao o sr . conde do A l to de M ear im es creveu

ao seu par ticu lar amigo Boaven tur a G aspar da S ilva a decla

rar d commissão encar regada de promover a tras ladação dasossadas de G . A zevedo e T . Vas concel los, que cºntr ibuíacom M eco réis e que r espondia pe lo excesso da despeza

feita com a exhumaçâo e t ras ladação .

' Tendo s ido tr ans fer ido do dia ao de mar ço o sarau l itte

o D R . J O SÉ C A R L OS R ODR IG U ES

C J O R N A L D O C O MM E RC lO e, D O R IO D E J A N E IR O

Pela benevºla e obsequiosa intervenção de um nobreamigo, recebi do R io de Janei ro um opusculo, a que

l igo a maior importancia e tamanha que darei aqui aimpressªo que me causou a sua leitura. E ' uma sepa

rata do artigo inserto no j or na l do Commer cio (a mais

antiga das gazetas fluminenses ) no dia 3 de maio 1 90 5

por seu auctor, o i l lustre di rector daquel la fo lha e acade

mico, s r. dr. José Car los Rodrigues , que o ass igna. C om

esta publ icaç㺠pres tou o auctor mais um serviço àsuaterra natal e não será decertº o de menor valor para te

gis tar na sua longa e bri lhante carrei ra.

D esse bom amigo, o sr . conse lheiro Joaquim C erqueir a,an tigo deputado as cor tes po r tuguezas e abas tado negocian te

no R io de Janeiro, intimo do dr . J o sé C ar lo s R odrigues e tamo

bem par ticipan do em a nova empr eza do J or nal do C om er .

cio, r ecebi o favor do bel lo retrato, de que mandei fazer a

reproducao pho to typogr aphica que acompanha e faz real

Sabia que o s r . dr . José Car los Rodr igues era jur isconsulto abalisado, com bom nome na A mer ica e na

E urºpa ; que era cr iter ioso economista, batendo-se cºm

os estadistas de mais elevada estatura do Bras il ; queera diplomata com o qual se entendiam, cordata e l isongeiramente, os governos constituídos nº seu paiz ; quesobrelevava, a estas qual idades e prendas inegualavel

dedicaç㺠pelos interesses dos pºrtuguezes res identes

naquel le vrgoroso emporio e que era bibliophtlo, de pr i

meira ordem, e ao percorrer , por necess idade ou por es

tudo. diversas regiões do velhº mundo e os seus pr in

cipaes mercados litterar tºs , procurava com intenso amor

descobrir precios idades bib liographicas cºm que fosse

en r iquecer a sua notavel bib l iotheca r ica entre as mais

r icas particulares dos seus estudiºsºs patr iotas da granderepubl ica bras ileira.

C om que não cºntava por sem duvida era que nº

meio de tão diversos e tão variados assumptos , algunsfadigosos , sobre os quaes tem que incidir a sua fina e

culta intel ligencia e a sua proverbial actividade, lhe so

bras se o tempo para descrever e dar aº prelo uma nota

1 84

catalogos das principaes bibl iothecas conhecidas e sao

cotadas no M anual de Brunet com essa nota .

E ffect ivamente, ao reg ressar ao R io de Janei ro levavana sua bagagem litteraria um exemplar dº l ivrº P aes-isuavemente n

'

l rm h'

e podia cons iderar fel icidade até

pelo preçº adquirido . Quantch tinha ped ido por esseexemplar mais de 20 0 l i bras .

O opusculo, de que me occupo, representa o formato

de 4 .

ºord., medindo zõoª'ª' X sendº cada pagina

compaginada a duas co lumnas com 64 l inhas de alto ,

aproveitamento pelo quarto da compos ição dº j or nal doComm e

—rb , citado ; 7 paginas de texto. O versº da ul.

tima pagina em brancº . Capa elegante de cor , impres sãoa preto, cujos dizeres são : 0 descoón

'

mcn lo do B r as il .

mento por C . R odr igues ,

A cademia R ea l das S ciencia: de L isboa . R io de Janeiro ,

typ. do « Jornal do Commercio» , de Rodrigues G '

190 5.

N o seu interessante e erudito t rabalhº, para chegar

a uma conclusão decis iva e irrefutave l, o s r. dr. Rooti

gues cita os estudos e investigações dº jesuíta Ti rabosch i , auctor da F u ton ]: da [aler taram ind iana , que

vae desde o seculº Xl antes de Chris to até o fim do

seculº XVIII da nossa era ; o theºlogº Simao G ryneo ,

que floresceu no meado do seculo XVI Ramusio, na suacol lecçao de viagens ; Berchet, nas suas M émoi r es de:

g r andes voyag es ; Brunet, no seu M anuel da l r'

ór as'

r e ;

Barbosa Machado. na B ibl iotheca L usitana ; Humbo ldt,no seu E s am a cr i tique Camus e outras auctºridades ,

e que se enganaram os que attribuiram a Cadamosto, ou a um « Pi loto portugueza, companheiro deP edro A lvares C abral, a primeira noticia do descobr imento do Bras i l, como saira na collecçao de N otem

com intrºducçao anonyma, tomo l l , n.

ºl l l , publ icação

mandada fazer pela Academia das Sciencias de L isboaem 1 8 1 2 .

Sendº certo que a republ ica de Veneza, no secu loXVI, cºm º desejº de alargar º seu commercio e as

suas relações , e dilatar a sua infl uencia, que já anteviaque se abater ia pelo desenvolvimento que tomassem as

navegações e os descºbr imentos de castelhanos e po r

tuguezes , desde o fim do seculo anter ior, era naturalconjecturar—se que algum dos venezianos , que saiam do

tor rão natal para percorrerem a E uropa nas partes que

mais os interessavam nos trabalhos nauticos dos es tra

nhos contra os i nteresses nacrº taes , s imulando digressões de recreio ; ou aquel les que por desempenho de

commissões of ficiaes t inham que sahir da celebre repu

b lica, fossem indagando e prescrutando o que passava

nas terras alheias .

A ss im os venezianos e outros membros do pºvo da

pen insula ita l ica, affi ns em interes ses mater iaes como os

genoveses , entrandº em Cas tel la e em P ortugal e apro

ximando-se dºs centros de acção onde eram maiores as

intrigas e as delações nas respect ivas Cô rtes , cujos so

beranos resplandecram no mundo pela sua lucxdez, de

desconhecidos e nunca dantes navegados ; mas não

es tava intei rado com minudencia do que tratavam e

punham atrevidamente em pratica os mar inheiros portuguezes e quer ia sabe—lo. Ex igia-º do seu antigo secre

tar io Trevigiano.

Quem deu a Cret ico taº seguras informações como

as que se contém nessa descripçao ? lgnora-se a prºce

dencia. Sou, todavia, induzido a acreditar que o cara

eter do embaixador veneziano na côrte dº re i Venturoso, a alacr idade e o justº orgulhº com que el. rei D .

M anuel tratava os negocios mar ítimos, a vºga que te

riam as ordens regias dadas para ºs aprestos dos naviospostos sºb o commando de ºusados navegadºres , a corres pondencia que àcerca do mesmo assumpto mantinhacom o rei de Castel la e A ragão , Fernando o C atholico ,

apezar de todas as reservas em que as envo lvia; e tam.

bem a agudeza dº diplomata veneziano em conservar

em acção discreta os seus ardis de acaute lada as piºha

gem, deram a Cret ico o fio da meada com que traçou

a vereda para descort inar o que anhelava por desc

vendar em beneficio do amigo e compatricio que o

instava.

Egualmente me confi rmº na ºpin ião de que os meiosempregados por Cretico foram acertados e seguros , desde

que sei que uma das cartas de el—rei D . M anuel ao « rei

C athºlico» , que se referia àaudaciosa empreza de PedrºA lvares Cabral , executando ordens e instrucções de sua

alteza seren iss ima em nova expedição para a India, dava

conta do descobr imento do Bras il , discorrido nao longºlapso de tempo da minuciosa miss iva, era divulgada e

1 89

impm , traduzida integralmente, por editor de Roma,em i so s.

Pode ser que esta opin ião seja erronea, porém não

esta rá longe da verdade. Emôm, salvo melhor juizo, odºcumento, a que se deu publicidade nº começo do se

culo XVI, e em parte remoduz do l ivrº P am '

o sr . dr .

Rodr igues para confronto, de pag. 5 a 7 do seu val iosoopusculo, parece que nao podia deixar de ser redig idopor pessoa que tivera àvista a ce lebre carta de PeroVaz de Caminha, dada àestampa em Portugal tres se

E s ta car ta foi muito bem traduz ida,de mau ital ian o , da

que se impr imir a em R oma nos pr elo s do impresso r ou edi

to r J oão de Bes iclten, pelo douto academico r ev. P rosper o

P er agallo , ti o apreciado e venerado em P o r tugal , e estaia

elo ida nas M emo r ias e documentos com que a commissão colombiana por tugueza con tr ibuiu para a so lemne commemO o

ração do a! centenar io do descobr imen to da A mer ica r eal izado em M adr id em t891 , tr abalho dir igido na A cademia R eal

das Sciencias sob a pr es idencia do fal lecido conde de F icalhoV. memor ias da A cademia, nova s er ie, tomo Vl par te II.

A commissão academia era compo stado s sr s. : pr es iden te,

conde de F icalho; l .' secretar io, M anuel P inheiro C hagas; a!

secr etar io, Joaquim de A r aujo; thesºureir o, A ugus to Car losT eixeira de A r agão; vogaes , A . A r thur Baldaque da S i lva,José D uar te Ramalho O r tigão, H enr ique L ºpes deM endonça,Theophilo Braga, José R amos C oelho , P ros pero P er agal lo,José Br az de O l iveira, Xavier da C unha, T homaz L ino daA ssumpção, A lvero R odr igues de A zevedo, R aphael Basto,Visconde de C ondeixa, G abr iel Victor do M on te P ereira,

A gostinho de O rnel las Vasconce l lo s , T homaz de C arvalho,F rancisco M arques de S ousa Viterbo ; com delegações no

P or to . em C oimbra, em G uimarães e no s A çor es .

culos depois e que foi novamente transcripta, devidamente corrigida, entre os documentos co lombinos nas

« M emor ias da A ma—ía» em 1 892 .

Em vista, portanto, do que posto tica, razão tem o

nosso i l lustre co l lega para a intima sat isfação com que

descobr iu em Londres e adquir iu uma precios idade bibliographica e del la pode vang lor iar-se para augmento

do br i lhantismo do seu bom nome no mundo intel le

ctual . E com justificada ufan ia e s incero enthus iasmo

decerto, escreveu no l ivro P aesí nuovamen te r i l r ouah'

o

que se lê a pag. 3 :

tudo nel le é precioso . A l i são pub licadaspela pr imeir a ve; as duas viagens de C adamos to

a Cabo Verde e S enegal, ao serviço de P o r tugal ;era a pr imeir a ve; que via a luz a nar rativa da

viagem de Vasco da G ama e a de P edro A lvar es C abr al á India e ao Br as i l; er a tambem a

p r imeir a ve; que se editava em italiano a ter

cerra viagem de A mer ico Vespucio, que tan to

no s in teressa a nó s b rasileiro s : era a p r imeir a

ve; que se editavam o s cur io so s documento s

que compõem o L ivr o Vl , pelo s r epr esen tan tes

venezianos em L isboa,em algun s do s quaes se

faz r eferencia dir ecta ao Brasi l . E , além de tudoisto

,as tres pr imeiras viagens de C hr is tovão C olombo,a de A lonzo N iõo e a de P inzon tinham

al i a segunda edição : N ão é uma jo ia o livr o,

mas uma cons tel laçâo de joias » .

V. o tomo VI das M emor ias,

IV

Antes de terminar esta parte, seja—me permittido deixarmais algumas l inhas de referencia ao opusculo citado.

N o começo do seu luminoso trabalho adverte o i l lustre auctor o atrazo em que andavam em Portugal nospr imei ros annos do seculo XIX, a respe ito de pesquizashistoricas , o que al iás não ser ia para admi rar attendendoas poucas luzes derramadas e às convulsões que envolviam, ass im interna como externamente, a nossa patr ia,principalmente, no primeiro quarte l do indicado seculo .

E' justa a observação.

Mas , para honrar a memor ia de um i l lust re varão, e

porque, certamente, algumas pm s que poss uam, ou

consu ltem, a Col lecção de notícias par a a historia g eo

g r aphic: das nações ul tr amar i nas que um nos domi

mas par ag ua y o u lhe: são w ir-mito : , vendo os prefa

cics dos dois primeiros tomos dessa pr imei ra conecção,

anonymos , não saberão que foram escriptos por Sebas »

t iao de Mendo T rigeso, então secretar io inter ino da nossaAcademia Real das Sciencias e por el la incumbido dedi rigi r tal publ icação ; e que, ao chegar ao tomo l l ,

doença grave o levara á sepultura em edade que dá es

A M D -'

N h s m: i nga m

e a m z r l r z ag a'

z. a s as ;:

gn rua ar z r ue zm z zzz

I ª ; J U : duu

nem se m m: T t: t um:

e:: a J f M ar s.. 3 : a nª l—u_

m a lu si x f : . f s

'

í 'ti

º' f ª J f ( “ n

'

ª

dao io, sem rece-i : ãe : c Varnha

gen com as R ! imp.

ª

s as e:: 1 S : o

tomo V da citada a'

z .V.—mm .

D epois , até o sabão M endo Tagima teve. na

gerencia daquel la publicação academica, como succes

| J

sor, a D antas Perei ra, o qual , conturbado pelos negociospolíticos em que se envo lvera, com intuitos ambiciososou por versatibilidade, e taes que o obr igaram a ir pas

sar e amargar os restos de seus dias fóm da patria, não

applicou à impressão da Conecção de N oh'

cias o que po

dia esperar-se e ex ig i r-se de suas aptidões scientificas e

l itterarias , comprovadas em annos anter iores e no des

empenho de varias commissões importantes de serviçopub l ico, ass im em Lisboa como no R io de J aneiro, onde

ganhára os galões de general da marinha.

1 96

java real izar : ter um periodico, em que pudesse disser

tar , com s incer idade e elevação. acerca de varios e gra

ves problemas pol iticos e economicos que se venti lavamna imprensa fluminense, que traziam conturbados os

animos e que podiam dar grande progresso e desenvo lvimento aos des tinos da nação bras i leira, impel lindoano caminho que o adeantamento da instrucção e da ci

vilisaçao indicassem, conservando-se, como até ali. alheio ,

e em discreta pos içao, a ' todos os agrupamentos partidar ios e facciosos .

Convi r -lhe—hia ter do seu lado uma fo lha como o j o rna ! do Commer cio , a pr imeira, a '

principal , a ma is antiga e a ma is cons iderada fo lha da capltal, cujas direcções t inham segu ido, inalterave lmente, em prol dos interesses publ icos , uma or ientação que lhe agradava;mastambem lhe convir ia alcançar a propriedade daquel la

gazeta para ficar sem dependencia na sua admin istr acao. A difhculdade es tava na vontade do dono , repre

sentante e herdei ro do hon rado e i l lustre Jun ius V i l leneuve e no preço porque se faria a alienacao

'

desse

«Colosso da Amer ica do S ul» , como o denominou o es

clarecido auctor das Wear .

Pensou que nao chegar ia o que pudera poupar de

suas economias para '

ta l negocio, mas tiouo se no seu cre

dito. na sua; probidade e nos recursos que lhe advir iamda boa vontade de '

alguns bons e val iosos amigos dapraça do R io de Janei ro . A ss im succedeu.

V il leneuve, ao cabo de serias e bem encaminhadasnegociações e accõrdos, cedeu, favorecendo

'

o desen lacea morte do ant igo director, dr; Luiz de Castro, a quem

1 97

o periodico, sem duvida, devia na sua impmtancia,mtentas servicos . E sse obito occorrera em 1 888 e o dr .

L uis de Cas tro fôra subs tituido pelo conselheiro J oi oCarlos de Souza Ferrei ra, jornal ista estimado, muito cons iderado na imprensa fl uminense, e que pertencia desdemuitos annos ao quad ro da redacao do/om al do Com

m eio, tendo a seu cargo especialmente a secção l itteraria e commercial ; porém, es te , por doença invencível,de que veio a fallecer em abri l des te anno corrente

teve que ret i rar-se de servico ef ectivo.

A sua morte foi tao sentida que o /m al do Com

mer cio, na sua secçao necrolog ica, exaltando as qual idades e o caracter desse i l lustre jornal ista, e sal ientandoque el le, na imprensa, só contava amigos que o veneravam, diz com mu ita jus tiça : — as correcção da sua vida

igualava a competencia no exercicio da sua profissão : »

Foi no me io des te e outros elementos , por egual val iosos e ponderaveis , que o dr. José Car los Rodr iguesul timava o seu accordo com V i l leneuve, formava uma

empresa em commandita com var ios amigos , altos ne

gociantes , recebia a propriedade do j or nal do Commercio e assumia a sua direcção plena, adoptando a fi rma

R odr igues (S'

que se lê na parte superior da primeira pagina dessa importan te folha.

O j or nal do Commer cio no anno de 190 7, que estácorrendo , en trou no 87.

ºanniversario dessa hon rada e

g lor iosa ex istencia.Em o Naml de 1 90 2, isto é a 25 de dezembro, quan

do contava 82 anuos de vida, o j or nal do Commer cio

publ icou um numero de tr inta pag ina: , facto que se

1 98

não dera jamais na imprensa bras i lei ra (e nunca em a

portugueza) e que foi um assombro para os que moure

jam nestas fainas . A pr imei ra pagina e parte da segun

da do g rande formato 76º >< 58

º

que tem aque l la gazeta, foi preenchida com a redacção , unica, do dr . JoséCar los R odr igues . M ais de doze columnas compactas !

Exemplo de portentosa actividade.

E que s incer idade, que unção, que patr iot ismo, quepropaganda tão alta e democratica, a transudar daquellaescriptura, seria e vernacula, para exalcar a 53 doutrinado D ivino M es tre, que teve o nome de Jesus !

O dr . José C ar los R odr igues, quando es teve na A mer icaingleza, além de outro s tr abalhos scien tifico s e ;udiciaes , a

que se dedicou, na profisúo de advogado, mandou lá impr imir as seguin tes obras , que não vi, nem possuo , mas que veio

r egistadas no gros so vo lume do « catalogo u da expos ição da

imprensa do Bras i l , r eal isada ha annos no R io de Janeir o

O novo mundo .— P er iodico il lustrado . D o pr ogresso . da

po l itica, lítteratur a, ar te e industr ia. E scr ipto do N ovo M undo,

1870 4 879, 9 vo l . , fo l . com es t .

R evista indusm'

al . i 877— 1878. N ew —Yo rk. F o l . com es t .

A ndava annexa apub l icação acima.

a s tihu'

ção pol itica do imper io do B r as il .— S eguido do

acto addicional e da lei da sua inter pretação e de outras,

ana lysada po r um jurisconsul to e novamente anno tada, etc.

R io de J aneiro, 8 . H. Lu mine", t863 . de 27 : pag . e mais

a innumer adas .

E s tava para en tr ar no pr elo esta fo lha quando soube,

po r aviso do meu obsequiado r amigo , con selheiro JoaquimC erqueir a, a quem já me r efer i no começo deste capítulo , que

no dia ag de março do anno co r r en te 1907) fô ra pub l icado o

A propr iedade actual do j ama ! do Commer cro perten

ce, como já disse, à firma Rodrigues Sr de que é pr incipal socio o s r. dr. José Carlos Rodr igues, que tem sa

b ido manter, com o mais elevado criter io e com a maiorprobidade proãssional, os creditos da folha que dir igedesde ha muitos annos .

T aes e tão relevan tes tem s ido os serviços pr es tados pelodr . J osé C ar los R odr igues ao s po r tuguezes r esiden tes no R iode J aneiro e r esal tam al i po r tal modo e com tão b r ilhan teco lo r ido , pr incipalmen te na ques tão dos vinhos em que algun scommercian tes daquel la pr aça desejavam prejudicar e lançardescr edito immer ecido sobr e o honrado commercio po r tu

guez, numa questão vital ,— como é para P o r tugal a ques tãodos vinhos, que a benemer ita A ssociação C en tra l de A gr icultura P o r tugue

' a se apr es sou em enviar áquel le il lus tr e cida

dão br asileir o , pr eclaro e pr es tan tiss imo jo r nal is ta, a fren tedo decano dos per iodico s do Brasil , um dos mais hon r osos

documentos que tem saído daquel la associação como teste

munno de perduravel gr atidão pela tão efii caz defensa do s

in ter es ses da agr icu ltur a nacional e do cr edito do commercio

po r tuguez .

E is os documento s pub licado s , de que tomei no taA direcção da R eal A s sociação da A gr icul tur a P o r tugueza

T em s ido correspondente effective, em L isboa, o s r .

José A nton io de Freitas , que foi estudante mui distincto das nossas esco las superiores , e é l itterato apreciadopor sua erudição e orador en thus ias ta, cor recto e fogo

50 , ouvido sempre com attenção e applaudido com fer

dir igiu aos seus socios a seguin te cir cular e pr o jecto de mensagem

l l l e ex .

-0s r .

— C aso v. ex!approve o theo r

da mensagem aqui jun ta, para ser enviada ao

benemer ito cidadão b r as ileir o , o ex .

"s r . dr . José

C ar los R odr igues , impr essa em pergam inho, e

den tr o de uma pas ta ar tis ticamen te deco rada.

pedimo s- lhes o favo r de devo lver com b r evidade,

a meia fo lha das ass ignaturas , as s ignada po r v.

ex)e po r aquel les do s seus amigos, den tr o da

clas se agr íco la, que queir am fazer —no s a fineza

de se associar em a uma tão jus ta homenagem .

D eus guarde a v. ex ) — L isboa, 1 5 de setem

br o de inca.— A dir ecção . F ranci sco A ugus to de

O l iveira F eijão , conde de T aboeir a, J oaquim Xavier d

'

O r io P ena,dr . P edr o M on tei ro , João S on

r es Branco , A n ton io Vianna e A bel F on toura daC o s ta

M E N S A G E M

A direcção da R eal A s sociação C en tra l daA gr icul tura P o r tugueza, cer ta de que in ter pr e

tava o sen tir de todos o s seus consocios , dir i

giu-vo s uma men sagem de applauso e r econhe

cimen to pelo s re levantes serviços pr es tado s po r

v . ex ) a agr icul tur a e ao commercio de P o r tu

gal , combatendo energica e nobr emen te em de

“ A N E E L DE J ES U S C O EL H O

Coma o anno 1 850 . O u antes , estava tindar ess:

O s area da po litica nacional viam—se turvos . O s que

tinham ficado vencedores , depo is da luta sangrenta

fratn'

cida da M aria da Fonte, podiam ter—se alegrado como triumpho ; mas viam bem que os vencidos tinhamainda a razão e a justiça do seu lado, e que as tempes

tades imminentes só vi riam a desencadear-se contra os

que tripudiavam com as palmas da victoria.

N essa luta, com certeza, o partido popular ticára derrotado e humi lhado pela intervenção estrangei ra ; mas .na sua consciencia, avançára para conseguir o que de

sejava. O sangue dos vencidos espadanára para mancharindelevelmente o carro triumphal dos vencedores . H a

triumphos que derrubam e anniquilam.

A voz da nação, que pedia que a attendessem, pre

tenderam estrangula-la, como num suppl icio, porém

t inha que soltar-se mais forte e energica e fazer pertur.

u

2 1 0

bar e estremecer os que parecia que se erguiam como

carrascos . Para estes , o abalo foi profundo e conv iacente.

.F indára a luta da M aria da Fonte. O s populares , ospatulêas , capitulando, tinham entregado as armas . R e'

colh iam aos seus lares na apparencia submissos , porquesobre el les pendia ameaçadora a espada dos que t inhamrepresentado a força. Todavia, recolhiam com as s uas

ideas , com as suas convicções , porque estas , quandoenraizadas , nenhuma força esmaga . E t inham ante s i as

causas odiosas que os hav iam lançado nas arr iscadas elas timosas contingencias da guerra civi l .A ss im, muito no vigor da v ida e no ardor da paixão

partidaria, não quer iam voltar o rosto a novos r iscos e

preparavam-se para entrar em campanha acaso mais

cheia de contrar iedades e per igos , contra um in imigoque dispunha de todos os recursos , até o mais cruel ebarbaro, se chegasse o extremo de emprega-lo. Abr ira-se,

pois , novo periodo de actividade pol itica.

E ra necessario, era urgente, conspirar para destruir o

ex istente. O ex istente era tudo o que então havia de

peor . A maior ia da nação l iberal esmagada pela minoria, que dispunha de todos os meios da força pub l icapara anniquilar a l iberdade conquis tada à cus ta de mi

lhares de víct imas , que podiam attestar em ruinas e

destroços patentes , e sem indemnisação poss ivel , quãocaro e quão pungitivo lhes fôra quebrar os g r i lhões doabso lut ismo.

Conspi rava—se, portanto. Conspi rava—se nas casas das

fami l ias , junto das lareiras , nos cafés, nas ruas , nas pra

2 1 2

e commodos , M oraes Man tas . Posso afã rmar que estes

dois amigos eram dos que davam razão ao poeta— dan

tes quebrar que torcer. Eram de caracter são, integro ,

da mais exemplar dedicação part idaria. O primei ro poucoadoentou com estas qual idades. ou não quiz faze las vao

ler ; o segundo, o seu partido, fel izmente, premiou-o.

V isitava ambos . G ui lherme Teixei ra vivia, como es

tremecido parente. em casa da fami lia do grande actor

T heodorico, padrinho de outro distincto actor do mesmo

nome, que teve aureos dias no theatro normal ; e viviasatisfeito do seu traba lho.

M oraes M antas morava com a fami l ia numa casa da

rua do Loureiro, que tem um pateo ou mirante ajardi

nado sobre a rua Formosa. A o longo do mirante corriauma par reira, que dava uvas . N ão me lembra a qual idade, mas naquella epoca não era atacada por nenhuma

doença. .

El le dera fi lha quer ida, a luz dos seus o lhos , o nome

de Bernarda, na qual tornara perduravel o nome da re

volução em que entrou com enthus iasmo e pen sando

com rel igiosa fé no futuro da patr ia quer ida ! Revia—se

nessa fi lha e chorava com el la e com os demais fi lhosas desgraças da epoca. E vivia al i pobremente, sem se

queixar .U ma vez ouvi-lhe— V i rão para a patr ia dias mais felizes ! O lhe, meu

amigo , hoje ainda tivemos , eu, a Bernarda e a ra tante

fami l ia, para comer pão com uvas . A quel la parreira ésalvadora !O pão, que podiam comprar, era do mais infer ior .

e Cºnsolador nestes tempos de prosaísmo, deindifferença e de ego ismo — e porque nao de cynismo ?

pºr na tela da h istoria, que fique como a inscr ipcão

no marmore, o perfi l de homens bons , sãos e correctos !

Homens de um só rosto e de uma só fé, como JoséA nton io do Nascimento Moraes Mantas .

nel la, passados alguna annos , se ti liaram, por necess i

gio tr ibuno. O marquez era um homem lhano, no trato

tigioso. N ão podia dar se a outro, portanto , a chefatura

do partido popular, o mais democratica dos que estavam

em desharmon ia e luta com outros agrupamen tos— o pa

tuléa ! O nde era necessar io exercer a suprema influen

cia, lá se encontrava el le. N em pode ob l iterar—se nunca

a lembrança dos homens que elevam as grandes fracções

po l iticas e as dirigem.

Entre os amigos particulares do marquez de Loulé ,figurava o M oraes M antas . El le contava, sem hes itar ,

com a dedicação e a fidel idade deste correl igionano. E

podia contar .

F oi com o M antas que entre: em casa do M anuel deJesus Coelho. Havia urgencia de effectuar ali certo nu

mero de reun iões nocturnas , não obstante aquel la casa

estar vigiada pela espionagem, que era numerosa e de

A typograph ia de Manuel Jesus Coelho era na rua

do Poço dos Negros , num predio velho, ennegrecido, deaspecto pobre, como era mesquinha a ofiicina em que

se compunha e impr imia em 1 84 3 0 P atr iota e depois0 P or tuguez . Manuel de Jesus era o editor responsavel ,com a responsab i l idade que tinha então.

Leonel Tavares Cabral era o redactor principal , quefôra advogado e juiz e deputado às côrtes , gosava das

geraes sympathias do partido popular ao qual se l igarae ao qual lealmente servi ra apesar das perseguições po

l íticas que lhe moveram os seus adversarios .

A O fficina de M anuel de Jesus , mal tratada emquanto

às condições hygien icas e com diminuto mater ial typographico, revelava bem as más circums tancias com que

era impressa aquel la folha, orgão da patuléa. O s typographos trabalhavam al i incommodados de dia pelascondições da casa e de noute porque a il luminação que

lhe davam era pess ima e de certo desenvo lveria nel lesalgumas enfermidades , sobretudo as tis icas e as ophtal

M A N U E L D E J E S U S C O E L H O

2 1 8

intuito de derrubar os C abraes . Apesar dee inexper iente, o ca lor da mocidade e a con

com pa soas que então trabalhavam sem des

n essa occas ião, aquecia-me o sangue dos 1 7 an

dade e não recuava. Aborrecia as arbitrarieda

v despotismo

IV

Man uel de Jesus Coelho morava, como disse, num

predio da rua do Poço dos Negros , que tinha o n .

'

54

e hoje tem o n .

"34. O ccupava dois andares . N o pr io

meiro es tabelecera a typographia para a compos ição e

impressão do periodica P atr ick e outros papeis avulso,pois que quando o int imaram para a suspensão da folhae lhe deixaram os typos como fiel depos itar io , pelas horas mortas , em que os es bi rros, menos vig i lantes , suppunham que os typos como a fami l ia procuravam o re

pouso das fadigas diurnas , lá se moviam os caracteres

tvpographicos , làgemia o prélo de ant igo systemamodelo da infancia da arte — e de lá saiam proclamações

e outros papeis subvers ivos . Quem os apanham e os pu

sera sob a alçada e o cacete dos esbirros l Este factodeu—se tão repetidas vezes que eu suppuz, talvez com

bom fundamento, que os espiões nao velavam, dormiam.

D e outro modo, não só a família, os operarios e os ami.

gos, ter iam sido corridos da l i para o Limoe iro. mas tam

bem germinaria nos espiões a idea— consoante com o

desejo dos que governavam— de lançarem o fogo ao

pred io ! D esaparecer ia tudo de uma vez. N inguem se

220

lembrava da machina infernal , nem t inha apparecido emPortugal a medonha seita dos libertar ios lEm casa de Manuel de '

J esus conheci , por pr imeiravez, a Leonel Tavares Cabral . E stava já entrado em an

nos . Passava dos 60 e já padecia bastante, ao que melembra. E ra dos bravos de 1 83 3;e, acompanhando sem

pre o partido l iberal mais avançado, sacr ificára—se por el le.

P rompto para as conspi rações , de espada ou de penna

em punho, dava a imprensa diar iamente, os trechos dasua prosa vir i l e vehemente.

Em 1 846, para evitar maiores perseguições , foi apresentar-se na cadeia do Limoeiro. O s esbi rros não fol

garam, porque lhes fugira a occasião de maltratar umhomem de valor . Ia passar por sobre o Leonel Tavaresmais um per iodo de soffr imentos , entre ferros , como se

fôra um cr iminoso vulgar . N a immundicie daquelles casarões se encer rou até o fim da luta da M ar ia da F onte,

não querendo sair até quando abriram as portas da ca

deia para todos os presos . A lheio ao movimento desor

denado, que inundava de facínoras as ruas de L isboa,el le não quiz participar desse acto que reprovava.

Imagine-se como sai r ia Leonel contra os que tinham

o poder nas mãos , e queriam dar àrainha D . M aria II

o papel de ann iquiladora da lei fundamental , doada porseu pae, de saudosa memor ia, como penhor da es tabil idade do throno. A voz de Leonel , vibrava como a sua

escripta e açoutava os adversarios , pouco propensos a

conversão , rasgando-lhes a pel le ! T inha a an ima- lo a

memor ia e as tradições dos g randes vultos das campa

nhas da l iberdade !

222

O P or tuga : arras tou a sua existencia até dezembrode 1 866, sendo nos ultimos dez anuos seu redactor

principal o bacharel João Felix Rodr igues , a quem os

adversarios lançavam o ridículo dando—lhe a alcunha deT unas , mas que em muitos trabalhos l itterarios e con

trovers ias de alguma impo rtancia provou a sua compe»

tencia e os seus es tudos . U ma de l las , bem extensa, fõra

com o gigante do periodismo portuguez Rodr igues S ampaio, e, diga-se com just iça, não ficou em muito má po

Conheci tambem em casa do Manuel de Jesus ou

tros homens importantes , muitos dos quaes entraram

depo is nas pr imei ras l inhas da alta representação po l itica, tomando até parte na gerencia publ ica. Entre es

ses , mencionarei : Anselmo Braamcamp. Rodr igues S am

iatn suppl icar ; e tambem con tava com a prºpaganda a que

não fugir iam o s benemerítos de 1820

E ntr e o s fundado res figu ravam , como no tei, o medico lgns»

cio A ntonio da F on seca Benevides , pae do il lus tr e professor ,directo r do In s tituto industr ial, F rancisco da F onseca Benevides ; o advogado F r ancisco L uis de G ouve ia P in en ta e o

academico e philo logo P edr o J osé de F igueir edo , “ qual er adada a incumbencia de examinar

,revêr e dir igir as obr as que

a mesma empr eza editor asse.

A empreza tinha egua lment e em vis ta melho r ar todo o

mater ial typographim da sua imprens a, mandando vir do

estrangeir o o que lá houvesse mel ho r e mais aper feiçoedo .

O thesour eiro e dir ecto r da typographin era um R ol land,fami lia que tanto represen tou nas empr esas l it terar ias dos

pr imeir os quar teis do seculo xrx

22 3

paio , O l ivei ra M arreca, Casal R i bei ro , José M iguel daC osta. Mattos Pinto, José Estevão, Mendes Leite , os

irmãos G onçalves Correia, ambos cirurgiões -medicos ,muito bem vistos e cons iderados no bai rro da A lfamapor seu demonstrado alt ruismo ; Bernardino M art ins , aquem es tava confiada a gracim direcção do supplemento bur lesco ao P ern eta ; João Mar ia Noguei ra, Xavier de Quadros , Latino Coel ho, A ntonio G il , dr . J oa

quim José A lves , José M ar ia Chr istiano , G ilberto A ntonio R ol la e J osé M iguel Ceci l iano Rodrigues (estes

dois ultimos oúiciaes de artilheria) , e outros .

Pod ia citar muitos nomes . alguns que figuravam em

proclamações eleitoraes e de propaganda po l itica, como

G ilbert o A n ton io R o l ls mo r reu no pos to de gener al . F o i

jo rna l is ta, companheiro e amigo ín timo de Sousa Brandão e

de José E l ias G a rcia, com os quaes depois compar ticipou em

tr abalhos po l it ico s de out r a or dem, com ideaes mais avan

E ra p i e do ant igo pro fesso r , de egual nome, estabelecidocom um coãegio no pr imei r o andar do p r edio com tr es tren

tes , ent re as ruas do N o r te e das S algadeir ns, e a praça do

monumen to Camões (vu lgo , L o reto, onde es tiver em os his

tor ico s casebres ) . E s te co l legio , hem conceituado . dera edu

cação muitos mancebos como hoie a E sco la A cademics ,s E soola N ecionei e a do G odinho , cal ligr apho , que sairam

dal i par a esco las pub licas superior es e per a exer cerem logar es eminen tes na repub lica.

P ela mo r te de seu pee, o irmão do gener al, de nome Jo sé, ,

que desde muito exercia as funcções de ajudante do pr o fes

sor , mudou o co l legio por : um palacio S . P edro de A lcanter. , na frente da to r re de S . R oque, e s hi t

'

d ieeeu.

224

os vejo em documentos datadºs de 1 849 , pºrem não

tenho a certeza de ºs ver reun idos em casa dº Manuelde Jesus Cºelho, pºrque as reun iões então multipl icavam-se, ora nas casas de uns , ora nas casas de ºutros ,ºra nºs botequins , alternando as pessºas que a el lasconcorr iam, para desor ientar a espionagem na sua tr istemissãº. A ' falta de prºva incontestavel , que me certifi

que a verdade, o melhor é ficar pºr aqui e não estender

a l ista.

Egualmente, via, as vezes , lá um grupo de typºgra

phos , mºçºs , ladinos , enthus iastas , cºm bastante san

gue e fºgº, e pºuco dinheiro : cºmº G ui lherme Rademaker Teixeira, que já citei e que depois foi pºr muitºsanuos º intel l igente director do quadrº typºgraphicº dºj or nal do Commer cio, para ºnde º chamou, e cºm acer

to, 0 propr ietar iº Luiz de A lmeida e A lbuquerque ; P edro A ntºn iº Borges , que teve uma typºgraphia na rua

dº A rcº e fºi editºr de uma fºlha denºminada P r og r es

s is ta ; Leandro Jºsé R odr igues , que era cunhadº dº

M anuel de Jesus Cºelhº e dir igiu a imprensa do P a

tr iota e Jºsé A ntºn iº de A morim, que fô ra sargento de

um dºs batalhões da patuléa e estava empregadº na

mesma imprensa. Este fal lava e escrevia cºm energia,

e sem duvida cºm alguma cºr recçãº, e lá se fºi para º

Bras i l, em prºcura de melhor cºl lºcação que lhe faltouna patr ia, e pºr lá mºrreu pobre e encanecido . Tinhaantes cººperado na fundaç㺠da primeira assºciação typºgraphica l isbonense, em que pºr ent㺠se empenhara

º engenheirº Franciscº M ar ia de Sºusa Brandãº.

Citarei ainda especialmente º Jºsé M aria Chr istiano,

genera l º marquez de Loulé, lá estava o

iria Chr istianº àfrente de um grupº de mus icosdistinctºs , dºs mais es timadºs e dos mais ap

6.

do Chr ist iano formavam- lhe uma especie de

cºrtejº prºfessores como Jo㺠G azul, Franciscom a ria de Freitas , Thºmaz Jºrge, Jorge T iWQS F irensºla, Jºsé Mar ia Alcºbia, Costa C ha

Rºm㺠V ieira, e ºutrºs .

Jºsé A ntºniº dº Nascimento M ºraes , ass im se cha

mava es te cidadão prestante quandº fºi chamadº pelºseu meritº para dirigir a fabr ica nacional das mantas ;mas pela sua bºndade attrahente, pe lo seu trato capti

vante, dentro de pºucº, incluindº ºs seus operar ios que

o estimavam, deram- lhe º cºgnome de M an tas e não se

julgandº ºffendidº nem humilhado, antes cºns iderando

a alcunha cºmo dis t inctivo nº seu brazão de industr iallabor ioso e demºcrata. adºptou a alcunha e accrescen

tou—a aº hºn radº nºme que tinha e que legºu aºs seus

herdeirºs .

M ºraes M antas convivera cºm ºs hºmens de 1 820 e

nunca se afastºu dºs ideaes que el les representavam e

seguiram e pºr issº padeceu. E cºm el le, a famil ia e

muito.

N 㺠acceitou, portantº, as mudanças que se iam ope

randº e cºmbateu cºm a energia, º vigºr e a influencia,de que pod ia dispõr , º abso lutismº. Teve que se escou

der , po r vezes , para se l ivrar do cadafalsº , ºnde cairam,

desgraçadamente, muitºs dºs seus amigºs . Contava-se

que auxil iara as ºperações dº cºnde de V i l la F lõr pelºsul e levara- lhe, com riscº, sºccºrrºs de homen s e di

nheirº quando as fºrças daquel le general , amigº dº imperado r e rei D . Pedrº IV, aceleravam as marchas for

àvista de Lisbºa. Que transe e que herºicidade l

Já a este factº me refer i em ºutrº capitu lo nº começo

do tºmº presente.

M ºraes M antas fºi empregado super iºr da alfandegade L isbºa, que se denºminava « alfandega grande» . O

seu empregº era de « guarda—mºr» , compet indo-lhe todºo serviço da fiscal isaç㺠nº rio. A sua vida, cºmº pºdesuppôt

—se, fo i sempre cºrtada de cºntrariedades que provinham dos accidentes e egitações da pol itica nos pri

meiros annºsWdepºis dº restabelecimentº dº gºvernocºnstitucional . Ass im ligado a homens , cºmº º revoluo

cionario F rança, dº arsenal da mar inha, que se envºl

vera em diversas sedições e revºltas , em que se viu em

scenas tragicas º pºvº de Lisboa, cºmº º dº assass íniºdº min istrº de estado A gºs tinhº Jºsé F reire, apaixonara-se pºr esse tumultuar das multidões , ora conspirando

sºb ceo aberto, ora embrenhado em con luios , nas trevasdas sºciedades secretas , que eram numerºsas naquel la

epºca, fºra dº alcance dºs es birros , preparandº e aux il iando a explºs㺠de « bernardas» , para a substituiçãº

de ministerios que n㺠agradavam ás aggremiações em

cºn luiº.

M ºraes M antas era l iberal audaciºso, valente e hºn

rado . Tinha caracter . E ra dºs taes de ºutrºs tempºs .

F irme na sua fé, submissº aºs seus princípiºs po l iticºs ,

Esta carta, na integra, vem no tomº II da

con tempor anea , já citada.pag. 366 .

O s adversariºs da revºlução de setembrº tinham

esses , e outrºs hºmens po liticºs , cºmº espectrºs queE )lhes davam insºmnias ! d e ram !

V l

J a que t ive necess idade de ampl iar esta parte dasminhas reminiscencias que v㺠cºrrendo nestas paginasdesal inhadas sem as pretender guindarepithetº de « estudº h istºr icºs , para dar a fasao pºr que

Mºraes Mantas déra àfi lha di lecta o nºme indicado.permitta—se—me que accrescente mais algumas infºrmações , se n㺠me atraiçõa a memoria, e que considero ti

E'certº que a « revoluç㺠de setembrºa foi pºpular e

plana da pºr um grupº de hºmens , que tinham abraçadº ideas avançadas e que se prºpunham a sacr ificarem-se pºr el las . D esse grupº sai ram uns hºmens que

se conservaram fieis aº seu credº e ºutros que, pºr ambição , se desviaram dos seus cºmpanheirºs e segui rampor outrº caminhº , consºante cºm a realisaç㺠de novºsideses diametralmente ºppos tas .

A revo luç ão apoiava-se em d iversºs agmpamentºs ,uns que trabalhavamàluz do dia, sem receio ;e ºutros

que se ºccultavam nas trevas , fi l iando-se em sºciedadesque a lei n㺠permittia pelº seu caracter secretº.

O ra, n&sas sºciedades , trabalhando as claras , ºu ten

2 32

dº as suas reun iões em casas vedadas aos cur iºsºs e ao

publ icº , v iam—se, entre ºutrºs , a Antºniº Bernardº daCosta C abral , que depºis subiu aºs mais altºs cargos

do reinº e teve suprema influencia nº seu tempº ; 0F rança, funccionariº super ior do arsena l da marinha ; oMºraes M antas , seu intimº amigº, e ºutrºs . cujos nº.

mes é escusadº agºra reg istar.Quandº se viu º pr imei ro elevar—se tantº e a querer

estabelecer—se numa ºrdem de ideas que des truía pelabase os principios proclamados nº advento do reg imenl iberal retrogradando para o reg imen anter iºr , não se

acreditava que tal es tadista viesse das fi leiras mais pºpulares e mais avançadas e nel las figuras se cºm um eh

thusiasmo que se regis tava e arrastava pela sua energia

e pe lº seu calor ºs que se conservavam ti bios e indeci:

sos , pºrque n㺠quer iam ir tão longe.

U m dºs mais activºs e dºs mais demºcratas membrºsda sºciedade patriotics , dºnde saiam ºs revolucionariosde 1 8 36 , era 0 Cºsta Cabral (Antºn io), depois cºnde e

marquez de Thomar , cºntra o governº dº qual se ergueupassados to annºs a maiºria da naç㺠. Tenhº, entre osmeus pape is cur iosºs (miscel lanea var ia) um autºgrapho,

em que esse celebre estadis ta, de seu punho , cºmo ia

tuito de desenvºlver a sºciedade ºnde se ti liâra e a que

t㺠dedicadamente se entregara, propunha para sºcioum distinctº ºfhcial de arti lher ia e deputadº às cºrtes

(na legis latura de 1 8 37 Rºque F ranciscº Furtadoe Mel lº . A propos ta é datada de 2 de março de 1 837 .

D ou em frente º [Wh i le em photº-typia.

Em ºutrº autographo, que tambem pºss uº do França

'

M e -a,

2

7 %

F A C —S iM l L E

D E um P ROP OST A no F R A N ÇA , no A R S E N A L

A narraç㺠do homicidiº dº min istro e cºnselhei rº deestado A gos t inho Jºsé Freire, nas obras que tenho pºdido manusear ou eu possuº, ºu se encºn tra muito lacon ica, ºu cºm pormenºres que se me figuram exage

rados e erroneºs , cºmº pos sº inferir de apºntamentosque tenhº ºu de infºrmações de pessºas ainda sobreviventes que julguei no caso de me informarem com acerto

Nº dia 4 de novembrº de 1 8 36 a rainha D . Maria l lmandºu chamar aº paço de Belem A gºs tinho Jºsé Freire,A ntºniº J ºaquim de A guiar , S á da Bandeira e ºutros

estadistas para os encar regar da ºrganisaç㺠dº ministe

r iº que devia succeder aº que estava fºrmadº pela re

vºluç㺠de setembrº.

Tºdºs ºbedeceram sem hes itaçãºàs ordens da rainha.

A guiar nesse dia estivera cºm o F reire e vira-º tardar-se

de grande un ifºrme e cºm tºdas as suas cºndecºrações .

A o chegar a hºra da partida, º F reire convidou—o e in

s istiu cºm A guiar para que º acompanhasse a Belem,

indo ambºs na mesma sege, que estava prompta e aes

pera á pºrta ; mas A ntºn iº Jºaquim de A guiar descul

pou-se e disse-lhe que preferia ir ao arsenal da mar inha

e embarcar num escaler que º levaria a Belem.

23 5

O bedecia a urn preaentimeneº mais ou menºs funda

do, e naº se arriscava a algum desvario da pºpuh ça.

O s tempºs n㺠cºr riam muitº bºnançosºs oºmo é sa

Agost inhº Jºsé Frei re sorr iu—se, despediu—se dº amigº

que o havia de levar aº paçº. Fiava-se el le em demas ia

no seu animº fo rte e persuad ia—se que o pºvo lhe res

peitaria a farda e as veneras . sem lhe peu t na con.

sciencia qualquer fa lta ºu desviº na sua vida pol iticaanter ior . Ent re o pºvo cºrria uma aura cºntra el le des

de que º viram afas tar—se dºs pr incipiºs que cºm tan to

ardor defendia aº ladº dos eg regios promotºres da re

voluçl º de t820 . tornando—se até muitº sal iente nos importantes trabalhºs das cõrtes cºns tituintes .A guarda naciºnal recebera ºrdem de fºrmar pºr ba

talhões em var ios pºntºs da cidade. Coube aº t s.

“ ir

postar—se entre a Pampulha e a pºnte de A lcantara.

Este batalh㺠era dº commando de Caldei ra e uma das

cºrnpanhias t inha cºmo capitão a Mºraes Mantas , quesó no annº seguinte é que teve º pºsto de tenente—cº

rºnel e o commando dº corpº , ºnde era grande a nu

mero dos exaltadºs em cºusas pºl iticas .

Quandº fºi avis tada a sege em que ia A gestinhº

Jºsé Freire e este foi recºnhecidº, uma das praças due da companhia de Mºraes Mantas . sem que es te

º pudesse evitar , taº rapida fºi a acena tragica, uma

das praças, repitº, cºrreu de arma engati lhada sobre a

sege e apºntandº para º min ist rº disparºu. A morte deAgostinhº Frei re foi instantanea.

2 36

Estabeleceu—se des de logo um borborinho e alvoroto

entre os guardas nacionaes e nes sa desordem houve tro

ca de t iros , dizendo-se entre o povo que um do t s.

º ti

câra sem um olho.

N em este facto, nem o que depois a populaç a fez docadaver de Agos tinho José Frei re, como no anno se

guinte veio referido num folheto escr ipto e publ icadopor um amigo do i l lustre e mal logrado min is tro, ficarambem aver iguados e parece

-me que, como sempre succede

nessas perturbações das ruas , em que entra a plebe emag itaç ão febri l , houve exageraç ão em a narrativa que

passa por inexacta ou por mal aver iguada. A popu laçal imi tou-se a roubar as jo ias do minis tro, cujo cadaver

foi, nessa tarde, transportado para o cemiter io occidenta l(dos P razeres ), onde a piedade da fami l ia 0 conservou

resguardado em jazigo .

A morte de Freire, pelos seus elevados merecimentos ,causou profunda sensaçao na cidadeCus ta rememorar es tas scenas de barbar idade. mas

a h istor ia é inexoravel e ao abr ir de novo pag inas tãotumul tuosas , que não pôde t rancar, porque a verdade,

embora pese, ha de apparecer com as suas cruezas , tem

que o fazer apontando taes nodoas odiosas com justifi

cada repulsão, es tigmatisando—as .

Joaquim Anton io de A guiar fôra, com effeito, ao pago

de Belem num escaler do arsenal e contou, ao regressar ,que o persegui ram ainda alguns populares . dentro debotes e catraias , que não alcançaram o escaler, que vao

lentes mar inhei ros remadores faziam cortar com velocidade a agua do Tejo. E ,chegára a salvo.

O auctor do folheto citado continúa

. . a revo lução de setembr o foi anonyma o

nos so testemunho, fr aco como ell e é, nó s o da

mos em abono des ta verdade : o ins tincto da

oonser vnçl o nacional, philosºphia do povo,

que não é d ' “ ª-tpem ante par a não es tr e

mar o mal do bem, pr oduz i ram essa revo lução ,que o povo não fo i capaz de obs tar e que com

o andar do tempo detur pada em sua o r igem ,

em suas formulas , mo r reu com pausa eWii , mas pura e nobr e como nascer a.

execrando assass in io de Agost inho Jºséimpune, como tem succedido em gra

populares , o folheto accrescents tugu

. O assas sinato de A go s t inho J o sé F r eir e, pr a

t icado tumu l tuar iamen te, e em um momento de

r evolução armada e desafiada, é con s tan temen te

t raz ido como desdour o da R evolução de serem

br o : não jus tificamos esse assas s inato , só dir e

mos que quan to á sua impun idade que cr imes

taes, e em taes occas iões sempr e t iveram egualsor te, ficando es se as sass inato muito aquem do

ass ass inato legal do gener al T homás da G uar daC abr eir a, vilmente assass inado na pr isão de F ar o

e de caso pensado .

Em outra pub l icação, que não tenho agora presente

nem me occorre o titulo, l i que o assassín io de F rei remorrera, occulto em uma casa ao sul do Tejo, misan

tropo e arrependido do deplorauel feito, a que ninguem o

levara, mas a que fôra arrastado de atroz exaltação partidaria de que enfermavam inconscientemente numero

sos de seus camaradas !

M oraes M antas , apezar da sua pos ição no corpo e da

influencia que tinha entre os amigos e correl igionarios ,

não pôde suster , repito, o ímpeto da praça que se lan

çou á sege. E ra incapaz de tal barbar idade e cobardia.

O commandante do Caldei ra, era homem frouxo,

indeciso, com ins ign ificante apt idão para o commando,

apesar de o julgarem bondoso e part idar io dedicado. A s

s im o apreciavam no vulgo, segundo vejo em documen

tos contemporaneos e que os actos nao desmentiam.

Note—se que a guarda nacional esteve prompts em

todas as occas iões e nas opportun idades que se iam

offerecendo, nos agitados per iodos em que os chefes

mais sal ientes dos agrupamentos po líticos se envolviam,

uns contra os outros por intuitos ambiciosos , para en

trar no que então se chamava « bernardas » e que se iam

succedendo sem nenhuma vantagem para os interessesda patr ia. Entre esses corpos o que era mais bul içoso e

mais revolucionar io era o

A fama era geral e temiam- no tanto, que, quando

veio a ordem para a sua disso lução e consequente desarmamento, o que metteu receio a força de pr imeiralinha foi o 1 5.

º

, que tinha o seu quartel no edificio doextincto convento de Jesus .

Foram mandados dois corpos de t .

ll l inha para cercaraquel le edificio . O s al istados do 1 5.

º lembraram-se de

res ist ir àforça com que os ameaçavam ; porém, alguns

mais prudentes e os ofiiciaes mais avisados , entre os

q uaes se contava Moraes M antas , consegui ram serenar

os an imos inflamadas e propensos anarchia, o batal haos ubmetteu—se, saindo pacificamente do quartel sem ou

tro incidente senao a reprovação verbal e aspera pelao rdem que os disso lvia .

Frei re, em busto, com farda e condecorações , reproduc

çâo n it ida feita em V ienna de Austr ia em t 894 de uma

min iatura de 1 8 38 po r Santa Barbara, ar tis ta muitoconsiderado naquel la epoca e convidado pelas pr incipaese mais abas tadas famil ias da capital para esses traba

lhos em que era exímio.

Tive semanas em que ia duas e tres vezes a casa de

M oraes M antas Sabia muitas cousas intimas do seu

viver , da sua fami l ia e dos po l i t oS com quem estava

relacionado . Vim tambem a saber factos que passavam

fóra da s ua casa e cujos eccos chegavam lá po r diver

sos modos e ás vezes sem se empregarem meros dificeispara os desvendar . Constavam. Corriam. Quem os di

zia ? donde partia o desvendarem-se ? quem os denun

ciava ? N ão se apontavam nomes e por isso não se po

diam registar .

H a boatos , que tem repercusâo, e n inguem acerta

com quem os espalha. Vem á mente aquel le proloquio

tao vulgar — as paredes tem ouvidos — e dahi a idea detransmissão de palavras ou factos que passam como se

' O s r etratos de M o r aes M antas e de M anuel de JesusC oelho

, que r epr oduzo , fô r am cºpiado s de pho tographias que

teve a amabilidade de empr es tar—me o fi lho sobrevivente de

M o raes M an tas,esclar ecido empregado aposentado do tr i

bunal de con tas .

fossem exped idos pelos arames do telegrapho, levados agrande distancia e divulgados em segundos por cente

nares de pessoas . D es te modo, num momento, n inguempode assumi r a responsab i l idade da transmissão . Só de

pois , talvez decorridos annos , é que pode averiguar-secomo é que as cousas com verdade passaram e onde é

que o diabo sacudiu o chocalho da tagarel ice para se

apurar tudo. Estas invest igações São fadigosas e moem

o cerebro.

L

á soube de alguns passos da po l icia secreta contra

tada pelas auctoridades cabral istas , das instrucções par

ticulares que lhe haviam dado, da espionagem que

exercia, mettendo nisso figuras , que ninguem di r ia quetinham as crescenças do seu ganha

-

pão com pouco de

coro pelo cofre dos es piões . Soube das perseguições quese combinavam;das ciladas que se armavam, das de

nuncias falsas que se projectavam para augmentar o nu

mero das víctimas que opprobr iosamente eram lançadasnas pos s ilgas da cadeia do L imoeiro .

Soube, por exemplo, que se armava uma traição para

der rancar o padre Carvalho como cas tigo da atrevida

l inguagem com que el le maltratava as auctoridades no

seu R aóecão ; para inutilisar de todo o valente guerr ilheiro G alamba, e até para attentar contra a vida de

pessoas do partido popular mais altamente col locadas .

M oraes M antas referiu-me que contra el le se armara

a seguinte cilada, que não deixa de ser engraçada por

inepta.

Pelo commum, no discor rer dos pr imeiros quarters do

seculo Xlx, as proclamações , as circulares eleitoraes e os

O abr i- la, deixou cair os traiçoeiras impra

aos que el la continha.

Eram as proclamações incendiar ias que os es piõestinham mandado fazer para poderem accus ar o pae

Mantas e o lançarem na cadeia. Ass im se viam l ivresdeste revolucionar io, que um m an imo e energia e con

E ass im corr ia o tempo nessas inacreditaveis di l igencias , mas tambem ass im se aprem va a época em que

devia terminor o poder do governo cabral ino , contra o

qual se preadivinhava que conspirar ia a nação intei ra e

que cedo romperia a aurora da l iberdade como el la devia então de ser comprehendida e posta em pratica.

D epois do triumpho alcançado pela revolução denominada « R egeneração» , alguns amigos de M anuel de

Jesus Coelho lembraram-se de o propôr por um dos cir

culos de L isboa para a camara ,dos deputados , de cujas

eleições se tratou em novembro de 1 85 1 . Tenho presente um impresso dessa época, especie de proclamaçãoaos eleitores , que era um dos meios empregados nesse

periodo de febre revolucionaria de que se serviam os in

fluentes eleitoraes nas parochias em que podiam contar

com os votantes da sua feição. incitava- se a classe ope

raria para que votas se nel le, lembrando- lhe que M anuelde Jesus Coelho sai ra dessa classe e se elevára pelassuas qual idades cívicas e pelos seus serviços às ideasliberaes nunca desmentidas .

E is , entre outras cousas , o que se lia nesse papel

« T ão superabundantes são as pr ovas de dedi

cação e de sen timen tos patr ioticos que tem dado

es te benemer ito cidadão, que M anuel P assos,

348

quando quer indicar a firmeza de cau d a de

algum individuo, co s tuma dizer : eum « M anuelde Jesus C oelho . .

. D esde t834 temo -lo setupr e visto militando

activamen te na po litica . E m todas as revol tas

que em P o r tuga l se tem feito a favor da liber

dade, M anuel de Jesus C oel ho edos primeiro sso ldados a apr esen tar

—se logo a expô r a vida

pela patr ia. E ainda na ul tima vez em que o

pai: se levan tou como um só homem a favo r

da l iberdade, el le commandando o a.

' batalhão

dos ar t istas, confi rmou a opinã o que todos for

mam da sua co ragem, valo r e in tel ligencia .

« F oi pelos C abrace per seguido e mettido em

ferr os sempr e que houve pr isões politicas . A

sua oõ cina por var ias vezes foi mandada fechar

pelo governo dos C abr aes .

o E ditor cons tan te do P atr iota, fo i 5a vezes

chamado aos tr ibunaes po r accusações que se

hm m no mesmo jornal . .

« O nome de M anue l de Jesus Coelho terá depassar pos ter idade na histor ia das lutas dal iber dade em P or tugal, a par do s de A . R . Sam

paio , José E s teí ão, L eonel T avares , etc. .

Vejamos o contraste. Numa ses são da camara dos pa

res , bastante agitada, em janei ro de t 850 , a propos itoda discussao do projecto de respos ta ao discurso da co

rõa, em que se produziram orações realmente notaveis e

de que possuo algumas em t i ragens separadas , o conde

de Thomar , accusado de var ios actos menos regu lares naadministração publ ica, que os seus adversar ios intrans igentes pretendiam demonstrar, repel lindo com vehemen

mo, porque sabia que el le era «patulêa» e amigo do

Manuel de Jes us .

M as el le tinha razão. 0 P M não o poupava e

era apoiado pelo M ía—ento óur lesco, em que ascra

viam Bernardino Martins e Paulo M idos i, os quaes davam atrevidamente largas sua veia humor ística. au

xi liados por um mordaz caricaturista.

Xl l

Suspenderei esta digres são, que saiu muito além das

bal isas em que tinha pensado encerra- la, para entrar de

novo no assumpto pr incipal , de que me transviei e queé um tanto comico. D á outra côr mais viva e alegre aoquadro que esbocei nas paginas anter iores .

Volto a casa do Manuel de Jesus Coelho.

O s esbirros viam tudo e não viam nada, e dahi re

sultava que iam para os super iores dizer cousas que não

v iam nem sabiam ; e na sua ignorancia, ou nas suas

embir rações estultas , fer iam os innocentes , que pagavam

pelos peccadores , o que não é para causar grande admiração. Em todos os tempos , os espertos lograram os in

cautos .

O ra, ass im como iam saindo os papeis clandestinosda casa do Manuel de Jesus Coelho, ass im tambem el lesoubera conservar e occultar uma porção de armas , que

servir iam opportunamente para armar um batalhão popular . D isso se tratou, por vezes .

A o passo que se traziam para as discussões an imadaspe la paixão part idar ia diversos assumptos ; que se dis

cutiam a l iberdade de imprensa, a l i berdade de reun ião,

252

a l iberdade eleitoral , os impos tos , os vexames de tode_a

ordem que opprimiam os cidadãos ; que se apreciavam

emâm todas as l iberdades , a constante aspi ração do proª

gresso ,— tratava-se da organisacão de uma fºrça pºpu

lar, que aux i l iasse a do exercito, no caso de que pu

desse novamente contar—se com parte del le para uma

revolução que vingasse a derrota da M ar ia da Fonte e

puzesse termo aos des mandos e arbitrariedades do governo .

U m dia, falou-se de que uns sargentos de caçado res

2 contavam com a adhesão de outros camaradas e que

podiam vir para a rua com o batal hão. Causou isto alegria a alguns . mais crentes e ma is enthus iastas . C on

jecturaram que estava vencida uma grande dic uldade

e tinhamos a revolução na rua. N a pol it ica, ha muitasilh isões e muitos sonhos , e não poucos desenganos .

O botequim de L isboa mais concor r ido de algumasdas pes soas que citei, com excepção das que podiam

ju lgar-se mais gradas e não queriam envo lver-se, àsclaras , em certos pormenores , cuja responsabil idade lhesseria facil decl inar em outros de menor repres entação ,

era o café F reitas , do R ocio , onde hoje es tá um novo

botequim, perto da pharmacia Estacio U ma noite.

ouvi

O pr incipal pon to de r eun ião des ses conspir ado r es , coo

mo ndiquei, que r ealmen te naquel las cir cums tancias de pou

ço va liam,er a não só o antigo café F r eitas

,no R ocio

,onde

— P óde-se fazer hoje alguma coisa lLogo soube que se tratava de ir, depois do toque de

recolher, ao quartel de caçadores 2 , e que os sargentos

trar iam o batalhão para a rua ; os populares , que quizessem, acompanhariam, e seguir

-se—hia procurarmos ar

mas no arsenal do exercito . Que quadro e que phanta

s ias !

O s sargentos sonhavam na lua lA's 9 e meia ou 1 0 horas , saía dal i, com effeito, um

pequeno g rupo , que se di r ig iu a V al le de Perei ro. Iam

M oraes M antas e M anuel de Jesus . E u tambem ia nes

se grupo e muito bem armado . U ma bengalita de dois

tostões e um can ivete. N rngem nos incommodou. N un

ca pude saber porque não veio logo atraz de nós um

ho je vemos o bo tequim denominado do « gelo ., pon to de

r eun ião de es tudan tes de var ias esco las super io r es , alumnosaspir an tes da esco la do exer cito e da esco la po lytechnica,mas tambem uma casa no bai r r o A l to .

N essa casa,ho je t r ansfo rmada num pr edio de cons trucção

moder na na tr avessa do G uar da—M ó r,to r nejando para a r ua

da A talaia,havia uma ou duas salas . em mau estado de con

ser-

vação , po rque não havia mão s femin inas que cuidassem

d'

el las com acero e esmer o, pob r emen te mobiladas ; e mais

t r es ou quat r o compar timen to s , afór a o subter raneo , ou pa

vimen to ter r eo .

A li vi,embo r a poucas vezes

, o en tão marquez de L oulé

(depo is, duque), J o sé E s tevão e outros , que iam a convite do

M o r aes M an tas , pr es iden te nessas r eun iões.

m vidade senão a do h'

asw que fizemos todos !

Quando se chegou em frente do quarte l, o grupo en'

grossára. Poderiam contar—se ta lvez 1 00 pessoas . U m

rompeu :

- V iva caçadores 2 !

O utro :

— V iva a causa popular !E o que succedeu ?

Vendo prox imo aquel le grupo no intuito de subir a

rampa do quartel , a sen tinel la fez o seu dever . G r itou :— A

'

s armas !

A guarda do quartel formou em poucos minutos , sent imos o armar das baionetas , que já é uma cousa que

'

oduz calefrios no povo ; e em seguida a voz rouca, do

s argento commandante da guarda, que mandou :— Carregar armas !A adhesão do batalhão estava bem patente. Levava

mos ali uma descarga se se tentasse algum acto de ag

gressão tres loucado e algum de nós cair ia fuzi lado sem

processo !

1 A gravura r epresen ta a fr en te do quar tel de caçado r es

em Val—de-P ereiro, onde se juntou o grupo de popular es aque me r efer i acima.

M andei tirar a pho tographia ha do is ou tr es anno s . C omo

s e fazem al i obras par a o desenvo lvimento da A ven ida daL iberdade e o edifício do quar tel ha de ser condemnado e

demo lido,ficará esta r eco rdação do local, de que daqui a

tempos ninguem de cer to se lembrar á.

quez de Loulé, prestigioso chefe do partido popular .P or falta de jazigo proprio foram os seus res tos mor

taes depos itados no mausulêo que encerrava as cinzas

do F rança e ahi estiveram, ao lado do que em vida fôra,

como os membros da sua famil ia, sempre de amigos decl icados e leal iss imos , e em que a provada dedicação dos

fi lhos sobrev iventes conseguiu em 1 90 0 tras lada-los para

o que puderam mandar erigir no 2 .

ºcemiter io (antigo

dos P raseres ).

XIV

Passado alguns d ias , depois da publ icação. ha annos

em uma folha litteraria, porém resumidas , dessas notas

ver ídicas , que deixei atraz transcriptas , o velho e res

peitavel jorna l ista Joaquim Martins de Carvalho (depoisfal lecido), dava no (

M ár ia-enc: o seguinte art igo, quetranscrevo em seguida, pois accrescentou cur iosos pormenores aos que puz e augmentam as interessantespaginas da h istor ia contemporanea, acerca de pontos

agora esquecidos ou ignorados . N ão haverá de certo vi

vas muitas testemunhas dessas epocas tão ag itadas e

de tão amargas l ições !

O nosso prezado am igo o s r . P edroWences lau de Br itoredactor do D iar io de N otícias , pub l icou he dias

um ar tigo inter esm tis simo com o titulo de E m casa de

m ilag r e“ .

S to peginas so ltas de M emor ias ineditas do sr . Br ito A ra

P or ehi w vô qm l o emhusiu mq u crençm e a dedica

çío do part ido p puler aas m s luctu com o cabn lismo .

Refere—se o sr . Br ito A ranha a soeoedades secreta a que

258

M enciona muitos dos populares que se r euniam em casa

do dedicadis simo liberal M anoe l de Jesus C o elho, na typogr aphis do qual se impr imiam clandes tinamen te proc lamações r evo lucionadas .

O ccupas e o nos so amigo do hon rado patr io ta L eone l T avar es C abr al , que de r846 a 1347 es teve preso no L imoeiro .

T ira a conclusão de el le não sair do L imoeiro quando hou

ve a evasão dos preso s em 29 de A br il de 1847, po r não ap

provar esse acto .

ignoramos se el le o approvou ou não , mas o que ecer t c e

que el le es tava nessa occasião doente na en fermar ia do L i

moeiro , onde com el le fal lamos .

M uito poucos pres os deixar am de sair da cadeia.

S e A lber to C ar los C erqueir a de F aria ficou no quar to em

que se achava no L imoe ir o epo rque como advogado tinha

comsigo processos impo rtan t ís simo s, e não os quiz abando

nar , pe la grande responsab i l idade em que inco rr ia, prefer ia

do an tes cons ervar se na pr isão .

A quel les dos presos de Co imb ra que, como nós, se acha

vam na prisão n .º no al to da cadeia, foram in teiramen te

tr anhos ao plano de evasão .

S ó na manhã de s g de Abr il é que so ubemos do movimen

to revo lucionar io pro jectado par a a tarde desse dia.

Quando começou o gr ande movimen to popular , da 4 hor as

da tarde, t rataram o s pr eso s de C o imbr a de sair .

U m dess es pr esos era o lente de D ireito , dr . F rancisco

Jo sé D uar te N azar eth, homem muito ser io e auctor isado, a

quem todo s respeitavam .

Vimo l-o ao cimo da escada com uma mala na mi o, hesi»

tando se devia ou não descer .

R eso lveu—se emfim a sair da cadeia,e o mesmo fizemos

nós e o s outr os pr es o s des ta cidade que al li es tavamos .

F omos par a uma casa no pateo do C ar r asco , a pequena

dis tancia do Limoeiro , onde*

residia uma mulher chemada

Theodo ra, natural de G oes, e que fô ra cr iada de um nego

ciante na rua do s S apateiro s, des ta cidade, a qual era co

260

pouco se ia enchendo de preso s, uma grande par te d'elles

fer ido s .

O s seus lamento s e gr itos commoviamv noapr ofundamen te.

A inda aqui temo s guardada, como uma relíquia, a capa de

panno , que ness a noute nos serviu de enxergío e de cober

to r .

T em essa capa Sa annos de existencig poia que a mandl o

mos fazer em mas .

A o pé de nós estava deitado no chão um infeliz preso , dan

do gr ito s lamen taveis .

P e rgu timoe lhe qual o motivo das suas queixas, e r espondeu-nos que tinha duas bala no co rpo

N a 9 horas da noute ainda sentimos descer par a a enxovia

uma nova leva de pr eso s, vindos da inquisição do C armo , daguar da mun icipal .P ela voz e pe las do lor osas queixas conhecemos que um

dos presos era o já mencim ado J oão ignacio de S ousa, mais

conhecido em C o imbra pe lo João ªlma, po r ser natural dailha de S . M iguel.

F icemo s hor ro r isadoa ao vel—o esco r rer em sangue, das

grandes cutiladas que l he der am os j cm isam da municipal ,

tan to mais infames e cobardea, quanto o ar . Sousa não lhes

offereceu, nem podia otier ecer a meno r res istencia.

S ó ( a u horas da noite é que o carcereiro do L imoeir o ae

reso lveu a mandar para a en fcrmar ia alguna doa pr eeos, que

es tavam em imminen te per igo de vida.

Vis to o sr . Br ito A r anha pres tar agor a o impor tume ser

viço de publ icar muito s dos factos da que foi testemunha,ahi jun tªmos pe la nossa par te esses ligeiros episodios, que

podiamos desenvo lver largamen te.

J oaotmr Mam as na C aavaw o.

264

se—me que atravessam o caminho em parte embarcado,porque as aguas tinham subido tres metros . D epo is . emAbrantes , observei que o Tejo estendendo-se ameaçador

pelos campos marginaes até o povoado só nos de ixavacontemplar o lastimavel quadro da vegetação submer

g ida e das arvo res mais corpulen tas apresentarem ape

nas a sua copa'

como outros tantos corpos que al i esti.ves sem boiando.

A chuva copiosa, com pequenas interrupções , durantea viagem intei ra, ameaçavam o augmento da inundad o

e o perigo das populações . O inverno apresenta-se muito

rigoroso e ha de causar ainda maiores damnos .

Vim até M adr id bem acompanhado. A l ém do JorgeHi lar io de A lme ida B lanco. que encontrara ahi na a ta

çâo pr incipal , no compartimento de pr imeira class e ondetomara logar iam : uma fami l ia hespanhola, que mudoudepois

'

de carruagem â saida de Badajoz;um cavalhei ro,tambem hespaa que tem vivido em Lisboa e V il laF ranca, e que tem casa em Madrid ; e um moço inglez,b u rma, faltando ora ing lez, ora francez, mas conver

sando sempre, com an imação, especialmente sobre questões Iitterarias .

A nossa conversacao com o cavalhei ro hespanhol foirelativamente aos habitadores da pen insula, usos e coe

tumes dos diversos povos , grau de civil isacão, ens ino popular, etc. Troca modesta de opiniões sobre esses imo

portantes ass umptos , esboçados tamsómente, porém querevelavam no meu companhei ro var iada instrucção e

amabi l idade extrema. Caindo a conversacao em m um

ptos litterarios , lembrei-me de citar alguns escr iptores e

265

exaltei um da minha part icular predi lecção por muitoillustrado, ta lentoso e popu lar : D . A ntonio de Trueba,novel l ista de pr imei ra ordem, do qual tenho divulgadoem portuguez numerosos dos seus mais bel los contos .

0 atrazo da v iagem proveio não só da affluencia de

passagei ros nas differentes estações da Hespanha, porque os que vieram de Portugal eram em numero muitol imitado ; mas da mach ina não ter força sufiiciente para

arras tar um comboio de 1 2 vagões . A lém d isso o ma-f

chinista, em certos pontos do caminho, trazia grandecuidado, diminuindo quanto poss ivel a velocidade, porcausa das chuvas , que podiam ter causado avar ia grossana l inha ferrea.

Em A lmadenejos A lmaden , que é uma estação em

importantíss imo terreno mineiro conhecido de todos os

homens de sciencia, tivemos igualmente notavel demora,mudando-se ahi a mach ina do nosso combo io e forman

do-se outro comboio com cinco ou seis car ruagens , pormodo que chegaram a M adr id entre as 8 e 8 e meia da

no ite, dois comboios com dezeseis ou dezoito carruagens

conduzindo 500 ou 60 0 passageiros .

O nosso maior incommodo, pelo menos o meu, foi a

fome ; os pontos , onde o passagei ro tem maior descanso,são distantes uns dos outros por modo que a mim me

succedeu, nesta v iagem de mais de 50 0 k i lometros , comer regularmente uma só vez— no Entroncamento, às4 horas da tarde de hontem l N a estação de CiudadReal tentei sentar-me a uma das mesas , porém eram

em tal numero os freguezes que, para obter um caldocom duas côdeas de pao a bo iar , foi necessar io encos

tar—me ao balcão e matter um prs tna cara de um ser

vical como naturalmente fariam os pedintes , com a sua

tigela. a portaria dos antigos conventos ! Isto é um pa

renthes is de prevenç ão . V iajar-se nes tas circums tancias.

mas para o que der e vier. com provisões de bôca em a

mala, como fazem muitos viajantes. que são preventi

vos M as eu contava que a viagem fosse menos demo

rada e que por essa l inha fôra houvesse outros recursos .

F ui um descuidado, confesso-o i

A'chegada a M ad r id, tambem chovia ; por conse

quencia, apesar das be l las ruas que tem esta capital , oaspecto não era dos melhores , po rque o movimento dopovo de todas as classes . que é notabiliss imo aqui , diminuira, a lama atascava-nos e corr ia que as festas pu

b licas seriam addiadas .

Encontrei todavia uma noticia que me agradou sobre»

modo . E ra a de que fô ra hontem commutada a pena de

morte, impos ta a um rêo do julgado de Cadiz.N o meu coracao havia um asco invencível pena de

morte, desde que vira, na infancia, passar por debaixodas janel las aonde me conduzira a fami l ia, como se fºradia de festa pub l ica. o al lucinado Mattos Lobo no largo

de S . Paulo para a forca e presenceára, trêmula, as commoções e as lagr imas derramadas nessa occasião ! N a

consciencia infantil formam-se, contra a terrivel pena,essa repu lsão, confi rmada pela voz potente e pela propaganda vigorosa do egreg io V ictor H U go e apoiada pelosmais abalisados jur iscons ultos e publ icistas !A l inha ferrea de Badajoz a Madrid atravessa, pela

maior parte, extensas charnecas , sem o mais pequeno

torren tes . O Tejo corr ia caudalosa. Antes dea ponte, o combo io esteve alguns minutos pa

Ass im que cheguei a Madr id,na Puerta del Sol , e nao me

suliiciente de entrar na quarto que me

observar se tinha ar e luz. D ispensandor am) e, apesar da chuva, percorr i nessameu companhe iro A lmeida B lancaalgumas das Ca l ler que convergem

das melhores , e sem contestação

an imada de Madr id.

A P uerta del Sol é como a carac'

ãa desta

muitas razõ es bel l iss ima ; é de farina irregucentro um grande lago com jogo de

edificios , sendo o maior o palacio dobomm »

, as melhores hospedar ias

concorrencia de povo, que excede tudo

N ão são aos centos , são aos milhares , asaem das dez ruas que desembocam na

al i esmC ionam, principalmente, numa

aparte as festas do dia, se jus titica, parquede Madrid é de extraordinaria movimento, e po

Jd não ha esse lago . P o r conveniencia da adm

municipal , ou talvez par a tomar a praça mais'

faci lbaraçada para o movimento do min is ter io do

serviço da po licia nas occas iõe

poli ticas, que se teem repetida n

panha, tir ar am-na dali

269

que en tra e tudo que sae da capital , ha de passar pelaPuerta del Sol.E ' uma arteria pr incipal . e, ao mesmo tempo, uma

exposição permanente de modas . de luxo e de elegancia,

M adrid. mater ialmente cons iderada, possue ed ificios deuma grandeza pasmosa e estabelecimentos magn iticas .

O deposita da grande fabr icante de chocolate MatiasLopez é magestaso e admiravel . N as casas de modas

predominam as francezas O seu luxo e abastecimentopôde comparar—se com algumas de Paris ; mas . nas farnecimentos nota—se a industria al lema, principalmenteobjectos de ornamentaç ão au decorativas , em que a

commercio al lemao tem feito concorrencia grande ao

frances . A s suas ruas são bem calcadas , e muito am iadas , notando-se alguns melhoramentos devidos aa cui

dado das vereações municipaes , que abanam o seu zeloe podem servir de modelo a outros concelhos , aos da

nos sa terra, por exemplo .

l tes de cameçar a enviab te os meus desme

ram as ruas principaes da cidade, executando marchas

e hymnos nacionaes . A s janel las das soberbos edificiosda Puerta del Sol e das ruas que convergem a esta pra

ça tinham apparecido cobertas com pannos de cares e

co lchas , e no

'

s lta de muitas casas tremulavam as ban

dai ras da Hespanha e da A ustr ia-H ungr ia. O dia nasce

ra farmas iss ima.

A ntes da hora des ignada para o casamento, as tropas

da guarn ição vieram formar alas , entre as ondas com

pactas do povo, pr imei ra dando a di reita a praça doO r iente pela Cal le—M ayor ; e depois dando-a aa P rada,até a A tocha, pela rua de A lcalá , conforme a itenerario

da comit iva real , antes e depois da consorcio.

O prestito era numeros iss imo ; formava uma longa

272

car ruagens de gala. segundo o esty lo dos fins do seculo

passado e julga que eram os coches do uso dos reis C arlos l l l eWe Fernando VI e VII e constru idos nas res .

pectivas epocas . Em todas sobresáem primorosos orna

tos e pinturas , symbolas mytho logicos e histor icos . Abun«

dancia de ouro em todos , como se vê em alguns dos coches de gala da casa real portugueza, posto que se eh

contre ahi das mais soberbas construcçbes e dos maisapreciaveis e aprimorados ornatos , adm irados de todos osque presam essas riquezas de archeologia. O s caval lasiam empenachados e dis seram—me que cada penacho cus

taria algumas l ibras ster l inas . A carruagem chamada ca

d e de la cor ona, em que ia o rei, era ti rada por oito ca

val los brancos do melhor typo conhecido. Este cache e

maior que os outros e encimado por uma coroa de ouro .

Antecediam o estado real . em duas fi lei ras, vinte edo is caval los amao, ricamente ajaezados e cobertas comxaireis de .vel ludo e ouro. D ois destes caval los são do

uso do rei D . Affonso, e iam no centro dos outros . Aparte deste estado ouvi chamar serviço do picadeiro desua magestade. Corn effeito, o edificio, de construcção

especial e muito ampla. des tinado às caval lariças , con

tiguo ao palacio real, é dos mais vastos e melhores quetenha visto.

Vi perfeitamente a nova rainha, princeza da casa deAustr ia.

' E' na verdade sympathica e melhor do que

E'

a actual r ainha viuva senhor a D . C hristina, que se

manteve na r egencia com s ingul ar cordura, e soube da edu

se vê nos retratos gravados , lithographados e em detes

tavel chromo-l i thographia, que os especuladores vendemneste dia de fes ta real com profusão por essas ruas a

Apesar da mult idão, pelo trans ito, ser extraordinar ia,não menos de l O O :O O O pessoas , tudo cor reu bem. A pol icia fôra conven ientemente dividida nos lacaes de maioragglomeração e faz aqui o serv iço com prudencia.

A parte pr incipal da cidade, além dos edificios pub l icss , il luminou á noite, offerecendo bom aspecto. Em al

gumas casas , especialmente as hospedar ias de pr imei rao rdem e outros estabelecimentos de commercio de gran

de trata, a il luminação a gaz foi dupl icada e tr ipl icadae de phantas ia com balões . A rua de A lcalá, v ista daaltura do Bom- Retiro, produzia effeito surprehendente,

des lumbrante, de mag ica !A camara mumcrpal offereceu bon us de pe

seta para serem entregues aos parochos e alcaldes , e estes dis tribui- los—hão pelas famil ias pobres ; mandou grat ificar a tropa da guarn iç ão e offereceu tambem dotes

de reales aos que se casas sem :i hora a que se

effectuasse a reg ra en lace .

Leio num periodica daqui que dois noivas se apro

veitaram des te br inde e hão de receber o promett ido

dote. O governo pub l icou hontem var iosdecretos de in

dulta e de premios extraordinar ios aos alumnos mais dis:inctos dos es tabelecimentos de ens ino .

cação conven ien te e apr imo r ada a seu fi lho,herdeiro do

thrana, o actual r ei A lfonso X l l l .

noite ha recepção ofiicial. no palaciopresidencia do conselho de min istros . Começará depo isda meia noite. Reun ir—se hão a porta desse '

edificio, na

rua de A lcalá, as mus icas regimentaes . C oncor rerao os

pr incipes da Austria-Hungria, parentes da rainha, e os

demais personagens , que se acham nesta cidade.

tariamas que poder iacalcular—se em nãomenzs de zoo :oooindividuos . E então observei , atravessando com bas tantediliiculdade por tão extraordinaria ajuntamento , grande

variedade de trajos , desde o arrebicado parisiense, até a

ma is grave madri leno, desde o luxuoso até a pabriss imo .

A mulher das ultimas camadas , veste s implesmente comoa nossa das provincias , saia de chita, pequeno chale decôr escura e lenço de var ios padrões na cabeça. A s nos

sas mulheres dos arredo res , como Cintra, Loures , C arr iche, Povoa e outros lagares , serão tão garr idas e visto

como el las nos grandes dias fes tivos .

ros chamadas reses . F ui apr imeira, não como amador ,

queº

não sou, nem serei , mas como curioso. D ispense i-meda segunda. Quem vem a Hespanha não pode deixar

de ass ist i r a uma corrida de touros , para vêr o ardente

enthus iasmo que ha nel las e admi rar os trajos de galadeste povo e a sua predi lecção por es te genero de divertimento . S ó numa praça de touros se aval ia bem isso .

A praça é a maior de H espanha, foi construida no

tempo em que o marquez de Salamanca era aqui tm n

f o, como se diz no vulgo, e obedece a r igoroso estv lo ara

be. Exterio rmente, é um monumento de perfeição e sal idez. N o interior, com as ornamentações que são de uso

em epocas fes tivas , e com os 1 6 ou lagares oc

cupados , o aspecto des lumbra. A ss im a divers ão fosse

menos barbara. N ão pôde dar-se-lhe tal denominação em

Madr id sem repl ica energica, porque o hespanho l não

passa sem as touradas , e tanto que nos afiança com

certa jactancia

— 0 estrangeiro quando vem aqui não perde es te di

vertimento e tambem nos applaude.

A praça, como ia dizendo , offerece um aspecto ma

gn ifico ; todavia, não deixa de ser digna de menção— a

ho ra antes da cor r ida. E ' o começo e uma antecipada

d iversão. A ttrahe grande numero de cur iosos dos dois

sexos no longo percurso para a praça. Esse povoléo, se

pudesse, tambem lá se agglomeraria, ainda que s uffo

cas se no apertão !

imagine—se, que, além das carruagens particu lares , todas as de aluguer, omn ibus , char-à—bancs , carroças de

carga ex istentes na cidade e circumvrs rnhanças , trans

formadas para receber passageiros , como ah i nas epocas

de romar ias ou feiras , conduzem passageiros para a pra

ça dos touros . E stes veh ículos , em numero de ou

fo rmam sob a v ig ilancra dos guardas C lV lS a ça

val lo , tres , quat ro e cmco longas fi lei ras ; e no t ranzito,

desde a P uerta de l S ol , na dis tancia de do is kilometrosaprox imadamente , como formando alas , milhares de pes .

soas , que vêem a pé fi rme, sem perturbações , e não po

dem ir ao espectacu lo .

O trajo predominante na denominada sociedade ele

gante e an s tocratica era de côres vio leta, castanho e

preto, cô rte par is iense, e mantilha b ranca apanhada no

cabel lo com camel ias vermelhas , brancas e amarel las ,vendo se igualmente rosas no apanhado do cabel lo. A

rainha Chr istina trajava hespanhola com mantilha

branca pregada com rosas e abr igo vermelho .

A côr vermelha es tá agora muito em uso em M adr id

278

A s vistas ou bandas das capas dos homens são quas itodas de panno encarnado .

N asitouradas reaes ha mais ceremon ial que nas corr idas ordinarias . P or exemplo, começa quando a fami liareal chega e acaba quando se levanta e se reti ra ; achave do tour i l es tá nas mãos ou do rei ou da rainha(hontem, a nova rainha e que tinha a chave), e a di

versão não principia sem que a pessoa real a entregue

ao que dir ige a corrida ; da guarda de honra de alabardeiros , 1 50 homens commandados por um coronel , édes tacada uma força de 50 ou 60 para a praça, e col locada no s itio onde nós costumamos ver os bom da

f or cado; e es ta força, de alabarda em r iste, que de

fende o logar de honra do circo das inves tidas do bicho .

Junto dos alabardeiros devem permanecer os chamados

alguem da praça, homens de ordens a caval lo, como osnetos nas corridas portuguesas .

A corr ida aqui tem cavalleiros em praça para farpear ,

bandarilheiros . matadores e picadores com vara. O s

matadores eram G onçalo M ora, Anton io Carmona, e!

S or di/o; F rancisco A rjona Reys , Ca r r ao : José Machio,José Sanchez del Campo, Co l o cand o ; Angel Pastor .Francisco Sanchez Povedano, F m souclo e José M arr inez G al indo .

Todos el les trabalharam bem, na opin ião dos entendedores, mas muito mal o ( m ito, e tão mal , que es

tou .persuadido de que, numa praça portugueza, não

passaria sem ruidosa man ifestaç ão de desagrado. Caimperdeu a muleta e a espada por desfeita do bicho ; deusete golpes sem ser nenhum de feição ; e fez uns pas

fixadas, venderam-se b i lhetes para as touradas , e se i de

que os compraram de 3 a 1 2 duros ! Já se sa

be, foram vendidos pe los que os receberam como con

vidados . E os convites alcançavam—se com difiicu ldade.

por consequencia i r iam parar às mãos de pessoas conhecidas na cidade. E u es tou num gmpo de jornal isms , entre os quaes D . Ben igno hum ana , que foi sempre mui

to obsequiador.Terminaram as festas com o concerto no theatro rea l

por convite ; e com o passeio das bandas marciaes pelasruas da cidade, com fachos , ao toque de recolher, novehoras da noite. S aíram, porém, as bandas debaixo deuma chuva de neve, que alaga e regela tudo . T enho« a

temperatura desceu abaixo dedrid estão cobertos de neve. A

N o entretanto, amanhã vis itarei alguns es tabelecimentos .

A LWE ID A BL A N C O

M A D R ID , 3 D E D E ZE M BR O . M eu ra r o E dua r do

Coel ho — Nesta capital foi, como já te disse, meu com

panheiro e guia D . Ben igno Joaquim M artinez, que eu

conhecera de anuos antes por boa camaradagem epísto

lar e jornal íst ica. D . Ben igno era correspondente noti

cioso do Conmzcn'

z'

o do P ar la e do Com'

mór iccusc e

mantinha relações de boa amisade com José de Torres ,Sousa Brandão, E l ias G arcia,

Vieira da S ilva e outros

democratas ; gos tava muito de fal lar e escrever ácerca

de as sumptos portuguezes e se lhe davam l ivros nossos

fazia del les apreciação sensata nos per iodicos em que

co l laborava.

Levava a sua del icadeza a evrtar discussões po l it icasem que se bel iscas se na independencia das duas naçõesvis inhas , pos to desejas se mais confraternrdade l itterar ia,que evidentemente não tem ex istido ; e poupava des te

modo controvers ias que não podiam agradar .

O outro companheiro, com quem fôra de L isboa, es .

criptor e poeta conhecido, como sabes , Jorge H ilar io de

282

A lmeida B lanco, o qual , indo a Madrid, fôra incumb idopo r aggremiações a que per tencia em L isboa de apre

sentar mensagens de fel icitação fraternal a associações

congeneres madri lenas e lembrárw se de aproveitar a

opportunidade para offertar'

aos reis D .

s ua noiva, a pr inceza D . Mar ia Christ ina, uma poesia,que levava em pasta luxuosa, impressa esmeradamente,para en trega ri a paço , lembrança delicada que agradou .

A poes ia, canto epithalamico, em be l las sext il has ,

tem no rosto es tes dizeres :« A vé , R eg ina no faustis simo consorcio de Suas M a

ges tades a Rainha a Senhora D . M aria Ch ristina e

E l—Rei o Senhor D . Affonso XII de Hespanha» , e del laem edição especial se tiraram apenas 20 exemplares , de

que o auctor me deu um com ded icatoria autographa,

datada de M adrid.

A lmeida Blanco ª foi sempre mui amavel , não que

rendo nunca separar—se de mim, sujeitando-se a ir para

o mesmo hotel onde es tive ; e quando t inha que desempanhar

- se de alguma missão especial de que o incum

b iram amigos de L isboa, apos tava comigo a hora e o

local onde nos encontrar íamos para passar o res to do dia

juntos , ou ànoite irmos ao theatro ou ao café Fornos ,onde nos demoravamos , às vezes , até as duas horas da

madrugada, apesar do rigor do inverno que naquel la

E ste poeta fal lecen em L isboa, em 188 3 .

E , tal como é ao s ér o s duplex C apito l io ,seja a A ti onso e M ar ia a gratidão do povo ;

po r que cheio d'

afl'

ccto , ao So l do dia novo ,

a H espanha vo s saúda, R eis, A n jo s d'

A mo r .

Que bom companhei ro ! que saudade me acompanhou

quando t ivemos que desr nos e separar-nos ao re

gressar, cada um para voltar aos trabalhos quot idianosque ficaram interrompidos com esta digressão !Porque não se tratava de um poeta laureado, que an

classe nas homenagens mais ou menos hanaes da im

prensa, nem as auras da fama popular guindára a s u

bl ime al tura, mas de um homem bom que não quer iasai r do seu v iver modesto, que eu t ivera occas ião de

pelas suas qual idades moraes , pela sua conver

mada e instructiva. Es tas qual idades , para mim.

sobrelevam aos esplendores do talento que não deixamàs vezes de ter manchas a obscurece—los . Nel le, não. N o

seu caracter , na sua bondade, na sua educação , não ha

via fi ngimentos .

N O M U S E U N A C IO N A L

M A D R l D , 4 D E D E ZE M BR O .— A l eu car o E duar do Coe

l /zo — D isse-te que ia vis itar alguns estabelecimentos ,porque vindo a esta capital ser ia Imperdoavel que me

esquecesse de alguns dos pr incipaes e me demorasse

quando menos dois dias intei ros de longas horas , seminter rupção banal , para me en tregar a examinar e admirar o museu de pintura. N ão e tão vas to como o do

Louv re, nem comparavel a dispos ição des te com a

de M adr id ; mas o s valo res artis ticos accumulados no

hespanhol são as sombrosos e incalculaveis . E xcedem em

alguns pontos , no meu humilde entender , o pr imeiromuseu da F rança e os mais r icos e opulentos conhecidos em todas as nações do velho e novo mundo . E ra

zão s obeja teve o elegante conse rvador dos museus em

F rança, o conde Clément de R is , quando no seu cur iosol ivro acerca do « museu real de M adr id» , escreveu que

na E urºpa era talvez um dos mais interessantes e inne;:avelmen te um dos mais r icos .

N ão es tá ali só o que ex is te de melhor entre os pri

mores da arte hespanhola, na qual figuram os grandes

mestres como Velasquez, Mur i l lo e R ibera, a que se

pôde juntar outros de não menor e justificada fama ,

como Cano e G oya ; mas os

grandes mest res que bri lham ai

mundo artistico, em todas as

se dis tinga o que é bom, o que é super ior, em bel lasartes , em R oma, em Florença, em Napoles , em Veneza /;

e onde vemos soberbamente representadas com extraor

dinario relevo a escola allemã com D urer , Hol bein e

outros des ta estatura ; a esco la franceza com Pous sin,em primei ra l inha ; a escola tiamenga com Ten iers, cujaexpos ição é um encanto ; a escola ital iana, nas suas di

versas manifestaç ões e divisões; em que figuram L eo

nardo de V inci , Sarto , C or regio, R aphael e Ticiano .

Mas , agora noto : em que altas cavallarias ia eu met

ter—me ! Nada. N ão sai rei da vereda despretenciosa que

tenho tr i lhado para evitar obstaculos , que não poder iavencer sem difficuldades ; e seguirei em ter reno mais

plano sem accidentes que ponham em r isco o cami

nheiro.

O museu nacional de pintura de M adrid encerra bel

lezas e r iquezas que não se descrever iam bem num li

vro, quanto mais em uma carta escripta àpressa e no

meio de quefazeres para attender o serviço de per iodicoa que pertenço e que me delega nestas excursões .

M as , na presença de numero tão cons ideravel de quadros , de tão variadas procedencias , é natural perguntar-se do i de v ieram tantas r iquezas ? como foram adqui

r idas ? quem as accumulou nes se edificio, que tem o

lumbmntes man ifes tações de ar te que ali

e deslumbram, só el la, dar ia um museu digno de ser

v is itado . Quas i zoo quadros !Viardot diz, num dos seus l ivros de vis ita aos museus

da Europa, que o do Louvre, contando pouco mais demeia duzia de trabalhos de Ten ie rs , já se considerava

bem representado e r ico ;mas à vista do numero cons i

deravel expos to em Madr id, o museu rea l poderia repu.

tar-se o pr imei ro e o mais val ioso de quantos existiam .

A'saida des se magn ifico templo da A rte não me fur

tei ao desejo de desabafar e disse para um amigo, queme acompanhava :

— Quem sair de Portugal para se divertir pela E d o

ropa, a .pr imeira cidade a vis itar deve de ser Madr id,pois , além de outros monumentos que recommendam a

capital da Hespanha attenç ão do viajante e despertamv ivamente a sua cur ios idade, o museu nacional teráse

'

tnpre logar preferente em as notas de viagem do ho

mem de gos to, apreciador do bom e do bel lo . S iga depois para onde lhe aprouver, mas não deixe de levar ag rata impressão de tantas maravilhas artís ticas al i re

unidas .

H ei de vo ltar a M adrid só para me en levar e inebriar

deante de tantas maravilhas artísticas ! A parto—me desta

cidade saudoso.

292

escr ipto a uma folha de L isboa, pedindo-lhe a publ icação de um documento de summa importancia acerca daexpedição de Vasco da G ama, datado de 1 499 e al ludindo ao começo da impressão do indicado tomo VII,que infel izmente não concluiu. Parecer:-me que enr ique.

cer ia este meu l ivro transcrevendo aqui , com a devidaven ia, esse documento, cujo valor não é preciso enca

recer.

E ' do folhetim da N ação, n .

"de I I de de

zembro de 1 879 , em carta endereçada ao -então redactor

pr incipal daquel la folha

A mig o s r . D . j org e— H a annos , percorrendo uma

importante col lecção de manuscriptos , que pertencia aos

ex-conegos regrantes de S . Vicente de F óra, encontreio precios íss imo documento, retativo aexpediç ão de Vasco

copia envio juntamente com esta miss iva.

Como a v ida seja incerta e não sei se lograrei terminar a minha edição, desejava jque o documento, que

tive a fortuna de descob rir, não ficasse inutilrsado, cor

rendo a mesma sorte d'aquel le que nos devia relatar o

'

dia certo da chegada de Vasco da G ama a L isboa; atéhoje, com vergonha o digo, desconhecido.

Pedia, pois , a v. 0 obsequio, se ass im o julgar, delançar no nosso jornal o documento, para que, na h)

pothese de o não poder deixar cons ignado no meu l ivro,

alguem de futuro d'el le se possa utilisar.

O documento official a que se al lude n'es ta carta,

isto é, a part icipação ao Santo Padre feita por el—rei

D om M anuel , infelizmente, não se encontra no archivodo Vat icano, onde foi procurado por intervenção do nossom in istro em R oma, o s r . marquez de Thomar, quecom a melhor vontade se pres tou a es ta indagação.

N ão des isto de fazer n 'outro ar

ch ivo indagações sobreo dia da chegada do nosso argonauta, e muito fel iz mereputarei se puder apagar es ta tr iste e antiga ommissão

dos antigos escr iptores das nossas conquistas , alguns ,contemporaneos ou quas i contemporaneos da expedição,e suppnmir a lacuna nacional .Sou como sempre com toda a estima

D e V .

A m.

ºe cr .

"ºohr .

C ar n ide Quin tado Bomnome 1 - 79 .

Visconde de ] u r amcn/za .

C O P IA D A C AR T AP AR A O C AR D E A L P ROTEC TOR

Reverendiss rmo em C hr isto Padre que como Irmão

muito amamos : N os D om M anoel por g raça de D eosR ev de Portugal e dos A lgarves de aquem e dalemmaarem A fr ica e Senhor de G uiné e da Conquista, da na

vegaç ão e comercro da E thiopia, A rabia P ers ra e da ln

dia : nos enviamos recomendar a V . P . A ntre as

outras cousas de que temos de tomar ao bejo prazer da

mui grande nova e mercê com que a N osso Senhoraprouve

—nos cumpri r nossos dezejos dando desejado fima nosso trabalho acerca da investegaçaom da Ethiopiae india, terras outras, e i lhas O rientaes, certo

a somenos poder V . R .

“ P . veer e aveer em

a muita parte e quinhão nu e lhe nisso cabe ;que a natureza vos obl iga, como pe lo muito amor que

aa nossa pessoa e regnos sabemos que tendes;por ondepodireis bem conhecer quam de boamente e com quantoprazer volo notificamos , no que por escusarmos mais

prolixidade e poderdes saber as saz compr idamente o

processo dªes te caso pelo que escrevemos ao Santo P a

d re vos enviamos den tro des ta a minuta de sua car ta

Somen te vos fazemos saber algumas mais particular idades das novas e cousas daquel las terms o ra achadas por

folgarmos serdes del las sabedor, e tambem para o SantoPadre poder ser por vos del las informadoquere

ndo sa

bel lo. P r imei ramente aalem do que a S ua Santidade es

crevemos ; Saberá V . P . que estes que ora torna

ron da dita l nvestigaçaon e descub rimento, entre outros

portos da India es teverão em huma cidade chamada

Quol icut ; pr incipal scapula de mercador ia da India,

donde nos trouxeraom toda a maneira de especiar ia

SS . Canela, Cravo, pimenta gingyboe, nos-noscada,

berjoy, ambar, almíscar, pero las , robys , e todo outro

genero de pedrar ia e mercadorias preciosas . O R ey

desta ter ra se tem por C hristão e assy a maior parte

de seu povo os quaes (mais com verdade) se devem ter

por herejes , vis ta a forma da sua christandade de que

ao Santo P adre escrevemos . E steverão os nossos nesta

Chr istan dos outros C hristãos aia —manei ra em c ima.

Estes Indios são menos pratos que G uineus de uma

pret idão sobre roxo, porem seus cabel los cor redios , e emnarizes , e todas outras particulares feições , e ge i to deseu rosto, semelhantes de todo aas gentes de la : e mais

nos trouxeram hum M ouro ' t e - Tunes que lá estava hoº

mem bem sabido e avisado ; e sobre todos hum outro

que era Judeo e jaguora Christan tornado , homem de

grande dis t inção e engenhº. nascido em A lexandria,grande mercador, e lapidar io q ual havia XXX an nos

que tratava na lndia e a sabe assy esmiuçadamente

toda e quanto nel la ha ; e assy todas as terras da casª

e cousas del la des A lexandr ia para lá e da India para o

Ser taão e T artaria, ate maar mayor , que bem se mos

tra achegar se aquel la tem por grande mis terio de NossoSenhor, para seu santo serviço, e bem da C hristandade,

po is logo com isso ordenou de se nos trazer este homem,

que aveemos a certeza por tanto como todo 0 al l ; por

que sem el le vir, estevera ainda muitos annos todo o

achado por se saber tam compr ida e intr isecamente,

como agoura de nos he sabido, D eos seja louvado .

Este homem sabe fal lar Hebraico , Caldaico, A rabico e

A lemam;fal la tambem Ital iano mis turado com Espanho l ,tam claro que se entende como hum Portuguez, nem

el le menos os nossos . N os tanto que es ta nova soube

mos . Logo mandamos fazer geraes P rocissoens por todosnossos Regnos , dando muitas G raças 3 Nosso Senhor ,que nos em tanto grao remunerou nesta parte e decra

ou o desejo e trabalho nosso, e de nossos anteces sores :

e certo por esta cousa tanto redun'

dor em Louvor do

Senhor D eus , e exa ltação de sua Santa F ee, serviço daSee Apostol ica. e proveito da Republ ica C hristaam, e

assy honra do Santo Padre, por ser em seus dias , edesse S acrossant iss imo Co l legio, deve S ua Santidade e

V .

R J“ P . mostrar publ icamente non menos al legr ia, edar por el le muitos Louvores a D eus; O utrosy como

quer que por doações A pos tolicas , mui largamente tenhamos o Senhor io e domín io de todo o por nós achado,

da guiza que pouco necessar io pareça mais nada. poremmuito nos prazerá e affectuosamente vo lo rogamos que

depoes do dadas nossas cartas ao Santo Padre e ao collegio queiraes . fal lando n isso como de vosso, ao menos

por mos tra de algum novo contentamento , para nos em

cousa tão nova, e de tão grande e novo merecimento

aveer de S . Santidade nova aprovação e outorga del la,na melhor forma que parecer a V . R .

mª P . a qual NossoSenhor praza conservar como el la dezeja. Scr ipta em

Lisboa a Xxvl l l dagos to de r 4gg .— R E Y.

S A M P A IO , J O R N A L IS T A

(P A G . 52 A 1 2 3 )

Quando de 1 876 para 1 877 houve em Portugal notavel reacção contra os manejos ibericos , em que se empenhára e envolvera um escriptor hespanhol , que teve

representação do seu governo para a côrte de L isboacom caracter diplomatico, Fernandez de los R ios , appareceram muitos opusculos para se oppôrem á propagan

da iniciada e manterem illeso o patriotismº nacional ,

que alguns es tranhos julgavam que seria faci l desviardo caminho recto e amortecer no seu fogo sagrado, of.

fuscando o bri lho e a integridade da patria.

A s vozes que se desprendemm forammuitas e vi.

b ravam como deviam em todos os recantos da patr ia.

Além dos opusculos que fulminaram os intr igantes , aimprensa diar ia, no set: vigo r de divulgação, tão uti l aosgraves interesses nacionaes , acompanhou essa luta, eSampaio na R evolução de S etembr o, com a valentia dasua penna e a auctoridade da sua s ituaç ão no jornalis

mo, entrou na controvers ia.

O que elle escreveu na R evolução foi ooll igido com

outros artigos no liv ro intihrlado z A um'

ão M a a a

do s r . a dez de los k ios , e nesta compilação en

traram Eduardo Coelho, Luciano Cordeiro e P inheiroChagas .

N os artigos biograph icos , e encomiasticos , dedicados

a R odr igues Sampaio omitti, involuntariamente, um em

q ue o cons iderado jornal ista e publ icista, conselheiro JoséJoaquim Ferrei ra Lobo, escreveu para o per iodrco 0 óiog r aplro (n.

º

3 de r de março e ahi occupa as

quatro paginas . E ' uma apo logia s incera e conscienciosadas grandes qual idades do eminente jornal ista, de quemd iz :

« A sua penna fez uma r evo lução es tr ondo sa,

alcançou um t r iumpho assignalado— l rber toa

a impr ensa . E s te é o feito dos seus feito s , a glo

r ia das suas g lo r ias .

» A qui, em P o r tugal, per tence- lhe a maio r co n

Indicaçãodosnomesdeescriptores_

eoutraspessoas eartistas, os quaes sãocitadosoudosquaes sefazreferencianotomopresente.

A

A bo im (G eneral )A ffonso XIII (D . ) R ei deH espanha. . 27 1 , 272,

A ffon so L ºpes Vieir aA ffonso VargasA g o s t in h o J o s é F reir e . M S , 234, 235, 236,

A g o s t in ho de M o raes

P into de A lmeidaA o s t in ho de O rnel las

asconcel losA lber to Bessa .

A lber to C ar los C erqueir ade F ar ia

A lber to O so r io de Vas

concel losA lber to P imen te lA l e x a n d r e H e r cula

no . 3 1 , 34, 35, 37,A lfredo A ugus to da S ilvaA lfr edo da C unha r a r,

A l fredo de M o raes P into

A lfr edo R ibeiro . . r64,A lmeida (Bar oneza de) .

A lmeida G ar r ett 80 ,A l to M e a r im (C ondedº) I7S,

A lvar o P inheiro 1 19,A lvaro R odr igues de A zevedo

A lves M atheus

A ndrade M edico )A ndrade o rvo

A nacleto da C ostaA nna (D .) P lacidoA n tonio (B . ) da C os taA nselmo BraamcampA n ton io A ugus to de C arvalho M on teiro

A n ton io A vel ino A maroda S ilva

A nton io de C ampos .Iun io r

A n ton io de C a r v a l h oD aun e L orena

A n tonio de C as troA n tonio da C os ta P aiva,Barão de C as tel lo deP aiva

A ntonio do C armo Velhode Barbosa 56,

A ntonio F el iciano de C as.r ilho 82, 95, 10 7,1 55, 15

A ntonio il

A ntonio I acio da S ilvaA ntonio oaquim de O liveir a 61

,

A n ton io J o sé de A vila,

M arquez de A vi laA n ton io J osé de L emos .

A ntonio (Conselhei ro ) .l

An tonio de L o

L acerda 26

A n tonio M . daBel lem 108

A ntonio M a r i a P ereiraC ar r i lho 16 1 , 225

A ntonio P edr o L opes de

108

53

tel 161 , 22 1A ntonio S imões Vaz . 1 59A n ton io 3 4 1

A n tonio P e3 1

A nto nio Xavier R odr igmCo rdeiro . . 10 5 107 r63

A r thur 1 3 3A u to Car los P er eir a

e A ra 0 189Augus to e C as tro 170A ragusto C esar F er r eirae M esquita, C onde deM esquita

A ugus to L usoA ugusto de M el lo

Bar r oso A lmiran te) 14Benigno (D . ) J o aq u tmM ar tinez 280 , 28 1

Beresfo rd 26

B e r n a rda A n n ive r s a

Bernardino M ar t ins

Bernardino S an tos D aniel da S ilvaBoaventura G as pa r da D uar te P er eira

S ilva D avid C orazziBulhão P ato D uar te F ava

CP ao .

A lber to 1 19, 1 2 1

C astel lo Bran1 59, 160

C amões

C s rm cha

C ar los S an tosC ar lota (D . ) E milia F err eir a

C astr o (ªbbade d

ª)”Cu r r o o rgado

C eles rírio Soar esChr istiano G e r a r do doS ilva

C incinato da C ostaC onde das A ntasC onde de S . M arçal (V .

T homaz Quintino A htunes )

C onde de M esquita (V.

A u us to C esar F er r eir a e M esquita ) .

C onde de R ackzinski 43C ondeixa (Visconde de) . 189C osta C ab r a l (A n t on io da) 232

,233 , 248

C osta e S á 1

33

C unha R ivar a S

C yr il lo Vo lkmar M achado

J oaquim de A raujo 189J oaquim C erqueir a. . 18 1

,19 8

J oaquim F 1l tppe de S oure 22 1

J oaquim Jo sé T as so . 1 38

J oa u1m J osé M ar ia de

O iveira Val le 1 38

J oaquim M ar tins de C arva lho . 257

J oaquim P edro C eles tinoS oares

J oaquim P ereira da C o s ta 1 76

J oaquim S aldanha M ar i onho . 1 7

J oaquim T homas L obo

de A vila 76

J oaquina (D . de L encas

tr e 1 a L archer 237J o sé A n ton io de A mor im 224 L atino C oelho (J osé M a

J osé A n ton io D ias 79 223

José A ntonio de F reitas

J os é Bªrbo sa L eão 163

José C aetano T avares . 79Jo sé D uar te Ramalho 0 1

E duarm

de M a 11Jºl l1ães

8

José E l ias G ar cia . . 23 3,28 1

JoséE s

lt

gãvâo C oel

go de

asa es o,

65. 73. 71 1 75

' 6.ºf? 218

José E s tevão de urn a

S armento 65

Jos é (D . ) de M adram 287J osé M am C h r i s t ia

226

Valenee 1 1 140

J osâM aur ieio Venãêmãz, ggJosé M iguel da Cosa 2

J osé Mo r eira Rato . 1 19Jo sé R amos C oe lho 1 89J o sé da S i lva C a r valho 229, 24 1 , 259

J osé da S i lva M en de s

L eal 1 1 3José de T o r res 28 1

J orge de A vi lez 1 2

J o rge C esar de F 1gamcr e 64J o rge H . de A lmeidaB lan

264 268, 28 1 , 282 , 283

J ul ia ( D . ) (ihaves P ereira 1 7J ulio C esar M achado . 1 08, 1 56

J ulio de L emos 1 2 1

J ul io M aximo de Vi lhena

Jun ius Vil leneuveL

L eu dr o Joeó R odrg ues'

L eone l T avar es C a

L uia Cesef

M

Manuel J o s é G on ça l N

M anuel Joae Sermeneo" Jo N ieolaude Br itoManua l nendes L eite . 62 N ogueira SoaresW. .

Manuel M a r ia Kodr i

Manue l P inhw o

s

'

C hao

8: O l i '

A b

o

1 1 1 1 vem reu .

Manuel! “

da S iivaóoi' a

t

f: O lzmpio N ico l au R uy

a

6253

26

1

de

de T homerW.Cabral .

de v a71« Vimeo 271Lobo de

1601601626 1

Cou3 1

Moreirade A lmeldaU .A ) 109M our a C abral .Mur il lo 286, sã7

P

P adre Rabeel o (V. J oi oCandido de Cara lho ) .

P N JO Mido“ ” 9, 850as.)21 2

3 1P ereira e Sousa 'O P et-cio

r ial» ) 74, 80 5P ero Vaz de CaminhaP indel la (Visconde delP rosper o P en gallo

R

R apboel Beato . 189R aphael Bordal lo P inhel

t4o, 1w3 0

306

R a mundo Venancio R o S ergio deciúmes . . 259 S ilvaBraneo 104, 105 1o7,

R ibera 286,287 Si lves tre P inheiro e r

R ober to R ebel lo 204 m ra 169R da F onseca M a

o o e o e o o һl

R 1 2 1

226

R oll 226

R od 232, 23 3

R oq F ur tadoe M el lo 232

T homas Quintino An tunes

T homds

Tr indade C oelhoV

S evero E rnes to dos A n

ios .

S ilva T u l lioS imão José da L uzS oares C aldeiraS ousa H o l s tein (M arquezde) .

o o o o o o o o o o o o o o o

T abo rda, actor

;gl lesª

rdi

ª“o a

n ª“T homás de C arvalho 68,Thomás JorgeT homás L ino da A ssum

X

Xavier da C unha

2

Zefer ino C andidoZefer ino F alcão

MEMORIAS DE UM JORNALISTA

BR IT O A R A N IIA

T O M O I I

O r n ado com r etr atos e tac—s im ilee

1 90 8

P A RC E R IA A N T O N IO M A R IA PE R E IR AL IvIt A tt IA E D ITO R A

O F F IC IN A S'

l'

vpo oaA P mC A 1 : na E N C A D E R N A ÇÃO

M o v idaa e l e ctr tcida tl a

R ua A ug us ta , 44 a 5 4

LISBO A

a natural essa anciedade. T ratava-se de um homem

tras de pr imei ra ordem, e de certo o de mais to

envergadura de quantos H oresceram no seculo

x e ma is altas provas legou aos vindouros de saber.numbr idade e intrans igencia em elevados assumptos queficaram para sempre, fulguran temente, persuas ivamente,vincu lados em pag inas aureas da histor ia pol itico- l itteraria portugueza.

N ão entrarei em comparações , não me agradam. Es

cravo conforme penso : nao acompanho nem s igo as opi

iões alheias , e assumo a intei ra responsabi l idade do quere sae da penna e subscrevo. M as ass im proceda sem

;rejudicar pessoa alguma. O louvor que dedico a um,

embora pos sam julgao itr exagerado, não tem— confesso u

s inceramente l — o caracter de deprimente ou de n&ensivo para quem quer que seja . Se citas se nomes , vêre e-ª

h ia que eu, tendo em outro logar e noutra escriptura

exaltado uns , não podia demonstrar a minha inconsequencia e pouco acerto em cr itica l itteraria, rebaixandooutros . Cada escriptor tem o sem merecimento, como

cada pintor tem a sua manei ra. P ode, um ou outro ,

aproximar—se no esty lo, sem se copiarem nem imitarem,

mas ser ia difficil , e, no meu entender , será er roneo iguala—los .

Ass im, cons iderei a A lexandre H erculano como um

dos maiores vultos l itterar ios do seu tempo , excedendo

em estatura, que se visse, a alguns dos seus contempo

raneos , que tinham apparecido na arena das lettras ar

mados e preparados com bom mater ial regular , scientifico, o que não succedera ao grande histor iador que ad

quir iu o incommensuravel cabedal de conhecimentos

que possuia, e tão br ilhantemente o provou, à custa doproprio esforco .

Para o aval iar bem na vastidão dos seus conhecimen

tos , pr incipalmente, estadisticas , histor icos , de jurisprudeneia e socio logia, veja-se, e reveja—se ponderadamen

te, não só a sua H is tori a de P or tug al , que é muito ,

mas a var iedade de seus artigos esparsos em tão var iadas pub l icações , os seus opusculos depo is col ligidos , assuas controvers ias , em que tem maior peso, a do « Ç a

samento civil» ; a do « milagre de O urique» , tao explo

rado pelo fanatismo que el le derrubou ; a do « ens ino» ,

e outras , que tornaram o seu nome glonoso e immortal .Lutado r v igoroso H erculano não recuou ante os ad

versarios , e quem dispunha de tao bem temperadas armas

não podia dar—se por vencido, embora os adversar ios se

apresentassem como invencíveis batalhadores . O trium

pho era del le.

Estava nestas cons iderações , só , conturbado pela mánova que me chegara [1 sala da redacção no D ia r io de

N otícias , quando o Eduardo Coelho me mandou cha

mar ao seu gabinete particular da direcção e me disse ,

sem outro preambulo— Tens que fazer mais um serviço ao nosso jornal .— Qual é ? perguntei.l r já para Santarem, fixar lá res idencia e enviar—me

pelo telegrapho o que fôres sabendo da marcha da doen

ça de A lexandre H erculano.

E stá mal ?

— S im. A s notícias que nos tem chegado, como sa

l O

bes . não são para tranqui l l iser os que o admi ram e res

peitam. e o cons ideram como o pr imei ro escriptor da

— Parte hoje assim que tenhas comboio e toma quarto na hospedaria de Santarem. D e lá tens que arranjar ,para quantas vezes te seja necessar io, a condução para

a Azoia, Val le—de—Lobos, res idencia do grande historiador. E' um pequeno logar, que distará pouco mais de 5k i lometros da cidade. Vae commodamente, porque terás que ir lá muitas vezes e mais que uma vez no mes

mo dia , ao que me parece. N ão conheces o Herculano ?— N ao . Apenas o vi uma, ou duas vezes , na l ivrar ia

Bertrand, ao Ch iado, porque el le ia al i sempre que es tava

em Lisboa para cavaquear com o velho Bertrand, queainda vivia, e viu-o risonho. N ão houve nunca ensejode ser—lhe apresentado. Bem sabes que eu sou contrario

a metter—me a cara de qualquer pes soa e acanhava—me

em faltar com um escriptor de tão elevada figura.

Quando viesse a propos ito e não me cons iderassem mettediço, ou pedante, o que é de arrel iar , entao fal laria

Bem, atalhou Eduardo Coelho ;estaacordado. Vaeshoje e dispõe de mim para o que te fôr preciso. 0 ser

viço jornalistico é que a nossa gazeta, em tão fagueira

marcha, dmaia.

A té àvo lta.

E despedi—me. P or certas ex igencias do serviço da im

prensa e por aticito de casos não previstos nos trabalhos do per iodico, a minha famil ia tinha o cuidado de

conservar preparada uma pequena mala de mão, que

me acompanhava nas digressões . Fací l ima era a saida.

Nesse dia parti no comboio para Santarem.

Em que circumstancias ia eu a casa de um homem.

pr incipe nas lettras , condecorado com a maior nobrezaque nenhum poder confere, a exis tenc ia do ta lento, quese conquista na compos ição de obras que nobi litam e

acrescentam os opimos (metas da civilisnçao ; e de cer

to sem poder estabelecer sequer as mais s ingelas , respelm s e democraticas, re lações , que se harmonisassemcom o seu caracter e com o seu senti r !

E isto ainda succede ho je na minha casa, po rque não se

per dem habitos contrahido s , por tão longo lapso de tempo .

A pes ar de viver afastado da etl'

ectividade dos meus trabalhos

na imm nsa, po r causa da minha saude deter iorada, tenho

prompts a antiga mala das viagens , com alguma roupa, o es

tojo da barba, sabonete, pentes, escovas, pape l e lapis par aapontamento s, um tin teiro necessario para os te legramas , eaté um fr asco com agua de C o lonia, de pr imeira qualidade,

que ni o despenso nas abluções dtar ias, e que me sm a como

de desinieetan te. A nimam a idea de que, recuper ando o vi

gor perdido , poderei ainda servir para alguma cousa ; e po

der á ser aprovei tada alguma aptidão , que me r es te, par a trap

balho s de util idade geral .

1 1

A o chegar a Santarem o meu pr imei ro cuidado foiprocurar a hospedar ia. onde cos tumava alojar-me quando ia àquel la cidade , e está s ituada pouco distante doquartel de arti lhar ia 3 . E ra da Fel icia.

O btive quarto sem dihiculdade . Hav ia poucos hospedes e da terra um oflicial do regimento al i aquartel lado

com a fami l ia, mulher e duas fi lhinhas .

D isse a dona da casa ao que ia e incumb i-a de alu

gar uma carruagem nas condições em que a desejava,quas i permanente e durante os dias que necess itasse

desse serviço. Tratava- se da doença de um cidadão emi

nente e lavrador muito cons iderado no districto . N o

meei-o.

A o ouv i r o nome do grande A lexandre H erculano , a

dona da hospedaria refer iu-me que lhe fal lavam desse

lavrador, pela boa qual idade do azeite que produzia, cu

ja cultura aperfeiçoava segundo os melhores systemas

agr icolas usados na Ital ia. A crescentou que tambem

ouvira que estava g ravemente enfermo.

1 4

tarem e ass istente do enfermo . Nada havia que fazer .

Todas as esperanças de o salvar es tavam perdidas .

A lexandre Herculano recon hecem a gravidade da

doença. N ao podiam i l ludi-lo as palavras pensadas quesaiam dos labios dos cl inicos , apezar de reconhecer nel

las competencia e a maior dedicação . O dr. Pedroso ,

de Santarem, tao amigo era de Herculano, que, pe lo dizer ass im, daria a vida para combater a molestia e tra

zer à actividade da sua tão conso ladora ex is tencia de lavrador o auctor do E ur ico .

Nessa occas ião, mandou chamar a esposa, irmã es tre

de cama, e a quem desejava fazerções, dando—lhe recado para que comparecesse o notar ioda cidade, o que se cumpr iu.

Vo ltando a Santarem, com o proposito de ir na ma

nhã seguinte a Val le de L obos , tratei de estabelecer relações mais intimas com Zephy r ino Brandao, pedindo

P ar a commodidade e pr es teza no ser viço do dr . M agalhães

C outinho e de outros medico s , que tinham que ir ver a A le

xandr e H er culano , ou en trar em con fer encia ácerca da gr a

vidade da sua doença, o governo t inha po s to àdispo s içãodesses il lus tr es cl in ico s e pro fesso r es, um combo io expresso

dir ecto para S an tarem, de ida e vo l ta. E n tr ou em muito para

isso o academico e amigo par ticular S i lva T ul l io , cuja no ticiada doença do mestr e o afii igiu tan to , que adoeceu, e po r isso

não pôde tigurar em outr as homenagens que se pr es tar am a

H ercu lano . S ilva T ul l io fo i um dos meus melho r es amigos e

na car r eir a da imprensa devi-Ihe innumer o s favo r es .

1 5

lhe para me acompanhar a modes ta res idencia do grande h istoriador, com o que me obsequiava.

D edicado a es tudos litterarios e a investigações his

toricas e archeologicas , em campo tao vasto como o que

se offerece ao estudioso em Santarem, a qua l A lmeidaG arrett consagrou tão formosas paginas nas Viag ens na

min a let r a , Zephy rino Brandao occupava se em lêr e

manusear l ivros preciosos nos archivos da cidade. col l i.gindo muitos e importantes apontamentos para a sua

interessante obra M onumen tos e lendas de S an ta r em ,

que depo is gosou os beneficios da imprensa e foi l isongeiramente recebida quando appareceu no mercado .

'

N os dias seguintes . ou de dia, ou de noite, quando as

horas de serviço mi l itar o de ixavam l ivre, recebi o prazer , que não pcm esquecer, tao agradavel me foi, de oter por meu companhei ro nas vis itas a Val le—de—Lobos .

A oflicialidade de artilheria ia al i repetidas vezes

saber do es tado do enfermo.

D epo is de coorpos to es te l ivro, e a pedido do motor , eu

in tervim para que o afamado editor D avid C o r azz i ( já fallecído ) . liaesse a ediçi o na sua typographia nas mel ho es condi

ções que pudessem favorecer o auctor . D avid Cor azzi fo i

sempre um edito r bizar ro e os es cr iptores, que o tr atavam,

ficaram com saudades del le. P os so dize—lo fr ancamente po r

que ni o fo i meu editor , apes ar de o ter na con ta de bom

amigo, po is os meus pobr es livr os tem sido, pe lamaio r par te,

edivaradoa pela acreditada e an tiga casa de A n tonio Mar ia

mes de Brito, Pereira Curado, José Avel lar , que iam deL istaoa vis itar o i l lustre enfermo ; e de Santarém. além

do so l icito medico , e o dr . San tos , que al temava com o

dr. P edmso, na ass istencia a Hercu lano, P atrl ino da C u»

nha e Santos , lavradores , estes de Santarem.

A'

cabecei ra do enfermo, numa pers istencia, fi l ial edolor ida, José Basto, do archivo nacional da Tor re doTombo, que, com seu irmão João Basto, um dos mais

dis tinctos paleographos no mesmo archivo , tinham s ido

os mais sol ícitos auxil iares de A lexandre Herculano na

col lecção dos documentos para o P or tug a l z'

e monumen ta ,

que tamanho servico prestou para o estudo da nossa his

toria patria.

José Basto, permanecendo em Val le-de—Lobos , não se

t i rava do quarto de H erculano. F irme e attento como

uma sentinel la em defeza do seu posto de honra. H er

culano, quando abr ia os o lhos , fitava-o com suavidade,

e parecia que se lhe revelava na expressão de quem

iletins medicos , dados a conhecer . diariamente,

imos dias de duas em duas horas , accus ava—se

nfranquecimento e a ruína das v ísceras punhamm

'

) à bei ra da sepultura, i rremediavelmente perN ada na sciencia para o salvar !

mancebos que entram na vida publ ica e lhes falta a

exper iencia e o senso, que os annos e as des il lusões tra

zem e transformam.

A carta de O l ivei ra M artins era extensa. Tinha umas

seis ou oito paginas , em papel hno de formato commume parecia que respondia a observações , forçosamentesensatas , que lhe fazia o mestre. N ão era de caracter

reservado. N eila não havia segredos a denunciar .D ois ou tres dias antes de cai r na cama refer i ram—me

que, es tando A lexandre Herculano sentado numa cadei rana casa de passagem para a sala, em frente da escada

que conduzia a casa de jantar, dis sera ao lavrador P aul ino da Cunha e Si lva, mui amigo do h istoriador

— O lhe, meu amigo, no dia 8 vim doente de Lisboa.

Parece que a capita l me repel le. N ão me que r. F ar-Ihehei a vontade, não indo mais

'

a Lisboa.

E não foi, infelizmen te. Levaram-no, annos depo is ,mas cadaver.

A doença, compl icada internamente, progredia rapimen te e abateu—o, t irando- lhe toda a energia de que dis

puzera.

O notario de Santarem, que chegou a Val levde-L obois ,era Henr ique D ias , vis ita de Herculano.

Es tavam presentes as cinco testemunhas , que manda

a lei : Mendes Pedroso, Paulino da Cunha e Si lva. D r .

Santos , D r. José Avel lar e José Candido dos Santos .

A lexandre Herculano parecera que recuperâra algum ani.

mo . Espelhava—se—Ihe placidez nos olhos , que br i lhavam.

Fitou os que lhe cercavam o leito. Reconheceu—os. E ra

uma pr imeira « vis ita da saude» , na l inguagem do povo .

D epois, dizendO v lhe o notar io que estava às ordens ,ditou com seren idade o tes tamento, denotando comtudo

o m eo por deficiencia nos orgaos respi rator ios , masdisse com lucidez tudo o que pensara e desejava recom

mendar .

instituiu herdei ra universal sua mulher legitima, D .

Marianna Mei ra, e nomeou primeiro testamenteiros JoãoBasto, da Tor re do Tombo ; e segundo. G alhardo , lenteda esco la naval , legando ao pr imeiro a sua l ivrar ia em

Val le—de L obos e ao segundo o di reito de impr imir O pusculos e escriptos avulso, recommendando a ambos que.

na mudanca do s seus l ivros , separas sem e res tituíssem

aesquer que tivessem indicação no car imbo de não

pertencerem.

Legou a seus irmãos a propr iedade das obras [E star ia

m am , e outras , que citou. D eclarou a divida da A cademia Real das Sciencias pela acquis iç ão dos manus

criptas do D icciona r io de R ama l ho; de que era pos sui.dor, a qual divida ser ia dividida em partes iguaes pelamulher e pelos i rmãos. M andou dar ao serviça l JoséA ntunes 1 0050 0 0 réis ; e ao serviçal F rancisco Fi l ippe1 50500 0 réis .

A o ass ignan o tes tamento a mão de Herculan o tremia.

viaç a na ass ignatura. Em todos os que

solemne acto havia lagr imas sinceras e copiosas . O s que tinham obr igação de ass ignar

o fizeram tremulos . A commoção, po is , era geral .E u propr io, que es tava sentado no gabinete indicado ,

tendo junto de mim a J osé Bas to, não pude conservar

me indifferente a um acto, que passava tão prox imo , e

sou forçado a confessar que senti as faces humedecidas

e a escaldar com as lag rimas que se me des til lavam su

bitas dos olhos e parecia me subiam a arder do coração

attr ibulado.

A perda, que ia dar-se, que estava immmente e que

era imposs ivel reparar , porque era em abso luto fata l ,havia de commover a nação intei ra ! U m po rtuguez

daquella tempera, com aquel le prodigioso talen to, com

aquel la s ingular tenacidade, com aquel le caracter imma

culado, não era facil substi tuir .

limas do povo, que tambem tem lagr imas quande, dentro da sua alma não corrompida, que a

perde varões prestantes e fi lhos digniss imos como«o egregio escriptor .

A ss im se expressavam do loridos

— A i , senhores ! poucos caracteres conhecemos como

do s r . Herculano ! A pparencia de rude, mas coração

nobre !O utros aldeãos repet iam— Esse era bom homem Faz falta. Homem honrado

ás direitas !A inda outro grupo de rus ticos— E era muito amigo da sua terra !

Logo serão l idas outras apreciações , não menos s in

as , proferidas por cidadãos de elevada pos ição e de

:svelada cultura, que podem entrar no cõro un isono deglor ificação a Alexandre Herculano .

O s r . duque de Palmel la, ao vo l tar a Lisboa, incumbiu ao esculptor Calmels de ir , ª logo, a Val le-de—Lobost i rar a « mascara» do nobre extincto, que el le fez com

extrema perfeição , e que depois executou em marmore

para a O pulenta galer ia de celebr idades que aquel les

benemer itos titulares possuem no seu vas to e r ico palacio na rua da Esco la P olytechn ica, p rox imo do largo doR ato , com uma entrada artistica que se d istingue de

todos os que ex istiam e que se tem construído em L isboa.

O esculpto r C a lmels já é fa l lecido . E s teve po r muito s

annos ao serviço da casa P almel la E ra ar tis ta de bastan te

merecimen to .

N a manhã de 1 5, o feretro de H erculano foi levadoda casa de Val le—de—Lobos para a egreja da Azo ia em

depos ito , formando—se o funebre pres tito, mui s ign ificativo e de elevado e jus t ís s imo preito a memoria do i l lust re ext incto, em q ue entraram as auctor idades superio

res e inferiores do dis t ricto. a ofiicil iadade de art i lheria

com o seu commandan te, representantes de varias agre

miações po liticas e popu lares , e sem dis tincção .

Em todos os ros tos se v iam evidentes os s ignaes da

intensa magua que pung ia as pessoas presentes .

Em Santa rem , de accõrdo com a dona da hospedaria,

providenciam para q ue as car ruagens , de que pudesse

disp ô r na cidade ficassem às minhas ordens afim de queos collegas , que esperava de L isboa, pudessem desde

logo ir para a A zºia. M as as difi'

tculdades foram grandes

e naquel la cidade faltavam os meios de conducção.

P orei, nes te logar , como documentos , os seguintes

t rechos das informações que diar iamente expedia para o

D ia r io de -Votín a s . N ão as altero. Vão como sairamnes sa folha :

26

S antar em, 1 5 ás 1 0 h. e 3 8 m. da na. (A o D iar io de N otí

c ias , L isboa) . O tumu lo do gener al G o r jão , em que ficará

depo sitado o co rpo de A lexandre H er culano, é situado no

adro entrada da egreja da A zo ia. A o s lados do feretro es

tão quatro mancebo s de b randões accesos . Algumas pes soasdo povo se viam ali. A official idade de ar ti lhcr ia vai a pé ;

e as l l ho ras marchará com a força. O destacamento de ca

çado r es, que es tá na cidade, dar á as descargas da ordenança .

B A .

Santar em, 1 5 da 7 h. (A o D iar io de N otícias, L isboa) .

R egr es sou ago ra o comboio especial, que viera de L isboa.

M ais de 40 0 pessoas fo ram A zoia assistir as ultimas home

nagen s feitas ao il lus tre his to r iado r . O sr . E duardo C oelho

levava a corôa da impr ensa, e depos itou—a no tumulo . F all a

ram os sr s. E l ias G arcia, em nome da impr ensa ; A nton io

A ugusto de A guiar , pela academia das sciencias ; A ndrade e

A lmeida, pela commissão patr io tico l .

' de D ezembr o ; M en

des P edrozo , pe lo município de S antar em . A viuva tem rece

bido vis itas e telegrammas sem conta. O s r . S i lva Tul lio pediu desculpa de não comparecer no funeral por es tar doen teem C intra.

— B . A .

O pequeno templo encheu—se . O combo io expr esso que o

governo puzer a dispos ição das pes so as que quisessem pr es

tar aquel la homenagem, r eso lução pela qua l se mos tr a sur

prehender o que o es tado deve de gratidão e r econhecimen to

aos escr ipto res daquel la es tatura, chegar a pouco depo is do'

meio dia, e apesar do sacr ifício de um largo tr ajecto da esta

ção para o logar de A zo ia, sem meios alguns de condução,

porque, e isto parece imposs ivel. S an tarem, a cidade ' histo

r ica e nobre, apenas po ssue do is ou tr es car ros de transpo r te

de pessoas, e hontem só havia um em serviço , o que fez es

tar a espera na estação, duran te largas ho ras, o irmão deA lexandr e H ercu lano , que viera do P or to desejoso de abr a

eno lo ainda uma vez ; apes ar disso , o enter r o fez —se il hor a

tr e as quaes o s r . .lo se' F i lippe de S á que mui to obsequiou

todas as pessoas que for am ao funer al r ecebendo . ” em sua

casa, enchendo —as de de licadeza, e o s r . l ose Bas to, que fo i

quem distr ibuiu as fi tas do caixão .

N s conducçâo des te desde a egr eja ate o jazigo do gener al P edro Vieira G o r jão pegaram nas fitas o s s r s. M oreir a

S alema, minis tr o da justiça. A n tonio A ugusto de A guiar ,

M ar tens F er rão , marques de S abugosa, conde do C asa l R i .

beir o e E duardo C oe lho . A n tes do feretro en trar no jazigo ,

o s r . E lias G arcia, o jo rna l is ta mais antigo que se achava

pr esen te, fez com a voz abafada pela commoçi o , um sentido

improviso , consagrando a homenagem da impr ensa ao exi

mio historiado r , ao poeta, ao jor nal ista e ao cidadão extraor

dinar io, que a mo r te roubar a a sua patr ia.

N o prestito funebre de A lexandre H erculano estavam tam

bem : o s s r s . J ose .lul ic R odr igues e Bacel lar , e da redacção

do J or nal da N oite es tava'

tambem o s r . F er r ei ra de C as tr o ,

bem como da 'D emocr acia , além do sr . E l ias G arcia, os

s rs . Teixeira S imões e F er r eira M en des . O C or r eio a l edt'

co

es tava repr esen tado pelo s r . A rbues M o reira. T ambem havia

um repr esen tan te da cas a M atto s M oreir a .

P o r fal ta de con juncçí o ficou parecendo , em a no s sa des

cr ipçâo , que a camar a mun icipal de S an tarem não fô r a r e

pr esentada. E ra tambem pe lo s r . A vel ino Vidal . — ( D iar io de

N oticias de 17 de setembro

A ntes de tratar-se da tras ladação dos restos mortas

de A lexandre Herculano, por in iciat iva part icular, comoadeante registarei ; e antes que depois quizesse coope

rar o governo, como dever ia ter feito logo, visto que a

homenagem devida se refer ia a um escriptor daquel la

es tatura, o Porto antecipou—se muito no preito que devia pres tar

-se lhe, por um modo solemne. N as grandes

homenagens cívicas aos homens eminentes , aos cidadãospres tantes , aos caracteres que ennobrecem a patr ia, oPorto anceis por ter um logar primacial e ganha-o .

N ão regateia sacr ificios . N ão receia competencias . N ão

se vang lor ia pelo que pratica. D espresa as invejas . O que

deseja vehementemente é que se veja que se mantém

fi rme nos pr incipios que conquistou para os seus bra

sões e que se conserva álerta nos baluartes que ergueucom tão espantoso sacr ificio de fazendas e vidas na implantação da l i berdade !D ois mezes passados , apenas , a sua classe commer

cial decidia mandar celebrar solemnes exequias na egrejada Lapa da mesma cidade, convidando para a oração

funebre o s r. dr. Antonio Candido R i bei ro da Costa ,

que se havia formado em direito na Un ivers idade deCoimbra com um curso dos mais bri lhantes que temregis tado os annaes daquel le inst i tuto de ens ino supe

.

r ior e na class iiicação o pr imei ro.

A s exequias foram celebradas , com a maior solemn idade, no dia 1 3 de novembro de 1 877 . A oração do dr .

A ntonio Candido foi uma das mais bel las , succulentuse vigorosas , que tenho l ido de tão exímio orador : abundante nas imagens , opulenta na fluencia, sympath icano contexto, att rahente na erudição, devendo produzi r

o effeito com que o orador contava : commover e captiº

var o auditor io .

Basta que dê aqui idea de tão notavel discurso com

a transcripção das phrases que vão em seguida. D isse º

« D e ora em diante, sempre que se fizer o

elogio des ta cidade, logo depois de se dizer

que el la operou a redempcao po l itica de P ortugal e labuta, sem t reguas , nos propos itos da

sua redempcao economica, deve accrescen

O s r . conselheir o A n ton io C andido , tendo - se mat r i culado na faculdade de direito , fizer a a sua fo rmatur a em 1876.

E m mar ço de 1877 já t inha o s exames para r eceber o grau

de douto r , con tando que em br eve se oppo r ia a uma cadeir a

na mesma faculdade, o que veio a ver ifi car - se no anno se

guinte 1878 .

O dr . A n ton io C andido já er a mui apr eciado na t r ibuna

sagr ada, pela facil idade e elegancia da sua palavr a, e po r ter

s ido louvado geralmen te em outr as o r ações .

3 2

E ajunta. ácerca das egreg ias qualidades do eminente

« Se A lexandre Herculano me desvela a s uanobre consciencia de homem e de escriptor ,

que não sentiu, que não respeitou outras in

fluencias , senão as da mais rigida e meticu

losa dign idade ; se vejo que se al lianca nel leao mais alto merecimento a mais perfeita abnegacao, e a sens ibi l idade mais fina, mais ex

quisita a um juizo robusto e segurlss imo ; se

o ouço , em meio des te seculo descrente e

pagava o tr ibuto da sua veneração a um homem de bem e

professor eminente, escrevia el le :O r espeito ancianidade possue um sentimento innato

em nós, o qua l invo luntar iamente es tendemos da ordem bu

mana para a o rdem social . O amor tr avado de veneração que

sentimos pe los que no s geraram e pelos que gerar am nos sos

pais, expr aiâmo lo até as r eco rdações histor ica: da patr ia. O

amo r do s ascenden tes é a or igem e a razão d'

este affectuo so

r espeito ao passado, que al iás fô ra mysterio inexplicavel . E mquan to o s san tos laço s da famil ia, e o mais santo del les to.

dos a piedade fi lial, não se part irem, a piedade pelas cousasque os seculos cercaram da sua auréo la de velhice, nâo mo rr erá tambem ; porque aquel loutra a alimen ta e sal va. E

'

nes ta

cons ider açã o que fundamo s a prefer encia ás ins tituições an

tigns , quando del las se podem tirar os mesmos r esu ltadosque se tir ar iam de outr as analogas recen tes . D o amor e ve

neração nascem a confiança e a fé; e quando uma ins ti tuição

goza des sa van tagem na sociedade a sua acção emui to mais

energica e segur a que a daquel la a quem falta es te especie

de santificação .

3 3

egoista. en toar piedosamente os hymnos de

D eus ., ou soltar aos verrtos do paiz eloquen

tiss imos pregões de caridade em prol de mi

seraveis e de vencidos ; se o admi ro na pu

reza do seu civismo, na sinceridade das suas

a um e em todas as provas dimoeis da smmoral sublime e antiga, —

parece m que a

luS tiCª fºi a feição proeminentissima do seu

caracter .

o o o o o o . e o o o . o o o o

« Para es te é certa a canon isação da historia ; a es te não faltarão jámais os unisonos

louvores do povo, que elle doutr inou com as

luzes do seu espí rito. e melhorou, quanto póde, com os ed ificantes exemplos da sua vida. »

H e dias conver sando acer ca de assumptos litter ar ios com

o il lus tre academico, es cripto r e poeta, conde de S abugosa.

fal lárnos de Alexandre H erculano , e di sse—lhe o que ia a es

crever e por que o fazia, embo ra não tivesse nunca re lações

pessoaes com tão eminen te lit tera to . Quer ia l igar o nome

desse egreg io escr ipto r , a quem vener ava, que tão des lum

brante nome deixár a em a nossa h isto r ia no seculo x ix, com

o de outro . de certo de meno r br il ho e demais humilde fama,

por ém po r egual honrado e sér io , ao qual o pr endiam laço sde es tr eita e longa amisade e de parentesco, e a quem me

prendiam gr am recor dações da m inha aprendizagem na re

publica das lettras, ao que o conde acudiu com a costumada

Il iane“ do fidalgo por tugues antigo

— t ed 0 H erculano . E u er a pequeno . Vi o o mui tas ve

ces em a nossa casa. la na passar alguns dias e lembraome

que e l le era mui to agradm l no trato , sem cousa em que se

" C ª

ros nomes : no um : r a r o — '

r ono n 3

34

ris de expô r bri lhantemen te o seculo em que nas

rceu e medrou, o egregio H erculano , e se des

:u 0 seu extraordinaria talento, cuja luz i rrad iaem fócos des lumbrantes por todas as partes onde se

rº s ª a tingua de Camões , 0 i l lust re orador , inferiucontrastes , dos emnrehendimentos , das ousa

das virtudes nas sciencias e na pol itica, transforJ o até a vida dos povos , saiu a alma vigorosa,

tia de luz e de heroísmo, « épica e sentimental , amoow el e revolucionar ia, com uma grande paixão , que é o

abalho, e um alto e nobi liss imo ideal , que é a l i ber

A civil isação portugueza, portanto, não podia ter exem .

mais perfeito e mais completo do que A lexandresa lario .

orador, conli rmando o que dissera, proseguiu

« D eante dos seus l ivros erga- se a poster i

dade, e julgue-os com desassombro : tem , não

podiam deixar de ter, a par de grandes ver

dades e de muitíss imas bel lezas , er ros e im

perfeições ; mas deante do seu porte austero,

da sua hon ra immaculada, da sua v ida ho

lhe r evelasse orgulho . C hão e alegr e sem en feites na conver

sação famil iar . L embra-me tambem de ve r car tas par t ícular es del le

,tão vivas

,tão alegr es, tão eng raçadas , que não as

escrever ia de outro modo um r apaz de boa feição , da me lho rconvivencia e da mais jubilo sa companhia, numa famil iar idade

que pr endia.

36

gredos . D eante do seu gen io penetrante e forte,

parece que não pod iam as cousas humanas

conservar

mysterio , as somb ras do incognito l

« A hi o co lheu a morte .

Salam as pa lavras , que citei , de um cidadão de ele

vada cultura intel lectual , que já deixara nome aureo lado nos bancos da Un ivers idade de Coimbra, e que porisso tinha auctor idade e devia acreditar—se na s incer idade, na boa fé e na Sã consciencia do que proteria .

Veia—se se errei no meu juizo escrevendo no capitu lo'ntecedente, que as vozes do povo, rustico, o dos cam5 e das aldeias , il lett rado , formavam um côro un isonohomenagens ao

'

egregio escriptor àhora do seu pas

m ento,- '

no começo da sua immortal idade, para que o

seu nome jámais pudes se esquece- lo o povo, que el leamára e servira, e o seu g lor ioso nome predominasse

com sal iente relevo na h is tor ia nacional .N o anno seguinte nova homenagem se preparou, e não

menos so lemne, em hon ra de A lexandre Herculano. F or

em maio de 1 878 e por decisão unan ime da direcção doIns tituto de Coimbra, que convidara para redigir o elo

g ro histor ico o conselhei ro doutor V icente Fer rer NetoPaiva, um dos maiores amigos do egregio h istor iador ;um dos mais i l lustres e respeitados lentes da Un ivers idade.

A escolha não podia ser mais acertada. A pesar de

adeantado em annos , pois chegára aos 80 de edade, no

seu coração es tava ardente ainda a amisade que consa

37

grân a H erculano por mais de n n interruptos J endo—se

encontrado ao seu lado em lutas pol iticas , l itterarias escientificas ; e fôra um dos membros rnais uteis na com

nússão do codigo civi l, 6 qual os dols pertenceram e na

qual ambos discuti ram com calor graves pontos de di

pelo lapso de tempo dilatado em que duraram tão im

portantes trabalhos . C om effeito, os conhecimentos que

Herculano revelàra na sciencia do di rei to, em geraL e

pr incipalmente ao que intem va a Portuga l , ass im no

que se refer ia ao di reito canon ico applicado aegreja lusi tana. como ao que respeitava ao di reito civil , nas maisintrincadas mater ias das sciencias moraes e po liticas ,as sombravam os jurisperi tos mais abalisados e consul tados com proveito.

Posso por isso aproximar os dois . Vejo grande afinidade no caracter de ambos . no cumprimento de deveres civicos , no goso de inves tigações jur ídicas e bistoricas , no cuidado na so lução de problemas que interes »

sem ao povo, na oommunhão de ideaes pol iticos que sobrelevam os intuitos mais l iberaes em assumptos de eh

sino e de l iberdade do pensamento, em todas as man ifes tações. emfim, em que se revelam e radicam as vir

tudes que formam e elevam os cidadãos modelares quedevem apresentars e para liç ão e es tudo dos vindouros ,sem descambar em tri lhos de il legal ldades e anarchia.

O dr . V icente Ferrer estava muito grato a H ercula

no, e mais se enraizou a amizade entre el les , desde queem 1 844 escrevera es te e mandara publ icar um exten

so ar t igo cri tico âeerca de uma das obras do dr. Ferrer ,

3 8

O : elemen to: do dir eito natur al , em que o nobre cidadão e eminente professor acudia às deficiencias e ao

atrazo do ensino de direito na Un ivers idade de Coimbra, dando—lhe novos l ivros de texto e nova or ientaçãoaos es tudos , que fizessem daquel le estabelecimento deinstrucção super ior discipulos que realmente a laurees»sem e lhe mantivessem o prestígio.

D esde 1 840 , em que Herculano se encontrava com

Ferrer, na camara dos deputados , e ali se reuniam maisa miude para discuti r acerca dos assumptos que se versavam no seio das sessões par lamentares , foram cada

vez maiores e mais fun—das as raizes dessa amizade e

mutuo respeito. Herculano confessou-o, dizendo que a

amisade que consagrava ao dr. Ferrer era antiga e i nalteravel ; e ao mesmo tempo acrescentando que tendo já

tão distincto professor o elogio val ioso de um sabio portuguez, qual o famigerado pub l icista Si lves tre P inheiroFerrei ra, nada mais podia d izer , nem diria, para ajuntara justa fama de que el le gosava.

O dr . V icente Ferrer , noutro ponto de importanciasumma, o cons idero em s imilhança de caracter incoatestavel . P or não concorda r com a decisão tomada pelosseus col legas no min ister io, em t 857 , quando entrava

no período mais grave e da so lução, novo incidente diplomatico com o Vaticano por causa das desagradaveis

A lexandre H erculano fo i por segunda vez eleito deputado das cô r tes, mas não acceitou a e leição . D eclarou que não

tr ocava as lettras pela po l itica de campanar io Logo em se

guida der am lhe os arminhos de par do r eino, e tambem te

s ignou es sa honra .

ptos de que tratava, pelos intimos laços e pela par idadede estudo, fi rmeza de crenças e de convicções que o

prendiam a A lexandre H erculano e pelo recto juízo que

fazia das obras del le.

E ' o que vamos vêr nos trechos que tran screvo aqurde tão bel la peça oratoria. R efer indo—se aos t rabalhos dacommissão do codigo civil , expõe :

como prova de profundo philosopho,

não pos so deixar de fal lar do br ilhante papelque fez como membro da commissão reviso ra

do projecto do Codigo Civil , nos var ios de

bates de cada um dos artigos e na sua reda

cção fi nal , porque os serviços de muitos an

nos desta commissão ficaram enterrados en

tre as paredes da secretar ia de estado dos ne

gocios eccles iasticos e da justiça ; e sómentechegaram a pub l ico o pouco que consta das

actas impres sas , e a questão do chamado ca

samento civil , que depois se discutiu tambemna imprensa.

« O s r . A lexandre Herculano, que gostavade questionar e discutir , tomava a palavra emquas i todas as ques tões que se ventilavam no

seio da commissão. E apesar de não ser jurisconsulto , fal lava com tanta proficiencia, que

era sempre escutado com a maior attencão

pe los out ros membros da commi s são , que se

t inham dedicado á screncra de direito ; e cºn

seguiu muitas vezes fazer vencer as ques tões

pe la parte que el le sus tentava. M uitas propos

tas s eas melho raram o (” duro civl l e são hoº º leis do paiz.

« O . e t a' -ªm adm. ra . a aos j urisconsultos

Ja cc mmzs sã '

, e'a aª

.

-r q ue nunca ia de en

t e 3 1” :a apesar das

a cei te s =r z'

e'

as , em co . .pí-.cadas

â: l" z.“

. cº m“: sm c ça s

f ilª! .

”R i p

ª

- o.

f. A f f "

tr . G t r : i r. . a i r , '

na m ªta

jur isconsul tos des te reino.

l Vede a subti lezacom que analysou

º

as velhas leis do reino, asleis canonicas e os textos das leis romanas ;

os immensos recursos que descobriu na h istoria e cos tumes antigos ; e os profundos co

cimentos que mos trou da ph i losoph ia do direito. O debate entre es tes dois grandes homens foi digno del les , e pode citar-se como

modelo de discussão profunda e cortez.

« D os opusculos passou a ques tão para a

imprensa per iodica. E tambem eu escrevi alguns pobres artigos . alter nados com outros do

R eferia- se ao visconde de S eabra, A n tonio L uiz de S ea

bra. F oi es te por muitas vezes deputado ,duas vezesministr o da

pas ta da justiça e er a, com efieito ,um dos mais afamados ju

r isconsul tos do seu tempo . A lexandre H erculano co n tr adi o

tou—o com gr ande van tagem,em pon to s de direi to e não 6 .

cou vencido . 0 visconde de S eabra fal leceu em ag de janeiror895.

O mais no tavel es tudo de A lexandr e H ercul aco decr ee docasamento civil é o que fo i publicado em tr es sér ies (de r75

paginas de numeração seguida, alem da er r ata) , sob o tituloE studos sobr e o casamento civi l por occasião do opuscula do

s r . visconde de S eabr a sobr e este assumpto (L isboa, t866) , no s

quaes demons trou a r iquezados seus conhecimentos histor ien

jur ídicos .

E s ta po lem ica durou muito tempo e deu margem ao ap.

par ecimento de numerosos fo lheto s .

O s ar tigos do dr . Vicente F er r er , tambem em contr over

s ia com o visconde de Seab r a, for am pub licados em separado ,

no mesmo anno , num fo lheto de 38 paginas .

44

onde as palavras devem ser pesadas , segundo

Bentham, como os diamantes . Esta redaca o

é hoje reputada uma obra class ica e faz muitahonra a quem a fez. »

O i l lustre conferente accentua que A lexandre M “

lano , além de grande poeta, fôra grande philosopho, egrande h istoriador, como ind icou enumerando as obras ,

que immortalisaram o seu nome. na compos ição da H i rão

n'

a de P or tug al , da H istor ia da inqu isição e dos ro

mances do M onas h'

can , e em outras obras de notavelrelevo ; e narra com vivas cºres os traba lhos , as mo rtiticações . as des il lusões e até as calumn ias e vi l lan ías , queamarguraram os dias do egregio histor iador. o modo como el le proseguía serenamente em seus es tudos e os ul

timava, sem entraquecimentos . e « as s im.— afã rma o dr .

Fer rer e apreciam—no todos , — levantou o ma ior monumento da sua g lor ia. que tambem é hoje uma g lor ianacional . admirada pelos naturaes des te reino e pelos

estrangei ros » .

O dr. V icente Ferrer dá, no seu conceituoso elog ioh istor ico, a seguinte expl icação dos motivos que levaram A lexandre Herculano a interromper a sua mo nu

mental H is tor ia de Jºat i ng a!

« T em—se perguntado muitas vezes a razão

por que o s r . A lexandre Herculano não cont inuon a H is to r ia de P o r tugal e se foi metter

na sua quinta de Val le de Lobos , em edade

em que ainda podia trabalhar nel la. Tems e

45

dado muitas respos tas , a meu vêr muito distantes da verdade. O s r . A lexandre Herculanofoi semme muito apaixonado da vida agr icola.

F oi el la que o levou a comprar a quinta deValle de Lobos e a viver al i, apesar das febresintermi ttentes , que frequentes vezes soffrla.

F oi el la, emfim, que contr i bu iu para sai r deLis boa, e deixar o archivo da Tor re do T ombo ; e longe dos monumentos h istor icos ali re

colhidos, era-lhe imposs ive l a continuação da

H is tor ia de P or tug al . A lém de que este tra

balho era tão pesado . que o s r . A lexandreHerculano me confessou que já nao podia comelle, porque as forças physicas lhe começa

vam a fal tar pela frequencia das enfermida

des . “

Quem quizer es tudar e sab er circums tanciadamen tequalfoi um do s maio res e mais fundos desgos tos que padeceu

A lexandr e H erculano em a nobr e, tão longa e tão fecunda

car r eira das lettr as , leia com attençâo o s documento s que se

encerr am na C onta impressa que a segunda classe da A cadem ia das S ciencias deu ao min is tro do r eino em r856, do

qual depende a mesmo al ta co r po ração scientifica. E ssa e'

hoje pouco vulgar e creio que, pas sados mais de So s anos ,

poucos dos actuaes academicos a conhecer ão, porque não fo r

muito difundida

N eila se incl ui ra a nar rativa de var ios inciden tes de car a

cter inter no da noss a A cademia e são es po s tas,comdocumen .

tos officiacs , as razões que teve es ta para suspender um func

cionar io do exercicio do seu cargo remunerado e socio effect i

vo . D iz—se como o governo, depois de ser in formado de tudo ,

46

Em um dos ult imos paragraphos doO

elogio

o dr . V icente Ferrer retrata o caracter moral de

dre Hercu lano des te modo :« E verdadeiramente a r igidez de

de tempera antiga revelavao se em

r ias . D ominado sempre pelas ideas do verda

deito, do justo, do moral e do bel lo, nenhumas cons iderações pessoaes , por mais alto quefosse o seu alvo, t inham força para o desv iardas suas convicções . Como a l inha recta, ia

sempre di reito ao seu fim. E ra indomito. N ão

1 por bem, attendendo de cer to antes aos interes ses par

u. e de facção , do que aos inter esses da nação e ao

deco ro da A cademia, houve po r bem ,r epito , nomear o dito

funccionar io para o logar de guarda mó r da T o r r e do T ombo ,

pondo fó ra de seus trabalho s nes se A r chivo ,que não podiadeixar de fr equentar com as s iduidade

,como até al i

,o academ i

co A lexandr e H erculano , que po r egual mo tivo r es ignava o

logar de vice—

pr es iden te.

N a con ta vem uma ex ten sa car ta de A lexandr e H er culano ,que escr evia aos con fr ades

« E s tareis lembr ados do que vo s disse depondo

nas vos sas mãos a dign idade de que me havíeis r eves tido po r duas vezes

,er r o que, a meu vêr

,vo s

acar r etou dissabor es do insul to o fli cial . O acces so

dos A r chivo s do R eino só pôde ser fr anqueado ou

pela benevo lencia e confi ança do seu chefe r espon

snvel,ou por o r dem expr es sa do gover no . C omo

memb ro da A cademia e par a ser vico pub l ico po

tr e, todos entendiam A lex andr e H er c ulano .

Estas pessoas , tão auctorisadas hoje na repu

blica das lettras , protestam contra s imilhantes

calumn ias . lmpíos e cobardes , que ainda ho

je cuspis injur ias sobre a lousa de um finado

i l lustre que já se não pode defender, e diantedo qual tremíeis , emquanto foi vivo !

« D . Pedro v, cuja perda ainda hoje a na

ç ão deplora, porque foi um rei illustrado e fielobservador da Car ta Constitucional , e porquesab ia man ter sem vaidade o seu al to logar derei, ia muitas vezes a casa do s r . A lexandreH erculano, para com este discutir var ios problemas da governação publ ica, deixando, paraass im dizer , quando entrava, a reg ia majes ta

de fóra da porta da casa. Este g rande rei hon

rava ass im o grande escriptor do seu reinado ,

como no mesmo tempo Frederico, rei da P rus*

s ia, hon rava o grande escriptor H umboldt. »

N o mesmo lutuoso anno de 1 877 ainda —appareceu

um poemeto A'

mor te de A lex andr e H er culano , com

pos ição de poeta novo , mas s incero nas suas convicções

e admirado r das obras e v i rtudes do egregio escr iptor ,

cujo passamento o feriu como se perdesse pessoa que

r ida da famil ia. E ra-o por sem duvida,da grande fa

mil ia litterar ia, do mundo culto das lettras , onde se procuram as luzes radiantes que nos guiam. S aíram do co

ração do poeta G omes Leal es tas sentidas e inspi radases trophes , tão s imples e tão commovedoras

E'

cer to : um negr o esqurfe e algumas pas de cal ,

um caixão , um lenço l , uma cr uz, uma enxada,

tapar am par a sempr e a l ace r egelada

daquel le que, en t re nó s,fo i quas i um E vangelho

mas po r is so ho je nó s,che io s da dô r ger a l ,

e'

hon r a no ssa vi r,nó s todo s homen s novo s !

pr égado r'

s do D ir eito e C ommunhão do s povo s ,

cho r ar es se ve lho !F A C T O S E H orn .—s s l b L

'

T L M I' O — T O M 0 l l

E'

honra nossa vir pres tar vas salagem

íquel le que fo i bom,o Verbo , E nsinamen to .

'S e hoje a ter r a con some aquell o pen samen to ,

e a sua ul tima voz calou de todo a cova,

hon r a nossa vir pr estar es ta homenagem

ao plebeu immo r tal , auster o , nos so guia :

que el le escute cho rar na sua co va fr ia

toda a geraçã o no va'

Todos se' lembrad o, certamente da carta que A le

xandre Herculano mandou publ icar , na qual expunhaas razões porque não acceitava, nem podia acceitar , ti

tulos honor íficos, nem condecorações de nenhuma or

dem, e a . el la al ludia o jpoeta. H erculanouna s implici

w

« Pertenço pelo berco a uma classe obscura

e modesta : quero morrer onde nasci. H a n is

to uma grande ambição so lapada. N o immen

so consumo que se está fazendo, que se tem

feito ha tr inta annos , de distincções , de fi tas ,

de ins rgn ias , de fardas bordadas , de titulos , degraduações , de tratamentos , de rotulos nobil iar los , o homem do povo que queira e pos

sa mor rer com esta qual ificação, deve adqu i

r ir em menos de meio seculo extrema celebridade. N o baixo imperio, quando a sociedade

romana caia ao contacto dos barbaros , esface

lada pela podr idão interna, chegavam a nob i

tenc la foi tão tragico, estava em Paris quando lá chegou a noticra da morte de A lexandre H erculano .

P ub l icava-se então nessa capital , a que chamam o

grande centro da civilisação europea, um periodico l it

terario em portuguez. sendo fundador Salomão S aragga,que al i tinha res idencia, mantendo relações int imas como celebre escriptor Renan . E sse periodico, de que fo i

agente em L isboa o apreciado editor D avid Corazzi, teve o nome O s dois mundos . V iveu quatro annos incom

pletos ( 1 877 A nthero do Quental foi convidado aescrever um artigo ácerca de A lexandre H erculano, e,

effectivamente, nessa revista vamos encontrar no pr i

meiro anno e em o n .

º2 , um artigo sentido , respeitoso e

patr iotico, como não podia deixar de produzi- lo um es

53

chaeleme. Fa in teira justiça ao caracter , ao talen to e

aos serviços l itherarios do egreglo hismorixdor :

« N a physionomia moral de A lexandre Herculano,escreveu A nthem do Quental , — ha certas linhas que ia

sem lemb rar o perfil energico e simples dos lusos typi

cos da nacionalidade portuguesa. P ertencia a es a gran

de l inhagem. que acabou com el le— e o seu seculo, ad

mh ndo q mnsidemm mdavmcom um certo os pan

to lntel llgente, como se sentiss e vagamente que aquellehomem pertencia a um mundo. cujo ultimo sent i r jáninguem comprehendia. »

N a opinião de A nthem do Quental , alludindo àre.

serva e intratabilidade que attr ibuiam a Herculano, no« seu amargo sorr iso» havia «mui to desdems

, mas ene

nhuma retractaçãoo . T ão firme e tenaz nas convicçõeso cons iderava. Esta ph rase, tão tina, tão levantada, nãopodia applicanse senão a escriptores conscienciosos comoA lexandre H ercu lano,

N o fina l des te art igo, A nthero do Quental ao

« H a glor ias mais br i lhantes e ruldosas : no

nhuma pode haver mais para. »

Este bello artigo tem a dada de 25 de setembro de1 877.

O livei ra M artins escreveu depois a respeito de A le

54

xandre Herculano para o mesmo periodica. O seu ar

tigo é mais extenso, br i lha o seu es tylo ;porém, naminha

opin ião. não é tão s incero. D á ao grande historiador afeição predominante na teimos ia em ideas velhas, no

arreigado amor ao pas sado, que, no vo lver dos longos annos , nã o lhe deixaria vêr bem o desenvo lvimento e as

mudanças que o progremo ia O perando nas suas evolu

ções , que el le já mal podia acompanhar e o tornaram

mais caracteris ticamente estoico.

A g radava—lhe a phi losophia de Kant no que el la apre

sen ta de individua l ismo e nota que a segui ra em dema

sia ; e accusa—o de ter - recuado nos trabalhos histor icosque julga incompletos e diz que ne l les se excedeu por

apaixonado nas idéas que abraçara e das quaes não se

afastava . N o entretanto , apesar de não se me afigur armui to justo em toda a cr itica. O l ivei ra Mar tins não te

gateia o louvo r de que é muito digno H ercu lano . e re

conhece o al to valor moral e intel lectual da sua esta»

tura. E escreve

« O melhor titulo de gloria de A lexandreHerculano é o caracter . Es ta vaga expressão,

dentro da qual cada um põe a fo rmula propr iado seu modo de pensar, tem aqui o valor quelhe deram na Antiguidade os esto icos. N ão éa intemerata vida, não é o despreso dos bens

mundanos , o odio àostentação vã , a recusa

desabrida de t i tulos , honras , de lugares , que a

meu vêr cons tituem o caracter , nem são esses

symptomas exteriores com que el le se apre

Em 1 88 1 saiu dos prelos da imprensa nacional. decon ta dos editores Viuva Bert rand C .

ª, successores

C arvalho ' & uma obra do conselheiro A ntonio deSerpa Pimentel , que eu cons idero muito bem estudada,

muito conscienciosa e das mais notaveis de tão il lus treescriptor , poeta, jornal is ta, estadista e orador . E ' um

longo estudo critico acerca de A lexandre H erculano e

do seu tempo, no qual es tudo passa em revista a im

portante obra do histor iador em tudo o que se relacionacom o seu caracter . com as suas conv icções e com os

principios que por tantos anuos tratou com perspicaciae inteireza em defensa dos oppr imidas contra os oppres

sores .

N es ta fi rma commercial en tr ava A ugus to S araiva de ( .ar

va lho . que fo i min is t r o da fazenda, da jus tiça, das obras pu

b l icas em 1869, 18-

0 e 1879 ; e fal lecen em 1 883 D epo is es te

estabe lecimen to pas sou a girar sob a fi rma « A n tiga C asa

Ber tr and de Jo sé Bas to s continuando no mesmo local,rua

G ar r ett, C hiado (nome que difiicilmente perder á no vulgo ) .

Esta obra. de tão elevados intuitos e de tão generosa

ram, e não puderam, menoscabar a fama de que gos tava

e a co

arvore

cadora sombra, teve ex ito oqmpletoe no louvor com que foi recebida. O auctor cons iderava-a como o pagamento de

uma dívida de grat idão. E

confessa-o nestas l inhas :

« A s minhas antigas e nunca,interrompidas

relações de amizade com A lexandre H ercu lano,a admi raç ão que t ive sempre

'pelo seu talento,

pelo seu caracter e' pelos seus escriptos, a gra

tidão pelos seus conselhos e pelas provas queme deu de benevo lencia e de sympathia nos

primei ros annos da minha vida litteraria e po

lítica, a conformidade de opin iões em muitos

pontos de doutr ina e até a discordancia sob re

outros e sobre a apreciação de homens e de

cousas do nosso tempo, tudo constituía para

mim quas i um dever de tentar esta obra. U ma

só cousa me fez hes itar por mais de uma vez

em a pr incipiar , e depois de a pr incipiar em a

concluir. F oi o receio de ficar muito abaixo

da importancia e da grandeza do assumpto . »

D epois desta confissão , ser ia insensato, seria acto de

demencia, pensar em dar maio r extensão a estes apon

tamentos , tornar estas « M emo rias mais car regadas e

elemento dos mais poderosos para a gar antia

e robustecimento daO serviço que Herculano pres tou a lingua portugueza ,

embora não um pres tado outro — accentua Antoniode Serpa,

— « ser ia el le bastante para tornar grande a sua

memor ia, e para ter sat isfeito o orgu lho do seu arden te

patr iotismo.»

pagina 1 53 -se

« A lexandre Herculano era part idar io do sel/'g over nmen t, do governo do paiz pelo paiz. O s

dogmas da sua crenç a pol it ica eram : liberda

de ampl iss ima, igualdade civi l. descentral isação , forte constituição mun icipal . e ausenciade exercitos permanentes . A pa ixonado pe lajust iça e pela dign idade humana, adversar iode todas as tyrann ias e de todas as ol igarch ies ,não acreditava nos pr incipios da moderna e

extrema democracia. porque acred itava que

el la era o caminho inevitave l da anarchia e

do abso lutismo . Em frente de um poder cen

tral qualquer. a massa dos cidadãos . pulver i

Sada na sua ultima divisão igualitar ia e democratica, não ter ia forças para lhe res is tir. Es taera a sua apprehensão, fundada na log ica dosfactos , e nos ens inamentos da h is tor ia. »

N a pagina t 54

«Combat ia . as tres sortes de absolutis

mas que tem dominado o mundo nas suas

épocas mais calamitosas , o abso lutismo the o

cratico , o abso lutismo admin is tratw o e o abso

lutismo m1 l itar . »

N a pagina 1 55

« E spin to recto, coração compass ivo e apalxonado, a piedade dos opprim1dos era quempromovia na alma do poeta e do publ icista a

1ndignação contra todos os oppressores . D aquio seu despreso pe la plebe 1gnara e fana

tica .

A preciando , no se u entender , as razões que afas tavam

A lexandre Hercu lano dos agrupamentos p ol it 1cos e da

pouca pºpu lar idade de que gosava , tendo-se encon trado

repetidas vezes envo lv ido nas lutas dos partidos e da

imprensa, escreve um: . 1 60 1:

« E s tas razões são . de duas es pea es . A len

xandre H e rcu lano era um homem de pensa

mento e. não um homem de acção , e a ener

g ia da acç ão e. do pensamen to são cousas mm

to dw er sas . l'

m h a a co ragem mdw idual ne.

cessa r'

a s ar a vr. acto l e abnegação ou de

saca rin o, pan e n t rar em [R ar numa revolta

armada “

out ra o ab s olut ismo ,affrontando o

: atmu ln , J'

Il'

l ar n scar r ida como so ldado;o lun tarm ' t -l ' n

, como ofe z

tantas f e zes

no camm da batalha, para se demit ti r nob re

mente em 1 836 de um logar que lhe dava os

meios de subs istencia : mas esta'

especie de

acção não era expon tanea, era a submissão a

um dever moral , a uma voz da conscienc ia .

Toda a outra acção de iniciativa propr ia era

contrar ia à sua indo le reH exiva. Batalhador infatigavel no campo das idêas , com as armas

do raciocimo, era impropr io para as contendas

da poli tica pratica, em que é neces sario con

certar vontades, contempor isar com interesses ,e contar com as paixões e com os preconcei

tos nos ca lcu los para a execução de todo o

procedimento pol itico. »

N a pagina 16 :

« N a vida pratica, a extrema confiança. ou

a pa1xão e a irascibil idade perturbavam—lhe

mw tas vezes a natural perspicacia do seu en

tend1mento e a irhparc1al idade dos seus juízos .

D aqui resu ltou enganar—se muitas vezes , e as

des 1 l lusões t rouxeram—lhe o desammo , e a fi

nal o completo afastamento e até a aversão

da vida po lit1ca, desan imo e aversão tantas

vezes patenteada nos seus escr 1ptos . »

64

adhesões , não podiam todavia conjecturar para logo ate

onde chegaria es sa cooperaç ão. Podiam acaso co ntar com

o aux i l io dos poderes publ icos ?O facto foi que a commissão se const i tuiu e pr inc i

piou os trabalhos com adhesões enthusiasticas e concor

rencia de tão generosos e ºespontaneos dom tis os , que

dentro de pouco es tava assegurada a retal ia ção da louvavel in iciativa com o concurso do governo e dos cor

pos cc- legis lativos . Triumpho completo para os moços e

il lustres in iciadores ! ”

A commissão o rgan isadn compunha se de : Jo se'

G rego

r io da R o sa A raujo . pr es idente ; J o sé Joaquim G omes de Bri

to e E duardo C oelho , secr etar ias ; J ul io de A nd rade C or vo ,J ose M ar ia Bo rges, José M anuel da C os ta Basto e F r ancisco

A n tonio P er eira da C o s ta, vogaes ; e J ose M ar ia G al har do,thesour eiro

N o per iodico 0 D ia . de 1 3 de setembro 1906, vem um

ex ten so e in ter essante ar tigo commemo r ativo do 29!anni .

ver sa r io da mo r te de A lexand r e H er cu lano , com a lguns es o

clar ecimen to s ver ídicos a es te r espeito . T raz a ass ignatura

G . de'8 . ( J os é J oaquim G omes de B r ito) , um do s do is gra

tos discipulo s , ao s quaes me r efer i acima .

' A camar a dos deputado s em 1879 vo tár a um pro jecto delei par a que a tr as ladação se fi zesse para um jazigo no cemi

ter io acciden tal (denom in ado dos P r azeres );mas em t884,sob pr opo sta do deputado M ar ianno de C ar valho

,es se acto

so lemne veio a ver ificar se par a a cape l la dos J er onymos , deco rada com esplendor , concor r endo par a is so o en tão minis

tr o das obras pub l icas conselhei r o A nton io A ugusto de

A guiar , que fal lecen em 1887. E r a es te um enthusias ta admi

rador e respeitador de H erculano.

M ar ianna de C arvalho mor r eu em 100 5.

65

A tras ladação das cinzas de Herculano veiº, afi nal ,a ver ificar-se cºm a max ima sºlemnidade ºfficial para aopulenta capel la que se lhe destinou nº claustro dº mo

numental templo dºs J erºnymºs , cºmº in iciº de um

pantheon nacional , ouvindo-se, na ceremon ia rel ig iºsa a

palavra fºrmºsa e ºrnada de um dºs mais nºtaveis ora

dores sagradºs daquel la epºca º rev. A lves M endes .

Para poderem .fazer idea dº que fºi essa oraçãº, ºs

que n㺠puderam ouvi- la dºs labiºs ardentes de sugges

tiva e preexcelsa eloquencia, leiam ºs trechos seguintes

que vºu cºpiar do ºpusculº do nobre ºradºr sagradº

(pªg . 4 1 a 44)

eu n㺠conheçº escriptor t㺠adaman

tino — l itterato de mais r ijeza e lume na phrase

e de mais arestas e fogºs nº pensamentº . O

verbº de Herculanº ostenta essas entoações

largas , essas imagens cyclºpeas , essas inspi

rações transcendentes que º i rmanam, que º

identificam aº arrºjº extranatural dºs dºis gigantes de Florença. A sua penna é um cinzelnão escreve, esculpe. A sua palavra um re

lampagº : des lumbra, fulmina.

P ºr s i só, º rºmance histºr icº dar ia a H ef

A nºtavel ºraç㺠dº r ev. A lves M endes fºi pub licada emedição especial num luxuo sº opusculº, impressão nítida nº

P ºr to, l ivr ar ia G uttenberg, editºra,e typogr aphia de A . J .

da S ilva T eixeira, 8 .

º

gr . de 55 pag. E'

dedicada a Jºsé G r e

go r io da R ºsa A raujº .

? A CTO S E H O M E N S D O N E U T EM P O TO M O l l

culano uma alterºsa reputaç㺠litterar ia, um

nome immor redourº. Mas , guiza dº condºr.e ol handº sempre º sºl de fitº em fi tº, o por

Scott fºi expandirs e nas reg iões de Macau layC hrysal ldous e n

'aquel le epico M O N A S T l C O N

e n'aquellas LE N D A S sub l imes o engenho pr i

macia], privilegiadtss imo, que, a breve trecho,ser ia º severº analysta da HIST O R IA D A IN

QU IS IÇÃO e º famºsº creador da H IS T O R IAD E PO R T U G A L .

« Senhºres : A H istºr ia e uma resurreiçãº

fazer h is tºr ia é refazer a vida. E is a max ima grandeza de H erculanºz— el le exhumºu

dº cemiter io dos seculºs , recompos ta, redivi

va, palpitante, a ºr igem e a fºrmaç㺠dº seu

pa1z. P arece que º pºder d'

um só hºmem, pºr

herculeo que el le fºs se, jámais chegar ia a tan

to . P ºis chegºu º pºder de H erculanº. D es

amparado de governºs , desamparadº de 1ncen

t ivos , desamparadº de meiºs , —

pºbre traba

lhadºr p lebeu l— á cus ta do prºpriº es fºrçº,

sós inhº, levantºu monumentalmen te, ir r ival isavelmente a sua ºbra : den -M e ( r aça e ca r

r eau-l /ze pedr a e cimen to . F oi tudo — cabeça

e braçº, architectº e O perar io, o lhº espertis s 1

mº investigandº ºs factºs e pulso mi lagrºsº

Wm seu genem e m s eu induxm só

comparavel aºs L U S M D A S : — a H ISI O R IA D E

plendido fechº ! que inspiradº remate ! que des lumbra .

te palavra a deste sacerdote , taº iina, tao recta . tão

justa, tão persuas iva!Leia-se nas pag. 52 a 54 , as ultimas dº opusculo

« A lmo espir ito da patr ia ! jamais fos te tã oexcelso como aº votar e ao cumprir esta con

sagração a Hercu lanº. A h ! consola, arrebatatudº istº ! Esta ingente so lemn idade, em que

a nºta mystica se prende á elegia funebre e

a elegia funebre cºmpartilha dº hymnº triumphal ; es ta dupla so lemn idade que, após a

prece cathºhca e o Incruento S acr ifício, as s im

t ras lada a um pantheon , parea do a pantheon

real , ºs ºs sºs e as cinzas d'

um plebeu ; umaso lemmdade d

'es tas , um factº as s im n㺠só

bas tam a exal tar uma naçãº, mas ainda sº

b ram a b razºnar uma épºca . N a an tiguidade

classma nem sequer se present 1ram, e nº mun

do medieval raras vezes despontaram hºn ras

taes . E não era raro merece!-as . V1rg1 l 1º, e ape

nas notarei es te, º mav1ºsº e quer 1d1s s imº

Virg 1l 10 que A lexandre S everº cºntºu en t re

ºs seus deuses e º D an te entre ºs seus mes

og

t res , que Santº Agºst inhº pôz entre os cren

tes e S . Jeronymº entre ºs prophetas , º ternoV irgi liº, aº morrer em Br indis i , á vol ta daG recia, teve um funera l humí l imo e, trans portado luxu r iante Parthenope, lá ficºu sºbrea col l ina do P os ilipº, apenas veadº pelas ºndas e alumiado pe las es trel las . E ' que tºdº ºcºrtejº e apotheose es tavam reservados ao

divino Augustº . Esse alentº pr imaveral ,esse alentº recºrtan te que substituiu º cultºda fºrça pelo culto ao genio ; esse sºpro renovador e humaniss imº que, bem tarde. passou

por Santa Cruz de F lºrença, acaba de chegar,finalmente, até Santa Mar ia de Belem.

« D itºsa geraç㺠hodierna que vê cºm seus

prºpr iºs ºlhºs um espectaculo nunca vis to !esta nova phase dº espi r i tº, es ta nºva invest ida dº prºgresso , es ta nova pagina da histº

r ia — l inhas equatoriaes nºs bemiw herios do

tempº, camadas de ideas que se condensam

entre as idades para ass ignalar, para graduar

º crescimentº sºcia l . comº as camadas geºlºgicas ass ignalam e graduam o crescimento dºplaneta.

« E u bem sei que º aus tero extinctº escre

veu P a lm a pelo ber ço a uma classe oóscum

e modes ta quer o mor r er onde nasci . E escre

veu ainda : N o han n a/e das minha s amdi

çóa , D eus sabe se f al /a sincer o, sd mb o

dia em que possa .depór 4 M ac e sumi r —me

culano , ao repell ir durante a vida quantashonrar ias Ihe impuzeram, n㺠pretendem, nãº

esperára nem sonhára pos thumamente tama

nhºs obsequios pr incipescos . E sei mais : seique a der radei ra vºntade dº sºl itar iº de Valde—L ºbºs fºi repousar perpetuamente nº cam

pº-santo d

'A zºia entre ºs lavradºres que tantº

amára. M as se esta era a vontade dº hºmem,

n㺠podia ser esta a vºntade da patr ia. M ortº

º hºmem, º que d'el le restava era um fra

gmento inerte, um vasº partidº mas preciosº,

uma herança nacional , uma relíquia tºda da

patr ia. E l le, o g rande gen io , mºnumento de s i

mesmº, fab r icara a sua immºrtal idade. P ºis

um reflexº de immºrtal idade fabr ique e dê

tambem a patr 1a—

que é º max 1mo de quantºn'

este mundº pôde dar -se — a t㺠incompara

vel e veneranda reliqu 1a. E fabr icºu e deu

deu bizar ramente, deu cºmº a n 1nguem, cºmº

M enciono ainda que em ses s㺠so lemne da R eal A cade

mia de H is tºr ia,de M adr id, r eal isada a 5 de junho de 1 80 6,

U m mez depois dº ºbitº dº grande h istºr iadºr fal lecia, na mesma casa em Val le-de-Lobos , um dºs seus

maiºres amigºs e cºmpanhei rº de lºngºs annºs : F rancisco R ºmanº G omes de M eira, i rm㺠estremecido dail lustre e incºnsºlavel viuva.

N ão pôde receber de A lexandre H erculanº as ult imasdespedidas , nem º ultimº abraçº, cºmº desejava, porque ter r ivel enfermidade º impºss ibilitára de andar e

levantar- se da cama. A dôr da perda, tºdavia, fºi gran

de e prºfunda, e de certo cºntr ibuiu para abrev iar º fa

tal desen lace.

A mbºs t inham v1vidº, cºmº bºns cºmpanheirºs , des

de a mºa dade ; ambºs tinham trabalhadº nas mesmas

emprezas l itterar ias , e pôde-se dizer que, nºs pr imeirºs

annºs dº hebdomadario O panor ama , que tão bºm no

me deixºu na histºria l itterar ia de P ºrtugal nº fim dº

segundo quartel do seculº XIX,— fama que ainda cºn »

serva justamente, — era º seu braçº direitº, em que el le

7 3

t inha cºnfiança plena, e em que nunca desmerecera.

Essa amizade, pºis , essas relações t㺠intimas , que se

estreitaram mais cºm º casamento de Herculanº, jamaisse interromperam, nem hºuve nunca entre el les qualquer incidente que as entibiasse. Es timavam—se comº

irmãºs . M ei ra cºrrespºndia a essa amizade tendº H er

culano em s ingular veneraçãº.O factº dos laçºs de famil ia que prendiam º M ei ra

a Herculanº, a cºincidencia da sua mºrte na mesma

casa em que se dera º passamentº dº egregio escr iptºr ,

a bºndade de ambºs e certa paridade entre as indºles ,

ºs caracteres , a tenacidade e º desprendimentº de todasas vaidades mundanas , que ºs levavam a recolherem-se

na sºbr iedade e nº puro conforto das alegrias dº lar ,incitaram-me a l igar mais es tas paginas às que consa

g rei, t㺠modestamente, á memºr ia de A lexandre H ercu lano.

Em mim sobreleva uma raz㺠ponderosa é que. cºmose vira nº tºmº 1 destas M emor ias , F rancisco R ºmanºG ºmes M eira foi º primeirº escriptor , bºm. são, cor re

cto, exemplar , cºm quem estabeleci relações desde a

minha entrada na typographia da R evoluçã o de S etemór o em 1 849 , e del le recebi prºvas de amizade no tem

pº em que ali pude permanecer . T ive ºccas ião de apre

ciar º seu caracter , a sua bºndade, o seu tratº, que não

podia ser excedidº em lhaneza e s inceridade. A pezar dº

seu notavel merecimentº, na cºnvivencia com ºs seus

cºmpanhei rºs de trabalhº, embºra a classe a que per

tencessem ºu a s ituaç㺠que ºs separasse, n inguem lhe

descºbr ia assomos de pedanter ia, nem orgulhºs jactan

74

ciosos . S imples em tudº . Aptidões var iadas, que as de

mons trava em muitºs trabalhºs de que se des empen ha

va bem, ºra nas redacções , ºra em altas cas as comme rciaos . ºnde lhe aprºveitavam cºm vantagem ºs seus

merecimentosPago ass im es te tributº humi lde. mas s incero, a es se

velho e hon rado amigº ; e tes temunhº. mais uma vez.

o meu preito a memºria jamais esquecida de A lexandreHerculanº, cºm quem al iás , rep ito, nunca tive relações

G ºmes M eira, desde 1837, acºmpanhºu sempre lealment eH ercu lano na sua cºl labor aç㺠effectiva dº P anor ama, e ain

da depºis L ima F elner º co nvidara para cºntinuar a escr ever

nº mesmº semanar io l itter ar io, ao que annuiu até i 847. T am

bem escr eveu na [Ilustr ação, jornal univer sa l , de 1845 a 1846

na [Ilustr ação luroó raríleir a. de 1856 a 1858 ; nos pr imeir os

tomºs do A r chivo pirro r eseo, na R evis ta univer sal ! i'

sboncme

e no J or nal do C ºm er ciº, primeir o per iºdo da existencia

d'

csta fo lha, que cºnta ho je (outubro , 54 annos .

N a R evolução de S etembr o cºl labºrºu alguns annos, pr in

cipalmen te na secç㺠es trangeira, va lendo -se das gazetas in

glezas que tr aduzia com rapidez e cºr rectamen te.

D ir igiu algumas das pub l icações da sociedade propagado r ados cºnhecimen to s uteis e auxiliºu H erculano nos seus t ra

balho s de inves tigaç㺠his tºr ica. A sua memºr ia era pr odi

giosa, citava factºs cºmº se o s t ivera presenciadº nº ins tan te

em que o interrogavam e indicava t rechºs de l ivros cºmº se

o s t ivera aber tos deante de l le .

N os trabalhos de escr ip turaç⺠commercial er a expedi to .

F azia uma con ta co r r ente, ºu desenvº lvia uma ºperação

cambial , com a mesma faci l idade cºm que nas r edacções r e

digia uma noticia, ou um ar tigo , cºnfo rme º assumptº que

lhe indicassem .

E s a m de m a que me

e, fa ta l co in cidencia, exactamen te um mea depo is do fal lecí

men to de seu ii lus tr e e pr ezado cunhado o sr . A . H er cu lano .

« Quando sua vir tuo sa e inconso lave l irm ã . que tan to o es

t r emecia, con tava com el le pa ra l he enchugar as sen t idas la

gr imas que de con tínuo ver te po r seu ido latr ado marido,veiu

a mo r te r oubar —l h'

o . Que fa ta l idade ! Que gr andes per das

es ta es timavel senho r a tem so ti'

r ido em tão cu r to es paço de

tempo

« A o il lus tr e en fermo não fa l tar am o s r ecur so s da sciencia

min is tr ado s pelo seu bondo so,il lus t r ado e dedicado ass is ten

te o s r . dr . P edr oso ,nem o s car inho s da sua car a irmã e pr i

ma, que com el le vivia desde a in fancia, as exm .

"s r .

" D . R I

ta H en r iqueta G omes . D . M ar ia C andida de A vel lar e S ilva,

C opiada do J o r na l do C ommer cio , de L i sboa, n .

º de

16 de outubr o 1 877 .

77

D . M aria J osé Santos , M ar ia Barbar a da S il veira, e dos seus

pr ezados amigo s J osé Bento , que con s tan temen te tem estado

em Val —de-L obos , desde o fal lecimen to do illus tr e histor ia

do r , P aulino da C unha e S ilva, J o sé C andido do s S an tos, que

lhe eer r ou os o lhos , como o s houvera cer rado ao s r . A . H er

culano ; e se as provas de verdadei ra amisade, inter es se e

co nsider ação podem ser vir de leni tivo em lances ti o affi icti

m ninguem por cer to os teve em tã o subido gr au.

« 0 seu cadaver vae r epousar no humilde cemi ter io da P a o

voa dos G al legos, a cuja fr egues ia per tence a quin ta de Valde- L obo s, até ser r emovido para o jazigo competente.

.Val —de—L obos , :B de outubr o de 1 877.

.Hon tem, pe las 8 ho ras da no ite, foi o cadaver do sr . F ran

cisco R omano G omes M eira conduzido amão, da quinta de

Val ode L obos par a a egr eja da P ovoa dos G al l egos , acompa

nhado pelo prio r da freguez ia, o s seus intimo s amigos o s sr s.P aul ino da Cunha e S ilva, seus irmãos , R odr igo da C os ta A lveres

,Jose F ilippe de S á, P edr o Vieir a G or jío , João C ar lo s

Jo sé C and ido do s S antos e outr os de que me não r ecordo ,

todo s os cr iados da quinta, tr aba lhadores e gen te daquel les

« H o je pela H ho r as da manhã teve logar o en ter r o no

humilde cemi ter io da fregues ia . D epois de cantados os o fficie s

funebr es pe lo s pr io res das tres fregues ias proximas , A zo ia de

Baixo, A chete e P ovoa, o fer etr o fo i conduzido po r seis Ítª

mi os do S an tíssimo , e acompanhado pe los mesmos amigo se povo daquell es lagar es ; e maior ser ia a co nco r r encia se

não fosse a feira de anno em S an tarem chamada da P iedade .

« D adas as ul timas abso lvições, um dos intimos amigo s do

finado e de sua famil ia profer iu o seguin te discu rso

c Senho res A ntes que a campa no s esconda para sempre

78

os res tos mor taes do homem a quem tanto pretenso s, porque

disso se tornava digno, seja—me permittido levantar a minha

debil voz para dar —lhe a ul tima despedida.

« F r ancisco R omano G omes M eir a era um homem il lustee

pela nob resa do seu caracter , seus vas tos conheciment o s e

aus tera pr obidade.

« N ascendo na vil la de C ascaes, “ segu iu os es tudos supe

r ie res no co l legio dos N obr es , mas fal lecendodhe seu pee,

não os tendo ainda concluido, e vendo—se, ainda em tenra

edade, a braço s com mil diôiculdades , nem po r is so desan i

mou, e já o rpbão fez o s seus u l timos cu mes,tr atando logo

de empregarv se no ar senal do exer ci to, par a com o producto

do seu emprego sus tentar sua fami l ia.

« P assou d'

al l i par a as obras publ icas , e como o s seus o r

denados er am pequenos , nos intervalos co l labo rava no s jo rnaes scientifico s e po líticos.

« F oi depois empregado para o banco de P or tugal, e ahi

prestou sempre r elevan tes ser viços, e pela sua intel ligencia ,

zelo e probidade gr angeou a es tima dos seu s super iores e

co l leges:« H omem de pr incipios livres, e l iber al de antiga temper a,

alis tou—se como vo luntar io nos batalhões nacionaes de L is

boa, que tantas provas deram de coragem e valor , dur an te ocerco da cidade, e como s imples so ldado muitos dias tinhade largar a penna para empunhar a arma, e ir para as l inhasdefender a sua patr ia da oppres são que o des po tismo lhe que

r ia impô r .

« F o i accommettido de um insul to apopletico , que lhepera

lysou todo o lado esquerdo , po rem logo que as for ças lh'

o

permittiram fo i con tinuar o s seus trabalho s, não querendo

aproveitar—se das van tagens que lhe foram o fi er ecida-s par a

E m no ta biogr aphica, que po s suo , es ta que nascêr a em

L aveiras, concelho de O eir as . Talvez equivoco .

XVI

Tenho que vo ltar atraz.

Posto que as notas que deixo nestas M emor ias não

tenham a pretensão de serem perfeitamente biogra

phicas , isto é, mettidas nos moldes em que se vasa masbiographias dos homens celebres ; mas s imples remin is

cencias , que não podem correr a fl ux , não pensei nuncaem me refer ir á idade de A lexandre H erculano .

P ara que? a que vinha a proposno, quando eu, po r

ob r igação da minha v ida per iod ís tica, t inha que me

aproximar do grande h rstor iador encontrando—o perto da

sepultura ? E não t ratava de indagar da sua biographia.

P orém, no disco rrer do tempo ha incidentes que nos

obr igam a alterar o nosso iti nerá r io e a nossa preoccu

pação incidir sob re out ro ponto , não obs tante haver

coincidencia nos as sumptos , como nes te caso .

E m meio do anno 1 90 6 e quando já es tava em adean

tada redacção o tomo l l destas M amon as, succedeu ap

parecer num per iodico l itterar io i l lus trado um art igo em

que era posta em duv ida a data do nascimento de A le

xandre Hercu lan o, ten i s— se em vis ta cert iáãc

que erradamente a l terava essa data.

N ão coube no arr imo do s r . G omes de Br ito, ,a citado

anteriormente pe la sua dedicação ao grande M estre, dei

xar sem contestação o apparezimeato de tal documento,

acompanhando-a das cons iderações que julgam O ppor

tunas e concludentes acerca de tão es tranho documento,

e deu à gazeta 0 D ia um art igo em que trata com de

senvolv imento dessa materia. E ' com eâeito art igo in

teressante e bem deduzido .

O auctor do art igo con troxert ido era o s r . G ustavo)

de M attos Sequeira . Es te escr iptor pouco se demorou na

repl ica. Em 7 do mesmo mez saia a respos ta ao artigo

de G omes de Br .:o , mui cortez : na qual sem querer

duvidar do valo r da con trovers ia, que era conservada

com pr imor , in5 1s t ia comtudo que, ainda que se puzesse

de parte po r inexacta e inco r recta a certidão parochial ,aguardar ia que v ies se àluz outro documento, que pu

desse cons iderar—se insuspeito e fidedigna. N ão o con

venciam os argumen tos do seu contradictar .

G omes de Br ito não aceitou a repl ica. Respondeu em

seguida ao s r . M attos Sequeira. A&i rmou que não sairada ser ie de cons iderações que a es te propos ito fizera e

l he parece que inval idam o credito que se quiz dar à

Veja-se o per lodico citado de 3 de julho de 1906 e as s i

gnado apenas com as in iciaes G . B (J osé J oaquim G omes de

B r ito )2 Veja- se a [Ilustr ação P or tug uera n .

º1 0 (2 ) ser ie) de

1 00 13 .

u cr os E H O M E 5 D O M E U T E M P O T O M O

rt idão parochial e esperava que pudesse apparecer al

n documento a respe ito do qual não houvesse outra

:ussão.

lão houve trépl ica. Só transcorr ido mais do anno , emtro 1 90 7 , é que appareceram na imprensa novos

documentos versando o mesmo ass umpto e desta vez

rfutavelmente. A ndando o s r . visconde de C as tel lões

uvaro de C astel lões ) em procura de autographos dexandre Herculano, que sabia exis ti rem nas mãos da

. ami l ia do fal lecido Joaquim Le i te R i bei ro, e, conced idaa permissão de.

os examinar, deparou—se—lhe uma carta

do i l lustre M estre, em que es te se refer ia ao seu ann i

versario natalício e por conseguinte nar rava a data certa

o seu nascimento.

lsto consta de uma carta endereçada ao s r . M attos

r_

e Sequeira publ icada em O D ia .

Nel la o s r . visconde de C as tel lões transcreve a carta

autographa de A lexandre H erculano a seu cunhado e

amigo G omes M eira, agradecendo—lhe o ter-se lemb rado

do seu ann iversar io natal icio, dois dias antes de 30 de

março, quando completára os 62 annos de edade.

O s r . M attos S equeira, tambem em . « carta aberta»

endereçada a G omes de B r ito , al lude ao autog rapho

descoberto pelo s r . v isconde de C as tel lões , e declara,

s inceramente, que ter ia es timado ser el le o descobr idor

do documento de que se tratava.

P or ultimo, G omes de B r ito agradeceu ao s r . M attos

1 Veja- s e no per iodico D ia o s numer o s de 7 e 1 0 do s

mesmo s mezes e anno s citado s .

Terminarei estas notas a respeito de A lexandre H erculano registando aqui a indicação dos seus trabalhosl itterarios , h istor icos e pol iticos , como me foi poss ivelapura

-la. E' a obra de oum grande Mestre, de um gigantenas boas lettras portuguezas , que não pôde confundi r-secom qualquer outra individual idade, que não

'

se esquecerá nunca, porque a sua enorme estatura es tá, na h is

toria l itteraria de P o rtugal , por tal fôrma aureo lada, queos seus clarões resplandecerão com duração indefi n ida !

Vejamos

A voz do pr op/zela .— A edição da ser ie deste

opusculo saiu com a indicação de ter s ido impressa no

F errol em 1 8 36, mas suppôz—se que o fô ra em L isboa.

A 2 .

ªser ie já appar eceu datada de L isboa em 1837. A mbas

em 8.

º

,tendo a 1 .

ª 35 pag . e a 2 32 pag .

D epo is as duas for am pub l icadas em 1 837 sem o nome do

aucto r , e no mesmo anno r epr oduz idas no R IO de J aneiro na

imprensa de .l . Vil leneuve . de 2 1 2 pag .

3 5

A ha rpa do cr ente: ten tativas poetisa: pelo axi lar da

Va: do M e.

'

e 8 3 seri a: . Lisboa, na typographia da Sociedade propagadora dos conhecimentosuteis , 1 838 . gr . de 1 20 pag.

0 cler o ” r ing ues . L isboa, na typographia do Constitucional , t 84 r . de 1 6 pag . Este ºpusculo é rarís

s imo.

D a escola ” (Mecân ica e do colleg io do: nodr es . L is

boa, na typograph ia da Sociedade propagadora dos conhecimentos uteis, 1 84 1 . P ol. de 1 9 pag.

N es te fo lheto, A lexandr e H er culano apreciava a cr ítica do

auctor da A nalyse do par ecer da com issão de instrucção

publ ica da camara dos sr s . deputados sobr e o p roj ecto de lein .

" Sil—A .

F o i incluido no vo l . v1 i1 dos ºpusculos .

O s infan tes de Ceuta . D rama lyrico. Lisboa, 1 844 .

8 .

º

gr . N ão o vi. O auctor depois incluiu—o num dos

l ivros das suas poes ias , como vae adiante mencionado.

0 M ona l iza» . Tomo contendo E ur ico o P r esóy

ler o. Lisboa, na typographia da Sociedade portuguezados conhecimentos uteis , 1 844. de VIII—32 1 pag.

Teve poucos annos depois a.

ªedição. l bi. , na lmprensa

Nacional , 1 847. 8 .

º de x- 3 r6 pag.— A edição fez-se

na mesma lmprensa, t 854 .

O tomo 1 1 de O M an ica», contendo O M onge de C ister ,ou a epoca de D . J oão I, appareceu tambem na Impr ensa N a

cional . t846, tomos . de n v, 3 1 : pag. e 380 pag.

O E nr ico es tava já na tô !

1 0 3 , facto s extrao rdinarb s vraria em

ad

P oes ias . lbi . , na mesma Imprensa, 1 850 . de 3 26

paginas .

Esta edição comprehende tres series, a saber1 A harp a do cr ente.

tu Ver sões .

E u e o cler o. Car ta ao E minentíssímo Car deal P a

tn'

ar c/la . lbi., na mesma Imprensa, 1 850 . 8.º gr . de

20 pag.

E ncontra-se no vo l . nt dos O pusculos, onde fo r am incluidosmais os seguin tes acerca do mesmo assumpto « A batal ha de

O ur ique

C onsidcr ações pacíficas sobr e o opuscula « E u e o cler o» .

C ar ta ao r edactor do per iodica « A N ação » . Ibi,na mesma

Impr ensa, 1850 . 8 .

º

g r . de 1 8 pag .

S olemnia ver ba . C ar tas ao s r . A . L . M ag ass i T avar es so

br e a questão actua l , entr e a ver dade e uma par te do cler o .

l bi.,na mesma Impr en sa, 1850 . 8 .

º

g r . de 68 pag .

A sciencia ar abica—academico . C ar ta ao r edactor da « S e

mana» . l bi., n a mesma Imprensa, l 85 l . gr . de 30 pag .

D urante a contr over s ia acer ca da batalha de O ur ique, dasmais vivas e acerbas , com que desejavam der rubar H er cu lanonas suas afii rmações his to r icas , fi zeram-se innumeras pub l icações po r diver s os, que ten tavam jactanciosamen te medir —se

com O gigante que t inha 0 nome « A lexandr e H erculano » .

D a pr opr iedade l itter a r ia e da r ecen te convençã o com

88

poes ia Vaidade e mor te, que o propr io aucto r puzera no seu

l ivro das P oesias'

e'

: r e istado acima.l 8

F or mC l U IdO no vo l . do s O pusculos .

H istori a de P or tug a l . lbi. , na mesma Imprensa,

1 846—1 853 . 4 tomos, 8 .

º

gr .

E sta obra ab range a ' P r imeira E poca» , que vae desdea

or igem monar cbica até o r einado de l ) . A ffonso l l l .

O il lustr e e benemer ito bib l iogr apho Innocencio , dando

con ta no seu D iccionar io das edições da H is tor ia de P or tu

g al , pôz es ta no ta :

u l 'ara dar idea da accei taçõo com que fo i r ecebida es ta

ob ra, convém no tar , que tendo-se tir ado a pr incipio mil e oi

tocentos exemplares do tomo e conhecendo." par a logoque tal numero ser ia insutii cien te para a extracção que se es

perava, foi mister , ainda antes de concluida a impressão dotomo, fazer nova compos ição , de que se t iraram mais m il

exemplares, isto é, dois mil e o itocentos ao todo . A edição

exbauriu—se completamen te, e em 1853 se r epetiu a impres sã o

de mil e duzen tos exemplar es, o que dá até agora a to tal idade de quatro mil impres so s . C ousa rara em P o r tugalE s ta info rmação dada em t858 fo i de cer to do velho l i

vreir o Ber trand, que então t ratava das edições de H ercu lanoe es tava em boas r elações com Innocencio .

O tomo teve tres edições e nesta ultima,r evista pel o au

etor . teve pro logo novo de um paginas, que subs ti tuiu a

« adver tencia» da edição an ter ior , e algumas modtlicações e

ampl iações no texto .

A H is tor ia de P or tug al es tá já na edição .

M emo r ia sobr e a or ig em pr ovavel do l ivr o de l inha»

gens . lbi. , na typograph ia da Academia Real das S ciencias , 1 854. 4 .

º de 1 3 pag .

89

E s te ºpusculo fo i incluido nas &! emor ias da mesma A cademia

,tomo da nova ser ie

,a.

“clas se.

D a or igem e es tabelecimen to da Inqui siçã o em P or tu

g al . lbid. , da mesma Imprensa, 1 854- 1859 . 3 tomos

8 .

º de xv-286 pag . , 34 3 pag, e 3 3 3 pag .

D o tomo 1 ha 6 edições ; os tomos II e III, tem 5.

A esta obra tenho que pô r uma nota. A A cademia R eal

das S ciencias, em 1800 , incumbiu o academico secr etar io da

mesma douta co rpo r ação, M anue l P inheiro C hagas, de r edi

gir o « E logio his to r ico » de A lexandr e H erculano, e com ci

feito foi apresen tado e l ido na ses são so lemne do dia 1 5 de

j unho daquel le anno , t rabalho digno do il lus tre e estimado

Iitterato que o compóz . N ão é pos s ive l dar seq uer o s pr incipaes e mais fulguran tes t rechos de tão b r ilhan te e levan tado

E logio . Bastaome, ao meu inten to, t ranscr ever as l inhas emque P inheir o C hagas apr eciou a obra do egregio histo r iado r .

S ão as seguin tes :

N a H istor ia do estabelecimento da

Inquis ição transbo rda o r anco r do medie

val con tra a ob ra do seculo xvr. T oma

das mão s de J esus o latego, e es pul sa o s

vendilhões do T emplo . E xpu l so—o s ? M ar

ca-os apenas . M as os ul timo s assomo s da

sua actividade emprega-o s na lucta co n tra

a Igr eja r eaccionar ia. O s tr es vo lumes des sel ivro immo r tal são o l ibel lo con tra o despo

r ismo eccles ias tico , o s seus discur so s e o s

seus pamphletos o gr ito de áler ta contra os

que pretendiam en trar na Igr eja, que a l i

herdade ar rancára ás impias pr ofanações .

não para a en tregar a L oyo la, mas para a

r estituir ao E vangelho .»

Baptista Morando, 1 857 . 8 .

º

gr . de Xl—56 pag.

N este ºpusculo , o auctor combateu, com ener gia e for te

argumentação, as inves tidas, tão repetidas, co ntra as ini uni

dades da E greja lus itana, que pretendiam aluir a supr emacia

po is H e rculano nova e r igo rosa exposiã o

adiante citado, que teve asopla extracção .

D o es tado das classes ser vas na P en insula desde o

VII ate o XII secu los .

S aiu no s A nnaes das sciencias e lettr as , pub l icadas pe laA cademia R eal das S ciencias , 2

!clas se

,1857 . E s tá incluido

n o vo l . m do s ºpusculos .

Ca r ta aos eleitor es do cancel /zo de C in tr a , r ecusando

aceitar a elczçã o que del le haviam feito pa r a seu 14

tado em côr tes .

S aiu no J or nal do C ommer cio em 2 3 de maio 1858 e tem

s eparata em 8.

º

gr . de n o exemplares , que não en tr ar am

no commer cio . F o i par a o aucto r distr ibuir en tr e o s seus

e leito r es .

E s ta obra, r evelado ra da pro fundiss imt er udição jur idicaregia auctor , fo i pos ta na « S agrada C ongr egação do

em R oma, e al i condemnada.

I lver am segunda edi ção '

F oi por causa do anathema lancado .contra o que

A lexandre Herculano expuzera tao seriamente e tao con

cludentementena[questão do « Casamento civil », ecom

tal sal iencia de seus conhecimentos historico-jur ídicos ,que era para desnortear os adversarios , e do que estava

atsazado na conta corrente da Sagrada congregação deRoma, que fôra expedido outro anathema na controvers ia,não menos energica e não menos luminosa acerca do

celebrado «mi lagre de O ur ique» , que o nobre e sabioprelado de Coimbra, rev.

mo Bispo-conde, na sua apre

sentacao na Real Academia de H istoria, em M adr id,

applaudindo o que ali se dissera de louvor ao nosso

egregio histor iador e publ icista, pronunciou estas me

mo raveis palavras :

a apo theo se que se fez aqui a A le

xandr e H er culano ,não obs tan te o não ser

hespanho l , apo theo se a que nó s viemo s as

s rs tir, não só par a s igm li carmo s po r es te

modo o s no s so s agr adecimen tos aH espanha

que lh'

a fez,mas tambem par a hon r armo s

a memo r ia do il lust r e fi lho de P o r tugal , quese po r vezes teve algumas nuven s no so l do

seu talen to e das suas cr encas , essas nuven s

V. P alavr as p r ofer idas pelo B ispo de C oimbr a , etc.

C o imb r a,1 806. P ag . 6.

9 3

foram po r ultimo dissipadas, como aqui se

disse,e a E greja abso lveu-as e perdoou as

por tal fó rma que nós não temos duvida em

estar aqui não só como cidadão po r tugues ,

mas tambem como Bispo cathol ico .

Em R oma sabia-se que o egregio h istoriador era nomem que não se dobrava a suggestões nem a impos ições .

M onumen tos bater ia s .— Encarregado pela Academia

R eal das S ciencias de dir igi r e revêr a pub l icação destaobra de excepcional importancia histor ica, effectivementea s i tomou esse pesado, embora honros iss imo encargo,

escrevendo longa e e lucidativa introducção ácerca da

d ivisão por que a obra devia de ser impressa e o que

foi votado pela segunda classe da mesma Academia.

D eu—se a es ta co l leção o titulo geral : P or tug al iae manumenta histor ica . A lexandre H erculano não pôde con tinuar na

d ir ecção da obr a pelo que consta de documentos impres so s e

de que dei já conta em outr o logar . F o i substituido pelo i l lust r e academico e o iticiaI—maio r do archivo da T o r re do T om

bo, J oão P edro da C os taBasto, que tambem fal lecen em 1 898.

E , ul timamen te,a segunda clas se da A cademia decidiu que

dessa direcção fô sse incumbido o douto academico J osé de

S ousa M onteiro, secretar io da mesma classe. E stá já no

prelo a continuação .

apresentar .— F oi dividida esta publ icação em duas

ser ies , sendo a pr imei raQuestões publ icas, de que tem saido cinco tomos ; e a se

gunda C ontr over s ias e estudos his tor icos, de que existem pu

bl icados mais tres tomos . O u l timo , que tenho presente, é ovm (e o v das Questões publ icas ) .

9 4

N esse tomo v mencontram—se reproduzidos trecho s de ex

tr aor dinar ia relevo, de ar tigos escr iptos em t838, e que ainda

ser ão de prºpaganda salutar ho je, pas sados quasi 70 m as

em que puder am gosar o beneficio da imprensa e em que os

estudo s e evangel isação de algun s pub l icis tas moder nos tantos e tem adeantado par a o aper feiçoamen to das leis e das ao

ciedades bem cons tituidas e devidamen te ins truídas . N o que

se r efere â « pena de mor te» nada se pode perder . A lexandr eH ercu lano via muito longe e lançava no vulgo as suas nobres

ideias de engrandecimento da patr ia pe lo melho ramen to do sseus cos tumes , das suas leis e da sua in s tr ucção .

A doutr ina expo sta po r H er culano não é de r evo lucionar io . E

'

do pub licis ta aus ter o ; é do philosopho cren te no que

s en te e no que escr eve, em pro l do s seus concidadão s ; do

democrata que anceia pe lo bem e co ndemn s a deso rdem ; é,

emfim, do patr io ta exímio , que vê a patr ia igno rante, vexada,

ºppr imida, e exho r ta—a em propaganda sincera e util par a que

se levan te do abatimento em que jazeu po r longo s anno : vo lvidos em desr egrada e vil ipendiosa governação .

Tudo é nel le calmo, tudo e'

sereno ; nada de exager ações

em seus escr iptos , nenhum desmando na sua argumen tação ;

tudo elevado , tudo s imples ; nenhum desvio da l inha r ecta,

P o rque A lexandr e H erculano , repito , não er a r evo lucionar io .

A cr editava, no meu en tender , que não ser iam neces sar ias as

g r andes cr ises , as convu lsões tr emendas, que ar ruinam e não

edificam, que só desbar atam e não concr et isam, as socieda

des , pr incipalmente aquel las cuja cu l tur a in tel lectual es táabaixo de um nivel medíocr e por fal ta de ins trucção .

A indo le s ingela e modes ta des tes meus livr os e o espaço,

que tenho l imitadtr para cada tomo, não permittem que tran

scr eva ex tensas pas ssagens dos opul entos livr os do egregio

M es tr e, po r isso me Iimitar ei agora a chamar a attenção par a

o ti nal do ar tigo âcer ca da « pena de mo r tes , em que H er

culano advoga com energia vir i l a sua abo l ição, em cuja doutr ina de al ta philo sophia o acompanho com bom animo e en

thus iasmo .

mais ho r r iveis necessidades sociaes .

. F elizmen te o pr ogresso intel lectual e

moral não pára : a u ltima pr eocupação dasepocas de barbar idade passará : a palavr a

algoz chegará a ser um archaismo ; e os ca

dafalsos , apodrecidos e r oidos dos vermes ,ser ão algum dia um monumento dos delir io se er ros do passado . .

N o mesmo vo lume vm temos out ro trecho ou ar tigo, em

que A lexandr e H ercu lano abo rda outro assumpto de não me

no r impor tancia : o da imprensa. E l le escr eveu :

« S e a ar te de escrever fo i o mais admira

vel inven to do homem,o mais poder o so e

fecundo fo i cer tamen te a impren sa. N ão é

e l la mesma uma fo rça, mas uma insens íve lmo la do mundo mo r a l , intel lectual e phys ico , cujo s r egis to s mo to r es es tão em toda a

par te e ao alcance de todas as mãos,ainda

que mão nenhuma,embo r a o presuma

,bas te

só po r s i para a fazer jogar . Imaginavam o s

an tigo s uma um a de des t ino s,a que o s tem

po s e o s homen s co r r iam sujeito s : é a im

pr en sa a um a do s des tinos tras ladados par a

a ter ra ; po tencia maravilhosa, fo rmando as

V . O pusculos , po r A . H er cu lano,tomo vm

, Questões p ubl icas

,tomo v

,de pag . IO a n .

97

O piniões sem ter uma ºpinião , creando as

von tades sem ter uma vontade, condensando

ou dis s ipando fo r ças sem ter fo r ça, ar rastan

do aquel les mesmos que julgam dir igi- la, par al isando e quebr ando o b raço sacr ilego ques e lhe atreve, medr ando com a pr o sper ida

de, medr ando ainda mais com a per seguição;so l novo que o homem acendeu e não po

der ia apagar , sol que alumia ou aquece, deslumbra ou abrasa, des invo lve flô res c fru

cto s,venenos e serpentes E

'

a imprensa o

maio r facto da sociedade moderna, o que

marcou a maior epoca da his to r ia univer sal,fazendo surg ir a r evo lução mãe, a revo luçãodas revo luções, a r evo lução po r excel lencia .

S e a civil isação pr ogr ide com tanta r apidez,a es te seu invento o deve, que se to r nou o

seu car r o tr iumphal , quer movido po r vapo r

ou por elect r icidade, ar r emete com todos o s

caminhos fo r r ados ou pedregosos , devora

com igual facil idade o s plainos e os alcantis,passa po r cima de todos os obs taculos e ini

m igo s , e lá vai para o hor ison te incognito

que D eus lhe tem apontado .»

E m uma nota,' o s co l leccionadores destes ºpusculos r e

ferem- se adiscussão havida na camara do s deputados em 1840

e ao modo como A lexandre H erculano impugnou a lei de im

pr ensa apresentada pelo governo de en tão , que quer ia alias

tar do beneficio des sa grande arma da civilisação os que não

t inham meios po rquan to lhes exigia habil itações monetar ias ,a que sómente o s r icos poder iam conco r r er , afi rmam e pr o

vam que o M est re,refer indo -se a propos ta gover namen tal ,

d isser a que

V. vo l . citado , pag 1 5 e 16.

lu cr os E Bonu s 0 0 um m u r o TOMO u

98

o governo não vinha regu lar masr es tringir a l iber dade de impr ensa querendo el la fosse pr ivilegio de quem dispozes sede lergo s recur sos pecuniar ios par a se ha

bilitar , e el le o rado r esl ava con tra es t a e s i

milhantes disposições de car acter pr oven ti

vo ;po rquan to, regular um direi to de todos ,tão impo r tante como o de que se t r at ava ,

não era pr ivar del le a maior ia dos cida

dãos. R eputava, po is, a pr ºposta do gover no

inconsti tucional e con trar ia ao s pr incipio s

liberaes »

A'

cerca da pun ição do s abusos da liberdade de impren sa,H erculano dizia que só deviam cor r igir

—se em t ribunaes espe

eines adequados ao julgamento de cada processo.

N ada de nppressões, nem de vexames, des neces sar io s.

O s tomos dos ºpuscules tem tido diversas edições, po r

exemplo : tomo 4 edições ; tomo n, 3 ; tomo m, tomo xv,

3 ; e tomo s .

P or differentes vezes se tem feito no Bras i l contrafacções das obras de A lexandre Herculano, entrando

numas emprezas editores especuladores nacionaes e

noutras l ivrei ros portuguezes , que saindo de Portuga lcom a idéa e a esperança de lucros fabulosos, sem prestar contas aos herdei ros ou a seus legí timos represen

tantes . entraram com denodo a mandar reproduzi r os

l ivros de auctores portuguezes de maior nomeada. N ão

dou com isto novidade que se divulgasse agora. M uitos

V. vo l . citado, pag. 26.

1 0 0

0 alcaide de Santa r em. Lisboa. rua da Atalaia. 8 .

º

gr . de 39 pag. (Sem a des ignação da typographia).

S uppõe-se que es ta edição, tendo a indicação de ter saido

dos prelo s l isbonenses, veio clandes tinamente do Br asi l . N ãoha agora meio de aver iguar esta fraude, se o foi .

A lexandre Herculano col laborou nos periodicos l itte.

rarios : P ano r ama , [l im i t ação, R evista « magn a! íris-óv

um se, M osaico, R evis ta academia : de Cor'

mór a , S erna

na , A l cmen'

as de com an d ar ia, R evista pen insula r ,

A nnaes das scicncía s e lettr as , etc.

Fundou, com outros . o jornal pol itico em . em

t 85t ; e cooperou na redacção do P n , em 1 853 ;

no j or nal do Commer cio, por var ias vezes ; e até part icipou da redacção do D ia r io do G overn o, em 1 838.

quando es ta folha oli icial t inha redacção pol itica sepa

rada dos documentos que vinham das secretarias do es

tado e outras repartições publicas , e esta concessão aos

officiaes das mesmas secretar ias lhes servia de emo lu

mentos . D a importancia da redacção, com respeito a

A lexandre Herculano, se viu já nas paginas anter iores .

A lém das obras indicadas , A lexandre Herculano es

creveu introduccões e notas para os seguintes manuscriptos , que foram impres sos em edições especiaes :

C hr onica de -r ei D . S ebast ião , por J osé'Ber nar do da

C r iar . Lisbo a, 1 837.

rr A nnaes de É l -r ei D . III, por L uis de

conj bn ne o autog r aho ex istente na bibl iotheca r eal . l bi., t844.

T al é o inventar io, em breves l inhas , que pude fazer da benemer ita e monumental obra de A lexandreH erculano.

Xvi l l

N a pag . 24, em que puz uma nota com r efer enciaaso l icitude com_que o sr . duque de P almel la tratava de info rmar —se

rculano, deixei de fazer menção de

não se contentava com as noticias

que no s per iodicos, mas determinou

que seus serviçaes , em um bom caval lo, permaneces s eem S an tar em e tr atasse

,logo que s oubes se do aggr avamen to

da doen ça , de mandar - l he,de ho ra a ho r a

,telegr amma do

es tado i l lus t r e en fermo .

N a pag 60,ext r ahindo palavr as s incer as e eloquen tes dol ivr o de A n ton io de S er pa, no ta- se o « arden te pat r io t l smo »

de A lexandr e H er culano . l i l le er a um patr 1o ta ás dir eitas .

R eg is tar ei mais um facto . Quando se o rgan iso u a patr io tica

C ommis são C en tr al P r imei r o de D ezembr o de par a

r esponder com a voz da nação ao s sonhado r es da « U n ião

l ber ica» , como se dahi pr ovies se algum pr o veito á patr ia,

A lexandr e H er cu lano fo i co n su l tado , adher iu com en thu

s iasmo , e asmgno u o « man ifes to » da mesma commissão de

que se dis tr ibu í ram m ilhar es de exemplar es pelo paiz in teir o ,

chegando es se pr o tes to as mais pequenas aldeias .

E s sa comm is são fo i eleita, em ses são pub l ica, com a co n

co r r encia ex tr ao r dinar ia de cidadão s de todas as classes , no

R ebel lo da S ilva, M endes L eal , S ilva T ul l io , A nselmo Braamcamp, conde de A lmada, etc. A lexandr e H erculano fo i informado de tudo .

Quando o consul taram, dis se, com aquel la ser iedade queàs vem parecia despr imo r , mas era do seu anime in tegr o

— P o is bem. C on tem com o meu voto, mas não com a

minha compar encia. S abem que não vou a r euniões, nem saio

da minha aldeia mas aqui me têm para defender a indepen

dencia e a l iberdade do no sso P ortugal , que amo .

N ão me lembr a se estes pormenor es vem no s F estas da

C ommissão P r imeiro de D ezembro que o Visconde de S an

ches de Baena publicou, em do is tomos , de documen tos his

tor ice s ;mas des te modo tal vez não , porque os factos refer i.

dos de caracter par ticular , não passaram da actas, algumas dasquaes r edigiu, como secretar io, quem escr eve es tas Hahn .

A C ommissi e P r imeir o de D ezembro deveu depo is serviço s relevs ntiss imos , ino lvidaveis , ao Visconde de S anches de

Baena, que representava um do s heroes da R es tauração de

P or tugal .N o tomo 1

, pag . 50 , puz que o manuscr ipto camoniano no

leilão dos l ivro s do visconde de J uromenha fôr a ar rematado

por mais de 400m réis . H ouve engano . O s r . dr . C arvalhoM ontei ro deu quam réis, pouco mais ou menos , com o en

cargo da praça

E na pag. 80, l in . lê -se : m e mas; deve lêr—s em sm as .

N a pag . 64, tomo rr, presente, lin . da nora. onde está o

nome J ul io, leia-se J ada.

D urante a impressão appareceram out ros er ros , que é ft

cil cor r igir na leitura ; mas , par a que possa fas er-se a co r

recção no logar propr io de tomo, 6 que se apon tam só ess es

tres .

Inalaçãodealguns porlodlcos e livros quetirepresentes

paraescrever estecapítulo

A lex andr e H er culano . 1 3 de setembr o de 1 877 a 1 3 de

setembr o de A r tigo extenso e interessante de G omes

de Br ito inser to na gazeta O D ia de 1 3 de setembr o tgoti .

T raz só na as signatura as in iciaes G .

“B .,mas na referencia

a es te ar tigo no cor po do jo rnal ( l .

'

pagina), a redacção de

clarou o nome do aucto r . N el le refer iu G omes de Br ito em

pormeno r es ver ídicos, o que occo r rera para a tras ladação dascinzas do egregio histor iado r para o P antheon dos J eronymo s (Belem) .A lex andr e H er culano e o seu tempo . E studo cr ítico.

por A n tonio de S erpa P imen tel . L isboa, i 88 | . 8 .

º

N a parte li na! des te pr imo ro so « E studo », que r evela os al

tos do res do escr ipto r e cr itico, vem uma apreciação , um

tan to amarga, porém s incer a, em que se faz a analyse dojuízo mais que severo do dr .

'

l'

heO philo Braga acerca da in

dividual idade l itterar ia de H erculano .

O livr o, a que se r efer iu o conse lheiro A n tonio de S erpa,era o R omantismo em P or tugal, pub l icado pelo douto r T heophi lo Braga em 1880 .

1 06

D es te l ivro do conselheiro Anton io de S erpa ha uma tr a

ducção em ital iano .

A r co ( O ) ir is — A nno 1, num.

'

t , de 1 3 de setembro de

tom . Com r etrato de A lexandr e H erculano, D ir ector , A r

mando de A r aujo .— A r tigo commemor ativo dos mor tos il

lustres nes te mez .

Ca r ta dir ig ida ao minister io do r eino pela seg unda clas se

da A cademia R eal das S ciencias de L isboa, sob re o es tado

dos traba lho s relativos apub l icação dos uM onumen to s hiato .

r ico s de P o r tugal » e sob re a suspensão del les. L isboa,4

9 N ão é ho je vu lgar .

E log io histor ico do socio de mer ito A lex andre H er culano

de C ar valho e A r ango, l ido na ses são pub l ica da A cademiaR eal das S ciencias de L iebt e em r $ de junho de l 890 pelo

s ocio efiectivo M anue l P inheiro Chagas.— L isbo a, typog ra

pltia da A cademia, tbgo. de aa pag.

H er cul ano.— (P o r ) A lves M endes . P or to, 1888 . g r .

E'

dedicado a J osé G regor io da R os a A r aujo . E m segundo

r os to, depo is da dedicator io, tem D iscur so no temp lo deBe

lem ( tras ladação das cinzas do grende historiador ). a8-6-4 888.A

'

cer emon ia re l igio sa presidiu o sr . bispo de Beths aida.

r ev. A lves Mendes (A n to n io A lves M endes da S ilva R ibeiro ) era conego da se do P o r to com onus de ens ino . F al

leceu em julho tgioõ com 66 anno s de edade.

Instituto R evista scienti iica e l itterar ia . XXIV anno ,

junho de 1878 . a.“ ser ie, n .

º na Co imbra, 8.

º.

D e pag. 533 a 556 contem a sessão publica par a a lei tur ado e logio histo r ico de A lexandr e H ercu lano que fô ra escr ipt oe l ido no salão do ins tituto pe lo socio honorar io con se

l heiro doutor Vicen te F er rer N eto P aiva, a que me refer i em

capitu lo anterior .

D e pag . 557 a 573 vem as apreciações da imprensa conim

b r icens e, sabendo se que esses ar tigos, pela maior par te sem

ass ignatura, eram de A bil io A . da F onseca P into, S ergio de

C astr o , J oaquim M ar t ins de C arvalho, A lexand re da C onceicão e dr . M anuel E mygdio G arcia .

Indlototo dos nomes do escriptores eoutras pessoa;ol

tadas nesta parte do tomo l l , respectivo Alexandre

Herculano.

A ça (Zachar ias pag . 1 0 7.

A guiar (A nton io A uguS tO ) ,

pag. só,27, 64 .

A lberto (C aetano) , pag . 107 .

A lmada (C onde de) pag.

A lves B r anco , pag 1 3 .

A l ve s M endes (C onego ) ,

pag . 65 a 70 , 1 0 6.

A ndr ade e A lmeida, pag . 9 .

A r co s ( D . P edr o ), pag . 27

A ve l lar (J o sé pag 2 1 .

Bas to (J oão P edr o da C o s

ta l , pag. 16,24, 55, nª.

Bas to (J o sé M anue l da C o sta ), pag . 16

,64 .

Bas to s (J osé), l ivr eir o edi

to r , pag . 57 .

Bas to s (T homás ) , pag . 27.

B e r t r an d l ivr eiro - edito r ,

pag . 1 0 .

Biester (E rnes to ), pag . 27 .

B r a am camp (A n s elmo ),pag. 1 04 .

C astr o (S ergio de) pag . 1 06.

C onceição (A lexandr e da) ,pag . toõ.

D an tas Bar acho , pag . 27 .

D ias ( H en r ique ) , pag 2 1 .

F er r eir a L obo , pag . 9 7.

F er r er N eto P aiva (Vicen te) ,

pag . 36 a 48, 106.

F e r r eira de C astr o , pag . aº

F er r eir a M endes , pag . 27 .

F onseca P in to (A bi l io A .

da l, pag . 1 0 6.

G alhardo (E duardo ), pag .

G alhardo (J o sé M ar ia) , pag .

2 1,G 4 .

G arcia (Jo sé E l ias ) , pa26, 27 .

G er vas io L obato , pag 27 .

G omes de A br eu, pag.

1 0 3 .

G omes L eal, pag. 49 e 50 ,

a 1 50 .

G omes M eira, pag. 14, 70

a 79 .

G omes de Br ito, pag.

64, 8 1 a 83, 10 5 .

Biqoo C onde de C oimbr a,

pag . 7 1 , 92, 10 7.

Bo rges (1 . M anuel ), pag.

Brandão (Z ephyr ino ) , pag.

1 3, 1 4, 1 5.

Bulhã' o P ato , pag. 16, 23 ,

t o7.

C a l me l s (O escul pto r ),

pag . 24 .

C armo (A lexandr ino ) , pag .

27.

C arvalho ( F ilippe de), pag .

C a r va l h o (M ar ianna de) ,

pag . 64 .

C asa l R ibeir o (C onde de) ,P ªs» 27'

C as tilho (A n ton io F el icianod e), pag . 52 .

C aula (G eneral ) , pag . 27 .

C hr is tovão A yr es , pag. 27.

C oelho (E duardo ) , pag . 9,

1 0 , 26, 27, 64 .

C o razzi (O edito r D avid) ,

pag. 25,52.

C o s ta A lvar es (R odr igo da) ,P ªg . 77º

C as tel lões (Visconde de),

pag . S : .

C unha Bel lem, pag . 3 7.

C unha e S i lva (P aul ino da) ,P ª8—77

L ima F elner , pag. 74 .

G arcia (D r . M anuel E my

gdio ), pag. 1 06.

H o r ta (J osé), pag. 27.

L eite R ibeiro , pag. ba.

M agalhães C outinho, pag.

1 3 , 14 .

M arques ( D r . José E pipha

n io), pag. 1 0 7.

M ar tins de C arvalho (Joaquin

'

p, pag . 1 06.

M attos S equeira (G ustavode) , pag. 8 1 a 83 .

M endes L eal, pag . 104 .

M endes P edroso (M edico ) ,

M endonça e C osta. pag . 27.

M o reira (A rbués ) , pag. 28 '

M or eira deA lmeida pag . 63 .

M oura F el iciano de A ndrade), pag . 1 00 .

O liveira M ar tins, pag . 19,

zo, 53 a 55.

P almel la (D uque de), pag .

P egado (G uilherme) , pag .

P er eira ( A nton io M ar ia) ,l ivreiro—edito r, pag . 1 5.

P ereir a da C os ta (F rancisco A nton io ) , pag. 64 .

P inheiro C hagas, pag . 89,106.

P ires (J oão de J esus ) , pag.

2 7.

Quental (A mber-o de), pag .

R ebel lo da S ilva, pag . 1 0 4 .

R ibeiro da C o s ta (D r . A nton io C andido ) , pag. 30 a 38,

1 07 .

R odrigu es (J osé J ul io ), pag.

28.

R odrigues C o rdeiro (A n to

n io Xavier ) , papag 55,107 .

S eabra (Visconde de) pag .

42.

S erpa P imentel (A nton iode), pag 57 a 62, 1 0 5.

S á (J o sé F il ippe de), pag . 77.

S abugosa (conde de), pag .

S ab u g o s a (M ar quez de)

pag . a7 .

S anchezM oguel , pag

S ar agga S alomão , pag . 52.

S anta C lara (D r . F ran cireo

de P aula), pag . 107.

S an t'

Iago (conde de), pag .

276

S an tos (José C andido dos),

pag 16. 2 1 .

S ar aiva de Car val ho (A u

sustº). P ªB 57S ilva T ul l io (A nton io da),

988 14 . 261 104 .

S imões (D r . F ilippo) , pag .

1 0 7.

S ousa R eis , pag . 23 .

S ousa T elles, pag . 27.

T eixeir a de A r agão, pag 27.

T eixe ir a S imões, pag. 28 .

Theophi lo Braga (D outo r ) ,P ªg' “75:

Vedra (D . L uis Breton y),

pag . : 7 .

Veiga (l'

lpio da) , pag . 27.

V ida l (A vel ino ), pag . 28 .

Vieir a G o r jão , pag . 77 .

Viuva Ber tr and C .

“( L i

vrar ia—edito ra,, pag . 57.

Xavier de A lmeida (F r an

cisco A ugus to ), pag . 63 .

O ret rato que contemplamos , man ifesta que vou pa

gar o devido preito ao r ei dos poetas , como o denominou

outro grande poeta, que fo i meu amigo e mest re, A nto

n io Fel iciano de Cast ilho , visconde de Castilho. E 'humilde a vassal lagem, mas é smcera. Está msto a

egualdade de um sentimento de affecto e cons ideração,

q ue tão vehemente e in timo pôde ser no animo dos

g randes como no dos pequenos . Infl ue em m m tambem

a gratidão para com o il lustre extincto, expatr iado em

H autevil le—house ; e esta idéa, dula ss ima ao que a ex

pr ime com s impl icidade, desculpa de certo a ousadia.

N ão será grande o quadro, nem o permittem es tas

M emor ia: despidas de ornatos , nem as minhas debeis for

ç as . O quadro foi já traçado por mão de mes tre'; tem

cºres vivas , boa luz, âguras sympathicas e s ign iâcativos

accessorios . Seguirei tamsómente os passos de alguns

Victor H ug o, r aconté par un témoin de sa vie.

lu cr os e. « ou t .—cs ao um 1 3 11 90 — 1

'

ouo 11

biographes refenr-me-hei ao grande vulto, e mencionarei factos que honram Portugal e ennobrecem o Se

culo XIX.

Quando se souber que o r ei des ped e:

assumpto, ou se di rigiu a um individuo,desto que seja a sua condição , dm pa

que el le honrou o assumpto e o individuo. Pensamosass im a res peito daquel les soberanos da intel ligencia,

que, como V ictor Hugo, est iveram mais afastados da

ter ra que do eco, donde lhes veio a inspiração.

T em a lítteratura, como os seus cultores , caminhadoao lado

_

da transformação das inst ituições sociaes ; el lae el les tem até promovido e

l

auxiliado essa transforma

ção. Em cada nova edede, sem duvida, desde os gregosaté os nossos dias , hão s ido differentes os seus intuitos;porém a sua infl uencia deve'

cons iderar-se em todas as

épocas , pelo ass im dizer , mais benefica que prejudicialàhuman idade.

N os tempos modernos , todavia, não se encontra, no

meu en tender , outro escr iptor que, sem aval iar bem o

poder do seu gen ro, real isasse maior e mais espantosa

revo luç ão na lrtteratura, melhor e mais duradoiros beneficios para os povos , do que o auctor do H an de Is lan

dia'

, da iVossa S en /tor a de P a r is , e dos M'

ser aw ís .

N ão tratarei aqui da lítteratura, tanto com relação ásua mfl uencra como 51 sua importancia, apesar da ma

teria ser vasta e do 11e me convidar para mais longo

Vaper eau, M i r ecou r t , L éon Beauval le t, C har les Val lette ,L ecanu, D umas

,D emogeo t, e ou tr o s

V ictor M ar ia Hugo, 0 grande poeta philosopho, nasceu às dez horas e meia da noite de 26 de fevereiro

1 80 2 ª, em Besancon, antiga cidade hespanhola.

S eu pae, José L eºpoldo S igisberto, descendente deuma distincta fami l ia de Lorraine, ennobrecida desde o

Xvl seculo nos campos de batalha, era um dos mais

ousados voluntar ios da republ ica franceza, e foi depoisum dos mais intrepidos generaes de Napo leão.

S ua mãe, Sºph ia Trébuchet , vendeana e real ista, eradama de grande espi rito e an imo varon il : ficando sem

mãe muito nova, fôra obrigada a ser dona de casa mais

cedo que em geral as outras .

Como os heroísmos se comprehendem, o heroe repu

blicano encontrou em Nantes a intel l igente e bondosa

vendeana, comprehendeu a nobreza da sua alma, e desposou

-se com el la. D este consorcio nasceu V ictor Hugo,

quas i mor ibundo, e salvo pela sol icitude e amor de sua

mãe, de quem for « duas vezes fi lho» .

Victor H ug o r aconte'

,etc.

, tom . 1 , pag . 28 .

1 1 7

A inda no berço, pe lo _assim d izer, acompanhou seu

pac, ji coronel , à i lha de Elba, pom ão franceza onde

reaidiu tres annes ; em seguida f0 i para 0 enova. e dali

para Paris , em cuja capital esteve dois annos. Em 1 806

e 1 80 7 part iu novamente para a Ital ia. Nesta bella peninsula, radiante patria das beltas artes , o coronel Hugo,então governador da província de Avel ino, conseguiudes trui r o terr ível bando de F ra—D iavolo , que, ao celebre salteador de es trada quão pertinaz defensor do solo

natal , envo lv ia o direito com 0 assas sínio . F ra—D iavo lo,como se sabe, inspi rou poetas e romancistas , e serviu

notavelmente para uma opera de Scribe e para um m

mance de Car los N odier .V ictor Hugo costumoue e a fitar o sol e a glor ia. Foi

assim que a pequena aguia «per cor r eu a E u r opa an tes

da M . . Como a criancinha da L enda dos S ecular ,

br incou em menino com a espada de um heroe. Encontramos estes pormenores da puericia nos seus versos .

D ia-nos el le :« Que posso recetar. eu que

. E m pou r premier bachet le nw ud d'

o r d'

une épée,

. E t qu] fus soldat quand j'

etais un en tan tu.

Tendo viajado por Florença, Roma e Napoles , V ictorHugo regressou a Par is em 1 809 . Em t S t t a iu nova

mente daquel la capi tal , com sua mãe e seus irmã os ,

para se reuni r a seu pae, general no reino de Hespanha.

Como na Ita l ia, 0 general Hugo, encarregado do governode G uada lajara, preparava

—se para des t ruir outro famoso

novos alumnos como seus chefes . D aqur nascera supe

r ior idade, que não só exerciam sob re os alumnos , senãotambem sobre os mestres , os quaes ainda mais invejaram Victor H ugo q uando adquir i ram a certeza de que

este, ao completar os treze annos , havia já escr ipto t reze

cadernos de versos .

P assaram-se C em D ias , o segundo fam igerado reinado

de N apo leão I. O moço poeta, embo ra encer rado no col

legio , pôde todav ia observar do alto de um zimbor io o

movimento dos al l rados prussos e rus s ianos , ouvir as

descargas das frlas cer radas da i nfanter ía e o troar me

donho de murtas peças de artrlher ia, e vêr as florzinhas

dos prados regados pelo sangue de murtos centenares

de victi l s da gw n f ãn em junhm O sul n ii n es

A hn d an do dia toun va p r isu r m is n

M u qui -“

Im bui a .

Victor H ugo nªo chegou bem a disú r tudq rnl s

D urante o tempo que estev e no Col legio, de 1 8 1 5 a

1 8 1 8 . fez versos de dit'

ferentes generos lmitou O ss ian.

traduziu V irgilio , H oracio, M arcial e outros ; compus to

mances, fabu las . epigrammas , madrigaes , etc uma opera

comica e um poema de 50 0 versos , sob 0 titulo 0 l i

Im'

o . E ncontra—se nes te poem uma interessante nota.

pela qual se ve que o moço poeta sabia julgar o mere

cimento das suas compos ições .

Sabe—se pela nota indicada, que nos too versos de

0 di l u i rta havia sómente 20 maus . 32 M us . oph'

rnos .

soj h'

z'

eis e t f r oux o . O s 4 27 restantes não tinham

s ido qual ificadosQuando escrev ia novo caderno. rasgat .1 o antece

dente ; e se po rventura algumas paginas o satisfaziam.

declarava no fim del las que as tizera contando t ; an

nos apenas . A sua modes tia quer ia encontrar boa des

culpa na idade.

D epois do poema de diluw'

o , escreveu a tragedia

em 5 actos Is lamêne . Es ta segunda obra, que devia ter

0 des tino da primei ra, isto é . ficar para sempre esque

cida nos manuscr iptos da mocidade, provava fé sem li

mite na realeza (dos Bourbons , inspirando-se nas idéesreconhecidas de sua mãe) e o odio eterno á tyrann in.

Victor H ug o r aconte'

,tom 1

, pag . 7 .

Seguiu-se á'

l stamêne outia, os que

não pass ou do acto. entrou na traça de

um drama lançando na tela um bosquejo. que é por semduvida, no entender do seu pr incipal e mais minuciosobiographo, a verdadei ra or igem do seu theatro.

R omer o, camponez ;

A l ôar aa'

n , chefe dos mo i rosCbanco! /er de P or tugal ;

P r es iden te do S upr emo Conselho;

Entram, na comparsaria, juizes , guardas , componetes ,caçadores , donzel las e guerrei ros mo i ros , etc.

A acção pas sa—se em L l O ª e nos seus arrabaldes .

O pr imeiro acto representa uma floresta ou mata on

de se vê uma Choupana. A lbaracin , chefe dos moiros ,disfarçado em mendigo , procura al i os fi lhos que Ignezde Cas tro trvera do i nfan te D . P edro , cujo secreto ma

tr rmon ro lhe é conhecrdo e participa esta aver iguação ao

alcaide de A lpunar , que, na qual idade de confidente da

rainha e amb icionando cargo de co r regedo r de L isboa,

promete ao mendigo as boas graças da mulher del—reiD . A ffonso se lhe der as provas da un ião clandes tina.

O chefe dos moiros pensava que entregando os fi lhosde lgnez de Cas tro ao pessoal da Cô rte, afas tar ia do

exercito portuguez o i nfante D . P edro , o qual , para os

seus , era general invencível , e des te modo saciaria o

odio da rainha, que j urára a perda de Ignez, porque o

in fante não quer ia casar- se com uma sob r inha da so

berana.

r aç

O s fi lhos de Ignez tinham s ido entregues ao cuidado

de um camponez (Romero), que ignorava quem era a

mãe del les , embora desconliasse de uma joven dama

de elevada jerarchia, que os v is itava de vez em quandoe lhes deixava ricos br indes e dinheiro avultado.

F ez o acaso , que houvm e em certo dia caçada reale que os caçadom dirigissem a exploração para a parte

da mata, onde estava a choupana. O alcaide amoveitoumuito bem tal circumstancia, e denunciou para logo àrainha a ex istencia das cr ianças naquel la paragem. N a

regia comitiva õgurava a dama de honor D . lgne'

z de

A rainha exige do rei , seu marido, que vis ite a chou

mas , onde e ncontrará os fructos do consorcio elendes

tino ; porém sua magestade nega—se a satis fazer os de

sejos da augusta esposa. A final , as propr ias criancinhasdenunciam a infel iz. correndo ao encontro de Ignez e

dando-Ihe 0 suave nome de mã e ! Esta doce pa lavra e

a perturbação da dama de honor chamam a attenção

delr ei , que interrogando a joven senhora, consegue dellaa confissão de seu consorcio no carneiro dos Castroscom 0 infante de quem as cr iancinhas eram fi lhos leg itimos . lil-rei dá en tão ordem para que prendam Ignez

de Cas tro e a encarcerem numa fortaleza de L isboa.

oonliando a sua guarda eo conde de Mayo .

S egue-se 0 pr imeiro intermedia.

A pparece 0 acampamento da moh-ama. bei ra—mar ,

onde se veem galeras tambem moiriscas l l a festejo ;

canta-se e dança—se. A lbaracin, que estivera ausente,

volta ao exercito para part icipar que, por seu zelo, con

1 28

q ue estava de se revoltar contra 0 paterno e regio po

der. com o intu ito de sa lvar os preciosos d ias da esposaamada, que recebera a face dos altares , e cuja posse

não consen tira que nrnguem lhe contes tasse ;mas nã o

occulm 0 nobre procedimento de D . Ignez. A s palav ras

da infel iz desarmara a oolera del' rei e a infantil graça

dos netos , que D . A ffonso não pode deixar de abraç ar .

operam notave l t ransfo rmaç ão. E l—rei approva o cam

mento do infante e determina que es ta sua reso luçãoseja communicada à rainha e nobreza do reino . E

'tarde

já. A bebida que t inham dado a D . Ignez de Cast ro ,

produzira o natura l effeito. A infel iz expi ra nos braçosde D . Pedro, no meio da consternação geral . O propr ioD . Affonso deplora 0 info rtun io do fi lho , e muito ma isrecebendo a noticia de que os mo i ros , aproveitando a

ausencia do pr incipe. haviam derrotado o exercito e se

avis inhavam das muralhas de L isboa.

E deste modo termina 0 acto .

N o segundo intermedia representa—se a bata lha àsportas de L isboa, ent re os moiros e o exercito portuguez.

E l-rei D . A ffonso é mo rto em combate singular pelochefe A lbaracin , mas os valentes so ldados portuguesesderrotam a moirama. O s vencedores proclamam a vi

L amo tte, na sua tragedia [M de C astr o ( r7: 3 ) tambemdeu a um dos seus per sonagens a idea de empr ega o ve

netto !

E s ta t ragedia, como se sabe, r epr esentado no T heatr o

F rances , alcançou tão prodigioso tr iumpho scenico, que fez

epoca na his to r ia dr amatica de F rança. A ss im o r efere G eof

fr ov no seu C our s de lítter at ur a dr amarr'

qne, tomo tt, pag . ago .

1 29

ctoria das quinas e a morte de D . A ffonso. acclamandoem segu ida D . Pedro novo rei de Por tugal .Cumpria—se des te modo o

'

preceito de— m

'

mor ro , r ei

N o tercei ro. e ultimo acto. effectua—se a coroação de

D . Pedro. E l—rei tinhamandado pr eparar para esta solemni

dade. a parte da egreja onde jaziam os restos mortaes

de D . Ignez de Castro. N inguem conhecia, na Côrte, ospropos itos do rei. Antes de pass ar àegreja, D . Pedromostra conhecer bem o segredo da rainha e do alcaidede A lpui

'lar. já corregedor. e ordena que a primei ra sejaexpulsa do reino e que ao segundo se dê morte no ca

dafalso.

Junto do tumulo. D . Pedro. perante os grandes do

reino attonitos , lança o manto real sobre as cinzas dainfortunada esposa, e põe a corôa no alto do sarcophago.

D epois desembainha a espada, abraça os fi lhos e quersuicidar—se mas , de subito, do fundo da scena, apparecea sombra de D . Ignez de Castro cercada de anjos e to

A sombra exhorta a D . Pedro que poupe a vida que

não é del le, mas dos fi lhos e da patr ia ; e diz que D euspermitt ira que el la descesse terra para declarar ao es .

P ªsº

— V ive e padece porque a fel icidade dos povos ne

cess ita ás vezes da desgraça dos reis !

D esapparece a sombra dir igindo o derradeiro adeus aopr incipe e às cr iancinhas e o melodrama termina com

as seguintes palavras de D . Pedro :— Tao aus tero e dic il será, meu D eus ! o dever dos' A C T O S naum D O “KU " M P O — T O N 0 n

E lla com tr is tes , e piedosas vozes ,

Sabidas só da magoa, e saudade

D o seu pr íncipe, e G lho s que deixava

Que, mais que a prºpr ia mo r te, magoava

CXXV

P ar a o ceo crystall ine alevantandoC om lagr imas o s o lhos piedosos,O s o lhos, po rque as mi os lhe estava atando

U m dos dur o s minis tr o s r igorosos

E depo is nos meninos atten tando,

Que tão quer idos tinha, e tã o mimoso sC uia o rphandade como mãi temia

P ara o avô cruel ass im dizia

C X XVI

S e já nas br utas feras, cuja men teN atura fez cruel de nascimento ,E nas aves agr es tes , que sómen te

N as rapinas s er ias tem o inten to ,

C om pequenas cr ianças vio a gen te

T erem tão piedo so sen timen to,

C omo co'

a mãe de N ino já mo s tr ar am,

E co'

os irmão s, que R oma edifi caram

CXXV"

O h tu, que tens de humano o gesto , e o peito ,

(S e de humano e'

matar uma donzel laF raca e sem fo r ça, só po r ter sujeitoO co ração a quem soube venceI-a)A es tas cr iancinhas tem respeito ,

P o is o não tens amo r te escur a d'

el laM ova- te a piedade sua

,e minha,

P o is te não move a culpa que não tinha.

Que lagr imas são a agua, e o nome amo res

A Academia franceza declarou, em 1 8 1 7 , que adjodicar ia o premio da poes ia a quem apresentasse a melhorobra acerca da « Fel icidade que proporciona o estudo

nas differentes s ituações da V idª» .

V ictor H ugo teve, no co l legio, noticia deste concurso

l itterario, e disse para coms rgo que lhe era mister apre

sentar-se ne l le. N ão encontrava difâculdade em fazer os

versos ; o obs taculo estava em que alguem o dirigis e

ao templo da'

sabedo ria. Este obstacu lo havia de vencer

se. Contava com is so .

A ntes , porém, de revelar o seu propos ito, V ictor fez320 versos para o concurso da academia.

Entre el les se encontram os seguintes , que reproduzo

textualmente porque servirão de estímulo amocidade,

e porque são uma especie de s ingela confissão do amor

que o poeta dedicava ao estudo :

Quand Ia fr aiche ro sée,ao r eto ur de l ' auro r e

T remb le enco r -ur lc s ein du lys qui vient d'

éclo r e,"victor H ug o r acome, tom pag . 37; e 380

Quand les oiseaux joyeux cóléb ren t par leur s chantsMon Vir gile l la main, bocages ver ts et sombr es,

Que j'aime á m'

égarer sous vos paisib le s ombr esQue j

'

aime, en par couran t vos pais ib les détour s,A pleurer sur D ido n, á plaindr e s es amou r s

âme , tr anquil le et sans inquietude,S'

ouvre avec plus d'ivress e au charme de l

'

etnde ,

u . mon emur es t plus tendr e et sait mieux competir

A des que, peut être, il do it un jour sen ti r !

E tude, àmon espr it montre de vr ais heros

Qui ne dédaignen t pas d'

êt re ce que nous s ommes ,E t qui ne sont heros que parce qu

'

ils son t hommes

. Quel le main courageuse

D ir iger a ma nef sur la mer o r ageuse

E tude, tes leçon s y soutiendr ont mon cmur ;G râce àtoi

,des écueils ie so r tirai vainquer .

C'

est toi qui, des perver s me peignan t I'

âme ingrate,M e diras : « D an s les maux sache imiter S ocr ate ;Ver s aus te r e devo ir suis les pas de P laton ,

E t,s'

i l te faut mour r ir , mon fi ls , s onge àC ato nA ins i

,te r appr ochan t de la ver tu supr ême

,

T u te r endras heu r eux au sein du malheur même » .

L'

étude,me mon tr an t -Zenon et sa ver tu,

R endr a son énerg te àmon coeur abattu,

E t j'

o ser ai,tout fi er de suivr e un tel mode le

,

F létr ir du vice impur la g lo ir e cr im in el le .

Il me r es te mon coeur ; IIme res te l'

étude .

L'

étude,ah ce nom seul me devr ait con so ler .

Terminado o poema, V ictor for entregal-o ao In s tituto

em companhia de um moço profes sor , a quem afi na'

E ra po rque o discipu lo já nobi l itavaria anniquilava

Nessa época dizia, ou escrevia V ictor nos seus cadernos de apontamentos , que « havia de ser Cha teaubr iand

T al era a força de an imo e vontade que encontrava

em s i, e com a qual se ia preparando para a futu ra

luta.

N o mesmo anno 1 8 1 7 , o poeta escreveu Bug j arg al ,romance que os seus adversarios , quando foi impresso ,

qual ificaram como tr iste plagiato deWalter Scott , 0 cc

lebre novel l ista escocez.

Vejamos as crrcumstancras que antecederam a

'

com

pos ição do romance.

Reun ia-se um grupo de mancebos no principio de

cada mez para jantar em casa de pasto de segunda or

dem, popu lar . Esses mancebos apphcavam-se ao tiroci

n io l itterar io, mas com distincção . A'

frente del les via-se

o irmão mais velho do poeta, A bel , e depo is tambem o

proprio Victor H ugo .

N o princip io dos mezes , os es tudiosos mancebos apre

sentavam os seus trabalhos , e todos se divertiam com

as leituras , aconselhando-se mutua e fraternalmente.

U m dos convivas lembrou—se, em certa occas ião, de

propôr que se fizesse um l ivro no qual todos col laborassem. A proposta for approvada, e V ictor H ugo fixou em

quinze dias o praso para se escrever um romance.

1 4 2

O praso assustou os convivas . M as o poeta ins istiudeclarando que, se os seus companhei ros nao cumpria.

sem o ajuste. el le hav ia de ser pontual como sempre.

D ecorreram os quinze dias.F indos el las , V ictor Hugo appareceu aos seus amigos

com o Bug-j arg al .

Em 1 8 1 8 quiz entrar outra vez nos concursos da

A cademia francen , que dera para premio assumpto re

lativo a « ins t ituição do jurys . A Academia, que parecêra adver sa, com inalteravel pert inacia, em est imularos novos gen ios que poder iam offuscar a sua immortalgloria, daquel la vez nem sequer votou a menção do

trabalho de V ictor Hugo.

N ão indignado, nem desalentado, mas desejando al

cançar um premio em certame litterario, para desagg ra

var-se da injus tiça dos immortaes , o poeta voltous e paraa A cademia de Tolosa, e escreveu duas odes : as Vir

g ens de Ver dun e o R es taóeleer'

m nlo da um de

H en r ique rv, as quaes odes entraram no concurso dos

« Jogos H orses » .

A primei ra ode foi premiada com o amaranto de oi

ro, e a segunda com o l iz de oi ro.

l A A cademia de T o lo sa, fundada em t 3a3, e engn decida

po r L uiz xiv em iõgS, dis tr ibuía annualmen te, como premio

as poes ias , um amar an te , uma vio leta, um liz ou uma rosa de

o iro , e um gir aso l de prata. E po r isso der am as denomina

ções de « J og os”or d er n, ou « F es ta das flor es ., ao s concur sosl itterar ios que all i se ver ificavam 3 de maio .

ª Victor H ug o r et ome, t, pag . ata.

D eviam anniquilar-se os mo

o afas tar da casa do

tinha el le por um lado o

lho. O primeiro correria velozmente ;o segundo ar ros tar ia esperançoso . A separaç ão tornar ia

mais in t imo o amor .

Em 1 820 Victo r H ugo apresen tou- se novamen te no

concurs o de T o losa com a ode in t itulada M oysés em o

N i lo , e alcançou tercei ro premio .

O poeta t res vezes premiado t inha di re ito ao diplo

ma de socro daquel la A cademia, e Victor recebeu-o em

P ar is .

P o r es sa occas rão A bel H ugo fal lou a um impresso r ,

seu amigo , e es te lmpl'

lml l l a ode A'

Vender: , que o

poeta conclura quas r ao mesmo tempo que mandava a

outra ode para Tolosa.

F or depors fundado , en t re os dons i rmãos e alguns

amigos , o Con ser vado r t tem r io, per iod ico qumzenal,

e V ictor Hugo escreveu nel le ass iduamente propagandoideas real istas . O auctor das M emor ias citadas assegura

q ue isto foi devido a que os fi lhos do general , não

vendo quas i nunca, ou mui raramente, seu pae, seguiamo part ido de sua mãe. E a este respeito conta o seguintecaso

Estando o general Hugo em casa do general L ucotte,V ictor, no ardor da conversação, defendeu com energiae enthus iasmo o real ismo vendeano ; o pae não o interrompeu ; mas , quando el le terminou, disse

— « Laissons fai re le temps . L 'enfant est de l'opin ionde la mere, l ' homme sera de l

'opinion du peres .

Victor H ug o r aconte, tomo 11, pag . 3 .

u cr os nouans no meu T au r o — 1'

o sro

O apparecimento do G a do do Cb zlrtzon ismo come

çou a real isar a prophecia do general Hugo . O moço

poeta desviou-se um pouco das ideas de sua mãe para

seguir a inspi ração de Chateaubriand, que o fascinára.

T em dito alguns biographos , e entre el les M irecourt,que C hateaubr iand escrevera uma ph rase que se tomou

para logo celebre, e que fo1 ouv 1da em toda a parte.

N ão é inteiramente exacto . Verdade é que o in s igne

auctor dos M a r ty r es profer iu a palav ra, mas são diver

sas as C i rcumstancias em que se d iffund1u.

Quando mataram o duque de Ber ry V icto r H ugo

O duque f0 1 as sas s rnado a 1 3 de fever ei r o 1820 quando

saia da O per a . 0 agg r es so r L ouvel dizem que desejava ex

t inguir n el le a r aça do s Bour bon s . Vacquer ie, n as M r'

ettes

de l'

his toir e,n o ta a par ticu lar idade não conhecida de que o

duque veiu a mo r r er na mesma cama em que descançár a

cm C herbu rgo ao vo l tar do des ter ro , pelo an no 18 14 A cama

er a do s r . G r ands 1r e , que sendo empr egado na adm 1n 1s tr açâ0

da O per a, t r ouxe—a de C her burgo par a P ar is .

1 48

Es ta apreciação espontanea devia, de certo, an imaro que passava no estudo as melhores horas da vida.

Cultivadas e estreitadas as relações com o auctor dos

M a r tyr“ , Victór Hugo foi carnprimenta- lo quando o

governo o nomeou para a embaiirada de Berl in. C ha.

teaubriand declarou que não se separar am, porque lhe

t inha obtido o logar de addido legaçãoi Victor H i igoagradeceu dizendo que não podia deixar sua mãe, e o

mestre expressou que sentia isso deveras , porque o fa

cto ser ia hon r oso par a ambos .

Idem , pag . 1 2 .

IX

A 27 de junho 1 82 1 o bravo general Hugo perdeu

sua mulher . V ictor fug iu do conforto de alguns bonsamigos , porque dmejava chorar só a perda de uma ao

licita e ext remosa mãe. O len itivo á sua dor intimaprevia-o unicamente no restabelecimento de estreitasrelações com a fami l ia do sr . Foucher. Estava al l i umaparte da alma, — outra saudade — verdadei ro e ardente

amor .

Tentou—o .

A s lagr imas que a men ina Adel ia e o moço V ictorHugo derramaram juntos , pela morte daquel la que não

podia já abençoa—los , foram presagio dos futuros espon

saes . O s paes não deviam, nem quer iam oppO r—se. D ei

xaram al imentar o fogo , que porventura fortalecer ia os

do is mocinhos , mas que por fôrma alguma lhes causar iadamno.

Singular cora em lhe infundia no an imo !Serenava a uta do coraç ão. Que grande triumpho !

E con tinuava com energia maior outra luta não menos

grata : a do trabalho. Que immensa glor ia !P or vontade do general Hugo nenhum de seus fi lhos

a a profisâ o das lett ras . V icto r não seguiu nun

tal ponto, os conselhos do general . D eixassemo no

só com os proprios recursos, que n inguem pade

Ie.

' V ictor , comtudo , podia bem contar com os pr o

mm ,— tinha mui to que esperar del les .

A s pequenas contrariedades não lhe tornavam menos

r osa a von tade, e davam- lhe mais fé nos propos itosselados . E screveu -nume rosos versos e principidu o

s de Is landia . E por que se tornou esta obra tão grand iosa e produziu tamanha sensação nos leitores ? Porque'V ictor Hugo emprehendia nova especie de romance em

roveito da lítteratura franceza ; e porque o auctor, vis ilndo R oche-G uyon, onde então res idia um companheiro

e co l legio, o duque de Rohan , viu as ruínas de T ou r

de G uy , e as ext rao rdinar ias impres sões locaes passaram

para o ext raord inario l iv ro .

H an de Is landia — « era 0 pr ime1ro gn to'

de re'

vo lta

da nova agu ia, o s ignal da luta de g igan te em que

V icto r H ugo en trava sem hes itar contra as antigas t ra

dições l itterar las , luta do futuro cont ra o passado , de

um homem con tra um seculo . »

E ntrára o anno 1 82 2 . O mitt 1re1 , por um i ns tante, 0

lapso de treze annos . U ma anecdota mos trar-nos—ha o

que, e para que, vale a celeb r idade. Em 1 8 3 ; Victo r

H ugo , viajando por F rança, quiz V 15 1tar novamente a

ant1ga propr iedade do duque de R ohan . A que l las ruinas ,

que deram tão exce l lentes pag inas ao H an de Is la nd/a ,

não podiam esquecer—lhe . A propr iedade de R oche

co lher entre as out ras almas uma companheira, a fim

de participar com el la a desg raça na vida e a ventura

na etern idade. Quando duas almas . ass im se procu

ram . ha para sempre ent re el las uma un ião ardente

e pura, un ião que pn ncipra na terra e só termina no

CC O .

. O amo r , na sua accepç ão verdadeira e divina,

eleva todos os sent 1mentos acima da miseravel esphera

humana; o amo r l iga-nos a um anjo que nos dirige ih

cessantemente para o ceo» .

Noutra carta dizia—lhe:

. A poes ia e a expressão da v i rtude. U ma bel la

Victor H ug o r acon l e'

,tºmº P ªg

alma e um bom talento poetico são quas i sempre inseparaveis . A poes ia 56 nasce da alma, e pode revelar

se tanto por uma boa acção como por um excel lente

verso .

N outra, confessava-lhe

. Se, para apressar a epoca da minha felicidade,nada fizer que me contrar ie o caracter , darei val iosotestimunho a meu favor . E ' cruel a pos ição do moçoindependente por affeições , pr incipios e desejos , e dependente por adade e r iquezas . Figuram-se—me boastodas as estradas , com tanto que possa caminhar porel las d i reito e seguro, sem me rojar nem curvar a

fronte» .

A s M emor ias observam

» A u mil ieu de tous ces ennuis et de tous ces empe

chements , de ces espérances et de ces incertitudes , unechose en lui ne variait pas : c'etait la vonfé bien arrêtée,

de n'ar river que par des moyens dignes et qui ne coo

tassent rien àsa conscience» .

V ictor Hugo antevia já breviss imo o cume da fel icidade.

U m l ivreiro tinha acabado de impr imi r a pr imeiraedição das O des e poesías dw er sas , e já outro contra

tava a impressão do H an de Is landia .

Recebendo a approvação muito s incera de Lamennais , seu confessor , V ictor Hugo, no começo do anno

1 823 , desposou-se com a men ina Adel ia.

L amennais julgou ass im des te consorcro

Idem, pag. 36.

«Casa-se com uma men ina a quem ama desde a in

r ia, e que é digna de l le, como V ictor Hugo digno

O s no ivos foram habitar uma pequena casa da rua

de Notre- D ame des Champs , cercada de melancol icoarvoredo, « verdadei ro n inho de poeta e de amantes »

1 56

— cun jeune homme, grand, à la tournure nob le et ca

valieres — e por modo que « s'était nouée entre les deux

poêtes une amitiê que l'absence même ne relã chait

pas » .

O s grandes tr i omphas sempre consegui ram excitar

as cr it icas invejosas ; os adversarios do poeta, que nem

eram poucos . nem pouco importantes , apertavam as fi leiras . e tornavam—se cada vez mais perigosos e aggress i

vos . Chamavam óar óa r o a V ictor Hugo quando o accusavam de imitar servilmente a Byron . e de ser rapsod ista

deWalter Scott .

Para oppô r—se a ataques tão injus tos quão vio lentos ,

o poeta não hes itou : à frente da pleiade de mancebosenthus iastas que o elegem para chefe, resolveu dar batalha“

aos poderosos adversar ios . O prefacio de C r omw ele

foi uma verdadei ra proclamação revolucionar ia , nova arte

poetica fundada sobre as ruínas da antiga — fo i como a

profissão de fé da nova esco la .

« Tudo o que está em a natureza es tá na arte» , disse.

« O drama resul ta da combinaç ão do s ubl ime e do ridiculo ; o drama a expressão da epoca moderna» .

A os dezenove annos tentára V ictor Hugo escrever

uma peça com Soumet . Tendo—se es te declarado con

tempo e nenhum homem de lettras se recus ava a cons idera—la

pelo seu valo r e até como excel len te educado ra e mor al is ta.

F oi companheir a de outra poetisa il lus tr e, D elphina G ay, quedepois casou com o celebr e jor nalista Emílio de G ir ardin .

Victor H ug o r aconl é, tom. 1 , pag . 104 .

ª A lexandr e S oumet , poe ta de al to re levo , como provou ,entre outras obras, nos poemas J eanne d

'

A r c e la D ivine E po

m rb iWà n geám z -m a cm àa. ae.

-enã o

o m m fa o A —rWM hs on—o n oi

m ún ln s ido ap esmu áa por P auio F oud rer . ;u ém

Victor H ugo ácch mu nos tomaes que as ps sagens re

jeitadas pe la pu xe: eram àeiie, e is to levou a reso lução

O d'

um. A eon—m m os amigos e quizeram sus tentar

a peca. A s demonst rações contrárias dupl icaram, e iam

tomando car acter mais seno. O govern o pr oh ibxu o

drama.

« A V ictor H ugo. mais que a out ro Quaiquer . pe rtence.

diz B& uval let , a giona de ter aita e francamente pro

clamado a liberdade da arte, e emancipado a lrtteratura

franceza das r idicu las cadeias clam ens que eston'

avam

o seu desenvolvimento . « N ão será o chefe da g rande

escola de 1 8 30 o mais vigo roso e o ma.or t ribuno do

89 l itterar io

U m dos maiores tn bunos' E '

. A inda hoje, passadosjá quas i oitenta annos , V ictor H ugo, com o radioso cla

rão do seu gen io, proclamará bem alto ao mundo inteiro ,

que o lê e admira, a or igem dessa lítteratura em gran

diosa epopea.

pee, tão celebr ado s no seu tempo ; pac de uma poetisa de va

lo r , que em verdes anno s, teve que al terar o appel l ido po r

seu conso r cio com D alenheim .

ou saudada ; importam—lhe pouco as an imos idades'

e os

furores ! Ella a deducção logica do grande facto chawtico L e -genes íaco , que os nossos paes viram, e que deu

novo ponto de partida ao mundo. Quem é contra este

facto, é contra el la ; quem é por este facto, é por el la.

O que este facto em s i vale, vale-o tambem a l itteratura» .

regio junto ao theatro o barão Taylo r . A censura dra

matica votou , porêm, contra a represen tação , e o go

verno susten tou o parecer, por causa do papel que re

presentavaªL uiz xm. O min is tro M artignac chegou a

d izer ao propr io auctor que em Luiz xm quizera tigurar

C ar los x.

V ictor Hugo dirigiu—se ao rei para se Justificar . A con

ferencia com sua magestade encontra-se refer ida em bel

l iss imos versos nos R aios e S ombr as .

A h ! s ir e, tout est gr ave en ce s iecle ou tout penche

L'

ar t t ranquil le et puisaant veut une al lur e franche.

L ee r o is mo r ts sont sa pr o ie, il faut la lui lais serIl n

'

es t pas ennemi, pourquo i le cour r oucer

E t le livrer dans l 'ombre àdes to r tionnaires,L ui dont la main armée eat pleine de tonner r esCar los x não podia deixar de respeitar a memor ia de

seu antecessor . M anteve a prohibrção da censura, e de

term inou que o auctor da M a r ian de L an n e fosse inde

mn isado . V ictor H ugo t in ha o pr imei ro g rau da Leg iãode H on ra e dons mi l francos de pensão paga pelo es tado .

O governo entendeu que dev ra elevar- lhe a pensão a

seis m i l francos . O poeta julgou que lhe cumpr ia recu

sar , e ass im o participou ao m in is tro do inter io r , Bour

donnaye.

1 O maio r empenho do barão T aylo r , ao tomar con ta da

ger encia super io r do T heat r o F r ancez, fo i conci l iar o s l i t te

r ato s amigo s e adver sar io s de Victo r H ugo par a evi tar scenas

desagr adaveis que co n s ider ava con tr ar ias ao s pr c P r io s i n te

r es ses das lettr as francezas .

O M da B M , além de outros per iodicos ,

feriu o facto d'a te modo

« La conduite de mr . V ictor Hugo n'étonnera nul leo

mu l t m x qui le connaissent ; mais il es t bon que le

po l i r: a che les nouveaux dro its que le jeune

V ictor Hugo escrevera M ar ion de L an ne para o ba

rão Taylor . P rometteu—lhe, portanto, outro drama, e

compoz H er nan i . A pesar da oppos ição de Cas imiro D elavngne, 0 val ido aucto r do M a r ino F a/ier a , e , para

as s nm d izer , pos sundor da casa de M ohére ; e não obs

tan te a opi n ião da commissão de leitu ra e das s usce

pt ib i l idades da cens ura, o drama roman t ico fo r receb ido .

P o r occas não dos ensa ios occor reram com a celebre

act r iz M ars algumas contendas , que se acham mencio

nadas em todas as b iograph ias e nas propr ias M emo

r ia s .

A dis t incta actr iz, no o rgu lho da s ua expenencna, dos

applausos geraes que receb ia e da sua fama,e tanto re

jub i lam os art is tas , quer ia obr igar Victo r H ugo a emen

dar os versos como el la os en tend ia .

A senho ra ha de te r a bondade de ler os versos

como eu os escrevn,- d121a o aucto r .

— O pub l ico pateará,— acudla M ars .

cr iança pela edade e já homem pelo talento» . N as suas

Maquet, Ber lioz e out ros .

E ' digno '

de menção mais este facto. Para assistir àpr imeira “

representação

portantes se sijtigiram

encontramos cartas de Benjamin Constant, Th iers , L i'

zir'

rka de'

M irbel'

e Merimee. Benjamin Constant, porêltemplo, fal lando tambem em

nome de sua mu lher ,dizia s

— « nous aur ions comme toute la France un vif

dés i r de vo i r H er nan i » .

Chateaubr iand, no dia seguinte ao da representação,

escrevra ao auctor

. J e m'

en vais , mons ieur , et vous venez. J e me

recommande au souven ir de votre muse. U ne pieusegloiiedoit pr ier pour les morts» .

H er nan i teve, na primeira ser ie, quarenta e oito re

presentações consecutivas , padecendo cons tan temente

aggressões mais ou menos apaixonadas , porém muitavez injus t is s imas , de quas i toda a imprensa periodica,

e ao mesmo tempo causando enthusnasmo s incero e

frenet lco .

1 Victor H ug o r aconte'

, tom . rr, pag . 30 4 a 3 08 .

º Victor H ug o r aconte'

, tom . rr, pag . 3 20 .

O general Hugo fal leceu a 28 de janei ro 1 82 3 . F ul

minára-o uma apoplex ia.

T inha passado a segundas nupcias e es tava reconci

l iado com seus fi lhos , de quem por annos se v ira intei

ramente afastado .

Em 1 8 30 , V ictor H ugo foi habitar a casa com o n .

'

6 na praça Real . Nes ta casa, mobilada com luxo art istico, recebia os numerosos amigos e os partidar ios mais

dedicados . A s fi le i ras iam sempre em augmento. PauloM aur ice e A ugusto Vacquer ie eram dos pr imeiros . D el

les recebeu inalteravelmente provas de S ingular affecto,leal amizade e respeitosa veneração . O s novos talentosque v inham agrupar

- se em vo lta do mes tre, como A l

fredo de M usset , F el ix Pyat , J ul io S andeau, Leon G ozlan e outros , não deixavam egualmen te de revelar- lhesympathia cons tante e desmteressada es tima.

V ictor H ugo tor nava-se pensador profundo .

« O enthusnasmo real is ta do mancebo , diz Beauval let,

desapparecia pouco a pouco, e dava logar a profundaadmi ração para com o imperador, e a grande amor da

l iberdade» .

veis , depara-se—lhes ah i

real ista por educação,

lheando o M om'

teur , e

tes do seu tempo . N ão

s imilhante histor ia no

Acaso não estará el le propriamente

nome de M ar ius

não comprehendendo a necess idade de reoonci liar o seu

reinado com as ideas democraticas e guiando—se de cer to

por mais adulativas que uteis suggestoes , construiu o

edificio do propr io desterro e se encaminhou para a to

tal ruina.

Pobre soberano ! A camara, cujas regal ias pretend iacercear , votou 0 seu ex i l io ;e a imprensa, cujo poder queria destrui r , fulminou—o !

V ictor Hugo ia seguindo o movimento revolucionar io.

A rr_astavam-no para essa corrente impetuosa a mocidade

e o talento. N ão podia evita- la.

« A s grandes commoções produzidas pelos successos

eccoavam profundamente nas intel l igencias ,— dtzem as

M emor ias .

ª— V ictor Hugo, que fizera uma revo lução notheatro e nel le erguêra barr icadas , emprehendeu que osprogressos tem,

relação entre s i, e que, para não ser in

consequente, devia acceitar na po l itica 0 que quer ia na

lítteratura» .

P assado o dia 6 de agos to de 1 8 30 , não havia du

vida na representação da M a r ion de L or me. O s m in is

tros do rei Luiz F il ippe não ter iam as susceptib il idadesdos min is tros de Car los X . O director do theatro da

Porta de Saint-M artin , C rosmer , disputou es te drama á

pr incrpal en levo de envo l ta com out ras diver sões que não o

deixavam pensar demas iado ,e ser iamen te

,na S i tuação da

F r ança, fiando-se em conselhe ir o s amb icio so s que o at r aiçoa

vam e deixando—se levar po r ideas r eaccionar ias que o per

der am . M o r r eu no exi lio .

Victor H ug o r aconl e'

,tomo n

, pag . 340 .

Comed ia F ranceza, e arrebatou-o da casa do auctor como

thesouro inapreciavel .

M ar im: da L an ne foi representada com ex ito fel iz,embora estivessem na platón antigos adversarios do au

ctor que desejavam patea- la . O papel de M ar ion encon

trou a desempenha- lo uma actriz de inexcedível correcção, que arrebatou os espectadores . E ra a celebradaactr iz D orval .

« M ar ion , escreve Beauval let, entregue aos desvar iosdo lupanar antes de se tornar sub l ime pelo amor , im

pres s ionou s ingelamente a geração de 1 830 . Confessamos , que não podemos lêr nunca sem commoção pro

funda esta o bra magnifica. M ar ian de L an ne tem s idocopiada, imitada e tambem mais de vinte vezes rou

bada pelos nossos dramaturgos modernos . A s « D amas

das Camel ias » estão porém já velhas e esquecidas e

M ar ion , sua pr imogenita, es tá sempre nova, nova como

a poes ia e como o amor , isto é, eterna.»

V ictor Hugo não tinha já occas ião para descançar .

O s directores do theatro e os editores as saltavam-no a

todas as horas e exigiam—lhe, quando menos , um titu lopara o cartaz ou para o catalogo .

D este modo figuravam nos catalogos de diversas hvrar las , t l t Ll lO S de ob ras do poeta que e l le n ão chegou a

escrever , ou ,antes , de producções que não não fez j á

mais tenção de compor'

- U m vo lume de poes ias , s r . Victor H ugoi—pe

diam- lhe .

N ão pos so dar- lho ,

— respondia.

— E screva-me um drama, um romance ,— msns tnpm.

N ão tenho tempo,— rephcava poeta, demons t : an

do-se incommodado, affl icto .

D ê-me, pelo amo r a D eus ! um t i tulo ,s eq uer , p

ªraque o seu i l lus tre nome figu re nos meus cata logos

supphcavam.

BPM ,.Em. Quanto ª F rançª admi ravaa

constiucção de Par is na idade média ecom Esmera lda e C laudio Frol lo, V ictor Hugo escrevia

para o 'T heatro Francez o

dioso que o governo prohibi

sob pretexto de ,que a peça

se continha a apo logia do regicidio . A pesar disso, o editor do R oi s

'

amuse vendeu em mui pequeno lapso detempo nada menos de exemplares .

V ictor Hugo, para se convencer da justiça da prob ibição oflicial , perguntou ao tribunal do Commercio se ogoverno podia censurar e proh ibir e o tr ibunal respondeu affirmativamente.

” O dilon Bar rot encarregou-se da

defesa do poeta, o qual tambem, por conselho de tãoi l lustre causídico,

ª foi pessoalmente defender-se. O dis

T ambem em P o r tugal appar eceu n o theatro de S . C ar

lo s, po r 1 850

, quem tr ouxes se a r uido sa man ifes tação de

seu en thus iasmo pela ob r a de Victo r H ugo N es se anno , po r

accô rdo com u co r eogr apho do mesmo theat r o , L ibonati, fo i

po s ta em scena e r epr esen tada E smer a lda, drama em 5 acto s,

que o a r t is ta, aucto r , declar ou na mt r oducção que a ext r ahir a

do r om ance citado , já muito bem r eceb ida na G r ande O per a,

de P ar is . A mus ica fo r do mes t r e P ugn i; as scenas pin tadas

po r C mat ti e R ambo rs ; e ves tuar i o segundo o s desenho s de

Bo rdal lo P inheir o,S en io r , ar t is ta e funccionar ío pub l ico es

timado,e que en tão vivia na m e lho r r oda dos homen s de

lettr as e ar tis tas daquel la época. R aphael , seu fi lho . que de

po is tão b r ilhan te fi gur a havia de fazer no mundo ar t ís tico ,

em P o r tugal . apenas con tava quat r o anno s de edade .

Victor H ug o r oconrc'

, tomo n . pag 3843 O di lo n Bar r o t fo i uma figur a b r i lha t t s s imn do seu tempo

curso en levou por tal modo M ontalembert, que este

disse que V ictor Hugo era— « orador tão distincto como

esclarecido escriptor» .

N os fins de 1 8 32 as folhas ministeriaes denunciaram.

para lisongear o governo em seu acto arbitrario contra

o R oi s'

amuse, que o poeta ainda estava recebendo a

pensão que lhe fôra conced ida pelo min istro do reino.

D eve notar-se que a pensão se l imitara aos dois milfrancos , porque, depois da revo lução de julho, acabarao augmento de mil francos determinado pelo rei C ar

los X .

V ictor Hugo endereçou logo uma carta ao min istroA gout, que geria a pasta do reino, na qual , refer indolhe em quaes circumstancias lhe fºra concedida a pen

são, lhe demonstrava os motivos que tivera para se ne

gar ao novo augmento de seis mil francos quando prohibiram as recitas da M ar ion de L an ne, accrescentan

do que, entendendo o governo que as pensões l ittera

nas pr imeir as fi leir as do par tido liber al , e advogado de fama,

tornando- se no tavel na sua pr opaganda de idéas democrati

cas, subindo às mais e levadas funcções desde a quéda de

C ar lo s até o r esurgimen to do imper io com o pequeno N a

po leão .

E s tas palavras pr ofer idas po r um adver sar io intr an s i

gente do egr egio poeta eram de gr ande valo r . M ontalember tfô r a um arden te defensor dos jesuítas e repugnan m

-lhe os

pr incipio s democraticos que Victo r H ugo pr oclamava. M ui

tas vezes os combateu com energia nas fo lhas r eaccionar ias

em que co l labo r ava.

ri eram del le e não da patr ia, 0

va san

important en soi, est àmes yeux une raisonpour que ma réclamation contre l 'acte arbitraire qui a supprimé le R oi s

'

amuse con

serve plus que jamais son caractere de di

gn ité, de réserve et de moderation» .

O min istro d' A gout respondeu

que la pens ion était une dette du

pays , et qu'el le serait conservée a M . V ictorH ugo ma lgré sa lettre» .

ª

O poeta não recebeu , dal i em deante, sequer mais

um real do governo .

L amar t ine fr uia egual pen são , que fô r a tambem conce

dida em 1 823 po r L uiz XVIII como r ecompen sa devida pelan ação ao mer ito

º Victor H ug o r aconte'

,tomo 1 1

, pag . 38

3 l dem, pag .

d ifferenciação de ideaes , para que el le, o grande escr i

rante essa manifes tação, no inicio das primícias de um

talento superior, como era o que alvorecia com tama

nho fulgor na primei ra decada do secu lo XIX !

?F oi num dos momen tos de s incero enthusiasmo que

C hateaubr iand soltou a phrase, que se tornou celebre,refer indo-se a V ictor Hugo :

— E'uma creança sub l ime !

E era, com verdade.

M as , juntamente com essa figura de tão elevada es

tatura, outras appareciam a formar como que uma Cô rte

ao novel poeta e na qual el le concor r ia tendo já con

quistado viridentes palmas ! A hi vemos , entre outros ,

A lfredo de V igny , poeta que se evidenciava pela del icadeza e pelo perfume de suas compos ições ; Beranger ,

o poeta do povo , de certo o mais popular de todos , que

seduzia pela s ua modest ia, pela sua sumphcndade e peloseu pat r iot ismo , com o q ual todos es tavam bem, nas

s uas est reias e nas s uas ascensões , porque não tinha

inveja, po rque lhe aprazia a obscur idade e amava a m

dependencia sem serv i l ismo, hon rando a sua dign idade

pessoal .

C reio que não haver ia uma só pes soa , pat r iota de

coraç ão , que não t ives se decorado e entoado algumas

des sas admi raveis , commoventes e v rbran tes canções de

Beranger e não admi rasse o desprendimento des se

grande C idadão !

L á iremos encont rar Victo r H ugo, na A l m a f r a n ceza ,

o nde uns eram consagrados e onde outros eram al tra

hidos e por uma pleiada que fazia resplandecer estrellas já de intenso br i lho.

Lá estavam, na mesma esteira, l impida e radiante,dentro ou fóra daquel le meio, porém seguindo em rasto

luminoso, outros poetas de não menor valor, nas lutasem que se empenhára V ictor Hugo na sua or ientação,como Theoph i lo G aut ier, Saint—Beuve, Emi l io D es

champs e Cas imiro D elavigne, cooperadores de Scribe;D umas pae, que entrára nas contendas litterarias de 1 829

e ia fazer uma revolução no theat ro como V ictor Hugona poes ia.

N essa côrte, formada de moços ardendo em legítimas

ambições e trabalhando num renascimento das lettras edas ar tes , não fal tavam os ar tistas e dava-se o pr imei rologar a D elacro ix, então uma da maiores glor ias da artena F rança.

Podia-se avançar desse modo . A subida era faci l . N ocimo dessas forças de mocidade e de vigor , como em

fogaréo que il luminasse aquel le grande paiz, centro dacivil isação, ver—se-hiam, forçosamente, todos os sympto

mas , todos os lumes , todos os sonhos inebr iantes dag lor ificação preciosa para o egregio poeta !

F A CT O ! BO I N N S D O I I U " I P O'

I'

O I O l l

XV l l l

L ucr ecia Borg ia , drama a que pr imeiro deu o t itu lode Ceia em F er r ar a, appareceu se is semanas depoisna Por ta-Saint—Martin, e teve brilhantiss imo ex ito. « F oi

a victoria decis iva da esco la romant ica. O s cr iticos maishostis foram obrigados a calar—se» .

Em quanto a leem /a de P a r is pub l icava C laudioG uerra: , o publ ico recebia com enthus iasmo duas novas

e egualmente val iosas col lecções de poes ias : as F olha s

do O utono , e os Ca rl la: do

« N 'estes dois admiraveis l lV l

'

O S , diz Beauval let, en

contram- se, em confrontação com as mais sublimes ins

pirações , paginas povoadas de raro sent imento e encan

tadora graça. P or todas el las a ode ao lado da e leg ia,

a saty ra pungente ao lado da ingenua canção . A borbo

leta nada tinha que perder com a vismhança da aguia,

e o genio do poeta era sobejamente vas to para conter

todos os generos de bel leza» .

N as Vozes Iníimas e nos R a ios e S om/nas , duas

Vendo o ex ito de M ar im de L am e e de L ucr ecia

Bergse, Hare! offereceu a V ictor Hugo um premio dedez mil francos por um novo drama. M ar zo T udor eh

trou brevemente em ensaios .

M as uma discussão entre duas actrizes revo lucionou0 theatro da P orta-Sant- M artin . G eorges era, na ve r

dade, o un ica e ver dadei r o di r ecior . incl inavam- se todos

perante a vontade da grande tragica. V ictor H ugo, que

na sua estreia não quizera ceder uma palav ra a M ars ,

não podia, ao cabo de success ivos tr iumphos , curvar—s e

aos capr ichos de G eorges .

- A sua peça cai rá, dis se H arel .— S e o senhor a fizer cair , repl icou V ictor Hugo .

Entenda-o como quizer .

— Pois eu, tor nou o poeta fr iamente, farei cair o seu

theatro.

N ão obstante as intrigas da direcção, M a r ia T udo :

fo i applaudido. V ictor H ugo, porém, não quiz nunca

perdoar a Harel nem a G eorges as contrar iedades em

q ue o t inham col locado. Jurou que não trabalhar iamais para a Porta-Saint—M art in , e cumpr iu a sua pa

lavra.

Harel baldadamente implorou A ng elo. Elste dramarepresentou

—se no Theatro Francez. D uval foi escripturada para o papel de Cathar ina juntamente com M ars ,

q ue desempenhava o pr imeiro papel. O apparecimento

das duas notaveis artistas , cujo talento era quas i igual ,produziu indescriptivel enthus iasmo, e deu extraordina

r io relevo à peça.

O director Hare! caminhou tr iste e rapidamente paraa total perda. D ois mezes depo is da divergencia com

V ictor Hugo, 0 theatro da Porta-Saint—Mart in foi declarado em estado de quebra. Sempre é mau os empresa

r ios ou di rectores dos theatros offenderem os auctores ,

quando el les já se tem elevado à altura prodigiosa doegreg io poeta.

Em 1 835 Victor Hugo encontrou na fami l ia Bert in ,em Bievre, uma novel e genti l cantora, a men ina LuizaBertin , àqual dedicou muitas de suas poes ias . Para el laescreveu tambem especialmente o l ibreto da E smer a lda ,

que negára a M eyerbeer .Em 1 8 37 o rei Luiz F il ippe confer iu a V ictor H ugo

0 grau de official da Legião de H on ra, e os duques de

O r leans enviaram—lhe um quadro da Ig nez de Cas i r a,

pintado por Saint—E ' vre. N a extremidade super ior da

moldura havia a seguinte inscr ipção : « O duque e a

duques a de O r leans ao s r . Victor M eg a, 2 7 de fmz/zo

ª

O poeta julgava descançar das fadigas do theatro .

C omo se ver á adian te,o poeta l igava impo r tancia ao

br inde e ao quadr o , que o acompanhou par a o ex i l io e lá

figurava em uma das s alas de H autevil le-house. T inha s in

cer a afl'

eicão a famil ia O r lean s .

3 84

ao theat ro sensações ; a mulher , oommoções ; o pensa

dor , meditações ; e todos prazer : mas os primeiros , »

prazer —dos o lhos ; os . segundos , o prazer do ooraçn r e

os ultimos , o prazer do espir ito. Em o noss o theatre ,

pois, ha tres especies de obras distinctas : uma vu lgare infer ior , e as duas nobres e superiores ; mas todas

tres sat is fazem uma necess idade : o melodramap aw a

multidão ; para as mulheres a tragedia que analysa a

paixão ; para os pensadores a comedia que descreve ahuman idade » .

A s pr imei ras represen tações do R uy Bm foram tu

multuosas . Viu—se nel le um novo desafio lançado a

escola class ica. Nunca se permittira, desde S hakes

peare, introduzir no drama ser io tão vas ta parte do

comico. N o R uy B r az encontraram os academicos es

pantosas e inadmiss íveis ousadias .

U ne duégoe, ho r r ib le cs rnpagnormeD on t le menton fleur it et dont le ne: tr ognonne

O s cr iticos invejosos e os poetas da escola do ón

senr o, que entreapparecia já, pateavam en raivecidac

mente as passagens ma is extraordinar ias .

Saint-Firmin era medíocre no papel de D . Cesar deBasan — este papel que o proprio Lemaitre las timava.

D esan imado pelas consecutivas paseadas , o actor tremiadiante do publico . N a tercei ra noite de representação ,

'KriiWas, ed. L auren t, 1838, pag. S a 7.

S aint-Firmin observou do panno de que havia enchente real , e pediu a V ictor Hugo que el iminasse os

versos que produziam mau effeito. O poeta quiz observar tambem. N a platéa. a mult idão agitada por mil paixões diversas , mostrava anciedade. E ra certo mais um

t r iumpho. Victor Hugo, encarando serenamente o timidoactor , disse—lhe :

Nada receie. D iga tudo , s r . Fi rmin .

R uy B r az venceu todas as oppos ições organisadas ,

como triumphára l l em aw'

, M a r ia T udar e L ucr ecia

F reder ico-Lemaitre desempenhou admiravelmente o

seu diflicil papel ; V ictor Hugo , no fim da nota que

acompanha as edições de R uy B r az , diz

« Freder ick realisa para nós o ideal do grande actor .

Para Freder ick—Lemaitre a no ite de 8 de novembro 1 8 38

não foi uma representação, mas uma transfiguração» .

Pouco tempo depois da pr imeira representação do R uyB r az , a 1 3 de maio 1 8 39 , V ictor Hugo soube no thea

tro da O pera que a revo lta, cujos chefes eram Barbése Blanqui, t inha s ido repr imida ; que o segundo se re

fugiára em casa de um amigo ; e o primei ro, capturadoimmediatamente, es tava sendo Ju lgado na camara dos

pares . F al lando depois a um par de F rança, es te asse

guron—lhe que Barbés fô ra condemnado e ser ia execu

tado no dia seguinte, porque o ex igiam os minis tros .

V ictor H ugo pensou logo em que era neces sar io salvarBarbés , e mesmo no theatro escreveu ao rei estes vers os

P ar vo tr e ange envo lée ains i qu'

unc co lombo !

P ar ce r oyal en fan t, doux et frêle r o scau

G râce enco r e une fo is ! gr âce au nom de la tombe !

G râce au no rn du berceau !

1 Quando vi r efer ido es te facto r eco rdei me de outr o , não

menos nobr e, genero so e g randemen te human itar io, que tam

seguida'ao paço, e conseguiu que se entren estes

versos ao rei. . A effeituou

no dia iseguinte. Luiz Fi l ippeperdoou, apesar da

par ias . o rphãos de or phâos talvez de mãe .

co'

o b r io murcho em a fé e a esp'

rança

ar rancar apiedade o pão de po r ta em po r ta .

em seu campinho ago r a, alegres co l ibr is,

vo lver ão a en toar , po r vós, que o s r edimis

,

gr aças , benção s , na aur o r a ! ao meio dia ! àtar de

« F el iz o velho ! e vós . mil vezes mais fel iz ! .O O utono

, pag. 33 a 42 .

O ve lho fo i perdoado .

E os po r tuguezes r es iden tes em P o r to A legre, capital doE stado do R io G r ande do S ul (Br as il ) , o li

'

er taram, po r es te

facto, uma penna de our o ao poeta, que e l le pr ezava e guar

dava como ines timavel e pr ecio sa dadiva .

E'

não só bom,mas util iss imo

,avivar exemplo s taes, par a

que não os des lembre as ger ações que pas sam .

X X II

V ictor Hugo entrou na A cademia franceza aos 3 de

junho de 1 84 1 . Isto custou-lhe quatro apresentações .

O s immortaes oppuzeram à entrada do grande poeta,

no lapso de quatro annos , a má vontade al imentadapela inveja e pelos estorvos proprios de intel ligencias

mesquinhas .

A s M emor ias referem ass im esta luta

Apresentou-se em 1 8 36 : a A cademia prefer iu

lhe o s r . D upaty . Apresentou-se por segunda vez em

1 839 : a Academia preferiu- lhe o s r. M oulé . A presentou-se terceira vez em 1 840 : a A cademia prefer iu- lhe o

s r . F lourens . Em 1 84 1 , bateu por quarta vez às portasda A cademia, que por tim se lhe

Todos aquel les homens ser iam porventura i l lustresem lettras e seleucia, e ter iam jus aos suffragios da A ca

1 Victor H ug o r aconl e'

,1 . 1 1

, pag. 483 .

Xx l l l

V ictor Hugo ia recomeçar as suas viagens para dis

trahir—se e descançar das lutas dramat ics s , quando terr ivel desgraça veiu di lacerar—lhe o coração . E ra em 1 84 3 .

S ua fi lha pr imogenita, Leopoldina, casara com C arlos Vacquerie. « O s dois jovens , conta Beauval let, unidos havia mezes apenas por um amor profundo e ar

dente, iam juntos , l ivres , fel izes , cheios de a legr ia e con

fiança, com as almas dispostas para os jub ilos e para

os sonhos do futuro, quando um tufão violento fez sos

sob rar a sua embarcação no meio da bahia do H avre.

Car los Vacquene, depois de empregar baldadamente

sobre—humano esforço para salvar sua joven mu lher, deixou—se mor rer com el la, dando-lhe o der radeiro ab raço» .

Leopoldina H ugo Vacquene contava 1 9 annos ape

nas !

Irmão de A ugus to Vacquer ie, apr eciavel aucto r de M ie:

res d'

his toir e, P r ofils et g r imaces , T r ag a ldabas , e outr as

obr as egualmen te apr eciaveis .

T odos leram estas melancolicas e dolorosas estrophesq ue o poeta dir igiu ao infortunado esposo da sua quer id iss ima

O h ! quel le sombr e joie, àcet êtr e charmant,D e se vo ir embrassée au supr ême moment

P ar ton doux désespoir fidele l

L a pauvre âme a sour i dans l'

ango isse, en sen tant

A traver s l'

eau s inis tre et l'

effroyable ins tan t,

Que tu t'en venais avec el le.

L eur s âmes se par lairent sous les vagues rumeur s .

« Qui fais tu ? disait el le, et lui disait : — T u meur s,

l l faut bien auss i que je meuren ;E t

,les br as en lacés doux couple fr issonnant,

113 se son t en al lés dan s l 'ombr e ; et, main tenant,O n entend le fl euve qui pleure.

X X IV

Victor H ugo ins istira na sua entrada na Academia,não tanto pelo tr iumpho contra os immortaes que não

o queriam no gremio del les , mas pr incipalmente paraque a Academia lhe abr isse as portas da camara dos

pares . A l l i encontraria a tr ibuna que ambicionava, e quea lei eleitoral de então lhe vedava na camara dos de

putados . Em 1 84 3 foi, pois , nomeado par de F rança.

A o terminar o discurso de recepção no Luxemburgo, oduque e a duqueza de O r leans dir igiram ao poeta be

nevolos e affectuosos cumpr imentos .

O s esforços real isados por V ictor H ugo para conse

guir a abo l ição da pena de morte não só em F rança,mas em toda a parte, são inexcedíveis . A s cartas escri

ptas pelo grande poeta e os discursos por el le proferidos ,ora para salvar um condemnado na Suissa, ora para irvrar outro nos Estados—Un idos , ora para suspender o cutelo do car rasco em G uernesey , ou na Belgica, ou na

G rã-Bretanha, ou na R uss ia, testimunham eloquente

tados -Unidos quando o poeta ass egurou que o algoz:otao a America inteira ?

em carta mandada para a redacção da Independencialeu , disse V ictor Hugo que a monstruosa pena de

te levantara na terra dois grandes sacrificios , comodois tremendos exemplos :— o de Jesu—Chr isto no velhomundo, e o

de John Brow n em o novo !

A quella voz magnan ima não pôde salvar John Brow n .

mas fez de certo apagar do codigo de algumas nações

o horrendo art igo em que se impunha a pena de mor

N ão o fez ainda? A credito,quando menos , que virasucceder «naquel las nações que ainda não a trancamrn

seus codigos . E' dever pensar ass im. E tambem é

a grande e subl ime diffundir estas idéas em que o

não deixando de ser justo, é todavia miser icore clemente.

N ão vemos o poeta, em nenhuma epoca da sua vi

da, transviar-se de tão difii cil caminho. E ' que a S U b l l

midade da mis são estava na altura da grandios idade dogen io !

X X V

Vem aqui , a propos ito, deixar dois documentos , queforam reproduzidos pela imprensa quotidiana da maiorparte da Europa cu lta, como tive occas ião de verificar

nos periodicos estrangeiros que então recebia ; e depoispostos na col lecção, que mencionei na pagina anter ior ,int itulada Victor H ug o. A cres etpar oles . P endan t l

'

ex il .

1 862—1 870 (no tomo II da edição defi nitiva segundo os

manuscriptos originaes , impressos depois 1 88 3 pela casaeditora J . Hetzel Quando Portugal , avantajando-se a outros povos civilisados , mandou r iscar, em

votação dos corpos co- legis lativos , a pena de morte, a

noticia foi logo transmittida ao egregio poeta. E is o que

se lê nas pag. 1 09 a 1 1 1 da obra citada :

L A P E l N E D E MORT A BO L IE E N P O R T U G A L

« O n sait que le jeune r o i dom L uiz de P o r tugal, avant dequitter son pays pour al ler vis iter l ' E xpo sition univer sel le,eu l

'

honneur de s rgner une loi vo tée par les deux Chambres

du par lemen t, qui abo l it la peine de mo r t.

1 93

« C et événement considerable dans l 'histoire de la civilisation a donne l ieu, en tr e un n ob le portugais et Victor H ugo ,

e la cor respondance qu'

on va lif e ..

(C our r ier de l'

E urope, ro ao O t

A N . VIC T O R H U G O

L isbonne, le a7 juin 1867 .

O n vien t de rempor ter un grand tr iompbe ! E nco re mieux

la civilisation a fait un pas de géant, le progres s'

es t acqu is

un so l ide fondement de plus ! L a lumiere a r ayonné plus vive.

E t les tenebres ont reculé.

L'humanitecompte une victo ir e immense. L es nation s ren.

drout success ivemen t hornmage a la ver-ice; et lea peop les ap o

prendr ont àbien connai tr e leur s vr ais amis, les vr ais amis de

l'

bumanite.

M aitr e l vo tr e vo ia qui se fait toujour s entendr e lor squ' ilfaut defendre un grand principe, mett re en lumiere une grandeidée, exal ter les plus nob les actions ;vºtre voi: qui ne se fati

gue jamais de plaider la caus e de l 'oppr imé con tre l' oppreao

seur , du faible co ntr e le for t; vo tr e vo is , qu'

on ecou te avec

r espect de l 'o r ient àl 'occiden t, et dont l 'echo parvien t jus .

qu'

aux endro its les plus r eculés de l 'univers ; vo tre voi: qui,

tan t de fo is, se détacha for te, vigoureuse, terr ib le, commecell e d

'

un prophete gean t de l'

human ité, es t arr ivée jusqu'ici ,

a été compr ise ici, a par ló aux ca ur a, a été traduite en un

grand fait ici . . . dans ce reco in, quo ique boni, pr esque iavi

s rb le dan s l'E ur-ope, micr oscopique dans le monde ;dans cette

ter r e de l'

eatrême accident, s i celebre jadis, qui sut inscr iredes pages br illantes et inetiaçables dans l 'his toir e des nations,

qui a ouver t les por ta de l'

lnde au commer ce du monde, qui

a devo ile des con trees inconnues, don t les haut : faits sont

aujour d'

hui presque oub l iés et comme ell'

aoes par les moder »

l l y a de petits hommes , belas !

E t quelquefo is ce son t ceux qui menen t les granda peu

J'

aime et ie glor iõe vo tr e beau et cher P or tugal . Il est

libre, done il est grand.

L e P or tugal vient d'

abo l ir la peine de mor t .

A ccomplir ce progrea, c'

est faire le grand pas de la civi

l isation.

D es aujourd'hui le P or tugel es t la tête de l

'

E ur O pe.

Vous n'

avez pas eessé d'

Etr c, vous po r tugais , des naviga

teur s in trépides. Vous alles en avant, autrefois dans l'

ocean ,

aujourd'

hui dans la verite. P roclamer des pr incipes, c'

est plus

beau encore que de deeouvr ir des mondes.

J e cr ie : G lo ir e au P o r tuga l, et àvous : Bonbeur lJ e presse votre cordiale main .

Es ta foi a segunda carta que recebi do grande M eco

tre, V ictor Hugo . A pr imei ra fôra com relaçao a uma

controvers ia política em que entrara dois annos antes .em defensa de princípios modernos avançados . em que

me vi forçado a citar em meu abono, ou antes em abonodas ideas que defendia, e que não reneguei , os aposto.

los do Bem, da Verdade e da J ustiça. em que o egre »

gio poeta era um dos mais vigorosos evangelisadores ,

como o ia demonstrando a cada instante no seu des

terro. El le conhecia essa luta, a

' que não podiam ser

estranhos os homens mais l iberaes da Europa, os quesabem e podem derramar luz em medonhas ondas de

trevas , que atrazam e humi lham os povos !

P or causa da abolição da pena de mo rte, em Portugal , V ictor Hugo tambem escrevera a Eduardo Coelho.

o fundador do D ia r io de N otícias ; e pouco mais ou

menos , no mesmo per iodo. agradecia ao i l lus tre histoe publ icista Luis Augusto Rebel lo da Si lva uns

livros , que este lhe offer târa.

l A car ta a R ebel lo S ilva fo i publicada,

em fae—simile, no per iodico l itter ar io illus tr ado S er ões (n.º

s z de abr il l go7) , pag. a75, co l . A s notas biographicas que

acompanham “ gravuras , co r rem de pag. a7o a aBo e sâo de

A ender eçada a E duar do C oe lho veio transcr ipts no D ío

f io de N otict'

as e em todas as gu etas liber aes da epoca . D ella

se tas referencia na inm ducçío do s t .

º 8 r indc aos assigm

M & M “ e o escápw e deá a do w r £dun o

do C oelho como « homenagem da empresa a memor ia do

eminen te poeta frances .» Lisboa, 1886. Com o retr ato de

Victor H ugo , gravura de P astor .

A sW admin vel ãm cheio de lagrimas,

de cisum de espu am e fàao qm l o auctor cm u

do poeta.

« Constituem, diz Vacquene, a maior obra ly r ica do

grande poeta lvr ico . Es tá al i o prob lema ter res tre, desdeos queixumes dos arbus tos inhos até os suspiros do pai.

O s outros versos do poeta eram apenas uma parte da

s ua vida e um lado da natureza. D esta vez não basta

que o so l seja bel lo , o poeta pede- lhe que o al lumie e

diz aos ra ios : So is t revas ! D es ta vez a natureza e in

terrogada e responde. O vento não é ruido, é a voz. A

gota de agua não é a pero la, é a lagrima. E es tá ali o

homem inteiro ! Começa no berço e acaba no tumulo. »l

O s que tem l ido tão sub l imes poes ias deixaram acaso

e! gr rmaces . 4 edição , r86 r, pag. 423

de chorar Leopo ldina, a engraçada e joven fi lha de —Vi

ctor Hugo, morta ao 1 9 ar mas ? D eixaram tambem de

admirar o moço heroe, morto porque não pôde sobrevirver aquel la que amava ? N ão padeceram com o pac,

que não teve consolação e que via constantemente ao

seu lado a fi lha que tanto estremecia ?E l le avait l 'air d'une pr inces seQuand je la tenais par la main ;E l le cherchait des pleur s sans cesseE t des pauvres sur le chemin .

E l le do nnait , comme o n dér obe,

E n se cachan t aux yeux de tous .

O h ! la bel le petite r obe

Qu'

el le avait, vous rappelez vous

V ictor H ugo disse— « O s corações de leão são os verdadeiros de pai.»

Beauval let accrescentou :

- « N ao conhecemos nada mais tocante que a dºr

verdadeira deste g igante humilhando- se para chorar

melhor a fi lha quer idaA L enda dos S u rdos teve, desde todo o pr incipio,

exito menor que as M as o gen io do egregio poeta nunca se elevára a tão prodigiosa altura. E r

guera um monumento co lossa l , mais sol ido que o mar

more ou o bronze, antes para o futuro do que para o

presen te.

Beauval let cons rderava este trabalho como a obrapr ima de Victor H ugo, e, talvez, como a obra pr ima dapoes ia franceza .

« A dos S eculo: foi escripta para todo o

pre. D entro de alguns centos de annos , quandoverem esquecidos os detractom de V ictor Hugo,siderar—se-ha ainda modelo do bel lo a ma ior parte daquel les pequenas epopéas ; e col locarcse-ha, de certo,

E vim dnus ao lado '

da M iúda, e o P ien: t ici similhante

aos mais grandiosos canticos da B i bl ia.»

ambas , como é faci l de suppôt-

se, foi prohibida em

F rança ; mas . no terr itor io imper ial , apesar disso, toram distr ibuidos e vendidos muitos centos de exem

piares .

A imprensa belga e a suissa annunciaram ainda ou

tra obra. O novo trabalho intitulava—se [E s teir am iem

pom íne. L e cr ime da de» : deten h a. Constar ia de doistomos e conter ia numerosos documentos .

Nessas obras V ictor Hugo mostravas e verdadeiramente horrorisado pelo golpe de estado e por suas con

sequencias desastrosas . E ra terr ivel a l inguagemdo poetacontra o imperador N apoleão l l l . R egistarei aqui osversos com que pr incipia o poema (

“Wm a

C'es t la date choisie au fond de ta pensée

P r ince il faut en ti nir , cet te nu it est glaeée

Vieus, leve—toi !

N ' at tends pas plus longtemps l c' es t l 'heur e de la proie .

Vois,dóu mbre épaissait son br ouill ar d le plus no ir ;

S urprends , brusque assai l lan t, l 'enenmíque tu cen tes .

po is ditiicil vêr um exemplar . O que tive pr esen te para esta

par te do meu tr abalho devi-o bondade de um antigo col

lega na impren sa (ho je empregado super io r na dir ecci o geral

dos co r r eios ), P edr o Vidoeira, jor nalista e poeta, que um

empres tou.

S oube tambem que o il lustr e poeta, A nton io F eliciano deC as ti lho, t .

' visconde de Cas ti lho, po ssuia um exemplar , tal

vez o ffer ta dn. auctor , que muito o apreciava.

20 9

E tambem os versos que rematam o poema

L'

ar bre saint du P rogres , autr efois chimer ique,C ro itra, convr an t l

'

E urope et couvr an t l'

A mer ique,Sur le passe derruir,

E t, laissan t l'

E ther pur luire a tr aver s ses branches ,L e jour , apparaitr a plein de co lombes b lanches,

P lein d'

etoiles, la nuit.

E t nous qui serons mor ta, mo r ts dans l 'exil peuto êtr e,M ar tyr : saignants, pendan t que les hommes, sans maitre,

Vivron t, plus fier s , plus beaux,S ons ce gr and arbre, amour des cieux qu

'

il avo is ine,N ous nous reveil lerons pour baiser sa r acine

A u fond de nos tombeaux.

O poema CM M I: comprehende 392 pag. m as

e é dividido em 7 l ivros . N o fim vem diversas notas

contendo o discurso do poeta na assembléa nacional , a

1 7 de jul ho 1 85 1 , quando al i se discutia a revisão dacons tituição ; e do is discursos profer idos a beira da se

pul tura de dois emigrados, João Bousquet e Luiza Jul ie,mortos em Jersey, em abr i l e julho 1 853 . O s 7 l ivrostem os t itulos seguintesl — L a société est sauvée.

l l — L'ordre est rétabl i .

l l l — L a fami lle es t res taurée.

lV— L a religion es t glorifiée.

V— L'autorité est sacrée.

Vi — L a stab i l ité es t ass urée.

VII— L es sauveurs se sauveront.

O l ivro acerca da [f iltrar -ia do cr ime publ icadomuito depo is. como di rei adean te.

F A CTO S H O N KKS 00 " U“

Iw º — 70M 0 n

XXIX

Victor Hugo foi expulso de Jersey em 1 855 por ter

defendido a causa de um dos seus companhei ros doex il io, que se lembrâra de reproduzi r no periodica dos

emigrados , L '

Izomme, uma carta . que se refer ia a via

gem da rainha da G ran-Bretanha àF rança. O s emi

grados francezes tiveram todos egual sorte e cada q ualprocurou o destino, que melhor lhe conveio.

A os habitantes da ilha não agradou essa carta e os

mais exaltados promoveram um comício popular para se

desagravarem da phrase injuriosaVous avez m is un tel au Ba in » .

com que se pretendia annunciar que a rainha confe

rira a alguem a ordem do Banho . 0 H omme foi pouco

O aucto r dessa car ta fo i F el ix P yat , o celeb re jo r nal is tar evo lucionar io , exal tado no s seus pr oces so s de cr itica, que

o levaram a cadeia e ao des ter r o , pelo br aço da po l icia. E r a

apaixonado defenso r da l iber dade de impr en sa .

2 1 2

lanos gr itaram contra is so ; mais, nao se lembraram de

certo que expulsando o emigrado expulsavam o medico .

Reclamaram, lastimaram—se, disseram que só tinham

confiança nel le, ped i ram—lhe que ficasse e quizeram até

ass ignar uma representação ao governador . Barbier , porem, negou

ose a deixar os seus companhei ros e o pri.

meiro cast igo que recaiu na ilha foi ficar à mercê dosseus medicos . »

Saindo de Jersey, V ictor Hugo dir ig iu-se a i lha deG uernesey, onde foi res idir para « Hautevi l le—House,com a sua mulher. os seus fi lhos , Car los e FranciscoHugo, sua fi lha Adel ia, irmã da que tanto chorara, e o

seu particular amigo Augusto Vacquer ie.

N a i lha de G uernesey o poeta não encontrou tr is tezas .« E ' franceza como a Normandia. » G uernesey é. comoJersey , independente da G ran Bretanha, sua protectora ; o povo fal la o francez do seculo xvn, que os par i

s ienses diffici lmente comprehendem.

« Em G uernesey nao ha inverno, porque al i se enc

contra a Ital ia em miniatura, escreve Beauval let. O

myrto, o aloes. o lourei ro, florescem por toda a parte.

A i lha é um jardim en tre penhascos . e H autevil le—H ou

se» , a habitação do poeta , está s ituada à bei ra do mar .

Vê—se no alto dos rochedos como n inho giganteo. D as

janel las avistam—se as alvejantes cos tas da França.»

O douto r Barb ier es teve alguns anuos em L isboa, e tre.quentava a pr imeir a sociedade des ta capital , com a qual con .

vivia e onde era es timado e r espeitado . Barb ier mantinha

in timas relações com a famil ia de Victor H ugo .

M ime; de l'

histoir e, pag . e 457.

XXX

A 30 de junho 1 86 1 V icto r Hugo terminou os M ise

mr eis , monumento grandios iss imo, que Mi recourt annunciata em 1 853 na biograph in do poeta, como sendo

romance em seis vo lumes , que se devia publ icar sob o

titulo de M ín :—ias .

Cast i lho, na « conversacao preambulan do poema

0 . j ayme , diz que nos M ar is ha um evangelho

social . “ Esta asserção ,é o maior elogio de tao espan

tosa obra. espantosa pelas proporções . pelos traços , pelodesenvolvimento, pelo estylo , pe lo desfecho, pela no»

ma da que para logo adqui r iu, e pelos resultados quealcançou em pro l do progresso e da humanidade.

Voituron tambem faz aos M z'

sem ei r notavel elog io

D . J ay me, poema de T homaz R ibeiro , com uma con

ver sad o pr eambular po r A ntonio F el iciano de C as ti lho , r .'

visconde de C astilho , r .' ed. 186a, pag. ar; a.

“ed.

pag. u r .

2 1 4

nos seus preciosos es tudos philosophicos , quando, no

fim del les , escreve :« Esta epopea da nossa epoca será, de certo, collo

cada ao lado de todos os monumentos litterar ios dos

tempos antigos , que mereceram a admi ração dos povoscivilisados » .

D e todos os povos , sem duvida, —

porque os M is-er a»

veis encontram-se vertidos em todas as l inguas .

N o dia em que V ictor Hugo terminou este novo mo

numento do seu engenho, escreveu ao seu amigo A u

gusto Vacquer ie es ta carta

« P resado Augus to — Es ta manhã , 30 de junho, àso ito horas e meia, com esplendido so l nas minhas janel las , acabei os M i am i /r i r . Sei que a novidade Iheinteressará, por isso desejo que de mim proprio a co

nheça. D evo-lhe es ta carta de part icipação. T em affecta

à obra. e teve ja a bondade de annunciar—ma no seu

admiravel l ivro P r a/il s G r imm . Saiba que a criançapassa bem. Escrevo—lhe es tas l inhas com a ultima gotade tinta que sobrou do l ivro.

« E sabe onde o acaso me levou para terminar es tel ivro ? A o campo deWater loo. A l l i es t ive seis semanas ,quas i escondido. Creci um antro ao lado do leão, e

nel le escrevi o desen lace do seu drama. F oi na plan icie

por P aul o Vo ituron , trad. de F r ancisco F er reira da S ilva

Vieira . 1863 , pag. 179

2 16

licosas , porém trazia comsigo paginas admiraveis

— quer dizer, a regeneração de povos .

Napoleão 1, emWaterloo. representaria a destruição

do genero humano.

V ictor Hugo, emWaterloo, representava un icamentea emancipação da human idade.

Para um— a guerra com a espada !

Para o outro — a paz com a penna !

Mas o ultimo, na paz, ficou mil e mil vezes super io r

ao pr imeiro, na guerra.

Porque um invadia e lutava para destruir e separar

— e o outro invadiu e lutou para edificar, para unir ,

para congraçar , para confraternisar.

Esta é a mis são dos Múer averlr , porque e a missão

do progresso e da justiça.

XXXI

A inda fal larei da monumental obra para contar o

facto curioso referido na biographia Beauval let .

A' memoravel data de 30 de junho, diz el le, l iga—se

um facto extraordinaria que deve ser conhecido.

Em 1 847. Augus to Vacquer ie, que lera alguns fragmentos dos M ovei s , queixava—se de que não hou

vesse em a natureza phenomeno que annunciasse ao

mundo a vinda de uma obra pr ima.

« D epois de instarmos muito , V ictor Hugo abriu a

sua magnifica secretár ia ch ineza, e, como este mi l l ionar io de ideas estava em occas ião de prod igal idade,disse-nos que escolhm emos o que quisessemoao de,

romance ou drama. A s trinta gavetas do encantador

movel trasbordsvam de manuscr iptos accumulados .

Hesitámos entre esssas maravi lhas , como mulher entreas rendas e as pero las . N ossa S amor a de P ar tir dizianos : esco lhe o romance : e as Vozes in ter io r es : esco lheos versos : porêm M an

ºa T udor gritava-nos : toma o

2 1 8

drama. N ão podendo decidir-nos . fechamos os o lhos e

dir igimo—nos a uma gaveta, ao acaso. O acaso deu—nos

o romance.

« Lemos , po is , o começo da epopea dos M W.

que ultrapas sará, predizemo-lo sem receio . a fortuna

mi raculosa da N os sa S enhor a de P ar is .

. quando Hamlet se digna honrar o globo corn

a sua presença, dev ia commover—se tudo, deviam brotardo solo flores extraordinarias , deviam ouvi r-se no ar mu

s icas celes tiaes , as estre l las deviam aproximar—se para

ver e os cometas deviam correr perturbados !»O uçamos Beauval let

« Em a noite de 30 de junho 1 86 1 , quando V ictorHugo terminava osW , appareceu um cometa

que não fºra previs to por nenhum ast ronomo.

« N ão existirá. porventura, relação intima e myste

r ioao entre as revoluções dos corpos celestes e os grandes acontecimen tos humanos ?

« O s romanos , menos incredulos que nós , t inham a

palavra mas para des ignar o poeta e o propheta. N o

fundo do poema não se encontrará uma prophecia ?« O astro resp lendente no ceo, na occas ião em que

apparece na ter ra, não succem vulgar nem indiffe

rente. Este cometa não será uma irmã luminosa do

poeta explorador da luz ?«Como quer que seja, o cometa de 30 de junho ha

de ser sempre o cometa dos M árcrm i r» .

*P r ofil s e: G r im ess, l .' ed. r856, pag. n r a "4.

3 1 9

Este l ivro, comprado por francos pelo edi

tor belga Lacro ix. publicado em F rança por P agnere, eq uas i ao mesmo tempo no R io de Janeiro, na Suissa,na Ing laterra, na A l lemanha, na Ital ia, na Hespanha e

em Portuga l, obteve um ex ito como não ha memor iade ter conseguido outro l ivro até hoje.

A rrebatados por es te exi to maravi lhoso, que, pode-sedizer, ultrapassou as suas bem fundadas esperanças .

os editores belgas , ao terminar a publ icação dos M irer ava

'

r , reso lveram dar a V ictor Hugo um banquete,para o qual foram convidados mui dis tinctos escripto

res belgas, francezes e de outras nações .

O banquete realisou—se a 1 6 de setembro 1 862, em

Bruxel las .

' Estiveram al l i , entre outros , P él letan , LuizBlanc, T exier, H abeneck , franceses ; Ferrari, italiano ;Pigott e Low e, ingleses ; Cuesta, hespanho l ; os reda

e de var ios periodicos de Antuerpia, de Char leroi e deG and. Tambem es teve presente o primei ro mag istradode Bruxel las .

7z.oooO ooo reis, ou 80 .0 00 a0 00 reis aproximadamente,segundo o s cambio s , que tem var iado segundo as osci l laQ es da bo l sa e da po litica

A es te r espei to escrevi e mandei imprimir em Lisboaum ºpusculo in titulado : dos miser á veis . A g lad/ier

ção da imp r ensa, por Victor H ugo . E'

em par te extr ahido de

um ar tigo da Independencia belg a , e con tém o discur so que

o poeta pr o fer iu, no mencionado banquete, em honra da im

prensa, cujos il lustr es representantes o ouviam co l i.-vadas .14 pag . in mós . N ão tenho um exemplar sequer .

XXXII

D urante a impressão dos Màer avcís , V ictor H ugoterminou mais dois vo lumes de versos , as Canções da:

n a: e do : óosques , que sai ram do prelo pouco depois ;

um vo lume de prosa,Wil l iam S hakespea r e, e osª

poe

mas D e us e o F im de S atanaz .

A lém disto , o poeta, quando quizes se, poder ia imprimir

dois dramas , os 0 677260 5 e T or quemada , e mais dez ou

doze vo lumes , que se encontram dispersos em aponta

mentos , correspondencia e miscel lan'

ea, em cima da

mesa do mirante de H autevil le-house, ou nas gavetas

da secretár ia, ou dentro de alguns l ivros .

D a var iedade des tas ob ras far-se- ha idea lendo da

carta que Augusto Vacquer ie dir igiu a Ernes to Lefevre,narrando—lhe a vida do poeta em G uernesey e as suas

relações com el le. A qui está um excerpto

« Tenho (em casa de Victor Hugo) uma bib l iothecaun ica ! Sabes o que l i es te anno ? Em poemas , D eus

, o

F im de S a lanaz , e as P equenas epopéas ; em dramas ,

3 2 !

ud ; em iyrismo, as Contemplar” : e as Canções das

r uas e do: llm-

qm ; em ph ilosoph ia, um l ivro que aindase não pôde concluir em vinte anuos de medi tação , e o

qual se intitulará E m de expuseram — tenho como

bibliotheca os manuscriptos de V ictor Hugo ! Vou ao

interior destas obras primas em que ninguemE' commoçao indescript ivel — es tar sós inho nestes mun

dos inéd itos , nes tas estrophes não patenteadas , na pu

rem destas creações , e na virgindade des tas auroras b lWi l l iam Shakespear e saiu a lume em abr i l 1 864 . E 'uma epopéa dedicada a Ing laterra. P inheiro Chagas, otalentoso e elegante escriptor, tratou desta obra em no

tavel artigo. P ertenceo lhe o trecho seguinte« V ictor Hugo , trabalhador intatigavel , lançou ao

mundo um novo l ivro. Esse l ivro intitulava—seWil l iam« O titulo des lumbra. O genio commentando o ge

nio ! V ictor Hugo, debruçando-se sobre o abys rno do

passado, bradando a Shakespeare : oS urge !» e dizendol he : « i rmão ?a P rometheu levantando o Etna dos seculos , e resuscitando E ncélado ! Hernan i introduzindoO thel lo ! O poeta dos Burgm an fazendo reverdecer

os lo i ros do auctor de R icar do 1 1 ! E ra para excitar acur ios idade.

« Se o t itulo des lumbra, o l ivro ainda des lumbra mais !E' o poema de arte, é a h istor ia das man ifestações do

P r ofil : et G r im m . l .“ ed. i 856, pag . a98 e 299 ; a)

ed. 1 864, pag . 43 3 .

222

genio da human idade ! A aguia de G uernesey prende

o leitor nas garras , e arrastando o fascinado e enthu»

alesmado pelos es paços onde reina, fa-lo contemplar

success ivamente essas montanhas gigantes , que se cha

mam Homem, J ob, Isaias , Ezechiel , Lucrecio. Juvenal,Tacito, S . J oão Evangel is ta. S. Paulo, D ante, Rabelais ,Cervantes , Shakespeare . Es sa procissão de gen ios , a queoutro gen io da vida, passa por diante dos olhos des lumbrados do leitor . E' um es pectaculo maravi lhoso !

« Es te l ivro não se pode evidentemente class ificar entre os l ivros de cr itica ! E ' o poema do gen io ! E ' al l iada do ideal ! Todos os vultos que al l i apparecemtem uma estatura sobrehumana, tem as proporções ior

midaveis dos heroes de Homem ! O que é o cantor de

A chi l les ? E' o enorme poeta criança ! E ' o passaro can

tor da aurora co l las sai da human idade ! E' o sol gigan te,em torno do qual giram esses planetas que se chamam

V i rgil io, Lucano, Tasso , A r iosto. M i l ton, Camões , Klopstock e Voltai re»

E s te ar tigo, verdadeiramente admiravel, foi pub l icado no

fo lhetim da C areta de P or tugal , n . 453 de as de maio i 864.

D o talen to de seu aucto r , o visconde de A zevedo , F rancisco

L ºpes de A zevedo Velho da F onseca, aprimorado escr iptor

e cr itico , dizia o seguin te :

. E spantou—me o dizeres que o teu co l laborado r P inheiro

C hagas só tem as anno s ! S e con tinuar no andamento em

que vae, será aos 35 o nos so pr imeir o escr iptor (Car ta es

tampada em o n . 495 do per iodico citado ) .

T odos sabem muito bem que is to se demon strou em in

numeros trabalhos do no sso talentoso e mal logrado esa s.

XXXIII

H a muitas pessoas que não acreditam que as obrasde V ictor Hugo tenham tido consumo extraordinar io,como ainda não tiveram as obras de algum outro escr iptor . M ais que extraordinar io— maravi lhoso !E is a prova.

D as obras de V ictor Hugo venderam-se desde logotres edições completas s imu ltaneamente : a edição de

F ume, que é ih —8 .

º

g rande ; a edição de M ichaud, que

é in-8 .

ºcommum ; e a edição de Charpent ier, que é

in- 1 8 .

º.

E m cinco annos , desde 1 de julho 1 84 1 até 1 de

agos to 1 846, venderam—se

D a edição M ichaud, volumes . D a edição

Charpentier , vo lumes . A edição Fume appare

ceu em fevereiro 1 84 3 . D esta data a 1 846,is to é, em

t res annos e meio, venderam—se 5 exemplares .

E m 1 844 impr imiu-se a edição il lustrada de N os sa

S en /rar a de P a r is . Em dois annos venderam-se mais de

exemplares .

3 25

Em 1 845 publ icou—se mais uma edição ih—4.

ª de duas

co lumnas , especialmente dest inada ao theatro. N o curto

espaço de um anno venderam—se peças .

Total dos exemplares vendidos em cinco annoe,

A estes apontamentos , que encontrei na obra já mencionada de Vacquer ie, accrescentarei o seguinte

« A sornma de cento sessen ta mi l m eteu !“ e dezoito

exemplares foi alcançada com cinco edições , duas dasquaes se exhauriram em cinco annos ; uma, em tres

annos apenas ; outra, em do is annos ; e a ultima, emum anno. Torne—se a média. e supponha

-se que todas

as edições se exhauriram em quatro annos : cen to se:

senta mil e novece nfos exemplares , em quatro eunos ,

dá mais de quarenta mil exemplares por

Calculando o preço de cada volume, pelas edições deA lmeida G arrett ou de A lexandre Herculano, a 600

réis , ter iamos no fim do anno réis , e ao

cabo dos cinco t zozoooâooo réis .E as outras obras do poeta, que não foram mencio

nadas ? O s M iser á veis ,Wil l iam S hakespear e, e diversos opusculos publ icados depo is de 1 847 ?

D a edição dos M úemvei r , no termo de tres mezes ,

haviam-se consumido mais de qua tr ocentos mil exemplares , a seis francos cada um, ou 1 320 0 reis, que foi

o preço porque se venderam em Lisboa !

P r of i: et G r imaces, ed. pag. 1 53 , a.“ed. pag . 239.

ener os noutras no neu f u r o — m o n 1 5

Além dis to observare i que as ed içõe

não estiveram isentas da contrafacção,

reproduzidas na Su issa. na P russ ia, nae em outras nações, n inguem soubetiveram.

egreg io escriptor . V ictor Hugo não tardou em ag radecer

à joven e genti l poet isa portuguesa a sua dadiva, e

mandou- lhe, ao mesmo tempo, a estrophe cujo assumo

pto alludia del icadamente ao da poes ia offertada.

Tive nas mãos a carta e a estrophe, que ainda não

tinham s ido publ icadas , por fel iz casual idade e pela ex

trema benevo lencia de um bom amigo ! ; por isso as reproduzo com dupl icado prazer nestas pag inas . E ilcas

O btive com diH iculdade car ta e a est rophe a que

dou nova pub licidade. S abia que D . M ar ia H elena Bon deS ousa, extremo sa fi lha do hon rado e fal lecido tenen te gene

ral barão de P ernes, era de r ara modestia, e que a n inguem

ainda tinha dado copia do s autographos es timaveis do gr ande

poeta. D ir igi—me, por isso , a um respeitavel ancião , tio da

toven poetisa, e pedi—lhe que so l icitasse de sua sobr inha a

cópia de que car ecia, mas não alcancei r espos ta satis fato r ia .

la pe rdendo de todo a esper ança de enr iquecer es ta par te

do meu estudinho com a cópia dos r efer idos autogr apho s

inédito s que desejava jun tar ao s que já tinha obtido com a

maior pr omptidâo e co r tes ia do meu saudoso mes tr e e ami

go A n ton io F eliciano de C as ti lho, quando , regress ando paraL isboa

,de uma viagem ao P or to, po r fel iz acaso a pr imeir a

pessoa que encontrei em C o imbra fo i o dis tincto inspecto r

de minas e meu velho amigo, J oão Baptis ta S chiappa de

A zevedo , casado desde 1863 com D M ar ia H elena Bon de

S ousa. L ogo que o vi capuz—lhe, com muita in stancia, 9. mL

nha pretençío , e el le asseverou—me que t ratar ia de vencer a

modes tia de sua mulher e que cer tamente havia de ter a

cópia so licitada. A pa lavr a cumpr iu—se, como esper ava. A o

chegar a L isboa recebi uma car ta de J oão S chiappa em

que, sob data de 23 de junho 1864, me diz ia :

« Meu car o Br ito A ranha — E m cumpr imento dos seus de

ªse

cuanteville—house, 16 octobre 1859.

.M ademoisel le Vos ver s charmants et vo tre douce let

tr e ne me son t par venus que ces jours dernier s . .lem'

empr ease

de vous r épondre et de vous r emer cier . Vo s vers , defectueua

s ans doute pour un pur is te français, sont emprein ts d'un

charme inexpr imab le. O n y sen t quelque chose de plus mêmeq-n

'un catar , on y sen t une âme.

.C'

es t que vous êtes en efl et l'

âme vierge, l'

âme ange ; et

qu'

au fond de vo tr e pensée, dous sanctuair e, la poesie est en

fl eur .

« S i mes t ravaux et mes devoir s me permettaient, comme

eu ai l 'esperance, d'al ler prendr e un jour quelques mo is der epo s sous le so leil de vo tr e nobr e et beau pays, je seraisheur eux, mademo isel le

,d'

al ler mettr e àvos pieds tous mesremer ciments et tous mes hommages . Victor H ug o

.Voici ia strophe que vous voulez bien me désirer écr itede ma main .

a l l n'

est r ien ici—bas qui ne suive sa pente;

le il euve iusq'

aux mer s dan s les plaines serpente;l 'abeil le sait la fleur qui recele le miei;tout aile ver s so n but incessamment r etombe

l ' aig le vo le au so leil , le lentour àla tombe,l'

hiro ndelle au pr in temps, et la pr iere au ciel.Victor H ugo: .

seios envio -lhe o fac—simile da car ta que o gr ande poeta en

viou a minha mu lher , em r espo sta a uma poes ia que esta

senho ra lhe dir igiu, na edade de 16 annos, intitulada L a p r ier e.

Vae tambem cópia da estrophe que V. H ugo mandou par a

o album, cujo assumpto tem, como vê, delicada allusl o ao

da poesia.

.M inha mulher possue tambem um retrato pho togr aphico

de Victor H ugo tirado po r um de seus âlhos . S e del le precisar para ter alguma cópia, es tada n a s o rdens , e nes se caso

eu o levarei br evemen te para L isboa, onde fal laremos .

Anton io Fel iciano de_Castilho possuia tres cartas de

V ictor H ugo. A pr imei ra foic lhe1 859, quando o nosso eminente

levi l le—house uma de suas mais

. A l senbo r Castilbo

.H s utevi ll e—bouse, 6 mar s 1859 .

« P õete — J e vous r emercie. .le sais tout ce que vous êtes ;et les gr ands aveugles comme vous

,sºils n

'ont pas de regar d,

out on rayonnement .

d e sem avec effusion votr e no bl e main . Victor H ugo» .

Em maio do mesmo anno Anton io Fel iciano de C asfilho enviou ao grande poeta um retrato l ithographado

na parte infer ior do qual inscreveu a segu inte ded icam m;

VASSA L AG EM A O R E I D O S P OETASVIC T OR H U G O

D' ESTE MO D O A O M ENOS O ACOM P AN H AR !

N O S E U NOBR E E XIL IO

A . F . D E C AST I L H O .

Em junho 1 859 , o il lus tre expatr iado de H autevil lehouse agradeceu a nova offerta com a seguinte carta :

1 E ste r etr ato e'

o que fo i l ithogr aphado em P ar is par a a

edição do s Amor es de O vídio, impr essa no R io de J aneir o

em 1858.

23 2

. E xmo . S enhor C astilho

oH auteville—hous e, 1 5 octob re 1 859 .

.M onsieur et três oeminen t confrere P ermet tes -mo i d'in o

tr oduire pr és de vous M . F il lon, pro scrit fr ançais, anquel votr e honorab le bienveil lanoe pour rai t être utile. J e n

'ai pas

l'

honneur de connaitre personnel lement M , F il lon ;mais plu

s ieur s de mes plus r espectab les amis me le reoommenden t

et me le présentent cºmo tout—a—t'

ai t digne de vo tre in

terêt.

.R ecevez, ie vous pr ie, la no uvel le assur ance de mes sen

t imen ts de haute cons ideration . Victor H ug o» .

0 que escreve es tas l inhas tem algumas cartas de

V ictor Hugo. U ma, a res peito de assumpto pol ítico , foi

recebida em ta de junho 1 862, e encontra—se em di

versas gazetas daquel la epoca, não só de L isboa, masem todas as cidades da provincia, onde havia imprensal iberal ; a outra foi recebida em abri l depois de

a L ondr es , onde fizera acquis içâo de machinas aper feiçoadas

e obtivera conhecimento dos novo s proces so s que a pho to

graphia tem alcançado , nas suas diver sas e uteis appl icações ,

assim como o desenvo lvimen to que se tem visto e admir ado .

O fac—s imile desta car ta foi po r pr imeira vez r epr odu»

s ido po r E duardo C oelho no fi nal do seu l ivro “victor E u

g o, já citado, depo is da pag . 1 65 .

A car ta de 1863 tambem es ta reproduzida no supplementoa r evista O O ccidente, de r de setembro i 885, homenagem a

Victor H ugo, po r occasião do s eu obito . D as l inhas que an tecedem es ta repr oducção como as seguintes

« D os escr ipto res po r tugues es, ao que no s cons ta, o que

recebeu, e po ssue, maior numero de car tas autographes do

egregio escr ipto r e poeta da F r ança, V icto r H ugo, glor ia do'

2 3 3

publicados os pr imeiros capitulos desta s ingela noticia

biographica, em resposta à que lhe escrevera pedindoque me continuasse a tundacao do seu instituto paraa educação da puericia. Reproduzo-a por uma só e mui

forte razao ; porque .testimunha que o que sabia apos

tolar tambem sabia praticar . A proveitem—se de licl o os

que souberem. e s igam o exemplo os que puderem.

E is a carta

. H autevill e—house, 8 avr il | 864 .

« M ons ieur Br ito A ranha .Ie commence par vous r emer

cie r. J'

ai lu vo tr e premier ar ticle, et, j 'en suis vivement tou

che. .l'

y sens une adhes ion généreuse aux pr incipes pour

lesquel s je combate Vous mettez vo tre nob le espr it au ser

vice des idées de progrês, de dro it et de l iber te. .le vous fé.

« L e fait au sujet duquel vous me faites l'

honneur de m'

e

cr l re est s imple. J'

ai pr is quarante enfants pauvres, tous,

plus ou moin s, atteints de l'

etio lement lamentab le de la misére qui attaque les sour ces de la vie. Toutes les semaines,í'

en fais diner chez mo i vingt ; de la sor te le même enfant

r evien t tous les quinze jour s . O n leur donne de la viande et

du vin. D epuis deux ans, la sant é de mes quarante enfants

s'

es t amel io r êe profondémen t . L a plupar t des symptômes

scr ofuleux ou autres , qui pouvaient inquiéter , ont dispar a.

secu lo s ua, eo nosso co l labor ado r e amigo Br ito A r anha. R e

cor r emos a el le, para que nos conôass e um desses preciosos

au togr aphes , com o in tuito de o deixarmos reproduzido nas

paginas do O ccidente, como um no vo pr eito da nossa home.

nagem ao immor tal aucto r dos M im veis .

A diante me refer ir ei de novo a es ta homenagem da revista.

2 34

El: deviendron t des hommes sain s et val idos et des êtr es ro

bus tes, cela invite àêtr e ho n : atout diminution de soutfranoecor respond une augmen tation de mo r alité. J e veil le ce

qu'

i ls appr ennen t àl ir e et a écr ire.

«C ette petite institu tion a cela pour el le qu' ii es t facile dol' imiter . E l le ne vaut que comme exemple, el le est pen de

cho se si el le ne franchit pas les l imi tes de ma maison , maisetendue et de develºppee sous une gr ande echelle, elie r en »

drait des services . E l le fer ait disparaitr e de la societeIa plus

poignan te et la plus immér itée des miseres, la misere desenfan ts, et par l

'

amel io ration de l 'enfan t,el le amene rait l

'

a

mel io r ation de l 'homme.

d e vo is avec plaisi r que l idec germe, et que mon dinerdes petits pauvr es es t imité sous plusieurs po in ts defen so

tamment a L ondr es et, dans de gr andes pr opor t ions , par une

société de souscr ipteur s que dir ige un honorab le pas teur protestan t, M . T homasWodehouse. J

'

aioute que, l'

hiver , ie donne àmes quar ante enfan ts des vêtement s et des soul iers .

«Vo ila monsieur . les r en seign emen ts que vous vou lez bienme demander . J e serais heureux que cette idée simple. mais

mi le, fut adºptee et propagée dans le nob le P o r tugal , don tvous êtes le ii ls et don t je suis l 'ami.

o R ecevez, monsieur , avec mes pr o fonds r emercimen ts pour

vo tre biog raphie exce l len te, l 'assur ance de mes sentimen ts

les plus dis tingués .— Vicl or H ugo .

P . S . Quand vous ver r e: vo tre eminen t et cher poete C as

riiho, aveug le comme M il ton, t ransmettez—lui mon ser rement

de main . V.

P ar te d'

es tas « M emo r ias . ou « E s tudos comprehendi

dos no tomo presente e dedicados a Victor H ugo , tinha—osescr ipto e pub l icado , po rém meno s des envo lvidos, no A r

chivo p inor esco , onde oo l labo rei pelo espaço de dez annos :

e 6 prºpo r ção que dos afamados pre los de C as tro l rmío

237

mules religiouses pouvant engager la conscience. M a femme,ma fil le, ma bel l eosc ur , mes fi ls , mes domestiques et moi,n ous les servons . i ls mangent de la viande et bo ivent du vin,deux grandes neces s ites pou r l' enfance; apres quo i il s jouen t,puis vont a l 'eco le.

D es prêtres ca tholiques , des min is tros pro tes tan ts, mê les ade libr es pen seur s et des democra tes proscr its, vien nen t

quelquefo is vo ir cette humb le scene, et il ne me par ait pas

qu'

aucun so r te méconten t. J'abrege ; mais il me semb le que

j'

en ai dit asse: pour fair e compr endr e que cette idee, l' intr oduction des families pauvr es dans les famil les mo ins pauvres ,in troduction niveau et de plain—

pied, fécondée par des hom

mes meil leur s que mo i , par le cmur des femmes sur tout, peutn

'

õt re pas mauvaise; je la onoia pr atique et propre a de bon s

fruits, et c'

es t pourquoi j'

en par le, afin que ceux qui pour

ront et voudr on t l ' imiten t. C eci n '

es t pas de l'

aumóne, mai s

de la fr atern ité. C'

est la communion avec nos tr eres moins

heur eux . N ous appr enons les servir et i ls appr ennen t anous

s imer .

C'

es t en songean t àcette petite cr uvr e, mons ieur , que jecrois pouvo ir faire un saci i tice d

'

amour—pr opre et autor iser

la pub licatio n souhaitée par vous . L e produit de ce tte pub lic

'

ation contr ibuer a a former la lis te civi le de mes petites en lfants indigents . Vo ici l

'

hiver , je ne ser aits fâchede donner

des vêtements a ceux qui von t en hail lons et d'

offr ir des

soul ien ceux qui vont pieds nus . Votr e pub lication m'

ys ider a.

O al bum foi publ icado sob o titulo « D ass in; de Vikto r

H ugo, graves sur acier par Paul C nenay, precedés d' unelettre de I

'enteur àI'éditeur , texte par Theophi le G au

tier .» E ra bel lo l ivro pela att rahente descripçao de G au

tier e album por conter os desenhos originaes do egre

gio poeta. C omprehendia t4 gravuras em aço por C he

nay e t t em madei ra por G érard.

vam a V ictor Hugo amor fraternal e respeito fi l ial . U mdesses raros amigos era Augusto Vacquer ie, que juntavaas qual idades que o ennobreciam razão esclarecida e

animo super ior .

Em H autevi l le-house trabalhavam todos

F rancisco V ictor H ugo ultimava a versão das obras

de Shakespeare, t rabalho de valor por ser conscienciO o

samente feito .

C ar los H ugo escrevia interes san tes romances e t irava

retratos photographicos ao pae.

M adama H ugo escrevia a h l S tO l'

l a po rmenor isada de

seu marido.

A men ina H ugo compunha encantadoras melodias ,

« écos mys ter iosos das symphon ias do ceo e do mar . »

XXXVI I

Vamos entrar na res idencia do poeta no dester ro. A

descripção é s imples , mas é verdadeira.

Hautevil le—house, em G uernesey , t inha a apparencia

modesta de uma vivenda br itann ica. O seu inter ior fôra

transformado no lapso de tres annos por modo tal, que,

ao entrar-se naquel la magn ifica res idencia, dir-se—hia

q ue al i estava moradia de principes ou de fadas .

Numa pub l icação , que me apressei em comprar as

s im que appareceu com l indas gravuras a agua forte,

l ia—se

« H autevil le-house es tá s ituada no mais r isonho quadr o que

pode idear o paisagis ta . C o l locada no cimo de um rochedo

alcan tinado,domina a cidade, a for taleza e o immenso hor i

so nte do mar , onde não ha nada que par eça dever suspender

o vôo do maio r gen io .

« E sta casa e'

celebr e em G uer nesey onde excita viva cur io

s idade. C on tam - se del la cousas extr ao rdinar ias e myster io

r am os l !: Montana no uau T aur o“ton o 16

242

que as envolve tem ficado até agora igno rado par a os iam»

lanos ; dizem que lá se encon tram r iquezas de mob iliar io da'

gnas dos contos de fadas . A verdade eque me foi al i revelado

uma ob r a in teiramen te nova : res idencia do M estre. A s sa o

las e as galer ias foram cons truidas segundo as ideas e os de

sonhos de Victo r H ugo . N es te empenho despendeu elle tr e s

anuos . N ão ha peça, nem grupo , que não seia uma “ cação .

A s cur iosidades mais r aras , os moveis en talhado s da idade .

media e da renascença, as an tigas tapeçar ias, os padrões , as

po rcelanas co l ligtdas com gos to. encon tr am—se naquel la vi

venda com as elegancias e precio sidades ven ezianas e G o ren

t inas . A casa no inter io r (po rque no exter ior tem apparen

cia g lacial das casas inglesas“? uma obra de ar te cujos mater iaca são tambem obr as pr imas .

. . D escr ever a casa é iá dar a conhecer o homem e se

transcrevermos as divisas e in scr ipções que o po eta mandou

gr avar no s moveis e nas paredes e que são outr as tan tas li

nhas inéditas de Victor H ugo ,surprende

- lo—bemo s de cer to

n a in timidade da vida in tima, mas conheceremos ainda me

3ho r o poeta.

« Havia an tigamente o jus to o rgu lho de pendur ar nas pao

r edes os trºpbéus das victorias e os br asões e armaduras dos

progen ito res , por modo que o s o lhos podiam vêr ess es gr an

des exemplo s ; vivia—se ent r e el les .— Vlcto r H ugo difundiu

na opulenta casa de H autevi lle house as maximus que r esa

mem a exper iencia'e as provações da sua vida.

P ros igo a extractar do curioso l ivro citado.

Havia, em Hautevi l le—house, a famosa vivenda do

poeta, três salas que prendiam desde logo a attenczodos vis itantes : o « salão encarnado» , a « sala do jantar» éa « galeria de carvalho» . Nesses compartimentos tudo era

!.C hef Victor H ug o por un passam, t894, pag. 23»

245

hon ra para os hospedes . V iam-se nel las es tas inscriz

L es dieux sont aux vainquer s , C aton res te aux vaincus ;

G los-th victis .

“U re nemínr

'

.

L'esprit souffle ou il veut .

L'

honneur va ou tl doit .

T outes laissen t leur tr ace au co rps comme àl'

espr it,

T cutes b lessent, hélas ! la dern iere guér it.

Todas as pessoas , que pod iam hospedar-se em H au

tevi lle—house, entravam ali com a convicção de que se

despedi riam com as mais gratas recordações . Lembrançaperduravel do hospedei ro affectuoso e da casa admiravel .

Tanto o encantava a del icadeza que o rodeava, quantoo extas iava o bel lo que o cercava.

N a parte mais alta da casa estava o quarto de V ictorHugo. E ' como se dissesse — na agua furtada. O auctor

do l ivro Chez Victo r H ug o descreve-o ass im

« C ol locada po r sua s i tuação no meio do mar , a maio r ia

habitan tes de G uernesey segue a vida mar itima, com—o

proposito de procurar o sus tento e as relações no exter ior :

D e modo que todo s os o lho s es tão li tos no caminho incer to

ao qual pedem as r iquezas do commercio e as no ticias damãe patr ia e dos amigos ausentes — talvez seja até um amigo

que chega.

O br a citada, pag. 42.

« E xplica is to vêr—se em todas as casas o

l idade que o vocabulo

um navio e ass im que

mas do po rto'

indicam

r epetido s de casa em casa, levam a nºt icia da saída ou da

entrada àilha in teira .

« A casa de H autevil le house tem igualmen te o mas tro de

signa l e o look out. Victo r H ugo esco lheu par a seu quar to de

repouso o look out (ou, antes, dir ia a agua fur tada, tr apeio

r a) , pequeno mirante envidraçado , aber to a todos os ho r ison

tes, eno rme pa ra a alma,acanhada para o co rpo, encer r ando ,

como o beliche de um capitão de navio s, tudo em es paço ia

timo : a pequena mes a, o papel, o t inteiro , a penna, um leitoor dinaria de fer r o , gro sseir o como o leito do so ldado raso .“

N a parte ajardinada de H autevi lleo house tambem ha

scripções . Basta copiar duas .

O àest l 'espoir , làest Ia pair .

immen s ité,dit l etr e ; e' ter n ité, dit l 'âme.

O que deixei escr ipto nas pag inas anter iores era então

ignorado . O poeta ia comprando e amontoando as pre

cios idades do mob i l iar io, e só raros amigos íntimos entravam nestas minudencias e reservavam- se para as divu lgar

quando o M es tre lhes desse permis sao, porque não que

r iam contrar ia lo no seu recato nem offende 10 na sua

m'

odestia, pos to soubes sem que não ter iam um egoista.

Aguardavam a opportumdade.

O b r a citada, pag 64

3 49

D epois do almoço, por vol ta das dez horas da manha,

passeava com os fi lhos ao longo da costa.

« Trabalhamos — escreveu Vacquer ie— e passeamos na

Lemos duas ou tres gazetas e conversamos :

L onga conversação da soledade a respeito do generohumano, a respeito de tudo ; acerca do ' que vemos e deq ue tomamos a ver ;acerca da fo lha que brota no jar

dim e da idéa que germina no seculo ;acerca do futuroe do passado, do progresso e do abso luto. E sempre che

gamos a es ta conclusão : a vida. A vida sob todas as

tem as , o pão para os esfaimados , a l i berdade para os

opprimidas , a educação para as cr ianças . a igualdadepara as mulheres , a paz para as mães , a vida para os

cr iminosos , a vida para os condemnados . Abol ição docar rasco que decapita o homem da cabeça e abo l iç ãodo nada que decapita o homem de D eus .

« D iscutimos a natureza e a alma ; e o pai ensina os

fi lhos e os fi lhos ens inam o pai. »

V ictor Hugo em Hautevi l le—house tornava—se prodig iosamente forte e vigoroso. D evia isso aos banhos do mar.Tomava-os quas i diar iamente. A tez bronzeada. os cabel los raros , a comprida barba, metamorphoseavam—no;

acrescenta Beauval let. 0 V ictor Hugo de então, não

parecia o mesmo.

O s serões naquel la casa do exil io decorr iam em agra

davel conversacao. A ss im, no meio de interessante dlalom, o poeta, sem proferi r palavra, levantava—se e desapi

parecia. N ão se est ranhava. Subia para a sua trapei ra

H om: et g r imaces , 5) ed., pag. al s .

as ;

— N ão julgas atrevimento pô r o grande poeta em

x ena a faltar ?— interroguei.— N ao. El le desculpara a ousadia. A o Braz Mart ins é

que daremos esse papel .— F iz a dil igencia para imitar o estylo do Mestre.

Conto com a sua bondade. V ictor Hugo symbol isa a

alma da Franca. E' o seu maio r poeta ! Está nel le um

fóco de luz, que i l lumina o mundo.

Braz M art ins acudiu— Vou es tudar com amor esse papel . A responsabl ll

o

dade é grande, mas a minha vontade é de ferro.

Abracei os ar tistas , agradecendodhes a boa vontade

com que attendiam a Cesar de Lacerda . Em ass umptos

dramaticos este gosava de bom cred ito. E ra mestre . Em

poucos d ias foi à scena e representada com applauso.

O theatro teve seguidamente tres enchentes reaes . N emum logar vago. A colonia francesa acorreu a tomar os

camarotes . D e um navio de guerra france:desembarcaram, para i rem ao G ymnasio, o comman

dante e a otiicialidade dispon ivel do serviço de bordo ;edestes ofiiclaes recebi no dia seguin te um agradecimentoque me penhorou e sens ibl lisou.

Confesso que os applausos recebidos nessa no ite, geraes e espontaneos , me commoveram profundamente.

N ão poderei esquecer jamais no ite de taes commocõea.

Nenhum auctor novel se esq uece de uma estreia dessas !

1 A'

s armas . pela M m ! S eena dramatice or iginaletl

'

erecida a Victor H ugo, etc. L isboa, r87 1 . Com a tr aducção

em frances,

mais traço do nobrenovel compos itor da Belgica. de appellido

ped iu—lhe auctorisaç ão para compõr em muâca

uma poes ia extrahida dos Con tos do ” apresenta. O poemrespondeu :

oA ucto r iso o sr . Zenon a publ icar , com musica sua,as pa

tavr as : R ognpe aur or a.

. S e houver lucro s, queira fixar os meus direi tos de auctu'

quan tia que se lhe figur ar r asoavel a dis tr ibuir á pelºs

pob res . Victor H ugo. .

XL

Em 1 87 t V ictor Hugo já estava em França e tomavaparte nos trabalhos da assembléa nacional nas importantes sessões . que estiveram sempre agitadas , para a

d iscuss ão dos prel iminares da paz. Entravam nellas osmelhores e mais fogosos oradores . F oi, numa sessão de

março daquel le anno .muito notavel o discursode Thiers ,que era então o chefe do poder executivo.

Tenho cºpia dess a sessão conforme notas estenogra

phicas in-extenso publ icadas nas fo lhas par is ienses . P re

sidia G revy .

V ictor Hugo tambem entrou na controvers ia, mas comserenidade. Parecia—lhe que via nas mas os pruss ianose ouvi ra as descargas das suas centenares de peças de

artilher ia a fuzi larem os compatr icios . A sua oração foi,

porém, vehemente contra o in imigo, e oommovida pelasdesgraças da patria. Interromperam—no por vezes e gr i

m mm.

— Falle mais alto !P A CTO . H OW! D O I I U u m - N N O l l

eloquentiss ima do egregio eccoou

' u re é que repres enta a França ? O que contém

is intensa. Acima de vós , acima de mim, acimatodos , que temos um mandato hojemas que dei

tw os de tê—lo amanhã , a Fr ança teve um grande tepresen tante, representante da sua grandeza, do seu po

der, da sua vontade, da sua h istor ia, do seu futuro, re

presentante permanente, mandatario irrevogavel ; e este

representante é um heroe, e este mandatario é um gi

gante. Sabeis o seu nome ? Chama—se Paris . E sereisvós representantes ephemeros , que quereis destrui r esserepresentante eterno ?

« N ão sonheis com isto, nem commettais a ta falta»O grupo dos deputados do Sena tambem represen

tara no mesmo sentido, elevado e patriotico.

XL I

Aproximei V ictor Hugo , 0 grande poeta frances , deLuiz de Camões , 0 grande poeta portuguez, no celebreepisodio tragico de lgnez de Castro ;aproximei-o noutro

lance de sensaç ão com o laureado poeta Anton io Fel iciano de Cast ilho, quando ambos , em s ituação afã ictiva

de dois condemnados , para tirar de sobre el le a tremeuda e inexoravel sentença que lhes indicava o cadafalso.conseguiram do poder super ior a s uspensão dessa igneminiosa sentença ; e agora col loco o egregio vate e prq

pagandista do bem na França, com o fervor do seu cc

rebro vu

' lcan ico, a col laborar egualmente com poetas e

homens de lettras portuguezes em obra que poderia beneficiar os escriptores de todas as nacional idades e assegurar

-lhes melhor futuro pelo reconhecimento un iversaldo di reito de propr iedade, l ivrando essa propriedade devexames e usuras , que a amesquinhavame humi lhavam.

A me io anno t 878, no seio da sociedade dos homensde lettras da França, vozes auctor isadas se ergueram

265

nomes de abalisados professores , como Henr i M art in . que

tem fama europea, especialmente pelos seus estudos

his toricos . Reg isto—o com jubi lo, para ºppO r a tantas cousas incorrectas da imprensa es trangeira a respeito dePortugal .Em feverei ro, 1 88 1 , foi celebrado o ann iversar io

natalício de V icto r Hugo e a As sociação internacionalquiz dar ao subl ime poeta nova demonstração do seu

alto apreço, l igando em mensagem commum os votos de

todos os col legas , dentro e fôra da F rança. N ão lhe

fal taram adhesões de todas as partes . Em poucos dias

estavam col ligidas tozooo ass ignaturas e esperavams e

mais .A s folhas da respeitosa homenagem foram encader

nadas em do is grossos volumes entregues ao poeta por

uma deputação. A el la agradeceu V ictor Hugo com es

tas affectuos iss imas palavras :« N ão merecia ta l honra da associação litterar ia inter

nacional . L isongeio-me de que fizesse brotar na consciencia de todos a idêa de honrar as lettras . porque são el lasque salvam hoje a França e o mundo inteiro . N ão sou

nada. Sou um homem que cumpre o seu dever . Nuncame deixou este pensamento. Levou—me ao ex i l io, ondequizera mor rer . F oi el le que me reconduziu aqui , onde

não sou já desterrado, porque me vejo cercado de ami

gos e col legas .»

rr amigo do poeta e M es tre, quiz festejar es se grato

res , que podiam torna r mais jubi loso e so lemne o ban

quete. E ntre os conv ivas notava—se Emil io A ug ier , o

celebre dramaturgo, que es tando , pelo as s im dizer , em

contacto com os pr incrpaes theat ros de P ar is e nas me

lhores rodas intel lectuaes daquel la opulenta capital , nãofôra apresentado até áq

'

uel le dia ao egreg io poeta, e só

o conhecia de vis ta.

Lefevre, segundo penso , preparára de propos ito este

encontro, que ser ia agradave l aos dois . D isso deu conta

J ul io C laretie, nessa época, numa das suas interessan

tes e elegan tes chron icas de L e T cmp: de fevereiro do

mesmo anno . P o r occas ião dos br indes trocaram- se as

mais car in hosas e amoraveis ph rases . L ) pr imei ro foi de

A ugus to Vacquer ie a arte dramat ica, representada po r

XL III

O importante l ivro H is to r ia de um cr ime veioapparecer c

o

m Par is em 1 877 . O auctor pôz á frente a

seguinte declaração

« E ste l ivro é mais que actual ; é urgente.

« P or isso lhe dou publ icidade.

« Paris , 1 de outubro,

N a pag ina seguinte, o poeta affi rmava que o escre

vera 26 anuos antes em Bruxel las , nos pr imei ros mezesdo ex i l io. Começara-o nos âus de 1 851 e concluí ra-oem 1 852 , consumindo portanto nesse trabalho pouco

mais de cinco mezes e só difiiculdades domesticas e

outros quefazeres inadiaveis é que t inham demorado a

publ icação. N o manuscripto de então fizera poucos reto

ques . A bundavam nel le os pormenores verídicos .

N o Porto, sendo editor Joaquim ignacio Saraiva, foiimpressa uma traducção : H is tor ia de um cr ime. D epoi

” ren /o tes temunho . Versão.

emigradoco , illustrado com magn ificas gravuras . Porto, 1 89 1 .

gr .

A s gravuras, em parte, foram reproduzidas em Lis boada edição franceza e confiadas ao distincto gravadorCaetano A lberto.

Em 1 878 o conhecido ad vogado l isbonense, dr . A lfredo Ansur , compuzera em francez e dedicára a V ictorHugo, a quem denomina « doge des poetes français ,

maitre cher, venêrable» , um poemeto de exaltação « ao

Verdadei ro, ao Bem e ao Bel lo» , como resurgimento de

idéas novas .

272

savejá dos 80 armas de edede—

que acompan har: o

secu lo XIX no seu desenvolvimento e na sua acção pro

gress iva, para que el le contri buira com a enorme força

das suas obras immortaes !N os ultimos s unos , po is , V ictor Hugo reviu e ampliou

apontamentos , que estavam incompletos desde o seu

ex i l io e aformoseou trabalhos começados que ainda passou às mãos dos ed itores . D ah i temos , ent re 1 880 e

1 88 3 , R el ig ión , o drama T or quemada , a L enda das

S ecular , a A r te de ser avó e outros l ivros .

A g lor iosa e assombrosa carrei ra de V ictor Hugo findou na manhã do dia 22 de maio 1 885.

A perda não foi só grande e sens ível para a F rança

foi par a o mundo inteiro culto !.Homens da sua estatura não apparecem senão de se

culos a seculos para darem nome a epoca em que floresceram e des lumbramentos a patr ia a que pertenceram,

dessa patr ia donde aquel le gigante '

das lett ras franeen s

evangelisâra em idioma un iversal !N ão esqueça que, aos derradei ros momentos de V ictor

Hugo , ass istiu com outros discipulos e amigos intimose fieis do poeta , Augusto Vacquerie, a quem tenho ci

tado e a quem egualmente não quero deixar de render

nes tas paginas o tr i buto da minha admi ração pela con

stancia e pelos pr imores do seu affecto li l ial ao grandeMestre.

N um l ivr o pub licado , ba m as, po r Magalhães Lima,t eores de ques tões sociaes, é citado com delicadeza, pondolhe o retr ato, A ugus to Vacquer ie, de quem diz :

. A ugus to Vacquer ie em F rança, o con tinuador da obra

V ictor Hugo determinara, no seu testamento, o se

guinte

( D esejo ser conduzido ao cemiter io no carro dos po

bres .

« R ecuso os officios funebres e as rezas de todas as

egrejas . Peço uma oração a todas as almas .

«Creio em D eus . »

Como o corpo do egregio poeta fosse embalsamado e

o governo francez desejasse, com o voto unanime dos

corpos legis lativos , que se lhe prestassem as hon ras civis

e mi l itares que podiam ser concedidas ao maior cidadão

da F rança, aguardando que viessem ás ceremon ias fu

nebres representantes de corporações diversas , tanto na

cionaes como estrangei ras , o funeral só veio a effectuar

se dias depois .

O feretro foi pr imeiramente col locado no catafalcoarmado sob o arco monumental da Estrel la, nos C ampos E lys ios , e dal i levado para o pantheon nacional naant iga egreja de Santa G enoveva, com acompanhamento

como jámais se vira em P ar is .

A revista l itterar ia il lustrada O O cciden te dedicou a

de Victo r H ugo . J o r nal is ta pr imo roso , poeta e aucto r drama

t ico applaudidiss imo, a sua vida podia servir de modelo 11 to

dos o s que às lettr as e àpo lítica se consagram . E'

um puro,na verdadeira accepção da palavr a, e nunca jamais ambi

ção macu lou os seus pr incipio s ou a vaidade to ldou as sua:

aspir ações .

m er o s a H O M E N S p o uau r s upo — r ouo

moso acontecimento um numero especial e sup

com' boas gravuras , no qual Cºl laboraram,

alguns pr imorosos trechos est rahidos das obras deator Hugo, Pinheiro Chagas , Jayme V ictor , G ervas io

e Caetano Alberto.

276

M esqu ita, Henrique de Vasconcel los . Candido de P i

gueiredo, José Par reira, Lourenço C ayol la, Raphael Borda l lo P inheiro, L orjó Tavares , Jayme V ictor e quem es

creve es tas paginas , que estava em exercicio effective

na dita associação .

N a carta, que endereçara a gazeta N ovidade : , elo

quente gr ito em prol da sua nobre idea, voz s incer a docoração de poeta, escrevera Jayme V ictor :

. O nome do poeta supr emo da nossa raça, evocado pelo :

nobr es espir ito s que mais o admirm m e nunca o “ qem

ram,vae de novo scin ti lln r como es tr ell a de pr imeir a gr an»

deza, cuj0 br ilho il lumina com a mesma in tensidade, 0 seculo

que findou e 0 seculo que começa . E sse nome aur eolado de

todos as glo r ia: e uma gl o r ia humana E ase voz que num lar

go espaço de tempo se ergueu, al tiva par a os poder o so s hu

milde e compar ei" par a os miseraveis , fo i escutada em todo s

o s r ecan tos do globo . E ssa lítteratura que ell e creon fe: ea

cr iptor es, in spir ou poetas, e cr eou litter aturas . T odas as ideas

que atr avessar am o seculo , do qual disse no declinar da vida

C e .r r'

êcle est àla bar r e er j e suis son remain

foram fil tradas pelo seu espír ito e do iradas pel a sua poes ia.

O : anceioa, os murmur ioa, os clamores , as vibrações infin ita:de natur eza, acharam forma onomatO paica, a express i o

rythmica na sua l inguagem poderosa, dominan te. N enhum

sen timento, nenhuma paixão , nenhuma dô r humana deixou

de passar e impr imir vest ígio na sua aime feita

D e ver r e pour g émír , d'air ar

'

n pa r resista

P ó : e arte ao serviço da bondade, pela clemencia tor nou

277

a just iça mais jus ta, e como Jesus , que depo is de chamar a

si os pequen inos empunhou o latego para cas tigar o s vendi

lhões, elle, depois de redimir os miser aveis,escr eveu o s C ha

rimeurs .

A s duas gr andes M ada da y ida — a mocidade e a velh i

ce — apr 0aimou—as pelo amor e pela ter nur a, e d'

esse vas to

coração d'onde tinham caido pro fusamente as pedr as faíscan

tes das O ficina s , sai r am quasi setenta annos de r—ois , com a

mesma inten sidade e 0 mesmo vigo r , essas pero las da melanco l ia e da saudade que se chamam A ar te de ser avó.

P o rque per tencemo s àr aça que e ll e nob il itou com 0 seu

es tro, porque em versos radioso s el le can tou mais d'

uma vez

o pais de C amões e do G ama, po rque nenhum outr o escr i

ptor influenciou como el le a lítteratura por tugues a, porque

o no ss o es pí rito deve ao seu gen io ho ras d'

um encanto abso r

vente, e porque ser ia, emfim,uma falta nacional o abatermo

nos de tomar par te na apo theos e de que àF r ança cabe a iniciativa. é po r tudo isto que eu, decer to como v.. reputo indis

pensavel uma commemo r ação po r tugues a ao lado das quepo r outr as nações ja es tão sendo annunciadas

S eja como fô r , o que e necessar io , o que é fo rçoso , é que

as palavr as que R enan fi rmou repr oduzindo -as quando a F ran

ça acclamou o s g lo r iosos oiten ta armas de Victo r H ugo :

O nor are l'

al l r'

s sr'

mo poeta

não fiquem letr a mo r ta em P or tugal ago r a que 0 mundo vae

r egistar em letras de o iro — como se fô r a o baptismo celebrado pe los secu lo s avoz do s poetas , ao som das mus icas,

gratidão da pat r ia e d evocaçã o do s povo s , o momento his

tor ico do seu nascimen to .

Es ta voz teve um ecco sympathico. F oi ouvida e co

louvores unanimes pela clas se a que era espe

di rigida .

omissão consegui ra que Raphaelm attenção a instancias

um bom ret rato que

em gesso de tamanho i' que, em plintho ornamen

(do de flôres , fô ra mandado col locar ao lado da mesares idencial na sala da Sociedade de geographia, ser

vindo—lhe de ornamentação a bandeira nacional .A commissão, com effeito, empenham

-se toda na ih

execução do bel lo plano adoptado, e que produziu

no publ ico e attrahiu extraordinar ia concorid a às amplas salas da Sociedade indicada ; masjustiça, que não pôde regatear

-se nem se deve os

er , declarar se que sendo eguaes a boa vontade e

v a e sforços de todos , deverá especialmente mencionars e,por exces so no trabalho, por sal iencia na col laboração

pres tadía, que tamanho esplendo r e hon ra trouxeram aos

elevados intuitos da A ssociação , os nomes e os serviços

dos prestantes consocms A lfredo da Cunha, L orjó T avares e Bordal lo P inhei ro . J ámais serão o lv idados es tes

nomes . F icaram regis tados nas pag inas mais br ilhantesdos annaes da A s soa ação dos jornal is tas . T ratava- se do

maior poeta da F rança, sua leg itima g lor ia !A ses são teve não vulgar realce, para o qual contri

buia o esplendor da sala P o rtugal , a benevo lencia dai l lustre di recç ão da benemer ita S oa edade e a concorren

cia extraordi nar ia, que se contou por milhares , e onde

es tavam representantes do gover no , dos corpos co- leg is

do r, deixou de certo em todos recordação perduravel e

até nos que trabalharam para esse bom resultado .

E is a poes ia, a que al ludi acima

E m H ugo ador emo s a flô r da P oes ia,A mys tics fl ô r,T ecida com beijos de luz e harmonia,G erado po r alma da graçae do amo r .

E m H ugo ado remo s 0 gen io bemdito ,

O genio sem par ,

Que mos tr a vis ivel.

o D eus infinito

N as l inhas da es tatua de bro nze ou gran ito ,

N as sylabas pobres dum ver so a cantar .

E m H ugo ado r emo s a voz da tr is teza,

S ymphon ica luz,

Besando 0 calvar io da M ãe—N atur eza

Quer tabo a nas ondas . quer pão sobr e a mesa,

Quer fer a na jaula, quer homem na cr uz .

mo r avcl so lemn idade, e 0 quadr o , em grupo pho tographico ,

da commissão o rgan is ado r a des sa sessão r eal i sada na « S a laP o r tugal . da S ociedade de G eogr aphie, tir ado pelo con side

r ado pho tog r apho A r naldo da F onseca, co l labo rado r ar t ís t icoda citada r evis ta.

N a pag .

'42 i vem O bus to modelado po r Bo r da l lo P inheir o ,

com as H ô r es e a bandeir a po r tugueza , como se viu e adm i

r ou na s es são .

E m H ugo ado r emo s 0 meigo gigan te,

O c lar o titan ,

Que ar r asa o s ba luar tes do mal tr iumphan teE ampara verdade com 0 seu mon tan te,

Br i lhando na g lor ia do so l da manhã .

E m H ugo ado remo s O ver bo d'

esperança.

O D eus G ermina l,

Que inflama as estr el las , o s mon s tro s amansa .

G o r geia na ave,sor r i na crean ça

E esplende na auro ra do beijo immo r ta l

Mas como ado ral o o D ando a V lda ao can to ,

T raduzindo O som ;

O hymno piedoso , mais bel lo e mais san to ,

N ão tem mais piedade, mais do r ido encan to

Que lagr ima tr is te do mendigo bom .

E m H ugo ado r emo s o D eus que 0 inspir a

S er á no s so irmão .

i rmana—se ao gen io quem a D eus aspira .

O fulgo r que b r o ta da mais a l ta l i r aC abe n o mais r ude, s imples co r ação .

O M es tr e ado r emo s , en lacemo s pa lmas

E m to r no a Be l leza, que e Verdade e A mo r

S eu o lhar que do ir e no s sas fr on tes calmas .

Venha a nós seu gen io par a as nos sas almas ,

C omo a luz do s as tr o s par a a ter ra em fl ô r !

F ever e i r o l in e.G U ER R A J U N QL

'

I IR'

O .

d iversas corporações officiaes e particulares , a legaçãoda repub l ica franceza e aos memb ros mais dis tinctos e

infl uentes da co lon ia franceza em «L isboa, para que con

corres sem e des sem maior br ilho e lus tre àfes ta com

memorativa de Victo r H ugo , recebi mui tos officios e car

tas de agradecimento , que me foram endereçados e que

não tiveram pub l icidade na integra, mas de que se fez

a dev ida e oppo rtuna menção na imprensa quotidiana.

D esses officios registarei aqui dºis , com que me hon

rou e àassociação i ndicada, a legação franceza, que

nos deu ass im tes temunho de elevada cons ideração e

prova do apreço em que t ivera a homenagem pres tada

pela impren sa portugueza mai s uma vez ao seu eg reg io

poeta.

na u

M onsrs ua u P aásios irr

J'

ai tr ouvé_a mon retour de F rance l

'invitat ton que vous

den t, a or gan isée en l'

honnezur de Victo r H ugo .

M . L e Brun m'a déjàexcusé s up res de vous . Mais je tíens

r éun ie, le 26, sous vo tr e pr és idence, avec quel talent et queléclat les o r ateur s qui on t pr is la par o le devant e l le on t fait

va lo ir la vie et l'

oeuvr e d'

un des plus grands poetes qui honor en t le gén ie latin : je vous r emercie bien s incéremen t

,vous

et vo s co l labo r ateur s . de vous êtr e as sociés d'une façon si

imposan te aux sen timen ts qui on t an imé, ces dern ier s jour s,mon pays .

A gr éez, M ons ieur le P res iden t,les assur ances de ma co n

sídération la plus dis tinguée.

M ons ieur de Br ito A ranha, P r és ident

de l'

A s sociation de J ournalistes àL isbonne .

A . R O U Vi s R .

XL Vl l

A s obras de V ictor Hugo traduzidas em portuguez. e

na maior parte impressas em L isboa, são :1 . L ucr ecia Borg ia .

— E'O numero 5 do A r c/t ivo

thea tr o ] , impresso em 1 8 38 . F oi por differentes vezes

representada no theatro da R ua dos Condes .

2 . R uy B r az , imitado em prosa por Eduardo de

Faria. L isboa, 1 840 . 8 .

º de 1 94 pag.— F oi represen tado

no theatro da R ua dos Condes .

3 . Tambem foram representadas em theatros portu

guezes , as traducções do H er nan i , M an'

a

'

T udor e A n

gelo .

4 . M ar ion de L o rme foi traduzida por João R icardoCordei ro Jun ior, auctor dramatico laureado, mas não a

vi impres sa.

5. N ossa S enhor a de P ar is . H a diversas edições em

portuguez. A s primeiras , que appareceram no mercado

l itterar io, sairam da typographia da Sociedade propagadora dos conhecimentos uteis , em 1 84 1 , 8 .

º de 538 pag . ,

sendo traductor Eduardo de Faria, que tambem foi edi

ilíotlteca econom i a e ahi reproduziu o notabio

a mente de V ictor Hugo em 1 852.

1 887 saiu da typographia E lzeveriana, do P orto, "ova traducção do romance N ossa Senãor a de P a r is ,

ior João Pinheiro Chagas . 8 .

º, gr . de Xl

-

725 pag . com

u ns reproduzidas da ed icªo franceza, que o auctor

ueciarou ser a defin it iva com os accrescentamentos que

completavam es ta obra na parte h istor ica e artística.

ntre os desenhos entraram alguns do proprio auctor .

Nes ta ed ição portuguesa ha ainda que notar o se

ite : parte, não sei qual , foi impressa na typographiau e stro irmão , Lisboa, conforme vem declarado no

fim.

7 . H an de em , traduzido por Miguel Anton io dai. A pr imeira edição é de 1 84 1 , 8 .

º de 3 tomos ; a

—rida de 1 840 ; e a terceira, na Bibl iotheca econo

mica, 4 .

º

8 . Bug . ] a r ga l , t raducção de P edro Cy r iaco da S ilva. ( 1 8 . 8 .

º

9 . Ca r ta de Victor H ug o a lor d P al mer s ton , secr e

tar io de es tado do in ter ior em Ing later r a , 1 854 . 8 .

ºde

1 4 pag . L isboa,na typographia da R evolução de S e

temór o .

1 0 . O poór e C laudio ou o condemnado a mo r te, tra

duzido por F . L . Coutinho de M iranda. 1 857 . 8 .

ºde 3 2

Pªg

1 1 . D iscu r so pr onunciado por M r . Victor H ugo na

reun ião pol itica realisada a 1 5 de junho 1 860 em J er

sey , traduzido e. precedido de uma noticia por José da

Silva M endes Leal . Saira pr imeiro no j or na l da Com

Muitos poetas portuguezes tem feito versões de tre.

chos poeticos de V ictor H ugo, e en tre el les posso citar

P inhei ro Chagas , M endes Leal , Fernando Leal , Lopesde Mendonça, D . João da Camara, Eduardo Coelho,Jayme V ictor, etc. Fernando Leal é, de certo, o que temmaior numero de poes ias traduzidas do grande Mestre.

A empreza editora l isbonense denominada da « H istor ia de Portugal» emprehendeu e concluiu, de 1 90 1 a

1 90 2, a impres sao de traducções de var ias obras do

egreg io escr iptor , dando àes tampa nesse período mais

de 50 volumes numa col lecção popular de « R omances

celebres ,» na qual estão incluidos o N ovm ta e tr es , O

homem que n'

, O s misen w ez'

s,H an de Is landia , H o

mens do ma r , Bug-j ar ed ] , Il ís lor z

'

a de um cr ime, N a

poleão o pequeno e N os sa S enhor a de P a r is , com 0 que

a dita empreza fechou esta serie de trabalhos de V ictorHugo. Cada tomo tem entre 1 50 a 1 60 paginas .

T O M O S EG U N D O

F A C T O ! E H O D N S D O I I U TE M P O - TOMO l l

P ao

1 1

(Ben jamin ) " 164267

'unio r (João R io

1 85

; M íranda (F . L . )168

( n a : ( L aura ) , na r iz . . 2

23C unha (A l fr edo da) . 275,

D

"

)elacro ix (E ugen io ) . 1 55tl avígne 163

083 0 ! "4(gen eral J oão M ar

u uSà I l sD o rva (actr iz ) 169D umas (A lexandr e) 1 14,

1 77

E

.uar do C o elbo 20 1 227

F

F ªr ia (E duar do de ) , ªu Kleber o

eto r e edito r . 285

F er r eir a M endes 275

F er nando O r ei ar

t l s ta . 263 º º º º º

F e r r e i r a de M esquitaº º º º º º º

(C onde de M esqmta) . 254F er r e1r a da S i lva, acto r . 287F er r eir a da S l lva Vieira

( F r ancisco ) 2 14 . 287F il lon (A lfr edo ) , pho to

g r apho . 2 3 1 , 232

F igueir edo (C andido ) . 276

F o n seca (A r naldo da) . 280F oucher 1 1 9F our n ier (O r tal r e ) 20 7

º º º º º º º

G

G aut l er (T he0 phil0 ) 1 55

163,1 77, 1 90 , 263

H ar-el

(A leP ;0 (C ar losl ;o ne

h go adama)

I

Ignez de C astro 1 24

J

J o ly (A nteno r ) 183

K

L

L acerda (C esar de) , 11 11cto r e acto r 25 1 252

L acr o ix (edito r ) 223L amar tine . 1

74

L amennas 1 3L atino C oe lho 20 7L eal ( F er nando ) 280L e Br un (R aphael ) 283L efevr e (E r nes to ) . 2 20 , 265

L em a i t r e (F r eder ico ) ,acto r 183

, 185L emo s J un io r (M ax imil iano ) 2

8

L erm 1na (J ulio ) 260L ºpes de M endonça 1 79L opes deM endonça (H en

r ique) , 275, 279 289

L o r jó T avares 276,L uis R ei

L uis F il ippe (R ei) , 168182

L uco tte

L uco tte (general )

M agalhães L ima . 275,M ar s (actr iz ) .M ar tins (Braz ) , aucto r e

acto r 252,M aur ice ( P aulo )M endes L eal (J ose' da S ilva), 261 , 263 , 286 .

MeryM esquita (A l fredo )M irecour tM on talember tM or aes C ar valhoM usset (A lfredo

N apo leão I 1 19,N apo leão "I. . 1 73 , 20 7,N odier (C ar lo s )

0

O l iveir a P iresO r lean s ( D uques de ) .

P

P ar is (C onde de)P ar r eir a ( J o sé ) .P as to r , gr avado r .

P edr o

P él letan

P inheiro C hagas (J oão )

293

S aint-Victo r (P aulo )S araiva (J oaquim Igna

cio ) , edito rS andeau (J uho )S ch i ap a de A zevedo

(J oão aptis ta) 228,S ilva (M iguel A nton io da)S ilva ( P edr o C yr iaco da)S ilva T u l l ioS ilva Vieir a ( F . F . da ) .

S imões L ucil 1a), actr ie .

S imões (L ucinda) , actr 1zS oumet

S ue (E ugen io )

T

T as tu (M adama)T aylo r (Barão ) 160 ,

T e1xeir a de Vasconcel lo s(A .

P in h e i r o C hagas (M anuel ) , 222 , 223 , 239, 263 ,

.

ª74 3 79P i nto (G eo rgma), actr 12 . 279P ires 1

P lanche ( G ustavo ) 152P ugn i M estre) 172

P yat ( elix) 165, 2 10

R

R ambo is

R angel de L ima, S enior .

R a nouard

R e el lo da S ilva (L uis A ugusto ) 20 1

R ibeiro (T homás )R odr i ues de S ousa e S il

va A n ton io ) .

R ohan (D uque de)R ouvier (A )

P ao .

64, 257 V icto r (Jayme), 274 , 275,asede) 2

1 (S ophia) 86

V (P aulo )(10 2 (H en r ique Wal ter S co tt . . 1 56

1 90 , 2 1 2,2 14, 2 17,

Vaper eau 1

6

15 Zeno n

Factos e homens de 111111 tempo

MEMORIAS DE UM JORNALISTA

C o m p o s t o i m p r e s s o n a t y p o g r a p h i n

D A

P BRCERIR A NTO N IO MH RIR P ERE IRA

R ua A ug us ta ,a 54

L IS B O A

Editores , l1vreiros e gravadores

N ão tratarei de todos com os qt1aes tive relações , massómente de alguns , ou po rque es tive perto del les , oucom el les trabalhei e convivr em mais 1nt1ma camarada

gem, durante a mlnha longa peregr inaç ão , nem sempre

ag radavel e l isongeira, nem sempre desannuv iada e isenta

de contratempos , pela 1mprensa, num m0 1rejar que aco

bardar ia m11 1tos e que— não deixarei de confessa- lo

po r vezes me apavorou, sem que todav 1a pe rdesse intel

ramen te 0 an lmo para reagir e para me empenhar em

novos embates , com a esperança de vê r luz onde só se

me deparavam trevas . Quem pára , s u1c13a-se, porque

não pode vencer dep0 15 o ter reno que vm perdendo.

F al tam-me elementos para de ixar aqu1 Informações

certas e completas , e po r 1sso me I1m1to a S Imples indl

cações . A an t lga casa Bertrand , ao Ch 1ad0 , esteve a meio

seculo XIX , num pe ríodo aureo da sua elaboração l itte

rat io—industr ial e os mais afamados e cons iderados as

criptores des se periodo , A lmeida G arrett

Herculano, davamaquel la casa

no mercado da l ivrar ia cousu

pelos editores até então .

A casa R o l land, cujo CEJ “ h era de França estabele

cer-se em Lisboa no ul timo quartel do seculo X V III,tambem l estava em act ividade e o seu commercio, que

incluia ós productos da industr ia typograph ica, lançavano mercado muitas edições apreciaveis, entre as quaespoder ia citar reproducções de class icos protuguezes , de

accõrdo'

com homens eminentes nas lettras e nas scien

cias .A s edições da casa R o l land, que tinha tambem ad

junta a typographia, no edificio onde passado alguns an

nos e depois de extincta essa casa, veio a estabelecer—s ecom esplendo r o R eal G ymnasm C lub , não se notavam

por sua bel leza a rt1s t1ca e pouco demons travam dos pro

gres sos já ev iden tes nos proces sos da mdus tr la, po is as

ed1ções , pela ma lor parte, eram pobres , 1mperfe1tas , 0

papel empregado nel las era do mais inferio r , nem s e

to leraria hole nas mãos dos rapazelhos que nos gn tam

de manhã cedo aos ouv1dos com as nov1dades do d 1a ,

muitas vezes 1nd1ges tamente cos inhadas .

A lgum tempo depo1s , quando a casa t inha j á mudado

de fl rma soa al , e accusava a decadenc1a que a prea p i

tou, é que sairam del la a lgumas ob ras ma1s n 1t1damen te

1npres sas , porém em tvpog rapln a alhe la, accusando uma

des sas ob ras a lgum esmero , e era uma pub l icação , l 1t

teraria com bel las estampas , gravadas por art1stas bem

correr antes as boas obras do seculo XVIIIe do começodo seculo XIX, do que as que enxameiam, de banzes e

r idiculas, pelo correr desse seculo e já invadi ram 0 X X ,

sem beneficiar as lett ras , nem acsciencia, nem a civ i l i

sação .

E ainda poderei ajuntar ª M o i r e de P ar ! chez les

and em , por M .Wincke lman , trad. por M . Huber , ed iç ãode Paris em 1 780 , com g rando numero de es tampas

gravadas em metal , trabalho mui perfeito que me dáidea das pr imorosas gravuras que o celebre Barto lozziexecutou del icadamente e com grande relevo ar t is ticopara muitas edições portuguezas , sem fal lar de out ra

edição anter ior da mesma obra feita em Amsterdam po r1 766, e ambas apreciadas nos mercados quando appa

recem para os bibl iophilos e os alegram.

Isto em Lisboa. N o Porto medravam e prosperavam

os l iv reiros edito res M oré e Cruz Coutinho , este ul timo ,

com an imo ousado , po1s não se l lm l tava a desenvo lve r

o commerc1o da sua 1mpo rtante casa, em P o rtugal e n o

B ras nl ; mas atrev 1a-se a entrar em empres as ) O I'

l l a l l S t l

cas de vulto e a l nda des tmava ho ras de ser la ut 1 l 1dade

e improbo lavô r para empregar em es tudos luteran os ,

de que deixou provas .

A casa M oré era adm 1n 1s trada po r um homem de no

tavel merec1men to e muuta erud lçao , l itterato e cr 1t 1c0

mu i ins truído ,G omes M on te1r0 , que soube dar ma lo r

lus tre ao es tabe lea men to con fiado ao seu saber , á s ua

hon radez e ao seu amo r às lett ras , an imando os escr l pto

res 11ac1onaes , aco lhendo-os bem, ma tando—os com cm

ter iosos louvores e mandando—lhes 1mpr 1m 1r as producções

com esmero , com que fez realçar a arte typographica no

Porto.

Em Coimbra, além da casa O rcel , que conquis touboa fama, e de outras , que deixo de citar por brevidadesobresae ao presente a todos naquel la região e no paiz,

a do ousado editor França A mado, que tem dado far to

contingente de boas obras para en riquecer a lítteratura

nacional.

. O s homens de lettras podem confiar com se

gurança neste consciencioso e intel l igente editor.

A o par da prosper idade e do desenvo lvimen to, q ueiam apresentando as casas citadas , accen tuando o pro

gres so notado no commercio dos l ivros , appareciam no

vos ed itores e as novas edições , an imando os es tu

l S O S e os escr 1pto res , que se enfi leiravam na cruzada

da C 1v 1hsaçao , mult1pl 1cavam—se e barateavam- se, es t im u

lando novos emprehend1men tos , nos quaes se empen ha

vam mu1tos e ent re e l les con temos E duardo de F a r ia,

F ernandes L opes (que to 1 realmen te atrev ido , mettendo

homb ros á empresa que s ubs t itu1u a do P an o r am a e

que v iveu a lguns anuos , att rahmdo a el la nomes bem

cotados e bn lhan tes ) ; M e lch lades , C ampos , A rthu r da

S i lva (que lançou no mercado uma bel la xersão do

D . Qu ix ote) , os repres en tan tes da cas a M arques , D av id

C o razz1 , que empregou com ous ad1a os seus me1o s de

d ivulgaç ão das edições ; P edro C or re ia , etc. D es tes v ie

ram para o mercado , opu len tando—o , l 1vros var iados e ba

ratos , não d1re1 que fossem todos bons , de sã le1tura , de

r ina, que é a dos livreiros . O fi lho do sobrinho do M ar

ques , '

que é zeloso empregado na bibliotheca nacional

de L isboa, disse—me que tambem ainda conserva re l igiosamente todos os diplomas de seu pae.

D entro de poucos anuos , a livrar ia Pereira adq u ir iaboa fama e via augmen tar o numero de seus cl ien tes e

correspondentes , ass im no continente de Portuga l comonas i lhas adjacen tes , no u ltramar e no Bras il; e com

es te nome glo r ioso, em concorrencia com outros ed itores

que t ratavam de dar incremento ao seu commercio , a casa

passou, por mo rte do benemer ito fundador , ao seu her

deiro, ao qual transmitti ra com esmerada educaç ão as

boas qual idades que revelára em mais de meio secu lo ,

deixando-l he credito segu ro e geraes sympathias .

D esde que saiu da livrar ia Marques tratei com A n

ton io Mar ia Pereira, Sen iºr, e mantive até o fim as

melhores relações , e tanto que recordo saudoso que,

tendo e l le, na epoca denominada do campo ou ba lnear ,res idencia no largo da P iedade, concelho de A lmada ,

algumas vezes , nos domingos , ia al 1, po r convite e in

s tancia del le, pas sar o dia com a famil ia e ali discor re

ram horas de verdadeira alegr ia e despreoccupados ca

vacos . O fi lho, que havia de ser herdeiro e successo r ,

andava então nos es tudos e conhecia-se que hav ia deser moço appl icado e s isudo. O seu commedimento, em

tão verdes annos , denunciava a formação de um caracte r

de e leição. E que foi !

A s s im, as minhas relações amigaveis e affectuosas

pas saram do pae ao fi lho, apertaram—se e nunca se in

ter romperam, no lapso de mais de cincoenta annos . E n

contrei-os ao meu lado da melhor vontade a auxil iaremme naminha car reira, nos meus estudos b ibl iographicos ,

a fornecerem-mel ivros , e até em algumas pub l icações , quequizeram imprimir a sua custa, deixando-me guiar por

indicações cordatas e de exper iencia, que me davam sem

que antecedesse qualquer accõrdo ou houvesse ent re

nós qualquer diss idencia. F ui amigo s incero de ambos .

Bons caracteres .

O ccorre-me, igualmente, que a l ivrar ia Pereira fôra,ás tardes , logar de selecta e privilegiada reunião de ami

gos velhos , respeitaveis , como o integerr imo juiz dr . JoséM ar ia Borges , 0 erudito bib liophilo Innocencio Franciscoda Silva ; o il lustre O ffl CIªl do exercito Hen r ique das N eves (hoje general reformado) , que co l labo rava em diver

sas pub l icações l itteranas ; e o academico Silveira daM otta, que foi director geral no min ister io da justiça.

D es ses , que augmentavam a fama e o lustre á casa,

ainda ex is te, fel izmente, o general Neves .

bem. A

viuva M arques tinhacada, que estava á frente da casa quando se casou com

M iguel C obel los , conhecedor como poucos da arte typog raphica, que exercera com b l' l lhO . D esta famil ia e da do

C obel los , cujo chefe era o afamado actor T heodor ico, o

« velho» , e dou—lhe esta a lcunha para que não se con

funda com outro actor , seu afi lhado, de egual nome, quefo i g lor ia no theatro no rma l de D . M aria II, tendo co

meçado a sua car reira no theatro nacional da R ua dos

C ondes , guiado por Em i l io D oux , o mes tre dos artis tas

dramaticos portuguezes de mais fulgurante nomeada no

seu tempo .

Tomando conta da direcção da casa pelo seu con sor

cio , M iguel C obel los , que era poeta e mus ico amador ,

quiz ser impressor , editor e l iv reiro, ao mesmo tempo ,

mas n ão fon N enhum homem deve en trar numa

reparadores . N a minha casa, só uma pessoa da familiafõra atacada, mas a doença tomara o caracter ben igno.

N ão me acobardei . Repart i os meus cuidados e creai

novo an imo. M iguel C obel los estava afilicto. V ivendocom a sogra,

' bastante idosa, e duas cr iancinhas menores , que eram o seu en levo e da mãe extremosa, a sua

inquietação augmentou com a enfermidade da mul her .que es timava deveras . Em todos os interval los do meu

trabalho, de dia ou de noite, e a varias horas sem o lharao meu descanso nem ao per igo a que me expunha, cor

ria para o lado do amigo . O ataque, a que vergava a

D . isabel , era dos de peor caracter . O medico as s istente , dos melhores da época e amigo antigo da fami liaM arques , logo no pr imei ro dia, prescreveu que as pes .

soas da casa ficassem separadas nos quartos distantesdo da enferma e não entrassem mais na camara onde

el la jazia.

A afri icção de M iguel C obel los sub iu a um grau ele

vado. Causava las tima vê- lo . N ão o deixei. A ux iliei - o

como me foi poss ivel e com r isco . A D . Isabel , ao cabo

de tres ou quatro dias , sem ter dado acôrdo de s r, por

que o es tado comatôso não t ivera inter rupç ão , succum

b iu en tre os braços do mar ido e os meus .

M iguel C obel los entr is teceu murto. N unca mais o v i

sor rir . O seu es tado de misanth ropo aggravou- se. S en

tiu profundamente a falta da virtuosa mulher , que fôraa sua amiga e companheira dedicada, e abateu. T inhaem s i um peso que não podia vencer . Quando pen sou

que tinha que tratar e seguir a educação dos fi lh in hose que a sua casa commercral não melhorava, antes os

Í 9

negocios para el la se tornavam mais raros e peoravam,

ao passo que outras prosperavam, o que lhe produziadesgosto fundo mas não inveja, porque jamais a alimeh .

tara contra alguem, fez desapparecer a casa. A o que

depois soube, parte dos livros foi transaccionada com o

l ivreiro Campos . que tinha deixado de ser mercador de

pannos para se transformar em editor e consegui ra queo grande Cami l lo Castel lo Branco escrevesse algunsromances , e lhos pagava mensalmente, para serem im

pressas em seguida. A l ivrar ia Campos tambem fechoupassados alguns annos após a morte do dono.

D epois dessa nova catastrophe intima, M iguel G obellos reco lheu-se numa casa da antiga ca lçada do Sal itre,contigua a popular praça de ar lequins que teve esse

nome, e al i viveu com os fi lh inhos , sem querer receberpm oa alguma e de là— infel izmente ! — tiveram que

E s ta no ta e necessar ia .

O l ivr eir o—editor C arnpos , que eu dis se que largava o na

gocio de mercado r par a o trocar pelo caminho editor iamul o

ganda—o mai s lucr auvo , não se comen tou com o que es te lhe

rendia. N ecess ar iamen te lhe dar ia lucr os avan tajado s , r emun eradores do capital empr egado , vis to como se tr atava de obras

de C amil lo, cuja .ex tr acçi o era cer ta e rapida. E r a tambem

cer to que o o r iginal lhe custava caro, a tendendo as ei renas

m eia do mercado por tugues , por ém um aucto r com o nome

de lle tor nar a—se exigen te e era mister que o fosse para não

desmerecer da impor tancia edqui r ida.

C ami l lo C as tel lo Br anco ajus tam, ao que en tão ouvi, es

cr ever tres vo lumes po r anno r ecebendo como r emuneração

um conto de reis, que lhe deviam ser pagos, e tomm com

effeito, na razão de Boom réis e pico, mensalmen te.

2 3

José da C unha, Caldas Aulet, dr. Thomaz de Carva lho,Santos Valen te, Luiz F il ippe Leite, Si lveira da Motta,Travassos Lopes , A nnes Baganha, o que esta impri.

mindo as presen tes « Memorias» e outros.

A hi o temos benemerito das lett ras . Agora cons ideremo—lo, veneremo—lo, dando- lhe tambem os emboras e

os'

louvores merecidos . como benemerito da instrucção

nacional , pelos multiplos testemunhos da sua dedicação, do seu amor ao ensino e dos sacr ificios , que muiotas dessas edições tem representado.

Se não bastassem taes provas. tenho ainda para exaltar a memoria do A nton io M aria Perei ra, e demonstrarquão agradavel lhe era acompanhar e auxil iar o resur

gimento das artes graphicas , e incitar os escriptores na

sua carrei ra, a fundação de uma typographia. onde as

suas edições se fazem com per feição e nitidez taes , quetem merecido premios nas exposições e já lhe concede

ram, sem favo r nem patronato es tranho ou encommen'

o

dado, a medalha de ouro na expos ição industr ial portueuse, e outro premio na expos ição da imprensa, chamando a attenção dos vis itantes a var iedade e a bel lezadas impres sões .

C om esse mesmo intui to patr iotico, com es se mesmo

amor às artes e ás lettras , A n ton io M ar ia Perei ra, publicou o M inho ” Ib m ec, a descripção da provincia doMinho, desde M elgaço até V i l la Nova de G aya, em queo seu esclarecido e mal logrado auctor , o medico JoséAugus to V iei ra, patenteou o seu al to valor intel lectua l ;e em que o distincto professor de desenho. João de

G omes , estabelecido no local onde hoje, pouco mais oumenos , vemos as offrcrnas da Companhia do G az, na

rua da Boa V ista (ambos já fal lecidos ), fundaram uma

revis ta l itterar ia iilustrada, a que deram o titulo A r c/t ivo

P z'

ttor esco, que durou até o anno 1 868 , comprehendendo

uma col lecção de 1 1”

vo lumes , para cuja col laboração

l itterar ia foram convidados os homens então mais il lust res e de nomeada na repub l ica das lettras e para a

col laboração artis tica os que eram mais cons iderados

nos primores das artes graphicas .

Essa publ icação, se na escolha e na fórma selecta dosartigos de escriptores , que os ass ignavam, era, com ver

dade, fel iz competidora de outro repos itor io das boas

lett ras portuguezas , que conservará sempre o seu logar

27

preeminente nas bi bl iothecas dos estudiosos pelos cla»

rões que lhes for nece e os allumiam, o P anor ama, na

parte artist ica sobrelevava o seu bem conceituado ante

cessar .

A bonaw lhe o bom credito a fama, de que justamen te gm va, V icente Jorge de Castro, como artista

typographico de primeira ordem, conhecedor como pou

cos de todos os processos e segredos da indust r ia, queexercia com tamanho esplendor e de inexcedivel amor

ao torrão natal , cujos progressos sinceramente o rejubi

lavam. U m dos ma iores cuidados , po is , daquel le artis tabenemerito, foi attrahir â empreza, que lhe mereceu tantos desvelos, desde todo o principio, os melhores gravadores em madei ra, cuja perfeição nos seus trabalhosservissem de

'

penhor para a execução dos que se lhesincumbisse ; e com os quaes , para o diante, pudessecontar para a creação de uma escola pr ivativa de descnho e da gravura em madei ra, que depois veio a real lsar—se, posto não tivesse existencia longa, po r circumstancias independentes da vontade dos fundadores .

N o P anor ama es creveram A lexandre Herculano, Varnahagen , P iganiêre, Si lva Leal, Rebel lo da Si lva, etc. N al ista dos col laboradores do A r chivo P íl tor erco figuravamAlexandre Herculano, A lberto Tel les, Rebello da Si lva,M endes Leal , Lobato Pires , Pinhei ro Chagas , lnnocencioda Si lva, Luiz Fi lippe Leite, Si lva Tul l io. Jul io de C astil ho (a

º V isconde de Cast i lho), V i lhena Barbosa, Bul bao Pato, Rodrigo Pagan ino, etc.

N ão é demais , nem exaggerado, o que escrevi. Quandopuder fazer-se a histor ia da indust r ia em Portugal , por

início, até que doença grave lhe a vida.

homem esclarecido, de bas tante merecimento, pos to quede certas or iginal idades , e, se vivesse ainda o laureadopoeta e academico, Luiz A ugusto P almeirim, es te de

certo o enâlei rana nos seus B am b am . D ige se istosem offensa para a memoria do estimavel artista. F oi

e l le quem, no seu tempo, deu boas amostras do desenho

car icatural , embora houvesse que notar-se na cor recção

dos traços , em que tantos louros colheu depois o ma

logrado Raphael Bordal lo Pinheiro.

para g loria ambos , trabalhostre. F oi pena que a morte surprehendesse este para não

poder assisti r a esse progresso rapido, e applath

dir-se pelos triumphos alcançados na sua carreira de 40e tantos annos .

Entrando na col laboração artistica e mui distincta do

A r chivo P i l lor csco , ahi se conservou Caetano A lbertoaté 1 863 , em que esse hebdomadario litterario teve que

suspender a sua pub l icação por del iberação da empreza,conforme foi annunciado, ass im em Portugal como no

Bras il , onde houvera boa e patriotica propaganda em seu

favor como se se fizesse para beneficiar um poderoso

elemento da instrucção nacional . E ra o br ioso intuito daempreza.

C om tão louvavel propos ito se fundára no R io de

Janeiro, com o an imo generoso de benemeritos portu

guezes uma aggremiação sob o titu lo S ociedade M adr e

por a , que viveu alguns annos e prestou bastantes ser

v rços e de alto valor à instrucção publ ica em Portugal ,mandando distribuir pelas esco las portuguezas mi lhares

n cr os a: uouxrrs oo n u n um — '

r ouo 111 3

36

Ma teceugalh

acção

ªºª'

gionosa dªs?“ dª

ogrado M ous ine

lin que º

º d

na l

e A lbuq

acuradam

“ªº“;en te

digid crsco

faz

º Rªf

er nova eªm“

ªo.

A lmeida e de que se trata de

A col laboração art istica de Caetano A l berto, em lon

gos annos de aturado trabalho, tem—se repartido por

muitas emprezas editoras , estranhas ao movimento dasua O fficina de gravura, e entre el las notarei : A r ies c

lettr as , dos antigos editores R o l land S emiond, sob a

di recção de Rangel de Lima, Sen ior ; L usíadas , ediçãodo G abinete Portuguez de Leitura, do R io de Janeiro ;o H y s sope, edição de Castro l rmão, sob a direcção do

academico e paleographo, José R amos Coelho, traductorda ] cr usa lcm l iber tada , de Tasso ; H is tor ia de P or t ug al ,H i s to r ia U n iver sal , e outras .

Caetano A lberto conta ao presente 65 annos de

edade, pois nasceu em L isboa em 1 84 3 . E ' fi lho dodistincto advogado dr . José Umbel ino da Si lva e de

D . G ertrudes M agna da Silva. Ficou orphão de pae

aos 6 annos .

S em poder segui r o curso para que o destinava sua

mãe, valeu-se de seu tio, Paulo A ntonio da Rocha, e

com el le se embarcou (em nav io de vela) para o B ras i l ,onde exerceu, como já notei acima, a vida commercia l ,mas onde não permaneceu muitos anuos porque a sua

tendencia era dedicar—se às bel lasconfiava», Antevia um futuro radiante.

rança e no seu amor ao trabalho. N a mãe patr ia se lhe

deparar ia algum arr imo e não lhe faltar iam as fo rças

para a luta.

Como este i l lustre art ista e escriptor tem trabalhadoe tem lutado já o indiquei , embora o fizesse em l inhasdespretenciosas e em l inguagem pal l ida e sem flõres ;

mas com int ima s incer idade no tr ibuto da minha admi

ração e do meu respeito perante homens honrados , esclarecidos e labor iosos , como Caetano Alberto

1 P ar te des te capi tulo fo r escr ipto em ago s to 1906 e saiu no

D rar ío de N oticias , acompanhando o r et r ato al i pub l icado e

que r epr oduzo ago r a.

N o A theneu Commercial

Trechodepropagandautil

Nesta agremiação, que tantos serviços tem prestado,

e presta, à classe commercial , real isaram-se varias confe

rencias por diversos para commemoração de factos dignos

des sas so lemn idades , como, por exemplo, o tricentenariodo cantor dos L us íadas , que tem merecido em Portugale no B ras i l as mais effus ivas e as mais patr ioticas de

mons trações de inolvidavel apreço e imperecível gratidão .

Em 1 884 , po r benevo lencia excess iva que não posso

deixar de registar de novo com profundo reconhecimento,

que não esperava e que julgava e julgo immerecida, fuiins tado para me inscrever na serie desse anno e incum

bido de inaugura- las . N ão poder ia fug ir a essa honra.

42

P ara corresponder a tal , e tão obr igator io conv ite,l êr-se o que escrevi e disse.

E ra uma occasião

dou e por isso reprod

ç ão que tem trazidoque ali sobresae exem

pios .

indico em seguida

1 .

º 0 Atheneu Commercial e a sua fundação ;

z .

º Esforços para o seu desenvo lvimento ;3 .

º O s port'

uguezes no Brazi l ;inst itutos de beneficencia e instrucção ;

5.

º 0 Atheneu Commercial e o L yceu litterar io por

tuguez ;

6.

º Assombrosos resultados da abnegação e da ded icaç ão sociaes ;

7 .

º T riumphos do ens ino.

1 N o in ter es san te tr abalho do s r . Victo r R ibeiro,N oticia

his tor ica do A theneu C ommer cia l , enco n t r a - se copiosa e com

pleta descr ipção des te benemer ito ins tituto e das con fer en

cias aii r eal isadas .

a lguns professores i l lustres e oradores conhecidos e est imados .

A s sympathias , que me incl inam para o A theneu,

são naturaesf Tenho numerosos companhei ros . Vem do

tempo da fundação e do modo como foi creado. A pro

veitar o grande succes so da commemoração camon ianapara lançar as bases de um inst ituto desta ordem, é jámuito para louvar-se ; porém, vêr agrupar , no alto intu ito da educação e da instrucção, alguns moços , quepreferiram ao descanço de enfadonhos labores estes la

bores do espirito, que se não incommodam, nem enfa

dam, e até alegram e retemperam o an imo, é não só

para louvar com enthus iasmo, mas para encarecer como

serviço de muita val ia. Folgo de ter a opportun idade

de affi rmar es te s incero applauso.

O Atheneu fundou-se e caminhou. N ão sei se a sua .

v ida tem s ido prospera sempre, nem me compete aver igua

—lo. Parece-me que, como todas as corporações nas

cen'

tes , tem t ido difiiculdades , tem atravessado cr ises ,tem s ido açoutada por algum temporal . A s associaçõessão como os individuos . T em achaques , são accommet

tidas de doenças . Curam-se umas facilmente ; outras

não . P rolongam- se, tor nam-se ch ron icas , e por fim não

se descobre remedio que ev ite o desen lace fatal . A pesardos incidentes ins ign ificantes , das cr ises passageiras , ou

não, dos achaques mais ou menos leves , A theneu já

percor reu alguns annos de ex istencia sem nenhuma en

fermidade grave, sem nenhum cont ratempo de . r isco, e

presupponho que entrou, emfim, num dos per iodos mais

v igorosos , mais activos , mais prosperos , da sua v ida .

A inda bem.

A continuação deste estado depende de pouco . D e

pende somente da boa l igação dos associados e na pro

os seus o lhos attonitos se operou por pr imei ra vez a

mudança da noite para o dia. O s clarões da aurora,

fizeram—nos sorr i r . P readivinharam que a luz do dia e o

calor do sol , eram indispensaveis ex istencia. Po is o

ens ino é um sol : bri lha, s i lumin e aquece. Tambemnão podemos passar sem el le.

lV

M as. senhores , reparo que me ia afastando do assum

pto pr incrpai, que, fal lando verdade, ainda não sei qualé, ou antes ainda não o proferi. Vou dize—lo agora. N ão

parecerá conven iente, de preferencia a qualquer outroass umpto, que eu cont inue a tratar do Atheneu ? D emais a mais , esta conferencia, este discurso ou pales

tra, ou como lhe quizerem chamar, não se acha preso

a formulas , a uma these preestabeiedda, a um ponto

obr igado ; nem julgo que deva entrar em explanaçõesphilosºphicas ou cons iderações de outra especie, tantomais quanto é certo que sou avesso a arremedos de

sciencia, que podem ter a ber de pedanter ia.

Fal lemos , pois, a respeito do A theneu Commercial ;eafianço—lhes que não sairei da vereda, que del lniei, ao

chegar a es te ponto.

Tive presente do is documentos importantes do A theneu : um foi o relator io do zeloso e esclarecido professorda escola pr imar ia, o s r. Carvalho Jun ior, que apresen

n cr os a aouaaa oo uau t w o — r onc ar 4

50

tou á commissão admin istrativa um trabalho não só

bem redigido, mas eloquente ; e o outro, foi o relatorio

da digna e dedicada gerencia deste inst ituto, que ex po:á assemblea geral , com muita clareza, todas as ci rcamatancias da ex istencia social e todos os esforços emp re

gados para m gurar o futuro do Atheneu. N ão são no

vos esses documentos , po is datam do anno passada N ão

precisava porém de outros para colher uns dados do

maior valor para mim : a creação de novas aulas e o

alargamento do meio associativo. Quando isto foi dec id ido, quando ficou registado nos estatutos como lei des ta

casa, afigura-se me que o Atheneu tinha feito uma

grande conquista. A ugmentar o numero de socios pelo

principio adoptado, captar as vontades , atrahir e inci ta r

a cooperação nes ta obra, enraizar nel la as sympath isaque a cercam e beneficiam ; fi rmar os elos de uma

classe numerosa, honrada, pres tante, benemerita, comoé a classe commercial , nos seus ramos , nas suas hierar

chias , nos seus prest imos , prende la com uma idea no

bre, e com um levantado intuito, a util idade'

particu lar

da mesma classe e o beneficio geral da patr ia, que se

engrandece com es tes exemplos e es tes esforços.— em

pregar taes meios, era emfim attender a uma necass i

dade instante, urgent ís s ima, e contr i buir para a prospe

ridade real e effectiva do Atheneu. S uccedeu isto ? S e

ainda não se conhecem todos os fructos . se o grau deprosper idade não é tal qual se desejar ia, não tardar á emman ifes tar—se com toda a expansão. A cred ito o sincera

mente.

Todos sabem o que é, e o que s ign ifica a perseve

O R io de Janeiro visto de fôra, na apparencia to

pographica, no aspecto panoramico, é uma das maisbel las cidades do mundo. N o inter ior, apresenta um mo

vimento, uma actividade, um bu l ício, que cor responde

por sem duvida á sua bel leza exter ior . T em, _ m parte ,

os encantos e a elegancia da vida de Par is ; em parte ,

os desvarios e os excessos de V ienna de A us tria. N is so ,

nas modas , no luxo, nas seducções , nos des lumbramen

tos , nos ouropeis , ora par is iense, ora al iemã . C omtudo

O R io de J aneir o já pas sou po r uma gr ande tran sfo rma

çâo . T êm novas m as aber tas àcus ta de impo r tan tes demo

l ições , novo s e opu len to s largo s ou praças , edificio s mages

toso s, como que r ivaiisando com o s de muitas cidades da

A mer ica ingleza, onde o augmen to da r iqueza tem augmen

tado o s meio s de con ser vação e desenvo lvimen to .

53

a maior ia da população fôrma al i um contraste : é o povo

q ue pensa e trabalha, que é são e uti l , que contribuepara o desenvolvimento da riqueza publ ica e concorre

para os aformoseamentos que tem aux i l iado a opulenciadessa cidade, ao par de suas opu lencias naturaes .

A popu laç ão é ma is densa que a de Lisboa. T em

3oos almas , pouco mais ou menos , segundo as ultimas notas ofticiaes , e dividem—se deste modo, em nu

meros redondos : 160 ou 1 7o :ooo bras i leiros , 60 ou

portuguezes , francezes , zzooo ital ianos ,1 :60 0 al lemães, 1 :50 0 hespanhoes , 1 :50 0 ing leses, suissos e belgas ; os res tantes sozooo pertencem popula

ç ão que denominarei pauper rima, sa ida, por uma rasgada e salvadora providencia dos gr i lhões da escravidão !Temos ali, pois , senhores , portuguezes . U ma

colon ia enorme em terra extranha, mas em terra de ir

mãos , onde se fal la, na vida publ ica, na vida ofiicial,

na vida intima, o idioma portuguez. A fami l ia ea mesma. Apenas separada por uma emancipação ex igida pelas altas conven iencias da po l itica, sem quebra das re

lações , nem dos affectos . A parte mais importante nu

mer icamente, mais val iosa pe la intel ligencia. pela act ividade, dessa co lonia, ded ica—se ao commercio e, de

alguma forma, l igadas entre s i. N as fainas da alfandega,

O s ul timos es tadis tas di o é capital federal outr os alga

r ismos, porque a pºpulação tem augmen tado ,eomo tem cres

cido pr odigioaamente o s elementos da r iqueza do E s tado do

R io de Janeir o ; e os seus r ecur sos in tei lectuaes e indust riaes

são tambem mais no tar eis .

57

gos ; G onçalves Roque, importador ; Joaquim Ramalho

O rtigão e Leite de Figueiredo, negociantes de café emgrande escala ; e outros . J untems e a estas , se quize

rem, ainda outros benemeritos , que se chamam : conde

de S. Salvador de Mattos inhos , e viscondes de S istelloe de S . T iago de R i ba d' U l.Encontro reun ido es te grupo, meus senho res , num

dos inst itutos que citei. D enomina-se « L yceu L itterario

Portuguez» , e tem pontos de contacto , áparte a diffeo

renca de desenvolvimento e prosperidade , com o A the

neu. Elemento pr incipal de vita l idade : a classe commer

c ial . Coincidencia na commemoração de um grande fa

d o para a sua fundaç ão : o Atheneu, aqui, achou e

muito bem, o brilhantiss imo successo do tricentenario

camon iano ; o L yceu, lá, encontrou para a sua creação

uma data sobejamente memoravel nos fas tos da h istor iaportugueza, a aurora da l iberdade consagrada no dia 24

de agosto 1 820 . Aqui , al iaram à idea da patr ia cons ub

s tanciada no egreg io cantor dos L u tado r , es te estabe

lecimento ded icado àins trucção popu lar ; lã, quiserama l liar ao nobre pensamento de propagar e derramar o

ens ino entre centenares de compatr icios , a idea da pat r ia, de que estão longe aquel les benemeritos portugue

zes, e da l i berdade, que amam como a sua, e nossa, ter

ra ! O norte, o mesmo ; o proposito, identico !O L yceu conta maior numero de anuos de existen

cia, e elevouvse agora a um grau'

de prosperidade, a que

não pôde chegar, nem era pºss ível attingir ainda, oA theneu, porque as circumstancias da fundação foram

outras , o al istamento dos socios seguiu outro rumo, os

60

phantasiei, que não houve poes ia, exagerad o , no

que disse. Encontram-se neste l ivro, de edição especial

e numerada, l ivro publ icado e distr i buido este anno,

para commemorar a inauguração do novo edilicio do

L yceu e a sua incontestavel prosperidade.

A director ia do lyceu adquir iu-o por 69 contos , depoisde 1 880 , por um supremo esforço de vontade, por uma

exemplar energia, por'

uma ded icação sem l imites : lembrou-se de appel lar para o publ ico ; de refer i r , à luz dodia, com a max ima franqueza, as difliculdades do in

stituto a que es tava l igado, e apresentar a somma dos

beneficios derramados e dos que poder ia vir a espalharentre menores e adultos , independentemente da coadjuvação dos poderes constituídos .

Abriu uma subscripção . D entro de pouco tempo o

resultado era o que se vê aqui nos documentos que

podeis examinar : dentro de pouco tempo entravam

mais 69 contos nos cofres do L yceu.

N essa occas lao, pude co l l igir alguns documen tos, queme tinham mandado do R io de J aneiro e que apresentei no

A inauguração do novo edificio real isou-se no dia n

de junho deste anno 1 884 , por ser o decimo nono am

n iversario do combate naval de R iachuelo, um dos mais

br i lhan tes feitos das armas bras i lei ras na longa e g loriosacampanha do Paraguay, e o sen ges imo terceiro da in

dependencia do Bras i l , estando presente sua magestade

o imperado r D . Pedro l l, que foi um dos protectores

do L yceu, ass im como tambem o tem s ido , desde mui

tos annos , sua magestade elc rei D . Luiz, como desvelados

'

no culto das letras e das sciencias . F oi tao ao

lemne esse acto, que, além do imperador, tambem as s ist i ram al guns dos min ist ros de estado effectivos , juizesdos tribunaes s uper iores , membros do professo rado o iii .

c ial e part icular , representantes de var ios institutos bras ileiros e portuguezes , da imprensa, da legaçao portu

gueza, etc.

Parece isto um sonho, e não é lE as aulas ? N ão hcaram só naquel las , que indiquei .

O plano de es tudos alargou—se, como o estabelecimento ;

A theneu C ommercial . J á se linou, com dô r prohmdíssima

par a mim e par a o s que 0 r espeitavam na co lonia por tugues e, entr e o s mais cons iderado s e instruído s ne lla, o amigo

q ue so licitava e ati'

ectuosamente me ofi'

er tava esses e outr os ,

que me serviam— e algun s ainda hoje me servem— nos meus

estudos . D iga—se o nome desse benemer ito e il luatr ado pm

gues : J oaquim da S ilva M el lo G uimarães, e ao qual devo li

gar como lembr ança saudosa, que não se apaga 0 nome

de seu irmão, M anue l da S ilva M el lo G uimar l es, ambo s 6l hos de A veiro e de ambo s r ecebi favo r es .

64

matica. os mappas apropr iados ao conhecimento des tasciencia ; nas de phys ica e de ch imica, os apparelhosnecessar ios ; nas de cosmographia, meteorologia e nau.

tica, o que é indispensavel para taes estudos : e aindapor cima um observator io, onde se vêem inst rumentosiguaes aos melhores que existem nos observatorios doestado ! O s alumnos tem igualmente à sua dispos iç ão,uma bibl iotheca, que se esta comMetando com o maior

acer to, uma boa col lecção camoniana, numerosos l ivrosclass icos portugueses , os mais acreditados trabalhos pe.

dagogicos ; uma col lecção numismatica, mappas , gravu»

ras pr imorosas , bustos de varões i l lust res , etc. , etc.

N os futuros annos , contavam os socios mais infl uentes do L yceu completar es ta sua obra agigantada e altamente civil isadora, com a creacao de officinas e labo rator ics para o ens ino profi ss ional .

M eus senhores , eis ahi os del ineamentos de um for

moso quadro ; eis ahi uns contornos imperfeitissimos de

uma grande obra. N ão era eu o artista mais propr iopara o esboçar . M as pode el le tomar taes fórmas , avul.tarem-se as suas l inhas pr incipaes por tal modo e avi

varem-se as cores onde as tintas sai ram esmorecidas ,

q ue não será muito difficil infer ir-se que eu pretendiprovar uma these, embora não a t ivesse préviamenteestabelecido .

A constancia, a perseverança, a dedicação, o conjun

cto das boas vontades , pódem muito, pódem tudo, trans

formam as associações , operam cousas maravi lhosas ,fazem milagres os verdadei ros mi lagres da sciencia e

da civilisaçao !

H a differenças , certamente, entre 0 Atheneu Commerc ial de Lisboa e o L yceu L itterario Portuguez no R io

de Janeiro ; porém, repito, nos fundamentos , nos propos itos , na essencia, são de natureza ident ica. U m está

sacr os a uouzrcs 0 0 n o r umo — '

rouo m 5

Sousa N eves e Santos Valente

G osto de refer i r factos particulares pouco aver iguadosou intei ramente desconhecidos . Abster-me—hei de incidentes que podem feri r suscept i bi l idades ou manchar a

vida de vivos ou lembrar defeitos dos que se parti ramjâ'deste mundo ;porque nem isso esteve nunca nos meus

habitos, nem se coaduna com a minha indole. G osto de

tomar nota das vi rtudes e das qual idades br i lhantes decada um, para as apregoar e louvar, se é pos ivel, e seca be nas minhas debeis forças ; mas repugna—me tomar

nota de faltas, que jamais tive desejo de esmer i lhar, deaugmentar ou de corr igi r. Fiquem descansados . N as pa

g inas des tas M emor ias não apparecerao maculas , nempodridões . N ão ! N ão concorrerei para o descredito da

sociedade em que vivo, que era o mesmo que coºperar

malevolamente no descredito da patr ia, o que manchae degrada a imprensa.

N a vida de Sousa Neves ha muitas acções dignas dereg isto e que exaltam a sua memor ia.

N a sua casa imprimiam-se var ias obras avulso e pu

blicações periodicas , como o D icciona r io popul a r , que

&&va, já o disse, sob a direcção de Manuel P inheiroChagas ; o Batch»: da G r ande O n '

m le L ud ímra, dizi

g ido pelo medico mi l itar, chefe, o dr . Cunha Be l lem,

que era secretario geral naquel la col lectividade super io r

da maçonar ia portugueza e do G remio Lus itano, quefunccionava desafogadamente ; e a L an ter na , cujos director e col laboradores não eram conhecidos no vu lgo.

Esta gazeta, por sua l inguagem vigorosa, por sua pro

paganda revo lucionar ia, por suas revelações , com ou sem

fundamento seguro ; e por seus meios de informação

denunciadora em que parecia serem visados e levadospersonagens da po l itica mil itante e em evidencia nas

rodas selectas de então, chamavam a attenção do pu

b lico, que aguardava com anciedade o apparecimen to

73

para as Caldas ou para Lei ria e Coimbra, com grave

incommoda num mau cava l lo, mal aparelhado, com um

arreeiro, ao lado ou à vista, conforme el le se aprox imavaou afastava, na estrada real para se adeantar na corr idaa pé por algum dos atalhos conhecidos e exper imentados , deixando o caval leiro seu freguez no caminho ao

que se me representou sem receio de qualquer tentativaaggress iva de malfeitores , porque não os haveria naquel

las paragens, sem concorrencia e sem pol icia, posto queem R io M aior me perguntassem se eu quer ia que meacompanhasse algums praça do pequeno destacamentoque ali permanecia para tranqui ll isar os viandantes , P roseguia portanto na viagem sem receio.

A estalagem era entre R io Maior e os Candeei ros , nocaminho para Lei r ia tendo que atravessar os antigos coutos de A lcobaça. Em Lei r ia contava demorar—me algunsmezes e ia al l commiss ionado pela Imprensa Nacionalpor 1 854 . O festejado escriptor D . A nton io da Costa

H averá um annomu pouco mais , tive que ir a l . eir ia par a

vis itar pessoas de famil ia. D aquel la epoca só encontrei duas

pessoas que me podiam reconhecer : do is irmíos da famil ia

L eitão, conhecida e consider ada em todo o dis tr icto . A mbo s

anciãos de mais de 80 anno s de edede. U m del les, dir ige um

bom ho tel bem s ituado e com ºptimo tratamen to . Conver

samos ricer ca de alguns factos occo r r idas no anno ci tado .

O outro, ret ir ado do commercio honr ado , no qua l grangeou

Mais duas l inhas a respeitº de Si lva Lobo.

A s aventuras pol íticas , em que se viu envolvido e que,

er rou caminho. N ão lhe faltava a coragem nem o desej o

de procurar o seu futuro e o da sua famil ia. F oi-se para

0 R io de Janeiro.

E ncontrou emprego bem remunerado na redacção das

ses sões das camaras legis lativas bras ileiras , que 0 dei

xaram viver mais desafogado e decorr ido algum tempo

lançou os fundamentos de uma empreza para a pub l icação de var ias obras , or iginaes e traduzidas , a que deu

o t itulo E mpr eg a l itter a r ia _E umz'

nen se, que ainda ex iste,

e estabeleceu uma succursal em L isboa, creio que na

rua dos R et rozeiros . Conta já muitas edições .

N o R io de J aneiro, comtudo, não logrou boa saude .

E xcesso de trabalho prejudicava- lhe O organ ismo e teve

que procurar os ares patr ios para retemperar as fo rç as

77

perdidas . Aqui , os medicos aconselharam-lhe a mudança

de area vendo que a doença prog redia cbm caracter as

sustador e foi para Cintra com a faguei ra esperança de

ampararcse e restabelecense naquel la tão poet ica e tão

cantada reg ião, terra de encantos e de assºmbro paratodºs , nacionaes e estrangeiros ,

'

pelas extraordinariasbel lezas naturaes que encerra.

A hi fui vis ita—io . Naturalmente, não nos tendo avistado desde muitº, fallámos do passado, das lutas em

que esteve empenhado, do que cons tava no vulgo, vistocomo eu não entrara em alguma del las por me pareceremque não vir iam vantagens para a nossa patr ia e só po.

der ia aprecia—las pelo que ci rculava em rodas de cavaco

fami l iar, alheias a po l itica part idar ia ; e tambem veio a

pêl lo citar a L an ter na e o prºcesso em que fõra vict imsº Sousa Neves .

— O lhe, eu conhecia o caracter do Sousa Neves enão tive ensejo de me apresentar nº tr i bunal . El le quizsacr ificar—se e os que entramos nessa aventura de r iscoest amos-lhe muito gratºs . Pow o afli rmar—lhe que eu era

o pr incipal redactor da L antern a , nas pr imei ras ser ies ,e quas i unico. Escrevia segundo me informavam pes.

soas que sabiam o que diziam. E tantº que, afastadodessa cammnha sem saudades , revendº os numeros

da collecção, que possuo, um dia col ligirei um tºmodos principaes art i gos , que julgo merecerem essa repro

ducção, e põr—lhe—hei sem medo o meu humi lde nome.

E proseguía— A ser ie da L autem , que se seguiu sob varias

denominações e ainda publ icou alguns fascículos , foi

Se es tivessem vivos tres amigos , malmas , Pinhei ro Chagas , Luciano C orreia, poder ia com afoiteza invocar º sev ir ia cºnfi rmar o que escrevi nesta paSousa Neves cºnt inuava com vale

D icciona r io popula r , cuja direcçãoPinhei ro Chagas e do qual fõra um

es tudiosºs e eruditos co l laboradores ,

Si lva O l ivei ra (hºje general do corpºe adquir i ra hav ia annos o di reito deM ano, de Moraes . Estava exhau.

ultima edição, que el le fizera, e era

em nova.

Sousa Neves andava já muitº dopor desgostos e ralações de muitasfaltavam amarguras . E transcorr iammente, dias mais tr istes que jubiloscontrava, ou quando, por causa da

necess itava de falar com el le ou de

selho em assumptos de imprensa, rarade discursar acerca de ques tões l itteraque mais podiam interessar-nos .

U m dia cºnversamos da nova edição do D iccio na r io

de M oraes e perguntou-me se eu desejar ia assumi r a

direcção del la. Atalhei logo com resposta prompta

M eu caro Sousa Neves , não me julgue tão nescioque queira, sobre mim, uma responsabil idade de tal

ordem, um peso muito superior às minhas forças , quevocê muito bem sabe que são sobejamente debeis .

El le ins is tiu fundando-se em razões economicas e eu

rephquei :

N ão quero tal responsabil idade, mas posso falar aalguns amigos e col legas , cujos conhecimentos e estudosespeciaes philologicos possam auxil ia- lo, com vantagem

certa, na sua empreza, que ha de ser séria e deve de

ser util aos estudiosos .

Citei-lhe var ios nomes de escr iptores , nºs quaes tinhaplena confiança pela ser iedade, pela consciencia e pelo

lu cr os e H O M E N S no n amo — '

rouo 111 6

82

valor de seus escriptos , e puz em pr imei ro logar a SantosValente.

— Sem este ath leta l ingu ístico pºuco podera você

adiantar. Se o deseja e permitte, Sousa Neves , vºu

consulta—lo.

C om a respºsta alii rmativa, corr i ao min ister io da

justiça e acertei de encontrar o Santos Valente.

Reproduzi a conversação com o editor e expuz ºs seu s

desejos. Pedi e instei para que acceitass e o pr imeirologar na revisão e ampl iação do D iccionar io. Concordou comigo em que uma nova edição devia de fazer—s ecom o maior cuidado para honrar o nome do lex lcog rao

pho Anton io de M oraes Si lva, restabelecer a sua ob ra,

salva-la dos que a alteraram ou adulteraram depois dasua morte, e ampl ia- la, com os recursos adquiridos paraa opulencia da l inguagem portugueza no discºr rer debons tres quartos de seculo ; e l ivra—la emfim de innovações em que via alguns r iscos em a nossa terra tão

ºpulenta de vaidosºs, como pobre em instrucçã ) sadia .

E' trabalho para pensar, accrescentºu Santos Valente, com a sua rara modest ia que occultava sempre 0

P odia ter po sto aqui ºs nomes dos escr iptores com os

quaes me devia entender para reedito rar o“D iccionar io , con

fo rme conver sara com o S ousa N eves . M as, vis to que a em

pr eza se mallogrou, escusado é cita- los ; tantº mais quan to

é cer to que, passados annos, por qualquer ci rcum s taneia que

não vem para o caso , a efi'

ecruar se o trabalho, podiamosfazer outr a esco lha po r se darem em determinadas pess ºasaptidões de preferencia A ss im, como se diz no vulgo , a nar

guem cr esceu a agua na boca.

no proseguimento de estudos e

cas , Santºs Valente accumulara

opulento e tão importante, que

tr ipl icado valor . N ão foi sem profundissima aleg r ia, quelhe ºuvi :

Teremos ja á nossa dispos ição ºs subsídios que eu

lá tenho enthesourados . N ão sou avarento . N unca las timel a minha pobreza, nem invejei a r iqueza dos out ros .

V ivº com sobej idão de cousas amargas . M as , v ivo

Quando acabou, com effeito, o D icciona r io con tempo

r aneo, Santos Valente mandou encadernar o seu exem

plar intercalando, entre as paginas impressas , fo lhas dealmasso em branco e nel las foi pondo as notas q ue lhe

sobejaram ou que col ligira, antes e depois da pub l icaçã ode tal obra.

1 Quando se r eal isou o funer al pergun tei a um do s par en

tes de S an to s Valen te, se tinha conhecrmen to des se exemp lar ,

85

Poucas pessoas vi ram esse exemplar, un ico. Poucassabem que el le deixou essa r iqueza litteraria e philolo

gica, fructo de estudos de longos armas e de muitasinsomn ias , para os quaes el le devia de olhar com orgu

lho e com justo desvanecimento.

M as, desvanecer—sema Santos Valente de algumacousa que lhe dissesse respeito. do seu talento. do seu

saber. das suas aptidões ?

Sousa Neves fal lecera muitos annos antes. A sua

casa tambem desapparecera e com el la o direito da nova

edição do D icciona r io de Moraes , que foi parar às mãosde outro editor . Nada mais soube a este respeito. N em

tratei de saber em que condições se realisava a nova

impressao.

unico e impo r tante. R ecebi r espos ta aiii rmativa ;mas fo i tão

r apida, naquel la occasião em que se fo rmava o co r tejo em

vo l ta do feretro, que ni o pude infer ir , nitidamente, se es tava

no espo l io ou se se ex tr aviara. C omo quer que seja, aqui

fi cará a lembrança do tr aba lho .

A nova edição do'D iccr

'

onan'

o creio que se fez po r inter

venção do edi to r L obo , que es teve no R io de J aneiro e que veio

es tabel ecer—se em L isboa. F o i tamanha a desgr aça occor r ida

na casa de S ousa N eves , que a famil ia, infelizmen te, e combastan te sentimento meu por não ter 4 minha dispos ição

meios par a lhe acudir , caiu em tr is tís simas circums tancias e

viu—se humilhada e fo r çada quando o pen sar iam — a ac

ceitar o obulo da car idade dos es t ranhos . S ua mages tade a

r ainha s r ) D . A mel ia, sen sivel a todas as desgr aças, inexhaur ivel nos seus thesouro s do bem , id uma vez vis itara a deso

lada viuva par a a conso lar nas suas lagr imas , que ni o se

en s ugarem nunca ; e para a al líviar na sua penur ia, difiicil

de mino r ar .

D R . C A R VA L H O MONTE IRO

go

Para este capitulo commemorativo escolh i o titulosugestivo :

C A M O N IS T A S A N T IG OS E MOD E R N O S

Para quê ? Para trazer à mesma lembrança, aos mesmos affectos , às mesmas l iga e un ião de reconhecimen to,

os antigos , os velhos , que merecem este preito que se

lhes paga da nossa gratidão ; e os modernos , os novos ,

os moços , para lhes mostrar, como incitamento, que nem

uns nem outros foram esquecidos .

O que quer dizer « camonista» ? O que paga o seu

tr i buto de respeito e admi ração a Camões . Somos todoscamonistas . S ão todos os portuguezes , N ão ha duv ida.

Mas , na moderna e vulgar accepçao do vocabulo, é o

que põe em maior evidencia es se pagamento, já esc rovendo a respeito de Camões ; já col ligindo, em maior

ou menor numero, as obras do poeta nas suas repetidas

e var iadas edições , desde as pºpulares que se teem feito

para o povo e para as esco las , até as chamadas luxuo

sas e monumentaes ; e as obras que se referem a el le,

em crit icas , analyses mais ou menos aceradas, referem

cias e versões .

O numero desses camonistas—col leccionadores não foi

grande nunca, mas augmentou muito com o tri—cen te

nario em 1 880 ; e as col leccões formadas por estes ui

t imos tambem cresceram extrao rdinar iamente, nao só

pelas circumstancias da memoravel solemn idade. mas

egualmente pelas publ icações feitas com enthusiasmo e

fervor desusados , fóra dos habitos nacionaes, aquecendo

em perenne e vigoroso fogo a alma nacional , que pareceque não tiveram inter rupção durante longo per iodo e

que, pode—se dizer, não cessaram de todo ainda hoje,

dando novos alentos á patr ia !Pouco representa para o abastado esse tr ibuto ca

moniano mas , para o que tem escassos recursos e vê

sempre magro o seu bols inho, o imposto é pesado e re

presenta, ás vezes , sacr ificios enormes . D e quantossei eu

D eixando em santa paz M anuel de Far ia e Sousa,

que nos fica muito distante e as suas amplas inves tigações que se prendem com a nossa histor ia geral l itteraria ; e passando de largo pelo que deu or igem à conscienciosa controvers ia do bispo de Portalegre, D . JoséValer io, notemos que é camon is ta D . F rancisco A lexandre Lobo, 0 sabio bispo de V izeu, que escreveu acerca

de Camões ; sãoo no, sem contestação, D . frei F rancisco

de S . Luiz, o celebre cardeal Saraiva, pela sua A pologi a

e por outros escr iptos , em que defendeu os L us íadas

P ato M on iz e J oão Bernardo da R ocha, quando verbe

rafam e sovaram J osé A gostinho de M acedo contra as

demas ías e a suprema vaidade com que o rancoroso pa

dre, apesar da sua prodigiosa e incansavel actividade e

do seu reconhecido talento, pretendia amesquinhar e

empanar o fulgor e o gen io do egregio poeta.

N ão posso deixar aqui um rol completo e perfeito

dos camon is tas a contar desde o apparecimen to da sum

l l l

Antes do tri—centenario de Camões não era difficil

contar os camonistas colleccionadores . L imitavams e a

guardar e arrumar, nas suas estantes, as edições maisant igas , raros tinham as pr imei ras ; algumas reimpres

sões ou novas edições , que iam saindo dos prelos ; e as

versões, que iam apparecendo e que, como é sabido, setem feito dos L usíadas ou dos episodios mais celebrados , A damas tor e D . Ig nez de Cas tr o, em todas as lin

guas , a contar da latina de Thomé de Faria (seculo XVII)e da ingleza de Fanshaw (no mesmo seculo).D epois do tri—centenar io, mudou tudo . D o numero

dos col leccionadores já não era faci l tomar nota, po is ,pela maior parte, nem eram conhecidos . Eram enthu

s iastas e devotos , que guardavam para el les a manifes

tação do seu amo r e da sua devoção pela gigantéa obrade Luis de Camões , e só dariam a conhecer aos intimoso modo como mantinham o seu ardor patr iotico. Porqueadorar a obra de Camões , é, em o meu humi lde enten

der. provar que se ama a patr ia com arreigado affecto.

99

M orei ra Cabral , dr. José Car los L ºpes (que era lente

da escola medico-cirurgica do Por to, já fal lecido) : dr. P edro D ias , do Porto ; dr . Simões de Castro e dr . A yresde Campos , de Coimbra, fal lecido ; professor—decano P erei ra Caldas , de Braga, tambem já fal lecido ; Joaquim deA raujo. que tem pub l icado interessante ser ie de opus .

eulos de homenagem a Camões , em edições especiaes

com exemmares numerados , ti ragens mui l imitadas e

que fundou e publ icou por dois nunos , uma revista ino

t itulada Cír culo camon iana, onde se encontram art igosaproveitaveis e dignos de menção, e res ide em G enova,

onde exerce, ha annos as funcções de consul de Portugal ; dr . Theophi lo Braga, dr . Xavier da Cunha, e o queescreveu estas l inhas .

A minha camoniana, organisada por occas ião do tri

centenar io e accrescentada depois, não é pequena e temumas especies que não será poss ivel col ligi r hoje porpreço algum e outras unicas . C omprehende mais de700 obras e 80 0 jornaes , ou numeros e mais de100 es tampas emo lduradas . A lém disso, possuo uma

pasta de grande formato, onde reuni e col lei bi lhetes ,programmas , convites , totulos e outras pequenas lembrancas commemorativas do tricentenario, hoje imposaive is de juntar ass im. numerosos ; e dois grossos tomosdedicados aobra monumental de Camões , nos quaes coll igi e co l lei em cerca de 80 0 paginas de papel s imasso,no formato de encadernados , fragmentos de jornaes

d iversos , em que eram registados os factos do tri—cen

tenar io, com documentos que, de certo, não se encon

tram noutra col lecção de amador.

A inda fal ta mencionar um camonista e dou—lhe es te

logar especia l como prova de cons ideração e estima .

R egressando àterra natal , G enova, e ficando em L is

boa, em todas as terras portuguezas onde a cultu ra ihtel lectual é ma

dos L us íadas é mais itão bom ami go e de tão

muitas sympathias e profundrss rmas saudades , o cava

lhei ro P rospero P eragal lo , que fôra cura por muitos an

nos na egreja do Lo reto , pertencente àcolon ia ita l ianares idente em a nossa capital , ser ia uma ingrat idão n ão

o reg is tar quando havemos del le tan tos tes temun hos

da s ua dedicação a P ortugal e da sua admiraç ão pe losub l ime poeta .

O cavalhei ro P rospero P eragal lo, emquanto es teve en

tre nós e j á depois de regres sar a Ital ia, aonde o chama

ram deveres officnaes , tem continuado a dar- nos g rande

numero de documentos impressos , fructo de seus bo n s

e uteis es tudos acerca de as sumptos por tuguezes , p re

dom i nando os que se referem a Lurz de C amões o u a

escr ipto res portuguezes .

A gora um assumpto artistico.

Vou registar em algumas l inhas o que sei do mansoleudes tinado a guardar os ossos de Camões e do auctor

dessa notavel obra de arte. F oi A nton io A lberto Nunes ,que tem reg ido super iormente na esco la de bel las-artesde L isboa a 9 .

ªcadeira, desenho, aguarella e pintura de

ornato ; e a 4 .

ªcadeira, aux il iar, modelação-ornato. A r

tista de grandiss imo merito realçado por exemplariss imamodes tia.

T rate- se em pr imei ro logar do art ista. Nasceu em L is

boa, na freguezia de A lcantara, em 1 8 38 .

F indos os es tudos pr imeiros e tendo exper imentado asua vocação, que o incl inava para as bel las-artes ;guiadopela mão do mes tre, que se chamava Calmels , a quemse affeiçoara como fi lho grato e amant íss imo, e de quemreconhecia o enthus iasmo pelo progresso que ia revelando, o propr io mestre, cons iderando o talento artistico, asboas qual idades e a pobreza do seu discipulo, com a qualnada poderia adeantar , embora fosse ardente neste o de

to;

nota, nem o propr io auctor, seguramente se lembrarád el las, nem onde páram.

Que di rei do projecto do mansoleo monumental dest inndo as cinzas de Luiz de Camões , que deixo na gra

vura em frente ? M andarammo fazer ? N ão. Foi dese

nhado para algum concurso ? N ão.

F oi planeado e executado quando se tratava de esta.

belecer e desenvo lver o prove itoso ens ino nas esco lasindus triaes , sendo ministro das obras publ icas o abal isado professor conselheiro Anton io A ugus to de A guiar ,e quando andava em via de execução fulgurante e im

morredoura o tricentenario do egreg io vate.

l nspi rou-o o seu acr iso lado amor à patria e à arte, a

s ua extraordinar ia admi raç ão pela obra do poeta gigantee o seu radiante talento artis tico, bri lhando em opimos

fructos , como em poucos .

Este monumento representa A pos ter idade comando

o g enio e é digno, pela idéa e pela formosura da com

pos ição, de receber as cinzas de Camões , se fosse poss ivcl saber quaes são. Em todo o caso, merecia que o

executassem.

E onde para ? N a n aquel le do art ista, que el le bisarramente offereceu Sociedade de Bel las—A rtes ; e nas

photograph ias , que A lberto Nunes mandou estampar

para offerecer a alguns amigos , entre os quaes fui umdos contemplados .

N a vasta galeria da senhora D uqueza de Palme l laestá um trabalho do i l lustre professor da Escola de Bellas- A rtes . E ' uma es tatua representando um costume

do Minho.

1 06

E l- rei D . Luis , depois de ter visto e examinado com

acar iciadores olhos e phrases de saudavel applauso , ai

guns trabalhos de Alberto Nunes, concedeu—lhedamente o officialato da esclarecida ordem de S .

do merito scientifico, l itterar ia e artístico.

G alardão merecido e justo !

PIN H E IR O CH A G A S

[O

O malvado estudara o terreno . C alculára que, à ho rada sessão par lamentar em que o movimento de fora do

palacio das Côrtes em época norma l nul lo, na rampa

não havia espectadores , testmnunhas presen êw do ne

fando acto

Só um veterano

l iosa por ser quas ido mercado de 8 .

que soltavam algumas das pessoas que rodeavam j á o

corpo inerte do fer ido e combinando este facto com o que

ouvi ra momentos antes a dois s ujeitos , que el le con he

cia de associações pºpulares , cujos fins não lhe agradavam, e aos quaes , em conversação mysteriosa, ouv i rapronunciar a meia voz o nomede P inhei ro Chagas com

este fi nal sombr io x

— E'espreitar a occas ião !

N ão lhe restava duvida de que algum del les ser ia o

cr iminoso.

O s dois sujeitos , aos.quaes o veterano da armada se

refer i ra, entraram depois nes te proces so cr ime .

Quando o po l icia, de serv iço naquel la area, acudiu

para aux i l iar a erguer 0 tendo , não encontrou o mal

vado , nem pôde saber quem era, nem o mob l l q ue o

levara a prat icar tão cobarde attentado . O fer ido, ine rte ,

como dis se, acompanhado por um medico , subdelegado

de saude, o dr . A n ton io R odr igues P into , que tambem

passara naquel la occas rão e não presenciára a las timave l

scena, tentativa de homicidio, 0 tendo foi levado paras ua casa a S anta Isabel , antiga rua de S . J oaqurm ,

onde el le, e mais dois co l legas , dr . A nton io M ar ia de

S enna e dr . A nton io M anuel da Cunha Bel lem, todos

amigos do enfermo e o ult imo intimo da famil ia e companheiro em trabalhos per iodísticos do enfermo, se em

pregaram para salvar a preciosa existencia de P inheiroC hagas .

Este foi logo cons iderado pelos exímios cl inicos emimminente per igo de perder a vida, ou ficar com as ta

culdades mentaes conturbadas — o que era horr ivel !

segundo vi nos bo letins medicos pub l icados diariamenteem quanto permaneceu em periodo mais agudo e maisg rave, ex igindo

-se conferencias com outros medicos ; esegundo pude co lher de informações na propr ia casa do

fer ido .

O aggressor refugiára—se numa casa de venda proxi

ma, onde a polícia o procurára em seguida e onde que

r ia effectuar a captura de um individuo que se lhe fi

gurou suspeito ; mas onde, na mesma occas ião, viu

as sumar do fundo da loja outro sujeito, com aspecto

perturbado, mas aparentando seren idade, apresentando

se com bengala ainda de cas tão para baixo, que se

apressou em dizer com atrevimento

O pponho—me à prisão desse homem. El le nada tem

com o caso. O aggressor fui eu . Levem-me. A qui estou.

N ão me escondo.

A audacia e o cyn ismo destas palavras cor respondiamperfeitamente a ousadia do attentado .

Passado o tempo da investigação na pol icia e en

tregue o réo ao poder judicial , soube-se que o agg ressor

se chamava M anuel Joaquim, usando tambem o appe ll ido P in to, que todavia não t inha na v ida mi l itar , ondeentrara obr igado em 1 874 servindo ahi em diversos cor

pos po is soffrera o castigo da passagem de uns para ou

tros por seu procedimento ir regular e algumas pr isõesm i l itares , até quando era cabo por não saber dar- se ao

respeito no serviço . S erv i ra no exercito effectivo até 1 884

e na baixa com que saiu vêm- se bas tantes notas de cas

t igo .

N a occas ião do cr ime ter ia uns 30 e tantos an nos de

idade. E ra expos to da S anta C asa da M iser ico rd ia de

L isboa. N a sua v ida accidentada, incor recta, deso r ie n

tada, trabalhando em var ias ter ras sem profissão dete r

minada, encan tara-o certas companh ias e certa propa

ganda dos in imigos da sociedade, al iás perseguidos e

condemnados em todas as naç õ es cultas , e fi l iára- se, ao

1 1

numa folha da tal propaganda franceza appareceram

cartas da celebrada M ichel las timando a

correligionario, o « cidadão Manue l P into», dando, cornpalavras que demonstravam dor intima, os senbmentos

a companhei ra do « heroes vendo na cadeia o dito « por

ter castigado quem a insultáras , etc. O utras cousas

deste qui late !

P inhei ro Chagas permaneceu no leito rodeado de to

dos os cuidados da medicina, da famil ia estremecida e

dos amigos mais int imos , cerca de um mez.

F oi levado para a cama, como se viu, no dia 7, em

estado comatôso, assustando os propr ios medicos pelastr ist íss imas consequencias que resultar iam da v io lentapancada na cabeça, e de tal gravidade que nas pr imeiras horas , em que o ferido não recuperou os sentidos eem que não pôde ser observado no goso de todas as fa

culdades , os cl in icos , em conferencias , concordaram que

pouco havia naquel le momento que pedir à therapeutica.

M as o tratamento del iberado proseguiu cautelosamentesem interrupção e ao cabo de varias conferencias , emque entraram os mais abalrsados medicos , que ex ist iamem L isboa, os drs . M anuel Bento de Sousa, A rantesPedroso, G ui lherme Ennes , João Ferraz de Macedo,Lourenço de Almeida e Azevedo, Anton io Mar ia Bar

Coube-me tambem part icipar nessa honrosa col laboração, onde se reun iam artigos firmados por escriptoresde fama. N ão tem portanto valõr o meu quinhão, nãosó pelo nome humi lde da pessoa que o ass igna, mastambem por não conter primores de l inguagem que deslumbrassem. E ra contribuição s incera de um homem quefôra companhei ro de P inheiro Chagas alguns annos no

A r c/nºvo píl lor esco, no A mma r ío desta publicação e na

G azeta de P or tugal , onde fiquei alegremente alvoroçadocom a sua entrada nesse per iodico de Teixeira de Vasº

concel los , per iodista valoroso.

Ó meu art igo é o que vae lêr—se e foi publ icado no

dito supplemento com o título 0 fal /reh'

mlr la . Reprodu

zo-o com intima saudade, porque P inhei ro Chagas sa

bia muito bem que era seu amigo e seu admirador s in

cerrss imo.

Vi-o dias antes de o perdermos , e de ter a naç ão rn

teira que las timar a falta de homem tão pres timoso, de

tamanho valor e de tão variadas aptidões , cujos b r i

lhantiss imos fructos tem direito a s rngulares'

paginas em

a nossa histor ia litteraria e, sem favor , dão paginas g lo

r iosas na histor ia de todos os povos .

la pessoalmente saber del le, mas não desejava fa llar- lhe para não o incommodar e po rque me atti ng ia o

seu es tado, culo desen lace fatal se aprox imava. D e

uma vez, porém, disseram- lhe que eu es tava no co r re

do r a i nformar-me com o maio r i nteres se da marcha da

doença e das melhoras , e seu 6t A lvaro veio a cor

rer

_ E ntre no gabinete. O papá quer vê—lo .

E ntrei . E ra acaso uma despedida. E fo r, infel izmen te !P inhei ro C hagas estava sentado em frente da s ua

mesa de t rabalho, na qual vr um Ile aberto e um la

pis . Quando assomei á porta do gab inete, o i l lus t re en

fermo t inha a cabeça incl inada sob re o peito e os o lhos

1 2 3

Este moço tem talento . H a de ir longe.

Isto não é de hontem. D ata de 1 864 . Vão já decorr idos 3 1 annos !

Pinhei ro Chagas deixou, na G a ckt de P or tug al ,

como depo is no D ían'

o de Itatiaia , folhetins , nos quaesrevelou os seus excepcionaes dotes de critico e o br i

lhantismo do seu es ty lo, que, ass im na palavra escri

pta, como na fal lada, tanto fascinavam e tão alto levantaram o seu nome !

El le era vivo, bom observador , faci l na expos ição, de

mordacidade elegante, porque não cahia na critica ba

nal e offens iva ; tinha so l ido fundo de erudição e pro

digiosa memoria.

C omo estamos em 1908 contam—se 44 anno s i D as r ela

ções de T eixeira de Vasconcel los com P inheiro C hagas e

outr os moços escr iptores , que tanto hon raram a imprensa

por tugueza e tan to lustre lhe der am com os seus tr abalhosl it ter arios , já me refer i como pode no tomo r destas Mm

ri as , quando refer i como veio a fundar —se a G ogeta de P or .

rangel , que Teixeir a de Vasconcell os sustentou com disveIo s

de pac, e soube honr ar a profissão de per iodis ta, que deve

ser um sacerdocio .

D edicar estas paginas a P inhei ro C hagas er a uma necess i

dade do meu co ração .

q ue era mulher perfeita e tinha bastante merecimentopara a scena

Luiz P almeirim afastára-se daquel le conv ivio por var ias d ivergencias em assumpos de theatro e de bast idores .

O poeta Luiz P almeirim sai ra tão azedo dessa con

v ivencia no theatro normal , que, tendo-lhe o governo deentão offerecido, como premio ao seu provado saber especial em assumptos da scena, o cargo de commissar ioregio, não o acceitou.

M endes Leal , R ebel lo da Silva e Ernesto B iester, tinham permanencia no camarim

'

de Emil ia A delaide, “

vendo—se egualmente os dois primei ros na côrte da grande actriz Emil ia das Neves , de certo uma das maiores

g lor ias do theatro portuguez ; ou no camarim do Rosa

pae, artis ta instruído e de alto valor .O s fi lhos do i l lustre actor, pintor e esculptor, João e

A ugusto, que tamanho br ilho hav iam de dar à scenaportugueza, com o fulgor do seu talento, nessa épocaterminavam os seus estudos , guiados e aconselhados porseu nobre pae, que se revia nel les antevendo-lhes futurog lor ioso. Em 1 864 o João R osa não contava mais de 2 1annos de idade e era um moço v ivo, elegante, sympathico.

F A C T O S E H OME N S D O M E U T EM P O - TO MO l l l

l l

Joaquim José Tasso nascera em L isboa aos 22 de

agosto 1 820 . A os 1 9 annos de idade entrou para o

theatro da rua dos Condes para subst itui r o actor Ventura em diversos papeis , nos quaes demonstrou o seu

valor para a scena, tornando-se notavel até no dcsem

penho de personagens sem importancia.

D o is annos depois da sua estreia, isto é, po r 1 84 1 ,

conhecia—se que estava nel le mais que um s imples ar

tista, porque se vram ne l le as qualidades e o es tofo de

um g rande actor , de um artis ta gen ial , pois se sab ia quenão era a cultura intel lectual que lhe dava s ingu laralento, porque lhe faltava o tirocin io aproveitado n as

escolas , mas ardia no novel actor a chamma v iva do

talento natural , o gen io !

M as , por sem duvida, n inguem antevia o radiante fu

turo que se abr ia luminoso para esse talen toso ar tis ta e

as corôas que conquistar ia em carreira longa, não in terrompida, e gloriosa sempre, dando

- lhe logar pr imacia l

1 33

Es tou convencido de que el le o auxi l iou com bons esalutares conselhos , na bel la carrei ra em que se estreavacom ruido, encantando para logo o pub l ico.

Lima F elner deixara os trabalhos per iodís ticos , pol it icos e litterarios , nos quaes adqui r i ra amigos como A lexandre Herculano, José da Silva Carvalho e R odr igo daFonseca Magalhães , Mei ra e out ros . e estava intei ramente afas tado das cousas dramatics s , para se entregar

de coração a ass umptos histor icos , que lhe abri ram as

portas da A cademia Real das S ciencias , onde deixouestudos valiosos ; porém. quando viu br i lhar na scena

portuguesa o elevado merito de Joaquim José Tasso,não pôde res is ti r . O fogo, que o animára por alguns annos , e que jul gava extincto de todo. ateous e e lá se foia cultivar amisade que lhe era tão grata.

R odrigo de Lima P elner era um erudi to. sem basofias.sem pavonear

—se ou inculcar se, comedido, modes to e attrabante no trato, de conversação agradavel e instructiva. Quão rapidas e deleitosas corriam as horas ao ladodes te nobre e exemplar homem de lettras !

N a época em que a maçonaria do r ito escas sez tinha

bas tant e impo r tancia em L isboa e na qual es tavam fi l iadoso s homens mais eminen tes, como José da S ilva C arvalho e

R odr igo da F on seca M agalhães. R odr igo de L ima F elner tra

balhava nell a com ver dadeira dedicação e a auxil iou em tudo

que dependia das suas aptidões, po is que redigiu até um pe

r iodico em beneficio do ins tituto e pub l icou l ivr os em seu

abono .

M anuela R ey era das artistas de mais prod ig iosota lento que pisara até ali o palco do theatro norma l .

Todos o reconheciam; todos o applaudiam ; todos o p roclamavam como um ecco de unanime e estr idente con

sagração ! Todos ! Logo na estreia, a que ass ist iram o s

homens mais eminentes nas letras e na cr i tica . J á os

i ndicarei.

A pas sagem de M anuela R ey naquel la scena foi co

M anuela R ey er a de o r igem hespanho la. A bando n ada

pela mãe, o u,an tes , en t r egue po r es ta pela sua m is e r ia a

uma companhia de comedian tes ambu lan tes, po r el les ado

ptada, com e l les fo i ob r igada, de ten r o s anno s,a r epr esen tar

em d i fi'

er en tes po voações de H espanha até que en t r o u em

P o r tugal po r ter r as do M inho,m as bas tan te mal t r atada pe lo

des t ino .

O pr ime i r o theat r o em que r epr es en tou em L i sboa fo i n o

S al i t r e po r 1 856. N o anno segu in te en tr ava n o theat r o de

D . M ar ia II.

realisava a sua

fundo sentimen to.

, que oommoveu todos os que tin ham

ench ido completamen te a sa la do theatro norma L A s ua

presença, notavel pela pal lida . causava estremea men o

Es sa poes ia, recitada por ella com s ingular express ão.começava :

O lyr ia desponta e cr esce

A'

luz da manhã que assoma,T udo é viço e tudo aroma

N aquel la gr acio sa dô r ;

A dôce go ta de o rvalho

D as fo lhas l he desce em meio,

C omo desce a um cas to seio

U ma lagr ima de amo r .

E acabava

A i, D eus ! des fez—se o encan to

Que eu cr êr a immen so e eter no

M eu 50 1 fo i so l de inver no ,

Que apon ta e que s e esvai.

S um iu—se o alvo r ether eo

D o meu viver r iso nho

A co r do emfim de um sonho ,

E aco r do ao som de um ar

M anuela Rey fal leceu aos 26 de feverei ro 1 866, com

2 3 annos , incompletos , apenas . Que idade tão povoadade encantos para uma mulher formos iss ima, como era a

desditosa actr iz ! O utro poeta, Ernesto M arecos , amigode Joaquim José Tasso , escreveu logo em seguida,como de improviso, outra poes ia, que foi impressa sob

o titulo Cor da de perpetua r , elegia dedicada âquel le

ex imio actor.

Este poeta, que fôra tão r ico de talento, como infel ize amargurado na carreira que encetára, começara a poe

s ia com es tes bel los versos endereçados ao amigo, queel le admi rava

A migo , tu que, da ar te na car reira,

N a fr on te o mesmo gen io sub l imado,A seguias a par

T u que so r r iste ao vê—la a vez pr imeira

T r iumphando , e lhe estavas inda ao ladoQuando a vias tombar ;

R ecebe de per petuas nobr e amigo ,

A cor ôa que, em mudo iso lamento ,A

'nobr e actr iz teci

Vai pousar- lh

'

a tu mesmo no jazigoS e crês que este saudoso monumento

D igno é del la e de ti !

A elegia pr incipiava

E is o pr ob lema da vida

H ontem, gr aças e explendo r ,

A bel la fr onte esquecida

P elo gen io e pelo amor ,

Banhar nos raios do so l,

u por igno ta espessur a

A prender do rouxi no l

O timbre, o som do go rgeio ,

P or uma aur or a de n ão

E xhalar do terno seio

Quan ta haamonia sonhou ;D epo is, tr anzir

—se de fr io,

T ombar como tudo tomba

E is a his to r ia dessa po'

mba

Que o sepulchro no s velou

E accen tuava no hnal '

T udo r ouba a m o r te,e cus ta

T an to a vêr mur char a H or

Que se d l l que (3 mo r te 1n ) us ta

A que no s leva um amo r!

M as não s e m ald iga a mo r te !

P o r que tan to v ico co r te

N ão l he chamemo s fatal

N ão se blaspheme con t r a e l la,

Que o poder que no s r evela

T alvez que nem seja um mal !

Em uma noite em que Joaquim José Tasso t in hadescanso em interval lo de peça, que se representava e

eu estava em socego no seu camar im , discor rêmos áce rca

de cousas do theatro francez, tanto mais que dias an tes

se fal lára da S ituação de alguns artis tas e de ce rto des

favor em que ainda el les eram tidos entre certas clas s esmenos cu ltas que, quando os cri avam, refer iam- se s im

plesmente a comz

'

cos, a comcdz

'

an les , dando- lhes po rtan touma clas s ificação despr imorosa e offens iva, sem ter em

conta a nobreza e a responsabil idade da arte.

Tasso sab ia tudo . E ra es tud ioso .

R eco rdei- lhe o que se dera com o egregio acto r e

poeta M ól iêre, ao qual os b'êatos , os burguezes r idicu lose os hypocr itas nojen tos , faziam guer ra mortal porq ueos azor ragára tr iumphantemente ; mas ao qual a A cademia F ranceza foi depo is ob r igada a pres tar a homena

gem que deixára de prestar por inveja na occas ião pro

pria.

A A cademia não quizera recebe—lo, no seu gremio,por el le ser comico, sem contar com as acclamações jus

t iss imas que recebia no palco e entre os intel lectuaes do

seu tempo ; e sem se importar com a cons ideração quelhe prestara o rei Luiz XlV, que o t inha como amigo ;

e um secu lo depois quiz resgatar tal falta mandandoque, na sala das suas sessões , fosse inaugurado o bustodo grande poeta e comico, pondo

-se—lhe na base este s ign iftcativo e sugestivo verso

R ien ne manque às a g lo ir e ; il manquait àla no t re.

Tardiamente pagou a divida, mas saldou-a honrando

a F rança. Quando se fal la de M ol iere não pode deixar

de citar- se esse facto.

D epois lembrei—lhe o que passara com outro art ista,que tem o seu nome nas mais br i lhantes paginas dah istor ia do theatro — o grande Talma.

— Sabes , meu quer ido Tasso, que vejo muitos pontosde comparação na vida des se il lustre artista com a tua

v ida. S e não te agradarem, dize-mo. S ê franco.

O que disseres , não me escandalisará.

— Então ouve—me.

Talma, nos pr imeiros annos da sua existencia, sem

meios para proseguir uma educação litterar ia apurada,

nem estando incl inado a continuar na profissão do pae,

em que al iás se exercitara com despraser por algunsmezes , fugiu do agasalho paterno, foi a correr lançar-se

1 4 5

estado de suas finanças , que se lhe afiguravarn não se

r iam lisongeiras , e dizia—lhe com bonhomia z— Estas um

gastador exemplar ! N ão te amofines ! D eves dinheiro.

O s credores não te perseguirão. Tens dividas . Vou dar

o rdem a um dos meus mordomos para que se entenda

com el les e tudo ficará saldado .— L i isto em uma pug

b licação da época e creio que será ass im. O lha que nãoestará errado. Esse facto repet iu-se com o insigne ar

t ista.

— A ssim será, meu amigo , inter rompeu Tasso, masbasta de citações agradave is para a memor ia g lor iosa dogrande actor francez. D â—me l icença que não acceite as

referencias que tu convertes em l isonjerias para mim.

Reprovo essas por immerecidas e perdôo t'

as por sai remdo teu coração e da tua amisade.

— Então trataremos de outro ass umpto, sem sai rmosdo theatro . R ecebi de Par is um l ivro em que Vacquerieded icou algumas paginas a g lor ificar o actor . Vem a pro

pos ito o assumpto , porque ainda ha pessoas , sem cul

tura, sem consciencia, de supina ignorancia e de má fé,que pretendem desnobrecer a classe depr imindo-a com

apodos .

— N ão fal lemos disso, que é tr iste e nos envergonha

nos meios civilisados , — acudiu Tasso com voz sent ida,como se v isse as minhas pa lavras traduzidas em factos

numa sociedade. que não podia di rigir nem regenerar

pelo caminho do bem.

— A minha idea é de propaganda. 0 que vou fam

é põr em linguagem corrente o que escreveu Vacquerieno seu apreciavel l ivro. que é de sa lutar leitura ; e,

rm os z uoam oo m rm o — m o m to

” 49

M o liere. N em a maldição, nem os ins ultos impediram que

M oliere fosse acto r até o u l timo ins tant e da vida. M o r reu em

scena, e quiz para mor talha o chamb re de A rgon . Quando

Boi teau lhe pergun tou o que o retinha no pal co, en fermo

mor ibundo, M o liere respondeu : a ho nr a. Boileau não coma

prehendeu, A hon ra de manchar o rost o de branco e de ver

melho de ser julgado pe lo s escreven tes e caixei r o : de ser

pateado por qua lquer de ser insul tado e despresado S im,

Bo ileau : a honra de ser des'

pr esado ; a honr a de padecer pelaidea; a honra de «Jar d i m tudo , cor po e alma, dign idade epensamento ; a honr a de ser pareado em scena, e humilhadofór a de l la ; a honr a de ser acto r para sua mulher ; a hon rade t t er um farçante par a o s parvos , que se negam a viver

com o genio ; e a honra emfim de s er expu lso , vivo , do mun

do , e mor to , da ter r a

Quando C hampmeslé estava mo r ibunda, os padres r ecusa

r am—lhe a abso lvição senão r enuncias se a comedia ; por ém

e lla pr efer iu ser condemnada pelos padres . Mar tyr sub l ime eesta mulher que, para não r enegar a fé, quer ser condem

nada eternamen te, por que dedica ao theatr o mais que a vida,dedica- lhe a alma ; mar tyr unica, porque só tem o inferno

como recompensa e como paraiso

N ão obstan te es tes grandes tes timunho s , continua a repro

vação . A inda ho je, o actor não eum homem. Nenhum go .

ver no ter ia a cor agem de dar uma condecoração a F reder ico

L emaitr eJ A pr opria revo lução de t848 não ousar ia elegerum só acto r como repr esen tante do povo .

H oje, es tá mudado tudo . O s governo s jaconcedem con

decorações aos ar t is tas dramatico s . N a F r ança ha actores

que tem a L egião de H onra. E m P o r tugal succede outr o

tan to . E xis tem aqui mui to s honr osa e dignamen te condeco

r ados , e po r modo que a venera o s ennobrece. E'

galardl o

jus to .

O s actor es protes tam sempr e contra isto , mas e lles não d o

actores , disse o por quê nas pr imein s paginas do meu l ivro r

no theat ro agora bas ta a sua idea ; e a idea enco n tr e o o s por

toda a par te quando tem necess idade del les . L ogo que os

poetas não são actores, são oradores . A scena ou a t r ibuna,

que impo r ta ? é sempre o theatr o . E'

sempre o homem que

s e r eproduz inteir o . E's emn r e a car ne que tambem quer

exis tir , que faz par te do tr ab al ho sagr ado, que dá idea a

evidencia do ges to , a luz dos o lhos e, se é mis ter , o sangue

das veias ; que diz no espir ito : R esplandece e eu pndecerei l

T odos os pensadores tem r epresen tado o seu drama . Mºo

liet e r epr esentouou no theatr o , S ocr ates na pr isão , D an te no

dester ro, J oão R uss na fogueir a, C hristo na cruz .

H autevil le-house, fevereir o de 1856.

S abem que, pela palavra e pelo can to, pela comedia e pe lodr ama, der ramais en tr e as mu l tidões o idea l, o be l lo , o en

thus iasmo , a piedade e a alegr ia ; e sabem que a admir ação

nos to r na maio r es, que o r iso nos to r na mais vir is e que as

lagr imas nos fazem mais ter no s .

E'

necessar io descer ao lodo da imbecil idade para encon

t r ar parvos que não compr ehendam a grandeza da pr ofissão

do acto r . J á não é cr ível que um só homem pense mal do s

ar tis tas dramaticos . M as se houver algum que lhe falte ao

r espeito , haverapar a logo out ro que saiba responder- lhe

D espr éso o teu despr eso

C umpr i apenas o meu dever . R ecompen sam-me vv. sobe

jamente na sua car ta pr ecio sa, que conservar ei sempr e, e da

qual me r eco rdar ei com o rgu lho em toda a minha vida, como

a maio r hon ra que poder ia r eceber .

A per to , co rdeal e fr ater nalmen te, as mão s de vv.

A ug us to Vacquer ie.

G uer nesey, H autevil le-house, 1 7 de abr il . .

N

1 57

Esopo só represen tava a traged ia : R oscio, pelo con

trario, só representava a comed ia, e nel la pr imava.

Cicero, que tambem estimava es te actor. dizia deR oscio «que o satisfazia tanto vê—lo . no theatro que

e não devia nunca descer do palco, e que tinha tantas« vi rtudes e probidade que nunca dever iam ter entrado

no « theatro. »

Mui tos actores bri lharam na scena franceza. O maisanti go é Baron, o acto r de Cor nei l le e Racine. E t inhamum digno interprete. Racine, que julgava não poder deixar de dar instruccões muito minuciosas aos artistasque entravam nas suas peças , dizia de Baron :

— cO papel que ha de desempenhar deixo-o sua

« boa,vontade ; o coração lhe di rá muito mais que as

« minhas observações . .

Baron formava da sua arte a mais alta idea.

— cL i as historias antigas e modernas , dizia el le ; e« vi que a natureza tem sido prod iga de homens excel.« lentes em todos os generos . Parece não ter s ido avara

« senão em grandes actores A inda não houve talvezquem igualasse Roscio e eu . »

Baron, a julgar pelas antecedentes palavras , não tinhal ido tudo. M as , como quer que seja, a exageração de

s uas ºpiniões contri buiu com verdade para o aperfeiçoa.mento do seu talento.

— c O actor, dizia el le, devia ser coroado num sol io.»

N ão era só no theatro que el le se julgava pr incipeesta iilusao não o deixava até na alta sociedade. Aftectava sempre tratar de igual para igual com os maiorespersonagens .

C om

nós , m

podem

O de R osa pae (João Anastaciona scena com outros t ítu los , que igualmente nob il itavam na arte, o de pi ntor e o de esculptor ; e que de i

xou no theat ro portuguez quem tem sabido hon ra- lo .

E o de

J OAQ U IM J O SÉ T AS S O

R ecebe, tu, que foste dilecto e leal amigo, es tas u l

t imas fl ôres de saudades eternas que ainda hoje , em

idade mun avançada, levo á tua campa l

O que escr eve es tas humildes l inhas já completou o s 75

anno s de idade e 59 de ser viço s na impr ensa .

Em maio 1 870 realisou-se, no theatro da T r indade,uma recita em beneficio da viuva de Joaquim JoséTasso. Em homenagemao fi nado artista, Bapt ista M achado, poeta e actor, fal lecido algum tempo depo is ,compôz e foi recitar nes sa noite uma poes ia que intitulou A

'

m inor ia de j oaquim j osé T asso, dando-lhe

como epigraphe es tes versos do subl ime Camões

0 sabio não vai todo a sepultura,N o memo r ia dos homen s vive e dur a

O poemeto de Baptista M achado abr ia e fechava

ass im

F unebr es crepes t raja a scena por tuguesa

N as fat ídicas paginas do livr o eterno

mais um nome s'

in screve E'

T asso o acto r sub limeA A r te

,lagr imas de sangue, cho ra p

'

lo fi lhoque tan to amou

,e lavr a em sua jaspea campa,

não vulgar epitaphio : A p r obidade e o mer ito,

T as so não mo r r eu, po is apenas o seu vul to

da scena social fugiu e mais não vo lveM or r er não pode T as so A aur eo la de g lo r iaque a fr on te l he cingia, é fana l b r ilhan teque o nome lhe il lumina, dos her oes, no grupoA F ama, em sua tuba immo r r edour a, aos evo s

dir á aqui sob t'

a'

o fr ia lousa jaz do rmindoa « hon radez e « talento . em es tr eito amplexo

P A C T O S H O U R"! D O M E U T E MP O TOMO l l l

G L O R tF l C A çXo D A w anessa

Vou l igar, como complemento à homen que desejo prestar amemoria saudosa de

as paginas que, em outro opuscula de opport una pu

blicidade consagrei à festa da imprensa quando saiu a

pr imei ra edição, na Belgica, da obra O s M ir-cm d : de

V ictor Hugo, àqual todavia já me refer i ra no tomo an

terior ”e que não inclui ahi por não ter encontrado o

un ico exemplar que me restava desse opusculo e de que

necess itava para a transcripção, que real iso agora .

N a opin iao mu i esclar ecida do escr iptor e cr ít ico po r

tuen se, B r uno, devia tr aduz ir M iser andos , ass im se t ir ava a

accepção depr imen te par a o s per sonagen s do r omance , o

que não es tava decer to na intenção do egr egio aucto r .

O ºpusculo , a que me r efer i no texto,saiu sob o ti tulo

F estim dos A g lo r ificação da imp r ensa po r

Victo r H ugo . L isboa. 8.

º de 1 4 pag .

brenome de

saram em dedicar a V ictor Hugo um sumptuoso ban

quete onde reun issem os mais particulares am igos e

discrpulos do egregio escr iptor francez. P ara ess e tim se

endereçaram convites a diversos escr iptores nacionaes e

estrangeiros e outros homens distinctos , sem d ifferen

ciação no seu sent i r pol itico. E ra uma festa l itterar ia e

de estudiosos .

O banqúete realisou-se, com effeito , em B ruxe l las no

dia 1 6 de setembro 1 862 . E stavam ali N efftzer , T ex ier ,

E ugen io P el letan , Luiz B lanc, vindo de Londres ; E rnesto D emarets , dos auditor ios de P ar is ; Theodo ro de

Banvil le, Champfl eury e H ector M alot, da O pin ion na

cz'

ona le ; M als ias e H abeneck , da P r es se ; Legau l t, doM orel, da R evue de z

'

n s l r ucíon publ ique , H en

no;

rique Rochefort , do CM ; Ferrar i , pela imprensaital iana ; Pigott e Low e, pela imprensa inglesa; Mar ioP roth, do Cour r ier du D io rama ; Chas sin , do P r og r ess de L y on G éry Legrand e Mature, de L i l le :Boye, da P uólíd le, de M arselha ; Lamy da R evue deN or mandie C erfbeer , do T uam L orbac, Ferr ier .C arjat, Nadar, Noel Parfait, P agnerre, Claye, doutorL aussedat, Labrousse. Brives , antigos representantes do

povo, e out ros .

A s lettras belgas es tavam representadas por Berardi ,Cons ideram, Couvreur. F rédérix, e Ber ru, da Indepen

danee belg a ; M adoux, da E toile; Eugenio Landoy e

Voituron, do j our nal de C oari ; D umoul in, do P r emseu r , de Anvers ; F irma , do j our nal de CÃa r ler or

'

; G ê

r imon t, da T M ane Boone, do S rad G en i ; V ictor H enaux, L aveleye e Jul io G i l liaume ; Vau Benmei, da

R evue h imes l r iel le ; V ictor Jo ly ; M ol linari, do E conomis le belga; Fontaine, etc. D e M adrid foi Cues ta, di rector das N ovedades . A imprensa portugueza não teve

representante naquel la fes ta. com bastante magua dosque nunca deixam de prestar a devida homenagem ao

ins igne poeta, auctor dos M i rer aveis , e sempre desejamtomar parte nessas demonstrações em prol da civi l isação dos povos .

A lém dos indivíduos , que mencionamos , ass ist i ramao fest im Car los e Francisco V ictor Hugo ; 0 pr imeiromagistrado de Bruxel las , P on ta inas, e o pres idente doCi rculo-artistico, Vervoor . O s do is ult imos , no dizer daIndependence belg e, não quizeram deixar de saudar o

hospede i l lustre de Bruxel las, e mostrar que nas bri

! 59

se dilatam continuamente, da in tell igencia em acção ; sío as

ondas sonor osas do pensamento .

D e todos os cir culos e de todo s os resp lendo r es do espí

r ito humano , o mais amplo é a imprensa. O diamet ro da

imprensa, e o diametro da civilisací o .

A qpalquer diminuição da liberdade da impr ensa'

cor res

ponde uma diminuiçã o de d vilisaçi o ; onde a impren sa livr efõr inter ceptada, pode o se dizer que es tá in ter r ompido o nu

tr imon to do gener o humano. S enho res, a miss ão do nosso

tempo é mudar os velho s alicerces da sociedade, fundar a

verdadeir a ordem, e sub s tituir as ficções pelas real idades . N a

tr ansformação das bases sociaes , que é o tr abalho co lossal

deste secu lo, nada res iste a impr ensa applicando o seu po .

der de tracção ao catho l icismo, ao mil itar ismo e abso lutismo ,

o s mais r efractar ios complexos de factos e ideas .

A imprensa e a fo rça. P o r que? P o r que é a in tel ligencia.

A impr ensa é trombeta viva ; toca a alvo rada do s povos ;

annancia em al ta voz a exal taçío do dir eito só con sider a a

noite par a saudar o dia ; antevê a aur o ra ; adver te o mundo .

A lguma vez todavia— co isa es tranha l — tem e ll a s ido adver

tida. M as is to parece o mocho reprimindo o canto do gal lo .

S im, em cer tas nações , a impr ensa é ºppr imida. E'

as

cr ava N ão . imprensa escrava E'um ajun tamen to de pala

vras impossivel .

H a dois grandes modos de ser escravo : o de S par taoo e

o de E pitecto . U m despedaça as cadeias , e o outr o experi

mente a alma. Quando o escr ipto r encadeiado ni o pode re

cor rer no pr imeiro modo, r es ta-lhe o segundo .

N ão , embor a o pratiquem os despotes , cer tifica todos os

homens livr es que me ouvem,— como o sr . P elletau r ecen

temen te dis se com admiravei s ph rases , e como e ll e e muitos

outr os o teem provado com generoso exemplo ,— ni o , não

ha escravidão para o espir ito

S enhor es, no seculo em que es tamos, sem a l iberdade daimpr ensa não ha salvaçl o . E r r ado caminho, naafragio e de

sastr e po r toda a par te

dor a e augusta, que s imelha uma luz e que é o so r r ir da

patr ia.

Br indo pela impr ensa ! pelo seu poder , pela sua glor ia e

eãicacia ! pela sua l iber dade na Belgica, na A llemanha, naS uissa, na Ital ia, em H espanha, na G rã

—Bretanha e na A me

r ica pela sua emancipação em toda a par te !

T ITO D E C ARVA L H O

l 79

thias, juntava uma modestia que ninguem poderá exceder . P or isso. rejeitou condecorações e honras , que

muitos ambicionam e nao recusam. A té as supplicam.

sem meritos , nem serviços , para as alcançarem e os

premiarem, sem poderem al legar os correspondentes àpatr ia. que os justiticm em.

El le foi louvado por portaria de ao de marco 1 897

pelo trabalho da estatist ica graphics dos caminhos deferro do ul tramar de 1 888 a 1 89 3 . que organisàra com

o s r . Bek hior M achado, actua l chefe da repartição ;

por egual trabalho referente ao periodo de 1 894 a 1 896,

por portaria de 2 de abr i l 1 898. e pela superior intel li

gencia e inexcedivel selo com que desempenham im

portantes serviços de que fôra incumbido, por porta riade 30 de junho 1 898 .

F oi membro da commissão incumbida de apresentar

um projecto de reorganisaçao dos serviços de obras publicas do ul tramar . membro da commissão encarregadade reorganiaar o serviço de emissão de vales ultramari

nos ; da commim permanente encarregada de colligire coordenar as iniorrhações commerciaes que interessemâ industr ia e ao commercio , tanto da metropole como

das províncias ultramar inas ; vogal effectivo do conselhodas pautas ultramar inas ; vogal da junta admin istrativado caminho de ferro de Benguel la ; pres idente da com

missao executiva do mesmo caminho de ferro ; e membro da commissão encarregada de examinar os documentos referentes ás questões do caminho de fer ro de Mor

mugao. F oi deputado às Cô rtes representando um ci r

culo do ultramar .

Tito Augusto de Carvalho exercem as funcç ões de

secretário particular do consel hei ro Sebastiao L opes deCalheiros Menezes quando es te foi chamado aos con

selhos da co rba e lhe deram a gerencia da pasta das

obras publ icas, que durou de julho 1 868 a agos to 1 869 .

Nunca pedi ra l icença demorada. N a secretar ia apenas

constava que obtivera uma de tr inta dias por incommoda

impertinente de saude, que gosara interpo ladarnen te.

Teve, pons , 4 3 annos de serv iço effective, sem cab u lasP ara escrever a hon rosa biograph ia de T ito de Ca rvalho não são necessar ias muitas palavras , nem adjectivosdemas iados . Bas tam os factos ; é sufficien te a nota s im

ples dos muitos e bons serviços . E' longa essa fo lha e

poucos a poder iam apresentar tão digna de jus tos lou

vo res . Todos comprehenderão desde logo o extraordina

no valo r deste funccronar io, que desappareceu para sem

pre de entre nós .

Co l laborava nas folhas portuenses , como co r re5 pon

1 8 3

fado, quando se t ratava de ser uti l a alguem, ainda quelhe fosse indifferente cul tivar—lhe a amizade. M uitos devem ser gratos sua memoria. Igualmente pertencia àd irecc da Sociedade de G eog raphia, como vice—

pres idente, e a varias corporações de ensino e beneficencia.

A hi prestou serviços e tantos , que es sa benemerita so.

ciedade, em sessão, ouviu oom applauso o elogio feitoespecialmente por seu particular amigo e co l lega no mi

nisterio e na mesma sociedade. s r. Belch ior Machado .

N a sua bibl iotheca part icula r, que era copiosa e es

co lhida, de ixou boa e val iosa col lecção de l ivros deassumptos economicos e ultramarinos . que. depois dasua morte, em breve se d ispersar ia. N inguem o substi

tui ra no seu culto de bibliographo.

T ito de Carvalhona calçadaComo pres idente, ou

jornali

vras de

ent ras se no jazigo . D o que al i proferi transcrevo o se

guinte , como novo e saudoso prei to a memo r ia de um

amigo quendo :

C um pr a— s e . E

'

do lo r o so es te dever . mas é de o b r igação

cumpr i- lo T enho que des fo lha r saudades so b r e es te fe r e t r o ,

que encer r a o s r es to s inan imado s de T ito A ugus to de C ar

va l ho ao en t r ar em n a sua de r r ade i r a mo rada . S ão mui ta s es

tas s audades,s ão i nfi ndas , sahem me da a lma cheia de e spi

ubo s .

N ão ven ho aqu1 só par a dizer is to , que é mu i to que r eve laa m inha per tur bação , que deixa vêr as lag r imas que m e s uf

focam . R epr esen ta a A sso ciação do s J o r nal i s tas de L is bo a e

tenho que despedi r-me des te il lus tr e co n socio ao qua l vai

pô r—s e em o no s s o r eg i s to social a t r i s t i s s ima no ta — F a l

leceu '

stei no dia do cumprimen to da em s od s l

e profiss ional , que tao grato me foi. S into—me bem po r

ter chegado a este ponto . A l l iv io saudades .

E ffectivamente, as m i nhas relações mais int imas com

Tito de Carvalho dataram da convivencia q uot id iana

no A r chivo pztlor es co , onde col laborei dez annos e nos

ultimos fi i i seu gerente e aux il iar na di recç ão l itte ra r ia ,

que estava a cargo do erudito e estimavel academ ico ,

ignacio de Vi lhena Barbosa.

T ive ahi muitas occaS iões de vêr e admirar o va lo rintel lectual desse am igo , cuia perda nos foi tão sen s i

vel, e observar com attenção as suas aptidões e a s ua

coragem para o trabalho de var ios generos necess a r ios

em uma empresa como era a do A r chivo , quer fos s e dedia, quer fos se de noite, quando as circums tancras oc

i 87

corren tes , em vespera da saida dos pàq uetes para o Bra»s il, ex igiam esse excesso. N ão se mostrava cansado , nem

enfadado . A ttendia a tudo com bom animo , attendendo

ás vezes a assumtitos mui diversos , cuja so luç ão a em

presa lhe pedia e a que el le co rrespondia corri acerto e

dam , recebendo o louvor dos que se empenhavam na

decisão.

Lembra—me bem que, por causa dos negocios que

por vezes se compl icavam com os que governavam na

benemer ita « Sociedade M adrêporas , fundada por algunsportugueses de notavel benemerencia e acriso lado pa

triotismo res iden tes no R io de Janeiro. e ali se manteve

por muitos annos praticando o bem em pro l de seus

compatr icios que precisavam de inst rucção, T ito de

Carvalho teve que manter, em nome da ci tada em

presa e as s ignada pela honrada fi rma que s representava,

correspondencia aturada e exten sa. Sai ra da sua reda

ccao , susten tando os direitos da empresa e demons tran

do o grave desequili brio. que podia darvse — como suc

cedeu l — se a sociedade indicada tivesse alguma incorrecçao no seu proceder .

D e um secretar io de es tado não sairiam notas mais

perfeitas , mais concludentes , e em l inguagem mais elevada e cor recta. do que as cartas escriptas por Tito deCarvalho em defensa dos interesses da empresa, a que

es tava l igado . O s prºprietarios do A r c/tivo M inu et o

reconheciam isso e lho demons traram em tes tet os

de gratidão.

Ainda bem que posso agora registar es tes factos . ignorados no vulgo, porque no seu viver límpido e pundo

e se fo i

sempr e nos mys terios

menagem pr es tada eoviu e de que podia atiirm u que er a um dístincto fuo cá oon io

e um cidadi O preso oso que seima de mdo pc-sha a ho nea

tidade e a vír tude .

A l ladin depo is com saudosa ref oràçí o l lea ldade e i boodade de co raçl o de T ho de C ai N IBo ndo cm r elevo o-s

serviços por ell e pres tados ao nais , lamen taodo que 0 pm

pr ensa um pub licis ta eme o par tido r egen er ado r um

amigo dedicadis s imo . F o i um n em uti l que mor r eu faxa da

fal ta ao seu paiz e aos seus i

A pr opos ta da pr es idencia rm approvada po r unanim idade .

D eparou—se—me um l iv ro, que decer to viu já . muito

val ioso. que El-R ei temmou que entrara no inventar io dacontos , aproximad

Que l ivro é ? peE' um de R asa

pertencido ao Rei D .

nuras que encantam.

— Jàsei de que l ivro Pertenceu ao R eia r tiâa

D . Fernando, que lhe dava extraordinaria va lo r .Como o sabe ?E' faci l conhecê—lo. Qu ouvir-me ?

— P resto—lhe a maior i ião.

- E u tencionava fazer so uma s inge la memoria,

porêm tem—me faltado o e; o e a paciencia . P assados

tantos annos sob re o caso s i que des istia do intento

e conservava ineditos os itamen tos . O fferece-se—me

agora o ensejo de o referi r neste l ivro de ( M emor ias )

e de dar ao meu amigo e confrade G i rard a razã o por

que o l ivro precioso, de que me fal la, teve laudo tão

alto . O lhe que repararam n isso e eu estive, vai n ão vai,

a deitar-me àimprensa com uma epístola expl icat iva e

recuei. S ou in imigo de epísto las , que tomem o odo r da

pedanter ia. Nada de ousadias , — disse para com igo

julgarão que quero tornar-me sal iente e char latão , e

ficará isso para outra opportun idade que se me afigure

melhor .E xcita—me a cur ios idade, acudiu o meu amigo ( 3 1.

rard, inter rompendo. N ão o deixo sem que me dê a ex.

pl icação das suas palavras .

1 95

— D a melhor vontade. P ermitta—me, comtudo, que

avive a memor ia e del la ti re, n itidamente, factos quepassaram ha armas e os redija em termos .

— Cada vez mais excitado. Tenha paciencia : fal le,— N ao ha duvida. l-ia pormenores que tem que ser

acauteladamente rememorados e postos em l inguagemclara para nao incorrer em algum erro grave nos por

menores. O s factos . a que me refer i , passaram em

1 886 .

Já lá vão 22 annos . Lembra—lhe tudo ?

— Que remedio. Puxarei pela memor ia, como increpam os mestres de aldeia quando desejam que os pe

q uen itos alumnos saibamas l ições como papagaios , sema capacidade intel lectual ou a idade para isso !

Então, vamos a ouvir.

— N zo. Vamos a lêr . Porque, puxando da memor ia,col ligirei os apontamentos e apresentados—hei escriptos .

Concorda ?— S im e desde já agradeço.

Va portanto lêr—se os apontamentos , que ded ico a

A lberto G irard.

N o grupo dos louvados , a que eu pertencia po r honrosa nomeação do inventar iante e annuencia liso ngeira

dos que tinham interesse directo no casal , figuravam,

entre outros , na parte artistica, os professores S ilvaP orto , Nunes e O reno, da esco la de bel las-artes ; e na

parte bib l iographica R ebel lo Tr indade, da bib l iothecanacional , e o que escreve estas l inhas .

T rabalhavamos separadamente em differentes salasda parte do palacio das Necess idades destinado á res i

denC ia do R ei—artista, onde es tava a galeria dos quadrosE: a b ib l iotheca com a secção de ceramica ; mas , às ve

zes , reun iamo-nos na bib l iotheca para trocar impres sõesacerca das precios idades al i ex istentes e do valo r dasmesmas , e recolher votos em assumptos , cuja reso luçã onão podia passar , em o nosso entender , sem o parecer

m amente e outros de que mdwan istas '

Qm ado chegi mos ao iiw o de l ím smui

gm ràdo p ei—aM l ám o u

pi nheiro indicou—m'

o :

— T ome lá es te livro . Quein ter o traba

minar e avaliar .

Qui: escusm—me es se trabalho m ae

e acceitei-o. Attendendo a extraordinaria

que lhe davam os empregados da cas

auxi l iavam na bibliotheca, lodos os dias rr

das H on s das maos de um deiies e todo

findar o exame. lh'o entregava [n m que

rar no armario donde o tirava. E is to dum

D evo dizer que o exame foi demorado

dei pag ina a pagina; e, ás veaes enthusias

bel lezas artisticas que se me iam depan

alguns dos meus companheiros de outra

O resumo do inventar io do R ei ar tista foi

barão de S . C lemente no livro da a..

par te

(edição da E mpresa do Cm mm ío do P or to,com outras deste impor tante inven tar io, as segE m L isboa : Livr o s, albuns e car tas , 181 3759

G ravur as, es tampas e chapas, 1 3Quadros, roo .a$o$ ooo réis .

E m C intr a : L ivros , r8 | .aoo r éis ;

Qudros, 3 .446aooo rei: .

'99

avaliação e professores já indicados que me viessem aw

xiliar com as suas luzes e os seus conselhos para me

darem animo.

N o momento em que cheguei a tal es tampa il lumi+nada a branco e preto com toques de oiro moído for

mei a opin iao de que não podia ter saido tal primorsenão das mãos abençoadas do Antonio de Hol landa.chamei—os a todos e communiquei-lhes as minhas im.

pressões . D esde todo o principio ficaram perplexos . hesitaram em dar parecer claro, tranco ; mas por tim. com

franqueza que os honrava e que lhes agradeci. disse

ram«me :— N ao o podemos alii rmar . Tambem não enjeitamos

o seu modo de vêr; P recisavamos comtudo de tempo

para o decidir cabalmente. N o entretanto. pode v. ter

acertado e seria isso de altiss ima importancia para a

arte em Portugal .E ffect ivamente, dar a um quadrosinho de wo notavel

formosura o nome glorios iss imo de um artista cousa»

grado na Europa, a que n inguem podia negar os mere

cimentos . em trabalho tão del icado e tão perfeito como

o que tinhamos ante os olhos attonitos , era cousa que

nao pod ia decidi r-se em poucos ins tantes. porém a que

me aba lancei sem receio, até na presenca dos mestres

que convocam para a con ferencia.

D ei. po is , ao l ivro precioso o laudo de mil l ibras esterl inas e pedi, que fosse registado no inventario com

redacção es pecial , o que se fez segundo a informaçaoparticular que em tempo alcancei.

Sinto que esses bons companheiros em tae

ja não ex istam. infel izmente. porque não me 1

com a sua palavra honrada e leal a contirmar oregistei sem minucias alteradas ou adulteradas .

Quando es tava para entrar no prelo esta fo lh .

por honro sa o ti'

er ta do seu il lus tr ado aucto r , sr . con

A nton io de S ousa S ilva Cos ta L obo, escr ipto r

co nsciencio so , um dos seus livr os que in titulou P l

M iguel A ng elo Buonar r orí : Interp r etação de um ,

mant, 1906. 8 . de n a pag. E dição nítida. ) E'

fo

ins trucrivo es tudo N el le se me deparam o s trecho :

tea, que transcrevo (de pag. 7 a g) , não só pela suaincontes tavel do auctor , mas tambem por que conâr i

nha o r ientação para o laudo do l ivro que me confiar«Quando no nosso paiz se cons ideram as ob ras

ar tís tico , e se pesquis am as memo r ias , que a el le se

adquir e—se a convicção de que P o r tugal , até a perda

pendencia no s lins do seculo ar t , acompanhou semtagem as demais nações da E uropa na cu l tura das btes

« O que determina em qualquer povo a fructiâcaçt ica, é a exis tencia do sen timen to esthetico , que dem

t isfaçâo adequada. O nde es te exis te, pr o sper am as

conver samen te, onde labo ram com proveito pessoal

tas, po rque lhes nâo fal lece a apr eciação do seu 1

N unca em P o r tugal se denegou a es t ima e o favor a

dos pr ivilegiados com as faculdades que lhes permita

po rificar , em fô rma apr opr iada, as cr eações do m gvíficado pela phantas ia E m todo s o s tern po s o E m

pregou e auxil iou o s ar tis tas a par do s homen s 4S empr e todas as classes , pr incipalmen te par a os tin

l l l

Anton io de Hol landa, pai de Francisco de Ho l landa ,

era pintor profissiona l . Veio para Lisboa, antes do meioseculo XVI, contractado pe lo rei D . Manuel , que o s pre

ciava já pela fama que o recommendava como il lum i

nador ; permaneceu no reinado de D . J oão l l l , que o

elevou com honras da sua casa, e veio a finar—se em

Evora.

O s que nos dão apontamentos biograph icos desse ar

tista, como 0 Cunha Taborda conde RaczynskiA bbade de Castro 3 e outros , affi rmam que el le era mu i toperfeito na sua arte e disso deixou numerosas provas .

S eu fi lho , F rancisco de H o l landa, que tambem foi

pinto r e il luminado r notavel , accrescentando estas pren

das com a de escr iptor s isudo e cor recto , ergue-o ás n u

V. R eg r as da ar te da p i ntur a, pag . 1 76.

ª V. D ictionnair e histor ique et ar tistique, pag . 1 34 .

ª V . R esumo histor ico da vida de F r ancisco de H o l landa,

já citado , pag . 4.

N out r o ºpuscu lo do A bbade de C ast r o , que trata de l ivr o si l lum inado s e de il lum inado r es , com r es idencia em P o r tuga l ,

20 1

vens dizendo que não encontram no mundo superior , nasua especial idade, a Antonio de Hol landa, o qual pondo—o em confronto. nas prom do desenho e da illumi

nura, com as dos mais afamados do seu tempo, que,

digas e com verdade, ainda serao hole cons iderados dospr imeiros na his tor ia da arte. el le o julgava acima detodos . E cita factos incontestaveis em seu abono. Exa

gerações de fi lho, no sentir de Raczynskl ; mas , em

todo o caso, a obra do Anton io de Ho l landa nao pode

ser apreciada senão como de primei ra ordem e digna deapreço super ior, seja qua l fºr a fôrma por que a cr itica

serena, imparcial , justa e s isuda, a analyse.

Segundo as obras citadas , F rancisco de Hol landa es

crevia o que vai lêr—se. A exagerad o notada nao mi.

nha ;comtudo, avista dos traba lhos extraordinariamenteperfeitos , excess ivamente pr imorosos , julgo que o fi lho:

ate o seculo avm, e do estabe lecimen to da Torr e do Tombo ,

citam—se os nomes de var ios ar tistas, en tre os quaes F r an

cisco de H ol landa, porem não menciona o pai, dando' no s alias

alguna po rmenos Acer ca da denominada Bibl ia do mos teir o

de Be lem, con tando como fôr a roubada pe los h om en s e

depois res tituído pelo obito de J uno t, cujo s her deiros a ven

deram em leilão.

N a obra de F r . F rancisco de S . L uiz, o er udito e sab io cardeal Saraiva, ácer ca de ar tis tas po r tuguezes, não me lembr areferencia po rmenor isada a A ntonio da H o l landa.

Vieram é certo, para P o rtugal dezenas de livr os de H or a: ,

il luminados habi lmente por encom enda feitas aos mais afa

IV

N o inventario do Rei D . Fernando foi, como de lei,cabeça do casal a s r .

' Condessa de E dla e as nos sas

relações , como per itos , eram por intervenção do seu pro

curador, que o era tambem da casa real .

D esejando cons ulta-la acerca do l ivro, a cujo respeitot inha que dar um laudo, que a muitos se afigurar la

exagerado, mas não era no meu conceito, mandei- lhe

pedir l icença para esse fim, que me foi immediatamen te

concedida e indiquei- lhe o as sumpto de que se t ratava.

Que deseja ? perguntou-me s r .ª Condes sa.

E n tão a s r .ª Condes sa de Edla res idia num palacete

á Boa—M orte, porque logo após a morte do R ei oartis ta

s aiu do paço das Neces s idades .

D ar a v. ex .

ªrazão por que aval iei o l ivro de

H or as em preço tão alto e fazer- lhe um pedido.

P edido interrogou, admi rada.

— S im, minha senhora. Nesse l ivro encontrei uma

prova, que me parece incontestavel , do trabalho de um

7 0 7

art is ta dos mais notaveis na E uropa no seculo XVI, que

esteve aqui ao servico do rei D . Manuel . N ao s el se o

M & a ando o disse a alguem. Sei que etle tinha este

l ivro em grande estima e que uao o deixava ver senao

aos intimos . lsto me dis& o vene rando arciútecto P os

s idonio da Silva.

-C om verdade, o Rei D . Fernando presava esse l ivra e o conservava fechado ; algumas vezes o vi e sem

pre lhe ouvi palavras de encarecimento aos art istas quenelle Cºllaboraram, mas nao me recordo de que se re

term particularmente a algum dos art is tas que enr iquederam as boaso artes nos tempos dos reis D . Manuel eD . Joao l l l .

— N ae lhe occorreu, minha senhora. Saiba, comtudo ,

v. ex.

“que eu tenho para mim, e disso es tou conven

cido por modo que não será fac i l destrui r esta convicção, de que entrou nesse l ivro precioso a mão privi le

giada do mestre Antonio de Hol landa. N aquella épocanenhum outro "luminaria assim.

E indiquei- lhe a estampa. descrevendo-a como pude .

— E o que quer dahi o s r. conclui r ?— O que desejo inferir es tá nas mãos de v.

N as minhas Como ?— 5 ' v. ex.

“cabeça do casal com di reitos que nin

guem lhe contestou e a lei lhes confi rma. li l-R ei 0 . Luiznão se opporà, como até aqui . P or consequencia, tem o

di reito da opção .

— Certamente.

— Pois bem. Ness e ouso, v. ex .

“ faz-me uma con

cessão.

Qual ?— A de ceder , em favor de E l—Rá D . L uiz, o l ivro de

que ae trata. A ssim, tem hh a certw de que esa

— Agora v. ex.

“comprehende a razão do meu laudo

e levado. Noutra nação, na G ran-Bretanha, na A l lema

nha, por exemplo, onde ha apreciadores do bel lo , ondeaos grandes art istas se dá valor , onde os objectos são

disputados ; onde os governos , como na Ital ia, auxi l iama proh i bid o da saida do reino das cousas raras e pre

ciosas para que se não extraviem nas mãos dos parti

culares ou Vão enriquecer museus estranhos , não admiraria que houvesse quem fizesse a aval iaç ão por duasou tres mil l ibras , mas aqui ficaram pasmados quandosouberam do meu laudo. N ão o altero, minha senhora !

F az bem. D iga-me, El-R ei sabe das suas dil igencias

e i nstancias ?

_ N ão, minha senhora. Vim aqui, com previa l icençade v . ex

ªdizendo apenas ao meu bom amigo Ernes to

da S i lva, em quem uma pessoa pode confiar-se, ao que

v inha. A n inguem mais o disse. N em aos meus compa

nheiros na aval iação, apesar de observarem todos os

dias o meu trabalho e a minha anciedade para chegar

a uma solução .

— A gradeço—lhe ter vindo cá. Vá descansado a esse

respeito.

A s minhas ultimas palavras 51 s r . ª C ondessa foram

Hol landa, o maior e o mais celebrado do seu

secu lo pela manei ra— N ão mo disse nunca

;

— A s r .ª Condessa de Edla atii rmowme outrotanto .

Fal lou com el la ?

magestade.

_ Então, o que passou ?Vendo que o l ivro t inha alto valor, que desejava

manter, como afli rmo, o meu laudo e prevendo que por

qualquer circums tancia fortuita, independente da boa

vontade e das boas intenções da pessoa a quem fosse

parar, pod ia extraviar-se e sair de Portugal , del iberei—meir pedir à s r .

ª Condessa de Edla que, na qual idade decabeça do casal , des ist isse de o chamar ao seu quinhãoe o deixasse incluir nos bens que tocassem a vossa ma

gestade.

— E o que lhe disse el la ?D is se-me que e ra am iga de P o rtugal , sua segunda

patr ia que amava, e que far ia o que lhe indicara da

melho r vontade , tan to mais po r lhe parecer que se r ia

1550 mun ag radave l a vos sa mages tade .

— P ersuado-me que res ponder ia des se modo . Temos

sempre t ldO boas relações . S aiba que em coxsa a lguma

me int romett i no i nven tar io de meu pai .

S im, meu senho r , a respos ta fon es sa, rapida e m

t 1da. N ão observei na s r .

ª C ondes sa a menor relutancna

em m'

a dar .

— F ez bem . A pprovo a sua indicação e quando me

2 1 !

vier o livro tere i o maximo cuidado para que não se

extravie.

Agradeci a El-Rei a sua amabi l idade e pareceu—me que

el le ticára satisfeito com o meu proceder.

A lguns dias depois tive que ir ao paço da Ajuda e elrei D . Luiz levou a sua bondade até encaminhar-«me

para uma das salas do paço e mostrar—me algumas pcças de prata anti gas e outras modernas , imitação doantigo de art is tas bracharenses , gabando—rne o trabalhoe a perícia dos artistas portugueses , o que o consolava(phrase textual do Rei).E soube tambem que el le recommendàra que, do que

lhe pertencesse na herança de seu pai, não se esquecessem de pô r o l ivro de H or a: , em que entrava tra

balho do celebre A nton io de Ho l landa.

Vl

Quando estava em Madr id, concorr i com outros por

tuguezes à recepção que no palacio do min istro plen ipotenciario de Portugal naquel la Côrte, então o conde

de S . Miguel , deu o fal lecido R ei D . Car los , que ali.

fôra por causa do centenar io de Calderon. Tive al i ocas ião de fal lar com o nosso R ei, que me citou sat isfe itoo precioso l ivro.

D eu- lhe um preço elevado e merecia esse laudo .

N ão o discuto. L á fóra ter ia maior , não lhe res te du

vida.

R eferi- lhe, em breves palavras , o que passára, de

monstrando que não estava arrependido. A o que o R ei,

benevolamente, annotou

— P ossuo mais alguns l ivros il luminados na m inha

bib l iotheca particular . J ulguei-os muito bons . Comprei—osnuma viagem de estudo pela A llemanha, quando pr incipe, acompanhando

-me 0 A nton io A ugusto de A guiar,

de quem me lembro com saudade. E ra homem de muito

VII

A nota, que escrevi em 1 886 para se extractar no

inventar io do R ei-art ista, conforme pedi , e que hei atéagora conservado inedita, é a seguinte :L ivr o de R asa, ou de H or as , ou B r evia r ío de Él-rei

D . João l l l , manuscripto em pergaminho. Formato dopergaminho 1 4

º1 0 e do texto 80 55, em goth i

co, com 30 1 folhas ou 60 2 paginas . Todas ornadas comlargas tarjas de al legor ia a cada mez, formosamen te de

senhadas e i l luminadas . A lém dis so, 44 estampas i l lum inadas , sendo 1 2 des tas de pagina inteira ; e , aproxn

madamente, letras capitaes e 1 1 8 traves sões ou

ornatos de fechos de l inhas no extremo das orações ou

psalmos , a 0 e e cores .

E ntre es sas estampas notam- se

uma ser ie de imagens de santos , da devoç ão po rtu

gueza ou ex istentes em templos da sua piedosa invo

cação, na cidade de L isboa ;represen tação da morte, funeral e exequias so lemnes

2 1 5

de E lo rei D . Manuel na igreja dos J eronymos, em Be

lem, e sub sequente cer imon ia da queb ra dos escu

dos e

os quadros b ibl icos da Paixã o de Chr isto , da A nnunciação e Purificaç ão de Nossa Senhora (os do is ultimosa claro escuro, branco e preto. com pó de oi ro, nos contornos ).

A lgumas des tas estampas de extraordinar ia bel leza,de indescr iptivel formos ura. que produz extas is , são o

mais evidente, o mais notavel testemunho da perfei

ção na arte de i l lumi nar, no seculo XVI e que na épocaem que foi produzido tão pr imoroso traba lho. só podiaser obra de mestre ins igne, a respei to de cujo talentonão haveria duvida nem se originar iam controvers ias .

N em ex isti r ia em Portugal outro l ivro des te genero comque pudesse entrar—se em confronto.

A s duas es tampas , a claro escuro, de trabalho decompos ição e desenho irreprehens iveis , obra pr ima dignade admi raç ão, deante da qual os proprios artistas t inhamque fazer reverencia, producto assombroso de min iaturae il luminura, dão idea perfeit íss ima de que ne l las pôzas mãos del icadas de A NT ON IO D E HO L L A N D A , o qual ,

O R ei ar tis ta der a especial l icença, eacepcio nalmeote, aoarchitecto P oaaidom

'

o da S ilva para repr oduzir a es tampa

histo r ica, como r ealisou, no Bold ri n da ass ociação dos ar chi

tecto s e archeo logos por tugueses .

A es tampa e tambem pr ecio sa como documen to histor ico

e elucidativa dos cos tumes da época.

na época de começar o trabalho surprehendente do l i

vro, de que se trata, attingi ra o apogeu da sua brio

lhante carrei ra, estava na culminancia dos applaus os

concedidos , seme a confi rmação defin iticredito de illuminador ,

deste reino.

O l ivro de H or a: foi começado nos u ltimos armas

do reinado do R ei D . M anuel, 1 51 7 (C U JO mi les imo vem

expresso na pr imeira fo lha) e acabado nos pr imeiros'

na.

nos do reinado do rei D . João l l l , depois de cunhadas

as pr imeiras moedas deste monarca, porque na tarja de

uma das estampas estão representadas essas moedas .

Taes circumstancias e outras , que omitti por b revi

dade no inventar io, augmentara, no meu parecer, o va

lor especial e est imat ivo del le e não é exagerado, re

pitoEm resumo

A rch ivemos : o l lv l'

O foi começado pors em 1 5 1 7 ,

como es tá reg is tado, e talvez concluido entre 1 527 e

1 530 ,sob a di recção do A nton io de H ol landa ;

porque

1 .

ºnos l ivros do rei D . J oão III for marcada em

1 527 uma pens ão concedida a A nton io de H ol landa, em

attenção aos serv iços pres tados e estes serv iços não po

diam por sem duv ida deixar de ser art istic i s ;

2 .

ºa pr imeira cunhagem da moeda de D . J oão l l l

devxa de ser nes sa época ;

3 .

ºa idea de represen tar o funeral e as exequias do

R ei D . M anuel no mages toso templo dos J eronymos e

2 1

os do pai), contando de 1 5 1 7 ou 1 5 1 8 , quando o l ivro

foi começado, talvez ainda não tivesse nascido , v isto

como dão o Francisco de Hol landa nascido em 1 5 1 8 ; e,

quando foi dada por terminada a obra, teria. pe lo as sim

dizer, meia duzia de armas ; e

prodigioso que fosse o seu ta

dor , a quem se conôassem trabalhosde, em tão tenra idade !

N a aver iguação de factos historicos e artist icos é es

sencial iss imo não prescindi r da chronologia. E ' um fanal

que não deve perder-se para evitar naufrag ios !

Estava satisfeito o meu empenho. F oi, ao que me pa

rece, boa e sa lutar a minha perseverança nos es forços

empregados . O l ivro ficava em Portugal e bem entre

gue.

U R BA N O DE C A STR O

Vou entrar no tomo tercei ro destas M emor ias . N ão

sei se v i rá a ser o ultimo da ser ie. Parece—meque s im.

P or emquanto não me encontro com an imo para as

prosegu i r, embora ainda tenha apontamentos e me

occorram à lembrança factos interessantes que poder iacol ligir e formar nova ser ie.

Estou cansado. A peregr inação pela imprensa tems ido bastante longa e não isenta de semsaborias , a que

tenho opposto a seren idade de que me revesti para as

combater .G uardei para este capitulo 0 nome de um amigo es

timavel , que presava e admirava pelo seu talento e peloseu caracter .

A gradou-me sempre ouvir e attender os homens de

verdadei ro merecimento, sem esperar que mo pedissem.

l sso me alegrava. Nunca esperei que me agradecessem

algum favor, se tal class ificação merecesse, que pu

desse fazer nas fainas per iodísticas , principalmente aos

222

q ue seguem na mesma estre-da. A os indifferentes nã o o

notar ia porque já contava com a

diam a todos os

era imposs ível exigi r- lhes qualquer demons tração de affe

cto, porque me vedava os bons preceitos da amisade,

que s inceramente se exercita.

Ass im, aos vivos nada M N ) que pedi r . F icam logo

justas as contas . N ão os julgo devedores . N em me con

s iderei credor . A os mortos fico a dever—lhes ainda a no

menagem que pagarei a todos os instantes á sua hon

rada memor ia, testemunhando-lhes que a_

magoa da

sua perda não se extinguiu. Quão agradavel é al l iviar

ass im as saudades dos que deixamos de vêr mas não

deixamos de estimar !

U rbano de Castro prendia pela sua graça e pe lo seu

talento. A sua convivencia, a sua vivacidade demon strada com certo retrahimento de modesto, eram de mo ldea agrupar e radicar sympathias , que não lhe faltaramem boa roda e de boa cultura, onde e l le — o que se pa r

t iu adeante para o desconhecido —

pod1a ser aprecmdo .

U rbano de C as tro deixou os amigos cedo . F mou -se

antes dos 53 annos de idade, parecendo, pelo b r ilhan

t ismo do seu talento e pela apparencna de saudave l ,

que a v ida ser ia mais longa. A doença atacou-o rapida

mente com força e n ão pôde res is tir .

Que dô r fer iu os amigos int imos , q uando reconhece

ram que el le t inha exhalado o u ltimo suspiro e e ra im

poss ivel res t itu i- lo a V ida ! Que dô r a da fami lia que o

es tremecna !

da imprensa seduziam—no. P oi-se atraz dess e des l umbramento, mas não o fulminou,

Aguardou a opportunidade e aproveitou o ense jo . P o

dia ser- lhe mais p

contradicção com a

mentos de homem

Quando

el le, então já deânitivamente na imprensa d iaria , tinha

U rbano de Castro reso lvido pôr as dragonas de adicial

de artilheria de lado e entrar denodadamente na carreirf

burocratica, al istando-se pacatamente no quadro de oiiiciaes de secretaria no minister io da justiça. D evera tal

collocação á amisade de um amigo e admirador em alta

pos ição, que podia protege—lo e anima-lo

N em uma fi ta lhe amava a lapel la da casaca, não as

pedira, nem lhe eram necessar ias . Bastava- lhe o seu ta

lento. N o seu trabalho, no qual via que t inha quem o

applaudisse, encontrava todas as compensações que o

seu coração de bom e amoravel anhelava.

E s se n ob r e am igo fo i o s r . co n sel he i r o J u l io de Vilhen a .

Respostas breves e incis ivas, formosas na satyra,causticas na mordacidade, br i lhantes no sentimento queas ditava, eram em U rbano de Castro espontaneas , de

improviso, sem pestanejar, sem engulhos de nenhuma

especie, vivas com alegre color ido. sem cai rem no r idiculo , nem no affrontoso. A rrepelavaose se porventura o

obrigavam a sai r do caminho recto em que tr i lhava.

Amigo da sua fami lia como poucos ; amigo do seu

amigo modelar. O seu modo de vida tinha um tanto

de excentricidade. Queria viver a sua vontade, sem se

incommodar nem incommodar pessoa alguma. P or issofugia das grandes concor rencias. A ccor ria só às que lheagradavam e essas quando em roda de amigos intimos .

Estava então em l i berdade. R ia e provocava o r iso com

ditos picantes e anedoctas variadas e de capt ivante jovialidade.

E de vez em quando lâ se reoordava de uma quadra

que lhe haviam pedido e cuja compos ição não regateavarm e uom a oo n u m eo — m o m 1 5

226

com donai res de esquivança pretenciosa, nem demo ras

na gestação. Talento fi que febr i

lhava em fructos saborosos .

P or occas ião do

que noticiaram esse

os seus amigos s inceros ,as engraçadas quadrasbum deuma dama ou para uma gazeta da provincia.

pr imei ra é es ta

S e pomar es em mim, um só segundo ,P o r cada dia, que em ti pensar ,

P or tr es segundos podes tu contar

O s dias que eu viver cá neste mundo

A segunda, esta

E m locub r ações não en tr es

Que a vida n is to se encer ra ;

E S paço en tr e do is ven t r es

O da mãe e o da T er r a.

Como polemista era ter rivel . M anteve, por a lgumtempo, controvers ia acesa por causa dos dis lates espa

l hados pelos escr iptos da s r .ªR atazzi, que vis itando pe

quena parte de Portugal a con er , tomando , ou recebendo ,

apontamentos das mãos de pessoas , de certo pouco ha

bituadas a fornece- los , mas acostumadas a toma- los sem

receio pelos equívocos e er ros que obrigassem a com

metter de conta alheia, até depr imentes para muitos

homens il lust res , que não dev iam de ser apreciados tão

se effectuas e em outn l (e peh dh u gu acia

fuera de uma duvida de ser contado o oen tenario da

fundacãn do tha m ponugum nao peh data da pri

meira obra do ins igne es cripmr , mas pelo anno em q ue

se reprm tám o primeiro trabalho del le escripto a n

giram e oom o que se confonnava a opinião sensata de

U rbano de Castro.

El le compõz e mandou impr imir d iversos folhetos , unspol it icos , outros litterarios ; porém, ao que me parece,

por

que não posso verifica—lo agora,todos sairam an onv

mos ou com pseudom'mo .

IV

U rbano de Castro veio a fal lecer no dia 6 de no

vembro 190 2 .

N o funeral deram, os que foram seus amigos e admiradores, prova do affecta que lhe consagravam. F oi ex

traordinariamente concorr ido, conforme ficou registadona imprensa diar ia e not iciosa, de todas as cores po l iticas , com phrases que muito honraram a memoria doi l lustre extincto.

O s seus restos mortaes ficaram no jazigo que o ge

neral S i lva Antunes , íntimo da fami lia, possuia no cc

miterio accidental, denominado dos P razeres , e ali juntodo ieretro foram profer idos var ios discursos em que a

saudade e as lagr imas não podiam occultar—se. A li

se ouviram as vozes de Eduardo Schw albach Lucci .dr . Cunha Bel lem, M oraes P into e da pessoa que es

creve estas l inhas .

Como derradei ra homenagem a U rbano de Castrodou, em seguida, essas palavras que me saíram do co

o F RA N ÇA ,no A R S E N A L

N o tomo destas M emor ia s pm em relevo actos pe

t r loticos de Moraes Mantas e M anuel de Jesus Coelho,os quaes eram umas vezes auxi l iados, outras vezes pa

t rocinados pelo França, que todos conheciam como 0

F r ança do ar senal , pelo elevado cargo que ali exercem,

pela popularidade de que gosava entre os operados de

todas as clas ses, pelos seus acrisolados sentimentos l ibe»

taes e por ter sido o commandante energico do batalhl oorganisado naquel le estabelecimento .

Tudo concorria nel le para manter o prestigio ent re os

ºperados e para conservar boa fama nas li leiras do par

tido l iberal e democratica, a que estava l igado e ao qualdmcjava conservar-se tiel .

Quer ia publicar um tomo o retrato de R lcardo JoséRodrigues Franca, pela amisade que o un ia aos do is citados cidadãos , que tantos serv iços tinham prestado ao

partido l iberal e que devem recordar-se como exemplo e

estímulo : mas , durante a impressão, não pude obte—lo

2236

apesar das di l igencias empregadas para o alcançar. S ab ia da ex istencia de uma estampa l ithographada, porémnão encontrei um exemplar em loja alguma. A pesar des

tas contrar iedades , não des isti do intento, e, auxil iadopor um bom amigo pôde el le vêr em casa de pessoa

da fami l ia do il lustre l iberal uma estampa e del la, coma devida ven ia, tirar a copia photographica, que acom

panha estas l inhas .

0 busto representa-o com o grande un iforme de ma

r inha e as duas condecorações , que lhe tinham s idojustamente concedidas como galardão de serviços , sendouma representativa da guerra pen insular com o algar ismo 3 , pois entrara com valor e lealdade em t res ba

talhas , e a outra a da ordem mil itar de S . Bento de

A viz, que só é dada, como se sabe, aos mil itares sem

nota e com bons serviços .

E posso dar- lhe esta publ icidade no momento em que

vejo a minha patria prestar a mais enthus iastica e a

mais edificante homenagem aos heroes dessa memoravel

guerra, que nos trouxe a l iberdade e a independencia e

em que o povo portuguez tomou participação que jamaisserá esquecida.

Nessa época memoravel sabia-se que 0 França, além

E'

o fi lho varão sobr eviven te de M or aes M antas, honrado

empregado aposen tado do tr ibunal de con tas . D espendeu se

manas e semanas de pesquisas para saber onde era cer to par ar

um r etrato e alcançar a auctor isaçâo para o reproduzir , que

alias lhe foi del icadamen te concedida . A qui junto o meu

agr adecimento pelo favo r .

l l

R icardo José Rodrigues F rança, o egregio l iberal , eracapitao-tenente da armada, inspector e commandante dobatalhão do arsenal da mar inha, nascera em L isboa a

3 de abr i l 1 785 e fal lecen em A lmada aos 22 de outu

bro 1 84 3 .

J az em mausoleo de famil ia n .

º 659 , no segundo cc

miter io, onde os seus res tos mo rtaes es tão depos itados

desde 1 850 . E ste jazigo fica fronteiro ao acas te l lado ,

onde fô ram depois deposntadas as cmzas do venerando

engenheiro e mathematico, F i l ippe F olque, fal lecido em

1 874 .

N a mscripçao pos ta naquel le mauso leo memora-s e « a

lealdade e inteireza com que serviu a patr ia» . E era de

obrigação esta homenagem a quem se votára com tã o

intenso amor aos seus interesses .

Vol to ao retrato .

F oi—lhe dedicado . A l ithographia, que se encarregou e

o executou com perfeição e naquel la época era inexce

239

divel , foi de Lence C .

'e o lithographo chamava-se

que teve o seu nome a br i lhar em trabalhosidentioos .

P or baixo do busto leem- se os seguintes versos , que

são realmente dignos do cidadão a quem eram dedicados :

F rança immortal , pr odígio de civismo,S em ambições , s P at r ia dedicado,C onsolad e, é sem par teu heroísmo,S em par teu livre cor sao honrado .

A lgurils pormenores

tre Fran'

ça constam das

indicadoComo se vê das datas apontadas , não podia e l le ser

dos homen s do meu tempo» porém , fô ra da

mais 1nt1ma int imidade da fami l ia M oraes M an tas e

del la vim a saber muitos factos que o hon raram e em

que andaram juntos na acção pol itica que, na sua ex

tensão e na s ua in tens rdade naquel la época ,tão es trel

tamente os prenderam.

E tanto que, como podia lê :—se, a fami l ia de M o raes

M antas , por occas ião do ob ito do seu chefe, acceden a

que os seus restos mortaes ficassem no mesmo jazigo ao

lado dos do que fôra amigo i ntimo e só dah sairam a l

gun s annos depois quando os fl lhos puderam er ig i r- lhe

tumu lo propr io.

Veja n o tomo I des tas Ill emor z'

as o q ue se lê a pag . 229e s eguin tes .

J UIZO D il IMPRENSA

AC E RC A D A O BR A

Factos e homens domeutempoR EMO RU IS D E l l l J O RRBhlS T ll

J U lZ O D A IM PR ENSAA C E R C A D A O BR A

F A CTOS E H OM E N S DO M E U T E M P O

N E M O R IA S D E U M J O R N A L IS T A

3 tºmºs — E di to r , P ar cer i a A . M . P er ei r a.— 1 90 1 908

D amos em seguida alguns artigos de apreciação daºbra indicada com que foi hon radº o auctor , e tambemvarios t rechos de cartas ineditas , que pudemos col ligir e

vêm a prºpos ito divulgarem-se pºis patenteiam º apreçoem que tiveram esta obra alguns homens il lustres e bemcons iderados na republ ica l itteraria.

F actºs e homen s do meu tempo — M emor ias de

um j or nal is ta , por Br ito A ranha.— Tomo ºrnadº

de retratos e fac—s imiles .— 1 90 7 , L isboa, Parcer ia A .

M . Pereira, editora. 3 1 1 pág .

N em tºda a velhice é estér il . O s que muito viverame muito viram, se sabem l idar com uma pena, e se nelesse al ia a memór ia pronta cºm um coração afectivº, comprazem

—se naturalmente em desviar ºs olhºs da estrei

beza do ful uro. para as extensas e acidentada pr

do passado.

Transcorridos largos anos de fadig a e servico

gam as horas do inventár io, e não há como um

vro de memór ias , para nos prender o espir ito aos he às coisas que passaram, deixando vinculo peronas fo lhas da histór ia naciona l.Mercê de um grande amor às letras e aos vult

ponderantes que na es trada da vida se cruzarar

Br ito Aranha no decurso do último meio século : ea saudade que abre o coração dos velhos , comotimos revêrberos do sol poente descerram a coro

nictagineas . temos aqui o pr imei ro e precioso ton

memór ias de Brito A ranha, do decano da imprenriódica. do indefesso luctador da pena, continuaInnocencio em bio- bibl iografia portuguesa, e arq idevoto das migalhas da nossa h istór ia, que a

const ituem mais prest imoso serviço que os gram

fól ios dos profiss ionaes da h istória.

O tomo que noticiamos é, por as s im dizer . ucçao apenas de um des medido arquivo, feito dedragões , que desen ro lam deante de nós interes

perspectivas e evocam per sonal idades , quase todtintas , mas sempre vivas no coração e na memór

fi lhos legítimos da nossa terra.

E, contudo. oito capitulos encer ra apenas , sub<

dos á vida e actos do Si lva das Barbas Brancas . dconde de Juromenha. do Rodr igues Sampaio, dode Marajó, do Teixei ra de Vasconcel los, do J oslos Rodrigues , do Moraes Mantas e Manuel de

248

E o tr iste receio baseia-se num saber de exper iencias

feito, pois que um dos mais interessantes e recentes li

vros de memór ias , posto à venda há dois mezes , aindaespera o ensejo de que se vo ltem para ele os o lhos dosque sabem e querem ler .

N ão inventamos nada : o glor ioso poeta da P aqm '

la,

o modelar escr itor de S ob os “pr es tes , escrevia-nos há

dias , a propós ito do seu tercei ro vo lume de M emó r ias

- « O tomo l l l das M ama;-ras , anunciado nos jornaes de

mais t iragem há vinte e tantos dias , temtido uma ven

da incr ivel : já se vendeu um exemplar ! Perdoa o des

abafo. T eu e do coração, Bulhao Pato» .

Como esta nota define tristemente uma época e um

pais !

Quer ido Br ito A ranha, põi de mõlho as tuas barbasbrancas , e não te admires . de nada.

(C aber — D r . C andido de F igueir edo , na sua C hr on ica l ir

terar r'

a — “D r'

ar ia de N oticias , dir ector dr . A lfr edo da C unha.

A nn o 4 3! N umer o de 14 de outubro

F actos e homen s do meu tempo — M emor ias

de um j or nal is ta , por Br ito A ranha.— T rabalhador in

cansavel da imprensa, não lhe quebrando nem diminuiudo os annos a virtual idade com que se entrega ao tra

balho e nel le l ida incessante e proficuamente, o s r. Bri

to A ranha, como que fer iando a labutação ingrata e ta

3 49

digosa quao proveitosa e applaudivel da continm âo e

conclus ão do val ioso e uti lis s imo D iccionar io M cg n

pár'

co. para que, sua parte, já leva terminados : o to»

mos , com obras da mais grata e suggest iva elaboração,acaba de trazer a lume. editado pela emprehendedora e

acreditada Parceria Anton io Maria Pereira. o r .º torno

dos F a tos úonmzr do ma r ten po, ornado com retra

tos e fac' s imi les das pessoas a el les evocadas.Entram galeria de figuras encetada com este volu

me, todas el las mais ou menos conhecidas e apregoadase algumas laureadas , no meio e época em que viveram,

fazendo uma resenha n'el las pela ordem e titulos dos

respect ivos capítulos, 0 Si lva das barbas brancas, o vis

conde de J erumenha, o o barão deMarajó, o Teixei ra de Vasconcel los com a sua G am

de P or tugal , o dr . José Carlos Rodr igues com o seu

j or nal do Commer cio do R io de Janei ro, e Moraes Mantas e Manuel de Jesus Coelho, mas nem só es tas as

persona l idades ahi trazidas àtela, que muitas outras emavultadissimo numero 3 el la vindas mais ou menos de

ti namente e em especial , Eduardo Coelho, José Estevam, S ilva Tul io, Emygd io Navarro, Perei ra Carr ilho .dos quaes todos tambem estampados os retratos .

Termina o tomo com a narrativa Quatn diu m M a

dr id, lmpresedes co lhidas e archlvadas pelo auctor, já

vindas i luz no D ia :? de N oh'

a'

ar , mas agora vemdas e ampl iadas , por occas ião da sua ida a capital daHespanha como represenmnte d

'

esse jornal, ao M apa

do casamento em 1 879 de A ffonso Xl l.

Encetei a leitura das F ad as e bom : do m (em

nao só com a natural curios idade que sempre

voca livm novo pm núna e sobretudo sahido l

publ ico. mas ainda com attenç ão que me di

os escriptos do sr . Brito A ranha, que desde diadata agradavelmente me costumei a apreciar

que valem ; se, ass im, porêm, comecei de valve

ginas ao vo lume certo é que, confesse; ne lle na

va encontrar. pela indo le que accusava, enleio

prendesse.

Ainda bem que me enganei, pois ao passo quesegu indo em sua lei tura. se me foi avivandotuando o intem e por esta, prendendo

-me os qnarrativas que nel la ante os olhos se me iamlendo , bem caracteristioos

'

e sugges tivos dos hl

dos factos a que referentes, nao sendo dos som

cantos colhidos o despretencioso e slngel lo da

gem, sempre acurada mas sempre faci l e como

mi l iar, condição e pred icado que devem reveal

tura! é que rev istam, as « memorias » que em ta

como bem o tem accentuado a cr itica modernanam ma is instruct ivas e acreditaveis as relaçõescerram do passado, do que as que fornece a

propriamente dita, calçada e levantada sobre altono , e nao descendo ass im a tratar, quas i semprdos factos e das personagens mais sal ientes de uca, os quaes muitas e a maior parte das vezedefinem e caracterisam.

Mais , como bem se deprehende do que dei;

pto , se occupa o s r . Br ito A ranha em seu aprec

vro , do que se passava nos bastidores do the

sas de uma dada êpoca. O ra. Brito A ranha reune taes

quúidades de espinM de es mdo e de erudlcao ; pm re

nao podia deixar de nos apresentar um trabai ho mais

N as paginas do seu ltvro. tomo rf, perpas sam jo rm

Sampaio, José Estevao, Teixeira de Vasconcel los . S ilvaTul l io, Emygdio Navarro, Pereira Carrilho, Moraes M an.

tas , M anoel de Jesus C oelhmdosé Carlos Rodrigues .barão de Marajó. etc. . nomes todos bem conhecidos e

que Brito A ranha aprecia n'

uma crit ica sã, acendimen

tada de notas chàas dedo propositalmente nem

D a leitura do l ivro F acão: homens do m u M ao

nos ficaram impressões , que nos avivam o desejo de quenovos vo lumes venham

mo inconfundível. E oxalá el les se publ iobreve para honra do auctor e lustre das lettras patrias .

(O C ommer cio do P or ra, dir ector com—proprietar io Beato

C ar queja, n .

º de rõ— X

253

U M LIVR O N OT! VEL

Em expressao tel ia e lapidar des igna o dr. C uller re

es sa apathia mental , esteri l , improductiva e inane, queel le cons idera « causaWm a provavel » da de

mencia sen i l pr imitiva ou primar ia.

Chama—lhe « em o tion intel lectual/e . »

E commenta, n'

esta lum inosa passagem do'

seu bel lol ivro «Traité P rat ique des Maladies Mentaleso

- « O habito dos exercicios intel lectuaes, do trabalhocerebral , mantêm a vital idade e prolonga a juventudedo cerebro, como testemunham numerosos exemplos .

« Vê—se, com effeito, a maior parte dos homens notaveis conservar até á mais avancada edade seu vigor

intel lectual e suas bri lhantes apt idões . »

Tenho agora aqui , sobre o meu ón rem —mímlr l r e, onde

trabalho, dois d'esses paradigmas , e dos mais disêrtos.que exempl ificam e comprovam a lucida these d'aquel leil lmtre psychiatre.

S ão as « M emor ias —quadr i nho: d

'

orrrr as epoclrar o ,

de Bulhao Pato, o br il hante poeta e prosador, venerandosol itario do Monte ; e « F arm M m do mWM ourar ia: de umWim » , de Brito A ranha, 0

predaro bibliographo e distincte prosador não menos

venerando.

O ctogenario o printeiro, septuagenario o segundo . e

ambos ,— aparte a dessemelhanca dos seus temperamen

tos , das suas idiosyncras ias pecul iares e psychologiesindividuaes , das suas aptidões litterarias . das suas formas de elocução — memorias ainda assombm mente

fieis , espi ritos ainda transparentes. claros e luminosos ,

de elocuçao graciosa, fresca e leve, reacendente de mo

« U m velho é um [rar o . — escreveu Camil lo nas &e

E ass im conceituoso e profundo, quando essevive, e não sómente vegeta .

V iver é, na ordem intel lectua l , pensar . retiectir. meio »

cinar, meditar , general ise r, abstrahir, attender , observar,tixar e experimentar, em busca da verdade, e para pro

ti igar o erro, que tal é o escopo daW; é , na

ordem affect ive, emocionar—se, emocionando. dando e

recebendo impressões e al imentando sentimentos , no

sentido e na ordem do bel lo e do bem. queWos fins

da A r te e da M or al ; é, na ordem voãt iva, agir egir, exercendo uma vontade forte, faculdade primacialdo homem, creando e fecundando masculas energias .N ao é viver , mas vegetar , só comer , e dormir, e levar

uma existencia parasitar ia, inuti l e va, só de 303 09 infa

r ieres e materiaes , sem senti r, nem sequer present i r, ouantever e antegostar esses gosos superiores e indefinidosdo espi rito, a nenhuns outros comparaveis, mais puros .

mais sãos e mais duradouros , quaes sao os do estudo e

do saber , da meditação, da so lução scient ifica e prat icadoutr inal e applicavel, dos graves e profundos probletnasda Sciencia, da A rte, da Industr ia, da Phi losophia, daL itteratura, da Historia, da Sociologia, da Pol itica, da

Moral e do D ireito .

U m velho é um l ivr o s — quando esse velho é como

esses dois preclaros e venerandos sol itarios do M ai s e

Segue—se o texto. dividido por oito capital:

vamente epigraphados : « O S iiva das Barba— e0 V isconde de Juromenh a — « Sampaio,

« O Barão de Marajós — c T eixeira de VasaC as s ia de P or tug al » — « O D r. José Car lose o j orn al do Commer cio , de R io de Janeiro»Mantas e Manuel de Jesus Coelhos — Q uai

M adr id. , e fi nalmente, additamentos , refereesconde de Juromenha» e a « Sampaio. jorna l?.um d

'es tes capitulos abre pelo retrato d

'ar

nome lhe serve de epigraphe, e cuja vida. nan'

el le se commemoram. M as quantos outros 9tres ou modes tos, quantos outros factos bri

apagados , de envo lta com esses outros , e

refer idosE ' vêr o indice alphabetico a pag. 30 1

todos os nomes citados n'

es te pr imeiro tomo.

8 quanto interesse deSperta e l ição offerea

d'esses movimentados capitulos , com multipl

factos cur iosos , de referencias uteis, de nota

de conceitos graciosas ou profundos , de anec

ressautes , de finas e leves iron ias ou de tra

mas ur banas censuras .

R ica e val ios íss ima contr ibuição para a

movimento jornal ístico. litterario, politica e

nossa Patr ia nos ultimos cincoenta armas e

N em podiam, nem. deviam ser outra coisa

257

d iam nem deviam deixar de ser isto, as M emor ia: do

venerando decano da imprensa per iodica do nosso paiz,do emmente jornalista e escriptor , indefesso bibliophiloe bibliographo. nao mêro continuador, senao tambemcorrector ou rect ificader e ampl iador erud itiss imo da monumental obra de innocencio mau grado invejosos e

praguentas arch ivista devotado e constante de migalhas da nossa histor ia , q ue por vezes pres tam mais

val ioso e uti l servico que grandes e massudos i ii—fo l iasdos histo riographos .

Este primeiro tomo das preciosas M emor ias de Br itoA ranha e minima parcel la d'esse vasto e precios isslmo

a rchivo feita dia a dia, de multiplices e eruditas notas .

de variados e profundos ou ligei ros commentas , de sau

dosos recordações , de alegres ou tr is tes remin iscencias ,

de interessantes , luminosas ou ensombradas perspectivas , que evocam à nossa memoria e ao nosso coracao,

nossa retentiva e ànossa saudade, personagens ext in

ctas , factos e episod ios passados, perduraveis ou ephe

meros , mas sempre repletos de in teres se e de l icao.

Terminando, vá lá uma dupla inconfidencia, que BritoAranha me relevará , e me hão de agradecer. os cur iosose amantes d

'

esse genero de leitura.

A'velha e intima amizade de Brito A ranha devo a

g ratíss ima lei tura de algumas das suas mais formosas

pag inas do II torno das suas MW, em via de pu

b licacao, no qua l se versa o mais levantado assumpto ,

das maiores glo rias l itterarias de Portugal e da F rancaA lexandre Herculano e V ictor Hugo —ª lidimas glorias

da Human idade .

P A CTO ! K H O N M D OWT BU P O — TO N O N

O utros im, para o III tomo tem já paginas Del ias ,

d'entre as quaes se destacam as referentes a famil iaMorei ra d' A lmeida, e as brilhantes e aris tocmtim fes o

tas na Quinta do Metrass , no Campo Pequeno, onde

i rradiou tanto calor. luz e perfume de suas m as e egm.

gias virtudes , a genti l iss ima senhora que os amigos e

admi radores de seu neto e i l lustre director d' o D ia , e

de sua fami l ia, foram, em piedosa romagem, deixar ho no

tem na sua derradei ra e eterna jazida.

A RM E U M J U N IO R .

( O D ia, dir ector A . M o reir a de Almeida, n.'

anno ) 9! anno. de i g de fevereiro 1908 )

F actos e homens do meu tempo— M emor ias

um j ama/rala , por Brito A ranha.— D uma veneração

teem os escriptos dos homens il lustrados , quando amama edade a auctorisaloos e a bondade do caracter a ins i

nuar-se no nosso an imo , a reproduzi r-se em cada linha,em cada referencia, em cada apreciação tao che ia de

verdade e de justiça, de amor e de saudade !

0 l ivro de Br ito A ranha respi ra egual sympath inque o seu auctor provoca a quantos com el le convivem

e entram no goso da sua amisade tao s incera e devo

tada.

tudo comprehenderas e emprega todos os es

honrar o nome de teu pae e teu amigo, erâs tambem honrar a patr ia, que deverascom acr isolado amor

P or aqui se pode aval iar o g rau de sen t

encerra este l ivro que. se na dedicator ia ler.parte do coraç ão do seu auctor, no motivo

rou contem quanto sobrou d'esse bom quinhcada e jus tamente offerecido !

Nunca poderia ser mau um l ivro ass im l

F ad as e homens do meu tempo . como o p

indica, é uma recordação do passado onde

episodios interessantiss imos , scenas intimassaudade e de gratidão, homenagens de jusde respeito a seres que já não existem, eloge des interessados , phrases amigas , paginasque indicam que o seu auctor sentou-se ab:

balho e reconst ituiu o passado com aquel !mento propr io de quem sente o prazer das

sem receio de que el las o possam inquietar !E' um l ivro despretencioso na forma, ral i

sua leitura mais nos att rahe e distrahe l

Referindoo se a epoca calamitosa de t 828

creve Brito Aranha. tratando do S il va dascar :

« Entre as damas que aux i l iavam a caus

gurava em pr imei ra l inha D . Joaquina de L e

26 1

po is viscondessa do Reguengo e condessa de Avi lez.

M orava na Junque i ra. Todos sabiam que n inguem a

dominava nas suas convicções , Que ninguem podia ex

cede—la nos sentimentos que a impelliam para trabalharem pro l do restabelecimen to do throno de D . M a

ria l l.

Estava el la ao cor rente do que se fazia em L isboapara contrariar o governo do infante D . M iguel e au

gmen tar as forças dos defensores nas l inhas do Porto.M andou por isso chamar 0 Anton io da Si lva e dim

lhe

Conto com o s r. Si lva.

Para que minha senhora ? Valho pouco .

Pelo contrario, sei que uma pessoa pôde li ar-se na

sua honradez, na sua lealdade e no seu braço ?

— Para a defender , sim. minha senhora, o meu bracovalerá alguma cousa.

— N ao preciso agora de defensa, s r. Si lva ; tenho o

meu coracao que me resguarda dos per igos ; mas paradefendermos uma causa .

— D irâ V . E x .

ª.

— E'o meu trabalho de todos os dias . Encontramo

nos nas aspirações .

-Bem o sabia.

Que devo fazer ?

Vou for necer-lhe algum dinhei ro. C om el le o s r.

Si lva, al liciarâ so ldados , paisanos , todos que quei ramprestar

—se a ir soccorrer os nossos amigos do Porto.

- P rompto !

— Comprará algum armamento, roupa, al imentos .

262

— P rompto, corro já a executar as suas ordens , ain

da que me custe a vida.

— O brigada, obrigada !D entro de alguns dias , A ntonio da Si lva tinha corro

seguido fazer sair de L isboa para o cerco do P orto não

menos de 1 70 homens , alguns mantimentos . armas e

roupas . O seu processo era s imples e arriscsdis s imo . D is

farcava-se, ora de um modo, ora de outro : e às vm s

com trajos femininos , capote e lenço, e ass im acampa

nhava os que part iam de Lisboa até as estancias da Boa

V ista, aproveitando as saidas d'esses estabeieaimentos

para o Tejo. ou para os boqueirões, onde emba rcava

aquel les homens em escalares ingleses . que protegiam a

fuga para bordo dos seus navios.

A estes actos audaciosos juntou el le um que fez com

que os espias . do Bairro-A lto, que umas vezes se mostra.

vam benevolos para com Anton io da Si lva, outras o te

miam, e outras parecia quererem persegui—lo, fi tas semsua cabu a levantada e orgulhosa como ornamen tação

obrigada das forcas que se erguiam para o marty rio dos

li beraes . »

E ' todo ass im o l ivro de Br ito A ranha, refer indo pessoas e factos mais ou menos l igados a luctas politicas

de maior ou menor perturbação.

E ' enorme, o numero de pessoas cujo nome el le cita

com uma memoria prod ig iosa, revelando M m a riqueza das suas faculdades a toda a hora postas âmereê da

sua vontade de escriptor infatigavel . para quem a eda

de nada tem interrompidO'

o exercicio do trabalho as

264

S A LA D E VIS ITA S

Entre muitos outros l ivros e publ icações diversas . que

nos tem dado a honra da sua vis ita, referir—Was

hoje a seguinte :M emor ias (vol . I) de E gito A r anha , 0 respeitava

decano da imprensa lisbonense e infatigs vei con tinuador

d'este precioso volume , cons tituido por oito capim

respectivamente epigraphados : « 0 Silva das Barbas

Brancas s « O V isconde de Jur omen ha — « Sa lumjorna l istas — « O Barão de Man im— « Teixeira de Vas

concel los e a G azeta de P or tuga l »— « O D r . José G ar

los Rodr igues e o j am a l do Commer cio , do R io de J a.

nei ro» « M oraes Mantas e Manuel de J esusW-Quatro dias em Madrid» , e finalmente. adiamentos ,

referentes ao « V isconde de Juromenha» e a « Sampaio ,jornal ista» . C ada um d

'

estes capitulos abre pelo re trato

d'aquel le cujo nome lhe serve de epigraphe, e cuja vida

actos e obras n'

el le se commemoram. M as quantos oe

tros nomes i l lus tres ou modes tos, quantos outros factm

br i lhantes ou apagados , de envolta com esses outros, e

a propos ito veem referidos no precioso l ivro !E quanto interew e desperta a l ição que offerece, cada

um d'esses capitulos, com multipl icidade de factos curiosos , de referencias uteis , de notas eruditas , de conceitosgraciosos ou profundos , de anecdotas interm tes , de

finas e leves i ronias ou de transparentes mas sempre

del icadas censuras.E ' o volume uma val ios íss ima contr i buição para a his

tor ia do movimento jornal ístico, l itterario, pol it ico e socialda nossa Patr ia nos ult imos 50 annos .

Brito A ranha é ainda do tempo em que havia maisjornal istas que presassem o officio do que ha hoje ;atravez das paginas das suas M emor ias trans luz a sau

dade d'

esses tempos idos .

nossa patr ia, r evista il lustr ada de educação popu lar .

D ir ecto r —pr opr ietar io A lber to Bessa. N .

º

78, 4! anno, de 1 5

de março ,

F actos e homen s do meu tempo , por Br itoA ranha.

— Tomo II, 1 90 8, L isboa, Parcer ia A . M . P e

reira, editora. 29 5 pag.

S ão M emor ias de um j or nal is ta os F actos e homens

do me u tempo, e n inguem como um velho e ass iduojornal ista disporá de tantos e tao minuciosas elementos ,para a reconstituição das grandes individual idades quelhe foram coetaneas . Comprehends—se, po is , quanto seráopulenta a bagagem das M emor ias de Br ito A ranha,attentando-se maiormente na constante investigacaobio-bibliographica, a que el le se tem entregado, por

officio e devoção.

N'

este segundo volume dos F actos e homens do meu

(cmpo , occupa-se Br ito A ranha apenas de do is homens ;

mas são dois que valem por mil dos que nós conhece

mos : dao assumpto a um volume, e dál-o-hiam a uma

266

bi bl iotheca, se ainda tivessemos benedictinos . Basu

d izer que se chamam Alexandre Herculano e V ictorHugo.

Esta obra nao ê o estudo critico do grande hismr íadore do grandiss imo poeta ; tao pouco é a biogn ph ia me

thodica dos do is immortaes : sao reminiscencias , apon

tamentos e noras , episodios e lances, de perto reiacio

nados com a vida e labores de Herculano e H ugm D e

um e outro se reproduzem aqui autographos , como se

reproduzem, em es tampa, as res idencias do dester radode Hautevi l le—house, e do sol itario de Vad e-lobos .

Muitas das al ludidas reminiscencias , de caracter ineo

d ito, excitam natural curios idade e interesse ; e sobretudo a historiographia nacional , quando tenha de apre

sentar, em toda a luz, o caracter e a obra de Hercul ano ,

encontrará aqui val iosos subsídios , que algures se nos

não deparam.

A rchivemos pois os F actos e um do meuWa,

como documento de trabalho honrado e prestad io. e

abracemos cordialmente o venerando decano do s nossos

camaradas , pela pers istencia, com que just ifica o apreço

que todos l he sagram e a affeiçao que o prende a todos .

( C em D r . C andido de F iguei redo, na secçã o l i tter a

r ia e bibl iog raphica do D iar io de N ot icias, directo r , dr . A i

fredo da C unha, n .

' de 16 de maio,

l emorlns deumjornalista, pºr

Tomol l ornadocol retrata e

Quando aqui accusámos a recepção to rno !

pelo auctor, como puzemos em relevo o mer ito do seu

trabalho tão meditado. cheio de boa observação e cr ite

r io, com um color ido br i lhante a seguir um con to rno

fi rme que bem deixa vêr que o seu auctor , com um

memor ia lucida. recordando pes soas e factos , vae recons

truindo o passado cheio de reconhecimento. saudade e

satisfaçao.

D e reconhecimento po rque os primores da sua educa

çao nao permittem indifferença â consagrad o dos seus

meritos , saudade porque quas i todas essas referencias

recordam um viver de trabalho ao lado de tantos comopanheiros e amigos dos quaes só resta a memor ia; de

satisfação porque o reg istar de todo esse passado cons

t ituc um est imulo , um documento verdadeiramente

apreciavel—

que um dia aquel la creança que é para Brito

A ranha 0 seu mais bel lo ideal , ha de ler com o rgulho

e enternecimento !

O tomo l l dos « Factos e homens do meu ternpo »

occupa—se de dois nomes que difiicilmente e só mu ito

ser a quecidos : V ictor Hugo e A lexandre

C itamolaos na ordem inversa por que se encontram

descriptos , por um pouco de egoismo patr io : Herculano

O

e nosso. Queremos que o echo do seu nome vibre,

citando o l ivro que tão bem o descreve n'uma apolog ia

tão cuidada que bem pode comparar-se a um lavor del icadiss imo feito por mãos femen inas , onde cada detalhefosse escrupu losamente posto com extremo respeito e

carinhoso amor .

T al é a maneira como estão preench idas todas aquel 'las paginas dedicadas ao grande historiador .

N a mesma cuidadosa compi lação ch ronologica de inte

ressantiss imos documentos e revelação de factos e de

pessoas , mais ou menos l igados a es se grande vulto, quea F rança orgulhosamente arrecada, seguem as outras

paginas do l ivro cuja leitura tão agradavelmente nos

prendeu a attenção .

Br ito A ranha recorda um episodio da sua vida que

nos faz saudade po rque ass is timos a el le.

N ão se pôde ser indifferente a um passado de 3 7

annos !

N o prox imo numero faremos a sua

'

t ranscr ipção, con

tando que o auctor não nos leve a mal o propos ito.

P or hoje terminaremos a nossa apreciação tão s incera

como a amisade que profes samos po r quem, pelas suas

qual idades de coração e de espir ito, tão bem sabe ins inuar—se no an imo dos outros .

J . D E M .

(J ul io de M m efes , secr etar io da r edacção do C or r eio da

E ur opa . V. o n .

º des ta r evista semanal de 7 de junho 1908,

anno 26 º

,edição br azileir a e u l tr amar ina. )

270

F AC T OS E H OM EN S D O MEU T E M P O

(oo uvno os sarr o AR A N H A )

E m 1 870 o exercito pruss iano, forte, numerw o , supe

r ior ao francez, em discipl ina, armamento e munida»

mento, enthusiasmado por uma aventura de humi lhação

e conquis ta, invadiu a França. A Europa sobresattmr—se.

A França, por graves erros de admin istraç ão do seu

ult imo governo imperial e mal armada por imprev idenc

cia, não podia contar com forças sufii cientes para na

s isti r ao in imigo. Mas a Fran ça t inha que repell il-o .

Ten tou esse esforço e o resu ltado foi a der rota como

pleta do exercito. a perda de uma grande parte do ter

ritorio e a queda do segundo imper io, de Napoleão ,« o

pequeno» .

Sentia—se em Portugal os desastres da F rança como

se se tratasse da_destruição de uma nesga da noss a

Patr ia. Sobretudo, no partido l i beral . E não se viam

bem as ideas ambiciosas da P russia, que se traduzia“;

n'um engrandecimento da A l lemanns àcusta da F rança .

U m dia estando no camarim do Cesar de Lacerda ,

estimado e estimavel auctor-actor, quem vis itava

ameudadas vezes no theatro do G ymnasia, e onde me

reun ia em cavacos amigaveis , ora nas horas de ens aios ,

ora nas horas de espectaculo, com Braz M artins e L eo

poldo de Carvalho, um dia, repito, consultei-os acercada idea de escrever qualquer cousa que pudesse repre

sentars e, a propos ito da guerra franco-prus s iana.

Logo accrescentei :

alma da a ça E'o seu maior poeta l ã s ti n

'el le um

foco de luz que il iumina o mundo.

Braz Martins acudiu :

— Vou a tudar oom amor esse pspel. A res ponsab£li

dade é gmadq mas a minha vontade é de tem

a tomar os pnnd paes camu om oe umnavio de guer ra

france: desembarcaram para irem ao G ymnas io, o com

mandante eaoúicial idaduedispon ivel do serviço de bordo;

e d'es tes otiiciaes recebi no dia seguínte um ag radeci

mento que me penhorou e sens rbnisom

Confesso que os applausos recebidos n'essa noite.

geraes e expontaneos , me com profundam te.

N ão poderei esquecer jamais noites de taes commoções .

Nenhum auctor novel se esquece de uma estreia des sas .

Ass ist imos com o fogo dos 1 8 armas a es sa a pre

miêre

C ursavamos então a A cademia de Bellas A rtes com

al guns quer idos companhei ros que já não ex is tem e

outros , cuja existencia é tão apreciavel como a de J oséM alhoa, de todos — o que mais se tem dist inguido peiotalento e pelo trabalho incomparavel !

27 3

N a Academia todos nós discut iamos com o fervo r dos

poucos anuos a situação das duas nações em guerra.

U ns pela França, outros pela Prussia.

A F rança tinha ma is adeptos o que não admira. porque na paz como na guerra nunca deixou de ser art ista !Lembra—me com saudade que repet idas vezes iamos

ao C afé da A rcada no Ter reiro do P aço, que o seu

propr ietario mandara inter iormente torrar com um papelque representava varios episodios da guerra franco—

prus

s ianna. em que a victor ia, nos seus mais s imples detalhes , era sempre do lado dos francezes . D ois, tres francenas e uma legião de prussianos deitados por terraalguns de mãos postas a implorarem compaixão !

A todos ou quas i todos os portugueses ficou a Françadevendo um grande reconhecimento !Assim foi que apparição do bel lo « a propos ito » de

Brito A ranha provocou o maior enthus iasmo.

Braz Martins copiou bem a figura de V ictor Hugo,completando ass im o pensamento do auctor.

O publ ico viu n'essa no ite a Franca e um dos seus

mais di lectos fi lhos .

N 'esse tempo não havia ainda o habito de class iâcar

de piegas e semsaborias as producções dramaticas que

expressam uma idée sympath ica e provocam um sen

timento de moral idade, o amor da patr ia e da fami lia,o estímulo do bem, a condemnad o do mal !

A pornographla não repm entava ainda a « r iqueza.de tantas producções theatraes que dão aos seus aueto

res os applausos e os lucros de uma decima qu intarepresentação.

rm s m m oo usu m ro — r ouo m

dam com a“

saudade que tanto acaricia o

que só vivem

(J ul io de M em es , secr etar io da r edacção do C o r r eio da

E ur opa. V. o um des ta revista semanal de M de junho , tgoa

S A L A D E VIS IT A S

sacr o s E H O M E N S D O meu r ampa (M emo r ias de

um j ornal i sta) , por Brito A ranha. T ratawse do tomo II

da obra. N 'el le, como no I, assaz proficientemente se

occupa o nosso venerando, e realmente, venerado cama»

rada das l ides jornal ís ticas, de diversas individua lidadesimportantes , que conheceu no que el le charm seu

tempo, e de factos histor icos var ios . Este l ivro é da

cathegoria dos que ficam, para consulta e ensinamento,em logar aparte em todas as bi bl iothecas de trabal hadores e de es tudiosos . A obra é il lustrada com retratos

277

F actos e homens do meu tempo Caminhan

do para os 80 annos , o s r. Brito A ranha, velho pioneiroda imprensa. da exemplos de actividade mental e de,

trabalho l itteraria a todos os novos . Esta qual idade podem a ampla faculdade de trabalhar e produzir , parece ter s ido apanagio das gerações que ao nascer pre

cederam a nossa e são nom contemmraneas .

H a pouco ainda Bulhão Pato. octogenario, dava—nos

um l ivro novo de versos , nos quaes atravez de todas as

viciss itudes e amarguras de tão longa vida faz vi brar umespirito sempre moço, apto para transmittir aos menos

sens iveis as propr ias sensações .

Agora apparece-nos Brito A ranha com o a.

' tomo dos

F acto: hm m do meu tempo, ornado com retratos e

fac' simi les .epubl icado pela l ivrar ia Anton io Maria Perei ra.

Es te vo lume, como o pr imeiro. que appareceu 0 ah

no pas sado, tem por subtltulo M emor ia : de um j or na

l zlrla . E verdadei ras memorias são. porque desti lam por

essas palavras ao sabor da memor ia e da saudade. no

mes d'aquel les com que o auctor conviveu, aconteci

mentos que presenciou ou em que tomou parte, ou que

foram s ujeitos a sua anal yse e ao seu sent imento. E'por isso um l ivro vivido, porque os mortos são chama

dos scena resurgindo do tumulo e do esquecimentona evocação saudosa d

'este contemporaneo e amigo de

todos clics , ou de quas i todos .

D uas grandes tiguras , uma de Portugal e outra de

F rança, as que nas suas nacionalidades mais i l luminamm o seculo que findou, enchem as paginas d'este livro : Herculano e V ictor Hugo.

(mw m w m mm l q m o de w bq h yme Vm , L or iõ T m zan

uo u w w w "m

F actos e homm do meu tempo — M

de um j or nal is ta . por Br ito A ranha. Toma ra— N ao

Wdei oonta da vinda a luz do primeim volume

da obra, cu]o nurlo e auctor constituem a epign phe

d'esta w úda dizendo ahi o agn do e interesse que sua

mant iveram até a ul tima volvida.

e bem certo estou de que me será

para isom não com o que valhmq mas mm

por tanto falhas de interesse e valia as longas paginasque lhes consagrava o s r. Br ito A ranha. P ois as sim n ão

é, e poude e soube o benemerito escriptor pmM modo

entretecel-as com factos , quer largamen te e por todos

sabidos , quer da maior m te ignorados. que o le ito r dol ivro se deixa ir ao som d

'el le, sempre preso de sua ex

posição, e quando mal se precata vo lve—lhe ass im a ul.

tima folha.

Para que tal succeda concorrem por igual o modo de

dizer, s ingelo e natural, sem mira em arrebiques e ou

ropeis com que estadear—se. por que o sr. Br ito A ranharelata as cousas , modo tão seu e que tão grandementecala no animo de quem o lê. por intuitivo e Bmpidãss i

mo, e o natural pendor de todos os que ma is ou menosfrequen tam as letras a procurarem inqui ri r e saber sempre mais e melhor de tudo o que respeita de per to ou

de longe às poderosas e caracteristicas individual idadesque se immortal isaram.

E n'este e para este anceio oot copioso e pro

veitom fructo no l ivro do s r. Brito A ranha. podendo bemd izer—se que de sua leitura dimana excel lente lição dadapor quem vota a mais vehemente admi ração e acenda

do cu lto amemor ia dos dois escriptores maximos a q uemo sagra.

Aqui deixo, po is , reg istado 0 meu sentido e s inceroapplauso pelo l l tomo dos F actos e [raram do meu tem

po cuja continuação, já annunciada, oxalá venha com

cedo a publ ico.

A edição é da acredi tada Parcer ia Antonie Mar iza P e

ente, r ev1sta 1 o es tr an

geiro , dir ecto r e pr opr ietar io C aetano A lber to da S ilva, u mvo l .

,n .

º1 064, de

B r i to A r anha.— F actos e homen s do meu tempo

(M emorias de um jornal ista) . 2 vo lumes , ornados comretratos e fac-s imi les .

— L isboa, 1 90 7 , Parcer ia A ntonio Mar ia Pereira.

Br ito A ranha é um dos poucos que ainda restam

d'essa br ilhante pleiade de jornal is tas que, pouco a pou

co, se têm sumido na sombra do tumulo. F oi compa

nheiro e devotado amigo de Eduardo Coelho — a cujamemoria dedica o l ivro — e seu cooperador na beneneme

r ita obra de remodelação do jornal ismo portuguez.

Brito A ranha tem uma larga exper iencia da vida e

um profundo conhecimento dos homens , adquir ido em

longos s unos de trabalho, de estudo e de observação .

E ' um erudito, mas os seus escriptos não se resen

tem d'aquel le ar pedagogo e marado que tão frequente

mente dá a erudição. O habito contrahido, atravez muitos anuos de v ida jornal ística, de escrever para todos ,

para o grande publ ico, al igeirou-lhe o esty lo que é cor

rentio e s imples , pittoresco e anecdotico .

N 'es te l ivro esboça o dis tincto jornal ista, com a sua

mestr ia habitual , o perfi l intel lectual e moral de muitos

homens do seu tempo, que conheceu ma is de perto e

com quem mais privou : Herculano, o V isconde de J erumenha. Sampaio , Eduardo Coelho, o Barão de M ara.

jo, Teixei ra de Vasconcellos . 0 D r . José Car los R odr i.gues. e muitos outros al li se encontram biographadosç

em um conjuncto de notas intimas interem n tis s imas .

O l ivro de Br ito A ranha pois um val ioso subs id io paraa historia da lítteratura e do jornal ismo contemporanea .

em Portugal e no Brazi l .

0 anno de 1 909, directo r A dr iano Xavier C o rdei ro, vo lu

me da co l lecção, P arcer ia A ntonio M ar ia P erei ra, L isboa,

1 00 8. P ag.

B R IT O A R A N H A

H a certos homens prlvel igiados para os quaes pareceque os anuos pas sam sem lhes tocar no espi ri to ! Br itoA ranha pertence ao numero d'es tes mimosos da sor te,

D ecano dos nossos jornal istas . com uma longa vida

de tabalho consecutivo , sempre embrenhado nas lides

l itterarias , e jornalis l icas , pode bem afii rmar —se que B ri

to A ranha tem s ido um ass iduo trabalhador da penna .

E quando todos julgavam que aquel le es pi rito alquebradopor tanta fadiga, pediria emfim um pouco de repouso ,

E que meihor araigo do que mn bom livro h "

Amigo que nos instrue e edua . que nos ens iru e

— Amigo que ncs nº

ão il lude e trm que nos n i o é

— A migo que logo se nos revela o que é e o que va'

le, o que cnm el le podemos oontar e n'elle coaõa .

Amigo que nos leva a abraçar o bem e a afup o

tar o mal ; a caminhar para a luz e a espancar a tréva ;

a procurar a verdade e a proúip r a mentira e o erm r a

seguir a vir tude e a repel l ir o vicio ; a ser fiel á pr0 b ida

de. £ hones tidade e â honra e a repulsar o crime.

— e0 l ivro — escreveu algures V ictor Hugo— é ainda

mais vasto que o espectaculo do mundo ; porque ao fa.

cto al l ia a idea. Se existe alguma cousa maior que D eusvisto no sol, é D eus visto no Homero.

« O un iverso sem o l ivro é a sciencia que se esboça ;

o un iverso com o l ivro é o ideal que apparece. »

N ão bas ta descobrir a verdade e conceber o bemmister espargi r aquel la e praticar a te, e, portanto. ta

zel-as vingar entre os homens .

O meio é o l ivr o.

Conhecimentos mais profundos e sol idos , e ma is em.

cazes e uteis . que os que se obtem pelos l ivros. somemte os de ordem phi losophico—moral, adquir idos no trato

do mundo , no estudo da escor ia social, na convivenciadepuradora e es piritualisante de seres superiores . e mó r

mente na experiencia adquirida na g rande escola do im

fortunio.

Publ icar um l ivro bom é produzi r amelhor das obras ,

o mais uti l dos fructos ; é gerar calor e luz espirituaes .

Equivale a dar à sociedade, n 'um fi lho, um bom ci

dadão, ou, n'uma arvore, a mais amiga e hospitalei ra

sombra, e o mais pura e reconfortante oxygenio .

Certamente estará n ' isto a essencia do profundo con

ceito de P roudhon , quando preceituava que « todo o ho

mem deverá ass ignalar a sua passagem na vida por umad'estas tres formas : deixando ou um fi lho, ou um l ivro ou

uma arvore» .

Plantar uma arvore, é facil ;gerar um fi lho, não é difficil ; mas produzi r um bom l ivro, tem que se lhe dizere fazer ! .

D'ahi , o meu altíss imo apreço por todos esses uteis e

benemer itos obrei ros do l ivr o, alguns já septuagenarios ,mas cujas producções , ainda e sempre graciosas e ageis ,frescas e viçosas , leves e amenas na sua elocução, res

cendente de mocidade, mais forte, vi r i l e fecunda quemuita mocidade real , mas para ahi estiolada e inerte,impotente e inuti l , corroida por essa terr ivel preguiçamental , que é a ferrugem depascente da sua cerebração.

M as agora noto que es te meu pensamento é remin is

cencia d'este outro do i l lustre Frank l in « A ocios idade

é como a ferrugem, consome mais que o trabalho. U ma

chave de que todos os dias nos servimos , anda sempre

po l ida e l impa. »

E is ahi a lucida expos ição do motivo da es tagn ação

in tel lectua l de tanto moço e da es tranha actividade cc

rebral de alguns velhos .

das pela ll lusu'ada e benemerita c P ameria A

ria P ereirao , a cuja actividade. inmilimapm presm ap ra aaul o rneu reoã do prel

este tomo l L deduas gn nda partes epigraph

xandr e HW, pag. a 1 07 : l l Vid or

" 1 21 289.

D ois nomes que prelustram duas naciona

chem duas M & M e w jas obms primu

duas lltteraturas .

D ois homens . cada um dos quaes vale

sabio observador, que nos atormenta uma du

r ivel :— crise moral ou de caracter , e ctise

ignorancia dos roádímnt intelled uaes . maisnocente que a ignorancia dos analphemA l parte abre por um retrato de A lexant

cdotico, muito a caracter . e no feitio e indb le

de Br ito A ranha. e muito adquirido tambem,

de das suas constantes investim e as s idum

M ªm mª“ já por obrigªção. lª porquer por dever de prom quer por m ar da

A quel le feitio e indo le litherar ia, G anhªm

A ranha em paginas , que a sua velha amin de

de dar a ler no tomo l l l dªes tas M em r ias , jàetada impressão .

Ass im diz el le, a pag. 69 d'esse tomo — « G os !

referi r a factos particulares . pouco averiguadosramente desconhecidos » .

E mais adianta — « G osto de tomar nota das

e das qual idades br i lhantes de cada um, para

goar e louvar , se é poss ivel , e se cabe nas mir

beis forças : mas repugnrbme tomar nota de fm

jamais tive desejo de esmeri lhar. de augmentacorr igir» .

N ao é estudo, seguido e completo, philosophi

t ico. nern biographia regular e methodica.

A fli rmaoo elle mesmo a pagina 80 do preser

II, quando declara que as notas exaradas n'ez

mar ía: não têm « a pretensão de serem perfei

biographicas , is to é, mettidas nos moldes em qsam as biographias dos homens celebres , masreminiscencias, que não pódem correr a aux» .

N o capitu lo XVII reg ista, por ordem chronolt

produccões litterarias , hismnms. jurídicas. phcas e po l iticas do « grande M est re, gigante nas

tras portuguezas , que não pôde confundib se oo

289

q ualquer individual idade. que não se esquecerá nunca.porque a sua enorme estatura está, na h is tor ia litterariade Portugal . por tal forma aureolada, que os seus clo

rões resp landecerºào com duração indefin ida . — escreve

Brito A ranha no começo d'este capitulo, a pagina 84 .

terminwo a pagina to :

« T al é o inven tar io. em orem linhns. que pude ta

zer da beneme rita e monumental obra de A lexandreHerculano» .

N o capitulo XIX indica a bibl iographia d'es ta parte

da obra.

N o capitulo XX (er radamente numerado XIX) insere,por ordem alphabetica. os nomes de Bodas as pessoas

citadas no texto, indicando a pag ina

A té aqui o i l lustre solitario de Val le-de L obos : agora,na l l parte. o predar iss imo expatr iado em H autevi lle

Subdivide—se esta ll parte em XL VI I capitulos . e insere quatro estampas : casa de V ictor Hugo em H au

tevil le—house ; V ictor H op no jardim d'essa casa ; au

tographos de carta de Hugo a Br ito Aranha e do respe

ctivo sobrescr ipoo.

E ' um s imples preito rendido, de admi raç ão ao R ei

do: P oem , e de gratid£o ao homem. generoso amigo e

confrade nas lettras .

C om toda a sua encantadora modesth , sinoera natu

rm s x nom s m m n m — r ouo m rg

290

a l idade,e des pretenciosa simpl icidade. diz B r it o A ra

Será ass im ; mas pôde orgulhar-se queWM qua

renta e sete capiªtulos - n h e M rremxda pagina rm a n ,

encen a [muitas ,l cur iosas e interess antiss imas notas , e

observações , e facbos , '

e episodios , e lances , q ue, ineditos uns , pouco averiguados outros , e outros a inda intei ramente desconhecidos , se não encontram n os gran

des quadros traçados pe la i l lustre '

auctora do « Victor

H ug o, f acon ll par un tâ ncia de sa vit o—

que A ugustoVacquerie, nos seus de l iciosos « P r e/51: el g r i tara m , at

tr i bue a madame Hugo, — e por essa bri lhante p le iade deseus biographos i l lustres : Char les Val lete, D emogeot,D umas , Leeann , Leon Beauval let, Vapereau e tantos

outros .

M órmente, na parte que,— al iás espársa por todo o li

v ro em varios capítulos e notas , que o en r iq uecem e

prelus t ram— bem podéra const ituir um só e g rande ca

pitu lo eprgraphado Victor H ug o e P or tug a l » . Taesos 9 capz

'

lul os de pag . 1 2 3 , 1 97 , 227 , 2 38 , 26 1 , 269 ,

27 5, 282 e 285— e as notas a pag . 1 72 , 1 86, 1 9 5, 20 7,

222 e 272 .

N ão se propoz Br ito A ranha, n'esta l l parte, como se

não propuzéra na primei ra, traçar uma b iograph ia docu

mentada, regular e methodrca, vasáda nos mo ldes em

que é class rco fundrrem-se ; nem outros rm, fazer es tudo

e elaborar trabalho philosopmco e C l' it o sobre esco las e

conrpactas , epigraphado— «Resen

do que se contem nos volumes de

tadas na exposicl o do R io de J anr

bagagem de um jomalis ta, pelo ex

moços a assombroso actividade cer

venerando ve lhoD iz-nos a n ã o e a consciencia

de—que se não al imenta nem ma

cons tante, — ê o saber a fonte e

breu . e que o mais sabio dos sen

que se nl o é grande da unica e

que é a grandeza moral , senªº prdo saber. da verdade, da jus tiça e

não quer, nem procura agradar ser

(D o jornal O D ia, director A . I

2555 (543 1 ) e 2556 res pectiva :

tcmbr o

DE emas EnDEREçnnns nonucrorr

Cascaes , 1 0 outubro 1 90 7 .

M eu caro Brito A ranha

A gradeço-lhe muito reconhecido a amavel offerta do

seu l ivro e as agradaveis horas de interessante leituraque com el le me proporcionou.

E ' uma galer ia de figuras exposta com grande arte.

S ão capitulos de h istoria contemporanea que interessam

e agradam. E agora que estao em moda os an imatogra

nhos , este seu l ivro tem superior a esses pequenos en

genhos , que nos mostram a vida, a qual idade de nos

dar — além das figuras— as suas idéas .

A s minhas felicitações e os meus agradecimentos .

Confrade, admi rador e amigo

S ABU G OSA( C onde de S abug osa/ .

Meu caro e senhor Br i to A ranha

H avia dois dias que a sequência persis ten te de uma

enfadonha invern ia me não de ixava sair de cas a , quando, em bõa hora, o co rreio me trouxe o b r inde do seu

punho— F actos e homens do meu tem , de cuja apar i

ção eu já t inha l isongeira not icia. A lvorocei—me do agra

do, que a oferenda me ocas ionou. e entrei a devorai-a ,

como saborosiss ima'

pitança, de que dei cabo nessa tar .

de e na manhã do dia seguinte.

A o comun icar-lhe a minha impressão e o meu agr»

decimento, devo dizer—lhe que encontre i no seu belo Bvro de venerando jornal ista um gravíss imo defeito : onão possuir, e têr frente o retrato do autõr . Vou dar

as razões , que, na minha vaidade desculpavel , eu julgosuper iores á sua modéstia. O meu amigo representa,

muito bem pºsto no alto logar que lhe compete. um ve

terana a rever—se lucidamen te, corn enbernecirnen to e a

sincer idade de velhos tempos , nos episódios de longas etrabalhosas campanhas .Imagine pois que, cercado de numerosos ouvintes , re

presentados pelos leitores do l ivro, o narrador se escon

dia por detrás de um biombo. apresentando em lum inosas projecções as figuras principaes da narrativa.

Que acontecia imperterivelmente no meio da impress ão recebida?Que toda a gente reclamaria em gr ita, instantemente,

natural iss imamente, que lhe mostrassem a figura do ve

terano contista, que tanto ao vivo, com tanta alma e

quentura, lhe pintava val iosos quadros de épocas , tãod ignas de memória e registo .

N ão será isto ass im, meu caro Br ito A ranha ?0 seu própr io fi lho, a criança de hºje, que poderá

sêr de futuro o continuadºr da obra do pae, que tao en

ternecidamente lhe dedica o seu t rabalho, há—de achar

no l ivro a falta, que eu lhe encontro, e lhe hão-de en

contrar os que sabem que a modés t ia tem l imites .

E u por mim requer ia não só a figura do autõr, mas

ainda a mo ldura condigna— uns periodos de penna alheia,que lhe sõbredoirassem os contornos .

O autõr , que, com tamanha clareza e abundância decoração, comemora factos e homens do seu tempo, for

mando vistosa galer ia com as tintas indeleveis da gra

vura e das letras , tem abso luto direito a figurar na ca

beceira do rol , como creador e apresentante da sua obra.

E não me diga que não .

O caráter moderno, s impático e val ioso dos l ivros dememór ias e consagrações comemorat ivas , pede, exige,porque ass im o requere o púb l ico, que o narradõr fiquea par dos quadros celebrados .

E ' a caracter ística do que atrás apontei : que o con

tista veterano não deve apresentar retratos alheios , escondendo o seu detrás do b iombo.

Bem sei que o continuadõr da obra co lossal de Innocencio está, e estará futuro dentro na altura, que lhecompete ; mas isso não deve obstar a que no últ imo dos3 vo lumes , já que ao primeiro agora publ icado faltouês se ornamento, se encorpore a figura do conspicuo, s in

l u incisivo e au , de quem eu

confradeEamlgo grato

Meu querido Br ito A ranhaVenho agradecer

—lhemuito penhorado o amavel offe

E ' admiravel a fecundidade do seu bel lo espi r ito , ape

sar dos anuos e das canceiras . D eus lhe pro longue por

largos tempos a v ida e lhe dê saude, para con t inua r a

hon rar o seu nome e a lítteratura portugueza , que já

tanto lhe deve.

Tenciono parti r amanhã para Coimbra, onde o meu

quer ido B rito A ranha me tem sempre às s uas o rdens .

A braça- o com verdadeiro affecto o seu velho am igo

e admirador muito dedicado e

sempre O b r ig .

L isbôa. 1 4— 6 .

— 1 90 8

C O N D E D E M O N S A R A Z

M eu . amigo (Brito A ranha)

Novamente volta a vis itar-me a generos idade de v .

Muito e muito e muito obr igado. A s notas sobre os dois

grandes Mestres são dignas d'el les e de v. Agradou

me em especial o que diz respeito a Herculano, por serum dos meus deuses e . portuguez .

Peço os meus respeitos a suaEx.

lunª Esposa o ao pe

quenino Paulo Emi l io e v . receba a s incera expressão do

meu reconhecimento.

A lcobaça, 1 8 — M aio.

M . V . N A T IVID A D E

L isboa, 1 9 de Junho de 1 90 8.

M eu velho am.

º

Brindou-me com as suas duas ultimas publ icaçõesF actos e homens do meu tempo e A mos tr a da óagagm

de um j or nal is ta ,_que mandou a expos ição do R io de

Janeiro.

Tanto o l ivro como a memor ia os tenho na maio rconta, porque, além da sua excel lente redacção, são uteis

e de consulta para um homem do nosso tempo.

V . é um erudito e um vulgar isador .

Pelo que, eu lhe agradeço a sua offerta e lhe mando

um abraço.

Ponha-me aos pés de sua mulher e minha Senhora,

que sou

amigo ant.º e adm.

ªº'

C O N D E D E VA L E N ÇA S

veja e pode consegui r alguma d'es tas pub l icações ,

n o te eu decerto tambem lucraria.

eàs suas ordens , creia-me

2 ; Maio 1 90 8 .

L i j á todo o livro de v. , F acm e bomm do m

tempo, que se dignou offerecer—me ; e se me pen horm rn

e confundiram as pa lavras benevolas e obsequ iosas doofferecimento, confundiu—me ainda mais vêr citado o

nome do pobre e humilde Bispo de Coimbra a par de

grandes auctor idades l itterar ias de quem eu nem crea

do posso ser .

Tudo agradeço muito reconhecido a v . e faço os

mais arden tes votos para que v . continue a ter v ida

e saude para honrar as lettras po rtuguezas com o seu

muito saber , e com o modo encan tador com q ue es

creve.

O utra vez muito agradecido , e sempre

D e v.

A .

º m i ºaffect.ªº , m

fºrespeitado r

e obr ig .

m º

C ºimbra,8 de junho de 1 90 8 .

M A N O E L , BIS P O -C O N D E

306

gos annos , E rnesto da Si lva, o qua l , pelas homemsfuncções que exerce na casa real e por ser testemunha

presencial e de absoluta confiança, em todos os tmbm

lhos do inventar io do Rei—art ista, nas suas minucios idades .

não podia deixar de mencionar, como era do me u dever .

Pouco depois da reproduca o no D ia r io de M at rix: ,

recebi de ambos , no mesmo dia. as cartas que em se

guida vou transcrever , não por incitamento de vaidade,

que não me encanta nem gos to de prestar- lhe cul to, mas

como s ignal s inceriss imo da minha intensa grat idão paracom os s ignatarios , que me demonstraram mais uma vez

os bons sentimentos que os animam a meu respeito e

que me prendem nos pr imores da sua anusade, a que

diligenceio corresponder .

A ccresoentarei, pma destruir comantecipação qualq uer

pensamento reservado de malw olos , que não faltam na

estrada em que ainda posso moirejar

N ao se ped i ram, nem se receberam, nem antes nem

depois do nosso trabalho de aval iador , porque não o

gabei nunca, gratificações , nem benesses , de qualquerfeitio ou peso, e assim tem succedido com outras avaliações , algumas al iás de summa importancia, de que mnhas ido incumbido por despacho dos respect ivos juizes ou indicaçao dos cabeças de casal , principaes herdei ros . E a i

del las com a consciencia l impa e com a convicção de

ter cumpr ido o meu dever e a minha obr igação. F iq ue

bem publ ica esta nota.

D e aval iações lembra-me agora ter sido igualmen te cha

mado para as dos inventad os, na par te bibl iographica, dos

iosa, que encerra e eu ignorava. P erdõeome a delaçi o

A do meu bom da S ilva, pelas cir

cumstancias especiaes que indiquei já e não pod ia obliterar, doua como documento abonat

'

or io e va l ioso, pois

disco rridos mais de 20 annos empós dos factos refer idose deparando

—se—me uns apon tamentos ineditos , sem fór

ma, incompletos , pos tos de lado sem que me preoccu

passem, parecia-me que não lhes podia da r conven ien te

redacç ão e que a memor ia não me auxil iar ia quandodesejava ser em tudo correcto e verdadei ro.

E' um depoimento serio, que muito apreciei e que

muito agradeço, po is veio confi rmar o que narre i e re

ceava não fôsse perfeitamente exacto nos pon tos mais

essencraes .

A qui está a razão por que transcrevo em s egu ida es

tas cartas , que con servarei como penhor de boa e s incera

amizade .

P R E ZA D O C O N F R A D E

E stou a pegar na penna e a pô r as mãos na cabeça

a dizer -me : que pensará de mim o B r ito A ran ha P ois

el le dá á pub l icidade, no pr imeiro jornal de L isboa, um

artigo tão i n teres sante,tão erudito , em que me e log ia e

que me dedica, e , só pas sados tres dias , venho fe l ic i ta- lo

e agradecer- lhe !

Talvez mesmo IS S O não v ir ia fazer se o meu ama

nuen se não mo trouxes se neste i nstante, porque, ape

3 10

ette sort d'egalitê crêe l 'amour commun des bel

« les choses . Son alors ne se perdai t pl us , mais

« embrassait . avidement toutes ces magn ificences recuei l« l ies par les glor ieux ancêtres en découvertes par le

« royal chercheur lui—même» .

e por aqui fico, pren do amigo, não semme co rrer umalagr ima, como sempre, que me recordam o meu res pei

tado e amigo E l-R ei D . C arlos . O br i gado .

F az bem.

P ermltta um abraço a quem se louva em poder d ize r—se

D e v.

A dmirador e con frade

A L BE R T O G IR A R D

L isboa, 2 de outubro de 1 90 8 .

S R . BR IT O A R A N H A ,

meu prezadrss rmo e respeitavel amigo .

P rocurei hontem 0 meu amigo em sua casa, e mu ito

senti que estivesse ausente ; ia cumprimen ta- lo pe la pr i

mo rosa monograph ia do precioso l ivr o de hor as q ue per

tenceu a S . M . E l- R ei O S enhor D . F ernando , de sau

dosa memor ia, crua descr ipção era eruditamente e labo radae é interes santiss ima a todos os respeitos .

E'

um trabalho de mes tre .

Agradeço muito penhoradamente, ao meu bom amigoas referencias que faz ao meu sempre saudoso P ae, honrando o meu humilde nome com uma apreciação das

mais l isongeiras para mim.

A cceite, pois , o meu caro amigo a expressão s incerado meu reconhecimento por mais es ta prova da sua constante amisade para com toda a minha fami l ia.

Apresentando os meus respeitosos cumpr imentos aex.

“esposa,

S ou como sempre amigo muito affectuoso, muito agradecido e grato

E R N E S T O D A S ILVA

A lcantara 1 .

º O utubro às 1 1 da noite 1 90 8 .

A ul tima carta, com que fui honrado, e de um no

b re amigo e i l lustre confrade em lett ras , Jeronymo daC amara M anuel , o qual tendo l ido o capitulo relativo ao« Livro de Horas» do R ei-artista, se lembrou amavelmentee espontaneamente de premiar-me com as penhorantes

l inhas , que vão lêr—se.

Havia dias escrevera eu a esse amigo, cuja carreirad iplomatica tem s ido br i lhant íss ima e honros iss ima, pe

d indo- lhe o favor de receber e dar em Londres algumasindicações a outro amigo, honrado e opulento compatri

cio que al l i fôra procurar os mais eminentes e acreditados cl inicos inglezes para acudir com remedio efiicaz,

sendo poss ivel , não discutindo os sacr ificios que lhe exi

dade naquella grand iosa capital .D a res

vou, não prescindo de copiar com o

meu agradecimento

Londres, 1 2 de outubro 908 .

'

M eu quer ido e bom am igo

« Muito gostei de lêr o seu artigo sobre 0 L w r o de

hor a: , que pertenceu a E I-Rei D . Fernando e peço que

acceite as minhas mais s inceras fel icitações . F o i para

mim uma verdadei ra l ição, pois de completo ignoravaaquel le trabalho de il luminura devido ao eximi0 º H ol

landa.

« C om mil saudades e um es treito abraço do seu ve

lho amigo e col lega obrigado

J E R O N YM O D A C A M A R A M A N U E L » .

F IM D O T O M O T E R C E IR O

Camões (L uís de) . 89, 90 ,9% 97 l ººº

C ampo s'

, livreiro - editor ,

C ar valho 48

C ar valho M onteir o (D r .

A n ton io A ugus to de) 96, 97C as tello Br anco (C ami l

” 7

C as t i l ho (Jul io de ) ,viscor

õggtde

d

Câs tilho " 27

a e e)(U rban o de ) .

1 0 1 , 225(Vicen te J o rge de)7, 28, 37

Irmão ou C ast ro Irmão . V. C as t ro

(Vi cen te J o r ge de ) .C avo l la ( L o ur enço ) 2 2

,24

C aze l las (D om ingo s ), gr a

146

vado r . 35

C hampH eur y 164C hr is trn o , desenhado r e

pin to r 28

C o bel lo s (M iguel ), typo

g r apho— ed i to r

, poeta,1 6

, 18,19 20

C oelho (M anue l de J esus ) 2 35C o e l h o de M aga lhães(J o sé E s tevão ) 78, 237

C 0 n 51dér an t . 16)

1 2 1 82

C o rdel r o 80

C o r r eia ( P edr o ) , typogr a

pho- edi to r 1 2 , 80

1 )

D ias (P edro )0 0 11: (E milio )D upr at (Car lo s )

E

de Queir oz 22

E ga (C ondessa de) 206, 2 10

E nnes (D r . G uilherme ) " 1 1 )

E pifan io A n iceto C oucalves , actor

'

s

'

ázir'

á(belph ina,actr iz . 1 28, 1 3 1

F ar ia (E duardo de,, edi

t O I'

F ar ia (T homé de )F ar ia e S o usa (M anue lde )

F er nandes (O lympio N i

co lan R uy ), typographo

e

F e r nandes C o s ta

F er n andes T homás (A nn iba l ) 98

F er n ando ( D . ) r ei ar t1s

ta,1 97, 20 5, 206“ 2

F er r az de M acedo ( D r

F er r el r a da S ilva O l 1veira(A lber to )

F er r eira S outo

F onseca M agalhães (R 0dr igo da) 29,

F r ança (R icar do José R odr igues )

F r ança A mado l ivr eir oeditor

F r eitas de O l ivei ra (Jacinto A ugus to

F ur tado de M el lo (R oque)G

G il VicenteG ir ard (A lber to), 193 . 194,

G omes de Br ito . .

G omes M eiraG omes M onteir oG onçalves R oque .

G r eno , pintor . .

G uer ra J unqueiro .

G ui l laume, esculpto rG usmão (D . J u lia de)

H

H ercu lano A lexandreH o l landa ( A n ton io de ) ,il luminador , 199, 20 3 ,20 4, 20 5, 20 7, 209, 2 1 1 ,

H o l landa (F rancisco de),il luminador , pinto r e escr ipto r 20 2, 20 3,

H ugo (C ar lo s Victo r )H ugo ( F r an c i s co V ieto r )

H ugo (Victor , . 162,164,

166, 167

J

J ardim (D r . L uis ) V.

Valenças (C onde de) .J oão III r ei 194, 20 7,J uromenha (Visconde de),

L

L atino C oelho (J osé M ar ia) 22

,

L eitão (F amilia) , de L eir ia.

L eitão (M iguelL eite ( L uis F i l rppe)L eite de F igueir edo .

L emercier .

L ence

L ima F elner (R odr igo de)1 28, 1 3 1 , 1 3 2

L ima (C esar de ), acto rL obato (G ervasio )L obato

L em a i t r e ( F r eder ico ) ,actor

L obo (D . F rancisco A lexandr e)

L opes ( José C ar los ) .L opes C alheiros M enezes(C ons ! S ebastião )

L uiz 1 r ei 62, 1 06,20 7, 20 8 .

L uis XIV,r ei

L upi, desenhado r e pin tor

M r

âcedo (J osé A go stinhoe )

M achado (Belchior ) , 179,M achado ( Ju l io C esar )M acedo (M anoe l de), desenhado r e escr ipto r

M aga lhães (F ernão de ) .M aintenon (M adame de)M anueI( D r ei . 2 1 5 2 16

,

M arco s F il ippeM ar eco s ( E r nes to ) 1 3 1 ,M arques, l ivr eir o- editor ,

1 2, 1 5, 14M arques ( D . Isabel ) . 17,M ar tins (Bernardino )

3 16

272 P . el la ( D uques a24 2 0 3 o o o o o o o o o o

1 1 3 P as sos Valen te (José M a

239r

M ousinho deA lbuquerqueN

N apo leão I

N atividade (M . A . )N et to (D iogo ) , gr avado r .

N eves (E mil ia das ) , actr iz1 29eves ( H en r ique das ) .N ew to n ( Is aias )N ogueir a da S 1Iva, gr ava

do r e escr ipto r . 28,29,

N o r o nha (T 1to de)N o r vin s

N unes, gr avado r

N unes (A n to n io A lber to ),esculpto r . 1 0 1 , 1 0 2, 1 0 3 ,

0

O l iveir a ( J o sé A ugus to

de ) , gr avado rO l ivei r a C ancel las ( F r ancis co de)

O hve i r a M ar tin s (JoaquimP edr o de )

O l ivei r a M on teir o

1 1 P ato Moniz1

Q

Qu e i r o z ( R aymundo )acto r

R

R aczyn ski (C ondede) 20 2R amalho O r tigão ( J . )R amalho O r t igão (J . D . )

o n io r ia )2 1

,22

,23 ,

P er e i r a ( A n ton io M ar ia )S en io r , l ivr eir o - edito r .

1 3 ,P er ei r a de S ampa10 (J o sé )B r uno

P er eir a C aldas , pr o fes s o rP es tana ( D . A l 1ce) .

P imen tel (A lber to )P inheir o C hagas 22

27, 70 , 80

P o s s 1d0 n io da S tlva, ar

chitecto

S istello (ViscondeS ousa (D r . M anue l Ben tode ) l

S o usa S ilva C o sta L obo Vaz de Carvalho ( D . Ma

( A n tonio de)S o u s a N eves ( J oaquimG ermano ) , typo gr aphoe edito r . . 70 ,

T1 28, 1 3 1 , 1 36Tal leyrand . 2

T al rna, actor . . 14 1 , " doei

T as s o (J oaquim J os é),actor Vi lhena

T eixeira deSo eiroz" V ilhena

T eixeir a de asconcellos de) . 27, 1 86, 1

(A n ton io A ugus to ) . 75, Vil laça (C on s .

º E duardo ) 1

1 2 1 ,

ãâl lã áA

lber to )Ҽ r l o ve O actor

“ M ºr iª: I C Í O I' XBVIC I' dª cunhª . o

T homar C onde

T homás e C arvalho (D r .)T or res J osé de ) Winckelmam .

T O (D . G uiomar )"T r indade C oelho ) . Z

V Z epher ino S en io r , l ivr e i,4 5, 1 5 1

,' 52

r o— ed1t0 r

Valenças (C onde de ) . 298

C O L L O C A ÇÃO D A S E STA M P A S

A nton io M ar ia P ereir a

C aetano A lber toC arvalho M onteir o

P rojecto do monumen to para as cinzas de L uiz de Ç a

P inheir o C hagas

O acto r T as so

T ito de C arvalhoU rbano de C astro

0 F rança, do A r senalBr ito A ranha

l — E dito r es, livr eiros eII— N o A theneu C o:

'

ai. T r eeho de pr opaganda u ti l n

l l l — S ousa N eves e S anto s Valen teIV C amonis tas an tigos e modernos .

V — P inheiro C hagas . P aginas consagradas d sua rn e

108

Vi — O acto r T asso 1 25

N o palco do theatr o normal de D . M ar ia II

R eco rdação saudosa de M anuela R eyL embr anças de alguns escr iptor es dr ama»

t icos R odr igo de Lima F elner , 1 27 a

G l or iâcação do

VII T ito de C arvalhoVIII U m l ivr o do R er—ar t is ta

IX U rbano de C as tr o

X 0 F r ança, do A r s enall u1zo da impr en s a ácer ca des tas M emo r ias

D e car tas ender eçadas ao aucto r

N o ta final

Indicação do s n omes de escr ipto r es, ar tistas e outr as

pes soas , o s quaes são citados ou do s quaes se faz r e

fer encia no tomo pr esente

322

campo l i beral, or iginando oontrovers ias v ibrantesem que então entraram adversar ios , es cr ipooresoradores, de envergadura

8 C lar i/íam da impr ensa . (Homenagem a V ictorHago) . Lisboa. 1 862 .

Ti ragem l imitada para brindes.9 G uia do pa r ceiro no ex er cício do seu wdn i den b,

ou manual completo das obr igações dr'

r a'

l os pr ivª:

g'

r'

os do pa r ocbo r espectiva leg is lação, com do is dis ,cursos , ou orações , de M ass i l lon . [ .

ªedição, compi lada

conforme um manua l hespanhol e revista por um i l lus

ção foi col l igida e escr ipta por indicaç ão do edi

tor .

IO O bom sen so e o bom g os/a. ] Í um i la'

e pa r ecer

com uma carta de A . F . de Casti lho. L isboa . 1 866 . 8 .

Pertence àcol lecção da longa controver s ia l itteraris a que se deu a denominação de B om s en s o e

I I G lor z'

jícafã o do acíor . Lisboa. 1 864 . 8 .

º

E dição feita po r conta do auctor para b r indes .

1 2 L ez'

lur as mor aes , z'

ns lm ctz'

z'as epopu la r es , p a r a

a s escolas pn'

man'

as . L isboa. 1 87 1 . 8 .

º

D esta ob ra tem—se feito 8 edições , com approva

ç ão official , de mu itos milhares de exemplares d if

fundidos por centenares de escolas no con t inen te,

nas ilhas e no ultramar .

1 3 P r imei r o l ivr o da infancia . Partes 1 e H .

3 34

19— E sóo;os r ecordações . L ishm. 1 87 ç. 8 .

Contém algumas descripcões e notas b iogmphíº

phicas de diversos .

m i r eíção da pa l n'

a . D

sociação dos melhoramboa. 1 880 .

2 1 G r avur a de madeir a em P or tug al . (Importan tecol lecção de gravuras em varios generos do profess o r daescola de bel las-artes João Pedroso, com arti gos descriºptivos do auctor) . 4 .

º

22 P r ocessos celeó;os

cu r iosos escanda losos da 8 2 . 8 .

º

r zooo

exemplares , extraiu—se em pouco mais de um mea,

que não sabia quem era o auctor .

2 3 E xpos içã o ag r ícola de 1 884 n a r ea l lapa d'a da

4j uda . In s tr ucçã o ag r icola . L isboa. [ 884

N ão entrou no mercado.

24 _Suós z'

dz'

o pa r a a lzz'

s lor z'

a do j or na l ismo n as pr o

z'z'

noza s u l l r ama r z'

nas . L isboa. 1 885. 8 .

ºcom gravu ras .

N ão entrou no mercado .

2 5 M endes L ea l . M emorias políticas e l itterar ias .

L isboa. 1 887 . C om o retrato do il lustre estad is ta

e poeta.

C ons titue um vo lume do B r inde do D ia r io de

N ol z'

oms .

Innocencio Francisco da Silva, por con tracto cele

bmdo com o ww rno poM gues ertencem ao auo

com mais de 4:gravuras fac-s im

mais de 30 volumes in' 8.

º

, typo regular .

O auctor tem, nes ta ser ie, duas separatas

45 e 46— A oór a M u l de camões . E s ta

do: M a y an a“ . Lisboa. 1 88 1 — 1 889 . 8 .

º

gr . tomos com mais de 80 0 paginas , a tam

pas e fac-s imi les .

47 0 M ar quee de P ombal e a seu centena r io . L is

boa. 1 90 7. 8 .

º

gr. de 20 0 paginas . C om estampas .

petente, uns subs idios para a bibl iographia do C en

tena r io da g uer r a pen in su la r , com alguns cen tenares de obras , muitas pouco vulgares , em pa rte já

co l lig idas .

O utros em preparação, sendo um de

49 Con tos meus e a l /zez'

os , e mais um ou do is de

M emor ias .