os alfarrabistas de hoje que desafios

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0 Os alfarrabistas de hoje: que desafios? O caso da Nova Ecléctica e da Livraria Campos Trindade Resumo: Como é que os alfarrabistas enfrentam as novas formas de comercialização do livro? O que terá mudado? Que desafios enfrentam nos dias de hoje, num mundo praticamente globalizado e modernizado? São perguntas preciosas para que possamos compreender uma parte da realidade destas lojas tradicionais. Para tal, será usado um estudo de caso comparativo em duas lojas da zona Baixa-Chiado: a Nova Ecléctica e a Livraria Campos Trindade. Palavras-chave: Globalização / modernização, comércio tradicional, livro Docente: Paulo Castro Seixas Aluno: Fábio Malheiro Gomes, nº214772

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Os alfarrabistas de hoje: que desafios?

O caso da Nova Ecléctica e da Livraria Campos Trindade

Resumo:

Como é que os alfarrabistas enfrentam as novas formas de comercialização

do livro? O que terá mudado? Que desafios enfrentam nos dias de hoje,

num mundo praticamente globalizado e modernizado?

São perguntas preciosas para que possamos compreender uma parte da

realidade destas lojas tradicionais. Para tal, será usado um estudo de caso

comparativo em duas lojas da zona Baixa-Chiado: a Nova Ecléctica e a

Livraria Campos Trindade.

Palavras-chave: Globalização / modernização, comércio tradicional, livro

Docente: Paulo Castro Seixas

Aluno: Fábio Malheiro Gomes, nº214772

1

Índice

Introdução……………………………………….p.2

Contexto teórico:………………………………..p.4

Metodologia …………………………………….p.7

Apresentação de Dados empíricos …………….p.8

Considerações finais…………………………….p.13

Bibliografia………………………………….......p.15

Anexos…………………………………………..p.17

2

Introdução

O trabalho incide, de uma forma geral, sobre o comércio tradicional (mais à

frente explicarei o que se entende sobre o comércio tradicional), mais

especificamente, do livro. E como alvo de estudo escolheram-se dois

alfarrabistas da baixa de Lisboa, a saber: A Nova Ecléctica e a Livraria

Campos Trindade. O trabalho consiste num estudo de caso comparativo,

recorrendo a duas entrevistas aos funcionários destas mesmas lojas.

Pretende-se compreender um pouco melhor este mundo do comércio do

livro. O serviço que é prestado pelos alfarrabistas. O que são? O que

fazem? Para quem servem? Que dificuldades enfrentam nos dias de hoje?

São estas questões, a meu ver, fulcrais, que devemos fazer para que

possamos compreender melhor esta realidade.

O leitor poderá questionar-se sobre a pertinência destas questões. Que

interesse tem aprofundarmos o conhecimento sobre a vida/profissão de um

alfarrabista? Isso é coisa do passado, até a própria palavra para muitos pode

soar estranha e desconhecida. Em parte, o trabalho tem mesmo esse

propósito: a) dar a conhecer o que significa a própria palavra; b) que valor

está associado à profissão alfarrabista e, claro, num segmento mais prático,

c) criar condições para que futuramente se possa exercer um trabalho/um

projecto de forma a estimular este campo profissional, ou seja, a criar

políticas urbanas que possam ajudar este tipo de negócio a ser reconhecido

por esta nova sociedade das tecnologias.

Considero importante informar a minha posição em relação ao tema, para

que o leitor, à medida que vá lendo o trabalho, tenha em consideração o

meu posicionamento e que vá tirando as suas próprias conclusões, pois

3

assim saberá as bases em que o conhecimento é produzido. Deste modo,

devo esclarecer que antes de produzir esta investigação nunca tinha tido um

contacto directo com qualquer loja/funcionário/dono de uma alfarrabista

(exceptuando, talvez, a feira da Ladra, mas enfim, esta pode ser para

muitos considerada grosseira e marginal). De certa forma, não conhecia

rigorosamente nada deste universo, era algo desconhecido, não por ter falta

de interesse, mas porque nunca tive a necessidade de recorrer a este tipo de

comércio.

Assim, informa-se o ledor que, partindo de um conhecimento incipiente

neste campo, foi-se desconstruindo, ao longo desta investigação, vários

preconceitos, como por exemplo, a ideia de que as grandes superfícies

competem com os alfarrabistas na questão de livros. Como o leitor se

poderá aperceber, as grandes alfarrabistas não ganham terreno por ter uma

vastidão de livros relativamente recentes. Ganha sim, devido à falta de

interesse pelos próprios livros e por o que é antigo, raro e colecionável.

Sinto-me na necessidade, para que não haja espaço para dúvidas, de alertar

o leitor que este trabalho não pretende de forma alguma fazer qualquer tipo

de generalização ao mundo dos alfarrabistas. Pretende sim, como disse

anteriormente, compreender um pouco melhor, claro tendo em

consideração a minha forma de olhar para os mesmos, a realidade destes

comerciantes que adoram o livro.

4

Contexto Teórico

A palavra alfarrabista significa “pessoa que coleciona alfarrábios ou que

com isso constrói negócio”1, isto é, coleciona livros antigos, normalmente

de grandes dimensões (os calhamaços)2. este negócio constitui uma forma

de um comércio tradicional na medida em que não se enquadra nas grandes

superfícies.3 Antes de fazer a distinção entre o comércio tradicional e

moderno, é importante saber qual é afinal o significado de comércio.

Comércio é toda a actividade que se realiza com carácter profissional e ao

qual cabe a função de disponibilizar as mercadorias ao consumidor, sendo

este constituído por pessoas, empresas ou mesmo instituições.4

A distinção mais clara que se pode estabelecer entre um comércio

tradicional e moderno é que o primeiro é retalhista, ou seja, vende a retalho

os bens, novos ou usados, que por vezes são únicos e não geram stocks,

pois o objectivo é escoá-los5. O segundo diz respeito à venda grossista, ou

seja, vendas em grandes quantidades, numa óptica armazenista6, haver mais

do mesmo. Nesta perspectiva as grandes superfícies pertencem ao comércio

moderno e as pequenas ao domínio do tradicional, onde a organização é

bastante mais informal no que toca à relação estreita e íntima que estes

comerciantes estabelecem com os seus clientes e onde por vezes existe

grande dependência em relação a terceiros (nomeadamente à Banca).7 Já

1 http://www.priberam.pt/DLPO/alfarrabista, acedido a 19 de Novembro de 2013

2 http://www.priberam.pt/DLPO/alfarr%C3%A1bios, acedido a 19 de Novembro de 2013

3 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.29

4 José Fernandes, Herculano Cachinho e Carlos Ribeiro, Comércio tradicional em Contexto Urbano:

Dinâmicas de Modernização e Políticas Públicas, 2000, pp.9 5 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.30

6 José Fernandes, Herculano Cachinho e Carlos Ribeiro, Comércio tradicional em Contexto Urbano:

Dinâmicas de Modernização e Políticas Públicas, 2000, pp.9 7 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.29

5

nas grandes superfícies a estratégia utilizada é a “(…) diversidade dos

produtos, o preço, e a produtividade(…)”8

A tendência mostra que, as grandes superfícies têm conseguido ganhar

terreno face às pequenas, tanto em número de lojas como valores de

vendas9. Este processo pode ser explicado, entre vários factores, pelo

processo de globalização, decorrente da modernização10

, e pelo fluxo de

capitais que lhe está associado. Mas numa visão mais económica e política,

a função urbana destas lojas tradicionais alfarrabistas está em perigo face à

crescente especulação da comercialização banal do livro. Em certa parte, a

responsabilidade é das editoras e das grandes superfícies que utilizam o

livro e a cultura livresca para vender mais, desprezando, por completo,

qualquer tipo de valor de uso ou de identidade. A título de exemplo, hoje

em dia as editoras produzem numa primeira edição milhares de exemplares.

Desta forma, torna-se impossível que estes livros venham a valorizar a

médio ou longo prazo.

Disto pode propor-se o seguinte paradigma: existem duas grandes formas

de se lidar com o livro: i) os que são bibliófilos, ou seja, amantes dos livros

e que os colecionam11

; ii) e os que fazem parte da bibliomercadoria, ou

seja, servem-se do livro para uma comercialização rude, sem possuir a tal

cultura de uso. Para estes, o livro tem unicamente um valor de

troca/instrumental, o que é signaficativo é vender às massas e em grandes

quantidades, encontrando-se destituído de toda a sua essência que é o valor

histórico-cultural em si. O mercado passa a estar ao serviço desta cultura de

massas. Pode-se então verificar uma „tensão de risco‟12

entre os que vêm o

8 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.30

9 Ver quadros das páginas 30 e 31 do livro Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de

Desenvolvimento, 1997 de José Pinto 10

Anthony Giddens, As Consequências da Modernidade, 1998, pp.44 e 45 11

http://www.priberam.pt/dlpo/bibli%C3%B3filo, acedido a 21 de Novembro de 2013 12

Conceito inspirado no autor Ulrich Beck em Risk Society: towards a new modernity, London, 1992

6

livro como cultura de uso e os que o vêm como cultura de valor de troca,

usando-o como temática de mercadoria cultural. Entenda-se que o que está

em risco é a importância e o valor que o livro tem, o que inevitalvemente

coloca em causa o trabalho dos alfarrabistas, pois se não existem bibliófilos

não faz sentido existirem estas lojas.

Portanto, todo o paper debaterá estas duas perspectivas, nomeadamente, na

apresentação dos dados empíricos, onde se poderá comprovar, em respostas

dos entrevistados, estes pontos de vista propostos.

7

Metodologia

Os dados empíricos recolhidos são de duas entrevistas a funcionários das

lojas alfarrabistas: A Nova Ecléctica e a Livraria Campos Trindade.13

O trabalho baseia-se num estudo de caso comparativo de duas entrevistas

semi-directivas, podendo considerar-se uma amostra não probabilística

intencional, na medida em que recorri a lojas que estão mais próximas de

mim e que aceitaram colaborar para este trabalho. Contudo, considerei que

estas duas lojas poderiam representar simbolicamente os alfarrabistas.

A informação que foi recolhida a partir destas entrevistas foi tratada de

uma forma analítica/comparativa, em que se confronta e analisa as

respostas dos entrevistados. Das questões formuladas, procedeu-se a uma

construção de Categorias, em que se associa essas perguntas a tópicos, a

planos gerais do que retratavam essas mesma perguntas, de forma a tonar

mais percetível a sua análise, saber o que estamos analisar. Desta forma, as

perguntas foram divididas em quatro categorias. Umas que dissessem

respeito às características da própria loja (C1-Especificidades da loja);

outras sobre o que é para os entrevistados ser um alfarrabista (C2-Ser

alfarrabista); que dificuldades estão associadas a esta profissão (C3-

Desafios) e finalmente, que projecções existem para o futuro da loja e deste

comércio (C4- Perspecitvas Futuras).1415

13 O guião destas entrevistas pode ser consultado na secção dos Anexos

14 Augusto Santo Silva; José Madureira Pinto. Metodologia das Ciências Sociais, 2009, pp.101-

113

15 http://www.sagepub.com/upm-data/24736_Chapter2.pdf, acedido a 8 de Novembro de 2013

8

Apresentação de Dados Empíricos

Como referido anteriormente o conteudo das entrevistas foi dividido em

quatro categorias16

,a saber; C1-Especificidades da loja; C2-Ser alfarrabista;

C3-Desafios; C4- Perspecitvas Futuras. Estas são as categorias que estão

presentes nas questões17

feitas aos funcionários das lojas alfarrabistas. Para

a C1 estão associadas as Q1,2,3,4; C2: Q5,6,8; C3: Q 7,8,10,11,12,13; C4: Q

14,15,16.

C1 Especificidades da loja

A Entrevista 118

revela que a loja pertence aos anos 70, tem a

especificidade de ter em conta os preços e pela sua antiguidade possuir

clientes fixos, “(...) uma carteira de clientes relativamente extensa e

fiel(...)”, com uma grande capacidade de reposição de stocks. Não possui

um alvo especifico, pelo contrário, existem “(...) vários targets(...)

desde(...) clientes com uma faixa etária mais elevada (...) que são

coleccionadores e procuram livros de história, etc., até (...) como também

estudantes(...) mais jovens(...) à procura de livros mais baratos(...)”. Existe,

então, variados livros, com vários preços, para variados clientes, inclusive,

graças à posição da loja é frequentemente visitada por turistas, “(...) esta

zona aqui é muito turística(...)”. Da mesma forma que não existe um

público alvo, também não possui uma gama de livros especifica, “(...) nós

vendemos todo o tio de livros(...)”, embora, e o entrevistado faz a resalva,

16

Daqui para frente será representado por “C” as categorias que representam determinadas questões aos entrevistados 17

Daqui para frente será representado por “Q” questões feitas aos entrevistados que poderão ser vistas no Guião das Entrevistas presente no Anexo 18

Daqui para frente será representado por “E” a entrevista, sabendo que existem apenas duas entrevistas.

9

existam certas áreas mais específicas que não possuem como por exemplo,

“(...) coisas mais, vá, religiosas, coisas de direito(...)”.

Já na Entrevista 2, a loja tem origem nos anos 90 e tem como característica

principal possuir livros antigos, raros e preciosos – “nós gostamos mais de

trabalhar com livros antigos e com livros raros e com... com...

preciosidades”. Tal como a primeira loja, não tem um alvo ou um tipo de

livros específicos. São considerados potenciais clientes “todos os que

gostem de livros (...) toda a gente que tem um livro na mão é um potencial

cliente nosso”, assim como, “(...) temos ser o mais eclécticos possivel.

Portanto, não temos um assuntos alvo(...) somos ecléticos”.

C2 Ser alfarrabista

Para o entrevistado da E1, ser alfarrabista passa por ser um intermediário,

ajudar a fazer o “casamento” entre as pessoas que já não querem

determinado livro levando-o até àqueles que poderão ser potenciais

interessados em possuir esse mesmo livro. “ (...) alguém que medeia este,

este circuito, não é? Esta coisa de ir buscar livros a sítios, a umas mãos para

os levar até outras”. O alfarrabista, segundo o entrevistado, passa

constantemente por um processo de aprendizagem sobre os vários livros

que lhe passam pelas mãos, incluindo outros processos, como por exemplo,

o trabalho de “ (...) catalogar, o trabalho de ir comprar, o trabalho de fazer a

avaliação”. Para este alfarrabista, o momento mais marcante na sua

profissão foi descobrir livros de primeira edição, “(...) a primeira edição da

Mensagem, do Fernando Pessoa, é um momento especial, ter um livro

como esse nas mãos(...)”, mas também é marcante, refere o entrevistado, o

constante contacto com a efemeridade da vida, ou seja, “(...) as pessoas vão

e os livros ficam(...) a proximidade com essa partida, dessas pessoas, acho

que é parte que mais me marca na profissão”.

10

O entrevistado da E2 não difere muito deste na questão do momento

marcante, pois para este o momento mais marcante foi o contacto com

livros de primeira edição, nomeadamente o “(...) o prazer da folhear uma

primeira edição d‟Os Lusíadas”. No entanto, para este, ser alfarrabista

passa mais por um sistema de relação intima com o livro, “(...) uma

relação,vá, de amigo com os livros(...), tal como, uma relação estreita com

os seus clientes, “(...) antes de serem clientes são amigos”. (aqui pode ser

verificável a tal relação que existe no típico comércio tradicional, uma

relação muito próxima entre o vendedor e o seu cliente).

C3 Desafios

O entrevistado da E1 revela que os desafios que tem enfrentado, enquanto

alfarrabista, são variados, desde a sensação de sentir-se esmagado “(...)pela

dimensão do universo”, que são os livros, até à notável diminuição na

adesão a estas livrarias, explicando que “(...) há muita gente que em

contexto de crise, enfim, compra menos(...)”. O entrevistado inclusive dá o

exemplo de que, há cinco anos atrás, quando abria a loja, tinha “ (...)

sempre duas ou três pessoas à espera (...) ”, hoje em dia, está muitas das

vezes até à hora de almoço (12h) e “ (...) não aparece ninguém (...) ”.

No entanto, este não se sente intimidado pelas grandes superfícies, pois não

fazem concorrência com os alfarrabistas “ (…) as pessoas que gostam dos

alfarrabistas (…) não deixam de vir aos alfarrabistas por causa das grandes

superfícies”, pois “ (…) isto é uma coisa completamente diferente”. Uma

das razões apresentadas para estas afirmações é o facto de que, quem vem a

estas lojas, nem sempre sabe do que vem à procura é o “ (…) ver o que

aparece (…) vir à procura do tesouro (…) ”

Para o segundo entrevistado, os momentos mais difíceis resumem-se

essencialmente a dois: inicialmente foi a “(…) dificuldade em arranjar

11

pessoas…(…) e de fidelizar os clientes aqui” ; actualmente, o grande

problema com que se depara este comerciante é o facto de haver cada vez

menos pessoas que tenham interesse nesta área, “ (…) mostrar às pessoas

que isto é uma área interessante (…) ”. Como tal, considera que mudou

muitas coisas, tais como “ (…) os interesses, mudaram os clientes (…)”,

havia inclusive “(…) uma classe de clientes que eram os estudiosos que

desapareceram (…)”

Tal como na primeira entrevista, este acredita que as grandes superfícies

não têm comparação com as lojas tradicionais de venda de livros,

argumentando que nenhuma grande superfície vai ter um livro tão especial

como os que estas lojas vendem, “ (…) Que grande superfície é que vai ter

um livro do século XVIII, ou um livro do século XVI, ou livros do século

XV? (…)”

De uma forma interessante, o entrevistado argumenta que as pessoas que

compram “ (…) livros da Bertrand e compram livros da Fnac para ler, é ler

e deitar fora (…)”. Já os livros adquiridos na sua livraria, e desse ramo, têm

dois objectivos: “ (…) colecionar e investir”. Aqui o investimento consiste

em comprar um livro do século XVII, e que hoje valhe 1000 euros, por

exemplo, e depois de amanhã poderá valer 1020, “(…) em vez de ter o

dinheiro no banco tem o dinheiro investido em livros.”

As duas épocas menos propícias ou mais fracas para negócio, e isto é

válido para ambos os casos, reflecte-se no mês de Dezembro, apresentado

como razão a altura de as pessoas comprarem outros produtos para prendas

de Natal e o Agosto, altura em que a maior parte está de férias.

12

C4 Perspecitvas Futuras

Como projecções futuras para a loja, o primeiro entrevistado declara que

existe um esforço adaptativo, “(…) temos de nos adaptar aos tempos (…)”,

ao que ele chama o “mercado global”. Para isso, estão empenhados em

iniciar as vendas através da internet, no entanto, para o funcionário, a nível

de obras a nível da estrutura da loja, “não faz de todo sentido abandonar

esta identidade. O aspecto antigo de livraria antiga”.

Quando questionado sobre que políticas públicas achava pertinentes para o

fomento deste comércio, o mesmo não soube responder a esta pergunta,

sugerindo, como possibilidade, a diminuição da carga fiscal, mas, na teoria,

não conseguia encontrar nada que pudesse ser um incentivo, apenas sentia

que a zona de implantação do negócio “(…) precisa de ser cuidada (…)”

Já o segundo entrevistado, de uma forma um pouco diferente, não possuía

quaisquer projecções no que diz respeito a mudanças na loja ou nas vendas,

apenas “(…) continuar dentro da área”, e investir na publicidade , “(…) nós

temos um site que seve única e exclusivamente como publicidade”.

Já no que toca a políticas públicas, este considera que a Câmara já faz

algumas coisas, como por exemplo, feiras. Mas sente falta de uma

associação que os represente efectivamente. Apesar de esta existir, está “

(…) completamente ao abandono (…)”. Também acha que seria

interessante haver uma feira de alfarrabistas, “ (…) mas uma coisa à séria

(…) ”.

13

Considerações finais

Desde logo considero pertinente analisar as restrições encontradas na

investigação. Como qualquer trabalho existem certas limitações e este não

é execpção. Considero que o meu universo que estudei deveria ter sido

mais alargado, mas por motivos de tempo e disponibilidade não foi

possível alargar o meu estudo e de modo a ter uma variedade de casos.

Algo que posso sugerir que se faça num futuro trabalho, indo ao encontro

do que mais à frente enunciarei como possíveis hipóteses de investigação e

projectos.

Depois de analisar as respostas e fazer um plano geral das mesmas, pode-se

concluir que existem essencialmente dois problemas para estes

alfarrabistas: a falta de interesse neste ramo, que é a bibliofilia, e o fraco

empenhamento dos políticos e talvez até mesmo dos próprios alfarrabistas,

em criar políticas para fomentar este comércio.

Desta forma, pode-se propor a seguinte hipótese: estarão os bibliófilos

destinados a cederem a uma venda orientada para as massas?

É uma hipótese a ser testada junto dos mesmos, porque deve fazer-se

também a seguinte pergunta: estarão os alfarrabistas dispostos a mudar, de

alguma forma, o seu antigo método, que parece não ajudar no negócio

somando à significativa redução de clientes e o interesse destes? Deveria

haver uma abertura a um mercado mais alargado e não apenas local? Até

que ponto as políticas culturais favorece este negócio?

A minha proposta para o fomento deste negócio é a seguinte: visto tratar-se

de alfarrabistas da Baixa de Lisboa, sítio que é intensamente frequentado

14

por turistas, seria decerto inovador experimentar jogar com esta situação.

Criar um roteiro dos livros. Ou seja, seria criado um mapa com todas as

lojas que decidissem aderir, integrando-se nesta iniciativa numa política

mais vasta de turismo cultural, aqui com uma vertente. Neste roteiro seria

contado aos turistas um pouco da história de cada loja, as suas

características, as suas especificidades. Assim, seria vendido, aos turistas,

com um preço simbólico, um panfleto com o roteiro de cada loja.

Decerto que, numa fase inicial, as vendas não aumentariam

significativamente, mas pelo menos, as visitas a estas lojas teriam um

incremento e isso já seria um início. Pois, como podem os turistas visitar

estas lojas e comprar se nem sequer têm a informação presente/local que

estas existem? É preciso “conduzir” os turistas a estes sítios, de forma a dar

conhecimento dos mesmos.

Terá muita eficácia? Não sabemos neste momento responder à pergunta. É

um plano que se deixa em aberto para quem o deseje tentar futuramente.

15

Bibliografia

CASTELLS, Manuel. Problemas de investigação em Sociologia Urbana –

Lisboa: ed. Presença, 1984.

ENGELS, Friedrich. A situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra-

Porto: Afrontamento, 1975

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Oeiras: Celta Editora, 1997

FERNANDES, José Alberto V. Rio, 1958-; CACHINHO, Herculano A. P.,

co-autor; RIBEIRO, Carlos Valentim, co-autor; FERNANDES. Comércio

Tradicional em Contexto Urbano: dinâmicas de modernização e políticas

públicas: relatório final – Porto: Cadernos GEDES-UP, 2002

GIDDENS, Anthony. As consequências da Modernidade – Oeiras: Celta

Editora, 1998

GOTTIENER, Mark; HUTCHISON, Ray. The New Urban Sociology-

Boulder, Colorado: Westview Press, 2006

PINTO, José Fernando Rodrigues Alves. Comércio Tradicional: análise e

estratégias de desenvolvimento – Guimarães: Edição do GTSG, 1997

SILVA, Augusto Santo; PINTO, José Madureira. Metodologia das Ciências

Sociais- Porto: Edições frontamento, 2009

ULRICH, Beck. Risk Society: towards a new modernity- London: Sage,

1992

16

http://www.priberam.pt/DLPO/alfarrabista, acedido a 19 de Novembro de

2013

http://www.sagepub.com/upm-data/24736_

Chapter2.pdf, acedido a 8 de Novembro de 2013

http://www.priberam.pt/dlpo/bibli%C3%B3filo, acedido a 21 de Novembro

de 2013

17

Anexos

18

Guião da Entrevista

O caso da Nova Ecléctica e da Livraria Campos Trindade

Qual é a origem da loja? Quem foi o fundador(a)? (ano)

O que individualiza mais esta loja? (características

fundamentais)

Actualmente qual é o público-alvo a que se destina?

Que tipo de literatura predomina na loja?

O que é ser um alfarrabista?

Que tarefas tem a desempenhar?

Quais foram as dificuldades que encontrou ao longo desta

sua experiência enquanto alfarrabista?

Qual foi para si o momento mais marcante?

Que diferenças são visíveis entre o passado e o “agora” ou

seja, que aspectos do passado mudaram comparando com o

presente? (questão de vendas)

19

Existem períodos mais negros nas vendas? Se sim, qual a

origem dos mesmos?

Sente competitividade? Se sim, a que nível e de quem?

Apesar de oferecem produtos ligeiramente diferentes,

sente que as grandes superfícies são uma dificuldade para

este comércio?

Qual é a época mais propícia para o negócio?

Que projecções tem neste momento para o futuro da loja?

Considera que a loja, face às grandes transformações

tecnológicas, precisa de se tornar mais moderna?

Que políticas públicas considera pertinentes no apoio a este

comércio tradicional?