os alfarrabistas de hoje que desafios
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Os alfarrabistas de hoje: que desafios?
O caso da Nova Ecléctica e da Livraria Campos Trindade
Resumo:
Como é que os alfarrabistas enfrentam as novas formas de comercialização
do livro? O que terá mudado? Que desafios enfrentam nos dias de hoje,
num mundo praticamente globalizado e modernizado?
São perguntas preciosas para que possamos compreender uma parte da
realidade destas lojas tradicionais. Para tal, será usado um estudo de caso
comparativo em duas lojas da zona Baixa-Chiado: a Nova Ecléctica e a
Livraria Campos Trindade.
Palavras-chave: Globalização / modernização, comércio tradicional, livro
Docente: Paulo Castro Seixas
Aluno: Fábio Malheiro Gomes, nº214772
1
Índice
Introdução……………………………………….p.2
Contexto teórico:………………………………..p.4
Metodologia …………………………………….p.7
Apresentação de Dados empíricos …………….p.8
Considerações finais…………………………….p.13
Bibliografia………………………………….......p.15
Anexos…………………………………………..p.17
2
Introdução
O trabalho incide, de uma forma geral, sobre o comércio tradicional (mais à
frente explicarei o que se entende sobre o comércio tradicional), mais
especificamente, do livro. E como alvo de estudo escolheram-se dois
alfarrabistas da baixa de Lisboa, a saber: A Nova Ecléctica e a Livraria
Campos Trindade. O trabalho consiste num estudo de caso comparativo,
recorrendo a duas entrevistas aos funcionários destas mesmas lojas.
Pretende-se compreender um pouco melhor este mundo do comércio do
livro. O serviço que é prestado pelos alfarrabistas. O que são? O que
fazem? Para quem servem? Que dificuldades enfrentam nos dias de hoje?
São estas questões, a meu ver, fulcrais, que devemos fazer para que
possamos compreender melhor esta realidade.
O leitor poderá questionar-se sobre a pertinência destas questões. Que
interesse tem aprofundarmos o conhecimento sobre a vida/profissão de um
alfarrabista? Isso é coisa do passado, até a própria palavra para muitos pode
soar estranha e desconhecida. Em parte, o trabalho tem mesmo esse
propósito: a) dar a conhecer o que significa a própria palavra; b) que valor
está associado à profissão alfarrabista e, claro, num segmento mais prático,
c) criar condições para que futuramente se possa exercer um trabalho/um
projecto de forma a estimular este campo profissional, ou seja, a criar
políticas urbanas que possam ajudar este tipo de negócio a ser reconhecido
por esta nova sociedade das tecnologias.
Considero importante informar a minha posição em relação ao tema, para
que o leitor, à medida que vá lendo o trabalho, tenha em consideração o
meu posicionamento e que vá tirando as suas próprias conclusões, pois
3
assim saberá as bases em que o conhecimento é produzido. Deste modo,
devo esclarecer que antes de produzir esta investigação nunca tinha tido um
contacto directo com qualquer loja/funcionário/dono de uma alfarrabista
(exceptuando, talvez, a feira da Ladra, mas enfim, esta pode ser para
muitos considerada grosseira e marginal). De certa forma, não conhecia
rigorosamente nada deste universo, era algo desconhecido, não por ter falta
de interesse, mas porque nunca tive a necessidade de recorrer a este tipo de
comércio.
Assim, informa-se o ledor que, partindo de um conhecimento incipiente
neste campo, foi-se desconstruindo, ao longo desta investigação, vários
preconceitos, como por exemplo, a ideia de que as grandes superfícies
competem com os alfarrabistas na questão de livros. Como o leitor se
poderá aperceber, as grandes alfarrabistas não ganham terreno por ter uma
vastidão de livros relativamente recentes. Ganha sim, devido à falta de
interesse pelos próprios livros e por o que é antigo, raro e colecionável.
Sinto-me na necessidade, para que não haja espaço para dúvidas, de alertar
o leitor que este trabalho não pretende de forma alguma fazer qualquer tipo
de generalização ao mundo dos alfarrabistas. Pretende sim, como disse
anteriormente, compreender um pouco melhor, claro tendo em
consideração a minha forma de olhar para os mesmos, a realidade destes
comerciantes que adoram o livro.
4
Contexto Teórico
A palavra alfarrabista significa “pessoa que coleciona alfarrábios ou que
com isso constrói negócio”1, isto é, coleciona livros antigos, normalmente
de grandes dimensões (os calhamaços)2. este negócio constitui uma forma
de um comércio tradicional na medida em que não se enquadra nas grandes
superfícies.3 Antes de fazer a distinção entre o comércio tradicional e
moderno, é importante saber qual é afinal o significado de comércio.
Comércio é toda a actividade que se realiza com carácter profissional e ao
qual cabe a função de disponibilizar as mercadorias ao consumidor, sendo
este constituído por pessoas, empresas ou mesmo instituições.4
A distinção mais clara que se pode estabelecer entre um comércio
tradicional e moderno é que o primeiro é retalhista, ou seja, vende a retalho
os bens, novos ou usados, que por vezes são únicos e não geram stocks,
pois o objectivo é escoá-los5. O segundo diz respeito à venda grossista, ou
seja, vendas em grandes quantidades, numa óptica armazenista6, haver mais
do mesmo. Nesta perspectiva as grandes superfícies pertencem ao comércio
moderno e as pequenas ao domínio do tradicional, onde a organização é
bastante mais informal no que toca à relação estreita e íntima que estes
comerciantes estabelecem com os seus clientes e onde por vezes existe
grande dependência em relação a terceiros (nomeadamente à Banca).7 Já
1 http://www.priberam.pt/DLPO/alfarrabista, acedido a 19 de Novembro de 2013
2 http://www.priberam.pt/DLPO/alfarr%C3%A1bios, acedido a 19 de Novembro de 2013
3 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.29
4 José Fernandes, Herculano Cachinho e Carlos Ribeiro, Comércio tradicional em Contexto Urbano:
Dinâmicas de Modernização e Políticas Públicas, 2000, pp.9 5 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.30
6 José Fernandes, Herculano Cachinho e Carlos Ribeiro, Comércio tradicional em Contexto Urbano:
Dinâmicas de Modernização e Políticas Públicas, 2000, pp.9 7 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.29
5
nas grandes superfícies a estratégia utilizada é a “(…) diversidade dos
produtos, o preço, e a produtividade(…)”8
A tendência mostra que, as grandes superfícies têm conseguido ganhar
terreno face às pequenas, tanto em número de lojas como valores de
vendas9. Este processo pode ser explicado, entre vários factores, pelo
processo de globalização, decorrente da modernização10
, e pelo fluxo de
capitais que lhe está associado. Mas numa visão mais económica e política,
a função urbana destas lojas tradicionais alfarrabistas está em perigo face à
crescente especulação da comercialização banal do livro. Em certa parte, a
responsabilidade é das editoras e das grandes superfícies que utilizam o
livro e a cultura livresca para vender mais, desprezando, por completo,
qualquer tipo de valor de uso ou de identidade. A título de exemplo, hoje
em dia as editoras produzem numa primeira edição milhares de exemplares.
Desta forma, torna-se impossível que estes livros venham a valorizar a
médio ou longo prazo.
Disto pode propor-se o seguinte paradigma: existem duas grandes formas
de se lidar com o livro: i) os que são bibliófilos, ou seja, amantes dos livros
e que os colecionam11
; ii) e os que fazem parte da bibliomercadoria, ou
seja, servem-se do livro para uma comercialização rude, sem possuir a tal
cultura de uso. Para estes, o livro tem unicamente um valor de
troca/instrumental, o que é signaficativo é vender às massas e em grandes
quantidades, encontrando-se destituído de toda a sua essência que é o valor
histórico-cultural em si. O mercado passa a estar ao serviço desta cultura de
massas. Pode-se então verificar uma „tensão de risco‟12
entre os que vêm o
8 José Pinto, Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de Desenvolvimento, 1997, pp.30
9 Ver quadros das páginas 30 e 31 do livro Comércio Tradicional: Análise e Estratégias de
Desenvolvimento, 1997 de José Pinto 10
Anthony Giddens, As Consequências da Modernidade, 1998, pp.44 e 45 11
http://www.priberam.pt/dlpo/bibli%C3%B3filo, acedido a 21 de Novembro de 2013 12
Conceito inspirado no autor Ulrich Beck em Risk Society: towards a new modernity, London, 1992
6
livro como cultura de uso e os que o vêm como cultura de valor de troca,
usando-o como temática de mercadoria cultural. Entenda-se que o que está
em risco é a importância e o valor que o livro tem, o que inevitalvemente
coloca em causa o trabalho dos alfarrabistas, pois se não existem bibliófilos
não faz sentido existirem estas lojas.
Portanto, todo o paper debaterá estas duas perspectivas, nomeadamente, na
apresentação dos dados empíricos, onde se poderá comprovar, em respostas
dos entrevistados, estes pontos de vista propostos.
7
Metodologia
Os dados empíricos recolhidos são de duas entrevistas a funcionários das
lojas alfarrabistas: A Nova Ecléctica e a Livraria Campos Trindade.13
O trabalho baseia-se num estudo de caso comparativo de duas entrevistas
semi-directivas, podendo considerar-se uma amostra não probabilística
intencional, na medida em que recorri a lojas que estão mais próximas de
mim e que aceitaram colaborar para este trabalho. Contudo, considerei que
estas duas lojas poderiam representar simbolicamente os alfarrabistas.
A informação que foi recolhida a partir destas entrevistas foi tratada de
uma forma analítica/comparativa, em que se confronta e analisa as
respostas dos entrevistados. Das questões formuladas, procedeu-se a uma
construção de Categorias, em que se associa essas perguntas a tópicos, a
planos gerais do que retratavam essas mesma perguntas, de forma a tonar
mais percetível a sua análise, saber o que estamos analisar. Desta forma, as
perguntas foram divididas em quatro categorias. Umas que dissessem
respeito às características da própria loja (C1-Especificidades da loja);
outras sobre o que é para os entrevistados ser um alfarrabista (C2-Ser
alfarrabista); que dificuldades estão associadas a esta profissão (C3-
Desafios) e finalmente, que projecções existem para o futuro da loja e deste
comércio (C4- Perspecitvas Futuras).1415
13 O guião destas entrevistas pode ser consultado na secção dos Anexos
14 Augusto Santo Silva; José Madureira Pinto. Metodologia das Ciências Sociais, 2009, pp.101-
113
15 http://www.sagepub.com/upm-data/24736_Chapter2.pdf, acedido a 8 de Novembro de 2013
8
Apresentação de Dados Empíricos
Como referido anteriormente o conteudo das entrevistas foi dividido em
quatro categorias16
,a saber; C1-Especificidades da loja; C2-Ser alfarrabista;
C3-Desafios; C4- Perspecitvas Futuras. Estas são as categorias que estão
presentes nas questões17
feitas aos funcionários das lojas alfarrabistas. Para
a C1 estão associadas as Q1,2,3,4; C2: Q5,6,8; C3: Q 7,8,10,11,12,13; C4: Q
14,15,16.
C1 Especificidades da loja
A Entrevista 118
revela que a loja pertence aos anos 70, tem a
especificidade de ter em conta os preços e pela sua antiguidade possuir
clientes fixos, “(...) uma carteira de clientes relativamente extensa e
fiel(...)”, com uma grande capacidade de reposição de stocks. Não possui
um alvo especifico, pelo contrário, existem “(...) vários targets(...)
desde(...) clientes com uma faixa etária mais elevada (...) que são
coleccionadores e procuram livros de história, etc., até (...) como também
estudantes(...) mais jovens(...) à procura de livros mais baratos(...)”. Existe,
então, variados livros, com vários preços, para variados clientes, inclusive,
graças à posição da loja é frequentemente visitada por turistas, “(...) esta
zona aqui é muito turística(...)”. Da mesma forma que não existe um
público alvo, também não possui uma gama de livros especifica, “(...) nós
vendemos todo o tio de livros(...)”, embora, e o entrevistado faz a resalva,
16
Daqui para frente será representado por “C” as categorias que representam determinadas questões aos entrevistados 17
Daqui para frente será representado por “Q” questões feitas aos entrevistados que poderão ser vistas no Guião das Entrevistas presente no Anexo 18
Daqui para frente será representado por “E” a entrevista, sabendo que existem apenas duas entrevistas.
9
existam certas áreas mais específicas que não possuem como por exemplo,
“(...) coisas mais, vá, religiosas, coisas de direito(...)”.
Já na Entrevista 2, a loja tem origem nos anos 90 e tem como característica
principal possuir livros antigos, raros e preciosos – “nós gostamos mais de
trabalhar com livros antigos e com livros raros e com... com...
preciosidades”. Tal como a primeira loja, não tem um alvo ou um tipo de
livros específicos. São considerados potenciais clientes “todos os que
gostem de livros (...) toda a gente que tem um livro na mão é um potencial
cliente nosso”, assim como, “(...) temos ser o mais eclécticos possivel.
Portanto, não temos um assuntos alvo(...) somos ecléticos”.
C2 Ser alfarrabista
Para o entrevistado da E1, ser alfarrabista passa por ser um intermediário,
ajudar a fazer o “casamento” entre as pessoas que já não querem
determinado livro levando-o até àqueles que poderão ser potenciais
interessados em possuir esse mesmo livro. “ (...) alguém que medeia este,
este circuito, não é? Esta coisa de ir buscar livros a sítios, a umas mãos para
os levar até outras”. O alfarrabista, segundo o entrevistado, passa
constantemente por um processo de aprendizagem sobre os vários livros
que lhe passam pelas mãos, incluindo outros processos, como por exemplo,
o trabalho de “ (...) catalogar, o trabalho de ir comprar, o trabalho de fazer a
avaliação”. Para este alfarrabista, o momento mais marcante na sua
profissão foi descobrir livros de primeira edição, “(...) a primeira edição da
Mensagem, do Fernando Pessoa, é um momento especial, ter um livro
como esse nas mãos(...)”, mas também é marcante, refere o entrevistado, o
constante contacto com a efemeridade da vida, ou seja, “(...) as pessoas vão
e os livros ficam(...) a proximidade com essa partida, dessas pessoas, acho
que é parte que mais me marca na profissão”.
10
O entrevistado da E2 não difere muito deste na questão do momento
marcante, pois para este o momento mais marcante foi o contacto com
livros de primeira edição, nomeadamente o “(...) o prazer da folhear uma
primeira edição d‟Os Lusíadas”. No entanto, para este, ser alfarrabista
passa mais por um sistema de relação intima com o livro, “(...) uma
relação,vá, de amigo com os livros(...), tal como, uma relação estreita com
os seus clientes, “(...) antes de serem clientes são amigos”. (aqui pode ser
verificável a tal relação que existe no típico comércio tradicional, uma
relação muito próxima entre o vendedor e o seu cliente).
C3 Desafios
O entrevistado da E1 revela que os desafios que tem enfrentado, enquanto
alfarrabista, são variados, desde a sensação de sentir-se esmagado “(...)pela
dimensão do universo”, que são os livros, até à notável diminuição na
adesão a estas livrarias, explicando que “(...) há muita gente que em
contexto de crise, enfim, compra menos(...)”. O entrevistado inclusive dá o
exemplo de que, há cinco anos atrás, quando abria a loja, tinha “ (...)
sempre duas ou três pessoas à espera (...) ”, hoje em dia, está muitas das
vezes até à hora de almoço (12h) e “ (...) não aparece ninguém (...) ”.
No entanto, este não se sente intimidado pelas grandes superfícies, pois não
fazem concorrência com os alfarrabistas “ (…) as pessoas que gostam dos
alfarrabistas (…) não deixam de vir aos alfarrabistas por causa das grandes
superfícies”, pois “ (…) isto é uma coisa completamente diferente”. Uma
das razões apresentadas para estas afirmações é o facto de que, quem vem a
estas lojas, nem sempre sabe do que vem à procura é o “ (…) ver o que
aparece (…) vir à procura do tesouro (…) ”
Para o segundo entrevistado, os momentos mais difíceis resumem-se
essencialmente a dois: inicialmente foi a “(…) dificuldade em arranjar
11
pessoas…(…) e de fidelizar os clientes aqui” ; actualmente, o grande
problema com que se depara este comerciante é o facto de haver cada vez
menos pessoas que tenham interesse nesta área, “ (…) mostrar às pessoas
que isto é uma área interessante (…) ”. Como tal, considera que mudou
muitas coisas, tais como “ (…) os interesses, mudaram os clientes (…)”,
havia inclusive “(…) uma classe de clientes que eram os estudiosos que
desapareceram (…)”
Tal como na primeira entrevista, este acredita que as grandes superfícies
não têm comparação com as lojas tradicionais de venda de livros,
argumentando que nenhuma grande superfície vai ter um livro tão especial
como os que estas lojas vendem, “ (…) Que grande superfície é que vai ter
um livro do século XVIII, ou um livro do século XVI, ou livros do século
XV? (…)”
De uma forma interessante, o entrevistado argumenta que as pessoas que
compram “ (…) livros da Bertrand e compram livros da Fnac para ler, é ler
e deitar fora (…)”. Já os livros adquiridos na sua livraria, e desse ramo, têm
dois objectivos: “ (…) colecionar e investir”. Aqui o investimento consiste
em comprar um livro do século XVII, e que hoje valhe 1000 euros, por
exemplo, e depois de amanhã poderá valer 1020, “(…) em vez de ter o
dinheiro no banco tem o dinheiro investido em livros.”
As duas épocas menos propícias ou mais fracas para negócio, e isto é
válido para ambos os casos, reflecte-se no mês de Dezembro, apresentado
como razão a altura de as pessoas comprarem outros produtos para prendas
de Natal e o Agosto, altura em que a maior parte está de férias.
12
C4 Perspecitvas Futuras
Como projecções futuras para a loja, o primeiro entrevistado declara que
existe um esforço adaptativo, “(…) temos de nos adaptar aos tempos (…)”,
ao que ele chama o “mercado global”. Para isso, estão empenhados em
iniciar as vendas através da internet, no entanto, para o funcionário, a nível
de obras a nível da estrutura da loja, “não faz de todo sentido abandonar
esta identidade. O aspecto antigo de livraria antiga”.
Quando questionado sobre que políticas públicas achava pertinentes para o
fomento deste comércio, o mesmo não soube responder a esta pergunta,
sugerindo, como possibilidade, a diminuição da carga fiscal, mas, na teoria,
não conseguia encontrar nada que pudesse ser um incentivo, apenas sentia
que a zona de implantação do negócio “(…) precisa de ser cuidada (…)”
Já o segundo entrevistado, de uma forma um pouco diferente, não possuía
quaisquer projecções no que diz respeito a mudanças na loja ou nas vendas,
apenas “(…) continuar dentro da área”, e investir na publicidade , “(…) nós
temos um site que seve única e exclusivamente como publicidade”.
Já no que toca a políticas públicas, este considera que a Câmara já faz
algumas coisas, como por exemplo, feiras. Mas sente falta de uma
associação que os represente efectivamente. Apesar de esta existir, está “
(…) completamente ao abandono (…)”. Também acha que seria
interessante haver uma feira de alfarrabistas, “ (…) mas uma coisa à séria
(…) ”.
13
Considerações finais
Desde logo considero pertinente analisar as restrições encontradas na
investigação. Como qualquer trabalho existem certas limitações e este não
é execpção. Considero que o meu universo que estudei deveria ter sido
mais alargado, mas por motivos de tempo e disponibilidade não foi
possível alargar o meu estudo e de modo a ter uma variedade de casos.
Algo que posso sugerir que se faça num futuro trabalho, indo ao encontro
do que mais à frente enunciarei como possíveis hipóteses de investigação e
projectos.
Depois de analisar as respostas e fazer um plano geral das mesmas, pode-se
concluir que existem essencialmente dois problemas para estes
alfarrabistas: a falta de interesse neste ramo, que é a bibliofilia, e o fraco
empenhamento dos políticos e talvez até mesmo dos próprios alfarrabistas,
em criar políticas para fomentar este comércio.
Desta forma, pode-se propor a seguinte hipótese: estarão os bibliófilos
destinados a cederem a uma venda orientada para as massas?
É uma hipótese a ser testada junto dos mesmos, porque deve fazer-se
também a seguinte pergunta: estarão os alfarrabistas dispostos a mudar, de
alguma forma, o seu antigo método, que parece não ajudar no negócio
somando à significativa redução de clientes e o interesse destes? Deveria
haver uma abertura a um mercado mais alargado e não apenas local? Até
que ponto as políticas culturais favorece este negócio?
A minha proposta para o fomento deste negócio é a seguinte: visto tratar-se
de alfarrabistas da Baixa de Lisboa, sítio que é intensamente frequentado
14
por turistas, seria decerto inovador experimentar jogar com esta situação.
Criar um roteiro dos livros. Ou seja, seria criado um mapa com todas as
lojas que decidissem aderir, integrando-se nesta iniciativa numa política
mais vasta de turismo cultural, aqui com uma vertente. Neste roteiro seria
contado aos turistas um pouco da história de cada loja, as suas
características, as suas especificidades. Assim, seria vendido, aos turistas,
com um preço simbólico, um panfleto com o roteiro de cada loja.
Decerto que, numa fase inicial, as vendas não aumentariam
significativamente, mas pelo menos, as visitas a estas lojas teriam um
incremento e isso já seria um início. Pois, como podem os turistas visitar
estas lojas e comprar se nem sequer têm a informação presente/local que
estas existem? É preciso “conduzir” os turistas a estes sítios, de forma a dar
conhecimento dos mesmos.
Terá muita eficácia? Não sabemos neste momento responder à pergunta. É
um plano que se deixa em aberto para quem o deseje tentar futuramente.
15
Bibliografia
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Lisboa: ed. Presença, 1984.
ENGELS, Friedrich. A situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra-
Porto: Afrontamento, 1975
FORTUNA, Carlos. Cidade, cultura e globalização: ensaios de sociologia-
Oeiras: Celta Editora, 1997
FERNANDES, José Alberto V. Rio, 1958-; CACHINHO, Herculano A. P.,
co-autor; RIBEIRO, Carlos Valentim, co-autor; FERNANDES. Comércio
Tradicional em Contexto Urbano: dinâmicas de modernização e políticas
públicas: relatório final – Porto: Cadernos GEDES-UP, 2002
GIDDENS, Anthony. As consequências da Modernidade – Oeiras: Celta
Editora, 1998
GOTTIENER, Mark; HUTCHISON, Ray. The New Urban Sociology-
Boulder, Colorado: Westview Press, 2006
PINTO, José Fernando Rodrigues Alves. Comércio Tradicional: análise e
estratégias de desenvolvimento – Guimarães: Edição do GTSG, 1997
SILVA, Augusto Santo; PINTO, José Madureira. Metodologia das Ciências
Sociais- Porto: Edições frontamento, 2009
ULRICH, Beck. Risk Society: towards a new modernity- London: Sage,
1992
16
http://www.priberam.pt/DLPO/alfarrabista, acedido a 19 de Novembro de
2013
http://www.sagepub.com/upm-data/24736_
Chapter2.pdf, acedido a 8 de Novembro de 2013
http://www.priberam.pt/dlpo/bibli%C3%B3filo, acedido a 21 de Novembro
de 2013
18
Guião da Entrevista
O caso da Nova Ecléctica e da Livraria Campos Trindade
Qual é a origem da loja? Quem foi o fundador(a)? (ano)
O que individualiza mais esta loja? (características
fundamentais)
Actualmente qual é o público-alvo a que se destina?
Que tipo de literatura predomina na loja?
O que é ser um alfarrabista?
Que tarefas tem a desempenhar?
Quais foram as dificuldades que encontrou ao longo desta
sua experiência enquanto alfarrabista?
Qual foi para si o momento mais marcante?
Que diferenças são visíveis entre o passado e o “agora” ou
seja, que aspectos do passado mudaram comparando com o
presente? (questão de vendas)
19
Existem períodos mais negros nas vendas? Se sim, qual a
origem dos mesmos?
Sente competitividade? Se sim, a que nível e de quem?
Apesar de oferecem produtos ligeiramente diferentes,
sente que as grandes superfícies são uma dificuldade para
este comércio?
Qual é a época mais propícia para o negócio?
Que projecções tem neste momento para o futuro da loja?
Considera que a loja, face às grandes transformações
tecnológicas, precisa de se tornar mais moderna?
Que políticas públicas considera pertinentes no apoio a este
comércio tradicional?