o impacto do pt no sistema partidário: alinhamentos, arranjos políticos e movimentação de elites...

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Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário.... 1 O impacto do PT no sistema partidário: O impacto do PT no sistema partidário: O impacto do PT no sistema partidário: O impacto do PT no sistema partidário: alinhamentos, arranjos políticos e movimentação de elites em torno do eixo petista Rachel Meneguello Rachel Meneguello Rachel Meneguello Rachel Meneguello Universidade de Campinas Universidade de Campinas Universidade de Campinas Universidade de Campinas 1 1 1ª versão ª versão ª versão ª versão Paper preparado para o Workshop The PT from Lula to Dilma: The PT from Lula to Dilma: The PT from Lula to Dilma: The PT from Lula to Dilma: Ex Ex Ex Explaining Change in the Brazilian Worker’s Party plaining Change in the Brazilian Worker’s Party plaining Change in the Brazilian Worker’s Party plaining Change in the Brazilian Worker’s Party Brazilian Studies Programme, University of Oxford, 27 de Janeiro de 2012

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Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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O impacto do PT no sistema partidário: O impacto do PT no sistema partidário: O impacto do PT no sistema partidário: O impacto do PT no sistema partidário: alinhamentos, arranjos políticos e movimentação de elites em torno do

eixo petista

Rachel MeneguelloRachel MeneguelloRachel MeneguelloRachel Meneguello Universidade de CampinasUniversidade de CampinasUniversidade de CampinasUniversidade de Campinas

1111ª versãoª versãoª versãoª versão

Paper preparado para o Workshop The PT from Lula to Dilma:The PT from Lula to Dilma:The PT from Lula to Dilma:The PT from Lula to Dilma:

ExExExExplaining Change in the Brazilian Worker’s Partyplaining Change in the Brazilian Worker’s Partyplaining Change in the Brazilian Worker’s Partyplaining Change in the Brazilian Worker’s Party

Brazilian Studies Programme, University of Oxford, 27 de Janeiro de 2012

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

2

IIIINTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃO

Não é necessário mencionar a importância do Partido dos Trabalhadores para a

construção democrática brasileira. Como resultado da articulação de sujeitos políticos

mobilizados no terreno dos movimentos sociais, o PT tornou-se uma dos principais protagonistas

das mudanças da política nacional, foi decisivo para as transformações da concepção de

esquerda, inserindo o conceito de socialismo democrático na esquerda brasileira, e sua atuação

teve inquestionável impacto na correlação de forças na America Latina. Desde seu surgimento,

seu desenvolvimento organizacional foi notável. De seu primeiro experimento eleitoral em 1982

às eleições gerais de 2010, a bancada de deputados federais cresceu de 8 para 88, de 13

deputados estaduais no país para 149, de 1 Senador eleito em 1990 para 13 Senadores. Ao nível

local, seu crescimento foi ainda mais destacado: de 2 prefeituras conquistadas em 1982 o partido

passou a governar 558 municípios em 2008, e de 118 cadeiras de vereadores no país, passou a

4.162 na última eleição local. Em 25 anos, o partido construiu bases organizativas capazes de

apresentar à disputa eleitoral mais de 35 mil candidatos no país em eleições locais, e mais de 1.200

candidatos em eleições gerais.

A trajetória exitosa constituída através ciclos de vida e fases de desenvolvimento,

como a evolução do movimento social ao partido, o ingresso e a ocupação dos espaços do

parlamento em distintos níveis, a conquista de cargos executivos e, em específico, a conquista do

executivo nacional em 2002 trouxe, por sua vez, conseqüências importantes para o partido,

dentre as quais destaco a moderação ideológica. A mudança de postura frente à política de

alianças já na campanha presidencial de 1994, ampliando o arco de forças para setores dissidentes

das agremiações de centro e centro-esquerda, inseriu definitivamente o partido no campo da

disputa política. Os sucessivos testes eleitorais e as derrotas nas eleições presidenciais de 1994 e

1998 levaram o partido a mudar definitivamente sua rota inicial, transformando seu perfil

originalmente sectário e sua estratégia política restritiva, em favor da ampliação das bases

eleitorais, da inclusão no jogo político e da sua viabilização como força governante

(MENEGUELLO e AMARAL, 2010). Até onde essa decisão comprometeu o perfil original do

partido? Em que medida as decisões estratégicas e as mudanças de direção afetaram sua

organização, aproximando-o das demais legendas do quadro partidário brasileiro?

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

3

Vários trabalhos têm analisado as mudanças do PT em âmbitos diversos. Apenas

para mencionar os mais importantes trabalhos críticos recentes, Wendy Hunter (2010) chama a

atenção para o processo de normalização do partido, a transformação da agenda de defesa do

socialismo e a diminuição da ênfase na participação da sociedade como traços de sua

desradicalização; Pedro Ribeiro (2010) aponta a guinada em direção à profissionalização eleitoral

e à dependência do estado, transformando em definitivo o modelo de organização original. Em

trabalho também recente, mas apontando em outra direção, Oswaldo Amaral (2010) analisa

aspectos da organização interna partidária, focalizando notadamente as lideranças

intermediárias, e conclui pela evolução híbrida, em que as mudanças advindas do ingresso no

terreno da disputa política combinaram-se à manutenção dos vínculos societários, que marcam a

diferença do partido desde seu início, assim como à preservação do desenho institucional

inclusivo que ainda incentiva a atividade partidária extra-eleitoral.

O partido, de fato, redefiniu a priorização de seus objetivos, abriu-se aos

incentivos do sistema político brasileiro e transformou seu perfil original, adequando-se a um

eleitorado de massa pouco ideológico. Nessa direção, mesmo as visões distintas sobre a evolução

do PT consensualmente reconhecem os efeitos que as imposições da disputa para a conquista do

poder executivo nacional em 2002 apresentaram ao partido, colocando-o frente à lógica da

composição, negociação e barganha política.

Tais concessões, no entanto, compreendidas pelo PT já nos anos 1990,

subsidiaram o partido a tornar-se um dos pólos de organização da política nacional. Desde a

década de 1990 PT e PSDB encabeçam o cenário bipartidário que coordena a política nacional,

quando os dois partidos passaram a conduzir as eleições presidenciais. A eleição presidencial é a

disputa organizadora do sistema político no país, e o posicionamento dos partidos nela

envolvidos confere sua condição de articuladores dos blocos políticos. Entre 1994 e 2010, as

candidaturas dos dois blocos concentraram mais de 2/3 das votações em primeiro turno das

eleições para presidente, conformando uma clivagem que veio tendo impacto crescente sobre as

disputas estaduais. A organização da competição pelos blocos encabeçados pelo PT e PSDB

ocorre com clareza nesse período para os cargos majoritários. Assim, em um cenário partidário

composto por 28 partidos, apenas oito legendas _ as principais de cada um dos blocos da disputa

presidencial_ encabeçaram as coligações vencedoras dos governos estaduais, na ultima eleição

geral de 2010(Limongi e Cortez, 2010; Meneguello, 2011).

As condições são distintas para as eleições proporcionais, marcadas por forte

fragmentação, mas de toda forma, como pólo da disputa, o PT veio exercendo o papel de

articulador de candidaturas, organizando inicialmente o bloco político-partidário de centro-

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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esquerda, mas também estendendo sua atuação para os terrenos ideológicos de centro e centro-

direita.

Assim, dois objetivos são desenvolvidos neste trabalho: conhecer aspectos da

capacidade organizativa do PT como organizador da disputa, e avaliar em que medida as

estratégias de articulação política estenderam as suas concessões ideológicas a limites mais

amplos do pragmatismo que marca sua trajetória recente.

1.1.1.1. Alianças e coligações: dAlianças e coligações: dAlianças e coligações: dAlianças e coligações: da moderação ao esgarçamento ideológicoa moderação ao esgarçamento ideológicoa moderação ao esgarçamento ideológicoa moderação ao esgarçamento ideológico

O primeiro ponto abordado neste trabalho está voltado para compreender o

alcance das concessões ideológicas do PT através do detalhamento das estratégias de alianças no

período, para as várias eleições desde a década de 1990. Os dados mostram que o movimento

para o centro político resultou em um esgarçamento considerável das concessões ideológicas1

iniciadas já nas eleições de 1998 e, no âmbito nacional, apenas não ultrapassou o limite óbvio que

o cenário bipartidário impõe aos dois principais partidos que encabeçam os blocos políticos _ PT e

PSDB.

A estratégia de ampliação de apoio pode ser observada em todo o período, mas

em 2010 o salto numérico torna-se evidente. Dados gerais do TSE2 mostram que entre 1998 e

2006, a maioria das coligações compostas pelo PT em eleições gerais (por volta de 60%), continha

até 4 partidos, e as grandes coligações com mais de 8 partidos ocorriam para apenas

aproximadamente 14% do total. Em 2010, mais de 42% de coligações em que partido participou

continham mais de 8 partidos.

Entre as eleições de 1998 e 2010, o PT foi o partido que mais realizou coligações

para eleições majoritárias e proporcionais, superando o numero de coligações do PMDB, PSDB e

DEM. Seus parceiros preferenciais foram o PCdoB e o PSB, mas o partido aliou-se com o mais

amplo conjunto de 29 legendas, apenas com as exceções dos pequenos partidos de esquerda,

PCO, PSTU e PSOL.

1 Para definir as concessões ideológicas tomo parcialmente as informações do continuum ideológico de

Power e Zucco (2009). O espectro adotado aqui e a organização dos dados utilizados considera os

seguintes blocos: esquerda_ PSTU PCO PSOL PCB; centro-esquerda_ PCdoB PSB PT PDT; centro_ PV PPS

PMDB PSDB; direita_ PTB PR PP DEM, além das pequenas legendas PAN; PGT; PHS; PMN; PRB; PRN;

PRONA; PRP; PRTB; PSC; PSD; PSDC; PSL; PST; PTC; PTdoB; PTN. 2 Os dados de coligações utilizados são provenientes das bases de dados do TSE para as várias eleições.

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

5

Vários pontos se destacam nos dados de coligações. A Tabela 1 mostra a

porcentagem de coligações realizadas pelo PT com a presença de algum partido do bloco

ideológico específico e o primeiro destaque é o distanciamento completo do partido das

pequenas agremiações à esquerda a partir de 2006 para as eleições gerais majoritárias e

legislativas. Cabe destacar que, até 2002, as coligações realizadas para eleições ao legislativo e ao

governo referem-se apenas a alianças feitas com o pequeno PCB. Entre 1998 e 2002, o PT coligou-

se 99 vezes com o partido, abrangendo todos os cargos, deputado estadual e federal, senado e

governo, além do fato que o PCB esteve presente na aliança para a Presidência da República em

1998 e 2002. Não é demais lembrar que, à exceção do pequeno PCB, todo o conjunto partidário

próximo à extrema esquerda tem origem em cisões e defecções do PT: PCO e PSTU são

originados de cisões trotskistas internas do partido ocorridas nos anos 1990, e no caso do PSOL, a

legenda constituiu-se a partir de parlamentares petistas dissidentes logo no inicio do primeiro

governo Lula em 2003, motivados pelas ações de governo, sobretudo pela reforma da

previdência. No entanto, esse campo, possui um tamanho político e eleitoral muito pequeno,

apenas o PSOL obtém no período alguma representação parlamentar em nível estadual e federal.

Apenas a título de ilustração, a soma de votos dos candidatos à presidência do PSOL, PCB, PCO e

PSTU apresentados à eleição de 2010 chegou a 1,15% do total de votos do país (MENEGUELLO,

2011).

Os dados de coligações deixam claro o papel do PT na articulação do bloco de

centro-esquerda, e que responde inicialmente, em 1998 e 2002, à ampliação do arco de alianças

definido pelo partido para conquista do governo federal; a partir de 2006, resulta também do

alinhamento de forças pró-governo. Assim, a quase totalidade de coligações contraídas pelo PT

para todos os cargos em 2002 tinha a presença de partidos desse bloco, uma situação

praticamente repetida em 2006. Esse dado fica nítido na Tabela 2, que mostra a proporção de

coligações comandadas pelo PT para cargos majoritários, em que há um expressivo domínio do

partido nas coligações para governos estaduais e senado. O parceiro constante do PT nesse

bloco é o PC do B, com quem o partido realizou o maior numero de coligações para todos os

cargos em todo o período.

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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Tabela 1. Porcentagem de coligações com a presença do PT e a presença de partido(s) de cada um dos blocos ideológicos

Cargo Esquerda Centro-Esquerda Centro Direita

Deputado Estadual 37,0 59,3 33,3 29,6 Deputado Federal 48,1 70,4 44,4 37,0

Governador 51,9 81,5 48,1 44,4

1998

Senador 52,0 84,0 52,0 48,0 Deputado Estadual 37,0 96,3 7,4 85,2 Deputado Federal 44,4 96,3 14,8 96,3

Governador 56,0 100,0 16,0 96,0

2002

Senador 48,1 92,6 14,8 88,9 Deputado Estadual 0,0 74,1 14,8 74,1 Deputado Federal 0,0 96,3 25,9 81,5

Governador 0,0 100,0 32,0 84,0

2006

Senador 0,0 96,0 32,0 80,0 Deputado Estadual 0,0 33,3 18,5 59,3 Deputado Federal 0,0 63,0 51,9 77,8

Governador 0,0 81,5 59,3 88,9

2010

Senador 0,0 81,5 59,3 88,9

Elaboração a partir de dados do TSE

Tabela 2. Porcentagem de coligações comandadas pelo PT, com a presença de partido(s) de cada bloco ideológico

Cargo Esquerda Centro-

Esquerda Centro Direita

Governador 56,3 75,0 43,8 31,3 1998

Senador 46,7 80,0 60,0 53,3

Governador 58,3 100,0 16,7 95,8 2002

Senador 40,0 86,7 20,0 86,7

Governador 0,0 100,0 22,2 88,9 2006

Senador 0,0 90,0 10,0 70,0

Governador 0,0 90,0 30,0 90,0 2010

Senador 0,0 60,0 20,0 80,0

Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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Os dados das coligações à direita são notáveis. A partir de 2002, o avanço do

partido para esse campo do espectro nas coligações majoritárias é crescente, e em 2010 o PT

encabeça 90% das coligações com a presença de algum partido de direita. Não estamos

certamente falando do DEM, que não consta em praticamente nenhuma coligação para eleições

majoritárias ou proporcionais entre 1998 e 2010 (Tabela3), mas dos partidos grandes

conservadores PTB, PP, e das várias pequenas legendas de direita que ocupam de forma

crescente as coligações realizadas pelo PT (Tabela 4). No caso das pequenas legendas, a parceria

com o PT já é significativa para todos os cargos desde 2002. Nesse caso, o PT realiza coligações

com 18 dos 19 pequenos partidos de direita no período, um movimento que reflete em parte,

estratégias eleitorais do PT para cargos proporcionais em contextos específicos, onde lideranças

e bases políticas estratégicas são associadas a legendas variadas, mas reflete também a

fragilização do bloco de oposição ao governo. Cabe ainda o destaque ao PL/PR, que ocupou a

candidatura à vice-presidência do governo petista em 2002 e 2006 (MAINWARING, MENEGUELLO

e POWER, 2000).

Tabela 3. Porcentagem de coligações com a presença do PT e determinado partido

Cargo PCdoB PSB PSDB PMDB DEM

Deputado Estadual 59,3 40,7 3,7 0,0 0,0

Deputado Federal 70,4 55,6 7,4 0,0 0,0

Governador 81,5 59,3 7,4 3,7 0,0 1998

Senador 84,0 64,0 8,0 4,0 0,0

Deputado Estadual 96,3 0,0 0,0 0,0 0,0

Deputado Federal 96,3 0,0 0,0 0,0 0,0

Governador 100,0 0,0 0,0 0,0 4,0 2002

Senador 92,6 0,0 0,0 0,0 0,0

Deputado Estadual 74,1 25,9 0,0 11,1 0,0

Deputado Federal 96,3 55,6 0,0 18,5 0,0

Governador 100,0 56,0 0,0 24,0 0,0 2006

Senador 96,0 56,0 0,0 20,0 0,0

Deputado Estadual 22,2 22,2 0,0 18,5 0,0

Deputado Federal 55,6 55,6 0,0 40,7 3,7

Governador 77,8 66,7 0,0 51,9 3,7 2010

Senador 77,8 66,7 0,0 51,9 3,7

Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

8

Finalmente, a parceria com os partidos de centro é tímida, comparado ao

movimento que ocorre à direita, e contempla notadamente as parcerias eventuais com o PMDB

em 2006, e o seu crescimento considerável em 2010, quando esse partido passa a ser parceiro da

chapa presidencial. O limite das coligações com partidos desse bloco também deve-se à presença

do PSDB que, embora tenha contraído algumas alianças com o PT em 1998, terá limites claros a

partir de 2002 refletindo em parte, o impacto da presidencialização dos arranjos políticos.

Tabela 4. Porcentagem de coligações feitas pelo PT com a presença de partido(s) grande(s) ou pequeno(s) de direita

Cargo

Grandes Partidos de Direita*

Pequenos Partidos de Direita**

Deputado Estadual 0,0 29,6

Deputado Federal 7,4 37,0

Governador 7,4 44,4 1998

Senador 8,0 48,0

Deputado Estadual 0,0 77,8

Deputado Federal 0,0 96,3

Governador 4,0 92,0 2002

Senador 0,0 85,2

Deputado Estadual 25,9 63,0

Deputado Federal 29,6 74,1

Governador 32,0 80,0 2006

Senador 28,0 80,0

Deputado Estadual 18,5 48,1

Deputado Federal 33,3 70,4

Governador 51,9 85,2 2010

Senador 51,9 85,2

*GPD: PFL/DEM; PP; PTB

**PPD: PAN; PGT; PHS; PMN; PRB; PRN; PRONA; PRP; PRTB; PSC; PSD; PSDC; PSL; PST; PTC; PTdoB; PTN

Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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No nível local os dados seguem a mesma tendência. A política local no país é

altamente fragmentada para todos os cargos em disputa, responde a formas distintas e variadas

de organização de elites, assim como responde a dinâmicas associadas aos processos de

urbanização e ao porte dos municípios. Desde as primeiras eleições municipais do período

democrático em 1988, o crescimento do número de prefeituras conquistadas por partidos de

esquerda e centro-esquerda é uma tendência constante, e embora em 2008 este bloco ideológico

tenha conquistado apenas 26% do total de 5.551 municípios do país, o salto em 20 anos foi muito

significativo, dado que em 1988, o número de municípios governados por partidos de esquerda

apenas ultrapassava pouco mais de 6% (LAMOUNIER e MARQUES, 1993; MENEGUELLO, 2008).

É sob um cenário de prefeituras majoritariamente dominado pelos partidos de

direita em todo o período que o PT procura ampliar seu desempenho eleitoral. Miguel e

Machado(2007) apontam que entre 2000 e 2004, a estratégia de capilarização do partido resulta

em uma ampliação significativa de sua exposição na disputa eleitoral, através da ampliação de

candidaturas em coligações e do arco de partidos das alianças constituídas.

Os dados de coligações mostram, no entanto que, ao nível local, o papel do PT na

organização do bloco de centro-esquerda não tem o mesmo desempenho encontrado nas

eleições gerais. Entre 2000 e 2004, quase não se altera a proporção de coligações em que o PT e

partidos de centro-esquerda figuram juntos (em 2000, 43,2%; em 2004, 46,2%), indicando uma

dinâmica de arranjos muito diferente do âmbito nacional, em que já desde as eleições de 2002 o

partido torna-se um eixo de articulação do bloco.

De fato, embora entre 2000 e 2008 o número de alianças de centro-esquerda para

prefeito encabeçadas pelo partido aumente, chega a apenas 40% das coligações no final do

período. As coligações específicas com seus parceiros regulares PCdoB e PSB são também pouco

numerosas, chegando em 2008 a 21,2% com o PCdoB e a quase 32% com o PSB. Os dados relativos

ao bloco à esquerda merecem apenas o registro de que, também ao nível local, a relação do PT

com essas organizações desde 2000 é mínima, e quase inexistente quando trata-se de coligações

para prefeito tendo o PT no comando.

Seguindo a tendência dos arranjos políticos para eleições gerais, os dados

mostram já desde 2000, o avanço do PT para os campos do centro e da direita para a ampliação

de sua capacidade eleitoral. O aumento da proporção de coligações com a presença de partidos à

direita é muito significativo, e evolui de 36% em 2000 para 77% em 2008 (Tabela 5.1). Em todo o

período, o comando do PT sobre coligações à direita é notável, 63,5% em 2000, 75,8% em 2004 e

76,2% em 2008 (Tabela 5.2).

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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No âmbito local, a parceria com partidos de direita grandes ou pequenos não se

distingue para o PT como ocorre ao nível nacional: a evolução do número de coligações com os

dois conjuntos de agremiações é semelhante, e o PT realiza em 2008 quase 55% de coligações em

que constam as maiores agremiações de direita. De fato, desde 2002 as alianças com PP e PTB

tornaram-se freqüentes para o partido em todos os níveis e, embora as limitações de alianças

com o PFL/ DEM sejam bem definidas em todo o período ao nível nacional, no nível local as

concessões crescem no decorrer das eleições, e em 2008, em 20% das coligações que incluíam o

PT, o DEM também esteve presente. A ampliação das concessões atinge também o PSDB nas três

eleições locais abordadas e, em 2008, em 23% das coligações que incluíam o PT, o PSDB também

esteve presente.

Tabela 5. Coligações para eleições locais (2000-2008)

5.1) Porcentagem de coligações para Prefeito com a presença do PT e a presença de partido(s) de cada um dos blocos ideológicos

Esquerda

Centro-Esquerda Centro Direita

2000 2,9 43,8 48,3 36,3

2004 2,2 46,2 59,1 62,3

2008 1,7 57,9 66,2 77,5

5.2) Porcentagem de coligações para Prefeito comandadas pelo PT, com a presença de partido(s) de cada bloco ideológico

2000 0,0 19,9 45,8 63,5

2004 0,3 30,3 53,2 75,8

2008 0,2 39,9 63,1 76,2

5.3) Porcentagem de coligações para Prefeito com a presença do PT e determinado partido

PCdoB PSB PSDB PMDB DEM

2000 13,8 21,8 16,6 25,9 7,1

2004 16,2 21,5 19,4 33,2 14,5

2008 21,2 31,9 22,8 38,1 20,0

5.4) Porcentagem de coligações para Prefeito com a presença do PT e a presença de partido(s) grande(s) ou pequeno(s) de direita

Grandes Partidos de Direita*

Pequenos Partidos de Direita**

2000 20,2 21,8

2004 42,3 32,3

2008 54,6 50,0

*GPD: PFL/DEM; PP; PTB; **PPD: PAN; PGT; PHS; PMN; PRB; PRN; PRONA; PRP; PRTB; PSC; PSD; PSDC; PSL; PST; PTC; PTdoB; PTN

Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

11

A forte fragmentação da política local é apenas parte da explicação para a

flexibilização ideológica do partido, levando-o a coligar-se com quase a totalidade das legendas. A

análise dos dados das coligações para os cargos em disputa nas eleições gerais de 2006 e 2010

mostra que, em função da movimentação de forças políticas para a reeleição do partido à

presidência nas duas eleições, as estratégias de combinação se multiplicaram e perderam todo

filtro ideológico. Fatores externos ao partido foram fundamentais para que o espaço a essa

movimentação fosse aberto, especificamente o enfraquecimento eleitoral dos partidos de direita,

notadamente o DEM, e a desorientação do PSDB em articular o eixo de oposição ao PT e ao

governo federal.

Essa estratégia geral do partido, por sua vez, esteve combinada ao aumento de

sua capilaridade e condições organizacionais para sua exposição na disputa eleitoral. Uma forma

de verificar a dimensão dessa capacidade é a análise da evolução do número de candidaturas

apresentadas e da manutenção dos quadros políticos na estrutura partidária. Esse é o segundo

ponto desse trabalho.

2.2.2.2. Capacidade organizativa: oCapacidade organizativa: oCapacidade organizativa: oCapacidade organizativa: oferta política e ferta política e ferta política e ferta política e retençãoretençãoretençãoretenção de quadros de quadros de quadros de quadros

Sabemos que partidos políticos têm como uma de suas principais funções

selecionar e lançar candidatos aos cargos públicos, atuando no processo de recrutamento das

elites políticas; mas poucos estudos têm se dedicado a entender a dinâmica e a capacidade de

recrutamento partidário, bem como o seu papel na organização da competição política de âmbito

nacional e local. O estudo desses dados possibilita, por um lado, identificar os recursos políticos

dos blocos ideológicos, na direção de compreender a sua consolidação; por outro, possibilita

conhecer o nível de consolidação das próprias estruturas partidárias que mobilizam incentivos

para os seus quadros. Entendemos que a manutenção de candidatos na estrutura partidária entre

uma eleição e outra é um indicador da capacidade desses incentivos.

Assim, o pertencimento partidário é um aspecto importante para os resultados

eleitorais, um ponto que responde a condicionantes institucionais externos e internos ao partido.

Com relação aos condicionantes externos, o sistema eleitoral tem papel central. O

sistema eleitoral de lista aberta, que rege as disputas proporcionais no Brasil, leva a que a eleição

de candidatos seja mais fácil para alguns partidos do que para outros, dado que o mínimo de

votos requerido para a eleição varia por partido e por estado da federação. Dessa forma, o

sistema estimula a migração de candidatos entre partidos, na busca de maiores chances

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

12

eleitorais, e resta aos ambientes partidários oferecerem os incentivos da permanência de

candidatos e quadros parlamentares. Aqui, destacamos três principais conjuntos de incentivos,

que são o acesso a recursos políticos advindos da posição de partidos no governo; os incentivos

ideológicos, próprios de estruturas mais organizadas, e as oportunidades eleitorais gerais das

agremiações na disputa.

Em todo o período analisado de 1998-2010, as condições institucionais legais não

são impeditivas da migração entre partidos, tanto para candidatos sem qualquer cargo prévio

(embora os partidos definam algum requisito de tempo de permanência prévio à eleição para

apresentação de candidatura), quanto para parlamentares em exercício. Para esse último caso, ao

contrário, o Brasil tem uma das mais altas taxas de migração partidária no Legislativo, e apenas

em 2011 a legislação partidária e eleitoral definiu a penalidade da perda de mandato de

parlamentares quando ocorre a troca de partido sem justa causa3.

Com relação aos condicionantes internos, a constituição de quadros políticos

responde às formas de inclusão dos filiados e membros no processo de seleção de candidatos. Os

estatutos partidários definem os critérios e regras para apresentação e aceitação de candidaturas,

um processo em geral resolvido pelas convenções partidárias. Nessa direção, à exceção do PT, e

tomando os demais quatro principais partidos PDMB, PSDB, DEM e PP, os estatutos não diferem

de forma significativa sobre e escolha dos candidatos do partido, sendo a convenção partidária o

lócus de homologação das candidaturas, estabelecidas na sua maioria sob um caráter inclusivo

dos filiados. O PT, por sua vez, estabelece critérios fundamentais aos filiados que almejam tornar-

se quadros de candidaturas, definidos a partir de envolvimento prévio no partido e do

cumprimento de obrigações específicas, como a filiação prévia de 1 ano, a contribuição financeira

obrigatória em dia com o partido e a adesão formal ao documento Compromisso do Candidato

Petista (Estatuto do PT, art.128)4. Essas condições, embora tenham como base procurar garantir

alguma representatividade dos candidatos junto aos filiados, fazem do processo de seleção de

candidatos do PT um dos mais excludentes do conjunto de partidos. Mas esse é também o traço

que o distingue das demais agremiações em termos organizacionais.

3 A título de informação, o Tribunal Superior Eleitoral reinstituiu, em 2011, o encaminhamento de criação

de partido como exceção à perda de mandatos de parlamentares migrantes. Isso possibilitou a criação de

um novo partido, o PSD, com a sua maioria formada por parlamentares saídos do DEM, além de deputados

de 15 outras legendas, inclusive o PT. Em novembro de 2011 o PSD constituía a 4ª maior bancada da

Câmara de Deputados. O sistema partidário possui atualmente 29 partidos registrados no TSE. 4 Ver Braga(2008) sobre processo de seleção de candidatos e definição de listas dos partidos paulistas à

Câmara Federal, e Perissinotto e Bolognesi (2009) sobre recrutamento do PFL e PT no Paraná.

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

13

Esse cenário torna os dados de movimentação de candidatos entre partidos5 no

período um valioso parâmetro para avaliar os incentivos partidários das agremiações, além de sua

capacidade de constituírem recursos políticos para organizar a disputa em jogo.

De fato, os dados de movimentação de candidatos entre partidos nas eleições

gerais de 1998 e 2010 mostram a forte capacidade de manutenção dos quadros de candidaturas

do PT no período. As Tabelas 6, 7 e 8 mostram que, entre 1998 e 2002, o partido reteve 93,4% de

suas candidaturas no partido; em seguida, manteve uma proporção menor entre as eleições de

2002 e 2006, mas ainda assim, a maior entre os partidos analisados (78,8%), e novamente

ultrapassou 90% das candidaturas mantidas entre 2006 e 2010. Levando-se em conta o PT e o

PSDB como pólos partidários que coordenam a política nacional no período, além de seu papel

como pólos de atração, os dados sugerem que o governismo não é o mais forte fator que move

os interesses dos candidatos entre uma eleição e outra. Entre 1998 e 2002, o PSDB, então

ocupando o governo federal, manteve apenas 57% de suas candidaturas, perdendo quadros para

23 legendas, sobretudo o PTB e PMDB (Tabela 6). O DEM, igualmente na coligação de governo,

manteve 61,7% de suas candidaturas, perdendo quadros para 24 partidos, sobretudo PTB e PMDB.

Entre 2002 e 2006, o PT já no governo federal tem êxito em manter quase 80% de

suas candidaturas. Nessa entressafra eleitoral, a perda de candidatos deveu-se,

fundamentalmente, à formação do PSOL e a consequente saída de quadros do partido. Mesmo

assim, é o partido que mais reteve candidatos, tanto comparado ao PSB, membro do mesmo

bloco ideológico, quanto comparado aos partidos conservadores PP e PTB, todos com menos de

50% de candidaturas mantidas entre uma eleição e outra. Uma análise geral das perdas de

candidaturas dos vários partidos entre essas duas eleições indica que uma das principais

motivações do movimento esteve na construção de recursos políticos do PSDB, para onde

migraram porcentagens significativas de candidatos do DEM, PP e PTB (Tabela7).

Em 2010, o PT volta a recuperar sua capacidade notável de manutenção de

quadros de candidatos, quase 92%, e no caso dessa eleição, a única perda mais importante deu-se

em direção ao PV, provavelmente através de quadros saídos do partido juntamente com a ex-

ministra do governo Lula, Marina Silva, candidata à presidência em 2010 pelo Partido Verde. As

demais agremiações também recuperam em parte a capacidade de manter suas candidaturas,

inclusive o PSDB, com 75% (Tabela 8).

5 Os dados são oriundos da base de dados de nomes e partidos de candidatos registrados em cada eleição

no TSE. A movimentação de candidatos resulta da identificação da origem e destino dos candidatos entre

eleições.

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

14

Cabe chamar a atenção para o pequeno movimento das candidaturas dos vários

partidos em direção ao PT nas eleições gerais nesse período. A movimentação, quando ocorre, dá-

se nos limites do bloco de centro-esquerda, com candidaturas vindas do PDT e PSB (embora haja

migrações eventuais de outros partidos), mas em uma proporção que atinge pouco mais de 2%.

Esse dado sugere, por um lado, a capacidade do partido em recrutar e produzir seus quadros, e

igualmente, traduz os constrangimentos que as barreiras e condições colocadas pelo partido

definem para constituir filiados e candidaturas. De toda forma, os dados de movimentação de

candidatos, analisados ao lado dos dados de coligações, sugerem que os arranjos políticos

constituídos pelo PT ocorreram sobre recursos políticos sólidos. A alta taxa de manutenção de

candidatos entre as eleições gerais sugere a ação dos incentivos clássicos mencionados, mas

também apontam para um grau importante de enraizamento partidário.

Nas eleições de nível local, a movimentação de candidatos a prefeito entre

partidos parece responder mais nitidamente à distribuição do domínio local de prefeituras. Os

partidos que mais detêm prefeituras no período (PMDB, PSDB, PP, PFL/DEM) mantêm seus

quadros de candidatos de forma significativa, por volta de 70%. Mesmo assim, o PT, que apenas

chega a 558 prefeitos eleitos 2008, ou seja, por volta de 10% dos municípios do país, mostra uma

capilaridade importante: em 2000 o partido reteve 88% de suas candidaturas de 1996; em 2004,

manteve 95% das candidaturas lançadas em 2000, e em 2008 manteve 87% da eleição anterior.

Nas eleições municipais, também a migração de candidatos ao PT é pequena, mas a partir de 2004

o movimento é mais flexível, e o partido recebe candidatos do DEM, PTB, PP, PMDB e PSDB, além

dos parceiros de centro-esquerda PDT e PSB (Tabelas 9, 10 e 11).

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

15

Tabela 6. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições de 1998 e 2002 (Dep. Est, Dep. Fed., Senador,

Governador) %

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB

DEM 61,7 2,6 3,1 4,9 1,0 3,2 0,0 3,6

PAN 0,2 0,7 0,8 1,1 0,0 0,0 0,0 1,8

PC do B 0,0 0,3 0,4 0,0 0,5 0,2 0,5 0,0

PDT 2,9 57,0 2,7 3,3 4,4 3,4 1,1 2,2

PGT 0,5 2,3 0,8 0,8 1,0 0,7 0,5 2,2

PHS 0,5 1,0 0,0 0,8 0,0 0,7 0,0 0,7

PL 3,6 1,6 3,9 4,1 0,5 3,6 0,0 6,5

PMDB 5,5 4,6 57,9 4,9 3,4 5,2 0,5 2,9

PMN 0,2 0,7 0,8 0,0 0,5 0,7 0,5 0,4

PP 4,3 2,3 3,3 55,7 1,0 3,9 0,3 4,3

PPS 1,2 2,6 5,2 2,2 4,9 4,1 0,0 2,9

PRONA 0,5 0,3 0,6 0,8 1,5 0,7 0,0 0,7

PRP 0,7 0,3 0,6 0,5 0,5 0,5 0,0 0,7

PRTB 1,2 0,3 0,0 1,1 0,5 1,1 0,0 1,8

PSB 1,2 7,2 2,5 2,7 62,6 3,4 0,8 3,2

PSC 0,7 1,0 0,2 1,9 1,5 1,1 0,0 0,7

PSD 1,4 2,3 1,6 1,9 0,5 1,1 0,0 1,1

PSDB 5,3 2,3 6,4 4,1 5,9 56,9 0,3 4,7

PSDC 1,2 0,3 0,4 0,5 0,0 0,5 0,0 2,2

PSL 1,0 0,7 0,2 0,0 1,0 1,4 0,0 1,8

PST 1,2 1,3 1,6 1,9 1,5 1,4 0,0 3,2

PSTU 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0

PT 0,2 2,3 0,8 0,5 2,0 0,7 93,4 0,7

PT do B 0,2 1,0 0,2 0,3 0,0 0,0 0,0 2,9

PTB 3,6 1,6 5,0 4,9 3,4 4,5 0,8 46,0

PTC 0,2 0,7 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4

PTN 0,0 0,7 0,0 0,3 0,5 0,5 0,0 0,4

PV 0,5 2,3 1,0 0,8 1,5 0,7 0,8 2,2

Total Geral *

994 1035 1376 1066 737 1153 1081 840

*inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE

Tabela 7. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições de 2002 e 2006 (Dep. Est, Dep. Fed., Senador, Governador)

%

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB

DEM 54,1 2,4 4,3 8,1 3,0 3,1 0,4 7,7

PAN 0,3 2,0 0,5 1,1 2,0 0,0 0,0 0,0

PC do B 0,3 0,3 0,0 0,0 2,3 0,6 1,2 0,0

PCB 0,0 0,0 0,3 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0

PCO 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

PDT 2,8 61,4 2,3 3,2 6,0 1,7 1,9 6,8

PHS 0,6 0,0 1,0 1,1 1,0 0,0 1,0 1,3

PL 5,4 2,7 2,3 1,4 1,3 2,5 0,6 4,3

PMDB 6,0 3,4 73,3 4,6 7,0 3,9 0,6 4,7

PMN 2,5 0,3 0,5 1,8 3,3 1,4 0,2 3,4

PP 2,5 0,3 0,8 48,8 1,7 2,5 0,0 1,3

PPS 3,2 2,0 1,5 2,5 4,0 2,8 1,2 3,8

PRB 0,0 0,7 0,0 0,4 0,7 0,3 0,0 0,4

PRONA 0,3 1,7 0,8 1,8 1,3 0,6 0,8 0,0

PRP 0,6 1,0 0,5 1,1 3,0 0,6 0,0 0,9

PRTB 0,3 0,7 0,5 0,7 0,7 0,0 0,0 1,7

PSB 2,5 4,1 1,0 2,1 44,7 3,3 2,9 0,4

PSC 1,9 3,4 1,8 3,9 4,0 1,9 0,4 1,7

PSDB 8,2 2,7 3,3 5,3 3,3 65,3 0,4 7,3

PSDC 0,3 1,0 0,3 1,1 0,7 0,8 0,2 0,9

PSL 0,9 0,3 0,5 0,7 0,3 0,3 0,0 0,9

PSOL 0,6 1,4 0,0 0,4 0,3 0,0 7,6 0,4

PT 0,0 1,4 0,3 0,0 1,0 0,6 78,8 1,7

PT do B 0,6 0,3 0,5 0,7 0,7 0,0 0,2 0,4

PTB 2,5 3,1 2,3 5,3 4,0 3,6 0,2 45,7

PTC 0,6 0,3 0,5 0,4 0,7 0,3 0,0 0,0

PTN 0,6 0,3 0,5 1,1 0,0 1,9 0,4 1,7

PV 1,9 2,7 0,8 2,8 2,6 2,2 1,2 2,6

Total Geral*

803 986 1114 805 1132 964 1504 859

*inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

16

Tabela 8. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições de 2006 e 2010 (Dep. Est, Dep. Fed., Senador, Governador)

%

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB

DEM 64,5 2,5 0,7 2,2 1,2 1,6 0,0 1,4

PC DO B 0,0 2,9 0,0 1,1 1,2 0,3 0,8 0,5

PDT 3,3 60,7 1,2 1,1 2,9 1,6 0,3 1,9

PHS 1,0 0,7 0,2 0,0 1,2 0,0 0,3 1,0

PMDB 3,3 3,9 77,5 1,1 1,7 3,2 0,3 3,4

PMN 1,0 1,1 0,5 2,8 3,3 0,5 0,3 1,0

PP 1,3 1,1 1,4 78,3 1,2 2,4 0,5 3,4

PPS 1,0 1,1 0,7 0,0 1,2 1,3 0,3 1,4

PR 4,0 2,9 3,3 1,7 1,2 5,1 0,3 4,8

PRB 0,3 0,0 2,3 0,6 0,4 0,8 0,0 1,9

PRP 0,3 0,4 0,0 0,0 0,8 0,3 0,3 0,0

PRTB 0,7 0,7 0,7 1,1 0,8 0,0 0,3 1,4

PSB 3,3 1,8 1,4 0,6 68,6 1,3 1,0 2,9

PSC 2,3 1,8 2,6 2,8 2,9 1,1 0,3 1,9

PSDB 3,3 4,6 1,6 1,7 2,5 75,0 0,0 1,0

PSDC 0,3 0,0 0,0 0,0 0,8 0,0 0,0 1,9

PSL 1,3 3,2 1,2 1,7 2,5 0,5 0,0 4,3

PSOL 0,0 0,4 0,2 0,0 2,1 0,0 0,8 0,0

PT 0,3 1,1 0,7 0,6 0,4 0,5 91,8 1,0

PT DO B 2,0 2,5 0,5 0,6 0,4 0,8 0,3 1,4

PTB 3,0 1,4 1,6 0,6 1,2 1,9 0,0 60,1

PTC 1,0 2,5 0,5 1,1 0,8 0,5 0,5 1,9

PTN 1,3 1,1 0,5 0,6 0,0 0,3 0,0 0,5

PV 1,0 1,8 0,7 0,0 0,4 0,8 2,3 1,0 Total Geral* 850 1190 1202 624 1039 1042 1154 807 *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE

Tabela 9. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições para Prefeito de 1996 e 2000 (%)

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB

DEM 75,9 16,6 4,2 7,4 5,2 5,0 0,4 13,1

PAN 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0

PC do B 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

PDT 0,7 46,2 1,0 1,6 2,3 0,9 1,2 1,5

PHS 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5

PL 1,7 1,1 0,9 1,3 2,9 1,5 0,0 2,4

PMDB 5,2 5,9 79,0 4,7 16,9 4,5 0,8 7,8

PMN 0,2 0,2 0,2 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0

PP 2,7 4,4 2,1 66,7 3,5 2,8 0,0 1,7

PPS 1,1 3,2 1,5 2,1 5,2 3,0 2,0 0,7

PRN 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,7

PRP 0,0 0,2 0,2 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0

PRTB 0,1 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 0,2

PSB 0,9 3,2 0,3 0,2 45,9 1,4 2,0 1,2

PSC 0,0 0,2 0,2 0,0 0,0 0,0 0,4 0,0

PSD 1,1 1,3 0,6 0,8 0,6 0,8 0,0 1,5

PSDB 6,0 9,0 6,2 10,3 12,2 76,6 2,9 4,1

PSDC 0,1 0,0 0,2 0,2 1,7 0,0 0,0 0,2

PSL 0,2 0,8 0,2 0,6 0,6 0,2 0,4 0,5

PST 0,0 0,2 0,1 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0

PSTU 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 0,0

PT 0,0 0,6 0,5 0,2 0,0 0,3 87,8 0,2

PT do B 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0

PTB 3,5 6,3 2,6 3,1 1,7 2,1 1,2 63,3

PTN 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0

PV 0,4 0,4 0,1 0,0 0,6 0,5 0,4 0,2

Total Geral*

2241 1222 3008 1594 491 2195 1076 1084

*inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

17

Tabela 10. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições para Prefeito de 2000 e 2004 (%)

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB

DEM 68,8 3,1 2,3 5,2 5,0 2,9 0,3 9,8

PAN 0,1 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3

PC do B 0,0 0,3 0,1 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0

PDT 1,5 57,0 1,6 0,8 3,8 2,3 0,8 2,3

PHS 0,2 0,0 0,0 0,0 0,6 0,5 0,0 0,8

PL 4,3 3,4 3,5 5,6 8,8 3,1 0,6 5,3

PMDB 5,5 10,9 75,7 3,0 6,3 4,9 0,0 4,0

PMN 0,5 0,3 0,2 0,2 0,6 0,4 0,0 0,5

PP 1,8 2,5 1,1 69,3 1,9 2,9 0,3 4,8

PPS 2,9 3,9 2,3 1,8 5,6 3,9 0,3 3,0

PRONA 0,1 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,3

PRP 0,3 0,3 0,2 0,2 0,0 0,4 0,0 1,5

PRTB 0,2 0,0 0,1 0,2 0,6 0,1 0,3 1,0

PSB 1,5 1,7 1,5 1,8 42,5 1,6 0,8 1,3

PSC 0,3 1,1 0,1 0,0 0,6 0,3 0,0 0,8

PSDB 6,7 6,4 6,3 6,2 10,0 68,2 0,8 7,3

PSDC 0,1 0,3 0,1 0,4 0,0 0,0 0,0 0,3

PSL 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,4 0,0 1,3

PT 0,7 3,1 0,8 0,8 7,5 1,0 95,3 0,5

PT do B 0,0 0,6 0,0 0,0 1,3 0,3 0,0 1,3

PTB 3,4 3,6 3,2 3,6 3,8 4,8 0,6 52,3

PTC 0,2 0,0 0,3 0,4 0,0 0,4 0,0 0,8

PTN 0,1 0,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,3

PV 0,7 1,4 0,5 0,0 1,3 1,6 0,0 0,8

Total Geral*

2319 904 2853 1427 492 2087 1317 1078

*inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE

Tabela 11. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições para Prefeito de 2004 e 2008 (%)

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB

DEM 56,2 3,1 0,8 1,7 0,5 1,5 0,5 3,0

PC do B 0,3 0,0 0,4 0,4 0,0 0,4 0,3 0,0

PDT 3,4 64,6 1,5 2,5 4,7 2,2 1,3 2,5

PHS 0,2 0,0 0,1 0,2 0,0 0,0 0,0 0,3

PMDB 9,3 11,0 83,4 7,7 10,5 6,2 3,0 10,9

PMN 0,5 0,7 0,2 0,0 0,5 0,3 0,2 0,8

PP 2,6 3,1 1,2 72,0 4,2 2,9 0,8 1,8

PPS 0,2 0,3 0,5 0,2 1,1 1,4 1,0 1,8

PR 6,7 3,1 2,1 3,7 1,6 2,9 0,5 4,8

PRB 1,1 1,4 0,9 0,2 1,1 0,6 0,2 0,8

PRP 0,2 0,0 0,1 0,2 0,5 0,0 0,0 0,0

PRTB 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0

PSB 4,7 4,1 2,1 3,5 66,8 2,0 1,3 3,8

PSC 0,9 0,7 0,4 0,0 1,6 0,3 0,2 0,5

PSDB 4,8 3,8 2,7 3,7 1,1 73,2 1,4 6,1

PSDC 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0

PSL 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3

PSOL 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0

PT 2,0 0,7 0,8 0,6 1,6 1,1 86,8 2,0

PT do B 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,3

PTB 5,5 2,7 2,2 2,7 2,1 2,8 1,4 59,6

PTC 0,0 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0 0,2 0,3

PTN 0,2 0,0 0,0 0,0 1,1 0,3 0,2 0,0

PV 0,8 0,3 0,2 0,6 1,1 1,1 0,5 0,8

Total Geral*

1765 853 2485 1273 620 1927 1961 1095

*inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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Em uma análise geral, os dados sobre a capilaridade do PT e seu papel na

construção da oferta política do bloco de centro-esquerda ficam nítidos quando se analisa a

quantidade de candidaturas apresentadas segundo blocos ideológicos.

O volume total de candidatos mobilizados nas eleições brasileiras é muito

significativo. Nas eleições para deputado estadual e federal, senadores e governadores, a soma

de candidatos apresentados pelos partidos foi de 14.420 candidatos em 1998, 16.800 em 2002,

18.039 em 2006 e 18.614 em 2010. Para as eleições municipais, os dados são ainda mais

volumosos: 288.565 em 1996, 374.246 candidatos em 2000, 377.902 em 2004 e 380.150

candidatos em 2008. Agrupados segundo blocos ideológicos, o bloco de esquerda apresenta ao

longo do período, em média, 25% do total das candidaturas aos vários cargos nacionais e

estaduais6. No nível local, a oferta de candidatos desse bloco tem uma evolução significativa de

20% em 1996, para 25% em 2008 (Gráficos 1 e 2).

Nesse contexto, a participação do PT no conjunto de candidaturas do bloco no

nível local é a mais importante: em 2004, o PT apresentou 43,5% das candidaturas a prefeito do

bloco de esquerda; em 2008, apresentou 37,5%, ou seja, por volta de 10% do total de candidatos de

nível local no país em ambas as eleições (Gráfico 3).

Em eleições gerais, a oferta do PT é menor, não chega a 25% em 2006 e não chega

a 30% em 2010 do bloco de esquerda, mas a diminuição dessa parcela no conjunto de candidaturas

não atrapalha a consolidação de preferências pelo partido, ou sua taxa de sucesso, dado o quadro

partidário altamente fragmentado. Assim, mesmo o PT tendo tido apenas por volta de 20% de

candidatos eleitos do total de candidaturas apresentadas à Camara Federal em 2006 e 2010, o

partido obteve respectivamente a segunda e primeira bancadas da Câmara, com 71 (16,2%) e 88

(17,2%) deputados eleitos. Para as Assembléias Estaduais, o PT obteve apenas 17% de deputados

eleitos do total de candidaturas apresentadas em 2006 e em 2010, mas isso lhe conferiu a terceira

maior soma de deputados estaduais eleitos no país em 2006 e a primeira maior soma em 2010. O

bloco de esquerda nessas duas eleições sobe de 25% a 30% da participação no total das

Assembléias dos estados.

No nível local, o sucesso do bloco de esquerda e do PT não ocorre. Apesar da

grande oferta política, que resulta de uma capilarização crescente do partido, a política local

responde a uma dinâmica de difícil avanço para o PT, como apontamos anteriormente.

6 Para os dados de candidaturas os partidos de esquerda e centro-esquerda foram agrupados. A soma de

candidaturas do PCO, PCB, PSTU e PSOL( este último apenas em 2008) para eleições locais não chega a 1%

em 1996 e 2000, chega a 3% em 2004 e 4,5% em 2008. Nas eleições gerais, a soma é 8% em 1998 e 2002,

e com a presença do PSOL em 2006 e 2010 é aproximadamente 12% (dados do TSE)

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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Entre 2000 e 2008 há um crescimento significativo de seu desempenho nas

eleições para prefeituras, de 15% de candidatos eleitos sobre o total de candidaturas apresentadas

em 2000, quando elegeu 200 prefeitos, para 33,5% em 2008, quando elegeu 558 prefeituras.

Mesmo assim, para esse crescimento devemos buscar explicações nos dados de coligações para

prefeito (Tabela 5). Aqueles dados indicam que o crescimento local do partido deve-se

substantivamente à estratégia de ampliação ideológica de apoio e parcerias; o partido realiza um

volume considerável de coligações com os partidos de centro-esquerda, centro e direita nas três

eleições abordadas, destacando-se as coligações à direita, com mais de 60% em 2004 e mais de

76% de coligações em 2008.

No âmbito do legislativo local, o sucesso é bastante menor: o PT mobilizou mais de

24.800 candidatos a vereador em 2000 e elegeu apenas 8% dos candidatos, e em 2008, lançou

mais de 30.400 candidatos, elegendo 14%, ou 4.168 parlamentares (não temos dados de

coligações para vereador), não alcançando 10% do total de vereadores do país (51.908).

Gráfico1. Total de candidatos apresentados às eleições gerais, segundo blocos ideológicos, Brasil

3.291

4.206

4.795

4.980

3.310

3.557

4.044

4.111 9.309

9.037

9.200

7.819

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

1998

2002

2006

2010

candidatos esquerda candidatos centro candidatos direita

Gráfico 2. Total de candidatos apresentados às eleições locais, segundo blocos ideológicos, Brasil

.

58.672

68.971

88.850

94.661

96.511

117.768

111.169

110.280 175.209

177.883

187.507

133.382

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

1996

2000

2004

2008

candidatos esquerda candidatos centro candidatos direita

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

20

Gráfico 3. Distribuição de candidaturas apresentadas no país às eleições gerais e locais ,

segundo blocos ideológicos, Brasil (%)

0

10

20

30

40

50

60

candidatos esquerda 20,3 22,8 18,4 25 23,5 26,6 25 27,9

candidatos centro 33,5 23 31,5 21,2 29,4 22,4 29 22,1

candidatos direita 46,2 54,2 50,1 53,8 47,1 51 46 50

1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

Gráfico 4. Porcentagem de candidaturas do bloco de esquerda e de candidaturas apresentadas pelo PT no bloco de esquerda nas eleições gerais (1998-2010) e locais (1996-2008)

20,3 22,8 18,425 23,5 26,6 25 27,9

34 33 3835,8 43,5

24,537,4 28,2

1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

%candidatos bloco esquerda % PT no bloco esquerda

3.3.3.3. Notas Notas Notas Notas (preliminares) (preliminares) (preliminares) (preliminares) finais finais finais finais

Este artigo procurou apresentar informações mais detalhadas sobre o processo de

adaptação do PT no âmbito da disputa eleitoral e apreender a dimensão das concessões

ideológicas empreendidas pelo partido ao longo de sua trajetória.

As transformações do partido ocorreram em arenas distintas e em intensidades

variadas. Em sua trajetória de 30 anos, o PT teve três pontos de inflexão. O primeiro e distante,

foi em 1985, quando o partido decidiu ingressar na nova lógica eleitoral da primeira eleição do

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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período democrático para escolha de prefeitos das capitais estaduais, adequou-se à dinâmica do

marketing político e, com isso, fez a primeira revisão de seus compromissos ideológicos e

programáticos. O segundo ocorreu em 1989, quando o partido percebeu o potencial para chegar

ao poder, assumiu seu papel como eixo articulador da oposição e abriu-se aos incentivos

eleitorais do sistema; e o terceiro, em 2002 com a chegada ao governo federal. Para essa vitória e

em função dela, o partido empreendeu estratégias claras para adequar-se à dinâmica de arranjos

do sistema político, respondendo aos constrangimentos apresentados pelas relações entre os

poderes executivo e legislativo, bem como para garantir a implantação e permanência de seu

projeto nacional, o que levou ao forte pragmatismo e ampliação ainda maior de suas concessões

ideológicas.

Seu movimento para o centro, e o claro avanço dos limites ideológicos à direita,

traduzindo uma estratégia de construção ampla de bases eleitorais, conduziram o partido aos

moldes do partido catch-all. Como partido no governo aberto aos incentivos do sistema, o PT

tornou-se pólo de atração e articulação de legendas variadas, localizadas sempre à sua direita.

Assim, se a partir de 1989 o PT encabeçou o pólo de organização da esquerda partidária

moderada, a partir de 2002, o movimento de aproximação dos partidos à sua direita foi

constante.

Ao mesmo tempo, o partido combina sua adaptação ideológica à manutenção de

um perfil institucional fortemente organizado, estabelecido sobre regras de organização e uma

estrutura burocrática que conduzem seu crescimento e continuam a ter influência sobre seu

funcionamento. Os dados de movimentação de candidatos apontam uma notável combinação da

ampliação dos arranjos políticos petistas no extenso terreno partidário, às restrições para o

ingresso, participação e seleção de quadros de candidatos no partido. A movimentação de elites

ocorre no seu entorno, e não em seu interior, para onde praticamente não há migração de

candidatos de legendas variadas, e onde os êxodos ocorridos em sua trajetória resultaram de

cisões de grupos baseadas em tendências ideológicas sólidas.

O perfil que caracteriza o partido neste atual ciclo de vida adequa-se a um modelo

híbrido de dinâmicas paralelas; por um lado, uma ampliada concessão ideológica, que responde às

imposições da competição política nos seus vários níveis, e por outro, a manutenção de um

legado institucional marcado por determinações burocráticas ainda fortemente associadas ao seu

perfil original, que influenciam sua organização e crescimento.

Meneguello, R. O impacto do PT no sistema partidário....

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Referências BibliográficasReferências BibliográficasReferências BibliográficasReferências Bibliográficas

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