missões de paz em africa : peacemaking, peacebuilding e peacekeeping
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Introdução
O presente trabalho tem como tema as missões de Paz: o peacemaking, o peacekeeping
e o peacebuilding em Moçambique. Para o efeito, abrange o espaço geográfico que
envolve todo o território moçambicano e outros espaços subalternos como Roma,
Nairobi. No que tange ao tempo, a reflexão é feita no período compreendido entre 1984
a 1994. A relevância da escolha deste período justificasse pelo facto de em 1984 ter-se
verificado aos primeiros esforços de negociação mediadas pela RSA e posteriormente
pela elite religiosa moçambicana e 1994 porque foi neste ano em que terminou o
mandato da ONUMOZ em Moçambique.
O final da Guerra Fria (GF) inaugurou o período de expansão da agenda de segurança
da ONU. Os principais factores que influenciaram o grande aumento das actividades de
manutenção da paz e resolução de conflitos da ONU foram o maior apoio das grandes
potências às decisões do CSNU, concomitante à fase de distensão da GF; o
ressurgimento de tensões que se supunham superadas, como os conflitos de fundo
étnico, religioso ou nacionalista; e a inclusão da questão humanitária às prerrogativas do
CSNU, a partir da articulação entre segurança internacional e direitos humanos, que
permitiu uma nova interpretação sobre o que representa uma “ameaça à paz e segurança
internacionais” (Bigatão,2009:12).
Assim, a guerra intra-estatal moçambicano que se enquadra no contexto das conhecidas
como “novas guerras” – que se evidenciaram no cenário internacional, desafiando o
aparato de resolução de conflitos desenvolvido até então e impondo vários obstáculos
aos princípios que orientaram a maioria das operações de paz autorizadas durante a GF
– imparcialidade, consentimento das partes em conflito e uso da força somente em
autodefesa.
Objectivo Geral
Compreender as missões de paz: o peacemaking, o peacekeeping e o peacebuilding em
Moçambique.
Objectivos específicos
Analisar a manifestação do Peacemaking e a sua relação com a Promoção da Paz
em Moçambique;1
Estudar o peacekeeping em Moçambique
Avaliar o processo do peacebuilding em Moçambique.
Metodologia
O presente trabalho usou o método histórico, o método estatístico, o método
monográfico, a técnica documental e a técnica de entrevista.
Método Histórico
O método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições
alcançam sua forma actual por meio de alterações de suas partes componentes, ao longo
tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada década (Marconi e
Lakatos, 2009: 92). Desta forma, o método histórico ajudou na compreensão da história
do processo para o alcance da paz em Moçambique olhando para análise do
peacemaking e a sua relação com a promoção da paz em Moçambique, o estudo do
peacekeeping em Moçambique e na avaliação do peacebuilding em Moçambique.
Método Estatístico
O método estatístico manifesta a redução de fenómenos sociológicos a termos
quantitativos, números absolutos, e à manipulação estatística, números relativos a
percentagens, que permite comprovar as relações dos fenómenos entre si, e obter
generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado (ibid, 2009:91). Deste
modo, o método estatístico ajudou na recolha de dados quantitativos para comprovar e
substanciar o esforço do peacekeeping e peacebuiding no mandato da ONUMOZ em
Moçambique.
Método Monográfico
O método demográfico parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade
pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo outros ou mesmo de
todos os casos semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituição, grupos,
comunidades, etc” (Gil: 2008: 18). Desta forma, o método monográfico ajudou a
entender e fazer um estudo aprofundado do peacemaking, do peacekeeping e do
peacebuilding em Moçambiquue.2
Técnica Documental
A técnica documental consiste na colecta de dados, em que estes são obtidos de maneira
indirecta, que tomam a forma de documentos como, livros, papéis oficiais, registos
estatísticos, foto discos (Gil, 2008:147). Assim sendo, a técnica documental ajudou na
colecta de dados das partes beligerantes e dos actores que participaram no processo de
paz em Moçambique.
Técnica de Entrevista
A técnica de entrevista sendo uma técnica de colecta de informações sobre um
determinado assunto, directamente solicitadas aos sujeitos pesquisados (Severino, 2009:
124). Desta forma, a técnica de entrevista ajudou na recolha da colecta precisa de
informações relacionadas a ONUMOZ para puder se perceber em como foi mantida a
paz em Moçambique.
Estrutura do trabalho
Para permitir uma visão global, o presente Trabalho esta dividido em três (3) Secções e
seus subtítulos. Destacasse a introdução onde constam os elementos que conduzem a
uma leitura integrada e interessante do mesmo. A primeira secção incide sobre o
peacemaking e a Promoção da paz em áfrica, destaca-se a definição do conceito
peacemaking, ao objecto de mandato, Composição do peacemaking, aos princípios, aos
métodos e por último ao peacemaking e a Promoção da Paz em Moçambique. A
Segunda Secção incide sobre a missão peacekeeping em Moçambique, trás a definição
do peacekeeping, a ONUMOZ, o seu objecto, a sua composição, os seus princípios, as
partes e Eficácia e eficiência do peacekeeping na ONUMOZ.
Na terceira secção trata-se do peacebuilding, com particular destaque para o
peacebuilding em Moçambique. Em primeiro lugar achou-se pertinente fazer uma
definição conceptual do conceito e identificação dos objectivos peacebuilding para
melhor desenvolver o trabalho. De seguida far-se-á uma alusão ao objecto do mandato,
composição, princípios do peacebuilding em Moçambique, e por último temos
considerações finais.
3
SECÇÃO 1: PEACEMAKING E A PROMOÇÃO DA PAZ EM ÁFRICA – CASO
DE MOÇAMBIQUE
Amisse Muroto, Jéssica Jeque e Sequeira Ernesto
Sendo um dos objectivos apresentados no início deste trabalho, nesta secção analisa-se a
relação entre o Peacemaking e a Promoção da Paz em áfrica – caso de Moçambique,
para o alcance do objectivo faz-se alusão a definição do conceito peacemaking, ao
objecto, Composição, aos princípios, ao local, aos métodos e por último ao
peacemaking e a Promoção da Paz em Moçambique.
1.1 Definição conceptual de Peacemaking
Os peacemaking são acções diplomáticas empreendidas após o início do conflito, que
objectivam a negociação de acordos entre as partes para a suspensão das hostilidades
(Bigatão, 2009:72).
Para David (2000: 315), “ O Peacemaking ou Restabelecimento da Paz significa
compreende todas medidas de mediação e de negociação visando reaproximar as partes,
essencialmente por meios pacíficos”. Vai além, afirmando que, “ o recurso a meios
cooperativos previstos no Capitulo 6 da Carta das Nações Unidas, apoia as iniciativas a
favor da solução de um conflito”.
Peacemaking são acções levadas acabo, antes ou depois do início do conflito, com vista
ao estabelecimento ou restabelecimento de um acordo de paz ou cessar-fogo (Pinto,
2007:11).
Do mesmo assunto tratou Iribarnegary (2015:8), tendo afirmado que “o Peacemaking
constitui um conjunto de esforços diplomáticos e políticos aplicados estrategicamente
para uma situação de confrontação através do emprego da mediação e da negociação
com a intenção de deter o conflito ou pelo menos prevenir a sua escalada”.
Para este trabalho, Peacemaking deve ser entendido como um esforço diplomático e
político estrategicamente aplicado em situações de conflito ou de eminência de
ocorrência do conflito com o intuito de, através da mediação e negociação, deter o
conflito ou impedir a sua escalada.
4
1.2. Actores do peacemaking
Segundo Cadeado (20151), “O processo de promoção da paz deve ser considerado como
um processo inclusivo na perspectiva Top-Down bem como na perspectiva botton-up”.
O carácter, social, político e económico da paz faz com que este não seja um assunto
exclusivo da elite política exigindo-se, portanto, a intervenção de actores estatais e não
estatais.
Na mesma linha de pensamento, Faganello (2013:45) afirma que, “ o peacemaking
conta com iniciativas empreendidas por governos, grupos de Estados, organizações
regionais ou organizações não-governamentais que buscam pôr um fim ao conflito de
forma pacífica”. Ou seja, mais do que actores estatais e não estatais, podem ser
promotores da paz as Organizações internacionais – governamentais e não-
governamentais, confecções religiosas, ente outros. Podemos nos referir, a título de
exemplo, à mediação durante a guerra civil (1976-1992) em Moçambique que contou
com a intervenção das igrejas nacionais, da Comunidade Santo Egídio, de Estados como
da Itália, dos EUA e, de entidades ou personalidades privadas como o empresário Tiny
Rowland.
Os Peacemakers devem intervir antes, durante e depois do conflito com recurso a
mecanismos como a Negociação – directa ou indirecta, o Inquérito ou aferição de
factos, Decisão judicial, Arbitragem, Conciliação, Mediação, Bons Ofícios e a
Diplomacia preventiva (Cadeado, 20152).
1.3. Métodos do peacemaking
Há vários métodos para o alcance da promoção da paz, o mais comum é a via
diplomática pelo fomento ao cessar-fogo através do uso das terceiras partes (Cole,
2014:11).
Segundo a carta das nações unidas no Artigo 33: 1. As partes em uma controvérsia, que
possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes
de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação,
arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer
1 Cadeado, Calton. Aulas de Estudos de Paz e Conflitos no dia 09.10.2015
2 Cadeado, Calton. Aulas de EPC no dia 09.10.20155
outro meio pacífico à sua escolha. 2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar
necessário, as referidas partes a resolver, por tais meios, suas controvérsias.
1.3.1. Diplomacia preventiva
Segundo o informe do secretário-geral da ONU (2011:2) a diplomacia preventiva é uma
parte integrante dos esforços mais abrangente de prevenção de conflitos e,
especificamente, refere-se a medidas Diplomáticas que sejam tomadas o mais cedo
possível, e destinam-se a evitar disputas que surjam entre duas ou mais partes, para
evitar controvérsias existentes se transformem em conflitos e evitar que estes ocorreram
e se estendam.
Segundo (Pavia, 2011:21) na diplomacia preventiva encontramos as seguintes
modalidades no processo negocial de paz: Bons ofícios, Mediação, conciliação,
arbitragem, decisão judicial e inquérito ou aferição de factos.
A diplomacia preventiva é a acção diplomática, conduzida por instâncias públicas ou
privadas, nas quais busca-se impedir que disputas existentes culminem em conflitos ou
fazer com que conflitos existentes tenham sua proporção diminuída. Na persecução de
tais objectivos, as Nações Unidas empregam operações de promoção da paz, que
consistem no envio de funcionários da ONU a zonas de tensão para ajudar a neutralizar
crises e intermediar a resolução negociada de conflitos, encorajando a cooperação e
promovendo a democracia (DAP, 2013 citado por Hiellebrand et all, 2014:4883).
1.3.2. Bons Ofícios
Os bons ofícios São como que uma antecâmara do processo negocial; é, portanto, o
primeiro passo da intervenção de uma terceira parte num processo de negociação
quando as negociações directas falharam. Esta terceira parte pode ser convidada por
qualquer um dos intervenientes na disputa, ou então pode, por sua própria iniciativa,
oferecer os seus préstimos (Pavia, 2011:21). Um exemplo concreto e a Missão de bons
ofícios das Nações Unidas no Afeganistão e Paquistão (UNGOMAP) levado a cabo
entre o ano de 1988 a 1990. Este foi um conflito intra-estatal cujos objectivos do
mandato eram prestar bons ofícios e auxiliar na garantia da implementação dos acordos
de genebra sobre a situação no Afeganistão e investigar quaisquer possíveis violações
dos acordos (Bigatao, 2009:89).3 Departamento dos Assuntos Políticos das Nações Unidas
6
1.3.3. Mediação
A Mediação é o processo pelo qual uma terceira parte fornece assistência em termos de
procedimento para ajudar indivíduos ou grupos em conflito a resolver as suas
diferenças. Os processos de mediação variam através do mundo na forma e na filosofia
subjacente. Em muitos países ocidentais, o mediador é geralmente uma pessoa
independente e imparcial, que não tem poder de decisão. Em outras sociedades pode ser
mais importante que o mediador seja conhecido e respeitado pelas partes em conflito em
lugar de ser visto como imparcial. (ONU, 2001:44)
A mediação acontece quando na fase anterior (bons ofícios) se chega a um impasse;
nessa altura, as partes vão tentar com a ajuda de um terceiro elemento - o mediador -
formalmente convidado, alcançar uma solução desejável. O objectivo da mediação é
tentar apaziguar a disputa através da reconciliação dos pontos de vista e das exigências
das partes procurando chegar a uma plataforma de entendimento satisfatória para todos
(Pavia, 2011:21).
1.3.4. Conciliação
Esta situação diferencia-se da mediação quanto aos objectivos já que, aqui, o que se
pretende é clarificar os pontos em disputa tentando encontrar uma solução aceitável para
ambas as partes (Ibid).
1.3.5. Arbitragem
Nesta situação está em causa a tentativa de resolução do conflito por meio da
intervenção de uma terceira parte cuja resolução é obrigatória. Normalmente esta
terceira parte é um chefe de Estado escolhido por consenso entre as partes em litígio. A
título de exemplo, Portugal recorreu por diversas vezes a esta modalidade, como foi o
caso da intervenção do presidente francês Mac-Mahon na disputa entre Portugal e o
Reino Unido por causa da baía de Lourenço Marques em Moçambique (Ibid).
1.3.6. Decisão judicial
7
Quando as partes decidem recorrer a um tribunal, normalmente o Tribunal Internacional
de Justiça para a resolução de um conflito, essa decisão é, tal como na situação anterior,
obrigatória (Ibid).
1.3.7. Inquérito ou aferição de factos
É a tentativa de esclarecer um determinado facto, cuja interpretação constitui um
diferendo entre as partes. O objectivo é uma clarificação imparcial de factos em disputa.
Hume, (1994, citada por Pavia, 2011:23)4 Fala-nos ainda numa outra modalidade, a
facilitação, onde os mediadores devem ter a confiança das partes, serem concisos,
precisos e criativos, terem a arte e o engenho de criarem pontes de contacto, expressar
as preocupações das partes em linguagem não prejudicial, não ferir susceptibilidades, e
terem paciência e determinação em prosseguir uma tarefa que se pode revelar longa e
cansativa.
1.4. Objecto ou mandato do peacemaking
No âmbito das Nações Unidas, o Mandato é resultante de uma resolução do CS
(Conselho de Segurança). É o documento formal que estabelece uma Operação Paz,
contendo os seus fundamentos e objectivos a atingir. É desenvolvido no mais alto nível
político e diplomático e, normalmente, contém: a finalidade da operação; os países
participantes; as recomendações acerca do financiamento da operação; os direitos e
imunidades dos componentes da missão de paz; o resultado esperado; as condições
colocadas pelas partes envolvidas em relação à presença da missão de paz; e o tempo de
duração da missão (MD, 2013:23).
Antes e depois a Guerra Fria, o principal objectivo da comunidade internacional ao
tomar medidas tem sido a manutenção e ou recuperação da estabilidade. A principal
diferença entre aquela época e agora, no entanto, é que, em seguida, o principal
objectivo da acção global foi a de manter a estabilidade na arena internacional, ao passo
que agora é estabilizar situações domésticas (Ouellet,2003:16).
4 Hume, C. (1994). Ending the Mozambique’s War. The Role of Mediation and Good Offices., United States Institute of Peace: Washington, D.C
8
O carácter informal de algumas missões de paz torna difícil identificar o mandato e as
suas componentes. Pode se referir a título de exemplo, as intervenções da igreja
moçambicana na promoção da paz no mesmo país.
1.5. Eficácia do peacemaking
Para que haja eficácia do peacemaking é necessário que o mediador deve ser capaz de
influenciar as partes, levando-as a modificar as suas posições, deve ser capaz de levar
por diante uma negociação dinâmica, reagir rapidamente aos acontecimentos, aproveitar
as oportunidades e de dispor da flexibilidade necessária para ajustar posições e elaborar
propostas conforme o desenrolar da situação (Touval, 1994:53). Lund (1997:24)
Acrescenta que para o peacemaking seja bem-sucedido é necessário que as partes
tenham vontade de chegar a uma solução. A paz não pode ser imposta a ninguém; para
formar uma mesa de negociações é fundamental que as partes desejem sentar nela. A
neutralidade dos peacemakers também e fundamental para que as partes decidam
escutar seus conselhos.
1.6. Composição do peacemaking
A composição do peacemaking é contextual, uma vez que depende dos actores
intervenientes no processo de promoção da paz e das entidades beligerantes. No
contexto das missões da paz da ONU esta estipulado no artigo 43 da carta da
organização do mesmo nome que, os Estados Membros se comprometem a proporcionar
ao Conselho de Segurança “forças armadas, assistências e facilidades, incluindo direito
de passagem, necessários para a manutenção da paz e da segurança.
Segundo Faganello (2013:45), “o Peacemaking contam com iniciativas empreendidas
por governos, grupos de Estados, organizações regionais ou organizações não-
governamentais que buscam pôr um fim ao conflito de forma pacífica”.
Bercovitch (1997, citado por Branco, 2011:905) aponta os seguintes actores do
peacemaking: indivíduos, Estados e instituições. Estes envolvem-se no conflito por
iniciativa própria e a actuação deles baseia-se exclusivamente em estratégias de
comunicação e facilitação, preocupando-se com a qualidade da interacção entre as
partes e com a criação de um ambiente propício para a gestão do conflito.
5 Bercovitch, J. (1997). Mediation in International conflict: An overview of theory, a review of practice. Washington
9
Os Estados, usam a mediação como um veículo para proteger ou promover os seus
interesses (Branco, 2011:91). Ao disporem seus recursos, a amplitude de estratégias
aumenta, podendo seleccionar a que lhes convêm.
De um modo geral as missões de promoção da paz podem ser compostas por mais de
um tipo de actor, ou seja, para o mesmo fim podem intervir as confecções religiosas, as
missões das nações unidas, estados de forma isolada ou em grupo, individualidades de
renome ou outros actores privados.
1.7. Princípios do Peacemaking
Segundo Bigatão (2009:34), os princípios do peacemaking são: a imparcialidade da
organização em não favorecer nenhum dos beligerantes, consentimento entre as partes e
não ao uso da força, excepto em legítima defesa ou em defesa do mandato.
Bellamy (2004, citado por Bigatão, 2009:346) denominou este conjunto de princípios
como trindade das operações de paz da ONU e ao analisa-los, verificou que a
prevalência de destes no trabalho da ONU pressupõe pelo menos três condições: I) que
os beligerantes sejam Estados, ou pelo menos organizações, onde é possível identificar
os interlocutores válidos que garantam o pactuado; II) que as unidades de combate
estejam hierarquicamente organizada; III) que os beligerantes desejem o fim do conflito
e estejam dispostos a negociar um acordo político.
1.7.1. Princípio de Consentimento
Segundo Harvey et al (2012:14) a promoção da paz só pode ocorrer com o
consentimento das partes envolvidas no conflito. Este consentimento garante que a
missão tenha a liberdade política e física e a protecção necessária para levar a cabo o
seu mandato de forma eficaz. Por exemplo, a Comunidade Santo Egídio e o Governo
Italiano eram mediadores escolhidos e consentidos pelas partes beligerantes.
1.7.2. Princípio da Imparcialidade
A imparcialidade deriva do consenso e é o que o mantem. É um princípio segundo o
qual os peacemakers orientam suas acções de forma a constituir e manter o nível de
6 BELLAMY et al., (2004), operações de paz. cit.,10
consenso pelo facto de agirem de forma desinteressada com relação as diferenças entre
as partes em conflito, sem beneficiar esta ou aquela em detrimento da outra
(Godoi,2010:11).
As operações de promoção de paz da ONU devem implementar seu mandato sem
favorecer a qualquer um dos lados em conflito (como um bom juiz) (Harvey et all,
Ibid). Os peacemakers irão implementar seu mandato sem favorecer ou prejudicar a
qualquer das partes envolvidas no conflito.
1.7.3. Não ao uso da força ou uso mínimo da força
Os peacemakers vão abster-se do uso da força, excepto em legítima defesa e defesa do
mandato. Com a autorização do Conselho de Segurança, a uso da força pode ocorrer
como uma medida táctica de último recurso a defesa (Harvey et al,2012:14).
2. Peacemaking em Moçambique
O processo de promoção da paz em Moçambique resultou de esforços empreendidos
tanto, por actores governamentais e bem como por actores não-governamentais.
Segundo Pavia (2011:19), “ para além de estados houve a intervenção decisiva de outros
actores internacionais e de personalidades com vastos interesses em Moçambique.
2.1. Actores intervenientes no processo de promoção da paz em Moçambique
Segundo Branco (2011:94), o processo de mediação foi constituído pela comunidade
Santo Egídio representada por Andrea Riccardi, Matteo Zuppi, Arcebispo da Beira D.
Jaime Gonçalves e Mario Rafaelli. Para além deste grupo de mediação, há a considerar
a colaboração de vários Estados nomeadamente, um grupo de dois governos
particularmente activos, embora com papéis diferentes, a Itália e os Estados Unidos da
América (EUA). Com um papel igualmente importante, mas mais distante, o Quénia,
Zimbabué e Malawi.
Há ainda a referir que a ONU também se juntou às conversações com o estatuto de
observador, mas mais orientada para discutir os aspectos da implementação das matérias
acordadas. Finalmente, Tiny Rowland, um homem de negócios inglês, presidente do
grupo Lonrho que detinha fortes interesses mineiros no Zimbabwe, e que pôs os seus
jactos à disposição dos mediadores e das partes para as frequentes viagens que tiveram
de efectuar (Ibid).11
2.1.1 As igrejas
O papel da elite religiosa na resolução e gestão do conflito em Moçambique remonta
aos finais de 1984, quando tiveram as primeiras negociações, indirectas, entre o
Governo e a RENAMO no contexto da assinatura do acordo de NKomati. Segundo
Branco (2011:95), “É neste contexto que o Conselho Cristão Moçambicano (CCM)
estabelece a “Comissão para a Paz e Reconciliação” (CPR) com o objectivo de explorar
possíveis espaços de diálogo e facilitar a comunicação entre os litigantes. O CCM
continuou durante toda a segunda metade da década a actuar nos bastidores sem,
contudo, conseguir grandes progressos.
Esta fase foi marcada, principalmente por reuniões informais e exploratórios entre os
beligerantes, através da facilitação das Igrejas moçambicanas. Estes contactos indirectos
foram destinados a criar as bases para negociações directas. Em várias missões, os
líderes das Igrejas7 baseados em Maputo, estabeleceram uma rede de contactos com
ambos os lados em Maputo e Nairobi (Lundin,2004:9).
A partir de 1989, as negociações saem do carácter informal para o formal. Como afirma
Africa Watch (1992, citado por Lundin, 2004:98), “Em Fevereiro de 1989, uma
delegação de bispos anglicanos e católicos moçambicanos viajou para Nairobi, no
Quénia, para se reunir com líderes seniores da RENAMO. Eles voltaram para Maputo
para dizer a Chissano que "acreditavam que RENAMO também estava cansado da
guerra e, portanto, as negociações de paz fossem possíveis".
Como afirma Phillips & Center (2010:11), “Após uma série de falsos começos, o
conselho e a liderança da Igreja Católica de Moçambique reuniu com uma delegação
chefiada por Dhlakama em Nairobi, Quénia, em agosto de 1989. O governo de
Moçambique e a Renamo trocam condições para o diálogo directo. Como resultado, os
seus esforços para mediar e facilitar gozou de legitimidade substancial. No entanto, o
enorme fosso de desconfiança entre o governo de Moçambique e a Renamo provou ser
muito difícil de superar”.
7 Católica e protestantes
8 Africa Watch (1992) War Conspicuous Destruction: War, Famine & the Reform Process in Mozambique. Human Rights Watch: New York.
12
A busca de terreno comum entre as duas partes mostrou, no processo de negociação
directa, que, embora ambos os lados tinham um forte interesse pela paz, cada um
permaneceu altamente "desconfiado do outro e não podia aceitar o pedido do outro a
legitimidade" (Nações Unidas de 1995: 15). Em particular, a demanda da RENAMO em
estado de igualdade com a do governo em quaisquer negociações directas, que era
"inaceitável para as autoridades de Maputo. Além disso, para que as negociações
começam era essencial identificar os mediadores mutuamente aceitáveis. Aqui,
novamente, a desconfiança entre as partes era perceptível. RENAMO estava disposto a
aceitar o Quénia ou Portugal como mediadores. O governo favoreceu uma articulada
mediação de Zimbabué e Quénia. A primeira tentativa de aproximar as partes para
conversações "face-a-face", apresentado por Malawi em 1990, redundou num fracasso.
A comunidade católica Santo Egídio de Roma ofereceu-se como alternativa com a
aprovação do governo da Itália e ambos os lados aceitaram a oferta. As duas partes
assimétricas começaram as negociações em Julho de 1990. Por um lado, um partido
virou-se para o governo, com a experiência de 15 anos de governação em um único
sistema partidário; por outro lado, uma "organização de guerrilha por procuração, com
uma liderança vagamente identificada, caminhando sem experiência administrativa da
sociedade e sem estrutura política / organizacional" (Nilsson 1999, citado por Lundin,
2004:109).
Portanto, as igrejas moçambicanas constituem a base das negociações entre os
beligerantes. O carácter voluntário e informal determinou a não existência de um
mandato – limitando-se aos apelos e recomendações que o presidente da república
fizera. As suas intervenções no processo de promoção da paz em Moçambique foram
perpetradas no território nacional, através de contactos directos com as duas alas
beligerantes. As igrejas apoiaram-se dos bons ofícios e da mediação na prossecução das
suas acções cujo objectivo era a aproximação das partes em conflito, colmatar as
diferenças e o alcance da paz nacional.
2.1.2. Comunidade Santo Egídio
Com base nos resultados obtidos pelos bons ofícios dos quatro líderes religiosos e dos
governos africanos, dos quais se destacam Quénia, Malawi e Zimbabué, e explorando as 9 Nilsson, A. (1999). Peace in Our Time: Towards a holistic understanding of world society conflicts. Padrigu. Gothenburg University: Gothenburg.
13
ligações de longa data entre o Arcebispo D. Jaime Gonçalves e o Governo Italiano, a
Comunidade de Santo Egídio promoveu em Julho de 1990 o primeiro encontro directo
entre representantes da FRELIMO e da RENAMO, em Roma, a qual se transformou no
epicentro da actividade diplomática. São dados passos significativos rumo à paz durante
as negociações levadas a cabo nos meses de Outubro e Novembro de 1991: a FRELIMO
e a RENAMO reconhecem-se mutuamente e acordam o futuro papel da ONU; é
ratificado o direito da RENAMO a exercer actividade política partidária, com a
assinatura do Acordo Geral de Paz (Branco, 2011: 96).
A Paz moçambicana foi definida por Boutros Boutros-Ghali, na época, Secretário-Geral
das Nações Unidas como “Paz italiana” porque três dos quatro mediadores eram
italianos: Andrea Riccardi e Matteo Zuppi da comunidade Santo Egídio e, Mario
Raffaelli em representação do governo. O Quarto mediador era o arcebispo católico da
Beira, Jaime Gonçalves, moçambicano (Rocca,2012:9).
As negociações desenrolaram-se sempre em Roma, apesar das fortes pressões para
serem transferidas para outro lugar, para Portugal ou para outro país africano perto de
Moçambique. A sede romana não dependia de uma questão de prestígio: Tratava-se de
oferecer uma oportunidade à paz, depois de precedentes mediações internacionais não
terem chegado a bom termo (Rocca,2012:10).
A mediação italiana era do consenso das partes conflituantes uma vez que como afirma
Rocca(10), “ Os “italianos” devido a uma série de motivações históricas e pessoais,
eram os que tinham relações com os dois beligerantes. Há vários anos que teciam
relações e amizade em Moçambique, Raffaelli com a Cooperação italiana para o
Desenvolvimento, Riccardi e Zuppi com a Comunidade santo Egídio. A mediação
italiana tinha a coordenação e prudência que as anteriores não tiveram. A sua leveza
institucional era um ponto fraco, mas também um atout, uma vez que lhe permitia uma
grande liberdade de acção e atribuía-lhe uma especial credibilidade: a de não ter
interesses próprios, políticos ou económicos para fazer valer (Rocca,2012:10).
Como Afirma Branco (2011: 96), “A Comunidade de Santo Egídio desempenhou um
papel importante na criação das condições físicas para a realização das conversações.
Para além de disponibilizar o seu quartel-general, acolhendo as delegações das partes às
conversações, assegurou o apoio político, logístico e financeiro do Governo italiano
14
necessário à realização das conversações. Integrou o grupo de mediação com dois
representantes, um deles, o seu presidente. Utilizando as palavras de Chester Crocker, as
pessoas de Santo Egídio fizeram história através da sua intervenção inicial. Os seus
esforços criaram uma massa crítica de factos e um momentum que fez com os decisores
formais (T1D) tivessem matéria para apoiar32. Mas do ponto de vista negocial, pouco
mais fez do que isso”.
A Comunidade Santo Egídio veio dar uma forma clara as negociações para a paz
moçambicana uma vez que esta, serviu de conector imparcial entre as duas partes
transmitindo-lhes a segurança e confiança de imparcialidade que principalmente a
RENAMO clamava. Suas acções estavam juntamente com as do governo italiano
sedeadas em Roma e nalgumas vezes fizeram-se sentir em Moçambique através dos
representantes diplomáticos que mantinham contactos com altos representantes das duas
alas.
2.1.3. O Grupo de Mediação
Segundo Branco (2011:94), “o grupo de mediação era composto pela Comunidade de
Santo Egídio, por Andrea Riccardi e Don Matteo Zuppi, a Conferência Episcopal por D.
Jaime Gonçalves e, o Governo italiano por Mário Rafaelli.
A estratégia de mediação adoptada pelo grupo de mediação foi do tipo Comunicativo. O
grupo contribuiu para que se mantivesse o diálogo entre as partes e que as relações de
hostilidade e animosidade se tivessem transformado em relações de cooperação,
ajudando através do diálogo à reconciliação das partes. Para além dos bons ofícios
prestados durante todo o processo negocial, o grupo de mediação fez propostas e ajudou
os litigantes a encontrar alternativas. (Branco, 2011:96).
2.1.4. Os Estados
Os esforços de promoção da paz em Moçambique começam no período pós-acordo de
Nkomati em que representantes do governo sul-africano procurou intermediar as
conversações entre os intermediários beligerantes. Como afirma Lundin (2004:7), “Na
atmosfera de NKomati, as autoridades Sul-africanas tentaram juntar o governo da
FRELIMO e a RENAMO para as primeiras negociações frente-a-frente em Pretoria a
15
Outubro de 1984.A iniciativa sul-africana conduziria a elite de pretoria a fazer contactos
explorativos entre o governo moçambicano e a Renamo.
Por uma série de razões, as iniciativas destas conversações de paz logo entrou em
colapso. Em primeiro lugar, porque havia uma sabotagem clara pela inteligência militar
do Sul-Africano em qualquer esforço para a paz; em segundo lugar, os antigos colonos
brancos em Moçambique, um posicionamento influente dentro do MNR, também não
foram preparados para discutir processo de paz com o governo da FRELIMO. (Ibid)
Rocca (2012:27), “Em 1986 não tinha sido feita nenhuma tentativa de seria de mediação
entre os beligerantes. O único precedente eram os chamados colóquios de pretoria
realizados entre Setembro – Outubro de 1984, na sequência dos acordos de Nkomati,
entre alguns representantes da Frelimo, entre os quais Jacinto Veloso e da Renamo,
entre os quais Evo Fernando. Estes representantes tinham dialogado indirectamente
através de intermediários Sul-africanos.
A actuação do grupo de mediação foi seguida de perto e complementada, em
permanência, pela diplomacia de vários Estados, sobretudo quando se tratava de
resolver assuntos de maior complexidade ou quando as partes se mostrassem mais
renitentes em chegar a acordo. Governos africanos e ocidentais foram necessários em
vários momentos das conversações para ultrapassar impasses entre os chefes das
delegações sedeados em Roma; actuar junto dos líderes de topo; criar legitimidade e
definir datas limites; e forçar a convergência de opinião em assuntos que de outro modo
ainda estariam por resolver (Branco, 2011:97).
Dentre os vários estado que estiveram no processo de negociação da paz em
Moçambique maior destaque para o Governo da Itália e os EUA devido ao seu
activismo sem precedentes. Como afirma Branco (2011:97), “a Itália promoveu
incansavelmente e a organizou inúmeros encontros dos líderes das facções e a assegurar
a presidência da Comissão de Verificação Conjunta (JVC), através do seu embaixador
em Maputo. A Itália esteve também profundamente envolvida em várias acções de bons
ofícios e de shuttle diplomacy, mobilizando para tal o seu embaixador em Maputo que
se encontrou várias vezes com Dlhakama e com Chissano. Para além disso, o Governo
italiano (Ibid)
16
Os Estados Unidos desempenharam igualmente um papel crucial desde o início das
conversações, proporcionando aconselhamento técnico, encorajamento e apoio público
ao processo de paz. Destacaram uma equipa composta por pessoal do Departamento de
Estado que acompanhou permanentemente a evolução das conversações, e que prestou
um apoio decisivo ao grupo de mediação, muito em particular à delegação da
RENAMO, em áreas técnicas que requeriam o concurso de especialistas. Para ajudar a
ultrapassar algumas dificuldades negociais, elementos desta equipa, actuando em
tandem com o grupo de mediação, reuniam separadamente com as delegações para as
convencer a adoptarem posições mais flexíveis (Ibid:98).
A partir de Outubro de 1991, o apoio norte-americano à mediação tornou-se mais
activo, aumentando significativamente o envolvimento da sua diplomacia nas
conversações. Tanto o Secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos,
Herman Cohen, como o seu auxiliar, Jeffrey Davidow, passaram a encontrar-se mais
frequentemente não só com os líderes das facções, numa diplomacia paralela à do grupo
de mediação, para os “ajudar” a dar passos mais céleres e determinados rumo à paz, mas
também com dirigentes africanos cujo contributo para o processo de paz pudesse ser
importante. O envolvimento da diplomacia norte-americana foi ainda essencial para
assegurar a presença da ONU na implementação do acordo de segurança, garantindo a
ligação com o Conselho de Segurança (Ibid).
2.1.5. Outros actores não Estatais
A mediação de Tiny Rowland
Em 1989, houve a interferência de uma figura, Tiny Rowland que terá tido um papel
importante no processo de paz. Tiny Rowland era o líder da multinacional britânica
Lonrho, que tinha vários interesses em Moçambique, na zona centro e na área do
corredor da Beira; tinha também grandes interesses no Zimbabwe, além de outros países
africanos (Pavia, 2011:18).
A empresa Lonrho tinha uma filial em Moçambique, a Lomaco, cujo capital era detido
em 51% pela casa-mãe e os restantes 49% pelo governo moçambicano (Ibid). A
empresa Lonrho dispôs incentivos financeiros e materiais as partes e aos mediadores;
proporcionou transporte aéreo as delegações e aos líderes moçambicanos quando e onde
foi necessário.17
Desde 1982 que a Lonrho fazia pagamentos a Renamo, a troco de esta não atacar os
seus interesses. Esta empresa pagou somas de dinheiro a Renamo para proteger seus
investimentos económicos, como a plantação de chá e o algodão (Phillips, 2010:11).
Contudo, vendo que estes pagamentos não eram suficientes, Lonrho envolveu-se no
processo negocial procurando formas para que houvesse o alcance da paz, vendo que
esta era a única forma de salvar seus investimentos em Moçambique.
Segundo Branco (2011:94), Tiny Rowland pôs os seus jactos a disposição das partes
para as frequentes viagens que tiveram de efectuar. Entre Julho de 1989 e Outubro de
1990, Rowland providenciou transporte assim como fundos para Mugabe e o presidente
Moi do Quénia participarem das mediações entre a Renamo e o governo da Frelimo
(Vines et al, 1998:24). Foi também o dinheiro de Lonrho que pagou várias despesas e
foi a influência de Rowland que conseguiu em fases complicadas do processo fazer com
que este avançasse.
Depois da assinatura do Acordo Geral de Paz os homens da Renamo que estavam em
Maputo ficaram instalados no Hotel Cardoso, que pertencia a Lonrho durante dois anos
(Pavia, 2011:18). Tiny Rowland teve um papel importante e valioso no processo
negocial da paz em Moçambique, ele facilitou contactos, deu conselhos e ajudou a
encontrar caminhos para que os encontros acontecessem.
18
3. Considerações finais
O Peacemaking é um conjunto de esforços diplomáticos e políticos estrategicamente
aplicado em situações de conflito ou de eminência de ocorrência do conflito com o
intuito de, através da mediação e negociação, deter o conflito ou impedir a sua escalada
As missões de paz em Moçambique enquadram-se no contexto das da terceira geração
cujo processo de sua promoção em Moçambique iniciou depois do conflito e tendo com
objectivo de aproximar as partes litigantes. Intervieram no peacemaking tanto
organizações não-governamentais como as igrejas moçambicanas e a comunidade santo
Egídio; estados como a italia, os EUA, a RSA; de empresários como Tiny Rowland. As
acções para a pacificação do país fizeram-se sentir tanto em Moçambique, no Quénia,
na RSA e bem como em Roma, na Itália.
As igrejas moçambicanas constituem a base das negociações entre os beligerantes. O
carácter voluntário e informal determinou a não existência de um mandato – limitando-
se aos apelos e recomendações que o presidente da república fizera. As suas
intervenções no processo de promoção da paz em Moçambique foram perpetradas no
território nacional, através de contactos directos com as duas alas beligerantes. As
igrejas apoiaram-se dos bons ofícios e da mediação na prossecução das suas acções cujo
objectivo era a aproximação das partes em conflito, colmatar as diferenças e o alcance
da paz nacional.
A Comunidade Santo Egídio veio dar uma forma clara as negociações para a paz
moçambicana uma vez que esta, serviu de conector imparcial entre as duas partes
transmitindo-lhes a segurança e confiança de imparcialidade que principalmente a
RENAMO clamava. Suas acções estavam juntamente com as do governo italiano
sedeadas em Roma e nalgumas vezes fizeram-se sentir em Moçambique através dos
representantes diplomáticos que mantinham contactos com altos representantes das duas
alas.
19
4. Referências bibliográficas
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21
SECÇÃO 2: A MISSÃO PEACEKEEPING EM MOÇAMBIQUE
Evilice Soquir e Rafael José
A presente secção tem como objectivo estudar o peacekeeping em Moçambique, para o
efeito, trouxe a definição do peacekeeping, fala da Operação das Nações Unidas em
Moçambique (ONUMOZ), do seu objecto de mandato, dos princípios do peacekeeping,
dos seus actores e da eficácia e eficiência do peacekeeping na ONUMOZ.
2.1. Definição do Peacekeeping
O Peacekeeping tem como significado a manutenção e promoção da paz, porém não há
uma definição consensual por parte de vários autores. Deste modo, traz-se a definição
do Peacekeeping do David (2001), Faganello (2013) e Dawson (2004) para puder se
perceber na íntegra o que é o Peacekeeping.
Segundo David (2001:315) o peacekeeping significa a mobilização de efectivos,
principalmente militares da Organização das Nações Unidas (ONU), com o
consentimento das partes tendo em vista manter um cessar-fogo e prevenir o recomeço
das hostilidades.
Para Faganello (2013:46) o Peacekeeping é um dos instrumentos utilizados pelas
Nações Unidas e por outros actores internacionais para a manutenção da paz e da
segurança internacional.
O Dawson (2004:1) diz que o peacekeeping costuma aglomerar uma grande variedade
de missões que muitas das vezes incluem o peacebuilding e a componente diplomática
do peacemaking, mas na essência a sua função principal é de facilitar a transição do
Estado em conflito para um Estado de paz.
Como pode se notar, para o David o peacekeeping é a mobilização de efectivos,
enquanto Faganello o trás como um instrumento e ainda, o Dawson alega que é um
facilitador, entretanto, estes autores convergem dizendo que o peacekeeping visa manter
um cessar-fogo e prevenir o recomeço das hostilidades buscando a manutenção da paz.
Contudo, para o presente trabalho o peacekeeping é visto como um dos instrumentos de
missões da ONU e de outros actores internacionais como a Organização de Unidade
Africana (OUA), União Europeia que visa facilitar a trajecto de um Estado em conflito
22
para um Estado de paz por consentimento das partes beligerantes pressupondo prevenir
um possível recomeço de hostilidades e manter o cessar-fogo num Estado.
2.2. A ONUMOZ
No início dos anos de 1990 surge uma segunda geração de operações de manutenção de
paz, também conhecidas por operações multifuncionais, devido às múltiplas tarefas que
doravante passam a ter sob a sua responsabilidade. Nesta geração tinha-se por mandato
expresso ajudar as partes a aplicar plenamente o acordo, a segurança policial, as
operações de recenseamento da população e a fiscalização de eleições, entre outras
(Pavia, 2012:30). É neste contexto que a ONUMOZ surge abrangendo o nível político,
eleitoral, militar e humanitário no seu campo de actuação para além de focar-se nas
partes em aplicar o Acordo Geral de Paz em Moçambique assinado no ano 1992.
2.2.1. Objecto de mandato da ONUMOZ
O objecto de mandato da ONUMOZ esteve no seu estabelecimento que foi baseado na
Resolução 797 de 16 de Dezembro de 1992 com um mandato até 31 de Outubro de
1993, mas se prolongara até que terminou formalmente a 9 de Dezembro de 1994,
embora se tenha encarregado de garantir a segurança até final do mês de Janeiro de
1995, desta forma, fez-se um apelo a uma completa participação da RENAMO e do
Governo de Moçambique, no sentido de respeitarem o cessar-fogo e as obrigações
estipuladas no Acordo Geral de Paz (Botão, 2009:20). Contudo, a ONUMOZ surge com
o objectivo de manter e promover a paz em Moçambique buscando a manutenção do
cessar-fogo e as obrigações estipuladas no Acordo Geral de Paz em Moçambique.
2.2.2. Composição da ONUMOZ
A composição da ONUMOZ ficou patente a 3 de Dezembro de 1992, quando o
Secretário-Geral da ONU, Boutros Ghali, apresentou ao Conselho de Segurança o
mandato da Missão da ONU em Moçambique, a ONUMOZ, baseado no Acordo Geral
de Paz de Roma e que previa quatro áreas de actuação, nomeadamente:
23
2.2.2.1. Área Política
A área política incidia sobre ajuda às partes a implementar o acordo assinado. A
ONUMOZ seria responsável por garantir uma supervisão imparcial da implementação
do Acordo Geral de Paz ou direcção política do processo de paz, assumia o controlo da
Comissão de Supervisão e Controlo (CSC), acalmava as disputas que eventualmente
poderiam surgir entre as partes e coordenar as actividades desenvolvidas pelas
Subcomissões, nomeadamente: a Comissão do Cessar-Fogo (CCF), a Comissão de
Reintegração de Militares Desmobilizados (CORE), a Comissão Conjunta para a
Formação das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (CCFADM) (ibid:25). Desta
forma, a ONUMOZ nesta área, preconizou a participação das partes (Governo de
Moçambique e RENAMO) no processo da manutenção da paz em Moçambique e a
capacitação na formação de partidos políticos como já previa o Acordo Geral da Paz no
Protocolo II10.
2.2.2.2. Área Militar
A área militar tinha três (3) tarefas, nomeadamente:
A monitorização e verificação do cessar-fogo, separação e concentração de forças,
desmobilização e união, colecção e destruição de armas. Este processo estaria ao cargo
dos observadores militares nas 49 Áreas de Acantonamento e das 3 regiões militares11
(Botão, 2009:21).
Segundo Leão (s/d:21) a colecção de armas verificou-se no projecto de Transformação
de Armas em Enxadas (TAE) que visava a entrega de uma arma em troca de uma
enxada para produção que beneficiou cerca de 26.000 famílias.
Segundo o Report of the Security Council Mission12 (1994:6), no projecto
Desarmamento Desmobilização e Reintegração (DDR), ao 28 de Agosto de 1994 um
total de 70, 086 soldados (52,242 do Governo de Moçambique e 17,844 da RENAMO) 10 O Protocolo II preconizava os critérios e modalidades da formação e reconhecimento dos partidos políticos (AGP,1992:3).
11 As 3 regiões militares estavam uma em Nampula (Norte), outra em Chimoio (Centro), e a última na
Matola (Sul) e todas elas estavam na guarda dos batalhões de infantaria da ONUMOZ, os quais iriam
supervisionar a transferência (Botao, 2009:18).
12 Relatório de Missão do Conselho de Segurança publicado no dia 29 de Agosto de 1994, artigo 12.24
tinham sido desmobilizados e 9,917 estavam no processo para serem desmobilizados
(7,662 do Governo de Moçambique e 2,250 da RENAMO), 1,624 tropas estavam ainda
na área de montagem, enquanto aguardavam a resolução de questões relacionadas a sua
documentação.
A monitorização e verificação completa da retirada das forças estrangeiras e garantia de
segurança nos corredores de transporte, a qual iria ser garantida pela comissão de
supervisão e monitorização através da comissão de cessar-fogo (Botão, 2009:21). A
retirada de forças estrangeiras verificou-se nos corredores da Beira e Nacala em que
estavam concentradas as forças Zimbabueanas e Malawianas e foram substituídas pelas
forças de Bangladesh e Paquistão respectivamente (Pavia, 2012:33).
A autorização para organizar a segurança e recuperação das infra-estruturas vitais, e de
providenciar a segurança para as actividades da ONU e doutras instituições, em prol do
processo de paz. As equipas foram colocadas em áreas estratégicas, como portos
corredores de Nacala, Beira e Maputo, aeroportos de Nampula, Beira e Maputo
incluindo as bases militares da RENAMO (Botão, 2009:21).
2.2.2.3. Área Eleitoral
A área eleitoral pressupunha apoiar, monitorizar e providenciar assistência técnica no
processo eleitoral. A ONUMOZ, tinha a responsabilidade de monitorizar e verificar
todos os aspectos e fases do processo eleitoral. A Divisão Eleitoral da ONUMOZ devia
interligar-se em todas as direcções, mantendo contactos permanentes com o governo de
Moçambique e outros partidos políticos13, bem como com a Comissão Nacional de
Eleições (CNE) (ibid).
A divisão eleitoral da ONUMOZ monitorou o processo eleitoral, incluindo o seu
mandato a verificação da imparcialidade da CNE e a administração propriamente dita
do acto eleitoral; assegurava o acesso dos partidos à imprensa; monitorou o grau de
liberdade de acção dos partidos na sua organização, deslocações e campanhas eleitorais;
e, finalmente, competia-lhe a implementação do processo eleitoral, incluindo o
apuramento dos resultados (Pavia, 2012:39).
2.2.2.4. Área Humanitária
13 Tinham sido registados junto do Ministério da Justiça 17 partidos25
Segundo Botão (2009:22-23) a área humanitária visava coordenar e monitorizar as
operações de assistência humanitária, coordenação e monitorização de operações de
assistência humanitária, em particular as relacionadas com os refugiados, desalojados,
pessoal militar desmobilizado; de uma forma geral toda a população afectada pelo
conflito e que vivia em condições humanitárias muito precárias. Nesta componente, a
ONU iria coordenar os seus esforços com a Agência para a Coordenação da Assistência
Humanitária (UNOHAC) em cooperação com as Organizações Internacionais como a
Organização da Unidade Africana (OUA), a associação de parlamentares europeus para
o Sul de África e Organizações Não-Governamentais como o Comité da Cruz
Vermelha. Segundo Batista (2014:47) houve 4.000.000 a 4.500.000 deslocados
internamente, 1.500.000 refugiados e 370.000 soldados desmobilizados e seus
dependentes dos quais 6 milhões de Moçambicanos retornaram as suas comunidades de
origem graças ao papel das organizações humanitárias.
2.2.3. Princípios do peacekeeping
O peacekeeping assenta em três princípios, nomeadamente: o princípio do
consentimento, da imparcialidade e do uso mínimo de força.
2.2.3.1. Princípio do Consentimento
O princípio do Consentimento consiste na anuência conferida pelo Estado anfitrião e/ou
pelas partes conflituantes para que a paz se desenvolva. O consentimento traduz a
concordância dos envolvidos no conflito armado quanto a presença da missão de paz em
seu território além das tarefas (mandato) a serem executadas pelos peacekeepers no
dever de manutenção da paz local (Faganello, 2013:71).
Em Moçambique, segundo Branco (s/d:95), durante as negociações as partes
moçambicanas decidiram convidar a ONU a participar na comissão responsável pela
supervisão da implementação do acordo de paz. Esta intenção foi formalizada através da
assinatura de uma declaração conjunta, a 7 de Agosto de 1992 por Chissano e Dhlakama
aceitando o papel da comunidade internacional e espacialmente da ONU na
monitorização e garantia da implementação do Acordo Geral de Paz e em particular o
cessar-fogo e o processo eleitoral.
2.2.3.2. Princípio do Uso Mínimo de Forças
26
O princípio do uso mínimo de forças comporta-se de maneira não violenta e não
ameaçadora. O princípio do uso mínimo da força requer que somente seja usado em
caso de legítima defesa, defesa do mandato, defesa da população civil ou do pessoal
envolvido na missão (Faganello, 2013:75). Segundo Dos Santos14, na operação
ONUMOZ usou-se armas ligeiras como RPG, AK47, Bazucas e Pistolas, entretanto,
não houve qualquer acção que possibilita-se o uso mínimo da força, pois havia uma
grande vontade das partes em parar a guerra, razão esta que os levara a cumprir o
cessar-fogo.
A preocupação com o uso indiscriminado da força reside no fato de ela apresentar uma
série de implicações políticas que requer um juízo de valor quando do seu emprego, tais
como: percepção local; impacto humanitário; gradação da força; segurança do pessoal
da missão; protecção de civis; e possíveis danos colaterais (ibid:76). Isto significa que o
uso indiscriminado da força só pode ser possível quando há uma percepção de ameaça
quer contra civis, quer contra o pessoal da missão.
2.2.3.3. Princípio de Imparcialidade
O princípio de imparcialidade assegura a implementação justa dos mandatos, sem
prejudicar ou beneficiar determinada parte do conflito (ibid:73) desta forma, em
Moçambique, a ONUMOZ efectuou um envio de forças policiais que garantiam a
imparcialidade da polícia nacional. O vem reflectir no que Botão (2009:25) constata
"esta polícia da ONUMOZ iria por sua vez, monitorizar todas as actividades da polícia
dentro do território moçambicano, garantir o direito e liberdade dos cidadãos e
providenciar um auxílio técnico à comissão policial estabelecida nos Acordos de
Roma".
2.2.4. Actores do Peacekeeping da ONUMOZ
O peacekeeping em Moçambique foi multidimensional, visto que teve como actores
políticos, militares, paramilitares (polícias), sociedade civil e organizações humanitárias
o que não acontecia na primeira geração. Em suma, teve actores estatais e não estatais.
2.2.4.1. Actores Políticos
14 DOS SANTOS, Jacinto - Desmobilizado de Guerra, entrevistado no dia 30 de Outubro de 2015, em Maputo.
27
Segundo o Report of the Security Council Mission (1994:4) os actores políticos do
peacekeeping em Moçambique incluíam o representante das Nações Unidas em
Moçambique, Aldo Ajello, membros internacionais das comissões de paz (protocolos),
delegação dos chefes de governos da comissão de paz, embaixadores dos países
membros do Conselho de Segurança, embaixadores de países africanos, representantes
da comissão nacional de assuntos policiais que tinham como missão de dar apoio
técnico para a repatriação, reabilitação e eleições. Os quais, segundo Pavia (2012:3),
deram apoio aos partidos políticos, ajuda financeira e técnica e criaram programas de
educação cívica a nível nacional com o objectivo de esclarecer os eleitores sobre o
significado das eleições.
2.2.4.2. Actores Militares
Como actores militares, na operação ONUMOZ estavam na dianteira os famosos
Capacetes Azuis e os paramilitares, a Polícia Civil Internacional (CIVPOL).
2.2.4.2.1. Os Capacetes Azuis
Segundo Botão (2009:22), os militares conhecidos por Capacetes azuis eram compostos
por um grupo de observadores no qual faziam parte: Argentina, Bangladesh, Botswana,
Brasil, Canadá, Cabo-verde, China, República Checa, Egipto, Guiné-Bissau, Hungria,
Índia, Malásia, Portugal, Federação Russa, Espanha, Suécia, Uruguai e Zâmbia por um
lado.
Por outro lado, os grupos de operação no qual eram compostos por Bangladesh,
Portugal, Itália e Botswana que garantiam e mantinham a segurança no meio em que os
civis poderiam conduzir os seus trabalhos.
As Nações Unidas lideraram o processo de formação das Forças Armadas de
Moçambique, juntamente com o apoio da França, Portugal e Reino Unido que, através
da Declaração de Lisboa, auxiliaram a Comissão Conjunta para a Formação das Forças
de Defesa de Moçambique na formação das suas tropas em um treinamento que durou
de Julho a Dezembro de 1993 em um centro de treinamento do Zimbabwe (Pavia,
2012:47).
28
2.2.4.2.2. A CIVPOL
Como paramilitares (polícias), tem-se a CIVPOL com cerca de 125 observadores para
garantir a neutralidade nas capitais provinciais garantindo a liberdade e segurança dos
cidadãos (Botão, 2009:31). Segundo Batista (2014:49) a CIVPOL tinha a missão de
zelar pela integridade física dos moçambicanos, de acompanhar o processo eleitoral e
assegurar eleições livres e democráticas em que todos os cidadãos e partidos políticos
tivessem a oportunidade garantida de expressão, de proteger o respeito dos direitos
civis, de fornecer apoio técnico à Comissão Nacional de Polícia.
2.2.4.3.Actores da Sociedade Civil
Na sociedade civil tem-se a CNE e o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral
(STAE) como órgãos de realização e fiscalização das eleições (Batista, 2014:57). Desta
forma, a CNE e a STAE tinham que agir imparcialmente e fazer com que as eleições
fossem livres e justas.
O papel da CNE e da STAE verificou-se quando procuraram ser imparciais no processo
das eleições em Moçambique e juntamente com a ONUMOZ, tinham por tarefa
assegurarem-se de que as irregularidades clamadas pela RENAMO eram inexistentes
(Botão, 2009:29).
2.2.4.4. Actores das Organizações Humanitárias
2.2.4.4.1. Agências Humanitárias da ONU
Como organizações humanitárias teve-se a Agência para a Coordenação da Assistência
Humanitária (UNOHAC), as agências especializadas da ONU, tais como o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Programa Alimentar Mundial
(PAM), a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), o
Fundo das Nações Unidas para a Criança (UNICEF), a Organização Mundial da Saúde
(OMS) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO) que tinham como funções o repatriamento aos refugiados e deslocados, o
fornecimento de ajuda alimentar e ajuda de emergência (Pavia, 2012:38).
29
2.2.4.4.2. Organizações Não-Governamentais
Como Organizações Não-Governamentais tinha-se o Comité Internacional da Cruz
Vermelha, a Comprehensive Assessment Reporting Evaluation (CARE) e as
Organizações Não Governamentais tais como, a Assistência Médica Internacional
(AMI), a Associação de Defesa do Ambiente e do Património (OIKOS), o Comité de
Oxford de Combate a Fome (OXFAM) e os Médicos Sem Fronteiras que tinham como
função coordenar os programas de assistência humanitária (ibid).
2.2.5. Eficácia e eficiência do peacekeeping na operação ONUMOZ
A eficácia e eficiência do peacekeeping na operação ONUMOZ mostraram elementos
determinantes para a ocorrência da operação.
2.2.5.1. Eficácia do peacekeeping na operação ONUMOZ
Segundo Branco (s/d:97) a eficácia da ONUMOZ ficou patente no resultado final desta
missão, o qual se traduziu na realização das eleições livres que permitiram a
Moçambique alcançar a paz num ambiente de democracia multipartidária. Isto porque
houve forte apoio internacional visível quer pelos 35 países que contribuíram financeira
e humanamente para ONUMOZ, como foi número de capacetes azuis adequado que
permitiu controlar no terreno, quer a desmobilização, quer o acantonamento das tropas,
o elevado número de 900 observadores eleitorais, quer pelo apoio financeiro adicional
fornecido por alguns doadores que ajudou a suprimir algumas falhas da ONUMOZ
contribuindo para a eficácia da missão.
A vontade das partes, ou seja, o Governo de Moçambique e a RENAMO queriam a paz
duradoura no país, o fundamental papel desempenhado pelo Representante Especial do
Secretário-geral da ONU, Aldo Ajello, que, para além de ser bem aceite pelas partes,
conseguiu flexibilizar o mandato da ONUMOZ de modo a dar resposta à realidade no
terreno. Também se pode destacar o forte apoio e pressão dos países vizinhos com
interesses em Moçambique, nomeadamente África do Sul e Zimbabwe, na
implementação do processo de paz (ibid).
2.2.5.2. Eficiência do peacekeeping na operação ONUMOZ
A eficiência da ONUMOZ foi bem sucedida no terreno, tendo se verificado na boa
preparação e capacidade de actuação da operação em apresentar à RENAMO garantias
30
de que das eventuais irregularidades relacionadas aos problemas inerentes à falta de
regras no processo eleitoral seriam devidamente investigadas, a forma e a rapidez com
que este problema foi resolvido (Branco, s/d:96). Pese embora ter se constatado alguns
constrangimentos que contribuíram para a fraca operacionalidade e, consequente atraso
do início do processo da operação e o tardio financiamento dos valores monetários para
efectuar a ajuda nas diversas áreas críticas, tais como, a parte política e humanitária,
visto que cerca dos 9.5 milhões de dólares que o Secretário-Geral, Boutros-Ghali achou
bastante insuficiente para a aquisição de equipamentos, o aluguer de aviões, e para as
infra-estruturas e instalações das forças (Botão, 2009:23-24).
Rocca (1998:251) ainda salienta que a maior parte de cerca de 6,500 capacetes azuis
teriam chegado à Moçambique em Abril 1993, enquanto deveriam ter chegado nos
finais de 1992 e, apresentavam-se grandes dificuldades organizativas na implementação
dos centros de recolha e acantonamento das forças armadas das duas partes (Governo de
Moçambique e RENAMO).
31
3. Considerações Finais
Com o final da pesquisa, verificou-se que apesar do não consenso em alguns elementos
na definição do peacekeeping, há convergências que mostram que o peacekeeping visa
manter um cessar-fogo e prevenir o recomeço das hostilidades buscando a manutenção
da paz.
A ONUMOZ tinha como objectivo manter e promover a paz em Moçambique,
buscando a manutenção do cessar-fogo e as obrigações estipuladas no Acordo Geral de
Paz em Moçambique. Desta forma, alienando a teoria liberalista que diz que
organizações internacionais contribuem para a resolução pacífica de disputas e
aumentam a cooperação global, pode-se dizer que a operação ONUMOZ conseguiu
promover e manter a paz e ainda monitorar o processo eleitoral em Moçambique
durante o mandato, influenciando a sua contribuição no pós-mandato, uma vez que
Moçambique conseguiu transitar para um Estado de regime democrático.
A eficácia e eficiência do peacekeeping na ONUMOZ foram um dos elementos que
determinaram o sucesso da operação visto que a vontade das partes em manter o cessar-
fogo, o forte apoio material, financeiro e humano internacional, a capacidade do Aldo
Ajello em conseguir flexibilizar o mandato da ONUMOZ de modo a dar resposta à
realidade no terreno, forte apoio e pressão da África do Sul e Zimbabwe, na
implementação do processo de paz. Entretanto, apesar de terem enfrentado alguns
constrangimentos que posteriormente foram bem ultrapassados.
32
4. Referências Bibliográficas
Batista, Silva Felipe Fagner (2014), Moçambique, do seu Passado Colonial ao
Sistema de Eleições Multipartidárias: Os desafios do pós-Operação de Manutenção de
Paz para o País: Florianópolis
Botão, Jorge Jerónimo (2009), O Papel das Nações Unidas em Moçambique,
Academia Militar direcção do Curso de Artilharia: Lisboa.
Branco, Castelo Luís (s/d) As Missões da ONU na África Austral: Sucessos e
Fracassos, Defesa e Nação Editora.
David, Charles Phillipe (2000), A Guerra e a Paz: Abordagens Contemporâneas de
Segurança e da Estratégia, Instituto Piaget Editora: Lisboa.
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implications and Canada´s Role, Parliamentary Research Branch Library of Parliament.
Faganello, Fett Liane Priscila (2013), Operações de Manutenção da Paz da ONU: De
que forma os Direitos Humanos Revolucionaram a principal ferramenta internacional
da paz, Fundação Alexandre de Gusmão: Brasília.
Pavia, Zagallo Lynce Francisco José (2012), A Multi-Track Diplomacy na prevenção
e resolução dos conflitos em África: o caso de Moçambique- Comunicação Apresentada
na Conferência Internacional, Lusíada de Política Internacional e Segurança: Lisboa.
Rocca, Delia Marozzo Roberto (1998), Moçambique. Da Guerra à Paz: História de
uma mediação insólita, Livraria Universitaria-UEM: Maputo.
Fontes primárias
Report of the Security Council mission established pursuant to the statement made by
the president of the Security Council at the 3406th meeting, held on 19 July 1994
(s/prst/1994/35).
Boletim da República (1992), Acordo Geral de Paz de Moçambique- 13/92, de 14 de
Outubro. I série, Numero 42. Publicação Oficial da República de Moçambique: Maputo.
Dos Santos, Jacinto - Desmobilizado de Guerra, entrevistado no dia 30 de Outubro de
2015, em Maputo.33
SECÇÃO 3: O PROCESSO DO PEACEBUILDING EM MOÇAMBIQUE
Castro Buanausse e Juliana Chacaza
Na presente secção far-se-á uma abordagem sobre o peacebuilding, com particular
destaque para o peacebuilding em Moçambique. Em primeiro lugar achou-se pertinente
fazer uma definição conceptual do conceito e identificação dos objectivos peacebuilding
para melhor desenvolver o trabalho. De seguida far-se-á uma alusão ao objecto do
mandato, composição, princípios do peacebuilding em Moçambique, e por último temos
considerações finais.
A paz positiva é bem comum e desejado por todos os estados, porem as guerras que
afligem o contente Africano, coloca-lhes um grande desafio na medida que os Estados
Africanos procuram resolver as suas diferenças partir de meios pacíficos, que começa
com um processo de negociações entres as partes para resolver as suas diferenças, e
termina num acordo de paz entre as partes do conflito que da origem a uma nova
batalha, a necessidade de construir a paz que é desejada por todos. E neste contexto de
encaminhamos a definição de peacebuldiding, de duas grandes autoras a Bigatão e a
Faganello.
3.1. Definição do conceito peacebuilding
Segundo o Bigatão (2009-76), PeaceBuilding é um mecanismo que visa fortalecer o
processo de reconciliação nacional através da reconstrução das instituições, da
economia e da infra-estrutura do Estado anfitrião, executado após a assinatura de um
acordo de paz e simultaneamente ao peacemaking e ao peacekeeping.
Portanto, esta definição demonstra claramente que o peacebuilding aparece depois da
assinatura do acordo de paz, porque o processo de reconstrução das instituições, infra-
estruturas e da economia de um estado outrora destruída pela guerra, só é possível
depois do cessar-fogo ou com o alcance da paz.
Faganello (2013:48) diz que Peacebuilding é um instrumento recente reflexo das crises
da década de 1990 que envolve uma série de medidas voltadas para a redução do risco
de retomada do conflito a partir do fortalecimento das capacidades nacionais. Trata-se
de um processo complexo e de longo prazo que tem como objectivo criar as condições
necessárias para uma paz duradoura. Em suma, ele busca tratar o conflito em sua raiz,
34
bem como os problemas estruturais que levaram àquela situação. O momento adequado
para o desdobramento do peacebuilding é o que sucede ao peacekeeping, isto é, o
momento em que a paz tornou-se uma realidade (pós-conflito) no contexto intra-estatal.
Há uma convergência na definição do Bigatão e Faganello, na medida que os dois
actores concordam que o peacebuilding começa depois da assinatura de acordo paz, ou
seja, o peacebuilding aparece no momento que a paz torna-se realidade. Porém, para o
presente trabalho usar-se-a o conceito do peacebuilding do Bigatão por ser mais simplês
e claro.
3.2. Principais objectivos do peace-building
Segundo Bigatão (2009:76) As principais actividades do peace-building são: desarmar
as partes rivais, restaurar a ordem, repatriar os refugiados, monitorar eleições, proteger
os direitos humanos, remover minas terrestres, reformar e fortalecer as instituições
governamentais, promover o processo formal e informal de participação política.
3.2.1. Objecto de mandato peacebulding em Moçambique
Em Moçambique verificou-se após a assinatura dos acordos de paz em 1992,acções com
vista a construção duma paz efectiva no território moçambicano que foi simbolizada
pelo envio de uma missão de paz das Nações Unidas denominada ONUMOZ que
segundo (AG039, ONUMOZ), foi estabelecido a 16 de Dezembro de 1992 pela
resolução 797 do conselho de segurança cujo seu propósito era de auxiliar a
implementação dos acordos de paz firmados a 04 de Outubro de 1992. Durante os dois
anos de operação a ONUMOZ ajudou a monitorar e verificar o cessar-fogo;
desmobilizar as forcas armadas e os grupos paramilitares; a colecção, armazenamento e
destruição de armas; e a retirada de tropas estrangeiras. A missão também fez parte da
organização e monitorização das eleições realizadas a 27-28 de Outubro de 1994,
participou na remoção de minas terrestres, e na provisão de reassentamento e assistência
as pessoas desaparecidas e refugiadas internamente. A missão formalmente terminou
em 09 de Dezembro de 1994.
Para objectivo de mandato de peacebulding em Moçambique, a ONU através da
ONUMOZ ficou encarregue de acordo com Madeira (2003:1), de cumprir com os
seguintes objectivos:
35
A acompanhar e verificar do cessar-fogo, a separação e concentração de forças,
a sua desmobilização e a recolha, armazenamento e destruição de armas;
Acompanhar e verificar o licenciamento de grupos armados irregulares autorizar
os preparativos de segurança para infra-estruturas vitais e fornecer a segurança
para as Nações Unidas e outras actividades internacionais de apoio ao processo
de paz;
Fornecer assistência técnica e acompanhar o processo eleitoral na sua totalidade;
Coordenar e acompanhar as operações de assistência humanitária, em particular
as respeitantes aos refugiados, pessoas desalojadas internamente, pessoal militar
desmobilizado e a população local afectada.
3.3. Composição de peacebuilding em Moçambique
A composição de peacebuilding é multidimensional ou multidisciplinar, pois incorpora
diversas tarefas nas áreas política, militar, social, económico e humanitária, exigindo
maior coordenação de acções de diferentes actores estatais e não estatais
(Bigatão;2009:78). No contexto moçambicano este processo envolveu uma coordenação
de acções entre diversos actores com tarefas diversificadas a várias áreas, dentre os
quais as partes beligerantes, estatais e não estatais.
3.3.1. As partes beligerantes (o Governo e a RENAMO)
No processo do peacebuilding as partes do conflito têm um papel central na
materialização dos programas com vista a construção duma paz efectiva e duradoura.
Para que o processo de construção da paz seja uma realidade é preciso que as partes
cooperem, consintam, acima de tudo, é preciso que estejam cometidas a causa da paz
duradoura visto que o peacebuilding tem em vista a resolução dos problemas originários
do conflito para evitar a sua recorrência. No contexto moçambicano as partes
envolvidas foram o governo e a RENAMO e, ambas tiveram um papel crucial no
processo do peacebuilding e continuam tendo até a actualidade considerando que este
processo é inacabado.
A título ilustrativo o governo de Moçambique no acordo geral de paz (AGP) no artigo
IV sobre o regresso de refugiados e deslocados moçambicanos e a sua reintegração
36
social15, nas alinhas a), b), d) e e), comprometeu -se em repatriar os refugiados e
monitorar as eleições.
De acordo com Vines (1998:90) mais de 20.000 soldados da RENAMO foram
desmobilizados em 1993-1994 e um adicional de 4000 foram integrados nas forças
armadas de Moçambique, e por parte do governo depois dos acordos de paz, mais de
70.000 soldados das forças armadas de Moçambique foram desmobilizados e a sua
autoridade, equipamento, infra-estruturas e o pessoal restante foi integrada com a
RENAMO para formar uma nova força armada nacional denominada forças armadas de
defesa de Moçambique (FADM).
Portanto, para que acção de desmobilização e integração ocorresse, teve que haver uma
cooperação e confiança entre as partes, resultados de uma reconciliação a nível do topo
no sentido de se tornar possível a identificação e integração dos soldados e, a garantia
das condições para a desmobilização e integração destes soldados. Por exemplo a
situação social e económica dos desmobilizados foi garantida pelo governo porque
muitos soldados desmobilizados beneficiaram-se de acções sociais como pensões,
assistência médica e medicamentosa o que visavam acima de tudo, reinseri-los na
sociedade para que prosseguissem as suas vidas com uma base financeira, em todo o
território nacional.
3.3.2. Actores estatais
Nos actores estatais podemos destacar o papel dos estados e de organizações
intergovernamentais.
No contexto moçambicano os actores estatais e organizações intergovernamentais que
mais se destacaram no processo do peacebuilding foram: o governo da Itália, o governo
da França, Organização das nações Unidas (ONU), a Comissão de supervisionamento e
monitorização.
O governo da Itália15Boletim da República (1992), Acordo Geral de Paz de Moçambique- 13/92, de 14 de Outubro. I série, Numero 42. Publicação Oficial da República de Moçambique: Maputo.
37
O governo da Itália teve um papel fundamental no processo do peacebuilding em
Moçambique visto que de acordo com Vines (1998:92) com a assistência de
observadores de Portugal, Estados Unidos e Reino Unido, os militares italianos
desenharam o esboço original do protocolo militar e de cessar-fogo do acordo geral de
paz.
A mais significante contribuição do governo italiano no processo de paz, todavia, foi
uma contribuição a volta de 35 milhões de dólares norte americanos de 1992-1994 para
ajudar financeiramente a RENAMO para que continuasse cometido com a causa da paz
e a sua transformação em partido político(ibid).
Este apoio do governo italiano contribuiu significativamente para o alcance do
objectivo do peacebuilding que a promoção da participação política, visto que com a
ajuda financeira concedida, a RENAMO transformou-se em partido político tendo
concorrido nas primeiras eleições em 1994 onde teria ganho assentos na assembleia da
república, que lhe possibilitaram a sua participação formal e activa no processo de
tomada de decisão de assuntos de interesse nacional.
O governo da França
O governo da França segundo Vines (1998:92) fez parte, em 1994, da comissão
internacional de monitorização da implementação do acordo geral de paz.
Na formação da nova força armada, o governo Francês providenciou treinamento militar
substancial (ibid). A actuação do governo Francês foi de grande relevância sob o ponto
de vista do peacebuilding porque operacionaliza um dos seus objectivos baseados na
reforma e fortalecimento das instituições governamentais, neste caso, a França
contribuiu para a reforma e fortalecimento das forças armadas de Moçambique.
3.3.3. Organização das nações unidas
A nível político
Organização das nações Unidas (ONU) teve um papel fundamental, tendo participado
no processo de construção da paz em Moçambique através da ONUMOZ que teve um
papel chave na implementação do acordo geral de paz.
38
A UNOMOZ foi responsável por supervisionar a realização das primeiras eleições
multipartidárias democráticas em Outubro de 1994, este processo foi facilitada pela
natureza e pela vontade política do povo moçambicano para acabar com a guerra, e a
FRELIMO conquistou a maioria em Assembleia com 250 membros, e Joaquim
Chissano foi eleito presidente e tivemos coligação de três pequenos partidos ganharam
nove lugares, contribuindo para fácil a polarização no parlamento entre os ex-
beligerantes (Lundin;2004:14). Na construção da paz em Moçambique a ONU delegou
o órgãos que ficou conhecido como ONUMOZ de 1992 -1995 que teve o dever de
desmilitarizar as forças armadas e os grupos paramilitares, por exemplo a ONUMOZ
recolheu cerca de 200.000 mil SALW e entregou-se ao governo de Moçambique e
24.000 mil estão registadas como tendo sido destruídas e consequente reinserção dos
soldados desmobilizados na sociedade e reintegração dos refugiados, a titulo de
exemplo, a ONU lançou um programa de repatriamento para refugiados que terminou
em Maio de 1995 e cerca de 1 700 000 refugiados foram repatriados em Moçambique.
A nível humanitário
Para assuntos humanitários a ONU criou o escritório para a coordenação de assistência
humana a (UNOHC), foi criada em Maputo sob autoridade da ONUMOZ, a UNOHAC
foi dada a atribuição de assegurar e agir como um catalisador para a reconciliação e para
coordenar e monitorar toda a assistência humanitária operações, nomeadamente as
relativas aos refugiados, deslocados internos e militares desmobilizados
(Tataryn;2000:13).
3.3.4. A comissão de supervisionamento e monitorização
A comissão de supervisionamento e monitorização encabeçada pelo representante
especial das nações unidas Aldo Ajello e composto pelo governo de Moçambique,
RENAMO, Portugal, Itália, Estados Unidos de América, Reino Unido, França e
Organização da União Africana, foi estabelecido nos finais de 1992 ( Vines,1998:97).
Este foi o alto nível de séries de comissões para monitorar o cessar-fogo, o
estabelecimento das novas forças armadas, reintegração dos soldados desmobilizados na
sociedade moçambicana e retirada dos soldados estrangeiros do território moçambicano.
39
3.3.5. Actores Não-estatais
Nos actores nao-estatais podemos destacar o papel das organizações não-
governamentais, indivíduos ou grupo de indivíduos que não tenham nenhum vínculo
com o governo. Por exemplo, algumas organizações não-governamentais contribuíram
cerca de 50%, que contribuíram com um montante total em necessidade humanitárias de
775milhões de dólares (Tataryn;2000:13)
Na realidade moçambicana as instituições não-governamentais e indivíduos que
contribuíram grandemente no processo de construção da paz em Moçambique e
merecem destaque no presente trabalho são: o conselho cristão de Moçambique, igreja
católica e a Figura individual do Aldo Ajelo.
3.3.6. Organizações não-governamentais
O conselho cristão de Moçambique
O conselho cristão de Moçambique (CCM), uma organização ecuménica que reúne
diversas igrejas cristãs desempenhou um papel importante para a construção da paz em
Moçambique (Vines, 1998:98 ). Um dos seus contributos foi simbolizado pela iniciativa
lançada em 1996, denominada TAE (Transformação das Armas em enxadas) cuja
finalidade era de recolher o maior número de armas e transformá-las em alfaias de
trabalho, que eram entregues a quem tivesse uma espingarda. Esta iniciativa teve um
grande significado para o peacebuilding em Moçambique na medida em que
transformando as armas em alfaias, incentivavam os proprietários das armas a se
desarmarem e a estarem empenhados na produção agrícola como forma de
autosustentarem-se.
A igreja católica
Segundo Vines (ibid) desde a assinatura dos acordos de paz, a Igreja católica suportou
iniciativas comunitárias de reconstrução e reconciliação em Moçambique.
Após os acordos de paz a Igreja católica, através das suas diferentes comissões sociais,
sobretudo através da comissão Episcopal de justiça e paz, trabalhou com toda sociedade
moçambicana para criar e desenvolver consciência sobre a importância e a necessidade
da reconciliação e perdão aos nacionais a todos os níveis (social, político e religioso).
40
Neste âmbito criou, formou e capacitou os então chamados Integradores sociais16, que
foram verdadeiros da reconciliação (Dom Greselin17 citando a carta pastoral, 2008
n°17).
Portanto, estas acções da igreja católica foram de grande relevância do ponto de vista do
peacebuilding porque ajudou a cultivar a cultura da paz no seio da sociedade
moçambicana em todas as suas camadas sociais
Indivíduos
A figura individual que contribuiu grandemente no processo do peacebuilding em
Moçambique e merece destaque neste trabalho e Aldo Ajelo
Aldo Ajelo que foi o representante especial da ONUMOZ e o seu sucesso também
deveu-se a manobra hábil do político italiano, que amplamente utilizando sua
experiência diplomática e política pessoal empurraram os objectivos da UNOMOZ
traçados para Moçambique.
3.4. Princípios de peacebuilding em Moçambique
Na construção de paz em Moçambique, depois da assinatura do acordo de Roma em
1992, envolveu os seguintes princípios: princípios de consentimento e imparcialidade.
Princípio de consentimento
Segundo David (2000:314), as operações da ONU realizam-se com o consentimento das
partes do conflito. E as operações da ONU, na construção da paz em Moçambique
foram de consentimento das partes primárias do conflito.
A título de exemplo, segundo o acordo geral da paz (1992:5,6), no artigo IV sobre, o
regresso de refugiados e deslocados moçambicanos e sua reintegração social, na linha
b)que diz sem prejuízo da liberdade de circulação dos cidadãos o Governo elaborara um
plano de acordo com a RENAMO para organizar a assistência necessária aos refugiados
e deslocados, de preferência nos lugares de origem das populações. As partes acordam
em solicitar a participação dos competentes das Nações Unidas na elaboração e
16Os integradores sociais dedicavam-se a disseminação de mensagens de perdão e reconciliação nacional e tinha como objectivo que após a guerra, não houvesse “ajuste de contas”.
17 Dom Elio Greselin, Bispo de Lichinga.41
implementação deste plano. E no artigo VI sobre, garantia do processo eleitoral e o
papal de observadores internacionais, na alinha b) que diz com vista a garantir a maior
objectividade no processo eleitoral, as partes acordam em convidar como observadores
as Nações Unidas, a OUA e outras organizações bem como personalidades estrangeiras
idóneas conforme for acordado entre o Governo e a RENAMO.
Estes dois artigos acima citados mostram claramente, que actuação da ONU e outras
entidades no processo da construção da paz era do consentimento das partes primarias
do conflito em Moçambique, o governo e Resistência Nacional de Moçambique
( RENAMO).
Princípio de imparcialidade
O princípio de imparcialidade advoga que os actores envolvidos no processo de
construção da paz, não devem tomar um partido.
Assim sendo, as acções da ONU e outras entidades que estiveram envolvidos no
processo de construção da paz em Moçambique, eram imparciais, ou seja, não
demonstraram parcialidade na implementação dos programas de construção da paz no
sentido de beneficiar uns em detrimento de outros de acordo com a sua afinidade ou
partido.
Por exemplo: as pensões atribuídas aos desmobilizados de guerra são distribuídas aos
combatentes de ambas as partes, sem se importar se uns eram contra o governo ou a
favor do governo.
42
4. Considerações finais
Chegados a este ponto, em gesto de considerações finais vale a pena salientar que o
processo de construção da paz é um processo complexo e contínuo.
Portanto, em Moçambique vem sendo construído desde após a assinatura do acordo
geral de paz firmados a 04 de Outubro de 1992 em Roma pelos actores beligerantes da
guerra que devastou o país por 16 anos (a RENAMO e o Governo) até a actualidade e
prossegue enfrentando grandes desafios. Isto porque, depois dos acordos de Roma,
foram levadas varias acções com vista a consolidação da paz duradoura no território
moçambicano, porem, tem havido constrangimentos na medida em que a RENAMO
continua armada e perpetra ataques que obrigam a resposta por parte do governo mas
mesmo assim, ambas as partes recorrem ao diálogo para apurar as causas profundas que
originam estes conflitos e resolvem para que estes não ressurjam. Por exemplo no ano
de 2013, um ano antes das eleições a RENAMO perpetra ataques na zona de Muxungue
onde viria a reivindicar a revisão do pacote eleitoral como condição para que este
pudesse participar das eleições do ano de 2014, assim sendo, houve rondas de
negociação onde foram tomadas decisões que transformaram a composição dos órgãos
eleitorais, propôs-se e aprovou-se um fundo denominado fundo de reconciliação
nacional que ira financiar projectos de desenvolvimento dos ex combatentes, entretanto,
o grande desafio que se enfrenta para que o peacebuilding ocorra normalmente no
território moçambicano é o desarmamento completo da RENAMO.
Deste modo, o processo de construção da paz em Moçambique é um processo que
começou com a assinatura dos acordos de paz em 1992 e esta em andamento e, este
processo envolve uma diversidade de actores.
43
5. Referências Bibliográficas
Fontes primárias
AG-039 -United Nations in Operation in Mozambique (ONUMOZ) (1992-1994): The
functional description of records based on the "Taxonomy for Recordkeeping in Field
Missions of UN Peacekeeping Operations," June 2006.
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Carta pastoral, 2008 n°17: Comprometidos com a justice, Reconciliação e a paz.
Oração de sapiência para abertura do ano lectivo e académica no ISGECOF em
Lichinga proferida pela sua Excelência Reverendíssimo Sr. Dom Elio Greselin, Bispo
de Lichinga no dia 24 de Março de 2014.
Fontes secundárias
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das Nacoes Unidas aos conflitos armados intra-estatais na década 1990, ed são Paulo.
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Dos Santos, Jacinto - Desmobilizado de Guerra, entrevistado no dia 30 de Outubro de
2015, em Maputo.
45
CONCLUSÃO
O Peacemaking é um conjunto de esforços diplomáticos e políticos estrategicamente
aplicado em situações de conflito ou de eminência de ocorrência do conflito com o
intuito de, através da mediação e negociação, deter o conflito ou impedir a sua escalada
As missões de paz em Moçambique enquadram-se no contexto das da terceira geração
cujo processo de sua promoção em Moçambique iniciou depois do conflito e tendo com
objectivo de aproximar as partes litigantes. Intervieram no peacemaking tanto
organizações não-governamentais como as igrejas moçambicanas e a comunidade santo
Egídio; estados como a italia, os EUA, a RSA; de empresários como Tiny Rowland. As
acções para a pacificação do país fizeram-se sentir tanto em Moçambique, no Quénia,
na RSA e bem como em Roma, na Itália.
A ONUMOZ tinha como objectivo manter e promover a paz em Moçambique,
buscando a manutenção do cessar-fogo e as obrigações estipuladas no Acordo Geral de
Paz em Moçambique. Desta forma, alienando a teoria liberalista que diz que
organizações internacionais contribuem para a resolução pacífica de disputas e
aumentam a cooperação global, pode-se dizer que a operação ONUMOZ conseguiu
promover e manter a paz e ainda monitorar o processo eleitoral em Moçambique
durante o mandato, influenciando a sua contribuição no pós-mandato, uma vez que
Moçambique conseguiu transitar para um Estado de regime democrático.
A eficácia e eficiência do peacekeeping na ONUMOZ foram um dos elementos que
determinaram o sucesso da operação visto que a vontade das partes em manter o cessar-
fogo, o forte apoio material, financeiro e humano internacional, a capacidade do Aldo
Ajello em conseguir flexibilizar o mandato da ONUMOZ de modo a dar resposta à
realidade no terreno, forte apoio e pressão da África do Sul e Zimbabwe, na
implementação do processo de paz. Entretanto, apesar de terem enfrentado alguns
constrangimentos que posteriormente foram bem ultrapassados.
O processo de construção da paz é um processo complexo e contínuo. Portanto, em
Moçambique vem sendo construído desde pós assinatura do acordo geral de paz
firmados a 04 de Outubro de 1992 em Roma pelos actores beligerantes da guerra que
devastou o país por 16 anos (a RENAMO e o Governo) até a actualidade e prossegue
46
enfrentando grandes desafios isto porque, depois dos acordos de Roma, foram levadas
varias acções com vista a consolidação da paz duradoura no território moçambicano,
porem, tem havido constrangimentos na medida em que a RENAMO continua armada e
perpetra ataques que obrigam a resposta por parte do governo mas mesmo assim, ambas
as partes recorrem ao diálogo para apurar as causas profundas que originam estes
conflitos e resolvem para que estes não ressurjam.
Deste modo, o processo de construção da paz em Moçambique é um processo que
começou com a assinatura dos acordos de paz em 1992 e esta em andamento e, este
processo envolve uma diversidade de actores.
47
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51
Índice
Lista de Siglas e Abreviaturas……………………………………………………………i
Introdução..........................................................................................................................1
SECCAO 1: PEACEMAKING E A PROMOÇÃO DA PAZ EM AFRICA – CASO DE MOÇAMBIQUE...............................................................................................................4
1.1 Definição conceptual de Peacemaking....................................................................4
1.2. Actores do peacemaking.........................................................................................5
1.3. Métodos do peacemaking.......................................................................................5
1.3.1. Diplomacia preventiva.....................................................................................6
1.3.2. Bons Ofícios....................................................................................................6
1.3.3. Mediação.........................................................................................................7
1.3.4. Conciliação......................................................................................................7
1.3.5. Arbitragem.......................................................................................................7
1.3.6. Decisão judicial...............................................................................................8
1.3.7. Inquérito ou aferição de factos........................................................................8
1.4. Objecto ou mandato do peacemaking.....................................................................8
1.5. Composição do peacemaking.................................................................................9
1.6. Princípios do Peacemaking...................................................................................10
1.6.1. Princípio de Consentimento..........................................................................10
1.6.2. Princípio da Imparcialidade...........................................................................11
1.6.3. Não ao uso da força ou uso mínimo da força................................................11
2. Peacemaking em Moçambique....................................................................................11
2.1. Actores intervenientes no processo de promoção da paz em Moçambique.........11
2.1.1 As igrejas........................................................................................................12
2.1.2. Comunidade Santo Egídio.............................................................................14
2.1.3. O Grupo de Mediação...................................................................................15
2.1.4. Os Estados.....................................................................................................15
52
2.1.5. Outros actores não Estatais............................................................................17
3. Considerações finais....................................................................................................19
4. Referências bibliográficas...........................................................................................20
SECCAO 2: A MISSÃO PEACEMAKING EM MOÇAMBIQUE.................................22
2.1. Definição do Peacekeeping..................................................................................22
2.2. A operação das Nações Unidas em Moçambique (ONUMOZ)...........................23
2.2.1. Objecto de mandato da ONUMOZ................................................................23
2.2.2. Composição da ONUMOZ............................................................................23
2.2.3. Princípios do peacekeeping...........................................................................26
2.2.4. Actores do Peacekeeping da ONUMOZ.......................................................27
2.2.5. Eficácia e eficiência do peacekeeping na operação ONUMOZ....................30
3. Considerações Finais...................................................................................................32
4. Referências Bibliográficas...........................................................................................33
SECÇÃO 3: O PROCESSO DO PEACEBUILDING EM MOÇAMBIQUE.................34
3.1. Definição do conceito peacebuilding...................................................................34
3.2. Principais objectivos do peace-building...............................................................35
3.2.1. Objecto de mandato peacebulding em Moçambique....................................35
3.3. Composição de peacebuilding em Moçambique..................................................36
3.4. Princípios de peacebuilding em Moçambique......................................................41
4. Considerações finais....................................................................................................43
5. Referências Bibliográficas...........................................................................................44
CONCLUSÃO.................................................................................................................46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................48
53