lagrange y conjuntos de enlace
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Universidade Federal de Minas GeraisInstituto de Ciências Exatas
Departamento de Matemática
Multiplicadores de Lagrangee conjuntos enlaçados
Mario Daniel Huaman Bolaños
Belo Horizonte - Novembro de 2013
Sumário
Introdução geral 1
1 Multiplicadores de Lagrange 3
2 Conjuntos Enlaçados 11
A Teorema da função implícita 21
Referências bibliográficas 25
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Introdução
Na primeira parte do presente trabalho, desenvolvemos o metodo de multiplicadoresde Lagrange para espaços de dimensão infinita.
No caso de dimensão finita temos que se consideramos M ⊂ Rn+1 uma hiperfíciede classe Ck. Dizemos que p é um ponto crítico da restrição f |M se e somente se(∇f(p), v) = 0 para todo v ∈ TpM , isto é que o vetor ∇f(p) seja normal á hiperficieM no ponto p. Agora se M = φ−1(c) é a imagem a inversa de um valor regular c poruma função φ : U → R de classe Ck. Então como M é superficie de nivel de φ temosque
∇φ(p)⊥TpM
Por outro lado, de acima temos que que p é ponto crítico de f |M se e somente se∇f(p)⊥TpM . Como TpM ⊂ Rn+1 é um espaço vetorial de dimensão n, segue-se quep é um ponto crítico de f |M se e somente se, ∇f(p) é um multiplo de ∇φ(p). Assimobtemos o seguinte resultado:
Seja f : U → R uma função de classe Ck (k ≥ 1) no aberto U ⊂ Rn+1 eM = φ−1(c) uma hiperficie contida em U , imagem inversa do valor regular c ∈ Rpor uma função φ : U → R de classe Ck. Um ponto p ∈ M é ponto crítico de f |M se,e somente se, existe um número real λ tal que ∇f(p) = λ∇φ(p).
Na segunda parte do trabalho, desenvolveremos a teoria de conjuntos enlaçãdos,aqui veremos que outras geometrias diferentes ao passo da montanha geram teoremasminimax, apresentando algumas especializações importantes do teorema 2.4 como osteoremas do passo da montanha, o ponto sela e das esferas enlaçãdas. Para o nossoobjetivo precisaremos conhecer de alguns fatos provados em aulas como o lema dadeformação.
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CAPÍTULO 1
Multiplicadores de Lagrange
Estabeleceremos o conceito de multiplicador de Lagrange, aqui usaremos o teo-rema da função implicita e chegaremos a uma generalização das ideas no apendice,finalmente faremos umas aplicações.
Definição 1.1. Seja E um espaço de Banach, ω ∈ E um aberto e J ∈ C1(ω,R).Dizemos que u ∈ ω é um ponto crítico de J , se J ′(u) = 0. Se u não é ponto críticodizemos que u é um ponto regular de J . Se c ∈ R, dizemos que c ∈ R é um valorcritico de J , se existe u ∈ ω tal que J(u) = c e J ′(u) = 0. Se c não é um valorcritico de c, dizemos que c é um valor regular de J .
O exemplo mais simples de um ponto crítico de uma função J ∈ C1(ω,R) é umponto extremal, ou seja, um ponto em que J atinge um máximo ou mínimo local ouglobal.
Agora, veamos o que significa um valor crítico ou um ponto crítico para um fun-cional definido sobre um conjunto de restrições e introduzimos o conceito:
Definição 1.2. Seja E um espaco de Banach, F ∈ C1(E,R) e um conjunto de re-strições
S = v ∈ E : F (v) = 0
Suponha que para todo u ∈ S, temos F ′(u) = 0. Se J ∈ C1(E,R) ( ou de classe C1
sobre uma vizinhança de S), dizemos que u é um ponto crítico de J em S, seexiste λ ∈ R tal que J ′(u) = λF ′(u). O real c tal que J(u) = c é valor crítico de J
sobre S e o real λ é chamado multilpicador de Lagrange para o valor crítico c ouponto crítico u.
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4 Multiplicadores de Lagrange
No caso em que E é um espaço funcional e a equação J ′(u) = λF ′(u) correspondea uma e.d.p., tal equação é chamada equação de Euler-Lagrange satisfeita pelo pontocrítico u sobre a restrição S.
A ultima definição é justificada pelo seguinte resultado que estabelece a existênciado multiplicador de Lagrange. Assim usando o teorema da função implícita (A.7),obtemos:
Proposição 1.3. Sobre as hipóteses e notações da definição anterior, suponhamos queu0 ∈ S é tal que J(u0) = inf
v∈SJ(v). Então existe λ ∈ R tal que
J ′(u0) = λF ′(u0)
Demonstração. Como F ′(u0) = 0, existe w ∈ E tal que
F ′(u0)(w) = 1
e sendo F ′(u0) sobrejetiva, então E0 = KerF ′(u0) admite um complemento em E, naverdade temos E = E0 ⊕ spamw. Definamos a função ϕ : E0 × R → R definida por
ϕ(v, t) = F (u0 + v + tw)
então ϕ(0, 0) = F (u0) = 0 e como ϕt(v, t) = F ′(u0 + v + tw)(w) temos ϕt(0, 0) = 1,tambem sendo ϕv(v, t) : E0 → R, com ϕv(v, t)(h) = F ′(u0 +v + tw)(h), logo ϕv(0, 0) =F ′(u0)|E0 = 0.
Assim aplicamos o teorema da função implícita a ϕ no ponto (0, 0) ∈ E0 × R,temos que existe uma vizinhança ω de 0 ∈ E0, e uma aplicação T : ω → R tal queϕ(v, Tv), ∀ v ∈ ω e também T (0) = 0 e como
T ′(v) = −(ϕt(v, T (v)))−1 (ϕv(v, Tv))
temos para cada h ∈ E0,
T ′(0)(h) = −(ϕt(0, 0))−1 (ϕv(0, 0))(h) = −(ϕv(0, 0))(h) = 0
Portanto temos F (u0+v+T (v)w) = 0 para todo v ∈ ω, (i.e. temos uma vizinhançade u0 onde F (u) = 0). Se J : ω → R é definido por J(v) = J(u0 + v + T (v)w) vemos
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que J atinge seu mínimo em 0 ∈ ω. Em consequência J ′(0)(v) = 0, para todo v ∈ E0.
No entanto da definição de J e a propiedade de T , sabemos que se v ∈ E0,temos que J ′(0)(v) = J ′(u0)(v) e assim J ′(u0)(v) = 0, para todo v ∈ E0, isto é,KerF ′(u0) ⊂ KerJ ′(u0), supondo que J ′(u0) = 0 e sabendo que KerF ′(u0) tem codi-mensão 1, então KerF ′(u0) = KerJ ′(u0), assim existe λ ∈ R tal que J ′(u0) = λF ′(u0).2
Para mostrar a existência de multiplicadores de Lagrange no caso em que S sejadefinido por un número finito de restrições , precisaremos do seguinte lema:
Lema 1.4. Seja X um espaço vetorial e as funcionales lineares f0, f1, ..., fm sobre X.Suponha que
∩1≤j≤m
ker(fj) ⊂ ker(f0)
Então existem reais λ1, λ2, ..., λm tais que f0 =m∑
j=1λjfj.
Demonstração.Ver proposição 15.9 de [2].
2
Proposição 1.5. Sejam F1, F2, ..., Fm ∈ C1(E,R) e
S = u ∈ E : 1 ≤ j ≤ m, Fj(u) = 0.
Seja J ∈ C1(E,R) e suponha que u0 ∈ S é tal que J(u0) = minv∈S
J(v) e que asfuncionais lineares F ′
1(u0), ..., F ′m(u0) são l.i. Então existem reais λ1, ..., λm tais que
J ′(u0) =m∑
j=1λjF
′j(u0)
Demonstração. Fazendo como na prova anterior, para cada Ei temos ker F ′i (u0) ⊂
ker J ′(u0), assim
∩1≤j≤m
ker(fj) ⊂ ker(f0)
e obtemos a conclusão do lema anterior.
6 Multiplicadores de Lagrange
2
A condição de que F ′1(u0), ..., F ′
m(u0) sejam l.i substitui à condição de F ′(u) = 0,∀ u ∈ S, é uma generalização da idea de ponto regular, neste caso definindo F : E →Rm F (v) = (F1(v), ..., Fm(v)), temos que S = v ∈ E : F (v) = 0 e pedimos queF ′(u) : E → Rm seja sobrejetiva para todo u ∈ S, i.e., para cada (w1, ..., wm) ∈ Rm osistema
F ′j(u)v = wj, j = 1, ..., n
tenha uma solução v ∈ E. Na verdade temos uma generalização da proposição anterior:
Proposição 1.6. Seja Y um espaço de Banach, F ∈ C1(E, Y ), S = v ∈ E : F (v) =0. Suponha que J ∈ C1(E,R), u0 ∈ S e J(u0) = min
v∈SJ(v) tal que F ′(u0) : E → Y é
sobreyetiva.Então existe λ ∈ Y ∗ tal que
J ′(u0) + λ F ′(u0) = 0
Demonstração. Se usa o teorema da função implicita sobreyetiva (A.8).2
Exemplo: Seja H um espaço de Hilbert e B = B∗ um operador autoadjunto ecompacto em H tal que (Bu0, u0) > 0 para um u0 ∈ H. Sejam F, J : H → R por
F (u) = (u, u) − 1 J(u) = (Bu, u)
Então sendo
S = u ∈ H : F (u) = 0
a esfera unidade de H, pode-se demonstrar que existe u0 ∈ S tal que
J(u0) = µ1 := maxv∈S
J(v)
Com efeito, se (un)n é uma sequência de S tal que J(un) → µ1, então sendo (un) ⊂BM limitada num espaço reflexivo temos que possui uma subsequência fracamenteconvergente e denotamos
u0 =w
limn→∞
un
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Então sendo B compacto, temos Bun → Bu0 em H, assim
J(un) = (Bun, un) → (Bu0, u0) = J(u0)
Em consequência, J(u0) = µ1 > 0 e assim u0 = 0. Por outra parte, sendo θ := ∥u0∥,temos que
0 < θ ≤ lim infn→∞
∥un∥ = 1
Agora, não podemos ter θ < 1, pois nesse caso, fazendo u := u0/θ, temos que u ∈ S
e
J(u) =(
Bu0
θ,u0
θ
)= θ−2µ1 > µ1,
uma contradição pela definição de µ1, então ∥u0∥ = 1. Concluimos que u0 ∈ S eque µ1 é atingido por u0.
Por consequência, existe λ ∈ R tal que
2(Bu0, v) = J ′(u0)(v) = λF ′(u0)(v) = 2λ(u0, v) ∀ v ∈ H
então se v = u0 :
µ1 = (Bu0, u0) = λ(u0, u0) = λ
o que significa que λ = µ1 é um autovalor de B.Exemplo: Seja Ω um aberto limitado regular de RN e p > 1 tal que (N − 2)p <
N + 2 (p < 2∗ − 1).Consideremos sobre o espaço H10 (Ω):
S = v ∈ H10 : F (v) = 0
onde
F (v) =∫
Ω|v(x)|p+1dx − 1
e
J(v) =∫
Ω|∇v(x)|2dx
Primeiro, mostremos que existe u0 ∈ S tal que
J(u0) = µ := minv∈S
J(v)
8 Multiplicadores de Lagrange
Com efeito, considere uma sequência minimizante (vn) em S tal que J(vn) → µ,assim (J(vn))n é limitada e usando a desigualdade de Poincare temos:
∥vn∥2H1
0= ∥∇vn∥2
2 = |J(vn)| ≤ c
assim (vn) é limitada em H10 (Ω) então possui uma subsequência fracamente con-
vergente, denotamos o limite:v0 :=
w
limn→∞
vn
Então temos que
∥v0∥H10
≤ lim inf ∥vn∥H10
e assimJ(v0) ≤ lim inf J(vn) = µ (1.1)
Além disso, como 2 < p + 1 < 2∗ pelo teorema de Rellich-Kondrachov a injeção deH1
0 (Ω) em Lp+1(Ω) é compacta então como vn v0 em H10 temos que vn → v0 em
Lp+1. Assim,
0 = F (vn) = ∥vn∥p+1p+1 −→ ∥v0∥p+1
p+1 = F (vn) = 0
isto é, v0 ∈ S e pela definição de µ temos que J(v0) ≥ µ, o que junto a (1.1) mostraque µ é atingido em v0 ∈ S.
Então sabemos que existe λ ∈ R tal que
J ′(v0)(h) = λF ′(v0)(h) ∀ h ∈ H10 (Ω)
isto é,
−2∫
Ω∆v0(x)h(x)dx = λ(p + 1)
∫Ω
v0(x)|v0(x)|p−1h(x)dx (1.2)
Se h = v0, temos
−2∫
Ω∆v0(x)v0(x)dx = λ(p + 1)
∫Ω
|v0(x)|p−1v0(x)2dx
Integrando por partes o lado esquerdo:
2∫
Ω∇v0(x)∇v0(x)dx = λ(p + 1)
∫Ω
|v0(x)|p−1|v0(x)|2dx
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2J(v0) = λ(p + 1)∫
Ω|v0(x)|p+1dx = λ(p + 1)(F (v0) + 1)
Assim temos 2µ = λ(p + 1), isto é λ = 2µp+1 .
Substituindo em (1.2) temos que para todo h ∈ H10 (Ω),
−∫
Ω∆v0(x)h(x)dx = µ
∫Ω
v0(x)|v0(x)|p−1h(x)dx
isto é, −∆v0 = µ|v0|p−1v0 no sentido fraco.Como µ > 0, estabelecendo
u := µ1
p−1 v0
obtemos uma solução não nula da equação
−∆u = |u|p−1u, Ωu = 0, ∂Ω
Note que a primeira parte do argumento acima é válido quando p = 1, neste casoobtemos µ = λ e −∆v0 = µv0, assim µ é o autovalor e v0 o autovetor do laplacianocom condição de Dirichlet sobre Ω.
CAPÍTULO 2
Conjuntos Enlaçados
Seja f ∈ C1(X,R), onde X é um aberto de um espaço de Banach E.
O METODO MINIMAX
Considere-se dois subconjuntos ∂Q ⊆ Q fechados em X. Definimos a classe Γ, por
Γ := γ ∈ C(Q, X) : γ|∂Q = Id
onde Id é a (restrição da) aplicação identidade, e o número
c = infγ∈Γ
supu∈Q
f(γ(u))
Quando não houver ambiguidade, escreve-se inf supΓ f . Observe-se que a classe Γnão é vazia, visto que Id ∈ γ. Suporemos que supQ f < ∞ (nos exemplos subsequentes,Q é compacto). Da definição de c resulta que
sup∂Q
f ≤ c ≤ supQ
f < ∞
Pois,
sup∂Q
f = sup∂Q
(f γ) ≤ supQ
(f γ) ∀ γ ∈ Γ
Então por definição de ínfimo temos: sup∂Q f ≤ c. Logo, como Id ∈ Γ temosc ≤ supu∈Q f(Id(u)).
Teorema 2.1. Se f satisfaz a condição (PS)c e sup∂Q
f < c então c é um valor crítico
de f .
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12 Conjuntos Enlaçados
Demonstração. Por contradição, se c não é valor crítico de f , então pelo lema dadeformação temos que existe um homeomorfismo h : X → X que satisfaz
h(f c+ε) ⊆ f c−ε e h|fc−2ε = Id
Visto que ε pode ser escolhido arbitrariamente pequeno, podemos supor que sup∂Q
<
c − 2ε, assim ∂Q ⊂ f c−2ε então temos que h|Q ∈ Γ.
Agora pela definição de c, dado ε > 0, existe γ ∈ Γ tal que
supu∈Q
f(γ(u)) ≤ c + ε.
Logo, temos que a função γ := h γ esta em Γ e como f(γ(u)) ≤ c + ε para todou ∈ Q, então temos f(h(γ(u))) ≤ c − ε para todo u ∈ Q, assim:
supu∈Q
f(γ(u)) ≤ c − ε
o que contradiz a definição de c.2
A condição (PS) pode ainda ser enfraquecida. Fixemos uma sequência minimizantepara c, ou seja, uma sequência (γn) ⊂ Γ tal que
sup(f γn) → c
Diz-se que f satisfaz a condição (PS) perto de (γn) se toda sequência (un) ⊂ X
tal que
f(un) → c, f ′(un) → 0 e lim infn→∞
d(un, γn(Q)) = 0
admite uma subsequência convergente para um ponto u ∈ X.
Teorema 2.2. Suponha-se que sup∂Q f < c e seja (γn) uma sequência minimizantepara c. Então, a menos de uma subsequência, existem un ∈ X tais que
f(un) → c, f ′(un) → 0 e d(un, γn(Q)) → 0
Consequentemente, se f satisfaz a condição (PS) perto de (γn) então f admite umponto crítico u tal que f(u) = c e lim inf d(u, γn(Q)) = 0.
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Demonstração. Se a conclusão fosse falsa.(Considere u ∈ X que satisfaça a primeirae terceira conclusão). Então existem constantes ε > 0 e k0 ∈ N tais que para k ≥k0 e u ∈ f−1([c − ε, c + ε]) e d(u, γk(Q)) ≤ ε temos ∥f ′(u)∥ ≥ ε. Como temoslim
k→∞sup
Q(f γk) = c, então para k suficientemente grande temos que
sup f(γk(Q)) ≤ c + ε
assim pelo lema da deformação temos que existe um homeomorfismo h : X → X
satisfazendo
h(f c+ε) ⊆ f c−ε e h|fc−2ε = Id
portanto como para todo u ∈ Q temos f(γk(u)) ≤ c + ε então f(h γk(u)) ≤ c − ε,y como h γk ∈ Γ então
supQ
(h γk) ≤ c − ε
o que contradiz a definição de c. 2
ENLACE
A hipótese feita no teorema anterior relativa a c pode ser verificada com a ajudado conceito seguinte.
Definição 2.3. Dados três subconjuntos fechados em X, ∂Q ⊆ Q e S, diz-se que S
e Q estão enlaçados através ∂Q se S ∩ ∂Q = ∅ e γ(Q)∩ = ∅ para todo γ ∈ Γ.Diz-se também que S e Q têm a propiedade de linking.
Observações 1. Na situação de enlace, se c é o número definido acima, temos queexiste u ∈ γ(Q) ∩ S assim inf
Sf ≤ f(u) ≤ sup
γ(Q)f para todo γ ∈ Γ. Portanto
infS
f ≤ c
2. Se h é um homeomorfismo em X e h|∂Q ≡ Id então também h(S) e Q estãoenlaçados através de ∂Q.
Com efeito, como h é bijetiva, então
∅ = h(S ∩ ∂Q) = h(S) ∩ h(∂Q) = h(S) ∩ ∂Q
14 Conjuntos Enlaçados
∅ = h(γ(Q) ∩ S) = h(γ(Q)) ∩ h(S) = γ(Q) ∩ h(S) para todo γ ∈ Γ.
Retome-se a classe Γ e o número c do teorema anterior e denote K = u : f ′(u) = 0e Kc = u ∈ K : f(u) = 0.
Teorema 2.4. Suponha-se que S e Q estão enlaçãdos através de ∂Q e que
sup∂Q
f < infS
f
Se c ∈ R e f satisfaz a condição (PS)c então c é um valor crítico de f . Alémdisso,
i) Kc ∩ (X\∂Q) = ∅
ii) Se c = infS
f então Kc ∩ S = ∅
Demonstração. Pelo teorema 2.1 temos que c é um valor crítico de f . Provemos ii),se c = inf
Sf , suponha por absurdo que Kc ∩ S = ∅, assim temos que se u ∈ S então
u não é ponto crítico de f então usando o lema da deformação para (−f) temos queexiste um homeomorfismo h : X → X que satisfaz
h(−f−c+ε ∩ S) ⊆ −f−c−ε
h(u) = u, u /∈ −f−1(< −c − 2ε, −c + 2ε >) ∩ S2δ
onde S2δ = u ∈ E : dist(u, S) ≤ 2δ. Então se u ∈ S temos que f(u) > c − ε,assim
−f(u) < −c + ε ⇒ −f(h(u)) ≤ −c − ε ⇒ infh(S)
≥ c + ε
Como ε pode ser escolhido arbitrariamente pequeno , podemos supor sup∂Q
f < c−2ε,
assim −f(u) > −c + 2ε para u ∈ ∂Q e como ∂Q ∩ S = ∅ temos que u /∈ S2δ, portantoh|∂Q = Id.
Pela observação 2 acima, h(S) e Q estão enlaçados através de ∂Q, então pelaobservação 1 temos que
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infh(S)
f ≤ c
e isso contradiz a desigualdade anterior.Finalmente, visto que S ∩ ∂Q = ∅, fica também provada a afirmação em (i).
2
Um corolario útil do teorema 2.4 é o seguinte.
Teorema 2.5. Suponha-se que S e Q estão enlaçãdos através de ∂Q e que existemdois homeomorfismos h e φ em X tais que
h(u) = u ∀ u ∈ ∂Q φ(u) = u ∀ u ∈ h(S)
Denotem a := infh(S) f e b := supφ(Q) f . Então se f satisfaz a condição (PS) emtodo ponto do intervalo [a, b] e
supφ(∂Q)
f < infh(S)
f
o intervalo [a, b] contém um valor crítico de f .
Demonstração.Considere-se a classe
Γ := γ ∈ C(φ(Q), X) : γ|φ(∂Q) = Id
Provamos a seguir que os conjuntos h(S) e φ(Q) estão enlaçãdos através de φ(∂Q).Agora dado γ ∈ Γ, como φ|h(S) = Id, a condição γ(φ(Q)) ∩ h(S) = ∅ é equivalente apedir que a aplicação composta α := h−1φ−1γφ satisfaça α(Q) ∩ S = ∅. Com efeito,sendo h e φ homeomorfismos, temos
φ h(α(Q) ∩ S) = γ(φ(Q)) ∩ φ(h(S)) = γ(φ(Q)) ∩ h(S)
Agora se u ∈ ∂Q temos que γ(φ(u)) = φ(u) assim φ−1 γ(φ(u)) = u, portantoα ∈ Γ então como S e Q estão enlaçados temos α(Q) ∩ S = ∅.
Por outro lado, se S ∩ ∂Q = ∅ então
16 Conjuntos Enlaçados
∅ = φ h(S ∩ ∂Q) = φ(h(S) ∩ ∂Q) = h(S) ∩ φ(∂Q)
Seja c = infΓ
supφ(Q)
f(γ(u)) então temos que
a = infh(S)
f ≤ c ≤ supφ(Q)
f = b
logo como f satisfaz a condição (PS)c e também supφ(∂Q)
f < infh(S)
f então pelo teorema
2.4, c é um ponto crítico de f .2
Na ordem de ideias do teorema anterior, temos que os resultados anteriores valemnum contexto ligeramente mais geral. Podiamos ter considerado um espaço métricocompacto Q, um subespaço ∂Q e uma aplicação continua ρ : ∂Q → X. E a correspon-dente classe Γ é definida por
Γ = γ ∈ C(Q, X) : γ|∂Q ≡ ρ
Exemplos: Apresentamos algumas especializações particularmente importantesdo teorema 2.4.
Teorema 2.6 (Passo da montanha). Considere-se um subconjunto S fechado em X
e dois pontos u0 e u1 pertencentes a duas componentes conexas por arcos distintos deX − S. Defina-se
Γ1 := α ∈ C([0, 1]; X) : α(0) = u0, u1 = α(1)
ec := inf
Γ1sup f
Suponha-se que f satisfaz a condição (PS)c e
maxf(u0), f(u1) < infS
f
Então c ≥ infS f e c é um valor crítico de f .
Demonstração. Considerando Q = [0, 1] e ∂Q = u0, u1, sabendo também que todocaminho α ∈ Γ1 intersecta S temos α(Q) ∩ S = ∅ e S ∩ ∂ = Q, logo
sup∂Q
f = maxf(u0, u1) < infS
f
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Agora, existe u ∈ α(Q) ∩ S para todo α ∈ Γ então
infS
f ≤ f(u) ≤ supα(Q)
f
Assim, infS
f ≤ inf supΓ1 f = c e pelo teorema 2.4, c é um valor crítico de f .2
Nas condições anteriores, tem-se além disso que Kc ∩ (X − u0, u1) = ∅ e queKc ∩ S = ∅ caso c = infS f .
Suponha agora que X é um espaço de Banach.
Teorema 2.7 (Ponto sela). Suponha-se que vale a soma X = X1⊕
X2 e que X1 temdimensão finita. Seja B1 uma bola de X1 centrada na origem e denote ∂B1 a suafronteira em X1. Defina-se
Γ2 := γ ∈ C(B1; X) : γ|∂B1 = Id e c := infΓ2
supB1
f(γ)
Suponha-se que f satisfaz a condição (PS)c e
sup∂B1
f < infX2
f.
Então c ≥ infX2
f e c é um valor crítico de f .
Demonstração. Para usar o teorema 2.4, bastará mostrar que B1 e X2 estão enlaça-dos através de ∂B1, i.e.
X2 ∩ ∂B1 = ∅ e γ(B1) ∩ X2 = ∅ ∀ γ ∈ Γ2
Fixemos uma projeção P : X → X1, P (x1, x2) = x1. Dado γ ∈ Γ2, a aplicaçãoP γ : B1 → X1 satisfaz P (γ(y)) = P (y, 0) = y, para y ∈ ∂B1 então P γ|∂B1 = Id,logo identificando X1 como Rn é definido o grau de Brouwer, assim
deg(P γ, B1, 0) = deg(Id, B1, 0) = 1
Em particular, existe y ∈ B1 tal que P (γ(y)) = 0 i.e. existe γ(y) ∈ γ(B1) eγ(y) ∈ ker(P ) = X2, portanto γ(B1) ∩ X2 = ∅. Como claramente temos X2 ∩ ∂B1
então B1 e X2 estão enlaçãdos e temos a conclusão do teorema 2.4 fazendo Q = B1 eS = X2.
18 Conjuntos Enlaçados
2
O exemplo seguinte pode ser visto como uma generalização do teorema da pas-sagem de montanha.
Suponha-se que o espaço X admite uma soma directa
X = X1 ⊕ Re ⊕ X2
onde ∥e∥ = 1. Dado R1 > 0, defina-se
B1 := u ∈ X1 : ∥u∥ ≤ R1
e seja ∂B1 sua fronteira em X1. Dado R > 0, considere-se
Q0 := B1 ⊕ [0, R]e e ∂Q0 = (B1 ⊕ 0,Re) ∪ (∂B1 ⊕ [0, R]e)
Teorema 2.8 (das esferas enlaçãdas). Suponha que X1 tem dimensão finita e, dadoum número ρ ∈ (0, R), seja S0 := u ∈ Re ⊕ X2 : ∥u∥ = ρ. Defina-se
Γ3 := γ ∈ C(Q0, X) : γ|∂Q0 = Id e c = infΓ3
supQ0
f γ
Suponha-se que f satisfaz a condição (PS)c e
sup∂Q0
f < infS0
f
Então c ≥ infS0
f e c é um valor crítico de f .
Demonstração. Como nos teoremas anteriores, bastará provar que S0 e Q0 estãoenlaçados através de ∂Q0. Isso é provar que:
S0 ∩ ∂Q0 = ∅ e γ(Q0) ∩ S0 = ∅ ∀ γ ∈ Γ3
Com efeito, fixemos a projeção P : X → X1, P (x1 + λe + x2) = x1. Para cadau ∈ Q0 escrevemos u = u1 + λe onde u1 = Pu. Dado γ ∈ Γ3, consideremos a aplicaçãoα : Q0 → X1 ⊕ Re definida por α(u1 + λe) = (P (γ(u)), ∥(I − P )γ(u)∥ − ρ).
Se u = u1 + λe ∈ ∂Q0 então P (γ(u1 + λe) = P (u1 + λe) = u1 e
∥(I − P )γ(u)∥ = ∥γ(u) − u1∥ = ∥u − u1∥ = λ
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Assim α(u1 + λe) = (u1, λ − ρ), consequentemente
deg(α, Q0, 0) = deg(Pγ, B1, 0) deg(·−ρ, [0, R], 0) = deg(Id, B1, 0) deg(·−ρ, [0, R], 0) = 1
Portanto, existe u ∈ Q0 tal que α(u) = 0 i.e. P (γ(u)) = 0 e ∥(I − P )γ(u)∥ = ρ,desta maneira γ(u) ∈ ker(P ) = Re ⊕ X2 e ρ = ∥(I − P )γ(u)∥ = ∥γ(u)∥.
Então para todo γ ∈ Γ3 temos S0 ∩ γ(Q) = ∅ e claramente S0 ∩ ∂Q0 = ∅, assimS0 e Q0 estão enlaçãdos e daí temos a conclusão do teorema 2.4.
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Pelo teoema 2.4 tambem concluímos que Kc ∩ (X − ∂Q0) = ∅ e no caso quec = inf
S0f temos Kc ∩ S0 = ∅.
APÊNDICE A
Teorema da função implícita
Neste apêndice incluímos alguns resultados básicos do calculo diferencial de oper-adores, cuja demonstrações serão omitidas aqui, mas podem ser encontradas em [4].Consideremos o espaços de Banach X, Y e Z.
Definição A.1. Dizemos que ϕ ∈ C1(X,R), se é Frechet diferenciável em todo u ∈ X
e a aplicação ϕ′ : X → X∗ é continua, i.e. se un → u em X então ϕ′(un)(v) → ϕ′(u)(v)em R, para todo v ∈ X.
Teorema A.2. Seja ϕ : X → R Gâteaux diferenciável e a aplicação ϕ′ : X → X∗
continua. Então ϕ é Frechet diferenciável e ϕ ∈ C1(X,R)
Derivadas parciais são definidas de maneira analoga ao caso classico.
Definição A.3. Seja a aplicação f : U ⊂ X × Y → Z definida numa vizinhançado ponto (x, y). Para y fixo considere g : X → Z definido por g(w) = f(w, y). Seg tem derivada de Frechet no ponto x, definimos a derivada parcial segundo Frechetfx(x, y) : X → Z por fx(x, y)(v) = g′(x)(v), para v ∈ X.
A derivada parcial fy(x, y) é definido analogamente. Também, escrevemos ∂xf(x, y)e ∂yf(x, y).
Proposição A.4. Seja f como na definição anterior. Se f ′(x, y) existe, então asderivadas parciais fx(x, y), fy(x, y) também existem e
f ′(x, y)(u, v) = fx(x, y)(u) + fy(x, y)(v) ∀ u ∈ X, v ∈ Y
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22 Teorema da função implícita
Teorema A.5. (Regra da cadeia) Sejam as aplicações f : U ⊂ X → Y e g : V ⊂Y → Z onde U e V são vizinhanças de x e f(x) respectivamente. Se as derivadas deFrechet f ′(x) e g′(f(x)) existem, então a derivada de Frechet (g f)′(x) existe e
(g f)′(x) = g′(f(x)) f ′(x)
Corolário A.6. Para m=1,2,..., suponha que as aplicações f : U ⊂ X → Y e g :V ⊂ Y → Z são Cm, onde U e V são abertos e f(U) ⊂ V , então a aplicação g f étambém Cm em U .
Agora, se queremos resolver a equação sobre um espaço de Banach
f(x, y) = 0
numa vizinhança do ponto (x0, y0), onde assumimos que f(x0, y0) = 0 . Em particular,estamos interessados numa solução local única.
Teorema A.7 (Teorema da função implícita). Seja Ω um aberto de X × Y e f ∈C1(Ω, Z). Suponha que (x0, y0) ∈ Ω é tal que f(x0, y0) = 0 e que ∂yf(x0, y0) é umhomeomorfismo (linear) de Y sobre Z. Então existe uma vizinhança conexa ω ⊂ X
de x0 e uma única aplicação φ ∈ C1(ω, Y ) tal que φ(x0) = y0 e para todo x ∈ ω temosf(x, φ(x)) = 0.Além disso, se x ∈ ω e f(x, y) = 0 então y = φ(x). A derivada φ′ em x ∈ ω qualqueré dada por
φ′(x) = −(∂yf(x, φ(x)))−1 (∂xf(x, φ(x)))
Agora apresentamos outra versão do teorema da função implícita, que nos permitiráuma generalização de nosso teorema de multiplicadores de Lagrange.
Teorema A.8 (Teorema da função implícita sobrejetiva). Seja f : Ω ⊆ X × Y → Z
uma aplicação C1 sobre uma vizinhança do ponto (x0, y0) tal que f(x0, y0) = 0 efy(x0, y0) : Y → Z é sobrejetiva. Então:
Dado r > 0, existe ρ > 0 tal que, para cada x ∈ X com ∥x − x0∥ < ρ, a equação
f(x, y) = 0
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tem uma solução y, denotada por y(x) tal que ∥y−y0∥ < r. Em particular, o limitex → x0 em X implica que y(x) → y0. Além disso, existe um número d > 0 tal que
∥y(x)∥ ≤ d∥fy(x0, y0)y(x)∥
Referências Bibliográficas
[1] O. Kavian - Introduction à la théorie des points critiques, Springer-Verlag, 1993.
[2] C. Oliveira - Introdução à análise funcional, Projeto Euclides, IMPA, 2010.
[3] M. Ramos - Teoremas de enlace na teoria dos pontos críticos, Textos deMatemática, Universidade de Lisboa, 1993.
[4] E. Zeidler - Applied functional analysis: Main principles and their applications,Springer-Verlag, 1995.
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