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2007

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário

Uma publicação da EPAMIG

v.28 n.239 jul./ago. 2007

Belo Horizonte-MG

Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 28 n. 239 p. 1-120 jul./ago.

Editorial ............................................................................................................................. 3

Entrevista .......................................................................................................................... 4

Setor sucroalcooleiro em Minas Gerais

Mário Ferreira Campos Filho e Mônica Santos .................................................................... 7

Zoneamento agropedoclimático da cana-de-açúcar sucroalcooleira

para o estado de Minas Gerais

Marley Lamounier Machado, Rubens José Amaral de Brito, Maria Lélia

Rodriguez Simão, Abilio José Antunes e Ivair Gomes ......................................................... 12

Variedades melhoradas de cana-de-açúcar para Minas Gerais

Márcio Henrique Pereira Barbosa, Luís Cláudio Inácio da Silveira, Geraldo Antônio

Resende Macêdo e José Mauro Valente Paes ..................................................................... 20

Produção de mudas de cana-de-açúcar

Luís Cláudio Inácio da Silveira, José Mauro Valente Paes, Márcio Henrique Pereira

Barbosa e Geraldo Antônio Resende Macêdo .................................................................... 25

Nutrição mineral e adubação da cana-de-açúcar

Mauro Wagner de Oliveira, Francisco Morel Freire, Geraldo Antônio Resende Macêdo

e José Joaquim Ferreira ...................................................................................................... 30

Implantação e condução de canaviais

Luiz Antônio de Bastos Andrade e Polyana Placedino Andrade .......................................... 44

Irrigação da cana-de-açúcar

Édio Luiz da Costa, Geraldo Antônio Resende Macêdo, Fúlvio Rodriguez Simão

e Rodrigo Silva Diniz ......................................................................................................... 56

Colheita da cana-de-açúcar

Gilson Gonçalves Xavier .................................................................................................... 64

Industrialização da cana-de-açúcar

Mário Barreto Júnior .......................................................................................................... 70

Processamento artesanal da cana-de-açúcar

Maria da Graça Lima Bragança ......................................................................................... 78

Produção de cachaça de alambique

Waldyr Pascoal Filho ........................................................................................................... 82

Resíduos da agroindústria canavieira no estado de Minas Gerais:

usos e conservação ambiental

Bruce Amir Dacier Lobato de Almeida, Guilherme de Faria Barreto

e Carlos Mauro Novais Gonçalves .................................................................................... 96

Utilização da cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes

Edilane Aparecida da Silva, José Joaquim Ferreira, José Reinaldo Mendes Ruas,

José Mauro Valente Paes e Geraldo Antônio Resende Macêdo ......................................... 102

Sumário

O agronegócio da cana-de-açúcar destaca-se

como uma importante atividade socioeconômica,

capaz de promover e viabilizar o desenvolvimento

de diversas regiões de nosso País. Sendo o maior

produtor de cana-de-açúcar e maior exportador de

açúcar e álcool, em nível mundial, o Brasil é deten-

tor de tecnologia avançada nesta área e apresenta

características climáticas e de solo ideais para seu

cultivo.

Em Minas Gerais, a produção está em proces-

so de reestruturação e expansão, sendo que, nos

últimos anos, apresentou um crescimento acima da

média nacional e conquistou a auto-suficiência na

produção de açúcar e álcool. Igualmente importan-

tes são o agronegócio da cachaça, a produção de

rapadura, de açúcar mascavo e de melado e a utili-

zação da cana no trato de animais.

Procurando mostrar todo esse potencial, são

abordados nesta edição do Informe Agropecuário

temas da mais alta relevância, como: situação do

setor sulcroalcooleiro, zoneamento da cultura para

Minas Gerais, variedades melhoradas, produção de

mudas, implantação e condução do canavial, adu-

bação, irrigação e colheita, processamento indus-

trial, artesanal e resíduos industriais e utilização da

cana na alimentação animal. Com esta ampla abor-

dagem sobre o tema, espera-se contribuir de ma-

neira significativa para maior sustentabilidade e

competitividade do setor.

Geraldo Antônio Resende Macêdo

Apresentação

1 - sumário.p65 16/08/2007, 16:021

Governo do Estado de Minas Gerais

Secretaria de Estado de Agricultura,

Pecuária e Abastecimento

Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária

EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV

O Informe Agropecuário é indexado na

AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

© 1977 EPAMIG

ISSN 0100-3364

INPI: 006505007

CONSELHO DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES

Baldonedo Arthur Napoleão

Luiz Carlos Gomes Guerra

Enilson Abrahão

Álvaro Sevarolli Capute

Maria Lélia Rodriguez Simão

Artur Fernandes Gonçalves Filho

Juliana Carvalho Simões

Cristina Barbosa Assis

Vânia Lacerda

COMITÊ EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO

Cristina Barbosa Assis

Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia

Vânia Lacerda

Divisão de Publicações

Maria Lélia Rodriguez Simão

Departamento de Pesquisa

José Carlos Fialho de Resende

Programa Agroenergia

Antônio Álvaro Corsetti Purcino

Embrapa

Trazilbo José de Paula Júnior

Editor-técnico

PRODUÇÃO

DEPARTAMENTO DE TRANSFERÊNCIA E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA

DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES

EDITOR-EXECUTIVO

Vânia Lacerda

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Geraldo Antônio Resende Macêdo

REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA

Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira

NORMALIZAÇÃO

Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira

PRODUÇÃO E ARTE

Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes,

Maria Alice Vieira, Fabriciano Chaves Amaral e Letícia Martinez

Capa: Letícia Martinez

Foto da capa: Ivana De Battisti

Impressão: Lastro Editora

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Décio Corrêa

Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova

Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG

Telefone: (31) 3489-5076

[email protected]

Assinatura anual: 6 exemplares

Aquisição de exemplares

Setor Comercial de Publicação

Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova

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Telefax: (31) 3489-5002

E-mail: [email protected] - Site: www.epamig.br

CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047

Informe Agropecuário é uma publicação da

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

EPAMIG

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem

autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à

EPAMIG.

Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro

da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.

Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas

para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da

EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos

técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.

O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de

publicação da edição.

Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo

Horizonte: EPAMIG, 1977 - .

v.: il.

Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-

ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).

ISSN 0100-3364

1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto

Econômico. I. EPAMIG.

CDD 630.5

2 - folha de expediente.p65 16/08/2007, 16:082

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , j u l . / a g o . 2 0 0 7

Governo do Estado de Minas GeraisAécio NevesGovernador

Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoGilman Viana Rodrigues

Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas GeraisConselho de Administração

Gilman Viana RodriguesBaldonedo Arthur Napoleão

Silvio CrestanaMaria Lélia Rodriguez SimãoOsmar Aleixo Rodrigues Filho

Décio BruxelSandra Gesteira Coelho

Adauto Ferreira BarcelosWillian Brandt

Joanito Campos JúniorHelton Mattana Saturnino

Conselho FiscalCarmo Robilota ZeituneHeli de Oliveira Penido

José Clementino dos SantosEvandro de Oliveira Neiva

Márcia Dias da CruzCelso Costa Moreira

PresidênciaBaldonedo Arthur Napoleão

Diretoria de Operações TécnicasEnilson Abrahão

Diretoria de Administração e FinançasLuiz Carlos Gomes Guerra

Gabinete da PresidênciaÁlvaro Sevarolli Capute

Assessoria de ComunicaçãoMariana Vilela Penaforte de Assis

Assessoria de Desenvolvimento OrganizacionalRonara Dias Adorno

Assessoria de InformáticaRenato Damasceno Netto

Assessoria JurídicaNuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo

Assessoria de Planejamento e CoordenaçãoJosé Roberto Enoque

Assessoria de Relações InstitucionaisJúlia Salles Tavares Mendes

Assessoria de Unidades do InteriorCarlos Alberto Naves Carneiro

Auditoria InternaCarlos Roberto Ditadi

Departamento de Transferência e Difusão de TecnologiaCristina Barbosa Assis

Departamento de PesquisaMaria Lélia Rodriguez Simão

Departamento de Negócios TecnológicosArtur Fernandes Gonçalves Filho

Departamento de Prospecção de DemandasJuliana Carvalho Simões

Departamento de Recursos HumanosFlávio Luiz Magela Peixoto

Departamento de Patrimônio e Administração GeralMary Aparecida Dias

Departamento de Obras e TransportesLuiz Fernando Drummond Alves

Departamento de Contabilidade e FinançasCelina Maria dos Santos

Instituto de Laticínios Cândido TostesGérson Occhi

Instituto Técnico de Agropecuária e CooperativismoMarcílio Valadares

Centro Tecnológico do Sul de MinasEdson Marques da Silva

Centro Tecnológico do Norte de MinasMarco Antonio Viana Leite

Centro Tecnológico da Zona da MataPlínio César Soares

Centro Tecnológico do Centro-OesteCláudio Egon Facion

Centro Tecnológico do Triângulo e Alto ParanaíbaRoberto Kazuhiko Zito

Futuro promissorpara a cana-de-açúcar

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e

açúcar e exportador de açúcar e álcool. A área cultivada com

cana no País é de, aproximadamente, 6,5 milhões de hectares.

A produção com tecnologia avançada e as características climáti-

cas e de solo ideais para o plantio dessa cultura fazem com que o

custo brasileiro de produção seja o menor (cerca de 50%) em

relação a seus concorrentes. Na produção mundial de álcool o

Brasil perde apenas para os Estados Unidos.

O álcool produzido no Brasil obteve uma grande valorização

nos últimos anos, por ser uma alternativa de energia renovável,

limpa e não poluente. Vários países já mostraram interesse em

promover a mistura de álcool na gasolina, como é feito atualmente

no Brasil. Japão e Estados Unidos, dois dos maiores consumidores

mundiais de petróleo e de seus derivados, já aprovaram a mistura

de álcool na gasolina. A tendência é de que outros países também

sigam nesta direção e o Brasil é o único em condições de atender

a uma demanda desta ordem.

Minas Gerais possui 29 usinas de açúcar e de álcool em

produção. Ocupa o terceiro lugar no ranking nacional, atrás de

São Paulo e Paraná, com uma previsão de produção para a safra

de 2007/2008 de 38 milhões de toneladas. Essa produção

concentra-se, principalmente, na região do Triângulo Mineiro, que

responde por 70% da colheita de cana-de-açúcar, seguida do Sul

de Minas e região Oeste do Estado.

Desde o início da década de 70, a produtividade de cana e

de açúcar, em Minas Gerais, tem aumentado. Esses ganhos são

decorrentes do emprego de tecnologia, tanto na área agrícola,

como na industrial. Nesse cenário, as variedades ocupam reconhe-

cidamente posição de destaque, sendo a pesquisa fundamental

para a continuidade desse processo.

Esta edição do Informe Agropecuário tem o objetivo de

contribuir para esse crescimento, levando a produtores, empresários

e segmentos afins tecnologias e informações sobre a cultura da

cana e o seu melhor aproveitamento.

Baldonedo Arthur Napoleão

Presidente da EPAMIG

3 - editorial.p65 16/08/2007, 14:363

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , j u l . / a g o . 2 0 0 7

Cana-de-açúcar:agroenergia com sustentabilidade

IA - Quais são as perspectivas da cultura da

cana-de-açúcar para produção de com-

bustíveis e alimentos no Brasil?

Luiz Cotta Martins - As perspectivas são

muito boas a médio e a longo prazos. Sem dú-

vida nenhuma, os veículos flex, que usam

álcool combustível ou gasolina, lançados há

cerca de três anos, e a possibilidade de aumen-

to nas exportações do produto deram um novo

fôlego para o setor. Isto acarretou uma onda

de investimentos, a qual ocasionou uma maior

oferta de álcool combustível nesta safra, já

que as compras pelo mercado externo ainda

são reduzidas e muitos Estados contam com

alíquotas altas de ICMS, inviabilizando a uti-

lização do álcool combustível perante a gaso-

lina.

Acreditamos, porém, que a reforma tri-

butária dará preferência ao consumo de com-

bustíveis renováveis aos fósseis, com a redu-

ção e implantação de uma única alíquota para

o álcool combustível, a fim de que possamos

ampliar ainda mais as vendas desse produto

no mercado interno. Já no mercado externo, o

álcool necessita se tornar uma commodity,

ampliando a produção em vários países e

permitindo uma mudança na matriz energé-

tica, com o incentivo do consumo no mer-

cado internacional. Além do Brasil, o álcool é

utilizado como aditivo na gasolina nos Esta-

dos Unidos e na Colômbia. O Japão já aprovou

uma legislação para uso da mistura e a China

está realizando testes em algumas províncias.

Na União Européia, há uma forte tendência do

maior consumo de biodiesel, em substituição

ao diesel.

Já o açúcar tem tido um crescimento estável

no consumo em torno de 2% ao ano. Contudo,

existe uma grande expectativa de elevação neste

índice, com o aumento da demanda em países

como a China e a Índia. No primeiro, o consu-

mo de açúcar, hoje, está em 9 kg/per capita/ano

e algumas cidades mais desenvolvidas já

consomem 25 kg, porém, cada quilo a mais

consumido na China demandará um volume

de 1,350 milhão de toneladas. Enquanto no

Brasil o consumo está em 53 kg/per capita/ano

e, nos Estados Unidos, 76 kg/ano.

IA - Quais são as regiões mineiras mais

atrativas para expansão da cana-de-

açúcar?

Luiz Cotta Martins - Os novos investi-

mentos têm buscado áreas mais planas, que

possibilitam a mecanização da lavoura. Por isso,

a região mais procurada em Minas Gerais, para a

expansão do setor, tem sido o Triângulo Minei-

ro, com clima propício à cultura, terra plana e

boa pluviometria. Vale ressaltar que o Siamig/

Sindaçúcar-MG conta com 35 associados, 25

em produção, espalhados praticamente por

todo o Estado, como Zona da Mata, Sul de Mi-

nas, Triângulo e Alto Paranaíba, Região Cen-

tral, Oeste, Noroeste e Vale do Mucuri. Além da

implantação de novas usinas, as já instaladas

também se encontram num processo de expan-

são. O setor tem crescido muito nos últimos

cinco anos, passando de 15,5 milhões de tone-

ladas de cana-de-açúcar, em 2002/2003, para a

previsão atual de 38 milhões de toneladas, alta

em torno de 153%.

IA - A colheita mecanizada será a solução para

a questão da queima da cana nas diferen-

tes regiões do País e, em especial, em Minas

Gerais?

Luiz Cotta Martins - A colheita mecanizada

é uma exigência de lei federal, porém, precisa

Luiz Custódio Cotta Martins é engenheiro agrônomo, formado pela

Faculdade de Agronomia de Botucatu, hoje Unesp Botucatu, em São Paulo.

Originário de uma família de produtores de açúcar e álcool, seus bisavós

foram os fundadores, em 1883, da primeira usina de açúcar em Minas Gerais,

Ana Florência, em Ponte Nova. Já no ano de 1925, seu avô fundou a Usina

Jatiboca, em Urucânia, também na Zona da Mata, até hoje em funcionamento.

Trabalhou nas usinas da família e, atualmente, participa do Conselho

de Administração da Usina Jatiboca. Foi diretor da Associação de Usineiros

de Minas Gerais e membro do Conselho Deliberativo do Instituto do Açúcar

e do Álcool (IAA).

Com a responsabilidade de divulgar o açúcar e a nova tecnologia

brasileira, o álcool combustível, foi Secretário-Executivo do Grupo de Países

Latino-Americanos e do Caribe Exportadores de Açúcar (Geplacea), composto

por 23 países, de 1994 a 1996.

Atualmente, Luiz Cotta Martins é vice-presidente da Federação das

Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), secretário-executivo da

Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool e presidente do Sindicato da

Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG).

4-5 reportagem.p65 17/08/2007, 10:364

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , j u l . / a g o . 2 0 0 7

ser implementada de forma criteriosa, para que

os problemas sociais não sejam exacerbados.

Sem a queima da cana, o trabalhador não tem

como realizar seu trabalho, pois fica exposto a

animais peçonhentos e queda na produtividade.

Uma colhedora de cana substitui cerca de 70 a

80 trabalhadores. Beneficia, portanto, o meio

ambiente, mas traz um grave problema social

de desemprego em algumas regiões. Para de-

batermos esse assunto foi criada uma Comis-

são em Minas Gerais, que conta com a participa-

ção do Siamig/Sindaçúcar-MG, da Federação

dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de

Minas Gerais (Fetaemg), do Ministério Público,

da Universidade Federal de Lavras (Ufla), da

Associação de Fornecedores de Cana-de-açúcar,

do Instituto Estadual de Florestas (IEF), da Fun-

dação Estadual do Meio Ambiente (Feam), da

Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, da Secretaria de Estado de

Desenvolvimento Econômico e de um repre-

sentante da Superintendência Regional de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do

Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. O objetivo

dessa Comissão é desenvolver critérios para a

eliminação da queima de cana no Estado, a fim

de que os impactos da mecanização sejam mi-

nimizados. O Siamig/Sindaçúcar-MG já está

discutindo, também, com o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (Senai) e a Secretaria

de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese),

um programa de desenvolvimento e qualificação

de mão-de-obra, para atendimento à expansão

do setor, já prevendo mudanças que ocorrerão

com a mecanização da lavoura, a fim de re-

qualificar o trabalhador.

IA - De que forma poderá ser feita a inclusão

do pequeno e médio produtor no agro-

negócio da cana voltada para a indústria?

A microdestilaria é uma possibilidade?

Luiz Cotta Martins - Atualmente, os pe-

quenos e médios produtores podem-se tornar

fornecedores de cana para o setor, com um

ganho bastante significativo em relação às

outras atividades agrícolas. Com relação às

microdestilarias é importante verificar profun-

damente a viabilidade do negócio, já que em

momentos de crise a sobrevivência desses

empreendimentos fica em risco. Lembramos

que, à época da desregulamentação do setor, 23

empreendimentos desse tipo fecharam as portas

em Minas Gerais. É fundamental nesse sentido

que a localização seja próxima às regiões de

fronteira, onde terão mais condições de compe-

titividade, distante dos locais das grandes

unidades.

IA - Que avaliação o senhor faz dos possíveis

impactos do avanço de canaviais em áreas

tradicionalmente produtoras de alimentos?

Luiz Cotta Martins - Precisamos desmis-

tificar essa questão. Hoje, no Brasil, o cresci-

mento dos canaviais tem sido sobre áreas de

pastagem, geralmente degradadas e que, inclu-

sive, estão sendo recuperadas com a cultura de

cana. A controvérsia maior surgida em relação

a esse assunto refere-se à produção de álcool

nos Estados Unidos, que é por meio do milho,

o que não ocorre em nosso País. De acordo com

especialistas, hoje o Brasil tem cerca de 7 mi-

lhões de hectares ocupados com cana-de-açúcar,

50% para etanol e 50% para açúcar. A cana para

etanol ocupa ínfimo 0,5% da área total e menos

de 1% da área agricultável do País, sete vezes

menos que a soja e 65 vezes menos que as

pastagens. O Brasil ainda dispõe de uma área

agricultável enorme e já é uma potência na

produção e exportação de alimentos, com des-

taque para a soja, carnes e café. Podemos nos

tornar, também, grandes exportadores de agro-

energia, pois, hoje, já somos o segundo maior

produtor de álcool do mundo, com previsão de

20 bilhões de litros nesta safra.

IA - A irrigação pode incrementar a produ-

tividade da cana de forma econômica e com

isto reduzir o avanço acelerado de plantios

em novas áreas?

Luiz Cotta Martins - A irrigação poderá

ser usada em regiões como Jaíba, no Norte de

Minas, que permite esse tipo de técnica. Sem

dúvida, ela aumenta a produtividade, porém, é

necessário fazer um balanço sobre sua econo-

micidade, já que muitas regiões não possibi-

litam sua utilização.

IA - Será possível estabelecer um ponto de

equilíbrio na cultura da cana entre pro-

dução de bioenergia, produção de ali-

mentos e preservação ambiental?

Luiz Cotta Martins - O governo mineiro

está atento a esse assunto e foi sugerido que

em cada município não se tenha mais de 30%

de determinada cultura, evitando a mono-

cultura e possibilitando a convivência com

várias atividades agrícolas. Esclarecemos que o

Brasil não enfrenta problemas para a produção

de alimentos e a cana não concorre com outros

produtos. O problema maior, principalmente,

nos países em desenvolvimento e menos desen-

volvidos, é a dificuldade de acesso aos alimen-

tos. Quanto à preservação ambiental, destaca-

mos que a cultura da cana-de-açúcar é a que

hoje mais emprega o conceito de sustenta-

bilidade. Ela tem-se expandido em solos mais

pobres, contribuindo para sua recuperação com

a adição de matéria orgânica e fertilização; as

perdas por erosão são menores; a utilização de

defensivos é inferior, com destaque para o uso

de controle biológico de pragas; as doenças são

combatidas com seleção de variedades resis-

tentes e ocorre menor utilização de fertilizantes,

além da reciclagem de nutrientes com o uso de

resíduos orgânicos como vinhaça (fertirriga-

ção) e torta de filtro (adubo) e menor uso de

defensivos agrícolas.

IA - O estado de São Paulo está na ponta no

setor canavieiro, com uma estrutura insta-

lada para o seu desenvolvimento tecnoló-

gico. Para que Minas Gerais possa avançar

de forma sustentada é importante a criação

de um centro de excelência em cana?

Luiz Cotta Martins - As usinas mineiras

estão também na vanguarda do setor sucro-

alcooleiro, com instalações modernas e uma

gestão administrativa de ponta e emprego das

tecnologias mais avançadas do setor. Pratica-

mente, todas as unidades são associadas ao

Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e tam-

bém utilizam tecnologias de ponta desenvolvi-

das pela Universidade Federal de Viçosa (UFV),

com variedades adaptadas às muitas regiões do

Estado. O governador Aécio Neves anunciou o

lançamento, em Minas Gerais, de um Centro

de Referência para o setor, que não seria somente

referência para o Estado, mas para todo o País,

com o desenvolvimento de novas tecnologias

na área de celulose e alcoolquímica, que possam

acompanhar a competitividade mundial.

Por Vânia Lacerda

4-5 reportagem.p65 17/08/2007, 10:365

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , p . , j u l . / a g o . 2 0 0 7

Cana-de-açúcar

O estado de Minas Gerais vive um momento favorável no

contexto da economia nacional. Sucessivos recordes de investimento

apontam para a perspectiva de sermos o Estado brasileiro que

mais crescerá nesta década. Segundo projeções do Governo, serão

injetados na economia mineira cerca de R$ 97 bilhões, no período

de 2003 a 2010.

A maior parte desses recursos será de investimentos privados,

que irão possibilitar a criação de 219 mil postos de trabalho e

garantir mais desenvolvimento e qualidade de vida para toda a

população mineira. Esses dados demonstram que o Estado, com

gestão eficiente e transparente, vem conquistando a confiança do

investidor.

O grande interesse despertado pelos biocombustíveis, em

particular o álcool etílico, diante da perspectiva de redução da

oferta de combustíveis fósseis e do cenário dramático das mu-

danças climáticas, não somente se reflete num aumento vertiginoso

dos investimentos voltados para o setor em áreas tradicionais,

como aponta para a expansão de novas fronteiras agrícolas.

Minas Gerais encontra-se no centro desse processo de expan-

são. Recentemente, em Uberlândia, o Governo do Estado assinou

comunicados conjuntos com empresas do setor, prevendo investi-

mentos superiores a R$ 2,12 bilhões, no Triângulo Mineiro.

Os projetos em foco enquadram-se na proposta do Gover-

no de consolidar Minas Gerais como o segundo pólo sucro-

alcooleiro do País, num prazo máximo de três anos. Para tanto, o

Estado terá que equacionar a questão tributária e solucionar os

gargalos de logística, de modo a potencializar a competitividade

no setor.

Essa esperada expansão do segmento coloca em primeiro

plano os desafios científicos e tecnológicos. Instituições de PD&I

sediadas em Minas Gerais já têm uma sólida contribuição no

desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar de valor

comercial, tendo em vista a adaptabilidade e a estabilidade da

produção em diferentes condições edafoclimáticas, bem como no

desenvolvimento de um amplo leque de tecnologias em apoio ao

sistema produtivo.

Os novos desafios do setor incluem a dinamização de um

novo planejamento estratégico de PD&I, que envolve estudos apro-

fundados sobre manejo do solo, fertilidade, adubação, controle

de pragas e doenças e necessidades de irrigação e colheita, dentre

outros.

Da mesma forma, o processamento industrial apresenta

diversas demandas nas áreas da engenharia de produção, tecno-

logia industrial, máquinas, motores, tratamento de resíduos e

capacitação de recursos humanos. Por outro lado, o processamento

artesanal tem que ser competitivo, para sobreviver num mercado

cada vez mais exigente.

Em todos os elos da cadeia produtiva, é imperioso consi-

derar o fortalecimento da rede metrológica e dos processos de

certificação, indispensáveis à garantia da qualidade, assim como

implementar sistemas produtivos ambientalmente adequados,

dentro de um processo de gestão sustentável dos recursos naturais.

O governador Aécio Neves, sensível a essas demandas, vem

orientando o seu governo no sentido de fortalecer um ambiente

favorável às inovações e aos investimentos em novos negócios.

Nessa direção, foi realizado o Zoneamento Agropedoclimático

da cana-de-açúcar sucroalcooleira para o Estado, envolvendo

várias instituições parceiras. O documento atenta para a questão

ambiental, bem como para os aspectos socioeconômicos, como

a geração de emprego e renda e a inclusão social.

Dentro da mesma orientação, os biocombustíveis foram

incluídos como prioridade no Projeto Estruturador Arranjos Pro-

dutivos Locais, coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior, onde se prevêem diversas ações de

PD&I, em apoio à produção de biodiesel e de álcool.

Ainda no âmbito do Sistema Estadual de Ciência e Tecnolo-

gia, foi lançado um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa

do Estado de Minas Gerais (Fapemig), com o objetivo de apoiar

o desenvolvimento e a transferência de tecnologias para a pro-

dução de biocombustíveis, visando a estruturação de um pólo de

excelência setorial. Diversas linhas temáticas estão contempladas

nesse edital, como sistemas e custos de produção de oleaginosas,

zoneamento agroecológico de culturas específicas, pesquisa de

novas cultivares, produção de sementes, aproveitamento de co-

produtos, capacitação de recursos humanos e produção de

material técnico.

Também estão sendo finalizados os estudos para a criação

de um Centro de Bioenergia, numa parceria entre o Governo do

Estado, instituições de PD&I, setor privado e financiamento

internacional. Caberá ao Centro viabilizar soluções tecnológicas,

acelerar o processo de inovação e apoiar investimentos e novos

negócios na geração de energia a partir da biomassa.

Alberto Duque Portugal

Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, desde o início de 2007. Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural

do Rio de Janeiro (1968) e doutor em Sistemas Agrícolas pela Universidade de Reading, Inglaterra (1982). Foi pesquisador da Epamig; Diretor-executivo da

Embrapa; Secretário-executivo e Ministro interino da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária; Diretor da Agência de Inovação da Unicamp; Secretário-

adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais e Diretor-executivo do Conselho Nacional do Café, em Brasília.

Desafios científicos e tecnológicos da cana-de-açúcarem Minas Gerais

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7Cana-de-açúcar

1Economista, Assessor Econômico Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), Av. Contorno, 4480/

1308 – Funcionários, CEP 30110-028 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Jornalista, Assessora de Comunicação Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), Av. Contorno,

4480/1308 – Funcionários, CEP 30110-028 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - Desde o fim do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), no final da décadade 80, o setor sucroalcooleiro nacional passa por uma reestruturação sem precedentesem sua história. O lançamento dos carros bicombustíveis ou flex, aliado ao grandeinteresse de outros países pelo álcool combustível, tem provocado uma onda de inves-timentos nos tradicionais centros produtores, bem como aberto novas fronteirasagrícolas. Minas Gerais está no centro dessa expansão e demonstra um fôlego surpreen-dente de aumento da produção de cana-de-açúcar, alcançando sua auto-suficiência nafabricação de açúcar e álcool e gerando excedentes para venda em outros mercados epara exportação, com geração de empregos e renda no campo. Porém, o Estado carecede instrumentos de maior competitividade, principalmente, equalização tributária comoutros Estados e logística para escoamento dos produtos, fatores fundamentais desustentação da expansão em curso e anunciada.

Palavras-chave: Cana-de-açúcar. Açúcar. Álcool. Mercado. Investimento.

INTRODUÇÃO

Com a derrocada do Programa Nacio-nal do Álcool (Proálcool), no final da dé-cada de 80 e início dos anos 90, o setorsucroalcooleiro nacional presenciou umdos períodos mais críticos de sua história.Em Minas Gerais, cerca de 50% das unida-des produtoras, grande parte delas, criadaapós o advento do Programa, encerraramsuas atividades. Para se ter idéia, em 1986,havia 42 unidades produtoras no territóriomineiro espalhadas pelas diversas regiões,das quais 38 produziam álcool e 15 produ-ziam açúcar. Já na safra 1994/1995, o Estadocontava apenas com 27 unidades: sendo23 produtoras de álcool e 12 produtoras deaçúcar.

Depois de viver um longo período deestagnação e superada a fase crítica da des-regulamentação, caracterizada pela ade-

Setor sucroalcooleiro em Minas Gerais

Mário Ferreira Campos Filho1

Mônica Santos2

quação do setor à economia de mercado, aindústria sucroalcooleira começou a expe-rimentar, especialmente, no final da déca-da de 90, um período de expansão. Estecaracteriza-se não apenas pelo crescimen-to do parque industrial, mas pelas moder-nizações administrativa e operacional, re-sultando no aumento dos níveis de pro-dutividade, qualidade e produção acimada média nacional. No caso do álcool, porexemplo, à época do Proálcool, a produ-ção chegava a 2 mil litros por hectare, hoje,o volume está em 7 mil litros/ha.

Atualmente, Minas Gerais possui 29usinas de açúcar e álcool em produçãoe ocupa o terceiro lugar no ranking na-cional, atrás de São Paulo e Paraná, comuma previsão de produção para a safrade 2007/2008 de 38 milhões de toneladas,31% acima dos 29 milhões de toneladas da

safra 2006/2007, numa área de 480 milhectares. O setor gera hoje 120 mil empre-gos diretos e indiretos em Minas Gerais.A produção concentra-se, principalmen-te, na região do Triângulo Mineiro, queresponde por 70% da colheita de cana-de-açúcar, seguida do Sul de Minas (11%)e, em terceiro lugar, da região Oeste (5%)(Fig. 1).

Nos últimos cinco anos, o setor mineiroapresentou um crescimento acima da médianacional, conquistando a auto-suficiênciana produção de açúcar e álcool. A produ-ção de cana-de-açúcar em Minas Geraisapresentou um crescimento de 19,43% aoano, a de açúcar, de 17,03%, e a de álcool,de 21,74%. Já no Centro-Sul, principalregião produtora do País, o índice de cres-cimento foi de 9,28% a.a. para a cana,8,72% para o açúcar e 9,7% para o álcool.

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8 Cana-de-açúcar

Em comparação com o Brasil, o estado deMinas Gerais cresceu mais ainda, já quepara a cana, nacionalmente, a alta foi de8,5% ao ano, 7,94% para o açúcar e 9,35%para o álcool (Gráfico 1).

A previsão para 2007 é de uma safra decrescimento recorde em cana-de-açúcar, atéentão, com um acréscimo de 8 milhões detoneladas, diante dos três milhões deacréscimos verificados nos últimos cincoanos. Já a produção de álcool prevista é de1,7 bilhão de litros, alta de 31% diante de1,3 bilhão da safra passada, e a produçãode açúcar será de 2,4 milhões de toneladas,aumento de 26% em comparação com os1,9 milhão de toneladas da safra passada(Gráfico 1).

INVESTIMENTO

A retomada de Minas Gerais coinci-de com a desregulamentação do setor e aocupação definitiva do Cerrado mineiro,em especial a região do Triângulo Mineiro,pelos grandes grupos nordestinos: JoãoLyra, Tércio Wanderley (Coruripe) e CarlosLyra, em meados da década de 90, atraídospelas condições topográficas, o clima e aproximidade com São Paulo. A atividadeindustrial, até então concentrada na Zo-na da Mata e Sul do Estado, cedeu lugar aesse novo pólo industrial, um processoainda em curso nos dias de hoje, atraindo,também, grandes grupos paulistas, que nãoencontram mais espaço para expansão noseu Estado de origem.

Vultosos investimentos têm sido feitospelo setor na expansão e na construção denovas usinas no Estado. Esses empreen-dimentos, que abrangem não só a áreaindustrial, mas também imensas extensõesde terra, sustentam as altas taxas de cres-cimento da produção observadas.

Desde o início de 2003, o setor já reali-zou investimentos em torno de US$ 1 bi-lhão, tanto nas áreas de expansão agríco-la e industrial das unidades já existentes,quanto em novas unidades. De 2003 atéa safra 2007/2008 foram inauguradas asUsinas Vale do Paranaíba (Grupo JoãoLyra), Limeira do Oeste (Grupo Coruripe),Santa Juliana (Grupo Tenório), Usina Pla-nalto (Grupo Carolo), Usina Itapagipe (Gru-

Figura 1 - Participação regional da produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool - Minas Gerais

FONTE: Martins (2007).

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9Cana-de-açúcar

po Moema), Usina Frutal (Moema) e Ve-redas (Grupo Ferroeste).

A onda de investimentos deverá con-tinuar, diante das boas perspectivas para oálcool combustível. A previsão é de aportede US$ 3 bilhões, até 2012/2013, com pre-visão da instalação de 26 novas unidadesnesse período. Isso trará um salto na pro-dução mineira de cana para 84 milhões detoneladas; cerca de 4,2 bilhões de litros deálcool e 4,6 milhões de toneladas de açú-car, com geração de 60 mil novos empregosdiretos.

MERCADO INTERNO

E EXTERNO

Açúcar e álcool são produtos estratégi-cos para a economia brasileira. O Brasil é omaior produtor de cana-de-açúcar e açú-car – perdendo, no álcool, para os EUA – eexportador de açúcar e álcool do mundo.A produção com tecnologia avançada e ascaracterísticas climáticas e de solo ideaispara o plantio da cana fazem com que ocusto brasileiro de produção seja o menor(cerca de 50%) em relação a seus concor-rentes.

Contudo, nossos produtores encontrammuitas barreiras para a exportação dos seus

produtos. O açúcar é uma das commodities

mais protegidas do mundo, seja por meiode subsídios seja por barreiras alfandegá-rias.

Essas barreiras, principalmente a impos-ta pela União Européia, foram alvo de umadisputa na Organização Mundial do Co-mércio (OMC), iniciada em 2003. Junto àAustrália e à Tailândia, o Brasil questio-nou o regime de açúcar imposto pela UniãoEuropéia. O resultado, favorável ao País,foi anunciado em agosto de 2004 e pode-rá representar uma maior abertura para oaçúcar brasileiro no mercado europeu, compossibilidade de elevação das exportaçõesde açúcar para o bloco em mais de 2 milhõesde toneladas.

Tentando abrir o mercado mundial eapresentando uma alternativa de energiarenovável, limpa e não poluente, o álcoolproduzido no Brasil obteve uma grandevalorização nos últimos anos. Vários esfor-ços estão sendo feitos para transformaresse combustível em commodity. Váriospaíses já mostraram interesse em promo-ver a mistura de álcool à gasolina, como éfeito atualmente no Brasil na proporçãoatual de 23%, mas que pode chegar até a25%.

Japão e Estados Unidos, dois dos maio-res consumidores de petróleo e de seusderivados do planeta, já aprovaram a mis-tura de álcool na gasolina. Outros países,entre eles os membros da União Européia epaíses da América Latina, estão caminhan-do para a mesma direção e o Brasil, comoum dos maiores produtores mundiais, é oúnico País em condições de atender a umademanda dessa magnitude.

Além disso, a instituição do Protocolode Kyoto e os problemas de aquecimen-to global previstos no Relatório do Inter-governmental Panel on Climate Change(IPCC), divulgado recentemente, gerarãouma maior busca por produtos e técnicasque poluam menos em detrimento daquelasque degradam o meio ambiente. Novamen-te, o álcool combustível constitui a melhoropção para atingir este objetivo.

No mercado interno, o álcool vem ga-nhando importância, principalmente com olançamento, a partir de março de 2003, doscarros flex-fuel. De acordo com a Asso-ciação Nacional dos Fabricantes de Veí-culos Automotores (Anfavea), as vendasdesses carros com motores bicombustíveisestão acima de 80% do total de veículosleves produzidos no País. A cada mês, no-

Gráfico 1 - Evolução da produção sucroalcooleira de Minas Gerais

FONTE: Martins (2007).

(1) Estimativa.

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10 Cana-de-açúcar

vos modelos são lançados e novas marcasestão adequando seus veículos à novatecnologia (Gráfico 2).

Os carros flex ou bicombustíveis per-mitem ao consumidor escolher com qualcombustível ele irá abastecer seu veículo.Segundo os fabricantes, o carro movido aálcool consome cerca de 30% mais que ocarro movido a gasolina. Por isso, o preçodo álcool deve estar cerca de 30% menorque o preço da gasolina na bomba, paraque o consumidor esteja propenso a abas-tecer o tanque com o álcool.

Esses novos motores propiciam aoconsumidor um poder maior de decisão,podendo escolher aquele combustível queirá trazer-lhe algum ganho econômico,protegendo-o daqueles períodos nos quaisos preços do álcool ou da gasolina estejamelevados.

O Brasil apresenta, também, um cres-cimento significativo das exportações de

álcool. Segundo a Consultoria Datagro, em2006 (DATAGRO, 2007), o País exportou3,4 bilhões de litros de álcool, alta de 400%,diante dos 656 milhões de litros exportadosem 2003 (Gráfico 3).

É notável a tendência de recuperaçãodo mercado interno de álcool hidratado eas perspectivas de exportação do produto.Contudo, pode-se observar que essa recu-peração está ocorrendo, de maneira maisacentuada, naqueles Estados brasileirosque apresentam relação de preço com agasolina mais vantajosa para o consumi-dor e que implantaram alguma medida queestimulasse o consumo ou que desesti-mulasse a venda de álcool ilegal dentro doEstado.

Esse fato pode ser observado pelos nú-meros de crescimento apresentados pelosestados de São Paulo, que reduziu o ICMSdo álcool hidratado combustível de 25%para 12%, e o estado de Goiás, que passou

a alíquota de 25% para 15%. O consumo deálcool em 2006, comparado com 2005, cres-ceu 50% em São Paulo e 58% em Goiás. EmMinas Gerais, a manutenção da alíquotaem 25% e o impacto nos preços diretos aoconsumidor provocaram uma queda noconsumo de álcool combustível de 7% nomesmo período.

LOGÍSTICA

A reativação do setor sucroalcooleirotem provocado o deslocamento da produ-ção para outras fronteiras agrícolas maisdistantes dos grandes centros consumi-dores. Em Minas Gerais, com um maiorafluxo no Triângulo Mineiro, em Goiás eem Mato Grosso criou-se a necessidadede investimentos em infra-estrutura paraescoamento da produção, tanto para o mer-cado interno, quanto para o mercado exter-no, mantendo, assim, a competitividade daindústria.

Gráfico 2 - Vendas de veículos com motores a álcool no Brasil

FONTE: Carta da Anfavea (2007).

Market-share

Market-share

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11Cana-de-açúcar

Em Minas Gerais, encontra-se a maiormalha rodoviária federal do País e, por isso,os maiores problemas. As principais estra-das de escoamento da produção como aBR 262, que liga a principal região pro-dutora do Estado, o Triângulo Mineiro, aBelo Horizonte, freqüentemente apresentatrechos em estado lastimável de conser-vação. Outras estradas, como a MG 427 esua continuação a BR 364, além da MG 255e a BR 153 (que liga São Paulo a Goiás, pas-sando pelo Triângulo), necessitam de maio-res cuidados. É preciso, ainda, construir ereformar as estradas vicinais para trans-porte da cana-de-açúcar até as usinas eescoamento da produção. Um dos gruposalagoanos instalados no Triângulo Mi-neiro, o Grupo Coruripe, firmou parceriapúblico-privada com o governo mineiropara a construção de estradas e já pavimen-tou mais de 100 km.

Recentemente, a Ministra da Casa Civil,Dilma Roussef, em visita a Belo Horizonteno mês de março de 2007, confirmou aconstrução de um alcoolduto na região doTriângulo Mineiro, permitindo que o pro-duto produzido em Minas Gerais chegueao porto com maior competitividade. Feliz-mente, num acordo com a Petrobrás, Goiáse Minas Gerais terão seu alcoolduto, queligará Senador Canedo (GO), passando porUberaba (MG) até Paulínia e daí até o Portode São Sebastião (SP). Os recursos já estão

previstos no Programa de Aceleração Eco-nômica (PAC), sendo uma obra importantee estratégica para esses dois pólos de pro-dução sucroalcooleira.

Outra ação importante foi a iniciativada Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),por meio de sua subsidiária, Ferrovia Cen-tro Atlântica (FCA), e da empresa alemãOiltanking, de construir, no Porto de Vitória,um terminal exclusivo para álcool. A impor-tância desse terminal deve-se à ligação, porferrovia, da região do Triângulo Mineiroao Porto de Vitória. Esse projeto que já estásendo implantado viabilizará também aexportação de álcool da região Oeste, Zonada Mata e Mucuri de Minas Gerais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que a produção sucro-alcooleira em Minas Gerais está ainda emprocesso de reestruturação e expansão. So-mente em área plantada em 2007, o Estadoapresentou uma expansão de 30%, o queimplica em mais cana para moagem e, conse-qüentemente, mais açúcar e álcool produ-zidos. É certo que, sem os investimentosnecessários em infra-estrutura e equaliza-ção da tributação, as novas fronteiras agrí-colas da cana, dentre elas Minas Gerais,perderão a chance de ter uma participaçãomaior nesse grande mercado que se apre-senta, principalmente, para o álcool com-bustível.

REFERÊNCIAS

CARTA DA ANFAVEA. São Paulo: ANFAVEA,

n.252, 2007. Disponível em: <http://www.

anfavea.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2007.

DATAGRO. BD e projeções. 2007. Disponível

em: <http://www.datagro.com.br>. Acesso

em: 30 abr. 2007.

MARTINS, L.C.C. O setor sucroalcooleiro no

estado de Minas Gerais. Uberaba: Sindicato

das Indústria da Fabricação do Álcool no Estado

de Minas Gerais, 2007. Power Point apresenta-

do no Congresso Internacional de Tecnolo-

gia na Cadeia Produtiva da Cana em 28 mar.

2007. Documento do acervo administrativo do

SIAMIG.

É preciso consolidar a produção mi-neira, dando-lhe condições de competi-tividade tributária e logística em relação aoutros Estados, além de outras políticaspúblicas de habitação, segurança e saúdeque ancorem o desenvolvimento das cida-des onde estão localizadas as unidadesprodutoras.

Sem competitividade e principalmentesem um forte mercado consumidor, serámuito difícil consolidar os investimentosna expansão e implantação de novas uni-dades no Estado. É preciso que os gover-nos fiquem atentos a isso e contribuam pa-ra o crescimento de um dos setores quehoje mais geram emprego e renda no País.

Gráfico 3 - Exportação de álcool do Brasil

FONTE: Datagro (2007).

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12 Cana-de-açúcar

1Engo Agrimensor, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Economista, M.Sc., Analista de Desenvolvimento INDI, R. Rio de Janeiro, 471 – Centro, CEP 30160-910 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico:

[email protected]

3Matemática, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

4Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

5Geógrafo, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - O zoneamento agropedoclimático da cana-de-açúcar sucroalcooleira visa

contribuir, principalmente, com a questão ambiental, quanto ao uso de energia renová-

vel e às questões relacionadas com aspectos socioeconômicos, como investimentos

externos e protocolos de intenções para implantação e ampliação de usinas produtoras

de açúcar e álcool. Para este estudo foram definidas seis variáveis principais: altitude,

declividade, temperatura média anual, classe de solos, deficiência hídrica e áreas de

reservas ambientais. Por meio do Sistema de Informações Geográficas (SIG), foi feito o

mapeamento para cada variável, onde foram estratificadas, quando necessárias, as classes

de áreas aptas, inaptas e restritas, segundo os valores de aptidão levantados para a

cultura. O cruzamento espacial, desses mapas apresentou, como resultado, a delimita-

ção de zonas de aptidão agrícola para a cana-de-açúcar sucroalcooleira para o estado de

Minas Gerais.

Palavras-chave: Bioenergia. Clima. Solo. Relevo. Geoprocessamento. SIG. Etanol.

INTRODUÇÃO

Há anos que se encontram em discus-são questões relacionadas com as reser-vas finitas de petróleo, energia renovávele aquecimento global, uma vez que estestemas estão inter-relacionados no que dizrespeito à sobrevivência do planeta e, pa-ralelamente, à continuação do desenvolvi-mento socioeconômico das nações.

O aquecimento global e as mudançasclimáticas no planeta, com ênfase na ação

Zoneamento agropedoclimático da cana-de-açúcarsucroalcooleira para o estado de Minas Gerais

Marley Lamounier Machado1

Rubens José Amaral de Brito2

Maria Lélia Rodriguez Simão3

Abilio José Antunes4

Ivair Gomes5

antrópica, têm sido importantes fontes dedebate internacional. Segundo o relatóriodo Intergovernmental Panel on ClimateChange (IPCC), da Organização das NaçõesUnidas (ONU), o gás carbônico é o que maiscontribui para o aquecimento (53%), se-guido pelo metano (17%); clorofluorcarbo-neto (CFCs) (12%) e óxido nitroso (6%),entre outros, onde os aumentos globais,na concentração de dióxido de carbono,devem-se, sobretudo, ao uso de combus-

tíveis fósseis e a mudanças no manejo daterra, enquanto o aumento de metano eóxido nitroso deve-se primordialmente, àagricultura. Nesse sentido, o Protocolo deKyoto já havia dado orientações para queos países promovam, até o ano de 2012, aredução da emissão de gases causadoresdo efeito estufa, antevendo uma situaçãoambiental crítica para o planeta.

Quanto ao petróleo, há constantementeo risco econômico em função da depen-

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13Cana-de-açúcar

dência mundial por esta fonte de energia,dado o limite das reservas e também asquestões relacionadas com a variação demercado, sendo que esta decorre, geral-mente, de conflitos mundiais, tais como osjá ocorridos no Oriente Médio. Diante destequadro, as nações têm buscado uma alter-nativa energética para mitigar este proble-ma, sendo, portanto, a cada dia, mais pro-missor o emprego de biocombustíveis noprocesso de substituição do petróleo. Ho-je, nos Estados Unidos, há uma grandedemanda por etanol e, na Europa, por bio-diesel.

No Brasil, em outubro de 2002, o go-verno federal lançou o Programa Brasilei-ro de Biocombustíveis e, em 13 de janeirode 2005, entrou em vigor a Lei no 11.097(BRASIL, 2005), que dispõe sobre a intro-dução do biodiesel na matriz energéticabrasileira e autoriza o seu uso comercial,com a adição, após três anos, de 2% desteproduto ao diesel de petróleo e com a pre-visão de 5%, para 2013. No entanto, desde1975 o País tem apresentado soluções emenergias renováveis por meio do ProgramaNacional do Álcool (Proálcool), na fabri-cação de álcool. E, em decorrência de umprocesso evolutivo, o Brasil já domina hojea tecnologia do etanol.

Neste contexto, o estado de Minas Ge-rais apresenta-se como um protagonistano cenário produtor da cana-de-açúcar, se-gundo dados apresentados pela AgênciaBrasileira de Notícias (2006), sendo o ter-ceiro produtor de cana e de álcool, atrásde São Paulo e Paraná, com taxa média decrescimento da produção de cana de 8,6%ao ano, contra 4,81% da média nacional.A Agência Brasileira de Notícias (2006)revela ainda que o Estado deverá recebermais de R$ 211 milhões em investimentosno setor sucroalcooleiro e os protocolosde intenções estão sendo assinados paraimplantação e ampliação de usinas produ-toras de açúcar e álcool. Tais fatos pode-rão trazer benefícios na área social, já queinvestimentos desta natureza e desta ordemtendem a promover a geração de renda e

de emprego (diretos e indiretos), bem comoa inclusão social.

Sendo o Estado mineiro possuidor degrande extensão territorial e de uma gran-de variedade de ambientes agrícolas carac-terizados por diferentes geomorfologias,tipos de solos e climas e ainda tendo emvista o iminente crescimento do setorsucroalcooleiro, há a necessidade de ba-ses instrumentais para planejar, controlar,incentivar e designar o melhor uso das ter-ras, visando os seus interesses nos aspec-tos social/econômico, resultando, por fim,em um maior grau de desenvolvimento.Assim, o estabelecimento de zoneamentosde âmbito agroambiental torna possível adeterminação do potencial agrícola de umaregião, visto que proporcionará ao agri-cultor e ao governo não só a escolha dasterras mais aptas, mas também a indicaçãodos possíveis locais de ação de efeitos deeventos atmosféricos adversos. Sugere,portanto, uma combinação de vários fato-res, a fim de proporcionar o uso sustentadodas terras, evitando o desmatamento e aabertura de novas frentes agrícolas e a açãode queimadas. De outra forma, pode contri-buir para a redução das perdas nas lavou-ras, regular o abastecimento e manter o equi-líbrio dos preços dos produtos, bem comodar subsídios às agências de fomento paraa melhor aplicação do crédito agrícola juntoao produtor.

Dadas as condições fisiográficas doestado de Minas Gerais, o estabelecimentode zoneamentos de caráter agroambien-tal torna-se de difícil execução em nível deescala maior, quando se usam para tal, mé-todos tradicionais de mapeamento. O empre-go de técnicas computacionais específicaspermite uma maior precisão e maximizaçãono processo. Tais técnicas dizem respeito aoSistema de Informações Geográficas (SIG).Este Sistema é constituído por um conjuntode ferramentas especializadas em adquirir,armazenar, recuperar e transformar infor-mações espaciais. O SIG pode ser utilizadoem estudos relativos ao meio ambiente erecursos naturais, na pesquisa da previsão

de determinados fenômenos ou no apoioa decisões de planejamento, considerandoa concepção de que os dados armazena-dos representam um modelo do mundo real(BURROUGH, 1986). A capacidade de aná-lise e de modelagem espacial, que inclui asobreposição de mapas, procedimentos dereclassificação, análise de proximidade,entre outras técnicas, constitui uma das maisimportantes características do SIG.

Ao longo de sua história, a Empresa dePesquisa Agropecuária de Minas Gerais(EPAMIG), vinculada à Secretaria de Esta-do de Agricultura, Pecuária e Abastecimen-to de Minas Gerais (Seapa-MG), em parceriacom várias instituições públicas e privadas,vem desenvolvendo um acervo de dadose informações sobre várias condições declima, solo, cultivares, tecnologias, infor-mações, etc., para subsidiar a atuação dogoverno nas decisões de planejamentoagrícola para o desenvolvimento e uso doterritório do Estado em bases sustentá-veis. Como exemplo prático dessa posição,a EPAMIG realizou, juntamente com a Se-cretaria de Estado de DesenvolvimentoEconômico (SEDE), na pessoa jurídica doInstituto de Desenvolvimento Integradode Minas Gerais (Indi), o zoneamento agro-pedoclimático da cana-de-açúcar sucro-alcooleira, para atender a uma condiçãoiminente do Estado.

METODOLOGIA

O processo de zoneamento da cana-de-açúcar teve início em levantamentos deinformações referentes às condicionantesambientais para o seu cultivo. Assim, foramdefinidas seis variáveis a serem usadas: alti-tude, declividade, temperatura média anual,classe de solos, deficiência hídrica e áreasde reservas ambientais. Definidas essas va-riáveis, foram estabelecidos, por meio deconsultas a literaturas específicas, os limi-tes máximos e mínimos aceitáveis para cadauma delas. O Quadro 1 demonstra os limi-tes estabelecidos para cada variável, comexceção da altitude que foi usada para ocálculo de temperatura e de declividade.

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14 Cana-de-açúcar

Com o uso do SIG foram feitos os ma-pas para cada variável e para todo o limitedo estado de Minas Gerais, onde foramestratificadas as classes de áreas aptas, inap-tas e restritas, segundo os limites levanta-dos para a cultura. Os mapas de cada variá-vel foram cruzados espacialmente, tendocomo resultado a delimitação da aptidãopara a cana-de-açúcar sucroalcooleira.

Solos

Os mapas de solos utilizados foram ce-didos pela Fundação Centro Tecnológicode Minas Gerais (CETEC, 2006), entidadegeradora e que levantou todo o estado deMinas Gerais em escala 1:500.000. Essesmapas foram revisados e convertidos parao formato digital em um trabalho conjun-to daquela entidade com o Departamentode Solos da Universidade Federal de Viço-sa (UFV).

Foram, então, recortados (retirados) domapa os solos inaptos para o cultivo dacana-de-açúcar. Esses solos foram os ra-sos, sujeitos à inundação e hidromórficos.Retiraram-se, portanto, as classes Espodos-solos Cárbicos (EK), Neossolos Litólicos(RL), Neossolos Flúvicos (RU) e GleissolosMelânicos (GM), respectivamente, e, ain-da, as áreas com afloramentos rochosos.

Foram retirados, também, os Neossolos

Quartzarênicos (RQ), visto que há, sob oponto de vista econômico-ambiental, apossibilidade de apresentarem problemasde lixiviação de herbicidas e de contami-nação do lençol freático dadas sua macro-porosidade e sua alta mobilidade no perfildo solo. A lixiviação por meio de solos are-nosos é também favorecida pelos baixosteores de matéria orgânica e de minerais deargila, fatores que poderiam reter as molécu-las por mais tempo no solo. A retirada dessaclasse de solos foi ponderada e conside-rada pertinente por técnicos da EPAMIG,bem como justificada quanto à questãoambiental no trabalho de Matallo et al.(2003).

Altimetria e declividade

Dados altimétricos foram obtidos pelosatélite Shuttle Radar Topography Mission(SRTM), proveniente do Consórcio Natio-nal Aeronautics and Space Administration(Nasa)/National Geospatial-IntelligenceAgency (NGA), que fez o imageamento alti-métrico mundial em pixels de 90 m.

A partir do mapa altimétrico foi geradotambém o de declividades. Foram retiradasas declividades acentuadas ao cultivo dacana-de-açúcar, estas, maiores que 13%,visando o estabelecimento de áreas meca-nizáveis.

Temperatura

A partir dos dados de altimetria aplicou-se o modelo matemático desenvolvido porSediyama e Melo Junior (1998), para o cál-culo/mapeamento da temperatura médiaanual. A partir do mapa gerado classificaram-se os intervalos de temperaturas entre 19oCe 21oC, como restrita, e acima de 21oC, comoapta, conforme orientação do ZoneamentoAgroclimático do Estado de Minas Gerais,no capítulo “Cultura da cana-de-açúcar”(MINAS GERAIS, 1980). O modelo mate-mático é uma equação linear que leva emconsideração as coordenadas geográficase altitude para cada ponto desejado. O mo-delo também estabelece algumas constan-tes, que são agregadas à equação linear,dado por:

Yi = a

0 + a

1x

1 + a

2x

2 + a

3x

3 + ε

i

em que:

Yi= temperaturas médias normais

anuais estimadas;x

1= altitude do local em metros;

x2

= latitude do local em graus e dé-cimos;

x3

= longitude do local em graus e dé-cimos;

εi

= erro;a0, a1, a2 e a3 = constantes definidas

para o modelo.

Temperatura média anual Apta (A)>21oC

Restrita (A)19oC-21oC

Deficiência Hídrica Ótima 0 -(A)150 mm

Irrigação suplementar (A)150 - (B)400 mm

Irrigação imprescindível (B)>400 mm

Solo Inapta (A)Espodossolo Cárbico; Gleissolo Melânico; Neossolo Litólico; Neossolo

Quartzarênico; Neossolo Flúvico e afloramento rochoso

Declividade Mecanizável (A)≤13%

Vegetação Restrita (C)Unidade de conservação não explorável e de uso sustentável

QUADRO 1 - Parâmetros ambientais para o cultivo da cana-de-açúcar

FONTE: (A) Camargo e Ortolani (1964), (B) Minas Gerais (1980), (C) Instituto Estadual de Florestas (2006).

NOTA: CAD – Capacidade de água disponível.

Tema CritérioClassificação

(CAD 100 mm)

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15Cana-de-açúcar

Deficiência hídrica

Para o mapa de deficiência hídrica foramconsiderados dados pontuais calculadosutilizando-se de informações de estaçõessediadas no estado de Minas Gerais e deoutras estações próximas ao limite estadual(bordadura), disponibilizados pela EmbrapaMonitoramento por Satélite (2006), conformea seguinte metodologia:

Foram utilizados dados normais de tem-

peratura média mensal e de chuva total

mensal pertencentes às redes de estações

meteorológicas do Instituto Nacional de

Meteorologia (INMET), do Instituto Agro-

nômico de Campinas (IAC), do Instituto

Agronômico do Paraná (IAPAR), do De-

partamento de Águas e Energia Elétri-

ca do Estado de São Paulo (DAEE/SP) e

da Escola Superior de Agricultura “Luiz

de Queiroz”/Universidade de São Paulo

(ESALQ/USP). Esses dados foram utili-

zados na elaboração do balanço hídrico

climatológico, empregando-se o método

de Thornthwaite & Mather (1955). Como

capacidade de água disponível (CAD)

utilizou-se o valor de 100 mm e a evapo-

transpiração potencial foi estimada pelo

método de Thornthwaite (1948). A inicia-

lização do balanço hídrico seguiu o critério

de Mendonça (1958) devido à facilidade

de sua informatização em relação ao mé-

todo original. Como resultado, é apresen-

tada uma tabela para cada local, contendo

dados mensais de evapotranspiração real,

da deficiência hídrica, do excedente hídrico

e do armazenamento de água no solo, além

dos dados de temperatura e precipitação.

Os dados pontuais das estações cominformações de deficiência hídrica foramgeoreferenciados e interpolados pelo SIG,por meio de técnicas de geoestatísticas, nocaso, interpolação por Kriging ordinária,método linear.

Foram definidas faixas ideais, faixas derestrição hídrica moderada e faixas de irri-gação obrigatória, dadas respectivamentepor 0-150 mm, 150-400 mm e maiores que400 mm.

O limite de 150 mm entre as faixasideais e restritas para a cana sucroalcooleirafoi estabelecido com base no trabalho deCamargo e Ortolani (1964) e o limite de 400mm, entre as faixas de restrição hídrica porirrigação suplementar e restrição hídricapor irrigação imprescindível, foi obtido noZoneamento Agroclimático de Minas Ge-rais (MINAS GERAIS, 1980).

Vegetação

Unidades de Conservação foram forne-cidas pelo Instituto Estadual de Florestas(2006) e apresentadas nas formas de prote-ção permanente e uso sustentável. O Insti-tuto Estadual de Florestas (2006) descreveUnidade de Conservação como o termo quedesigna as reservas naturais protegidas econstituem-se em áreas sob regime especialde administração, destinadas a ordenar oprocesso de ocupação em territórios queapresentem aspectos naturais relevantese, por isso, necessários para a manuten-ção da biodiversidade e dos ecossistemasterrestres.

As categorias de unidades de conser-vação foram descritas, conforme o Siste-ma Nacional de Unidades de Conservação(SNUC), Lei no 9.985, de 18 de Julho de 2000,em que o Art. 8 menciona o grupo de uni-dades de conservação tipo “Proteção Inte-gral” (BRASIL, 2000), composto pelas se-guintes categorias:

I - Estação Ecológica;

II - Reserva Biológica;

III - Parque Nacional;

IV - Monumento Natural;

V - Refúgio de Vida Silvestre.

O Art. 14 da Lei no 9.985 de 18/07/2000menciona o grupo das Unidades de Con-servação tipo “Uso Sustentável” (BRASIL,2000), composto pelas seguintes categoriasde unidade de conservação:

I - Área de Proteção Ambiental;

II - Área de Relevante Interesse Eco-

lógico;

III - Floresta Nacional;

IV - Reserva Extrativista;

V - Reserva de Fauna;

VI - Reserva de Desenvolvimento Sus-

tentável;

VII - Reserva Particular do Patrimônio Na-

tural.

Estas áreas não foram excluídas do ma-pa, apenas sobrepostas à classificação exis-tente visto que uma Unidade de Conser-vação, mesmo sendo uma área protegidapor lei, mantém ainda suas característicasde aptidão agroclimáticas.

RESULTADOS

A interseção espacial das variáveis: de-clividade, solos, déficit hídrico anual e tem-peratura média anual e ainda a sobreposi-ção do mapa de reservas legais ambientais(Unidades de Conservação) resultaram nozoneamento preliminar da cana-de-açúcarpara o estado de Minas Gerais (Fig. 1).

As classes determinadas no zonea-mento foram:

a) inteiramente apta: áreas sem nenhu-ma restrição. Regiões com tempera-tura média anual superior a 21oC, de-ficiência hídrica menor que 150 mm,solos aptos e declividade menor ouigual a 13%;

b) restrição hídrica (necessário irriga-

ção suplementar): áreas com certarestrição hídrica, necessitando deirrigação suplementar. Regiões comtemperatura média anual superior a21oC, deficiência hídrica entre 150 e400 mm, solos aptos e declividademenor ou igual a 13%;

c) restrição hídrica (irrigação impres-

cindível): áreas com restrição hídrica,necessitando de irrigação. Regiõescom temperatura média anual supe-rior a 21oC, deficiência hídrica maiorque 400 mm, solos aptos e declivida-de menor ou igual a 13%;

d) restrição térmica moderada: áreascom temperatura média anual entre19ºC e 21ºC. Apresentam deficiên-cia hídrica em faixa ideal (entre 0 e

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16 Cana-de-açúcar

Fig

ura

1 -

Zoneam

ento

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Mapa a

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.

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17Cana-de-açúcar

150 mm), solos aptos e declividademenor ou igual a 13%;

e) restrição hídrica (irrigação suple-

mentar) / restrição térmica mode-

rada: áreas que apresentam restriçãohídrica com necessidade de irrigaçãosuplementar e restrição térmica mo-derada. Deficiência hídrica entre 150e 400 mm, temperatura média anualentre 19ºC e 21ºC, solos aptos e decli-vidade menor ou igual a 13%;

f) restrição hídrica (irrigação impres-

cindível) / restrição térmica mode-

rada: áreas de restrição hídrica comnecessidade de irrigação imprescin-dível e também com restrição térmicamoderada. Deficiência hídrica maiorque 400 mm, temperatura médiaanual entre 19ºC e 21ºC, solos aptose declividade menor ou igual a 13%;

g) inapta: áreas que não atendem aoscritérios estabelecidos nos itensanteriores.

O Quadro 2 demonstra a quantificaçãodas áreas nas suas diversas classificaçõesde aptidão. Nota-se que as mais represen-tativas são inaptas e de restrição hídrica(necessário irrigação suplementar), comvalores de 51,2% e 20,4%, respectivamen-te. As áreas inaptas justificam-se, basica-mente, pela presença de regiões de climafrio no Sul do Estado, declividade acen-tuada na região leste e por solos inaptos.

Inteiramente apta 62.295 10,6

Restrição hídrica (necessário irrigação suplementar) 119.587 20,4

Restrição hídrica (irrigação imprescindível) 32.771 5,6

Restrição térmica moderada 61.595 10,5

Restrição hídrica (irrigação suplementar) / restrição térmica moderada 9.658 1,6

Restrição hídrica (irrigação imprescindível) / restrição térmica moderada 757 0,1

Inapta 300.284 51,2

QUADRO 2 - Quantificação de área por nível de aptidão

%

Aptidão

Área

(aproximada)

km2

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia utilizada para o zonea-mento da cana-de-açúcar sucroalcooleirabuscou, em um curto espaço de tempo, umcenário que se aproximasse da realidadedo estado de Minas Gerais. Faz-se, porém,uma ressalva: para o estabelecimento de umzoneamento agropedoclimático e/ou zonea-mento agroecológico com maior acurácia,é necessária a complementação com umlevantamento mais detalhado por meio daadição de mais parâmetros ambientais,estudo de cultivares e de procedimentosfeitos em campo.

Entretanto, buscou-se uma exigênciaagronômica mais próxima da realidade, semo rigor de explicar as situações em sua tota-lidade. Nessas condições, alguns fatores,tais como, escala, imprecisão dos dadosbrutos e amplitude da faixa de limites de-vem ser mencionados, para que não hajaequívocos de interpretação do mapa.

Algumas informações podem estaromissas em função da escala de desenho.Um caso típico dessa situação é a declivi-dade, principalmente na região mais a lestedo Estado, onde esta variável é mais efeti-va, dado o relevo acidentado da região.Quando é dado um zoom maior sobre estaregião, certos pontos tendem a se tornaráreas maiores espaçadas por vazios. Estesvazios seriam as declividades elevadas.

O cálculo de deficiência hídrica é tam-bém um fato a ser considerado visto que

há, inclusive no Brasil, muitas opções demodelos e que poderiam ser aplicadosneste trabalho. A opção, então, feita pelomodelo de Thornthwaite e Mather (1955),deveu-se à facilidade de obtenção dos re-sultados e pela difusão do modelo em nívelmundial. Por outro lado, este modelo podenão refletir a realidade para algumas re-giões, o que não pode ser considerado umerro de mapeamento, mas sim uma questãode critério adotado.

No caso da amplitude das faixas de li-mites de deficiência hídrica deve-se aten-tar para o seguinte: a cidade de Ituiutaba,por exemplo, no Triângulo Mineiro, e a ci-dade de Montes Claros, mais ao norte doEstado, foram classificadas como área derestrição hídrica (necessário irrigação su-plementar). Porém, Ituiutaba (155 mm) temdeficiência hídrica próxima ao limite infe-rior de 150 mm e Montes Claros (310 mm),próxima ao limite superior de 400 mm. Por-tanto, esta classificação apresentou paraestas cidades condições similares, emboraestejam próximas aos limites para mudançade classe, sendo uma para “mais apta” eoutra para “menos apta”.

Outra constatação foi quanto à impre-cisão ou à escala de levantamento da basede dados que, muitas vezes, não permiterefletir a realidade exata do que ocorre nocampo. O mapa de solos, por exemplo, tevesua construção em escala aproximada de1:500.000. Assim, seria impossível abrangertodas as classes de solos existentes em umaunidade de mapeamento, mas somente apredominante. Por outro lado, as estaçõesmeteorológicas existentes no Brasil são re-duzidas, o que pode promover imprecisãono recobrimento do Estado.

Portanto, para o aprimoramento do zo-neamento aqui apresentado há necessida-de de estabelecer outros procedimentos,visando uma melhor exatidão e uma maiorabrangência para seu uso. Pode-se, por-tanto, agregar outras variáveis ambientaistais como trabalhar com as informaçõesdentro do ciclo vegetativo da cultura, fer-tilidade do solo, disponibilidade hídricanos rios para irrigação, uso de exposição

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18 Cana-de-açúcar

de vertentes, delimitação de regiões homo-gêneas, diminuição da amplitude dos limi-tes de classificação e acréscimo de dadosde estações meteorológicas provenientesde outras fontes.

ACORDO DE

COOPERAÇÃO TÉCNICA

O Zoneamento Agropedoclimático

da Cana-de-açúcar Sucroalcooleira para

o Estado de Minas Gerais foi realizado por

meio do Acordo de Cooperação Técnica

entre a Secretaria de Estado de Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (SEAPA) e a Se-

cretaria de Estado de Desenvolvimento Eco-

nômico do Estado de Minas Gerais (SEDE),

com a interveniência da Empresa de Pesqui-

sa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)

e do Instituto de Desenvolvimento Integrado

de Minas Gerais (INDI).

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Artigo 2.p65 17/08/2007, 09:0418

19 - prop_bt.pmd 17/8/2007, 11:101

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20 Cana-de-açúcar

1Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Engo Agro, Pesq. UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

3Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: [email protected]

4Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - Variedade é a tecnologia mais importante e de menor custo para o produtor;é a base que sustenta todas as demais tecnologias de produção. Atualmente, o Brasilencontra-se entre os pioneiros na obtenção de variedades de cana-de-açúcar de valorcomercial, contando com três principais programas de melhoramento, desenvolvidospelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Centro de Tecnologia Canavieira (CTC)e Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Ridesa).Minas Gerais responde, aproximadamente, por cerca de 6,38% da produção nacional decana. As variedades da Ridesa/UFV ocupam mais de 50% da área cultivada no Estado.Desde o início da década de 70, a produtividade tem aumentado em Minas, na razão de0,64 tonelada de cana/ha e 1,79 kg de açúcar/t de cana. Esses ganhos são decorrentes doemprego de tecnologia tanto na área agrícola, como na industrial. Nesse cenário, as va-riedades ocupam posição de destaque. Importância é dada à produtividade e ao teor desacarose elevados, além da adaptabilidade e estabilidade de produção a diferentescondições edafoclimáticas, manejo de variedades e escolha das mais apropriadas.

Palavras-chave: Saccharum spp. Genética. Melhoramento. Produtividade.

INTRODUÇÃO

O sucesso na produção de açúcar, álcoole outros subprotudos passam necessaria-mente pela produção de matéria-prima dequalidade. Neste aspecto, as variedadesassumem papel decisivo para garantir lu-cratividade no empreendimento.

As primeiras usinas brasileiras de açú-car concentraram-se em Pernambuco eAlagoas, até o século 20. No entanto, coma expansão da produção de café e a aboli-ção da escravidão, a indústria de cana-de-açúcar entrou em declínio, recuperando-se

Variedades melhoradas de cana-de-açúcarpara Minas Gerais

Márcio Henrique Pereira Barbosa1

Luís Cláudio Inácio da Silveira2

Geraldo Antônio Resende Macêdo3

José Mauro Valente Paes4

apenas em 1930, com a criação do Institutodo Açúcar e do Álcool (IAA) (FERNANDES;IRVINE, 1987).

O IAA foi criado em 1933, após a crisede 1929, gerada no governo de Getúlio Var-gas, como fruto da fusão de dois órgãos go-vernamentais, ambos criados em 1931 – aComissão de Estudos sobre o Álcool Mo-tor e a Comissão de Defesa da Produçãodo Açúcar. Os principais objetivos que nor-tearam a criação do IAA foram: a regula-mentação do mercado de açúcar do País e afomentação da produção de álcool anidro.

Para o desenvolvimento de tecnologiaspara o setor sucroalcooleiro, criou-se o Pro-grama Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar (Planalsucar), vinculado ao IAA.Nesse ponto, surgiu o Programa de Melho-ramento Genético da Cana-de-Açúcar, quemais tarde, em 1990, foi extinto pelo governofederal, juntamente com o IAA. No entan-to, após um ano, o corpo técnico e a infra-estrutura das coordenadorias e estaçõesexperimentais desse Programa foram absor-vidos, inicialmente por sete universida-des federais – Universidade Federal do

Artigo 3.p65 17/08/2007, 09:0620

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21Cana-de-açúcar

Paraná (UFPR), Universidade Federal deSão Carlos (UFSCar), Universidade Federalde Viçosa (UFV), Universidade FederalRural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Univer-sidade Federal de Sergipe (UFSE), Univer-sidade Federal de Alagoas (UFAL) eUniversidade Federal Rural de Pernambu-co (UFRPE) –, as quais instituíram a RedeInteruniversitária para Desenvolvimentodo Setor Sucroalcooleiro (Ridesa). Maisrecentemente, a Universidade Federal deGoiás (UFG) foi também agregada à Ridesa.

Coube a UFV coordenar, em Minas Ge-rais, o Programa de Melhoramento Gené-tico da Cana-de-Açúcar (PMGCA).

Este artigo objetiva apresentar umavisão geral sobre o desenvolvimento e ma-nejo de variedades melhoradas em MinasGerais.

PROGRAMA DE MELHORAMENTO

DA CANA

As primeiras variedades desenvolvidaspelo Planalsucar, denominadas Repúblicado Brasil (RB), foram liberadas para o esta-do de Alagoas, em 1977 (OITICICA, 1977).Dentre todas as variedades desenvolvidas,aquela que apresentou maior potencial eque ainda hoje exibe grande importância,em nível nacional, está a RB72454.

Atualmente, o Brasil encontra-se entreos pioneiros na obtenção de variedadesde cana-de-açúcar de valor comercial, sen-do estas desenvolvidas por três principaisprogramas:

a) Programa de Melhoramento do Ins-tituto Agronômico de Campinas(IAC);

b) Programa de Melhoramento do Cen-tro de Tecnologia Canavieira (CTC),anteriormente desenvolvido pelaCooperativa dos Produtores deCana-de-Açúcar e Álcool do Estadode São Paulo (Copersucar);

c) Programa de Melhoramento das uni-versidades federais que compõem aRede Interuniversitária para Desen-

volvimento do Setor Sucroalcoolei-ro (Ridesa).

No ano de 2004 surgiu o programa Ca-navialis, que ainda não liberou nenhumavariedade.

As variedades de cana-de-açúcar sãocodificadas por letras e números que se-guem um padrão internacional, onde asduas primeiras letras constituem a sigla dainstituição obtentora, na seqüência, os doisprimeiros números representam o ano, quefoi realizada a hibridação, e os últimos núme-ros referem-se ao código que o clone rece-beu inicialmente nos experimentos. Segueo exemplo no caso do Brasil: IAC86-2210,SP80-1816 e RB867515. Essas variedadesforam geradas pelos programas do IAC,Copersucar e UFV/Ridesa, respectiva-mente.

As universidades integrantes da Ridesacontinuam gerando variedades com a si-gla RB, à semelhança do que fazia o extintoPlanalsucar.

EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE

Minas Gerais tornou-se o maior produ-tor nacional de cana-de-açúcar na décadade 20, tendo possuído, naquela época, apro-ximadamente 60% dos engenhos do País.Devido a uma série de circunstâncias, mui-tas empresas paralisaram suas atividadesao longo desses últimos anos. As unidadesremanescentes concentram-se no Triân-gulo Mineiro, Sul de Minas e Centro-Oestede Minas. Atualmente, o Estado respondepor, aproximadamente, 6,38% da produçãonacional de cana (CONAB, 2006).

Desde o início da década de 70, a pro-dutividade de cana e de açúcar em MinasGerais tem aumentado na razão de 0,64 tcana/ha e 1,79 kg açúcar/t cana. Esses ga-nhos são decorrentes do emprego de tec-nologia, tanto na área agrícola como naindustrial. Nesse cenário, as variedadesocupam reconhecidamente posição de des-taque, embora seja difícil quantificar a con-tribuição de cada fator de produção para oavanço global.

CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS

NAS VARIEDADES DE

CANA-DE-AÇÚCAR

Produtividade elevada

É necessário avaliar a adaptabilidade ea estabilidade de produção das variedadesem diferentes condições edafoclimáticas.Devem-se observar os resultados dos expe-rimentos de competição de clones e de va-riedades nas diferentes regiões, aliados àsobservações locais dos campos de multi-plicação e outras recomendações técnicas,para o correto manejo das variedades, for-necidas pelas instituições que a geraram.

Elevado teor de sacarose

A variedade deve apresentar elevadoteor de sacarose (PC) por unidade de área.A curva média de maturação das varieda-des deve ser verificada em diferentes anosagrícolas, na propriedade ou localidadede cultivo. Esta variável deve ser associa-da à produtividade de colmos por hecta-re (TCH), nas diferentes épocas de corte.Assim, têm-se como resultado os valoresde TPH (TCH x PC), em quilo de sacarosepor hectare, em diferentes épocas de cortena safra. Para determinada época de cortedevem-se utilizar as variedades que pro-porcionam maior TPH, não deixando derelevar outras características mencionadasneste artigo.

Interação

variedade x maturador

Associado ao PC tem-se a questão dafibra da cana-de-açúcar. Normalmente, exis-te uma associação negativa entre teor defibras e açúcar. As variedades precoces maisricas em sacarose apresentam, em geral, teorde fibra menor. Esse fato pode comprometera quantidade disponível de bagaço para quei-ma no início de safra. A quantidade idealde fibra da variedade varia de 12% a 13%.

Boa brotação e

longevidade da soca

Considerando que cerca de 80% doscanaviais são socas, a boa brotação e a

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22 Cana-de-açúcar

longevidade destas são de suma impor-tância para as variedades.

Como se sabe, a produtividade é redu-zida a cada ano de corte. Portanto, é dese-jável que as variedades apresentem boabrotação de soca, especialmente aquelascortadas em meados de safra, no períodoseco.

No caso de colheita mecânica, semqueima prévia, torna-se importante tambéma brotação de soca sob a palha residual.Há variedades que não suportam ou nãobrotam satisfatoriamente sob a palhada.

Perfilhamento e

característica do colmo

É desejável que as variedades apresen-tem rápido desenvolvimento inicial (bomperfilhamento) e adequado fechamento deentrelinhas, para minimizar a competiçãocom plantas daninhas.

É interessante que não apresentem bro-tações tardias, o que comprometerá a uni-formidade de maturação do canavial. Por-tanto, é desejável que as variedades tenhamao final do ciclo de produção colmos coma mesma idade fisiológica de maturação.Além disso, que apresentem diâmetro uni-forme e médio de colmos, para que não sequebrem com facilidade.

Há variedades que apresentam exces-siva quebra de ponteiros, devido a ventos,o que também é uma característica inde-sejável.

As variedades devem apresentar per-filhamento ereto. O padrão ereto é impor-tante tanto para o corte mecânico, quantopara o corte manual, devido ao maior ren-dimento.

Excessivo acamamento ou tombamentopode provocar enraizamento de colmos,quando em contato com a superfície do so-lo. Nesses casos há emissão de brotaçõese pode ocorrer arrancamento ou levan-tamento de socas ou movimentação dosistema radicular por ação de ventos muitofortes.

As variedades devem apresentar des-palha fácil, haja vista a necessidade de auxi-liar a colhedora na operação de limpeza da

cana. Para o corte manual da cana, semqueima prévia, as variedades devem apre-sentar despalha fácil ou mesmo natural.

Não florescimento excessivo

O florescimento pode acarretar per-das na qualidade da matéria-prima, devidoaos efeitos da isoporização dos colmos, aoaumento da porcentagem de fibra, à bro-tação das gemas dos colmos em pé, à dimi-nuição do caldo extraído pelas moendas eà paralisação do desenvolvimento vege-tativo dos colmos floridos, isso faz comque haja perda em produtividade de col-mos.

No caso de variedades precoces, o flo-rescimento não é problemático. Portanto,pode-se perfeitamente usar uma variedadeprecoce florífera, para corte no início desafra. Talvez a própria indução ao flores-cimento promoverá uma melhoria na matu-ração da variedade precoce.

Tolerância às principais

doenças e pragas

Nunca existiu e jamais existirá a varie-dade perfeita. Por questões probabilísticas,o melhoramento não conseguirá associarem uma única variedade (clone) todas ascaracterísticas desejáveis de produtividadee tolerância às doenças. Outra questão éque as demandas tecnológicas e mesmoos patógenos alteram-se com o passar dotempo. Portanto, isso funciona como umciclo, em que a variedade tem vida efê-mera.

Cabe empregar variedades que apre-sentem menor risco, quanto à produti-vidade esperada. O ideal é que apresen-tem boa tolerância em campo às principaisdoenças e pragas.

Algumas doenças são mais importantesem determinadas localidades ou situaçõesde manejo da lavoura. Há doenças que so-mente a tolerância varietal é o principalmétodo de controle, como a ferrugem, car-vão e escaldadura, enquanto outras podemser manejadas com tratamento térmico,como o raquitismo e controle biológico oupráticas culturais no caso de pragas.

Como a maioria das doenças da cana écontrolada por meio do mecanismo conhe-cido como resistência horizontal, em con-dições de campo, no canavial, ocorremplantas infectadas pela doença, entretan-to sem ocasionar perdas econômicas.

MANEJO DE VARIEDADES

O manejo de variedades pode ser enten-dido como o processo que visa maximizar aprodutividade agroindustrial, empregandovariedades e outras tecnologias disponí-veis.

Em monocultura extensiva, como é ocaso da cana-de-açúcar, há riscos de quedade produtividade, devido a fatores bióticose abióticos. Essas condições de estresseclimático e biológico e suas interações comas variedades denominam-se declínio deprodutividade da cana-de-açúcar. Cabe aohomem interferir no processo, para ame-nizar os riscos decorrentes do declínio deprodutividade das variedades. Estas, porsua vez, sempre serão substituídas poroutras de melhor produtividade e que aten-dam às novas demandas impostas pelamudança nas tecnologias de produção oumesmo por epidemias de novas doençasintroduzidas de outros países.

Neste sentido, o próprio setor começoua utilizar algumas recomendações empíricas,como: não ultrapassar o limite de 15% daárea total cultivada com uma única varieda-de. Em linhas gerais, atualmente, recomenda-se diversificar o número de variedadescultivadas na empresa, talvez com dez va-riedades. Sugere-se, ainda, empregar varie-dades que apresentem menor risco em fun-ção de sua reação às principais doenças eque apresentem menor grau de parentes-co.

O Quadro 1 apresenta um esquema pa-ra manejo das principais variedades quetêm sido utilizadas em Minas Gerais, paraprodução de açúcar e álcool.

A alocação das variedades em cada pe-ríodo de safra leva em conta, não somentea maturação, mas também todas as carac-terísticas agronômicas das variedades.

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23Cana-de-açúcar

CLASSIFICAÇÃO DAS

VARIEDADES QUANTO

À MATURAÇÃO

No planejamento do canavial, além daprodução de colmos, deve-se levar em con-sideração a maturação das variedades. Talcomo a produtividade de colmos, a matu-ração é também influenciada pelas condi-ções edafoclimáticas. De maneira geral, acana-de-açúcar requer de seis a oito mesescom temperaturas elevadas, radiação solarintensa e precipitações regulares, para quehaja pleno crescimento vegetativo, segui-do de quatro a seis meses com estação secae/ou baixas temperaturas, condições estas

desfavoráveis ao crescimento e benéficasao acúmulo de sacarose.

A maturação é o processo fisiológicode transporte e armazenamento da sacarosenas células parenquimatosas dos colmos.A concentração de açúcares é maior nosentido da base dos colmos para o ápice eda parte externa dos colmos para a parteinterna. As variedades podem ser classi-ficadas quanto à maturação da seguinteforma (Gráfico 1):

a) variedades precoces: apresentamteor de sacarose superior a outrasvariedades no início da safra (abril emaio). Considerando somente a ma-

turação, normalmente possuem lon-go período útil de industrialização(PUI);

b) variedades médias: apresentam teorde sacarose superior a outras varie-dades no meio da safra (junho, julho,agosto), possuem PUI médio;

c) variedades tardias: apresentamelevado teor de sacarose de meadospara o final da safra, possuem PUIcurto (70 a 120 dias).

Aliado à escolha apropriada de varie-dades, é importante observar certas prá-ticas agrícolas que poderiam melhorar aprodutividade, tais como:

a) adubação do solo com base em suaanálise química;

b) uso de calcário;

c) adubação orgânica;

d) uso agrícola da vinhaça;

e) época de plantio;

f) tratos culturais;

g) formação de viveiros com mudas tra-tadas termicamente, dentre outrosfatores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As variedades de cana-de-açúcar cons-tituem o principal fator de aumento de pro-

RB855156 RB835486 RB867515 RB72454

RB855453 SP80-1842 RB855536 RB867515

(2)SP81-3250 SP79-1011 SP83-2847

SP80-1816

SP80-3280

QUADRO 1 - Sugestão de manejo de variedades em Minas Gerais

Tardia

(1) Considerando-se 225 dias de safra. (2) Com maturador.

Dias de safra(1)

30 dias 45 dias 75 dias

Precoce

Precoce 1 Precoce 2

Média

Gráfico 1 - Curvas de maturação de variedades precoce (RB855156), média (SP81-3250) e tardia (RB72454), no Centro-Sul do Brasil

75 dias

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24 Cana-de-açúcar

REFERÊNCIAS

CONAB. Cana-de-açúcar: safra 2006/2007 -

terceiro levantamento. Brasília, 2006. Disponí-

vel em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/

download/safra/3_levantamento_nov2006.

doc> . Acesso em: 31 mar. 2007.

FERNANDES, A.C.; IRVINE, J.E. The brazilian

sugar and alcohol agroindustry. In: COPER-

SUCAR INTERNATIONAL SUGARCANE

BREEDING WORKSHOP, 1987, Piracicaba.

Anais… São Paulo: COPERSUCAR, 1987.

p.233-247.

OITICICA, J. Sugarcane Experiment Station:

Northeast Brazil. Sugar Journal, v.39, n.12,

p.16-17, 1977.

dutividade. Constataram-se mais de 30%de aumento no rendimento de açúcar, porhectare, desde o início do programa álcoolno Brasil. Pelo uso de variedades de matu-ração precoce, as usinas e destilarias pude-ram ampliar o período de safra. Em MinasGerais, há diversas empresas que iniciamsafra em abril.

Neste cenário, destaca-se o Programade Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar em Minas Gerais, coordenado pelaUFV. O Programa tem como ponto forte aparceria com empresas produtoras de açú-car e de álcool. As usinas e as destilariastêm participado do desenvolvimento de va-riedades, desde as etapas iniciais do Pro-grama. Assim, a adoção e o manejo dasnovas variedades acontecem de maneirafacilitada, tendo em vista o fato de o produ-tor ter participado ativamente do desen-volvimento da tecnologia.

Em Minas Gerais as variedades daRidesa/UFV ocupam mais de 50% da áreacultivada. Percebe-se, portanto, a impor-tância de a UFV contribuir para o Programade Energia Renovável em nosso Estado.

Mais recentemente, a Empresa de Pesqui-sa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)desenvolveu testes locais com variedadesmelhoradas, em algumas regiões do Esta-do. Em parceria com a UFV, esse trabalhoserá potencializado.

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25Cana-de-açúcar

1Engo Agro, Pesq. UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: [email protected]

3Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

4Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - Ao se produzir muda de cana-de-açúcar ou de qualquer outra cultura deve-seestar atento, pois esta etapa não é uma simples propagação de espécie. Deve-se fazer ocontrole de doenças e pragas, complementado com variedades resistentes ou tolerantesa diversos patógenos e pragas que atacam esta cultura. No estado de Minas Gerais, nãohá, ainda, normas ou legislação específicas, que definam o padrão de qualidade demudas de cana-de-açúcar. O primeiro passo é o planejamento da lavoura, definindo aexpansão e a estabilização. Deve-se programar a formação dos viveiros determinandoas fases em viveiro primário, secundário, plantio comercial, com a utilização da soca doprimário para o plantio comercial, seguindo um cronograma de atividades.

Palavras-chave: Saccharum spp. Tratamento térmico. Viveiro. Praga. Doença. Controlefitossanitário.

INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar tem sua multiplica-ção realizada por propagação vegetativa,em que a parte utilizada são os colmos, quetambém são usados para a produção deálcool e açúcar. No estado de Minas Gerais,não há, ainda, normas ou legislação especí-ficas que definam o padrão de qualidadede mudas de cana-de-açúcar, como pro-duzir, cuidados na produção, normas decomercialização etc.

Torna-se evidente que em uma lavou-ra de cana-de-açúcar o objetivo maior éobter a máxima produção agrícola e indus-trial. No caso específico de viveiros, esteobjetivo não é mais importante do que osdemais, sendo todos de grande importânciana produção final de uma lavoura de cana-de-açúcar. Nesse caso, ao produzir muda

Produção de mudas de cana-de-açúcar

Luís Cláudio Inácio da Silveira1

José Mauro Valente Paes2

Márcio Henrique Pereira Barbosa3

Geraldo Antônio Resende Macêdo4

de cana-de-açúcar, deve-se estar atento aosseguintes fatos:

a) controle financeiro: proporcionara formação de canaviais, minimi-zando os possíveis desequilíbriosde fatores culturais, fitossanitário,causadores de perdas na produçãoagrícola/industrial;

b) aspecto cultural: oferecer para apropagação colmos em bom estadohídrico e nutricional, que irão pro-porcionar maior vigor na germinaçãoinicial, desenvolvimento vegetativoe pureza varietal;

c) aspectos fitossanitários: é ondeocorrem as diferenças entre uma la-voura comercial e uma destinada àpropagação da cultura, pois, por meio

dos cuidados fitossanitários há aminimização das perdas provoca-das por doenças, quando somente aresistência varietal não é suficientepara um controle efetivo;

d) planejamento: ao planejar a evolu-ção da lavoura, o viveiro passa a serponto de referência para expansãoda área. Toda expansão futura, ne-cessariamente passa por uma pro-gramação de multiplicação das va-riedades e áreas necessárias paraevolução.

PLANEJAMENTO PARA

PRODUÇÃO DE MUDA

Para a cultura da cana-de-açúcar exis-tem normas técnicas aprovadas pelas enti-dades fiscalizadoras nos estados de São

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26 Cana-de-açúcar

Paulo e Paraná, conforme delegação do Mi-nistério da Agricultura.

Formação do viveiro

O primeiro passo para a formação doviveiro é o planejamento da lavoura, de-finindo sua expansão e sua estabilização.Realizada esta etapa, seleciona-se o equi-pamento para tratamento térmico da cana-de-açúcar. Para isso, existem dois modelosbásicos no mercado, que serão definidos,conforme o rendimento e a necessidade deformação de viveiros: primário, secundárioe área de plantio comercial. O primeiropermite o tratamento térmico de toletes detrês gemas (Unidade de Tratamento Tér-mico – Planalsucar), já o segundo, permi-te o tratamento de toletes de uma gema(Unidade de Tratamento Térmico – Siste-ma Copersucar). Na tomada de decisão,quanto ao modelo a ser utilizado, deve-seconsiderar a necessidade de área para aimplantação do viveiro primário, sendomais econômico o tratamento de toletes detrês gemas, quando essa área for superiora 10 hectares.

Época de plantio

Na Região Centro-Sul do Brasil, consi-derando o plantio de sequeiro, têm-se duasépocas de plantio de cana-de-açúcar: canade ano e meio (fevereiro/março) e cana deano (setembro/outubro). No caso específi-co da formação do viveiro primário, inde-pendente da época de plantio, há neces-sidade de irrigação. Quando da formaçãodo viveiro secundário e posterior plantioem talhões comerciais, não há necessidadede irrigação, desde que o plantio ocorra noperíodo especificado.

Prática aplicada no

plantio de viveiros

Não há diferenças significativas naspráticas de manejo de plantio e tratosculturais, com exceção da implantação doviveiro primário por haver necessidade deirrigação. É preciso estar atento ao manu-seio de ferramentas de cortes (facões), quenecessitam passar por desinfecção obri-

gatória nas fases de viveiros, por meio deprocessos eficientes e comprovados, comfreqüência de três a quatro vezes por dia,ao utilizar lotes de mudas de diferentes va-riedades. As formas utilizadas para desin-fecção dos facões são a flambagem, a solu-ção biocida (creolina a 20%), com raspa-dores para completar a limpeza da lâminade corte.

A operação de desinfecção de ferra-mentas utilizadas no corte de mudas, emalgumas unidades produtoras, é normaestabelecida tanto em áreas de viveiros,como em plantio comercial.

PRÁTICA DE CONTROLE

FITOSSANITÁRIO EM VIVEIRO

Ao se produzir muda de cana-de-açúcarou de qualquer outra cultura, deve-se saberque esta etapa não é uma simples propa-gação de espécie. Nela está inserido tam-bém o controle de doenças e pragas, com-plementado com a utilização de variedadesresistentes ou tolerantes a diversos pató-genos e pragas que atacam a cultura.

Dentre as doenças de importância eco-nômica que incidem nos canaviais brasilei-ros, apenas a ferrugem depende exclusi-vamente de resistência varietal. Já com asdemais, pode-se ter um bom controle, des-de que a variedade em foco não seja susce-tível à doença. Nesse caso, o controle serápor meio de tratamento térmico e rouguing,práticas implementadas nas áreas de pro-dução de mudas sadias.

Raquitismo-da-soqueira

Todo o sistema de produção de mudassadias de cana-de-açúcar baseia-se no con-trole do raquitismo-da-soqueira (RSD). Estadoença é considerada a mais importantedos canaviais, em função dos seguintesmotivos:

a) prejuízos causados;

b) ausência de sintomas externos;

c) poucas fontes de resistência varietal.

Os prejuízos causados pelo raquitismo-da-soqueira apontam para perdas de até

60% da produção agrícola, em média, quesão mais acentuadas em variedades susce-tíveis, agravando-se ainda mais em regiõesque apresentam distribuição hídrica irre-gular.

Por não apresentar sintomas externos,o controle do RSD torna-se mais problemá-tico, pois o produtor não consegue visua-lizar a anomalia e acaba por atribuir à varie-dade cultivada a queda de produtividade ea redução da vida útil do canavial. Por exis-tirem poucas fontes conhecidas de resis-tência nos bancos de germoplasmas decana-de-açúcar, há dificuldades de incor-poração de genes de resistência, o que fazcom que ocorram apenas graus variáveisde tolerância à doença.

Método de controle do

raquitismo-da-soqueira

O RSD foi primeiramente diagnosti-cado em 1944/1945, na Austrália, sendo,inicialmente, considerada uma doença cau-sada por vírus. Desde o primeiro momento,a termoterapia foi a opção que melhor resul-tado apresentou e passou a ser a metodo-logia empregada, sendo utilizada até osdias de hoje, com o devido aperfeiçoamen-to da técnica.

Após vários estudos, ficou comprova-do que a doença era causada por uma bac-téria denominada Clavibacter xyli. O con-trole é realizado por meio da imersão dostoletes ou minitoletes em água quente, comtemperatura controlada a 50,5oC, por duashoras. São dois os sistemas de tratamentopropostos e utilizados atualmente pelosprodutores. Ambos apresentam a mesmaeficiência de controle do RSD. Para aumen-tar o rendimento de toletes ou minitoletestratados, estudou-se a relação tempo/tem-peratura e concluiu-se que poderia ser fei-ta alteração nesta relação, sem prejuízo nagerminação das gemas e no controle doagente causador da doença. A relação tem-po/temperatura passou para 52oC, por 30minutos. Essa nova dinâmica possibilitoutrabalhar com toletes de uma gema, melho-rando o rendimento da unidade de trata-mento.

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27Cana-de-açúcar

Efeito do tratamento térmico

no controle do RSD

Após ter sido realizado o tratamentotérmico, fez-se o seguinte questionamento:– Por quantas multiplicações, as mudas quepassaram pelo tratamento estariam prote-gidas? A demora no diagnóstico da doença,principalmente em baixos níveis de infecçãoe diferentes graus de tolerância varietal aoRSD, dificultava a resposta. Trabalhos rea-lizados por Matsuoka (1984) definiram oslimites da utilização do tratamento térmico,constatando que, após cinco multiplica-ções sucessivas, os níveis de RSD retor-nam à contaminação daqueles colmos nãotratados.

Nesse caso, deve-se programar a for-mação dos viveiros e definir as fases emviveiro primário, secundário, plantio comer-cial, mais a utilização da soca do primáriopara plantio comercial, conforme apresen-tado nas Figuras 1 e 2.

Para manter um nível alto de controle dadoença, os próximos tratamentos deverãoreceber mudas oriundas do viveiro primá-rio ou, no máximo, do viveiro secundário.Quando do tratamento, as mudas que irãoreceber o tratamento térmico deverão estarcom 13 a 14 meses de idade, selecionando-se o terço médio. Caso seja cana de segun-do corte, a idade deverá estar entre 10 e 12meses.

Figura 1 - Evolução das áreas de viveiro

NOTA: Sistema de tratamento térmico – Modelo banheira Copersucar; Tempo de tratamento – 52oC por 30 minutos.

CONTROLE FITOSSANITÁRIO

EM VIVEIRO

O rouguing consiste em eliminar plan-tas com sintomas de doenças (carvão, escal-dadura, mosaico), complementando com aeliminação de mistura varietal e controlede pragas como a broca-da-cana-de-açúcare outras. Essa atividade completa os con-troles fitossanitário e cultural nos viveiros.Pode-se classificar essa operação como amais importante no controle de qualidadedas mudas, pois diminui o potencial deinóculos das doenças citadas, bem comomantém a pureza varietal nas demais fasesde formação do viveiro até a implantaçãoda lavoura comercial.

PLANTIO

JANEIRO

6 meses

relação 1/6

1a REPICAGEM

SETEMBRO

relação 1/6

2a REPICAGEM

FEVEREIRO

11 meses

relação 1/8

VIVEIRO SECUNDÁRIO

MARÇO

Irrigação se necessário

RouguingAdubação

Irrigação se necessário

RouguingAdubação

Tratamento térmico

no início do

período chuvoso

VIVEIRO 1

soca 1,5 ha

VIVEIRO 3

soca 55 ha

VIVEIRO 4

640 ha

VIVEIRO 2

soca 9 ha

VIVEIRO 3

55 ha

VIVEIRO 2

9 ha

VIVEIRO 1

1,5 ha

Irrigação se necessário

RouguingAdubação

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28 Cana-de-açúcar

Fig

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29Cana-de-açúcar

REFERÊNCIA

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tamento térmico em canas infectadas pelo

raquitismo-da-soqueira. In: CONGRESSO

NACIONAL DA STAB, 3., 1984, São Paulo.

Anais... São Paulo: STAB, 1984. p.244-249.

Para que haja o sucesso no controlefitossanitário, as pessoas que forem reali-zar o rouguing, deverão ser treinadas parareconhecer as doenças importantes e ascaracterísticas morfológicas das varieda-des da cana-de-açúcar plantada e, assim,fazer o controle de mistura varietal.

A freqüência com que se realiza orouguing é variável, conforme a cultivarplantada, seu grau de resistência às doen-ças e o nível de mistura varietal detectado.Normalmente, inicia-se o rouguing após oprimeiro mês de plantio, com maior aten-ção às doenças. A partir do quarto mês,além das doenças, há o controle da misturavarietal. Nesta fase, fica mais fácil iniciar adiferenciação pela observação das carac-terísticas morfológicas. Em média, são rea-lizadas cinco operações de rouguing, po-dendo variar para mais ou para menos,conforme a necessidade.

As plantas eliminadas devem ser arran-

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para a produção de mudas no estado do Pa-

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Copersucar, São Paulo, n.1, p.12-14, 1976.

cadas com todo o sistema radicular. Se mis-turadas, deixar na entrelinha para secar.Já no caso de plantas doentes, estas de-verão ser arrancadas e retiradas do cana-vial. Especificamente no caso do carvão, ochicote deverá ser envolvido por um sacoplástico ou papel, cortado, para depois serarrancada a touceira e retirada para fora docanavial. Os chicotes deverão ser mantidosem local isolado, dentro de saco plástico,podendo-se usar sacos de adubo fecha-dos, formando uma câmara úmida, o queirá propiciar, em poucos dias, a destruiçãodos esporos neles contidos.

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30 Cana-de-açúcar

1Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFAL-Centro de Ciências Agrárias-Depto Fitotecnia e Fitossanidade, CEP 57100-000 Rio Largo-AL. Correio eletrônico:

[email protected]

2Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: [email protected]

3Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: [email protected]

4Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - A cana-de-açúcar é uma cultura de grande potencial produtivo. Alcança, emdiversas lavouras, acúmulo anual de matéria natural superior a 150 t/ha. A colheitadessa matéria natural remove elevada quantidade de nutrientes e, portanto, devem-seadotar medidas para que o potencial produtivo da cana não venha a ser comprometidopelo insuficiente fornecimento de nutrientes ou pela presença de elementos em níveistóxicos. São apresentados a avaliação da fertilidade do solo, os critérios e doses decalagem, de gessagem e de adubações químicas e orgânicas, bem como os índices técnicosde um sistema de produção de cana destinada à alimentação de vacas leiteiras, no qualforam utilizadas doses de adubos maiores que as rotineiramente recomendadas, tendo-se verificado resultados agronômicos e financeiros compensadores.

Palavras-chave: Nutriente. Calagem. Gessagem. Sistema de produção. Fertilidade dosolo. Correção do solo.

INTRODUÇÃO

A cultura da cana-de-açúcar, no Brasil,expandiu-se bastante nos últimos anos,influenciada pelos bons preços de vendados seus dois principais produtos: o açú-car e o álcool. Atualmente, a área cultivadacom cana situa-se próximo a 6,5 milhões dehectares.

Além da produção de açúcar e álcool, acana tem sido muito utilizada por pequenose médios produtores rurais para a fabrica-ção de cachaça, rapadura e açúcar-mascavo,bem como para a alimentação de ruminan-tes e monogástricos. Dentre os fatores quecontribuem para o interesse da cana naalimentação animal, podem-se citar:

Nutrição mineral e adubação da cana-de-açúcar

Mauro Wagner de Oliveira1

Francisco Morel Freire2

Geraldo Antônio Resende Macêdo3

José Joaquim Ferreira4

a) grande produção de forragem por uni-dade de área e facilidade de cultivo;

b) quando madura, mantém seu valor nu-tritivo como forragem, durante o pe-ríodo da seca, além do baixo custo porunidade de matéria seca (MS) pro-duzida;

c) apresenta maior flexibilidade quantoàs épocas de plantio e de corte, emcomparação com as culturas anuais,o que facilita o gerenciamento da ati-vidade;

d) pode ser uma das fontes de energiade menor custo, tanto para rebanhosde pequena, quanto de média e altaprodutividades.

A produtividade média dos canaviais,

incluindo os colmos industrializáveis, as

folhas secas e os ponteiros, tem oscilado

em torno de 100 toneladas de matéria na-

tural por hectare e esses colmos correspon-

dem a, aproximadamente, 80% dessa mas-

sa. Entretanto, adotando manejo adequa-

do de variedades, de calagem e de adubação

e tratos culturais adequados, podem-se

alcançar produtividades superiores a 150

toneladas de matéria natural por hectare.

Sob irrigação complementar, a produtivida-

de média da cana pode ultrapassar a 200

toneladas anuais de matéria natural por

hectare (OLIVEIRA et al., 2002b), o que a

torna ainda mais competitiva.

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31Cana-de-açúcar

AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE

DO SOLO

A cana-de-açúcar, por produzir gran-de quantidade de massa, extrai do solo eacumula na planta grande quantidade denutrientes. Para uma produção de 120 tone-ladas de matéria natural por hectare, cercade 100 toneladas de colmos industrializá-veis, o acúmulo de nutrientes na parte aéreada planta é da ordem de 150, 40, 180, 90,50 e 40 kg de nitrogênio (N), fósforo (P),potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) eenxofre (S), respectivamente. No caso dosmicronutrientes ferro (Fe), manganês (Mn),zinco (Zn), cobre (Cu) e boro (B), os acúmu-los na biomassa da parte aérea, tambémpara uma produção de 120 toneladas, sãoem torno de 8,0; 3,0; 0,6; 0,4; e 0,3 kg, res-pectivamente (OLIVEIRA et al., 1993; 2002a;ORLANDO FILHO, 1993).

Deve-se conhecer, portanto, a capaci-dade de fornecimento de nutrientes pelosolo, para, se necessário, complementá-lacom adubações e, se constatada a presen-ça de elementos em níveis tóxicos, reduzirseus efeitos pela calagem e gessagem. Nor-malmente, avaliam-se a disponibilidade denutrientes e a presença de elementos emníveis tóxicos no solo pela análise químicada camada arável. É também de grande valiao histórico da área, sobretudo as aduba-ções realizadas e se houve ou não ocorrên-cia de sintomas de deficiência ou de toxideznos cultivos anteriores.

Usualmente, coletam-se amostras desolo das camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cmde profundidade. Os resultados da análiseda camada de 0 a 20 cm serão utilizadospara calcular a adubação e a calagem e osda camada de 20 a 40 cm, para os cálculosda necessidade de gessagem.

Antecedendo-se à coleta das amostrasde solo, é necessário dividir a área em uni-dades homogêneas, levando-se em consi-deração, dentre outros, o histórico da área,os tipos de solo (cor, textura, profundida-de), a localização e a topografia (várzea,encosta, platô), a cobertura vegetal e asadubações anteriores. Independente do

material utilizado para amostragem, deve-se tomar o cuidado de retirar sempre o mes-mo volume de solo em cada amostra sim-ples. Além disso, é necessário percorrer aárea em ziguezague, coletando o materialao acaso, em pequenas porções, que de-vem ser colocadas em recipientes limpos eidentificados, para que sejam misturadas,obtendo-se, então, a amostra composta.

Sacos de fertilizantes ou outros ante-riormente usados com produtos que pos-sam interferir no resultado da análise nãodevem ser utilizados para mistura e acondi-cionamento de amostras. Recomenda-se,também, não retirar amostras próximas aresidências, galpões, estradas, estábulos,depósitos de fertilizantes, corretivos e, ainda,em solos encharcados ou sobre sulcos,onde foram aplicados adubos. Para obten-ção de uma amostra composta, devem-setomar entre 20 e 30 amostras simples, nú-meros esses dependentes do tamanho daárea e de sua homogeneidade. Após a seca-gem, ao ar, da amostra composta, retiram-se cerca de 250 a 500 cm3 (1/4 a 1/2 litro) deterra para, depois de acondicionados emrecipiente devidamente identificado, seremenviados ao laboratório de análise de so-los.

Em relação aos resultados da análisequímica do solo, o potássio (K), o cálcio(Ca), o magnésio (Mg), o sódio (Na) e oalumínio (Al) são analisados quanto ao teortrocável e, mesmo havendo grande variaçãodos extratores químicos utilizados por dife-rentes laboratórios, a precisão e a exatidãodessas análises são muito grandes.

O fósforo, entretanto, é um elementoque apresenta maior reatividade com o soloe sua dinâmica é também mais complexa.Assim, há questionamentos quanto aos re-sultados de análises realizadas em labora-tórios que utilizam diferentes métodos eextratores. Contudo, análises realizadas pe-lo primeiro autor, em solos cultivados comcana-de-açúcar na Zona da Mata mineira eque não foram adubados com fosfato na-tural, indicaram que não houve diferençasignificativa entre os teores de fósforo

disponível, extraídos com Mehlich 1, e osobtidos com o uso da resina de troca iônica.

Os teores de enxofre e de micronutri-entes têm variado bastante em função dosmétodos e extratores empregados na aná-lise química do solo, havendo ainda grandeinfluência da época de coleta, da umidadedo solo e do preparo da amostra (PAVAN;MIYAZAWA, 1984). Assim, é de grandevalia o histórico da área, especialmente quan-to aos micronutrientes. Caso haja registrode deficiência destes micronutrientes emculturas antecessoras, torna-se necessárioincluir na adubação esses elementos.

CALAGEM

Os solos brasileiros são, em sua gran-de maioria, naturalmente ácidos, apresen-tando baixa saturação por cátions básicos,como cálcio, magnésio e potássio. A defi-ciência de cátions como o cálcio, associa-da aos altos teores de alumínio trocável,é prejudicial ao crescimento do sistemaradicular e, conseqüentemente, de toda acana-de-açúcar. O uso de fertilizantes ni-trogenados, principalmente os amoniacais,e a remoção de cátions básicos pelas co-lheitas também podem contribuir para queos solos se apresentem ácidos, motivo porque tem sido prática comum na cultura dacana-de-açúcar a correção do solo.

Vários materiais podem ser usados co-mo corretivos da acidez de solos, sendo osmais empregados os calcários calcíticos,magnesianos e dolomíticos e os silicatosde cálcio e magnésio, designados escóriasde siderurgias. Nessas escórias, o teor deóxido de magnésio (MgO) varia com omaterial, com um valor médio oscilando aoredor de 8%, enquanto os calcários calcí-ticos possuem teores de MgO inferioresa 5%, os magnesianos entre 5% e 12% eos dolomíticos acima de 12%. A eficiênciadesses produtos na correção da acidez dosolo depende, dentre outros fatores, da suagranulometria, da distribuição uniforme nocampo e da disponibilidade hídrica do solo.

Em relação à recomendação do corre-tivo, existem alguns métodos para estimar

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32 Cana-de-açúcar

a necessidade de calagem (NC), definidacomo a quantidade de calcário com poderrelativo de neutralização total (PRNT) 100%,a ser aplicada no solo para diminuir suaacidez até um nível desejado. Na maioriados Estados brasileiros, ela tem sido esti-mada pelo método da neutralização da aci-dez trocável e da elevação dos teores decálcio e magnésio (SOUZA et al., 1997;ALVAREZ V.; RIBEIRO, 1999) e/ou pelométodo de saturação por bases (RAIJ etal.,1996; ALVAREZ V.; RIBEIRO, 1999).

Para a cana-de-açúcar, tem sido reco-mendado elevar a saturação por bases (V)a 60%. Segundo Raij et al. (1996), a quan-tidade de calcário (QC) a ser usada, quan-do se emprega o método de saturação porbase, é calculada pela seguinte expressão:

Equação 1:

QC (t/ha) = [(60 – V) x T] ÷ PRNT

em que:

V = saturação por bases atual do solo;

T = capacidade de troca catiônica (CTC) apH 7,0;

PRNT = poder relativo de neutralizaçãototal do corretivo utilizado.

Estudos conduzidos por Oliveira et al.(2004), em solos cultivados com cana-de-açúcar na Zona da Mata mineira, mostra-ram a necessidade de utilizar o dobro dasquantidades de corretivo calculadas pelosdois métodos, neutralização do alumíniotrocável e elevação dos teores de cálcio emagnésio ou elevação da saturação porbases a 60%. Resultados semelhantes fo-ram obtidos por Ernani e Almeida (1986) eOliveira et al. (1997), ao compararem méto-dos analíticos para avaliação da necessi-dade de calcário dos solos dos estados deSanta Catarina e do Paraná. Também verifi-caram que o método de saturação por ba-ses subestimou, demasiadamente, a neces-sidade de calcário dos solos estudados,sobretudo dos mais tamponados. Valoresde saturação por bases inferiores aos pre-ditos analiticamente também foram encon-trados por Morelli et al. (1992), em Latos-

solo de textura média, álico, cultivado comcana-de-açúcar.

Diante das observações de Ernani eAlmeida (1986), Morelli et al. (1992), Oli-veira et al. (1997) e Oliveira et al. (2004),recomenda-se, para áreas com saturaçãopor bases abaixo de 30% ou solos maisargilosos, elevar de 1,5 a 2,0 vezes a quanti-dade de calcário a ser aplicada, calculadapelo método de saturação por bases (Equa-ção 1).

Há uma conceituação generalizada quea melhor relação Ca+2: Mg+2 no solo é de4:1. Assim, o tipo de calcário a ser usadodeveria ter como base esta relação. Por outrolado, preconiza-se saturação de cátionstrocáveis, em relação à CTC efetiva do solo(t), de 80% de Ca, 13% de Mg e 6% de K,proporcionando relações Ca:Mg, Ca:K eMg:K, respectivamente de 6,15:1; 13,3:1 e2,2:1. Ainda, vários trabalhos têm eviden-ciado que as concentrações de Ca e Mgna solução são mais importantes que a rela-ção entre esses cátions (OLIVEIRA, 1993).No caso do milho, trabalhos conduzidospor Oliveira (1993) têm indicado que asvariações na relação Ca:Mg do solo de 1:1a 12:1 em solos com teores de Ca e Mg tro-cáveis acima de 2,32 e 0,40 cmol

c/dm3, res-

pectivamente, não afetaram o rendimentonem a produção de MS do milho.

As áreas de reforma de canavial e plan-tio de cana nos sistemas de cultivo mínimoe de plantio direto têm aumentado, acompa-nhando a tendência verificada nas lavourasde milho e soja. Nesses sistemas, não seincorpora o calcário, como no preparo con-vencional. Para explicar a ação do corretivoaplicado, cabe ser lembrado que a mine-ralização dos restos culturais e da palhadade cana, à semelhança do que ocorre emáreas de plantio direto com culturas anuais(CAIRES et al., 2000), libera ânions orgâ-nicos que complexam com Ca, Mg, K eAl, formando moléculas eletricamente neu-tras, que percolam no solo. Além disso, acomplexação do Al trocável por esses com-postos orgânicos oriundos dos resíduosvegetais propicia por si, segundo Sumnere Pavan (2000), redução da acidez do solo.

Para essas áreas, pode-se, então, recomen-dar a calagem somente quando a satura-ção por bases, na camada de 0 a 20 cm, forinferior a 40%.

A calagem nas áreas de rebrota, por suavez, deverá ser realizada quando se cons-tatar saturação por bases inferior a 50% nacamada de 0 a 20 cm. A aplicação do corre-tivo deverá ser em área total, antecedendoaos tratos culturais e calculando a quanti-dade necessária, conforme já descrito.

GESSAGEM

O gesso agrícola (CaSO4.2H

2O), sub-

produto da indústria de fertilizantes, é ori-ginário da reação entre o ácido sulfúrico ea rocha fosfatada, realizada para produzirácido fosfórico. O gesso aplicado no ter-reno não neutraliza a acidez do solo, masdiminui a saturação de alumínio e aumentaa saturação por bases da subsuperfície,proporcionando condições para maior de-senvolvimento e aprofundamento do sis-tema radicular da cana.

Recomenda-se aplicar gesso, quandose verificarem teores de Ca2+ menores que0,4 cmol

c/dm3 e/ou saturação por alumínio

maior que 20%, na camada de 20 a 40 cm.A aplicação de gesso levará à melhoria doambiente radicular das camadas abaixo daarável, efeito que perdura por vários anos.Por esse motivo não é necessária a reapli-cação anual do gesso. Em áreas com palha-da de cana ou de resíduos orgânicos sobreo solo e, se os teores de Ca2+ não forem mui-to baixos e/ou a saturação por alumínio nãofor muito alta, a resposta ao gesso poderáser menor que a esperada.

As doses de gesso a serem aplicadaspodem-se basear na necessidade de cala-gem, calculada por um dos dois critérios jámencionados ou estimadas independen-temente desta, como, por exemplo, com basena textura do solo (ALVAREZ V. et al., 1999).Para a cana-de-açúcar, a quantidade degesso a ser aplicada tem variado de 25% a30% da necessidade de calagem da camadasubsuperficial, multiplicado por um fatorde correção de profundidade (perfil a ser

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33Cana-de-açúcar

corrigido/20). Por exemplo: deseja-se a me-lhoria do ambiente radicular da camada de20 a 60 cm que apresentou necessidade decalagem de 3,0 t/ha. Então, a quantidadede gesso será igual a 1,5 t/ha [(3,0 x 0,25) x(60-20)/20]. Quando as doses de gesso aserem aplicadas tiverem como base a textu-ra do solo da camada subsuperficial, pode-se utilizar a seguinte recomendação (RAIJ,1997): dose a ser aplicada (kg/ha) = argila(em g/kg) x 6,0. Nesse caso, o resultado de-ve também ser multiplicado pelo fator decorreção de profundidade (perfil a sercorrigido/20).

O gesso é aplicado em área total e po-derá ser ou não incorporado ao solo. Quan-do não for possível o seu uso, principal-mente por dificuldade em adquiri-lo empequenas quantidades, o que normalmenteocorre com pequenos produtores rurais,deve-se optar pela aplicação do superfos-fato simples como fonte de fósforo, umavez que esse fertilizante contém sulfato decálcio. Demattê (1986) relatou o efeito daaplicação de gesso na melhoria da sub-superfície de um solo cultivado com cana-

de-açúcar (Quadro 1), podendo-se verifi-car que a gessagem é uma prática agrícolatotalmente compensada pelos acréscimosde produtividade.

ADUBAÇÃO MINERAL

A adubação mineral da cana baseia-senos resultados da análise de solo, na ca-mada de 0 a 20 cm e na produtividade quese deseja obter.

Nitrogênio em cana-planta

O nitrogênio é importante na nutrição efisiologia da cana-de-açúcar, pois, dentreoutras funções, é constituinte das proteí-nas e dos ácidos nucléicos (MALAVOLTAet al., 1989), sendo esse elemento, junta-mente com o potássio, absorvido em maio-res quantidades pela cultura (OLIVEIRA etal., 2002b). O N absorvido aumenta a ativi-dade meristemática da parte aérea, resul-tando em maior perfilhamento e índice deárea foliar (IAF) da cana-de-açúcar. Alémdisso, o N aumenta a longevidade dasfolhas. Esse incremento no IAF eleva aeficiência do uso da radiação solar, medi-

da como taxa de fixação de gás carbônico(µmol de CO

2/m2/s), aumentando, portanto,

o acúmulo de MS.O acúmulo de N pela cana-de-açúcar

varia de acordo com a cultivar, a idade dacultura e a disponibilidade do N e de outroselementos na solução do solo e tambémdepende de fatores edafoclimáticos. Paraas variedades atualmente mais plantadas,trabalhos conduzidos por Oliveira et al.(2002b) indicaram que a extração de N osci-la em torno de 1,2 kg/t de matéria natural daparte aérea. Considerando que as raízes eos rizomas correspondem, em média, a 30%da massa de toda a planta, pode-se estimarque para cada tonelada de matéria naturalacumulada pela parte aérea ocorre absor-ção de 1,5 kg de N pela planta. Portanto,para sistemas com produtividade superiora 120 t/ha de matéria natural, a quantida-de de N absorvida pela cultura ultrapassa,então, 180 kg/ha.

A absorção e o metabolismo do nitro-gênio são muito influenciados pela dis-ponibilidade de fósforo. Em plantas comsuprimento inadequado de P há reduçãona absorção do nitrato da solução do solo;a translocação de nitrato das raízes para aparte aérea diminui, aumentando o acúmulode aminoácidos em folhas e raízes. Maga-lhães (1996) observou enorme influênciada disponibilidade de P, tanto da soluçãonutritiva quanto da endógena, na absorçãoe metabolismo do N pelo milho (Gráfico 1).Plantas bem supridas de fósforo antes edurante o estudo de cinética (+P; +P) apre-sentaram absorção de nitrato praticamenteconstante durante o experimento. No entan-to, plantas que foram privadas antes e du-rante a fase experimental (-P; -P) não con-seguiram absorver o nitrato da solução.

Acredita-se que a cana-planta, por termaior suprimento de P, quando comparadacom as rebrotas, apresente comportamentosemelhante ao verificado nas plantas demilho bem supridas de fósforo (+P; +P).Em pesquisas conduzidas pelo primeiroautor, na região de Passos, Sul de MinasGerais, verificou-se que o aumento da dosede P, aplicada no sulco de plantio, reper-FONTE: Dados básicos: Demattê (1986).

Testemunha 0 a 20 60 97 106 59 87

20 a 40 25

40 a 60 15

0,50 0 a 20 60 99 114 60 91

20 a 40 58

40 a 60 18

1,0 0 a 20 60 96 113 65 97

20 a 40 48

40 a 60 25

2,0 0 a 20 64 105 125 71 101

20 a 40 45

40 a 60 23

QUADRO 1 - Elevação da saturação por bases (V) de camadas da subsuperfície de um solo cultivado

com cana-de-açúcar, avaliada três anos depois da aplicação de gesso

Dose de

gesso

(t/ha)

Camada

(cm)

Produção de colmos industrializáveis

(t/ha)V

(%)

2o corte 3o corte 4o corte Média

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34 Cana-de-açúcar

Gráfico 1 - Absorção de nitrato por plantas de milho com diferentes suprimentos de fósforo

FONTE: Dados básicos: Magalhães (1996).

NOTA: Adequado antes e durante o estudo (+P; +P), adequado antes e ausente durante o estudo (+P; -P), ausente antes e adequado

durante o estudo (-P; +P) e ausente antes e durante o estudo (-P; -P).

MS – Matéria seca.

Gráfico 2 - Volume de solução e de massa de nitrogênio percoladas durante o período experimental

cutiu em maiores acúmulos de N na bio-massa da parte aérea da cana-planta, ouseja, para cada quilograma de P aplicadohouve aumento de cerca de um quilogramade N nessa biomassa. Esses resultadoscertamente são os efeitos das alteraçõescausadas na absorção e metabolismo doN, conforme observado por Magalhães(1996).

Deve-se ressaltar, entretanto, que temsido verificado baixa resposta da cana-planta à adubação nitrogenada e as causas

dessa baixa resposta não estão suficien-temente esclarecidas. Vários autores atri-buíram-na à variabilidade experimental, àmineralização da matéria orgânica (MO) edos restos culturais, às épocas de aplicaçãodo fertilizante e às perdas por lixiviação edesnitrificação (CANTARELLA; RAIJ,1986; DEMATTÊ, 1997). Entretanto, emexperimento conduzido por Oliveira et al.(2002c) com cana-planta cultivada em soloarenoso e adubada com uréia marcada (15N)não foram observadas perdas por lixiviação

do N derivado do fertilizante (Gráfico 2).Foi pequeno o movimento do 15N-adubo,sendo que mais de 70% do fertilizante re-cuperado no solo encontrava-se na camadade 0 a 30 cm. Ocorreu perda mensurávelsomente do N nativo do solo ou dos restosculturais, o que foi equivalente a 4,5 kg/ha.Assim, caso se opte pela adubação nitroge-nada da cana-planta, o fertilizante nitroge-nado, em doses que variam de 60 a 100 kg/hade N, deverá ser aplicado no fundo do sulcode plantio, juntamente com o P e o K.

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35Cana-de-açúcar

Nitrogênio em rebrotas

As respostas nas rebrotas de cana àadubação nitrogenada são mais freqüentesque na cana-planta, com percentual acimade 90%. Como recomendação geral, sugere-se aplicar 1,0 kg de N por tonelada de maté-ria natural acumulada na parte aérea. Umavez que os colmos industrializáveis repre-sentam em média 80% da matéria naturalda parte aérea, produtividades de 100 t decolmos corresponderiam a 125 t de matérianatural. Nesse caso, a recomendação deadubação seria de 125 kg/ha de N, devendoo adubo nitrogenado ser aplicado, em doseúnica, juntamente com o K.

A uréia tem sido o fertilizante nitro-genado mais usado na adubação da canaem razão, principalmente, do menor custopor unidade de N, em comparação comoutras fontes. A aplicação de uréia sobreo solo ou sobre a palhada poderá levar agrandes perdas de N por volatilização deamônia, da ordem de 40% (OLIVEIRA etal., 1999a). Por isso, recomenda-se enterrá-la no solo, à profundidade de, aproxima-damente, 7,0 cm. Quando não for possí-vel enterrar a uréia, deve-se irrigar paraincorporá-la ao solo ou adubar antes deuma chuva, o que é possível somente empequenas áreas. Na impossibilidade des-sas ações, deve-se optar pelo uso de fon-tes amoniacais, como o sulfato de amônioou nítricas.

Fósforo

A maior dose de fósforo deve ser aplica-da no fundo do sulco de plantio. Essa apli-cação a uma profundidade maior aumentaa absorção do nutriente pela cana, pois adisponibilidade hídrica da subsuperfícievaria menos que na superfície. Mesmo apli-cando dose maior de P no plantio, há neces-sidade de adubações fosfatadas nas rebro-tas. Nos Quadros 2 e 3, são apresentadasas recomendações para adubação fosfa-tada de cana-planta no fundo do sulco deplantio, considerando-se o extrator utiliza-do na análise química do solo: Mehlich 1ou resina de troca iônica, bem como a classede fertilidade do solo.

Não é provável obter produtividadeacima de 150 toneladas, quando o P extraídocom resina for menor que 6,0 mg/dm3.Entretanto, em pesquisas conduzidas porOliveira et al. (2002b), em áreas de Cerradorecém-desbravadas no Noroeste de MinasGerais, com teor de P inferior a 6,0 mg/dm3,obteve-se produtividade superior a 200toneladas de colmos por hectare, em cana-planta com ciclo de 14 meses, adubada com100 kg/ha de P

e que recebeu irrigação com-

plementar de apenas 120 mm.O fósforo aplicado por ocasião do plan-

tio da cana assegura, na maioria das vezes,suprimento adequado do elemento paraa cana-planta e para a primeira rebrota,devendo-se utilizar formulações contendo

P na adubação das rebrotas posteriores.Antecedendo à adubação fosfatada, deve-se analisar o solo na camada de 0 a 20 cm e,caso a saturação por bases (V) seja inferiora 60%, recomenda-se, primeiramente, rea-lizar uma calagem para elevá-la para essevalor. O adubo fosfatado deverá ser apli-cado juntamente com o N e o K.

Nas grandes lavouras, a adubaçãoN-P-K das rebrotas é realizada simultanea-mente com as operações de subsolagem ecultivo da entrelinha. Em pequenas e mé-dias propriedades, especialmente naque-las onde se colhe a cana queimada ou paraa alimentação animal, a sulcagem da entre-linha da cana com arado de tração animalpara posterior adubação tem apresentado

QUADRO 3 - Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana, com base na disponibilidade do

fósforo extraído com resina de troca iônica e na expectativa de produção de matéria

natural

Menos de 100 80 44 30 20

100 a 150 90 55 40 26

Mais de 150 100 66 45 35

FONTE: Dados básicos: Raij (1997).

(1) Para transformar P em P2O5, multiplica-se o valor desejado por 2,29.

Expectativa

de produção

no ciclo

de cana-planta

(t/ha)

Fósforo extraído

(mg/dm3)

0-6 7-17 16-40 > 40

(1)Dose de P

(kg/ha)

QUADRO 2 - Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana, com base na disponibilidade do

fósforo extraído com Mehlich 1 e na expectativa de produção de matéria natural

Menos de 100 70 _ _

100 a 150 80 60 40

150 a 180 90 70 50

Maior que 180 100 80 60

Expectativa

de produção

no ciclo

de cana-planta

(t/ha)

Classe de fertilidade do solo

Baixa Média Alta

(1)Dose de P

(kg/ha)

(1) Para transformar P em P2O5, multiplica-se o valor desejado por 2,29.

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36 Cana-de-açúcar

bons resultados. O adubo N-P-K é aplica-do no sulco aberto na entrelinha da cana e,posteriormente, coberto com terra, usando-se novamente implemento de tração ani-mal.

Nas rebrotas posteriores à primeira, adose de P utilizada pode-se basear na resti-tuição do P removido pela colheita. Nessecaso, para cada tonelada de matéria natu-ral devem-se aplicar de 200 a 300 g de P. Porexemplo, para uma produção de matérianatural da rebrota de 120 t/ha, cerca de 100toneladas de colmos industrializáveis de-vem ser aplicadas de 24 a 36 kg/ha de P.

Potássio

A adubação potássica da cana é reali-zada no plantio e após cada corte, em con-seqüência de a cana-planta e as rebrotasresponderem bem a essa adubação, que sebaseia nos resultados da análise de soloda camada de 0 a 20 cm, na produtivida-de que se deseja obter e na utilização dacana.

Quando a cana se destina à alimentaçãodo gado, deve-se elevar a dose de K a seraplicada, pois a remoção desse nutrienteserá maior, uma vez que se colhe a canacom os ponteiros e as folhas secas. A mas-sa de K, contida nos ponteiros e folhassecas da cana, oscila em torno de 70 kg/ha(OLIVEIRA et al., 1999b), podendo, na cana-planta, alcançar 140 kg/ha (OLIVEIRA etal.,2002a). Não há necessidade de parce-lar o K, pois as perdas por lixiviação sãopequenas (OLIVEIRA et al., 2002c) e nãocompensam os custos de uma nova adu-bação.

Nos Quadros 4, 5 e 6 são apresentadasas recomendações para adubação potás-sica da cana-planta e das rebrotas, consi-derando as expectativas de produção e adisponibilidade de K, tendo como extratoro Mehlich 1 ou a resina de troca iônica.

A dose de K a ser aplicada nas rebrotaspode-se também basear na restituição doK removido pela colheita, à semelhança dosugerido para as adubações nitrogenada efosfatada. Embora a absorção e a remoçãode K variem entre as cultivares de cana-de-

QUADRO 4 - Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, com base na disponibili-

dade do potássio extraído com Mehlich 1 e na expectativa de produção de matéria

natural

Menos de 90 80 _ _

90 a 120 100 80 60

120 a 150 120 100 80

150 a 180 140 120 100

Mais de 180 160 140 120

Expectativa

de produção

no ciclo

de cana-planta

(t/ha)

Classe de fertilidade do solo

Baixa Média Alta

(1)Dose de K

(kg/ha)

(1) Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20. Quando a cana for colhida

para a alimentação animal, sugere-se elevar em 25% a dose de K recomendada.

QUADRO 5 - Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, com base na disponibilidade

do potássio extraído com resina de troca iônica e na produtividade esperada

Menos de 100 100 80 40 40 0

100 a 150 150 120 80 60 0

Mais de 150 200 160 120 80 0

Expectativa

de produção

no ciclo

da cana-planta

(t/ha)

K extraído com resina

(mmolc/dm3)

0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 > 6,0

(1)Dose de K

(kg/ha)

FONTE: Dados básicos: Raij (1997).

(1) Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.

FONTE: Dados básicos: Raij (1997).

(1) Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.

QUADRO 6 - Sugestões de doses de potássio para a adubação das rebrotas, com base na disponibi-

lidade do potássio extraído com resina de troca iônica e na produtividade esperada

Menos de 60 90 60 30

60 a 80 110 80 50

80 a 100 130 100 70

Mais de 100 150 120 90

K extraído com resina

(mmolc/dm3)

0-1,5 1,6-3,0 > 3,0

(1)Dose de K

(kg/ha)

Expectativa

de produção

da rebrota

(t/ha)

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37Cana-de-açúcar

açúcar, pode-se considerar que, para cadatonelada de matéria natural colhida porhectare, há, em média, uma remoção de1,5 kg de K.

Não há necessidade de parcelar o po-tássio utilizado nas adubações das rebro-tas, em conseqüência das possíveis perdaspor lixiviação. Nos estudos conduzidos porOliveira et al. (2002c) não foram verificadasperdas de K por lixiviação. Esses resultadosforam confirmados por Sampaio e Salcedo(1991) que também observaram que as per-das de K, por percolação abaixo de 100 cmde profundidade, foram de 9,0 kg/ha, total-mente compensados pelo aporte de K pro-vindos da água da chuva, 18 kg/ha.

O cloreto de potássio tem sido a fontede K mais utilizada nas adubações. Entre-tanto, outros resíduos contendo K devemtambém ser considerados, como, por exem-plo, a vinhaça, subproduto da fabricaçãodo álcool. A vinhaça pode substituir a adu-bação potássica, devendo a quantidade deK fornecida por ela ser, assim, integralmen-te deduzida da adubação mineral. O volu-me de vinhaça aplicado tem variado de 60 a300 m3/ha, dependendo da concentraçãode K. A concentração de K na vinhaça ori-ginária do mosto misto é, em média, duasvezes maior que na vinhaça originária docaldo, com valores oscilando em torno de2,5 e 1,2 kg/m3, respectivamente.

Enxofre

Pode-se dispensar o uso de enxofre emáreas que receberam aplicação de vinhaçaou gesso agrícola. Em áreas carentes dessenutriente, aplicar pelo menos 30 kg/ha de S(KORNDÖRFER et al., 1999). O sulfato deamônio (22 a 24% de S) e o superfosfatosimples (10% a 12% de S) são boas fontesde enxofre.

Micronutrientes

Em grande parte das áreas cultivadascom cana-de-açúcar no Brasil tem ocorridosuprimento adequado de micronutrientespelo solo, dispensando, portanto, o seuuso nas adubações químicas. Entretanto,a implantação de canaviais em áreas me-nos férteis ou marginais, associada à adu-bação com fertilizantes concentrados e aoplantio de variedades de alta produtivida-de, que cada vez mais aumentam a absorçãoe exportação de nutrientes, tem causadodeficiência de micronutrientes em diversaslavouras de cana-de-açúcar, havendo, nes-ses casos, a necessidade de fornecer osmicronutrientes pela adubação.

A análise de solo e o histórico da áreae da variedade têm sido utilizados comométodos preditivos de avaliação, quanto àpossibilidade de ocorrência de deficiênciade micronutrientes. A análise de solo deveser associada ao histórico da área e da va-

riedade, porque os resultados analíticossão influenciados pelo extrator utilizado,pelas características do solo e da variedadee, também, pela época de coleta da amostra,havendo, inclusive, relatos de efeitos mar-cantes da temperatura ambiente e da umi-dade do terreno sobre os teores de micro-nutrientes (PAVAN; MYASAWA,1984;PEREIRA et al., 2001).

Estudos realizados por Cantarella et al.(1998) apontaram que as melhores corre-lações entre os teores de Zn ou de Cu nossolos e as concentrações desses micro-nutrientes nas plantas foram obtidas pelométodo que utiliza a solução de ácido die-tiltriaminopentacético (DTPA), como extra-tora, comparativamente àqueles dos extra-tores Mehlich 1 e HCl. Segundo Cantarellaet al. (1998), existe uma tendência de o DTPAser mais eficiente que o Mehlich 1 e o HClnaquelas situações em que a disponibili-dade de Zn e de Cu é alterada pela calagem.Quanto ao Mn, as soluções ácidas e quela-tantes têm mostrado coeficientes de cor-relação entre Mn no solo e na planta muitoelevados. Contudo, analisando solos quereceberam adubação com óxidos de Mn,observou-se a tendência de o DTPA ser omelhor extrator.

No Quadro 7, são citados os teores mí-nimos de disponibilidade de micronutrien-tes no solo, extraídos com solução de DTPA

QUADRO 7 - Valores mínimos de disponibilidade de micronutrientes no solo, extraídos com solução de DTPA e Mehlich 1

Baixa ≤ 0,2 ≤ 0,5 ≤ 1,2 ≤ 4 ≤ 0,8 ≤ 1,0 ≤ 6 ≤ 19

Média 0,3-0,8 0,6-1,2 1,3-5,0 5-12 0,8-1,2 1,0-1,5 6-8 19-30

Alta > 0,8 >1,2 > 5,0 > 12 > 1,2 > 1,5 > 8 > 30

Disponibilidade

Extrator

DTPA Mehlich 1

Elementos

Cu Zn Mn Fe Cu Zn Mn Fe

mg/dm3

FONTE: Dados básicos: Pereira et al. (2001).

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38 Cana-de-açúcar

e Mehlich 1, abaixo dos quais esses micro-nutrientes devem ser fornecidos às plantaspela adubação. As doses de Cu, Zn, Mn, eFe a serem aplicadas, no caso de deficiên-cia, são respectivamente: 2,5 a 6,0; 5,0 a7,0; 3,0 a 6,0 e 6,0 a 10,0 kg/ha, utilizando-se óxidos, cloretos e sulfatos.

AVALIAÇÃO DO

ESTADO NUTRICIONAL

DA CANA-DE-AÇÚCAR

A análise química das folhas da cana-de-açúcar é mais uma forma de avaliar oestado nutricional das lavouras. A prefe-rência pelas folhas deve-se ao fato de se-rem a parte da planta que, de modo geral,reflete melhor as variações no suprimentode nutrientes, tanto do solo, quanto dasadubações. Em cana-de-açúcar tem sidorecomendado coletar as folhas +2 ou +3.A folha +1 é, no sentido descente do colmo,a primeira que apresenta a lígula (região deinserção da bainha foliar no colmo) total-mente visível. Para a análise química, utiliza-se o terço mediano da folha +2 ou +3, excluí-da a nervura central.

As amostras do terço mediano devemser primeiramente lavadas em água correntelimpa e, posteriormente, em água destilada.A seguir, o material deve ser seco a 65ºCaté o peso constante. Caso não seja pos-sível esta secagem, devem-se enviar, rapi-damente, as amostras para o laboratório,onde serão analisadas. No Quadro 8, estãocitadas as faixas de concentrações de nu-trientes, consideradas adequadas.

ADUBAÇÃO VERDE

Adubação verde é o cultivo de plantascom o propósito de incorporá-las ao solo.Dentre as características desejáveis de umaplanta a ser utilizada como adubo verdepodem-se citar:

a) possibilidade de mecanização, dasemeadura à colheita de sementes;

b) ausência de sementes dormentes;

c) sistema radicular vigoroso e profun-do;

d) capacidade de associar-se a bacté-rias fixadoras do nitrogênio do aratmosférico;

e) crescimento rápido para controlarplantas daninhas;

f) possuir mecanismos ou sintetizarcompostos, que auxiliem no controlede pragas, nematóides por exemplo,e doenças.

Diversas leguminosas possuem estascaracterísticas, mas de modo geral há pre-ferência pela Crotalaria juncea, na regiãoCentro-Sul do Brasil, e pela Crotalaria

spectabilis, em Alagoas e Pernambuco.A Crotalaria juncea é de crescimento ini-cial muito rápido, o que lhe confere grandecompetitividade com plantas daninhas, masmuito sensível ao período de escuro, flores-cendo precocemente sob noites crescen-tes e, conseqüentemente, interrompendoo crescimento. Por isso, quando seu culti-vo for para adubação verde, deve-se fazero semeio no começo de outubro ou tão lo-go seja possível. Para a produção de semen-tes, estas devem ser semeadas em março.

Em pesquisas conduzidas pelo primei-ro autor em duas regiões de Minas Gerais,Alto Paranaíba e Zona da Mata, verificou-

QUADRO 8 - Faixas de concentração de nutrientes no terço médio da folha +2 ou +3, consideradas adequadas

(1) e (2) Faixas de concentração para a cana-planta e rebrotas, respectivamente.

Macronutrientes

N P K Ca Mg S

g/kg

(1) Malavolta et al. (1989) 19-21 2,0-2,4 11-13 8,0-10 2,0-3,0 2,5-3,0

(2) Malavolta et al. (1989) 20-22 1,8-2,0 13-15 5,0-7,0 2,0-2,5 2,5-3,0

Raij et al. (1996) 18-25 1,5-3,0 10-16 2,0-8,0 1,0-3,0 1,5-3,0

Orlando Filho (1983) 16 - 26 2,0-3,5 6 -14 4,3-7,6 1,1-3,6 1,3-2,8

Fonte

(1) Malavolta et al. (1989) 15-50 8-10 200-500 100-250 0,15-0,30 25-50

(2) Malavolta et al. (1989) – 8-10 80-150 50-125 – 25-30

Raij et al. (1996) 10-30 6-15 40-250 25-250 0,05-0,20 10-50

Orlando Filho (1983) 6-29 9-17 76-392 73-249 – –

B Cu Fe Mn Mo Zn

mg/kg

Micronutrientes

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39Cana-de-açúcar

se acúmulo de MS pela Crotalaria juncea,semeada em outubro, em torno de 15 t/ha,com concentração de nitrogênio oscilan-do em 20 g de N, por kg de MS. Assim,para produtividade de MS de 15 t/ha, aquantidade de N fixada e/ou reciclada éde 300 kg/ha. Em áreas densamente infes-tadas com capim-marmelada, a inclusão dacrotalária no sistema aumentou em 320%a massa de N sobre o solo, pois o acúmulopela vegetação natural da área de pou-sio foi de 66 kg/ha de N, enquanto na áreacom a crotalária este acúmulo ultrapassoua 250 kg/ha, quantidade suficiente paraassegurar uma produção de 230 tonela-das de matéria natural de cana por hectare.Carceres e Alcarde (1995) relataram que nasáreas em que se incorporou a crotalária aosolo, comparativamente ao pousio, ocorreuincremento de produtividade na cana-planta da ordem de 15 toneladas de colmospor hectare.

A produção de MS da Crotalariajuncea e de Crotalaria spectabilis emAlagoas e Pernambuco tem oscilado em4,5 t/ha de MS. Essa baixa produção deMS, comparativamente às verificadas noCentro-Sul, deve-se principalmente à épo-ca de semeadura, início do período chu-voso: abril – início de maio, portanto, sobnoites longas crescentes. Em Alagoas, nasáreas em que se pratica a adubação verdecom Crotalaria spectabilis, tem sido co-mum realizar a sulcagem direta, sem a pré-via aração do solo (Fig. 1), à semelhançados sistemas de cultivo mínimo adotadospara outras culturas.

RESTOS CULTURAIS

E RESÍDUOS DA

AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA

A palhada é o principal resto cultural,havendo também diversos resíduos originá-rios da industrialização da cana-de-açúcar,dentre eles, a vinhaça, a torta de filtro, ascinzas das caldeiras e o bagaço, que sãorotineiramente utilizados nas adubações,como fontes de nutrientes e de MO.

A quantidade de palhada que perma-nece sobre o solo após a colheita da cana

Figura 1 - Sulcagem para plantio da cana (cultivo mínimo) em solo coberto por Crotalaria

spectabilis

não despalhada a fogo, varia com a cultivare as práticas agrícolas adotadas, com va-lores que oscilam de 12 a 18 t/ha (OLIVEIRAet al., 1999b). Em trabalhos conduzidos porestes autores na região de Ribeirão Preto,SP, verificou-se que dos nutrientes con-tidos na palhada, somente o K apresentougrande liberação durante um ano de perma-nência desse resto cultural no campo (Qua-dro 9). Assim, à exceção do K, os nutrientescontidos na palhada não contribuirão deforma expressiva para a nutrição da cana,no ciclo subseqüente ao corte.

A vinhaça e a torta de filtro são os prin-cipais resíduos da industrialização da cana.A vinhaça, que apresenta como principaisconstituintes o potássio, o cálcio e a MO,é utilizada geralmente nas adubações dasrebrotas e pode, conforme discutido ante-riormente, fornecer todo o K para a cultura.De acordo com a origem da vinhaça, as con-centrações dos elementos podem variar,devendo-se realizar análise química antesda sua aplicação, mas de modo geral a con-centração de K na vinhaça originária domosto misto é, em média, como já mencio-nado anteriormente, duas vezes maior que

naquela oriunda do caldo, com valoresoscilando em 2,5 e 1,2 kg/m3, respectiva-mente.

A torta de filtro apresenta elevado per-centual de umidade, cerca de 75%, e teoresmédios de P e Ca que variam, respectiva-mente, entre 5,0 e 10 kg e 15 e 36 kg por to-nelada de MS. É empregada principalmen-te nas adubações da cana-planta, sendoaplicada no fundo do sulco de plantio nadosagem média de 30 t/ha de matéria natu-ral ou em área total, usando o dobro da do-se. Considerando uma aplicação de 40 t/hade matéria natural de torta de filtro, em tornode 10 t de MS, com um teor médio de 7,0 kgde P por tonelada de MS, há um aporte de70 kg/ha de P, dispensando, para a maioriados solos, a adubação fosfatada por oca-sião do plantio.

A compostagem de resíduos orgâni-cos, principalmente do bagaço da cana, émais uma opção do uso desses resíduosna adubação da cana e melhoria das pro-priedades físico-químicas do solo. Umaavaliação da viabilidade técnica e econô-mica do uso do composto orgânico, à basede bagaço de cana, no plantio, foi feita pelo

Mauro

Wagner

de O

live

ira

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I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , p . 3 0 - 4 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 7

40 Cana-de-açúcar

primeiro autor em solos com grande hete-rogeneidade física e alta capacidade deadsorção de fósforo. Testaram-se diferen-tes misturas percentuais de bagaço de canae esterco de cama de frango, desde 100 kgde bagaço até 80 kg de bagaço + 20 kg decama de frango, acrescidas de 5,0 kg desulfato de amônio. Findo o processo decompostagem aplicaram-se 15 toneladasdo material por hectare, no fundo do sul-co de plantio da cana. Sobre o compostofoi distribuído o adubo 06-30-24, na do-se de 500 kg/ha. Os resultados mostraramque o composto que propiciou maior pro-dutividade da cana foi a mistura de 100 kgde bagaço + 5,0 kg de sulfato de amônio,obtendo-se incremento de 55 toneladas decolmos por hectare, em comparação ao tra-tamento que recebeu somente adubaçãoquímica. O custo de produção e aplicaçãodo composto equivaleu a 23,5 toneladasde colmos e o uso desse composto permitiuganho líquido de 31,5 toneladas de colmospor hectare. Os resultados obtidos nesteestudo mostram que mesmo sendo o baga-ço de cana um resíduo pobre em nutrien-tes, seu efeito sobre as propriedades físicasdo solo, principalmente a aeração e a capa-cidade de retenção de água, causou maioraumento de produtividade do que aqueleverificado para compostos mais ricos em

nutrientes, mas também mineralizados maisrapidamente.

ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA

DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO

DE CANA DESTINADA

À ALIMENTAÇÃO ANIMAL

Foram avaliados, pelo primeiro autor,os custos de um sistema de produção decana-de-açúcar utilizada para a alimentaçãode vacas leiteiras e sua relação com o preçodo leite em propriedade rural, localizada nomunicípio de Mercês, Zona da Mata mi-neira. O plantio da cana ocorreu no finalde setembro, início do período chuvoso.Os resultados das análises de solo revela-ram teores de P inferiores a 10 mg/kg e mé-dios de K, Ca e Mg, apresentando satura-ção por bases próxima a 60% da CTC a pH7,0. O solo foi arado e gradeado, sulcando-se, a seguir, com espaçamento de 1,40 m.O adubo, mistura de uréia, superfosfato tri-plo e cloreto de potássio, correspondendoàs quantidades de 100; 87 e 167 kg/ha deN, P e K, respectivamente, foi aplicado nofundo do sulco, tendo-se plantado as varie-dades RB72-454, RB83-5486, RB85-5536,RB86-7515 e SP80-1816. Em junho do anosubseqüente ao plantio avaliaram-se a pro-dução de matéria natural e o acúmulo deMS e de nutrientes na parte aérea das cul-

tivares, amostrando-se seis parcelas comárea de 2,8 m2 cada, dentro de cada talhão.

Em outubro, realizou-se a adubação dacana de primeira rebrota, repondo-se 90%da massa de N e K exportada pela colheita:180 kg/ha de N e 225 kg/ha de K, usando-se a uréia e o cloreto de potássio. Em julhodo ano subseqüente ao do corte da cana-planta, avaliaram-se novamente a produ-ção de material natural, MS e de nutrien-tes na cana de primeira rebrota. Os índicestécnicos e os insumos utilizados para aprodução da cana estão descritos no Qua-dro 10. A partir desses números obteve-se para cada biênio a receita da venda dacana necessária para pagar as despesas,valor este designado de ponto de equilí-brio, uma vez que foram considerados oscustos de produção da cana-planta e daprimeira rebrota. Definido o ponto de equi-líbrio e tendo-se o valor médio do preço dolitro de leite, calculou-se a quantidade delitros necessária para pagar as despesascorrespondentes a 30 kg de cana. Assimprocedeu-se porque, na maioria das pro-priedades produtoras de leite o consumode cana tem sido da ordem de 30 kg porvaca, por dia.

O acúmulo de biomassa na parte aéreada cana foi de 150 toneladas no ciclo decana-planta e 160 toneladas na cana de pri-

1996 13,9 a 64 a 6,6 a 66 a 25 a 13 a 9 a 6.255 a

1997 10,8 b 53 a 6,6 a 10 b 14 b 8 b 8 a 3.642 b

QUADRO 9 - Massa de matéria seca (MS), quantidade de nutrientes e carboidratos estruturais nas amostras de palhada da cana recém-colhida, sem

queima (ano de 1996) e na remanescente um ano após (ano de 1997)

FONTE: Oliveira et al. (1999b).

NOTA: Médias seguidas de mesma letra para a mesma variável não diferem entre si pelo teste de t a 5% de probabilidade.

1996 3.747 a 5.376 a 1.043 a 3.227 a 97 a 695 a 947 a

1997 943 b 5.619 a 1.053 a 2.961 b 68 b 455 b 552 b

AnoMS

(t/ha)

Nutrientes

(kg/ha)

N P K Ca Mg S C

Carboidratos estruturais

(kg/ha)

Hemicelulose Celulose Lignina Conteúdo celular C/N C/S C/P

Artigo 5.p65 17/08/2007, 09:1140

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41Cana-de-açúcar

QUADRO 10 - Índices técnicos e insumos utilizados para a produção de um hectare de cana-de-

açúcar

Aluguel da terra

Valor equivalente em toneladas de cana industrializável 14 t 14 t

Preparo do solo e sulcagem do terreno 6,5 h/m –

Mudas de cana

O preço da tonelada de mudas de cana é duas vezes maior que

o da tonelada de cana vendida para a industrialização 12 t –

Fertilizantes

Uréia 220 kg 360 kg

Superfosfato triplo 450 kg –Cloreto de potássio 320 kg 390 kg

Mão-de-obra para plantio e tratos culturais

Considerou-se que o valor de um dia homem (d/H) é 1/15 do

salário mínimo em razão dos encargos sociais 13 d/H 06 d/H

Herbicidas e formicida

Ametrina 4,0 L 4,0 L

2,4 D 1,5 L 1,5 L

MSMA 4,0 L –Gramoxone – 1,5 L

Mão-de-obra para o corte da cana

À semelhança do item Mão-de-obra, considerou-se que o valor

de um dia homem (d/H) é 1/15 do salário mínimo 30 d/H 30 d/H

Cana de

primeira

rebrota

(ha)

Discriminação do índice técnico, do insumo ou da despesaCana-planta

(ha)

NOTA: MSMA – Metano arseniato ácido monossódico; h/m – Hora/máquina.

meira rebrota (Fig. 2). Cerca de 80% dessabiomassa foi constituída de colmos indus-trializáveis, percentual semelhante ao veri-ficado em diferentes regiões canavieiras doBrasil e do mundo.

A fertilidade do solo, onde se instalouo experimento, é de mediana a baixa, mas aprodutividade alcançada iguala-se às obti-das por Dias et al. (1999) em solo de altafertilidade natural, na região de RibeirãoPreto, SP.

No ciclo de cana-planta, os itens quemais oneraram a produção foram as mudasde cana, a adubação, o aluguel da terra e ocorte da cana, enquanto que para a canade primeira rebrota, somente a adubaçãorepresentou cerca de 40% dos gastos (Qua-dro 10).

A quantidade de fertilizante utilizada nopresente estudo, com base no critério derestituição de elementos exportados pelacolheita, é maior que a rotineiramente uti-lizada nas adubações de rebrota da cana(RAIJ, 1997). Contudo, no presente estudoverificou-se aumento de produtividade nociclo de primeira rebrota de, aproximada-mente, 10%, enquanto na grande maioriadas lavouras canavieiras observa-se de-créscimo de produtividade do primeiro pa-ra o segundo corte, oscilando em torno de15%. Citando resultados de diversos estu-dos conduzidos pelo Programa de Melho-ramento de Cana da Cooperativa dos Pro-dutores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcooldo Estado de São Paulo (Copersucar),Fernandes (2000) afirma que os decrésci-

mos de produtividade da cana-planta paraa cana de primeira rebrota variam em tornode 25%.

O incremento na adubação do presen-te estudo, em relação às recomendaçõesde Raij (1997), foi de, aproximadamente,100 kg/ha de uréia e 190 kg/ha de cloretode potássio. Com base nos preços dos fer-tilizantes no ano de 2005, verifica-se queesse incremento na adubação aumentou asdespesas em R$336,15, mas elevou a pro-dutividade em 30 toneladas, gerando umaumento de renda de R$1.050,00, pois opreço da tonelada de cana naquele ano foide R$35,00. Assim, para cada real investidona adubação adicional houve um retornode R$3,12.

O Gráfico 3, mostra a variação do preçodo litro de leite no período de 1995 a 2005 edo volume de leite, em litros, necessáriospara 30 kg de cana. Na média dos 10 anos,foi necessário 0,89 litro de leite para pagaro custo de produção de 30 kg de cana, eos menores volumes foram verificadosno período 1995 a 2000: 0,77 litro de leite.A partir do ano 2001, a quantidade ultra-passou a um litro de leite e esse aumentodeveu-se principalmente à elevação rela-tiva do preço dos fertilizantes, cujos va-lores percentuais ultrapassaram a 20%,alcançando, no caso da uréia, a média de42%.

A tecnologia de produção e os resul-tados obtidos, no presente estudo, vêmsendo difundidos por meio de palestrastécnicas, visitas in loco e assessoramentotécnico. Visando diminuir os gastos comfertilizantes químicos e também reciclarnutrientes, tem-se recomendado aos pecua-ristas e produtores, que utilizam esse siste-ma de produção de cana, a incluir a aduba-ção verde, especialmente com Crotalariajuncea, antecedendo ao cultivo da cana,bem como a utilização de composto orgâ-nico, constituído de esterco dos própriosbovinos e de outros resíduos orgânicosexistentes na propriedade. Estas práticasagrícolas têm repercutido em aumento daeficiência dos adubos químicos e reduçãode custos com a fertilização.

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42 Cana-de-açúcar

Gráfico 3 - Preço do litro de leite no período 1995-2005 e volume de leite necessário para pagar o custo de produção de 30 kg de cana

Figura 2 - Vista do canavial, podendo-se observar o grande desenvolvimento da cana e o excelente controle de plantas daninhas

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44 Cana-de-açúcar

1Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000, Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Graduanda em Agronomia, UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - O planejamento da cultura da cana-de-açúcar deve ser bem-feito, escolhendo-se áreas adequadas de cultivo e considerando-se dois fatores básicos: o clima e o solo.Deve-se optar preferencialmente pelo plantio de cana de ano e meio (meses de janei-ro, fevereiro e março), época mais vantajosa que o plantio de cana de ano (outubro/novembro). A conservação e o preparo do solo devem ser bem realizados, pois a canaé semiperene e ocupa o terreno pelo menos por seis anos (cinco cortes). Nesse período,realizam-se tratos culturais de ação superficial. O plantio convencional (semimeca-nizado) é ainda o sistema predominante, mas o plantio totalmente mecanizado temaumentado consideravelmente e, num futuro bem próximo, deverá prevalecer. Atençõesespeciais devem ser dadas aos tratos culturais da cana-planta e cana-soca, com destaquepara o controle químico de plantas daninhas. O aumento da área plantada inevitavel-mente proporcionará aumento de incidências de pragas e doenças, exigindo-se a adoçãode medidas eficientes de controle. A preocupação do produtor deve estar voltada nãosó para os processos produtivos, mas também para o conhecimento e acompanhamentode seus custos de produção.

Palavras-chave: Saccharum spp. Cana-de-açúcar. Trato cultural. Manejo cultural. Plantadaninha. Praga. Doença. Custo.

INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar é uma cultura semipe-rene. Sua implantação e condução revestem-se de grande importância, pois constituemfatores que podem elevar a vida útil docanavial pelo aumento do número de cor-tes econômicos, proporcionando maioresretornos financeiros ao produtor. Um bompreparo do solo, com o plantio realizado naépoca recomendada, o uso de mudas sadiasoriundas de viveiros, os tratos culturais dacana-planta e da cana-soca no momentoadequado, com destaque para o controlede plantas daninhas, constituem práticasimportantes para se conseguir boa pro-

Implantação e condução de canaviais

Luiz Antônio de Bastos Andrade1

Polyana Placedino Andrade2

dutividade na cana-planta (primeiro corte)e nas soqueiras (cortes subseqüentes).

Este artigo traz uma contribuição acer-ca de recomendações técnicas para umaboa implantação e condução da cultura dacana-de-açúcar.

PLANEJAMENTO E ESCOLHA

DA ÁREA PARA CULTIVO

DA CANA-DE-AÇÚCAR

A elaboração de estimativas de produ-tividade para fins de planejamento não ésimples. Para projeções das áreas de lavou-ra, visando à quantificação da produçãoao longo de um horizonte de cinco a dez

anos, são utilizadas planilhas eletrônicasde simulação de produção – um recursocomputacional relativamente simples – quedepende sobremaneira das estimativas deprodução de cada variedade, ao longo deseu ciclo. Dessa forma, é preciso estimara produtividade em cada estádio de cor-te, dentro de cada ambiente de produção,assim como sua evolução ao longo dosanos, e qual o número de cortes economica-mente viável, em cada caso (BEAUCLAIR,2004).

Na escolha da área para cultivo de cana-de-açúcar, pelo menos dois fatores básicosdevem ser considerados: o clima e o solo.

Artigo 6.p65 17/08/2007, 09:1344

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45Cana-de-açúcar

Em termos de exigência climática, a canaapresenta uma particularidade importante:na fase de brotação, perfilhamento e cres-cimento vegetativo, primeira fase do cicloda cultura, exige temperatura média do armaior que 20oC, sendo a ideal na faixa de25oC a 30oC, e umidade disponível no solo.Já na fase de maturação, segunda fase dociclo da cultura, a cana exige temperaturasbaixas, abaixo de 20oC e/ou déficit hídri-co, para que entre em repouso fisiológico ehaja um maior acúmulo de sacarose noscolmos (ANDRADE, 2006). De acordo comCamargo et al. (1977), quanto ao clima, acana-de-açúcar pode ser cultivada em todoo estado de Minas Gerais. No Norte, partedo polígono da seca, onde existem restri-ções hídricas, é recomendável o empregode irrigações suplementares.

Por outro lado, no Sul do Estado, podehaver ocorrência de geadas em algumasáreas, envolvendo principalmente a canade ano e meio (plantada em janeiro/feve-reiro/março), com idade média de quatro acinco meses. Nesse caso, de acordo comAndrade (2006), se for uma geada fraca,aquela que só atinge as folhas e não afetaa gema apical, a cana retomará seu desen-volvimento normal, quando as condiçõesclimáticas forem favoráveis, emitindo novasfolhas. Se for uma geada forte, quando agema apical e as folhas são atingidas, todaa parte aérea da cana será afetada. Entre-tanto, as gemas que existem nos rizomasnão são normalmente atingidas pela gea-da e emitem novas brotações, que terãodesenvolvimento normal, quando as con-dições climáticas forem favoráveis. Nessecaso, após a ocorrência de geada, se forárea pequena, pode-se utilizar a prática deroçar, o que vai acelerar a nova rebrota docanavial. Porém, se a área for grande, nãohá necessidade de roçar, pois a cana rebro-tará, sem haver perda total do canavial. Emambos os casos, roçando ou não, é acon-selhável uma adubação nitrogenada emcobertura com 60 kg de N por ha, quando aumidade do solo for suficiente para favo-recer o novo desenvolvimento vegetativoda cultura. A cana de ano e meio poderá

ainda ser atingida pela geada, quando esti-ver adulta e madura. Se for uma geada for-te, que atinja folhas e gemas, a cana sofreráum processo de deterioração que se ini-cia no ápice e caminha em direção à base.O problema será potencializado se, apósuma geada, houver ocorrência de chuvas.Assim, a cana que foi atingida pela geadadeverá ser cortada primeiro, em relaçãoàquela que não foi atingida. O despontedeve ser feito mais baixo que o normal, paraeliminar a parte que apodrece primeiro, ouseja, a ponta. Deve-se evitar o plantio decana em locais mais baixos, sujeitos à gea-da (ANDRADE, 2006).

Por causa da rusticidade natural daplanta e do trabalho de melhoramento ge-nético, a cana-de-açúcar tem-se adaptadoa diferentes tipos de solos, desde solosmais pobres, como, por exemplo, os deCerrado, até os mais férteis, como Latos-solos Roxo e terra roxa estruturada. Paracada condição de solo, entretanto, semprehaverá uma variedade de cana-de-açúcarmais adequada para plantio. As maioreslimitações são de natureza física, tais co-mo: solos com profundidade efetiva menorque 1,0 m limitam o crescimento das raízesde cordões, que se aprofundam bastanteno solo e absorvem a umidade em períodosde seca; solos com lençol freático alto, maldrenados proporcionam menor aeração àsraízes; solos excessivamente arenosos comlixiviação de nutrientes e baixa retenção deumidade; solos com declives superiores a15% são limitantes para tratores de pneus,carregadoras de cana e colheita mecani-zada (ANDRADE, 2006).

ÉPOCA DE PLANTIO

No estado de Minas Gerais, as épocasde plantio de cana-de-açúcar recomenda-das sem o uso de irrigação são aquelastambém indicadas para a região Centro-Sul:janeiro a março, para a cana de ano e meioe outubro a novembro, para a cana de ano.De acordo com Coleti (1987), a cana deano e meio brota e seu desenvolvimentoinicia-se durante os três meses favoráveis

(jan./fev./mar.); permanece em repouso,praticamente sem desenvolver, de abril aagosto; em seguida, durante sete meses,de setembro a março, vegeta com grandeintensidade, para, então, entrar no proces-so de maturação. A cana de ano brota emoutubro/novembro e desenvolve-se vege-tativamente até março/abril, entrando, apartir daí, em processo de maturação. Tantoa cana de ano e meio, quanto a cana deano, após o corte, têm o ciclo das socas de12 meses.

A cana de ano e meio é mais utilizadado que a cana de ano, principalmente por-que, dentre outras vantagens, proporcionaescalonamento da colheita e possibilita ocorte em maio/junho (variedades de ma-turação precoce), julho/agosto/setembro(variedades de maturação média) e outu-bro/novembro/dezembro (variedades dematuração tardia). Assim, se uma usina,destilaria ou alambique forem trabalhar noperíodo de maio a dezembro, época de sa-fra, sempre terão cana madura, proporcio-nando maiores rendimentos (ANDRADE,2006).

Já o plantio de cana de ano, mesmo como uso de variedades de maturação precoce,não possibilitará colheita no início da safra,como demonstrado por Carvalho (1992),que, ao plantar em outubro, obteve canamadura, a partir do mês de agosto do anoseguinte, na região Sul do estado de MinasGerais.

Outras vantagens da cana de ano e meiosobre a cana de ano seriam: maior númerode meses para o desenvolvimento vege-tativo, garantindo maior produção; melhordistribuição da mão-de-obra (plantio ecolheita não coincidem); melhor controlede plantas daninhas; menores problemasfitossanitários, principalmente no início dociclo; possibilidade de rotação com cultu-ras de ciclo curto por ocasião da reformado canavial, caso seja usada a mesma áreapara um novo plantio. Já as principais van-tagens da cana de ano sobre a de ano emeio são: produção mais rápida de plan-tio ao primeiro corte e melhor brotaçãodas socas, já que o corte é realizado próximo

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de condições climáticas mais favoráveis(ANDRADE, 2006).

CONSERVAÇÃO E PREPARO

DO SOLO

A conservação do solo na cultura dacana-de-açúcar envolve diversos fatores,que devem ser devidamente analisados,antes de sua implantação. Dentre estesestão: o tipo de solo, o tipo de corte, se me-cânico ou manual; a época de plantio e decolheita; o sistema de preparo; o tipo detraçado, se em nível ou reto; a coberturado solo com outras culturas ou com palha;tamanho dos talhões. A sulcação em nível,associada ou não a terraços, tem sido osistema conservacionista mais comumusado pela maioria das usinas, além daassociação com culturas secundárias, co-mo soja, amendoim, crotalária, etc., em áreasde reforma de canaviais, que mantêm o so-lo coberto no período de maior precipi-tação, o que reduz os perigos da erosãoe atenua os custos de implantação dessacultura (DEMATTÊ, 2004).

O preparo do solo para a cultura dacana-de-açúcar deve ser bem executado,uma vez que um canavial vai proporcionarvários cortes econômicos e o solo vai sersubmetido, no período, apenas a tratos cul-turais de ação superficial.

Cada região, em função do tipo de solo,da situação em que se encontra o terreno eda disponibilidade de equipamento, apre-senta um tipo de preparo diferente de outrasregiões (ANDRADE, 2006).

Devem-se considerar dois casos dis-tintos de preparo do solo: o de um terrenoque será plantado pela primeira vez comcana e o de um terreno já cultivado com ca-na (renovação de canavial).

No primeiro caso, inicialmente faz-sea limpeza do terreno, eliminando-se o tipode cobertura vegetal existente ou os restosculturais de colheitas anteriores que seencontram sobre o solo (ANDRADE, 2006).

Num sistema convencional de preparoinicial, o manejo envolve três fases: na pri-meira, que coincide com o período seco,

será realizado o controle de plantas dani-nhas de difícil erradicação (grama-seda, porexemplo) e poderá ser feito com associaçãomecânica (grades no período seco). Poste-riormente, faz-se o manejo químico comglifosato, no período úmido. Nesse perío-do, é feita a instalação do sistema viário econservacionista, confecção dos talhões,assim como a aplicação de corretivos, taiscomo calcário e gesso. Na segunda fase,quando iniciam as chuvas, é feita a ope-ração profunda, ou seja, subsolagem ouaração. Na terceira fase, é feita a fosfata-gem, caso seja necessária, e gradeação depré-plantio e plantio. Após a segunda fase,não é recomendável o uso de gradeaçõespesadas, pois o solo poderá ficar compac-tado (DEMATTÊ, 2004).

No segundo caso, para a renovação decanaviais, utilizam-se de arado e de gradecomum. Uma vez colhida a cana e antes deesta rebrotar, pode-se fazer uma aração, paracortar raízes e rizomas, trazendo este ma-terial para a superfície do solo, onde ficaráexposto ao sol pelo menos por uma sema-na, para que sofra desidratação. Depoisdisso, é feita uma gradagem leve para picaro material e incorporá-lo ao solo, facilitan-do sua decomposição. A destruição dassoqueiras poderá ser feita com uma únicapassagem da grade pesada, que substituia aração e a gradagem leve do sistema depreparo anterior, que corta raízes e rizomas,incorporando-os a grandes profundidades,quando não há possibilidade de rebrota dacana-de-açúcar. Antes da gradagem pe-sada, devem-se aplicar o calcário e o gesso,esparramados em área total. Na vésperado plantio, faz-se uma gradagem leve paranivelamento (ANDRADE, 2006).

Por ocasião da renovação do canavial,a avaliação do estado de compactação dosolo faz-se necessária, para otimizar asoperações agrícolas de preparo ou cultivo.Em relação aos penetrômetros de impactoou aos penetrógrafos, a vantagem refere-se à rapidez de obtenção dos resultados.A principal desvantagem refere-se à ne-cessidade de obter curvas de calibraçãoentre o teor de umidade do solo, além do

nível crítico da compactação. Caso con-trário, pode-se chegar a resultados irreais.Outra maneira mais segura de avaliar acompactação é a abertura de pequenas trin-cheiras (faixa de 60 a 70 cm de profundi-dade), avaliando-se a presença de camadasadensadas de subsuperfície. Isto definiráa necessidade ou não da subsolagem daárea e a que profundidade deverá ocorrer(DEMATTÊ, 2004).

Em terrenos arenosos, sem problemasde compactação de subsuperfície e de ocor-rência de pragas de solo, como Migdolus,por exemplo, podem-se eliminar as soquei-ras remanescentes quimicamente, utilizando-se o glifosato. Nesse caso, após o últimocorte econômico do canavial, espera-se arebrota da cana atingir de 0,60 a 1,00 m dealtura, fazendo-se uma aplicação dirigidado produto com pulverizador de barra aco-plado a trator e bicos posicionados acimada rebrota ou lateralmente, molhando-sebem as plantas. Na época do plantio, faz-sea sulcação direta da entrelinha e realiza-seo novo plantio, sem preparo prévio do solo.O calcário, se necessário, deverá ser apli-cado nos sulcos de plantio (ANDRADE,2006).

PLANTIO

Plantio convencional

Para produção da cana-de-açúcar noBrasil e em Minas Gerais, ainda predominao sistema de plantio convencional, semi-mecanizado, com uma grande demanda demão-de-obra.

A primeira etapa, após o preparo do solo,consiste na sulcação. Normalmente, sãoutilizados sulcadores-adubadores apro-priados para cana-de-açúcar, com duas outrês linhas, que, ao mesmo tempo que abremo sulco, promovem a adubação de fundo.De acordo com Andrade (2006), na falta desulcadores, os pequenos produtores po-dem realizar a sulcação, utilizando aradode aiveca ou disco, deixando-se um discoapenas. Posteriormente, faz-se a adubaçãode forma manual.

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Os sulcos devem ser abertos o maispróximo possível do plantio, para conser-var melhor a umidade, no caso de sol, epara que não haja riscos de entupimento,no caso de chuvas fortes.

Nos canaviais industriais, o espaça-mento tem variado, normalmente, de 1,30 a1,50 m, sendo o mais usual o de 1,40 m, quese adapta melhor ao tráfego de tratores,carregadoras e caminhões que transitarãona área. No caso de colheita mecanizada, oespaçamento mais utilizado tem sido o de1,50 m. Para produtores que cultivam áreasmenores, onde a capina será feita de formamanual ou com cultivador de tração animal,sem tráfego de tratores e veículos, o espa-çamento entrelinhas pode ser de até 1,0 m.Nesse caso, os caminhões que farão o trans-porte da cana-de-açúcar colhida, para pro-dução de cachaça ou forragem, não entramno meio do canavial, ficando nos carrea-dores. Normalmente, nos menores espaça-mentos, têm-se uma maior produtividadede cana-de-açúcar e uma menor incidênciade plantas daninhas (ANDRADE, 2006).

Coleti (1987) sugere que a densida-de de plantio seja de 12 a 15 gemas/m,podendo-se usar uma cana e meia ou duascanas no fundo do sulco, dependendo dadistância dos entrenós e da qualidade ge-ral da muda. Uma maneira prática de adotaruma ou outra opção seria, inicialmente,marcar 10 m lineares de sulco. Em seguida,distribuir as mudas no sistema de uma canae meia, de maneira que a metade apical deum colmo fique traspassada com a metadebasal do outro, colocados lateralmente.Conta-se o número de gemas total em 10 me caso seja maior ou igual a 120, adota-seessa distribuição. Caso o número seja me-nor que 120, deve-se adotar o sistema deduas canas, colocando-se sempre pé componta, para prevenir eventuais falhas degerminação, que, normalmente, ocorre naparte basal dos colmos.

A distribuição das mudas é feita pormeio de caminhões, quando grandes pro-dutores, e por carretas de tração animal outratores, quando pequenos produtores.

São necessárias de 8 a 10 toneladas demudas com idade de 12 meses, oriundas deviveiros, para plantio de um hectare, sendotransportadas para o local de plantio com amanutenção das folhas, porém despon-tadas. As folhas (palhas) têm a finalidadede proteger as gemas durante o transportee o manuseio. Não há necessidade de fazera despalha da muda antes do plantio, pois,com o manuseio, a maior parte das folhassolta-se dos colmos e as que porventuraficam não constituem impedimento à bro-tação das gemas (ANDRADE, 2006). Pre-ferencialmente, as mudas devem ser colhi-das e plantadas no mesmo dia, podendo,entretanto, ser mantidas cortadas no cam-po por até uma semana, antes do plantio,sem perdas significativas na brotação(MOURÃO, 1991).

As mudas, distribuídas inteiras nossulcos, devem ser cortadas com podõesem toletes de duas a três gemas. Quintela(1996), trabalhando com as variedadesRB72-454 e RB76-5418, em Lavras, MG, ve-rificou que a brotação e o índice de velo-cidade de emergência foram maiores noplantio com toletes de três gemas do queno plantio de cana inteira, além de ter obti-do um menor levantamento de pontas.Após o seccionamento, os toletes são reco-bertos com terra por meio de implementosapropriados, cobridores de cana, acopla-dos ao trator, que também faz a aplicaçãode inseticida contra as pragas de solo. Nor-malmente, faz-se um repasse manual comenxada, onde a cobrição mecânica não te-nha ficado adequada. Os toletes podem serrecobertos também com enxada, no casode pequenos produtores, colocando-se de5 a 10 cm de terra sobre os toletes, parapromover melhor enraizamento e facilitara brotação (ANDRADE, 2006).

Plantio mecanizado

O plantio mecanizado da cana-de-açúcar, muito mais que uma tendência, éuma necessidade do setor, impulsionadopela expansão da produção para atenderà demanda nos próximos anos. O baixo

rendimento das operações de plantio, emque um trabalhador planta, em média, 0,27ha/dia (DIAS NETO et al., 2001), justifica ouso do plantio mecanizado. Além disso,proporciona vantagens, tais como quali-dade do serviço, possibilidade de plantarem período integral e redução dos custosde formação do canavial.

A Usina São Martinho, com sede emPradópolis, SP, é pioneira no plantio meca-nizado de cana-de-açúcar no País e, atual-mente, adota essa técnica em cerca de 30%de sua área de plantio anual. Entretanto,foi a Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado deSão Paulo (Copersucar) que importou, em1989 e 1993, os primeiros dois modelos deplantadoras da Austrália, para testes noBrasil, mas por causa da danificação de ge-mas, falhas na brotação, outras inadequa-ções técnicas e topográficas, não propor-cionaram bons resultados. Em seguida, oCentro de Tecnologia Canavieira (CTC)desenvolveu protótipos adaptados às con-dições brasileiras, que foram testados naUsina São Martinho com resultados satis-fatórios (RIPOLI, 2006).

Já existem, atualmente, fabricantes des-ses equipamentos de plantio no Brasil, co-mo, por exemplo, Santal, DMB, Brastoft,com vários modelos disponíveis no mer-cado. Entretanto, basicamente, têm-se doistipos de plantadoras de cana-de-açúcar:plantadora de cana inteira (PCI) e planta-dora de cana picada (PCP).

O primeiro tipo, PCI, é um equipamentoque utiliza cana inteira e, normalmente, fazo plantio de uma linha de cada vez. Possuium sulcador com regulagem de profundi-dade e uma adubadora de rosca sem fim(capacidade de 300 kg), que distribui o adu-bo no fundo do sulco. A alimentação dasmudas é feita manualmente por duas pes-soas que abastecem a plantadora com canainteira, armazenada em uma carreta acopla-da atrás da plantadora (capacidade de 3 tde mudas); possui um conjunto de facasacionado pela roda da plantadora, que picaa cana em toletes (pedaços de 30 a 40 cm)

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e são uniformemente distribuídos no sul-co. A plantadora é equipada também comcobridor, composto por dois discos côn-cavos e uma roda compactadora. Assim,numa única operação, fazem-se o sulca-mento, a adubação, a distribuição dos to-letes e a cobertura, com um rendimentomédio de 3 ha/dia. Já existem modelos deplantadora de duas linhas, com espaçamen-to regulável de 1,00 a 1,60 m, que, por seremmais pesadas, exigem maior potência tra-tória e podem contribuir para uma maiorcompactação do solo.

O segundo tipo, PCP, é um equipamentoque utiliza toletes e planta duas linhas decada vez. Os toletes são obtidos dos vivei-ros de mudas, por meio de colhedoras decana crua, que são as mesmas usadas nacolheita de canaviais industriais. Os toletescolhidos são descarregados em carretasdotadas de transbordo e repassados parao depósito da plantadora com capacidadede 4 t, que tem duas esteiras transporta-doras de toletes para os sulcos. A planta-dora possui dois sulcadores com regula-gem de profundidade, duas adubadorascom capacidade de 450 kg cada, um tanquecom capacidade de 450 L, com duas saídaspara aplicação de inseticida sobre os toletesdistribuídos nos dois sulcos. Possui aindadois cobridores (um para cada linha) do-tados de discos côncavos e roda compacta-dora. Numa única operação, fazem-se aabertura dos sulcos, adubação de fundo,distribuição dos toletes, aplicação de inse-ticida e cobertura dos toletes, com rendi-mento médio de um hectare por hora.

Embora essas plantadoras atuais nãocausem grandes danificações às gemas, ésempre prudente, nesse caso, aumentar adensidade de plantio, utilizando-se umamédia de 18 a 20 gemas por metro linear desulco.

TRATO CULTURAL

Cana-planta

O principal trato cultural a ser realizadona cana-planta diz respeito ao controle de

plantas daninhas. Existem diferentes tiposde controle, mas seja qual for, apenas vaidiminuir a incidência da comunidade infes-tante durante certo período.

Os métodos de controle que podem serutilizados são: preventivo, cultural, ma-nual, mecânico e químico. O ideal seria acombinação entre dois ou mais métodos,adotando-se o chamado manejo integra-do.

De acordo com Victória Filho e Chris-toffoleti (2004), medidas preventivas sãousadas para evitar a introdução, na área deplantio, principalmente de plantas dani-nhas como a tiririca, grama-seda, capim-colonião, capim-massambará e capim-camalote, dentre elas destacam-se: utilizarmudas livres de dissemínulas das plantasdaninhas; manter canais de vinhaça ou deirrigação livres de plantas daninhas; limparequipamentos agrícolas; utilizar torta defiltro ou composto orgânico livre de plantasdaninhas; limpar áreas adjacentes, inclu-sive carreadores que separam os talhõesque podem produzir sementes.

Medidas culturais são aquelas quefavorecem a cultura da cana-de-açúcar, noaspecto competitivo como por exemplo,escolha de variedades adaptadas às con-dições locais, as quais proporcionam rá-pido crescimento e ocupação de espaço;espaçamento mais adensado; rotação, su-cessão e culturas intercalares (consórcio)que, de modo geral, evitam a predominânciade determinadas plantas daninhas, facili-tando o controle.

De acordo com Andrade (2006), o matodeve ser muito bem controlado nos primei-ros 100 dias pós-plantio, período conside-rado crítico de competição do mato na cana-planta. Dependendo da área plantada, graude mecanização e mão-de-obra disponível,o controle pode ser feito de forma manual,mecânica ou química.

A capina manual com enxadas, só éviável para pequenas áreas. Em média sãonecessários 15 homens/dia/ha para umacapina. Dependendo do grau de infestação,três capinas são necessárias até que a cana

feche e abafe o mato. A capina mecânica,por meio de cultivadores de tração animalou trator, pode ser realizada, mas uma sóoperação não é suficiente, havendo neces-sidade de até três. As limitações desse mé-todo são o controle do mato somente naentrelinha (na linha, às vezes, é preciso ca-pinar manualmente ou aplicar herbicida) ea eficiência apenas na fase inicial de desen-volvimento da planta daninha.

A capina química, usando herbicidas,com pulverizadores de barra acoplados atrator, é o método de controle mais utili-zado atualmente. Os herbicidas utilizadosna cultura da cana são, de modo geral,aplicados na pré-emergência ou na pós-emergência da planta. Em pré-emergência,são aplicados na superfície do solo, apóso plantio e na pré-emergência das plan-tas daninhas. Aqueles aplicados em pós-emergência são utilizados após a emer-gência da cultura e das plantas daninhas.Em algumas situações, há necessidade deadicionar um adjuvante à calda. A seletivi-dade ocorre devido a aspectos de absorçãofoliar e à degradação do herbicida absorvi-do pela planta cultivada (VICTÓRIA FILHOe CHRISTOFFOLETI, 2004). Como existemvários herbicidas disponíveis no mercadopara ser empregados na cultura da cana-de-açúcar, cada um deles com diferentesparticularidades, torna-se necessário con-sultar um engenheiro agrônomo, para pres-crição e orientação adequada (ANDRADE,2006).

Os principais herbicidas registradospara uso na cultura da cana-de-açúcar noBrasil são apresentados no Quadro 1.

Além do controle de plantas daninhas,outro trato cultural é aquele que deve serrealizado próximo aos 60 dias após o plan-tio e antes do fechamento do canavial, ouseja, passa-se um cultivador mecânico,objetivando incorporar o adubo aplicadoem cobertura (nitrogênio e/ou potássio)e rebaixar os camalhões formados pelosulcamento da área. Na fase inicial de de-senvolvimento, outro trato cultural impor-tante é o combate às formigas, que deve

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ser feito com bastante rigor por pessoastreinadas na aplicação de formicidas. Atual-mente, a termonebulização tem sido a téc-nica mais utilizada na cultura da cana-de-açúcar (ANDRADE, 2006).

Cana-soca

Como é sabido, após cada corte de col-mos num canavial, a partir das gemasexistentes dos rizomas, parte subterrâneados colmos, ocorre emissão de novas bro-

tações, dando origem à cana-soca. À me-dida que se sucedem os cortes da soquei-ra, observa-se uma queda no rendimentoagrícola.

A adoção de técnicas culturais ade-quadas em soqueiras pode contribuir sig-nificativamente para o aumento da longe-vidade do canavial. É importante ressaltarque a maior área cortada numa unidadeprodutora diz respeito exatamente à cana-soca.

Área de colheita manual

com cana queimada

Enleiramento do palhiço

Mesmo com a queima prévia do cana-vial, após a colheita, restam sobre o solopontas de cana e folhas laterais que, porestarem mais verdes, não são completa-mente queimadas, constituindo o palhiço,que chega de 3 a 4 toneladas de matériaseca por hectare. Faz-se então o enleira-mento desse palhiço, para facilitar os tratosculturais subseqüentes, por meio de enlei-radoras ou ancinhos rotativos acopladosao trator. Esses elementos ativos são rodasdentadas que giram em função do deslo-camento do trator, riscando levemente osolo para acompanhar todas as suas irregu-laridades. Essas rodas estão acopladas aum chassi articulado que opera com sistemaflutuante.

O rendimento do enleiramento depen-de de vários fatores. Para as enleiradorasconvencionais em corte de cinco ruas, orendimento médio é de 1,0 a 1,2 hectare/hora, enquanto que o tripalha em corte desete ruas pode chegar a 3,0 hectares/ho-ra, utilizando-se tratores de 65 a 80 HP(CORBINI, 1987).

Tríplice operação

Cultivadores específicos, desenvolvi-dos para soqueiras de cana, são utilizadoslogo após o enleiramento, nas entrelinhassem palhiço, fazendo-se a subsolagem,adubação e cultivo simultaneamente nu-ma única passada. Esse implemento, nor-malmente de duas linhas, consta de umamesa, onde são fixadas as hastes subso-ladoras, três hastes para cada entrelinha,sendo a central mais profunda; duas adu-badoras, uma para cada entrelinha, comsaídas junto às linhas de cana; quatro se-ções de discos, duas para cada entrelinha,que fazem o cultivo. Quando se utilizafertilizante líquido, é interessante colocaros tanques fixos no trator, enquanto que aadubadora de fertilizante sólido, normal-mente é colocada no implemento. O traba-

2,4-D Pós e pré-emergência DMA BR e outras

Ametrina Pós e pré-emergência Gesapax e outras

Atrazina Pós e pré-emergência Gesaprim e outras

Diuron Pré e pós-emergência Karmex e outras

Simazina Pré-emergência Gesatop e outras

Cyanazina Pré e pós-emergência Bladex

Metribuzin Pré e pós-emergência Sencor

Tebuthiuron Pré-emergência Combine

Atrazina + Simazina Pré-emergência Triamex

Ametrina + Diuron Pré e pós-emergência Ametron

Hexazinone + Diuron Pré e pós-emergência Velpar K e Advance

Trifluralina Pré-emergência Treflan e outras

Pendimethalin Pré-emergência Herbadox

Alachlor Pré-emergência Laço e outras

Halosulfuron Pós-emergência Sempra

Imazapyr Pré-emergência Contain

Imazapic Pré-emergência Plateau

Isoxafrutole Pré-emergência Provence

Clomazone Pré-emergência Gamit

Sulfentrazone Pré-emergência Boral

Oxyfluorfen Pré-emergência Goal

MSMA Pós-emergência Daconate e outras

MSMA + Diuron Pós-emergência Fortex

Flazasulfuron Pré e pós-emergência Katana

QUADRO l - Principais herbicidas registrados para uso na cultura da cana-de-açúcar no Brasil

Marca comercialHerbicida Época de aplicação

FONTE: Dados básicos: Victória Filho e Christoffoleti (2004).

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lho de tríplice operação em soqueira exigetratores com 90 a 120 HP, que variam com otipo de solo e número de hastes subsola-doras. O rendimento operacional oscilaentre 0,75 e 1,00 hectare/hora (CORBINI,1987).

Aplicação de vinhaça

Após a tríplice operação, em algumasáreas onde é viável economicamente, a adu-bação química da soqueira pode ser subs-tituída ou complementada com a aplicaçãoda vinhaça, subproduto da fabricação doálcool ou aguardente.

A vinhaça é um adubo orgânico líqui-do, rico em potássio, matéria orgânica enitrogênio, porém pobre em fósforo eoutros nutrientes, sendo mais compatívelcom as exigências nutricionais das so-queiras, daí sua utilização após cada cor-te que é dado no canavial, até a dose de150 m3/hectare (no caso de vinhaça prove-niente da fermentação do caldo da cana-de-açúcar) (ANDRADE, 2006).

A vinhaça é depositada em lagoas dedecantação e, a partir daí, pode ser levadaaté a lavoura por meio de sulcos de infiltra-ção, aspersão ou caminhão-tanque.

Controle de plantas daninhas

Após a aplicação da vinhaça nas so-queiras, usam-se herbicidas aplicados compulverizadores de barra, acoplados a trator,sendo recomendados para cana-planta.Dá-se preferência àqueles que não neces-sitam tanto de umidade no solo para umaação eficiente, já que no período de maio aagosto, início e meio de safra, normalmentehá condições inadequadas de umidade nosolo (ANDRADE, 2006). Dependendo dotamanho da área, o cultivo mecânico e mes-mo o uso de enxadas para controle de plan-tas daninhas poderão também ser utili-zados.

Ressalta-se que o período crítico decompetição do mato na cana-soca corres-ponde aos primeiros 60 dias após cadacorte no canavial. Nesse período, o controlede plantas daninhas deve ser bem-feito,

para não haver perdas significativas naprodução (ANDRADE, 2006).

Controle de formigas

Principalmente na fase inicial da rebro-ta do canavial o controle de formigas deveser eficiente e executado por pessoas trei-nadas para esse fim, as quais identificamos olheiros e fazem o combate com formi-cidas em pó, grânulos ou líquido, que sãotransformados em gases, por meio da ter-monebulização, processo atualmente maisutilizado nas áreas canavieiras.

Área de colheita

mecanizada ou manual sem

queima prévia do canavial

Palhiço

Como não se faz a queima prévia docanavial antes da colheita, a quantidadede palhiço que fica esparramado sobre osolo é muito grande, 12 a 15 toneladas dematéria-seca por hectare, não sendo pos-sível o seu enleiramento.

Ressalta-se que a presença do palhi-ço, mesmo sobre as linhas remanescentesde cana, não afeta o desenvolvimento e aprodução das soqueiras, podendo ocorrertão-somente um pequeno atraso na rebrotado canavial, já que a palha proporciona umatemperatura do solo um pouco mais baixado que quando este solo está completa-mente exposto (CAMPOS; MARCONATO,1994). Além disso, o palhiço sobre a áreaconserva melhor a umidade do solo e exer-ce um controle muito bom sobre a maio-ria das plantas daninhas (QUINTELA,2001).

Tríplice operação

Cultivadores de soqueiras comuns nãosão capazes de realizar o trabalho, devidoà presença da grande quantidade de pa-lhiço sobre a área. Entretanto, já existem,disponíveis no mercado, cultivadores adap-tados com mecanismos (discos) que reali-zam o corte prévio da palha, o que facilita apenetração dos subsoladores para realiza-

ção do cultivo e adubação das soqueirasem profundidade no solo.

Aplicação da vinhaça

ou da adubação química

sobre a palha

Quando se usa a vinhaça, esta é aplica-da sobre o palhiço, na dose de até 150 m3/hectare. Quando se faz a adubação quími-ca da soca, esta poderá ser aplicada so-bre a palha que se encontra no solo. Tantoos nutrientes contidos na vinhaça, comoos contidos no adubo químico atingemo solo e serão absorvidos pela cana-de-açúcar.

Controle de plantas daninhas

Como o palhiço exerce um bom contro-le de plantas daninhas, a aplicação do her-bicida é feita de forma dirigida, apenas noslocais onde o mato aparece, utilizando-sepulverizadores costais motorizados ou ma-nuais. O controle do mato também poderáser feito por meio de enxadas, no caso depequenas áreas.

Controle de formigas

Embora a identificação de olheiros fiquemais difícil, devido à presença da palha so-bre o solo, também nesse caso o controlede formigas deve ser muito bem executado,para não afetar o desenvolvimento inicialda rebrota da cana-de-açúcar.

PRINCIPAIS DOENÇAS

DA CANA-DE-AÇÚCAR

E FORMAS DE CONTROLE

No Brasil, várias doenças são comu-mente encontradas na cultura da cana-de-açúcar. Algumas são consideradas de gran-de importância, mas de difícil quantificaçãode prejuízos pela diversidade de cultivarese pelas condições ambientais, em que sãocultivadas. Dentre as principais doenças,Tokeshi (1980) e Sanguino (1987) destacamas seguintes.

Mosaico

a) agente causal: vírus;

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51Cana-de-açúcar

b) sintoma: aparência mosaicada dasfolhas, principalmente nas mais no-vas, com diferentes graus e propor-ções de manchas verde-normal everde-pálido. As touceiras afetadastêm o seu desenvolvimento retar-dado em relação às plantas sadias,os entrenós ficam curtos, os colmosficam finos, ocorrendo um super-perfilhamento da touceira;

c) transmissão: toletes e pulgões;

d) controle: por meio de variedades re-sistentes ou tolerantes; rouguing

(erradicação de touceiras infectadasnos viveiros e em áreas de plantiocomercial), realizado no período dedois a seis meses pós-plantio, numafreqüência de 30 dias.

Carvão

a) agente causal: fungo;

b) sintoma: aparecimento de um apên-dice semelhante a um chicote, pro-duzido no ápice dos colmos, quelibera um pó preto, que constitui osesporos do fungo. Os colmos afeta-dos são mais finos que os normais.Ocorre a emissão de um grande nú-mero de rebentos, os colmos crescempouco e não têm valor industrial;

c) transmissão: toletes e ventos, chu-vas, equipamentos, homens. Um úni-co chicote é capaz de liberar milhõesde esporos, que podem infectar plan-tas sadias, e aqueles que caem nosolo atuam como inóculos para no-vos plantios ou soqueiras;

d) controle: variedades resistentes outolerantes e rouguing, realizado co-mo mencionado para controle domosaico, mas com o cuidado adicio-nal de colocar um saco plástico sobreo chicote, fazendo-se um amarrio,para evitar que os esporos do fun-go espalhem-se, quando for feitoo arranquio das touceiras infecta-das.

Raquitismo-da-soqueira

a) agente causal: bactéria;

b) sintoma: externamente, não existemsintomas visíveis. Internamente, noscolmos infectados, ocorrem feixesvasculares de cor laranja a vermelha,próximos aos nós, causando obstru-ções dos vasos do xilema, com menortranslocação de seiva bruta para aparte aérea, o que provoca um menordesenvolvimento das touceiras;

c) transmissão: toletes e podões;

d) controle: tratamento térmico , 50,5ºC/2 horas ou 52ºC/30 minutos (tolete,minitolete ou gema); desinfecção depodões com solução de creolina, li-sol ou formol a 10% ou flambagem(fogo) dos podões.

Podridão-vermelha

a) agente causal: fungo;

b) sintomas: externamente, na nervuraprincipal das folhas, há formação demanchas alongadas de cor vermelho-intensa. Internamente, associado aoataque da broca, encontram-se col-mos avermelhados, manchados comilhas brancas (Colletotrichum) ou to-talmente avermelhados (Fusarium);

c) transmissão: toletes; ventos e chu-vas;

d) controle: variedades resistentes outolerantes; tratamento térmico (comomencionado para controle do raqui-tismo) e controle da broca. Como abroca é o principal facilitador da pe-netração do fungo no colmo, desen-volvendo a podridão interna, me-didas para seu controle também sãoimportantes no controle da podridão-vermelha.

Ferrugem

a) agente causal: fungo;

b) sintoma: formação de pústula decor marrom e halo amarelo, princi-

palmente na parte inferior da folha.As pústulas se rompem e liberamesporos de cor ferruginosa. A cordo canavial, de longe, fica amar-ronzada em variedades suscetíveis.A ferrugem atinge principalmentecanaviais mais novos. Com o desen-volvimento da cana-de-açúcar, ossintomas diminuem, chegando mes-mo a desaparecerem;

c) transmissão: ventos e chuvas;

d) controle: variedades resistentes outolerantes.

Escaldadura-das-folhas

a) agente causal: bactéria;

b) sintoma: brotação lateral dos colmos.Cortando-se os colmos longitudi-nalmente, observam-se vasos aver-melhados na região nodal. As folhasapresentam-se enroladas e engruvi-nhadas no cartucho, total ou parcial-mente secas;

c) transmissão: toletes e podões;

d) controle: variedades resistentes;rouguing e desinfecção de podões,como descrito para o controle doraquitismo-da-soqueira.

Outras doenças comuns, mas de menorimportância ou de importância localizada,são as manchas foliares, tais como mancha-ocular, mancha-parda, estrias-cloróticas,estrias-pardas, estrias-vermelhas, mancha-anelar, mancha-vermelha-da-bainha ealgumas podridões, como, por exemplo, apodridão-abacaxi, que ataca os toletes plan-tados.

PRINCIPAIS PRAGAS

DA CANA-DE-AÇÚCAR

E FORMAS DE CONTROLE

Das principais pragas que atacam a cul-tura da cana-de-açúcar, aproximadamente,85 espécies diferentes de insetos já foramidentificadas no Brasil como causadorasde prejuízos à cultura. Entretanto, algumasmerecem destaque.

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52 Cana-de-açúcar

Além das formigas que requerem umcontrole contínuo, como mencionado nositens referentes à cana-planta e à cana-soca, de acordo com Macedo e Macedo(2004), as pragas de maior incidência eprejuízos causados à cana-de-açúcar noscanaviais brasileiros, atualmente, são abroca-comum, a cigarrinha-das-raízes eos cupins subterrâneos. Também merecemdestaque o Migdolus e o gorgulho-da-cana(DINARDO-MIRANDA, 2005).

Broca-comum

a) espécie e descrição: a espécie debroca que predomina nos canaviaisdo Brasil é a Diatrae saccharalis.O adulto é uma mariposa de coramarelo-palha, cuja fêmea faz a pos-tura nas folhas. Após a eclosão dosovos, as larvas de cor amarelo-palhae cabeça marrom, caminham em di-reção aos colmos, perfurando-os eabrindo galerias no sentido ascen-dente. Quando o ataque se dá emcana nova, pode ocorrer morte dagema apical, com seca da última fo-lha, aparecendo o sintoma conhecidocomo coração morto. Quando a larvavai-se transformar em pupa, abreoutro orifício para garantir sua saí-da. As pupas transformam-se emadultos que, após o acasalamento,vão reiniciar o ciclo. O ciclo evolu-tivo completo da broca é de, aproxi-madamente, 70 dias;

b) tipo de dano: podem ser diretos,proporcionando perda de peso dacana, pelas galerias construídas,morte da gema apical, coração morto,e quebra da cana, pela ação de ven-tos e menor resistência; ou indiretos,pois através dos orifícios abertosnos colmos, ocorre a penetração defungos, Fusarium ou Colletotrichum,que causam a podridão-vermelha einvertem a sacarose armazenada noscolmos;

c) necessidade de controle: nos levan-tamentos no pátio, devem ser retira-

dos o equivalente a cinco canas porcarga, tomadas casualmente nosveículos de transporte, que chegamao pátio da indústria. Quando feitosnas áreas de campo, amostram-secinco pontos casualizados de 25canas, totalizando 125 canas, querepresentam até 50 ha (MACEDO;MACEDO, 2004). Em ambos os mé-todos, as canas são abertas longi-tudinalmente, contando-se o total deentrenós e aqueles atacados pelocomplexo broca/podridão-vermelha,anotando-se os dados. De possedestes, calcula-se o índice de infes-tação (I.I.), pela relação número deentrenós brocados/número de entre-nós total x 100. Consideram-se 3%de I.I., como nível de dano econô-mico, a partir do qual medidas decontrole devem ser adotadas;

d) controle: o método de controle maisusado, por ser de grande eficiência,é o biológico. Para isso utiliza-se uminimigo natural específico – Cothesiaflavipes, que é multiplicado em labo-ratórios das usinas e liberado noscanaviais, onde parasitam as larvasda broca. A fêmea da C. flavipes caçaa larva da broca, inclusive entrampelas galerias construídas nos col-mos pela larva. Ao encontrar a bro-ca, a fêmea da C. flavipes introduz oovipositor, fazendo a postura, e daíeclodem larvas que se alimentarãoda parte interna da broca, provocan-do sua morte.

Cigarrinha-das-raízes

a) espécie e descrição: cigarrinha-das-raízes, Mahanarva fimbriolata – oataque desta praga vem aumentandonos canaviais colhidos sem a queimaprévia, principalmente nas épocasdas chuvas. Sob a palha e com umi-dade, o inseto encontra condiçõesideais para se multiplicar. A primeirageração dá-se, geralmente, de formadiscreta e desapercebida. A popu-

lação aumenta na segunda geração,que ocorre no Centro-Sul do Brasil,nos meses de novembro a fevereiro(época de maior precipitação). Emgeral, são observadas de três a qua-tro gerações por ano (MACEDO;MACEDO, 2004).

As formas jovens de cigarrinha-da-raiz, conhecidas por ninfas, ata-cam as raízes superficiais da cana,liberando uma espuma branca, se-melhante à de sabão, que se acumu-la no pé da cana, no nível do solo.As ninfas, ao sugarem as raízes,ocasionam distúrbios fisiológicosna planta, impedindo ou dificultan-do o fluxo de água e de nutrientes.Há morte de raízes, chochamento eafinamento dos colmos e seca dasfolhas;

b) tipo de dano: os danos diretos di-zem respeito à redução da produ-tividade do canavial. Os indiretosreferem-se à perda de qualidade dacana, com aumento no teor de fibras,de impurezas e de contaminantes nocaldo e redução nos teores de açú-car;

c) necessidade de controle: deve serfeita uma amostragem no campo,identificando-se a presença de espu-mas brancas junto ao pé da cana, nonível do solo. Há indicações de queo nível de controle está próximo detrês a cinco ninfas (espumas), pormetro linear de cana, ou seja, valoressuperiores a este justificam a adoçãode medidas de controle;

d) controle: pode-se usar o controlebiológico, com o emprego do fun-go M e t a r h i z i u m a n i s o p l i a e

(MENDONÇA, 1996). Entretanto,produtos comerciais disponíveis nomercado têm apresentado baixa efi-ciência de controle em nível de cam-po. O controle químico tem-se mos-trado, até o momento, a alternativamais eficiente, destacando-se o pro-

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53Cana-de-açúcar

duto comercial Actara, na dose de800 g/hectare, com pulverizaçõesdirigidas à parte basal da cana, nonível do solo. O afastamento dapalha do pé da cana, quando pos-sível, tem aumentado a ação do pro-duto.

Cupim subterrâneo

a) espécies e descrição: as principaisespécies de cupins subterrâneos sãoHeterotermes tenuis e Heterotermes

longiceps. Atacam toletes planta-dos, raízes, rizomas e até mesmo par-te aérea de canas adultas;

b) tipo de dano: na cultura da cana-de-açúcar, os danos são reconhe-cidos por falhas na brotação porocasião do plantio, morte de toucei-ras que não rebrotam mais, pois oscupins atacam raízes e rizomas, partesubterrânea, provocando a morte detouceiras. Os prejuízos médios sãona ordem de 10 t/ha/ano (MACEDO;MACEDO, 2004);

c) controle: a principal medida de con-trole dos cupins subterrâneos, emáreas onde ocorrem, tem sido o usodo inseticida Regent, aplicado viapulverização sobre os toletes nossulcos de cana, por ocasião do plan-tio, antes do recobrimento com osolo.

Migdolus

a) espécie e descrição: a espécie maiscomum é o Migdolus fryans. Esteinseto é de hábito subterrâneo. Os ma-chos ativos voam, enquanto que asfêmeas possuem asas atrofiadas e,portanto, não voam. Após o acasa-lamento, as fêmeas entram no soloe colocam os ovos em diferentesprofundidades. As larvas, eclodi-das dos ovos, alimentam-se das raí-zes e rizomas das plantas em qual-quer idade (DINARDO-MIRANDA,2005);

b) tipo de dano: em conseqüência doataque de Migdolus à parte subter-rânea da cana, raízes e rizomas,ocorrem falhas na rebrota, morte decolmos, com reduções significati-vas da produtividade e longevidadedo canavial;

c) controle: é de difícil controle, tendosido utilizados métodos integradosde controle cultural, arações maisprofundas, armadilhas com fero-mônios, para captura dos machosdurante a revoada, e químico, comaplicação de inseticidas do solo, co-mo Regent, Evidence, Endossulfanou Thiodan (DINARDO-MIRANDA,2005).

Gorgulho-da-cana

a) espécie e descrição: é um besou-ro (coleóptero), identificado comoSphenophorus levis. Tem hábitossubterrâneos e, após o acasala-mento, as fêmeas perfuram os rizo-mas, parte subterrânea dos colmos,inserindo os ovos. Destes eclodemlarvas branco-leitosas, castanho-avermelhadas, que escavam galeriasno interior dos rizomas. Estas galeriaspermanecem cheias de serragem fina,característica do ataque da praga(DINARDO-MIRANDA, 2005);

b) tipo de dano: em conseqüência dasgalerias abertas na base dos colmos,ocorre amarelecimento das folhas,seguido pelo secamento e morte deperfilhos, que podem ser facilmentedestacados da touceira. Sob infesta-ções severas, as touceiras morrem esão observadas muitas falhas narebrota, favorecendo altas infesta-ções de plantas daninhas;

c) método de controle: embora sejauma praga importante, há poucosestudos sobre medidas de contro-le. O controle químico parece o maisviável, com aplicação de insetici-das por ocasião do plantio, tais

como: Furadan, Regent e Evidence(DINARDO-MIRANDA, 2005).

Outras pragas de ocorrência nos cana-viais, mas de importância localizada, seriama broca-gigante, pão-de-galinha, lagarta-elasmo, lagarta-militar, lagarta-mede-palmos, pulgões, cochonilhas e gafanho-tos (MENDONÇA, 1996).

CUSTOS DE PRODUÇÃO

Em um mundo globalizado, onde asmargens de lucro no setor primário são cadavez menores, a profissionalização e a buscade novos padrões de qualidade, por partedo produtor, são necessidades prementes.Portanto, a preocupação do produtor deveestar voltada não somente para os pro-cessos produtivos, mas também para asações gerenciais e administrativas de suapropriedade.

Alguns dos quesitos mais importantes

para o produtor são o conhecimento e o

acompanhamento dos custos de produção

dentro da propriedade. Ao ignorar o que

está acontecendo com os custos, o pro-

dutor não saberá se está efetivando ou não

os lucros e tampouco terá subsídios para

tomar decisões acertadas para atingir os

melhores resultados (RICHETTI, 2006).

O momento atual vivido pelo agronegó-

cio cana-de-açúcar é de euforia e de expan-

são. Novas áreas vêm sendo incorporadas

no processo produtivo e a grande van-

tagem do Brasil está no fato de que pode

competir com os demais países produtores

em situação vantajosa. Mas o produtor de

cana-de-açúcar não se deve deixar levar

pelo momento e descuidar do gerencia-

mento efetivo dos custos de produção da

cana-de-açúcar. Este custo é extremamente

variável de região para região, dependendo

de uma série de fatores, tais como, preço

da terra, grau de mecanização, preparo,

plantio, tratos culturais e colheita, nível

tecnológico, necessidade e preço de insu-

mos, custo do homem/dia, número de cortes

econômicos, produtividade do canavial,

etc.

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54 Cana-de-açúcar

Apenas para se ter uma idéia, segun-

do o Agrianual (2007), em São Paulo, no

ano de 2006, considerando-se cinco cortes

econômicos no canavial, com uma média

de produtividade de 77 toneladas de col-

mos/ha, o custo de produção foi de R$ 29,78

por tonelada de colmos, com uma lucra-

tividade média de R$ 1.220,00/ha/ano, sen-

do apresentada uma planilha discriminada

com os diferentes itens que compõem os

custos, as receitas obtidas e a lucrativida-

de que envolve cada corte.

Um detalhe que deve ser destacado, é

que a procura por novas áreas para plan-

tio de cana-de-açúcar tem feito o preço do

hectare de terra aumentar consideravel-

mente. Se, há cerca de dois anos, pagava-

se de 10 a 15 toneladas de cana por hec-

tare em regiões tradicionais de cultivo de

cana-de-açúcar em São Paulo, hoje não

se encontra mais terra para arrendar com

valores inferiores a 20 toneladas/ano

(TAVARES et al., 2007). Essa inflação de

custos de terra também tem sido verificada

em outras regiões para onde a cana tem

avançado, como é o caso do estado de Mi-

nas Gerais.

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56 Cana-de-açúcar

1Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: geraldomacedo@

epamig.br

3Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: [email protected]

4Graduando Agronomia, Bolsista FAPEMIG/EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico:

[email protected]

Resumo - Dentro do agronegócio nacional, a cana-de-açúcar destaca-se como umaimportante atividade econômica, capaz de promover e viabilizar o desenvolvimentode diversas regiões. A irrigação, em certas regiões como no Semi-Árido, é um fatordecisivo no processo de desenvolvimento da agricultura local, sem a qual tornar-se-iaeconomicamente inviável o cultivo da maioria das culturas. Atualmente, em função daconstante preocupação com a gestão dos recursos hídricos, é imperativo o aperfeiçoa-mento de métodos de manejo de solo e água, bem como o aprimoramento de sistemasde irrigação que garantam a produção desejada com máxima eficiência no consumo deágua. A irrigação é uma prática ainda em estudo para a cultura da cana-de-açúcar, noentanto, quando aliada às condições climáticas como temperatura e luminosidade,pode aumentar a produtividade e melhorar a qualidade, garantindo bons rendimentosao produtor.

Palavras-chave: Recurso hídrico. Água. Manejo. Evapotranspiração.

INTRODUÇÃO

A necessidade de busca da otimizaçãodos recursos produtivos, o aumento dacompetividade no mercado produtivo, anecessidade de aumento de produtividadee a redução de custos levam a uma tendên-cia de adoção de tecnologias capazes detornar a exploração agrícola cada vez maiscompetitiva e rentável.

A irrigação exerce papel fundamentalno agronegócio como um dos principaisinstrumentos para a modernização da agri-cultura brasileira, permitindo enormes be-nefícios, em especial no caso do cultivo da

Irrigação da cana-de-açúcar

Édio Luiz da Costa1

Geraldo Antônio Resende Macêdo2

Fúlvio Rodriguez Simão3

Rodrigo Silva Diniz4

cana-de-açúcar, tais como: incremento naprodutividade pela redução do custo unitá-rio de produção; uso do solo durante todoo ano; maior oferta de produto ao longo doano; redução da sazonalidade de produção;incorporação de novas áreas no complexoagrícola no Cerrado e Semi-Árido, commaior garantia de colheita para o produtorrural pela redução do fator risco; maior qua-lidade dos produtos agrícolas; aplicaçãode novas tecnologias como a quimigação;produção de mudas de alta qualidade quecontribuem para o aumento da produtivi-dade em geral; conservação do solo e da

água; possibilidade de criação de pólosagroindustriais para o aproveitamento dosprodutos das áreas irrigadas.

Em algumas regiões, a irrigação é umaprática essencial para o cultivo da cana-de-açúcar, entretanto, o déficit e/ou excessode água aplicada, bem como o modo deaplicação, podem propiciar condições des-favoráveis ao desenvolvimento da culturae levar à queda na produtividade, além deaumentar os custos com energia de bom-beamento e fertilizantes ao se trabalhar combaixa eficiência de irrigação e de fertirriga-ção. Dessa forma, é necessário ressaltar a

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importância do manejo da irrigação, a fimde alcançar elevada eficiência de irrigaçãocom maximização econômica do negócio esustentabilidade ambiental.

Assim, ações que levem ao agricultor eao futuro irrigante o conhecimento sobre aimportância socioeconômica da atividade,bem como formas para melhor irrigar acultura, a determinação do momento idealde irrigação e da lâmina a ser aplicada,aliados a um gerenciamento de toda umacadeia produtiva, garantirão o sucesso doprodutor.

ASPECTOS AGRONÔMICOS

DE IMPORTÂNCIA PARA

IRRIGAÇÃO

A cana-de-açúcar pode ser cultivadaem diferentes condições de clima e de solo.Há variedades que não apresentam restri-ções quanto à fertilidade do solo, isto é,produzem tanto em solos de baixa quantode alta fertilidade. No entanto, quanto me-lhores forem as condições oferecidas me-lhor será o resultado alcançado.

Os dois fatores mais importantes parao seu desenvolvimento são calor e umida-de. Na brotação da muda, a umidade dosolo deve estar entre 15% e 25%. Em doisterços do seu período vegetativo, a cananecessita de chuvas freqüentes e calor,a fim de favorecer a perfilhação e o desen-volvimento, sendo que o terço restantedeve ser de baixa pluviosidade, para faci-litar a maturação e a colheita.

A cana-de-açúcar perde muita água pe-las folhas, por exsudação e transpiração,dependendo do grau higrométrico do ar.Um colmo juntamente com as folhas per-de, diariamente, de 200 a 1.000 mL de água(MALAVOLTA, 1964).

De maneira prática, para saber se a cul-tura carece de irrigação, é necessário obser-var o aspecto da folhagem, que se tornaescura, diferenciando-se do verde normal.As folhas ficam enroladas e pendentes.Em caso de restrição hídrica prolongada, aplanta paralisa o crescimento e a folhagemse torna amarelada. Ao contrário, quando

existe excesso de água no solo, a ponta dacana toma uma coloração amarelo-verdosa,com manchas claras, apresentando, tam-bém, sintomas de murchamento (PRATA,1983).

O crescimento do colmo é lento no iní-cio e aumenta gradualmente até que sejaalcançada a taxa máxima de crescimento,diminuindo em seguida, à medida que a canacomeça a sazonar e a amadurecer. A flora-ção da cana-de-açúcar é controlada peladuração do dia, sendo ainda influenciadapelo suprimento de água e nitrogênio, comefeito prejudicial progressivo sobre o teorde sacarose. Assim, normalmente, evita-sea floração ou utilizam-se variedades quenão florescem.

O sistema radicular é um parâmetroimportante a ser considerado na irrigaçãodas culturas. Em cana-de-açúcar, as raízesdesenvolvem-se logo após o plantio, uti-lizando para isso as reservas contidas notolete, formando, primeiramente, as raízesde fixação que suprirão os rebentos quebrotarão das gemas. É desejável que as va-riedades apresentem rápido desenvolvi-mento inicial (bom perfilhamento) e ade-quado fechamento de entrelinhas paraminimizar a competição com plantas dani-nhas. Para tanto, o sistema radicular pre-cisa desenvolver-se rapidamente, a fim deevitar acamamento. As raízes da cana-de-açúcar são fasciculadas e relativamentesuperficiais. A metade do sistema radiculardistribui-se nos primeiros 30 cm de profun-didade.

Segundo Sampaio et al. (1987), deve-sedar importância ao sistema radicular, porqueé ele que serve de reserva de nutrientespara a rebrota das socas. Esses mesmosautores identificaram que 75% da massaradicular localiza-se nos primeiros 20 cmsuperficiais e 55%, a menos de 30 cm docentro da touceira.

De acordo com o trabalho de Alvarez(2000), as raízes de cana crua distribuem-se mais superficialmente no primeiro ano,com 75% nos primeiros 40 cm, do que nosegundo ano, com 70%. Em cana queima-

da, a porcentagem de raízes até 40 cm foi

de 72%, no primeiro ano, e de 68%, no

segundo ano.

Praticamente inexistem trabalhos especí-

ficos sobre o efeito dos períodos de déficit

hídrico sobre a produtividade e/ou mesmo

a qualidade da cana-de-açúcar. De acordo

com Doorenbos e Kassam (1994), os pe-

ríodos críticos de déficit hídrico ocorrem

na germinação e emergência.

Os períodos em que os déficits hídri-

cos são mais prejudiciais à cultura são

descritos a seguir:

a) período de estabelecimento e ve-

getativo inicial (perfilhamento): re-tarda a germinação e o perfilhamen-to. É uma fase crítica;

b) vegetativo (alongamento do caule)

e início da formação da colheita:

ocorre redução na taxa de alonga-mento da cana;

c) déficit hídrico severo durante a

última parte de formação da co-

lheita: força o amadurecimento;

d) maturação: nesta fase é necessárioum teor baixo de água no solo. Entre-tanto, se o déficit for severo, a perdado teor de açúcar pode ser maior quea própria formação, trazendo pre-juízos à qualidade do produto.

A freqüência de irrigação também podeser trabalhada de forma que favoreça odesenvolvimento e a qualidade da cana-de-açúcar, nos diferentes estádios de de-senvolvimento, como a seguir:

a) estabelecimento: irrigações leves efreqüentes;

b) vegetativo inicial: o perfilhamento édiretamente proporcional à freqüên-cia de irrigação. As irrigações devemser mais freqüentes;

c) alongamento do caule e início de

formação da colheita: o intervalopode ser ampliado. Porém, o consu-mo de água nesse período é maiorque o anterior, em razão da maior área

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foliar e, por isso, a lâmina deve seraumentada;

d) maturação: nessa fase os intervalosde irrigação devem ser ampliados oua irrigação deve ser suspensa, paraque a cultura atinja a maturação coma máxima concentração de sacarose.

A cana-de-açúcar é moderadamentesensível à salinidade. A diminuição de ren-dimento da cultura em relação à conduti-vidade elétrica do extrato de saturação dosolo (CEes), para valores de 1,7; 3,3; 6,0;10,4 e 18,6 dS/m é, respectivamente, de 0%,10%, 25%, 50% e 100%.

MANEJO DA IRRIGAÇÃO

Nas mais variadas condições de cultivoda cana-de-açúcar (variedade, clima, solo,etc.), o consumo diário de água está entre2 e 6 mm/dia. Na região Norte de Minas Ge-rais, nos anos de 2005/2006, a lâmina totalnesse período foi de 1.213 mm (chuva +

irrigação), sendo a evapotranspiração totalda cultura de 587 mm e uma lâmina aplicadade 701 mm, correspondendo a uma médiade 3,6 mm/dia, com produtividade médiada cana-planta acima de 100 t/ha.

Basicamente, os métodos de manejo deirrigação consistem em manter a plantaexposta a uma determinada quantidade deágua no solo necessária para suas ativida-des fisiológicas. O controle dessa quan-tidade pode ser feito com base no balançode água no solo, pelo monitoramento daumidade do solo na zona explorada pelasraízes das plantas, usando, por exemplo, otensiômetro; pelo método do turno de re-ga fixo; pelo balanço hídrico climatológico.A escolha do critério a ser seguido vai de-pender principalmente da disponibilidadede informações relacionadas com o sistemasolo-água-planta-clima, de equipamentospara medições, e também do grau de conhe-cimento do irrigante.

As preocupações da maioria dos irri-gantes são os questionamentos de quan-do e quanto irrigar. Saber o momento certode iniciar as irrigações e quanto de água

aplicar é um dos objetivos do manejo ra-cional da irrigação. Nos dias atuais, tem-severificado não somente uma elevação doscustos da energia, mas também a escassezdo recurso água, o que obriga o irrigante aassumir posturas diferenciadas acerca des-se assunto. Portanto, o manejo racionalda irrigação passa necessariamente pelosaspectos econômicos envolvidos no pro-cesso. Outro componente importante é quetanto o excesso, quanto a falta de água po-dem ter reflexos expressivos na produti-vidade da cultura. Daí surge a necessidadede conhecer a fisiologia da cultura e saberquais os períodos críticos de consumo deágua e seus reflexos na produtividade. Por-tanto, o manejo da irrigação requer a inte-ração de diversos conhecimentos.

A quantidade de água do solo que podeser consumida, sem prejuízo ao desenvol-vimento da cultura, está ligada à demandaclimática da atmosfera, e ao estádio de de-senvolvimento da cultura (idade da plan-ta). Como referência têm-se, no Quadro 1,os valores do fator (f) de disponibilidadede água do solo. Este fator representa afração da água disponível no solo que podeser consumida sem prejuízo à produção.

Como a cultura da cana-de-açúcar pos-sui pequena profundidade de sistema ra-dicular, o que resulta em baixa disponibi-lidade de água para planta, considerandotodo perfil de solo explorado, a redução daágua permitida não poderá ser muito gran-de, sendo de até 70%, quando a deman-da atmosférica for pequena (< 4 mm). Emregiões com elevada demanda atmosférica(ETo > 6 mm/dia), há necessidade de traba-lhar com valores inferiores de f, o que levaa adotar irrigações mais freqüentes. O mes-

mo ocorrerá com solos que possuem baixacapacidade de armazenamento de água(solos de textura arenosa). De forma geral,em regiões com demanda atmosférica de7 mm/dia, a freqüência das irrigações variade três a cinco dias, em solos arenosos, ede seis a dez dias em solos argilosos comalta capacidade de armazenamento de água.

Considerando a água disponível totaldo perfil do solo (AD – mm), a determina-ção do consumo máximo de água permitidopara a cultura (FAD – mm) entre dois ciclosde irrigação, sem que ela sofra com déficithídrico e produza potencialmente, é deter-minada com a curva de retenção de águado solo representativa da área ou glebaplantada. Essa curva é o parâmetro básicopara qualquer projeto de irrigação e deveser obtida de amostras de solo retiradas nazona de exploração radicular (até 0,40 m),nas condições preparadas para cultivo.

As amostras de solo deverão ser enca-minhadas para o laboratório de física dosolo, onde se determina a relação entreumidade do solo (θ – cm3/cm3 ou g/g) e po-tencial matricial (Ψm – kPa). A partir dasinformações do teor de água na capaci-dade de campo (θCC) e do teor de água noponto de murcha permanente (θPMP) obtêm-se o teor de água crítico (θct) e o valorcorrespondente de potencial matricialcrítico (Ψmc – kPa), considerando o valorde f recomendado para a cultura (Gráfi-co 1). Sendo FAD = f (θCC

– θPMP).O manejo da irrigação com base na ten-

são da água retida no solo também utiliza acurva apresentada no Gráfico 1. O teor deágua no solo é estimado a partir da tensãocom que a água está retida no solo, medidapor equipamentos como o tensiômetro,

FONTE: Doorenbos e Kassam (1994).

F 0,85 0,80 0,70 0,60 0,55 0,50 0,45

QUADRO 1 - Porcentagem de água do solo que pode ser consumida pela cultura em função da

evapotranspiração de referência máxima da região

EToMax

(mm/dia)2 3 4 5 6 7 8

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blocos de gesso e outros. A partir do va-lor da tensão medida, utiliza-se o Gráfico 1para obter o teor de água no solo. A quan-tidade de água a ser reposta será a dife-rença entre o teor de água na capacidadede campo e o teor de água atual.

De acordo com o Programa Nacionalde Melhoramento da Cana-de-açúcar (Pla-nalsucar) (INSTITUTO DO AÇÚCAR EDO ÁLCOOL, 1986), os valores de tensãode água no solo devem estar entre 100 e250 kPa, sendo que valores de potenciaisde -50 kPa promovem redução na produção.

Outra forma de realizar o manejo da irri-gação é com base em informações climá-ticas, a fim de determinar a evapotranspira-ção da cultura. Assim, a evapotranspiraçãode referência (ETo) é parâmetro básico paraestimativa da evapotranspiração da cultura(ETc). Este parâmetro deve ser determina-do diariamente pelo irrigante, que poderáestimar a demanda de água diária pela cul-tura (mm).

A determinação da ETo pode ser reali-zada por muitos métodos climatológicos deestimativa como o de Thornthwaite; o deCamargo; o de Hargreaves e Samani; o de

tanque classe A; o de Penman-Monteith eo de Priestley-Taylor.

A escolha do método de estimativa de-verá ser com base na disponibilidade deelementos meteorológicos disponíveis(estação meteorológica automática, tanqueclasse A, termômetros de máxima e de mí-nima); escala requerida; melhor método deestimativa para região trabalhada, conside-rando as características climáticas.

O método de Priestley-Taylor exigeduas variáveis meteorológicas (radiaçãolíquida e temperatura do ar). O método dotanque classe A exige três (incluindo a pró-pria evaporação do tanque). Dois outrosaspectos devem ser considerados: méto-dos que usam somente uma variável, co-mo os de Thornthwaite, de Camargo e deHargreaves e Samani, apresentam melho-res estimativas para períodos mais longos(semanas, mês), enquanto que um métodoanalítico como o de Peman-Monteith po-de ser empregado em escala diária ou, comos cuidados recomendados, até em escalahorária. Finalmente, métodos empíricos,como os que se baseiam na temperaturado ar (o de Thornthwaite; o de Camargo;

o de Hargreaves e Samani), geram melhorestimativa para climas iguais ou próximosàqueles em que foram obtidos, como o deThornthwaite e o de Camargo, que apresen-tam melhores estimativas em climas úmi-dos. Já o de Hargreaves e Samani apresentadesempenho melhor em clima Semi-Árido(PEREIRA et al., 2006).

Nesse caso, uma vez determinada a ETo,calcula-se a evapotranspiração da cultura(ETc), multiplicando-se ETo pelo coeficien-te de cultivo (Kc) (Quadro 2). A ETc cor-responde à reposição real de água a serusada pelas plantas. Para isso, é necessárioaplicar uma quantidade de água, que deixeno meio poroso do solo água disponívelàs raízes, equivalente à ETc. A lâmina bruta(Lb) de água a ser aplicada será então:

em que Ea é a eficiência de aplicação deágua pelo sistema (avaliação a ser feita nocampo).

Para os diferentes períodos de desen-volvimento da cana-de-açúcar, são suge-ridos, no Quadro 2, coeficientes de cultivo(Kc), utilizados para estimativa do consu-mo de água pela cultura. Como a neces-sidade hídrica da cultura é afetada pelodesenvolvimento da planta, que varia emdiferentes condições edafoclimáticas, é re-comendado que os valores sugeridos, nosdiferentes estádios de desenvolvimento,sejam verificados em ensaios regionais.

MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO

A cana-de-açúcar pode ser irrigada porqualquer sistema de irrigação: superfície,aspersão ou localizada. Não existe um sis-tema mais indicado e sim vantagens e des-vantagens, as quais precisam ser supera-das. Para cada situação deverá existir umsistema adequado.

Em virtude da preocupação, em nívelmundial, com a questão do gerenciamen-to, conservação e economia dos recursoshídricos, tem sido recomendado, para agrande maioria das culturas, o uso de sis-temas de irrigação pressurizada. Dentre

Gráfico 1 - Curva de retenção de água do solo, água disponível do solo (AD), teor de

água crítico (θct) e potencial matricial crítico (Ψmc)

Lb =ETcEa

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estes, destaca-se o sistema localizado, tan-to para novas áreas, quanto para a substi-tuição dos de superfície e de aspersão, porser mais eficiente na aplicação de água ede fertilizantes (fertirrigação), nas mais di-versas condições ambientais (NOGUEIRAet al., 1998).

A escolha do sistema de irrigação deveter como base a análise de fatores comotipo de solo, clima, topografia, custo dosistema, uso de mão-de-obra e energia,incidência de pragas e doenças, quantida-de e qualidade de água disponível.

O sistema de irrigação superficial maisadotado é o de sulcos (Fig. 1), onde, depen-dendo da distribuição radial da água, oespaçamento entre os sulcos permite irri-gar duas linhas de plantas por vez. De modogeral, esse sistema de irrigação é adotadoem solos de textura areno-argilosa, argilosae muito argilosa, como os Argilossolos,Cambissolos e Vertissolos. Esse sistema,por conduzir a água sobre a superfície dosolo, tem maior consumo que os sistemaspressurizados, nos quais a água é condu-zida em tubos.

Do plantio até 25% de cobertura do solo 30-60 0,40-0,60

De 25% a 50% de cobertura 30-40 0,75-0,85

De 50% a 75% de cobertura 15-25 0,90-1,00

De 75% à cobertura completa do solo 45-55 1,00-1,20

Utilização máxima 180-330 1,05-1,30

Início da senescência 30-150 0,80-1,05

Maturação 30-60 0,60-0,75

QUADRO 2 - Valores do coeficiente de cultivo (Kc) em função dos estádios de desenvolvimento

da cana-de-açúcar

Kc

FONTE: Doorenbos e Kassam (1994).

Período de desenvolvimento Dia

Figura 1 - Método de irrigação por sulcos

No sistema de irrigação por aspersãoos métodos mais utilizados são o pivôcentral (Fig. 2), a aspersão convencional eo autopropelido (Fig. 3). Esses métodoscaracterizam-se por aplicar água sobre acopa da cultura simulando uma chuva.

A irrigação localizada destaca-se comoum dos sistemas de maior sintonia com anova lei de Recursos Hídricos, pois utilizaa água com maior eficiência, permitindo ummelhor controle da lâmina aplicada. Suaeconomia caracteriza-se pela significativaredução das perdas por evaporação, per-colação e escoamento superficial. A águaaplicada diretamente sob a copa das plantasreduz as perdas e propicia eficiência de,aproximadamente, 90%, representando umuso mais racional (COSTA et al., 1994).Outras vantagens são a possibilidade deaplicar nutrientes via água de irrigaçãojunto à planta, onde há maior concentraçãodas raízes; o baixo consumo de energia(relação cv/ha menor) e não provocar umi-dade excessiva na parte aérea, o que reduza incidência de doenças. Como desvanta-gens, apresentam-se a necessidade de umbom sistema de filtragem, o custo inicialalto por tratar-se de um sistema fixo e a ne-cessidade de mão-de-obra especializada.

Dentre os métodos da irrigação locali-zada, tem-se utilizado o gotejamento sub-superficial (enterrado), que tem como carac-terísticas importantes a aplicação de águaabaixo da superfície do solo, reduzindoperdas de água por evaporação, na regiãode maior concentração das raízes (0,40 m),além de proporcionar economia de água ede energia (Fig. 4).

Quando se usa o método de irrigaçãopor gotejamento subsuperficial, pode-seutilizar uma linha lateral para cada linha deplantio com gotejadores espaçados demodo que haja uma sobreposição do bulboúmido na linha, formando uma faixa úmidaao longo da linha de plantio. Quando seadotam espaçamentos duplos, as configu-rações mais utilizadas são: A (m) – 1,20;1,30 ou 1,40 por B (m) – 0,30; 0,40 ou 0,60,respectivamente, de acordo com o esquemamostrado na Figura 5.

Édio

Lui

z da C

ost

a

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Figura 3 - Método de irrigação por autopropelido Figura 4 - Método de irrigação por gotejamento

Figura 2 - Método de irrigação por pivô central

Édio

Lui

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Édio

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62 Cana-de-açúcar

De acordo com Pizarro (1986), os sis-temas de irrigação localizada de alta fre-qüência são indicados para ser operadosautomaticamente, pois são constituídospor redes de tubulações fixas, operadoscom baixas vazões. Suas subunidades derega são relativamente grandes, não sofreminfluência de fatores ambientais, como ovento, e não interferem na maioria dos tra-tos culturais.

Contudo, independente do método ousistema de irrigação utilizado, cuidadosdevem ser tomados para não permitir queas plantas sejam submetidas a estressehídrico e nem a excesso de umidade. O teorde água do solo deve ser mantido próximoda capacidade máxima de água disponível.

Após instalado o projeto de irrigação,é necessário verificar se as condições pre-

vistas inicialmente se confirmam em campo.Para tanto, é necessário fazer uma avaliaçãoem que se levantam as condições de pres-são, vazão e lâminas aplicadas nas condi-ções de campo. Em relação à lâmina de águaaplicada, o Coeficiente de Uniformidade deChristiansen (CUC) ou então o Coeficien-te de Uniformidade de Distribuição (CUD)são os índices mais utilizados para verificarcomo está a distribuição de água na áreairrigada.

A estimativa do custo do sistema deirrigação, na cultura da cana-de-açúcar, de-pende de fatores como variedade (em espe-cial a altura da planta), topografia, métodode irrigação, nível de automação utilizadoe tipo de solo.

No Quadro 3, observa-se o custo de di-ferentes sistemas de irrigação levantados

por Soares et al. (2003), na região de Juazei-ro, BA, onde consideram custo de implan-tação, produtividade e eficiência de usode água (produção (kg) por consumo deágua (m3)).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática da irrigação deve ser enten-dida não somente como um seguro contrasecas ou veranicos, mas como uma tecno-logia que pode dar condições para que acultura expresse todo o seu potencial pro-dutivo. Além disso, se bem utilizada, airrigação é um instrumento muito eficaz noaumento da rentabilidade dos empreendi-mentos, permitindo a racionalização dosinsumos, por exemplo, por meio da fertirri-gação.

No entanto, para que o processo sejaeficiente, é imperativo que o sistema deirrigação tenha uma alta uniformidade deaplicação da água, isto conseguido combons projetos, feitos a partir de materiaisde qualidade, obtidos em empresas idônease com cálculos hidráulicos precisos.

A escolha correta do sistema de irriga-ção e o suprimento de água às plantas nomomento oportuno e na quantidade ade-quada, aliados a boas práticas de geren-ciamento, são aspectos decisivos para osucesso da cultura.

FONTE: Soares et al. (2003).

(1) US$ = R$ 2,90.

(1) Custo de implantação (R$/ha) 450,00 1.513,00 5.870,00 6.243,00

Produtividade (t/ha) 98 98 130 116

Eficiência de uso de água (kg/m3) 4,9 4,9 7,15 7,13

QUADRO 3 - Custo dos sistemas de irrigação considerando custo de implantação, produtividade e

eficiência de uso de água

GotejamentoItemSulco com

canal

Sulco com

tubo janelado

Pivô

central

REFERÊNCIAS

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Figura 5 - Esquema de montagem do método de irrigação por gotejamento subsuperficial

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Paul

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63Cana-de-açúcar

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1Zootecnista, Especialista Gestão Agrícola no Setor Sucroalcooleiro, Gerente Agrícola da Usina WD Ltda., CEP 38770-000 João Pinheiro-MG.

Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - Dentre as etapas do cultivo da cana-de-açúcar a colheita é a que mais exigecuidados especiais de planejamento e execução, pois a rentabilidade pode variar muitoem função da sua condução. A principal meta da colheita é entregar à unidade indus-trial uma matéria-prima de melhor qualidade e com menor custo, além de manter asmelhores condições de desenvolvimento e produção dos próximos ciclos da cultura.Podendo ser manual ou mecânica, crua ou queimada, para indústria ou mudas, com osprós e contras, cabe a cada unidade de produção escolher o processo mais viável decolheita, que atenda às suas necessidades e também às exigências ambientais do setor.O uso de inibidores de floração e o de maturadores são técnicas para melhorar a qualidadeda matéria-prima e fazem parte do planejamento estratégico da colheita. Colhedorasmodernas, de alta performance, carregadoras e transbordos estão no mercado para atenderà crescente necessidade de mecanização, devido à expansão acelerada do setor nosúltimos anos.

Palavras-chave: Colheita manual. Colheita mecânica. Maturador. Inibidor de floração.

INTRODUÇÃO

O planejamento da colheita é uma ati-vidade determinante, para obter bons re-sultados no processo industrial, uma vezque a qualidade da matéria-prima é a chavepara que isto aconteça.

O momento ideal para iniciar a colhei-ta da cana-de-açúcar é quando a plantaencontra-se com a maior concentração deaçúcares (sacarose, glicose e frutose). Estemomento depende de diversos fatores, taiscomo: região de cultivo, condições climá-ticas, idade da cultura, variedade, tipo desolo, pragas e doenças.

A colheita pode ser manual ou mecâ-nica, de cana crua ou queimada, porém,todos os procedimentos adotados durantea operação devem proporcionar condiçõesde obter a melhor qualidade da matéria-prima.

Colheita da cana-de-açúcar

Gilson Gonçalves Xavier1

Pode-se lançar mão de artifícios capa-zes de ajudar na maturação da cana-de-açúcar, tais como inibidores de floresci-mento e maturadores.

O gerenciamento da maturação é reali-zado por meio de pré-análises, feitas noslaboratórios das próprias indústrias, as quaisdeterminam valores que indicam o momen-to ideal para a realização da colheita (Qua-dro 1).

COLHEITA

Colheita manual

Para a colheita manual, realiza-se a quei-mada do canavial, a fim de promover a eli-minação das palhas, conseqüentementeaumentar o rendimento de corte, e elimina-ção de palhiços na matéria-prima.

As desvantagens da queima devem-sea poluição, perdas de açúcares pela exsu-

dação, tempo limitado para corte/moagem,perdas de matéria orgânica e umidade nosolo e maior presença de plantas daninhas.

O corte manual de cana crua para moa-gem é inviável em conseqüência do baixorendimento obtido, do alto custo operacio-nal e dos problemas industriais causadospelo excesso de palha durante o preparoda matéria-prima.

A prática da queima é realizada comautorização e licença do órgão ambiental,que, no caso de Minas Gerais, é o InstitutoEstadual de Florestas (IEF). Esta licença éconcedida mediante situação de regulari-dade com as normas estabelecidas para acultura e controlada com equipes treinadase equipadas para tal finalidade.

O rendimento do corte manual muda emfunção da variedade, idade de corte, canaem pé ou deitada, topografia do terreno,

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65Cana-de-açúcar

cana crua ou queimada, esteirada ou emmontes, com desponte ou sem desponte,bem como em função das condições climá-ticas.

Em média, considera-se, no corte de ca-na crua para mudas, o rendimento em tornode 3 a 4 toneladas/homem/dia e em canaqueimada para indústria, média de 7 a 10toneladas/homem/dia.

O tipo de corte varia em função das ne-cessidades de cada unidade industrial, sen-do a remuneração dos cortadores por tone-lada cortada.

O corte é efetuado em eitos de cincolinhas para espaçamentos entre 1,3 e 1,5 mou quatro linhas para espaçamento de 1,7a 1,8 m. Em nível de campo, para que o cor-tador no fim de sua jornada saiba quantoserá remunerado, transformam-se as tone-ladas em metros cortados por eito, apósavaliação do rendimento da produtividadedo talhão.

Durante o corte, a cana pode ser depo-sitada no solo na forma esteirada ou emmontes distanciados de 2 metros um dooutro, com ou sem desponte, de modo quese obtenham rendimento de carregamentoe melhor eliminação de terra (Fig. 1).

A etapa seguinte ao corte, o carrega-mento, tem que ser realizado com precisãopara minimizar a contaminação mineral,vegetal e perdas durante a operação e otransporte até a indústria.

O carregamento é realizado com carre-gadoras mecânicas convencionais monta-das em tratores, para terrenos com declivede até 12%, também denominadas guinchos(Santal, Motocana, etc.) e autopropelidas(Implanor, Bell), utilizadas em terrenos comdeclive superior a 12%, comumente usadasem Pernambuco e Alagoas.

O rendimento efetivo de carregamentodepende da topografia do terreno, dispo-sição da cana no solo após o corte, capaci-

dade do operador, sincronismo com o ca-minhão, programação de abastecimento emanutenção, fatores estes que também de-terminam a qualidade da matéria-prima eperdas no carregamento. O rendimento mé-dio de uma carregadora gira em torno de 30a 40 t/h.

Após a operação de carregamento, faz-se a catação de bitucas, ou seja, canas intei-ras e/ou pedaços que caem durante o carre-gamento que, após serem amontoadas, sãoenviadas à indústria. Esta operação deveser realizada dentro do menor tempo pos-sível para evitar deterioração na qualidade.

Todo esse trabalho é denominado Cor-te, Carregamento e Transporte (CCT) e,quanto menor seu valor, mais rentabilidadeproporciona ao produtor.

Colheita mecânica

A colheita mecânica pode ser realiza-da com cana crua ou queimada, utilizando-se transbordos ou diretamente nos cami-nhões.

A colheita mecanizada de cana-de-açúcar é uma realidade e está cada vezmais desenvolvida em conseqüência dostrabalhos de pesquisa e desenvolvimentoque integram rendimento das máquinascom qualidade de corte, visando tambémprodutividade agrícola e longevidade doscanaviais.

O momento que o setor está passandoé determinante para este crescimento, umavez que a expansão dos canaviais está alémda mão-de-obra necessária para atender taldemanda e da necessidade de cumprir nor-mas ambientais em vigor, que proíbem e/oulimitam a queima em determinadas regiõese, muito em breve, em todo o País.

A qualidade da matéria-prima cortadamecanicamente é superior, quando o corteé em cana crua, porém, em todo o processode colheita tem que seguir procedimentoscorretos para que isto aconteça.

As desvantagens da colheita de canacrua são: maior aparecimento de pragas,principalmente da cigarrinha-das-raízes,risco de incêndio nas palhadas e dificul-dade de brotação de algumas variedades.

POL > 14

Pureza (POL/Brix) > 85%

ART (sacarose, glicose, frutose) > 15% ( maior possível )

AR (glicose, frutose) < 0,8%

Fibra 11 a 13%

Tempo de queima/corte < 35 horas para cana com corte manual

Terra na cana (minerais) < 5 kg/t cana

Contaminação da cana < 5,0 x 105 bastonetes/mL no caldo

Teor de álcool no caldo da cana < 0,06% ou 0,4%Brix

Acidez sulfúrica < 0,80

Dextrana < 500 ppm/Brix

Amido na cana < 500 ppm/Brix

Broca na cana < 1,0%

Índice de Honig-Bogstra > 0,25

Palhiço na cana < 5%

Ácido aconítico < 1500 ppm/Brix

QUADRO 1 - Indicadores da qualidade da cana-de-açúcar e valores recomendados pela Fermentec(1)

Valor recomendado

NOTA: POL – Porcentagem de sacarose aparente contida no caldo de cana; ART – Açúcares

redutores totais; AR – Açúcares redutores.

(1) Empresa de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em tecnologia industrial do setor sucro-

alcooleiro, localizada em Piracicaba-SP.

Indicador

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66 Cana-de-açúcar

Como vantagens destacam-se: maiorteor de matéria orgânica, menor compac-tação do solo, maior retenção de umidade,menor aparecimento de plantas daninhas,condições de desenvolvimento de inimigosnaturais, etc.

Dentre vários itens observados duran-te os trabalhos de seleção varietal está ocomportamento da variedade em relação àcolheita mecânica (brota de soqueira e lon-gevidade).

O rendimento operacional está em fun-ção de um planejamento prévio de espaça-mento, dimensionamento de talhões, siste-matização de solo, variedades apropriadas,velocidade adequada de trabalho e mano-bras corretas e precisas, sincronismo como caminhão e/ou transbordo, além da boamanutenção das colhedoras.

Quanto ao espaçamento de plantio paraa colheita mecânica, existem varias opçõesque são defendidas pelos usuários, poréma finalidade é sempre evitar o pisoteio, queé o grande responsável pela diminuição

do estande, e a conseqüente queda de pro-dutividade nas safras seguintes.

De modo geral, os principais espaça-mentos utilizados são sulcos simples, de1,4 e 1,5 m entrelinhas, ou o espaçamentoduplo ou combinado (“W” ou abacaxi), queconsiste no plantio de duas linhas duplas

paralelas espaçadas de 40 a 50 cm e dis-tantes 1,3 m uma da outra, totalizando 1,7 a1,8 m entrelinhas (Fig. 2).

Atualmente, existem no mercado váriasmarcas de colhedoras modernas (Cameco,Santal, Case ) e com desempenho cada vezmais satisfatório com relação à altura e

Figura 1 - Cana queimada, com corte manual

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Figura 2 - Principais espaçamentos de plantio para colheita mecânica

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67Cana-de-açúcar

Figura 3 - Cana crua com corte mecânico

Gilso

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qualidade do corte, desponte e limpeza deimpurezas vegetais e minerais e rendimentooperacional.

De acordo com a necessidade, pode-seoptar por máquina de pneu ou esteira, sen-do que esta última promove menos com-pactação do solo e possibilita a colheitaem terrenos mais acidentados, porém sualocomoção a distâncias maiores necessitade transporte em pranchas.

Em cana queimada, o rendimento decolheita é de 12% a 15% superior à canacrua, devido ao melhor processamento cor-te/limpeza e melhor visualização do opera-dor para execução de manobras.

O rendimento efetivo de colheita va-ria de 700 a 800 t/cana/dia por colhedora,dependendo das condições mencionadasanteriormente, em período de vinte e quatrohoras.

Algumas colhedoras estão sendo uti-lizadas para corte de mudas, mas para issoé necessário fazer certas modificações quetêm a finalidade de minimizar os impactosdas gemas nas paredes da máquina duran-te o processo de colheita. Neste tipo de

operação, os toletes (mudas) são transpor-tados por transbordos direto para as plan-tadoras mecânicas.

Com a busca de longevidade e produ-tividade dos canaviais, a colheita mecânicatem que ser trabalhada com sabedoria einteração de todos os fatores que contri-buem positivamente para a meta proposta.

Algumas variedades, que são ricas eprodutivas, porém apresentam dificuldadede brotação na soqueira com corte mecâ-nico, têm que ser manejadas apenas nascondições propícias, ou seja, com o uso deirrigação pós-corte, cortadas manualmenteou até substituídas na reforma.

Outra medida favorável é adotar o cortemecanizado a partir do segundo corte, poisas touceiras estarão mais estabilizadas e osolo mais nivelado.

O conhecimento do comportamentovarietal em relação à colheitabilidade éimportante para o planejamento, princi-palmente, quando a meta é colher 100%com máquina.

O uso de caminhões acompanhando ascolhedoras é comum, no entanto não é o

correto, pois seu peso é elevado e, após o

carregamento, o caminhão sempre terá que

passar sobre a soqueira até o próximo

carreador. Apesar disso, com o transbordo

(trator/carreta) a compactação é bem me-

nor, pois o trator possui pneus grandes e

largos e o transbordo, pneu de alta flutua-

ção, dimensionados para carga de 4 a 12

toneladas.

Na verdade, para adotar a colheita me-

cânica com sucesso, tem que haver bom

planejamento de implantação da lavou-

ra e principalmente associar colhedoras

com transbordos. Isto é fato já em diversas

unidades produtoras, cujos resultados

mostram os benefícios dos investimentos

(Fig. 3 e 4).

MATURADORES

Os maturadores são substâncias quí-

micas que interferem nos processos fisio-

lógicos e bioquímicos da planta, alterando

seu ciclo normal e promovendo a matu-

ração, quando aplicado na época correta

para esta finalidade.

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68 Cana-de-açúcar

A ação destas substâncias promove ga-nhos variáveis de acordo com as varieda-des e época de aplicação, num períodocompreendido em média de 30 a 60 diasapós a aplicação, dependendo também doproduto utilizado.

O uso de maturadores tem a finalidadede antecipar ou proporcionar mais rique-za no início de safra e também de manter oteor de sacarose no seu final.

Os produtos mais comumente utilizadossão o Ethrel (0,67 L/ha), Moddus (0,8 L/ha)e Curavial (20 g/ha).

A aplicação é aérea, utilizando-se de30 a 40 L/ha obedecendo a critérios técni-cos de uso, recomendados para cada pro-duto, principalmente com relação ao pH daágua.

É importante deixar as testemunhas pa-ra verificar a eficiência da aplicação e real-mente poder quantificar os ganhos.

INIBIDORES DE FLORESCIMENTO

O florescimento de determinadas varie-dades de cana-de-açúcar significa perda de

sacarose e também de peso, em conseqüên-

cia da sua isoporização.

A característica de florescimento é tra-

balhada no melhoramento varietal, porém

não é fator determinante de exclusão, desde

que a variedade seja rica e produtiva, pois

pode ser trabalhada com o uso de inibido-

res de florescimento.

Em geral a indução floral ocorre no pe-

ríodo compreendido entre o início de feve-

reiro e meados de março, em função das

variedades e condições climáticas (tempe-

ratura e umidade), as quais variam de acor-

do com a região e de ano a ano.

Os inibidores de florescimento são subs-

tâncias químicas que, quando aplicadas no

período propício à indução floral, promo-

vem sua inibição.

A expansão de canaviais em diferentes

regiões antes não utilizadas com a cultura

tem mostrado variedades com intenso flo-

rescimento, o que está sendo motivo de

pesquisas para melhor conhecer e poder

trabalhar com os inibidores com maior se-

gurança e eficácia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Independente do sistema de colheita aser utilizado, todos têm a mesma finalidade,ou seja, procuram atender à indústria coma matéria-prima de melhor qualidade.

As melhores técnicas, máquinas e pro-dutos disponíveis para este objetivo exis-tem e estão sendo cada vez mais pesquisa-dos, visando cada dia o aperfeiçoamentopara a complementação da mão-de-obra dacolheita da cana-de-açúcar.

Vale lembrar que a remuneração da canaé em função do açúcar total recuperado(ATR), que está diretamente relacionadocom a qualidade da matéria-prima, a qualdeve ser fresca, livre de impurezas mineraise vegetais, pragas e doenças e colhida nopico de riqueza de sacarose.

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Figura 4 - Cana queimada, sendo realizado corte mecânico

Gilso

n G

onçalv

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Xavie

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1Engo Químico, Consultor Técnico, JB Consultoria Açúcar e Álcool Ltda., R. Dona Luiza, 521 - Centro, CEP 38700-164 Patos de Minas-MG.

Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - No início da colheita, define-se qual o canavial está com maior índice de ma-turação e faz-se o corte. Em seguida, a cana é transportada para a unidade industrial,onde é feita a pesagem e a identificação. O descarregamento é realizado direto na mesaalimentadora que, por sua vez, alimenta a esteira de cana. A cana é picada, desfibrada econduzida ao sistema de extração que pode ser por esmagamento (moendas) ou difusor.Nesta fase, obtém-se o caldo que pode ser processado tanto para produção de açúcar,quanto para álcool. O bagaço servirá como combustível para as caldeiras na produçãode vapor, que acionará equipamentos diversos, como: gerador de energia, moendas.Na produção de açúcar, o caldo passa por várias etapas, como sulfitação, calagem,aquecimento, decantação, filtração, evaporação, flotação, cozimento, centrifugação,secagem e armazenamento e, na produção de álcool, segue as etapas de preparo demosto, fermentação, centrifugação, pré-fermentação, destilação e armazenamento.

Palavras-chave: Processo industrial. Produção de açúcar. Produção de álcool.

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa dar uma noção do

processo de industrialização da cana-de-

açúcar para produção de açúcar e álcool.

As etapas desse processo basearam-se em

procedimentos de uso geral, lembrando que

algumas unidades industriais possuem

tecnologias diferenciadas para obtenção

inclusive de outros produtos como leve-

dura seca, bagaço hidrolisado, álcool fino,

neutro e outros.

MATÉRIA-PRIMA

Cana-de-açúcar

Originária do sudeste da Ásia, a cana-de-açúcar ao longo de sua existência pas-sou por profundos trabalhos de melhora-mentos, que persistem até os dias atuais.Segue no Quadro 1, a composição quími-ca média encontrada nas canas processa-das.

Industrialização da cana-de-açúcar

Mário Barreto Júnior1

Maturação

Antes que ocorra o corte de cana, sãorealizadas análises de avaliação, para ave-riguar seu índice de maturação satisfatóriopara a colheita. As amostras são coletadas

de forma que representem o talhão, ou seja,a coleta é feita em vários pontos, tendoque, obrigatoriamente, cobrir as extremida-des e a área central do talhão. As amostrassão levadas ao laboratório, onde são pro-cessadas as análises. De acordo com o con-trole varietal, é possível fazer uma préviaavaliação dos talhões a serem amostrados,para evitar um número muito grande deamostras no laboratório. Tal procedimentose dá, uma vez que as variedades são clas-sificadas como precoce, média e tardia.

Colheita

Uma vez definido o talhão, processa-se o corte. Este poderá ser feito de duasmaneiras: manual ou mecanizado. Manual-mente faz-se por meio do trabalho braçal etem como prática normal a queima da ca-na, a qual será extinta num futuro próximo.E mecanizada, por meio de máquinas colhe-doras (Fig. 1), que, em uma única operação,

Água 65 a 75

Fibra 8 a 18

Açúcares ( ART ) 12 a 20

Sacarose 10 a 18

Glicose 0,20 a 1,30

Frutose 0,00 a 0,70

ATR 110 a 160 kg/t

QUADRO 1 - Composição química da cana-de-

açúcar

NOTA: ART - Açúcares redutores totais;

ATR - Açúcar teórico recuperável.

ComponenteVariação

(%)

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71Cana-de-açúcar

faz o corte e o carregamento dos cami-nhões, com a vantagem de não necessitarpromover a queima, o que traz inúmerasvantagens ao meio ambiente e ao própriocanavial.

RECEPÇÃO DA CANA

Pesagem

A pesagem é feita em balança rodoviá-ria, geralmente com capacidade de 120 t eplataforma com 36 m de comprimento por3,20 m de largura. Nesta etapa, além dapesagem, os caminhões são identificadoscom informações vindas do campo, como:identificação do talhão, a variedade, o car-regamento, o transportador, as horas dequeima, as colhedoras e outras.

Descarregamento

No geral, descarrega-se com guinchoHyllo, tombador lateral ou ponte rolante.Nesta fase, a cana é depositada direto namesa alimentadora ou no depósito de cana.

PREPARO E ALIMENTAÇÃO

DE CANA

Mesa alimentadora

Este equipamento possibilita dosara alimentação de cana na esteira, além de

fazer com que passe por um processo delavagem para remoção de impurezas mi-nerais. Isso ocorre com a cana inteira, oriun-da do corte manual. O equipamento é do-tado de correntes, tracionadas por um eixocom engrenagens e acionado por motor eredutor com sistema de variação de veloci-dade, a fim de permitir dosar a quantidadede cana a ser moída.

Esteira de cana

Também chamada de esteirão de cana,tem como finalidade conduzir a cana pelopicador e desfibrador até a esteira rápida.O controle desta é feito com a variação davelocidade de acordo com a necessidadede alimentação das moendas e do sistemade proteção de sobrecarga no acionamen-to. Atua sobre este comando um controla-dor automático tipo – controlador lógicoprogramável (PLC) – que, por meio de sen-sores adaptados no chute Donely (caixametálica instalada sobre a entrada de canana moenda), determina a velocidade da ali-mentação.

Picador de cana

Composto de um eixo apoiado sobremancais de rolamento e suporte para fixaçãodas facas, é normalmente acionado porturbina a vapor ou motor elétrico. Tem comofinalidade iniciar o preparo, picando a cana.

Desfibrador de cana

Também composto por um eixo apoia-do sobre mancais de rolamento e suportepara fixação dos martelos oscilantes, roloalimentador e placa desfibradora (Fig. 2).A cana já picada alimenta o desfibrador pormeio do rolo alimentador, que, por sua vez,

Figura 1 - Colhedora de cana-de-açúcar

Figura 2 - Desfibrador de cana-de-açúcar

Mário B

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Júnio

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72 Cana-de-açúcar

pressiona a cana na placa desfibradora,com o objetivo de abrir as células para fa-cilitar posterior operação de esmagamento.Um bom preparo atinge índices de 83% a85% de células abertas (open cell).

Espalhador de cana

Tem a forma de um eixo, com palhetasem movimento giratório com o propósitode uniformizar a alimentação de cana des-fibrada para esteira rápida.

Esteira rápida

É uma esteira transportadora de bor-racha, que se desloca a uma velocidadeentre 12 e 50 m/min. Com isso, a camada decana desfibrada transportada fica bem bai-xa, o que possibilita melhor desempenhodo eletroímã.

Eletroímã

É um equipamento magnetizado deformato quadrado, que se localiza sobre aesteira rápida em, aproximadamente, 40 cmda superfície da esteira, com a finalidadede reter materiais ferrosos para que nãocheguem às moendas, o que causaria que-bras.

Chute Donelly

É uma espécie de caixa de passagemque guia a cana desfibrada para alimentara moenda. Nele fixam-se os sensores quepermitem o controle da automação.

PROCESSO DE EXTRAÇÃO

DO AÇÚCAR

Atualmente, têm-se duas opções paraextração do açúcar da cana, a moenda e odifusor.

Moenda

A moagem consiste em um processode esmagamento, por meio de rolos com asperfeitas regulagens de aberturas, onde acana desfibrada sofre uma pressão para seextrair o caldo. Um conjunto de moendas(Fig. 3) é geralmente composto por seisternos e cada terno é constituído de umrolo superior, um rolo de pressão (Fig. 4),um rolo de entrada e um rolo de saída.

Figura 4 - Rolos de moenda

Figura 3 - Conjunto de moendas

Difusor

O processo por difusão consiste emextrair o açúcar por meio de uma reação depercolação. Sobre a camada de cana pre-parada, aplica-se uma embebição com águae o próprio caldo da cana (quente). Após apassagem pelo difusor, o bagaço sai muitoúmido, havendo necessidade de secagem,para a queima na caldeira. Nesta operação,usa-se um rolo desaguador e um terno demoenda.

PRODUTOS OBTIDOS

Da cana, após o processo de moagemou difusão, obtêm-se dois produtos: o cal-do de cana e o bagaço.

Bagaço

Resíduo composto de fibra, água eaçúcares. É conduzido por meio de estei-ras até a caldeira, onde é utilizado comocombustível no processo de obtenção devapor.

Mário B

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73Cana-de-açúcar

O bagaço sai do processo de extraçãocom, aproximadamente, 50% de umidade, oque possibilita sua utilização imediata nascaldeiras. O excedente de bagaço é estoca-do em pátio próprio, a fim de ser reaprovei-tado nas partidas da usina e eventuaisparadas para manutenção. Em média, 1 kgde bagaço produz 2,1 kg de vapor, valor estesomente para referência, uma vez que o ren-dimento depende da eficiência da caldeira.

Caldeira

Equipamento composto basicamentede tubos interligados entre o balão de va-por (tubulão de vapor), balão de água/lamae fornalha para queima de bagaço. O bagaçooriundo do processo de extração é con-duzido por esteiras até as bicas de acessoà fornalha, possibilitando dessa forma adosagem da quantidade de bagaço a serqueimado na caldeira. A água introduzidana caldeira por meio de bombeamento cir-cula pelas tubulações internas, aonde ocor-

re uma troca térmica, que gera como con-seqüência a transformação da água emvapor. As caldeiras mais utilizadas atual-mente são as do tipo aquatubular, com pres-sões de trabalho entre 21 e 42 kg/cm2, exis-tindo ainda caldeiras instaladas em usinas,que chegam até a 90 kg/cm2 de pressão.O vapor produzido pelas caldeiras podeser do tipo saturado, com temperatura de216oC ou superaquecido com temperaturade até 440oC. Quanto maior for a pressão ea temperatura, maior será a eficiência dasturbinas a vapor e, conseqüentemente, me-nor será o consumo. É importante ressaltara qualidade da água utilizada neste pro-cesso, levando em conta a necessidade deseu tratamento.

Esse vapor é conduzido por tubulaçõesisoladas termicamente até as turbinas deacionamento de equipamentos como: gera-dor de energia, moendas, picador, desfibra-dor, que, após sua utilização, é conduzi-do ao processo de produção de açúcar e

álcool. O vapor que entra na turbina é cha-mado de vapor direto ou vivo e, quandopassa pelo rotor desta, é chamado de va-por de escape. Este vapor perde a pres-são, quando passa pelo rotor, chegando apressão para 1,5 kg/cm2, que é o utilizadono processo. Esse tipo de equipamentochama-se turbina de contrapressão. Exis-tem outros tipos de turbinas mais efici-entes no mercado, como os de extração econdensação, porém, têm-se restrições deseus usos, em função do processo de pro-dução de açúcar e álcool.

Geração de energia

É importante ressaltar que as usinase destilarias geram sua própria energia ecom potencial para comercializar a energiaexcedente. Como foi dito anteriormente, ovapor produzido pelas caldeiras impul-siona as turbinas que, por sua vez, geramenergia elétrica por meio dos geradores(Fig. 5).

Figura 5 - Gerador de energia

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74 Cana-de-açúcar

Caldo de cana

O caldo de cana é composto de água,açúcares e sólidos. O caldo a ser utilizadono processo contém, aproximadamente, umBrix de 14%, podendo ser destinado paraobtenção de açúcar cristal ou de álcool.

PROCESSO DE FABRICAÇÃO

DE AÇÚCAR

Peneiramento

O caldo passa primeiro por peneirasrotativas; em seguida, sofre uma segundapeneiragem, que pode ser em peneiras está-ticas, vibratórias ou mesmo rotativas.

Sulfitação

Nesta fase da sulfitação é introduzidoenxofre em forma gasosa em equipamen-tos adequados, como multijato ou colunade sulfitação em contracorrente, a fim deprovocar um branqueamento nas molé-culas de sacarose. Em razão disso ocorreum rebaixamento de pH no caldo e, apósesta etapa, obtém-se o caldo sulfitado.

Calagem

A calagem consiste em adicionar leitede cal hidratada com a finalidade deneutralizar o caldo. Com essa medida, evita-se o processo de invertase da sacarose nadecantação e facilita a sedimentação, for-mando ainda uma reação em que se obtémo fosfato de cálcio. Essa reação aconteceem conseqüência do fósforo (P2O5) conti-do no caldo e da precipitação parcial dematérias corantes. Normalmente, esse pro-cesso se faz a frio.

Aquecimento

É necessário aquecer o caldo a uma tem-peratura de 105oC a 108oC, com a finalida-de de esterilizar e facilitar o processo dedecantação.

Decantação

A decantação tem como finalidade re-tirar as impurezas contidas no caldo. Divide-se em três fases: coagulação, floculação e

sedimentação. São utilizados, basicamente,dois tipos de decantadores: o convencionale o decantador rápido. No convencional, ocaldo tem uma retenção aproximada de trêshoras e é composto de bandejas que sãocompartimentos internos, as impurezas(lodo) são retiradas por meio de raspas me-cânicas. No decantador rápido a retençãodo caldo é de 50 minutos, aproximadamen-te, e não contém bandejas, o lodo é retiradopor raspas mecânicas e sistemas de bom-beamento. Após a decantação, obtêm-seo caldo decantado ou clarificado e o lodo.O lodo, que é um resíduo líquido bastanteviscoso, contém muito açúcar, daí a neces-sidade de filtrá-lo em equipamentos espe-cíficos, como filtros rotativos a vácuo oufiltro prensa.

Filtragem

Nesta fase de filtragem, o lodo é distri-buído em uma bacia, de forma que o tamborcom as telas suguem o caldo e, conseqüen-temente, o açúcar que está diluído nestecaldo sofre um processo de lavagem (embe-bição), com o objetivo de reduzir ao máxi-mo a perda. Obtêm-se, assim, o caldo filtra-do que retorna no processo de calagem e atorta de filtro que é utilizada na lavouracomo fertilizante.

Evaporação

O caldo clarificado, oriundo da decan-tação, passa por um processo de evapora-ção para eliminar a água contida no caldo.O Brix, que é a porcentagem de sólidosdissolvidos em uma solução, inicia-se noprocesso com 14 e sai com, aproximada-mente, 60 graus Brix. A evaporação dá-sepelo aquecimento por meio de um feixetubular, onde o vapor circula por fora dotubo e, o caldo, na parte interna. Um con-junto evaporador é composto basicamentede um pré-evaporador e quatro caixas deevaporação. Na quarta caixa, ou seja, naúltima, é instalado um sistema de sucçãoque dá maior eficiência ao sistema. Ao cal-do clarificado após a concentração dá-se onome de xarope.

Flotação

O xarope recebe tratamento num equi-pamento denominado flotador, que promo-ve a limpeza para a retirada de impurezasque ainda ficaram no decantador. Esse tra-tamento faz-se com a adição de polímerossintéticos e a introdução de ar no líquido(aeração), para formar microbolhas e, comisso, precipitar uma camada flutuante naparte superior que, em seguida, é removida.

Cozimento

A etapa de cozimento é quando se cris-taliza a sacarose. Os cozedores são dotadosde feixe tubular e sistemas de sucção na par-te superior, onde fica constante uma pres-são negativa na faixa de 26 pol/mmHg.À medida que a sacarose vai desidratando,começa a cristalizar-se espontaneamente.Uma vez formado um minúsculo cristal, elese alimenta da própria sacarose, fazendocom que cresça até o tamanho suficiente-mente adequado para sua separação e co-mercialização. Nesta fase, após a cristaliza-ção, obtém-se a massa. É importante lembrarque na composição da cana têm-se açúca-res diferentes, que são classificados comomonossacarídeos e dissacarídeos. Somen-te os dissacarídeos (sacarose) cristalizam.Os monossacarídeos formam um subpro-duto do processo, denominado melaço decana, que, na maioria dos casos, é condu-zido ao processo fermentativo, para queos açúcares residuais possam ser trans-formados em álcool.

Centrifugação

A massa obtida no cozimento contémos cristais de açúcar e mel (melaço). Usa-se o processo de centrifugação para separaro mel dos cristais. A massa fica depositadano cesto da turbina de açúcar, onde drenao mel por uma tela e, em seguida, na mesmaoperação, aplica-se água para lavagem evapor para secagem. O mel é conduzido àfermentação.

Secagem

Após a centrifugação, o açúcar contémainda um alto teor de umidade e há neces-

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75Cana-de-açúcar

sidade de secá-lo. Para isso, usa-se umsecador, que conduz o açúcar no seuinterior por movimento giratório, aonde seintroduz ar quente e, em seguida, ar frio, deforma que reduza sua umidade, paraposterior armazenamento.

Ensaque

O açúcar já seco passa por um sistemade peneiramento e uma grade magnéticapara remoção de partículas metálicas, emseguida fica depositado em silos, onde, deacordo com a comercialização, pode serempacotado em embalagens plásticas de1 a 5 kg, saco de 50 kg, a granel, etc.

PROCESSO DE FABRICAÇÃO

DE ÁLCOOL

Preparo de mosto

Toda solução açucarada está sujeita àfermentação por meio da ação da levedu-ra. Nesta fase, ajusta-se o Brix em torno de14 a 16 graus para melhor desempenho dafermentação. O mel ou melaço contém umBrix que varia de 70 a 86 graus. Por isso,deve ser diluído com água ou com o própriocaldo de cana ou, ainda, misturar água, cal-do e mel até atingir o Brix ideal de acordocom a condução da fermentação.

Fermentação

Denomina-se fermentação alcoólica(Fig. 6) a transformação de açúcares emálcool por ação de microorganismos. O pro-cesso de fermentação mais adotado é o deMelle-Boinot, em que após o mosto ter-setransformado em vinho, é centrifugado, afim de separar o fermento (levedura) parareutilizá-lo. Ou seja, o processo consisteem utilizar a levedura para nova rodada defermentação e, assim, sucessivamente. Esseprocesso apresenta como vantagem a ini-bição parcial da multiplicação celular dalevedura e, como conseqüência, há umaeconomia de açúcares, que seriam utili-zados para alimentar essa multiplicação.Dessa forma, pelo sistema Melle-Boinot,a fermentação sempre inicia com uma con-centração de levedura tal, que inibe par-

cialmente a multiplicação celular. Como foidito anteriormente, na reação de transfor-mação de açúcar em álcool ocorre uma libe-ração de calor, daí a necessidade de refri-gerar o processo. O tempo de fermentaçãogira em torno de 4 a 12 horas.

Centrifugação

A centrífuga de vinho utilizada correta-mente nas destilarias consiste num rotorcom boquilhas (Fig. 7). O vinho é alimen-tado continuamente pelo centro do rotor,

sendo então distribuída a sua periferiapelos pratos de distribuição. A força cen-trífuga conduz o vinho a se separar em duasfrações: uma menos densa, composta pe-las células de levedura denominada cremede levedura e outra, que se chama de vinhodelevedurado. O rotor encontra-se dentrode invólucro metálico que atua como cole-tor de creme. Este creme, ou seja, a leveduraé conduzida ao pré-fermentador para trata-mento e o vinho delevedurado é conduzi-do à dorna volante.

Figura 6 - Dornas de fermentação

Figura 7 - Separadora centrífuga

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76 Cana-de-açúcar

Pré-fermentação

A levedura recuperada pela centrífu-ga é conduzida aos pré-fermentadores tam-bém chamados pé-de-cuba, passa por umtratamento e, em seguida, retorna à fermen-tação. O tratamento consiste em diluiçãocom água, adição de ácido sulfúrico paracontrole de pH em torno de 2,5 e, após essesprocedimentos, a mistura fica em agitaçãopor, aproximadamente, 2,5 a 3 horas, paradepois retornar à fermentação.

Destilação

O álcool produzido na fermentaçãoencontra-se com concentração em médiade 6% a 9%, além de outros produtos quetambém se formam na fermentação. A des-tilação é um processo de separação de mis-turas líquido-líquido homogêneas por pos-suir ponto de ebulição diferente. Na grandemaioria das destilarias produzem-se dois

tipos de álcool: o hidratado e o anidro, parafins carburantes. O álcool hidratado sai dadestilaria pronto para ser consumido pelosveículos a álcool ou flex, enquanto o álcoolanidro é utilizado somente para ser adicio-nado à gasolina. Esta operação de misturasó é feita nas distribuidoras de combus-tíveis. Um aparelho de destilação geralmen-te é composto de colunas (torres), conden-sadores e resfriadeiras, além de acessórioscomo bombas, válvulas, tubulações e ins-trumentos (Fig. 8). O vinho deleveduradoentra na coluna “A”, na sua parte superior,e inicia-se o processo de destilação nasbandejas. Nesta fase, o etanol (álcool) éseparado do vinho, que arrasta um volumeconsiderável de água em sua forma gaso-sa. O vinho separado pela coluna “A” doálcool (flegma) sai na parte inferior e rece-be o nome de vinhaça ou vinhoto, que éum subproduto da fabricação do álcool,

por uma coluna de retificação “B” e daíobtém-se o álcool hidratado. Para fabri-car o álcool anidro, utiliza-se um processofísico-químico que consiste em adicionarum desidratante no meio (ciclo-hexano ouMEG – monoetilenoglicol), para seqüestrarágua existente no álcool hidratado. Para isso,usa-se uma coluna “C” (desidratação) e uma“P” para recuperação do agente seqües-trante (processo que utiliza o ciclo-hexano).

Controle de qualidade

O álcool produzido é conduzido a umtanque medidor, onde é feito o controle dequalidade por um laboratório para com-provar os parâmetros de especificação.

Tancagem

O álcool fica em depósitos apropriados(Fig. 9), obedecendo às normas de legis-lação específica, até o momento do carrega-mento para a comercialização.

Carregamento

Para todo e qualquer carregamento efe-tuado pela destilaria, é emitido um certifi-cado de qualidade do produto, com umdocumento fiscal para comprovação dessaqualidade, em atendimento às especifica-ções em vigor.

Figura 8 - Colunas de destilação

e que é utilizado na la-voura como fértil irri-gação. Na sua compo-sição contém nutrien-tes importantes para acana. O flegma, que éum álcool com aproxi-madamente 45% deconcentração, passa

Figura 9 - Depósito de álcool

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78 Cana-de-açúcar

1Economista Doméstica, Especialista em Controle de Qualidade de Alimentos, Coord. Téc. Estadual EMATER-MG, Av. Raja Gablaglia, 1.626,

4o andar - Luxemburgo, CEP 30350-540 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - A fabricação de produtos derivados da cana-de-açúcar, como a rapadura, oaçúcar mascavo e o melado, é tradicional em Minas Gerais. As atividades são desen-volvidas, principalmente, pelos agricultores familiares para consumo próprio e abaste-cimento de pequenas localidades. O movimento mundial pelo consumo de alimen-tos considerados naturais, surgido na década de 70, e, mais recentemente, a globalizaçãoda economia deram novo impulso e maior valorização a esses produtos que hoje seapresentam como promissoras oportunidades de investimento para os agricultoresfamiliares. Com o crescimento da demanda, veio também o aumento das exigênciasdos consumidores por alimentos seguros e de qualidade. Assim, o produtor tradicional,bem como aquele que deseja ingressar na atividade, deve estar atento às sinalizaçõesdo mercado e buscar formas de fabricação de produtos que atendam às exigências dalegislação de alimentos e aos anseios dos consumidores. Para isso, devem-se seguir asetapas recomendadas para a fabricação de cada produto, observando, sobretudo, asboas práticas de fabricação, durante todo o processo de produção, que abrange desde aqualidade da matéria-prima até a forma de armazenamento.

Palavras-chave: Rapadura. Açúcar mascavo. Melado. Xarope. Cristalização. Acidifi-cação.

INTRODUÇÃO

Minas Gerais é um Estado conhecidoem todo o País por sua história, sua cul-tura, suas tradições e, também, por seusprodutos agroartesanais. Entre os de maiortradição destacam-se os provenientes dacana-de-açúcar, ou seja, a cachaça, a ra-padura e o açúcar mascavo, que tiveramorigem no período colonial, quando a pro-dução de açúcar disseminou-se por todo oEstado.

A partir daquela época, o desenvol-vimento tecnológico provocou grandestransformações no setor. Novas técnicasforam incorporadas aumentando os rendi-mentos industriais, aprimorando os siste-mas de produção e elevando a escala pro-dutiva. Uma dessas transformações foi a

Processamento artesanal da cana-de-açúcar

substituição dos tradicionais engenhospelas usinas de açúcar. A tecnologia mo-derna gerou um novo produto que acaboudominando o mercado, em detrimento dosprodutos tradicionais, como a rapadura e oaçúcar mascavo, que somente voltaram aser valorizados a partir da década de 70,com o advento do movimento mundial pe-lo consumo de alimentos considerados na-turais, ou seja, aqueles produzidos semaditivos químicos. Nesse contexto, iniciou-se, também no Brasil, uma volta ao passa-do, com o resgate de tecnologias utilizadasnos antigos engenhos.

Um fato relevante, constatado nessesetor da agroindústria em Minas Gerais, foia preservação de grande número de fá-bricas de rapadura e de açúcar mascavo.

Maria da Graça Lima Bragança1

As tradições de fabricação e de consumodos produtos artesanais, com base na mão-de-obra familiar, aliadas à importância eco-nômica e social que a atividade representano Estado, são apontadas como as princi-pais razões dessa sobrevivência. O desen-volvimento da atividade artesanal, tendo acana-de-açúcar como matéria-prima, geraemprego e é fonte de alimento em um ele-vado número de propriedades rurais, quese concentram, principalmente, na categoriada agricultura familiar.

Com a globalização da economia, pro-dutos como a rapadura e o açúcar masca-vo, resultantes de um processo artesanale natural de fabricação e que se diferen-ciam pelas suas características regionais,constituem promissoras oportunidades de

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79Cana-de-açúcar

investimento para os agricultores familia-res. A demanda por esses produtos temcrescido muito, tanto no mercado interno,como no externo.

A rapadura, produto com grande de-manda no mercado institucional e de con-sumo mais tradicional, é comercializada,tanto no formato tijolo, como em tabletes(rapadurinha).

Com relação ao açúcar mascavo, pelassuas características e qualidades nutricio-nais, é muito procurado pelo mercado deprodutos naturais e também para exporta-ção.

Para a fabricação de produtos de quali-dade, que atendam às normas sanitárias eàs exigências dos consumidores, é neces-sário observar os procedimentos básicosrecomendados quanto ao processamentode alimentos. Esses procedimentos baseiam-se, principalmente, na utilização de medi-das rigorosas de higiene dos trabalhado-res; limpeza diária do engenho, das moen-das, dos reservatórios e dos tachos; utili-zação de matéria-prima de boa qualidade;tecnologia apropriada de processamen-to, embalagem e armazenamento adequa-dos.

PROCESSAMENTO

DE CANA-DE-AÇÚCAR

O fluxo de processamento é o mesmopara a rapadura e o açúcar mascavo, até omomento da determinação do ponto, eabrange desde o corte da cana, passandopela recepção, limpeza e moagem da cana;decantação, filtragem, purificação, limpezae concentração do caldo; determinação doponto, resfriamento, mexedura e cristaliza-ção da massa; enformamento da rapaduraou esfarelamento e peneiragem do açúcarmascavo; empacotamento, pesagem e, fi-nalmente, o armazenamento.

Para a fabricação do melado, deve acon-tecer a acidificação do caldo, como etapaintermediária entre a decantação e a puri-ficação e limpeza do caldo, conforme Fi-gura 1.

Processamento

A idade da cana-de-açúcar é fator queinfluencia diretamente a qualidade e orendimento dos produtos. A cana deve sercortada, quando estiver no pico de sua ma-turação, época em que atinge o teor máximode sacarose. O processamento (moagem)deve acontecer até 24 horas após o corte,por isso é importante observar a capacida-de de produção da fábrica. Cana que ficapor longo tempo no pátio ou exposta aosol, acarreta grandes prejuízos, porque háperda de água e transformação da sacaroseem açúcares redutores, resultando o se-guinte: baixo rendimento, produto escuro,dificuldade na obtenção do ponto e melados produtos durante a estocagem. Outrocuidado importante que deve ser tomado éa eliminação das folhas e pontas da cana.Para facilitar a entrada na moenda, o cortedeve ser feito em bisel.

Ao chegar à unidade de processamen-to ou à fábrica, a cana deve ser limpa,retirando-se a palha, pois a sua presençaaumenta a sujidade do caldo, afetando aqualidade dos produtos, além de reduzir odesempenho do engenho pelo aumento daquantidade de fibras. Deve-se também re-tirar a cera e outras sujidades por meio dejatos de água.

Como já foi dito, a moagem deve acon-tecer no tempo máximo de 24 horas após ocorte. As moendas devem ser lavadas antese depois da moagem. Abaixo das moendas,antes do tanque de decantação, deve sercolocado um ralo ou tela grossa para se-parar os bagacilhos. Todo caldo deve sertrabalhado no mesmo dia em que a canafoi moída. Após a separação dos bagaci-lhos, o caldo deve ser conduzido a um de-cantador com chicanas para a retirada dasimpurezas sólidas, como terra e areia, maispesadas que o caldo. Para uma boa limpe-za do caldo, usar telas intermediárias (mé-dia, fina e finíssima) entre o decantador ea tacha. Quanto mais limpo o caldo, maisfácil será a etapa de purificação e melhorserá a qualidade e aparência do produtofabricado.

A purificação e limpeza do caldo consis-tem na retirada das impurezas na forma deespuma e é feita com o caldo quente, antesdo início da concentração. Nessa etapa, énecessário utilizar fogo forte. A espumadeve ser retirada com escumadeira, repe-tindo esta operação até a limpeza total docaldo, para garantir um produto mais puroe mais claro.

A fornalha tem um papel de destaque,por isso é importante que possua alto graude eficiência térmica, pois disso dependea qualidade dos produtos e economia decusto.

Com a evaporação da água, o volumedo líquido diminui gradativamente e o cal-do vai ficando mais denso (concentrado).A partir desse momento é que começa a di-ferenciação entre o processo de fabricaçãoda rapadura e do açúcar mascavo.

Rapadura

Ao se aproximar do ponto de rapadu-ra, o caldo transforma-se em xarope maisdenso e a fervura toma a forma de borbu-lhamento. Nesse momento, é necessáriodiminuir o fogo e agitar o xarope continua-mente para evitar a caramelização e o escu-recimento do produto. Nessa fase, retira-se uma amostra colocando-a numa vasilhacom água fria, moldando-a com os dedosaté formar uma bala de consistência média,o que identifica o ponto da rapadura. Outraforma de identificar o ponto é pela verifi-cação da temperatura do xarope que deveráestar entre 114ºC e 118ºC.

Ao atingir o ponto de rapadura, o xaropedenso é transferido para a masseira ou ga-melão, onde acontece a cristalização peloresfriamento e agitação ou mexedura. Paragarantir um produto mais claro e homogêneo,a massa deve ser agitada constantementeaté o momento da colocação nas fôrmas.A agitação da massa garante a formaçãode uma liga, que proporciona uma rapadu-ra com estrutura mais firme e homogênea.Quando a mexedura é incompleta, a rapa-dura, ao ser partida, apresenta manchas decores diferentes e fica com textura áspera.

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Figura 1 - Fluxograma do processamento da cana-de-açúcar

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O momento de enformar ou moldar arapadura é reconhecido pelo aspecto damassa que fica espessa, mais brilhante emais clara. A rapadura permanece nas fôr-mas o tempo necessário para seu endure-cimento, variando entre 20 e 60 minutos,conforme a firmeza do ponto.

Após a retirada da fôrma recomenda-se deixar a rapadura em local limpo, seco earejado por algumas horas para comple-tar o resfriamento. Após este, a rapaduraé embalada individualmente, em filme depolicloreto de vinila (PVC), termo encolhí-vel. Esse cuidado evita que o produtoabsorva umidade, o que provocaria a me-la; reduz a possibilidade de contaminação,em conseqüência do manuseio; melhora aaparência; facilita a estocagem e prolongaa vida de prateleira.

O produto, já embalado, é pesado, ro-tulado e colocado em caixas para facilitar oarmazenamento e o transporte. O armaze-namento deve ser feito sobre estrados ougrades, em local seco e ventilado, com ascaixas empilhadas, deixando um espaçoentre elas.

Açúcar mascavo

Para a identificação do ponto de açúcarmascavo, os cuidados são os mesmos darapadura: reduzir o fogo e agitar o xaropecontinuamente. O ponto é um pouco maisforte do que o da rapadura e pode ser iden-tificado colocando-se uma pequena porçãodo xarope numa vasilha com água fria,moldando-a com os dedos até que se for-me uma rede com a massa fria. Essa rede,ao ser lançada contra a parede da tacha,estilhaça como se fosse um vidro. Outraforma de identificação do ponto é colocaruma porção de xarope em forma de fio numavasilha com água fria e a massa se tornavítrea e quebradiça. Nesse ponto, a tempe-ratura do xarope atinge de 123ºC a 125ºC.

Ao atingir o ponto de açúcar mascavo,o xarope é transferido para a masseira ougamelão, onde é agitado constantementeaté acontecer a total cristalização. Apósesta cristalização, por meio do resfriamento

e agitação, a massa esfarela e seca, quandoentão será peneirada para separar os tor-rões.

A qualidade do açúcar mascavo é de-terminada também pelo grau de umidade,ou seja, quanto mais seco melhor a quali-dade e maior será o tempo de armazena-mento.

Após a peneiragem, o açúcar é emba-lado em sacos de plástico polipropilenopara a comercialização, pesado e rotulado.O armazenamento deve ser feito sobreestrados ou grades, em local seco e venti-lado, com as caixas empilhadas com umespaço entre elas.

Melado

O melado pode ser uma alternativa inte-ressante de diversificar a produção paraaqueles que já fabricam a rapadura e/ou oaçúcar mascavo, uma vez que os equipa-mentos utilizados são os mesmos. É umalimento muito nutritivo e, pelo seu altoteor em sais minerais, assim como a rapa-dura e o açúcar mascavo, é recomendadona alimentação diária das famílias e na me-renda escolar, em substituição ao açúcarindustrializado.

Os cuidados para a fabricação de mela-do de boa qualidade são os mesmos obser-vados para a rapadura e o açúcar mascavo,e o fluxo é semelhante aos dos demaisprodutos até a decantação e filtragem docaldo, quando deve acontecer a acidifica-ção.

A acidificação do caldo é importantepara permitir uma boa concentração domelado, sem que ocorra a cristalização du-rante o armazenamento. A acidificação pro-voca a inversão da sacarose, ou seja, a suatransformação em glicose e frutose, o queimpede a cristalização. Para acidificaçãodo caldo podem-se usar dois processosartesanais: moer a cana e deixar o caldo emrepouso em reservatório de aço inoxidá-vel ou de plástico branco por um perío-do aproximado de 12 horas, até que atinjaum pH entre 4,5 e 4,0. Outro processo, con-siste na utilização da “quira”, que é o caldo

ácido, cuja cana foi moída no dia anterior.Nesse caso, substitui-se 20% a 25% docaldo do dia, pela “quira”, antes de ser le-vado para o aquecimento.

O passo seguinte é a purificação, ouseja, a limpeza do caldo com a retirada dasimpurezas na forma de espuma, feita como caldo quente, antes do início da con-centração. Na concentração acontece aevaporação da água e, conseqüentemente,a redução do volume do líquido. Ao apro-ximar do “ponto”, é necessário diminuir ofogo para evitar o escurecimento do pro-duto.

O ponto do melado é atingido, quandoo caldo torna-se denso, transformando-seem xarope de espessura média, com a tem-peratura entre 110ºC e 112ºC.

O melado deve ser resfriado à tempe-ratura próxima de 90ºC e envasado emfrascos de vidro ou de plástico resistentesà alta temperatura, com fechamento her-mético. A armazenagem deve ser em localseco e ventilado, sobre estrados ou grades.

Um melado de boa qualidade deve serdenso e não apresentar cristais nem fer-mentação.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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82 Cana-de-açúcar

1Engo Agro, Especialista em Tecnologia da Cachaça, Coord. Téc. Estadual de Culturas EMATER-MG, Av. Raja Gabaglia, 1626 – Luxemburgo,

CEP 30350-540 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - O agronegócio da cachaça, apesar de apresentar altos índices de informalidade,vive um momento especial, com o crescimento da aceitação do produto. A demandapor um produto de qualidade, tanto no mercado interno, quanto no externo, e as insti-tuições públicas e privadas, no apoio à atividade, estão exigindo, cada vez mais, que oprodutor mineiro adote um processo moderno de fabricação. Novos conceitos deprodução exigem que a cachaça seja cientificamente padronizada e que o fluxo deprodução, iniciado com o preparo da matéria-prima, seguido dos processos da moagem,decantação e diluição do caldo de cana-de-açúcar, fermentação, destilação com separaçãodos destilados, armazenamento e envelhecimento em tonéis adequados, seja subme-tido a rigoroso controle de higiene, não só quanto ao processo, mas também quanto àsinstalações e aos equipamentos. É necessário ficar atento, às questões ambientais elegais, quanto à organização, ao planejamento e ao controle. É de fundamental impor-tância que os produtores se adaptem e assegurem a qualidade da cachaça de alambiqueàs necessidades do mercado.

Palavras-chave: Agronegócio. Fermentação. Destilação. Armazenamento. Envelhe-cimento.

INTRODUÇÃO

A produção de cachaça é uma atividadedesenvolvida em todo o Brasil. Ao longodos quatro últimos séculos, a cachaça mar-cou, de forma significativa, sua presençana cultura brasileira. Incorporou os segre-dos e a tradição de Minas Gerais, inspiran-do produtores a incrementar a produção,de forma tal que, cada alambique produzauma cachaça especial, diferente de todasas outras.

Entre os diversos empreendimentosrurais, a produção da cachaça associa-se aoutras atividades agropecuárias, exercendopapel relevante na composição e aumentoda renda da propriedade e na manutençãodo emprego no meio rural, principalmentena entressafra agrícola.

Produção de cachaça de alambique

Waldyr Pascoal Filho1

Com sua contribuição econômica esocial, a cachaça é considerada atividadeeconômica importante para o estado deMinas Gerais, apesar do alto índice deinformalidade. No entanto, alguns aspectosrelacionados com a produção são aindadeficientes com, problemas estruturais,institucionais e tecnológicos. Isso faz comque a produtividade e a qualidade do pro-duto sejam insatisfatórias o que impede aobtenção de melhores resultados.

O setor mineiro da cachaça envolvemais de 8.500 alambiques, distribuídos portodo o Estado, gerando cerca de 240 milempregos, diretos e indiretos, com esti-mativa de produção de, aproximadamente,230 milhões de litros e de renda anual deR$ 1,5 bilhão (SEBRAE-MG, 2001). Esses

números demonstram a importância sig-nificativa e sinaliza como um dos maispromissores campos de desenvolvimentoda agroindústria de Minas.

O objetivo deste artigo é apresentar ofluxograma do processo de produção decachaça (Fig. 1), suas etapas, com distinçãodas operações de moagem, ajuste do teorde açúcar do caldo de cana, fermentação,destilação, armazenamento, envelhecimen-to, seus equipamentos e suas instalações.

PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA

A cana-de-açúcar (Saccharum spp.),é a matéria-prima básica utilizada na fabri-cação da cachaça, fator primordial para aobtenção de produto com qualidade e pro-dutividade (RIBEIRO, 2002).

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83Cana-de-açúcar

Padronizaçãodo Brix

Fermentação

Destilação

Alimentaçãode bovinos

Cachaça coração Cachaça cabeça Cachaça cauda Vinhoto

Engarrafamento

Destilação

Álcool combustível

Armazenamento Envelhecimento

Caldo de cana

Filtração DecantaçãoProdução de

energia (queima)

Colheita

MoagemBagaço Bagaço

Ponta de cana

AdubaçãoFertirrigação

Cana-de-açúcar ProduçãoAdubo orgânico

Comercialização

Figura 1 - Fluxograma da produção da cachaça

O produtor deve escolher as varieda-des que melhor se adaptem ao solo, períodode safra e clima de sua região, levando-seem consideração as características, prin-cipalmente de produtividade, riqueza deaçúcar e facilidade de manejo (RIBEIRO,2002).

A cana-de-açúcar adapta-se a umaampla faixa de clima, solo e altitude. Em Mi-

nas Gerais é plantada em todas as regiões,entretanto é necessário orientação técnicaespecializada (RIBEIRO, 2002), na seleçãoda variedade, escolha, preparo, correção eadubação do solo, plantio, tratos culturaise colheita.

A cana-de-açúcar deve ser colhida aocompletar seu ciclo vegetativo, quando osíndices de sólidos solúveis (teores de açú-

car) atingirem 18º Brix, determinado por meiode refratômetro de campo ou sacarímetro(aerômetro) de Brix.

A cana-de-açúcar nunca deve ser quei-mada para a colheita. Após o corte, deveser processada imediatamente, não ultra-passando de 24 horas o intervalo entre ocorte e a moagem (RODRIGUES FILHO;OLIVEIRA, 1999).

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84 Cana-de-açúcar

Outro importante fator é a área de canaa ser cortada por dia, que depende da ca-pacidade da fábrica e das produtividadesagrícola e industrial. Com essas informa-ções e conhecendo-se o teor de açúcar dacana, calcula-se a área a ser cortada por diapara o processamento na fábrica median-te a seguinte fórmula (RIBEIRO, 2002):

em que:

A = Área a ser colhida;CF = Capacidade da fábrica;RI = Rendimento industrial;RA = Rendimento agrícola.

Após o dimensionamento do corte dacana de acordo com as necessidades demoagem, para um período normal de tra-balho, e efetuada a colheita, alguns cuida-dos devem ser tomados:

a) não utilizar cana bizada (cana velha,sobra de um ano para outro);

b) não utilizar a ponta da cana (palmi-to);

c) proceder à limpeza e à lavagem dacana (Fig. 2);

d) armazenar a cana em local próprio,coberto e limpo;

e) moer a cana dentro do prazo (24 ho-ras).

Na colheita e carregamento manuais,práticas usadas pela totalidade dos pro-dutores de cachaça, deve-se dispensaratenção especial à higiene no corte e à con-dução da cana até a seção de moagem(VEIGA, 2004).

EXTRAÇÃO DO CALDO DE CANA

POR MOAGEM

Realizada por meio do esmagamento emengenhos ou moendas (Fig. 3), a cana-de-açúcar apresenta diferentes condições dedureza, o que dificulta a extração do caldo(RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 1999) e,associada ao baixo desempenho do con-junto de extração, atribui elevadas perdasde açúcar.

A = ÷ RACF

RI

PURIFICAÇÃO DO CALDO

No processo de moagem, é necessárioproceder à limpeza do caldo com o objetivode eliminar impurezas como terra, pedras eo bagacilho que afetam, de forma signifi-cativa, o processo de fermentação. Paratanto, devem-se utilizar coadores de tela,associados a um decantador, preferencial-

Figura 2 - Cana sendo lavada

Figura 3 - Moagem da cana

mente de aço inoxidável, com capacidadede 1/3 da produção por hora da moenda(RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 1999).

HOMOGENEIZAÇÃO DO CALDO

Depois de decantado, o caldo de canadeve passar por dornas para ajustar o açú-car (Brix). Antes de proceder à fermentação,

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85Cana-de-açúcar

faz-se a padronização mediante diluiçãocom água. A concentração de açúcar nocaldo depende de uma série de fatores,como: maturação da cana, variedades econdições climáticas. Assim, é comum aobtenção de caldo com Brix diferente emuma mesma seqüência de moagem. Eleva-dos teores de açúcar no mosto conduzemà fermentação mais demorada, incomple-ta, defeituosa e interferem no processofermentativo das leveduras, podendo levá-las à morte, proporcionando alteração daqualidade final do produto (RODRIGUESFILHO; OLIVEIRA, 1999).

Como padrão de referência, recomenda-se a diluição do caldo de cana para 14º a16º Brix. A homogeneização deve ser reali-zada em uma dorna apropriada de aço inoxi-dável, com capacidade compatível com ovolume das dornas de fermentação, que,por sua vez, deverão atender à capacida-de do alambique (RODRIGUES FILHO;OLIVEIRA, 1999).

FERMENTAÇÃO

A base para a produção de bebidasalcoólicas é a fermentação. Ela consiste natransformação do açúcar em álcool etílico,pela ação de microorganismos específicos,por meio de reações químicas. Os micro-organismos responsáveis pela fermentaçãodo açúcar do caldo-de-cana em álcool sãoas leveduras fermentativas, principalmen-te as do gênero Saccharomyces cerevisae,por resistirem às altas concentrações deálcool e também pela sua capacidade de pro-dução (RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA,1999).

Todo líquido passível de fermentaçãoé denominado mosto. Assim, o caldo decana-de-açúcar é um mosto natural e exce-lente meio para desenvolvimento de micro-organismos responsáveis pela fermen-tação, visto que possui de 75% a 82% deágua, 15,5% a 24% de açúcares (sacarose,glicose e frutose), além de sais minerais esubstâncias nitrogenadas. Dessa forma,verifica-se que o caldo de cana é pobre emnutrientes (proteínas e sais minerais) e rico

em energia. Nesse caso, para a fermentaçãoocorrer de forma satisfatória, é necessáriaa adição complementar de uma fonte deproteína, sendo as mais indicadas a do fu-bá de milho integral e a do farelo de arroz(RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 1999).

Fatores que afetam negativamente nafermentação alcoólica:

a) queima da cana;

b) moagem da cana fora do prazo;

c) impurezas no caldo de cana;

d) água de má qualidade;

e) falta de higiene das instalações e dosequipamentos;

f) transbordamento das dornas;

g) tipo e qualidade do fermento inade-quados;

h) falta de aeração e agitação;

i) concentração inadequada de açúca-res;

j) acidez fora do padrão (o pH ótimo,para a produção de álcool pelas leve-duras, é em torno de 4,5);

k) temperatura ideal é de 26ºC a 30ºC.

Existem várias formas para a multipli-cação do fermento natural, também chama-da pé-de-cuba. Na maioria dos alambiquesmineiros a produção de fermento é realiza-da de forma empírica (fermento caipira)(CARDOSO, 2006).

Geralmente, todo produtor tradicionalde cachaça possui sua fórmula de fermen-to. Nesses métodos, utilizam-se levedurasfermentativas naturais, principalmente aspertencentes aos gêneros Saccharomyces,Pichia, Cândida dentre outras, sendo oSaccharomyces cerevisiae o que mais sedestaca pela capacidade de produção etolerância à concentração de etanol (RO-DRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 1999). Estasleveduras estão naturalmente presentes nomeio ambiente. Podem ser preparados os fer-mentos de diversas maneiras alterando-sea quantidade dos ingredientes (CARDOSO,2006). A seguir, uma forma de fermento:

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86 Cana-de-açúcar

Preparo de fermento ou pé-de-cuba

Considerando-se uma dorna com capacidade para 500 litros de mosto, usar:

- 50 L de caldo de cana em cada etapa (1/10 de capacidade da dorna);

- 30 kg de fubá e 5 kg de farelo de arroz (6% e 1% em peso do volume útil da dorna, respectivamente).

1a etapa:

Diluir o caldo de cana-de-açúcar para 6o Brix e medir 50 L desse caldo. Colocar na dorna, 15 kg de fubá e 2,5 kg de

farelo de arroz (metade do recomendado). Aquecer os 50 L de caldo a 30oC e misturar ao fubá e ao farelo de arroz. Fazer

o arejamento desse mosto agitando com uma escumadeira ou mesmo com cuias furadas, por 10 minutos. Cobrir a dorna

com uma tela e esperar que o teor de açúcar se reduza para 3o Brix.

2a etapa:

Adicionar ao mosto com teor de açúcar 3o Brix, 50 L de caldo de cana-de-açúcar a 8o Brix. Em seguida, proceder à

aeração desse mosto, conforme descrito na 1a etapa. Cobrir com a tela e aguardar até que o teor de açúcar abaixe para 4o

Brix.

3a etapa:

Adicionar o restante do fubá e do farelo de arroz ao mosto com 4o Brix, mais 50 L de caldo de cana-de-açúcar a 10o

Brix, procedendo à aeração desse mosto, conforme descrito na 1a etapa. Cobrir com a tela e deixar até que o teor de

açúcar se reduza a 5o Brix.

4a etapa:

No mosto com teor de açúcar de 5o Brix, adicionar 50 L de caldo de cana-de-açúcar a 12o Brix. Proceder à aeração,

como na 1a etapa. Cobrir com a tela e aguardar até que o teor de açúcar se reduza a 6o Brix.

5a etapa:

No mosto com teor de açúcar a 6o Brix, adicionar 50 L de caldo de cana a 14o Brix. Proceder à aeração, conforme

descrito na 1a etapa. Cobrir a dorna e aguardar a redução do teor de açúcar a 7o Brix.

6a etapa:

Ao mosto com 7o Brix e já com 50% do volume útil da dorna atingido, adicionar 50 L de caldo de cana a 15o Brix.

Agora, com a graduação de açúcar de trabalho, proceder à aeração como na 1a etapa. Cobrir com a tela e aguardar até que

o teor de açúcar se reduza a 7o Brix. Quando este for atingido, completar o volume da dorna com 200 L de caldo de cana

a 15o Brix.

Nesse caso, esperar que o teor de açúcar se reduza a zero e destilar o vinho (RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 1999).

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87Cana-de-açúcar

DESTILAÇÃO

A destilação é um processo físico quepermite separações químicas. Consiste napassagem da fase líquida de uma substân-cia ou mistura, sob aquecimento, ao estadogasoso (ebulição), que em seguida, retornaao estado líquido por meio de resfriamento(condensação) (Fig. 4), (DIAS, 2004).

vinho é colocado todo de uma só vez napanela e destilado. Logo após, esgota-se ovinho e lava-se o alambique para, então,enchê-lo novamente.

O sistema contínuo não será admitidopara a produção da cachaça de alambique.Esse sistema é característico da cachaçaindustrial (RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA,1999).

Conversão do vinho

em cachaça

O vinho proveniente da fermentaçãoalcoólica do mosto de cana-de-açúcar, quecontém de 7% a 12% em volume de etanol,ao ser destilado, transforma-se em cacha-ça – graduação alcóolica de 38% a 48% v/v,a uma temperatura de ebulição entre 92,6ºCe 96,0ºC. A separação das frações do des-tilado em cabeça, coração (aguardente) ecauda, durante a destilação, é de funda-mental importância na produção de bebidasdestiladas em alambiques de pequeno por-te, uma vez que são as responsáveis pelosabor, odor e aroma característicos do pro-duto (DIAS, 2004).

Segundo (DIAS, 2004), os critérios paraos fracionamentos do destilado são os se-guintes:

a) destilado de cabeça: correspondeaos primeiros vapores. O teor alcoóli-co dessa fração é elevado, devido àvolatibilidade do álcool presente novinho. A separação da fração é feitapor meio do recolhimento de 1% dovolume total do vinho ou 5% do totaldestilado. Essa fração deve ser des-

prezada, pois contém altos teores decompostos secundários indesejá-veis, dependendo do quantitativo;

b) destilado de coração: correspondeao destilado desejado, representa16% do volume total do vinho, de-pendendo da graduação alcoólicaque se deseja obter para o produtoou 80% do volume do destilado,caso todo o álcool contido no vinhotenha sido convertido em cachaça;

c) destilado de cauda ou água fraca:

corresponde a 3% do volume total dovinho ou 15% do volume do destila-do. Esta fração, que contém ácidosvoláteis e parte de álcoois superio-res, também não deve ser aproveita-da para consumo, devendo, portan-to, ser desprezada.

A precisão com que são efetuados oscortes tem influência na qualidade finalda cachaça (CARDOSO, 2006). As fraçõescabeça e cauda poderão ser armazenadase misturadas, podendo ser destiladas emalambiques com coluna apropriada e trans-formados em álcool combustível.

O resíduo remanescente na panela doalambique é o vinhoto ou vinhaça.

O rendimento da destilação é um pa-râmetro importante para a produção dacachaça. Permite relacionar o volume decachaça obtido ao volume máximo teórico,calculado com base no teor alcoólico e novolume de vinho (DIAS, 2004).

O cálculo do rendimento da produçãode cachaça deve ser feito como a seguir:

Ao término da fermentação, separa-seo fermento do caldo fermentado que passaa ser chamado vinho ou mosto fermentado,que se deposita no fundo da dorna pordecantação natural (RODRIGUES FILHO;OLIVEIRA, 1999).

O vinho originário ou sobrenadante éconstituído de produtos de natureza gaso-sa, ou seja, gás carbônico (CO

2) e gases

amoniacais. Quanto à parte líquida, 88% a93% são constituídos de água e 7% a 12%,de volume de álcool.

A parte sólida é constituída de açúcaresnão fermentados, terra, bagacilho, célulasdas leveduras alcoólicas e sais minerais(RIBEIRO, 2002).

O sistema de destilação utilizado nasfábricas mineiras é o de batelada, ou seja, o

Volume teóricoVolume do vinho x teor alcoólico do vinho

=Teor alcoólico da cachaça (sem cortes)

Eficiência da destilação x 100Volume da cachaça (sem cortes)

=Volume teórico

Figura 4 - Separação de destilado

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88 Cana-de-açúcar

O componente da fermentação alcoólicapassa pelo desdobramento dos açúcaresdo caldo de cana com formação de doisprodutos principais: álcool etílico e dióxidode carbono. Além destes, há, normalmente,a formação de pequenas quantidades deoutros componentes, que recebem a deno-minação de produtos secundários da fer-mentação alcoólica (CARDOSO, 2006) e quevão influenciar na qualidade da cachaça.

Compostos secundários

Na destilação do vinho, além do álcooletílico e do dióxico de carbono (CO

2), há

também a produção de outros componen-tes que vão influenciar na qualidade dacachaça, que são: acidez, aldeídos, ésteres,álcoois superiores, metanol e cobre.

Acidez

Proveniente da cana ou do mosto con-taminado por bactérias acéticas.

Os fatores que influenciam a acidezsão:

a) raça da levedura predominante;

b) pureza da fermentação;

c) tempo e temperatura de fermentação;

d) manejo do mosto;

e) aeração do mosto durante a fermen-tação;

f) prazo entre a fermentação e a desti-lação.

Aldeídos

Os aldeídos são compostos muito vo-láteis. Possuem odor penetrante que afetao aroma das bebidas alcoólicas. A presençadessas substâncias na bebida pode causarintoxicação e sérios problemas à saúde daspessoas, relacionados com o sistema ner-voso central.

Os fatores que influenciam a presençados aldeídos são:

a) cana queimada (desidratação da sa-carose);

b) a não separação do destilado de ca-beça.

Ésteres

Esta substância proporciona um aromatípico à cachaça, adquirido com o envelhe-cimento. Os ésteres aromáticos contribuempara a formação do buquê. O principal ésteré o acetato de etila, que, em pequenas quan-tidades, incorpora um aroma agradável defrutas. Em grandes quantidades é preju-dicial, pois confere à bebida um sabor inde-sejável e enjoativo.

Álcoois superiores

São responsáveis diretos pelo odor dabebida.

Os principais álcoois superiores são oamílico e o propílico. São depressores dosistema nervoso central e lembram forte-mente o aroma de flores. Sua presença emexcesso (chamado óleo fúsel) diminui aqualidade da cachaça e, conseqüentemen-te, seu valor comercial.

Fatores que influenciam no aroma são:

a) fermentação, com leveduras de baixaatividade;

b) fermentos fracos;

c) temperatura alta, acima de 32oC, pormuito tempo;

d) pH baixo (3,5 - 4,0);

e) cana com mais de 24 horas de corta-da;

f) ponta da cana (olhadura). Essa parteda cana possui grande quantidadede aminoácidos, que é prejudicial àprodução da cachaça.

Metanol

É indesejável na cachaça, devido à suaalta toxidez. Sua ingestão, mesmo em do-ses reduzidas, por longos períodos de con-sumo, ocasiona uma acidose (diminuiçãodo pH sangüíneo), que afeta o sistema res-piratório e pode levar a pessoa ao coma eaté mesmo à morte. O problema tem origemcom a degradação da pectina presente nacana. Da mesma forma, a maioria das frutasé rica em pectina. Portanto, deve-se evitara fermentação conduzida na presença de

sucos ou polpas de frutas ricas em pectina,tais como: laranja, limão, maçã, abacaxi.

Cobre

É indesejável na cachaça. Sua presençaprovém da constituição do material utiliza-do na construção dos destiladores. Con-tribui para a eliminação de determinadosodores desagradáveis. A presença de ele-vados teores indica falta de higienizaçãodo alambique e forma o azinhavre ou zi-nabre (carbonato básico de cobre) – (CuCO

3Cu(OH)

2). Para evitar a contaminação

da cachaça por cobre, principalmente noinício da safra, deve-se destilar uma solu-ção à base de 5 L de suco de limão, paracada 100 L de água. Após a realização dessadestilação, efetuar outra, usando apenaságua em quantidade igual ao volume útildo alambique.

Durante a safra, recomenda-se enchero alambique e as serpentinas com água, nosintervalos prolongados das destilações.

A presença do cobre em excesso no orga-nismo está associada a doenças (CARDOSOet al., 2004) como:

a) epilepsia;

b) melanoma;

c) artrite reumatóide;

d) perda do paladar.

LEGISLAÇÃO

De acordo com o artigo 92 do Decretono 4.851 de 2 de outubro de 2003 da Presi-dência da República:

cachaça é a denominação típica e exclusiva

da aguardente produzida no Brasil, com

graduação alcoólica de trinta e oito a qua-

renta e oito por cento em volume, a vinte

graus Celsius, obtida pela destilação do

mosto fermentado de cana-de-açúcar com

características sensoriais peculiares, po-

dendo ser adicionada de açúcares até seis

gramas por litro, expressos em sacarose.

(BRASIL, 2003).

Em decorrência desse Decreto, a ca-chaça é denominação da bebida típica eexclusiva do Brasil, que se tornou patri-

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89Cana-de-açúcar

mônio nacional, fruto da perseverança ededicação de produtores que sempre acre-ditaram e lutaram pela caracterização doproduto (BOTELHO, 2004).

REQUISITOS DE QUALIDADE

A cachaça deve atender aos seguintesrequisitos (BOTELHO, 2004) de qualidade:

a) normalidade dos caracteres organo-lépticos próprios da sua natureza:

- cor,- sabor,- odor,- limpidez;

b) quantidade e qualidade dos com-ponentes próprios da sua natureza(padrões de identidade e qualida-de);

c) ausência de elementos estranhos, deindícios de alterações e de micro-organismos patogênicos;

d) ausência de substâncias nocivas.

Padrão de identidade e

qualidade da cachaça

Os padrões de identidade e qualidadevigentes para a cachaça estão estabeleci-dos na Instrução Normativa no 13, de 29 de

junho de 2005 (BRASIL, 2005), do Minis-tério da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento (MAPA), ressalvando os limitespara graduação alcoólica, conforme dis-posto no Quadro 1.

ARMAZENAMENTO

O acondicionamento da cachaça podeser em tonéis de madeira ou de materialinerte, que não influencie no aroma e nopaladar da bebida, nesse caso a dorna deaço inox é a mais recomendada. Recomenda-se também o controle da temperatura entre15o e 20oC e umidade entre 70% e 90% no

QUADRO 1 - Padrões de identidade e qualidade da cachaça

Componentes Grau alcoólico (% vol.) 48 38

Acidez volátil, expressa em ácido acético (mg/100 mL de álcool anidro) 150 –

Ésteres totais expressos em acetato de etila (mg/100 mL de álcool anidro) 200 –

Aldeídos totais em acetaldeído (mg/100 mL de álcool anidro) 30 –

Soma de Furfural e Hidroximetilfurfural (mg/100 mL de álcool anidro) 5 –

Álcoois superiores: álcoois isobutílico (2-metil propanol), isoamílicos (2-metil -1-butanol

+ 3 metil-1-butanol) e n-propílico (1- propanol), em mg /100 mL de álcool anidro 360 –

Soma dos coeficientes de congêneres: Acidez volátil, aldeídos totais, ésteres totais, álcoois

superiores e furfural + hidroximetilfurfural (mg/100mL de álcool anidro) 650 200

Contaminantes orgânicos Álcool metílico, mg/100 mL de álcool anidro 0,20 –

Carbamato de etila, µg/L 150 –

Acroleína (2-propenal), mg/100 mL de álcool anidro 5 –

Álcool sec-butílico, (2-butanol), mg/100 mL de álcool anidro 10 –

Álcool n-butílico (1-butanol), mg /100 mL de álcool anidro 3 –

Contaminantes inorgânicos Cobre (mg/L) 5 –

Chumbo (µg/L) 200 –

Arsênio (µg/L) 100 –

Ingredientes opcionais Açúcar/Sacarose, que pode ser substituída total ou parcialmente por açúcar invertido,

glicose ou seus derivados reduzidos ou oxidados

Cachaça não adoçada 6 –

Cachaça adoçada 30 6

EspecificaçãoItem Máximo Mínimo

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ambiente de armazenamento, para evitarperdas de volume e de etanol por evapo-ração (OLIVEIRA, 2005).

ENVELHECIMENTO

A cachaça recém-destilada, incolor,apresenta um paladar agressivo e levemen-te amargo, identificador de bebida nova(RIBEIRO, 2002).

Para que a cachaça adquira boas pro-priedades sensoriais, deve passar por umprocesso de envelhecimento, que, além demelhorar o aroma e o paladar, modifica suacoloração tornando-a macia e aveludada(RIBEIRO, 2002).

O envelhecimento natural é feito em to-néis de madeira, que possuem uma influên-cia significativa no aspecto sensorial dacachaça. Algumas madeiras já utilizadas emgrande proporção para o armazenamentosão: carvalho, umburana, bálsamo, jequiti-bá e a castanheira.

Para ser considerada envelhecida, acachaça deve permanecer por um perío-do mínimo de um ano em tonéis de madei-ra, com capacidade máxima de 700 litros,que deverão ser lacrados pelo Serviçode Inspeção de Produto Agropecuário doMAPA.

A Instrução Normativa no 13 do MAPA(BRASIL, 2005) classifica a cachaça enve-lhecida, conforme o Quadro 2.

EFLUENTES

A indústria de cachaça é uma atividadeque gera abundante oferta de subprodutos,sendo os principais: ponta de cana, tambémchamada olhadura, bagaço, vinhoto ouvinhaça e água servida.

Destino dos efluentes

Ponta de cana

É de conhecimento geral que na cria-ção de bovinos, no período da seca (maio/setembro), a pastagem fica escassa e dequalidade ruim. Nesse período, é comumconfinar animais ou suplementá-los a pas-to, o que pode ser feito com a utilização daponta de cana (EVANGELISTA, 2006), for-necida fresca ou ensilada.

Vinhoto ou vinhaça

O vinhoto quente é coletado em redede cerâmica, com diâmetro de 100 mm até otanque ou represa de efluentes. Esse localdeve ser impermeabilizado e ter capacidadesuficiente para armazenar o vinhoto porcinco dias consecutivos. Posteriormente,à temperatura ambiente, o vinhoto serábombeado para áreas de lavouras ou pas-tagens, como fertilizante, em quantidadede até 100 m3/ha/ano e diluído em água naproporção de 1:1.

É utilizado também na alimentação ani-mal na quantidade de 18 a 20 L/UnidadeAnimal/dia, misturado com água na propor-ção 1:1 e distribuído diretamente aos ani-mais. Poderá ser utilizado também na elabo-ração de composto orgânico misturando-oao bagaço triturado.

Cada litro de cachaça produzido dá ori-gem de 5 a 6 litros de vinhoto.

Bagaço

O bagaço da cana pode ser utilizadocomo combustível no alambique. É for-necido seco, diretamente na fornalha doalambique ou na caldeira. O consumo é de,aproximadamente, 40% do total de bagaçoproduzido.

Na alimentação animal, o bagaço é for-necido triturado, diretamente ao rebanho,podendo ser enriquecido com uréia, até 1%do total fornecido, ou misturado ao vinhotoe com fornecimento à vontade.

Pode ser utilizado também na produçãode composto orgânico ou na utilizaçãocomo cobertura morta em áreas de lavoura.

Água servida

A água de resfriamento do vapor decachaça, no alambique, poderá ser resfriadae novamente utilizada. Se esse processonão for de interesse, a água poderá seresgotada diretamente nos mananciais.

A água de limpeza dos equipamentos,das seções de moagem, fermentação, dadestilação e dos pisos das instalações daunidade de produção de cachaça deveráter o mesmo destino do vinhoto.

A água oriunda do esgotamento desanitários deverá ser direcionada para umafossa séptica.

O consumo de água na agroindústria,com a lavagem da matéria-prima, é de,aproximadamente, 1 mil litros/tonelada decana. O consumo total de água em umafábrica de cachaça é em torno de 40 litrosde água/litro de cachaça produzida.

INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS

O estabelecimento de bebidas é o espa-ço delimitado que compreende o local e aárea que o circunda, onde se efetiva umconjunto de operações e processos, quetem como finalidade a obtenção de bebi-da, seguindo um fluxograma, que abrangedesde o transporte e acondicionamento emoagem da matéria-prima, limpeza e ajustedo caldo de cana, fermentação, destilação,

QUADRO 2 - Classificação da cachaça envelhecida

Cachaça Envelhecida Deve conter, no mínimo, 50% de cachaça envelhecida, por um período não inferior a 1 ano

Cachaça Premium Deve conter 100% de cachaça envelhecida, por um período não inferior a 1 ano

Cachaça Extra Premium Deve conter 100% de cachaça envelhecida, por um período não inferior a 3 anos

DescriçãoClasse

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bem como o armazenamento, envelheci-mento e envase.

As exigências básicas para construçãoe funcionamento de estabelecimentos debebidas são as seguintes:

a) localização em áreas longe de odo-res indesejáveis e que não estejamsujeitas a inundações;

b) as instalações devem impedir a entra-da ou alojamento de pragas (insetose roedores), aves e animais domés-ticos;

c) a área, onde se localiza o prédio, deveser cercada, com os arredores urba-nizados. Evitar o acúmulo de poeirasou lamas;

d) as vias de trânsito dentro e nas áreaspróximas devem ter uma superfíciecompacta e/ou pavimentada, apta aotráfego de veículos; devem possuirescoamento adequado, assim comomeios que permitam sua limpeza;

e) o material empregado na construçãodeve ser próprio para a finalidade;

f) as instalações devem ser projetadasde forma que permitam a separaçãopor dependência, com divisórias, oque evita operações suscetíveis decausarem contaminação;

g) todos os equipamentos e utensíliosdas áreas de manipulação, que pos-sam entrar em contato com a matéria-prima e o produto, deverão ser cons-tituídos de materiais que não trans-mitam substâncias tóxicas, odoresou sabores e sejam impermeabiliza-dos, bem como resistentes à corrosãoe a repetidas operações de limpeza edesinfecção. Deve ser evitado o usode madeira e outros materiais quenão possam ser limpos e desinfeta-dos adequadamente, a menos quenão constituam comprovada fontede contaminação;

h) as instalações sanitárias devem estarlocalizadas fora da área de produçãoe de engarrafamento;

i) escritório administrativo, conformea necessidade;

j) as instalações, os equipamentos, osutensílios e o pessoal devem obser-var as normas higiênico-sanitáriasestabelecidas;

k) as pessoas que trabalham nas áreasde manipulação dos produtos devemdispor de vestimentas apropriadas;

l) dispor de local apropriado para adeposição dos resíduos industriais,de forma que o meio ambiente sejapreservado e insetos, roedores, pás-saros, etc. não sejam atraídos;

m) estar em área própria e isolada, aten-dendo às condições de segurança,quando o estabelecimento trabalharcom caldeiras a vapor;

n) dispor de laboratório próprio paracontrole de qualidade do produto oucontratar serviços de terceiros paraesta finalidade;

o) dispor de um responsável técnicocom competência profissional paraa função;

p) o estabelecimento registrado só po-derá modificar sua instalação ou equi-pamentos mediante prévia autori-

zação do MAPA, sob pena de infra-ção.

Instalações e

equipamentos mínimos

exigidos para o produtor e

acondicionador de cachaça

Seção de moagem

Destinada às operações de recebimen-to, limpeza e moagem da cana-de-açúcar(Fig. 5). As instalações e equipamentosdevem atender às seguintes recomenda-ções:

a) instalações:

- ser cobertas,

- ter piso resistente ao trânsito e serimpermeável - não se deve usarardósia ou material similar,

- possuir área compatível com o flu-xo de produção,

- dispor de proteções laterais de alve-naria,

- possuir pé-direito de no mínimo3 metros;

b) equipamentos:

- engenho ou moenda,- decantador para caldo,- peneiras.

Figura 5 - Moenda ou engenho

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Seção de homogeneização

do caldo de cana

Destinada à operação de ajuste do Brixdo caldo.

As instalações e equipamentos devemseguir as recomendações:

a) instalações:

- ser cobertas,

- ter piso resistente ao trânsito e serimpermeável (não se deve usarardósia ou material similar),

- ter paredes de alvenaria, com re-vestimento liso (se forem abertasnas laterais, devem ser protegidascom tela),

- possuir pé-direito de no mínimo,3 metros,

- área compatível com o fluxo de pro-dução;

b) equipamentos:

- dorna para homogeneização docaldo,

- propagador de fermento.

Seção de fermentação

Destinada às operações de fermenta-ção do caldo de cana-de-açúcar com teor

de açúcar (Brix) diluído, também chamadomosto.

Quanto às instalações e aos equipa-mentos seguir as recomendações:

a) instalações:

- ter paredes de alvenaria, revesti-mento liso (se abertas nas lateraisdevem ser protegidas com tela),

- ser cobertas, e forradas com mate-rial de fácil limpeza,

- possuir pé-direito de no mínimo3 metros,

- ter área compatível ao abrigo dasdornas de fermentação, com espa-ço suficiente para realização dasoperações, de modo satisfatório,

- ter piso impermeável, com inclina-ção suficiente para o escoamentodas águas (não se deve usar ardó-sia ou material similar),

- as portas e janelas devem ser dematerial não absorvente e de fácillimpeza;

b) equipamentos:

- dornas de fermentação de caldo(Fig. 6).

Seção de destilação

Destinada às operações de destilaçãodo mosto fermentado (vinho).

Quanto às instalações e aos equipamen-tos seguir as recomendações (BOTELHO,2004):

a) instalações:

- ter área compatível ao abrigo dosequipamentos de destilação, comespaço suficiente para a realizaçãodas operações de modo satisfató-rio,

- ter paredes de alvenaria, com re-vestimento liso,

- possuir pé-direito de no mínimo3 metros,

- ter piso impermeável, com incli-nação suficiente ao escoamentodas águas (não se deve usar ardó-sia ou material similar),

- ser cobertas;

b) equipamentos:

- fornalha ou caldeira,

- aparelho de destilação ou alambi-que (Fig. 7),

- caixa de separação de destilado.

Seção de armazenamento

de produto a granel

e envelhecimento

Destinada ao armazenamento e enve-lhecimento do produto destilado.

Quanto às instalações e aos equipa-mentos seguir as recomendações:

a) instalações:

- ter área compatível com a neces-sidade, com espaço suficiente aoabrigo dos vasilhames de estoca-gem e à realização das operações,de modo satisfatório,

- ter paredes de alvenaria, com sim-ples acabamento,

- ter altura compatível com o dimen-sionamento dos vasilhames deestocagem,Figura 6 - Dornas de fermentação

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- ter piso constituído de materialresistente ao trânsito,

- ser cobertas;

b) equipamentos:

- dornas e barris (Fig. 8 e 9),

- tonel de mistura e padronização.

Além dos já citados os equipamentosmínimos exigidos são:

a) tubulações apropriadas para a fina-lidade;

b) sacarímetro;

c) alcoômetro;

d) termômetro;

e) balança;

f) kit para análise de cobre e acidez.

Figura 7 - Aparelho de destilação ou alambique

Figura 8 - Dornas de armazenamento

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94 Cana-de-açúcar

REFERÊNCIAS

BOTELHO, M. da S. Aspectos legais para a

produção de cachaça no âmbito de compe-

tência do Ministério da Agricultura, Pecuá-

ria e Abastecimento. Lavras: UFLA-FAEPE,

2004. 88p. (Textos Acadêmicos). Curso de Pós-

graduação “Lato Sensu” (Especialização) a Dis-

tância: Tecnologia da Cachaça.

BRASIL. Decreto no 4.851, de 2 de outubro de

2003. Altera dispositivos do Regulamento apro-

vado pelo Decreto no 2.314, de 4 de setembro de

1997, que dispõe sobre a padronização, a classi-

ficação, o registro, a inspeção, a produção e a fis-

calização de bebidas. Diário Oficial [da] Re-

pública Federativa do Brasil, Brasília, 3 out.

2003.

_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. Instrução Normativa no 13, de

29 de junho de 2005. Aprova o Regulamento

Técnico para Fixação dos Padrões de Identida-

de e Qualidade para Aguardente de Cana e pa-

ra Cachaça. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, 30 jun. 2005.

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CARDOSO, M. das G. (Ed.). Produção de

aguardente de cana-de-açúcar. 2.ed. rev. amp.

Lavras: UFLA, 2006. 444p.

_______; CORRÊA, A.D.; ABREU, C.M.P. de.

Análises físico-químicas da cachaça. Lavras:

UFLA-FAEPE, 2004. 37p. (Textos Acadêmicos).

Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” (Espe-

cialização) a Distância: Tecnologia da Cachaça.

DIAS, S.M.B.C. Destilação. Lavras: UFLA-

FAEPE, 2004. 43p. (Textos Acadêmicos). Curso

de Pós-graduação “Lato Sensu” (Especialização)

a Distância: Tecnologia da cachaça.

EVANGELISTA, A.R. Aproveitamento de resí-

duos da fabricação da aguardente. In: CARDO-

SO, M. das G. (Ed.). Produção de aguardente.

2.ed. rev. amp. Lavras: UFLA, 2006. cap.9,

p.289-307.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com todo aparato tecnológico existen-te, há grande esforço em se produzir den-tro de rígidos critérios de qualidade que,ao longo do tempo, foram conferindocaracterísticas desejáveis ao produto, cadavez mais reconhecido e exigido pelos con-sumidores. Contudo, muito ainda precisaser implementado, principalmente quandoo foco é o fator qualidade, para o alcancede patamares mais elevados de comercia-lização e rentabilidade para os produtores.Essas iniciativas passam, necessariamen-te, por um processo de reorganização dosetor, tendo como base as doutrinas docooperativismo ou do associativismo, co-mo alternativa eficaz para contornar prin-cipalmente os custos.

De modo geral, os produtores, antesde iniciarem qualquer atividade que envol-va produção de cachaça, devem tomaralgumas iniciativas:

a) procurar assistência técnica;

b) fazer projetos e registrar no MAPA;

c) ser organizados;

d) planejar suas ações;

e) ter controle do processo de produ-ção;

f) avaliar o custo do produto, para quetenha competitividade no merca-do;

g) fazer promoção nos pontos de vendada bebida;

OLIVEIRA, C.R. Cachaça de alambique:

manual de boas práticas ambientais e de pro-

dução. Belo Horizonte: SEMAD; FEAM, 2005.

72p.

RIBEIRO, J.C.G.M. Fabricação artesanal da

cachaça mineira. Belo Horizonte: O Lutador,

2002. 221p.

RODRIGUES FILHO, A.; OLIVEIRA, R.N. de.

Tecnologia de produção de cana-de-açúcar e

cachaça de Minas de qualidade. Belo Hori-

zonte: EMATER-MG, 1999. 75p.

SEBRAE-MG. Diagnóstico da cachaça de

Minas Gerais. Belo Horizonte, 2001. 259p.

VEIGA, J.F. Equipamentos para produção e

controle de operação da fábrica de cachaça.

Lavras: UFLA-FAEPE, 2004. 42p. (Textos Aca-

dêmicos). Curso de Pós-graduação “Lato Sensu”

(Especialização) a Distância: Tecnologia da

Cachaça.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento. Decreto no 2.314, de 4 de se-

tembro de 1997. Regulamenta a Lei no 8.918,

de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a

padronização, a classificação, o registro, a ins-

peção, a produção e a fiscalização de bebi-

das. Diário Oficial [da] República Federa-

tiva do Brasil, Brasília, 5 set. 1997. Seção 1,

p.19549.

DIAS, S.M.B.C. Efeito de diferentes tipos de

madeira sobre a composição química da

aguardente de cana envelhecida. 1997. 109f.

Monografia (Mestrado em Ciência de Alimen-

tos) – Faculdade de Farmácia, Universida-

de Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,

1997.

INFORME AGROPECUÁRIO. Cachaça arte-

sanal de Minas. Belo Horizonte: EPAMIG, v.23,

n.217, 2002. 88p.

RIBEIRO, J.C.G.M.; RIBEIRO, A.A.; PINTO,

D.M.; SILVEIRA, L.C.I. Curso de produção

de cachaça de qualidade. Belo Horizonte:

AMPAQ, 2003. 41p.

Figura 9 - Barris de envelhecimento

h) respeitar o meio ambiente;

i) ser comprometido com o produto.

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1Biólogo, Especialista em Gestão Ambiental de Resíduos Sólidos, Auditor Ambiental/Consultor da Gaia Consultoria Ambiental, Rua General

Dionísio Cerqueira, 445, CEP 30430-140 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2Biólogo, M.Sc., Diretor/Consultor da Gaia Consultoria Ambiental, Rua General Dionísio Cerqueira, 445, CEP 30430-140 Belo Horizonte-MG.

Correio eletrônico: [email protected]

3Engo Civil, Especialista em Saneamento e Meio Ambiente, Diretor da Ottawa Engenharia Ltda., Rua Nilton Baldo, 744, CEP 31330-660 Belo

Horizonte-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - É abordada a questão ambiental inerente aos resíduos gerados nas indústriassucroalcooleiras do estado de Minas Gerais. Abrange a quantidade média gerada decada resíduo e a metodologia adotada para o seu gerenciamento. Os procedimentos demanejo, controle, tratamento e disposição final são amplamente utilizados pelas unida-des mineiras, visando à minimização dos impactos ambientais advindos da geraçãode resíduos sólidos e efluentes líquidos, oriundos do processo de produção de açúcare álcool. Os dados apresentados foram obtidos de 17 unidades produtoras de açúcar eálcool em operação no estado de Minas Gerais, com diferentes capacidades de processa-mento de cana-de-açúcar, e informações técnicas colhidas de projetos industriais de 23novas unidades sucroalcooleiras, atualmente em fase de projeto e/ou implantação.

Palavras-chave: Cana-de-açúcar. Destilaria. Álcool. Setor sucroalcooleiro. Efluentelíquido. Resíduo sólido. Gestão ambiental. Usina. Açúcar.

INTRODUÇÃO

A questão dos resíduos gerados pe-las atividades industriais de uma empresapressupõe muito mais do que a adoção detécnicas avançadas de tratamento. Umaconcepção moderna e sustentável de ge-renciamento de resíduos implica na for-mação de uma nova cultura e no estabe-lecimento de uma relação entre diretoriae funcionários, promovendo a participa-ção efetiva das partes, para alcançaremresultados satisfatórios em relação à ges-

Resíduos da agroindústria canavieira

no estado de Minas Gerais:

usos e conservação ambiental

Bruce Amir Dacier Lobato de Almeida1

Guilherme de Faria Barreto2

Carlos Mauro Novais Gonçalves3

tão de resíduos, utilizando-se, para isto, aeducação ambiental e a mobilização so-cial.

Estas medidas vêm sendo desenvol-vidas e adotadas há alguns anos em vá-rias empresas sucroalcooleiras do estadode Minas Gerais (BARRETO et al. (1994)

De acordo com a Agenda 21 da Con-ferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento, em 1992, emseu Capítulo 21 (NOVAES, 2000), o manejoambientalmente saudável dos resíduos só-

lidos encontra-se entre as questões maisimportantes para a manutenção da qua-lidade do meio ambiente da Terra.

Seguindo esta premissa, o setor su-croalcooleiro, por se apresentar como ge-rador de grandes quantidades de resíduosde diferentes características e tipologias,apresentou, nas últimas décadas, diver-sas soluções para o tratamento e dispo-sição final dos seus efluentes líquidos eresíduos sólidos, abordados neste traba-lho.

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97Cana-de-açúcar

RESÍDUOS SÓLIDOS

Segundo a definição de Mazzini (2004)para resíduos sólidos:

Diz-se de todo e qualquer tipo de resíduo,

no estado sólido e semi-sólido, produzido

e descartado pela atividade humana de ori-

gem doméstica, hospitalar, comercial, agrí-

cola, industrial, de serviços e de varrição.

A atividade de produção de açúcar eálcool, assim como qualquer outra atividadeindustrial, gera diversos resíduos sólidos,alguns deles em grandes quantidades, oque exige, por parte dos empreendimentos,a adoção de medidas mitigadoras que visamevitar e/ou minimizar os impactos ambien-tais passíveis de ocorrer, caso não recebamum gerenciamento adequado.

Segundo Freire e Cortez (2000):

[...] 99,6% dos resíduos sólidos gera-

dos nas usinas, ou seja, 681,7 kg/t.cana

(COPERSUCAR, 1994), são resíduos não

perigosos, reutilizados racionalmente na

lavoura ou para outros fins [...].

A seguir, encontram-se relacionados osprincipais resíduos sólidos gerados pelasindústrias sucroalcooleiras, suas carac-terísticas, estimativa da taxa de geração,tratamento e disposição final adotados pa-ra cada um.

Bagaço de cana-de-açúcar

Considerado também como subpro-duto, o bagaço é gerado no processo deextração do caldo da cana-de-açúcar, obti-do por meio de difusor ou moenda. É cons-tituído por material fibroso composto prin-cipalmente de água (48% a 52%) e sacarose(MARQUES et al., 2001).

Devido ao seu alto poder calorífico, éde suma importância para o funcionamentoda indústria sucroalcooleira, sendo princi-palmente utilizado como combustível nacaldeira, que, por sua vez, gera vapor, queconduz a energia térmica necessária paraevaporar a água contida no caldo da canana obtenção do açúcar ou para evaporar eseparar o álcool nas colunas de destilação,além de movimentar as turbinas a vaporpara a geração da energia elétrica.

Dessa forma, toda a energia elétrica uti-lizada na indústria durante a safra, é geradapela própria empresa. Em alguns casos,ocorre ainda a comercialização do exceden-te da energia elétrica (co-geração).

Outra utilização do bagaço é a reali-zação de hidrólise, transformando-o emração animal. Há outros usos para o baga-ço, porém em menor escala, tais como com-plementação de compostos orgânicos uti-lizados na agricultura (incorporação aosolo), forragem de cama para currais, fa-bricação de artesanatos ou produção deisopor, plásticos e autopeças biodegradá-veis (MARQUES et al., 2001).

O excedente do bagaço gerado é co-locado em um pátio de armazenamento,normalmente locado ao lado da caldeira, eutilizado para alimentar esta no caso de afábrica parar e, ainda, dar partida à safraseguinte.

Considerando a variação de fibra dasvariedades de cana-de-açúcar existentes,tem-se uma geração média de 200 a 300 kgde bagaço para cada tonelada de matéria-prima processada. Dependendo da varie-dade utilizada, podem-se obter valoresmaiores.

Torta de filtro

A torta de filtro, resíduo provenientedo tratamento do caldo pelo processo defiltragem, é rica em fósforo, chegando a terde 1% a 2% do elemento disponível. Possuielevada umidade, concentração de matériaorgânica da ordem de 50% a 60% e umarelação C/N de 1:20, com altos teores deCa e P e baixos teores de K. Sua produçãovaria de 20-40 kg por tonelada de cana pro-cessada. A taxa de geração está relacionadadiretamente com a eficiência do tratamen-to do caldo e com a qualidade da matéria-prima, que, por sua vez, depende dos pro-cedimentos de corte, colheita e lavagem dacana-de-açúcar.

Nota-se que, quando realizada a colhei-ta mecanizada, tem-se uma quantidademenor de torta de filtro, se comparada coma matéria-prima colhida por meio do cortemanual.

A torta de filtro é utilizada como adubo,sendo sua aplicação realizada com cami-nhão provido de caçamba, o qual distribuiem cobertura na soqueira ou em área totalnos canaviais em renovação, podendo tam-bém, na maioria das vezes, ser aplicada comcarreta sulcadora/distribuidora.

Dependendo da necessidade do cana-vial, aplica-se de 15 a 30 toneladas de tortade filtro por hectare.

Cinza de caldeira

Resíduo gerado a partir da queima debagaço nas caldeiras no processo de ge-ração de vapor e, conseqüentemente, deenergia elétrica.

Suas características e taxa de geraçãovariam de acordo com as fibras do bagaçode cana utilizado como combustível e naeficiência operacional da caldeira.

De acordo com os dados obtidos emdiversas unidades sucroalcooleiras e embalanços de massa elaborados por empre-sas especializadas no setor, estima-se queeste resíduo represente, em peso, cerca de5% do bagaço queimado na caldeira.

Dependendo do tipo de equipamentoutilizado na geração de vapor, pode serretirado por meio de grelhas basculantes,por via úmida (lavagem dos cinzeiros dacaldeira) ou retirado manualmente no seuestado normal (seco).

A exemplo da torta de filtro, as cinzasde caldeira são utilizadas como adubo emáreas de canaviais em renovação.

A taxa de aplicação varia de acordocom as condições físico-químicas do solo,devendo-se realizar previamente sua aná-lise, para posterior utilização.

Sedimento (material terroso)

Resíduo resultante do processo de de-cantação das águas utilizadas na lavagemda cana-de-açúcar na mesa alimentadora eno lavador de gases da caldeira. É retira-do durante a limpeza das células de sedi-mentação, sistema utilizado no tratamentodessas águas. É composto basicamente pormaterial particulado (fuligem contida nosgases), terra e impurezas carreadas do cam-po juntamente com a matéria-prima.

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98 Cana-de-açúcar

Considerando uma taxa de umidade de70%, estima-se uma geração média de 25 a50 kg desse resíduo, para cada tonelada decana processada. A taxa de geração estárelacionada diretamente com a eficiênciado sistema de lavagem dos gases e com aqualidade da matéria-prima vinda do cam-po que, por sua vez, depende dos proce-dimentos de corte, colheita e lavagem dacana-de-açúcar.

Esse resíduo é utilizado como aduboem áreas de reforma de canavial, seguindoos mesmos preceitos de aplicação das cin-zas de caldeira e torta de filtro.

Resíduo sólido comum

ou domiciliar

Os resíduos sólidos comuns são aque-les gerados na atividade industrial, porémcom características de resíduo domiciliar.Esses resíduos originam-se das atividadesde limpeza, varrição, restos de alimentos,lixo sanitário, plásticos, papéis e papelõesdescartados dos escritórios.

Com características bastante diversi-ficadas, a taxa de geração usualmente éestimada em função do número de funcio-nários do pátio industrial, podendo variarentre 0,5 e 0,8 kg por pessoa/dia.

A parte reciclável dos resíduos sólidosde características domiciliares, em algumasunidades, é submetida à segregação paraposterior comercialização com agentes re-cicladores. Com relação à parte não reciclá-vel/reaproveitável, observa-se uma grandetendência para sua disposição em aterrossanitários construídos nos empreendi-mentos em consonância com a NBR 8419/1992 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DENORMAS TÉCNICAS, 1992) e com a legis-lação ambiental vigente.

O projeto do aterro industrial abrangetodos os sistemas de controle ambiental,tais como dreno de gases, impermeabili-zação da célula, dreno do chorume e seutratamento.

Outra medida observada é o desenvolvi-mento de campanhas educativas internas,tais como programas de coleta seletiva, como intuito de reduzir, segregar, acondicionar

adequadamente e dar destinação ambien-talmente correta aos resíduos sólidos.

EFLUENTE LÍQUIDO

As unidades sucroalcooleiras gerambasicamente três tipos de efluentes líqui-dos industriais: águas residuárias, efluen-tes sanitários e vinhaça, este último exclu-sivo da atividade de produção de álcool.

Esses efluentes, se destinados de formaincorreta, podem provocar a contaminaçãode solos e coleções hídricas (superficiais esubterrâneas).

Vinhaça

A vinhaça, conhecida também comovinhoto, é oriunda do vinho fermentadonas dornas. O vinho, após ser centrifugadopara retirada do fermento, é encaminhadoàs colunas de destilação, onde ocorre a se-paração do álcool hidratado e vinhaça.

Este efluente possui cor marrom-escuro,sendo de natureza ácida, que sai das colu-nas de destilação a temperaturas próximasa 100ºC.

A geração de vinhaça varia em funçãodas diversas variedades de cana-de-açúcare de particularidades adotadas em cada des-tilaria.

Tendo como base as indústrias mineirasdo setor, observa-se uma geração médiaentre 12 e 15 m³ de vinhaça por m³ de álcoolproduzido.

Segundo Freire e Cortez (2000):

a vinhaça in natura possui um teor de só-

lidos muito baixo, mas que varia de 2 a

10%, conforme a matéria-prima utilizada.

Se comparada com o bagaço e a tortade filtro, a vinhaça é o resíduo orgânicomais rico em nutrientes, principalmente empotássio, possuindo também cálcio, mag-nésio, fósforo, manganês e nitrogênioorgânico. Sua relação C/N é igual a 15, oque a caracteriza como um material rico emproteínas. A matéria orgânica e o potássiodestacam-se entre os demais elementos. Poresse motivo, a aplicação da vinhaça sobrea lavoura de cana-de-açúcar tornou-se prá-tica corriqueira e indispensável nas desti-

larias, principalmente por suprir parcial-mente o déficit hídrico e de nutrientes dacultura, substituindo total ou parcialmentea adubação química.

Após analisarem a composição químicade diferentes tipos de vinhaça produzi-da em diferentes regiões do Brasil, Freire eCortez (2000) constataram que a compo-sição da vinhaça apresenta-se muito he-terogênea, em função do tipo de matéria-prima empregada no preparo do mosto, daprocedência ou localização da destilaria, daépoca de amostragem e do tipo de proces-so industrial utilizado.

A análise físico-química, realizada emuma indústria sucroalcooleira do TriânguloMineiro, apresentou o seguinte resultado:

Estudos apontam que canaviais irriga-dos com vinhaça apresentam produtivi-dade superior àqueles irrigados somentecom água, no que se refere à concentra-ção de açúcar e produtividade por hectare(FREIRE; CORTEZ, 2000).

A legislação ambiental estadual quetrata da taxa de aplicação da vinhaça nosolo é a Deliberação Normativa no 12/86 doConselho Estadual de Política Ambiental(COPAM, 1987b), a qual proíbe a aplicaçãode vinhaça em taxas superiores a:

a) 450 m³/ha/ano para vinhoto prove-niente da fermentação de caldo di-reto;

b) 300 m³/ha/ano para vinhoto prove-niente da fermentação de caldo misto;

pH ....................................... 4,5

Sólidos totais ....................... 6,58%

Matéria orgânica .................. 4,89%

Matéria mineral ................... 1,73%

Nitrogênio total ................... 0,37%

Cálcio ................................... 0,06%

Magnésio ............................. 0,02%

Potássio ............................... 0,33%

Temperatura ........................ 88ºC

Demanda bioquímica

de oxigênio (DBO) ............... 28.600 mg/L

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99Cana-de-açúcar

c) 150 m³/ha/ano para vinhoto prove-niente da fermentação do melaço.

A referida Deliberação Normativa no 12/86 (COPAM, 1987b) destaca ainda que aaplicação de vinhoto em taxas iguais ouinferiores às definidas anteriormente, de-vem ser precedidas de estudos referentesà sua caracterização, às necessidades nu-tricionais da cultura e aos seus efeitos so-bre as características físicas, químicas ebiológicas do solo, à luz de preceitos agro-nômicos. Ainda de acordo com a Delibe-ração Normativa no 12/86 (COPAM, 1987b),fica proibida a aplicação de vinhaça:

a) em áreas situadas a menos de 200metros de cursos d’água;

b) em áreas alagadas ou sujeitas a inun-dações;

c) em áreas cujo lençol freático situa-se a uma profundidade inferior a2 metros.

Ressalta-se que, atualmente, a Delibe-ração Normativa 12/86 (COPAM, 1987b)encontra-se em fase de revisão pela Secre-taria de Estado de Meio Ambiente e Desen-volvimento Sustentável (SEMAD), comvistas à sua adequação às mudanças ocor-ridas no setor sucroalcooleiro, de forma aabranger a atual realidade das usinas edestilarias.

Água residuária

Estes efluentes são provenientes dodescarte de água de diversas operaçõesindustriais e sistemas de tratamento, taiscomo lavagem de pisos e equipamentos,purga da caldeira, sistemas de lavagem dacana-de-açúcar, descarte de torres de res-friamento e purga da estação de tratamen-to de água (ETA), dentre outros.

Tais descartes são necessários paraa manutenção da qualidade da água man-tida usualmente em circuito fechado naindústria.

Após descartado, o efluente líquido,denominado águas residuárias, é geral-mente encaminhado a uma caixa específicapara este efluente, podendo ser misturadoà vinhaça.

As águas residuárias são encaminha-das às lavouras de cana-de-açúcar, com aprincipal finalidade de suprir a demandahídrica da cultura.

O sistema de irrigação das lavouras decana-de-açúcar, no qual utilizam-se a vi-nhaça e as águas residuárias, é denomina-do fertirrigação. Para a operação desse sis-tema, os empreendimentos contam comcanais de irrigação, tubos de engate rápido,rolões autopropelidos e conjuntos moto-bomba, que têm a finalidade de conduzir oefluente líquido às áreas que serão fertirri-gadas, promovendo, assim, sua disposiçãofinal no solo.

Diferentemente dos demais resíduose efluentes, a taxa de geração das águasresiduárias apresenta uma maior variaçãoentre as unidades produtoras, estandorelacionada com a eficiência dos diversossistemas de tratamento e recirculação (cir-cuito fechado), às perdas por evaporaçãoe à capacidade nominal de produção.

Esgoto sanitário

Este efluente é gerado a partir da utili-zação das instalações sanitárias na indús-tria, nos laboratórios, nos refeitórios e nosescritórios administrativos.

Conforme a NBR 7229 (ASSOCIAÇÃOBRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,1993), para o caso de ocupantes temporá-rios de fábricas em geral, considera-se umataxa de geração de esgotos sanitários daordem de 70 litros/pessoa/dia.

Segundo Sperling (2005), as caracterís-ticas físico-químicas do efluente sanitáriosão:

Geralmente, o esgoto gerado nas insta-lações sanitárias é recolhido e transporta-do por meio de rede subterrânea e encami-nhado ao sistema de tratamento do efluentesanitário.

Atualmente, para tratamento desseefluente líquido, verifica-se uma preferên-cia pela implantação de uma estação detratamento de esgotos (ETE), composta porlagoa fotossintética facultativa.

A utilização desse sistema de tratamen-to em unidades sucroalcooleiras no estadode Minas Gerais apresenta-se bastantedifundido e com comprovada eficiência,aliado à disponibilidade de área, baixo custooperacional e viabilidade de disposiçãofinal do efluente tratado, o qual pode serinfiltrado no solo por escoamento superfi-cial ou encaminhado ao canal de irrigação,para se misturar ao montante de vinhaça eáguas residuárias destinadas à fertirrigação.

A montante da lagoa facultativa, é implan-tado um tratamento preliminar composto por:

a) gradeamento: objetivando a reten-ção de sólidos grosseiros carreadospelo fluxo hidráulico;

b) caixa de areia: para a retenção desólidos finos sedimentáveis (mate-rial terroso);

c) medidor de vazão: dispositivo paracontrole operacional da ETE.

O funcionamento da estação de trata-mento consiste basicamente no seguinteprocesso: os efluentes sanitários ingres-sam na ETE pelo tratamento preliminar,onde são gradeados e recebem tratamentofísico por meio de sedimentação e flotação

pH .............................................................................................................. entre 6-7

Temperatura ............................................................................................... 21ºC

Sólidos suspensos ...................................................................................... 400 mg/L

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) ................................................... 350 mg/L

Demanda química de oxigênio (DQO) ........................................................ 700 mg/L

N-amoniacal ............................................................................................... 30 mg/L

N-orgânico .................................................................................................. 20 mg/L

Fosfato total ............................................................................................... 14 mg/L

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100 Cana-de-açúcar

dos sólidos mais densos e menos densosque a água, respectivamente. Em seguida,esses efluentes são submetidos ao trata-mento secundário ou biológico, em lagoafacultativa, onde a demanda bioquímica deoxigênio (DBO) solúvel e finamente parti-culada é estabilizada por processos aeró-bios por bactérias dispersas no meio lí-quido, ao passo que a DBO suspensa, comtendência à sedimentação, é estabilizadavia anaeróbia por bactérias anaeróbias efacultativas no fundo da lagoa. O oxigêniorequerido pelas bactérias aeróbias é supri-do pelas algas, por meio da fotossíntese.

A eficiência mínima desse sistema éde 84% na remoção de DBO, adequandoo efluente final aos padrões de qualidadepara lançamento em coleções hídricas esta-belecido nas Deliberações Normativasno 10/86 e 32/98 (COPAM, 1987a, 1998).

Outro sistema de tratamento tambémutilizado nas indústrias sucroalcooleiras doEstado, porém mais tradicional que o ante-rior, principalmente em unidades industriaismais antigas, é o tanque séptico com sumi-douro, o qual apresenta eficiência satisfa-tória no tratamento dos esgotos sanitários,quando projetado de forma adequada edentro das prescrições técnicas estabeleci-das na NBR 7229 (ASSOCIAÇÃO BRA-SILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1993).Entretanto, tal sistema não é recomendadopara locais onde o lençol freático apresenta-se pouco profundo, evitando-se, assim, suapossível contaminação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades industriais encontram-sediretamente relacionadas com as questõesambientais, devendo-se, portanto, con-siderar os pontos negativos e positivoscom relação ao meio ambiente e à popu-lação circunvizinha. A interação desses ele-mentos compõe a base do desenvolvimen-to sustentável.

Seguindo essa premissa, todas as for-mas de exploração de recursos naturais de-vem priorizar a minimização dos impactosambientais e maximizar os benefícios sociaise econômicos.

Se por um lado, os impactos ambientaisadvindos da operação de uma fábrica deaçúcar e destilaria de álcool anexa são consi-derados como de grande potencial polui-dor, pela Deliberação Normativa no 98/06(COPAM, 2006), por outro lado as medidasde controle ambiental, usualmente adotadasnas unidades sucroalcooleiras do setor,com base na legislação ambiental vigente,propiciam condições aceitáveis de dispo-sição dos resíduos e efluentes, de formaque minimizem os impactos ambientais pro-vocados por essa atividade industrial, coma adoção de tratamentos específicos decomprovada eficiência e consagrados pelabibliografia especializada.

Considerando a implantação de novosprojetos em Minas Gerais e, conseqüente-mente, o desenvolvimento de novas tecno-logias, as unidades produtoras de açúcar eálcool inserem-se num contexto valoriza-do e promissor, utilizando-se de fonte deenergia limpa (bagaço) e produzindo com-bustível renovável (álcool), alimento (açú-car) e energia elétrica, além de adotaremtecnologia nacional industrial eficiente einvestir no avanço de biotecnologia, paraaumento da eficiência produtiva e otimi-zação do processo.

Diante desse quadro e considerando odesenvolvimento de técnicas modernas,novos equipamentos e procedimentos decomprovada eficiência no tratamento edisposição final dos resíduos sólidos eefluentes líquidos gerados pelo processode produção de açúcar e álcool, pode-seconsiderar que a evolução do setor sucro-alcooleiro segue ao encontro de pressu-postos do desenvolvimento sustentável,desde que consideradas e adotadas as me-didas de controle ambiental necessárias àminimização dos impactos advindos daoperação desses empreendimentos.

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operação de sistemas de tanques sépticos. Rio

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v.18, n.1, p.16-18, 1995.

COPAM. Deliberação Normativa no 10, de 16

de dezembro de 1986. Estabelece normas e pa-

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_______. Deliberação Normativa no 12, de 16

de dezembro de 1986. Estabelece normas com-

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das usinas de açúcar e destilarias de álcool e

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Minas Gerais, Belo Horizonte, 10 jan. 1987b.

Diário do Executivo.

_______. Deliberação Normativa no 32, de 18

de dezembro de 1998. Altera a alínea “h” do

artigo 15 da Deliberação Normativa COPAM

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rais, Belo Horizonte, 24 dez. 1998. Diário do

Executivo.

_______. Deliberação Normativa no 98, de 4 de

maio de 2006. Altera dispositivos da Delibera-

ção Normativa COPAM no 74, de 9 de setembro

de 2004 e dá outras providências. Minas Ge-

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FREIRE, W.; CORTEZ, L. Vinhaça de cana-de-

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102 Cana-de-açúcar

1Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Bolsista Fapemig, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: edilane@epamig

uberaba.com.br

2Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-910 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: [email protected]

3Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000-MG. Correio eletrônico: [email protected]

4Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Bolsista Fapemig, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jpaes@epamig

uberaba.com.br

5Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-910 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico:[email protected]

Resumo - As forrageiras tropicais apresentam elevada produção de matéria seca du-rante a estação chuvosa e quente do ano, no entanto, na estação fria e seca, a produçãode forragem diminui drasticamente. A cana-de-açúcar ocupa um lugar de destaque,devido sua utilização ocorrer, principalmente, no período seco do ano, coincidindocom a escassez de produção de outras gramíneas. Entre as tropicais, a cana-de-açúcar éuma das espécies de gramíneas que apresenta a maior produção de matéria seca porhectare/ano. Esta cultura é de fácil implantação e condução, estando disponível grandeacervo de tecnologias para obtenção de altas produtividades. A cana-de-açúcar é usada,principalmente, in natura e na forma hidrolisada e de silagem. É deficiente em proteínae minerais, entretanto, há tecnologias disponíveis para o balanceamento de dietas pa-ra alimentação de diferentes categorias de bovinos. Após a extração do caldo, o bagaçotambém é usado na alimentação dos bovinos. Além disso, a cana-de-açúcar pode sersubmetida a tratamentos químicos, físicos e microbiológicos, visando elevar suadigestibilidade com conseqüente aumento do consumo de matéria seca e incrementono desempenho animal.

Palavras-chave: Amonização. Bovino. Composição. Consumo. Nutrição. Valor nutri-tivo. Volumoso. Silagem.

INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) éum dos volumosos mais utilizados pelospecuaristas por apresentar facilidade deestabelecimento, produção por vários anos,alta produtividade de matéria seca e valornutritivo praticamente inalterado durantea seca.

Utilização da cana-de-açúcar na alimentaçãode ruminantes

Edilane Aparecida da Silva1

José Joaquim Ferreira2

José Reinaldo Mendes Ruas3

José Mauro Valente Paes4

Geraldo Antônio Resende Macêdo5

As pastagens, no período da seca,apresentam-se escassas e deficientes emenergia, proteína e minerais, ao passo quea cana madura, nessa mesma época do ano,contém mais de 31% de sacarose na maté-ria seca (MS), o que a torna, uma alterna-tiva viável para a alimentação de bovinos,nos países tropicais. A cana pode produzir

mais de 200 toneladas de massa verde porhectare e sua renovação torna-se neces-sária somente a partir do quarto ou quintoano. Apresenta boa aceitabilidade pelosanimais, além de ter custo de produçãorelativamente baixo (THIAGO; VIEIRA,2002). À medida que a cana amadurece, osteores de fibra em detergente neutro (FDN)

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103Cana-de-açúcar

e fibra em detergente ácido (FDA) reduzem-se, contrariamente ao observado para asdemais forrageiras. Esse declínio pode serexplicado pela redução do percentual dosconstituintes da parede celular em decor-rência do acúmulo de carboidratos solú-veis na fase que precede a sua maturação(FREITAS et al., 2006c).

CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO

DA CANA-DE-AÇÚCAR

Atualmente, muitas das lavouras decana-de-açúcar destinadas ao uso forra-geiro apresentam baixa produtividade,devido a não aplicação das tecnologiasdisponíveis, usadas na cultura da cana-de-açúcar destinada à agroindústria, o queonera o seu custo de produção. Destaca-se também o baixo investimento que se fazem desenvolvimento de tecnologias ade-quadas ao cultivo da cana-de-açúcar, parafins forrageiros (LANDELL et al., 2002).

É preconizado que a melhor variedadede cana-de-açúcar para a indústria de açú-car é também a mesma para alimentação dosbovinos, visto que o açúcar contido na ca-na é a principal fonte de energia para essesanimais. Contudo, a escolha da variedadecorreta deve ser feita considerando as se-guintes características: produção de MS(cana-planta e soca), facilidade de colhei-ta e qualidade nutritiva, observando-se nãosomente seu teor de açúcar, como a quali-dade da fibra e a relação entre teor de fibrae o teor de sacarose. Na seleção de varie-dades para a indústria, não se observa aqualidade da fibra da planta, o que afeta demaneira acentuada o valor nutritivo dacana-de-açúcar para bovinos (FREITASet al., 2006b).

O principal fator que reduz o consumovoluntário da cana-de-açúcar é a baixa de-gradabilidade de sua fibra no rúmen, o queprovoca acúmulo de fibra não degradada,limitando o consumo por repleção rumi-nal. A baixa digestibilidade da FDN dacana-de-açúcar está relacionada à alta con-centração de lignina e à sua ligação comcarboidratos estruturais (hemicelulose ecelulose), o que dificulta a ação de micror-

ganismos ruminais sobre esses carboidra-tos. Segundo Soest (1994), em ruminantes,a fibra é responsável pela grande variaçãona digestibilidade dos alimentos volumo-sos, pois na maioria das vezes seu teorapresenta relação negativa com a digesti-bilidade.

A lignina pode ser considerada o fatorprimário a limitar o potencial de digestãodos carboidratos fibrosos, onde está qui-micamente ligada, pois apresenta baixa ounula digestibilidade. A função física da lig-nina é favorecer a rigidez da parede celular,da mesma forma que as características desuas ligações químicas com os polissacarí-deos estruturais, conhecidas como fraçãolignocelulósica, inibem a atividade enzi-mática, limitando a digestão dos carboidra-tos.

Como principal componente químicoque afeta a digestibilidade da matéria seca,apresentam-se várias hipóteses que expli-cam o seu efeito na digestibilidade. Entreestas, estão seu efeito tóxico aos microrga-nismos fibrolíticos, a limitação da ação dasenzimas fibrolíticas criada pela hidrofobici-dade, resultante da deposição dos políme-ros de lignina com a maturidade da planta,e a do impedimento causado pela ligaçãopolissacarídeo-lignina, o que limita o aces-so das enzimas, sendo esta a hipótese maisaceita (JUNG; DEETZ, 1993).

O valor nutritivo das plantas para osanimais está relacionado à qualidade daforragem, à digestibilidade e ao consumode alimentos, que determinam o suprimen-to de nutrientes para os diferentes proces-sos fisiológicos do animal. A qualidade deuma forrageira varia dentro de uma mes-ma espécie de acordo com a idade e parteda planta, fertilidade do solo, entre outros(SOEST, 1994).

A cana-de-açúcar é classificada comoum volumoso de média qualidade. Apre-senta cerca de 58% a 62% de nutrientesdigestíveis totais (NDT), mas com baixosteores de proteína bruta (PB), de 1,5% a4,0%, e fósforo de 0,06% a 0,08%, além deapresentar baixos teores de precursoresgliconeogênicos.

O valor nutritivo da cana-de-açúcarestá diretamente correlacionado com o seualto teor de açúcar (40%-50% de açúcaresna MS), já que o teor de proteína é extre-mamente baixo, além de apresentar baixadegradabilidade da fibra.

A cana-de-açúcar pode apresentar va-lores de MS de 23,66% a 32,54%; de FDNde 37,03% a 56,25% (aos 12 meses) e de44,06% a 65,73% (aos 18 meses) e de carboi-dratos não estruturais de 26,59% a 65,12%(aos 12 meses) e de 25,56% a 53,85% (aos18 meses). Pode-se inferir que o aumentodo conteúdo celular, proporcionado peloacúmulo de sacarose em relação aos cons-tituintes da parede celular, resulta em maiorteor de açúcar e, conseqüentemente, emmaior digestibilidade da planta, à medi-da que ela amadurece (ANDRADE et al.,2004).

A variedade mais adequada para a ali-mentação de ruminantes deveria apresen-tar FDN abaixo de 52% na MS, relaçãoFDN/Brix inferior ou igual a 2,7 e propor-ção de colmos superior a 80% na MS daplanta, com alto teor de açúcar.

No entanto, a FDN da cana-de-açúcartem digestibilidade em torno de 20%, en-quanto outras gramíneas tropicais, como omilho e o capim-elefante, apresentam valo-res em torno de 40% (PEREIRA, 2006). O va-lor médio de FDN relatado por ValadaresFilho et al. (2002) foi de 55,90 ± 8,2, na baseda MS obtida de 39 observações. Estes va-lores mostram que, entre os volumosos maisutilizados na alimentação de ruminantes, acana-de-açúcar é uma das opções que apre-senta menor teor de FDN, em comparaçãoaos valores médios encontrados para sila-gem de milho, silagem de sorgo e capim-elefante de 55,46%; 57,85% e 73,25% nabase da MS, respectivamente.

Apesar de o teor de fibra ser baixo nacana-de-açúcar, a fração fibrosa apresentabaixa taxa e extensão de degradação, ouseja, sua digestibilidade é baixa, provo-cando acúmulo de fibra no rúmen, limitandoo consumo de alimentos e o desempenhodos bovinos.

Os açúcares presentes na cana-de-

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104 Cana-de-açúcar

açúcar são os responsáveis principais pe-lo fornecimento de energia e, conseqüen-temente, pelo desempenho animal (RO-DRIGUES et al., 2002). Hoje, já existem nomercado variedades de cana-de-açúcarpara alimentação animal que apresentamalta produtividade de massa verde, adequa-do teor de açúcares e fibras, além de porteereto de touceiras, uniformidade biométricados colmos, período de utilização maislongo, resistência às doenças e às pragasde importância econômica (LANDELL etal., 2002).

O Brix é uma das medidas para avaliar oteor de carboidratos não fibrosos, sendo avariável mais utilizada como indicativo doteor de açúcar da cana-de-açúcar. A deter-minação da Pol (porcentagem de sacaro-se aparente contida no caldo) seria mais

específica para avaliar o teor de sacarosepresente na cana-de-açúcar, porque o Brixinclui, além da sacarose (Pol), açúcares re-dutores e não-açúcares. À medida que aplanta amadurece, ocorre aumento nosvalores de Brix e da Pol (AZEVÊDO et al.,2003). Os valores médios de Brix devemvariar de 17% a 23%. A relação entre o teorde fibra e Brix é importante na avaliação eescolha da variedade a ser utilizada na ali-mentação animal.

A relação FDN/Brix pode servir paraindicar as variedades para alimentação deruminantes. Esta relação deve ser baixa, ouseja, quanto menor o teor de FDN e maior oteor de açúcar, melhor a variedade para aalimentação. A variedade que apresentaelevado teor de FDN limitará em determi-nado grau a ingestão de cana-de-açúcar e,

conseqüentemente, o consumo de energia.Rodrigues et al. (2002) encontraram naavaliação de 18 variedades de cana-de-açúcar, valores para relação FDN/Brix quevariaram de 2,9 a 4,1. O valor de 3,02 foisugerido como o de referência para relaçãoFDN/Brix. Esses autores observaram que,quanto menor a relação FDN/Brix, maiorserá a digestibilidade in vitro de matériaseca (DIVMS).

Dentre os fatores que afetam a quali-dade da cana-de-açúcar como alimento parabovinos podem-se citar: variedade, idadeda planta e a precipitação.

Existem variações consideráveis entrevariedades, na composição química, decana-de-açúcar (Quadro 1), principalmen-te para o teor de MS, FDN, lignina e teoresde açúcares totais. O ideal seria utilizar va-

QUADRO 1 - Características produtivas e teores percentuais médios de MS, PB, EE, FDN, FDA, CT, lignina, hemicelulose, PIDN, PIDA, NDT, DIVMS

e relação FDN/CS, para variedades de cana-de-açúcar

NOTA: MS – Matéria seca; PB – Proteína bruta; EE – Extrato etéreo; FDN – Fibra em detergente neutro; FDA – Fibra em detergente ácido; CT – Carboidratos

totais; PIDN – Proteína insolúvel em detergente neutro; PIDA – Proteína insolúvel em detergente ácido; NDT – Nutrientes digestíveis totais; DIVMS – Di-

gestibilidade in vitro de matéria seca; CS – Carboidratos solúveis.

(1) Corte realizado aos 11 meses. (2) Corte realizado aos 16 meses.

Variedade MS (%)

PB (%)

EE (%)

FDN (%)

FDA (%)

CT (%)

Lignina (%)

Hemice-lulose

(%)

PIDN (%)

PIDA (%)

NDT (%)

DIVMS (%)

FDN/CS Fonte

IAC86-2480 20,14 – – 57,06 34,34 – 11,11 22,52 – – – – 1,41 Freitas et al. (2006b)

SP80-1842 27,40 2,80 0,70 43,80 25,20 95,20 17,10 18,60 27,00 10,80 55,80 – – Azevêdo et al. (2003)

26,48 – – 55,66 34,63 – 12,45 21,03 – – – – 1,28 Freitas et al. (2006b)

29,80 2,62 1,22 50,05 30,83 – – – – – – – – Andrade et al. (2004)

30,97 2,26 1,23 46,99 27,96 94,09 5,02 – – – – – – Magalhães et al. (2006)

SP79-1011 26,38 – – 53,45 31,84 – 11,69 21,61 – – – – 1,21 Freitas et al. (2006b)

30,20 2,40 0,70 47,60 27,20 95,80 12,20 20,40 30,90 10,90 51,50 – – Azevêdo et al. (2003)

SP80-1816 26,19 – – 53,45 32,03 – 12,64 21,42 – – – – 1,26 Freitas et al. (2006b)

SP91-1049 25,44 _ _ 54,74 33,00 _ 13,09 21,74 – – – – 1,37 Freitas et al. (2006b)

SP78-4764 24,86 2,77 0,80 57,02 31,94 93,81 5,93 _ _ _ 62,05 _ – Vilela et al. (2003)

RB84-257 30,20 2,40 0,80 47,60 27,80 95,90 14,70 19,80 30,90 11,40 52,50 _ – Azevêdo et al. (2003)

RB72-454 23,42 – – 55,46 32,24 – 11,68 23,22 – – – – 1,37 Freitas et al. (2006b)

RB83-5486 20,80 – – 53,53 30,18 – 10,63 23,35 – – – – 1,19 Freitas et al. (2006b)

3031 2,47 1,04 51,04 29,64 – – – – – – – – Andrade et al. (2004)

RB86-7515 25,40 – – 55,64 33,47 – 9,97 22,17 – – – – 1,32 Freitas et al. (2006b)

RB93-5566 20,80 – – 57,82 35,39 – 12,48 22,43 – – – _ 1,72 Freitas et al. (2006b)

RB78-5841 31,91 3,37 – 47,21 35,95 – 6,90 – – – – 55,31 – Pedroso et al. (2006)

(1)RB85-5536 26,00 2,90 – 53,00 30,50 – 10,70 22,50 – – – 69,40 – Freitas et al. (2006c)

(2)RB85-5536 28,60 2,60 – 36,20 23,60 – 15,20 12,60 – – – 77,50 – Freitas et al. (2006a)

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105Cana-de-açúcar

riedades com menor relação fibra:açúcar(LANDELL et al., 2002). Andrade et al.(2004), ao avaliarem 60 genótipos de cana-de-açúcar em duas épocas de corte, encon-traram maiores teores de MS para os genó-tipos colhidos aos 12 meses em relação aos18 meses, 30,60% e 25,88%, respectivamen-te. O teor de PB dos genótipos cortadosaos 12 meses (2,59%) foi maior que aque-le dos genótipos cortados aos 18 meses(2,34%) e os teores de carboidratos totaisnão estruturais foram menores nos genó-tipos colhidos aos 18 meses.

Variedades de cana-de-açúcar de ciclomédio apresentam valores de NDT maioresdo que os das variedades precoces. Istopode ser atribuído à sua menor concen-tração em FDA, uma vez que a ligninaconcentra-se na fração desta. Esta variáveltem sido altamente correlacionada com adigestibilidade do alimento, além do mais,variedades de ciclo médio apresentam me-nores valores de FDN do que as precoces,o que acarreta menor efeito negativo sobreo consumo (FERNANDES et al., 2003).

As variedades precoces atingem a ma-turidade mais cedo e culminam com o maisrápido desenvolvimento de estruturas desustentação, que são constituídas pelospolissacarídeos da parede celular. Esse fa-to torna as variedades de maturação inter-mediárias mais apropriadas ao consumopelos animais, devido à correlação negativa

entre os teores de FDN e de FDA dos ali-mentos e seu valor nutricional (AZEVÊDOet al., 2003; FERNANDES et al., 2003).Portanto, quanto mais madura for a cana-de-açúcar, menor será o conteúdo de FDN,maior será o teor de açúcar e melhor o seuvalor para a alimentação animal.

Com o início da estação chuvosa, o teorde carboidratos solúveis na planta diminui.Nessa época o valor nutritivo da cana-de-açúcar é menor, assim, sua melhor utiliza-ção será no período seco (LANDELL et al.,2002).

Segundo Freitas et al. (2006b), as variá-veis FDN, fração indegradável da FDN,hemicelulose, taxa de degradação dos car-boidratos totais e taxa de degradação daFDN são parâmetros que podem ser uti-lizados para avaliação nutricional da cana-de-açúcar.

Além dos baixos teores de PB regis-trados para a cana-de-açúcar, boa parte doscompostos nitrogenados desse volumosoencontra-se ligada à parede celular, na for-ma de nitrogênio insolúvel em detergenteneutro e de nitrogênio insolúvel em deter-gente ácido (CARDOSO et al., 2004). O ni-trogênio insolúvel em detergente neutro(NIDN), mas solúvel em detergente ácido,é digestível, sendo, porém, de lenta degra-dação no rúmen, enquanto o nitrogênio (N)retido na forma de nitrogênio insolúvel emdetergente ácido (NIDA) é praticamente

indigestível, estando geralmente associadoà lignina e a outros compostos de difícildegradação (SOEST, 1994).

É importante ressaltar a eficiência dacana-de-açúcar na utilização do nitrogênioaplicado na cultura, em termos de produ-ção de matéria seca. Segundo Nussio et al.(2002), a cana-de-açúcar apresenta o maiorpotencial de produção de MS, por quilo-grama de N aplicado, e extrai menor quan-tidade de N por tonelada produzida, emrelação a outras forrageiras (Quadro 2).Além disso, a cana-de-açúcar destaca-seainda por apresentar menor custo de pro-dução frente às silagens de milho e sorgo.

A presença de carboidratos solúveis emgrande quantidade pode ocasionar maiorprodução de metano (CH

4) no rúmen. O me-

tano é um importante gás que contribui parao efeito estufa. A suplementação da dietacom base em cana-de-açúcar com alimen-tos concentrados garante melhor eficiên-cia energética das dietas (PEDREIRA et al.,2003).

Pedreira et al. (2003) quantificaram aprodução de metano em novilhas mestiçasleiteiras alimentadas com a variedade decana-de-açúcar IAC86-2480, suplementadacom uréia ou concentrado. Observaram queos animais que consumiram cana-de-açúcarIAC86-2480, mais concentrado, produzi-ram maiores quantidades de metano (2,18Mcal/dia), que aqueles que consumiram as

FONTE: Nussio et al. (2002) e Siqueira (2005).

NOTA: PB – Proteína bruta; N – Nitrogênio; MS – Matéria seca.

(1) Forragens conservadas na forma de silagens. (2) Forragem na forma de feno. (3) Forragem in natura.

(1)Milho 13,00 8,80 1,41 14,08 183 71

(1)Sorgo 15,00 9,10 1,46 14,56 218 69

(1)Capim-tanzânia 25,00 6,0 0,96 9,60 240 104

(1)Aveia 6,00 12,90 2,06 20,64 124 48

(2)Capim-tifton 20,00 13,70 2,19 21,92 438 46

(3)Cana-de-açúcar 28,00 2,50 0,40 4,00 112 250

QUADRO 2 - Parâmetros relacionando teores de nitrogênio e produção de MS de forrageiras utilizadas na suplementação animal, como forragens

conservadas

kg MS/kg NForrageiraProdução de MS

(t/ha)

PB na MS

(%)

N na MS

(%)

Extração

(kg N/t MS)

Adubação

(kg N/ha)

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106 Cana-de-açúcar

dietas com a cana-de-açúcar IAC86-2480,mais uréia, (1,48 Mcal/dia).

Aliada às suas características favorá-veis, pode-se inferir que a cana, após a co-lheita, pode ficar armazenada em até 4,5 diaspós-corte, porém, após o 3o dia, ocorre dimi-nuição no seu teor energético (OLIVEIRAet al., 1999). O tempo de 4,5 dias indicouuma queda acentuada no teor de sacaroseem relação aos sólidos solúveis totais e,a partir dos três dias de armazenamento,houve maior teor de açúcares redutores, oque demonstrou a ocorrência da transfor-mação de sacarose em glicose e frutose.Esta informação permite administrar a mão-de-obra no corte da cana. É importante res-saltar que a cana pode ficar cortada parauso até por três dias, porém sem ser pica-da, o que é feito somente no momento daalimentação dos bovinos.

BALANCEAMENTO

NUTRICIONAL DE DIETAS

COM CANA-DE-AÇÚCAR

PARA BOVINOS

As deficiências de proteína e minerais,em relação às exigências dos bovinos,observadas na cana-de-açúcar, podem sercorrigidas de maneira adequada, desde quefontes de nitrogênio protéico ou não pro-téico sejam fornecidas, acrescidas de suple-mentação mineral.

Cana/uréia/sulfato de amônio

A cana-de-açúcar deve ser fornecidapara bovinos juntamente com uma fontede nitrogênio, sendo a uréia a mais utili-zada. A uréia possui 45% de nitrogênio eapresenta equivalente protéico superior a280% de PB, sendo quase sempre uma fontede nitrogênio de menor custo. A utilizaçãodo sulfato de amônio se faz necessária co-mo fonte de enxofre, para síntese micro-biana de aminoácidos sulfurados no rúmen.As bactérias ruminais que degradam a fra-ção fibrosa utilizam o nitrogênio amoniacalcomo principal fonte de nitrogênio para seucrescimento, sendo a uréia a forma maissimples e barata de corrigir a deficiência denitrogênio da cana-de-açúcar. A uréia,

quando chega ao rúmen, libera amônia, que,combinada com os produtos da digestãodos carboidratos, formará a proteína micro-biana.

A mistura recomendada é de 90% deuréia e 10% de sulfato de amônio, sendoaplicada na base de 1 kg para cada 100 kgde cana-de-açúcar fresca picada. Na fasede adaptação, durante uma semana, usarapenas 0,5 kg da mistura para os mesmos100 kg de cana-de-açúcar picada. Para apli-car a mistura, distribuir a cana-de-açúcarno cocho e com regador, aplicar de maneirauniforme a mistura uréia + sulfato de amô-nio, diluída na base de um quilo para 3 a4 litros de água. Os animais que estiveremconsumindo cana-de-açúcar mais uréia/sulfato de amônio devem ter sempre livreacesso à mistura mineral e à água. A mis-tura uréia + sulfato de amônio pode serarmazenada nos próprios sacos de uréia,logo após a mistura, desde que a boca dosaco permaneça bem amarrada, pois a uréiaabsorve muita umidade e pode endure-cer.

A utilização da mistura uréia + sulfa-to de amônio pode resultar em ganhos deaté 300 g/cab./dia. Quando se almejam ga-nhos superiores, na faixa de 500 g/cab./dia,devem-se acrescentar concentrados pro-téicos, que irão atender às exigências nutri-cionais do animal. Para animais em confina-mento, com ganhos entre 600 e 700 g/cab./dia, torna-se necessário o uso de misturasprotéicas/energéticas, fornecidas na basede até 2,5 kg por animal/dia. Entretanto,nessa situação, o retorno econômico temque ser previamente estudado, pois a cana-de-açúcar apresenta uma baixa conversãoalimentar, não se tornando uma estratégiaideal para determinadas situações.

Concentrados EPAMIG

Outra forma de fornecer a cana-de-açúcar para bovinos é recomendada porFerreira et al. (no prelo). Além dos baixosteores de proteína e enxofre, a cana tam-bém é pobre em fósforo, magnésio, zinco ecobre. Estes minerais, além de serem impor-tantes para a nutrição dos bovinos, tam-

bém o são para os microrganismos do rú-men.

Por outro lado, sabe-se que o forneci-mento de sal mineral em cochos, à vontade,apresenta restrição de que a quantidadeconsumida por animal é variável e não estárelacionada aos respectivos requerimentosnutricionais (MCDOWELL,1996).

Com base nesse fato e nos baixos teo-res de minerais da cana, foi proposta a inclu-são de minerais na mistura cana, uréia esulfato de amônio. A vantagem dessa re-comendação é proporcionar uma inges-tão balanceada de minerais ao bovino, emquantidade desejada pelo produtor. Istonão seria possível, se a mistura balanceadapara cana fosse colocada à vontade nococho, pois, além do consumo variável poranimal, haveria a limitação da palatabili-dade da mistura.

A fórmula dessa mistura elaboradana EPAMIG e denominada NitromineralEpamig Cana é: uréia – 55%; sulfato deamônio – 6%; fosfato bicálcico – 14%; salmineral – 20% e sal comum – 5%. Estafórmula é fornecida, misturada à cana fresca,na base de 14 g/kg de volumoso.

A substituição de parte do nitrogênioda uréia por nitrogênio de fontes de proteí-na natural resulta em significativo aumentono desempenho dos bovinos, recebendocana como volumoso (FERREIRA, et al.,no prelo).

Outra fórmula denominada Nitropro-téico Epamig Cana é: farelo de soja – 83%;uréia – 5,2%; sulfato de amônio – 0,6%;calcário – 1,2%; fosfato bicálcico – 2%; salmineral – 6,4% e sal comum – 1,6%. Estafórmula é misturada à cana fresca na basede 50 g/kg.

Os resultados do experimento condu-zido com bezerros 3/4 Zebu x Holandês,que comparou a cana acrescida de uréia esulfato de amônio e minerais fornecidos nococho, com Nitromineral Epamig Cana eNitroprotéico Epamig Cana, são apresenta-dos no Quadro 3.

No Quadro 3, observa-se que o forne-cimento dos minerais, concomitantes coma uréia e o sulfato de amônia, resultou em

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107Cana-de-açúcar

significativo aumento do ganho de peso,com o mesmo consumo de cana, o que evi-denciou maior eficácia na utilização dosnutrientes da dieta pelos bezerros. Mesmonão analisadas estastisticamente, observou-se maior conversão de minerais e MS con-sumidos, em ganho de peso vivo. Com basenesses resultados, o fornecimento dosminerais juntamente com a uréia e o sulfatode amônia em mistura com a cana resultaem vantagens econômicas para o produ-tor.

Constatou-se que a substituição departe do nitrogênio da uréia pelo equiva-lente de proteína no farelo de soja resultouem significativo aumento do ganho de

peso. Isto explica-se, em parte, pelo expres-sivo aumento no consumo de matéria secade cana. Mesmo com aumento simultâneode consumo e ganho de peso, a conversãode minerais e matéria seca consumidos, emganho de peso foi destacadamente aumen-tada, o que evidenciou maior eficácia nautilização dos nutrientes.

CANA-DE-AÇÚCAR E URÉIA

PARA RECRIA DE

BOVINOS EM CRESCIMENTO

O preceito de que a cana-de-açúcar de-veria ser utilizada somente para animais debaixo potencial produtivo foi rejeitado, de-vido aos trabalhos de pesquisa e expe-

riências que comprovam que a cana-de-açúcar é viável também para animais de altaprodução.

Segundo Pereira (2006), a utilização dacana-de-açúcar na alimentação de bovinosleiteiros especializados é viável, apesar dapossibilidade de depressão do consumo eda produção de leite de animais com altademanda nutricional. Estrategicamente, acana-de-açúcar deve ser utilizada na recria,em vacas não lactantes, em vacas em lac-tação com menor demanda nutricional e,em baixas inclusões na dieta de vacas demaior produção.

Rodrigues et al. (2002), ao avaliarem qua-tro variedades de cana-de-açúcar, durante118 dias, em novilhas da raça Canchim, commédia de peso vivo inicial de 219,1 kg e12,3 meses de idade, confinadas em baiascoletivas, observaram que as variedadescom relação FDN/açúcares menores e maio-res valores de DIVMS permitiram maioresganhos de peso das novilhas em cresci-mento (Quadro 4).

CANA-DE-AÇÚCAR E URÉIA

PARA VACAS EM LACTAÇÃO

O fornecimento de cana-de-açúcar aanimais de elevada exigência nutricional,como vacas leiteiras em lactação, resultaem redução do consumo de MS e produçãode leite, sendo esse efeito atribuído à bai-xa qualidade da fibra da cana-de-açúcar.Essa correlação negativa à ingestão de MS,não ocorre apenas devido à fração indiges-tível da fibra, mas também pela taxa de di-gestão da fibra potencialmente degradável,incrementando o efeito de repleção ruminal.Resultados mais recentes e promissores fo-ram encontrados na literatura e comprovama possibilidade da utilização da cana-de-açúcar como volumoso para vacas leiteirasde maior potencial de produção de leite(CORRÊA et al., 2003; COSTA et al., 2005;MAGALHÃES et al., 2006; MENDONÇAet al., 2004; OLIVEIRA et al., 2004).

Magalhães et al. (2006), ao avaliarem asubstituição da silagem de milho por cana-de-açúcar em dietas para vacas em lacta-

Bezerros (no) 11 12 12

Dias (no) 140 140 140

Idade (meses) 11,9 11,5 11,8

Peso vivo inicial (kg) 203,2 203,7 203,2

Peso vivo final (kg) 229,5 239,8 278,5

(1)Ganho médio diário (kg) (G) 0,188a 0,258b 0,538c

Consumo (kg/cab./dia)

MS (M) 3,29 3,33 4,81

(2)PB (P) 0,42 0,37 0,52

(3)Conversão (kg)

M/G 17,5 12,9 8,94

P/G 2,23 1,43 0,97

Consumo de minerais (g/cab./dia)

Sal mineral

Via cocho 80 – –

Via concentrado – 34 41

Outros minerais – 32 31

Total (T) 80 66 72

(4)Conversão (T/G) 425 255 134

QUADRO 3 - Ganho de peso, consumo de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e minerais por

bezerros, que receberam cana-de-açúcar suplementada com uréia + sulfato de amô-

nio e sal mineral no cocho – Nitromineral Epamig e Nitroprotéico Epamig

(1) Letras minúsculas referem-se à comparação de médias de ganho de peso pelo teste de Student

Newman Keuls (P < 0,05). (2) Proteína bruta ou equivalente protéico. (3) kg de MS ou PB, por kg

de peso vivo ganho. (4) g de minerais consumidos por kg de peso vivo ganho.

Nitroprotéico

EpamigItem

Sal mineral

no

cocho

Nitromineral

Epamig

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I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , p . 1 0 2 - 11 9 , j u l . / a g o . 2 0 0 7

108 Cana-de-açúcar

ção, com potencial de produção de 5 mil a7 mil kg de leite, observaram que o efeitoredutor no consumo da cana-de-açúcar nãoestá diretamente relacionado com o teor deFDN das dietas. Este componente diminuicom o aumento da proporção de cana-de-açúcar. Segundo esses autores, o maiorconteúdo de lignina na cana-de-açúcar po-de ter afetado a proporção de FDN indi-gestível, além da taxa e da extensão da di-gestão da FDN, potencialmente digestíveldas dietas.

Magalhães et al. (2004), ao avaliarem asubstituição de silagem de milho por cana-de-açúcar, em dietas completas para vacasem lactação as quais produziam, em média,24 kg de leite por dia, concluíram que ainclusão de 33,3% de cana-de-açúcar novolumoso foi técnica e economicamenteviável. Já níveis maiores foram inviáveis,pois a substituição destes níveis de cana-de-açúcar por silagem de milho influenciounegativamente a produção de leite e a va-riação de peso corporal dos animais.

Ao analisarem o desempenho produ-tivo de vacas leiteiras com potencial paraprodução média de 6 mil kg de leite porlactação, alimentadas com diferentes pro-porções de cana-de-açúcar (60%; 50% e40%) e concentrado ou silagem de milho(60%) na dieta, Costa et al. (2005) nãoencontraram diferença para a produção de

leite (20,81 e 19,78 kg/dia), consumo de MSda maior parte dos nutrientes, digestibili-dade aparente da maioria dos nutrientes evariação de peso, entre a dieta com 60% desilagem em relação à dieta com 40% de cana-de-açúcar. Para composição do leite, nãoforam observadas diferenças entre os trata-mentos (Quadro 5). Segundo esses autores,a elevada participação de concentrado nadieta com 40% de cana-de-açúcar não deveser vista como obstáculo ao seu uso, sendoque a decisão sobre sua utilização passa aser de ordens agronômica e/ou econômica.

Corrêa et al. (2003), ao compararem acana-de-açúcar com silagem de milho emdietas para vacas leiteiras holandesas dealta produção, observaram produção de lei-te de 34,3 kg/dia contra 31,9 kg/dia. Apesardisso, a produção obtida com a cana-de-açúcar foi considerada promissora. Essesautores ressaltaram que a cana-de-açúcarparece ser uma boa opção para alimentaranimais de alta produção de leite, desdeque a fase de lactação, na qual os animaisse encontram, não exija demanda nutricio-nal máxima.

Ao avaliarem proporções de cana-de-açúcar na ração (50% e 60%) em combi-nação com teores de uréia (0,35% e 1% namatéria natural da cana-de-açúcar), compa-radas com silagem de milho com relação vo-

Teor de MS (%) 28,13 31,36 30,69 31,01

Peso vivo, inicial (kg) 215,50 216,30 221,80 222,80

CDMS (kg) 6,84 6,60 7,08 7,18

CDMS (% PV) 2,70 2,71 2,79 2,79

GDPV (kg/animal/dia) 0,89a 0,65c 0,76b 0,82ab

CA (kg MS/kg de ganho) 7,68 10,15 9,32 8,75

QUADRO 4 - Teores de matéria seca (MS) de quatro variedades de cana-de-açúcar, peso vivo

inicial, média diária de consumo de matéria seca (CDMS), média diária de ganho de

peso vivo (GDPV) e conversão alimentar (CA) de novilhas alimentadas com dietas

que continham quatro variedades de cana-de-açúcar

RB83-5486

FONTE: Rodrigues et al. (2002).

ParâmetroVariedade

IAC86-2480 IAC87-3184 RB72-454

FONTE: Costa et al. (2005).

NOTA: Médias seguidas de mesma letra, na mesma linha, não diferem (P>0,05) pelo teste Tukey.

SA - Sulfato de amônio; CV - Coeficiente de variação.

PL (kg/dia) 20,81a 16,90c 18,82b 19,78ab 8,55

PLC (kg/dia) 21,22a 16,76b 17,52b 19,79ab 14,74

PBL (%) 3,65a 3,63a 3,70ª 3,73a 5,88

GL (%) 3,61a 3,45a 3,25ª 3,47a 16,04

LA (%) 4,07a 4,12a 4,22ª 4,16 7,28

EST (%) 12,51a 12,14a 12,22 12,69a 5,95

QUADRO 5 - Produção de leite sem (PL) e com (PLC) correção para 3,5% de gordura e composição

média do leite para proteína bruta (PBL), gordura (GL), lactose (LA) e extrato seco

total (EST)

ItemSilagem de

milho

Cana-de-açúcar + 1% uréia/SA

CV

60% 50% 40%

lumoso: concentrado de 60:40, Mendonçaet al. (2004) observaram que não houveefeito dos teores de uréia sobre o desem-penho e a composição do leite das vacaslactantes. As produções de leite das vacasalimentadas com cana-de-açúcar foramsimilares, independente do nível de uréiaou da relação volumoso: concentrado, noentanto, foram menores que a produção deleite das vacas alimentadas com silagemde milho (22 contra 20 kg/dia).

Comparando diferentes suplementos(farelo de algodão, milho e farelo de trigo),

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109Cana-de-açúcar

para vacas mestiças em lactação (produçãomédia diária de 8,5 kg de leite) alimentadascom cana-de-açúcar, Vilela et al. (2003)encontraram que o farelo de trigo foi o suple-mento que apresentou os melhores resul-tados para produção e composição do leite,consumo de MS, digestibilidade dos nu-trientes e eficiência alimentar. De acordocom esses autores, as rações que conti-nham maiores quantidades de uréia, cana-de-açúcar mais uréia e cana-de-açúcar maisuréia e milho apresentaram menores con-sumos, devido à baixa palatabilidade dauréia.

Ao analisarem o impacto bioeconômicoda substituição da silagem de milho pelacana-de-açúcar, durante o período seco, emdietas de vacas em lactação, com produ-ção média de 6 mil kg de leite, Oliveira et al.(2004) observaram que a utilização da cana-de-açúcar como único volumoso propor-cionou ganhos de escala de produção e demargem bruta anual.

Contudo, ressalvas devem ser feitascom relação ao excesso de concentrado nadieta, quando se utiliza a cana-de-açúcarcomo volumoso, apesar de o aumento deconcentrado na dieta proporcionar maioraporte de matéria orgânica digestível, o queaumenta o consumo de MS e, por conse-guinte, atende às exigências energéticasdo animal. Seu excesso pode causar diver-sos distúrbios metabólicos, como conse-qüência do rápido abaixamento do poten-cial hidrogeniônico (pH) ruminal, que podecausar desde acidoses subclínicas até ca-sos mais severos, levando o animal à mor-te. Além do mais, o custo do concentradonormalmente é alto, sendo economicamen-te inviável, quando utilizado em elevadasproporções (COSTA et al., 2005).

CANA-DE-AÇÚCAR E URÉIA PARA

ANIMAIS EM CONFINAMENTO

Cardoso et al. (2004), ao avaliarem odesempenho de novilhas Simental com pe-so vivo médio de 400 kg, confinadas du-rante 88 dias, utilizando silagem de sorgo,cana-de-açúcar e palhada de arroz tratada

ou não com amônia anidra, observaramganhos de pesos para os animais tratadoscom palhada de arroz + uréia, silagem desorgo e cana-de-açúcar + uréia de 1,25; 1,42e 1,11 kg/dia, respectivamente, os quais nãodiferiram entre si.

Vaz e Restle (2005), ao avaliarem ascaracterísticas de carcaça e da carne de no-vilhos Hereford terminados em confina-mento por 112 dias, alimentados com dietascom 67% de cana-de-açúcar ou silagem demilho, observaram maior peso de abate nosanimais alimentados com silagem de milhoem relação aos alimentados com cana-de-açúcar (446 contra 421 kg).

No entanto, Vaz e Restle (2005) não obser-varam diferenças entre cana-de-açúcar esilagem de milho para rendimento de carca-ça fria (50,10% contra 51,50%), quebra du-rante o resfriamento (1,45% contra 1,31%)e porcentagem dos cortes comerciais dacarcaça. O comprimento de carcaça foi maiornos novilhos alimentados com silagem demilho (122 contra 125 cm), mas a fonte devolumoso não afetou a conformação decarcaça (9,33 contra 9,67 pontos), espes-sura de gordura de cobertura (5,17 contra4,91 mm), área de Longissimus dorsi (56,4contra 59,7 cm2), assim como as porcenta-gens de músculo (64,2% contra 63,3%) eosso (16,0% contra 14,7%) na carcaça. Ani-mais alimentados com silagem de milhoapresentaram maior porcentagem de gor-dura na carcaça (23,2% contra 20,6%). Nãohouve diferença nas características cor,textura, marmoreio, força de cisalhamento,maciez e quebra na cocção da carne paraos diferentes volumosos.

Brondani et al. (2006), ao avaliarem oefeito da cana-de-açúcar ou da silagem demilho sobre as características das carcaçasde novilhos confinados observaram maiorrendimento de carcaça fria para a dieta comsilagem de milho em relação à cana-de-açúcar (52,24% contra 50,38%), atribuindoo fato à maior digestibilidade da silagemde milho em relação à cana-de-açúcar, queocasionou maior volume ruminal, devido asua maior permanência no trato digestivo,

que interfere no rendimento da carcaça.A porcentagem de quebra no resfriamen-to, conformação e comprimento da carcaça,espessura de gordura subcutânea, área deLongissimus dorsi, cor e marmoreio tam-bém foram similares entre os tratamentos.Porém, nesse experimento as carcaças dosanimais alimentados com silagem de milhoapresentaram maior porcentagem de mús-culo e menor de gordura, quando compa-radas com a dieta contendo cana-de-açúcar.Segundo esses autores, carcaças com maiorquantidade de músculo e menor de gordurasão ideais, pois a toalete feita nesta é me-nos acentuada, diminuindo o desperdícioe aumentando o rendimento de carcaça.Além do mais, o mercado consumidor pre-fere carnes com menos gordura, devido àrelação entre a gordura consumida pelaspessoas e problemas cardiovasculares.

UTILIZAÇÃO DE ADITIVOS

NA CANA-DE-AÇÚCAR

Existem substâncias químicas utiliza-das para o tratamento de forragens, comalto teor de FDN, o que ocorre principalmen-te quando estas se encontram em idadesavançadas ou apresentam baixa digestibi-lidade, como é o caso da cana-de-açúcar.Estas substâncias melhoram a digestibili-dade e a disponibilidade de nutrientes doalimento para os animais. As substânciasmais utilizadas para o tratamento de ma-teriais fibrosos são o hidróxido de sódio(NaOH), hidróxido de cálcio (CaOH

2), hi-

dróxido de potássio, amônia anidra (NH3)

e óxido de cálcio (CaO).Os álcalis promovem ataque hidrolítico

nas ligações covalentes do tipo éster entrea lignina e a parede celular das gramíneas,que são particularmente suscetíveis a esteataque (SOEST, 1994). Os produtos alca-linos solubilizam a hemicelulose e aumen-tam a digestibilidade da celulose e da hemi-celulose, pela expansão da fração fibrosa.

O NaOH apresenta superioridade, emrelação ao hidróxido de amônio (NH

4OH),

ao deslignificar o volumoso. Provavelmen-te isto ocorre, porque o NaOH é mais forte

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110 Cana-de-açúcar

que o NH4OH (MANZANO et al., 2000).

O NaOH é uma das substâncias mais efi-cientes no tratamento de volumosos queapresentam baixa qualidade, no entanto,essas dietas apresentam alto teor de sódioe podem contaminar o ambiente, uma vezque aparece em alta concentração na urinae fezes dos animais que receberam esse ali-mento.

O tratamento da cana-de-açúcar comaspersão de NaOH, a partir de dispositivodosador acoplado à picadeira, apresenta-se como uma alternativa, pois o tratamentocom NaOH proporciona melhoria na diges-tibilidade, incrementando a ingestão volun-tária, aumentando o consumo de água e pre-venção de acidose (EZEQUIEL et al., 2005).

Andrade et al. (2001b) avaliaram o valornutritivo da cana-de-açúcar tratada com1,0% de NaOH, acrescida de 0; 40; 80 e120 kg de rolão de milho. Observaram queo tratamento da cana-de-açúcar com NaOHmelhorou a degradação da fibra e aumentoua digestibilidade da MS.

Ezequiel et al. (2005), ao avaliarem oefeito do tratamento alcalino da cana-de-açúcar com NaOH, sobre a digestibilidadetotal, e o consumo de MS, utilizando ostratamentos cana-de-açúcar in natura, hi-drolisada fenada e hidrolisada ensiladacomo fonte de volumosos para bovinosmestiços, observaram que o tratamentoalcalino foi mais eficiente na fração fibrosa,proporcionando aumentos de pelo menos45% na digestibilidade. Concluíram que otratamento alcalino com NaOH, com ou semfenação, melhorou a digestão da fibra dacana-de-açúcar no trato digestivo total,proporcionando acréscimo do consumo deMS da cana-de-açúcar, sem afetar a taxa depassagem, porém a ensilagem pode nãotrazer esses benefícios.

FORMAS VARIADAS DE

UTILIZAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Bagaço de cana-de-açúcar

O bagaço é o resultado da extração docaldo de cana-de-açúcar, caracterizado co-mo um alimento de altos teores de parede

celular, baixa densidade energética e pobreem proteína e minerais. Constitui um vo-lumoso de baixo valor nutritivo e de baixopotencial de utilização na alimentação ani-mal, contudo, seu uso será eficiente, se ovalor nutritivo for melhorado pelo trata-mento físico ou químico.

O desenvolvimento de métodos de tra-tamento que permitam o rompimento daestrutura fibrosa, permitindo maior ataquemicrobiano, torna esses alimentos mais di-gestíveis, viabilizando sua utilização.

O bagaço de cana-de-açúcar pode seruma alternativa viável, pois além de ser umresíduo da agroindústria, apresenta baixocusto e é produzido na época de confina-mento e escassez de alimento (LEME et al.,2003). Contudo, seu uso está restrito àsproximidades das usinas e destilarias.

Bulle et al. (2002), ao avaliarem o desem-penho de tourinhos cruzados com peso

vivo inicial de 257 kg e 9 meses de idade,confinados e alimentados com bagaço decana-de-açúcar in natura, como únicovolumoso em três níveis 9%, 15% e 21% daMS, observaram que animais alimentadoscom 15% de bagaço apresentaram maiorconsumo de MS e ganho de peso vivo (7,93e 1,36 kg/dia), do que animais alimentadoscom 9% de MS (6,85 e 1,20 kg/dia).

Ao avaliarem dietas de alto concentra-do com 15%, 21% ou 27% da MS em baga-ço de cana-de-açúcar, no desempenho denovilhos Nelore, Leme et al. (2003) nãoobservaram efeitos para as característicasde ganho médio diário (1,46 kg) e eficiênciaalimentar entre os tratamentos. Para ascaracterísticas peso de carcaça quente, gor-dura renal e pélvica, área de olho de lomboe espessura de gordura subcutânea nãohouve diferença entre os tratamentos (Qua-dro 6). O maior consumo de MS ingerida

FONTE: Leme et al. (2003).

NOTA: 1 – Y = 9,2993-0,0655*X; 2 – Y = 2,6958-0,0179*X; 3 – Y = 60,4990-0,1322*X;

4 – Y = 5,7781-0,0490*X (*P < 0,05).

PV – Peso vivo.

(1) Ganho médio diário/kg de matéria seca ingerida.

Peso médio inicial (kg) 277 279 281 9,30

Peso médio final (kg) 423 424 416 7,40

Ganho médio diário (kg) 1,51 1,49 1,38 11,70

(1)Eficiência alimentar (kg) 0,19 0,18 0,18 7,20

Matéria seca ingerida (kg) 8,30 7,90 7,50 8,00 1

Matéria seca ingerida/100 kg PV (kg) 2,40 2,30 2,20 7,70 2

Peso de carcaça quente (kg) 247,00 246,60 235,70 6,80

Rendimento de carcaça (%) 58,30 58,20 56,70 2,10 3 0,24

Gordura renal e pélvica (kg) 8,50 8,40 7,80 20,60

Peso do fígado (kg) 5,10 4,70 4,50 9,9 4 0,22

Área de olho de lombo (cm2) 62,40 61,80 58,00 9,60

Espessura de gordura subcutânea 8,75 8,12 8,00 54,60

QUADRO 6 - Médias, coeficiente de variação (CV), equações de regressão (EqR) e coeficiente de

determinação (R2) para as características de desempenho dos animais submetidos

aos diferentes tratamentos

Característica

Nível de bagaço

(%) CV EqR R2

15 21 27

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111Cana-de-açúcar

foi obtido nos tratamentos com menor por-centagem de bagaço. Os autores confirmama viabilidade do uso de 15% ou 21% debagaço de cana-de-açúcar como única fon-te de volumoso para novilhos Nelore emconfinamento, alimentados com dietas comelevada proporção de concentrado, con-tendo milho, polpa de citrus e farelo de soja.

Vários trabalhos como os de Carvalhoet al. (2006) e Pires et al. (2004) têm sidoconduzidos com o objetivo de melhorar ovalor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar, para ser utilizado na alimentaçãode ruminantes. O tratamento químico pormeio de álcalis, ou seja, a amonização, éuma alternativa viável na melhoria da qua-lidade desses alimentos.

O tratamento químico eleva os conteú-dos de N (Quadro 7), aumentando, assim, adisponibilidade para os microrganismosruminais. Como o material a ser amonizado,normalmente, possui teor baixo de N, limi-tando o desenvolvimento dos microrga-nismos, o aumento no teor desse elemento,depois da amonização, permite a atuaçãomais eficiente das bactérias ruminais sobre

o substrato, em razão do aumento do teorde proteína bruta sintetizada, a partir daadição de N não protéico. Além do mais, aamonização por meio da amônia provocaalterações benéficas na fração fibrosa dovolumoso, sendo, geralmente, mais expres-sivo sobre a fração FDN, em conseqüên-cia da solubilização parcial da hemicelu-lose do material amonizado (CARVALHOet al., 2006).

No entanto, o aumento no teor de N,vai variar em função das doses de amôniaaplicada, temperatura ambiente, teor deumidade, período de amonização e quali-dade do material ensilado (CARVALHO etal., 2006).

A uréia tem sido utilizada como prin-cipal fonte de amônia na amonização, devi-do ao seu menor custo e maior disponi-bilidade. O tratamento de materiais comprodutos alcalinos provoca a solubilizaçãoparcial da hemicelulose e a expansão dacelulose, o que facilita o ataque dos micror-ganismos à parede celular, com conseqüen-te aumento na digestibilidade do materialtratado. Os incrementos na DIVMS de

volumosos tratados, normalmente aumen-tam o consumo e o desempenho animal(CARVALHO et al., 2006).

A utilização da uréia na amonizaçãotambém diminui a relação do NIDA e NIDNpor N total. A importância do conhecimentoda modificação no teor de NIDA é justifi-cada pelo fato de o N, presente nessa forma,permanecer indisponível para o animal. Aredução do teor de NIDN é um indicativode melhor valor nutritivo e de maiordisponibilidade de N para a flora microbiana(CARVALHO et al., 2006; SOEST, 1994).

Carvalho et al. (2006), ao utilizaremquatro doses de adição de uréia (0%, 2,5%;5,0% e 7,5%), para o tratamento do bagaçode cana-de-açúcar, encontraram aumentolinear no teor de PB com a inclusão de dosesde uréia ao bagaço de cana-de-açúcar,porém, esses autores ressaltaram que,embora as doses de uréia tenham causadoefeito positivo sobre os conteúdos de PB,não significa que seja pertinente adicionaraltas doses de uréia, pois isto excede anecessidade dos ruminantes. A adição de2,62% de uréia foi suficiente para favorecer

QUADRO 7 - Teores percentuais médios de MS, PB, FDN, FDA, hemicelulose, celulose, lignina, NIDN, NIDA, DIVMS, NA, perda de MS, pH do ba-

gaço de cana-de-açúcar submetido a diferentes tratamentos

NOTA: MS – Matéria seca; PB – Proteína bruta; FDN – Fibra em detergente neutro; FDA – Fibra em detergente ácido; NIDN – Nitrogênio insolúvel em

detergente neutro; NIDA – Nitrogênio insolúvel em detergente ácido; DIVMS – Digestibilidade in vitro de matéria seca; NA – Nitrogênio amoniacal;

pH – Potencial hidrogeniônico.

(1) Nitrogênio em porcentagem do N total. (2) Nitrogênio amoniacal em porcentagem do N total.

Tratamento MS (%)

PB (%)

FDN (%)

FDA (%)

Hemice-lulose

(%)

Celulose (%)

Lignina (%)

(1)NIDN (%)

(1)NIDA (%)

DIVMS (%)

(2)NA (%) pH Fonte

Bagaço de cana 40,11 2,32 59,02 38,34 20,68 30,30 7,34 0,07 0,08 _ _ _ Carvalho et al. (2006)

Bagaço de cana amonizado com 0% uréia – 3,78 78,07 49,04 29,03 39,27 9,67 22,18 17,13 32,97 6,73 3,66 Carvalho et al. (2006)

Bagaço de cana amonizado com 2,5% uréia – 6,85 71,25 44,37 26,92 35,97 8,32 19,22 14,03 38,24 52,28 5,48 Carvalho et al. (2006)

Bagaço de cana amonizado com 5,0% uréia – 9,91 64,62 39,61 24,81 32,67 6,98 16,26 10,93 43,51 71,97 7,31 Carvalho et al. (2006)

Bagaço de cana amonizado com 7,5% uréia – 12,98 57,61 34,90 22,70 29,37 5,63 13,31 7,83 48,79 65,81 9,14 Carvalho et al. (2006)

Bagaço de cana in natura – 0,80 88,30 54,40 34,00 41,70 – – – 32,40 – – Manzano et al. (2000)

Bagaço auto-hidrolisado, pressão de 17 kgf/cm2 por 5 min

– 0,80 61,30 51,80 9,40 41,20 – – – 36,90 – – Manzano et al. (2000)

Bagaço tratado com 4% Na2S + 6% NaOH, pressão de 12 kgf/cm2 por 8 min

– 0,40 60,40 51,00 9,40 44,20 – – – 62,40 – – Manzano et al. (2000)

Bagaço tratado com 2% Na2S + 3% NaOH, pressão de 12 kgf/cm2

por 8 min – 0,40 72,10 56,70 15,40 44,70 – – – 48,70 – – Manzano et al. (2000)

Bagaço tratado com 9% H2O2 + 7% NaOH, a 70°C por 8 min

– 0,50 66,10 54,20 11,90 44,90 – – – 59,70 – – Manzano et al. (2000)

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112 Cana-de-açúcar

o nível mínimo de PB (7,0%) para o bomfuncionamento do rúmen, sendo que essauréia seria suficiente para manter umaatividade microbiana ativa.

Entretanto, níveis mais elevados deuréia podem contribuir para o aumento dapopulação de microrganismos no rúmen,aumentando a síntese de proteína micro-biana com conseqüente aumento da efi-ciência de aproveitamento dos alimentos.

Reduções nos teores de FDN do ba-gaço de cana-de-açúcar foram observadaspor Carvalho et al. (2006). Ao utilizaremníveis crescentes de uréia de 0%; 2,5%;5,0% e 7,5%, os valores de FDN foram de78,10%; 71,30%; 64,40% e 57,60%, res-pectivamente, o que correspondeu à re-dução no conteúdo de FDN, de cerca de5,49%; 18,85% e 24,87% respectivamente.Esses autores observaram também reduçãonos teores de hemicelulose e lignina.

A diminuição da FDN em materiais sub-metidos à amonização é atribuída à solu-bilização da hemicelulose. A redução nosteores de lignina ocorre, devido à disso-lução de parte desta e ao rompimento dasligações intermoleculares do tipo éster,entre o ácido urônico da hemicelulose eda celulose, durante amonização (SOEST,1994).

A amonização do bagaço de cana-de-açúcar pode elevar o pH do material. Isto éatribuído ao fato de a amônia ser uma basecom alta capacidade tamponante, evitan-do, portanto, que a produção de ácido pro-voque queda acentuada do pH. Apesar deo pH ser um indicativo de qualidade, suaelevação em matérias amonizadas não impli-ca em pior qualidade, pois a amônia liberadadurante o processo de amonização inibe aproliferação de microrganismos indese-jáveis, como fungos e leveduras, e promo-ve a conservação do material (CARVALHOet al., 2006).

A amonização pode ser feita tambémutilizando amônia anidra, que é um com-posto que apresenta um átomo de N e trêsde hidrogênio (NH

3), possui elevado teor

de N (82%) e, normalmente, é obtida noestado líquido sob baixas temperaturas ou

pressões relativamente altas. A amôniaanidra diferencia-se da uréia (NH

2CONH

2),

por esta apresentar, em média, 44% de N eser encontrada na forma sólida, além deprecisar de umidade e presença da enzimaurease para que possa produzir 2NH

3 + CO

2

para cada molécula de uréia (PIRES et al.,2004).

O tratamento com pressão e vapor éum dos métodos mais utilizados para elevaro valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar, melhorando seu valor nutritivo.A alta pressão e, conseqüentemente, a ele-vada temperatura são usualmente utilizadaspara melhorar o emprego dos materiaislignocelulolíticos. Contudo, tais condiçõesde tratamento podem levar à produção defurfurais e compostos fenólicos no materialtratado, que são substâncias tóxicas paraos microrganismos ruminais. Mas a pro-dução de furfurais e compostos fenólicospodem ser reduzidos, quando se faz a com-binação de tratamento químico e físico, poisocorrerá redução do nível de pressão e detemperatura.

O processo de auto-hidrólise aumen-ta o potencial de degradação do bagaço.No entanto, a eficácia com que a fibra dobagaço é utilizada é baixa, devido princi-palmente às condições ruminais desfa-voráveis à atividade das bactérias celulo-líticas.

Manzano et al. (2000) avaliaram a di-gestibilidade do bagaço de cana-de-açúcartratado com reagentes químicos e pressãode vapor, em função dos seguintes trata-mentos: BIN = bagaço in natura; BAH =bagaço auto-hidrolisado, pressão de 17kgf/cm2 por 5 minutos (min); bagaço sulfa-to 1 = bagaço tratado com 4% Na

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8 min. Segundo esses autores, os compos-tos sulfurados agem formando o íon sul-feto, que, em meio alcalino, desestabiliza amolécula de lignina e o peróxido de hidro-gênio formado, quando este dissocia-se,

atacando as unidades fenilpropano da lig-nina em locais eletron deficientes. Manzanoet al. (2000) observaram que o emprego dereagentes químicos e o uso de tratamentofísico aumentaram a digestibilidade dobagaço de cana-de-açúcar, particularmentedas frações fibrosas, o que resultou emmaior valor de NDT, permitindo, dessamaneira, menor participação de alimentoconcentrado no arroçoamento animal, infe-rindo que o bagaço tem um excelente po-tencial de aproveitamento para fins de ali-mentação de ruminantes.

Existe ainda, o bagaço proveniente daprodução de cachaça que também é utili-zado na alimentação animal. Este bagaçotem um teor de açúcar residual mais alto e,portanto, apresenta maior valor energéticopara ruminantes (BARCELOS; REZENDE,2002).

Segundo Barcelos e Rezende (2002), obagaço de alambique deve ser usado fres-co, sendo utilizado para alimentação devacas de dupla aptidão ou engorda denovilhos em confinamento. O bagaço dealambique pode ser usado misturado comcana-de-açúcar como volumoso para no-vilhos em confinamento até a proporçãode 75%, sendo ainda, necessária a utilizaçãoda suplementação protéica, tornando-seuma atividade complementar rentável àprodução de cachaça (BARCELOS, 2006).

Vale ressaltar, ainda, que o armazena-mento do bagaço de cana-de-açúcar é críti-co e o crescimento de fungos pode reduziro seu consumo pelos animais (BULLE etal., 2002).

O uso mais importante de bagaços éno caso do excesso de oferta, situação quepode compensar a deficiência nutricionalda dieta, no caso de situação extrema deseca.

Silagem de cana-de-açúcar

A silagem de cana-de-açúcar é umaalternativa de alimento para ruminantes,principalmente devido à facilidade de ope-racionalidade que o produto oferece. Con-centra a mão-de-obra em determinado pe-ríodo, evita a utilização de mão-de-obra

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113Cana-de-açúcar

diária para cortes, despalhamento, desin-tegração e transporte, reduzindo o trabalhoe os deslocamentos diários de máquinasna propriedade e as dificuldades de colheitaem dias de chuva. Quando preparada noperíodo seco apresenta maiores conteúdosde açúcar e MS em relação ao período daschuvas. É oportuna a ensilagem em situa-ções de incêndio no canavial, para asse-gurar volumoso suficiente para alimentaçãodos animais no período da seca.

Outro aspecto a ser considerado é a li-beração da área para a rebrotação homo-gênea das plantas, o que proporciona me-lhor cobertura de solo e maior índice deárea foliar para o período das águas e,conseqüentemente, menores gastos como controle de plantas invasoras (FREITASet al., 2006c).

A cana-de-açúcar possui as principaiscaracterísticas necessárias para a produçãode silagem, tais como, teor de MS, em tornode 30%, teor de carboidratos solúveis acimade 10% da matéria natural e poder tam-pão que permite a queda do pH para valo-res próximos a 3,5 (Quadro 8). No entanto,apresenta o inconveniente de alto conteú-do de carboidratos solúveis, os quais pro-movem rápida proliferação de levedurascom produção de etanol e gás carbônico(FREITAS et al., 2006c; VALVASORI et al.,1995). As leveduras, em condições aeróbi-cas, são capazes de sobreviver com diver-sos ácidos orgânicos por tempo maior quea maioria dos microrganismos, em condi-ções anaeróbicas, contudo, as levedurasprecisam obter sua energia da fermentaçãode açúcares (MCDONALD et al., 1991).

Com relação ao pH, é necessário queeste abaixe rapidamente, caso contrário, seisto ocorrer somente no final não irá garan-tir que a atividade dos microrganismosindesejáveis, em especial enterobactériase clostrídeos, seja prevenida durante o pro-cesso de fermentação. No caso de forra-gens com altos teores de açúcares e baixosde proteína, a estabilidade do pH ocorre,normalmente, antes do décimo dia de ensi-lagem (MCDONALD et al., 1991).

Juntamente com o valor do pH, o con-teúdo de N amoniacal fornece uma indica-ção da forma que se processou a silagem,valores abaixo de 8% do nitrogênio to-tal indicam uma silagem de boa qualidade.De acordo com Soest (1994), valores de Namoniacal acima de 10% indicam que oprocesso de fermentação resultou em que-bra excessiva de proteína em amônia. Va-lores de N amoniacal, próximos de 15%,podem ser mais um fator para diminuir aaceitação da silagem de cana-de-açúcar pe-los animais, resultando em baixo consu-mo.

A silagem da cana-de-açúcar, ao pro-duzir álcool etílico, ocasiona redução noseu valor nutritivo, devido à rápida fermen-tação pelas leveduras dos açúcares solú-veis, o que torna o processo de fermenta-ção ineficiente. Quanto mais alto o teor deaçúcares, mais favorável o ambiente para aproliferação de leveduras durante o pro-cesso de ensilagem. O etanol residual nasilagem provoca redução do consumo peloanimal, entretanto, se ingerido, apresentasignificativa contribuição energética aoanimal, pois pode ser aproveitado, devidoa sua conversão no rúmen a ácidos graxosvoláteis, principalmente em ácido acético(ANDRADE et al., 2001a; FREITAS et al.,2006a). Por outro lado, o etanol absorvidono rúmen interfere de forma negativa nagliconeogênese, devido à competição nofígado do ruminante.

A maior dificuldade para ensilagem decana-de-açúcar é a produção de etanol quereduz o valor nutritivo da silagem. A prin-cipal causa de perda de MS na silagem decana-de-açúcar é a reação bioquímica daprodução do etanol, em que a MS é cata-lisada via fermentação da sacarose pelasleveduras, de modo que cada molécula deglicose fermentada produz duas moléculasde etanol, duas de dióxido de carbono eduas moléculas de água. O etanol produ-zido nas silagens pode acarretar perdasde até 48% de MS (MCDONALD et al.,1991). Teores de etanol de 12,86 a 19,50%da MS têm sido encontrados em silagens

de cana-de-açúcar isolada, resultando emperdas de até 31,10% de matéria da silagem(ANDRADE et al., 2001a; FREITAS et al.,2006ac).

Pelo fato de o alto teor de álcool etílicona silagem de cana-de-açúcar diminuir oconsumo de MS pelos bovinos, seria con-veniente a utilização de aditivos para redu-zir a produção de álcool.

Valvasori et al. (1998), ao avaliarem odesempenho de bezerros da raça Holan-desa, ao receberem silagens de sorgo oude cana-de-açúcar como único volumoso,encontraram que a silagem de sorgo graní-fero foi superior (P < 0,01) à silagem de cana-de-açúcar em termos de ganhos diários depeso (0,601 contra 0,378 kg), conversão ali-mentar (7,76 contra 12,83 kg de MS/kgganho de peso), apesar de as ingestões to-tais de MS terem sido semelhantes entreos tratamentos. No entanto, os custos deprodução de leite com rações que contêmcana-de-açúcar apresentam-se mais compe-titivos em comparação com outras alter-nativas de forragem suplementar duranteo período seco, mesmo sendo necessária asuplementação com maiores quantidadesde alimentos concentrados, em compara-ção com a silagem de milho ou de sorgo.Segundo Paulenas (2006), o custo diárioda silagem de milho em comparação aode cana-de-açúcar colhida mecanicamen-te é 21% maior para vacas de 15 L/dia e11% para as vacas com produção de 30litros.

Um aditivo eficaz (químico ou biológi-co) seria aquele que inibisse o desenvol-vimento de leveduras e/ou bloqueasse avia fermentativa de produção de álcool.Os aditivos químicos utilizados são uréia(ANDRADE et al., 2001a; PEDROSO et al.,2006; SILVESTRE et al., 1976; SIQUEIRA,2005), hidróxido de sódio (FREITAS et al.,2006c; SIQUEIRA, 2005), benzoato desódio (PEDROSO et al., 2006; SIQUEIRA,2005). No entanto, os dois últimos são uti-lizados com maiores ressalvas, devido aoproblema do excesso de sódio na dieta ani-mal e ao custo elevado. Os aditivos micro-

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2006

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2001

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dra

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2001

a)

Sila

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(20

01a)

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o)

Artigo 13 maior.p65 17/08/2007, 09:19115

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116 Cana-de-açúcar

bianos são divididos em dois grupos, asbactérias homolácteas e as heterolácteas.

As bactérias homolácteas são caracteri-zadas por produzirem exclusivamente ácidoláctico, sendo formadas pelas bactériasLactobacillus plantarum, Lactobacillus

sp., Streptococcus faecium, Pediococcus

sp. As bactérias heterolácteas produzemalém do ácido láctico, quantidades signi-ficativas de ácido acético e propiônico, sen-do representadas principalmente pela bac-téria Lactobacillus buchneri.

A inoculação com bactérias produtorasde ácido láctico na forragem ensilada ace-lera a queda do pH e reduz o pH final avalores menores, com o aumento da con-centração de ácido láctico, reduzindo aprodução de efluentes e perdas de MS nosilo (FREITAS et al., 2006c). Contudo, ocrescimento de leveduras não é inibido pe-los baixos níveis de pH durante o processode ensilagem, mas o aumento da populaçãoinicial de bactérias ácido-láticas aumentaa competição por substrato entre os mi-crorganismos, inibindo o desenvolvimentodas leveduras em condições anaeróbicas(MCDONALD et al., 1991).

Segundo Freitas et al. (2006c), em sila-gens de cana-de-açúcar madura, a perdade efluente é muito pequena ou até inexis-tente, com isso a água metabólica, resul-tante dos processos de fermentação, ficaretida no material ensilado e contribui, con-seqüentemente, para a redução no teor deMS da forragem.

Silvestre et al. (1976) alimentaram bo-vinos de corte com cana-de-açúcar frescaou silagem de cana com uréia ou silagemde cana com amônia, suplementadas com0,6 kg de farelo de algodão. Esses auto-res observaram ganhos médios diários de0,48; 0,32; 0,35 kg por dia, para os trata-mentos cana-de-açúcar fresca, silagem decana com uréia, silagem de cana com amô-nia, respectivamente, e concluíram que acana-de-açúcar fresca (P < 0,01) foi supe-rior em relação às silagens.

Pedroso et al. (2006), ao avaliarem o de-sempenho de novilhas alimentadas com

silagens de cana-de-açúcar tratadas comos aditivos uréia (0,5%), benzoato de só-dio (0,1%) ou L. buchneri (3,64x105 ufc/g),encontraram que a inoculação com L.

buchneri melhorou o ganho diário de pe-so (1,24 contra 0,94 kg/dia) e a adição debenzoato melhorou a conversão alimentar(7,6 contra 9,4 kg de matéria por quilo depeso vivo), relativamente ao controle (sila-gem não tratada). Os tratamentos não afe-taram o consumo de MS (2,91% do pesovivo). As rações com silagens tratadas combenzoato ou L. buchneri mostraram menorcusto por quilo de ganho de peso. Entre-tanto, o tratamento com uréia não melhorouo desempenho animal, mas o custo por qui-lo de ganho de peso foi menor do que nadieta controle.

Ao avaliarem as características fermen-tativas e a qualidade nutricional da silagemde cana-de-açúcar ensilada com aditivosmicrobianos e enriquecida com 10% deresíduo da colheita de soja, Freitas et al.(2006a) observaram que a adição dos ino-culantes L. plantarum e L. buchneri nãomelhorou a composição química, a DIVMSe o perfil de fermentação das silagens.

Freitas et al. (2006c), ao avaliarem ascaracterísticas fermentativas e a qualidadenutricional da silagem de cana-de-açúcartratada com inoculante L. plantarum nasdoses 1,0; 1,2 e 1,4 x 106 ufc/g na matérianatural e hidróxido de sódio e enriqueci-da com 10% de resíduo da colheita de soja,observaram que o inoculante microbianonão melhorou a qualidade nutritiva da sila-gem e não reduziu as perdas de MS e a pro-dução de etanol. Encontraram também, queo tratamento das silagens com hidróxidode sódio reduziu a produção de etanol, masaumentou as perdas de MS das silagens,devido ao fato de estas silagens terem apre-sentado maior concentração de ácido acéti-co, que em sua via de fermentação promoveprodução de uma molécula de dióxido decarbono, para cada molécula de acetadoproduzido, aumentando, conseqüentemen-te, a perda de MS.

Siqueira (2005) observou que o aditi-

vo NaOH e a bactéria L. buchneri foramos mais eficientes no controle das perdasdurante o processo fermentativo da cana-de-açúcar crua ou queimada em relação àuréia, benzoato de sódio, L. plantarum ePropionibacterium acidipropionici. O mi-crorganismo L. buchneri e o benzoato desódio foram mais efetivos no controle dasalterações durante a exposição aeróbia dasilagem de cana-de-açúcar.

Cumpre ressaltar que, a ensilagem nãomelhora a qualidade de nenhum alimento,ao contrário, perdas na qualidade são re-levantes durante o processo de ensilagem,que somente conserva o alimento. Mas, emalgumas situações, a utilização dessa prá-tica é viável, como no caso de sobra no fimda safra, no caso de incêndios e locais deproblemas com mão-de-obra diária. Alémdisso, o uso de aditivos inadequados reduza qualidade da silagem, o que pode ocasionarelevação de custos de produção. Portanto,a ensilagem deve ser considerada comouma solução simplesmente operacional.

Utilização de aditivos

seqüestrantes de umidade

na silagem de cana-de-açúcar

A adição de um produto com alto teorde MS e bom valor nutritivo funciona comoum aditivo absorvente ou seqüestrante deumidade, elevando o teor de MS do materialensilado, tornando o ambiente menos fa-vorável para o desenvolvimento das leve-duras, reduzindo a produção de efluente,além de aumentar o valor nutritivo dassilagens. Geralmente, são utilizados comoaditivos fontes de carboidratos, cereais efarelos (ANDRADE et al., 2001a; FREITASet al., 2006ac; MCDONALD et al., 1991).

Andrade et al. (2001a), ao avaliarem ovalor nutritivo da silagem de cana-de-açúcar tratada com uréia, e acrescida comrolão de milho, observaram redução deetanol, à medida que níveis mais altos derolão de milho foram aplicados na ensila-gem da cana-de-açúcar, demostrando queo aumento do teor de MS inibiu a produ-ção de etanol. Houve redução de 99,46%

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117Cana-de-açúcar

na produção de etanol com a elevação doteor de MS de 20,93% para 27,69%. Essesautores não encontraram nas amostras desilagens a presença de ácido butírico e osteores de ácido propiônico em todas assilagens foram inferiores a 0,04% na MS,os quais inferiram que as silagens eram deboa qualidade.

Ao avaliarem as características fermen-tativas e a qualidade nutricional da silagemde cana-de-açúcar tratada, enriquecida com10% de resíduo da colheita de soja, Freitaset al. (2006a) encontraram que a associaçãodo resíduo da colheita de soja à cana-de-açúcar para ensilagem proporcionou me-lhor qualidade nutritiva da silagem. Isto foievidenciado pelas menores perdas de MSe carboidratos solúveis, principalmente naforma de gases, com conseqüente redu-ção no acúmulo de componentes da paredecelular, além do aumento nos valores deDIVMS da forragem. Esses autores con-cluíram que o resíduo da colheita de soja,foi capaz de melhorar a qualidade nutritivae reduzir as perdas de MS e conseqüente-mente aumentar o rendimento de silagemde boa qualidade.

Freitas et al. (2006a) encontraram que aaplicação dos inoculantes L. plantarum eL. buchneri em combinação com resíduoda colheita de soja resultou em perda decarboidratos solúveis, indicando que oestímulo à fermentação pode ser prejudi-cial no processo de ensilagem da cana-de-açúcar, uma vez que aumenta o consumode carboidratos solúveis e que o desenvol-vimento das leveduras não é inibido apenaspelo declínio do pH das silagens.

Bernardes et al. (2007), ao avaliarem ascaracterísticas fermentativas e químicase a ocorrência de leveduras na cana-de-açúcar submetida ou não à queima e ensi-lada com diferentes proporções de milhodesintegrado com palha e sabugo, obser-varam que a silagem de cana-de-açúcarqueimada apresentou declínio na concen-tração de MS, o que pode estar relacionadoà queima de palha, pois esse componente

possui elevado teor de MS. Comparando

os teores de MS antes da ensilagem e das

silagens de cana-de-açúcar crua ou quei-

mada, os autores observaram redução de

21,4% e 26,0%, respectivamente, quando

comparados ao da forragem, possivel-

mente, os elevados teores de etanol e CO2

produzidos durante a fermentação provo-

caram essa perda. Esses autores ainda

observaram que a inclusão de milho desin-

tegrado com palha e sabugo (MDPS) ele-

vou os teores de MS e reduziu discreta-

mente os teores de N amoniacal e etanol

das silagens, não ocasionando efeito nos

valores de pH e na população de leveduras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Várias são as vantagens da utilização

da cana de açúcar, principalmente no que

se refere à quantidade de produção e à qua-

lidade na época de escassez de forragem.

Entretanto, deve-se estar atento a alguns

problemas de ordem não técnica que podem

acontecer, quando do uso deste volumo-

so, como: mão-de-obra para o corte e distri-

buição; ventos com tombamento, fato que

dificulta o corte; incêndios; desempenho

produtivo, principalmente custo/benefício;

mecanização da operação de corte e distri-

buição; custo dos equipamentos; ataques

de abelhas, sendo sempre bom utilizar tam-

bém outros artifícios para alimentar os ani-

mais no período seco do ano, tais como, o

pasto diferido.

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119Cana-de-açúcar

LEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo

Grande. Anais eletrônicos... Campo Gran-

de: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004.

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JÚNIOR, W.; RODRIGUES, A. de A.; LOURES,

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L.J.; ZOPOLLATTO, M.; JUNQUEIRA, M.;

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Artigo 13 maior.p65 17/08/2007, 09:19119

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120 Cana-de-açúcar

INTRODUÇÃO

O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica,

bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal

difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros

e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas

Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação

para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as instituições

de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ou estaduais

de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários e demais

interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, devendo,

portanto, ser organizada para atender às necessidades de informação de

seu público, respeitando sua linha editorial e a prioridade de divulgação

de temas resultantes de projetos e programas de pesquisa realizados

pela EPAMIG e seus parceiros.

A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um

cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de

Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor

agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edição

versa sobre um tema específico de importância econômica para Minas

Gerais.

Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário

terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação,

pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta.

APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS

Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no

programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo

automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).

Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas o

recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para formatar o

quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos gráficos

de um quadro.

Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm de

largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo 5

para composição dos dados, títulos e legendas.

As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser recentes,

de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em papel

fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas. As foto-

grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs no formato

mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou ZIP disk, prefe-

rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.

Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em

Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões já

mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs).

Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou em

computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM ou

pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, EPS,

CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de Home

Page, pois a resolução para impressão é baixa.

INSTRUÇÕES AOS AUTORESPRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS

Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem

observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos trabalhos,

bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao longo da

produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico, pela Revisão

e pela Normalização. A não-observância a essas normas trará as seguintes

implicações:

a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos

excluídos da edição;

b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos

ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.

O coordenador técnico deverá entregar à Divisão de Publicações

(DVPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou pela Internet,

já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista para circular

a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse prazo ou após o

início da revisão lingüística e normalização da revista.

O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de

publicação da edição.

ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS

Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:

a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo

ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-

teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;

b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-

ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos

acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.

Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Pos-

tal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:

[email protected];

c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250

palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-

dos principais e conclusões;

d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não devem

ser utilizadas palavras já contidas no título;

e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-

vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e

enfocar o objetivo do artigo;

f) agradecimento: elemento opcional;

g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o “Manual

para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e Circulares

Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das normas da

ABNT.

Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,

também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.

NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para

Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-

nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,

entrando em Publicações ou Downloads.

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